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CARLA LUZIA DE ABREU

(ORGANIZADORA)

ANAIS DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM ARTE E CULTURA VISUAL

FABRICAÇÃOES E ACIDENTES VISUAIS


FABRICACIONES Y ACCIDENTES VISUALES
FABRICATIONS AND VISUAL ACCIDENTS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE E CULTURA VISUAL [PPGACV]


FACULDADE DE ARTES VISUAIS [FAV]
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS [UFG]
GOIÂNIA, 2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
GPT/BC/UFG

Bibliotecária responsável: Adriana P. Aguiar / CRB1: 3172

S471 Seminário internacional de pesquisa em arte e cultura visual. (2. : 2018 : Goiânia, GO).
Anais do II Seminário internacional de pesquisa em arte e cultura visual (SIPACV).
Fabricações e acidentes visuais. [recurso eletrônico]. / Organizadora, Carla Luzia de
Abreu. – Dados eletrônicos. 2. ed. – Goiânia: Núcleo Editorial FAV, 2018.
1315 p. ; il.

Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual (PPGACV).


Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.
Modo de acesso: World Wide Web:
<https://seminarioculturavisual.fav.ufg.br/p/26284-2018>
ISSN: 2595-8992
Tema do evento: Fabricações e Acidentes Visuais.

1. Eventos inesperados. 2. Políticas de imagens. 3. Construções visuais. 4. Cultura


visual. 5. Discursos visuais. I. Universidade Federal de Goiás (UFG). II. Faculdade de Artes Visuais
(FAV).

CDU: 7:37
COORDENAÇÃO GERAL DO II SIPACV
Carla Luzia de Abreu (PPGACV-UFG)

COMISSÃO ORGANIZADORA
Alice Fátima Martins (PPGACV-UFG)
Universidade Federal de Goiás [UFG]
Carla Luzia de Abreu (PPGACV-UFG)
Edgar Silveira Franco (PPGACV-UFG)
Reitor
Fernando Nelson Miranda Somma (IENBA-UDELAR)
Prof. Edward Madureira Brasil
Gonzalo Vicci Gianotti (IENBA-UDELAR)
Vice-Reitora Marcela Blanco (IENBA-UDELAR)
Profa. Sandramara Matias Chaves Melissa Ardanche (IENBA-UDELAR)
Pró-Reitora de Graduação Raimundo Martins (PPGACV-UFG)
Profa. Flávia Aparecida de Oliveira Samuel José Gilbert de Jesus (PPGACV-UFG)
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Prof. Laerte Guimarães Ferreira Júnior COMITÊ CIENTÍFICO
Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação Alice Fátima Martins (UFG)
Prof. Jesiel Freitas Carvalho Belidson Dias Bezerra Junior (UnB)
Carla Luzia de Abreu (UFG)
Pró-Reitora de Extensão e Cultura
Profa. Lucilene Maria de Sousa Carla Milani Damião (UFG)
Edgar Silveira Franco (UFG)
Pró-Reitor de Administração e Finanças
Eliane Maria Chaud (UFG)
Prof. Robson Maia Geraldine
Emerson Dionísio Gomes de Oliveira (UnB)
Pró-Reitor de Gestão de Pessoas
Fernando Nelson Miranda Somma (UDELAR, Uruguai)
Prof. Everton Wirbitzki da Silveira
Glauco Batista Ferreira (UFG)
Pró-Reitor de Gestão de Pessoas Henrique Paiva de Magalhaes (UFPB)
Prof. Everton Wirbitzki da Silveira
José Maria Gonçalves da Silva Ribeiro (UFG)
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Juan Sebastián Ospina Álvarez (Univ. de Caldas, Colômbia)
Profa. Maísa Miralva da Silva Lara Lima Satler (UFG)
Leda Guimarães (UFG)
Lilian Ucker Perotto Brasil (UFG)
Luciana Gruppelli Loponte (UFRGS)
Lutiere Dalla Valle (UFSM)
Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues (UFG)
Diretor da Faculdade de Artes Visuais - FAV Mariane Blotta Abakerli Baptista (FASM)
Prof. Bráulio Vinícius Ferreira María del Rosario Tatiana Fernández Méndez (UnB)
Martinho Alves da Costa Júnior (UFJF)
Coordenadora do Programa de Pós Graduação Montserrat Rifà Valls (Univ. Autònoma de Barcelona, Espanha)
em Arte e Cultura Visual – PPGACV
Raimundo Martins (UFG)
Profa. Leda Maria de Barros Guimarães
Rita Morais de Andrade (UFG)
Os trabalhos apresentados no II Seminário Internacional de Rosana Horio Monteiro (UFG)
Pesquisa em Arte e Cultura Visual (2018) e publicados neste
livro foram submetidos a um processo de avaliação cega Samuel José Gilbert de Jesus (UFG)
por pares, realizada pelo Comitê Científico do Seminário. No Thiago Fernando Sant’Anna (UFG)
entanto, o conteúdo e revisão gramático-semântica dos textos
são de inteira responsabilidade de seus autores e autoras. Vanessa Freitag (Universidad de Guanajuato, México)
COMISSÕES:

COORDENAÇÃO DA EQUIPE DE ORGANIZAÇÃO FEIRA DE LIVROS


E GESTÃO DAS ATIVIDADES Alda Alexandre (PPGACV-UFG)
Clícia Tatiana Alberto Coelho Carolina Brandão Piva (PPGACV-UFG)
Mirna P. Marinho da Silva Rosane Andrade de Carvalho (PPGACV-UFG)

IDENTIDADE VISUAL DO II SIPACV EXPOSIÇÃO “MOSTRA ORGÂNICA”


(coletiva). LOCAL: EXPOLAB
Ítalo Augusto de Castro
Ilda Aparecida Ribeiro de Santa Fé (PPGACV-UFG)
Carla Luzia de Abreu
Janayna Medeiros Pinto Santana (PPGACV-UFG)

EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO DOS ANAIS DO II SIPACV EXPOSIÇÃO “ARREGAÇA”, COM A ARTISTA


Carolina Brandão Piva CAMILA SOATO. LOCAL: GALERIA DA FAV
Juan Sebastián Ospina Álvarez Antonia Camila Alves Moreira (PPGACV-UFG)

LOGÍSTICA, PRODUÇÃO E APOIO COORDENAÇÃO DA EQUIPE DE MONITORiA


Adriane Camilo Costa (PPGACV-UFG) Adriane Camilo Costa (PPGACV-UFG)
Alliny Maia Siqueira de Carvalho (PPGACV-UFG)
Ana Carolina Rocha Lisita (Estudante MONITORIA
Especial PPGACV-UFG) Abner Mattheus da Silva Ramos (FAV-UFG)
Andréa Alcântara Almeida Amorim (PPGACV-UFG) Angélica Moraes Machado (FAV-UFG)
Antonia Camila Alves Moreira (PPGACV-UFG) Bárbara Stela Oliveira (FAV-UFG)
Bárbara Lyra Chaves (PPGACV-UFG) Edilane de Matos da Silva (FAV-UFG)
Carolina Brandão Piva (PPGACV-UFG) Emilly Sabrine Nery Bittencourt (FAV-UFG)
Cesar Eduardo da Silva Pereira (PPGACV-UFG) Eras Saturnino Gondim Martins (FAV-UFG)
Clícia Tatiana Alberto Coelho (PPGACV-UFG) Gabrieli Cavalcante de Oliveira (FAV-UFG)
Dustan Oeven Gontijo Neiva (PPGACV-UFG) Kárita Garcia Soares (FAV-UFG)
Edvaldo de Goiás Pereira Pontes (PPGACV-UFG) Karl Marx Silva Araújo (FAV-UFG)
Flávio de Lima Ferreira (PPGACV-UFG) Lorranny Lôbo Fernandes (FAV-UFG)
Helder Amorim Silva Borges de Deus (PPGACV-UFG) Lorrany Dutra Cardoso (FAV-UFG)
Hélida Costa Coelho (PPGACV-UFG) Marcos Felipe Fidelis Araújo (FAV-UFG)
Ilda Aparecida Ribeiro de Santa Fé (PPGACV-UFG) Matheus Martins da Silva (FAV-UFG)
Ítalo Augusto de Castro (FAV-UFG) Myreille Hortência do Nascimento Silva Caetano (FAV-UFG)
Itandehuy Castañeda Demesa (PPGACV-UFG) Naor Filho Pacífico de Vasconcelos (FAV-UFG)
Janayna Medeiros Pinto Santana (PPGACV-UFG) Natália Teixeira de Lima (FAV-UFG)
Kárita Garcia Soares (PPGACV-UFG) Noêmia Pereira da Silva (FAV-UFG)
Karyna Barbosa Novais (PPGACV-UFG) Rafael Rocha Oliveira da Mata (FAV-UFG)
Larissa Isidoro Serradela (PPGACV-UFG) Rafael Vaz de Souza (FAV-UFG)
Mariana Magri Rodrigues (PPGACV-UFG) Rhisia Mariane Gonçalves Xavier de Souza (FAV-UFG)
Mauricio Fernando Schneider Kist (PPGACV-UFG) Rosângela Soares Campos (FAV-UFG)
Mirna P. Marinho da Silva (PPGACV-UFG) Ruth Marçal Honorato Garcia (FAV-UFG)
Naira Rosana Dias da Silva (PPGACV-UFG) Sabrina Ventura de Carvalho de Oliveira (FAV-UFG)
Patrícia Quitero Rosenzweig (PPGACV-UFG) Sara Veras Ribeiro (FAV-UFG)
Pedro Simon Gonçalves Araújo (PPGACV-UFG) Sheridan Michael Pereira (FAV-UFG)
Renato Cirino Machado Alves Pereira (PPGACV-UFG) Stefany Alves Dantas (FAV-UFG)
Ronne Franklim Carvalho Dias (PPGACV-UFG) Vasti Pereira Dutra de Oliveira (FAV-UFG)
Rosane Andrade de Carvalho (PPGACV-UFG) Wanessa Ribeiro dos Santos (FAV-UFG)
Wilder Fioramonte (PPGACV-UFG) Yasmin Marciano dos Santos (FAV-UFG)
FABRICAÇÕES E ACIDENTES VISUAIS

O II Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual é um evento


voltado a pesquisadores e estudantes de pós-graduação em arte, cultura visual e artes afins,
interessados na interlocução, cooperação e divulgação de seus projetos e pesquisas.

Entre as fabricações, quantas vezes emergem os acidentes: aqueles eventos


inesperados, que irrompem em meio às rotinas, ao previsível, mudando direções, alterando
os tempos, redesenhando os mapas? Realizado entre os dias 4, 5 e 6 de setembro de 2018, a
proposta do II SIPACV foi pensar os discursos e as políticas de imagens intrínsecas, entendidas,
estas, como articulações entre o que é produzido, visto, pensado, sentido e dito, fora dos
processos naturalizados (e por isso não questionados) nos quais se compactam informações e
se organizam as construções visuais cotidianas do social.

