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Na Europa, essa vanguarda tem como marca o avanço tecnológico e científico do início do
século XX. Nesse período, o cotidiano das pessoas sofre uma verdadeira revolução com a
supervalorização do progresso e da máquina. O capitalismo entra em crise, dando início à
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), encerrando a chamada ¢ . A seguir, a crise
financeira, oriunda do conflito, leva à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e nos anos
intermediários, conhecidos como "os anos loucos", as pessoas passam a conviver com a
incerteza e com o desejo de viver somente o presente. Tais experiências despertam o anseio
de interpretar e expressar a realidade de forma diferenciada, dando origem aos movimentos da
vanguarda européia.
Os mais importantes foram: a
a, liderado pelo italiano Marinetti, exalta a velocidade
e a máquina; aa, oriundo da pintura, fraciona a realidade, remontando-a, a seguir, por
meio de planos geométricos superpostos; a a, com seu líder Tristan Tzara, nega
totalmente a lógica, a coerência e a cultura, como forma de oposição ao absurdo da guerra.
Tzara toma o termo , que não significa nada, e o aplica à arte que produz, afirmando não
reconhecer nenhuma teoria e declarando a morte da beleza; aa, lançado em 1924,
por André Breton, com o c
, prega o apego à fantasia, ao sonho e à
loucura, além da utilização da escrita automática em que o artista, provocado pelo impulso,
registra tudo o que lhe vem à mente, sem preocupação com a lógica.
Essa vanguarda passa a exercer influência sobre os artistas e intelectuais brasileiros. Dessa
forma, vão surgindo obras de autores jovens que, descontentes com a tradição acadêmica e
parnasiana, demonstram que a literatura brasileira está sofrendo um processo dinâmico de
transformação. Três datas (1922,1930 e 1945) marcam as diferentes fases desse movimento,
iniciado com a Semana de Arte Moderna.
Igualmente relevante, foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, levando à
queda do café brasileiro na balança de exportação, nessa mesma data. Tal fato, desestabiliza,
no Brasil, o grupo dirigente e abre espaço para o novo, dando legitimidade à arte e à literatura
modernas, entendidas, a princípio, como "capricho". O país vive os últimos anos da República
Velha, caracterizada pelo domínio político das oligarquias, formadas pelos grandes
proprietários rurais. Em 1922, com a revolta do Forte de Copacabana, o Brasil entra num
período revolucionário de fato, culminando com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio
Vargas.
a a a (
!"%&$!")*' $ No plano internacional, os fatos
históricos que se destacam como os mais importantes são: a quebra da Bolsa de Nova York,
em 1929, provocando profunda depressão econômica, conhecida como a Grande Depressão; a
instalação da ditadura salazarista em Portugal, estendendo-se de 1932 a 1968; o início da
Guerra Civil Espanhola, em 1936; a invasão da Polônia pela Alemanha, sob o comando de
Adolf Hitler, resultando na Segunda Guerra Mundial; a invasão da ex-União Soviética pela
Alemanha, em 1941; no mesmo ano em que os japoneses atacam aos Estados Unidos; a
invasão da Itália, provocada pelos países aliados, em 1943; o fim da Segunda Guerra, em
1945, com a utilização da bomba atômica sobre as cidades japonesas de Hiroshima e
Nagasaki.
No Brasil, a Revolução de 1930 conduziu Getúlio Vargas ao poder com o apoio da burguesia
industrial. Tratava-se de um governo provisório que incentivou a industrialização e substituiu
o capital inglês pelo norte-americano. Descontentes com essa política, em 1932, os produtores
de café de São Paulo se rebelam contra esse governo provisório, dando origem à chamada
Revolução Constitucionalista de 9 de julho, que resultou em fracasso.
Em meio a todas essas conturbações, um fato merece registro. Trata-se das mortes, em 1938,
de Lampião, o chefe do cangaço e de sua companheira Maria Bonita. O cangaço pode ser
definido como o banditismo praticado pelos nordestinos expostos à extrema pobreza e
constante injustiça social. Surge na grande seca de 1879, a partir de grupos armados que
assaltam fazendas e casas comerciais para depois distribuírem o alimento furtado aos
flagelados.
