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1º SEMESTRE
AULA TEÓRICA 1
2011/09/19
Sumário: Apresentação: 1.º A equipa docente; a disciplina e as suas características
específicas; o programa e o plano de estudo da disciplina; o material de estudo.
2.º As relações pretendidas entre os alunos e a equipa docente.
3.º Os pressupostos e os critérios de avaliação
4.º A utilização da plataforma de e-learning Blackboard
5.º Marcação do horário de atendimento
Capítulo 1.º – Direito, direito privado, direito civil; as suas funções
A. Introdução e noções gerais
I. A função do direito como elemento regulador da convivência humana
II. O direito objectiva em geral
III. O direito subjectivo em geral
[pp. 5 a 49; art. 4º L n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro]
REVISÕES
Conceito de Direito
Por um lado é necessário garantir a liberdade individual de cada um, criar margem de
liberdade vertente individual.
Por outro lado é preciso conciliar as diferentes liberdades vertente social.
Nenhuma vertente deve prevalecer.
O direito não é a única ordem normativa. As normas morais são as mais importantes.
Mas a Moral não se pode confundir com o Direito. À Moral interessa uma consciência
interna. Pretende a elevação interior das pessoas.
O Direito não pode ser imoral. Se assim não fosse, teríamos uma crise social intensa. É
coercivo, a Moral não.
Há normas que juridificam algumas partes. Ex: bons costumes – valores morais da
sociedade, arts 280º e 334º.
O direito não pode escolher uma moral e adoptá-la como sua, pois a Moral não é a
única ordem normativa de peso na sociedade.
JURISDIÇÃO
O direito é influenciado pela língua. A nossa língua molda o nosso pensamento, por
isso também influencia o Direito.
O direito não pode manipular a língua para fazer vingar normas jurídicas que de outro
modo não existiriam.
Aplicação alternativa do Direito: quando se manipula sistematicamente a língua dos
vários conceitos jurídicos para se alterar os sentidos.
O intérprete do dto aplica a lei segundo a sua visão. Há uma margem de subjectividade
que existe sempre.
Deve-se evitar o arbítrio.
Responsabilidade do jurista: garantir as funções do dto
Justiça
Liberdade
Segurança jurídica
Fontes do Direito
Precisamos dos dois. Uma sociedade sem o Direito Público seria caótica. O Estado
dirime conflitos.
Teoria dos sujeitos: tudo depende da norma. Uma norma que não possui
qualidade para todos, prerrogativas especiais - dto privado. Esta distinção é
extremamente importante.
Normas não podem ser afastadas A lei permite que normas sejam afastadas.
pela vontade das partes. Estas normas são normas dispositivas
Direito Público estabelecidas pelo direito quando as partes
Retiram margem de liberdade dos nada estipulam. É direito supletivo.
particulares. Existem por um motivo: há determinadas
Devem ser excepções situações em que é preciso respeitar o
interesse público
AULA TEÓRICA 2
2001/09/26
Sumário: B. Noção, princípios e funções de direito privado e civil
I. Noção e princípios de direito privado e civil
1. Os princípios da igualdade jurídica, da autonomia privada e da protecção dos mais
fracos
2. Liberdade e responsabilidade
[pp. 51 a 68; 70/71; textos de apoio policopiados]
Apenas pode concretizar-se dentro dos limites da lei, 405º, nº1 do Código Civil:
a autonomia privada e o direito privado estão entrelaçados, existindo este em
função daquela. Os limites da lei podem referir-se ao próprio estabelecimento
das relações jurídicas bem como ao conteúdo das mesmas.
Limites à liberdade de celebração de contrato: 261º etc.
Limites à fixação de conteúdo: 280º etc.
AUTONOMIA PRIVADA
Limites gerais da lei: normas que proíbem a violação dos princípios da boa fé,
dos bons costumes e ordem pública (art. 280º e ss.); não podemos afastar as
normas imperativas que estão previstas em determinados contratos.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Em sentido amplo:
Não há liberdade sem responsabilidade. O ser humano só é livre se for auto-
responsável. Fundamento ético.
A responsabilidade moral não coincide com a jurídica. Quando certos pressupostos
legais existem é que uma pessoa é juridicamente responsável.
A vida implica riscos, somos nós que arcamos com as consequências na maioria das
vezes.
Assim, normalmente a regra é “casum sentit dominus” – “o senhor sente o caso”
AULA TEÓRICA 3
2011/10/03
Sumário: a) A responsabilidade individual por actos próprios
aa) A responsabilidade contratual
bb) A responsabilidade extracontratual
- por factos lícitos
- por factos ilícitos, subjectiva ou por culpa
- pelo risco ou objectiva
cc) A responsabilidade solidária
b) A responsabilidade por actos de outrem
aa) A responsabilidade contratual – art. 800.º
bb) A responsabilidade extracontratual – art. 500.º
c) Análise cuidadosa do regime da responsabilidade do comitente
1
Contratual – violados direitos relativos.
“Pacta sunt servanta” – se fizeram o
pacto, têm de indemnizar, porque fizeram
Responsabilidade Civil o pacto de livre vontade.
(sentido amplo)
2
Extracontratual – viola-se a lei. Pode ser
por 2.1factos
ilícitos/culpa/subjectiva/aquiliana; por
2.2
risco ou objectiva e por 2.3factos lícitos
2.2
Risco ou objectiva: a actividade que produziu o bem é útil, lícita, mas é perigosa.
Muitas vezes nascem danos que nada têm a ver com a culpa. Neste tipo de situação
também se deve responder, indemnizar. “ubi commoda, ibi incommoda”
2.3 Porfactos lícitos: não há regime-regra para determinados tipos. Ao longo do Código
Civil há uma série de artigos que entende que o prejuízo do lesado merece uma
protecção.
Posso ter causado o facto, ter causado violação, mas não ter tido culpa – NÃO
PREENCHE OS REQUISITOS, NÃO É RESPONSABILIDADE CIVIL
2Ilicitude Ilicitude
4Dano Dano
1
Facto voluntário
2
Ilicitude
Juízo de censura sobre o próprio facto (de um ângulo objectivo) por ele consistir na
infracção/violação de um dever jurídico.
A questão está em saber qual o direito que foi violado, se relativo – contratual, se
absoluto – extracontratual.
3
Culpa
Dolo - intenção
2 Modalidades de culpa
4
Dano
Prejuízo que o lesado teve. Podem ser danos patrimoniais ou então não-patrimoniais.
DANO
5
Nexo causal
Teoria da Causalidade Adequada: aquele facto é causa adequada do dano. Art. 563º
CC
Ex: o António bate (causa de facto) no Rui e deixa-o inconsciente a sangrar.
O Rui era hemofílico (causa adequada), sangrou até à morte.
- Intenção de bater
- Mas não é responsável pela morte
- Em concreto, a agressão é causa de morte, mas em abstracto não é responsável pelo
dano morte
Artigo 502º
Artigo 503º (ex: se deixar o carro mal travado já tem culpa -799º. Mas se tiver um
ataque cardíaco, perde a direcção do carro, é responsável, mas não tem culpa). Conta
com excepções.
Exemplo:
A e B – lesantes
C – lesado
C pede a A o total da indemnização.
A pede a B o que este devia ter pago, e não pagou - direito de regresso.
Entre A e B – relações internas
(A e B) com C – relações externas
indemnização pelo prejuízo sofrido. A satisfação do seu direito por um dos lesantes
responsáveis (artigo 490º) produz a extinção, em relação ao lesado, das obrigações dos
restantes devedores da indemnização (artigo 523º). Estes hão-de acertar agora contas
entre si, o que sucede com o recurso ao direito de regresso regulado no artigo 524º
CC.
Exemplo:
A Amélia (comitente) tem uma empregada doméstica, a Berta (comissária). Manda-a
comprar ovos, no seu carro. A Berta conduz em excesso de velocidade e tem um
acidente, batendo no carro de Carlos.
Berta tem culpa, responde pelo artigo 483º, logo Carlos pode pedir indemnização a
Berta.
MAS, Carlos sabe que Berta ia a mando da patroa, por isso opta por exigir
indemnização a Amélia.
Relação de Comissão:
1º pressuposto – relação de comissão (relação de subordinação)
2º pressuposto – dano ocorrido no exercício da função
3º pressuposto – obrigação de indemnizar por parte do comissário (vê-se pelo
preenchimento dos pressupostos do artigo 483ºCC)
AULA TEORICO-PRÁTICA 1
2011/10/03
Sumário: Apresentação. Marcação do horário de atendimento.
Metodologia de resolução dos casos práticos.
Divisão entre direito público e direito privado: a teoria dos interesses, a teoria da supra
e da infra-ordenação e a teoria dos sujeitos.
Resolução dos casos práticos n.º 1 e n.º 2.
Teoria dos Interesses: está-se perante uma relação jurídica ou norma de direito
público quando estão em causa a protecção ou a prossecução de interesses públicos.
Está-se perante uma relação jurídica ou norma de direito privado quando os interesses
afectados são interesses individuais, particulares.
Críticas: existe uma justaposição frequente de interesses individuais e públicos e existe
uma instrumentalização do direito privado pelas entidades públicas.
distinção não o interesse nem a relação entre cidadão e o Estado, mas a norma
invocada e aplicada pelos sujeitos da relação jurídica em causa.
Se se tratar de uma norma que não possui validade para todos, referindo-se
exclusivamente aos titulares do poder de império, ou seja, ao Estado e a outras
entidades públicas, conferindo-lhes nesta qualidade os respectivos direitos ou poderes
(prerrogativas) ou impondo-lhes as correspondentes obrigações, está-se perante uma
norma de Direito Público.
Quando uma entidade pública, sem invocar aquelas normas que lhe são peculiares,
age com base numa norma que pressupõe a igualdade de todos e que possui validade
para todos – embora aja evidentemente no interesse público -, trata-se de uma
relação de direito privado.
Direito adjectivo: não cura propriamente do Direito que confere direitos e obrigações
independentemente da intervenção judiciária, antes trata do modo como esta se deve
processar.
Refere-se à protecção coactiva, à tutela de tais direitos e obrigações.
Regula as acções e a sua tramitação, desde os seus pressupostos, requisitos até ao
julgamento final da causa.
AULA TEÓRICA 4
2011/10/10
Sumário: d) As soluções e os sistemas para limitar a responsabilidade
e) A responsabilidade civil (extracontratual) e a responsabilidade contratual do Estado;
a via judiciária de acordo com o artigo 4.º L n.º 13/2002.
3. As funções dinamizadoras e protectoras do direito privado
4. A divisão do direito privado em direito civil e direitos privados especiais
5. Os vários direitos privados especiais (referências gerais; as particularidades do
direito do trabalho)
6. A análise económica do direito privado (breve referência)
[pp. 77 a 92; textos de apoio policopiados; L 67/2007; art. 4.º L 13/2003; actualizações
de leis]
C
Não há vínculo
existente entre
lesante e lesado (B Responsabilidade extracontratual
e C)
Culpado nos termos do artigo 483º CC – não teve atenção nem cuidado.
Violou o direito de propriedade
C sabe que A tem mais dinheiro para pagar e pede-lhe indemnização nos termos do
artigo 500º (relação de comissão)
A lei diz que o comitente tem que ser obrigado a indemnizar seja a que título for.
Exemplo:
C pede indemnização a A. A paga a totalidade
Como A não teve culpa nenhuma exige a B que pague – direito de regresso
Exemplo:
Taxista
Responde perante B
A B Cliente
Contrato
Não há contrato
C Amigo de A.
Mero auxiliar
Diz-nos o artigo 601ºCC que se tivermos uma obrigação e não a cumprirmos (exemplo:
compramos um carro e não pagamos as prestações), é ao lado activo do nosso
património que se vai buscar o dinheiro para pagarmos as nossas obrigações.
Caso não aconteça, vamos para tribunal e penhoram-se os nossos bens.
A responsabilidade civil pode destruir economicamente o lesante. Porém, a lei
estabelece limites à responsabilidade civil.
LIMITES:
1 – Gestão Pública
Contratos públicos:
Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro, que aprova o Código dos Contratos Públicos
e ao qual o Decreto-Lei n.º 278/2009, de 2 de Outubro, aditou o artigo 83.º-A.
2 – Gestão Privada
3 – Via Judiciária
Competência dos tribunais administrativos e fiscais (artigo 4ª, nº1 da Lei nº13/2002,
de 19 de Fevereiro) - ETAF
“Ao avaliar o que ficou dito a respeito dos princípios da autonomia privada e da
responsabilidade civil, podemos verificar que o direito privado concede aos
particulares uma margem considerável para a conformação autónoma das suas
relações jurídicas ao mesmo tempo em que lhes imputa a responsabilidade pelos seus
comportamentos causadores de danos: os direitos adquiridos no exercício da
autonomia privada (ex: a propriedade adquirida por meio da liberdade contratual), são
protegidos mediante o instituto da responsabilidade civil.
Daí, podemos concluir que – a partir dos princípios da autonomia privada e da
responsabilidade civil – o direito privado desempenha uma dupla função: por um lado,
estimula o “poder de adquirir” e, por outro lado, protege o “possuir justificado”.
Os preceitos do direito privado que legitimam o poder de adquirir têm como objectivo
incentivar a produção e a aquisição de bens, fomentando ao mesmo tempo a
criatividade individual e compensando o trabalho, os conhecimentos, o capital e o
risco investido. Convém lembrar que o trabalho constitui a fonte histórica, o estímulo e
a justificação ética da propriedade, sendo certo que a remuneração do trabalho deve
ser adequada, de acordo com o contributo de quem trabalha para a criação de riqueza,
em ordem a permitir o acesso à propriedade. A propriedade, por sua vez, liberta as
motivações para o desenvolvimento da produção, do comércio, etc. [função
dinamizadora]
Os preceitos que protegem o possuir justificado têm como objectivo garantir que os
bens produzidos e adquiridos são (re) distribuídos apenas por meios conformes com a
ordem jurídica, uma vez que actuações à margem da lei não são tomadas. [função
protectora]
A simultaneidade, por um lado, do estímulo à produção e aquisição e, por outro lado,
da protecção do adquirido, traduz-se, dentro do direito privado, numa relação de
tensão que confere à sociedade liberal de concorrência a sua dinâmica específica.
Deste modo, o direito privado não quer atrofiar a responsabilidade ou limitar a
criatividade individual, mas pretende fomentá-las. Partindo, com base no princípio da
igualdade perante a lei, do pressuposto que, regularmente, os indivíduos possuem
virtualidades iguais para proceder em conformidade com os seus interesses, o direito
3Direito Económico: conjunto das normas que actuam sobre o processo económico em
geral. Direito misto.
“A análise económica do direito, que tem sido desenvolvida nos Estados Unidos encara
os efeitos decorrentes da aplicação de normas jurídicas, não segundo critérios de
justiça, mas sob o ponto de vista da chamada “eficiência de alocação”. Esta
corresponde a um estado de aplicação optimizada dos recursos disponíveis em termos
que proporcionam a todos o maior proveito.
O estado optimizado é atingido quando os recursos existentes tiverem sido
distribuídos de tal modo que já não é possível a ninguém aumentar as suas vantagens
sem prejudicar a situação de outrem.
Uma norma jurídica é eficiente quando traz vantagens para todos os interessados ou
para alguns sem prejudicar ninguém ou quando os beneficiados por ela ficam em
condições de poder indemnizar os prejudicados sem perder as vantagens todas. Assim,
o princípio da liberdade contratual é economicamente eficiente, uma vez que permite
às partes contraentes a troca de bens e serviços em sintonia com as respectivas
vantagens pessoais e evita o desperdício de recursos; em contrapartida, o regime de
fixação das rendas urbanas não é economicamente eficiente, pois prejudica as relações
de troca à custa de uma das partes.”, in A Parte Geral do Código Civil Português
A ideia geral que existe quando se pensa em direito é um conjunto de normas que
foram criadas e estão pautadas por uma corrente de Justiça.
Analisar-se a lei sob o ponto de vista da sua eficiência económica diz respeito à análise
económica do Direito.
O direito não deve apenas pautar-se por uma corrente económica. Deve sempre
pautar-se pela justiça.
AULA TEORICO-PRÁTICA 2
2011-10-10
Sumário: A responsabilidade civil - apresentação e desenvolvimento. A
responsabilidade extracontratual: a responsabilidade civil por factos ilícitos, pelo risco
e por factos lícitos.
A responsabilidade civil por factos ilícitos: enunciação e explicação dos seus
pressupostos. Resolução dos casos n.º 3 e n.º 4.
AULA TEÓRICA 5
2011-10-17
Sumário: II. O direito privado e a ordem constitucional portuguesa: o problema da
aplicação imediata dos direitos fundamentais às relações entre particulares
III. A dimensão política do direito privado; sua relevância (referência sucinta)
B. As fontes do direito civil português
I. A legislação anterior ao Código Civil de 1966. Resenha histórica
1. – 3. (…) 4. O Código Civil de 1867 e a sua sistematização antropocêntrica
II. O Código Civil de 1966; a sistematização do Título II com base na rel. jur.
III. As fontes além do Código Civil (algumas referências)
[pp. 93 a 99 (99 a 105); 105 a 116, 117 (s/ 156 a 167) a 148]
Todas as normas civis têm de estar de acordo com a CRP – fonte mediata do Direito
Civil
Art. 18º CRP – direitos, liberdades e garantias (DLG’s) também se aplicam nas relações
entre os particulares (art. 18º, nº1)
Exemplos:
1 António tem três filhos, o mais velho é muito cauteloso, os dois mais novos são muito
gastadores.
Assim sendo, decide deixar como hierarquia, a quota obrigatória aos 3 e os bens que
sobraram deixou ao mais velho.
Os filhos mais novos dizem que é contra a lei.
2Uma das cláusulas do contrato do clube onde Bernardo joga, diz que os jogadores não
podem dar entrevista à comunicação social.
O clube perdeu um jogo, e o jogador deu uma entrevista para um jornal culpando o
treinador pela derrota.
O clube intentou uma acção contra o jogador.
O jogador defende-se com a liberdade de expressão.
3Carlos trabalhava numa empresa que faz software. Entretanto demitiu-se e foi para
outra empresa do mesmo ramo. Na 1ªempresa, tinha assinado um contrato em que
numa das cláusulas dizia que durante 1 ano não podia revelar nenhuma informação
sobre o que tinha feito enquanto lá trabalhou, a outra empresa.
Carlos quando foi para a nova empresa contou sobre o software.
A 1ª empresa intentou-lhe uma acção.
Carlos defendeu-se com a liberdade de expressão.
2 B assinou o contrato, sabia o que as cláusulas proibiam, renegou os seus DLG’s, por
isso não podia invocar o seu direito à liberdade de expressão.
Assim, o artigo 18º não se aplica literalmente. Temos que o aplicar de acordo com a
sua origem.
O Direito Constitucional tem muitos menos anos (200) do que o Direito Civil (2000). O
direito civil tem séculos de estruturação. O direito constitucional foi beber ao direito
civil, inspirou-se lá. O Princípio da Igualdade já existia no Direito Civil (é um dos seus
princípios estruturantes) antes de existir no Direito Constitucional.
Muitos dos direitos já estavam previstos no Direito Civil.
Aplicação DLG’s
AULA TEORICO-PRÁTICA 3
2011-10-17
Sumário: A responsabilidade contratual. Confronto entre o regime desta e o regime
da responsabilidade extracontratual.
O concurso de responsabilidades.
A responsabilidade penal.
Casos práticos n.º 5 e n.º 6
b) C --------- D
Não há nenhum vínculo contratual. Há violação de direitos absolutos –
direito de propriedade
AULA TEÓRICA 6
2011 – 10 – 24
Sumário: Capítulo 2.º Os instrumentos centrais do direito privado
A. A relação jurídica; a rel. jur. fundam.; o círculo de direitos
B. Os elementos da relação jurídica v.s. o conteúdo da Parte Geral
I. As pessoas em sentido jurídico; o conteúdo do subtítulo I “Das Pessoas”
II. As coisas em sentido jurídico; análise do subtítulo II “Das Coisas”
1. Os possíveis objectos da rel. jur.
2. As coisas como obj. mediatos da rel. jur.
a) A noção de coisa do artigo 202.º, n.º 1, CCiv
[pp. 148 a 180]
2º capítulo a iniciar: quais os instrumentos jurídicos que o Direito Privado cria e coloca
na mão dos particulares, para que estes possam prosseguir os seus interesses. Para tal,
existem 3 instrumentos: relação jurídica, direito subjectivo e o negócio jurídico.
1 – RELAÇÃO JURÍDICA
Isto implica que as outras pessoas reconheçam o nosso valor de pessoa huma,
que respeitem a nossa dignidade. Cada um tem o direito de ser respeitado por
todas as pessoas, e tem a obrigação de respeitar os outros.
Basicamente, a relação jurídica fundamental é uma relação de respeito mútuo
entre os vários sujeitos. Cada um de nós está moralmente convencido de que
deve ser assim.
Este respeito implica que sejam excluídos todos os comportamentos que
possam diminuir o valor ético da pessoa, ou seja, não podem criar-se relações
jurídicas que violem esta ideia de respeito da relação jurídica fundamental.
Caso violem, são consideradas nulas.
Apesar de esta ideia ser uma norma jurídica, esta parte de uma norma moral.
Porém, apesar de estarmos moralmente convencidos do dever de respeito, as
normas morais não podem ser coercitivamente impostas, daí a norma jurídica
decorrer da norma moral.
De um lado temos o direito subjectivo, do outro temos uma obrigação jurídica.
Relacionada com esta figura de relação jurídica fundamental, está outra figura, o
círculo de direitos.
Círculo de direitos: soma dos direitos de que uma pessoa é titular. Cada pessoa
tem um determinado conjunto de direitos. Há um conjunto de direitos de que a
pessoa não se consegue livrar. Os mais importantes estão no “centro do
círculo”, como por exemplo, os direitos de personalidade. Na “periferia do
círculo” encontram-se os direitos “menos importantes”, como por exemplo, os
direitos patrimoniais.
Quando se fala da violação de direitos da pessoa, fala-se na violação da própria
pessoa. Em princípio, esta violação não se concretiza, porque a maior parte das
pessoas tem consciência de que não pode violar os direitos dos outros. O
Direito conta com a observância directa das pessoas.
O círculo de direitos é também um conceito filosófico.
que serve para afastar as relações que não são jurídicas, que não cabem no
âmbito do direito.
Em sentido restrito é toda a situação da vida social disciplinada pelo direito,
que apresenta uma fisionomia típica – relações que já estão tipificadas na lei. A
relação jurídica em sentido restrito é a relação jurídica em sentido concreto,
pois atribui concretamente determinados direitos e obrigações.
Exemplo: contrato de compra e venda, 879ºCC.
garantia
Objecto
imediato
Exemplo: António e Bernardo são amigos, mas adeptos de clubes diferentes. Fizeram
uma aposta em que se o clube do outro perdesse, o adepto do clube que perdeu tinha
que pagar 50€ ao adepto do clube que ganhou.
Bernardo perdeu e não pagou os devidos 50€ ao António.
Mas se o Bernardo tivesse pago, não podia voltar atrás e pedir o dinheiro de volta –
não repetição do indivíduo – não podia pedir que fosse devolvida a prestação.
1 – Sujeitos
Pessoa em sentido jurídico não é a mesma coisa que pessoa em sentido ético.
Em sentido jurídico há pessoas singulares e pessoas colectivas.
Em sentido jurídico são todas aquelas que têm personalidade jurídica (susceptibilidade
de ser titular de direitos e de obrigações).
O código civil regulamenta as pessoas singulares nos artigos 66º a 156º e regulamenta
as pessoas colectivas nos artigos 157º a 194º.
Do artigo 195º ao 201º do CC estão associações sem personalidade jurídica e as
comissões especiais – não são pessoas em sentido jurídico, porque não têm
personalidade jurídica atribuída pelo Estado, mas são grupos de pessoas que
prosseguem uma finalidade comum.
Na nossa ordem jurídica todas as pessoas que nascem possuem personalidade jurídica
– artigo 66º, nº1.
Para as pessoas colectivas é preciso que haja um reconhecimento do Estado ou por lei
para que seja reconhecida personalidade jurídica à pessoa colectiva (conjunto de
massas ou grupos de bens). A partir do momento em que é reconhecida a
personalidade à pessoa colectiva, ela passa a ter o seu próprio círculo de direitos.
Virtualmente, as pessoas colectivas podem ser titulares de quaisquer direitos e
obrigações. Mas a capacidade jurídica é diferente da capacidade jurídica das pessoas
singulares.
As pessoas colectivas só têm a capacidade jurídica para realizarem os negócios
necessários ou convenientes á prossecução dos seus fins.
2 - Objecto
Coisa em sentido jurídico: tudo aquilo que possui idoneidade ou aptidão para ser
objecto de direitos subjectivos privados, que sobre ele possam incidir.
AULA TEORICO-PRÁTICA 4
2011/10/24
Sumário: A responsabilidade por actos de outrem: a responsabilidade objectiva do
comitente por actos do comissário (art. 500.ª do Código Civil); a responsabilidade do
devedor por actos do seu auxiliar (art. 800.ª) do (Código Civil). Confronto de regimes.
Casos práticos n.º 7 e n.º 8.
O artigo 800º trata os actos dos auxiliares que o devedor utiliza para cumprir uma
obrigação que é sua como se esses actos fossem praticados pelo próprio devedor. A lei
encara que foi o próprio devedor a agir.
Só se o auxiliar agir com culpa é que o devedor responde.
Preenchidos estes requisitos, a lei ficciona que foi o próprio devedor a causar o dano.
Caso prático nº 7
Esse instituto jurídico é a responsabilidade civil, que trata todas as situações em que
existe uma obrigação de indemnização.
Existem duas modalidades de responsabilidade civil, a contratual, no âmbito da
situação dos contratos, onde são violados direitos relativos. E a extracontratual, onde
são violados direitos absolutos. A responsabilidade extracontratual pode ser por factos
ilícitos, por culpa ou por facto lícitos.
A responsabilidade civil extracontratual é tratada no código nos artigos 483º e ss (no
código é mesmo considerada responsabilidade civil). A responsabilidade contratual
pode ser encontrada nos artigos 798ºss.
Como já anteriormente referido, a presente situação aparenta ser um caso de
responsabilidade civil extracontratual, pois César violou um direito absoluto de Daniel,
o direito de propriedade, artigo 1305ºcc.
Cabe então a Daniel, que quer ver os seus danos reparados, neste caso não podendo
ser por reconstituição natural 562ºCC, por indemnização 566º, provar a culpa do autor
da lesão (segundo o artigo 487, nº1, 1ªparte), arcando assim com o pesado ónus da
prova.
Contudo para se deslocar o dano de quem o sofreu para quem o causou é necessário
que estejam preenchidos os 5 pressupostos presentes no artigo 483º.
O primeiro pressuposto é o do facto voluntário (comportamento humano – acção ou
omissão – controlado pela vontade humana), que no caso concreto é o atropelamento
do cão, por César. É um facto voluntário positivo, César atropelou o cão de Daniel.
O segundo pressuposto é a ilicitude (juízo de censura sobre o próprio facto, por ele
consistir na violação de um dever jurídico), no caso concreto foi violado o direito de
propriedade (1305º) de Daniel.
O terceiro pressuposto é a culpa ou nexo imputado ao lesante (juízo de censura sobre
o sujeito quanto à probabilidade da sua conduta, por ele ter praticado o facto lesivo,
quando podia ter evitado o dano). A culpa é apreciada, pela diligência de um bom pai
de família (art. 487º, nº2), de acordo com os cuidados necessários no tráfico jurídico.
Para o lesante responder pelas consequências do facto danoso tem que ser
considerado imputável (488º). Existem ainda duas modalidades de culpa, por mera
culpa (487º) ou por dolo (com intenção). No caso concreto César é considerado
imputável pelo artigo 488º e segundo o critério do bom pai de família agiu com mera
culpa, cabendo a Daniel, lesado, o ónus da prova 487º, nº1, segundo a regra do artigo
494º.
