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© Edições Universitárias Lusófonas

Título: Inspiração Psicanalítica - Freud e as psicoterapias dinâmicas e


de suporte
Autor: José Martinho
Edição: Edições Universitárias Lusófonas, Maio de 2011
Capa: Rute Muchacho
Paginação: Ana Sofia Bastos
Impressão e acabamento: Clássica - Artes Gráficas, S.A.
Depósito Legal: 331349/11
ISBN: 978-989-8512-05-5
Tiragem: 250 exemplares

Todos os direitos desta edição reservados por:


Edições Universitárias Lusófonas
Campo Grande, 376 - 1749-024 Lisboa
Telef.: 217 515 500 Fax: 217 577 006
Email: edicoes.lusofonas@ulusofona.pt
José Martinho

INSPIRAÇÃO PSICANALÍTICA
Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Colecção “Psicanálise”
Edições Universitárias Lusófonas
INDICE

PREFÁCIO 09

I – O QUE DIZ O SINTOMA AO PSICANALISTA 11


1.1. O sintoma na Medicina, na Psicoterapia e na Psicanálise 13
1.2. De Freud aos nossos dias 30

II - FREUD AO PÉ DA LETRA: PRINCÍPIO, MEIO E FINS DA PSICANÁLISE 51


2.1. Amor em análise 53
2.2. Interpretar, reconstruir e construir 69
2.3. Fins da análise 87

III - PSICANÁLISE E PSICOTERAPIAS 111


3.1. Intersecção Psicanálise – Psicoterapia 113
3.2. A Entrevista Psicológica e Clínica 119
3.3. Psicoterapias Breves 142
3.4. Grupanálise
149
3.5. Psicodrama
161

BIBLIOGRAFIAS 175
José Martinho

PREFÁCIO

Este livro resulta em boa parte das aulas de “Psicoterapias


Dinâmicas e de Suporte” que lecciono no Mestrado de Psicologia,
Aconselhamento e Psicoterapia da Faculdade de Psicologia da
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e, mais
recentemente, na Pós-graduação em Consulta de Psicologia,
Aconselhamento e Psicoterapia do ISLA (Leiria), e num Seminário da
formação clínica da Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Breves.

O que interrogo basicamente aqui é a inspiração psicanalítica das


designadas “Psicoterapias Dinâmicas e de Suporte”. O primeiro
capítulo conduz este questionamento para a distinção entre o
sintoma psicanalítico e o sintoma médico e psicoterapêutico.
Através do comentário de três textos escolhidos de Freud, o segundo
capítulo esclarece o que é o princípio, o meio e os fins da Psicanálise.
O terceiro capítulo fala da Intersecção Psicanálise – Psicoterapia, e
debruça-se sobre algumas psicoterapias individuais e de grupo que
correspondem a esta operação lógica.

José Martinho
Lisboa 29/11/2010

9
O QUE DIZ O SINTOMA AO PSICANALISTA
José Martinho

“Não há nada para o qual o homem, pela sua organização,


esteja menos capacitado do que para a psicanálise”
Freud

“O homem é carne feita de sublimação”


Freud

1.1 O sintoma na Medicina, na Psicoterapia e na Psicanálise

Ouve-se muitas vezes dizer que Freud foi o “pai” da Psicanálise


e esta a “mãe” de todas as psicoterapias.1 Mas Freud não deu o
nome de “Psicanálise” a nenhuma das suas filhas, e a dita “mãe” das
psicoterapias não é propriamente uma Psicoterapia. Vejamos de
mais perto.

O que pode levar a uma certa confusão sobre a praxis da Psicanálise


e da Psicoterapia é o facto de o sintoma ser o ponto de partida
empírico das duas. Ambas começam geralmente por uma dificuldade
concreta: uma ansiedade premente, um sentimento de tristeza que
alastra, uma ideia que parasita a mente, um impulso para comer ou
beber, por vezes a simples necessidade de um conselho. O terapeuta
surge como aquele que sabe libertar destes transtornos. Mas a sua
acção é dupla: por um lado, consegue mudar o comportamento e o
pensamento do indivíduo, mas, por outro lado, acaba por tocar num

1. Emprego geralmente neste livro o termo “Psicanálise” (com maiúscula) para designar
a invenção de Freud, mesmo se existem quase tantas psicanálises como maneiras de
praticar e conceber a “coisa”. O termo “Psicoterapia” refere-se basicamente ao conjunto
das terapias de inspiração psicanalítica, nomeadamente as “Dinâmicas e de Suporte”.

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

mal ainda maior.

Aquilo distingue a partir daqui a Psicanálise da Psicoterapia é a


maneira como cada uma delas concebe este mal-estar, e mais
particularmente lida com a forma como se apresenta no pedido
de ajuda do sujeito, o qual não corresponde exactamente ao seu
sintoma nuclear.

Como seguem desde o início o modelo médico do tratamento e da


cura, as psicoterapias apresentam-se geralmente como medicinas da
alma tendo como principal objectivo a remoção dos sintomas.

Mas Freud distingue explicitamente a “doença” do “sintoma”, ao


mesmo tempo que afirma que a única coisa de tangível que resta
depois de tratada a doença é a capacidade de formar “novos
sintomas”.2

O novo sintoma não é um distúrbio do equilíbrio natural provocado


pela análise, nem a alteração de uma função orgânica; o sintoma
após a análise é uma nova maneira de lidar com os sintomas da
antiga doença, e sobretudo o “benefício” que resulta do “novo tipo
de funcionamento”.3 Este propósito de Freud obriga-me a distinguir
desde já o sintoma psicanalítico do sintoma que se impõe na prática
do clínico?4

2. FREUD, Sigmund. (1989). “Os caminhos para a formação de sintoma”. Textos Essenciais
da Psicanálise III. Lisboa: Publicações Europa América, p.127
3. FREUD, Sigmund. (1951). Inhibition, symptôme e angoisse. Paris: PUF, p 1.
4. O termo “clínica” designa uma inclinação objectiva (o acto de se debruçar sobre
a cabeceira do leito doente para observar os sinais da doença) e subjectiva (um
interesse próprio e algo mórbido pelo sofrimento alheio).

14
José Martinho

Desde Hipócrates de Cós (460 - 380 a.C.) que o sintoma é concebido


como o “signo” (το σημειον)5 de uma desarmonia. Este “signo”
comporta um equívoco, pois é ao mesmo tempo o sinal de uma
perturbação da ordem natural e um termo do vocabulário médico.

Na Antiguidade clássica, toda a desarmonia se destaca sobre um


fundo de harmonia preestabelecida. A doença, por exemplo, é vista
como um distúrbio da ordem cósmica que devia reinar.

Depois de acreditarem que eram os deuses que enviavam as maleitas


aos mortais para os castigarem por alguma falta de moderação,
os Gregos começaram a interessar-se pelas causas naturais das
doenças. É nesse momento que nasce a seita laica dos fisiatras, ou
seja, dos médicos.6

A procura da causa física - que Aristóteles diferencia em causa material,


formal, eficiente e final – pôs de lado a possibilidade de uma doença
da “psique”. Apesar de se encontrarem descrições da melancolia, da
mania, da histeria e da epilepsia nos livros de Medicina antiga, as
escolas médicas de Cós e de Cnido nunca distinguiram entre doenças
físicas e psíquicas. O que dominou a Medicina ocidental até ao século
XVII foi a teoria dos “quatro humores” de Hipócrates e Galeno (Roma,
5. Etimologicamente, “sintoma” é o que cai (ptôma) junto (sym). O símbolo (symbolon)
reúne o que se quebrou ou separou. Articulando sintoma e símbolo, Freud diz que,
como o cristal, o sintoma tem uma estrutura, logo que, quando há quebra, as partes
fragmentam-se seguindo as linhas definidas previamente pela estrutura. No seu
primeiro ensino, Lacan explicou que a estrutura comum ao sintoma psicanalítico e
à fala do analisando é a da linguagem, a “ordem simbólica” da “língua” (de Saussure).
No seu último ensino, Lacan mostra que a referida estrutura é topológica, e que por
conseguinte o que o sintoma não é um cristal (significante), mas um nó (borromeano).
Cf. LACAN, Jacques. (2005). Le Séminaire, livre XXIII, Le sinthome. Paris: Seuil.
6. Nalgumas situações, a cólera dos deuses podia ser acalmada por um sacrifício
animal (galo, cordeiro, etc.) ou humano (virgem, etc.).

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

(129-204 d.C.). Esta pretendia que o temperamento ou os estados


da alma dependiam da variação – equilíbrio ou desequilíbrio - dos
humores do corpo.7

Só muitos séculos mais tarde é que se pôde admitir a existência da


“doença mental”. Todavia, voltámos hoje à concepção greco-romana
da doença, graças à ideia que aquilo que se passa na “mente” deve
ser unicamente explicado pelos genes e neurónios, isto é, pela
Neurobiologia. O que se anuncia deste modo é simplesmente a
morte de todos os “psis”: psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e afins.

Será que alguma coisa mudou realmente ao longo dos séculos a


respeito da concepção médica do sintoma? Podemos dizer que o
velho equívoco do “signo” se manteve, mas que o médico moderno
vai sobretudo interessar-se pelo sintoma enquanto constructo da
Medicina científica.

É através do exame clínico que o médico se tornará cada vez mais o


proprietário legítimo do (saber sobre o) sintoma; é ele que observa

7. Os cuidados aos doentes foram inicialmente prestados pelos familiares e pessoas


mais chegadas. A crença que os deuses enviavam os males fez com que a medicina
começasse por ser uma prática sacerdotal. Mesmo depois do aparecimento dos
fisiatras, as práticas mágico-religiosas perduraram, por exemplo em Delfos (templo
de Apolo) e Epidauro (templo de Asclépio). Será sobretudo o racionalismo do Corpus
Hippocraticum que levará o conhecimento médico ocidental a apoiar-se, até ao final
do século XVII, nas seguintes palavras: “O corpo do homem tem sangue, linfa <pituíta,
atrabilis ou fleuma>, bílis amarela e bílis negra, é isso que constitui a sua natureza e
que cria a doença e a saúde. Há essencialmente saúde quando estes princípios estão
em justa proporção de temperamento, de força e quantidade, e a mistura é perfeita;
há doença quando um destes princípios peca, quer por defeito, quer por excesso, ou,
isolando-se no corpo, não está combinado com todo o resto”. Apenas a peste e a lepra
é que não podiam ser atribuídas a um desequilíbrio dos humores e, por esta razão,
supunha-se que eram transmitidas pelo ar, ou vinham do céu, possivelmente como
castigo dos deuses.

16
José Martinho

os sinais do processo patológico, lhes atribui um nome e classifica; é


também ele que busca a causa do mal, trata este e procura curá-lo.

O sintoma vai, assim, sendo determinado pela leitura que o médico


faz do mal-estar que perturba o corpo do doente, leitura efectuada
em função do conhecimento acumulado, que será cada vez menos
aquele que provinha do povo e cada vez mais o dos Mestres em
medicina. Pressupunha-se, ainda, que o saber herdado deste modo
se enriqueceria com a experiência particular de cada médico.

Em todos os casos, o objectivo do saber médico permaneceu até


a uma data bastante recente o restabelecimento da saúde pela
remoção do sintoma como signo do estado patológico e da essência
mórbida do corpo. Só que, durante todo este tempo, os médicos
ignoraram a etiopatogenia dos sintomas que pretendiam curar. Mais
que não seja por esta razão, a Medicina tornou-se uma escolástica,
por vezes mesmo uma demonologia, com a respectiva “caça às
bruxas”.

Até ao final do Grande Século, os herdeiros de Hipócrates


manipularam a alma dos crédulos quando pretendiam curar o seu
corpo. Charlatães de rua, feiticeiros da ilusão, empíricos de corte ou
barbeiros-cirurgiões, os médicos pouco ou nada conheciam do seu
objecto e, por conseguinte, a sua autoridade e reputação estiveram
constantemente expostas a sarcasmos.8

8. Cf. MILLEPIERRES, François. (1955). La vie quotidienne des médecins au temps de


Molière, Paris: Hachette (trad. port A Vida Quotidiana Dos Médicos No Tempo De Molière,
Edição dos Livros do Brasil). FOUCAULT, Michel. (1963). La naissance de la clinique Une
archéologie du regard médical. Paris  : Presses Universitaires de France ; FOUCAULT,
Michel. (1972) L´Histoire de la folie à l’âge classique. Folie et déraison. Paris: Gallimard.

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Na Idade Média, os fisiatras passaram a constituir uma congregação


de “clérigos” saída directamente da Faculdade de Medicina, onde
defendiam teses que se limitavam a esgrimir as intangíveis regras
do silogismo. O Grego e o Latim ajudavam em seguida os jovens
médicos a ganhar a sua vida, porque os populares supunham
que quem falava estas línguas ou podia redigir receitas com letra
indecifrável devia certamente ser um santo ou um sábio.

Ao obscurantismo dos Doutores acrescentavam-se práticas como


os diagnósticos pelo cheiro e degustações das fezes e das urinas, as
centenárias sangrias ou sanguessugas em torno dos jugulares, do
ânus e da coluna vertebral, cauterizações, injecções de aguarás e de
essência de terebintina, incitações a beber os mais estranhos chás e
xaropes, bem como a aplicação de mezinhas com plantas e a prática
da Astrologia, da Magia e da Alquimia com diversos minerais. Se o
pó do chifre mirífico do unicórnio continuava a ser citado como uma
droga de excelência em todas as farmacopeias do Antigo Regime era
também e sobretudo, como disse Ambroise Paré, porque as “pessoas
gostam de ser enganadas.”

Mesmo se a ideia de fundo continuou a ser que a Medicina apenas


podia coadjuvar Deus e/ou a Natureza no tratamento dos males, os
médicos não escaparam ao furor de curar.

Apesar destes e de outros avatares, o saber da Medicina sempre teve


um enorme poder, na medida em que todos, homens e mulheres,
jovens e velhos, nobres e plebeus, ricos e pobres acabam sempre um
dia por cair nas mãos dos médicos.

18
José Martinho

O Estado só se ocupou tardiamente das questões relativas à saúde


da população. Foram as comunidades religiosas que começaram a
organizar a Assistência Pública. A acção caridosa desenvolvida por
estas comunidades deu lentamente lugar aos primeiros Hospitais,
onde se amontoavam em condições da maior insalubridade os
necessitados; levou igualmente à criação das primeiras clínicas
privadas, para uso dos mais abastados.

Em Portugal, apesar de D. Dinis ter nomeado, em 1536, o padre


Pedro Fernando de Oliveira como “curador dos fora de siso”, só em
1763 é que estes foram instalados na enfermaria João de Deus do
reconstruído Hospital do Rossio. Até ao terramoto de 1755, e nos
anos seguintes, foram enfiados em pátios de hospital, fossos de
fortificações, vários calabouços e cabanas, bem como nas cocheiras
de Castelo Melhor. Em 1850 é inaugurado, pelo Duque de Saldanha
e com o apoio de D. Maria II, o primeiro “asilo de lunáticos”, o hospital
de Rifanholes, futuro Miguel Bombarda. Os recursos eram muito
escassos e o ambiente desolador, mas já se utilizavam algumas
técnicas “psicoterapêuticas” como a persuasão, a balnearioterapia, a
ergoterapia e a terapia ocupacional. Mais tarde chegaram os Asilos
de alienados, os Hospícios e Manicómios.9

Em 1786, a Salpêtrière – uma antiga fábrica de pólvora de Paris que


se tornou um famoso Hospital psiquiátrico – transformou-se num
asilo de alienados para “7.000 indigentes, mais um certo número de
loucas e de prostitutas.”

9. Cf. SOBRAL CID, José Matos. (1984). Obras, vol. II. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

A possibilidade da “doença mental” como entidade nosológica


à parte só chega na segunda metade do século XVIII. Em França,
Philippe Pinel (1745-1826) separa pela primeira vez os loucos, dos
indigentes, dos tristes e dos criminosos, fazendo com que se comece
a encarar a possibilidade de uma “alienação mental” separada de
qualquer lesão anatómica; é também ele que propõe um “Tratamento
Moral” dos “desassizados” (os sem siso ou juízo), precursor da ideia de
“tratamento psíquico”.

Com o desenvolvimento dos novos conhecimentos científicos a


Medicina começou a aderir lentamente ao método científico e
experimental, como podemos ler já em Molière, quando este aposta
na ciência contra o latim médico.

Foi a Anatomopatologia renascentista e a descoberta do sistema


circulatório sanguíneo por Harvey (1578-1657) que levaram cada
vez mais os novos médicos a tentar explicar o sintoma (efeito) pela
estrutura ou a função orgânica afectada (causa).10

Todavia, até ao século XX, existiram sobretudo médicos do “crânio”


e dos “nervos”, todos eles incapazes de explicar a verdadeira causa
das doenças que observavam e descreviam e, claro está, de as tratar.
Assim, aquilo que veio a ser mais tarde a “Psiquiatria” - especialidade
médica que tem como objectivo a prevenção, o diagnóstico e o
tratamento das doenças mentais - permaneceu durante todo esse

10. A “afasia” fornece um bom exemplo das dificuldades com que se depararam os médicos.
Enquanto não foi descoberta a lesão cerebral que estava na origem das perturbações
afásicas da linguagem (sons ou fonemas; léxico ou palavras, gramática, sintaxe; ritmo/
fluência e escrita/leitura), estas foram facilmente atribuídas a defeitos individuais e vícios
morais.

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José Martinho

tempo uma Nomenclatura, e os cuidados que dispensava andaram


sempre muito próximos da ajuda samaritana. Ou do crime. 11

O nome e a obra de Emil Kraepelin (1855-1926) vão marcar uma


data naquilo que constituirá o núcleo duro da “Psiquiatria” clássica.
Fundador da Escola Alemã, Kraepelin é ao mesmo tempo um médico,
um cientista e um “psicólogo” influenciado pelas experiências do
laboratório de Wundt.

Kraepelin observou centenas de doentes, descreveu e classificou os


seus sintomas. Tornou-se deste modo o responsável pela primeira
grande classificação das doenças mentais. Na sua abordagem
dos sintomas, levou em conta dois tipos de causas: constitucional
e acidental; e duas funções: transversal (descrição dos sintomas
actuais da doença) e longitudinal (descrição do curso da doença,
com os novos dados). A principal preocupação de Kraepelin recaiu
sobre o prognóstico ou a evolução da doença.

É também no seu Tratado de Psiquiatra que encontramos a primeira


descrição da síndrome da demencia precox (que Bleuler denominou
“esquizofrenia”), para além da “paranóia” (alucinações, delírio de
interpretação) e da “psicose maníaco - depressiva” (alternância
entre o estado de euforia e depressão; actualmente denominada
“perturbação bipolar”).

Após as descrições e classificações de Kraepelin, as medicinas da alma

11. A História da “Psiquiatria” está repleta de curiosidades e horrores: rituais de


possessão, trepanação de crânios, canibalismo para ingestão da massa cerebral, nave
dos loucos, enclausuramento, electrochoques, camisolas de forças físicas e químicas,
lobotomias, etc., etc., etc.

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

foram-se tornando mais “científicas”, e por conseguinte afastando-


se da confissão católica, da preocupação de si ligada ao cuidado
greco-romano do corpo, e das práticas curandeiras primitivas como
o xamanismo, cuja eficácia simbólica dependia dos ritos e mitos
colectivos das sociedades primitivas a que pertenciam. Mas o estado
da arte psiquiátrica só irá efectivamente mudar no século XX, com a
Fenomenologia e a Psicanálise.

Antes destas, foi a Psicologia Analítica de W. Dilthey (1833-1911) que


introduziu uma ideia directriz que irá trilhar um importante caminho,
a saber que, para além da “descrição” (pré-científica) da doença e a
“explicação” (científica)12 da sua causa, deve haver a “compreensão”
do ser humano que o doente também é.

Compreender não é observar o indivíduo de fora, de maneira


objectiva e neutra, mas ter a capacidade de se colocar no seu
lugar, de penetrar na sua mente, para poder vivenciar o que este
verdadeiramente sente, pensa e quer.

Voltou a apostar-se deste modo na transparência das almas, na


verdade e na identificação ao outro. A partir daí acreditou-se que seria
esta transparência que permitiria apreender o conteúdo intencional
e (auto) biográfico que a doença tem para o doente, logo, a relação
que estabelece consigo, com outrem e com o mundo.

Uma tal preocupação geral com o conteúdo dos fenómenos acabou

12. Para o pensamento filosófico-científico Moderno, a explicação causal irá residir


essencialmente na “causa formal” de Aristóteles. Mas é o “Princípio de razão” de
Leibnitz que melhor ilustra o determinismo que afirma que nada acontece à toa no
psiquismo.

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José Martinho

por conduzir os espíritos a uma nova Hermenêutica.13 Todos os


fenómenos humanos tornaram-se desde logo portadores de um
Sentido. Daí que se começasse a tentar compreender o sentido de
tudo, partindo da estrutura do organismo e da esfera da intimidade,
até à dimensão universal da Existência humana, da História, do Ente
supremo e do Ser. Esta inflação do Sentido fez-se sentir com maior
acuidade ainda após a ruína dos valores da Civilização ocidental
provocada pela Segunda Guerra Mundial.

Karl Jaspers (1883-1969) é o fundador do que se designa por modelo


Fenomenológico - Existencial em Psiquiatria. Ele introduz na Medicina
dos nervos o “método explicativo” (a ligação causal entre a doença
mental e a função orgânica afectada) e o “método compreensivo”
(despido de teorias e preconceitos, em que o investigador descreve
o doente tal como lhe aparece).

É também Jaspers que propõe os conceitos de “síndrome” (conjunto


de sinais e sintomas organizados de forma especifica) e de “vivência”
(experiência psico-patológica do único indivíduo). Finalmente,
a Psicopatologia jaspersiana apresenta-se como Geral, ou seja,
médicos independentes com igual formação devem chegar ao
mesmo diagnóstico.

Na Psicologia, a corrente Fenomenológico – Existencial vai prolongar


a chamada corrente “Humanista”, e dar lugar à Logoterapia de V. Frankl
(1905-1997), à Terapia Existencial (ou do Dasein) de L. Biswanger
(1881-1966) e à Terapia da Gestalt de F. Perls (1893-1970)14.

13. Dilthey já tinha publicado, em 1900, uma Introdução à Hermenêutica (Die


Entstehung der Hermeneutik).
14. Destaco aqui a Terapia da Gestalt, pela importância crescente que tomou no

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Estavam, assim, criadas as condições para que se pudesse procurar


e encontrar em toda a perturbação mental um comportamento
clinicamente significativo.

A Psicanálise é também apanhada a dada altura nesta grande onda


do Sentido. O mal-entendido foi-lhe aparentemente favorável, pois a
importância crucial que passou a ter para a Psiquiatria, a Psicologia e
a Sociedade em geral só começou quando o Sentido veio substituir
o Sexo. Freud-o-grande-obcecado-sexual cedeu, então, o lugar a
Freud-o-grande-pensador-e-escritor.

Foi, pois, um mal-entendido que esteve na origem da crescente


influência que da Psicanálise sobre a Psiquiatria e a Psicoterapia entre
os anos 1930 e 1950. Foi ainda este mal-entendido que levou a que se
viesse a conceber a Psicanálise como uma “Psicologia compreensiva”,
ou uma “Psicologia das profundezas”, que procurava não só o sentido
consciente dos fenómenos psíquicos, como o sentido “subliminar” à
consciência ou “subconsciente”.

mundo hispânico e mais recentemente em Portugal (website da Sociedade Luso-


Espanhola de Psicoterapia Gestalt: http://slepg.net/index.php?cont=4). O seu
fundador, Frits Perls era um médico psiquiatra e psicanalista formado em Berlim e
Viena, onde conheceu W. Reich, P. Federn, H. Deutsch e K. Horney. Influenciado pela
Psicologia da Gestalt (Friedlander, Wertheimer e muito especialmente por Goldstein),
a Fenomenologia (Husserl) e o Existencialismo (sobretudo Sartre), mas também pelo
Psicodrama (Moreno), afasta-se decididamente do freudismo e acaba por lançar nos
EUA, juntamente com a sua mulher Laura, as bases da Gestalt Therapy. Esta defende
o princípio da Forma Global e da auto-regulação (homeostasia) do Universo, do
organismo em interacção com o meio, e da Pessoa no próprio processo terapêutico.
Atribui-se aí igual importância ao corpo, à mente e ao amadurecimento destes, mas
sobretudo ao awareness, ao dar-se conta da situação existencial, com a respectiva
tomada de consciência do “aqui e agora” e do “como” (cf. PERLS, F. (2010). Sueños y
Existencia. Santiago do Chile: Editorial Cuatro Vientos; MATIN, A; RUIZ DE LA ROSA, C.
(2007). Curso Básico de Terapia Gestalt. Madrid: IPG).

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José Martinho

É verdade que Freud constatou que fenómenos como os sintomas


psíquicos tinham um sentido que não podia ser verdadeiramente
explicado por lesões orgânicas e traumatismos externos. Mas aquilo
que mais o interessou à partida não foi o sentido em si, e sim os
“mecanismos psíquicos” que estariam por detrás da criação deste
ou daquele sentido. Por exemplo, porque é que tal sonho tem um
determinado sentido e não um outro?

O real de que se ocupa a Ciência ou que ela explica não tem o mínimo
sentido. Mas é precisamente o sentido que Freud encontra no real
que a Ciência exclui, nomeadamente no sintoma do sujeito.

O sentido deste sintoma é duplo ou tem a forma da significação e da


satisfação. A partir deste dado da experiência, Freud conclui que não
é o cientista, nem o médico, mas o sintoma que deve ter a primeira e
a última palavra a dizer sobre a sua duplicidade.

Um dos problemas com que Freud se depara quando começa a


exercer a Medicina, é que ele não tem ao seu dispor nenhum saber
efectivo sobre a etiologia dos sintomas das doentes histéricas que
começavam a consultá-lo.

Apesar das leituras que fazia e das viagens que o levaram até Paris
(Charcot) e Nancy (Liebault, Bernheim), Freud é obrigado a constatar
que não existia Livro, nem Mestre em Medicina que soubesse
explicar cientificamente a causa da histeria, ou que ensinasse uma
técnica para curar a doença, pelo menos para reduzir os seus efeitos
mais prejudiciais.

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Esta ausência de um corpo de doutrina constituído não desagradava


de todo a Freud, porque lhe dava a oportunidade de ler tudo o que
bem lhe apetecesse. Mas a sua liberdade começa a restringir-se a
partir do momento em que a impotência do saber científico e médico
relativos ao sintoma histérico o obriga a ir colher o saber novo que
procurava na própria fala dos analisandos. É então que reconhece
e afirma: "as palavras são o principal instrumento do tratamento
psíquico".

Joseph Breuer e Bertha Pappenheim (A Anna O. dos Estudos sobre


a Histeria) vão ser essenciais nesta viragem. É de Bertha que vem
a definição inaugural da Psicanálise como talking cure; mas é só
quando Freud consegue entender esta deixa e a das outras histéricas,
que se afasta decididamente do saber da Ciência e da Medicina e se
aproxima de quem carrega o sintoma como a sua sina.

Foi pela única via da fala dos analisandos que Freud descobriu os
“mecanismos” que governam a criação do sentido dos fenómenos
psíquicos, nomeadamente ao nível do processo primário ou
inconsciente.

O substantivo “inconsciente” serviu-lhe à partida para designar uma


hipótese de trabalho que devia ser testada na sessão analítica. Como
esta hipótese se mostrou fecunda, Freud acabou por dizer que ela
não era só “necessária”, mas também “legítima”. A partir daqui pôde
trabalhar em intensão e extensão o “Inconsciente” como um conceito
fundamental da Psicanálise.

O que encontra Freud graças à sua hipótese do inconsciente?

26
José Martinho

“Pensamentos”, diz. Na verdade, o que ele faz é escutar os analisandos,


e são os lapsos que estes cometem que revelam os pensamentos de
que não tinham consciência ou que eram deformados por esta. Como
se formam tais pensamentos? Freud mostra que é pela “censura” que
a palavra (dos pais, professores, etc.) exerce sobre a representação
e afectos dos indivíduos da espécie desde a mais pequena infância.

Freud verifica, ainda que existe uma estreita relação entre a


significação destes pensamentos inconscientes e a satisfação que é o
alvo daquilo que chama a “Pulsão” (Trieb), e não o “Instinto” (Instinkt).

O que é a pulsão sexual que se vai impor a Freud durante o tratamento


da histeria? A sua formação científica e médica leva-o a conceber a
libido como a “energia” da matéria viva que passa pelo metabolismo
das glândulas sexuais e é investida na reprodução biológica. Mas
aquilo que lhe contam as histéricas (cenas de sedução) e mais tarde
todos os outros pacientes, prova que esta energia não é unicamente
canalizada para a satisfação da necessidade reprodutora da espécie,
que ela é transformada por toda a maquinaria que leva o indivíduo à
procura mais ou menos fantasiada de uma Outra satisfação.15

O que acontece realmente é que a energia libidinal passa também

15. Imaginamos que existem “forças” por detrás de tudo o que se move na natureza.
Falamos de “matéria” e “energia”, mas o conceito físico de “energia” é o de uma
constante numérica num cálculo matemático (E=mc2). Filho do seu tempo, Freud
evoca também uma “energia” libidinal, mas o psicanalista, no seu consultório, não lida
com nenhuma força ou energia natural. Ele limita-se a escutar o que lhe dizem, e a
falar de vez em quando. O que Freud faz é chamar “quantidade de energia” à unidade
de medida que utiliza no seu cálculo da interpretação, de decifração do que move
(desejo inconsciente, reivindicação pulsional) o sujeito que fala, particularmente na
análise.

27
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

pelo “aparelho da linguagem”16 e o “aparelho psíquico”, e reparte


daí para o organismo, onde vai ter efeitos surpreendentes e até
contrários à homeostasia do vivente. São, pois, estes dois ecos da
palavra - na alma e no corpo - que vão ser decisivos para o modo
como a Psicanálise irá conceber e lidar com o sintoma.

O que é um sintoma no sentido psicanalítico do termo? Existem pelo


menos três definições deste sintoma na obra de Freud. A primeira é
contemporânea da invenção da Psicanálise. O sintoma é aí definido
como uma “formação de compromisso” entre o desejo inconsciente
e o recalcamento deste pela consciência. É a consciência que está
na origem da doença mental. O sintoma só se cristaliza depois; ele
forma-se a partir do que foi recalcado, e vem mostrar o deslocamento
do desejo inconsciente provocado pela censura. O problema é que o
Eu consciente do sujeito recusa reconhecer este desejo.

A segunda definição do sintoma encontra-se em Inibição, sintoma e


angústia. O sintoma é então definido como “o signo e o substituto da
satisfação pulsional que não ocorreu”.17

Estas duas definições articulam o desejo inconsciente com a pulsão


e o seu representante psíquico ou fantasma.18 É a segunda definição
16. Expressão que Freud usa num dos seus primeiros textos. Cf. FREUD, S. (1977). A
Interpretação das afasias. Lisboa: Edições 70.
17. J-A Miller escreve que, até ao fim da análise, o sintoma passa por uma série de
reduções da satisfação fantasiada, que contribuem todas para a forma final de saber
lidar com ele. (cf. MILLER, Jacques-Alain. (1998). O osso de uma análise. Biblioteca
Agente, Salvador).
18. Vários psicanalistas de língua portuguesa preferem traduzir o termo freudiano
Phantasie por “fantasia”, em vez de “fantasma”. Emprego neste livro os dois vocábulos
indiferentemente, o mais importante sendo que o leitor saiba que me refiro sempre ao
conceito psicanalítico. A Phantasie freudiana é uma ponte entre o sujeito e o objecto
(outro ou mundo). Esta passagem encontra-se estruturada como uma frase do tipo

28
José Martinho

que nos informa definitivamente que a quarta dimensão, o sintoma


propriamente dito, possui uma significação (Bedeutung) e é uma
satisfação (Befriedigung).

