Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
ABSTRACT This study aimed to systematically review the scientific production on interventions
of food and nutritional education with adults individuals in the area of Primary Health Care in
Brazil, in the period from 2006 to 2016.11 articles were selected which responded to the egibili-
lty criteria. A brief description of the theoretical-methodological bases was observed, limiting
the production of interventions. The educational practices developed have little focus on health
promotion and strong classical methodological tendency. It is necessary to perform qualitative
studies with perception of autonomy and that will increase the use of active methodologies in the
intervention processes.
KEYWORDS Food and nutrition education. Primary Health Care. Health service.
1 Universidade Federal da
Bahia (UFBA), Instituto
Multidisciplinar em
Saúde (IMS) – Vitória da
Conquista (BA), Brasil.
mylah12@yahoo.com.br
2 Universidade Federal da
SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. 114, P. 932-948, JUL-SET 2017 DOI: 10.1590/0103-1104201711421
Estratégias de educação alimentar e nutricional na Atenção Primária à Saúde: uma revisão de literatura 933
algum tipo de intervenção nesse âmbito, ou no estudo de Ramos, Santos e Reis (2013) que,
seja, não realizaram ou avaliaram atividades dos artigos selecionados, fundamentou-se
de educação nutricional na atenção primária a categorização de periódicos no Qualis/
ou foram desenvolvidos com crianças, ado- Capes, tendo como parâmetro a área de ava-
lescentes, gestantes e lactantes e/ou que não liação de nutrição, sendo que as revistas que
foram desenvolvidos no Brasil. possuem classificação A1 representavam o
Foram incluídas publicações em portu- maior indicativo de qualidade dos veículos
guês e inglês, sendo rejeitados os artigos de divulgação, e C, o menor indicador.
repetidos nas bases de dados. A seleção
dos estudos levantados foi categorizada de
acordo com o tipo de estudo, objetivos, pú- Resultados
blico-alvo, local da pesquisa e ano de publi-
cação do artigo, bem como as revistas em que A busca foi realizada, segundo estratégia
estavam relacionadas, metodologia aplicada predefinida, resultando em um achado de
e seus principais resultados. 2.506 estudos, referenciados em três bases
dados: SciELO, Biblioteca Virtual em Saúde
e o Periódico Capes, por meio de descrito-
Avaliação dos artigos res em inglês e português, publicados entre
segundo a classificação dos os anos de 2006 e 2016, sendo encontrados:
200 estudos na base SciELO, 1.364 estudos
periódicos na base Biblioteca Virtual em Saúde e 942
estudos na base Periódico Capes. Deste total
Com o intuito de avaliar as revistas a que os de estudos, foram selecionados 11 trabalhos
estudos estavam veiculados, utilizou-se a sobre intervenções em EAN na APS em indi-
classificação de periódicos do Qualis/Capes, víduos adultos com idade acima de 20 anos.
tendo como referência a área de avaliação de A figura 1 apresenta o fluxograma da seleção
nutrição e saúde coletiva, como pode ser visto dos artigos.
Para a identificação das revistas na qual Qualis B2, 36,4% com Qualis B3 e 18,2% dos
os artigos foram publicados utilizou-se o artigos com Qualis B4 e B5, não havendo re-
sistema de classificação Qualis/Capes. Dos vistas que possuíssem classificação A1e C,
artigos selecionados, 45,4% apresentaram como está categorizado no quadro 1.
Os estudos que elaboraram alguma inter- os estudos encontrados iniciam-se com o ano
venção com base na educação nutricional de publicação em 2011, não sendo encontra-
realizada dentro da APS no Brasil, e que ava- dos artigos anteriores a esse período. Quanto
liaram os resultados após a execução, foram ao local em que os estudos foram executa-
caracterizados no quadro 2 quanto: ao autor, dos, nota-se que 81,8% dos trabalhos foram
ao ano de publicação, ao local do estudo, ao desenvolvidos no estado de Minas Gerais,
tipo de estudo e à revista em que foram pu- 9,1% no estado de São Paulo e 9,1% no estado
blicados. Observa-se que, mesmo os artigos de Sergipe, demonstrando uma predominân-
sendo refinados no período de 2006 a 2016, cia na região Sudeste.