O quarto pressuposto é o dano, o prejuízo que o lesado teve. Os danos podem ser
patrimoniais (susceptíveis de avaliação pecuniária) ou não patrimoniais (não são
susceptíveis de avaliação pecuniária, mas são indemnizáveis, desde que da sua
gravidade mereçam a tutela do direito, por força do artigo 496º, nº1, tendo nestes
caso a indemnização um carácter de compensação). Os danos patrimoniais podem
ainda ser emergentes (prejuízo que o lesado tem) ou de lucro-cessante (valores
económicos que deixaram de entrar no património do lesado, por via do dano). No
caso concreto, trata-se de danos patrimoniais emergentes, por força do artigo 564º,
foram as despesas que Daniel teve que suportar para tratar o cão, tendo assim que ser
indemnizado por força do artigo 562º.
Por fim, o último pressuposto é o nexo de causalidade entre o facto e o dano, o que
quer dizer que o facto danoso tem que ser, dentro do razoável e humanamente
1ª parte do caso
A não estava vinculado pelo contrato. Era apenas auxiliar da TFSA, que o utilizou para o
cumprimento de uma obrigação contratual sua.
Necessário avaliar se TF pode ser responsabilizada, como se fosse ela a actuar. Para tal
é preciso que os requisitos do artigo 800º sejam preenchidos:
- acto
- danoso
- que violou um direito relativo
- praticado pelo auxiliar
- no cumprimento da obrigação
- e com culpa
2ªparte do caso:
Requisitos 483º:
- facto voluntário: apropriar-se da boneca
- ilicitude: violação do direito de propriedade 1305º
- Culpa: 488º, dolo 483º, prova da culpa feita pelo lesado 487º, nº1, dano patrimonial
emergente
- nexo de causalidade: apropriação da boneca é adequada ao dano – subtracção da
boneca ao património
Não podemos aplicar o artigo 500º, porque não foram preenchidos todos os requisitos.
António responde exclusivamente por responsabilidade extracontratual por facto
ilícitos.
AULA TEÓRICA 7
2011-10-31
Sumário: b) As coisas fora do comércio no sentido do artigo 202.º, n.º 2, CCiv
c) A classificação das coisas
aa) As coisas imóveis v.s. móveis; sujeitas v.s. não sujeitas a registo; funções do registo
versus escritura pública
bb) As coisas simples v.s. compostas; fungíveis v.s. não fungíveis; consumíveis v.s. não
consumíveis; divisíveis v.s. não divisíveis; presentes v.s. futuras
cc) As partes componentes » integrantes » acessórias
d) Os frutos e as benfeitorias
3. O património e a empresa (referências)
a) O património; as suas acepções (global, bruto, líquido)
[pp. 180 a 193]
AULA PASSADA
Coisa em sentido jurídico: tudo aquilo que pode ser objecto de direitos privados.
Situação dos baldios: não são de domínio público (antes – CRP art. 89º, nº2CC – incluía
os baldios nos bens comunitários com posse útil. Agora art. 82º, nº4 b) – são de
domínio social. Também não são coisas dentro do comércio jurídico. Não é possível
transacionar parte do baldio – nº4 (excepto nas situações de desafectação) – nem são
de domínio público nem de tráfico negocial jurídico.
Artigo 203º: distinção entre coisa móvel e imóvel (a distinção mais importante).
A lei falhou na distinção entre coisas corpóreas e incorpóreas.
Corpórea: aquela que é apreendida pelos sentidos
Incorpórea: não se toca, nem cheira, mas é objecto de transações, pertence ao tráfico
jurídico. Ex: produtos intelectuais, música (é sujeitada aos direitos de autor: música
propriamente dita)
Coisa imóvel: necessita de forma legal para a compra e venda. Exemplo: 875º -
escritura pública. Não há liberdade de forma.
Coisa móvel: não é preciso nada, excepto, por exemplo, na compra de um carro em
que é necessário registo.
204º a) Prédios rústicos: terrenos em que não é possível construir. Mesmo que num
campo de trigo haja um espigueiro, continua a ser prédio rústico, é um auxiliar da
actividade, é uma construção não autónoma. Um prédio rústico não é urbanizável.
Prédio urbano: terreno onde se é possível construir. É urbanizável.
Apartamento: bem imóvel, apesar da lei não o dizer.
c) exemplo: pinheiros, macieiras (um mação pendurada numa arvore é coisa imóvel)
Vendas de colheitas que ainda não foram plantadas – vendas de coisas futuras: coisa
móvel, não precisa de documento, MAS enquanto não se colher o fruto da árvore, o
direito de propriedade não se transmite, 408º, nº2
A
B
e) Parte integrante: coisa móvel, ligada fisicamente à coisa principal, com carácter de
permanência, prosseguindo o mesmo destino que esta, mas é distinta da parte
componente. Exemplo: elevador. Enquanto estiver ligada à coisa principal é
considerada como coisa imóvel, se a coisa principal for vendida com a parte integrante
Parte componente: aquela que compõe o edifício. Sem ela, o edifício não está
completo. Exemplo: paredes, chão portas
O regime das partes componentes e das partes integrantes é o mesmo.
Qual o critério que a lei utilizou nestes artigos para distinguir entre coisas móveis e
imóveis?
Coisas fungíveis: a coisa pode substituir-se com toda a facilidade. Exemplo: saco de
batatas. Objecto de obrigações genéricas. Nestes casos a indemnização é feita por
reconstituição natural.
Coisa infungível: a coisa não pode ser facilmente substituída.
Coisa consumível: cujo uso regular importa a sua destruição ou alienação. Exemplo:
maçã, tinteiro, livro numa livraria (vai-se alienar)
Coisa não consumível: livro
Naturais: macieira
Civis (212º, nº2): mútuo oneroso: empréstimo de dinheiro – pagamento do
empréstimo com juros. A coisa é o dinheiro, o fruto são os juros.
As actividades extractivas cabem num conceito de fruto civil mais alargado. Não há
periodicidade e afecta a substância
Artigo 216º: mantêm-se as coisas em bom estado através das benfeitorias 1273º,
1275º. Podem se necessárias, úteis e
PATRIMÓNIO
Património 1273º 1275º: conjunto dos direitos subjectivos do mesmo titular sobre
várias coisas, com valor pecuniário.
É uma universalidade de direito complexo das coisas (móveis ou imóveis) que estão
sujeitas por lei a um regime distinto dos vários elementos que as constituem e com
dívidas próprias.
Património global: lado activo e o lado passivo do património, o conjunto dos direitos
e das obrigações correspondentes a um titular.
Conjunto das relações jurídicas, com valor económico, isto é, avaliável em dinheiro, de
que é sujeito activo e um lado passivo. Mas só abrange as relações jurídicas
efectivamente constituídas e apenas entram no património as relações jurídicas
susceptíveis de uma apreciação pecuniária.
Esta acepção de património tem em vista quando se diz que o património de um
indivíduo falecido passa aos seus herdeiros, pois estes não sucedem só nos direitos
hereditando, mas ainda nas obrigações (dívidas).
Artigo 2024º, no contexto das sucessões.
Património bruto: lado activo do património, a lei abstrai das dívidas – artigo 821º
Código Processo Civil – “dívidas não pagam dívidas”. Soma dos direitos computáveis
em dinheiro que pertencem a uma pessoa – o seu activo global – abstração feita das
dívidas correspondentes. Tal é o alcance do artigo 821ºCC – só o património pode ser
objecto de execução.
621ºCC – tudo o que for susceptível de valor patrimonial.
Património líquido: aquilo que sobra. De facto, quanto vale o património. Saldo entre
a parte activa e a passiva. Apenas a soma dos direitos redutíveis a um valor pecuniário
que competem a dada pessoa, mas depois de abatido o montante de dívidas que os
oneram.
CIRE (Código Insolvência e Recuperação de Empresas). Agora insolvência é para todos.
Acontece quando o saldo há saldo negativo: quando temos mais dívidas do que
património activo.
Não fazem parte do património certas qualidades de uma pessoa, as suas possíveis
oportunidades ou expectativas ou o seu crédito pessoal.
O património é assim uma unidade baseada no facto de todos os direito patrimoniais
que o compõem pertencerem ao mês o titular.
Contudo, aqueles direitos mantêm a sua individualidade, ficando cada direito sujeito
às regras para ele vigentes no que diz respeito à sua aquisição ou alienação ou
substituição.
O património como tal não é objecto de um direito subjectivo, ele é composto por
vários direitos subjectivos que, por seu lado, incidem sobre os seus respectivos
objectos de carácter patrimonial.
A característica essencial do património é a pecuniariedade.
Todos os direitos com valor pecuniário fazem parte do património da pessoa e não
importa como foram adquiridos.
Uma coisa é o património da pessoa, outra coisa é o círculo de direitos da pessoa.
O conceito de círculo de direitos é mais abrangente do que o conceito de património.
AULA TEORICO-PRÁTICA 5
2011-10-31
Sumário: Conclusão da matéria leccionada na aula anterior. Resolução do caso prático
n.º 9.
A responsabilidade civil extracontratual e contratual do Estado por actos de gestão
pública. A responsabilidade civil extracontratual e contratual do Estado por actos de
gestão privada.
Resolução do caso prático n.º 10.
Caso prático 9
1ªparte: responsabilidade contratual, porque há uma relação jurídica prévia que deu
origem a um direito relativo que foi violado.
798ºSS
Uma das partes tem obrigação de entregar a coisa.
A outra parte tem a obrigação de pagá-la.
Ver se os pressupostos estão preenchidos:
1 – facto voluntário: não entrega da encomenda
2 – ilicitude: 798º; 762º, nº1; 397º: dever negocial que foi violado – dever primário –
dever de entrega 879º b)
3- culpa: presunção de culpa 487º, nº1.
Pelo 487º, nº2: mera culpa (o 799º, nº2 faz remissão).
4 – danos: patrimoniais emergentes 564º - prejuízo de pagar o dobro
5 – nexo de causalidade 563º: a não entrega da encomenda fez o cliente pagar o
dobro.
Se o Anacleto fosse devedor tinha que responder por força dos artigos 798º ss.
Mas não, porque o contrato foi feito entre o Bom Comer e o cliente, Anacleto era um
mero auxiliar. Para ser BC a responder têm que estar preenchidos os requisitos do
artigo 800º: tem que ser um acto danoso, praticado por um auxiliar, no cumprimento
da obrigação, com culpa, havendo violação de deveres contratuais.
Todos os requisitos do artigo 800º estão preenchidos, BC responde por força do artigo
800º, sem direito de regresso sobre António, pois na responsabilidade contratual não
existe responsabilidade solidária.
Caso prático 10
Se a culpa for leve, apenas responde o Estado. Se a culpa for grave ou dolo responde
solidariamente o Estado e o funcionário.
AULA TEÓRICA 8
2011-11-7
Sumário: b) As modalidades dos patrimónios separados (autónomos e colectivos)
c) A empresa (…): o conjunto organizatório » o titular » a forma jurídica » a separação
(ou não) dos patrimónios
III. Os factos jurídicos e os negócios jurídicos
1. Os factos jurídicos em geral: factos voluntários v.s. involuntários
2. A relevância da vontade (enunciado geral): factos ilícitos v.s. lícitos; actos jurídicos
em sentido amplo; negócios jurídicos v.s. actos jurídicos em sentido restrito
3. O negócio jurídico como facto jurídico voluntário
a) A vontade » o facto jurídico » os efeitos jurídicos pretendidos
b) A vontade “deficiente” » invalidade » afecta os efeitos pretendidos; As modalidades
típicas da invalidade: nulidade « » anulabilidade
c) Os efeitos de facto dos negócios nulos e anuláveis: as aparências criadas.
[texto de apoio policopiado; pp. 193 a 212]
1 – Património autónomo
Exemplo: António tem um avô com fama de ser muito rico. O avô morreu e António
recebeu como herança todo o património do avô.
Começaram a aparecer credores e António foi pagando as dívidas com a herança.
A herança é património do António, mas está separado do património geral.
Massa insolvente: EIRE art. 81º: a pessoa não consegue cumprir as suas
obrigações, nem consegue recorrer a crédito para cumpri-las.
Exemplo: António contraiu uma nova dívida depois de ter sido declarado
insolvente, de se ter autonomizado a massa insolvente (para garantir o
pagamento aos credores). Contraiu a nova divida ao ir ao supermercado e pedir
fiado. Vai pagar esta nova divida com o seu património geral.
EIRE – a pessoa retira do seu património geral o que vai afectar ao
estabelecimento. Só vai pagar com aquele património afectado. Só o EIRE é que
é chamado. Agora, as pessoas criam uma sociedade unipessoal – forma jurídica
semelhante ao EIRE, formado por quotas. Só o montante das quotas é que
responde perante a dívida.
2 – Património colectivo
Património
Património Herança geral
geral indivisível A
C Património
geral
B
Conceito de empresa
Involuntário
Facto
Actos jurídicos (em sentido
jurídico Lícito restrito)
Voluntário Unilateral
Ilícito Negócio jurídico
Contrato unilateral
Bilateral
Contrato bilateral
plurilateral
Facto jurídico involuntário: não é por causa da vontade que se produzem efeitos. 296º
até 333º
Facto jurídico voluntário: aquele que é controlável pela vontade humana. Provoca
danos no âmbito da responsabilidade civil. Mesmo que a pessoa não queira os efeitos
jurídicos, a vontade é relevante para a produção do facto.
Facto jurídico voluntário ilícito: violam a ordem jurídica e porque a violam, têm como
efeito a sanção. A sanção ocorre por força da lei. A vontade não é relevante. A
voluntariedade só existe na produção do facto. O efeito produz-se
independentemente da sanção.
Facto jurídico voluntário lícito: de acordo com a ordem jurídica. Também se podem
chamar de actos jurídicos em sentido amplo.
Facto jurídico voluntário lícito – acto jurídico ou simples actos jurídicos. Acto jurídico
em sentido restrito: 295ª CC.
Facto jurídico voluntário lícito – negócio jurídico: 217º a 294ºCC. Facto jurídico
voluntário lícito em que há uma declaração de vontade privada que visa a produção de
um efeito jurídico que a ordem jurídica protege, por ter sido querido pelas partes. Os
efeitos jurídicos decorrem da vontade – efeitos volitivos. A lei protege os efeitos
porque foram queridos pelas partes. Meio por excelência para a realização da
autonomia privada.
Exemplo: contrato de compra e venda: facto jurídico voluntário lícito – negócio
jurídico.
Não é isto que acontece nos actos jurídicos em sentido restrito.
Exemplo: Mora – atraso num pagamento. Quando há mora, essa pessoa passa a
responder pelos danos moratórios.
Artigo 806º CC – juros de mora
Só a partir do momento em que o credor faz a interpelação é que o devedor entra em
mora. Não resulta apenas da lei – 805º, nº1. Às vezes faz-se essa interpelação sem se
saber o que ela provoca.
Interpelação: mora+juros – a pessoa pode nem saber disso – independente da vontade
– acontece na mesma.
Contrato unilateral: apenas uma obrigação para uma das partes. Exemplo: contrato de
doação; contrato de comodato.
Negócio jurídico
Meio criado pela ordem jurídica para a realização da autonomia privada. Serve para
que as partes possam prosseguir os seus interesses. A lei protege estes efeitos, porque
as partes os quiseram.
O António só vendeu o terreno porque B disse que o terreno não era urbanizável. A
vendeu por um preço muito baixo.
B usou dolo (vício de vontade 253º e 254º), enganou A. A vontade não teria sido essa
se não fosse o dolo.
Este negócio jurídico vai ser afectado na sua génese.
Há duas modalidades de invalidade: nulidade e anulabilidade.
Diz o artigo 254º que este negócio é anulável.
- retroactivos
- restitutivos
vende
A B
Anulável Nulo
Proprietário B Proprietário A
Anulado
Proprietário A
AULA TEORICO-PRÁTICA 6
2011-11-7
Sumário: Aplicabilidade dos direitos, liberdades e garantias previstos na CRP (art.
18.º) nas relações de direito privado: limitações à autonomia privada. A interpretação
do art. 18.º da CRP de acordo com a sua génese e função. O art. 18.º da CRP como
regime subsidiário nas relações entre os particulares.
Casos n.º 11, n.º 12, n.º 13.
Função tradicional: protecção dos indivíduos (parte mais fraca) contra o Estado
Artigo 18º CRP vincula de forma especial certo tipo de entidades privadas
Caso prático 11
Caso prático 12
Caso prático 13
A quer comprar um ramo de rosas. A florista não quer vender porque não gosta dele.
A invoca o artigo 13º da CRP.
A invoca a aplicação directa e imediata do artigo 13º da CRP, por força do artigo 18º.
No caso concreto estamos numa relação entre dois privados e regra geral aplicam-se
as normas de direito privado que concretizam as normas constitucionais fazendo uma
aplicação mediata da CRP.
Princípio da Liberdade Contratual – a Beatriz pode-se recusar a contratar com o
António – artigo 405ºCC.
Podem existir regras especiais para alguns tipos de actividade.
AULA TEÓRICA 9
2011-11-14
Sumário: d) A (in)validade dos negócios subsequentes aos negócios inválidos iniciais
aa) negócio anulável (» validade da aquisição provisória) v.s. n. nulo (» nulidade da
aquisição); tudo devido à regra “nemo plus iuris …”
bb) Os legitimados para pedir a anulação ou a declaração de nulidade
e) Os efeitos retroactivos e restitutivos da anulação e da declaração de nulidade entre
as partes do negócio e ainda em relação a todos os “terceiros” (artigo 289.º, n.º 1, 1.ª
parte)
aa) Os efeitos da anulação: retroactividade ? i.e. regresso do direito por mero efeito da
sentença; restituição de tudo que tiver sido prestado
bb) O “congelamento” dos efeitos retroactivos e restitutivos em relação a terceiros de
boa fé, verificados cumulativamente os pressupostos do artigo 291.º: a aquisição
provisória não fica prejudicada
cc) Os efeitos da declaração de nulidade: não há retroactividade (exceptuados os
efeitos laterais legais caso existam); mas restituição de tudo o que tiver sido prestado
dd) O direito legal relativo (art. 892.º) como “direito não prejudicado”
ee) O “aperfeiçoamento” do direito legal relativo em direito absoluto de acordo com a
boa fé do adquirente por efeito do artigo 291.º
[texto “aquisição da propriedade”; pp. 210 a 214; 588 a 594; 601 a 607]
Teste
Pergunta teórica
Caso prático: responsabilidade civil; coisas; direito privado/público; DLG’s.
Primeiro caso
António vende a Bernardo um terreno.
No momento da venda, António está manifestamente embriagado. No entanto, o
notário ao celebrar a escritura pública não repara.
Bernardo repara, mas nada diz.
Quem é o proprietário?
Segundo caso
A mesma venda, mas desta vez ambos estão sóbrios. Combinam entre si não ir ao
notário e celebrarem o negócio por documento particular.
Quem é o proprietário?
Primeira situação
A não tem descernimento, a vontade está viciada. O vício em causa chama-se
incapacidade acidental, que leva à anulabilidade. Incapacidade acidental 257ºCC (é
necessário explicar bem este artigo aplicado ao caso concreto). Mesmo que não seja
conhecido, mas se for notório, é anulável.
Segunda situação:
Existe um contrato de compra e venda 874º, de um imóvel 204º, nº1 a), entre A e B.
Como se trata de um imóvel é necessário o respeito da forma legal de celebração de
contrato, artigo 875ºCC, que não foi respeitado. Logo, o negócio é nulo, por força do
artigo 220º.
Assim, a propriedade nunca saiu da esfera de A. No entanto, eles cumpriram as
obrigações (que nunca existiram), houve prestações de facto.
Se o negócio é nulo não se intenta uma accção de anulação, mas sim uma acção de
declaração de nulidade, atigo 289ºCC.
Neste caso, só existem efeitos restitutivos, porque as partes cumpriram as obrigações
que não existiam. Os efeitos restitutivos servem para alterar a realidade jurídica.
Sentença de declaração de nulidade, é uma sentença meramente declarativa, não
altera nada, porque nunca houve nada para alterar.
SANABILIDADE
Caso prático
Tanto na primeira situação como na segunda, B vende terreno a César.
Na primeira, César sabe da embriaguez de António.
Na segunda, não sabe de nada.
A quem pertence agora o terreno?
Primeira
Existe um contrato de compra e venda entre B e C, art. 874º, de bem imóvel 204, nº1
a) 875º
Partindo do principio que tudo correu correctamente, qual é a validade deste negócio?
Entre B e C não há nenhum vício, logo o negócio é válido! B é proprietário (provisório),
C vai adquirir propriedade a titulo provisório – PRINCÍPIO NEMO PLUS IURIS.
O negócio é válido, produz todos os efeitos do 879º, mas há o princípio nemo plus iuris
que nos diz que ninguém pode transmitir um direito mais forte do que o que tem.
Segunda
Contrato de compra e venda entre B e C, 874º, de bem imóvel 204, nº1 a)
Necessário preenchimento de forma legal 875º, que não se verificou. Sendo o negócio
entre A e B nulo, a propriedade nunca saiu da esfera de A.
A venda realizada entre B e C é venda de coisa alheia, que é considerada nula
(principio nemo plus iuris) – artigo 892ºCC
Mas C não sabia da falta de forma, é considerado um “terceiro de boa-fé”. A lei
protege estes sujeitos.
É relevante não saber o que se tinha passado para efeitos de protecção, artigo 892ºCC.
Nas relações entre B e C tudo se passou como se fosse válido – C adquiriu um direito
de oponibilidade relativa, não adiquiriu direito de propriedade.
O problema acontece quando A intentar uma acção de declaração de nulidade.
O direito de C nasceu por força da lei, é um efeito lateral legal.
Acção de declaração de nulidade: juiz declara que A é proprietário e que as partes têm
que entregar tudo – efeitos restitutivos
Com a declaração têm que devolver os bens. Os efeitos laterais caem.
C tem direito de oponibilidade relativa. Serve enquanto A nada disser e serve para
proteger uma cadeia de transmissões, a lei tem que estancar a queda de negócios
jurídicos 291, nº1CC(bens imóveis ou móveis sujeitos a registo).
Pressupostos artigo 291ºCC
1) Bens imóveis ou móveis
2) Direitos adquiridos sobre os mesmos bens (direitos incompativeis entre si) –
direito de propriedade e de oponibilidade relativa
3) Direitos adquiridos a titulo oneroso
4) Terceiro de boa fé 291º, nº3
5) Registo de aquisição anterior ao registo de acção de declaração de nulidade.
6) Decorridos três anos desde a data do primeiro negócio
Resultado: A perde a propriedade. C passa a ser o proprietário. O direito de
oponibilidade relativa transforma-se no direito de propriedade.
É uma aquisição “a non domino”, àquele que não era dono.
O artigo 291º neste contexto é uma excepção ao princípio nemo plus iuris.
Caso
A ainda pode intentar a accção, porque o prazo só acaba um ano após a cessação do
vício (quando A descobriu que foi enganado), 287º, nº1. A tem legitimidade porque é o
prejudicado.
AULA TEORICO-PRÁTICA 7
2011-11-14
Sumário: A relação jurídica e os seus elementos.
O objecto imediato e o objecto mediato. As coisas em sentido jurídico.
Resolução dos casos práticos n.º 14, n.º 15, n.º 16.
garantia
Objecto
imediato
Sujeitos: pessoas entre as quais se estabelece a relação jurídica. Podem ser de dois
nknjbnjkn
tipo: activo (aquele que é titular dos direitos subjectivos) e passivo (obrigado a
respeitar os direitos de outrem).
Pessoas singulares e colectivas: sujeitos em sentido jurídico, têm personalidade
jurídica.
Objecto: aquilo sobre o qual recai o poder do sujeito activo da relação jurídica.
Imediato: conjunto de direitos e obrigações
Mediato: bem sobre que incide o direito subjectivo. É o objecto do direito. Prestação.
Garantia: possibilidade que o sujeito activo tem para impedir a violação do seu direito
subjectivo ou para re-integrar a situação correspondente aos direitos em caso de
infração. Dá efectividade ao direito subjectivo.
Artigo 202º - objecto mediato: aquilo que tem idoneidade ou aptidão para constituir
objecto de direito privado.
Fora do comércio jurídico: aquilo que é objecto do direito público: lua, chuva, nuvens,
etc
Caso prático 14
Parte integrante: coisa móvel, ligada materialmente a uma coisa imóvel, com caracter
de permanência em função e de acordo com o fim desta. Fazem parte do prédio, 204º,
nº3
Parte componente: faz parte da estrutura do prédio, o prédio está incompleto sem ela.
O prédio é impróprio para uso se faltar a parte componente.
Coisas acessórias: coisa móvel, não constituindo parte integrante, está ao serviço
duradouro de uma coisa móvel ou imóvel. Não estão materialmente ligadas à coisa
principal, mas sim economicamente, pelo que tem ligação específica com a coisa
principal de acordo com o fim desta.
Caso prático 15
Mobília cozinha
A B
antena
A C
elevador
A ML
casa
A H
Primeira situação
A vende a B mobília. Coisa móvel – coisa acessória
O Bernardo adquiriu o direito de propriedade sobre a mobília, por força do contrato
408º, nº1. Princípio Liberdade de forma 219º.
Mas se os móveis incrastáveis, eram considerados partes integrantes.
O direito de propriedade sobre a mobília da cozinha pertence a Bernardo.
Segunda situação
A vende a C antena. Coisa móvel
Contrato de compra e venda 874º
Efeitos do contrato 879º
Antena: coisa acessória 210, nº1
Terceira situação
A vende ao ML o elevador
Elevador: parte integrabte 204º, nº3
204º, nº1 e)
210º, nº2 “a contrario”
408º, nº1 – princípio da consensualidade – regra geral
408º, nº2 excepção – não se transferiu o direito de propriedade – elevador continua na
esfera de António.
880º - obrigação de António levar a cabo todas as diligências necessárias para a
transmissão do direito de propriedade.
Quarta situação
A vende a H a casa – bem imóvel 204, nº1 a)
Contrato de compra e venda 874º
Efeitos do contrato 879º
Caso prático 16
AULA TEÓRICA 10
2011-11-21
Sumário: f) A protecção do terceiro adquirente pelas regras do registo (v.s. artigo
407.º)
aa) A dupla disposição negocial do próprio titular a favor do terceiro
bb) A protecção do terceiro adquirente de boa fé título oneroso e gratuito
g) Os fins da lei e os conflitos de interesse relativos à protecção dos terceiros
h) As modalidades formais da transmissão da propriedade sobre imóveis
4. O tempo e a sua repercussão nas relações jurídicas
a) A prescrição;
b) A caducidade;
c) O não uso.
[texto “aquisição da propriedade”; pp. 214 a 216; 604 a 607]
Ccv 874º
A B
Ccv 874º
A BNR
Venda de coisa
Automóvel 205º
879º a)b)c) + 408º, nº1
alheia, 892º
CR
B não registou, mas detem o direito de propriedade. O registo serve apenas para
efeitos de publicidade.
Como B não registou, A fez uma segunda venda sobre o bem móvel que vendeu a B. A
vendeu a C o carro.
Este negócio é nulo! Trata-se de uma venda de coisa alheia. A já não detinha o direito
de propriedade sobre o carro.
C é um terceiro, mas para efeitos de registo predial – é uma situação triangular, o
primeiro proprietário (A) vende ao segundo (B) e ao terceiro (C). Nestes casos aplicam-
se as leis do registo.
Artigo 1º: fins do registo – publicidade, serve para saber quem é o proprietário, o que
dá segurança oa tráfico comercial e jurídico.
Artigo 2º: a) os direitos reais têm de ser registados; b) hipoteca tem de ser registada;
m) arrendamento por mais de 6 anos tem de ser registado.
Artigo 4º, nº1: eficácia entre as partes – os factos sujeitos a registo e os seus efeitos
podem ser invocados entre as partes sem estarem registados. O código civil determina
que os efeitos trasmitem-se por força do contrato e não pelo registo. O registo não faz
nascer direitos, é meramente declarativo, serve para efeitos de propriedade.
Artigo 6º: prioridade do registo – o direito registado em primeiro lugar prevalece sobre
os outros.
Se C registar primeiro é o proprietário, porque o direito de oponibilidade relativa mais
o artigo 6º do Cód.Reg. Pred. = aquisição tabular.
