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De acordo com o apóstolo Pedro, uma das características de uma criança recém-nascida saudável é
o ardente desejo pelo genuíno leite espiritual, exatamente como ocorre com os bebês naturais. Que
pai ou mãe não conhecem o “ardente desejo” de uma criança recém-nascida?
No original, o sentido das palavras realçadas acima é o leite puro, sem misturas ou adulterações, da
palavra. A palavra traduzida como espiritual na versão Revista e Atualizada (racional na versão
Corrigida) é a palavra grega logikos, que vem de logos, usada muitas vezes no Novo Testamento
para referir-se à Palavra de Deus, ou até ao Verbo de Deus, que é Jesus.
Assim como ninguém precisa ensinar um bebê a desejar o leite, que é sua fonte de vida, a grande
característica de um cristão saudável é sua ardente fome pela Palavra de Deus. Isso pode parecer
muito óbvio (e deveria mesmo ser!), mas não é. Estamos vivenciando, como povo de Deus no Brasil
(e em alguns outros países), uma situação extremamente anormal e perigosa: multidões e
multidões de recém-nascidos espirituais que não estão se alimentando consistentemente do puro
leite da Palavra e que, na maioria, nem sabem que sua dieta é totalmente inadequada para o
crescimento espiritual.
A explosão numérica da igreja evangélica no Brasil já foi bem comentada e analisada. Tem
chamado a atenção das pessoas em muitos outros lugares do mundo. O fato de Deus ter aberto as
portas da salvação de forma tão ampla é, na verdade, muito significativo, tendo em vista que não é
o que constatamos em muitas outras regiões do mundo. A Europa, por exemplo, que tem uma
longa história de cristianismo, é hoje uma região secular e materialista. As igrejas são escassas e
pouco freqüentadas. Os países islâmicos são os que mais perseguem a expansão do evangelho. Em
muitos desses lugares, os cristãos representam menos de um por cento da população. Quando
ocorre uma única conversão, é causa de grande celebração.
Há pouco mais de duas décadas, aqui no Brasil, também não era muito fácil. A pessoa precisava ter
coragem para se declarar “crente”. Havia oposição e até perseguição, em muitos lugares, quando
se pregava o evangelho. Poucas pessoas rompiam suas raízes familiares e tradicionais para se
converter a Cristo.
Agora, porém, a atmosfera espiritual mudou. As tradições perderam grande parte do seu poder. O
céu se abriu sobre o Brasil. Multidões estão afluindo para as igrejas. Nunca foi tão favorável, tão
“fácil” ganhar pessoas para Jesus.
Sabemos que nem todas as conversões são genuínas e que nem todos estão buscando Jesus
verdadeiramente. Sabemos, também, que nem todos estão pregando o evangelho com motivação
certa, assim como acontecia nos tempos primitivos (Fp 1.15-18). Mas não é sobre isso que
queremos discorrer. O fato é que muitas pessoas, muitas mesmo, têm se convertido aqui nos
últimos anos. E continuam chegando… É uma graça de Deus, um tempo oportuno, um momento de
grande colheita.
As igrejas evangélicas traçam suas origens à Reforma Protestante, com Martinho Lutero, em 1517.
Um dos grandes pilares daquela Reforma foi a volta à Palavra de Deus, a Bíblia. A leitura das
Escrituras, que era proibida ao povo, passou a ser liberada. Os protestantes sempre foram
conhecidos como o povo do Livro, que se orgulhava no fato de que o fundamento de suas igrejas
não se baseava em líderes, instituições ou tradições, mas na Bíblia Sagrada. Antigamente, a grande
bandeira das pregações evangelísticas aqui no Brasil, mais uma espécie de ataque contra os
católicos, era esta: nós nos baseamos na Palavra de Deus, nós estudamos a Bíblia, vocês nem a
conhecem.
Hoje, essa distinção não mais seria válida. O crente evangélico mediano carrega a Bíblia, mas não a
conhece. O ensino bíblico é escasso ou inexistente. As pregações pouco incentivam a leitura bíblica,
pouco conteúdo transmitem. A Escola Dominical está se tornando uma instituição do passado e
nada foi colocado em seu lugar. A grande ênfase nas igrejas é cantar, celebrar, buscar uma
resposta ou bênção pessoal, descobrir como viver uma vida próspera e trazer outras pessoas para
encontrarem as mesmas soluções.
O texto em 1 Pedro 2 afirma que a criança recém-nascida deseja ardentemente o puro leite da
Palavra, a fim de crescer para a salvação. Salvação, no sentido bíblico, não é uma mera questão de
evitar o inferno; refere-se a todo o propósito divino de libertar o homem dos efeitos do pecado, de
ligá-lo novamente a Deus em comunhão e de torná-lo outra vez uma peça ativa no seu plano
redentor para toda a humanidade e até para a criação (veja Uma Tão Grande Salvação, na edição
42 da revista Impacto). Como, porém, as pessoas entenderão o verdadeiro significado e
abrangência dessa salvação se não forem fundamentadas nas Escrituras, que nos foram dadas
precisamente com o objetivo de revelar o plano de Deus?
