O Direito Como Objeto de Conhecimento
1. Perspectiva Histórica
Ao longo da história da humanidade, o Direito veio
sendo utilizado para legitimar práticas
relacionadas às ideologias dominantes. Até a
Idade Média o Direito era entendido como algo
sagrado, porém, a partir do Renascimento, ele
sofrerá uma dessacralização e,
consequentemente uma tecnicização do saber
jurídico juntamente com a perda do seu caráter
ético tão cultuado anteriormente.
O caráter dogmático da Era Medieval dá lugar ao
humanismo renascentista. Isso faz com o homem
desenvolva um novo pensamento jurídico racional
e imparcial com base na complexidade da nova
sociedade, ligando o pensamento jurídico ao
pensamento sistemático, em que exige agora a
utilização de um sistema de ciência moderna na
realização das teorias do Direito.
A partir do desenvolvimento do conceito de
sistema, a teoria jurídica passou a ter uma visão
lógica e racional, além da simples interpretação
de textos, e esse caráter continua até a atualidade
nos códigos e textos jurídicos. Percebe-se,
portanto, que as mudanças no Direito durante a
Era Moderna levam a teoria jurídica a ser um
conjunto sistemático fundamentado na razão, de
modo a criticar a realidade.
Sintetizando o movimento histórico até a Era
Moderna, podemos dizer que houveram
várias alterações no modo de enxergar e
entender a teoria jurídica e sua atuação. O
Direito na tradição romana da Antiguidade era
uma teoria sagrada, em que se relacionava à
virtude. Na Idade Média, no entanto, apesar
de ainda possuir o caráter divino, passa a
adquirir traços dogmáticos. Ao início da época
renascentista, entretanto, a teoria jurídica se
racionaliza e a fim de regular, de modo
imparcial, as divergências de caráter político
ou religioso, baseando-se sempre no
entendimento da razão.
2. Pensadores Influentes
a. Platão: A decadência de Atenas, que se traduzia
na crise que se instalou após a guerra, levou Platão
a ter uma visão negativa da democracia como
forma de governo, pois o instrumento de que se
Aula: Professor Ricardo Pinho (Unicap); Livro: Introdução ao Estudo do Direito – Tercio Sampaio
valiam os cidadãos para exercê-la estava os
conduzindo a uma crise de valores. A condenação
de Sócrates foi um dos fatos que motivou Platão a
questionar os valores vigentes e buscar outras
formas de se pensar as questões da polis, como a
justiça.
A preocupação de Platão pela justiça constituiu-
se, por fim, na questão central de sua principal
obra: a Politéia (A República), o diálogo que
discute a constituição da cidade justa e o exercício
verdadeiro da cidadania. Platão formula uma
cidade ideal, onde para ele haveria a justiça. Essa
cidade era fundamentada na divisão do trabalho.
Para ele, uma cidade justa só poderia existir se
cada homem cumprisse com suas funções. Para
isso, ele dividiu os homens em três classes
diferentes:
A primeira delas seria a dos artesãos, que se
dedicariam à produção de bens materiais (seria a
Alma apetitiva ou sensível), a segunda seria a
classe dos guerreiros, que seriam responsáveis
por defender a cidade de possíveis males (Alma
irascível) e a terceira era a dos filósofos, que
deveriam dirigir a cidade e zelar pela obediência
das leis (Alma racional). Platão dizia que cada
pessoa nascia com aptidões distintas e que elas
definiam a que classe as pessoas pertenceriam.
Platão dizia que era importante que toda a cidade
fosse feliz. Uma classe não poderia usufruir de
uma felicidade superior a de outra classe. Mas
para haver felicidade, era necessário haver justiça,
e para haver justiça seria necessário partir da
estaca zero.
Platão dizia necessário a criação de um método
capaz de impedir que a incompetência e a
corrupção existissem no governo público. Por
isso, a cidade ideal, só poderia ser governada por
aqueles que possuíssem a habilidade da
sabedoria, os filósofos. Dentre todos os sábios,
seriam escolhidos os melhores, e estes teriam que
submeter-se a diversas provas para avaliação de
seu patriotismo e resistência. Uma vez aprovados,
receberiam o título de Filósofo-Rei.
