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METODOS DE
PESQUISAS
DESURVEY
l \ Earl Babbie
d
-
METODOS DE
PESQUISAS
DESURVEY
Tradução de
Guilherme Cezarino
2ª reimpressão
Belo Horizonte
Editora UFMG
2003
Copyright© 1997 by l nternutionul Thomson l'ublishing Inc.
Título original: Suruey Researcb Mctbods (second cdition)
Copyright© 1999 da tradução brasileira by Editora UFMG
Universidade de Brasília 2001 - P• reimpressão
2003 - 2' reímpressão
Todos os direitos reservados
36, 00 Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou trasmitidu por qualquer forma ou
meio, eletrônico ou mecânico, incluindo Iotocópia, ímprcssão ou .ur.ivés de qualquer
_() sistema de arquivo e recuperação, sem nutoriznçúo escritu do Editor.
CDD: .WO
CDU: 303.4
ISl3N: 85-7041-175-8
4
A escolha do livro Survey Rmarch lr1efhads, de
for\ Babbie, para publicação em língua
portuguesa, deu-se a partir de uma preocupação
comparti lha da por alguns colegas sociólogos
que, na condição de professores, sentiam falta
de um material didático mais completo para o
ensino da pesquisa quantitativa nas ciências
sociais, em especial o 1Urvey. Portanto, o livro
visa atender a uma expectativa claramente
didática, tendo sido avaliado como um bom
manual de 1Urvey, que aborda diversos aspectos
metodológicos do modelo e contém
exemplificações acompanhadas de boa ilustração
(gráficos, figuras, tabelas). Espero que
tenhamos feito uma escolha de fato útil para
uma área de pesquisa de reconhecida validade e
recorrente uso nas ciências sociais.
Esta tradução que se oferece ao público de
língua portuguesa é resultado de um projeto
do Departamento de Sociologia e Antropologia
e do Mestrado em Sociologia, da Universidade
Federal de Minas Gerais - UfMG, com
financiamento da CAPES, através do Programa
PROIN/97, e sob gerenciamento financeiro da
fundação de Desenvolvimento da Pesquisa -
fUNDEP. Agradeço às várias pessoas que
estiveram envolvidas no processo, em
particular à profa. Solange de Deus Simões,
pelos contatos iniciais e entendimentos quanto
ao direito de tradução.
O coordenador
---
LISlh Df lhBflhS 17
LISlh Df flGURhS 19
PRffÁCIO 21
PRHÁCIO A PRIMflRh fDIChO 29
ChPÍlULO l
A LÓGICA DA CIÊNCIA 37
A Perspectiva Tradicional 37
A Desmistificação ela Ciência 39
A Ciência na Prática 41
O que É Ciência? 43
Resumo 54
Leituras Adicionais 55
ChPÍlULO 2
A CIÊNCIA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS 57
A Busca de Regularidades Sociais 58
As Características das Ciências Sociais 62
Métodos de Pesquisas Científico-Sociais 67
Resumo 75
Leituras Adicionais 76
ChPÍlULO 3
PESQUISA DE SURVEYCOMO MÉTODO DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS 77
Breve História da Pesquisa de Suroey 78
Características Científicas da Pesquisa de Su ruey 82 Amostragem ele Mulheres ele Igrejas
Comparação do S11 ruey com Outros Métodos 86 Episcopais 162
A Pesquisa ele Suroey É Realmente Científica? 87 Amostragem de Casas em Oakland 165
Resumo 176
Leituras Adicionais 91
Leituras Adicionais 177
CÃPÍTULO 7
DESENHO DE PESQUISÃ DE SURVEY 93 CONCEITUAÇÃO E DESENHO DE
INSTRUMENTOS 179
(ÃPÍTULO 4 Lógica ela Conceituação 179
TIPOS DE DESENHOS DE PESQUISAS 95 Um Quadro de Referências ele
Finalidades ela Pesquisa ele Suruey 95 Operacionalização 182
Unidades ele Análise 98 Tipos ele Dados 185
Desenhos Básicos ele Surueys 101 Níveis de Medição 187
Variações elos Desenhos Básicos 105 Guias para a Elaboração ele Questões 189
CAPÍfUlO 19
A ÉTICA NA PESQUISA DE SURVEY 447
Participação Voluntária 448
Sem Prejuízo para os Entrevistados .450
Anonimato e Sigilo 451
Identificação da Finalidade e cio Patrocinador .454
Análise e Relatório 455
Um Código ele Ética Profissional 456
Ética - Ilustrações Relevantes .460
Resumo 463
leituras Adicionais 463
CAPÍfUlO 20
O CONSUMIDOR INFORMADO DE PESQUISA
DE SURVEY 465
Desenho ela Pesquisa .466
Medição 467
Amostragem 469
Análise dos Dados 470
Relatório cios Dados 471
Leituras Adicionais 471
15
L s t a d e T a b e a s
BIBLIOTECA
Prefácio a' Primeira Edição
Capítulo 1
anos. Alguns autores insistem que a ciência social é tão "cien-
tífica" quanto a ciência natural. Outros não aceitam tal noção.