Na sua segunda epístola, no primeiro capítulo, o apóstolo Pedro fala sobre a impressionante
vocação de participarmos da própria natureza divina (v.4) e enfatiza a necessidade de diligência
(vv. 5,10,15) a fim de confirmar e garantir esse nosso chamamento. A diligência é essencial em
todos os aspectos da vida cristã, mas especialmente na busca do alimento espiritual, na leitura e no
estudo da Palavra de Deus.
“…se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1 Pe 2.3). A melhor maneira de
abrir o nosso apetite para o alimento espiritual é provar um pouquinho dele. É como um aperitivo
que estimula a fome; se começarmos a provar as verdadeiras riquezas, a fazer contato com o
próprio Deus por meio da sua Palavra e conhecer o seu pensamento, ficaremos amarrados para
sempre! A diligência e a dedicação não serão problemas!
Assim como ocorre numa escola natural, simplesmente ouvir uma exposição passivamente não traz
muita aprendizagem. É preciso envolver-se ativamente no processo, escrevendo, copiando,
debatendo, pesquisando, comparando e raciocinando.
Veja a seguir os quatro níveis de envolvimento que podemos ter com a Palavra de Deus como
cristãos, e faça uma auto-avaliação para ver em que posição você está:
Existem dois enormes campos de colheita no Brasil e em algumas outras partes do mundo: o
primeiro é formado pelas multidões que ainda não conhecem a Jesus, enquanto o segundo contém
os que aceitaram seu convite, mas ainda não conhecem quase nada a respeito do seu plano na
Terra. Os dois campos estão brancos e precisam urgentemente de obreiros. “Rogai, pois, ao Senhor
da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Lc 10.2). Alguém está ouvindo o chamado?
A maioria das pessoas reflete seriamente, pelo menos uma vez ou outra, sobre o fim da sua vida, ou
de todas as coisas. Não adianta sorrir desdenhosamente, passar adiante desse assunto: ESSE DIA
HÁ DE VIR. E O QUE ACONTECERÁ ENTÃO? A Bíblia dá a resposta. É uma resposta inequívoca. Há
um Deus. Há um céu. Há um inferno. Há um Salvador. Haverá um dia de juízo. Feliz do homem que,
enquanto vivo, fizer suas pazes com o Cristo da Bíblia e se preparar para esse epílogo.
Como pode uma pessoa sensata deixar de entusiasmar-se com Cristo e com a Bíblia que de Cristo
lhe fala? Todos devemos amar a Bíblia. Todos. TODOS.
Negligência
Todavia, a negligência generalizada da Bíblia por parte de igrejas e de pessoas que freqüentam
igrejas é, simplesmente, de estarrecer. Conversamos sobre a Bíblia, defendemos a Bíblia, louvamos
a Bíblia, exaltamos a Bíblia. No entanto, muitos membros de igreja raramente lançam um olhar à
Bíblia – de fato, ficariam envergonhados se alguém os visse lendo-a. E os líderes da igreja em geral
não parecem fazer um esforço sério para levar o povo a ler a Bíblia.
Procuramos saber tudo no mundo. Lemos jornais, revistas, novelas e toda sorte de livros, ouvimos o
rádio e assistimos à televisão. No entanto, a maioria de nós nem sequer sabe os nomes dos livros da
Bíblia. Que vergonha! Que vergonha!
O contato direto de cada pessoa com a Palavra de Deus é o principal meio de crescimento cristão.
Todos os líderes de poder espiritual, da história do cristianismo, têm sido leitores devotados da
Bíblia.
Os pensamentos exercem poder em nossa vida pela FREQÜÊNCIA com que ocupam nossas mentes.
Devemos ler a Bíblia freqüente e regularmente, de sorte que os pensamentos de Deus possam
ocupar freqüente e regularmente nossas mentes; dessa forma, podem vir a tornar-se pensamentos
nossos, e nossas idéias podem vir a conformar-se com as idéias de Deus; podemos ser
transformados na imagem de Deus e, assim, capacitados a fazer eterna companhia ao nosso
Criador.
Podemos, com efeito, absorver a verdade cristã, em certo grau, assistindo aos cultos, ouvindo
sermões, lições bíblicas, testemunhos e lendo literatura cristã.
Todavia, por mais que essas coisas sejam boas e úteis, fornecem-nos a verdade divina em SEGUNDA
MÃO, aguada, porque chega a nós através de canais humanos e, até certo ponto, glosada com
idéias e tradições humanas.
