Sunteți pe pagina 1din 4

A primeira coisa a dizer é que essa é uma situação inusitadíssima, ineditíssima: nunca tive

de comentar formalmente o comentário que fizeram sobre algo que compus. A segunda é: que
pessoa é essa!? Você foi lá, transcreveu sua escuta. Poxa, nem sei bem o que dizer. Mas diante de
tanto cuidado, preciso formalizar algo sobre seu gesto generoso. Obrigado, Lariê!

A liberdade a que nos damos quando compomos algo é uma liberdade curiosa. Porque
podemos ficar entre dizer que se ninguém nos entende é porque nós deixamos a coisa cifrada e
que aquilo faz sentido pra nós etc.; mas podemos também escrever de modo tão mas tão rasteiro
que ninguém tenha dificuldade nenhuma de entender tintim por tintim; e podemos deixar pistas e
esperar que as pessoas possam segui-las, sabendo que em muitos casos as pessoas acabam por
traçar suas próprias trilhas de leitura. Acho que esse último caso se encaixa bem nesse caso. Para
além do fato muito alegre e, pra mim, lisonjeiro que é você dedicar um tempo para escutar e
escrever sobre uma canção que eu compus e foi modelada pela gz (porque gato zarolho é longo),
tem o fato que é você fazer umas apostas bem legais de leitura.
Não sei exatamente o que é parte de sua leitura prévia e o que é parte de sua leitura
depois de eu falar dos assaltos etc., mas eu penso bem por aí: Jacó não é bem uma pessoa, é uma
quase entidade, um lugar que toda pessoa pode ocupar. Ao longo de toda a letra eu pensei, como
já te disse, em criar um clima meio tradicional de história urbana que se passa à noite, algo como
naqueles filmes soturnos, gatos, derrubando latas de lixo, ruas escuras, uma certa lembrança de
Nova York em certos filmes. A ideia era um pouco ficar entre o clichê e certa (o que é pura
pretensão) elegância e discrição das imagens. Não pensei em deixar tudo claro, o que faz sentido
com sua leitura inicial de que há um certo clima de mistério. Não sei se você já assistiu a um filme
que chama Syn City; o clima era um pouco aquilo, a princípio. Pra fechar esse ponto, basta dizer
que a inspiração era uma narrativa gráfica, um quadrinho, no fim das contas.
Eu marquei na letra um ou dois pontos em que, provavelmente por causa do fato do
canto às vezes não deixar clara a junção de palavras (certas vogais que se juntam ao fim e começo
de palavras, por exemplo), o texto não está como escrevi. Tomei a liberdade também de
reordenar as estrofes em termos do tamanho dos versos. Mas não apaguei sua versão, porque
acho mesmo que não deveria.

Jacó esconde
sob o casaco
A mão em ponto de gatilho
Conheço essa cidade,
o ruído de seus carros
Suas ruas, minhas veias;
seus esgotos meu umbigo

Jacó escolhe
e não há acaso
Decalca o olho o inimigo

A bala, o pente, o cano


O dedo, o tiro, o tombo
O peito que, a seu fogo,
Em minutos, trará abrigo

A cada giro,
uma outra sorte
Um fio novo que é tecido

Tear tambor ou roda


Nas mãos da parca louca
Jacó é sempre um outro
Com um olho no olho fixo

Ideias em velocidade não recomendável


Para um dia de chuva.

Av. Dropsie - Marcelo Marques

Jacó esconde sob o casaco


A mão em ponto de gatilho

Conheço essa cidade, o ruído de seus carros


Suas ruas minhas veias, seus esgotos meu umbigo

Jacó escolhe e não há acaso


Decalca o olho inimigo
A bala, o pente, o cano
O dedo, o tiro, o tombo
O peito que a seu fogo
Em minutos, trará abrigo

A cada giro, uma outra sorte


Um fio novo que é tecido
Tear tambor ou roda
Nas mãos da parca louca
Jacó é sempre um outro
Com olho no olho fixo

Ideias em velocidade não recomendável


Para um dia de chuva.

