Sunteți pe pagina 1din 12

APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

O QUE É CIDADANIA No Brasil, os primeiros esforços para a conquista e


estabelecimento dos direitos humanos e da cidadania
confundem-se com os movimentos patrióticos reivindicativos
A história da cidadania confunde-se em muito com a de liberdade para o País, a exemplo da inconfidência mineira,
história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e canudos e outros. Em seguida, as lutas pela independência,
está em permanente construção; é um referencial de conquista abolição e, já na república, as alternâncias democráticas,
da humanidade, através daqueles que sempre lutam por mais verdadeiros dilemas históricos que custaram lutas, sacrifícios,
direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e vidas humanas.
coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, E hoje, a quantas anda a nossa cidadania? A partir da
seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que Constituição de 1988, novos instrumentos foram colocados à
não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra disposição daqueles que lutam por um País cidadão. Enquanto
uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, consumidor, o brasileiro ganhou uma lei em sua defesa – o
exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja CDC; temos um novo Código de Trânsito; um novo Código
conquista, ainda que tardia, não será obstada. Ser cidadão é ter Civil. Novas ONGs que desenvolvem funções
consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à importantíssimas, como defesa do meio ambiente. A mídia,
liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, apesar dos seus tropeços, tem tido um papel relevante em favor
políticos e sociais. Mas este é um dos lados da moeda. da cidadania. E muitas outras conquistas a partir da Nova
Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão tem de ser Carta.
cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante Como o exemplo da Ação Cidadania Contra a
de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a Miséria e pela Vida, Movimento pela Ética na Política.
nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos têm de Memorável a ação dos “caras-pintadas”, movimento
dar sua parcela de contribuição. Somente assim se chega ao espontâneo de jovens que contribuiu para o impeachment do
objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou presidente Collor. A Ação Popular, Ação Civil Pública,
seja, o bem comum. Mandado de Injunção, Mandado de Segurança entre outros,
além da instituição do Ministério Público, importante
INTRODUÇÃO instrumento na defesa da ordem jurídica, do regime
No discurso corrente de políticos, comunicadores, democrático e dos interesses sociais e individuais
dirigentes, educadores, sociólogos e uma série de outros indisponíveis.
agentes que, de alguma maneira, se mostram preocupados com Há um longo caminha a percorrer. É só ativar um
os rumos da sociedade, está presente a palavra cidadania. pouco a nossa acuidade natural e veremos que estamos
Como é comum nos casos em que há a superexploração de um cercados de um sem número de mazelas que insistem em
vocábulo, este acaba ganhando denotações desviadas do seu infestar a nossa sociedade. Os representantes que, mal acabam
estrito sentido. Hoje, tornou-se costume o emprego da palavra de se eleger, dão as costas para o eleitor e este não lhe nega a
cidadania para referir-se a direitos humanos, ou direitos do recíproca, deixando aqueles ainda mais à vontade para as suas
consumidor e usa-se o termo cidadão para dirigir-se a um rapinagens.
indivíduo qualquer, desconhecido. Uma pesquisa divulgada pelo Ibope
De certa forma, faz sentido a mistura de significados, em 25.11.03 traz dados preocupantes sobre as nossas
já que a história da cidadania confunde-se com a história dos relações de cidadania. Indica que 56% dos brasileiros não têm
direitos humanos, a história das lutas das gentes para a vontade de participar das práticas capazes de influenciar nas
afirmação de valores éticos, como a liberdade, a dignidade e a políticas públicas. 35% nem tem conhecimento do sejam essas
igualdade de todos os humanos indistintamente; existe um práticas e 26% acham esse assunto “chato demais” para se
relacionamento estreito entre cidadania e luta por justiça, por envolver com ele. Nem tudo está perdido: 44% dos
democracia e outros direitos fundamentais asseguradores de entrevistados manifestaram algum interesse em participar para
condições dignas de sobrevivência. a melhoria das atividades estatais, e entendem que o poder
Expressão originária do latim, que tratava o emana do povo como está previsto na Constituição. A pesquisa
indivíduo habitante da cidade (civitas), na Roma antiga anima, de forma até surpreendente, quando mostra que 54%
indicava a situação política de uma pessoa (exceto mulheres, dos jovens (entre 16 e 24 anos), têm interesse pela coisa
escravos, crianças e outros) e seus direitos em relação ao pública. Interesse que cai progressivamente à medida que a
Estado Romano. No dizer de Dalmo Dallari: idade aumenta. A pesquisa ajuda a desmontar a ideia que se
“A cidadania expressa um conjunto de direitos que tem de que o jovem é apático ou indiferente às coisas do seu
dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e país.
do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está
marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de A CIDADANIA NA ANTIGUIDADE
decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do Em tempos recuados da História encontram-se sinais
grupo social”. de lutas sociais que lembram bem a busca por cidadania. Bem
tratado por Jaime Pinsky, apud Emiliano JoséErro! A
1
referência de hiperlink não é válida., por volta do século VIII atividades de sobrevivência do indivíduo, era o espaço de
a.c. os Profetas Isaías e Amós pregavam em favor do povo e sujeição no qual a mulher, o escravo e os filhos, destituídos de
contra os opressores: direitos, estavam sob o domínio despótico do chefe de família e
“cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. a proteção das divindades domésticas.
Respeitai o direito, protegei o oprimido. Fazei justiça ao órfão, Lembra Wilba Bernardes que o Estado à época de
defendei a viúva”. Roma e Grécia, se é que podem assim ser chamados, não tinha
“Portanto, já que explorais o pobre e lhe exigis a feição que hoje lhe é conferida; era mais um prolongamento
tributo de trigo, edificareis casas de pedra, porém não da família, pois esta era a base da sociedade. E sendo assim, o
habitareis nelas, plantareis as mais excelentes vinhas, porém indivíduo encontrava-se completamente absorvido pelo Estado
não bebereis do seu vinho. Porque eu conheço as vossas ou pela Cidade-Estado. Aos cidadãos atenienses eram
inúmeras transgressões e os vossos grandes pecados: atacais o reservados os direitos políticos. Os cidadãos formavam o corpo
justo, aceitais subornos e rejeitais os pobres à sua porta”. político da cidade, daí a faculdade de tomarem parte das
Assembleias, exercerem a magistratura e proporcionarem a
A CIDADANIA NA GRÉCIA ANTIGA justiça.
Na Grécia de Platão e Aristóteles, eram considerados
cidadãos todos aqueles que estivessem em condições de opinar A CIDADANIA ROMANA
sobre os rumos da sociedade. Entre tais condições, estava a de Em Roma, também se encontra, patente, a ideia de
que fosse um homem totalmente livre, isto é, não tivesse a cidadania como capacidade para exercer direitos políticos e
necessidade de trabalhar para sobreviver, uma vez que o civis e a distinção entre os que possuíam essa qualidade e os
envolvimento nos negócios públicos exigia dedicação integral. que não a possuíam. A cidadania romana era atribuída somente
Portanto, era pequeno o número de cidadãos, que excluíam aos homens livres, mas nem todos os homens livres eram
além dos homens ocupados (comerciantes, artesãos), as considerados cidadãos. Segundo Wilba Bernardes, em Roma
mulheres, os escravos e os estrangeiros. Praticamente apenas os existiam três classes sociais: os patrícios (descendentes dos
proprietários de terras eram livres para ter o direito de decidir fundadores), os plebeus (descendentes dos estrangeiros) e os
sobre o governo. A cidadania grega era compreendida apenas escravos (prisioneiros de guerra e os que não saldavam suas
por direitos políticos, identificados com a participação nas dívidas). Existiam também os clientes, que eram, segundo
decisões sobre a coletividade. informam Pedro e Cáceres, homens livres, dependentes de um
Citando Sabine, Quintão Soares aristocrata romano que lhes fornecia terra para cultivar em
explica que, em consonância com a assertiva de que troca de uma taxa e de trabalho.
cidadania é um mecanismo de representação política que Em princípio, a diferença entre patrícios e plebeus é
permite relacionamento pessoal entre governantes e que estes, apesar de homens livres, não eram considerados
governados e que esse paradigma assenta-se na instituições cidadãos, privilégio dos patrícios, que gozavam de todos os
greco-romanas e sua complexa transição para a Idade Média, direitos políticos, civis e religiosos.
demonstra que os modernos conceitos de ideais políticos, como Isso deu motivo a várias lutas internas, entre
os de justiça, liberdade, governo constitucional e respeito às patrícios e plebeus. Após a reforma do Rei Sérvio Túlio, os
leis, surgiram de conceitos de pensadores helênicos sobre as plebeus tiveram acesso ao serviço militar e lhes foram
instituições da Cidade-Estado. assegurados alguns direitos políticos. Só a partir de 450 a.C.,
Na Grécia antiga, toda a sociedade da civilização com a elaboração da famosa Lei das Doze Tábuas, foi
apresentava a dicotomia cidadão e não-cidadão. Lage de assegurada aos plebeus uma maior participação política, o que
Resende e Morais, apud Wilba L. M. Bernardes, ensina que: se deveu em muito à expansão militar romana. O Direito
“A cidadania era para os gregos um bem inestimável. Romano regulava as diferenças entre cidadãos e não-cidadãos.
Para eles a plena realização do homem se fazia na sua O direito civil (ius civile) regulamentava a vida do cidadão, e o
participação integral na vida social e política da Cidade- direito estrangeiro (ius gentium) era aplicado a todos os
Estado”. “...só possuía significação se todos os cidadãos habitantes do império que não eram considerados cidadãos.
participassem integralmente da vida política e social e isso só Ensina Alves, no dizer de Wilba Bernardes, que:
era possível em comunidades pequenas”. “Desde os fins da República, a tendência de Roma é
Wilba L. M. Bernardes refere-se a outros autores no sentido de estender, paulatinamente, a cidadania a todos os
para esclarecer que no início da evolução ateniense só uma súditos do Império. Assim, em 90 a.c., a lex Iulia a concedeu
classe de cidadãos exercia a plenitude da cidadania (existia aos habitantes do Latium; um ano depois, a lex Plautia Papiria
uma divisão censitária da sociedade); somente a partir das a atribuiu aos aliados de Roma; e, em 49 a.c., a lex Roscia fez o
reformas de Clístenes (509 a.c.), essa cidadania foi estendida a mesmo com relação aos habitantes da Gália Transpadana”.
todo cidadão ateniense, que poderia inclusive exercer qualquer Em 212 d.C., Caracalla, na célebre Constitutio
cargo de governo. Também é a partir de Clístenes, segundo Antoniniana, concedeu a cidadania a quase todos os habitantes
ensina Fustel de Coulanges, que a antiga aristocracia ateniense do Império. As exceções que subsistiram desapareceram com
sofreu o seu mais duro golpe: Clístenes confirmou as reformas Justiniano.
políticas de Sólon, introduziu também reformas na velha Na lição de Mário Quintão vê-se que o Direito
organização religiosa da sociedade ateniense: “A partir deste Romano, apesar de proteger as liberdades individuais e
momento, não houve mais castas religiosas, nem privilégios de reconhecer a autonomia da família com o pátrio poder, não
nascimento na religião ou na política”. assegurava a perfeita igualdade entre os homens, admitindo a
Celso Lafer, apud Mário Quintão, entende que a escravidão e discriminando os despossuídos. Ao lado da
igualdade resulta da organização humana, que é o meio de desigualdade extrema entre homens livres e escravos, o Direito
igualizar as diferenças por intermédio das instituições. É o caso Romano admitia a desigualdade entre os próprios indivíduos
da polis, que tornava os homens iguais através da lei. Perder o livres, institucionalizando a exclusão social.
acesso à esfera pública equivalia a privar-se da igualdade. O
indivíduo, destituído da cidadania e submetido à esfera privada, A CIDADANIA NA IDADE MÉDIA
não usufruía os direitos, que só podiam existir em função da Com a decadência do Império Romano, e adentrando
pluralidade dos homens. A esfera privada, vinculada às a Idade Média, ocorrem profundas alterações nas estruturas
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