Ainda outros pensam que a pesquisa social está progredindo
rumo ao status de ciência, mas ainda não chegou lá.
Sugiro que este debate não faz sentido. Assim como é
impossível uma afirmação definitiva sobre o que "ciência"
realmente é, é igualmente impossível afirmar que a ciência
social é ou não científica. O que faremos é considerar as
diferenças e semelhanças entre ciências sociais e naturais,
explorando as implicações destas diferenças e semelhanças
L o g
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e a d a e A
e n e
para a lógica e as técnicas ela pesquisa científica social.
O Capítulo 3 é dedicado a um exame específico ela pes-
quisa de suruey. O capítulo começa com um apanhado histórico
elos surueys e passa a abordar modos como a pesquisa ele suroey
se encaixa nas normas gerais ele ciência e ele ciência social.
Ciência é uma palavra caseira. Todos a usam, pelo menos
O propósito principal destes capítulos é prepará-lo para ocasionalmente, mas imagens da "ciência" diferem muito. Para
o entendimento elas bases lógicas subjacentes às competências alguns, é sinônimo ele matemática, para outros significa aventais
e técnicas específicas ela pesquisa de suruey. Em termos mais
brancos e laboratórios, outros a confundem com tecnologia, e
gerais, espero que você adquira um embasamento melhor na
há aqueles para quem a palavra equivale a matérias difíceis
lógica ela ciência per se. Isto é particularmente importante
em cursos colegiais ou universitários.
porque toda pesquisa científica é um compromisso entre o
ideal e o possível. A maior parte deste livro lida com estes Evidentemente, ciência não é nenhuma destas coisas
compromissos. per se. Porém é difícil especificar exatamente o que é ciência.
Este capítulo começa resumindo a imagem ele ciência freqüen-
Inicialmente examinamos o que deve ser feito em cir-
temente apresentada a estudantes em cursos de introdução às
cunstâncias ideais, consideramos em seguida quais compro-
ciências. Em seguida, examinamos a imagem negativa que
missos são mais apropriados quando o ideal não pode ser
algumas pessoas têm das ciências. Finalmente, descrevemos
atingido. A menos que você compreenda plenamente a lógica
os componentes lógicos da ciência tal como é praticada.
básica ela ciência, não conseguirá entender por que um com-
promisso é aceito no lugar de um outro. Compreendendo
esta lógica, ao começar sua própria pesquisa você será capaz
de conseguir o melhor compromisso possível dentro das ~ Perspectiva Tradicional
reais condições ele campo.
Cursos de introdução às disciplinas científicas freqüen-
temente apresentam uma imagem de Ciência que a faz parecer
direta, precisa e até rotineira. Posteriormente, neste capítulo,
criticarei esta perspectiva, mas ela é útil como ponto de partida.
Teoria Científica
Cientistas, é o que se diz, começam com um interesse
por algum aspecto do mundo ao redor. O interesse pode ser
saber corno a pressão arterial é regulada no corpo, por que
o quanto as predições elevem ajustar-se às taxas observadas de
um grão ele arroz é mais duro que outro, o que determina o
crescimento para confirmar ou rejeitar a hipótese. Deixar claro
caminho cios comeras ou o que causa câncer. Então, eles
tudo isso de antemão pode evitar muita discussão mais tarde.
examinam rigorosamente esse tópico e estrutura em termos
lógicos e abstratos.
Eles identificam rodos os fenômenos relevantes ao assunto Experimento
estudado. Com base no conhecimento existente, inter-relacionam
Finalmente, as operações especificadas são efetuadas.
estes fenômenos numa rede ele relações causais' - quais
Dados são coletados e manipulados como prescritos e a
elementos causam ou influenciam outros elementos. Deste
hipótese é testada. Se o experimento confirmar a hipótese,
modo, desenvolvem uma teoria, um conjunto ele proposições valida-se a teoria geral ela qual ela foi derivada. Se a hipótese
lógicas, inter-relacionadas, que explicam a natureza do não for confirmada, a teoria geral é questionada. Qualquer
fenômeno estudado. que seja o resultado, presume-se que você publicará seus
Para testar a validade ela teoria, supostamente derivam achados, o mundo se tornará um lugar um pouco melhor
hipóteses, que são predições sobre o que acontecerá em para se viver e você começará a pensar noutros tópicos para
condições especificadas. Muitas vezes, essas hipóteses são conquistar.
da forma se - então. Se o Evento A acontecer, segue-se então Imaginação e brilho parecem necessários para construir
o Evento B. Por exemplo, se você escudar bem neste curso, uma teoria, mas não para a coleta e análise de dados. Especifi-
terá uma vicia muito feliz. (É uma hipótese, lembre-se, não cados de antemão os métodos experimentais e as operações,
necessariamente o que as coisas são.) Já que esta relação causal assistentes técnicos supostamente podem realizar e interpretar
é sustentada pela teoria geral, se o Evento I3 não se seguir ao o experimento.2
Evento A, a validade da própria teoria seria questionada.
