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Prosódia Portugueza
ESTUDO PRÉVIO DA ORTHOGRAPHIA
COORDENADO POR
COIMBEA
1". TRANÇA AMADO, EDITOR
1909
L^Wll
.'.,
I
Á MEMÓRIA
>
O DEDICADISSIMO IRMAO
DO AUCTOR DA « CARTILHA MATERNAL >
ú
.-'.
I
razão popular, ainda mais que as
academias, tende sempre a racio-
nalisar a orthographia, ajustando-a
cora a falia.
1
Cartilha Maternal, pág. 45.
2 Obr. cit., pág. 135.
I
INTRODCCÇÃO 11
1
Cartilha Maternal e o Apostolado, pág. 13, 14 e 15.
14 INTRODDCÇÃO
E a esta these
responderia eu que sim,
determinando as regras que presidem á
leitura da nossa língua e fixando a signi
ficação dos signaes, creando algum que
fosse necessário.
INTRODUCÇÃO 15
bqd — gl Ih — mn nh — pr t.
I — VOZES
h) As vozes
fechadas são tres : a voz com
que se lê o a no fim da palavra ; a de que
se compõe o nome das lettras invogaes ; e
aquella com que lemos o o em boi (â, ê, ô).
O signal doestas é o chamado circumflexo,
que a máxima parte das vezes se omitte,
mas algumas se emprega onde era necessa
rio, como em dê; onde convinha, como em
rogo; onde era desnecessario, como em flor
(porque or final vale geralmente ôr) e tam
bem modernamente em vogaes de differente
valor, como em vemos, louvámos, onde e, a
se lêem nasaladamente, e portanto só admit-
tiam til 2.
cada, escada ;
sede, sete ;
mordo, morde.
1
Dic. Prós., — palavra circumflexo.
2 C. M., pág. 89, lin. 4 a 11.
26 PRIMEIRA PARTE
É
uma distincção clara. 0 accento agudo,
já dissemos, que é signal de voz nominal,
isto é, para se ler a vogal, como se chama,
á, é, etc. ; para se ler menos
o circumflexo,
claramente, com a bocca um pouco mais
fechada. E uma voz mais baixa, que em
rigor pedia outro carácter, mas esse cará
cter suppre-se por meio do signal.
Não havendo voz mais baixa que u, não
é susceptivel esta vogal de accento circum-
flexo ; assim como tambem, não distin
guindo o ouvido variações de voz i, esta
outra vogal está no mesmo caso '.
1
Prosas, pág. 177, última linha e pág. 178 até
lin. 17.
* C. M., pág. 41, lin. 3 a 7.
ANALYSE DA ACTUAL LINGUAGEM FALLADA 27
vul
lê,
e
;
2
o
e
4
a
28 PRIMEIRA PARTE
1
Prosas, pág. 151, lin. 25 em diante e pág. 152,
até lin. 10.
ANALY8E da actual linguagem pallada 29
antes o chamem
que o façam, pois se o
fazem, não lêem bem. O u em guerra é
mudo, e na máxima parte das palavras onde
se escreve gue, gui, que, qui ; porém
2) Vozes nasaladas.
As vozes nasaladas — ã, ê, 1, õ, u —
são as
que se dizem, não asperamente
fanhosas, como se tivessemos o nariz
tapado, e as fizessemos èchoar nas fossas
nasaes ; mas com uns ares d'isso 3.
Aberta ê (Era)
ÍNominaes.
Grave e (Pedi),
\ Nasaladas 5 ãSTõu2.
Não ha mais, nem menos. Advertindo
que todas ellas, excepto a grave, se profe
rem forte e fracamente ; e este accidente
assume na palavra uma importancia essen
cial : vindo nós a ter, prosodicamente e
grammaticalmente, vinte e nove elementos
vocaes, correspondentes a outros tantos
caracteres differentes, se aspirassemos a
possuir uma orthographia exacta.
II — ARTICULAÇÕES
1) Proferiveis:
Estas sub-dividem-se em: vozeios (as que
se dizem com voz), e bafejos (as que se
dizem com bafo).
MW
vvv
zzz
A
articulação zzz pode ser representada
gràphicamente pelos caracteres: z (aza),
s (uso), e x (existe).
jjj
A articulação jjj, profere-se com a língua
no ceo da bôcca e voz, na escripta
e é
ffffá — ÇÇÇÇâ
— xxxxá
ff
A articulação ff, o que podemos chamar
primeiro bafejo, profere-se com o beiço de
baixo nos dentes bafo, sendo a disposição
e
99
XX
ff vvv ff vvv
çç zzz çç zzz
XX jjj XX jjj ».
2) Improferiveis :
Meu bõ pae.
eu e meu
õ e bõ
ae e pae
eu õ ae
ób-vio
ou d'este
óbvio.
em presta, etc,
n'essa conformidade com-
e
mumente se parte a palavra em fim de linha,
quando a etymologia requer: presta, etc.
N'estes casos a partição etymológica não
passa d'uma delicadeza litteraria, agradavel
ao homem culto.
diálogo.