sociais. O período medieval é marcado pela sociedade despontar figuras que marcariam a História da cidadania, como
caracteristicamente estamental, com rígida hierarquia de Rousseau, Montesquieu, Diderot, Voltaire e outros. Esses
classes sociais: clero, nobreza e servos (também os vilões e os pensadores passam a defender um governo democrático, com
homens livres). ampla participação popular e fim de privilégios de classe e
A Igreja cristã passou a constituir-se na instituição ideais de liberdade e igualdade como direitos fundamentais do
básica do processo de transição para o tempo medieval. As homem e tripartição de poder. Essas ideias dão o suporte
relações cidadão-Estado, antes reguladas pelo Império, passam definitivo para a estruturação do Estado Moderno. Lembrando
a controlar-se pelos ditames da Igreja cristã. A doutrina cristã, que alguns desses ideais já teriam sido objeto de discussão
ao alegar a liberdade e igualdade de todos os homens e a quando do início do constitucionalismo inglês em 1215,
unidade familiar, provocou transformações radicais nas quando o rei João Sem Terra foi forçado a assinar a Magna
concepções de direito e de estado. Carta.
Para Mário Quintão, o desmoronamento das As modernas nações, governos e instituições
instituições políticas romanas e o fortalecimento do nacionais surgiram a partir de monarquias nacionais formadas
cristianismo ensejaram uma reestruturação social que foi dar-se pela centralização ocorrida no desenrolar da Idade Moderna.
no feudalismo, cujas peculiaridades diferiam consoante seus Segundo Wilba Bernardes “desde o momento em que o Estado
aspectos regionais. O feudalismo, considerado “idade das moderno começa a se organizar, surge a preocupação de definir
trevas”, configura-se pela forma piramidal caracterizada por quais são os membros deste Estado, e, dessa forma, a ideia
específicas relações de dependência pessoal (vassalagem), atual de nacionalidade e de cidadania só será realmente fixada
abrangendo em sua cúpula rei e suserano e, em sua base, a partir da Idade Contemporânea”
essencialmente, o campesinato. Citado por Quintão,
Essa relação de dependência pessoal de obrigações J. M. Barbalet diz que:
mútuas originava-se de ato sacramental e solene e que “Desde o advento do Estado liberal de direito, a base
apresentava duas vertentes: o vassalo, em troca de proteção e da cidadania refere-se à capacidade para participar no exercício
segurança, inclusive econômica, oferecia fidelidade, trabalho e do poder político mediante o processo eleitoral. Assim, a
auxílio ao suserano, que, reciprocamente, investia o vassalo no cidadania ativa liberal derivou da participação dos cidadãos no
benefício, elemento real e econômico dessa relação feudal. moderno Estado-nação, implicando a sua condição de membro
Na época medieval, em razão dessa índole de uma comunidade política legitimada no sufrágio universal,
hierarquizada das estruturas em classes sociais, dilui-se o e, portanto, também a condição de membro de uma
princípio da cidadania. O relacionamento entre senhores e comunidade civil atrelada à letra da lei”.
vassalos dificultava bastante a definição desse conceito. O
homem medieval, ou era vassalo, ou servo, ou suserano; jamais A história da cidadania mostra bem como esse valor
foi cidadão. Os princípios de cidadania e de nacionalidade dos encontra-se em permanente construção. A cidadania constrói-
gregos e romanos estariam “suspensos” e seriam retomados se e conquista-se. É objetivo perseguido por aqueles que
com a formação dos Estados modernos, a partir de meados do anseiam por liberdade, mais direitos, melhores garantias
século XVII. individuais e coletivas frente ao poder e a arrogância do
Estado. A sociedade ocidental nos últimos séculos andou a
A CIDADANIA NA IDADE MODERNA passos largos no sentido das conquistas de direitos de que hoje
Os primeiros sinais de desmoronamento do sistema as gerações do presente desfrutam.
que caracterizou o medievo foram a privatização do poder. O exercício da cidadania plena pressupõe ter direitos
Hannah Arendt, citada por Quintão civis, políticos e sociais e estes, se já presentes, são fruto de um
diz que: longo processo histórico que demandou lágrimas, sangue e
“A queda da autoridade política foi precedida pela sonhos daqueles que ficaram pelo caminho, mas não tombados,
perda da tradição e pelo enfraquecimento dos credos religiosos e sim, conhecidos ou anônimos no tempo, vivos no presente de
institucionalizados; foi o declínio da autoridade religiosa e cada cidadão do mundo, através do seu “ir e vir”, do seu livre
tradicional que talvez tenha solapado a autoridade política, e arbítrio e de todas as conquistas que, embora incipientes,
certamente provocado a sua ruína” abrem caminhos para se chegar a uma humanidade mais
Com o fim do feudalismo e a ocorrência da formação decente, livre e justa a cada dia.
dos Estados nacionais, a sociedade, ainda formada e organizada
em clero, nobreza e povo, volta a ter uma centralização do A CIDADANIA NO BRASIL
poder nas mãos do rei, cuja autoridade abrangia todo o A história da cidadania no Brasil está diretamente
território e era reconhecida como legal pelo povo. Língua, ligada ao estudo histórico da evolução constitucional do País.
cultura e ideais comuns auxiliaram a formação desses Estados A Constituição imperial de 1824 e a primeira Constituição
Nacionais. republicana de 1891 consagravam a expressão cidadania. Mas,
Já no final da Idade Moderna, observa-se um sério a partir de 1930, observa Wilba Bernardes
questionamento das distorções e privilégios que a nobreza e , ocorre uma nítida distinção nos conceitos de
clero insistiam em manter sobre o povo. É aí que começam a cidadania, nacionalidade e naturalidade. Desde então,
3
nacionalidade refere-se à qualidade de quem é membro do ante os problemas alheios; povo capaz de reagir rápida e
Estado brasileiro, e o termo cidadania tem sido empregado para inteligentemente, ante a situações adversas. Porém, falta a
definir a condição daqueles que, como nacionais, exercem cidadania... Esta, sim, é uma qualidade da qual não prescinde
direitos políticos. um povo que se diz democrático. Alain Touraine vê a liberdade
A história da cidadania no Brasil é praticamente como a primeira das condições necessárias e suficientes à
inseparável da história das lutas pelos direitos fundamentais da sustentação democrática. A outra condição para uma
pessoa: lutas marcadas por massacres, violência, exclusão e democracia sólida é a cidadania.
outras variáveis que caracterizam o Brasil desde os tempos da Para que haja democracia é necessário que
colonização. Há um longo caminho ainda a percorrer: a questão governados queiram escolher seus governantes, queiram
indígena, a questão agrária, posse e uso da terra, concentração participar da vida democrática, comprometendo-se com os seus
da renda nacional, desigualdades e exclusão social, eleitos, apontando o que aprova e o que não aprova das suas
desemprego, miséria, analfabetismo, etc. ações. Assim, vão sentir-se cidadãos. Isto supõe uma
Entretanto, sobre a cidadania propriamente dita, dir- consciência de pertencimento à vida política do país. Querer
se-ia que esta ainda engatinha, é incipiente. Passos importantes participar do processo de construção dos destinos da própria
já foram dados. A segunda metade do século XX foi marcada Nação. Ser cidadão é sentir-se responsável pelo bom
por avanços sócio-políticos importantes: o processo de funcionamento das instituições. É interessar-se pelo bom
transição democrática, a volta de eleições diretas, a andamento das atividades do Estado, exigindo, com postura de
promulgação da Constituição de 1988 “batizada” pelo então cidadão, que este seja coerente com os seus fundamentos,
presidente da constituinte Ulysses Guimarães de a razoável no cumprimento das suas finalidades e intransigente
“Constituição Cidadã”. Mas há muito que ser feito. E não se em relação aos seus princípios constitucionais.
pode esperar que ninguém o faça senão os próprios brasileiros. O exercício do voto é um ato de cidadania. Mas,
A começar pela correção da visão míope e desvirtuada que se escolher um governante não basta. Este precisa de sustentação
tem em ralação a conceitos, valores, concepções. Deixar de ser para o exercício do poder que requer múltiplas decisões.
uma nação nanica de consciência, uma sociedade artificializada Agradáveis ou não, desde que necessárias, estas têm de ser
nos seus gostos e preferências, onde o que vale não vale a pena, levadas a cabo e com a cumplicidade dos cidadãos. Estes não
ou a mediocridade transgride em seu conteúdo pelo arrastão podem dar as costas para o seu governante apenas e
dos acéfalos. Tem-se aqui uma Constituição cidadã, mas falta principalmente porque ele exerceu a difícil tarefa de tomar uma
uma “Ágora” onde se possa praticar a cidadania, e tornar-se, atitude impopular, mas necessária, pois, em muitos momentos,
cada brasileiro em um ombudsman de sua Pátria. o governante executa negócios que, embora absolutamente
É inegável que o Brasil é um País injusto, ou melhor, indispensáveis, parecem estranhos aos interesses sociais. É
a sociedade brasileira é extremamente desigual. Basta ver os nessas ocasiões que se faz necessário o discernimento, próprio
números do IBGE para indagarmos os motivos de tantos de cidadão consciente, com capacidade crítica e
contrastes, de tão perversos desequilíbrios. E o que é pior: a comportamento de verdadeiro “também sócio” do seu país.
cada pesquisa, as diferenças aumentam, a situação de ricos e Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de
pobres que parecem migrar para extremos opostos... nessa direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade
escala de aprofundamento das injustiças sociais, ao contrário de direitos, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este é
do que desejava Ulysses Guimarães em seu discurso na um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também deveres.
Constituinte em 27 de julho de 1988: O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades
“essa será a Constituição cidadã, porque recuperará enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo
como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom
discriminações: a miséria”. “ Cidadão é o usuário de bens e funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição.
serviços do desenvolvimento. Isso hoje não acontece com Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça
milhões de brasileiros, segregados nos guetos da perseguição em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.
social”. O termo cidadania parece ter caído nas graças
Por que tudo isso continua? Falta vontade dos daqueles que têm na comunicação o instrumento de trabalho,
governos? Ao que parece, todos se preocupam, reclamam e se como políticos, dirigentes, comunicadores, sociólogos e outros
incomodam com esta triste realidade, mas, ações consistentes, profissionais que, de alguma forma, interagem no meio social.
de efeitos estruturais e capazes de mudar os rumos das Em seu ensaio a Veja, edição de 22/10/03, Roberto Pompeu de
tendências sócio-econômicas da sociedade brasileira não se Toledo, ao fazer uma crítica ao comportamento do brasileiro,
podem vislumbrar, ainda. É vontade geral manifesta que haja quando este se julga “estar por cima” e usa da impontualidade
um mínimo de justiça social. Entretanto, por que não fazer como meio de dominação, refere-se à pontualidade como
valer esse desejo da maioria, se este é um País democrático? expressão de igualitarismo. E acrescenta: “É, para usar
Será que se atribui muita importância, ou se respeitam demais detestável palavrão em voga, uma manifestação de ‘cidadania’.
as chamadas minorias? As elites? Na pontualidade, duas pessoas chegam junto.”. Considerada
As questões são mais profundas. As soluções palavra “gasta”, ou não, o fato é que a cidadania é parâmetro
demandam “garimpagem” com muito tino e sabedoria, balizador da história do homem enquanto ser social. Mesmo
requerem grande esforço social conjunto. Não servem aqueles que, inconscientemente, o homem, na sua caminhada ao longo
apelos carregados de emoção em busca de respostas da História, sempre manteve a cidadania como questão central
emergentes e imediatas, que passam logo e deixam a população das suas lutas, como se verifica ao se recuar nos primórdios da
ainda mais frustrada, mais descrente. Há que se pensar algo humanidade.
mais racional, profundo e que tenha começo, meios e A luta pela cidadania estava presente no profetismo
finalidades claros, objetivos e sem a essência obrigatória do hebreu. Os contemporâneos de Aristóteles e Platão
curto prazo. organizavam-se para a prática da cidadania. A Roma de Cícero,
Por falar em começo, que tal pensar-se em construir através do Direito, da civitas, contribuiu significativamente na
uma verdadeira cidadania? Aliás, construir a cidadania dos discussão dos direitos civis e políticos do cidadão. Essas
brasileiros. Fala-se tanto das qualidades incomuns dos pátrios. histórias de lutas humanas em busca de reconhecimento de
Povo alegre, generoso, criativo, pacífico, solidário, sensível direitos do homem como cidadão, passa também pelo medievo,
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

