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Escrito em 26 / 10 / 2018
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Graduando em Filosofia pela Universidade de São Paulo e militante do Partido Comunista Brasileiro.
Localizada no centro da capital de São Paulo, a sede do PCB aguardava por
milhares de pessoas para tornar concreto um anseio de muitos devido à convivência
de um momento histórico inesperado – se houve, em menos de dez anos, uma
ascensão impulsiva de uma nova direita em âmbito mundial (de Obama a Trump, de
Sarkozy a Macron, de Kirchner a Macri, de Lula a Bolsonaro), então qual foi o papel
que a educação assumiu nos últimos anos para permitir a entrada dos quatrocentos
golpes contra os direitos sociais e trabalhistas? Antes de começar o encontro, porém,
um policial militar entra no lugar com a intenção clara de, ao menos, torná-los atentos
para o que iriam falar ou fazer. Com apenas poucas pessoas na sede, o policial fardado
adentra para saber quem é o responsável principal do evento. Um dos integrantes se
oferece honestamente à legalidade, procurando responder o interrogatório do policial:
nome, idade, profissão, natureza, objetivo e duração temporal da atividade. Por fim,
ele simplesmente diz que tais dados servem para manter a segurança do bairro, na
tentativa de lembrar que sua missão é manter a ordem em ordem. A esquerda e os
marginalizados da sociedade sentem muito bem o significado dessas palavras. Ainda
assim, os militantes, após se “despedirem” do oficial, continuaram “normalmente”
com a atividade prometida, sem internalização alguma de culpa e má consciência.
Todo temor e indignação aqui residem na invasão dos militares: uma vê eu a sede do
PCB não é um espaço público, não havia motivo legal nenhum para interromper e
indicar monitoramente de segurança. Um aviso claro que o PCB deveria voltar,
novamente, para clandestinidade.
O problema é que essa havia sido a terceira vez, a contar desde agosto de 2017,
que a polícia militar invade a sede do Partido Comunista Brasileiro sem haver qualquer
espécie de denúncia por parte dos participantes do encontro – ação esperada para que
haja polícia. Uma vez que uma parte dos eventos se dirige à formação política e crítica,
com frequência aparecem um número alto de interessados em aprender, pensar e
discutir da melhor maneira possível sobre marxismo e tradição crítica da esquerda. Em
2017, o mesmo ocorre durante o início de um dos eventos que começava numa manhã
de sábado: com menos de cinco participantes, um policial militar fardado invade a
sede e começa a interpelar sobre o nome do responsável do evento, sua idade; sobre a
natureza, objetivo e duração temporal da atividade, concluindo com um comentário
voraz de quem conhece muito bem o que se faz naquele lugar: “tem muita gente
confirmada [confirmada no evento do Facebook] neste evento, não é?”, alegando
trabalho de segurança (particular) no bairro. Não há suspeitas de como eles sabem do
horário e dia dos eventos, mas se sabe de uma certeza: há monitoramento constante
nas organizações de esquerda, por menos que sejam.
Todos esses casos ocorrerão com muito mais frequência e assiduidade com o
governo do ex-capitão do exército Jair Messias Bolsonaro, pois, uma vez que não sente
nenhum pudor em prometer que vai “metralhar a petralhada”, não reconhecerá
nenhum movimento de oposição e, portanto, o conflito interno próprio de qualquer
democracia. Enquanto o MST continuar com o estigma de “fábrica de guerrilheiro”,
toda a existência tranquila da esquerda sofrerá o choque báquico da perseguição,
repressão e negação da sua vida. Pois quando ele dizia “petralhada”, não se tratava
apenas dos eleitores e militantes do Partido dos Trabalhadores, mas se tratava
simplesmente de “metralhar” toda ideologia que pretende levar a bandeira vermelha,
ou seja, todos os seguimentos de esquerda e movimentos revolucionários. Seu poder e
apoio se encontram com tamanho reforço voluntário, que não haverá população que
efetivamente consiga resistir à criminalização da esquerda.