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METODOS DE
PESQUISAS
DESURVEY
l \ Earl Babbie
d

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METODOS DE
PESQUISAS
DESURVEY

Tradução de
Guilherme Cezarino

2ª reimpressão

Belo Horizonte
Editora UFMG
2003
Copyright© 1997 by l nternutionul Thomson l'ublishing Inc.
Título original: Suruey Researcb Mctbods (second cdition)
Copyright© 1999 da tradução brasileira by Editora UFMG
Universidade de Brasília 2001 - P• reimpressão
2003 - 2' reímpressão
Todos os direitos reservados

36, 00 Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou trasmitidu por qualquer forma ou
meio, eletrônico ou mecânico, incluindo Iotocópia, ímprcssão ou .ur.ivés de qualquer
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PROJETO GRÁFICO E CAPA: Glória Campos - Maugá


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REVISÃO DE TEX'l O E NORMALIZAÇÃO: Olg:1 Maria Alves de Sousa
REVISÃO DE PROVAS: Lilian valdcrez Felicio e Muriu Apurecid« Ribeiro
J(EVISÃO TÉCNICA DA TRADUÇÃO: Ronaldo de Noronha
COOHDENAÇÃO: Renardc Freire Nobre
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS G EHAIS


REITOllA: Ana Lúcia Almeida Guzzolu
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CONSELI 10 Ef)ITORIAL
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José Breias dos Santos, Maria Aparecida dos Santos Paiva, Maurílio Nunes Vieira, Newron
Bígnouo de Souza, Reinaldo Martiniano Marques, Ricardo Castanheira Plmenta Figueiredo

13112111 Bnbbie, Earl


Métodos de pesquisas ele Survcy/Enrl Bubble: truduçào

de Guilherme Cezarino.- Belo l Iorizorue: Ed. UFMG, 1999.


519p. - (Coleção Aprender)
Tradução ele: Survey rcseurch merhods

1. Cências Sociais - ~letodologi~1 2. Pcsquis« social - Mctodolouia

1. Título li. Série

CDD: .WO
CDU: 303.4

Catalogação na publicação: Divisão de Planejamento e Divulgação ela

Biblioteca Universit:íria - UFMG

ISl3N: 85-7041-175-8
4
A escolha do livro Survey Rmarch lr1efhads, de
for\ Babbie, para publicação em língua
portuguesa, deu-se a partir de uma preocupação
comparti lha da por alguns colegas sociólogos
que, na condição de professores, sentiam falta
de um material didático mais completo para o
ensino da pesquisa quantitativa nas ciências
sociais, em especial o 1Urvey. Portanto, o livro
visa atender a uma expectativa claramente
didática, tendo sido avaliado como um bom
manual de 1Urvey, que aborda diversos aspectos
metodológicos do modelo e contém
exemplificações acompanhadas de boa ilustração
(gráficos, figuras, tabelas). Espero que
tenhamos feito uma escolha de fato útil para
uma área de pesquisa de reconhecida validade e
recorrente uso nas ciências sociais.
Esta tradução que se oferece ao público de
língua portuguesa é resultado de um projeto
do Departamento de Sociologia e Antropologia
e do Mestrado em Sociologia, da Universidade
Federal de Minas Gerais - UfMG, com
financiamento da CAPES, através do Programa
PROIN/97, e sob gerenciamento financeiro da
fundação de Desenvolvimento da Pesquisa -
fUNDEP. Agradeço às várias pessoas que
estiveram envolvidas no processo, em
particular à profa. Solange de Deus Simões,
pelos contatos iniciais e entendimentos quanto
ao direito de tradução.

O coordenador
---

Dedicado a Sam Stouffor, Paul Lozorsfold,


Charles Glock e aos velhos turcos
,
s u m a r o

LISlh Df lhBflhS 17
LISlh Df flGURhS 19
PRffÁCIO 21
PRHÁCIO A PRIMflRh fDIChO 29

O CONlfXlO ClfNlÍflCO Oh PfSQUISh Df SURVEY 35

ChPÍlULO l
A LÓGICA DA CIÊNCIA 37
A Perspectiva Tradicional 37
A Desmistificação ela Ciência 39
A Ciência na Prática 41
O que É Ciência? 43
Resumo 54
Leituras Adicionais 55

ChPÍlULO 2
A CIÊNCIA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS 57
A Busca de Regularidades Sociais 58
As Características das Ciências Sociais 62
Métodos de Pesquisas Científico-Sociais 67
Resumo 75
Leituras Adicionais 76

ChPÍlULO 3
PESQUISA DE SURVEYCOMO MÉTODO DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS 77
Breve História da Pesquisa de Suroey 78
Características Científicas da Pesquisa de Su ruey 82 Amostragem ele Mulheres ele Igrejas
Comparação do S11 ruey com Outros Métodos 86 Episcopais 162
A Pesquisa ele Suroey É Realmente Científica? 87 Amostragem de Casas em Oakland 165
Resumo 176
Leituras Adicionais 91
Leituras Adicionais 177

CÃPÍTULO 7
DESENHO DE PESQUISÃ DE SURVEY 93 CONCEITUAÇÃO E DESENHO DE
INSTRUMENTOS 179
(ÃPÍTULO 4 Lógica ela Conceituação 179
TIPOS DE DESENHOS DE PESQUISAS 95 Um Quadro de Referências ele
Finalidades ela Pesquisa ele Suruey 95 Operacionalização 182
Unidades ele Análise 98 Tipos ele Dados 185
Desenhos Básicos ele Surueys 101 Níveis de Medição 187
Variações elos Desenhos Básicos 105 Guias para a Elaboração ele Questões 189

Escolhendo o Desenho Apropriado 108 Qualidade elas Medições 194


Resumo 110 Formato Geral dos Questionários 198
Leituras Adicionais 110 Ordenando as Questões no Questionário 205
Instruções 206
(ÃPÍTULO 5
Reprodução elo Questionário 209
A LÓGICA DA AMOSTRAGEM DO SURVEY 113
Resumo 210
Lógica da Amostragem ele Probabilidade J 18
Leituras Adicionais 211
Conceitos e Terminologia ele Amostragem 120
Teoria ela Amostragem Probabilística e (ÃPÍTULO 8
Distribuição Amostral 125 CONSTRUÇÃO DE ÍNDICES E ESCALAS 213
Índices Versus Escalas 214
Populações e Molduras de Amostragem 131
Construção ele Índices 217
Tipos ele Desenhos ele Amostragem 134
Construção ele Escalas 233
Amostragem e Ponderação Desproporcionais 148
Tipologias 240
Amostragem Não-Probabilística 152
Resumo 243
Usos Não-S11ruey dos Métodos ele Amostragem 156
Leituras Adicionais 244
Resumo 157
Leituras Adicionais 158
COLETÃ DE DÃDOS 245
(ÃPÍTULO 6
EXEMPLOS DE DESENHOS DE AMOSTRAGEM 159
Amostragem ele Estudantes Universitários 159
(ÃPÍTULO 9
QUESTIONÁRIOS AUTO-ADMINISTRADOS 247
Amostragem dos Professores ele Escolas
Distribuição e Retorno de Correspondência 248
ele Medicina 161
Opções Postais e Custos Relativos 249 ANÁLISE DA PESQUISA DE SURVEY 323
Monitorando os Retornos 250
Correspondências de Acompanhamento 251 CAPÍlUlO 13
Taxas Aceitáveis de Resposta 253 LÓGICA DA MEDIÇÃO E DA ASSOCIAÇÃO 327
Um Caso ele Pesquisa 254 A Imagem Tradicional 327
Resumo 257 Intercambialidade ele Índices 331
Leituras Adicionais 258 Implicações 333
Resumo 334
ChPÍlULO 10
SURVEYS POR ENTREVISTAS 259 Leituras Adicionais 335

Importância do Entrevistador 259 CAPÍlULO 14


Regras Gerais para Entrevistar 261 CONSTRUINDO E COMPREENDENDO TABELAS 337
Treinamento do Entrevistador 266 Análise Univariada 337
A Operação de Entrevistar 270 Descrições de Subgrupos 344
Resumo 275 Análise Bivariada 349
Leituras Adicionais 276 Análise Multivariada 357
Resumo 360
CAPÍTULO 11
Leituras Adicionais 361
PROCESSAMENTO DOS DADOS 279
Computadores na Pesquisa de Suruey 280 CAPÍlULO 15
Codificação 288 O MODELO DE ELABORAÇÃO 363
Construção do Livro de Códigos 291 História do Modelo ele Elaboração 363
Opções de Codificação e Inserção de Dados 293 O Paradigma ele Elaboração 370
Pré-Codificação para a Inserção de Dados 297 Elaboração e Hipótese Ex Post Facto 379
Limpeza cios Dados 299 Resumo 381
Resumo 300 Leituras Adicionais 382
Leitura Adicionais 301 CAPÍTULO 16
ESTATÍSTICA SOCIAL 383
CAPÍlULO 12
PRÉ-TESTES E ESTUDOS-PILOTO 303 Estatística Descritiva 383
Fazendo os Pré-Testes 303 Estatística Inferencial 391
Fazendo Estudos-Piloto 310 Resumo 405
Avaliando Pré-Testes e Estudos-Piloto 313 Leituras Adicionais 407
Resumo 321 CAPÍlULO 17
TÉCNICAS MUlTIVAIUADAS AVANÇADAS 409
Análise ele Regressão , 409
Análise ele Trajetória 415
Análise Fatorial 417
Análise de Variância 421 BIBllOGRAFIA 473
Análise Discriminante tí24
APÊNDICES 481
Modelos Log-Lineares 428 A. Tabela de Números Aleatórios 482
Resumo 430 B. Erro Estimado ele Amostragem para uma
Leituras Adicionais 432 Binomial (Nível ele Confiança ele 95%) .486
CAPÍfUlO 18 C. Distribuição cio Qui-Quadrado 488
O RELATÓRIO DA PESQUISA DE SURVEY 433 D. Áreas Normais ele Curva 490
Algumas Considerações Básicas .433 GlOSSÁRIO 491
Organização do Relatório 436
ÍNDICE REMISSIVO 511
Diretrizes para Relatar as Análises .441
Resumo 443
Leituras Adicionais 443

A PESQUISA DE SURVEY NO CONf EXro rnCIM 445

CAPÍfUlO 19
A ÉTICA NA PESQUISA DE SURVEY 447
Participação Voluntária 448
Sem Prejuízo para os Entrevistados .450
Anonimato e Sigilo 451
Identificação da Finalidade e cio Patrocinador .454
Análise e Relatório 455
Um Código ele Ética Profissional 456
Ética - Ilustrações Relevantes .460
Resumo 463
leituras Adicionais 463
CAPÍfUlO 20
O CONSUMIDOR INFORMADO DE PESQUISA
DE SURVEY 465
Desenho ela Pesquisa .466
Medição 467
Amostragem 469
Análise dos Dados 470
Relatório cios Dados 471
Leituras Adicionais 471
15
L s t a d e T a b e a s

TABELA 5-1. Resultados elas pesquisas ele boca


ele urna: novembro ele 1988 116
TABELA 5-2. Pesquisas de opinião política antes
ela eleição ele 1988 117
TABELA 6-1. Forma usada na lista das igrejas 163
TABELA 6-2. Estratificação ele quarteirões com crescimento
na área c.le pobreza D 171
TABELA 6-3. Procedimento c.le seleção cios quancirões 172
TABELA 6-4. Amostra ele folha ele listagem 173
TABELA 8-1. Validação elo índice ele orientação científica 230
TABELA 8-2. Escalonamento da orientação científica 237
TABELA 8-3. Escores ele índice e escala 239
TABELA 8-4. Uma tipologia política 240
TABELA 8-5. Nove estilos de vida americanos 242
TABELA 14-1. Uma ilustração ele análise univariada 339
TABELA 14--2. Atitude com relação às Nações Unidas:
"Como a ONU está resolvendo os problemas
que ela tem que enfrentar?" 34 6
TABELA 14-3. Fundindo categorias extremas 347
TABELA 14--4. Omitindo os "não sei" 349
TABELA 14-5. "Você concorda ou discorda ela proposição ele
que homens e mulheres elevem ser tratados
igualmente em todos os aspectos?" 350
TABELA 14-6.Direçào oposta ela porcentagem 350
TABELA 14--7. "Você aprova ou desaprova a proposição geral
ele que homens e mulheres elevem ser tratados
igualmente em todos os aspectos?" 357
TA13ELA 14-8. "Você aprova ou desaprova a proposição
geral de que homens e mulheres devem
ser tratados igualmente em todos os aspectos?" ... 359
TABELA 14-9. "Você concorda ou discorda da proposição
geral ele que homens e mulheres elevem ser
L s t a d e f g u r
tratados igualmente em todos os aspectos?" 360
TABELA 15-1. Resumo cios dados ele Siouffer sobre
escolaridade e aceitação cio recrutamento 366
TABELA 15-2. Relação hipotética entre escolaridade e
dispensa de amigos 367
FIGURA 5-1. Porcentagem de alunos que
TABELA 15-3. Relação hipotética entre a dispensa ele amigos aprovam o código estudantil 127
e a aceitação cio próprio recrutamento 368
FIGURA 5-2. Porcentagem ele alunos que aprovam
TABELA 15-4. Dados hipotéticos relacionando escolaridade à o código estudantil 127
aceitação cio recrutamento, pelo fator ele ter
FIGURA 5-3. Porcentagem ele alunos que aprovam o
amigos dispensados 369
código estudantil 127
TABELA 15-5. O paradigma ela elaboração 371
FIGURA 7-1. Formatos ele respostas 200
TABELA 15-6. Região de origem, região de treinamento e
FIGURA 7-2. Você já fez parte ela associação local da APP? 201
atitudes para com o Meclicare 373
TABELA 15-7. Classe social e envolvimento médio com a FIGURA 7-3. Você já ouviu falar cio Programa Cidade Modelo? .. 202
igreja entre mulheres episcopais 375 FIGURA 7-4. Você trabalhou alguma vez durante a
TABELA 15-8. Classes sociais e a ocupação ele cargos em semana passada? (Inclua trabalho parcial,
mas não trabalho em casa.) 203
organizações seculares 375
TABELA 15-9. Envolvimento na igreja por classe social e FIGURA 7-5. Formato ele questão matricial 204
ocupação ele cargos seculares 376
FIGURA 8-1. Índices versus escalas 216
TABELA 16-1. Matriz ele dados brutos parciais 384
FIGURA 8-2. Relações bivariadas entre itens sobre
TABELA 16-2. Dados brutos hipotéticos sobre escolaridade orientação científica 2 21
e preconceito 385
TABELA 16-3. Dados hipotéticos relacionando sexo e
FIGURA 8-3. Relações trivariadas entre os itens sobre
emprego 386
orientação científica 223
TABELA 16-4. Dados hipotéticos relacionando classe
FIGURA 8-4. Relação trivariada hipotética entre itens
social e preconceito 388
ele orientação científica 225
TABELA 16-5. Escala ele díferencíação semântíca 390
FIGURA 11-1.Cartfo perfurado padrão para registrar dados 282
TABELA 16-6. Associações gamma entre os itens ele
diferenciação semântica ela escala de FIGURA 11-2.Excmplo parcial de um livro ele códigos 292
santificação 390 FIGURA 11-3. Urna folha parcial ele transferência ele códigos 294
TABELA 16-7. Ilustração hipotética ele qui-quaclrado 401 FIGURA 11-4. Ilustração da inserção ele dados
TABELA 17-1. Análise fatorial: atos ele delinqüência (brancos) 420 computadorizada 295
FIGURA 11-5.Ilustração da pré-codificação ele um
questionário 298
FIGURA 13-1. A imagem tradicional ela ciência 329
p ,.
FIGURA 13-2. A intercambialidade ele índices 332 r e f a e
FIGURA 14-1. Três "médias" 341