onde deixam vestígios os mais profundos. Em seguida, pelas somente 77 incisos ou seja aproximadamente 5 páginas e meia
revoluções burguesas, pelas lutas sociais dos séculos XIX e XX de nossa constituição federal.
e até nossos dias. A auto-afirmação continua sendo perseguida, Precisaria então criar um cadeira especial para
dia a dia, através de incansáveis batalhas contra todo tipo de cidadania e ensino dos direitos e deveres do cidadão a luz da
iniquidades, injustiças, opressão, etc., perversões que insistem constituição ? Não , para se ensinar cidadania não precisaria
em obstruir as ações humanas em prol de uma sociedade mais necessariamente ter uma cadeira especial. Todo educador
igualitária e feliz. deveria ter essa incumbência. A qualquer momento em sala de
A história da cidadania confunde-se em muito com a aula ou fora dela, certamente surgiria uma oportunidade para
história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e que direitos, deveres e garantias fundamentais sejam ensinados.
está em permanente construção; é um referencial de conquista O ENSINO DA CIDADANIA também poderia ser
da humanidade, através daqueles que sempre buscam mais feito através de palestras ministradas ao longo do ano, mas se
direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e for consenso dos educadores criar uma cadeira especial para
coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, CIDADANIA ou ser inserida sutilmente dentro de cada
seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que disciplina seria algo a se discutir. O que é preciso é dar a todo
não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra cidadão brasileiro acesso aos seus, direitos, deveres e garantias
uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, fundamentais de forma simples e didática. A escola poderia
exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja fazer o seu papel e a mídia se apoiasse, seria algo desejável.
conquista, ainda que tardia, não será obstada. Como isso poderia ser implementado no currículo ou
extra-currículo, creio não ser o problema maior, já que
DOS DIREITOS E GARANTIAS criatividade não falta aos educadores , porém vejo a
FUNDAMENTAIS necessidade do nosso povo se tornar cidadão de verdade e essa
construção tem como base o enraizamento dos seus direitos,
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E deveres e garantias fundamentais dado por nossa constituição
COLETIVOS federal no artigo 5º.
Na Verdade o aprendizado do artigo 5º de nossa
Se uma sociedade nega a seus cidadãos o constituição federal funcionaria como um despertar para que os
conhecimento e interpretação de seus direitos e deveres demais direitos e deveres constitucionais sejam aprendidos.
fundamentais , como pode essa mesma sociedade querer Um cidadão que lê e vê seus direitos a sua frente não é mais
formar cidadãos ? um cidadão de fácil manobra por pessoas inescrupulosas.
Como pode uma sociedade como a brasileira Fatalmente um cidadão que aprendeu seus direitos,
anunciar aos quatros cantos do país e do mundo, que estamos deveres e garantias fundamentais constitucionais , os terá em
construindo uma cidadania para nosso povo se os fundamentos papel , possivelmente dobrará tais direitos e deveres dentro de
dessa cidadania lhes são negados até os dias de hoje ? uma carteira e eventualmente o estudará e o aplicará com
Pode um povo que nunca leu , nunca questionou , conhecimento de causa e respaldo maior.
nunca escreveu , nunca viu na escola ou na mídia nenhum de Esse cidadão dificilmente parará de buscar os demais
seus 77 direitos e deveres , se dizer cidadão ? direitos e deveres procurando ler e aprender por si só o código
Como pode um povo aprender tais fundamentos de defesa do consumidor, estatuto da criança e do adolescente e
constitucionais se não tem quem lhes ensinem ? o que mais puder , até porque hoje em dia com a difusão da
Como pode quem tem a vocação , talento , que são os INTERNET e tendo a nossa legislação toda gratuitamente no
educadores, ensinar o que não conhecem ? vídeo com opção de se imprimir , as dificuldades de acesso são
Como fazer então ? Caímos num ciclo vicioso , afinal menores e tal cidadão terá todas as chances de se formar e
o povo não conhece tais direitos e deveres, pois quem deveria informar.
ensiná-los não sabe ensiná-los e os educadores não ensinam A INTERNET trouxe consigo um potencial enorme
pois não podem ensinar o que não aprenderam. para ajudar a formação de um cidadão e de modo muito mais
A solução então parece simples: Basta quem não efetivo que as demais mídias como a TV, que em geral não
sabe ensinar, aprender e depois ensinar, pois afinal nossos aborda de maneira didática e ostensiva direitos, deveres e
educadores tem o dom, ciência e arte de aprender qualquer garantias fundamentais constitucionais do brasileiro.
assunto e transmitir aos seus alunos e população em geral.
Mas quem ensinaria aos nossos educadores ?
Operadores de direito como professores de direito, advogados,
juízes , promotores, desembargadores, ministros da justiça,
estudantes de direito, livros que abordassem o assunto de CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA:
maneira leve e didática, DVDs, rádios, TVs públicas e
educativas ou via INTERNET.
Como seria isso ? O município, estado e governo O problema ecológico, em nossa sociedade, assumiu, em anos
federal no inicio do ano capacitaria os educadores, afinal são recentes, uma centralidade e presença marcantes na vida
5
cotidiana. Habita o concreto de nossas vidas, a cultura do econômicas previamente tomadas. A solução para tais
tempo, assim como as subjetividades individual e coletiva. problemas, por conseguinte, exige mudanças nas estruturas de
Dificilmente vivemos, um dia sequer, sem registrar uma poder e de produção e não medidas superficiais e paliativas
referência à esta realidade e seus efeitos abrangentes. sobre seus efeitos.

