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Fichamento do livro “O Direito Achado na Rua, vol. 5.

Introdução Crítica ao Direito das


Mulheres”.

1 INTRODUÇÃO
O livro “Introdução Crítica ao Direito das Mulheres” é o quinto volume da série “O
Direito Achado na Rua”. Essa série surgiu após a elaboração de um projeto de um curso de
extensão universitária a distância, por pesquisadores do Núcleo de Estudos para a Paz e os
Direitos Humanos (NEP), com a contribuição do Centro de Educação a Distância da
Universidade Federal de Brasília. E tinha como um de seus maiores propósitos ser um produto
de saber e reflexão da sociedade, a partir de articulações da mesma na luta por direitos e
justiça, transformada em uma experiência legítima ao nascer do meio social.
Essa ideia está inserida tanto em “Introdução Crítica ao Direito das Mulheres” como
em outros volumes da série, que reúnem textos com abordagens que possibilitam a construção
de um debate, de um diálogo, que pode ser entendido pelo popular, não necessitando de uma
formação acadêmica, pois se transforma em uma troca de conhecimento. O quinto volume que
visa debater os direitos das mulheres nasceu da necessidade dessa reunião de escritos que
pudessem servir de base para a formação das Promotoras Legais Populares (PLPs), a partir do
projeto de extensão “Direitos Humanos e Gênero: Promotoras Legais Populares”.

2 UNIDADE I – O CURSO DE PROMOTORAS LEGAIS POPULARES NO BRASIL


2.1 Projeto Direitos Humanos e Gênero – Promotoras Legais Populares do Distrito
Federal: fundamentos e prática
A proposta do curso de extensão pelos integrantes do projeto “Direitos Humanos e
Gênero: Promotoras Legais Populares” vinculado à Faculdade de Direito da UnB foi inspirada
nas experiências da Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero e da União de Mulheres
de São Paulo ao trazer o projeto das PLPs para o Brasil. O curso investe em um método
educacional diferente do tradicional, chamado de Educação Jurídica Popular, que preza pela
troca de conhecimento e não pela imposição deste.
Assim, possibilita que as estudantes assumam um polo ativo de fala, como
interlocutoras, a fim de se capacitarem para atuar na defesa dos direitos das mulheres de
forma efetiva, pois a partir da troca de saber com as figuras femininas que estão cursando e
compartilhando a sua realidade, tornam-se profissionais mais sensíveis à transformação da
realidade social. Constitui-se em uma prática pedagógica que procura enaltecer o
conhecimento adquirido através de um coletivo, onde o oprimido pode refletir sobre o
contexto opressor a que está submetido e pensar em formas de alterar a ordem social.
A estrutura do patriarcado permitiu que um processo de "naturalização" dos papéis de
gêneros ocorresse, reservando às mulheres o espaço doméstico e o papel de cuidar e
reproduzir. Isso justifica a ausência feminina no mundo da Ciência, política e determinadas
categorias tidas como masculinas. Esse silenciamento das mulheres durante toda a História
fez com que fosse natural o homem sempre assumir posições privilegiadas. Tendo em vista
essa situação, o curso se configura em uma ação afirmativa de gênero ao buscar formar
somente mulheres conscientes de seus direitos, a fim de minimizar essa injustiça socialmente
construída onde as mulheres estão desvantagem frente aos homens.
Sendo assim, a palavra “libertação” pode ser usada como uma palavra-chave que
define o curso, pois ao possibilitar o empoderamento de mulheres estão contribuindo para que
elas se conscientizem que não são “o outro” da sociedade, agarrem o papel de protagonistas
de suas próprias vidas e sejam agentes transformadores da realidade social. Para isso, o
conteúdo escolhido para exposição e debate trata de assuntos que perpassam todos os âmbitos
da vida de um indivíduo, mas com o recorte de gênero.
Além de permear por vários saberes, o curso possui um caráter multidisciplinar
também ao se utilizar de diferentes práticas metodológicas durante seus encontros semanais
de três horas, por cerca de nove meses. Sendo tudo organizado visando proporcionar que
todas as participantes tenham a oportunidade de se expressar. No término do curso,
considerando um percentual mínimo de frequência, as participantes recebem durante uma
cerimônia de formatura um título simbólico de Promotoras Legais Populares, podendo,
posteriormente, participar do fórum permanente de PLPs, onde terão oportunidade de
aprofundar o estudo e de articulação.

2.2 Promotoras Legais Populares: subjetividades autônomas e rebeldes também na


universidade
Apesar da concepção hierarquizante de verdade incontestável da ciência ainda existir e
ser repassada, essa ideia vem sendo desmantelada por um outro grupo de pessoas que
consegue enxergar outras formas possíveis de cognição ao constatar que até a verdade
intelectual é influenciada pelo meio social. Isso pode ser visto após a observação da exclusão
de outros saberes como a arte e a filosofia ou saberes populares vinculados ao cotidiano por
não ocuparem posições que iam de encontro aos interesses políticos e econômicos
predominantes, diferente da ciência.
Tal constatação é essencial para que se possa compreender que a troca de
conhecimento é necessária ao ambiente acadêmico. Trata-se de continuar valorizando a
singularidade do saber acadêmico, técnico, mas também reconhecer outros saberes e
principalmente a importância de uma troca entre eles, tendo em vista a impossibilidade de um
ambiente livre das influências do contexto social. Afinal, a academia possui uma relação com
o ambiente externo, e este é capaz de conferir legitimidade ao discurso acadêmico. Uma das
melhores formas de enxergar essa situação é através da extensão universitária.
A extensão como um projeto interdisciplinar vai permitir através de um processo
educativo que se estabeleça uma relação entre a sociedade e a universidade, resultando na
democratização do conhecimento, na participação da coletividade na academia e na
possibilidade de pôr em prática o aprendizado teórico. Essa interação proporcionada pela
extensão é totalmente benéfica, pois esse diálogo plural faz com que os envolvidos possam
refletir sobre uma realidade diferente ou semelhante vivida por eles.
Dessa forma, o curso de Promotoras Legais Populares vinculado à Universidade
Federal de Brasília segue essa forma de construção de conhecimento baseada em uma troca
plural, onde há a descentralização do poder de decisões e fala, distribuído por todas as
mulheres envolvidas: as professoras, as estudantes e as mulheres que participam. Trata-se de
um método educativo democrático que faz com que a relação de hierarquia tradicional seja
substituída por uma relação de responsabilidade coletiva, formando sujeitos autônomos, pois
todos devem refletir para produzir algo em conjunto. Ou seja, formando sujeitos ativos
politicamente na comunidade.

2.3 O Núcleo de Prática Jurídica como instrumento de promoção dos direitos humanos
As faculdades de Direito possuem um papel de extrema relevância na formação dos
operadores. Elas ficam responsáveis por incutir na formação dos alunos uma visão crítica do
Direito, e não somente uma perspectiva positivista do fenômeno jurídico, onde se enaltece
pura e friamente a letra da lei. As salas de aulas como lugares propícios aos debates acerca
dos direitos, demonstra que a universidade precisa estar interligada com a sociedade, a fim de
contribuir para a construção de um Direito produzido por diversos sujeitos sociais e
condizente com a realidade.
Neste contexto, inserem-se os núcleos de assistência e assessoria jurídica das
faculdades como exemplo desse diálogo plural entre a academia e a coletividade, pois atuam
também como um meio de corrigir injustiças praticadas contra categorias mais excluídas da
sociedade, ao reafirmarem os direitos destes e ampliarem o acesso à justiça. Isto é, não serve
apenas para que os estudantes desenvolvam na prática suas habilidades, mas também para a
promoção de direitos humanos, agindo em defesa da comunidade.
Como exemplo, pode-se citar o Núcleo de Prática Jurídica e Escritório de Direitos
Humanos e Cidadania (NPJ) da UnB como a sede original no Distrito Federal do curso das
Promotoras Legais Populares. A proposta de formação do curso juntamente com o NJP como
instrumento da participação popular resultou em uma experiência valiosa para as mulheres do
Distrito Federal, pois deu visibilidade aos problemas enfrentados por elas, principalmente em
relação à violência doméstica, e provocou mobilização. O diálogo plural, a partir de uma
troca, acaba produzindo novas formas de expressão legítimas para combater injustiças antigas
e ascender os direitos já consolidados.

