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Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

APONTAMENTOS TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL 2011/2012

PROFESSORA: Eva Sónia Moreira Silva


CONTACTOS: 253601822; esms@direito.uminho.pt
ATENDIMENTO: 5ª 17h-18h gab. 1012
BIBLIOGRAFIA: A Parte Geral do Código Civil Português, prof Hörster

1º SEMESTRE
AULA TEÓRICA 1
2011/09/19
Sumário: Apresentação: 1.º A equipa docente; a disciplina e as suas características
específicas; o programa e o plano de estudo da disciplina; o material de estudo.
2.º As relações pretendidas entre os alunos e a equipa docente.
3.º Os pressupostos e os critérios de avaliação
4.º A utilização da plataforma de e-learning Blackboard
5.º Marcação do horário de atendimento
Capítulo 1.º – Direito, direito privado, direito civil; as suas funções
A. Introdução e noções gerais
I. A função do direito como elemento regulador da convivência humana
II. O direito objectiva em geral
III. O direito subjectivo em geral
[pp. 5 a 49; art. 4º L n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro]

REVISÕES

Conceito de Direito

Objecto vasto. Difícil defini-lo, porque é uma ciência humana.


No entanto, se olharmos para só um aspecto – função – conseguiremos defini-lo em
parte.
A função do Direito é regulamentar a convivência social humana. Isto é necessário
porque as pessoas têm interesses diferentes e o direito não pode permitir que
prevaleça a lei do mais forte. É assim também um elemento regulador, pois regula
conflitos de interesse.

Por um lado é necessário garantir a liberdade individual de cada um, criar margem de
liberdade vertente individual.
Por outro lado é preciso conciliar as diferentes liberdades vertente social.
Nenhuma vertente deve prevalecer.

O direito não é a única ordem normativa. As normas morais são as mais importantes.
Mas a Moral não se pode confundir com o Direito. À Moral interessa uma consciência
interna. Pretende a elevação interior das pessoas.
O Direito não pode ser imoral. Se assim não fosse, teríamos uma crise social intensa. É
coercivo, a Moral não.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 1


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Há normas que juridificam algumas partes. Ex: bons costumes – valores morais da
sociedade, arts 280º e 334º.
O direito não pode escolher uma moral e adoptá-la como sua, pois a Moral não é a
única ordem normativa de peso na sociedade.

Direito como fenómeno sujeito a evolução

Vigora numa determinada sociedade, num determinado tempo. Vale de diferentes


maneiras.
O Direito tem que se adaptar às evoluções da sociedade, o conceito muda ao longo do
tempo.

Função clássica – REGULADORA – limitar-se a criar normas.


Nos dias de hoje, o Dto tem vindo a desenvolver uma nova função – CONFORMADORA
– tem uma atitude activa, intervém na sociedade através de benefícios fiscais, etc.
É um meio de clarificar a sociedade. Tem limites: não podemos saltar por cima da
dignidade da pessoa humana.
O Direito não pode ser universal, porque cada sociedade tem os seus valores, por isso
há diferentes famílias do Direito.

JURISDIÇÃO

O direito é influenciado pela língua. A nossa língua molda o nosso pensamento, por
isso também influencia o Direito.
O direito não pode manipular a língua para fazer vingar normas jurídicas que de outro
modo não existiriam.
Aplicação alternativa do Direito: quando se manipula sistematicamente a língua dos
vários conceitos jurídicos para se alterar os sentidos.
O intérprete do dto aplica a lei segundo a sua visão. Há uma margem de subjectividade
que existe sempre.
Deve-se evitar o arbítrio.
Responsabilidade do jurista: garantir as funções do dto

 Justiça
 Liberdade
 Segurança jurídica

Fontes do Direito

LEI: fonte por excelência;


Qualquer disposição normativa genérica, provinda dos orgãos estaduais
competentes.
Fonte imediata.

COSTUME: fonte imediata


Normas jurídicas não escritas que nascem da prática continua e uniforme de
uma regra jurídica acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade.

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Fonte mais limitada.


Pode alterar, completar ou derrogar a lei.

 Seria um enorme legalismo a lei dizer o que é lei.


A nossa própria lei reconhece lacunas – art. 348º

USOS fontes mediatas


EQUIDADE

O Tribunal Constitucional quando declara a inconstitucionalidade, afasta essa norma


do ordenamento jurídico.

GRANDE DIVISÃO NO SEIO DO DIREITO

DIREITO PÚBLICO ≠ DIREITO PRIVADO

Entidades Públicas Particulares


Relações entre entidades públicas Regulamenta relações entre
entre si ou entre particulares particulares
Estrutura vertical Paridade
Princípio da Legalidade Estrutura horizontal
(protecção do individuo) Regulamenta a base para os
Não há margem de liberdade particulares fazerem o que
quiserem, dentro daquele quadro
normativo
Princípio da Autonomia Privada

Precisamos dos dois. Uma sociedade sem o Direito Público seria caótica. O Estado
dirime conflitos.

Nos dias de hoje não é fácil distingui-los.


Critérios de distinção:
Teoria dos Interesses: Dto Público – interesses públicos. Dto Privado –
interesses privados. Está-se perante uma relação jurídica ou norma de direito público
quando estão em causa a proteção ou a prossecução de interesses públicos.
Está-se perante uma relação jurídica ou norma de direito privado quando os interesses
afetados são interesses individuais, particulares.
Teoria da Supa ou infra-ordenação: entidades públicas estão numa posição de
supra-ordenação.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 3


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Teoria dos sujeitos: tudo depende da norma. Uma norma que não possui
qualidade para todos, prerrogativas especiais - dto privado. Esta distinção é
extremamente importante.

DIREITO IMPERATIVO ≠ DIREITO DISPOSITIVO

Normas não podem ser afastadas A lei permite que normas sejam afastadas.
pela vontade das partes. Estas normas são normas dispositivas
Direito Público estabelecidas pelo direito quando as partes
Retiram margem de liberdade dos nada estipulam. É direito supletivo.
particulares. Existem por um motivo: há determinadas
Devem ser excepções situações em que é preciso respeitar o
interesse público

DIREITO MATERIAL ≠ DIREITO PROCESSUAL

Direito substantivo Fazer valer o Direito Material.


Aquele que serve para delimitar Regula os mecanismos através
os direitos e obrigações das dos quais se faz vingar o Direito
partes Material

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DIREITO OBJECTIVO ≠ DIREITO SUBJECTIVO

Poder ou faculdade que decorre das normas para o individuo.

Direitos subjectivos propriamente ditos

Dtos relativos Dtos absolutos

Vinculação Vinculam todas


apenas entre as pessoas. “Erga
Direito subjectivo as partes. omnes”
“Inter partes”

Pressupõe a existência de um direito


Potestativo: subjectivo propriamente dito e depois, se
se verificar um determinado
condicionalismo na lei, existe direito
potestativo.
Faculdade de criar, modificar ou extinguir
relações jurídicas.
Ex. contrato de arrendamento.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 5


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AULA TEÓRICA 2
2001/09/26
Sumário: B. Noção, princípios e funções de direito privado e civil
I. Noção e princípios de direito privado e civil
1. Os princípios da igualdade jurídica, da autonomia privada e da protecção dos mais
fracos
2. Liberdade e responsabilidade
[pp. 51 a 68; 70/71; textos de apoio policopiados]

PRINCÍPIOS DIREITO CIVIL E DIREITO PRIVADO EM GERAL

O Direito Civil e o Direito Privado têm como base 3 princípios:

 Princípio da Igualdade Jurídica: critério formal – formalmente somos todos


iguais, porém não pode ser só assim, porque há desigualdades.
Segundo este critério todos somos iguais perante a lei, a lei não atende às
nossas diferenças naturais, todos possuímos personalidade jurídica.
O direito privado parte do princípio de que todos os homens possuem
personalidade e capacidade jurídica iguais uma vez que têm igual dignidade. O
homem não possui valor, possui dignidade. Esta qualidade significa que o
homem é um ser livre e auto-responsável.
A liberdade constitui o núcleo da dignidade. Neste sentido, os homens devem-
se mutuamente respeito na sua qualidade de pessoas com igual dignidade e
personalidade.
A igualdade jurídica do homem perante a lei é concebida, nestes termos, como
um critério formal.
O artigo 66º - a personalidade jurídica não está à disposição do legislador do
Direito Privado.

 Princípio da Autonomia Privada: decorre de um princípio mais geral, o


Princípio da Auto-determinação do Homem – o Direito Privado reconhece que
somos todos diferentes.
Este princípio reconhece que há mais fortes e mais fracos, reconhece
desigualdades materiais. Segundo este princípio, todos nós podemos participar
no tráfico jurídico negocial, conformando relações jurídicas, de acordo com a
sua vontade (o que quiseres, como quiserem. O homem é livre).
Consiste no poder da conformação autónoma das relações jurídicas privadas de
acordo com a livre vontade das partes intervenientes. Está correlacionada com
o princípio da autodeterminação do homem, no que respeita à conformação
das suas relações jurídicas e este princípio, por seu lado, é a consequência da
sua liberdade e dignidade. A autonomia privada flui do princípio da liberdade
do homem. Nestes termos, a ordem jurídica privada reconhece a todos os
homens o direito de estabelecer livremente as suas relações jurídicas, como
eles entenderem por bem. Deste modo o direito privado respeita os interesses
individuais e as diferenças naturais entre os homens e a multiplicidade dos seus
modos de querer, correspondendo assim ao princípio da organização
individualista da sociedade civil – “stat pro ratione voluntas”.

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Apenas pode concretizar-se dentro dos limites da lei, 405º, nº1 do Código Civil:
a autonomia privada e o direito privado estão entrelaçados, existindo este em
função daquela. Os limites da lei podem referir-se ao próprio estabelecimento
das relações jurídicas bem como ao conteúdo das mesmas.
Limites à liberdade de celebração de contrato: 261º etc.
Limites à fixação de conteúdo: 280º etc.

 Princípio da Protecção aos Mais Fracos: tenta atingir um equilíbrio material,


corrigindo as diferenças materiais, estabelecendo limites ao Princípio da
Autonomia Privada, limita a força do mais forte.
Intervenções que vão limitar a liberdade. Deve ser uma excepção.
Quem é o mais fraco? – Trabalhador por conta de outrem; vítima de negócio
usurário (art. 282º); arrendatário face ao senhorio.
Este princípio não deve fazer justiça face à custa alheia, não se devem deslocar
as despesas sociais para o lado dos privados, o Estado é que o deve fazer.
A autonomia privada encontra-se desde sempre perante o dilema de na altura
do estabelecimento de uma dada relação jurídica concreta, poder existir um
desequilíbrio de poder negocial entre as partes de tal modo que fica
prejudicada a composição adequada dos interesses em jogo. O problema do
desequilíbrio de poder negocial e a necessidade de resolvê-lo nunca foi
ignorado pelo legislador do direito civil. Para este efeito, o princípio da
autonomia privada tem vindo a ser corrigido com base em critérios naturais
atendendo a situações típicas que são caracterizadas pela existência de uma
parte mais fraca. Discute-se quem há-de ser considerado como sendo
tipicamente mais fraco. A abordagem da questão deve ser feita a partir de
critérios económico-sociais. São necessárias restrições à autonomia privada
para restabelecer os equilíbrios nos casos em que o poder negocial de uma das
partes anula a autonomia da outra de modo que o conteúdo da relação jurídica
reflecte o poder superior da parte mais forte. Deste modo, a protecção do mais
fraco deveria resultar, no fundo, num aumento da liberdade decisória deste. A
liberdade do processo negocial devia ser garantida. O que caracteriza a
situação do mais fraco é o desequilíbrio de poder em seu desfavor, situação
essa que limita a sua liberdade. Para equilibrar não é possível fazer desaparecer
o poder, contudo o poder deve ser redistribuído ou deslocado. O meio clássico
é o controlo do conteúdo da relação jurídica estabelecida por via judicial.
São considerados casos típicos de desequilíbrio de poder negocial o
trabalhador por conta de outrem, o arrendatário face ao senhorio, o
desempregado à procura de um emprego, ma não necessariamente e sempre o
consumidor. Brocado romano emptor curiosus esse debet – cabe ao
consumidor procurar as informações necessárias, antes de se fazer dele um
mais fraco que necessita de ser protegido. Há uma tendência no sentido de
abrir cada vez mais o leque daqueles que devem ser considerados como mais
fracos. Resulta simultaneamente de uma questão de desconfiança e de uma
questão de poder: por um lado desconfia-se da resolução do problema da
protecção dos mais fracos com base nos princípios e disposições legais do
direito privado, por outro lado confia-se na actuação benéfica de entidades
públicas e no seu poder sobre o homem tutelado.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 7


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Para proteger o mais fraco o poder é alocado a instâncias terceiras que


pertencem de preferência à administração pública ou estão a ela ligadas. Do
ponto de vista do poder estadual há a conveniência de existirem cada vez mais
fracos para fundamentar assim a necessidade de aumentar os poderes da
administração pública.

Só se entendem estas normas se soubermos estes princípios.

AUTONOMIA PRIVADA

 Princípio da Liberdade Contratual: âmbito dos contratos. Manifestação por


excelência da autonomia privada. Vigora na nossa lei, porque o legislador
estava convencido que era o melhor meio de se atingir a igualdade material. É
expressão do modelo económico liberal. A maior parte dos negócios jurídicos
são contratos. Este princípio é economicamente suficiente. Permite às partes
intervenientes a troca de bens e serviços em sintonia com as respectivas
vantagens pessoais e evitar o desperdício de recursos.
Artigo 405º, nº1 – liberdade de celebração e de fixação do conteúdo – e nº2
Artigo 406º - liberdade de modificar ou extinguir. Esta liberdade não é igual
para todos os tipos de contrato, há limites, como por exemplo a relação jurídica
matrimonial que nasce do contrato de casamento (arts. 1577º, 1618º, 1671º e
1672º).
Em suma, o 405º é uma decisão consciente do legislador, no sentido de uma
economia não planificada. Isto só funciona se o mercado permitir. Não resulta
se houver monopólio (caso aconteça, o Estado tem de intervir para uma justa
distribuição dos bens). A lei da oferta e da procura tem de ser equilibrada.
Leis que garantem o bom funcionamento do mercado: protecção do
consumidor; código da publicidade; leis da defesa da concorrência.

Limites à Liberdade Contratual

Limitam, indirectamente, a Autonomia Privada.

 Limites gerais da lei: normas que proíbem a violação dos princípios da boa fé,
dos bons costumes e ordem pública (art. 280º e ss.); não podemos afastar as
normas imperativas que estão previstas em determinados contratos.

 Normas específicas que limitam a liberdade contratual: normas que impedem


a celebração de negócios jurídicos (art. 261º: 877º: 953º, 2192º a 2198º -
indisponibilidades relativas); a lei não proíbe, mas faz com que a validade do
negócio careça de autorização (arts 1682º a 1684º e 1889º); normas a fim de
proteger o mais fraco (Direito do Trabalho, art. 59º, nº1 CRP – trabalho igual,
salário igual – limitação das leis que estabelecem o salário mínimo nacional).
Dever jurídico de contratar: às vezes pode acontecer que um privado usando a
liberdade contratual, discrimine. Por exemplo, um islâmico entra numa loja e o
vendedor recusa-se a atender esse cliente, alegando estar a invocar o P.L.C.,

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quando na realidade está a abusar do seu direito, discriminando uma pessoa.


Organizações profissionais que têm o monopólio de uma profissão.
Dever de manutenção do contrato: ex.: contrato de arrendamento – a posição
do inquilino falecido passa a ser ocupada pelos herdeiros.

 Limitação de Facto: 1 – há situações em que de facto uma das partes vê a sua


liberdade contratual limitada – contratos de adesão: uma das partes limita-se a
aderir. A outra parte é aquela que impõe as cláusulas contratuais gerais
(decreto-lei nº 446/85, de 25 de Outubro); 2 – vendas celebradas fora dos
estabelecimentos comerciais: se a pessoa comprou sobre pressão, tem a
possibilidade de, no prazo de uma semana, revogar o contrato; 3 – Limitação
supra-legal: fortalecer o Direito Administrativo.

ÁREAS DE APLICAÇÃO DA LIBERDADE CONTRATUAL DENTRO DO DIREITO PRIVADO

 Direito das Obrigações: campo de eleição deste princípio;


 Direito do Trabalho;
 Direitos Reais: a existência destes direitos está tipificada na lei. Esta não
permite situações novas. Ex: direito de propriedade;
 Direito da Família: o conteúdo do contrato não é livre, apenas é livre o regime
de bens, mas sem muita margem de manobra;
 Direito Sucessório: testamento (negócio jurídico unilateral)

Não é tão livre, por uma questão de segurança pessoal e familiar

RESPONSABILIDADE CIVIL
Em sentido amplo:
Não há liberdade sem responsabilidade. O ser humano só é livre se for auto-
responsável. Fundamento ético.
A responsabilidade moral não coincide com a jurídica. Quando certos pressupostos
legais existem é que uma pessoa é juridicamente responsável.

A vida implica riscos, somos nós que arcamos com as consequências na maioria das
vezes.
Assim, normalmente a regra é “casum sentit dominus” – “o senhor sente o caso”

Afastada pelo instituo jurídico

Responsabilidade Civil: desloca o dano de quem o sofreu para


quem o causou.
Ex: acidente de carro existe o lesante e o lesado.

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Sempre que ocorre um facto causador de um dano não há ninguém que se


sinta responsável por ele e, de modo igual, também não há ninguém que aceite arcar
com o prejuízo sofrido. Por outro lado, por parte de quem sofreu o prejuízo, tais
reacções encontram a sua correspondência: a procura, quase instintiva de alguém que
pague.
O direito privado considera a pessoa humana um ser responsável, auto-responsável.
Com esta disposição a lei civil reconhece autonomia à pessoa humana. Isto significa
que uma pessoa pode, de acordo com a sua vontade, tratar em princípio de si própria
e dos seus bens com todo o cuidado, mas também com o descuido que achar por bem,
podendo ser diligente ou negligente, como lhe convém ou como corresponde à sua
maneira de ser. De facto, o homem possui capacidade para determinar as suas
condutas, criar ou conformar relações sociais ou jurídicas ou assumir
responsabilidades. A possibilidade de agir neste sentido pressupõe liberdade.
Acresce que o homem há-de assumir também riscos independentemente da sua
vontade. Porque viver significa arcar com os riscos próprios da vida. Esses riscos em
parte são evitáveis, em parte não o são. Há riscos cuja concretização pode mesmo
arruinar a existência privada da pessoa: doença, invalidez, morte, dissolução do
casamento e responsabilidade civil. Todavia, casos há em que a concretização do risco
e, com ele, a ocorrência do dano, não se conseguem prevenir ou são até o preciso
resultado da conduta negligente da pessoa prejudicada. Nestes casos, a pessoa
prejudicada assume todos os efeitos danosos, arca com os prejuízos sofridos – casum
sentit dominus. De facto, uma pessoa não se pode subtrair de todo os riscos que a
ameaçam na sua vida ou nos seus bens.
Porém, há situações em que o princípio casum sentit dominus não se pode aplicar,
porque não se adequa nem é justo.
É neste contexto que surge a responsabilidade civil. Fundamenta-se na necessidade de
deslocar um dano ocorrido de quem o sofreu, o lesado, para aquele que o causou, o
lesante, e isto de acordo com critérios legais, iguais para todos. Pressupõe assim a
ocorrência de um dano e o dever de indemnizar este dano, precisamente por parte do
lesante, na medida em que o dano vai para além do risco geral de vida que o lesado
deve assumir. Nestes termos, deve indemnizar aquele a quem o facto causador do
dano é imputado por lei.
Segundo o artigo 562 CC “quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a
situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação”.
Vale o princípio da reconstituição natural. A indemnização abrange ainda os lucros
cessantes, segundo o art. 564º, nº1, e sempre que não seja possível a reconstituição
natural, a indemnização é fixada em dinheiro, segundo o artigo 566º CC.
Os danos e a correspondente responsabilidade civil poderão encontrar o seu
fundamento num contrato, num negócio jurídico, ou fora dele, daí que se distingue a
responsabilidade contratual da extracontratual.
Na contratual, a razão última para a responsabilidade resulta sempre de vínculos
criados por uma vontade autónoma-privada, sendo de ajuizar, por isso, o resultado
danoso em função desta vontade privada. Atende à violação de direitos relativos, que
obrigam apenas as partes entre si (art. 406º, nº1, 1ªparte CC – pacta sunt servanda).
Na extracontratual, não se trata de ajuizar vontades autónomo-privadas e os
resultados dela decorrentes, mas são de avaliar, isso sim, condutas ilícitas, ou seja,
condutas desconformes com a lei, às quais esta reage normalmente com efeitos

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sancionatórios. Respeita à violação de direitos absolutos, cuja observância se impõe a


todos.
Por via da regra, a responsabilidade do lesante é individual e respeita a actos próprios.
O princípio-base em que assenta é o facto de o lesante ter agido com culpa o que
exprime, por isso mesmo, uma censura ao seu comportamento. É na culpa, e não tanto
na necessidade de reparar os danos causados ao lesado, que reside a justificação
originária da responsabilidade. Visto nestes termos, a responsabilidade tem um
fundamento ético, decorrente da concepção do homem como um ser auto-
responsável.

RESPONSABILIDADE CIVIL (sentido amplo)


Responsabilidade extracontratual 483ºss
Responsabilidade Contratual 798ºss (responsabilidade civil em sentido
restrito)

Violados direitos absolutos ou então


normas destinadas a proteger direitos
No âmbito da situação dos contratos.
alheios
Violação danos contraparte exige
483ºss
indemnização
Violados direito relativos
Por factos Por factos
Fundamento “Pacta sunt servanda”: as Objectiva
ilícitos lícitos
partes vincularam-se por sua livre
vontade Dispersos
798ºss pelo Código
Artigo 483º Artigo 499º Civil.
Ex. 339º,
nº2

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AULA TEÓRICA 3
2011/10/03
Sumário: a) A responsabilidade individual por actos próprios
aa) A responsabilidade contratual
bb) A responsabilidade extracontratual
- por factos lícitos
- por factos ilícitos, subjectiva ou por culpa
- pelo risco ou objectiva
cc) A responsabilidade solidária
b) A responsabilidade por actos de outrem
aa) A responsabilidade contratual – art. 800.º
bb) A responsabilidade extracontratual – art. 500.º
c) Análise cuidadosa do regime da responsabilidade do comitente

[pp. 71 a 76; textos de apoio policopiados]

Revisão última aula

“Casum sentit dominus” só não é regra quando estão preenchidos determinados


pressupostos, assim desloca-se o dano – o instituto jurídico responsável é a
responsabilidade civil.
Caso não seja possível reparar os danos artigo 562ºCC, paga-se uma indemnização,
artigo 566º CC.

1
Contratual – violados direitos relativos.
“Pacta sunt servanta” – se fizeram o
pacto, têm de indemnizar, porque fizeram
Responsabilidade Civil o pacto de livre vontade.
(sentido amplo)
2
Extracontratual – viola-se a lei. Pode ser
por 2.1factos
ilícitos/culpa/subjectiva/aquiliana; por
2.2
risco ou objectiva e por 2.3factos lícitos

2.2
Risco ou objectiva: a actividade que produziu o bem é útil, lícita, mas é perigosa.
Muitas vezes nascem danos que nada têm a ver com a culpa. Neste tipo de situação
também se deve responder, indemnizar. “ubi commoda, ibi incommoda”

2.3 Porfactos lícitos: não há regime-regra para determinados tipos. Ao longo do Código
Civil há uma série de artigos que entende que o prejuízo do lesado merece uma
protecção.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 12


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Inicialmente, só havia a ideia de responsabilidade civil por culpa, em termos morais


“quem teve a culpa”, havia a ideia de “olho por olho”.
Depois, passou-se para a ideia de pagamento, paga-se o dano – indemnização. Nasceu
a responsabilidade civil de forma embrionária.
Mais tarde, surgiram situações de risco, numa sociedade mais avançada (ex: peça de
roupa sai com defeito, mas não se sabe de quem foi a culpa – não se pode aplicar a
responsabilidade civil por culpa – artigo 483ªCC), então apareceu a responsabilidade
civil por risco – a lei criou um regime específico para o caso das falhas na produção –
legislação avulsa. Esta responsabilidade é um fundamento autónomo que está previsto
na lei.

Posso ter causado o facto, ter causado violação, mas não ter tido culpa – NÃO
PREENCHE OS REQUISITOS, NÃO É RESPONSABILIDADE CIVIL

PRESSUPOSTOS DE CADA UM DOS TIPOS DE RESPONSABILIDADE

Responsabilidade civil contratual Responsabilidade civil extracontratual


(798ºss) (483ºss) por factos ilícitos
1Facto voluntário Facto voluntário

2Ilicitude Ilicitude

3Culpa ou nexo imputado ao lesante Culpa ou nexo imputado ao lesante

4Dano Dano

5Nexo causal Nexo causal

Os pressupostos são iguais nos dois tipos de responsabilidade, mas


aplicam-se de maneira diferente.

1
Facto voluntário

Facto: comportamento humano – acção (facto positivo); omissão (facto negativo


486ªCC)
Voluntário: controlado pela vontade (o que quis; o que não quis, mas podia ter
evitado)

Na responsabilidade extra-contratual – viola o direito subjectivo – um direito absoluto.

Na responsabilidade contratual – há contrato humano, é violado o contrato – o


comportamento viola o contrato.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 13


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2
Ilicitude

Juízo de censura sobre o próprio facto (de um ângulo objectivo) por ele consistir na
infracção/violação de um dever jurídico.
A questão está em saber qual o direito que foi violado, se relativo – contratual, se
absoluto – extracontratual.

3
Culpa

Juízo de censura (ângulo subjectivo) sobre o próprio sujeito quanto à probabilidade da


sua conduta, por ele ter praticado o facto lesivo, quando podia ter evitado o dano.
Presunção de culpa – serve para proteger o credor.

Na responsabilidade contratual – 799º, nº1 – presunção de culpa, a lei parte do


princípio que a culpa é sempre do devedor. Mas pode assim não ser. Se não for do
devedor, este tem que o provar (350ºCC)
799, nº2 – manda aplicar o regime da
responsabilidade civil extracontratual

Na responsabilidade extracontratual – imputabilidade (quando alguém não pode ser


responsabilizado) art. 488ªCC (presunção de que menores não são imputáveis)
Uma criança não pode ser imputável – presunção
Art. 491ºCC – presunção de culpa (em princípio a pessoa que estava responsável pela
criança é que é responsabilizada).
O ónus da prova cabe ao lesado.

Presunção de culpa – 491º, 492º, 493º

Dolo - intenção

2 Modalidades de culpa

Negligência ou mera culpa – 487º - critério “bom pai de


família” = comparação com a conduta de uma pessoa normal.

Serve tanto para a responsabilidade contratual como para a extracontratual.

Eventualmente, pode haver presunções judiciais, os juízes podem presumir a culpa da


pessoa – “prova prima facie”.

Art. 494º - não é obrigatório que se faça.

4
Dano

Prejuízo que o lesado teve. Podem ser danos patrimoniais ou então não-patrimoniais.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 14


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Patrimonial: susceptível de avaliação pecuniária 564º

DANO

Não-patrimonial ou moral: na ordem dos valores, não são susceptíveis de


avaliação pecuniária, mas apesar disso são indemnizáveis, desde que da sua gravidade
mereçam a tutela do direito – artigo 496º, nº1

Dano emergente – valores de ordem económica


pertencentes ao lesado, mas que desaparecem –
Patrimoniais prejuízo

Lucro cessante – valores económicos que ainda não


tinham entrado no património do lesado, mas que
iriam entrar se não houvesse o dano

Não-patrimoniais: atribui uma quantia a título de compensação

 COMO SE FAZ CÁLCULO DO VALOR A PAGAR AO LESADO?

Teoria da Diferença: indemnização. Compara a actualização do lesado com a situação


que estaria sem a lesão. Comparação do património na situação do lesado à data da
lesão ao património que teria na situação sem lesão. Art. 566º, nº2

5
Nexo causal

Nexo de causalidade entre o facto e o dano.


O facto em concreto e em abstracto tem que ser causa. Tanto na contratual, como na
extra-contratual, se não houver danos, não há actos de indemnização. O dano tem que
ter sido causado por um facto voluntário.

Teoria da Causalidade Adequada: aquele facto é causa adequada do dano. Art. 563º
CC
Ex: o António bate (causa de facto) no Rui e deixa-o inconsciente a sangrar.
O Rui era hemofílico (causa adequada), sangrou até à morte.

- Intenção de bater
- Mas não é responsável pela morte
- Em concreto, a agressão é causa de morte, mas em abstracto não é responsável pelo
dano morte

Artigo 570º - concorrência por culpa – a indemnização é diminuída

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Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

RESPONSABILIDADE CIVIL POR RISCO

Constitui, ao lado da responsabilidade por factos ilícitos, uma modalidade


autónoma com fundamentos próprios para a deslocação do dano de quem o sofreu
para quem o causou, imputando-o desta maneira ao lesante. O seu fundamento reside
no raciocínio que os danos resultantes de actividades lícitas, úteis e socialmente
aceites por serem indispensáveis, mas com riscos inerentes e nem sempre de evitar
devem ser assumidos, caso o risco se concretize, por quem exercer esta actividade,
tirando dela os seus proveitos, mas não por quem ficar prejudicado por elas. Aplica-se
ao agente a velha máxima ubi commoda, ibi incommoda.
O CC regula a responsabilidade civil pelo risco nos arts. 499º e ss, sendo de
realçar aqui os arts 502º, 503º (ex: se deixar o carro mal travado já tem culpa -799º.
Mas se tiver um ataque cardíaco, perde a direcção do carro, é responsável, mas não
tem culpa) e 509º.
Conta com excepções.
Têm que estar tipificadas em normas, os responsáveis.

Artigo 502º
Artigo 503º (ex: se deixar o carro mal travado já tem culpa -799º. Mas se tiver um
ataque cardíaco, perde a direcção do carro, é responsável, mas não tem culpa). Conta
com excepções.

Por vezes há mais do que um responsável – responsabilidade solidária – art. 512º ss e


519ª

Responsabilidade solidária: há 2 lesantes. Se o lesado optar por pedir a indemnização


total apenas a 1 lesante (A), depois A pode pedir/exigir direito de regresso (artigo
524º) – a parte que compete a B.
A vantagem da responsabilidade solidária é poder escolher a quem vai exigir
indemnização.

Exemplo:
A e B – lesantes
C – lesado
C pede a A o total da indemnização.
A pede a B o que este devia ter pago, e não pagou - direito de regresso.
Entre A e B – relações internas
(A e B) com C – relações externas

Em muitas circunstâncias sucede que a causação de um dano resulta de actos


praticados por vários autores. Se assim for, todos eles respondem civilmente por actos
próprios pelos danos que hajam causado (art. 490º). De acordo com o disposto no art.
497º, nº1, a sua responsabilidade perante o lesado é solidária. Como explica o artigo
512º, nº1, 1ªparte e 519º, nº1, 1ªparte.
Este regime de responsabilidade solidária coloca o lesado numa posição muito
boa: ele pode escolher aquele autor do facto danoso onde lhe é mais fácil obter a

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 16


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indemnização pelo prejuízo sofrido. A satisfação do seu direito por um dos lesantes
responsáveis (artigo 490º) produz a extinção, em relação ao lesado, das obrigações dos
restantes devedores da indemnização (artigo 523º). Estes hão-de acertar agora contas
entre si, o que sucede com o recurso ao direito de regresso regulado no artigo 524º
CC.

A regra é responsabilidade por factos próprios, mas há responsabilidade por outrem.

Responsabilidade contratual por factos de outrem (ARTIGO 800º)

Pede a B p/ reparar o carro


A B
Pede a C p/ tratar da reparação. C faz
mal a reparação. Causa danos – má
prestação de serviços
Prestação de serviços 1154º
C

A pede indemnização a B (entidade patronal de C).


B invoca o artigo 798º CC, mas há o artigo 800º CC, que finge que quem praticou o acto
violador do contrato foi o violador B (neste caso). A não pode pedir a C porque não
tem contrato com este. Não há nenhuma relação jurídica entre A e C.

Requisitos artigo 800º,


1. Acto
2. Danoso
3. Que viole direito relativo
4. No cumprimento da obrigação
5. E com culpa

Não há direito de regresso, não há responsabilidade solidária, responde só o devedor,


o auxiliar fica excluído da indemnização.

Responsabilidade extra-contratual por factos de outrem (ARTIGO 500º)

Exemplo:
A Amélia (comitente) tem uma empregada doméstica, a Berta (comissária). Manda-a
comprar ovos, no seu carro. A Berta conduz em excesso de velocidade e tem um
acidente, batendo no carro de Carlos.
Berta tem culpa, responde pelo artigo 483º, logo Carlos pode pedir indemnização a
Berta.
MAS, Carlos sabe que Berta ia a mando da patroa, por isso opta por exigir
indemnização a Amélia.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 17


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A responsabilidade é extra-contratual, pois não há relação entre o lesado e o lesante,


mas sim entre a (Amélia) e B (Berta), segundo o artigo 500º, nº1.
Tem de existir uma relação de comissão.

Relação de Comissão:
1º pressuposto – relação de comissão (relação de subordinação)
2º pressuposto – dano ocorrido no exercício da função
3º pressuposto – obrigação de indemnizar por parte do comissário (vê-se pelo
preenchimento dos pressupostos do artigo 483ºCC)

RESPONSABILIDADE CIVIL POR FACTOS LÍCITOS

Não encontra no código civil um regime geral. Os casos todos excepcionais


estão regulados de maneira dispersa na lei (339º, nº2, 1322º nº1, 1347º nº3, 1348 nº2,
1349º nº3 e 1367º). Nestes casos, o titular de um direito é obrigado a tolerar
determinadas intervenções, mas obtém, em contrapartida, um direito de ser
indemnizado pelos danos sofridos. Pode ser referido como paradigmático o caso do
estado de necessidade previsto no art. 339º.

Artigo 500º - responsabilidade solidária – qualquer um deles (comissário ou comitente)


pode responder pela totalidade da indemnização. Há um direito de regresso na
proporcionalidade da culpa, art. 497º, nº2.
Artigo 800º - o único a responder é o devedor, o auxiliar não responde, art. 512º ss.
Não existe responsabilidade solidária.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 18


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AULA TEORICO-PRÁTICA 1
2011/10/03
Sumário: Apresentação. Marcação do horário de atendimento.
Metodologia de resolução dos casos práticos.
Divisão entre direito público e direito privado: a teoria dos interesses, a teoria da supra
e da infra-ordenação e a teoria dos sujeitos.
Resolução dos casos práticos n.º 1 e n.º 2.

PROFESSORA: Anabela Susana Sousa Gonçalves


CONTACTOS:
ATENDIMENTO:
BIBLIOGRAFIA: Código Civil

COMO RESOLVER UM CASO PRÁTICO

1º passo: ler o enunciado; esquematizar elementos do enunciado


2º passo: pré-juizo não vinculativo
3º passo: analisar; perceber o que é pedido
4º passo: procurar o fundamento legal
5º passo: começar por indicar os elementos de facto; depois indicar matéria de
direito/matéria teórica; subsumir a matéria de facto à matéria de direito

Caso prático nº1

Teoria dos Interesses: está-se perante uma relação jurídica ou norma de direito
público quando estão em causa a protecção ou a prossecução de interesses públicos.
Está-se perante uma relação jurídica ou norma de direito privado quando os interesses
afectados são interesses individuais, particulares.
Críticas: existe uma justaposição frequente de interesses individuais e públicos e existe
uma instrumentalização do direito privado pelas entidades públicas.

Teoria da infra-ordenação e supra-ordenação: as entidades públicas actuam em


relação ao cidadão a partir de uma base de supremacia, esta relação de supra-
ordenação e infra-ordenação é característica para o direito público, enquanto o direito
privado se caracteriza pela relação de igualdade e/ou equivalência dos sujeitos
envolvidos.
Críticas: não contempla as diversas relações de igualdade de entidades públicas entre
si (ex: associação de municípios) e não considera o facto de no direito privado
existirem com frequência relações de supra-ordenação e infra-ordenação (exercício de
direitos potestativos, poder paternal, direito do trabalho).

Teoria dos Sujeitos: dominante na doutrina jurídica onde é maioritariamente aceite,


mas já não na jurisprudência dos tribunais portugueses; avança como critério de

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 19


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distinção não o interesse nem a relação entre cidadão e o Estado, mas a norma
invocada e aplicada pelos sujeitos da relação jurídica em causa.
Se se tratar de uma norma que não possui validade para todos, referindo-se
exclusivamente aos titulares do poder de império, ou seja, ao Estado e a outras
entidades públicas, conferindo-lhes nesta qualidade os respectivos direitos ou poderes
(prerrogativas) ou impondo-lhes as correspondentes obrigações, está-se perante uma
norma de Direito Público.
Quando uma entidade pública, sem invocar aquelas normas que lhe são peculiares,
age com base numa norma que pressupõe a igualdade de todos e que possui validade
para todos – embora aja evidentemente no interesse público -, trata-se de uma
relação de direito privado.

- Avaliar se estamos perante uma relação de Direito Público ou de Direito Privado


entre A (António) e B (Município de Patra)

- Direito de propriedade artigo 1302º CC


- A invoca artigo 1305º CC
- Tribunal Judicial da Comarca – julga questões direito privado
- Tribunal administrativo - julga questões direito público

- A norma invocada (1305º) é de direito privado (relação jurídica de direito privado),


logo o tribunal competente é o da comarca.
Logo, António intentou bem a acção.

Caso prático nº2

Direito adjectivo: não cura propriamente do Direito que confere direitos e obrigações
independentemente da intervenção judiciária, antes trata do modo como esta se deve
processar.
Refere-se à protecção coactiva, à tutela de tais direitos e obrigações.
Regula as acções e a sua tramitação, desde os seus pressupostos, requisitos até ao
julgamento final da causa.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 20


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 4
2011/10/10
Sumário: d) As soluções e os sistemas para limitar a responsabilidade
e) A responsabilidade civil (extracontratual) e a responsabilidade contratual do Estado;
a via judiciária de acordo com o artigo 4.º L n.º 13/2002.
3. As funções dinamizadoras e protectoras do direito privado
4. A divisão do direito privado em direito civil e direitos privados especiais
5. Os vários direitos privados especiais (referências gerais; as particularidades do
direito do trabalho)
6. A análise económica do direito privado (breve referência)
[pp. 77 a 92; textos de apoio policopiados; L 67/2007; art. 4.º L 13/2003; actualizações
de leis]

REVISÕES ÚLTIMA AULA

Comitente A Empreiteiro e tem vários trabalhadores por sua


conta

Comissário B Empregado de A. Deixa cair um martelo em cima do


carro de C

C
Não há vínculo
existente entre
lesante e lesado (B Responsabilidade extracontratual
e C)

Culpado nos termos do artigo 483º CC – não teve atenção nem cuidado.
Violou o direito de propriedade
C sabe que A tem mais dinheiro para pagar e pede-lhe indemnização nos termos do
artigo 500º (relação de comissão)

A lei diz que o comitente tem que ser obrigado a indemnizar seja a que título for.

Exemplo:
C pede indemnização a A. A paga a totalidade
Como A não teve culpa nenhuma exige a B que pague – direito de regresso

A responde nos termos do artigo 500º


B responde nos termos do artigo 483º

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 21


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Normalmente, pede-se indemnização ao comitente porque tem mais poder económico


Se o comitente não tiver culpa, exige direito de regresso ao comissário. Mas se tiver
alguma culpa, responde nos termos do artigo 497º, nº2 – responsabilidade solidária.
Na responsabilidade extracontratual existe sempre, mesmo sem a lei o dizer; na
responsabilidade contratual, só existe se as partes tiverem acordado.

Exemplo:

Taxista
Responde perante B
A B Cliente
Contrato
Não há contrato

Sem vínculo contratual

C Amigo de A.
Mero auxiliar

C não chega a horas e B sofre danos (perde o avião).


C incorre em culpa. Mas não responde perante B. não tem vínculo contratual com B
(artigo 798º)
A lei finge que quem violou o contrato foi A (artigo 800º)

LIMITES À RESPONSABILIDADE CIVIL

Diz-nos o artigo 601ºCC que se tivermos uma obrigação e não a cumprirmos (exemplo:
compramos um carro e não pagamos as prestações), é ao lado activo do nosso
património que se vai buscar o dinheiro para pagarmos as nossas obrigações.
Caso não aconteça, vamos para tribunal e penhoram-se os nossos bens.
A responsabilidade civil pode destruir economicamente o lesante. Porém, a lei
estabelece limites à responsabilidade civil.

LIMITES:

1 – Por via negocial

a) As partes podem limitar a responsabilidade a alguns bens do seu património.


Artigo 602º e 800º, nº2 (excluída ou limitada se ambas as partes concordarem)

b) Cláusulas limitativas ou exclusivas da responsabilidade estabelecidas através de


declarações negociais unilaterais (só é permitido desde que não caiba no artigo
809º). artigo 809º(credor renuncia ao direito de indemnização – a lei não deixa
existir este tipo de cláusulas)

c) Circunscrever apenas uma parte do nosso património para a responsabilidade


através da adopção de uma forma jurídica construída especialmente para este

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 22


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

efeito (separação de património). Ex: EIRL (estabelecimento individual


responsabilidade limitada) – respondem pelas dívidas próprias da actividade;
Sociedade Unipessoal por Quotas

2- Por via legal

a) Culpa do lesado (o facto do lesado concorrer para a produção do dano, pode


excluir a indemnização). Artigo 570º, nº1, nº2 (quando o lesante responder,
responde com base numa presunção de culpa. Se o lesado tiver culpa,
desaparece a indemnização)
Culpa dos representantes (processo inverso ao do artigo 800º. Equipara-se a
culpa do lesado à culpa dos responsáveis) artigo 571º

b) Risco. Artigo 505º (causa de força maior. Exclui-se a obrigação de indemnizar.


Ex: terramoto enquanto se conduz). Se houver culpa do lesado, afasta-se a
responsabilidade pelo risco - 503º. A direcção do carro parte-se, atropela uma
pessoa que estava fora da passadeira – só houve dano porque estava fora da
passadeira. Artigo 509º, nº1, nº2 (exclui-se a indemnização)

c) Limitação – equidade. Artigos 494º, 489º, 339º, nº2

d) Fixação de limites máximos. Artigos 504º, nº2, nº3; 508º, 510º

e) Separação de património. Artigos 127º, nº1 c), nº2; 2071º

SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Há exemplos de seguros que são obrigatórios, como é exemplo o seguro


automóvel.
No entanto há outros seguros que podem ser feitos, de maneira a prevenir
futuros incómodos, como o seguro contra fogos, inundações, etc.
Uma protecção eficaz contra as consequências patrimoniais ruinosas que
podem decorrer da responsabilidade oferecem normalmente os seguros. São quase
sempre indicados em casos de responsabilidade civil objectiva, onde a concretização
dos riscos danosos pode dar origem a prejuízos muito avultados ou mesmo
incalculáveis que ultrapassam as capacidades económicas do lesante. Por isso, é a lei
que em muitas situações deste tipo impõe um seguro obrigatório.
Mas também para os riscos gerais de vida e os casos de responsabilidade civil
subjectiva ou da responsabilidade contratual, um seguro, mesmo não obrigatório,
pode ser vantajoso em atenção às circunstâncias concretas, embora possa não
abranger os danos causados com dolo ou culpa grave.
O recurso ao seguro não significa a eliminação dos riscos. Apenas as
consequências da sua concretização são deslocadas para o seguro. A protecção
patrimonial por meio do seguro leva a uma colectivização dos danos, bem como da
responsabilidade.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 23


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Esta conclusão põe em causa o sistema valorativo em que assenta a


responsabilidade, porque põe em causa a responsabilidade individual. As
consequências do risco são deslocadas para o seguro.
Pode pôr em causa a responsabilidade individual, pois as consequências do
risco são deslocadas para o seguro.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E DEMAIS ENTIDADES PÚBLICAS

A responsabilidade civil não atinge apenas os particulares, também o Estado pode


responder extracontratualmente. Contudo, o Estado ao responder, não responde por
actos próprios, mas responde por actos de outrem, ou seja, por danos causados a
terceiros pelos órgãos, agentes ou representantes, actos esses que lhe são imputáveis,
de modo que uma eventual acção judicial deve ser dirigida directamente contra o
Estado. O mesmo sucede com as outras entidades públicas com personalidade jurídica:
também estas respondem para com terceiros por danos causados pelos seus órgãos,
agentes e representantes. São estes os princípios que resultam desde já, do artigo 22º
da CRP.
Porém, o Estado e as demais entidades públicas não respondem de igual forma em
todos os danos. É preciso distinguir os danos causados em actividades de “gestão
privada” de danos ocorridos em actividades de “gestão pública”.

1 – Gestão Pública

Exercício da função legislativa, jurisdicional e administrativa:

Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro, que aprova o regime da responsabilidade civil


extracontratual do Estado e demais entidades públicas.
Além disso, existem regimes especiais de responsabilidade por danos decorrentes do
exercício da função administrativa.

Contratos públicos:

Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro, que aprova o Código dos Contratos Públicos
e ao qual o Decreto-Lei n.º 278/2009, de 2 de Outubro, aditou o artigo 83.º-A.

2 – Gestão Privada

Responsabilidade do Estado e de outras pessoas colectivas públicas:

Artigos 501º e 500º do Código Civil (responsabilidade extracontratual de acordo com o


regime da responsabilidade do comitente pelos actos do comissário)

Participação (na veste de particular) no tráfico jurídico negocial geral:

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 24


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Código Civil e demais legislação de direito privado (responsabilidade contratual


segundo o regime dos artigos 798º e seguintes do Código Civil)

3 – Via Judiciária

Competência dos tribunais administrativos e fiscais (artigo 4ª, nº1 da Lei nº13/2002,
de 19 de Fevereiro) - ETAF

Exceptuam-se os litígios provenientes da participação do Estado


negocial geral – por meros contratos civis – que pertencem à competência dos
tribunais comuns. Deste modo, estes têm uma competência meramente residual.

FUNÇÕES DINAMIZADORA E PROTECTORA DO DIREITO PRIVADO

“Ao avaliar o que ficou dito a respeito dos princípios da autonomia privada e da
responsabilidade civil, podemos verificar que o direito privado concede aos
particulares uma margem considerável para a conformação autónoma das suas
relações jurídicas ao mesmo tempo em que lhes imputa a responsabilidade pelos seus
comportamentos causadores de danos: os direitos adquiridos no exercício da
autonomia privada (ex: a propriedade adquirida por meio da liberdade contratual), são
protegidos mediante o instituto da responsabilidade civil.
Daí, podemos concluir que – a partir dos princípios da autonomia privada e da
responsabilidade civil – o direito privado desempenha uma dupla função: por um lado,
estimula o “poder de adquirir” e, por outro lado, protege o “possuir justificado”.
Os preceitos do direito privado que legitimam o poder de adquirir têm como objectivo
incentivar a produção e a aquisição de bens, fomentando ao mesmo tempo a
criatividade individual e compensando o trabalho, os conhecimentos, o capital e o
risco investido. Convém lembrar que o trabalho constitui a fonte histórica, o estímulo e
a justificação ética da propriedade, sendo certo que a remuneração do trabalho deve
ser adequada, de acordo com o contributo de quem trabalha para a criação de riqueza,
em ordem a permitir o acesso à propriedade. A propriedade, por sua vez, liberta as
motivações para o desenvolvimento da produção, do comércio, etc. [função
dinamizadora]
Os preceitos que protegem o possuir justificado têm como objectivo garantir que os
bens produzidos e adquiridos são (re) distribuídos apenas por meios conformes com a
ordem jurídica, uma vez que actuações à margem da lei não são tomadas. [função
protectora]
A simultaneidade, por um lado, do estímulo à produção e aquisição e, por outro lado,
da protecção do adquirido, traduz-se, dentro do direito privado, numa relação de
tensão que confere à sociedade liberal de concorrência a sua dinâmica específica.
Deste modo, o direito privado não quer atrofiar a responsabilidade ou limitar a
criatividade individual, mas pretende fomentá-las. Partindo, com base no princípio da
igualdade perante a lei, do pressuposto que, regularmente, os indivíduos possuem
virtualidades iguais para proceder em conformidade com os seus interesses, o direito

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 25


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

privado confia na actuação autónoma e auto-responsável dos particulares, confiando


ao mesmo tempo numa certa auto-regulamentação da sociedade civil, e favorece o
desenvolvimento da iniciativa privada. Por isso, é função do direito privado estar ao
serviço da liberdade e da responsabilidade.”, in A Parte Geral do Código Civil Português

DIVISÃO DO DIREITO PRIVADO EM DIREITO CIVIL E DIREITOS PRIVADOS ESPECIAIS

“O Direito Civil é apenas uma parte do direito privado.


Antigamente, os conceitos de direito privado e direito civil coincidiam, mas a evolução
económica e social fez com que fosse surgindo a necessidade de uma diferenciação,
dentro do direito privado, em direito civil, por um lado, e direitos privados especiais,
por outro. Esta diferenciação é, assim, o resultado de uma evolução histórica.
No entanto, a diferenciação não corresponde a nenhuma divisão rígida. Assim, como
não foi possível delimitar, de uma maneira clara, direito público e direito privado,
também não será possível subdividir o direito privado.
A razão para o facto reside no fenómeno de as classificações das normas jurídicas não
poderem conduzir a delimitações claras porque – conforme a perspectiva
classificadora adoptada – a mesma norma pode pertencer a ramos de direito
diferentes.
O direito civil é aquele ramo do direito privado que mais intensamente acompanha a
vida do homem, desde o seu nascimento até à sua morte, ao regular as suas relações
jurídicas pessoais ou os seus negócios normais com os outros, independentemente da
sua condição social ou profissional. Diz respeito aos padrões básicos da vida humana;
ordena a vida quotidiana, permitindo o prosseguimento dos seus interesses,
resolvendo conflitos jurídicos com os outros.”, in A Parte Geral Do Código Civil

Direito Civil (Direito Privado Comum) – ramo do


direito privado que acompanha a vida do homem
comum. Rege a vida do homem comum e
DIREITO PRIVADO estabelece os conceitos base que se aplicam ao
restante direito privado

Direito Privados Especiais – 1Direito Comercial;


2
Direito do Trabalho; 3Direito Económico.

1Direito Comercial: primeiro direito privado especial a autonomizar-se. Direito relativo


a actos comerciais. Aplica-se uma determinada parte do direito civil a determinados
tipos de negócios jurídicos.

2Direito do Trabalho: há muitas normas imperativas para proteger o trabalhador.


Relutância em dizer que é direito privado. Fenómeno da contratação colectiva – as
partes vêem a sua autonomia privada limitada – intervenção do Estado quando as
partes não se entendem.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 26


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

3Direito Económico: conjunto das normas que actuam sobre o processo económico em
geral. Direito misto.

ANÁLISE ECONÓMICA DO DIREITO PRIVADO

“A análise económica do direito, que tem sido desenvolvida nos Estados Unidos encara
os efeitos decorrentes da aplicação de normas jurídicas, não segundo critérios de
justiça, mas sob o ponto de vista da chamada “eficiência de alocação”. Esta
corresponde a um estado de aplicação optimizada dos recursos disponíveis em termos
que proporcionam a todos o maior proveito.
O estado optimizado é atingido quando os recursos existentes tiverem sido
distribuídos de tal modo que já não é possível a ninguém aumentar as suas vantagens
sem prejudicar a situação de outrem.
Uma norma jurídica é eficiente quando traz vantagens para todos os interessados ou
para alguns sem prejudicar ninguém ou quando os beneficiados por ela ficam em
condições de poder indemnizar os prejudicados sem perder as vantagens todas. Assim,
o princípio da liberdade contratual é economicamente eficiente, uma vez que permite
às partes contraentes a troca de bens e serviços em sintonia com as respectivas
vantagens pessoais e evita o desperdício de recursos; em contrapartida, o regime de
fixação das rendas urbanas não é economicamente eficiente, pois prejudica as relações
de troca à custa de uma das partes.”, in A Parte Geral do Código Civil Português

A ideia geral que existe quando se pensa em direito é um conjunto de normas que
foram criadas e estão pautadas por uma corrente de Justiça.
Analisar-se a lei sob o ponto de vista da sua eficiência económica diz respeito à análise
económica do Direito.
O direito não deve apenas pautar-se por uma corrente económica. Deve sempre
pautar-se pela justiça.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 27


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 2
2011-10-10
Sumário: A responsabilidade civil - apresentação e desenvolvimento. A
responsabilidade extracontratual: a responsabilidade civil por factos ilícitos, pelo risco
e por factos lícitos.
A responsabilidade civil por factos ilícitos: enunciação e explicação dos seus
pressupostos. Resolução dos casos n.º 3 e n.º 4.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 28


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 5
2011-10-17
Sumário: II. O direito privado e a ordem constitucional portuguesa: o problema da
aplicação imediata dos direitos fundamentais às relações entre particulares
III. A dimensão política do direito privado; sua relevância (referência sucinta)
B. As fontes do direito civil português
I. A legislação anterior ao Código Civil de 1966. Resenha histórica
1. – 3. (…) 4. O Código Civil de 1867 e a sua sistematização antropocêntrica
II. O Código Civil de 1966; a sistematização do Título II com base na rel. jur.
III. As fontes além do Código Civil (algumas referências)
[pp. 93 a 99 (99 a 105); 105 a 116, 117 (s/ 156 a 167) a 148]

DIREITO PRIVADO E A ORDEM CONSTITUCIONAL PORTUGUESA

Constituição da República Portuguesa – topo da pirâmide hierárquica

Todas as normas civis têm de estar de acordo com a CRP – fonte mediata do Direito
Civil

Será que a CRP pode ser fonte mediata?

Art. 18º CRP – direitos, liberdades e garantias (DLG’s) também se aplicam nas relações
entre os particulares (art. 18º, nº1)

Exemplos:

1 António tem três filhos, o mais velho é muito cauteloso, os dois mais novos são muito
gastadores.
Assim sendo, decide deixar como hierarquia, a quota obrigatória aos 3 e os bens que
sobraram deixou ao mais velho.
Os filhos mais novos dizem que é contra a lei.

2Uma das cláusulas do contrato do clube onde Bernardo joga, diz que os jogadores não
podem dar entrevista à comunicação social.
O clube perdeu um jogo, e o jogador deu uma entrevista para um jornal culpando o
treinador pela derrota.
O clube intentou uma acção contra o jogador.
O jogador defende-se com a liberdade de expressão.

3Carlos trabalhava numa empresa que faz software. Entretanto demitiu-se e foi para
outra empresa do mesmo ramo. Na 1ªempresa, tinha assinado um contrato em que
numa das cláusulas dizia que durante 1 ano não podia revelar nenhuma informação
sobre o que tinha feito enquanto lá trabalhou, a outra empresa.
Carlos quando foi para a nova empresa contou sobre o software.
A 1ª empresa intentou-lhe uma acção.
Carlos defendeu-se com a liberdade de expressão.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 29


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

1 António deixou o obrigatório a todos os filhos, com os restantes bens podia


fazer/deixar a quem quisesse.

2 B assinou o contrato, sabia o que as cláusulas proibiam, renegou os seus DLG’s, por
isso não podia invocar o seu direito à liberdade de expressão.

3O mesmo sucedeu neste caso.

Assim, o artigo 18º não se aplica literalmente. Temos que o aplicar de acordo com a
sua origem.

O Direito Constitucional tem muitos menos anos (200) do que o Direito Civil (2000). O
direito civil tem séculos de estruturação. O direito constitucional foi beber ao direito
civil, inspirou-se lá. O Princípio da Igualdade já existia no Direito Civil (é um dos seus
princípios estruturantes) antes de existir no Direito Constitucional.
Muitos dos direitos já estavam previstos no Direito Civil.

Para que é que servem os DLG’s?

FUNÇÃO DE PROTEÇÃO dos cidadãos contra o Estado.


Direitos de defesa.
Entre os cidadãos há paridade, portanto são só direitos de defesa do cidadão em
relação ao Estado. No entanto, há empresas privadas, algumas até anteriormente de
domínio público, que têm muita força económica e social – enorme peso económico e
social – será que faz algum sentido aplicar os DLG’s nesta situação?
- São privados, mas têm muito mais poder do que o resto dos cidadãos.
Assim, usa-se a mesma função protectora, mas agora entre entidades privadas e
privados: FUNÇÃO RENOVADORA.
Mesmo assim, o artigo 18º não vincula da mesma forma as entidades públicas e os
privados.

Vincula de forma geral: entidades públicas.


Função tradicional

Vincula de forma especial: entidades privadas (semelhantes ao


Artigo 18º, nº1 CRP Estado).
Função renovadora

Não se aplica o artigo 18º nas relações de particulares entre si

Função renovadora: aplicação mediata da CRP, através da lei civil.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 30


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Em regra, é desnecessária a aplicação imediata dos DLG’s nas relações entre


particulares. Em princípio, as normas do Código Civil já incorporam os princípios
fundamentais da CRP.
Em casos excepcionais, é que se pode aplicar directamente a lei constitucional
– ultima ratio – situações extremas.

Aplicação DLG’s

1 – A aplicação directa e imediata só se dão se for compatível com a correcta defesa


dos DLG’s: Estado e entidades semelhantes ao Estado.

2 – A aplicação directa e mediata só se dão se a aplicação da lei civil (imbuída dos


preceitos constitucionais), não for suficiente – aplicação é indirecta ou mediata da
CRP.

Lacunosa ou inconstitucional – DLG subsidiário “ultima ratio”

A EVOLUÇÃO DO DIREITO CIVIL

A CRP não tem só os DLG’s.


