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V JEEM

Junho de 2015

OFICINA DE VIOLÃO DESENVOLVIDA NA FUNDAÇÃO CASA: RELATO DE


EXPERIÊNCIA BASEADA NA PROPOSTA DE MURRAY SCHAFER

João Paulo Siqueira César, UFSCar/SP – Tobias_jp@hotmail.com


Jane Borges, UFSCar/SP - janeborges@ufscar.br

Resumo: Este artigo procura demonstrar, de maneira sucinta, a aplicação da filosofia de Murray Schafer na
educação musical e no ensino de violão em uma Fundação Casa desenvolvida pela ONG GADA (Grupo de
Amparo ao Doente de AIDS). O trabalho da ONG foi realizado em parceria com o projeto multidisciplinar “OS
BRASIS DE MEU BRASIL” promovido pelas seguintes Fundações Casa: Centros Madre Teresa de Calcutá I e II na
cidade de Iaras – SP, destacando o desenvolvimento deste processo no primeiro semestre de 2013. O
encerramento deste projeto se deu em uma mostra cultural na Escola Estadual Doutor Avelino Aparecido
Ribeiro também na cidade de Iaras – SP. Neste evento, houve uma integração com a sociedade que, além de
presenciar as exposições de diversos materiais confeccionados em variadas linguagens pelos adolescentes,
assistiu à apresentação da oficina de violão da ONG GADA, em conjunto com a de flauta doce, sendo a oficina
de flauta ministrada por uma profissional da Fundação Casa. Os resultados deste trabalho focalizam as
adversidades que foram superadas para a integração, a realização e a finalização do processo apresentado,
como também na fundamentação da ONG GADA que embasa as suas oficinas musicais nas concepções do
educador Murray Schafer.

Palavra- chave: Educação musical, Ensino instrumental coletivo, Murray Schafer, medida sócio-educativa,
projeto multidisciplinar.

INTRODUÇÃO

A Fundação Casa há muitos anos vem buscando, junto a sociedade que é


representada pelas ONGs, construir um caráter mais humano, pedagógico e reflexivo no
atendimento dado a adolescentes em conflito com a lei. Em um panorama como este
observamos que muitos adolescentes acabam trilhando caminhos que trarão muito
sofrimento tanto para si próprios como para toda a sociedade. Estes indivíduos
normalmente sofrem grandes carências para suprirem suas necessidades básicas e além
desta condição, a criminalidade provavelmente está muito próxima de seus convívios.
A medida sócio-educativa é um momento muito delicado, pois é a intervenção direta
do Estado na vida destes adolescentes que transgridem a lei. No entanto, pode vir a ser um
momento muito importante de reflexão sobre os caminhos que escolheram, já que os
adolescentes param de seguir na trajetória do crime.

CÉSAR, João Paulo Squeira; BORGES, Jane. Oficina de violão desenvolvida na Fundação Casa: relato de experiência 117
baseada na proposta de Murray Schafer. In: JORNADA DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO MUSICAL, 5., 2015. São Carlos.
Anais.... São Carlos: UFSCar, 2015. p.117-130
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Apesar dos dados serem sempre de um baixo número de recuperação, pois muitos já
introjetaram conceitos da marginalidade ao chegarem na Fundação Casa, há os que
conseguem sair desta realidade. Durante o tempo que lá permanecem todos recebem um
atendimento multidisciplinar para que voltem bem ao convívio com a sociedade.
O ensino musical da ONG GADA está dentro desta perspectiva e contexto trazendo
alguns valores e benefícios, tais como, desenvolver a capacidade de escolha, disciplina e
organização; praticar o raciocínio lógico; desenvolver a capacidade de expressão e
criatividade; compreender o mundo; fortalecer os laços afetivos; desenvolver cultura e
tolerância; aprender a escutar e descobrir o mundo (BRITO, 2013).
Muitos dos adolescentes só obtiveram seu primeiro aprendizado musical,
infelizmente, dentro da Fundação Casa, mesmo com a ampliação dos projetos musicais e um
início tímido desta prática nas escolas.
As motivações para o desenvolvimento desta atividade vão ao encontro dos
preceitos das instituições envolvidas que são a ONG GADA e Fundação Casa, pois temos
como foco dar uma oportunidade aos adolescentes de desenvolverem uma atividade
musical que poderá melhorar sua qualidade de vida, ajudando-os em suas escolhas para o
futuro, sem os sofrimentos que a criminalidade traz.