2.4 Quase duas décadas de Promotoras Legais Populares no Brasil!


O projeto de Promotoras Legais Populares foi trazido para o Brasil nos anos 90, após a
União de Mulheres de São Paulo tomar conhecimento do mesmo em um Seminário Latino-
Americano e Caribenho sobre os direitos das mulheres, realizado em 1992, e resolver adotá-lo
para trabalhar a formação e mobilização de figuras femininas.
A União de Mulheres de São Paulo surgiu nos anos 80 como um movimento
comprometido com a redemocratização brasileira na esfera feminista. Suas reivindicações
alçaram grandes conquistas para as mulheres, principalmente em momentos de resistência,
como a desativação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher pelo governo. Em 1993, o
conteúdo do curso e a metodologia aplicada foram elaborados através de um Seminário
Nacional, com o apoio do Grupo Themis do Rio Grande do Sul, da Escola da Procuradoria
Geral do Estado de São Paulo e líderes feministas de diferentes estados.
Em um primeiro momento, o objetivo de formação eram lideranças feministas
populares. Numa segunda fase, os visados eram os movimentos de moradia, saúde e outros.
Atualmente, na terceira fase, o projeto visa toda e qualquer mulher a fim de compreender a
desigualdade de gênero e seus desdobramentos. No estado de São Paulo, a União de Mulheres
atua juntamente aos diversos órgãos públicos que tem como um de seus objetivos promover a
justiça aos menos capacitados em virtude de alguma opressão, como a Defensoria Pública e
representantes do Ministério Público. Sendo importante pontuar, ainda, a criação de uma
Coordenação Estadual de Promotoras Legais Populares, onde é possível encontrar diversas
promotoras e reuni-las para trocar informações entre diversas regiões.
2.5 A experiência das Promotoras Legais Populares no Rio Grande do Sul: um olhar
sobre a atuação das PLPs em Porto Alegre
A Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero inaugurou o programa de
Promotoras Legais Populares na cidade de Porto Alegre em 1993, assim como a União de
Mulheres de São Paulo no estado paulista. A experiência obtida pela Themis através do
projeto e seus desdobramentos a tornou uma referência na luta pela inclusão e
empoderamento das mulheres, sendo reconhecida e premiada por instituições brasileiras.
Após o curso, as PLPs começaram a atuar de diferentes formas nas suas comunidades.
Algumas ativamente, repassando os conhecimentos aprendidos através de oficinas, palestras e
afins. Muitas PLPs são convidadas para fazer uma abordagem acerca da Lei Maria da Penha,
devido a participação da Themis na elaboração da mesma. Outras mulheres buscam serem
canais de comunicação e informação de vítimas de violências, encaminhando casos de abuso
de direitos à parte jurídica da Themis ou ao SIM, que é um serviço de informação à mulher
desenvolvido pelas PLPs, a fim de orientar, acompanhar e encaminhar as vítimas aos órgãos
que vão de acordo as demandas.

2.6 A formação de ONGs a partir do curso PLPs/DF


O Centro Dandara de Promotoras Legais Populares tem sua origem intimamente
ligada à história do curso de PLPs realizado em São José dos Campos, pois foi uma tentativa
de conseguir reunir todas as promotoras legais populares da região em uma associação e
ampliar o raio de atuação das mesmas. A colaboração de juristas foi essencial para a
construção da ideia e do Estatuto do Centro, que veio a ser criado em 2001.
O nome dessa nova associação civil sem fins lucrativos que acabara de se formar em
prol dos direitos das mulheres e passou a coordenar o projeto de Promotoras Legais Populares
foi em homenagem à guerreira Dandara, símbolo de resistência feminina e negra, que lutou
pela Confederação de Palmares. O Centro Dandara conquistou sua sede no ano de 2008 e
conseguiu diversificar as suas atividades, realizando outros projetos que envolviam não só a
capacitação jurídica de mulheres, mas também o acesso à cultura, servindo como um canal de
atendimento às vítimas e promovendo um curso de capacitação para as trabalhadoras
domésticas.

2.7 Experiência de Pernambuco e a formação de Redes


A experiência do projeto em Pernambuco pode ser representada pela ação do Grupo
Mulher Maravilha, que buscou capacitar as mulheres da periferia na capital e da zona rural,
como comunidades negras rurais quilombolas do sertão, acerca dos seus direitos. Com o
tempo, ocorreu a expansão do curso de Promotoras Legais Populares por todo estado, por
diferentes organizações que não se utilizavam do conteúdo e da metodologia do Grupo
Mulher Maravilha, culminando em uma formação equivocada, que abriu espaço para
cooptação política e manipulação. A criação da Rede Estadual de Promotoras Legais em 2009
possibilitou uma organização ao ser um espaço em que as PLPs de todo estado podem se
comunicar, trocar conhecimento e se mobilizar.

3 UNIDADE II – FUNDAMENTOS SOCIOPOLÍTICOS DAS LUTAS DAS


MULHERES
3.1 Feminismo Brasileiro: revolução de ideias e políticas públicas
As movimentações feministas que ocorreram no Brasil durante o século XIX e a
primeira metade do século XX tinham como principais demandas de reivindicação os direitos
políticos, a inserção da mulher no mercado de trabalho e o acesso à educação. Nessa época,
ocorria a influência de movimentos feministas internacionais, da Europa e dos Estados
Unidos, que também buscavam a liberdade da mulher e a correção da desigualdade de gênero
perante à esfera pública.
Nessas mesmas potências, no entanto, durante os anos de 1970 e 1980, as ativistas se
voltaram para a politização do privado. Isto é, denunciar os efeitos da desigualdade de gênero
no âmbito da vida privada da mulher. Trata-se da garantia à saúde, à liberdade sexual, à
reprodução em meio as suas relações afetivas e trazer à tona a questão frequente da violência.
No Brasil ocorreu de modo semelhante, mas se diferenciou por exatamente nesta época a
nação estar passando por um regime ditatorial, que influenciou a luta das feministas
brasileiras contra a ausência da cidadania e democracia. Isto significa que a luta das condições
de igualdade na esfera pública e privada foram vinculadas de modo correto, tendo em vista
que elas estão intimamente ligadas.
No ano de 1975, ocorreu a primeira manifestação pública feminista do Brasil,
realizada no Rio de Janeiro. O ato que aconteceu em formato de seminário procurou trazer
diversas questões atinentes às mulheres, ficando acentuado, posteriormente, a violência
cotidiana contra as figuras femininas. Tendo em vista a situação alarmante, grupos feministas
desenvolveram um trabalho voluntário de atendimento as vítimas de violência. Na década de
80, as feministas focaram em um tema relacionado à saúde das mulheres, uma vez que as
políticas estatais que visavam o controle de natalidade não respeitavam a autonomia e decisão
das mulheres em relação à reprodução. Foi a ação coletiva dos profissionais de saúde, dos
sanitaristas e do movimento de mulheres que possibilitou a origem de um programa de
atendimento integral à saúde feminina.
Com essas conquistas, o movimento começou a visar atingir políticas públicas estatais,
trazendo propostas como a criação de conselhos, que serviriam como órgãos de consulta e
proposição. Ação de enorme importância, tendo em vista que o Conselho Nacional de Direitos
das Mulheres, criado em 1985, representou e reivindicou pelas mulheres frente aos
constituintes da Constituição de 1988. Em 1990, o movimento feminista começou a se
organizar em Organizações Não Governamentais (ONGs), resultando em grandes redes
essenciais para a articulação de luta dos direitos das mulheres.
Assim, pode-se perceber que a atuação das feministas brasileiras foi um processo
contínuo e de grandes conquistas. É importante acentuar ainda a participação dessas
guerreiras em projetos de lei como a Lei Maria da Penha, que veio para extinguir um cenário
de impunidade em relação à violência doméstica. Esta é aceita como uma vitória, mas
somente também como o início do que as mulheres buscam para a realização de uma
sociedade onde homens e mulheres são iguais.

3.2 Pequena introdução aos feminismos


A palavra “feminista” atualmente passou a ter diversos sentidos e significados
atrelados a ela, mas somente um segue sendo o correto: uma mulher que busca o fim da
desigualdade de gênero. Ser feminista não significa nada mais do que querer ser respeitada em
qualquer ambiente, poder exercer seus direitos como cidadã, não aceitar receber um salário
menor só por ser mulher, não ser tratada como um objeto ou uma propriedade de alguém, não
aceitar sofrer qualquer tipo de violência e não ser considerada frágil, irracional ou louca por
causa do seu gênero. Ser mulher em uma sociedade onde existe a dominação do patriarcado
implica em ser feminista.
A discriminação contra as mulheres costuma ser legitimada por uma concepção
errônea de que a partir da existência de uma diferença natural entre os sexos, os homens têm o
domínio sobre as mulheres. Isso significa dizer que a diferença biológica entre ambos, o pênis
e a vagina, justificaria a mulher ter um valor inferior ao homem. Esses valores atribuídos aos
dois se tratam de construções sociais que são impostas ao ser humano desde o nascimento,
como se fossem uma ordem natural da vida. Várias instituições acabam perpetuando essa
imposição do patriarcado, como as religiões ao invocar culpas e pecados para as mulheres, a
família, e até mesmo as ciências, ao relegar um papel inferior.
O feminismo tem como um de seus principais objetivos denunciar a ordem patriarcal
que cria um sistema binário de poder: a mulher como pertencente ao ambiente doméstico,
restando-lhe o domínio sobre o privado (maternidade, família, lar) e assumindo o papel de
cuidadora de todos, frágil e submissa; enquanto o homem é pertencente ao ambiente público,
cabendo a ele profissões e posições de autoridade e poder, além de ser a representação da
racionalidade e superioridade. O sistema patriarcal nem sempre esteve presente. Inclusive,
existiram e existem sociedades em que ele não está presente, mas é um tema que não costuma
ser explorado.
Portanto, os feminismos, independente de suas diferentes vertentes e expressões, têm
os mesmos objetivos: libertar as mulheres de condições que as aprisionem, lutar contra o
machismo e possibilitar a transformação do social. Sendo assim, quem é feminista? A
feminista é a mulher que não se sente superior ao homem e muito menos o odeia. A feminista
é aquela que busca a emancipação e a paridade de gênero.

