dossiê 28

Condomínio
Empresas

9 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

de gestão
sem lei
A actividade não é regulada.
Má gestão, conflito de interesses
e fuga ao fisco estão entre
os principais problemas denunciados
por uma centena de condóminos
no portal www.deco.proteste.pt

Empresas de administração

10 Recebemos 111 testemunhos

on-line: dois terços relatam
vários problemas

Seguro para o prédio

13 Analisámos 15 apólices
de 10 companhias

Contas com o fisco

14 Se o condomínio tem espaços

comuns arrendados, declare
os rendimentos no IRS

Crédito para obras

16 Contactámos 20 bancos,
mas saímos de mãos a abanar
 dossiê condomínio

Empresas
à margem
da lei
A administração
10 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

de condomínios
não é regulada,
nem existe entidade
supervisora. Dezenas
de consumidores
queixam-se de má
gestão, conflito
de interesses, burla
e fuga ao fisco

E
se, um dia, a
empresa à qual confiou
a administração do
condomínio fugisse com o
dinheiro das quotas? Ou não
pagasse as contas da electricidade,
seguros e elevadores e apresentasse
despesas ou facturas falsas?
●●● As empresas que se dedicam
à gestão de condomínios
multiplicaram-se nos últimos anos.
São, cada vez mais, a solução
para a falta de tempo ou de
conhecimentos para dedicar às
questões do prédio. Embora não
haja números oficiais, uma pesquisa
nas Páginas Amarelas aponta para
as largas centenas em actividade.
●●● Ainda assim, a lei há muito
prometida para o sector continua
na gaveta do Governo e não existe
uma entidade supervisora, a quem o
consumidor possa
recorrer num conflito.
Não deixa de poder reclamar
os seus direitos, mas torna-se mais antes de contratar.
difícil assegurá-los. ●●● Peça contactos a condomínios
da vizinhança. A reputação é um
Escolhas mais fiáveis indicador da qualidade do serviço.
●●● Dois em cada três leitores
que participaram no nosso
questionário relataram problemas, Não se deixe seduzir
a maioria sobre a gestão corrente
do condomínio: falta de obras, por suplementos,
pagamento de contas, cobrança de como selecção
quotas, etc. Bons exemplos também
há, mas convém ter alguma cautela,
de seguros e advogado:
podem ser mais caros