O evento foi realizado pela primeira vez no ano de 2000, com o objetivo de divulgar
e fomentar diálogos e discussões sobre a produção docente e discente da Faculdade de Artes
Visuais. A partir de 2003, em sua quarta edição, a realização do Seminário ficou a cargo do
Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual (PPGACV) <https://culturavisual.fav.ufg.
br>, recém implementado na Universidade Federal de Goiás (UFG) que, a partir de então,
assumiu a responsabilidade de planejar e dar continuidade ao evento. Em 2008, o Seminário
se transformou em um evento nacional e incluiu programas de pós-graduação, pesquisadores,
mestrandos e doutorandos do país, expandindo interlocuções e reforçando o debate sobre
questões do campo da pesquisa em arte, poéticas e cultura visual. Em 2017, o evento passou
a ser internacional e foi realizado na cidade de Montevideo (Uruguai), em parceria com Núcleo
de Investigación en Cultura Visual, Educación y Construcción de Identidad (IENBA-UDELAR)
<http://www.enba.edu.uy>. Na ocasião, estabeleceu-se que a realização do Seminário será
alternada anualmente entre as cidades de Montevideo (UDELAR) e Goiânia (FAV/UFG). Assim,
em 2018, o Seminário aconteceu na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de
Goiás <https://fav.ufg.br>.

A programação do II SIPACV reuniu pesquisas relevantes e convergentes com as


três linhas do Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual (FAV-UFG) e as linhas
afins do Núcleo de Investigación en Cultura Visual, Educación y Construcción de Identidad
(IENBA-UDELAR).
Linhas do Programa de Pós-Graduação da FAV-UFG:
<https://culturavisual.fav.ufg.br/p/5003-apresentacao-do-programa>

(Linha A) Imagem, cultura e produção de sentido


Estudo de imagens e visualidades artísticas, seus processos de criação, recepção,
circulação e produção de sentido, articulados com a cultura.

(Linha B) Poéticas visuais e processos de criação


Estudo de linguagens e narrativas, técnicas, materiais e suportes na produção de
poéticas visuais, e investigação de processos de criação e interpretação artística.

(Linha C) Culturas da imagem e processos de mediação


Estudo de experiências estéticas e visuais, sua significação e interpretação em
contextos educativos formais, não-formais e informais, enfatizando a investigação de práticas
culturais em contextos de formação, aprendizagem e recepção de visualidades. A área de
concentração, as linhas de pesquisa e as disciplinas do curso integram conceitos de visualidade,
imagem, arte e educação, tratando-os em relação à cultura e como cultura.

LINHAS do Núcleo de Investigación en Cultura Visual, Educación y Construcción de


Identidad (IENBA-UDELAR).
El grupo investiga sobre temas vinculados a los estudios de cultura visual y a las
condiciones de creación y producción artística contemporánea, especialmente en las artes
visuales. Asimismo, interesa la relación de estas temáticas con la educación artística y los
procesos de construcción de identidad, sobre todo aquellos que se vinculan a los entornos
urbanos y/o institucionales, así como a las relaciones entre Arte, Ciencia y Tecnología <https://
nucleodeculturavisual.com/about/>.

Profa. Dra. Carla Luzia de Abreu (PPGACV-FAV-UFG)


Coordenadora do II Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual
822
MIRZOEFF, Nicholas. The subject of visual culture. 2 ed. London and New York: Routledge, 2002.

MOURA, Kátia Cristina Figueredo C. F. de. Essas bailarinas fantásticas e seus corpos maravilhosos:
existe um corpo ideal para a dança? Dissertação de Mestrado. Campinas: Unicamp, 2001.

NOVERRE, J. G. Lettres sur la Danse et sur les Ballets. Éditions Paleo: Paris, 2009.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Arte, Dor e Kátharsis ou Variações sobre a arte de pintar o grito. Alea v. 5 n.
1, p. 29-46, jan/jun 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/alea/v5n1/20345.pdf>. Acesso em
07/05/2017.

STORELLI, P. The magic of pointe shoes: Everything a Dancer Needs to Know About Pointe Shoes; All the
Secrets Revealed by the Experts. Tamarac –FL: Lumina Press, 2011.

Minicurrículo

Henrique Camargo
Diretor artístico, professor e coreógrafo. Mestre em Artes e Cultura Visual pela Universidade Federal de
Goiás. Especialista em docência do Ensino Superior pela FABEC Brasil. Graduado em Licenciatura em
Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Diplomado como professor de Ballet
Clássico com o Student Teaching Certificate e como bailarino clássico nível Advanced pela Royal Academy
of Dance of London.

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
CORPO NEGRO E PODER EM SOMBRAS DO TEMPO

BLACK BODIES AND POWER IN SOMBRAS DO TEMPO

Lara Satler
Universidade Federal de Goiás, Brasil
satlerlara@gmail.com;

Emilly Almeida
Universidade Federal de Goiás, Brasil
almeida.yx@gmail.com

Resumo
Analisamos o curta ficcional Sombras do Tempo, de Edson Ferreira (2012), sob uma perspectiva foucaultiana
de corpo e poder, buscando diálogo com os debates sobre raça e cinema no Brasil. Assim, poder, neste texto,
é resultado de relações sociais mediadas por processos históricos. Por sua vez, o corpo, parte mais concreta
do indivíduo, é o local onde se materializam as práticas disciplinares. Temos o poder como algo intangível,
que ultrapassa a relação de hierarquia entre povo e Estado. Não pode ser possuído, mas se insere nas
diversas esferas sociais velado pelo micropoder. Sendo o racismo também estrutural e velado, no Brasil,
temos no cinema nacional o reflexo e a perpetuação dos lugares destinados aos corpos negros. O curta
Sombras do Tempo encontra-se no catálogo ficcional da plataforma Afroflix, tem duração de 15 minutos
e imagens em preto e branco. Para investigação da obra, elegemos como metodologia a análise fílmica,
que consiste na observação de uma obra no nível do plano, da montagem e do filme. Adiciona-se a essa
a metodologia das molduras, que analisa a interface digital como produtora de sentido no conteúdo que
abriga. Como método complementar é acrescentado a entrevista semi-estruturada realizada com o diretor
Edson Ferreira.