Platão teve duas chances de pôr em prática sua
cidade ideal, porém em ambas não conseguiu
realizá-la. O próprio, após isso, reconheceu que
sua cidade ideal, baseada na justiça entre as
classes e na felicidade única dos homens era
utópica. A justiça para Platão representava-se na
sua funcionalidade da cidade, nas partes
repartidas que possuem funções diferentes sendo
a justiça uma “virtude total” pois é através dela
que se alcança todas as outras.
b. Aristóteles: O desenvolvimento da justiça na
teoria de Aristóteles tem sede no capo ético,
tratando a justiça como uma virtude, dikaiosyne;
à ciência pratica, ética, cumpre investigar e definir
o que é justo e o que é injusto. O conhecimento do
ético é a primeira premissa para que a ação
converta-se em uma ação justa, ou conforme a
justiça, para a realização palpável do bem comum.
Sendo a ética um saber prático.
A justiça, de forma genérica, é uma virtude, areté,
se tratando de uma situação da qual se está no
meio de dois extremos, um primeiro por excesso e
um segundo por escassez, cabendo a justiça o
meio termo. Sendo o mais importante a reiteração
da pratica da ética, que é um hábito. Nesse
sentido, ser justo é praticar atos voluntários de
justiça. O justo é a equilibrada situação dos
envolvidos numa posição mediana, de igualdade.
O autor analisa as qualidades essenciais,
utilizando-se de um pensamento empírico
(valoração da experiência). Desse modo, para
propor uma constituição justa, Aristóteles revisa
mais de 100 constituições antigas.
3. Diferentes Saberes Sobre o Direito
a. Dogmática Jurídica: é o método de observar,
analisar e atuar perante o Direito segundo
orientações cujos pressupostos são provados de
forma cognitiva ou são levantados por
experiências reais geradas por casos concretos
ocorridos anteriormente. Há, ainda, a
possibilidade de a orientação ser fundamentada
em valores e princípios gerais do Direito. Em
síntese, é o campo da ciência jurídica ocupado
pela busca da logicidade das proposições
normativas.
b. Filosofia do direito: é o campo de investigação
filosófica que tem por objeto o direito. Com o
intuito de obter decisões mais justas, a Filosofia do
Direito, por meio de reflexões e questionamentos,
busca a verdade real e processual visando aplica-
las no mundo jurídico.
c. Sociologia do Direito: tenta perceber a relação
existente entre duas ciências de grande
importância para a vida da sociedade, por
tratarem das relações, dos conflitos, das normas,
do controle, enfim, de todas as ligações que
possam surgir entre os indivíduos e que necessite
de um regulador. Em síntese, estuda as relações
dialéticas entre sociedade e direito.
4. Dialética Para a Sociologia Jurídica
Dialética é uma palavra com origem no termo em
grego dialektiké e significa a arte do diálogo, a arte
de debater, de persuadir ou raciocinar. Dialética é
um debate onde há ideias diferente, onde um
posicionamento é defendido e contradito logo
depois. Para os gregos, dialética era separar fatos,
dividir as ideias para poder debatê-las com mais
clareza.
a. Dialética de Platão: Para Platão, a dialética é o
movimento do espírito, é sinônimo de filosofia, é
um método eficaz para aproximar as ideias
individuais às ideias universais. Platão disse que
dialética é a arte e técnica de questionar e
responder.
b. Hegel: Segundo o filósofo alemão, a dialética é
a lei que determina e estabelece a auto
manifestação da ideia absoluta. É responsável
pelo movimento em que uma ideia sai de si
própria (tese) para ser uma outra coisa (antítese)
e depois regressa à sua identidade, se tornando
mais concreta.
c. Zenão de Eleia: Foi o fundador da Dialética
como arte de provar ou refutar a verdade de um
argumento, partindo de princípios admitidos por
seu interlocutor. Foi discípulo de Parmendes.
Um dos exemplos clássicos dos paradoxos de
Zenão é o da corrida entre Aquiles e a tartaruga.
Segundo Zenão, numa disputa entre os dois, se
fosse dada uma pequena vantagem à tartaruga,
Aquiles jamais a alcançaria.