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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 22ª REGIÃO
Tribunal Pleno

Processo TRT - ROROACP Nº 0002098-90.2015.5.22.0002


RELATORA : DESEMBARGADORA LIANA CHAIB
RECORRENTE : ESTADO DO PIAUI
PROCURADOR : FRANCISCO JOSE DE SOUSA VIANA FILHO
RECORRENTE : MINISTERIO PUBLICO DO TRABALHO
PROCURADOR : EDNALDO RODRIGO BRITO DA SILVA
RECORRIDOS : OS MESMOS
ORIGEM : 2ª VARA DO TRABALHO DE TERESINA

Ementa
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - RECURSO ORDINÁRIO - MEIO
AMBIENTE DO TRABALHO - DESCUMPRIMENTO - Comprovado
o descumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho e
inexistindo prova de regularização da situação, escorreita a condenação
nas obrigações de fazer impostas no decisum.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - RECURSO ORDINÁRIO - MEIO


AMBIENTE DO TRABALHO - DANO MORAL COLETIVO -
ADMISSIBILIDADE - MAJORAÇÃO DO QUANTUM - INDEVIDA
- Considerando o descumprimento das normas de segurança e medicina do
trabalho, colocando em risco a saúde e a vida do trabalhador e, ainda, que
o direito a um ambiente de trabalho saudável e seguro transcende os
interesses privados e pessoais, desmerece reparos o posicionamento da
origem ao arbitrar o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de
reparação por dano moral coletivo, valor que se considera adequado ao
usualmente deferidos nesta Justiça Especializada para os casos análogos,
não se tendo por elevado, nem insuficiente, pois não se trata de valor
irrisório, diante dos danos sofridos, prestando-se a evitar a repetição do
ilícito.

Relatório

Cuida-se de apreciar recursos ordinários manejados pelas partes


(ESTADO DO PIAUI e MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO) em face da sentença (ID. 4bc6a0a),
que decidiu acolher, em parte, a preliminar arguida, para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho
para o julgamento do pedido de imposição à parte ré da obrigação de se abster "de submeter os Delegados
de Polícia a jornada de trabalho superior àquela estabelecida em lei para a categoria, bem como de lhes
exigir o trabalho em regime de plantões de sobreaviso, em obediência aos itens 17.6.1 e 17.6.2 da NR-17,
do MTE, inclusive a título antecipatório", extinguindo-se o feito sem resolução do mérito, quanto a tal
pleito; rejeitar as demais preliminares arguidas e, no mérito, julgar parcialmente procedentes os pedidos
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formulados por meio da presente ação civil pública, ajuizada por MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO em face do ESTADO DO PIAUÍ, para: 1) Condenar o réu a cumprir todas as obrigações de
fazer descritas nos itens 1 a 17, conforme fundamentação, no prazo de 90 (noventa) dias a contar da
intimação da presente sentença; e a cumprir todas as obrigações descritas nos itens 18 a 20, conforme
fundamentação, no prazo de 180 (cento e oitenta dias) dias, a contar da intimação da presente sentença; 2)
Cominar multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais) para o caso de descumprimento das obrigações de
fazer, nos prazos acima fixados, por cada obrigação descumprida, sem prejuízo de outras providências
necessárias para a garantia da tutela específica das obrigações, inclusive aplicação de outras cominações
penais e processuais cabíveis. O produto das multas acima cominadas reverterá em favor do Fundo de
Amparo ao Trabalhador - Fat, nos termos da Lei n.º 7.347/1985, art. 13, e da Lei n.º 7.998/1990,
assegurada ao autor a possibilidade de, antes da transferência dos aludidos valores, indicar, como
beneficiária/favorecida do produto das aludidas multas, instituição idônea com fins não-lucrativos; 3)
Condenar o réu a pagar, após o trânsito em julgado, nos termos do art. 535 do CPC, indenização por
danos morais coletivos, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais); acrescida de juros devidos desde o
ajuizamento da ação a 0,5% ao mês (Lei n.º 9.494/97, art. 1.º-F) sobre o valor da condenação a ser
corrigido monetariamente a partir da data do arbitramento (8/1/2018), nos termos da Súmula 439 do E.
TST, revertendo em favor do Fundo de Amparo ao Trabalhador - Fat, nos termos da Lei n.º 7.347/1985,
art. 13, e da Lei n.º 7.998/1990, assegurada ao autor a possibilidade de, antes da transferência dos
aludidos valores, indicar, como beneficiária/favorecida do produto da aludida condenação, instituição
idônea com fins não-lucrativos. Custas processuais, pelo réu, no montante de R$ 1.000,00 calculado sobre
o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), provisoriamente arbitrado para a condenação, apenas para
fins de registro, de cujo recolhimento é isento por força do disposto no art. 790-A, I, da CLT.

Embargos declaratórios do Estado do Piauí julgados improcedentes no ID.


716d66f.

O Ministério Público do Trabalho, nas razões recursais de seq. ID.


0ead414, insurge-se ante a incompetência declarada pelo juízo a quo acerca do pedido formulado em
aditamento da inicial sobre a jornada de trabalho dos Delegados de Polícia. Aduz que a causa de pedir
desta ação não é a norma estatutária sobre jornada de servidores públicos (delegados de polícia). É a
norma regulamentadora nº 17, do MTE, que é norma de saúde e segurança do trabalho, tal como exige a
súmula 736 do STF.

