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III Seminário Nacional e I Seminário Internacional

“O Papel do Geógrafo no Contexto social Atual”

IMAGENS DO NORDESTE: A (DES) CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


TERRITORIAL NORDESTINA

Hiram de Aquino Bayer


Graduando de Geografia Bacharelado
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
hirambayer@gmail.com

Profª. Drª Eugênia Maria Dantas


Professora do Departamento de Geografia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
eugeniadantas@yahoo.com.br

Resumo
O Nordeste brasileiro é uma região marcada fortemente por um imaginário pautado em
estereótipos imagético-discursivos que fazem emergir um pertencer e um se sentir pertencido
ao território por parte dos nordestinos e dos originários de outras regiões. O território rígido
de um Nordeste pautado no passado, no saudosismo, se contrapõe a um “outro” Nordeste,
pouco difundido pela mídia. O presente trabalho tem por objetivo discutir a construção,
desconstrução e reconstrução da identidade territorial simbólica nordestina. Para isso,
utilizamos como elementos elucidadores o filme Central do Brasil – produção
cinematográfica brasileira de 1998 – e algumas imagens que retratam esse “novo” Nordeste.

Palavras-chave: Nordeste; Identidade; Território.

INTRODUÇÃO

Algumas particularidades se apresentam no Nordeste de forma latente a distinguindo das


demais regiões – o que de certa forma é natural, já que a diferenciação de áreas é fator
determinante para a formação de uma região. As músicas, as danças, o folclore, os aspectos
naturais, são elementos elucidadores de um imaginário a cerca dessa região que extrapola os
limites de seu território e passam a povoar a mente tanto dos próprios nordestinos, como do
restante da população. Esse pensamento sobre, formado a partir de estereótipos imagético-
discursivos, é responsável pelo desenvolvimento de um sentimento de pertencimento ao
território, tornando preponderante na formação simbólica da identidade sócio-territorial
nordestina.
Em contrapartida, há outro Nordeste pouco difundido pela mídia e ainda pouco arraigado no
sentimento coletivo que se mostra de forma bastante intensa na atualidade. Esse “novo”
Nordeste possui imagens e discursos próprios que se contrapõe ao discurso retrógrado,

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saudosístico, que lhe tem sido peculiar. Dessa forma, o presente passa a caminhar lado a lado
com o passado, que se torna, igualmente, presente.
O primeiro Nordeste que falamos é o principal produtor de significados que são difundidos e
tornam-se a base para a identidade desse povo com seu território. O segundo surge como uma
potencialidade e contraponto ao outro na medida em que imprime novas realidades distintas
das convenientes.
O presente trabalho tem como objetivo a discussão da construção, desconstrução e
reconstrução simbólica da identidade territorial nordestina a partir da análise de imagens e
discursos que são postos a cerca da região. A pesquisa torna-se relevante por tratar da
formação identitária de um povo com uma determinada localidade, indo de encontro às teses
do fim das identidades locais devido ao período de globalização. Além disso, utiliza-se, aqui,
um instrumental de certa forma ainda pouco utilizado, mas que oferece uma gama de
possibilidade àqueles que desejam analisar realidades: as imagens sejam elas estáticas ou em
movimento.

METODOLOGIA

Para desenvolver a referida pesquisa utilizamos dois percursos metodológicos que nos
permitiram a construção de argumentos sobre a formação de uma identidade territorial
nordestina. Primeiramente, realizamos revisão bibliográfica a fim de compreendermos de
modo abrangente a formação da identidade territorial nordestina; seu início, os fatores
preponderantes para sua formação e como ela acontece na atualidade. Em um segundo
momento procuramos analisar essas informações à luz das imagens e discursos vinculados a
cerca da região. Nesse segundo percurso enviesamos por dois caminhos. Primeiro,
escolhemos como objeto de análise o filme “Central do Brasil” – aqui concebido não apenas
como representação de realidades, mas também como formadora dela – por acreditarmos ser
ele tanto um espelho que reflete os estereótipos do Nordeste, como um produto desses
estereótipos. Depois, procuramos algumas imagens atuais do Nordeste que nos mostrasse um
outro lado, distante dos estereótipos, mas que retratam a mesma região.

