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Régua

Escada do amor: síntese da educação filosófica em Platão (Parte II)

“Desde o começo, fui ensinado a ver Platão, o dramaturgo, e através de seus olhos magistrais, eu vi a
filosofia como aquela bela prática infusa na alma, que faz as maiores perguntas de maneira
esteticamente cativante. Foi o drama de Platão que me capturou, não as nuances do Argumento do
Terceiro Homem ou os paradoxos do universal e do particular, ou o um e o muitos. Foi o pathos, o
drama, a nuance estética da filosofia de Platão que agarrou minha alma e nunca a soltou.”

O páthos, o sentimento que emana da filosofia platônica e seduz a alma de seus


leitores a milhares de anos, traduz-se na tese central de sua obra. Habilidoso ourives das
palavras, Platão plasmará poeticamente, no centro de seus diálogos, o que considera a
essência da formação do filósofo.

Três diálogos platônicos revelam, com clareza cristalina, a estrutura dessa formação:
o Banquete, a República e o Fedro (não por acaso, três dos diálogos mais belos, e mais
lidos, de todo corpus). Cada um deles utiliza uma imagem para representar a educação:
no Fedro, encontramos a biga alada com a parelha de cavalos (um obediente e outro
desobediente); na República, a famosa caverna, com seus prisioneiros e seu caminho
íngreme e escarpado em direção ao Sol do entendimento; no Banquete, a lindíssima
escada do amor (ou scala amoris, como costuma ser tratada no meio acadêmico), que
conduz o amante da beleza material em direção à Beleza espiritual, sempiterna 1. Essas
três variações de um mesmo tema, revelam uma estrutura comum através da qual as
principais características da espiritualidade filosófica, fundamento do projeto platônico,
são reveladas. Entremos em alguns detalhes específicos de cada uma dessas imagens:

1- Lá e de volta outra vez

No caso da República, esse processo é representado como a libertação de um


prisioneiro habitante de uma caverna de sombras que, desde sua tenra infância, fez
as vezes da realidade. Tomava as sombras por seres, a luz de uma fogueira pela luz
do Sol; uma vez liberto, terá de reorientar sua visão, gradativamente, até a luz real.
À medida que progredir nessa reorientação, poderá subir, pelo “caminho íngreme e
escarpado”, até que chegue ao cimo desse caminho e contemple a fonte real de toda
luz, o Sol, símbolo da Ideia do Bem. Mas, tendo contemplado essa maravilhosa
fonte, não poderá (se de fato for filósofo) ficar lá, acreditando-se na “ilha dos bem-
aventurados”; terá de descer novamente, de volta à caverna escura, recheada de

1
Naturalmente, cada uma dessas imagens revela aspectos diferentes da educação filosófica;
não por acaso posicionei os diálogos nessa ordem, acredito que existe uma relação entre essas três
imagens, presentes nesses três diálogos, a ser descoberta. Por ora, meu palpite é de que possa haver algo
em relação à trindade platônica: Beleza, Verdade e Bondade.
ilusões, o reino do lusco-fusco. Terá de voltar para auxiliar seus companheiros, para
doar-se em prol da luz que pode contemplar. E aqui é preciso lembrar: Platão não
está interessado em diâmetros de caverna e funduras subterrâneas, todo esse
conjunto de imagens é uma alegoria cuja finalidade é descrever a natureza humana
no que diz respeito a sua educação ou falta dela.

Na alegoria da Biga 2, Sócrates descreve a natureza da alma humana


comparando-a a uma biga de cavalos alados, um nobre e um mesquinho, e um
auriga, cuja missão é comandar esse veículo desigual. Sua condução mira chegar ao
“lugar supra-celeste” (hyperouránios topos) 3, que também pode ser chamado de
“lugar inteligível” (noétos topos), ou ainda, “campina da verdade” (tó aletheías
pedíon)4. Esse local é a habitação das Ideias, ou seja, as manifestações do Ser
Supremo; a alma que até lá ascende contemplam (kathorán) o “espetáculo do Ser”
(théa tou óntos) 5, que lhe serve de alimento. Em seguida, por inépcia do condutor, e
pela dificuldade em lidar com a dualidade de sua biga, o cavalo branco puxando pra
cima e o preto pra baixo, a parelha alada termina por cair, de modo a encarnar-se em
um “corpo de barro” (soma geion)6. Em seguida da queda, sobrevêm o
esquecimento daquele “fragmento de coisas verdadeiras” 7 contempladas. A
esperança dessa alma caída será, pelas belezas cá de baixo, lembrar daquela
campina supra-celeste; através dessa reminiscência ela poderá resgatar suas asas e,
novamente, ascender até a região inteligível.