Além desses acontecimentos, em 1941, o Brasil entra na guerra, em apoio aos Estados Unidos
da América do Norte, e, em 1945, Getúlio Vargas é deposto pelas Forças Armadas, pondo fim
ao Estado Novo com a eleição de Eurico Gaspar Dutra para presidente da República.
a a a
+$!")*' $ A duas bombas lançadas covardemente
sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki em agosto de 1945 apenas evidenciaram
um fato que há muito estava comprovado: a vitória dos aliados sobre os países do eixo e o fim
da Segunda Guerra Mundial. Começava, a partir de então, um confronto de duas nações e dois
sistemas sócio-políticos que dividiria o mundo em duas partes e aumentaria o medo de uma
outra guerra mais sanguinária: Estados Unidos versus União Soviética, ou capitalismo versus
socialismo. No Brasil, chegava também ao fim o regime de quinze anos de poder de Getúlio
Vargas, deposto pelos mesmos militares que o ajudaram a chegar à presidência. Getúlio ainda
voltaria em 1951, desta vez eleito pelo povo que o idolatrava. Seu governo, no entanto, não
chegou ao fim: sob suspeita de irregularidades no comando do país, Getúlio Vargas suicida-se
com um tiro no coração no ano de 1954, causando uma comoção geral.
A década de 60 é marcada pelo Golpe Militar no ano de 1964, quando os militares depuseram
o presidente João Goulart e instituíram uma repressão que perseguiria, torturaria e exilaria os
principais ícones de nossa política e cultura. O ano de 1968 ficou conhecido pela instituição
do Ato Constitucional Número 5, que pregava a censura e condenava pessoas que viessem a
se posicionar política e culturalmente contra o regime militar. Nossa cultura, no entanto,
passava por um período fértil, não só na literatura e teatro, como também na música, com o
nascimento dos grandes festivais de música popular e do "Tropicalismo", movimento musical
que contava com nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e outros.
Com Fernando Collor impedido de continuar exercendo o cargo de presidente, seu vice Itamar
Franco assume o poder. O marco de seu governo é a criação de uma nova moeda, o Real, que
estabilizou os índices inflacionários e equilibrou de certo modo a economia em 1994. O
criador do plano, o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, tornou-se o
sucessor de Itamar Franco na presidência, sendo reeleito no ano de 1998.
O mais importante é a atualidade, por isso centram o fazer literário na expressão da vida
cotidiana, descrita com palavras do dia-a-dia, afastando-se da literatura tradicional,
consagrada ao padrão culto. Um exemplo de incorporação da linguagem oral, na criação
poética e descrição de coisas brasileiras, valorizando o prosaico, recoberto de bom humor, é o
poema de Mário de Andrade,
(1924). Contudo, é preciso ressaltar
que não havia imposição de normas e nem tratamento unificado dos temas.
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Sabem que estão produzindo algo de novo, em oposição às tendências dominantes, entretanto
não conseguem apontar claramente a trajetória a ser seguida. A esses escritores juntam-se os
que publicam pela primeira vez: Luís Aranha Pereira, Sérgio Milliet, Rubens Borba de
Moraes, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de Morais (neto), Antonio Carlos Couto de
Barros. Unem-se, também, os pintores: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Emiliano di
Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro; o escultor Victor Brecheret; o compositor Heitor
Villa-Lobos e o historiador Paulo Prado, criador do movimento +$/, em 1924. Ainda,
em 1922, é lançada a renovadora revista ' , em São Paulo, cuja publicação se estende até
o número nove.
O movimento pela nova estética se radicaliza em São Paulo, revelando o aspecto agressivo e
polêmico da empreitada. Aos poucos, escritores de norte a sul se ligam ao grupo na batalha de
oposição aos conservadores. O espírito nacionalista, inspirado pelo desejo de libertação da
tradição européia, toma conta das manifestações e estimula a luta dos renovadores.