Estabelece no seu artigo 9º um elenco de tarefas emblemáticas para o Estado,
o que acaba por reduzir o campo de aplicação do Direito Privado – o Estado interfere
em tudo, ficando os particulares com um papel activo diminuído. Trata-se o individuo
como um menor, podendo acabar-se numa situação em que o direito privado
desapareça.
O nosso Direito Privado, além de ter uma dimensão política, tem também uma
dimensão histórica.
O nosso direito privado remonta ao tempo do direito romano, que teve como
uma consequência termos uma plataforma jurídica comum com os países latinos.
Isto tem-se revelado útil na uniformização dos países da união europeia.
Justiniano e o seu Código Justinianeu foram muito importantes para o Direito Romano.
Justiniano compilou todo o direito vigente na época, o que se revelou fundamental
para manter o direito romano vivo depois das invasões bárbaras e da consequente
queda do império romano.
Foi com a Escola de Bolonha que se redescobriu o Direito Romano, pelo estudo
de uma parte do Código Justinianeu – o Corpus Iuris Civilis. Como a maior parte dos
juristas da Europa foram para Bolonha, ficaram todos com a mesma base e iam depois
aplicar o direito de forma semelhante ou igual nos seus países de origem.
Assim, o direito romano (adaptado) tornou-se vigente na maior parte dos
países da Europa. Em Portugal, aconteceu o mesmo.
Mais tarde, em Portugal, com as Ordenações Afonsinas coligiu-se todo o direito
cá vigente. Foi um dos primeiros países a fazê-lo. Esta colectânea actualizada e
sistematizada foi substituída pelas Ordenações Manuelinas e mais tarde pelas
Ordenações Filipinas. Estas ordenações permitiram uma aplicação uniforme do Direito.
As ordenações filipinas mantiveram-se em vigor até ao século XIX, quando começou a
surgir muita legislação avulsa.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 31


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Foi dada ao Visconde de Seabra a tarefa hercúlea de fazer o Código Civil


Português – Código de Seabra de 1867. Este código baseou-se no Código Civil Francês
– liberalismo muito presente. As únicas diferenças estão no âmbito do Direito da
Família – muito conservador em Portugal. O resto do conteúdo equivale ao francês.
O conteúdo era semelhante, mas a forma era totalmente diferente. Seabra
organizou o código em torno do homem-proprietário, desde que nasce até que morre
– forma de organização bastante inovadora. Visão do homem individualista – via-se o
homem por si só. Era tudo válido “pacta sunt servanta” dominava – máxima liberal
francesa – “quem diz contratual, diz justo”.
Foi passando o tempo e sentiu-se a necessidade de alteração, havia muita
legislação avulsa.
Actual Código Civil – 1966 – 100 anos depois do Código de Seabra.
O actual código civil seguiu o código civil alemão – BGB. Seguiu-se o modelo
germânico, mas não nos afastamos do Direito Romano. O BGB foi baseado nas
Pandectas Romanas, que foram adaptadas para a realidade germânica.
O nosso código civil seguiu a sistematização do BGB, mas introduziu a Parte
Geral – conceitos base. A Parte Geral está organizada de acordo com o conceito de
relação jurídica. O que lhe valeu algumas críticas.
Orlando de Carvalho vem dizer que com esta sistematização se esquece a pessoa,
desumaniza-se o direito civil.
Heinrich Hörster vem contrapor, e diz que não se pôs em causa a pessoa, não
se diminuiu o valor da pessoa. Diz que é preciso entender o conceito de relação
jurídica, que pressupõe o conceito de pessoa. Diz ainda que pode-se criticar o código
pela sua estrutura, é muito fraco, mas não pelo conteúdo, esse está intocável. É
preciso ver que o que é importante num código é o seu sistema de valores, mas não a
forma como está organizado. Os princípios estruturantes do nosso código civil são
bons – homem livre que vive em sociedade. O homem e a sua dignidade estão na base
das normas. O que mudou com a CRP de 1976 foi o Direito da Família que era
demasiado conservador.
De resto, já estava tudo no código civil e não foi preciso alterar.
Lançou em grande medida uma série de conceitos indeterminados – leitura da
lei adaptada à época faz com que o Código Civil seja mais permeável ao tempo. Porém,
este tipo de interpretação não pode ser abusiva.
Há, no entanto, uma série de legislação avulsa que também é direito civil,
contudo o primordial está no código.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 32


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 3
2011-10-17
Sumário: A responsabilidade contratual. Confronto entre o regime desta e o regime
da responsabilidade extracontratual.
O concurso de responsabilidades.
A responsabilidade penal.
Casos práticos n.º 5 e n.º 6

A forma de calcular o dano e a indemnização é comum às duas responsabilidades –


artigo 562ºCC.
O modo como se aprecia a culpa também é comum, porque o art. 799º, nº2 faz uma
remissão para o regime geral da responsabilidade civil.
Aspectos divergentes: extracontratual segue a regra de que cabe a quem invoca o
direito, provar os factos – art. 487º, nº1; na contratual cabe ao lesante provar que a
culpa não é dele.

Obrigação natural – art. 402º


Prescrição – 3 anos, 498º - extracontratual
20 anos, 309º - contratual

Geralmente, na responsabilidade contratual e extracontratual há responsabilidade por


factos próprios, mas também há por factos de outrem.

Contratual – convenções para limitar ou excluir

Responsabilidade solidária – arts. 497º nº1 e nº2

Responsabilidade Civil ≠ Responsabilidade Penal

Lesante e lesado Está em causa o interesse público


quando se sanciona um lícito
penal, sanciona-se porque pôs em
causa valores sociais.
Comportamento que a sociedade
reprova. Carácter punitivo.

Concurso de responsabilidades: quando o mesmo facto produz na esfera jurídica do


lesante a obrigação de indemnizar, proveniente da responsabilidade contratual e
extracontratual.

Exemplo: Andreia compra a Fernando uma televisão. O Fernando entrega-lhe a


televisão em casa. Mas estava um pouco embriagado e deixa-o cair no pé de Andreia.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 33


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Só temos um facto: deixar cair a televisão no pé de Andreia

Existe responsabilidade contratual: violação de um direito relativo – direito que


resulta da celebração do contrato
E existe responsabilidade extracontratual: violou a integridade física de Andreia
– violação direito absoluto.

Obrigação de indemnizar por via da responsabilidade contratual e extracontratual.

- Doutrina da opção ou da escolha


- Doutrina da sucessão de acções
- Doutrina híbrida ou mista: optar por normas da contratual ou da extracontratual,
conforme lhe convier.
- Doutrina do não cúmulo: Almeida Costa: na realidade não existe um concurso de
responsabilidade. É um concurso meramente aparente que nasce por existirem dois
regimes legais, porque o regime da contratual é mais favorável, o facto é só um, existe
depois um concurso por que há dois regimes legais a tutelar o facto.
O regime da responsabilidade contratual consome o da extracontratual, porque este é
mais favorável ao lesado, visto que este não vai ter que fazer o ónus da prova, já se
presume.

Caso prático nº5

a) Regra geral – casum sentit dominus


Se os pressupostos da responsabilidade civil estiverem preenchidos, desloca-se o dano
de quem o sofreu para quem o causou.
Há a violação de direitos absolutos – extracontratual. 483ºss; 503º, nº1

b) C --------- D
Não há nenhum vínculo contratual. Há violação de direitos absolutos –
direito de propriedade

Facto voluntário: conduzir o carro de forma a bater no outro


Ilicitude: violação de um direito absoluto – 1305º direito de propriedade.
Culpa: juízo de censura em relação ao sujeito – acto que resultou num dano – embate.
Agiu com dolo, 483º.
Dano: patrimonial emergente, 564º.
Nexo de causalidade

c) Violação de um direito que tem efeitos interpartes. Violação de uma prestação


contratual, 798º.
Nexo de causalidade, 563º, o não cumprimento deu origem ao pagamento do dobro

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 34


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Os requisitos estão preenchidos. O Miguel vai ser obrigado a indemnizar a Vanessa,


nos termos do artigo 562º e 566º.

Caso prático nº6

Artigo 1154º - prestação de serviços. Contrato entre Augusto e o dentista –


responsabilidade contratual.
Há também a violação de um direito absoluto – violação da integridade física de
Augusto – responsabilidade extracontratual.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 35


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 6
2011 – 10 – 24
Sumário: Capítulo 2.º Os instrumentos centrais do direito privado
A. A relação jurídica; a rel. jur. fundam.; o círculo de direitos
B. Os elementos da relação jurídica v.s. o conteúdo da Parte Geral
I. As pessoas em sentido jurídico; o conteúdo do subtítulo I “Das Pessoas”
II. As coisas em sentido jurídico; análise do subtítulo II “Das Coisas”
1. Os possíveis objectos da rel. jur.
2. As coisas como obj. mediatos da rel. jur.
a) A noção de coisa do artigo 202.º, n.º 1, CCiv
[pp. 148 a 180]

1º capítulo do manual: Direito Privado – garantir espaço de liberdade dos cidadãos.

2º capítulo a iniciar: quais os instrumentos jurídicos que o Direito Privado cria e coloca
na mão dos particulares, para que estes possam prosseguir os seus interesses. Para tal,
existem 3 instrumentos: relação jurídica, direito subjectivo e o negócio jurídico.

OS INSTRUMENTOS CENTRAIS DO DIREITO PRIVADO: A RELAÇÃO


JURÍDICA, O NEGÓCIO JURÍDICO, O DIREITO SUBJECTIVO

1º instrumento – Relação jurídica: carácter mais social e menos individual. Relação


entre sujeitos. O homem necessita de se relacionar com outras pessoas para
prosseguir os seus interesses.

2º instrumento – Direito subjectivo: meio colocado nas mãos do sujeito da relação


jurídica para que este possa prosseguir os seus interesses. No entanto, não isento de
vinculações sociais, apesar de não ser tão social como a relação jurídica.

3º instrumento – Negócio jurídico: instrumento mais individualista. Meio principal


para adquirir e exercer direitos subjectivos. O contrato é o negócio jurídico mais
importante.

1 – RELAÇÃO JURÍDICA

 Relação jurídica fundamental: ideia filosófica. Parte do entendimento e da


filosofia ocidentais, que são influenciados pelo cristianismo.
Este entendimento e filosofia ocidentais concebem o homem como um valor
em si mesmo – valor ético. O homem não pode ser utilizado como um meio
para que outras pessoas atinjam determinado fim.
Desta ideia decorre a ideia de dignidade da pessoa humana. Reconhecimento
que todos nós temos de que as pessoas valem por si. Ideia de que as pessoas
são livres, auto-responsáveis, que prosseguem os interesses que mais lhe
convêm.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 36


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Isto implica que as outras pessoas reconheçam o nosso valor de pessoa huma,
que respeitem a nossa dignidade. Cada um tem o direito de ser respeitado por
todas as pessoas, e tem a obrigação de respeitar os outros.
Basicamente, a relação jurídica fundamental é uma relação de respeito mútuo
entre os vários sujeitos. Cada um de nós está moralmente convencido de que
deve ser assim.
Este respeito implica que sejam excluídos todos os comportamentos que
possam diminuir o valor ético da pessoa, ou seja, não podem criar-se relações
jurídicas que violem esta ideia de respeito da relação jurídica fundamental.
Caso violem, são consideradas nulas.

Exemplos: o contrato de trabalho vitalício é considerado nulo, porque a pessoa


tem de ter margem de manobra para escolher o que é melhor para si, de poder
se vincular a outro.
Outro exemplo é a escravidão, a pessoas são sujeito de direito, nunca objecto
de direito.
Também não devia ser admissível o uso incorrecto da linguagem – “venda de
jogador” – mas sim “venda do passe do jogador”. Há determinada linguagem
que trata a pessoa com uma coisa, diminui o valor da pessoa.

Apesar de esta ideia ser uma norma jurídica, esta parte de uma norma moral.
Porém, apesar de estarmos moralmente convencidos do dever de respeito, as
normas morais não podem ser coercitivamente impostas, daí a norma jurídica
decorrer da norma moral.
De um lado temos o direito subjectivo, do outro temos uma obrigação jurídica.

Relacionada com esta figura de relação jurídica fundamental, está outra figura, o
círculo de direitos.

 Círculo de direitos: soma dos direitos de que uma pessoa é titular. Cada pessoa
tem um determinado conjunto de direitos. Há um conjunto de direitos de que a
pessoa não se consegue livrar. Os mais importantes estão no “centro do
círculo”, como por exemplo, os direitos de personalidade. Na “periferia do
círculo” encontram-se os direitos “menos importantes”, como por exemplo, os
direitos patrimoniais.
Quando se fala da violação de direitos da pessoa, fala-se na violação da própria
pessoa. Em princípio, esta violação não se concretiza, porque a maior parte das
pessoas tem consciência de que não pode violar os direitos dos outros. O
Direito conta com a observância directa das pessoas.
O círculo de direitos é também um conceito filosófico.

O conceito técnico que concretiza a relação jurídica fundamental (directrizes


filosóficas) é a relação jurídica propriamente dita.

 Relação jurídica propriamente dita: em sentido amplo é toda a situação da


vida social juridicamente relevante. Aquela que é disciplinada pelo direito, o

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 37


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

que serve para afastar as relações que não são jurídicas, que não cabem no
âmbito do direito.
Em sentido restrito é toda a situação da vida social disciplinada pelo direito,
que apresenta uma fisionomia típica – relações que já estão tipificadas na lei. A
relação jurídica em sentido restrito é a relação jurídica em sentido concreto,
pois atribui concretamente determinados direitos e obrigações.
Exemplo: contrato de compra e venda, 879ºCC.

Sujeito activo vinculação intersubjectiva sujeito passivo

Direito subjectivo Exigir – obrigação civil


Pretender – obrigação natural Dever jurídico

(Cabe no sentido mais


Direito amplo de obrigação)
Objecto
subjectivo Obrigação
mediato
(sentido lato)

Direito Potestativo - produz efeitos jurídicos - impõe-se - sujeição

garantia

Objecto
imediato

Direito subjectivo: poder ou faculdade de exigir ou pretender de outrem um


determinado comportamento positivo ou negativo

Direito Potestativo: poder ou faculdade de produzir efeitos jurídicos na outra parte,


sem que esta possa fugir desses efeitos.

 Diferença entre faculdade de exigir (direito subjectivo) e o poder de produzir


(direito potestativo)

Exemplo: A vendeu um automóvel a B


B não cumpriu a sua obrigação (civil), que era pagar pelo automóvel. B violou o
direito subjectivo de A, que tinha a faculdade de exigir.

Obrigação civil: exigível em tribunal

Exemplo: António e Bernardo são amigos, mas adeptos de clubes diferentes. Fizeram
uma aposta em que se o clube do outro perdesse, o adepto do clube que perdeu tinha
que pagar 50€ ao adepto do clube que ganhou.
Bernardo perdeu e não pagou os devidos 50€ ao António.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 38


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Trata-se de uma obrigação natural, pois foi violada a faculdade de pretender.

Obrigação natural: não pode ser exigível em tribunal

Mas se o Bernardo tivesse pago, não podia voltar atrás e pedir o dinheiro de volta –
não repetição do indivíduo – não podia pedir que fosse devolvida a prestação.

Quando estamos perante uma indemnização, no prazo de 3 anos está-se obrigado a


pagar – obrigação civil – pode-se ir a tribunal exigir o pagamento.
Caso não aconteça, passa a ser uma obrigação natural, a parte não pode ir a tribunal
reclamar a indemnização.

Obrigação natural – arts 402º e 403ºCC


Prescrição – art. 304ºCC

Poder de produzir – direito potestativo: não se pode violar porque provoca


automaticamente efeitos jurídicos.

Relação jurídica em sentido abstracto ≠ Relação jurídica em sentido concreto

Relação que equivale a As normas ganham vida através


determinado tipo legal. da celebração de contratos entre
Relação virtual – ainda não há as partes.
partes, é uma relação em Concretizamos o que está
potência. previsto na relação jurídica em
Como está definido na lei. sentido abstracto, na prática.
Passa a existir na realidade

Relação jurídica simples ou una ≠ Relação jurídica complexa ou multipla

Apenas existe um direito e a sua Relações jurídicas que têm muitos


respectiva obrigação. direitos e deveres de parte a
Ex. Contrato de comodato, art parte.
1129ºCC Ex: contrato de compra e venda

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 39


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Relação jurídica em sentido abstrato ≠ Instituto jurídico

Matéria que está a ser regulada Conjunto de normas que


pelas normas regulamentam relações jurídicas
de determinado tipo.
As normas propriamente ditas
Ex: casamento

A mesma coisa, mas vista de perspectivas diferentes.


Exemplo: casamento – normas que regulam o casamento

Relação jurídica em sentido abstrato

 Estrutura da relação jurídica

Estrutura externa: conjunto dos elementos quem compõem a relação jurídica.

Estrutura interna: o seu conteúdo, resultante da correlação entre todos os elementos


externos. Esta correlação define o vínculo jurídico entre as partes.

1 – Sujeitos: pessoas entre quem se estabelece o vínculo intersubjectivo.


Sujeito activo: titular de direitos subjectivos
Sujeito passivo: titular das obrigações
Tanto podem ser pessoas singulares, como pessoas colectivas.

2 – Facto jurídico: todo o acontecimento natural ou por acção humana que


desencadeia efeitos jurídicos.
Desencadeia o vinculo entre as partes.
Elemento causal da relação jurídica.

3 – Objecto: imediato = conjunto do direito subjectivo e da obrigação – vinculação


criada entre o direito subjectivo e a obrigação. Aquilo sobre que incide o poder do
direito subjectivo.
Exemplo: contrato de compra e venda – A compra Cciv a B – transmite-se o direito de
propriedade sobre o código – o objecto do contrato e o direito de propriedade.
mediato = a coisa sobre que incide o direito.
Exemplo: (caso anterior) o objecto imediato é o Cciv.

4 – Garantia: aquilo dá efectividade ao direito.


Meios coercitivos atribuídos pela ordem jurídica, colocados à disposição do titular do
direito subjectivo para que ele obtenha a sua realização efectiva.
Serve para sustentar a obrigação.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 40


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

1 – Sujeitos

Pessoa em sentido jurídico não é a mesma coisa que pessoa em sentido ético.
Em sentido jurídico há pessoas singulares e pessoas colectivas.
Em sentido jurídico são todas aquelas que têm personalidade jurídica (susceptibilidade
de ser titular de direitos e de obrigações).
O código civil regulamenta as pessoas singulares nos artigos 66º a 156º e regulamenta
as pessoas colectivas nos artigos 157º a 194º.
Do artigo 195º ao 201º do CC estão associações sem personalidade jurídica e as
comissões especiais – não são pessoas em sentido jurídico, porque não têm
personalidade jurídica atribuída pelo Estado, mas são grupos de pessoas que
prosseguem uma finalidade comum.
Na nossa ordem jurídica todas as pessoas que nascem possuem personalidade jurídica
– artigo 66º, nº1.
Para as pessoas colectivas é preciso que haja um reconhecimento do Estado ou por lei
para que seja reconhecida personalidade jurídica à pessoa colectiva (conjunto de
massas ou grupos de bens). A partir do momento em que é reconhecida a
personalidade à pessoa colectiva, ela passa a ter o seu próprio círculo de direitos.
Virtualmente, as pessoas colectivas podem ser titulares de quaisquer direitos e
obrigações. Mas a capacidade jurídica é diferente da capacidade jurídica das pessoas
singulares.
As pessoas colectivas só têm a capacidade jurídica para realizarem os negócios
necessários ou convenientes á prossecução dos seus fins.

2 - Objecto

A partir do artigo 202º, o Código Civil trata das coisas.


Em sentido filosófico, objecto é tudo aquilo que não é sujeito. É tudo aquilo que o
sujeito pode conhecer, manusear.
Em sentido jurídico, é só aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas.
As pessoas singulares não podem ser objecto, porém as pessoas colectivas podem,
mas não na mesma relação jurídica, ou seja, simultaneamente não podem ser objecto
e sujeito.
Pode-se classificar como objecto imediato e mediato.

Artigo 408º CC – a partir do momento em que se faz o contrato dá-se a transferência


de direitos reais sobre o objecto – transmite-se o direito de propriedade sobre o
objecto.

Objecto mediato – tudo o que é susceptível de estar sujeito ao domínio humano de


forma reconhecida pela ordem jurídica.

Os direitos eventualmente também podem ser objecto de direito. Podem transmitir-se


direitos sobre direitos. Também podem ser as prestações (= comportamento), artigo
1154º.
O produto intelectual também pode ser produto mediato. Exemplo: software, música,
etc.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 41


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Assim, coisas em sentido corrente, produtos intelectuais, prestações, pessoas


colectivas e direitos, podem ser objectos mediatos da relação jurídica.
Podíamos ainda pensar que este título (coisas) só se referia a objecto mediato, mas
também se refere a objecto imediato. Para tal, é necessário ler o artigo 202º, nº1 em
conjunto com o número 2.

Coisa em sentido jurídico: tudo aquilo que possui idoneidade ou aptidão para ser
objecto de direitos subjectivos privados, que sobre ele possam incidir.

Coisa em sentido jurídico = objecto mediato


Pessoas singulares
Fenómenos que não podem ser:
Direitos de personalidade
Direitos familiares pessoais – dever de fidelidade
Direitos não patrimoniais

Nem todos os direitos subjectivos têm um objecto mediato.


Exemplo: direito a vida – a pessoa (que é sobre o que incide o direito) não pode ser
objecto, porque o homem não pode ser objecto de direito “porque apenas pode fazer
parte de uma relação jurídica conforme a sua condição de sujeito..., não como mero
objecto das decisões de outrem”.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 42


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 4
2011/10/24
Sumário: A responsabilidade por actos de outrem: a responsabilidade objectiva do
comitente por actos do comissário (art. 500.ª do Código Civil); a responsabilidade do
devedor por actos do seu auxiliar (art. 800.ª) do (Código Civil). Confronto de regimes.
Casos práticos n.º 7 e n.º 8.

Responsabilidade por actos de terceiro

Artigo 500ºCC – responsabilidade por risco – responsabilidade civil extracontratual,


em que há violação de um direito absoluto.

- comissário: aquele que está dependente do comitente


- a máxima “ubi commoda, ibi incommoda” é usada neste contexto, pois o comitente
se retira vantagens de incumbir alguém pelas tarefas, também deve arcar com os
danos causados pelo comissário.
O comissário pode não ter património suficiente para indemnizar o lesado, então o
mais justo e mais seguro é o comitente arcar com os danos, com a indemnização.
Para o comitente ser considerado responsável pelos danos é necessário que estejam
preenchidos 3 requisitos:
- tem de existir uma relação de subordinação entre o comissário e o comitente;
- produção de dano no exercício da função (artigo 500º, nº2) – quando há a
produção de um dano decorrente de qualquer acto compreendido no quadro geral de
competência ou dos poderes conferidos ao comissário;
- aferir se existe um nexo de necessidade funcional que ligue o acto que
provocou o dano e a função. Se for por ocasião da função não preenche o requisito, há
apenas um nexo temporal, numa situação assim o comitente não responde pelos actos
do comissário.

Exemplo: se na construção de uma casa, for lá um electricista e começar a fumar e


depois atirar o cigarro para um canto com produtos infamáveis e incendiar a casa,
estamos perante um dano ocorrido no exercício da função.

Responsabilidade do comissário: nós consideramos que o comitente vai responder


sempre que o comissário tiver tido culpa na produção do dano – sempre que o
comissário tiver de indemnizar, seja pelo risco, por facto ilícitos, etc.
Já a doutrina tradicional defende que só acontece a indemnização do comitente
quando o comissário tiver tido culpa.

Artigo 800º - responsabilidade por risco – responsabilidade civil contratual, em que há


violação de um direito relativo.

Se o devedor não cumpre uma obrigação por responsabilidade sua, imputável a


terceiro, não responde, a não ser que o terceiro seja um auxiliar ou um representante
que o devedor utiliza para cumprir uma obrigação que é sua.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 43


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O artigo 800º trata os actos dos auxiliares que o devedor utiliza para cumprir uma
obrigação que é sua como se esses actos fossem praticados pelo próprio devedor. A lei
encara que foi o próprio devedor a agir.
Só se o auxiliar agir com culpa é que o devedor responde.

Situação de incumprimento da obrigação contratual violação direitos relativos


dano

Requisitos artigo 800º


- acto
- danoso
- que viole direito relativo
- no cumprimento da obrigação
- e com culpa

Preenchidos estes requisitos, a lei ficciona que foi o próprio devedor a causar o dano.

 Diferenças entre artigos 500º e 800º

Artigo 500º - exercício da função


Artigo 800º - cumprimento da obrigação

Artigo 500º - em qualquer uma das situações (risco, ilícitos, lícitos)


Artigo 800º - só se o auxiliar tiver culpa

Artigo 800º - a responsabilidade pode ser excluída por acordo.


Este aspecto não existe no artigo 500º

Artigo 500º - responsabilidade solidária – qualquer um deles (comissário ou comitente)


pode responder pela totalidade da indemnização. Há um direito de regresso na
proporcionalidade da culpa, art. 497º, nº2.
Artigo 800º - o unico a responder é o devedor, o auxiliar não responde, art. 512º ss.
Não existe responsabilidade solidária.

Caso prático nº 7

a) O caso apresentado é um caso de responsabilidade civil extracontratual, visto que


houve uma violação de um direito absoluto e não existe nenhum vínculo contratual
entre o lesante (C) e o lesado (D).
Normalmente, no nosso quotidiano acontecem-nos imprevistos e deles, por vezes,
decorrem danos, sendo a regra aplicada “casum sentit dominus”, ou seja, a vida tem
riscos e temos que os suportar.
Porém, em situações especiais, existe um instituo jurídico que permite deslocar o
dano, de quem o sofreu para quem o causou desde que estejam preenchidos
determinados requisitos.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 44


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Esse instituto jurídico é a responsabilidade civil, que trata todas as situações em que
existe uma obrigação de indemnização.
Existem duas modalidades de responsabilidade civil, a contratual, no âmbito da
situação dos contratos, onde são violados direitos relativos. E a extracontratual, onde
são violados direitos absolutos. A responsabilidade extracontratual pode ser por factos
ilícitos, por culpa ou por facto lícitos.
A responsabilidade civil extracontratual é tratada no código nos artigos 483º e ss (no
código é mesmo considerada responsabilidade civil). A responsabilidade contratual
pode ser encontrada nos artigos 798ºss.
Como já anteriormente referido, a presente situação aparenta ser um caso de
responsabilidade civil extracontratual, pois César violou um direito absoluto de Daniel,
o direito de propriedade, artigo 1305ºcc.
Cabe então a Daniel, que quer ver os seus danos reparados, neste caso não podendo
ser por reconstituição natural 562ºCC, por indemnização 566º, provar a culpa do autor
da lesão (segundo o artigo 487, nº1, 1ªparte), arcando assim com o pesado ónus da
prova.
Contudo para se deslocar o dano de quem o sofreu para quem o causou é necessário
que estejam preenchidos os 5 pressupostos presentes no artigo 483º.
O primeiro pressuposto é o do facto voluntário (comportamento humano – acção ou
omissão – controlado pela vontade humana), que no caso concreto é o atropelamento
do cão, por César. É um facto voluntário positivo, César atropelou o cão de Daniel.
O segundo pressuposto é a ilicitude (juízo de censura sobre o próprio facto, por ele
consistir na violação de um dever jurídico), no caso concreto foi violado o direito de
propriedade (1305º) de Daniel.
O terceiro pressuposto é a culpa ou nexo imputado ao lesante (juízo de censura sobre
o sujeito quanto à probabilidade da sua conduta, por ele ter praticado o facto lesivo,
quando podia ter evitado o dano). A culpa é apreciada, pela diligência de um bom pai
de família (art. 487º, nº2), de acordo com os cuidados necessários no tráfico jurídico.
Para o lesante responder pelas consequências do facto danoso tem que ser
considerado imputável (488º). Existem ainda duas modalidades de culpa, por mera
culpa (487º) ou por dolo (com intenção). No caso concreto César é considerado
imputável pelo artigo 488º e segundo o critério do bom pai de família agiu com mera
culpa, cabendo a Daniel, lesado, o ónus da prova 487º, nº1, segundo a regra do artigo
494º.
O quarto pressuposto é o dano, o prejuízo que o lesado teve. Os danos podem ser
patrimoniais (susceptíveis de avaliação pecuniária) ou não patrimoniais (não são
susceptíveis de avaliação pecuniária, mas são indemnizáveis, desde que da sua
gravidade mereçam a tutela do direito, por força do artigo 496º, nº1, tendo nestes
caso a indemnização um carácter de compensação). Os danos patrimoniais podem
ainda ser emergentes (prejuízo que o lesado tem) ou de lucro-cessante (valores
económicos que deixaram de entrar no património do lesado, por via do dano). No
caso concreto, trata-se de danos patrimoniais emergentes, por força do artigo 564º,
foram as despesas que Daniel teve que suportar para tratar o cão, tendo assim que ser
indemnizado por força do artigo 562º.
Por fim, o último pressuposto é o nexo de causalidade entre o facto e o dano, o que
quer dizer que o facto danoso tem que ser, dentro do razoável e humanamente

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 45


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previsível, susceptível de provocar o dano sofrido. No caso concreto, o atropelamento


do cão levou ao necessário tratamento.
Assim sendo, comprova-se a ilicitude do facto.
Contudo, César é empregado de António e ia na carrinha deste fazer um serviço. Então
encontramos aqui também responsabilidade por facto de outrem.
Assim, Daniel pode optar por pedir a indemnização a António em vez de Pedir a César,
por força do artigo 500º.
Porém, para António responder pelos actos do seu comissário têm que estar
preenchidos 3 pressupostos: primeiro, tem que haver uma relação de subordinação, o
que acontece no caso concreto, César é empregado de António – António é o
comitente e César o comissário; segundo, o dano tem que ter ocorrido no exercício da
função, o que no caso concreto também acontece, pois César estava a mando de
António, na carrinha deste quando o acidente ocorreu, e, finalmente, tem que existir
uma obrigação de indemnizar por parte do comissário, que como já vimos acontece,
por força do artigo 483º.
Ora, segundo o artigo 500º e segundo a máxima “ubi commoda ibi incommoda”, o
comitente assume, independentemente de culpa sua, o risco do seu comissário causar
danos ao incorrer em responsabilidade civil e ao fica obrigado a indemnizar o lesado.
Apenas quando a obrigação de indemnizar, por efeito da responsabilidade civil, se tiver
concretizado, primeiro na pessoa do comissário, esta obrigação é assumida, a seguir,
pelo comitente em relação ao lesado.
Para o lesado, isto significa uma melhoria considerável quanto às possibilidades de vir
a ser indemnizado, pois o comitente (neste caso António) e o comissário (César)
respondem solidariamente, por força do artigo 497º, nº1, o que faz com que o lesado
(Daniel) possa pedir a indemnização a quem mais lhe convier. Normalmente será o
comitente a indemnizar. Nesse caso, o comitente que indemnizar o lesado tem o
direito de regresso, de exigir tudo quanto haja pago, segundo o artigo 500, nº3,
1ªparte, excepto se houver também culpa de sua parte, aplicando-se nestes casos o
artigo 497º,nº2.
Assim sendo, César responde extracontratualmente por factos ilícitos, segundo o
artigo 483º, e António responde por factos de outrem, segundo o artigo 500º,
existindo ainda responsabilidade solidária entre César e António, segundo artigo 500º,
nº3.

b) Geralmente, o lesado dirige-se ao comitente, porque é o que costuma estar em


melhor situação económica, mas neste caso, César está em melhor situação
económica, e se Daniel souber disso, o seu pedido de indemnização poderá ser
influenciado. Todavia se o Daniel pedir a indemnização a César, este não terá direito
de regresso sobre António, visto que o comitente não teve culpa.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 46


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Caso prático nº8

1ª parte do caso

- Contrato entre Tinta Fresca S.A. e Bernardo, para pintura de casa


- Tinta Fresca S.A. incumbe António do serviço

Prestação de serviços 1124º


TFSA B
auxiliar

Responsabilidade contratual 798ºss


Vinculo contratual existente

Violação direito relativo. A pintou da


A cor errada a casa de B

Requisitos art. 798º


- facto voluntário: a troca de tintas.
- Ilicitude: violação de um dever lateral de conduta, de cuidado com o património da
outra parte, violado o dever de cumprir o contrato com boa fé 798º; 762º, nº2 e 397º
- culpa: presunção de culpa do devedor 799º, nº1. A medida da culpa é apreciada pelo
487º, nº2, porque faz-se remissão do 799º, nº2. Segundo o critério do bom pai de
família, o pintor (A) devia ter verificado a cor das tintas e não o fez – mera culpa;
- dano: danos patrimoniais emergentes (462º);
- Nexo de causalidade: a troca de tintas ocasionou os danos resultantes de ter uma
parede de cor diferente 563º

A não estava vinculado pelo contrato. Era apenas auxiliar da TFSA, que o utilizou para o
cumprimento de uma obrigação contratual sua.
Necessário avaliar se TF pode ser responsabilizada, como se fosse ela a actuar. Para tal
é preciso que os requisitos do artigo 800º sejam preenchidos:
- acto
- danoso
- que violou um direito relativo
- praticado pelo auxiliar
- no cumprimento da obrigação
- e com culpa

Conclusão: todos os requisitos foram preenchidos, quem responde é o devedor TF,


tratando-se de uma reconstituição natural 566, nº1.

2ªparte do caso:

- António responde criminalmente pelo furto da boneca

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 47


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- Responsabilidade extracontratual – violação direito absoluto – direito de propriedade


1305º

Requisitos 483º:
- facto voluntário: apropriar-se da boneca
- ilicitude: violação do direito de propriedade 1305º
- Culpa: 488º, dolo 483º, prova da culpa feita pelo lesado 487º, nº1, dano patrimonial
emergente
- nexo de causalidade: apropriação da boneca é adequada ao dano – subtracção da
boneca ao património

António responde nos termos do artigo 483º - reconstituição natural.


Para a TF responderem é necessário que estejam preenchidos os requisitos do artigo
500º: primeiro - relação de comissão – 500º, nº1; segundo – no exercício da função –
aconteceu apenas por ocasião da função, existe apenas um nexo temporal e local
entre a função e o furto; terceiro – obrigação de indemnização.

Não podemos aplicar o artigo 500º, porque não foram preenchidos todos os requisitos.
António responde exclusivamente por responsabilidade extracontratual por facto
ilícitos.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 48


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AULA TEÓRICA 7
2011-10-31
Sumário: b) As coisas fora do comércio no sentido do artigo 202.º, n.º 2, CCiv
c) A classificação das coisas
aa) As coisas imóveis v.s. móveis; sujeitas v.s. não sujeitas a registo; funções do registo
versus escritura pública
bb) As coisas simples v.s. compostas; fungíveis v.s. não fungíveis; consumíveis v.s. não
consumíveis; divisíveis v.s. não divisíveis; presentes v.s. futuras
cc) As partes componentes » integrantes » acessórias
d) Os frutos e as benfeitorias
3. O património e a empresa (referências)
a) O património; as suas acepções (global, bruto, líquido)
[pp. 180 a 193]

AULA PASSADA

O nosso Código Civil trata os elementos da relação jurídica na Parte Geral.

2º elemento da relação jurídica – objecto


Objecto mediato – as chamadas coisa, artigo 202º, nº1
Objecto imediato: direito subjectivo e a sua respectiva obrigação

Coisa em sentido jurídico: tudo aquilo que pode ser objecto de direitos privados.

COISAS (sentido jurídico) ≠ NÃO COISAS (pessoas singulares)

Dentro do conceito jurídico Fora do sentido jurídico


202º, nº1 202º, nº2

Domínio Público Susceptíveis de apropriação


individual
Coisas que neste momento não
podem ser objecto, mas que
poderão vir a ser, caso deixem de
ser domínio público. Como são de
domínio público, não podem ser
apropriadas por particulares para
transações

Houve um decreto-lei que afectou aquela coisa ao domínio público.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 49


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Situação dos baldios: não são de domínio público (antes – CRP art. 89º, nº2CC – incluía
os baldios nos bens comunitários com posse útil. Agora art. 82º, nº4 b) – são de
domínio social. Também não são coisas dentro do comércio jurídico. Não é possível
transacionar parte do baldio – nº4 (excepto nas situações de desafectação) – nem são
de domínio público nem de tráfico negocial jurídico.

Artigo 203º: distinção entre coisa móvel e imóvel (a distinção mais importante).
A lei falhou na distinção entre coisas corpóreas e incorpóreas.
Corpórea: aquela que é apreendida pelos sentidos
Incorpórea: não se toca, nem cheira, mas é objecto de transações, pertence ao tráfico
jurídico. Ex: produtos intelectuais, música (é sujeitada aos direitos de autor: música
propriamente dita)

Artigo 204º: elenco das coisas imóveis.

Coisa imóvel: necessita de forma legal para a compra e venda. Exemplo: 875º -
escritura pública. Não há liberdade de forma.

Coisa móvel: não é preciso nada, excepto, por exemplo, na compra de um carro em
que é necessário registo.

REGISTO ≠ FORMA LEGAL

Predial Automóvel Meio que a lei determina para que


se possa transmitir o direito de
propriedade. A forma tem de ser
Serve para que se saiba quem é o observada para que se possa
proprietário, para dar publicidade. transmitir o direito de
O Estado queria saber quem é o propriedade.
proprietário do quê. Antes se Exemplo: venda de imóvel por
exigia apenas o registo dos documento particular – negócio
imóveis, porque eram as coisas jurídico considerado nulo. Não
mais importantes, mas há uma observa a forma legal, violou o
série de coisas que foram artigo 875º (é uma norma
ganhando importância, como os imperativa). Ver art. 220º
carros, as aeronaves, as quotas,
etc.

Exemplo: se vender o meu automóvel de forma oral, é possível?


Sim, o contrato foi celebrado e é considerado válido. Numa situação destas há
liberdade de forma. A mudança de registo (posterior ao contrato) nada tem a ver com
a validade do contrato.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 50


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204º a) Prédios rústicos: terrenos em que não é possível construir. Mesmo que num
campo de trigo haja um espigueiro, continua a ser prédio rústico, é um auxiliar da
actividade, é uma construção não autónoma. Um prédio rústico não é urbanizável.
Prédio urbano: terreno onde se é possível construir. É urbanizável.
Apartamento: bem imóvel, apesar da lei não o dizer.

b) Águas de nascente, poços: têm imenso valor

c) exemplo: pinheiros, macieiras (um mação pendurada numa arvore é coisa imóvel)
Vendas de colheitas que ainda não foram plantadas – vendas de coisas futuras: coisa
móvel, não precisa de documento, MAS enquanto não se colher o fruto da árvore, o
direito de propriedade não se transmite, 408º, nº2

d) Como é que é possível um direito ser objecto de direito?


B tem um prédio encravado no terreno de A , mas tem direito de passar no terreno de
A para chegar ao caminho – servidão legal.
O direito legal de passagem é inerente ao prédio. O direito legal de passagem é
objecto. Artigos 1543º, 1545º, 1546º

A
B

e) Parte integrante: coisa móvel, ligada fisicamente à coisa principal, com carácter de
permanência, prosseguindo o mesmo destino que esta, mas é distinta da parte
componente. Exemplo: elevador. Enquanto estiver ligada à coisa principal é
considerada como coisa imóvel, se a coisa principal for vendida com a parte integrante
Parte componente: aquela que compõe o edifício. Sem ela, o edifício não está
completo. Exemplo: paredes, chão portas
O regime das partes componentes e das partes integrantes é o mesmo.

Qual o critério que a lei utilizou nestes artigos para distinguir entre coisas móveis e
imóveis?

- CRITÉRIO DA INCORPORAÇÃO DO SOLO: não é possível retirar do solo sem


deterioração – coisa imóvel.
Os monoblocos privatizados (vulgo contentores) são coisas móveis.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 51


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Artigo 205º, nº2: coisas móveis sujeitas a registo

Distinção entre coisas compostas e singulares (Artigo 206º)

Coisa compostas ou universalidade de facto: pluralidade de coisas móveis, que


pertencendo à mesma pessoa, têm um destino unitário. Exemplo: rebanho de ovelhas,
colecção de moedas.
Artigo 206º, nº2: as coisas móveis que compõem a coisa composta podem ser
transaccionadas individualmente.

Distinção entre coisa fungível e infungível (207º)

Coisas fungíveis: a coisa pode substituir-se com toda a facilidade. Exemplo: saco de
batatas. Objecto de obrigações genéricas. Nestes casos a indemnização é feita por
reconstituição natural.
Coisa infungível: a coisa não pode ser facilmente substituída.

Não são só as coisas que podem ser fungíveis ou infungíveis.


As prestações também podem ser. Exemplo: pintura da casa – direito de exigir que o
pintor pinte a casa. Se for um pintor qualquer – coisa fungível. Se for um pintor
reconhecido – coisa infungível.

Se for empréstimo de uma coisa infungível, como é o caso do telemóvel: contrato de


comodato 1129º

Distinção entre coisa consumível e não consumível (208º)

Coisa consumível: cujo uso regular importa a sua destruição ou alienação. Exemplo:
maçã, tinteiro, livro numa livraria (vai-se alienar)
Coisa não consumível: livro

Distinção entre coisa divisível e não divisível (209º)

Coisa divisível: importa a alteração da substância. Se der para fraccionar, dividir e


transaccionar as suas partes.

Coisas acessórias (artigo 210º)

Não são partes integrantes.


Exemplo: contentor do condomínio – não está ligado fisicamente ao edifício. Existe
apenas uma ligação funcional. Não segue o mesmo destino jurídico da coisa principal.
Exemplo: macaco do carro.

Frutos (artigo 212º)

Algo que é produzido periodicamente sem prejuízo da sua substância.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 52


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 Naturais: macieira
 Civis (212º, nº2): mútuo oneroso: empréstimo de dinheiro – pagamento do
empréstimo com juros. A coisa é o dinheiro, o fruto são os juros.

Aspectos comuns entre frutos naturais e civis: periodicidade

As actividades extractivas cabem num conceito de fruto civil mais alargado. Não há
periodicidade e afecta a substância

Artigo 212º, nº3: coisa – coelhos produtores


Fruto – crias
Vacas: coisa
Crias: frutos apenas enquanto na condição de crias, quando substituírem o progenitor
na função, passarão a ser coisas

Artigo 216º: mantêm-se as coisas em bom estado através das benfeitorias 1273º,
1275º. Podem se necessárias, úteis e

PATRIMÓNIO

Património 1273º 1275º: conjunto dos direitos subjectivos do mesmo titular sobre
várias coisas, com valor pecuniário.
É uma universalidade de direito complexo das coisas (móveis ou imóveis) que estão
sujeitas por lei a um regime distinto dos vários elementos que as constituem e com
dívidas próprias.

Património globa (sentido amplo)l: direito mais


obrigações

PATRIMÓNIO Património bruto (sentido mais restrito): direitos (lado


activo)

Património líquido (sentido mais limitado): património


bruto -obrigações; lado activo - lado passivo.

Património global: lado activo e o lado passivo do património, o conjunto dos direitos
e das obrigações correspondentes a um titular.
Conjunto das relações jurídicas, com valor económico, isto é, avaliável em dinheiro, de
que é sujeito activo e um lado passivo. Mas só abrange as relações jurídicas
efectivamente constituídas e apenas entram no património as relações jurídicas
susceptíveis de uma apreciação pecuniária.
Esta acepção de património tem em vista quando se diz que o património de um
indivíduo falecido passa aos seus herdeiros, pois estes não sucedem só nos direitos
hereditando, mas ainda nas obrigações (dívidas).
Artigo 2024º, no contexto das sucessões.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 53


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Todas as relações jurídicas de valor patrimonial.


Artigo 2025º

Património bruto: lado activo do património, a lei abstrai das dívidas – artigo 821º
Código Processo Civil – “dívidas não pagam dívidas”. Soma dos direitos computáveis
em dinheiro que pertencem a uma pessoa – o seu activo global – abstração feita das
dívidas correspondentes. Tal é o alcance do artigo 821ºCC – só o património pode ser
objecto de execução.
621ºCC – tudo o que for susceptível de valor patrimonial.

Património líquido: aquilo que sobra. De facto, quanto vale o património. Saldo entre
a parte activa e a passiva. Apenas a soma dos direitos redutíveis a um valor pecuniário
que competem a dada pessoa, mas depois de abatido o montante de dívidas que os
oneram.
CIRE (Código Insolvência e Recuperação de Empresas). Agora insolvência é para todos.
Acontece quando o saldo há saldo negativo: quando temos mais dívidas do que
património activo.

Em qualquer uma destas acepções de património, parte-se do conceito de


patrimonialidade.

Não fazem parte do património certas qualidades de uma pessoa, as suas possíveis
oportunidades ou expectativas ou o seu crédito pessoal.
O património é assim uma unidade baseada no facto de todos os direito patrimoniais
que o compõem pertencerem ao mês o titular.
Contudo, aqueles direitos mantêm a sua individualidade, ficando cada direito sujeito
às regras para ele vigentes no que diz respeito à sua aquisição ou alienação ou
substituição.
O património como tal não é objecto de um direito subjectivo, ele é composto por
vários direitos subjectivos que, por seu lado, incidem sobre os seus respectivos
objectos de carácter patrimonial.
A característica essencial do património é a pecuniariedade.

Todos os direitos com valor pecuniário fazem parte do património da pessoa e não
importa como foram adquiridos.
Uma coisa é o património da pessoa, outra coisa é o círculo de direitos da pessoa.
O conceito de círculo de direitos é mais abrangente do que o conceito de património.

 Em que se baseia a unidade do conceito de património?

O facto de pertencer à mesma pessoa.


Não há uma regra de unidade para todo o património, porque não é uma coisa
composta. As coisas que pertencem ao património têm que ser transacionadas
individualmente.
A única excepção é a passagem do património por sucessão – testamento – transação
por bloco.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 54


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 5
2011-10-31
Sumário: Conclusão da matéria leccionada na aula anterior. Resolução do caso prático
n.º 9.
A responsabilidade civil extracontratual e contratual do Estado por actos de gestão
pública. A responsabilidade civil extracontratual e contratual do Estado por actos de
gestão privada.
Resolução do caso prático n.º 10.

Caso prático 9

1ªparte: responsabilidade contratual, porque há uma relação jurídica prévia que deu
origem a um direito relativo que foi violado.
798ºSS
Uma das partes tem obrigação de entregar a coisa.
A outra parte tem a obrigação de pagá-la.
Ver se os pressupostos estão preenchidos:
1 – facto voluntário: não entrega da encomenda
2 – ilicitude: 798º; 762º, nº1; 397º: dever negocial que foi violado – dever primário –
dever de entrega 879º b)
3- culpa: presunção de culpa 487º, nº1.
Pelo 487º, nº2: mera culpa (o 799º, nº2 faz remissão).
4 – danos: patrimoniais emergentes 564º - prejuízo de pagar o dobro
5 – nexo de causalidade 563º: a não entrega da encomenda fez o cliente pagar o
dobro.
Se o Anacleto fosse devedor tinha que responder por força dos artigos 798º ss.
Mas não, porque o contrato foi feito entre o Bom Comer e o cliente, Anacleto era um
mero auxiliar. Para ser BC a responder têm que estar preenchidos os requisitos do
artigo 800º: tem que ser um acto danoso, praticado por um auxiliar, no cumprimento
da obrigação, com culpa, havendo violação de deveres contratuais.
Todos os requisitos do artigo 800º estão preenchidos, BC responde por força do artigo
800º, sem direito de regresso sobre António, pois na responsabilidade contratual não
existe responsabilidade solidária.

2ª parte: responsabilidade extracontratual, visto que há um dano que deu origem a


uma violação de um direito absoluto – violação da integridade física art. 70º.
Não existe nenhum tipo de vinculação contratual.
483º e SS
Na extracontratual o lesado arca com o ónus da prova, tem que provar que a culpa é
do lesante.
Ver se os pressupostos estão preenchidos:
1 – facto voluntário: atropelamento
2 – Ilicitude: violação direito absoluto, violação da integridade física art. 70ºCC
3- Culpa: 483º, critério “bom pai de família” 487º, nº2 – mera culpa. 494º Anacleto é
pessoa não imputável 489º
4 – Dano: patrimonial emergente 564º - prejuízo do pagamento do tratamento
hospitalar

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 55


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

5 – Nexo de causalidade: o atropelamento levou ao pagamento do tratamento hospital


563º
Anacleto responde extracontratualmente por força do artigo 483º CC.
Mas Berto pode pedir a indemnização a BC, visto que é o comitente de A, desde que
estejam preenchidos os requisitos do artigo 500º: relação de subordinação 500º, nº1;
dano causado no exercício da função 500º, nº2 e existência da obrigação de
indemnizar por parte do comissário 500º nº3. Como tos os requisitos estão
preenchidos o restaurante pode ser chamado a responder por força do artigo 500º.
Caso responda pela totalidade da indemnização (em dinheiro 566º porque não é
possível a reconstituição natural 562º) tem um direito de regresso sobre Anacleto por
força do artigo 497º, nº2, prescrevendo o direito de indemnização no prazo de 3 anos
(obrigação civil), por força do artigo 498º, nº2.

Caso prático 10

Se a culpa for leve, apenas responde o Estado. Se a culpa for grave ou dolo responde
solidariamente o Estado e o funcionário.

Responsabilidade civil do Estado (arts 22º e 278º CRP)

1 – RC do Estado por actos de gestão privada


a) R. Contratual art. 800º (798ºss)
b) R. Extracontratual art 501º - 500º

2 – RC do Estado por actos de gestão pública


a) R. Contratual art. 325º nº4 Código dos Contratos públicos, 798º e SS
b) R. Extracontratual L 67/2007 de 31/12 alterada L nº31/2008
2.b.1) por actos decorrentes da função administrativa (art. 7º, nº1, 2, 3 e 5):
por factos ilícitos – facto, ilicitude, culpa, dano, nexo causalidade, modalidades
de indemnização, redução de indemnização, prescrição
2.b.2) por actos decorrentes da função legislativa
2.b.3) por actos decorrentes da função jurisdicional

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 56


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 8
2011-11-7
Sumário: b) As modalidades dos patrimónios separados (autónomos e colectivos)
c) A empresa (…): o conjunto organizatório » o titular » a forma jurídica » a separação
(ou não) dos patrimónios
III. Os factos jurídicos e os negócios jurídicos
1. Os factos jurídicos em geral: factos voluntários v.s. involuntários
2. A relevância da vontade (enunciado geral): factos ilícitos v.s. lícitos; actos jurídicos
em sentido amplo; negócios jurídicos v.s. actos jurídicos em sentido restrito
3. O negócio jurídico como facto jurídico voluntário
a) A vontade » o facto jurídico » os efeitos jurídicos pretendidos
b) A vontade “deficiente” » invalidade » afecta os efeitos pretendidos; As modalidades
típicas da invalidade: nulidade « » anulabilidade
c) Os efeitos de facto dos negócios nulos e anuláveis: as aparências criadas.
[texto de apoio policopiado; pp. 193 a 212]

MODALIDADES PATRIMÓNIO SEPARADO

A mesma pessoa pode ter mais do que uma massa patrimonial.


Estas várias massas distinguem-se do património geral porque têm fins próprios e
servem para efeitos especiais, como por exemplo, no âmbito da personalidade por
dívidas.
Existem complexos patrimoniais, distintos do resto do património, com escopos
específicos comuns e para efeitos especiais, nomeadamente para efeitos de
responsabilidade por dívidas. A estes complexos patrimoniais chama-se património
separado. O património separado pode aparecer em duas modalidades, não sendo
uniforme o tratamento jurídico das mesmas.

Património autónomo: duas ou mais massas


patrimoniais pertencentes ao mesmo titular e
Modalidades património separado que se distinguem do património geral

Património colectivo: património mão comum


ou mãos reunidas
Vários titulares e só uma massa patrimonial

1 – Património autónomo

Exemplo: António tem um avô com fama de ser muito rico. O avô morreu e António
recebeu como herança todo o património do avô.
Começaram a aparecer credores e António foi pagando as dívidas com a herança.
A herança é património do António, mas está separado do património geral.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 57


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Primeiro é preciso extinguir-se todas as dívidas com o património deixado pela


herança. Pelas dívidas de um património não responde o outro. Cada património paga
as suas dívidas.
No entanto, o avô tinha tanta fama que os credores não acreditaram que a herança já
tinha acabado.
A questão agora está na prova. Artigo 2071º (responsabilidade do herdeiro), como é
que se prova?
Há coisas não sujeitas a registo: jóias, dinheiro, etc. É difícil provar. O ónus da prova
fica a cargo dos credores do falecido.
Os patrimónios não deixam de estarem separados, fins diversos.
Duas ou mais massas patrimoniais entre si distintas, que pertencem ao mesmo titular.
Além do seu património geral, uma pessoa pode ter ainda outras massas patrimoniais
separadas.
A administração do património separado pertence ao único titular dos vários
patrimónios.
O património integral de uma pessoa pode ser composto por uma ou mais massas
patrimoniais, sujeitos a regimes diferente. Estas várias massas destinam-se a
finalidades diferentes.

Exemplos na lei de patrimónios autónomos:


 127º, nº2: o menor só responde com o património de sua livre disposição. Só
podem dispor da mesada, salários, etc. 127º a) a partir dos 16 anos pode-se
trabalhar: salário custou a ganhar, sabe-o como administrar. Quando se
extingue esta separação de património? Quando deixar e ser menor.

 Dotes: em 1977 foi alterado o estatuto da mulher, também se eliminou o


regime dotal. É um regime em vias de extinção (só faltam morrer as últimas
mulheres que casaram sob este regime para o regime desaparecer de vez).

 Massa insolvente: EIRE art. 81º: a pessoa não consegue cumprir as suas
obrigações, nem consegue recorrer a crédito para cumpri-las.
Exemplo: António contraiu uma nova dívida depois de ter sido declarado
insolvente, de se ter autonomizado a massa insolvente (para garantir o
pagamento aos credores). Contraiu a nova divida ao ir ao supermercado e pedir
fiado. Vai pagar esta nova divida com o seu património geral.
EIRE – a pessoa retira do seu património geral o que vai afectar ao
estabelecimento. Só vai pagar com aquele património afectado. Só o EIRE é que
é chamado. Agora, as pessoas criam uma sociedade unipessoal – forma jurídica
semelhante ao EIRE, formado por quotas. Só o montante das quotas é que
responde perante a dívida.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 58


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

2 – Património colectivo

Vários titulares e só um património.


Um único património que pertence a vários titulares globalmente, sem ser por partes.
Não há divisão das partes. Todos são titulares ao mesmo tempo, todos têm as mesmas
prerrogativas, não há quotas-partes, não podem vender a sua “parte”.
Cada uma das pessoas tem o seu património geral e depois têm o património
colectivo, autonomizado dos seus patrimónios gerais.
Um património que cabe a vários titulares aos quais pertence globalmente, estando
autonomizados dos diversos patrimónios que os titulares possuem a título individual.
A administração dos patrimónios separados pertence aos vários titulares no seu
conjunto em relação ao mesmo património colectivo.
A figura de património colectivo apresenta uma estrutura colectivística: trata-se de um
património de “mão comum”. A este respeito há quem diga que cada co-titular possui
o direito sobre o todo, embora limitado pelos direitos iguais dos outros co-titulares. O
património pertence em bloco a cada um deles.
Não pode ser confundido com compropriedade.

Exemplo: fundo comum das associações sem personalidade jurídica.


Os fundos das comissões especiais não têm personalidade jurídica. O que é diferente
de compropriedade (não é um património separado 1403º) – raiz do direito romano.
Neste caso existem vários titulares em relação ao mesmo bem, MAS cada um tem a
sua quota-parte do património. A quota-parte de cada um integra o seu património-
geral. “quota-parte do direito de propriedade”.

Exemplos no CC de patrimónios colectivos:


 Arts 195º e ss
 2102º, nº2 e 2097º - quando a herança ainda não foi dividida. Está
autonomizada dos patrimónios gerais. Pertence em bloco aos herdeiros.

Património
Património Herança geral
geral indivisível A
C Património
geral
B

 Regimes de bens quando duas pessoas se casam: existem 3 regimes diferentes.


A comunhão geral de bens, a separação total de bens e a comunhão de bens
adquiridos. Estes três regimes são formas incompletas de património coletivo.
A separação patrimonial não é completa. A lei adquiriu a comunhão de bens
adquiridos por defeito (supletivo). Aquilo que era de cada um antes de casar é
só seu, o que adquirirem depois é comum. Em principio das dividas dos dois
paga o património comum. É incompleto, porque se acabar o património
comum, cada um deles vai pagar com o património pessoal, que responde
subsidiariamente. É também incompleto porque é possível pedir

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 59


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

posteriormente a separação total de bens, mesmo o casamento não acabando.


Isto não pode fazer-se nos patrimónios colectivos completos.

Exemplos fora do CC:


 Sociedades civis e comerciais: têm autonomia patrimonial. Os credores não
podem pedir o pagamento das dívidas com o património pessoal de cada sócio.
No entanto, há sociedades em que se o património da sociedade acabar, cada
sócio pode pagar subsidiariamente – responsabilidade subsidiária.
 Sociedades anónimas: se a sociedade abrir insolvência, só perde o dinheiro das
ações. Mas se um sócio desviar dinheiro vai pagar com o seu património.

1º os frutos de uma determinada massa patrimonial pertencem em regra a essa massa


patrimonial.

2º quando cessa a base jurídica de um património separado, esse património também


deixa de existir.

Conceito de empresa

A empresa pertence às universalidades de direito.


A empresa não é um objecto de direito autónomo.
Aproxima-se do conceito de património, na medida em que ambos são, não um
simples objecto de um direito, mas uma soma de direitos, todos eles com os seus
objectos próprios. Por outro lado, o conceito é mais vasto do que o de património,
porque não se limita a direitos com valor pecuniário, mas abrange também factos,
como chances, clientela, fama, colaboradores, etc. Estes factores determinam em larga
medida a essência e o valor da empresa.
A empresa nem sequer constituiu um património separado, quando o empresário for
uma pessoa singular. Neste caso não há uma separação entre os patrimónios
empresarial e particular, existindo apenas um património. Contudo, é possível chegar a
uma separação patrimonial mediante o recurso à figura específica do estabelecimento
mercantil individual de responsabilidade limitada (EIRL).
A respeito do complexo “empresa”, deve fazer-se uma distinção entre a empresa
(conjunto de direitos, relações de pessoas e situações de facto, como unidade final-
económica e organizativa) e a forma jurídica sob a qual ela se encontra constituída e
participa no tráfico comercial. Além disso, impõe-se a diferenciação entre o “suporte
da empresa” (o seu sujeito, a entidade a quem pertence e a empresa em si).
A evolução da empresa, no sentido de ela constituir um factor autónomo mostra-se
com especial nitidez no campo do direito laboral, mas também o domínio do direito
fiscal, onde se discute a criação do sujeito tributário passivo “empresa”,
independentemente da sua forma jurídica.
É uma unidade económica organizatória, com vista a obter certos resultados
económicos. Tem interesse jurídico para o fisco, desde que haja rendimentos
tributáveis.
Não há um conceito unânime de empresa.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 60


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Distinção entre círculo de direitos e património

O círculo de direitos de uma pessoa abrange todos os direitos de um titular, tanto os


de carácter familiar, como direitos de personalidade, como os direitos patrimoniais.
Trata-se de um conceito mais amplo que o de património ou esfera patrimonial.
Compreende todo o património e ainda quaisquer outros direitos e obrigações de eu a
pessoa seja titular ou sujeito.
O património é assim uma unidade baseada no facto de todos os direitos patrimoniais
que o compõem pertencerem ao mesmo titular. Contudo, aqueles direitos mantêm a
sua individualidade, ficando cada direito sujeito às regras para ele vigentes no que diz
respeito à sua aquisição ou alienação ou substituição.

3 – Facto Jurídico. Terceiro elemento da relação jurídica

 217º a 294º: artigos relativos ao negócio jurídico


 295º: acto jurídico
 296º a 333º: repercussão do tempo nas relações jurídicas
Facto jurídico: todo o acontecimento natural ou comportamento humano que conduz
à produção de efeitos jurídicos.
Exemplo de acontecimentos naturais: morte, nascimento, decurso do tempo (caducar).

Factos jurídicos que se referem à autonomia privada


 Negócio jurídico: meio, instrumento que a lei criou e que se destina à
realização da autonomia privada.
 Actos jurídicos

Involuntário
Facto
Actos jurídicos (em sentido
jurídico Lícito restrito)
Voluntário Unilateral
Ilícito Negócio jurídico
Contrato unilateral
Bilateral
Contrato bilateral
plurilateral

Facto jurídico involuntário: não é por causa da vontade que se produzem efeitos. 296º
até 333º

Facto jurídico voluntário: aquele que é controlável pela vontade humana. Provoca
danos no âmbito da responsabilidade civil. Mesmo que a pessoa não queira os efeitos
jurídicos, a vontade é relevante para a produção do facto.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 61


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Facto jurídico voluntário ilícito: violam a ordem jurídica e porque a violam, têm como
efeito a sanção. A sanção ocorre por força da lei. A vontade não é relevante. A
voluntariedade só existe na produção do facto. O efeito produz-se
independentemente da sanção.

Facto jurídico voluntário lícito: de acordo com a ordem jurídica. Também se podem
chamar de actos jurídicos em sentido amplo.

Facto jurídico voluntário lícito – acto jurídico ou simples actos jurídicos. Acto jurídico
em sentido restrito: 295ª CC.

Facto jurídico voluntário lícito – negócio jurídico: 217º a 294ºCC. Facto jurídico
voluntário lícito em que há uma declaração de vontade privada que visa a produção de
um efeito jurídico que a ordem jurídica protege, por ter sido querido pelas partes. Os
efeitos jurídicos decorrem da vontade – efeitos volitivos. A lei protege os efeitos
porque foram queridos pelas partes. Meio por excelência para a realização da
autonomia privada.
Exemplo: contrato de compra e venda: facto jurídico voluntário lícito – negócio
jurídico.
Não é isto que acontece nos actos jurídicos em sentido restrito.
Exemplo: Mora – atraso num pagamento. Quando há mora, essa pessoa passa a
responder pelos danos moratórios.
Artigo 806º CC – juros de mora
Só a partir do momento em que o credor faz a interpelação é que o devedor entra em
mora. Não resulta apenas da lei – 805º, nº1. Às vezes faz-se essa interpelação sem se
saber o que ela provoca.
Interpelação: mora+juros – a pessoa pode nem saber disso – independente da vontade
– acontece na mesma.