1- ONG GADA PROJETO ARTE PARA TODOS NA FUNDAÇÃO CASA

A ONG GADA existe há 21 anos na cidade de São José do Rio Preto e tem como
objetivo desenvolver ações de defesa dos diretos humanos e suas atividades abrangem as
áreas da cultura, saúde e educação. Destacamos um eixo cultural destinado a adolescentes
atendidos na Fundação Casa, conhecido como Projeto Arte Para Todos, que segue as
diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), do Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo (SINASE) e dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais).
O Projeto Arte para Todos tem diversos procedimentos para os adolescentes, com
oficinas em várias linguagens de arte-educação, workshops e compete aos educadores a formação
profissional e supervisão das ações.

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baseada na proposta de Murray Schafer. In: JORNADA DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO MUSICAL, 5., 2015. São Carlos.
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Apontaremos então, como embasamento teórico, os caminhos educacionais da


filosofia de Murray Schafer no ensino de violão dentro da medida socio-educativa aplicado
em um projeto multidiciplinar.
O educador musical Raymond Murray Schafer nasceu em 1933 na cidade de Sarnia, no
Canadá. Estudou no Royal Conservatory of Music, na Universidade de Toronto e na Royal
Schools of Music na Inglaterra. Durante a década de 1950 realizou várias atividades na
Europa e na década seguinte foi professor de Estudos de Comunicação na Universidade
Simon Fraser na Colúmbia Britânica, onde realizou projetos de pesquisa, entre os quais
destacamos o estudo do ambiente sonoro e sua preocupação com a qualidade da escuta.
Segundo Fonterrada (2005) o trabalho de Schafer pode ser classificado como
educação sonora, “o que ele propõe deveria anteceder e permear o ensino da música, por
promover um despertar para o universo sonoro, por meio de ações muito simples, capazes
de modificar substancialmente a relação ser humano/ambiente sonoro” (FONTERRADA,
2005, p. 180).
As atividades propostas por Schafer podem ser realizadas em ambientes fechados ou
abertos podendo ainda ser utilizadas em procedimentos curriculares ou em projetos e
oficinas. Muitas das suas ideias coincidem as com dos educadores ingleses Jonh Paynter
(1931-2010) e George Self (1921- ), como é o caso da ênfase na criatividade, liberdade de
criação e expressão sonora e musical, música de vanguarda e a notação não tradicional.
O projeto “Os Brasis de meu Brasil” surgiu a partir do pedido da gerência da arte
cultura da Fundação Casa aos Centros envolvidos com a finalidade de abrir novos panoramas
e vivências para os adolescentes e decidiu-se tratar da abrangência em vários aspectos do
Brasil em um trabalho multidisciplinar. Este tema permitiu costurar os fragmentos desta
imensa diversidade compondo uma colcha que permearia todas as áreas e gerências
presentes na Fundação Casa e culminou na exposição e apresentações externas em uma
mostra cultural.

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baseada na proposta de Murray Schafer. In: JORNADA DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO MUSICAL, 5., 2015. São Carlos.
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2- TRABALHO DESENVOLVIDO NAS AULAS, COM BASE NAS CONCEPÇÕES DE


MURRAY SCHAFER

Este trabalho tem por objetivo mostrar como a ótica de Schafer se aplica no
ambiente de uma medida sócio-educativa, abordando a nossa trajetória educacional
juntamente com a ONG GADA. Utilizaremos como exemplo um arranjo de “País Tropical”, de
Jorge Bem Jor, que foi o fio condutor da participação na Oficina de Música nesse
planejamento interdisciplinar e os conteúdos foram trabalhados durante o período de três
meses de aulas.