A terceira definição de Freud completa as anteriores. Ela afirma que


o sintoma psíquico só existe enquanto analisável na neurose de
transferência. Esta última definição é suficiente para que não se tente
mais explicar o sintoma psicanalítico por nenhum factor orgânico ou
cultural. Em vez de uma continuidade “bio-psico-social”, como se diz
agora, ele instaura uma descontinuidade.

Antes da análise, a relação do sujeito com aquilo que o faz sofrer


é geralmente má, por vezes mesmo dramática. Quando a análise
começa, esta relação fica melhor, porque o analisando supõe que o
analista sabe tratar dos seus sintomas.

Mas, no decorrer da análise, vão haver altos e baixos, pois o sujeito


não encontra exactamente aí o que esperava. É no final que emerge
o sintoma que passou pela dissolução da relação do sujeito com
o analista. Quando o processo não entra num impasse, o sujeito
consegue modificar a relação trágica que tinha de início com o seu
sintoma. Por vezes, a antiga tragédia revela-se mesmo como sendo
uma comédia.

“uma criança é batida” (cf. FREUD, S. (1991). “Uma criança é batida”. Esquecimento e
Fantasma. Lisboa: Assírio & Alvim). É a frase que fornece o guião que conduz, com mais
ou menos disfarces, à encenação mental do desejo recalcado. Apesar de inconsciente,
a Phantasie é também a matriz do voto consciente. Lacan mostrou, ainda, que
os diferentes elementos cénicos da Phantasie freudiana se articulam de forma
significante, para um sujeito dividido, atravessado pelo objecto estruturalmente
perdido que causa o desejo inconsciente.

29
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

O que convém entender é que o sintoma psicanalítico não faz


parte da doença, mas da tentativa de cura. O sujeito só se queixa
do seu sintoma porque não quer saber que ele é uma mensagem
do inconsciente, que o convida a reconhecer o seu modo de
participação na doença; Por hábito o sujeito prefere não se inteirar
do que se passa, até mesmo ficar doente. Quando procura livrar-
se do seu sintoma, fá-lo geralmente de três maneiras: recorrendo
a substâncias como drogas naturais ou químicas; lançando a culpa
sobre os outros, isto é, condenando os pais, a sociedade, o destino,
deus ou o diabo pela sua má sorte; ou procurando um Mestre que o
salve da má sorte.

É só a partir do momento em que assume a inteira responsabilidade


do seu sintoma, que o sujeito percebe que a única solução que resta
é a sua habilidade para responder ao problema, mais ainda, é de
perceber que o sintoma é a sua sorte grande. É de facto uma sorte
ter sintomas, pois é o sintoma que singulariza e permite que o sujeito
se liberte da alienação ao Outro.19

1.2 De Freud aos nossos dias

Muitas águas correram depois de Freud.

Comecemos por dizer algumas palavras sobre o que se passa hoje


na Faculdade de Medicina (local tradicional da investigação e do
ensino) e no Hospital (lugar institucional e privilegiado da clínica).

19. Lacan pôs em relevo que não existe simetria, nem complementaridade sexual.
Como é realmente impossível fazer Um com o Outro (sexo), cada sujeito ama o seu
sintoma como si mesmo. Qualquer negociação com o alheio terá de ser, pois, inter-
sintomática.

30
José Martinho

O certo é que ambos se apoiam cada dia mais na Tecnociência. Ora,


o extraordinário avanço das ciências e das técnicas contemporâneas
fez não só com que o curriculum vitae médico tivesse radicalmente
de mudar, mas também com que toda uma rede multidisciplinar
de especialistas fosse substituindo o antigo médico de família e a
sua relação pessoal com o doente. O que se perdeu quase sempre
com a explicação e o tratamento tecnocientífico da doença foi a
humanidade devida ao doente.

Apesar de haver hoje um conhecimento muito mais aprofundado das


causas das doenças, logo da sua prevenção e tratamento, a Medicina
Tecnocientífica distanciou-se imenso da antiga Arte Médica, que
repousava sobretudo na escuta e no cuidado a prestar ao doente.
O herói da série televisiva House – médico extremamente hábil a
diagnosticar as doenças, mas que foge dos doentes – é um excelente
exemplo do que acabo de afirmar.

Aquilo que a Medicina perdeu foi parcialmente recuperado pela


Enfermagem e a Psicoterapia.

Deixo aqui de lado a Enfermagem, e passo a lembrar que a noção


de “Psicoterapia” aparece no final do século XIX, com a crítica da
Introspecção e o progresso dos Métodos Científico e Clínico.20 Ela
vai sobretudo desenvolver-se a partir dos anos 40 do século XX,
20. O método clínico dedica-se à colheita de dados precisos sobre todas as doenças
dos seres humanos, as afecções que limitam os poderes e a duração da vida. Tal
como o método científico, o método clínico parte dos dados da observação que
sugerem hipóteses; em seguida, estas são examinadas à luz das novas observações,
algumas das quais feitas na prática clínica e outras em laboratório. O que na ciência
se denomina “teoria”, chama-se “diagnóstico diferencial” ou “operacional” em clínica.
O método clínico em Psicologia aplica esta mesma ideia directriz ao chamado “facto
psicológico”.

31
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

associada à Psicanálise. Cresce, então, uma nova ideia de escuta e


de cuidados terapêuticos que conduzirá à formação de “técnicos”
especialistas da “psique”, bem como à criação de serviços nos
Hospitais, Centros de Saúde e outras estruturas de acolhimento que
possam oferecer tratamentos aos doentes mentais, adultos, jovens
e crianças, e recebam os pedidos de aconselhamento e de apoio
psicológico que irão se multiplicando.21

A partir dos anos 1930, e em razão do já referido mal-entendido,


a Psiquiatria, a Psicologia e a Psicoterapia serão cada vez mais
influenciadas pela Psicanálise. Mas esta influência diminui nos anos
1950, com as Técnicas Cognitivo-Comportamentais, a descoberta
da Psicofarmacoterapia, e os avanços da Biologia e da Genética
Molecular; ela diminuirá ainda mais drasticamente nos anos 1970,
com os progressos da Neurobiologia da mente e a chegada massiva
ao mercado dos primeiros antidepressivos e ansiolíticos.22

Apesar deste dado sociológico, a Euro-Federação de Psicanálise


veio chamar recentemente (2010) a atenção para o facto de o acto
analítico não se enquadrar no que habitualmente se chama a “Saúde
Mental”, ainda que um certo número de psicanalistas trabalhe no

21. Actualmente, com o www, entrámos na era da Web e da Cyberpsicologia.


Podemos encontrar a “Webpsicologia” em todas as lojas de Psicologia e Psicoterapia
oferecidas pela Internet. A Ciberpsicologia consiste basicamente na introdução
das 3D nos cenários terapêuticos das Técnicas Cognitivo-Comportamentais, ainda
que a disciplina procure fundamentar as suas elaborações e intervenções na actual
Neurobiologia da mente.
22. O primeiro destes medicamentos, a Cloropromazina, foi inventado por Henri
Laborit no início dos anos 1950. Actualmente, as principais classes de psicofármacos
são: os neurolépticos (com efeitos anti-psicóticos); os anti-depressivos (para as
depressões, certas perturbações de pânico, agorafobia, fobias sociais, neurose
obsessiva, dor crónica, narcolepsia e impulsividade); e os tricíclicos ou Inibidores da
Mono-amino-oxidase; os ansiolíticos (para a ansiedade patológica).

32
José Martinho

sector.23 A Saúde Mental é um prodigioso esforço médico, político


e económico-financeiro para fazer com que a “mente”24 - órgão ou
rede neural cuja estrutura e função têm vindo a ser explicadas pela
Neurobiologia – adapte rápida e convenientemente o indivíduo
da espécie ao meio em que evolui. Mas como qualquer coisa
descarrila sempre no projecto adaptativo, convém também definir
a Saúde Mental - como propôs J-A Miller nas III Jornadas do “Campo
Freudiano”, em Sevilha (1988) – na sua relação com a Ordem Pública.25

A Saúde Mental é efectivamente um Serviço ao serviço da Ordem


Pública. Mas o psicanalista preocupa-se sobretudo com o que
escapa aos interesses da sociedade e até da espécie; o que provoca o
irremediável mal-estar individual e colectivo.

Por este motivo, a Psicanálise dedica-se preferencialmente a organizar


um lugar onde cada um possa falar livremente da sua maluquice.
Neste particular, ela segue o velho Humanismo de Erasmo, quando
faz o elogio da loucura como o próprio do Homem.

Lá onde a Saúde Mental procura padronizar o desejo com a finalidade


de colocar o indivíduo a passo com os ideais comuns, a Psicanálise
defende o direito de cada um “não ser como toda a gente”. Lá onde
a Saúde Mental possui ainda a velha marca da caritas, a Psicanálise
procura aliviar o sujeito da vontade do “Outro que lhe quer bem”.

23. Website da EFP: http://www.europsychoanalysis.eu/


24. Podíamos utilizar aqui os termos latinos mens, spiritu e anima, para distinguir o
objecto da Neurobiologia, da Espiritualidade e da Alma da Religião.
25. MILLER, J-A: (1997). “Santé mentale et ordre publique”. Mental 3. Bruxelles : École
Européenne de Psychanalyse.

33
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Ainda há pouco tempo, o confronto entre as disciplinas implicadas


na Saúde Mental era uma fonte de debate permanente e rigoroso,
alicerçado em dados claramente definidos. Os protagonistas
deste debate não descansavam enquanto não refinavam as suas
observações clínicas e fundamentavam os seus argumentos
científicos. Este debate está extinto hoje. Os Estados fizeram da
Saúde Mental um negócio, e a coordenação política e económica do
mesmo veio para o primeiro plano.

Os Manuais de Diagnóstico mais utilizados pelos clínicos pretendem


agora ser a-teóricos, apenas compatíveis com a norma estatística e a
opinião pública. Por sua vez, muitas universidades procuram diluir os
sofrimentos psíquicos na imprecisão do vocábulo “bio-psico-social”.

A definição de Saúde Mental pela OMS como “promoção do bem-


estar”, ou “prevenção das perturbações mentais”, vai estendendo a
sua acção a todos, sem distinção. Este consenso cria um nevoeiro
epistémico que coloca o real das práticas clínicas à distância da
Saúde Mental. Assim, a ideia de um transtorno mental objectivável e
curável rejeita toda e qualquer abordagem do sintoma que conjugue
o gozo singular do sujeito com a sua verdade.

A actual ideia de “bem-estar” é uma redução das virtudes outrora


defendidas pelo Higienismo. Por sua vez, a avaliação baseada
em Questionários parasita hoje todo e qualquer encontro clínico
transportado pela palavra e a transferência. A Nosografia psiquiátrica
transformou-se num continuum que apaga as diferenças entre os
sofrimentos psíquicos agudos e o sofrimento inerente à condição
humana.

34
José Martinho

Enquanto isto, o mercado dos psicotrópicos aproveita-se da


globalização do campo de aplicação da Saúde Mental, transformada
num Ideal a atingir. Ao não querer reconhecer mais o sujeito do
inconsciente, as terapias cognitivo-comportamentais tentam impor
o seu negócio em nome de uma experiência empiricamente validade
e uma testada eficácia terapêutica.

Encontramo-nos, pois, face a uma doutrina que pretende que todos


temos perturbações mentais e que ninguém tem um inconsciente.

São muitos os clínicos que na Europa e resto do mundo resistem a


este movimento de diluição da singularidade, fazendo questão de
manter a sua orientação psicanalítica. Todas as medidas são desde
logo boas para os submeter à liquidez epistémica e ética que se
instalou: o apelo ao legislador e aos tribunais, aos estudos “científicos”
que desacreditam as suas formações e práticas, e mesmo, se isto não
for suficiente, a calúnia. Os psicanalistas não reivindicam nenhum
consenso a este respeito, mas um verdadeiro debate. Daí que alguns
perguntem: o que quer dizer hoje “Saúde Mental”? Mais ainda: “será
que existe?”. 26

Neste quadro geral, a Psicanálise tem vindo a ser cada vez menos
atacada pela atenção que presta à realidade sexual do inconsciente,
e cada vez mais por não ser uma ciência e possuir pouca ou
nenhuma eficácia terapêutica. E, no entanto, não se pode dizer que
estas críticas sejam ajustadas, na medida em que o psicanalista não
se propõe conhecer objectivamente o sujeito que lhe fala, nem visa

26. CAROZ, Gilles. (2010). Does Mental Health exist? Website EFP:
http://www.europsychoanalysis.eu/site/page/en/6/en/does_mental_health_
exist_#article-box-52.

35
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

a sua cura definitiva. Para simplificar, digamos que o psicanalista se


dedica preferencialmente ao intratável e incurável do falante. Por
exemplo, tal psicólogo comportamental faz valer publicamente a
eficácia da sua psicoterapia empiricamente validade, mas continua a
ter estados de alma omnipotentes, uma permanente irritação e uma
profunda raiva dos outros.

Esclareçamos um pouco melhor este delicado assunto. A Psicanálise


considera que o sintoma faz parte da condição humana. Para
entender isso, basta lembrar que não existem homens nem mulheres
sem sintomas. A harmonia, o equilíbrio organístico, numa palavra, a
homeostasia para a qual tendem os fenómenos vitais é apenas um
estado ideal continuamente perturbado.

Neste particular, a Psicanálise chega a uma antiga constatação, a


saber, que a linguagem é constituinte da condição humana. A ordem
simbólica que é própria ao mundo que a linguagem organiza fala
sempre pela boca daqueles a quem incumbe a função de procriar e
o cargo de criar a prole.

O humano só o é precisamente na medida em que o indivíduo da


espécie se identifica ao nível da estrutura da linguagem e se sujeita
a esta. Por sua vez, o infans só se reconhece como ser humano,
tendo uma família e existindo em sociedade quando reconhece esta
estrutura de determinações. Caber-lhe-á, ainda, advir como sujeito
de uma enunciação singular, independente de qualquer enunciado
fixo. É um facto que a palavra parasita, penetra precocemente no
animal humano; e que é do buraco que faz na suposta natureza que
surgem, irremediavelmente, sintoma e cultura.

36
José Martinho

Uma das principias consequências deste recorrente trauma é que


deixa de haver complementaridade sexual entre os géneros da
espécie.

Outra consequência é a emergência, no sujeito da fala, de um desejo


radical, que inclui a falta que a linguagem introduz no real.

Esta falta - que vai tomar uma significação fálica no interior do


complexo das representações familiares (Édipo), e articular-se à lei da
proibição do incesto - condena o desejo à impotência e à insatisfação.
Os sintomas tipo que melhor ilustram estas duas dimensões são o
obsessivo e o histérico.

Mas as formas do incurável não se esgotam na modalidade histérica


do desejo. Freud falou igualmente do desamparo (Hilfllosigkeit)
do ser humano, da sua radical dependência (Abhängigkeit), da
angústia da perda do amor (Angst der Liebesverlust), bem como
da sua irremediável relação com o tempo e a morte. Acrescentou
a esta lista mais alguns itens, como o “nervosismo geral” (Gemeine
Nervosität) que resulta das diversas pressões que se exercem sobre
o indivíduo vivo, o qual corresponde aproximadamente ao que se
chama hoje o stress.27 Como a série destas condições da formação
do sintoma permanece ao longo da existência, Freud afirma que a
normalidade humana é a neurose, mesmo se esta pode ser melhor
ou pior vivida. Existem também psicóticos e sujeitos com traços
psíquicos perversos, mas em número mais reduzido. Porém, vários
psicanalistas têm vindo a constatar que há cada vez mais psicóticos,

27. Cf. MARTINHO, José. (2005). «Stress e Depressão». Afreudite Vol. 1, No 1 (2005)
Novos Desafios da Psicanálise: on-line: http://afreudite.ulusofona.pt/

37
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

não no sentido extraordinário, mas ordinário. Esta “psicose ordinária”,


vulgar, comum, banal, compensada ou não desencadeada é mesmo
o wallpaper da mente contemporânea.28

Porque é que isto acontece? Talvez porque a sociedade tradicional se


fundava no poder atribuído ao Nome do pai. Bastava neste caso que o
indivíduo amasse ou se identificasse com o pai da autoridade familiar
para poder constituir uma nova família, adaptar-se à sociedade e
manter a estabilidade destas. Mas uma tal adaptação ao meio tornou-
se anacrónica e até impossível num mundo em constante mudança
como o de hoje, de revolução tecnológica permanente, onde nada
dura ou se aguenta de pé mais do que uma estação. Na medida em
que a estrutura mudou, mudou também a função reguladora do
Nome do pai, que estava na base da normalidade neurótica. O que
aparece desde logo e cada vez mais na sociedade contemporânea
é a psicose comum, e a função do sintoma que procura corrigir a
carência paterna no lugar onde esta se produziu.

Isto não impede que a Psicanálise continue a ser procurada pelos


efeitos terapêuticos que pode ter sobre a neurose, a psicose e a
perversão. No entanto, Freud avisou os interessados que estes efeitos
apenas chegam por acréscimo. Se a Psicanálise não é propriamente
uma Psicoterapia, então para que serve? Não serve para mais nada
do que para substituir as tradicionais indicações e contra-indicações
médicas pela “busca da verdade” e a “realização do desejo”.

Muitos psiquiatras, psicólogos e até psicanalistas seguidores do

28. MILLER, Jacques.-Alain. (2009). “Effet retour sur la psychose ordinaire”. Quarto –
Retour sur la psychose ordinaire, (94/95). Bruxelles: École de la Cause freudienne.

38
José Martinho

Modelo Médico continuam a desaconselhar a psicanálise para


psicopatologias graves como as psicoses. Mas há mesmo quem a
contra-indique para casos aparentemente banais, como mulheres
com mais de trinta anos.

O que todas estas contra-indicações teimam a desconhecer é que a


Psicanálise não faz mal a ninguém. Ela é simplesmente um convite
feito a cada um para ousar realizar o desejo para além da busca
verdade. O que acontece é que este convite implica uma certa
coragem, já que é um desafio a si mesmo, ao conforto próprio.

O verdadeiro fim da Psicanálise permanece no entanto o didáctico.


Isto, porque a análise didáctica que o analista deve efectuar antes de
praticar a análise continua a ser a condição sine qua non para que não
confunda os seus problemas com os dos seus analisandos.

Cada final de análise permite igualmente incorporar o valor ético que


possui o sintoma analisado. É com esta mais-valia que cada analisado
repartirá, então, para a existência, quer seja para constituir família,
trabalhar, dedicar-se a uma causa, ou para psicanalisar.

O sintoma que deve ser primeiramente analisado é sempre o


daquele que virá um dia a exercer a psicanálise. Como Freud não
tinha analista, nunca pôde analisar como o entendemos hoje.

A Psicanálise começou com o mau encontro de Freud com o seu


sintoma. Em seguida, ao procurar tornar pública a sua “auto-análise”,
ele tentou que esta fosse vista como a análise originária, mas
apenas conseguiu que a obra incluísse também uma dissecação da

39
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

personalidade psíquica do autor.

Muitas águas tiveram, pois, de passar sob a ponte até que a invenção
freudiana conseguisse produzir realmente um analista, capaz de
fazer valer a ética do seu saber-fazer com o seu sintoma.

Que significa este “seu”?

Sabemos que Freud assediou também outros sintomas que não


o seu, sintomas de mulheres e de homens histéricos, obsessivos,
fóbicos, etc. Chamou “típicos” a estes sintomas; e explicou que as
diferenças que apresentavam giravam todas em torno de um núcleo
comum: o “complexo de Édipo”.29

A tipologia freudiana diz sobretudo respeito à etiopatogenia


dos sintomas. Mas, para lá investigação científica sobre as causas
das doenças, Freud interessava-se pelos doentes, pelo sintoma
característico de cada um. Assim, «Homem dos Ratos», ou «Homem
dos Lobos» não são os nomes próprios dos pacientes, nem os dos
seus sintomas típicos, mas os dos sintomas que lhes são próprios.

É aquilo que o sujeito diz sobre a maneira como viveu o complexo


de Édipo e de castração que acaba por mostrar a tipicidade do
sintoma, em termos freudianos, a sua “escolha da neurose”. São ainda
29. O complexo de Édipo e tudo o que roda à sua volta, tal como o período “pré-
edipiano” referido já por Freud e depois enfatizado por Mélanie Klein e outros
psicanalistas. Todavia, alerta Lacan, «os tipos clínicos decorrem da estrutura, mas o
que decorre de uma mesma estrutura não tem forçosamente o mesmo sentido. É
por isso que só existe análise do particular. Os sujeitos de um tipo, portanto, não têm
utilidade para outros do mesmo tipo.» (LACAN, Jacques (2003). “Introdução à edição
alemã de um primeiro volume dos Escritos”. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, p.
554)

40
José Martinho

os sintomas típicos que permitem fazer diagnósticos e prognósticos,


assim como elaborar uma Caracteriologia e uma Psicopatologia.30

Porém, a etiologia (clássica e moderna)31 dos sintomas típicos


difere radicalmente daquilo que apresentam os actuais Manuais
internacionais do sistema das perturbações mentais: a Classificação
Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial de Saúde,
10a revisão (CID 10 - 1993), e o Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders, 4a edição (DSM-IV - 2002).32

É sempre possível imaginar – como fez Otto Kernberg em Nova York33

30. Os sintomas típicos traduzem a doença tal como é extraída de uma série de casos.
Eles não concernem, pois, a singularidade do doente, mas a classe patológica e a “cura
tipo”.
31. Em 1915 temos: Neuroses Actuais: Neurastenia, Neurose de Angústia, Neuroses
Traumáticas.
Neuroses de Transferência: Histeria de Conversão, Histeria de Angústia ou Fobia,
Neurose Obsessiva
Psicoses: Paranóia, Demência Precoce, Parafrenia ou Esquizofrenia
Perversões: Sadismo, Masoquismo, Exibicionismo, Voyeurismo, Homossexualidades,
etc.
Em 1924: acrescenta-se a Neurose de Guerra no capítulo das Neuroses Actuais.
E, no capítulo da Psicose, a Mania e a Melancolia.
Actualmente fala-se de Fenómenos Psicossomáticos (Epistemosoma), Estados-limites
ou Borderline, Perturbações da Personalidade (incluindo as Psicopatias), Toxicomanias,
Alcoolismo, Anorexia e Bulimia, etc. Já referi também a Psicose Ordinária.
32. Este Manual “ateórico” recorre a critérios de inclusão, prevalência e incidência (faixa
etária, género; etc.). O seu modelo sindromático não utiliza o termo “neurose”, apenas o
de “psicose”. Tem uma abordagem multiaxial (avaliação em 5 eixos diferentes, cada eixo
remetendo para um tipo de informação: Eixo I: Perturbação clínica. Outras situações
que podem ser foco de atenção medica, como a perturbação depressiva com abuso
de álcool. Eixo II: Perturbação de Personalidade. Deficiência Mental. Perturbação
dependente da personalidade. Eixo III: Estado físico geral (qualquer doença física que
a pessoa tenha). Diabetes; alergias; etc. Eixo IV: Problemas psicossociais e ambientais.
Pessoas em eminência de perder o emprego; divórcio; etc. Eixo V: avaliação geral do
funcionamento).
33. Para além do estabelecimento de um consenso entre os Manuais de Diagnóstico,
a Psiquiatria e a Psicanálise, Kernberg propôs um continuum entre Psicanálise,
Psicoterapias de Inspiração Analítica ou Dinâmicas e Psicoterapias de Suporte ou

41
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

– que se poderia chegar a um consenso entre a corrente psiquiátrica


e a psicanalítica. Se o antigo diagnóstico psiquiátrico passou a
dada altura a ser Fenomenológico (Jaspers), o actual é puramente
Estatístico. Ainda se pode notar esta diferença nas abordagens da
CID e do DSM.

Outro é o diagnóstico psicanalítico. A análise não inclui nenhuma


“síntese”, mesmo diagnóstica, fenomenológica e estatística. Ela
limita-se a dissecar a personalidade psíquica, com os seus sintomas
típicos e habituais mecanismos de defesa, para extrair finalmente
dela o que Freud chama o “sintoma individual”.

O sintoma que caracteriza cada modo singular de ser e de estar não


leva a nenhum consenso prévio, mais que não seja porque só pode
ser identificado numa análise, único espaço de tempo onde cada caso
é realmente um caso. Uma vez dito isto, volto ao postulado freudiano
da talking cure, ou que “as palavras são o principal instrumento do
tratamento psíquico”.

É para facilitar a enunciação destas palavras por parte do analisando


que Freud postula, como “regra fundamental” (Grundregel) da análise,
a “associação livre”. Verbal – digo eu, após Elisabeth Von R ter pedido
a Freud que a deixasse falar sem pressão -, pois apenas se analisa o
que vem livremente à fala.34

Apoio (cf. KERNBERG, Otto, F. “Psychoanalysis, Psychoanalytic Psychotherapy and,


Supportive Psychotherapy: Contemporary Controversies”. International Journal
of Psycho-Analysis, 1999; v. 80 (6), p1075, 17p). O que se perde sempre com estas
continuidades são as diferenças estruturais.
34. Do lado do analista, o que vai corresponder à fala do analisando é o “silêncio”
próprio à “atenção livre flutuante”, à escuta que navega ao sabor da associação verbal.

42
José Martinho

Acrescentarei ainda a esta formulação o que Éric Laurent designou,


em 2006, como os “Princípios Directores do Acto Analítico”35, que são
também os do Código Deontológico apresentado no VI Congresso
da Associação Mundial de Psicanálise (Buenos Aires, 21-25 de Abril
2008).

Primeiro princípio (a talking cure): A psicanálise é uma prática da


fala. Existem aí dois parceiros, o analista e o analisando, que se
reúnem no presente da mesma sessão analítica. O analisando fala
do que o trouxe à análise, do seu sintoma. Este está articulado com a
materialidade do inconsciente, com o facto de que as coisas ditas ao
sujeito lhe fizeram mal; o sujeito fala também do impossível de dizer.

O analista pontua os dizeres do analisando, de modo a tecer o


conteúdo do seu inconsciente. Os poderes da linguagem e os efeitos
de verdade permitem o que se chama a interpretação, que é o poderio
mesmo do inconsciente. A interpretação faz-se tanto do lado do
analisando como do analista. No entanto, um e outro não têm a mesma
relação com o inconsciente, pois um já efectuou a experiência que o
outro ainda não teve. Segundo princípio (desidentificação): A sessão
psicanalítica é um lugar onde se vão desaparafusar as identificações
mais estáveis que fixam o sujeito. O psicanalista permite que se tome
esta distância em relação aos hábitos, às normas, às regras a que o
analisando obedece fora da sessão. Ele autoriza o questionamento
radical dos fundamentos da identidade de cada um. Pode temperar

35. Les Principes directeurs de l’acte psychanalytique foram apresentados por Éric Laurent
em 16 de Julho 2006, na Assembleia Geral da AMP (V Congresso, Roma): http://www.
causefreudienne.net/index.php/ecole/textes-fondateurs/principes-directeurs-de-l-
acte-psychanalytique http://usuarios.lycos.es/acfportugal/Discurso%20de%20E.%20
Laurent,%20Presidente%20da%20AMP

43
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

a radicalidade deste questionamento tomando em consideração a


particularidade clínica do sujeito que a ele se dirige. Nada mais é tido
em conta. É isto que define a particularidade do lugar do psicanalista:
aquele que suporta o questionamento, a abertura, o enigma do
sujeito que o procura. O analista não se identifica a nenhum dos
papéis que o seu interlocutor lhe atribui, nem a nenhum magistério
ou ideal civilizacional. O analista é aquele que não tem outro lugar a
não ser o do questionamento do desejo.

Terceiro princípio (objecto): O analisando endereça-se ao analista. Ele


atribui-lhe sentimentos, crenças, reage ao que este lhe diz, e quer agir
sobre isso, espera e antecipa. A decifração do sentido destas trocas
entre analisando e analista não é a única coisa que está em jogo. Há
também aquilo que é visado por quem fala. Trata-se para este de
recuperar qualquer coisa que perdeu junto do interlocutor. É esta
recuperação de um objecto que fornece a chave do mito freudiano da
pulsão. Ela funda a transferência que liga os dois parceiros. A fórmula
de Lacan segundo a qual o sujeito recebe do Outro a sua própria
mensagem invertida inclui tanto a decifração, como a vontade de
agir sobre aquele a quem se endereça. Em última instância, quando
o analisando fala, quer atingir o Outro das suas expectativas, crenças
e aspirações, para lá do sentido. Ele visa o parceiro do seu fantasma.
O psicanalista, esclarecido pela experiência do seu próprio fantasma,
tem isso em conta. Ele evita agir em nome deste.

Quarto princípio (não-relação): A relação transferêncial supõe


um lugar, o “lugar do Outro”, como disse Lacan, não ocupado,
nem regimentado por ninguém de particular. É o lugar onde o
inconsciente se pode manifestar na sua maior liberdade de dizer,

44
José Martinho

logo, de viver os logros e as dificuldades. É assim que as figuras


do parceiro fantasmagórico podem se desenvolver nos jogos de
espelho mais complexos. Razão pela qual a sessão psicanalítica não
suporta um terceiro, com o seu olhar exterior ao processo. O terceiro
reduz-se ao lugar do Outro. Este princípio exclui a intervenção de
terceiros autoritários, querendo estabelecer o lugar de cada um e o
alvo do tratamento psicanalítico. O terceiro como avaliador inscreve-
se na série dos terceiros cuja autoridade se afirma do exterior ao que
se joga entre o analisando, o analista e o inconsciente.

Quinto princípio (espaço): Não há tratamento standard, um protocolo


geral da sessão analítica. Freud serviu-se da metáfora do xadrez
para indicar que não existem regras de começo e de fim de partida.
É verdade que, depois de Freud, certos algoritmos formalizaram o
xadrez e aumentaram a sua dificuldade. Associados à capacidade de
cálculo do computador, eles permitiram à máquina ganhar contra
um jogador humano. Mas isto não muda nada ao facto da psicanálise,
contrariamente ao xadrez, não poder se apresentar de forma
algorítmica. O próprio Freud transmitiu a psicanálise com a ajuda de
casos particulares: o Homem dos Ratos, Dora, o Pequeno Hans, etc. A
partir do Homem dos Lobos, o relato da cura entrou em crise. Freud
sentiu que não podia unir num relato a complexidade do processo
em causa. Longe de se reduzir a um protocolo técnico, a experiência
de uma análise apenas tem uma regularidade: a originalidade do
cenário através do qual se manifesta a singularidade subjectiva A
psicanálise não é, pois, uma técnica, mas um discurso que encoraja
cada um a produzir a sua singularidade, a sua excepção.