Quadro 2. Estudos de intervenção em educação alimentar e nutricional em adultos atendidos na APS no Brasil quanto ao local de realização, tipo de
estudo e revista na qual foram publicados no País no período de 2006 a 2016
Quadro 2. (cont.)
Silva et al. 2012 Belo Horizonte (Minas Gerais) Estudo de intervenção Revista de APS – Atenção Primária à Saúde
Silva et al. 2013 Belo Horizonte (Minas Gerais) Intervenção aberta e não controlada Revista de Nutrição
Silva; Quintão 2015 Muriaé (Minas Gerais) Intervenção do tipo longitudinal, qualita- Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e
tiva e quantitativa Emagrecimento
USP (Universidade de São Paulo); APS (Atenção Primária à Saúde).
Quadro 3. Categorização dos artigos que apresentam estudos de intervenção em educação alimentar e nutricional em adultos atendidos na APS no
Brasil quanto aos objetivos, metodologia e principais resultados, publicados no Brasil no período de 2006 a 2016
Metodologia
Objetivos Principais resultados
Público-alvo Período Intervenção Avaliação da intervenção
Deus et al., 2015
Avaliar o impacto de inter- 124 mulheres 11 meses Participantes expostas à Antropometria e indicadores Impacto positivo no perfil
venção nutricional associa- participantes do intervenção nutricional com dietéticos antes da inter- alimentar e antropomé-
da à prática de exercícios Programa Acade- o uso de ilustrações por venção e após 11 meses de trico.
físicos sobre o perfil ali- mia da Saúde de meio de materiais educati- seu início.
mentar e antropométrico Belo Horizonte, vos e lúdicos, como réplicas,
de usuárias do Programa MG. fotos de alimentos e medi-
Academia da Saúde no das caseiras, além de jogos
município de Belo Horizon- educativos e teatro, bem
te (MG). como da atividade física
pelo educador físico.
Mendonça; Lopes, 2012
Avaliar o efeito de inter- 167 usuários que 7 meses A intervenção contou com Após a intervenção, houve a Adoção de hábitos ali-
venções nutricionais rela- realizavam exer- a avaliação por meio de reavaliação antropométrica, mentares saudáveis e
cionados com os exercícios cício físico regular anamnese nutricional, an- aferição da PA e aplicação redução da CC eadequa-
físicos regulares e hábitos na academia tropometria e aferição da do questionário ‘Como está ção da PA sistólica.
alimentares, sobre asmedi- desaúde. PA,atendimento nutricional sua alimentação?’.
das físicas de usuários de coletivo e individual e a
um serviço de promoção prática de exercício físico.
da saúde, a Academia da
Saúde de Belo Horizonte –
Minas Gerais, Brasil.
Quadro 3. (cont.)
Quadro 3. (cont.)
Silva et al., 2012
Realizar intervenção nutri- 15 usuários dos 3 meses A educação nutricional se No primeiro e último encon- Foram verificadas modi-
cional integrada à prática serviços da UBS. deu em6 encontros, com tro foi aplicado o questioná- ficações importantes nos
de atividade física com oficinas educativas e de rio ‘Como está sua alimen- hábitos alimentares, na
usuários hipertensos que como cultivar hortas em tação?’, realizada avaliação qualidade de vida, com
praticam Lian Gong em locais pequenos, palestras antropométrica e da PA. redução significativa da
uma UBS de Belo Hori- dialogadas sobre alimenta- CC e da RCQ.
zonte. ção saudável e adequada na
prática de atividade física.