Após a Semana, surgem propostas variadas que dão origem aos grupos: +$/0lançado
por Oswald de Andrade. O nome adotado faz referência à primeira riqueza brasileira
exportada e o movimento tem como princípios: a exaltação do Carnaval carioca como
acontecimento religioso da raça, o abandono dos arcaísmos e da erudição, a substituição da
cópia pela invenção e pela surpresa; o 1$,a, se colocando em oposição ao +$
/, prega o nacionalismo ufanista e primitivista. Mais tarde, transforma-se no grupo da
Anta, escolhida como símbolo da nacionalidade por ter sido o totem da raça tupi; o
(a , iniciado no Recife, prega o sentimento de unidade do Nordeste; o
, aa
(a0 liderado por Oswald de Andrade, inspirado no quadro r¢ , ( ¢ ,
"homem"; , "que come"), de Tarsila do Amaral, propõe a devoração da cultura importada
com intuito de reelaboração, transformando o que veio de fora em produto exportável. As
obras ligadas a esse movimento são V, de Raul Bopp, e
, de Mário de
Andrade.
,+a$A prosa do período não apresenta o mesmo vigor da poesia, mas revela conquistas
importantes. A princípio, demonstra certa densidade, carregada de imagens, provocando
tensão pela expressividade de cada palavra. Os recursos são variados como: a aproximação
com a poesia, o apoio na fala coloquial e na utilização de períodos curtos. Um dos
modernistas, Oswald de Andrade, aplica essas experiências não só em seus artigos e
manifestos, mas também na obra c
c
(1924). Trabalha a
realidade através de recursos poéticos, empregando metáforas e trocadilhos. Essa técnica,
aliada a uma "espécie de estética do fragmentário", compõe-se de espaços em branco na
formatação tipográfica e também na seqüência do discurso, cabendo ao leitor a tarefa de dar
sentido ao que lê.
+a$ Nesta fase construtiva predomina a prosa, enquanto a poesia se apresenta de forma
mais amadurecida. Não precisa mais ser irreverente e experimentalista, nem chocar o público;
agora familiarizado com a nova maneira de expressão. As influências de Mário e Oswald de
Andrade estão presentes na produção poética pós Semana de Arte Moderna. Os novos poetas
dão continuidade à pesquisa estética anterior, mantendo o verso livre e a poesia sintética.
A nova técnica está marcada pelo questionamento mais vigoroso da realidade, acompanhada
da indagação do poeta sobre seu fazer literário e sua interpretação sobre o estar-no-mundo.
Conseqüentemente, surge uma poesia mais madura e politizada, comprometida com as
profundas transformações sociais enfrentadas pelo país. Ampliando os temas da fase anterior,
volta-se para o espiritualismo e o intimismo, presentes em certas obras de Murilo Mendes,
Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinicius de Morais.
,+a$A prosa reflete o mesmo momento histórico da poesia, cobrindo-se igualmente das
preocupações dos poetas da década de 30. São autores mais representativos: José Lins do
Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Erico Verissimo.
Nessa fase, a prosa se reveste de caráter mais maduro e construtivo, refletindo e aproveitando
as conquistas da geração de 1922. A linguagem atinge certo equilíbrio e adota uma postura
mais documental ao expor a realidade brasileira e focalizar o aspecto social. Essa tendência é
aplicada nos romances urbanos, voltados à exposição da vida nas grandes cidades, revelando
as desigualdades sociais, observadas na vida urbana brasileira, com destaque para algumas
obras de Erico Verissimo.
A preocupação mais marcante da prosa é o homem do Nordeste, incluindo sua vida precária e
as condições adversas impostas pela geografia do lugar, pela submissão dos trabalhadores aos
proprietários de terras, advinda de sua grave falta de instrução. O encontro com o povo
brasileiro propicia, pois, o nascimento do regionalismo, reforçado pelos temas dedicados à
decadência dos engenhos; às regiões de cana-de-açúcar; às terras do cacau no sul da Bahia; à
vida agreste; às constantes secas, aprofundando as desigualdades sociais; ao movimento
migratório; à mão-de-obra barata, à miséria e à fome.
