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O Direito Romano, conforme expõe Pessôa[i], pode ser entendido como o conjunto de regras
jurídicas que vigoraram no Império Romano, desde a fundação da cidade de Roma, em 754
a.C. até o falecimento do Imperador Justiniano em 565 d.C. O autor salienta ainda que há
entendimento diverso, considerando o Direito Romano como as regras jurídicas contidas no
Corpus Juris Civilis, que é a compilação das leis reunidas em um só código (Codex).
De forma mais sintética, Luiz[ii] entende que o Direito Romano pode ser conceituado como
“conjunto ordenado cronologicamente ou não, das instituições e normas jurídicas de Roma.
Outros preferem dizê-lo as regras do CORPUS JURIS CIVILIS enquanto uns o definem como o
Direito Privado Romano”.
Comenta Xavier[iii] que muitos estudiosos ressaltam a vulgarização do Direito Romano, usando
como exemplo a confusão dos juristas com relação a conceitos elementares como posse e
propriedade, direitos reais e direitos pessoais, dando importância excessiva às questões
práticas de manejo do direito, mas que não faziam sentido sem o conhecimento da teoria
jurídica.
No período republicano foi então elaborada a famosa Lei das XII Tábuas. Explica Luiz[viii] que,
através da atuação de Terentilius Arsa (porta-voz da plebe), lutou-se pela formação de uma
comissão composta por dez membros, devendo esta redigir, no prazo de um ano, um direito
que amparasse patrícios e plebeus. Primeiramente foram apresentadas 10 tábuas de leis. No
entanto, após muita discussão e resistência por parte dos plebeus (que entendiam que elas
eram insuficientes), foram elaboradas mais duas, recebendo a aprovação de todos.
Segundo o referido autor, tal acontecimento “[...] é a primeira efetiva manifestação escrita a
inaugurar a era da supremacia do jus scriptum”. Salienta ainda o valor incomensurável pelo
que representa para a História do Direito, permitindo também a análise da mentalidade antiga,
sendo ainda o ponto inicial para o real e concreto desenvolvimento da ciência jurídica.
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A Lei das XII Tábuas é um monumento fundamental para o Direito que revela claramente uma
legislação rude e bárbara, fortemente inspirada em legislações primitivas e talvez muito pouco
diferente do direito vigente nos séculos anteriores[ix].
Importante destacar que existe na aludida Lei uma mistura de questões jurídicas e religiosas,
que se confundiam nesta fase arcaica do direito romano. Baseados em determinados princípios
religiosos, os legisladores julgavam-se capazes de ordenar a sociedade com relação à prática
de determinados atos ou abstenções rituais que atualmente são de livre escolha dos
indivíduos.[x]
No entanto, conforme corrobora Pessôa[xi], a Lei das XII Tábuas foi a maior conquista da
plebe, representando a codificação do direito civil romana com aplicação para todos. É a mais
importante lei republicana.
Apenas os cives (cidadãos romanos) gozavam do direito dos romanos, denominado jus civile.
Os estrangeiros (peregrini) estavam submetidos somente ao direito comum a todos os homens,
denominado jus gentium[xii]. Segundo entendimento de Luiz[xiii], o jus civile vem a ser o direito
próprio do cidadão romano, o mais antigo, o mais restrito e o mais rígido. O jus gentium,
surgido posteriormente, é aplicável a todos os outros povos, caminhando paralelamente ao jus
civile.
A sistematização do Direito Romano adquiriu uma maior relevância por mérito de Justiniano,
que desempenhou papel preponderante no desenvolvimento das letras jurídicas, reunindo em
apenas um código inúmeros textos de lei de todas as épocas. O direito de Justiniano foi
consolidado numa obra única, o Corpus Juris Civilis[xiv].
O Corpus Juris Civilis, segundo corrobora Luiz[xv], era denominado originalmente de Corpus
Juris. O Civilis foi acrescentado à época do Renascimento, visando distingui-lo do Corpus Juris
Canonici.
O Corpus Juris Civilis compõe-se de quatro partes. A primeira é constituída pela Institutas de
Justinianus, compêndio do Direito Romano, dividido em quatro livros, à semelhança das
Institutas de Gaius. A segunda parte é constituída pelo Digesto ou Pandectas, conjunto de
fragmentos de jurisconsultos clássicos, distribuídos em cinquenta livros. A terceira parte é
constituída pelo Codex, conjunto de leis dos Imperadores Orientais, distribuídas em doze livros.
A última parte é composta das Authenticae seu Novellae Constitutiones, distribuídas em nove
Collationes[xvi].
