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RESUMO
REFLEXÕES SOBRE A
Objetivamos nesse trabalho re-
fletir, apoiados na teoria psica- ÉTICA DA PSICANÁLISE
nalítica, sobre a (im)possibili-
dade da transmissão da ética da E SUA CONTRIBUIÇÃO
Psicanálise a práticas que se si-
tuam fora dos moldes da clínica PARA PRÁTICAS DE
tradicional. Vimos que isso é
possível, desde que sustentemos SAÚDE MENTAL
a ideia de que essa transmissão
se dá quando o agente de cuida-
do atua a partir da condição de
sujeito castrado. A teoria laca-
niana sobre a função do mais
um foi importante para pensar- Carolina Andrade de Santana Lima
mos na montagem de dispositi-
vos que regulem as intervenções João Luíz Leitão Paravidini
clínicas, na medida em que pode
operar como função que atuali-
za a castração do Outro inter-
ventor, descompletando o saber
médico-psicológico (universitá-
rio).
Descritores: ética; psicaná-
lise; saúde mental; Jacques
O principal objetivo deste trabalho é pro-
mover a reflexão, a partir das teorizações psicanalí-
Lacan. ticas de Freud e Lacan, sobre a (im)possibilidade da
transmissão da ética psicanalítica a práticas que se
situam fora dos moldes da clínica tradicional. Acre-
ditamos que essa é uma prática possível, desde que
apoiada na ideia de que, transmitir essa ética, signifi-
ca atuar a partir da condição de sujeitos castrados,
ou seja, criar condições para que a transmissão da
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mos, não ser possível sustentá-la du- tes estados. Confundia-se ao mencio-
rante todo o tempo, devido às barrei- nar, e, por isso, nos parece, às vezes,
ras narcísicas e institucionais que tão difícil contar. Uns morreram, um
acompanham todo e qualquer funcio- ou outro ela deixou com parentes e
namento grupal. outro ou um o Conselho tirou. Resta-
Para tal reflexão, abordamos al- ram as quatro meninas, que seguiam a
guns aspectos teóricos que, nos auxi- mãe por onde quer que ela fosse. Além
liam no percurso de analisar como das gravidezes dessas mulheres; me-
práticas que não se enquadram nos ninas; mulheres-meninas, tínhamos
moldes da clínica psicanalítica clás- também que lidar com o problema
sica podem estar perpassadas por das drogas, pois todas elas faziam uso
uma ética do desejo, ou seja, aquela de crack.
que coloca o sujeito diante da pró- Moravam na casa de um homem
pria falta, e, consequentemente, do que, em troca de alguns favores, dei-
conflito que constitui nossa condi- xou-as ficar. Não havia energia, rede
ção de castrados (Kehl, 2002). Para de esgoto, e a sujeira tomava conta
isso, fazemos menção a um caso dos cômodos improvisados como
atendido por nós durante nossa ex- quartos. Ao percebermos a gravidez
periência como analistas locados em da menina mais nova, perguntamos
uma unidade de saúde da família de se não queria ir conosco até a unida-
nosso município. de. A essa altura, víamos que não era
Trata-se de uma família forma- possível marcar um horário, nem so-
da por quatro mulheres. Ou melhor, licitar jejum. Começávamos a enten-
cinco, pois ao final do tempo de der que elas estavam fora. Fora da ló-
acompanhamento dessa família, a gica, que, não raro, nos parece ser a
quinta integrante, a filha que preferia única, de funcionamento social.
ficar na rua por considerá-la a sua Acompanhamo-las por algum
casa, retornou para junto de sua mãe tempo. Tempo suficiente para que o
e irmãs, trazendo no ventre um bebê. bebê da menina mais nova nascesse.
Gravidez não era o problema ali. Chegamos muito perto dessa família,
Ou será que era? A menina mais nova, uma vez que entendemos que elas não
de treze anos, estava tendo a sua pri- frequentariam a unidade de saúde.
meira experiência, a segunda filha (que Resolvemos então ir até elas, conhe-
não era a mais velha) já tinha tido dois cer o seu canto, o seu mundo, as suas
filhos, ambos tomados pelo Conse- regras. E, ao perceber que não encon-
lho Tutelar, e a mais velha, a que mo- traríamos soluções para resolver tan-
rava na rua, também. A mãe tinha tido tos problemas com os quais nos de-
outros filhos, se nos lembramos ao parávamos a cada visita, entendemos
certo, o total eram 11. Cada um em que estávamos lidando com clínica
um lugar, diferentes cidades, diferen- que exigia uma leitura singular.