Sexto princípio (tempo): A duração da cura e o desenrolar das

45
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

sessões não podem ser estandardizados. Os tratamentos de Freud


tiveram durações muito variáveis. Houve de uma sessão, como a
psicanálise de Gustav Mahler. Houve também de quatro meses,
caso do Pequeno Hans, de um ano, como o Homem dos Ratos,
de vários anos, como com o Homem dos Lobos. Desde então que
esta diversidade não deixou de aumentar. Para mais, a aplicação da
psicanálise fora do consultório, ao nível das instituições da saúde,
contribuiu para a diversificação dos tratamentos. A variedade dos
casos clínicos e das idades da vida às quais a psicanálise foi aplicada
permitiu, ainda, considerar que a duração da cura deve ser definida
doravante em função do utente. Um tratamento será levado até ao
ponto em que o analisando se sinta suficientemente satisfeito com a
experiência e entenda deixar o analista. O que é visado deste modo
não é a aplicação de uma norma, mas um acordo do sujeito consigo
próprio.

Sétimo princípio (fins): A psicanálise não pode determinar o seu


objectivo e fim em termos de adaptação da singularidade do sujeito
aos procedimentos, regras e regulamentos da realidade. Antes de
mais, a descoberta da psicanálise é a da impotência do sujeito a
atingir uma satisfação sexual plena. Esta impotência foi designada
pelo termo “castração”. Para lá desta, a psicanálise formulou, com
Lacan, a impossibilidade da norma da relação entre os sexos. Se não
há satisfação completa, não há norma ; resta a cada um inventar uma
solução particular, apoiado no seu sintoma. A solução de cada um
pode ser mais ou menos típica, mais ou menos tradicional, seguidora
de regras comuns. Pode também, ao contrário, entrar em ruptura, ou
numa certa clandestinidade. No fundo, a relação entre os sexos não
tem solução que seja “para todos”. Neste sentido, fica marcada pelo

46
José Martinho

selo do incurável, da falta que haverá sempre. O sexo, no ser falante,


é não - todo (pas-tout).

Oitavo princípio (formação): A formação do psicanalista não pode


ser reduzida às normas da formação universitária e da avaliação do
conhecimento adquirido na experiência. Desde que se estabeleceu
como discurso, a formação analítica repousa num tripé: os
seminários teóricos (para universitários), o prosseguimento pelo
candidato a psicanalista de uma psicanálise levada até ao seu termo
(de onde decorrem efeitos de formação) e a transmissão pragmática
nas supervisões (conversas entre parceiros de uma prática). Freud
acreditou durante um certo tempo que era possível determinar
a identidade do psicanalista. Mas o êxito da psicanálise, a sua
internacionalização, as gerações que se sucederam desde há um
século mostrou que esta definição de identidade era uma ilusão. A
definição do psicanalista inclui a variação da identidade. Ela é esta
variação mesmo. A definição do psicanalista não é um ideal, ela
inclui a história da psicanálise, e do que se chamou “Psicanálise” em
contextos radicalmente distintos. A nomeação do psicanalista inclui
componentes contraditórios. Necessita uma formação académica,
universitária ou equivalente, com obtenção de graus. Necessita
uma experiência clínica que se transmita na sua particularidade
e sob o controlo de pares. Necessita a experiência radicalmente
singular de uma análise. Os níveis do geral, do particular e do
singular são heterogéneos. A história do movimento psicanalítico
é a das discordâncias e interpretações desta heterogeneidade. Ela
faz também parte da grande conversa da psicanálise sobre quem é
psicanalista. Este dizer efectua-se através de procedimentos próprios
às comunidades que são as instituições psicanalíticas. Neste sentido,

47
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

o psicanalista não está sozinho, depende, como o chiste, do Outro


que o reconhece. Este Outro não pode ser reduzido a um Outro
normativo, autoritário, regulamentar, estandardizado. O psicanalista
é aquele que afirma ter obtido da experiência o que podia esperar,
logo, ter dado esse “passo” (passe), como disse Lacan. Ele testemunha,
assim, da sua ultrapassagem dos impasses. A interlocução pela qual
pretende obter um acordo sobre esta travessia faz-se através de
dispositivos institucionais. Mais profundamente, ela inscreve-se na
grande conversa da psicanálise sobre a civilização. O psicanalista
não é autista. Ele não pára de se endereçar ao interlocutor bem-
intencionado, à opinião esclarecida, para comover e envolver na
causa psicanalítica.

Expostos estes oito princípios, termino o primeiro capítulo deste


meu livro propondo ao leitor um pequeno esquema daquilo que se
passa numa análise:

48
José Martinho

POSTULADO
A palavra: a função da fala no campo da linguagem

REGRA
A associação livre (verbal): a dádiva da palavra

CONDIÇÕES
abstinência: só em palavras
tempo: é a pontuação da palavra que decide da significação
dinheiro: o preço da palavra

OBJECTO
O que se analisa a partir do Princípio e da Regra da palavra:
material: resistências:
inconsciente: pulsão: repetição: transferência:
formações vicissitudes automatismo amor

MÉTODO
interpretação acto analítico
(re) construção do fantasma fundamental

FINS

análise terapêutica – análise do carácter – análise didáctica

O sujeito cessa de se identificar O sujeito separa-se do objecto


com o Ideal que dominou irreal do seu fantasma
a sua história

O saber (inconsciente) aparece O desejo passa a ser


o lugar da verdade (delirante) causado pelo que resta de gozo

Admissão da não existência de completude sexual (castração)


Identificação do sintoma individual e saber-fazer com ele

49
FREUD AO PÉ DA LETRA:
PRINCÍPIO, MEIO E FINS DA PSICANÁLISE
José Martinho

Lendo Freud ao pé da letra, vou mostrar, neste segundo capítulo,


como o princípio da palavra envolve e dissolve o amor na
transferência; como é este mesmo princípio que permite efectuar as
operações da palavra sobre a palavra que são as interpretações, as
reconstruções e as construções na análise; mas também como é o
princípio da palavra, levado até às suas últimas consequências, que
determina o tempo e os objectivos de uma análise, em particular o
seu fim didáctico.

2.1. AMOR EM ANÁLISE

“O amor sexual é indubitavelmente umas das mais importantes


coisas da vida, e a satisfação mental e física do seu gozo constitui
um dos seus pontos culminantes”
Freud

O artigo intitulado Observações sobre o amor transferêncial36 é


publicado por Freud em 1915, um ano após ter definitivamente
introduzido o Narcisismo na Psicanálise.

O amor “narcísico” é aquele que o Eu tem por si mesmo ou por uma


parte do seu corpo. Trata-se de uma das faces do amor, a outra sendo
a “anaclítica”, o amor por um outro não redutível a uma imagem de
si37:

36. FREUD, S. (2011). Observações sobre o amor transferêncial. Transferência,


construções e fins da psicanálise. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas.
37. Mesmo que não seja possível amar verdadeiramente um outro sem se amar a
si próprio, mesmo se o amor de si inclui a vontade de alargar os limites do Eu e de

53
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

⤤ narcísico (Eu)
Amor
⤥ anaclítico ( outro ou objecto)

A primeira frase das Observações sobre o amor transferêncial remete


o leitor para o “principiante em psicanálise”. Esta designação levanta
uma questão de facto e outra de direito, uma relativa à História da
Psicanálise e outra ao Princípio do seu acto. Deste último ponto de
vista, é preferível considerar que não há psicanalista inexperiente,
nem psicanalista experiente. O psicanalista é psicanalista ou não o
é. Ponto final.

Ao nível dos factos, o “principiante em psicanálise” foi o próprio


Freud, ainda que possamos também pensar em Breuer e nos outros
médicos e intelectuais que começavam a praticar a análise nos
primeiros tempos.

Aquilo que se temeu à partida foram as dificuldades ligadas


à interpretação do material (recalcado); mas rapidamente se
apercebeu que o problema maior residia na análise das resistências,
em particular na interpretação da transferência.

É a regra fundamental – a associação livre – que fornece sempre


ao analista o material interpretável (relatos de sonhos, lapsos da

integrar o que é alheio até à anexação do Outro (“fusão” sentida no êxtase místico,
na paixão erótica, no orgasmo), situa-se habitualmente o amor pelo analista na
modalidade anaclítica do amor.

54
José Martinho

fala, etc.). Mas a atenção prestada inicialmente a esta matéria-


prima descuidou a relação que a palavra (consciente/inconsciente)
entretém com a pulsão, o que fez com que não se tenha previsto a
fantasia sexual e a declaração de amor dos analisandos, logo que não
se tenha elaborado uma estratégia a esse respeito.

Freud cita apenas uma das diversas situações que se podem


apresentar no decorrer da análise: a da analisanda que confessa
abertamente o seu amor pelo analista.38 Os motivos desta escolha
são múltiplos: razões pessoais e históricas, mas também pela
sua frequência, o interesse técnico e a importância teórica que o
fenómeno adquiriu no aperfeiçoamento do método analítico.39

O senso comum acredita que as coisas do amor só dizem respeito à


vida privada, ou que apenas podem ser escritas num diário íntimo,
não destinado a ser lido por outros. Quanto ao sábio e ao médico,40
preferem normalmente calar-se sobre o assunto, por discrição, mas
também por o considerarem sem interesse científico e clínico. No
entanto, Freud recorda que estas posições por assim dizer normais
atrasaram de pelo menos uma década o progresso da psicanálise.

38. As Observações definem a transferência em geral como “Amor”. Antes delas, A


Dinâmica da Transferência distinguia entre transferência negativa (ódio), transferência
positiva (amor) e transferência erótica; apesar desta distinção, Freud diz que é
sempre do recalcamento do amor inconsciente que deriva a ordem sentimental da
vida consciente. O amor transferêncial inclui também o amor homossexual. Este
é abordado, por exemplo, na 27ª Conferência da Introdução à Psicanálise, de Freud,
onde este explica que o analisando idealiza também o analista do mesmo sexo e sente
ciúmes dele. O mais importante é que se entenda que o psicanalista como tal não é
um homem, nem uma mulher, não é velho, nem novo.
39. Cf. Os casos de Anna O/Breuer, ou de Lucy R, e de Dora/Freud. O tipo de amor
tratado nestas Observações diz sobretudo respeito às relações entre a histérica e o seu
médico psicoterapeuta, relações que, como se sabe, estiveram na origem da invenção
da psicanálise.
40. Breuer, Fliess e mais tarde Jung, Ferenczi, Jones, entre outros.

55
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

O amor é um fenómeno bastante corrente, que não acontece apenas


na análise; a dissimetria entre o “médico” e a “doente” também é algo
de normal em todo o amor, bem como na maioria das relações.

Freud escreve sobretudo para os psicanalistas. Mas como a psicanálise


começou também a fazer parte do mundo moderno, ele diz que se
tornou necessário falar publicamente do assunto, não para aumentar
a clientela, mas para esclarecer a opinião pública sobre a ética da
psicanálise. Dito isto, sossega imediatamente o leitor afirmando que
é sempre o interesse da analisanda que prevalece na análise.

Não existem aparentemente mais do que três desfechos possíveis


diante de uma declaração de amor. No presente caso, podemos
resumi-los do seguinte modo: primeiro, o analista e a analisanda estão
interessados naquele amor, o que significa que podem estabelecer
entre si uma relação lícita como o casamento e abandonar a análise.
Segundo, um dos dois não está interessado nesse amor, e, por
conseguinte, pode interromper a análise e deixar de ver o outro.
Terceiro, tentam uma experiência em comum que seja ao mesmo
tempo uma solução de compromisso entre a análise e o amor.

O mais espantoso é que Freud afirme que o psicanalista não sai da


situação por nenhuma destas portas, ou que ele oferece um modelo
que não existe na vida real. Esta afirmação indica que o psicanalista
possui algo de inumano, uma vez que não se comporta aqui como
qualquer homem ou mulher.

A terceira possibilidade – prosseguir a análise entrando em amores


escondidos ou relações ilícitas e destinadas a não durar – é a mais

56
José Martinho

inadmissível para Freud, porque não respeita a honestidade que


deve inspirar a psicanálise. É por conseguinte uma saída que não
serve o amor, nem a psicanálise.

No primeiro caso, o casamento conduz à interrupção da análise.


Mas o casamento e a família nunca curaram as neuroses; podem
até intensificá-las. Freud dá como exemplo o ciúme patológico de
Tolstoi, e o dos pais e maridos que recusam que as suas filhas e
mulheres consultem um ginecologista.

A segunda saída é a única que ensina alguma coisa à Psicanálise.


Se o analista e a analisanda se separaram, esta pode piorar e ter de
recorrer a um outro psicanalista. O que a experiência mostra é que,
neste caso, ela vai também enamorar-se do novo analista. Há, pois,
uma repetição. A recorrência do fenómeno prova que a pessoa do
analista não conta no desencadeamento do amor transferêncial, que
não se trata de uma “conquista” – as qualidades físicas, intelectuais
e morais do analista não interessam para o caso –, mas de algo
induzido pelo próprio artifício da análise.

Quando tomaram conhecimento de que o amor de transferência


era recorrente, alguns “psicanalistas” começaram a incitar as suas
pacientes para se enamorarem o mais rapidamente possível deles,
para assim abreviar o tempo e os custos do tratamento. Freud
comenta que não pode imaginar uma “técnica” mais insensata; como
se fosse possível encomendar o amor, retirar-lhe a espontaneidade,
o entusiasmo ou a fé que sempre manifesta.

É na Psicoterapia da Histeria (1893-1895) que Freud fala pela primeira

57
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

vez da “transferência” como uma usual “falsa ligação” entre certas


representações que afligem o doente e a pessoa do seu médico.
Na Interpretação dos sonhos (1900), o termo “transferência” designa
apenas o transporte de conteúdos inconscientes para o consciente,
movimento que contribui para o objectivo do tratamento. Com o
“caso Dora” (1909), a transferência reaparece como um obstáculo
clínico, que impede a persecução da análise. A Dinâmica da
Transferência e as Observações (1914) vão primeiramente denunciar
o amor transferêncial como a mais forte das resistências; mas,
ultrapassando o impasse, acabam por fazer dele a mola mestra da
análise, ligando-o para sempre ao princípio desta última: a palavra.

O que é uma resistência? Resistência, diz Freud, é tudo o que impede


a continuação da análise. Como a análise é uma prática da fala, é
também na fala que a resistência aparece.

Mais precisamente, é o Ego ou o Eu da analisanda que resiste, quando


declara conscientemente o seu amor pelo analista. É, pois, ele que
faz estagnar o diálogo ou a dialéctica do desejo e impede o acesso
ao inconsciente.

O fenómeno ocorre normalmente quando a analisanda se dá conta


de uma verdade inconveniente; a rememoração e a elaboração dos
conteúdos mentais são então interrompidas.

Mas a resistência do Eu da analisanda é apenas um dos aspectos do


problema. Em primeiro lugar, diz Freud, porque o amor já lá estava
antes da análise.

58
José Martinho

Ele já lá estava ao nível da própria demanda de análise. Pedir alguma


coisa a alguém (ajuda, tratamento, compreensão, etc.) é sempre, no
fundo, pedir-lhe amor. 41 Veremos mais adiante que o amor também
já lá estava antes do pedido de análise.

O amor da analisanda é à partida um amor inconsciente. No entanto,


já é possível ler os seus sinais. Por exemplo, no início da análise,
a analisanda mostrava-se dócil às interpretações, inteligente,
afectuosa, tirava todos os trunfos da manga para agradar ao analista.

É geralmente quando sente a angústia da perda de amor, ou está


prestes a reconhecer algo de penoso, que a consciência volta a cortar
a palavra ao inconsciente. A analisanda sacrifica, então, a verdade
que emergia, muda de discurso e confessa abertamente o seu amor
pelo analista.

Assistimos desde logo ao seguinte: ela deixa de se preocupar com


o que antes a fazia sofrer para se focar no analista; deixa de falar
daquilo que a trouxe à análise, diz-se até curada, para se dedicar
exclusivamente ao seu novo amor. Através do amor de transferência,
o sintoma da analisanda toma uma outra direcção, vem ter com o
analista e procura satisfazer-se com este.
41. O divã apenas ajuda aqui a baixar as defesas de quem está disposto a pagar a um
analista, por um tempo indeterminado, para contar tudo o que lhe apetece. O analista
procede dando a palavra a quem a demanda. O que contará então, como diz Lacan
no Seminário II, é “o momento significativo da passagem de poderes do sujeito ao
Outro (…), que é o lugar da fala, virtualmente o lugar da verdade”. O que decorre disto,
como Lacan destaca a partir do Seminário sobre A Identificação, é que o amor pelo
analista não é um sentimento, pois, à partida, a analisanda não sente nada por ele. A
demanda fundamenta-se no saber que se supõe ao analista. Saber suposto, porque,
na realidade, o analista não sabe nada à partida dos seus analisandos. A questão que
se segue é se o saber suposto ao analista abre, ou fecha, o caminho para o verdadeiro
saber, que é o do inconsciente (cf. Seminário XI, de Lacan).

59
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Mas se o consciente da analisanda resiste à verdade, o inconsciente


não. O inconsciente faz também vir à fala o que está inscrito na
memória, em particular a falta de amor que faz sofrer. A repetição
desta falta passa a mostrar que o amor que faltava antes da chegada
à análise contribuiu fortemente para a formação do sintoma
que atrapalhava a vida da analisanda. Só que agora o problema
complicou-se, porque ela acredita ter encontrado no analista o seu
verdadeiro amor.

Nem sempre é possível sair desta complexa situação. Freud adverte


mesmo que análise pode falhar com certas mulheres de paixões
violentas, guiadas pela lógica do tudo ou nada.42 É que o seu amor
frustrado se transforma facilmente em ódio.43 Depois da tentativa de
rebaixar o analista à categoria de amante, seguir-se-á a tentativa de
o destruir a ele e à Psicanálise. Assim, só aquelas que continuam na
análise podem realmente ensinar alguma coisa.

A abstenção é uma das condições da análise. A analisanda deve


abster-se, mas o analista também, em particular abster-se de
responder a toda a demanda de amor: esta é a posição que alguns
chamam a “neutralidade” do analista. No entanto, o analista não pode
ser neutro, objectivo como um cientista. Freud insiste: o analista
deve explorar ao máximo o amor que ele ajudou a sair dos infernos.

Porque é que o analista se deve abster de corresponder ao pedido de

42. Freud fala da lógica da sopa e dos argumentos dos bolinhos (Supenlogik mit
Knödelargründen), transcrevendo erradamente a frase de Heine, que diz Suppenlogik
mit Knödelgründen (cf. HEINE: Die Wanderrraten).
43. Na análise, o ódio como sentimento emblemático da “transferência negativa”
deriva do amor, pois é o avesso do amor transferêncial, ou o amor com sinal menos.

60
José Martinho

amor da analisanda, mesmo quando é jovem, não comprometido e


esperançado numa boa oportunidade?

É que se ele não se abstivesse, trairia o princípio da talking cure. A


análise é um jogo, com uma regra que deve ser respeitada. Trata-se,
pois, de se abster de tudo o que não seja falar livremente, transferir
todos os problemas para a palavra, verbalizá-los como se diz, para
melhor poder elaborá-los e solucioná-los.

É unicamente pela via da palavra que o analista opera, consegue


transformar a relação patológica do sujeito com o sintoma que
o trouxe até à análise. O importante é sempre que o analista não
destrua a dialéctica do desejo, pois esta é o motor da estadia na
análise e a condição do seu possível sucesso.

Para mais, é inútil convidar uma mulher apaixonada a abdicar da


sua paixão. As paixões platónicas e os sacrifícios sublimes não são
apenas difíceis, aumentam a frustração. E a resignação não cura de
coisa nenhuma.

A dificuldade da estratégia da transferência prende-se com o facto


de o analista não poder fingir que não está interessado no amor da
analisanda. Se ele mentisse, não só faltaria à sinceridade exigida pela
análise, como seria mais tarde ou mais cedo apanhado em flagrante
delito. Na verdade, ele está realmente interessado nesse amor, não
como homem ou mulher, mas como analista.

O analista apenas tem de respeitar o princípio, a regra e as condições


da análise. É seu dever proceder para que a analisanda consiga falar

61
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

livremente do amor que lhe pede, e assim continuar a interrogar o


desejo que se esconde entre necessidade e demanda.

A abstinência do analista é desde logo o que mais estimula a


verbalização do desejo insatisfeito da analisanda.

Mas esta abstinência não será também um recalcamento? Ela só o


seria se o analista funcionasse na análise como um Eu, se fosse o seu
Ego a resistir ao que se passa do lado da analisanda: é o fenómeno
que Freud chama “contratransferência”.44

44. As Observações alertam para o perigo da “contratransferência” sem desenvolver


muito o tema. Freud tinha já abordado o assunto nas Perspectivas futuras da
terapêutica psicanalítica, e volta a tratá-lo em Análise terminável e interminável.
Declara aí que os psicanalistas deviam ter superado os seus problemas, erros e
equívocos, mas que não é o que acontece na realidade, muitos deles tendo mesmo
aprendido a utilizar mecanismos de defesa para se desviarem das exigências da
análise. Mas que a contratransferência impeça o acto analítico ou mais simplesmente
a escuta do analisando, Freud nunca imaginou aquilo em que ela se viria a tornar.
O que muitos pós-freudianos defenderam (Heiman, Racker, Money Kyrle, etc.), e
defendem ainda (cf., por exemplo, EINZINK, Cl, COSTA F, KAPCZINSKI, F, PILTCHER, R,
GAUER R, LIBERMANN Z. Observing countertransference in brief dynamic psychoterapy.
Psychosom. 1991; 56 (3): 174-81), é que o essencial na análise é a análise da
contratransferência (acrescida de introspecção, auto-análise e supervisão). A distinção
que fazem entre contratransferência patológica e positiva leva a pensar que o analista
conseguirá melhorar cada análise que conduz se esta for uma continuação da sua
própria análise; ele prosseguira esta indefinidamente… sempre à custa do cliente.
É num sentido completamente diferente que J.A Miller enunciou no “Événement de
Paris” (2008): "être analyste, ce n’est pas analyser les autres, c’est d’abord continuer à
s’analyser". Trata-se primeiramente de lembrar que a “interpretação da transferência”
não se baseia na psicologia do analista, mas na certeza que este obteve no final da sua
análise. Em seguida, que o analista não pode, nem deve esquecer – por conseguinte
tem de elaborar, nomeadamente no que se chama um ensino – aquilo que foi o
fim da sua análise, o sintoma que aí identificou para lá do fantasma. O problema de
fundo é que quem pratica a Psicanálise como se esta fosse uma Psicoterapia defende-
se constantemente contra o seu sintoma, contra o real de que só ele é responsável.
Na instituição, no hospital psiquiátrico, no centro de saúde, no consultório privado,
o dito “psicoterapeuta” - comovido, fatigado, adormecido, salvador, sedutor, perito,
professor, pai, mãe, apressado, distraído, imitando o seu analista, obcecado com uma
ideia, concentrado na sua contratransferência, etc, etc, etc. – constrói então um muro

62
José Martinho

Epifenómeno da transferência, a contratransferência apenas prova


que o suposto analista não é realmente um analista, ou que não está
devidamente preparado para praticar a análise.45 No acto (de amor)
analítico, o analista não é um Eu, nem tem um.

É ao abster-se de uma subjectividade mais ou menos egoísta que a


“terceira orelha” (Reik) do psicanalista pode verdadeiramente escutar
a fala da analisanda, pesar cada uma das suas palavras ou frases. É
neste processo de escuta que emerge o objecto de amor realmente
resistente, capaz de animar o desejo de levar a análise até ao fim.
Para isto, o analista só pode contar consigo, ainda que se apoie no
que é mais forte do que o seu Eu e o da analisanda: a repetição e a
transferência.

O amor já lá estava antes da análise porque o amor transferêncial é


como a reimpressão inalterada ou a edição revista de um cliché que
procura tornar-se consciente, mas que apenas consegue substituir o
objecto da infância – ou da “neurose infantil”, protótipo da “neurose
actual”- pela pessoa do analista.

Ainda que a presença do analista na transferência sirva também para

entre si e esse real. O problema é que o real do outro de quem ele se ocupa só o toca
indirectamente; por esta razão, o psicoterapeuta deve saber que é com o seu próprio
real que tem primeiramente de se haver. O analista nunca se encontra, pois, numa
posição de Amo ou de Mestre; ele não pode, nem sabe, ou sabe apenas, por ter sido
analisado, que todos os falantes se encontram do lado da impotência relativamente
ao insuportável real de que são responsáveis, quer se chame a este “inconsciente”,
“pulsão”, ou “sintoma”.
45. O analista que se encontra devidamente formado não impõe o seu “eu” na análise.
A imagem que tem de si deve ter sido suficientemente alterada, esvaziada até, para
que o seu Eu não resista a Isso que fala do lado da analisanda. Só deste modo é que o
analista será capaz de ocupar, sob transferência, o lugar do objecto de amor.

63
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

simbolizar a ausência do objecto antigo46, o psicanalista é sobretudo


um objecto novo.

Além disso, o analista não se deve deixar prender a nenhuma


contingência corporal. Ele não é o objecto parcial (seio, etc.), nem
o objecto total que a mãe edipiana pode representar. O amor
transferêncial não é maternal, mas “irreal”.47 É esta particularidade
que faz com que Freud remeta aqui o problema para o fantasma.

O objecto do amor é “irreal” porque está perdido desde a origem.


Como escreve Freud noutro dos seus artigos: “o objecto que
encontramos é sempre um substituto do objecto que procuramos, o
qual está perdido desde sempre”.

Com certeza que o sonho nocturno e diurno tende a alucinar o


objecto perdido.48 Por esta razão, para que o objecto cesse de ser

46. A análise não convida o indivíduo a regredir até à infância para fruir finalmente
do seu primeiro objecto de amor, ou recriar o seu ideal de autoridade. No presente
da neurose de transferência, o passado analisa-se em função do futuro; isto só é
viável porque o analista é algo mais que um objecto infantil, ou uma figura parental
conferindo calor e protecção. A análise deve ir sempre além da reconstrução do
passado. Deve abrir ao que ainda não existe mas pode ser realizado: é por exemplo o
que Freud sugere na 27ª Conferência da Introdução à Psicanálise, quando compara a
transferência à camada do meio (entre o núcleo do caule e a casca) do tronco de uma
árvore, local onde irão nascer os “novos tecidos” que aumentam a sua espessura.
47. O “irreal” não é o imaginário. O irreal tem uma relação - inconsciente e pulsional,
simbólica e imaginária, falsa e fantasiada - com o real. O objecto é irreal, mas o desejo
que ele causa é a realizar.
48. “É escusado sonhar que se bebe, escreve Freud na Interpretação dos sonhos, pois
quando a sede aperta é preciso acordar para beber”. Aproveito esta nota para lembrar
que se estuda desde 1954 os registos eléctricos do sono e do sonho. Actualmente
sabe-se que o sono não é uma actividade unitária, mas uma sequência de fases que
se repetem. O sono divide-se em 5 fases: o sono não-REM (4 fases) e o sono R.E.M.
(REM = Rapid Eyes Movement). Cada uma das fases do sono não-R.E.M. (ou sono
lento) está associada a um tipo específico de padrão de onda cerebral e a um certo
número de outros sinais fisiológicos e comportamentais. Estádio 1: Sono leve. Estádio

64
José Martinho

alucinado só existe uma via: a da palavra. Ou a alucinação ou a

2: Sono intermediário. Estádio 3: Sono profundo. Estádio 4: Sono mais profundo. Sono
R.E.M: é nesta fase que ocorrem os sonhos mais nítidos. Durante os períodos R.E.M. a
respiração e o ritmo cardíaco ficam ligeiramente mais rápidos e mais irregulares. Na
fase 1 do sono não-REM vamos nos desligando lentamente do mundo envolvente
(dura aproximadamente 7 minutos – 5% do tempo total do sono). Há diminuição das
ondas a (ondas rápidas de pequena amplitude que temos quando nos encontramos
na fase de vigília). O registo electrónico da fase 2 permite distinguir claramente a fase
1 da fase 2: o aparecimento dos fusos de sono e complexos k. Nas fases 3 e 4 – Fase
Delta ou Sono Profundo – as ondas alfa são substituídas por ondas delta; estas fases
correspondem a 12 a 14% do sono total e é o sono com mais qualidade, designado
também de “sono reparador”. O Sono REM ou “Paradoxal” inicia-se 90 minutos após
o início do sono. O primeiro episódio é de cerca de 5 minutos e o último de cerca de
meia hora (aumenta de duração ao longo da noite). O tipo de resposta que a pessoa
apresenta em termos de ondas cerebrais é mais activa, ocorre o aceleramento do
batimento cardíaco, uma respiração mais intensa e acelerada, movimento ocular e é
aqui que surgem os sonhos. Durante uma noite de sono existem 4 a 6 ciclos de sono
(7 a 8 horas). Contudo, se formos privados de determinadas fases (3 e 4 e sono R.E.M.)
numa noite, no sono seguinte tentamos compensá-los, com um tempo de duração
maior para o tipo de sono em privação. O ritmo dormir/acordar, pode ser visto como
um sistema de crédito/débito, sendo atribuídos 2 pontos por cada hora de sono e 1
ponto por cada hora que o indivíduo está acordado. Assim, quanto menos pontos se
tiver, mais preparado se está para dormir: geralmente a pessoa dorme quando tem
pouco ou nenhum crédito de sono e dormirá cerca de 8 horas (16 pontos de crédito).
Isto será seguido por um período de vigília de cerca de 16 horas (16 pontos), pelo
que ao fim de 24 horas retomará do início, estando preparada para mais um período
de sono. Através disto, podemos verificar que o sistema de crédito é afectado por
padrões irregulares de trabalho, incluindo extensos períodos de tempo em vigília com
sono reduzido ou interrompido. Esta acumulação de sono em falta é denominada de
débito de sono cumulativo. Além do tempo de vigília ser importante na determinação
da preparação para o sono, este possui também um ritmo circadiano, o que significa
que em determinadas horas do dia, mesmo um indivíduo em privação pode ter
dificuldade em dormir, devido ao facto do factor crítico para a duração do sono ser a
altura do dia em que este decorre e não a quantidade de tempo que se está acordado.
Assim, o ritmo dormir/acordar afecta a preparação para o sono e a altura do dia em que
se dorme, associada à temperatura corporal, têm uma influência crucial na duração do
sono. Desta forma, o sono geralmente ocorre quando a temperatura corporal está a
descer e o acordar quando está a subir. Apesar da temperatura corporal considerada
normal ser de 37º C, na realidade ela varia entre 36,9ºC (no início da noite) e os 36,2ºC
(de madrugada). Isto explica a razão porque dormir em horas “anormais” pode ser
mais perturbado e menos regenerador. É no sono não paradoxal ou ortodoxo, de
características fisiológicas bastante diferentes, que surgem as actividades mentais
mais próximas do pensamento acordado, bem como os sonhos mais passageiros e
difíceis de recordar.

65
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

verbalização. A talking cure aposta decididamente na segunda.

A dificuldade reside no facto de o fantasma se caracterizar por


manter a irrealidade ou não admitir a perda estrutural do objecto
do desejo. Ele elege um substituto do objecto perdido e tece à sua
volta uma rede simbólica e imaginária para conseguir capturar a
coisa. É por esta razão que a análise procura (re) construir o fantasma
fundamental.

Mesmo se a compulsão a repetir faz com que a analisanda tenda a


colocar o analista no lugar da mãe, do pai ou de um qualquer outro
objecto ou predicado seu, o analista não se deve deixar confundir
com as personagens padrão da vida da analisanda, nem com a parte
que falta ao seu auto-erotismo.