3.3 Desigualdade de gênero


Desigualdade. Gênero. Feminismo. Sexualidade. Estas são algumas das palavras que
estão a todo momento sendo citadas e fazem parte do conteúdo para quem pretende entender
bem a questão de gênero. Ao definir a desigualdade de gênero como as desigualdades que
advém da diferença sexual entre o homem e a mulher, torna-se necessário entender o que é
gênero e feminismo. Este último se trata de uma ideologia política que busca combater todo
tipo de opressão que atinge as mulheres e está totalmente vinculado ao gênero, devido ao
nascimento da categoria teórica deste, por volta de 1980, ter surgido para compreender a
pluralidade do feminismo e as distinções entre as mulheres.
De forma básica, gênero é uma construção cultural acerca da diferença sexual. Ou
seja, a sociedade constrói valores e os atribui, diferentemente, para os homens e para as
mulheres. São criados os papéis de gênero, onde é definido o comportamento padrão de cada
sexo na comunidade. Por ser algo construído, os papéis masculino e feminino divergem muito
de uma sociedade para outra. Pode-se conceber uma sociedade onde a caça é um papel
feminino e que em outra é masculino. Logo, a categoria de gênero ao ser usada para constituir
relações sociais também é utilizada para constituir relações de poder, pois é feita uma
hierarquização de valores pela sociedade.
Conforme algumas estudiosas entendem, a matriz heterossexual obrigatória seria
adotada por esse sistema de valores de gênero e sexualidade da sociedade. Entendendo a
sexualidade como a forma de expressar a vida erótica, essa matriz seria definir a mesma como
um relacionamento heterossexual. Tudo que foge a isso, não estaria dentro do padrão,
culminando no sexismo e na homofobia. Pensando na sociedade brasileira, pode-se perceber
que esta atribui um valor negativo ao papel feminino, culminando na discriminação das
mulheres. Outros dois sistemas de desigualdades também presentes na sociedade têm a ver
com a raça e a classe.

3.4 Diversidade sexual


É muito importante falar em diversidade sexual por ser um tema bem atual. No
entanto, estar bem presente nos dias de hoje não significa que ele seja recente. A diversidade
sexual existe há muito tempo e é realidade em diversas sociedades, inclusive não humanas.
Ela pode ser entendida como as diversas possibilidades de relacionamentos afetivo-sexuais e
de identidades de gênero manifestadas pelas pessoas. Para entender essas possibilidades,
torna-se necessário definir a relação entre sexo e gênero.
Partindo de uma visão comum entre pesquisadores e o movimento feminista, o sexo
tem a ver com a realidade biológica do indivíduo, isto é, a divisão binária do macho e da
fêmea a partir de suas genitais. Já o gênero, está ligado à realidade cultural, a divisão dos
papéis masculino e feminino construídos socialmente. Essa construção é feita a partir de
atribuições de valores diferentes ao homem e a mulher, criando expectativas de
comportamentos a partir da imposição de normas de gênero. A heterossexualidade é uma
dessas expectativas, pois é tratada como a única e “natural” relação afetivo-sexual, onde o
homem e a mulher se complementam. Tudo que foge a essa heteronormatividade é
discriminado.
Um relacionamento amoroso ou sexual entre um homem e uma mulher, ou seja, um
relacionamento hétero, é somente uma possibilidade de orientação afetivo-sexual, não a única.
A orientação afetivo-sexual é a capacidade de indivíduos sentirem atração emocional e o
desejo de terem uma relação sexual com pessoas de gênero diferente do seu, do mesmo
gênero ou de mais de um gênero. Logo, a homossexualidade, pessoas que se relacionam com
outras do mesmo gênero ou sexo, é uma orientação afetivo-sexual além da
heterossexualidade. Assim, existem as lésbicas, mulheres que sentem atração por mulheres; os
gays, homens que sentem atração por homens; mulheres bissexuais, mulheres que sentem
atração por homens e mulheres, e os homens bissexuais.
Entendida essas possibilidades de orientações afetivo-sexuais, torna-se necessário
entender a identidade de gênero. A identidade de gênero se expressa pela forma como o
indivíduo se enxerga; trata da percepção subjetiva e corporal que ele mantém de si. Ou seja, a
pessoa não identifica seu gênero com o sexo que nasceu. São exemplos os transexuais e
travestis. A identidade de gênero e a orientação afetivo-sexual não podem ser confundidas,
pois a primeira diz respeito ao gênero que o indivíduo pertence e a segunda por qual
gênero/sexo o indivíduo sente atração. Portanto, é completamente possível existir um homem
transexual (que nasceu do sexo feminino, mas que se sente pertencente ao gênero masculino)
heterossexual, que sente atração por mulheres, ou um homem transexual homossexual, que se
envolve com outros homens, ou bissexual. Tratam-se de coisas diferentes, mas que em uma
tentativa de lutar contra o preconceito de forma efetiva, os movimentos juntaram as duas
bandeiras em uma só: LGBT, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.
Então, falar em diversidade sexual se transforma em um modo de combater a
segregação criada pelo sistema de valores de gênero e sexualidade, pois contribui para que as
pessoas compreendam outros conceitos. Muitos indivíduos ainda sofrem humilhações, ainda
são mortos por serem tidos como anormais, por fugirem desse padrão imposto pela sociedade.
A luta dos LGBTs é árdua em tentar demonstrar que a homossexualidade e a identidade de
gênero não são ilegais, não se tratam de uma opção e não são doenças.

3.5 O GAPA-BA e abordagem teórico-prática da diversidade sexual


O contato do GAPA BAHIA com diferentes indivíduos permitiu que a experiência de
mais de vinte anos de atividade gerasse um acúmulo prático e teórico sobre a diversidade
sexual, inclusive acerca da transexualidade. Esta é considerada pela maior parte da doutrina
médica como um tipo de transtorno psíquico, que se caracteriza como transtorno de
identidade de gênero, onde o indivíduo não sente que o seu gênero condiz com seu sexo
anatômico. Essa relação de inconformidade entre o sexo e o gênero no transexual cria uma
sensação de desconforto no seu corpo. Por isso, a grande maioria recorre a cirurgia de
transgenitalização.
A cirurgia de transgenitalização ou cirurgia de mudança de sexo, como é popularmente
conhecida, é um procedimento de intervenção no corpo do transexual que remove órgãos e
reconstrói uma nova genitália, além de inserir um tratamento hormonal para modificar
caracteres sexuais secundários. É uma solução que já tem respaldo jurídico e justificativas
teórico-científicas da medicina para a realização em segurança. Ou seja, a partir do
diagnóstico médico sobre a transexualidade do indivíduo, este tem autonomia para decidir se
deseja passar pelo processo ou não. Até porque, ele não é imprescindível, uma vez que existe
uma categoria de transexuais que não sentem necessidade de fazer a mudança de sexo.
No entanto, esse diagnóstico médico necessário para comprovar que se trata de um
“transexual verdadeiro”, e diferenciá-lo dos homossexuais, travestis e intersexuais é muito
criticado na visão da teoria Queer. A socióloga Berenice Bento é um dos principais nomes da
tentativa da despatologização da transexualidade, que se caracteriza por politizar o debate da
anormalidade do transexual. Essa visão demonstra que as instituições sociais e os protocolos
médicos acabam contribuindo para que o indivíduo conclua que é um anormal, pois sofre de
um mal patológico. Ela tenta chamar a atenção para a abordagem exaustiva e pretensiosa da
medicina para identificar um transexual. Por isso, segue colocando em debate a categorização
do transexual como um portador de distúrbio mental, a fim de problematizar essa visão.

3.6 Mulheres negras e empoderamento


Quando se parte de uma visão interseccionalizada, isto é, uma perspectiva que leva em
conta as diferentes formas de dominação e discriminação que se acumulam resultando em
diferentes identidades de um indivíduo, é possível melhor contemplar o mesmo. Na
matemática, a interseção significa dizer que há algo em comum entre três círculos, por
exemplo. Se hipoteticamente esse trio de circunferências forem os principais sistemas de
dominação e exploração da nossa sociedade, como o patriarcado, o capitalismo e o racismo, a
interseção seria a mulher negra e pobre. Assim, a interseccionalidade permite que todas as
formas de opressão sejam analisadas.
O recorte de raça em meio a questão de gênero se torna essencial em uma sociedade
onde o racismo ainda é muito presente, pois a mulher negra sofre essa dupla exploração. O
negro já foi visto como um simples objeto e teve não só a sua cor desprezada como também
toda sua história, arte, cultura e hábitos. É por isso que se faz tão importante que as mulheres
negras se empoderem. É importante que elas criem uma autoimagem positiva de si mesmas se
contrapondo a todo estigma e estereótipo que vincularam a elas, pois mulheres fortes, que se
amam e possuem consciência de seus direitos intimidam o preconceito.

