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ImportânciaARTIGO especial

das emoções na aprendizagem

Importância das emoções na aprendizagem:


uma abordagem neuropsicopedagógica
Vitor da Fonseca

RESUMO – O artigo procura abordar a importância das emoções na


aprendizagem escolar, tendo em atenção que a missão da escola atual não
deve ser focada somente no desenvolvimento intelectual das crianças e dos
jovens, mas deve, igualmente, responsabilizar-se pelo seu desenvolvimento
social e emocional. Independentemente de as neurociências demonstrarem,
atualmente, que as emoções têm impacto fulcral na aprendizagem,
muitos professores e responsáveis educacionais revelam, ainda, alguma
insegurança em incorporarem o trabalho sobre as emoções na sala de aula.
Ao longo do texto são exploradas questões sobre as relações entre a emoção
e a cognição em termos neurofuncionais, quando ambas as funções se
incorporam na aprendizagem, levantando várias reflexões sobre o processo
ensino-aprendizagem e sobre as interações emocionais entre professores e
alunos. Finalmente, algumas estratégias pedagógicas para os professores
são avançadas e discutidas.

UNITERMOS: Emoções. Aprendizagem. Neurociências.

Vitor da Fonseca – Professor Catedrático e Agregado da Correspondência


Uni­versidade de Lisboa, Consultor Psicopedagógico, Vitor da Fonseca
Oeiras, Portugal. Rua Ernesto Veiga de Oliveira, 21, 2o A/B – Oeiras,
Por­tugal – 2780-052
E-mail: vitordafonseca@netcabo.pt

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INTRODUÇÃO bém emergem enquanto enfrentamos episódios,


As emoções no seu aspecto mais abrangente eventos e situações que nos esmagam, magoam,
encerram, em paralelo, aspectos comportamen- ri­di­cularizam e nos frustram e entristecem, por
tais positivos e negativos, conscientes e incons- tudo isto, as emoções e as expressões faciais e
cientes, e podem equivaler semanticamente ges­tuais fornecem informações adaptativas de
a outras expressões, como a afetividade1-6, a enorme relevância para a aprendizagem, elas são
in­­teligência interpessoal7, a inteligência emo- fenomenológicas porque são subjetivamente ex­
cional8-11; a cognição social12; a motivação, a perienciadas e vivenciadas.
co­­nação, o temperamento e a personalidade do As emoções fazem parte da evolução da espé-
indivíduo13, cuja importância na aprendizagem cie humana e, obviamente, do desenvolvimento
e nas interações sociais é de crucial importância da criança e do adolescente, constituindo parte
e relevância. fundamental da aprendizagem humana. Sem
As emoções são adaptativas porque preparam, dispor de funções de auto-regulação emocional, a
predispõem e orientam comportamentos para história da Humanidade seria um caos, e a apren­
experiências positivas ou negativas, mesmo com­ dizagem da criança e do adolescente, um drama
portamentos de sobrevivência e de reprodução14. indescritível, as emoções tomariam conta das
As emoções fornecem informações sobre a im- fun­ções cognitivas e os seres humanos só sabe-
portância dos estímulos exteriores e interiores riam agir de forma impulsiva, excitável, eufórica,
do organismo, e também, sobre as situações-pro­ episódica e desplanificada. Eis a razão porque o
blema onde os indivíduos se encontram envol- cérebro humano integra inúmeros e complexos
vidos num determinado contexto. processos neuronais de produção e de regulação
Em função das necessidades, interesses e das respostas emocionais.
mo­tivações das pessoas, as emoções fornecem Embora não seja possível desenvolver neste
dados fundamentais para imaginar e engendrar artigo, por limitações de espaço, as relações das
ações e para satisfazer os seus objetivos. No ser emoções com o humor e com o estresse, convém
humano, ao longo da sua evolução, e na criança, desde já, sumariamente, diferenciá-los.
ao longo da sua trajetória desenvolvimental, to- A emoção ou afeto refere-se a sentimentos que
das as ações e pensamentos (como sinônimo de envolvem, perante estímulos ou situações am­
cognição), são coloridas pela emoção. bientais, não só a avaliação subjetiva dos mesmos
Porque os seres humanos são animais sociais ou das mesmas, como também, processos so­má­
e dispõem de cognição social e de inteligência tico-corporais e crenças culturais.
emocional (valor das expressões faciais e da co­ O humor, por outro lado, consiste no conjunto
municação não-verbal), não surpreende que as de estados emocionais duradouros (positivos ou
emoções arrastem uma dinâmica interpessoal negativos) que influenciam a cognição e a ação
muito profunda15,16, a própria relação professor- ou o comportamento do indivíduo.
-aluno, tão primordial às aprendizagens escola- Por último, o estresse pode ser definido como
res, não se concebe fora dela. o padrão de respostas comportamentais ou psi-
As emoções são uma fonte essencial da apren­ cossomáticas do indivíduo, a eventos ou tarefas,
dizagem, na medida em que as pessoas (crianças, que se adequam, ou excedem, as capacidades
adolescentes, adultos e idosos) procuram ativi- do seu organismo para engendrar uma resposta
dades e ocupações que fazem com que elas se adaptativa às exigências colocadas.
sintam bem, e tendem, pelo contrário, a evitar Muitos problemas de saúde mental na escola
ati­­vidades ou situações em que se sintam mal. podem decorrer de estressores crônicos e de so-
As emoções dão sentido à vida humana enquan- frimento emocional, porque muitos alunos com
to nos adaptamos, aprendemos, temos sucesso di­ficuldades de aprendizagem não conseguem
e fa­zemos amizades, mas igualmente elas tam- corresponder às expectativas sociais porque a

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sua neurodiversidade não é respeitada nem é estão obviamente interligadas com as funções
com­patibilizada com as exigências das apren- cog­nitivas e as funções executivas17,18,39-41.
dizagens escolares17-20. O seu impacto na sobrevivência, na adapta­
Crianças sujeitas a muitos estresses provoca- bi­lidade, na sociabilidade e, sobretudo, na
dos pela escola podem vir a sofrer de problemas apren­di­zagem é inquestionável, quer nos seus
emocionais, como ansiedade, depressão, desmo- aspectos positivos, quer nos seus aspectos ne-
tivação, vulnerabilidade, baixa produtividade, gativos, quer nas suas dimensões conscientes,
etc., que podem interferir com o seu rendimento quer inconscientes.
escolar presente e futuro21-25. As relações das emo- Nos aspectos positivos, porque o envolvimento
ções com as aprendizagens escolares são muito emocional e motivacional e o engajamento co­na­­tivo
íntimas, daí a necessidade de explorar al­gumas do indivíduo auxiliam, efetivamente, as funções
das suas implicações recíprocas. cognitivas e executivas a operarem de forma in-
Em síntese, a aprendizagem, que é o conteú­do tegrada e internalizada, a imagiologia cerebral
principal do presente texto, tem muito a ver com comprovam-no claramente20,42. As emo­ções mo-
o papel que jogam, no seu êxito ou sucesso, as bilizando as funções da memória de curto prazo
interações íntimas neurofuncionais das emoções e de trabalho a engendrar processos de memória
com o humor e com o estresse, tudo passa efeti- de longo prazo consubstanciam a evidência que
vamente pelas dinâmicas interpessoais profundas a adaptabilidade e a aprendiza­gem são opera-
entre o professor e o aluno, e entre este e os seus das no cérebro objetivamente. A aprendizagem,
pares. podendo ser vista como uma asso­ciação particular
de estímulo-resposta que pode ser premiada ou
Em termos de substratos neurológicos res-
castigada (dimensão interacional e emocional),
ponsáveis pelas funções emocionais, incluindo
gera, como consequência da experiência e da prá-
necessariamente as funções afetivas e sociais,
tica investida, modificabilidades comportamentais
falamos particularmente do sistema límbico
de competências e habilidades43. A aprendizagem
(córtex relacional, social, emocional ou paleoma­
ao ocorrer adequadamente estabelece circuitos
mífero, também conhecido como circuito de
neuronais no cérebro do indivíduo, transformando
Papez), uma região subcortical mais profunda e
a sua mente e o sentimento de si próprio.
central do cérebro, e envolvida, digamos assim,
Nos aspectos negativos, porque as situações,
desde os primórdios evolucionistas dos mamíferos os desafios ou as tarefas de aprendizagem não
mais antigos, nas relações do organismo com o seu devem gerar no indivíduo qualquer vestígio emo­
envolvimento social e objetivo, presente e passado cional de ameaça, de desconforto, de inse­gurança,
(imediato, curto e longo prazo). receio ou medo, pois neste caso a acessibilidade
O sistema límbico, sendo uma região subcor­ às funções cognitivas superiores de retenção, de
ti­cal envolvida na relação do organismo com o planificação, de tomada de decisão, de execução e
seu envolvimento presente e passado, integra de monitorização e verificação ficam bloqueadas e
es­truturas nervosas muito importantes para a comprometem o funcionamento mental adaptado
memória e para a aprendizagem, como a amíg- que retrata o processo de aprendizagem na sua
dala, o hipocampo, hipotálamo, a insula, o córtex fase final de fluência e de automaticidade40,41.
cingulado, o núcleo accumbens e os corpos ma­ O sistema emocional humano funciona den-
milares5,6,16,26-38. tro dum espectro comportamental que pode ir
Embora o funcionamento emocional ocorra da atração magnética impulsiva e curiosa por
em todo o cérebro, e não meramente no sistema pessoas, eventos, situações, tarefas, problemas
límbico (cérebro paleomamífero), pois está em ou desafios, ao seu evitamento imediato (luta
causa um processo neuronal colaborativo com ou foge da expressão em inglês “fight or flight”),
outras áreas cerebrais, particularmente o córtex podendo passar, igualmente, pela sua tolerância
pré-frontal e orbito-frontal, as funções emocionais adaptativa necessária36.