h Ciência é Intersubjetiva
A Ciência f hberta a Modificações
Com freqüência se afirma que a ciência é "objetiva", mas
tal afirmação tipicamente resulta em muita confusão quanto ao A seção anterior deve ter deixado claro que a "ciência"
que seja "objetividade". Além do mais, nota-se crescentemente não oferece uma seqüência ele etapas fáceis para atingir "A
nos últimos anos que nenhum cientista é completamente obje- Verdade". Dois cientistas, ambos aderindo às características
tivo em seu trabalho. Todos os cientistas são "subjetivos" até previamente discutidas de ciência, podem chegar a explicações
certo ponto - influenciados por suas motivações pessoais. Ao bem diferentes de um fenômeno. Além disso, pode não haver,
afirmar que a ciência é intersubjetiva, queremos dizer que dois num dado momento, como avaliar os méritos relativos delas.
cientistas com orientações subjetivas diferentes chegariam à Se duas explicações se contradizem, as duas não podem,
mesma conclusão se cada um deles conduzisse o mesmo presumivelmente, estar corretas. Ou se demonstra que uma
experimento. Um exemplo ele ciência política eleve esclarecer elas duas ou ambas estão incorretas ou se descobre que as
este conceito. duas explicações, não são, afinal de contas, mutuamente exclu-
dentes, devido a uma mudança de paradigma, por exemplo.
A tendência cios intelectuais nos EUA se alinharem mais
com o Partido Democrata do que com o Republicano leva Inúmeras teorias "científicas" do passado foram mais tarde
muitas pessoas a supor que os Democratas, como grupo, são desprovadas e substituídas por novas teorias. Tudo que "sabe-
mais escolarizados cio que os Republicanos. É razoável supor mos" hoje era antes previamente "conhecido" diferentemente
que esta afirmação satisfaria um cientista Democrata e abor- e, às vezes, consideramos ingênuas, tolas ou estúpidas estas
receria um Republicano. Mesmo assim, seria possível que os antigas visões. Vale a pena lembrar, porém, que tudo que "conhe-
dois cientistas concordassem sobre o desenho ele um projeto cemos" hoje provavelmente será mudado no futuro e o povo cio
ele pesquisa para coletar dados no eleitorado americano, futuro - nossos arrogantes descendentes - nos conside-
referente a filiação partidária e nível educacional. Os dois rarão ingênuos, tolos ou estúpidos. (Se isto o perturba, talvez o
cientistas nnciPri~1111 Pnt~n rP~li?,1r P<;t11rlnc; inrlPnPnrlPnrP<.: console lembrar-se de que eles também sofrerão a mesma sorte.)
A ciência não busca a verdade definitiva, mas a utütdade. 3 Ver, por exemplo, WATSON, James D. Tbe Dottble Ile/ix. New York: The
Teorias científicas não devem ser julgadas por sua verdade New American Library lnc., 1968, e o acervo de biografias ele pesquisas
relativa, mas pela medida de sua utilidade em melhorar nosso sociais em HAMMOND, Phillip (Ecl.). Sociologists ar \ftork. New York:
conhecimento cio mundo ao redor. Basic Books, 1964, e GOLDEN, M. Patrícia (Ecl.). The Researcb Experieu-
ce. Irasca, IL: F. E. Peacock, 1976.
Em última análise, as características da ciência discutidas
neste capítulo oferecem um conjunto ele diretrizes que aumen- Não suponha que isto ocorre automaticamente. Muito tem sido escrito
tam a utilidade ele descobertas e teorias. fnvestigações que sobre a tenacidade com que os cientistas às vezes se apegam a "para-
procuram se pautar por tais características produzirão, a longo digmas" estabelecidos (modelos ou pontos ele vista), mesmo em face ele
prazo, mais descobertas úteis cio que investigações ele outros evidência em contrário e paradigmas adversários. O livro clássico neste
tópico é de KUHN, Thomas S. Tbe Structure o/ Scieutific Reooturtous.
tipos. Assim, uma pessoa pode ser capaz ele prever o tempo
Chicago: Uníversity of Chicago Press, 1970.
com mais exatidão baseada no seu joelho reumático cio que
todos os meteorologistas científicos cio mundo, mas, a longo 'Originalmente, prouar, nesta expressão, significava "testar", como quando
prazo, os cientistas contribuirão mais para o nosso conheci- se diz que grandes obstáculos "testaram severamente" o compromisso
mento geral ela natureza cio clima. ele alguém. Yale dizer, exceções eram vistas como ameaças ou desafios
à regra.
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BEVERIDGE, \Y/. I. B. Tbe Art o/ Sctentific Inoesttgatton, New York:
Resumo Vintage Books, 1950. p. lJ 3.