Quando A vende a B, que não regista, e depois vende a C, que regista, é uma aquisição
a non domino.
Artigo 7º C.Reg. Pred.: o direito existe, quem lá figura é o titular do direito: a isto
chama-se presunções do registo, porque presume-se que o nome que aparece no
registo é o detentor do direito.
Quem consultar no registo, quem confiar nas presunções do registo está de boa fé.
C nada adquiriu por força do contrato, por este ser nulo, mas é um 3ºde boa-fé,
adquiriu então um direito de oponibilidade relativa, porque confiou nas presunções do
registo, porque A continuava lá a figurar.
CCV 874º
A B
Automóvel 205º
879º a)b)c)+408º, nº1
A B
NR
Ccv 874º
Bem móvel 205º
Como B não registou, A fez uma segunda venda sobre o mesmo que tinha feito a B. A
vendeu o carro a C.
Este negócio é nulo. Trata-se de uma venda de coisa alheia. A já não detinha o direito
de propriedade sobre o carro.
C é um terceiro para efeitos de registo predial – é uma situação triangular.
Nas situações triangulares, o 1º proprietário (A) vende ao 2º (B) e ao 3º (C). Nestes
casos aplicam-se as leis dos registos.
Artigo 7º cod reg pred: o direito existe, quem lá figura é que é o titular do direito: a
isto chama-se presunções do registo, porque presume-se que o nome quem aparece
no registo é o detentor do direito.
Quem consultar o registo, quem confiar nas presunções do registo está a agir de boa-
fé.
C nada adquiriu por força do contrato, por este ser nulo, mas é um 3º de boa-fé,
adquiriu então um direito de oponibilidade relativa, porque confiou nas presunções do
registo – A figurava no registo.
A B
Por doação 940ºCC, 947º,
nº1, (efeitos) 954º + 408º,
nº1
C
956º, nº1: a doação de coisa alheia é nula
C tem direito de oponibilidade relativa, está de boa-fé, confiou nas presunções do
registo art 7º e art 5º nº1 e nº4 Cod Reg Pred
Direito de oponibilidade relativa + artigo 6º = direito de propriedade = aquisição
tabular
O cod reg pred não estabelece como presusposto de aquisição que o terceiro tenha
adquirido a título oneroso.
Prescrição 298º, nº1, 300º a 327º: quando decorre o prazo prescricional, o direito
subjectivo enfraquece, deixa de ser um direito de exigir para passar a ser ua direito de
pretender. Uma obrigação civil que se transforma numa obrigação natural 304º nº1 e
2.
Em regra, a prescrição aplica-se aos direitos de crédito (relativos) e não aos direitos
reais.
Tem de ser invocada obrigatoriamente pelo seu beneficiário, não opera
automaticamente 303º
Quando o prazo suspende, ele pára de correr, mas o que já passou conta na mesma.
Quando o prazo for interrompido, o prazo tem de voltar a contar desde o início 323º.
Não-uso 298º, nº3: nos direitos potestativos não há prescrição, mas podem extinguir-
se pelo não-uso. Não caducam, mas aplicam-se as regras da caducidade por remissão
legal.
1476, nº1c) direito de usufruto 20 anos
1536º nº1 a) direito de superfície 10 anos
1569º, nº1 b) servidões 20 anos
1305º direito d epropriedade: não tem prazo, não prescreve, nem caduca, nem
extingue pelo não-uso. Excepção: usucapião 1287ºss
AULA TEORICO-PRÁTICA 8
2011-11-21
Sumário: A aquisição e transmissão de direitos subjectivos. O princípio do «nemo plus
iuris...» e suas excepções.
A invalidade: o confronto entre o regime da nulidade e o da anulabilidade.
A protecção de direitos de terceiros de boa-fé conferida pelo art. 291.º do Código Civil.
Diz que não podemos transmitir um direito que não temos, nem mais forte do que o
que temos.
3 excepções:
Aquisição a non
1 – Protecção do 3º de boa-fé pelo 291º quando há nulidade do negócio domino
A B
Ccv 874º
Forma 875º
Efeitos 879º a) reais b)c) obrigacionais
Negócio anulável: o negócio vai produzir os efeitos a título provisório, porque estão
sujeitos a uma acção de anulação que intentada vai destruir os efeitos
retractivamente.
A B
Contrato sob coação moral 255ºCC
Quem é o proprietário? O contrato foi celebrado, produziram-se todos os efeitos do
artigo 879ºCC e do artigo 408, nº1 – o proprietário é B a título provisório.
A intenta acção de anulação – os efeitos do contrato destroem-se retroactivamente,
como se o contrato nunca tivesse existido.
Artigo 289º efeitos da acção de anulação: efeitos restitutivos, quanto às prestações
“cada um a seu dono”; efeitos retroactivos.
A sentença de acção de anulação é uma sentença constitutiva porque altera a
realidade jurídica.
A sentença que declara a nulidade tem eficácia restitutiva, das prestações materiais
que se possam ter produzido, que foram indevidamente feitas. Altera a realidade de
facto.
Artigo 286ºCC
negócio. 288º tem efeitos retroactivos – tudo se passa como se ab inicio o negócio
válido.
- Convalidação objectiva – decurso do tempo: passa o prazo de um ano, o direito
potestativo de anular o negócio caduca.
Caso prático 17
I
a) A B C
Ccv 874º documento Escritura pública
particular
O proprietário é B.
A – C venda de coisa alheia 892º nulo
A B C
Coação moral
Ccv 874º
A B
Anulável pelo 255º e 288º: todos os efeitos se
produzem provisoriamente. B é o proprietário a título
provisório
AULA TEÓRICA 11
2011-11-28
Sumário: IV. Do exercício e da tutela dos direitos (referência sumária)
1.O recurso à força própria: ação direta; legítima defesa e estado de necessidade
C. O direito subjetivo, objeto imediato da relação jurídica
I. Os interesses privados e a sua proteção; as funções do direito subjetivo
[pp. 216 a 228]
334º, 335º e 340º: exercício dos direitos e dos limites a este exercício. Limites legais e
limites consensuais.
336º a 339º: tutela dos direitos com recurso à força própria.
A regra não é o recurso à força própria. A regra é o recurso aos tribunais, isto porque é
o Estado que detém o monopólio de defesa dos particulares.
Exemplo: uma pessoa viu um direito violado. Essa pessoa intenta uma acção em
tribunal contra a pessoa que violou o seu direito, para ver ser declarada que tem
razão. Esta é a primeira acção.
A segunda acção – executiva: penhorar os bens da outra parte para pagar os direitos
da parte com direitos violados.
Para as pessoas que não tenham meios económicos, para o fazer, existe um DL que
estabelece o acesso aos tribunais para quem não tem capacidade económica.
Património judiciário para o advogado.
Apoio judiciário para os custos.
Em situações excepcionais, o código civil permite aos particulares o recurso à força
própria para garantirem os seus direitos.
- Acção directa
- Legítima defesa
- Estado de necessidade
I caso: beatriz passeava na rua quando viu dentro de uma carro a sua carteira, que lhe
fora furtada acerca de meia hora atrás. Receando que o condutor aparecesse e fosse
embora enquanto chamava a polícia, partiu o vidro do carro e apropriou-se da sua
carteira.
O dono do carro pretende ser ressarcido dos danos. Quid iuris?
III caso: césar saiu do cinema à noite, quando se apercebeu que o casal que seguia à
frente discutia a viva voz. A dada altura, o homem, que estava embriagado, começou a
agredir violentamente a mulher.
César interveio de imediato, mas só conseguiu para o agressor depois de o esmurrar
com violência.
Quem age em legítima defesa (337º) ou em acção directa (336º) não tem que
indemnizar.
Se os seus pressupostos estiverem preenchidos, a lei não prevê indemnização.
Contra a pessoa
Agressão Contra o património
Contra terceiro ou património de
terceiro
César agiu em legítima defesa de terceiro e houve proporcionalidade.
Pontos comuns
Diferenças
DIREITOS SUBJECTIVOS
Direito subjectivo
Direito Subjectivo
Públicos
Interesses legalmente protegidos
particulares
Interesses particulares
Expectativas jurídicas
≠
o Meros reflexos
o Meras expectatias
Interesse legalmente protegido: para que o direito não seja anti dinâmico. A lei não
protege unicamente direitos subjectivos. Há também situações em que protege o
interesse. 483, nº1CC
Tratam-se de leis que visam directamente a protecção de interesses da comunidade, e
também interesses particulares sem que estes sejam tutelados por direitos
subjectivos. Neste caso, nenhum particular possuiu a faculdade de poder exigir que os
outros cumpram determinada lei (exemplo: vacinação). Mas se do seu incumprimento
resultar um prejuízo para um particular, o infractor da lei terá de indemnizar.
A este contexto também pertencem as normas que protegem apenas interesses
particulares, mas não chegam a atribuir um direito subjectivo, para não ferirem um
outro interesse particular mais qualificado. 1391ºCC
Expectativas: não são protegidas por lei. Excepção art. 81º, nº2; 242º, nº2CC
≠
Expectativa jurídica ou direito em expectativa: posição do comprador de uma
coisa vendida sob reserva de propriedade (arts 409º e 934º) ou a situação do
fideicomissário de uma herança (art 2286ºss). Aqui já começou um pouco do
processo aquisitivo, acautelado por lei, com a atribuição de direitos subjectivos
à semelhança do que sucede em casos de aquisição de direitos sob condição
suspensiva (272º a 274º). Quando se verificarem os pressupostos legais, o
direito em expectativa concretiza-se na aquisição plena do direito subjectivo.
Os direitos subjectivos traduzem-se num poder conferido ao seu titular, que determina
aquilo que o titular do direito pode exigir ou pretender de outrem, ou define os efeitos
que ele pode produzir na esfera deste. O titular do direito subjectivo enfrenta outros
sujeitos aos quais cabem as obrigações que correspondem precisamente ao direito do
titular.
Os poderes que os direitos subjectivos atribuem são muito diferentes.
Exemplos: 762º, nº2; 763º, nº2; 827º e 828º; 1305º; 1677º; 1795º, nº2; 1886º; 1896º;
2075º, nº1
Estes poderes ou faculdades determinam o conteúdo do respectivo direito subjectivo,
aquilo que compete ou pertence ao seu titular.
O conteúdo dos direitos subjectivos pode comportar também certos deveres, os
chamados “poderes-deveres”, onde para além do poder do titular existe também um
interesse de um outrem, por isso as autoridades públicas competentes intervêm
quando os titulares dos poderes-deveres não os exercem de maneira adequada.
Além do seu conteúdo, o direito subjectivo tem também um objecto, ou seja, coisas
em sentido jurídico sobre que recaem os seus poderes característicos.
Mas pode acontecer que o direito subjectivo não tenha um objecto. É o caso dos
direitos de personalidade, dos direitos familiares pessoais, dos direitos potestativos.
Mesmo que o direito não tenha objecto, há-de ter sempre conteúdo.
De forma semelhante, como o direito subjectivo incide sobre um objecto, está-lhe
subjacente um interesse que o justifica. O poder do direito subjectivo é o seu aspecto
estrutural.
O direito subjectivo também tem o seu lado funcional. Este aspecto funcional abrange
a protecção jurídica dos interesses do sujeito do direitoe, com isso, da sua liberdade
individual como ser auto-determinado.
A ordem jurídica confere o direito subjectivo tendo em conta o interesse do titular; o
interesse é uma razão em virtude da qual a lei atribui esse poder. Mas, uma coisa é o
direito subjectivo em si mesmo, outra coisa é o interesse para cuja protecção tal
direito foi concedido. O interesse constitui o móbil do direito subjectivo, mas não faz
parte dele. Não diz respeito à sua estrutura, apenas se refere à sua função. É uma
função do direito subjectivo proteger o interesse.
AULA PRÁTICA 9
2011/11/28
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior.
Resolução dos casos práticos n.º 17.º I/II e n.º 18.
Caso prático 17
I
a) Amâncio e Berto celebraram um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo
objecto mediato é um terreno, ou seja, bem imóvel, artigo 204º nº1 a) CC. Como tal é
necessário que o contrato se celebre respeitando a forma prevista, ou seja por
escritura pública ou documento particular autenticado, artigo 875ºCC.
Tal não foi respeitado, logo o negócio é nulo, por falta de preenchimento de forma
legal, artigo 220ºCC.
Sendo nulo, nenhum dos efeitos volitivo-finais do artigo 879ºCC se vai produzir, assim
sendo, a propriedade não sai da esfera de Amâncio.
b) Berto nunca possuiu o direito de propriedade sobre o terreno, logo nunca o podia
vender. Segundo o princípio nemo plus iuris, não se pode transmitir um direito que
não se tem.
Assim sendo, o contrato de compra e venda sobre o terreno, realizado entre Berto e
Carlos é uma venda de coisa alheia, e por isso nulo, artigo 892ºCC.
Assim, Carlos não adquire nenhum direito por força do contrato, porque Berto
também não tinha nenhum direito para lhe transmitir.
Contudo, Carlos estava de boa-fé, visto que estava na total ignorância do vício que
inquinava o negócio anterior, por isso, por força da lei, adquiriu um direito de
oponibilidade relativa, artigo 892º, 2ªparte.
Em janeiro de 2004, Amâncio intentou uma acção de declaração de nulidade, artigo
289ºCC, que tem efeitos restituivos, visto que se cumpriram obrigações, sendo assim
necessário restituir o terreno a Amâncio, e neste caso, como se verifica um efeito
lateral legal (direito de oponibilidade relativa), a acção de declaração terá também
efeitos retroactivos, o direito de propriedade volta retroactivamente a A.
Contudo, Carlos pode não ser atingido pela sentença de declaração de nulidade, caso
esteja protegido pelo artigo 291º, e para tal é necessário que os requisitos desse artigo
estejam todos preenchidos cumulativamente.
Tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se de um
terreno, logo bem imóvel]; têm de estar em causa direitos incompativeis entre si [A
tem o direito de propriedade e C o direito de oponibilidade relativa]; o direito tem de
ser adquirido a título oneroso [Carlos adquiriu o terreno através de um contrato de
compra e venda, que é um negócio oneroso]; direito adquirido por 3º de boa fé [como
já visto, Carlos estava de boa fé]; o registo do direito pelo terceiro tem de ser anterior
ao registo da acção, neste caso, de declaração de nulidade [Carlos registou o seu
II
a) A 7 de novembro de 2000, Amâncio celebrou com Berto um contrato de compra e
venda, artigo 874ºCC, cujo objecto mediato é um terreno, ou seja, bem imóvel, artigo
204º nº1 a), e por isso sujeito a registo, respeitando a forma legal, prevista no artigo
875º, nº1CC.
Este negócio foi celebrado sob coacção moral, 255º, sendo por isso anulável, artigo
256ºCC.
Sendo anulável, todos os efeitos volitivo-finais do artigo 879ºCC vão-se produzir
temporariamente, estando sujeitos a uma acção de anulação, art. 289ºCC. Assim, dá-
se a transmissão da propriedade por mero efeito do contrato [879º a) e 408 nº1]
(efeito real), A tem a obrigação de entregar a coisa [879º b)] e B tem a obrigação de
pagar o preço da coisa [879º c)] (efeitos obrigacionais).
Assim, Berto torna-se proprietário a título provisório.
Amâncio pode intentar uma acção de anulação, porque é a pessoa em quem a lei
estabelece interesse, apenas dentro de um ano, após a cessação do vício, artigo 287º.
A anulabilidade pode ser sanada através de três vias, convalidação subjectiva,
convalidação objectiva e anulação, artigo 288ºCC.
Esta acção tem efeitos retroactivos (o direito de propriedade volta retroactivamente a
A) e restitutivos (como se cumpriram obrigações, é necessário restituir a propriedade e
o dinheiro), tratando-se de uma sentença constitutiva, artigo 289ºCC.
O negócio foi celebrado em 2000,o vício cessando em Maio de 2005, Amâncio tinha
até Maio de 2006 para intentar a acção de anulação. Amâncio intentou a acção em
Dezembro de 2005, dentro do prazo estabelecido.
Assim, a propriedade volta a Amâncio como se nunca tivesse saído da sua esfera.
b) Em maio de 2001, Berto celebrou com Carlos um contrato de compra e venda, sobre
o mesmo terreno que tinha comprado a António. Entende-se que este negócio
respeitou a forma legal prevista no artigo 875ºCC, pois só assim Carlos poderia ter
registado o seu direito. Assim, o contrato é válido e todos os efeitos do artigo 879ºCC
se vão produzir.
Não obstante, segundo o princípio nemo plus iuris, Berto não pode transmitir mais
direitos do que aqueles que tem, assim, apenas transmitiu a Carlos um direito de
propriedade a título provisório.
Carlos é assim proprietário, a título provisório, do terreno, procedendo de imediato ao
registo do seu direito.
No entanto, Amâncio em Dezembro de 2005 pretende reaver o terreno. Com esta
acção, retroactivamente o negócio B-C que era válido torna-se numa venda de coisa
alheia e por isso nulo, extinguindo-se assim o direito contratual a título provisório de C.
Carlos, que desconhecia as irregularidades do negócio anterior, só não será afectado
pelos efeitos da acção de anulação, caso esteja protegido pelo artigo 291ºCC e para
tal, como já referido, é preciso que os seus requisitos estejam preenchidos
cumulativamente.
Tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se de um
terreno, ou seja, de um bem imóvel]; têm de estar em causa direitos incompatíveis
entre si [A tem o direito de propriedade e C o direito de oponibilidade relativa]; tem de
ser um direito adquirido a título oneroso [Carlos adquiriu o bem através de um
contrato de compra e venda, que é um negócio oneroso]; direito adquirido por
terceiro de boa fé [como já visto, Carlos estava de boa fé 291º, nº3]; o registo de
aquisição do terceiro tem de ser anterior ao registo da acção, nesse caso, de anulação
[Carlos registou o seu direito em 2004 e Amâncio a acção em 2005]; têm que ter
decorrido 3 anos desde a realização do primeiro negócio [o primeiro negócio foi
realizado em 2000 e Amâncio só em 2005 veio exigir a restituição do terreno, 5 anos
após a realização do negócio, 291º, nº2CC]
Com todos os requisitos preenchidos, Carlos torna-se o proprietário do terreno. Trata-
se de uma aquisição derivada a domino.
c) Se se tratasse de doação, artigo 940ºCC, Carlos não estaria protegido pelo artigo
291ºCC, visto que a doação não é um negócio oneroso, e para alguém ser protegido
pelo 291º todos os requisitos têm de estar cumulativamente preenchidos, e no caso da
doação, o terceiro requisito não se preencheria.
Assim, o direito de propriedade voltaria para a esfera de Amâncio, cumprindo-se todos
os efeitos da acção de anulação.
Caso prático 18
AULA TEÓRIA 12
2011/12/05
Sumário: II. Os vários direitos subjectivos e os critérios de classificação
1. Os direitos absolutos
a) Os direitos reais como direitos de domínio e/ou de exclusão
2. Os direitos relativos
a) Os direitos obrigacionais como direitos a uma prestação
b) O conflito de prioridade entre direitos obrigacionais em geral
c) O conflito de prioridade entre direitos pessoais de gozo (artigo 407.º)
3. Os direitos potestativos
a) As características dos direitos potestativos e suas modalidades
b) O exercício dos direitos potestativos
c) Direitos potestativos v.s. direitos oponíveis
4. Os direitos familiares pessoais
a) Referência aos direitos familiares patrimoniais
b) A estrutura complexa dos dir. familiares pessoais.
[textos policopiados; pp. 228 a 257]
No século XIX era preponderante a ideia de que o direito subjectivo servia para criar
um espaço de liberdade para prosseguir os seus interesses como quisesse. Mais, neste
século foi considerada tarefa principal do direito privado respeitar este mesmo
indivíduo como personalidade autónoma ao garantir juridicamente o seu livre
desenvolvimento dentro da sociedade. Assim colocou-se o indivíduo no topo do
sistema jurídico-privado, atribuindo-lhe os direitos subjectivos como “espaço de
liberdade”.
O direito subjectivo era, tal como a liberdade contratual, um meio destinado à
autodeterminação do indivíduo livre.
Deste modo, o conceito de direito subjectivo formava o conceito central do direito
privado, e a ordem jurídica, o direito objectivo, apenas servia para atribuir aos
particulares direitos subjectivos.
Estes conceitos foram evoluindo e o entendimento individual do direito subjectivo,
como direito do homem isolado, foi caindo no oposto com a crescente socialização do
direito privado. Na verdade, tende a considerar estes direitos isoladamente, sem
atender em pormenor aos contextos sociais nos quais estão inseridos – Função Social.
Hoje entendemos que o direito subjectivo (meio para prosseguir os interesses dos
particulares) tem que estar vinculado socialmente. O seu poder não é ilimitado.
O conteúdo de um direito subjectivo determina-se de acordo com os poderes ou as
faculdades que os integra, sendo evidente que àqueles poderes ou faculdades falta a
autonomia, uma vez que se limitam precisamente à definição do conteúdo do direito.
É por isso necessário distinguir faculdades, poderes e legitimidades.
Exemplo: artigo 405º Princípio Liberdade Contratual – confere no seu número 1 a
“faculdade” de celebrar contratos, e no seu número 2 o “poder” de reunir nele as
regras pretendidas – a faculdade deriva da liberdade geral de agir que cada um de nós
a) Bem jurídico que lhes subjaz (direito que protegem) ou o objecto em que
incidem: direitos familiares, direitos de personalidade, etc
b) Poderes ou as faculdades que eles concedem, ou seja, em função do conteúdo:
direitos de crédito, direitos potestativos, direitos de domínio, etc.
c) Alcance da sua oponibilidade ou dos efeitos em relação a terceiros: direitos
absolutos ou direitos relativos
d) Facto jurídico que está na sua origem: direitos originários (“ex novo” na pessoa
do seu titular) ou direitos derivados (derivam de outros direitos subjectivos)
e) Mobilidade do direito subjectivo ou a sua ligação ao titular: transmissiveis
(podem passar de um titular para outro – patrimoniais) ou intransmissiveis
(direitos familiares pessoais)
1 - Direitos reais
Todos os direitos reais têm uma caracterítica comum, a exclusividade. São direitos de
exclusão na medida em que afastam todos os terceiros. Não pode haver dois ou mais
direitos reais com o mesmo conteúdo sobre o mesmo objecto a favor de pessoas
diferentes.
No entanto, pode haver direitos reais com conteúdos diferentes sobre o mesmo
objecto, como pode haver também direitos reais e direitos obrigacionais sobre o
mesmo objecto.
Exemplo: direito de propriedade e a hipoteca; arrendamento
O caracter de exclusividade dos direitos reais tem expressão legal. Assim determina o
artigo 892º, é nula a venda de coisa alheia, pois é impossivel haver dois proprietários,
com plena propriedade quanto à mesma coisa.
Os direitos sobre bens imateriais não são direitos de propriedade em sentido próprio,
visto não incidirem sobre coisas corpóreas.
Para as coisas incorpóreas há regimes especiais. Este regime especial encontra-se nas
disposições do Código de Direito de Autor e no Código de Propriedade Industrial.
2 – Direitos obrigacionais
Os direitos obrigacionais são direitos relativos, produzem efeitos “inter partes” e são
oponíveis apenas entre determinadas pessoas. Não conferem um poder de domínio,
mas um direito a uma prestação, a um comportamento activo ou passivo.
A obrigação pode resultar de um contrato, de um comportamento unilateral e da
própria lei.
Os direitos obrigacionais são direitos de crédito.
Enquanto os direitos reais, como direitos absolutos, são oponíveis a todos os terceiros,
correspondendo-lhes uma obrigação passiva universal de os respeitar, os direitos
obrigacionais, como direitos relativos, não o são. São apenas oponíveis dentro de
determinada relação jurídica entre determinadas pessoas. Só estas têm a possibilidade
de os violar e sobretudo o direito de os invocar.
Artigo 397º noção de obrigação: distingue-se radicalmente da noção de propriedade,
1302º
Os direitos obrigacionais, como direitos de crédito, existem em vista a um fim. O seu
cumprimento, à realização de uma prestação. Se o devedor cumprir a obrigação
- direitos de crédito
- direitos de prestação
Direitos obrigacionais
- de curta duração
- extinguem-se quando acaba a prestação
Dentro dos direitos obrigacionais existem os direitos pessoais de gozo, que transferem
a posse sobre a coisa. É o caso típico do arrendamento ou do aluguer.
É diferente do usufruto, por exemplo, porque no usufruto não se paga, aqui existe uma
prestação.
São todos válidos! Porque no caso dos direitos obrigacionais não há o princípio da
exclusividade.
Aqui apenas se incorre em responsabilidade contratual.
A B
3 – Direitos Potestativos
Notas finais: os direitos potestativos existem quando existe uma relação jurídica
prévia ou um direito subjectivo propriamente dito, isto é a regra.
Excepcionalmente, nascem direitos potestativos sem existir um direito subjectivo
propriamente dito – ocupação, 1308ºCC.
São direito reais ou obrigacionais, subordinados a uma relação jurídica familiar que faz
com que tenham um tratamento jurídico específico.
Artigos 1678ºss: administração, alienação ou oneração dos bens conjugais
Artigos 1888ºss: administração dos bens pertencentes aos filhos menores
Artigos 1690ºss: regime respeitante às dívidas dos cônjuges e os bens que por eles
respondem
Artigo 1687ºss: ilegitimidades conjugais.
Os direitos familiares patrimoniais apresentam certas particularidades que não
afectam a sua natureza de direitos reais obrigacionais.
Em tempos foram concebidos como direitos sobre outras pessoas, sendo elas o
objecto daqueles direitos.
Hoje, ninguém se torna por meio de relações jurídicas familiares num objecto de
direito, dominado por outrem.
Aos direitos familiares pessoais corresponde um dado estado familiar e, em relação a
terceiros, possuem carácter de exclusividade, sendo neste sentido direitos absolutos
(artigo 1601ºCC, ninguém pode casar-se sem ter dissolvido o casamento anterior).
Nas relações internas, porém, apresentam-se de maneira diferente, como direitos
obrigacionais de carácter duradouro, ou seja, como direito relativos.
Nestas relações internas, os direitos familiares pessoais oferecem-nos também
características de direitos potestativos na sua configuração de poderes de direcção
(relação filial 1878º, nº1).
Os direitos familiares pessoais assumem uma estrutura complexa, não são, nem
podem ser só captados do ponto de vista jurídico.
Para além da sua estrutura complexa, os direitos familiares pessoas possuem natureza
específica no que respeita ao seu conteúdo. Não consiste apenas em poderes e
faculdade, comporta também dever. São autênticos poderes-deveres.
Teoria da fragilidade da garantia: uma violação dos direitos familiares pessoais não
acarreta para o infractor a obrigação de indemnizar o lesado.
No entanto, a lei do divórcio de 2008 veio permitir o contrário, afastando esta teoria.
AULA PRÁTICA 10
2011/12/05
Sumário: A protecção de terceiros adquirentes de boa fé através das regras do
registo. A função do registo. Factos sujeitos a registo. Terceiros para efeitos de registo.
Princípio da prevalência do direito registado em primeiro lugar.
Resolução do caso prático n.º 19 I/II e do caso prático n.º 20.
Caso prático 19
I
a) A celebrou com B um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo objecto
mediato é um terreno, ou seja, bem imóvel, artigo 204 nº1 a) CC, e por isso sujeito a
registo, nos termos do artigo 2º nº1 a) Código Registo Predial.
Entende-se que fora respeitada a forma legal de celebração, artigo 875ºCC, apesar de
o enunciado nada referir.
Assim sendo o contrato é válido, e sendo válido todos os efeitos volitivo-finais do
artigo 879ºCC se vão produzir, dá-se a transferência da propriedade por mero efeito
do contrato [artigo 879º a) e 408º nº1CC] (efeito real), A tem a obrigação de entregar a
coisa [879º b)] e B tem a obrigação de pagar o preço [879º c)] (efeitos obrigacionais).
Assim, B passa a ser o proprietário do terreno, através de uma aquisição derivada a
domino.
Apesar de B não ter registado o seu direito, isso não implica que ele não o tenha
adquirido, visto que o registo serve apenas para efeitos de publicidade, artigo 1º Cód.