3.7 A luta das mulheres contra a desigualdade é uma luta contra o capitalismo
Assim como o patriarcado, o capitalismo é um dos sistemas de dominação e
exploração estruturantes da sociedade. Ser mulher em uma sociedade patriarcal e capitalista
significa sofrer a naturalização da dominação masculina por meio da cultura e a exploração da
lógica do capital. Nesse modelo econômico, a acumulação e a obtenção de lucro são feitas por
uma pequena parcela do grupo social a partir da exploração da grande maioria. Sendo assim, o
capitalismo se beneficia do patriarcado instituindo a divisão sexual do trabalho.
Essa sociedade, baseada em valores desiguais dispostos hierarquicamente, explora
distintamente os homens e as mulheres. A divisão sexual do trabalho significa dizer que
mulheres ocupam as tarefas de reprodução, o trabalho ligado ao mundo privado; enquanto os
homens, a produção, sendo assalariados. Isto é, usa-se o pressuposto de que o trabalho
feminino é um dom, inerente ao seu sexo, cabendo a ela exercer esse talento das atividades
domésticas, da educação e do cuidado. As mulheres que decidem desbravar o mundo
produtivo do trabalho, acabam ganhando uma renda menor do que os homens, mesmo
ocupando igual função, cargo ou sendo mais qualificadas.
A diferença salarial é um problema social presente atualmente e que tem raízes na
cultura machista. Apesar de muitas mulheres ocuparem cargos da vida pública, elas acabam
ocupam profissões que possuem características de cuidado, porque estão próximas das
habilidades que elas adquiriram durante a sua socialização. Assistentes sociais, empregadas
domésticas, babás e professoras são alguns dos exemplos de profissões desvalorizadas e mal
remuneradas por serem exercidas por figuras femininas.
É importante pontuar também a tripla jornada que a mulher enfrenta, tendo em vista
que mesmo com a inserção da mesma no mercado de trabalho, as funções de cuidadora do lar
e ainda dos filhos não foram apartadas dela, resultando em uma sobrecarga.
Então, tudo isso ilustra bem a divisão sexual do trabalho imposta pelo capitalismo, que
jogou somente sobre os ombros das mulheres as principais atividades de sustentabilidade da
vida, ausentando os homens e o Estado de qualquer responsabilidade ligada a essa situação.
Sendo, portanto, de extrema importância compreender que a luta pela desigualdade de gênero
é também uma luta contra o capital.

3.8 Diversidade Religiosa


O Brasil é um país onde a diversidade está presente em vários aspectos.
Historicamente, foi uma nação que recebeu bastante imigrantes, resultando em um povo
miscigenado. A presença de raças e etnias diferentes trouxeram consigo outras culturas e
diferentes hábitos que se mesclaram na sociedade. É por isso que o Brasil não possui uma
hegemonia religiosa, mas sim uma diversidade. O processo para que se chegasse ao status
quo onde várias religiões convivem juntas não foi fácil, tendo em vista que houve muito
desrespeito e violência.
A Constituição Federal de 1988 assegura a liberdade de cada indivíduo em crer e
professar sua fé por meio de cultos, ou de também não ter crença. Trata-se de um direito
fundamental que ascende a liberdade. Ela assegura também que o Estado brasileiro é laico, ou
seja, totalmente indiferente a qualquer religião. Isso não quer dizer, no entanto, que o Brasil é
ateu ou que desrespeita as religiões, mas sim que se mantém neutro e respeita a liberdade
religiosa de seu povo.
Mas assim como o Estado mantém a garantia aos indivíduos, não interferindo em sua
vida religiosa, é necessário que os mesmos também cumpram seus deveres de respeitar uns
aos outros e os direitos humanos. Estes são a barreira limite da interferência do Estado, pois
são tidos como invioláveis e nada justifica a sua violação, nem mesmo a religião. Assim, a
tolerância religiosa está de comum acordo com um Estado de Direito democrático. O respeito
entre as religiões deve ser mútuo para que a convivência ordenada e em paz seja estabelecida.
As religiões, tendo consciência de seu percentual de controle sobre os indivíduos, devem
insistir no respeito aos direitos humanos e aversão à intolerância religiosa.

3.9 Mídia e mulher


A mídia possui um potencial de influência sobre os indivíduos enorme por ser
constituída pelos principais meios de informação e comunicação. Muitas pessoas afirmam que
atualmente se vive a era da informação rápida em razão da internet, ampliando ainda mais o
raio de influência da mídia, visto que esta é também constituída por sites e blogs. Sendo
assim, grande parte da opinião pública acaba indo de encontro ao que ela publica.
A reputação das minorias de direitos discriminadas pela sociedade não é representada
de forma diferente pela mídia. Pelo contrário, ela busca perpetuar os preconceitos a fim de
agradar o leitor ou telespectador e manter a ordem patriarcal da sociedade. Percebe-se essa
situação a partir da questão de gênero, tendo em vista que para a mídia a mulher tem duas
funções: ser objetificada ou ser mãe. Isso pode ser visto dos comerciais de cerveja com
mulheres sendo expostas para os homens até as reportagens que procuram enaltecer a
maternidade como a grande missão da mulher na vida. Quando as figuras femininas se
libertam desses arquétipos, a mídia insiste em vinculá-los, trazendo manchetes como “manter
a forma, cuidar dos filhos, do lar e ainda ser desejada pelo marido” às mulheres que possuem
alguma profissão não convencional.
As novelas também contribuem para que essa realidade seja mantida. Poucas inserem
ideias a fim de transformar o social, e quando mostram, há sempre a malícia capitalista por
trás. É o capital se apropriando de discursos de luta. Ou um banco quer que as mulheres
realmente acreditem que ele está apoiando empreendedoras em prol do fim do machismo e
não em razão do lucro pelo marketing? Além disso, há a banalização da violência sofrida
pelas mulheres ao perceber as piadas e quadros de programas humorísticos. Assim, os
consumidores da mídia só passam a perpetuar os preconceitos que estão acostumados a
vivenciar e a ver, pois a mídia só atua com intenções de alteração da realidade social
conforme seus interesses.

3.10 Linguagem inclusiv@: o que é e para que serve?


Para escrever com a linguagem inclusiva é necessário substituir os radicais de gênero
das palavras, como “a” e “o” por @, x, as/os, is e outros. Mas para que serve isso? Como o
nome já diz, para incluir as mulheres no imaginário social. Tendo em vista que a linguagem
além de um meio de comunicação é também a expressão cultural de uma sociedade, a partir
de suas gírias, por exemplo, torna-se necessário perceber que ela está carregada de
preconceitos e estigmas. Ao falar, escrever ou ler, ou seja, utilizar-se da linguagem, imagens
são enviadas a mente do indivíduo. Sendo assim, com palavras no masculino, a ausência das
mulheres na realidade criada é fatal.
O sexismo na linguagem existe e pode ser representado pela estranheza de ouvir
elogios no feminino, ou de palavras no feminino servirem como ofensas aos homens. Por isso,
o objetivo da linguagem inclusiva é descontruir a ideia do masculino como universal e
combater o sexismo na mesma. As mulheres foram acostumadas a se sentir incluídas quando
se referem aos homens, mas na verdade estão sendo excluídas. Ao dizer: “Os advogados
foram ao fórum”, não se imaginam mulheres juntos aos homens, mas somente um grupo
destes. Por isso, a linguagem inclusiva permite que as figuras femininas passem a existir e
atuar.

4 UNIDADE III – ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: ACESSO À JUSTIÇA


4.1 Por um Teoria Prática: O Direito Achado na Rua
O Direito Achado na Rua foi um termo cunhado por Roberto Lyra Filho na década de
1980 e surgiu como uma corrente de pensamento que se insere nas teorias críticas do Direito.
Com a morte de Lyra, o professor José Geraldo manteve o projeto que foi iniciado na UnB na
forma de um curso à distância, chamado “O Direto Achado na Rua” que tinha como objetivo
mostrar uma visão crítica, na qual se acredita que o Direito é produzido pelos movimentos
sociais, a setores que pudessem ter esse interesse, como lideranças comunitárias, sindicatos,
advogadas e advogados e etc.
Para essa corrente, a prática do direito implica também em um momento de elaboração
teórica, não havendo uma divisão da prática e da teoria, pois esta seria composta a partir da
realidade social, destinando-se a ela e dela sendo oriunda. A explicação do Direito não pode se
ater somente a legislação. Por ele ser um fenômeno jurídico, que está ligado a vida humana, é
necessário entender seu contexto histórico e social. Por isso é possível entender por que as
mulheres conseguiram reaver e afirmar seus direitos a partir da luta organizada pela paridade
de gênero. Sem a movimentação do movimento feminista, a Lei Maria da Penha e políticas
públicas em torno da violência contra a mulher talvez não fossem nunca alçadas se não
houvesse a luta do movimento social demonstrando a necessidade de atenção para essa pauta,
de um direito achado na rua.