Fig. 1 - Partitura elaborada pelo autor para fins didaticos (canção “País tropical” de Jorge Benjor).

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Fig. 2 - Partitura elaborada pelo autor para fins didaticos (canção “País tropical” de Jorge Benjor).

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Fig. 3 - Partitura elaborada pelo autor para fins didaticos (canção “Pais tropical” de Jorge Benjor).

O projeto musical foi realizado em parceria com Andreia Sulli, responsável pela
oficina de flauta doce. Andreia Sulli é funcionária da Fundação Casa no setor pedagógico, e
neste período era referência da área de Arte cultura.
A estrutura do trabalho seguirá um planejamento de trinta aulas que definem ações
dentro da atividade pedagógica e têm um direcionamento trimestral embasado no objetivo
geral do Projeto Arte Para Todos que é:

O projeto Arte Para Todos consiste de ações pedagógicas de conteúdos


artísticos e culturais. Nosso objetivo principal é contribuir no
desenvolvimento da consciência humana, social e ecológica de
adolescentes através da Arte. A Arte é o nosso instrumento. Através dela
promovemos a prática da experimentação artística, a sensibilização estética
e a percepção crítica. Nosso método pressupõe estimular competências,
habilidades e valores focalizando as diferentes dimensões da construção
humana individual e coletiva, a saber, dimensão físico-corporal, dimensão
emocional-imaginativa e dimensão lógico-simbólica. (PROJETO ARTE PARA
TODOS, 2010).

O início das aulas se deu com a apresentação do professor e do instrumento violão


com seu repertório característico, explorando conteúdos musicais e sociais. Nisto, já há um
ponto muito importante para a auto-valorização dos adolescentes e do curso, fortalecendo
conceitos transmitidos pela ONG GADA nos dez (10) primeiros encontros.
A reflexão sobre o mundo que cerca estes adolescentes é algo extremamente
necessário, pois muitos deles, devido a inúmeros fatores, tornaram-se insensíveis. Schafer

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nos ajuda a entender que as pessoas que são indiferentes, são também insensíveis à
ambientação sonora. Portanto, ao se trabalhar a percepção musical com estes adolescentes,
é possível resgatar também a sensibilidade para outros aspectos de suas vidas.

Há pessoas, é certo – mais que isso há muitas pessoas – que sorriem


indiferentes a tais coisas porque não são sensíveis ao ruído; mas essas são
exatamente as mesmas pessoas que também não são sensíveis à
argumentação ou a reflexão, ou à poesia, ou à arte, em suma a nenhuma
espécie de influência intelectual (SCHAFER, 1991, p.142).

O fazer musical se desenvolveu inicialmente com as notas cantadas ou produzidas no


instrumento e com isto acabam surgindo pequenas melodias, tendo a averiguação do
contexto dos adolescentes com criação e a reprodução dos materiais musicais pela
orientação do educador.

Música é uma organização de sons (ritmo, melodia etc.) Com a intenção de


ser ouvida. (...) A melhor coisa que qualquer professor pode fazer é colocar
na cabeça dos alunos a centelha de um tema que faça crescer, mesmo que
esse crescimento tome formas imprevisíveis. Tenho tentado fazer com que
a descoberta entusiástica da música preceda a habilidade de tocar um
instrumento ou de ler notas (...) (SCHAFER, 1991, p.35, 282).

O trabalho reflexivo e indagativo trouxe com o enfoque nas potencialidades dos


educandos e dessa forma os alunos junto ao educador construíssem um repertório
significativo de atividades. Sobre isso Schafer relata:

Venho discutindo a educação dirigida à experiência e à descoberta. Nessa


situação, o professor precisa se acostumar a ser mais um catalisador do que
acontece na aula que um condutor do que deve acontecer. Estou
convencido de que no futuro, podemos esperar pelo enfraquecimento do
papel do professor, como figura autoritária e ponto de convergência da
aula (SCHAFER, 1991, p. 301).