O Banquete nos delicia com a revelação de Diotima, sacerdotisa especialista na


arte do amor. Nessa revelação ela descreve a escada do amor, que é por onde aquele
despertado por alguma beleza cá embaixo deve conduzir-se. Para Diotima, o amor
humano, despertado pela visão da beleza terrena, contêm, em germe, um desejo
profundo, impossível de ser saciado por quaisquer objetos / pessoas cá embaixo.
Portanto, àquele tomado pelo amor, abrem-se dois caminhos: a busca insaciável de
satisfação de seu desejo através das belezas do mundo, ou, o aprofundamento de seu
amor através de uma escada. Ele terá de compreender as belezas cá de baixo como
inspirações e degraus através das quais seu amor pode ascender até chegar ao cume
dessa escada: lá onde está a Beleza-em-si. A contemplação dessa Beleza
incomparável lhe dará a medida correta daquilo que merece ser amado, ou não; de
volta ao mundo de cá, poderá desprezar as falsas belezas, pois seu coração é fiel à
Beleza real.

Através desses três resumos, podemos apreender a estrutura comum que os


perpassa. A necessidade de ascender, partindo de uma região inferior, limitada e
material, em direção a uma região superior, ilimitada e espiritual; lá chegando, é

2
Fedro, 246 a – 250 c.
3
Idem, 247 c.
4
Idem, 248 b.
5
Idem, 248 b.
6
Idem 246 c.
7
Idem, 248 c.
preciso contemplar; tendo contemplado o suficiente, é preciso descer novamente. Lá
e de volta outra vez. Escolho a escada como símbolo dessa estrutura, por razão de
sua simplicidade. Ascensão, contemplação e descida são três momentos de uma
mesma jornada, a jornada metafísica. Essa jornada coincide com a educação
filósofica, que coincide com a própria natureza da filosofia: o filósofo é aquele que
domina os meios de ascender, contemplar e descer, ou seja, realizar a jornada
metafísica.

2- O filósofo e a escada

A escada do amor, assim como a escada de Jacó, liga a terra ao céu, o mundo
material e o mundo espiritual. O filósofo é aquele que assume o dever de,
constantemente, re-encenar as ações que compõe essa escada. Em outras palavras, o
filósofo platônico é aquele que vive, ou seja, transforma em experiência íntima, aquilo
que está exposto, em linguagem simbólica, na escada do amor (ou na alegoria da
caverna, ou na alegoria da carruagem). A ascensão, contemplação e descida sintetizam a
filosofia enquanto exercício, ou ainda, a filosofia enquanto vivência psicológica. Pois,
ao incorporar a escada do amor como síntese e norma de sua educação filosófica, a
consciência individual dedica-se a um compromisso existencial (que, repito, nunca será
definitivo, precisando ser constantemente renovado). Esse compromisso dinâmico, a um
só tempo moral, intelectual e afetivo, talvez ganhe sua expressão mais feliz na fórmula
de Pierre Hadot: exercício espiritual. A jornada metafísica indicada na escada do amor,
ao mesmo tempo exigência e natureza da filosofia platônica, é, em sua manifestação
concreta, um exercício espiritual. Trocando em miúdos, e aqui é Platão quem fala, “a
verdadeira filosofia” é “um voltar da alma de um dia que é como trevas para o
verdadeiro dia, ou seja, a sua elevação até a realidade” 8.

Já que tratamos aqui de uma escada, cito abaixo cinco degraus que considero
essenciais e que perfazem o caminhar nessa ascensão amorosa em busca da sabedoria:

1- A fonte da sabedoria existe e está para além e acima de si;


2- É preciso um esforço de ascese para acessar essa fonte;
3- A verdade só pode ser vivenciada pela consciência individual e por aquilo que
há de melhor nela: a capacidade teórica, contemplativa, o Apex mentis, a ponta
fina do espírito;
4- A vivência da verdade é 1- limitada, no sentido de nunca ser plena e absoluta;
2- mística, no sentido de não ser redutível à racionalidade discursiva e 3-
instável, no sentido de ocorrer, sob o ponto e vista da duração, em momentos
privilegiados dados ao homem encarnado.

8
República, 521 c-d.
5- A melhor maneira de manter-se fiel à vivência da verdade é descer, ou seja,
doar-se através de alguma forma concreta de auto-sacrifício em prol do Bem.