Prossegue aduzindo a necessidade de majoração dos valores arbitrados a


título de dano moral coletivo, sustenta, em síntese, que o valor arbitrado de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
não se compatibiliza com a extensão do dano causado, revelando-se insuficiente sob o aspecto reparatório
e não cumpre seu papel punitivo, eis que é inegável que a conduta do Estado réu causou lesão a interesses

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indisponíveis da coletividade dos empregados a seu serviço nas atividades de segurança pública, com a
falta de interesse em prover a segurança de seus trabalhadores no ambiente laboral, fazendo pouco caso
durante anos com as péssimas instalações e condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores
das unidades policiais do estado do Piauí, não se podendo descartar a ocorrência de abalos à saúde e à
própria vida das pessoas que lá exercem suas atividades.

O Estado do Piauí nas razões de ID. f744fd1, renova as preliminares de


incompetência absoluta da Justiça do Trabalho, aduzindo que a competência a Justiça Trabalhista não
alcança as relações de direito administrativo, mesmo após a ampliação de seu espectro de atuação pela EC
45/2004 e de ilegitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho.

Suscita, também, as preliminares de nulidade da sentença por ausência de


fundamentação sobre a inversão do ônus da prova operado - Violação ao art. 93, IX da CF, arts. 11, 373,
489, § 1º, IIdo NCPC e art. 818 da CLT, bem como a nulidade da sentença por violação ao postulado
constitucional do contraditório e ampla defesa, ante o indeferimento não fundamentado da prova pericial
requisitada - art. 5º, LV da CF e art. 11, 330, I e 373 do NCPC e art. 818 da CLT. Ainda, a nulidade da
sentença por sua inexequibilidade, impossibilidade material de seu cumprimento.

No mérito, defende que a sentença ignorou, por completo, as ações


realizadas pelo estado do Piauí nas sete unidades de polícia relatadas na inicial. Reitera os argumentos
expendidos na defesa, mencionando diversos repasses e procedimentos licitatórios com o intuito de
reaparelhar as unidades policiais do Estado, mas alega, conforme fez em sua defesa, as limitações
orçamentárias e a cláusula da reserva do possível.

Admite a irregularidade das condições de saúde e segurança dos


trabalhadores da segurança pública, afirmando que a situação posta em Juízo já foi ou está sendo
paulatinamente sanada. Aduz a necessidade de conversão do feito em diligência para a aferição das
condições dos referidos prédios.

Por fim, defende a impossibilidade de concessão da tutela provisória


pretendida, bem como a necessidade da concessão de efeito suspensivo ao presente recurso ordinário.

Contrarrazões de ambas as partes nos ID. 33e6600/ ID. a304e79.

O ParquetLaboral (ID. 4e3413f), reporta-se aos fundamentos do recurso


ordinário de id. 0ead414 e recomenda seja conhecido e provido, ao passo que, reportando-se às
contrarrazões de id. a304e79, recomenda que o recurso ordinário do Estado do Piauí seja improvido.

É o relatório.
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Voto

CONHECIMENTO

Os recursos são cabíveis, adequados e tempestivos (certidão de ID.


932792f). A representação processual encontra-se regular. Dispensado o depósito recursal (art. 1º, IV, do
Decreto-lei nº 779/69) e custas processuais isentas (art. 790-A da CLT).

Ante o preenchimento dos requisitos legais, merecem conhecimento


ambos os apelos.

PRELIMINARES

Incompetência Material da Justiça do Trabalho e Ilegitimidade ativa


ad causam do MPT (suscitadas pelo Estado do Piauí)

Indubitável que o Ministério Público do Trabalho detém a prerrogativa de


ajuizar Ação Civil Pública, nos termos do art. 83, III, da Lei Complementar nº 95/93. Esse dever
institucional autoriza o Parquet laboral a atuar nos casos em que há desrespeito às regras trabalhistas
disciplinadoras do meio ambiente do trabalho.

No entanto, conjectura-se nos autos se esta Casa seria competente para


processar e julgar Ação Civil Pública quando o objeto for o meio ambiente laborativo dos trabalhadores
disciplinados por vínculo jurídico-administrativo (servidores estatutários).

Na espécie, o MPT, aqui numa breve síntese, aduz que, após representação
oriunda do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Piauí - SINPOLPI (denúncia embasada nos
Relatórios da Diretoria de Vigilância Sanitária do Estado do Piauí - DIVISA), instaurou Inquérito Civil
para apurar as denúncias de péssimas condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores de
várias Delegacias Distritais e Especializadas na cidade de Teresina. Relata o MPT que as irregularidades
apontadas nesses laudos da Vigilância Sanitária implicam em desrespeito a inúmeros preceitos
normativos em saúde, higiene e segurança ocupacional (Normas Regulamentadoras do MTE, Resoluções
da ANVISA, dentre outros), conforme registrado no relatório pericial, confeccionado pelo Engenheiro de
Segurança do Trabalho do Ministério Público do Trabalho.

Examinando detidamente o caso, verifica-se que não assiste razão ao


Estado do Piauí quando postula o reconhecimento desta Justiça como sendo incompetente para apreciar o
feito.

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Esse posicionamento encontra-se em sintonia com a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, bem ainda com as decisões que têm sido tomadas no âmbito deste Tribunal.
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula nº 736, firmando o entendimento de que
"compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de
normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores".

Importa esclarecer que em todas as decisões em que a Corte Suprema faz


uso do referido verbete sumular não há nenhuma declaração no sentido de que a competência se restringe
às relações jurídicas de cunho celetista. Como exemplo, cita-se a decisão prolatada nos autos da
Reclamação nº 3303, cuja discussão envolvia a competência desta Justiça para apreciar a matéria
envolvendo o ambiente de trabalho no âmbito do Instituto de Medicina Legal do Estado do Piauí.