Reg. Pred.
Entretanto A celebrou com C um contrato de compra e venda 874ºCC, cujo objecto
mediato é o terreno que tinha vendido anteriormente a B. negócio este que respeitou
a forma legal de celebração. Contudo, trata-se de uma venda de coisa alheia, e por isso
nula, artigo 892ºCC, já que A já não tinha o direito de propriedade para o transmitir,
violando-se assim o princípio nemo plus iuris, pois não se pode transmitir um direito
que não se tem. Sendo o negócio nulo, nenhum dos efeitos volitivo-finais do artigo
879º se vão produzir.
Deste modo, C nada adquire por força do contrato.
Contudo C estava de boa fé, pois nada nos diz que tinha conhecimento da venda
anterior, adquirindo desse modo, por força da lei, um direito de oponibilidade relativa,
artigo 892º, 2ªparteCC.
Para além disso, C confiou nas presunções do registo, artigo 7ºCód Reg Pred, já que era
A quem figurava como proprietário, assim estava de boa fé, sendo considerado 3º para
efeitos de registo, juntamente com B (artigo 5º nº4 Cód Reg Pred).
Uma vez que B e C são terceiros para efeitos de registo [artigo 5º nº1 e nº4 C. reg
Pred), segundo o artigo 6º Cód Reg Pred, prevalece o direito inscrito em primeiro
lugar, como B não procedeu sequer ao registo, C passa a deter o direito de
propriedade sobre o terreno. Trata-se aqui de uma aquisição tabular, já que o direito
de oponibilidade relativa de C e o artigo 6º Cód Reg Pred, deram origem ao direito de
propriedade.
Como não podem existir dois direitos absolutos, com o mesmo conteúdo, a favor de
diferentes titulares, o direito contratual de B extingue-se, tratando-se assim de uma
sanção por B não ter cumprido o ónus de registar a sua aquisição.
O proprietário é C.
B não pode exigir a restituição do terreno.
b) Se C soubesse que o terreno já havia sido vendido a B, não estaria de boa fé, por
isso não seria considerado 3º de boa fé nem 3º para efeitos de registo, porque
conhecia a desconformidade entre a realidade de facto e a realidade jurídica.
Assim sendo, não tendo adquirido direito nenhum, o simples facto de ter registado a
aquisição não sana nulidades nem lhe atribuía qualquer direito.
Logo, o proprietário, nesta situação, é B, e por isso tem o direito de exigir a restituição
do terreno a C.
II
A celebrou com B um contrato de compra e venda, artigo 874ºCC, cujo objecto
mediato é um terreno, ou seja bem imóvel, artigo 204º nº1 a), e por isso sujeito a
registo, artigo 2º nº1 a) Cód Reg Pred.
Este contrato respeitou a forma legal, artigo 875ºCC, tendo sido realizado por escritura
pública.
Não padecendo de nenhum vício, este contrato é válido. Assim sendo, todos os efeitos
volitivo-finais do artigo 879ºCC se vão produzir. Dá-se a transferência da propriedade
por mero efeito do contrato [artigo 879º a) e 408º nº1 CC] (efeito real), A tem a
obrigação de entregar a coisa [879º b)] e B tem a obrigação de pagar o preço [879º c)].
Assim, através de uma aquisição derivada a domino, o titular da propriedade passa a
ser B.
B é o legítimo proprietário da propriedade, apesar de não ter registado.
C, confiando no que constava no registo, artigo 7º Cód Reg Pred, penhorou o terreno,
entendendo que este ainda pertencia a A.
No entanto, A já não era o proprietário e por isso B pode reagir contra a penhora.
AULA TEÓRICA 13
2011/12/12
Sumário: 6. Os direitos de personalidade
a) Considerações gerais; colocação sistemática; as soluções da lei (artigos 70.º/71.º,
81.º ? 72.º - 80.º)
b) O direito de personalidade geral v.s. os vários direitos especiais
c) Os meios de defesa contra a ilicitude: sempre as providências adequadas
d) Se forem preenchidos os requisitos (culpa): ainda responsabilidade civil
e) A defesa dos direitos de personalidade post mortem; a legitimidade
f) Os vários direitos de personalidade especiais em pormenor
aa) O direito ao uso do nome (segundo as regras do registo civil)
bb) O sigilo da correspondência: direito do autor v.s. direito do destinatário
cc) O direito à imagem e à intimidade da vida privada
g) A limitação voluntária dos direitos de personalidade
aa) O consentimento em geral (artigo 340.º: expresso, tácito, presumido)
bb) Ilicitude (art. 340.º, n.º2) e nulidade do consentimento (art. 81.º, n.º1)
cc) A auto-realização em colaboração com outrem
[texto polic.; pp. 257 a 271]
5 – Direitos de Personalidade
Este direito geral de personalidade do artigo 70º, nº1, que visa a realização da
autodeterminação e defende contra intervenções ou limitações injustificadas, abrange
todos os casos dos direitos de personalidade que não são especificamente protegidos
pelos artigos 72º a 80º.
Direito à vida
Direito à integridade física
Direito ao repouso
Direito à saúde
Direito à tranquilidade
Direito à integridade psíquica e moral
Providências adequadas
Quando se trata de utilizar o seu próprio nome e ver-se impedido intenta-se uma
acção de reclamação.
Parecido com o nome é o pseudónimo. O artigo 74ºCC, desde que tenha notoriedade,
confere-lhe protecção idêntica à do nome. O pseudónimo é um nome fictício que foi
livremente escolhido por uma pessoa, ou para disfarçar a sua personalidade ou para
identificar a sua personalidade num sector determinado da sua actividade.
Regra geral da colisão de direitos, 335ºCC. O artigo 72º protege o mero uso do nome,
ao contrário do artigo 484ºCC que protege o crédito e o bom nome contra
procedimentos lesivos e prejudiciais. O artigo 484º é simultaneamente aplicável com o
72º se a ofensa de crédito ou bom nome resulta do uso ilícito e culposo deste mesmo
nome.
O nome tem também funções sociais e jurídicas, porque ao Estado interessa identificar
os cidadãos (cobrança de impostos).
Nos arts 75º a 78º a lei dedica-se ao direito à palavra escrita, ou seja, às cartas
missivas.
Há dois tipos de cartas missivas: as confidenciais e as não confidenciais.
Nas cartas missivas existe um conflito entre o direito de propriedade do destinatário e
o direito de autor da carta.
Nas cartas missivas confidenciais prevalece o direito de autor, 75ºCC.
Nas cartas missivas não-confidenciais prevalece o direito de propriedade, 78ºCC.
77º - 76º
Quanto ao direito à imagem, regulado no artigo 79º, vale o princípio que o retrato de
uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o
consentimento dela.
As situações em que alguém está a agir por risco próprio não são abrangidas pela
figura do consentimento.
O consentimento pode ser prestado de forma unilateral ou por acordo, de maneira
expressa ou tácita e pode ser presumido.
No que diz respeito à limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade, o
artigo 81º, nº1 determina que ela é sempre nula quando for contrária aos princípios da
ordem pública, não basta assim para esta sanção imediata uma violação dos bons
costumes, muito embora também esta possa ser um fundamento da nulidade.
Para ser válido, o consentimento que implica a limitação voluntária, além de legal,
deve ser consciente, isto é, resultante de uma vontade esclarecida, devidamente
ponderado e concreto, tendo efectivamente em vista situações determinadas. Será
prestado de maneira expressa e não pode ser deduzido de um comportamento
anterior observado.
O consentimento à limitação voluntária nem sempre necessita de ser prestado de
maneira expressa, podendo ser dado também tacitamente.
O consentimento na lesão não exige capacidade negocial. Por isso, também os
menores podem consentir numa limitação voluntária ao exercício dos seus direitos de
personalidade quando possuírem uma capacidade natural suficiente para entender
plenamente o significado do seu acto, artigo 1878, nº2.
Em qualquer caso toda a limitação voluntária ao exercício dos direitos de
personalidade é sempre livremente revogável, embora desta revogação possa nascer
uma obrigação de indemnizar os eventuais prejuízos causados às legítimas
expectativas da outra parte, artigo 81º, nº2.
AULA PRÁTICA 11
2001/12/12
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior.
Direitos pessoais de gozo - aplicação do art. 407.º e das regras do registo.
Resolução do caso prático n.º 21.
b) Cessando a coacção moral, António tem um ano para intentar uma acção de
anulação, artigo 287ºCC.
A sentença da acção de anulação vai ter efeitos retroactivos, o direito de
propriedade volta retroactivamente a A, e como exisitiram obrigações, vai ter
também efeitos restitutivos, artigo 289ºCC.
Estes efeitos apenas não se vão aplicar a D caso este esteja protegido pelo
artigo 291ºCC. Para tal é necessário que os seus requisitos estejam
preenchidos.
(1º requisito) Tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo
[o bem em causa é uma vivenda, logo bem imóvel]; direitos incompatíveis
entre si [A tem o direito de propriedade e D o direito de oponibilidade relativa];
tem de ser um direito adquirido a título oneroso [D adquiriu a vivenda através
de um contrato de compra e venda, que é um negócio oneroso]; tem de ser um
direito adquirido por um terceiro de boa fé [D conhecia a invalidade do negócio
entre A e B, por isso, nesta situação ele não estava de boa fé, logo este
requisito não está preenchido]; o registo de aquisição do direito tem de ser
anterior ao registo da acção, neste caso, de anulação [D registou o seu direito
logo após o ter adquirido, A só depois veio exigir a vivenda]; decorrido três
anos desde a celebração do primeiro negócio [não existe informação suficiente.
No entanto como já existe um pressuposto que não foi preenchido, o
preenchimento deste último já não faria diferença, porque os pressupostos
têm de ser todos preenchidos cumulativamente].
Assim, D não fica protegido pelo artigo 291ºCC, pois um pressuposto não foi
preenchido. Consequentemente, D vai ser atingido pelos efeitos da sentença da
acção de anulação.
A propriedade volta assim A, como se nunca tivesse saído da sua esfera.
Caso prático 21
Em abril de 2010, Bento realizou um contrato de locação, art. 1022ºCC, e como é sobre
um bem imóvel, trata-se de um arrendamento, art. 1023ºCC, com Carlos para o mês
de Agosto. Como apenas se arrendou a moradia por um mês, existe liberdade de
forma, 219ºCC quanto à celebração do contrato e não é necessário o registo do
arrendamento.
Mais tarde, Berto tornou a arrendar a moradia a Dário, para o mesmo período de
tempo que tinha arrendado a Carlos.
Estão em causa direitos pessoais de gozo. Ambos os negócios são válidos, mas não se
podem cumprir os dois contratos, assim os direitos de C e D são incompativeis. Nestes
casos, segundo o artigo 407ºCC, prevalece o direito mais antigo, assim prevalece o
direito de C.
Durante o mês de agosto, o direito de gozo da propriedade pertence a Carlos.
c) Em abril de 2010, Bento celebrou com Carlos um contrato de compra e venda, artigo
874ºCC, cujo objecto mediato é uma moradia, ou seja, bem imóvel, art. 204º nº1 a) CC,
e por isso, sujeito a registo, art. 2º nº1 a) Cód Reg Pred.
Este contrato respeitou a forma legal de celebração prevista no artigo 875º nº1CC,
sendo assim válido.
No entanto, segundo o princípio nemo plus iuris, Berto não pode transmitir mais
direitos do que aqueles que tem, por isso C só vai adquirir a propriedade a título
provisório.
Sendo válido, vão-se produzir todos os efeitos volitivo-finais do artigo 879º, dá-se a
transmissão da propriedade por mero efeito do contrato [artigo 879º a) e 408º nº1 CC]
(efeito real), Bento tem a obrigação de entregar a coisa [879º b)] e Carlos tem a
obrigação de pagar o preço da coisa [879º c)] (efeitos obrigacionais).
Carlos não registou o seu direito, o que não interfere com a sua aquisição, pois o
Registo serve apenas para efeitos de publicidade, art. 1º Cód. Reg. Pred., no entanto, o
direito vai ter efeitos inter partes, vai ser apenas oponível a terceiros para efeitos de
registo (art. 4º nº1 e 5º nº1 e nº2 Cód Reg Pred).
Deste modo, o proprietário, a título provisório, é Carlos.
Contudo, após a venda da moradia a Carlos, Bento celebrou com Dário um contrato de
compra e venda, cujo objecto mediato é a moradia que vendera a Carlos. Assim, trata-
se de uma venda de coisa alheia, e por isso mesmo, nula, nos termos do artigo 892ºCC.
Assim, Dário, nada adquire por força do contrato, porque Bento já não tinha o direito
de propriedade para o transmitir. Também nada adquire por força da lei, porque não
estava de boa-fé, já que conhecia o negócio B-C. Mesmo assim Dário registou, mas o
registo não sana nulidades.
Assim, o proprietário da moradia é Carlos.
A coacção moral, sob que foi realizado o primeiro negócio, cessou em Dezembro de
2010, tendo António a legitimidade para, no prazo de um ano após a cessação do vício,
intentar uma acção de anulação, artigo 287º CC.
Esta acção de anulação terá efeitos retroactivos (o direito de propriedade volta
retroactivamente a A) e efeitos restitutivos (cumpriram-se obrigações, logo é
necessário restituir, o bem tem de ser restituído a A), artigo 289ºCC. Assim,
retroactivamente, a venda B-C, que era válida, torna-se nula, ficando extinto o direito
contratual provisoriamente adquirido por C.
C, só não será atingido pelos efeitos da sentença, caso esteja protegido pelo artigo
291º CC e para tal é necessário que os requisitos deste artigo estejam preenchidos:
estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a registo [trata-se de uma moradia,
logo bem imóvel]; têm que estar em causa direitos incompatíveis entre si [A tem o
direito de propriedade e C o direito de oponibilidade relativa]; o direito tem que ser
adquirido a título oneroso [Carlos adquiriu a moradia através de um contrato de
compra e venda, que é um negócio oneroso]; o direito tem que ser adquirido por 3º de
2º SEMESTRE
AULA TEÓRICA 14
2012-02-20
Sumário: III. A ligação dos dir. subj. ao seu titular: cindível / incindível; aquis. origin.
v.s. derivada (translativa, constitutiva, restitutiva) » transm. singular [(entre vivos) »
“nemo plus iuris” » excepções (art. 291.º v.s. registo)] v.s. sucessão universal (mortis
causa)
IV. O abuso do direito subjectivo » distinguir: as vinculações imanentes (intrínsecas) e
as vinculações sociais (extrínsecas) dos direitos subjectivos
a) A colisão de direitos (art. 335.º: exercício lícito) v.s. abuso do direito (art. 334º:
exercício ilegítimo) »
aa) o abuso institucional (contraria o fim económico ou social do direito) v.s.
bb) o abuso individual (contraria a boa fé ou os bons costumes » caso principal: venire
contra factum proprium)
b) O art. 334.º como norma indemnizatória?
art. 483.º CCiv = § 823 I e II BGB; [art. 334.º CCiv = § 226 BGB (proíbe a chicana)]; art.
334.º CCiv = § 826 BGB (causação dolosa do dano contra os bons costumes) ?? – Há
lacuna na lei; assim: aplicação do art. 10.º CCiv
Cíndivel renunciável
alienável
Transmissivel
Hereditável
Titularidade
Inalienável
Intransmissivel
Incíndivel Inhereditável
Irrenunciável
Ligação é diferente de acto de ligação. Ligação tem a ver com titularidade e acto de
ligação tem a ver com aquisição.
O acto de ligação do direito ao seu sujeito, ao titular do direito, chama-se aquisição. A
aquisição coincide muitas vezes com a constituição do direito, ou seja, com o
momento em que o direito surge de novo. Mas a aquisição pode dar-se, e assim
acontece inúmeras vezes, sem que surja simultaneamente um direito novo, isto é, sem
que haja a constituição de um direito. Aqui, o direito já constituído e existente é
transmitido.
Portanto, correspondendo a constituição do direito ao seu nascimento, ela coincide
sempre com a aquisição simultânea do direito, uma vez que não existe direito sem
sujeito. Não pode haver constituição sem aquisição. Mas pode haver, isso sim,
aquisição sem constituição, facto esse que se verifica quando um direito já constituído
é transmitido, por se tratar de uma ligação cindível, de um titular para outro.
É necessário distinguir os vários tipos de aquisição.
A aquisição originária faz nascer o direito ex novo na pessoa do adquirente. Casos de
aquisição originária são a aquisição ao não titular (aquisição a non domino, art 892º
em ligação com o art 291º ou com as regras do registo; art 956º nº em ligação com as
regras do registo); a usucapião 1287ºss; a ocupação 1318ºss. A aquisição originária dá-
se independentemente da preexistência de um outro direito. Não há qualquer
transmissão. Em todos estes casos, o direito surge de novo: ou porque não havia um
direito anterior, ou porque o direito anterior é afastado pela aquisição originária.
Portanto, na aquisição originária o direito não se filia num direito anterior; há uma
coincidência entre a aquisição e a constituição do direito.
A aquisição derivada é, em comparação com a aquisição originária, a modalidade mais
relevante e processa-se por via de um respectivo acto de transmissão em virtude do
Sucessão
Ligado ao conceito está a figura de sucessão que pode ser uma sucessão singular ou
universal.
Sucessão significa subentrar numa relação jurídica anterior (ex: o herdeiro da sucessão
por morte). É o adquirente que sucede naquela relação anterior.
Distingue-se entre a sucessão entre vivos e a sucessão por morte.
A sucessão entre vivos é uma sucessão singular: o adquirente sucede, a título singular,
na titularidade do direito adquirido ou na posição jurídica do devedor quanto à dívida
assumida. A sucessão singular processa-se por meio de negócios jurídicos que
especificam devidamente o direito ou a obrigação.
A sucessão por morte é uma sucessão universal: o adquirente (herdeiro) sucede na
totalidade, ou numa parte alíquota, das relações jurídicas patrimoniais (património
global) da pessoa falecida, sucede portanto a título universal. A sucessão universal
apenas se verifica por ocasião da morte e pode resultar de um negócio jurídico ou de
disposição legal. Contudo, o legatário, embora suceda igualmente por morte, é
sucessor singular, visto ter sido contemplado com coisa especificada ou determinada.
Tanto a relação jurídica como o direito subjectivo traduzem poderes, postos nas mãos
de particulares que são os seus sujeitos ou titulares. Estes poderes individuais ou
privados correm o perigo de um exercício abusivo. A isto chama-se o instituto jurídico
abuso de direito.
Contudo, a ordem jurídica combate esta situação. A atribuição de um direito subjectivo
privado pelo direito objectivo é feita em função da liberdade e personalidade do seu
titular. Donde decorre que os direito subjectivos e o seu exercício não são garantidos
sem limites.
Na verdade, cada norma do direito visa atingir determinados objectivos ou valores em
função dos quais delimita os interesses dos particulares, atribuindo-lhes os respectivos
direitos subjectivos. Daí resultam limites de conteúdo quando se invoca uma norma
para fazer valer o respectivo direito subjectivo. As finalidades, valores subjacentes à
norma justificam mas também condicionam a invocação e o exercício de um
determinado direito subjectivo, por ela atribuído. Implica isto que os direitos
subjectivos são à partida vinculados.
A vinculação imanente aos direitos subjectivos privados pode revestir formas e
intensidades diferentes. Mas nunca pode ir ao ponto de contrariar a finalidade
normativa, porque isso ia significar um resultado contrário à ideia justificativa do
direito subjectivo. O que existe são apenas formas diferentes de vinculações dos vários
direitos subjectivos que, nesta medida, constituem todos eles, direitos de certo modo
vinculados. Os direitos subjectivos devem-se exercer por virtude da vontade autónoma
do seu titular e conforme a sua vinculação imanente, sem lesar os legítimos interesses
dos outros.
Uma coisa é vinculação, outra é funcionalização: o direito subjectivo constitui um
poder de vontade atribuído ao indivíduo. Fazer depender o direito de uma função
acabaria por substituí-lo pela própria função.
Além das vinculações imanentes que implicam limites de conteúdo, os direitos
subjectivos conhecem ainda vinculações sociais que resultam do facto de haver
também direitos subjectivos dos outros particulares ou da comunidade em geral.
Existe uma vinculação social de todos os direitos subjectivos. As vinculações sociais são
de direito privado ou de direito público, nem sempre sendo fácil as delimitações entre
elas.
Direito de propriedade, 1360ºss – questão de privacidade e respeito pela propriedade
alheia.
Art 335 nº1: limites exteriores de um direito legítimo encontram-se nos direitos dos
outros.
Art 335 nº2: prevalece o direito superior.
Art 334º: é com as 3 hipóteses presentes neste artigo que a lei procura obter um
controlo ou uma moderação do poder, fazendo com qie o exercício do direito
subjectivo por parte do seu titular se efectue dentro do quadro resultante do fim para
o qual foi atribuído.
Abuso de direito
Representa o controlo institucional da ordem jurídica quanto ao exercício dos direitos
subjectivos privados, garantindo a autenticidade das suas funções. Quem age em
abuso de direito invoca um poder que formalmente ou aparentemente lhe pertence,
embora não tenha fundamento material.
O art 334º parte em cada uma das suas três hipóteses de uma concepção objectiva.
Significa isto que o excesso cometido no exercício do direito tem que ser manifesto.
Por isso, não é necessária a consciência do abuso, é suficiente o excesso objectivo. Por
outro lado, este art não ignora considerações de ordem subjectiva. Estas
considerações têm relevância nos caos em que se excedem os limites impostos pela
boa fé ou pelos bons costumes, mas não no caso em que se vai para além do “fim
social ou económico” do direito, caso esse que representa a consagração de um
critério puramente objectivo. O art 334º é complementado pelo disposto no nº2 do art
340º, pois neste artigo transparece a ideia geral das vinculações dos direitos
subjectivos, pois fica expresso que ela é determinante não só quanto ao seu (ab)uso
positivo (ou activo) como igualmente negativo (ou passivo).
O abuso de direito apresenta-se sob duas formas básicas: abuso institucional e abuso
individual.
Abuso institucional: o direito subjectivo é invocado para fins que estão fora dos
objectivos ou funções para os quais ele foi atribuído pela norma. Contraria a ordem
pública ou contradiz os princípios fundamentais da ordem jurídica, económica ou
social. Deve ser apreciado oficiosamente pelo tribunal.
AULA PRÁTICA 12
2012-02-20
Sumário: Início do 2.º semestre.
1. A personalidade jurídica nas pessoas singulares
1.1. Significado.
1.2. Início e termo.
1.3. A concepção personalista presente no Código Civil.
1.4. Os efeitos prévios (referência ao estatuto jurídico dos nascituros) e os efeitos
tardios da personalidade jurídica.
2. Os direitos de personalidade
2.1. Os direitos de personalidade como direitos originários.
2.2. Caracterização dos direitos de personalidade.
2.3. Referência comparativa entre o artigo 359.º do Código de Seabra e os artigos 70.º
e 71.º do Código Civil de 1966.
Abordagem sumária da discussão legislativa na concepção da norma do artigo 70.º do
Código Civil de 1966.
2.4. Análise da estruturação sistemática: entre a tutela geral dos direitos de
personalidade e os direitos de personalidade especiais.
2.5. Estudo das normas dos artigos 70.º e 71.º e dos artigos 72.º a 80.º do Código Civil.
2.6. Características do consentimento previsto na norma do artigo 81.º do CC.
Comparação com o artigo 340.º do CC.
Uma referência ao consentimento informado no âmbito da responsabilidade médica.
Artigo 66º nº1 CC: nascimento completo e com vida » adquire património jurídico
valioso » direitos de personalidade, art. 70ºCC » o Código de Seabra não continha esta
norma.
Personalidade jurídica e moral (Código de Seabra): abrange as mais diversas
manifestações humanas. Ex: metro de Lisboa – obras à noite – direito ao descanso.
Tutela geral de personalidade – cláusula geral – jurisprudência anos 80, art. 70º, nº1
Norma art. 70º - a lei protege a ofensa e a ameaça de ofensa (ilícita). É uma norma
geral.
Quais as consequências da ofensa ou ameaça?
Dano – casum sentit dominus » responsabilidade civil » direitos de personalidade »
extracontratual 483ºCC
Ameaça – providências adequadas, para evitar a consumação da ofensa – providências
preventivas
Ofensa – providências adequadas, para atenuar os efeitos – providências de remédio.
A norma do nº1 do art. 70º protege tanto a ofensa como a ameaça de ofensa. A
proteção encontra-se no nº2 desse art.
Artigo 72º a 80º: direitos de personalidade especiais.
Artigo 72º direito ao nome. Diferente do direito ao bom nome 484ºCC. 72ºnº2 na
colisão de nomes tenta-se limitar os dois na medida do possível.
Artigo 79º direito à imagem. Base da norma nº1 1ªparte
Efeitos tardios da personalidade » pessoas falecidas
Artigo 79º nº2 cuidado com as situações em que não é necessário o consentimento.
Aula Teórica 15
2012/02/27
Sumário: Capítulo 3.º – O direito das pessoas –
A. As pessoas singulares
I. Personalidade » aquisição » o nascituro (âmbito do art. 66.º, n.º 2 v.s. lesões sofridas
pelo feto; há direito de nascer ou
de nascer com saúde?; a criança como dano? » a procriação medicamente assistida
Termo da personalidade (morte natural = cerebral » colheita de órgãos) v.s. morte
presumida (não dissolve o casamento!) v.s. pres. da morte; comoriência (art. 68.º)
O estado civil; a situação jurídica do cadáver
II. Personalidade jurídica é ilimitada; a capacidade jurídica tem limitações “naturais”;
Capacidade jurídica v.s. capacidade negocial v.s. capacidade delitual
a) incapacidades negociais de gozo (artigos 1600.º, 1601.º; 1604.º, 1612.º; 1631.º e
1627.º - inc. neg. de gozo para casar; artigos 1850.º e 1861.º - incapacidade negocial
de gozo para perfilhar; 2188.º e 2189.º - incapacidade negocial de gozo para testar
Pessoas singulares
O começo da personalidade
O nosso código civil reconhece personalidade jurídica a todas as pessoas. Isto mostra a
aplicação do princípio da igualdade jurídica.
As pessoas singulares adquirem personalidade no momento do nascimento completo
e com vida.
No código de Seabra às pessoas que nascessem com anomalias graves não lhes era
reconhecida personalidade jurídica.
Pessoa em sentido ético é também em sentido jurídico, isto é, uma vez que as pessoas
singulares possuem personalidade, aparecem como pessoas em sentido jurídico,
exactamente em virtude do facto de já serem pessoas em sentido ético, na medida em
que o artigo 66º, nº1 aceita a personalidade, perfeita indivisa de toda a pessoa
humana reconhece e garante simultaneamente a condição elementar de igualdade e
dignidade da mesma. A personalidade jurídica não é atribuída pela lei, ela apenas
reconhece o facto de que ser pessoa em sentido ético significa ser também pessoa em
sentido jurídico.
CASO PRÁTICO
A fica grávida. O pai de A fica todo contente com a chegada do neto e deu-lhe um
apartamento – doação a nascituro, 952º cc.
Mas a criança morre no parto. A mãe, A, reclama o apartamento mas o avó/pai nega-
lhe porque a criança morreu.
No entanto, a criança sobreviveu dois minutos fora do ventre materno, logo chegou a
adquirir personalidade jurídica.
Mãe tem direito ao apartamento.
O Termo da personalidade
Quanto ao termo da personalidade o artº 68, nº1 do cc, constata que ela cessa com a
morte e apenas com a morte.
O legislador determinou que cabia à Ordem dos Médicos definir quando a pessoa já
não tem hipóteses de recuperar, DR, Série B, 235.
A morte pode ser natural art 68º, nº1 ou pode ser morte presumida arts 114º e 115º.
A declaração de morte presumida produz os mesmos efeitos que a morte natural, mas
não dissolve o casamento, artº 115, embora o torne dissolúvel por divórcio, artº 1781,
b), ou por um novo casamento artº116 1ªparte, que por sua vez conduz ao divórcio no
caso do ausente regressar ou estar vivo.
A morte natural não se verifica com a paragem de coração, mas sim com a morte
cerebral, quando o cérebro deixa de trabalhar por completo.