Este trabalho propõe uma reflexão crítica sobre o fenômeno da Essa consciência ecológica, que se manifesta, principalmente,
consciência ecológica. Busca compreender o significado dessa como compreensão intelectual de uma realidade, desencadeia e
noção, sua origem histórica - material e simbólica - os fatores materializa ações e sentimentos que atingem, em última
sociais, ambientais, culturais, econômicos e políticos que a instância, as relações sociais e as relações dos homens com a
impulsionaram, como também os principais obstáculos e natureza abrangente. Isso quer dizer que a consciência
desafios a seu avanço. ecológica não se esgota enquanto ideia ou teoria, dada sua
capacidade de elaborar comportamentos e inspirar valores e
Os motivos que conduziram à presente análise são sentimentos relacionados com o tema. Significa, também, uma
questionamentos que refletem a crise sócio-ambiental nova forma de ver e compreender as relações entre os homens
contemporânea. Busca-se compreender as possibilidades e os e destes com seu ambiente, de constatar a indivisibilidade entre
limites de transformar a consciência e os comportamentos sociedade e natureza e de perceber a indispensabilidade desta
individuais e sociais, no sentido de valorização da vida, das para a vida humana. Aponta, ainda, para a busca de um novo
relações sociais e destas com a natureza. relacionamento com os ecossistemas naturais que ultrapasse a
perspectiva individualista, antropocêntrica e utilitária que,
As marcas do tempo mostram sinais contraditórios. Somos historicamente, tem caracterizado a cultura e civilização
modernas ocidentais.(Leis, 1992; Unger, 1992; Mansholt,
parte de uma espécie que é , simultaneamente, solidária e
egoísta, salvadora e destruidora, sapiens (inteligente) e demens 1973; Boff, 1995; Morin, 1975).
(demente) (Boff, 1995). Quem vencerá essa luta? Saberemos
compreender a crise em que estamos envolvidos e pôr em Para Morin, um dos autores que mais avança no esforço de
prática respostas sensatas e viáveis ou esperaremos o impasse e definir o fenômeno:
o desastre para agir? Trabalharemos preventivamente, usando o
tempo a nosso favor, ou o usaremos contra nós, tardiamente ? "(...) a consciência ecológica é historicamente uma maneira
Saberemos nos organizar em defesa da vida e de sua qualidade radicalmente nova de apresentar os problemas de
ou nos adaptaremos à sua degradação, numa atitude resignada e insalubridade, nocividade e de poluição, até então julgados
conformista? Como na tradição chinesa, o ideograma que excêntricos, com relação aos 'verdadeiros' temas políticos;
representa a ideia de crise significa, simultaneamente, perigo e esta tendência se torna um projeto político global , já que
oportunidade. Qual sua opção? ela critica e rejeita, tanto os fundamentos do humanismo
ocidental, quanto os princípios do crescimento e do
DEFININDO O FENÔMENO DA CONSCIÊNCIA desenvolvimento que propulsam a civilização tecnocrática."
ECOLÓGICA (Morin, 1975)