Na oportunidade, o STF decidiu que compete à Justiça do Trabalho a


análise de pedido que vise impor ao Poder Público a observância das normas de saúde, higiene e
segurança do trabalho, conforme aresto a seguir transcrito:

EMENTA. CONSTITUCIONAL. RECLAMAÇÃO. ADI 3395-MC. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA PROPOSTA NA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA IMPOR AO PODER
PÚBLICO PIAUENSE A OBSERVÂNCIA DAS NORMAS DE SAÚDE, HIGIENE E
SEGURANÇA DO TRABALHO NO ÂMBITO DO INSTITUTO DE MEDICINA
LEGAL. IMPROCEDÊNCIA. 1.Alegação de desrespeito ao decidido na ADI 3.395-MC
não verificada, porquanto a ação civil pública em foco tem por objeto exigir o
cumprimento, pelo Poder Público piauiense, das normas trabalhistas relativas a higiene,
segurança e saúde dos trabalhadores. 2. Reclamação improcedente. Prejudicado o agravo
regimental interposto". [RCL 3303/PI. Tribunal Pleno. Rel. Min. Carlos Brito,
julgamento em 19.11.2007. DJ em 15.05.2008, p. 312].

Como se nota, não há dúvidas de que esta Justiça é a casa competente para
apreciar os fatos ligados ao cumprimento das regras relativas ao meio ambiente do trabalhador, a despeito
de sua vinculação ser celetista ou jurídico-administrativo.

Nesse mesmo sentido, os seguintes arestos deste Tribunal:

RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VIOLAÇÃO ÀS NORMAS DE


SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
DO TRABALHO. Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa
de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde
dos trabalhadores (Inteligência da Súmula 736 do STF). AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE
VISA À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Nos termos do art.83, III, da Lei
Complementar nº 75/1993, compete ao Ministério Público do Trabalho promover a ação
civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho para defesa de interesses coletivos, quando
desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos. Em casos como o dos
autos, em que as agressões ao meio ambiente do trabalho se traduzem em ofensa à
dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho e envolvem interesses
difusos e coletivos, é inegável a legitimidade do MPT para a propositura da ação civil
pública correspondente, sendo irrelevante o fato de os trabalhadores prejudicados serem
submetidos a regime celetista ou estatutário. (RO 01251-2004-002-22-00-6, Rel.
Desembargadora ENEDINA MARIA GOMES DOS SANTOS, TRT DA 22ª REGIÃO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 3/11/2008, DJT 21/11/2008).

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RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VIOLAÇÃO ÀS NORMAS DE
SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
DO TRABALHO. Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa
de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde
dos trabalhadores (Inteligência da Súmula 736 do STF).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE VISA À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO


TRABALHO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Nos
termos do art.83, III, da Lei Complementar nº 75/1993, compete ao Ministério Público do
Trabalho promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho para defesa de
interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente
garantidos. Em casos como o dos autos, em que as agressões ao meio ambiente do
trabalho se traduzem em ofensa à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do
trabalho e envolvem interesses difusos e coletivos, é inegável a legitimidade do MPT para
a propositura da ação civil pública correspondente. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
MATADOURO PÚBLICO MUNICIPAL. PERMANÊNCIA DE CONDIÇÕES
INDIGNAS DE TRABALHO E CONSTATAÇÃO DE LABOR INFANTIL.
INTERDIÇÃO QUE DEVE SER MANTIDA. Não merece ser provido o recurso que
pleiteia a reabertura de matadouro público interditado em razão da constatação de labor
infantil e de condições indignas de trabalho, sobretudo quando o recorrente não comprova
a adoção de medidas concretas e eficazes para proibir o acesso de crianças e adolescentes
no estabelecimento, para promover a dignidade, a saúde, a higiene e a segurança dentro
do ambiente de trabalho, nem tampouco a implementação de política para inserir as
crianças em programas sociais de erradicação do trabalho infantil. (RO
00525-2008-102-22-00-1, Rel. Desembargadora ENEDINA MARIA GOMES DOS
SANTOS, TRT DA 22ª REGIÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 5/4/2010, DJT
30/4/2010).

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. VINCULO


JURIDICO-ADMINISTRATIVO. MEIO AMBIENTE DE TRABALHO.
COMPETÊNCIA RECONHECIDA.

A decisão na Ação Civil Pública tratou de suposto descumprimento pelo poder público de
normas de saúde, de higiene e de segurança do trabalho, que sem dúvida é de
competência da Justiça do Trabalho, como bem entendeu a Corte Suprema. Ademais, a
Súmula 736 do STF preceitua que "compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que
tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à
segurança, higiene e saúde dos trabalhadores". O Ministro Sepúlveda Pertence já se
pronunciou sobre o tema, afirmando que o que define a competência da Justiça
especializada é a causa de pedir e o pedido. Por fim, para reforçar a tese da competência
da Justiça do Trabalho, é importante frisar que as normas que tratam do adicional de
insalubridade encontram-se na CLT, sendo o único instrumento regulador da matéria.

[...] (RO 00068-2010-105-22-00-9, Rel. Desembargador FRANCISCO METON


MARQUES DE LIMA, TRT DA 22ª REGIÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
22/9/2010, DJT 6/10/2010 p. não indicada)

Nessa linha, escorreita a decisão que reconheceu a competência desta


especializa para processar e julgar a demanda, bem como rejeitou a preliminar de ilegitimidade ativa.