A condição paradoxal
como forma de
subjetividade
contemporânea
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nas quais ela, juntamente com outros mos chamar de lógica neurótica pa-
autores aos quais ela faz menção, si- drão, pois, citando as palavras da Kehl
tua sujeitos que estão em uma rela- (2002), tudo o que um neurótico quer
ção paradoxal com o simbólico, em é um lugar de ser, e esta dimensão
que o atravessamento pelas interdi- parece não ter sido constituída para
ções fundantes da cultura, que, antes, este clã. Não estamos, aqui, preten-
fora garantido pela função paterna e, dendo fazer uma leitura estrutural
agora, por novos dispositivos de po- dessa família. Além de não ser nosso
der parecem, na maioria das vezes, objetivo, acreditamos que isso deman-
não se sustentarem. daria uma análise mais aprofundada
O fato é que essas mulheres nos do caso o qual é ser rico justamente
convidam a pensar sobre uma forma por, como já assinalamos, estar fora.
outra de funcionamento social/psí- Isso inclui, a nosso ver, estar fora da
quico. Ao ouvir o relato do caso a possibilidade de enquadrar essas mu-
impressão que nos dá é de sujeitos que lheres-meninas numa única estrutura
parecem não estar submetidos ao psicanaliticamente falando. Uma ou-
mesmo laço social que o nosso: não tra questão que consideramos impor-
cumprem horários, não sabem em que tante levantar para este trabalho, é que
dia da semana estão, não sabem seu o que temos como consequência de
nome nem sobrenome, não vão ao uma neurose de transferência em ca-
médico, não tem documentos. No sos clássicos de sujeitos neuróticos,
entanto, ao estar com essas mulheres- seria a demanda de amor e reconhe-
meninas, quem parece estar fora so- cimento a qual o próprio paciente
mos nós. Esta se presume o que cha- passa a fazer para seu analista. “De-
maremos de condição paradoxal mandas de amor dirigidas ao Outro
encontrada nessas estruturas familia- enquanto autoridade, enquanto sujei-
res: a condição de sujeitos que pare- to suposto saber” (Kehl, 2002). Te-
cem estar fora e dentro da lei, em uma mos nos deparado, em nossa prática,
relação peculiar com o laço social. com famílias nas quais não há deman-
Numa das poucas oportunidades da de amor, aliás, não há demanda, e
que tivemos de levar as meninas para isso tem nos chamado muito a aten-
a unidade de saúde, entramos com elas ção. O que fazer se não há demanda?
na sala para tentarmos conversar um E, ainda, o que fazer com a angústia
pouco. Ficaram mudas. Uma delas, a dos agentes de saúde – e aqui incluí-
do meio, declarou que não sabia dizer mos todos aqueles que têm por obje-
de si, não sabia contar sua história, pois tivo cuidar, independente de sua for-
sua vida era a droga. E essa julgamos mação técnica – ante a ausência dessa
ser a sua única condição de existência. demanda. Temos nos atentado para
Assim, seu modo de laço social essa singular forma de estar no mun-
não parece se inserir no que podería- do, que exige dos profissionais de saú-
A ética da Psicanálise
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versidade das constelações psíquicas nalítica rompe com qualquer tentati-
envolvidas, a plasticidade de todos os va de restituir ao sujeito um compor-
processos mentais e a riqueza dos fa- tamento moral ou a aquisição de bons
tores determinantes opõem-se a qual- hábitos, o que é prática constante dos
quer mecanização da técnica” (Freud, discursos médico, pedagógico e psi-
1913/1990a, p.164). Por esse motivo, cológico. Como psicanalistas, deve-
Freud (1913/1990a) optou por lan- mos criar, ou melhor, proporcionar a
çar mão de recomendações e não re- criação de um espaço que possibilite
gras e, não reivindicando qualquer a emersão do sujeito. Sujeito que é
aceitação incondicional a elas, enfati- único, por se tratar do sujeito do de-
zou que, diante do que ele expõe ao sejo do inconsciente. Este desejo não
propor uma teoria e um método ca- pode ser satisfeito, uma vez que,
pazes de analisar de forma singular conforme nos alertou Freud, o ob-
as manifestações psíquicas humanas, jeto de desejo do sujeito do incons-
seria da ordem do impossível qualquer ciente é inexistente, perdido desde
tentativa de formulação de uma téc- sempre e para sempre. Temos uma
nica única e verdadeira. No entanto, das distinções entre a ética e a moral,
algumas recomendações nos permi- pois enquanto a última tenta enqua-
tem apontar para aquilo que Freud drar o indivíduo a regras previamen-
pensou como direção para os analis- te estabelecidas, a outra “mantêm-se
tas, ao proporem qualquer forma de o mais próximo possível do que é o
análise ou intervenção que tenha a mais íntimo, o mais singular de ou-
Psicanálise como referencial teórico. trem, constituindo a própria condi-
Tomaremos, então, para refletir ção desse íntimo e desse singular”
sobre tal tema, uma via que conside- (Imbert, 2001, p.18).