Negócio jurídico unilateral: única declaração de vontade. Exemplo: testamento

Negócio jurídico bilateral: duas declarações de vontade contrapostas. Exemplo:


contrato compra e venda.

Negócio jurídico plurilateral: contratos de sociedade.

Contrato unilateral: apenas uma obrigação para uma das partes. Exemplo: contrato de
doação; contrato de comodato.

Contrato bilateral: obrigações para ambas as partes. Exemplo: contrato de compra e


venda.

Negócio jurídico

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 62


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Meio criado pela ordem jurídica para a realização da autonomia privada. Serve para
que as partes possam prosseguir os seus interesses. A lei protege estes efeitos, porque
as partes os quiseram.

 O que acontece se a vontade tiver sido mal formada?

Exemplo: A vende a B um terreno.


Contrato de compra e venda sobre bem imóvel – terreno.
874º as partes queriam transmitir o direito de propriedade. Eram estes os efeitos: 879º
a) efeitos reais; b) e c) efeitos obrigacionais do contrato.
Nos termos do artigo 875º a lei obriga a escritura pública.

O António só vendeu o terreno porque B disse que o terreno não era urbanizável. A
vendeu por um preço muito baixo.
B usou dolo (vício de vontade 253º e 254º), enganou A. A vontade não teria sido essa
se não fosse o dolo.
Este negócio jurídico vai ser afectado na sua génese.
Há duas modalidades de invalidade: nulidade e anulabilidade.
Diz o artigo 254º que este negócio é anulável.

• Qual a diferença entre nulidade e anulabilidade?

Nulidade: nenhum dos efeitos jurídicos volitivos se produz.

Anulabilidade: os efeitos produzem-se todos a título


provisório. Estão sujeitos a desaparecer quando se intentar
uma ação de anulação.

Assim B é proprietário a título provisório.

Efeitos da ação de anulação – no exemplo, o direito de propriedade volta a A.

- retroactivos
- restitutivos

Como se o negócio nunca tivesse existido. Desfaz-se o contrato.

Efeitos obrigacionais: o B devolve o terreno. O A devolve o dinheiro. (efeitos


restitutivos)
Tudo tem de desaparecer como se nunca tivesse acontecido.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 63


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Nos negócios nulos


C. compra e venda 874º
A B

Acharam melhor não fazer escritura pública.


Validade: o contrato é nulo por falta de forma legal.
É o que diz o artigo 220º. Não se produz nenhum efeito volitivo. A propriedade nunca
saiu da esfera de A. Mesmo assim as partes cumpriram as obrigações que nunca
existiram – alteração da realidade de facto. Transmissão das prestações de facto.
O António tem de intentar uma acção de declaração de nulidade – o juiz limita-se a
declarar que o contrato é nulo. Não é preciso alterá-la, porque nunca existiu. Só tem
efeitos restitutivos.
Pode acontecer que os negócios nulos produzam efeitos laterais legais – nascem por
força da lei. Eventualmente para estes efeitos poderá haver efeitos retroactivos.

vende
A B

Anulável Nulo

Proprietário B Proprietário A

Anulado

Proprietário A

O negócio é nulo quando o vício é mais grave.


O negócio é anulável quando o vício é menos grave.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 64


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 6
2011-11-7
Sumário: Aplicabilidade dos direitos, liberdades e garantias previstos na CRP (art.
18.º) nas relações de direito privado: limitações à autonomia privada. A interpretação
do art. 18.º da CRP de acordo com a sua génese e função. O art. 18.º da CRP como
regime subsidiário nas relações entre os particulares.
Casos n.º 11, n.º 12, n.º 13.

Função tradicional: protecção dos indivíduos (parte mais fraca) contra o Estado
Artigo 18º CRP vincula de forma especial certo tipo de entidades privadas

Estando os dois numa situação de paridade – regras de direito privado

Caso prático 11

Relação entre dois particulares. A empresa tem mais poder.


Se o direito privado tiver normas que acautelem esta situação, aplicam-se as normas
de direito privado.
O Código de Trabalho (direito privado) acautela estas situações – há uma norma sobre
a igualdade e não discriminação de trabalhadores ou candidatos a emprego – artigo
23º a 28º são normas que procuram concretizar o princípio da igualdade que está
previsto na CRP.
Estamos perante um caso em que as normas de direito privado são suficientes.
Fazemos apenas uma aplicação mediata da CRP, artigo13º. O Código de Trabalho
concretiza o princípio da igualdade da CRP, logo não é preciso recorrer diretamente o
artigo 18º CRP, para aplicar o artigo 13º.

Caso prático 12

A é senhorio de B. A é proprietário – direito de propriedade. B vai colocando cartazes


do seu partido na fachada do prédio e invoca o direito à liberdade de expressão.
Será que o senhorio tem que tolerar que B use parte do prédio para usos que não são
normais?
Temos um direito de propriedade e um direito à liberdade de expressão. Nós teremos
um caso de colisão de direitos? O B pode exprimir o seu pensamento sem ter de
danificar a fachada do prédio de A.
Temos dois direitos fundamentais (falar na função tradicional e renovadora).
Envolve dois particulares em situação de igualdade. Estão em causa relações jurídicas
normais entre dois particulares em situação de igualdade no tráfego jurídico negocial.
Neste caso vale o direito civil. A CRP não se aplica directamente.
Estes direitos têm idêntica importância – colisão de direitos. Nestas situações,
reduzimos os direitos de forma a não atingir o seu núcleo essencial.
Será que podemos diminuir/reduzir o direito de B sem atingir o seu núcleo essencial?
Sim, colocando os cartazes onde quiser, sem ser na fachada do prédio.
Comprimimos o direito de liberdade de expressão e mesmo assim salvaguardamos o
seu núcleo e o núcleo de A nos termos do artigo 335º CC.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 65


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Caso prático 13

A quer comprar um ramo de rosas. A florista não quer vender porque não gosta dele.
A invoca o artigo 13º da CRP.
A invoca a aplicação directa e imediata do artigo 13º da CRP, por força do artigo 18º.
No caso concreto estamos numa relação entre dois privados e regra geral aplicam-se
as normas de direito privado que concretizam as normas constitucionais fazendo uma
aplicação mediata da CRP.
Princípio da Liberdade Contratual – a Beatriz pode-se recusar a contratar com o
António – artigo 405ºCC.
Podem existir regras especiais para alguns tipos de actividade.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 66


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 9
2011-11-14
Sumário: d) A (in)validade dos negócios subsequentes aos negócios inválidos iniciais
aa) negócio anulável (» validade da aquisição provisória) v.s. n. nulo (» nulidade da
aquisição); tudo devido à regra “nemo plus iuris …”
bb) Os legitimados para pedir a anulação ou a declaração de nulidade
e) Os efeitos retroactivos e restitutivos da anulação e da declaração de nulidade entre
as partes do negócio e ainda em relação a todos os “terceiros” (artigo 289.º, n.º 1, 1.ª
parte)
aa) Os efeitos da anulação: retroactividade ? i.e. regresso do direito por mero efeito da
sentença; restituição de tudo que tiver sido prestado
bb) O “congelamento” dos efeitos retroactivos e restitutivos em relação a terceiros de
boa fé, verificados cumulativamente os pressupostos do artigo 291.º: a aquisição
provisória não fica prejudicada
cc) Os efeitos da declaração de nulidade: não há retroactividade (exceptuados os
efeitos laterais legais caso existam); mas restituição de tudo o que tiver sido prestado
dd) O direito legal relativo (art. 892.º) como “direito não prejudicado”
ee) O “aperfeiçoamento” do direito legal relativo em direito absoluto de acordo com a
boa fé do adquirente por efeito do artigo 291.º
[texto “aquisição da propriedade”; pp. 210 a 214; 588 a 594; 601 a 607]

Teste
 Pergunta teórica
 Caso prático: responsabilidade civil; coisas; direito privado/público; DLG’s.

Primeiro caso
António vende a Bernardo um terreno.
No momento da venda, António está manifestamente embriagado. No entanto, o
notário ao celebrar a escritura pública não repara.
Bernardo repara, mas nada diz.
Quem é o proprietário?

Segundo caso
A mesma venda, mas desta vez ambos estão sóbrios. Combinam entre si não ir ao
notário e celebrarem o negócio por documento particular.
Quem é o proprietário?

Primeira situação
A não tem descernimento, a vontade está viciada. O vício em causa chama-se
incapacidade acidental, que leva à anulabilidade. Incapacidade acidental 257ºCC (é
necessário explicar bem este artigo aplicado ao caso concreto). Mesmo que não seja
conhecido, mas se for notório, é anulável.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 67


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Efeitos artigo 879º (compra e venda)


a) Transmissão da propriedade (efeito real + 408º, nº1)
b) Obrigação entrega da coisa
c) Obrigação pagar o preço
B é proprietário provisório!
A intentou acção de anulação – artigo 289ºCC
Efeitos acção de anulação 289ºCC
 Efeitos retroactivos
 Efeitos restitutivos
O direito volta retroactivamente a A, por força da sentença de anulação, é automático.
Como nasceram também obrigações é também necessário restituir.
A isto chama-se uma sentença constitutiva, chama-se assim porque vem alterar a
realidade.

Segunda situação:
Existe um contrato de compra e venda 874º, de um imóvel 204º, nº1 a), entre A e B.
Como se trata de um imóvel é necessário o respeito da forma legal de celebração de
contrato, artigo 875ºCC, que não foi respeitado. Logo, o negócio é nulo, por força do
artigo 220º.
Assim, a propriedade nunca saiu da esfera de A. No entanto, eles cumpriram as
obrigações (que nunca existiram), houve prestações de facto.
Se o negócio é nulo não se intenta uma accção de anulação, mas sim uma acção de
declaração de nulidade, atigo 289ºCC.
Neste caso, só existem efeitos restitutivos, porque as partes cumpriram as obrigações
que não existiam. Os efeitos restitutivos servem para alterar a realidade jurídica.
Sentença de declaração de nulidade, é uma sentença meramente declarativa, não
altera nada, porque nunca houve nada para alterar.

(ver quadro comparativo das invalidades típicas)

Acção de anulação, para negócios anuláveis, para destruir os efeitos.


Acção de declaração de nulidade não altera nada.

SANABILIDADE

 Anulabilidade: o vício cessa. Passa um ano e um dia: já acabou o prazo, não


pode anular. O direito de anular extinguiu-se por caducidade. O direito de
anular é um direito potestativo e os direitos potestativos caducam.
O negócio anulável é sanável por três vias:
a) Convalidação objectiva: o prazo passa, caducou, o negócio torna-se válido

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 68


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

b) Convalidação subjectiva – confirmação: negócio plenamente válido depois d


eter sido sanado por confirmção. Negócio jurídico através do qual as pessoas
legitimadas para anulação prescindem de invocar a anulação, aprovando o
negócio, apesar do vício. O negócio é válido “ab inicio”
c) Anulação: efeitos retroactivos desde o início.

 Nulidade: os negócios nulos são insanáveis, não há confirmação. A única coisa


que as partes podem fazer é celebrar um novo negócio.

Caso prático
Tanto na primeira situação como na segunda, B vende terreno a César.
Na primeira, César sabe da embriaguez de António.
Na segunda, não sabe de nada.
A quem pertence agora o terreno?

Primeira
Existe um contrato de compra e venda entre B e C, art. 874º, de bem imóvel 204, nº1
a) 875º
Partindo do principio que tudo correu correctamente, qual é a validade deste negócio?
Entre B e C não há nenhum vício, logo o negócio é válido! B é proprietário (provisório),
C vai adquirir propriedade a titulo provisório – PRINCÍPIO NEMO PLUS IURIS.
O negócio é válido, produz todos os efeitos do 879º, mas há o princípio nemo plus iuris
que nos diz que ninguém pode transmitir um direito mais forte do que o que tem.

Segunda
Contrato de compra e venda entre B e C, 874º, de bem imóvel 204, nº1 a)
Necessário preenchimento de forma legal 875º, que não se verificou. Sendo o negócio
entre A e B nulo, a propriedade nunca saiu da esfera de A.
A venda realizada entre B e C é venda de coisa alheia, que é considerada nula
(principio nemo plus iuris) – artigo 892ºCC
Mas C não sabia da falta de forma, é considerado um “terceiro de boa-fé”. A lei
protege estes sujeitos.
É relevante não saber o que se tinha passado para efeitos de protecção, artigo 892ºCC.
Nas relações entre B e C tudo se passou como se fosse válido – C adquiriu um direito
de oponibilidade relativa, não adiquiriu direito de propriedade.
O problema acontece quando A intentar uma acção de declaração de nulidade.
O direito de C nasceu por força da lei, é um efeito lateral legal.
Acção de declaração de nulidade: juiz declara que A é proprietário e que as partes têm
que entregar tudo – efeitos restitutivos
Com a declaração têm que devolver os bens. Os efeitos laterais caem.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 69


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

C tem direito de oponibilidade relativa. Serve enquanto A nada disser e serve para
proteger uma cadeia de transmissões, a lei tem que estancar a queda de negócios
jurídicos 291, nº1CC(bens imóveis ou móveis sujeitos a registo).
Pressupostos artigo 291ºCC
1) Bens imóveis ou móveis
2) Direitos adquiridos sobre os mesmos bens (direitos incompativeis entre si) –
direito de propriedade e de oponibilidade relativa
3) Direitos adquiridos a titulo oneroso
4) Terceiro de boa fé 291º, nº3
5) Registo de aquisição anterior ao registo de acção de declaração de nulidade.
6) Decorridos três anos desde a data do primeiro negócio
Resultado: A perde a propriedade. C passa a ser o proprietário. O direito de
oponibilidade relativa transforma-se no direito de propriedade.
É uma aquisição “a non domino”, àquele que não era dono.
O artigo 291º neste contexto é uma excepção ao princípio nemo plus iuris.

Na primeira situação, A intentou uma acção de anulação. Se cair o primeiro negócio,


todos os subsequentes caem, porque se o primeiro desaparece como se nunca tivesse
existido, todos caem porque dependem do primeiro.
Tudo depende se C agiu com boa fé.
Artigo 291º, vendo os pressupostos, no 4º, C não estava de boa fé, sabia do vício que
inquinava o negócio – a embriaguez. Assim, tudo volta a A.

Caso

A vende a B um automóvel, porque B o enganou. Se A soubesse o verdadeiro valor do


automovel nunca o teria vendido.
A venda foi feita a 2 de Janeiro de 2008.
Em 2 de Janeiro de 2011, A descobre que fora enganado e resolve anular o negócio.
Intenta a acção de anulação em Novembro de 2011.
Contudo, já B vendera o automóvel a C, que desconhecia o ocorrido anteriormente.

2-1-2008 2-1-2011 Novembro 2011


CCV Cessação do vício A intenta acção de anulação
A-B

Entre A e B houve um contrato de compra e venda de um automóvel – bem móvel,


sujeito a registo. Este negócio é anulável por causa do vício dolo. 253º+254º - B é
proprietário a título provisório.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 70


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Entre B e C houve um contrato de compra e venda do mesmo automóvel. Este negócio


é válido. C é proprietário a título provisório, por força do princípio nemo plus iuris. 3º
de boa fé.

A ainda pode intentar a accção, porque o prazo só acaba um ano após a cessação do
vício (quando A descobriu que foi enganado), 287º, nº1. A tem legitimidade porque é o
prejudicado.

Os efeitos retroactivos e restitutivos do artigo 289º vão-se produzir em relação a A? C


fica protegido pelo 291º?
Visto todos os pressupostos estarem preenchidos, o direito de propriedade pertence a
C a título definitivo.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 71


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 7
2011-11-14
Sumário: A relação jurídica e os seus elementos.
O objecto imediato e o objecto mediato. As coisas em sentido jurídico.
Resolução dos casos práticos n.º 14, n.º 15, n.º 16.

Sujeito activo vinculação intersubjectiva sujeito passivo

Direito subjectivo Exigir – obrigação civil


Pretender – obrigação natural Dever jurídico

(Cabe no sentido mais


Direito amplo de obrigação)
Objecto
subjectivo Obrigação
mediato
(sentido lato)

Direito Potestativo - produz efeitos jurídicos - impõe-se – sujeição

garantia

Objecto
imediato

Facto jurídico: todo o acontecimento natural ou a acção humana que despoleta a


produção de efeitos jurídicos. É o elemento causal da relação jurídica

Sujeitos: pessoas entre as quais se estabelece a relação jurídica. Podem ser de dois
nknjbnjkn
tipo: activo (aquele que é titular dos direitos subjectivos) e passivo (obrigado a
respeitar os direitos de outrem).
Pessoas singulares e colectivas: sujeitos em sentido jurídico, têm personalidade
jurídica.

Objecto: aquilo sobre o qual recai o poder do sujeito activo da relação jurídica.
Imediato: conjunto de direitos e obrigações
Mediato: bem sobre que incide o direito subjectivo. É o objecto do direito. Prestação.

Garantia: possibilidade que o sujeito activo tem para impedir a violação do seu direito
subjectivo ou para re-integrar a situação correspondente aos direitos em caso de
infração. Dá efectividade ao direito subjectivo.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 72


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Artigo 202º - objecto mediato: aquilo que tem idoneidade ou aptidão para constituir
objecto de direito privado.
Fora do comércio jurídico: aquilo que é objecto do direito público: lua, chuva, nuvens,
etc

Coisa no sentido técnico-juridico: idoneidade ou aptidão natural para ser objecto de


direitos subjectivos privados.
Classificação de coisa: artigo 203º
Coisas imóveis: 204º ≠ coisas móveis. Característica distintiva: incorporação no solo.
Coisas incorpóreas: podem ser captadas pela imaginação ou representação.

Caso prático 14

Negócio de compra e venda 874º


Temos contrato quando há uma proposta e uma aceitação – acordo de vontades.
Consenso.
Artigo 232º

Efeitos do contrato de compra e venda 879º


Quando está em causa um contrato que constitua ou transfira direitos reais, existe o
princípio da consensualidade ou de transferência consensual de domínio, previsto no
artigo 408º, nº1.
A regra geral é a do Princípio da Liberdade de Forma, 219º. Mas há casos especiais.
Nesses casos, o não preenchimento de forma leva à invalidade.
Exemplo: bens imóveis 875º: escritura pública ou documento particular autenticado.

Artigo 408º, nº1: com a celebração do contrato dá-se a transferência imediata do


direito de propriedade por mero efeito do contrato.

Aquecimento: coisa em sentido técnico-jurídico. Objecto do contrato de compra e


venda.

Parte integrante: coisa móvel, ligada materialmente a uma coisa imóvel, com caracter
de permanência em função e de acordo com o fim desta. Fazem parte do prédio, 204º,
nº3
Parte componente: faz parte da estrutura do prédio, o prédio está incompleto sem ela.
O prédio é impróprio para uso se faltar a parte componente.
Coisas acessórias: coisa móvel, não constituindo parte integrante, está ao serviço
duradouro de uma coisa móvel ou imóvel. Não estão materialmente ligadas à coisa
principal, mas sim economicamente, pelo que tem ligação específica com a coisa
principal de acordo com o fim desta.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 73


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Efeitos obrigacionais: prestações


Não podem existir dois direitos reais com o mesmo conteúdo, sobre a mesma coisa.
Artigo 210º: os negócios sobre a coisa principal não afectam a coisa acessória, a não
ser que haja algum acordo.
A transferência de direitos reais (transmissão do direito de propriedade) sobre o
aquecimento só se dará quando for separado do bem imóvel a que pertence, segundo
o artigo 408º, nº2, 2ªparte.

O contrato foi celebrado. Não se transmitiu o direito de propriedade sobre o


aquecimento, mas a Lucrécia tem a obrigação de entregar e a Marta tem a obrigação
de pagar. 874º, 879º
Segundo o princípio da consensualidade, com a realização do contrato transmite-se o
direito de propriedade sobre a coisa. Ao adquirir a casa, Natália adquiriu tudo, o
aquecimento é parte integrante 204, nº1 e), estando ligado ao prédio no momento do
contrato, segue o mesmo destino.
A Marta tem apenas direito a indemnização, por força da responsabilidade contratual,
pois viu o seu contrato violado, 798ºss.

Caso prático 15

Mobília cozinha
A B
antena
A C
elevador
A ML
casa
A H

Primeira situação
A vende a B mobília. Coisa móvel – coisa acessória
O Bernardo adquiriu o direito de propriedade sobre a mobília, por força do contrato
408º, nº1. Princípio Liberdade de forma 219º.
Mas se os móveis incrastáveis, eram considerados partes integrantes.
O direito de propriedade sobre a mobília da cozinha pertence a Bernardo.

Segunda situação
A vende a C antena. Coisa móvel
Contrato de compra e venda 874º
Efeitos do contrato 879º
Antena: coisa acessória 210, nº1

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 74


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Segundo o artigo 210, nº2, António pode vender separadamente. 879ºa)


408º, nº1 transferência imediata do direito de propriedade, por força do contrato.
A antena é da Cristina.

Terceira situação
A vende ao ML o elevador
Elevador: parte integrabte 204º, nº3
204º, nº1 e)
210º, nº2 “a contrario”
408º, nº1 – princípio da consensualidade – regra geral
408º, nº2 excepção – não se transferiu o direito de propriedade – elevador continua na
esfera de António.
880º - obrigação de António levar a cabo todas as diligências necessárias para a
transmissão do direito de propriedade.

Quarta situação
A vende a H a casa – bem imóvel 204, nº1 a)
Contrato de compra e venda 874º
Efeitos do contrato 879º

Caso prático 16

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 75


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 10
2011-11-21
Sumário: f) A protecção do terceiro adquirente pelas regras do registo (v.s. artigo
407.º)
aa) A dupla disposição negocial do próprio titular a favor do terceiro
bb) A protecção do terceiro adquirente de boa fé título oneroso e gratuito
g) Os fins da lei e os conflitos de interesse relativos à protecção dos terceiros
h) As modalidades formais da transmissão da propriedade sobre imóveis
4. O tempo e a sua repercussão nas relações jurídicas
a) A prescrição;
b) A caducidade;
c) O não uso.
[texto “aquisição da propriedade”; pp. 214 a 216; 604 a 607]

Funcionamento artigo 291º CC

Negócio anulável CCV 874º


A B C

Intenta acção de anulação Proprietário a título provisório


Efeitos art. 289º: Princípio Nemo Plus Iuris – ninguém pode transmitir o que não
retroactivos e restitutivos tem, nem mais do que o que tem.
Se B só era proprietário a título provisório, C também só o vai
ser a título provisório.
Se C desconhecer o vício do primeiro negócio, tem de ser
Se o primeiro negócio cair, todos
protegido pelo art. 291º, que protege o 3º de boa fé.
os outros caem
Pressuposto art. 291º
1. Bem imóvel ou móvel sujeito a registo
2. Direitos incompativeis entre si (A: direito de propriedade; C:
direito de oponibilidade relativa)
3. Adquirido a título oneroso
4. Por 3º de boa fé
5. Registo de aquisição anterior ao registo de acção de anulação
6. Passados 3 anos após a data do 1º negócio
Neste caso, trata-se de uma aquisição a domino

Intentar uma acção: fazer entrar o processo em tribunal


Registar uma acção: depois da sentença, regista-se a decisão da mesma

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 76


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil
nulo Nulo, porque o 1ºnegócio era nulo
A B C

B nunca adquiriu a propriedade.


O negócio entre B e C é venda de coisa alheia (B vendeu o que
não tinha). O negócio de venda de coisa alheia é nulo, pelo artigo
892ºCC. Então C adquiriu direito de oponibilidade relativa (é um direito
que nasce por força da lei, e não por força do contrato, nasce ao lado
do contrato. É um efeito lateral legal). O direito de oponibilidade
relativa não é um direito absoluto, C nada pode exigir a A.
A intenta uma acção de declaração de nulidade. Tem como
efeitos, pelo 289º, efeitos restitutivos, e neste caso, como se verifica
um efeito lateral legal (direito de oponibilidade relativa) também se
vão verificar efeitos retroactivos (é uma excepção!).
Mas C precisa de ser protegido, caso os pressupostos do artigo
291º estejam preenchidos. Se forem preenchidos, C passa a ser o
proprietário, o seu direito de oponibilidade relativa alarga-se,
fortalece-se e passa a ter direito de propiedade. O direito de
oponibilidade relativa mais o artigo 291ºCC = direito de propriedade. C
agora, com o preenchimento dos pressupostos e com a consequente
protecção do artigo 291º fica protegido contra toda a gente: efeito
“erga omnes”.
Adquiriu de alguém que não tinha o direito para transmitir:
aquisição “a non domino”.
291º é uma excepção ao Princípio Nemo Plus Iuris, porque não
podia transmitir o que não tinha a C.

Ccv 874º
A B

Mas B não registou. O contrato é na mesma válido, B detém o direito de propriedade.


O registo serve apenas para efeitos de publicidade. A realidade jurídica é diferente da
realidade registral.

Ccv 874º
A BNR
Venda de coisa

Automóvel 205º
879º a)b)c) + 408º, nº1
alheia, 892º

CR

B não registou, mas detem o direito de propriedade. O registo serve apenas para
efeitos de publicidade.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 77


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Como B não registou, A fez uma segunda venda sobre o bem móvel que vendeu a B. A
vendeu a C o carro.
Este negócio é nulo! Trata-se de uma venda de coisa alheia. A já não detinha o direito
de propriedade sobre o carro.
C é um terceiro, mas para efeitos de registo predial – é uma situação triangular, o
primeiro proprietário (A) vende ao segundo (B) e ao terceiro (C). Nestes casos aplicam-
se as leis do registo.

Leis do Registo – Código Registo Predial

Artigo 1º: fins do registo – publicidade, serve para saber quem é o proprietário, o que
dá segurança oa tráfico comercial e jurídico.

Artigo 2º: a) os direitos reais têm de ser registados; b) hipoteca tem de ser registada;
m) arrendamento por mais de 6 anos tem de ser registado.

Artigo 3º: acções de anulação e declaração de nulidade têm de ser registadas

Artigo 4º, nº1: eficácia entre as partes – os factos sujeitos a registo e os seus efeitos
podem ser invocados entre as partes sem estarem registados. O código civil determina
que os efeitos trasmitem-se por força do contrato e não pelo registo. O registo não faz
nascer direitos, é meramente declarativo, serve para efeitos de propriedade.

Artigo 5º: terceiro para efeitos de registo. C é terceiro em relação a A e B, e B é


terceiro em relação a A e C.
Nº1: factos só produzem efeitos contra terceiros apenas depois do registo.
B não pode opor o seu direito de propriedade contra C, porque não registou.

Artigo 6º: prioridade do registo – o direito registado em primeiro lugar prevalece sobre
os outros.
Se C registar primeiro é o proprietário, porque o direito de oponibilidade relativa mais
o artigo 6º do Cód.Reg. Pred. = aquisição tabular.
Quando A vende a B, que não regista, e depois vende a C, que regista, é uma aquisição
a non domino.

Artigo 7º C.Reg. Pred.: o direito existe, quem lá figura é o titular do direito: a isto
chama-se presunções do registo, porque presume-se que o nome que aparece no
registo é o detentor do direito.
Quem consultar no registo, quem confiar nas presunções do registo está de boa fé.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 78


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

C nada adquiriu por força do contrato, por este ser nulo, mas é um 3ºde boa-fé,
adquiriu então um direito de oponibilidade relativa, porque confiou nas presunções do
registo, porque A continuava lá a figurar.

Há várias formas de transmissão do direito de propriedade:


 DL 255/93: contrato com recurso ao crédito. Transmissão quando se recorre ao
banco para fazer uma compra.
 DL 263-A/2007: procedimento especial de transmissão. Sistema “casa pronta”
 DL 116/2008: documento particular autenticado.
Artigo 8º a) obrigatório submeter a registo – quem não registar dentro do
prazo paga coima; c) prazo; d) incumprimento

Exemplo: António vende a Bernardo um apartamento respeitando a forma legal.


No entanto Bernardo fora enganado por António que lhe afiançou que o apartamento
estava em excelentes condições, o que não era verdade.
Bernardo não registou a sua aquisição.
António verificando que o seu nome continua a figurar no registo, como sendo o
proprietário do imóvel, decide doar o apartamento à namorada Carla.
Carla nada sabe sobre o negócio anterior.
A quem pertence o apartamento?

874ºCCV viciado de dolo –


negócio anulável
A B
Bem imóvel 204º, nº1 a)
875º

Este negócio é anulável. B é proprietário a título provisório 879º a)b)c)+408º, nº1


Artigo 1º Cód. Reg. Pred.
artigo 2º a) A continua a figurar no registo
Artigo 7º como proprietário

CCV 874º
A B
Automóvel 205º
879º a)b)c)+408º, nº1

Mas B não efectuou registo. O contrato é na mesma válido, B detém o direito de


propriedade. O registo serve apenas para efeitos de publicidade. A realidade jurídica é
diferente da realidade registral.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 79


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

A B
NR
Ccv 874º
Bem móvel 205º

Como B não registou, A fez uma segunda venda sobre o mesmo que tinha feito a B. A
vendeu o carro a C.
Este negócio é nulo. Trata-se de uma venda de coisa alheia. A já não detinha o direito
de propriedade sobre o carro.
C é um terceiro para efeitos de registo predial – é uma situação triangular.
Nas situações triangulares, o 1º proprietário (A) vende ao 2º (B) e ao 3º (C). Nestes
casos aplicam-se as leis dos registos.

Leis do Registo – Código Registo Predial

Artigo 7º cod reg pred: o direito existe, quem lá figura é que é o titular do direito: a
isto chama-se presunções do registo, porque presume-se que o nome quem aparece
no registo é o detentor do direito.
Quem consultar o registo, quem confiar nas presunções do registo está a agir de boa-
fé.
C nada adquiriu por força do contrato, por este ser nulo, mas é um 3º de boa-fé,
adquiriu então um direito de oponibilidade relativa, porque confiou nas presunções do
registo – A figurava no registo.

A B
Por doação 940ºCC, 947º,
nº1, (efeitos) 954º + 408º,
nº1
C
956º, nº1: a doação de coisa alheia é nula
C tem direito de oponibilidade relativa, está de boa-fé, confiou nas presunções do
registo art 7º e art 5º nº1 e nº4 Cod Reg Pred
Direito de oponibilidade relativa + artigo 6º = direito de propriedade = aquisição
tabular
O cod reg pred não estabelece como presusposto de aquisição que o terceiro tenha
adquirido a título oneroso.

Decurso do tempo – Facto jurídico

Produz efeitos jurídicos.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 80


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Prescrição 298º, nº1, 300º a 327º: quando decorre o prazo prescricional, o direito
subjectivo enfraquece, deixa de ser um direito de exigir para passar a ser ua direito de
pretender. Uma obrigação civil que se transforma numa obrigação natural 304º nº1 e
2.
Em regra, a prescrição aplica-se aos direitos de crédito (relativos) e não aos direitos
reais.
Tem de ser invocada obrigatoriamente pelo seu beneficiário, não opera
automaticamente 303º
Quando o prazo suspende, ele pára de correr, mas o que já passou conta na mesma.
Quando o prazo for interrompido, o prazo tem de voltar a contar desde o início 323º.

Caducidade 298º, nº2; 328º o 333º: aplica-se só a direitos potestativos.


Diferença entre prescrição e caducidade: no caso da caducidade, quando passa o prazo
o direito desaparece de todo. Ex: prazo para intentar acção de anulação. A caducidade
é de conheciment oficioso do tribunal.

Não-uso 298º, nº3: nos direitos potestativos não há prescrição, mas podem extinguir-
se pelo não-uso. Não caducam, mas aplicam-se as regras da caducidade por remissão
legal.
1476, nº1c) direito de usufruto 20 anos
1536º nº1 a) direito de superfície 10 anos
1569º, nº1 b) servidões 20 anos
1305º direito d epropriedade: não tem prazo, não prescreve, nem caduca, nem
extingue pelo não-uso. Excepção: usucapião 1287ºss

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 81


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEORICO-PRÁTICA 8
2011-11-21
Sumário: A aquisição e transmissão de direitos subjectivos. O princípio do «nemo plus
iuris...» e suas excepções.
A invalidade: o confronto entre o regime da nulidade e o da anulabilidade.
A protecção de direitos de terceiros de boa-fé conferida pelo art. 291.º do Código Civil.

O direito subjectivo está ligado a um sujeito.


A aquisição de um direito subjectivo pode-se dar através de constituição, quando o
direito subjectivo nasce “ex novo” ou através de transmissão, quando o direito já
existia.
A aquisição pode ser originária ou derivada.
A originária nasce “ex novo” na pessoa do adquirente. É o caso a non domino, do
usucapião e da ocupação.
A derivada, através de um acto de transmissão do direito, este vai passar de um titular
para outro. A aquisição derivada pode ser constitutiva, translativa ou restitutiva.
Caso seja uma aquisição derivada constitutiva estão em causa direitos reais limitados –
o direito passa apenas parcialmente para o novo titular. O direito do transmitente fica
limitado.
Na aquisição derivada translativa o direito passa totalmente para o novo titular.
Na aquisição derivada restitutiva o direito real limitado retorna ao primeiro titular,
voltando esse direito de propriedade a ser pleno.
Na aquisição derivada filia-se sempre no direito anterior, inclusive na aquisição
derivada translativa o direito transmite-se tal como ele existe anteriormente, por isso
é que falamos no princípio nemo plus iuris.

Princípio Nemo Plus Iuris

Diz que não podemos transmitir um direito que não temos, nem mais forte do que o
que temos.
3 excepções:
Aquisição a non
1 – Protecção do 3º de boa-fé pelo 291º quando há nulidade do negócio domino

2 - Protecção do 3º de boa-fé nas situações de negócio nulo, pelas regras do registo

3 – Protecção do 3º de boa-fé pelo 291º quando há anulabilidade do negócio Aquisição a domino

A B
Ccv 874º
Forma 875º
Efeitos 879º a) reais b)c) obrigacionais

O direito transmite-se com a realização do contrato – artigo 408º nº1

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 82


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O proprietário sobre o bem é B.


Mas este negócio pode estar inquinado de algum vício, pode sofrer de deficiências:
falta ou vício de vontade (a partir do 240ºss a vontade das partes em contratar ou não
está bem formada ou há falta de coincidência entre o que a pessoa quer e o que disse).
A regra para a celebração de contratos é a liberdade de forma 219ºCC, mas casos há
em que se exige forma legal. Se essa forma não for respeitada o negócio é considerado
nulo. 280ºCC

Modalidades de negócio inválido: nulidade e anulabilidade – o legislador diz


claramente quando há estas situações.

Negócio nulo: os efeitos volitivo-finais não se produzem. Todavia podem-se produzir


efeitos laterais legais. Não se produzem os efeitos que as partes queriam com a
celebração do contrato.
Setença de declaração de nulidade: sentença meramente declarativa – só vem declarar
a não produção dos efeitos jurídicos.

Negócio anulável: o negócio vai produzir os efeitos a título provisório, porque estão
sujeitos a uma acção de anulação que intentada vai destruir os efeitos
retractivamente.

A B
Contrato sob coação moral 255ºCC
Quem é o proprietário? O contrato foi celebrado, produziram-se todos os efeitos do
artigo 879ºCC e do artigo 408, nº1 – o proprietário é B a título provisório.
A intenta acção de anulação – os efeitos do contrato destroem-se retroactivamente,
como se o contrato nunca tivesse existido.
Artigo 289º efeitos da acção de anulação: efeitos restitutivos, quanto às prestações
“cada um a seu dono”; efeitos retroactivos.
A sentença de acção de anulação é uma sentença constitutiva porque altera a
realidade jurídica.
A sentença que declara a nulidade tem eficácia restitutiva, das prestações materiais
que se possam ter produzido, que foram indevidamente feitas. Altera a realidade de
facto.
Artigo 286ºCC

SANABILIDADE dos negócios anuláveis


- Confirmação - convalidação subjectiva: negócio jurídico unilateral através do qual as
pessoas legitimadas para a acção de anulação prescindem de a invocar, aprovando o

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 83


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

negócio. 288º tem efeitos retroactivos – tudo se passa como se ab inicio o negócio
válido.
- Convalidação objectiva – decurso do tempo: passa o prazo de um ano, o direito
potestativo de anular o negócio caduca.

Caso prático 17

I
a) A B C
Ccv 874º documento Escritura pública
particular

A – B: necessário preenchimento de forma legal 875º. O não preenchimento leva à


nulidade 220º
b) B – C: venda de coisa alheia 892º; 286º não produz efeitos volitivo-finais
O proprietário é A.
Escritura pública
A B
Escritura pública

O proprietário é B.
A – C venda de coisa alheia 892º nulo

A B C

A – B: coacção moral, 255º, anulável


B – C: negócio válido, só que de acordo com o princípio nemo plus iuris, o B só pode
transmitir o direito que tem. C é proprietário a título provisório.

Coação moral
Ccv 874º
A B
Anulável pelo 255º e 288º: todos os efeitos se
produzem provisoriamente. B é o proprietário a título
provisório

Venda de coisa alheia 892º -


nulo
C

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 84


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Artigo 291º - protecção do 3º de boa fé

O artigo 291ºCC protege os 3º de boa fé nas invalidades sequenciais.


A B C
nulo nulo

C, por via legal, adquiriu direito de oponibilidade relativa em relação a B. Entre B e C


vai funcionar como se o negócio fosse válido.
Nesta situação, através do 291º, o legislador vem proteger o 3º de boa fé.
Requisitos:
1 – Bem imóvel ou móvel sujeito a registo.
2 – Direitos incompatíveis entre si
3 - Direito adquirido a título oneroso
4 – Por terceiro de boa-fé
5 – Registo de aquisição anterior ao registo de acção de anulação ou declaração de
nulidade
6 – 291º, nº2 decorridos 3 prazos desde a data do 1º negócio

O 291º nº3 diz quem é o 3º de boa-fé


O artigo 291º alarga o direito relativo do 3º de boa-fé, torna-o num direito absoluto,
oponível a todas as pessoas, inclusive em relação ao ex-proprietário.
O direito de propriedade é adquirido, apesar da propriedade do primeiro (A) –
aquisição originária a non domino, por força da lei.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 85


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 11
2011-11-28
Sumário: IV. Do exercício e da tutela dos direitos (referência sumária)
1.O recurso à força própria: ação direta; legítima defesa e estado de necessidade
C. O direito subjetivo, objeto imediato da relação jurídica
I. Os interesses privados e a sua proteção; as funções do direito subjetivo
[pp. 216 a 228]

4 – GARANTIA. QUARTO ELEMENTO DA RELAÇÃO JURÍDICA

Disposições gerais: arts 334ºss


Matéria direito processual civil: 344º a 396º

334º, 335º e 340º: exercício dos direitos e dos limites a este exercício. Limites legais e
limites consensuais.
336º a 339º: tutela dos direitos com recurso à força própria.

A regra não é o recurso à força própria. A regra é o recurso aos tribunais, isto porque é
o Estado que detém o monopólio de defesa dos particulares.
Exemplo: uma pessoa viu um direito violado. Essa pessoa intenta uma acção em
tribunal contra a pessoa que violou o seu direito, para ver ser declarada que tem
razão. Esta é a primeira acção.
A segunda acção – executiva: penhorar os bens da outra parte para pagar os direitos
da parte com direitos violados.
Para as pessoas que não tenham meios económicos, para o fazer, existe um DL que
estabelece o acesso aos tribunais para quem não tem capacidade económica.
Património judiciário para o advogado.
Apoio judiciário para os custos.
Em situações excepcionais, o código civil permite aos particulares o recurso à força
própria para garantirem os seus direitos.

Recurso à força própria como garantia de direitos

- Acção directa
- Legítima defesa
- Estado de necessidade

I caso: beatriz passeava na rua quando viu dentro de uma carro a sua carteira, que lhe
fora furtada acerca de meia hora atrás. Receando que o condutor aparecesse e fosse
embora enquanto chamava a polícia, partiu o vidro do carro e apropriou-se da sua
carteira.
O dono do carro pretende ser ressarcido dos danos. Quid iuris?

II caso: um transeunte que atravessa a rua é violentamente atacado por um


doberman, que sai inesperadamente de uma vivenda.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 86


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O transeunte mata o cão utilizando a bengala de cabo d eprata de um idoso abastado


que ia a passar.
Tanto o dono do cão, como o dono da bengala pretendem uma reparação. Quid iuris?

III caso: césar saiu do cinema à noite, quando se apercebeu que o casal que seguia à
frente discutia a viva voz. A dada altura, o homem, que estava embriagado, começou a
agredir violentamente a mulher.
César interveio de imediato, mas só conseguiu para o agressor depois de o esmurrar
com violência.

Quem age em legítima defesa (337º) ou em acção directa (336º) não tem que
indemnizar.
Se os seus pressupostos estiverem preenchidos, a lei não prevê indemnização.

I caso: acção directa 336º.


Se não estiverem preenchidos os pressupostos, a pessoa terá de indemnizar, apenas se
o erro não for desculpável. 338ºCC
Pressupostos
 direito que esteja a ser violado
 recurso à força própria com o fim de realizar o fim do próprio direito
 assegurar o próprio direito (não pode assegurar o direito de outrem.
 Tem que ser indispensável. Impossibilidade de recorrer aos meios coercivos
normais em tempo util
 O agente não pode exceder o necessário para evitar o prejuízo –
proporcionalidade
 Não pode sacrificar interesses superiores aos seus

II caso: estado de necessidade 339º


Pressupostos
 Perigo
 Actual
 Dano manifestamente superior
 Direito próprio ou de outrem

2 tipos: defensivo (destruindo a fonte do perigo) e ofensivo (no exemplo – usar a


bengala, destruiu-a para afastar o perigo. Utilizamos coisa alheia e danificamos para
afastar o perigo) Artigo 339º, nº2

III caso: legítima defesa 337º


Pressupostos
 Agressão (humana)
 Actual (tem que estar a decorrer)
 Contrária à lei – ilícita
 Necessidade de defesa

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 87


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 Contra a pessoa ou património


 Proporcionalidade da defesa

Contra a pessoa
Agressão Contra o património
Contra terceiro ou património de
terceiro
César agiu em legítima defesa de terceiro e houve proporcionalidade.

Pontos comuns

 Em todas estas figuras é necessário agir


 Na legítima defesa e no estado de necessidade, a agressão ou o perigo têm de
estar a decorrer no momento

Diferenças

 Na legítima defesa há maior margem de manobra


 Na ação directa só é possível salvaguardar o próprio direito e não o de
terceiros, ao contrário do que acontece no estado de necessidade e legítima
defesa
 No estado de necessidade nunca há uma agressão
 Na legítima defesa pode-se agir em defesa da pessoa como em defesa do
património

DIREITOS SUBJECTIVOS

Objecto imediato da relação jurídica.


A atribuição de um direito subjectivo a um particular permite-lhe prosseguir os seus
interesses.
Mas não é o único meio.

Direito subjectivo

Direito Subjectivo

Públicos
Interesses legalmente protegidos
particulares
 Interesses particulares
 Expectativas jurídicas

o Meros reflexos
o Meras expectatias

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 88


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Direito subjectivo: expressão de uma posição fortalecida ou de uma atribuição estável


e duradoura.

Interesse legalmente protegido: para que o direito não seja anti dinâmico. A lei não
protege unicamente direitos subjectivos. Há também situações em que protege o
interesse. 483, nº1CC
Tratam-se de leis que visam directamente a protecção de interesses da comunidade, e
também interesses particulares sem que estes sejam tutelados por direitos
subjectivos. Neste caso, nenhum particular possuiu a faculdade de poder exigir que os
outros cumpram determinada lei (exemplo: vacinação). Mas se do seu incumprimento
resultar um prejuízo para um particular, o infractor da lei terá de indemnizar.
A este contexto também pertencem as normas que protegem apenas interesses
particulares, mas não chegam a atribuir um direito subjectivo, para não ferirem um
outro interesse particular mais qualificado. 1391ºCC

Mero reflexo de um direito pertencente a outrem: diferente dos interesses legalmente


protegido. A estes reflexos, a lei não dispensa proteção nenhuma.

Expectativas: não são protegidas por lei. Excepção art. 81º, nº2; 242º, nº2CC

 Expectativa jurídica ou direito em expectativa: posição do comprador de uma
coisa vendida sob reserva de propriedade (arts 409º e 934º) ou a situação do
fideicomissário de uma herança (art 2286ºss). Aqui já começou um pouco do
processo aquisitivo, acautelado por lei, com a atribuição de direitos subjectivos
à semelhança do que sucede em casos de aquisição de direitos sob condição
suspensiva (272º a 274º). Quando se verificarem os pressupostos legais, o
direito em expectativa concretiza-se na aquisição plena do direito subjectivo.

 Contratos de opção: autêntico direito subjectivo. Aqui, o contrato está


perfeitamente concluído, dependendo a produção dos seus efeitos do exercício
unilateral do direito de opção por parte de uma dos intervenientes no contrato
dentro de certo prazo.

 Direitos de preferência 414ºss, 1409º, 1410º: nada se consubstanciou na


pessoa do preferente, visto o exercício do direito ser da parte dele meramente
virtual.
O direito de preferência é um direito concedido ao seu titular, o preferente, ou
por contrato ou por lei, tendo este direito efeitos meramente latentes, ainda
não autonomizados. A sua efectivação depende de dois factores:
 Conclusão prevista de um contrato de compra e venda entre um sujeito
à preferência e um terceiro.
 Exercício unilateral e aparazado do direito de preferência pelo
preferente.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 89


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Noção de direito subjectivo; aspectos evolutivos; funções

Os direitos subjectivos traduzem-se num poder conferido ao seu titular, que determina
aquilo que o titular do direito pode exigir ou pretender de outrem, ou define os efeitos
que ele pode produzir na esfera deste. O titular do direito subjectivo enfrenta outros
sujeitos aos quais cabem as obrigações que correspondem precisamente ao direito do
titular.
Os poderes que os direitos subjectivos atribuem são muito diferentes.
Exemplos: 762º, nº2; 763º, nº2; 827º e 828º; 1305º; 1677º; 1795º, nº2; 1886º; 1896º;
2075º, nº1
Estes poderes ou faculdades determinam o conteúdo do respectivo direito subjectivo,
aquilo que compete ou pertence ao seu titular.
O conteúdo dos direitos subjectivos pode comportar também certos deveres, os
chamados “poderes-deveres”, onde para além do poder do titular existe também um
interesse de um outrem, por isso as autoridades públicas competentes intervêm
quando os titulares dos poderes-deveres não os exercem de maneira adequada.

Além do seu conteúdo, o direito subjectivo tem também um objecto, ou seja, coisas
em sentido jurídico sobre que recaem os seus poderes característicos.
Mas pode acontecer que o direito subjectivo não tenha um objecto. É o caso dos
direitos de personalidade, dos direitos familiares pessoais, dos direitos potestativos.
Mesmo que o direito não tenha objecto, há-de ter sempre conteúdo.
De forma semelhante, como o direito subjectivo incide sobre um objecto, está-lhe
subjacente um interesse que o justifica. O poder do direito subjectivo é o seu aspecto
estrutural.
O direito subjectivo também tem o seu lado funcional. Este aspecto funcional abrange
a protecção jurídica dos interesses do sujeito do direitoe, com isso, da sua liberdade
individual como ser auto-determinado.
A ordem jurídica confere o direito subjectivo tendo em conta o interesse do titular; o
interesse é uma razão em virtude da qual a lei atribui esse poder. Mas, uma coisa é o
direito subjectivo em si mesmo, outra coisa é o interesse para cuja protecção tal
direito foi concedido. O interesse constitui o móbil do direito subjectivo, mas não faz
parte dele. Não diz respeito à sua estrutura, apenas se refere à sua função. É uma
função do direito subjectivo proteger o interesse.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 90


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AULA PRÁTICA 9
2011/11/28
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior.
Resolução dos casos práticos n.º 17.º I/II e n.º 18.

Caso prático 17

I
a) Amâncio e Berto celebraram um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo
objecto mediato é um terreno, ou seja, bem imóvel, artigo 204º nº1 a) CC. Como tal é
necessário que o contrato se celebre respeitando a forma prevista, ou seja por
escritura pública ou documento particular autenticado, artigo 875ºCC.
Tal não foi respeitado, logo o negócio é nulo, por falta de preenchimento de forma
legal, artigo 220ºCC.
Sendo nulo, nenhum dos efeitos volitivo-finais do artigo 879ºCC se vai produzir, assim
sendo, a propriedade não sai da esfera de Amâncio.

b) Berto nunca possuiu o direito de propriedade sobre o terreno, logo nunca o podia
vender. Segundo o princípio nemo plus iuris, não se pode transmitir um direito que
não se tem.
Assim sendo, o contrato de compra e venda sobre o terreno, realizado entre Berto e
Carlos é uma venda de coisa alheia, e por isso nulo, artigo 892ºCC.
Assim, Carlos não adquire nenhum direito por força do contrato, porque Berto
também não tinha nenhum direito para lhe transmitir.
Contudo, Carlos estava de boa-fé, visto que estava na total ignorância do vício que
inquinava o negócio anterior, por isso, por força da lei, adquiriu um direito de
oponibilidade relativa, artigo 892º, 2ªparte.
Em janeiro de 2004, Amâncio intentou uma acção de declaração de nulidade, artigo
289ºCC, que tem efeitos restituivos, visto que se cumpriram obrigações, sendo assim
necessário restituir o terreno a Amâncio, e neste caso, como se verifica um efeito
lateral legal (direito de oponibilidade relativa), a acção de declaração terá também
efeitos retroactivos, o direito de propriedade volta retroactivamente a A.
Contudo, Carlos pode não ser atingido pela sentença de declaração de nulidade, caso
esteja protegido pelo artigo 291º, e para tal é necessário que os requisitos desse artigo
estejam todos preenchidos cumulativamente.
Tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se de um
terreno, logo bem imóvel]; têm de estar em causa direitos incompativeis entre si [A
tem o direito de propriedade e C o direito de oponibilidade relativa]; o direito tem de
ser adquirido a título oneroso [Carlos adquiriu o terreno através de um contrato de
compra e venda, que é um negócio oneroso]; direito adquirido por 3º de boa fé [como
já visto, Carlos estava de boa fé]; o registo do direito pelo terceiro tem de ser anterior
ao registo da acção, neste caso, de declaração de nulidade [Carlos registou o seu

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 91


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direito em 2000 e Amâncio a acção em 2004]; decorridos 3 anos desde a celebração do


primeiro negócio [o primeiro negócio foi realizado em 2000 e só em 2004 Amâncio
vem exigir a restituição do terreno].
Assim, estando os pressupostos todos preenchidos, C passa a ser o proprietário do
terreno, o seu direito de oponibilidade relativa fortaleceu-se e transformou-se em
direito de propriedade.
Verifica-se aqui uma excepção ao princípio nemo plus iuris.
Trata-se de uma aquisição originária, a non domino, “ex novo” na pessoa de Carlos.

II
a) A 7 de novembro de 2000, Amâncio celebrou com Berto um contrato de compra e
venda, artigo 874ºCC, cujo objecto mediato é um terreno, ou seja, bem imóvel, artigo
204º nº1 a), e por isso sujeito a registo, respeitando a forma legal, prevista no artigo
875º, nº1CC.
Este negócio foi celebrado sob coacção moral, 255º, sendo por isso anulável, artigo
256ºCC.
Sendo anulável, todos os efeitos volitivo-finais do artigo 879ºCC vão-se produzir
temporariamente, estando sujeitos a uma acção de anulação, art. 289ºCC. Assim, dá-
se a transmissão da propriedade por mero efeito do contrato [879º a) e 408 nº1]
(efeito real), A tem a obrigação de entregar a coisa [879º b)] e B tem a obrigação de
pagar o preço da coisa [879º c)] (efeitos obrigacionais).
Assim, Berto torna-se proprietário a título provisório.
Amâncio pode intentar uma acção de anulação, porque é a pessoa em quem a lei
estabelece interesse, apenas dentro de um ano, após a cessação do vício, artigo 287º.
A anulabilidade pode ser sanada através de três vias, convalidação subjectiva,
convalidação objectiva e anulação, artigo 288ºCC.
Esta acção tem efeitos retroactivos (o direito de propriedade volta retroactivamente a
A) e restitutivos (como se cumpriram obrigações, é necessário restituir a propriedade e
o dinheiro), tratando-se de uma sentença constitutiva, artigo 289ºCC.
O negócio foi celebrado em 2000,o vício cessando em Maio de 2005, Amâncio tinha
até Maio de 2006 para intentar a acção de anulação. Amâncio intentou a acção em
Dezembro de 2005, dentro do prazo estabelecido.
Assim, a propriedade volta a Amâncio como se nunca tivesse saído da sua esfera.

b) Em maio de 2001, Berto celebrou com Carlos um contrato de compra e venda, sobre
o mesmo terreno que tinha comprado a António. Entende-se que este negócio
respeitou a forma legal prevista no artigo 875ºCC, pois só assim Carlos poderia ter
registado o seu direito. Assim, o contrato é válido e todos os efeitos do artigo 879ºCC
se vão produzir.

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Não obstante, segundo o princípio nemo plus iuris, Berto não pode transmitir mais
direitos do que aqueles que tem, assim, apenas transmitiu a Carlos um direito de
propriedade a título provisório.
Carlos é assim proprietário, a título provisório, do terreno, procedendo de imediato ao
registo do seu direito.
No entanto, Amâncio em Dezembro de 2005 pretende reaver o terreno. Com esta
acção, retroactivamente o negócio B-C que era válido torna-se numa venda de coisa
alheia e por isso nulo, extinguindo-se assim o direito contratual a título provisório de C.
Carlos, que desconhecia as irregularidades do negócio anterior, só não será afectado
pelos efeitos da acção de anulação, caso esteja protegido pelo artigo 291ºCC e para
tal, como já referido, é preciso que os seus requisitos estejam preenchidos
cumulativamente.
Tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se de um
terreno, ou seja, de um bem imóvel]; têm de estar em causa direitos incompatíveis
entre si [A tem o direito de propriedade e C o direito de oponibilidade relativa]; tem de
ser um direito adquirido a título oneroso [Carlos adquiriu o bem através de um
contrato de compra e venda, que é um negócio oneroso]; direito adquirido por
terceiro de boa fé [como já visto, Carlos estava de boa fé 291º, nº3]; o registo de
aquisição do terceiro tem de ser anterior ao registo da acção, nesse caso, de anulação
[Carlos registou o seu direito em 2004 e Amâncio a acção em 2005]; têm que ter
decorrido 3 anos desde a realização do primeiro negócio [o primeiro negócio foi
realizado em 2000 e Amâncio só em 2005 veio exigir a restituição do terreno, 5 anos
após a realização do negócio, 291º, nº2CC]
Com todos os requisitos preenchidos, Carlos torna-se o proprietário do terreno. Trata-
se de uma aquisição derivada a domino.

c) Se se tratasse de doação, artigo 940ºCC, Carlos não estaria protegido pelo artigo
291ºCC, visto que a doação não é um negócio oneroso, e para alguém ser protegido
pelo 291º todos os requisitos têm de estar cumulativamente preenchidos, e no caso da
doação, o terceiro requisito não se preencheria.
Assim, o direito de propriedade voltaria para a esfera de Amâncio, cumprindo-se todos
os efeitos da acção de anulação.

Caso prático 18

Em janeiro de 2000, A celebrou com B um contrato de doação, artigo 940ºCC, cujo


objecto mediato é um automóvel, portanto, bem móvel, artigo 205ºCC, sujeito a
registo, artigo 2º, nº1 a) Cód Reg Pred.
A doação de coisas móveis, segundo o artigo 947º nº2, não depende de formalidades
na realização do contrato, quando é acompanhado da tradição da coisa doada.
O contrato em questão foi celebrado com dolo, artigo 253ºCC, sendo por isso o
negócio anulável, artigo 254ºCC.

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Sendo anulável, todos os efeitos volitivo-finais do artigo 954ºCC se vão produzir


temporariamente, visto que estão sujeitos a uma acção de anulação que os venha a
destruir retroactivamente, 289ºCC. Assim dá-se a transmissão da propriedade por
mero efeito do contrato [artigo 954º a) e 408º nº1], A tem a obrigação de entregar a
coisa [954º b)] e B recebe a coisa [954º c)].
Assim B torna-se o proprietário a título provisório por via contratual e A deixa de ser o
proprietário.
Logo a seguir, B realizou com C um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo
objeto mediato era o mesmo do negócio anterior.
Como se trata de bem móvel, existe liberdade de forma, art. 219ºCC.
Este negócio não sofre de qualquer invalidade, assim, sendo válido produz todos os
efeitos volitivo-finais do art.879º, dá-se a transmissão da propriedade por mero efeito
do contrato [artigo 879ºa) e 408º nº1CC] (efeito real), B tem a obrigação de entregar a
coisa [879º b)] e C tem a obrigação de pagar o preço da coisa [879ºc)] (efeitos
obrigacionais).
Contudo, o princípio nemo plus iuris diz-nos que ninguém pode transmitir direitos mais
fortes do que aqueles que tem, pelo que B, proprietário a título provisório, só pode
transmitir a C uma propriedade a título provisório.
O automóvel acaba por pertencer a C, que adquire por via do contrato, um direito a
domino, mas a título provisório.
O facto de C desconhecer com culpa a anulabilidade do negócio não releva para que
ele possa adquirir, releva apenas para saber se ele pode ficar com o adquirido, nos
termos do artigo 291ºCC.
O vício que inquinava o negócio entre A e B cessou em 2004, e A quer recuperar o
automóvel.
Segundo o artigo 287ºCC, A tem legitimidade para intentar uma acção de anulação,
pois é o legítimo interessado, dentro do prazo de um ano após a cessação do vício, ou
seja, tem até 2005 para intentar a acção. Se a acção for procedente terá como efeitos
retroactivos o retorno do direito de propriedade a A por mero efeito da sentença, e
terá como efeitos restitutivos, o bem voltar a A. Consequentemente, caindo o negócio
entre A e B, em princípio o negócio entre B e C também cairá e assim, o negócio B-C,
que era válido, tornar-se-á venda de coisa alheia, e por isso nulo.
Contudo, C como terceiro pode ficar protegido dos efeitos da acção de anulação, pelo
artigo 291ºCC, desde que os seus pressupostos estejam todos cumulativamente
preenchidos. Tem de se tratar de um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se
de um automóvel, por isso bem móvel sujeito a registo]; têm de estar em causa direito
incompatíveis entre si [A tem o direito de propriedade e C o direito de oponibilidade
relativa]; o direito tem de ser adquirido a título oneroso [C adquiriu o bem através de
um contrato de compra e venda, que é um negócio oneroso]; direito adquirido por 3º
de boa fé [C desconhecia o vício, mas desconhecia com culpa, isto é, desconfiava do
que se tinha passado, por isso não se pode considerar que tenha agido de boa fé.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 94


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Assim este pressuposto não se encontra preenchido]; o registo de aquisição pelo


terceiro tem de ser anterior ao registo da acção, neste caso, de anulação [C registo o
seu direito em 2000 e A só registou a acção em 2004]; têm de ter decorrido três anos
desde a realização do primeiro negócio [o primeiro negócio foi realizado em 2000 e só
em 2004 A veio exigir a restituição do carro, mais de 3 anos depois].
Assim, como não foram preenchidos todos os pressupostos, C não vai ficar protegido
pelo artigo 291ºCC, retornando assim a propriedade a A.