(1) “Jacó”, aqui, está se referindo a um indivíduo, mas não necessariamente um em especial,
porque quando se ouve/ler as demais partes da canção, é possível perceber que esse (Jacó) é
um termo que pode ser tido como genérico - na canção, é claro - para designar a classe de
ladrões. (achei um tanto engraçado esse final. Embora seja um pouco isso, pensar em classe
de ladrões talvez tirasse um pouco da ideia que era o fato de Jacó não ser um lugar fixo, mas
um lugar que mesmo um “não ladrão” poderia ocupar; no fundo, qualquer pessoa que fosse
de algum modo instrumento da violência)

O fato é que nessas duas primeiras estrofes, “Jacó” é uma pessoa que “esconde sob o casaco/a
mão em ponto de gatilho”, isto é, armada e a ponto de atirar. O autor (tu, marcelo), caracteriza
um indivíduo - independente de estar ou não com a intenção de roubar - prestes a concretizar
uma ação maléfica. (e/ou também impensada)

(2) Aqui, “Jacó” foi usado para se referir, não mais a um pessoa (s), mas, sim a algo maior. E
esse algo maior, pode ser inferido como A violência, que está contida na cidade, ou melhor,
que nela vive e por essa razão conhece-a, como ninguém. A violência e a cidade, são
representadas como sendo uma pessoa, quando o autor relaciona ruas e veias, esgotos e
umbigo. Outro aspecto importante, é a mudança da pessoa do discurso, que saiu da terceira - a
pessoa que canta a história, mas que está externa aos acontecimentos - para a primeira, ou
seja, A violência passa a ser a cantora nessa estrofe.

(3) “Jacó” aqui, está, como na primeira estrofe, fazendo referência a um indivíduo. Essa parte,
em especial, fala do modo como esse jacó (se), costuma agir, ele “escolhe e não há acaso”, um
Jacó - ladrão - não faz vítimas aleatórias, elas são escolhidas. “Decalca o olho inimigo”, é
possível, que o olho inimigo, seja interpretado como olho da violência - há, no olhar do Jacó
micro, os mesmos traços que permeiam o do Jacó macro (a violência) -. Mas também, pode
ser entendido como sendo o olho da vítima, já que para o ladrão é ela a inimiga; nesse caso,
poder-se-ia pensar que o ladrão, assim como a vítima, carregava medo no olhar. Porém, tendo
em vista toda a construção da letra, creio que a primeira interpretação, seja mais coerente.
Os quatro versos que se seguem sequenciam, ao mesmo tempo que constróem a imagem de
um assassinato, cometido, pelo Jacó que, na primeira estrofe, escondia a mão em ponto de
gatilho, sob o casaco. “O peito que a seu fogo/Em minutos trará abrigo”, aqui, fica claro que a
vítima morreu, e especialmente que o tiro foi no coração.

(4) Aqui, o autor aponta para as outras vítimas que vão sendo feitas, a cada vez que um
assaltante “gira” pela cidade. Há uma metáfora entre as novas vítimas, como sendo fios, e os
Jacós - violência e as pessoas que a tem em si -, como sendo a máquina de tecer mortes. “Tear
tambor ou roda/Nas mãos da parca louca”, há, aqui, a ideia de que para a morte, as vítimas
que foram/serão e estão sendo feitas, é motivo de alegria, de comemoração. E por último, a
estrofe expõe, de fato, a relação que se perpassou ao longo de toda a canção, entre os dois
Jacós, quando diz “Jacó é sempre um outro/Com o olho no olho fixo”, ou seja, o jacó micro -
assaltante - sempre será um outro, porque pode ser qualquer assaltante, não um em especial,
mas, sim todos. E esses outros terão forçosamente o o olho, no olho fixo - A violência -, pelo
fato de agirem, sempre, levados pela violência.

(5) O autor conclui, como se estivesse saindo de uma viagem de “Ideias em velocidade não
recomendável”, e voltando a ocasião real em que se encontrava, ao mesmo tempo que
menciona uma característica do dia em que a canção foi escrita “Para um dia de chuva”.

Que dizer mais?


Que fiquei tocado pela sua atenção e cuidado! Obrigado mesmo! A gente ainda vai
conversar muito sobre mil coisas mas, neste dia de hoje, encerro minha parte do papo
reiterando a alegria que é ter por perto essa pessoa receptiva, sensível, inteligente (tá
bom, né?) que é você! Vamo conversando?
Um xero grande a agradecido, Lari Lari!

S-ar putea să vă placă și