É importante determinar o momento da morte, não só por causa da sucessão, mas
também para colheita de órgãos.
A nossa lei determina (2 hipóteses): colheita apos a morte e colheita entre vivos. A lei
não permite comercialização de órgãos. Tráfico de órgãos é nulo, é contrário à lei, só
se pode doar consentindo na colheita de órgãos.
Em 93 saiu uma lei que determina que todos nós podemos doar órgãos após a
morte. O Dr. Hörster chama a isto canibalismo moderno.
A morte presumida tem efeitos sucessórios e de seguro, faz com que cesse a
personalidade jurídica artigos 115º e 116º.
Finalmente, no contexto da morte, o artigo 68º estabelece ainda duas
presunções importantes: o nº2 do art 68º estabelece uma presunção relativamente á
simultaneidade da morte, a chamada comoriência. Por seu lado o nº3 prevê situação
diferente, em que não existem dúvidas de morte. Trata-se de uma situação que não
permite dúvidas relativas à morte, embora não seja possível encontrar o cadáver ou
identificar o mesmo. Aqui não estamos em face de uma situação de morte presumida.
CASO PRÁTICO
A é casado com B.
Morrem num acidente.
Se morreu primeiro A, herdam os bens os pais de A.
Se morreu primeiro B, herdam os bens os pais de B.
Quando não se sabe quem morreu primeiro, estabelece-se a presunção de
comoriência – presume-se que morreram os dois ao mesmo tempo. Herdam ambos os
pais.
idênticos. Assim, do mesmo modo que a lei estabelece uma conexão entre o
nascimento e as lesões anteriormente verificadas, no momento do nascimento, as
lesões sofridas pelo nascituro tornam-se lesões da própria criança, ou seja, de um ser
com personalidade. Ao ter nascido a criança adquiriu um direito à indemnização e isto
em conformidade com a lei que faz depender a personalidade do nascimento
completo e com vida, não conhecendo qualquer tipo de personalidade limitada ou
com efeitos retroactivos.
Após a morte
Outro efeito tardio da personalidade são as várias hipóteses de disposição para depois
da morte. Trata-se nestes casos de disposição da vontade, tomadas em vida, mas
destinadas a produzir os seus efeitos somente depois da morte. Para assegurar o
cumprimento das disposições feitas existe o instituto da testamentária, art 2320ºss.
Para alguns o cadáver de uma pessoa passa a ser uma coisa, embora uma coisa fora do
comércio jurídico, por ser susceptivel, por sua natureza, de apropriação individual, art
202º nº2CC.
Para outros, deve ser visto como uma pessoa presente ou passada ou com um
“tertium genus” situado entre a pessoa e a coisa.
O cadáver não faz parte da herança e está subtraído ao tráfico jurídico.
A capacidade negocial
De gozo
De exercício
A capacidade delitual
Além de se vincular por atos praticados, a pessoa pode também ser obrigada a
responder em consequência de um facto ilícito que cometeu.
A capacidade delitual é a idoneidade de uma pessoa para responder por factos ilícitos.
Esta situa-se no campo da responsabilidade extracontratual e resulta da violação
culposa de um direito absoluto ou de um interesse legalmente protegido.
A capacidade delitual é, para o campo extracontratual, o equivalente da capacidade
negocial para o âmbito contratual.
Não obstante, os conceitos de capacidade negocial e de capacidade delitual podem ser
reunidos num só conceito geral, desenvolvidos pela doutrina, que abarca ambos.
488º imputabilidade. Aqui só implica o querer, não implica a vontade para os efeitos.
RESUMO
1 – Personalidade jurídica: ser-se sujeito/titular de direitos e obrigações. No momento
em que nascemos adquirimos personalidade e capacidade jurídica. Dimensão
qualitativa.
2 – Capacidade jurídica ou capacidade de gozo: ser-se sujeito de quaisquer relações
jurídicas. Dimensão quantitativa. Podemos diminuir os direitos. A lei permite limitar »
“salvo disposição em contrário”. Há pessoas que não podem ser titulares de
determinados direitos.
3 – Capacidade negocial: exercer por acto próprio os seus direitos e obrigações.
Capacidade negocial de gozo e de exercício.
Exemplo: António tem 14 anos e foi pai.
Não pode perfilhar a criança. Não pode ser titular da relação jurídica paterno-filial.
Há aqui uma limitação que a lei estabelece. A perfilhação é um negócio jurídico
estritamente pessoal. Ninguém pode perfilhar em nome de outrem. O mesmo se passa
no casamento e no testamento.
Capacidade negocial de
Capacidade negocial de gozo
exercício
Casamento
Tráfico jurídico negocial geral
Perfilhação
Testamento
(a partir dos 18 anos) a pessoa
tem de entender o que envolvem
Negócios estritamente pessoais.
os negócios jurídicos. É preciso
Ninguém pode celebrar no lugar
maturidade para entender os
de outrem.
efeitos, é importante para os
efeitos.
18 anos » em abstrato a maioria das pessoas já tem maturidade. Limite etário razoável.
A idade mostra-nos o tipo de sociedade em que estamos.
As Incapacidades Negociais
AULA PRÁTICA 13
2012-02-27
Sumário: Resolução dos casos práticos n.º 22, 23, 24 e 25 sobre as seguintes matérias:
direitos de personalidade, colisão de direitos e abuso de direito.
Caso prático 22
Direitos de personalidade. Não está em causa nenhum direito de personalidade
especial.
Trata-se de um direito de personalidade geral, art 70º.
Está em causa o direito de personalidade de B e o direito de propriedade do dono do
bar. Existe uma colisão de direitos.
Atualmente dá-se mais importância aos direitos de personalidade.
Prevalece o direito de personalidade, art 335ºCC.
335º nº2 » ofensa » direito geral de personalidade, art 70º nº1.
Ofensa consumada » providências adequadas » de remédio (fechar o bar mais cedo;
sonorizar de outra forma, etc) » 70º nº2.
Ofensa sem consentimento – ilícita.
Eventualmente, se estiverem preenchidos os pressupostos poderia haver direito a uma
indemnização, nos termos do art 483º.
Facto voluntário – produção do barulho
Ilicitude – violação do direito de personalidade
Culpa – mera culpa
Dano – danos não patrimoniais
Nexo de causalidade – produção de barulho provoca as insónias.
Caso prático 23
Violado direito à imagem, art 79ºCC.
Violado direito geral de personalidade, art 71ºCC – direito à integridade moral
Ofensa ilícita
Reação: providências adequadas de remédio (encerrar o site, retirar as imagens,
pedido de desculpas público).
Art 79º nº1 – verifica-se
Art 79º nº2 – era necessário o consentimento, porque as excepções não estavam em
causa
Indemnização por responsabilidade extracontratual, 483ºCC
Caso prático 24
a) Ofensa » direito especial – direito à imagem 79º e direito à reserva sobre a
intimidade da vida privada.
Deu consentimento para a violação dos seus direitos de personalidade, art 81º.
Há uma ofensa, porque a imagem dele está a ser exposta, mas não há ilicitude,
porque houve consentimento, art 340º.
A regra geral do 340º nº2 é afastada pela norma especial do 81º nº1.
A lei permite revogar o consentimento. Não há ilicitude.
Paloma é obrigada a indemnizar a outra parte por responsabilidade civil, por
factos lícitos, art 81º nº2
b) Art 72º, nº1, direito ao nome – fins comerciais/propaganda. Ofensa ilícita.
Direito ao bom nome, art 70º, cláusula geral de personalidade.
Providências adequadas de remédio » mudar o nome da casa noturna e pedido
de desculpas público.
c) Direito à imagem, art 79º
Direito à reserva sobre a intimidade da vida privada, art 80º
d) Ameaça de ofensa, art 70º nº2
Ilícita 340º nº1 publicação 76º
Providências preventivas 75º nº2
Caso prático 25
Violação direito à imagem e direito à reserva sobre a intimidade da vida privada, arts
79º e 80º
Ofensa ilícita, porque não consentida
79º nº2 excepção ao consentimento
79º nº3 necessário consentimento
Teria direito a pedir as providências adequadas, mas seria ilegítimo pelo 334º
AULA TEÓRICA 16
2012-03-05
Sumário: b) incapacidades de exercício; suprimento destas em caso de menoridade(
artigos 122.º » 123.º [» 124.º]» 125.º » 127.º « 125.º [» 126.º] » 129.º[» 131.º e 132.] »
130.º).
c) O regime do interdito (artigos 138.º, n.os 1 e 2; 139.º » 123.º e seguintes):
recolocação do interdito (= maior) na situação jurídica de um menor
d) O regime do interditando:
aa) A protecção precária pelo regime da incap. acidental (artigo 257.º)
bb) As providências durante o processo (artigos 142.º n.os 1 e 2 v.s. 149.º)
cc) Actos praticados entre o trânsito em julgado e o registo da sentença
e) O regime do inabilitando (artigos 156.º » 139.º) [Ver: al. d)]
f) O regime do inabilitado (artigos 152.º, 153.º, n.º 1, 154.º, n.º 1 v.s. 156.º » 139.º »
123.º e seguintes) limitado a negócios patrimoniais
aa) O regime regra do artigo 153.º, n.º 1, e sua alteração por sentença
bb) A entrega, no todo ou em parte, da administração dos bens ao curador
(continuação)
O menor usou dolo. Enganou a contraparte. Neste caso a lei não o protege, porque se
é maduro para enganar, tem que arcar com as consequências. Não pode invocar o
126º.
Mas os pais têm legitimidade para o invocar, é a única forma de exercer a
responsabilidade parental.
O menor tinha um filho e morreu pouco depois de atingir a maioridade.
Os pais nunca souberam do negócio, logo nenhum prazo decorreu. Mas o herdeiro
sub-entra na relação na posição do morto, herda também o dolo do negócio. Também
não tem legitimidade.
Se os herdeiros do falecido fossem os pais, estes também não iriam ter legitimidade,
porque também sub-entravam na posição do herdeiro.
Artigo 131º - menor de idade com 17 anos. O menor sofre de esquizofrenia. Quando
atingir a maioridade vai continuar incapacitado. A lei permite que se intente uma
acção de inabilitação enquanto menor. Se fizer 18 anos e não tiver saído o resultado da
sentença, prolonga-se a responsabilidade parental até à saída da sentença.
2 – Interdição
A interdição será tomada quando alguém por anomalia psíquica, surdez-mudez ou
cegueira se mostrar incapaz de governar a sua pessoa e os seus bens, art 138º nº1. A
interdição tem como consequência a incapacidade geral de exercício de direitos,
afecta tudo, a capacidade de cuidar de bens e de si próprio. É, em certa medida, a
recondução ou recolocação de um maior na condição de um menor.
Aplica-se apenas na maioridade, porque a interdição de um menor enquanto menor
não faz sentido.
A interdição tem como requisito que esta incapacidade geral tenha carácter de
permanência.
No que diz respeito às “qualidades minguantes”, art 138º nº1, convém esclarecer que,
quanto à anomalia psíquica ela não abrange apenas deficiências de intelecto, de
entendimento, mas igualmente as deficiências da vontade, afectividade e
sensibilidade. As anomalias referidas devem ser duradouras ou habituais.
No que respeita à surdez-mudez e à cegueira, só devem dar origem à interdição
quando forem ainda a causa de debilidade intelectual ou de atrofia de inteligência, de
modo que o respectivo sujeito não é capaz de se governar. Porém, nem sempre as
pessoas afectadas por estas deficiências nem sempre carecerão da protecção que lhes
advém de uma interdição, sendo suficiente a inabilitação com a consequente
nomeação de um curador.
A interdição necessita de ser decretada por decisão judicial na sequência de uma ação
dirigida a este fim. O tribunal decide não em função do pedido da acção, mas no
interesse do interditando.
A interdição visa, por um lado, a máxima protecção possível e contribui, porém, para
uma intervenção bastante forte e grave na vida e na personalidade de uma pessoa que
desta maneira vê condicionado o seu livre desenvolvimento. Assim, o interditando
dispõe sempre e obrigatoriamente de um defensor que o representa no processo.
Artigo 141º - quem tem legitimidade para requerer a interdição. Pode ser requerida
pelo cônjuge do interditando, elo seu tutor ou curador, por qualquer parente
sucessível, ou pelo MP. Se o interditando estiver sob responsabilidade parental, porém
só os progenitores que exerçam o poder paternal e o MP têm legitimidade para
requerem a interdição, Art 141º nº2. Estas duas legitimidades são autónomas, quer
dizer, o MP pode actuar contra vontade dos pais e estes não precisam da autorização
daquele.
Art 1901º nº2 – os pais devem agir de comum acordo. Havendo desentendimento será
suficiente o requerimento de apenas um deles, sem a necessidade de recorrer
previamente ao tribunal para sanar o desacordo entre eles, visto que a interdição visa
servir em primeiro lugar os interesses do interditando.
142º - Podem ser decertadas providências cautelares (provisórias), inclusive a
interdição provisória, para impedir que ao interditando advenha um prejuízo. Para o
efeito, o artigo 142º distingue duas situações. Na hipótese prevista no nº2, porém é
urgentemente necessário providenciar quanto à pessoa e bens do interditando –
decretada uma interdição provisória com a nomeação de um tutor que possui
competência normal, embora em situação provisória. Quando se intenta uma acção,
ou mesmo mais tarde, pede-se ao tribunal que resolva a situação – tutor ad hoc (142º
nº1) ou verdadeira interdição, embora provisória (142º nº2).
139º - Todas as regras da menoridade aplicam-se à interdição. Remissão em bloco para
o regime de menoridade (prazos, etc).
143º - Tutela. A incapacidade dos interditos é suprida pela tutela, ou seja, por uma das
formas da representação legal. É de notar que nesta ordem o cônjuge precede as
pessoas indicadas pelos pais. A tutela cabe em primeiro lugar ao cônjuge do interdito,
salvo se o cônjuge estiver separado judicialmente de pessoa e bens ou separado de
facto, 143º nº1 a). No caso previsto na alínea b) do nº1, os pais devem indicar por
acordo, 1901º nº2, a pessoa que querem ver incumbida da tutela. Na falta de acordo
cabe ao tribunal escolher a pessoa mais indicada. O tribunal pode, depois de ter
ouvido o conselho de família, designar o tutor por ordem diversa da legalmente
prevista – 143º nº1 c) d), 143º nº2. Esta solução confere maior flexibilidade à actuação
do tribunal e aumenta o intervencionismo estatal na vida familiar. Se a tutela cair no
pai ou na mãe, estes exercem a responsabilidade parental. Quando a tutela não recair
nos pais, aplica-se em tudo o que não seja regulado de maneira especial pelos arts
139º a 151º as regras respeitantes à tutela, bem como as regras respeitantes aos
outros meios previstos para este fim, 1921º a 1927º. A tutela, como instituto da
representação legal, destinada a suprir a incapacidade de exercício, aparece-nos em
duas situações diferentes [meio para suprir a responsabilidade parental, então aplica-
se a menores 1921ºss, 1927º a 1962º; meio para suprir a capacidade do interdito,
aplica-se a maiores, 139º a 151º, 1921ºss, 1927º a 1962º]. Ao lado da tutela pode
surgir ainda a administração de bens, 139º última parte, sendo assim necessário o
tutor para suprir a incapacidade para o exercício de direito s do interdito, pode haver
situações em que o tutor possui, a título de excepção, capacidade. A este respeito são
aplicáveis ao interdito as disposições que regulam as excepções à incapacidade por
menoridade, consequência que decorre do facto do interdito ser juridicamente
equiparado ao menor, 139º 1ªparte. Aplicam-se assim ao interdito os arts 123º a 128º,
sendo de salientar a importância dos arts 125º, 126º e 127º. Os negócios do interdito
que não forem praticados ao abrigo do 127º são anuláveis nos termos do 125º. A
anulação dos negócios pode ser requerida pelo tutor (no ano a seguir ao seu
conhecimento), pelo próprio interdito (ano após o levantamento da sua interdição) e
por um herdeiro do interdito (dentro do ano depois da morte). A anulabilidade é
sanável mediante confirmação do tutor, ou mediante confirmação do próprio interdito
ou mediante a confirmação do herdeiro.
Artigo 146º - escusa de tutela e exoneração do tutor. Escusa – atitude de que pretende
não ser nomeado tutor, não iniciando sequer o exercício do cargo. Exoneração –
substituição no cargo depois de ter sido exercido pelo exonerado. Escusa e exoneração
pressupõem a existência de razões atendíveis. 146º nº1 – veda ao cônjuge do interdito
e aos seus descendentes e ascendentes a possibilidade de pedir a escusa da tutela bem
como a exoneração. Porém, ao fim de 5 anos, os descendentes podem pedir a
exoneração.
Artigo 151º - a interdição pode ser levantado quando cessarem as causas que a tinham
determinado. Têm legitimidade para o requerimento o próprio interdito ou as pessoas
que têm legitimidade para requerer a interdição.
Artigo 149º - determina este preceito que são anuláveis os negócios jurídicos
celebrados pelo interditando, depois de anunciada por meio de afixação de editais e
anúncios em geral, art 945ºCPC. Três pressupostos: 1depois de anunciada a proposição
da acção nos termos da lei do processo; 2sentença tem de vir a ser decretada; 3preciso
CASOS PRÁTICOS
1º António tem 20 anos e é esquizofrénico. Durante intervalo lúcido vende o seu carro
por 20000€. Com o dinheiro que ganhou financia a festa do seu casamento com Berta.
Cessa o seu intervalo lúcido e perde o livre exercício da sua vontade.
2º atendendo à sua esquizofrenia foi proposta uma acção de interdição contra
António. Esta acção foi devidamente publicitada. António pratica os mesmos negócios
no intervalo lúcido- é decretada a interdição e a sentença transita em julgado. António
celebrou os referidos negócios jurídicos.
Qual o valor jurídico destes negócios?
257º
1600º, 1601º b), 1631º a)
145º
150º
3 – Inabilitação
Regulamentada nos arts 152º a 156º.
A inabilitação também se destina a maiores, mas constitui uma intervenção mais fraca
e menos ampla do que a interdição.
Aplica-se a dois grupos de pessoas, àquelas com qualidades minguantes (152º 1ªparte)
e àquelas com deficiências de caráter (152º 2ªparte).
Pessoas com qualidades minguantes: apresentam as características necessárias para
uma interdição, mas sem gravidade que justifique tal.
Pessoas com deficiências de caráter: pessoas que em virtude de determinados vícios
são incapazes de regar convenientemente o seu património.
A inabilitação refere-se apenas a quem se mostra incapaz de reger convenientemente
o seu património e ainda a quem não seja incapaz de todo de governar sua pessoa e
bens.
Como em todos os casos de incapacidade, também a inabilitação visa proteger em
primeiro lugar os interesses do inabilitado contra a sua própria deficiência.
No contexto do artigo 152º 2ªparte, o requisito “habitual” caracteriza uma atitude
continuada e uma propensão nítida, própria de um estado ou de uma maneira de ser
da pessoa.
Prodigalidade: comportamento originado por um defeito da vontade ou do caráter,
que se define por gestos desproporcionados em relação à situação patrimonial do
inabilitando, sendo os gestos injustificáveis.
Arts 153º a 155º - aplicável à inabilitação, com as necessárias adaptações, o regime da
interdição. Assim, sempre que os arts 152º a 155º não prevejam soluções específicas
para a inabilitação, deve recorrer-se ao regime estabelecido para a interdição, como
regime supletivo.
[por força do 156º » 140º nº2; 141º; 142º; 143º; 146º a 151º; 139º (remissão para a
menoridade 123º a 128º, principalmente 125º, 126º, 127º e 1967ºss)]. 156º » 138ºss »
139º » 122ºss
156º » 139º » 122º: prazo (125º), excepções (127º), protecção (149º, 142º, 257º) e
legitimidade (141º).
Tal como a interdição, também a inabilitação necessita de ser decretada por sentença,
sendo necessário o respectivo requerimento, proposto por acção, 156º e 141º.
Até ao registo da sentença que decreta a inabilitação vale para o inabilitando o regime
da protecção estabelecido para os negócios do interditando, ou seja, as regras da
incapacidade acidental, as medidas previstas pelos arts 142º/149º, o regime do 147º e
o sistema de inabilitação sem restrições algumas.
Depois de decretada a inabilitação, os inabilitados são os assistidos por um curador. Os
actos são desta maneira praticados pelo próprio inabilitado, dependendo a sua
validade da autorização do curador que supre a incapacidade, geral ou específica, do
inabilitado. O curador não celebra qualquer acto em vez do inabilitado. A sua
assistência consiste apenas em autorizar actos que são praticados pelo próprio
incapaz. O curador age ao lado do inabilitado ou impede-o de agir. Se o curador não
autorizar um acto pretendido pelo inabilitado, a autorização pode ser judicialmente
suprida, art 153º nº2.
Todavia, se a administração do património do inabilitado for entregue, nos termos do
art 154º ao curador, a incapacidade do inabilitado é suprida, já que o curador assume a
administração dos bens pela representação. Nesta situação o curador já age em vez do
inabilitado.
Quanto aos actos de disposição de bens entre vivos, o tribunal pode limitar-se a
submeter apenas determinados actos especificados à autorização do curador, 153º
nº1 2ªalternativa, mas o tribunal pode fazer depender da autorização do curador
todos estes casos, 153º nº1 1ªalternativa. Finalmente pode ser decretada a
administração de bens do inabilitado relativa à parte ou à totalidade dos seus bens
(quando a gravidade da incapacidade o justifique), art 154º nº1.
Segundo o art 153º o inabilitado tem capacidade para quaisquer actos de mera
administração quanto aos seus bens. Havendo, porém, administração de bens ao
abrigo do art 154º, o inabilitado já não pode praticar tais actos na medida em que são
abrangidos pela competência do curador.
O inabilitado pode sempre concluir os negócios para os quais possui capacidade ao
abrigo do art 127º (remissão dos arts 156º e 139º).
A inabilitação pode ser levantada de acordo com o art 963º CPC e com os respectivos
pressupostos enunciados nos arts 156º, 151º e 155º. No entanto, o legislador
entendeu que era preciso uma prova duradoura relativamente à superação do
respectivo vício. Daí o prazo de 5 anos para estes casos e não para os de anomalia
psíquica, surdez-mudez e cegueira, onde o levantamento da medida depende só do
desaparecimento da deficiência.
AULA PRÁTICA 14
2012-03-05
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior. Resolução do caso
prático n.º 26.
A capacidade jurídica: noção; o regime da capacidade negocial de gozo; o regime da
capacidade negocial de exercício.
Caso prático 25
a)b) Estamos perante uma ameaça de ofensa. Por um lado temos o direito a imagem
(art.º 79) e à vida privada (art.º80). Esta ofensa é ilícita? Sim, pois não há
consentimento, mas para ver se é necessário consentimento temos de ir ao art.º 79,
nº2, este número 2 vem dizer que nesta situação não é necessário consentimento, no
entanto o nº3 diz que isto não acontece se provocar danos na reputação do político,
logo concluímos que é preciso consentimento. O que está aqui em causa é o abuso de
direito (art.º 80, nº2), pois alguém que cede 1º a sua imagem e posteriormente já não
quer é considerado abuso de direito (art.º 334) - Benire contra factum proprium.
-------“-------
------------“------------
Caso 25: art.º 66, nº1, pessoa singular com direitos originários, tem direitos de
personalidade subjectivos pessoais, absolutos com efeitos erga omnes. Temos de
analisar se estão em causa artigos especiais (art.º 79 e 80). O art.º 79, nº1 proíbe a
publicitação da fotografia, o político não deu consentimento (nº1), mas é político logo
não é preciso consentimento (nº2), mas poe em causa a sua reputação (nº3), logo é
Caso prático 26
Está aqui em causa a existência de abuso de direito (art.º 334) que como sabemos
pode ser institucional ou individual. É ilegítimo exercício de um direito quando o titular
exceda os limites da boa-fé. O seu exercício contraria a ordem pública ou contradiz os
princípios fundamentais da ordem jurídica económica ou social ou desvirtua a função e
os objetivos de um dado instituto jurídico> limites imanentes do direito.
Atenção: No art.º 334 a partir do ou, o que está para a frente é institucional, para tas é
individual
A e B têm terrenos agrícolas mas B não explora, A deveria dar preferência a B segundo
ele, mas vende a C. B faz abuso de direito institucional porque invoca o seu direito de
preferência quando na verdade não usa o terreno para exploração agrícola que é o
objetivo da lei.
Verwirkung- o seu titular não exerce o direito por um período alargado de tempo e dá
a entender que não o vai exercer. No caso concreto o homem não comprou a
quantidade de café a que estava obrigado, mas passaram 3 anos e nada foi dito em
contrário. O fornecedor deu-lhe a entender que não iria exercer o direito. É um caso
de abuso de direito individual por parte do fornecedor pois excede os limites da boa-
fé, é ilegítimo (art.º 334).
No art.º 335 temos a colisão entre 2 direito subjectivos, a solução é saber qual é
superior para prevalecer este, se forem iguais os dois têm de coexistir.
Incapacidade
Pessoas singulares, com personalidade jurídica (art.º 66- susceptibilidade)
Art.º 67- capacidade jurídica. Pode ser titular de todos (à excepção de 3 situações)
Há 3 situações em que nem titular de direito se pode ser (direitos estritamente
pessoais): casar (art.º 1601), testar (art.º 2189) e perfilhar (art.º 1850)> incapacidade
de gozo.
Atenção: não confundir incapacidade gozo com incapacidade exercício. Um surdo-
mudo e uma cega podem casar!
Na capacidade de exercício está em causa um conceito dinâmico. Há sempre uma
qualidade minguante que faz com que a pessoa não tenha idoneidade de a pessoa
exercer os seus direitos por ato próprio.
Na capacidade jurídica- idoneidade para, por ato próprio, exercer os direitos de que é
titular de cumprir obrigações a que está adstrito.
Art.º 66 + 67 (casar, perfilhar ou testar)
Impossibilidade de gerir a sua pessoa e os seus bens: menoridade e interdição>
incapacidade de âmbito geral. De exercício, a menoridade é suprível através da
representação legal, a inabilitação é suprível por assistência.
A menoridade
Art.º 66 e 67- incapacidade de exercício
Art.º 81> incapacidades- art.º 122 até art.º 156
Menores:
Art.º 122
Art.º 123, o que lhe acontece? É incapaz para o exercício de direitos
Art.º 124 é suprível
Art.º 125 Sabia que era menor mas praticou negócio jurídico, logo é anulável (em
regra) a), b) e c) quem invoca a anulabilidade e o nº2 confirmação (art.º 282)
Art.º 129 a incapacidade dos menores atinge-se pela maioridade ou pela emancipação
por casamento
Dos 0 à maioridade/emancipação pelo casamento (durante este período a pessoa está
incapacitada negocialmente). Casamento - direito de gozo (art.º 1601- tem de ter mais
de 16 anos e com consentimento> equiparado a um maior; se tiver 16 anos ou mais e
não tiver consentimento recorremos ao art.º 1649> continua a ser menor para bens
que leve para o casal ou bens adquiridos a titulo gratuito)
Nos termos do art.º 127 há excepções <à incapacidade para que o menor se
começasse a treinar para o que mais tarde lhe irá ser pedido.
Caso prático 27
Osmar tem 17 anos, logo é menor (art.º 122), sendo menor carece de capacidade
negocial de exercício (art.º 123), logo não tem o discernimento necessário para querer
e compreender os negócios jurídicos do tráfico corrente de bens e serviços e os efeitos
que daí advém (art.º 130). Está em causa a capacidade negocial de gozo, um direito de
natureza estritamente pessoal, nestes direitos se faltar a capacidade negocial de gozo
é insuprível, não pode ser obtido por mais ninguém a não ser o titular. Temos de
recorrer ao art.º 1600, no art.º 1601 (remissão para art.º 1627, remissão para art.º
1631, a), art.º 1639- legitimidade para a anulabilidade e art.º 1643 que estabelece o
prazo para pedir a anulabilidade) encontramos os impedimentos dirimentes absolutos,
e verificamos que o casamento é valido pois é > 16 anos. O casamento foi validamente
celebrado, mas o art.º 1604 (impedimentos impedientes) estabelece uma exigência
para este tipo de casamentos, ou seja Osmar precisava de autorização dos pais
(art.º1612), não havendo autorização a lei estabelece uma sanção (art.º 1649). O
menor ao casar-se dá-se a emancipação (art.º 132), cujos efeitos estão no art.º 133, o
menos passa a adquirir plena capacidade de exercício de direitos. Casou-se,
emancipou-se.