ra a Ética da Psicanálise como a ética Ao falar da distinção entre ética
de um pensamento, de uma prática, e bem, Lacan (1991) argumenta que
que questionou (e questiona até hoje), a ética “começa no momento em que
no Ocidente, alguns pressupostos tra- o sujeito coloca a questão desse bem
dicionais. Na opinião de Kehl (2002), que buscara inconscientemente nas
temos que: “a virada freudiana aba- estruturas sociais – e onde, da mes-
lou profundamente algumas convic- ma feita, foi levado a descobrir a liga-
ções a respeito das relações do ho- ção profunda pela qual o que se apre-
mem com o Bem, exigindo que se senta para ele como lei está
repensassem os fundamentos éticos estreitamente ligado à própria estru-
do laço social a partir da descoberta tura do desejo” (p. 97). Afirma, ain-
das determinações inconscientes da da, que propor uma leitura sobre a
ação humana” (p. 8). ética só é possível após o reconheci-
De acordo com Imbert (2001), a mento da primazia do desejo do su-
ética a que se propõe a prática psica- jeito sobre suas ações conscientes, ou
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desejo, a ética do sujeito, que está sempre lançado na busca por um
objeto de satisfação. Sendo assim, qualquer tentativa de sobrepor
algo ao sujeito, principalmente na forma de um saber soberano, ou
de dar a ele algo que lhe cause a ilusão de satisfação plena de suas
pulsões e demandas latentes, contrapõe-se ao caminho indicado por
Freud, ao qual nos referíamos no início deste texto.
A moral e as leis de conduta não devem servir como guia para
fundamentar as relações, uma vez que elas não são se sustentam em
tal função. Kehl (2002) atribui à desmoralização do código de con-
dutas uma das causas do que chama de crise ética contemporânea.
Ela descreve um enfraquecimento da sustentação simbólica dos
códigos que, amparados por uma ordem patriarcal soberana, costu-
mavam regular as relações humanas, determinando a ordem social
com lugares de autoridade preestabelecidos. O que vemos hoje, prin-
cipalmente no que se refere aos discursos médico, pedagógico e
psicológico implícitos nas práticas de orientação à saúde e à educa-
ção, é uma tentativa de ordenar essas relações a partir, por exemplo,
da lógica do amor, que se apresenta como uma regra no discurso da
fraternidade cristã, o qual, apesar do declínio simbólico, ainda tem
grande influência sobre a civilização. Ao analisar tal discurso sob a
perspectiva da Psicanálise, temos que isso é da ordem do impossí-
vel, uma vez que o amor incondicional ao próximo determinaria a
anulação da diferença que é constitutiva do sujeito. Esse só pode se
relacionar com o Outro/outro como semelhante na diferença. Se o
sujeito anula a diferença do Outro/outro e o torna idêntico, tende a
submetê-lo ao seu gozo como objeto de satisfação. O paradigma
dessa anulação é o que acontece na psicose.