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De fato, para que a aprendizagem ocorra, pela ção torna-se ofegante e ansiosa e os estados
importância que tem a emoção na cognição (co­ cor­porais ou somáticos, interoceptivos e proprio­
mo sinônimo de razão), é necessário que se crie à ceptivos, de ansiedade, medo, impotência ou vul­­
volta das situações ou desafios (tarefas, propos- nerabilidade, disparam sinais do sistema nervoso
tas, atividades, etc.) de aprendizagem um clima automático para a mente que algo está mal. Vários
de segurança, de cuidado e de conforto, algo pesquisadores nesta área também reportam que
que distingue a cognição social nos humanos, as ameaças provocam alterações nos fluxos dos
exatamente porque se operou, ao longo da evo- hormônios e dos neurotransmissores (serotonina,
lução, uma grande expansão cerebral nas regiões dopamina, etc.), pois afetam os estados emocio-
temporais e frontais responsáveis pela percepção nais e de humor32,33,36,52.
social e pela comunicação44-50. As respostas instintivas, viscerais e homeostá­
Dado que a aprendizagem subentende um ticas, ditas de sobrevivência e de raiz evolucio­
pro­­cesso inicial de tentativas e de imperícias nista14 e profundamente somáticas, ao serem de­­
(lem­brar que o ser humano nasce imperito e é ini­ sencadeadas interferem com os estados de alerta,
cialmente imperito face a qualquer aprendiza­gem de atenção, de processamento de informa­ção e de
não familiar), o cérebro imaturo do ser aprendente planificação e execução de respostas do cérebro,
(aqui significando também a criança, o aluno, o porque este opera emocionalmente antes de
estudante, o iniciado, o formando, o estagiário, funcionar cognitivamente.
etc.) precisa de segurança dada pelo cérebro ma­ As emoções guiam e suportam as funções aten­
turo de seres experientes para assumir riscos, cionais, e estas guiam as funções cognitivas de
incluindo os de cometer erros e de engendrar processamento perceptivo, simbólico e lógico,
inadaptações iniciais às tarefas ou aos problemas assim como as funções executivas de resolução
propostos. de problemas32,40,52.
Só num clima de segurança afetiva o cérebro As emoções capturam a atenção e ajudam a
humano funciona perfeitamente, só assim as me­mória, tornando-as mais relevantes e claras, a
emo­ções abrem caminho às cognições. sua ativação ou excitação somática desencadeia
Num clima de ameaça, de opressão, de vexa- vínculos que fortalecem as funções cognitivas,
me, de humilhação ou de desvalorização, o siste- ao contrário do que se pensava no passado.
ma límbico, situado no meio do cérebro, bloqueia O processamento de informação do ser huma-
o funcionamento dos seus substratos cerebrais no não é igual ao processamento de informação
superiores corticais, logo das funções cognitivas do computador, ele avalia a mesma numa pers-
de input, integração, planificação, execução e pectiva emocional e não meramente racional ou
output, que permitem o acesso às aprendizagens algorítmica, ele dá colorido afetivo instantâneo à
simbólicas e à resolução de problemas comple- informação e orienta-a subjetivamente para tomar
xos exclusivos da espécie humana50,51. decisões. Sentimentos positivos ou negativos,
Por alguma razão, a espécie humana é a única humor positivo ou negativo interferem, assim com
que ensina intencionalmente, algo só possível com os processos mentais mais complexos, como a
uma cognição social e uma inteligência emo­­ tomada de decisão e a monitorização executiva
cional transcendentes. dos comportamentos53.
Perante ameaças o indivíduo em situação de Damásio33,35,52 sugere que as funções cogniti­
aprendizagem reage inconscientemente antes vas, como o pensar, o induzir, o raciocinar e o to­mar
de reagir conscientemente. decisões, são guiadas pela emoção e pela avaliação
Em apenas décimos de segundo, o ritmo car­ e julgamento das consequências das ações. Este
díaco acelera, a pressão sanguínea altera-se, os neurocientista português chegou mesmo a criar
suores emergem nas palmas da mão, a resposta uma teoria original de marcadores somáticos, pro-
galvânica da pele pode ser estimada, a respira­ pondo que as ações e as decisões exageradamente

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autorreguladas podem ser afetadas por reações condicionam o nosso comportamento e a nossa
corporais quando estimamos os seus resultados. aprendizagem.
Quando refletimos sobre uma ação, por exem- As emoções estão mesmo intrinsecamente
plo, a resposta a um problema de matemática ou en­volvidas nas funções de atenção, de signifi-
a execução de um exame, experienciamos rea- cação e de relevância e valor social, relacional e
ções emocionais baseadas no nossa expecta­tiva motivacional que atravessam as várias fases do
sobre as soluções que demos e sobre as nossas processo de aprendizagem, dado que este não se
experiências passadas, algo que joga também opera de forma isolada ou espontânea, mas sim
com aspectos históricos autobiográficos, por isso de forma compartilhada e continuada e em três
aprendemos com os resultados passados e, a par- fases principais.
tir deles, regulamos os nossos comportamentos Tais processos emocionais transientes são
futuros. Uma vez mais se confirma que existe uma mais importantes nos processos iniciais e inter­
estreita conexão entre a emoção e a cognição e mediários da aprendizagem, por serem mais
entre esta e a motivação. dependentes das interações com os seres expe­
As emoções como estados mentais, positivos rientes, logo de coemoções empáticas e compar­
ou negativos, conscientes ou inconscientes, têm ti­lhadas, e requintam-se e aprofundam-se nos
assim um impacto muito relevante nas funções seus processos finais, por serem mais indepen-
cognitivas e executivas da aprendizagem, podem dentes, autônomos e auto-organizados nos seres
transformar experiências, situações e desafios aprendentes.
di­­fíceis e complexos, em algo de agradável e de Só com prática deliberada (segundo as neuro­
ciências mais de 10.000 horas de experiência)
interessante, ou pelo contrário, em algo aborrível,
o inexperiente ou o ser aprendente atinge o pa-
fastiento, enfadonho ou detestável.
tamar de experiente25,54-56. Emergem, então, no
A cognição sem a emoção não é possível de
seu cérebro circuitos neuronais de velocidade,
con­ceber-se quando se considera que o cérebro
precisão, automaticidade, fluência, mestria e ex-
do indivíduo, opera e atua sistemicamente num
celência, que ilustram qualquer tipo de aprendi­
todo funcional harmonioso e melódico20,22,37.
zagem, seja não verbal, como a música e a dança,
As emoções conferem, portanto, o suporte bá-
seja verbal, como a leitura e a escrita17,57,58.
sico, afetivo, fundamental e necessário às funções
As emoções, hoje universalmente reconhecidas,
cognitivas e executivas da aprendizagem que são assumem um papel fundamental nas interações
responsáveis pelas formas de processamento de sociais, que contextualizam qualquer tipo de
informação mais humanas, verbais e simbólicas. aprendizagem. Porque não nascemos ensinados,
É nas emoções que o processamento de infor- temos que aprender num contexto social e emo-
mação humano se distingue do processamento de cional, numa dimensão de dois sujeitos em in­te­
informação dos computadores, que a processam, ração, que compartilham cultura, um experiente
analisam, armazenam, categorizam e classificam que ensina, e outro inexperiente que aprende15,59,60.
com mais velocidade e eficácia39. É assim nas relações mãe-filho, em relação
Por alguma razão, o processamento de infor- à autossuficiência de alimentação, higiene e de
mação nos humanos e nos computadores é distin- ves­tuário, e será também assim, nas relações pro­
to, os humanos possuem disposições de humor e fessor-aluno, no que diz respeito às aprendiza­
de afeto, motivam-se, apaixonam-se e acasalam, gens simbólicas e escolares.
fogem de predadores e tornaram-se caçadores. Prestar atenção, estar motivado e envolvido
Os computadores não se acasalam nem têm pre- cog­nitiva e continuadamente são funções do cé-
dadores, a diferença de processamento de infor- rebro emocional humano (o tal cérebro límbico
mação com os humanos é, portanto, substancial e paleomamífero já referido), para que se har-
em termos emocionais e sociais, pois possuímos monizem neurofuncionalmente no processo de
sentimentos subjetivos muito profundos que aprendizagem.

