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aquela raiva, a revelação e depois
foi atacado por ser irrepreensível A média é 10 a 15 mil cada. Come-
aquela maluqueira divina. Depois
chegas ao quarto volume, encon-
tras os Salmos, encontras o Cânti-
co dos Cânticos, o Eclesiastes, o
Livro de Job… É realmente mui-
to bom. Aconteceu-me nalgumas
passagens, e acho que isso acon-
tecerá a outros: o leitor dá por si
a bater com a cabeça naquelas
passagens.
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Teve um grande impacto. O Frede-
rico Lourenço emergiu de repente
como uma figura de grande relevo
e uma figura muito requisitada. A
edição lá foi feita pela Companhia
das Letras, que é realmente um gi-
gante. Esta versão tem sido consi-
derada uma versão canónica, o que
levou, aliás, a que houvesse no Bra-
sil uma corrida a mais traduções.
Este fenómeno tem acontecido
noutros países: em Inglaterra há
mais traduções a aparecer, nos
EUA há mais estudos filológicos…
Só em Portugal é que o Frederico
do ponto de vista académico.
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Foi ele que negociou com a Com-
panhia das Letras do mesmo modo
que o fez connosco. Simplesmen-
te, eles compraram o nosso proje-
to gráfico, porque grande parte do
trabalho que esta edição exige
prende-se com a paginação.
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O Frederico trabalha para o Fre-
derico.
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Já pagámos os custos, sim.
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çámos com 12 mil no primeiro vo-
lume e depois fomos subindo até
chegar aos 30 mil. No segundo vo-
lume, estando preparados, já fize-
mos 15 mil, sabendo que iríamos
vender menos. O primeiro volu-
me é o primeiro, ainda por cima
com os quatro evangelhos. É pre-
ciso ter em conta que estávamos
a competir com best-sellers inter-
nacionais, e aparecemos com uma
capa sóbria: isto é Bíblia, não é ne-
nhuma brincadeira. Portanto, es-
taríamos, segundo algumas lumi-
nárias do marketing, condenados
ao insucesso. Por isso mesmo acho
que foi uma aposta ganha pelo
Frederico e por nós. Pessoalmen-
te, devolveu-me alguma esperan-
ça de que é possível fazer grandes
livros, fazer livros a sério.
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Já. Temos um acordo para uma
série de projetos que irão sair.
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Sim, mas não posso dizer mais.

são. Lembro-me de um amigo, o Pa- marcada pelo proselitismo. Antes

dre Rui Santiago, dos missionários
redentoristas, dizer: ‘É uma ale-
gria, passamos pelas livrarias e ve-
mos as pessoas com Bíblia’. Vende-
mos 30 mil exemplares do primei-
ro volume. É obra.
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Não temos ainda números quan-
to ao quarto. O segundo e terceiro
volume estão com vendas entre os
12 e os 14 mil. Não esperávamos
muito mais. Mas é diferente do
que acontece ao publicarmos um
romance, ou um ensaio, que tem
um período de existência nas li-
vrarias muito curto, depois é de-
volvido, e tende a definhar. A Bí-
blia vamos vendê-la nas livrarias
durante anos e anos.
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Lembro-me de uma sessão em
Óbidos em que no fim as pessoas
vinham pedir ao Frederico que
autografasse a Bíblia, não por ser
o autor [risos], mas porque lhes
tinha dado uma Bíblia em que po-
diam confiar no que lá está escri-
to, uma Bíblia que não estava
desta tradução, para falar da Bí-
blia tinha de o fazer com pessoas
que tinham chegado a ela por via
da sua formação religiosa, sendo
que muitos católicos não têm essa
formação. Quando nos anos 30 o
Vaticano finalmente diz que não
há mal em ler a Bíblia, depois de
tantas pessoas terem pago com a
vida por terem desobedecido, o
facto é que não tínhamos no nos-
so país a tradição de a ler. Quantos
padres é que leram a Bíblia, quan-
tos têm por hábito lê-la além dos
quatro evangelhos? Quantos leem
as cartas de São Paulo? Os católi-
cos não têm a tradição de ler a Bí-
blia, ponto. Por oposição aos pro-
testantes, que são leitores absolu-
tamente vorazes da Bíblia.
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A experiência de muita gente é
maravilhosa, porque são pessoas
que não partem para a Bíblia à es-
pera de uma revelação de fé, de
um encontro com o Criador, par-
tem para um texto. Acho que
qualquer pessoa fica maravilha-
da ao descobrir os quatro evange-
lhos. Ou descobrir o Apocalipse e
as cartas de S. Paulo – mesmo
achando aquilo horrível a certa
altura, porque S. Paulo é um cas-
tigador, é o gajo que vai discipli-
nar a Igreja, e aquilo é visceral.
Dei por mim a ler São Paulo e a
pensar: este tipo é como o Céline,