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Francisco Paes Barreto 1

A angústia na psicose
(Introdução ao tema e exemplos clínicos)

Palavras-chaves: Angústia, Psicose, Objeto a, Fragmentos clínicos.

1
A afirmação de que na psicose não existe angústia está apoiada na fórmula segundo a qual
só há angústia de castração. Ora, estando a castração em estrita conjunção com o Édipo, por meio
da operação da metáfora paterna, se há foraclusão do Nome-do-Pai, há, conseqüentemente,
foraclusão da castração, não sendo possível assim, a rigor, falar de angústia na psicose.
São formulações que estão em precisa consonância com a primeira parte do ensino de
Lacan; por exemplo, com o Seminário 3, sobre As psicoses, com o Seminário 4, sobre A relação de
objeto, com o Seminário 5, sobre As formações do inconsciente. Não obstante, conforme assinala
Jacques-Alain Miller na sua Introdução à leitura do Seminário da Angústia de Jacques Lacan1, o
Seminário 10 constitui, a esse respeito, um ponto de virada.

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Um primeiro aspecto que destacarei na leitura de Miller é a disjunção entre Édipo e
castração. Situando a questão em poucas palavras, a castração não é mais referida à ameaça do
Outro paterno ou materno, mas ao fato biológico, anatômico, orgânico, da detumescência na cópula
(p. 34). Numa inversão sensacional de toda a literatura psicanalítica, Lacan formula que “à mulher
nada falta” e que “isso salta aos olhos”, ou seja: no nível da copulação, é o macho que tem que se
haver com a falta, com o desaparecimento do órgão instrumento; é para o macho que a relação com
o desejo e com o gozo resulta complicada.

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Um segundo aspecto que assinalarei na introdução de Miller é a generalização da castração
sob as formas da separação. Há, em todo o Seminário, “uma onda que desinscreve os termos
fundamentais da psicanálise do contexto edípico” (p. 35). Ora, é a partir da retroação edipiana que
as perdas pré-genitais são inscritas como castração. No Seminário 10, todavia, é essencial perceber
que não é mais da castração edipiana que se trata. Da mesma forma, a retroação edipiana se desfaz.
O que Lacan elabora como objeto a é uma função generalizada, não edipiana, mas topológica,
sincrônica (p. 38). O pequeno a não é determinado em nenhum nível pela interdição, mas, sim, pela
pura e simples separação. Separação que é, sobretudo, do registro da automutilação — donde o
termo separtição proposto por Lacan, para indicar que é algo como uma partição no interior. O
objeto a é o que há de mais eu-mesmo no exterior, por ter sido cortado de mim (p. 56). Concepção
do objeto que o situa num tempo anterior ao do objeto do desejo e que tem por paradigma o seio, o
objeto oral. Liberada da castração e da referência ao desenvolvimento, a lista lacaniana dos objetos
se ordena a partir das zonas erógenas e dos orifícios do corpo. Portanto, não é mais do modelo da
imagem da emasculação de que se trata, mas da imagem da perda e da separação. Castração torna-
se fundamentalmente um nome impróprio (p. 44).

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Destacarei, na leitura de Miller, um terceiro aspecto: a indicação do novo status da angústia.
Se, antes, prevalecia a fórmula a angústia é signo do desejo do Outro, agora prevalece outra
fórmula: a angústia é sinal do real. O Seminário 10 é configurado como um mergulho aquém do
desejo; aquém do desejo, há o gozo e a angústia (pp. 46, 47). A novidade é que a angústia é
concebida como operador que permite a das Ding tomar a forma de objeto pequeno a. Miller,
parafraseando um aforismo lacaniano, diz que só a angústia transforma o gozo em objeto causa do
desejo. Com efeito, entre gozo e desejo, há um trajeto que passa pelo amor e outro que passa pela
angústia. A via do amor é uma via de engano, ao passo que a angústia, como sinal do real, é aquilo
que não engana (p. 60). Divergindo de Freud, para quem a angústia está ligada à perda do objeto,
Lacan afirma que ela surge quando a falta vem a faltar, ou seja, quando há objeto, quando há objeto
demais (pp. 56, 57). O objeto, aqui, precede a angústia, mas esta é uma abordagem preliminar, pois,
como já foi dito, no segundo movimento é a angústia que produz o objeto.