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É preciso dar tempo ao tempo, dado que o o aluno (ser imaturo, inexperiente, aprendente ou
pro­cesso de aprendizagem ocorre microgeneti- discente), mas também para o ensino, logo para
camente, ou seja, de passo a passo, de emoção o professor (ser maturo, experiente ou docente).
em emoção. Sem prática deliberada, sem muitas Para se poder aprofundar a importância das
horas de experiência corpórea (o dito treino), as emo­ções na aprendizagem, temos que necessa­
funções emocionais não se estruturam no indiví- riamente equacionar a sua importância no ensi-
duo nem se estabilizam para dar suporte eficaz no, algo único da espécie humana, uma vez que
às funções cognitivas hierarquicamente mais ensinar é uma das suas especificidades mais
complexas do cérebro cognitivo (o neocórtex e sin­gulares66-69 e que envolve processamento de
córtex pré-frontal). emoções em dois sujeitos em interação intencio-
A componente emocional ou afetiva da apren­ nal e transcendente54,59.
dizagem pode, na sua dimensão positiva, enco- Em termos humanos, a aprendizagem é in­
rajar, reforçar e aprofundar as funções motivacio- se­parável do ensino, não há docência sem dis­
nais, cognitivas e executivas atinentes, mas, em cência70, visto tratar-se de um processo de trans­
contrapartida, na sua dimensão negativa, pode missão cultural intergeracional60, que subentende
intimidá-las, adiá-las, bloqueá-las, descontrolá-las, uma dinâmica interpessoal profunda que mencio-
e até mesmo, interrompê-las e dissuadi-las. namos anteriormente, logo de um processo social
É a componente emocional que de certa forma e intersubjetivo, pois envolve, simultaneamente,
reconecta e religa o cérebro com o fim de o aco­ as emoções de um ser inexperiente com as de um
modar continuamente ao processo contínuo que ser inexperiente.
é a aprendizagem. Cabe assim ao professor a criação, a gestão, o
Em termos evolucionista, na espécie huma- planejamento e gestão do envolvimento social da
na14,44,49,61,62, e em termos evolutivos, na criança sala de aula (ou do ecossistema pedagógico) para
humana1-4,63, a emoção está antes e vai a par com que se criem condições emocionais e afetivas óti-
a cognição, porque esta não dá em nada quando mas para que a aprendizagem, como ato cognitivo
aquela domina. As emoções são assim sábias construído e co-construído, aconteça efetivamente.
guias das funções cognitivas da aprendizagem, É impossível pensar em separar a emoção da
mas para tal é preciso integrá-las, contê-las e aprendizagem ou a emoção da cognição ou da
regulá-las, porque os seus excessos ou carências razão, ou conceber, exclusivamente e friamente, na
tendem a perturbá-las24,43,64,65. individualidade do aluno ou no sujeito aprenden-
te, pois temos que pensar também na individua-
POR QUE AS EMOÇÕES CONTAM PARA lidade do professor ou do sujeito docente, porque
A APRENDIZAGEM? alunos e professores interagem socialmente e
A emoção dirige, conduz e guia a cognição, aprendem uns com os outros70. Logo, quer a emo­
não se pode compreender a aprendizagem sem ção, quer a cognição, devem ser enquadradas num
reconhecer o papel dela em tão importante fun- contexto social e obviamente cultural.
ção adaptativa humana. A interdependência da A aprendizagem não é um ato isolado nem
emoção e da cognição no cérebro é demonstrada neutro afetivamente, só pode ser concebida num
pelas novas tecnologias de imagiologia do nosso contexto de transmissão intencional e de atenção
órgão de aprendizagem e de interação social34,64. e interação emocional compartilhada, o que só
Ao longo da evolução humana e ao longo da edu­ por si integra emoções e cognições, leitura de
cação da criança, ambas co-evoluíram e co-evo- faces e de mentes, exibição de sinais não verbais e
luem, elas são neurofuncionalmente inseparáveis. corporais de tristeza, alegria, desgosto, surpresa,
Pela relevância que ela desempenha numa zanga, medo, etc18,57,71.
aprendizagem bem sucedida e com sucesso, a As emoções não podem continuar a ser sepa-
emoção é crítica para a aprendizagem logo para radas das cognições nas escolas e nas salas de

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aula do século XXI, como o foram no passado. A Parece óbvio que as emoções não só facilitam a
aprendizagem significativa e motivadora é o re- construção e a co-construção de comportamentos
sultado da interação entre a emoção e a cognição, adaptados presentes e futuros (papel da interação
ambas estão tão conectadas a um nível neuro­ experiente-inexperiente em Fonseca41), como
funcional tão básico, que se uma não funcionar certamente são facilitadoras do desenvolvimento
a outra é afetada consideravelmente. do processo de aquisição de novas informações e
As emoções afetam todas as aprendizagens, de novos conhecimentos, pois ao contrário do que
quanto mais envolvidas forem com elas, mais mo­ habitualmente se pensa, as emoções não são apenas
bilizadas são as funções cognitivas da atenção, funções auxiliares ou secundárias da aprendiza-
da percepção e da memória, e mais bem geridas gem, são parte integrante do seu processo total.
e fortes serão as funções executivas de planifica-
ção, priorização, monitorização e verificação das A EMOÇÃO E A COGNIÇÃO INCORPO-
respostas41. RAM-SE NA APRENDIZAGEM
Quando o input emocional é adicionado à ex­ A emoção envolve, portanto, processos de
pe­riência de aprendizagem, o cérebro capta e aten­ção, sensação, apreensão, excitação, propen-
processa os estímulos de forma mais significativa e são, inclinação, predileção, gosto, sensibilidade,
profunda, facilitando a sua retenção e recuperação focagem, intuição, preferência, impressão, receio,
e, consequentemente, a elaboração e regulação suspeição, susceptibilidade, pressentimento,
das respostas. A emoção guia a atenção e esta, por ideação, premunição, consciencialização, etc.,
sua vez, guia a memória e a aprendizagem9-11,36. etc., porque joga com ganhos e perdas, desafios
As práticas educacionais que ocorrem numa ou ameaças, logo desencadeia respostas somá-
instituição como a escola ou numa sala de aula ticas, corporais e motoras de antecipação muito
não são neutras, não se concebem sem estar em- importantes para o processo de aprendizagem.
bebidas, encaixadas e incorporadas socialmente A vida emocional e ou afetiva humana, dita
e emocionalmente, as neurociências têm vindo automática, não verbal e não simbólica é, evolu­
a demonstrá-lo cada vez mais66. tivamente, um fato psíquico primordial, ela decor-
As neurociências ensinam-nos que as emoções re em primeiro lugar em comparação com a vida
desempenham um papel formativo na cognição cognitiva, voluntária, racional e lógica, dita verbal
e na aprendizagem, é consensual que o funcio- e simbólica, tendo em consideração a hierarquia
namento do cérebro na aprendizagem coloca a dos substratos neurológicos do cérebro30,47,48.
emoção incrustada na cognição, só em pacientes A emoção e a afetividade ocorrem em primei-
cerebrais as duas funções podem ser separadas ro lugar na espécie humana e no desenvolvi­
(célebre caso de Phineas Gage e outros casos com mento da criança, a emoção é uma premissa psi­
alexitimia estudados por Damásio33-35. cofisiológica e psicomotora da vida afetiva da
Sem uma adequada regulação emocional ne­­ criança4-6,72.
nhuma competência cognitiva superior ou racio- Este autor identifica a emoção como um fato
nal, como aprender a tocar violino ou aprender a psíquico inicial, onde se dá uma fusão ou simbiose
ler e a escrever, pode ser construída e produzi­da primordial e uma integração sistêmica entre o
em termos comportamentais com fluência e ex- biológico e o social.
pressividade. Ao longo da infância é a emoção que abre
Os ensinamentos das neurociências, ao apro­ o caminho à cognição, a lenta emergência da
ximar as emoções do processo ensino-aprendi- cons­­­­cientização de si ou o sentimento de si (em
zagem, dão-nos inúmeras ajudas para pôr em termos psicomotores, é sinônimo de noção do
prática estratégias e experiências de interação corpo ou de somatognosia18,40,41,50,51,73) na criança
emocionalmente significativas que melhoram, não faz emergir a sua cognição, ou seja, as funções
só o ensino, como a aprendizagem nas escolas. cognitivas superiores das aprendizagens huma-