Nulidade da Sentença

O Estado do Piauí suscita a preliminar de nulidade da sentença primária


por ausência de fundamentação sobre a inversão do ônus da prova operado - Violação ao art. 93, IX da
CF, arts. 11, 373, 489, § 1º, IIdo NCPC e art. 818 da CLT, bem como por violação ao postulado
constitucional do contraditório e ampla defesa, ante o indeferimento não fundamentado da prova pericial
requisitada - art. 5º, LV da CF e art. 11, 330, I e 373 do NCPC e art. 818 da CLT, ainda, a nulidade da
sentença por sua inexequibilidade, impossibilidade material de seu cumprimento.
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Verifica-se que a temática acerca da fundamentação, apreciação de provas,
contraditório e ampla defesa, são matérias que se confundem com o mérito da demanda, na medida em
que envolve a reanálise dos temas devolvidos nos apelos recursais, momento em que serão, portanto,
examinados.

Competência Material da Justiça do Trabalho (suscitada pelo MPT)

Como relatado alhures, o Ministério Público do Trabalho, nas razões


recursais de seq. ID. 0ead414, insurge-se ante a incompetência declarada pelo juízo a quo acerca do
pedido formulado em aditamento da inicial sobre a jornada de trabalho dos Delegados de Polícia.
Aduz que a causa de pedir desta ação não é a norma estatutária sobre jornada de servidores públicos
(delegados de polícia). É a norma regulamentadora nº 17, do MTE, que é norma de saúde e segurança do
trabalho, tal como exige a súmula 736 do STF.

Entende-se não assistir razão ao recorrente, corroborando-se o


entendimento primário de que, em relação ao pedido formulado em aditamento à petição inicial (que o
Estado do Piauí se abstenha de submeter os Delegados de Polícia a jornada de trabalho superior àquela
estabelecida em lei para a categoria, bem como de lhes exigir o trabalho em regime de plantões de
sobreaviso), a situação é diferente.

É que a questão relacionada a regime e extensão de jornadas de


trabalho de policiais civis não se relaciona diretamente com regras que tratam especificamente de
segurança, higiene e segurançae, portanto, não está albergada pela hipótese de que trata a Súmula 736
do STF.

(RECURSO ORDINÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ)

MERITO

Descumprimento das Normas de Meio Ambiente do Trabalho

A lide versa sobre descumprimento por parte da recorrente (Estado do


Piauí) das normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, em razão das péssimas instalações e
condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores das unidades policiais civis do estado do
Piauí, aduzindo que as condições de trabalho nas Delegacias fiscalizadas são indignas, inviáveis para o
ser humano viver e trabalhar sem o comprometimento de sua saúde. Sustenta que as irregularidades
apontadas nesses laudos da Vigilância Sanitária implicam em desrespeito a inúmeros preceitos
normativos em saúde, higiene e segurança ocupacional (Normas Regulamentadoras do MTE, Resoluções
da ANVISA, dentre outros).
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Diante de representação do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do
Piauí - SINPOLPI perante o Ministério Público do Trabalho, noticiando as péssimas condições de
trabalho a que estão submetidos os trabalhadores de várias Delegacias Distritais e Especializadas, o
parquet instaurou inquérito civil para apuração da alegada irregularidade.

Da apuração dos fatos, constatou-se realmente que os locais de trabalho


são mantidos em desconformidade com as normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, conforme as
constatações dos laudos confeccionados pela Vigilância Sanitária do Estado do Piauí, bem como pela
Vigilância Sanitária em várias outras Delegacias de Polícia e o que fora registrado no relatório pericial
confeccionado pelo Engenheiro de Segurança do Trabalho do Ministério Público do Trabalho (fls.
36/127).

Nessa esteira, não tendo sido possível solucionar a questão


administrativamente, o MPT ingressou com Ação Civil Pública requerendo que o réu cumpra, no âmbito
das Unidades Administrativas da Secretaria de Segurança Pública, das Unidades Policiais
Administrativas, das Unidades da Polícia Científica, das Delegacias Distritais, Especializadas,
Metropolitanas e Regionais, compreendendo todo o Estado do Piauí, as Normas Regulamentadoras do
MTE (NR's) nº 07 (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO), 08 (Edificações), 09
(Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA), 10 (Segurança em Instalações e Serviços em
Eletricidade), 17 (Ergonomia) e 24 (Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho), bem
como a Resolução da ANVISA RDC nº 216, objetivando garantir o mínimo existencial (vida, saúde e
integridade física) dos trabalhadores desses órgãos, bem como condená-la nas obrigações de fazer listadas
na exordial. Ainda, a condenação no pagamento da quantia de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), a
título de reparação por danos morais coletivos.