FIGURA 14-2. Percentuanclo uma tabela 354

FIGURA 15-1 370

FIGURA 15-2 370

FIGURA 16-1. Uma população hipotética ele homens e


mulheres que são favoráveis ou se opõem Este livro é a segunda edição elo original publicado há
dezesseis anos. Foi meu primeiro manual e sempre ocupou
à igualdade sexual 395
um lugar especial no meu coração, apesar ele há muito tempo
FIGURA 16-2. Uma amostra representativa 396 não lhe dedicar atenção.
FIGURA 16-3. Uma amostra não representativa 398 Comecei a lecionar pesquisa ele suroey em 1968, na Uni-
FIGURA 16-4. Uma amostra representativa ele uma versidade elo Havaí. Na época, aprendi o que outros professores
da matéria já sabiam: não havia nenhum manual realmente bom
população na qual as variáveis se relacionam 399
para se dar este curso. Escolhi usar um livro britânico ele C. A.
FTGURA 17-1.Mapa simples elos valores ele x e y 410 Maser, mas meus alunos freqüentemente não conseguiam se iden-
FIGURA 17-2.Gráfico cios valores ele duas variáveis com tificar com os exemplos britânicos, nem com o modo esquisito
linha ele regressão (hipotética) 411 elos britânicos usarem a língua inglesa! (Só bem mais tarde me
ocorreu que estudantes não-americanos poderiam ter problema
FIGURA 17-3. Diagrama elas fontes religiosas elo semelhante ao usarem textos americanos.)
anti-semitismo 41 7
Quando comecei a conhecer outros professores da
FIGURA 17-4. Dois padrões ele distribuição ele renda ele mesma disciplina (é incrível o número destes professores que
Republicanos e Democratas 422 passam pelo Havaí a caminho de algum outro lugar), fui
FIGURA 17-5. Seis escritores: três escrevem a mão e três descobrindo um padrão interessante. Sempre nos fazíamos
duas perguntas, e quase sempre as respostas eram as mesmas.
com computadores 425
A primeira era: "Você vai fazer pesquisa na sua sala ele
FIGURA 17-6. Projeção gráfica elos seis escritores em
aula este ano?" A resposta em geral era uma versão de: "Não.
termos ele idade e renda 425 Fiz uma recentemente e tão cedo não quero passar pela mesma
FIGURA 17-7.Apenas renda é suficiente para predizer o experiência."
método ele escrever 426 Segunda pergunta: "Que manual você está usando?"
FIGURA 17-8. Padrão ligeiramente mais complicado 426 Os livros até que variavam, mas a resposta sempre terminava
com: " ... porém não gosto dele."
FIGURA 17-9. Separando canetas cios compucaclores 427
Minha própria frustração neste aspecto fez com que,
FIGURA 17-10. Projeção cios seis escritores em nova certa vez, passasse um dia inteiro imaginando o índice "ideal"
dimensão 428 ele um manual sobre pesquisas ele suruey. O índice que então
esbocei é essencialmente o mesmo deste livro.
FIGURA 19-1. Código ele ética e prãticas profissionais 456
O título que dei àquela obra imaginária reflete uma
frustração mais específica minha com o acervo mais amplo de
textos publicados sobre pesquisas de suroey. Alguns eram
bem abstratos, ficando o leitor perdido sobre como de fato reta. Como o bêbado, caí muito. Às vezes, tropeçava em cada
fazer uma pesquisa. Outros eram justamente o contrário, dando palavra, levando horas para criar um só parágrafo, depois
receitas concretas ele passos a serem dados na realização ele jogava tudo fora e recomeçava. Não era uma visão agradável.
uma pesquisa específica. Tudo bem com esta última abordagem,
contanto que você quisesse fazer exatamente a mesma pesquisa Um menino chega atrasado na escola e a professora diz:
que o autor cio texto. Mas se seus desejos e/ou circunstâncias '']ohnny, por que o atraso?"
fossem diferentes, você ficaria perdido. Johnny diz: "Havia tanto gelo na rua hoje de manhã, que
Intitulei meu livro fictício de A Su ruey Researcb Cooleboolz eu dava um passo à frente e escorregava dois pra trás."
and Otber Fables (Livro ele Receitas de Pesquisas ele Survey "Ah, é?", diz a professora. "Então, como você chegou até aqui?"
e Outras Fábulas), tírulo que apareceu em esboços de capírulos "Desisti e tentei voltar pra casa."
e correspondências que troquei durante a criação do livro. [Rufar de tambores, e o ruído da bola no aro da cesia.l
Quando o manuscrito finalmente foi para a gráfica, o título
O pior foi o capítulo sobre estatística. Mais parecia um
já fora enterrado no cemitério das prosas nunca usadas - o
buraco negro, sugando toda a alegria ela viela. Embora os
qual, na minha experiência, é o merecido descanso final ele
pareceristas ela pré-publicação elogiassem o manuscrito
um acúmulo quase infinito de desperdício verbal.
C'Obrigado, mamãe", eu escrevia nas margens cios pareceres),
Então eu já havia imaginado o índice de um livro ainda consideraram unanimemente o capítulo sobre estatística um
fictício, com um título um tanto jocoso. Pus tudo isto ele lado, monstro malformado que deveria desaparecer ele vez. Então,
por um dia só, pois no dia seguinte recebi uma carta ele Jack revisei. E revisei mais.
Arnold, editor ele Sociologia da Wadsworth Publisb ing Podei o capítulo sobre estatística até restarem apenas
Compauy, dizendo cio interesse ela editora em publicar um três cálculos: lambda, gama e qul-quadrado. Na primeira
manual ele pesquisas ele su ruey. Além cio mais, um ele seus edição cio livro, dois dos três estavam corretos. Mas este não
consultores editoriais, Roei Stark, havia sugerido que fosse foi o fim elos problemas estatísticos.
eu o autor deste livro.
Havia decidido que seria útil incluir uma tabela ele
Dois anos antes, Roei e eu éramos amicíssimos no curso números aleatórios como apêndice, para auxiliar os leitores na
de pós-graduação da Universidade ela Califórnia, em Berkeley, seleção de amostras. Em vez de comprar uma rabeia já existente
e considerei a hipótese ele que a carta ele Jack não passasse ele números aleatórios, decidi usar minha recém-adquirida capa-
de uma brincadeira. Sempre desconfiei que Roei era o tipo cidade ele programação para criar minha própria rabeia. Depois ele
capaz deste tipo ele piada, embora nunca houvesse feito diversas tentativas fracassadas, consegui fazer chegar à \Xlaclswo1th
nenhuma assim comigo. Apesar ela desconfiança, respondi à uma tabela ele números aleatórios pronta para impressão em foto-
carta da \Xladsworch, anexando o índice que havia imaginado offset, para não correr o risco dos tipógrafos estragarem tudo.
para o livro. Pouco tempo depois, assinei o contrato cio Descobri mais tarde um problema, quando comecei a
livro e me lancei ao trabalho ele escrever os capítulos, receber cartas perguntando: "Meus alunos me indagaram, e não
seguindo o índice esboçado.
soube responder: por que a tabela de números aleatórios não
Escrever o livro foi uma experiência ambivalente. Às tem nenhum 9?" Numa elas primeiras tentativas ele criar a tabela,
vezes, as palavras pareciam fluir rápida e naturalmente, eu havia notado a ausência de Os e descobrira que o sistema
bastando apenas colocar papel em branco na máquina que eu estava usando procurava números aleatórios entre 1 e
datilográfica. Nestas ocasiões, me sentia mais lendo cio que 9. Descobri como estabelecer o limite inferior em O, mas fiz isso
escrevendo o livro. No dia mais produtivo, em meio às abaixando o limite superior em um algarismo. Em vez de
minhas atividades normais como diretor cio Escritório ele Pes- escolher números aleatórios entre 1 e 9, o sistema agora escolhia
quisas ele Suruey, redigi dois capítulos, sem quase nenhuma entre O e 8. É claro que ninguém falava nada sobre a abundância
necessidade ele edição. ele Os, Is, 2s etc., mas todos reclamavam cio 9 ausente.
Já redigir outros capítulos mais parecia uma tortura. Recomendei à Wadsworch imprimir uma folha de Errata
Gastava horas, garimpando dolorosamente as palavras, como cheia ele 9s, com a instrução "inserir aleatoriamente". Em vez,
um bêbado procurando pôr um pé atrás elo outro numa linha compramos de alguém uma tabela ele números aleatórios.
Publicado em meados ele 1973, o livro foi muito bem O livro de 73 foi um produto da época, repleto de
recebido. Logo, a Waclsworth escava recebendo sugestões de
linguajar sexista. Mais especificamente, o uso de pronomes
instrutores para que eu escrevesse um manual metodológico
masculinos na terceira pessoa quando o gênero era indefinido.
mais geral sobre pesquisas, e não somente pesquisas de suruey.
Exemplo do texto original: "Um pesquisador usa amostragem
Foi assim que publiquei, em 1975, The Practice o/Social Researcb,
estratificada quando ele quer. .. " Eu estava consciente deste pro-
que se tornou o foco de meus escritos sobre métodos de pesquisa
nos anos subseqüentes. blema na edição de 73, mormente ao escrever sobre entrevista-
dores e perfuradores de cartão, dois grupos predominantemente
Muitos cios instrutores que inicialmente adotaram Suruey femininos nas pesquisas ele suroey. Ousadamente, usei pro-
Researcb Metbods mudaram para Tbe Practice o/Social Research,
nomes femininos em relação a estes dois grupos, chamando os
como esperávamos, mas as vencias do primeiro livro conti-
diretores de pesquisas de "ele", acrescentando uma longa nota
nuaram boas nos anos seguintes. Periodicamente, a Wadsworrh
ele rodapé explicando o procedimento e criticando a exclusão
e eu considerávamos revisar o livro, mas sempre um outro projeto
geral de mulheres ela direção de projetos.
acabava sendo prioritário. Finalmente, em 1988, nos comprome-
temos a fazer a revisão no ano seguinte, apesar do que mais Nos anos subseqüentes, a questão da linguagem sexista
pudesse acontecer. esquentou e, às vezes, eu culpava "eles" por haverem criado a
O primeiro obstáculo foi tecnológico. Há dez anos eu convenção ela terceira pessoa masculina. Curioso de saber quem
redigia em microcomputadores, com todos os materiais em eram "eles", descobri não haver nenhum grupo formal com o
disquete, para facilitar a revisão, mas Suruey Researcb poder de legislar sobre a língua inglesa (como a Academia
Metb ods fora escrito numa máquina datilográfica antiga, sem Francesa, encarregada ele manter a pureza lingüística elo français).
memória, antes do advento cios sistemas ele processamento No caso cio inglês, estas questões são mais ou menos frouxa-
ele texto. mente controladas por professores ele inglês, por editores em
Inicialmente, a Waclsworrh concordou que um digitador geral e editores ele dicionários em particular e, bem, por pessoas
passasse o livro original para disquetes, para eu poder fazer como eu. Conseqüentemente, me comprometi a eliminar
a revisão num processador ele texto. Acabamos tentando uma linguagem sexista elos meus textos.
solução mais higb-tech. escanear eletronicamente o livro. Desde 1973, me tem sido fácil evitar linguagem sexista.
Neste processo, cada página seria eletronicamente fotografada, Ofereço abaixo algumas soluções e o incentivo a adotá-las.
mas, enquanto uma fotocopiadora imprimiria a foto em papel, Antes, eis algumas "soluções" elas quais não gosto e que
o scanneras armazenava em disquete. Um programa ele tradução tenho evitado:
converteria letras e palavras num texto que pudesse ser eclitaclo
• Substituir be (ele) por she (ela) nada resolve, pois sim-
como qualquer arquivo ele processamento ele texto.
plesmente troca um problema discriminatório por outro.
Escaneamento de textos, cio tipo que acabei de descrever,
certamente será uma elas tecnologias mais importantes no
• Fazer usos aleatórios ou alternativos ele ele e ela acaba
futuro. Mas descobrimos que ainda não era uma tecnologia
confundindo, sugerindo haver uma razão para se usar o
do presente. A editora contratou uma empresa para o trabalho.
feminino ou o masculino.
Uma vez prontos, os arquivos tinham, no dizer orgulhoso desta
empresa, "85% ele exatidão". Vale dizer, um sétimo cio texto
saíra errado! (Posteriormente, descobri que outras empresas e • Usar repetitivamente 'ele ou ela' é desajeitado, embora
sistemas são mais exatos, mas mesmo assim escanearnenro ele seu uso parcimonioso possa ser bom.
textos ainda não pode ser considerado "uma ciência exata".)
Os heróicos esforços ele minha secretária, Aclrienne • Mutantes lingüísticos como ele/a (em inglês, s/be) são
Alexander, finalmente me perm.itiram ter em 1988 um conjunto horrorosos, além ele impronunciáveis. Além do mais,
de disquetes com a versão ele 1973 elo livro, me permitindo iniciar parecem uma concessão sarcástica ao que o escritor
a revisão. Caso o leitor tenha trabalhado com a edição anterior poderia considerar uma preocupação irrazoável: como
do livro, aqui vão alguns comentários sobre as principais referências sarcásticas a personagemetu em lugar ele
mudanças nesta edição. management, personual em vez ele manual etc.
Eis o que para mim tem funcionado. Usar a primeira e/ou Ensinando e escrevendo, acho que, com o tempo,
segunda pessoa, evitando a terceira, produz uma comunicação melhorei as explicações de diversos aspectos cio processo
mais pessoal e evita o dilema sexísta. "Se quisermos, você e eu de pesquisa, e esta nova edição me dá oportunidade de compar-
podemos escolher uma amostragem sistemática ... " é um exemplo. tilhar o que aprendi. Particularmente, as novas tecnologias
Quando preciso acrescentar urna terceira pessoa, uso nomes ela informática me auxiliaram a mostrar graficamente muitos
anclróginos como Jan e Par. Outra solução são os pronomes conceitos, que é a forma como os compreendo mentalmente.
plurais, como: "pesquisadores optam por amostragem siste- Sempre converti imagens e diagramas em palavras, mas hoje
mática quando tbey desejam ... " Ubey é tanto eles ou elas). estou mais apto a apresentá-las au nat urel.
A linguagem sexisra também pode ser evitada pelo uso Finalmente, o livro novo dá mais atenção explícita ?t
coloquial, geralmente aceito no inglês oral, ela terceira pessoa
pesquisa ele mercado. Pelo que sei, a edição ele 73 foi muito usada
do plural (them), quando o gênero é indefinido. Por exemplo:
como referência supletiva em cursos e agências ele mareeting, já
"quando chega uma pessoa a meu gabinete, faço com que tbent
que, em minha opinião, manuais sobre pesquisas ele marketing
sentem numa cadeira", se bem que revisores dificilmente deixam
tendem a ser mais teóricos que práticos. Certamente pesquisa
passar desapercebida esta construção.
ele suroey é uma técnica amplamente utilizada por pessoas ele
Depois ele encontrar esta e outras soluções para evitar marketing. Se bem que não pretendendo fazer deste livro o texto
linguajar sexista, finalmente descobri a melhor solução: parar principal ele um curso de pesquisa ele mercado, tentei fazê-lo
ele pensarem termos sexisras. Quando pensava num pesqui- mais relevante e útil como suplemento.
sador, não mais pensava na figura ele um homem - nem só
Como na edição original cio livro, gostaria de agradecer
em mulheres para entrevistadoras. Conseqüentemente, já
diversas pessoas, importantes para sua criação. Inicialmente
quase não me mero mais em armadilhas sexistas que exigem
acrobacias lingüísticas para delas escapar. rededico-o a Samuel A. Stouffer, Paul F. Lazarsfeld e Charles
Y. Glock, em quem vejo minha linhagem na pesquisa ele suroey.
Além ele eliminar o linguajar sexisra da edição ele 73, tive
O comentário estranho sobre "os velhos turcos" é uma refe-
também ele lidar com alguns exemplos desatualizados ele pes-
rência à dedicatória ele Paul Lazarsfelcl para sua obra Tbe
quisas. Exemplo: em vez ele falar do sucesso cios pesquisadores
Language of Social Researcb (1955) a "Charles Y. Glock e seus
que previram a eleição ele Richard M. Nixon para a presidência
'jovens turcos' no Escritório ele Pesquisa Social Aplicada ela
cios EUA em 1968, usei dados de boca ele urna da eleição presi-
Universidade ele Col u mbia".
dencial ele 1988 para ilustrar o poder ela amostragem ele su ruey.
Pelos comentários tão sábios quanto simpáticos cios
O fato ele só haver comprado meu primeiro computador
rascunhos da edição revista, sou grato aos colegas Alan Acock,
pessoal seis anos após a publicação ela primeira edição indica
da Louisiana State Universiry, e Tom Guterbock, ela Universi-
a atualização necessária na área ele tecnologia de pesquisa.
dade ela Virgínia.
A edição atual não mais supõe pesquisadores usando cartões
perfurados nem contadores-classificadores ou computadores Serina Beauparla nt, a nova editora ele sociologia na
"queimadores ele lenha". O foco agora é no uso de microcompu- Waclsworth, herdou o manto que Steve Rutter vestira dezesseis
tadores, entrevistas assistidas por computador e coisas assim. anos antes. Seu trabalho foi excepcional, como demonstra este
Até diria que minha descrição ela tecnologia ele suruey está produto acabado. Nesta tarefa, foi auxiliada por Dorma Linclen,
provavelmente um pouco à frente elas normas atuais - contudo, editora ele produção, e pelo designer-excccuvo Andrew Ogus.
por pouco tempo. O que hoje parece ele ponta, bem logo será Finalmente, gostaria ele agradecer a minha esposa Sheila,
ele uso geral e, cm pouco tempo, se desatualizará. que inicialmente teria sido co-autora ela primeira edição. Apesar
Além cio hardware ele informática usado em pesquisas, ele ter resolvido não fazê-lo, continua sendo minha eterna
muitas outras coisas mudaram nos dezesseis anos desde a parceira e colaboradora. Fonte permanente de inspiração,
primeira edição. Pesquisadores aprenderam truques novos, constantemente me incentivou a olhar acima e além elas
desenvolveram novas técnicas etc. Embora seja impossível fazer montanhas, cio outro lado elas esquinas e debaixo elas pedras.
justiça a toda ela num só livro, tentei abordar a maioria da Convido-o, leitor, a investigar e rocurar comigo nas páginas
nova literatura.
que se seguem. Universidade de Brasília