Silva et al., 2013
Avaliar as oficinas, com O número de 4 meses As intervenções educacio- Realizado com aplicação de A intervençãoteve poten-
foco na aquisição de in- participantes nais foram por meio de ofici- dois questionários: um para cial para a aquisição de
formações em nutrição e variou entre 71 e nas, baseadas nos 10 passos a avaliação da aquisição de informações em nutrição
na percepção de mudança 132 usuários. para uma alimentação informações e outro após e a adoção de hábitos
de hábitos alimentares de saudável e o guia alimentar três meses do encerra- alimentares saudáveis,
usuários de uma Academia para a população brasileira, mento das atividades, de como a redução do con-
da Cidade (MG) e avaliar dinâmica de perguntas e seguimento autopreenchido sumo de óleos, açúcares
a viabilidade de executar respostas, uso da pirâmide acerca de sua percepção e refrigerantes e aumento
essa intervenção nesse alimentar e demonstração quanto às mudanças ocorri- do consumo de frutas e
serviço, considerando-se da recomendação de sal, das no período. hortaliças.
sua estrutura física e seus açúcar, além de contar com
recursos disponíveis. os exercícios físicos em três
dias da semana com dura-
ção de uma hora.
Silva; Quintão, 2015
Avaliar a eficácia da 70 pessoas aten- 4 meses As ações de educação Aplicação do questionário Houve melhora no estado
intervenção nutricional didas em quatro nutricional foram realizada- com perguntas sobre os nutricional dos partici-
nas mudanças do hábito UBS do município sem sete encontros. Após hábitos alimentares e aferi- pantes, com diminuição
alimentar e no perfil antro- de Muriaé entre uma semana, foi entregue a ção das medidas antropo- em todos os índices ou
pométrico de participantes adolescentes, cada participante um plano métricas. medidas.
dos grupos ‘De bem com a adultos e idosos alimentar. Os próximos
balança’ assistidos nas UBS de ambos os encontros foram realizados
do município de Muriaé- sexos. quinzenalmente para avalia-
-MG. ção antropométrica e parti-
cipação nas palestras sobre
alimentação e saúde.
HAS: (Hipertensão Arterial Sistêmica); IMC (Índice de Massa Corporal); CC (Circunferência da Cintura); DM (Diabetes Mellitus); PA (Pressão Arterial); VD (Visita
Domiciliar); MG (Minas Gerais); UBS (Unidade Básica de Saúde); RCQ (Razão Circunferência Quadril); GF (Grupo Focal).
conhecimento em nutrição e hábitos alimen- temática nos últimos anos, sendo reforçada
tares e aferição da pressão arterial. Outros com o ‘Marco de Referência de Educação
métodos de análise das intervenções também Alimentar e Nutricional para as Políticas
foram utilizados em alguns trabalhos, em Públicas’, publicado no ano de 2012, contri-
menor expressão como o grupo focal relata- buindo para o aumento progressivo e signi-
do em apenas um estudo. ficativo do interesse sobre o tema e para a
Os estudos selecionados descreveram valorização de suas ações.
como resultados a melhora do perfil ali- É indiscutível a crescente importância da
mentar, das medidas antropométricas, do EAN atualmente. Entretanto, das publica-
estado nutricional dos usuários, bem como ções encontradas, nenhuma estava veiculada
dos parâmetros bioquímicos, quanto à glice- em revista que apresentasse o Qualis/Capes
mia, colesterol, da pressão arterial, além de no estrato indicativo de qualidade mais
melhorar a adesão ao tratamento quanto à levado. Tal fato nos leva a alguns questiona-
hipertensão, diabetes e obesidade. Todavia, mentos quanto à relevância atribuídos a essa
percebe-se uma fragilidade quando se ana- temática no meio cientifico, já que não foram
lisam as questões referentes às estratégias encontradas produções em revistas que esti-
metodológicas de EAN, visto que 63,6% dos vessem classificadas, na área avaliada, com o
estudos possuem um período de interven- maior grau de qualidade que o Qualis/Capes
ção menor ou igual a 5 meses, não propondo determina. Fato semelhante foi percebido
um trabalho contínuo e permanente como também no estudo de Ramos, Santos e Reis
preconizado. Além disso, apenas um estudo (2013), em que foi realizada uma revisão bi-
realizou avaliação qualitativa, na perspectiva bliográfica sobre a EAN em escolares.