Qual é a martelada que finalmente quebra a pedra dura da ignorância? A


centésima primeira, a trigésima...? Ou ainda, qual o galho que, unido a um feixe
com outros galhos, torna o feixe inquebrantável? O trigésimo, o centésimo...? Ainda
mais: qual a boa ação concreta que, realizada, consolida um caráter bom? A décima,
a vigésima...? Também assim, o filósofo só poderá consolidar-se enquanto tal após
reiteradas, e inumeráveis, viagens metafísicas, habituando-se a viver entre os dois
mundos, aprendendo a no paradoxo que o compõe: sua ignorância intransponível e a
possibilidade alvíssima da sabedoria. Ele é filósofo na medida em que, ascendendo,
contemplando e descendo, está amando e sendo fiel ao chamado da Verdade.

3- Filosofia em três tempos

Ascensão

O símbolo da escada expressa uma ascensão ordenada; seus degraus são porções
suportáveis de esforço que, diligentemente levados a cabo, conduzem ao Altíssimo,
ao Sol. Assim, liberado do primeiro e principal grilhão, o orgulho, o trabalho de
Sócrates será conduzir o olhar daquilo que passa em direção daquilo que permanece.
O que isso significa? Significa deixar, pouco a pouco, a dimensão horizontal da vida
em direção à dimensão vertical. Ou seja, aquietar a “mente pagadora de boletos”, o
“falatório”, os reflexos ilusórios do que sou perante o olhar dos outros, o feed de
atualizações, os mêmes de botequim, a grosseria daquele ingrato, as últimas ofensas
do bolsominion ou do petralha. Essa dimensão horizontal da vida deve ser,
gradativamente, abandonada em prol de um aprofundamento, um mergulho para
dentro de si. Esse mergulho, muitas vezes nos conduz à ponta de baixo da reta
horizontal e ali experimento a falta, na forma de sofrimento, de dor. Muitas vezes a
falta essencial expressa em minhas faltas concretas, meus pecados, ou seja, minhas
distâncias em relação ao que deveria ser. E aqui está o grão de esperança, a semente
de plenitude que conduz ao topo da reta horizontal: o dever-ser.

Contemplação

Ele é conhecido, não por meio da dianoia, mas por meio da nous. Sendo assim, a nous e
a contemplação tornam-se equivalentes, enquanto capacidades perceptivas mediante as
quais a Idea transcendente pode ser percebida. Partindo disso, em busca de compreender
o significado da contemplação a diferença entre a dianoia e a nous é importante. Qual é
a diferença entre essas duas formas de apreensão das realidade inteligíveis? Segundo
Abbagnano, o uso que Platão faz da palavra dianoia equivale àquilo que entendemos
por razão discursiva, no sentido de que indica “o procedimento racional que avança
inferindo conclusões de premissas, ou seja, através de enunciados negativos ou
afirmativos sucessivos e concatenados”9. São Tomás de Aquino identificará a dianoia
ao conhecimento caracteristicamente humano, opondo-o à ciência intuitiva de Deus que,
segundo o filósofo, “entende tudo simultaneamente em si mesmo, com um ato simples e
perfeito de inteligência”10. Já a nous corresponde àquilo que entendemos por intelecto
intuitivo. Aristóteles considerava-o o meio pelo qual se pode apreender, intuitivamente
os primeiros princípios, mediante os quais a razão discursiva poderá operar11. A partir
dessas definições, a contemplação pode ser entendida como a apreensão intuitiva,
imediata (no sentido de não mediada pela razão discursiva), de princípios que
transcendem quaisquer raciocínios (e.g. a Ideia do Belo e a Ideia do Bem). Josef Pieper,
em seu livro Leisure as the basis of culture12, tratando da tradição clássica da filosofiaa
realidade. Essa atitude, ele argumenta, não se baseia somente na razão (ratio); ele
implica silêncio, uma atenção contemplativa a tudo que há ao redor, por meio da qual o
ser humano começa a perceber o quanto tudo que o cerca merece veneração 13. Pieper
entende a academia de Platão como sendo o último reduto, na Grécia Antiga, da teoria
filósofica, da teoria pura, completamente dissociada das interferências e considerações
práticas14. Aqui, cabe lembrar da etimologia da palavra contemplação (theoria), que
justamente traz consigo a associação com o culto e a veneração 15. A contribuição que o
autor traz e que acreditamos fundamental para esse assunto encontra-se na seguinte
passagem:
Os medievais distinguiam entre o intelecto como ratio e o intelecto como
intellectus. Ratio é o poder do pensamento discursivo, de pesquisa e re-
pesquisa, abstração, refinamento, e conclusão [cf. o latino dis-currere,
“correr para e de”], já o intellectus refere-se à habilidade de “simplesmente
olhar” (simplex intuitus), para a qual a verdade apresenta-se a si mesma como
uma paisagem apresenta-se aos olhos. O poder de conhecimento espiritual da
alma humana, como os antigos a entendiam, é, de fato, duas coisas em uma:
ratio e intellectus, todo conhecer envolve ambas. O caminho da razão
discursiva é acompanhado e penetrado pela vigorosa visão do intellectus, que
não é ativo mas passivo, ou melhor, receptivo – um poder receptivo operante

