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Marx
Marx doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Berlim em 1841. Aproveitou ideias no
que chamou «socialismo utópico», de Saint-Simon, Fourier e Robert Owen. Dessas ideias
sublinhou a imoralidade da má distribuição da riqueza, bem como o princípio de que
a propriedade privada dos meios de produção é a responsável pelo estado de injustiça na
sociedade humana. Dentro desta linha de pensamento, Proudhon proclama que «a
propriedade é um roubo» (1). Marx não foi tão longe.
Estudioso, Karl Marx também se informou sobre as teorias económicas de Adam
Smith (autor de importantes obras no campo da Economia, como Riqueza das Nações),
e David Ricardo, também economista, que se interessou pela obra de Adam Smith, tendo
ele próprio continuado o desenvolvimento da Economia, publicando entre outras a obra
Princípios de Economia Política e de Tributação. Tendo sido aluno de Hegel, Marx
reinterpreta a sua dialéctica que explicava o desenvolvimento universal por um movimento
em três momentos, «tese - antítese - síntese». Mas, enquanto Hegel aponta Deus como o
culminar desse movimento, Marx aplica a dialéctica ao desenvolvimento social: a tese é o
estado actual da sociedade, a antítese é o proletariado, a síntese (superação) será uma
nova sociedade, a sociedade socialista, a qual, em movimentos posteriores chegaria à
fase comunista. Da obra do seu colega de Universidade, Ludwig Feuerbach, retirará a
noção de alienação, patente no escrito Manuscritos económico-filosóficos de 1844. Mas,
enquanto para Ludwig Feuerbach a alienação (estado de uma consciência distorcida da
realidade) é proveniente da religião - «ópio do povo» - para Karl Marx, é a situação social
do homem que determina a sua consciência. Note-se que já David Ricardo considerara
que «Os grupos ou classes sociais têm solidariedade e costumes próprios» (2).
Karl Marx entende que os processos económicos determinam toda a evolução social
humana. A organização económica de uma sociedade é a sua base, a sua
«infraestrutura». A cultura em geral e o próprio sistema educativo, dependem desta e
constituem a «superestrutura». É a propriedade privada dos meios de produção que gera
desigualdade e alienação.
Émile Durkheim
Em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que o
sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) chamou de individual. Tal porção do
sujeito - o jovem bruto -, segundo ele, é formada pelos estados mentais de cada pessoa.
O desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal função da educação até o
século 19. Principalmente por meio da psicologia, entendida então como a ciência do
indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral. A
caracterização do segundo ser foi o que deu projeção a Durkheim. "Ele ampliou o foco
conhecido até então, considerando e estimulando também o que concebeu como o
outro lado dos alunos, algo formado por um sistema de idéias que exprimem, dentro
das pessoas, a sociedade de que fazem parte", explica Dermeval Saviani, professor
emérito da Universidade Estadual de Campinas.
Dessa forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo
processo educativo. Para ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela
geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o
desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida.
Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela
primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as
capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo. "Todo o
passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de máximas que dirigem os
diferentes modelos de educação, cada uma com as características que lhe são próprias.
As sociedades cristãs da Idade Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se
tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado atualmente",
exemplificou o pensador.
Nas palavras de Durkheim, "a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na
criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu
conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão
relacionadas à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de
desenvolvimento das ciências e até mesmo ao estado de progresso da indústria local.
Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da
vontade e do desenvolvimento individual, o que para ele era incompreensível: "Como é
que o indivíduo pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão
privada, o que não é obra do pensamento individual?" E ele mesmo respondeu: "O
indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que
está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não
poderá sabê-lo sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá
representada". Por tudo isso, Durkheim é também considerado um dos mentores dos
ideais republicanos de uma educação pública, monopolizada pelo Estado e laica,
liberta da influência do clero romano.
Autoridade do professor
Biografia
Émile Durkheim nasceu em 1858, em Épinal, no noroeste da França, próximo à
fronteira com a Alemanha. Era filho de judeus e optou por não seguir o caminho do
rabinato, como era costume na sua família. Mais tarde declarou-se agnóstico. Depois
de formar-se, lecionou pedagogia e ciências sociais na Faculdade de Letras de
Bordeaux, de 1887 a 1902. A cátedra de ciências sociais foi a primeira em uma
universidade francesa e foi concedida justamente àquele que criaria a Escola
Sociológica Francesa. Seus alunos eram, sobretudo, professores do ensino primário.