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AULA TEÓRIA 12
2011/12/05
Sumário: II. Os vários direitos subjectivos e os critérios de classificação
1. Os direitos absolutos
a) Os direitos reais como direitos de domínio e/ou de exclusão
2. Os direitos relativos
a) Os direitos obrigacionais como direitos a uma prestação
b) O conflito de prioridade entre direitos obrigacionais em geral
c) O conflito de prioridade entre direitos pessoais de gozo (artigo 407.º)
3. Os direitos potestativos
a) As características dos direitos potestativos e suas modalidades
b) O exercício dos direitos potestativos
c) Direitos potestativos v.s. direitos oponíveis
4. Os direitos familiares pessoais
a) Referência aos direitos familiares patrimoniais
b) A estrutura complexa dos dir. familiares pessoais.
[textos policopiados; pp. 228 a 257]

Evolução do conceito de direito subjectivo

No século XIX era preponderante a ideia de que o direito subjectivo servia para criar
um espaço de liberdade para prosseguir os seus interesses como quisesse. Mais, neste
século foi considerada tarefa principal do direito privado respeitar este mesmo
indivíduo como personalidade autónoma ao garantir juridicamente o seu livre
desenvolvimento dentro da sociedade. Assim colocou-se o indivíduo no topo do
sistema jurídico-privado, atribuindo-lhe os direitos subjectivos como “espaço de
liberdade”.
O direito subjectivo era, tal como a liberdade contratual, um meio destinado à
autodeterminação do indivíduo livre.
Deste modo, o conceito de direito subjectivo formava o conceito central do direito
privado, e a ordem jurídica, o direito objectivo, apenas servia para atribuir aos
particulares direitos subjectivos.
Estes conceitos foram evoluindo e o entendimento individual do direito subjectivo,
como direito do homem isolado, foi caindo no oposto com a crescente socialização do
direito privado. Na verdade, tende a considerar estes direitos isoladamente, sem
atender em pormenor aos contextos sociais nos quais estão inseridos – Função Social.
Hoje entendemos que o direito subjectivo (meio para prosseguir os interesses dos
particulares) tem que estar vinculado socialmente. O seu poder não é ilimitado.
O conteúdo de um direito subjectivo determina-se de acordo com os poderes ou as
faculdades que os integra, sendo evidente que àqueles poderes ou faculdades falta a
autonomia, uma vez que se limitam precisamente à definição do conteúdo do direito.
É por isso necessário distinguir faculdades, poderes e legitimidades.
Exemplo: artigo 405º Princípio Liberdade Contratual – confere no seu número 1 a
“faculdade” de celebrar contratos, e no seu número 2 o “poder” de reunir nele as
regras pretendidas – a faculdade deriva da liberdade geral de agir que cada um de nós

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tem, mas só depois de a exercermos é que adquirimos o direito, só depois é que


nascem relações jurídicas.
Artigo 1689º: reconhece aos nubentes o poder de fixar o seu regime de bens

Para além dos poderes ou faculdades, aparece-nos em muitos preceitos a expressão


“legitimidade” – expressão com efeitos processuais: a posição de invocar, por via
processual, um direito, ou seja, a possibilidade de ser parte no processo cível. É um
pressuposto processual e como tal pode ou não coincidir com a titularidade do direito
subjectivo, caso em que se verifica a chamada “legitimação substancial”, ou seja, o
direitos subjectivo pode existir numa pessoa e a legitimação noutra pessoa.
Exemplo: menor
Mortos (direitos de personalidade das pessoas já falecidas, quem vai ter legitimidade
para intentar a acção para salvaguardar estes direitos do falecido são os familiares
artigo 71º, nº2
Artigos 286º e 287º: legitimidade para invocar a nulidade ou anulabilidade de um
negócio jurídico
Artigo 976º: legitimidade para a acção de revogação por ingratidão do donatário
Artigo 1785º: legitimidade para acção de divórcio
Artigo 1839º: legitimidade para impugnar a paternidade
Ainda devem ser mencionadas, quase como constituindo uma espécie de “correctivo”
aos poderes e faculdade que definem o conteúdo do direito subjectivo, certas
incumbências, ónus ou encargos, “obrigações para consigo próprio”, do titular do
direito subjectivo. Este conceito foi desenvolvido através do conceito dos seguros.
Trata-se de um ónus imposto ao próprio titular no sentido de cuidar dos seus
interesses sob pena de poder sofrer desvantagens jurídicas. Mas não são deveres
jurídicos.
Exemplo: A vende a B. B não regista, corre o risco de perder o direito de propriedade
para terceiro.

Os vários direitos subjectivos: classificação

Os direitos subjectivos podem ser classificados de acordo com vários critérios:

a) Bem jurídico que lhes subjaz (direito que protegem) ou o objecto em que
incidem: direitos familiares, direitos de personalidade, etc
b) Poderes ou as faculdades que eles concedem, ou seja, em função do conteúdo:
direitos de crédito, direitos potestativos, direitos de domínio, etc.
c) Alcance da sua oponibilidade ou dos efeitos em relação a terceiros: direitos
absolutos ou direitos relativos
d) Facto jurídico que está na sua origem: direitos originários (“ex novo” na pessoa
do seu titular) ou direitos derivados (derivam de outros direitos subjectivos)
e) Mobilidade do direito subjectivo ou a sua ligação ao titular: transmissiveis
(podem passar de um titular para outro – patrimoniais) ou intransmissiveis
(direitos familiares pessoais)

Os critérios adoptados no manual são os critérios dos efeitos ou da capacidade da


oponibilidade em relação a terceiros para classificar os direitos subjectivos. Estes

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 97


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critérios são completados com o recurso às outras perspectivas em ordem a evitar


uma visão unidimensional.

1 - Direitos reais

O critério dos efeitos em relação a terceiros dividiu o direito em direito reais.


Os direitos reais são direitos absolutos e como tais opníveis a todos os terceiros,
possuem efeitos “erga omnes”, correspondendo-lhes assim uma “obrigação
passiva universal” de os respeitar. Na medida em que conferem a posse
constituem também direitos de domínio.
Os direitos reais concedem aos seu titular o direito de os fazer valer onde quer que
eles se encontrem.
Atendendo ao conteúdo e à função, os direitos reais podem ser divididos em:

1. Direitos reais de gozo: a maior parte dos direitos que conhecemos.


Exemplo: direito de propriedade, 1305º
Permitem usufruir de um determindao bem. Direitos de domínio, permitem
utilizar a coisa. Conferem a posse em relação a determinado objecto.

2. Direitos reais de garantia: destinados a tornar seguro um direito de crédito


mediante a satisfação do credor pelo valor dos bens por ele abrangido e
como tais acessórios à existência deste, podendo conferir a posse ou não.
o clássico direito real de garantia, o penhor, pressupóe a posse da coisa
móvel penhorada por parte do credor. Artigo 666ºCC.
Pelo contrário, a hipoteca, deixa a posse nas mãos do devedor, mas
pressupões o registo. Arts 686º a 688ºCC.

3. (direitos reais de aquisição)

Todos os direitos reais têm uma caracterítica comum, a exclusividade. São direitos de
exclusão na medida em que afastam todos os terceiros. Não pode haver dois ou mais
direitos reais com o mesmo conteúdo sobre o mesmo objecto a favor de pessoas
diferentes.
No entanto, pode haver direitos reais com conteúdos diferentes sobre o mesmo
objecto, como pode haver também direitos reais e direitos obrigacionais sobre o
mesmo objecto.
Exemplo: direito de propriedade e a hipoteca; arrendamento
O caracter de exclusividade dos direitos reais tem expressão legal. Assim determina o
artigo 892º, é nula a venda de coisa alheia, pois é impossivel haver dois proprietários,
com plena propriedade quanto à mesma coisa.

1.1. O direito real de gozo mais importante é o direito de propriedade 1302º e


1305º que pode incidir sobre coisas móveis e imóveis. É um direito sobre uma coisa
própria, constituindo modalidades especiais do mesmo:
o Propriedade horizontal: limitada a uma parte juridicamente autonomizada
de um prédio urbano. Exemplo: apartamento

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 98


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o Compropriedade: vários titulares dividem-se, segundo as respectivas


quotas, no direito de propriedade sobre a mesma coisa
o Propriedade mão-comum: um conjunto de titulares exerce, como colectivo,
o direito de propriedade sobre uma coisa que lhes pertence em comum.
Exemplo: herança indivisa, baldios
O direito de propriedade é um direito real pleno, sendo possivel autonomizar
partes que leva à criação de direitos reais limitados: usufruto, 1439º; direitos
de uso e habitação, 1484º; direito de superficie, 1524º; servidões prediais,
1534º; direito real de habitação periódica.
Estes direitos tratam-se de parcelas da propriedade e, como esta representa o
direito real pleno de “direitos reais menores”, de direitos reais limitados.
Nos direitos reais limitados encontramos mais exemplos para o mesmo objecto
a fovaor de vários titulares: o conteúdo do direito de propriedde fica limitado
ou reduzido de acordo com a extensão do respectivo direito real menor.
No caso da extinção de um direito real limitado, a propriedade, de que
constitui um fracionamento, readquire sem mais o seu conteúdo anterior à
constituição do mesmo, na pessoa do proprietário.

Em relação a todos os direitos reais existe um “numerus clausus”, expresso no artigo


1306º. O tráfico jurídico conta com clareza e certeza quanto a este tipo de direitos,
certeza essa completada pelo princípio da publicidade, que exige, em relação a
terceiros, a posse ou registo dos direitos.

Os direitos sobre bens imateriais não são direitos de propriedade em sentido próprio,
visto não incidirem sobre coisas corpóreas.
Para as coisas incorpóreas há regimes especiais. Este regime especial encontra-se nas
disposições do Código de Direito de Autor e no Código de Propriedade Industrial.

2 – Direitos obrigacionais

Os direitos obrigacionais são direitos relativos, produzem efeitos “inter partes” e são
oponíveis apenas entre determinadas pessoas. Não conferem um poder de domínio,
mas um direito a uma prestação, a um comportamento activo ou passivo.
A obrigação pode resultar de um contrato, de um comportamento unilateral e da
própria lei.
Os direitos obrigacionais são direitos de crédito.
Enquanto os direitos reais, como direitos absolutos, são oponíveis a todos os terceiros,
correspondendo-lhes uma obrigação passiva universal de os respeitar, os direitos
obrigacionais, como direitos relativos, não o são. São apenas oponíveis dentro de
determinada relação jurídica entre determinadas pessoas. Só estas têm a possibilidade
de os violar e sobretudo o direito de os invocar.
Artigo 397º noção de obrigação: distingue-se radicalmente da noção de propriedade,
1302º
Os direitos obrigacionais, como direitos de crédito, existem em vista a um fim. O seu
cumprimento, à realização de uma prestação. Se o devedor cumprir a obrigação

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 99


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mediante a realização da prestação a que está vinculado, o direito extingue-se. Assim,


os direitos obrigacionais são em grande parte, direitos de curta duração, 777º, nº1
Mas, também podem revestir-se de certa durabilidade. Exemplo: relação de trabalho
1152º e 1153º; contrato de sociedade 980ºss; direito obrigacionais que conferem a
posse em virtude de uma transferência de utilização: contratos de locação 1022ºss;
comodato 1129ºss; mútuo 1124º.
Nos direitos obrigacionais existe uma relação obrigacional entre o credor e o devedor,
é necessário cumprir sempre essa obrigação em relação ao credor, para e na pessoa do
credor – pagar directamente ao credor e não por intermediário, por que “quem paga
mal, paga duas vezes”, artigo 770º.

- direitos de crédito
- direitos de prestação
Direitos obrigacionais
- de curta duração
- extinguem-se quando acaba a prestação

Dentro dos direitos obrigacionais existem os direitos pessoais de gozo, que transferem
a posse sobre a coisa. É o caso típico do arrendamento ou do aluguer.
É diferente do usufruto, por exemplo, porque no usufruto não se paga, aqui existe uma
prestação.

Caso1: António é proprietário de uma loja no Braga Parque, e em vez de montar


negócio próprio, decide arrendar a loja.
Arrendou a Bernardo a loja no dia 1 de março, por 5000€ mês.
Em abril, Carlos oferece o triplo da renda a António pela loja.
Os dois arrendatários começariam em maio a ocupar a loja.

Caso2: António é um pianista famoso.


Em 1 de dezembro obrigou-se (celebrou contrato) a celebrar um concerto de
passagem de ano de 31 para 1 de janeiro, na Casa da Música, no Porto.
Passada uma semana foi contactado pelo Casino Estoril para o mesmo efeito do
convite anterior. Aceitou o convite.
A 15 de dezembro foi contactado por agentes estrangeiros e celebrou contrato com
eles, em que se comprometeu a fazer um concerto a 31 de dezembro em Londres.

Qual a validade destes negócio jurídicos?

São todos válidos! Porque no caso dos direitos obrigacionais não há o princípio da
exclusividade.
Aqui apenas se incorre em responsabilidade contratual.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 100


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Caso1: 407º, direitos pessoais de gozo

A B

Se o arrendamento for superior a 6 anos: artigo 2º, m) Cód. Reg.


C Pred., o arrendamento tem que ser registado.
O proprietário será o que registar primeiro, artigo 6º Cód. Reg.
Pred.
Se for só de um ano, o arrendamento não é sujeito a registo.
Segundo o 407ºCC, o direito pertence a B.

 O que aproxma os direitos pessoais de gozo aos direito reais?

A transmissão da posse, do domínio.

3 – Direitos Potestativos

Os direitos absolutos e relativos são direitos subjectivos propriamente ditos. Dos


poderes ou faculdades definidoras do seu conteúdo, autonomizaram-se os direitos
potestativos que representam posições de poder próprias a partir ou com base
naqueles direitos. Constituem uma espécie de “prolongamentos” de relações jurídicas
pré-existentes.
Enquanto os direitos subjectivos propriamente ditos vêm a ser criados por um facto
jurídico, os direitos potestativos são depois exercidos por meio de um acto jurídico. Daí
segue que o negócio jurídico é o facto criador de um direito subjectivo propriamente
dito, estando na sua origem, sendo também o facto destruidor de um direito
potestativo, estando no seu fim.
Têm que existir duas condições para haver direito potestativo:
1- Direito subjectivo propriamente dito
2- Preenchidos determinados condicionalismos previstos na lei

Os efeitos dos direitos potestativos podem ser modificativos, extintivos ou criativos de


relações jurídicas.
O seu exercício é unilateral, de maneira que os efeitos produzidos se impõem à outra
parte. Estes efeitos traduzem-se na constituição, modificação ou extinção de relações
jurídicas.
O exercício unilateral de um direito potestativo carece de fundamentação, sem a qual
os seus efeitos não se produzem ao não serem protegidos pela lei.
O nascimento de um direito potestativo resulta da concretização de um determinado
condicionalismo, previsto na lei ou no negócio jurídico que está na base daquelas
relações, sem o qual o direito potestativo nem sequer chega a nascer por falta de um
pressuposto que o justifique.
Ao existir aquele condicionalismo que faz nascer o direito potestativo, fica também
legitimado o exercício do mesmo.
O nascimento e a legitimação do exercício de um direito potestativo decorrem ambos
dos mesmos factos.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 101


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O exercício do direito potestativo faz-se através de uma “declaração”. A declaração


pode ser feita pelo próprio titular ou pode resultar de uma decisão judicial.

Negócio jurídico: a declaração não pode


ter qualquer deficiência que a torne
Declaração inválida

Acção judicial: a declaração só será


válida se a acção for devidamente
proposta em termos processuais

Os direitos potestativos extintivos têm de se exercer em tribunal.

 O que é que acontece quando o direito potestativo é exercido?

O direito potestativo depois de exercido extingue-se.


O exercício eficaz do direito potestativo consome o direito. A situação jurídica ficou
modificada, o direito potestativo cumpriu a sua missão e, com isso, esgotou-se.
Pode extinguir-se por três vias:
 Através do exercício, cumprindo a sua função;
 Não exercício durante o prazo;
 Renúncia (exemplo: confirmação de um negócio anulável).
Quando exercido a outra parte fica num estado de sujeição, sem poder fugir aos
efeitos.

De acordo com os efeitos que produzem, os direitos potestativos costumam ser


subdivididos em constitutivos, modificativos e extintivos, dada a grande variedade e
frequência com que se nos apresentam.

3.1. Direitos potestativos constitutivos

A partir de relações jurídicas pré-existentes são produzidos novos direitos subjectivos.


Exemplo: no caso de um prédio encravado 1550ºCC, o proprietário desse prédio tem a
faculdade de exigir a constituição de uma servidão de passagem, nos termos do artigo
1547ºCC.
Direitos de preferência, 414º, 1380º e 1409ºCC. Nem todas estas relações, pré-
existentes, que possibilitam o exercício subsequente de direitos potestativos
constitutivos encontram necessariamente a sua origem em negócios jurídicos
anteriores, pois podem resultar também de outros factos.
Exemplo: aquisição da propriedade por ocupação, 1318ºCC – direito potestativo
autónomo.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 102


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

3.2. Direitos potestativos extintivos

Procede-se à extinção de um direito subjectivo, ou seja, de uma relação jurídica. É


possível o renascimento de um direito potestativo extintivo caso ele tenha caducado e
em seguida surja, com base na relação duradoura, de novo o respectivo
condicionalismo que justifica o direito e legitima o seu exercício.
Exemplo: anulação de um negócio jurídico, 287ºCC; dissolução do casamento,
1781ºCC.

3.3. Direitos potestativos modificativos

Mediante o exercício de direitos potestativos modificativos é alterada uma relação


jurídica existente, respectivamente um direito subjectivo. A relação, ou o direito,
continua, mas de maneira modificada.
Procede-se à alteração de uma relação jurídica.
Exemplo: 283ºCC, modificação dos negócios usurários
1794º, 1779º, 1781ºCC: separação judicial de pessoas e bens que mantém a relação
matrimonial, ainda que de forma atenuada (artigo 795º-A), sendo o direito à
separação igualmente irrenunciável e insuscetível de quaisquer limitações prévias, sem
prejuízo, porém, da sua caducidade, 1786º, ou da sua exclusão por abuso de direito,
1780º.
A este campo pertencem também “direitos de direcção”. Estes aparecem no direito
do trabalho entre os poderes da entidade patronal sobre os trabalhadores. Este
exercício é limitado pelas leis em geral, pelas disposições de contratos colectivos de
trabalho ou estipulações no contrato individual de trabalho.

Notas finais: os direitos potestativos existem quando existe uma relação jurídica
prévia ou um direito subjectivo propriamente dito, isto é a regra.
Excepcionalmente, nascem direitos potestativos sem existir um direito subjectivo
propriamente dito – ocupação, 1308ºCC.

Direitos Potestativos ≠ Direitos Oponíveis

Atingem imediatamente a Obstam, temporariamente ou não, à


existência ou configuração de um efectivação de um direito
direito subjectivo ou de um subjectivo, à qual se opõem, mas
arelaçã jurídica, sobre os quais sem atingir em nada a existência do
actuam de modo constitutivo, direito que não é posto em causa.
modificativo ou extintivo, Correspondem certas pretensões,
alterando com isso a realidade ainda susceptiveis de serem
jurídica cumpridas.
Não altera a realiade jurídica, limita-
se a opor-se ao direito de outrem.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 103


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

4 – Direitos Familiares Pessoais

Os direitos de família são direitos subjectivos influenciados e moldados pelas relações


familiares.
Não possuem estruturas uniformes ou simples.
Dividem-se em dois tipos: direitos familiares pessoais e direitos familiares
patrimoniais.

4.1. Direitos familiares patrimoniais

São direito reais ou obrigacionais, subordinados a uma relação jurídica familiar que faz
com que tenham um tratamento jurídico específico.
Artigos 1678ºss: administração, alienação ou oneração dos bens conjugais
Artigos 1888ºss: administração dos bens pertencentes aos filhos menores
Artigos 1690ºss: regime respeitante às dívidas dos cônjuges e os bens que por eles
respondem
Artigo 1687ºss: ilegitimidades conjugais.
Os direitos familiares patrimoniais apresentam certas particularidades que não
afectam a sua natureza de direitos reais obrigacionais.

4.2. Direitos familiares pessoais

Em tempos foram concebidos como direitos sobre outras pessoas, sendo elas o
objecto daqueles direitos.
Hoje, ninguém se torna por meio de relações jurídicas familiares num objecto de
direito, dominado por outrem.
Aos direitos familiares pessoais corresponde um dado estado familiar e, em relação a
terceiros, possuem carácter de exclusividade, sendo neste sentido direitos absolutos
(artigo 1601ºCC, ninguém pode casar-se sem ter dissolvido o casamento anterior).
Nas relações internas, porém, apresentam-se de maneira diferente, como direitos
obrigacionais de carácter duradouro, ou seja, como direito relativos.
Nestas relações internas, os direitos familiares pessoais oferecem-nos também
características de direitos potestativos na sua configuração de poderes de direcção
(relação filial 1878º, nº1).
Os direitos familiares pessoais assumem uma estrutura complexa, não são, nem
podem ser só captados do ponto de vista jurídico.
Para além da sua estrutura complexa, os direitos familiares pessoas possuem natureza
específica no que respeita ao seu conteúdo. Não consiste apenas em poderes e
faculdade, comporta também dever. São autênticos poderes-deveres.
Teoria da fragilidade da garantia: uma violação dos direitos familiares pessoais não
acarreta para o infractor a obrigação de indemnizar o lesado.
No entanto, a lei do divórcio de 2008 veio permitir o contrário, afastando esta teoria.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 104


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 10
2011/12/05
Sumário: A protecção de terceiros adquirentes de boa fé através das regras do
registo. A função do registo. Factos sujeitos a registo. Terceiros para efeitos de registo.
Princípio da prevalência do direito registado em primeiro lugar.
Resolução do caso prático n.º 19 I/II e do caso prático n.º 20.

Caso prático 19

I
a) A celebrou com B um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo objecto
mediato é um terreno, ou seja, bem imóvel, artigo 204 nº1 a) CC, e por isso sujeito a
registo, nos termos do artigo 2º nº1 a) Código Registo Predial.
Entende-se que fora respeitada a forma legal de celebração, artigo 875ºCC, apesar de
o enunciado nada referir.
Assim sendo o contrato é válido, e sendo válido todos os efeitos volitivo-finais do
artigo 879ºCC se vão produzir, dá-se a transferência da propriedade por mero efeito
do contrato [artigo 879º a) e 408º nº1CC] (efeito real), A tem a obrigação de entregar a
coisa [879º b)] e B tem a obrigação de pagar o preço [879º c)] (efeitos obrigacionais).
Assim, B passa a ser o proprietário do terreno, através de uma aquisição derivada a
domino.
Apesar de B não ter registado o seu direito, isso não implica que ele não o tenha
adquirido, visto que o registo serve apenas para efeitos de publicidade, artigo 1º Cód.
Reg. Pred.
Entretanto A celebrou com C um contrato de compra e venda 874ºCC, cujo objecto
mediato é o terreno que tinha vendido anteriormente a B. negócio este que respeitou
a forma legal de celebração. Contudo, trata-se de uma venda de coisa alheia, e por isso
nula, artigo 892ºCC, já que A já não tinha o direito de propriedade para o transmitir,
violando-se assim o princípio nemo plus iuris, pois não se pode transmitir um direito
que não se tem. Sendo o negócio nulo, nenhum dos efeitos volitivo-finais do artigo
879º se vão produzir.
Deste modo, C nada adquire por força do contrato.
Contudo C estava de boa fé, pois nada nos diz que tinha conhecimento da venda
anterior, adquirindo desse modo, por força da lei, um direito de oponibilidade relativa,
artigo 892º, 2ªparteCC.
Para além disso, C confiou nas presunções do registo, artigo 7ºCód Reg Pred, já que era
A quem figurava como proprietário, assim estava de boa fé, sendo considerado 3º para
efeitos de registo, juntamente com B (artigo 5º nº4 Cód Reg Pred).
Uma vez que B e C são terceiros para efeitos de registo [artigo 5º nº1 e nº4 C. reg
Pred), segundo o artigo 6º Cód Reg Pred, prevalece o direito inscrito em primeiro
lugar, como B não procedeu sequer ao registo, C passa a deter o direito de

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 105


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

propriedade sobre o terreno. Trata-se aqui de uma aquisição tabular, já que o direito
de oponibilidade relativa de C e o artigo 6º Cód Reg Pred, deram origem ao direito de
propriedade.
Como não podem existir dois direitos absolutos, com o mesmo conteúdo, a favor de
diferentes titulares, o direito contratual de B extingue-se, tratando-se assim de uma
sanção por B não ter cumprido o ónus de registar a sua aquisição.
O proprietário é C.
B não pode exigir a restituição do terreno.

b) Se C soubesse que o terreno já havia sido vendido a B, não estaria de boa fé, por
isso não seria considerado 3º de boa fé nem 3º para efeitos de registo, porque
conhecia a desconformidade entre a realidade de facto e a realidade jurídica.
Assim sendo, não tendo adquirido direito nenhum, o simples facto de ter registado a
aquisição não sana nulidades nem lhe atribuía qualquer direito.
Logo, o proprietário, nesta situação, é B, e por isso tem o direito de exigir a restituição
do terreno a C.

II
A celebrou com B um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo objecto
mediato é um terreno, ou seja bem imóvel, artigo 204º nº1 a), e por isso sujeito a
registo, artigo 2º nº1 a) Cód Reg Pred.
Este contrato respeitou a forma legal, artigo 875ºCC, tendo sido realizado por escritura
pública.
Não padecendo de nenhum vício, este contrato é válido. Assim sendo, todos os efeitos
volitivo-finais do artigo 879ºCC se vão produzir. Dá-se a transferência da propriedade
por mero efeito do contrato [artigo 879º a) e 408º nº1 CC] (efeito real), A tem a
obrigação de entregar a coisa [879º b)] e B tem a obrigação de pagar o preço [879º c)].
Assim, através de uma aquisição derivada a domino, o titular da propriedade passa a
ser B.
B é o legítimo proprietário da propriedade, apesar de não ter registado.
C, confiando no que constava no registo, artigo 7º Cód Reg Pred, penhorou o terreno,
entendendo que este ainda pertencia a A.
No entanto, A já não era o proprietário e por isso B pode reagir contra a penhora.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 106


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 13
2011/12/12
Sumário: 6. Os direitos de personalidade
a) Considerações gerais; colocação sistemática; as soluções da lei (artigos 70.º/71.º,
81.º ? 72.º - 80.º)
b) O direito de personalidade geral v.s. os vários direitos especiais
c) Os meios de defesa contra a ilicitude: sempre as providências adequadas
d) Se forem preenchidos os requisitos (culpa): ainda responsabilidade civil
e) A defesa dos direitos de personalidade post mortem; a legitimidade
f) Os vários direitos de personalidade especiais em pormenor
aa) O direito ao uso do nome (segundo as regras do registo civil)
bb) O sigilo da correspondência: direito do autor v.s. direito do destinatário
cc) O direito à imagem e à intimidade da vida privada
g) A limitação voluntária dos direitos de personalidade
aa) O consentimento em geral (artigo 340.º: expresso, tácito, presumido)
bb) Ilicitude (art. 340.º, n.º2) e nulidade do consentimento (art. 81.º, n.º1)
cc) A auto-realização em colaboração com outrem
[texto polic.; pp. 257 a 271]

5 – Direitos de Personalidade

Pertencem aos direitos absolutos como direitos de exclusão, oponíveis a terceiros.


Emanam (da) e visam proteger a pessoa.
Resulta isto do número 1 do artigo 70º que protege os indivíduos contra qualquer
ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral. A protecção
abrange o homem naquilo que ele é e não naquilo que ele tem.
O objecto desta relação jurídica nunca é o indivíduo, ou a pessoa ou a sua
personalidade, mas sempre o direito de personalidade que incide sobre certas
manifestações da mesma.
A ideia de protecção da pessoa humana e da sua dignidade encontra expressão jurídica
em vários preceitos constitucionais.
Exemplo: artigo 1ºCRP “a dignidade da pessoa humana” como fundamento da
sociedade e do Estado
Artigo 13º, nº1 CRP igual “dignidade social” dos cidadãos
Artigo 24º, nº1 “a vida humana é inviolável”
Artigo 25º direito à integridade pessoal
Artigo 26º outros direitos pessoais
O código civil, contudo, não contém uma definição geral ou uma noção de “direito de
personalidade”.
Capelo de Sousa define os direitos de personalidade como “direitos subjectivos,
privados, absolutos, gerais, extrapatrimoniais, perpétuos, intransmissíveis,
relativamente indisponíveis, tendo por objecto os bens e as manifestações interiores
da pessoa humana, visando tutelar a integridade e o desenvolvimento físico e moral
dos indivíduos e obrigando todos os sujeitos de direito a absterem-se de praticar ou de

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 107


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

deixar de praticar actos ilicitamente ofendam ou ameacem ofender a personalidade


alheia sem que o que incorrerão em responsabilidade civil e/ou na sujeição às
providências cíveis adequadas a evitar a consumação da ameaça ou a atenuar os
efeitos da ofensa cometida.
No código Civil, os direitos de personalidade encontram-se nos artigos 70ºss.
A lei consagra no artigo 70º, nº1 o direito geral de personalidade.
Os artigos 72º a 80º regulam os vários direitos de personalidade especiais,
estabelecendo o artigo 81º os limites até onde o exercício dos direitos de
personalidade está à disposição dos seus titulares.
Embora os direitos de personalidade tenham em vista a defesa das pessoas vivas, a sua
aplicação vê-se alargada em virtude do artigo 71º que protege as pessoas já falecidas.
Garante-se com isso a integridade moral da pessoa falecida.

5.1. Direito Geral de Personalidade

Este direito geral de personalidade do artigo 70º, nº1, que visa a realização da
autodeterminação e defende contra intervenções ou limitações injustificadas, abrange
todos os casos dos direitos de personalidade que não são especificamente protegidos
pelos artigos 72º a 80º.
 Direito à vida
 Direito à integridade física
 Direito ao repouso
 Direito à saúde
 Direito à tranquilidade
 Direito à integridade psíquica e moral

Em caso de violação de um direito de personalidade, a solução deve ser procurada


primeiro nas regras do 72º a 80º, só na sua insuficiência se recorre ao direito geral de
personalidade.
A lei para proteger os direitos de personalidade estabeleceu uma dupla protecção e
uma dupla reação.

Contra qualquer ofensa ilícita: não é preciso culpa


para se verificar uma ofensa, nem é precisa a intenção
de prejudicar o ofendido. Decisiva é a ofensa em si.
Dupla protecção

Contra uma ameaça de ofensa: quando a ofensa está


em vias de suceder

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 108


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Providências adequadas

Concretização da ofensa – atenuar os seus


efeitos
Dupla reacção 70º, nº2CC

Ameaça de ofensa – evitar a sua consumação

Responsabilidade civil: caso se verifiquem os pressupostos da


responsabilidde por factos ilícitos (culpa e existência de dano) ou os
pressupostos da responsabilidade pelo risco (concretização do risco e
dano)

Cabe sempre ao lesado a legitimidade para requerer as providências adequadas pu


para pedir uma indemnização.
Legitimidade passiva possui-a quem for autor da lesão ou da amiação.
O meio processual para pedir as indemnizações é o processo comum.
Para requer as providências adequadas aplicam-se as regras de um processo de
jurisdição voluntária.
No caso de ofensa a pessoas já falecidas, a legitimidade activa para requerer as
providências adequadas cabe, segundo o artigo 71º, nº2, ao cônjuge sobrevivo ou
qualquer descendente, ascendente, irmão, sobrinho ou herdeiro do falecido. A
protecção de direitos de personalidade depois da morte usa a defesa do falecido e
apenas indirectamente contempla também os interesses dos respectivos familiares.

5.2. Direitos de Personalidade Especiais

O mais importante é o direito ao nome, regulado no artigo 72º.


O nome é aquele que consta do registo de nascimento, lavrado nos termos do código
do registo civil. Arts 127º a 129º e 135º
O nome é composto até ao máximo de dois nomes próprios e quatro apelidos.
Individualiza a pessoa bem com a sua família dentro da comunidade. O nome constitui
um elo de ligação sentimental do seu titular ao património moral da família.
É o primeiro e fundamental elemento de identificação da pessoa, de modo que quem
mudar o nome sofre com isso uma violação de um dos direitos essenciais.
Assim, o direito ao nome é em princípio inseparavelmente ligado à pessoa do seu
titular cuja identidade define e é também ilimitado.
A situação prevista no nº2 do artigo 72º é uma excepção e constitui um caso concreto
de colisão de direitos.
O titular do nome tem direito ao seu uso e à sua conservação e tem o direito a opor-se
a quem o usar ilicitamente. Para impedir que outrem utilize o nome de alguém, esse
alguém pode intentar uma acção de usurpação.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 109


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Quando se trata de utilizar o seu próprio nome e ver-se impedido intenta-se uma
acção de reclamação.
Parecido com o nome é o pseudónimo. O artigo 74ºCC, desde que tenha notoriedade,
confere-lhe protecção idêntica à do nome. O pseudónimo é um nome fictício que foi
livremente escolhido por uma pessoa, ou para disfarçar a sua personalidade ou para
identificar a sua personalidade num sector determinado da sua actividade.
Regra geral da colisão de direitos, 335ºCC. O artigo 72º protege o mero uso do nome,
ao contrário do artigo 484ºCC que protege o crédito e o bom nome contra
procedimentos lesivos e prejudiciais. O artigo 484º é simultaneamente aplicável com o
72º se a ofensa de crédito ou bom nome resulta do uso ilícito e culposo deste mesmo
nome.
O nome tem também funções sociais e jurídicas, porque ao Estado interessa identificar
os cidadãos (cobrança de impostos).

Nos arts 75º a 78º a lei dedica-se ao direito à palavra escrita, ou seja, às cartas
missivas.
Há dois tipos de cartas missivas: as confidenciais e as não confidenciais.
Nas cartas missivas existe um conflito entre o direito de propriedade do destinatário e
o direito de autor da carta.
Nas cartas missivas confidenciais prevalece o direito de autor, 75ºCC.
Nas cartas missivas não-confidenciais prevalece o direito de propriedade, 78ºCC.
77º - 76º

Quanto ao direito à imagem, regulado no artigo 79º, vale o princípio que o retrato de
uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o
consentimento dela.

Artigo 80º: direito à reserva sobre a intimidade da vida privada.


Segundo o nº1 deste artigo todos devem guardar reserva quanto à intimidade da via
privada de outrem. Esta imposição actua em dois sentidos: proibe que alguém inavada
por qualquer meio o espaço da privacidade de outrem e proibe que alguém divulgue
factos ocorridos na intimidade da via privada dos outros.
O nº2 do art 80º é similar ao nº2 do art 79º.

Limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade

Os direitos de personalidade não estão à disposição do seu titular.


O titular não pode renunciar aos seus direitos de personalidade, apenas pode
consentir em limitações quanto ao seu exercício. Arts 76º, nº1 e 79º nº1 e nº2.
A lesão de um qualquer direito sem o consentimento do titular provoca a ilicitude do
acto lesivo. Contudo, o consentimento faz com que a violação passe a ser lícita. Esta
consequência resulta do artigo 340ºCC.
Só se pode falar na hipótese da prestação de um consentimento em casa de
heterolesão, mas não nas situações de autorrealização, apenas possíveis com a
colaboração de outrem.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 110


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

As situações em que alguém está a agir por risco próprio não são abrangidas pela
figura do consentimento.
O consentimento pode ser prestado de forma unilateral ou por acordo, de maneira
expressa ou tácita e pode ser presumido.
No que diz respeito à limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade, o
artigo 81º, nº1 determina que ela é sempre nula quando for contrária aos princípios da
ordem pública, não basta assim para esta sanção imediata uma violação dos bons
costumes, muito embora também esta possa ser um fundamento da nulidade.
Para ser válido, o consentimento que implica a limitação voluntária, além de legal,
deve ser consciente, isto é, resultante de uma vontade esclarecida, devidamente
ponderado e concreto, tendo efectivamente em vista situações determinadas. Será
prestado de maneira expressa e não pode ser deduzido de um comportamento
anterior observado.
O consentimento à limitação voluntária nem sempre necessita de ser prestado de
maneira expressa, podendo ser dado também tacitamente.
O consentimento na lesão não exige capacidade negocial. Por isso, também os
menores podem consentir numa limitação voluntária ao exercício dos seus direitos de
personalidade quando possuírem uma capacidade natural suficiente para entender
plenamente o significado do seu acto, artigo 1878, nº2.
Em qualquer caso toda a limitação voluntária ao exercício dos direitos de
personalidade é sempre livremente revogável, embora desta revogação possa nascer
uma obrigação de indemnizar os eventuais prejuízos causados às legítimas
expectativas da outra parte, artigo 81º, nº2.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 111


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 11
2001/12/12
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior.
Direitos pessoais de gozo - aplicação do art. 407.º e das regras do registo.
Resolução do caso prático n.º 21.

Caso prático 20 (conclusão)

a) A celebrou com B um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo objecto


mediato é uma vivenda, ou seja, bem imóvel, artigo 204º, n1 a), e por isso
sujeito a registo, artigo 2º a) Cód. Reg. Pred.
Como não é dada nenhuma informação, supõe-se que foi respeitada a forma
legal de celebração de contrato, artigo 875ºCC, se tal não tivesse acontecido B
não poderia ter procedido ao registo do direito.
Este contrato foi celebrado sob coacção moral, artigo 255ºCC, sendo por isso
anulável, artigo 256ºCC.
Como é anulável, todos os efeitos do artigo 879º se vão produzir,
temporariamente, estando sujeitos a uma acção de anulação que os destrua,
artigo 289ºCC.
Assim, dá-se a transmissão da propriedade por mero efeito do contrato, artigo
879º a) e 408º, nº1 (efeito real), A tem a obrigação de entregar a coisa, 879º b)
e B tem a obrigação de pagar o preço da coisa, 879º c) (efeitos obrigacionais).
Assim, o proprietário do terreno é B, a título provisório e regista o seu direito.
B, mais tarde, celebra o mesmo tipo de contrato sobre o mesmo bem com
Carlos. Este contrato é válido, no entanto, segundo o princípio nemo plus iuris,
B não pode transmitir mais direitos do que aqueles que tem, assim C vai
receber apenas um direito de propriedade a título provisório.
C é assim o proprietário da vivenda. No entanto não procedeu ao registo do seu
direito, o que não interfere com a aquisição do direito, porque o registo predial
serve apenas para efeitos de publicidade (artigo 1º Cód. Reg. Pred.). O que
acontece é que, pelo facto de não ter registado o seu direito, este apenas será
oponível a terceiros para efeitos de registo, artigo 4º, nº1; artigo 5º nº1 e nº4
Cód. Reg. Pred.
B, verificando que C não registou o seu direito, celebra com D um contrato de
compra e venda, cujo objecto mediato é a mesma vivenda que adquiriu de A e
vendeu a C. Ora, esta venda é uma venda de coisa alheia, sendo por isso nula,
artigo 892ºCC.
Assim D não adquire nenhum direito por força do contrato, porque B também
não tinha nenhum direito para transmitir, violação do princípio nemo plus iuris.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 112


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Contudo, apesar de D conhecer a invalidade do primeiro negócio (A-B), não


conhecia a venda B-C, por isso, adquiriu por força da lei, um direito de
oponibilidade relativa.
Assim C e D são terceiros para efeitos de registo, pois adquiriram direitos do
mesmo transmitente. Pelo artigo 6º Cód Reg. Pred., o proprietário é aquele que
registar o direito em primeiro lugar, logo, o proprietário da vivenda é D!

b) Cessando a coacção moral, António tem um ano para intentar uma acção de
anulação, artigo 287ºCC.
A sentença da acção de anulação vai ter efeitos retroactivos, o direito de
propriedade volta retroactivamente a A, e como exisitiram obrigações, vai ter
também efeitos restitutivos, artigo 289ºCC.
Estes efeitos apenas não se vão aplicar a D caso este esteja protegido pelo
artigo 291ºCC. Para tal é necessário que os seus requisitos estejam
preenchidos.
(1º requisito) Tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo
[o bem em causa é uma vivenda, logo bem imóvel]; direitos incompatíveis
entre si [A tem o direito de propriedade e D o direito de oponibilidade relativa];
tem de ser um direito adquirido a título oneroso [D adquiriu a vivenda através
de um contrato de compra e venda, que é um negócio oneroso]; tem de ser um
direito adquirido por um terceiro de boa fé [D conhecia a invalidade do negócio
entre A e B, por isso, nesta situação ele não estava de boa fé, logo este
requisito não está preenchido]; o registo de aquisição do direito tem de ser
anterior ao registo da acção, neste caso, de anulação [D registou o seu direito
logo após o ter adquirido, A só depois veio exigir a vivenda]; decorrido três
anos desde a celebração do primeiro negócio [não existe informação suficiente.
No entanto como já existe um pressuposto que não foi preenchido, o
preenchimento deste último já não faria diferença, porque os pressupostos
têm de ser todos preenchidos cumulativamente].
Assim, D não fica protegido pelo artigo 291ºCC, pois um pressuposto não foi
preenchido. Consequentemente, D vai ser atingido pelos efeitos da sentença da
acção de anulação.
A propriedade volta assim A, como se nunca tivesse saído da sua esfera.

Venda sujeita a condição impossível.


Negócio B-C: de acordo com artigo 271º é um negócio jurídico.
É uma causa autónoma de invalidade.
Nulidade: terceiro não adquire nenhuns direitos, não pode invocar o artigo 291º para o
proteger.
A vende B terreno de C – B não pode invocar a protecção do 291º porque não adquiriu
direito nenhum, porque A também não o tinha.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 113


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Caso prático 21

a) Em janeiro de 2007, António celebrou com Bento um contrato de doação, art.


940ºCC, cujo objecto mediato é uma moradia, ou seja, um bem imóvel, arti. 204º nº1
a), e por isso, sujeito a registo, artigo 2º, nº1 a) Cód. Reg. Pred.
Este contrato respeitou a forma legal prevista, artigo 947º nº1CC, foi realizado por
escritura pública.
Este negócio foi celebrado sob coacção moral, art. 255ºCC, sendo por isso anulável,
art. 256ºCC.
Como é anulável, todos os efeitos do artigo 954ºCC vão-se produzir provisoriamente,
estando sujeitos a uma acção de anulação, artigo 289ºCC. Assim, dá-se a transmissão
da propriedade da coisa por mero efeito do contrato [954º a) e 408º, nº1], A tem a
obrigação de entregar a coisa [954º b)] e B recebe a coisa [954º c)].
Assim, B é o proprietário, a título provisório, da moradia.

Em abril de 2010, Bento realizou um contrato de locação, art. 1022ºCC, e como é sobre
um bem imóvel, trata-se de um arrendamento, art. 1023ºCC, com Carlos para o mês
de Agosto. Como apenas se arrendou a moradia por um mês, existe liberdade de
forma, 219ºCC quanto à celebração do contrato e não é necessário o registo do
arrendamento.
Mais tarde, Berto tornou a arrendar a moradia a Dário, para o mesmo período de
tempo que tinha arrendado a Carlos.
Estão em causa direitos pessoais de gozo. Ambos os negócios são válidos, mas não se
podem cumprir os dois contratos, assim os direitos de C e D são incompativeis. Nestes
casos, segundo o artigo 407ºCC, prevalece o direito mais antigo, assim prevalece o
direito de C.
Durante o mês de agosto, o direito de gozo da propriedade pertence a Carlos.

b) Se os arrendamentos tivessem sido celebrados por um período de 7 anos, os


contratos de arrendamento, art. 1023ºCC, deveriam respeitar a forma legal de
celebração, ou seja, deveriam ser celebrados por escritura pública, artigo 1069ºCC.
Era também necessário proceder-se ao seu registo, pelo previsto no artigo 2º, nº1 m)
Cód. Reg. Pred.
Tendo em conta que Carlos e Dário são considerados terceiros para efeitos do registo
(artigo 5º nº4 Cod. Reg. Pred.), segundo o art. 6º Cód. Reg. Pred., prevalece o direito
inscrito em primeiro lugar, assim, prevaleceria o direito de D, já que C nem sequer
procedeu ao registo.
Por sua vez, C tem direito a pedir uma indemnização por responsabilidade contratual a
Bento, nos termos do artigo 798º ss.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 114


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c) Em abril de 2010, Bento celebrou com Carlos um contrato de compra e venda, artigo
874ºCC, cujo objecto mediato é uma moradia, ou seja, bem imóvel, art. 204º nº1 a) CC,
e por isso, sujeito a registo, art. 2º nº1 a) Cód Reg Pred.
Este contrato respeitou a forma legal de celebração prevista no artigo 875º nº1CC,
sendo assim válido.
No entanto, segundo o princípio nemo plus iuris, Berto não pode transmitir mais
direitos do que aqueles que tem, por isso C só vai adquirir a propriedade a título
provisório.
Sendo válido, vão-se produzir todos os efeitos volitivo-finais do artigo 879º, dá-se a
transmissão da propriedade por mero efeito do contrato [artigo 879º a) e 408º nº1 CC]
(efeito real), Bento tem a obrigação de entregar a coisa [879º b)] e Carlos tem a
obrigação de pagar o preço da coisa [879º c)] (efeitos obrigacionais).
Carlos não registou o seu direito, o que não interfere com a sua aquisição, pois o
Registo serve apenas para efeitos de publicidade, art. 1º Cód. Reg. Pred., no entanto, o
direito vai ter efeitos inter partes, vai ser apenas oponível a terceiros para efeitos de
registo (art. 4º nº1 e 5º nº1 e nº2 Cód Reg Pred).
Deste modo, o proprietário, a título provisório, é Carlos.
Contudo, após a venda da moradia a Carlos, Bento celebrou com Dário um contrato de
compra e venda, cujo objecto mediato é a moradia que vendera a Carlos. Assim, trata-
se de uma venda de coisa alheia, e por isso mesmo, nula, nos termos do artigo 892ºCC.
Assim, Dário, nada adquire por força do contrato, porque Bento já não tinha o direito
de propriedade para o transmitir. Também nada adquire por força da lei, porque não
estava de boa-fé, já que conhecia o negócio B-C. Mesmo assim Dário registou, mas o
registo não sana nulidades.
Assim, o proprietário da moradia é Carlos.

A coacção moral, sob que foi realizado o primeiro negócio, cessou em Dezembro de
2010, tendo António a legitimidade para, no prazo de um ano após a cessação do vício,
intentar uma acção de anulação, artigo 287º CC.
Esta acção de anulação terá efeitos retroactivos (o direito de propriedade volta
retroactivamente a A) e efeitos restitutivos (cumpriram-se obrigações, logo é
necessário restituir, o bem tem de ser restituído a A), artigo 289ºCC. Assim,
retroactivamente, a venda B-C, que era válida, torna-se nula, ficando extinto o direito
contratual provisoriamente adquirido por C.
C, só não será atingido pelos efeitos da sentença, caso esteja protegido pelo artigo
291º CC e para tal é necessário que os requisitos deste artigo estejam preenchidos:
estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se de uma moradia,
logo bem imóvel]; têm que estar em causa direitos incompatíveis entre si [A tem o
direito de propriedade e C o direito de oponibilidade relativa]; o direito tem que ser
adquirido a título oneroso [Carlos adquiriu a moradia através de um contrato de
compra e venda, que é um negócio oneroso]; o direito tem que ser adquirido por 3º de

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 115


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boa fé [entende-se que C estava de boa fé, desconhecendo a invalidade que


enfermava o negócio anterior 291º, nº3CC]; o registo de aquisição do direito por parte
do terceiro tem de ser anterior ao registo da acção, neste caso de anulação [C não
registou o seu direito. Este requisito não se encontra assim preenchido] e, por último,
têm que ter decorrido três anos desde a realização do primeiro negócio [o primeiro
negócio realizou-se em 2007 e A só exigiu a restituição da moradia em Dezembro de
2010, mais de 3 anos depois].
Concluindo, C vá sofrer os efeitos da sentença de acção de anulação, retornando a
propriedade a A.

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2º SEMESTRE
AULA TEÓRICA 14
2012-02-20
Sumário: III. A ligação dos dir. subj. ao seu titular: cindível / incindível; aquis. origin.
v.s. derivada (translativa, constitutiva, restitutiva) » transm. singular [(entre vivos) »
“nemo plus iuris” » excepções (art. 291.º v.s. registo)] v.s. sucessão universal (mortis
causa)
IV. O abuso do direito subjectivo » distinguir: as vinculações imanentes (intrínsecas) e
as vinculações sociais (extrínsecas) dos direitos subjectivos
a) A colisão de direitos (art. 335.º: exercício lícito) v.s. abuso do direito (art. 334º:
exercício ilegítimo) »
aa) o abuso institucional (contraria o fim económico ou social do direito) v.s.
bb) o abuso individual (contraria a boa fé ou os bons costumes » caso principal: venire
contra factum proprium)
b) O art. 334.º como norma indemnizatória?
art. 483.º CCiv = § 823 I e II BGB; [art. 334.º CCiv = § 226 BGB (proíbe a chicana)]; art.
334.º CCiv = § 826 BGB (causação dolosa do dano contra os bons costumes) ?? – Há
lacuna na lei; assim: aplicação do art. 10.º CCiv

A ligação dos direitos subjectivos ao seu titular; a aquisição e a


transmissão de direitos

Os direitos subjectivos são o poder conferido a determinado titular. Obrigatoriamente


pertencem a um titular, não há direitos sem sujeito. Esta afirmação não excluiu, poré,
que não possa haver certas situações em que exista uma espécie de ligação latente,
ainda não activa, a um sujeito que há-de surgir, podendo estas situações ser tituladas
pela ordem jurídica. Exemplo: herança jacente art 2046º; direitos dos nascituros arts
66º e 952ºCC; cheques ao portador
Dado que o direito subjectivo confere um poder ao seu titular, é logicamente
necessário que alguém o exerça. A ligação do direito subjectivo ao seu titular chama-se
titularidade.
A titularidade pode ser incindível ou cindível. Sendo a titularidade cindível, o direito
pode ser renunciável e transmissível (transmissível por actos entre vivos significa
alienável, transmissível por morte significa hereditavel). Mas se a ligação é incindível, o
direito é irrenunciável, inalienável e inhereditável.
A ligação do direito ao seu titular pode também ser directa (imediata) ou indirecta
(mediata). A ligação é directa quando nada se interpõe entre o titular e o seu direito. A
ligação é indireta quando há um direito intermédio ou um facto mediador que “fazem
a ponte” entre o titular e o direito. O caso mais frequente é o da ligação directa,
exemplo, a propriedade.

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Um exemplo para uma ligação indirecta encontramos no caso da servidão constituída


no prédio serviente em benefício do prédio dominante. Art 1545ºCC

Cíndivel renunciável
alienável
Transmissivel
Hereditável

Titularidade

Inalienável
Intransmissivel

Incíndivel Inhereditável
Irrenunciável

A aquisição e a transmissão de direitos

Ligação é diferente de acto de ligação. Ligação tem a ver com titularidade e acto de
ligação tem a ver com aquisição.
O acto de ligação do direito ao seu sujeito, ao titular do direito, chama-se aquisição. A
aquisição coincide muitas vezes com a constituição do direito, ou seja, com o
momento em que o direito surge de novo. Mas a aquisição pode dar-se, e assim
acontece inúmeras vezes, sem que surja simultaneamente um direito novo, isto é, sem
que haja a constituição de um direito. Aqui, o direito já constituído e existente é
transmitido.
Portanto, correspondendo a constituição do direito ao seu nascimento, ela coincide
sempre com a aquisição simultânea do direito, uma vez que não existe direito sem
sujeito. Não pode haver constituição sem aquisição. Mas pode haver, isso sim,
aquisição sem constituição, facto esse que se verifica quando um direito já constituído
é transmitido, por se tratar de uma ligação cindível, de um titular para outro.
É necessário distinguir os vários tipos de aquisição.
A aquisição originária faz nascer o direito ex novo na pessoa do adquirente. Casos de
aquisição originária são a aquisição ao não titular (aquisição a non domino, art 892º
em ligação com o art 291º ou com as regras do registo; art 956º nº em ligação com as
regras do registo); a usucapião 1287ºss; a ocupação 1318ºss. A aquisição originária dá-
se independentemente da preexistência de um outro direito. Não há qualquer
transmissão. Em todos estes casos, o direito surge de novo: ou porque não havia um
direito anterior, ou porque o direito anterior é afastado pela aquisição originária.
Portanto, na aquisição originária o direito não se filia num direito anterior; há uma
coincidência entre a aquisição e a constituição do direito.
A aquisição derivada é, em comparação com a aquisição originária, a modalidade mais
relevante e processa-se por via de um respectivo acto de transmissão em virtude do

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 118


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qual o direito passou – total (aquisição derivada translativa) ou parcialmente


(aquisição derivada constitutiva: constitui-se a parte transmitida) – de um titular para
um novo titular. Este processo conduz à extinção do direito na pessoa do antigo titular
ou dá origem a uma limitação do direito na sua pessoa.
Assim, na aquisição derivada o direito transmite-se de um titular para outro titular. Há
uma relação entre o titular anterior e o novo: o direito adquirido filia-se no direito
precedente. Há sempre um nexo casual entre a extinção, do direito do primeiro titular
e a aquisição do direito por parte do segundo. A direito passa do transmitente para o
adquirente. Concorre para o efeito aquisitivo a vontade do próprio transmitente.
Na aquisição derivada translativa o direito adquirido pelo novo titular é exactamente o
mesmo que pertencia ao titular precedente.
Na aquisição derivada constitutiva, por seu lado, as coisas não se passam da mesma
maneira. Aqui, o direito adquirido pelo novo titular filia-se no direito anterior, mas não
é idêntico a ele visto ser apenas uma sua parte que se autonomizou como direito
próprio ao ser constituído no momento da aquisição. Deste modo há simultaneidade
entre a aquisição e a constituição, porque como o direito não existia antes, apenas
nasceu em virtude de um fraccionamento de um direito pré-existente.
A aquisição restitutiva corresponde à situação inversa da aquisição derivada
constitutiva. O direito real limitado reingressa, por acto unilateral do seu titular ou por
contrato, no direito de propriedade, do qual fora separado, sendo reabsorvido por
aquele, art 391ºCC.

Constituição – constitutiva. Momento em que o direito nasce.


Ligação ao seu titular. Aquisição que se faz no momento em que se
constitui o direito. Ex: aquisição originária na pessoa do adquirente,
“ex novo” – 291ºCC; aquisição tabular – leis do registo; usucapião –
Aquisição 1287ºss; ocupação – 1318º

Transmissão – derivada. Há transmissão de direito. Há duas situações, a


contitutiva, a translativa e a restitutiva.
Na translativa transmite-se o direito tal como ele existe na esfera jurídica
do transmissor.
Na constitutiva existe uma quota-parte de transmissão e uma quota-parte
de constituição. Ex: usufruto. Direito real limitado
Na restitutiva o direito de usufruto volta a A.

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Sucessão

Ligado ao conceito está a figura de sucessão que pode ser uma sucessão singular ou
universal.
Sucessão significa subentrar numa relação jurídica anterior (ex: o herdeiro da sucessão
por morte). É o adquirente que sucede naquela relação anterior.
Distingue-se entre a sucessão entre vivos e a sucessão por morte.
A sucessão entre vivos é uma sucessão singular: o adquirente sucede, a título singular,
na titularidade do direito adquirido ou na posição jurídica do devedor quanto à dívida
assumida. A sucessão singular processa-se por meio de negócios jurídicos que
especificam devidamente o direito ou a obrigação.
A sucessão por morte é uma sucessão universal: o adquirente (herdeiro) sucede na
totalidade, ou numa parte alíquota, das relações jurídicas patrimoniais (património
global) da pessoa falecida, sucede portanto a título universal. A sucessão universal
apenas se verifica por ocasião da morte e pode resultar de um negócio jurídico ou de
disposição legal. Contudo, o legatário, embora suceda igualmente por morte, é
sucessor singular, visto ter sido contemplado com coisa especificada ou determinada.

Princípio da sucessão singular


Tendo em conta as modalidades da aquisição, vemos que os direitos subjectivos
podem ser transmitidos por via de um negócio jurídico nos casos da aquisição derivada
translativa, nas hipóteses da aquisição derivada constitutiva e, ainda, na aquisição
restitutiva ou na constituição de um legado.
Para todas estas situações vale o princípio da sucessão singular. A transferência dos
direitos subjectivos por transmissão singular constitui a regra: os direitos são
transmitidos um por um. Este princípio serve à determinação do conteúdo do acto de
transmissão e, com isso, à segurança do tráfico jurídico bem como à protecção dos
intervenientes. Apenas assim pode ser assegurado que o transmitente não transmita
mais direitos do que possui, e que o adquirente não receba menos do que foi
acordado.
Com o acto de transmissão, o direito transmite-se tal como existe ao respectivo
sucessor na titularidade. O direito muda de titularidade e passa-se, tal qual, do
transmitente para o adquirente. Subjaz a este efeito o princípio que ninguém pode
transmitir um direito que não possui ou um direito mais forte do que aquilo que possui
– nemo plus iuris.
No entanto, a lei admite três excepções ao princípio nemo plus iuris, quando protege
determinados adquirente de boa fé, nos caso de protecção do 3º de boa fé pelo 291º
quando há nulidade do negócio; de protecção do 3º de boa fé nas situações de negócio
nulo, pelas regras do registo e protecção do 3º de boa fé pelo 291º quando há
anulabilidade do negócio.

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Princípio da sucessão universal


A sucessão pode ser por morte, tratando-se de direitos transmissíveis hereditáveis.
O princípio que rege esta sucessão é o princípio da sucessão universal, os direitos
transmitem-se em bloco para os herdeiros. Todo o património do de cujos passa para a
esfera jurídica do herdeiro.
O legatário não é um herdeiro, é aquele que recebe bens determinados. Art 2030º,
nº2, parte final.

Exercício dos direitos

Tanto a relação jurídica como o direito subjectivo traduzem poderes, postos nas mãos
de particulares que são os seus sujeitos ou titulares. Estes poderes individuais ou
privados correm o perigo de um exercício abusivo. A isto chama-se o instituto jurídico
abuso de direito.
Contudo, a ordem jurídica combate esta situação. A atribuição de um direito subjectivo
privado pelo direito objectivo é feita em função da liberdade e personalidade do seu
titular. Donde decorre que os direito subjectivos e o seu exercício não são garantidos
sem limites.
Na verdade, cada norma do direito visa atingir determinados objectivos ou valores em
função dos quais delimita os interesses dos particulares, atribuindo-lhes os respectivos
direitos subjectivos. Daí resultam limites de conteúdo quando se invoca uma norma
para fazer valer o respectivo direito subjectivo. As finalidades, valores subjacentes à
norma justificam mas também condicionam a invocação e o exercício de um
determinado direito subjectivo, por ela atribuído. Implica isto que os direitos
subjectivos são à partida vinculados.
A vinculação imanente aos direitos subjectivos privados pode revestir formas e
intensidades diferentes. Mas nunca pode ir ao ponto de contrariar a finalidade
normativa, porque isso ia significar um resultado contrário à ideia justificativa do
direito subjectivo. O que existe são apenas formas diferentes de vinculações dos vários
direitos subjectivos que, nesta medida, constituem todos eles, direitos de certo modo
vinculados. Os direitos subjectivos devem-se exercer por virtude da vontade autónoma
do seu titular e conforme a sua vinculação imanente, sem lesar os legítimos interesses
dos outros.
Uma coisa é vinculação, outra é funcionalização: o direito subjectivo constitui um
poder de vontade atribuído ao indivíduo. Fazer depender o direito de uma função
acabaria por substituí-lo pela própria função.
Além das vinculações imanentes que implicam limites de conteúdo, os direitos
subjectivos conhecem ainda vinculações sociais que resultam do facto de haver
também direitos subjectivos dos outros particulares ou da comunidade em geral.
Existe uma vinculação social de todos os direitos subjectivos. As vinculações sociais são

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 121


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de direito privado ou de direito público, nem sempre sendo fácil as delimitações entre
elas.
Direito de propriedade, 1360ºss – questão de privacidade e respeito pela propriedade
alheia.

