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Poucas mudanças à vista no mercado de trabalho

João Saboia

Entrevista a Lucianne Carneiro para o Jornal do Commercio

O diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de


Janeiro (UFRJ), João Saboia, não vê perspectivas de grandes mudanças no mercado de
trabalho em 2007, diante de um crescimento da economia que será pouco maior que o
de 2006. "Enquanto o Brasil não tiver crescimento sustentado, haverá poucas mudanças
no emprego", diz, embora reconheça que a geração de empregos com carteira assinada
este ano foi surpreendente.

Saboia é um dos maiores defensores do salário-mínimo como política de


distribuição de renda, mas não se esquiva de um debate polêmico: o uso do mínimo
como parâmetro para os benefícios da Previdência. Na sua avaliação, o salário-mínimo é
uma remuneração ligada ao mercado de trabalho e, por isso, reconhece seu uso até
mesmo na aposentadoria, já que o aposentado já fez sua contribuição. Ele defende o
debate da utilização do salário-mínimo, no entanto, em benefícios assistenciais, como o
benefício de prestação continuada, ou na previdência rural, em que não houve
contribuição do beneficiado.

Jornal do Commercio - Qual é o cenário para o emprego em 2007 e no que


ele será diferente de 2006?

Saboia - Tudo depende do crescimento da economia, e a expectativa é que se


cresça um pouco mais, mas não muito. A promessa do crescimento de 5% ainda está no
discurso e acredito que o quadro do emprego em 2007 será muito parecido com o atual.
Não espero grandes mudanças no mercado de trabalho porque a expansão da economia
não deve ser acelerada. Este ano o crescimento do PIB deve ficar entre 2,5% e 3% e
dificilmente acho que ficará acima de 3,5% em 2007.

O ano de 2006 foi surpreendentemente bom, já que houve uma geração


relativamente grande de empregos com carteira assinada diante do pequeno crescimento
da economia. A população economicamente ativa (PEA) cresceu muito, então não
conseguiu absorver estas pessoas todas. Por isso, a taxa de desemprego permaneceu
alta. Cerca de 1,5 milhão de pessoas chegam ao mercado de trabalho todos os anos.
Enquanto o Brasil não tiver crescimento sustentado, haverá poucas mudanças no
emprego.

JC - O senhor é um dos defensores do salário mínimo como política de


distribuição de renda. Quais são suas vantagens em relação a outras políticas?

Saboia - Hoje em dia, o salário-mínimo tem sido questionado frente a políticas de


transferência focalizadas. Uma coisa é o salário-mínimo, que é a remuneração mínima
legal que o indivíduo recebe pelo seu trabalho. Esta é uma política voltada para o
mercado de trabalho, ligada ao emprego ou à aposentadoria.

Isto é muito diferente de uma política de transferência de renda, em que a pessoa


é reconhecida como pobre e, por isso, tem direito a receber a ajuda. É claro que no caso
do Bolsa Família, por exemplo, o dinheiro é colocado nas mãos certas em termos de
combate à pobreza. É uma ajuda emergencial.

São coisas muito diferentes, que não podem ser comparadas. Uma se trata de
política para o mercado de trabalho, a outra é uma política assistencial.

JC - Como transformar uma política de transferência de renda para a


geração de emprego? Muitos criticam que o Bolsa Família acaba desestimulando
a busca por emprego...

Saboia - Os beneficiados pelo Bolsa Família são pessoas com filhos. O benefício é
maior de acordo com o número de filhos e pode chegar a R$ 95. Se esses R$ 95
permitirem que uma mãe deixe de trabalhar para ganhar uma miséria e fique por conta
de seus filhos, acho positivo. Se ela pode se dar ao luxo de não aceitar um salário
miserável porque recebe R$ 95 do programa, acho corretíssimo. A questão é o futuro. Se
o Bolsa Família permitir que as crianças permaneçam na escola, de preferência uma boa
escola, e mais tarde tenham uma escolaridade mais alta para obter vantagens ao entrar
no mercado de trabalho, este já seria um grande trabalho. É claro que é preciso haver
um controle para que a contrapartida da permanência na escola seja cumprida.

JC - Uma das preocupações é que a alta do salário-mínimo acaba


impactando o Orçamento da União. Como equilibrar os dois interesses: controle
de gastos e redução de desigualdade?

Saboia - Salário-mínimo é salário, então deve estar voltado para o mercado de


trabalho. Defendo que os aposentados, que saíram do mercado de trabalho e
contribuíram para o benefício, tenham direito de receber o salário-mínimo integral. Se o
salário-mínimo ainda fosse muito alto, poderia ter redutor. Em qualquer país civilizado a
pessoa que se aposenta ganha menos do que na ativa, mas no caso brasileiro o valor já
é muito baixo, não podemos nos dar ao luxo de introduzir um redutor.