Durkheim não repartiu o seu tempo nem o pensamento entre duas atividades distintas
por mero acaso. Abordou a educação como um fato social. "Estou convicto de que não
há método mais apropriado para pôr em evidência a verdadeira natureza da
educação", declarou. A partir de 1902, foi auxiliar de Ferdinand Buisson na cadeira de
ciência da educação na Sorbonne e o sucedeu em 1906. Estava plenamente preparado
para o posto, pois não parara de dedicar-se aos problemas do ensino. Dentro da
educação moral, psicologia da criança ou história das doutrinas pedagógicas, não há
campos que ele não tenha explorado. Suas obras mais famosas são A Divisão do
Trabalho Social e O Suicídio. Morreu em 1917, supostamente pela tristeza de ter
perdido o filho na Primeira Guerra Mundial, no ano anterior.
Tempo de mudanças
Para pensar
Durkheim dizia que a criança, ao nascer, trazia consigo só a sua natureza de indivíduo.
"A sociedade encontra-se, a cada nova geração, na presença de uma tábua rasa sobre a
qual é necessário construir novamente", escreveu. Os professores, como parte
responsável pelo desenvolvimento dos indivíduos, têm um papel determinante e
delicado. Devem transmitir os conhecimentos adquiridos, com cuidado para não tirar
a autonomia de pensamento dos jovens. A proposta de Durkheim levará o aluno a
avançar sozinho? Esse modelo de formação externa contraria a independência nos
estudos? Ou será uma condição para que a educação cumpra seu papel social e
político?
Pierre Bourdieu
A partir dos anos 1960, e durante quase 45 anos, Pierre Bourdieu produziu um
conjunto de análises no âmbito da sociologia da educação e da cultura que influenciou
decisivamente algumas gerações de intelectuais, obtendo o reconhecimento de
pesquisadores, estudantes e ativistas que atuam em várias outras esferas da
sociedade. Em “Uma sociologia da produção do mundo cultural e escolar”, introdução
a Escritos de educação (1998), que reúne 12 textos do sociólogo francês, Maria A.
Nogueira e Afrânio Catani escrevem o seguinte: “Ao mesmo tempo em que colocava
novos questionamentos, sua obra fornecia respostas originais, renovando o
pensamento sociológico sobre as funções e o funcionamento social dos sistemas de
ensino nas sociedades contemporâneas, e sobre as relações que mantêm os diferentes
grupos sociais com a escola e com o saber. Conceitos e categorias analíticas por ele
construídos constituem hoje moeda corrente da pesquisa educacional, impregnando
boa parte das análises brasileiras sobre as condições de produção e de distribuição
dos bens culturais e simbólicos, entre os quais se incluem os produtos escolares”.
O filósofo idealista Alain (Émile Chartier, 1868-1951) foi professor durante décadas
na Khâgne (classes preparatórias às Escolas Normais nas áreas de letras e filosofia,
onde são recrutados os intelectuais de maior prestígio no campo intelectual francês)
do Lycée Henri IV (Paris) tendo, dentre centenas de outros alunos, Raymond Aron,
Simone Weill e Georges Canguilhem. Em 1932, Alain escrevia em Propos sur
l´éducation – Pédagogie enfantine, de maneira apologética, que “se pode perfeitamente
dizer que não há pensamento a não ser na escola”.
Bourdieu constrói seu esquema analítico relativo ao sistema escolar e às relações não
explícitas que o ancoram em uma longa trajetória que envolve análises empíricas
objetivas, centradas em estatísticas da situação escolar francesa. Já em 1964, em Les
étudiants et leurs études (Os estudantes e seus estudos) e Les héritiers. Les étudiants
et la culture (Os herdeiros. Os estudantes e a cultura), escritos com Jean-Claude
Passeron, examina como os estudantes se relacionam com a estrutura do sistema
escolar e como são nele representados, e constata a desigual representação das
diferentes classes sociais no sistema superior. Investiga a cultura “legítima”, aquela
das classes privilegiadas que é validada nos exames escolares e nos diplomas
outorgados, e o ensino, aquele que autentica um corpo de conhecimentos, de saber-
fazer e, sobretudo, de saber dizer, que constitui o patrimônio das classes cultivadas.
Ao afirmar que o sistema escolar institui fronteiras sociais análogas àquelas que
separavam a grande nobreza da pequena nobreza, e esta dos simples plebeus, ao
instaurar uma ruptura entre os alunos das grandes escolas e os das faculdades (ao
analisar o campo universitário francês e o papel das Grandes Écoles), Bourdieu
desvela a crueza da desigualdade social e, ao mesmo tempo, como ela é simulada no
sistema escolar e entranhada nas estruturas cognitivas dos participantes desse
universo – professores, alunos, dirigentes.
Conhecimento e poder
Mannheim
Mannheim retoma a formulação de Weber sobre os tipos de educação – pedagogias
do cultivo e do treinamento – e crescenta a essa formulação a perspectiva de um
programa para a mudança da educação.