9
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, pg. 339.
10
Idem, p. 339.
11
ARISTÓTELES, Et. Nic., VI, 6, 1140b 31 ss.
12
PIEPER, 1998.
13
Idem, p. 18.
14
Idem, p. 18.
15
Segundo Andrea Nightingale o significado mais literal de theoría é “assistir a um espetáculo”. Nessa
visão, ela diz acompanhar outros autores que enxergam nessa palavra coincidência entre o espetacular e o
sagrado. NIGHTINGALE, 2009, pg. 4, nota 3; pg. 45. Chantraine afirma que a noção de espetáculo não
configura algo fulcral, uma vez que a palavra é aplicada, originalmente, a uma função religiosa.
Possivelmente ela relaciona-se com a ideia de “observar um deus” (CHANTRAINE, 1999, pg. 425).
no intelecto (...) Isso significa que o conhecimento humano é uma
participação no poder não discurso da visão [intelectual] 16.

Descida

Para evitar esse perigo, Sócrates se incumbirá, como o fundador da cidade governada
pelo filósofo-rei, de não permitir que ele descumpra o dever de descida:

[Sócrates] A tarefa que cabe a nós, fundadores que somos, disse eu, é obrigar
que as melhores naturezas cheguem ao aprendizado que, no que falávamos a
pouco, dávamos como o melhor de todos, isto é, ver o bem e fazer aquela
caminhada para o alto e, depois que a fizerem e já tiverem contemplado
suficientemente o bem, não devemos permitir-lhes o que hoje permitimos.
(...) Que permaneçam lá (...) e não queiram descer outra vez para junto
daqueles prisioneiros, nem partilhar com eles das labutas e das honras, sejam
elas de muito ou pouco valor 17.

Após subir pelo caminho “rude e íngreme” até a contemplação do Bem, o cavernícula
deve voltar. Ele lembra-se de seus companheiros de prisão, e para lá deve retornar. Com
a visão transfigurada pela luminosidade do Sol da verdade, não deve fugir da descida,
abraçando-a e partilhando, junto aos demais prisioneiros, “as labutas” e “honras, sejam
elas de muito ou pouco valor”. Mesmo conhecendo que existe um mundo superior (a
verdadeira realidade), enquanto a caverna oferece apenas ilusões, ele deve voltar e
escolher, voluntariamente, uma vida inferior junto aos outros habitantes da caverna.
Esse retorno é uma negação voluntária da vida contemplativa, da vida intelectual.
Negação essa que ganha o caráter de sacrifício, pois o filósofo abre mão,
voluntariamente, de uma vida superior e aceita viver uma vida inferior. Aliás, é
precisamente por esse motivo, isto é, por conhecerem uma realidade infinitamente
superior àquela da caverna, com suas riquezas materiais e suas intrigas políticas, que o
filósofo será capaz de bem administrar a pólis. Pois o filósofo irá ao serviço público,
tendo sacrificado uma vida superior (i.e. a vida contemplativa), com o espírito de
serviço e doação abnegada. Por essa razão é que Sócrates diz:

Se descobrires uma vida melhor do que governar, para os que devem


governar, podes conseguir um Estado bem administrado. Pois só nesse
mandarão aqueles que são realmente ricos, não em dinheiro, mas naquilo em
que deve abundar quem é feliz - uma vida boa e sensata. Se, porém, os
mendigos e os esfomeados de bens pessoais entram nos negócios públicos,
pensando que é daí que devem arrebatar o seu benefício, não é possível que
seja bem administrado. Efetivamente, gera-se a disputa pelo poder, e uma
guerra dessas, doméstica e interna, deita-os a perder, a eles e ao resto da
cidade18.

16
PIEPER, 1998, p. 32 – 33.
17
Rep., 519 c-d [grifos nossos].
18
Rep., 520 e – 521 a.

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