BIBLIOTECA
Prefácio a' Primeira Edição

Pesquisa de suruey é hoje provavelmente o método ele


pesquisa mais conhecido e amplamente usado nas ciências
sociais. Cresce diariamente seu uso no mundo acadêmico. É
lecionada e usada em departamentos ele sociologia, ciência
política, psicologia, administração ele empresas, saúde pública
e geografia, dentre outros. Cada vez mais, alunos de pós-
graduação nas ciências sociais são incentivados a fazer surueys
como requisito de pesquisa original para teses e dissertações.
Estudantes ele graduação freqüentemente fazem suroeys, e pro-
fessores anualmente publicam relatórios ele centenas ele surueys.
Fora elo mundo acadêmico, quase todo mundo ouviu
falar ele pesquisas ele opinião pública, ele previsões eleitorais,
ele estudos do mercado ele consumo e ele censos. Praticamente
todo mundo já foi afetado por pesquisas. Campanhas e sonhos
políticos deslancham ou são destruídos com base em pesqui-
sas eleitorais. Empresas produzem em massa ou interrompem
produção baseadas em pesquisas ele mercado. Programas
sociais de ajuda federal muitas vezes dependem dos resultados
ele estudos ele população em cidades e estados carentes. Ativi-
dades tanto profissionais como não profissionais de pesquisas
são freqüentes. Clubes pesquisam seus sócios sobre políticas
a seguir e datas ele piqueniques. Bibliotecas e lanchonetes
levantam preferências cios usuários sobre serviços e horários.
Estações de rádio convidam ouvintes a telefonarem votando
em temas comunitários.
O uso tão difundido e a aceitação tão ampla ela pesquisa
ele suruey parece indicar que se trata de técnica de fácil
aprendizado e utilização. Todos que leram um relatório ele está cheio ele livros e ensaios que discutem a lógica teórica ela
pesquisa ele opinião no jornal local provavelmente acham investigação científica, sem especificar como normas científicas
que eles mesmos podem fazer uma. Afinal, qualquer um são aplicadas na prática. No outro extremo, há um punhado de
pode perguntar e contar as respostas. livros do tipo receita-ele-cozinha no mercado, com diretrizes
passo a passo sobre como pesquisar, mas sua utilidade diminui
Por Que Este Livro Enfatiza Lógica e Capacidades rapidamente à medida que a situação ele campo cio pesquisador
se diferencia daquelas discutidas diretamente no texto. Quando
o pesquisador encontra um problema ele campo não coberto no
Este livro aborda três questões relacionadas à percepção livro-receita, ficará provavelmente perdido. Este livro procura
errônea de que é fácil fazer pesquisas ele suruey. Em primeiro uma solução para este problema.
lugar, a popularidade destes métodos tem levado a muita Este texto é focado na lógica e nas capacitações ela pesquisa
pesquisa malfeita. Às vezes, técnicas ele pesquisa são mal- ele suruey. Relativamente pouca atenção é dada à estatística, já
usadas, muitas vezes surueys são realizados quando algum outro que há vários textos excelentes sobre ela. Ao cobrir os diversos
método ele pesquisa seria mais adequado. Espera-se que a dis- aspectos cio desenho e ela análise ele suruey, usei o seguinte
cussão detalha ela ela lógica e elas capacitações necessárias às formato. Primeiro, discute-se a lógica teórica, por exemplo, ela
pesquisas ele su roey ajude a melhorar a qualidade elas mesmas. amostragem. É necessário que o leitor entenda a lógica básica
Em segundo lugar, o mau uso e o uso excessivo levaram à ele se selecionar uma amostra de entrevistados cujas respostas
rejeição total de pesquisas de suroey por parte ele muitas pessoas, podem representar a população da qual foram selecionados.
inclusive um número crescente ele jovens cientistas sociais. Neste Então, discutem-se, passo a passo, os métodos mais típicos ele
aspecto, espera-se que este livro demonstre que pesquisa ele amostragem. A esta altura, o leitor eleve entender não apenas
suroey pode ser um método extremamente útil ele investigação como selecionar uma amostra convencional, mas também por
científica em certas situações. Usadas corretamente em situações que métodos convencionais de amostragem advêm ela lógica
apropriadas, suroeys podem gerar inforrnações necessárias, difíceis teórica da amostragem. É apresentado, em seguida, um leque
ele se obterem através ele qualquer outro método. ele problemas práticos freqüentemente encontrados por pesqui-
sadores ele campo e discutem-se métodos típicos ele se lidar
Em terceiro lugar, afirmar que cleterrninacla pesquisa foi
com tais problemas, dentro cio contexto ela lógica ela amos-
mal feita pressupõe a existência ele um acervo comprovado e
tragem cio sttroey. Aqui, o leitor eleve entender por que as
estabelecido ele padrões científicos, à luz cios quais avaliar ativi-
soluções sugeridas oferecem a melhor correspondência com a
dades ele pesquisa. Lamentavelmente, isto não ocorre. Certamente
lógica e os métodos ideais ela amostragem. Não há como
há padrões científicos muito rigorosos em alguns aspectos ela
abordar todos os problemas práticos que os leitores possam
pesquisa ele suruey, como amostragem e manipulação estatística
porventura vir a encontrar, mas se espera que eles compre-
de claclos. Mas os padrões não são tão claramente definidos em
endam, na prática, a lógica ela amostragem, ele forma a poderem
outros aspectos, tais como a redação ele questões e a codificação chegar às suas próprias boas soluções. Mesmo quando a
ele respostas. Padrões existentes em geral não são formalizados situação ela pesquisa não permite uma boa solução, o leitor
e, ainda por cima, tendem a ser transmitidos como tradição oral, eleve ser capaz ele avaliar o significado ela decisão que tomar, a
ele pesquisador para aluno-aprendiz. Contudo, pesquisadores respeito elas conclusões a serem tiradas cio seu estudo.
iniciantes sem acesso a este sistema ele aprendizado podem não
Nenhum suroey satisfaz plenamente os ideais teóricos ela
entender nem mesmo os padrões informais. Este livro procura
investigação científica. Cada um representa um conjunto ele
revelar estes padrões informais e ordená-los dentro do contexto
compromissos entre o ideal e o possível. A meta primordial
lógico ela investigação ciencífica.
deste texto é ajudar os leitores a chegarem aos melhores
O próprio título, Suruey Researcb Metbods, reflete a orien- compromissos possíveis. Su roeys perfeitos podem não ser
tação geral cio texto. Como instrutor ele métodos ele pesquisa ele possíveis, mas bons suroeys podem e elevem ser realizados.
su ruey e consultor ele surueys, eu sentia a necessidade preme me Este livro pode parecer um tanto elementar, focalizando
ele um só volume que oferecesse a estudantes e a pesquisadores quase exclusivamente a lógica e as capacitações básicas. Por
em potencia! um guia prático ele pesquisas ele s11ruey. O mercado exemplo, relativamente pouca atenção é dada às técnicas c.le
escala, enquanto muita atenção é devotada à construção ele probabilidade ele um pesquisador encontrar orientação no texto.
índices simples. Discussões de análise de S/1/Vey são primor- Simultaneamente, busquei apresentar tais exemplos dentro ela
dialmente focalizadas em tabelas ele percentagens. Há duas lógica básica ela investigação científica. Em vez de pedir que o
razões para esta orientação. A literatura metodológica existente leitor memorize técnicas específicas - mesmo um leque variado
cobre extensamente técnicas avançadas, enquanto as técnicas ele técnicas-, peço que emenda por que determinadas técnicas
mais básicas têm sido abordadas menos extensamente. Mais são recomendadas e usadas. Assim, quando o pesquisador
importante, uma base firme na lógica e nas capacitações para a precisar aceitar um compromisso ou aproximação, eleve estar
pesquisa de suruey é pré-requisito para o pleno entendimento apto a saber o que está comprometendo e que conseqüências
ele técnicas mais avançadas. Assim, se o leitor conseguir com- este provavelmente acarretará.
preender plenamente a lógica de análise através de tabelas de
Finalmente, espero que os consumidores ele pesquisa
percentagens, sinto que estará mais equipado para lidar com
de su ruey encontrem neste livro o solo metodológico que os
correlações, regressões, análise fatorial e assim por diante.
ajude a fazer avaliações críticas e esclarecidas. Espero ter apre-
Lamentavelmente, hoje em dia, muitos alunos saltam diretamente
sentado um quadro suficientemente completo das realidades
para formas mais complicadas de análise, sem entenderem bem
a lógica elas pesquisas em geral. práticas ela pesquisa ele campo, para melhorar a perspectiva cios
críticos cio su ruey. Discutindo honestamente os méritos e usos
possíveis ela pesquisa de s11 roey, espero converter alguns críticos
em apoíadores esclarecidos. Também discuto as desvantagens,
Como f ste Livro Pode for Usado insuficiências e maus usos das pesquisas de suruey, com a
esperança ele ajudar alguns usuários ardentes demais a se
Este livro foi feiro para uma ampla faixa ele leitores:
tornarem um pouco mais críticos.
qualquer pessoa interessada em realizar um suruey ou em usar
e/ou avaliar os resultados ele um suruey. Mais especificamente,
destina-se a três audiências distintas: estudantes ele metodologia,
pesquisadores principiantes e consumidores ele pesquisas. Âgradecimentos
Primeiro, o livro se dirige a alunos de graduação cursa nclo
Tive muita sorte ao ter a oportunidade ele aprender
pela primeira vez métodos ele pesquisas. Enquanto diversos
pesquisa de suruey num ambiente ele aprendizado, tutelado por
professores preferem enfatizar pesquisa ele su ruey no curso
Charles Glock. Numa época em que professores são acusados
geral, outras metodologias podem ser acrescentadas. Por isso
de explorar estudantes, Charlie consistentemente me tratava
o livro é publicado em capa mole, para permitir um uso flexível
como um colega mais jovem, me incentivando a embarcar em
cios materiais. A organização elo material surgiu ele minhas
projetos próprios e me tornar mais independente, podendo
próprias experiências em sala de aula, lecionando metodologias
recorrer a ele para orientação mais avançada. Um reconhecimento
ele suruey e um esboço preliminar cio texto foi testado neste
ambiente. Além cios materiais no corpo ela obra, a maioria cios rotineiro num prefácio de livro é muito pouco para a dívida que
capítulos vem acompanhada de uma lista ele leituras adicionais, tenho com Charlie Glock. Apesar ele depois ter aprendido coisas
que podem ser usadas para um exame mais detalhado de sobre pesquisa ele suruey que ele não me ensinou, ainda me
tópicos específicos. sinto um constrangido ao afirmar que este livro é meu.
Em segundo lugar, o livro pretende ser um guia prático Ao mesmo tempo, elevo muito a outros professores e
e realista para o pesquisador principiante, sem muita experiência colegas, principalmente a Roei Stark, que agia como irmão
em pesquisas ele suruey. O livro aborda os prováveis problemas, mais velho nos meus primeiros anos na Universiclacle de
decisões e compromissos que constituem a substância quotidiana Berkeley. Mais tarde, em Berkeley, tive a sorte ele conhecer
ela pesquisa ele campo. Procurei oferecer o leque mais amplo Gertrucle Selznick, que me obrigou a examinar ainda mais
possível de exemplos tirados ele minhas próprias pesquisas e profundamente os alicerces lógicos da análise de suruey, e
consultorias, numa ampla variedade de projetos e condições ele nossas comparações ele anotações sobre pesquisa empírica
pesquisa, bem como elas experiências ele colegas e outros me deram um entendimento bem melhor elo que é de fato inves-
pesquisadores. Espero que o número ele exemplos aumente a tigação científica. Outros mestres e colegas que aprimoraram
minha compreensão da pesquisa de suroey enquanto ciência
incluem George von Bekesy, Lin Freeruan, Dave Gold, Ren
Likert, Bill Nicholls, Jay Palmore, Steve Steinberg e Charlie
Ya rbroug h. Sou especialmente grato pelos comentários
O Contexto Científico da
detalhados e profundos de três revisores do manuscrito: Andy
Anc.lerson, Joseph Spaeth e Billy J. Franklin.
Igualmente reconheço minha dívida para com os muitos
Pesquisa de Survey
pesquisadores com quem trabalhei em consultoria. Alguns me
ensinaram novas técnicas, outros revisaram e comentaram os ChPÍTULO l
primeiros esboços deste texto. Dentre eles cito Jim Dannemiller,
 LÓGIC Oh ClfNClh
Dave Ford, Dennis Hall, Dave Johnson, Jan LeDoux, Heung-soo
Park, Dinny Quinn, Françoise Rutherford, Yongsock Shin, Dave
ChPÍTULO 2
Takeuchi, Chuck Wall e Choon Yang.
Além cio mais, o livro jamais teria se concretizado sem a  ClfNClh f hS ClfNClhS SOClhlS
assistência ele diversas pessoas envolvidas com o manuscrito.
Na editora Wadsworrh, Jack Arnold, Steve Ruttcr e Roei Stark ChPÍTULO 3
organizaram e providenciaram importantes insumos editoriais. PfSQUISh Df SURVEY COMO MÉTODO DhS ClfNClhS SOClhlS
Barbara Higa assumiu um extenso projeto bibliográfico. Par
Horton me ajudou a encontrar tempo para redigir, além ele ter
datilografado o longo manuscrito. Este livro aborda o tema ela pesquisa científica. Sua
Dado seu conhecimento especial ele coleta ele dados e finalidade é ajudá-lo a fazer suas próprias pesquisas e compre-
experiência geral com pesquisas ele suruey, minha esposa ender as pesquisas feitas por outros. Embora o livro focalize um
Sheila teria sido co-autora elo livro, Lendo papel importante determinado método ele pesquisa - o suroey -, eleve ser lido
na organização inicial ela obra. Pouco depois cio início ela dentro cio contexto geral ela ciência. A pesquisa ele suruey
redação, tornou-se impossível para Sheila dedicar tempo emprega técnicas específicas peculiares a este método, que
suficiente ao livro, mas ela continuou ativamente participando podem se encaixar nas normas gerais ela investigação científica.
como consultora, confidente e crítica. Apesar ele termos ciência há séculos e inúmeros livros
terem sido escritos sobre pesquisa científica, o assunto ainda
hoje é enigmático para não-cientistas e cientistas iniciantes.
A Parte 1 deste livro pretende oferecer urna visão geral da
lógica ela ciência, para que, posteriormente, as técnicas espe-
cíficas ela pesquisa de suroey possam fazer mais sentido. Três
capítulos são dedicados a este tópico.
O Capítulo 1 considera a lógica básica ela ciência. Começa
discutindo a imagem tradicional ela ciência, imagem que creio
ser em geral enganosa e inapropriada no contexto da atual pes-
quisa científica. Neste aspecto, meu propósito não é desmistificar,
mas tornar a ciência relevante e realista.
Na prática, a ciência não é nem mística nem pura. Como
todas as atividades humanas, a pesquisa científica é um compro-
misso entre o ideal e o possível. Na prática, é freqüentemente
guiada pela emoção, pelo erro e pela não-racionalidade. Todavia,
a pesquisa científica é bem diferente de outras atividades
humanas. Tentarei elucidar tais diferenças no Capítulo 1.
O Capítulo 2 aborda o tópico ainda mais complicado da
ciência social, sobre o qual muito se escreveu nos últimos

Capítulo 1
anos. Alguns autores insistem que a ciência social é tão "cien-
tífica" quanto a ciência natural. Outros não aceitam tal noção.
Ainda outros pensam que a pesquisa social está progredindo
rumo ao status de ciência, mas ainda não chegou lá.
Sugiro que este debate não faz sentido. Assim como é
impossível uma afirmação definitiva sobre o que "ciência"
realmente é, é igualmente impossível afirmar que a ciência
social é ou não científica. O que faremos é considerar as
diferenças e semelhanças entre ciências sociais e naturais,
explorando as implicações destas diferenças e semelhanças
L o g
/

e a d a e A

e n e
para a lógica e as técnicas ela pesquisa científica social.
O Capítulo 3 é dedicado a um exame específico ela pes-
quisa de suruey. O capítulo começa com um apanhado histórico
elos surueys e passa a abordar modos como a pesquisa ele suroey
se encaixa nas normas gerais ele ciência e ele ciência social.
Ciência é uma palavra caseira. Todos a usam, pelo menos
O propósito principal destes capítulos é prepará-lo para ocasionalmente, mas imagens da "ciência" diferem muito. Para
o entendimento elas bases lógicas subjacentes às competências alguns, é sinônimo ele matemática, para outros significa aventais
e técnicas específicas ela pesquisa de suruey. Em termos mais
brancos e laboratórios, outros a confundem com tecnologia, e
gerais, espero que você adquira um embasamento melhor na
há aqueles para quem a palavra equivale a matérias difíceis
lógica ela ciência per se. Isto é particularmente importante
em cursos colegiais ou universitários.
porque toda pesquisa científica é um compromisso entre o
ideal e o possível. A maior parte deste livro lida com estes Evidentemente, ciência não é nenhuma destas coisas
compromissos. per se. Porém é difícil especificar exatamente o que é ciência.
Este capítulo começa resumindo a imagem ele ciência freqüen-
Inicialmente examinamos o que deve ser feito em cir-
temente apresentada a estudantes em cursos de introdução às
cunstâncias ideais, consideramos em seguida quais compro-
ciências. Em seguida, examinamos a imagem negativa que
missos são mais apropriados quando o ideal não pode ser
algumas pessoas têm das ciências. Finalmente, descrevemos
atingido. A menos que você compreenda plenamente a lógica
os componentes lógicos da ciência tal como é praticada.
básica ela ciência, não conseguirá entender por que um com-
promisso é aceito no lugar de um outro. Compreendendo
esta lógica, ao começar sua própria pesquisa você será capaz
de conseguir o melhor compromisso possível dentro das ~ Perspectiva Tradicional
reais condições ele campo.
Cursos de introdução às disciplinas científicas freqüen-
temente apresentam uma imagem de Ciência que a faz parecer
direta, precisa e até rotineira. Posteriormente, neste capítulo,
criticarei esta perspectiva, mas ela é útil como ponto de partida.

