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A cena descreve os objetos carregados pela Alcoviteira, simbolizando suas atividades ilícitas como prostituição e fraude. Ao Anjo, ela se defende comparando-se a apóstolos e mártires, tentando convencê-lo de que fez "coisas divinas", embora seu discurso revele hipocrisia. O Diabo zomba dela, sugerindo que será punida no Inferno por seus pecados.
A cena descreve os objetos carregados pela Alcoviteira, simbolizando suas atividades ilícitas como prostituição e fraude. Ao Anjo, ela se defende comparando-se a apóstolos e mártires, tentando convencê-lo de que fez "coisas divinas", embora seu discurso revele hipocrisia. O Diabo zomba dela, sugerindo que será punida no Inferno por seus pecados.
A cena descreve os objetos carregados pela Alcoviteira, simbolizando suas atividades ilícitas como prostituição e fraude. Ao Anjo, ela se defende comparando-se a apóstolos e mártires, tentando convencê-lo de que fez "coisas divinas", embora seu discurso revele hipocrisia. O Diabo zomba dela, sugerindo que será punida no Inferno por seus pecados.
almofadas; «mártela» — mártir; «giolhos» — joelhos; «boninas» — flores campestres. 2. Os objectos carregados por Brísida Vaz revelam a sua profissão e são os seguintes: «Seiscentos virgos postiços / e três arcas de feitiços [..j / Três almários de mentir, / e cinco cofres de enlheos, / e alguns furtos alheos, / assi em jóias de vestir, / guarda-roupa d’encobrir, / enfim — casa movediça; / um estrado de cortiça / com dous coxins d’encobrir. / A mor cárrega que é: / essas moças que vendia» (versos 490-502). • Tais objectos simbolizam as actividades ilícitas praticadas pela personagem: prostituição, fraude/impostura, feitiçaria e roubo. • Com convicção, a Alcoviteira recusa-se a entrar na barca do Inferno, dizendo ao Diabo: «eu vou pera o Paraíso!» (verso 506). • A Alcoviteira considera-se uma mártir devido às tormentas sofridas em vida; foi açoitada diversas vezes por causa da sua actividade profissional ilícita. • Carinhosamente, Brísida tenta persuadir o Anjo através do elogio, tal como se verifica nas seguintes expressões: «Barqueiro mano, meus olhos,» (verso 517); «anjo de Deos, minha rosa?» (verso 522); «meu amor, minhas boninas, / olho de perlinhas finas!» (versos 528-529). • A Alcoviteira autocaracteriza-se, afirmando ter sido «apostolada» e «angelada», porque, tal como os apóstolos, propagou o seu ofício e funcionava como o «anjo da guarda» das raparigas que tinha a seu cargo. • Brísida compara-se aos apóstolos, aos anjos, aos mártires e também a Santa Úrsula. • Ao utilizar vocabulário religioso, a Alcoviteira pretende confundir e convencer o Anjo de que ela fez «cousas mui divinas» (verso 532), tendo encaminhado muitas raparigas para a «salvação». • A atitude do Anjo face aos argumentos da Alcoviteira é de menosprezo e de indiferença. Página 85 • Nesta cena, Gil Vicente torna a criticar uma classe social já visada no auto, ou seja, o clero. • A crítica a essa classe social surge nos versos 525-526: «a que criava as meninas / pera os cónegos da Sé...». • Os últimos quatro versos desta cena são irónicos, porque é evidenciado, de forma trocista, o facto de a Alcoviteira ser uma pecadora. O Diabo afirma que ela irá ser «bem recebida» por causa da «santa vida» levada; a intenção é sugerir precisamente o contrário, ou seja, a Alcoviteira irá prestar contas dos seus actos no Inferno, e será castigada por todos os seus pecados. 3. Campo semântico da mentira — «postiços»; «feitiços»; «mentir»; «enlheos»; «alheos»; «encobrir»; «movediça». Campo semântico da religião — «angelada»; «apostolada»; «martelada»; «divinas»; «converteo»; «salvas». 3.1. Os argumentos de defesa utilizados pela Alcoviteira revelam descaramento, astúcia e muita hipocrisia. Ela emprega uma linguagem ambígua e deturpada, invertendo propositadamente o sentido das palavras que se encontram nos textos religiosos.