A ideia de levar a Ética da Psicanálise às intervenções em Saú-
de Mental dentro dos serviços públicos de saúde está justamente na
tentativa de mudança do olhar que os profissionais têm diante de
casos como este que mencionamos. Olhar que impossibilitou que
essa família fosse tomada como sujeito, resultando, por exemplo, na
retirada do bebê da menina mais nova do seu convívio logo após o
nascimento. Um olhar enrijecido sob a contínua tecnicização da
prática. Diante dessa proposta, outra questão nos parece relevante
para essas reflexões. É possível transmitir um saber, ou seja, esse
saber do qual estamos falando, o saber da Ética da Psicanálise, a
práticas que não estão enquadradas na clínica psicanalítica clássica?
E ainda, é possível fazer essa transmissão a profissionais que não se
pretendem analistas, mas que, de alguma forma, dão certa continui-
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tar com a experiência do cartel e com a transmissão desta para po-
der tentar uma elaboração de uma clínica do cartel no sentido de
um abarcamento do real em jogo no grupo, o único capaz de per-
mitir ao discurso analítico ocupar seu campo” (p. 109).
O que pretendemos é refletir sobre uma forma de funciona-
mento que garanta não a transmissão da Psicanálise como técnica
ou teoria, mas, sim, como ética, como estilo. Conforme Jimenez
(1994), o tema da transmissão sempre levantou questões, uma vez
que o próprio Freud nos orienta a abrirmos mão do saber que nos
foi ensinado sempre que nos defrontamos com um novo caso, pois
o saber surge de modo singular diante de cada análise, próprio a um
determinado sujeito. A palavra transmissão parece ter uma caracte-
rística paradoxal, pois está intimamente ligada à ciência. No entanto
Lacan não abriu mão dela em seus textos, afirmando, segundo
Jimenez (1994), que, em se tratando da Psicanálise, o que se trans-
mite não é um saber, mas, sim, um estilo. “Estilo entendido não
como traço diferencial, mas como aquilo que garante que o traço
diferencial seja intransmissível: estilo como objeto” (Jimenez, 1994,
p. 22). Segundo a autora, Lacan propõe duas direções quanto à trans-
missão. Uma delas seria por meio dos matemas, que são aquilo que
do real se transmite. A outra seria o estilo.
Nesse sentido, entenderemos, aqui, estilo não como uma for-
ma de escrever, mas algo da ordem do indefinível, “que toca o ser”
(Jimenez, 1994, p. 28), pois:
sendo o estilo o objeto ou, mais precisamente, a queda desse objeto, o estilo seria
o impronunciável que atravessa o texto, a causa que desliza entre linhas, o indeci-
frável que corre entre as palavras. Não é de se estranhar o efeito de beleza, posto
que o belo é o último véu a cair antes do desvendamento do objeto. A estrutura
metonímica e a estrutura metafórica, enfim, a estrutura da linguagem, com seus
jogos de elisão e de acréscimo de sentido, colocam de tal maneira em evidência
este objeto que chega a produzir a ilusão de que estilo é a palavra (p. 29).
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se faz para um líder (que pode tomar to justamente por acreditar pouco nas
várias formas) em transferência de pessoas: “Lacan nos dá a chance de
trabalho (Jimenez, 1994), ou seja, na que o trabalho aconteça, independen-
desmontagem da transferência neu- te das pessoas, desde que elas apli-
rótica, na qual o sujeito (ou o grupo) quem efetivamente o funcionamento
demanda o amor e reconhecimento proposto” (p. 164). A autora explica,
do Outro, para que, assim, haja algo ainda, que:
que implique o cuidado independen-
temente de questões morais. Faz isso a minha hipótese é de que a fórmula afinada
por uma via que é a de separar o su- do cartel testemunha um desejo de Lacan, de
jeito (ou o grupo de trabalho) do que em sua Escola teçam-se novas cadeias
significantes em torno da coisa freudiana. E
Outro da transferência sem destituir
por mais ousado que isso possa parecer, isso
o laço que o liga à linguagem (Cabas, implica que Lacan propõe o cartel como uma
1994). forma de barrar o Outro da suficiência em
Na transferência de trabalho, o sua Escola, de maneira que a fórmula afina-
motor é o desejo de saber que surge da do cartel funciona, deste ponto de vista,
da aceitação da impossibilidade de um como a metáfora paterna que barra o gozo
saber absoluto. É assim que o mais um do Outro (p. 164).