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nas mais complexas, que se vão construindo e


reconstruindo face à dinâmica das suas reações
comportamentais emocionais e afetivas, evoluem
a partir da integridade antecipatória das funções
emocionais.
A dialética da ontogênese74 põe em desafio,
portanto, a emoção e a cognição, uma é insepa-
rável da outra, nenhuma delas se pode conceber
isoladamente, daí a importância das emoções na
aprendizagem, sem emoção a aprendizagem é
debilitada e comprometida.
A maturação do cérebro humano e, con­se­quen­
temente, todo o neurodesenvolvimento da crian­ça
que suporta as suas aprendizagens prospec­tivas, Figura 1 – A emoção e a cognição incorporam-se na apren-
dizagem64.
reforçam o papel da afetividade e da har­monia
das interações emocionais precoces.
Vários autores, como Wallon2-4, Spitz75, Bowl- Sabemos que, nos primeiros anos, as crises
by , Winnicott63,77,78 e outros, chamam atenção
76 emo­­cionais são mais frequentes e veementes,
para a importância do papel da vinculação e do por ilustrarem que elas funcionam como pedestal
apego (“attachment”) nos primeiros meses de das funções cognitivas posteriores.
vida, pois as carências afetivas, a privação ou per­ Mas se surgirem crises emocionais ao longo
turbação das relações mãe-filho comprometem dos processos de aprendizagem mais diferencia-
todo o desenvolvimento mental futuro da criança. dos, como no aprender a ler, escrever, calcular e
Da mesma forma, se a relação precoce pro- resolver problemas, a socialização da criança e as
fessor-aluno (ou professora-aluno ou aluna) não suas dificuldades e transtornos de personalidade
for facilitadora, mediatizadora e acolhedora, as podem ficar irremediavelmente comprometidos.
aprendizagens escolares iniciais podem evocar Possuir um sistema cerebral operativo em ter-
sofrimento emocional, e hoje em muitas escolas, mos emocionais e sociais é essencial para o de­
sabemos que há muitas crianças e jovens nessa senvolvimento integral e holístico das crianças,
situação79-81. nele cabem competências emocionais e sociais
A emoção e a cognição juntam-se para pro- fundamentais para o seu sucesso escolar e seu
duzir aprendizagem, exatamente porque a emo- sucesso na vida futura.
ção emanada do organismo, ou seja, do corpo Falamos essencialmente de seis competências
(múltiplas sensibilidades) e da sua motricidade emocionais e sociais, a saber:
(múltiplas motricidades40,50,51,57,73) por interação • de integração sensorial de sinais sociais;
com o envolvimento, gera uma multiplicidade de • de raciocínio social;
fenômenos psíquicos complexos, a importância • da teoria da mente;
das emoções e da afetividade nas aprendizagens • da afiliação e empatia;
é obviamente inquestionável (Figura 1). da autogestão de estados emocionais; e,
A emoção por ser menos objetiva e menos finalmente,
men­surável que a cognição, exatamente por ser • da avaliação de recompensas.
uma característica e um dom da subjetividade da Não cabe neste artigo desenvolvê-las por limi-
criança em situação de aprendizagem, tem sido tações de espaço, mas o sucesso escolar tem muito
menos estudada, mas ela faz parte do desenvol- a ver com o sucesso emocional e social da criança,
vimento da criança e é parte integrante das suas ou seja, com o perfil de competências emocionais
aprendizagens. e sociais que ela revela e expressa (Figura 2).

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Importância das emoções na aprendizagem

(SOC). Sem processar bem informação emo-


cional e social, a criança tem muito que lutar
e sofrer para aprender na escola, sublinhando
mais uma vez a importância das emoções na
aprendizagem19.
A aprendizagem eficiente e com sucesso in-
corpora as emoções nas funções cognitivas da
aprendizagem, seja a atenção, a análise percepti-
va, a tomada de decisão, a regulação executiva, a
memória ou a planificação de respostas motoras
adaptativas, só com essa integração neurofun-
cional a aquisição de conhecimento pode ser
construída. O sistema operativo cognitivo tem de
incorporar o sistema operativo emocional e social,
só dessa forma o cérebro internaliza e incorpora
Figura 2 – Sistema operativo emocional e social19.
o que foi aprendido com a experiência.
As emoções modelam e organizam a cognição
Para corresponder às expectativas sociais dos
através da experiência e da prática deliberada, a
pais e dos professores, a criança tem de aprender
apropriação ou incorporalização do conhecimen-
as competências escolares sem dificuldades es-
to consciente arrasta consigo reações emocionais
pecíficas e permanentes, para isso, o seu cérebro
que levam o indivíduo a aprender com a experiên­
tem de dispor do sistema operativo emocional e
cia e a se modificar através dela.
social que apresentamos acima resumidamente.
Aprender com a experiência sugere uma inte-
Se apresentar dificuldades de aprendizagem
ração íntima entre as emoção e a cognição, entre
con­tinuadas, inesperadas e inexplicáveis, tal
processos relacionados com o corpo e a motrici-
sis­tema pode claudicar e comprometer não só o
dade e processos relacionados com o cérebro e a
sucesso escolar, mas o sucesso emocional e so-
mente. A joia do organismo que aprende compõe-
cial que a criança necessita para se desenvolver
-se, assim, de quatro diamantes que vão sendo
plenamente.
lapidados com a aprendizagem e a experiência,
As emoções, à medida que a criança cresce e
com a emoção e a cognição.
se desenvolve, como que são reabsorvidas neu-
As emoções integram processos relacionados
rologicamente em benefício de outras formas de
com o corpo e a motricidade: sensações (intero-
comportamento mais complexas e diferenciadas. ceptivas, homeostáticas, proprioceptivas, tônicas
A aprendizagem sugere assim, consequente- e exteroceptivas), impressões, atitudes, posturas,
mente, que inicialmente as emoções tomem a acepções, percepções, noções, sentimentos, etc.,
liderança, para mais tarde as cognições puderem quer sejam atuais quer simuladas ou cogitadas,
fluir e se expandir. que na sua diversidade e complexidade podem
Em síntese, para aprender na escola a criança influenciar o pensamento, logo a aprendizagem.
tem de exibir dois sistemas operativos, não só o Em contrapartida, os pensamentos também po-
cognitivo, a que se dá mais importância, mas dem desencadear emoções que tendem a inter-
também o emocional e social, que vamos analisar. ferir com a mente e o corpo82.
Para ter êxito escolar, o cérebro da criança tem Concomitantemente, as emoções também in-
de funcionar com integridade, quer no sistema tegram convergentemente processos relaciona-
operativo emocional e social (SOES), revelando dos com o cérebro e a mente: processamentos e
as seis competências acima designadas, quer análises de informação, memórias, planificações,
com plasticidade no sistema operativo cognitivo estratégias de execução, tomada de decisão, in-