Recebemos 111 testemunhos on-line ●●● Certifique-se de que a empresa

Em Junho de 2008, lançámos o desafio no nosso sítio
(www.deco.proteste.pt): pedimos aos internautas para
partilharem experiências, dúvidas e questões sobre em-
presas de administração de condomínios.
Obtivemos mais de uma centena de respostas, dois ter-
ços com relatos de problemas: serviços aquém dos con-
tratados, fugas ao fisco e conflitos de interesses nas acti-
O NOSSO vidades desenvolvidas pelas empresas, entre outros.
ESTUDO
está legalizada. Introduza o nome
no sítio do Instituto dos Registos e
do Notariado (www.irn.mj.pt).
A base de dados diz, pelo menos, se
o nome existe. Caso restem dúvidas,
peça na conservatória do registo
comercial da área uma fotocópia
não certificada, com informação
da empresa (€ 0,50 por página).
Pode ser mais difícil no caso dos
profissionais independentes, excepto
se registados como empresários com
responsabilidade limitada.
●●● Defina os serviços a contratar,
tendo em conta as necessidades do
condomínio: montantes disponíveis,
Se for vítima de fraude
ou burla, denuncie às
autoridades policiais
ou ao Ministério Público
dimensão do prédio, quantidade e
natureza das partes comuns, relação
entre vizinhos, etc. Não se deixe
seduzir por serviços suplementares,
como selecção de seguros, apoio
jurídico e engenheiros. Regra
geral, são demasiado caros para o
uso que os condomínios lhes dão.
Mesmo que pretenda contratá-los,
compare preços. Se consultar, por
exemplo, um mediador de seguros,
pode poupar 20 a 50% face às
seguradoras. Peça orçamentos a,
pelo menos, três empresas.
●●● Com todas as cartas na mesa,
compete aos moradores, em
assembleia, decidir a quem fica
entregue a administração do prédio
(ver caixa, na pág. seguinte).
Decisão a várias cabeças
●●● Escolhida a empresa, não
lhe confie o destino do prédio:
limite os poderes no contrato e em
assembleia. Reserve o direito de
veto do condomínio em decisões
importantes, como seguros e
obras. Os cheques e a autorização
de débitos em conta devem ter
→
"O livro de
reclamações estava
guardado num
armário e ninguém
tinha a chave. "
Patrícia Gaspar, 32 anos, arquitecta
Solução certa para cada denúncia
Mesmo sem um organismo que tutele a actividade das empresas de
administração, em caso de litígio, conte com o nosso serviço de infor-
mações (808 200 145) e outros organismos.
» Dinheiro em fuga
Se for vítima de fraude ou burla, denuncie às autoridades policiais ou Mi-
nistério Público. Esta foi a solução encontrada pelo condomínio de que
Joaquim Cruz faz parte. Em 2004, a empresa que fazia a gestão do pré-
dio deixou de dar notícias. Pouco depois, souberam que o proprietário
tinha desaparecido, bem como os € 7000 do fundo comum de reserva.
11 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009
Apresentaram uma queixa-crime à polícia, já lá vão dois anos. "Até hoje,
estamos de mãos a abanar", lamenta.
» Livros fechados a sete chaves
Apresente queixa na ASAE, Autoridade de Segurança Alimentar e Econó-
mica, se lhe recusarem o livro de reclamações. Foi o que aconteceu a Pa-
trícia Gaspar, 32 anos, arquitecta, de Lisboa. Após várias semanas sem luz
no prédio e obras por concluir, em Julho de 2007, deslocou-se à empresa
de administração para apresentar queixa. Sem sucesso. "Disseram-me que
quem tinha a chave do armário com o livro de reclamações não se encon-
trava e poderia nem ir ao escritório nesse dia", recorda esta leitora.
» Facturas-fantasma
Também pode recorrer à ASAE se deparar com facturas falsas ou falta
delas. Carlos Caroço, 34 anos, de Vila Nova de Gaia, revela que a empresa
de administração debita a compra de lâmpadas, adubo para o jardim e ou-
tras despesas ao condomínio, sem comprovativos. "As facturas são subs-
tituídas por notas internas de serviço, sem validade fiscal", remata este
técnico de estudos de mercado.
Notas internas de serviço
sem validade fiscal
substituem facturas
» Gestão danosa
Se as atitudes da empresa indiciam más práticas e lesam os condóminos,
recorra aos julgados de paz ou tribunais. Mesmo que tenha de pagar e es-
perar. "O administrador da empresa retirou o seguro da corretora escolhida
pelos condóminos e passou-o para a sua carteira, sem consultar ninguém.
(...) Fomos confrontados com uma dívida de € 1240 da qual nunca vimos
documentos e somos ameaçados de penhora pela firma credora", conta
Francisca Morais (nome fictício), 61 anos, reformada, de Lisboa. Em De-
zembro de 2007, a assembleia de condóminos aprovou por unanimidade
o fim do contrato. Mas, até ao momento, a empresa ainda não devolveu
€ 5000 indevidamente em sua posse, nem fechou as contas daquele ano.
 dossiê condomínio
→
a assinatura de um condómino
designado pela assembleia, pelo
menos. Ao nomear um ou dois
administradores residentes para
acompanhar a empresa também
pode evitar surpresas desagradáveis.
●●● Não fique amarrado a contratos
Criadas para pouco serviço
❘❘❘ O condomínio pode destituir a empresa de administração, se esta não
12 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009
de longa duração. Prefira um
anual, sem penalização e com pré-
-aviso máximo de 30 dias para o
terminar. Assim, não perde tempo
em tribunais ou julgados de paz.
Não havendo indicação de prazos,
terá de alegar que a empresa não
cumpriu as suas obrigações, para
pôr fim ao contrato. Andreia Ribeiro
conta que a empresa encarregue
de administrar o seu prédio pouco
ou nada faz. "Ao fim de um ano, o
administrador ainda não convocou
uma reunião para apresentar contas.
Apesar de termos as quotas em dia,
nunca pagou ao jardineiro, nem à
funcionária da limpeza e não temos
acesso à conta bancária", denuncia.
Nestes casos, comunique a intenção
de pôr fim ao contrato à empresa.
Na carta registada com aviso de
recepção, identifique os erros e
peça a devolução de documentos e