O juízo primário, no ID. 4bc6a0a julgou parcialmente procedente a


pretensão objeto de ação, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - 22ª REGIÃO, para
determinar que o réu comprove, nos presentes autos, o cumprimento, no âmbito das Unidades
Administrativas da Secretaria de Segurança Pública, das Unidades Policiais Administrativas, das unidades
da Polícia Científica, das Delegacias Distritais, Especializadas, Metropolitanas e Regionais,
compreendendo todo o Estado do Piauí, das Normas Regulamentadoras do MTE (NR's) nº 07, 08, 09, 10,
17 e 24, bem como da Resolução da ANVISA RDC nº 216, por meio da comprovação da adoção das
seguintes providências, sem prejuízo das demais obrigações previstas nas citadas normas:

1.Fornecer aos trabalhadores água potável por meio de bebedouros em perfeitas


condições de higiene, estado de conservação e funcionamento, bem como copos
descartáveis, sendo terminantemente proibido o uso de copos coletivos;

2.Disponibilizar papel higiênico, sabão líquido e toalhas descartáveis para higienização e


secagem das mãos, proibindo-se o uso de toalhas coletivas;
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3.Disponibilizar, inclusive nos banheiros, recipientes de lixo com tampa, com
acionamento por

meio de pedal;

4.Disponibilizar nos banheiros vasos sanitários, inclusive no tocante às caixas de


descarga, em perfeitas condições de higiene, estado de conservação e funcionamento;

5.Providenciar iluminação adequada em todos os locais de trabalho, bem como nos


banheiros, efetuando a troca das lâmpadas queimadas, defeituosas e daquelas que se
mostrarem inadequadas para o tipo de esforço visual requerido por parte do trabalho
desenvolvido;

6.Providenciar fecho nas portas dos banheiros de modo a garantir a privacidade e


intimidade

daqueles trabalhadores que os utilizam.

7.Providenciar local adequado, permanentemente higienizado, constituído camas,


colchões e

roupas de cama em perfeitas condições de uso, estado de conservação e higiene, para o


repouso dos trabalhadores, quando aplicável;

8.Disponibilizar local adequado, permanentemente higienizado, para os trabalhadores


prepararem e consumirem suas refeições, quando aplicável;

9.Providenciar a capina e a limpeza da área externa, bem como a retirada de todo material
inservível que possa abrigar vetores de doenças, como a dengue;

10.Elaborar e implementar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional -


PCMSO (NR-07), o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA (NR-09) e o
Laudo Ergonômico (NR-17);

11.Realizar manutenção nos prédios, por meio de obras de alvenaria, retelhamento e


outras que se fizerem necessárias, a fim de eliminar infiltrações, goteiras, mofos, danos
nos pisos e demais desgastes que abalem as condições de salubridade do ambiente;

12.Adquirir mobiliário ergonomicamente adequado, de acordo com as especificações


determinadas pela NR-17, do MTE;

13.Dotar os ambientes de trabalho de ar condicionados em perfeitas condições de higiene,


conservação e funcionamento;

14.Promover a limpeza periódica dos locais de trabalho, de modo a possibilitar sua


execução sob condições higiênicas e saudáveis, inclusive realizando dedetização
periódica das suas instalações, em consonância com as recomendações oriundas dos
órgãos da Vigilância Sanitária, além de evitar o acúmulo de entulhos e lixo ao redor dos
prédios;

15.Realizar a higienização periódica das caixas d' água que guarnecem os prédios;

16.Disponibilizar utensílios e eletrodomésticos em perfeitas condições de uso, estado de


conservação e higiene para os trabalhadores prepararem e consumirem suas refeições,
quando aplicável;

17.Disponibilizar armários para guarda dos utensílios referidos no item precedente.

18.Providenciar a reforma das instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias que se fizerem


pertinentes, a fim de assegurar instalações elétricas em perfeito estado de funcionamento
e dotadas de nível adequado de segurança, assegurar que os resíduos líquidos dos
banheiros sejam destinados de forma adequada ao sistema público de coleta de esgoto e,
enfim, sanar todas as demais irregularidades nesse particular objetivando propiciar um
ambiente de trabalho higiênico e seguro;

19.Providenciar as reformas estruturais que se fizerem necessárias nos prédios, a fim de


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torná-los seguros e saudáveis para os trabalhadores e adequá-los à NR-08 (Edificações),
bem

como às demais normas de saúde e segurança do trabalho aplicáveis;

20.Adotar todas as medidas que se fizerem necessárias para eliminar as irregularidades


apontadas nos laudos da Vigilância Sanitária Estadual e do Ministério Público do
Trabalho (pág. 33/72, 82/94 e 214/224) e que não foram expressamente contempladas nos
itens precedentes.

Condenou o réu a cumprir todas as obrigações de fazer descritas nos itens


1 a 17, conforme fundamentação, no prazo de 90 (noventa) dias a contar da intimação da presente
sentença; e a cumprir todas as obrigações descritas nos itens 18 a 20, conforme fundamentação, no prazo
de 180 (cento e oitenta dias) dias, a contar da intimação da presente sentença; Cominou multa diária de
R$ 500,00 (quinhentos reais) para o caso de descumprimento das obrigações de fazer, nos prazos acima
fixados, por cada obrigação descumprida, sem prejuízo de outras providências necessárias para a garantia
da tutela específica das obrigações, inclusive aplicação de outras cominações penais e processuais
cabíveis. Condenou o réu a pagar, após o trânsito em julgado, nos termos do art. 535 do CPC, indenização
por danos morais coletivos, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Pois bem.

Restou incontroverso nos autos o precário funcionamento das diversas


unidades vinculadas à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Piauí, conforme se pode constatar
dos relatórios anexados aos autos (laudos confeccionados pela Vigilância Sanitária do Estado do Piauí,
bem como pela Vigilância Sanitária em várias outras Delegacias de Polícia e o que fora registrado no
relatório pericial confeccionado pelo Engenheiro de Segurança do Trabalho do Ministério Público do
Trabalho - fls. 36/127).