Os períodos jurídicos da história romana são apresentados desta maneira por Maciel e
Aguiar[xviii]:
a) Época Antiga ou Arcaica (até meados do século II a.C.): compreende o período desde a
fundação de Roma até meados do século II a.C. Tem como principais características um direito
de tipo arcaico, primitivo, direito de uma sociedade rural baseada sobre a solidariedade clânica
e caracterizado pelo seu formalismo e pela sua rigidez, período em que o centro do saber
jurídico estava nas mãos dos pontífices. O Estado tinha funções limitadas a questões
essenciais para sua sobrevivência: guerra, punição dos delitos mais graves e a observância
das regras religiosas. Os cidadãos romanos eram tidos mais como membros de uma
comunidade familiar do que como indivíduos. A defesa privada era largamente utilizada, uma
vez que a segurança dos cidadãos dependia mais do grupo a que pertenciam do que do
Estado.
b) Época Clássica: (cerca de 150 a.C. a 284): caracteriza-se por ser o direito de uma sociedade
evoluída, individualista, fixado por juristas numa ciência jurídica coerente e racional. É o
período do processo formular, em que a produção do direito está nas mãos dos pretores, ao
lado de importantes jurisconsultos.
c) Época do Baixo Império: direito dominado pelo absolutismo imperial, com grande atividade
legislativa dos imperadores e expansão do Cristianismo. O Imperador e seus juristas ganham
destaque nesse cenário, sendo partícipes na queda do Império Romano do Ocidente, que se
dará em 476, com o ápice das invasões bárbaras.
Corroboram Castro e Gonçalves[xxii] que o Sistema Jurídico da Civil Law, de forma utópica,
caracteriza-se pelo fato de as leis serem a pedra primária da igualdade e da liberdade, uma vez
que objetivava proibir o juiz de lançar interpretação sobre a letra da lei, fornecendo, para tanto,
o que se considerava como sendo uma legislação clara e completa, onde ao magistrado
caberia tão somente proceder à subsunção da norma, solucionando, dessa forma, os litígios,
sem que haja uma necessidade premente de se estender ou restringir o alcance da lei, e sem
que exista a ausência ou conflito de normas. Neste sentido, ao se manter o juiz amarrado ao
escrito na lei, obter-se-ia a segurança jurídica, elemento este indispensável às decisões
judiciais. Tal segurança se originaria na própria lei que mitiga a capacidade interpretativa do
juiz, de maneira que este não favorecesse a um dos litigantes e prejudicasse o outro.
O referido sistema jurídico tem estrutura diversa do direito europeu continental e dos países
seguidores da tradição do direito codificado. Em que pese inspirados por princípios análogos
(cristianismo, democracia e individualismo), os métodos técnicos e formais são distintos entre
tais sistemas. O direito escrito é mais limitado, concedendo-se amplas esferas à tradição
jurisprudencial, não sendo prefixado em códigos rígidos como na tradição do direito
continental.[xxiv]
Conforme Maciel e Aguiar[xxv], o Common Law vem a ser um direito jurisprudencial, elaborado
pelos juízes reais e mantido em virtude da autoridade reconhecida aos precedentes judiciários.
Ressaltam os autores que, excetuando-se o período de sua formação, a lei não desempenha
qualquer papel na evolução desse sistema jurídico.
De acordo com Soares[xxviii], a distribuição da justiça era considerada como uma prerrogativa
real. Os reis outorgavam tal prerrogativa a funcionários denominados judges, que
perambulavam pelo reino representando o Rei. Eles ouviam as queixas e davam um writ, que
consistia numa ação nominada e com fórmulas fixadas pelos costumes, correspondendo a um
remédio adequado à situação.
O sistema de writs foi criado com o objetivo principal de conceder a qualquer cidadão o direito
de pleitear um pedido ou reclamação ao rei. Teve também, como objetivo mediato, a
sobreposição da jurisdição real frente às inúmeras jurisdições locais, visando à uniformização
das decisões em todo o reino, tática esta que deu certo[xxix].
Houve períodos em que o Rei, em virtude de guerras internas, não podia reunir seu Conselho e
julgar os recursos em matéria de Common Law. Assim, ganha relevância a figura do Chanceler
e de sua Justiça. A frequência de procedimentos excepcionais firmou a prática de uma justiça
paralela às cortes de Westminster, formando um corpo de normas, a Equity[xxxi].
A Equity não pode ser traduzida por eqüidade, pura e simplesmente. São normas que se
superpõem ao Common Law. A Equity origina-se de um pedido das partes da intervenção do
rei em uma contenda que decidia de acordo com os imperativos de sua consciência. Tem por
escopo suprimir as lacunas e complementar o Common Law. As normas da Equity foram obras
elaboradas pelos Tribunais de Chancelaria. O chanceler, elemento da coroa, examinava os
casos que lhe eram submetidos, com um sistema de provas completamente diferente do
Common Law. O procedimento aí é escrito, inquisitório, inspirado no procedimento
canônico[xxxii].
Explicam Maciel e Aguiar[xxxiii] que o chanceler decidia visando à equidade, sem levar em
consideração as regras do processo ou mesmo das origens do Common Law. A aplicação da
equidade indicava maleabilidade das normas, ajustando-se aos casos concretos, realizando-se
a justiça. Segundo os mesmos autores, o sistema da Equity permaneceu apartado do Common
Law durante alguns séculos, ocorrendo a fusão dos dois tipos de jurisdição apenas no século
XIX.