Regime da colisão de direitos

Abuso de direito – art 334ºCC, vinculações imanentes aos direitos subjectivos


Colisão de direitos art 335ºCC, limites externos – respeitar os direitos dos outros

Art 335 nº1: limites exteriores de um direito legítimo encontram-se nos direitos dos
outros.
Art 335 nº2: prevalece o direito superior.
Art 334º: é com as 3 hipóteses presentes neste artigo que a lei procura obter um
controlo ou uma moderação do poder, fazendo com qie o exercício do direito
subjectivo por parte do seu titular se efectue dentro do quadro resultante do fim para
o qual foi atribuído.

Abuso de direito
Representa o controlo institucional da ordem jurídica quanto ao exercício dos direitos
subjectivos privados, garantindo a autenticidade das suas funções. Quem age em
abuso de direito invoca um poder que formalmente ou aparentemente lhe pertence,
embora não tenha fundamento material.
O art 334º parte em cada uma das suas três hipóteses de uma concepção objectiva.
Significa isto que o excesso cometido no exercício do direito tem que ser manifesto.
Por isso, não é necessária a consciência do abuso, é suficiente o excesso objectivo. Por
outro lado, este art não ignora considerações de ordem subjectiva. Estas
considerações têm relevância nos caos em que se excedem os limites impostos pela
boa fé ou pelos bons costumes, mas não no caso em que se vai para além do “fim
social ou económico” do direito, caso esse que representa a consagração de um
critério puramente objectivo. O art 334º é complementado pelo disposto no nº2 do art
340º, pois neste artigo transparece a ideia geral das vinculações dos direitos
subjectivos, pois fica expresso que ela é determinante não só quanto ao seu (ab)uso
positivo (ou activo) como igualmente negativo (ou passivo).
O abuso de direito apresenta-se sob duas formas básicas: abuso institucional e abuso
individual.
Abuso institucional: o direito subjectivo é invocado para fins que estão fora dos
objectivos ou funções para os quais ele foi atribuído pela norma. Contraria a ordem
pública ou contradiz os princípios fundamentais da ordem jurídica, económica ou
social. Deve ser apreciado oficiosamente pelo tribunal.

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Abuso individual: o exercício do direito estaria em princípio a oberto da norma. Mas no


caso concreto existem circunstâncias ou relações especiais em virtude das quais o
exercício do direito, a invocação da norma, incorre em contradição com a ideia de
justiça. É ilegítimo o exercício de um direito quando o titular exceda manifestamente
os limites impostos pela boa fé ou, ainda, os limites impostos pelos bons costumes.
Exemplos de abuso individual:
 “venire contra factum proprium” (comportamento contraditório) – foi
adoptado pelo titular do direito um comportamento positivo no sentido de não
querer exercer o mesmo, tendo esta atitude como consequência as
correspondentes disposições da outra parte. Aqui pode chegar-se a uma
situação de confiança, em que a outra parte faz fé, que impede o titular, devido
à estabilidade da sua conduta durante certo prazo, de se fazer valer o seu
direito.
 Verwirkung (perda de direito). O titular do direito não invoca o mesmo durante
bastante tempo, sem que se tenha preenchido o prazo de prescrição, e observa
simultaneamente um comportamento através do qual o dever podia
legitimamente concluir que o direito já não seria exercido.
 A falta de um interesse protegido que justifique o exercício do direito. Ex:
direito de preferência, art 1380º nº1

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AULA PRÁTICA 12
2012-02-20
Sumário: Início do 2.º semestre.
1. A personalidade jurídica nas pessoas singulares
1.1. Significado.
1.2. Início e termo.
1.3. A concepção personalista presente no Código Civil.
1.4. Os efeitos prévios (referência ao estatuto jurídico dos nascituros) e os efeitos
tardios da personalidade jurídica.
2. Os direitos de personalidade
2.1. Os direitos de personalidade como direitos originários.
2.2. Caracterização dos direitos de personalidade.
2.3. Referência comparativa entre o artigo 359.º do Código de Seabra e os artigos 70.º
e 71.º do Código Civil de 1966.
Abordagem sumária da discussão legislativa na concepção da norma do artigo 70.º do
Código Civil de 1966.
2.4. Análise da estruturação sistemática: entre a tutela geral dos direitos de
personalidade e os direitos de personalidade especiais.
2.5. Estudo das normas dos artigos 70.º e 71.º e dos artigos 72.º a 80.º do Código Civil.
2.6. Características do consentimento previsto na norma do artigo 81.º do CC.
Comparação com o artigo 340.º do CC.
Uma referência ao consentimento informado no âmbito da responsabilidade médica.

Direitos de personalidade nas pessoas singulares

Personalidade Jurídica Capacidade Jurídica

Susceptibilidade de ser titular de direitos: Artigo 66º cc


Direitos de personalidade: art 70º cc
A personalidade jurídica começa nas pessoas singulares
com o nascimento completo e com vida – adquire um
conjunto de dtos e poderes (património jurídico valioso) –
os dtos de personalidade.
Nascituros: 2 tipos
 Os que não foram concebidos (nondum conceptus)
 O propriamente dito concebido, mas não nascido
Durante o período de gestação de nove meses, o nascituro
para o dto é só um projecto, não tem personalidade
jurídica.
Teoria Natalista: só a partir do nascimento adquire
personalidade jurídica.
Teoria da Nidação.

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Artigo 66º nº1 CC: nascimento completo e com vida » adquire património jurídico
valioso » direitos de personalidade, art. 70ºCC » o Código de Seabra não continha esta
norma.
Personalidade jurídica e moral (Código de Seabra): abrange as mais diversas
manifestações humanas. Ex: metro de Lisboa – obras à noite – direito ao descanso.
Tutela geral de personalidade – cláusula geral – jurisprudência anos 80, art. 70º, nº1
Norma art. 70º - a lei protege a ofensa e a ameaça de ofensa (ilícita). É uma norma
geral.
Quais as consequências da ofensa ou ameaça?
Dano – casum sentit dominus » responsabilidade civil » direitos de personalidade »
extracontratual 483ºCC
Ameaça – providências adequadas, para evitar a consumação da ofensa – providências
preventivas
Ofensa – providências adequadas, para atenuar os efeitos – providências de remédio.
A norma do nº1 do art. 70º protege tanto a ofensa como a ameaça de ofensa. A
proteção encontra-se no nº2 desse art.
Artigo 72º a 80º: direitos de personalidade especiais.
Artigo 72º direito ao nome. Diferente do direito ao bom nome 484ºCC. 72ºnº2 na
colisão de nomes tenta-se limitar os dois na medida do possível.
Artigo 79º direito à imagem. Base da norma nº1 1ªparte
Efeitos tardios da personalidade » pessoas falecidas
Artigo 79º nº2 cuidado com as situações em que não é necessário o consentimento.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 125


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Aula Teórica 15
2012/02/27
Sumário: Capítulo 3.º – O direito das pessoas –
A. As pessoas singulares
I. Personalidade » aquisição » o nascituro (âmbito do art. 66.º, n.º 2 v.s. lesões sofridas
pelo feto; há direito de nascer ou
de nascer com saúde?; a criança como dano? » a procriação medicamente assistida
Termo da personalidade (morte natural = cerebral » colheita de órgãos) v.s. morte
presumida (não dissolve o casamento!) v.s. pres. da morte; comoriência (art. 68.º)
O estado civil; a situação jurídica do cadáver
II. Personalidade jurídica é ilimitada; a capacidade jurídica tem limitações “naturais”;
Capacidade jurídica v.s. capacidade negocial v.s. capacidade delitual
a) incapacidades negociais de gozo (artigos 1600.º, 1601.º; 1604.º, 1612.º; 1631.º e
1627.º - inc. neg. de gozo para casar; artigos 1850.º e 1861.º - incapacidade negocial
de gozo para perfilhar; 2188.º e 2189.º - incapacidade negocial de gozo para testar

III – O DIREITO DAS PESSOAS EM SENTIDO JURÍDICO

Pessoas singulares

O começo da personalidade

O nosso código civil reconhece personalidade jurídica a todas as pessoas. Isto mostra a
aplicação do princípio da igualdade jurídica.
As pessoas singulares adquirem personalidade no momento do nascimento completo
e com vida.
No código de Seabra às pessoas que nascessem com anomalias graves não lhes era
reconhecida personalidade jurídica.
Pessoa em sentido ético é também em sentido jurídico, isto é, uma vez que as pessoas
singulares possuem personalidade, aparecem como pessoas em sentido jurídico,
exactamente em virtude do facto de já serem pessoas em sentido ético, na medida em
que o artigo 66º, nº1 aceita a personalidade, perfeita indivisa de toda a pessoa
humana reconhece e garante simultaneamente a condição elementar de igualdade e
dignidade da mesma. A personalidade jurídica não é atribuída pela lei, ela apenas
reconhece o facto de que ser pessoa em sentido ético significa ser também pessoa em
sentido jurídico.

CASO PRÁTICO
A fica grávida. O pai de A fica todo contente com a chegada do neto e deu-lhe um
apartamento – doação a nascituro, 952º cc.
Mas a criança morre no parto. A mãe, A, reclama o apartamento mas o avó/pai nega-
lhe porque a criança morreu.

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No entanto, a criança sobreviveu dois minutos fora do ventre materno, logo chegou a
adquirir personalidade jurídica.
Mãe tem direito ao apartamento.

A aquisição de personalidade segundo o artº66, nº1 cc, pressupõe portanto:


1- O facto do nascimento: o nascimento é a separação, ou por expulsão ou por
extracção do feto do corpo materno, não tendo relevância para o efeito o
período de duração da gravidez;
2- Que o nascimento seja completo: o nascimento é completo no momento em
que o feto se separou inteiramente do corpo da mãe;
3- Que o nascimento seja com vida: o nascimento é com vida quando, depois da
sua separação do corpo materno, a criança tenha vivido. Se a criança morrer
depois do início do trabalho de parto e antes da separação completa, não
adquire personalidade.
Em caso algum é necessário que a criança nascida tenha hipótese de sobrevivência e
nem importa que a sua morte seja previsível dentro de poucos instantes. Tambem sem
relevância jurídica é o facto de a criança nascer com deformações.
Também se reconhece personalidade jurídica às crianças que nasceram através de
procriação medicamente assistida (DL 5/2008, de 11 de Fev; Lei nº32/2006, de 26 de
Julho).

O Termo da personalidade

Quanto ao termo da personalidade o artº 68, nº1 do cc, constata que ela cessa com a
morte e apenas com a morte.
O legislador determinou que cabia à Ordem dos Médicos definir quando a pessoa já
não tem hipóteses de recuperar, DR, Série B, 235.
A morte pode ser natural art 68º, nº1 ou pode ser morte presumida arts 114º e 115º.
A declaração de morte presumida produz os mesmos efeitos que a morte natural, mas
não dissolve o casamento, artº 115, embora o torne dissolúvel por divórcio, artº 1781,
b), ou por um novo casamento artº116 1ªparte, que por sua vez conduz ao divórcio no
caso do ausente regressar ou estar vivo.
A morte natural não se verifica com a paragem de coração, mas sim com a morte
cerebral, quando o cérebro deixa de trabalhar por completo.
É importante determinar o momento da morte, não só por causa da sucessão, mas
também para colheita de órgãos.
A nossa lei determina (2 hipóteses): colheita apos a morte e colheita entre vivos. A lei
não permite comercialização de órgãos. Tráfico de órgãos é nulo, é contrário à lei, só
se pode doar consentindo na colheita de órgãos.

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Em 93 saiu uma lei que determina que todos nós podemos doar órgãos após a
morte. O Dr. Hörster chama a isto canibalismo moderno.
A morte presumida tem efeitos sucessórios e de seguro, faz com que cesse a
personalidade jurídica artigos 115º e 116º.
Finalmente, no contexto da morte, o artigo 68º estabelece ainda duas
presunções importantes: o nº2 do art 68º estabelece uma presunção relativamente á
simultaneidade da morte, a chamada comoriência. Por seu lado o nº3 prevê situação
diferente, em que não existem dúvidas de morte. Trata-se de uma situação que não
permite dúvidas relativas à morte, embora não seja possível encontrar o cadáver ou
identificar o mesmo. Aqui não estamos em face de uma situação de morte presumida.

CASO PRÁTICO
A é casado com B.
Morrem num acidente.
Se morreu primeiro A, herdam os bens os pais de A.
Se morreu primeiro B, herdam os bens os pais de B.
Quando não se sabe quem morreu primeiro, estabelece-se a presunção de
comoriência – presume-se que morreram os dois ao mesmo tempo. Herdam ambos os
pais.

Efeitos prévios e tardios da personalidade

Situação do nascituro (efeitos prévios)

O nº2 do art 66º regula a situação dos nascituros.


O conceito de nascituro abrange duas situações: o nascituro propriamente dito
(nascituros) e o ainda não concebido (nondum conceptus). Em nenhuma delas o
nascituro possui personalidade.
Só existirão efeitos jurídicos quando o nascituro nascer.
Casos em que a lei concebe direitos aos nascituros:
 Doação 952º
 Perfilhação 1855º
 Responsabilidade parental 1878º
 Capacidade sucessória 2033º nº1 e nº2a)
 Administração da herança a favor de nascituro

Caso em que sofreu lesões no ventre materno, L nº6/84, de 11 de Maio


Não sendo possível atribuir ao nascituro uma personalidade limitada ou fazer retroagir
a personalidade de criança nascida no momento da lesão, visto não haver nenhum
fundamento legal para o efeito, a ordem jurídica não pode, porém, negar o facto
evidente de que, face à realidade biológica, o nascituro e a criança nascida são

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idênticos. Assim, do mesmo modo que a lei estabelece uma conexão entre o
nascimento e as lesões anteriormente verificadas, no momento do nascimento, as
lesões sofridas pelo nascituro tornam-se lesões da própria criança, ou seja, de um ser
com personalidade. Ao ter nascido a criança adquiriu um direito à indemnização e isto
em conformidade com a lei que faz depender a personalidade do nascimento
completo e com vida, não conhecendo qualquer tipo de personalidade limitada ou
com efeitos retroactivos.

Após a morte

Depois da morte pode ainda haver alguns efeitos.


Quando o artigo 68º nº1 dispõe que a “personalidade cessa com a morte” fala de um
facto a título definitivo. Por isso quando se pensa em admitir certos efeitos tardios da
personalidade, é preciso ter em conta que, em consequência do artigo 68º nº1, esta
personalidade cessou de vez. Para um morto não existe nenhum preceito equivalente
ao 66º nº2.
Há quem afirme que o preceito da norma 71º nº1 é um desvio à regra do disposto no
art 68º nº1. Isto equivale a dizer que a personalidade em caso de ofensas a pessoas já
falecidas ainda não tinha definitivamente terminado, uma vez que é possível ofender
post mortem. Mas esta não é a posição a seguir. O art 71º nº1 confere como já vimos
direitos próprios às pessoas legitimadas para defender a integridade moral do falecido,
a serem exercidos precisamente no interesse deste que as pessoas legitimadas agem.
No interesse do falecido resulta também do facto de eles apenas poderem exigir que
se tomem as providências adequadas, não podendo exigir que se lhes paguem
indemnizações. (direitos de personalidade art 71º nº2 – a lei permite proteger os
direitos de personalidade de quem já morreu. Este direito pertence aos vivos no
interesse do falecido.)
Uma outra questão é a de saber se o dano da morte provocado por um dano ilícito dá
origem a um direito de indemnização pela perda de vida na pessoa da própria vítima,
transmitindo-se este direito em seguida aos seus herdeiros. O dano da morte nasce
apenas com a ocorrência da morte, ou seja, no fim dos efeitos da acção. Para haver
dano de morte, é preciso que a pessoa lesada tenha efectivamente morrido. Este dano
nasce depois de ter findado a personalidade, o direito à indemnização apenas pode ter
nascido quando verificada a morte. A própria morte é o pressuposto para o próprio
dano. Sem a morte o dano não existe. Contudo, o dano de morte é perfeitamente
suscetível de ser indemnizado, arts 495º nº1 e 496º. Porém, o direito à indemnização
pelo dano cabe em conjunto ao cônjuge (…) familiares, podendo ser atendidos os
danos não patrimoniais sofridos pela vítima, 496º nº2CC. A lei não nega o direito à
indemnização do dano da morte, mas esta indemnização não cabe a qualquer
herdeiros, mas pertence aos familiares por direito próprio.

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Outro efeito tardio da personalidade são as várias hipóteses de disposição para depois
da morte. Trata-se nestes casos de disposição da vontade, tomadas em vida, mas
destinadas a produzir os seus efeitos somente depois da morte. Para assegurar o
cumprimento das disposições feitas existe o instituto da testamentária, art 2320ºss.

Aquisição personalidade jurídica

A aquisição da personalidade dá simultaneamente origem aos direitos de


personalidade na medida em que são direitos inatos. Eles pertencem à pessoa como
manifestações de personalidade.
O bem jurídico protegido pelos direitos de personalidade é o próprio ser da pessoa.
Neste sentido, os direitos de personalidade são direitos subjectivos e como tais são
tratados.

O estado civil da pessoa e a sua prova

O nascimento determina ainda nas suas linhas fundamentais o estado da pessoa. O


estado da pessoa diz respeito ao lugar que o indivíduo ocupa juridicamente dentro da
comunidade. Este lugar resulta do estado que alguém possui.
O estado pessoa é normalmente aquele que consta do registo civil, pois é no registo
civil onde estão obrigatoriamente registados todos os factos respeitantes ao estado
civil de uma pessoa.
Constam obrigatoriamente do registo civil o nascimento, a filiação, a adopção, o
casamento, a curadoria, etc.
Apesar de ser modificável, o estado civil caracteriza-se pela sua relativa estabilidade. É-
lhe exigida transparência.
O estado pessoal condiciona o modo de estar no mundo jurídico da pessoa. Todas
estas situações não afectam em nada a personalidade das pessoas, tendo unicamente
relevância para o estabelecimento de relações jurídicas na medida em que influem
sobre a capacidade das pessoas ou na medida em que afectam a eficácia do negócio
concluído.
No que consta ao regime de prova dos factos sujeitos a registo civil, regime que
implica ao mesmo tempo a prova do começo e termo da personalidade. A prova dos
factos sujeitos obrigatoriamente a registo civil só pode ser feita pelos meios previstos
no código do registo civil.

A situação jurídica do cadáver

Para alguns o cadáver de uma pessoa passa a ser uma coisa, embora uma coisa fora do
comércio jurídico, por ser susceptivel, por sua natureza, de apropriação individual, art
202º nº2CC.

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Para outros, deve ser visto como uma pessoa presente ou passada ou com um
“tertium genus” situado entre a pessoa e a coisa.
O cadáver não faz parte da herança e está subtraído ao tráfico jurídico.

PERSONALIDADE, CAPACIDADE JURÍDICA, CAPACIDADE DE AGIR E INCAPACIDADES

A personalidade e a capacidade jurídica


A aquisição da personalidade nos termos do art 66º nº1 dá origem à capacidade
jurídica.
Segundo o art 67º a capacidade jurídica consiste em “as pessoas podem ser sujeitos de
quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário”. Corresponde à
susceptibilidade de uma pessoa ser titular de direitos e obrigações. É uma qualidade
estática, ou seja, a idoneidade de se ser titular de direitos e obrigações. É inerente à
personalidade. Quem tiver personalidade jurídica tem também capacidade jurídica, à
qual não pode renunciar, art 69ºCC.
Contudo, personalidade e capacidade não são conceitos rigorosamente idênticos. A
personalidade é insusceptivel de quaisquer limitações ou ressalvas, bem diferente da
capacidade jurídica, que pode ser mais ou menos circunscrita,
O art 67º estabelece a regra da capacidade, que é uma capacidade de gozo: todas as
pessoas, sendo iguais perante a lei, gozam da possibilidade de serem titulares de
direitos e obrigações, isto é, de serem sujeitos de quaisquer relações jurídicas privadas,
a não ser que essa possibilidade esteja expressamente excluída. As disposições que
impedem o gozo de certos direitos têm carácter de excepção.
As excepções ocorrem quando se verificam certas qualidades minguantes na própria
pessoa a respeito de determinados direitos estritamente pessoais. Assim, elas podem
surgir em relação ao casamento, à perfilhação e ao testamento. Estas excepções
constam expressamente da lei.

A capacidade negocial
 De gozo
 De exercício

A capacidade negocial consiste na idoneidade de adquirir ou exercer direitos ou de


assumir e cumprir obrigações por acto próprio e com eficácia jurídica.
A capacidade negocial diz respeito à participação no tráfico jurídico por meio de actos
autónomo-privados, referindo-se tanto a negócios estritamente pessoais como a atos
ou negócios do comércio jurídico geral.
A capacidade negocial pressupõe a capacidade jurídica. Uma pessoa pode ter
capacidade jurídica sem possuir simultaneamente a capacidade negocial.

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Enquanto a capacidade de gozo é um elemento estático (=o estar no mundo jurídico


como titular), a capacidade negocial representa o elemento dinâmico (=o agir no
mundo jurídico como praticante de actos jurídicos negociais).
Os direitos adquirem-se e as obrigações assumem-se mediante a participação no
tráfico jurídico, de acordo com o princípio da autonomia privada; para esta
participação no tráfico jurídico é necessária a capacidade negocial que serve para dar
sentido à capacidade jurídica.
A participação no tráfico jurídico pressupõe que as pessoas estão em condições de agir
com base na sua vontade, pressupõe que elas possuem o discernimento necessário
para querer e entender os negócios que praticam bem como os efeitos pretendidos
com eles.
A capacidade negocial de gozo e de exercício
Se os direitos acima referidos forem de natureza estritamente pessoal, de modo a não
poderem ser assumidos por outrem e em vez do titular, a capacidade para se tornar
titular daqueles direitos chama-se capacidade negocial de gozo.
 Capacidade negocial de gozo para casar, art 1600º e 1601º
 Capacidade negocial de gozo para perfilhar, art 1850º
 Capacidade negocial de gozo para testar, art 2188º
Nos outros casos, a capacidade para participar no tráfico chama-se capacidade de
exercício. Esta capacidade é adquirida quando se atinge a maioridade. Por isso, o
homem normal e maduro, sendo maior, possui plena capacidade de exercício, art
130º.
Antes da maioridade as pessoas carecem, em princípio, desta capacidade, por serem
menores. Mas há casos em que não as possuem, apesar de terem atingido a
maioridade, o que acontece quando apresentam certas qualidades minguantes que
não a menoridade. Nestas situações fala-se de incapacidades que resultam de factores
existentes e situados na própria pessoa do incapaz, ao qual, por virtude deles, falta o
discernimento.

A capacidade delitual

Além de se vincular por atos praticados, a pessoa pode também ser obrigada a
responder em consequência de um facto ilícito que cometeu.
A capacidade delitual é a idoneidade de uma pessoa para responder por factos ilícitos.
Esta situa-se no campo da responsabilidade extracontratual e resulta da violação
culposa de um direito absoluto ou de um interesse legalmente protegido.
A capacidade delitual é, para o campo extracontratual, o equivalente da capacidade
negocial para o âmbito contratual.
Não obstante, os conceitos de capacidade negocial e de capacidade delitual podem ser
reunidos num só conceito geral, desenvolvidos pela doutrina, que abarca ambos.
488º imputabilidade. Aqui só implica o querer, não implica a vontade para os efeitos.

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No risco não se aplica a imputabilidade.

RESUMO
1 – Personalidade jurídica: ser-se sujeito/titular de direitos e obrigações. No momento
em que nascemos adquirimos personalidade e capacidade jurídica. Dimensão
qualitativa.
2 – Capacidade jurídica ou capacidade de gozo: ser-se sujeito de quaisquer relações
jurídicas. Dimensão quantitativa. Podemos diminuir os direitos. A lei permite limitar »
“salvo disposição em contrário”. Há pessoas que não podem ser titulares de
determinados direitos.
3 – Capacidade negocial: exercer por acto próprio os seus direitos e obrigações.
Capacidade negocial de gozo e de exercício.
Exemplo: António tem 14 anos e foi pai.
Não pode perfilhar a criança. Não pode ser titular da relação jurídica paterno-filial.
Há aqui uma limitação que a lei estabelece. A perfilhação é um negócio jurídico
estritamente pessoal. Ninguém pode perfilhar em nome de outrem. O mesmo se passa
no casamento e no testamento.

Capacidade negocial de
Capacidade negocial de gozo
exercício

Casamento
Tráfico jurídico negocial geral
Perfilhação
Testamento
(a partir dos 18 anos) a pessoa
tem de entender o que envolvem
Negócios estritamente pessoais.
os negócios jurídicos. É preciso
Ninguém pode celebrar no lugar
maturidade para entender os
de outrem.
efeitos, é importante para os
efeitos.

4 – Capacidade delitual: responder por factos ilícitos. 488º imputabilidade. Aqui só


implica o querer, não implica a vontade para os efeitos. No risco não se aplica a
imputabilidade.

18 anos » em abstrato a maioria das pessoas já tem maturidade. Limite etário razoável.
A idade mostra-nos o tipo de sociedade em que estamos.

As Incapacidades Negociais

As incapacidades resultam de deficiências da própria pessoa que afectam ou diminuem


o seu discernimento ou as suas capacidades volitivas.

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Assim corresponde à capacidade negocial de gozo, a incapacidade negocial de gozo; e


à capacidade de exercício corresponde a incapacidade de exercício.
 As incapacidades de gozo
Regra geral: todas as pessoas são capazes de gozar a titularidade de quaisquer
direitos privados, salvo disposição legal em contrário art 67ºCC
Estas restrições surgem em casos em que existe uma proibição absoluta de
celebração de negócios de natureza estritamente pessoal. A incapacidade
reside na própria pessoa do incapaz. Tratam-se de situações excepcionais em
que as pessoas por ela abrangidas não podem ascender à titularidade de
direitos e obrigações de caracter pessoal por virtude das suas próprias
insuficiências. As pessoas são incapazes porque lhes falta, regularmente,
discernimento mínimo necessário. Haverá sempre em última análise um
defeito de vontade que lhes veda em termos absolutos a aquisição de certos
direitos pessoais, situação que conduz à não activação da sua capacidade de
gozo.
Como se tratam de negócios de natureza estritamente pessoal, a incapacidade
não é suprível: não há ninguém que se possa substituir ao incapaz concluindo o
negócio em vez dele. Assim, a consequência normal para um negócio celebrado
por quem não tiver capacidade de gozo é a nulidade.
Os casos das incapacidades de gozo são 3: incapacidade negocial de gozo para
casar, incapacidade negocial de gozo para perfilhar e incapacidade negocial de
gozo para testar.

1 – Incapacidade negocial de gozo para casar


Impedimentos dirimentes absolutos – “erga omnes” 1601º
a) <16 anos. Idade núbil
b) Demência notória, questão de eugenia, controlo da transmissão
c) Casamento anterior não dissolvente
A violação destes impedimentos resulta em nulidade, 1627º, 1631º
Menor casado com autorização: emancipado pelo casamento. Tratado como maior em
relação à sua pessoa e ao seu património.
Menor casado sem autorização: emancipado pelo casamento. Tratado como maior em
relação à sua pessoa, mas não pode administrar o seu património. Esta é a sanção, não
adquire capacidade negocial de exercício.

2 – Incapacidade negocial de gozo para perfilhar


Art 1850º
a) <16anos
b) Dos interditos por anomalia psíquica
c) Dos notoriamente dementes no momento da perfilhação
A violação destes impedimentos resulta em nulidade.

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3 – Incapacidade negocial de gozo para testar


Arts 2188º, 2189º, 2190º
2189º a) dos menores não emancipados (idade mínima para testar são 18anos art
130º ou 16anos mais emancipação arts 132º e 1604º b))
2189º b) interditos por anomalia psíquica.
A violação destes impedimentos resulta em nulidade.
 As incapacidades de exercício
Tirando os casos da incapacidade negocial de gozo, todas as pessoas possuem,
em princípio, a capacidade de exercício desde que tenham atingido a
maioridade. É a partir deste momento que, na convicção da lei, as pessoas têm
o discernimento mínimo que é necessário para poderem participar no tráfico
jurídico geral.
Excecionalmente, porém, a capacidade de exercício já se adquire antes da
maioridade. Trata-se do caso em que uma pessoa é emancipada pelo
casamento.
O artigo 130º diz respeito aos efeitos da maioridade. Esta aquisição da
capacidade faz-se por simples comando legal.
Quanto à emancipação, por seu lado, consta do artigo 133º. A emancipação
resulta unicamente do casamento do menor como mero efeito legal, art 132º.
Nas também o emancipado pelo casamento, não obstante a sua capacidade de
exercício, continua menor até ter completado 18 anos, art 122º, embora seja
tratado como se fosse maior, art 133º.
No entanto há várias situações em que as pessoas carecem da capacidade de
exercício, por causa de certas qualidades residentes nelas próprias que se
podem reconduzir a um defeito da vontade, à falta de discernimento
necessário para a participação no tráfico jurídico negocial. Estas “qualidades
minguantes” levam à incapacidade de exercício. As situações em que existem
incapacidade de exercício são três: menoridade arts 122º a 129º, interdição,
arts 138º a 151º, inabilitação, arts 152º a 156º.
Nas duas primeiras modalidades a incapacidade é geral, o incapaz não pode
reger nem a sua pessoa nem dispor dos seus bens; na terceira modalidade a
incapacidade é específica.
As incapacidades de exercício não dizem respeito a negócios estritamente
pessoais, sendo por isso supríveis. Os negócios celebrados sem o respectivo
suprimento são anuláveis.
Por meio das incapacidades, a lei visa proteger o próprio incapaz contra as suas
insuficiências. A ordem jurídica parte do pressuposto de que ele não está em
condições para reger a sua pessoa ou para cuidar devidamente dos seus bens
ao participar no tráfico jurídico geral.
Se a incapacidade não fosse suprível os incapazes ficariam excluídos de todo o
tráfico jurídico geral. Por isso, a ordem jurídica consagra dois meios, dois

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institutos para o suprimento da incapacidade, a representação legal e


assistência.
Instituto da representação: age em lugar do incapaz uma outra pessoa,
designada pela lei ou por certa unidade. Essa certa pessoa vem a ser o
representante legal do incapaz, agindo umas vezes com inteira independência.
Instituto da assistência: o incapaz pode agir ele mesmo. Mas para realizar
validamente os respectivos negócios, é-lhe necessário o consentimento de
certa pessoa ou entidade. A função do assistente é apenas inibitória ou
completiva da vontade do assistido.

Os representantes legais podem ser os detentores da responsabilidade parental, o


tutor, o administrador de bens.
Nos dois primeiros casos, a representação diz respeito à pessoa do incapaz e aos seus
bens, sendo os poderes do tutor menos amplos do que os dos pais. No terceiro caso a
representação estende-se apenas aos bens do incapaz.
No entanto, em certos actos a praticar pelo representante, a validade depende sempre
da autorização do tribunal, seja qual for o tipo de representação legal. O representante
age em vez do incapaz e representa-o judicial e extrajudicialmente.
Assistente é o curador, art 138 nº1, para o inabilitado ou, nos negócios estritamente
pessoais, os detentores da responsabilidade parental ou o tutor para o menores com
mais de 16 anos. No caso do art 154ºnº2 o curador é o representante legal.

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AULA PRÁTICA 13
2012-02-27
Sumário: Resolução dos casos práticos n.º 22, 23, 24 e 25 sobre as seguintes matérias:
direitos de personalidade, colisão de direitos e abuso de direito.

Caso prático 22
Direitos de personalidade. Não está em causa nenhum direito de personalidade
especial.
Trata-se de um direito de personalidade geral, art 70º.
Está em causa o direito de personalidade de B e o direito de propriedade do dono do
bar. Existe uma colisão de direitos.
Atualmente dá-se mais importância aos direitos de personalidade.
Prevalece o direito de personalidade, art 335ºCC.
335º nº2 » ofensa » direito geral de personalidade, art 70º nº1.
Ofensa consumada » providências adequadas » de remédio (fechar o bar mais cedo;
sonorizar de outra forma, etc) » 70º nº2.
Ofensa sem consentimento – ilícita.
Eventualmente, se estiverem preenchidos os pressupostos poderia haver direito a uma
indemnização, nos termos do art 483º.
Facto voluntário – produção do barulho
Ilicitude – violação do direito de personalidade
Culpa – mera culpa
Dano – danos não patrimoniais
Nexo de causalidade – produção de barulho provoca as insónias.

Caso prático 23
Violado direito à imagem, art 79ºCC.
Violado direito geral de personalidade, art 71ºCC – direito à integridade moral
Ofensa ilícita
Reação: providências adequadas de remédio (encerrar o site, retirar as imagens,
pedido de desculpas público).
Art 79º nº1 – verifica-se
Art 79º nº2 – era necessário o consentimento, porque as excepções não estavam em
causa
Indemnização por responsabilidade extracontratual, 483ºCC

Caso prático 24
a) Ofensa » direito especial – direito à imagem 79º e direito à reserva sobre a
intimidade da vida privada.
Deu consentimento para a violação dos seus direitos de personalidade, art 81º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 137


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Há uma ofensa, porque a imagem dele está a ser exposta, mas não há ilicitude,
porque houve consentimento, art 340º.
A regra geral do 340º nº2 é afastada pela norma especial do 81º nº1.
A lei permite revogar o consentimento. Não há ilicitude.
Paloma é obrigada a indemnizar a outra parte por responsabilidade civil, por
factos lícitos, art 81º nº2
b) Art 72º, nº1, direito ao nome – fins comerciais/propaganda. Ofensa ilícita.
Direito ao bom nome, art 70º, cláusula geral de personalidade.
Providências adequadas de remédio » mudar o nome da casa noturna e pedido
de desculpas público.
c) Direito à imagem, art 79º
Direito à reserva sobre a intimidade da vida privada, art 80º
d) Ameaça de ofensa, art 70º nº2
Ilícita 340º nº1 publicação 76º
Providências preventivas 75º nº2

Caso prático 25
Violação direito à imagem e direito à reserva sobre a intimidade da vida privada, arts
79º e 80º
Ofensa ilícita, porque não consentida
79º nº2 excepção ao consentimento
79º nº3 necessário consentimento
Teria direito a pedir as providências adequadas, mas seria ilegítimo pelo 334º

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 138


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AULA TEÓRICA 16
2012-03-05
Sumário: b) incapacidades de exercício; suprimento destas em caso de menoridade(
artigos 122.º » 123.º [» 124.º]» 125.º » 127.º « 125.º [» 126.º] » 129.º[» 131.º e 132.] »
130.º).
c) O regime do interdito (artigos 138.º, n.os 1 e 2; 139.º » 123.º e seguintes):
recolocação do interdito (= maior) na situação jurídica de um menor
d) O regime do interditando:
aa) A protecção precária pelo regime da incap. acidental (artigo 257.º)
bb) As providências durante o processo (artigos 142.º n.os 1 e 2 v.s. 149.º)
cc) Actos praticados entre o trânsito em julgado e o registo da sentença
e) O regime do inabilitando (artigos 156.º » 139.º) [Ver: al. d)]
f) O regime do inabilitado (artigos 152.º, 153.º, n.º 1, 154.º, n.º 1 v.s. 156.º » 139.º »
123.º e seguintes) limitado a negócios patrimoniais
aa) O regime regra do artigo 153.º, n.º 1, e sua alteração por sentença
bb) A entrega, no todo ou em parte, da administração dos bens ao curador

(continuação)

 As incapacidades negociais de exercício


1 – Menoridade
Segundo a lei é menor quem não tiver completado 18anos de idade, art 122ºCC.
ART 122º - Menor
Art 123º - quem é menor não tem capacidade negocial de exercício.
Art 130º a contrario sensu
Art 124º - como se supre a menoridade. Representantes legais
Os menores carecem de capacidade para o exercício de direitos (123º, 2ªparte), isto é,
a sua incapacidade é geral: eles não estão habilitados a reger a sua pessoa e a dispor
dos seus bens e eles não têm capacidade para adquirir direitos ou assumir obrigações
por ato próprio por via negocial. A não ser que a lei abra excepções (123º, 1ªparte),
esta incapacidade só termina com a maioridade ou com a emancipação pelo
casamento, arts 129º e 132º.
A incapacidade dos menores é suprida pela responsabilidade parental e
subsidiariamente pela tutela, devendo os menores obedecer, em tudo quanto não seja
ilícito, aos seus pais ou tutores, e cumprir os seus preceitos, art 128º.
As responsabilidades parentais, a tutela e a administração de bens são formas de
representação legal do menor com âmbitos diferentes. As responsabilidades parentais
e a tutela dizem respeito à pessoa e aos bens do menor, a administração de bens
refere-se apenas aos bens do menor a ele confiados, art 1971º.

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Em alguns casos os respectivos representantes legais necessitam da autorização do


tribunal para poderem validamente celebrar determinados atos quanto aos bens do
menor.
A responsabilidade parental pertence aos pais; a tutela e a administração de bens
cabem a quem tiver sido designado para o efeito.
CASO PRÁTICO
Berta tem 8 anos. À saída da igreja, a avó dá-lhe 1€ para ir comprar um gelado. Berta
compra o gelado.
Qual o valor jurídico deste negócio?
É válido! Há negócios jurídicos que consoante a maturidade dos menores são
considerados válidos.
Artigo 127ºa) bens que o >16 tenha adquirido por seu trabalho
b) maior elasticidade. Grande adaptação às várias situações. Três pressupostos:
1negócio jurídico próprio da vida corrente do menor (situação normal a que está

habituado); 2ao alcance da sua capacidade natural; 3despesas de pequena importância


(dependendo do contexto económico do menor). Estes pressupostos têm que estar
todos preenchidos simultaneamente.
c) negócios que têm de celebrar por causa da sua profissão.
Nestes casos, o legislador pressupõe que o menor já possuiu o discernimento e o
poder de avaliação suficiente para agir em conformidade com os seus interesses e para
assumir as respectivas responsabilidades. De acordo com a 1ªparte do 123º, o art 127º
quebra a regra rígida.
A razão da flexibilidade reside no facto de a maturidade e o discernimento não se
adquirirem de maneira instantânea quando se atinge a maioridade, mas serem o
resultado de um processo de evolução global. Deste modo, a lei tem de considerar não
só as exigências da segurança do tráfico jurídico, mas também o direito à
autodeterminação e autorregulamentação da pessoa.
Artigo 125º - quando um menor realiza um negócio jurídico que não cabe nas
situações do art 127º, o negócio é anulável.
Nº1 a) tem legitimidade os pais, o tutor ou o administrador de bens. No caso em que
tenha pais e administrador de bens, é o administrador que tem legitimidade. Os
representantes legais têm o prazo de um ano a contar do conhecimento do negócio.
Mas se nesse praze de um ano, o menor passar a ser maior, o prazo acaba nessa
altura.
b) A partir da maioridade é o maior que tem legitimidade no prazo de um ano.
c) Se o maior morrer sem ter confirmado o negócio, quem tem legitimidade são os
representantes legais, com o prazo de um ano a contar da data da morte. É preciso
que a morte tenha ocorrido antes do prazo da alínea anterior caducar.
Artigo 1889º: atos cuja validade depende de autorização do tribunal.
Exemplo: menor falsifica a venda de um imóvel. Pais querem confirmar tacitamente o
negócio, mas não podem sem a autorização do Ministério Público.

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O menor usou dolo. Enganou a contraparte. Neste caso a lei não o protege, porque se
é maduro para enganar, tem que arcar com as consequências. Não pode invocar o
126º.
Mas os pais têm legitimidade para o invocar, é a única forma de exercer a
responsabilidade parental.
O menor tinha um filho e morreu pouco depois de atingir a maioridade.
Os pais nunca souberam do negócio, logo nenhum prazo decorreu. Mas o herdeiro
sub-entra na relação na posição do morto, herda também o dolo do negócio. Também
não tem legitimidade.
Se os herdeiros do falecido fossem os pais, estes também não iriam ter legitimidade,
porque também sub-entravam na posição do herdeiro.
Artigo 131º - menor de idade com 17 anos. O menor sofre de esquizofrenia. Quando
atingir a maioridade vai continuar incapacitado. A lei permite que se intente uma
acção de inabilitação enquanto menor. Se fizer 18 anos e não tiver saído o resultado da
sentença, prolonga-se a responsabilidade parental até à saída da sentença.

2 – Interdição
A interdição será tomada quando alguém por anomalia psíquica, surdez-mudez ou
cegueira se mostrar incapaz de governar a sua pessoa e os seus bens, art 138º nº1. A
interdição tem como consequência a incapacidade geral de exercício de direitos,
afecta tudo, a capacidade de cuidar de bens e de si próprio. É, em certa medida, a
recondução ou recolocação de um maior na condição de um menor.
Aplica-se apenas na maioridade, porque a interdição de um menor enquanto menor
não faz sentido.
A interdição tem como requisito que esta incapacidade geral tenha carácter de
permanência.
No que diz respeito às “qualidades minguantes”, art 138º nº1, convém esclarecer que,
quanto à anomalia psíquica ela não abrange apenas deficiências de intelecto, de
entendimento, mas igualmente as deficiências da vontade, afectividade e
sensibilidade. As anomalias referidas devem ser duradouras ou habituais.
No que respeita à surdez-mudez e à cegueira, só devem dar origem à interdição
quando forem ainda a causa de debilidade intelectual ou de atrofia de inteligência, de
modo que o respectivo sujeito não é capaz de se governar. Porém, nem sempre as
pessoas afectadas por estas deficiências nem sempre carecerão da protecção que lhes
advém de uma interdição, sendo suficiente a inabilitação com a consequente
nomeação de um curador.
A interdição necessita de ser decretada por decisão judicial na sequência de uma ação
dirigida a este fim. O tribunal decide não em função do pedido da acção, mas no
interesse do interditando.

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A interdição visa, por um lado, a máxima protecção possível e contribui, porém, para
uma intervenção bastante forte e grave na vida e na personalidade de uma pessoa que
desta maneira vê condicionado o seu livre desenvolvimento. Assim, o interditando
dispõe sempre e obrigatoriamente de um defensor que o representa no processo.
Artigo 141º - quem tem legitimidade para requerer a interdição. Pode ser requerida
pelo cônjuge do interditando, elo seu tutor ou curador, por qualquer parente
sucessível, ou pelo MP. Se o interditando estiver sob responsabilidade parental, porém
só os progenitores que exerçam o poder paternal e o MP têm legitimidade para
requerem a interdição, Art 141º nº2. Estas duas legitimidades são autónomas, quer
dizer, o MP pode actuar contra vontade dos pais e estes não precisam da autorização
daquele.
Art 1901º nº2 – os pais devem agir de comum acordo. Havendo desentendimento será
suficiente o requerimento de apenas um deles, sem a necessidade de recorrer
previamente ao tribunal para sanar o desacordo entre eles, visto que a interdição visa
servir em primeiro lugar os interesses do interditando.
142º - Podem ser decertadas providências cautelares (provisórias), inclusive a
interdição provisória, para impedir que ao interditando advenha um prejuízo. Para o
efeito, o artigo 142º distingue duas situações. Na hipótese prevista no nº2, porém é
urgentemente necessário providenciar quanto à pessoa e bens do interditando –
decretada uma interdição provisória com a nomeação de um tutor que possui
competência normal, embora em situação provisória. Quando se intenta uma acção,
ou mesmo mais tarde, pede-se ao tribunal que resolva a situação – tutor ad hoc (142º
nº1) ou verdadeira interdição, embora provisória (142º nº2).
139º - Todas as regras da menoridade aplicam-se à interdição. Remissão em bloco para
o regime de menoridade (prazos, etc).

Janeiro Março Abril Dezembro

Decretada Interdito fez Tutor toma É operado e resolve a sua


interdição CCV conhecimento deficiência.
(Anulável)
1 ano para A lei permite que levante a
intentar acção interdição, porque ele já é
capaz. O actual capacitado é
que tem legitimidade para
anular o negócio no praze de
um ano.

143º - Tutela. A incapacidade dos interditos é suprida pela tutela, ou seja, por uma das
formas da representação legal. É de notar que nesta ordem o cônjuge precede as
pessoas indicadas pelos pais. A tutela cabe em primeiro lugar ao cônjuge do interdito,
salvo se o cônjuge estiver separado judicialmente de pessoa e bens ou separado de

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 142


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facto, 143º nº1 a). No caso previsto na alínea b) do nº1, os pais devem indicar por
acordo, 1901º nº2, a pessoa que querem ver incumbida da tutela. Na falta de acordo
cabe ao tribunal escolher a pessoa mais indicada. O tribunal pode, depois de ter
ouvido o conselho de família, designar o tutor por ordem diversa da legalmente
prevista – 143º nº1 c) d), 143º nº2. Esta solução confere maior flexibilidade à actuação
do tribunal e aumenta o intervencionismo estatal na vida familiar. Se a tutela cair no
pai ou na mãe, estes exercem a responsabilidade parental. Quando a tutela não recair
nos pais, aplica-se em tudo o que não seja regulado de maneira especial pelos arts
139º a 151º as regras respeitantes à tutela, bem como as regras respeitantes aos
outros meios previstos para este fim, 1921º a 1927º. A tutela, como instituto da
representação legal, destinada a suprir a incapacidade de exercício, aparece-nos em
duas situações diferentes [meio para suprir a responsabilidade parental, então aplica-
se a menores 1921ºss, 1927º a 1962º; meio para suprir a capacidade do interdito,
aplica-se a maiores, 139º a 151º, 1921ºss, 1927º a 1962º]. Ao lado da tutela pode
surgir ainda a administração de bens, 139º última parte, sendo assim necessário o
tutor para suprir a incapacidade para o exercício de direito s do interdito, pode haver
situações em que o tutor possui, a título de excepção, capacidade. A este respeito são
aplicáveis ao interdito as disposições que regulam as excepções à incapacidade por
menoridade, consequência que decorre do facto do interdito ser juridicamente
equiparado ao menor, 139º 1ªparte. Aplicam-se assim ao interdito os arts 123º a 128º,
sendo de salientar a importância dos arts 125º, 126º e 127º. Os negócios do interdito
que não forem praticados ao abrigo do 127º são anuláveis nos termos do 125º. A
anulação dos negócios pode ser requerida pelo tutor (no ano a seguir ao seu
conhecimento), pelo próprio interdito (ano após o levantamento da sua interdição) e
por um herdeiro do interdito (dentro do ano depois da morte). A anulabilidade é
sanável mediante confirmação do tutor, ou mediante confirmação do próprio interdito
ou mediante a confirmação do herdeiro.
Artigo 146º - escusa de tutela e exoneração do tutor. Escusa – atitude de que pretende
não ser nomeado tutor, não iniciando sequer o exercício do cargo. Exoneração –
substituição no cargo depois de ter sido exercido pelo exonerado. Escusa e exoneração
pressupõem a existência de razões atendíveis. 146º nº1 – veda ao cônjuge do interdito
e aos seus descendentes e ascendentes a possibilidade de pedir a escusa da tutela bem
como a exoneração. Porém, ao fim de 5 anos, os descendentes podem pedir a
exoneração.
Artigo 151º - a interdição pode ser levantado quando cessarem as causas que a tinham
determinado. Têm legitimidade para o requerimento o próprio interdito ou as pessoas
que têm legitimidade para requerer a interdição.
Artigo 149º - determina este preceito que são anuláveis os negócios jurídicos
celebrados pelo interditando, depois de anunciada por meio de afixação de editais e
anúncios em geral, art 945ºCPC. Três pressupostos: 1depois de anunciada a proposição
da acção nos termos da lei do processo; 2sentença tem de vir a ser decretada; 3preciso

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provar que o negócio causou prejuízos ao interdito. Prejuízo objetivamente verificado


no momento da realização do negócio. A exigência da publicidade da acção de
interdição visa a protecção de terceiros, prevenindo-os contra uma eventual anulação,
com base no prejuízo causado. O prazo de anulação de um ano, 287º nº1 2ªparte
começa a correr a partir do momento do registo da sentença definitiva, 149º nº2.
Exemplo: A é interdito. Realiza um negócio. O negócio é anulável. Os pressupostos do
149º estão preenchidos. Quem tem legitimidade para invocar a anulabilidade?
Remissão do 139º. O prazo só conta a partir do registo da sentença.
Negócios celebrados antes da propositura da acção: não havendo acção, se tiver mais
de 18 anos é maior de idade. Mas de facto é incapaz. Como se protege o incapaz?
Através do disposto acerca da incapacidade acidental, art 257º. Segundo este preceito,
uma declaração negocial feita por quem não tinha livre exercício da sua vontade é
anulável, desde que o facto seja notório ou conhecido da parte à qual fora dirigida. O
art 257º protege o interditando também depois da data da propositura da acção. A
sentença que decreta a interdição definitiva está sujeita a registo civil obrigatório, art
147º. Enquanto a sentença não constar do registo, a interdição, embora produzindo os
seus efeitos, não pode ser invocada contra terceiros de boa fé –arts 147º e 1920º. Está
de boa fé quem não conhece a sentença nem razoavelmente deve conhecê-la. A regra
do 147º destina-se à segurança do tráfico jurídico geral fomentada pela publicidade do
registo. Por isso, em relação a terceiros de má fé a interdição pode ser invocada
mesmo sem registo, por causa da sua finalidade protectora em relação ao interdito.
CADEIA DE PROTECÇÃO: até à propositura da acção » regime da incapacidade
acidental; durante o decurso da acção » incapacidade acidental reforçada pelo regime
dos arts 142/149º; após o trânsito em julgado da sentença, mas antes do seu registo »
interdição, sem possibilidade de ser invocável contra 3ªboa fé; depois do registo »
interdição, sem qualquer restrição.

CASOS PRÁTICOS
1º António tem 20 anos e é esquizofrénico. Durante intervalo lúcido vende o seu carro
por 20000€. Com o dinheiro que ganhou financia a festa do seu casamento com Berta.
Cessa o seu intervalo lúcido e perde o livre exercício da sua vontade.
2º atendendo à sua esquizofrenia foi proposta uma acção de interdição contra
António. Esta acção foi devidamente publicitada. António pratica os mesmos negócios
no intervalo lúcido- é decretada a interdição e a sentença transita em julgado. António
celebrou os referidos negócios jurídicos.
Qual o valor jurídico destes negócios?
257º
1600º, 1601º b), 1631º a)
145º
150º

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3 – Inabilitação
Regulamentada nos arts 152º a 156º.
A inabilitação também se destina a maiores, mas constitui uma intervenção mais fraca
e menos ampla do que a interdição.
Aplica-se a dois grupos de pessoas, àquelas com qualidades minguantes (152º 1ªparte)
e àquelas com deficiências de caráter (152º 2ªparte).
Pessoas com qualidades minguantes: apresentam as características necessárias para
uma interdição, mas sem gravidade que justifique tal.
Pessoas com deficiências de caráter: pessoas que em virtude de determinados vícios
são incapazes de regar convenientemente o seu património.
A inabilitação refere-se apenas a quem se mostra incapaz de reger convenientemente
o seu património e ainda a quem não seja incapaz de todo de governar sua pessoa e
bens.
Como em todos os casos de incapacidade, também a inabilitação visa proteger em
primeiro lugar os interesses do inabilitado contra a sua própria deficiência.
No contexto do artigo 152º 2ªparte, o requisito “habitual” caracteriza uma atitude
continuada e uma propensão nítida, própria de um estado ou de uma maneira de ser
da pessoa.
Prodigalidade: comportamento originado por um defeito da vontade ou do caráter,
que se define por gestos desproporcionados em relação à situação patrimonial do
inabilitando, sendo os gestos injustificáveis.
Arts 153º a 155º - aplicável à inabilitação, com as necessárias adaptações, o regime da
interdição. Assim, sempre que os arts 152º a 155º não prevejam soluções específicas
para a inabilitação, deve recorrer-se ao regime estabelecido para a interdição, como
regime supletivo.
[por força do 156º » 140º nº2; 141º; 142º; 143º; 146º a 151º; 139º (remissão para a
menoridade 123º a 128º, principalmente 125º, 126º, 127º e 1967ºss)]. 156º » 138ºss »
139º » 122ºss
156º » 139º » 122º: prazo (125º), excepções (127º), protecção (149º, 142º, 257º) e
legitimidade (141º).
Tal como a interdição, também a inabilitação necessita de ser decretada por sentença,
sendo necessário o respectivo requerimento, proposto por acção, 156º e 141º.
Até ao registo da sentença que decreta a inabilitação vale para o inabilitando o regime
da protecção estabelecido para os negócios do interditando, ou seja, as regras da
incapacidade acidental, as medidas previstas pelos arts 142º/149º, o regime do 147º e
o sistema de inabilitação sem restrições algumas.
Depois de decretada a inabilitação, os inabilitados são os assistidos por um curador. Os
actos são desta maneira praticados pelo próprio inabilitado, dependendo a sua
validade da autorização do curador que supre a incapacidade, geral ou específica, do
inabilitado. O curador não celebra qualquer acto em vez do inabilitado. A sua

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assistência consiste apenas em autorizar actos que são praticados pelo próprio
incapaz. O curador age ao lado do inabilitado ou impede-o de agir. Se o curador não
autorizar um acto pretendido pelo inabilitado, a autorização pode ser judicialmente
suprida, art 153º nº2.
Todavia, se a administração do património do inabilitado for entregue, nos termos do
art 154º ao curador, a incapacidade do inabilitado é suprida, já que o curador assume a
administração dos bens pela representação. Nesta situação o curador já age em vez do
inabilitado.
Quanto aos actos de disposição de bens entre vivos, o tribunal pode limitar-se a
submeter apenas determinados actos especificados à autorização do curador, 153º
nº1 2ªalternativa, mas o tribunal pode fazer depender da autorização do curador
todos estes casos, 153º nº1 1ªalternativa. Finalmente pode ser decretada a
administração de bens do inabilitado relativa à parte ou à totalidade dos seus bens
(quando a gravidade da incapacidade o justifique), art 154º nº1.
Segundo o art 153º o inabilitado tem capacidade para quaisquer actos de mera
administração quanto aos seus bens. Havendo, porém, administração de bens ao
abrigo do art 154º, o inabilitado já não pode praticar tais actos na medida em que são
abrangidos pela competência do curador.
O inabilitado pode sempre concluir os negócios para os quais possui capacidade ao
abrigo do art 127º (remissão dos arts 156º e 139º).
A inabilitação pode ser levantada de acordo com o art 963º CPC e com os respectivos
pressupostos enunciados nos arts 156º, 151º e 155º. No entanto, o legislador
entendeu que era preciso uma prova duradoura relativamente à superação do
respectivo vício. Daí o prazo de 5 anos para estes casos e não para os de anomalia
psíquica, surdez-mudez e cegueira, onde o levantamento da medida depende só do
desaparecimento da deficiência.

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AULA PRÁTICA 14
2012-03-05
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior. Resolução do caso
prático n.º 26.
A capacidade jurídica: noção; o regime da capacidade negocial de gozo; o regime da
capacidade negocial de exercício.

Caso prático 25

a)b) Estamos perante uma ameaça de ofensa. Por um lado temos o direito a imagem
(art.º 79) e à vida privada (art.º80). Esta ofensa é ilícita? Sim, pois não há
consentimento, mas para ver se é necessário consentimento temos de ir ao art.º 79,
nº2, este número 2 vem dizer que nesta situação não é necessário consentimento, no
entanto o nº3 diz que isto não acontece se provocar danos na reputação do político,
logo concluímos que é preciso consentimento. O que está aqui em causa é o abuso de
direito (art.º 80, nº2), pois alguém que cede 1º a sua imagem e posteriormente já não
quer é considerado abuso de direito (art.º 334) - Benire contra factum proprium.

-------“-------

Estrutura do tema de direitos de personalidade:


Art.º 66- início da personalidade jurídica (direitos originários)
Art.º 70- direitos de personalidade (com vida) + art.º 71- direitos de personalidade
(pessoas falecidas)> regra geral.
O art.º 70 protege a ofensa e a ameaça da ofensa, na ofensa através de providências
adequadas de remédio, na ameaça de ofensa através das providências adequadas
preventivas. Art.º 483 + P.A.
O art.º 71 protege apenas através de providências adequadas
Norma geral ou especial, ver 1º se se encaixa em alguma situação especial
Art.º 72 a 80 - direitos especiais
Art.º 81- limitação voluntária dos direitos de personalidade e revogação do
consentimento
Atenção: art.º 79 (nº1 consentimento, nº2 excepção ao consentimento, nº3 excepção
à excepção

------------“------------

Caso 25: art.º 66, nº1, pessoa singular com direitos originários, tem direitos de
personalidade subjectivos pessoais, absolutos com efeitos erga omnes. Temos de
analisar se estão em causa artigos especiais (art.º 79 e 80). O art.º 79, nº1 proíbe a
publicitação da fotografia, o político não deu consentimento (nº1), mas é político logo
não é preciso consentimento (nº2), mas poe em causa a sua reputação (nº3), logo é

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 147


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necessário consentimento. O art.º 80 diz respeito à reserva do direito à vida privada. O


que é que ele pode fazer? Vamos ao art.º 70: P.A + art.º 483. A ofensa já foi cometida
por isso temos providências de remédio (pedido de desculpas formal), a ameaça de
ofensa resolve-se pelas providências preventivas (retirar das bancas). Quanto à
responsabilidade extracontratual- casum sentit dominus, a não ser que se prove o
contrário através dos pressupostos da responsabilidade civil: é obrigado a indemnizar
nos termos dos art.º 562 + prescrição do art.º 498, nº1.
Neste caso usamos o art.º 335 para saber se os direitos são iguais, por isso temos de
saber se o direito de personalidade é superior ao direito de dever de informar,
dependendo da situação.

(AB)USO pode ser:


Institucional- o exercício concreto excede (o direito não está coberto)
Individual- exercício concreto do direito subjetivo fez com que ele exceda os limites
impostos pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Se se provasse que o político estava a cometer abuso de direito nunca poderia recorrer
a providências adequadas.

Caso prático 26

Está aqui em causa a existência de abuso de direito (art.º 334) que como sabemos
pode ser institucional ou individual. É ilegítimo exercício de um direito quando o titular
exceda os limites da boa-fé. O seu exercício contraria a ordem pública ou contradiz os
princípios fundamentais da ordem jurídica económica ou social ou desvirtua a função e
os objetivos de um dado instituto jurídico> limites imanentes do direito.
Atenção: No art.º 334 a partir do ou, o que está para a frente é institucional, para tas é
individual
A e B têm terrenos agrícolas mas B não explora, A deveria dar preferência a B segundo
ele, mas vende a C. B faz abuso de direito institucional porque invoca o seu direito de
preferência quando na verdade não usa o terreno para exploração agrícola que é o
objetivo da lei.
Verwirkung- o seu titular não exerce o direito por um período alargado de tempo e dá
a entender que não o vai exercer. No caso concreto o homem não comprou a
quantidade de café a que estava obrigado, mas passaram 3 anos e nada foi dito em
contrário. O fornecedor deu-lhe a entender que não iria exercer o direito. É um caso
de abuso de direito individual por parte do fornecedor pois excede os limites da boa-
fé, é ilegítimo (art.º 334).

 No art.º 335 temos a colisão entre 2 direito subjectivos, a solução é saber qual é
superior para prevalecer este, se forem iguais os dois têm de coexistir.