Por isso o trabalho inicial mostrou ao educando que o fazer musical não é algo
inalcançável. Ligado a isso sempre há um cuidado com a postura corporal, através de
exercícios de alongamentos, buscando a apreciação de ideias de sons e estilos, análise e
debate sobre estes conteúdos e desenvolvimento do canto de melodias fora e dentro da
realidade dos adolescentes propondo o fazer das atividades em que se explore o nome das

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notas musicais a partir da proposta de “1.Ouvir, 2. Analisar, 3. Fazer.” (SCHAFER, 1991,


p.299).
As construções destas explorações sonoras começaram a ganhar contorno sem uma
preocupação demasiada com a precisão dos elementos musicais. O essencial é que a
descoberta dos sons, sejam eles, naturais do meio ambiente, de nós mesmos ou dos violões,
ocorra em uma sequência organizada para elaboração de um sentido musical. E depois
ganhem sentido ao serem transpostos para o violão

Assim, podemos resguardar, para nossa definição, as palavras ritmos e


melodia, se nos lembrarmos de usá-las do jeito que foi discutido. Melodia é
simplesmente uma sequência organizada de apoios. A palavra-chave é
“organizada”. O fato de que o compositor pensou nisso transforma-a numa
coisa muito diferente dos ruídos que ouvimos na rua, por exemplo.
(SCHAFER, 1991, p.33)

O trabalho rítmico a ser construído e aplicado nos violões foram embasados em


experiências preliminares em que se assimile primeiro por meio do corpo as rítmicas a
serem trabalhadas e posteriormente criando um caminho que dê continuidade no
instrumento.

A música pode também correr, saltar, claudicar, balançar. Pode ser


sincronizada com bolas que pulam, com ondas do mar, com galopes de
cavalos e com centenas de outros ritmos cíclicos ou regenerativos, tanto da
natureza quanto do corpo (SCHAFER, 1991, p.295).

A utilização das figuras, sem teorizá-las, possibilitou que todos os educandos


lentamente realizem as atividades juntos ou separados. Assim dividiu-se a turma em
pequenos grupos, onde cada grupo fez um ritmo determinado, para terem a vivência de
pulsações e ritmos. Julgou-se importante destacar que os alunos que apresentem maiores
dificuldades poderão realizar as figuras mais simples, além de se trabalhar dinâmicas.

Um ritmo pode ser qualquer sequência de apoios que organizamos ou


desorganizamos à vontade, dependendo do efeito particular que
queiramos. Há alguns meios de organização que chamamos metro (como
em poesia) e outros de desorganização, como o rubato (tempo roubado),
síncope, ritardando, acelerando, e assim por diante, ou pela superposição
de metros diferentes, que assim confundem os simples apoios decisivos de
cada metro individual (SCHAFER, 1991, p. 32)

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Fig. 4 - Figuras e dinâmicas (SCHAFER, 1991, p. 311).

A notação musical utilizada em um primeiro momento foi a leitura de notas de


maneira relativa, usando nome de notas e outros meios criados pelo educador ou pelos
próprios educandos, explorando a criatividade e desenvolvendo o pensamento musical para
tenham o entendimento dos elementos gráficos (observações gerais) e simbólicos
(observações mais precisas). Com isso, através da atividade prática foi possível despertar o
interesse pela teoria musical, fazendo com que sintam a necessidade de buscar uma notação
mais precisa, que será acrescentada paulatinamente, por meio das atividades.

Fig. 5 - Notas musicais em pauta reduzida (SCHAFER,1991, p. 311).

Para a aprendizagem e assimilação das notas musicais, bem como suas colocações na
pauta pudemos utilizar vários jogos musicais. Algo bem interessante em nossa experiência
foi construir uma história usando os nomes dos alunos, em que a primeira letra seja uma
nota musical e se siga a sequência lógica. Exemplo: A “Re” nata passou na casa da “Mi” chele
para irem visitar a “Fá” biana, pois ela está doente. Ela pegou uma gripe muito forte da sua
prima “Sol” ange (...) e assim por diante.
Com as notas musicais já assimiladas foi possível trabalhar as cifras e cadências
harmônicas simples, observando músicas da realidade dos alunos e também aquelas que
podem ser criadas a partir dos elementos já adquiridos.