Consciência ecológica é uma expressão, exaustivamente Sinaliza-se, assim, algumas referências preliminares que
utilizada na bibliografia especializada, de anos recentes, sem indicam o significado aqui atribuído à expressão consciência
uma preocupação da maioria dos autores de precisarem a que, ecológica.
exatamente, estão se referindo. A noção focalizada se
contextualiza, historicamente, no período pós Segunda Guerra A EMERGÊNCIA DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
Mundial, quando setores da sociedade ocidental industrializada
passam a expressar reação aos impactos destrutivos produzidos Historicamente, podemos considerar os anos do Pós Guerra
pelo desenvolvimento tecnocientífico e urbano industrial sobre como o marco inicial do processo de conscientização social da
o ambiente natural e construído. Representa o despertar de uma destrutividade do sistema tecnocientífico humano, e da ameaça
compreensão e sensibilidade novas da degradação do meio potencial desse sistema para a continuidade da própria vida no
ambiente e das consequências desse processo para a qualidade planeta. Esta conscientização cresceu, gradualmente, até os
da vida humana e para o futuro da espécie como um todo. dias atuais, através do trabalho persistente de setores da
Expressa a compreensão de que a presente crise ecológica comunidade científica, da militância dos movimentos
articula fenômenos naturais e sociais e, mais que isso, ambientalistas, pacifistas e da contracultura numa primeira
privilegia as razões político-sociais da crise relativamente aos fase, com a adesão, na etapa seguinte, da atuação de órgãos
motivos biológicos e/ou técnicos. Isto porque entende que a governamentais, não-governamentais e internacionais (ONU,
degradação ambiental é, na verdade, consequência de um BIRD, PNUMA) da iniciativa privada, dos meios de
modelo, de organização político-social e de desenvolvimento comunicação de massa, e dos demais movimentos sociais e
econômico, que estabelece prioridades e define o que a religiosos. Viola & Leis (1995) analisam, oportunamente, esse
sociedade deve produzir, como deve produzir e como será processo de desenvolvimento do ambientalismo mundial e
distribuído o produto social. Isto implica no estabelecimento de nacional, que transita de uma forma bissetorial preservacionista
um determinado padrão tecnológico e de uso dos recursos para um multissetorialismo orientado para o desenvolvimento
naturais, associados a uma forma específica de organização do sustentável.
trabalho e de apropriação das riquezas socialmente produzidas.
Comporta, portanto, interesses divergentes entre os vários O conceito e a proposta de desenvolvimento sustentável, são
grupos sociais, dentre os quais aqueles em posição hegemônica oficialmente apresentados através do Relatório Bruntland,
decidem os rumos sociais e os impõe ao restante da sociedade. produzido pela Comissão das Nações Unidas para o Meio
Assim, os impactos ecológicos e os desequilíbrios sobre os
Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD - e publicado em
ciclos biogeoquímicos são decorrentes de decisões políticas e 1987. A proposta inspirada na noção de ecodesenvolvimento,
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

elaborada por Ignacy Sachs e colaboradores, tem com ponto de mercantilização excessiva da temática e à despolitização do
partida a crítica do modelo de desenvolvimento econômico das problema. Essa despolitização implica numa leitura alienada do
nações industriais, considerado esgotado em princípios da problema, que observa a crise ambiental sem enxergar suas
década de 70. Uma das críticas centrais a esse modelo causas profundas e sem questionar o modelo de
dominante é a contradição existente entre uma proposta de desenvolvimento econômico, político, cultural e social que lhe
desenvolvimento ilimitado, a partir de uma base finita de dá sustentação (Mansholt, 1973; Herculano, 1992; Morin &
recursos naturais. Esta contradição tem sido analisada por Kern, 1995).
diversas perspectivas, todas elas evidenciando a
insustentabilidade do modelo, a longo prazo. Segundo o Percebe-se assim, no panorama mundial e brasileiro atuais, um
Relatório Bruntland o desenvolvimento sustentável é definido duelo de forças favoráveis e desfavoráveis à expansão da
como aquele que atende às necessidades do presente, sem consciência ecológica. De modo resumido podemos formular
comprometer a capacidade de as gerações futuras também esse conflito em torno de duas categorias básicas, a saber: a
atenderem as suas. Parte do pressuposto de que os problemas daqueles interessados na transformação das relações entre a
do desenvolvimento e do meio ambiente não podem ser sociedade e a natureza - embora orientados por diversas
tratados separadamente, e atenta para a necessidade de propostas ecoanarquistas, ecossocialistas, fundamentalistas,
conciliá-los. Para tanto apresenta uma nova concepção de alternativistas entre outras (2) - e a daqueles interessados na
desenvolvimento que conjuga viabilidade econômica, conservação da sociedade capitalista industrial, tal como se
prudência ecológica e justiça social. Inova, ainda, ao defender configura no momento, defendendo apenas pequenos ajustes
uma abordagem multidimensional do desenvolvimento que técnicos e demográficos. Diria até que estes últimos estão
integra à econômica as dimensões ecológicas, políticas, interessados em "mudar" para que tudo permaneça como está.
culturais, éticas e sociais e ao introduzir nesse debate os
problemas da pobreza e da desigualdade social (Lima, 1997).
OS OBSTÁCULOS À CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
As repercussões desse avanço da consciência ecológica, no
Conforme indicamos, o processo de conscientização da crise
meio social, se materializam hoje na grande expansão de ambiental e a deflagração de ações para combatê-la, enfrenta
agências governamentais voltadas para o ambiental, desde
um conjunto de fenômenos que funcionam como obstáculos à
esferas municipais até o nível internacional. Entre as décadas
seu crescimento e realização. Entre esses fatores podem ser
de 70 e 80, no exterior e no Brasil, tornou-se frequente a elencados: os interesses político-econômicos dos grupos
criação de secretarias, ministérios, agências especializadas, socialmente hegemônicos, o tipo de ética predominante na
organismos plurinacionais e partidos políticos envolvidos com sociedade capitalista industrial; o consumismo, uma certa
a questão ambiental. De modo análogo, o setor privado tem se
leitura reducionista da consciência ecológica; a pobreza de
preocupado em introduzir em seus produtos e estratégias
largos contingentes populacionais e o baixo nível educacional e
mercadológicas o "apelo verde", mesmo que de maneira
de cidadania dessas mesmas populações.
enganadora e superficial, porque já detectou na opinião pública
e consumidora o interesse por esta nova tendência. Também
nos movimentos da sociedade civil, e naqueles de caráter OS INTERESSES POLÍTICOS E ECONÔMICOS
religioso, a preocupação ecológica se faz presente, como se DOMINANTES
fora um ingrediente indispensável dos novos tempos. Novos e
crescentes espaços são, igualmente, ocupados nos meios de As exigências da racionalidade capitalista, expressas na
comunicação, nas artes e no meio científico. Cresce o número incessante busca de produtividade, competitividade e
de publicações ou de seções ecológicas em jornais, revistas e lucratividade, e materializadas num sistema produtivo e
demais meios. As Universidades, apesar da dificuldade em tecnocientífico orientado para tais fins, condicionam
superar suas barreiras disciplinares, introduzem o debate comportamentos imediatistas, individualistas e predatórios -
ambiental, ampliam o leque de suas possíveis abordagens e por parte dos grandes grupos empresariais e pela própria ação