Quando à doação (art.º 940), negócio jurídico válido, o menor emancipou-se tem plena
capacidade de exercício (art.º 948, nº1).
Quando ao testamento, também é capacidade negocial de gozo, negócio estritamente
pessoal. No art.º 2188 diz que os emancipados podem testar. O art.º 2190 diz que se
fosse incapaz o negócio era nulo.
E se Osmar se casou sem autorização, dá-se a emancipação (art.º 132) e os efeitos
estão no art.º 133, ressalva o previsto no art.º 1649 o menor não pode dispor
livremente dos seus bens, a consequência é a anulabilidade (art.º122) pois Osmar
carece de capacidade negocial de exercício (art.º 122, nº1). O testamento diz que os
menores emancipados podem testar (art.º2188), adquirem capacidade negocial para
testar.
Artigos da perfilhação:
- 1849
- 1850
- 1861
AULA TEÓRICA 17
2012-03-12
Sumário: h ) Incapacidade delitual [pp. 346 a 351]
B. As pessoas colectivas
I. O conceito de pessoa colectiva: as duas modalidades básicas; os sistemas de
reconhecimento (= atribuição da personalidade jurídica)
II.[n.leccionado]
III. As pessoas colectivas do Código Civil em geral: os tipos regulados; a aquisição da
personalidade e seus pressupostos; a capacidade jurídica; a capacidade de agir »
“representação orgânica” v.s. representação voluntária; responsabilidade contratual
(artigo 163.º) v.s. extracontratual (artigo 165.º); termo da personalidade/extinção da
pessoa colectiva (artigos 182.º/192.º com dois tipos de causas)
Esquema comparativo:
arts. 66.º, n.º 1 » 67.º » 130.º (2.p.) » 488.º » 68.º
arts. 158.º » 160.º » 163.º [162.º] » 165.º » 182.º/192.º
3 – inabilitação (conclusão)
O inabilitado só precisa de autorização do curador mas é ele próprio que realiza os
negócios, mas só precisa de autorização para os negócios de disponibilização de bens.
Quando cessa a incapacidade de facto?
Se a inabilitação desaparecer é possível levantar uma acção nesse sentido (art.º 156
que remete para o 141). O art.º 155 é um regime especial da inabilitação, diz respeito
a um outro grupo de pessoas que têm esta inabilitação mais “disfarçada”, a lei
desconfia desta pessoa e são precisos 5 anos para provar que já não sofre de vício
algum. (ex.: se passarem 5 anos e o juiz disser que a pessoa não está ainda em
condições começa do 0, são precisos mais 5 anos para nova possibilidade).
O art.º 154- Transforma o curador num verdadeiro representante legal
Incapacidade acidental
- Incapaz
- Contraparte do incapaz
Esta pessoa não tem o livre exercício da sua vontade, a lei permite anular se a
contraparte sabia da incapacidade ou se esta era notória. A contraparte não tem culpa
que a outra parte não entenda o que está a fazer, assim alei protege-a. se a pessoa não
está capaz de entender o que está a fazer esta é anulável, mas se e só se for notória. O
regime regra para a anulabilidade é o art.º 257.
Ilegitimidades e indisponibilidades:
Situações em que não temos legitimidade para determinado negócio ou não
podemos dispor dos nossos bens. Art.º 1602 (impedimentos dirimentes relativos-
não podemos casar “com determinadas pessoas”). Estes negócios se forem
celebrados são anuláveis (art.º 1631, a)).
São casos de indisponibilidades relativas, uma pessoa não pode dispor dos seus
bens, mas apenas em relação a determinadas pessoas (art.º 2192 ss) - não é
possível deixar bens em testamento a algumas pessoas, se acontecer é nulo. O
art.º 953 remete para as normas do testamento.
Art.º 2194- impede que haja negócio com alguém débil. A lei protege esta pessoa
Art.º 877- proíbe venda de bens a filhos ou a netos sem a autorização dos outros
filhos ou netos
Ilegitimidades conjugais
Art.º 1682 a 1683- a lei exige o consentimento do conjugue
Incapacidade delitual
Quem não tem susceptibilidade para Responder por factos ilícitos – menores de 7 anos
e pessoas que não entendem o facto danoso (art.º 488)
Pessoas colectivas
Aqui já não é um conjunto de pessoas mas um património que se separou para que
se prossiga um determinado fim- o património foi deixado para aquele fim
Há uns anos atrás era estranho uma pessoa coletiva ter personalidade jurídica e foi
preciso justificar dogmaticamente a sua existência, elas fazem falta, pois há alguns
interesses que as pessoas singulares não conseguem prosseguir. A pessoa coletiva
permite a mobilização de várias pessoas todas a prosseguir o mesmo fim e além disso
consegue-se uma autonomia patrimonial (ex.: se as coisas correm mal e associação vai
à falência, os particulares envolvidos têm o seu património pessoal protegido - limita-
se a responsabilidade e o risco de quem forma o seu substrato)> são uteis.
Aquilo que está na base da sua criação é a autonomia privada das pessoas
singulares que criam a pessoa coletiva. Se as pessoas singulares podem agir
sozinhas também têm autonomia privada para criar uma pessoa nova com vista a
prosseguir os seus interesses. Depois de terem sido criadas já não devemos
confundir a pessoa coletiva com os associados, a pessoa coletiva tem a sua própria
autonomia privada. Vai ter igualdade formal.
- Não se pode celebrar negócios que impliquem direito vedados por lei
- Sejam inseparáveis da personalidade singular
Ex.: A comissão de Festas vai pedir ao Eiras patrocínio para o carro (100 euros), ele
faz uma doação. Qual é o valor jurídico? A nossa lei não estabeleceu este princípio da
especialidade do fim demasiado rígido, logo este negócio é válido pois está ligado ao
fim.
Quando uma pessoa coletiva viola o fim, o negócio é nulo. Se praticar
sistematicamente estes negócios a pessoa coletiva corre o risco de ser extinta (art.º
182, nº2, b) e art.º 192, nº2, b)).
AULA PRÁTICA 15
2012-03-12
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior.
Resolução dos casos práticos n.º 27, n.º 28, n.º 29.
Caso prático 27
Caso prático 29
a) Alberto tem 16 anos, é menor considerado menor pelo art 122º. Sendo menor
não tem capacidade negocial de exercício, art. 123º, pporque não tem
discernimento para compreender o tráfico jurídico geral e os efeitos que daí
advêm, art 130º a contrario sensu. Esta incapacidade é suprivel pelos
representantes legais, art 124.
Alberto realizou um CCV, art 874º, com Bernardo. Este negócio não se encaixa
em nenhuma das excepções do art 127º, sendo por isso anulável, pelo art 125º.
Os pais de Alberto têm legitimidade para anular o negócio, art 125º nº1 a).
b) Se os pais de Alberto tivessem entregado as chaves da casa a Bernardo ,
estariam a confirmar o negócio, art 125º nº2.
288º nº2 e nº4
c) Alberto ao casar-se, torna-se emancipado, art 132º.
Se se casou com autorização, o negócio é válido.
Se se casou sem autorização, o negócio é anulável, art 125º. 1649º, 133º.
d) Alberto falsificou bilhete de identidade para vender a casa.
Se não tivesse usado dolo, segundo o art 125º nº1 d) estaria protegido pela lei.
Podia anular o negócio.
No entanto, usou dolo, a lei não o protege, art 126º, assim sendo não poderia
invocar a anulabilidade.
Herdeiros 2133º. 125º nº1 c)
Caso prático 28
AULA TEÓRICA 18
2012-03-19
Sumário: Capítulo 4.º – O regime do negócio jurídico
A. O negócio jurídico em geral
I. O conceito de negócio jurídico
1. Os elementos e a natureza do negócio jurídico
2. Os intervenientes no n. j.; a conformação unilateral de relações jurídicas
B. A eficácia do negócio jurídico
I. O negócio jurídico com eficácia plena
1. A formação do negócio jurídico
a) As modalidades da declaração negocial; os seus elementos
b) A forma da declaração negocial; a sua distinção da publicidade
[pp. 417-425; 433-446]
NEGÓCIO JURÍDICO
No entanto, A tinha obrigação de estar atento e não estava, teve culpa. Há negligência,
existe uma obrigação de indemnizar.
Intervenientes
Normalmente só são as partes, e só entre elas se verificam os efeitos. Esta é a regra
geral.
Mas em algumas situações os efeitos podem ser oponíveis a terceiros. Depende do
conteúdo do negócio.
Exemplo: contrato de prestação de serviçoes. Negócios que criam direitos de crédito,
direitos relativos.
Como em princípio os intervenientes são só as partes, o negócio apenas tem efeitos
inter partes, normalmente estamos a falar de negócios jurídicos que produzem efeitos
relativos. Mas quando estivermos em negócios jurídicos com efeitos erga omnes os
efeitos são oponíveis a terceiros.
Em regra, não se podem produzir efeitos jurídicos por via unilateral, é preciso acordo
entre as partes. No entanto, existem excepções, a saber:
Direitos potestativos – por mero exercício unilateral, uma pessoa afecta a
outra, porque a outra está num estado de sujeição, porque já havia uma
vinculação prévia da qual derivou o direito potestativo.
Se quem actuar for a única pessoa que sofre os efeitos jurídicos. Ex: posso
prescindir do meu direito de propriedade sobre o meu tlm.
Testamento: a declaração propriamente dita é unilateral, basta a vontade do
testador.
Ocupação, 1318º
Artigo 457º, a regra é de que as pessoas não podem vincular-se unilateralmente. Não
se pode ficar comprometida no vazio ab eterno, a favor de outra parte sem acordo de
vontade, salvo nas excepções previstas na lei.
Exemplo: promessao púnlica, art 459º; remissão de d+ivida, art 863º; testamento, art
2179º, 2062º (podemos repudiar a herança).
Como também não podemos prejudicar ninguém.
O negócio jurídico integra sempre uma declaração negocial. A vontade tem de incluir a
consciência de que nos estamos a vincular juridicamente.
Existem várias formas de manifestação da vontade, a saber: (art 217º)
Manifestação expressa. Ex: na feira de Barcelos estão turistas japoneses com
as suas máquinas fotográficas. Estão todos a tirar fotografias e veem uma
banca com galos de Barcelos, e querem comprar um galo, como não sabem
falar português, expressam-se através de gestos.
Manifestação tácita. Ex: parqueamento pago – mesmo sem vontade de pagar,
tas pessoas têm de pagar. Ninguém disse nada, mas do comportamento deduz-
se que aceitam o pagamento.
Manifestação através do silêncio: há um vazio declarativo, “quem cala não
consente”. Excepção art 218º
Situação prática
A está muito apaixonado por B. foi até uma florista e comprou um ramo de rosas
vermelhas. Foi até casa de B para lhe dar o ramo, mas ao lá chegar vé Carlos a sair da
porta de B ainda a compor-se.
A, arrependido de ter lá ido e de ter comprado o ramo, volta à florista para devolver o
ramo.
Não pode fazer isso!
É preciso distinguir os motivos.
Publicidade: o registo serve para dar publicidade. Serve para terceiros, para
segurança do tráfico jurídico. A publicidade serve para dar conhecimento de
que o negócio foi celebrado.
Através da posse – publicidade de bens móveis.
AULA PRÁTICA 16
2012-03-19
Sumário: O regime jurídico da interdição. Causas da interdição, a legitimidade para
propor a acção, modo de suprimento da incapacidade. O sistema de protecção do
interditando e do interdito: antes da publicação da acção de interdição; durante o
decurso da acção; após o trânsito em julgado da sentença.
Resolução do caso prático n.º 30.
Anomalia:
Quando temos uma sentença que decrete interdição as pessoas tornam-se incapazes à
luz do direito.
Artigo 139º - consequências da interdição, remissão para a menoridade.
Posição do interdito = situação do menor.
Podemos recorrer à interdição como meio preventivo antes do menor atingir a
maioridade.
Art 141º n1 e nº2 » legitimidade para pedir a interdição
A interdição tem de ser registada, de acordo com o artigo 1º, nº1 h) Código Registo
Civil. Só são atendíveis depois do registo.
147º
148º
1920º-B, art 139 » 125º, 127º
147º
1920ºB
Art 1º, nº1 h) e nº2 C.R.C.
A sentença antes do registo produz todos os efeitos, mas não pode ser
invocada contra terceiros de boa fé. Remissão do 147º para 1920º-C
Se 3º má fé, aplica-se o 1920º-C e 148º
Boa fé: não conhece a sentença nem razoavelmente a deveria conhecer.
Caso prático 30
a) Podemos estar perante anomalia psíquica. Precisamos então de uma acção que
proteja o incapaz.
A inabilitação intenta-se para situações não muito graves.
Anomalia psíquica: deficiências de intelecto, entendimento, etc. tem de ser
duradouro ou habitual.
No caso concreto trata-se de uma anomalia psíquica, logo suficientemente
grave a ponto de justificar uma interdição.
A acção a ser proposta dever ser uma acção de interdição, nos termos do art
138ºss.
Quem tem legitimidade para propor a acção está presente no afrt 141º.
b) Antes da acção ser proposta A comprou um carro a B. à partida sendo maior é
capaz.
Assim, à partida, os actos jurídicos praticados por ele são válidos.
No entanto, para actos praticados antes da propositura da acção, o artigo 150º
remete-nos para o regime da incapacidade acidental, art 257º, de maneira a
proteger o incapaz ainda não declarado como tal.
O artigo 257º tem dois requisitos, provar a incapacidade natural de quem haja
e tem de haver cognoscibilidade da outra parte. Estando estes dois requisitos
preenchidos, a sanção para o acto praticado é a anulabilidade.
[alcance doa referência do 150º para o regime da incapacidade acidental?
Requisitos e sanção].
Prazos de legitimidade. 139º » menoridade 125º nº1 a) um ano a contar do
conhecimento do acto por parte do tutor.
Mas a acção de anulação só pode ser intentada a partir da data do registo da
sentença de interdição, porque só a partir dessa data é que o regime da
interdição é atendível e só a partir daí é que o tutor tem legitimidade para
pedir anulação.
c) Situação em que pode ser necessário providenciar este negócio.
António não pode celebrar o negócio, mas é uma oportunidade única.
Pode-se pedir à luz do art 142º que se tomem providências adequadas –
nomeação de tutor ad hoc.
d) Acção já tinha sido proposta e publicitada.
Num momento de lucidez António fez uma venda. Nada nos é dito se existe
tutor ad hoc, não podemos invocar o 142º.
Podemos aplicar o 257º?
149º Requisitos: negócio tenha sido celebrado após anúncio da propositura da
acção, causando prejuízo ao interdito e interdição venha a ser definitivamente
celebrada. Os pressupostos encontram-se preenchidos. A sanção é a
anulabilidade. Tem legitimidade para invocar a anulabilidade o tutor (143º,
144º) 125 nº1 a) [por remissão do 139º], no prazo de um ano a contar do
conhecimento do negócio. Este prazo só se inicia a partir do registo da
sentença, art 149º nº2.
Se vendesse por 3000€ não haveria prejuízo, logo não se aplicaria o art 149º
e) Temos uma espécie de negócio. Ccv 874º sobre bem imóvel 204º nº1 a), sujeito
a registo.
Não nos é dito se houve registo ou não. A sentença deve ser registada art 147º,
que remete para 1920º-B e artigo 1º, nº1 h) e art 2º CRC. Não sabemos se o
negócio foi celebrado antes ou depois do registo.
Partimos do pressuposto que foi antes do registo. Os factos só são atendíveis
depois do registo da sentença, logo não são oponíveis a terceiros de boa fé.
Terceiro de boa fé para estas situações é …
Ernesto estava de boa fé, remissão do 147º para 1920º B e C, aplicação do 149º
(requisitos preenchidos), anulabilidade. Legitimidade e prazo 139 » 125º.
f) Art 138º nº2
g) Incapacidade negocial de gozo (definir) não é suprível, direitos de natureza
estritamente pessoal. Será que pode casar 1600º, 1601º. Não pode casar,
legitimidade 1638º, prazo 1643º.
h) 139º » 127º.
Caso prático 31
Inabilitação
Requisitos
Habitual: atitude continuada, propensão nítida da maneira de ser da pessoa.
Prodigalidade: comportamento originado por defeito da vontade ou de
carácter, que se caracteriza por gestos desproporcionais em relação à situação
patrimonial do inabilitando, sendo os gestos improdutivos e injustificáveis.
Caso prático 32
Caso prático 33
AULA TEÓRICA 19
2012-03-26
Sumário: c) A perfeição da declaração negocial
a) As declarações receptícias (artigo 224.º, n.º 1, 1ª parte; n.os 3 e 2)
ß) As declarações não receptícias (artigos 224.º, n.º 1, 2.ª parte, e 225.º)
?) O significado da emissão (artigo 226.º, n.º 1 v.s. n.º 2)
2. A conclusão do contrato (artigos 217.º a 223.º; 224.º e 226.º; 228.º a 235.º)
a) A perfeição da proposta contratual e da sua aceitação
b) O momento da conclusão do contrato (arg. ex artigo 232.º)
c) A duração e caducidade da proposta (a vinculação do proponente)
d) A irrevogabilidade da proposta enquanto vincula o proponente
e) A aceitação tardia (artigo 229.º, n.º 2, 2.ª parte » n.º 2, 1.ª parte » n.º 1)
f) A aceitação tempestiva com modificações e seu regime
g) A revogação de proposta e/ou aceitação depois da sua emissão
h) Morte ou incapacidade do proponente ou do destinatário (231.º v.s. 226.º)
i) A dispensa da declaração de aceitação (artigo 234.º)
j) A proposta contratual v.s. o convite a contratar
k) Efeitos do contrato: arts. 406.º, n.º 1; 408.º, n.º 1; 879.º, al. a)); 796.º, n.º 1
[pp. 446 a 468]
Uma coisa é ter a declaração realizada, outra é o momento em que ela produz efeitos.
A eficácia ou perfeição da declaração negocial ocorrem de acordo com os artigos 224º
a 226º.
Mesmo tendo uma declaração feita de acordo com as regras, ainda assim a declaração
não produz de imediato os efeitos.
É muito importante sabermos quando a declaração ganha eficácia, quando se torna
perfeita, porque só assim sabemos quando se transferem os direitos reais, quando o
declarante fica vinculado, etc… só nesse momento o contrato fica concluído (só
quando soubermos em que data a declaração ganhou eficácia é que ficamos a saber
tudo aquilo).
Situação: A sempre cobiçou o veleiro que B possuiu na marina de Viana.
A certa altura iludiu-se com as suas poupanças e decidiu comprar o veleiro. Enviou
uma carta a B propondo a compra do veleiro por 50000€.
No dia seguinte a carta entrou na caixa de correio de B, mas entretanto já A se tinha
arrependido.
Pode voltar atrás? Pode revogar a sua declaração negocial?
o Temos de saber se a proposta já tinha ganho eficácia ou não.
Artigo 224º nº3: chegada ao poder. Uma declaração que o destinatário recebe e que
ele não tenha capacidade de conhecer, mas não por culpa sua, a declaração não
produz efeitos.
→ (no caso) A não pode voltar atrás porque já chegou ao poder do destinatário.
Alternativa: B é cego. Aqui não há chegada ao poder, não chegou em condições de ser
conhecida. Logo, A pode revogar.
Artigo 226º: mostra-nos que logo que a declaração negocial é manifestada e emitida,
nos termos do art 217º, ela ganha existência, pode é não ganhar logo eficácia.
Quando ela sai da esfera de poder, ela ganha existência, porque acontecimentos
posteriores à emissão já não afectam a declaração.
Ex: A propõe a B vender-lhe o seu ferrari. Envia-lhe uma carta. A carta está em trânsito.
No tempo que demora a chegar a B, António é atropelado e morre.
↓
A carta (declaração negocial) não é afectada.
A eficácia da proposta não é afectada (tem que dizer expressamente que se morrer
entretanto é que não tem eficácia).
Artigo 225º: (Dr. Hörster diz que está mal colocado). Se não sabemos para quem
queremos fazer declaração, se não sabemos quem é o destinatário, pode-se fazer a
declaração através de anúncio público.
Ex: queremos comprar veleiro e não sabemos quem é o dono.
Aplica-se em duas situações distintas.
Caso
Quero comprar um tlm novo. Vamos a uma loja e escolhemos X. dizemos ao vendedor
qual queremos. Só fazemos uma proposta.
A exposição de mercadorias em vitrinas não é uma proposta, é um convite a contratar.
Isto porque, falta uma vontade de vinculação jurídica. O vendedor não quer vincular-se
juridicamente quando expõe a mercadoria, só quer mostrar disponibilidade para
negociar. Quer ficar livre para dizer “aceito vender ou não aceito vender”.
Caso
A encomenda fato para o seu casamento. Envia uma carta onde identifica o modelo e
o tamanho, por correio normal, no dia 30 de Março.
No dia seguinte apercebe-se que faz um mau negócio e quer voltar atrás.
Pode?
→A fez proposta contratual certa, concreta, clara e determinada.
Saiu da sua esfera jurídica no dia 30 de Março.
Depende se ganhou eficácia ou não.
Artigo 230º: irrevogabilidade da proposta. Nº1, depois de ter ganho eficácia a
proposta é irrevogável, é preciso que haja estabilidade de proposta.
No dia seguinte envia fax a revogar a proposta na carta: meio mais rápido do que a
carta para revogar.
Pode fazer isto, porque nunca houve nenhuma expectativa de celebrar contrato, art
230º nº2. Revogação de propostas receptícias (em relação às quais há destinatários).
No caso das não-receptícias, art 230º nº3. Podem revogar-se desde que se faça da
mesma forma.
Caso
A esperou um mês e não obteve resposta.
Vai a uma loja e compra outro fato.
Um dia depois recebe a carta com a aceitação.
É obrigado a cumprir?
As pessoas não podem ficar vinculadas ab eterno. Existem prazos, art 228º (analisar
todas as alíneas).
→ Lei não prevê o caso de proposta verbal a pessoa presente. Não faz sentido de
imediato.
Caso
A envia carta a B propondo vender-lhe um volvo usado por 10000€. Depois de ter
deixado a carta no correio, descobre que o carro valia mais, arrepende-se e pensa que
podia ter pedido 15000€.
No próprio dia enviou um fax a B alterando o preço para 15000€.
→ pode fazer isto, porque o fax vai chegar antes. Conta o que chega ao poder
primeiro. Importa saber o que ganha eficácia primeiro.
Alternativa: A envia carta no dia 30 de Março dizendo que aguarda resposta até 5 de
Abril. B escreve a aceitar, mas envia a carta por correio normal no dia 4 de Abril. A
carta chega dia 6 de Abril.
O que significa o prazo? Enviar ou chegar dentro do prazo. Conta chegar dentro do
prazo, não enviar.
Significa que as partes têm de negociar outra vez.
Se B enviou aceitação no dia 2 e por correio? Só que houve terramoto e serviço postal
fica fora de serviço e a carta só chega dia 6.
Não chega a tempo, mas não foi por culpa do destinatário, art 229º nº2.
Regra: chega fora do tempo » fica desvinculado.
Regime especial: chega fora do tempo por circunstância anómala » o proponente pode
aceitar. Mas pode não aceitar, mas tem de avisar o aceitante.
Aceite: negócio concluído
Não aceite: avisa B, sob pena de o indemnizar se houver prejuízo.
Disenso
Oculto: as partes não estão de acordo, mas não se apercebem disso. Acham que
estão de acordo, mas não estão, porque a vontade interna é diferente. Não há
acordo. Quando as partes chamem o mesmo nome a coisas diferentes não há
acordo.
AULA PRÁTICA 18
2012/03/26
Sumário: As pessoas colectivas. Classificação das pessoas colectivas. Aquisição de
personalidade jurídica. Capacidade jurídica. Responsabilidade contratual das pessoas
colectivas. Responsabilidade extracontratual das pessoas colectivas.
Resolução dos casos práticos n.º 34 e n.º 35.
Pessoa colectiva em sentido lato: são todas as formações que não sendo pessoas
singulares possuem personalidade jurídica face à ordem jurídica privada
Ex: associações, cooperativas, fundações
Pessoa colectiva em sentido restrito: aquelas que estão previstas diretamente no
Código Civil, art 157º.
Artigo 157º: regras gerais das pessoas colectivas públicas. Aplicam-se às associações.
A lei só reconhece fundações com interesse público.
Caso prático 34
a) Num caso prático de pessoas colectivas, primeiro temos que classificar para
depois utilizarmos os artigos correspondentes.
Artigo 157º, associação de direito privado, pessoa colectiva de direito privado.
Tem fim altruístico e desinteressado e fim ideal (realizar eventos de índole
cultural para toda a comunidade).
Personalidade jurídica, artigo 158º nº1, reconhecimento feita pela ordem
pública.
Capacidade jurídica, artigo 160º (mais limitada do que a das pessoas
singulares), a capacidade é limitada segundo o princípio da especialidade do
fim.
Avaliar a validade dos negócios jurídicos
Realização do festival de música: está dentro do seu fim.
Contratos celebrados: contrato de arrendamento 1022º e 1023º;
contrato de prestação de serviços 1154º; contrato de compra e venda
874º » cabem no princípio da especialidade
Contrato com a agência artigo 1154º, viola o princípio da especialidade,
artigo 160º, nº1.
Não tem capacidade para celebrar este contrato. A consequência
jurídica é a nulidade, art 294º (violação de norma imperativa).
b) Cerqueira provocou danos a si próprio, ao apresentador e ao Daniel.
A si próprio: casum sentit dominus, não há a quem imputar o dano
Em relação ao apresentador: violação direito à integridade física (direito
personalidade, direito absoluto » responsabilidade extracontratual
483ºss, responderia pelo 165º que remete para o artigo 500º.
Caso prático 35
Situação rara.
Classificar a pessoa colectiva: pessoa colectiva em sentido restrito, art 157º fundação.
Pessoa colectiva de direito privado e de utilidade pública (o fim que prossegue é
altruístico e ideal, pela comunidade).
O fim da fundação é conceder bolsas de estudo. A fundação decide doar uma casa a
um estudante pobre que interrompeu os seus estudos, porque se casou. Doação, art
940ºss.
Tem personalidade jurídica, art 158º.
Tem capacidade para praticar o acto? Art 160º: capacidade técnico-jurídica de agir,
porque a pessoa colectiva não tem discernimento. É uma capacidade circunscrita pelo
princípio da efectividade (art 160º, nº1) e pelo fim. No caso concreto era atribuir
bolsas de estudo.
→Não tinha capacidade, pelo nº1, do art 160º, logo o contrato é nulo pelo 294ºCC.
Quem poder pedir a nulidade e em que prazo? Qualquer interessado e a todo o
tempo, artigo 286ºCC.
Efeitos da sentença: sentença declarativa que apenas vem dizer que o negócio nunca
produziu efeitos. A sentença tem efeitos restitutivos das prestações pagas.
Consequentemente, o segundo negócio é nulo, é venda de coisa alheia, pelo art 892º.
A adquire direito de oponibilidade relativa em relação ao estudante.
Pressuposto art 291º: imóvel, art 204º, nº1 a); direito de oponibilidade de A e direito
de propriedade da fundação; a título oneroso; registo de aquisição, 3 anos.
É possivel que se encontre protegido pelo art 291ºCC.
O direito de oponibilidade relativa transforma-se em direito de propriedade, A adquire
direito ex novo, trata-se de uma aquisição originária a non domino.