Teoria Científica
Cientistas, é o que se diz, começam com um interesse
por algum aspecto do mundo ao redor. O interesse pode ser
saber corno a pressão arterial é regulada no corpo, por que
o quanto as predições elevem ajustar-se às taxas observadas de
um grão ele arroz é mais duro que outro, o que determina o
crescimento para confirmar ou rejeitar a hipótese. Deixar claro
caminho cios comeras ou o que causa câncer. Então, eles
tudo isso de antemão pode evitar muita discussão mais tarde.
examinam rigorosamente esse tópico e estrutura em termos
lógicos e abstratos.
Eles identificam rodos os fenômenos relevantes ao assunto Experimento
estudado. Com base no conhecimento existente, inter-relacionam
Finalmente, as operações especificadas são efetuadas.
estes fenômenos numa rede ele relações causais' - quais
Dados são coletados e manipulados como prescritos e a
elementos causam ou influenciam outros elementos. Deste
hipótese é testada. Se o experimento confirmar a hipótese,
modo, desenvolvem uma teoria, um conjunto ele proposições valida-se a teoria geral ela qual ela foi derivada. Se a hipótese
lógicas, inter-relacionadas, que explicam a natureza do não for confirmada, a teoria geral é questionada. Qualquer
fenômeno estudado. que seja o resultado, presume-se que você publicará seus
Para testar a validade ela teoria, supostamente derivam achados, o mundo se tornará um lugar um pouco melhor
hipóteses, que são predições sobre o que acontecerá em para se viver e você começará a pensar noutros tópicos para
condições especificadas. Muitas vezes, essas hipóteses são conquistar.
da forma se - então. Se o Evento A acontecer, segue-se então Imaginação e brilho parecem necessários para construir
o Evento B. Por exemplo, se você escudar bem neste curso, uma teoria, mas não para a coleta e análise de dados. Especifi-
terá uma vicia muito feliz. (É uma hipótese, lembre-se, não cados de antemão os métodos experimentais e as operações,
necessariamente o que as coisas são.) Já que esta relação causal assistentes técnicos supostamente podem realizar e interpretar
é sustentada pela teoria geral, se o Evento I3 não se seguir ao o experimento.2
Evento A, a validade da própria teoria seria questionada.