corresponder às expectativas. Mas há formalidades a seguir. valores que estejam em seu poder
❘❘❘ A exoneração, como a nomeação, tem de ser aprovada em assembleia (ver ilustração ao lado).
por um grupo de condóminos que represente mais de metade do edifício. Na prática, adopta-se a solução
A decisão deve ficar registada em acta. prevista na lei para qualquer
❘❘❘ Se não for possível reunir um número suficiente de moradores para a
administrador: a exoneração, ou
seja, a destituição.
assembleia (¼, no mínimo), qualquer condómino pode pedir ao tribunal
que o faça. Se ficar demonstrado que o administrador foi negligente ou
agiu de má-fé, o tribunal pode exonerá-lo e, em certas situações, obrigá-lo
a indemnizar o condomínio.

consumidores exigem
Modelo da carta de rescisão no nosso portal ou pelo serviço de informações (808 200 145)
●●● As empresas de administração de
condomínios multiplicam-se, mas esta
actividade não é regulada, nem existe
uma entidade supervisora, que garanta
a sua seriedade ou as certifique.
CONDOMÍNIO EM CONFLITO Resultado: desde má gestão a burlas,
Enfrentar empresa sem desistir os consumidores denunciam muitos
problemas sem solução à vista.
SERVIÇOS CONTRADOS (%) ATITUDE EM CASO DE CONFLITO (%) ●●● Compete ao Governo criar legislação
e obrigar as empresas a contratar
Associação de um seguro de responsabilidade civil
consumidores
Nenhuma profissional, que garanta a indemnização
Convocatória 4%
Básicos,
de assembleias 33% dos condomínios lesados. Deveriam
Arbitragem
empregados 11% também ser obrigadas a assegurar uma
e seguros 6% caução, accionada em caso de falência
35% Tribunal ou burla, para garantir a manutenção e
14% segurança dos edifícios.

●●● Mas é também necessário

Livro de definir critérios rigorosos para os
reclamações serviços prestados. Além da gestão
Básicos (limpeza, quotas, Sem problemas
relatório e contas) 15% de condomínios, algumas empresas
graves
dedicam-se à mediação de seguros,
54% 28% contabilidade e apoio jurídico, o que
pode gerar conflitos de interesses. D&d
111 respostas no portal DECO PROTESTE, 25 de Junho a 9 de Agosto de 2008
 PROTESTE
Braço-de-ferro Poupança
€ 45
com banco
e vizinhos
Se o condomínio
contratar
um multirriscos
para o prédio,
poupa 20 a 50%
no prémio.