Além da Common Law e da Equity, explica Mariani[xxxiv] que existem também na Inglaterra, e
em crescente quantidade, leis (statues), no sentido em que tal palavra é familiar dentro do
sistema romano-germânico. Contudo, este statue law, qual seja o direito contido nas leis, é,
num primeiro momento, um direito excepcional a aplicar restritivamente, servindo apenas para
modificar pontos concretos do direito tradicional.
4 DIREITO ISLÂMICO
Num primeiro momento, importante destacar o comentário de Mariani[xxxvi], o qual ressalta
que os povos que não estiveram expostos à influência do Ocidente concebem o ordenamento
da sua sociedade a partir de outros ângulos. Em determinados casos, é a religião que constitui
a base do referido ordenamento. É o caso do Direito Islâmico.
Para o referido autor, tal sistema deriva de uma religião difundida, o que o distingue dos
demais sistemas, quais sejam os abordados neste estudo. Trata-se de uma das ramificações
da religião islâmica. A concepção islâmica vem a ser de uma sociedade basicamente
teocrática, onde o Estado existe apenas para servir à religião. Por se embasado numa religião,
somente pode ser compreendido por que possua um mínimo de conhecimento acerca dessa
religião e da respectiva civilização. A principal fonte do Direito muçulmano é o Corão, livro
sagrado dos árabes.
Expõem Batalha e Rodrigues Netto[xxxviii] que o Corão, palavra que significa recitação, leitura,
proclamação, é considerado a palavra de Allah. É uma deontologia dos devedores do homem
em relação a Deus e aos outros homens. O Corão agrupa religião, moral e direito. Já as
atitudes, palavras e condutas de Mahomet (Maomé) constituem os hadits, que são as tradições
orais. O conjunto dos hadits constitui a Sunna, ou Via Reta.
Os mesmos autores explicam que o Corão e a Sunna formam a Lei (shar ou sharia). Não
havendo solução no Corão ou na Sunna, ocorre um processo legislativo denominado Idjma
(acordo de companheiros e, mais tarde, dos seus discípulos, ou dos poderes) ou o Idjtihad
(esforço pessoal, isolado, do teólogo). Salientam ainda que o poder individual de criar a norma
jurídica foi reservado a um reduzido número de teólogos, juristas, extinguindo-se no século X
d.C.
5 DIREITO SOCIALISTA
Segundo Venosa[xl], os direitos socialistas constituíam-se em um terceiro sistema, juntamente
com o sistema romano-germânico e do sistema Common Law. Vale dizer que todos os estados
socialistas pertenciam ao sistema romano-germânico antes da adoção do chamado sistema
socialista.
“O princípio que norteou todo o direito soviético foi o princípio da ‘legalidade socialista’: o direito
deve servir aos interesses da política socialista”[xliv]. Nesse sentido, explica Venosa[xlv] que o
marxismo-leninismo representava para a União Soviética muito mais do que uma doutrina
filosófica representa para outros. A doutrina deles era considerada como oficial, regendo todos
os campos, da economia ao Direito. Cabia aos juristas soviéticos criar uma nova ordem, com o
intuito de criar condições para que, no futuro, as ideias de Estado e Direito desaparecessem.
A distinção entre bens móveis e imóveis passou a ter interesse meramente teórico para o
direito civil, posto que a propriedade imóvel passou a integrar o direito público. Por outro lado, o
direito dos contratos assumiu aspectos diversos dos apresentados pelo chamado direito
“burguês”, passando a constituir modalidade de regulamentação administrativa. A família, cujos
laços haviam sido diluídos na primeira fase revolucionária, voltou a integrar-se sob a legislação
stalinista.[xlvi]
O direito privado, tal como é compreendido, desapareceu. A propriedade privada era restrita,
de forma que se pode dizer que, no sistema soviético, o direito é tão-somente público. O direito
buscava afastar-se de todas as normas que, no entendimento dos revolucionários, seriam
“burguesas”.[xlvii]
Salientam Batalha e Rodrigues Netto[xlviii] que o direito soviético está muito aquém do ideal
revolucionário de construção de apenas um conjunto de regras técnicas de organização social
em uma sociedade sem classes, desprovida de indivíduos sem impulsos egoísticos e com
ampla visão dos condicionamentos sociais. O direito era então considerado como instrumento
a serviço da classe dominante visando à implantação da sociedade sem classes.
Sob todos os aspectos, o direito soviético era um direito revolucionário, visando ao rompimento
com todos os laços do passado. Contudo, a verdade é que os soviéticos não conseguiram se
libertar dos fundamentos do sistema romano-germânico. A lei continuava como fonte
fundamental do direito soviético, porém interpretada conforme os interesses e orientações
políticas dos governantes[xlix].
Explica Venosa[l] que o fim da União Soviética no final da década de 1980 veio a desmoronar
todo o arcabouço político e econômico, alterando necessariamente o sistema jurídico. Em
diversos países do leste europeu, seu sistema jurídico certamente retorna às origens. Para o
autor, o direito socialista expõe mais uma face do fracasso comunista, da imposição de leis
pela força.