Traduzido do original em inglês: THE BAPTISM WITH THE HOLY SPIRIT Tradução João Marques Bentes Primeira edição brasileira, 1969 Segunda edição, 1973 Terceira edição, 1974 Quarta edição, 1975
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dos editores. Impresso nas oficinas da Editora Betânia R. Pe. Pedro Pinto, 2435 Belo Horizonte, (Venda Nova) MG Printed in Brazil O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO: O QUE É E O QUE FAZ
A despeito de muito se falar nestes últimos dias com respeito ao
batismo com o Espírito Santo, é de temer-se que muitos existem que falam e oram sobre a questão, mas sem que tenham idéias claras e definidas a respeito. A própria Bíblia, entretanto, se for cuidadosamente pesquisada, nos fornecerá uma perspectiva perfeitamente clara e notavelmente definida sobre essa admirabilíssima benção. 1. Descobrimos na Bíblia, em primeiro lugar muitas designações para essa experiência. Em Atos 1:5 vemos que Jesus disse: “vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. ” E em Atos 2:4, quando essa promessa teve o seu cumprimento, lemos: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo.” Em Atos 1:4 essa mesma experiência é denominada de “a promessa do Pai;” e em Lucas 24:49 ela é chamada de “a promessa de meu pai;” e de “revestidos de poder.” Uma comparação de Atos 10:44,45 com Atos" 11:15,16, revela que as expressões “foi derramado o dom do Espírito Santo,” quando caiu o Espírito Santo sobre todos,” são equivalentes a “batizados com o Espírito Santo.” 2. Em segundo lugar, descobrimos que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência definida, e o indivíduo pode saber se a recebeu ou não. Isso é evidente no próprio mandamento de nosso Salvador a Seus apóstolos: “permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24:49). Se esse revestimento de poder, ou batismo Santo, não fosse uma experiência tão definida que o indivíduo pudesse saber que a recebera, como poderiam eles saber se os dias de espera iá haviam terminado? A mesma coisa é clara na pergunta definida feita pelo apóstolo Paulo aos discípulos em Éfeso: “Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?” (Atos 19:2) É evidente que Paulo esperava, como resposta, um “sim” ou um “não,” sem rodeios. A menos que o indivíduo pudesse saber se a receberá ou não, como poderiam aqueles discípulos ter respondido a pergunta de Paulo? Na realidade, sabiam que “não” haviam “recebido” ou “sido batizados com” o Espírito Santo, mas logo depois haviam “recebido” ou sido “batizados com” o Espírito Santo (Atos 19:6) Pode-se perguntar a muitos indivíduos que hoje oram pelo batismo com o Espírito Santo: “Recebeu meu irmão, o que pediu? Já foi batizado com o Espírito Santo?” Ficarão estupefatos com a indagação. É que não esperavam coisa alguma tão definida, a ponto de poderem responder com segurança a uma pergunta assim, com um “sim” ou um “não.” Nada encontramos na própria Bíblia, de vago e indefinido, que vemos nas orações e sermões modernos acerca deste assunto. A Bíblia é um livro muito definido. É muito definido quanto à salvação; tão definido que qualquer indivíduo conhece a sua Bíblia pode responder sem dúvida “sim” ou “não,” à pergunta: “Você está salvo?” É" igualmente definida a questão do “batismo com o Espírito Santo,” de maneira que o homem que conhece sua Bíblia pode responder sem dúvida “sim” ou “não” à pergunta: “Já foi batizado com o Espírito Santo?” Pode haver aqueles que estão salvos, sem que o saibam, por não compreenderem suas Bíblias, mas poderão sabê-lo. Da mesma maneira, assim também, pode haver aqueles que foram batizados com o Espírito Santo, e que não sabem o nome que a Bíblia dá ao que aconteceu com eles, mas têm o privilégio de sabê-lo. 3. O batismo com o Espírito Santo é uma operação do Espírito Santo separada e distinta de Sua obra regeneradora. Ser regenerado pelo Espírito Santo é uma coisa, e ser batizado com o Espírito Santo é algo totalmente diferente, é uma outra coisa. Isso está claro em Atos 1:5a, onde Jesus disse: “sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” Até então, ainda não haviam sido “batizados com o Espírito Santo. ” Mas já eram homens regenerados. O próprio Senhor Jesus já havia afirmado isso. Em João 15:3 Ele dissera aos mesmos homens: Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado." (Comparar isso com Tiago 1:18 e I Pedro 1:23) E em João 13:10: “Ora, vós estais limpos, mas nem todos.” deixando de fora, com a expressão “mas nem todos,” o único homem não-regenerado do grupo apostólico, Judas Iscariotes. (Ver João 13:11) Assim sendo, os apóstolos, com exceção de Judas Iscariotes, eram homens regenerados, sem serem ainda “batizados com o Espírito Santo.” Pelo exposto, torna-se claro que a regeneração é uma coisa e que o batismo com o Espírito Santo é diferente. Uma pessoa pode ser ser regenerada, e ainda não ter sido batizada com o Espírito Santo. A mesma coisa é evidente em Atos 8:12-16. Encontramos aqui um grupo de crentes já batizados. Não há dúvida de que, naquele grupo de crentes batizados, havia alguns regenerados. Mas o registro informa que quando Pedro e João desceram “oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles).” É claro, portanto, que alguém pode ser crente, pode ser um homem regenerado, e contudo não ter ainda o batismo com o Espírito Santo. Em outras palavras, o batismo com o Espírito Santo é algo distinto, e mais do que Sua obra regeneradora. Nem todo crente regenerado tem o batismo com o Espírito Santo, embora, segundo veremos adiante, todo homem regenerado pode receber esse batismo. Quem já passou pela obra regeneradora do Espírito Santo, é salvo, 'todavia, não está preparado para o serviço do Senhor, enquanto não tiver recebido o batismo com o Espírito Santo. 4. O batismo com o Espírito Santo está ligado ao testemunho e ao serviço. Examinem com cuidado cada passagem em que o batismo com o Espírito Santo é mencionado e verá que o mesmo está sempre ligado ao propósito de testemunho e serviço. (Por exemplo, veja Atos 1:5,8; 2:4; 4:31,33. Isso transparecerá com clareza ao considerarmos o que o batismo com o Espírito Santo faz. O batismo com o Espírito Santo não tem o propósito de purificar-nos do pecado, mas tem a finalidade de capacitar-nos para o serviço. Há certa orientação doutrinária, apresentada por um grupo muito zeloso mas equivocado, que tem lançado em muito descrédito a doutrina inteira do batismo com o Espírito Santo. Esse ensino diz o seguinte: Primeira exposição: há uma outra experiência (ou segunda bênção), após a regeneração, a saber, o batismo com o Espírito Santo. Essa proposição é veraz e pode ser facilmente provada na Bíblia. Segunda proposição: esse batismo com o Espírito Santo pode ser instantaneamente recebido. Essa proposição também é verdadeira e pode ser facilmente provada na Bíblia. Terceira proposição: esse batismo com o Espírito Santo é a erradicação da natureza pecaminosa. Essa proposição não expressa a verdade. Não existe uma só linha das Escrituras que possa ser citada para provar que o batismo com o Espírito Santo pode erradicar a natureza pecaminosa do homem. A conclusão tirada dessas três proposições — duas verdadeiras e uma falsa é necessariamente falta. O batismo com o Espírito Santo não tem o propósito de purificar do pecado, mas tem a finalidade de outorgar poder para o trabalho. Na verdade a purificação do pecado é obra do Espírito Santo. Além desse aspecto há uma obra do Espírito que visa fortalecer com poder o homem interior: “assim habite Cristo nos vossos corações, pela fé... para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:16-19). Há também uma operação do Espírito Santo revestida de um aspecto tal, que o crente fica livre “da lei do pecado e da morte” (Romanos 8:2), quando então, através do Espírito, o crente pode “mortificar (matar) os efeitos do corpo” (Romanos 8:13). Temos o privilégio de andar diariamente e a cada instante, no poder do Espírito, e a natureza carnal fica morta. Mas isso não é o mesmo que o batismo com o Espírito Santo, nem é a erradicação da natureza pecaminosa. Não se trata de algo feito de uma vez para sempre, e, sim, algo que deve ser mantido a cada momento. “Andai no Espírito, e jamais satisfareis a concupiscência da carne” (Gálatas 5:16). Apesar de insistir que o batismo com o Espírito Santo tem principalmente o propósito de outorgar poder para o serviço cristão, também se deve acrescentar que esse batismo é acompanhado de uma elevação moral. (Ver Atos 2:44-46; 4:31-35.) E isso sucede, normalmente, devido aos passos que o crente deve dar necessariamente, a fim de obtê-lo. 5. Podemos obter uma perspectiva mais clara e completa do que é o batismo com o Espírito Santo, se observarmos o que esse batismo com o Espírito faz. Isso é declarado de modo resumido, em Atos 1:8: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” etc. O batismo com o Espírito Santo outorga “poder”, poder para servir. Esse poder não se manifesta precisamente da mesma maneira em cada indivíduo. Isso é mui claramente ensinado com I Cor. 12:4-13, onde lemos: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo... Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, fé, e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas cousas, distribuindo-as como lhe apraz, a cada um, individualmente.” Quando comecei a estudar a questão do batismo com o Espírito Santo, notei que em muitos casos, aqueles que são assim batizados “falavam em línguas;” e muitas vezes surgiu em minha mente a indagação — Aquele que é batizado com o Espírito Santo não fala sempre em línguas? Mas, eu não via ninguém falar em línguas, perguntava a mim mesmo — haverá realmente alguém batizado com o Espírito em nossos dias? Foi então que esse décimo-segundo capítulo de I Coríntios me iluminou quanto a essa questão, especialmente quando descobri o apóstolo perguntar aos que haviam sido batizados com o Espírito: “falam todos em outras línguas?” (I Coríntios 12:30) Todavia, caí em outro equívoco, isto é, que aquele que recebesse o batismo com o Espírito Santo receberia poder como evangelista, ou como pregador da Palavra. Isto é igualmente contrário ao ensino desse capítulo, de que “os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo.” Três são os males resultados do erro mencionado: Primeiro — o desapontamento. Muitos buscam o batismo com o Espírito Santo, esperando receber poder como evangelista, mas Deus não os tem chamado para esse trabalho, e o poder que vem do batismo com o Espírito Santo se manifesta doutro modo; muitos casos de amargo desapontamento, e quase desespero, se têm originado por causa disso. O segundo mal é ainda mais grave que o primeiro — a presunção. Um homem a quem Deus não chamou para a obra de evangelização ou para o ministério, atira-se à obra porque recebeu, ou pensa ter recebido, o batismo com o Espírito Santo. Muitos asseveram: “Tudo quanto um homem precisa para ser um pregador bem sucedido é do batismo com o Espírito Santo.” Isso não é verdade. Ele precisa de uma chamada para esse trabalho específico, e deve estudar a Palavra de Deus, que o preparará para a obra. E o terceiro mal ainda é pior — a indiferença. Há muitos que sabem que não foram chamados para a obra da pregação. Por exemplo, a mãe com muitos filhos sabe disso. Acha então que o batismo com o Espírito Santo simplesmente concede poder para pregar, e isso não interessa a ela; mas, quando chegamos a ver a verdade que, se por um lado o batismo como Espírito Santo outorga poder, por outro lado, o modo como esse poder se manifesta depende da obra a que Deus nos tem chamado, e que nenhuma obra eficiente pode ser feita sem tal poder; então, a mãe de família perceberá, igualmente, que ela, tanto quanto o pregador, necessita desse batismo — necessita dele para aquela mais importante e santa de todas as incumbências, a de criar os seus filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). Faz bem pouco tempo que conheci uma senhora muito feliz. Poucos meses antes ela ouvira falar no batismo com o Espírito Santo e, buscando-o, receberá. E exclamou com grande júbilo, enquanto me relatava a história; “Oh, desde que o recebi, tenho podido alcançar o coração de meus filhos, como nunca antes pudera fazê-lo. ” Ao próprio Espírito Santo importa decidir como esse poder se manifestará em todos os casos — “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas cousas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (I Coríntios 12:11). Temos o direito de desejar, “com zelo, os melhores dons” (I Coríntios 12:31), mas o Espírito Santo é soberano, e Ele, e não nós, é quem deve determinar essa questão. Não nos compete selecionar um dom e pedir que o Espírito Santo nos faça seu possuidor; de igual modo, não nos compete selecionar um campo de serviço e esperar que o Espírito Santo nos confira poder nesse lugar de nossa própria predileção. Pelo contrário, reconheçamos a divindade e o senhorio do Espírito Santo, pondo-nos, sem reservas, à Sua disposição. E assim, Ele nos proporcionará o dom que quiser e o campo que desejar, e o poder para o trabalho que determinar. De certa feita, conheci um filho de Deus que ouviu sobre o batismo com o Espírito Santo e seu poder resultante; com grande sacrifício despediu-se do emprego secular que possuía e se lançou ao trabalho de evangelização. Mas, o poder que esperava se manifestasse nessa direção, não apareceu. O homem caiu em grandes dúvidas e frustrações, até que foi levado a perceber que o Espírito Santo é quem distribui os Seus dons “como Lhe apraz, a cada um, individualmente.” Então, desistindo de selecionar os dons e o campo de trabalho, entregou-se completamente ao Senhor, pondo-se à disposição do Espírito, para receber e realizar o que Ele escolhesse. Em última análise, o Espírito Santo conferiu a esse homem o poder para ser um evangelista e um grande pregador da Palavra. Assim sendo, rendamo-nos de maneira absoluta, ao Espírito Santo, para que seja realizada Sua vontade e não a nossa. Porém, embora o poder oriundo do batismo com o Espírito Santo se manifeste de diversas maneiras, em vários indivíduos, será sempre o mesmo poder. Assim que um homem é batizado com o Espírito Santo, receberá poder novo, um poder que não é seu, o “poder do Alto!” A biografia religiosa é testemunha de homens que trabalharam da melhor maneira possível, sem grandes resultados, até que um dia entenderam que há uma experiência do batismo com o Espírito Santo, que deve ser obtida; e, desde que a receberam, experimentaram um novo poder que lhes transformou de modo completo o caráter e a vida espiritual. Finney, Brainerd e Moody foram casos assim. Mas, esses casos não se confinam a alguns poucos homens excepcionais; antes, vão-se tornando cada dia mais evidentes. Este escritor conhece e se corresponde pessoalmente com centenas de crentes que podem testificar acerca do novo poder que Deus lhes tem outorgado através do batismo com o Espírito Santo. Essas centenas de homens e mulheres se encontram em todos os setores do serviço cristão. Muitos deles são ministros do evangelho, missionários, secretários de várias instituições, professores de Escola Dominical, obreiros que fazem trabalho pessoal, e outros são pais e mães. Não se pode contestar a clareza, a confiança e a alegria desses testemunhos. Aquilo que está firmado como promessa, na Palavra de Deus, nos pertence em potencial e cada crente deve possuir, na forma de jubilosa experiência: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas. ” Eis a súmula deste primeiro capítulo: O batismo com o Espírito Santo é o mesmo Espírito de Deus que vem sobre o crente, tomando posse de suas faculdades, proporcionando-lhe dons extranaturais, qualificando-o para o serviço, para o qual Deus o chamou. 2 - NECESSIDADE E POSSIBILIDADE DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
Pouco antes de Cristo Se elevar ao céu, entregou aos Seus
discípulos a incumbência de pregarem o evangelho, impondo-lhes uma solene ordem com respeito ao início da grande obra que lhes entregara nas mãos: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24:49). Nenhuma dúvida paira sobre o que Jesus queria dizer com “a promessa de meu Pai”, pelo que deveriam esperar antes de dar início ao ministério que Ele lhes entregara; porquanto em Atos 1:4,5 lemos que Jesus lhes determinou que “não se ausentassem de Jerusalém, mas esperassem a promessa do Pai, a qual, disse Ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” Essa “promessa do Pai,” mediante a qual lhes seria dado o poder necessário, era justamente o batismo com o Espírito Santo. (Comparar com Atos 1:8.). Cristo, portanto, determinou terminantemente aos Seus discípulos que não tivessem a presunção de fazer o trabalho para o qual Ele os havia chamado, enquanto não houvessem recebido a preparação necessária e imprescindível para a sua realização — o batismo com o Espírito Santo. E os homens a quem Jesus recomendou esperar, a nosso ver já tinham uma preparação completa para a obra em vista. Haviam sido alunos da escola de Cristo durante mais de três anos. Haviam ouvido de Seus próprios lábios as grandes verdades que deviam proclamar ao mundo. Haviam sido testemunhas oculares de Seus milagres, de Sua morte e de Sua ressurreição, e estavam na iminência de ser testemunhas oculares de Sua ascensão. A obra que lhes competia fazer consistia simplesmente de saírem a proclamar aquilo que seus próprios olhos tinham visto, e o que seus próprios ouvidos tinham ouvido, dos lábios do próprio Cristo. Não estariam eles plenamente preparados para essa tarefa? A nós pareceria que sim. Mas o Cristo onisciente pensava de outro modo. E como se Ele dissesse: “Estais ainda tão incapacitados que não deveis dar um passo sequer. Resta-vos uma capacitação posterior, tão essencial ao serviço cristão eficaz, que deveis ficar em Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder para servir. Essa capacitação posterior é o batismo com o Espírito Santo. Quando o receberdes — e jamais antes disso — então estareis verdadeiramente capacitados para o trabalho de que vos incumbi. ” Se Cristo não permitiu que aqueles homens que haviam recebido tão raro e tão eficiente treinamento para a obra a que Ele os tinha designado, nada fizessem enquanto, adicionado a isso, não recebessem o batismo com o Espírito Santo, como ousaremos nós lançar-nos à obra para a qual Ele nos chamou, enquanto não houvermos recebido, — adicionado a qualquer grau de instrução bíblica, o batismo com o Espírito Santo? Não seria isso a mais imprópria das presunções? Mas isso ainda não é tudo. Em Atos. 10:38 lemos "... como Deus ungia a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo...” Quando folheamos os evangelhos, procuramos explicação para essas palavras, descobrimos o seu esclarecimento em Lucas 2:21,22; 4:1,14,15,18,21. Descobrimos que, quando do batismo de Jesus, no rio Jordão, “estando ele a orar" veio o Espírito Santo sobre Ele. E então. “cheio do Espírito Santo.” passou pela experiência da tentação no deserto. Em seguida, “no poder do Espírito,” Ele deu início ao Seu ministério e se proclamou “ungido para evangelizar.” porquanto “o Espírito do Senhor está sobre mim,” segundo Suas palavras. E incontestável! Jesus Cristo não entrou no ministério para o qual veio a este mundo, enquanto não foi batizado com o Espírito Santo. Ora, se Jesus Cristo, que foi sobrenaturalmente concebido pela virtude do Espírito Santo, que é o Filho unigênito de Deus, integralmente