discutem propostas transdisciplinares. governamental - que se refletem negativamente sobre o
ambiente natural concreto e sobre a cultura ambiental
Pode-se, de modo sucinto, avaliar que essa cultura ecológica simbólica.
em expansão traz, simultaneamente, consequências positivas e
negativas. Positivas no sentido que difunde informações sobre A realidade tem, seguidamente, demonstrado que os interesses
problemas sócio-ambientais, influencia comportamentos, da acumulação de capital se colocam como os principais
desperta para realidades até então esquecidas, assim como para responsáveis pela presente crise ambiental. Os requisitos
novas possibilidades de ampliação da cidadania. Negativas na inerentes ao sucesso da empresa capitalista encerram
medida em que favorece o modismo, a abordagem superficial e incompatibilidades flagrantes com as propostas de preservação
acrítica de problemas que exigem reflexão profunda e análise da vida. Entre tais requisitos pode-se destacar: a necessidade de
pluridimensional. Negativas, ainda, devido à banalização e volumes sempre crescentes de investimentos (para manter
taxas constantes de crescimento), a perspectiva de tempo
7
econômico pautado no curto e curtíssimo prazos - já que a O consumismo é outra característica da sociedade
rentabilidade depende da maior rotatividade do capital - e, os contemporânea que produz impactos preocupantes sobre o
objetivos centrais visando o crescimento ilimitado e lucros ambiente natural e construído. A sociedade capitalista
imediatos. Essas características pressupõe um consumo industrial criou o mito do consumo como sinônimo de bem-
crescente de recursos naturais e energéticos, um estar e meta prioritária do processo civilizatório. A capacidade
comportamento consumista por parte dos compradores e um aquisitiva vai, gradualmente, se transformando em medida para
estímulo obsessivo na busca do ganho rápido e fácil, valorizar os indivíduos e fonte de prestígio social. A ânsia de
divorciado de quaisquer considerações éticas. Essa conjugação adquirir e acumular bens deixa de ser um meio para a
de características e objetivos resulta numa equação realização da vida, tornando-se um fim em si mesmo, o
insustentável, com impactos perversos sobre a vida humana - símbolo da felicidade capitalista (Buarque, 1990; Gorz, 1968;
em especial da força de trabalho que torna tal sistema possível Fromm, 1979).
- e sobre o meio ambiente (Cavalcanti, 1995).
Para a lógica capitalista de produção o principal objetivo é
Ilustra esse processo a análise comparativa de Stahel entre a atender ao consumidor e estimular necessidades artificiais que
aceleração do tempo econômico e a estabilidade do tempo promovam uma maior rotatividade e acumulação do capital
biofísico no contexto do capitalismo. À luz da lei da entropia, investido. Naturalmente, nesta lógica as categorias de
tal análise conclui pela completa incompatibilidade entre esses consumidor e indivíduo/cidadão são diferentes. Consumidor é
dois ritmos, e identifica nesse descompasso a origem da crise toda pessoa dotada de poder aquisitivo, capaz de comprar
ambiental e da insustentabilidade do modelo de mercadorias. O mercado e as mercadorias não são destinados a
desenvolvimento capitalista (Stahel, 1995). satisfazer toda e qualquer necessidade das pessoas, mas sim
dos consumidores. É por esse motivo que assistimos,
Furtado, por outro lado, em seu O Mito do Desenvolvimento frequentemente, por exemplo, o Brasil investir na exportação
Econômico, desmistifica a doutrina desenvolvimentista que, de soja para alimentar o rebanho animal europeu, enquanto
segundo ele, serve, entre outros fins, para explorar os povos da grandes contingentes da população brasileira não tem feijão
periferia, legitimar a destruição de culturas e do meio físico e para comer e os produtos alimentares básicos - conhecidas
para justificar o caráter predatório do sistema produtivo por ela como culturas de pobre, como mandioca e feijão - não são
orientada (Furtado, 1996). Portanto, os imperativos da razão atendidos com investimentos de pesquisa. Assistimos, também,
capitalista e os meios técnicos construídos para sua realização diariamente, ao crescimento simultâneo do mercado de rações
orientam ações e representações auto-legitimadoras, que animais e do número de menores abandonados nas ruas. Isto
contradizem as propostas práticas, teóricas e éticas de porque o mercado no capitalismo é um eficiente instrumento
sustentabilidade socioambiental. para alocar recursos, para indicar os caminhos da maior
rentabilidade econômica, mas não foi programado para
perceber e responder a necessidades e problemas sociais.
A ÉTICA NO CAPITALISMO INDUSTRIAL
A natureza intrínseca do capitalismo exige, para sua
O paradigma ético predominante na sociedade industrial se
coloca como um forte obstáculo ao avanço da consciência e sobrevivência, acumulação e investimentos crescentes, o que
inevitavelmente aponta para a estimulação do sistema de
ação ecológicas, na medida em que atua como referência de
produção/consumo. O sistema de produção que satisfaz as
comportamentos e ações individuais e sociais. Esse modelo
ético, caracterizado pelo individualismo, antropocentrismo e necessidades dos consumidores é o mesmo que as cria; seja por
pelo utilitarismo, é antagonizado por amplos setores do processos de competição entre consumidores, pelo estímulo do
pensamento ambientalista que, justamente, apoiam seu sistema de valores e prestígio social, seja através da
pensamento e ação na crítica a estas tendências e, em propostas publicidade e marketing. Observa-se, assim, que a teoria
variadas de reformulá-las. À exceção de partidários do que se econômica, historicamente, defendeu o crescimento do sistema
convencionou nomear de ecocapitalismo - corrente que vê na de produção/ consumo de forma completamente desvinculada
de considerações éticas entre meios e fins. Os economistas,
crise ambiental o resultado de problemas demográficos e
grosso modo, se atinham à satisfação dos consumidores sem se
tecnológicos de fácil ajustamento, não demandando reformas
perguntar pela relevância, justiça, legitimidade ou pela
profundas do modelo convencional de desenvolvimento
capitalista - todos os demais matizes do ambientalismo tecem racionalidade das necessidades atendidas (Galbraith, 1987;
algum tipo de crítica ao padrão ético acima referido ( Leis, Buarque, 1990).
1992; Herculano, 1992). Essa rede tecida com traços utilitários,
individualistas e antropocêntricos condiciona comportamentos São, portanto, evidentes as consequências do consumismo
e legitimações marcados pelo domínio e exploração do sobre o meio ambiente e sobre a qualidade da vida social. Tal
ambiente físico, em uma relação de sujeição sem limites, da tendência conduz, por um lado, ao desperdício no uso de
natureza à sociedade humana. Boff nos lembra que, já entre os recursos naturais e energéticos e, por outro, agrava os
pais da modernidade ocidental, entre outros Descartes e Francis problemas de geração e processamento de lixo. Do ponto de
Bacon, se faz presente a proposta de subjugar a natureza, vista cultural e econômico, aprofunda os processos de
possuí-la e escravizá-la para extrair seus segredos (Boff,1995). alienação e exploração do trabalho e cria irracionalidades como
Nesta concepção a natureza existe e é valorada, a industria bélica, a proliferação de supérfluos e a
exclusivamente, em função do homem, para serví-lo e ser por obsolescência planejada. Representa, enfim, um tipo de
ele dominada. Deixa de ter leis e necessidades próprias, comportamento e de ideologia que alimenta o processo de
passando a subordinar-se, estritamente, aos desígnios humanos degradação, tanto das relações sociais em si quanto das
(Grun, 1996; Unger,1992; Sung, 1995). relações entre sociedade e natureza.