13 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

Mas chegar
a consenso
não é fácil

O
seguro multirriscos- continuam a ser os bancos e são
-condomínio tem os primeiros informados pelas
vantagens: custa menos seguradoras, caso tal aconteça. Se
do que uma apólice o ameaçarem com a subida da taxa
individual com as de juro, porque o spread depende
mesmas coberturas e a resolução dos produtos em carteira, pergunte
de sinistros é mais rápida, pois só que outros produtos pode contratar
há uma companhia envolvida. Mas para manter a taxa. Caso não
pode ter dificuldade em contratá-lo: seja possível, avalie se o que vai
exige o acordo dos condóminos e do pagar a menos com a transferência
banco, se recorreu ao crédito. compensa o aumento na prestação.
●●● Sem consenso entre vizinhos, Regra geral, não compensa.
pode contratar o seguro só para
uma parte do edifício (metade,
no mínimo). Obstáculo mais difícil O seguro de condomínio
de transpor é no banco. Se lhe deve ser decidido em
sugerirem que o seguro de grupo assembleia e a decisão
é insuficiente, contrate um pacote
igual ou superior ao exigido, desde registada em acta
que os restantes condóminos
concordem. Por vezes, os bancos ●●● Ultrapassada esta fase, veja
alegam não conseguir controlar no quadro as coberturas mais
se o prémio foi pago com um importantes, quer pelo valor
seguro de grupo. Este argumento potencial dos danos (fenómenos
é falso. Os credores hipotecários sísmicos, por exemplo), quer pela
Analisámos 15 apólices de 10 seguradoras
Em Setembro de 2008, pedimos a 20 companhias infor-
mações sobre o seguro multirriscos-condomínio. Res-
ponderam 10, com um total de 15 apólices. No quadro
da pág. seguinte, publicamos as 10 melhores.
A Génesis e Groupama não comercializam este seguro.
A Axa disse não participar no estudo, mas sem indicar
uma razão. A AMA, Global, Lusitania, Real, Sagres, Se-
guro Directo e Tranquilidade remeteram-se ao silêncio.
As situações abrangidas em cada cobertura são, regra
geral, iguais em todas as apólices. Assim, classificámos
O NOSSO as companhias em função dos limites de indemnização
ESTUDO e franquias impostos.
frequência com que ocorrem.
Para conhecer as situações cobertas,
veja o artigo na DINHEIRO &
DIREITOS n.º 88, de Julho de 2008
ou o nosso portal. O seguro de
condomínio cobre as paredes do
imóvel, mas não o recheio. Se vai
contratá-lo à parte, veja na pág. 4
como calcular o capital seguro.
Descontos de grupo
●●● O preço é decisivo na escolha
da apólice. Para lhe dizermos quais
as mais baratas, criámos dois
cenários, fazendo variar factores que
influenciam o prémio: localização,
ano de construção, número de
andares e valor do imóvel.
Em princípio, prédios antigos
(acima de 20 anos) pagam entre
30% a 40% mais. A Açoreana e a
Império Bonança também agravam
o prémio em 14% e 20% se o imóvel
tiver mais de 10 pisos. Já os meios
de protecção contra incêndio e
roubo, como extintores, alarmes,
fechaduras de segurança, grades ou
portas blindadas, reduzem o prémio
em 2 a 20 por cento.
Se não participar sinistros à
→
dd91casasegura
Resultados completos
e preço das 15 apólices
analisadas
www.deco.proteste.pt
 dossiê condomínio

Reis de partes comuns

Alguns condomínios têm de decla- entregue entre 16 de Março e 30 de comprovadas: pinturas; reparação
rar rendimentos prediais: os que Abril, em papel, e 16 de Abril a 25 ou substituição da canalização ou
recebem rendas em troca da instala- de Maio, pela Net. O valor da renda sistema eléctrico; energia e manu-
ção de antenas de telecomunicações é englobado pelo fisco aos rendi- tenção de elevadores; energia para
ou painéis publicitários; e arrendam mentos de outras categorias, após iluminação e climatização; porteiros
partes comuns, como a casa da por- deduzir as despesas. A taxa de IRS e limpezas; prémios do seguro de
teira ou sala de reuniões. Se as re- incide sobre o total. incêndio ou multirriscos-condomí-
ceitas superarem € 10 000 por ano ●●● Se, em vez da renda, por exem- nio; taxas de saneamento e esgotos;
e a empresa pagadora tiver contabi- plo, uma operadora oferecer cha- e segurança do imóvel.
lidade organizada, têm de fazer re- madas telefónicas aos condóminos, ●●● De fora ficam as despesas com
tenção na fonte (15 por cento). estes nada têm a declarar ao fisco. obras que alterem a estrutura (adi-
cionar uma divisão, por exemplo);
14 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