AULA TEÓRICA 20
2012-04-16
Sumário: l) A conclusão do contrato com base em cláusulas contratuais gerais
(menção)
m) Breve menção ao regime da contratação electrónica
n) Breve menção à figura da responsabilidade pré-contratual
3. A representação na formação do contrato
a) Princípios gerais; a representação como meio de agir e celebrar negócios na
representação voluntária, como figura do
negócio jurídico (unilateral)
b) Figuras afins ao representante: o núncio; o mandatário; outros
c) A procuração e seus efeitos; a forma; a capacidade do procurador
aa) O negócio unilateral da procuração v.s. a relação contratual de base
bb) A extinção da procuração e suas três causas; a protecção de terceiros
cc) A representação sem poderes; o abuso da representação; o mau uso; a colusão
[policop.; legislação contr. electr.; pp. 468-470; 473-489]
Às vezes as partes não negoceiam. É frequente a parte mais forte impor clausulas à
outra.
Ex: banco e lavandaria. Impuseram cláusulas contratuais. Limitamo-nos a aderir,
chama-se a isto - cláusulas contratuais gerais.
É comum o recurso a cláusulas contratuais gerais. São pré-determinadas por uma das
partes e a outra limita-se a aderir, a parte não é obrigada a aceitar, mas se quiser o
serviço tem de aderir.
Limitam a liberdade contratual do aderente. São fruto de uma sociedade massificada.
Não é possível negociar caso a caso as cláusulas, assim o recurso às cláusulas
contratuais gerais é usual e útil.
O problema está no eventual abuso de quem impõe, pode-se aproveitar.
Ex: quando decidem nas cláusulas que o foro (tribunal) é Lisboa. Se a pessoa for de
Bragança é muito complicado ter oportunidade de tratar do problema em Lisboa. Não
tem poder negociatário.
Assim, o legislador tinha de proteger a parte mais fraca, criou um decreto-lei, DL
446/85, DE 25 de Outubro, onde estabeleceu uma série de normas.
Ex: artigo 5º: devem ser comunicadas na íntegra aos aderentes que se limitam a
subscrevê-la. É obrigatório comunicar as cláusulas, o aderente tem de as
compreender.
Artigo 6º: dever de informação. Nº2 – aderentes não percebem linguagem técnica, é
necessário explicar.
Artigo 8º: quando as cláusulas não são explicadas consideram-se excluídas.
↓
Isto é muito importante.
O legislador também consagrou uma série de artigos que estabelecem proibições, arts
18º, 19º, 21º e 22º.
Para os empresários, nas relações entre profissionais aplica-se o artigo 19º
Para os consumidores finais aplicam-se todas as proibições.
→o que acontece quando se estabelece uma cláusula totalmente proibida? Elimina-se
apenas aquela cláusula, artigo 12º DL 446/85.
O que acontece ao contrato? O aderente pode optar por manter o contrato ou não,
artigo 13º. Neste caso aplicam-se as normas supletivas.
uma parte desistir das negociações depois de já ter havido despesas, se desistir só por
má-fé, existe obrigação de indemnizar, violação da boa fé.
Voluntária
Representação Legal
Orgânica: órgãos que actuam em nome da pessoa colectiva. Não é uma
verdadeira representação porque quando o orgão age não é alguém que age
em nome da pessoa colectiva, é a própria pessoa colectiva.
O representante não é obrigado a fazer um bom negócio. Não tem que agir no
interesse do representado.
Quem o escolhe é o representado, ele é que tem que escolher bem quem o vai
representar.
Figuras afins
Núncio: não é um representante. É um mensageiro, o núncio não negoceia, é
só um transmitente. Ex: casamento por procuração, o procurador é um núncio.
Mandatário sem poderes de representação “homem de palha”: A é um
apaixonado por pintura. Queria comprar um quadro famoso que estava à
venda. O dono é a sua ex-namorada. A combina com B para comprar o quadro
a C (ex-namorada de A) em nome de B, e depois B vende o quadro a A. Arts
1157º e 1180º.
Caso
A quer comprar terreno que é de B. Mas B já tinha vendido o terreno a C. C não
registou.
A tenta comprar na mesma o terreno a B, mas não adquire o direito porque estava de
má-fé, não fica protegido pelas leis do registo.
Então resolve substanciar os seus poderes em D, que estava de boa-fé para realizar
negócio por ele. Não pode, artigo 259º nº2.
Caso
A tem apartamento no Algarve e resolve vendê-lo. Nomeia B para tratar do negócio.
Diz a B para vender entre 150 000€ e 200 000€. B acha que é um bom apartamento e
decide comprar o apartamento.
B negoceia em nome de A e em seu nome. É um negócio consigo mesmo, art 261º.
Não pode!
Então B restabelece poderes representativos em C, C passa a ser o representante de A.
B compra a C. a lei não permite negócio consigo mesmo, nº2 do 261º.
Também não pode, há conflito de interesses, porque A quer vender a preço mais alto e
C comprar a preço mais baixo. Nº2 do art 261.
Caso
A paga a B 300€/mês. Qual o valor jurídico do contrato de trabalho? Nulo, não cumpre
o salário mínimo nacional. Mas as vendas celebradas são válidas.
Relação jurídica de base é nula, mas a procuração é válida. Isto porque é preciso
segurança.
CASO
A veio visitar B a Portugal. B arranja-lhe quarto no hotel Ibis em nome de A. Faz
reserva em nome de A.
A chega e não gosta do hotel.
↓
Não é obrigado a vincular-se, não há procuração, não estão preenchidos os
pressupostos do artigo 258º. B apenas actuou como representante, mas não era.
No entanto, o hotel pensa que A é parte, que está vinculado. Mas a única parte
vinculada é o hotel.
Aqui temos um caso de representação sem poderes, artigo 268º. O contrato é válido,
mas não produz efeitos em relação a A.
No entanto, A podia ratificar.
Ratificação: negócio jurídico unilateral que vai conceder efeitos ao negócio ineficaz. A
forma de ratificação é a mesma da procuração, nº2 art 268º. Tem eficácia retroactiva,
tudo se passa como se houvesse poderes representativos desde o início.
Alternativa: A vem visitar B.
A pede a B que lhe arranje um quarto num hotel 5 estrelas. Mas B arranja-lhe um
quarto no hotel ibis.
↓
O representante deve agir no interesse do representado, mas não é obrigado a tal.
Há procuração, estão preenchidos os pressupostos do artigo 258º, A está vinculado.
Mas temos aqui um abuso de procuração, artigo 269º. Aplicamos o mesmo regime da
representação sem poderes (ineficácia), mas só se estiverem preenchidos os
pressupostos:
Abuso de representação
A outra parte tem de conhecer o abuso
CASO
A desde pequeno odeia B e vice-versa.
Entretanto, A está a vender a sua quinta através de procurador, C. B dirige-se ao
procurador e pergunta por quanto A está a vender a quinta, C diz por 500000€. B diz a
C para vender-lhe a quinta por 300000€ e que lhe pagava por fora 100000€. C vende a
quinta a B. quid iuris?
1ªcoisa: temos procurador? Requisitos 258º preenchidos
C age contra interesse de A » abuso
Contraparte conhecia o abuso, artigo 269º
↓
Não é justo o negócio ser apenas ineficaz e válido. Aqui é mais do que abuso. As partes
colaboraram conscientemente para prejudicar o representado. Houve colusão.
Ofende os bons costumes, é ofensivo, é nulo, com base no artigo 281º.
AULA PRÁTICA 19
2012-04-17
Sumário: O facto jurídico. A classificação dos factos jurídicos. O negócio jurídico como
facto voluntário lícito. Resolução de casos práticos relativos à celebração do negócio
jurídico (proposta contratual e convite a contratar; o valor do silêncio; o momento da
eficácia das declarações negociais; a conclusão do contrato; a transferência da
propriedade e do risco; a aceitação tardia).
Resolução dos casos práticos n.º 36, n.º 37.º e n.º 38.
Negócio jurídico: facto jurídico voluntário lícito, que as pessoas utilizam para a
obtenção de certos efeitos jurídicos.
Facto jurídico: facto que conduz à produção de efeitos jurídicos. Está na base da
modificação, extinção e constituição de relações jurídicas.
Facto jurídico involuntário: todos os acontecimentos naturais juridicamente
relevantes
Facto jurídico voluntário: acto humano juridicamente relevante. O facto é
resultado da vontade, a vontade quer o facto ainda que possa não querer os
efeitos jurídicos resultantes desse facto
o Ilícito: contrário à lei
o Lícito: negócio jurídico e simples actos jurídicos ou acto jurídico em
sentido restrito. Resultam apenas da lei, a vontade é irrelevante.
Negócio jurídico: a vontade está na base do facto e da produção
dos efeitos jurídicos. Efeitos jurídicos que forem desejados pelas
partes e que estejam conformes à ordem jurídica. Por um lado
temos a vontade dirigida aos efeitos que se pretendem que
aquele negócio jurídico produza; a manifestação da vontade e a
garantia que é dada pela ordem jurídica para a produção de
efeitos.
Contrato: facto jurídico voluntário lícito composto por duas declarações de vontade
contrapostas entre si, mas perfeitamente harmonizadas.
Contratos bilaterais: ambas as partes têm obrigações. Ex: Contrato de compra
e venda
Contratos unilaterais: apenas uma das partes tem obrigações. Ex: contrato de
doação
Nas não receptícias – não têm destinatário, art. 224º, nº1, 2ªparte
nº3 tem de chegar ao poder do declaratário em termos que este possa tomar
conhecimento.
Conclusão do contrato
232º a contrario sensu
Temos contrato quando temos acordo entre as partes em relação a todas as cláusulas
que elas consideram essenciais.
Contrato = proposta contratual eficaz + aceitação eficaz e tempestiva
Caso prático 36
A envia a B livros com carta dizendo X, se não enviar de volta, considera o negócio
como válido.
Comportamento de A: proposta contratual (quando há vontade de declaração,
concreta, determinada, clara e completa de forma a poder ser aceite com um simples
sim do declaratário). Proposta contratual com destinatário, é receptícia, que se torna
eficaz quando chega ao poder e/ou conhecimento do declaratário e que fixa um prazo.
Art. 224º 1ªparte
Qual o prazo durante o qual o proponente fica vinculado à proposta que faz, art. 228 a)
(regra da irrevogabilidade da proposta, art. 230º). Findo este prazo, a proposta, sem
acordo, caduca.
Comportamento de B: B não faz nada, há um silêncio, art. 218º. O silêncio em regra
não é juridicamente relevante, a não ser que esse valor lhe seja dado por uso ou
convenção. (não podemos deduzir, o caso não diz nada). Assim não temos declaração
negocial, art. 234º.
António não pode por acto unilateral criar/atribuir valor declarativo ao silêncio.
Baltasar não é obrigado a responder, nem a entregar o livro.
Caso prático 37
Caso prático 38
5/09 11/09 12/09 13/09 14/09
Frederico
Temos declaração negocial que é expressa, art. 217º
A aceitação não se torna eficaz pelas simples expedição, mas sim pelo art. 224, nº1,
1ªparte. A eficácia da aceitação dar-se-ia no dia 13.
A aceitação não foi tempestiva. A proposta já tinha caducado. A aceitação cai no vazio.
À partida não há contrato, art. 229º, nº1. Se não tiver razões para acreditar que foi
enviada fora de prazo …
Art. 224º, nº2: o proponente pode considerar eficaz a sua aceitação tardia.
c) CCV, art 874º, 879º b)c) efeitos obrigacionais e a) efeito real + 408º nº1, dá-se a
transferência da propriedade por mero efeito do contrato (princípio da
consensualidade)
À partida a transmissão da propriedade dá-se por mero efeito do contrato. Como
estamos perante fruto natural, art 212º nº1, a transferência da propriedade só se dá
com a colheita, art. 408º, nº2.
d) 796º, nº1. Efeito real, efeito obrigacional, entrega 790º nº1, pagar o preço ainda é
possível, tem de ser cumprida.
AULA TEÓRICA 21
2012-04-23
Sumário: II. Os negócios jurídicos com eficácia limitada (negócios com efeitos
subordinados a condição ou termo; com efeitos dependentes de ratificação; com
eficácia relativa por falta de publicidade); efeitos obrigacionais de negócios inválidos
III. A interpretação e a integração da declaração negocial
A lei pende para a teoria da declaração quanto a negócios do tráfico jurídico negocial
geral e para a teoria da vontade face a negócios estritamente pessoais
C. A invalidade do negócio jurídico
I. As causas da invalidade, suas modalidades, seus regimes típicos e atípicos
II. Os negócios jurídicos sobre os quais impende a sanção da nulidade
1. A falta da capacidade jurídica
2. Os negócios contrários à lei
3. Os negócios com conteúdo (objecto ou fim) rejeitado pela ordem jurídica
[textos de apoio sobre insolvência; pp. 490 a 527]
Normalmente, o negócio sendo válido produz todos os seus efeitos, mas não é sempre
assim. Pode acontecer que seja totalmente válido, mas ainda assim não produza
efeitos ou não os produza integralmente, porque esta razão de ser ocorre ao próprio
nível dos efeitos por razões válidas:
1. Vontade das partes – porque as partes não quiseram
2. Por comando da lei.
Ex: A é funcionário público, tem salário razoável, mas tem gostos milionários. Comprou
mobília por 25.000€, como não tinha esse dinheiro, combinou que ia pagar às
prestações mensais de 2000€. O vendedor reservou para si o direito de propriedade.
Regra: transferência dá-se por mero efeito do contrato, no momento em que a
aceitação ganha eficácia. Aqui a regra do art. 408º foi afastada pela norma do art.
409º.
Isto por uma questão de segurança.
Temos um contrato válido, que apenas produz alguns dos seus efeitos. Não se dá a
transferência da propriedade. É um contrato válido com eficácia limitada. Parcialmente
ineficaz.
Efeitos produzidos: obrigação do pagamento da coisa e obrigação da entrega da coisa.
As partes submeteram a verificação dos efeitos a uma condição.
Condição e termo
Condição, art. 270ºss: um acontecimento futuro e incerto exterior ao negócio, mas
incindivelmente ligado a ele, não se pode separar, pois determina a produção ou
cessação dos seus efeitos. As condições podem ser de dois tipos,
Suspensivas: determina a produção dos efeitos do negócio
Interpretação
Se a declaração só comporta um sentido, é este que vale. Não vamos interpretar uma
coisa que é óbvia. Só podemos recorrer aos mecanismos da interpretação quando a
declaração é duvidosa.
Os artigos 236º a 239º só se aplicam às declarações receptícias.
Às não-receptícias – declaração testamentária, aplica-se a norma do artigo 2187ºCC.
Quando se interpreta temos de partir da manifestação, do elemento externo, para
atingir o elemento interno, para tentar perceber qual a vontade do declarante.
Temos de encontrar o sentido da declaração negocial.
Artigo 236º n.º1 – a declaração vale com o sentido (elemento interno) que uma pessoa
norma, colocada na pessoa do declaratário, possa interpretar do comportamento do
declarante – o que uma pessoa mediana entenderia do comportamento do declarante.
Artigo 236º n.º1, 2ª parte – o mesmo se aplica para as declarações negociais tácitas.
Isto implica um uso linguístico comum. Ex: A e B são traficantes de droga. À cocaína
chamam cacau. Se aplicarmos o artigo 236º, a pessoa normal entenderia que seria
chocolate, mas A e B não estão vinculados à venda de chocolate. A isto chamamos
falsa demonstratio. As partes manifestam-se mal, mas entendem-se bem, elas
exprimem-se mal conscientemente, mas estão de comum acordo. É um uso linguístico
comum entre elas, artigo 236º n.º2.
Ex: Dr. Hörster mora em Coimbra e gosta muito de bacalhau dourado, mas a receita de
lá é diferente da receita de Braga. Neste caso, o declaratário normal é de Braga, pensa
que o bacalhau dourado é o da ementa de cá, por isso é a receita de Braga que vale. A
pessoa que vem de fora é que corre o risco. Tem que valer o sentido objectivo.
Aqui temos uma falta de vontade, um erro na declaração. As partes ficam vinculadas.
Quando uma das partes diz uma coisa, mas não é aquilo que quer dizer, vale o sentido
objectivo (normal) que alguém teria perante aquela declaração. Assim sendo, há
negócio.
Eventualmente, poderá ser anulado por erro na declaração.
Integração
Preciso integrar quando a declaração é lacunosa. Vale o artigo 239º.
Vontade presumível: vontade que as partes queriam se tivessem percebido que havia
lacuna, a vontade que teriam tido na altura da celebração do negócio. Mas apenas vale
a vontade que teriam na altura, o que teriam decidido.
Na outra hipótese, de acordo com os ditames da boa-fé, prevalecem sobre a vontade
presumível.
A vontade presumível dá solução X, os ditames da boa-fé dão solução Y. optamos pela
solução Y.
A integração de lacunas nunca pode substituir ou alargar o objecto do negócio jurídico
em causa. Ela tem de manter-se dentro do âmbito negocial traçado pelas partes.
Em regra, o negócio jurídico produz todos os seus efeitos, a não ser que haja causa de
invalidade ou ineficácia.
Pode haver uma deficiência genética na formação do contrato que possa inquinar os
seus efeitos.
A invalidade é uma deficiência genética que impede a ordem jurídica de dar protecção
aos efeitos pretendidos.
Invalidade
Ineficácia
(em sentido restrito)
Ineficácia (sentido restrito)
A nossa lei estabelece este regime nos artigos 285º a 294º (regime-regra da
invalidade).
Artigo 285º: na falta de regime especial, aplica-se o regime geral.
exercida dentro dos limites da lei. Esses limites, por seu lado, são estabelecidos com
base em decisões fundamentais de ordem ideológica, filosófica e económico-política.
O Código Civil estabelece no artigo 294º como regra fundamental que os negócios que
violem normas imperativas são nulos, salvo nas excepções que a lei preveja. A sanção
da nulidade relativamente aos negócios em causa resulta do facto de eles, quanto à
sua natureza geral, serem possíveis: as partes têm capacidade para e um determinado
tipo legal quanto aos negócios pretendidos existe. No entanto, a ordem jurídica
desaprova os negócios, tendo em conta o seu conteúdo, o seu fim ou as circunstâncias
concretas em que são celebradas.
Porém, nem todas as violações de normas imperativas acarretam nulidade do negócio.
A lei também pode prever a anulabilidade ou até sanção nenhuma (1306º, n.º1
2ªparte). Na falta de uma solução expressa, cada proibição legal deve ser interpretada
e interrogada sobre a finalidade legislativa que subjaz. Normas imperativas que não se
dirigem contra o conteúdo do próprio negócio, mas que visam outros fins, não
conduzem necessariamente à sua nulidade. Assim, todas as normas imperativas que
não determinem, elas próprias, a sanção resultante da sua violação, devem ser
interpretadas quanto ao seu escopo e à sua finalidade com vista à decisão, art. 294º.
(então 1º interpretar a norma para ver qual a sua ratio legis, depois ver se tem
finalidade de proibir o próprio negócio, se a norma proíbe o negócio então é nulo, se a
norma tiver outra finalidade que não proibir o negócio, a solução mais adequada
poderá não ser a nulidade).
Exemplo: contratos abaixo do salário mínimo são nulos. Em relação a vendas fora de
horas, não há nulidade dos negócios realizados, apenas há multa.
Exemplo: António tem um restaurante com muita saída, porque o cozinheiro é muito
bom. O cozinheiro só pode trabalhar 8h/dia, está estipulado na lei, mas como tem
muitos clientes dava jeito ao António que o cozinheiro trabalhasse mais horas. António
contrata a esposa por 4horas, mas nessas 4horas quem trabalha é o cozinheiro.
Este é um negócio sucedâneo (subtipo de negócio contrário à lei). Estes negócios são
celebrados para defraudar a lei, são negócios nulos, art. 294º. A lei tem que impedir
tudo o que atinge o mesmo objectivo que a lei proíbe.
5
Contrário à ordem pública
Artigo 280 n.º2 6
Ofensivo dos bons costumes
5contrárioà ordem pública: o negócio jurídico é contrário à ordem pública quando é
incompatível com ela. Normas com carácter geral, não são normas específicas,
decorrem de princípios gerais/constitucionais. Conjunto de princípios subjacentes à
nossa ordem jurídica.
6ofensivo dos bons costumes: o negócio jurídico é ofensivo dos bons costumes
quando tem por objecto actos imorais, contrários à moral pública. Normas que não
têm componente jurídica, variam ao longo do tempo. Consistem em normas de
conduta de caracter moral social de uma determinada época e de certo meio. São uma
cláusula geral.
AULA PRÁTICA 20
2012.04.23
Sumário: Continuação da matéria leccionada na aula anterior. Resolução dos casos
práticos n.º 39 e n.º 40.
Caso prático 39
a)
Análise dos orçamentos: convite a contratar porque quando há apenas mero interesse
para negociar ou disponibilidade para contratar, não há vontade de vinculação jurídica.
Envia carta: proposta contratual expressa, art. 217º, vontade inegável de A criar
vinculação jurídica.
Caso prático 40
Hora de abandono
23h Manhã cedo do escritório
AULA TÉORICA 22
2012.04.30
Sumário: 4. Os negócios celebrados sem observância da forma legal (só referência)
5. Os negócios celebrados com falta da vontade (enunciado geral)
a) A simulação (absoluta) como negócio fingido e celebrado para não valer
aa) Os efeitos do negócio simulado » sempre a nulidade
bb) Os legitimados para invocar a simulação; os objectivos da lei
cc) O regime de excepção do artigo 243.º; terceiros dos artigos 243.º v.s. 291.º
b) A simulação relativa e suas formas
aa) A validade autónoma do negócio dissimulado
bb) A simulação relativa objectiva (sobre o preço ou a natureza do negócio)
cc) A simulação relativa subjectiva (v.s. o mandato sem representação)
c) A simulação relativa e o formalismo legal
aa) A nulidade do negócio simulado (por definição)
bb) A nulidade do negócio dissimulado por falta de forma (controverso)
[texto de apoio à simulação; pp. 527 a 547]
Pressupostos simulação
1) V.R é diferente de V.D
2) Tem de haver um acordo simulatório
3) Enganar terceiros (simulação inocento- quando é só enganar; simulação
fraudulenta- quando para além de enganar, querem prejudicar)
O negócio simulado é nulo (art.º 240, nº2).
Caso: A quer doar um apartamento à sua amante de longa data, mas a mulher não
pode saber, assim, finge que vendeu à senhora x para doar à amante, neste caso há
engano a terceiros mas é inocente, não prejudica terceiros. É nulo.
Intencional
Simulação (art.º 240 a 243) é intencional, o declarante quer enganar terceiros em
acordo com o declaratário;
Reserva mental (art.º 244): aqui temos na mesma uma divergência intencional
entre V.R e V.D, o declarante faz uma declaração mas não quer declarar, faz isto
para enganar o declaratário;
Declarações não sérias: o declarante faz uma declaração, não quer o declarado,
mas faz isto, na expectativa de que o declaratário se aperceba que ele “está a
brincar” (art.º 245- não há transmissão do direito de propriedade)
Não intencional: não foi propositada que a diferença entre a V.R e a V.D surgiu
Forçada - coação física (art.º 246), alguém é fisicamente obrigado a fazer uma
declaração negocial, a pessoa não tem como escapar, não há vontade (ex.:
hipnose, drogas), a pessoa não tem capacidade para dizer que não, enquanto na
moral há vontade, mas está viciada (ex.: pistola apontada à cabeça).
Ignorada - o declarante não se apercebe que há uma divergência:
- Falta de consciência da declaração (ex.: do leilão) - art.º 246
- Erro na declaração (queria comprar por 100 e disse 10) - art.º 247 ss
Simulação
Há um fim comum entre ambas as partes de enganar terceiros. Estes casos, são os
mais frequentes de situações de falta de vontade (também se admite a existência de
negócios jurídicos unilaterais simulados- testamento simulado, ex.: A quer deixar algo
à amante, como sabe que não pode, ele declara que deixa a um amigo para que depois
esse dê à amante- art.º 2200, anulabilidade). Pode ser absoluta ou relativa.
Absoluta: ex. do empreiteiro. Existe apenas um negócio, que é o simulado, as partes
dizem que querem celebrar mas não querem celebrar nada, este negócio +e nulo (art.º
240, nº2)
Relativa: Quando há dois negócios, ex.: A tem uma amante e quer doar-lhe um
apartamento no centro de Braga, a lei proíbe, então A finge que que doa mas vão ao
notário fingir que vendem (quando ele lhe tinha dado um cheque por trás para ela
pagar à frente do notário). Temos o c.c.v celebrado no notário, mas não corresponde
há vontade, pois querem doar, e a doação é outro negócio que as partes querem mas
escondem. A venda é um negócio simulado e a doação é um negócio dissimulado. O
negócio simulado é nulo e o negócio dissimulado (art.º 241), neste caso temos de ver
qual seria a validade caso não fosse dissimulado, aqui era nulo porque é uma
indisponibilidade relativa doar à amante (art.º 2196). Se fosse um bem móvel já podia.
O art.º 241, nº2- a doutrina dominante não faz esta interpretação, pensa que a forma
a adoptar é do negócio simulado, mas não estudamos assim, tem de ser visto
autonomamente, estaríamos a permitir a fraude à lei.
Legitimidade> nulidade> negócio simulado
1) Art.º 242, nº1: regime regra art.º 286 “qualquer interessado”- ex.: credores (art.º
605) e esclarecimento para simuladores entre si. Os herdeiros não cabem nos
interessados porque a pessoa ainda não morreu
2) Art.º 242, nº2: alargamento da legitimidade que não cabem no art.º 286, são os
herdeiros legitimários que pretendam agir em vida do autor da sucessão, mas só
em relação aos negócios celebrados com o intuito de os prejudicar
relativa), assim combina com B doar a este e o mesmo doa aos médicos, os
médicos são informados de que é B quem vai doar. Quid iuris? Aqui todos estão
envolvidos, todos sabem do que se está a passar. Temos dois negócios, A doa a B e
B doa aos médicos, ambos são negócios simulados porque A quer doar aos
médicos e não a B. temos um terceiro negócio dissimulado, as partes querem, mas
querem esconder (entre A e os médicos). B é uma interposição fictícia (simulação
relativa subjectiva), não faz parte do negócio dissimulado. Os negócios simulados
são nulos e quando ao negócio dissimulado temos de avaliar autonomamente, e há
de facto uma indisponibilidade relativa (doar a médicos art.º 2194), logo o negócio
é nulo. Sendo C, em vez dos médicos já não existia indisponibilidade relativa, mas
há falta de forma lodo é nulo na mesma (art.º 241, nº1 e nº2) + 220. Se os médicos
não souberem de nada, afinal temos uma interposição real. Art.º 294- 2194.
AULA PRÁTICA 21
2012.04.30
Sumário: A representação voluntária e o seu regime. A representação sem poderes; o
abuso de representação; o negócio consigo mesmo; a capacidade; a falta ou vícios de
vontade e estados subjectivos relevantes. Resolução dos casos práticos n.º 41, n.º 42 e
n.º 43.
Caso Prático 41
A encarrega B de celebrar o negócio. Estamos perante uma procuração (art.º 262, nº1),
negócio jurídico unilateral através do qual A tem poderes representativos sobre B para
celebrar um negócio jurídico. Daqui decorre uma representação voluntária, estando
preenchidos os pressupostos do art.º 258, o negócio jurídico celebrado por B produzirá
efeitos na esfera jurídica de A: 1º B tem de celebrar negócio jurídico, c.c.v (art.º 874)
de um bem móvel (art.º 205), liberdade de forma (art.º 219), os efeitos estão no art.º
879; 2º realizado por B em nome de A; 3º nos limites dos poderes que lhe foram
conferidos, o que se verifica, a forma da procuração (art.º 262, nº2), há liberdade
forma, a procuração pode ser expressa ou tácita (art.º 217), neste caso foi expressa.
Quando à 2ª parte aplica-se o art.º 261 (negócio consigo mesmo) é anulável, a não ser
se o representado consentir na celebração do negócio, A teria de dar o consentimento
antes ou convalidá-lo por confirmação (art.º 288), ou se o negócio exclui a
possibilidade de um conflito de interesses. Não se aplica nenhuma das excepções do
art.º 261, mas B como conhece este artigo nomeia um substituto, C. B faz um
substabelecimento de poderes representativos em C, ou seja, C passa a ser o
representante de A. C apenas o fez para fugir à proibição do art.º 261, nº1, mas
segundo o nº2 este negócio é anulável. Sendo o negócio anulável, quem tem
legitimidade para pedir a anulação é o A segundo o art.º 287,nº1 sendo o prazo de 1
ano a contar do conhecimento pelo representado.