O CONSUMISMO E O MEIO AMBIENTE REDUCIONISMO E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA


APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Trata-se, neste momento, de criticar certas interpretações da escassez em que vivem, destróem os recursos naturais para
problemática ambiental como reais entraves ao crescimento da sobreviver, enquanto os ricos consomem e desperdiçam,
consciência ecológica. São leituras reducionistas que se excessivamente, a base de recursos naturais, deixando os
apresentam: a) reduzindo a complexidade da crise ecológica a custos, mais uma vez, para os mais pobres (CIMA, 1991).
um problema estritamente ecológico; e b) reduzindo o Ignacy Sachs, economista polonês, formulador do
problema ecológico a um problema técnico, desvinculado de Ecodesenvolvimento, muito antes do Relatório Bruntland já
outras considerações. Ambas as colocações são limitadas e alertava para a desigualdade social como causa primária do
enganadoras. A primeira delas, retira da consciência ecológica mau desenvolvimento, fato, em geral, ocultado pelos arautos
uma de suas características centrais, que é a de unir realidades, do desenvolvimentismo. Segundo ele, a opulência não é mais
articular e relacionar dimensões complementares que que a outra face da miséria e, embora as grandes vítimas sejam
constituem um todo maior. Menosprezar essa capacidade sempre os mais pobres, toda a sociedade perde em sistemas
articuladora significa perder a oportunidade de experimentar muito desiguais (Sachs, 1986). Isto porque, entre outros
uma visão sistêmica da realidade, que vê a vida e a questão motivos, a concentração de riqueza, própria ao capitalismo,
ambiental como um campo relacional, um todo integrado onde cria situações extremas e desfavoráveis à consciência e atitude
todas as partes se comunicam entre si e com a totalidade. ecológicos. Evidencia-se, pois, a importância da distribuição de
renda como um instrumento democratizador, que ao melhorar
A segunda redução, também bastante frequente, expressa o as condições gerais de vida de uma população - através do
tecnicismo e a excessiva simplificação que reduz a complexa acesso à alimentação, trabalho, educação, saúde, informação,
multidimensionalidade da temática ambiental à moradia e lazer - tende a favorecer mudanças e atitudes de
unidimensionalidade técnica. Ou seja, tratar um problema defesa da vida, tanto dos próprios homens como de seu
ambiental que é resultante de fatores econômicos, políticos, ambiente.
sociais, culturais e ecológicos conjugados como um problema
exclusivamente técnico é, no mínimo, incorrer numa Raciocínio análogo desenvolvemos no tocante à relação entre
simplificação excessiva. Desconsidera o fato de que a crise cidadania e consciência ecológica. Nesse sentido, as
ambiental é produto de um modelo de organização geral da mentalidades tenderão a avançar à medida que se perceba o
sociedade, que comporta decisões políticas e econômicas que ambiente como um direito político, relacionado à qualidade de
condicionam toda a vida individual e social. Está claro que a vida e ao usufruto de um patrimônio público comum. Trata-se,
questão ambiental tem, entre outras, uma dimensão técnica, assim, de associar a politização da questão ambiental com o
mas esta é precedida e condicionada por razões políticas e avanço da consciência e ação ecológicas. A realidade tem
econômicas, e não o contrário como pretende a redução demonstrado que a ação e o nível de consciência ecológicas são
tecnicista. Mostra-se, assim, fora de propósito a leitura que mais presentes e desenvolvidos naqueles países com maior
pretende encontrar no desenvolvimento tecnológico a solução nível de informação, educação, renda e cidadania. Ou seja,
de todos os problemas. A mesma crítica pode ser estendida ao onde os indivíduos conhecem e exercitam plenamente seus
economicismo, que propõe soluções exclusivamente direitos e deveres sociais. Confirmam, também, essa tendência,
econômicas como resposta à questões de maior complexidade. a maior incidência de organizações, partidos políticos e
associações centradas na questão ambiental - assim como
RENDA, CIDADANIA, EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA movimentos de protesto e de consumidores contra produtos e
ECOLÓGICA processos agressivos à vida e aos direitos dos cidadãos - nos
países política e sócio-economicamente mais desenvolvidos.
Em anos recentes e, sobretudo a partir de 1987, data de
publicação do Relatório Bruntland, ganha força no debate Reconhecemos que ambos os condicionantes, renda e
ambiental a relação entre pobreza social e degradação cidadania, são fatores necessários, mas não suficientes, para
ambiental. Entre outras inovações introduzidas por este transformar o nível de consciência de um povo. Essa
relatório, figura a constatação básica de que os problemas do transformação exige uma conjugação de elementos, que além
meio ambiente estão diretamente relacionados com os dos citados inclui a qualidade da educação e da informação, a
problemas da pobreza, e que ambos formam, entre si, um ciclo motivação social e a capacidade de organização para participar
vicioso de gravidade crescente. Isto é, a pobreza ao mesmo na solução dos problemas comunitários. Deve-se, ainda,
tempo que contribui para a degradação ambiental, sofre os observar que o processo de mudança de mentalidades e atitudes
efeitos do ambiente agredido. Significa que os mais pobres envolve um conjunto de estímulos econômicos, políticos,
tendem a destruir, no curto prazo, os próprios recursos que sociais e culturais, e que a definição de uma ordem de
deveriam garantir sua subsistência a longo prazo. Na verdade, prioridades entre eles dependerá de cada configuração social
essa constatação levou o PNUMA (Programa das Nações específica.
Unidas para o Meio Ambiente) a diagnosticar que as duas
causas básicas da crise ambiental são o mau uso das riqueza e a A educação é outro elemento chave no processo de mudança de
pobreza. Os pobres, como vimos, pela própria situação de mentalidades, hábitos e comportamentos, no sentido de uma

9
sociedade sustentável. Analistas e filósofos da educação caso de transferir para toda a sociedade as responsabilidades de
preocupados com a questão ambiental têm desenvolvido um problema ambiental causado por um determinado grupo
propostas pedagógicas com características: empresarial ou iniciativa governamental.

a) democrática - que respeita e atua segundo o interesse da O problema de inversão da realidade se observa na ênfase que
maioria dos cidadãos; certas vertentes de educação ambiental colocam na esfera do
consumo - destino do lixo, reciclagem, limpar a praia - em
b) participativa - onde o cidadão faz parte da elaboração de detrimento da esfera da produção, ponto de origem de todo
respostas aos problemas vividos pela comunidade que integra; processo industrial, onde se decide o que, quanto e como
produzir. É o caso, por exemplo, da opção de usar embalagens
renováveis ou descartáveis, de produzir mais bens necessários
c) crítica - que exercita a capacidade de questionar e avaliar a
realidade socioambiental; ou mais bens supérfluos, de escolher entre produtos com maior
vida útil ou produtos que rapidamente se tornam obsoletos. A
educação ambiental, portanto, exige uma compreensão mais
d) transformadora - que busca a mudança de comportamentos, global do sistema de produção/consumo e um enfoque que
valores e mentalidades contrários à vida coletiva; privilegie mais a esfera da produção (causa) - que engendra e
condiciona toda a dinâmica produtiva - que a esfera do
e) dialógica - fundada no diálogo entre todos os participantes consumo (efeito). Do contrário, estaremos invertendo e
do processo educativo e da sociedade circundante; parcializando a realidade(3). As citadas propostas de educação
ambiental também tornam-se despolitizadoras, porque
f) multidimensional - que pauta sua compreensão dos fatos na desconsideram as causas políticas da questão ambiental,
integração dos diversos aspectos da realidade.(Freire, 1996; substituindo-as por motivos e soluções técnicas e, assim
Reigota, 1995;UNESCO/UNEP, 1977; Grun, 1996;Dias,1993). fazendo, desviam a atenção pública dos interesses políticos e
econômicos que, de fato, explicam a origem dos problemas
Isto significa dizer que uma educação convencional, sócio-ambientais. É por esse motivo que analistas mais críticos
conservadora, de tendência monodisciplinar, desintegrada da da questão pensam a educação ambiental como uma educação
realidade comunitária e da participação social, acrítica e política com vistas ao exercício pleno da cidadania (Reigota,
autoritária representa, na verdade, um obstáculo à mudança de 1995).
consciência e atitudes.

Por outro lado, parece difícil pensar uma educação de


qualidade em sociedades onde a educação continua sendo um DESAFIOS À CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
privilégio e não um direito prioritário, onde a elite cultural
importa dos centros industrializados não só conhecimentos Vimos até aqui que, desde os anos 70 a consciência ecológica
técnicos mas concepções de desenvolvimento, valores e avançou bastante, embora, ainda não o suficiente para conter o
padrões de comportamento. crescente ritmo de degradação socioambiental.

Merecem destaque, ainda, certas propostas de educação Há, em primeiro lugar, que reconhecer-se que a consciência e o
ambiental que tendem a banalizar o tratamento da questão discurso ecológicos se expandiram mais rapidamente que os
ambiental com um enfoque superficial, despolitizador e comportamentos e ações práticas. Portanto, o primeiro desafio
invertido dessa realidade. Isso porque focaliza e dá excessiva consiste, justamente, em materializar ideias e teorias em
atenção aos efeitos mais aparentes do problema, sem práticas cotidianas ecologicamente orientadas.
questionar suas causas profundas, que dão origem à crise atual.
É o caso, por exemplo, de chamar muita atenção para uma Nesse sentido, insere-se como ingrediente indispensável o
espécie ameaçada de extinção e promover sua reprodução em exercício da participação social. Todas as propostas de
cativeiro, sem perguntar e discutir os modelos de ocupação e fortalecimento da sociedade civil, da cidadania e de melhoria
exploração dos recursos naturais, responsáveis pela destruição da qualidade da vida social passam, necessariamente, pelo
de ecossistemas inteiros para satisfazer interesses econômicos e desenvolvimento da participação social. Diversos analistas das
políticos, completamente alheios à degradação que causam. relações entre sociedade, meio ambiente, educação e
Assim, criar ilhas de conservação fica parecendo a melhor sustentabilidade enfatizam a impossibilidade de realizar
solução para um problema com raízes mais profundas. transformações, com sentido democrático, sem a promoção da
Concentra-se toda atenção em paliativos superficiais sem tocar participação social (Sorrentino, 1991; Penteado, 1994; Reigota,
nas reais causas que originam os problemas sócio-ambientais. 1995; Guimarães, 1996). Chamam atenção para os vícios
Além disso, análises superficiais do tipo citado tendem a herdados de uma sociedade historicamente autoritária,
atribuir, de modo genérico, as responsabilidades dos danos paternalista, individualista e dotada de baixos níveis de
ambientais à ação humana, deixando de dizer que o homem educação política. Tais características sociais terminam
vive em sociedades heterogêneas, formadas por grupos e produzindo nos indivíduos um conjunto de atitudes e
classes sociais com poderes, atividades e interesses sentimentos negativos, que os distancia da ação coletiva e da
diferenciados. Assim, os homens ocupam posições sociais mobilização para resolver seus próprios problemas
diferentes, e se relacionam com a natureza e o ambiente comunitários. Assim, acabam predominando a descrença, a
diversamente. Alguns são governantes, outros governados; apatia, a inércia e o despreparo para a participação social. O
alguns são proprietários, outros são assalariados; uns são indivíduo, nessas condições, tende a perder a confiança e a
produtores, outros consumidores; uns incluídos, outros crença de que sua atitude individual se transforme numa
excluídos. Portanto a afirmação genérica de que "o homem" é o iniciativa coletiva e eficaz, atrofiando as possibilidades de
grande predador da natureza e do ambiente deve ser melhor participação. Soma-se a isso o histórico descrédito nas
qualificada, para evitar conclusões apressadas e enganosas. É o
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