Estas coisas não podem tomar o lugar da leitura individual da PRÓPRIA BÍBLIA, da fundamentação,
por nós mesmos, de nossa fé, esperança e vida, diretamente na Palavra de Deus, ao invés de ser
naquilo que os homens dizem acerca dessa Palavra.
Hábito Fundamental
Não queremos dizer que devemos cultuar a Bíblia como se fosse um fetiche, mas adoramos o Deus
e o Salvador de quem a Bíblia nos fala. E, porque amamos o nosso Deus e Salvador, amamos, terna
e devotadamente, o Livro que dele procedeu e dele se ocupa.
Nem queremos dizer que o hábito de ler a Bíblia é em si uma virtude, porque é possível lê-la sem
aplicar seus ensinos à vida, havendo, mesmo, os que a lêem e ainda são mesquinhos, desonestos e
nada cristãos. São, contudo, exceções.
Em regra, a leitura bíblica, quando feita com as devidas disposições de espírito, é hábito que dá
lugar a todas as virtudes cristãs, sendo a mais eficiente força formadora do caráter que se conhece.
Nossa atitude para com a Bíblia é um índice muito seguro de nossa atitude para com Cristo. Se
amamos uma pessoa, gostamos de ler a seu respeito, não é fato?
O simples fato de considerar nossa leitura bíblica como ato de devoção a Cristo mudaria
completamente nossa atitude em relação a ela. Ora, a Bíblia é o livro que nos fala de Cristo. É
possível, então, amar a Cristo e ao mesmo tempo ser indiferente à sua Palavra? É POSSÍVEL?
Leia a Bíblia com reflexão. Lendo a Bíblia, precisamos vigiar-nos, rigorosamente, para que nossos
pensamentos não divaguem, tornando a leitura perfunctória e sem sentido.
Arme-se de um lápis. É bom, à medida que lermos, ir marcando passagens de que gostarmos; e, de
vez em quando, passando em revista as páginas lidas, ler de novo as passagens marcadas. Com o
tempo, uma Bíblia, assim bem marcada, tornar-se-nos-á muito preciosa, enquanto se aproxima o
dia de nos encontrarmos com o seu Autor.
Uma leitura habitual, sistemática da Bíblia é o melhor tipo de leitura. Leitura ocasional ou
espasmódica não significa muito. A menos que sigamos determinado método e o observemos com
resolução firme, o resultado será não lermos muito da Bíblia. Nossa vida interior, como nosso físico,
precisa de alimento diário.
Um tempo certo cada dia, qualquer que seja o plano de leitura a adotar, deve ser reservado para
isso. De outro modo, seremos capazes de negligenciá-lo.
É bom que seja a primeira coisa, de manhã, se nossa rotina de trabalho o permite. Ou podemos
escolher um outro horário que nos seja mais adaptado à nossa disponibilidade e inclinações. O
importante é que o observemos, rigorosamente, não desanimando, se, uma ou outra vez, essa
rotina for interrompida por alguma coisa alheia à nossa vontade.
Aos domingos, podemos dedicar-nos mais à nossa leitura bíblica, visto ser o dia do Senhor,
reservado à sua Palavra.
Decore versículos favoritos. Decore-os, por inteiro, repetindo, muitas vezes, esses versículos, que
são a sua vida: algumas vezes, estando sozinho; ou, à noite, para que o ajude a adormecer nos
Braços Eternos.
O hábito de fazer os pensamentos de Deus atravessar, muitas vezes, a nossa mente fará que esta se
conforme com a mente divina; e, à medida que se dá essa conformação, toda nossa vida será
transformada na imagem de Deus. Esse é um dos melhores auxílios espirituais de que podemos
dispor.
Planos de leitura bíblica. Existem muitos planos. O importante é ter um que abrange a Bíblia toda,
com razoável freqüência, porque toda ela é a Palavra de Deus. É uma história só, uma estrutura
literária de profunda e admirável unidade, centralizada em Cristo. CRISTO é o âmago e o ponto
culminante da Bíblia. Tudo quanto foi escrito antes dele, de um ou outro modo, é uma antecipação
de sua Pessoa. Tudo quanto vem depois, tem a função de interpretá-lo. A Bíblia toda pode, com
muita propriedade, ser chamada a história de Cristo. O Antigo Testamento prepara o caminho para
sua chegada. Os quatro Evangelhos contam a história de sua vida terrena. As Epístolas expõem a
sua doutrina. O Apocalipse revela o seu triunfo.
Quantas vezes? Uma vez por ano, pensamos, todo o Antigo Testamento, e duas vezes o Novo, seria
um bom plano MÍNIMO a ser observado para as pessoas em geral. Tal plano significaria uma média
de 4 ou 5 capítulos por dia, e requereria, mais ou menos, uma média de 15 ou 20 minutos diários.
Não há tempo para isso? Não nos enganemos. PODEMOS achar tempo para aquilo que DESEJAMOS
fazer.