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A chama das virgens

Em Roma, as discípulas da deusa Vesta tinham de manter a castidade e zelar para que o
fogo que protegia as famílias da cidade não apagasse jamais
por Zeca Gutierrez
No sossego de suas casas, ocupados com as tarefas do cotidiano, os romanos viviam protegidos
por uma chama que não podia se apagar. O fogo queimava em uma pira protegida pelas
paredes do templo da deusa Vesta, no monte Palatino. Eles não imaginavam como a labareda,
que homenageava a divindade encarregada de zelar pela união das famílias da Roma antiga,
era mantida acesa. O mistério da chama só era conhecido por poucas pessoas. Em particular
por moças abastadas, filhas de família de conduta impecável e virgens. Eram elas, as vestais,
as encarregadas de não deixar o fogo apagar.

Reclusas, as sacerdotisas da deusa Vesta recebiam privilégios impensáveis a outras mulheres


de sua época e ocupavam um alto status na comunidade. Tinham a obrigação de se manter
castas durante 30 anos após escolhidas para a tarefa. Caso violassem a regra, recebiam penas
duríssimas. Podiam até terminar enterradas vivas.

Apesar da sombra da punição, ser uma discípula de Vesta era uma honraria ambicionada e
rara. Só eram levadas para o monte Palatino as meninas de origem nobre. Com o
consentimento dos pais e sem poder de escolha, as garotas eram recrutadas pelo sacerdote
supremo do templo antes da puberdade. Ingressavam no grupo sem imaginar que sua principal
tarefa era cuidar da chama de Vesta. A escolha, em geral, ocorria quando elas estavam com
cerca de 7 anos, mas podia ser mais tarde. “A virgindade era apenas um dos requisitos para a
escolha”, afirma a historiadora Renata Senna Garraffoni, professora da Universidade Federal
do Paraná. “A menina deveria ser fisicamente perfeita. Além disso, era importante que a
família fosse exemplo de perfeição em vários aspectos. Os pais tinham de estar casados, não
podiam ter sido escravos nem ter tido qualquer envolvimento com negócios escusos. Órfãs
também não eram escolhidas.”

Uma vez selecionadas, as meninas deveriam passar as próximas três décadas isoladas do
convívio em sociedade. Viviam cercadas pelos muros altos do templo, localizado nas colinas
romanas, onde também ficavam o Fórum e o Circo Máximo. Sob supervisão do Pontifex
Maximus, título do maior dos sacerdotes de Roma, a chama do templo era mantida acesa sob
disciplina militar. Nos primeiros dez anos de serviço, as vestais estudavam: aprendiam latim,
histórias sobre a vida de Vesta – que era, segundo a mitologia romana, virgem – e questões de
Estado. Nos dez anos seguintes, a tarefa principal era mais prática: revezar-se para alimentar
a chama. A última década era voltada ao ensinamento: elas deveriam passar seu
conhecimento para as novatas. Ao todo, entre as mais velhas e as mais jovens, o templo
abrigava 18 sacerdotisas.

Considerada eterna e pura, a chama em homenagem à deusa funcionava como uma espécie
de garantia de que Roma não seria invadida ou violada. “Por isso há uma relação direta entre
a manutenção da virgindade e a proteção da cidade, destinando às vestais um lugar de
destaque”, diz a historiadora. Segundo Holt Parker, especialista em estudos clássicos da
Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, as vestais tinham até privilégios legais: não
estavam tuteladas pelo pai ou pelo marido, prática comum entre as romanas. Elas eram
tiradas de suas famílias ainda crianças, mas não passavam a pertencer a ninguém mais,
tornando-se, assim, independentes e especiais aos olhos da sociedade e da legislação.

EM NOME DA DEUSA

O culto a Vesta era uma tradição antiga em Roma. “Muitos estudiosos afirmam que a fé data
do período da monarquia e teria sido introduzida pelo rei Numa Pompílio, por volta de 715
a.C.”, afirma Renata. Não existem muitos registros sobre a divindade. Como a deusa não
costumava ser representada em esculturas ou pinturas, os dados a seu respeito vêm de textos
de autores latinos como Cícero, Plínio e Plutarco. “A grande maioria das informações foi
escrita por homens das elites romanas”, diz a historiadora. “As metáforas relacionadas à
deusa e a suas sacerdotisas são permeadas por valores masculinos de diferentes momentos da
história.” É certeza que a deusa, além de representar o fogo, tinha como tarefa principal
guardar a lareira de Roma.
Na época republicana, que foi do fim do reino de Roma em 509 a.C. à criação do Império
Romano em 27 a.C., havia cerca de 33 deuses romanos. E, para cuidar de seus cultos, existia
toda uma rede de sacerdotes provenientes da aristocracia. “Eles se reuniam em distintos
colégios para interpretar as vontades divinas, cuja tradição remonta à influência etrusca.
Embora, na sua grande maioria, fossem colégios masculinos, o dedicado a Vesta era formado
por sacerdotisas”, diz Renata.