Estes todos são linguaes, mas segundo a
língua joga com os dentes, o ceo da bocca
ou a garganta, assim se chamam linguo-
dentaes, linguo-palataes, linguo-gutturaes,
ou melhor, simplesmente, suppondo que o
órgão activo é a língua : dentaes, palataes,
gutturaes.
Os labiaes são tres, e os linguaes são o
triplo : nove.
5
Palataes
Dentaes Glutturaes
2 2
— eu ô ae,
ei â
ei âí au ? — eu
— i áuâ ? — âí
d'., t'..
i
50 PRIMEIRA PARTE
REGRAS PROSÓDICAS
i C. M., pág. 9.
2
Obr. eit, pág. 136.
58 SEGUNDA PARTE
syllaba ?
à luz ;
mal,
fá.
vá
vai :
vààâis :
à luz ;
àl, uz
nem
à, lu, z
a-mor
o
e o a-mor.
é o ó-dio e é o a-mor,
1
ir
HEGRAS FROSÓUIOAB 63
ou em ira, ora, um 5.
Exemplos.
Em u:
degrau, lebreu, sentiu,
louvou, bànu.
Em i:
aqui, javali, pedi.
Em l:
Exemplo : arrazoado.
A-rra-zo-a-do é uma palavra de cinco
s^llabas, em que é forte a penúltima. As
i C. M., pág. 114.
* Obr. cit., pág. 136.
Régoa, frágoa.
Ideia, réis
viveu, morreu
Deus
deixemos o eo para
Abaulado, auctorisado.
amô-u.
— Quando dois
13. a
aa fechados ( ou
graves) se encontram, é do estylo da lín
gua reduzirem-se a um só agudo.
Elvira, selvagem.
1
Vid. Leis da Prosódia Portugueza — citações.
2 Idem.
' C. M. — lição do l.
74 SEGUNDA PARTE
19.
a — Er
final lê-se geralmente êr, como
no infinito de todos os verbos d'esta termi
nação.
Mulher, colher, quer
são excepções.
i CM. — lição do r
REGRAS PROSÓDICAS • 75
21. a — Ás lettras
vogaes ás vezes se
applica, e muitas mais vezes se deixa de
applicar, aquelle traço oblíquo descendo
para a esquerda, chamado accento agudo,
que é signal para se ler a vogal como se
chama : á, ê, í, ó, ú.
»c. M.
2A voz aberta — a voz de Eva, dia — conviria
assignalar-se, na opinião de João de Deus, com
este signal ê. Na phrase « é Eva » nota-se bem a
differença que vai da voz nominal é á voz aberta
E. . .va.
76 SEGUNDA PARTE
vulgo, aliás.
cada, escada
sede, sete ;
mordo, morde.
sequência,
til ("), m e n.
O til nunca é outra coisa senão signal de
voz nasalada ; mas omensó em não tendo
vogal em seguida.
27. a —
O amno fim da palavra equivale
ao dithongo ão, mas é sempre fracamente
proferido, ao contrario do que succede, em
geral, com á til ó.
raspam, raspão,
puxam, puxão.
78 v SEGUNDA PARTE
b — d f— j kl — p q2 — t v
c — g — mn — rs — xz3
1 Consoantes. — V. pág. 37.
2
Não se escreve o q sem u; e esse u, vindo com
e ou com i, não se costuma ler.
3 C. M., pág. 56.
REGRAS PROBÓDICAS 79
como em
se lê.
Temos, pois, quatro casos em que u se
o
1 C. M. — lição do m.
REGRAS PROSÓDICAS 81
— z — Vale xx no fim
38.a de s^llaba,
como o S e x tambem valem; nos mais
e
casos, zzz. Na palavra zaz encontra-se o
exemplo dos dois valores.
DA INVOGAL FINAL
Porém, antes
de palavra ou s^llaba come
é,
articulações
admittem, sem transformação, execução
a
mais vehemente.
V. C. M., lição do
h.
1
84 SEGUNDA PARTE
47. a — ph — A
respeito de ph, todos
apagam uma luz fazendo ou proferindo
naturalmente pff, antigo valor da forma ph,
hoje simplesmente^.
q'.
Este
ultimo valor tem-no quando se lhe segue
invogal uma ou outra Vez, quando se lhe
e,
segue vogal.
NOTA FINAL
-
NOTA FINAL
muito frio ».
Pois bem. Annos decorridos, propoz-se
organisar o Diccionario Prosódico; e fel-o-
com outro criterio, muito diverso. Reco
nhecera que a transformação d'uma lingua
é um facto collectivo, tornando baldadas
todas as tentativas que tenham por fim a
immediata uniformisação e simplificação
orthográphica, embora partam de uma gran
de auctoridade ou mesmo d'uma academia.
88 NOTA FINAL
Maio de 1909.
J. D. E.
ÍNDICE
Pág.
....
78
Da invogal final 81
Do agá e das invogaes compostas 83
Nota final 85
ABREVIATURAS
CM.
C. M.
...
Apost.
e o
Cartilha Maternal
Cartilha Maternal e o Apostolado
C. M. e a Crit. . Cartilha Maternal e a Crítica
Dic. Prós. . . Diccionario Prosódico, de João
de Deus
ob. cit. . . . obra citada
pág página
lin linha
ult. per. . . . último período
ed edição.
ERRATA