de compreender a percepção do participante Quanto aos objetivos dos artigos seleciona-
e as questões inerentes ao empoderamento e dos, cerca de 27% tinham por propósito a in-
autonomia do sujeito sobre os seus hábitos tervenção com base na adesão ao tratamento
alimentares. Quanto ao uso de abordagens de doenças como a hipertensão arterial sistê-
educacionais ativas e problematizadoras, mica e o diabetes mellitus tipo 2, que, segundo
apenas um dos artigos utilizou tais ferra- Reiners et al. (2008), a adesão ao tratamento de
mentas para o desenvolvimento das oficinas. tais enfermidades é algo ainda insatisfatório,
sendo um desafio constante nos serviços de
saúde. Contudo, predominou entre os estudos
Discussão o objetivo de avaliar a intervenção a partir
de seu efeito sobre o grupo escolhido. Dessa
A seleção dos artigos com essa temática forma, entende-se que as metodologias apli-
partiu da necessidade de conhecer quais cadas estão baseadas somente nos resultados,
intervenções de EAN estão sendo aplicadas diminuindo o processo educativo, que é fazer
para os usuários adultos na atenção primá- com que a aprendizagem alcance a modifi-
ria no Brasil, visto que o baixo número de cação do comportamento alimentar e o em-
achados reflete como a EAN ainda precisa poderamento em relação a sua saúde (RAMOS;
ser amplamente discutida, ressaltando a ur- SANTOS; REIS, 2013).
gência da construção de novas perspectivas Dada a crescente demanda de indivídu-
para a sua aplicação. os com algum tipo de DCNT, muitos dos
Destaca-se que os estudos analisados ini- estudos encontrados relacionam suas ações
ciaram as suas publicações a partir do ano de EAN com grupos que já atingidos com
de 2011, mesmo tendo a pesquisa um inter- alguma dessas doenças, que são o grande
valo de 10 anos, entre 2006 e 2016. Tal fato público atendido na APS. Fazem-se então
pode ser referente à maior ênfase dada à necessárias ações que atendam não somente
a esse público, mas também intervenções ferramenta para o desenvolvimento das ofi-
voltadas para a prevenção de doenças e pro- cinas. Nota-se, portanto, uma forte tendência
moção da saúde que sejam permanentes e metodológica clássica aderida aos termos ‘aulas
contextualizadas na realidade dos indivídu- expositivas’ ou ‘palestras dialogadas’ percebida
os, tornando essencial compreender os con- de forma relevante nos estudos analisados, além
ceitos que envolvem a promoção da saúde, do uso de recursos como as dramatizações,
uma vez que a EAN baseia-se na promoção vídeos, fotos e cartazes, entre outros recursos
da alimentação adequada e saudável como abordados. Segundo Santos (2012), o uso de tais
forma de construir ambientes saudáveis, artifícios busca melhorar a interação do grupo
afim de proporcionar uma qualidade de vida com o tema exposto, porém acabam caindo em
melhor à população (BRASIL, 2016C). tipos de técnicas associadas a um modelo de
Observou-se que, entre o público-alvo educação tradicional, de transmissão de conhe-
dos estudos, predominou, entre os usu- cimentos e verticalidade na relação entre edu-
ários adultos da APS, o sexo feminino; o cador e educando.