Regras a declarar Deduzir para pagar menos mobiliário para o espaço arrendado;
●●● As rendas são declaradas por ●●● Às rendas, pode deduzir a sua ar condicionado; e obras de valori-
cada condómino, em função da per- parte das despesas de manutenção e zação, como sistemas de rega auto-
milagem, no anexo F. Este deve ser conservação, seguros e impostos, se mática para o jardim.

Quadro 4
do anexo F
Indique os
rendimentos
prediais

Multirriscos-condomínio a melhor apólice

Coberturas Prémio anual (€)
demolição e remoção
responsabilidade civil

APRECIAÇÃO GLOBAL
privação temporária
fenómenos sísmicos

aluimento de terras

edifício de 2002, edifício de 1980,

danos por água

Faro, 10 pisos, Lisboa, 4 pisos,

extracontratual

Seguradora e produto
furto ou roubo

de escombros
incêndio, raio

tempestades

30 fracções; 8 fracções;
inundações
e explosão

capital: capital:
€ 3 750 000 € 900 000

P Zurich
T3
A AFB A BFC AFB A A C B A AFB
c/sismos 4 426
s/sismos 1 886
c/sismos 1 240
s/sismos 646
Império Bonança c/sismos 6 001 c/sismos 1 486
A A C BFC BFC A A BFC B A B
Condomínio & Imóveis Total s/sismos 3 460 s/sismos 887
Mapfre c/sismos 5 164 c/sismos 1 935
A B A BFC AFB A A n.d. B A B
Multi-Condomínio VIP s/sismos 2 625 s/sismos 1 341

P Generali
Condomínio
A B A BFC AFB A A n.d. C A B
c/sismos 5 038
s/sismos 2 498
c/sismos 1 194
s/sismos 600

P Mapfre
Multi-Condomínio Base
A C A BFC B A A n.d. B A B
c/sismos 4 571
s/sismos 2 033
c/sismos 1 620
s/sismos 1 026
Victoria c/sismos 4 903 c/sismos 1 229
A BFC A BFC A AFB AFB n.d. BFC AFB B
Condomínio + s/sismos 2 363 s/sismos 630
Zurich c/sismos 4 159 c/sismos 1 155
A BFC B BFC AFB BFC BFC C B BFC BFC
T2 s/sismos 1 618 s/sismos 556
Liberty c/sismos 3 233 c/sismos 1 202
A BFC BFC BFC AFB AFB AFB BFC n.d. AFB BFC
Protecção Condomínio s/sismos 1 140 s/sismos 319
Fidelidade Mundial c/sismos 3 669 c/sismos 946
A BFC C BFC B B B BFC C B BFC
Condomínio Seguro s/sismos 1 128 s/sismos 352
Açoreana Multi Protecção c/sismos 4 425
A BFC B BFC CFD B B n.d. C B BFC (1)
Condomínio s/sismos 1 884
N Escolha Acertada; A Muito bom; B Bom; C Médio; D Medíocre; E Mau. n.d. = a seguradora não comercializa esta cobertura.
(1) Depende da avaliação do estado de conservação.
Multirriscos-condomínio em cinco etapas