Palavras-chave: corpo; cinema; raça; poder.

Abstract
We analyze the fictional short film Sombras do Tempo, of Edson Ferreira (2012), from a foucauldian
perspective of body and power, searching dialogue with discussion about race and cinema in the Brazil. In
Machado (1998) power, for Michel Foucault (1978) is a result of social relationships mediated by historical
processes. The body, more concrete part of a individual, is the site where come true the disciplinary
practices. In Foucault (1987) we have the power as intangible something, that exceeds the relation of
hierarchy between people and State. The racism, being structural and subtle, we have in the national
cinema reflection and perpetuation of sites intended for black bodies. Sombras do Tempo (Edson Ferreira,
2012) is found in the Afroflix fictional catalogue, lasts 15 minutes and your images are black and white.
For investigation of work was selected processes of film analysis described by Jullier and Marie (2009). This
consists in the observation of a work at the level of plan, assembly and the film. Is added the methodology
of frames developed by Montaño (2012). To the author the frames that make up the digital interface
produce meaning in content that house. As a complementary method is added to semi structured interview
made with the director Edson Ferreira.

Keywords: body; cinema; race; power.

SATLER, L. L. ; ALMEIDA, E. C. Corpo negro e poder em sombras do tempo. In: II Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura
Visual, 2018, Goiânia. Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual. Goiânia: Universidade Federal de
Goiás, 2018. p. 823 - 835.
824
Introdução

Entre a pluralidade de discussões possíveis sobre a diversidade racial no Brasil temos


nas representações audiovisuais um vasto campo de análise. O recorte realizado para esse artigo
objetiva a reflexão acerca do negro no cinema brasileiro e, principalmente, sobre quem cria, produz
e dirige esse conteúdo.

No que diz respeito ao recorte de cor e raça uma análise do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) brasileiro aponta1 o distanciamento entre brancos e negros em setores sociais e
econômicos (saúde, renda, educação e mortalidade.). Sendo a população negra a que apresenta os
piores índices. Assim, é esperado que esse cenário se repita em outras esferas da sociedade como,
por exemplo, as representações midiáticas. Entretanto, se o cinema permite falsear a realidade,
criar universos ideais e mágicos através da ficção, por que pessoas negras são mostradas quase
sempre em profissões subalternas, estereotipadas e raramente como protagonistas?

Moonlight (Barry Jenkins, 2017) e Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018) são exemplos
de filmes com a direção e um elenco majoritariamente negro bem recebidos pelo público e
crítica. Nenhuma das duas obras tem a questão racial como foco principal mas, de certa maneira,
modificam o modo como o negro é comumente apresentado no cinema: o negro está em primeiro
plano e é o herói da trama.

Contudo, no cenário geral de produção cinematográfica nacional, equipes


majoritariamente masculinas e brancas comandam a produção de conteúdo. O Grupo de Estudos
Multidisciplinares em Ações Afirmativas (GEMAA), analisou 218 filmes de maior bilheteria
produzidos entre 2002 e 2012 e identificou como homens brancos 84% dos diretores, além da
ausência completa de mulheres negras nessa função.

Assim, este trabalho se coloca em meio aos debates sobre a democratização racial do
cinema, dos espaços ocupados pelos corpos negros nas telas da sociedade brasileira contemporânea
e da utilização das novas tecnologias como ferramentas alternativas de resistência. Objetiva-se
discutir a relação entre o conteúdo produzido no cinema nacional e a falta de diversidade nas
funções de destaque na criação de conteúdo para cinema (direção e roteiro) de filmes.

Para tanto, analisamos o curta ficcional Sombras do Tempo, de Edson Ferreira (2012),
considerando sua presença na plataforma Afroflix sob uma perspectiva foucaultiana de corpo e
poder, buscando diálogo com os debates sobre raça e cinema no Brasil. Em Machado (1998) poder,
para Michel Foucault, é resultado de relações sociais mediadas por processos históricos. O corpo,
parte mais concreta do indivíduo, é o local onde se materializam as práticas disciplinares. Em
Foucault (1987) temos o poder como algo intangível, que ultrapassa a relação de hierarquia entre
povo e Estado. Não pode ser possuído, mas se insere nas diversas esferas sociais pela sutileza do

1
Relatório disponível em: <http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0/relatorios-de-desenvolvimento-
humano/rdhs-globais.html> Acesso em: 15. ago.2018

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
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micropoder. Sendo o racismo também estrutural e sutil, temos no cinema nacional o reflexo e a
perpetuação dos lugares destinados aos corpos negros.

Para investigação da obra, seleciona-se a metodologia de análise fílmica descrita por


Jullier e Marie (2009). Esta consiste na observação de uma obra no nível do plano, da montagem
ou do filme. Entretanto, reconhecendo que tal metodologia não abarca a relação que o meio
estabelece com a narrativa, ou seja, a streaming Afroflix com Sombras do tempo (IDEM), adiciona-
se metodologia das molduras desenvolvida por La Cruz (2012). Para a autora, as molduras
que compõe a interface digital produzem sentido no conteúdo que abriga. Como metodologia
complementar é acrescentado a entrevista semi-estruturada realizada com o diretor Edson Ferreira.
Por fim, argumenta-se que, mesmo um enredo que permite interpretações ambíguas como o de
Sombras do Tempo (2012), ganha um caráter racial se inserido em uma streaming afirmativa.