Qual é a verdadeira natureza do amor? Antes de responder a esta


pergunta, Freud lembra que só os idiotas – e acrescenta os cientistas
- é que fingem ignorar que o gozo do amor é o melhor que existe,
porque reúne em si todas as satisfações físicas e morais.49

Esta afirmação de Freud refere-se ao mito de Eros, mais

49. Para além do amor de si (Narciso) e do amor anaclítico, parricida e incestuoso


(Édipo), os Gregos diferenciaram entre Ludos (o amor lúdico ou brincalhão), Mania (o
amor emocional ou louco), Pornos (o amor físico entre corpos), Philia (amor generoso
ou altruísta, como o parental, filial, fraternal, mas também político), Ágape (o amor
espiritual ou divino), Pragma (o amor negócio ou útil), Storge (a amor amigo, que
cresce devagar), e o mais perfeito de todos, Eros (o amor do Uno). A referência de
Freud é sobretudo ao Eros dos poetas e filósofos (cf. o mito do Andrógino primordial
no Banquete de Platão). Eros é o amor que tenta fazer Um com dois corpos, almas
e intelectos. A miragem suprema do gozo prometido pelo amor acontece quando
as metades físicas, psíquicas e espirituais se juntam num mesmo Todo. O que assim
se esclarece é característica autoerótica e narcísica do amor, em que o outro serve
sobretudo para colmatar a lacuna básica do chamado self.

66
José Martinho

particularmente ao que é dito sobre a divindade no discurso de


Aristófanes, no Banquete de Platão. O poeta diz aí que Eros é amor
do Uno. O cómico da situação é que a união erótica é impossível
de realizar, pois por mais que se idealize, por mais tentativas que se
faça, dois ou mais seres não conseguem ser Um só. A transferência
analítica é amor porque partilha da natureza de Eros. De facto, a
analisanda também tem o impossível desejo de se unir ao analista.

Apesar do que alguns pretendem, o amor transferêncial é um


amor genuíno. Ele inclui todas as características do amor. O que o
especifica é o facto da inquebrável resistência do objecto-analista
o tornar ainda mais cego ou louco do que os outros amores. Mas
é precisamente por causa disso que o amor de transferência pode
fornecer a chave de tudo o que se chamou, chama e chamará “amor”.

Em resumo: o amor que já lá estava ressurge na fala da analisanda


com a sua demanda e a suposição de saber; ele fortalece-se com
a procura da verdade e sobretudo com a esperança que o analista
realize o amor-perfeito que a proibição do incesto e mais geralmente
a vida sexual dos humanos não permite.

Mas quem assim espera, desespera, pois, no final, não há casamento,


mas divórcio. Depois de a analisanda se confrontar com a
impossibilidade de fazer Um com o analista, o amor transferêncial
termina com o desejo de outra coisa. É então que obriga o ilimitado
do gozo a condescender à falta que anima o desejo. 50

50. Esta falta exige alguma forma de morte do analista. Como escreve Freud na
Dinâmica da transferência, “quando tudo está dito e feito, é ainda impossível destruir
alguém in absentia ou effigie”. A nova palavra que dá vida ao desejo implica, pois, a
presença e depois a morte da coisa, isto é, do analista.

67
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Mas o que faz com que o amor esteja sempre para aquém ou além do
narcisismo e anaclitismo, é que ele é, desde o início, amor da língua.

A talking cure acontece numa língua. O sujeito que fala procura aí a


sua verdade, mas a estrutura da linguagem é um muro que impede
que possa dizer tudo e em particular toda a verdade. O que ele faz é
verbalizar o que lhe passa pela cabeça, até que encontre o impossível
de dizer de cada fala que se confronta com o real. Desde logo é o
amor de bem-dizer este impossível que revela ser o fundamento
ético da psicanálise.

É a Ética que substitui a Clínica e a Psicoterapia na Psicanálise. É


ela que faz com que o analista seja responsável de tudo o que se
passa numa análise, desde a oferta inicial de um novo amor, até à
dissolução da transferência:

⤤ narcísico (Eu) ↓
Amor da língua: busca da verdade/resistência (do real) →dissolução
da transferência
⤥ anaclítico (outro) ↑

A análise termina com a separação do analisando (o amante) e


do analista (o objecto amado). Este final é a condição do desejo
efectivamente causado pelo objecto perdido, objecto que o analista
só passará a “ser” depois da dissolução da neurose de transferência.

É ao desejo inédito que emerge então do lado do analisado, isto é


daquele que terminou a sua análise, que devemos chamar o “desejo
do analista”.

68
José Martinho

As Observações de Freud irão terminar com um alerta ao leitor, para


que este saiba que o analista deve travar sempre um triplo combate:

1) Contra as forças externas que procuram desqualificar o princípio,


o meio e os fins Psicanálise, ou simplesmente comprometer o acto
analítico com tarefas ou técnicas que lhe são alheias. Este perigo vem
normalmente de uma sociedade que aceita mal a Psicanálise, porque
sabe que esta lida com matérias explosivas como o amor sexual. A
Química também lida com matérias inflamáveis. Mas, contrariamente
aos químicos, os psicanalistas parecem estar condenados a conquistar
indefinidamente o seu direito ao trabalho. É também importante
que o psicanalista não se identifique com o médico fanático, com o
seu furor sanandis, pois, como já dizia Hipócrates, aquilo que o ferrum
(o ferro, isto é, a faca ou a cirurgia) e o ignis (o fogo, diríamos hoje, os
fármacos) não curam, é preferível considerar incurável.

2) O segundo combate é contra o fantasma inconsciente que


sobredetermina o sintoma que forçou a analisanda à análise,
miragem de gozo que não confessa à partida, mas que pode destruir
o dispositivo analítico e até a própria vida.

3) Mas o terceiro combate e o mais irredutível é contra si mesmo, e


passa pela análise pessoal e didáctica.

69
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

2.2 INTERPRETAR, RECONSTRUIR E CONSTRUIR

“Se substituirmos o indivíduo isolado pela humanidade como um todo,


descobriremos que também ela desenvolveu delírios inacessíveis à crítica lógica”
Freud

Construções na Análise (1937)51 é um dos últimos artigos de Freud. Ele


tem na altura 81 anos e vai falecer dois anos mais tarde.52

Os primeiros textos de Freud serviram para apresentar a sua invenção;


em seguida, veio a maioria dos escritos metapsicológicos, onde
corrige algumas das suas anteriores concepções; finalmente, publica
os textos em que faz o balanço da obra, responde a algumas críticas
e redige o seu testamento para os alunos.

Este artigo apresenta-se como a resposta de Freud a um bem


conhecido homem de ciência e meritíssimo sábio que, depois de
ter defendido publicamente a Psicanálise, levantou contra ela uma
objecção injusta e até caluniosa: “Heads I win, tails you lose”, caras
ganho eu, coroas perdes tu;53 dizia ele, para afirmar que o psicanalista

51. FREUD, S. (2011). Construções na análise. Transferência, construções e fins da


psicanálise. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas.
52. Sobre os últimos e trágicos anos do inventor da Psicanálise pode se ler:
EDMUNDSON, Mark. (2009). A morte de Freud, o legado dos seus últimos dias. São Paulo:
Odisseia.
53. Quem é este homem de ciência e sábio de mérito? Na Viena da época, pode ser
Ludwig Wittegenstein, ou Karl Popper. Ambos se interessaram pela Psicanálise e
criticaram Freud. Os dois afirmaram que a Psicanálise não era uma ciência, mas uma
opinião, em última instância a opinião de Freud. Nas Palestras de Cambridge (1932-
34), Wittgenstein diz que aquilo que Freud imagina ser um determinismo (segundo
a gramática da causalidade científica) é apenas uma intencionalidade (segundo a
gramática da consciência); para Wittgenstein, o “inconsciente” não existe ou apenas
pode ser descrito como objecto pela consciência. A Psicanálise seria uma Oratória

70
José Martinho

se arranja sempre para ter razão, tanto quando o analisando está de


acordo com o que diz, como quando lhe resiste.

Na verdade, este tipo de objecção só surge na mente de um

feita para convencer o leitor. Todavia, Wittgenstein aprecia o estilo de Freud ou


sente sempre um grande prazer a lê-lo. Por sua vez, no Realismo da ciência, “post-
scriptum” da Lógica da Descoberta Científica (1934), Popper contesta também o
carácter científico da Psicanálise, na medida em que as suas proposições não seriam
refutáveis. Karl Popper e Ludwig Wittgenstein tiveram igualmente entre si uma acesa
discussão, em particular na noite de 25 de Outubro de 1946, na sala H.3 do King’s
College, em Cambridge. Esta disputa foi relatada no capítulo «Inglaterra: na London
School of Economics and Political Science», da Autobiografia Intelectual de Karl
Popper. A polémica deu origem ao texto de David Edmonds e John Eidinow, intitulado
O Atiçador de Wittgenstein, em que os autores confrontaram os discursos das várias
testemunhas oculares presentes com a veracidade dos factos. Popper conta que, no
início do ano lectivo de 1946-1947, o secretário do Clube de Ciência Moral o convidou
para fazer uma conferência sobre as “charadas filosóficas”, segundo a terminologia que
Wittgenstein usou para designar o que a Filosofia denomina “problemas filosóficos”.
Em resposta ao tom provocatório do convite, Popper aceitou participar no debate
com o intuito de refutar a tese de Wittgenstein de que não existem problemas
filosóficos genuínos, mas apenas charadas linguísticas. Popper defendeu a existência
de verdadeiros problemas filosóficos, enquanto Wittgenstein sustentou a tese de que
estes são enigmas que resultam de confusões verbais e conceptuais provenientes dos
dualismos que perduram na tradição filosófica. Depois da leitura da sua comunicação,
intitulada “Existem problemas filosóficos?”, Popper explica que interrompeu várias
vezes a contra-argumentação de Wittgenstein, apresentando uma lista de verdadeiros
problemas filosóficos, que Wittgenstein refutou sistematicamente. A dada altura,
Wittgenstein, que estava sentado junto à lareira e brandia nervosamente o atiçador
de fogo, que ele usava por vezes como uma batuta de maestro para sublinhar as
suas afirmações”, lança um desafio ao filósofo das Ciências, pedindo para que este
lhe desse um exemplo de regra moral. Popper respondeu-lhe: “não se deve ameaçar
conferencistas visitantes com atiçadores de fogo”. Irritado, Wittgenstein atirou o
atiçador e saiu precipitadamente da sala batendo com a porta. Popper escreve que
ficou aborrecido com a atitude de Wittgenstein, mas que a irritação se dissipou na
continuação do debate, graças à agradável companhia de Bertrand Russell, que
presidia à reunião. Voltando a Freud: o teste popperiano da falsificação através de
exemplos empíricos que possam contrariar a teoria estabelecida também é utilizado
pelo inventor da psicanálise. Por exemplo: quando ele passa da teoria do trauma
à hipótese do fantasma; ou a propósito de um caso de paranóia contrário à teoria
psicanalítica; ou a respeito dos fenómenos que se encontram para além do Princípio
do Prazer; ou, ainda, no momento em que a angústia passa de efeito para causa do
recalcamento. No entanto é verdade que a psicanálise não é uma ciência positiva, que
visa a explicação causal e a objectividade do objecto.

71
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

intelectual, que confunde o que se passa numa consulta médica e


mais precisamente na sessão analítica com uma disputa escolástica;
é o caso do universitário, do filósofo ou do epistemólogo que acredita
que a argumentação racional e o saber científico se assemelham à
verdade que se constrói numa análise.

E, no entanto, é pertinente afirmar que o “sim” e o “não” do analisando


não provam de imediato quem tem razão. Por exemplo, uma
analisanda pode muito bem aceitar as interpretações do seu analista
por estar enamorada dele; mas pode também recusá-las, por se sentir
frustrada nesse amor ou resistir à verdade que então lhe é revelada.

O problema passa, pois, a ser: o que é a verdade, mais precisamente


o que fornece e garante o critério da verdade na análise.

Antes de poder responder devidamente à objecção, Freud considera


importante informar o leitor – que ele coloca desde logo no lugar do
sábio leigo na matéria – do que é uma análise, o seu princípio, meio
e fins.

O analista não discute opiniões com o analisando. Ele cala-se para o


deixar falar livremente. Ele conta deste modo com que o analisando
consiga levantar a censura que pesa sobre a sua fala ou ultrapasse o
recalcamento (secundário) que levou à formação do sintoma, para
poder atingir um estado de maturidade psíquica que seja compatível
com o “recalcamento primordial”.54

54. O que Freud chama “recalcamento secundário” ou “propriamente dito”


corresponde à censura da fala e expulsão, pela consciência, das representações que
lhe são intoleráveis. Quando a censura é levantada, os conteúdos recalcados podem
voltar à consciência. Um dos objectivos da análise é mesmo que o consciente aceite

72
José Martinho

Freud coloca a tónica na associação livre verbal, na rememoração e


na elaboração mental. Aproveita também para dizer que o verdadeiro
problema reside no facto de o analisando apenas fornecer um
material solto e fragmentado: um lapso de vez em quando, um
pedaço de sonho, uma ideia que lhe surgiu subitamente, algumas
lembranças relacionadas com episódios da sua infância, etc.

Que fazer com todos estes rebotalhos? Primeira hipótese plausível:


o analista pode tentar formar a partir deles uma “imagem completa”
(Vollstandiges Bild) do passado esquecido pelo analisando.

Só que neste caso existiriam duas dificuldades maiores: a primeira


é que o analisando não cessa de oferecer material fragmentado a
cada sessão, indefinidamente; a segunda é que falta sempre uma
peça ou mais ao puzzle, em virtude da existência do “recalcamento
primordial.”

Em seguida, Freud afirma que todo o analista praticante é suposto


saber o que irá relatar neste artigo. Basta que ele tire as consequências
da apologia. Lembra então, que, no início, se interessou sobretudo
pelo que se passava do lado do analisando, pelo material que este
fornecia e a resistência com que se debatia. Só que este interesse
médico e intelectual pelo analisando descurou o que se passava do
lado do analista.55
funcionar com o inconsciente. Mas ainda que continue a atrair outros conteúdos e
formas, o recalcado primordial nunca chega à fala consciente; por esta razão não
podemos saber nunca o que foi originariamente recalcado. É a isso que se refere já
a Interpretação dos sonhos, quando diz que há sempre um ponto em que o sonho se
liga ao “Desconhecido”.
55. Inclusive a necessidade do analista ser analisado antes de praticar a análise. Mas
lembro que foi sobretudo a declaração do amor transferêncial que obrigou Freud a
colocar pela primeira vez a questão do acto analítico.

73
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Não se deve esquecer que existe uma dissimetria entre o acto


analítico e o trabalho do analisando. Por exemplo, se o analisando
fala e o analista está em silêncio é porque ele não sabe nada do
que se passa com o outro, logo não pode falar no lugar dele, nem
recordar o que só este viveu.

A associação livre não é uma regra para o analista; e como este


também não é um adivinho, e a intuição não faz parte da sua
formação, Freud acaba por dizer que aquilo que cabe ao analista é
“construir”.

Para melhor elucidar o problema, separo, num pequeno esquema,


o que parece passar-se do lado do analisando e do lado do analista,
com a respectiva comunicação entre os dois:

Sentido

analisando analista
fala está em silêncio
associa livremente escuta flutuante
material fragmentado interpreta
rememora (o passado) reconstrói
elabora (mentalmente) constrói
transferência contratransferência
repete (o mesmo) uma nova significação

sem-sentido

74
José Martinho

Será que aquilo que o analisando espera do analista é que este lhe
reenvie, em retorno, a sua própria mensagem, acrescida do sentido
que lhe faltava?

Mesmo que fosse este o objectivo, o analista apenas consegue


pontuar a significação do que foi dito pelo analisando depois de o
ter escutado sob transferência.

Ainda que esteja basicamente em silêncio durante esse tempo,


o analista não é mudo. De vez em quando ele fala; podemos dizer
que interpreta, reconstrói ou constrói. Há também um momento
oportuno para o analista falar; a altura propícia ou tempo certo é
quando o analisando deu sinais suficientes de estar apto a reconhecer
a verdade do que já disse.

Este artigo de Freud trata pouco da “interpretação”, e hesita uma vez


entre “reconstrução” e “construção”. Mas o seu título – Construções na
análise – indica o termo que mais convém nele interrogar.

Freud emprega a palavra “reconstrução” quando tece uma longa


analogia entre o acto analítico e o trabalho do arqueólogo56. A
partir dos pedaços dispersos que aparecem durante as escavações,
o arqueólogo pode ir reconstruindo a estátua ou a ânfora antiga
exactamente como estas foram no passado. Através da análise dos
materiais e da camada geológica do solo em que os fragmentos

56. A Arqueologia fascinou Freud e os seus contemporâneos. Os inúmeros livros que


Freud leu sobre a matéria, assim como todas as peças que decoravam o seu gabinete,
testemunham deste gosto por objectos antigos. Mas muitos outros foram também
seduzidos pelo desterro de Pompeia, praticamente intacta sob as cinzas do Vesúvio,
a riqueza do túmulo de Tutankhamon, e sobretudo pela descoberta da lendária Tróia,
por Schliemann.

75
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

foram conservados, pode igualmente saber em que época os


objectos foram feitos e usados.

Mas na verdade o acto analítico não se assemelha ao trabalho do


arqueólogo. Primeiro, porque o objecto da análise não é um objecto
material e inerte, nem pertence a um passado ultrapassado ou
morto; é um objecto subjectivo, vivo e que fala. O analisando pode
dizer a verdade ou mentir, confirmar ou infirmar as interpretações do
analista, mas as ruínas de Pompeia e o sarcófago de Tutankhamon
não podem. Cabe apenas ao arqueólogo provar que tem razão.

Mostrando uma vez mais que não está interessado em ter razão a
qualquer preço, Freud - depois de afirmar o que vai desmentir mais à
frente, a saber, que nada se perde definitivamente para o psiquismo
- confessa que ainda desconhece a estrutura do objecto psíquico, ou
que apenas sabe que esta é bastante mais complexa do que a do
objecto arqueológico.

Se atendermos à analogia do puzzle ou da big picture, o mais


espantoso aqui é a afirmação de Freud de que a reconstrução
é o objectivo último do arqueólogo, mas apenas um “trabalho
preliminar” (Vorarbeit) da análise. Isto significa que, se a reconstrução
é um degrau, um pórtico ou uma entrada do templo da análise, ela
não é esse templo. Desde logo, a reconstrução do passado deve
começar a ser entendida como uma passagem obrigatória, forçada
pela fala do analisando, mas não como o essencial do que se passa
na análise, nem como o seu último objectivo.

76
José Martinho

II

No início da segunda secção deste artigo, o leitor é finalmente


obrigado a optar pelo termo “construção”, na medida em que
Freud estabelece uma nova analogia, desta vez entre o analista e o
construtor de casas, que, tal como o arquitecto, constrói o edifício
com o material e a técnica disponíveis, num local onde nada se
encontrava. Para lá da repetição do mesmo, o que Freud introduz
aqui é o momento da invenção ou criação do novo. Trata-se do ponto
onde uma psicanálise faz realmente a diferença.

Freud explica ainda que, quando se refere a um “trabalho preliminar”,


não quer dizer que é necessário construir a casa e erigir as suas
paredes para proceder à decoração. A construção na análise também
não é uma decoração de exteriores e interiores.57

A interpretação foi o termo eleito pela literatura psicanalítica,


provavelmente porque é a operação própria da análise, aquela que
disseca ou dissocia o que a fala associa livremente.

Freud lembra que a interpretação incide sempre sobre fragmentos


do material, por exemplo sobre o pormenor de um sonho. É dizer
que a interpretação tem a mesma estrutura das formações do
inconsciente, que, tal como o lapso, são instantâneas, desaparecem
logo que aparecem.

57. Este propósito poderia fazer reflectir os psicoterapeutas que se preocupam muito
com a decoração dos seus consultórios e mais geralmente com a neutralidade do
setting.

77
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

A construção visa aquilo que está para além da reconstrução do


passado e da interpretação ou da análise. A construção não dissocia,
mas associa, reúne elementos já analisados. Mesmo se Freud afirma
que a sua análise da psique não tenta nenhuma síntese, a construção
analítica é sempre menos espontânea ou mais demorada que a
interpretação.

O que são efectivamente as “construções” na análise? O artigo


começa por sugerir duas possibilidades: 1ª) a construção como
construção do caso clínico; o exemplo que Freud dá é o do “pequeno
Hans”; 2ª) a construção como uma conjectura que deve ser verificada
no decorrer da análise através de “confirmações indirectas” (Indirekte
Arten der Bestätigung).

A construção freudiana do caso clínico não parte de observações


concretas, nem visa a objectividade. Ela é retrospectiva e apoia-se no
que permanece indeterminado para o sujeito. Assim, na construção
que apresenta do caso do “pequeno Hans”, Freud vai sublinhar a
“nova significação” (Neue Bedeutung) do pai que surpreendeu o
menino após o nascimento da sua irmã Anna.

O pai já lá estava, mas a significação dele mudou. Foi preciso que uma
nova criança tivesse nascido para que Hans se confrontasse com a lei
do pai e sentisse a insatisfação que lhe está associada. O seu querido
pai tornou-se nesse momento um rival, o grande culpado da perda
de exclusividade do amor materno. É esta inesperada significação
que acabou por transformar o pai de Hans num objecto fóbico, o
cavalo que podia morder.

78
José Martinho

Mas é verdade que esta construção da significação inconsciente do


pai edipiano do menino não é independente da reconstrução do
passado de Hans.58

A segunda sugestão de Freud sobre a construção responde um


pouco melhor à objecção inicial do sábio. Ela indica que quem tem
razão na análise não é o analista, nem o analisando, mas o que se
passa sob transferência.

Para encontrar um critério de verdade a relação dual não chega. É


exigido um terceiro termo, quer se trate do Inconsciente (com suas
significações), ou da Pulsão (satisfações); é este tal termo médio que
garante efectivamente a justeza das interpretações e construções na
análise.59

Freud pergunta ainda: será que o analista pode errar quando


comunica uma construção? O pior que poderia acontecer é que
ele erre muitas vezes e perca deste modo o crédito que lhe confere
o amor de transferência. O analisando pode, então, abandonar a
análise e deixar o analista sozinho com os seus erros. Mas errar de vez
em quando não é grave, porque o erro pode ser facilmente admitido
na análise. Ele é normalmente inofensivo; por vezes, serve mesmo de
isco para apanhar a carpa da verdade que andava por perto.60

58. No contexto de uma análise, a construção concerne sobretudo a passagem do


analista como médico ao analista como sujeito suposto saber e objecto de amor.
59. Freud fala como se a interpretação e a construção coubessem exclusivamente ao
analista. Mas, na verdade, tudo o que diz o analisando vem já interpretado por um
inconsciente que não pára de construir saber sobre a satisfação que o sujeito procura
em vão alcançar.
60. Your bait of falsehood takes this carp of truth (Shakespeare, Hamlet, II, 1, v. 63). Freud
refere-se aqui a um dizer de Polónio (Polonius), personagem do Hamlet de William
Shakespeare, conhecida por enunciar grandes verdades sem consequências, como to

79
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Mas o “sim” e o “não” directos do analisando não provam a verdade


ou o erro do analista. Eles não têm valor em si, dado que podem
ser ambíguos e até hipócritas. O que permite verificar o valor de
verdade de uma construção na análise são sempre as “confirmações
indirectas”.61 Basta que o analista saiba corrigir o seu erro quando
uma confirmação indirecta mostra que está errado. O analisando
percebe de imediato que a construção do analista tinha apenas o
valor de uma hipótese de trabalho que foi testada no laboratório da
sessão.

O que efectivamente se passa numa análise corresponde


aproximadamente ao que dizia o arguto satírico austríaco Johann
Nestroy, a saber, que é no decorrer dos futuros acontecimentos que
tudo se irá esclarecer.

thine own self be true, “sê fiel a ti próprio”. Perante o mistério da conduta de Hamlet,
Polónio diz: Though this be madness, yet there is method in it, apesar de ser loucura, há
método nela. (Acto 2 Cena II). Freud também cita este propósito mais à frente no texto.
61. Exemplos de “confirmações indirectas” dados por Freud:
- Interpretação ou construção confirmada por negação (cf. o artigo de Freud
sobre a Denegação, Verneinung). Quando alguém diz “não penso nisso”, por
exemplo na minha mãe, está a dizer que é nisso que pensa. O que importa
não é o sim ou o não relativo à mãe, mas o facto que tenha dito a palavra
"mãe".
- Confirmação por uma palavra fora do contexto: o “também” de um colega
de Freud que associou dois diagnósticos aparentemente sem ligação: o
seu problema de saúde provocado pelo facto da mulher não querer ter
relações com ele e a morte de um paciente inglês.
- Confirmação através de um erro de pronúncia: um paciente dizia Gauner
(gatuno, velhaco) em vez de Jauner (um nome conhecido em Viena); a
injúria foi confirmada por um erro semelhante: pronuncia (com i) jewagt (é
demais) em vez de gewagt (ousado).
- Por um lapso: falando do preço da consulta, que afirmava não ser elevado,
o paciente confirma o que lhe sugeriu Freud dizendo “dez xelins” em vez
de “dez dólares”.
- Por uma repetição de ditos ou de comportamentos que fogem à
rememoração da verdade que dói.
- Pelo agravamento masoquista do sintoma e a reacção terapêutica negativa.

80
José Martinho

III

Além do problema colocado pelo desconhecimento da estrutura


do objecto psíquico, a outra grande dificuldade que Freud confessa
neste artigo é aquela que se prende com o acontecimento traumático
que terá estado na origem do recalcamento primordial, logo da
formação do sintoma.

O analisando não se recorda normalmente deste acontecimento


traumático. Por vezes, após uma construção do analista, e certamente
para agradar a este62, lembra-se, não do próprio acontecimento,
mas de pormenores insignificantes que estariam associados a ele.
Quando acredita firmemente ou parece acreditar no incidente, trata-
se de uma alucinação, psicótica ou não.

“Construção” é a palavra que Freud escolhe para designar a relação


(do analista) com o recalcado primordial.

Freud aborda a partir de vários ângulos o que se terá perdido nesse


tempo originário (Urzeit). Em primeiro lugar, recorda o que propôs no
início sobre a passagem da cena de sedução histérica à conjectura
do fantasma inconsciente do desejo. O que disse então é que o
acontecimento traumático não tinha ocorrido na realidade material,
mas fazia apenas parte da realidade psíquica.

62. O mais célebre exemplo freudiano destas construções é o da “cena primitiva” do


“Homem dos Lobos”. Para satisfazer o analista, o paciente “recordou-se” da cena em
que tinha visto os seus pais a ter relações sexuais a tergo, mas mais tarde negou que
isso pudesse alguma vez ter acontecido.

81
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

É esta hipótese sobre o fantasma que parece levar Freud ao seguinte


enunciado: uma análise bem conduzida, convence da verdade da
construção (Überzeugung der Wahrheit der Konstruktion), o que, do
ponto de vista terapêutico, tem o mesmo valor de uma recordação
(Erinnerung).

O mais estranho é que Freud parece defender nesta passagem


a ideia que a análise seria o efeito de sugestão que ele negara
categoricamente na segunda secção.

Para esclarecer melhor o problema, vou escrever uma fórmula


quase matemática com as iniciais das palavras alemãs “recordação”
(Erinnerung), “convicção” (Überzeugung), “verdade” (Wahrheit) e
“construção (Konstruktion)”:

E = UWK

Esta fórmula – que faz lembrar a de Einstein: E = mc2 – é o matema do


artigo de Freud. Convém, pois, aprofundar o que transmite a todos.63

Freud não é um construtivista, não pensa que os analisandos são


doentes imaginários; ele tem a certeza que algo aconteceu realmente,
pois existe a alucinação, o retorno do recalcado e a regressão às fases
anteriores do desenvolvimento.

Ele apenas sabe que aquilo que aconteceu alterou profundamente

63. Fórmula extraída de Marginalia (1994), onde J-A Miller comenta este artigo de
Freud (http://www.causefreudienne.net/agenda/lettre-en-ligne/les-textes-publies-
par-la-lel/em-marginalia-em-de-constructions-dans-l-analyse-par-jacques-alain-
miller.html?symfony=694ff31550cee555680ac0b3a51f721d).

82
José Martinho

a vida do indivíduo. A experiência analítica indica também que este


acontecimento traumático só pode ter ocorrido num tempo muito
precoce, numa idade em que a criança ouviu ou viu alguma coisa
que não podia entender, mais que não seja porque ainda não sabia
falar.

O que não pôde vir então à fala da criança deveria ser, por hipótese, o
primordialmente recalcado É o que não se terá articulado na ordem
simbólica, nem figurado no imaginário, que as alucinações psicóticas
indirectamente confirmam. Como as vozes alucinadas, o que não foi
admitido no aparelho psíquico reaparece no real.

É por esta razão que as alucinações psicóticas ajudam a entender a


razão pela qual as histéricas sofrem de reminiscências, mas também
porque é que ficamos todos sujeitos à repetição.

Como é possível desde logo que a análise aproxime este real


recalcado que não vem à memória? A primeira coisa que Freud
propõe é que o faça através da construção da “verdade histórica”.

A História não é a Arqueologia. O objecto da História não é a realidade


material, mas a sua verdade. Assim, o historiador não trabalha
directamente sobre o passado, mas indirectamente, sobre arquivos,
documentos ou outro tipo de inscrição que permita testemunhar
a verdade do que terá ocorrido. É desta maneira que o que ficou
inscrito passa a escrito. Assim, não é de admirar que a História acabe
sobretudo por se encontrar nos livros de História. Freud fala de
“romance histórico” a propósito do seu último livro sobre Moisés.

83
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

A verdade histórica não só depende das palavras que fazem e


organizam os factos, como da subjectividade do historiador. Assim, à
semelhança do mito e do romance familiar, a verdade da história tem
uma estrutura de linguagem.

História e Psicanálise seriam, assim, ficções verosimilhantes de um


passado ao qual não se pode realmente ter acesso? No fundo, seriam
uma fantasia mais ou menos próxima do real.

É aqui que temos de dar mais um passo e lembrar que há construção


e construção, como indica o plural no título de Freud.

Como Freud explica em Uma Criança é batida, a análise constrói a


verdade histórica colhendo, na fala do sujeito, a frase que estrutura o
objecto do fantasma inconsciente. Mas para alcançar este objectivo
é necessário que a análise seja mais do que um outro fantasma, um
sonho, uma divagação ou, mesmo, uma interpretação delirante. A
condição que Freud exige aqui para a análise é que ela não tente,
como o delírio individual e colectivo, escapar à “crítica lógica”.64

Esta exigência de lógica que Freud faz no final do seu artigo é crucial
para o leitor poder abordar o verdadeiro real da psicanálise. Ela é
também a última resposta que Freud dá à objecção do conhecido
sábio, possivelmente um especialista da lógica da descoberta
64. Não foram os livros de Ciência e de Medicina, mas o livro em que o Presidente
Schréber falou do seu delírio que permitiu a Freud elaborar a sua concepção da
psicose, mais especificamente da paranóia. Como Shakespeare, Freud afirma que não
há apenas método no delírio, mas também tentativa de cura. Todo o delírio tem um
“núcleo de verdade” (Wahrheitskern), dito de outro modo, a verdade é nuclearmente
delirante. O delírio pode perfeitamente conduzir à construção de um mundo; é o caso
da religião como delírio fundado em algo (Deus) de que ninguém pode garantir a
verdade, nem dar realmente provas da existência.

84
José Martinho

científica (Popper) ou da lógica simbólica (Wittgenstein).