Apenas como ponto exemplificativo do descumprimento das regras de


higiene, saúde e segurança no âmbito das instalações mencionadas no inquérito civil, merecem destaque
algumas irregularidades apontadas nos laudos técnicos, como as destacadas no relatório de inspeção do
MPT (ID. 9e8ff29), que foi realizado, inclusive, para verificar se foram realizadas as adequações
informadas pelo Delegado Geral de Polícia na ata de audiência de fl. 93:

Delegacia do 1° DP

A delegacia do 1° DP encontra-se em bom estado, tendo havido reformas em sua estrutura física
recentemente. Contudo, foram observadas as seguintes não conformidades:

· Banheiros sem ventilação para o exterior, causando mal cheiro, em desacordo com o item
24.1.26.b da NR-24;
· Recipientes de lixo sem tampa, em desacordo com o item 24.1.26.f da NR-24;
· Falta de fornecimento de papel higiênico e material para limpeza, enxugo ou secagem das mãos
nos lavatórios, em desacordo com o item 24.1.9 da NR-24;
· Falta de local adequado para os trabalhadores tomarem refeições, em desacordo com os itens
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24.3.15.2 e 24.6 da NR-24;
· Falta de local adequado para o repouso dos trabalhadores, o que é necessário devido às longas
jornadas de trabalho, em desacordo com o item 24.5 e seus subitens da NR-24;

Delegacia do 24° DP

A delegacia do 24° DP apresenta condições sanitárias e de conforto precárias, constatando-se as


seguintes não conformidades:

· Falta de fornecimento de papel higiênico e material para limpeza, enxugo ou secagem das
mãos nos lavatórios, em desacordo com o item 24.1.9 da NR-24;
· Banheiros sem iluminação, em desacordo com os itens 24.1.22 e 24.1.23 da NR-24;
· Porta de gabinete sanitário sem fecho, em desacordo com item 24.1.26.d da NR-24;
· Recipientes de lixo sem tampa, em desacordo com o item 24.1.26.f da NR-24;
· Caixa de descarga de vaso sanitário com defeito, em desacordo com item 24.1.4 da NR-24;
· Falta de janela na cozinha, em desacordo com item 24.4.7 da NR-24;
· Falta de bebedouro, apesar de ser fornecido o galão de água mineral, em desacordo com o
item 24.3.10 da NR- 24;
· Paredes da cozinha sem revestimento de material impermeável, em desacordo com o item
24.4.4;
· Falta de local adequado para os trabalhadores tomarem refeições, em desacordo com os
itens 24.3.15.2 e 24.6 da NR-24;
· Falta de local adequado para o repouso dos trabalhadores, o que é necessário devido às
longas jornadas de trabalho, em desacordo com o item 24.5 e seus subitens da NR-24;

Central de Flagrantes

Transcrevo as conclusões do Analista Pericial Tiago Fernandes que realizou inspeção na


Central de Flagrantes no dia 14/01/2015:

"Nas áreas administrativas, onde foram inspecionadas as condições sanitárias e de conforto,


averiguou-se as seguintes irregularidades:

* Não funcionamento de bebedouros (Item 24.7.1 da NR 24);

* Falta de material para a limpeza, enxugo ou secagem das mãos (Item 24.1.9 da NR 24);

Vasos e mictórios com defeitos de funcionamento (Item 24.1.13 da NR 24);

Falta de tampa nas lixeiras dos banheiros femininos (Item 24.1.26 da NR 24);

Outro ponto importante constatado foi a situação na qual se encontra o sistema de esgoto
sanitário do único banheiro da prisão, o qual se encontra aparentemente debilitado e
favorecendo a proliferação de vetores de doenças no local. Pode-se considerar que este fator
caracteriza o não cumprimento da norma regulamentadora nº 24, podendo vir a afetar a saúde
dos servidores."

Ademais, não se pode olvidar dos demais relatórios anexados


aos autos, cuja síntese bem delineou o juízo de piso ao registrar que dentre as situações de
insalubridade, ausência de condições de higiene e de segurança que afetam todos os
trabalhadores, não apenas das unidades da Polícia Civil do Estado do Piauí, mas todos os

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trabalhadores da vizinhança, além dos detentos e da população que habita as imediações
daquelas unidades, destacam-se, conforme relatórios da Gevisa e Parecer Técnico de perito
do MPT, acima mencionados:

a) total ausência de limpeza, higienização e conservação;

b) presença de lixo, matagal e entulho ao redor das delegacias,


atraindo, inclusive, usuários de drogas para os arredores;

c) presença de fauna sinantrópica (ratos, morcegos, aranhas,


insetos, animais peçonhentos, vetores de doenças) e ausência de controle de pragas e insetos;

d) fossas estouradas, odor fétido, infiltrações, umidades,


agentes patogênicos (mofos, fungos), rachaduras nas paredes, vazamentos decorrentes de
falta de manutenção nas instalações hidráulicas e sanitárias, presença de cupim nas estruturas
dos prédios;

e) falta de ventilação natural, ar rarefeito e poluído, por não


haver troca de oxigênio, e precariedade na ventilação artificial (aparelhos de ar condicionado
defeituosos, sem manutenção e higienização);

f) problemas em instalações elétricas, fios elétricos expostos,


possibilitando curtos-circuitos, incêncios e acidentes;

g) ausência de extintores de incêndio;

h) instalações sanitárias interditadas e/ou sem condição de


higiene funcionamento;

i) ausência de registro de limpeza e higienização de caixas


d'água;

j) ausência de água potável e mesmo ausência de local


apropriado para acondicionamento da água para consumo no local de trabalho;

O que se extrai dos autos é que essa situação se repete


semelhantemente nas demais unidades vinculadas à Secretaria de Segurança Pública do
Estado do Piauí, conforme os laudos e documentos anexos, embora, durante a instrução
processual, o Estado do Piauí tenha demonstrado a ocorrência de melhorias nas condições
físicas de trabalho dos profissionais que ali labutam, verificou-se que não foram solucionadas
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na sua totalidade, tudo em conformidade com os documentos anexos e, também, apesar de o
Estado do Piauí mencionar diversos repasses e procedimentos licitatórios com o intuito de
reaparelhar as unidades policiais do Estado, importante registrar que a parte ré não apresenta
qualquer prova de suas alegações, de que tais recursos tenham sido, de fato, utilizados e
suficientes para a concretização das reformas, modificações e melhorias nos ambientes de
trabalho vistoriados pela Gevisa.