Deus, sendo verdadeiro homem e verdadeiro Deus, se Ele que nos deixou “exemplo para seguirmos os Seus Passos,” jamais Se aventurou no ministério para o qual o Pai O enviou, enquanto não foi batizado com o Espírito Santo, quem somos nós para entrarmos no ministério da Palavra sem essa prévia preparação? Portanto, se à luz de todos esses fatos comprovados, ainda ousamos tal intromissão, isso parece uma ousadia que ultrapassa toda presunção. Sem dúvida que essa falha tem sido cometida por muitos devido a ignorância, mas podemos continuar sempre nos escudando atrás de nossa ignorância? A verdade é que o batismo com o Espírito Santo é uma preparação absolutamente necessária para um serviço eficaz para Cristo, qualquer que seja nossa área de serviço. Ainda que a nossa chamada para o serviço cristão seja tão clara como a dos apóstolos; tanto quanto eles antes de começarmos esse serviço, devemos esperar “o revestimento com o poder do alto.” Ora, esse revestimento de poder vem por intermédio do batismo com o Espírito Santo Por certo um dos maiores erros cometidos em nossos dias, é o de usar homens que ensinam em nossas classes de Escola Dominical, que fazem o trabalho de evangelização pessoal, e até mesmo pregam o evangelho, simplesmente porque se converteram e receberam certo grau de educação secular — talvez incluindo um curso de faculdade ou de seminário teológico — mas que, até o momento, não foram batizados com o Espírito Santo. Qualquer homem que esteja atarefado no trabalho cristão mas que ainda não recebeu o batismo com o Espírito Santo, deve parar seus labores, ali mesmo onde se encontra, e não prosseguir nem mais um passo, enquanto não for “revestido de poder vindo dos céus.” Mas, alguém poderia perguntar: “O que faremos enquanto estivermos esperando?” Ora, o mesmo que fizeram os primeiros discípulos, durante aqueles dez dias em que esperavam o cumprimento da promessa. Somente eles conheciam a verdade salvadora, mas, em obediência à ordem do Senhor, fizeram silêncio. O mundo não perdeu com isso. Tendo chegado o poder do alto, realizaram mais em um único dia do que teriam feito em anos, se houvessem desobedecido presunçosamente a ordem de Jesus Cristo. Assim também nós, depois de recebermos o batismo com o Espírito Santo realizaremos mais em um dia do que realizaríamos durante anos, destituídos de Seu poder. Os dias passados a esperar no Senhor, se isso for necessário, serão bem empregados; mas a seguir veremos que não há necessidade de passarmos dias e dias de espera. Alguém poderia alegar que os apóstolos saíram em excursões missionárias, durante a vida terrena de Cristo, antes de serem batizados com o Espírito Santo. E é verdade, mas isso aconteceu antes do Espírito ter sido prometido, e antes que houvesse sido baixada a ordem do Senhor: "... não se ausentassem de Jerusalém, mas esperassem a promessa do Pai...” Depois dessa determinação seria desobediência e uma extrema presunção, da parte dos discípulos, se eles, sem receberem essa unção, tivessem saído a pregar. Quanto a nós mesmos, estamos vivendo nos dias em que o Espírito Santo já veio e depois de ter sido dada a ordem: "permanecei... até que do alto sejais revestidos de poder. ” Chegamos agora à questão da possibilidade do batismo com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo se destina a nós? Essa é uma pergunta cuja resposta está clara e bem explicada na Palavra de Deus. Em Atos 2:39 lemos: “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar. ” A que se refere “a promessa?” Voltando-nos para o quarto e o quinto versículo do capítulo anterior, podemos ler: “mas esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” E novamente, no versículo trinta e três, do segundo capítulo de Atos, lemos: “tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.” Desse modo, parece perfeitamente claro que a “promessa” do versículo trinta e nove deve ser a mesma “promessa” do versículo trinta e três, e a “promessa” do quarto e quinto versículos do primeiro capítulo de Atos — isto é, a promessa do batismo com o Espírito Santo. Essa conclusão se torna absolutamente certa dentro do próprio contexto da passagem: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa." etc. Entende-se, pois, que a promessa exarada nesse versículo é o dom ou batismo com o Espírito Santo. (Comparar Atos 10:45 com Atos 11:15,16.) E para quem se destina esse dom? Retruca o apóstolo Pedro — “para vós outros” — tendo em vista os judeus a quem se dirigia imediatamente. E então, contemplando a geração futura, adicionou — “para vossos filhos.” E, finalmente, olhando para todas as gerações vindouras de crentes, na história da Igreja, tanto provenientes dos judeus como procedentes dos gentios, acrescentou Pedro: — “e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar. ” O batismo com o Espírito Santo, portanto, destina-se a cada filho de Deus, em todas as gerações da história da Igreja. Se tal batismo ainda não é nosso, em possessão experimental, então é por que não recebemos o que Deus providenciou para nós, em nosso sublime Salvador (Atos 2:33; João 7:38,39). Um ministro do evangelho de certa feita aproximou-se de mim, após ouvir uma preleção sobre o batismo com o Espírito Santo, e disse: “A igreja a que pertenço, ensina que o batismo com o Espírito Santo era somente para o período apostólico.” Mas respondi-lhe: “Não tem importância o que ensina a igreja a que o irmão pertence. O que importa é: Que diz a Palavra de Deus?” Foi lido o trecho de Atos 2:39, que diz: “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar.” E insisti: “O prezado irmão foi chamado?” “Sim, fui,” respondeu ele “Nesse caso, a promessa é para o irmão também?” “Sim, é.” E é mesmo. Destina-se a cada filho de Deus que lê estas páginas. É extraordinário pensar que o batismo com o Espírito Santo, o revestimento de poder vindo do alto, seja para nós, seja PARA MIM, individualmente. Mas esse pensamento, que se reveste de uma graça indizível, também tem seu lado solene. Se eu posso ser batizado com o Espírito Santo, urge alcançá-lo. Se eu for batizado com o Espírito Santo, então serão salvas muitas almas, por minha instrumentalidade, o que não aconteceria, se eu não fosse batizado. Assim sendo, se eu não estiver disposto a pagar o preço desse batismo, e por isso mesmo não for batizado, estão serei responsável por todas as almas que poderiam ser salvas, mas que não o foram, por não ter sido eu batizado com o Espírito Santo. Algumas vezes estremeço por meus irmãos e por mim mesmo, por nós que estamos envolvidos na obra cristã. Não porque estejamos ensinando erros mortíferos aos homens; de fato alguns se tornam culpados até mesmo disso, mas não me refiro a esse particular. Ainda que estejamos ensinando a plena verdade, conforme ela se acha em Jesus, devo confessar que há muitos que não ensinam qualquer erro positivo, nem ao pregar o evangelho, no púlpito ou individualmente. Refiro-me a isso, neste ponto. Tremo por aqueles que estão pregando a verdade, a verdade segundo existe em Jesus, o evangelho em sua simplicidade, em sua pureza, em sua plenitude, mas que pregam “em linguagem persuasiva de sabedoria," mas não “em demonstração do Espírito e de poder ( I Coríntios 2:4), que pregam na energia da carne, e não no poder do Espírito Santo. Nada existe de mais mortífero do que o evangelho destituído do poder do Espírito. “Porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (II Coríntios 3:6). Assim sendo, é tremendamente importante essa questão de pregar o evangelho, no púlpito ou individualmente. Resultará em morte ou vida para aqueles que ouvem, o fato de pregarmos sem ou com o batismo do Espírito Santo. Urge-nos ser batizados com o Espírito Santo. Argumenta-se, às vezes, que o “batismo com o Espírito Santo” era ocasional, visando ao propósito de conferir poderes miraculosos, e apenas durante a época apostólica. Em apoio dessa assertiva, diz-se que o batismo com o Espírito Santo era seguido, mui uniformemente, por milagres. Essa posição é insustentável, em face das seguintes razões: (1) Devido ao fato do próprio Cristo ensinar que o motivo do batismo com o Espírito Santo é conferir poder para o testemunho cristão — e não especialmente o poder de operar maravilhas (Atos 1:5,8; Lucas 24:48,49). (2) Pelo fato de Paulo ensinar que há diversidade de dons, e que as “operações de milagres” são apenas manifestações redundantes do batismo com o Espírito Santo (I Coríntios 12:4,8-10). (3) Por causa do fato de Pedro assegurar distintamente que “o dom do Espírito Santo,” “a promessa”, destina-se a todos os crentes de todas as gerações (Atos 2:38,39), e é óbvio, pela comparação de Atos 2:39 como Lucas 24:49 e Atos 1:4,5 e 2:33, bem como de Atos 2:38 com Atos 10:45 e 11:15,16, que cada uma dessas expressões — “a promessa” e “o dom do Espírito Santo” — refere-se ao batismo com o Espírito Santo Se tomarmos em consideração os milagres, em sentido geral, entendendo-os como todos os resultados operados pelo poder sobrenatural, então se torna verdade que cada crente, batizado com o Espírito Santo, recebe poder de operar maravilhas; porquanto cada crente assim batizado recebe um poder que não lhe pertence naturalmente, mas que é um poder sobrenatural, o próprio poder de Deus. O resultado do batismo com o Espírito Santo mais notável e essencial consiste do poder de convencer, e então de converter (Atos 2:4,37,41; 4:8-13; 4:31,33; 9:17,20-22). Não se menciona qualquer manifestação de poder miraculoso, imediatamente após o batismo de Paulo com o Espírito Santo; embora, em dias posteriores, Deus o usasse largamente neste sentido — foi o poder de testificar sobre Jesus, como Filho de Deus, que ele recebeu em imediata conexão com o batismo com o Espírito Santo.