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A partir do Seminário 10, a pergunta não é mais se há ou não angústia na psicose. A
pergunta passa a ser: como há angústia na psicose? Está claro que a questão só é possível na medida
em que, para a psicanálise, não se restringe ao aspecto fenomenológico.
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Fabien Grasser, em seu ensaio A angústia na psicose2, dá-nos o que me parece ser a chave
da questão. “Ao contrário da definição de Freud, na qual a angústia assinalava antes de tudo a perda
de um objeto ao se separar, para Lacan, o que produz a angústia é ele não faltar. Não há a perda, daí
a importância da presença. E nós veremos que na psicose, é isso que está no coração do problema, é
o que Lacan chamou de a falta da falta”(p. 28).
Grasser comenta que o sujeito neurótico está constitutivamente separado do objeto a, que
deixa um buraco, uma falha, um resto da operação significante por meio da qual se faz o ingresso na
partilha dos sexos. O neurótico demandará o objeto do Outro, pois este, na sua suposição, o possui.
Já o sujeito psicótico foi qualificado por Lacan de homem livre, uma vez que não se separou de seu
objeto a, guarda-o no bolso. Ao psicótico o objeto não falta, e quando se torna demasiadamente
presente, causa angústia. Para sair dela, existem diferentes caminhos, como, por exemplo, a via do
significante. É possível ainda, num curto-circuito, realizar uma passagem ao ato, tal como uma
automutilação ou uma tentativa de suicídio (p. 29).

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Massimo Recalcati, de forma clara, assim resume: “Se na clínica clássica da neurose a
angústia pode manifestar-se em relação com a falta, com a separação, com a perda do objeto, na
obesidade a angústia não está em relação com a falta, mas, sim, como na psicose, com a ‘falta da
falta’.” 3
Trarei, agora, três fragmentos clínicos que permitem situar a questão da angústia na psicose.

O caso de Paula
(Apresentação de paciente realizada por Cristina Drummond)

Paula foi atendida num hospital universitário quando contava 11 anos, para tratar-se de
problema hematológico (púrpura auto-imune). Em 2001, com 16 anos, foi indicada uma cirurgia
como solução para o seu caso. A família concordou, mas, Paula se recusava. Não porque tivesse
medo da cirurgia, mas, exatamente, porque dizia que queria morrer. Foi encaminhada ao setor de
saúde do adolescente, tendo sido feito o diagnóstico de psicose alucinatória (esquizofrenia). Um
caso muito preocupante, já que as alucinações não a deixavam dormir à noite e a perseguiam
durante o dia; vozes que exigiam que ela se matasse, pois, se não, um mal terrível seria feito à sua
mãe. Desde então Paula vem sendo tratada com abordagem psiquiátrica (psicofarmacológica) e
psicanalítica. Supervisionei o caso em vários momentos.
Em fevereiro de 2003, com a idade de 18 anos, Paula aceitou participar de uma
apresentação de paciente, desde que a entrevistadora fosse uma mulher. Cristina Drummond aceitou
o convite. Reproduzo, aqui, um trecho da apresentação.

Paula —O que mais me incomoda são as vozes. Primeiro, era a voz da Joana. Dentro da Joana
existem outras vozes, só de mulher. A Joana quer que eu fique com ela. Só fico com ela se eu me
matar. Eu tenho que me matar mesmo. Joana —eu pertenço a ela, eu não sou deste mundo, pertenço
ao mundo dela que é um mundo de vingança. As vozes me deixam muito triste.
Cristina Drummond —O que você acha que são essas vozes?
P —Acho que podem ser espíritos —antepassados. Os espíritos querem que eu morra. A Joana quer
que eu fique com ela.
CD —Que mundo seria este?
P —Mundo de espíritos e de mortos. Eu não sou desse mundo aqui.
CD —Como é sua vida?
P —Minha vida é normal —estudo e trabalho.
CD —Por que não gosta da vida?
P —Nunca gostei, não.
CD —Quais são os seus interesses?
P —Estudar e —não sei explicar— gosto de ler sobre o Egito.
CD —Por que o interesse pelo Egito?
P —Pirâmides e antepassados. Eles mumificavam os mortos. Eles também acreditavam em outras
vidas.
CD —Outro interesse...
P —Ler a Bíblia. Os Salmos. Tudo posso naquele que me fortalece. Deus fortalece as pessoas. Deus
não faz parte do mundo da Joana. Ela é do mal. Ler a Bíblia faz bem. Quero morrer mesmo para
ficar com a Joana.
CD —Você não falou que é um mundo terrível?
P —Mas eu saio desse mundo chato.