Üperoci ona I i zação Resumo


Teorias por natureza são abstratas e gerais. Hipóteses, Já que cientistas operam com procedimentos racionais e
embora mais específicas, são também em geral um tanto objetivos, suas conclusões têm supostamente mais qualidade cio
abstratas. (No exemplo acima, não especifiquei que tipo ele que as impressões subjetivas e preconceitos do leigo. Cientistas
estudo ou que tipo de felicidade.) Assim, hipóteses devem lidam com fatos e números e diz-se que os números não mentem.
ser convertidas em termos operacionais, isto é, nas operações
concretas feitas para testá-las - processo chamado ele opera-
cionalização. Você eleve especificar quais fenômenos no
mundo real constituem o Evento A e quais constituem o
h Desmistificação da Ciência
Evento B. Em anos recentes, dá-se a alguns estudantes uma imagem
Se a hipótese é sobre o efeito ela temperatura na taxa ele da ciência e dos cientistas bem diferente ela perspectiva
crescimento de uma planta, você especifica como temperatura e tradicional apresentada. Esta visão mais negativa da ciência tem
crescimento serão medidos, ou seja, que operações correspon- várias dimensões.
dem a esses conceitos abstratos. Especificadas as operações, você Primeiro, salienta-se que cientistas são motivados pelas
descreve um experimento para testar a hipótese, especificando a mesmas emoções humanas e limitados pelas mesmas fraquezas
duração elo experimento, a freqüência de medição do cresci- humanas de todas as pessoas. Diz-se que cientistas freqüentemente
mento e ela temperatura, se e corno a temperatura será artificial- selecionam seus objetos de estudo com base em tendências
mente controlada, ou se variações naturais serão anotadas, e pessoais, e que alguns podem dedicar todas as suas energias a
como a medição será registrada e analisada e assim por diante. "provar" algum palpite de estimação. Em vez de planejar e
Baseado na sua hipótese, você pode prever taxas de cres- executar experimentos objetivamente, a pesquisa deles é uma
cimento correspondentes a diferentes temperaturas e especificar busca contínua ele dados para corroborar um preconceito.
Cultos e panelinhas elo mundo científico têm sido mostrados Os aspectos que não sobreviverem à crítica provavelmente não
ao público. Afirma-se que um trabalho científico apresentado deverão continuar fazendo parte do empreendimento científico.
para publicação pode ser julgado mais com base no pedigree O grande perigo na crítica a pesquisas malfeitas e até
acadêmico cio pesquisador (diplomas, escola etc.) elo que desonestas é oferecer uma fuga fácil à dificuldade de entender
nos méritos intrínsecos do próprio trabalho. Um editor de a ciência como esta eleve ser. Estudantes às vezes acham mais
periódico que estudou com o Professor X pode rejeitar todos simples ignorar a ciência, como se ela fosse uma bobagem
os trabalhos apresentados por alunos cio Professor Y. ritualista, do que aprender estatística ou a lógica da pesquisa
Além elo mais, freqüentemente se enfatiza que "idéias científica. É mais fácil considerar toda a ciência ruim cio que
aceitas" nas disciplinas científicas muito dificilmente podem se tornar um bom cientista.
ser questionadas. Um trabalho ele pesquisa apresentando Evidentemente, neste tópico sou tendencioso. Acredito
uma perspectiva radicalmente nova sobre um assunto antigo que a ciência é uma atividade humana significativa. Enquanto
e supostamente já decidido pode nunca ser publicado. muitas atividades rotuladas de "científicas" de fato não o são,
Também diz-se que muitos pesquisadores avaliam a pers- em minha opinião muitas atividades científicas diferem de
pectiva ele um projeto ele pesquisa mais pela probabilidade de formas importantes de outras atividades humanas. É importante
receber financiamentos do que por sua possível contribuição entender estas diferenças, tanto para quem pesquisa como para
ao conhecimento. quem lê sobre elas e tem suas vidas afetadas por elas.
O problema primordial tem a ver com a inexatidão da
Já que tanta pesquisa científica é realizada nas universi-
dades, é relevante anotar as críticas à norma "publique ou perspectiva tradicional do método científico, tal como é
convencionalmente apresentada a alunos principiantes ele
pereça", atribuída a muitos departamentos acadêmicos. A acu-
ciência, tanto nas ciências sociais como nas naturais. Na prática,
sação é que professores que se destacam no magistério podem
ser despedidos se não realizarem e publicarem pesquisas sufi- a ciência não corresponde exatamente à sua imagem tradicional,
cientemente. Pesquisas efetuadas sob tais condições ele pressão mas, ao mesmo tempo, não é tão ruim como argumentam seus
provavelmente não manifestam a curiosidade intelectual e a busca críticos mais severos. A seção seguinte procura descrever a
da verdade que associamos à imagem idealizada ela ciência. ciência na prática, que é distinta de sua perspectiva tradicional.
Em seguida, abordarei os aspectos que distinguem a ciência
Além elo mais, pesquisar por coerção às vezes produz
das outras atividades humanas.
fraudes científicas. Ocasionalmente, você lê na imprensa
reportagens sobre algum pesquisador que falsificou dados
para parecer um estudioso produtivo. Além de errado, este
tipo ele trapaça às vezes desorienta pesquisas ele outros, desper- h Ciência na Prática
diçando recursos, atrasando descobertas científicas, além de
outras perturbações causadas ao processo de pesquisa. A perspectiva tradicional sugere que os cientistas passam
diretamente de uma curiosidade intelectual sobre alguns fenô-
As críticas à ciência foram alimentadas por diversas
menos para a derivação de uma teoria. Raramente, talvez nunca,
narrativas francas ele pesquisas, publicadas nos últimos anos
isto acontece. O interesse inicial num fenômeno muitas vezes se
por cientistas ele renome.' Cada vez mais cientistas procuram
origina em alguma pesquisa empírica anterior, talvez em alguns
apresentar honestamente seus projetos ele pesquisa, pôr seus
achados inconsistentes gerados pela sua própria pesquisa ou no
achados numa perspectiva adequada e oferecer melhor
trabalho de outros. De certo modo, você pode começar com a
orientação a aspirantes a pesquisadores. Como estas narra-
"resposta" e partir para a descoberta ela "questão".
tivas revelam erros, omissões e outros problemas práticos,
muitos críticos contemporâneos da ciência as tomam como Você pode iniciar com uma observação específica: crian-
confissões de que esta não passa ele mistificação. ças de lares sem pai e/ou mãe têm taxa de delinqüência mais
alta cio que as outras. Em seguida, você tenta desenvolver
Alguma desmistificação ela ciência é até boa ele vez em
um entendimento mais geral de por que isto acontece.
quando. É fácil pensar na ciência como um empreendimento
místico e os cientistas como praticantes-mágicos infalíveis. Se a Quase nunca teorias resultam de processos totalmente
ciência é fundamentalmente uma atividade racional e objetiva, dedutivos. Mais cornumente, teorias são o resultado final de
deve ser capaz ele resistir a uma avaliação racional e objetiva. uma longa cadeia ele dedução e indução. Em certo ponto,
você pode ter uma explicação preliminar ele uma relação empírica, podem ser perdidos ou falsificados. (Como se verá neste livro,
pode testar esta explicação preliminar através da coleta ele mais esses problemas são particularmente comuns em surueys.) Além
dados, usar os novos resultados para modificar a explicação, disco, a operacionalização de conceitos nunca é totalmente não-
coletar novos dados e assim por diante. Construção ele teoria, ambígua e eleve ser especificada mais ainda durante o experi-
então, envolve interação ele observações e explicações. mento. Cada uma destas situações requer decisões que influen-
Portanto, raramente as teorias são confirmadas num ciarão o resultado cio experimento e, por extensão, a avaliação
da hipótese e a teoria ela qual ela pode ter sido derivada.
determinado momento. Na ciência, são relativamente poucos os
"experimentos críticos", ou seja, experimentos que levam toda a Isto é importante. Se você trabalhou como assistente
teoria a se sustentar ou desabar. Ao contrário, evidências mon- de pesquisa num projeto, ou conhece outros que o fizeram,
tadas pouco a pouco apóiam uma teoria continuamente provavelmente conhece a disparidade entre o desenho teórico
modificada. Em algum momento, alguma forma ela teoria pode do projeto e o trabalho quotidiano nele. Especialmente se
se tornar geralmente aceita, mas raramente é possível identificar foi um projeto mal supervisionado, você pode ter uma visão um
o momento exato em que a teoria foi "provada" ou aceita. Além canto negativa ela sua descrição, aparentemente tão científica
cio mais, toda teoria continua a passar por modificações. numa publicação acadêmica. Neste caso, você pode ficar tentado
Nenhum cientista já descobriu ou descobrirá "A Verdade". a concluir que toda ciência é "não-científica".
A operacionalização ele conceitos nunca é tão clara e direta Enfatizo este ponto por dois motivos. Primeiro, saliento
como sugere a imagem tradicional ela ciência. Este assunto será (e farei isso no livro todo) que a qualidade ele um projeto ele
abordado mais profundamente no Capítulo 7, mas deve-se pesquisa depende em grande parte das decisões e atividades
observar que a maioria cios conceitos científicos são passíveis aparentemente mundanas que se dão na coleta e no proces-
de diversas interpretações. Assim, você pode especificar opera- samento de dados. O diretor de projeto que não se envolve
cionalizações preliminares desses conceitos e usar os resultados intimamente com tais atividades corre o sério risco ele dirigir
dos experimentos tanto para avaliar tais operacionalizações um projeto sem sentido. Mas, ao mesmo tempo, as implicações
quanto para testar hipóteses. Se melhorias num novo bem destas decisões - mesmo o desleixo - nem sempre aparecem
de consumo aparentemente não aumentarem a satisfação cios prontamente. O que ao leigo pode parecer um procedimento
consumidores, você pode questionar se está medindo satisfação desleixado pode ele fato ser insignificante para o valor final
adequadamente. dos dados. Tomar boas decisões e avaliar as implicações
das más depende de uma compreensão sólida da lógica da
Mesmo quando conceitos são operacionalizados ele forma
ciência enquanto atividade distinta. É este último aspecto
aceitável, resultados experimentais raramente são conclusivos
que abordaremos agora.
em sentido absoluto, mesmo com relação a hipóteses específicas.
Tipicamente, se confirma ou se rejeita uma hipótese até certo
ponto, quase nunca completamente. Já comentamos que teorias
são normalmente aceitas com base no peso da evidência de O que É Ciência?
diversos experimentos. Se um grande número de observações
empíricas é mais bem explicado pela Teoria A cio que por Basicamente, toda ciência pretende entender o mundo ao
qualquer outra teoria disponível, então a Teoria A provavel- redor. Três componentes principais constituem esta atividade:
mente será aceita.' descrição, a descoberta de regularidades e a formulação ele
teorias e leis. Primeiro, cientistas observam e descrevem objetos
Finalmente, é totalmente incorreta a impressão ele que
testes empíricos são uma atividade rotineira. A imagem tra- e eventos que aparecem no mundo. Isto pode envolver a
dicional da ciência sugere que criatividade e até mesmo brilho medição ela velocidade ele um objeto que cai, o comprimento
são necessários à derivação ele teorias e ao desenho de experi- ele onda de emissões de uma estrela distante ou a massa ele
mentos, mas que a execução propriamente elita cios experimentos uma partícula subatômica. Tais descrições são guiadas pelos
objetivos ela exatidão e ela utilidade.
é monótona e sem imaginação. Na prática, a execução ele um
experimento, a coleta de dados empíricos, exige inúmeras Segundo, cientistas procuram descobrir regularidades e
decisões críticas. Surgem situações inesperadas. Observações ordem no caos por vezes alucinante e estonteante ela experiência.
bizarras são registradas, sugerindo erros ele mecl ida. Dados Em parte, isto pode envolver a coincidência ou correlação ele
certas características ou eventos. Assim, por exemplo, você mas cujos cientes apodrecem e caem. O racista pode ignorar todos
pode notar que pressão atmosférica se correlaciona com os lojistas chineses honestos e todos os não-chineses desonestos.
altitude ou que a aplicação de força a um objeto resulta na
O cientista descuidado pode justificar o fato de ignorar
modificação de sua velocidade.
cais relatórios atribuindo-os a trabalho ele campo malfeito.
Terceiro, cientistas tentam formalizar e generalizar as (Evidentemente, o cientista cuidadoso lidaria com tais casos.)
regularidades descobertas em teorias e leis. São exemplos disto o racista pode referir-se vagamente às "exceções que provam
a lei da gravidade de Newton e as teorias gerais e especiais da
a regra".'
relatividade de Einstein. Teorias e leis são, em geral, enunciados
Ao se depararem com um excesso de observações que
lógicos de relações entre características e eventos que oferecem
desconfirmam suas hipóteses, tanto o cientista descuidado
explicações para uma ampla faixa de ocorrências empíricas.
como o racista procurarão informações adicionais que possam
Vale a pena observar que não-cientistas buscam estas alinhar as observações perturbadoras às suas conclusões. No
mesmas três metas. Todos nós observamos e descrevemos o caso da tribo com dentes bons mas dieta diferente, o cientista
mundo ao redor. Procuramos achar regularidades: o fun- pode intensificar o trabalho de campo na tentativa de descobrir
cionário de escritório pode descobrir que chegar atrasado que a dieta desta tribo é mais semelhante àquela em questão
ao trabalho resulta em repreensão. Tentamos formular leis e do que parecia inicialmente. Confrontado a um lojista não-
teorias que ofereçam orientação geral na vida diária, tais chinês desonesto, o racista poderia começar a buscar um avô
como perspectivas religiosas que sustentam que aderir a chinês do bisavô deste lojista ou paixão por comida chinesa.
ensinamentos religiosos resultará em recompensas neste e/
Apesar ele anomalias empíricas, nosso cientista pode
ou no outro mundo.
acabar com uma teoria relacionando uma certa dieta a saúde
Para enfatizar este ponto, vejamos as semelhanças nas dental, e o racista, uma teoria de que chineses são desones-
respectivas atividades ele um cientista descuidado e ele um tos. As duas teorias serão a parentemente corroboradas por
racista. Ambos fazem observações sobre o mundo e podem observações empíricas e explicações lógicas.
relatá-las a outros. Por exemplo, o cientista observa que mem-
A comparação acima visa salientar dois pontos. Primeiro,
bros ele uma determinada tribo primitiva gozam de saúde
não há diferença mágica entre atividades científicas e não
dental relativamente boa; o racista observa que um lojista
científicas. Vimos duas linhas ele investigação bem semelhantes.
chinês trapaceou numa transação comercial. O cientista
Segundo, as atividades de "cientistas" variam em qualidade
conclui preliminarmente que a dieta ela tribo pode ser responsá-
"científica". Faz mais sentido falar ele atividades mais ou
vel pela saúde dental dos seus membros, enquanto o racista
menos científicas cio que clicotomizar entre atividades científicas
conclui que a raça elo lojista é responsável pelas práticas
e não científicas. Assim, uma linha ele investigação conduzida
comerciais antiéticas.
por um físico profissional pode ser relativamente não científica,
Tanto o cientista como o racista procuram novas obser- enquanto um bombeiro hidráulico pode fazer pesquisas cio
vações para reforçar suas conclusões preliminares. O cientista mais alto calibre científico.
checa a saúde dental de outras tribos primitivas com dietas
No restante desta seção, daremos atenção às caracte-
semelhantes, enquanto o racista fica ele olho em lojistas
rísticas que tornam uma determinada atividade mais ou menos
chineses. É importante notar que tanto o cientista como o
científica. Procuraremos compreender as características ideais
racista são seletivos em suas observações subseqüentes. Con-
da ciência, entendendo que nenhuma atividade está ele pleno
centrando-se na dieta, o cientista pode ignorar o ambiente
acordo com estes ideais, seja conduzida por um cientista
climático da tribo, a estrutura econômica e assim por diante.
profissional ou por um leigo.
Por sua vez, o racista não dará atenção à educação cios lojistas,
sua· classe social etc.
Além do mais, tanto o cientista descuidado como o racista Ciência É Lógica
podem tender a ignorar observações que contradizem as con- Ciência é fundamentalmente uma atividade racional, e
clusões a que chegaram. O cientista pode ignorar relatórios ele explicações científicas elevem fazer sentido. Religiões podem
boa saúde dental em tribos com dietas radicalmente diferentes se fundar em revelações, costumes, tradições, apostar na fé.
e relatórios sobre tribos que seguem a dieta em questão, A ciência, porém, eleve se fundamentar na razão lógica.
importantes para a busca científica: lógica dedutiva e lógica
Lógica é um ramo difícil e complexo da filosofia, e um
indutiva. Beveridge as descreve assim:
delineamento completo elos sistemas ela lógica excede em muito
o escopo deste livro. Talvez alguns exemplos ilustrem o que Os lógicos distinguem raciocínio indutivo (de instâncias
significa a ciência ser lógica. Por exemplo, um determinado evento
particulares para princípios gerais, de fatos para teorias) e
não pode logicamente causar um outro que ocorreu antes dele.
raciocínio dedutivo (do geral para o particular, aplicando
Suas atitudes sociais com relação a, digamos, relações raciais
teoria a um caso particular). Na indução, inicia-se com
não podem determinar a região do país onde você nasceu, mas
dados observados e se desenvolve uma generalização que
o inverso pode ser verdade.
explica a relação entre os objetos observados. Por outro
Assim, a ciência adota uma abordagem diferente elas visões lado, no raciocínio dedutivo se começa com alguma lei
teleológicas ele algumas religiões. Por exemplo, alguns cristãos geral, que é aplicada a uma instância particular."
acreditam que Jesus estava destinado a ser crucificado e que,
portanto, este destino fez com que ele fosse traído e julgado. Tal O exemplo clássico ela lógica dedutiva é o silogismo
ponto ele vista não pode ser aceito dentro ela lógica ela ciência. familiar: "Todos os homens são mortais; Sócrates é homem;
Na lógica ela ciência é impossível um objeto ter duas portanto, Sócrates é mortal." Um pesquisador poderia dar
qualidades mutuamente excludentes. Ao jogar uma moedinha, seqüência a este exercício dedutivo testando empiricamente a
não pode dar simultaneamente cara e coroa. Em contraste, mortalidade de Sócrates. Esta é essencialmente a abordagem
discutida antes como a "perspectiva tradicional ela ciência".
podemos notar que muitas pessoas preconceituosas dizem que
os armênios são "clânicos" (recusam misturar-se com outras Usando a lógica indutiva, você pode começar notando
nacionalidades) e "caras-de-pau" (impõem sua presença aos que Sócrates é mortal e observar também diversos outros
não-armênios). Face a essas assertivas conflitanres, a lógica homens. Você nota que todos os homens observados eram
da ciência sugere que ou uma ou outra, ou ambas, destas morrais e, a partir daí, arrisca a conclusão ele que todos os
caracterizações elos armênios não é verdadeira ou que as homens são mortais.
duas características estão definidas de tal forma que não A lógica dedutiva é um sistema muito antigo, remon-
são mutuamente excludentes. tando no mínimo a Aristóteles, que predominou na filosofia
Um evento também não pode ter resultados mutuamente ocidental até os séculos XVI ou XVII. O nascimento ela ciência
excludentes. Assim, educação superior não pode fazer uma moderna foi marcado pelo surgimento ela lógica indutiva em
pessoa mais rica e mais pobre ao mesmo tempo. Educação vários contextos científicos. Cada vez mais conclusões gerais
universitária pode fazer uma pessoa mais rica e outra pessoa derivadas ele observações cuidadosas contradiziam os postu-
mais pobre, assim como alguns armênios podem ser descritos lados gerais que ancoravam muitos sistemas dedutivos.
como clânícos e outros como caras-de-pau, mas resultados Na astronomia, por exemplo, as observações ele Ptolomeu
ou descrições contraditórias não têm sustentação lógica e levaram-no a variações do seu modelo, desenvolvendo um
são intoleráveis para a ciência. modelo epicíclico no qual as estrelas e planetas rotavam em
círculos ao redor ele pontos no espaço que, por sua vez, rotavam
Nada disto diz que, na prática, a ciência está totalmente
em círculos ao redor ela Terra estacionária. À medida que se
isenta ele enunciados ilógicos. Você eleve saber que os físicos
observaram variações adicionais, o sistema se tornou cada vez
atualmente consideram a luz como partículas e corno ondas,
mais complicado, com níveis novos ele epiciclos sendo acres-
apesar ele estas descrições ela natureza ela luz serem contra-
centados para manter as crenças chaves no movimento circular
ditórias. Esta contradição particular existe na ciência porque a
e na Terra estacionária.
luz se comporta como partículas sob certas condições e como
ondas sob outras. Conseqüentemente, físicos continuam a usar Copérnico atacou o sistema ele Ptolomeu sugerindo que
as duas conceituações contraditórias segundo parecem apro- o Sol, e não a Terra, era o centro do universo. Ele derivou
priadas em condições dadas. Todavia, isto representa uma essa perspectiva radicalmente nova ela observação do movi-
tensão para a lógica da ciência. mento celestial, e não ele um compromisso inicial ele que a
Terra era o centro do universo. Mas Copérnico não desafiou
Indo um pouco além ela noção ele "senso comum" ela
o suposto cio movimento circular. "Um astrônomo posterior,
lógica, dois sistemas lógicos distintos, mencionados ames, são
Kepler, disse que Copérnico não conseguiu vislumbrar as sua classe social, à região do país onde você mora etc., mesmo
riquezas ao seu alcance, contentando-se em interpretar Pto- que você porventura negue a influência destes fatores.
lomeu em vez de interpretar a natureza."? Kepler, por outro Mas deve-se tomar diversos cuidados neste aspecto.
lado, estava determinado a interpretar a natureza sob a forma Primeiro, cientistas não conhecem, nem pretendem conhecer, as
de volumosos dados empíricos que herdara do astrônomo causas específicas de todos os eventos. Simplesmente supõem
dinamarquês Tycho Brahe. Continua Butterfíeld que tais causas existem e podem ser descobertas. Segundo,
a ciência aceita causação múltipla. Qualquer evento pode ter
Sabemos com que colossal gasto de energia ele testou várias causas; sua decisão de votar pode ter sido causada
hipótese após hipótese, descartando-as até alcançar o ponto por diversos fatores. Um evento, também, pode ter uma causa,
em que já Linha um vago conhecimento da forma exigida - enquanto outro evento semelhante pode ter uma causa diference.
aí decidindo que, para fins ele cálculo, uma elipse poderia Duas pessoas podem votar no mesmo candidato por razões
lhe dar resultados aproximados e descobrindo que de fato diferentes, mas se supõe que em cada caso existe uma razão.
uma elipse clava certo.8
Finalmente, grande parte da ciência se fundamenta numa
Este exemplo ilustra o surgimento da lógica indutiva na forma probabilística de determinismo. Assim, o Evento A pode
ciência. Dramas semelhantes ocorreram em outros campos ele resultar no Evento B 90% elas vezes ou 70% de todos os
investigação durante os férteis séculos XVI e XVII. Mais ou Republicanos podem votar num determinado político, enquanto
menos um século mais tarde, a pesquisa indutiva e científica somente 23% cios Democratas o fazem. Neste sentido, diz-se
de Charles Darwin entrou em conflito com outra tradição. que filiação político-partidária determina comportamento elei-
toral, ainda que ele forma incompleta. Outros fatores poderiam
Não se deve concluir destes exemplos históricos que a
ser introduzidos para explicar as discrepâncias.
lógica dedutiva é inerentemente incorreta ou está ultrapassada.
Um exercício de lógica dedutiva é tão bom quanto sua consis-
tência interna e a verdade de seus supostos iniciais. Por outro h Ciência É Geral
lado, a lógica indutiva é tão boa quanto sua consistência
interna e a exatidão de suas observações. A ciência busca entendimento geral mais do que expli-
cação ele eventos individuais. Tipicamente, o cientista se
Na prática, a pesquisa científica envolve tanto o raciocínio interessa menos por que determinada bola cai para baixo,
indutivo quanto o dedutivo, na medida em que os cientistas vão quando solta cio alto, e mais por que todas as bolas tendem
e vêm incessantemente entre teoria e observações empíricas. a se comportar assim. Do mesmo modo, o cientista se interessa
menos em explicar por que você votou da forma que o fez e
h Ciência É Determinística mais em entender por que os eleitores em geral votaram da
forma como o fizeram.
A ciência se baseia no suposto ele que todos os eventos Esta característica da ciência se relaciona com seu deter-
têm causas antecedentes sujeitas à identificação e ao entendi- minismo probabilístico. É concebível que possamos explicar
mento lógico. Para o cientista nada "simplesmente acontece" - completamente as razões ele um evento - por exemplo, por
acontece por uma razão. Se alguém gripa, se chove hoje, se que certa pessoa votou no candidato X. É concebível que
uma bola parece rolar morro acima, o cientista supõe que cada consigamos descobrir cada fator individual que influenciou
um desces eventos é susceptível de explicação racional. a decisão do voto. Caso o façamos, podemos supostamente
Como veremos no capítulo seguinte, esta característica prever com perfeita exatidão o comportamento eleitoral ele
ela ciência traz uma dificuldade especial para as ciências pessoas idênticas. Mas, a longo prazo, esta capacidade não
sociais, que competem com noções de senso comum sobre geraria muita informação útil sobre o comportamento eleitoral
comportamento social. Você pode afirmar que fez alguma em geral. Primeiro, é duvidoso que encontrássemos outra
coisa, por exemplo, votou num candidato, simplesmente porque pessoa com exatamente as mesmas características da primeira.
decidiu agir assim, mas o cientista social provavelmente argu- Mais importante ainda, nossas descobertas poderiam ser de
mentaria que seu voto foi determinado por vários eventos e pouquíssima ajuda na compreensão do padrão de voto ele
condições prévias. A decisão de votar pode ser atribuída à pessoas com outras características. Ficamos, então, satisfeitos
com menos de 100% de entendimento, se pudermos entender J.\ vrenou 'C 'C>JJe"'-'' '"u
o comportamento eleitoral em geral. Já observamos que a ciência é geral, no sentido de
Este é o sentido em que o cientista e o historiador procurar chegar a descobertas e leis de aplicabilidade geral.
diferem em suas abordagens do mesmo tema. O historiador Entretanto, a maioria dos conceitos gerais são sujeitos à
procura entender tudo sobre um determinado evento específico, diversidade de interpretações. Por exemplo, ao procurar
enquanto o cientista se interessa mais no entendimento geral ele explicar as fontes do preconceito em geral, você percebe que
uma classe de eventos semelhantes, mas não idênticos. Assim o preconceito assume muitas formas diferentes. Portanto, ao
também o psicólogo e o terapeuta diferem na abordagem cio desenhar, realizar e relatar sua pesquisa, você precisa ser preciso
comportamento humano. O psicólogo examina o comportamento em seus métodos de medir o conceito.
esquizofrênico de vários indivíduos, procurando chegar a uma Ao realizar um projeto de pesquisa sobre preconceito,
compreensão geral ela esquizofrenia, enquanto o terapeuta você tem de operacionalizar especificamente o conceito de
aproveita o conhecimento geral já existente para procurar preconceito, por exemplo, concordância com várias afirmações
ajudar um indivíduo específico. num questionário que parecem indicar preconceito. No rela-
Portanto, a capacidade ele generalização é uma carac- tório da pesquisa, você deve ter cuidado ao descrever suas
terística importante elas descobertas científicas. Descobrir que operacionalizações detalhadamente, para que o leitor saiba
bolas vermelhas caem na Terra a uma certa aceleração é exatamente como o conceito foi medido. Mesmo que alguns
menos útil elo que descobrir que bolas de todas as cores leitores possam discordar de sua operacionalização, pelo
fazem isso. Também é menos útil saber que bolas caem com menos saberão qual ela é.
uma determinada aceleração ao nível elo mar elo que saber que Freqüentemente, a generalizabilidade de uma descoberta
a aceleração ele todas as bolas em queda pode ser determinada é alcançada pelo uso de diversas operacionalizações diferentes
por sua altitude. dos conceitos envolvidos. Se determinado conjunto ele fatores
causa preconceito, independentemente de como o preconceito
A Ciência É Parcimonioso é medido, você pode concluir que estes fatores resultam em
preconceito em geral.
Portanto, os cientistas procuram descobrir fatores deter-
minantes ele tipos ele eventos. Ao mesmo tempo, procuram
descobrir os fatores não determinantes ele eventos. Assim, ao A Ciência É Empiricamente Verificável
determinarmos a aceleração ele um objeto em queda, descar- No ápice ele sua elegância, a ciência resulta na formulação
tamos sua cor como irrelevante. de leis ou equações gerais, descrevendo o mundo ao redor. Mas
Em termos mais gerais, os cientistas tentam descobrir as cais formulações só são úteis se puderem ser verificadas pela
razões elos eventos usando o mínimo possível ele fatores expli- coleta e manipulação de dados empíricos. Uma teoria geral do
cativos. Na prática, é claro, o número ele fatores explicativos preconceito seria inútil se não sugerisse modos através dos quais
considerados aumenta caracteristicamente o grau ele determi- dados pudessem ser coletados e não previsse os resultados que
nação conseguida. Um cientista político pode conseguir um cerco seriam obtidos na análise cios dados.
grau de explicação elo comportamento eleitoral usando apenas Há, porém, outra forma ele ver esta característica. De
dois fatores, por exemplo, filiação partidária e classe social. certo modo, nenhuma teoria científica pode ser provada.
Outro cientista político poderia alcançar um entendimento mais Consideremos o exemplo da gravidade. Os físicos dizem que
completo levando em consideração outros fatores, como raça, um corpo cai para baixo por causa ela atração geral entre os
região onde a pessoa foi criada, sexo, educação etc. Freqüente- corpos físicos e que esta relação é afetada pela massa elos
mente, cientistas são forçados a escolher entre simplicidade corpos envolvidos. Já que a massa terrestre é vasta, urna bola
de um lado e grau de explicação ele outro. Em última análise, lançada de uma janela se movimenta em direção à Terra.
tentam otimizar o equilíbrio entre explicação e simplicidade,
Tal explicação ela gravidade é empiricamente verificável.
a fim de conseguir o máximo de explicação com um número
Um pesquisador pode jogar uma bola pela janela e observá-la
mínimo ele fatores. Esta parcimônia é uma qualidade bem
caindo. Mas isto não prova a verdade ela teoria da gravidade.
ilustrada pela elegância ela famosa equação ele Einstein: e= me'.
O que o pesquisador faz é especificar que se a bola não cair, desse assunto, e ambos descobririam que os Republicanos,
a teoria da gravidade é incorreta. Já que se observa a bola se como um todo, têm um nível educacional mais alto do que
comportando como esperado, a teoria ela gravidade não foi os Democratas. (Devido ao fato de que o Partido Democrata
desconfirmada. também atrai uma proporção maior dos eleitores da classe tra-
Assim sendo, quando afirmamos que uma explicação balhadora, enquanto os homens ele negócios são mais atraídos
científica eleve sujeitar-se ao reste empírico, queremos dizer, pelo Partido Republicano.) Os dois cientistas políticos -
mais exatamente, que o pesquisador eleve ser capaz de com orientações subjetivas opostas - chegariam à mesma
especificar as condições nas quais a teoria seria desprovada. conclusão empírica.
Neste senriclo é que cientistas falam ela descoufirmabilidade Cientistas muitas vezes discordam entre si. Podem oferecer
das teorias. Se você falha consistentemente em desprover sua explicações claramente diferences ele um evento. Mas, em
teoria, fica crescentemente confiante na correção dela. Mas é geral, tais desacordos envolvem questões ele conceituação e
importante entender que você nunca vai conseguir prová-la. definição. Assim, um cientista social pode relatar que religiosi-
Continuando com o exemplo anterior, outro teórico dade se relaciona positivamente com preconceito, enquanto
poderia notar que a bola experimental era da mesma cor cio outro discorda. O que discorda provavelmente sugerirá que
chão no qual caía, sugerindo que corpos ela mesma cor são uma ou ambas as varáveis foram incorretamente medidas.
mutuamente atraídos por qualquer razão que ele pudesse Você poderia realizar seu próprio estudo, medindo cliferen-
pensar. O experimento inicial daria confirmação às duas teorias temenre as duas variáveis, e relatar uma relação negativa
em competição. A "teoria ela atração pela cor" sugere, porém, entre elas. Mas, se os primeiros pesquisadores houvessem
que se uma bola ele cor diferente elo chão for atirada pela relatado precisa e detalhadamente o desenho e a execução
janela, não deveria cair. Um experimento apropriado resultaria dos seus estudos e você conseguisse replicá-los exatamente,
(esperamos) na desconfirrnação empírica ela teoria. chegaria ao mesmo achado. É isto que significa a intersub-
jetividade ela ciência.