Fugindo do pessimismo weberiano, o referido autor propõe a educadores e
educandos que utilizem a sociologia como embasamento teórico para a
compreensão da situação educacional moderna.
Para Mannhiem o pensamento social não pode explicar a vida humana, mas apenas
expressá-la. O papel da teoria, portanto, é compreender o que as pessoas pensam
sobre a sociedade e não o de propor explicações hipotéticas sobre ela.
O autor defendia uma sociedade que fosse essencialmente de democrática, uma
democracia de bem-estar social dirigida pelo planejamento racional e governada por
cientistas.
Mannheim também:
* Admite que a racionalização da vida levou a um declínio da educação voltada para
a formação do homem integral, mas que o arejamento promovido pela
democratização das relações sociais permitiu o surgimento de novas esperanças.
Nesse sentido, embora o capitalismo tenha gerado desigualdades sociais, o
interesse dos jovens das classes inferiores em ascender socialmente à elite, traz ao
processo educacional as contribuições culturais das diferentes camadas sociais e
intercomunicação entre elas.
* Percebeu a importância da sociologia na modernidade, para o estudo dos
fenômenos educacionais, justamente porque a vida baseada na tradição estava se
esgotando. Nas épocas históricas dominadas pela tradição (pré-capitalista) a
educação resumia-se a ajudar a criança a ajustar-se à ordem social tradicionalmente
estabelecida. Valendo-se da influência da psicanálise, observa que tal processo era
apenas de assimilação “inconsciente”, pela criança, do modelo da ordem vigente.
Mas quanto mais a tradição vai sendo substituída pela racionalização da vida,
provocada pela consolidação da sociedade industrial, mais os conteúdos
educacionais devem ser transmitidos num processo “consciente”, em que o
educador se aperceba do meio social em que vive e das mudanças pelas quais
passa. Para ele, nem os objetivos do processo educacional, nem as metas podem
ser concebidos sem a consideração do contexto social, pois eles são socialmente
orientados.
* Não concordava com a idéia de que a teoria pode existir apenas pela teoria.
Achava que a sociologia poderia servir de base para o aprimoramento da educação.
*‘Queremos compreender nosso tempo, as dificuldades desta Era e como a
educação sadia pode contribuir para a regeneração da sociedade e do
homem’. (MANNHEIM apud RODRIGUES, 2007, p.82).
* Regenerar de quê? Regenerar a sociedade e o homem dos efeitos perversos que
vêm embutidos no processo de racionalização detectado por Weber. Valer-se da
compreensão dos diferentes tipos históricos de educação, construídos por Weber,
para a montagem de uma pedagogia que dê conta de educar o homem moderno
sem arrancar-lhe as possibilidades oferecidas por uma formação integral.
Para Mannheim:
* Não há porque pensar que a pedagogia do cultivo está condenada à morte. Os
modos de vida incutidos por esta educação, voltada para a cultura e a erudição,
estavam associados ao poder de certas classes privilegiadas “que dispunham de
lazer e de energias excedentes para cultivá-la”, e tais classes entraram em declínio
com o desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da burguesia. Concorda
Mannheim que a educação especializada desintegra a personalidade e a
capacidade de compreender de modo mais completo o mundo em que se vive. No
entanto, argumenta que a grande questão educacional da primeira metade do
século XX era saber se os valores veiculados por este tipo de formação são
exclusivamente dessas classes ociosas ou se podem ser transferidos em alguma
média às classes médias e aos trabalhadores.
* O elemento histórico decisivo na abertura das possibilidades na sociedade atual é
político: o advento da democracia moderna.
O que seria essa “educação sadia” para Mannheim?
Mannheim compreende que:
* Existem tendências no sentido de criar padrões melhores de vida. à Os
movimentos da juventude são responsáveis pelo desenvolvimento de um ideal de
homem “sincero”, interessado numa relação mais autêntica com a natureza e com
os outros. A psicanálise é responsável por um novo padrão de vida, com saúde
mental, capaz de deixar o homem livre das repressões adquiridas na formação.
* A modernidade não tem apenas custos, ou ameaças à liberdade. Ela traz também
esperanças e valores sociais solidários, abertos.
‘A principal contribuição de todas as que a moderna democracia é capaz de oferecer
é a possibilidade de que todas as camadas sociais venham a contribuir com o
processo educacional. E a sociologia é a disciplina, em sua visão, capaz de fazer a
síntese dessas contribuições. Por isso é tão importante, para ele, que a sociologia
sirva de base à pedagogia’. (RODRIGUES, 2007, p.83).
Mannheim era um homem de seu tempo, em busca de um programa de estudos em
sociologia da educação que possibilitasse a formulação de projetos educacionais
que ampliassem o horizonte do homem, que superasse as divisões em blocos
políticos e ideológicos, que não o satisfaziam. (…) (p.83).