O que pode se questionar, no entanto, é o uso do salário-mínimo na assistência


social, como no caso de benefício de prestação continuada. Existe uma questão mais
polêmica que é a da previdência rural, à qual as pessoas têm direito mesmo sem ter
contribuído. Neste caso específico, o redutor do salário-mínimo deveria ser discutido.
Poderia se debater, por exemplo, se a pensão no serviço público deveria ter o mesmo
valor da aposentadoria. Quando o valor é alto, há espaço para o debate.

JC - Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)


apuraram desaceleração na trajetória de queda da desigualdade de renda no
Brasil. Qual é sua avaliação sobre o tem ocorrido e que cenário se vislumbra
para os próximos anos?
Saboia - A desigualdade vem caindo desde meados da década passada, mas o
movimento foi mais intenso desde 2001. Os estudos mostram que a maior parte da
redução dessa desigualdade se explica pelo próprio funcionamento do mercado de
trabalho e uma parte menor pela política de transferência de renda. Cada estudo mostra
um peso diferente, mas em princípio entre metade e 75% da queda seriam explicados
pelo mercado de trabalho e o restante seria política de transferência.

Isso minimiza o efeito desses programas. Na verdade, o Bolsa Família está muito
mais voltado para combater pobreza do que para melhorar distribuição de renda. O
mercado de trabalho tem tido efeito maior para melhorar a distribuição de renda,
incluindo o papel importante do salário-mínimo e o crescimento de empregos com
carteira assinada. As pessoas de renda mais baixa no mercado de trabalho conseguiram
comportamento mais favorável do que as pessoas de renda mais alta. Não houve muitos
ganhos.

JC - O senhor sugere mudanças no Bolsa Família?

Saboia - O programa Bolsa Família já chegou as 11 milhões de famílias que queria


beneficiar, acho que está na hora de aumentar o valor do benefício. Não dá para incluir
mais famílias, porque quem satisfaz os requisitos já está atendido. Se aumenta o valor
do Bolsa Família, certamente vai reduzir a pobreza e melhorar a distribuição da renda.
Se continuarmos com uma política de recuperação de salário-mínimo, haverá melhoria
também na distribuição da renda. Se juntar isso ao crescimento econômico,
provavelmente o resultado será muito melhor. Este é o cenário exigido para a
continuidade da melhoria de distribuição da renda.

Temos tido muito pouco crescimento. Teríamos que ter os 5% prometidos pelo
Lula. Se esses 5% vierem, com essas políticas que falei, continuará melhorando a
distribuição da renda e reduzindo a pobreza.

O presidente Lula tem falado muito em fazer a economia crescer, mas vai
depender muito de quem estará aí na frente, quem definirá a política econômica, até que
ponto o Banco Central terá uma política menos rigorosa e mais flexível, se continuará
reduzindo a taxa Selic no ritmo atual. Como a inflação vem caindo, há espaço para
continuar reduzindo a taxa de juros, o que vai sinalizar para o crescimento. É preciso ver
em que ritmo isso vai continuar.

Para mim, o crescimento de 5% é uma grande dúvida. Mantendo-se a atual


política econômica, é muito pouco provável que se caminhe para isso. Não vejo nenhum
sinal que a política econômica vá mudar. É preciso conferir se a ala desenvolvimentista
terá mais espaço.

JC - Qual é o perfil hoje da informalidade no Brasil?

Saboia - Grosso modo metade das pessoas está no mercado informal. É um


número alto, que vem se mantendo há muito tempo. Mesmo a geração expressiva de
emprego formal no Brasil nos últimos anos não tem sido suficiente para mudar o quadro
da informalidade. Falta crescimento econômico.
A informalidade é mal distribuída no Brasil, muito concentrada no interior do país e
nas regiões Norte e Nordeste. Quando se caminha para o Sudeste e o Sul, o nível de
informalidade é menor. Os desequilíbrios regionais também estão presentes no mercado
de trabalho. Em regiões mais ricas, a informalidade está em cerca de 20% do mercado
de trabalho, mas chega a 100% nas regiões mais pobres.

JC - Que caminhos podem ser tomados para reduzir a informalidade?

Saboia - Existem regras demais, nossa legislação é muito cheia de detalhes, cobra
muitos impostos e o custo da formalidade é alto. Ou seja, vale a pena arriscar
permanecer na informalidade. Há muitas atividades que não têm nível de produtividade
que viabilize o custo da formalidade. As soluções passam pela simplificação de legislação,
pela redução de impostos e pelo processo de convencimento da sociedade de que vale a
pena ser formal.

João Saboia é diretor do Instituto de Economia da UFRJ (endereço eletrônico:


saboia@ie.ufrj.br). Esta entrevista foi publicada no JORNAL DO COMMERCIO, edição
de 26 de dezembro de 2006.

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