h Ciência é Intersubjetiva
A Ciência f hberta a Modificações
Com freqüência se afirma que a ciência é "objetiva", mas
tal afirmação tipicamente resulta em muita confusão quanto ao A seção anterior deve ter deixado claro que a "ciência"
que seja "objetividade". Além do mais, nota-se crescentemente não oferece uma seqüência ele etapas fáceis para atingir "A
nos últimos anos que nenhum cientista é completamente obje- Verdade". Dois cientistas, ambos aderindo às características
tivo em seu trabalho. Todos os cientistas são "subjetivos" até previamente discutidas de ciência, podem chegar a explicações
certo ponto - influenciados por suas motivações pessoais. Ao bem diferentes de um fenômeno. Além disso, pode não haver,
afirmar que a ciência é intersubjetiva, queremos dizer que dois num dado momento, como avaliar os méritos relativos delas.
cientistas com orientações subjetivas diferentes chegariam à Se duas explicações se contradizem, as duas não podem,
mesma conclusão se cada um deles conduzisse o mesmo presumivelmente, estar corretas. Ou se demonstra que uma
experimento. Um exemplo ele ciência política eleve esclarecer elas duas ou ambas estão incorretas ou se descobre que as
este conceito. duas explicações, não são, afinal de contas, mutuamente exclu-
dentes, devido a uma mudança de paradigma, por exemplo.
A tendência cios intelectuais nos EUA se alinharem mais
com o Partido Democrata do que com o Republicano leva Inúmeras teorias "científicas" do passado foram mais tarde
muitas pessoas a supor que os Democratas, como grupo, são desprovadas e substituídas por novas teorias. Tudo que "sabe-
mais escolarizados cio que os Republicanos. É razoável supor mos" hoje era antes previamente "conhecido" diferentemente
que esta afirmação satisfaria um cientista Democrata e abor- e, às vezes, consideramos ingênuas, tolas ou estúpidas estas
receria um Republicano. Mesmo assim, seria possível que os antigas visões. Vale a pena lembrar, porém, que tudo que "conhe-
dois cientistas concordassem sobre o desenho ele um projeto cemos" hoje provavelmente será mudado no futuro e o povo cio
ele pesquisa para coletar dados no eleitorado americano, futuro - nossos arrogantes descendentes - nos conside-
referente a filiação partidária e nível educacional. Os dois rarão ingênuos, tolos ou estúpidos. (Se isto o perturba, talvez o
cientistas nnciPri~1111 Pnt~n rP~li?,1r P<;t11rlnc; inrlPnPnrlPnrP<.: console lembrar-se de que eles também sofrerão a mesma sorte.)
A ciência não busca a verdade definitiva, mas a utütdade. 3 Ver, por exemplo, WATSON, James D. Tbe Dottble Ile/ix. New York: The
Teorias científicas não devem ser julgadas por sua verdade New American Library lnc., 1968, e o acervo de biografias ele pesquisas
relativa, mas pela medida de sua utilidade em melhorar nosso sociais em HAMMOND, Phillip (Ecl.). Sociologists ar \ftork. New York:
conhecimento cio mundo ao redor. Basic Books, 1964, e GOLDEN, M. Patrícia (Ecl.). The Researcb Experieu-
ce. Irasca, IL: F. E. Peacock, 1976.
Em última análise, as características da ciência discutidas
neste capítulo oferecem um conjunto ele diretrizes que aumen- Não suponha que isto ocorre automaticamente. Muito tem sido escrito
tam a utilidade ele descobertas e teorias. fnvestigações que sobre a tenacidade com que os cientistas às vezes se apegam a "para-
procuram se pautar por tais características produzirão, a longo digmas" estabelecidos (modelos ou pontos ele vista), mesmo em face ele
prazo, mais descobertas úteis cio que investigações ele outros evidência em contrário e paradigmas adversários. O livro clássico neste
tópico é de KUHN, Thomas S. Tbe Structure o/ Scieutific Reooturtous.
tipos. Assim, uma pessoa pode ser capaz ele prever o tempo
Chicago: Uníversity of Chicago Press, 1970.
com mais exatidão baseada no seu joelho reumático cio que
todos os meteorologistas científicos cio mundo, mas, a longo 'Originalmente, prouar, nesta expressão, significava "testar", como quando
prazo, os cientistas contribuirão mais para o nosso conheci- se diz que grandes obstáculos "testaram severamente" o compromisso
mento geral ela natureza cio clima. ele alguém. Yale dizer, exceções eram vistas como ameaças ou desafios
à regra.

6
BEVERIDGE, \Y/. I. B. Tbe Art o/ Sctentific Inoesttgatton, New York:
Resumo Vintage Books, 1950. p. lJ 3.

'BUTTERfIELD, Herbert. Tbe Ortgins o/ Modem Science. New York: The


Este capítulo começou revendo a imagem tradicional MacMillan Company, 1960. p.24.
da ciência, primariamente como um conjunto ele etapas que
8
Ibidem. p.64.
inevitavelmente conduzem à "Verdade". Esta visão foi contrastada
com outra, mais recente, crítica ela ciência, que sugere que
cientistas não são tão diferentes cios leigos. Na parte principal
cio capítulo, tentamos mostrar que, embora a investigação
científica não seja infalível, ela difere em aspectos importantes Leituras ~dicionois
ele outras atividades humanas. Cientistas estão certamente
BEVERIDGE, W. I. B. Tbe Art of Scientific lnuestigation. New
sujeitos a todas as fraquezas humanas das demais pessoas,
York: Vintage Books, 1950.
mas a ciência provê um conjunto de diretrizes que pode
aumentar a utilidade elas suas investigações. BUTTERFIELD, Herbert. The Origins ofModern Scieuce. New
Este capítulo abordou a ciência em geral e o próximo York: The MacMillan Cornpany, 1960.
focalizará especificamente a ciência social. Veremos que a GOLDEN, M. Patrícia (Ecl.). The Researcb Expertence. Itasca, IL:
ciência social está presa às mesmas regras que os outros E E. Peacock, 1976.
tipos de investigação científica. Ao mesmo tempo, porém, a
temática especial elas ciências sociais apresenta problemas IRVINE, William. Apes, Angels anel Victorians. New York:
especiais - e oportunidades especiais. Meridian Books, 1959.

KAPLAN, Abraham. Tbe Conduct of Inquiry. San Francisco:


Notas Chancller Publishing Co., 1964.
1
Palavras e frases em "itálico" são clcfiniclas e discutidas no Glossário
no fim cio livro. Se você não enLenclcr bem um lermo, vale a pena KUHN, Thomas S. Tbe Structure ofScienttfic Reuolutions. Chicago:
verificar imedíatameme no Glossário. University of Chicago Press, 1970.
2
Em minha experiência, isto é mais nprco ela psicologia cio que ela TOBEN, Bob. Space-Time and Beyond. New York: E. P. Dutton,
sociologia, como se vê, por exemplo, em propostas de leses ele doutorado. 1975.
Um estudante ele pós-graduação em psicologia cuja proposta ele J>hD
foi aceita j:í se encontra quase no final ela tese, enquanro o de sociologia
está apenas começando.
WATSON, James D. Tbe Double Helix. New York: The New
American Líbrary, Inc., 1968.
WHITEHEAD, Alfred North. Science and tbe Modern World. New
York: The MacMillan Company, 1925. Capítulo 2