Mesmo que Freud confesse que não se devia tratar um assunto


destes da maneira ligeira como o faz, o alerta lançado no final ao
leitor para que não tente escapar à lógica convida à problemática
psicanalítica da construção lógica.65

Depois de ter proposto e desqualificado várias analogias entre o


fazer analítico e outros tipos de praxis - o trabalho intelectual, o fazer
puzzles, a Adivinhação, a Arqueologia, a Arquitectura, a Decoração, a
História e até o delírio psicótico -, Freud estabelece uma homologia
entre o analisar e o que faz o lógico.

Explico-me: para que a análise não seja apenas uma interpretação


delirante, ela deve proceder como na Lógica.

O delírio paranóico também é rigorosamente lógico. O problema


reside no postulado de onde ele parte (por exemplo: “sou o Cristo”).
É que o psicótico não aceita perder o seu postulado, porque de outra
maneira o seu mundo ruiria. Mas, no universo da ciência, quer se
trate de Lógica ou de Física Matemática, aceita-se sem drama mudar
de axiomática quando esta não conduz a nada de sério.

Como procede o lógico? Começa por apagar todos os pressupostos,


postula no lugar vazio assim criado certos axiomas e regras, e
deduz as consequências que levam à imparável verdade. Quando o
resultado da inferência não é válido, muda de axiomática, sem que

65. O saber construído na análise acaba por equivaler ao que o Compêndio de


Psicanálise de Freud chama a “equação pessoal”.

85
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

haja desmoronamento catastrófico da realidade, como é o caso na


psicose.

Assim, o que há de mais real em lógica não é aquilo que é negado ou


colocado no início entre parêntesis, nem os axiomas ou postulados,
sempre filosoficamente discutíveis, mas o que chega no final como a
indiscutível conclusão.

A talking cure tem um procedimento algo semelhante: suspende


todas as qualidades físicas, intelectuais e morais do Eu consciente,
postula o princípio da palavra e a regra da associação livre verbal,
e retira as consequências. O princípio da fala livre do analisando
não levanta problemas como o axioma do delírio psicótico, já que
permite que o sujeito diga tudo o que lhe passa pela cabeça.

O universo inicial tende para o infinito. A liberdade de palavra dada


ao analisando abre efectivamente um universo de discurso onde
tudo pode ser dito ou interpretado; mas, à medida que as palavras
proferidas ao acaso começam a encadear-se, o determinismo a que
estão sujeitas vai-se revelando.

Quando o analisando desdiz o que disse começam a surgir as


contradições e o universo do discurso retrai-se. Não é só a lógica
das proposições verdadeiras ou falsas que assim se elabora, mas
também a lógica das modalidades, já que aparece o necessário, o
contingente, o impossível e o possível.

A partir de tudo o que disse ao longo dos anos e recebeu em


feedback do analista, o analisando é finalmente obrigado a concluir

86
José Martinho

aquilo a que as suas palavras conduziram. É aí que pode finalmente


reconhecer o que ele é como objecto do fantasma fundamental,
do script que ocupa normalmente o lugar do real primordialmente
recalcado.66

Podemos agora entender porque é que Freud dizia que, numa análise
correctamente conduzida, o analisado parte convencido da verdade
da construção, ou vencido pela série dos pensamentos inconscientes
e vicissitudes pulsionais a que o seu Eu resistia.

Esta convicção na verdade da construção não é uma convicção


delirante, mas a fé comprovada que o analisado passou a ter nas
consequências lógicas da palavra.

Porém, a demonstração hipotético-deductiva que acabo de


apresentar para dar conta do percurso de uma análise contém
algo de indecidível; e deixa um resto que não é igual a zero. É este
suplemento que permite que o analisado se dê conta que o real com
que terá de lidar não cabe inteiramente numa construção lógica.

Esta manifestação residual vai dar lugar à nova e singular relação – de


abdução, invenção ou criação – que o sujeito passa a tecer com o seu
sintoma.

Isso já não acontece na análise, mas na ex-sistência.

66. O mistério do primeiro traumatismo está associado ao encontro do indivíduo da


espécie com a linguagem. Neste acontecimento, ele entranha o estranho que o força
a advir como sujeito falante, a identificar-se com um nome, e a reorganizar a relação
com a Coisa perdida (que devém o objecto alheio e próprio).

87
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

2.3 FINS DA ANÁLISE

“Não pretendo afirmar que a análise nunca tem fim.


Qualquer que seja a nossa atitude teórica relativamente a esta questão,
o fim de uma análise é uma questão prática”
Freud

Alguns comentadores afirmam que Análise Terminável e Interminável


(1937)67 reflecte o “pessimismo” de Freud quanto à eficácia
profiláctica e terapêutica e da psicanálise, em particular face ao peso
que teria a Biologia na constituição do sintoma. Mas se lermos com
mais atenção este texto testamentário do inventor da psicanálise,
veremos que responde sobretudo aos desvios de certos psicanalistas
(essencialmente Otto Rank, Sandor Ferenczi e Anna Freud68)
relativamente ao real que não entra nas construções da análise, e por
conseguinte ao incurável do sintoma.

Na primeira secção, Freud interroga a razão pela qual se procurou


encurtar a duração das análises. Começa por responder que foi
porque estas passaram a consumir muito tempo, mas também porque
aqueles que foram obrigados a admitir a existência das neuroses
procuraram desde logo desembaraçar-se o mais rapidamente delas.

67. FREUD, S. (2011). Análise terminável e interminável. Transferência, construções e fins


da psicanálise. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas.
68. Estes três autores contribuíram fortemente à partida para a infeliz concepção
que a maioria dos contemporâneos ainda tem da Psicanálise, nomeadamente para a
maternagem psicoterapêutica e o reforço psicológico do Ego.

88
José Martinho

Existiram várias destas tentativas para abreviar o tempo das análises,


como a que foi proposta por Otto Rank (1884-1939) depois da
publicação de O Traumatismo do Nascimento (1924).69

Rank defendeu no seu livro que a origem de todas as neuroses reside


na separação do bebé e da mãe no momento do nascimento. Para
além de negar a importância crucial que Freud tinha atribuido ao
complexo de Édipo, do ponto de vista prático, esta tese implica que
bastaria focar a análise no nascimento para reduzir consideravelmente
o tempo e os custos do tratamento.70

De que cartola é que Rank tirou este coelho, já que não existe
ninguém que se lembre do seu próprio nascimento? Certamente
que não foi da sua análise, pois Rank nunca foi analisado.71 Rank
refere-se à sua experiência, não só como filósofo e intelectual, mas
também como terapeuta. De facto, mesmo se não foi o único nessa
época a aceitar pacientes sem ter sido analisado, Rank passou a fazê-
lo a partir de 1920.

Seja de onde for que o autor tenha tirado a ideia, O Traumatismo do

69. RANK, O. (1976). Le traumatisme de la naissance. Paris: Petite bibilothèque Payot.


70. O livro de Rank procura ir ainda mais longe, explicar a “humanização” em geral a
partir do traumatismo do nascimento. A superação deste trauma na análise permitiria
modificar o rumo da “evolução total da humanidade”.
71. Rank acabou por pedir uma análise a Freud para evitar a ruptura definitiva com este.
Demasiado tarde. Assim, esta análise que não se chegou a efectuar foi substituída pela
partida de Rank para os EUA; e a promoção, já no âmbito da “prosperidade americana”,
do seu modelo psicoterapêutico. A situação das Breves nos EUA tornou-se bastante
preocupante a partir de certa altura. Perls, por exemplo, mostra-se muito preocupado
com o assunto, alertando para aqueles que, na cultura americana e contra os que
passaram “séculos” nos divãs europeus, incitavam às “curas instantâneas, ao gozo
instantâneo (…) à coisa rápida-rápida”, que não dá tempo a ninguém e impede o
crescimento.

89
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Nascimento conduziu a um projecto de psicoterapia breve no qual o


indivíduo superaria – com a ajuda de um analista mãe ou “parteira”,
mais do que “médico” - o recalcado primordial. Verdade seja dita que
Rank apenas concebeu esta superação como uma maneira de saber
lidar melhor com o trauma originário.72

Um dos comentários que Freud faz à proposta de Rank é que esta não
deixa de estar relacionada com o modo de vida americano. Podíamos
também dizer com a tentativa de adaptar o timing do analisando à
pressa em que começou a viver o homem contemporâneo.

Mas o desafio psicoterapêutico de Rank não reflecte apenas o


american way of live. O propósito de Rank não é só especulativo,
desconhece também que, na análise, os efeitos não são proporcionais
à causa. Mais ainda, desconhece que os fenómenos psíquicos não
derivam de uma única causa ou que são sobredeterminados por
toda uma rede causal. Aquilo que Rank propôs, conclui Freud, é algo
semelhante ao que faria um corpo de bombeiros que procurasse
apagar o fogo que alastrou por toda a parte apenas no local onde
este se deflagrou.

Em seguida, Freud faz o seu mea culpa, confessa que também


cometeu erros semelhantes no início. Ele não se refere às curas
curtas que praticou quando ainda não sabia o tempo que iriam
durar as análises, mas ao primeiro paciente que o obrigou a colocar
o problema das análises longas, um jovem russo, na realidade Sergei
Pankejeff (1887-1979), mais conhecido pelo “Homem dos Lobos”.73

72. O verdadeiro trauma do sujeito não é o do nascimento, como acreditava Rank, mas
o da língua que lhe é imposta e onde ele é primordialmente banhado.
73. A família Pankejeff (transliteração actual Pankeyev) era grande proprietária em St.

90
José Martinho

Freud fixou abusivamente o termo deste tratamento que se estava a


tornar demasiado longo. Isto levou a que privasse o sujeito do tempo
que lhe era necessário para procurar a sua verdade, compreendê-la
e concluir a análise sem pressa. Apesar do episódio da alucinação
psicótica com que já se tinha deparado, esta medida de extorsão
fez com que fosse impossível descobrir a paranóia que se escondia
por detrás da neurose infantil do adulto, psicose que só veio a
desencadear-se quinze anos mais tarde, no pós-guerra, quando o
paciente era seguido por uma das suas alunas, a psiquiatra americana
Ruth Mack Brunswick.

Estes e outros exemplos de chantagem psicológica fazem com que


Freud conclua esta primeira secção do seu artigo da seguinte forma:
como não se sabe de antemão o tempo que durará uma análise, não
se deve abreviar a sua duração, nem antecipar o seu termo.

Petersburg. Sergei estudou no estrangeiro voltando à Rússia em 1905. Em 1906, a sua


irmã mais velha, Anna, suicida-se. Em 1907, ele começa a mostrar sinais de depressão.
O seu pai, Konstantin, sofria de uma depressão grave e suicidou-se. Em Janeiro 1910,
o médico de família levou Serguei a Viena para ser tratado por Freud. Eles encontram-
se várias vezes entre Fevereiro de 1910 e Julho de 1914. Como Sergei prosseguia
indefinidamente o tratamento sem aprofundar a análise, Freud deu-lhe um prazo
para terminar até ao final do ano. O paciente vence então as resistências e acaba por
confessar aquilo de que Freud estava convicto a partir do sonho dos lobos e restante
material: a cena primitiva ou momento traumático (diferente do nascimento) em que
a criança teria visto os seus pais a fazer sexo a tergo (por de trás). Mais tarde, Freud
pensou na possibilidade de o sujeito ter presenciado a cópula entre animais e, depois,
transferido a cena para os seus pais. A primeira publicação de Freud sobre O “Homem
dos Lobos” é escrita em 1914; ela centra-se na história da neurose infantil do adulto.
O texto é publicado em 1918. Depois da guerra, Sergei volta a Viena pobre e doente.
Freud recebe-o em análise até 1919. Outros analistas e a própria comunidade analítica
continuarão durante décadas a ocupar-se do paciente. Sergei Pankejeff transforma-se
pouco a pouco no principal caso da Psicanálise. Mais tarde, os sujeito publica mesmo
um livro sobre o seu caso, assinado com o pseudónimo o “Homem dos Lobos”. Sergei
ficou sempre em contacto com a família e discípulos de Freud até à morte.

91
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

II

A vontade de por rapidamente um termo à análise pode vir de fora,


mas é mais inquietante quando vem do próprio meio analítico.
Convém, pois, que o analista saiba do que está a falar quando fala de
“fim da análise”; e logo à partida da sua finalidade mais consensual,
que é a terapêutica.

A análise acaba sempre quando o analisando e o analista deixam de


se encontrar para a sessão analítica. Quando a finalidade da análise é
apenas terapêutica, é preferível que o analisando tenha conseguido
levantar o recalcamento patológico, rememorar as lacunas da sua
história e construir o fantasma fundamental que determinava o seu
sofrimento sintomático. Mas uma vez alcançado este objectivo, será
que é possível falar de um restabelecimento definitivo, ou de dizer
que os analisados ficaram curados para sempre?

Freud afirma várias vezes ao longo do seu texto que não há cura
definitiva em psicanálise. Por esta razão, aconselha os analistas a
preocuparem-se menos com a “cura” e mais com os “obstáculos” que
encontram no seu caminho.

A primeira pedra que se encontra no caminho da análise é sempre


o sintoma. Como é que este se forma? Em geral, a etiologia do
sintoma é mista: em primeiro lugar, existe uma pré-condição, a
constituição hereditária. Em seguida vêm as causas concorrentes,
como o esgotamento físico, a sobrecarga intelectual, os acidentes
traumáticos. Finalmente, existem as causas específicas, em particular

92
José Martinho

as alterações do Eu face à pulsão, ou a forma como as determinações


biológicas e sociais são vividas na realidade psíquica do indivíduo
durante o seu desenvolvimento.

Quando se trata de constituição inata (doenças congénitas como


a demência, etc.), ou de doenças físicas (por exemplo um tumor
cancerigeno como aquele de que sofria Freud), o psicanalista não
pode fazer nada senão minorar a dor mental, ou melhorar a relação
do doente com a sua doença. O tratamento que tem mais sucesso é o
das perturbações causadas por acidentes externos, caso das neuroses
traumáticas (catástrofes naturais, acidentes ferroviários, crimes de
guerra, etc.). Este êxito terapêutico equivale normalmente a um
reforço do Eu. Quando o trauma é interno ou resulta do confronto
com a pulsão, o Eu não consegue fugir, mas apenas modificar-se em
função das reivindicações pulsionais.

Por vezes, parece que a pulsão e o Eu acabam por encontrar uma


paz provisória, mas esta não é mais do que uma nova formação
de compromisso sintomática. Nos primórdios da análise, chegou-
se a pensar que o tratamento terminava quando era alcançado o
equilíbrio psicossomático enunciado pelo “princípio de constância”
(Fechner). Mas passados mais de doze a vinte anos, em que estado
se encontram os pacientes que nessa altura se acreditou estarem
“curados”?

Freud já tinha falado do “Homem dos Lobos”. Agora dá mais dois


exemplos. O primeiro – mesmo que não diga o nome do paciente, já
falecido - é o de Sandor Ferenczi.

93
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Durante a sua análise com Freud, Ferenczi não mostrou nenhuma


hostilidade em relação ao analista.74 Depois de ter terminado a
análise, realizou as suas aspirações sentimentais e profissionais,
casou com a mulher que amava, começou a praticar a psicanálise e
tornou-se um mestre para os seus antigos companheiros e rivais.75
Mas sobretudo a partir de 1919, trouxe a lume novas propostas
teóricas e práticas,76 ao mesmo tempo que mostrou uma inesperada
agressividade contra o seu analista. Dizia ele que Freud não amava
os seus pacientes, mas apenas o seu Superego. Ferenczi criticou
sobretudo Freud por este não ter analisado a transferência negativa,
por não a ter sabido descobrir, nem provocar, e, logo, ser incapaz de
levar a análise até ao fim.

Freud responde que o analista não tem de adivinhar conflitos, nem


provocar os que não surjam espontaneamente no tratamento,
mesmo com a finalidade de analisar a “transferência negativa”. No
entanto, a inesperada agressividade de Ferenczi prova que a sua
análise não estava efectivamente terminada.

O segundo exemplo é o de uma paciente histérica. Freud diz que

74. A análise de Ferenczi (1873 -1933) durou duas semanas em 1914, três semanas
depois da Guerra, de Junho a Julho de 1916, e mais outras duas, de Setembro a
Outubro do mesmo ano.
75. Ferenczi acabou por se casar com uma velha amante e analisanda, Gizella Palos.
Analisou e apaixonou-se também se por Elma, a filha de Gizella.
76. Em particular a “técnica activa”, o “relaxamento” e a “neocartarse”, com a
indulgência que permitia a alguns pacientes de o beijarem. Freud avisa-o logo:
“você não dissimulou que beija os seus pacientes (…) com certeza que poderá ir
mais longe, e incluir também na técnica “as carícias” (…), depois virão outras técnicas
mais audaciosas (…), o que terá como efeito um notável aumento do interesse pela
psicanálise (…). Olhando então a cena animada de que foi o instigador, Deus Pai
Ferenczi dirá para consigo mesmo: afinal de contas, talvez devesse ter parado na
minha técnica de afeição maternal, antes do beijo”.

94
José Martinho

depois de a análise a ter aliviado de graves sintomas de conversão


somática (em particular de severas dores nas pernas), ela tornou-
se uma mulher extremamente activa durante os doze anos que se
seguiram. Mas ao fim deste tempo, teve uma infecção ginecológica
que obrigou à extracção de um mioma e ablação do colo do útero
(histeroctomia). A doente enamorou-se do cirurgião que a operou e
começou a fantasiar que lhe podiam infligir outras transformações
orgânicas dolorosas (relações sexuais, gravidez). O aparecimento
deste romance masoquista no interior do fantasma histérico, indica,
também, que faltava, pelo menos, analisar um tal traço de perversão
neurótico.

Os dois casos provam – mais contra os optimistas que contra os


cépticos do tratamento analítico – que se deve levar sempre em conta
as “manifestações residuais” do sintoma, quer estas se apresentem
numa forma negativa (traços perversos, fantasmas inconscientes,
resíduos de transferência não analisados, etc.), ou positiva. Penso ser
este o momento indicado para dizer que o analista também é um
resto da análise, e o mais positivo. Um resto em acto.

95
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

III

Nesta terceira secção, Freud começa por lembrar que, durante os


últimos anos, se dedicou sobretudo às análises didácticas.77

Estas não só exigem mais tempo, como colocaram um problema


inédito, que obrigou a uma definição mais apertada da relação do
sintoma analisável com o Eu e as puslsões.

Até aqui, Freud tinha explicado que a etiologia do sintoma em


geral compreendia a força constitucional das pulsões, os acidentes

77. No começo, distinguiu-se entre a análise do doente e a análise didáctica, que


visava apenas a formação do analista. A partir de dado momento – como assinalou
aliás Ferenczi – as análises dos pacientes começaram a durar mais tempo do que as
didácticas, o que fazia com que os pacientes começassem a estar mais bem analisados
que os seus analistas. Foi para ultrapassar este paradoxo que Ferenczi, Freud e os
outros acharam preferível aumentar o tempo da análise didáctica ou levar a análise
do psicanalista praticante até ao fim. É só com Lacan que deixa de haver diferença
entre análise pessoal e didáctica, mais precisamente, a análise do futuro analista passa
a incluir a análise pessoal conduzida até às suas últimas consequências, tornando-
se desde logo análise didáctica toda a análise que produza, no final, um analista.
Na verdade, só a análise didáctica pode esclarecer devidamente o problema do fim
último da análise, por conseguinte do que resta após a dissolução da transferência.
Convém ainda entender que a análise didáctica não procura encurtar a duração
do tratamento, mas prolongá-lo o tempo que for preciso, para poder identificar o
sintoma e preparar o analisado para a sua futura prática como analista. Assim, aquilo
que a análise visa finalmente é a formação do analista, mesmo se o analisado decide
não empenhar a sua existência nesta exigência. O que se passa numa análise é mais
ou menos o seguinte: alguém vem queixar-se do sintoma que lhe atrapalha a vida,
mas, à medida que vai falando ao analista, afeiçoa-se por este, e acaba por substituir
o seu antigo sofrimento pelo amor de transferência; depois de ter entranhado a razão
e o motivo deste estranho fenómeno, o sujeito abandona o objecto de amor irreal
que o analista foi para ele e pode, então, apaixonar-se pela psicanálise. Neste caso, ele
consegue finalmente perceber que a análise era, desde o início, a verdadeira solução
do seu sintoma. Formar alguém que possa pensar a análise e praticá-la deste modo
passa forçosamente pela transformação da relação patológica do sujeito com o seu
sintoma. Fecho o parêntese.

96
José Martinho

traumáticos e as alterações do Eu. Mas esta nova reflexão obriga-o


a corrigir o primeiro termo, dizendo que não se deve falar de “força
constitucional” das pulsões, e sim da sua força “actual”.78

Se é a constituição hereditária que tem o maior peso até ao


nascimento, com a família e a sociedade em geral entra também
em jogo a educação. A maneira de educar e governar o indivíduo
da espécie passa, então, a sobredeterminar o que ele era à partida.
Mas apesar da educação, não é o Eu que domina as pulsões, e sim o
contrário. Mesmo que o Eu fosse forte Hércules, perderia sempre a
luta contra o monstro pulsional.79

Será que este poderio da pulsão limita os esforços terapêuticos da


psicanálise? Para responder devidamente à questão, Freud diz ser
forçado a recorrer à “Feiticeira” (Goethe) – ou Fantasia, como também
sugere – metapsicológica.80

A Metapsicologia freudiana é a parte da obra que aborda a


estrutura e o funcionamento do aparelho psíquico a partir de várias
perspectivas. Destacam-se sobretudo três pontos de vista: o “tópico”
- ou “topográfico”, quando se leva em conta a grafia que se inscreve
no espaço topológico – mostra a divisão do sujeito sobre o qual
opera a psicanálise; ele permite entender que o sujeito da psicanálise
não se reduz ao Eu da primeira e da segunda tópica. O ponto de vista
78. A actualidade da pulsão não é independente do que Freud chama a
“indestrutibilidade” do desejo e sua “intemporalidade” inconsciente. Podemos dizer
que indestrutibilidade e intemporalidade são nomes freudianos da estrutura da
linguagem.
79. Um dos monstros com os quais Hércules luta, o Centauro (corpo de cavalo e
cabeça de homem), mostra relativamente bem o carácter híbrido da pulsão freudiana.
80. So muss denn doch die Hexe dran! “Bem precisamos que a Feiticeira nos ajude”
(Goethe, Fausto, verso 2365).

97
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

“dinâmico” analisa o que se passa na mente em termos de conflito; é


este ângulo que leva a pensar que existe uma guerra mais ou menos
latente entre os batalhões da pulsão que estão no Inconsciente,
e os do Eu, que estacionam na Consciência. Mas o ponto de vista
sobre o qual Freud insiste agora é o “económico”, os investimentos,
desinvestimentos e contra-investimentos que permitem ao Eu
negociar um lucro com a pulsão.81

Freud começou por situar o Eu ao nível consciente, e defini-lo como


uma função de desconhecimento, uma resistência ao inconsciente e
uma defesa contra as moções pulsionais. Mas a segunda tópica veio
mostrar que o Ego e o Id têm a mesma origem, que grandes partes
do Ego permanecem inconscientes, mais ainda, que o Ego é sempre
um aliado da pulsão. Finalmente, Freud explica que o sintoma é o nó
desta aliança, o companheiro que o Ego se dá na busca da satisfação
pulsional que não se deu.

É neste ponto que Freud é obrigado a dar um pequeno passo em


direcção do que chamou, desde 1919, o “para além do princípio
do prazer”. Mas antes de entrar neste terreno de areias movediças,
previne o leitor que a tentativa de calar as pulsões não só é ilusória,
como indesejável. O Eu que se desenvolve no interior da reserva
pulsional começa por ser infantil, imaturo, e utilizar mecanismos de
defesa contra aquilo que o inibe e angustia.82 Os mecanismos que
81. Freud associou à partida este lucro (Lustgewin) à satisfação proporcionada pelo
princípio do prazer. Mas o intercâmbio entre o princípio de prazer e o princípio de
realidade (que reina ao nível do consciente) apenas se torna possível mediante a
representação de palavra, que a primeira tópica situa no pré-consciente. Na verdade,
a palavra tanto está do lado do inconsciente, como da consciência, da representação,
como da significação, do afecto, como da satisfação. É nesta medida que ela constitui
o princípio mesmo da talking cure.
82. Quando o Eu procura livrar-se dos novos conflitos através de um “recalcamento

98
José Martinho

escolhe persistem ao longo da existência para ajudar a “domar” a fera


pulsional, isto é, a lidar melhor com as pulsões. Não podendo vencer
um inimigo que é mais forte do que ele, o Eu alia-se à pulsão. Esta
aliança não o torna infeliz, mas feliz, ainda que a consciência tenha
uma grande dificuldade em reconhecer este tipo de prazer.

A estratégia mais usual que o Eu utiliza para extrair um benefício


do corpo pulsional é a seguinte: quando o organismo em evolução
é perturbado por reforços fisiológicos (puberdade, menopausa),
ou mais geralmente pelas pressões da vida quotidiana, o Eu pode
regressar a fases anteriores do desenvolvimento. Dado que estas
etapas nunca são inteiramente ultrapassadas, e os antigos objectos
definitivamente abandonados, ele regride às antigas organizações
libidinais (oral, anal, genital) e fixa-se no que aí privilegiou (seio,
excremento, pénis/clítoris, etc.).

Esta regressão e fixação são suficientes para que a análise não


falsifique os fenómenos defendendo a existência de uma lei geral do
desenvolvimento. De facto, a psicanálise não concebe a causalidade
de um modo linear, como um progresso contínuo. Dado que lida
com processos complexos e transformações incompletas, ela sabe
que o ponto de partida e de chegada de um percurso não são
suficientes para explicar as mudanças quantitativas e compreender
os estados qualitativos nas etapas intermediárias. Existem sempre
manifestações residuais do sintoma; e não é possível prever, nem
prevenir contra as “compensações” e “sobrecompensações” destas
réstias de gozo.

secundário”, o preço que paga por esta revisão dos antigos mecanismos de defesa é
sempre o retorno do recalcado.

99
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Nesta medida, Freud diz ser preferível que o psicanalista pense como
Nestroy, a saber, que todo passo em frente apenas tem metade do
tamanho do que parece no início.

IV

O psicanalista não dá conselhos, nem se lança em acções preventivas


contra as futuras doenças, porque a única realidade com que lida é a
da neurose de transferência. É neste terreno e não no da antecipação
imaginária dos conflitos que o sintoma fala e consegue encontrar a
sua solução psicanalítica.

A psicanálise não procura eliminar um sintoma que, no fundo, é


irredutível; mas também não se contenta com o ponto de vista
estritamente pragmático, para o qual basta que o sintoma não
perturbe a ordem estabelecida, a boa adaptação do indivíduo ao
meio em que vive. Um Ego bem adaptado, possuidor de um carácter
forte e rígido, é um Ego imbecil, o contrário do sujeito flexível que a
análise supõe.

Ainda que não possa trazer benefícios a quem não adere ao seu
artifício, a análise é a única prevenção possível: uma espécie de
vacina dada em doses pequenas, sessão a sessão.

Mesmo que o analista tivesse uma bola de cristal que lhe permitisse
adivinhar o futuro, não devia brincar ao aprendiz feiticeiro. O analista
sabe que ninguém pode viver o futuro por procuração, mas também
que não tem o direito de produzir conflitos artificiais, por exemplo
provocando o analisando para este ter uma atitude hostil e, assim,

100
José Martinho

analisar a transferência negativa. Mesmo se está silencioso como o


cão que dorme, o conflito, se existe realmente, acordará um dia e
ladrará.

Também é perfeitamente inútil dar lições ao analisando. Tudo se


passaria então como no caso dos povos primitivos a quem se pregou
o cristianismo, mas que continuam a adorar em segredo os seus
velhos ídolos. Ou como no caso daqueles que dão uma educação
sexual às crianças, sem quererem saber que estas não sacrificam ao
novo conhecimento as teorias sexuais que despontaram com o seu
desenvolvimento. Também não é suficiente que se leiam obras de
psicanálise para saber o que esta é; o leitor pode sentir-se tocado
pelas passagens que se aplicam a ele, mas o resto deixa-o frio.

Depois de tratar do problema da força das pulsões e da acção do


trauma na etiopatogenia do sintoma, Freud vai-se focar na alteração
do Ego.

Muita gente acredita que o analista deve associar-se ao Eu do


analisando para lutar contra a doença mental. Foi esta ideia que
promoveu o ideal de um Ego forte, adulto e autónomo, concepção
contraditória com a da segunda tópica freudiana, que afirma que
o Ego é apenas o servidor de três Senhores: o Id, o Superego e o
mundo externo. É também a este propósito que Freud cita O Eu e os
Mecanismos de Defesa, título da tese que a sua filha Anna defendeu
em 1936, para se tornar sócia titular da Associação Psicanalítica
Internacional..

101
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

A jovem Anna Freud pensava que a análise devia reforçar o Eu que


ainda não era senhor de si em sua casa. A descriminação psicanalítica
dos mecanismos de defesa seleccionados pelo Ego devia-o ensinar
a combater os inimigos que alteram a sua identidade e unidade. A
psicanálise tornar-se-ia desde logo a verdadeira pós-educação, a
única capaz de corrigir devidamente os erros cometidos pela família,
a escola e a sociedade na educação da criança.83

Mas o único ponto que Freud entende sublinhar nesta secção é


que o Eu não é, nem poder ser um aliado do analista. Como diz, o
Eu normal – esse que se pressupõe poder fazer uma aliança com o
analista - não existe ou é apenas uma “ficção ideal”.

A “normalidade” do Eu é uma média. Aquilo que é mais normal é o


sintoma, geralmente neurótico. Mas a clivagem perversa prova ainda
melhor do que a neurose que o analista não pode contar com a ajuda
de um Eu normal, uno e idêntico a si mesmo. E no que diz respeito
às psicoses ou psiconeuroses narcísicas, sabemos que elas são, por
estrutura, rebeldes à relação transferêncial.84

83. Três concepções do Ego ligam-se e opõem-se na obra de Sigmund Freud. A primeira
concebe o Eu a partir da Neurologia e Teoria da Evolução, como um produto orgânico
que se diferencia através de reacções bem adaptadas aos estímulos. A segunda
concebe-o como uma entidade psicológica construída progressivamente na relação
com outrem, capaz de fazer face aos constrangimentos da realidade. A terceira limita-
se a escutar o que cada um diz na análise enquanto sujeito falante. Na primeira destas
concepções primam as metáforas biológicas: o Eu é uma parte inata e organizada do
tecido vivo, um órgão que se desenvolve para defender o organismo contra os perigos
externos; por vezes é a projecção de uma função orgânica na superfície corporal. Na
segunda concepção dominam as metáforas sociais; o Eu é a imagem de si que se
constitui a partir do outro que lhe serve de ideal, de modelo ou de rival; é também o
lugar da angústia, das identificações e das escolhas de objecto. Uma vez mais, só é a
terceira concepção – a do sujeito que diz “eu”, “nós”, etc. - nos coloca verdadeiramente
na via a talking cure.
84. Por definição, o esquizofrénico apresenta uma mente fendida; mas a dissociação

102
José Martinho

É a diferença entre o Ego enquanto sujeito psicológico e o sujeito


da associação livre verbal que conduzirá em seguida Freud a uma
analogia que lhe permite esclarecer um pouco melhor a natureza e a
função dos mecanismos de defesa.