Decidir Documentar Avaliar Simular Contratar

15 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

O seguro comum deve ser
aprovado em assembleia e a
decisão registada em acta.
A maioria das seguradoras
aceita o seguro para metade
das fracções.
A Fidelidade Mundial e
Império Bonança exigem a
adesão de 2/3 e a Açoreana
85 por cento.
Reúna o título constitutivo
do prédio e plantas de cada
fracção. Os documentos
são necessários para calcular
o capital seguro.
Na proposta, anexe
uma lista com
os titulares do seguro,
valor da respectiva
fracção e permilagem.
Escolhidas as coberturas,
compete à assembleia
e ao administrador calcular
o capital seguro.
Este corresponde ao valor
de reconstrução do prédio
(soma das fracções e partes
comuns), sem o terreno.
Mais informações na pág. 4
desta edição.
Escolhas Acertadas Compete ao administrador
no quadro abaixo. contratar o seguro.
Contacte as companhias Os interessados vão aderindo
e peça simulações gradualmente, à medida
para as fracções dos que termina a anuidade das
condóminos interessados. apólices individuais.

→
seguradora durante 5 anos ou mais
pode beneficiar de descontos até 30
por cento.
●●● Como pode ver no gráfico, o
seguro multirriscos-condomínio é
bastante mais barato do que as
apólices individuais. Exemplo para
o primeiro cenário do quadro, com
a cobertura de sismos: na Generali,
uma das Escolhas Acertadas, cada
fracção paga € 168 anuais, menos
21% do que no seguro individual.
MULTIRRISCOS
Mais barato em grupo
PRÉMIO POR FRACÇÃO
PARA O 1.º CENÁRIO DO QUADRO, COM SISMOS
INDIVIDUAL
CONDOMÍNIO
€ 212
€ 197
€ 168
GENERALI
P
Na Mapfre Base, também analisada
no estudo do multirriscos-habitação,
a diferença sobe para 23%,
o que representa uma poupança
de 45 euros.
escolha acertada
Alicerces pouco seguros
●●● Este seguro, como o individual, ●●● O seguro multirriscos-condomínio
tem problemas que comprometem tem duas vantagens face ao multirriscos-
a sua utilidade. Por exemplo, -habitação: é 20% a 50% mais barato e
coberturas de tempestades e
facilita a resolução de sinistros, quando
inundações demasiado restritivas:
só podem ser activadas se o vento várias fracções são afectadas.
e a chuva atingirem 100 km por
hora e 10 milímetros em 10 minutos. ●●● Analisámos os limites de capital
Mais: em caso de dúvida, compete e franquias das coberturas mais
ao segurado provar que os limites importantes. A Escolha Acertada é a
foram atingidos. Para isso, deve Zurich T3. Para imóveis de valor inferior
pedir uma declaração ao Instituto a 1 milhão e 500 mil euros, a Generali
Nacional de Meteorologia e Condomínio também é Escolha Acertada.
Geofísica, que pode custar cerca
de € 80 e não existem postos de ●●● O Multi-Condomínio Base, da
medição em todo o País. Mapfre, é Escolha Acertada para prédios
●●● Algumas apólices não pagam
até àquele valor e menos de 10 anos.
a substituição da canalização
danificada nem a pesquisa de
●●● Se estas seguradoras são mais
avarias na cobertura de danos por
água. Se for o caso, contrate a baratas, escreva à sua companhia actual,
€ 152 desistindo da apólice individual.
pesquisa de avarias à parte.
●●● Cabe ao condomínio avaliar o Em alternativa, deixe de pagar na data
imóvel e calcular o capital seguro. de renovação. Se adquiriu a casa com
Se contratar um valor inferior ao recurso a crédito hipotecário, avise o
real, as indemnizações podem não banco desta alteração. A nova apólice
chegar para os prejuízos. Algo que deve contemplar todas as coberturas
pode ser evitado se a seguradora que aquele exige. D&d
MAPFRE
passar a avaliar o imóvel ou der ao
segurado meios para fazê-lo bem.
 dossiê condomínio