cumpre outra função, que é a de mo-
ver o cartel com seu próprio desejo Quando ponderamos sobre a
de saber, cumprindo a transmissão do possibilidade de desespecialização do
estilo da psicanálise por meio da trans- saber como uma forma eficaz de cui-
ferência de trabalho, “tendo os sujei- dado ao usuário dos serviços de saú-
tos um valor absolutamente secundá- de (como já dissemos, esse é o mode-
rio ao desejo de saber que os moveria” lo de cuidado adotado pelos projetos
(Jimenez, Kleeve, Paz, Autran, 1994 em Saúde Pública), pensamos, justa-
p. 139). mente, nessa circulação desse, saber
Nesse sentido é que propomos a qual só pode ser feita com a presen-
tomar a clínica do cartel como refe- ça de um terceiro que interrogue essa
rência para a transmissão da ética psi- posição. Não afirmamos, aqui, que
canalítica. Percebemos que os profis- qualquer pessoa poderia se colocar no
sionais que atuam em equipes de lugar do mais um, uma vez que sair de
saúde estão sempre escorregando na fato da posição subjetiva do mestre
posição narcísica de mestria devido, exigiria um longo trabalho de análise
principalmente, a uma hierarquização ao qual nem todos têm acesso ou ne-
do poder/saber feita mediante a for- cessitam (uma vez que estamos nos
mação técnica. referindo a profissionais de várias
De acordo com Alberti (1994), áreas do conhecimento que não se
Lacan, quando fundou sua Escola, pretendem analistas). No entanto
propôs essa fórmula de funcionamen- acreditamos na ideia de que a falta
Conclusão
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A questão que se instaura, não
como possibilidade de resposta, mas
sim, de interlocução com o campo da
clínica em extensão, retorna a ideia do
que é possível fazer para sustentar-
mos uma condição de cuidado em
estruturas psíquicas nas quais a trans-
ferência não se sustenta pela deman-
da. No caso apresentado, hipotetiza-
mos que ela tenha se sustentado por
uma posição de submissão ao que te-
mos tentado expor como a Ética da
Psicanálise. Assim, buscamos intervir
na condição de sujeitos castrados, fal-
tosos, detentores de um saber não
todo.
A partir de todas essas reflexões,
o que se produziu foi um saber sobre
a clínica, e não uma forma de inter-
venção (lembrando que essa nunca foi
a nossa proposta). Guerra (2005) res-
salta que “fazer do ‘cada um’ uma
proposta coletiva para as políticas
públicas não significa universalizar
intervenções e construir manuais de
orientação, mas tomar o particular
como orientação na construção de
qualquer proposta pública no campo
da saúde mental infanto-juvenil” (p.
148).
Com relação a essa clínica do sin-
gular dentro das práticas públicas,
Lobosque (2001) afirma que a novi-
dade dessa ruptura do modo como
se fazia clínica, está, justamente, em
tomar o singular dentro do campo do
coletivo, abordando o sofrimento psí-
quico grave nos novos dispositivos
assistenciais. Essa forma de cuidado
só se sustenta quando a lógica do
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REFLEXIONES SOBRE LA ÉTICA DEL PSICOANÁLISIS Y SU
CONTRIBUCIÓN A LA PRÁCTICA DE LA SALUD MENTAL
RESUMEN
Nuestro objetivo en este trabajo es reflexionar, apoyados en la teoría psicoanalítica, en la
(im)posibilidad de transmisión de la ética del Psicoanálisis a las prácticas que no entran en el
molde de la clínica tradicional. Hemos visto que esto es posible, siempre que sostenemos la idea
de que dicha transmisión se produce cuando el agente de cuidado actúa a partir de la condición
de sujeto castrado. La teoría lacaniana de la función del Más uno, ha sido importante para que
pensemos en el montaje de dispositivos que regulen las intervenciones clínicas, a medida que
pueden actuar como función que actualiza la castración del Otro interventor, descompletando el
saber médico-psicológico (universitario).
Palabras claves: ética; psicoanálisis; salud mental; Lacan; Jacques, 1901-1981.
REFERÊNCIAS
carolsantana22@hotmail.com
paravidini@ufu.br
Recebido em agosto/2010.
Aceito em março/2011.
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