Na Interpretação dos sonhos, o termo “censura” colocava


explicitamente o interdito ao nível da linguagem, da fala ou da
escrita, como no exemplo então citado dos jornais russos. É ainda
esta analogia que permite agora a Freud comparar o recalcamento
à eliminação das partes inconvenientes de um palimpsesto85; e os
restantes mecanismos de defesa86 às diferentes formas de deformar
(omitir parágrafos, riscar frases, etc.) ou tornar inócua a mensagem
indesejável de um texto. Isto antes da invenção da imprensa, na
altura em que os livros eram redigidos e copiados à mão, um a um,
como acontece no caso por caso da análise.87
mental, a clivagem do Eu e a divisão subjectiva não existem apenas na esquizofrenia,
como prova a menor formação do inconsciente (lapso, etc.). O verdadeiro aliado do
analista não é, pois, o Eu (censor, mentor e narcísico), mas o sujeito que lhe fala. Assim,
para poder analisar um conflito ou um negócio, o analista dá a palavra a cada uma das
partes envolvidas, para que estas possam encontrar-se num mesmo terreno, deliberar
sobre um problema que, de outro modo, seria impossível de resolver. E só a palavra
tem esta capacidade de penetrar nos vários campos.
85. No caso do recalcamento primordial, podíamos mesmo falar, como Lacan, de uma
rejeição juridicamente prescritiva ou preclusão (forclusion).
86. Muitos psicanalistas seguiram Anna Freud quando se dedicaram a aumentar
a lista dos mecanismos de defesa. Confundindo vários conceitos da psicanálise,
defenderam que existiam defesas primitivas ou psicóticas (clivagem, negação,
dissociação, projecção, introjecção, identificação, identificação projectiva, etc.), e
defesas neuróticas (recalcamento, conversão, condensação, deslocamento, reacção,
anulação, isolamento, intelectualização, acting out, acting in, passagem ao acto, e até
de mecanismos “maduros”, como a sublimação e o altruísmo).
87. Apesar dos seus defeitos, esta analogia indica que, mesmo quando são censuradas,
as reivindicações pulsionais podem ser lidas ao nível da fala dos analisandos. De facto,
os efeitos da palavra sobre o organismo físico e psíquico inscrevem as “pulsões” no
campo da linguagem, juntamente com o que sobra ao sujeito de gozo do corpo.
A pulsão freudiana fala no entanto pela calada, pois a sua enunciação é anónima,
ninguém aí diz “Eu”, supondo-se apenas que “Isso” fala. Mas é precisamente porque

103
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

A mais importante conclusão que podemos tirar é que, se o Eu


consciente tende a sacrificar a percepção da realidade que lhe é
intolerável, a associação livre verbal nunca deixa a verdade ficar
calada.

VI

Nesta sexta secção, Freud volta a interrogar a natureza e a função dos


mecanismos de defesa. Eles parecem ser inatos e sempre os mesmos
em cada indivíduo. Se não são congénitos, devem pelo menos ter
sido adquiridos muito cedo, na infância mais precoce.

Freud pensa que o Ego se forma à partida para cumprir uma função
biológica; ele possuiria, assim, características hereditárias, específicas
e individuais.88 Estas características seriam explicadas pela Teoria da
Evolução, a Antropologia (características das famílias, raças, nações),
mas também pela Teoria do Simbolismo, pois o Simbólico como
herança arcaica do ser humano está lá sempre antes do nascimento
de cada indivíduo da espécie. 89

À partida, pensou-se que os mecanismos de defesa serviam apenas


para afastar tudo o que era perigoso para o Eu e o organismo; mas,
em seguida, apercebeu-se que eles se tornam por sua vez perigosos,
inclusive para o sucesso da análise. Apesar de poder falar livremente

Isso que goza também escreve ou fala que pode obedecer a uma “gramática”, ser
censurado, ou reimprimir-se.
88. Freud refere certos temas ainda não estudados, como o facto os indivíduos tenham
ritmos diferentes, e uma maior ou menor capacidade para se transformar.
89. Freud faz aqui uma breve alusão à relação que existe entre o Simbólico (em
particular o simbolismo linguístico) e os mecanismos de defesa que identificam e
alteram o Ego.

104
José Martinho

na análise, o Eu funciona também como resistência à revelação das


resistências.

Mesmo se Freud continua a afirmar que ainda não conhece bem a


verdadeira natureza dos mecanismos de defesa, ele sabe que estes
podem também estar ao serviço da pulsão.90 Por exemplo, a satisfação
sentida pelo Eu que fala ao analista pode perfeitamente combinar
com a vontade de não melhorar, como indica o agravamento do
sintoma e a reacção terapêutica negativa. E este tipo de fenómenos
que forçam Freud a dar aqui mais um passo em direcção daquilo
que se encontra para além do princípio do prazer. É então que ele
introduz no seu texto o dualismo pulsão de vida – pulsão de morte.

“Pulsão de morte” é o nome que Freud dá ao gozo que se encontra


para além do Princípio do Prazer e do Princípio de Realidade.

A noção fez com que os leitores de Freud tivessem de começar


a admitir que existe algo de interno que contraria o equilíbrio
organístico; e que isso provoca uma estranha satisfação, que dá azo
a experiências aparentemente incompreensíveis para a razão e a
consciência, como o masoquismo perverso ou moral, o sentimento
de culpa inconsciente, ou a tendência para o crime.

Mas como esta dimensão fundamental do ser humano não era

90. A própria língua não serve apenas para a representação de palavra. O que Freud
chama a “química silábica” do sonho, os jogos de palavras obsessivos, os equívocos
inconscientes da histeria ou os neologismos psicóticos mostram que existe também
um gozo da linguagem. É ainda este gozo de falar que faz com que as análises tenham
passado a durar tanto tempo. Daí, talvez, que a questão pragmática inicial de Freud
sobre o dever de encurtar o tempo da análise se possa redefinir como um-cortar
aquilo que o sentido (gozado) tende a fazer perdurar.

105
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

aceite pelos seus alunos da época, inclusive pela sua filha mais fiel,
Anna, Freud é levado a enfatizar a satisfação que sentiu ao recordar
o velho tempo – bem diferente daquele do mundo apressado da sua
época – em que Empédocles de Agrigento falou de um dualismo
fundamental, do encontro (τμχη) entre philia (ϕιλια) e neikos (νεικοζ),
a amizade e a discórdia. O que o velho sábio propôs nesses termos,
ainda que sob a forma de uma fantasia cósmica, é uma ideia directriz
muito semelhante à que Freud defende agora para a psicanálise.

A sexta secção termina com uma defesa acérrima do dualismo. Não


há efectivamente meio de reduzir duas pulsões e dois sexos a Um só.
É a pulsão de morte que serve também nesta secção para explicar a
violência heterossexual contra os homossexuais.

VII

Nesta sétima secção, Freud responde definitivamente à crítica que


lhe fez Ferenczi a partir de Setembro de 1927, após uma comunicação
ao Congresso de Innsbruck.91

Freud começa por louvar Ferenczi por este ter afirmado que a
análise não é interminável, e insistido para que o analista termine
a sua análise antes de exercer a profissão (o que Ferenczi chama a
“segunda regra fundamental” na Elasticidade da técnica analítica).
Louva-o igualmente por ter enumerado os diversos problemas com
que o analista se depara no exercício do seu acto, em particular a
contratransferência.92

91. FERENCZI, S. (1982). “Le problème de la fin de l´analyse ». Œuvres Complètes, t. IV


(1927-1933). Paris : Payot.
92. É em 1908 que Ferenczi “descobre” a contratransferência. Em 1918, na Técnica

106
José Martinho

Por fim, lamenta que as propostas de Ferenczi tenham ficado


presas numa “normalidade esquemática”, que ignora os factos. Seria
conveniente que ele tivesse tido uma menor ambição.93

O amor à verdade em que se baseia a psicanálise obriga a constatar


que o estado de perfeição exigido por Ferenczi ao psicanalista e à
psicanálise nunca foi atingido.

De qualquer forma, o analista não é um ser omnipotente e


omnisciente, alguém de extraordinário, perfeito e sem falha.94 Ele
não é um super-homem, e a sua “profissão”, como a do político e
do educador, contem algo de “impossível”, porque lida com um
real que escapa aos ideais. Freud diz que já não seria mau que, na
sua radiografia psíquica (análise pessoal, didáctica, supervisão), o
analista conseguisse proteger-se - e proteger os seus analisandos -
Psicanalítica, insiste para que o analista controle a sua tendência a julgar que os
problemas dos pacientes são seus. Em 1919, propõe a “técnica activa”, através da qual
o analista deve sair da passividade e intervir no tratamento com gestos de ternura e
afecto, e depois convidando o paciente a uma análise mútua. Em 1929, desenvolve
este projecto no Princípio do relaxamento e da neocatarse, artigo em que estabelece
as regras para provocar e resolver as reacções emocionais do paciente. Finalmente,
na Confusão de línguas entre os adultos e a criança (1932), Ferenczi volta a uma ideia
realista do “trauma” e ataca abertamente a hipocrisia da corporação freudiana.
93. Ferenczi também repudiava a “pulsão de morte”; mas afirmava-a com o ódio contra
o seu analista. Na verdade, ele – que era na época o n.º 2 do movimento psicanalítico, o
“Grão-vizir Secreto” como lhe chamava Freud – procurava conquistar o lugar do “Pai da
psicanálise”. O caso Rank é análogo deste ponto de vista. Rank dedica o Traumatismo
do nascimento a Freud, e ao mesmo tempo atira-lhe uma pedra. Diziam na altura que
Rank se transformara em David para assassinar Golias, mas que apenas o fez depois de
saber que Freud sofria de um cancro.
94. Freud acreditava que a Ciência acabaria por eliminar a Religião. Lacan nunca
pensou o mesmo. Antes pelo contrário, Lacan previu o retorno em força do religioso.
O que se limitou a lembrar foi que, mesmo que não se tenha de pronunciar por ou
contra nenhuma religião, a Psicanálise sabe que a Religião é a sua maior inimiga,
porque promove uma ilusão que agrada a quase todos. Por este motivo, se a Religião
ganha terreno – e como laço social fundamental ela é imbatível – é a Psicanálise pode
desaparecer.

107
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

dos efeitos nocivos dos raios Roentgen ou X.

Freud lembra sobretudo que, por diversas razões e até à data em que
escreve, todas as análises foram breves e incompletas. Mais valeria,
pois, que o analista praticante não se sentisse envergonhado de
voltar de vez em quando ao divã, por exemplo de cinco em cinco
anos.

Isto não significa que a análise pessoal e didáctica tenham de ser


para sempre intermináveis. Há análises que terminam na prática, pois
quando as coisas ficam realmente resolvidas, acabam definitivamente.

Todos conhecem casos de análises efectivamente terminadas, mesmo


que não se saiba muito bem como, nem porquê. Como se perdeu
bastas vezes o rastro dos analisados, é só quando estes permanecem
no meio analítico, sobretudo quando se tornam psicanalistas, que
é possível concluir, a partir do testemunho e do exemplo que dão,
sobre o que terá sido o final das suas análises. 95

Já sabemos que o sintoma como formação do inconsciente e


vicissitude pulsional era o primeiro obstáculo que se encontrava no
caminho da análise, mas qual é, pergunta Freud, o derradeiro?

VIII

Para responder a esta pergunta, o artigo vai acentuar a diferença


entre análise terapêutica, análise de carácter96 e análise didáctica. A

95. Lacan criou mesmo um dispositivo (la passe) onde um tal exemplo e testemunho
têm lugar para quem assim o desejar.
96. O debate sobre a “análise do carácter” tornou-se bastante importante a partir de

108
José Martinho

primeira é a mais semelhante com uma psicoterapia, já que tem como


principal objectivo a remoção do sintoma que fazia sofrer o sujeito. A
segunda não visa o desaparecimento do sintoma, mas o modo como
este funciona; ela comporta a análise do Eu e dos mecanismos de
defesa, a dissecação da estrutura da personalidade psíquica, com os
seus tipos, traços e habituais infantilidades. Mas a análise didáctica
não concerne as anomalias do carácter do Ego e sim a formação
profissional do analista; o que ela procura é que o analista seja capaz
de não falar demasiado cedo, nem tarde, mas também que aprenda
a fazer valer o saber-fazer como seu sintoma para poder dizer um
adeus definitivo - rebus bene gestis - a quem analisou.

Isto só é possível quando o analista é realmente capaz de ocupar a


posição de objecto na transferência.97

O problema é que o lugar subjectivo mais difícil de ocupar para os


homens e as mulheres é precisamente o do objecto. Nenhum deles
aprecia ser reduzido a um objecto.

Antes de se ser analista, cada um é homem ou mulher. Mas como se


devém homem ou mulher, pergunta Freud? Mesmo que haja uma
bissexualidade inata, como pretendia Fliess, o que será determinante

dada altura. Reich foi um dos seus grandes promotores, tendo dedicado mesmo um
livro ao tema. Reich opunha-se especialmente a Numberg, que defendia que a análise
devia basear-se na transferência positiva e visar um reforço do Ego. Ao contrário, Reich
pensava que o reforço do Ego levava à inflexível couraça ou carapaça caracterial, mas
também que a transferência positiva acabava por tornar as análises intermináveis.
Por esta razão, defendia que o psicanalista devia romper o equilíbrio do carácter,
provocando reacções corporais (como o orgasmo), e provocando e interpretando a
transferência negativa.
97. Convém, no entanto precisar, que o analista não é o objecto, mas aparenta sê-lo
para, deste modo, causar o desejo do analisando.

109
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

para um tal posicionamento genérico é o modo como o desejo sexual


atravessa o fantasma edipiano e se submete, ou não, ao complexo de
castração.

Na verdade, é o complexo de castração que faz com que a distinção


anatómica e cultural dos sexos fique sujeita a um único símbolo
sexual: o Falo. O dualismo volta a impor-se através da relação –
libidinal e agressiva - que cada um dos sexos tece com o símbolo
comum aos dois. Para quem se coloca do lado homem, o que
prima é a “angústia de castração”, o medo de perder os atributos da
virilidade, ou simplesmente de permanecer passivo diante de um
outro homem. Para quem se coloca do lado das mulheres, prevalece
o desejo do pénis, que se pode traduzir na inveja de quem possui
um, ou na conquista de um substituto fálico (marido, bebé, etc).

No psiquismo dos homens e das mulheres, é ainda o “complexo de


castração” que ocupa o lugar da “rocha subjacente” ou do grande
enigma do sexo na reprodução da vida. A castração é, pois e segundo
Freud, o último obstáculo à análise, aquele que a torna normalmente
interminável.

Freud acrescenta ainda – pensando também no que disse Ferenczi -


que, apesar de ser desesperante ver como todos recusam a castração
que os colocaria numa posição feminina, castrada e objectal, ele
não pode fazer mais nada senão dizer às mulheres que aceitem a
ideia de possuírem um pénis como irrealizável; e aos homens que
admitam a atitude passiva em relação a um outro homem como algo
de indispensável em muitas situações da vida.

110
José Martinho

A conclusão que se pode tirar agora deste texto testamentário de


Freud é a seguinte: a partir de 1937 terminar a análise é ir além do
complexo de castração. Este objectivo pressupõe que a castração
não tem apenas um valor negativo, que ela possui também um
valor positivo. É o que acontece quando o corte que opera produz o
objecto perdido que causa o desejo, mais particularmente o desejo
do analista.

É a resolução desta enigmática mais-valia que Análise Terminável


e Interminável lega a Otto Rank, Anna Freud, Sándor Ferenczi e,
finalmente, a todos os pós-freudianos.

111
PSICANÁLISE E PSICOTERAPIAS
José Martinho

“Tudo leva a crer que, dada a aplicação maciça


da nossa terapêutica, seremos obrigados a juntar
ao ouro puro da psicanálise uma quantidade considerável
do cobre da sugestão directa; mas seja qual for a forma
desta psicoterapia popular, os seus elementos mais eficazes
continuarão a ser os que foram retirados da psicanálise pura”
Freud

“Todas as formas de psicoterapias breves revivem o horror do tempo,


saibam-no ou não aqueles que as praticam”
Mann

Este terceiro capítulo pode ser lido como um comentário das frases
de Freud e de Mann que acabo de citar . Mais precisamente, ele fala da
Intersecção lógica entre a Psicanálise e a Psicoterapia, da Entrevista
Psicológica e Clínica, e de algumas psicoterapias individuais e de
grupo que se inspiram na Psicanálise.98

3.1 INTERSECÇÃO PSICANÁLISE - PSICOTERAPIA

Torna-se neste momento necessária uma descrição detalhada das


diversas técnicas psicoterapêuticas de inspiração psicanalítica para
se perceber melhor porque é que a Psicanálise - cujo princípio,
meio e fins foram expostos nos capítulos precedentes - não é uma

98. Algumas das reflexões que se seguem sobre as Psicoterapias de Inspiração


Psicanalítica (PIP) e as Psicoterapias de Apoio (PA) foram feitas com Leopoldo Leitão,
o colega da ULHT que tem ensinado esta parte da matéria comigo nos últimos
quatro anos. Servir-me-ei também aqui de alguns apontamentos da sebenta de
“Psicopatologia Geral” de Miguel Trigo.

115
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Psicoterapia.99 Começo por lembrar que as psicoterapias têm vindo


a ganhar terreno à Psicanálise, pois prometem ser mais acessíveis,
agradáveis, breves, económicas e eficazes. Algumas delas pretendem
igualmente ser cada dia mais “científicas”, o que faz com que se
tornem geralmente menos “terapêuticas”.

Entrar em Psicoterapia não é nada de natural. Trata-se de uma


decisão que leva o indivíduo a abrir-se ao discernimento de um
outro e a pagar-lhe pelo seu escrutínio. O que faz com que a maioria
das pessoas evite esta escolha não é, como geralmente se pensa, a
escassez de fé, de dinheiro e de informação, mas a falta de coragem.
É ainda esta última que faz com que a maioria dos psiquiatras,
psicólogos e psicoterapeutas recusem deitar-se no divã de um
psicanalista.

Qual o valor de uma Psicoterapia? Este valor não reside no alívio


que o indivíduo que sofre espera alcançar, mas num desafio
pessoal sempre doloroso, que só se torna possível mediante o uso
de quatro ferramentas: aceitar adiar a gratificação, assumir a sua
responsabilidade, dedicar-se por inteiro e com disciplina à procura
da verdade, e apostar num desenvolvimento espiritual que leve ao
restabelecimento do equilíbrio.100

Mas tudo isto não chega para que se possa estabelecer uma

99. As psicoterapias desvirtuam aquilo que Lacan chamou o “Discurso do Analista”,


pois inscrevem-se no “Discurso do Amo”, pelo seu poder de sugestão, a influência que
exercem, a adaptação à realidade que promovem, etc.
100. PECK, M. Scott. (1999). O Caminho Menos Percorrido. Lisboa: Sinais de Tempo.
(No original: The road less traveled). Este best-seller de um psiquiatra e psicanalista
americano transmite relativamente bem, e numa linguagem acessível a todos, o
essencial da Psicoterapia.

116
José Martinho

equivalência entre a Psicanálise e a Psicoterapia, mesmo a de


inspiração psicanalítica. Assim, para melhor situar o que há de
comum e diferente entre as duas, passo a designar a Psicanálise pelo
conjunto P, e a Psicoterapia pelo conjunto T.

Na teoria dos conjuntos, a “intersecção” de P e T é o conjunto dos


elementos que pertencem simultaneamente a P e a T. Esta operação
torna-se mais visível quando representamos a zona da intersecção
num diagrama de Venn:

P T

O conjunto do meio (a cheio na figura) escreve-se P∩T. É a intersecção


(∩) da Psicanálise (P) com a Psicoterapia (T).

Por definição, cada conjunto contém o conjunto vazio (Ø). O conjunto


sem elementos é, pois, uma parte ou um subconjunto de todo o
conjunto. Ainda por definição, a intersecção P∩Ø é o conjunto vazio;
e a intersecção T∩Ø também.

Os elementos que são comuns à Psicanálise e à Psicoterapia que


privilegia a fala são os significantes, isto é, a matéria-prima das
palavras que aí se usam e trocam.

117
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

O conjunto vazio é o “sujeito do significante”, aquele cuja fala, à


partida vazia, se vai preenchendo com os conteúdos analisados, até
encontrar o absoluto que é o objecto do fantasma.

A partir daqui, a principal diferença entre a Psicanálise e a Psicoterapia,


nomeadamente Dinâmica, reside na face da fala que mais interessa
cada uma delas na abordagem do sintoma. Desenvolvo esta
diferença no seguinte esquema:

Psicanálise Psicoterapia (DS)


significante significado
associação livre atenção selectiva - entrevista (semi) directiva
interpretação - construção sugestão – correcção - adaptação
restos sintomáticos maturidade - normalidade
objecto irreal Eu ideal
tempo indefinido numero limitado de consultas

Enquanto talking cure, a Psicanálise interessa-se sobretudo pela


dimensão significante, fonética ou literal da fala do analisando, em
detrimento do significado, da opinião ou conceito que transmite, ou,
ainda, do sentido que se atribui ao sofrimento.

À função da fala no campo da linguagem, a Psicanálise acrescenta a


única regra compatível com este princípio: a associação livre verbal.

Mesmo que se sirvam da fala do paciente para escutar a sua queixa


e pedido de ajuda e compreensão, as consultas psicoterapêuticas
tendem a limitar a liberdade desta fala, pela atenção selectiva, as
entrevistas directivas e semi-directivas, um terapeuta interventivo
e focado, ou, mesmo, pela influência do grupo sobre o indivíduo.
A interpretação e a construção na Psicanálise baseiam-se

118
José Martinho

exclusivamente no que dizem os analisandos. Apesar da neutralidade


e da ausência de juízos de valor por parte do psicoterapeuta, a
tendência mais geral na Psicoterapia é para influenciar o paciente
através de algum tipo de sugestão.101

A Psicoterapia tenta corrigir os comportamentos inaptos e os


pensamentos enviesados, para ajudar o indivíduo a responder
devidamente às exigências do meio em que se insere. Mas a
interpretação do desejo, a reconstrução do passado e a construção
da lógica do fantasma na Psicanálise não visam adaptar ninguém a
nada.

A Psicoterapia procura tratar os distúrbios psicológicos (estados


emocionais perturbadores, imagens desfocadas, falsos testemunhos,
etc.) para promover o desenvolvimento do indivíduo, restabelecer a
saúde mental, atingir a normalidade e a maturidade equilibrada. Mas
como a Psicanálise sabe que existe algo de intratável na organização
do ser humano, dá sobretudo importância ao sintoma e suas
manifestações residuais. Ao invés de uma adaptação à realidade,
sempre problemática e instável, a psicanálise leva à identificação do
sujeito com o sintoma que lhe é mais próprio.

Para cumprir a tarefa médica de que se incumbiu, a Psicoterapia


procura fomentar uma boa relação de acompanhamento com o
paciente. Considera geralmente que esta relação depende de quatro
variáveis que interagem entre si: a empatia ou capacidade de entrar
no universo vivencial e genuíno do outro; a fé na reciprocidade ou a

101. A interpretação psicoterapêutica é confundida em certos casos com a avaliação


psicológica, em particular quando se aplica uma grelha de leitura prévia, muitas vezes
materializada em jogos, listagens, testes e questionários.

119
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

confiança mútua; a compreensão interna e a disponibilidade para a


mudança; e a congruência ou capacidade de integração psicológica
do que é aprendido, função tradicionalmente atribuída à síntese
da consciência. Estas quatro dimensões estariam, pois, na base da
adesão à Psicoterapia e sua manutenção.

Ainda que a Psicanálise reconheça a importância da relação que se


tem consigo mesmo, com outrem e com o mundo, ela sabe que o
sintoma central – que Freud chamava o “núcleo do ser” - deriva da
inexistência de uma relação simétrica, complementar e plenamente
satisfatória, mais particularmente da carência gerada pela não-
relação do sintoma com o Outro (sexo).

Ainda que algumas Psicoterapias admitam a neurose de transferência,


e falem da relação terapêutica em termos de transferência e
contratransferência, é geralmente o Eu atento e activo do terapeuta
que serve de ideal para o paciente, substituindo deste modo o
objecto do amor irreal que o analista incarna antes da dissolução da
transferência.

Isto faz com que estas Psicoterapias tenham geralmente de se


confrontar com as reacções do terapeuta ao paciente, com as
respostas sentimentais e intelectuais que ele dá às questões que o
outro lhe impõe. Entre raiva, receio e outros sentimentos mais doces,
a psicoterapia principal passa a ser aqui a do (Ego do) psicoterapeuta.
Ainda que o agir a contratransferência não seja a mesma coisa que
a análise da contratransferência, o problema de fundo permanece.

Por fim, e mesmo se tudo depende também da técnica e do caso,

120
José Martinho

a Psicoterapia considera geralmente importante fixar um número


limite de consultas para atingir rapidamente o bem-estar procurado.
Mas a Psicanálise esforça-se, durante o tempo que for necessário, por
assediar o irremediável mal-estar provocado por aquilo de que só o
sujeito é responsável, o real do sintoma que a Psicoterapia procura
em vão eliminar.102

3.2 A ENTREVISTA PSICOLÓGICA E CLÍNICA

Específica do psicólogo, a Entrevista Psicológica pode igualmente


ser o ponto de partida da série de entrevistas em que irá consistir
a Psicoterapia, nomeadamente a Psicoterapia Dinâmica, de Suporte
ou de Apoio.

Com a aplicação do decreto de Bolonha ao ensino superior, e a


criação da Ordem dos Psicólogos portugueses, passou também a
ser exigido ao Mestre em Psicologia Clínica, do Aconselhamento e
Psicoterapia um estágio profissional, um exame suplementar e uma
cédula profissional da sua área.

Até nova ordem, a formação específica em Psicoterapia permanece


da única responsabilidade das Associações, Sociedades Científicas e
outras instituições criadas para esse efeito.103

102. No Seminário XXIII, Le sinthome, Lacan diz que o sujeito falante apenas é
responsável do que sabe fazer (savoir-faire) com o seu sintoma. Esta responsabilidade,
que passa pela resposta sexual que o sujeito será capaz de dar, estende-se a todo
e qualquer artifício criado para lidar com o real que é impossível de dizer, pensar e
imaginar.
103. Só há cerca de quatro anos é que existem em Portugal Sociedades que dão uma
formação específica na área das Psicoterapias de Inspiração Psicanalítica, ao contrário
do que aconteceu com outro tipo de terapias, como as Breves, as Sistémicas e as
Cognitivo-Comportamentais.

121
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Mas o essencial continua a ser que nenhum diploma pendurado


na parede, nenhum estágio ou estudo aprofundado possa garantir
aquilo que é mais importante para o psicoterapeuta, a saber, que
ele deva tratar de si antes de tentar tratar um outro. Mais ainda,
nenhuma “técnica” se substituirá jamais ao carácter “didáctico” ou
“ético” de uma análise levada até ao fim.

A prática pode, ainda, exigir a intuição e a habilidade do psicólogo


clínico e do psicoterapeuta, bem como a sua inteligência,
sensibilidade e capacidade para se colocar no lugar de outrem, para
além da maturidade e da experiência que possam trazer os anos de
trabalho e o contacto directo e indirecto com inúmeras situações e
casos complicados.

Em que consiste a Entrevista Psicológica? Ela não é uma conversa de


café entre amigos, nem um interrogatório jornalístico ou policial. O
entrevistador deve ter cumprido pelo menos os dois Ciclos básicos
do ensino de um Curso de Psicologia, e feito um estágio académico e
profissional. Deve ter igualmente beneficiado do conselho dos seus
professores e da ajuda continuada de um supervisor.104

104. O que se chama “supervisão” ou “controlo” coloca vários tipos de problemas, a


começar pelo terminológico, já que o primeiro vocábulo refere a uma visão superior,
e o segundo a uma espécie de policiamento do acto terapêutico. A noção impôs-se
aos pós-freudianos, onde designa normalmente a continuação (num quadro diferente
da auto-análise) da análise do analista praticante. Ela está intimamente associada à
“contratransferência”, já que a supervisão visa também controlar o que faz o analista
quando analisa uma outra pessoa, em particular quando os seus sentimentos e (pré)
conceitos interferem no tratamento. A um certo nível, podemos dizer que esta prática
faz parte da grande desconfiança que os psicanalistas e psicoterapeutas têm de si
próprios, das reacções negativas e eróticas que podem ter na relação com os seus
pacientes. O aspecto positivo estaria no facto da supervisão permitir ver à distância
e melhor o que não convém que se faça e, assim, melhorar a qualidade da acção
terapêutica. As supervisões ou controlos costumam efectuar-se em consultórios
privados, nas Sociedades científicas e em algumas instituições da Saúde Mental. Pode

122
José Martinho

Podemos dizer que a Entrevista Psicológica é um encontro formal


previamente combinado, entre duas ou mais pessoas com papéis
bem definidos à partida, executada num determinado espaço, com
início e duração variáveis, e utilizando um conjunto de técnicas e
de teorias psicológicas para alcançar objectivos específicos, que
habitualmente se centram na recolha de informação.

No fundo, a Entrevista Psicológica não serve para obter dados


objectivos sobre o sujeito, mas sobretudo para ganhar o seu
assentimento, a sua confiança e eventual adesão a uma Psicoterapia.
Neste último caso, o “entrevistado” passa a ser chamado - de modo
impróprio, mas como normalmente se diz - “doente”, “paciente” ou
“cliente”.

As Entrevistas são instrumentos que podem ser utilizados na


investigação (teses, etc.), em estágios académicos supervisionados,
no estudo de casos, ou na clínica, com a finalidade de estabelecer um
diagnóstico, um prognóstico e um tratamento. Podem igualmente ser
entrevistas para a avaliação das competências escolares, profissionais
e desportivas, ou para detectar perturbações da personalidade
(psicopatia, sociopatia, perturbação paranoíde, histriónica, narcísica,
etc.) no contexto forense. Podem, ainda, ter fins meramente jurídicos
ou até financeiros.

também acontecer que haja supervisores dos supervisores, sem que se saiba então
muito bem ao certo onde este visionamento deve terminar. Para os psicanalistas de
“orientação lacaniana”, esta operação não faz parte da continuação da análise de um
analista que, em princípio, deve ter terminado a sua análise; ela pertence ao que Lacan
chamou a “transferência de trabalho”, a tarefa solidária entre membros da Escola a
propósito do psicanalisar e da construção do caso clínico.

123
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Existem três tipos de Entrevista Psicológica e Clínica:

1. Não directiva ou aberta. É a que se inspira mais da Psicanálise.


O entrevistador coloca perguntas não dirigidas e deixa o
paciente falar livremente. A vantagem é de se poder saber
mais sobre o sujeito. A desvantagem é que este também é
livre de não falar de si mesmo.
2. Directiva ou fechada. É o psicólogo que dirige aqui a
Entrevista; ele define os temas e não deixa o sujeito divagar.
Trata-se de uma Entrevista pré-estruturada. A vantagem é
de ser mais objectiva e sistemática. A desvantagem é de se
pode perder informação adicional importante. É a melhor
para o entrevistador com pouca experiência.
3. Semi-directiva: apesar de trazer tópicos para facilitar
a anamnese, o psicólogo apenas os pode introduzir
espontaneamente na conversa. Se não houver espaço para
tal, deixa para a próxima sessão.

Consoante o objectivo (investigação, clínica, avaliação, psicoterapia,


etc.) podemos ter entrevistas directivas e não directivas.