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Fonseca V

tegração de emoções superiores (sociais, morais, básico, estabiliza a gestão e executa a pilotagem
éticas), motivações intrínsecas, premunições, dos processos cognitivos, conativos e executivos
concepções, priorizações, raciocínios complexos, que entram em jogo na aprendizagem e no com-
etc., que na sua transcendência podem influen- portamento de longo termo17.
ciar igualmente os sentimentos. Ao longo da evolução, a espécie humana de-
Nesta perspectiva, as emoções podem ser senvolveu no seu cérebro um pensamento emo-
vistas como forças agonistas ou antagonistas, cional (“emotional thought”), ou seja, um sistema
im­pulsionadoras ou disruptivas, das cognições, operacional emocional e social (SOEC), que
su­gerem a necessidade de regulação, supressão gerou posteriormente um pensamento racional,
e controle, no interesse de atingir um raciocínio daí a importância do sistema límbico que, ao
ou julgamento maturo, ou seja, no interesse de emergir do tronco cerebral, que trata das funções
pro­duzir respostas criativas e adaptadas aos pro- automáticas de bem estar e de sobrevivência,
blemas que surgem nas aprendizagens. prepara e aciona o neocórtex para o desempenho
Aprender, pensar, utilizar estratégias executi- de funções cognitivas superiores necessárias às
vas e tomar decisões acertadas requer intuições aprendizagens mais complexas e simbólicas.
re­levantes, ou seja, funções emocionais profun- A sobreposição da cognição sobre a emoção
das, é esse atributo da personalidade que caracte­
foi, portanto, uma das chaves do nosso triunfo
riza os seres humanos que aprendem e pensam
adaptativo como espécie, a resolução de proble-
com eficiência.
mas e acumulação de inovações tecnológicas,
A aprendizagem eficiente e com sucesso, em
só foi possível por tal interdependência neuro-
síntese, incorpora a emoção na cognição, isto
funcional.
é, incorpora funções emocionais nos processos
Se o SOEC funcionasse mal, o trajeto evolu­
de aquisição de novas competências e de novos
tivo da espécie seria certamente outro46,48,49,62, pa-
conhecimentos. As aprendizagens complexas
ralelamente, quando uma criança na escola tem
não podem excluir as emoções, pelo contrário,
o seu SOEC comprometido, a sua aprendizagem
en­volvem a cultura e o aprofundamento de estados
emocionais habilidosos e engenhosos. vai ter problemas19,30,49.
A aprendizagem com sucesso implica três
componentes em interação sistêemica: a regu-
SEM EMOÇÃO A APRENDIZAGEM É
lação emocional, o conhecimento consciente e
MAIS DIFÍCIL
as estratégias cognitivas.
A emoção, na sua essência semântica, é sinô­
Se os três componentes não estiverem alinha-
nimo de esquemas de ação ou estado de prepara-
dos e integrados38,64, aprender como corolário da
ção do organismo para certas respostas corpóreas
a tarefas, situações ou eventos e concomitantes experiência vai ser complicado, exatamente por-
comportamentos, particularmente as que têm valor que o indivíduo, ou o aluno, perde a capacidade
de sobrevivência (exemplo: ameaça, perigo, ansie- de utilização do que conscientemente aprendeu,
dade, insegurança, desconforto, etc.). é algo que se observa, com veemência, em casos
Como definição mais pedagógica, podemos patológicos que apresentam lesões no córtex pré-
acrescentar que a emoção é um impulso neuro- -frontal ventromedial, sugerindo que o cérebro
biológico que impele o organismo para a ação. humano dispõe de várias áreas que conectam
Para todos os efeitos, a emoção é uma infor- o conhecimento, isto é, as cognições com as
mação que se acumula no cérebro do indivíduo a emoções15.
partir da sua experiência, e usa essa informação O conhecimento factual em si é inútil, é preciso
para agir com vantagem adaptativa e estratégica que se estabeleça uma interação entre a emoção e
em situações futuras53,64,83. a cognição, sem a intuição emocional, a relevân-
Neste sentido, a emoção guia e acompanha cia intrapessoal e o regozijo prazeroso inerente,
a aprendizagem como processo neurológico a significação do conhecimento tem tendência a

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Importância das emoções na aprendizagem

esvanecer-se na memória de longo prazo e a não para a aprendizagem, que pode influenciar sis-
registar-se no âmago do Eu (“self”) do sujeito. temicamente o processo do pensamento racional
Muitos alunos em plena sala de aula não surgido no neocórtex.
aprendem, exatamente pelas mesmas razões, Do outro, a propensibilidade dos processos
eles não sentem a conexão íntima entre a emoção transcendentes e abstractos de cariz social, éti-
e a cognição, por isso, por mais que estudem ou co, filosófico e moral que podem interferir com o
memorizem, os conteúdos escolares ou acadêmi- processo do pensamento emocional do sistema
cos deixam de ser emocionalmente significativos límbico.
para eles. Emoção e cognição estão juntas para produzi-
Regurgitar conhecimento não basta, lamenta- rem o processo do pensamento e para mobiliza-
velmente é apenas isto que se reforça em muitas rem as funções executivas que lhe dão suporte em
escolas pelo mundo fora, é preciso que a cognição termos comportamentais, ou seja, da produção,
ou o conhecimento a ser processado e analisado execução e monitorização de respostas motoras
desencadeie reações emocionais positivas e in- adaptativas84.
fluencie decisões e condutas de estudo, que por Efetivamente a emoção contribui para a apren­
empatia neurofuncional produzam funções exe- dizagem segundo duas dimensões: a consciente e
cutivas como a: iniciativa, perseverança, esforço, a inconsciente ou não consciente. Toda a aprendiza-
focagem sustentada, determinação, persistência gem tem consequências previsíveis e imprevisíveis,
intencional; inibição, flexibilidade, organização, como jogo que é na sua essência mais cristalina,
planificação, priorização, metacognição, ante- pode ter ganhos ou êxitos, mas similarmente,
perdas ou inêxitos.
cipação, controle, regulação, realização, gestão
Podemos experimentar emoções de excitação
temporal, monitorização, verificação, etc40.
e de desapontamento, de prazer e desprazer, de
Em suma, as emoções precisam fazer parte
paixão ou de rejeição em todas as nossas apren­di­
das experiências de aprendizagem de qualquer
zagens desenvolvimentais. As reações emocionais
aluno ou estudante, pois a sua integração efeti-
perante situações de aprendizagem podem mudar
va e eficiente só se opera neurofuncionalmente
rapidamente o comportamento do indivíduo, de-
quando a emoção e a cognição estão em perfeita
pende frequentemente das suas con­sequências
sintonia.
e como elas são, ou não, cultural e pedagogica-
O pensamento emocional encontra-se assim
mente reforçadas e valorizadas.
no âmago dos processos relacionados com a O êxito ou inêxito na aprendizagem são even-
sensibilidade somático-tônica do nosso corpo tos isolados? Podemos aprender com o inêxito ou
e com os processos superiores do pensamento com o erro, e ajustar os nossos comportamentos
racional, ambos são inseparáveis em termos neu- futuros de acordo com tais consequências? Qual
rofuncionais, quer numa ótica filo e sociogenética é o preço a pagar em termos de aprendizagem
(aprendizagem da espécie), quer numa visão prospectiva?
ontogenética e disontogenética (aprendizagem Porque como seres humanos somos inicial-
da criança). mente imperitos nos processos de aprendizagem,
A aprendizagem, a atenção, a percepção, o é necessário que a mesma não seja encarada ape-
pro­cessamento de informação, a memória, a plani­ nas subjetivamente ou individualmente, separan-
ficação, a tomada de decisão e a própria criativi- do o indivíduo do seu contexto social e cultural.
dade decorrem da sinergia entre o pensamento Porque não nascemos ensinados como espé-
emocional e o racional. cie, ao contrário de outras, o paradigma emocional
De um lado, a sensibilidade corporal e a ati­tude e social da aprendizagem envolve uma intersub-
tônico-postural de bem estar e o sentimento de jetividade, entre um ser maturo e um ser imaturo
dis­­ponibilidade atencional e de pré-disposição em interação afetiva e pedagógica prolongada
emocional e motivacional, dita também conativa, e não esporádica.