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Incapacidade
Pessoas singulares, com personalidade jurídica (art.º 66- susceptibilidade)
Art.º 67- capacidade jurídica. Pode ser titular de todos (à excepção de 3 situações)
Há 3 situações em que nem titular de direito se pode ser (direitos estritamente
pessoais): casar (art.º 1601), testar (art.º 2189) e perfilhar (art.º 1850)> incapacidade
de gozo.
Atenção: não confundir incapacidade gozo com incapacidade exercício. Um surdo-
mudo e uma cega podem casar!
Na capacidade de exercício está em causa um conceito dinâmico. Há sempre uma
qualidade minguante que faz com que a pessoa não tenha idoneidade de a pessoa
exercer os seus direitos por ato próprio.
Na capacidade jurídica- idoneidade para, por ato próprio, exercer os direitos de que é
titular de cumprir obrigações a que está adstrito.
Art.º 66 + 67 (casar, perfilhar ou testar)
Impossibilidade de gerir a sua pessoa e os seus bens: menoridade e interdição>
incapacidade de âmbito geral. De exercício, a menoridade é suprível através da
representação legal, a inabilitação é suprível por assistência.
A menoridade
Art.º 66 e 67- incapacidade de exercício
Art.º 81> incapacidades- art.º 122 até art.º 156
Menores:
Art.º 122
Art.º 123, o que lhe acontece? É incapaz para o exercício de direitos
Art.º 124 é suprível
Art.º 125 Sabia que era menor mas praticou negócio jurídico, logo é anulável (em
regra) a), b) e c) quem invoca a anulabilidade e o nº2 confirmação (art.º 282)
Art.º 129 a incapacidade dos menores atinge-se pela maioridade ou pela emancipação
por casamento
Dos 0 à maioridade/emancipação pelo casamento (durante este período a pessoa está
incapacitada negocialmente). Casamento - direito de gozo (art.º 1601- tem de ter mais
de 16 anos e com consentimento> equiparado a um maior; se tiver 16 anos ou mais e
não tiver consentimento recorremos ao art.º 1649> continua a ser menor para bens
que leve para o casal ou bens adquiridos a titulo gratuito)
Nos termos do art.º 127 há excepções <à incapacidade para que o menor se
começasse a treinar para o que mais tarde lhe irá ser pedido.

Caso prático 27

Osmar tem 17 anos, logo é menor (art.º 122), sendo menor carece de capacidade
negocial de exercício (art.º 123), logo não tem o discernimento necessário para querer
e compreender os negócios jurídicos do tráfico corrente de bens e serviços e os efeitos

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que daí advém (art.º 130). Está em causa a capacidade negocial de gozo, um direito de
natureza estritamente pessoal, nestes direitos se faltar a capacidade negocial de gozo
é insuprível, não pode ser obtido por mais ninguém a não ser o titular. Temos de
recorrer ao art.º 1600, no art.º 1601 (remissão para art.º 1627, remissão para art.º
1631, a), art.º 1639- legitimidade para a anulabilidade e art.º 1643 que estabelece o
prazo para pedir a anulabilidade) encontramos os impedimentos dirimentes absolutos,
e verificamos que o casamento é valido pois é > 16 anos. O casamento foi validamente
celebrado, mas o art.º 1604 (impedimentos impedientes) estabelece uma exigência
para este tipo de casamentos, ou seja Osmar precisava de autorização dos pais
(art.º1612), não havendo autorização a lei estabelece uma sanção (art.º 1649). O
menor ao casar-se dá-se a emancipação (art.º 132), cujos efeitos estão no art.º 133, o
menos passa a adquirir plena capacidade de exercício de direitos. Casou-se,
emancipou-se.
Quando à doação (art.º 940), negócio jurídico válido, o menor emancipou-se tem plena
capacidade de exercício (art.º 948, nº1).
Quando ao testamento, também é capacidade negocial de gozo, negócio estritamente
pessoal. No art.º 2188 diz que os emancipados podem testar. O art.º 2190 diz que se
fosse incapaz o negócio era nulo.
E se Osmar se casou sem autorização, dá-se a emancipação (art.º 132) e os efeitos
estão no art.º 133, ressalva o previsto no art.º 1649 o menor não pode dispor
livremente dos seus bens, a consequência é a anulabilidade (art.º122) pois Osmar
carece de capacidade negocial de exercício (art.º 122, nº1). O testamento diz que os
menores emancipados podem testar (art.º2188), adquirem capacidade negocial para
testar.

Artigos da perfilhação:
- 1849
- 1850
- 1861

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 150


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 17
2012-03-12
Sumário: h ) Incapacidade delitual [pp. 346 a 351]
B. As pessoas colectivas
I. O conceito de pessoa colectiva: as duas modalidades básicas; os sistemas de
reconhecimento (= atribuição da personalidade jurídica)
II.[n.leccionado]
III. As pessoas colectivas do Código Civil em geral: os tipos regulados; a aquisição da
personalidade e seus pressupostos; a capacidade jurídica; a capacidade de agir »
“representação orgânica” v.s. representação voluntária; responsabilidade contratual
(artigo 163.º) v.s. extracontratual (artigo 165.º); termo da personalidade/extinção da
pessoa colectiva (artigos 182.º/192.º com dois tipos de causas)
Esquema comparativo:
arts. 66.º, n.º 1 » 67.º » 130.º (2.p.) » 488.º » 68.º
arts. 158.º » 160.º » 163.º [162.º] » 165.º » 182.º/192.º

3 – inabilitação (conclusão)
O inabilitado só precisa de autorização do curador mas é ele próprio que realiza os
negócios, mas só precisa de autorização para os negócios de disponibilização de bens.
Quando cessa a incapacidade de facto?
Se a inabilitação desaparecer é possível levantar uma acção nesse sentido (art.º 156
que remete para o 141). O art.º 155 é um regime especial da inabilitação, diz respeito
a um outro grupo de pessoas que têm esta inabilitação mais “disfarçada”, a lei
desconfia desta pessoa e são precisos 5 anos para provar que já não sofre de vício
algum. (ex.: se passarem 5 anos e o juiz disser que a pessoa não está ainda em
condições começa do 0, são precisos mais 5 anos para nova possibilidade).
O art.º 154- Transforma o curador num verdadeiro representante legal

Incapacidade acidental
- Incapaz
- Contraparte do incapaz
Esta pessoa não tem o livre exercício da sua vontade, a lei permite anular se a
contraparte sabia da incapacidade ou se esta era notória. A contraparte não tem culpa
que a outra parte não entenda o que está a fazer, assim alei protege-a. se a pessoa não
está capaz de entender o que está a fazer esta é anulável, mas se e só se for notória. O
regime regra para a anulabilidade é o art.º 257.

Ilegitimidades e indisponibilidades:
 Situações em que não temos legitimidade para determinado negócio ou não
podemos dispor dos nossos bens. Art.º 1602 (impedimentos dirimentes relativos-
não podemos casar “com determinadas pessoas”). Estes negócios se forem
celebrados são anuláveis (art.º 1631, a)).

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 151


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 São casos de indisponibilidades relativas, uma pessoa não pode dispor dos seus
bens, mas apenas em relação a determinadas pessoas (art.º 2192 ss) - não é
possível deixar bens em testamento a algumas pessoas, se acontecer é nulo. O
art.º 953 remete para as normas do testamento.

Art.º 2194- impede que haja negócio com alguém débil. A lei protege esta pessoa
Art.º 877- proíbe venda de bens a filhos ou a netos sem a autorização dos outros
filhos ou netos

Ilegitimidades conjugais
Art.º 1682 a 1683- a lei exige o consentimento do conjugue
Incapacidade delitual
Quem não tem susceptibilidade para Responder por factos ilícitos – menores de 7 anos
e pessoas que não entendem o facto danoso (art.º 488)

Pessoas colectivas

À semelhança das pessoas singulares estas também possuem personalidade jurídica,


também são titulares de relações jurídicas. Ao contrário das pessoas singulares não
são pessoas em sentido ético, não é pelo facto de surgirem que adquirem
personalidade jurídica, é necessário um acto de reconhecimento da personalidade
jurídica às pessoas colectivas. A partir do momento em que ganham personalidade
jurídica tornam-se autónomas de quem as criou, a associação ganha autonomia em
termos jurídicos e patrimoniais. Só se afeta o património da própria pessoa colectiva e
não o dos membros em geral - autonomia patrimonial.
Pessoas colectivas em sentido lato - são todas as formações que não sendo pessoas
singulares possuem personalidade jurídica face à ordem jurídica privada (ex.:
associações, sociedades civis/comerciais, cooperativas- formações com personalidade
jurídica)
Pessoas colectivas em sentido restrito - aqui só cabem as pessoas coletivas referidas
no art.º 157 (apenas associações e fundações) - são estas que vamos estudar. Havendo
lacunas recorre-se ao código civil. A lei não permite criar associações que tenham
como fim o lucro, mas podem ter um fim egoístico; no caso das fundações também
não podem ter fim lucrativo e para alem disso só podem ter uma finalidade social e
não egoística.
Há 2 modalidades básicas para o substrato que define as pessoas coletivas:
○ Substrato de índole pessoal - corporações
Conjunto de pessoas que prosseguem um fim comum a todas elas
○ Substrato de índole patrimonial - institutos ou fundações

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 152


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Aqui já não é um conjunto de pessoas mas um património que se separou para que
se prossiga um determinado fim- o património foi deixado para aquele fim

Como justificamos a existência de pessoas coletivas?

Há uns anos atrás era estranho uma pessoa coletiva ter personalidade jurídica e foi
preciso justificar dogmaticamente a sua existência, elas fazem falta, pois há alguns
interesses que as pessoas singulares não conseguem prosseguir. A pessoa coletiva
permite a mobilização de várias pessoas todas a prosseguir o mesmo fim e além disso
consegue-se uma autonomia patrimonial (ex.: se as coisas correm mal e associação vai
à falência, os particulares envolvidos têm o seu património pessoal protegido - limita-
se a responsabilidade e o risco de quem forma o seu substrato)> são uteis.
Aquilo que está na base da sua criação é a autonomia privada das pessoas
singulares que criam a pessoa coletiva. Se as pessoas singulares podem agir
sozinhas também têm autonomia privada para criar uma pessoa nova com vista a
prosseguir os seus interesses. Depois de terem sido criadas já não devemos
confundir a pessoa coletiva com os associados, a pessoa coletiva tem a sua própria
autonomia privada. Vai ter igualdade formal.

Como se atribui personalidade jurídica as pessoas coletivas?

1) Formação do seu substrato (índole pessoas/patrimonial)


Como se forma? Tem de ter 4 elementos:
1º- Elemento pessoa/ patrimonial (ou temos um conjunto de pessoas ou uma
massa patrimonial)
2º- Elemento teleológico- fim (corporações: fim egoístico/social mas sem lucro;
nas associações: fim social/altruístico e sem lucro)
3º- Animus personificandi- vontade de criar uma pessoa em sentido jurídico
(podemos ter um substrato)
4º- Organização (órgãos deliberativos ou executivos/representativos) - são
órgãos ativos (também existem os consultivos ou colegiais)

2) Reconhecimento - acto de atribuição (normativo/individual ou por concessão)


Reconhecimento normativo- associações: Pressupostos que se estiverem
preenchidos s pessoa coletiva adquire personalidade jurídica (art.º 158)
Reconhecimento individual ou por concessão- fundações: é preciso fazer um
pedido para saber quem é a autoridade competente e determina-se alguns
pressupostos e depois essa autoridade decide se concede personalidade
jurídica ou não (art.º 158)

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 153


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Classificações das Pessoas Coletivas


1- Pessoas coletivas de direito público (cujo ato criador é feito à luz do direito público,
pessoas que nascem através de um ato administrativo, de direito público)
2- Pessoas coletivas de direito eclesiástico (Igreja católica, a Santa Sé celebrou em
1940 uma concordata e tem um regime especial, de privilégio)
3- Pessoas coletivas de direito privado (são criadas num ato de autonomia privada)
Pessoas coletivas de direito privado e utilidade privada: fim= Lucro (ex.: sociedades
comerciais)
Pessoas coletivas de direito privado e utilidade pública: podem ser declaradas de
utilidade pública (as que cabem no nosso código civil- pessoas coletivas em sentido
restrito)
- Fim desinteressado/altruístico (virado para fora da pessoa coletiva- fundações)
- Fim egoístico/interessado (beneficia os seus próprios membros- associações): fim
ideal (ex.: associações recreativas) ou fim económico mas não lucrativo (ex.: DECO)

Pessoas coletivas em sentido restrito


Art.º 157 a 166- normas que se aplicam a qualquer um dos tipos de pessoas coletivas
(disposições gerias) - associações sem lucro económico, fundações de interesse social e
sociedades
Art.º 167 até 184- associações (reconhecimento normativo)
Art.º 185 a 194- fundações (reconhecimento individual)
Art.º 195- norma relativa a associações sem personalidade jurídica e comissões
especiais
Art.º 163- Representação, são os órgãos da pessoa coletiva a agir. As pessoas coletivas
agem através do órgão. Podemos também ter um representante voluntário.
Responsabilidade contratual: se temos um órgão a agir, quem responde é a pessoa
coletiva (art.º 798). Quando temos externos à pessoa coletiva aplicamos o art.º 800.
Responsabilidade extracontratual: Art.º 165 remete para o 500

Capacidade da pessoa coletiva


No momento em que pessoa coletiva adquire personalidade jurídica, adquire também
capacidade (art.º 160). São titulares de direitos e obrigações mas há limites: as pessoas
coletivas não podem casar, testar ou perfilhar mas pode herdar. As pessoas coletivas
não sofrem de incapacidades. Capacidade técnico-jurídica de agir: coincide o ser titular
com o poder exercer- capacidade jurídica= a capacidade negocial. Para a capacidade
da pessoa coletiva vale o principio da especialidade do fim (art.º 160, nº1) - a
capacidade da pessoa coletiva está limitada ao fim que ela quer prosseguir, se o fizer
este negócios são nulos pois violam o art.º 160. O art.º 294 define esta nulidade.
Restrições:
- Princípio da especialidade do fim

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 154


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

- Não se pode celebrar negócios que impliquem direito vedados por lei
- Sejam inseparáveis da personalidade singular
Ex.: A comissão de Festas vai pedir ao Eiras patrocínio para o carro (100 euros), ele
faz uma doação. Qual é o valor jurídico? A nossa lei não estabeleceu este princípio da
especialidade do fim demasiado rígido, logo este negócio é válido pois está ligado ao
fim.
Quando uma pessoa coletiva viola o fim, o negócio é nulo. Se praticar
sistematicamente estes negócios a pessoa coletiva corre o risco de ser extinta (art.º
182, nº2, b) e art.º 192, nº2, b)).

Fim da pessoa coletiva


Associações: art.º 182; no art.º 183 diz que se a assembleia decidir alterar os
estatutos, pode fazê-lo; Art.º 184: Se a pessoa coletiva ficar extinta, nem todas as
relações jurídicas desaparecem, os titulares dos órgãos têm de continuar a gerir a
mesma.
Fundações: art.º 192; Art.º 193- declaração de extinção, aqui tem de ser a
administração a comunicar à entidade pública para que ela também possa proceder a
esta declaração. Os efeitos (art.º 194) são os mesmos das associações (art.º 184). Pode
ser entre vivos ou por testamento.
Esquema de artigos das pessoas colectivas:
 Art.º 158- como adquirem personalidade
 Art.º 160- capacidade
 Art.º 163- quem vincula a pessoa coletiva (órgãos/ voluntários)
 Art.º 798/800- responsabilidade contratual
 Art.º 165 (500) - quem responde nas pessoas coletivas
 Art.º 182 e 192 – extinção

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 155


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 15
2012-03-12
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior.
Resolução dos casos práticos n.º 27, n.º 28, n.º 29.

Caso prático 27

Negócios jurídicos celebrados por Osmar: casamento, doação, testamento.


Casamento: negócio estritamente pessoal – capacidade negocial de gozo para casar
1600º
1601º
1649º
1612º
O casamento é válido.
Ao casar-se, Osmar torna-se emancipado pelo casamento. É tratado como maior.
Doação: 940º negócio jurídico através do qual uma pessoa dispõe unilateramente o
seu património. Como é emancipado, a doação é válida 948º.
Testamento 2179º capacidade negocial de gozo. Emancipado, o negócio é válido.

Caso prático 29

a) Alberto tem 16 anos, é menor considerado menor pelo art 122º. Sendo menor
não tem capacidade negocial de exercício, art. 123º, pporque não tem
discernimento para compreender o tráfico jurídico geral e os efeitos que daí
advêm, art 130º a contrario sensu. Esta incapacidade é suprivel pelos
representantes legais, art 124.
Alberto realizou um CCV, art 874º, com Bernardo. Este negócio não se encaixa
em nenhuma das excepções do art 127º, sendo por isso anulável, pelo art 125º.
Os pais de Alberto têm legitimidade para anular o negócio, art 125º nº1 a).
b) Se os pais de Alberto tivessem entregado as chaves da casa a Bernardo ,
estariam a confirmar o negócio, art 125º nº2.
288º nº2 e nº4
c) Alberto ao casar-se, torna-se emancipado, art 132º.
Se se casou com autorização, o negócio é válido.
Se se casou sem autorização, o negócio é anulável, art 125º. 1649º, 133º.
d) Alberto falsificou bilhete de identidade para vender a casa.
Se não tivesse usado dolo, segundo o art 125º nº1 d) estaria protegido pela lei.
Podia anular o negócio.
No entanto, usou dolo, a lei não o protege, art 126º, assim sendo não poderia
invocar a anulabilidade.
Herdeiros 2133º. 125º nº1 c)

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 156


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O herdeiro entra na mesma posição jurídica do de cujus, assim não pode


invocar a anulabilidade.
Bernardo: 253º, 254º, 287º
e) 130º a contrario sensu não tem discernimento suficiente para entender os
actos jurídicos e os efeitos que daí advêm. A não ser que caia nas excepções do
art 127º, o negócio é válido.

Caso prático 28

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 157


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 18
2012-03-19
Sumário: Capítulo 4.º – O regime do negócio jurídico
A. O negócio jurídico em geral
I. O conceito de negócio jurídico
1. Os elementos e a natureza do negócio jurídico
2. Os intervenientes no n. j.; a conformação unilateral de relações jurídicas
B. A eficácia do negócio jurídico
I. O negócio jurídico com eficácia plena
1. A formação do negócio jurídico
a) As modalidades da declaração negocial; os seus elementos
b) A forma da declaração negocial; a sua distinção da publicidade
[pp. 417-425; 433-446]

NEGÓCIO JURÍDICO

O negócio jurídico é o facto jurídico mais importante.


Não há uma definição na lei de negócio jurídico. No entanto, a doutrina tem
trabalhado na definição.
Podemos retirar a definição de negócio jurídico da classificação dos factos jurídicos.
Então, negócio jurídico é um facto jurídico voluntário lícito destinado a produzir os
efeitos jurídicos pretendidos pelas partes (efeitos volitivo-finais). As partes fazem isto
através de uma declaração de vontade. Por isso, também pode dizer-se que é uma
declaração de vontade privada que visa a produção de efeitos jurídicos. Estes efeitos
verificam-se se estiverem conforme a ordem jurídica, como a respeitam, o efeito
verifica-se.
Para existir negócio jurídico é preciso:
 Uma vontade (se foi bem formada) – elemento interno/ subjectivo
 Uma manifestação (se bem manifestada, produz efeitos) – elemento externo/
objectivo
Se o negócio jurídico for válido produz então todos os seus efeitos jurídicos, porque a
ordem jurídica garante essa produção.
No fundo, o negócio jurídico é a exteriorização de uma vontade interna.
Para termos negócio jurídico tem de existir uma declaração da vontade. A lei chama a
isto declaração negocial, art 217ºCC.
Mas há alguns comportamentos que não são verdadeiras declarações negociais e
mesmo assim não são vazias de efeitos jurídicos.
Ex: A vai tomar um copo com B. Na brincadeira diz-lhe que lhe oferece o seu ferrari.
A tem a expectativa de que B perceba que ele está a brincar.
Mas B pensa que está a falar a sério, e acreditando que a oferta é real faz negócio a
contar com o ferrari.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 158


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Neste caso existe manifestação, mas não há vontade. Não há declaração


negocial.
No entanto existe um efeito jurídico. Chama-se a isto uma declaração não séria, art
245ºCC.
Se B tiver legitimidade para acreditar naquele negócio, naquela doação, e daí advir
prejuízo, tem direito a ser indemnizado. Mas este direito a ser indemnizado é apenas
um efeito legal e não volitivo, pois não resulta da vontade.
Declaração não séria não é o mesmo que declaração inválida.
Na declaração inválida existe um negócio, mas este é anulável ou então nulo.
O negócio jurídico só produz efeitos jurídicos, porque a vontade de celebrar o negócio
está dirigida à produção de efeitos jurídicos – esta é a situação regular.
Às vezes há uma manifestação, mas ou não há vontade ou então há uma vontade, mas
sem a consciência de que se está a vincular juridicamente. Não é uma manifestação de
vontade tendente a vincular-se.
Só há negócio jurídico quando a pessoa quer os negócios jurídicos, quando tem a
consciência de que se está a vincular.
Exemplo: A é pai. Precisa de ir ao registo civil declarar o nascimento da criança. Para tal
o senhor do registo precisa de receber a informação e processar os dados.
A isto chama-se declaração de ciência – o pai limita-se a transmitir um facto. Não é um
negócio jurídico. Presta-se uma informação, o efeito produz-se automaticamente
através de uma declaração, não há uma vontade própria para produzir este efeito.

Declaração negocial: manifestação de vontade de produzir efeitos jurídicos. Implica a


consciência de que aquilo que se declara tem efeitos jurídicos e que vincula
juridicamente.
Exemplo: A vai a um leilão. Num momento de licitação de um quadro, acena para um
conhecido. Levantou o braço, mas não era sua vontade licitar o quadro.
A vontade é um elemento interno, não tem como se provar qual a vontade.
Dá-se prevalência à vontade propriamente dita » Teoria Clássica, Savigny, séc XIX.
Antes existia uma dúvida de qual seria mais importante, a vontade ou a manifestação.
Teoria da Declaração » decisivo é o momento da manifestação, porque só temos
acesso a este, por razões de segurança jurídica, mas dentro dos limites da boa fé.
O CC não fala de nenhuma destas teorias, no entanto há algumas normas que dão
prevalência à vontade, estando, porém ligadas também ao elemento externo. Há
outras que dão importância à segurança do tráfico jurídico » princípio da confiança.
O Código Civil tem uma posição intermédia.
No caso concreto, o quadro não ficou vendido a A, art 246ºCC.
Existe uma vontade, é verdade, mas de cumprimentar o amigo. Há uma manifestação
de vontade, levantar o braço.
Mas não há uma vontade de vinculação jurídica. Não existe essa consciência.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 159


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

No entanto, A tinha obrigação de estar atento e não estava, teve culpa. Há negligência,
existe uma obrigação de indemnizar.

Às vezes há determinados negócios jurídicos que implicam outros factores – factor


extra.
Exemplo: contrato de comodato, art 1129ºCC » É preciso a entrega da coisa, a traditio,
para haver celebração do contrato.
Contrato de mútuo, art 1142ºCC.

Declaração de vontade ≠ Declaração negocial


Declaração de vontade e declaração negocial só são sinónimos nos contratos
unilaterais. Mas não significam a mesma coisa, porque nos contratos bilaterais, onde
existem duas declarações de vontade.

Intervenientes
Normalmente só são as partes, e só entre elas se verificam os efeitos. Esta é a regra
geral.
Mas em algumas situações os efeitos podem ser oponíveis a terceiros. Depende do
conteúdo do negócio.
Exemplo: contrato de prestação de serviçoes. Negócios que criam direitos de crédito,
direitos relativos.
Como em princípio os intervenientes são só as partes, o negócio apenas tem efeitos
inter partes, normalmente estamos a falar de negócios jurídicos que produzem efeitos
relativos. Mas quando estivermos em negócios jurídicos com efeitos erga omnes os
efeitos são oponíveis a terceiros.
Em regra, não se podem produzir efeitos jurídicos por via unilateral, é preciso acordo
entre as partes. No entanto, existem excepções, a saber:
 Direitos potestativos – por mero exercício unilateral, uma pessoa afecta a
outra, porque a outra está num estado de sujeição, porque já havia uma
vinculação prévia da qual derivou o direito potestativo.
 Se quem actuar for a única pessoa que sofre os efeitos jurídicos. Ex: posso
prescindir do meu direito de propriedade sobre o meu tlm.
 Testamento: a declaração propriamente dita é unilateral, basta a vontade do
testador.
 Ocupação, 1318º
Artigo 457º, a regra é de que as pessoas não podem vincular-se unilateralmente. Não
se pode ficar comprometida no vazio ab eterno, a favor de outra parte sem acordo de
vontade, salvo nas excepções previstas na lei.
Exemplo: promessao púnlica, art 459º; remissão de d+ivida, art 863º; testamento, art
2179º, 2062º (podemos repudiar a herança).
Como também não podemos prejudicar ninguém.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 160


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Em alguns casos é necessária a intervenção de autoridades públicas.


Ex: A e B querem casar civilmente. Não basta que eles queiram, não basta apenas
dizerem que o querem » casamento inexistente 1628º a)
É necessária a intervenção do notário.
Ccv 874º de imóveis. Estes negócios são realizados através de escritura pública.
Intervenção para além das partes – notário.
Alguns negócios têm de ter intervenção do MP, art 1889º, caso contrário,
anulabilidade 1893º.
CASO PRÁTICO
O conservador do registo civil no momento da celebração do negócio está bebedo. O
que acontece?
É do âmbito do Direito Administrativo.

Situações há em que há necessidade de intervenção de privados.


Exemplo: venda de avós a netos, 877º, ilegitimidades conjugais, autorização do
curador para o inabilitado realizar negócios.

O negócio jurídico integra sempre uma declaração negocial. A vontade tem de incluir a
consciência de que nos estamos a vincular juridicamente.
Existem várias formas de manifestação da vontade, a saber: (art 217º)
 Manifestação expressa. Ex: na feira de Barcelos estão turistas japoneses com
as suas máquinas fotográficas. Estão todos a tirar fotografias e veem uma
banca com galos de Barcelos, e querem comprar um galo, como não sabem
falar português, expressam-se através de gestos.
 Manifestação tácita. Ex: parqueamento pago – mesmo sem vontade de pagar,
tas pessoas têm de pagar. Ninguém disse nada, mas do comportamento deduz-
se que aceitam o pagamento.
 Manifestação através do silêncio: há um vazio declarativo, “quem cala não
consente”. Excepção art 218º
Situação prática
A está muito apaixonado por B. foi até uma florista e comprou um ramo de rosas
vermelhas. Foi até casa de B para lhe dar o ramo, mas ao lá chegar vé Carlos a sair da
porta de B ainda a compor-se.
A, arrependido de ter lá ido e de ter comprado o ramo, volta à florista para devolver o
ramo.
Não pode fazer isso!
É preciso distinguir os motivos.

Elementos da vontade, a saber:

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Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 Vontade de acção: dirigido à execução da própria acção [no exemplo do leilão,


levantar o braço – A não tinha a vontade de declaração, a consciência de que se
estava a vincular juridicamente]
 Ter a consciência da vinculação jurídica
 Vontade de celebrar aquele negócio jurídico em concreto.

Teoria da Declaração Negocial

1 – Princípio da liberdade declarativa


Os negócios para serem válidos não precisam de forma especial. Porém, isto não
significa que as partes não podem escolher a realização do negócio através de forma
escrita/concencional/voluntária. Art 223º.
Caso prático
A e B ccv de biblioteca.
A biblioteca tem livros muito valiosos, por isso resolvem celebrar o negócio por escrito,
com a enumeração dos livros. Mas como estava a dar muito trabalho, desistem da
forma escrita e acabam por realizar o negócio de forma convencional.
Estão vincluados, art 223º n1, mas têm autonomia para mudar a forma.
Art 222º, é preciso provar que só por esquecimento é que o que foi acordado
verbalmente não está no papel. Não vale o que foi acordado antes do documento
escrito.
222, n2 – depois de o documento escrito.
Art 219º - liberdade de forma.
220º se a forma legal não for observada, o negócio é nulo. Situações excepcionais em
que há forma legal obrigatória.
Está um interesse público em causa. Envolve um processo moroso para as pessoas
ponderarem.
A forma também permite facilitação de prova.

Forma legal – tipos de documentos


 Escritura pública – documento autenticado
 Documento particular autenticado
 Documentos particulares normais

Âmbito da forma legal


A forma legal é o meio que tem de respeitar o negócio para prestar declarações
negociais.
Conclusão do negócio ≠ publicidade
 Art 220º declarações verbais são nulas, não está a ser respeitada a forma legal

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 162


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 Publicidade: o registo serve para dar publicidade. Serve para terceiros, para
segurança do tráfico jurídico. A publicidade serve para dar conhecimento de
que o negócio foi celebrado.
 Através da posse – publicidade de bens móveis.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 163


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 16
2012-03-19
Sumário: O regime jurídico da interdição. Causas da interdição, a legitimidade para
propor a acção, modo de suprimento da incapacidade. O sistema de protecção do
interditando e do interdito: antes da publicação da acção de interdição; durante o
decurso da acção; após o trânsito em julgado da sentença.
Resolução do caso prático n.º 30.

Anomalia:

Quando temos uma sentença que decrete interdição as pessoas tornam-se incapazes à
luz do direito.
Artigo 139º - consequências da interdição, remissão para a menoridade.
Posição do interdito = situação do menor.
Podemos recorrer à interdição como meio preventivo antes do menor atingir a
maioridade.
Art 141º n1 e nº2 » legitimidade para pedir a interdição

 Actos praticados antes da propositura da acção: regime da incapacidade


acidental. Remissão do artigo 150º para 257º.
 Negócios celebrados pelo interditando no período de tempo entre a
propositura da acção e a sentença: art 142º - providências que se podem usar
durante o decorrer da acção – ou por nomeação de tutor ad hoc para a
celebração de certos negócios (nº1) ou interdição provisória (nº2). A interdição
provisória tem dois elementos fundamentais:
o De
o Necessidade urgente para acautelar os bens do interditando
Ou pela anulabilidade, artigo 149º. Prejuízos para efeitos do 149º:
desvantagem patrimonial em momentos objectivos na altura de celebração do
negócio.

A interdição tem de ser registada, de acordo com o artigo 1º, nº1 h) Código Registo
Civil. Só são atendíveis depois do registo.
147º
148º
1920º-B, art 139 » 125º, 127º

147º
1920ºB
Art 1º, nº1 h) e nº2 C.R.C.

Antes do registo da acção – necessário distinguir duas situações:

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 164


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 A sentença antes do registo produz todos os efeitos, mas não pode ser
invocada contra terceiros de boa fé. Remissão do 147º para 1920º-C
 Se 3º má fé, aplica-se o 1920º-C e 148º
Boa fé: não conhece a sentença nem razoavelmente a deveria conhecer.

A incapacidade do interdito é suprível pela tutela, arts 143º e 144º.

Caso prático 30

a) Podemos estar perante anomalia psíquica. Precisamos então de uma acção que
proteja o incapaz.
A inabilitação intenta-se para situações não muito graves.
Anomalia psíquica: deficiências de intelecto, entendimento, etc. tem de ser
duradouro ou habitual.
No caso concreto trata-se de uma anomalia psíquica, logo suficientemente
grave a ponto de justificar uma interdição.
A acção a ser proposta dever ser uma acção de interdição, nos termos do art
138ºss.
Quem tem legitimidade para propor a acção está presente no afrt 141º.
b) Antes da acção ser proposta A comprou um carro a B. à partida sendo maior é
capaz.
Assim, à partida, os actos jurídicos praticados por ele são válidos.
No entanto, para actos praticados antes da propositura da acção, o artigo 150º
remete-nos para o regime da incapacidade acidental, art 257º, de maneira a
proteger o incapaz ainda não declarado como tal.
O artigo 257º tem dois requisitos, provar a incapacidade natural de quem haja
e tem de haver cognoscibilidade da outra parte. Estando estes dois requisitos
preenchidos, a sanção para o acto praticado é a anulabilidade.
[alcance doa referência do 150º para o regime da incapacidade acidental?
Requisitos e sanção].
Prazos de legitimidade. 139º » menoridade 125º nº1 a) um ano a contar do
conhecimento do acto por parte do tutor.
Mas a acção de anulação só pode ser intentada a partir da data do registo da
sentença de interdição, porque só a partir dessa data é que o regime da
interdição é atendível e só a partir daí é que o tutor tem legitimidade para
pedir anulação.
c) Situação em que pode ser necessário providenciar este negócio.
António não pode celebrar o negócio, mas é uma oportunidade única.
Pode-se pedir à luz do art 142º que se tomem providências adequadas –
nomeação de tutor ad hoc.
d) Acção já tinha sido proposta e publicitada.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 165


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Num momento de lucidez António fez uma venda. Nada nos é dito se existe
tutor ad hoc, não podemos invocar o 142º.
Podemos aplicar o 257º?
149º Requisitos: negócio tenha sido celebrado após anúncio da propositura da
acção, causando prejuízo ao interdito e interdição venha a ser definitivamente
celebrada. Os pressupostos encontram-se preenchidos. A sanção é a
anulabilidade. Tem legitimidade para invocar a anulabilidade o tutor (143º,
144º) 125 nº1 a) [por remissão do 139º], no prazo de um ano a contar do
conhecimento do negócio. Este prazo só se inicia a partir do registo da
sentença, art 149º nº2.
Se vendesse por 3000€ não haveria prejuízo, logo não se aplicaria o art 149º
e) Temos uma espécie de negócio. Ccv 874º sobre bem imóvel 204º nº1 a), sujeito
a registo.
Não nos é dito se houve registo ou não. A sentença deve ser registada art 147º,
que remete para 1920º-B e artigo 1º, nº1 h) e art 2º CRC. Não sabemos se o
negócio foi celebrado antes ou depois do registo.
Partimos do pressuposto que foi antes do registo. Os factos só são atendíveis
depois do registo da sentença, logo não são oponíveis a terceiros de boa fé.
Terceiro de boa fé para estas situações é …
Ernesto estava de boa fé, remissão do 147º para 1920º B e C, aplicação do 149º
(requisitos preenchidos), anulabilidade. Legitimidade e prazo 139 » 125º.
f) Art 138º nº2
g) Incapacidade negocial de gozo (definir) não é suprível, direitos de natureza
estritamente pessoal. Será que pode casar 1600º, 1601º. Não pode casar,
legitimidade 1638º, prazo 1643º.
h) 139º » 127º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 166


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AULA PRÁTICA 17 (terça)


2012-03-20
Sumário: O regime jurídico da inabilitação. Causas da inabilitação, a legitimidade para
propor a acção, modo de suprimento da incapacidade. O sistema de protecção do
inabilitando e do inabilitado: antes da publicação da acção de interdição; durante o
decurso da acção; após o trânsito em julgado da sentença.
Resolução do caso prático n.º 31, n.º 32 e n.º 33.

Caso prático 31

Qual será o fundamento para a família invalidar o negócio?


Amândio é maior, arts 122º, 123º, 130º. Tem capacidade negocial de exercício.
Não se pode aplicar a capacidade acidental.

Inabilitação
Requisitos
 Habitual: atitude continuada, propensão nítida da maneira de ser da pessoa.
 Prodigalidade: comportamento originado por defeito da vontade ou de
carácter, que se caracteriza por gestos desproporcionais em relação à situação
patrimonial do inabilitando, sendo os gestos improdutivos e injustificáveis.

Neste caso falta o requisito do habitual.


O Amândito tem capacidade de exercício que não pode ser limitada por nenhuma
acção.
A família não pode invalidar o negócio, porque eles são válidos.

Caso prático 32

a) O comportamento é completamente diferente da situação anterior.


Temos aqui um comportamento que acarreta gastos injustificáveis
(prodigalidade) com carácter de continuidade (habitual).
Pode-se intentar a acção de inabilitação, art 152ºss.
Legitimidade, por remissão do art 156º para o 141º.
b) CCV 874º, bem imóvel art 204º.
Como o negócio foi celebrado antes da publicidade da acção.
Art 156º remissão para o regime da interdição art 150º » 257º
Pressupostos 257º: acidentalmente incapacitado de entender ou querer, ou
não ter o livre exercício. Do lado do declaratário, o facto é notório ou é
conhecido.
Os pressupostos não se encontram preenchidos, logo não vai ficar protegido
pelo regime da incapacidade acidental.
c) Acção proposta e publicitada

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 167


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Acção de inabilitação 156º » regime da interdição 142º nº1 curador ad hoc –


autorizar o Amândio a vender o terreno. Como está em causa o negócio
jurídico específico não é necessário medida extrema como inabilitação
provisória, art 142º nº2.
d) Regime da inabilitação não tem normas que abranjam este negócio, logo é
necessário o regime da interdição. Art 149º - pressupostos, o negócio tenha
sido celebrado depois de anunciada a propositura da acção, o negócio causou
prejuízo ao interdito e a interdição venha a ser definitivamente decretada. O
negócio pode ser anulado nos termos do art 149º. Remissão do 156º para o
139º e do 139º para o 125º nº1ª a) legitimidade (a legitimidade do curador
resulta com a sentença) e prazos. Prazo – um ano a contar do conhecimento do
acto. O prazo só começa a contar a partir do registo da sentença, art 149º nº2.
Se fosse vendido pelo dobro do valor do mercado, o negócio seria válido.
e) CCV 874º, bem imóvel 204º, nº1.
Regime-regra da inabilitação art 153º, autorização do curador para actos de
administração de bens.
Mas o regime-regra pode ser alterado, o juiz pode transformar o assistente em
representante legal art 154º, a sentença vai mais longe, entrega toda a
administração de bens ao curador.
Pelo regime-regra do art 153º o inabilitado tem capacidade negocial de
exercício.
Os negócios de disposição de bens afectam a substância (forma ou composição) do
património, afectam a raiz do bem.
Os negócios de mera administração de bens são aqueles que correspondem à
administração prudente, normal, razoável, dirigida a manter e aproveitar as
virtualidades do património, a sua conservação e frutificação.
Vender colheita do pomar, não afecta a raiz do bem.
O Amândio é inabilitado. Houve registo ou não?
Se o negócio fosse celebrado sem o registo da sentença?
Art 156º » interdição: 147º » 1920º-B e art 1º nº1 h) CRC » obrigatoriedade do registo
1920º-C (interpretação a contrario sensu, efectuado o registo, pode ser invocado).
Boa fé do 3º: não conhecia a sentença, nem tem que necessariamente saber da
incapacidade.
Baco estava de boa fé, a sentença não lhe é oponível 1920º-C, temos de ver o regime
aplicado durante a acção [149º ou então 142º] » 149º pressupostos preenchidos. O
negócio é então anulável. Legitimidade curador 125º nº1 a), prazo de um ano a contar
do conhecimento, só se inicia a partir do registo da sentença, art 149º nº2.
Se o negócio celebrado com o registo da sentença?
Art 156º » 148º (só são anuláveis para aquelas que o inabilitado não tem capacidade
negocial de exercício, art 153º) anulável. Legitimidade: 156º, 139º, 125º nº1 a)
curador. Um ano a contar do conhecimento do negócio.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 168


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f) Regime-regra art 153º a contrario sensu tem capacidade negocial de exercício


de bens para a mera administração. O negócio é válido, a não ser
g) Prazo de 5 anos, art 155º, para garantir que efectivamente se regenerou.
h) Capacidade negocial de gozo = idoneidade para se exercer por acto próprio,
negócios de natureza estritamente pessoal. Não pode ser suprível.
Casamento: 1600º, 1601º Amândio não preenche nenhuma das alíneas, logo o
negócio é válido, art 1627º. Caso não fosse válido, art 1631º.
Testamento: 2188º e 2189º. Amândio podia testar, não preenchia nenhuma
das alíneas.
Perfilhação: 1849º, 1850º. Amândio pode perfilhar. Se não fosse válido, a
sanção era a nulidade, art 1861º.

Esquema das incapacidades


Actos praticados durante o decurso da acção.
Interdição e inabilitação: incapacidade acidental, dois pressupostos.
Tribunais têm entendido que a partir do momento da publicidade da acção presume-
se que há notoriedade geral.
Essa notoriedade vem da publicidade e da acção que visa proteger terceiros.

Caso prático 33

1/2/2007 28/2/2007 3/2007 1/5/2007 10/5/2007 15/5/2007 20/5/2007

Acidente Acção A vendeu a


A compra A casa Sentença Colocou Registo
de viação judicial P automóvel
vivenda com F transita em fechadura da
publicita julgado sentença
da
a) As suas capacidades mentais depois do acidente não ficaram afectadas, mas os
pais querem incapacitá-lo e só é possível através de acção de inabilitação por
habitual prodigalidade, artigo 152º.
Pressupostos: habitual (definir) e prodigalidade (definir) » encontram-se
preenchidos.
CCV 874º sobre imóvel 204º
156º » 150º » 257º incapacidade acidental » não preenche os pressupostos
122º a contrario sensu, 130º capacidade negocial de exercício (definir)
b) Capacidade negocial de gozo
Casamento: 1600º quem pode casar, 1601º nenhuma situação elencada nas
alíneas do 1601º se pode aplicar, porque 1627º é válido, 1631º a contrario
sensu
c) CCV 874º, sobre bem móvel 205º
Artigo 153º regime-regra

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 169


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Artigo 147º - 1920º-B registo da sentença.


Na altura do negócio a sentença ainda não tinha sido registada, art 147º»
1920º-C (a sentença não pode ser oponível a 3º boa fé)
Se 3º má-fé: aplicação do regime da inabilitação depois do registo 1920º-C não
vai proteger porque não está de boa-fé.
Como se a sentença tivesse sido registada, art 153º, negócio de mera
administração de bens » não necessita de autorização do curador.
Se 3º boa-fé, protegido pelo 1920º-C. Regime decurso da acção 156º » 149º (se
preenchidos os pressupostos).
Acto que depois do registo da sentença pode praticar: tem a capacidade de
exercício, então também o pode praticar antes.
d) CCV 874º bem móvel
Segundo o regime-regra, art 153º, se disposição de bens, não pode praticar o
acto. Se mera administração de bens pode praticá-lo.
Neste caso trata-se de disposição de bens, é necessária autorização do curador.
Artigo 156º » 148º anulável » 139º » 125, a menos que caia nas excepções do
127º.
Anulável 125º nº1 a) legitimidade e prazo. 125º nº2 + 288º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 170


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AULA TEÓRICA 19
2012-03-26
Sumário: c) A perfeição da declaração negocial
a) As declarações receptícias (artigo 224.º, n.º 1, 1ª parte; n.os 3 e 2)
ß) As declarações não receptícias (artigos 224.º, n.º 1, 2.ª parte, e 225.º)
?) O significado da emissão (artigo 226.º, n.º 1 v.s. n.º 2)
2. A conclusão do contrato (artigos 217.º a 223.º; 224.º e 226.º; 228.º a 235.º)
a) A perfeição da proposta contratual e da sua aceitação
b) O momento da conclusão do contrato (arg. ex artigo 232.º)
c) A duração e caducidade da proposta (a vinculação do proponente)
d) A irrevogabilidade da proposta enquanto vincula o proponente
e) A aceitação tardia (artigo 229.º, n.º 2, 2.ª parte » n.º 2, 1.ª parte » n.º 1)
f) A aceitação tempestiva com modificações e seu regime
g) A revogação de proposta e/ou aceitação depois da sua emissão
h) Morte ou incapacidade do proponente ou do destinatário (231.º v.s. 226.º)
i) A dispensa da declaração de aceitação (artigo 234.º)
j) A proposta contratual v.s. o convite a contratar
k) Efeitos do contrato: arts. 406.º, n.º 1; 408.º, n.º 1; 879.º, al. a)); 796.º, n.º 1
[pp. 446 a 468]

Eficácia da declaração negocial

Uma coisa é ter a declaração realizada, outra é o momento em que ela produz efeitos.
A eficácia ou perfeição da declaração negocial ocorrem de acordo com os artigos 224º
a 226º.
Mesmo tendo uma declaração feita de acordo com as regras, ainda assim a declaração
não produz de imediato os efeitos.
É muito importante sabermos quando a declaração ganha eficácia, quando se torna
perfeita, porque só assim sabemos quando se transferem os direitos reais, quando o
declarante fica vinculado, etc… só nesse momento o contrato fica concluído (só
quando soubermos em que data a declaração ganhou eficácia é que ficamos a saber
tudo aquilo).
Situação: A sempre cobiçou o veleiro que B possuiu na marina de Viana.
A certa altura iludiu-se com as suas poupanças e decidiu comprar o veleiro. Enviou
uma carta a B propondo a compra do veleiro por 50000€.
No dia seguinte a carta entrou na caixa de correio de B, mas entretanto já A se tinha
arrependido.
Pode voltar atrás? Pode revogar a sua declaração negocial?
o Temos de saber se a proposta já tinha ganho eficácia ou não.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 171


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Fases da declaração negocial


1. Exteriorização: temos a exteriorização quando ela sai da cabeça do declarante
e é manifestada. Quando o declarante manifesta a sua vontade temos a
exteriorização.
2. Expedição: dá-se quando a declaração é enviada ao declaratário, quando sai da
esfera de poder do declaratário. (no exemplo: quando coloca a carta no
correio)
3. Recepção: dá-se quando a declaração negocial chega ao poder do destinatário,
isto significa chegada em termos que lhe permitam tomar conhecimento do
seu conteúdo, mas não é aqui que se dá o conhecimento.
4. Conhecimento: quando o declaratário toma conhecimento da proposta.

A partir do momento em que temos eficácia o declarante fica vinculado e deixa de


poder voltar atrás.
É preciso que as partes depois de fazerem a declaração fiquem vinculadas, senão diz-
se o dito pelo não dito.
No entanto, existe um tempo para poderem revogar a sua declaração. Quanto tempo
têm para poder voltar atrás?

Receptícias: têm destinatário. São as mais comuns, por


ex. o contrato. Art 224º nº1 1ªparte. A eficácia aqui dá-se
Eficácia das declarações negociais com a chegada ou poder ou com o conhecimento.

Não receptícias: não têm destinatário. Art 224º nº1


2ªparte. A eficácia aqui dá-se com a exteriorização ou
expedição.
Ex: testamento – declaração negocial em que não existe
declaratário, porque não é preciso aceitação, basta que o
testador manifeste a sua vontade. (exteriorização)
Promessa pública – (aviso nos jornais de perda do cão,
recompensa para quem o encontrar), não basta que a
pessoa escreva o anúncio, é preciso que seja colocado no
jornal. (expedição)

Artigo 224º nº3: chegada ao poder. Uma declaração que o destinatário recebe e que
ele não tenha capacidade de conhecer, mas não por culpa sua, a declaração não
produz efeitos.

→ (no caso) A não pode voltar atrás porque já chegou ao poder do destinatário.

Alternativa: B é cego. Aqui não há chegada ao poder, não chegou em condições de ser
conhecida. Logo, A pode revogar.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 172


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Alternativa: o carteiro entrega a carta ao jardineiro de B – não há chegada ao poder,


quem recebe a carta tem de ter condições para receber a correspondência. O
jardineiro nada tem a ver com o negócio de B.
Alternativa: a carta chegou em Agosto e B estava de férias em Itália. Nestas
circunstâncias, regra geral as pessoas não estão em casa, não há chegada ao poder,
porque se não estão em casa não há chegada ao poder.
Alternativa: A em vez de enviar carta para casa, envia fax para o escritório de B, à
noite. So há chegada ao poder quando o escritório abre, porque é a partir daí que B
tem possibilidade de ter conhecimento.
Em princípio é preciso contar com a eficácia dos serviços do lado do destinatário.

→ A chegou à conclusão de que já não podia revogar a sua declaração. Espertalhão,


fecha a sua caixa do correio, tenta impedir que a aceitação ganhe eficácia. Art 224º
nº2, só não recebeu a carta por culpa sua, porque não quis. Existe eficácia.

O número 2 do art 224º protege os interesses do declarante.


O número 3 protege os interesses do declaratário.

Artigo 226º: mostra-nos que logo que a declaração negocial é manifestada e emitida,
nos termos do art 217º, ela ganha existência, pode é não ganhar logo eficácia.
Quando ela sai da esfera de poder, ela ganha existência, porque acontecimentos
posteriores à emissão já não afectam a declaração.
Ex: A propõe a B vender-lhe o seu ferrari. Envia-lhe uma carta. A carta está em trânsito.
No tempo que demora a chegar a B, António é atropelado e morre.

A carta (declaração negocial) não é afectada.
A eficácia da proposta não é afectada (tem que dizer expressamente que se morrer
entretanto é que não tem eficácia).

Alternativa: A é declarado insolvente. O seu património é separado e fica à disposição


do administrador para pagar as dívidas.

A declaração é ineficaz enquanto o destinatário não receber a declaração. Enquanto
não ganhar efeitos, nos termos do art 224º, ainda pode ser afectada, não chega a
ganhar eficácia.

Artigo 225º: (Dr. Hörster diz que está mal colocado). Se não sabemos para quem
queremos fazer declaração, se não sabemos quem é o destinatário, pode-se fazer a
declaração através de anúncio público.
Ex: queremos comprar veleiro e não sabemos quem é o dono.
Aplica-se em duas situações distintas.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 173


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 Nas não-receptícias: não tem destinatário determinado - a forma é o anúncio


público
 Nas receptícias: destinatário cujo paradeiro é desconhecido.
O único problema no anúncio público está em poder ou não aplicar-se a norma do nº1
do art 226º → aplica-se na mesma, o herdeiro assume a posição do de cujos.
Ex: A envia carta para o jornal com o anúncio. A morre sem sair o anúncio no jornal. »
A declaração ainda não ganhou eficácia, mas já foi emitida, já ganhou autonomia,
deve-se manter a vontade do de cujos, os herdeiros ficam vinculados. A morte do
declarante já não afecta.
[Art 226º nº2: no caso de declaração negocial não-receptícia. Se não aplicarmos a
norma ficamos com lacuna, temos que aplicar analogicamente.]

 Quando é que temos um contrato, quando é que fica concluído?


Arts 228º a 235º e 217º a 227º CC.
O contrato é o negócio jurídico mais relevante. A lei só diz quando não temos contrato
concluído, art 232ºCC.
A contrario sensu do 232º chegamos à conclusão que há contrato quando há acordo.

Contrato = proposta contratual eficaz + aceitação eficaz e tempestiva



232º a A quer automóvel. Aceitante Tem de chegar a
contrario Escreve carta a B tempo. No prazo
sensu “quero comprar o teu estabelecido no art
automóvel por 5000€”. 228º. » 229º » 231º
Quem emite proposta: nº2
proponente – 228º
vinculação; 230º
irrevogabilidade; 231º

A enviou carta no dia 1. A carta chegou à esfera jurídica de B no dia 2.


B colocou a resposta afirmativa no dia 3 e A recebe a aceitação no dia 5.
Só há contrato no dia 5. (a aceitação tem de ganhar eficácia).
O artigo 231º prevalece em relação ao 226º.

Caso
Quero comprar um tlm novo. Vamos a uma loja e escolhemos X. dizemos ao vendedor
qual queremos. Só fazemos uma proposta.
A exposição de mercadorias em vitrinas não é uma proposta, é um convite a contratar.
Isto porque, falta uma vontade de vinculação jurídica. O vendedor não quer vincular-se
juridicamente quando expõe a mercadoria, só quer mostrar disponibilidade para
negociar. Quer ficar livre para dizer “aceito vender ou não aceito vender”.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 174


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Quando vamos à máquina comprar uma bebida.


É uma aceitação. A máquina está a deixar á disponibilidade do comprador. O vendedor
que lá colocou a máquina quis vincular-se.
Nas máquinas os bens estão à disposição do comprador.
Nas vitrinas o vendedor tem a liberdade de recusar.
Os panfletos de publicidade são convites.
Os orçamentos são convites.

Requisitos da proposta contratual


 Vontade
 Certa
 Concreta
 Determinada
 Clara
 Completa
Implica que o destinatário possa responder com um simples sim.

Caso
A encomenda fato para o seu casamento. Envia uma carta onde identifica o modelo e
o tamanho, por correio normal, no dia 30 de Março.
No dia seguinte apercebe-se que faz um mau negócio e quer voltar atrás.
Pode?
→A fez proposta contratual certa, concreta, clara e determinada.
Saiu da sua esfera jurídica no dia 30 de Março.
Depende se ganhou eficácia ou não.
Artigo 230º: irrevogabilidade da proposta. Nº1, depois de ter ganho eficácia a
proposta é irrevogável, é preciso que haja estabilidade de proposta.

No dia seguinte envia fax a revogar a proposta na carta: meio mais rápido do que a
carta para revogar.
Pode fazer isto, porque nunca houve nenhuma expectativa de celebrar contrato, art
230º nº2. Revogação de propostas receptícias (em relação às quais há destinatários).
No caso das não-receptícias, art 230º nº3. Podem revogar-se desde que se faça da
mesma forma.

Caso
A esperou um mês e não obteve resposta.
Vai a uma loja e compra outro fato.
Um dia depois recebe a carta com a aceitação.
É obrigado a cumprir?

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 175


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

As pessoas não podem ficar vinculadas ab eterno. Existem prazos, art 228º (analisar
todas as alíneas).

→ Lei não prevê o caso de proposta verbal a pessoa presente. Não faz sentido de
imediato.

Caso
A envia carta a B propondo vender-lhe um volvo usado por 10000€. Depois de ter
deixado a carta no correio, descobre que o carro valia mais, arrepende-se e pensa que
podia ter pedido 15000€.
No próprio dia enviou um fax a B alterando o preço para 15000€.
→ pode fazer isto, porque o fax vai chegar antes. Conta o que chega ao poder
primeiro. Importa saber o que ganha eficácia primeiro.

Alternativa: A envia carta no dia 30 de Março dizendo que aguarda resposta até 5 de
Abril. B escreve a aceitar, mas envia a carta por correio normal no dia 4 de Abril. A
carta chega dia 6 de Abril.
 O que significa o prazo? Enviar ou chegar dentro do prazo. Conta chegar dentro do
prazo, não enviar.
Significa que as partes têm de negociar outra vez.
Se B enviou aceitação no dia 2 e por correio? Só que houve terramoto e serviço postal
fica fora de serviço e a carta só chega dia 6.
Não chega a tempo, mas não foi por culpa do destinatário, art 229º nº2.
Regra: chega fora do tempo » fica desvinculado.
Regime especial: chega fora do tempo por circunstância anómala » o proponente pode
aceitar. Mas pode não aceitar, mas tem de avisar o aceitante.
Aceite: negócio concluído
Não aceite: avisa B, sob pena de o indemnizar se houver prejuízo.

Artigo 231º lex speciallis em relação ao art 226º.


Nº1 - morte do proponente. A ideia é a mesma, só que é menos exigente. Basta que
consigamos provar que ela não quereria o mesmo se ela morresse. Aqui há contrato.
Afasta o 226º.
A envia proposta a B.
A morre. Já foi enviada a carta. A nunca recebeu a aceitação. Não há contrato (em caso
em que for necessário que a aceitação chegue ao proponente, art 234º).
A aceitação também se pode revogar, nos mesmos termos da proposta. Artigo 235º
Art 406º, nº1, 2ªparte: quando a aceitação/revogação chega antes da
revogação/aceitação.

Caso: A envia carta a B propondo vender-lhe o seu carro por 2000€.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 176


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B responde atempadamente e confirmando. Mas dizendo que só compra por 1000€.



Modificação da proposta – o mesmo que dizer “não compro por 2000€. Queresv ender
por 1000€?” » nova proposta artigo 233º. Neste caso o proponente já é B.
B disse por 1000€. A diz “não, só por 1500€”. Nova proposta.

As manifestações podem ser diferentes, mas a vontade é a mesma, há acordo porque


as partes entenderam-se. Ex: A encomenda um peixe, mas o vendedor ao embalá-lo
engana-se e escreve outro nome, mas efectivamente trata-se do peixe que A pediu.

Manifesto: quando as partes se apercebem que não estão de acordo.

Disenso
Oculto: as partes não estão de acordo, mas não se apercebem disso. Acham que
estão de acordo, mas não estão, porque a vontade interna é diferente. Não há
acordo. Quando as partes chamem o mesmo nome a coisas diferentes não há
acordo.

A propõe a B vender o seu automóvel por 2000€ e marca um prazo de 10 dias. B


responde dentro do prazo. A carta com a aceitação chega e no dia seguinte, antes do
carro ter sido entregue a B e o preço ter sido pago a A, dá-se uma explosão de gás na
rua e o carro arde.
→Temos contrato. O direito de propriedade transmite-se no momento da realização
do contrato. Falta o cumprimento das obrigações. A prestação de A tornou-se
impossível por causa não imputável a A.
Artigo 790º nº1 a obrigação extingue-se.
B tinha que pagar. Quem corre o risco de ficar sem as suas coisas? O dono, e o dono do
carro já era B.
Artigo 796º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 177


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 18
2012/03/26
Sumário: As pessoas colectivas. Classificação das pessoas colectivas. Aquisição de
personalidade jurídica. Capacidade jurídica. Responsabilidade contratual das pessoas
colectivas. Responsabilidade extracontratual das pessoas colectivas.
Resolução dos casos práticos n.º 34 e n.º 35.

Pessoa colectiva em sentido lato: são todas as formações que não sendo pessoas
singulares possuem personalidade jurídica face à ordem jurídica privada
Ex: associações, cooperativas, fundações
Pessoa colectiva em sentido restrito: aquelas que estão previstas diretamente no
Código Civil, art 157º.

Vantagem da existência da pessoa colectiva: existência de património separado, que


permite limitar o risco.

A atribuição de personalidade jurídica é feita pelo ordenamento jurídico às pessoas


organizadas em substracto pessoal (associações) e em substracto patrimonial (
Têm determinados fins a prosseguir, determinados em estatutos.
Reconhecimento da personalidade jurídica.
Artigo 158º, nº1 normativo: associações
Artigo 158º nº2: individual ou por concessão: a personalidade é reconhecida ao
substrato caso a caso pela administração pública ou por lei.

Pessoa colectiva de direito público Pessoa colectiva de direito privado


↓ ↓
Nascem segundo as regras de Aquelas em que o substrato é
direito público. criado por um acto de autonomia
Fim desinteressado ou altruístico privada.
quando visam interesses da As pessoas colectivas podem ter
comunidade. utilidade privada ou então podem
Fim egoístico ou interessado ter utilidade pública.
quando visam interesses dos Ex: sociedades comercias.
membros. Fim ideal (não económico) ou
então fim económico não
lucrativo.
Ex: associações defesa do
consumidor

Artigo 157º: regras gerais das pessoas colectivas públicas. Aplicam-se às associações.
A lei só reconhece fundações com interesse público.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 178


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Artigo 160º capacidade da pessoa colectiva


Acto praticado sem capacidade jurídica, a sanção é a nulidade, artigo 294º.
A pessoa colectiva pode vir a ser extinta, art 182, nº2 b), para as associações e artigo
192º nº2 b) para as fundações.

A pessoa colectiva possui capacidade de exercício: capacidade técnico-jurídica de agir,


porque a pessoa colectiva não tem discernimento.
Distinção meramente conceptual.

 Responsabilidade contratual: artigo 163º nº1, 2ªparte, representação


voluntária » age por intermédio de outrem art 800º; 163º, nº1, 1ªparte,
representação orgânica » actua através dos seus órgãos, como se fosse a
própria pessoa colectiva a actuar, art 798ºss
 Responsabilidade extracontratual: artigo 165ª
 Representante voluntário, art 258ºss

Caso prático 34
a) Num caso prático de pessoas colectivas, primeiro temos que classificar para
depois utilizarmos os artigos correspondentes.
Artigo 157º, associação de direito privado, pessoa colectiva de direito privado.
Tem fim altruístico e desinteressado e fim ideal (realizar eventos de índole
cultural para toda a comunidade).
Personalidade jurídica, artigo 158º nº1, reconhecimento feita pela ordem
pública.
Capacidade jurídica, artigo 160º (mais limitada do que a das pessoas
singulares), a capacidade é limitada segundo o princípio da especialidade do
fim.
Avaliar a validade dos negócios jurídicos
 Realização do festival de música: está dentro do seu fim.
 Contratos celebrados: contrato de arrendamento 1022º e 1023º;
contrato de prestação de serviços 1154º; contrato de compra e venda
874º » cabem no princípio da especialidade
 Contrato com a agência artigo 1154º, viola o princípio da especialidade,
artigo 160º, nº1.
Não tem capacidade para celebrar este contrato. A consequência
jurídica é a nulidade, art 294º (violação de norma imperativa).
b) Cerqueira provocou danos a si próprio, ao apresentador e ao Daniel.
 A si próprio: casum sentit dominus, não há a quem imputar o dano
 Em relação ao apresentador: violação direito à integridade física (direito
personalidade, direito absoluto » responsabilidade extracontratual
483ºss, responderia pelo 165º que remete para o artigo 500º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 179


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Concurso de responsabilidades: foi no cumprimento do contrato de


prestação de serviços por parte do apresentador » responsabilidade
contratual. Artigo 762º violação do direito lateral de cuidar da pessoa
da outra parte).
Se preenchidos os requisitos do artigo 800º, a pessoa colectiva
responderá contratualmente: acto danoso praticado pelo auxiliar no
cumprimento da obrigação, que viole direito relativo, com culpa.
Se tivessem sido os órgãos, respondiam pelo art 798ºss.
 Daniel: direito absoluto. Responsabilidade extracontratual (facto,
ilicitude, culpa, dano, nexo de causalidade). 483º » 165º » 500º
A associação responde solidariamente (relações externas). Relações
internas: associação tem direito de regresso sobre Cerqueira na
totalidade so que pagou, porque não teve culpa, art 497º, nº2.
A sociedade tem o património separado para responder por este tipo de
situações.