Técnica

Segundo Craig105:

1. Questionamento:
i. Não se podem fazer as mesmas perguntas e da mesma

105. CRAIG, R. J. (1989). Clinical and diagnostic interviewing. New York: Jason Aronson
Inc.

124
José Martinho

maneira a todas as pessoas.


ii. Aumenta a informação sobre o sujeito.
iii. Inclui perguntas abertas e fechadas.
iv. Não se devem fazer as perguntas e dar as respectivas
respostas. Por exemplo: “Hoje está ansioso, não está?”

2. Reflexão:
i. Dar a entender à pessoa que se está a compreender o que
ela diz e a pensar nisso.
ii. Repetir o que a pessoa diz e dar-lhe um feedback.

3. Confrontação:
i. Tem como objectivo esclarecer dúvidas que possam
surgir no entrevistador, principalmente quando aparecem
proposições contraditórias.
ii. Deve ter em atenção o tom de voz, o modo como se olha,
etc, para evitar toda a agressividade. Deve haver algum
cuidado para não confrontar directamente o paciente com
uma verdade que ele seja incapaz de aceitar.

4. Reformulação:
i. Procura-se devolver da maneira mais clara à pessoa o que
ela acaba de dizer.
ii. Facilita a compreensão do que a pessoa diz.

5. Silêncio:
i. O silêncio pode resultar de uma inibição (a pessoa não se
sente segura, etc.). Neste caso, é necessário dar-lhe mais
confiança, introduzindo por exemplo temas gerais.

125
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

ii. Silêncios defensivos: resistência do entrevistado face à


entrevista. Tem medo de ser prejudicado pelo que diz.
iii. Pausas: esgotou-se o que havia para dizer. O entrevistador
tem de introduzir outro tema mesmo que este não estivesse
previsto.
iv. Silêncios reflexivos: pensar no que foi dito na sessão.
v. Inerentes à doença. Por exemplo, a depressão é caracterizada
pela falta de iniciativa. É necessário que o entrevistador
estimule aqui a pessoa.
vi. Respeitar os silêncios e saber distingui-los.

6. Exploração:
Investigar áreas da vida da pessoa (pensamentos,
sentimentos, etc.). É semelhante ao questionamento, mas as
perguntas não são tão superficiais, servindo sobretudo para manter
a confiança ou restaurá-la.

7. Reestruturação:
A reestruturação cognitiva tem como objectivo reorganizar
o material e os conteúdos de modo que o entrevistado compreenda
melhor o assunto ou tema que apresenta. Por exemplo: se a pessoa
se queixa das relações pessoais no trabalho mas gosta do mesmo.

8. Interpretação:
Não deve ser utilizada em certos casos, porque pode
prejudicar a recolha de nova informação. Só deve ser feita por
entrevistadores experientes e com um bom conhecimento da pessoa.
Objectivo: clarificar a situação ou acrescentar algo à comunicação.
Por exemplo: uma pessoa passadas 2 ou 3 sessões não fala dela

126
José Martinho

própria. O psicólogo interpreta dizendo que ela se defende, mas tem


de ter a certeza que a pessoa vai aceitar a interpretação e que esta
está correcta. Nunca se fazem interpretações na 1ª ou 2ª entrevista.

9. Humor:
Pode ser utilizado como desdramatização. Há que ter cuidado
para não desvalorizar o que a pessoa está a dizer ou para esta julgar
que não há compreensão. Pode servir para criar um distanciamento
em relação ao que é dito, ou uma certa descontracção quando a
pessoa não consegue falar.

Isabel Leal acrescenta mais três itens aos precedentes:

- A generalização, que visa mostrar a extensão que tomou o tema


dominante.
- A focagem, que identifica um tema importante e se centra nele.
- O ecoar, que repete uma palavra ou uma interrogação para mostrar
que se reconheceu o problema.106

Funcionamento e regras

- Primeiro encontro com o entrevistado. Muitos psicólogos


consideram geralmente que é importante ir buscar o entrevistado
à sala de espera. Se a pessoa faz o movimento de vir ter com o
psicólogo, este deve dar-lhe o feedback. Isto ajuda a transmitir que
está disponível. É importante que se veja como está o indivíduo,
se ele vem acompanhado, se parece ansioso, etc. Até chegar ao
gabinete obtêm-se bastante informação. Entrar os dois lado a lado

106. Cf. LEAL, I. (1999). Entrevista Clínica e Psicoterapia de Apoio. Lisboa. ISPA.

127
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

desde o primeiro momento.

- Ao entrar no gabinete. É importante dar espaço para a pessoa


escolher o lugar onde se quer sentar (ter cadeiras iguais, etc.). Em
relação às famílias deve-se ver que cadeiras são escolhidas e por
quem. Normalmente a pessoa que escolhe a cadeira mais perto da
porta é o elemento mais resistente.

- O setting é o espaço do gabinete. Duas pessoas diferentes ou mais


vão aí se ajustar. Podem-se introduzir perguntas como: “Deu bem
com este sítio?”; “Foi difícil?”. Serve para criar desinibição, conforto
e habituação. Importância de ser sempre o mesmo gabinete (se
possível), disposto da mesma forma e com boa insonorização
(isolamento acústico).

- Reforçar a confidencialidade e a confiança. Explicar que aquilo que


será dito na consulta não vai ser conhecido fora dela. Importância de
ser sincero.

- Reformular o problema. Ajudar a pessoa a formular de novo o seu


problema, até porque as queixas não são específicas de diagnóstico.
Por exemplo: “Ando a sentir-me em baixo.” O psicólogo pergunta: “
mas o que quer dizer com sentir-se em baixo?”; o sujeito acrescenta:
“às vezes choro…”

- Informação prévia acerca do entrevistado. É importante dizer à


pessoa a informação que já se tem sobre ela (através de familiares,
círculo de amigos, etc.), por causa do sigilo e da confiança.

128
José Martinho

- Tempo da Entrevista. Considera-se normalmente necessário um


limite de tempo para a pessoa se poder organizar. Entre os 50-60
minutos. A primeira entrevista leva mais tempo, pode chegar aos
70-90 minutos. É importante a flexibilidade ser de 5-10 minutos
no máximo para não haver contratransferência. Dar mais minutos
a uns do que a outros não é bom. Os sujeitos não devem adquirir
este hábito. É melhor um tempo igual para todos os entrevistados
ou doentes.

Na Entrevista Clínica propriamente dita, o mais importante será


sempre a relação paciente/psicoterapeuta. É uma relação de
proximidade mas com distância para o psicólogo não julgar, nem se
envolver nos problemas do paciente. Importância do equilíbrio da
relação. Nunca trocar de papéis. O entrevistador não pode aceitar
perguntas nem falar da sua vida.

Estudo de Casos

O Estudo de Caso sistematiza a informação recolhida na Entrevista.


Define a série de parâmetros que se deve recolher para o diagnóstico.
Inicia-se com o motivo da consulta e é finalizado com o projecto
de intervenção. Enquanto instrumento, envolve dificuldades
metodológicas: não é possível realizar o Estudo de Caso da mesma
maneira para diferentes pessoas. Portanto não devem ser utilizados
Questionários. É necessário adaptar o Estudo à pessoa e sua
problemática.

É necessário ter um bom domínio do que se irá abordar (infância,


família, etc.).

129
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Duas dimensões estão relacionadas com o Estudo de Caso:

a) A história pessoal ou biográfica da pessoa, desde que nasceu até


ao momento em que adoeceu; à qual se irá juntar a história médica
de todas as doenças do seu desenvolvimento. b) A história clínica,
toda a sintomatologia da doença actual e o seu impacto na pessoa.

Podem ser recolhidos vários tipos de dados para o Estudo de Caso:

- Identificação: nome, idade sexo, nacionalidade, etnia, área de


residência; etc.

- Motivo da consulta: resumo da primeira descrição que a pessoa faz


da sua doença.

- Fonte das informações: se vêm todas do entrevistado ou em


conjunto com familiares, amigos, etc. Considerar a forma como
são apresentados os conteúdos (por exemplo, se a pessoa conta a
mesma história de várias maneiras, a validade não é boa). É também
importante ver como a pessoa narra o conteúdo (se chora, ri, sente
raiva, etc.). Notar os aspectos gerais do observado, postura, aspecto
ou tipo (pícnico, leptossómico, atlético, etc.).

- Descrição da pessoa. Se tem um ar cuidado ou descuidado,


excêntrico, se a idade corresponde à aparência. Se está tensa ou
descontraída durante as sessões. Se a linguagem corporal ou as
mímicas são pobres ou ricas. Se a expressão da linguagem é fluente.
Se o contacto estabelecido com o médico é sintónico ou superficial,
com conteúdos banais e mecanismos de defesa (falta de esperança,

130
José Martinho

agressivo, distante).

- Queixas. O que perturba pode não estar relacionado directamente


com o motivo da consulta (tristeza, a família não o compreende,
etc.). Os antecedentes pessoais, por exemplo, gravidez não planeada,
doenças ou situações fora do normal, etc.

- Desenvolvimento psicossomático, físico e psicológico (por


exemplo: período de amamentação, idade com que começou a
andar, controlo dos esfíncteres, idade com que começou a falar,
etc.). Sinais psicopatológicos (enurese, terrores nocturnos, etc.).
Educação e desenvolvimento intelectual (adaptação escolar, amigos,
professores, desenvolvimento escolar, actividades e brincadeiras,
etc.). Adolescência: como foram vividas as mudanças da adolescência,
a relação com a família relativamente ao testar de limites, a
sexualidade, o consumo de substâncias como o álcool. Entrada
na idade adulta: namoro, relação social, experiência profissional,
percurso de estudos (curso desejado ou não, seu desempenho).
Serviço militar (adaptação, relações, etc.).

- Personalidade Pré-mórbida: funcionamento da pessoa antes


de adoecer. Se era alegre, triste, introvertido ou extrovertido, etc.
Há pessoas deprimidas que têm dificuldade em exprimir estas
sensações do antes. Antecedentes mórbidos pessoais, outro tipo de
doenças como internamentos por operações, ou doenças diferentes
não habituais. É importante perguntar a idade da pessoa quando
a doença ocorreu e que consequências teve para ela e para a
família. Antecedentes familiares (história de 3 gerações; separações,
acontecimentos fora do normal, ambiente familiar; relações

131
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

significativas, etc.). Antecedentes familiares mórbidos (doenças na


família principalmente psiquiátricas, se sim quais as consequências
e mudanças; tentar especificar a doença). Exame psíquico (atenção,
memoria, percepção, etc.). Sintomas psico-fisiológicos ou alterações
que acompanham a doença. Se vêm através de relato da pessoa ou do
relatório médico; exames complementares de diagnóstico (qualquer
técnica que ajude ao diagnóstico, tanto Psicométrica/Questionários,
Mini-Multe, IOC, SCL-90-R, BDI, como de teste Projectivo, Rorschach,
etc.). Factores desencadeantes: factores que permitem que a doença
se manifeste num determinado momento.

Considera-se geralmente que a impressão diagnóstica deve ser


pensada em termos temporais e com base no CID-10 ou no DSM-IV.
- Prognóstico: dizer qual será a evolução mais provável através
da idade, o suporte social, familiar e profissional. Tentar com que
a pessoa tome mesmo a medicação caso seja necessária e que
compreende o problema de deixar de tomar. Projecto terapêutico:
importância de encaminhar o caso para um psiquiatra se o psicólogo
não consegue lidar com ele.

- Follow-Up: reavaliação depois de 6 meses. Verificar se a doença se


agravou; se a pessoa cumpriu à risca com a medicação; se a doença
melhorou, ou se não, o que correu mal, etc.

Papel do psicólogo

Apresentação do psicólogo/psicoterapeuta e a sua postura. Segundo


vários códigos deontológicos, este não deve ser apresentado ao
doente num espaço social, mas conhecê-lo apenas no espaço do

132
José Martinho

gabinete. Se encontrar a pessoa na rua não deve permitir que a


sessão seja transferida para outro espaço que não o gabinete. O
técnico entrevista a pessoa, mas esta não o entrevista a ele; não o
pode por conseguinte questionar em relação à sua vida pessoal. A
assimetria relacional deve ser mantida. Importância de pensar no
facto de dar ou não o número de telemóvel. Benefícios. Não se devem
obter benefícios a não ser para a relação terapêutica. Por exemplo: se
o paciente é mecânico e se oferece para fazer uma reparação mais
barata, o psicólogo não pode aceitar.

Ofertas e prendas. Também não deve aceitar prendas porque não


as pode retribuir. Por vezes, tem de haver algum cuidado para a
pessoa não ficar magoada; neste caso pode aceitar-se a prenda,
mas explicando que isso não pode voltar a acontecer. Podem-se no
entanto receber lembranças de Natal, etc. Receber prendas fora de
épocas festivas significa que a relação entre o paciente e o terapeuta
está mal estruturada, pode ser uma chamada de atenção, uma
tentativa de “comprar” o técnico, etc.

Registo da informação

Mesmo se este procedimento levanta várias questões deontológicas,


há quem considere necessário e útil – até por razões didácticas – um
certo tipo de recolha de informações, por meio de:

- Notas escritas: tem vantagens e desvantagens. A maior vantagem é


de se poder anotar tudo o que se entende; e depois fazer Relatórios.
A desvantagem é que não se presta tanta atenção ao sujeito, e não
ter como informação a componente não-verbal. Prestar atenção

133
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

significa que se está disponível.

- Gravador: carácter inibitório, apesar de ter de haver permissão para


o uso do mesmo.

- Vídeo: registo mais completo do que efectivamente se passa, mas


com um forte carácter inibitório. Também com a devida autorização
dos pacientes é mais utilizado em Terapia Familiar, porque tem como
objectivo o posterior visionamento com o técnico.

Podem-se combinar os três meios. No entanto, se verificamos que


o gravador ou o vídeo são demasiado inibitórios e desconfortantes
para a pessoa, apesar da sua permissão, retiramos esses elementos.
Se é uma pessoa que necessita muito de contacto visual, paramos de
anotar. Se anotamos, convém anotar sempre a mesma quantidade
de informação para não haver julgamentos do tipo: “Hoje escreveu
muito portanto tenho muitas doenças, ou disse coisas muito
importantes”. Quando há esquecimentos pode-se voltar ao assunto
na próxima sessão.

Factores condicionantes

a) Factores relacionados com os objectivos.


b) Factores relacionados com o entrevistador.
c) Factores relacionados com o entrevistado.
d) Factores relacionados com o setting.

a) Os objectivos do entrevistador e do entrevistado devem ser


semelhantes. É importante fazer a clarificação do objectivo logo na

134
José Martinho

1ª entrevista, assim como das intenções do paciente em relação ao


técnico.

b) Situação do entrevistador: a situação biológica interfere quando,


por exemplo, se está com gripe, febre, sono de 2h.

- Situação afectiva: o entrevistador tem de estar equilibrado


psicologicamente para não se sentir atingido quando ocorrem certos
impactos (testemunhar uma vida parecida com a dele). Tem de dar a
noção de que é estável. Aqui é importante a supervisão porque desta
forma podemos perceber porque razão consegue ou não lidar com
a pessoa.

- Termos linguísticos. Linguagem simples, clara e acessível, porque


se irá lidar com pessoas mais e menos diferenciadas. Adequar
a linguagem à pessoa, sem utilizar a “sua” linguagem (caso dos
toxicodependentes). Evitar utilizar a linguagem técnica da Psicologia.

- Honorários. Deve sempre existir um pagamento, nem que seja


simbólico. O pagar tem uma relação com o trabalho profissional.

- Compromisso institucional. Pode prejudicar a entrevista porque


pode haver complicações em termos do entendimento. Tem
de se tentar explicar o nosso papel e abdicar de certos termos
(flexibilidade).

- Poder. Apesar de a relação ser assimétrica, o objectivo não é ser


melhor que o entrevistado. A assimetria tem relação com o papel
do técnico. Não se pode provocar mudanças nas pessoas mesmo

135
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

que nos seja dado esse poder, porque as pessoas têm de tomar a
sua própria decisão. Apenas se pode avaliar e ajudar as opções.
Por exemplo: não dar opiniões sobre um possível divórcio porque
isso vai provocar uma mudança que a pessoa não decidiu; ela está
apenas a pedir uma opinião.

c) Situação biológica do entrevistado. Não se deve fazer entrevista


com, alguém que não se sente bem fisicamente e está desejoso de
acabar a entrevista para ir embora. Durante as entrevistas a pessoa
não pode consumir nada. Combina-se isto na 1ª entrevista.

- Situação afectiva. Deve se permitir que a pessoa tenha todos os


desequilíbrios (choro, raiva, etc.). Não fazer a pessoa ansiosa por
se estar a tentar controlar esses desequilíbrios. É importante que
a pessoa exprima os seus sentimentos. A pessoa tem de se sentir
apoiada. Não deixar a pessoa sair do gabinete desorganizada.

- Situação linguística. Importante que a pessoa utilize a sua própria


linguagem para definir o que sente.

- Situação económica. Tenta-se perceber se vão existindo mudanças


a este nível uma vez que pode levar ao desistir da consulta.

- Situação ideológica. Preparar-se para ideologias diferentes das


nossas. Mesmo que a pessoa pergunte não podemos dar informação
sobre nós.

- Compromisso institucional. O técnico ligado a uma instituição


pode dar uma imagem errada ao entrevistado, criando instabilidade,

136
José Martinho

inibição e resistência ao mesmo. Por exemplo: num hospital


psiquiátrico, a pessoa pode pensar que é “maluca”; na prisão, pode
pensar que o técnico faz parte do sistema como os guardas, e que
aquilo que o entrevistado disser vai ser usado contra o mesmo. É
importante reforçar a confidencialidade. Em relação à prisão temos
de ter cuidados para dar a entender que o sigilo é só sobre coisas
que podemos saber. O que não convém saber é melhor não ser
dito pois o psicólogo – que não está acima da lei - perante certas e
determinadas coisas tem de agir.

- Nível do compromisso familiar. A intervenção familiar pode


facilitar ou comprometer a entrevista. Facilitar porque temos mais
informação sobre o sujeito; comprometer se o psicólogo deixar que
se sobreponham ao sujeito na entrevista. A intervenção familiar tem
de ser acordada pelo sujeito. Apenas é necessário se este é uma
criança ou um doente que não tenha noção da crítica. É necessário
explicar que há importância do familiar se juntar e que este só vai
falar na sua presença.

- Situação de poder. Não se pode permitir que o entrevistado se


coloque numa posição de maior poder (indicador de inibição/
mecanismo de defesa). É necessário, então, reforçar a confiança e a
disponibilidade.

- Mito e estatuto do “louco”. Há doentes que valorizam ou


desvalorizam a sua doença. Valorizam: pessoa que esteja mais frágil
emocionalmente e tem tendência para exagerar. Acontece, por
exemplo, quando as pessoas querem reforma antecipada e mentem
para obtenção da mesma; pessoas que querem permanecer no

137
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

hospital psiquiátrico porque lá têm maior conforto, ou porque não


têm ninguém cá fora.

d) Condições da sala.

- Insonorização: não nos ouvirem, nem ouvirmos os outros.

- Sem objectos demasiado personalizados como fotos para o sujeito


não perceber a nossa pessoa.

- Se parece cheia de diplomas, inibe.

- Móveis de nível normal para não ofender algumas pessoas.

- Boa luminosidade, ter cuidado para não entrar o sol pela janela de
encontro à cara do psicólogo ou do paciente.

- Cadeiras ou sofás iguais; uma secretária - ligação com realização


de testes e não com uma barreira física – que pode ser confundida
com a indisponibilidade. As cadeiras não devem ser demasiado
confortáveis ou desconfortáveis. Quando colocadas frente a frente
são demasiado intimidadoras e intrusivas.

- Aquecimento/ar condicionado.

Pequenos reparos

Considera-se sempre que o entrevistador deve ser uma pessoa


idónea, respeitadora e com um espírito aberto. Mas ele pode muito

138
José Martinho

bem ter este perfil psicológico sem possuir a mínima competência


em Psicologia, Clínica e Aconselhamento. Por esta razão, é-lhe exigida
uma formação específica e um treino, e que aprenda a entrevistar
entrevistando.

Mas o problema de fundo reside no facto que aquilo que é observado


depende de quem observa, e que quem é entrevistado depende do
entrevistador, melhor dizendo, das fronteiras do seu Ego.

O real limita sem ter limites. O recém-nascido, por exemplo, não


distingue propriamente entre o Tu, o Eu e o Não-Eu. É pouco a pouco
que começa a sentir-se o mesmo, uma unidade separada do resto. A
criança é objecto para o outro, mas o seu Ego só se constituirá por
intermédio de uma primeira imagem autónoma de si, semelhante
àquela que reconhece - com júbilo e aproximadamente entre os 6 e
os 18 meses - no espelho. Ao que melhor caracterizava a criança até
então – e que é menos a individuação biológica do que a identidade
simbólica do nome e apelido dado pelos pais -, vem juntar-se a
identificação imaginária do Ego. Uma vez constituído, este segue um
desenvolvimento desigual: físico e moral. Entretanto, o Ego começa
a pensar que é diferente de tudo o que o rodeia, que possui um
corpo, uma voz, uma vontade, um sentimento próprio. As fronteiras
do Ego podem atrofiar-se ou expandir-se, mas terão sempre de ser
redefinidas ao longo da existência, em particular porque haverá
de reconhecer um outro Ego, outros Egos, toda uma sociedade. A
alternativa acaba por ser: a relação ou a solidão.

É muitas vezes no ponto crítico da solidão que começa o pedido de


ajuda e a resposta da Entrevista Psicológica, Clínica e Psicoterapêutica.

139
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

De um lado temos o Ego saudável, verdadeiro, bom, bem equilibrado


do psicólogo ou do psicoterapeuta; do outro lado, temos a solidão
esquizoide ou até psicótica, depressiva, perturbada, neurótica do
cliente.

A intenção do psico-terapeuta vai habitualmente no sentido de


privilegiar o contacto e a comunicação. Mas ao seguir o caminho da
relação, a Psico-Terapia perde muitas vezes a noção da importância
da não relação, não só da fatalidade da solidão, como do que esta
pode ter de positivo, melhor dizendo, do que o sintoma individual
traz como benefício.

Querer o bem do necessitado é uma acção que o psicólogo só


acredita normalmente ser possível graças a um reforço do Ego. Por
vezes, julga mesmo que é preciso cimentar os alicerces de um Ego
muito só e pouco sólido, fraco, doente; neste caso, antes mesmo
de promover o crescimento, o psicoterapeuta pensa que o seu
primeiro dever é servir de modelo ou de exemplo para o debilitado.
Começa, então, por se fazer o espelho reconstituinte da identidade
perdida ou da unidade fragmentada do Ego do outro. Convém,
ainda, sublinhar que o terno “Entrevista” engana, já que remete para
aquilo que se entrevê, no fundo, para a vista. Ora, o olho clínico faz
tradicionalmente acreditar que a comunicação mais importante é a
“não-verbal”,107 crença que levar muitas vezes à ideia estapafúrdia
107. “Comunicação” (do latim comunicatio-onis) significa tornar comum (communis),
comungar. Comunicar é trocar ideias, experiências e sentimentos entre pessoas que
conhecem uma língua, o significado do que aí se diz, e o que se pensa e faz com
isso. A Teoria da Comunicação moderna supõe a existência de um “código”, que em
última instância é a linguagem, ou uma linguagem mais (matemática) ou menos
(língua materna) bem-feita. Para estabelecer a comunicação é necessário que existam
os seguintes elementos: o “emissor”, que é o ponto de partida ou quem transmite
a mensagem. O “receptor”, que é o destinatário da mensagem ou do conteúdo da

140
José Martinho

que a essência do inefável é o melhor “revelador”108.

comunicação. O emissor cifra a mensagem no código comum e o receptor escuta, lê e


interpreta a mensagem, descodifica-a ou retira o seu significado. O “canal” é o médium,
o suporte que serve de veículo à mensagem (ar, rádio, jornais, telefone, livros, etc.).
Para que o emissor verifique se a sua mensagem foi correctamente recebida, deverá
obter uma informação de retorno (feedback). A informação exige apenas um sentido,
ao passo que a comunicação exige os dois sentidos. Não existe, pois, comunicação
sem feedback. Por generalização deste esquema, qualquer comportamento pode
passar a ser considerado comunicação; até mesmo o silêncio se torna uma forma de
comunicação. A comunicação envolve, assim, dois aspectos: o conteúdo ou significado
da mensagem; e a forma (verbal ou não verbal). A comunicação verbal é digital, lógica,
analítica e sintética; estabelece-se através de signos (significantes), cuja relação com a
significação é convencional; esta comunicação pode ser oral (conversa, etc.) ou escrita,
(mensagens de telemóvel, computador, etc.). A comunicação é propensa a erros,
que envolvem a antecipação, as expectativas, os lapsos, a distorção na transmissão.
Todos estes problemas podem ocorrer durante a troca de informações, por exemplo
quando se fala muito depressa, quando se usa uma fraseologia incorrecta, ou quando
o ruído é intenso, interferindo na qualidade da comunicação. Por sua vez, considera-
se que a comunicação não-verbal ou analógica se efectua através de sinais que tem
uma relação de semelhança com o que se pretende comunicar. Os principais meios
não-verbais de comunicação do ser falado/falante são o olhar, a expressão facial, o
toque, a postura, os movimentos corporais e a distância física. Outras informações
podem ser transmitidas também pela maneira de falar (tom de voz, velocidade,
pausas, etc.). A velocidade da fala e o tom de voz podem denotar ansiedade; um outro
aspecto importante de qualquer conversa é o modo como o emissor pode mudar,
as interrupções e a facilidade com que uma pessoa dá a palavra a outra. A expressão
facial é importante para a comunicação dos estados emocionais básicos, como a
alegria, o medo, a raiva, o nojo, a tristeza, o interesse, o desprezo, etc. A tristeza e a
raiva são principalmente transmitidas desta forma, mas todas as expressões faciais
podem ser disfarçadas, e as da raiva, medo, desprezo e nojo deverão mesmo sê-lo na
maioria dos casos. O olhar normalmente é breve. O olhar que fixa prolongadamente
quem não nos é íntimo é normalmente interpretado como ameaçador. O toque,
através de um aperto de mão pode ser significativo da personalidade da pessoa; a sua
postura é também reveladora, uma vez que temos tendência a nos inclinar perante as
pessoas com as quais concordamos, ou de quem gostamos, e afastarmo-nos de quem
nos desagrada, ou não concordamos, ao mesmo tempo que evitamos cruzar o olhar,
ou que nos distraímos brincando com qualquer objecto, como um lápis. Deste ponto
de vista, o “frente a frente” proporciona maior confronto. Balançar a perna, bater os
dedos e encolher os ombros, indica frustração, desacordo e tensão, pelo que devem
ser evitados.
108. A questão do não-verbal coloca-se particularmente a propósito da Psicoterapia
de crianças de pouca idade, já que Psicanálise de crianças não existe propriamente,
havendo apenas psicanalistas que se ocupam de crianças em instituições ou no
privado. Na Psicoterapia de crianças utilizam-se recursos como jogos, desenhos,

141
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

O “não-verbal não é o “pré-verbal”. Na verdade, o pré-verbal não


existe para quem já nasce num mundo estruturado pela linguagem.
Não-verbal é, por exemplo, a expressão facial da emoção de um ser
falado/falante; mas pode também ser um pensamento enviesado, ou
um distúrbio comportamental que provoque uma má adaptação do
indivíduo ao grupo. Este privilégio dado à vista, em detrimento dos
efeitos somativos, psíquicos e epistémicos da palavra, leva muitas
vezes a pensar que aquilo que cabe essencialmente ao psicólogo,
clínico e psicoterapeuta, é ver, olhos nos olhos, o que o entrevistado
não vê.

Moreno quer mesmo arrancar os olhos do outro: “um encontro de


dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-
te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; e arrancarei os meus
olhos para colocá-los no lugar dos teus; então ver-te-ei com os teus
olhos e tu ver-me-ás com os meus.”.

Dou agora o exemplo de um caso clínico relatado numa reunião


académica sobre a Entrevista Psicológica para que o leitor possa
entender melhor aquilo a que me refiro:

Um homem de quarenta e cinco anos conta na sua primeira en-


trevista que se vai divorciar pela terceira vez e que está muito
feliz. O psicólogo observa a instabilidade postural do paciente,
bem como o facto que ele tem as mãos a suar enquanto fala

brinquedos, o computador e outros elementos oportunos. A criança que não


consegue falar sobre os seus problemas pode servir-se destes instrumentos para
revelar a causa da sua dificuldade. Através deles, pode adquirir maior maturidade,
aprender a conhecer limites, a desenvolver o seu raciocínio, a concentrar-se, a prestar
mais atenção. Mas histórias, cantigas e outras brincadeiras utilizadas na Psicoterapia
de crianças são sobretudo técnicas para as ajudar a falar, para fazer com que acabem
por dizer alguma coisa que permita entender devidamente o problema e resolvê-lo.

142
José Martinho

Que fazer com esta postura, suor e tremores? Se o psicólogo está


particularmente interessado no “não-verbal”, pode, por exemplo,
querer inspeccionar ou até espiar todas as atitudes do paciente.
Como já referimos, há mesmo quem pretenda que se devia observar
o comportamento dos doentes na sala de espera, ou até saber como
eles chegam da rua, o que implicaria que se colocassem câmaras de
filmar à porta do consultório. Como parar esta vontade de ver tudo
tão característica da nossa época?

Mas se o psicólogo clínico ou o psicoterapeuta abandonar a vontade


de ver para tentar verbalizar o “não-verbal”, pode imaginar o suor
e o tremor do paciente de várias maneiras. Quem sabe se não dirá
ao paciente: “o Sr. está a mentir, afirma que está feliz, mas ninguém
pode estar feliz depois de um divórcio”; e acrescentar: “a prova da sua
instabilidade é que o Sr. está a tremer e a suar das mãos”.

Suponhamos que o paciente sofre de parkinsonismo ou de


qualquer outra doença que provoque a instabilidade postural
e os tremores. Neste caso, não apreciará certamente o que lhe
disse o psicólogo. O desconforto sentido pode mesmo levá-lo a
abandonar definitivamente as consultas. Daí que alguns aconselhem
paradoxalmente que se observe, mas que não se interprete, pelos
menos nas primeiras sessões.

Este pequeno aparte para dizer que, se é mesmo falso que um


divórcio possa trazer felicidade, esta falsidade ou fantasia virá à fala
mais cedo ou mais tarde. O psicólogo apenas deve começar por
respeitar o timing do sujeito que o procura. O que ele terá de fazer
em seguida – por exemplo lidar com a transferência sem ter sido

143
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

analisado – será certamente muito mais difícil.

A inflação ao nível da técnica apenas revela um défice ao nível da


ética. Quando o desejo – base da ética da psicanálise – coxeia, é
preciso muita bengala técnica para o suportar.

3.3 PSICOTERAPIAS BREVES

Mesmo que todas as terapias sejam breves quando comparadas com a


Psicanálise109, as chamadas “Psicoterapias Breves” são procedimentos
terapêuticos oriundos das psicanálises curtas praticadas por Freud
nos primeiros tempos.

Elas acabaram por seguir dois principais caminhos: o primeiro


começou nos anos 1920, na escola psicanalítica austríaca (Rank) e
húngara (Ferenczi), e mais tarde, com a guerra, foi até ao Reino Unido,
onde beneficiou da teoria das “relações de objecto” (Fairbain, Klein e
Winnicott) e sobretudo das experiências da Tavistock Clinic (Balint).
Nos anos 1950, este caminho foi designado como o da Intensive
Short-Term Dynamic Psychotherapy (David Malan).