3 - COMO OBTER O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
Temos chegado à posição em que sentimos profundamente a necessidade do batismo com o Espírito Santo. A questão prática está diante de nossos olhos — como podemos obter esse batismo com o Espírito Santo, o qual tanta falta nos faz? A essa pergunta a Palavra de Deus também responde de modo muito claro e explícito lá na Bíblia um caminho indicado, que consiste de sete passos simples, que podem ser dados por todos quantos queiram fazê-lo; e os que assim agirem entrarão com toda a certeza nessa maravilhosa bênção! Essa declaração pode parecer um tanto ousada, mas a Palavra de Deus é igualmente positiva com referência ao resultado a que somos levados, quando damos esses passos. Todos os sete passos são firmados ou estão subentendidos em Atos 2:38: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” Os três primeiros passos transparentes com grande precisão e clareza nesse versículo. E os outros quatro passos, que "estão implícitos nesse, versículo, surgem de forma mais explícita com o apoio de outras passagens, a que faremos alusão mais adiante. 1. Os dois primeiros passos se encontram dentro da palavra “arrependei-vos ” Que significa “arrepender-se”? Significa mudar de mente. Mas, mudar de mente acerca de quê? Acerca de Deus, de Cristo, do pecado? Nesse versículo, o pensamento primordial é uma mudança de idéia a respeito de Cristo. Pedro acabara de apresentar aos seus ouvintes a terrível acusação de que eles haviam crucificado Aquele a quem Deus tornara Senhor e Cristo. E assim, “... compungiu-se-lhes o coração e perguntaram... ” compunção causada pelo poder do Espírito Santo. E a pergunta deles foi: “Que faremos, irmãos?” Ao que Pedro lhes respondeu: “Arrependei-vos.” Isso equivale a ter dito: “Mudai vossas idéias sobre Cristo. Abandonai aquela atitude de aversão e ódio contra Cristo, e assuma uma atitude de aceitação de Cristo. Aceitai a Jesus como Cristo (Messias prometido) e como Salvador. Assim sendo, esse é o primeiro passo na direção do batismo com o Espírito Santo: a aceitação de Jesus como Cristo e Senhor. 2. O segundo passo também pode ser encontrado nessa palavra, "... arrependei-vos...” Apesar da mudança de atitude para com Jesus ser o pensamento primário e predominante, também há a idéia de mudança de atitude mental em relação ao pecado. A mudança de atitude, que deixa de lado o amor ao pecado, e passa a abominar o pecado e a renunciá-lo — isso também está envolvido no arrependimento. Esse, pois, é o segundo passo — a renúncia ao pecado, a todo o pecado. Mas é justamente esse um dos obstáculos mais comuns para o recebimento do Espírito Santo — o pecado. Apegamo-nos a algo, em nosso íntimo, que sentimos não ser agradável a Deus. Se quisermos receber o Espírito Santo, teremos de ser muito honestos e sinceros ao perscrutarmos nossos próprios corações. Não podemos sondar-nos como convém. Só Deus pode fazê-lo. Se quisermos receber o Espírito Santo, devemos ficar a sós com o Senhor, pedir que Ele perscrute o nosso íntimo, trazendo à luz qualquer coisa que Lhe seja desagradável (Salmo 139:23,24). Em seguida precisamos que Ele o faça. Quando aquilo que desagrada ao Senhor é revelado, deve ser abandonado imediatamente. Se, depois de alguma espera paciente e honesta nada for trazido à luz, então poderemos concluir que nada desse tipo há como obstáculo, e deveremos passar para as fases seguintes. Contudo, não devemos chegar mui apressadamente a essa conclusão. O pecado pode parecer algo muito pequeno e insignificante em si mesmo. Finney relata acerca de uma jovem senhora que muito se preocupava com referência ao batismo com o Espírito Santo. Noite após noite ela agonizava em oração, mas a bênção desejada não lhe era conferida. Certa noite, estando a orar intensamente, lembrou-se de certo adorno de cabelos que com freqüência já perturbara os seus pensamentos; tomando os grampos, tirou-os dos cabelos e, imediatamente, recebeu a bênção. A questão era desprezível em si mesma, uma questão que para muitos não teria sido reputada como um pecado. No entanto, era questão de controvérsia entre essa mulher e Deus; e, uma vez resolvida, a bênção não se fez esperar. “.. e tudo o que não provém de fé é pecado” (Romanos 14:23) e não importa quão pequena seja a questão, se houver dúvida a respeito. Qualquer coisa, portanto, deve ser retirada e eliminada, para que o crente receba o batismo com o Espírito Santo. O segundo passo em direção ao recebimento do batismo com o Espírito Santo, portanto, é a eliminação de todo e qualquer pecado. 3. O terceiro passo está claramente nesse mesmo versículo: “e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados. ” Foi imediatamente depois do batismo de Jesus nas águas que o Espírito Santo veio sobre Ele (Lucas 3:21,22). Nesse batismo na água, embora o Senhor Jesus fosse naturalmente sem pecado, Ele se humilhou, tomando lugar de um pecador, e então Deus O exaltou sobremaneira, dando-Lhe o Espírito Santo e fazendo soar a voz audível: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17). Assim também devemos humilhar-nos, fazendo franca confissão de nosso pecado, e renunciar a ele, fazendo pública confissão de nossa aceitação de Jesus como nosso Salvador, obedecendo-o pelo batismo nas águas. O batismo com o Espírito Santo não foi reservado para aquele que apenas secretamente toma lugar de pecador e crente em Cristo, mas sim, para aquele que o faz abertamente. Naturalmente que o batismo com o Espírito Santo pode anteceder o batismo na água, como no caso da família de Cornélio (Atos 10:47). Mas é óbvio que aquele foi um caso excepcional, em que o batismo foi ministrado logo a seguir. Compreende a possibilidade de que haja crentes, que não crendo no batismo da água, como “ os Amigos” ou os “Quakers” — que podem dar evidência do batismo com o Espírito Santo, mas a passagem estudada apresenta a ordem normal. 4. O quarto passo é claramente indicado no versículo que estamos estudando (Atos 2:38), ainda que seja mais explicitamente exposto em Atos 5:32, que “o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem O quarto passo é a obediência. Que significa obediência? Não significa meramente fazer algumas coisas, ou mesmo muitas ou a maioria delas, dentre as que Deus ordena que façamos. Mas significa rendição total à vontade de Deus. A obediência é uma atitude da vontade, na qual baseiam os atos específicos de submissão. Essa obediência significa que me achego ao Senhor e Lhe digo: “Pai celeste, eis-me aqui, com tudo quanto tenho. Compraste-me com grande preço e reconheço Teus direitos absolutos de posse sobre mim. Toma-me, com tudo quanto tenho, e faze comigo segundo a Tua vontade. Envia-me para onde quiseres; usa-me de acordo com a Tua vontade soberana. Rendo-me completamente com tudo quanto possuo, de forma absoluta e incondicional, para sempre, a fim de que me controles e uses.” Quando toda a oferta queimada, e não apenas parte dela, era depositada sobre o altar, é que, “saindo fogo de diante do SENHOR, consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar,” e a oferta era aceita (Levítico 9:24). Semelhantemente, é quando nos colocamos inteiramente à disposição do Senhor, como holocausto posto no altar, que desce o fogo de Deus e o Senhor aceita o nosso oferecimento. É justamente nesse ponto que tocamos no impedimento ao batismo com o Espírito Santo, em muitas vidas — não há rendição total, a vontade não está subjugada ao Senhor, e nem o coração clama: “Senhor, onde quiseres, o que quiseres e como quiseres.” Um homem deseja o batismo com o Espírito Santo para que possa pregar ou trabalhar com poder no Rio de Janeiro, quando Deus o quer na Amazônia. Outro deseja esse batismo para poder pregar a auditórios superlotados, quando Deus deseja que ele are a terra entre os pobres. Uma jovem senhora, em uma concentração evangélica, expressou forte desejo de ouvir alguém que lhe falasse sobre o batismo com o Espírito Santo. Foi atendida, e a mensagem impressionou profundamente o seu coração. Já estava há algum tempo em agonia de alma quando perguntei o que ela desejava. “Oh,” exclamou ela, “não posso voltar à minha terra, enquanto não estiver batizada com o Espírito Santo.” Então lhe indaguei: “Já entregou sua vontade ao Senhor?” “Não sei,” foi a sua resposta. “Deseja voltar à sua terra a fim de ser uma obreira do evangelho?” “Sim.” “Está disposta a voltar à sua terra e ser uma empregada, se é isso que Deus deseja?” E ele replicou: “Não posso,” insistiu ela. “Então, está pronta a permitir que Deus o faça, pela senhora?” “Sim.” “Bem, nesse caso, peça-Lhe justamente isso,” recomendei. A cabeça da senhora se inclinou por alguns minutos, em intensa oração. E quando terminou, perguntei-lhe: “Deus ouviu a sua oração?” E ela retrucou: “Deve ter ouvido, pois foi segundo a Sua vontade. Sim, Ele a ouviu.” “Então peça-Lhe agora o batismo com o Espírito Santo.” Novamente a senhora entregou-se ao exercício de breve mas intensa oração, oração essa que subiu até ao trono de Deus. Houve um breve silêncio e a agonia terminou, a bênção foi dada, quando a vontade se rendeu ao Senhor. Muitos existem que evitam essa rendição total por temer a vontade de Deus. Receiam que a vontade de Deus seja algo desagradável. Lembre-se quem Deus é. Ele é o nosso Pai. Jamais um pai terreno teve uma vontade tão terna e amorosa com seus filhos, como o Senhor tem para conosco. “O SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente” (Salmo 84:11). “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8:32) Nada existe para temer na vontade de Deus. A vontade de Deus sempre visa, em última análise, as melhores e mais doces bênçãos de todo o universo, para os Seus filhos. 