Corpo e espaço no cinema

Discutir em quais espaços transitam o negro no cinema brasileiro, à luz de algumas


obras de Michel Foucault (1987; 1998), pede reflexão sobre alguns termos utilizados pelo autor
que se relacionam com as relações de poder e de espaço e corpo. Em Machado (1998), poder é
resultado das interações sociais mediadas pelos processos históricos nos quais se encontram. E o
corpo, parte mais concreta do homem, é o local onde o poder age para ser exercido ao nível social.
No entanto, o poder é não é algo tangível, que pode ser possuído ou domado por um indíviduo
ou pelo Estado. É resultado das trocas e relações sociais e está presente no cotidiano das mais
diversas formas. É no meio destas interações que “o corpo é um ente que sofre as ações das
relações de poder e saber. Isso implica, portanto, que os processos de subjetivação só são possíveis
através do corpo” (FURTADO; LIMA, 2016, p. 2).

Contudo, em Foucault (1987) temos um controle que se modifica e se molda de


acordo com a qual se insere. Chegando ao domínio sobre os corpos sem que seja preciso tocá-
los. “A eliminação pelo suplício é, assim, substituída por métodos de assepsia: a criminologia, a
eugenia, a exclusão dos degenerados” (Foucault, 1988, p. 81). Disciplina em detrimento de tortura
permite simultaneamente, construir um corpo mais útil e mais dócil.

O espaço não só possibilita uma melhor vigilância, mas separa do restante da sociedade
todos aqueles considerados indesejáveis, nas obras de Michel Foucault: o louco, o leproso, o
criminoso. A determinação de anormalidade - do que precisa ser contido, escondido, consertado
ou curado - implica também na definição dos normais. Aqueles que devem servir de exemplo
e modelo. Claudio Mendes (2008), analisando as abordagens sobre o corpo no pensamento de
Foucault e sobre o surgimento da normalidade diz que:

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
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As políticas de normalização foram estruturadas para legitimar a posição de
determinados grupos: indivíduos de sexo masculino, cor branca, heterossexuais
e europeus. É interessante observar que os anormais eram aqueles que se
aproximavam de figuras do tipo monstro [...].O corpo era fator central na “cura”
dessas três figuras. (MENDES, 2008, p. 172).

É o corpo que observamos para discutir os espaços em que os negros estão presentes e
ausentes no cinema. Não só a presença do ator negro, mas também da ausência de pretos e pardos
nas equipes de produção dos filmes. No que diz respeito a Sombras do Tempo, Edson Ferreira,
apesar de estar ligado aos debates raciais antes mesmo da profissionalização como cineasta, não
teve a cor/raça como um critério de escolha do elenco e da equipe que produziu o curta, mas sim os
profissionais com quem já havia trabalhado em outros momentos. Ele afirma que:

Agora, não só houve, mas ainda há uma dificuldade de você ter profissionais
negros para trabalhar com você em projetos audiovisuais, né? [...] à medida em
que você desce hierarquicamente numa escala de produção, então, você tem o
diretor, assistente, diretor de fotografia, quando você chega lá no assistente de
produção que vai carregar caixa, que vai limpar, que vai servir o cafezinho, aí
você encontra. Mas se você for subindo [em grau de importância] você não vai
encontrar. (FERREIRA, 2018, s/p)

Um levantamento feito pela Agência Nacional do Cinema em 2018 comprova a


argumentação de Edson. A pesquisa, que considera um universo de 142 filmes produzidos em
2016 e 1326 pessoas consultadas, aponta para uma ausência completa de mulheres negras como
diretoras e apenas 2,1% de homens negros2. E o cenário é semelhante em relação aos roteiristas
e aos profissionais (ou equipes) de produção.

Na amplitude das questões intrínsecas ao cenário de luta pela igualdade racial no


Brasil, ainda que filmes produzidos por diretores negros não tenham como proposta discutir
questões raciais ou que não apresentem personagens negros, estão inseridos em uma relação
de representatividade: são corpos negros inseridos espaços predominantemente brancos. Um
bom exemplo disso é o filme Amor Maldito (1984) dirigido por Adélia Sampaio. Trata-se de
uma ficção sobre o relacionamento amoroso entre duas mulheres que acaba em uma trágica
acusação falsa de homicídio. As personagens principais, Fernanda e Sueli, são interpretadas por
duas mulheres brancas, assim como a maioria do elenco. No entanto, o filme representa um
grande passo para a democratização racial do cinema: é o primeiro longa-metragem dirigido
por uma mulher negra no Brasil.

Com isso, retomando o conceito de poder como relação multilateral, na inconformidade


com locais aos quais são destinados, manifesta-se a resistência:

2
Pesquisa disponível em: <https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/reaolhar/pdf/olhar5-6/rogerio.pdf>. Acesso:
29 jul. 2018

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
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O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo
efeito do investimento do corpo pelo poder [...] Mas, a partir do momento em
que o poder produziu este efeito, como consequência direta de suas conquistas,
emerge inevitavelmente a reivindicação de seu próprio corpo contra o poder, a
saúde contra a economia, o prazer contra as normas morais da sexualidade, do
casamento, do pudor. E, assim, o que tornava forte o poder passa a ser aquilo por
que ele é atacado. (FOUCAULT, 2008, p. 81)

Assim, o poder disciplinar que atua sobre os corpos a fim de condicioná-los têm como
efeito colateral a consciência dada aos indivíduos sobre seus próprios corpos. Além de Adélia
Sampaio, diversos atores e diretores negros de destaque no cinema nacional já se manifestaram
politicamente sobre os espaços que ocupam no cinema, entre eles: Zózimo Bulbul, Jeferson De,
Adélia Sampaio, Zezé Motta, Joel Zito e, da nova geração, Yasmin Tainá, idealizadora da plataforma
Afroflix, sobre a qual trataremos mais tarde.

O corpo negro no filme

Sombras do Tempo é dirigido e roteirizado por Edson Rodrigues. Foi realizado com
recursos de um edital da Secretaria de Cultura do Espírito Santo, tornando-se o primeiro trabalho
do diretor com financiamento externo. Correu alguns festivais e mostras pelo Brasil em 2013
participou do Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa3, em Portugal e foi o único
representante brasileiro do Mumbai Shorts International Film4 Festival, na Índia.