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RESULTADOS

Primeiramente devemos ter em mente que o território é concebido a partir de dois


pressupostos: o material e o simbólico. Esses dois componentes não devem ser vistos de
forma separada, pelo contrário, são indissociáveis. Para Haesbaert (2007), o território se
mostra, ao mesmo tempo, funcional e simbólico, na medida em que as relações de poder
apresentam um papel tanto na realização de “funções”, como na produção de “significados”.
O Nordeste, dessa forma, insere-se no contexto do território produtor de significados. Apesar
da tese do fim dos territórios, resultado de uma sociedade globalizada, o Nordeste permanece
como uma unidade que se enraíza a partir de discursos e ações que a torna perene no cenário
nacional. Pertencer à região ainda é um elemento que persiste e resiste a tal processo.
Pertencer a um lugar faz parte de uma construção imagético-discursiva que se realiza,
cotidianamente, por meio de estratégias e símbolos que tecem a trama do poder. Para
Bourdieu (2006), o poder simbólico é “um poder de construção da realidade que tende a
estabelecer uma ordem gnoseológica”. Esse poder simbólico seria responsável por uma
espécie de homogeneização (pelo menos em parte) do sentido imediato do mundo, no que
Durkheim, citado ainda pelo autor, chamaria de conformismo lógico. No Nordeste, a
formação de um imaginário está tramada com os fios de uma “identidade” forjada pela
dinâmica de uma natureza hostil e de uma “doença”, chamada de pobreza que não tem cura
(ver imagens 1 e 2).

Figura 1:Imagem da seca no Nordeste no filme "Central do Brasil"


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Fonte: Imagem retirada diretamente do filme “Central do Brasil”.

Figura 2: O Nordeste atrasado de "Central do Brasil".


Fonte: Imagem retirada diretamente do filme “Central do Brasil”.

As duas imagens a cima demonstram bem alguns dos estereótipos difundidos a cerca do
Nordeste. A primeira imagem retrata um ambiente ríspido, seco, sem vegetação, que parece
não chover a meses. A seca é um elemento comum nas descrições sobre o Nordeste, assim
como a pobreza, visto na segunda imagem, onde é retratado casas humildes, chão sem
nenhum tipo de cobertura, a cerca e a porteira dão a tônica desse imaginário sobre um
Nordeste atrasado, pouco desenvolvido.
O pertencer pautado nos elementos identitários foi ultrapassando o tempo e suas
transformações, de maneira que o Nordeste foi se constituindo como um território da saudade.
O olhar voltou-se sempre para trás, visando destruir os germes transformadores que tendiam a
arruinar as imagens perenes de sua regionalidade. Para Albuquerque Jr. (2011) trata-se de
uma invenção territorial que começa a ser lapidado há muito tempo, com diversos
movimentos que ocorrem nesse sentido (o Congresso Regionalista de 1926 em Recife talvez
tenha sido o mais emblemático).
O Nordeste passou a ser pensado e concebido a partir de uma necessidade de se criar uma
identidade para essa região. A forma de fazer os indivíduos do presente se sentirem
pertencentes a esse território se deu sobre bases passadas, buscou-se no passado o presente do
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Nordeste. Os principais difusores dessa identidade foram os próprios artistas e intelectuais


nordestinos que ajudaram a criar e difundir esse imaginário. O Nordeste passa a ser, portanto,
um território sumariamente de clichês (ver imagem 3 e 4).

Figura 3: Pau-de-Arara, ilustrando a carência do transporte no Nordeste em "Central do Brasil"


Fonte: Imagem retirada diretamente do filme “Central do Brasil”.

Figura 4: A fé do nordestino mostrada em "Central do Brasil"


Fonte: Imagem retirada diretamente do filme “Central do Brasil”.