que, segundo Gomes et al. (2013), justifica-se Encontram-se também intervenções,
devido ao fato de as mulheres fazerem mais entre os estudos selecionados, baseadas no
o uso dos serviços de saúde e do interesse modelo do aconselhamento dietético, como
maior de participar de estudos em que são oficinas culinárias, visitas domiciliares e com
desenvolvidos temas de promoção à saúde. olhar da educação ambiental, como as hortas
Entre a faixa etária dos participantes, pre- cultivadas em pequenos espaços. Contudo,
ponderaram usuários maiores de 20 anos, em parte dos trabalhos, as intervenções não
porém ressalta-se a presença de idosos em são descritas em detalhes, apenas citam su-
cerca de 100% dos estudos, que mesmo não perficialmente aspectos como o período, os
sendo a busca prioritária neste estudo, essa conteúdos abordados e as técnicas utiliza-
população é pertinente entre aqueles que das, corroborando o estudo de Santos (2012),
frequentam a APS. que reforça a predominância de estudos que
Segundo Martins et al. (2014), essa presen- não descrevem de forma aprofundada as
ça marcante dos idosos nos serviços de saúde atividades desenvolvidas no processo educa-
se deve ao envelhecimento populacional no tivo. Ressalta-se, portanto, a importância de
País e o fortalecimento do cuidado à saúde da ampliar o uso das ferramentas que incluem a
população idosa que passou a ser uma prio- culinária e o fortalecimento da cultura local
ridade no Sistema Único de Saúde. Destaca- e familiar, ainda pouco abordados nas práti-
se também a presença de um adolescente cas descritas.
em um dos estudos selecionados, porém os Diante disso, a EAN deve basear-se na am-
autores não discutem a relevância nem a pliação da autonomia e no fortalecimento da
consequência de tal inclusão. Entretanto, participação ativa dos sujeitos, aumentando
sabe-se que intervenções podem e devem ser a capacidade de escolha dos indivíduos, bem
específicas para as diferentes faixas etárias, como o de transformar e produzir em sua
a fim de garantir a compreensão e a adesão própria realidade (BRASIL, 2012A). Destaca-se que
correta do que será proposto na intervenção. educar não é adestrar, dessa forma, a trans-
Várias são as formas de ações educativas missão de conhecimento limita as ações da
que foram utilizadas, bem como a variedade EAN, pois alimentar-se envolve muito mais
de intervenções aplicadas em um mesmo que ingerir nutrientes necessários a uma boa
grupo de estudo, prevalecendo, sobretu- qualidade de vida, a alimentação compreende
do, o uso de palestras e aulas com métodos um universo de significados que perpassa do
expositivos, sendo relatada em apenas um prazer pessoal até fatores socioculturais nos
dos artigos o uso da problematização como quais o indivíduo está inserido.
Segundo Boog (1997), essa abordagem de padronização e a fragilidade que tais ins-
clássica e prática que instrui o outro a como trumentos podem apresentar, podendo levar
proceder negligenciando os conflitos e con- à falta de credibilidade da metodologia uti-
tradições não resulta em uma abordagem lizada. Esse entendimento parte da hipótese
eficaz da EAN, devendo então haver uma questionada por Gazzinelli et al. (2005), de
aproximação mais abrangente no desenvolvi- que a apreensão de saber instituído sempre
mento de novos métodos, a fim de gerar situa- leva à aquisição de novos comportamentos e
ções de reflexão, com base na problematização práticas. No entanto, a simples avaliação do
e na busca de soluções alternativas, compre- conhecimento adquirido por si só não leva à
endendo toda a singularidade que envolve o confirmação de mudança de comportamen-
indivíduo e sua relação com a alimentação, que, to alimentar dos sujeitos, é necessária uma
para Santos (2012), convencionou-se chamar de avaliação mais crítica da intervenção, par-
‘experiências exitosas’, pois leva o indivíduo a tindo da complexidade dos sujeitos, e não se
entender e relacionar o problema com a prática apoiar somente em resultados objetivos.