A obra conta com cinco atores em seu elenco principal. A trilha sonora é uma
composição de Beto Dourah, feita exclusivamente para o filme. As locações principais são um
casarão antigo no bairro Cidade Alta, a Praça 8 de Setembro e em um campo de areia, todos em
Vitória, capital do Espírito Santo. Em preto e branco, sem diálogos e com uma cronologia não
linear, o curta oferece um passeio por memórias, sonhos e devaneios de um homem em várias
fases da vida. Segundo entrevista concedida pelo diretor, o curta trata dos passeios de um homem
por suas memórias e seu passado.

O personagem interpretado por Ruyther Helmer, Yuri Vasconcellos e Markus Konká são
versões de um mesmo homem em idades diferentes. A multiplicidade de atores em um mesmo
papel, somado a estética da obra, permite uma multiplicidade de interpretações por parte do
espectador. Contudo, se “até mesmo os diretores experimentais, cujos filmes não contam histórias,
esperam que o público se conduza de determinada maneira” (JULLIER; MARIE, 2009, p. 68), temos
em Sombras do Tempo uma forte presença dos anseios de Edson Ferreira. Se o filme trata de
memórias, as memórias pessoais do diretor e roteirista é que dão o tom ao conceito criativo.

3
Disponível em:http:<//festin-festival.com/>. Acesso: 16. ago. 2018
4
Disponível em:http:<http://miniboxoffice.com/>. Acesso: 16. ago. 2018

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
828
Na guia “O Projeto” do blog5 criado para divulgação da obra, o movimento surrealista
é descrito como de grande influência na trama do curta. Como manifestação intelectual e artística,
o surrealismo foi incorporado ao cinema trazendo para as telas a fuga da realidade e a valorização
dos sonhos e da fantasia próprias do subconsciente humano. Questionado sobre a estética do
filme, o diretor diz:

Eu quero explorar a imagem eu quero explorar os fluxos das imagens, seguir os


atores, as percepções, que não estão na fala, no texto. E aí veio o Sombras, então
as coisas foram se encaixando, sabe?! Encaixou o roteiro que eu tinha com esse
passado. (FERREIRA, 2018, s/p)

O próprio Salvador Dalí, artista citado no blog como inspiração através do quadro
“Persistance de la mémoire” de 1931, produziu o filme “Um Cão Andaluz” de 1928 em parceria
com Luis Buñuel. “A obra nasceu de dois sonhos: Buñuel sonhou com uma nuvem cortando a lua e
Dali sonhou com uma mão cheia de formigas” (FERRARAZ, 2000, p. 3). Assim, seguindo a proposta
surrealista, Sombras do Tempo pode ser reflexo do inconsciente do diretor e de sua formação
como cineasta.

O Sombras envolve a participação de duas pessoas negras: o diretor/roteirista e o


ator Markus Konka. Assim, considerando que um filme seja construído, ao menos e em partes,
pelo referencial do roteirista e diretor, é correto afirmar que o curta de Edson Ferreira, ainda que
não tenha como objetivo discutir questões ligadas à raça ou racismo, trata de modo positivo a
presença do corpo negro na trama? Ou se assemelha às problemáticas apontadas em outras
obras por estudos sobre raça audiovisual no Brasil? Dentre estas temos por exemplo: Jerferson
De (2005), que apresenta alguns de seus trabalhos e de personalidades negras e faz um breve
apanhado da presença negra na história do cinema brasileiro; o livro do antropólogo João Carlos
Rodrigues (2001), que discorre sobre alguns arquétipos encontrados da representação racial no
cinema, problematizando a imagem negra estereotipada, nas telas; a pesquisa e documentário de
Joel Zito (2000) que observa o negro nas telenovelas.

Buscando responder essa questão a análise da obra concentra-se na identificação


de elementos em que contribuam para pensar de que modo o personagem de Markus Konka
se manifesta como corpo negro em tela. Para isso, surgem duas hipóteses análiticas que se
complementam: a) a relevância do personagem na trama e b) a apresentação estética positiva.
Assim, cabe observar: o cenário, o figurino e acessórios, a narrativa e a representação.

Três atores interpretam um mesmo personagem em três idades diferentes e


casting sugere despreocupação com possíveis variantes na interpretação da obra: além das
diferentes tonalidades de pele dos protagonistas, não existe semelhança física notável entre

5
Sombras do tempo. O Projeto. Disponível em:<http://sombrasdotempo-filme.blogspot.com/p/o-projeto _08.html>.
Acesso em: 26.jul.2018.

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os três atores. “É uma obra absolutamente aberta, então, em nenhum momento eu queria que
fosse algo literal” (FERREIRA, 2018, s/p).

Figura 1: Homem jovem na primeira cena. Frame de Sombras do Tempo (Edson Ferreira, 2012)

O rapaz, interpretado por Yuri Vasconcellos, é a versão jovem do protagonista


e o primeiro em tela (figura 1). As paredes descuidadas do casarão não são apenas sinais do
tempo, as folhas no chão do quarto e as janelas quebradas na sala anunciam que já estamos no
subconsciente. Assim, o primeiro relógio a aparecer em cena anuncia um falso despertar, pois o
jovem já se encontra em um devaneio. Enquanto o rapaz vive o que parece uma rotina matinal
comum, o homem fuma um cigarro e verifica as horas em um relógio de pulso, parecendo esperar
sua juventude sair de casa.

Outro ponto é a figura feminina na trama, que aparece em um quadro na parede


(figura 2), caminhando na rua e na cena do beijo. As duas versões do protagonistas usam um
aliança de casamento, no entanto, no quarto a cama é de solteiro e a casa também parece vazia. A
melancolia apresentada pelo rapaz e o velho na primeira e na última sequência do curta sugerem
saudosismo. Se é o homem velho quem está no presente, são dele as memórias e a saudade.