5. O quinto passo se acha em Lucas 11:13: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” A solicitação aludida nesse versículo é o apelo que se origina de um real e intenso desejo. Isso também transparece no texto: “Por isso vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” Note-se, igualmente, a parábola do amigo importuno, que antecede imediatamente esse ensino. É óbvio que a solicitação que Cristo tinha em mente não era o pedido passageiro, motivado por um capricho do momento, mas sim, o apelo impulsionado por um intenso desejo. Há uma passagem extremamente sugestiva, em Isaías 44:3: Porque derramarei água sobre o sedento... derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes.” Que significa, aqui, “o sedento”? Quando alguém chega a tornar-se sedento, de sua garganta sai somente um clamor: "Água! água! água!" Até parece que cada poro do corpo se transforma em uma pequena boca a bradar: "Água!” Semelhantemente quando os nossos corações têm um único clamor: “O Espírito Santo! o Espírito Santo! o Espírito Santo!” é então que Deus derrama Seus dilúvios espirituais em nossa terra seca, é então que Ele nos confere, qual chuva abundante, o Seu Santo Espírito. O quinto passo, portanto, — o intenso desejo pelo batismo com o Espírito Santo — já foi esclarecido. A que intensidade de anelo devem ter chegado os primeiros discípulos, pelo décimo dia de sua ansiosa espera, antes que suas almas sedentas tivessem sido satisfeitas, naquele dia em que se cumpriu o pente-coste. Enquanto alguém pensa que pode viver sem o batismo com o Espírito Santo, e dá valor à erudição terrena ou aos métodos de trabalho artificialmente criados, não poderá recebê-lO. Muitos são os ministros do evangelho que não gozam da plenitude do poder que Deus tem em reserva para eles, simplesmente por não se disporem a admitir a falta que essa plenitude lhes tem feito por todos os anos de seu ministério. É realmente humilhante confessar essa deficiência, mas essa confissão humilde seria a precursora de uma maravilhosa bênção. Outrossim, não são poucos os que, em sua má vontade de fazer essa confissão saudável, escudam-se por detrás de algum engenhoso artifício de exegese, para evitarem o sentido claro e simples da Palavra de Deus, e por isso mesmo, carecem da plenitude do poder do Espírito, a qual o Senhor tanto deseja conferir-lhes. Ademais, põem em perigo os eternos interesses das almas que dependem de suas mensagens, e que poderíam ser seguramente ganhas para Cristo, caso esses ministros possuíssem o poder que Cristo lhes oferece. Há aqueles, contudo, a quem Deus, movido por Sua graça, conduziu à luz, a fim de que entendessem que falta algo evidente em seu ministério, e que esse algo é o todo-essencial batismo com o Espírito Santo, sem o qual o pregador está inteiramente desqualificado para um serviço cristão aceitável e eficaz; e então uma vez que confessam, humilde e francamente, a sua deficiência, geralmente são elevados a tomar uma de- cisão orientada por Deus — a de não prosseguirem em seu ministério, enquanto essa falta não lhes for suprida. E passam a esperar intensamente em Deus Pai, visando ao cumprimento de Sua promessa; e o resultado tem sido um mistério transformado. E muitos pregadores têm assim sido levantados, para a glória de Deus. Não é suficiente que o desejo pelo batismo com o Espírito Santo seja intenso; deve também possuir o motivo correto. Há um desejo pelo batismo com o Espírito Santo, que é puramente egoístico. Há os que anelam fortemente pelo batismo com o Espírito Santo, simplesmente para que possam ser grandes pregadores, ou notáveis obreiros pessoais, ou de alguma maneira crentes de renome. Buscam simplesmente sua própria glória. Em última análise^ não buscam o próprio Espírito Santo, mas sua própria honra, e o batismo com o Espírito Santo só serve para conseguirem sua vontade. Uma das astúcias mais sutis e perigosas a que podemos ser conduzidos por Satanás, é a de buscar o Espírito Santo, esse mais solene de todos os presentes divinos, para os nossos próprios fins. O desejo pelo Espírito Santo não deve ter como propósito tornar essa sublime e divina Pessoa nossa serva, mas sim, visar a gIória de Deus. Deve originar-se do conhecimento que Deus e Cristo estão sendo desonrados pelo ministério destituído de poder, e pelo pecado daqueles que estão confiados às nossas mãos, contra cujo pecado não temos nenhum poder; mas que o senhor será honrado se recebermos o batismo com o Espírito Santo. Uma das mais solenes passagens do Novo Testamento gira em torno desse particular. Trata-se de Atos 8:18-24. que diz “Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito, ofereceu-lhes dinheiro, propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo.” Nesse episódio vemos um forte desejo da parte de Simão, mas um desejo completamente espúrio e egoísta, enquanto que a terrível resposta de Pedro merece nossa atenção e meditação. Não existem muitos, hoje em dia, com desejos e propósitos igualmente profanos com relação ao batismo com o Espírito Santo? Todo aquele que deseja e busca o batismo com o Espírito Santo, faria bem em perguntar a si mesmo por que O deseja. E caso descubra que visa meramente sua própria satisfação ou glória, então que peça perdão ao Senhor, a fim de que seja capaz de ver qual sua autêntica necessidade, visando a glória de Deus e não suas finalidades pessoais. 6. O sexto passo fica ainda nesse mesmo versículo — Lucas 11:13: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” O sexto passo, por conseguinte, consiste em pedir. Deve-se pedir de modo definido essa bênção definida do Espírito. Uma vez que Cristo seja recebido como Salvador e Senhor, e que seja abertamente confessado como tal, quando o pecado for solucionado, quando houver a rendição definida e total da vontade, quando houver um real e santo desejo pelo Espírito, então será justa a solicitação da benção, feita diretamente a Deus. O batismo do Espírito Santo é dado em resposta à oração intensa, definida, específica e confiante. Alguns afirmam teimosamente que não se deve rogar pelo Espírito Santo. Seu raciocínio é o seguinte: “O Espírito Santo já foi dado à Igreja, no pentecoste, como bênção permanente.” Isso é verdade, mas o que foi dado à Igreja deve ser apropriado pessoalmente por todo crente, individualmente. Já dissemos que Deus já deu Cristo ao mundo (João 3:16), mas que cada indivíduo deve apropriar-se dEle mediante um ato pessoal, se quiser tirar proveito do dom de Cristo — assim também cada crente deve apropriar-se pessoalmente do dom do Espírito Santo para que tire proveito do mesmo. Não obstante, argumentam ainda alguns, que cada crente já possui o Espírito Santo. Isso também expressa a verdade, até certo ponto. “E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8:9). Porém, como já tivemos ocasião de ver, é perfeitamente possível ter algo, sim, e até mesmo muito da presença do Espírito, e de Sua ação no coração, e no entanto, ficar aquém daquela plenitude social e operação sobrenatural que a Bíblia designa de batismo com o Espírito Santo. Em resposta a todos os raciocínios artificiosos sobre essa questão, apresentamos a declaração do Senhor Jesus: quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? Numa convenção, na qual o autor foi convidado a falar sobre o assunto, um irmão o abordou e disse: “Vejo que o senhor vai falar sobre o batismo com o Espírito Santo.” Respondi: “Sim.” E o irmão prosseguiu: “É o tema mais importante do programa — mas não deixe de ensinar que não devem orar pelo Espírito Santo”. Retruquei: “Certamente não direi que não se deve orar pelo Espírito Santo, pois o próprio Cristo disse: ... quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lhO pedirem?” Mas meu interlocutor insistiu: “Bem, mas isso foi antes do pentecoste.” E retorqui: “E que se deve dizer sobre o trecho de Atos 4:31? Isso ocorreu antes ou depois do pentecoste?” “Depois, naturalmente.” E ajuntei: “Então leia a passagem, por favor.” E o trecho foi lido: “Tendo eles orado, tremeu o lugar estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo.” E continuei: “Atos 8:31 aconteceu antes ou depois do pentecoste?” “Depois, é claro.” "Pois bem, leia, então.” Ele leu: “enviaram-lhe Pedro e João, os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles”. Apesar de todos os argumentos em contrário, a Palavra de Deus ensina, por preceito e por exemplo, que o Espírito Santo é dado em resposta à oração. Assim foi no dia de pentecoste, e assim tem sido desde então. Aqueles que tenho conhecido e mais evidência dão da presença e do poder do Espírito Santo em suas vidas e em seu trabalho, crêem que se deve orar pedindo pelo Espírito Santo. Tem sido privilégio indizível deste autor orar com muitos ministros e obreiros cristãos, por essa grande bênção, e depois ficar sabendo, pelo testemunho pessoal deles ou através de outros, que eles receberam um novo poder em seu serviço — nada menos que o poder do Espírito Santo. 7. O sétimo e último passo encontra-se em Marcos 11:24, que diz: Por isso vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco." As mais positivas e francas promessas de Deus têm de ser apropriadas mediante a fé. Em Tiago 1:5 lemos: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida.” Ora, essa declaração é certamente positiva e incondicional; mas escutemos o que o autor sagrado diz em seguida: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma cousa”. Portanto, deve haver fé, para que nos apossemos das promessas mais positivas e incondicionais de Deus, como as que encontramos em Lucas 11:13 e Atos 2:38,39. Aqui, pois descobrimos a razão de muitos não participarem da bênção do batismo com o Espírito Santo. Não deram o último passo mencionado — o passo simples da fé. Não crêem, não esperam confiantemente, e assim temos mais outros tantos exemplos de homens que “não puderam entrar por causa da incredulidade” (Hebreus 3:19). Existem muitos que não podem penetrar na terra que mana leite e mel, justamente por causa de sua incredulidade. Devemos acrescentar que há uma fé que ultrapassa o que geralmente se espera, uma fé que estende a mão e apanha aquilo que solicita. Isso é mui claramente destacado em Marcos 11: 24: "... tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.” Lembro-me de como fiquei perplexo com essa tradução, ao notá-la pela primeira vez. Ao examinar o original grego dessa passagem entendi que a tradução está correta — mas que quereria dizer? Parecia-me uma simples confusão de tempos