Ademais, corrobora-se o entendimento do juízo primário ao


delinear que embora o réu alegue, também, que as inspeções sanitárias não teriam sido
realizadas em todas as unidades, limita-se apenas a alegar, não apresentando qualquer prova
de que nas demais unidades da capital não inspecionadas e nas unidades do interior a situação
seria diferente.

Esses fatos ganham vida quando se observam as fotos dos


locais de trabalho e das condições a que se submetem esses imprescindíveis profissionais no
trato diário com as mais diversas ocorrências.

De outro lado, o Estado do Piauí não nega a existência dessa


situação lamentável que tem caracterizado as unidades da Polícia Civil desse Estado, mas
alega a insuficiência de recursos para a consecução das políticas públicas. No entanto, essa
argumentação tem-se mostrado como um nefasto escudo que o Poder Público tem utilizado
para retardar ou deixar de cumprir os seus deveres constitucionais.

De fato, não se pode admitir indefinidamente essa


argumentação e deixar que os profissionais da segurança pública persistam em condições de
trabalho extremamente prejudicais a saúde e, como importante extensão, resultando em
malefício para a sociedade piauiense que necessita, nesse campo, de uma prestação de
serviços de qualidade.

Diante do exposto, impende salientar, por oportuno, que não


merece prosperar os argumentos da parte ré de nulidade da sentença primária, na medida em
que os argumentos foram detidamente analisados e as provas carreadas aos autos pelos
litigantes foram devidamente analisadas e sopesadas pelo magistrado de 1º grau, bem como
oportunizado as partes todo o contraditório e ampla defesa.

Quanto ao argumento da impossibilidade de concessão da


tutela provisória, bem como a necessidade da concessão de efeito suspensivo ao presente
recurso ordinário, sem razão a parte reclamada/recorrente.

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Como se vê, a tutela antecipada concedida apenas em
sentença versa tão somente sobre obrigações de fazer.

Nota-se, assim, que, no caso dos autos e à luz da Lei 9.494/97,


que disciplina a concessão de tutela antecipada contra o Poder Público, não há nenhuma
vedação legal, uma vez que não foi liberado nenhum recurso, não foi incluso nenhum
servidor novo em folha de pagamento, nem houve reclassificação, equiparação, concessão de
aumento ou extensão de vantagens a nenhum servidor. Como dito, a tutela antecipada apenas
determinou o cumprimento de obrigações de fazer.

Saliente-se, também, que, no âmbito da Justiça do Trabalho,


os recursos não possuem, em regra, efeito suspensivo (art. 899, CLT).

Desse modo, nega-se provimento ao apelo do Estado Piauí,


mantendo sem reparos a sentença primária quanto a condenação da ré nas obrigações de fazer
impostas, tudo conforme registrado no decisum.

(RECURSO ORDINÁRIO DO MPT)

Danos Morais Coletivos - Majoração

A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos,


condenando a parte reclamada ao pagamento de indenização por dano moral coletivo em R$
100.000,00 (cem mil reais), quantia que deverá reverter para o Fundo de Amparo ao
Trabalhador - Fat (art. 13 da Lei nº 7.347/85 c/c a Lei nº 7.998/90), assegurada ao autor a
possibilidade de, antes da transferência dos aludidos valores, indicar, como
beneficiária/favorecida do produto da aludida indenização, instituição idônea com fins
não-lucrativos.

Inconformado, o MPT recorre da decisão, pleiteia a


indenização no montante de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

Em síntese, alega que o valor arbitrado à condenação por


danos morais coletivos mostra-se muito aquém do montante necessário para fazer valer o seu
caráter pedagógico. Destaca que a reclamada demonstrou sua falta de interesse em prover a
segurança de seus trabalhadores no ambiente laboral, fazendo pouco caso durante anos com
as péssimas instalações e condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores das
unidades policiais do estado do Piauí, não se podendo descartar a ocorrência de abalos à
saúde e à própria vida das pessoas que lá exercem suas atividades.
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Analisa-se.

O autor (MPT) postulou, na peça exordial, o pagamento de


indenização por dano moral coletivo, em razão de inúmeras irregularidades no ambiente de
trabalho a que estão submetidos os trabalhadores das unidades policiais do estado do Piauí,
atentatórias à saúde e integridade física dos trabalhadores.

Entende-se que o dano moral coletivo é caracterizado como


ofensa a direitos transindividuais, porquanto importa em lesão à ordem jurídica, que é
patrimônio de toda a coletividade. O desrespeito às normas jurídicas que tem por finalidade a
tutela de direitos mínimos assegurados aos trabalhadores, configura o dano moral coletivo,
posto que há uma conduta ilícita por parte do empregador que ocasiona não só o desrespeito
ao direito individual dos trabalhadores, que, no caso, se veem coagidos a prestar serviços sem
a observância da periodicidade estipulada pelas normas de proteção, mas também à toda
universalidade dos trabalhadores que se encontram ao abrigo da tutela jurídica, irradiando-se
inclusive a outras pessoas que necessitam dispor de tal ambiente laboral.