Caso Prático 42
b) C age sob reserva mental (art.º 244), C emitiu uma declaração negocial contrária à
sua vontade para enganar F. a declaração negocial de C é válida, por F não conhecia a
reserva mental, logo há contrato entre C e F. F pode exigir o pagamento da renda (art.º
1038, a)). Isto não será um caso de representação sem poderes, tinha poderes mas
não os usou para enganar o declaratário, actua em nome próprio.
Caso Prático 43
A faz procuração a B, negócio jurídico unilateral através do qual o A atribui a B poderes
representativos para a celebração de determinado negócio (art.º 262, nº1). A forma da
procuração (art.º 262, nº2) é a mesma do negócio, que é um c.c.v (art.º 874, de um
bem imóvel (art.º 204) e a forma legal (art.º 875) e efeitos (art.º 879 + art.º 408, nº1).
Preenchidos os pressupostos do art.º 258, significa que os efeitos da procuração
produzem-se na esfera do representado (A) + (dizer requisitos), temos negócio
jurídico, celebrado pelo representante em nome do representado? Sim e dentro dos
poderes funcionais. Há representação com poderes, ele comprou mas não cumpriu as
especificidades, podemos ter abuso de representação (art.º 269), ver pressupostos:
actuação dentro dos limites formais e está preenchido porque el comprou uma quinta
tal como pedido; utilização dos poderes em sentido inverso, sim porque comprou no
Alentejo; dever de conhecimento da contraparte o que não se verifica, assim o negócio
é válido e eficaz em relação ao representado e assim temos de aplicar o art.º 258, o
representado corre o risco de o representante não actuar da forma que lhe pediu. Se C
soubesse já não merecia a proteção. Mota de água: Temos um c.c.v (art.º 874), de um
bem móvel (art.º 205), há liberdade de forma (art.º 219) os efeitos (art.º 879 + 408,
nº1). A não atribui a B para ele comprar a mota, assim podemos estar perante uma
representação sem poderes (art.º 268- ver pressupostos: negócio sem poderes de
representação celebrado em nome de outrem, o que se verifica) estando preenchidos
estes pressupostos o negócio é válido mas ineficaz em relação a A, ou seja, A não fica
vinculado. A não ser que ratifique (art.º 268, nº1 e nº2) - definir, a forma é a mesma da
procuração (art.º 268. Nº2 remete para o art.º 262, nº2). A pode ratificar ou não o
negócio, A utiliza o art.º 268, nº1 e ratifica o negócio, mas como A ficou aborrecido o
mais provável é não rectificar e assim este negócio não é eficaz em relação a ela, ou
seja, A não é parte deste negócio, C sofre com as consequências, sendo o único
vinculado. S e A não ratificar, não é parte> e o B é parte do negócio? Não, ele não
comprou em seu nome. Não há nada que C possa fazer para se proteger? Sim, pedir a
justificação dos poderes do representante (art.º 260).
AULA TEÓRICA 23
2012.05.07
Sumário: d) A reserva mental (desconhecida v.s. conhecida)
e) A declaração não séria
f) A falta de consciência da declaração
g) A coacção física
III. Os negócios jurídicos sobre os quais impende a sanção da anulabilidade
1. A falta de capacidade de exercício
2. A violação de norma imperativa
3. O negócio usurário; afinidade com o negócio ofensivo dos bons costumes
4. Os negócios celebrados com erro na declaração e a sua possível anulabilidade
a) Os pressupostos do erro na declaração (artigo 247.º, 1.ª parte)
aa) O erro no meio declarativo, na própria declaração (significante)
bb) O erro sobre o conteúdo ou sentido da declaração (significado)
[pp. 547 a 563]
Simulação
Figura de um grupo – faltas da vontade. Em regra é punido com a sanção da nulidade.
Problemas mais graves que ocorrem na formação do negócio – falta toda a vontade.
Pressupostos
1. Vontade real não corresponde à vontade declarada
2. Acordo com declarante e declaratário
3. Intuito de enganar 3º
Reunidos estes pressupostos, estamos perante um negócio nulo, sendo sancionado
com a nulidade, art. 240º.
Exemplo: negócio A – B – E
As partes do negócio são apenas A e E. B é uma parte fictícia. A isto chama-se
interposição fictícia de pessoas.
B não pode ser representante, porque não tem poderes representativos.
Necessariamente tem de haver concluio, esquema, tramoia.
Isto é diferente da interposição real, “homem de palha”. Aqui é uma parte real.
Ex: A era muito rico, mas estava cheio de dívidas e tinha que vender património, mas
não queria que se soubesse. Passa algum património para nome de B para que este
venda em sua vez. Entre A e B existe contrato de mandato, art. 1187º
Não é ilegítimo.
B vende em nome próprio, depois transmite a A.
Pressupostos
1. Vontade real não corresponde à vontade declarada
2. Intuito de enganar o declaratário. Quando o intuito é só enganar, temos ums
reserva inocente. Quando o intuito é também prejudicar, temos uma reserva
fraudulenta.
Caso
A está a morrer e o sobrinho de A sabe que o tio é fã de Picasso e leva um quadro para
lhe oferecer. Pendura o quadro à frente da cama.
O sobrinho diz à prima que quando o tio/pai morrer leva o quadro embora. A prima
sabe o primo/sobrinho não quer doar nada ao pai/tio.
Miraculosamente, A recupera.
Qual a validade do negócio? Válido, o tio é o declaratário, desconhecia a vontade do
sobrinho. O proprietário é tio.
Caso
A morre.
Sobrinho vai buscar o quadro, mas a prima já o tinha arrumado.
A filha/prima não era o declaratário, era o pai/tio. O pai/tio tinha adquirido, morreu,
logo transmitiu o quadro em testamento.
Formalmente, aplicando a reserva mental, A adquiriu, não interessa que a sua filha
saiba a verdadeira vontade do sobrinho.
Mas isto é injusto, que se possa herdar nestas situações.
Pode-se entender que a rapariga ao invocar o direito de propriedade sobre o quadro,
esteja a agir com abuso de direito, art. 334ºCC. Tinha que ter entregado o quadro ao
primo.
Caso
A professora de TGDC esteva a ensinar a transmissão do direito de propriedade e o
princípio da consensualidade e diz, a título de exemplo, que quer vender o seu
telemóvel. Sofia, no final da aula vai à professora compra o telemóvel.
A professora fez uma declaração não séria, art. 245º, não há sequer negócio, nem
efeitos laterais legais. Fez na expectativa de que a outra parte percebesse que não
estava a falar a sério.
↓
Declaração não séria, art. 245º
n.º2: não existe na mesma negócio, mas se houver expectativas e daí advier prejuízo,
há direito a indemnizar.
Esta obrigação de indemnizar é a obrigação de indemnizar o dano da confiança.
Pode não haver culpa nenhuma da parte, mas tem obrigação de indemnizar. Não há
responsabilidade pré-contratual nos termos do art. 227º, não há culpa in contraendo.
Aqui temos aquela obrigação. A lei protege a confiança legítima, as expectativas
geradas pelo declaratário.
Nas três figuras referidas até agora a posição do declarante face à sua declaração é
sempre a mesma: não quer o declarado. A posição ou atitude do declaratário, porém,
varia e é em sintonia com ela que se diferenciam e definem as três figuras.
4 – Negócios usurários
Situação em que alguém se aproveita conscientemente da situação de desiquilíbrio de
alguém, para impor um negócio com prestações desproporcionais, excessivas. O
negócio será anulável.
Na verdade, não será a sanção mais favorável, seria mais adequada a nulidade. É a
manifestação do princípio da protecção da parte mais fraca.
Casos
→António tem acidente de automóvel numa estrada desértica, e está sem bateria no
telemóvel.
Andou e encontrou uma casa. Pede para lá ficar a dormir e o dono diz que tem que
pagar 100€ pela dormida.
Anulável, 282º, negócio usurário.
→César é dono de uma loja e este ano investiu em minissaias às flores, mas não
vendeu nada. Decidiu que mais valia vendê-las nos saldos abaixo do preço, por 1/3 do
preço.
O negócio é válido.
AULA PRÁTICA 22
2012.05.07
Sumário: Faltas de vontade. A simulação: pressupostos e tipos de simulação; efeitos
da simulação (quanto ao negócio simulado; quanto ao negócio dissimulado);
legitimidade; protecção de terceiros de boa fé.
Resolução dos casos práticos n.º 44 e n.º 45.
Faltas da vontade
Quando não existe uma coincidência entre o substracto do elemento interno, a
vontade, e a manifestação da vontade.
As situações de falta e vícios da vontade estão presentes nos arts 240ºss.
Efeitos da simulação
O negócio simulado é nulo tanto na simulação relativa como na absoluta.
Excepção: casamento, art. 1635º d) e testamento, art. 2200º
Caso: A quer realizar negócio com C. mas celebra negócio com B para depois B celebrar
com C.
Negócio simulado: o que as partes não quiseram celebrar. A e B, B e C.
Negócio dissimulado: o que as partes quiseram. A e C.
O negócio simulado é nulo pelo 242º.
O negócio dissimulado é analisado autonomamente. Se existe proibição legal,
incapacidade, etc.
Legitimidade
Qualquer interessado, art. 286º, é o titular do direito cuja consistência
económica ou jurídica está dependente, liga ou afectada por aquele negócio.
Ex: credores, aert. 605º
Próprios simuladores entre si e também os seus representantes e os seus
herdeiros, que venham a agir na posição do simulador.
242º n.º2 alarga o círculo de interessados: herdeiro legitimário, art. 2157º e
394º n.º2
Os herdeiros legitimários – categoria de herdeiros que o de cujos nunca pode excluir
da sua herança.
O artigo 243º apenas dá um direito de oponibilidade relativa. Já o artigo 291º pode dar
direito de propriedade com efeitos “erga omnes”. Tem uma tutela contra todos, mas é
mais exigente.
Negócio simulado para prejudicar herdeiro, mas não agiu em vida, porque não sabia.
Neste caso, se a lei permitia que o herdeiro agisse em vida, também permite que
quando o de cujos falece, porque aí já tem uma herança, o herdeiro possa defender o
seu direito. Em vida, apenas tinha uma expectativa. Pode agir por força do art. 286º.
Nesse caso, o 3º de boa-fé já não se pode defender com base no 243º.
Caso prático 44
a) Contrato de compra e venda. O negócio é válido ou não?
Requisitos do negócio simulado? A vontade manifestada é vender, a vontade
real é não vender. Acordo simulatório entre A e C e intuito de enganar 3º,
enganar e prejudicar o banco. Pressupostos art. 240º n.º1 preenchidos.
Simulação absoluta, porque as partes não querem concluir negócio nenhum.
Consequência: nulidade, art. 240º n.º2
Efeitos: não produção de efeitos volitivo-finais. O proprietário é A.
Negócio entre C e D: contrato de compra e venda nulo, pelo artigo 892º. C não
pode transmitir direitos que não tem, princípio nemo plus iuris. O propietário é
A, o registo não sana nulidades.
b) Legitimidade? 242º n.º1 os próprios simuladores; artigo 286º
Em relação às propriedades que ainda estão em C a acção terá êxito.
Pode opor em relação a D? 3º boa fé, 243º n.º2 – quem ignore, ainda que
culposamente. D estava de boa-fé, estava desatento. Protegido em relação a A
por força do art. 243º, adquire direito de oponibilidade relativa.
c) 243º não protege. Banco é considerado qualquer interessado, art. 286º, credor
titular de um direito cuja consistência económica ou jurídica está dependente,
liga ou afectada por aquele negócio. Banco, art. 605º
D só pode ficar protegido se os requisitos do 291º estiverem preenchidos. Não
fica protegido. O pedido de declaração feito pelo banco terá êxito, por força do
art. 289º, sentença meramente declarativa.
CASO PRÁTICO 45
a) Contrato de compra e venda entre A e B, quando realmente lhe queria doar a casa.
Arts 874º, 875º, 204º, 879º+408º n.º1
Será que é simulado? Requisitos art. 240º. Divergência entre vontade real e vontade
declarada; acordo simulatório; intuito de enganar 3º, enganar esposa e familiares.
c) A – B – D
Credor pode intentar acção de nulidade? Terá êxito?
3º boa-fé – ignora tudo
243º exige X » não se pode aplicar
Pressupostos art. 291º preenchidos. D adquire direito de propriedade, aquisição a non
domino
AULA TEÓRICA 24
2012.05.14
Sumário: b) Os pressupostos da anulabilidade (artigo 247.º, 2.ª parte » “desde
que”)«» artigo 257.º, 2.ª parte » “desde que”
c) O dissenso oculto
d) O erro de cálculo ou de escrita e o erro na transmissão da declaração
5. Os negócios celebrados com vícios da vontade
a) O enunciado geral; a delimitação das figuras
b) O erro sobre os motivos; o regime regra do artigo 252.º, n.º 1
aa) As excepções ao regime regra: artigo 252.º n.os 1 e 2 (só referência)
bb) O erro sobre a pessoa ou o objecto do negócio (artigos 252.º, n.º 1 » 251.º » 247.º,
2.ª parte)
[pp. 563 a 576 (576 a 582 não leccionadas)]
CASOS
António é dono de uma loja de candeeiros e há um candeeiro muito caro, mas
enganou-se no preço, custava 2000€, mas estava marcado na etiqueta a 250€.
B passa na rua e vê o candeeiro e gosta do preç, na altura de pagar o dinheiro
descobre-se o lapso.
↓
Erro na própria declaração.
A etiqueta é só um convite a contratar, por isso B é quem faz a proposta.
Está ou não em erro.
Casos
A vai ao mercado num sábado, olha para as bancas do peixe e aponta para umas potas
e diz “quero um kg destas lulas”.
A peixeira percebeu e vendeu.
→Falta de vontade sobre o conteúdo porque o sentido objectivo de palavra. Não é
aquele que internamente ele atribui valor jurídico » válido, porque as partes
entenderam-se, falsa demonstratio, art. 248º e 236º n.º2
B está no sul de Espanha e a certa altura vai a uma esplanada e pede um fino, o
empregado trás-lhe um copo de shot com vinho do gerês.
→Disenso oculto – aparentam apenas estar de acordo, art. 232º.
Não há acordo interno, mas aparentemente há. O sentido objectivo comum é o que
contrato está celebrado. Este erro sobre o conteúdo da declaração releva ou não para
tornar o negócio anulável, pressupostos art. 247º - elemento sobre que incide o erro:
cerveja e é essencial.
O negócio é anulável, obrigação de indemnizar as legítimas expectativas.
O art. 247º não exige que o erro seja desculpável.
1 – Erro na declaração
1.1 – Erro na transmissão da declaração
A é dono de mercearia, manda empregado ir ao fornecedor pedir mais duas caixas de
nesquik, o empregado pede dois caixotes, cada qual trás 20 caixas.
Art. 250º
Qual o papel do empregador » transmite declaração negocial que já está feita. A lei
manda aplicar na mesma o regime do erro na declaração, art. 247º.
→Alternativa: se o empregado fez de propósito. Usou de dolo, art. 250º n.º2 –
anulável
Excepções
Erro sobre o qual as partes tenham acordado
a essencialidade do motivo, art. 252º n.º1 in
fine
Vícios redimitórios: vícios ocultos que tornam a coisa imprópria para o uso a que se
destina.
Para que o erro seja causa de anulação tem de ser um erro próprio. Tem que ter
característica de propriedade, não pode haver outro fundamento de invalidade. Não
pode ser erro sobre um elemento que seja um requisito legal da validade do negócio,
porque aí a invalidade existe devido à falta desse requisito e não por causa do erro.
AULA PRÁTICA 23
2012.05.14
Sumário: Faltas de vontade (continuação da matéria leccionada na aula anterior).
Resolução dos casos práticos n.º 46, n.º 47 e n.º 48.
Nos vícios da vontade, a própria vontade está mal formada, a vontade não se forma
correctamente.
Sofreu uma deformação no processo formativo.
Caso prático 46
O negócio de 50.000€ é nulo art 240º nº2, não produz efeitos volitivo-finais
Negocio 75000€: 241º nº1 apreciado autonomamente
Forma – 875º
(falar das duas correntes doutrinais)
O negócio dissimulado é nulo, por falta de preenchimento de forma legal
O proprietário é C.
a lei fiscal não determina a nulidade do contrato, aplica sanção.
Contrário à lei, art. 281º. Evasão fiscal – fim contrário à lei
Quem tem legitimidade? Os próprios simuladores, art. 242º n.º1 1ªparte, artigo 286º
Será que este acordo é válido? Regra: liberdade de forma
CCV, forma – salvaguardar o interesse público. As partes não podiam acordar.
“não invocarem a nulidade do negócio”, esta clausula é nula, art. 294º, porque é uma
clausula contra a lei.
Art. 334º abuso de direito institucional, venire contra factum proprium. Atendendo ao
interesse público, a falta de forma pode ser invocada por quem a causou, não há abuso
de direito.
Caso prático 47
CCV entre A e D
874º, 204º n.º1 a), 875º, 879º+408º n.º1
O proprietário é Dália.
286º qualquer interessado
242º n.º1 2ªparte, os próprios simuladores.
Caso prático
TT, amante de arte, incumbe J, a quem fornece dinheiro para o efeito, para lhe
comprar em seu nome (J) uma pinura, tendo ficado acordado entre os dois que, a
seguir à compra, J havia de transferir a sua aquisição de imediato para TT.
Contudo, perfeitamente ao contrário do acordado, J vende a pintura a B.
Diga quem é o proprietário da pintura.
AULA PRÁTICA 24
2012.05.21
Sumário: Vícios de vontade. O erro sobre os motivos, o dolo e a coação moral.
Casos práticos n.º 49, n.º 50, n.º 51.
Caso prático 49
Enganou-se e por isso arrendou uma casa segundo aquele pressusposto errado.
Será que podemos falar do erro na declaração? Art. 247º, não porque a vontade
declarada coincidia com a vontade real. Não é uma falta da vontade, porque o
elemento externo corresponde ao elemento interno.
Será que podemos falar em erro sobre os motivos? Art. 252º
Sim, há uma deformação da vontade no processo formativo, existe um vício da
vontade.
Há uma divergência entre a vontade real e a vontade hipotética.
O erro sobre os motivos normalmente é irrelevante, salvo em 3 excepções previstas no
código, isto por segurança e estabilidade.
Quando estamos perante erro unilateral sobre o objecto ou declaratário, art.
251º (erro unilateral sobre os motivos)
Quando há acordo das partes sobre a essencialidade do motivo, art- 252º n.º1
Erro bilateral que receia sobre as circunstâncias que recaem sobre a base do
negócio, art. 252º n.º2 » 437º n.1
Aqui estamos perante um erro unilateral, mas não é abrangido pelo art. 251º, não se
inclui em nenhuma das excepções-
É um erro sobre a base do negócio, mas é unilateral.
Para se desvincular, teria que acordar com o arrendatário, ao abrigo do princípio da
liberdade contratual, a desvinculação por mútuo acordo.
Caso prático 50
a) inocêncio celebra com Bonifácio um contrato de compra e venda, arts 874º 879º
219º 205º.
Bonifácio tem 15 anos, art. 122º é menor, logo não tem capacidade negocial de
exercício art. 123º, logo não tem capacidade para participar no tráfico jurídico geral,
art. 130º a contrario sensu.
Normalmente, o negócio será anulável, a não ser que caia nas excepções do art. 127º
(requisitos e justificar os requisitos ao caso concreto).
O negócio seria excepcionalmente válido.
Se este contrato não fosse válido, Inocêncio não poderia invocar a anulabilidade, art.
125º, porque este regime visa a protecção do menor).
Este negócio foi celebrado com vício, a vontade foi formada com deformação na sua
base, não é um a vontade esclarecida. A vontade foi influenciada por Humberto.
Quando falamos em erro, falamos numa ideia inexacta sobre a existência ou a
verificação de uma circunstância presente que é determinante para a declaração
negocial, sem a qual a declaração não teria sido emitida, em sentido absoluto, ou pelo
menos não naqueles termos, sem sentido relativo.
Se não fosse o pressuposto errado (raridade do selo), não teria vendido ou vendido
àquele preço.
Erro aqui é relevante, erro sobre os motivos, especificamente. Erro sobre o objecto,
qualidade do objecto, art. 251º.
A qualidade é a raridade que influencia o valor do objecto.
Foi em virtude deste erro que a vontade de Inocêncio foi influenciada. Vontade real
diferente da vontade hipotética.
Este erro pode ser anulável se preenchidos os pressupostos do art. 247º
“essencialidade”, será que B conhecia ou não deveria ignorar que a raridade do selo
era essencial, sendo ele coleccionador? Claro que sim, logo seria anulável, art. 287º, no
prazo de 1 ano a contar da cessação do vício, tem legitimidade as pessoas em quem lei
estabelece interesse.
Caso prático 51
B–J
Ccv 874º, 879º+408º, 205º, 219º
Há uma pressão psicológica que fez com que Berto coagido, não tenha agido
livremente.
Coação moral, art. 255º n.º1
Pressupostos: ameaça ilícita, dirigida ao declarante, com o fim de obter declaração
negocial.
252º nº2
252º nº3 ameaça determinada pelo receio de um mal, em relação a 3º
Neste caso, a ameaça provém de um 3º.
Requisitos suplementares preenchidos, 256º
Negócio anulável pelo 256º
Proprietário J a título provisório, produzem-se todos os efeitos a título provisório
Pode anular, art. 287º porque ele é o coagido, a partir do momento em que Daniel
morre a coacção cessa.
Efeitos da sentença.
AULA TEÓRICA 25
2012.05.04
Sumário: d) O dolo (como erro qualificado): dolo activo v.s. omissivo; dolo lícito v.s.
ilícito (artigo 253.º n.º 1, 1.ª parte v.s. 2.ª parte; artigo 253.º, n.º 2)
e) Os pressupostos da anulabilidade com base em dolo de acordo com a sua
proveniência: destinatário ou terceiro (artigo 254.º, n.º 1 e n.º 2)
f) A coacção moral (artigo 256.º)
6. A conservação dos negócios jurídicos
a) Enunciado geral (efeitos da invalidade; a manutenção de efeitos jurídicos)
b) A confirmação
c) A redução
d) A conversão
[pp. 582 a 607]
2 – Dolo
Art. 253º e 254º. Estamos perante um vício da vontade. Vontade mal esclarecida, tem
uma ideia errada e a partir daí forma-se a vontade errada. No dolo, o declarante
também sucede assim, só é que não está em erro por vontade própria, está em erro
porque foi vítima de um dolo, que foi cometido em relação a ele. A lei faz distinções
Artigo 253º n.º1 proémio: entende-se por dolo o comportamento activo de
fazer sugestões ou atifícios e estes são empregues para induzir ou manter em
erro o autor da declaração. Quem empregar isto fá-lo com intenção (pode ser
negligente) de induzir em erro. A lei não se limita a esta modalidade, também
se entende por dolo a dissimulação do erro do declarante – o declarante já está
em erro e o autor do dolo em vez de esclarecer, em vez de o elucidar, o
praticante do dolo não faz nada. Dissimula o erro, tem uma actividade passiva,
não desfaz o erro » dolo omissivo. “fica mudo como um peixe”, “usa a boca
para ficar calado”.
Tanto no dolo activo como no omissivo, o dolo pode ser praticado por quem?
o Destinatário
o Terceiro
O que é significativo neste contexto, que em nenhum dos casos, o dolo é à
partida lícito, ao contrário da coacção moral que é comportamento ilícito. A lei
deixa a ideia de que é lícito enganar, consequência: distinguimos no dolo, o
dolus bonus (contradição, não devia existir), é um dolo que é praticado de
forma lícita e a ideia da lei em princípio, o dolo é lícito, sendo lícito, a
declaração negocial e o negócio jurídico são válidos. Deste modo, o dolo nunca
é causa de anulação.
Casos
Uma pessoa compra um objecto e engana-se sobre o preço e depois quer anular com
base em erro sobre os motivos. Pode anular?
Não pode, porque não é sobre a qualidade do objecto. O art. 251º não prevê isso.
O mesmo caso, mas a pessoa adquiriu o objecto porque foi enaganada pelo vendedor.
O comprador pode anular.
Se o negócio foi feito por dois espertalhões, que se enganam mutuamente – a lei diz
que a anulabilidade não é excluída por bilateralidade.
Alterando o exemplo
A B C. o mesmo quadro.
So que o quadro de B é uma cópia, e C diz a A que se trata de original.
A não consegue provar que B conhecia o dolo.
↓
Em função do dolo, alguém pode ter adquirido direitos. A vítima do dolo pode accionar
contra quem adquiriu.
3 - Coacção moral
Art. 255º n.º1, elemento de ilicitude. A coacção é por si só ilícita.
É prestada sob coacção moral a declaração negocial determinada pelo receio de um
mal de que o declarante foi ilicitamente ameaçado pelo declaratário ou por terceiro
com o fim de obter dele por este meio a declaração pretendida pelos ameaçadores. A
ilicitude faz parte da hipótese legal.
Tem que ser ilícita e assim a lei diz que é anulável.
Exemplo: António quer comprar um terreno no meio das montanhas porque sonhar
acordar e ver as montanhas à sua volta e quer comprar um terreno a B, para aí
construir uma casa. Oferece a B um preço apetecível. Mas B, apesar de estarmos em
crise diz que não quer vender, talvez dali a 2 anos. Mas A é impaciente, e vai a casa
buscar a caçadeira. Volta a ir ter com B e diz ”sou um caçador especialmente apto nas
montadas ao javali… tenha cuidado, é melhor vender-me o terreno, ou um dia destes
ainda o confundo com um javali”. B vende.
Qual o valor do negócio?
↓
Anulável, é absolutamente ilícito o que A fez.
Variação no exemplo
“Se não quiser vender, sei que a sua namorada é proprietário de um lindo pinhal e está
a chegar o verão, nunca se sabe, o pinhal pode arder. Pode contribuir para a protecção
do pinhal, evitando o fogo, se me vender o terreno”.
Validade do negócio?
↓
A ameaça pode respeitar à honra ou fazenda de 3º. Portanto não é necessário que seja
visado directamente o declarante.
O negócio é anulável.
Exemplo: B furtou um objecto de arte, o A sabe disto e pensa que po objecto ficava
muito melhor na sua casa. Pede a B para lhe vender. “Vendes ou vou à polícia
denunciar-te. B vende-lhe”
À partida o negócio é nulo pelo 892º. Mas pode haver outro vício?
Há coação moral? Não.
Alternativa: A tem um bem que B gostava. A não quer vender. B avisa que caso não lhe
venda faz denúncia ao fisco.
É coacção moral? Não! Não está em causa exercício normal ou um direito, é utilizado
um meio para atingir um fim, e essa relação entre o meio e o fim é ilícita.
A ilicitude resulta do meio empregado para atingir o fim.
Exemplo: A compra a B 5 terrenos para construir casa em bloco. Quando verifica que
um dos terrenos não permite construção. Só verificou isto depois da compra.
Alternativa: um dos terrenos não pertence ao vendedor. Só verifica isto depois da
realização do contrato.
↓
Duas situações diferentes
1º caso: existe um erro sobre a qualidade do objecto. O negócio será anulável. Poderá
haver redução à parte viável do terreno, aos quatro terrenos em que é possivel
construir. As partes podem entender continuar o negócio, podem apenas anular a
parte do terreno não apto.
2º caso: venda de coisa alheia, negócio nulo.
Reduzir o negócio à parte válida. Preocupação em manter o que esá, dentro do
possivel.
Exemplo: partes fizeram contrato particular de terreno. É nulo, por falta de forma.
Se as partes tivessem previsto isto, tinham realizado com forma.
------“-----
Todo o nosso sistema legal, sobre as invalidades, prevê que a causa da invalidade
existiu no momento da celebração do negócio.
Excepções: no momento em que foi celebrado negócio, este era válido, mas com
alterações legais tornou-se ilícito – invalidades supervenientes. Quais as regras
aplicadas? Opiniões divididas.