Figura 2: O velho observa a figura feminina. Frame de Sombras do Tempo (Edson Ferreira, 2012)

Além da importância narrativa, temos no personagem do velho alguns elementos


que se distanciam das representações estereotipadas e sexualizadas do corpo negro: é esse

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personagem quem apresenta maior cuidado estético e parece mais consciente sobre o que se
passa. É ele quem se veste da melhor maneira (mais formal), quem transita de modo tranquilo e
se distancia da loucura apresentada pelo jovem diante dos acontecimentos. Enquanto o rapaz vive
em poucos minutos a descoberta da paixão, a experiência de morte e o encontro com seu passado
e seu futuro, o velho observa tudo tranquilo.

Figura 3: homem velho e o menino de sua infância. Frame de Sombras do Tempo (Edson Ferreira, 2012)

O velho joga sozinho (figura 3) enquanto o rapaz procura interagir com o menino que
joga bola no campo. A figura do velho jogando xadrez é também uma das fotos oficiais do filme.
O jogo popularmente conhecido por exigir um raciocínio lógico e estratégico, capacidades ligadas
à inteligência, nada tem de sorte, ganhar é uma consequência de escolhas. Outro fator observado
é a ausência de uma cadeira na mesa para um segundo jogador, sugerindo que o velho independe
do jovem para tomar as decisões (afinal, elas já foram feitas no passado).

Dentro de uma diegese complexa, própria do surrealismo proposto, o velho parece


ter a capacidade de transitar entre os sonhos e lembranças. Discretamente se apresenta como a
consciência em meio ao caos. Talvez pela maturidade. Se o filme trabalhasse com elementos de
religiosidade, poderíamos sugerir que o personagem se encaixa na descrição de um dos arquétipos
descritos em “O negro brasileiro e o cinema”: os pretos-velhos, caracterizados pela sabedoria,
indulgência e dignidade (RODRIGUES, 2001, p.31).

Na primeira sequência, (de 00:11 à 03:34) temos uma série de ações: o despertador
toca e o personagem jovem o desliga. Ele se levanta da cama, caminha até uma sala com uma
grande janela ao fundo. Olha um retrato com sua fotografia e, em seguida, olha o retrato de uma
moça jovem na parede (ele suspira). Escolhe uma roupa e se senta para tomar café, sozinho. Na
última sequência (10:00 à 13:05), é o velho quem repete essas ações, mas em ordem inversa: ele
chega em casa, toma o café e termina a série de ações caminhando até o quarto. É só na última
sequência que vem a certeza de que os três personagens são a mesma pessoa e que o velho tem
o hábito de transitar, viajar no tempo, no mínimo, através das lembranças.

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Figura 4: Montagem de dois frames para efeito de movimentação de câmera, à esquerda o homem velho,
à direita relógios da última cena. Sombras do Tempo (Edson Ferreira, 2012)

Por fim, ele coloca o relógio de bolso na parede e vai para a cama. Em câmera
alta (Figura 4, à esquerda) sugere introspecção e reflexão da personagem. A câmera percorre
o corpo do ator chegando até uma parede (Figura 4, à direita). Ao lado do modelo relógio de
bolso, outros, de tipos variados, funcionam simultaneamente. Podem representar as tentativas de
alterar o passado, ou os caminhos que foram escolhidos, que aparecem, mas não existiram, são
devaneios. De qualquer modo, a taciturnidade do homem se justifica. As escolhas foram feitas e
ele permanece só.

O filme na plataforma Afroflix

A Afrolix6 é uma plataforma de audiovisual que reúne séries, web séries, programas
diversos, vlogs e clipes de diversas autorias e formatos via streaming, tecnologia que possibilita
a transmissão de conteúdo multimídia de forma instantânea através da conexão à internet.
Idealizada pela jovem cineasta Yasmin Thayná, a plataforma funciona de maneira gratuita e
colaborativa conta com uma equipe, que a coordena, majoritariamente negra e feminina.

A plataforma tem um propósito claro: aumentar a visibilidade dos conteúdos


produzidos e protagonizados por pessoas negras, oferecendo acesso gratuito e agrupando em
um só lugar obras que estão espalhadas pela rede. A home7 tem uma particularidade, em
relação ao padrão da maioria dos sites na disponíveis na web: não é preciso visitar uma guia
separada para compreender do que se trata a proposta da plataforma, já na tela inicial temos
um texto apresentando a proposta afirmativa. Esta apresentação é esperada, pois a existência da
plataforma só se justifica pela finalidade racial a qual se dispõe e pela qual se difere das demais
streamings de compartilhamento de conteúdo. “É por isso que homes e barras de navegação
se transformam em espaços de significação importantes que dão sentidos a todas as páginas”
(MONTAÑO, 2017, p. 10)

6
Disponível em:< http://www.afroflix.com.br/> Acesso: 20 jul. 2017
7
Disponível em:<http://www.afroflix.com.br/> Acesso em: 16 ago. 2018

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A semelhança com a popular Netflix não é apenas nominal, a inspiração também
alcança a proposta de existência: disponibilizar conteúdo audiovisual, principalmente, filmes. Mas
existem algumas diferenças: a Afroflix não hospeda conteúdo, apenas reúne, exibindo-o através
de links que podem direcionar para o outras páginas, por exemplo. O acesso ao conteúdo da
plataforma é gratuito e, para fazer parte do catálogo é preciso que o material tenha ao menos uma
pessoa negra envolvida diretamente na produção, elenco ou equipe técnica.