A primeira imagem a cima mostra, ainda na tônica do Nordeste atrasado, o pau-de-arara. Esse
tipo de transporte é pouco utilizado na atualidade, mas continua como símbolo nordestino. A

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segunda imagem retrata a tão conhecida “fé do povo nordestino”, constituindo-se em um forte
elemento simbólico desse Nordeste.
As quatro imagens postas retratam e nos permitem realizar uma extrapolação das imagens e
discursos produzidos e reproduzidos a cerca da região. Todas elas são, essencialmente, de
clichês no qual nos mostram com clareza como o estereótipo e realizado. Assim, tanto os
nordestinos se veem nessas imagens, como também os indivíduos de outras regiões
relacionam o nordestino com “realidades”.
É importante salientar que quando utilizamos as imagens fílmicas devemos sempre pensar na
tríade produção-circulação-consumo. Dessa forma, devemos analisar para quem essas
imagens estão sendo repassadas. Acreditamos ser a produção fílmica um produto consumido,
sobremaneira, por jovens, mais dispostos a ir ao cinema, se deslocar de casa etc. Isso leva-nos
a crer que grande parte das imagens e dos discursos tecidos sobre o Nordeste têm como alvo
um público mais jovem, fazendo com que haja uma perpetuação desses estereótipos.
A despeito de tudo isso há um Nordeste que vai além dos estereótipos postos, um Nordeste
que se desenvolve a cada dia que passa, um Nordeste de outras imagens, um Nordeste do
“também” e não do “apenas”. De acordo com Albuquerque Jr. (2011) a década de trinta
marcou a “descoberta” de outro Nordeste, “um Nordeste que olhava sem saudade para a casa-
grande, que sentia o mesmo desconforto com o presente, mas que também virava as costas
para o passado, para olhar em direção ao futuro”. Hoje, o Nordeste pode ser visto com um
novo olhar, com respeito ao passado, sem jamais esquecê-lo, considerando seu presente, as
coisas que estão acontecendo, atentando mais para outras faces da realidade (ver imagem 5 e
6).

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Figura 5: Vista aérea da cidade de Recife-PE.


Fonte: http://brasilimperdivel.tur.br

Figura 6: Vista aérea da cidade de Fortaleza-CE.


Fonte: http://diariodonordeste.globo.com

Estamos tratando aqui de um Nordeste do “também” e não do “apenas”. Obviamente, se as


imagens estão sendo postas é porque elas existem e não se pode, nem se deve, fechar os olhos
para isso. Pelo contrário, é necessário olha com criticidade para essa realidade. Mas também
faz-se necessário vislumbrar um Nordeste diferente do comumente propagado.

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Figura 7: Complexo hoteleiro na Via Costeira, Natal-RN.


Fonte: : http://naesquinadobrasil.blogspot.com.br/2008/06/passeiando-na-esquina_15.html

Figura 8: Vista aérea da Cidade de Juazeiro do Norte-CE, situada na região do Cariri Cearense, o "oásis
do sertão".
Fonte: http://www.cariri.ufc.br/portal/index.php?Itemid=46&id=34&option=com_content&task=view

Em relação a esse “novo” Nordeste utilizamos as quatro imagens a cima para ilustrar e
acionar a percepção sobre as mudanças na região. As duas primeiras imagens são uma vista
aérea de duas das maiores cidades da região, Recife-PE e Fortaleza-CE, respectivamente. As
duas cidades figuram entre as maiores do país. Dá para se ter uma idéia da imensidão dessas
cidades através das imagens. A terceira diz respeito ao complexo hoteleiro em Natal-RN,
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situado na Via Costeira. A referida imagem ilustra bem a situação de desenvolvimento de