Caso prático 35
Situação rara.
Classificar a pessoa colectiva: pessoa colectiva em sentido restrito, art 157º fundação.
Pessoa colectiva de direito privado e de utilidade pública (o fim que prossegue é
altruístico e ideal, pela comunidade).
O fim da fundação é conceder bolsas de estudo. A fundação decide doar uma casa a
um estudante pobre que interrompeu os seus estudos, porque se casou. Doação, art
940ºss.
Tem personalidade jurídica, art 158º.
Tem capacidade para praticar o acto? Art 160º: capacidade técnico-jurídica de agir,
porque a pessoa colectiva não tem discernimento. É uma capacidade circunscrita pelo
princípio da efectividade (art 160º, nº1) e pelo fim. No caso concreto era atribuir
bolsas de estudo.
→Não tinha capacidade, pelo nº1, do art 160º, logo o contrato é nulo pelo 294ºCC.
Quem poder pedir a nulidade e em que prazo? Qualquer interessado e a todo o
tempo, artigo 286ºCC.
Efeitos da sentença: sentença declarativa que apenas vem dizer que o negócio nunca
produziu efeitos. A sentença tem efeitos restitutivos das prestações pagas.
Consequentemente, o segundo negócio é nulo, é venda de coisa alheia, pelo art 892º.
A adquire direito de oponibilidade relativa em relação ao estudante.
Pressuposto art 291º: imóvel, art 204º, nº1 a); direito de oponibilidade de A e direito
de propriedade da fundação; a título oneroso; registo de aquisição, 3 anos.
É possivel que se encontre protegido pelo art 291ºCC.
O direito de oponibilidade relativa transforma-se em direito de propriedade, A adquire
direito ex novo, trata-se de uma aquisição originária a non domino.

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Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA TEÓRICA 20
2012-04-16
Sumário: l) A conclusão do contrato com base em cláusulas contratuais gerais
(menção)
m) Breve menção ao regime da contratação electrónica
n) Breve menção à figura da responsabilidade pré-contratual
3. A representação na formação do contrato
a) Princípios gerais; a representação como meio de agir e celebrar negócios na
representação voluntária, como figura do
negócio jurídico (unilateral)
b) Figuras afins ao representante: o núncio; o mandatário; outros
c) A procuração e seus efeitos; a forma; a capacidade do procurador
aa) O negócio unilateral da procuração v.s. a relação contratual de base
bb) A extinção da procuração e suas três causas; a protecção de terceiros
cc) A representação sem poderes; o abuso da representação; o mau uso; a colusão
[policop.; legislação contr. electr.; pp. 468-470; 473-489]

[Última aula do ano – 24 de Maio, das 18h às 20h (quinta-feira)]


Aula passada: conclusão do contrato e efeitos.
Celebração de contrato com celebração entre as partes.

Às vezes as partes não negoceiam. É frequente a parte mais forte impor clausulas à
outra.
Ex: banco e lavandaria. Impuseram cláusulas contratuais. Limitamo-nos a aderir,
chama-se a isto - cláusulas contratuais gerais.
É comum o recurso a cláusulas contratuais gerais. São pré-determinadas por uma das
partes e a outra limita-se a aderir, a parte não é obrigada a aceitar, mas se quiser o
serviço tem de aderir.
Limitam a liberdade contratual do aderente. São fruto de uma sociedade massificada.
Não é possível negociar caso a caso as cláusulas, assim o recurso às cláusulas
contratuais gerais é usual e útil.
O problema está no eventual abuso de quem impõe, pode-se aproveitar.
Ex: quando decidem nas cláusulas que o foro (tribunal) é Lisboa. Se a pessoa for de
Bragança é muito complicado ter oportunidade de tratar do problema em Lisboa. Não
tem poder negociatário.
Assim, o legislador tinha de proteger a parte mais fraca, criou um decreto-lei, DL
446/85, DE 25 de Outubro, onde estabeleceu uma série de normas.
Ex: artigo 5º: devem ser comunicadas na íntegra aos aderentes que se limitam a
subscrevê-la. É obrigatório comunicar as cláusulas, o aderente tem de as
compreender.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 181


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Artigo 6º: dever de informação. Nº2 – aderentes não percebem linguagem técnica, é
necessário explicar.
Artigo 8º: quando as cláusulas não são explicadas consideram-se excluídas.

Isto é muito importante.
O legislador também consagrou uma série de artigos que estabelecem proibições, arts
18º, 19º, 21º e 22º.
Para os empresários, nas relações entre profissionais aplica-se o artigo 19º
Para os consumidores finais aplicam-se todas as proibições.
→o que acontece quando se estabelece uma cláusula totalmente proibida? Elimina-se
apenas aquela cláusula, artigo 12º DL 446/85.
O que acontece ao contrato? O aderente pode optar por manter o contrato ou não,
artigo 13º. Neste caso aplicam-se as normas supletivas.

Asrtigo 227º Código Civil – celebração do contrato-


Culpa na formação do contrato, culpa in contraendo.

Quando as partes estão a negociar nasce a relação jurídica pré-contratual. Os deveres
que daqui nascem: as partes estão obrigadas a agir de boa-fé no decurso das
negociações; as partes estão obrigadas a serem leais.
Não estão obrigadas a concluir o contrato.
Culpa in contraendo » boa fé » deveres Lealdade
Informação
Exemplo: António é um leigo na matéria, que comprar um computador, apenas com as
funções essenciais. Diz ao vendedor para que precisa do computador. O vendedor quer
vender o computador mais caro, com todas as funções. Mas para António não lhe
interessa que o computador tenha todas aquelas funções. Explicou ao vendedor que
apenas queria um computador com as funções essenciais.
António pode sofrer danos ao comprar o computador mais caro. Esses danos são culpa
do vendedor.
Aqui existe responsabilidade pré-contratual, artigo 227º. (se violação de boa fé, se
culpa e se dano) » deriva da violação de deveres que nascem no decurso da
negociação.
Temos de ser leais, algumas circunstâncias temos de informar. Mas será que temos de
informar tudo?
Ex: vendedor não é obrigado a dizer que na loja ao lado há saldos. O comprador deve
ser curioso. Aqui não há violação do princípio da boa-fé.

Ruptura ilegítima das negociações: ninguém e obrigado a celebrar contrato, mas às


vezes as negociações estão de tal modo avançadas, tendo já implicando despesas. Se

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 182


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uma parte desistir das negociações depois de já ter havido despesas, se desistir só por
má-fé, existe obrigação de indemnizar, violação da boa fé.

Representação voluntária na conclusão do contrato


Até aqui quem negociava eram as partes.
Neste caso, uma das partes está a ser representada.
Ex: A quer comprar apartamento no Algarve, mas não tem tempo para ir lá. Estabelece
procurador, atribuindo-lhe poderes representativos para comprar um apartamento em
nome de A.
A » B » vendedor: C – as partes são A e C. B é só o representante.
Temos representante sempre que alguém actua em nome de outrem. Os efeitos
jurídicos desse negócio produzem-se imediatamente na esfera jurídica do
representado.
Esse instituto advém do princípio da autonomia privada – posso pedir a alguém para
celebrar por mim.
A representação legal não é uma representação voluntária.

Voluntária
Representação Legal
Orgânica: órgãos que actuam em nome da pessoa colectiva. Não é uma
verdadeira representação porque quando o orgão age não é alguém que age
em nome da pessoa colectiva, é a própria pessoa colectiva.

Art 258º a 261º: normas que se aplicam à representação voluntária e legal.


Art 262º a 268º: só se aplica à voluntária
 Pontos comuns. Ex: Zé tem 17 anos e quer comprar um x-box e quem compra é o
pai, porque o preço da consola não cabe nas excepções do art 127º. O pai compra a
consola, mas o proprietário é o Zé!
Os efeitos jurídicos do negócio jurídico celebrado pelo representante em nome do
representado sentem-se na esfera jurídica do representado, artigo 258º.
Pressupostos artigo 258º
1. Negócio jurídico
2. Realizado pelo representante nomeado pelo representado
3. Dentro dos limites dos poderes funcionais do representante

Quando os pressupostos são respeitados, qual a consequência?


→ Os efeitos produzem-se na esfera jurídica do representado.

O representante não é obrigado a fazer um bom negócio. Não tem que agir no
interesse do representado.

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Quem o escolhe é o representado, ele é que tem que escolher bem quem o vai
representar.

Figuras afins
 Núncio: não é um representante. É um mensageiro, o núncio não negoceia, é
só um transmitente. Ex: casamento por procuração, o procurador é um núncio.
 Mandatário sem poderes de representação “homem de palha”: A é um
apaixonado por pintura. Queria comprar um quadro famoso que estava à
venda. O dono é a sua ex-namorada. A combina com B para comprar o quadro
a C (ex-namorada de A) em nome de B, e depois B vende o quadro a A. Arts
1157º e 1180º.

Caso
A quer comprar terreno que é de B. Mas B já tinha vendido o terreno a C. C não
registou.
A tenta comprar na mesma o terreno a B, mas não adquire o direito porque estava de
má-fé, não fica protegido pelas leis do registo.
Então resolve substanciar os seus poderes em D, que estava de boa-fé para realizar
negócio por ele. Não pode, artigo 259º nº2.

A quer comprar quadro de B. A estava convencido de que o quadro era verdadeiro,


mas era uma cópia.
A estava no estrangeiro e incumbiu B de comprar o quadro. B compra o quadro a C,
que não avisou que o quadro era falso. A chega, vê o quadro e descobre que é cópia.
Pretende anular o negócio. Pode fazê-lo, mas é importante saber se o vício de vontade
acontece na negociação do representante. Aqui não aconteceu isso, aplica-se o
259ºnº1.
A legitimidade é sempre do representado.

Artigo 260º, justificação dos poderes do representante.

Caso
A tem apartamento no Algarve e resolve vendê-lo. Nomeia B para tratar do negócio.
Diz a B para vender entre 150 000€ e 200 000€. B acha que é um bom apartamento e
decide comprar o apartamento.
B negoceia em nome de A e em seu nome. É um negócio consigo mesmo, art 261º.
Não pode!
Então B restabelece poderes representativos em C, C passa a ser o representante de A.
B compra a C. a lei não permite negócio consigo mesmo, nº2 do 261º.

A substanciou poderes em B para vender a C, mas C substanciou poderes em B.

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Também não pode, há conflito de interesses, porque A quer vender a preço mais alto e
C comprar a preço mais baixo. Nº2 do art 261.

Artigos próprios da representação voluntária

Artigo 262º » procuração.


Procurador: representante voluntário.
Negócio jurídico unilateral, delegação de poderes.
Forma da procuração: tem de ter a mesmo a forma do negócio, artigo 262º, nº2.
No código do Notariado há várias disposições em contrário, forma simples.
Caso
A tem loja de pronto-a-vestir. Contratou empregada, B, para vender roupa- certo dia, B
vende peça que A já tinha destinada a si própria. Mas não tinha avisado B.
A tenta anular negócio jurídico invocando que B é menor. Artigo 263º. O procurador
não tem de ter capacidade negocial de exercício. Logo, o negócio é perfeitamente
válido.
Havia aqui procuração? Infere-se do contrato de trabalho, procuração negocial tácita.
A procuração aparece com o contrato, com uma relação jurídica de base1 ou sozinha2.
1com contrato de prestação de serviços, de trabalho, de mandato. Ao lado deste tipo

de contrato nasce na sua dependência uma procuração.


2Venda de apartamento. A procuração é estabelecida para um único negócio.

Caso
A paga a B 300€/mês. Qual o valor jurídico do contrato de trabalho? Nulo, não cumpre
o salário mínimo nacional. Mas as vendas celebradas são válidas.
Relação jurídica de base é nula, mas a procuração é válida. Isto porque é preciso
segurança.

Artigo 265º» extinção da procuração


Nº2 A tem 80 anos, já não trata dos seus negócios. Faz procuração a favor do sobrinho.
A descobre que o sobrinho faz negócios por conta própria.
A procuração é sempre revogável, apesar de já ter concordado com o representante
que não ia revogar a procuração, pode-se sempre voltar atrás.
Nº1 extingue-se quando o procurador renuncia ou quando a relação jurídica de base
desaparece. Esta é a regra, 1ª parte, a não ser que o representado continue a querer o
representante para outros efeitos.
Nº3, em regra, é livremente revogável, não tem que dar satisfação. Mas se o
procurador tiver também interesse na procuração, por exemplo se receber
rendimento proveniente da procuração, a revogação tem de ser justificada.
CASO
A nomeou B seu procurador para negociar com C. entretanto arrependeu-se da
escolha do procurador e revogou a procuração. B ficou zangado e resolveu fazer na

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mesma o negócio. C celebrou negócio com B convencido de que B ainda era o


procurador.

C tem expectativas legítimas que o negócio produza efeitos. Estava convencido de A
era parte.
Mas não há poderes representativos, faltam-lhe os pressupostos do artigo 258º.
No entanto C era 3º boa-fé, é preciso protegê-lo, artigo 266º. Como A não avisou, não
podia opor a revogação a C. tudo se passa como se houvesse procuração.

Artigo 264º» substituição do procurador


É comum nas sociedades de advogados, costuma haver uma cláusula a informar do
poder substitutivo. Mantém-se que seja mais de uma pessoa a representar. Ex:
advogado pede a colega para o substituir numa sessão de julgamento. Depois
mantêm-se os dois no processo.

CASO
A veio visitar B a Portugal. B arranja-lhe quarto no hotel Ibis em nome de A. Faz
reserva em nome de A.
A chega e não gosta do hotel.

Não é obrigado a vincular-se, não há procuração, não estão preenchidos os
pressupostos do artigo 258º. B apenas actuou como representante, mas não era.
No entanto, o hotel pensa que A é parte, que está vinculado. Mas a única parte
vinculada é o hotel.
Aqui temos um caso de representação sem poderes, artigo 268º. O contrato é válido,
mas não produz efeitos em relação a A.
No entanto, A podia ratificar.
Ratificação: negócio jurídico unilateral que vai conceder efeitos ao negócio ineficaz. A
forma de ratificação é a mesma da procuração, nº2 art 268º. Tem eficácia retroactiva,
tudo se passa como se houvesse poderes representativos desde o início.
Alternativa: A vem visitar B.
A pede a B que lhe arranje um quarto num hotel 5 estrelas. Mas B arranja-lhe um
quarto no hotel ibis.

O representante deve agir no interesse do representado, mas não é obrigado a tal.
Há procuração, estão preenchidos os pressupostos do artigo 258º, A está vinculado.
Mas temos aqui um abuso de procuração, artigo 269º. Aplicamos o mesmo regime da
representação sem poderes (ineficácia), mas só se estiverem preenchidos os
pressupostos:
 Abuso de representação
 A outra parte tem de conhecer o abuso

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Aqui temos abuso de representação. A é parte, o hotel é parte. B utilizou poderes


representativos contra o interesse do representado » abuso de representação.
Pressupostos: abuso e o abuso tem de ser conhecido ou reconhecivel pela parte, neste
caso do hotel.
Se estiverem preenchidos, 269º, remissão para 268º, válido mas ineficaz.
Se só o 1º pressuposto estiver preenchido » aplicação do 258º (A ficava vinculado)

CASO
A desde pequeno odeia B e vice-versa.
Entretanto, A está a vender a sua quinta através de procurador, C. B dirige-se ao
procurador e pergunta por quanto A está a vender a quinta, C diz por 500000€. B diz a
C para vender-lhe a quinta por 300000€ e que lhe pagava por fora 100000€. C vende a
quinta a B. quid iuris?
1ªcoisa: temos procurador? Requisitos 258º preenchidos
C age contra interesse de A » abuso
Contraparte conhecia o abuso, artigo 269º

Não é justo o negócio ser apenas ineficaz e válido. Aqui é mais do que abuso. As partes
colaboraram conscientemente para prejudicar o representado. Houve colusão.
Ofende os bons costumes, é ofensivo, é nulo, com base no artigo 281º.

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AULA PRÁTICA 19
2012-04-17
Sumário: O facto jurídico. A classificação dos factos jurídicos. O negócio jurídico como
facto voluntário lícito. Resolução de casos práticos relativos à celebração do negócio
jurídico (proposta contratual e convite a contratar; o valor do silêncio; o momento da
eficácia das declarações negociais; a conclusão do contrato; a transferência da
propriedade e do risco; a aceitação tardia).
Resolução dos casos práticos n.º 36, n.º 37.º e n.º 38.

Negócio jurídico: facto jurídico voluntário lícito, que as pessoas utilizam para a
obtenção de certos efeitos jurídicos.
Facto jurídico: facto que conduz à produção de efeitos jurídicos. Está na base da
modificação, extinção e constituição de relações jurídicas.
 Facto jurídico involuntário: todos os acontecimentos naturais juridicamente
relevantes
 Facto jurídico voluntário: acto humano juridicamente relevante. O facto é
resultado da vontade, a vontade quer o facto ainda que possa não querer os
efeitos jurídicos resultantes desse facto
o Ilícito: contrário à lei
o Lícito: negócio jurídico e simples actos jurídicos ou acto jurídico em
sentido restrito. Resultam apenas da lei, a vontade é irrelevante.
 Negócio jurídico: a vontade está na base do facto e da produção
dos efeitos jurídicos. Efeitos jurídicos que forem desejados pelas
partes e que estejam conformes à ordem jurídica. Por um lado
temos a vontade dirigida aos efeitos que se pretendem que
aquele negócio jurídico produza; a manifestação da vontade e a
garantia que é dada pela ordem jurídica para a produção de
efeitos.

Artigo 217º, declaração negocial: meio de manifestação da vontade que visa a


produção de certos efeitos jurídicos.
Tem elemento interno, a vontade.
Tem elemento externo, a manifestação da vontade a declaração da vontade. Forma
como a vontade interna é transmitida.
Se a declaração de vontade é feita correctamente, produz efeitos jurídicos.
A vontade tem de ter consciência que está a criar uma vinculação jurídica.
Ex: A empresta a B uma casa. Não tem vontade de se vincular juridicamente.

Negócio jurídicos unilaterais: apenas uma declaração de vontade de um lado ou várias


declarações de vontade paralelas do mesmo lado.

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Os efeitos jurídicos dependem da aceitação da outra parte. Nas declarações


receptícias, efeitos dependem do conhecimento do conteúdo da declaração pela outra
parte, ou da chegada ao poder do conteúdo à outra parte. Nas declarações não
receptícias, os efeitos jurídicos não dependem do conhecimento ou da chegada ao
poder do declaratário. Ex: testamento.
Negócios jurídicos plurilaterais: várias declarações de vontade que convergem no
mesmo sentido. Ex: contrato de sociedade.
Negócios jurídicos bilaterais: composto por duas declarações de vontade contrapostas
entre si, mas perfeitamente harmonizadas. Ex: contrato.

Contrato: facto jurídico voluntário lícito composto por duas declarações de vontade
contrapostas entre si, mas perfeitamente harmonizadas.
 Contratos bilaterais: ambas as partes têm obrigações. Ex: Contrato de compra
e venda
 Contratos unilaterais: apenas uma das partes tem obrigações. Ex: contrato de
doação

Modalidades declaração negocial, artigo 217º nº1


 Expressa: há manifestação directa da vontade (palavras, escrita, gestos)
 Tácita: a manifestação é indirecta, através do comportamento da pessoa
podemos concluir pela existência de uma vontade e qual o conteúdo dessa
vontade.
 E o silêncio? Artigo 218º, regra geral não é juridicamente relevante, salvo
quando esse valor lhe seja dado por uso ou convenção (prévio acordo,
atribuindo valor a esse silêncio).

Nº2 artigo 217º: forma, regra geral é a liberdade de forma.

Saber se é declaração negocial.


Saber se declaração negocial é eficaz.

A declaração negocial tem várias fases Podem ocorrer


1. Exteriorização: o declarante exprime a sua vontade separadamente ou
simultaneamente
2. Expedição: depois de exteriorizada, a declaração é enviada ao destinatário
3. Recepção: a declaração chega ao poder do declaratário em termos que lhe
permitem tomar conhecimento do seu conteúdo. Entrada na esfera de poder
do declaratário.
4. Conhecimento: declaratário toma de facto conhecimento da declaração

Eficácia das declarações negociais


 Nas receptícias – têm destinatário, art. 224º

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 189


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

 Nas não receptícias – não têm destinatário, art. 224º, nº1, 2ªparte

nº3 tem de chegar ao poder do declaratário em termos que este possa tomar
conhecimento.

Conclusão do contrato
232º a contrario sensu
Temos contrato quando temos acordo entre as partes em relação a todas as cláusulas
que elas consideram essenciais.
Contrato = proposta contratual eficaz + aceitação eficaz e tempestiva

Proposta contratual: quando há vontade de declaração, concreta, determinada, clara


e completa de forma a poder ser aceite com um simples sim do declaratário.
Convite a contratar: quando há apenas mero interesse para negociar ou
disponibilidade para contratar, não há vontade de vinculação jurídica.

Caso prático 36

1º - Avaliar se há ou não contrato


Art. 232º a contrario sensu, tem de existir proposta e aceitação eficaz e tempestiva.
2º - Analisar comportamento de cada uma das partes individualmente.

A envia a B livros com carta dizendo X, se não enviar de volta, considera o negócio
como válido.
Comportamento de A: proposta contratual (quando há vontade de declaração,
concreta, determinada, clara e completa de forma a poder ser aceite com um simples
sim do declaratário). Proposta contratual com destinatário, é receptícia, que se torna
eficaz quando chega ao poder e/ou conhecimento do declaratário e que fixa um prazo.
Art. 224º 1ªparte
Qual o prazo durante o qual o proponente fica vinculado à proposta que faz, art. 228 a)
(regra da irrevogabilidade da proposta, art. 230º). Findo este prazo, a proposta, sem
acordo, caduca.
Comportamento de B: B não faz nada, há um silêncio, art. 218º. O silêncio em regra
não é juridicamente relevante, a não ser que esse valor lhe seja dado por uso ou
convenção. (não podemos deduzir, o caso não diz nada). Assim não temos declaração
negocial, art. 234º.
António não pode por acto unilateral criar/atribuir valor declarativo ao silêncio.
Baltasar não é obrigado a responder, nem a entregar o livro.

Caso prático 37

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Análise separada dos comportamentos em causa

A envia a B catálogo B responde. Junta 2 A envia a B 2 B devolve exemplar


com o € exemplares com exemplares assinados assinado
dinheiro inferior

1ª situação: Convite a contratar, não há vontade de vinculação jurídica.


2ª situação: não é proposta, porque não basta um simples sim.
3ª situação: ao assinar e enviar a A, expressa a sua vontade em querer vincular-se
juridicamente. Proposta contratual
Quando a proposta se torna eficaz? É receptícia, art. 124º, nº1, 1ªparte
Prazo, art. 228º, nº1 c) proponente fica vinculado à proposta.
A aceitação foi tempestiva? Parece que sim, tinha até 5 dias.
Quando se torna eficaz? Art. 124º, nº1, 1ªparte.
De acordo com o art 232º a contrario sensu, temos um contrato. (proposta eficaz +
aceitação eficaz e tempestiva)
Momento da celebração/conclusão do contrato: momento de chegada ao poder e
conhecimento de A de aceitação de B.

Caso prático 38
5/09 11/09 12/09 13/09 14/09

E envia a F envia a E 12h fim do E recebe carta E telefona a F


F uma uma carta a prazo
carta concordar

a) Foi ou não concluído contrato e quando


Conclusão: acordo das partes, art 232º a contrario sensu
Vontade da declaração: proposta contratual
Para ter eficácia é necessário que declaratário tome conhecimento ou chegue ao seu
poder.
Ganha eficácia quando F recebe a carta, art. 224º, nº1, 1ªparte.
Prazo: 12h do dia 12/9, o proponente está vinculado.

Frederico
Temos declaração negocial que é expressa, art. 217º
A aceitação não se torna eficaz pelas simples expedição, mas sim pelo art. 224, nº1,
1ªparte. A eficácia da aceitação dar-se-ia no dia 13.
A aceitação não foi tempestiva. A proposta já tinha caducado. A aceitação cai no vazio.
À partida não há contrato, art. 229º, nº1. Se não tiver razões para acreditar que foi
enviada fora de prazo …
Art. 224º, nº2: o proponente pode considerar eficaz a sua aceitação tardia.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 191


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Art. 217º, tacitamente demonstre que considerou a aceitação válida.


O contrato conclui-se, porque o proponente considerou eficaz a aceitação tardia. Ela
ressuscitou ao mesmo tempo a eficácia de aceitação e…
Fiocu concluído no momento da eficácia da aceitação., Art. 232º a contrario sensu, no
dia 13.
b) Não houve eficácia, art. 224º, nº1, 1ªparte.
Não houve chegada ao poder, 224º, nº1 e nº3.
Artigo 229, nº2: se o fizer, conclusão do contrato, 232º a contrario sensu. Se não o
fizer, tem que avisar que não se conclui o contrato.

c) CCV, art 874º, 879º b)c) efeitos obrigacionais e a) efeito real + 408º nº1, dá-se a
transferência da propriedade por mero efeito do contrato (princípio da
consensualidade)
À partida a transmissão da propriedade dá-se por mero efeito do contrato. Como
estamos perante fruto natural, art 212º nº1, a transferência da propriedade só se dá
com a colheita, art. 408º, nº2.

d) 796º, nº1. Efeito real, efeito obrigacional, entrega 790º nº1, pagar o preço ainda é
possível, tem de ser cumprida.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 192


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AULA TEÓRICA 21
2012-04-23
Sumário: II. Os negócios jurídicos com eficácia limitada (negócios com efeitos
subordinados a condição ou termo; com efeitos dependentes de ratificação; com
eficácia relativa por falta de publicidade); efeitos obrigacionais de negócios inválidos
III. A interpretação e a integração da declaração negocial
A lei pende para a teoria da declaração quanto a negócios do tráfico jurídico negocial
geral e para a teoria da vontade face a negócios estritamente pessoais
C. A invalidade do negócio jurídico
I. As causas da invalidade, suas modalidades, seus regimes típicos e atípicos
II. Os negócios jurídicos sobre os quais impende a sanção da nulidade
1. A falta da capacidade jurídica
2. Os negócios contrários à lei
3. Os negócios com conteúdo (objecto ou fim) rejeitado pela ordem jurídica
[textos de apoio sobre insolvência; pp. 490 a 527]

Negócios jurídicos com eficácia limitada

Normalmente, o negócio sendo válido produz todos os seus efeitos, mas não é sempre
assim. Pode acontecer que seja totalmente válido, mas ainda assim não produza
efeitos ou não os produza integralmente, porque esta razão de ser ocorre ao próprio
nível dos efeitos por razões válidas:
1. Vontade das partes – porque as partes não quiseram
2. Por comando da lei.
Ex: A é funcionário público, tem salário razoável, mas tem gostos milionários. Comprou
mobília por 25.000€, como não tinha esse dinheiro, combinou que ia pagar às
prestações mensais de 2000€. O vendedor reservou para si o direito de propriedade.
Regra: transferência dá-se por mero efeito do contrato, no momento em que a
aceitação ganha eficácia. Aqui a regra do art. 408º foi afastada pela norma do art.
409º.
Isto por uma questão de segurança.
Temos um contrato válido, que apenas produz alguns dos seus efeitos. Não se dá a
transferência da propriedade. É um contrato válido com eficácia limitada. Parcialmente
ineficaz.
Efeitos produzidos: obrigação do pagamento da coisa e obrigação da entrega da coisa.
As partes submeteram a verificação dos efeitos a uma condição.

Condição e termo
Condição, art. 270ºss: um acontecimento futuro e incerto exterior ao negócio, mas
incindivelmente ligado a ele, não se pode separar, pois determina a produção ou
cessação dos seus efeitos. As condições podem ser de dois tipos,
 Suspensivas: determina a produção dos efeitos do negócio

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 193


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 Resolutivas: quando determina a cessação dos seus efeitos. O negócio vai


produzindo efeitos, mas se se verificar aquela condição, os efeitos caem.
Caso: Alberto fez oral. As coisas não correram bem, mas a professora não disse logo a
nota. O pai liga e diz que se passar, oferece-lhe um carro. → isto não é uma condição, é
preciso que haja incerteza.
No caso das condições não temos efeitos, mas já há uma expectativa jurídica, que é
protegida por lei.
No caso da mobília existe um direito em latência.
Artigo 272º - necessário agir de acordo com boa-fé.
Artigo 275º - no caso da mobília, o vendedor ainda é o proprietário e depois interessa-
lhe que A não pague, arranja maneira de A ser despedido para não pagar as prestações
» agiu de má fé, A passa a ser o proprietário. A expectativa de A é protegida.

Termo: acontecimento futuro, mas certo, exterior ao negócio, mas incindivelmente


ligado a ele, que determina a produção ou cessação dos seus efeitos jurídicos. Os
termos podem ser sempre certos, mas podem ser determinados ou indeterminados,
conforme nós saibamos quando vai acontecer.
O termo pode ser suspensivo (ou inicial) quando marca o momento a partir do qual o
negócio começa a produzir efeitos; ou então pode ser extintivo (ou final) marca o
momento a partir do qual o negócio deixa de produzir efeitos.
Exemplo: António doou a Bernardo 5000€, mas com o encargo de Bernardo usar 500€
para o restauro da Sé de Braga. O que Bernardo fez foi usar o dinheiro em sua casa.
Quid iuris?
B tinha apenas aquela obrigação. Estamos perante condição ou termo?
Isto é um modo ou encargo.
Quando alguém não cumpre encargo é preciso accionar (não é automático) os efeitos
resolutivos do negócio. Necessário seguir os trâmites legais.
Art. 2248 para testamentos
Art. 966º para doações
Elemento exterior ou acidental ao negócio jurídico que não influencia directamente os
seus efeitos, mas que onera uma liberalidade (ou uma doação ou uma disposição
testamentária).

Negócios jurídicos dependentes de ratificação


Ratificação: negócio jurídico unilateral através do qual se atribui efeitos jurídicos a um
negócio ineficaz. Através da ratificação atribui-se aplicabilidade retroactiva pelo art.º
268, passa a fazer parte do negócio. A forma para a ratificação está no art.º 268, nº2
remetendo para o art.º 262, nº2 (procuração), liberdade forma (art.º 219). Esta
ratificação não pode prejudicar direitos de terceiros. Pode haver responsabilidade pré-
contratual no caso (art.º 227), se assim for no caso A poderia ratificar o negócio,
chamando os efeitos do negócio (art.º 258).

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 194


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 Representação sem poderes: negócio celebrado entre suposto representante e


contraparte é válido, mas não produz efeitos em relação ao suposto
representado.
Aqui enquanto não houver ratificação não há efeitos, necessita de ser ratificado
pelo suposto representado. Se ratificar, a vinculação tem eficácia retroactiva,
tudo se passa como se tivesse sempre existido poderes representativos.
 Insolvência: os negócios celebrados pelos insolventes. Quando alguém é
declarado insolvente deixa de poder dispor do seu património, só dispõe do
necessário para a sua sobrevivência. O restante fica sobre a administração do
administrador da massa insolvente. Ele é que vai pagar aos credores.
O insolvente se utilizar o património autónomo (massa insolvente) para realizar
negócios, esses negócios são válidos, mas ineficazes. O administrador pode
ratificar, porque a lei entende que o negócio realizado pode ser produtivo e
trazer vantagens para a massa insolvente.

[Negócios com eficácia limitada: subordinados a condição ou termo ou dependentes


de ratificação (representação sem poderes e insolvência)].

Negócios com eficácia relativa


Ambas as partes estão vinculadas pelo negócio, mas o negócio pode não produzir
efeitos em relação a terceiros, produzindo, no entanto, em relação às partes, todos os
seus efeitos.
Em relação a terceiros pode não produzir, porque pretende-se proteger os interesses
dos terceiros e o tráfico jurídico geral.

 Falta de publicidade: os terceiros não conhecem os efeitos, nem sequer


conhecem os negócios.
Ex: protecção de terceiros relativamente aos efeitos adquiridos contra efeitos
retroactivos entre as partes.
Artigo 268º n.º2; artigo 291º (quando queremos anular um negócio, se houver
3º de boa fé, este fica protegido); artigos 434º e 435º (resolução do contrato).

 Ineficácia em relação a terceiros confiantes numa situação que vai ser


modificada no futuro sem que eles saibam disso. Artigo 168º, art. 185º n.º5 »
168º n.º3; registo.

 Inoponibilidade da invalidade por força da lei. Artigo 939º (remissão em bloco


em relação aos contratos onerosos para o regime do contrato de compra e
venda).

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 195


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 A e B são casados em regime de comunhão de bens e compram mobília. A


mobília pertence aos dois. A quer vender a mobília, não pode vender sem
autorização de B. A forja certidão de divórcio e vende a mobília. Artigo 1687º
n.º3, o negócio é anulável, não pode ser oponível a 3º boa-fé.

Integração e interpretação da declaração negocial, art. 236º a 239º


Quando as partes celebram contratos emitem declarações negociais.
Estas declarações podem ser lacunosas, por isso temos de as integrar, ou então
duvidosas, temos que as interpretar.

Interpretação
Se a declaração só comporta um sentido, é este que vale. Não vamos interpretar uma
coisa que é óbvia. Só podemos recorrer aos mecanismos da interpretação quando a
declaração é duvidosa.
Os artigos 236º a 239º só se aplicam às declarações receptícias.
Às não-receptícias – declaração testamentária, aplica-se a norma do artigo 2187ºCC.
Quando se interpreta temos de partir da manifestação, do elemento externo, para
atingir o elemento interno, para tentar perceber qual a vontade do declarante.
Temos de encontrar o sentido da declaração negocial.
Artigo 236º n.º1 – a declaração vale com o sentido (elemento interno) que uma pessoa
norma, colocada na pessoa do declaratário, possa interpretar do comportamento do
declarante – o que uma pessoa mediana entenderia do comportamento do declarante.
Artigo 236º n.º1, 2ª parte – o mesmo se aplica para as declarações negociais tácitas.
Isto implica um uso linguístico comum. Ex: A e B são traficantes de droga. À cocaína
chamam cacau. Se aplicarmos o artigo 236º, a pessoa normal entenderia que seria
chocolate, mas A e B não estão vinculados à venda de chocolate. A isto chamamos
falsa demonstratio. As partes manifestam-se mal, mas entendem-se bem, elas
exprimem-se mal conscientemente, mas estão de comum acordo. É um uso linguístico
comum entre elas, artigo 236º n.º2.
Ex: Dr. Hörster mora em Coimbra e gosta muito de bacalhau dourado, mas a receita de
lá é diferente da receita de Braga. Neste caso, o declaratário normal é de Braga, pensa
que o bacalhau dourado é o da ementa de cá, por isso é a receita de Braga que vale. A
pessoa que vem de fora é que corre o risco. Tem que valer o sentido objectivo.
Aqui temos uma falta de vontade, um erro na declaração. As partes ficam vinculadas.
Quando uma das partes diz uma coisa, mas não é aquilo que quer dizer, vale o sentido
objectivo (normal) que alguém teria perante aquela declaração. Assim sendo, há
negócio.
Eventualmente, poderá ser anulado por erro na declaração.

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Integração
Preciso integrar quando a declaração é lacunosa. Vale o artigo 239º.
Vontade presumível: vontade que as partes queriam se tivessem percebido que havia
lacuna, a vontade que teriam tido na altura da celebração do negócio. Mas apenas vale
a vontade que teriam na altura, o que teriam decidido.
Na outra hipótese, de acordo com os ditames da boa-fé, prevalecem sobre a vontade
presumível.
A vontade presumível dá solução X, os ditames da boa-fé dão solução Y. optamos pela
solução Y.
A integração de lacunas nunca pode substituir ou alargar o objecto do negócio jurídico
em causa. Ela tem de manter-se dentro do âmbito negocial traçado pelas partes.

INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Em regra, o negócio jurídico produz todos os seus efeitos, a não ser que haja causa de
invalidade ou ineficácia.
Pode haver uma deficiência genética na formação do contrato que possa inquinar os
seus efeitos.
A invalidade é uma deficiência genética que impede a ordem jurídica de dar protecção
aos efeitos pretendidos.

Invalidade
Ineficácia
(em sentido restrito)
Ineficácia (sentido restrito)

A nossa lei estabelece este regime nos artigos 285º a 294º (regime-regra da
invalidade).
Artigo 285º: na falta de regime especial, aplica-se o regime geral.

* Negócios com sanção de nulidade

1 - Negócios celebrados sem capacidade negocial de gozo


Negócios estritamente pessoais. Em regra aplica-se a nulidade. Existem umas situações
afins que são as situações das incapacidades relativas, arts 2192º a 2198º; 953º.

2 – Negócios celebrados contra a lei, art. 294º


Quando as pessoas possuem capacidade negocial, de modo que podem participar no
tráfico jurídico, devem respeitar, todavia, os limites legais que lhe são impostos quanto
aos respectivos negócios jurídicos, visto a autonomia privada apenas poder ser

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 197


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exercida dentro dos limites da lei. Esses limites, por seu lado, são estabelecidos com
base em decisões fundamentais de ordem ideológica, filosófica e económico-política.
O Código Civil estabelece no artigo 294º como regra fundamental que os negócios que
violem normas imperativas são nulos, salvo nas excepções que a lei preveja. A sanção
da nulidade relativamente aos negócios em causa resulta do facto de eles, quanto à
sua natureza geral, serem possíveis: as partes têm capacidade para e um determinado
tipo legal quanto aos negócios pretendidos existe. No entanto, a ordem jurídica
desaprova os negócios, tendo em conta o seu conteúdo, o seu fim ou as circunstâncias
concretas em que são celebradas.
Porém, nem todas as violações de normas imperativas acarretam nulidade do negócio.
A lei também pode prever a anulabilidade ou até sanção nenhuma (1306º, n.º1
2ªparte). Na falta de uma solução expressa, cada proibição legal deve ser interpretada
e interrogada sobre a finalidade legislativa que subjaz. Normas imperativas que não se
dirigem contra o conteúdo do próprio negócio, mas que visam outros fins, não
conduzem necessariamente à sua nulidade. Assim, todas as normas imperativas que
não determinem, elas próprias, a sanção resultante da sua violação, devem ser
interpretadas quanto ao seu escopo e à sua finalidade com vista à decisão, art. 294º.
(então 1º interpretar a norma para ver qual a sua ratio legis, depois ver se tem
finalidade de proibir o próprio negócio, se a norma proíbe o negócio então é nulo, se a
norma tiver outra finalidade que não proibir o negócio, a solução mais adequada
poderá não ser a nulidade).
Exemplo: contratos abaixo do salário mínimo são nulos. Em relação a vendas fora de
horas, não há nulidade dos negócios realizados, apenas há multa.
Exemplo: António tem um restaurante com muita saída, porque o cozinheiro é muito
bom. O cozinheiro só pode trabalhar 8h/dia, está estipulado na lei, mas como tem
muitos clientes dava jeito ao António que o cozinheiro trabalhasse mais horas. António
contrata a esposa por 4horas, mas nessas 4horas quem trabalha é o cozinheiro.
Este é um negócio sucedâneo (subtipo de negócio contrário à lei). Estes negócios são
celebrados para defraudar a lei, são negócios nulos, art. 294º. A lei tem que impedir
tudo o que atinge o mesmo objectivo que a lei proíbe.

3 – Negócios com objecto ou fim desaprovados pela ordem jurídica


A norma geral e fundamental do art. 294º é concretizada pelo art. 280º que estabelece
critérios mais pormenorizados relativamente ao conteúdo de negócios jurídicos
desaprovados pela ordem jurídica.
1
fisicamente impossivel
2
Legalmente impossivel
Art. 280º n.º1 3
Contrário à lei
4
Indeterminável

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1Fisicamente impossível: o objecto do negócio é fisicamente impossível quando


envolve uma prestação não realizável no domínio dos factos ou segundo as leis da
natureza.
Ex: A é multimilionário. Não tem herdeiros. Resolve esbanjar tudo, até porque tem
cancro terminal. Vai até aos EUA para comprar viagem até à lua. Pode fazer isto.
Exemplo: A quer que pintor famoso lhe faça um retrato e então negoceia com agente
do pintor. Mas quando celebrou o contrato, o pintor estava tetraplégico. O negócio é
fisicamente impossível.

2Objecto legalmente impossível: o objecto é legalmente impossível quando a ordem


jurídica não prevê tipos negociais ou meios para a sua realização ou quando não o
admite sequer em relações jurídicas privadas.
Exemplo: comércio de escravos

3contrárioà lei: o objecto é contrário à lei quando o negócio é materialmente possível,


mas o negócio contradiz normas imperativas.
Exemplo: contrato de compra e venda de heroína.
Exemplo: António possui no Minho um terreno com difícil acesso, mas com um bom
clima para a produção de uma planta de droga. António vende o terreno a Bernardo.
Ambos sabem para que vai servir o terreno, para a produção de droga. O que está a
ser vendido é o terreno, é válido. Mas aqui o que está em causa é o fim do negócio.
Artigo 281º, o negócio só é nulo quando o fim for comum às duas partes.

4indeterminável: o objecto do negócio é indeterminável quando não é possível


concretizá-lo ou individualizá-lo.
Exemplo: contrato de compra e venda cujo objecto são batatas. Não sabemos que tipo
de batatas nem quantos quilos, é indeterminável. Logo, o negócio é nulo.

5
Contrário à ordem pública
Artigo 280 n.º2 6
Ofensivo dos bons costumes
5contrárioà ordem pública: o negócio jurídico é contrário à ordem pública quando é
incompatível com ela. Normas com carácter geral, não são normas específicas,
decorrem de princípios gerais/constitucionais. Conjunto de princípios subjacentes à
nossa ordem jurídica.

6ofensivo dos bons costumes: o negócio jurídico é ofensivo dos bons costumes
quando tem por objecto actos imorais, contrários à moral pública. Normas que não
têm componente jurídica, variam ao longo do tempo. Consistem em normas de
conduta de caracter moral social de uma determinada época e de certo meio. São uma
cláusula geral.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 199


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AULA PRÁTICA 20
2012.04.23
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior. Resolução dos casos
práticos n.º 39 e n.º 40.

Caso prático 39

a)

A pede Envia Envia Carta Telegrama


orçamentos carta a telegrama à depositada gerente
ST ST para na caixa de
desfazer correio

Contrato: consenso constituído entre proposta eficaz e aceitação eficaz e tempestiva.


Art. 232º a contrario sensu

Análise dos orçamentos: convite a contratar porque quando há apenas mero interesse
para negociar ou disponibilidade para contratar, não há vontade de vinculação jurídica.

Envia carta: proposta contratual expressa, art. 217º, vontade inegável de A criar
vinculação jurídica.

Declaração negocial receptícia, art. 224º n.º1 1ªparte: quando se dá a eficácia.


(com a chegada ao poder ou com o conhecimento).
A eficácia dá-se quando a carta é depositada na caixa de correio ST, está em condições
de ser conhecida, tendo em conta as condições do lado do destinatário.
Revogação da proposta contratual: art. 230º; só é permitida a revogação nas
excepções. Aplicando o n.º1 a proposta seria irrevogável. Mas temos de olhar para os
interesses que o 230º visa: salvaguardar o tráfico jurídico geral e salvaguardar
legítimas expectativas do declaratário.
No caso, o declaratário ainda não tinha criado expectativas. Devemos entender à ratio
do artigo.
Quando a chegada ao poder da proposta e a chegada ao poder da revogação ocorrem
em momentos diferentes, mas o momento do conhecimento é simultâneo, vamos
considerar que o que é decisivo para efeitos da revogação é o momento do
conhecimento efectivo.
O conhecimento da revogação foi anterior ao conhecimento da proposta.
Interpretação restritiva do art. 230º n.º1 e extensiva do n.º2.
Proposta sem efeitos, porque a eficácia da proposta foi destruída pela revogação.
Literalmente, não podíamos aplicar o art. 230º n.º1, porque a proposta já tinha
chegado ao poder do declaratário.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 200


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b) A revogação chega após o conhecimento da proposta, já há expectativas a


salvaguardar. Aqui aplica-se a regra, art. 230º n.º1. a proposta já se tornou eficaz, é
irrevogável.
O proponente fica vinculado à proposta contratual, se a firma ST fizer aceitação eficaz e
tempestiva poderá ser celebrado um contrato.

Caso prático 40

Hora de abandono
23h Manhã cedo do escritório

Entrada do fax 2º fax Silva toma S envia fax a aceitar


no escritório. 2500€ conhecimento 2000€
2000€ do 2º fax

Contrato: proposta eficaz e aceitação eficaz e tempestiva


1º fax: proposta contratual (vontade de declaração clara, concreta, determinada,
susceptivel de ser aceite com simples sim). Quando se torna eficaz? Art. 224º n.º1
1ªparte; 224º n.º3 (temos de olhar para a organização de serviços do lado do
destinatário), chegou às 23horas, só chega ao poder na manhã seguinte, não se torna
eficaz nessa noite. Poderá tornar-se eficaz no dia seguinte quando o Silva chegar ao
escritório.
Contratante, envia 2º fax com novo preço. Parcialmente revoga a proposta anterior.
Estabelece o preço de 2500€. Revogação parcial da 1ªproposta.
Pode?
Art. 230º n.º1 regra geral
Art. 230º n.º2
Conhecimento em simultâneo da proposta e da revogação.
Silva aceitou a 1ªproposta que já tinha sido revogada. A aceitação caiu no vazio.
Temos um dissenso manifesto. Quando as partes se apercebem que não estão de
acordo.
A 2ª proposta pode ser aceite?
Prazo: resposta imediata, art. 228º n.º1 b) à partida o prazo já caducou, porque se
respondeu à primeira podia ter respondido à segunda, já não vincula o proponente,
nem em relação à segunda.
Não ficou concluído o contrato, Paco não tem que fornecer bananas nenhumas.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 201


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AULA TÉORICA 22
2012.04.30
Sumário: 4. Os negócios celebrados sem observância da forma legal (só referência)
5. Os negócios celebrados com falta da vontade (enunciado geral)
a) A simulação (absoluta) como negócio fingido e celebrado para não valer
aa) Os efeitos do negócio simulado » sempre a nulidade
bb) Os legitimados para invocar a simulação; os objectivos da lei
cc) O regime de excepção do artigo 243.º; terceiros dos artigos 243.º v.s. 291.º
b) A simulação relativa e suas formas
aa) A validade autónoma do negócio dissimulado
bb) A simulação relativa objectiva (sobre o preço ou a natureza do negócio)
cc) A simulação relativa subjectiva (v.s. o mandato sem representação)
c) A simulação relativa e o formalismo legal
aa) A nulidade do negócio simulado (por definição)
bb) A nulidade do negócio dissimulado por falta de forma (controverso)
[texto de apoio à simulação; pp. 527 a 547]

4 - Negócios celebrados sem observância de forma legal


Art.º 200, concretiza o art.º 294, os negócios contrários a normas imperativas são
nulos, quando outra sanção não esteja prevista na lei.
Sistema em que a invocação de falta de forma é afastada: outras condições de
interesse público. ex.. abuso de direito (venire contra factum proprium), não se pode
invocar a falta de forma.
Há situações parecidas no âmbito do direito do trabalho, o trabalhador poderá invocar
a nulidade, e superior não (a lei protege a parte mais fraca)
Não há nulidade por falta de forma:
Forma ad probationem: A forma só serve como requisito de prova, a lei não exige a
validade (não há nulidade) - art.º 364, nº1 e nº 2 CC.
Quando as partes não observaram a forma convencional (forma que as partes
acordaram entre si), não há nulidade, desde que as partes consigam provar que ambas
mudaram a sua vontade.
Cláusulas acessórias – não fazem parte do núcleo do negócio que eventualmente
podem livrar-se da forma legal sem dar origem à nulidade (art.º 221, nº1) ex.: não é
preciso escritura pública para vendermos uma biblioteca que está dentro de uma casa,
é querido pelas partes mas podem surgir complicações em termos de prova. O art.º
394, nº1- exclui a prova testemunhal, neste tipo de situações.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 202


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5 - Negócios celebrados com falta de vontade


Há vários negócios jurídicos podem ter sido celebrados com falta de vontade, a lei em
regra protege os efeitos jurídicos dos negócios porque as partes os querem
(autonomia privada). E se faltar esta vontade? Em regra estes negócios são nulos. No
entanto há excepções.

Caso: A é empreiteiro, o mercado está muito mau e os empreiteiros basicamente


estão todos na banca rota, A sabe que vai ser declarado insolvente. Assim, combina
com B que vão ao notário e através de escritura pública A irá “vender” a B todos os
seus prédios e B não pagará nada, apenas vai fazer um favor a A até que este esteja em
boa situação financeira. Há falta de vontade, nenhuma das partes quer produzir efeitos
jurídicos, mas sim enganar terceiros> negócio simulado= nulo. É um engano
fraudulento.
Vontade real é diferente de vontade declarada = falta de vontade, divergência entre o
que se quer e o que se pede> art.º 240, nº1 (simulação)

Pressupostos simulação
1) V.R é diferente de V.D
2) Tem de haver um acordo simulatório
3) Enganar terceiros (simulação inocento- quando é só enganar; simulação
fraudulenta- quando para além de enganar, querem prejudicar)
O negócio simulado é nulo (art.º 240, nº2).

Caso: A quer doar um apartamento à sua amante de longa data, mas a mulher não
pode saber, assim, finge que vendeu à senhora x para doar à amante, neste caso há
engano a terceiros mas é inocente, não prejudica terceiros. É nulo.

A simulação é um caso de falta de vontade intencional!


Há vários casos de falta de vontade, que se dividem entre intencional e não
intencional:

Intencional
 Simulação (art.º 240 a 243) é intencional, o declarante quer enganar terceiros em
acordo com o declaratário;
 Reserva mental (art.º 244): aqui temos na mesma uma divergência intencional
entre V.R e V.D, o declarante faz uma declaração mas não quer declarar, faz isto
para enganar o declaratário;
 Declarações não sérias: o declarante faz uma declaração, não quer o declarado,
mas faz isto, na expectativa de que o declaratário se aperceba que ele “está a
brincar” (art.º 245- não há transmissão do direito de propriedade)

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Nestas 3 situações há diferença entre a V.R e a V.D, só muda a parte do declaratário.


Na reserva mental tudo depende se o declaratário sabe ou não. Se o declaratário não
sabe, tem de ser protegido e o negócio é valido (art.º 244), se sabe é nulo.

Caso: A está a morrer e é um grande apreciador de arte e o seu sobrinho ao visitá-lo e


diz dar-lhe o quadro de Picasso. Mas o sobrinho não quer doar nada, quer apenas que
o tio fique feliz até morrer. O tio sobreviveu. De quem é o quadro? É do tio, o negócio
é válido porque não era conhecido do tio. Mas se o tio sabia que ia sobreviver e se
apercebeu da intenção do sobrinho, é nulo (muito difícil de provar).

Não intencional: não foi propositada que a diferença entre a V.R e a V.D surgiu
 Forçada - coação física (art.º 246), alguém é fisicamente obrigado a fazer uma
declaração negocial, a pessoa não tem como escapar, não há vontade (ex.:
hipnose, drogas), a pessoa não tem capacidade para dizer que não, enquanto na
moral há vontade, mas está viciada (ex.: pistola apontada à cabeça).
 Ignorada - o declarante não se apercebe que há uma divergência:
- Falta de consciência da declaração (ex.: do leilão) - art.º 246
- Erro na declaração (queria comprar por 100 e disse 10) - art.º 247 ss

Simulação
Há um fim comum entre ambas as partes de enganar terceiros. Estes casos, são os
mais frequentes de situações de falta de vontade (também se admite a existência de
negócios jurídicos unilaterais simulados- testamento simulado, ex.: A quer deixar algo
à amante, como sabe que não pode, ele declara que deixa a um amigo para que depois
esse dê à amante- art.º 2200, anulabilidade). Pode ser absoluta ou relativa.
Absoluta: ex. do empreiteiro. Existe apenas um negócio, que é o simulado, as partes
dizem que querem celebrar mas não querem celebrar nada, este negócio +e nulo (art.º
240, nº2)
Relativa: Quando há dois negócios, ex.: A tem uma amante e quer doar-lhe um
apartamento no centro de Braga, a lei proíbe, então A finge que que doa mas vão ao
notário fingir que vendem (quando ele lhe tinha dado um cheque por trás para ela
pagar à frente do notário). Temos o c.c.v celebrado no notário, mas não corresponde
há vontade, pois querem doar, e a doação é outro negócio que as partes querem mas
escondem. A venda é um negócio simulado e a doação é um negócio dissimulado. O
negócio simulado é nulo e o negócio dissimulado (art.º 241), neste caso temos de ver
qual seria a validade caso não fosse dissimulado, aqui era nulo porque é uma
indisponibilidade relativa doar à amante (art.º 2196). Se fosse um bem móvel já podia.
O art.º 241, nº2- a doutrina dominante não faz esta interpretação, pensa que a forma
a adoptar é do negócio simulado, mas não estudamos assim, tem de ser visto
autonomamente, estaríamos a permitir a fraude à lei.
Legitimidade> nulidade> negócio simulado

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 204


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1) Art.º 242, nº1: regime regra art.º 286 “qualquer interessado”- ex.: credores (art.º
605) e esclarecimento para simuladores entre si. Os herdeiros não cabem nos
interessados porque a pessoa ainda não morreu
2) Art.º 242, nº2: alargamento da legitimidade que não cabem no art.º 286, são os
herdeiros legitimários que pretendam agir em vida do autor da sucessão, mas só
em relação aos negócios celebrados com o intuito de os prejudicar

Caso: A é empreiteiro, como no caso que demos a cima, B eufórico com os


apartamentos, vendeu um deles a C que de nada sabia. Entre A e B o negócio é nulo
(art.º 240, nº1 e nº2), pois é simulado, o negócio entre B e C é nulo também porque é
venda de coisa alheia (art.º 892). A pode invocar a nulidade para ficar protegido, mas
só pode fazê-lo em relação a B (art.º 243- exclui a legitimidade dos simuladores em
relação a terceiros de boa-fé). Neste caso C está de boa-fé (ignorância da simulação,
basta não saber mesmo que seja por sua culpa que não sabe, o que difere do 291 que
é desconhecer sem culpa, este último é mais exigente). C não registou, está na mesma
protegido pelo 243 porque este artigo nada mais exige do que a ignorância, basta não
saber de nada do negócio simulado. Estando protegido pelo art.º 243, C adquire o
direito de oponibilidade relativa, o direito de propriedade está em A. O art.º 243 só
protege relativamente aos simuladores. Não há uma aquisição a non domino com base
no art.º 243. O que pode suceder é que também tenham ficado protegido pelo art.º
291 e aqui sim pode adquirir a propriedade. Se não se puder aplicar o art.º 291,
eventualmente poderá adquirir por usucapião.

Dentro da simulação relativa, existe a subjectiva ou objectiva.


 Objectiva: negócio simulado quanto ao conteúdo, as partes pretendem celebrar
um negócio que dissimulam sobra a aparência de um outro negócio com conteúdo
diferente. O conteúdo pode ser quanto à natureza do negócio (venda/doação) ou
quanto ao valor (100/1000).
 Subjectiva: aqui o que se simula são a partes do negócio, nestas situações faz-se
uma interposição fictícia de pessoas. Ex.1: A tem um óptimo terreno à venda e B
quer comprar mas sabe que A nunca lhe venderá, assim encarrega C de comprar a
A o respectivo terreno cedendo-lhe dinheiro para esse efeito. C compra em seu
próprio nome e depois vende a B por escritura pública. Quando A descobre,
pretende invalidar os negócios celebrados. Quid iuris? Neste caso A não sabe de
nada. Neste caso C é uma interposição real de pessoas por é C que transmite o
direito de propriedade a B e não A. C é um mandatário sem poderes de
representação, “homem de palha”, logo este caso não cabe nem na figura da
representação, nem da simulação. A nada pode fazer, porque os contratos são
todos válidos. É um risco que se corre ao vender.
Ex.2: A vai morrer mas os médicos foram muito atenciosos com ele e quer
manifestar a sua gratidão, sabendo que a lei não permite (indisponibilidade

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 205


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relativa), assim combina com B doar a este e o mesmo doa aos médicos, os
médicos são informados de que é B quem vai doar. Quid iuris? Aqui todos estão
envolvidos, todos sabem do que se está a passar. Temos dois negócios, A doa a B e
B doa aos médicos, ambos são negócios simulados porque A quer doar aos
médicos e não a B. temos um terceiro negócio dissimulado, as partes querem, mas
querem esconder (entre A e os médicos). B é uma interposição fictícia (simulação
relativa subjectiva), não faz parte do negócio dissimulado. Os negócios simulados
são nulos e quando ao negócio dissimulado temos de avaliar autonomamente, e há
de facto uma indisponibilidade relativa (doar a médicos art.º 2194), logo o negócio
é nulo. Sendo C, em vez dos médicos já não existia indisponibilidade relativa, mas
há falta de forma lodo é nulo na mesma (art.º 241, nº1 e nº2) + 220. Se os médicos
não souberem de nada, afinal temos uma interposição real. Art.º 294- 2194.

NOTA: O mandato sem representação é sempre uma interposição real de pessoas,


mas se for usado para contornar a lei, é nulo, não por ser simulado.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 206


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AULA PRÁTICA 21
2012.04.30
Sumário: A representação voluntária e o seu regime. A representação sem poderes; o
abuso de representação; o negócio consigo mesmo; a capacidade; a falta ou vícios de
vontade e estados subjectivos relevantes. Resolução dos casos práticos n.º 41, n.º 42 e
n.º 43.