4.3 O que são Direitos Humanos?


Os Direitos Humanos são muito aclamados e destacados na sociedade brasileira atual.
Existem comissões especializadas, grupos de pesquisas, organizações que se atém a observar
a aplicação destes no convívio e denunciar casos de violações. Isso é o resultado de uma
grande conquista que foi sendo lapidada por muitos anos para chegar ao que se tem hoje.
Iniciando pela História Antiga, nas tradições greco-romanas existia a ideia de que o
homem possuía direitos inalienáveis. Todavia, o homem como cidadão, pois essas garantias se
referiam ao direito de participação política na pólis. A noção dos direitos ligados ao indivíduo
como ser humano foi trazida durante a Idade Média, através da religião, pois esta incutiu a
ideia de que todos eram irmãos e, portanto, filhos de um mesmo pai, que seria a divindade
suprema. A igualdade dessa concepção proporcionou a ideia de humanidade.
Na modernidade, a noção de direitos humanos foi desvinculada da moral cristã pelos
teóricos iluministas, que justificaram a existência daqueles pelo jusnaturalismo. Os homens
teriam firmado um contrato de que existiam direitos naturais inalienáveis como a vida, a
liberdade e a propriedade em um ato de autoproteção. No fim do século XVII, a racionalidade
era o motor de unificação dos homens. Essas ideias fizeram com que a Declaração de
Independência dos Estados Unidos se tornasse uma proclamação dos Direitos Humanos,
seguida pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na Revolução Francesa.
O cunho positivista dos Direitos Humanos surgiu na época da revolução na França.
Isso significa dizer que foi a partir daí que os direitos foram considerados fundamentais se
emanados pelo poder estatal no seu processo de legislação e legitimação. A
constitucionalização desses direitos seriam a expressão formal dos mesmos e a própria fonte
de validade. É importante pontuar que após esse processo, com vários países prontos a
implodir uma nova ordem internacional, houve uma incorporação dos direitos humanos na
agenda internacional, tendo em vista o passado tenebroso de guerras. As Nações Unidas
nasceram e se firmou a famosa Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948,
delineando um compromisso de obrigações morais para a comunidade internacional.
Esse processo tanto no âmbito internacional e nacional não é de total satisfação, uma
vez que ainda ocorrem diversas violações. Internacionalmente é difícil a repreensão tendo em
vista que não existe um poder coercitivo de imposição entre os países e os mesmos possuem
autonomia. Frisa-se que a mulher e os outros grupos excluídos da sociedade demoraram
muito tempo para serem reconhecidos como sujeitos de direitos humanos. Para ser possuidor,
o sujeito deveria ter uma autonomia para raciocinar e tomar decisões por si, o que,
automaticamente, excluía esses grupos por não serem considerados autônomos. Uma
feminista durante a Revolução Francesa chegou a ser guilhotinada por elaborar uma
declaração de direitos feminina.
Portanto, a visão de que a garantia dos direitos humanos está assentada na produção
formal estatal, ou seja, de que eles são válidos porque são transformados em normas jurídicas
e integrados ao ordenamento recebe críticas e é fraca, pois o direito pode ser expresso por
meio de normas, mas deve ser entendido como produto de articulações da sociedade, pois é
esta que assegura a legitimidade. A história já demonstrou diversas vezes que as lutas contra a
opressão são produtoras de direitos.

4.4 A Estrutura do Estado e a Secretaria de Políticas para as Mulheres: atuação e


desafios
A criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) durante o governo Lula,
em 2003, significou um espaço inédito na estrutura estatal, pois possibilitou um
reconhecimento do poder público da influência negativa da desigualdade de gênero sobre o
desenvolvimento socioeconômico e cultural, além de significar também a institucionalização
da luta contra a desigualdade a partir de um compromisso político. A SPM acabou se
caracterizando como um espaço de proposições, organização e implementação de políticas
públicas que buscam a emancipação da mulher.
Nesse sentido, o I Planos Nacionais de Políticas para as mulheres (PNPM), lançado
pela SPM em 2004, visou criar nos âmbitos estaduais e municipais organismos
governamentais que implementassem políticas ao público feminino. O II PNPM, em 2008,
comprometeu-se a trabalhar temas diversos com recorte de gênero, sendo desenvolvido
também por secretarias e Ministérios. Ambos os planos tiveram diretrizes oriundas de amplo
debate da sociedade civil, através de Conferências Nacionais.
Em 2010, a SPM foi transformada pelo governo federal em Ministério, dando-lhe um
caráter de órgão essencial. Todavia, entre tantas conquistas, a SPM ainda tem muitas lutas,
pois a desigualdade de gênero, a discriminação contra a mulher ainda são mazelas presentes
na sociedade patriarcal brasileira. Há ainda a luta em tornar os direitos femininos acessíveis a
todas; em garantir a igualdade no mundo do trabalho, desconstruindo a ideia de que a
responsabilidade da maternidade cabe somente à mulher; em ampliar a presença feminina nos
espações de decisão, e combater todas as formas de violência e discriminação. O
enfrentamento desses desafios e outros vão influenciar não só a atual sociedade, mas também
a futura geração brasileira.

4.5 Participação no Legislativo, democracia e feminismo


Não é novidade que os direitos fundamentais como a liberdade e a igualdade,
instituídos durante a modernidade, não conseguiram abranger todos os segmentos sociais. A
organização das mulheres em torno das opressões vividas por elas é um exemplo disso. Essa
realidade só pode ser transformada a partir da politização dessas questões na experiência
democrática. O movimento feminista tem denunciado o patriarcado, como o sistema que
mantém a desigualdade de gênero tanto na esfera pública quanto privada da vida da mulher.
A política serve às mulheres como um instrumento de transformação atrelado à
estrutura estatal, mas se torna de difícil acesso ao público feminino, pois para assumir funções
públicas, as mulheres têm que derrubar a barreira da desconfiança e demonstrar que são tão
boas quanto os homens para o cargo. Assim, as principais instituições de poder são compostas
hegemonicamente pelo sexo masculino. O Congresso Nacional brasileiro é um exemplo disso,
onde a grande maioria dos deputados e senadores são homens.
A conquista ao voto feminino em 1934 foi uma forma de inserção das mulheres nas
deliberações políticas, assim como leis que obrigam um percentual de figuras políticas
femininas representam uma parte do poder concedido. Mas ainda é pouco. É preciso que não
só mulheres, mas também os homens, intitulados como representantes do povo, tragam o
debate de gênero, as desigualdades que afetam a vida particular da mulher como um debate
público. A igualdade material só pode ser alcançada quando todos os segmentos sociais
tiverem acesso e condições iguais em ambientes públicos ou privados.

4.6 Violência contra à mulher, empoderamento e acesso à Justiça


De forma simplificada, a violência contra a mulher pode ser conceituada como todo
ato ou ação que cause dano ou sofrimento à mulher, em razão de seu gênero, dentro do
ambiente familiar ou doméstico. A Convenção Intramericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência Contra a Mulher, assinada pelo Brasil, conceitua detalhadamente e reconhece que
a violência contra a mulher constitui uma grave violação aos direitos humanos e um
cerceamento à liberdade feminina.
O Estado brasileiro mantém uma história recente de enfrentamento à violência contra a
mulher, tendo em vista que a igualdade jurídica entre ambos os sexos só foi ratificada pela
Constituição de 1988. Apesar de a primeira delegacia da mulher datar de 1985, foi somente
em 2006 que promulgaram uma lei que oferece às vítimas de violência o acesso à Justiça, a
prevenção, a proteção e a punição a partir de instituições estatais.
A violência contra a mulher se perpetua em razão da relação de poder cultural e
historicamente construída pela sociedade, onde esta atribui papéis sociais diferentes a homens
e mulheres. Essa expectativa gerada pelos valores criados faz com que a violência se
solidifique, tendo em vista que o homem pode impor a sua superioridade à mulher até por
meio de atos violentos. Essa relação acabou sendo “naturalizada” pela cultura, fazendo com
que não só as vítimas como a sociedade aceitassem e tolerassem a mulher ser oprimida física,
sexual, psicológica e financeiramente pelo homem.
Nesse sentido, a violência contra a mulher passou a se tornar invisível e totalmente
natural numa relação entre um casal. É por isso que mesmo existindo a sanção jurídica, a
repressão legal, os casos de violência doméstica continuam ocorrendo em números
exorbitantes. Como a uma mulher vai reconhecer que é vítima de violência, se acredita que é
merecedora de tais atos, que o agressor tem direito de se impor mediante violência e a
sociedade ainda é conivente com essa conduta? Somente pelo empoderamento individual e
social de todas as mulheres, pois enquanto o primeiro conscientiza as mesmas que são sujeitos
de direitos e capazes de gerir suas próprias vida, não devendo se submeter a nenhuma
agressão, o segundo decorre da participação nas organizações políticas e sociais que vão
desenvolver um apoio em forma de uma rede de mulheres conscientes de seus direitos.
Portanto, é por isso que o projeto de Promotoras Legais Populares busca construir
mulheres que sejam agentes de mudança individual e coletiva, conscientes de seus direitos e
aptas a influenciar o meio social em que estão inseridas, à procura de transformar a realidade.
Apesar de a Lei Maria da Penha ter sido uma grande conquista, é necessário que se busque
também destruir outras formas de opressão à mulher, como a exclusividade das tarefas do lar
e a desigualdade no mundo do trabalho, para que se possa “desnaturalizar” esse sistema de
poder.
4.7 Como organizar uma associação de bairro
Quando um grupo de mulheres percebe que o desejo de lutar contra a opressão que as
atinge é mútuo, que isso as une, e que precisam fazer algo para mudar tal situação, elas
começam a falar em organização. No entanto, elas não sabem que só pensam em se organizar
porque já estão se organizando. O que elas necessitam é dar uma forma, criar regras e
estruturar essa organização. Criar uma instituição ou entidade que as represente perante os
órgãos e instituições que vão se posicionar é uma forma de ensejar a mudança.
A associação comunitária é um exemplo de representação simples a ser buscada. Uma
luta digna não se faz estando somente na política da cidade, na política nacional, entre os
congressistas homens como a sociedade machista dita. A política comunitária tem seu espaço
importante nos pilares da política. Ela serve para que um grupo pressione diversas entidades
em busca de seus direitos, e também como forma de autoproteção, pois os membros têm apoio
dos seus companheiros e proteção contra quem faça pressão contrária.
Portanto, quando se chegar a conclusão de que é necessário se reunir em uma
associação, alguns passos devem ser tomados, como a escolha de pessoas para compor uma
diretoria e um conselho fiscal da associação. Precisa-se eleger uma presidenta que vai
representar a entidade. Criando o estatuto, a assembleia de fundação vai ratificar a criação. É
claro, com a assinatura do advogado e oficializando no cartório.