Some-se a isso que, o término da Segunda Guerra Mundial (1945) empurra o país para a era
industrial e passa a contar com um proletariado de grande peso representativo, ávido de
participar efetivamente da vida política. Além disso, o país desponta como uma potência
moderna, facilitando o aparecimento da nova estética, revelando, segundo Antonio Candido,
"no seu ritmo histórico, uma adesão profunda aos problemas da nossa terra e da nossa história
contemporânea".
, . +$!")*'
Contrapondo a toda essa busca pelos padrões clássicos, Décio Pignatari, Augusto de Campos
e Haroldo de Campos criaram o Concretismo, que condizia mais com a rapidez e agilidade da
sociedade moderna. O Concretismo vai além de tudo o que o Modernismo conquistou: prega
o fim do verso, do lirismo e do tema, além da exploração do espaço em branco, e a
decomposição e montagem de palavras, com seus vários sentidos e correlações com outras
palavras. O poema em si muitas vezes lembra um cartaz publicitário que se evidencia pelo
apelo visual e permite várias leituras.
Uma das características da poesia contemporânea é uma busca cada vez maior de uma
intertextualidade com outros meios de expressão, exigindo uma linguagem cada vez mais
fragmentada e rápida que muitas vezes contrasta com uma necessidade de reencontro com os
padrões clássicos, onde se evidenciam poemas mais longos e lineares. Outra característica
relevante que só veio a contribuir para a difusão da poesia foi seu casamento com a música
popular, que acentua o crescimento dos meios de comunicação de massa e a produção mais
industrializada da literatura. Surgiram músicos-poeta como Caetano Veloso, Chico Buarque,
Gilberto Gil, Milton Nascimento e outros, precedidos pela excelência de Vinícius de Moraes.
A prosa urbana vai ser cada vez mais explorada a partir dos anos 60, mostrando os problemas
acarretados pelo progresso, e um ser humano cada vez mais solitário, marginalizado e vítima
de um mundo violento, que se fecha e enfrenta também a si mesmo. A linguagem vai tender
cada vez mais à concisão e à fragmentação, rompendo muitas vezes com a linearidade
temporal e espacial, tentando descrever o fluxo do pensamento e mostrando a rapidez e o
absurdo da modernidade. Nascendo a partir dos mesmos campos urbanos e psicológicos que
propulsionaram a literatura nos anos 40 e 50, tem-se a prosa mais introspectiva, o realismo
fantástico e o romance reportagem.
A prosa de cunho político vai também se impor com grande força, tendo como objetivo
retratar a violência e a repressão política que assolaram o país desde 1964, ou denunciando de
um modo satírico e irônico a corrupção que assola o homem, e por conseqüência o governo, e
que promove a sempre a discórdia e a desigualdade social. É o caso, por exemplo, de
r de Erico Verissimo.
Outros gêneros que ganham força dentro do panorama literário brasileiro são a prosa
autobiográfica, o conto e a crônica, sendo que os dois últimos se consolidaram como modelos
de literatura moderna. O conto consegue a síntese e a rapidez que a modernidade pede,
mostrando-se mais fácil e mais ágil de ser lido. A crônica ganhou um espaço muito grande
dentro dos principais veículos de comunicação como a revista e o jornal devido à sua
linguagem mais coloquial, sua ligação mais íntima com o cotidiano, sua irreverência e ironia,
e sua mais fácil assimilação por parte dos leitores, destacando escritores consagrados e novos
como, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, entre
outros.
a$Merece destaque também a revolução que o teatro brasileiro, que perdia terreno
para o rádio e o cinema, sofreu a partir da década de 40, principalmente com a estréia da peça
em 1943, de Nelson Rodrigues, que promove uma verdadeira renovação
com relação à ação, personagens, espaço e tempo.
A década de 60 e 70 vai mostrar também o teatro político que expressa um forte nacionalismo
preocupado em revelar e denunciar a realidade agonizante do Brasil durante o regime militar,
buscando uma ligação e uma participação cada vez mais sólida do público dentro da peça, e
revelando atores, diretores e dramaturgos de qualidade excepcional, premiados a nível
nacional e internacional.