Ciência e as Ciências Sociais

Um dos mais vivos debates acadêmicos dos últimos anos


diz respeito ao status "científico" elas disciplinas englobadas
sob a rubrica de ciências sociais - tipicamente incluindo sociologia,
ciência política, psicologia social, economia, antropologia, pesquisa
de mercado e, às vezes, áreas como geografia, história, comuni-
cações e outros campos compostos ou especializados. A questão
básica é se o comportamento humano pode ser submetido ao
estudo "científico". Já que o capítulo anterior chamou a atenção para
a confusão sobre o teimo ciência em geral, não é de surpreender que
os acadêmicos discordem também sobre as ciências sociais.
Oposição à idéia ele ciências sociais tem surgido tanto dentro
como fora dos campos das ciências sociais. Dentro dos campos, o
movimento para as ciências sociais tem significado um redireciona-
mento e, em alguns casos, uma renomeação da tradição acadêmica
estabelecida. Cada vez mais, departamentos de Governo têm sido
substituídos por departamentos de Ciência Política, departamentos
ele Fala se tornam ele Comunicação. Em muitos casos, o movi-
mento para as ciências sociais significa uma passagem da ênfase
na descrição para a explicação sistemática. Na ciência política, isto
significa maior ênfase em explicar comportamento político do que
em descrever instituições políticas. Em antropologia, tem repre-
sentado diminuição na ênfase em etnografia. O crescimento de sub-
campos como a econometria tem tido efeito semelhante na economia,
como ocorre com a historiografia na história. Alguns geógrafos vêm
mudando da enumeração de importações e exportações para
modelos matemáticos ele migração. Compreensivelmente,
profissionais treinados e com experiência nos métodos mais
tradicionais destes campos objetam às novas orientações.
Fora dos departamentos de ciência social, oposição semelhante ou ele zonas eleitorais individuais. A quantidade ele tráfego num
vem elas ciências físicas - ele físicos, biólogos, químicos etc. Guiados determinado trecho de rodovia pode ser medida em diferentes
pela imagem a-adicional ela ciência discutida acima, alguns cientistas pontos do tempo. Pesquisadores ele mercado podem medir
físicos objetam que o "método científico" não pode ser aplicado ao volumes de vencias.
comportamento social humano. Atitudes também podem ser medidas, embora este seja
Freqüentemente, os defensores das ciências sociais abas- um ponto ele muito desacordo. Por exemplo, preconceito contra
teceram o debate emulando cegamente os protocolos e rituais mulheres pode ser medido determinando a aceitação ou a
elas ciências estabelecidas. Essa emulação toma muitas formas: rejeição individual ele crenças e perspectivas que representam
fascínio por equipamentos ele laboratório, uso muitas vezes cal preconceito. Religiosidade, liberalismo político e conserva-
inapropriado da estatística e ela matemática, o desenvolvimento dorismo, autoritarismo e variáveis semelhantes também podem
ele uma terminologia obscura e a adoção em bloco de teorias e ser medidos ele maneira semelhante.
terminologias elas ciências físicas. Medir atitudes é freqüentemente questionado como "não-
Na maioria, estes erros parecem advir da aceitação ela científico"; embora aborde este tema mais adiante neste e em
imagem tradicional da ciência e da falta de compreensão ela lógica capítulos subseqüentes, devo fazer alguns comentários aqui.
da ciência na prática. Aspirantes a cientistas sociais muitas vezes Deve-se reconhecer que todas estas medidas (todas as medidas,
buscam obter entendimento com métodos que não funcionam aliás) são basicamente arbitrárias. O cientista social não pode
mesmo para os cientistas físicos. O resultado, freqüentemente, é descrever uma pessoa inequivocamente como "alienada" e outra
serem ridicularizados pelos cientistas físicos, por colegas de pro- como "não alienada". Pessoas serão, ao invés, descritas como
fissão e por leigos. relativamente mais ou menos alienadas- ou seja, comparando
uma com a outra. Esta característica, entretanto, não é prerrogativa
É um firme suposto deste livro que o comportamento
das ciências sociais, como demonstram a "escala de dureza" usada
social humano pode ser submetido a um estudo "científico" tão
nas ciências físicas, a "escala Richter" para terremotos etc. Nin-
legitimamente quanto átomos e células. Este é, porém, um suposto
guém pode dizer em termos absolutos que um determinado
que deve ser entendido no contexto ela discussão' anterior da
metal é "duro" ou um terremoto "severo", apenas que é "mais
ciência na prática. Desta ótica, nenhuma diferença significativa
duro" ou "mais severo" que outro.
parece existir entre ciências físicas e sociais. Como os cientistas
físicos, os cientistas sociais procuram descobrir regularidade e
ordem. Cientistas sociais buscam regularidade no comporta- Descobrindo Regularidades Sociais
mento social através ela observação e medição cuidadosas,
descoberta ele relações e elaboração ele modelos e teorias. As pessoas tendem a considerar os objetos das ciências físicas
como mais regulares que os elas ciências sociais. Um objeto
pesado cai para baixo sempre que é solto, enquanto uma pessoa
pode votar num determinado candidato numa eleição e contra
~ Busca de Regu I cri d ades Soei ais o mesmo candidato na eleição seguinte. Assim também, o gelo
se derrete quando aquecido, enquanto pessoas aparentemente
religiosas nem sempre vão à igreja. Embora estes exemplos sejam
Medindo fenômenos fociais geralmente verdadeiros, há o perigo de se acabar descartando
totalmente a existência ele regularidades sociais. A existência
O primeiro tijolo ela ciência é a "medição" ou a observação
de normas sociais observáveis contradiz esta conclusão.
sistemática. Não há razão fundamental pela qual os cientistas
sociais não possam medir fenômenos relevantes às suas investi- Algumas normas sociais são prescritas pelas instituições for-
gações. Por exemplo, idade e sexo elos atores sociais podem ser mais ele uma sociedade. Por exemplo, só pessoas ele uma certa
medidos. Local ele nascimento e estado civil podem ser medidos idade ou mais podem votar em eleições. Antes ele 1920, homens
de diversas maneiras, variando em exatidão e economia. americanos podiam votar e mulheres não. Tais prescrições
formais, então, regulam ou regularizam o comportamento social.
Comportamento social agregado também pode ser medido
sistematicamente. O cientista político consegue determinar o Além ele prescrições formais, podemos observar outras
comportamento na urna em dia ele eleição ele todo o eleitorado normas sociais. Republicanos registrados votarão mais provavelmente
em candidatos Republicanos do que Democratas. Professores cio nível das aparências.2 Em suma, "documentar o óbvio" é
universitários tendem a ganhar mais dinheiro cio que traba- uma função valiosa de qualquer ciência, física ou social, e não
lhadores não especializados. Mulheres tendem a ser mais religiosas é uma crítica legítima de qualquer empreendimento científico.
(Darwin cunhou o termo "experimento de tolo" numa referência
elo que homens.
irônica a grande parte de sua própria pesquisa.)
Relatos de regularidades por cientistas sociais estão freqüen-
A critica de que certas generalizações da ciência social estão
temente sujeitos a três tipos ele crítica. Primeiro, o relato pode
sujeitas à clesconfümação em casos específicos também não é um
ser acusado de trivialidade, ele que todo mundo já sabia disso.
desafio suficiente ao caráter "científico" elas investigações. Assim,
Segundo, podem ser citados casos contraditórios, indicando
não basta notar que um certo homem é mais religioso do que uma
que a observação não é totalmente verdadeira. Terceiro, pode-se
ceita mulher. Regularidades sociais representam padrões probabi-
argumentar que as pessoas envolvidas podem, se realmente lísticos, e urna relação geral entre duas variáveis não precisa ser
quiserem, perturbar a regularidade observada. verdadeira em 100% dos casos observáveis.
A acusação de que muitas descobertas feitas por cientistas A ciência física não está isenta desta crítica. Na genética,
sociais são triviais ou já bem conhecidas levou muitos aspirantes por exemplo, o cruzamento de uma pessoa de olhos azuis com
a cientistas a procurarem descobertas esotéricas ou obscuras outra de olhos castanhos prouauelmente resultará numa criança
que provassem que a ciência social é mais do que senso comum de olhos castanhos. Mas se a criança nascer de olhos azuis,
pretensioso. Esta resposta é inapropriada sob diversos pontos isto não desafia a regularidade observada, já que a genética
de vista. Para começar, tantas contradições são evidentes no afirma apenas que a probabilidade cios olhos serem castanhos
vasto corpo do "senso comum", que se toma essencial expurgar é maior e, mais ainda, que olhos castanhos devem ser esperados
sistematicamente os erros nele existentes. Mesmo quando uma num ceita percentual dos casos. O cientista social faz uma previsão
proposição não é questionada pelos leigos, ela deve ser testada probabilística semelhante - que, no cômputo geral, mulheres têm
empiricamente. mais probabilidade de serem mais religiosas do que homens.
Muitos instrutores de metodologia das ciências sociais Com instrumentos de medição testados adequadamente, podemos
prever o percentual de mulheres que se mostrarão mais religiosas
iniciam suas aulas revelando um conjunto de "descobertas impor-
cio que homens.
tantes" das ciências sociais, derivadas de estudos conduzidos por
Samuel A. Stouffer durante a II Guerra Munclial.1 Tais "desco- Final.m ente, a acusação de que regularidades sociais obser-
bertas" incluem os seguintes achados: vadas podem ser perturbadas pela vontade consciente cios atores
não é desafio suficiente à ciência social, mesmo se coisa seme-
lhante parece não existir nas ciências físicas. (Supostamente, um
• Soldados negros ficavam mais felizes em campos de trei- objeto não consegue resistir e não cair no chão "porque não
namento no Noite do que no Sul cios Estados Unidos. quer".) Isto não é negar que um racista branco ele direita pode,
se quiser perturbar os cientistas políticos estudando eleições,
• Soldados da Força Aérea americana, onde as pro- votar num negro esquerdista radical. Numa eleição, todos os
moções eram rápidas, tinham mais probabilidade ele achar votantes podem, de repente, mudar e votar no candidato azarão,
que seu sistema de promoções era justo elo que os frustrando as pesquisas eleitorais. Seguindo o mesmo raciocínio,
soldados da Polícia Militar, onde elas eram muito lentas. todos os trabalhadores podem ir trabalhar mais cedo ou ficar
em casa e não ir trabalhar, evitando que aconteça o congestiona-
• Soldados mais escolarizados tinham mais probabili- mento de tráfego esperado na hora do "rush", Mas tais coisas
dade de se ressentir com o alistamento militar forçado não ocorrem tão freqüentemente a ponto de ameaçar seriamente
do que soldados menos escolarizados. a observação de regularidades sociais. Ironicamente, é claro,
se todos os trabalhadores ficarem em casa, isto também seria
uma regularidade susceptível de explicação.
Quando os alunos começam a fazer pouco caso da obvieclade
das "descobertas importantes", o instrutor revela que cada 11 ma O fato é que normas sociais existem e pode.m os observá-las.
delas foi desprouada pela pesquisa ele Stouffer e explica por Quando mudam com o tempo, podemos também observar e explicar
que a relação observada faz sentido quando examinada abaixo as mudanças. Em última análise, regularidades sociais persistem
porque tendem a fazer sentido para os indivíduos nelas envolvidos. alguns são não racionais, mas os cientistas sociais devem ser
Podemos sugerir que é lógico esperar que um certo tipo ele pessoa relativamente racionais ao procurar compreender todas as formas
aja de ceita maneira e esta pessoa pode muito bem concordar ele comportamento.
com a base lógica desta expectativa. Assim, mesmo se direitistas O cientista social está preso a muitas das mesmas restrições
brancos podem votar num negro radical de esquerda, eles acham lógicas que o cientista físico. Um evento não pode causar outro
estúpido votar assim, assim como eleitores negros de esquerda evento ocorrido antes. Um objeto não pode ter características
acham estúpido votar num candidato da Ku Klux Klan. mutuamente excludentes, e um evento ou característica não
pode ter resultados mutuamente excludentes. Também, tanto
a lógica dedutiva quanto a indutiva são apropriadas para as
Criação de Teorias Sociais ciências sociais, como já se discutiu a respeito da ciência em
Cientistas sociais ainda não criaram teorias de comporta- geral no Capítulo 1.
mento social comparáveis às teorias desenvolvidas pelos cientistas
físicos. Inúmeras teorias de comportamento social foram elaboradas
há já vários séculos, mas sua adequação não é mais defendida
h Ciência Social É Determinística
seriamente. Evidentemente, muitas teorias sobre o mundo físico Como os cientistas físicos, também os cientistas sociais
foram também descartadas. O abandono ela teoria elos epiciclos supõem que eventos têm razões, que as coisas "não acontecem
de Ptolomeu não nega o caráter científico da astronomia contempo- simplesmente". Todo evento ou situação tem determinantes antece-
rânea. Nem saber que as teorias contemporâneas da física serão dentes. Esta característica das ciências sociais muitas vezes parece
mais tarde superadas nega o status científico desse campo. entrar em choque com o senso comum, como vimos antes. O cien-
De qualquer maneira, atualmente as ciências sociais não tista social pode concluir que um grupo ele pessoas se comporta ele
têm teorias formais comparáveis às existentes em outros campos. determinada maneira devido a alguns eventos e condições ante-
Em parte, isto se deve ao fato de que métodos sistemáticos, riores, como no caso do comportamento eleitoral cio racista branco
"científicos", não têm sido aplicados ao comportamento social de direita. Neste sentido, as condições de raça, preconceito e
tanto tempo quanto aos fenômenos físicos. Ao mesmo tempo, a orientação política determinam o comportamento eleitoral. Isto
relutância em admitir a susceptibilidade do comportamento não significa dizer que estes eleitores não poderiarn votar num can-
social ao estudo científico tem limitado os recursos disponíveis didato negro ele esquerda; apenas é improvável que o façam.
para o desenvolvimento das ciências sociais.
A postura determinista das ciências sociais representa o
Além do mais, este livro tem origem na convicção ele que afastamento mais significativo dos estudos mais tradicionais,
o desenvolvimento científico elas ciências sociais foi seriamente humanistas, do comportamento social. Enquanto o observador
prejudicado pela incompreensão ela natureza lógica da ciência mais humanísticamente orientado considera a busca da alma e as
em geral, especificamente pelo compromisso com a imagem agonias através das quais uma pessoa pesa os méritos e deméritos
tradicional, exclusivamente dedutiva, da ciência, oposta à com-
relativos de uma ação, para chegar a uma decisão bem pensada, o
preensão ela ciência na prática. Em vista disto, discutiremos
cientista social mais tipicamente busca os determinantes gerais de
agora as características das ciências sociais, paralelamente à
tal decisão entre diferentes agregados de pessoas. Enquanto o
discussão cio Capítulo 1, que abordou a ciência em geral.
humanista argumenta que a decisão de cada indivíduo resulta de
um processo idiossincrático, o cientista social diz que ela se encaixa
num padrão bem mais simples e geral.
~s Características das Ciências ~ociais
h Ciência Social É Geral
~ Ciência Social É Lógica Vimos que as ciências sociais visam à observação e ao
entendimento ele padrões gerais de eventos e correlações. A utili-
As ciências sociais visam entender racionalmente o compor-
dade de uma teoria social ou correlação social cresce em função de
tamento social. Isto não significa dizer que todo comportamento
sua "generalizabilidade". Quanto mais fenômenos são explicados,
social é racional. Certos comportamentos sociais são irracionais,
maior a utilidade. Assim, uma teoria do comportamento do  Ciência Social É Específica
consumidor aplicável apenas a jovens é menos útil do que outra
Cientistas sociais, como os físicos, devem especificar
aplicável a consumidores de todas as idades. Uma teoria do
seus métodos de medição. Isto é particularmente importante
comportamento político aplicável apenas a americanos é menos
nas ciências sociais, que lidam com conceitos vagamente definidos
útil que outra aplicável aos povos ele todas as nações.
no discurso comum. Enquanto o físico define "aceleração"
Embora muitas vezes possamos começar tentando explicar uma mais rigorosamente que um leigo, a definição científica não
faixa mais limitada de comportamento social ou o comportamento de difere tanto assim do entendimento comum cio termo, Já conceitos
um subconjunto limitado ela população, nossa meta, normalmente, é como "alienação", "liberalismo" e "preconceito" possuem signi-
expandir o poder explicativo ele nossas descobertas a outras formas ficados tão variados na linguagem comum que suas definições
ele comportamento e a outros subconjuntos ela população. rigorosas não são prontamente aparentes.
Cientistas sociais podem submeter tais conceitos a exame
 Ciência focial É Parcimonioso científico rigoroso, mas para isto devem especificar claramente a
natureza elas medições efetuadas em cada caso. Também as defi-
Como o cientista físico, o cientista social busca atingir o maior nições serão avaliadas com base na utilidade - sua contribuição
poder explicativo com o menor número ele variáveis. Em muitos para a explicação e o entendimento generalizados - e não na
casos, a consideração adicional de novas variáveis acrescenta poder "Verdade" absoluta.
explicativo e preclitivo, mas resulta também num modelo mais com-
plicado. Na prática, o acréscimo ele mais variáveis muitas vezes reduz
a generalizabiliclade da explicação, já que ceitas variáveis podem ter  Ciência Social É Empiricamente Verificável
um efeito sobre membros de um subconjunto ela população e efeito Para serem úteis, proposições e teorias científicas sociais
diferente sobre membros ele outros subconjuntos. devem ser testadas no mundo real. Assim, afirmar que educação
Note-se que a parcimônia das ciências sociais, à semelhança se associa negativamente com preconceito é inútil sem sugerir
de sua postura determinista, as abre à crítica elas pessoas que modos para medir as duas variáveis e testar a proposição.
sustentam uma visão mais humanista. Enquanto o humanista Como nas ciências físicas, o cientista social deve ser capaz
tende a explorar as profundidades dos fatores idiossincráticos de descrever condições empíricas nas quais uma dada proposi-
que resultam numa decisão ou ação de um ator social, o cientista ção seria julgada incorreta, isto é, os modos pelos quais ela
social conscientemente tenta limitar esta investigação. seria desprovacla.
O pesquisador de mercado procura explicar preferências Crenças religiosas, como a da existência ele Deus, por
por morar na cidade, nos subúrbios ou no campo baseado exemplo, não são susceptíveis de verificação empírica. Do
em, digamos, três ou quatro variáveis. Evidentemente, pode-se mesmo modo, a afirmação de que membros de um grupo
argumentar que todo mundo tem muitas outras razões indivi- religioso ou racial são desleais "em seus corações", mesmo
duais para a opção por seu estilo de vida e que um número quando parecem agir ele forma leal, não pode ser submetida
limitado ele variáveis não consegue explicar adequadamente a à verificação empírica. O mesmo se aplica a proposições sobre
profundidade de uma decisão tomada por qualquer uma das como seria o comportamento humano caso o Sol não aparecesse
pessoas escudadas. numa determinada manhã.
O humanista tem razão ao afirmá-lo, mas o cientista
social tem uma meta bem diference da do humanista. O cientista  Ciência focial É Intersubjetiva
social procura conscientemente obter o máximo ele compreensão
com o menor número de variáveis. Nem o cientista social nem Se um determinado exame cientifico social for descrito
o humanista está mais correto do que o outro; simplesmente, adequadamente em seus detalhes específicos, qualquer outro
as metas dos dois são diferences. Temos que entender plena- cientista social, ele quaisquer convicções pessoais, eleve poder
mente a meta do cientista social, para reconhecer a não validade replicar o exame com resultados semelhantes. Descobertas cientí-
desta crítica. fico-sociais opostas são mais freqüentemente conseqüências de
desacordos sobre o desenho mais apropriado da pesquisa - Métodos de Pesquisas C ientíf ico-Soci ais
incluindo definição e medição ele conceitos - do que de resul-
tados obtidos com um mesmo desenho. Apesar deste livro abordar especificamente um só método
Isto é válido tanto para pesquisas sobre tópicos altamente ele pesquisa social, é útil colocar este método no contexto cios
emocionais como religião, política e preconceito quanto para o outros métodos disponíveis ao cientista social. Faço isto, em
estudo da aceleração de objetos em queda. Evidentemente, na parte, para sugerir que o exame de um determinado fenômeno
social freqüentemente é mais bem-sucedido usando-se vários
prática, pesquisadores raramente realizam estudos quando
métodos diferentes - ponto particularmente importante a
acreditam que seu desenho é incorreto. Por exemplo, o cientista
enfatizar numa época em que a pesquisa ele suruey goza de
social conservador provavelmente não definirá conservadorismo
tão grande popularidade. A pesquisa de suroey tem vantagens
de forma negativa para os conservadores.
especiais, mas veremos neste livro que também tem limitações
e não é o método apropriado para estudar certos tópicos.
 Ciência ~ocial É Ãberta a Modificações Pesquisadores sociais que se restringem a um só método, suruey
ou qualquer outro, limitam gravemente sua capacidade de
Provavelmente nenhuma teoria social sobreviverá indefi-
entender o mundo ao seu redor.
nidamente. Ou um crescente peso ele evidências contrárias a
derrubará ou se encontrará uma substituta, mais nova e parcimo- Ao mesmo tempo, é importante compreender que todos
os métodos ele pesquisa social são norteados pelas características