5 UNIDADE IV – O ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


5.1 A violência contra as mulheres
A violência contra a mulher pode ser entendida como qualquer ato ou conduta que
cause algum dano à mulher e até mesmo a morte, em razão de seu gênero. Ela está presente na
sociedade em suas mais variadas formas de expressão: a violência doméstica e familiar, o
tráfico de mulheres, a exploração sexual, o feminicídio, entre outras, que envolvem a
violência moral, psicológica, física, sexual e patrimonial. Para compreender a dinâmica da
violência contra a mulher, é necessária uma análise da estrutura de poder hierárquica e
patriarcal que a propicia, denominada relações de gênero.
O patriarcado é um sistema cultural, econômico e político que comporta as relações de
gênero ao construir valores e atribui-los desigual e hierarquicamente entre os sexos, a partir de
suas genitais. Nessa distribuição de papéis, o feminino é tido como o dominado e o masculino
como o dominador. Ocorre então uma construção desigual que organiza socialmente,
hierarquiza e naturaliza os corpos e suas subjetividades, impondo a realização de
comportamentos padrões em busca de integração na sociedade.
A violência encontra legitimação na sutileza com que o patriarcado naturaliza a
desigualdade nas relações de gênero, fazendo com que as pessoas acreditem que a natureza
moldou desta forma há muito tempo, e por isso, não cabe questionar culturalmente. Isso
contribui para o silenciamento e invisibilidade da violência, pois assim as próprias vítimas ao
viverem a violação acreditam que como submissas e inferiores, devem suportar os atos
provindos do homem agressor, tendo em vista sua superioridade. Assim, o silêncio se
caracteriza também pela não percepção e identificação própria da mulher como vítima de uma
violência.
O que a estrutura patriarcal esconde é que os homens não têm a agressividade e a
violência inerentes à sua personalidade, mas sim que elas são adquiridas através da construção
de discursos que vão em favor disso. Os homens são estimulados desde meninos a praticarem
o ideal da masculinidade hegemônica, que inclui a dominação e utilização da agressão como
primeira forma de reagir em disputas de poder, caso a masculinidade esteja sendo ameaçada.
E a mulher acaba entrando nesse jogo como uma mera propriedade. A força, a sexualidade
viril, o poder dado ao masculino, e a submissão e emoção atrelados ao feminino não fazem
parte do material genético de nenhum dos sexos, mas são internalizados em forma de
discursos.
É importante pontuar o controle da individualização patriarcal sobre a vida das
mulheres, que afasta a responsabilização coletiva acerca da violência, excluindo uma
percepção política e econômica, direcionando a culpa exclusivamente para a mulher. A busca
por uma ação da mulher, como andar sozinha na rua à noite ou utilizar um modelo de roupa,
que justifique a violência por ela sofrida, demonstra a tentativa de a culpabilizar. No caso da
violência doméstica ou familiar, essa individualização se repete, como se o sofrimento da
mulher fosse algo doméstico, privado, não devendo incomodar quem se encontra fora de casa
e da família.
A tipificação dos tipos de violência pela Lei Maria da Penha foi uma grande conquista
para as mulheres, pois a única agressão considerada verdadeira era a aquela visível, que deixa
marcas exteriores, e exames médicos e testemunhas podem comprovar. Enquanto as mais
sutis, como a violência moral e psicológica, que também deixam marcas, mas não visíveis,
eram motivos de piada e ridicularizadas. O ciúme patológico é um exemplo, tendo em vista
que muitas vezes é confundido com uma “prova de amor” e na verdade é uma forma de
controle poderosa, que é capaz de romantizar a violência. Com base em tudo isso, pode-se
concluir que a desnaturalização da opressão é uma das armas mais fortes contra a violência
que atinge as mulheres.
5.2 Impacto Psicossocial da violência
A violência contra a mulher mantém a sua estrutura através de alguns discursos que
carregam valores predispostos. Um desses discursos é a noção da diferença sexual que se
revela à sociedade através da fixação de diferentes papéis ao homem e a mulher, com base
somente no gênero. Isto é, são criados estereótipos de “verdadeiros” homens e mulheres,
sendo anormal tudo que não se encaixe nesse molde imposto. Podendo-se falar, então, na
heterossexualidade compulsória, mais um discurso que contribui para a violência, tendo em
vista que traz a ideia de que o homem e a mulher são opostos, mas ao mesmo tempo
complementares, principalmente em razão de seus órgãos genitais.
O órgão genital masculino passou a definir a essência do homem na sociedade
ocidental, sua identidade e reduzir seu prazer ao pênis, sendo necessário o uso deste para
definir sua masculinidade. Enquanto às mulheres restou à espera pelo preenchimento desse
objeto valorizado que elas não possuem e os homens podem proporcionar. Sendo assim, os
homossexuais sofrem com essa noção rígida de sexualidade, pois, segunda esta, os gays e as
lésbicas devem ser corrigidos ou curados por romperem com essa ordem imposta.
Assim, por ser o masculino valorizado, existe um desprezo ao feminino e uma
desqualificação do que está relacionado a este, naturalizando a violência contra a mulher. Os
efeitos do impacto psicossocial da violência não se restringem somente aos danos mentais,
mas também é percebido na produção de discursos sexistas e homofóbicos, pois é criado um
sistema onde é naturalizada a posição do agressor e da vítima.

5.3 O desafio da garantia de direitos humanos no contexto da violência sexual contra


crianças e adolescentes
A violência sexual pode ser entendida como uma violação aos direitos humanos,
especialmente aos direitos sexuais, ao tolher o indivíduo de exercer sua sexualidade de forma
saudável e segura. De acordo com estudos, a exploração sexual tem sido pautada na teoria do
poder, a qual entende que a violência é um desencadear de relações que envolvem a cultura,
os hábitos, o processo civilizatório de um povo. Prevalecendo, então, a lógica da
masculinidade dominante, que estabelece relações de poder de hierarquia e dependência.
Essas relações são constituídas pelas vítimas, que são mulheres, crianças e
adolescentes, consideradas como sem humanidade, mercadorias, e por pessoas que satisfazem
seus desejos ou se beneficiam financeiramente. A violência sexual pode ocorrer por contatos
físicos e sem contato físico, como exemplo, a imposição de produzir material pornográfico. É
importante pontuar ainda que ela envolve questões de gênero, étnico-raciais e de classe, tendo
em vista que a maioria das vítimas são meninas e mulheres negras e pobres.
Tendo em vista os números alarmantes de violência sexual, inclusive contra crianças e
adolescentes, obtidos por órgãos públicos e organizações, é possível perceber que a mesma se
trata também de um problema que envolve a democracia. Por isso, diz respeito tanto ao
Estado quanto à sociedade combater a violência sexual, pois o fim desta contribui para a
consolidação de um Estado Democrático de Direito que respeita a dignidade humana de cada
indivíduo. A sexualidade é inerente ao ser humano, devendo ser respeitado e assegurado o
desenvolvimento desta nas diversas fases do indivíduo.

5.4 Polícia e as Delegacias de Mulheres


Sabe-se que o sistema patriarcal possui uma estrutura de desigualdade entre os gêneros
que está presente na sociedade. Logo, o machismo está embutido também nas estruturas no
Estado, nas instituições. A criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
(DEAM) demonstram como esse machismo arraigado nas instituições pode ser prejudicial às
mulheres ao tratar de uma dupla problemática: a persistência de valores machistas no
atendimento policial e a resistência em tratar a violência doméstica e familiar como um crime.
A proposta de origem da DEAM foi a tentativa de combater a violência institucional
aplicada à vítima, tendo em vista que as demandas de muitas mulheres eram deslegitimadas
por profissionais que tinham uma visão machista. Uma delegacia especial se preocuparia em
capacitar todos os profissionais para que pudessem dar um atendimento que se preocupasse
com a demanda trazida pela mulher e não quisesse atestar a validade do mesmo.
Tal situação contribuía para o silenciamento das vítimas e, consequentemente, para o
aumento do número de violência. Além da DEAM, a existência de uma rede de mulheres que
se apoiam é de extrema importância para que se fortaleçam a fim de vencer as violências
institucionais, que perpassam o sistema jurídico-penal. O diálogo entre o movimento de
mulheres feministas e o Estado é uma via de reivindicações essencial, tendo em vista que
através desse diálogo conquistas em prol das mulheres foram obtidas.

5.5 A Lei Maria da Penha


Sancionada em agosto de 2006, a Lei n. 11.340 busca o enfrentamento à violência
doméstica e familiar contra a mulher. Ela foi elaborada e aprovada com muita pressão e luta
do movimento de mulheres, em razão de uma tentativa de realização de justiça no caso da
biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que sofreu duas tentativas de assassinato
pelo marido. Sendo chamada, então, de Lei Maria da Penha.
A referida lei é de extrema importância para coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher e é uma das mais avançadas em um parâmetro internacional, pois não se
limita a aumentar a pena do agressor e sim enfrentar a violência de gênero como um grave
problema social, procurando alterar valores sociais e institucionais. Para isso, diversos de seus
dispositivos incentivam a criação de campanhas em torno do assunto, centros de reabilitação
para o agressor e centros de atendimento à mulher pelo Estado, além de incentivar também a
sociedade civil a agir em favor do empoderamento de mulheres, por meio de cursos como as
Promotoras Legais Populares.
É importante pontuar que esse aspecto inovador da lei e dando enfoque à violência que
as mulheres sofrem por serem discriminadas em razão de seu gênero foi necessário para que
se entendesse que ela se configura em uma ação afirmativa de gênero. A divisão em seu texto
dos diversos tipos de violência que atingem a mulher e não eram tipificados foi uma grande
conquista para que não só os danos físicos causados à vítima fossem considerados. Há na
prática, no entanto, muito a melhorar, como a criação de Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher.