várias localidades do Nordeste que passa a receber cada vez mais turistas. A última imagem é
a cidade de Juazeiro do Norte-CE, situada na região do Cariri Cearense, tida por vários
autores como o “oásis do sertão” devido ao seu grande crescimento econômico e a suas
potencialidades.
De acordo com a tese defendida por Haesbaert (2004) não há processos de desterritorialização
(no máximo uma territorialização precária), mas sim um processo contínuo de
reterritorializações. Ou seja, no momento em que um indivíduo se desterritorializa
imediatamente, volta a se territorializar. A dicotomia que apresentamos entre o Nordeste do
passado e o Nordeste do presente podem ser pensados a partir desses processos. Há aqueles
indivíduos que se territorializam no Nordeste baseados em pressupostos saudosístico, na
saudade do tempo que não volta, no Nordeste do passado. Há outros indivíduos, por sua vez,
que se identificam com o Nordeste “atual”, que não se sentem pertencentes aos processos do
passado, mas sim na realidade presente. Há, ainda, as pessoas que criam sua identidade com
o Nordeste a partir desses dois pontos; tanto se identificam com as imagens e discursos do
passado, como com os do presente.
A identidade nordestina está pautada, essencialmente, nos estereótipos imagético-discursivos
formadores de um território da saudade. Contudo, as mudanças, não tão recentes assim, que
nos fazem pensar em uma série de novas imagens para um velho Nordeste, criam a
possibilidade de outras imagens e discursos mais atuais se fazerem presentes na formação
dessa identidade territorial nordestina. Assim, partimos para um exercício dialógico entre
passado e presente, fazendo emergir no Nordeste um processo de multiterritorialidades
(HAESBAERT, 2004) que versam entre esses dois momentos, criando territorialidades que
ora se vê em aspectos do passado, ora em realidades do presente e, até mesmo, atuando de
forma concomitante.

CONCLUSÃO

Como pudemos ver os discursos e as imagens postas historicamente ajudaram a forjar o que
hoje chamamos de identidade nordestina. Essa identidade sócio-territorial foi formada,
sobretudo, a partir de estereótipos imagético-discursivos a cerca da região e de seus
habitantes. Esses estereótipos não apenas habitam o imaginário daqueles que se encontram em

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outras regiões, como também povoam a cabeça dos próprios nordestinos, inclusive sendo eles
próprios um dos principais formadores desses estereótipos.
Contudo, as transformações vividas pela região faz surgir outra possibilidade de discursos e
imagens potenciais para que sejam relacionadas aos habitantes dessa região. Obviamente,
ainda é cedo para se falar em uma identidade pautada basicamente nessa nova realidade. O
Nordeste continua sendo uma espécie de território rígido, inventado historicamente, mas que
oferece outras alternativas àqueles que desejam criar uma identidade sobre outra perspectiva.
Assim, passamos a pensar o Nordeste como uma região que disponibiliza uma infinidade de
símbolos identitários, que versam entre o antigo e o novo, o passado e o presente, o arcaico e
o desenvolvido. O Nordeste, então, seria palco de multiterritorialidades, onde ora os
indivíduos se territorializam sobre aspectos do passado, ora sobre aspectos do presente e,
ainda, criando suas territorialidades a partir dos dois aspectos.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e Outras Artes.


São Paulo: Cortez, 2011. 5 ed.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 2006. 9 Ed.

CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles. Rio de Janeiro: Central do Brasil Produções,
1998.

CLAVAL, Paul. A Geografia Cultural. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2001.


COSTA, Maria Helena B. V. Espaços de Subjetividade e Transgressão nas Paisagens
Fílmicas. Pro-posições, Campinas, v. 20, n. 3, p. 109-119, 2009. Disponível em:
<http://mail.fae.unicamp.br/~proposicoes/edicoes/sumario46.html> Acesso em: 28 jul. 2012.

HAESBAERT, Rogério. Des-territorialização e Identidade: a rede “gaúcha” no Nordeste.


Niterói: EDUFF, 1997.

_________________. Território e Multiterritorialidade: um debate. GEOgraphia, Rio de


Janeiro, ano IX, nº 17, p. 19-46, 2007. Disponível em:
<http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/viewArticle/213> Acesso em:
27 jul. 2012.

___________________ . O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à


multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

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