real e a mudança possível. A antropometria foi também um dos
Entende-se que um trabalho multiprofis- métodos utilizados para a avaliação da in-
sional compreende o cuidado de um objeto tervenção, visto que o conhecimento sobre
por diferentes disciplinas, não devendo a alimentação saudável leva a hábitos ali-
haver desacordos entre as concepções e mentares mais adequados, acarretando uma
as estratégias traçadas (ALVARENGA ET AL., 2013). melhoria do estado nutricional. Todavia,
Partindo da compreensão de EAN, como segundo Friedrich, Schuch e Wagner (2012),
um serviço multiprofissional, intersetorial intervenções isoladas não promovem mu-
e transdisciplinar, dos trabalhos analisados, danças no Índice de Massa Corporal (IMC),
verifica-se que mais de 50% dos estudos e isso pode ser explicado devido às mudan-
tiveram o envolvimento de outros profis- ças na massa corporal não ocorrerem em
sionais para o desenvolvimento do projeto, período curto de tempo, sendo necessária
prevalecendo a presença do educador físico, uma maior duração na intervenção, sendo
entre outros profissionais, como farmacêu- que os estudos apresentaram períodos que
ticos e fisioterapeutas. Assim, percebe-se variaram entre 7 semanas e 15 meses. Assim,
a importância do trabalho interdisciplinar, a educação nutricional é um processo que
em que se caracteriza como uma integração demanda tempo para obter resultados posi-
das disciplinas por concepções e métodos, tivos; e, como qualquer ação educativa, exige
quando se refere à EAN, visto que questões manutenção e continuidade, tornando-se
relacionadascom a alimentação tange diver- um desafio para os profissionais de saúde.
sos outros pontos que transcendem a pratici- Dentre os espaços escolhidos para o de-
dade de só se alimentar; ou relações somente senvolvimento das intervenções, além de
com a nutrição superam a centralização na dispor da Unidade Básica de Saúde (UBS) e
doença, perpassando pelo desenvolvimento da ESF, destaca-se o Programa Academia da
de estratégias que abordem a complexidade Saúde (PAS), que conta com uma infraestru-
pertinente à saúde (FERIOTTI, 2009). tura, equipamentos e profissionais qualifica-
As avaliações das intervenções propostas dos para a orientação de práticas corporais,
se deram a partir do conhecimento dos par- atividade física, lazer e modos de vida saudá-
ticipantes por meio de questionários antes veis (BRASIL, 2011). Assim, o uso de tais espaços
e após a intervenção, partindo do total de para a implementação das atividades é visto
números de acertos. Entretanto, apenas um como um potencializador das ações de cui-
questionário utilizado nos diferentes estudos dados individuais e coletivos na atenção
era validado, o que demonstra a inexistência básica, de modo que a melhora nos hábitos
Referências
brasileiras: uma revisão sistemática. Revista Brasileira ______. Ministério do Desenvolvimento Social e
de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 8, n. 4, p. Combate à Fome. Secretaria Nacional de Segurança
363-376, dez.2008. Disponível em: <http://www. Alimentar e Nutricional. Marco de Referência de
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas
=S1519-38292008000400002>. Acesso em: 2 nov. 2016. Públicas. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012b.
______. Ministério da Saúde. Na cozinha com as frutas, GAZZINELLI, F. G. et al. Educação em saúde: conhe-
legumes e verduras. Brasília, DF: Ministério da Saúde, cimentos, representações sociais e experiências da
2016b. doença. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 21
n. 1, fev. 2005.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política GOMES, A. C. M. et al. Impacto de estratégias de edu-
Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da cação nutricional sobre variáveis antropométricas e co-
Saúde, 2012a. nhecimento alimentar. Revista Brasileira de Promoção
em Saúde, Fortaleza, v. 26, n. 4, p. 462-469, out./dez.
______. Ministério da Saúde; UNIVERSIDADE 2013. Disponível em: <http://periodicos.unifor.br/
FEDERAL DE MINAS GERAIS. Instrutivo: metodolo- RBPS/article/view/3111>. Acesso em: 2 nov. 2016.
gia de trabalho em grupos para ações de alimentação e
nutrição na atenção básica. Brasília, DF: Ministério da GREENWOOD, S. A.; FONSECA, A. B. Espaços e ca-
Saúde, 2016c. minhos da educação alimentar e nutricional no livro