Na lição de José Affonso Dallegrave Neto, dano moral


coletivo é assim definido:

"O dano moral coletivo é aquele que decorre da ofensa do


patrimônio imaterial de uma coletividade, ou seja, exsurge da ocorrência de um fato grave
capaz de lesar o direito de personalidade de um grupo, classe ou comunidade de pessoas e,
por conseguinte, de toda a sociedade em potencial." (Responsabilidade Civil no Direito do
Trabalho. São Paulo: LTr, 2008, p. 172).

Sobre este tema, o jurista João Carlos Teixeira destaca:

"Convém enfatizar que, para a caracterização do dano moral


coletivo nesta hipótese, não é imprescindível que haja o efetivo dano à vida, à saúde ou à
integridade física dos trabalhadores, basta que se verifique o desrespeito às normas
trabalhistas de medicina e segurança do trabalho e o descuido das condições e serviços de
higiene, saúde e segurança que integram o meio ambiente de trabalho, para sua configuração.
Não se trata de reparação de dano hipotético, mas sim de se atribuir à reparação um caráter
preventivo, pedagógico e punitivo, pela ação omissiva ou comissiva do empregador, que
represente séria violação a esses valores coletivos (direito à vida, à saúde, à segurança no

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trabalho) e que possa advir em dano futuro, não experimentado ou potencializado, em razão
do acentuado e grave risco de sua efetiva concretização, diante da concreta violação das
supracitadas normas trabalhistas." (Dano Moral Coletivo. São Paulo, LTr, 2004, p. 23)

Ressalte-se que as condições do ambiente de trabalho do


empregado está intimamente vinculado às normas de proteção à saúde e segurança dos
trabalhadores, a fim de que não sofram efeitos prejudiciais à sua saúde física e mental,
motivo pelo qual, o descumprimento destas regras de proteção acaba por gerar maiores custos
à Seguridade Social, impactando, assim, toda a sociedade.

Assim sendo, o dano moral coletivo não está associado ao


conceito que se estabelece para os demais casos de dano moral, onde se exige a ofensa à
honra, dor física ou psíquica, ou a mácula à dignidade do empregado, mas sim à ofensa a
valores sociais de natureza coletiva, em face do descumprimento reiterado de obrigações
trabalhistas, como o trabalho em condições que colocam em risco a saúde e a integridade
física do trabalhador.

No caso em tela, portanto, é indubitável que a violação de


normas trabalhistas protetivas de saúde e segurança do trabalho por parte da reclamada
causou danos não somente à coletividade de trabalhadores vinculados, mas também à toda a
sociedade a que pertencem.

Em relação ao quantum, entende-se que não merece reparos o


posicionamento da origem ao arbitrar o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de
reparação por dano moral coletivo, valor que se considera adequado ao usualmente deferidos
nesta Justiça Especializada para os casos análogos, não se tendo por elevado, nem
insuficiente, pois não se trata de valor irrisório, diante dos danos sofridos, prestando-se a
evitar a repetição do ilícito. Determina-se, de ofício, que o valor da indenização por dano
moral coletivo seja direcionado a entidades filantrópicas locais e/ou obras sociais, conforme
condução pelo MPT e o Juízo da Execução.

Por tais fundamentos, ACORDAM os Desembargadores do E. Tribunal


Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região, por unanimidade, conhecer dos recursos

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ordinários, rejeitar as preliminares suscitadas por ambas as partes e, no mérito, negar provimento ao
recurso ordinário do Estado do Piauí e, por maioria, negar provimento ao apelo do Ministério Público do
Trabalho. Determina-se, de ofício, que o valor da indenização por dano moral coletivo seja direcionado a
entidades filantrópicas locais e/ou obras sociais, conforme condução pelo MPT e o Juízo da Execução.
Vencido, parcialmente, o Exmo. Sr. Desembargador Arnaldo Boson Paes, que dava parcial provimento ao
recurso do MPT para majorar o valor da indenização em danos morais coletivos para o patamar de R$
300.000,00 (trezentos mil reais).

Participaram do julgamento deste processo, realizado na 19ª Sessão


Ordinária do E. Tribunal Pleno do ano de 2018, ocorrida no dia 17 de outubro de 2018, sob a Presidência
do Exmo. Sr. Desembargador Giorgi Alan Machado Araújo (Presidente), os Exmos. Srs.
Desembargadores Arnaldo Boson Paes (Vice-Presidente), Francisco Meton Marques de Lima, Fausto
Lustosa Neto, Liana Chaib (Presente em férias) - Relatora, Manoel Edilson Cardoso e a Exma. Sra. Juíza
Convocada Basiliça Alves da Silva. Presente, mas não votou, a Exma. Sra. Juíza Convocada Liana Ferraz
de Carvalho, em face de impedimento. Presente o Procurador Regional do Trabalho, Marco Aurélio
Lustosa Caminha, representante do d. Ministério Público do Trabalho da 22ª Região. Ausentes,
justificadamente, os Exmos. Srs. Desembargadores Wellington Jim Boavista e Enedina Maria Gomes dos
Santos (Ambos em gozo de férias regulamentares).

LIANA CHAIB
Desembargadora Relatora

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