As vestais tinham outros papéis importantes na sociedade romana. “Em geral, elas
aconselhavam o Senado sobre todos os assuntos referentes a questões divinas, conversavam
com o povo sobre temas como a lei sagrada, incluindo a dos mortos, e supervisionavam os
assuntos da lei familiar, como adoção e herança”, diz Renata. Se houvesse discussões em
família, por exemplo, as sacerdotisas eram chamadas para acalmar os ânimos. E podiam ainda
ser solicitadas para cerimônias especiais, como a leitura do testamento de algum imperador.
Atividades como cuidar do abastecimento de água para os serviços do templo também
estavam no dia-a-dia dessas mulheres. A clausura não era assim tão rigorosa: elas tinham
autorização para sair sempre que necessário para participar não só de seus afazeres
cotidianos como também de alguns eventos públicos. Nas lutas de gladiadores, por exemplo,
tinham cadeira cativa.

CARNAVAL DE VIRGENS

Uma vez ao ano, todas as sacerdotisas deixavam juntas o templo em que moravam e iam para
as ruas de Roma. Era a Vestália, festa em louvor à deusa, com data fixa entre 7 e 15 de
junho. Tratava-se de um acontecimento único entre os moradores da cidade, que aguardavam
ansiosos para ver de perto as tais virgens. Do pouco que se sabe dessa festa, há relatos de que
seis dessas mulheres ficavam encarregadas de confeccionar bolos sagrados, feitos com as
primeiras espigas de milho colhidas na estação.

No passeio realizado pela cidade, em espécie de procissão, as vestais eram vistas como
celebridades. Enquanto as virgens estavam em liberdade nas ruas, o templo de Vesta era
aberto para visitação, mas só para as mães romanas. No fim do percurso, no rio Tibre, as
oferendas eram jogadas na água. “A partir de relatos do romano Ovídio, em especial em seu
livro Fasti, sabemos que o festival se dava no Fórum e o asno era uma figura importante na
procissão”, conta Renata. O carro que carregava as virgens era uma liteira tão luxuosa que,
ao passar pelas vielas superpopulosas da cidade, causava alvoroço e comoção.

A VIRGINDADE OU A MORTE

Uma vestal podia ser reconhecida pela aparência. O ingresso no templo, ainda na infância,
era marcado pelo corte de cabelo: os fios deviam ser aparados na raiz. Com o passar dos
anos, porém, passavam a exibir longas madeixas. As cabeças eram coroadas por adereços de
lã branca que caíam sobre os ombros e por cima dos seios. Os vestidos brancos obrigatórios
eram recobertos por mantos de cor púrpura.

A obrigação de se manter virgem durante os 30 anos de dedicação à deusa Vesta era levada a
ferro e fogo. Caso uma vestal quebrasse o código de conduta, estava automaticamente
condenada à morte. Ou era enterrada viva ou jogada do alto da rocha Tarpeia, no monte
Capitolino. O homem que a profanasse ia para a forca.

O sacrifício das sacerdotisas vestais também era empregado em outras ocasiões, como em
situações de violência e ataques de inimigos contra Roma. Por serem puras, elas acabavam
mortas para a proteção da cidade em momentos difíceis. Ainda hoje muitos estudiosos
questionam até que ponto essa prática foi comum. Alguns explicam que a punição era parte
do “pacote” de pertencer ao grupo das vestais. Elas eram consideradas uma espécie de
antídoto para as mazelas que a cidade estaria sofrendo.

Tanto os sacerdotes quanto as sacerdotisas eram considerados na sociedade romana os


responsáveis pela ordem divina, não podendo exercer outras funções administrativas do
governo. Na maioria dos casos, levavam uma vida normal dentro da aristocracia. “A exceção
era para as virgens vestais e os sacerdotes de Júpiter, que tinham relações sociais mais
restritas e estavam permeados de tabus, como, no caso delas, a virgindade”, afirma a
historiadora.

Caso as guerras não vingassem, as pragas não atacassem e a tentação do sexo não
prevalecesse, depois de cumprirem os 30 anos de serviços à deusa as vestais ganhavam a
liberdade. Com seus 40 anos, tornavam-se Virgo Vestalis Maxima. Entre outros privilégios, elas
poderiam continuar a servir a deusa até a morte, já que muitas aceitavam o celibato como as
freiras o fazem hoje em dia, ou se casavam com algum grande homem da época, gozando até
de uma remuneração do governo, como uma espécie de aposentadoria.