5.6 A eficácia da Lei Maria da Penha e o acesso à Justiça


O crescimento do movimento minimalista que trazia políticas de descriminalização e
de pouca intervenção do direito penal, na década de 80, deu origem aos Juizados Especiais
Criminais, legalizados conforme a Lei n. 9.099/1995. Tratou-se de uma tentativa de resolver
os conflitos de menor potencial ofensivo de forma célere e mais eficaz. No contexto da
violência contra a mulher, no entanto, as medidas previstas nos Juizados eram inadequadas
aos casos, culminando em impunidade e banalização. Recorria-se frequentemente ao
arquivamento.
Foi a Lei Maria da Penha que afastou a aplicação da Lei n. 9.099/95 aos casos de
violência contra à mulher. Na leitura dos seus dispositivos, percebe-se que se trata de uma lei
inovadora, pois tem um caráter multidimensional, envolvendo não só o judiciário, mas
também a sociedade e o poder estatal. Ela trata da punição juntamente com a implementação e
garantia dos direitos humanos, pois ao mesmo tempo que concede mais proteção a mulher e
pune de acordo com a gravidade o agressor, também procura tratar a raiz do problema social,
a desigualdade de gênero, que acaba naturalizando a violência.
Apesar da Lei dos Juizados ter sido afastada da violência contra a mulher, no acesso à
justiça, as mulheres encontram dificuldade no judiciário, pois enfrentam uma instituição que
tende a perpetuar normas de dominação que naturalizam ainda mais o poder que produz e
reproduz desigualdades. Mesmo com os avanços, é inegável que os estereótipos de gênero
estão enraizados no sistema judiciário, a partir de decisões regadas de uma moral machista.

5.7 A Lei Maria da Penha aplicada à lesbofobia


Existem algumas dúvidas acerca da Lei Maria da Penha que não costumam ser alvo de
campanhas governamentais, como o caso da lesbofobia. A lei traz bem definido em seus
dispositivos que trata da violência contra todas as mulheres no ambiente doméstico ou
intrafamiliar. Ou seja, não se refere somente a casos em que existe uma relação conjugal
heterossexual. Apesar de ser um dos casos mais frequentes o homem da relação hétero ser o
agressor, podem ocorrer situações de violência doméstica entre casais homoafetivos, de
lésbicas. Como também situações em que lésbicas sofrem uma violência familiar pelas
pessoas que moram com ela, parentes ou não, e a agridem. Há uma invisibilização de
mulheres lésbicas e bissexuais na lei por consequência da invisibilidade social que esse grupo
já passa.

6 UNIDADE V – OS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES


6.1 Os Direitos Humanos das mulheres: lutas e protagonismos
A consolidação dos direitos das mulheres foi resultado de árduas lutas feministas
durante os séculos. A História mostra mulheres que até perderam a vida, como Olympe de
Gouges, ao tentar incluir que as figuras femininas também fossem reconhecidas como
possuidoras dos direitos humanos. Todavia, sabe-se as legislações que traziam estes, no início,
não contemplavam a todos de fato. Foi somente no século XIX que a inserção dos direitos das
mulheres se tornou necessária para a concretização de uma verdadeira democracia e dos
direitos humanos, através de muita pressão feminista.
A introdução do conceito de gênero pelos movimentos feministas nos meios político e
social foi de extrema importância para a elaboração de legislação e tratados que reconheciam
formalmente os direitos mulheres. No âmbito nacional, a Constituição Federal de 1988 trouxe
em seu texto a igualdade entre homens e mulheres. Além do Código Penal ter sofrido
modificações em prol das mulheres, como a adequação de crimes contra a liberdade sexual
constituírem crimes contra a dignidade sexual, e não mais contra os costumes. Sem esquecer,
é claro, da Lei Maria da Penha que foi uma grande conquista para as vítimas de violência
doméstica e familiar.
Em âmbito internacional, convenções como a Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Contra a Mulher e a Convenção Intramericana de Direitos
Humanos foram ratificadas pelo Brasil. Podendo concluir, assim, a imprescindibilidade dos
movimentos sociais na conquista e reafirmação de garantias. A auto-organização das mulheres
no espaço público ganhou um formato tão importante que culminou no empoderamento e na
conquista de seus direitos.

6.2 Direitos sexuais


A compreensão dos direitos sexuais como parte dos direitos humanos teve origem com
a reflexão de grupos de mulheres feministas acerca da sexualidade e da reprodução como
fenômenos também construídos socialmente e não só biológicos. Ambas as questões passaram
a ser fundamentais para o feminismo, tendo em vista que as mulheres perceberam que a
desigualdade nesse quesito estava presente na vida de todas, pois não tinham o controle sobre
a sua sexualidade e reprodução.
O termo “direitos reprodutivos” foi cunhado em 1984, no IV Encontro Internacional
Mulher e Saúde na Holanda. Porém, foi só na década de 90 que o termo “direitos sexuais e
direitos reprodutivos” se espalhou pelo mundo e consolidado na IV Conferência Mundial
sobre a Mulher. Eles passaram a integrar os direitos humanos, uma vez que por serem
determinantes no desenvolvimento físico e emocional do indivíduo. Embora estejam
assegurados por lei, existem obstáculos que atrapalham o seu reconhecimento, como a
discriminação contra as mulheres.

6.3 Introdução ao diálogo sobre Direitos Reprodutivos


Um dos maiores marcos da consolidação dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
como direitos humanos se deu em 1994, quando 184 Estados signatários aprovaram os
princípios da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento. A partir, é claro,
de muita pressão de grupos de mulheres que passaram a enxergar os direitos atrelados à
liberdade sexual através do estudo de gênero.
Os direitos reprodutivos garantem o direito de decisão das pessoas acerca da
reprodução e de exercer sua sexualidade independente de preconceitos, além de garantirem a
todos as informações necessárias, como técnicas contraceptivas, que devem ser cabeceadas
pelo Estado. A discriminação contra as mulheres acaba cerceando as mesmas de serem donas
do seu próprio corpo e investirem em sua saúde sexual, interferindo na liberdade sexual da
mulher. E se não há igualdade e liberdade, não há democracia.

6.4 Tráfico de pessoas, desigualdade de gênero e Promotoras Legais Populares


O tráfico de pessoas se caracteriza pela transferência, pelo transporte, pelo
acolhimento de pessoas, mediante à ameaça, coação e violência, para fins de exploração.
Classificando-se a partir do território, pode ser um tráfico interno ou internacional. Este
último está comumente ligado ao desejo de construir uma vida melhor fora do país em razão
da atual situação de vulnerabilidade em que se encontra o indivíduo. O uso da força e de
outras formas de coação, além do cerceamento de ir e vir caracterizam o tráfico de pessoas em
uma terrível violação aos direitos humanos.
Apesar da violência de gênero estar presente em todas as esferas da vida social, o
tráfico de pessoas é uma modalidade onde as vítimas possuem gênero, raça e classe social
específicos. Isto é, mulheres/meninas, negras e pobres são as principais vítimas de exploração
sexual através do tráfico. A apropriação do corpo feminino pelo patriarcado e as condições de
vulnerabilidade socioeconômica que foram impostas a certos segmentos, como os pobres e os
negros, são responsáveis pela origem desse problema social.
Portanto, para tentar extinguir uma prática que vai em total desacordo com a dignidade
humana e remonta às épocas coloniais, não só a ação do Estado através da criação de políticas
públicas é suficiente. Torna-se necessária uma conscientização da sociedade acerca da questão
da desigualdade em todos os seus aspectos, principalmente a desigualdade de gênero que
acaba legitimando essa situação. A começar pelo empoderamento das próprias mulheres, que
acabam concordando com um discurso que as humilha devido a essa ordem social imposta.
Por isso, o curso de Promotoras Legais Populares, que possui grupos socialmente mesclados,
é tão importante para a luta contra o tráfico de mulheres.

6.5 Família não é lugar de violência: Mulheres construindo um novo direito de família
fundado no afeto
A ideia tradicional e triangular de família composta pelo pai, pela mãe e pelo filho,
vem sendo desmantelada como a única forma de organização possível e “correta”. As novas
configurações familiares, mais baseadas no respeito e afeto, estão sendo incluídas no
imaginário social, após longos anos de muito sofrimento, tendo em vista que o grupo familiar
era, e ainda é, um lugar de controle. O modelo triangular surgiu de uma junção de duas
ideologias diferentes, mas que tem como objetivo o poder através da exploração: o
patriarcado e o capitalismo.
Quando se fala em relações familiares patriarcais e capitalistas, pressupõe-se que as
mulheres são incapazes de participarem da vida pública, cabendo ao pai e ao marido assisti-
las na gerencia dos bens para sobreviverem. Logo, o homem e a mulher se completam, e
devem seguir a moral cristã que prega o casamento com a geração de filhos, para que estes
venham a se apropriar e gerar a acumulação de bens deixados pelo pai. Sendo assim, as
mulheres têm o dever de serem recatadas e gerarem filhos de sangue aos seus maridos;
enquanto estes, têm o dever de manter a honra da família, controlando sua esposa e gerando
patrimônios.
Pode-se ver então como o grupo familiar serve como uma instituição hierárquica de
controle de cada indivíduo e de satisfação de interesses, de acordo com a lógica do capital,
onde pequena parcela da sociedade possui riquezas através da exploração da maioria. A
influencia desse modelo construiu uma legislação que oprimia as mulheres, permitindo, por
exemplo, que os maridos pudessem cometer violências contra suas esposas, a fim de corrigi-
las, e estupra-las, pois, o sexo era uma obrigação da esposa. As mulheres, conforme o tempo,
foram resistindo e sendo o motor de transformação da família, tendo em vista que sua
organização e luta foram de total importância para que muitas mudanças acontecessem.
Apesar das alterações na lei, os dados de mulheres vítimas de violência dentro da própria
família é um dos mais altos ainda hoje.