À época da entrevista, Paula trabalhava e preparava-se para o vestibular de biologia.

O caso de Marcos
(Resumo extraído de relatório de Paulo Roberto de Carvalho Moura)

Marcos foi admitido no CERSAM Leste em 1997, com 19 anos. Sua primeira crise foi aos
11 anos, depois que caiu num bueiro e foi socorrido pela polícia. Desde então faz tratamento, tendo
se submetido a numerosas internações psiquiátricas. O diagnóstico é de esquizofrenia hebefrênica.
O que prevalece no quadro são alucinações seguidas de passagens ao ato. “Escutei vozes
falando para eu morrer, para eu me agredir, por isso enfiei agulhas pelo corpo.” “Escutei vozes que
me ordenavam quebrar os vidros da minha casa”, afirmou Marcos, trazido por sua mãe, após a
quebradeira. Com efeito, é longa a série de automutilações: palitos de fósforo na uretra, pedra no
ânus, cortes generalizados, inclusive perto da unhas. “Uma voz me mandou cortar a cabeça um
pouquinho e deixar à mostra o couro cabeludo cortado”, disse certa vez.
O caso é de manejo dificílimo. Além da relação muito complicada com a mãe, não há
qualquer trabalho delirante por parte do sujeito. Por outro lado, comenta a analista que atende o
caso, Marcos quase não nos demanda, não nos pede socorro.

O caso de Ramon
(Extraído de relatório de Adriana Lacerda)

Ramon chegou ao CERSAM Leste em 2001, encaminhado pelo Instituto Raul Soares, após
ter recebido alta de internação psiquiátrica. Desde então, vem realizando um circuito entre essas
duas instituições, no que diz respeito ao seu tratamento. Já esteve em vários equipamentos de
albergamento, como o Abrigo São Paulo e o Albergue Municipal; encontra-se errante, sem vínculo
com familiares e identificado como “população de rua”.
A história que Ramon conta está carregada de perdas e desenlaces familiares.
“Quando eu tinha três anos, meu pai me levou ao banheiro e morreu. Ele estava pelado,
minha tia dizia que os pais deviam ficar pelados na frente dos filhos para que eles vissem como são
os adultos. Lembro-me da casa cercada de policiais. Eu já te falei, Adriana? Eu ficava acendendo
bombinhas nos pés de meu pai para ver se ele acordava”.
O episódio é relembrado por familiares como: Ramon queria acender o pai.
Após a morte do pai, a mãe entregou os filhos para serem criados por tios e tias por parte de
pai. “Minha mãe queria se casar, por isso não ficou com a gente. Não concordo com isso”.
Com quatro anos, tentando fazer sexo com uma priminha, foi repreendido pelo tio com uma
palmada. Uma das conseqüências do episódio foi ter sido levado para morar com outro parente, que
tinha apenas filhos homens.
Sua primeira crise ocorreu aos 19 anos de idade, quando iniciou a leitura bíblica, Salomão e
os Eclesiásticos. “Senti minha cabeça alargando”. Foi, então, internado num hospital psiquiátrico,
em Guarulhos.
Na atualidade: tem apresentado momentos difíceis de suportar. “Não estou agüentando mais
nada, estou mal, batendo nas paredes. Estou com vontade de morrer, quero tomar remédio para
entrar num coma profundo e nunca mais voltar. A solução é a morte”.
Às vezes, escreve textos que me remete. “Há algo melhor que a vida, sim: a morte; a morte
é perene, é como uma brisa e ela se encontra com o vento, ela voa como um tufão amanhecesse no
orvalho”.
Nas últimas crises, Ramon apresentou-se inadequado e persecutório com as mulheres,
agredindo algumas pacientes sem motivo aparente e verbalmente algumas mulheres da equipe.
“Parece que elas estão lendo meus pensamentos, parece que elas estão vendo”. “Olho para um bebê
e parece que ele captou algo de mim, que ele tirou algo de mim”. Em outro momento, acusa-se de
“ter agido como pedófilo, que aproveita da inocência das crianças”.
Recentemente, o tema foi “como arrumar uma namorada”. Alguma coisa o intriga: “Por que
as mulheres não querem nada comigo?” Mais adiante, retoma no seguinte ponto: “Eu já li sobre
psicologia de homem, mas a mulher tem um véu”. Ao final do atendimento, levanta e agradece:
“Hoje nos falamos o essencial”.
Muitas vezes, diante da iminência de uma passagem ao ato, e havendo uma solicitação de
Ramon para permanecer no pernoite ou ser encaminhado para internação, opto por acolhê-lo e
escutá-lo em seu pedido, acreditando que essa manobra apazigua um excesso de angústia, além de
assegurar-lhe que não toda relação está fadada a desaparecer. Poderia mesmo dizer que Ramon
espera que eu permaneça no mesmo lugar, para que ele possa retornar. Nesse sentido, eu o aguardo
quantas vezes ele demandar.