niosa. Em qualquer caso, não se pode esperar que um achado ele
gerais da ciência delineadas neste e no capítulo anterior. É
ciência social, a longo prazo, resista ao teste cio tempo.
útil, portanto, examinar as forças e fraquezas relativas de
Claro que, na prática, o cientista social lida com fenômenos
cada método.
também afetados por ideologias - religiosas, políticas, filosó-
ficas -, e ideologias são menos abertas a modificações que a
ciência. Quando cientistas sociais explicam religiosidade em O Experimento Controlado
termos ele variáveis estruturais, eles desafiam crenças religiosas
Em muitos aspectos, o experimento controlado repre-
básicas sobre comportamento moral, sistemas religiosos de
senta o exemplo mais claro ele pesquisa científica, pelo menos
recompensas e castigos etc. Quando cientistas políticos con-
na imagem popular da ciência. O desenho experimental tem
cluem que a classe operária nos EUA é mais autoritária cio que
muitas variações, mas aqui nos limitaremos ao desenho antes/
a classe média, desafiam a ideologia política da esquerda. A
depois com um único grupo ele controle.
postura determinista das ciências sociais em geral não aceita a
imagem filosófica do livre arbítrio cios seres humanos, ele tão Suponha que você esteja interessado em métodos para
antiga história na civilização ocidental. reduzir o preconceito racial. Suponha também que você acredita
na hipótese ele que o preconceito antinegro poderia ser
O perigo é que alguns cientistas sociais possam estar tão
reduzido com uma consciência maior cio papel importante
pessoalmente comprometidos com cerras posições ideológicas,
dos negros na História americana. Para testar esta hipótese,
que este compromisso os impeça de manter aberta sua prática
você pode alugar ou mesmo produzir um filme documentando
científica. Assim, o cientista político comprometido com a
a história cios negros nos EUA. Este filme representaria o
esquerda pode não estar disposto a considerar, realizar ou
estímulo para o experimento.
aceitar pesquisas que possam levar à conclusão de que a classe
operária é mais autoritária do que a classe média. Em seguida, você seleciona dois grupos ele sujeitos. Na
prática, você provavelmente procura voluntários e pode
Já foi comentado que esta situação não é privilégio
pagá-los para participarem cio experimento. Se você for
das ciências sociais. Investigações nas ciências físicas desafia-
pesquisador universitário, provavelmente estes participantes
ram e continuam desafiando sistemas estabelecidos ele crenças
serão alunos universitários. O mais importante na seleção
ideológicas e alguns cientistas físicos têm sido prejudicados por
cios participantes é criar dois grupos emparelhados, isto é,
compromissos ideológicos que reduziram a abertura ele suas
dois grupos de sujeitos tão parecidos um com o outro quanto
atividades científicas.
possível. Você pode conseguir isto pelo emparelhamento não fornece dados descritivos úteis. Se 20% dos dois grupos
cuidadoso de características (sexo, idade, raça etc.), ou designando concordarem com uma afirmação preconceituosa, nada
os sujeitos aos dois grupos aleatoriamente. aprendemos sobre o percentual da população em geral que
concordaria com ela, já que os sujeitos não são, via de regra,
Um dos grupos será chamado grupo experimental e o outro
selecionados dessa população por métodos de amostragem
grupo de controle. Os dois grupos serão testados para medir os
aleatória. Se eles forem tirados ele uma subpopulação especial,
níveis iniciais ele preconceito contra negros. Por exemplo, ambos
preencherão um questionário do tipo concordo/discordo a como estudantes, seu valor descritivo se reduz ainda mais.
diversas frases manifestando preconceito antinegro. Espera-se Segundo, o experimento controlado representa um teste
que os dois grupos alcancem aproximadamente o mesmo escore artificial ela hipótese. A relevância cio experimento para o
geral neste pré-teste. mundo real está sempre sujeita a questionamento. No exemplo
Em seguida, o grupo experimental assistirá ao filme anterior, suponhamos que o filme documentário pareça reduzir
documentário da história dos negros nos EUA. O grupo ele con- significativamente o preconceito antinegros quando assistido
trole não assistirá ao filme. Depois, os dois grupos serão como parte ele um experimento científico num laboratório
novamente testados quanto a preconceito contra negros. A hipó- especial, com os sujeitos conscientes de participarem de um
tese do pesquisador será confirmada se o grupo experimental experimento. O filme não teria necessariamente o mesmo efeito
demonstrar preconceito significativamente menor elo que o se assistido pelo grande público na televisão ou em cinemas.
grupo de controle no pós-teste. Finalmente, os achados podem não ter aplicabilidade
O papel do grupo ele controle em tal experimento é crítico. generalizável a outros grupos da população. É concebível que o
Serve à função de isolar o estímulo experimental como única filme reduzisse preconceito entre universitários - se os sujeitos
fonte ela mudança nos sujeitos do experimento. Se decorrer um forem extraídos ele estudantes -, mas não teria impacto em não-
longo tempo entre o pré e o pós-teste, o preconceito dos sujeitos estudantes. Um exemplo não-experimental ilustra esta possibili-
pode diminuir graças a fatores externos ao experimento. O dade. Durante anos, acreditou-se que, enquanto o preconceito contra
filme poderia então ser irrelevante para a redução observada negros era maior na classe operária cio que nas classes média e
do preconceito. Se isto ocorrer, o preconceito cio grupo de alta, o anti-semitismo aumentava à medida que se subia na
controle eleve diminuir também. A hipótese será confirmada escala social. Tal conclusão se baseava numa série de estudos
somente se o preconceito do grupo experimental diminuir sobre preconceito realizados com estudantes universitários.
mais do que o do grupo ele controle. Estudantes ele famílias ele classe alta pareciam consistentemente
De forma semelhante, o grupo ele controle ajuda o um pouco mais anti-semitas cio que os de classes sociais relati-
pesquisador a se precaver contra o efeito elo experimento vamente mais baixas. Esse achado se deveu ao fato ele que os
por si mesmo. É possível que o ato de testar e retestar torne alunos nos estudos provinham todos ele uma faixa relativamente
os sujeitos mais sensíveis aos propósitos do estudo. Enquanto estreita ele famílias de classes mais altas. O verdadeiro achado
eles podem parecer relativamente preconceituosos no pré-teste, seria, então, que estudantes ele classes mais altas eram ligeira-
o próprio teste pode alertá-los para o fato de que o pesquisador mente mais anti-semitas cio que alunos ele classe média-alta.
quer descobrir quão preconceituosos são. Já que pouca gente Escudos subseqüentes ela população em geral indicaram, porém,
quer ser identificada como racista, os sujeitos podem ter mais que os respondentes ele classe operária eram mais anti-semitas,
cuidado ao responderem o questionário pós-teste, procurando assim como eram também mais antinegros.
responder de forma a evitar aparecerem como racistas. Mas
As carências cio experimento controlado podem ser
este fator eleve operar igualmente no grupo de controle e no
reduzidas pela sofisticação elas pesquisas, variação cio desenho
experimental, e o declínio diferencial no preconceito observado
experimental e replicação em grupos muito diferences de parti-
é o teste ela hipótese.
cipantes. Além cio mais, o experimento controlado pode ser
Isolar as variáveis experimentais é a vantagem chave do
especialmente valioso quando combinado com outros métodos,
experimento controlado. Ele apresenta também diversas desvan-
visando a um único tópico de pesquisa.
tagens, contudo. Primeiro, o experimento controlado tipicamente
escores dados teriam de ser agregados para o mesmo período
hnál i se de Conteúdo de tempo usado no estudo inicial. Você então compararia os dois
Alguns tópicos de pesquisa são susceptíveis ao exame p,iclrões ele flutuações, para determinar se a crítica americana
sistemático de documentos, como romances, poemas, publicações : URSS era tipicamente seguida ou não de pronunciamentos
1
governamentais, música etc. Este método ele pesquisa chama-se antiamericanos no Prauda.
análise de couteúdo. A título de ilustração, suponha que você queira Análise ele conteúdo cem a vantagem de fornecer um exame
examinar as mudanças nas atitudes oficiais dos soviéticos para sistemático ele materiais em geral avaliados de forma mais
com os EUA. Você pode limitar o período cio estudo aos anos impressionística. Um repórter pode, por exemplo, ler os
entre 1950 e 1990 e decidir tomar os editoriais cio Frauda como editoriais elo Frauda ao longo do tempo - anotando mental-
indicadores ele política oficial. mente os que mencionam os EUA e talvez observando os
Você pode, então, ou obter cópias ele todos os editoriais editoriais que apóiam ou criticam fortemente os EUA-, criando
cio Frauda durante aquele período ou fazer um desenho amostral uma impressão geral elas flutuações na postura oficial. Através ela
selecionando, digamos, cada décimo editorial. Cada editorial análise de conteúdo sistemática, contudo, você se previne contra
será examinado e receberá um escore correspondendo a posição vieses inadvertidos que pode projetar no estudo. Você pode
favorável ou crítica aos EUA - ou a ser irrelevante para os EUA. começar suspeitando que a URSS foi relativamente pró EUA
Esta atividade exige um método sistemático ele atribuir escores. durante um certo período, podendo, inconscientemente, dar mais
Você tem ele especificar que tipos ele referências aos EUA serão atenção a conteúdos ele editoriais favoráveis neste período,
consideradas e quantificadas como favoráveis e que tipos descontando os editoriais negativos descobertos. Seguindo
consideradas e quantificadas como críticas. É concebível que rigorosamente um sistema preestabelecido de amostragem e
você deseje ponderar referências diferencialmente, em termos atribuição ele escores, você reduziria a influência ele seus vieses.
da força relativa cio apoio ou da crítica. Neste caso, é necessário Como todo método de pesquisa, a análise ele conteúdo
especificar como, nesta ponderação, os pesos diferenciais tem pontos fracos. Primeiro, o tipo de documentos selecionados
serão atribuídos. para exame pode não ser a medida mais apropriada da variável
Tendo atribuído escores aos editoriais, você pode agora estudada: é possível que editoriais do Frauda não sejam o melhor
agregar os escores de forma a caracterizar diferentes períodos indicador da atitude soviética oficial para com os EUA. Discursos
temporais. Talvez você combine os escores por ano, relatando, públicos de autoridades governamentais selecionadas ou pronun-
por exemplo, que 12% cios editoriais em 1950 eram favoráveis ciamentos soviéticos no saguão das Nações Unidas poderiam ser
aos EUA, 8% cios de 1951 eram a favor, e assim por diante. O mais apropriados. Na maioria dos casos, não há como determinar
padrão elas diferenças ao longo cio tempo representará a atitude qual fonte representa o melhor foco do estudo. Este inconveniente
oficial soviética para com os EUA. pode ser minimizado examinando sistemacicamente diferentes
fontes e determinando se cada fonte leva à mesma conclusão.
Se bem que estes dados sirvam a uma finalidade descritiva
útil, talvez você deseje ir além de descrições para explicar as Segundo, métodos de escore quase sempre contêm um
flutuações observadas na atitude oficial soviética para com os elemento arbitrário. Alguns comentários em editoriais nos EUA
EUA. Suponha que você acredite que as atitudes soviéticas são tão ambíguos que atribuir-lhes escores é dificílimo, talvez
foram, em grande parte, determinadas pelo montante de críticas impossível. Outros comentários podem ser julgados favoráveis
que a URSS recebia cios EUA; isto é, quando os EUA criticavam por um observador e críticos por outro. Talvez o pesquisador
a URSS, esta reagia acirrando as críticas aos EUA. consiga reduzir esse problema pedindo avaliações independentes
ele outros pesquisadores experientes no assunto. Se vários
Você pode examinar esta possível explicação analisando
o conteúdo ele discursos e debates nos EUA. Você decidiria observadores independentes concordarem sobre o escore dos
quais formas ele comunicação nos EUA melhor refletiriam o comentários num editorial, a utilidade deste sistema de quanti-
estímulo hipotetizado e examinaria e daria escores a todos ou ficação cresce. Em última análise, não há como garantir, com
a uma amostra deles quanto a seu conteúdo ele crítica anti- segurança absoluta, que comentários editoriais estão recebendo
soviética. Os métodos de escore teriam ele ser especificados e os o escore certo. No lugar dessa confiabilidade absoluta, você
eleve ser o mais específico possível na criação, execução e relato de suicídio consistentemente mais altas em áreas predominante-
cio sistema de escore. Os leitores do seu relatório ela pesquisa mente protestantes do que em áreas predominantemente
elevem saber, pelo menos, o que os escores representam católicas, não teve como determinar se os protestantes estavam
exatamente, mesmo se discordarem da adequabilidade cio cometendo suicídio. É concebível que católicos residindo em
sistema usado. .ireas predominantemente protestantes apresentassem as taxas
ele suicídio mais altas de todas. Também, quando Stouffer
encontrou mais casamentos "impulsivos" durante os anos da
hnálise dos Dados Existentes Depressão, não teve como determinar se os envolvidos eram
Pesquisa científica não é igual a coleta e análise de dados os mais afetados pela Depressão. Um exame engenhoso e lógico
originais. De fato, alguns tópicos ele pesquisa podem ser estudados dos dados pode ajudar a reduzir este risco. Incentivo a leitura
analisando dados já coletados e compilados. O exemplo clássico dos dois livros citados, para ver algumas das formas usadas
é o estudo cio suicídio de Émile Durkheim." Interessado em por Stouffer e Durkheim para resolver o problema.
descobrir as razões primárias cio suicídio, Durkheirn conduziu
sua investigação sem coletar um só dado original. Ele testou f studo de Caso
um amplo espectro ele hipóteses examinando taxas publicadas
de suicídio em diferentes áreas geográficas. Por exemplo, O estudo de caso é uma descrição e explicação abrangentes
examinou taxas diferentes de suicídio de protestantes e católicos, cios muitos componentes de uma determinada situação social.
comparando as taxas de áreas predominantemente protestantes Um estudo de comunidade, como o de W. Lloyd Wamer sobre
com as de áreas predominantemente católicas. Examinou os a comunidade de "[onesville", é um exemplo de estudo de caso.'
efeitos cio clima, comparando taxas de regiões quentes com as Num escudo de caso, você busca coletar e examinar o máximo
de regiões mais frias. de dados possíveis sobre o seu tema. Num escudo ele comunidade,
você aprende a história da comunidade, seus aspectos religiosos,
A análise de dados agregados existentes tem a grande
políticos, econômicos, geográficos, composição racial etc. Você
vantagem ela economia. O pesquisador não precisa arcar com
pode procurar determinar a estrutura ele classes da comunidade,
os custos de amostragens, entrevistas, codificações, recrutamento
isco é, quem são os cidadãos mais importantes e poderosos e
de sujeitos experimentais etc. Mas esta forma de pesquisa social
quem está embaixo da pirâmide.
tem duas importantes desvantagens.
Em resumo, você procura a descrição mais abrangente
Primeiro, o pesquisador fica limitado a dados já coletados
possível da comunidade e tenta determinar as inter-relações
e compilados, que podem não representar adequadamente as
lógicas dos seus vários componentes. Qual foi o impacto do
variáveis que o interessam. No entanto, este problema pode
fechamento ela madeireira no início cios anos 30? Como, em
ser resolvido com urna boa dose de engenhosiclacle. Quando
1960, o prefeito reformista mudou as relações de poder na comu-
Samuel Stouffer examinou os efeitos da Grande Depressão nas
nidade? O que causou a invasão elos Yuppies nos anos 80?
famílias americanas e fora dos EUA, considerou vários indica-
dores possíveis de uma quebra hipotética de normas familiares É importante saber que, quanto aos objetivos científicos,
tradicionais." Taxas ele divórcio forneceram um indicador, mas a abordagem estudo de caso ele pesquisa social difere radical-
Stouffer foi bem além, considerando as taxas ele casamentos mente dos outros métodos vistos até aqui. Enquanto a maioria
inter-religiosos, cerimônias civis em oposição a religiosas, elas pesquisas visa diretamente o entendimento generalizado,
casamentos fora dos Estados onde viviam os casais etc. Durkheim o estudo de caso, busca inicialmente o entendimento abrangente
exibiu engenhosiclacle semelhante no estudo cio suicídio. de um só caso idiossincrático. Se a maioria das pesquisas procura
O segundo problema tem a ver com o que é chamado ele limitar o número de variáveis consideradas, o escudo de caso tenta
falácia ecológica. Sempre que você correlaciona variáveis geradas maximizá-lo. Em última análise, o pesquisador, fazendo um
a partir de dados agregados, torna-se difícil determinar se a escudo de caso, busca, tipicamente, conhecimentos geralmente
mesma relação entre as variáveis permanece verdadeira no nível aplicáveis além elo caso único estudado, mas por si só o estudo
cios indivíduos. Por exemplo, quando Durkheim encontrou taxas de caso não garante esta generalizabilidade.
Por exemplo, um estudo ele caso pode sugerir que a entrada observar e registrar tudo pode resultar numa situação na qual
de trabalhadores estrangeiros não qualificados na comunidade teve vieses inconscientes se tornam a base da seleção. Por exemplo,
como efeito geral promover a ascensão ocupacional dos trabalha- se você começa a firmar a conclusão ele que estudantes mulheres
dores nativos, com muitos assumindo cargos de supervisão cios estão se tornando mais atuantes na direção de marchas de pro-
novos migrantes. Este achado pode levá-lo a supor que você testo, pode, inconscientemente, ficar mais pronto a anotar as
descobriu um princípio geral de mobilidade ocupacional e instâncias que sustentam esta conclusão. Em última análise, o
que mudança semelhante ocorreria na maioria das comunidades perigo maior é não conseguir dizer ao leitor quais critérios você
que sofressem iníluxo de mão de obra estrangeira não-qualificada. usou na seleção e relato das observações, para que ele possa
Um único estudo ele caso, contudo, não poderia confirmar esta avaliar a aclequabilidade elos critérios usados e a generalízabi-
hipótese, e estudos adicionais em outras comunidades seriam lidade das conclusões.
necessários para confirmá-la. Voltaremos a considerar brevemente estes métodos de
pesquisa nas conclusões do Capítulo 3, que examina a pesquisa
ele suruey. Após descrever a natureza, as forças e fraquezas cios
Observação Participante métodos de suroey, nós os compararemos com os outros métodos
O termo obseruação participante refere-se a um método descritos neste capítulo. As conclusões a que chegaremos podem
de coleta ele dados em que o pesquisador torna-se participante ser reveladas aqui: (1) situações diferentes de pesquisas sociais
no evento ou grupo social estudado. Você pode juntar-se a uma requerem métodos diferentes e (2) o melhor formato muitas
marcha ele protesto como forma de colher dados sobre os outros vezes é o que envolve o uso de diversos métodos focados no
participantes, ou entrar num grupo religioso que deseja estudar. mesmo tópico.
Na prática, como observador participante, você pode ou
não revelar seu papel ele pesquisador; esta decisão tem impor-
tantes implicações metodológicas e éticas. Se você admitir aberta- Resumo
mente aos demais participantes que está realizando um estudo
científico do grupo, sua presença pode afetar o fenômeno que Neste capítulo, consideramos a possibilidade de aplicar
pretende estudar. Saber que suas ações podem ser publicadas métodos de investigação científica ao comportamento social.
pode afetar o modo como os participantes agem. Por outro lado, Mesmo anotando algumas considerações particulares pertinentes
se você esconder suas atividades de pesquisa e fingir ser um a esta aplicação, não encontramos nenhum obstáculo funda-
membro típico cio grupo, estará sujeito às questões éticas relativas mental às ciências sociais. Embora as características da ciência
a engano. Além cio mais, filiação aparentemente genuína pode em geral possam ser trazidas para o estudo da sociedade, isto
apresentar problemas científicos. O que você fará se for eleito não pode ser feito emulando a imagem tradicional da ciência.
presidente do grupo ou se pedirem sua opinião sobre o que o Vimos também que pesquisadores sociais podem usar
grupo deve fazer em seguida? Sua reação afetará o que você vários métodos de pesquisa para observar e entender o com-
está tentando escudar. Já que situações e finalidades de pesquisas portamento social. O capítulo seguinte aborda especificamente
variam tanto neste aspecto, não se pode dar uma diretriz geral, a pesquisa de suruey como mais um método de pesquisa social.
mas você deve estar consciente das questões envolvidas. Logo veremos que as características básicas ela ciência em geral
Como o estudo ele caso, a observação participante visa aplicam-se igualmente à pesquisa ele suroey em particular.
colher muita informação detalhada. Mergulhando nos eventos
sociais em andamento, você estará em condições de atingir pro- Notas
1
fundidade de conhecimento muito maior do que seria possível, STOUFFER, Samuel A. et ai. 77w Americau Soldier. Princeton, NJ: Princeton
por exemplo, na análise ele conteúdo ou no experimento. Ao University Press, 1949.
mesmo tempo, porém, o observador participante encontra grande 2
Estes achados são discuudos no Capítulo 15, "O Modelo de Elaboração".
dificuldade em manter procedimentos sistemáticos ele pesquisa.
3
Já que será humanamente impossível observar e documentar DURKHEIM, Émile. Suicide: a Siudy in Sociology. Trad, George Simpsen.
tudo o que acontece, você terá de selecionar seus dados. Tentar New York: Free Press, 1951.

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