autoridades e iniciativas públicas, que tão bem se expressam no normativa e controladora do sistema social - orientada por
antigo divórcio entre o público e o privado no Brasil. Da Matta, interesses fortemente contraditórios - e a eficiência alocativa a
em pesquisas sobre o tema, observa com lucidez que a vida serviço de interesses privados. Ademais, a realidade tem
pública no Brasil foi construída, desde a Colônia, de uma demonstrado que são as próprias iniciativas estatal e privada os
forma onde a casa (a esfera privada) funciona e a rua (a esfera principais agentes responsáveis pela devastação sócio-
pública), não. ambiental. Por outro lado, assistimos à perda progressiva, por
parte do Estado, de sua importância e autonomia na relação
Por isso, segundo ele, a identidade do brasileiro contém mais com os conglomerados transnacionais, no contexto da
valores da vida privada que da vida pública, diferentemente de globalização e do neoliberalismo. Portanto, embora a via da
outras nações, onde a coisa pública é mais valorizada e sociedade civil e da cidadania se apresente, ainda, como uma
próxima do cidadão (Da Matta, 1996). Nesse contexto, a alternativa frágil diante das três forças apresentadas - dada a
participação social cumpre o relevante papel de romper o composição de poder presente no neoliberalismo e da
distanciamento entre a ação individual e coletiva e de mostrar a consequente desorganização, perplexidade e desmobilização da
possibilidade de transformar a realidade no sentido de sociedade civil nesse quadro, em especial nos países periféricos
valorização da vida do indivíduo consigo mesmo, com os - é a que representa a resposta mais legítima e sintonizada aos
outros e com o seu ambiente. interesses e necessidades da maioria dos trabalhadores e a mais
promissora, já que o Estado tende à atrofia e o mercado,
Um outro ponto, central nessa discussão, reside na necessidade embora em posição hegemônica, não responde aos crescentes
de exercitar um enfoque multidimensional na análise e e, cada vez mais, dramáticos problemas sociais.
tratamento dos problemas ambientais. Esse enfoque supera as
abordagens anteriores de caráter unilateral e reducionista, que Vimos, pela análise precedente, que a mudança da consciência
pretendiam explicar os problemas ambientais, ora por uma e da ação ecológicas encontra obstáculos objetivos e subjetivos
ótica econômica estrita, ora por um ponto de vista poderosos, cuja superação exige profundas transformações no
exclusivamente biológico ou técnico. Isto para não perder a modelo de desenvolvimento sócio-econômico, na direção dos
riqueza e maior fidedignidade de uma compreensão e análise meios científicos e técnicos, nos padrões de comportamento
pluricausal da realidade, que incorpora e articula dimensões social e nos referenciais éticos que dirigem os rumos
políticas, culturais, ecológicas, econômicas e filosóficas. hegemônicos da sociedade capitalista globalizada. A realização
Dentro dessa compreensão plural surge um outro desafio, que é de tais mudanças vai, cada vez mais, exigir a descoberta dos
o de priorizar e hierarquizar as diversas dimensões do real, o limites quantitativos e qualitativos do crescimento econômico,
que nos remete ao próximo ponto. a subordinação do avanço técnico-científico a controles éticos,
a reforma da ética do egoísmo no sentido da solidariedade e o
despertar para a dependência ecossistêmica a que está sujeita a
Refiro-me à politização da questão ecológica, já percebida e
praticada por diversos setores do ambientalismo, mas sociedade e vida humanas. São tarefas e desafios de magnitude,
ingenuamente esquecida por setores tradicionais do que vão exigir iniciativas proporcionais pautadas no diálogo,
conservacionismo e bastante manipulada pelos setores na participação social e na luta por uma vida mais digna.
dominantes do ecocapitalismo. Numa ou noutra versão, tratam
os problemas ecológicos ora como problemas meramente Uma sociedade consciente e bem educada não
biológicos, desvinculados das relações políticas e econômicas, gera lixo e sim materiais para reciclar.
ora como problemas estritamente técnicos, facilmente Selecionando o lixo, você vai ajudar a diminuir a
ajustáveis através do desenvolvimento tecnológico. O desafio, poluição do ar, solo e água, bem como vai reduzir
portanto, consiste em tratar os problemas ecológicos como a necessidade de novas áreas para aterros
problemas políticos. Conceber o ambiente como um patrimônio sanitários. Tal atitude, também vai ajudar a
público comum e sua defesa como um direito político que diminuir a proliferação de insetos e roedores,
amplia a compreensão e a prática da cidadania. Convergente responsáveis pela transmissão de várias doenças.
com o desafio acima proposto, se coloca a questão do Os recursos naturais vão ser poupados, pois o lixo
fortalecimento político da sociedade civil na construção da separado vai ser reciclado e transformado pelas
sustentabilidade social. Sem negar a importância da
indústrias em matéria-prima novamente,
participação do Estado e do Mercado nesse processo, a
baixando assim os custos do produto final por nós
contribuição dos movimentos civis se revela como decisiva na
reorganização de uma sociedade voltada aos interesses da consumido.
maioria dos cidadãos e pautada em princípios democráticos,
participativos, de justiça social, prudência ecológica e O lixo gerado por nós é apenas uma pequena
viabilidade econômica. As outras opções lideradas pelo Estado parte da "montanha" gerada todos os dias,
e pelo mercado, pela própria natureza dos interesses que composta também por resíduos industriais, de
encarnam, privilegiam, respectivamente, a intervenção construção civil, de mineração, de agricultura e

11
outros. De todo lugar sai lixo. O que não podemos metais e papéis), para os programas de coleta
ignorar é que o lixo precisa ser devidamente seletiva.
separado e coletado, reaproveitado ou reciclado
antes de ser descartado.

Lixo é basicamente todo e qualquer resíduo sólido Depois de tomar a sua melhor cerveja, não
proveniente das atividades humanas ou gerado esqueça de reciclar a latinha, mas lembre:
pela natureza em aglomerações urbanas. No a cerveja mais saborosa é aquela que vem
entanto, o conceito mais atual é o de que lixo é no casco de vidro retornável - a gente
aquilo que ninguém quer ou que não tem valor sempre tem que tomar com mais alguém; e
comercial. Neste caso, pouca coisa jogada fora que mesmo para produzir a latinha a partir
pode ser chamada de lixo. de material reciclável é necessário o
consumo de energia.
REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR

São conceitos fundamentais para um bom Veja como funciona:


gerenciamento dos Resíduos Sólidos, ou seja, do
Lixo. São conceitos que devem ser absorvidos,
praticados e divulgados.

Podemos REDUZIR a geração do lixo


consumindo menos e melhor, isto é,
racionalizando o uso de materiais no nosso
cotidiano.

Como reduzir?
» Preferir produtos com embalagens retornáveis
» Preferir produtos com embalagens recicláveis
» Combater o desperdício de produtos e alimentos
planejando bem as compras
» Pegar carona sempre que possível
» Não deixar as torneiras pingando
» Assinar jornais e revistas em conjunto com
outras pessoas
» Escrever em papel reciclado

Podemos REUTILIZAR diversos produtos


antes de descartar, usando-os para a mesma
função original ou criando novas formas de
utilização.

Como reutilizar?
» Separar sacolas, sacos de papel, vidros, caixas
de ovos, papel de embrulho que podem ser
reutilizados.
» Usar o verso das folhas de papel já utilizadas
para rascunho.
» Pensar em conservar e consertar objetos antes
de jogar fora.
» Doar ou vender tudo o que possa ser
reaproveitados por outros.
» Não jogar no lixo aparelhos : podem ser
vendidos ao “ferro velho” ou desmontados para o
reaproveitamento de peças.
E podemos RECICLAR o lixo quando o
retornamos ao ciclo da produção, seja ele
industrial, agrícola ou artesanal.
Como reciclar?
» Fazer compostagem doméstica com seus restos
de jardim e de cozinha.
» Separar materiais recicláveis (plásticos, vidros,

S-ar putea să vă placă și