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Fig. 6 - Cifra musical elaborada pelo autor para fins didáticos. (Canção “Preciso de você” do grupo
Sampa Crew).

Nos próximos 10 encontros, este trabalho de identificação das notas no instrumento


utilizando progressivamente a linguagem formal da música foi de extrema importância, pois
revisou materiais já trabalhados e explorou novos parâmetros sonoros, técnicos e rítmicos
para a fixação destes conteúdos.
A formação de um grupo instrumental em formato de camerata para instrumentos
melódicos e harmônicos é algo que foi construído desde as primeiras aulas com as atividades
e exercícios, pois eles aprenderam a trabalhar os elementos musicais e instrumentais juntos,
mas sempre buscando seu alto conhecimento.

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O arranjo de “País Tropical” foi construído para uma camerata em que há flautas e
violões. O violão abrange na sua tessitura a melodia principal, vozes cavadas de apoio à
harmonia e ritmos e baixos, já as flautas abrangem a melodia principal e vozes cavadas
apoiadas pela harmonia.
A reprodução do arranjo foi realizada utilizando a revisão de todos os conceitos
abordados até o momento e com um aprofundamento da teoria musical, partindo para a
assimilação de frases ou trechos até se chegar ao entendimento da 1ª parte.
O interessante foi observar a busca destes elementos pelos estudantes. De acordo
com Schafer “precisamos de uma música arrojada – estimuladora da mente, heurística,
imaginativa -, uma música na qual mente e corpo unam em ações de autodisciplina e
descobertas” (SCHAFER, 1991, p. 295).
Para os alunos que apresentaram dificuldades técnicas e de assimilação foram
elaboradas, dentro do arranjo, vozes de apoio à harmonia com a escrita bem simplificada e
conforme o desenvolvimento era possível mudar para uma voz mais elaborada.

Fig. 7 – Vozes de apoio, elaboradas pelo autor para fins didaticos (canção “Pais tropical” de Jorge
Benjor).

Depois da assimilação melódica foi feita a construção da harmonia neste trecho,


momento em que era possível rever o material de cifragens já utilizado com repertório
auxiliar de outras músicas cantadas.

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Fig. 8 – Leitura de cifras e ritmos (canção “Pais tropical” de Jorge Bem Jor).

No último período de 10 encontros, agora com os alunos que já conseguiram


assimilar a base harmônica, foi feita a junção de todos os elementos, como sempre por
partes averiguando se todos os elementos trabalhados foram assimilados.
Depois que o grupo de violão tinha uma parte da música pronta, aconteceu a junção
ao grupo de flauta. Mesmo sem ter toda a peça pronta, essa dinâmica dos encontros de
naipes proporcionou o estímulo necessário para continuar preparando o repertório para a
apresentação final. Os erros cometidos não eram mal vistos, mas sim trabalhados e
resolvidos.

É claro que não procurei por isso, mas é da natureza do trabalho


experimental haver erros algumas vezes, pois, quando uma experiência é
bem-sucedida, ela deixa de ser experiência. Se o objetivo da arte é crescer,
precisamos viver perigosamente; essa é a razão por que digo a meus alunos
que os seus erros são mais úteis que os seus sucessos, pois um erro provoca
mais pensamentos e autocríticas (SCHAFER,1991, p. 282).