verbais, “crede que (já) recebestes, e será assim convosco” Esse aparente enigma foi solucionado muito depois, quando estudava a primeira epístola de João. Em I João 5:14, 15 lê-se: “E esta é a confiança que temos para com ele, que, se pedirmos alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.” Quando um de nós pede qualquer coisa ao Senhor, a primeira coisa que deve ser indagada é — essa petição é segundo a vontade de Deus? Uma vez solucionada a questão, caso a mesma esteja dentro da vontade do Senhor (por exemplo, a bênção pode ser definidamente prometida em Sua Palavra), então devo saber que a oração foi ouvida. E devo saber mais que isso, ainda: “Já tenho a petição que fiz.” Ora, minha certeza deve estar baseada no fato de Ele mesmo o ter declarado abertamente, pois aquilo de que um crente se apropria, em confiança simples e infantil, baseada em Sua Palavra franca, “isso mesmo possuirá” em sua experiência pessoal. Quando alguém recebe um título de propriedade, essa propriedade lhe pertence logo que o documento seja devidamente reconhecido oficialmente, embora possa passar-se algum tempo, até que haja usufruto experimental da propriedade. Tal indivíduo passa a possuir a propriedade, em certo sentido, logo que o documento é oficialmente reconhecido. Mais tarde entra na posse experimental da mesma. Semelhantemente, logo que nós — tendo satisfeito as condições relativas à oração eficaz — apresentamos uma petição a Deus, acerca de “qualquer coisa segundo a Sua vontade,” temos o privilégio de saber que a oração já foi ouvida, e que aquilo que Lhe solicitamos já nos pertence. Ora, apliquemos agora esse princípio ao batismo com o Espírito Santo. Já satisfiz as condições para obter essa bênção. E de modo simples e definido, peço a Deus Pai o batismo com o Espírito Santo. Depois eu faço uma pausa e pergunto se o pedido é segundo a vontade de Deus. Certamente, porquanto assim lemos em Lucas 11:13: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” E também diz Atos 2:38,39: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão ' dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar.” É evidente, pois, que a oração pedindo o batismo com o Espírito Santo é de acordo com a vontade de Deus, posto ser prometido esse batismo de modo claro e definido. E assim devo saber que a oração que fiz foi ouvida, e que tenho a petição que solicitei (I João 5:14,15). Em outras palavras, tenho o batismo com o Espírito Santo. E terei o direito de levantar-me dos joelhos e dizer, baseado na suficiência completa da autoridade da Palavra de Deus: “Tenho o batismo com o Espírito Santo,” e depois desfrutarei da experiência pessoal da qual já me apropriei por um ato de fé; porquanto o Deus que não pode mentir foi quem disse: “tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco. Qualquer leitor deste livro pode, neste momento da leitura pô-lo de lado. E, se já aceitou a Cristo como Salvador e Senhor; se fez pública profissão de fé, como Deus quer; se o pecado foi sondado e eliminado, e se fez entrega total da vontade e do “eu” a Deus; se possui um desejo verdadeiro de, para a glória de Deus, receber o batismo com o Espírito Santo — sim, se essas condições já foram satisfeitas, o leitor pode agora mesmo mostrar-se perante o Senhor e pedir-Lhe que o batize com o Espírito Santo; e então poderá dizer, uma vez terminada essa oração: “Minha oração foi ouvida, e já possuo o que pedi — tenho o batismo com o Espírito Santo.” Um crente assim terá o direito de levantar-se e de ir para o seu trabalho, certo de que contará com o poder do Espírito daí por diante. Mas, alguém poderia perguntar nesta altura: “Não é verdade, entretanto, que devemos saber que temos o batismo com o Espírito Santo, antes de começar a trabalhar no evangelho?” Certamente que sim, mas como poderemos sabê-lo? Não conheço melhor modo de saber qualquer coisa do que através da Palavra de Deus. Deve crer na Palavra de Deus antes de ter qualquer sentimento. Como tratamos com o interessado que acaba de aceitar a Cristo, mas a quem ainda falta a certeza de possuir a vida eterna? Não recomendamos que ele perscrute seus próprios sentimentos. Antes, levamo-lo a examinar passagens como João 3:36. E ele lerá: “Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna...” E lhe perguntamos: “Quem afirma assim? ”“0 próprio Deus.” “Será verdade?” insistimos. “Certamente que sim, pois Deus é quem o afirma.”“E quem tem a vida eterna, segundo diz Deus?” “Aquele que crê no Filho.” E continuamos: “E você confia no Filho?” “Sim.” “Nesse caso, que possui você?” E talvez o interessado replique: “Bem, não sei. Não sinto que tenho a vida eterna.” “Mas, que é que Deus diz?” “Que aquele que crê no Filho tem a vida eterna.” E concluímos: “Você prefere confiar na Palavra de Deus ou em seus próprios sentimentos?” E podemos segurar nesse ponto o interessado, até que, firmado na simples Palavra de Deus, quer tenha sentimentos quer não, possa dizer abertamente: "Sei que possuo a vida eterna, porque assim diz Deus;” e depois aparecem os sentimentos. Faça consigo mesmo, na questão do batismo do Espírito Santo como fez com o interessado no tocante à certeza da salvação. Certifique-se de que satisfez as condições, e depois simplesmente peça, receba e aja. Contudo, alguém dirá: “Mas continuará tudo como antes? Não haverá qualquer manifestação?” Sem dúvida que haverá alguma manifestação. “A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando fim proveitoso” (I Coríntios 12:7). Mas, qual será o caráter dessa manifestação, e onde a perceberemos? É neste ponto que muitos erram. Talvez tenham lido as biografias de Carlos Finney ou de Jonathan Edwards, e recordam as grandes ondas de emoção que experimentaram aqueles homens, ao ponto de se verem obrigados a rogar ao Senhor que retirasse Sua mão, para que não sucumbissem de tanto êxtase. Ou então talvez tenham estado em alguma reunião, e ouviram testemunhos sobre experiências similares, e agora esperam para si mesmos algo parecido. Ora, não nego a realidade de tais experiências. Não posso mesmo fazê-lo. Precisamos acreditar nos testemunhos de homens como Finney e Edwards. Mas, a despeito de admitir a realidade dessas experiências, sou obrigado a interrogar se existe uma linha no Novo Testamento que descreva qualquer experiência similar em conexão com o batismo do Espírito Santo. Todas as manifestações do batismo com o Espírito Santo, no Novo Testamento, eram em forma de poder para o serviço cristão. Examine, por exemplo, I Coríntios 12, onde o assunto é tratado da maneira mais completa, e note o caráter das manifestações mencionadas. É perfeitamente provável que os apóstolos tenham tido experiências similares às de Finney, de Edwards, e de outros; mas, se isso aconteceu, o Espírito Santo evitou que tais coisas fossem registradas. E é bom que Ele assim tenha feito, pois do contrário, ficaríamos a esperar por essas coisas dramáticas, ao invés de buscar a mais importante manifestação do poder para servir. Outra pergunta certamente será levantada: “Mas os apóstolos não esperaram por dez dias? Não teríamos que esperar também?” Os apóstolos tiveram de esperar; porém, pela razão dada em Atos 2:1: “Ao cumprir-se o dia de Pentecoste”. Nos planos eternos e nos propósitos de Deus, bem como nos tipos apresentados no Velho Testamento, o dia de Pentecoste foi estabelecido como tempo certo para a descida do Espírito Santo, e Ele não podia vir enquanto não se cumprisse essa data. Por isso mesmo não mais se ouve falar em espera, depois do dia de Pentecoste. Em Atos 3:31 não houve demora alguma: “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo...” Em Atos 8 também não houve espera. Quando Pedro e João desceram a Samaria e descobriram que nenhum dos novos convertidos fora ainda batizado com o Espírito Santo, “oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo,” e isso ocorreu no mesmo momento (Atos 8:15,17). Paulo de Tarso também não foi obrigado a esperar, segundo Atos 9. Ananias entrou e lhe falou sobre esse admirável dom, batizou-o e lhe impôs as mãos e “logo pregava nas sinagogas a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus” (Atos 9:17,20). Também não houve período de espera em Atos 10. Pedro mal tinha acabado seu sermão; quando veio o batismo com o Espírito Santo (Atos 10:44-46; comparar com 11:15,16). Em Atos 19 também não houve espera. Assim que Paulo declarou aos discípulos de Éfeso a realidade do dom do Espírito, e que as condições foram satisfeitas, não se fez demorar a bênção (Atos 19:1-6). Os homens só precisam esperar quando não satisfazem as condições, quando Jesus Cristo não é plenamente acolhido, ou quando o pecado não é abandonado, ou quando não há rendição completa, desejo sincero, oração definida, ou fé simples, que aceita a Palavra tal como está escrita. A falta de alguns desses elementos imprescindíveis faz com que muitos tenham de esperar às vezes por mais de dez dias. Todavia, não há qualquer necessidade dos leitores deste livro esperarem mesmo que seja por dez horas. Qualquer crente pode receber imediatamente o batismo com o Espírito Santo, se assim o desejar. De certa feita fui abordado por um jovem muito agitado quanto a essa questão. “Ouvi falar no batismo com o Espírito Santo,” explicou ele, “e desde algum tempo, o venho buscando, mas ainda não o recebi.” Então o interroguei: “Você já submeteu sua vontade ao Senhor?” Retrucou: “Temo que essa seja a causa da dificuldade.” “Mas não quer rendê-la?” “Não posso". Então sugeri: “Não está você disposto a deixar que Deus o faça por você?” “Sim.” E aconselhei-o: “Então peça-Lhe essa bênção.” Ajoelhamo-nos em oração, e ele pediu que Deus submetesse por ele a sua vontade. Depois lhe perguntei: “Você acha mesmo que Deus ouviu sua oração, jovem?” E ele disse: “Deve ter ouvido, pois foi feita segundo a vontade dEle.” “Então você já submeteu sua vontade ao Senhor?” “Penso que sim.” E arrisquei: “Nesse caso peça-Lhe o batismo com o Espírito Santo.” E foi o que o jovem fez. Em seguida, perguntei: “Essa oração foi segundo a vontade do Senhor?” “Foi.” “Foi ela ouvida?” “Deve ter sido.” E insisti: “Você já possui o batismo com o Espírito Santo?” E ele: “Não sinto nada.” Mas retruquei: “Não foi isso que lhe perguntei; leia novamente esses versículos.” Abri a Bíblia em I João 5:14,15 e li: “E esta é a confiança que temos para com ele, que, se pedirmos alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve. ” E continuei: “Espere um momento; a oração que você fez foi conforme a vontade de Deus?” “Certamente que foi.” “E terá sido ouvida?” E continuei: “Continue lendo.” E ele leu: “E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito”. E prossegui: “De que ficamos sabendo?” “Que temos as petições que Lhe tivermos feito.” “E qual foi a sua petição, meu rapaz?” “Que eu recebesse o batismo com o Espírito Santo.” E continuei: “Nesse caso, você já o recebeu?” E o jovem retrucou: “Nada sinto; mas se a Palavra de Deus assim diz, então devo tê-lo.” Poucos dias mais tarde encontrei-me com ele novamente, e indaguei se realmente havia recebido o que aceitara mediante fé simples. Com um ar de satisfação ele respondeu: “Sim”, recebi.” Durante cerca de dois anos não mais o vi; mas quando me encontrei novamente com ele, preparava-se para o ministério. Já pregava, e o Senhor honrava seus sermões com almas salvas, e algum tempo mais tarde usou-o, juntamente com alguns outros estudantes, para ser instrumento de grandes bênçãos espirituais no seminário teológico onde estudava. Também resolveu servir ao Senhor em terras estrangeiras. O que aquele jovem reivindicou, baseado simplesmente em fé na Palavra, qualquer leitor deste livro também pode reivindicar, e o receberá da mesma maneira. 4 - NOVOS BATISMOS COM O ESPÍRITO SANTO
Em Atos dos Apóstolos 2:4, lemos: “Todos ficaram cheios do
Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas,” etc. Isso foi o cumprimento de Atos-1:5, que diz: “vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” Um dos que são mencionados pelo nome, entre os que foram “cheios do Espírito Santo” (Atos 2:4) ou “batizados com o Espírito Santo” (Atos 1:5) nessa ocasião, foi o apóstolo Pedro. Voltando-nos para Atos 4:8 lemos: “Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse.” Nessa oportunidade Pedro experimentou um novo enchimento com o Espírito Santo. Novamente, em 4:31, lemos: “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo.” Pedro aparece como um dos componentes desse grupo de crentes (vers. 19 e 23), o que nos mostra que, nessa ocasião, Pedro experimentou o terceiro enchimento com o Espírito Santo. É evidente que não basta ao crente ser batizado uma só vez com o Espírito Santo. À medida que surgirem novas crises no serviço, serão necessários novos enchimentos com o Espírito. Mas o fato dessa verdade não ser compreendida tem conduzido muitos obreiros ao mais completo fracasso Sucede que talvez tenham sido batizados com o Espírito Santo, mas lutam por viver a vida no poder dessa experiência passada. É justamente por esse motivo que vemos tantos homens, que sem dúvida agiram no poder do Espírito Santo, fornecerem agora tão poucas provas de possuir o mesmo poder. Para cada novo serviço a ser prestado, para cada nova alma a ser abordada, para cada novo culto a ser realizado, para cada novo dia e para cada nova emergência de vida e serviço cristãos, é mister que busquemos de modo definido um novo enchimento com o Espírito Santo. Não quero com isso negar que existe a unção que “permanece em vós” (I João 2:27), nem quero pôr em dúvida o caráter permanente dos dons conferidos pelo Espírito de Deus; mas simplesmente assevero, fundamentado em provas bíblicas claras e abundantes, para não falarmos nas provas baseadas na experiência e na observação, que esse dom não deve ser “negligenciado” (I Timóteo 4:14), mas, pelo contrário, deve ser reavivado (II Timóteo 1:6); e que a repetição do enchimento com o Espírito Santo é necessária para a continuação e o crescimento do poder. Surge agora a pergunta: Esses novos enchimentos com o Espírito Santo devem ser chamados de novos batismos com o Espírito? A resposta é que apesar de, por um lado, termos de admitir que em Atos 2:4, a expressão “cheios do Espírito Santo” é usada para descrever a experiência prometida em Atos 1:5, nas palavras “sereis batizados com o Espírito Santo,” e que, por conseguinte, essas duas expressões, até esse ponto são sinônimas, por outro lado, nota-se que a expressão “batizado com o Espírito Santo” na Bíblia é empregada para indicar a primeira experiência com o Espírito. Outrossim, o próprio vocábulo, “batizar,” dá idéia de uma só experiência inicial ou iniciatória. E assim, apesar de defendermos a verdade que tem em vista aqueles que falam sobre “novos batismos com o Espírito Santo,” parece-nos mais acertado seguir o vocabulário e as expressões bíblicas, ao nos referirmos às experiências cristãs — a experiência inicial com o Espírito deve ser intitulada de “batismo com o Espírito Santo,” e as experiências subseqüentes devem ser chamadas de “ficar cheio” do Espírito Santo.
5 - COMO SE PERDE O PODER ESPIRITUAL
Qualquer estudo acerca do batismo com o Espírito Santo e do
poder que disso resulta, seria incompleto se não comentássemos o fato de poder ser perdido o poder espiritual assim conferido. Uma das narrativas mais estranhas e melancólicas do Velho Testamento é a história de Sansão. E também é uma das mais instrutivas. Não há dúvida que foi ele o homem mais notável de sua época. Coube-lhe pela providência divina ter grandes oportunidades; mas após algumas vitórias realmente extraordinárias, sua vida terminou em trágico fracasso, e tudo por causa de sua insensatez indesculpável. Por várias vezes lê-se que “se apossou dele o Espírito do Senhor.” E nesse poder realizou prodígios, para admiração de seu próprio povo e para desbaratamento dos adversários do povo de Deus. Não obstante, em Juízes 16:19,20, vemo-lo abandonado pelo Senhor, embora disso não tivesse consciência, destituído de sua prodigiosa força física, e prestes a ser levado para o mais abjeto cativeiro, como palhaçada para os iníquos; e, juntamente com os inimigos do Senhor, teve uma morte violenta e desonrosa. Infelizmente Sansão não foi o único homem na história cristã que, conhecendo experimentalmente o poder do Espírito Santo, posteriormente foi despojado de todo esse poder e posto de lado como inútil. Já houve milhares de Sansões, e acredito que ainda surgirão muitos e muitos outros — homens que Deus usou anteriormente, mas que depois foram marginalizados. Um dos espetáculos mais tristes sobre a face da terra é um homem assim. Consideremos, portanto, quando é que o Senhor se afasta de um homem ou retira dele o Seu poder ou, ainda em outras palavras, “Como se perde o poder espiritual.” 1. Antes de tudo, Deus retira o Seu poder do indivíduo que recua em sua separação para com o Senhor. Esse foi, precisamente, o caso do próprio Sansão. (Comparar Juizes 16:19 com Números 6:2,5.) Seus cabelos intactos eram o sinal externo de seu voto de nazireu, mediante o qual se “separava para o Senhor ” Mas, seus cabelos raspados significavam a descontinuacão de sua consagração a Deus. Uma vez que não continuou separado para o Senhor, perdeu o poder espiritual. É exatamente pelo mesmo motivo que muitos crentes, hoje em dia, são destituídos de seu poder. Houve época em que se separaram para o serviço de Deus. Mas retornaram ao mundo e suas ambições, em suas atividades e propósitos. Haviam se separado para Deus, como Seus santos, como pertencentes a Ele, para que o Senhor os tomasse e usasse e fizesse com eles segundo a Sua Vontade E Deus honrou aquela consagração, ungindo-os com o Espírito Santo e com poder. E efetivamente foram utilizados nas mãos do Senhor. Assim sucedeu também a Sansão. Mas eis que apareceu Dalila. O mundo capturou novamente o coração do juiz. Ouviu novamente a voz atraente do mundo, e permitiu que ela lhe furtasse a consagração A partir desse momento não era mais homem separado, totalmente consagrado ao Senhor, e o Senhor o abandonou. Haverá alguém assim entre os que lêem estas palavras? Há homens e mulheres que o Senhor já usou, mas que agora não usa mais. Podem continuar externamente atarefados no trabalho cristão, mas não haverá mais a antiga liberdade e poder, e a razão é a seguinte — foram infiéis à sua separação, â sua consagração ao Senhor; estão dando ouvidos a Dalila, à voz da meretriz, à voz do mundo com os seus atrativos. Deseja um crente recuperar o seu passado poder? Só lhe resta fazer uma coisa. Que seus cabelos cresçam novamente como Sansão — os cabelos de sua consagração a Deus. Noutras palavras, que renove sua dedicação ao Senhor. 2.O poder é perdido quando entra o pecado. Foi isso que aconteceu com Saul, filho de Quis. O Espírito de Deus desceu sobre Saul e ele obteve uma grande vitória para Deus (I Samuel 11:6 e ss.). Ele conduziu o povo de Deus ao Triunfo sobre seus inimigos, seus dominadores durante muitos anos. Saul, entretanto, desobedeceu a Deus em duas instâncias distintas (I Samuel 13:13,14 e 15:3,9-11,23), e o Senhor retirou dele o Seu poder, e a vida de Saul terminou em completa derrota e ruína. Essa é também a história de muitos homens que Deus já usou no passado. O pecado penetrou. Praticaram aquilo que fora proibido pelo Senhor,ou recusarem fazer o que fora ordenado por Deus: então o poder do Senhor foi retirado. Assim sendo, aquele que já conhece o poder de Deus no serviço cristão, e deseja continuar desfrutando-o, deve andar com extrema cautela perante o Senhor. Deve estar de ouvidos constantemente atentos, para ouvir o que Deus lhe ordena fazer ou deixar de fazer. Deve responder prontamente aos mais leves sussurros de Cristo. Parece mesmo que aquele que já experimentou o poder de Deus, deveria preferir morrer a perdê-lo. Não obstante, esse poder se perde devido ao ingresso do pecado. Haverá leitores deste livro que estão passando por essa horrenda experiência de perda do poder de Deus? Que cada qual pergunte a si mesmo se não será esse o motivo da diminuição de seu poder espiritual — terá penetrado o pecado, em qualquer de suas formas? Estará ele fazendo alguma coisa, mínima que seja, talvez, mas que Deus diz que não convém ao crente? Estará deixando de fazer algo que Deus ordenou? Que o crente endireite todas as suas relações com o Senhor, e o poder espiritual lhe será restaurado. Davi se tornou culpado de um horrendo pecado; mas quando esse pecado foi confessado e abandonado, veio a conhecer novamente, e sem demora, o poder do Espírito (Salmos 32:1-5; 51:11-13). Se desejamos participar continuamente do poder de Deus, devemos estar freqüentemente a sós com Ele, pelo menos ao fim de cada dia, rogando-Lhe que nos revele qualquer pecado porventura cometido, que nos mostre qualquer coisa que porventura O desagrade, ocorrida naquele dia; e, se Ele nos mostra qualquer falha dessa categoria, cumpre-nos confessá-la e eliminá-la de nossas vidas naquele mesmo instante. 