A obra Sombras do Tempo (FERREIRA, 2012), analisada no item anterior, compõe


a sessão ficcional8 do catálogo com mais quinze títulos de autorias diferentes. Inicialmente, o
gênero de ficção foi escolhido como recorte para seleção da obra analisada por se aproximar
com mais facilidade do público em geral, que poderia chegar até a plataforma não só buscando
um referencial racial de representatividade, mas também para entretenimento. Sobre a ficção
em Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014), que esteve por um tempo em catálogo na
já citada Netflix, Furtado e Lima (2016), comentam que “é o princípio da arte, onde o poder
do falso, desdobrado e repetido, é elevado à sua máxima potência” (FURTADO; LIMA, 2016,
p.7). O filme de Adirley Queiroz, apesar de misturar documentário e ficção, carrega elementos
tipicamente populares: a máquina do tempo, linearidade narrativa, um agente secreto vindo de
um futuro distópico.

Já na Afroflix predominam produções independentes, voltadas principalmente para


circulação e exibição em festivais, como é o caso de Sombras do Tempo (2012). Apesar disso, e de
estar disponível na streaming Vimeo e, por algum tempo, em circulação na TV Brasil é na Afroflix
que a obra se impõe enquanto exceção à escassez de filme dirigidos e protagonizados por negros.
E é enquanto corpo que ela chega até a plataforma, seja pela direção de Edson Ferreira ou pelo
protagonismo de Markus Konká. Não tendo uma narrativa que aborda raça, é também enquanto
corpo que a obra é exibida em um evento promovido pelo Damballa9, coletivo de cinema negro
do Espírito Santo.

Para Montaño (2012; 2017), as plataformas e sites nos quais são inseridas mensagens
(mais especificamente o audiovisual, pois o recorte de análise da autora é o YouTube e a JustinTV),
são de observação indispensável para compreender a experiência de recepção da mensagem
feita através dos mesmos. A autora sugere, então, uma metodologia de molduras que analisa a
interface como meio. Neste sentido, a estrutura e layout não são neutros e se comunicam tanto
quanto o conteúdo, assim “o modo como o meio quer ser percebido é percebido por nós como se
fosse conteúdo desse meio” (MONTAÑO, 2017, p. 63).

8
Disponível em:<http://www.afroflix.com.br/tipo/ficdoc/> Acesso em: 16 ago. 2018
9
GELEDÉS. Damballa: um coletivo de cinema negro no Espírito Santo. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/
damballa-um-coletivo-de-cinema-negro-no-espirito-santo/> Acesso: 28 jul. 2018

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
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Assistir ao curta Sombras do Tempo em festivais, mostras ou na Afroflix proporciona
experiências diferentes. Através da plataforma, a mensagem central é o negro como diretor e
como ator. A presença de um corpo negro em determinado espaço. Assim, justifica-se o diálogo
com Foucault (1987; 1998) para compreender a prática de resistir politicamente através do corpo.

Conclusão

De maneira geral, concluímos que a presença do corpo negro no cinema brasileiro não se
distancia da realidade apresentada em outras esferas da sociedade, entretanto, as particularidades
do racismo à brasileira são mais facilmente perceptíveis através das narrativas audiovisuais.

A plataforma colabora com a democratização racial do cinema brasileiro a partir do


momento em que identifica a falta de diversidade e se propõe a atender uma demanda social, que
em sua essência é papel do Estado: promover a igualdade entre a toda a população, inclusive,
no cinema, entretenimento, arte e cultura. Como meio, discute raça através da exigência do corpo
negro nas obras que compõem seu catálogo.

Na Afroflix, o corpo não é pensado de modo puramente estético, das exterioridades


que envolvem o ser negro através dos fenótipos. Mas, reconhecendo que são estas características
que definem o alvo do racismo no Brasil, o corpo é visto sob uma perspectiva política de ocupação
de espaços (físicos e subjetivos). São nos corpos também onde se faz perceptível que o poder é
algo intangível e fruto de interações nos mais diversos embates das relações cotidianas.

A interface, por sua vez, é essencial para um novo sentido do conteúdo que está
linkado em seu domínio e a streaming se afirma enquanto ação política a partir disso. A Afroflix
oferece visibilidade às produções, serve de referência para uma visão descolonizada do cinema
nacional, sugere alternativas de produção e distribuição cinematográfica e torna os desafios
enfrentados por cineastas, atores, produtores e diretores negros por todo Brasil um problema
que se debate no coletivo.

Este trabalho objetivou se somar aos diversos estudos de raça e audiovisual, longe de
esgotar a multiplicidade de caminhos possíveis para se discutir a democratização racial do cinema,
o papel das novas tecnologias ou mesmo os debates sobre raça guiados por uma perspectiva
foucaultiana de corpo. A discussão pretendeu evidenciar a necessidade de mais contribuições
acadêmica sobre o tema. Ressaltamos que, assim como no cinema, é importante um avanço nos
debates científicos sobre presenças e ausências negra na sociedade e nas mídias, bem como o
estudo das novas estratégias coletivas, independentes e populares que vêm sendo fortalecidas e
renovadas com o advento da internet.

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.
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Referências

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mudo, p&b. Film.

Minicurrículos

Lara Lima Satler


Pós-doutorado em Estudos Culturais (PACC/ UFRJ). Doutorado em Arte e Cultura Visual (PPGACV/ FAV /
UFG). Professora-pesquisadora na Universidade Federal de Goiás (UFG), na Faculdade de Informação e
Comunicação (FIC) e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Performances Culturais. É membro
do Núcleo de Pesquisa em Teoria da Imagem (NPTI / PRPG-UFG / CNPq). E-mail: satlerlara@gmail.com.

Emilly César Almeida


Graduanda do curso Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, na Universidade
Federal de Goiás. É pesquisadora voluntária do programa de iniciação científica da UFG. E-mail: almeida.
yx@gmail.com.

Anais do Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual: Fabricações e Acidentes Visuais. Goiânia, GO: 2018.

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