Alguns historiadores afirmam que o imperador Graciano, governante de Roma de 367 a 378,
foi o responsável pelo fim da supremacia das vestais. Isso leva a crer que o reinado dessas
mulheres teria durado cerca de mil anos. O manda-chuva daquele momento da história não
era cristão, mas tinha certa aversão por alguns deuses pagãos. A manobra para acabar com o
templo de Vesta foi um exemplo de má política: suspendeu os salários das vestais, desviando
todo o dinheiro para o serviço postal imperial. O imperador Teodósio foi quem pôs fim à
divina farra romana. Proibiu uma série de tradições antigas, como os jogos de gladiadores, e
também encerrou o culto aos antigos deuses. O templo de Vesta foi fechado em 394. A última
Vestalis Maxima conhecida, Coelia Concordia, morreu no mesmo ano, pouco tempo depois.

VIDA FANTASIADA
A história das vestais está cercada de mitos

Mito e realidade se confundem quando o assunto é a vida das vestais. Claudia Quinta, que
viveu por volta de 200 a.C., era uma delas. Certa vez, foi acusada de imoralidade e seria
punida com a pena de morte, mas conseguiu provar publicamente sua inocência (não se sabe
como). Alguns relatos sobre as vestais são fantasiosos, como o de que Rhea Silvia, mãe de
Rômulo e Remo, os míticos gêmeos fundadores de Roma, que freqüentava um colégio de
vestais, teria sido seduzida por Marte, deus da guerra. Perigosa, e real, foi Tarpeia, que no
século I teria abrido as portas de Roma para os sabinos, um povo que não aceitava a cidadania
sem voto estipulada pelos romanos (vem dela o nome da rocha Tarpeia, local de onde as
vestais traidoras eram jogadas). A moça acabou pisoteada pelos cavalos dos sabinos durante a
invasão à cidade. Já a sacerdotisa Julia Aquila Severa rompeu seus votos de castidade para se
casar com o imperador Elagabalus. Ele, para espanto geral, era um homossexual que se
travestia de mulher, mas que, mesmo assim, foi casado com três mulheres.

AS DONAS DO FOGO
Além do poder econômico e do conhecimento, Roma e Grécia tinham em comum duas deusas
poderosas

A origem de Vesta é cheia de mistérios. Mas sabe-se que ela é uma versão romana de Héstia,
deusa do fogo dos gregos. Na tradição grega, a linhagem de Héstia teria sido uma das
primeiras a formar o universo: ela era neta de Urano e uma das cinco filhas de Crono e Réia.
Um dos irmãos de Héstia era Zeus, caçula que assumiu o posto maior do Olimpo após uma
briga familiar. Quando soube que seria destronado para dar lugar a um de seus filhos, Crono
engoliu sua prole. Réia, mãe dedicada, salvou Zeus escondendo-o do pai. Quando cresceu,
Zeus decidiu vingar-se do pai. Ganhou de Prudência, sua amante, uma droga que obrigou
Crono a vomitar os outros descendentes. Héstia voltou à vida e jurou virgindade eterna. Por
isso, recebeu do irmão a honra de ser venerada nos lares por meio da chama sagrada. Todas
as cidades gregas e romanas veneravam a chama eterna, cada qual com sua versão. Não se
sabe, porém, quem veio primeiro: Héstia ou Vesta. “Era comum os romanos classificarem os
deuses de outros povos a partir da comparação com os seus próprios”, diz a historiadora
Renata Senna Garraffoni. Assim, embora Vesta seja a versão romana de Héstia, há quem
defenda que o culto à deusa romana já existia antes do contato com os gregos. “Estudiosos
dizem que relatos romanos indicam que as primeiras vestais eram filhas dos reis romanos ou
suas esposas.” Tanto Vesta quanto Héstia se mantiveram indispensáveis para a vida social de
seus povos no decorrer dos séculos.

SAIBA MAIS
Livros

Rome’s Vestal Virgins, Robin Wildfang, Routledge, 2006

O autor examina no livro o papel das virgens vestais tanto na religião como na sociedade e na
política de Roma – inclusive a participação delas nas questões de Estado.

Virginity Revisited: Configurations of the Unpossessed Body, Bonnie MacLachlan e Judith


Fletcher (orgs.), University of Toronto Press, 2007

Desde a Antiguidade, analisa como a virginidade sempre esteve intimamente ligada ao poder.

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