Comentários
As alucinações auditivas —representações do objeto a enquanto voz— constituem a maior
fonte de angústia na psicose. A esse respeito, são ilustrativos os casos de Paula e de Marcos. Existe
entre eles, porém, diferença fundamental.
Paula encontra recursos simbólicos para lidar com a angústia causada por suas alucinações.
Aos poucos —e com o tratamento— ela caminha para a construção de uma metáfora delirante, ela
evita a passagem ao ato, ela se estabiliza —trabalha e estuda. Em suma: Paula trata o real (o gozo)
com o simbólico (a metáfora) e com o imaginário (a construção delirante).
O que acontece com Marcos? Suas alucinações geram angústia, que ele alivia com
passagens ao ato. Em outras palavras: Marcos trata o real com o real. Tomarei o exemplo das
automutilações. Um verdadeiro enigma: esperar-se-ia que elas causassem dor. Mas, a clínica é
clara: elas causam alívio! Como lançar alguma luz sobre a questão?
Trata-se de uma localização do gozo sem limites da psicose. É uma resposta. O objeto não é
extraído do corpo. Há um excesso de corpo que angustia. A angústia chega a um extremo. A
automutilação pode ser lida como um apelo à castração. Como uma tentativa de introduzir alguma
coisa da ordem da castração no objeto (Grasser, p. 38). Ou seja: o que não se inscreve no simbólico
reitera no real.
É o que torna difícil o manejo do caso de Marcos. Por mais incrível que possa ecoar, sob
certo ângulo a automutilação não é um problema, é uma solução. Esse caso clínico está aí para
mostrar os limites: da psicanálise, da reabilitação, dos cuidados da saúde mental.
O caso de Ramon exige muitos comentários. Mas, farei apenas um.
Dentro de certa perspectiva, Ramon é o objeto a. O objeto a enquanto abandonado,
desgarrado, rejeitado, isolado, errante, xingado, etc. Identificação tão maciça, com efeito, causa
angústia, com idéias de auto-extermínio, agressões, seduções, ou ainda: escritos, poesias. Adriana,
na transferência, procura não redobrar o Outro, não repeti-lo, mas, sim, retificá-lo. Ou seja: tornar-
se, para Ramon, um outro Outro. A retificação do Outro é um bom caminho no tratamento do
psicótico.
1
MILLER, J.-A. Introdução à leitura do Seminário da angústia de Jacques Lacan. In: Opção Lacaniana nº 43. São
Paulo: Eólia, 7-91, maio de 2005.
2
GRASSER, F. L’angoisse dans la psychose. In:Les documents de Scripta. Saint-Quentin: Association de la Cause
freudienne, 27-41.
3
RECALCATI, M. El demasiado lleno de la obesidad. In: Clínica del vacío. Madrid: Editorial Síntesis, 2003, p. 286.

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