3. A tolerância leva à perda do poder. Aquele que deseja possuir e manifestar o poder de Deus obriga-se a viver uma vida de abnegação, de negação própria. Existem muitas coisas que em si mesmas não são pecaminosas, no sentido comum da palavra pecado, mas que servem de empecilho espiritual e que arrebatam aos crentes o seu poder perante o Senhor. Não posso acreditar que qualquer homem possa viver, excedendo-se em seus apetites naturais, dando-se ao luxo e à vaidade, e ao mesmo tempo desfrutar a plenitude do poder de Deus. A satisfação dos apetites carnais e a plenitude do Espírito não andam de mãos dadas. “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja do vosso querer” (Gálatas 5:17). E Paulo ainda escreveu: “Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (I Coríntios 9:27). Note-se, igualmente, o trecho de Efésios 5:18. Vivemos numa época em que é grande a tentação de satisfazer a carne. As facilidades e comodidades aumentam cada dia. A piedade e a prosperidade raramente andam de mãos dadas e, em muitos casos, a prosperidade produzida pela piedade e pelo poder tem sido a ruína dos que foram agraciados por ela. Não têm sido poucos os ministros que, cheios de poder espiritual, se tornaram populares, e muito procurados. Mas com o aumento da popularidade, aumentam a renda e o conforto. Entrando o luxo, saiu o poder do Espírito. Não seria difícil citarmos instâncias específicas dessa triste realidade. Se desejarmos a continuação do poder do Espírito, precisamos estar vigilantes contra os ardis de Satanás, vivendo com simplicidade, isentos de licenciosidade e ócio, sempre dispostos a participar dos “sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus” (II Tim. 2:3). Confesso francamente que tenho medo das comodidades — não tanto quanto do pecado, reconheço que, depois do pecado, devemos ter mais receio delas do que de qualquer outra coisa. Elas constituem um inimigo forte, que tem muito poder, mas é sutil. Até hoje existem possessões demoníacas que “só podem ser vencidas por meio de oração e jejum.” 4. A cobiça do dinheiro leva à perda do poder. Foi por causa desse pecado que um dos doze que o próprio Jesus escolheu, veio a cair. O amor ao dinheiro, o amor à acumulação de riquezas, tomou conta do coração de Judas Iscariotes e provocou a sua ruína. “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males...” (I Timóteo 6:10), e um dos maiores males causados por esse pecado é a perda do poder espiritual. Quantos homens existem hoje em dia que antes conheceram o poder espiritual, mas o dinheiro começou a entrar. E logo sentiram a fascinação estranha. O amor pela acumulação de riquezas, a cobiça, o desejo de possuir mais, foi pouco a pouco se apossando deles. Acumularam honestamente o seu dinheiro; mas este os absorveu inteiramente, e o Espírito de Deus foi deixado de fora, e o Seu poder foi retirado. Os crentes que desejam poder, precisam das palavras de Cristo: “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza ” (Lucas 12:15) gravadas profundamente em seus corações. Não é preciso que um indivíduo seja rico para ser avarento. Um homem bem pobre pode ficar absorvido com o desejo pelas riquezas, que em tudo se equipare a qualquer multimilionário ganancioso. 5. O poder se perde por causa do orgulho. Esse é o mais sutil e perigoso de todos os inimigos do poder. Tenho quase certeza de que mais homens perdem seu poder por esse motivo, do que pelos já mencionados até o momento. Muitos são os homens que não se desviam de sua consagração no sentido de fazer conscientemente aquilo que Deus proibiu ou de não fazer aquilo que Deus ordenou; não se tornaram tolerantes, com genuína sinceridade recusam sempre as atrações que as riquezas oferecem, contudo falharam — é que o orgulho penetrou. Ficaram envaidecidos justamente pelo fato de Deus lhes ter conferido poder e de os estar usando. Envaidecidos também com a perseverança e a simplicidade de sua vida devocional. E assim Deus se obriga a pô-los de lado. Deus não usa um homem orgulhoso (I Pedro 5:5), “porque Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça.” O homem que fica chern de orgulho, de amor próprio, não pode ter a plenitude do Espírito Santo. Paulo mesmo percebeu esse perigo, em sua própria vida. Deus o advertiu "... para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (II Coríntios 12:7). Quantos homens fracassaram justamente nesse ponto! Tendo buscado o poder de Deus, do modo que Deus requer, chegaram a recebê-lo. Outros testificaram da bênção recebida através deles; mas deram-se ao orgulho, toleraram a soberba, e logo todo o poder espiritual se dissolveu. Moisés foi o mais manso dos homens, no entanto fracassou justamente nesse particular: “porventura faremos sair água desta rocha para vós outros?”clamou ele perante o povo; e desde aquele momento Deus o pôs de lado (Número 20:10-12). Se Deus estiver nos usando, sejamos muito humildes diante dEle. Quanto mais Ele nos usar, tanto mais humildes convém que fiquemos. Que Deus faça retinir Suas palavras em nossos ouvidos, continuamente: “Cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça” (I Pedro 5:5). 6. O poder pode ser perdido por causa da negligencio na oração. É especialmente através da oração que ficamos carregados da virtude de Deus. O homem que vive em intensa e constante oração recebe a corrente energética do poder de Deus. João Livingstone passou uma noite, com alguns crentes, em conferência e oração. No dia seguinte, 21 de junho de 1630, ele pregou com tal poder na Igreja de Shotts, que o Espírito veio de maneira tão evidente, em seus ouvintes, que quinhentos deles foram convertidos ou tiveram alguma confirmação notável de sua conversão. Esse é apenas um entre muitos exemplos que mostram como o poder é proporcionado na oração. Virtude e poder fluem continuamente de nós, como também fluía de Jesus Cristo (Marcos 5:30), em serviço e bênção; e, para que o poder seja mantido, deve ser permanentemente renovado por intermédio da oração. Quando a energia elétrica é liberada de um corpo carregado dela, a fonte tem de ser recarregada. Assim também nós precisamos ser recarregados da energia divina, e isso é efetuado mediante nossos encontros com Deus, através da oração. Muitos homens que Deus já usou relaxaram em seus hábitos relativos à oração, e o Senhor se afastou deles, e o poder desaparece. Não é verdade que alguns de nós já não possuímos o poder que tínhamos antes, simplesmente porque não dedicamos mais o tempo que antes dedicávamos a oração, prostrados diante da face do Senhor? 7. Perde-se também o poder pela negligência para com a Palavra. O poder de Deus nos é dado mediante a oração, mas também nos é conferido através da Palavra de Deus (Salmo 1:2,3; Josué 1:8). Muitos conhecem o poder que vem pela reflexão regular, demorada, regada por oração, acompanhada de compunção do coração, em torno da Palavra de Deus; mas negócios e talvez os deveres cristãos se multiplicaram, e outros estudos absorveram o tempo e a energia que vinham dedicando ao estudo das Escrituras, por isso o poder se dissipou. Precisamos meditar na Palavra de Deus diariamente, profundamente, em oração, para conseguir manter o poder. Muitos homens viram secar sua fonte de poder justamente por causa dessa negligência. Penso que os sete pontos mencionados acima nos fornecem os principais meios por intermédio dos quais se perde o poder espiritual. Não me ocorrem outras razões além dessas. Se existe temor que me assalte mais freqüente-mente que qualquer outro, é o de perder o poder de Deus. Oh! Que agonia a de ter experimentado o poder do Senhor, de haver sido utilizado em Suas mãos, para em seguida ver-se privado desse poder, e de ser posto de lado como alguém destituído de real utilidade! Os homens podem continuar a louvá-lo, mas Deus não poderá usá-lo. Que horrível é ver um mundo perecer ao seu redor, e saber que não há poder para salvar, em suas palavras. Não seria preferível morrer? Tenho pouquíssimo receio de perder a vida eterna. Cada crente em Jesus Cristo já é possuidor dela. Estou nas mãos de Jesus Cristo e nas mãos de Deus Pai, e ninguém pode arrancar-me delas (João 10:28-30), mas vejo tantos homens de quem Deus se afastou... homens que já foram eminentemente usados por Deus. Ando em temor e tremor, e clamo a Deus, diariamente, que me-guarde das coisas que tornariam necessária a retirada de Seu poder, da minha vida. Acho que Ele me deixou saber claramente quais são essas coisas, e nas palavras escritas aqui, tenho procurado apresentá-las de maneira clara, tanto para mim mesmo como para os meus leitores. Em resumo, são as seguintes: retirar a consagração; o pecado; complacência com os nossos erros; ganância; orgulho; negligência quanto à oração; e negligência quanto à Palavra escrita. Pela graça de Deus, de agora em diante vigiemos todas essas coisas para que assim nos seja assegurada a continuação do poder de Deus em nossa vida e em nosso serviço cristão, até que raie aquele dia feliz em que possamos exclamar como o apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardai a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor reto juiz, me dará naquele dia e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (II Timóteo 4:7,8), ou, melhor ainda, possamos dizer em uníssono com o Senhor Jesus: Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (João 17:4).