Crédito encerrado
para obras
Se o fundo
comum
de reserva não
chegar para as
obras, prepare-se
para uma maratona.
Não é fácil conseguir
16 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

financiamento

O
s condomínios são
obrigados a fazer obras
de conservação nos
prédios, pelo menos,
de 8 em 8 anos.
Para isso, têm de criar um fundo
comum de reserva, para o qual
todos os proprietários contribuem
com, pelo menos, 10% da sua
quota. Se, mesmo assim, o valor
acumulado for insuficiente, resta a
via do financiamento.
Desde o crédito associado às contas
poupança aos programas de apoio
do Estado, há soluções... Mas nem
sempre são eficazes.
Cofre vazio para o prédio
●●● Se vai começar a ronda
pelos bancos, prepare-se para a
aventura. Como os condomínios
não têm bens que sirvam como
garantia real de pagamento da
dívida, poucos bancos arriscam
um empréstimo. Dos 20 que
contactámos, só o Banco Português
de Negócios e Santander Totta
afirmaram ter créditos específicos.
Mas mesmo estes mudam o rumo
da sua resposta se questionados
de forma anónima. Num teste
prático a 10 agências, onde nos
apresentámos como representantes
de um condomínio que precisava
de € 50 000 para obras, apenas o
Banco Português de Negócios, de
Carcavelos, se mostrou disponível.
Dos 10 bancos com
contas poupança-
-condomínio, só
um concede crédito
Em troca, exigia livranças dos
proprietários de todas as fracções,
tornando-os co-responsáveis pela
dívida. Além disso, a taxa nominal
mínima era pouco interessante:
8,30% ou 9,35% (Euribor a 6 ou 12
meses de Novembro, mais 5% de
spread). Como pode ver na pág. 25,
as Escolhas Acertadas do crédito
pessoal cobram taxas efectivas
mais interessantes, na casa dos 8%
(€ 5000 a 24 meses).
●●● A dificuldade em contratar
um crédito para obras no prédio
sente-se mesmo nos titulares de
contas poupança-condomínio há
mais de 3 anos. Isto, apesar de
a lei lhes garantir empréstimos
até à diferença entre o saldo da
conta e o orçamento das obras.
Dos 10 bancos que comercializam
aqueles depósitos, só 3 asseguram
o financiamento: Banco Popular,
Banco Português de Negócios
e Finibanco.

Guia prático
Contactámos 20 bancos e 10 balcões com as regras
Em Setembro de 2008, perguntámos a 20 bancos se dis- básicas
punham de créditos para condomínios e alternativas de convivência
entre vizinhos
de financiamento. Só o Banif Açores faltou à chamada.
Dos que responderam, o Banco Português de Negócios e
Santander Totta foram os únicos a indicar produtos es-
pecíficos.
Em Outubro, contactámos anonimamente 5 balcões em
cada uma daquelas instituições. Objectivo: avaliar a fa-
cilidade em contratar um empréstimo para condomínio Encomendas
O NOSSO Telefone: 808 200 146
e as condições propostas.
ESTUDO E-mail: assinaturas@deco.proteste.pt
Loja: www.deco.proteste.pt/loja
Vá pelos seus meios
●●● Sobretudo nos prédios antigos,
a falta de obras pode comprometer
a segurança do edifício. Por isso,
se o banco lhe fechar as portas,
há que assegurar outras formas
de financiamento. Construções
anteriores a Agosto de 1951 ou
com licença de habitação emitida
até 1970 e 4 fracções autónomas,
pelo menos, apenas uma para fins
comerciais, podem candidatar-se ao
RECRIPH. Este programa do Instituto
de Habitação e Reabilitação Urbana
(IHRU) paga até 20% das obras nas
partes comuns a fundo perdido.
de 7145 euros. O condomínio e os
proprietários podem também pedir
empréstimos para o valor restante
da obra e/ou arranjos nas fracções,
por um prazo até 10 anos. O crédito,
com uma taxa anual efectiva de
5,70% (Euribor a 6 meses, acrescido
de 1,40%) está isento de comissões.
Mas cada condómino deve dar a
sua casa como garantia e pagar os
custos de formalização da hipoteca
(documento particular).
●●● Para prédios posteriores àquela
data, os condóminos têm de pedir
crédito para a parte que lhes diz
respeito. Se precisa de € 15 000 ou
como garantia. A taxa de juro é
idêntica à do crédito à habitação.
Se precisa de menos dinheiro, opte
por um crédito ao consumo.
A taxa varia em função da garantia:
cerca de 6,5%, se apresentar como
penhor uma aplicação financeira
com montante igual ou superior; e
14% ao ano, em média, se der uma
livrança pessoal. O prazo vai até
84 meses e quase todos os bancos
obrigam a contratar seguro de vida.
➡ Informações
Instituto da Habitação e Reabilitação