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Fonseca V

Este cenário emocional e social da aprendi- quer no contexto da família quer no contexto da
zagem que é simultaneamente, evolucionista e escola, a importância das emoções na modelação
educacional, não podemos esquecê-lo, coloca o futura de novos comportamentos gerados pelas
SOES no centro da natureza humana. aprendizagens18,41,59.
A sobrevivência complexa do bebe humano Processar informação emocional e social
e, consequentemente, das crias humanas, é de- torna-se, assim, fundamental para criar um clima
vida a uma socialização adequada, isto é, a uma propício para que a aprendizagem ocorra com
aprendizagem e internalização de atitudes, com- sucesso.
petências (“skills”) e comportamentos sociais As emoções estão implicitamente ligadas às
de enorme importância que sustentam mesmo cognições em qualquer domínio de aprendiza-
a existência de um cérebro emocional e social. gem que se queira considerar, porque o cérebro
É no cérebro emocional e social, onde cabem emocional sensível à recepção e à expressão de
as teorias da mente, as teorias da vinculação e emoções e emergido do cérebro instintivo que
da afiliação, a singularidade do funcionamento governa os mecanismos de sobrevivência e bem
dos neurônios espelho na imitação, que são as estar, dá efetivamente suporte ao cérebro cogniti-
verdadeiras funções pedestal da personalidade vo simbólico, lógico e pensador, como demonstrou
do indivíduo sem as quais as aprendizagens in- MacLean85,86, com o seu conceito original inédito
trinsecamente humanas não se verificam como do cérebro triúnico (Figura 3).
nos casos das crianças selvagens ou crianças O cérebro humano contém a síntese filoge-
lobo, ou mesmo até, nas formas mais severas de nética neuronal mais extraordinária do reino
autismo19,21,24,69,82. animal, para produzir aprendizagem ele tem de
Da interação social, logo emocional, entre um organizar-se segundo três eixos principais: 1. de
ser experiente e um ser inexperiente, por exem- baixo para cima; 2. de trás para a frente; e 3. da
plo, na relação primordial e vinculativa mãe-filho, direita para a esquerda.
que pode estender-se à relação professor-aluno Vejamos então, sumariamente, cada um
ou à de treinador-atleta, resulta o processo de deles:
aprendizagem onde as emoções de uns se mes- 1. Debaixo para cima, exatamente porque o
clam com as cognições de outros, entre os que cérebro evolui dos reflexos, às emoções e
ensinam e os que aprendem. destas às cognições, ilustrando que a ma-
O bebe e a criança, por tentativas e erros, pela turação neuronal do cérebro decorre do
virtude da sua imperícia inicial2-4, adaptam-se e tronco cerebral (cérebro reptiliano – “sur-
aprendem porque beneficiam-se da transferên-
cia cultural intergeracional60, intencionalmente
e emocionalmente proporcionada e propiciada
pela sua mãe, pela sua cuidadora ou professora.
Esta transferência de competências e de
processos de aprendizagem emana do tal SOES,
que é exclusivo da espécie humana, pois nenhum
primata se aproxima da sua complexidade e
reciprocidade emocional e social.
A atenção visual sustentada, o alerta senso-
rial, a interação intencional, a imitação empáti-
ca, o raciocínio social e as ecognosias e ecociné-
Figura 3 – O cérebro triúnico: as emoções emergem dos me-
sias compartilhadas entre ambos, que se podem canismos de sobrevivência e bem estar (reflexos e instintos)
considerar pré-aptidões sociais básicas, trazem e dão suporte às cognições de processamento de informação
para o jogo do processo ensino-aprendizagem, e de planificação e execução de respostas adaptativas85,86.

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Importância das emoções na aprendizagem

vival brain”), ao sistema límbico (cérebro centrais de expressão e as áreas primárias


paleomamífero – “feeling brain”), e deste somático-sensoriais de recepção do cére-
substrato ao neocórtex (cérebro neomamí- bro, que sentem e integram os estímulos,
fero – “thinking brain”), área superior do as situações e os eventos presentes.
cé­rebro disposto em seis camadas onde 3. Da direita para a esquerda, porque os
emergem as funções cognitivas superiores ver­tebrados, e nós somos o vertebrado
que permitem aos seres humanos: compre- su­­­perior e dominante, dispõem de dois
ender, falar, copiar, desenhar, ler, escrever, he­­­mis­férios ligados pelo corpo caloso (uma
contar, resolver problemas, tomar decisões ban­da densa com mais de 200 milhões de
de todo o tipo e desenvolver o pensamento axônios), mas cruzados neurofuncional-
criativo e crítico. mente com o corpo e com os seus mem-
2. De trás para a frente, porque o cérebro bros e extremidades motoras por sistemas
evo­lui da recepção e captação de estímu- piramidais lateralizados que facilitam a
los sensoriais (input), operada nos lobos velocidade, a perfeição e a melodia cines-
posteriores do cérebro (parietal para o tato tésica da motricidade na exploração do
e a cinestesia; occipital para a visão; e, envolvimento.
temporal para a audição), à planificação Visto de cima, o cérebro encontra-se dividido
e execução de respostas motoras (output) em dois hemisférios: o direito, preferencialmente
desencadeadas no lobo frontal anterior do dotado de funções não-verbais e não-simbólicas
cé­rebro, ilustrando a sua organização es- que se maturam antes no neurodesenvolvimento,
paço-temporal perfeita. Uma organização para além de controlar em termos motores a mão
espacial do tato e da cinestesia (do corpo e o pé esquerdos; e, o esquerdo, preferencial-
em baixo ao córtex parietal localizado no mente dotado de funções verbais e simbólicas
lobo parietal do cérebro em cima), da visão como a linguagem, que se matura posteriormen-
(dos olhos posicionados na frente da face te, para além de controlar a mão e o pé direitos.
ao córtex visual localizado atrás no lobo Embora os dois hemisférios se encontrem
occipital), e da audição (dos ouvidos dos em permanente comunicação um com o outro,
dois lados da cabeça ao córtex auditivo por via da perfeita sincronização efetuada pelo
localizado nos lobos temporais dos dois he- corpo caloso, cada um deles assume uma espe-
misféricos entre ambos). Uma organização cialização hemisférica distinta e uma modalidade
temporal do passado (preferencialmente diferenciada de processamento de informação,
situado nos três lobos cerebrais posteriores não são espelhos um do outro, nem anatomica-
onde as memórias sensoriais de trabalho, mente, nem bioquimicamente, nem tão pouco
de curto e longo prazo, são processadas, neurofuncio­nalmente como demonstram as suas
re­tidas, recuperadas e reconstruídas), lesões cerebrais específicas16,71,84.
do futuro (preferencialmente situado no O hemisfério direito é mais propenso a pro-
lobo frontal anterior onde a planificação, cessar informação nova, simultânea, global, es-
a tomada de decisão, a monitorização da pacial, emocional, lúdica e corpórea, e o hemis-
execução e controle das respostas adap- fério esquerdo, a processar informação de rotina,
tativas, a metarepresentação do Eu, a sucessiva ou sequencial, analítica, temporal,
resolução de problemas e de projetos são lógica, rigorosa e abstrata. Por esta razão, a domi-
men­­talmente operadas), e por último, o nância manual, a especialização hemisférica e a
presente (preferencialmente situado nas consciencialização da lateralização corporal em
áreas intermédias do cérebro, de cada lado si e nos outros interferem com as aprendizagens
da rego de Rolando, onde estão situadas escolares. Em muitas crianças insuficientemente
as áreas primárias motoras que são as lateralizadas, tal singularidade neurofuncional