6.6 Paternidade pode rimar com cidadania e solidariedade


Em uma sociedade patriarcal e machista, a paternidade é uma escolha do homem,
enquanto a maternidade é uma obrigação para a mulher. A ausência do pai na vida dos filhos
não é somente afetiva, mas ocorre desde o seu nascimento. No Brasil, dados demonstram que
há um bom percentual de nascimentos que ficam sem o reconhecimento paterno. A ausência
paterna é legitimada pela desigualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres, pois
a responsabilidade acerca dos filhos é retirada deste e imposta somente às mães. Portanto,
trata-se de uma injustiça não só para com as mulheres, mas também com os filhos. A figura do
pai e a participação dele pode contribuir muito para a formação da criança, além de ser uma
criação solidária e democrática, pois é em conjunto com a mãe. Os direitos reprodutivos
também devem ser entendidos como direitos dos homens. Eles reproduzem assim como as
mulheres, e precisam estar atentos a essa questão.
6.7 Crianças e adolescentes: o eterno desafio de enfrentar os “menores”
O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma legislação comprometida com a
proteção de todos os indivíduos que estão na faixa etária de até doze anos incompletos, e de
doze até os dezoito anos. Foi uma conquista de movimentos sociais, que reivindicavam o
reconhecimento das crianças e dos adolescentes como sujeitos de direito, independente de
qualquer critério de seletividade social. No entanto, essa consolidação de direitos provocam
intensos debates atualmente, pois existe um grupo que, através de uma visão baseada em
preconceitos, acredita que menores de segmentos mais pobres da sociedade são um risco à
“população de bem”.
Essa visão é um resquício da ideia que perpetuava durante a vigência dos Códigos de
Menores de 1927 e 1979, onde a proteção era fixada nos menores pobres, que na época era
grande parte da população brasileira. Ou seja, era uma legislação baseada numa forma seletiva
e discriminatória, tendo em vista que existia um forte estigma de criminalização à pobreza.
Reverberava o controle social por meio de leis duras e reservadas somente a um grupo social,
onde as soluções eram políticas de recolhimento em instituições estatais e incentivo ao
trabalho infantil, como um disciplinador. A educação não era uma opção. O Estatuto da
Criança e do Adolescente e a Convenção Internacional das Nações Unidas sobre Direitos das
Crianças vieram para superar esse enfoque repressor acerca dos direitos desse grupo.

6.8 Pessoa com deficiência


A deficiência faz parte da diversidade presente na sociedade, assim como a raça, a
orientação sexual e outras características. Entretanto, apesar de as pessoas com deficiência
chamarem atenção por serem diferentes, ao mesmo tempo são invisíveis, tratados a parte da
população. Apesar da legislação brasileira reprovar todo tipo de discriminação, instituindo
uma igualdade formal entre os cidadãos, é necessário a aplicação de políticas públicas pelo
poder estatal a fim de concretizar os direitos garantidos, principalmente aos deficientes.
Os deficientes muitas vezes são tratados como pessoas incompletas, principalmente as
mulheres. É importante pontuar que as mulheres deficientes enfrentam as dificuldades
advindas da opressão machista, mas com barreiras adicionais, em virtude das suas diferenças.
Apesar de algumas conquistas, como a ratificação de duas convenções acerca do assunto e a
criação de políticas públicas de acessibilidade, os deficientes ainda passam por muitas
dificuldades para a inserção na sociedade.

6.9 Trabalho decente para as trabalhadoras domésticas: um desafio para o Brasil


A divisão sexual do trabalho instituiu como função feminina as atividades relacionadas
ao cuidado, principalmente à atividade doméstica. Assim, os postos femininos foram se
solidificando na sociedade. De forma que, a atividade exercida fora da casa da própria mulher,
acabou sendo também um trabalho doméstico, mas remunerado. A grande maioria das
empregadas domésticas brasileiras são mulheres, de acordo com o IPEA (2011). Justamente
por se tratar de uma ocupação majoritariamente feminina, é mal remunerada e sofre uma
invisibilidade, pois não é vista como uma atividade que gera riquezas e recursos para o país.
Há muita relutância na assinatura de carteira de trabalho das domésticas pelos
empregadores, resultando na informalidade de grande parte desse setor. Isto significa que
muitas mulheres estão se submetendo a ficar desamparadas pela lei e com o acesso restringido
a diversos direitos pela necessidade do trabalho. A melhora da vida profissional das
domésticas é ainda uma luta brasileira, tendo em vista que muitas se encontram na
informalidade, há a exploração do trabalho doméstico infantil e o perfil das domésticas é
composto de mulheres que vivem uma vulnerabilidade socioeconômica.

6.10 O que é a Previdência Social?


A Previdência Social é uma instituição pública que serve como um seguro do
trabalhador, pois caso ocorra algo de grave a este que o deixe impossibilitado de trabalhar,
como morte, velhice, prisão, acidente, doença ou gravidez, a sua forma de sustento será
garantida. No entanto, o trabalhador terá que ser filiado, isto é, inscrever-se e contribuir
financeiramente. A Previdência vai oferecer treze benefícios diferentes aos seus assegurados,
incluindo aposentadorias, pensão por morte, salário-maternidade e auxílio-doença.

6.11 O corpo é meu, a cidade é nossa


O local da moradia do indivíduo deveria ser escolhido de acordo com a relação do
mesmo com o lugar e os seus interesses, a fim de um melhor aproveitamento do tempo e da
vida. No entanto, não é o que ocorre na maioria das vezes, tendo em vista que o urbanismo
cresce de acordo com a valorização econômica de cada local pelo capital. A partir dessa
lógica, os grupos de menor poder aquisitivo são excluídos dessas áreas, sendo obrigados a
construir moradias em lugares afastados do grande centro urbano. Isto significa que se criam
vários obstáculos para que a população pobre não participe dos processos de participação e
decidam o rumo das cidades.
Apesar de estar expresso nas legislações que o indivíduo faz parte da cidadania, que
tem direito à moradia e à cidade, não é garantido o exercício destes. As soluções dadas pelo
governo aos problemas urbanos continuam sendo ineficazes, como os despejos ilegais. As
mulheres também lutam para a concretização do seu direito de moradia, mas também pela
garantia de poder andar pelas ruas da cidade sem ser violada, sendo dona de seu próprio
corpo, e participar das decisões políticas.

6.12 Encarceramento feminino no Brasil: um olhar de gênero sobre a criminalização das


mulheres presas
Não é novidade que o patriarcado perpassa por todas as estruturas da sociedade. O
sistema penitenciário é uma das instituições que perpetua as opressões de gênero, apesar da
discriminação classista ser a mais visível. Isto é, analisar a criminalização da mulher no
sistema de justiça criminal significa compreender que a mulher enfrenta as mazelas do
sistema penal comuns a todos os presos, mas também a desigualdade de gênero como uma
questão adicional.
As figuras femininas acabam descumprindo com os papéis sociais impostos quando
começam a ser criminalizadas por crimes tidos como masculinos, visto que a ordem social
patriarcal atribui às mulheres delitos como aborto e infanticídio. Assim, as infratoras acabam
recebendo um tratamento mais severo que os homens por descumprirem os papéis de gênero.
A invisibilização da criminalização feminina acaba fazendo com que as mulheres tenham que
se adequar aos modelos tipicamente masculinos, sendo focados os problemas enfrentados
pelos homens presidiários, inviabilizando a dupla situação de violência para a mulher
provocada pelo sistema penal.

6.13 As mulheres atingidas por barragens e a violação dos direitos humanos no atual
modelo energético
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e outras entidades da sociedade
civil denunciam o modelo de implementação, desenvolvimento e planejamento das barragens,
questionando quais os reais interesses das instalações. Dados coletados por tais instituições
demonstram a dinâmica de violação de direitos humanos na construção de barragens, ao
expulsar milhares de pessoas de suas casas e terras, agravando ainda mais a situação de
desigualdade social vivenciada pelas mesmas. Tal situação se agrava ainda mais no caso das
mulheres, tendo em vista a discriminação de gênero.
Devido a divisão sexual do trabalho, as mulheres são um grande número nas
atividades informais e autônomas. Sendo assim, com a chegada das barragens, elas perdem
sua ocupação que gerava renda, sendo difícil retornar, tendo em vista que dependiam muito da
área onde já tinham vínculos. Além do mais, não são reconhecidas como atingidas pelas
barragens, pois comumente não possuem as terras em seus nomes, pois dependem dos
maridos, aumentando ainda mais sua invisibilidade. Torna-se necessário a organização das
mulheres a fim de transformar a realidade social, a partir da pressão do poder público na
inclusão de políticas públicas que auxiliem a população e impeçam a busca cega por lucro das
transnacionais.

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