17 | dossiê | Dinheiro&direitos 91 | Janeiro/Fevereiro 2009

O condomínio nada tem de devolver.
Em 2008, foram aprovadas 8
candidaturas, num montante médio
mais e pensa pagar em mais de 4
Urbana
anos, veja se pode optar por um
Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 5, 1099-
crédito hipotecário, dando a casa
-019 Lisboa; 21 723 15 00.
R. D. Manuel II, 296, 6.º, 4050-344 Porto;
22 607 96 70.

Financiar sem ficar empenhado

Edifício anterior a 1951, licença de utilização até Janeiro de 1970

e, pelo menos, 4 fracções autónomas?
consumidores exigem

●●● Ao contrário do consumidor,

sim
Apoio do RECRIPH
Programa paga até 20%
do valor das obras
a fundo perdido
e concede empréstimo
para o remanescente
(TAE: 5,70%)
não Cada proprietário vai gastar,
pelo menos, € 15 000 nas obras? os condomínios não têm bens que
possam apresentar como garantia,
o que dificulta o acesso ao crédito.
sim não Os rendimentos (quotas) são, regra
geral, reduzidos e as partes comuns
Crédito hipotecário Crédito ao consumo: estão incluídas nas fracções dos
com a sua casa como › com penhor de uma
garantia, se possível. aplicação financeira proprietários, pelo que não podem ser
Taxas próximas das do (TAEG ronda 6,5%); hipotecadas em nome do condomínio.
crédito à habitação › crédito pessoal Mais: eventuais poupanças, em princípio,
(Escolhas Acertadas (TAEG ronda 8%,
no Barómetro, pág. 25) no melhor cenário; serão usadas nas obras, pelo que
Escolhas Acertadas no não pode apresentar o penhor de uma
Barómetro, na pág. 24)
aplicação financeira.

●●● Apesar de a lei prever que os

titulares de contas poupança-condomínio
com mais de 3 anos tenham acesso a
crédito para obras, poucos bancos a
Obras pagas pelo Estado respeitam. Tal obriga os proprietários
a recorrer a empréstimos individuais
para uma dívida comum ou ao apoio do
❘❘❘ As candidaturas ao RECRIPH são apresentadas pelo administrador do Estado, se as características do edifício
condomínio na câmara municipal, que as encaminha para o Instituto de assim o permitirem.
Habitação e Reabilitação Urbana. Em regra, a resposta não excede 4 meses.
❘❘❘ Com o pedido de apoio ou financiamento, apresente um documento de ●●● Perante a degradação do parque
identificação do edifício, como o título constitutivo ou certidão do registo urbano português e a falta de créditos
predial, com o número de fracções autónomas e condóminos. Entregue a para obras nos prédios, o Governo deve
acta da assembleia com a decisão das obras; relatório técnico da câmara rapidamente assegurar que se criem
municipal com o estado do edifício, intervenções necessárias, duração e or- condições de financiamento e rever uma
çamento; declaração em como se compromete a iniciar as obras até 90 dias
lei inadequada. D&d
após a aprovação do pedido e financiamento.