Representação voluntária: os poderes representativos resultam de uma procuração


de um negócio jurídico. Art.º 262, negócio jurídico unilateral através do qual alguém
atribui a outrem poderes para o representar na declaração de um negócio jurídico.
Forma (art.º 262, nº2), os efeitos de um negócio jurídico celebrado por um
representante (art.º 258). Os requisitos: o negócio jurídico celebrado pelo
representante em nome do representado, que é a parte do negócio.
Caso: A presta a declaração negocial em nome de A e por isso os efeitos produzem-se
na esfera de A.
Representante é diferente de núncio, este não faz uma declaração, só transmite a
ordem de outrem! Representante é diferente de mandatário. No mandato sem
representação aplicamos o art.º 1180.
Falta de poderes de representação significa que ou não há um título legítimo de
representação ou então excede-se os poderes formais/funcionais da representação.
Efeitos da representação sem poderes
○ O negócio é válido
○ Ineficácia em relação ao suposto representado
○ Possibilidade do suposto representado ratificar o negócio

Ratificação: negócio jurídico unilateral através do qual se atribui efeitos jurídicos a um


negócio ineficaz. Através da ratificação atribui-se aplicabilidade retroactiva pelo art.º
268, passa a fazer parte do negócio. A forma para a ratificação está no art.º 268, nº2
remetendo para o art.º 262, nº2 (procuração), liberdade forma (art.º 219). Esta
ratificação não pode prejudicar direitos de terceiros. Pode haver responsabilidade pré-
contratual no caso (art.º 227), se assim for no caso A poderia ratificar o negócio,
chamando os efeitos do negócio (art.º 258).
Caso: A nomeia B para seu procurador, para B vender em seu nome a sua casa de
praia. A dá-lhe instruções precisas como quer que a venda seja feita dizendo-lhe que
não pode vender abaixo de um valor x. B vende abaixo de x, Quid iuris? Existe negócio
jurídico, celebrado pelo representando, há procuração, e foi nos limites dos poderes
que lhe compete, está dentro dos poderes funcionais/ funcionais conferidos ao
representante. Aqui há poderes de representação, não podemos ir ao art.º 268,
aplicamos o art.º 269> abuso de representação. 1º Actuação dentro dos limites
funcionais/formais dos poderes confiados ao representante, 2º utilização consciente
desses poderes em sentido inverso ao pretendido pelo representado e 3º
conhecimento ou dever de conhecimento da contraparte desse facto> os efeito do

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 207


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269- se a outra parte conhecia ou devia conhecer o abuso de representação, aplicamos


o regime do 268. Neste caso pode haver ainda responsabilidade contratual do
representando ao representado (art.º 762, nº2). E se a contraparte não conhecia, nem
devia conhecer o abuso? Então o negócio é valido (art.º 258) e opõe-se ao
representado. O representado deve ter cuidado ao escolher o representando, porque
corre o perigo de os riscos desse negócio cair sobre ele.
Caso: A nomeia B para seu procurador e através da procuração atribui-lhe poderes
para ele comprar um automóvel em bom estado. B negoceia um automóvel com C
(dono do stand), C diz que o carro está em condições excelentes, C age com dolo (art.º
253) logo o negócio é anulável. O dono do stand enganou o representante (art.º 259) -
é na esfera do representante que se verifica o vício de vontade. C sabe que o carro não
está em boas condições e como conhece esta norma, para não incorrer em dolo
manda um funcionário D vender o automóvel a B (contrato de trabalho- relação
jurídica que serve de base à procuração). Quem são as partes do contrato? A e C, mas
C não conseguiu o que pretendia pois segundo o art.º 259, nº2 o negócio é anulável. C
não precisa de ser maior, apenas tem de ter capacidade natural para entender e
querer o negócio. As situações que levam à extinção da procuração são as do art.º 265.

Caso Prático 41
A encarrega B de celebrar o negócio. Estamos perante uma procuração (art.º 262, nº1),
negócio jurídico unilateral através do qual A tem poderes representativos sobre B para
celebrar um negócio jurídico. Daqui decorre uma representação voluntária, estando
preenchidos os pressupostos do art.º 258, o negócio jurídico celebrado por B produzirá
efeitos na esfera jurídica de A: 1º B tem de celebrar negócio jurídico, c.c.v (art.º 874)
de um bem móvel (art.º 205), liberdade de forma (art.º 219), os efeitos estão no art.º
879; 2º realizado por B em nome de A; 3º nos limites dos poderes que lhe foram
conferidos, o que se verifica, a forma da procuração (art.º 262, nº2), há liberdade
forma, a procuração pode ser expressa ou tácita (art.º 217), neste caso foi expressa.
Quando à 2ª parte aplica-se o art.º 261 (negócio consigo mesmo) é anulável, a não ser
se o representado consentir na celebração do negócio, A teria de dar o consentimento
antes ou convalidá-lo por confirmação (art.º 288), ou se o negócio exclui a
possibilidade de um conflito de interesses. Não se aplica nenhuma das excepções do
art.º 261, mas B como conhece este artigo nomeia um substituto, C. B faz um
substabelecimento de poderes representativos em C, ou seja, C passa a ser o
representante de A. C apenas o fez para fugir à proibição do art.º 261, nº1, mas
segundo o nº2 este negócio é anulável. Sendo o negócio anulável, quem tem
legitimidade para pedir a anulação é o A segundo o art.º 287,nº1 sendo o prazo de 1
ano a contar do conhecimento pelo representado.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 208


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Outro exemplo de negócio consigo próprio: A por procuração nomeia B para a


celebração de um certo negócio, e B nomeia C para a celebração do mesmo negócio,
aqui o negócio é anulável.

Caso Prático 42

a) Temos de ver se C interveio como representante ou não. Estamos perante um


contrato de arrendamento (art.º 1023 + 1064 ss), de um bem imóvel (art.º 204), a
forma está no art.º 1069, as obrigações que resultam desta contrato estão no art.º
1031- para o locador (entregar a coisa e assegurar o uso da coisa para o qual ela se
destina) e art.º 1038, a)- para o mandatário (pagar a renda). Art.º 258: Temos um
negócio jurídico, celebrado pelo representante em nome do representado e nos
limites que lhe foram conferidos, estes poderes foram conferidos através de uma
procuração (definir) art.º 262, nº1, a forma é a mesma do negócio para o qual foi
celebrado a procuração (art.º 262, nº2, a partida foi tácita (art.º 217). Mas o 2º
requisito não se verifica, C não agiu em nome de A, agiu no seu interesse mas não em
seu nome, como representante, assim os efeitos deste negócio jurídico entre C e F não
se manifestam na esfera jurídica de A, assim A não pode exigir a entrega do quarto, a
recusa de F é legítima mas além disso ela exige que esta pague.

b) C age sob reserva mental (art.º 244), C emitiu uma declaração negocial contrária à
sua vontade para enganar F. a declaração negocial de C é válida, por F não conhecia a
reserva mental, logo há contrato entre C e F. F pode exigir o pagamento da renda (art.º
1038, a)). Isto não será um caso de representação sem poderes, tinha poderes mas
não os usou para enganar o declaratário, actua em nome próprio.

Caso Prático 43
A faz procuração a B, negócio jurídico unilateral através do qual o A atribui a B poderes
representativos para a celebração de determinado negócio (art.º 262, nº1). A forma da
procuração (art.º 262, nº2) é a mesma do negócio, que é um c.c.v (art.º 874, de um
bem imóvel (art.º 204) e a forma legal (art.º 875) e efeitos (art.º 879 + art.º 408, nº1).
Preenchidos os pressupostos do art.º 258, significa que os efeitos da procuração
produzem-se na esfera do representado (A) + (dizer requisitos), temos negócio
jurídico, celebrado pelo representante em nome do representado? Sim e dentro dos
poderes funcionais. Há representação com poderes, ele comprou mas não cumpriu as
especificidades, podemos ter abuso de representação (art.º 269), ver pressupostos:
actuação dentro dos limites formais e está preenchido porque el comprou uma quinta
tal como pedido; utilização dos poderes em sentido inverso, sim porque comprou no
Alentejo; dever de conhecimento da contraparte o que não se verifica, assim o negócio
é válido e eficaz em relação ao representado e assim temos de aplicar o art.º 258, o

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 209


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representado corre o risco de o representante não actuar da forma que lhe pediu. Se C
soubesse já não merecia a proteção. Mota de água: Temos um c.c.v (art.º 874), de um
bem móvel (art.º 205), há liberdade de forma (art.º 219) os efeitos (art.º 879 + 408,
nº1). A não atribui a B para ele comprar a mota, assim podemos estar perante uma
representação sem poderes (art.º 268- ver pressupostos: negócio sem poderes de
representação celebrado em nome de outrem, o que se verifica) estando preenchidos
estes pressupostos o negócio é válido mas ineficaz em relação a A, ou seja, A não fica
vinculado. A não ser que ratifique (art.º 268, nº1 e nº2) - definir, a forma é a mesma da
procuração (art.º 268. Nº2 remete para o art.º 262, nº2). A pode ratificar ou não o
negócio, A utiliza o art.º 268, nº1 e ratifica o negócio, mas como A ficou aborrecido o
mais provável é não rectificar e assim este negócio não é eficaz em relação a ela, ou
seja, A não é parte deste negócio, C sofre com as consequências, sendo o único
vinculado. S e A não ratificar, não é parte> e o B é parte do negócio? Não, ele não
comprou em seu nome. Não há nada que C possa fazer para se proteger? Sim, pedir a
justificação dos poderes do representante (art.º 260).

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 210


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AULA TEÓRICA 23
2012.05.07
Sumário: d) A reserva mental (desconhecida v.s. conhecida)
e) A declaração não séria
f) A falta de consciência da declaração
g) A coacção física
III. Os negócios jurídicos sobre os quais impende a sanção da anulabilidade
1. A falta de capacidade de exercício
2. A violação de norma imperativa
3. O negócio usurário; afinidade com o negócio ofensivo dos bons costumes
4. Os negócios celebrados com erro na declaração e a sua possível anulabilidade
a) Os pressupostos do erro na declaração (artigo 247.º, 1.ª parte)
aa) O erro no meio declarativo, na própria declaração (significante)
bb) O erro sobre o conteúdo ou sentido da declaração (significado)
[pp. 547 a 563]

Simulação
Figura de um grupo – faltas da vontade. Em regra é punido com a sanção da nulidade.
Problemas mais graves que ocorrem na formação do negócio – falta toda a vontade.

Absoluta: há apenas um único negócio que é simulado. As partes não querem


realizar negócio, mas negoceiam.
Simulação

Relativa: existem dois negócios - O que as partes querem

- O que as partes não querem – simulado.


Por trás do simulado, está o negócio que
as partes realmente querem, o negócio
dissimulado.
Ex: A e B, ccv 204º. Na escritura pública
dizem que venderam por 100.000€,
quando na verdade venderam por
150.000€

Pressupostos
1. Vontade real não corresponde à vontade declarada
2. Acordo com declarante e declaratário
3. Intuito de enganar 3º
Reunidos estes pressupostos, estamos perante um negócio nulo, sendo sancionado
com a nulidade, art. 240º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 211


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Subjectiva: o que simulamos são as partes do negócio, os sujeitos.

Simulação relativa Quanto ao valor


objectiva
Quanto à natureza – ex: simulação de ccv. O
negócio dissimulado é a doação. Se não houver
nenhuma proibição legal, o negócio será válido

Exemplo: negócio A – B – E
As partes do negócio são apenas A e E. B é uma parte fictícia. A isto chama-se
interposição fictícia de pessoas.
B não pode ser representante, porque não tem poderes representativos.
Necessariamente tem de haver concluio, esquema, tramoia.
Isto é diferente da interposição real, “homem de palha”. Aqui é uma parte real.
Ex: A era muito rico, mas estava cheio de dívidas e tinha que vender património, mas
não queria que se soubesse. Passa algum património para nome de B para que este
venda em sua vez. Entre A e B existe contrato de mandato, art. 1187º
Não é ilegítimo.
B vende em nome próprio, depois transmite a A.

(restantes figuras da falta de vontade)

Reserva mental, art. 244º


O declarante faz uma declaração contrária à sua vontade real.

Pressupostos
1. Vontade real não corresponde à vontade declarada
2. Intuito de enganar o declaratário. Quando o intuito é só enganar, temos ums
reserva inocente. Quando o intuito é também prejudicar, temos uma reserva
fraudulenta.

Se o declaratário conhece a reserva mental, o negócio é nulo.


Se o declaratário desconhece, o negócio é válido.
Para haver negócio é preciso acordo, com falta de vontade não há acordo.
Ex: A celebra ccv com B, de uma casa a preço razoável. Mas A quer vender a preço
mais elevado. Mas B gostou do preço inicial, por isso é do seu interesse que o negócio
seja celebrado daquela maneira, por isso o negócio é válido. O declarante fez aquilo
para enganar, por isso não merece que depois o negócio possa ser anulável.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 212


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Caso
A está a morrer e o sobrinho de A sabe que o tio é fã de Picasso e leva um quadro para
lhe oferecer. Pendura o quadro à frente da cama.
O sobrinho diz à prima que quando o tio/pai morrer leva o quadro embora. A prima
sabe o primo/sobrinho não quer doar nada ao pai/tio.
Miraculosamente, A recupera.
Qual a validade do negócio? Válido, o tio é o declaratário, desconhecia a vontade do
sobrinho. O proprietário é tio.

Caso
A morre.
Sobrinho vai buscar o quadro, mas a prima já o tinha arrumado.
A filha/prima não era o declaratário, era o pai/tio. O pai/tio tinha adquirido, morreu,
logo transmitiu o quadro em testamento.
Formalmente, aplicando a reserva mental, A adquiriu, não interessa que a sua filha
saiba a verdadeira vontade do sobrinho.
Mas isto é injusto, que se possa herdar nestas situações.
Pode-se entender que a rapariga ao invocar o direito de propriedade sobre o quadro,
esteja a agir com abuso de direito, art. 334ºCC. Tinha que ter entregado o quadro ao
primo.

Caso
A professora de TGDC esteva a ensinar a transmissão do direito de propriedade e o
princípio da consensualidade e diz, a título de exemplo, que quer vender o seu
telemóvel. Sofia, no final da aula vai à professora compra o telemóvel.
A professora fez uma declaração não séria, art. 245º, não há sequer negócio, nem
efeitos laterais legais. Fez na expectativa de que a outra parte percebesse que não
estava a falar a sério.

Declaração não séria, art. 245º
n.º2: não existe na mesma negócio, mas se houver expectativas e daí advier prejuízo,
há direito a indemnizar.
Esta obrigação de indemnizar é a obrigação de indemnizar o dano da confiança.
Pode não haver culpa nenhuma da parte, mas tem obrigação de indemnizar. Não há
responsabilidade pré-contratual nos termos do art. 227º, não há culpa in contraendo.
Aqui temos aquela obrigação. A lei protege a confiança legítima, as expectativas
geradas pelo declaratário.

Nas três figuras referidas até agora a posição do declarante face à sua declaração é
sempre a mesma: não quer o declarado. A posição ou atitude do declaratário, porém,
varia e é em sintonia com ela que se diferenciam e definem as três figuras.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 213


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Falta de consciência da declaração, art. 246º


Por seu lado, o declarante tem vontade de acção, observa um dado comportamento,
mas não quer manifestar com este nenhuma vontade juridico-negocial. Portanto o
declarante emite uma declaração, mas não quer o declarado por lhe faltar a
consciência de fazer uma declaração negocial, isto é, uma declaração com as
características volitivo-finais, tendentes a uma vinculação jurídica.
Requisitos
1. Vontade real não corresponde à vontade declarada
2. Não há qualquer vontade ou não há vontade de vinculação jurídica
O regime é igual nas duas hipóteses.falta de vontade ignorada, não intencional, não se
paercebe disso.
Regime: a declaração não produz qualquer efeito. Vazio em termos negociais. 246º in
fine – culpa in contraendo ou dano da confiança – responsabilidade pré-contratual.

Coacção física, art. 246º


Na coacção física ou violência absoluta a situação é completamente diferente; o
declarante é um simples instrumento à mercê de outrem que comanda
irresistivelmente a acção mediante a qual se manifesta a vontade. Não há vontade de
acção.
Caso: A foi hipnotizado por B. B é psiquiatra e A é seu paciente, hipnotiza A para
vender o seu carro por x. A vonde carro a B.
Quando uma pessoa é manipulada pela outra, sem ter hipóteses de fugir à
manipulação.
A pessoa não tem vontade nenhuma, não tem escolha, ao contrário da coacção moral.

* Negócios com sanção de anulabilidade

Para casos menos graves.

1 – Negócios celebrados sem capacidade negocial de exercício


A anulabilidade é a modalidade menos severa da invalidade. A sua causa mais
significativa é a falta da capacidade de exercício. Em relação a qualquer participação
no tráfico jurídico geral temos de saber, antes de tudo, se a respectiva declaração foi
feita por pessoa capaz.

2 – Negócios celebrados contra a lei


A lei estabelece, no art. 294º, como regra básica, que são nulos os negócios jurídicos
celebrados contra disposição legal de carácter imperativo. Mas é possivel que a lei
preveja uma sanção diferente e então os negócios podem ser anuláveis. Art. 294º in
fine.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 214


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3 – Negócios celebrados sem consentimento legalmente exigido


Art. 877º, anulável o CCV entre pais e filhos, avós e netos, sem o consentimento de
outros filhos e netos.
Ilegitimidades conjugais: a pessoa é obrigada a pedir autorização/consentimento ao
outro cônjugee. Artigo 1632º a)

4 – Negócios usurários
Situação em que alguém se aproveita conscientemente da situação de desiquilíbrio de
alguém, para impor um negócio com prestações desproporcionais, excessivas. O
negócio será anulável.
Na verdade, não será a sanção mais favorável, seria mais adequada a nulidade. É a
manifestação do princípio da protecção da parte mais fraca.

Casos
→António tem acidente de automóvel numa estrada desértica, e está sem bateria no
telemóvel.
Andou e encontrou uma casa. Pede para lá ficar a dormir e o dono diz que tem que
pagar 100€ pela dormida.
Anulável, 282º, negócio usurário.

→Bernardo ganhou o euromilhões. A certa altura a ler o jornal vê anúncio “vende-se


quinta com 150000m2 a preço imperdível, a metade do valor de mercado, a pronto
pagamento. Bernardo compra a quinta.
O negócio é válido.

→César é dono de uma loja e este ano investiu em minissaias às flores, mas não
vendeu nada. Decidiu que mais valia vendê-las nos saldos abaixo do preço, por 1/3 do
preço.
O negócio é válido.

5 – Negócios celebrados com erro na declaração, art. 247º


É uma falta de vontade, mas aplica-se a anulabilidade. A vontade real é diferente da
vontade declarada. O defeito do negócio é menos grave.
Não se apercebe que incorre em erro.
 Erro na própria declaração – lapsus linguae. Pessoa engana-se ao falar, manifestar-
se, ou por erro mecânico, lapso de escrita, ou erro ortográfico. Ex: 570€ em vez de
750€
 Erro no conteúdo da declaração – diz uma coisa e quer a coisa, mas atribui às
palavras sentido diferente. Diz uma coisa que pensa que quer. Ex: bacalhau
dourado.
Sempre que temos um erro, o negócio é anulável, art. 247º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 215


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Pressupostos, artigo 247º


1. Vontade declarada não corresponde à vontade real
2. Declaratário conhece ou devia conhecer da essencialidade do elemento sobre
que incide o erro.

Falsa demonstratio, art. 248º

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 216


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 22
2012.05.07
Sumário: Faltas de vontade. A simulação: pressupostos e tipos de simulação; efeitos
da simulação (quanto ao negócio simulado; quanto ao negócio dissimulado);
legitimidade; protecção de terceiros de boa fé.
Resolução dos casos práticos n.º 44 e n.º 45.

Faltas da vontade
Quando não existe uma coincidência entre o substracto do elemento interno, a
vontade, e a manifestação da vontade.
As situações de falta e vícios da vontade estão presentes nos arts 240ºss.

Simulação, art. 240º: têm de estar preenchidos os três pressupostos.


 Acordo simulatório entre declarante e declaratário
 Intuito de enganar 3º. Se visar apenas enganar é simulação inocente, se
pretender também prejudicar é simulação fraudulenta.
 Divergência entre vontade real e vontade declarada

Existem vários tipos de simulação


 Absoluta: quando as partes figem concluir o negócio e efectivamente não
querem concluir negócio nenhum
 Relativa: por trás do negócio simulado, que as partes não querem, celebram
outro que efectivamente querem – o negócio dissimulado.
o Subjectiva: interposição fictícia de pessoas. As partes pretendem
efectivamente celebrar o negócio, mas entre pessoas que não são
aquelas que efectivamente intervêm no negócio.
o Objectiva: as partes pretendem realizar certo negócio que
dissimulam sob a aparência de um acto de conteúdo e objecto
diverso. Pode ser quanto ao valor e/ou quanto à natureza.
 Quanto à natureza: quando se pretende afastar
indisponibilidades
 Quanto ao valor: alcançar vantagem económica

Efeitos da simulação
O negócio simulado é nulo tanto na simulação relativa como na absoluta.
Excepção: casamento, art. 1635º d) e testamento, art. 2200º

Regime das simulações em que há negócio dissimulado


Tratamento autónomo de um negócio dissimulado – a validade há-de ser tratada à
parte do negócio simulado, art. 241º.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 217


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Caso: A quer realizar negócio com C. mas celebra negócio com B para depois B celebrar
com C.
Negócio simulado: o que as partes não quiseram celebrar. A e B, B e C.
Negócio dissimulado: o que as partes quiseram. A e C.
O negócio simulado é nulo pelo 242º.
O negócio dissimulado é analisado autonomamente. Se existe proibição legal,
incapacidade, etc.

Se tivermos uma situação de simulação relativa objectiva quanto à natureza.


Se tivermos uma situação de simulação relativa subjectiva quanto ao valor.

Negócios formais, art. 241º n.º2


Se a forma exigida por lei tiver sido observada no negócio simulado e corresponder à
forma do negócio dissimulado. Quid iuris?
 Doutrina dominante: o negócio dissimulado é formalmente válido
 Dr. Hörster: necessário avaliar declarações negociais. Se as partes reais ou o
conteúdo não estiverem contidas no documento, o negócio dissimulado é nulo
por falta de forma.

Legitimidade
 Qualquer interessado, art. 286º, é o titular do direito cuja consistência
económica ou jurídica está dependente, liga ou afectada por aquele negócio.
Ex: credores, aert. 605º
 Próprios simuladores entre si e também os seus representantes e os seus
herdeiros, que venham a agir na posição do simulador.
 242º n.º2 alarga o círculo de interessados: herdeiro legitimário, art. 2157º e
394º n.º2
Os herdeiros legitimários – categoria de herdeiros que o de cujos nunca pode excluir
da sua herança.

Protecção do 3º de boa-fé na simulação


Art. 243º tenta-se proteger.
Exemplo: A vende a B por simulação. B vende a C. C estava de boa-fé. Aplica-se o 243º
E fora da simulação? Aplicação das regras gerais.

O art. 242º alarga o círculo de legitimidade.


O art. 243º tem que vir proteger terceiros. O 3º não está protegido nem contra
credores nem contra herdeiros legitimários que pretendam agir em vida do simulador
(242ºn.º2) – os terceiros nesta situação só ficam protegidos pelo 291º ou pelas regras
da usucapião.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 218


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O artigo 243º apenas dá um direito de oponibilidade relativa. Já o artigo 291º pode dar
direito de propriedade com efeitos “erga omnes”. Tem uma tutela contra todos, mas é
mais exigente.

Os herdeiros do simulador são tratados como simuladores na morte deste.

Negócio simulado para prejudicar herdeiro, mas não agiu em vida, porque não sabia.
Neste caso, se a lei permitia que o herdeiro agisse em vida, também permite que
quando o de cujos falece, porque aí já tem uma herança, o herdeiro possa defender o
seu direito. Em vida, apenas tinha uma expectativa. Pode agir por força do art. 286º.
Nesse caso, o 3º de boa-fé já não se pode defender com base no 243º.

Conceito de boa-fé: conceito alargado de terceiro para melhor tutelar os terceiros.


Ignorância.

Caso prático 44
a) Contrato de compra e venda. O negócio é válido ou não?
Requisitos do negócio simulado? A vontade manifestada é vender, a vontade
real é não vender. Acordo simulatório entre A e C e intuito de enganar 3º,
enganar e prejudicar o banco. Pressupostos art. 240º n.º1 preenchidos.
Simulação absoluta, porque as partes não querem concluir negócio nenhum.
Consequência: nulidade, art. 240º n.º2
Efeitos: não produção de efeitos volitivo-finais. O proprietário é A.
Negócio entre C e D: contrato de compra e venda nulo, pelo artigo 892º. C não
pode transmitir direitos que não tem, princípio nemo plus iuris. O propietário é
A, o registo não sana nulidades.
b) Legitimidade? 242º n.º1 os próprios simuladores; artigo 286º
Em relação às propriedades que ainda estão em C a acção terá êxito.
Pode opor em relação a D? 3º boa fé, 243º n.º2 – quem ignore, ainda que
culposamente. D estava de boa-fé, estava desatento. Protegido em relação a A
por força do art. 243º, adquire direito de oponibilidade relativa.
c) 243º não protege. Banco é considerado qualquer interessado, art. 286º, credor
titular de um direito cuja consistência económica ou jurídica está dependente,
liga ou afectada por aquele negócio. Banco, art. 605º
D só pode ficar protegido se os requisitos do 291º estiverem preenchidos. Não
fica protegido. O pedido de declaração feito pelo banco terá êxito, por força do
art. 289º, sentença meramente declarativa.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 219


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

CASO PRÁTICO 45

a) Contrato de compra e venda entre A e B, quando realmente lhe queria doar a casa.
Arts 874º, 875º, 204º, 879º+408º n.º1
Será que é simulado? Requisitos art. 240º. Divergência entre vontade real e vontade
declarada; acordo simulatório; intuito de enganar 3º, enganar esposa e familiares.

Não podia doar porque 953º » 2196º, a doação seria nula.

Negócio dissimulado: contrato de doação 940º ss


Efeitos 954º
Simulação relativa: por trás do negócio simulado, que as partes não querem, celebram
outro que efectivamente querem – o negócio dissimulado. Simulação objectiva quanto
à natureza do negócio: as partes pretendem realizar certo negócio que dissimulam sob
a aparência de um acto de conteúdo e objecto diverso. Simularam vender para fugir a
uma proibição legal.
O negócio simulado é nulo, art. 240º n.º2. não produz nenhuns efeitos, art. 286º

Negócio dissimulado, doação, art. 241º


É nulo, por indisponibilidade relativa, art. 2196º
947º forma
Consideramos que estamos perante negócioformal X.
A forma do negócio dissimulado só aproveita a forma do negócio simulado se as partes
e conteúdo do negócio dissimulado efectivamente constar do documento legalmente
exigido.

b) Objectivo negócio, beneficiar a amante

c) A – B – D
Credor pode intentar acção de nulidade? Terá êxito?
3º boa-fé – ignora tudo
243º exige X » não se pode aplicar
Pressupostos art. 291º preenchidos. D adquire direito de propriedade, aquisição a non
domino

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 220


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AULA TEÓRICA 24
2012.05.14
Sumário: b) Os pressupostos da anulabilidade (artigo 247.º, 2.ª parte » “desde
que”)«» artigo 257.º, 2.ª parte » “desde que”
c) O dissenso oculto
d) O erro de cálculo ou de escrita e o erro na transmissão da declaração
5. Os negócios celebrados com vícios da vontade
a) O enunciado geral; a delimitação das figuras
b) O erro sobre os motivos; o regime regra do artigo 252.º, n.º 1
aa) As excepções ao regime regra: artigo 252.º n.os 1 e 2 (só referência)
bb) O erro sobre a pessoa ou o objecto do negócio (artigos 252.º, n.º 1 » 251.º » 247.º,
2.ª parte)
[pp. 563 a 576 (576 a 582 não leccionadas)]

Matéria para o 4º teste parcelar


 Pessoas colectivas
 Conclusão do negócio
 Representação simulação
 Figuras falta da vontade
 Vícios da vontade

[última aula] Erro de declaração – vontade real inverge da vontade declarada.


Negócio anulável, porque não é tão grave, aqui querem celebrar negócio, mas não
querem aquilo que dizem.
 Erro sobre o conteúdo – a pessoa atribui às palavras sentido diferente daquele
que elas têm
 Na própria declaração – lapsus linguae, defeito na própria declaração, a
declaração diz outra coisa

CASOS
António é dono de uma loja de candeeiros e há um candeeiro muito caro, mas
enganou-se no preço, custava 2000€, mas estava marcado na etiqueta a 250€.
B passa na rua e vê o candeeiro e gosta do preç, na altura de pagar o dinheiro
descobre-se o lapso.

Erro na própria declaração.
A etiqueta é só um convite a contratar, por isso B é quem faz a proposta.
Está ou não em erro.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 221


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O problema é a declaração de aceitação porque tacitamente aparenta 250€, mas na


realidade quer cobrar 2500€.
A vontade real é 2500€. A vontade declarada é 250€. Há falta de vontade porque as
vontades são diferentes, aqui ocorre por lapso declarativo.
Valor jurídico: anulável, os efeitos são todos produzidos, a título provisório, até serem
anulados.
B não sofre nenhum prejuízo neste momento.
Erro na própria declaração. Disse uma coisa quando queria dizer outra.
Só anulabilidade: pressuposto do lado do declarante, da pessoa que está em erro, a
falta da vontade. Pressuposto do lado do declaratário, art. 247º in fine, essencialidade.
Saber que aquele elemento é essencial, o comprador era obrigado a saber que o preço
é essencial. Aqui está preenchido, qual o erro, se o elemento sobre que incide o erro, é
essencial e o declaratário tem de saber da essencialidade.
O vendedor pode anular o negócio.
Eventualmente o comprador pode estar protegido pela norma do art. 227º.
Há uma culpa pré-contratual, há um comportamento censurável nas negociações que
vai inquinar o negócio. É preciso que haja culpa e dano. Mas aqui não há dano.

Casos
A vai ao mercado num sábado, olha para as bancas do peixe e aponta para umas potas
e diz “quero um kg destas lulas”.
A peixeira percebeu e vendeu.
→Falta de vontade sobre o conteúdo porque o sentido objectivo de palavra. Não é
aquele que internamente ele atribui valor jurídico » válido, porque as partes
entenderam-se, falsa demonstratio, art. 248º e 236º n.º2

B está no sul de Espanha e a certa altura vai a uma esplanada e pede um fino, o
empregado trás-lhe um copo de shot com vinho do gerês.
→Disenso oculto – aparentam apenas estar de acordo, art. 232º.
Não há acordo interno, mas aparentemente há. O sentido objectivo comum é o que
contrato está celebrado. Este erro sobre o conteúdo da declaração releva ou não para
tornar o negócio anulável, pressupostos art. 247º - elemento sobre que incide o erro:
cerveja e é essencial.
O negócio é anulável, obrigação de indemnizar as legítimas expectativas.
O art. 247º não exige que o erro seja desculpável.

1 – Erro na declaração
1.1 – Erro na transmissão da declaração
A é dono de mercearia, manda empregado ir ao fornecedor pedir mais duas caixas de
nesquik, o empregado pede dois caixotes, cada qual trás 20 caixas.
Art. 250º

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 222


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Qual o papel do empregador » transmite declaração negocial que já está feita. A lei
manda aplicar na mesma o regime do erro na declaração, art. 247º.
→Alternativa: se o empregado fez de propósito. Usou de dolo, art. 250º n.º2 –
anulável

1.2 – erro de cálculo ou de escrita, art. 249º


Válido, vale com conteúdo que terá depois de ser rectificado.

6. Negócios celebrados com vícios da vontade


Para que os negócios jurídicos cumpram as suas funções, a vontade deve formar-se
sem vícios.
A vontade real corresponde à vontade declarada, mas não corresponde àquilo que
quereria.
A vontade real e a vontade declarada não correspondem à vontade hipotética, a
vontade que eu queria se não tivesse ocorrido um vício na formação que afectou a
vontade.
Exemplo: nunca teria comprado o quadro se soubesse que era falsificação. A vontade
só foi formada porque foi enganada.

1 - Erro sobre os motivos, arts 252º » 251º » 247º


2 – Dolo, art. 253º » 254º
3 – Coacção moral, arts 255º » 256º
4 – Incapacidade acidental, art. 257º

Negócios são anuláveis desde que preencham os requisitos elencados nas normas.

1 – Erro sobre motivo. Vício da vontade


Tudo depende do momento em que ocorre, se no processo de formação (vício), se no
momento da declaração negocial (falta de vontade, na manifestação da vontade)
Motivos: circunstâncias cuja representação intelectual determina a vontade ou a
decisão de querer concluir o negócio jurídico e em que termos.
O erro sobre os motivos há-de ser umerro sobre estas circunstâncias.
Representação inexacta, errada, sobre as circunstâncias que levarem o contraente a
querer contratar. O erro recai sobre os elementos determinantes da formação da
vontade.
Exemplo: A quer comprar casa na aldeia, porque está convencida que a casa pertenceu
à sua bisavó – comprou a casa e vem a descobrir que a casa da bisavó era a do lado.

Temos um erro sobre a circunstância que determinou a realização daquele contrato.
A vontade real é comprar
A vontade declarada é comprar

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 223


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São diferentes da vontade hipotética.

Erro absoluto ou essencial: afecta todo o negócio.


Erro relativo ou incidental: teria contratado na mesma, mas em moldes diferentes. O
erro não é de tal modo que afaste todo o negócio.

Regra: irrelevante. Não é causa de anulabilidade, não afecta o negócio.

Erro sobre os motivos Erro sobre o objecto ou sobre a pessoa do


declaratário, art. 251º

Excepções
Erro sobre o qual as partes tenham acordado
a essencialidade do motivo, art. 252º n.º1 in
fine

Erro sobre a base do negócio, art. 252º n.º2

Erro sobre o objecto ou sobre a pessoa do declaratário: o erro é relevante. Aplica-se


apenas o pressuposto do lado do declaratário. Art. 247º in fine

Erro sobre o objecto do negócio, art. 251º


 Sobre a identidade
 Sobre a qualidade

Erro sobre a pessoa do declaratário


 Sobre a identidade
 Sobre a qualidade
Exemplo: A é advogado e tem uma boa biblioteca jurídica. Mas vai reformar-se e quer
vender a sua biblioteca, mas no conjunto. Sabe que B é a pessoa ideal. Marcam hora
no escritório de A.
B atrasa-se 10 minutos, entretanto apareceu outro B e A vendeu a esse B que
apareceu primeiro.
Quid iuris?
→Erro sobre os motivos relevante, sobre as qualidades da pessoa do declaratário,
sobre a identidade. O negócio é anulável, nos termos do art. 251º » 247º.

Erro sobre as qualidades do objecto


Qualidade: todos os factores que determinam o seu valor ou o de utilização
pretendida. Não é o valor em si do objecto que é uma qualidade. Qualidade são os
factores que determinam o valor.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 224


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

O valor não é qualidade essencial.


Se o erro recair sobre a qualidade, é anulável, desde que o declaratário saiba ou tenha
obrigação de saber.

Vícios redimitórios: vícios ocultos que tornam a coisa imprópria para o uso a que se
destina.

Para que o erro seja causa de anulação tem de ser um erro próprio. Tem que ter
característica de propriedade, não pode haver outro fundamento de invalidade. Não
pode ser erro sobre um elemento que seja um requisito legal da validade do negócio,
porque aí a invalidade existe devido à falta desse requisito e não por causa do erro.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 225


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 23
2012.05.14
Sumário: Faltas de vontade (continuação da matéria leccionada na aula anterior).
Resolução dos casos práticos n.º 46, n.º 47 e n.º 48.

Nos vícios da vontade, a própria vontade está mal formada, a vontade não se forma
correctamente.
Sofreu uma deformação no processo formativo.

Caso prático 46

Identificar o que está em causa.


Saber se este contrato é válido ou não. Temos um negócio que as partes quiseram e
um que as partes não quiseram.
O que quiseram: ccv por 75.000€ - negócio dissimulado
O que não quiseram: ccv por 50.000€ - negócio simulado

Contrato de compra e venda, arts 874º, 204º, 875º, 879º+408º, n.º1


Art. 240º - pressupostos simulação
Que tipo de simulação está em causa? Relativa objectiva quanto ao valor

O negócio de 50.000€ é nulo art 240º nº2, não produz efeitos volitivo-finais
Negocio 75000€: 241º nº1 apreciado autonomamente
Forma – 875º
(falar das duas correntes doutrinais)
O negócio dissimulado é nulo, por falta de preenchimento de forma legal
O proprietário é C.
a lei fiscal não determina a nulidade do contrato, aplica sanção.
Contrário à lei, art. 281º. Evasão fiscal – fim contrário à lei
Quem tem legitimidade? Os próprios simuladores, art. 242º n.º1 1ªparte, artigo 286º
Será que este acordo é válido? Regra: liberdade de forma
CCV, forma – salvaguardar o interesse público. As partes não podiam acordar.
“não invocarem a nulidade do negócio”, esta clausula é nula, art. 294º, porque é uma
clausula contra a lei.
Art. 334º abuso de direito institucional, venire contra factum proprium. Atendendo ao
interesse público, a falta de forma pode ser invocada por quem a causou, não há abuso
de direito.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 226


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Caso prático 47

Ccv 874º, 204º n.º1 a), 875º, 879º+408º n.º1


A e B: partes – procuração, art. 262º, forma 262º n.º2.
Representação voluntária, art. 258º
Requisitos (preenchidos)
Consequências: efeitos produzem-se na esfera jurídica de A
As partes deste negócio são A e B. c está a prestar declaração negocial própria, mas em
nome de Ambrósio.
C estava de boa fé, art. 259º n.º2, procura evitar que os efeitos que decorram (…)

Negócio A – B: negócio jurídico simulado, art. 240º, pressupostos preenchidos


Simulação, art. 241º. Simulação absoluta, porque as partes não quiseram realizar
negócio nenhum.
O negócio é nulo, art. 240º n.º2 » 286º não produz efeitos volitivo-finais.
A boa-fé não é aproveitada.
O proprietário é A.

CCV entre A e D
874º, 204º n.º1 a), 875º, 879º+408º n.º1
O proprietário é Dália.
286º qualquer interessado
242º n.º1 2ªparte, os próprios simuladores.

Caso prático 48 (alterado)


A queria vender prédio urbano com adesignação do art. 84º.
Está aqui uma falta da vontade, porque não existe uma coincidência entre o substracto
do elemento interno, a vontade, e a manifestação da vontade.
A vontade interna e a declaração não coincidem.
Erro na declaração: incide sobre elemento externo, objecto da declaração, art.
Erro na própria declaração existe quando o declarante diz alguma coisa diferente
daquilo que realmente queria.
Erro na declaração, art. 247º
Requisitos art. 247º: divergência entre vontade real e vontade declarada. O
delcaratário conhecia ou devia conhecer da essencialidade do elemento sobre o qual
incide o erro para o declarante. Não é necessário que o erro seja desculpável, nem que
seja conhecido. Quando é essencial? O elemento é essencial quando é decisivo nos
termos do art. 232º, ou seja, o contrato só foi celebrado naqueles termos, porque
aquele elemento era necessário para a conclusão do contrato.
O elemento era essencial, porque …

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 227


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

Requisitos preenchidos – sanção: anulabilidade 247º e 288º legitimidade e prazo.


Eventualmente art. 249º

Caso prático
TT, amante de arte, incumbe J, a quem fornece dinheiro para o efeito, para lhe
comprar em seu nome (J) uma pinura, tendo ficado acordado entre os dois que, a
seguir à compra, J havia de transferir a sua aquisição de imediato para TT.
Contudo, perfeitamente ao contrário do acordado, J vende a pintura a B.
Diga quem é o proprietário da pintura.

Mandato sem representação, art- 1157º (definir)


J, mandatário, obrigou-se a comprar a pintura a TT.
Art. 1180º
J adquire em nome próprio.
Não é simulação por interposição fictícia de pessoas, porque as partes existem e são
intervenientes no negócio., art. 1181º
J ccv 874º 205º 219º 879º + 408º n.º1. podia vender porque era o proprietário. O
proprietário é B.
Responsabilidade contratual, art. 798º ss (entre TT e J).

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 228


Apontamentos Teoria Geral Direito Civil

AULA PRÁTICA 24
2012.05.21
Sumário: Vícios de vontade. O erro sobre os motivos, o dolo e a coação moral.
Casos práticos n.º 49, n.º 50, n.º 51.

Vícios da vontade: a vontade não se formou com bases correctas.


- Erro sobre os motivos
- dolo
- coacção moral

Caso prático 49
Enganou-se e por isso arrendou uma casa segundo aquele pressusposto errado.
Será que podemos falar do erro na declaração? Art. 247º, não porque a vontade
declarada coincidia com a vontade real. Não é uma falta da vontade, porque o
elemento externo corresponde ao elemento interno.
Será que podemos falar em erro sobre os motivos? Art. 252º
Sim, há uma deformação da vontade no processo formativo, existe um vício da
vontade.
Há uma divergência entre a vontade real e a vontade hipotética.
O erro sobre os motivos normalmente é irrelevante, salvo em 3 excepções previstas no
código, isto por segurança e estabilidade.
 Quando estamos perante erro unilateral sobre o objecto ou declaratário, art.
251º (erro unilateral sobre os motivos)
 Quando há acordo das partes sobre a essencialidade do motivo, art- 252º n.º1
 Erro bilateral que receia sobre as circunstâncias que recaem sobre a base do
negócio, art. 252º n.º2 » 437º n.1
Aqui estamos perante um erro unilateral, mas não é abrangido pelo art. 251º, não se
inclui em nenhuma das excepções-
É um erro sobre a base do negócio, mas é unilateral.
Para se desvincular, teria que acordar com o arrendatário, ao abrigo do princípio da
liberdade contratual, a desvinculação por mútuo acordo.

Caso prático 50
a) inocêncio celebra com Bonifácio um contrato de compra e venda, arts 874º 879º
219º 205º.
Bonifácio tem 15 anos, art. 122º é menor, logo não tem capacidade negocial de
exercício art. 123º, logo não tem capacidade para participar no tráfico jurídico geral,
art. 130º a contrario sensu.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 229


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Normalmente, o negócio será anulável, a não ser que caia nas excepções do art. 127º
(requisitos e justificar os requisitos ao caso concreto).
O negócio seria excepcionalmente válido.
Se este contrato não fosse válido, Inocêncio não poderia invocar a anulabilidade, art.
125º, porque este regime visa a protecção do menor).
Este negócio foi celebrado com vício, a vontade foi formada com deformação na sua
base, não é um a vontade esclarecida. A vontade foi influenciada por Humberto.
Quando falamos em erro, falamos numa ideia inexacta sobre a existência ou a
verificação de uma circunstância presente que é determinante para a declaração
negocial, sem a qual a declaração não teria sido emitida, em sentido absoluto, ou pelo
menos não naqueles termos, sem sentido relativo.
Se não fosse o pressuposto errado (raridade do selo), não teria vendido ou vendido
àquele preço.
Erro aqui é relevante, erro sobre os motivos, especificamente. Erro sobre o objecto,
qualidade do objecto, art. 251º.
A qualidade é a raridade que influencia o valor do objecto.
Foi em virtude deste erro que a vontade de Inocêncio foi influenciada. Vontade real
diferente da vontade hipotética.
Este erro pode ser anulável se preenchidos os pressupostos do art. 247º
“essencialidade”, será que B conhecia ou não deveria ignorar que a raridade do selo
era essencial, sendo ele coleccionador? Claro que sim, logo seria anulável, art. 287º, no
prazo de 1 ano a contar da cessação do vício, tem legitimidade as pessoas em quem lei
estabelece interesse.

Dolo é chamado de erro qualificado.


Art. 253º: declarante esteja em erro; erro induzido ou mantido ou contrário a um
dever de elucidar dissimulado pelo declaratário ou por 3º de modo a que provoque
erro do declarante; declaratário ou 3º para o efeito tenham recorrido ilicitamente a
qualquer artifício sugestão ou embuste.
Art. 253º n.º1 dolus malus – sancionado pela ordem jurídica
Art. 253º n.º2 dolus bonus – a contario sensu, quando estamos a falar artifício.
No caso os três pressupostos estão preenchidos.
Humberto é 3º.
Para 3º há requisitos adicionais, art. 254º. Preenchidos os pressupostos, art.
254º+287º

b) erro » remete para a alínea anterior


dolo: falta oconhecimento 254º n.º2 1ªparte
será anulável por dolo omissivo? Dolo omissivo, 253º n.º1 in fine
o Florival apercebeu-se que Inocêncio não sabia da raridade do selo e não o elucidou –
contrário ao dever de elucidar o erro do declarante.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 230


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Inocêncio é que tinha o dever de se elucidar.


Florival não tinha o ever de informar.
Não existe dolus malus, apenas dolus bonus.
Será negócio usurário? Art. 282º, existe um desiquilíbrio porque uma das partes está
em inferioridade em relação à outra.
Art 282º n.º1 exploração/aproveitamento consciente – pressuposto subjectivo; estado
de inferioridade do declarante (enunciado na norma) 8estado mental – descontrolo
emocional que afecta o discernimento]; declartário ou 3º obtenha promessa da
concessão de benefícios injustificados ou excessivos. A sanção é a anulabilidade.
O negócio não preenche os requisitos, logo não é negócio usurário.

Caso prático 51

B–J
Ccv 874º, 879º+408º, 205º, 219º
Há uma pressão psicológica que fez com que Berto coagido, não tenha agido
livremente.
Coação moral, art. 255º n.º1
Pressupostos: ameaça ilícita, dirigida ao declarante, com o fim de obter declaração
negocial.
252º nº2
252º nº3 ameaça determinada pelo receio de um mal, em relação a 3º
Neste caso, a ameaça provém de um 3º.
Requisitos suplementares preenchidos, 256º
Negócio anulável pelo 256º
Proprietário J a título provisório, produzem-se todos os efeitos a título provisório
Pode anular, art. 287º porque ele é o coagido, a partir do momento em que Daniel
morre a coacção cessa.
Efeitos da sentença.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 231


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AULA TEÓRICA 25
2012.05.04
Sumário: d) O dolo (como erro qualificado): dolo activo v.s. omissivo; dolo lícito v.s.
ilícito (artigo 253.º n.º 1, 1.ª parte v.s. 2.ª parte; artigo 253.º, n.º 2)
e) Os pressupostos da anulabilidade com base em dolo de acordo com a sua
proveniência: destinatário ou terceiro (artigo 254.º, n.º 1 e n.º 2)
f) A coacção moral (artigo 256.º)
6. A conservação dos negócios jurídicos
a) Enunciado geral (efeitos da invalidade; a manutenção de efeitos jurídicos)
b) A confirmação
c) A redução
d) A conversão
[pp. 582 a 607]

Aula leccionada pelo Professor Doutor Hörster

2 – Dolo
Art. 253º e 254º. Estamos perante um vício da vontade. Vontade mal esclarecida, tem
uma ideia errada e a partir daí forma-se a vontade errada. No dolo, o declarante
também sucede assim, só é que não está em erro por vontade própria, está em erro
porque foi vítima de um dolo, que foi cometido em relação a ele. A lei faz distinções
 Artigo 253º n.º1 proémio: entende-se por dolo o comportamento activo de
fazer sugestões ou atifícios e estes são empregues para induzir ou manter em
erro o autor da declaração. Quem empregar isto fá-lo com intenção (pode ser
negligente) de induzir em erro. A lei não se limita a esta modalidade, também
se entende por dolo a dissimulação do erro do declarante – o declarante já está
em erro e o autor do dolo em vez de esclarecer, em vez de o elucidar, o
praticante do dolo não faz nada. Dissimula o erro, tem uma actividade passiva,
não desfaz o erro » dolo omissivo. “fica mudo como um peixe”, “usa a boca
para ficar calado”.
Tanto no dolo activo como no omissivo, o dolo pode ser praticado por quem?
o Destinatário
o Terceiro
O que é significativo neste contexto, que em nenhum dos casos, o dolo é à
partida lícito, ao contrário da coacção moral que é comportamento ilícito. A lei
deixa a ideia de que é lícito enganar, consequência: distinguimos no dolo, o
dolus bonus (contradição, não devia existir), é um dolo que é praticado de
forma lícita e a ideia da lei em princípio, o dolo é lícito, sendo lícito, a
declaração negocial e o negócio jurídico são válidos. Deste modo, o dolo nunca
é causa de anulação.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 232


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Contudo, o dolo também pode ser e é frequentemente ilícito – dolus malus –


na lógica da lei, o dolo como maneira neutra, não se pronuncia expressamente
sobre a ilicitude. No dolo há uma definição geral. O dolo é lícito, a não ser nos
casos previstos na lei.
 Artigo 253º n.º2: casos em que o dolo é ilícito. O que é legítimo depende da
tolerância da sociedade, dependo do comportamento usual das pessoas. Assim,
quando por exemplo são exageradas qualidades de uma mercadoria ou de um
produto, estes exageros ainda se toleram, fazem com que o dolo seja lícito.
Quando já se inventam qualidades, que obviamente são feitas afirmações sem
fundamento nenhum, o dolo já é ilícito. Exagerar até certo ponto é considerado
legítimo.
Encontrar a fronteira entre o legítimo e o ilegítimo não é sempre tão fácil.

O dolo pode ser praticado sem recurso a artifícios, omissivo.


Quando é lícito ou ilícito? Critério das concepções do comércio jurídico.
Não há dolo ilícito quando nenhum dever de elucidar o declarante resulte da lei,
declaração negocial e concepções do tráfico jurídico. A ideia é a seguinte: cada um
trata de si, cada um assume o risco de agir de acordo com os seus interesses. Em
princípio não há nenhum dever de eleucidar, porque casa um cuida de si. O
interessado deve ser curioso.
Mas há concepções em que existe dever de elucidar.
Exemplo: o professor Hörster quer comprar um carro usado. Evidentemente dá-se
interessado e sabido na matéria, mas não domina a técnica. Vê volvos, mercedes e
bmw’s e pensa “com esta marca a qualidade é garantida, mesmo sendo carro usado”,
gostou de um bmw de 3 anos e quer comprar, mas não se apercebe que o carro teve
um acidente grave do qual resultaram danos razoáveis, que foram concertados. No
entanto, é uma diferença essencial o carro ter tido acidente ou não.
Engana-se sobre a qualidade do objecto, tem a sua vontade mal formada.
O vendedor tem interesse em vender o carro sem demais, e não o informa dobre o
acidente.

Aqui há um dever de elucidar, porque evidentemente é essencial saber se o carro teve
ou não um acidente.
Se não elucida, pratica dolo omissivo ilícito.

Quais são os efeitos do dolo?


 Dolo lícito: validade
 Dolo ilícito: a lei no artigo 254º distingue 3 situações
o Quando o dolo é praticado pelo destinatário
o Quando é praticado por 3º

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 233


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o Quando alguém obteria benefício directamente em consequência do


dolo praticado
O declarante pode anular, art. 254º

Casos
Uma pessoa compra um objecto e engana-se sobre o preço e depois quer anular com
base em erro sobre os motivos. Pode anular?
Não pode, porque não é sobre a qualidade do objecto. O art. 251º não prevê isso.

O mesmo caso, mas a pessoa adquiriu o objecto porque foi enaganada pelo vendedor.
O comprador pode anular.

Se o negócio foi feito por dois espertalhões, que se enganam mutuamente – a lei diz
que a anulabilidade não é excluída por bilateralidade.

Quando o dolo provém de 3º


3º engara o declarante.
Exemplo: A quer comprar um quadro de pintor conhecido. Quadro pertence a B. o 3º é
César. César tem ajuste de contas com A. C convence A que o quadro vale entre
15000€ e 18000€, quando na realidade só vale 10000e. A que acha que C é entendido
na matéria, acredita nele. A querendo negociar por baixo, oferece 15000€ a B pelo
quadro. B engole em seco, não diz nada e aceita o negócio. B faz neg´coio muito bom.
Mais tarde A descobre que C o enganou e quer anular o negócio invocando que foi
vítima de dolo de C.

C está alheio ao negócio, só quis prejudicar A.
A pode anular? Não pode anular, porque o dolo não foi praticado por B.
So não era assim se B sabia ou devia saber que houve dolo de César.
Assim, o negócio é válido.
Quem tem de provar que B tinha conhecimento? A, o que muitas vezes é complicado.
Todavia, como sabemos sempre que há dolo, há erro. É impossivel existir dolo sem
erro.
A tenta anular com base em erro. Há um vício de recurso.
Pode invocar erro na forma 251º e 247º.
Aqui A nada pode fazer.

Alterando o exemplo
A B C. o mesmo quadro.
So que o quadro de B é uma cópia, e C diz a A que se trata de original.
A não consegue provar que B conhecia o dolo.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 234


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Não pode tentar erro na declaração.


Tentar erro sobre qualidade do objecto.
O declaratário tinha de conhecer a essencialidade, pode anular com base em erro
sobre a qualidade do objecto.
Se o dolo falhar, tentar anular com base em erro. É apenas um vício de recurso.

Em função do dolo, alguém pode ter adquirido direitos. A vítima do dolo pode accionar
contra quem adquiriu.

3 - Coacção moral
Art. 255º n.º1, elemento de ilicitude. A coacção é por si só ilícita.
É prestada sob coacção moral a declaração negocial determinada pelo receio de um
mal de que o declarante foi ilicitamente ameaçado pelo declaratário ou por terceiro
com o fim de obter dele por este meio a declaração pretendida pelos ameaçadores. A
ilicitude faz parte da hipótese legal.
Tem que ser ilícita e assim a lei diz que é anulável.

Exemplo: António quer comprar um terreno no meio das montanhas porque sonhar
acordar e ver as montanhas à sua volta e quer comprar um terreno a B, para aí
construir uma casa. Oferece a B um preço apetecível. Mas B, apesar de estarmos em
crise diz que não quer vender, talvez dali a 2 anos. Mas A é impaciente, e vai a casa
buscar a caçadeira. Volta a ir ter com B e diz ”sou um caçador especialmente apto nas
montadas ao javali… tenha cuidado, é melhor vender-me o terreno, ou um dia destes
ainda o confundo com um javali”. B vende.
Qual o valor do negócio?

Anulável, é absolutamente ilícito o que A fez.

Variação no exemplo
“Se não quiser vender, sei que a sua namorada é proprietário de um lindo pinhal e está
a chegar o verão, nunca se sabe, o pinhal pode arder. Pode contribuir para a protecção
do pinhal, evitando o fogo, se me vender o terreno”.
Validade do negócio?

A ameaça pode respeitar à honra ou fazenda de 3º. Portanto não é necessário que seja
visado directamente o declarante.
O negócio é anulável.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 235


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Exemplo: B furtou um objecto de arte, o A sabe disto e pensa que po objecto ficava
muito melhor na sua casa. Pede a B para lhe vender. “Vendes ou vou à polícia
denunciar-te. B vende-lhe”
À partida o negócio é nulo pelo 892º. Mas pode haver outro vício?
Há coação moral? Não.

Alternativa: A tem um bem que B gostava. A não quer vender. B avisa que caso não lhe
venda faz denúncia ao fisco.
É coacção moral? Não! Não está em causa exercício normal ou um direito, é utilizado
um meio para atingir um fim, e essa relação entre o meio e o fim é ilícita.
A ilicitude resulta do meio empregado para atingir o fim.

Distinção entre dolo e coacção moral


Na coacção moral, o coagido sabe que é coagido, tem consciência do mal com que é
ameaçado, ele cede à ameaça. A vítima é um colaborador consciente do mal que é
feito, não há voluntariedade, colabora sob medo. Tem apenas uma vontade
deformada por medo. Vontade não é a mesma coisa que voluntariedade. Tem uma
vontade viciada.
No dolo, a vítima não sabe do que lhe acontece, porque se fosse ao contrário, já não
havia erro. A desgraçada da vítima não se apercebe que está em erro.

Tal como no dolo, a coacção moral pode provir de um terceiro.


A lei diz que tendo havido coacção moral o negócio é anulável. Só é que a lei diferencia
se a declaração do destinatário = anulável, ou de 3º. Aqui a declaração também é
anulável, independentemente de conhecer ou dever conhecer da outra parte.
Todavia, a lei reforça as exigências que são feitas à anulabilidade.
O negócio é anulável desde que seja grave o mal e justificado o receio da sua
consumação, art. 256º. Mesmo que o mal seja grave, se não houver receio não há
anulabilidade.
O facto de ser ameaça ilícita não significa que o negócio seja anulável, porque o
declarante pode não ceder à ameaça. Pode celebrar o negócio coagido, mas por outras
razões. A ameaça ilícita só faz a anulabilidade desde que seja determinante para a
vontade do declarante. Tem que haver nexo de causalidade entre a ameaça e a
declaração.

Exemplo: A quer comprar um objecto de arte a B. b não vende.


A volta a casa para buscar o revólver e vai ter novamente com B e diz “sai há seis
semanas da prisão, fui condenado por tentativa de homicídio voluntário e nada me
impede que tente de novo”, B sente o gelo do cano do revólver na testa e celebra o
negócio.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 236


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Não é coacção física, podia optar entre viver ou morrer.

Não constitui coacção a ameaça do exercício normal de um direito, art. 255º.


Ex:A é devedor de B e não paga. B diz a A para pagar ou vão a tribunal.
Ex: acção directa – exercício normal de um direito.

As consequências da invalidade do negócio jurídico em pormenor


Quando um negócio é inválido não estão aqui incluídos negócios que não produzem
quaisquer efeitos. Nulo ou anulável. Isto tem consequências negativas para o tráfico
porque cria insegurança.
O facto de o negócio ser inválido não contribui para a segurança e estabilidade.
As consequências da invalidade são, no caso da nulidade, a não produção dos efeitos
jurídicos voltivo-finais lou pretendidos desde o início, podendo verificar-se, porém,
efeitos laterais de natureza negocial por força da lei, e no caso da anulabilidade, a
produção de todos os efeitos, sendo eles todavia, de natureza provisória.
Mas o negócio inválido existe e cria a aparência de uma normalidade jurídica que, na
verdade, não se verifica.
Há interesse da lei na segurança jurídica.
A lei procurou preventivamente que negócio nulo e anulável e procurou minorar os
efeitos desses negócios – princípio da conservação dos negócios jurídicos – destinado a
minorar os efeitos daquele negócio.
Os efeitos da invalidade atingem as partes e estendem-se a terceiros (protecção pelo
291º).
Consequência da invalidade sanada entre as partes: não há necessidade de proteger
terceiros.
A lei tem 3 institutos para a conservação dos negócios jurídicos em relação às partes, a
confirmação, a conversão e a redução.

1 – confirmação, art. 288º


Só se aplica se o negócio for anulável.
Se for nulo, em princípio, não pode ser confirmado, no entanto há excepções.
O artigo foi concebido no sentido de facilitar a confirmação.
A confirmação é um negócio jurídico unilateral não-receptício.
Quem pode conformar: quem tinha o direito de anular.
A confirmação pode ser expressa ou tácita.
Tem eficácia retroactiva, negócio válido ab inicio.
A confirmação não pode ser confundida com ratificação. A confirmação é isenta de
forma, já a ratificação pode ter forma.
Destina-se a dar validade ao negócio, enquanto a ratificação destina-se a dar eficácia.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 237


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2 – redução, art. 292º


Diz respeito a negócios nulos e anuláveis.

Exemplo: A compra a B 5 terrenos para construir casa em bloco. Quando verifica que
um dos terrenos não permite construção. Só verificou isto depois da compra.
Alternativa: um dos terrenos não pertence ao vendedor. Só verifica isto depois da
realização do contrato.

Duas situações diferentes
1º caso: existe um erro sobre a qualidade do objecto. O negócio será anulável. Poderá
haver redução à parte viável do terreno, aos quatro terrenos em que é possivel
construir. As partes podem entender continuar o negócio, podem apenas anular a
parte do terreno não apto.
2º caso: venda de coisa alheia, negócio nulo.
Reduzir o negócio à parte válida. Preocupação em manter o que esá, dentro do
possivel.

3 – conversão, art. 293º


A lei já não é tão peremptória no que diz respeito ao recurso para consolidar.
Esta figura aparece condicionada.
Na redução, o negócio fica com uma parte cortada.
Na conversão, temos negócio diferente, que as partes podiam não ter querido. A
conversão não tem o mesmo automatismo.
A lei não quer deitar tudo fora, mas é mais cautelosa.

Exemplo: partes fizeram contrato particular de terreno. É nulo, por falta de forma.
Se as partes tivessem previsto isto, tinham realizado com forma.
------“-----

Todo o nosso sistema legal, sobre as invalidades, prevê que a causa da invalidade
existiu no momento da celebração do negócio.
Excepções: no momento em que foi celebrado negócio, este era válido, mas com
alterações legais tornou-se ilícito – invalidades supervenientes. Quais as regras
aplicadas? Opiniões divididas.

Anabela da Silva Peixoto A60888 Página 238

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