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Fonseca V

da espécie humana talvez ajude a compreender da memória, da planificação e da execução de


mais uma implicação da integração da emoção res­postas adaptativas.
com a cognição. Em síntese, as emoções atuam sobre as cogni-
Apesar da maioria da população mundial ser ções e sobre as ações específicas que permitem
dextra, as neurociências apontam que cerca de ao ser humano, primeiro, adaptar-se, e depois,
90% têm uma dominância e uma preferência ma­ aprender a aprender.
nual direita para realizar tarefas cotidianas (por Numa palavra, o indivíduo investe mais no
exemplo: cortar com a tesoura, serrar madeira e aper­feiçoamento das suas competências cogni­
martelar pregos para construir estantes para livros, tivas, emocionais, executivas e performáticas e
construir torres de cubos, reparar equipamentos aprende melhor e mais continuadamente, reu­­
elétricos, desenhar, escrever, etc.), o restante nindo assim melhores condições favoráveis à sua
população (10%) pode apresentar-se como ca- auto-realização87, quando constata que as suas
nhotos de várias ordem: puros, falsos ou ainda, necessidades, motivações (extrínsecas e ou intrín­
e raramente, ambidestros. secas), aspirações, objetivos, planos, sonhos (curto,
Nestes casos, a neurodiversidade dos proces- médio ou longo prazo), etc., são plenamente
sos de aprendizagem pode apresentar diferenças realizados.
e preferências que deverão ser respeitadas para Por trás dos comportamentos e das respostas
que as dificuldades não se avolumem, quer em corpóreas e motoras adaptativas que presidem ao
termos de autoestima quer de autoeficácia. processo de aprendizagem do ser humano, desde
Se estes três eixos do cérebro não operarem a criança ao idoso, existem fatores emocionais
sistemicamente e hierarquicamente, o ensino e que os motivam e sustentam, isto é, existem.
a aprendizagem ficam comprometidos, ou seja, A motivação (do latim “mover-se”) prende-se
ambos os processos têm de ser compatíveis com com a energia, a tonicidade, o impulso, a disposi­
os princípios neurofuncionais que sustentam o ção, a disponibilidade, a excitação, a empolgação,
trabalho do órgão da emoção e da cognição. o entusiasmo, a estimulação e ativação do com-
Tais princípios neurofuncionais devem, por­ portamento, especificamente, esclarece-nos como
tanto, guiar a intervenção dos professores na ele é iniciado, gerido e continuamente persegui-
inte­ração com os alunos. Em resumo, devemos do, até que as necessidades sejam satis­feitas,
com­preender que a aprendizagem é engrandecida reforçadas e recompensadas.
pela emoção, pela motivação, pela curiosidade e Para o mesmo autor acima citado, o ser huma-
pelo desafio, mas é também inibida pela ameaça, no é impulsionado por muitas necessidades (es-
pela angústia, pela tensão e pelo medo. tados de carência), umas muito básicas e cruciais
Ter em atenção que as emoções têm uma à sobrevivência, ditas biológicas e somaticofisio-
importância crítica na construção de padroni- lógicas, como a respiração, fome, a sede e o sono,
zações espaciais, na focagem da atenção, na outras muito transcendentes, ditas psicológicas
percepção periférica das situações, na memória e relacionais, como a auto-realização e o senti-
visuoespacial, na interação das partes com o mento de felicidade plenamente conquistada e
todo da informação em causa, na busca de sig- socialmente reconhecida.
nificação, no processamento paralelo consciente Maslow87 concebeu uma pirâmide das neces-
e inconsciente desta e, sobretudo, o que é muito sidades, que é um marco referencial do estudo
relevante, na facilitação da interação social. da personalidade, em que a satisfação das ne-
Não é por acaso que as emoções estão re- cessidades biológicas não é, por si só, suficiente
lacionadas com a aprendizagem, elas ligam para a realização humana (Figura 4).
com coerência, relevância e significação, as É crucial que a estas necessidades sejam
fer­ramentas mentais da atenção, da percepção acopladas necessidades psicológicas e sociais,
(processamento de informação), da motivação, como, por exemplo: a segurança; o conforto; a

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Importância das emoções na aprendizagem

porque precisam de estudar para atingir os seus


objetivos e satisfazer os seus sonhos.
A hierarquia das suas necessidades está
ade­quadamente satisfeita, sentem-se com saúde
e com bem estar corpóreo, sentem-se seguros,
sentem-se estimados e respeitados pelos outros e
têm uma boa opinião de si mesmas. O papel das
emoções neste pressuposto é óbvio.
Na mesma linha de pensamento, Bandura88
refere-se ao sentimento de autoeficácia no estu-
dante, quando este assume expectativas pessoais
de sucesso, o que o leva a ter mais motivação para
estudar, pois acredita que os seus esforços serão
recompensados com melhores avaliações.
Figura 4 – Pirâmide de necessidades de Maslow87. Os alunos (podemos falar também de atletas)
com grande autoeficácia tendem a estabelecer
objetivos elevados, e em função dessa energia ou
pertença ou afiliação a um grupo social (exem-
força emocional, normalmente, ao estabelecerem
plo: família, turma, bando ou “tribo” de amigos,
metas desafiadoras e exequíveis, tendem a con-
clube desportivo, profissão, etc.) e a estima e
seguir resultados mais favoráveis.
consideração pelos pares e pela comunidade
À luz das neurociências, como temos vindo
(proximal e distal).
a apresentar, as funções conativas, emocionais
De acordo com o mesmo autor, tais neces-
ou afetivas estão intimamente agregadas, neu-
sidades do foro emocional, relacional e social
rofuncionalmente e sistemicamente, às funções
são fundamentais para atingir a auto-realização
cognitivas e às funções executivas40.
pessoal, esta necessidade, interior e profunda,
Nenhuma aprendizagem significativa e com
não é possível de ser vivenciada absolutamente sucesso, seja aprender a nadar, a andar de bici-
sem a integração das restantes, daí a importân- cleta, a jogar xadrez, a tocar piano ou flauta ou
cia desta perspectiva personalista e humanista aprender a ler, a escrever ou a resolver problemas
para a compreensão do impacto das emoções na de matemática, pode ocorrer no cérebro sem que
aprendizagem. tais funções se integrem e sincronizem.
As necessidades portanto, sejam biológicas ou
psicossociais, são holísticas no seu todo e levam o TRÊS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
indivíduo, melhor dito a pessoa, a comportamen- EMOCIONAL PARA OS PROFESSORES
tos dirigidos e enfocados para um determinado As escolas e os seus professores têm de pro-
fim, meta ou objetivo. Obviamente, que o fracasso porcionar mais e melhores condições de apren-
em satisfazer qualquer tipo de necessidades tem dizagem emocional, se efetivamente, as suas
custos e prejuízos elevados, sejam somáticos, missões sociais tão transcendentes se compatibi-
emocionais, cognitivos ou executivos. O fracasso lizarem mais com as emoções e as cognições dos
escolar, por exemplo, que não cabe explorar neste seus alunos, e se preocuparem mais com os seus
texto, compromete assim o que é mais básico no níveis de satisfação com e para a vida38.
ser humano, que é, exatamente, tentar melhorar Porque o artigo já vai longo, apenas desejamos
continuamente o seu potencial de aprendizagem aflorar neuropedagogicamente neste último ca-
e a sua adaptação social. pítulo do artigo, antes de terminar, três tipos de
Os alunos ou estudantes auto-realizados, cha­ estratégias de crescimento emocional que podem
mados bons alunos, vivem de acordo com o seu contribuir para tal finalidade acima destacada,
potencial de aprendizagem, sentem-se realizados são elas:

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Fonseca V

• 1o fomentar conexões emocionais com as relevância das fontes de informação lidas


matérias a serem aprendidas: a estraté­gia e classificadas, etc., é implementar um
a desenhar e a implementar deve envolver processo de aprendizagem ativo, criativo
experiências educacionais que encorajem e motivante. Elaborar portefólios, dossiers,
conexões relevantes com os conteúdos a projetos, ensaios, etc., numa dinâmica
serem aprendidos, com formas cooperati­ de cooperação-responsabilização, ajuda
vas, sérias, responsáveis e criativas de os alunos a compreenderem a riqueza
selecionar, com a participação ativa dos emocional da construção e co-construção
alunos, tópicos ou temas de pesquisa em do conhecimento, cria espaços para a
pequenos grupos, com calendários e pro- interação social e gera condições peda-
cessos de planificação, execução e exposi­ção gógicas para aprender com os erros num
devidamente acordados. Tais estratégias clima de segurança e de pertencimento.
podem ser concretizadas com a realiza- Desta forma, o ensino desvia-se da mera
ção de um ensaio ou de um relatório a ser debitagem direta, rápida, frontal e fria do
apresentado e debatido na sala de aula conhecimento e da pobreza emocional com
com toda a turma, ou de modo mais ino- que, frequentemente, se transmite cultura,
vador, sobre a forma de uma apresentação e dessa forma mais pedagógica torna-se o
em “Power Point” ou em vídeo, integrando ensino muito mais compatível com o cére-
dados de pesquisa na Internet, leituras bro triúnico dos estudantes. Os resultados
críticas de livros, revistas, jornais, ou que advêm de um ensino compatível com
mesmo, com base em entrevistas com pes- as emoções e as cognições dos alunos
soas especializadas nos temas em estudo. tornam-se mais ricos para as suas perso-
Desta forma responsável e comprometida, nalidades e motivações intrínsecas, permi-
os estudantes tendem a investir mais em tem acumular memórias mais profundas e
termos emocionais e em termos de compe- límbicas, e claramente, desenvolvem um
tências de participação, de comunicação potencial de aprendizagem mais versátil
e de busca e pesquisa de conexões inter emocionalmente e cognitivamente. Numa
e transdisciplinares. A aprendizagem época em que o ensino se enfoca em des-
planificada e engendrada nestes moldes pejar matérias, em valorizar o estudo só
pelos professores deve produzir, obvia- para exames, em publicar “ranking lists”
mente, mais aprendizagens significativas, e exigir desempenhos padronizados e
mais propensibilidade potencial e mais seletivos, para além de se caracterizar por
intuição emocional para aprendizagens currículos empacotados e abarrotados, a
futuras, porque elas são centradas nos ideia de sugerir um ensino mais compatí-
interesses, nas paixões e nas experiências vel com a natureza do funcionamento do
vividas pelos próprios alunos, ajudando-os cérebro dos estudantes parece heterodoxa,
a aprofundar e a visualizar a relevância e a mas numa perspectiva das neurociências
utilidade dos conteúdos das matérias e das educacionais é aquela que parece oferecer
competências a aprender, confrontando-as mais garantias para o futuro das suas vidas.
com as situações concretas das suas vidas • 2o encorajar os estudantes a desenvolver
diárias. Aprender com engajamento e intuições escolares inteligentes: esta es-
com­­­­promisso emocional e ensinar os estu­ tratégia prende-se com a promoção e en-
dantes a resolver problemas, que os levem riquecimento do pensamento intuitivo e
a discutir e a lutar pela definição das ta- estratégico dos estudantes, na medida em
refas a concretizar, assim como, a realizar, que se torna hoje, numa sociedade global
a recrutar, a recolher, a reorganizar e a em mudança acelerada, cada vez mais
dis­­cutir com as suas intuições pessoais a necessário potenciar a sua criatividade e

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Importância das emoções na aprendizagem

o seu raciocínio crítico. Aprender a colocar • 3o gerir intencionalmente e ativamente o


perguntas relevantes, saber questionar e clima emocional e social da sala de aula:
dispor de instrumentos mentais analíticos, por último, esta estratégia de aprendiza-
são condições críticas para desenvolver, gem emocional enfoca-se com a possibi-
aprofundar e criar conhecimento. Utilizar lidade de cometer erros e aprender com
e treinar o pensamento intuitivo é uma eles, algo só possível de ocorrer numa
plataforma cognitiva excelente para es- atmosfera pedagógica de confiança e
tabelecer generalizações e para transferir de respeito. O clima e o envolvimento
conceitos e estratégias da vida acadêmica so­cial onde decorrem as interrelações
para novas situações e novos problemas da entre experientes e inexperientes ou en-
vida real e concreta. A aprendizagem pode tre professores e alunos, etc., contribui
ser concebida como uma maratona longa, de forma crucial para a aprendizagem,
e para percorrer com sucesso os currículos pois só nesses ambientes as emoções po-
devem ser construídos no sentido de cria- sitivas podem fazer parte das interações
rem mais oportunidades para as funções dinâmicas de transmissão e recepção da
intuitivas e conativas e para as funções cultura. Provocar emoções artificiais e de
cognitivas e executivas dos estudantes. fácil impacto nos estudantes; incitar sen-
Os estudantes precisam passar pelo senti­ timentos desadequados na sala de aula;
mento de que estudam para sentirem em ridicularizar condutas inapropriadas; dis-
si próprio, que “Eu crio, logo existo”. As tribuir recompensas sem nexo pedagógico;
escolas não existem para amorfanhar a in- colocar situações e atividades que não
tuição ou para ridicularizar a criatividade sejam relacionadas com as tarefas signifi-
das crianças e dos jovens, pelo contrário, cativas de aprendizagem; etc., são sinais
como organizações de aprendizagem que de dispedagogia muito sérios, pois podem
são, devem apostar mais na intuição e na implicar comportamentos de indisciplina,
emoção, pois só com elas as aprendiza- de oposição, de provocação, gerar mesmo
gens significativas e relevantes se fixam e padrões de negatividade argumentativa e
incorporam no cérebro. A nossa memória de confrontalidade de atitudes, que no seu
de longo prazo, que consubstancia neuro- todo, alteram o clima emocional e a coesão
funcionalmente as nossas aprendizagens social da sala de aula. Aprender também
mais importantes e engrandecedoras da envolve o cérebro social e emocional dos
nossa personalidade, permite-nos recu- alunos, as suas emoções não são irrelevan-
perá-las, rechamá-las e aplicá-las a novas tes, excessos de ansiedade ou de excitação
situações, exatamente porque elas estão trazem sempre problemas de aprendiza-
entranhadas corporeamente e emocional- gem. Uma sala de aula ou um auditório
mente, só com tais ingredientes afetivos e com participantes distrácteis e desconec-
conativos o auto-aperfeiçoamento é trei- tados com a informação que será transmi-
nado e expandido. A intuição e a emoção tida e processada, espelha e reflete uma
não podem continuar a ser desprezadas e aprendizagem tenue, inconsistente, banal,
desencorajadas na aprendizagem, parte insuficiente e superficial. Um ambiente
do cérebro do estudante fica inativo e todo social, equilibrado, orquestrado, seguro
o seu funcionamento fica em falência. A e agradável é indispensável para que as
escola ou sala de aula que não desenvolva intuições e as emoções de quem ensina
a intuição e a emoção dos estudantes está e de quem aprende se possam expressar,
condenada, esvaziada de entusiasmo, ela criando toda uma atmosfera pedagógica
empobrece o cérebro dos seus ocupantes, de confiança e de conforto que contribua
quer no seu presente, quer no seu futuro. para que os alunos construam competên-

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cias sociais e emocionais que permitam pode ser relevante, significativa e útil para
a acumulação significativa de melhores a vida de todos os estudantes. A criança
experiências educacionais. A escola e a ou o jovem como aluno, estudante e ser
sociedade ganham mais com alunos emo- apren­­dente, não pode, consequentemente,
cionalmente mais competentes. A emoção ser compreendido apenas como um sis­
não pode continuar a ser concebida, em tema cognitivo de reprodução de infor­
comparação com a cognição, como secun- mações e conhecimentos factuais, mas
dária ou subordinada da aprendizagem, pelo contrário, deve ser reconhecido como
ou pior ainda, a ser entendida como um ser relacional e emocional, como sujeito
obstáculo que interfere com ela. A impor­ histórico-social constituído por atitudes,
tância da emoção na aprendizagem é condutas, conhecimentos e competências
crí­tica, só com emoção a aprendizagem transmitidas por outros.

SUMMARY
Importance of emotions in learning: a neuropsycopedagogical approach

The article seeks to address the importance of emotions in school


learning, bearing in mind that the current school’s mission should not
focus only on the intellectual development of children and young people,
but should also be responsible for their social and emotional development.
Regardless of today neurosciences show that emotions have a key impact
on learning, many teachers and educational officials, still reveal some
uncertainty in incorporating work on emotions in the classroom. Throughout
the text are explored questions about the relationship between emotion and
cognition in neurofunctional terms when both functions are incorporated in
learning, raising various reflections on the teaching-learning process and
on the emotional interactions between teachers and students. Finally, some
teaching strategies for teachers are advanced and discussed.

KEY WORDS: Emotions. Learning. Neurosciences.

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Trabalho realizado na Universidade de Lisboa, Oeiras, Artigo recebido: 23/9/2016


Portugal. Aprovado: 12/11/2016

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