Julgamos importante destacar que o trabalho realizado com o aluno foi sempre de
maneira a estimular e encorajar para que ele consiga, dentro de suas possibilidades e com o
trabalho semanal, executar todas as partes do arranjo de maneira embasada nos conteúdos
estudados. No entanto, deve-se levar em consideração o fato de que, dentro da realidade da
Fundação Casa, há uma grande rotatividade de alunos, seja por transferências ou por
desinternações o que acaba sempre desmembrando o grupo.
Com o passar do tempo criou-se uma heterogeneidade no grupo, sendo muito
importante ressaltar a cooperação entre os alunos, pois há maior desenvolvimento no
aprendizado de todos. Sobre este assunto é possível destacar que o “segredo está em
distribuir tarefas variadas aos grupos de tal forma que, em um outro momento, cada

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membro descubra naturalmente que possui os requisitos necessários para liderar”


(SCHAFER, 1991, p. 302).
Schafer destaca a importância de um educador musical comprometido com seus
alunos e o que coloca e vai ao encontro das nossas funções e com nosso público e nos deixa
uma reflexão:

(...) o que precisamos é de um novo tipo de professor, que poderia ser


chamado, mais precisamente, um animador musical da comunidade. Como
ensinar música para esses novos grupos de pessoas que parecem tão sem
vida e tão desespiritualizados? Esse ensino pede por novas estratégias
pedagógicas. Não é de esperar que um educador de crianças vá até a casa
de pessoas idosas ou a um centro comunitário e faça trabalho nos mesmos
moldes que fazia anteriormente. Não se pode ensinar um homem sem
dentes, de setenta anos a tocar trompete, e qualquer grupo de adultos não
se se sentirá à vontade contando Good Morning, Mr. Sun (canção infantil).
Por outro lado, a música poderia tornar-se um estímulo e uma fonte de
vigor na vida de aparentemente incontáveis grupos de pessoas
abandonadas, se apenas pudéssemos descobrir a pedagogia correta
(SCHAFER, 1991, p. 355).

CONCLUSÃO

Foi aqui demonstrado a construção de conhecimentos musicais envolvendo os


aspectos da filosofia de Murray Schafer, mostrando o desenvolvimento das minhas
atividades na Fundação Casa pela ONG GADA, junto com a educadora Andreia Sulli em uma
camerata de violões e flautas na perspectiva do projeto Arte Para Todos.
Muitos destes adolescentes haviam abandonado a escola e dentro dos
aspetos culturais não tinham imaginado toda a riqueza de nosso país, e com a
atividade musical junto as outras atividades desenvolvidas tiveram um grande
aprendizado, sendo que também o local da realização a Escola Estadual Doutor
Avelino Aparecido Ribeiro na cidade de Iaras – SP os alunos e professores desta
instituição enriqueceram seus conhecimentos e quebraram paradigmas pela
convivência com adolescentes que cumprem medida sócio educativa.
Acima da vivência gerada pela medida sócio-educativa, que busca uma cultura de paz
e respeito, há também todo conhecimento produzido através da educação musical que estes

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jovens vão levar para suas vidas mostrando a eles, através deste trabalho multidisciplinar,
como a vida pode ser diferente da que levavam, fortalecendo laços de convívio e gerando
oportunidades de retomada em suas vidas.
Os resultados da I Mostra Cultura “OS BRASIS DE MEU BRASIL” estão apresentados
no site da Fundação Casa, http://fundacaocasa.sp.gov.br/index.php/noticias-home/2360-
jovens-de-iaras-mostram-os-brasis-de-meu-brasil.

REFERÊNCIAS

BRITO, Teca de A. Porquê estudar música. Educar para crescer. Disponível em:
<http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/estudar-musica-730918.shtml>.
Acesso em: 10 ago. 2014.

CREW, Sampa. Preciso de você. Disco: A noite cai, 2002.

FONTERRADA, Marisa T. de O. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. UNESP,


2005.

FUNDAÇÃO CASA. Projeto “Os Brasis de meu Brasil”. Disponível em: <
http://fundacaocasa.sp.gov.br/index.php/noticias-home/2360-jovens-de-iaras-mostram-os-
brasis-de-meu-brasil>. Acesso em: 10 ago. 2014.

JOR, Jorge Ben. Pais tropical. Disco: Jorge Bem, 1969.

PROJETO ARTE PARA TODOS. O que fazemos. Disponível em: <http://www.gada.org.br/site-


novo/index.php/o-que-fazemos-4/>. Acesso em: 10 ago. 2014.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991.

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