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João Saboia
São coisas muito diferentes, que não podem ser comparadas. Uma se trata de
política para o mercado de trabalho, a outra é uma política assistencial.
Saboia - Os beneficiados pelo Bolsa Família são pessoas com filhos. O benefício é
maior de acordo com o número de filhos e pode chegar a R$ 95. Se esses R$ 95
permitirem que uma mãe deixe de trabalhar para ganhar uma miséria e fique por conta
de seus filhos, acho positivo. Se ela pode se dar ao luxo de não aceitar um salário
miserável porque recebe R$ 95 do programa, acho corretíssimo. A questão é o futuro. Se
o Bolsa Família permitir que as crianças permaneçam na escola, de preferência uma boa
escola, e mais tarde tenham uma escolaridade mais alta para obter vantagens ao entrar
no mercado de trabalho, este já seria um grande trabalho. É claro que é preciso haver
um controle para que a contrapartida da permanência na escola seja cumprida.
Isso minimiza o efeito desses programas. Na verdade, o Bolsa Família está muito
mais voltado para combater pobreza do que para melhorar distribuição de renda. O
mercado de trabalho tem tido efeito maior para melhorar a distribuição de renda,
incluindo o papel importante do salário-mínimo e o crescimento de empregos com
carteira assinada. As pessoas de renda mais baixa no mercado de trabalho conseguiram
comportamento mais favorável do que as pessoas de renda mais alta. Não houve muitos
ganhos.
Temos tido muito pouco crescimento. Teríamos que ter os 5% prometidos pelo
Lula. Se esses 5% vierem, com essas políticas que falei, continuará melhorando a
distribuição da renda e reduzindo a pobreza.
O presidente Lula tem falado muito em fazer a economia crescer, mas vai
depender muito de quem estará aí na frente, quem definirá a política econômica, até que
ponto o Banco Central terá uma política menos rigorosa e mais flexível, se continuará
reduzindo a taxa Selic no ritmo atual. Como a inflação vem caindo, há espaço para
continuar reduzindo a taxa de juros, o que vai sinalizar para o crescimento. É preciso ver
em que ritmo isso vai continuar.
Saboia - Existem regras demais, nossa legislação é muito cheia de detalhes, cobra
muitos impostos e o custo da formalidade é alto. Ou seja, vale a pena arriscar
permanecer na informalidade. Há muitas atividades que não têm nível de produtividade
que viabilize o custo da formalidade. As soluções passam pela simplificação de legislação,
pela redução de impostos e pelo processo de convencimento da sociedade de que vale a
pena ser formal.