O segundo caminho começou com a emigração dos psicanalistas


europeus para o continente americano. Prosseguiu nos Estados
Unidos da América com Franz Alexander (Chicago), Mann (Boston) e

109. Não me refiro apenas ao que se chamou, na International Psychoanalytical


Association (IPA), a standard cure, de quatro sessões semanais de tempo fixo – a famosa
“hora de cinquenta minutos” -, antecipadamente programadas para que o paciente
não falte ou tenha de pagar caso falte, durante pelo menos dez anos. Mesmo se a
sessão e a série das sessões não têm horário pré-estabelecido (por relógios, agendas,
etc.), a análise de “orientação lacaniana” também consome muito mais tempo do que
uma psicoterapia individual ou de grupo.

144
José Martinho

Sifneos (Belmont); e, no Canadá, com Davenloo.

Em síntese, a primeira via é a das Psicoterapias Breves Dinâmicas ou


Psicoterapias Breves de Inspiração Psicanalítica (PBIP); e a segunda
a das Breef Therapy, das Psicoterapias Breves, em geral, campo onde
irão aparecer também as Terapias de Apoio e as Técnicas Cognitivo-
Comportamentais.

Actualmente, existem várias propostas de Psicoterapias Breves.


Messer e Warren agrupam-nas em três Modelos: 1) o Estrutural (que
procura identificar o conflito primário da personalidade do cliente
no interior da sua actual problemática); os autores mais conhecidos
desta perspectiva são Malan, Sifneos e Davanloo. 2) o Relacional
(interessado sobretudo na relação contra-transferêncial); os autores
de referência são aqui: Luborsky, Horowitz, Strupp e Binder. 3) o
Integrativo ou Eclético, que procura integrar técnicas e conceitos
de diferentes quadrantes, para adaptar melhor a psicoterapia ao
paciente e não o contrário. Falarei adiante do mais reputado autor
português deste “Modelo Integrado”, Pedro Lau Ribeiro.

Como já referi, foram Otto Rank (1924) e Sandor Ferenczi (1918,


1927) que propuseram pela primeira vez técnicas visando encurtar
o tempo de um tratamento psicanalítico que parecia se alongar cada
vez mais.

A “técnica activa” de Ferenczi devia sobretudo servir aos terapeutas


mais experientes para intensificar a relação transferêncial e obter
deste modo resultados mais rápidos.

145
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

A aplicação desta técnica ao que Balint chamou a “lacuna básica”, e


o recomeçar (new begining) que uma tal acção devia proporcionar,
conduziram Malan e Sifneos à reelaboração dos conceitos de “Foco”
e de “Psicoterapia Focal”.

O conceito de “Foco” veio de Stekel e é inerente à “terapia sectorial”,


centrada no sintoma alvo.

O “Foco” é a área que se delimita para ser trabalhada no processo


terapêutico através de avaliação e planeamento prévios.
Normalmente, o conflito focal é consciente ou pré-consciente, mas
remete para o “conflito nuclear”, inconsciente, oriundo da infância e
mais difícil de abordar.

A focalização não é a única técnica utilizada nas Psicoterapias Breves.


Outras técnicas vão ser desenvolvidas por Alexander e French
(Experiência Emocional Correctiva), McCullough (a Integração das
Tácticas Terapêuticas) e Malan (Triângulos: do Conflito, do Insight,
etc.).

Balint disse que a Psicoterapia Breve era uma “Psicanálise aplicada”.


Mesmo que não seja a “Psicanálise pura”, a Psicoterapia Breve procura
que o inconsciente se torne consciente, ainda que dirigindo a fala do
paciente para o que o terapeuta considera mais vantajoso.

Apesar de influenciado por Balint, Malan era da opinião que o


terapeuta breve se devia preocupar “mais com o futuro e menos com
o passado”. Para tal, deveria adoptar posturas activas e intervir no
tratamento no sentido de reeducar o comportamento do doente.

146
José Martinho

A atitude do terapeuta relativamente aos sintomas do paciente e


à obtenção de um equilíbrio estável devia fazer-se na base de um
sentimento de segurança. Mas há igualmente quem defenda, na
esteira de Ferenczi, uma estratégia mais activa e até agressiva, com
uso de técnicas como a confrontação e a clarificação.

Discípulo de Malan, Sifneos – pioneiro da Short-Term Anxiety


Provoking Psychoterapy (STAPP) – propôs que se fizessem
Psicoterapias Ansiolíticas Breves, para poder intervir em situações de
crise (intervenções até dois meses) e a curto prazo (de dois a quinze
meses).

As Psicoterapias Breves mais longas deviam focar-se no complexo de


Édipo. Actualmente, há também quem pense que o psicoterapeuta
tanto se pode focar neste tema, como em qualquer outro escolhido
juntamente com o paciente.

Em resumo: em toda a Psicoterapia Breve existe um processo


planeado, com foco, objectivo e estratégias terapêuticas
estabelecidas a partir da compreensão do caso. O desenvolvimento
deste processo pressupõe, pois, um esquema geral, que parte do
diagnóstico que é elaborado na entrevista inicial e vai até à remoção
ou, pelo menos, o alívio dos sintomas que o paciente trouxe para
a terapia. As Breves podem deste modo não ser tão breves quanto
isso. O que é sempre exigido é que o paciente seja capaz de falar
de si com sinceridade, e de definir, juntamente com o terapeuta,
as principais metas da terapia. Os silêncios, os atrasos, as faltas e
o desvio da conversa para outros assuntos devem ser vistos como
resistências e, logo, ser desencorajados.

147
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Ao abordar os diferentes níveis de conflito no interior de um


Foco, aquilo que se espera atingir e resolver é o “conflito nuclear”.
A “ramificação” de todos os conflitos constitui a estrutura da
personalidade, cuja análise completa é efectuada nas psicoterapias
longas. O objectivo das Breves é sobretudo fazer com que os traços
de personalidade que desadaptam o indivíduo se transformem em
traços adaptativos. Nos casos de pacientes mais ambiciosos, pode
ser-lhe proposta uma Psicanálise.

É necessário efectuar uma selecção cuidada dos pacientes em


Psicoterapias Breves, segundo a gravidade dos sintomas e a patologia
subjacente. As Breves são indicadas para crianças ou adultos com
estruturas neuróticas, ou com perturbações pós-traumáticas sem
grandes complicações. Mas são contra-indicadas para indivíduos
com um Ego muito frágil, ou que lidam bastante mal com a perda, o
abandono e a rejeição.

O paciente ideal para a Psicoterapia Breve costuma ter problemas


focados, espírito de sacrifício, motivação, inteligência, boa
capacidade de introspecção e de vinculação ao terapeuta. Na
verdade, poucos são os que se enquadram neste perfil psicológico.
Dado que as Psicoterapias Breves são por definição incompletas, e o
seu tempo limitado, é necessário que se aborde precocemente nelas
as questões relativas à duração e aos objectivos do tratamento.

Na prática, o paciente senta-se frente a frente com o psicoterapeuta,


em sessões que podem variar entre uma ou duas vezes por semana
inicialmente, tornando-se mais espaçadas quando se aproxima o
final.

148
José Martinho

No início, destaca-se a interpretação dos elementos do conflito:


sintomas, impulsos, desejos, sentimentos, mecanismos de defesa.
Num segundo momento interpreta-se o conflito nas diferentes
situações interpessoais: transferência, relação com pessoas
significativas da vida actual e da passada.

Segundo Fonseca (1988) “o numero de sessões é controlado pelo


paciente, que, ao sentir que o seu problema está resolvido, deixa de
comparecer.”

Costuma-se distinguir três tipos de Psicoterapias Breves:

A Psicoterapia Breve mobilizadora, em que se trata sobretudo


de dissipar a ansiedade contida nos processos mórbidos de um
paciente ainda muito ligado aos seus habituais mecanismos de
defesa; eventualmente de o motivar para um acompanhamento
especializado mais longo.

A Psicoterapia Breve de Apoio, que procura reforçar as funções do


Ego utilizando a influência do terapeuta, por sugestão e aumento
do autoconhecimento. Este tipo de terapia é por vezes utilizado
nos Hospitais e Centros de Saúde para tratar distúrbios somáticos
clínicos ou cirúrgicos.

A Psicoterapia Breve Resolutiva, que se destina a procurar a origem


da situação de crise vivida pelo paciente. Este tipo de terapia não só é
a mais longa, como aquela que corresponde melhor à ideia corrente
de Psicoterapia.

149
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Foi o médico psiquiatra Pedro Lau Ribeiro que fundou em 1986,


juntamente com Margarida Oliveira Lau Ribeiro e Maria de Castro
Ferrão a Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Breves (http://www.
sppb.pt/).110 Em 1997, Pedro Lau Ribeiro publica um livro teórico-
clínico em que procura integrar os dois caminhos clássicos das
Breves num modelo mais alargado, que contemplaria, entre outros
e para além da Psicanálise, a Fenomenologia (de Hursserl a Merleau
Ponty), a Psicologia Analítica de Jung, a Hermenêutica de Ricoeur e a
Psicossomática de Marty.111

Lau Ribeiro112 propõe este “Modelo Integrado” das Psicoterapias


Breves como o mais apropriado para responder aos quatro tipos
de questões que o sujeito se coloca: a primeira é a que diz respeito
à etiologia dos sintomas que o incomodam (ansiedade, insónias,
gastralgias, fobias, ataques de pânico, etc.) e que deviam ser
atenuados ou removidos; a segunda diz respeito à queixa sobre as
relações afectivas (entendimento com os pais, os filhos, os colegas
de trabalho, o patrão, etc.); a terceira é a sua questão existencial (“de
onde venho?”, “o que ando aqui a fazer?”, “para onde vou?”); e a quarta
é uma questão metafísica e religiosa, do estilo, “existe o Demiurgo?”.

110. Website SPPB: http://www.sppb.pt/


111. CORDIOLI, Aristides Volpato & Colaboradores (2008). “Psicoterapias – Abordagens
actuais”. (3ª edição); Porto Alegre; Artmed.
CRAMER, B. (1974). Interventions thérapeutiques brèves avec parents et enfants.
Psyquiatrie de l’Enfant, 17 (1), 53-117.
FERNANDES DA FONSECA, Azevedo (1988). Psiquiatria e Psicopatologia – II vol. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, pp.746-748.
GILLÉRON, Edmond (2001); A primeira entrevista em psicoterapia. Lisboa  : Climepsi;
p.203.
KNOBEL, M. (1986). Psicoterapia breve. São Paulo: EPU.
MACHADO VAZ, Júlio. (1992). O Fio Invisível. Lisboa: Relógio D´Água.
SANTOS, Eduardo Ferreira (1997). “Psicoterapia Breve – Abordagem sistematizada de
situações de crise”. Brasil: Editora Ágora. 4ª Edição.
112. LAU RIBEIRO (1997). Psicoterapia Breve, um modelo integrado. Lisboa. SPPB.

150
José Martinho

Pedro Lau Ribeiro faleceu em Junho de 2010. Nos últimos quatro anos
da sua vida, considerou que o “retorno a Freud” de Jacques Lacan
era a melhor maneira de não esquecer a grande fonte inspiradora
das Psicoterapias Breves. Em consequência desta escolha, tornou-
se, em 2008, membro da Antena do Campo Freudiano113 instituição
onde pôde desenvolver o que já tinha proposto no seu livro sobre o
Seminário I de Lacan, Os escritos técnicos de Freud.

3.4 GRUPANÁLISE

Ninguém procura – a não ser aconselhado - uma terapia de grupo


ou em grupo para ultrapassar as suas dificuldades. Ninguém pensa
também espontaneamente que, para resolver os seus próprios
problemas, é preciso trazer os pais, o marido ou a mulher, e a restante
família para o consultório, ou reunir aí com uma série de outras
pessoas e terapeutas.

Assim, as Terapias de Grupo surgiram da necessidade - sobretudo


político-militar, económica e médica - de estender a um maior
número de pessoas as possibilidades de um mesmo atendimento
terapêutico.

Os primeiros destes grupos terapêuticos – as chamadas “classes


colectivas” - foram organizados por Joseph Pratt, por volta de 1906.
Pratt reunia vinte a trinta pacientes com tuberculose, para os quais
fazia também palestras uma ou duas vezes por semana.

Nos anos 1920, em Washington, Edward Lazell tentou levar a cabo

113. Website ACF: http://acfportugal.com/

151
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

as primeiras psicoterapias grupais. Mas foi sobretudo durante a


Segunda Guerra Mundial que a necessidade de tratar grandes
quantidades de jovens hospitalizados em meio militar com
perturbações psicológicas reactivas à situação, conduziu alguns
psicanalistas exercendo o seu serviço militar à prática da Psicoterapia
de Grupo de Inspiração Psicanalítica.

Paralelamente, sobretudo após o ano de 1935, desenvolvem-se


também nos Estados Unidos da América os primeiros grupos de auto-
ajuda em torno do problema do alcoolismo (Alcoólicos Anónimos).

Em 1945, Kurt Lewin cria, no Massachusetts Institute of Technology


(MIT), o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupos, onde aparece
pela primeira vez a designação “T-Group” (Training-Group).

Em 1946, Rogers lança os Grupos de Encontro, fórmula que decorre


do trabalho pioneiro dos Grupos-T, aos quais acrescenta a Terapia da
Gestalt de Perls, para desenvolver a Psicoterapia Centrada no Cliente
ou na Pessoa.114

É um dos fundadores da Associação Psicanalítica Americana, Trigant


Burrow, que faz, em 1927, a primeira referência a uma Análise de
Grupo. Mas o verdadeiro inventor do termo Group-analysis será S.H
Foulkes.

O major Foulkes efectuou a sua primeira experiência grupanalítica


no centro médico-militar de Northfield, no Reino Unido. Como

114. Web site da Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Centrada no Cliente e


Abordagem Centrada na Pessoa: http://www.sptrogeriana.com

152
José Martinho

muitos outros na época, ele tinha como principal objectivo resolver


problemas de indisciplina e comunicação entre os soldados.
Tendo obtido bons resultados com as suas experiências, resolveu
desenvolver em seguida o método que tinha empregado. Depois
dele, muitos outros inspirar-se-ão no nome e na coisa, como
Lawrence (1927), Syz (1961), Syz (1961) e Abse (1979).

A formação e o desenvolvimento de um grupo (fechado/aberto/


lentamente aberto) fazem surgir fenómenos (em espelho e em
cadeia) que não são observáveis numa terapia individual. Por
exemplo, ocorrem nas tensões do grupo fenómenos como a
rivalidade e a solidariedade, ou a emergência do bode-expiatório, do
estrangeiro, do líder, etc.

É sempre difícil correlacionar o grupo, com os seus factores específicos


e consequências, e a prática psicoterapêutica, nomeadamente de
inspiração psicanalítica. Em Psicologia das massas e análise do Ego,
Freud tinha dado preciosas indicações sobre a relação do colectivo
com o individual. Adler e Bion lançaram-se também posteriormente
no estudo dos pequenos grupos.

Foulkes procurou sobretudo mostrar aquilo que aproxima a análise


individual da terapia de grupo. Começou por fazê-lo a partir de um
certo número de pressupostos sobre a comunicação verbal e não
verbal. Assim, propôs que, à associação livre, corresponderia, na
Grupanálise, a contribuição espontânea e a discussão circulante
entre os diferentes membros do grupo.

Psicanálise e Grupanálise procurariam ambas interpretar o material

153
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

da comunicação verbal para revelar o sentido oculto dos sintomas;


mas enquanto na Psicanálise a interpretação caberia apenas
ao psicanalista, na Grupanálise, caberia ao grupanalista, com a
participação dos membros do grupo.

A Psicanálise tentaria descobrir os mecanismos de defesa individuais,


enquanto a Grupanálise procuraria sobretudo tornar conscientes os
hábitos grupais.

A suposta comunicação não verbal far-se-ia, na Psicanálise, ao nível


da relação dual, ao passo que, na Grupanálise, a situação seria multi-
pessoal, com várias transferências e relações com outras pessoas do
grupo.

Na Psicanálise, existiria um anonimato e uma passividade em


relação ao analista, assim como uma neurose de transferência bem
estabelecida, por conseguinte um problema de dependência e de
fixação ao terapeuta; na Grupanálise, haveria uma relativa realidade
do grupanalista e das relações entre membros, uma neurose
de transferência não plenamente estabelecida, e logo menos
problemas de dependência. Por fim, na Psicanálise, seria dada ênfase
à introspecção e rememoração do passado, enquanto na Grupanálise
a importância recairia sobre o Ego no aqui e agora.

Foi um analisando e discípulo de Foulkes, o psiquiatra Eduardo Luís


Cortesão (1919-1991), que introduziu, em 1956, a Grupanálise em
Portugal.

Eduardo Luís Cortesão fez a sua formação no Maudsley Hospital,

154
José Martinho

em 1954, como bolseiro do British Council. Em Setembro de 1955,


após concurso, é empossado como Psiquiatra dos Royal Bethleem
and Maudsley Hospitals. Em 1956 é admitido como Full Member da
Group-Analytic Society de Londres. É nessa data que irá também
iniciar o movimento grupanalítico em Portugal. Este conduziu
primeiramente à criação do Grupo de Estudos da Grupanálise,
em 1958, da Secção de Grupanálise da Sociedade Portuguesa
de Neurologia e Psiquiatria, em 1963,  e finalmente, em 1981, da
Sociedade Portuguesa de Grupanálise (http://www.grupanalise.
pt/).115

Cortesão deu um contributo decisivo para que a Grupanálise


adquirisse uma singularidade teórico-técnica, e que o modelo se
expandisse para além dos limites originais de método de tratamento
psicológico numa situação de grupo, até diferentes áreas da
actividade humana, o que o enriqueceu com um novo enfoque e
dilatou a sua capacidade operacional.
 
Como escreveu, “o grupo é uma estrutura, um molde, uma matriz, um
fórum. Não é uma entidade psíquica nem um aparelho mental (…)
é por isso que uma vez mais devo insistir que algumas expressões
correntes, como transferência grupal, resistência de grupo, etc,
devem servir unicamente o propósito de indicar a situação em que
são tecnicamente aplicadas”.

Cortesão afirma, ainda, no seu principal livro sobre o tema, que a


Grupanálise “inclui compreensivamente toda a teoria psicanalítica

115. O leitor interessado pode encontrar neste website todo o tipo de informações
idóneas e especializadas sobre a história da SPG, as condições de admissão, os sócios,
a terapia, a formação, as publicações, para além de notícias diversas.

155
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

- e pressupõe deste modo, o manejo técnico e clínico, desde as


formulações metapsicológicas até às minúcias das relações de
objecto, numa situação específica de grupo. Situação diferente,
ainda que não contraditória da situação dual da psicanálise.”116

Ele sempre pretendeu dotar a Grupanálise de credibilidade científica,


com um substrato teórico coerente e sólido, submetendo para isso
as hipóteses oriundas do laboratório clínico oferecido pelo grupo
de análise, e ao critério da validação pragmática conferido pelos
resultados terapêuticos. Foi assim que erigiu conceitos e definiu
procedimentos técnicos que enformam o que se designa ainda por
“Escola Portuguesa” de Grupanálise.  
 
Destes conceitos podemos destacar: a Matriz Grupanalítica, o Padrão
Grupanalítico e o Processo Grupanalítico.

Foulkes (1967) definira a Matriz Grupanalítica como “a teia hipotética


de comunicação e relação num dado grupo. A matriz é o terreno
partilhado em conjunto, aquele que, em última instância, determina
o sentido e a significação de todos os acontecimentos, e no qual se
integram todas as comunicações e interpretações, verbais e não-
verbais.”

Cortesão (1989) redefine a Matriz Grupanalítica como a “rede


específica de intercomunicação, inter-relação e interacção, a qual,
pela integração do padrão grupanalítico, fomenta a evolução do
processo grupanalítico”. A Matriz é a trama comum; dela dependem,

116. CORTESÃO.E.L. (1989). Grupanálise, Teoria e Técnica. Lisboa. Fundação Calouste


Gulbenkian, p.36

156
José Martinho

pois, as comunicações e interpretações explícitas e implícitas, e


finalmente o significado de tudo o que surge e acontece ao grupo.
O Padrão Grupanalítico baseia-se no exemplo e atitudes específicas
que o grupanalista transmite no interior da Matriz Grupanalítica,
através da sua função fomentadora do Processo Grupanalítico.

O Processo Grupanalítico reside no estabelecimento do setting e


na aplicação das regras do funcionamento terapêutico. Eis algumas
destas regras: “os elementos do grupo não se devem conhecer
previamente, não se devem encontrar fora das sessões entre si, nem
com o grupanalista; o grupanalista, não pode tratar, nem estabelecer
contacto com familiares ou amigos dos seus grupanalisandos; as
sessões decorrem num horário fixo e pré-estabelecido, numa sala em
que nove cadeiras estão dispostas num círculo, habitualmente com
uma pequena mesa no centro; a confidencialidade deve ser mantida
pelo grupanalista e por todos os grupanalisandos; as sessões não
podem ser interrompidas pela realidade externa (telefonemas, saídas
para fora da sala por parte do grupanalista ou dos grupanalisandos),
assegurando-se assim um ambiente tranquilo; não existe contacto
físico entre as pessoas; o grupanalista deve avisar com antecedência
o seu período de férias, bem como os dias em que por qualquer
motivo, não possa fazer sessão; os grupanalisandos deverão pagar
todas as sessões, incluindo aquelas a que faltam; não existem sessões
individuais com nenhum dos grupanalisandos, após a sua entrada no
grupo; caso o grupanalista seja médico não deverá ser grupanalista e
medicar simultaneamente o mesmo cliente.

A neurose de transferência também existe na Grupanálise. Cortesão


pretende mesmo que o conceito não é diferente aí da sua forma

157
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

original, pouco divergindo no conteúdo e na função. Assim, “os


membros do grupo representam, um para cada outro e no todo da
situação, um papel fundamental como figuras de transferência (…)
a intensidade, constância, preponderância e repetição compulsiva
de formas de actuar, pensar e sentir tornam-se até mais relevantes
e significativas nesta situação de transferência”. A neurose de
transferência é de cada membro no contexto do grupo ou da matriz
do grupo. Existem pois n neuroses de transferência, tantas quanto os
membros do grupo.

Cortesão defendia a importância da frequência das sessões e


da duração no estabelecimento da neurose de transferência
grupanalítica.

Para além da transferência como repetição e reformulação das


necessidades, angústias e conflitos infantis  surgindo no cenário
grupanalítico, deve-se, ainda, considerar os seguintes níveis de
experiência e interpretação: experiência subjectiva individual,
experiência subjectiva múltipla, comunicação associativa,
interpretação genético-evolutiva, interpretação desenvolutiva,
interpretação de significação, interpretação de criatividade,
interpretação na transferência e interpretação comutativa.  

Maria Rita Mendes Leal diz-nos também que foi a teoria das relações
de objecto que conduziu ao conceito grupanalítico de “Grupo
Interno”. Ela comenta, a importância de “salientar que o grupo interno
de cada um é conotado na sua origem com o grupo familiar.
 
O importante impacto dos métodos de grupo em Portugal teve

158
José Martinho

igualmente a sua origem em Eduardo Luís Cortesão, desde o ensino


que ministrou no Hospital Miguel Bombarda e na Clínica Psiquiátrica
Universitária do Hospital de Santa Maria, a partir de 1956.

As estruturas e o funcionamento nos Hospitais e Serviços Psiquiátricos


foram então profundamente alterados: no trabalho em equipa, na
discussão em grupo, na formação de Hospitais de Dia, no enfoque
multidisciplinar e multiprofissional na formulação do diagnóstico e
indicação terapêutica, nos métodos de grupo na formação médica
pré, pós-graduada e contínua, na orientação grupanalítica na
formação e prática dos profissionais do Serviço Social, nos métodos
de grupo no campo da Terapia Ocupacional, nos métodos de grupo
nos curricula de algumas escolas de Enfermagem.

Também a partir de 1956, Cortesão providenciou a supervisão


em Psicoterapia Grupanalítica e Grupanálise na Consulta Externa
do Hospital de Santa Maria. E iniciou a Psicoterapia Grupanalítica
para pacientes psicóticos, no Hospital Miguel Bombarda. O ensino
dos métodos de entrevista e Terapia Familiar com orientação
grupanalítica já tinha sido iniciado por ele nos finais de 1950.

O Serviço Universitário de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade 


de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa constituiu-se
nessa época como um modelo de ensino, investigação e formação
que privilegiava a dimensão grupanalítica.

A partir de 1985, em colaboração com o Instituto da Clínica Geral


do Sul, Cortesão implementou um plano de formação dos Clínicos
Gerais.

159
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Em 1988, estabeleceu um protocolo de cooperação entre a Faculdade


de Ciências Médicas de Lisboa e o Ministério da Justiça Foi este o
motor que levou à criação do Departamento de Saúde Mental da
Direcção Geral dos Serviços Prisionais e da Clínica de Psiquiatria e
Saúde Mental da Direcção Regional dos Serviços Prisionais em Caxias.
O tratamento grupanalítico pressupõe que um grupo heterogéneo
de pessoas, geralmente oito, se encontre regularmente, duas ou três
vezes por semana. O grupanalista deve proporcionar que os membros
do grupo associem livremente ideias e sentimentos, e estimular a
sua verbalização. Os grupanalisandos vão podendo deste modo
estabelecer pontes entre os processos inconscientes e conscientes.
O grupo representa também para cada elemento o microcosmo do
seu mundo interno, através do qual, modos alternativos de lidar com
os conflitos e desejos podem ser explorados e modificados, através
do estabelecimento de novas relações interpessoais.
 
A actividade interpretativa tanto privilegia o funcionamento
mental de cada indivíduo, como o funcionamento geral do grupo.
A valorização da participação e contribuição de cada elemento,
assume características muito próprias. Por outro lado, todos os
elementos interagem verbalmente, de forma activa, entre eles e
com o grupanalista, podendo cada um exercer a sua actividade
interpretativa. Em suma, a Grupanálise constitui-se como uma análise
de grupo, com o grupo e em grupo, mas não do grupo.
 
A Grupanálise decorre num contexto de clínica privada, conduzida
por um grupanalista credenciado. Institucionalmente existem
também adaptações psicoterapêuticas grupanalíticas.

160
José Martinho

A “Escola Portuguesa” de Grupanálise tem especificidades diferentes


das outras escolas europeias e americanas (EUA, Brasil, América
Hispânica) de Grupanálise e psicoterapias de grupo de inspiração
psicanalítica. A Grupanálise é indicada normalmente por médicos
e psicólogos aos pacientes para um vasto leque de patologias,
desde dificuldades de relacionamento interpessoal, a problemas
como a depressão, a ansiedade, doenças psicossomáticas,
disfunções comportamentais e até para alguns casos de psicose.
A Grupanálise está também por vezes associada a uma medicação
psicofarmacológica.  

A motivação é também aqui um dos factores principais para


o sucesso do tratamento. Este consta de sessões de grupo de
aproximadamente 1h20, com a periodicidade de duas a três vezes
por semana. O grupo é constituído pelo grupanalista e o máximo de
oito grupanalisandos. 

O grupanalista dá nome e significado aos sentimentos que estão a ser


vividos pelos elementos do grupo, e relaciona o que se está a passar
com a história passada de cada um. Ele organiza um espaço para que
possam ser vividas novas e construtivas relações inter-pessoais com
os outros membros do grupo e com o próprio analista, possibilitando
que cada um possa vir a estabelecer melhores relações adaptativas
ao longo da sua vida.

A estas características do tratamento, acresce o facto de que


em Grupanálise também vemos e somos vistos. A comunicação
desenrola-se, pois, a nível verbal e não verbal. A Grupanálise não
decorre num divã, com o terapeuta atrás e longe do olhar. Os

161
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

elementos do grupo e o grupanalista encontram-se sentados face


a face, em círculo. Para além de possibilitar que a linguagem verbal
e a não verbal seja facilmente apreendida, este setting imita com
maior fidelidade a relação precoce com a mãe (que se acredita ser
fundamental para o desenvolvimento da personalidade), em que o
olhar é essencial.  

A Grupanálise proporciona de um modo especial este desiderato,


uma vez que sugere que a família é primordial  para cada um. Ela
procura recriar o grupo familiar de base, e os seus prolongamentos
nos outros grupos pelos quais o indivíduo passa ao longo da vida:
escolar, social, cultural, recreativo, religioso, desportivo, profissional,
etc.

Isto, porque as emoções ficam gravadas na nossa memória (explícita


e implícita), mesmo se são relegadas para estratos mais profundos
da vida mental. A Grupanálise permitiria, pois, uma visita integral ao
mundo interno de cada um, bem como uma reconstrução facilitadora
de uma existência mais adaptada aos diversos contextos grupais em
que o indivíduo se move.  

O tempo de duração de uma Grupanálise é variável de acordo com


a patologia do cliente, a sua motivação, capacidade de mudança
interna, assim como o fim a que se destina (caso da Grupanálise
didáctica). De qualquer modo, a Grupanálise é um processo
relativamente longo, uma vez que o que está em causa não é apenas
o desaparecimento dos sintomas, mas uma mudança profunda,
que abrange a capacidade de lidar melhor com os conflitos e de
estabelecer relações mais saudáveis com as outras pessoas.

162
José Martinho

A técnica grupanalítica pode ser adaptada a diversos grupos


homogéneos ou heterogéneos, com ou sem objectivos
psicoterapêuticos. É muito vasta a sua aplicação, desde os Grupos
Balint, grupos de Terapia  Familiar de orientação analítica, grupos
de familiares, grupos de patologias específicas (alcoólicos,
toxicodependentes, etc.), Psicodrama Psicanalítico, grupos de
adolescentes, grupos multifamiliares (familiares e pacientes), etc.
Tem também sido ensaiado, a nível experimental, uma técnica para
médios e grandes grupos.
 
Podem igualmente constituir-se grupos psicoterapêuticos nas
instituições hospitalares, em enfermaria de agudos, ambulatório, etc.
Fazem-se aí menos número de sessões, com níveis de interpretação
diferentes.
 
Mas o grupanalista está também vocacionado e pode ser
especialmente treinado para conduzir outros tipos de grupos,
como empresas, igrejas, escolas, exército, associações, ou grupos de
intervenção comunitária, de formação e ensino, etc.
 
3.5 PSICODRAMA

O Psicodrama foi inventado por Jacob Levy Moreno. Nascido numa


família judia de Bucareste, em 19 de Maio de 1892, Moreno faleceu
em 14 de Maio de 1974, com 85 anos, em Nova York. É costume
lembrar que pediu para que se inscrevesse na sua lápide o seguinte:
“Aqui jaz aquele que abriu as portas da psiquiatria à alegria”.

Moreno fez o seu curso de Medicina e a sua especialização em

163
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Psiquiatria em Viena, onde conheceu pessoalmente Freud. Em


1912, ainda em Viena, funda o Teatro da Espontaneidade, onde
cria o Psicodrama, em particular num trabalho levado a cabo com
prostitutas.

Depois de ter mudado o nome de “Teatro da Espontaneidade” para


“Teatro Terapêutico”, Moreno desenvolve o Psicodrama de Casal
e de Família. Simultaneamente, utiliza outras técnicas de grupo,
tais como a palestra, a discussão livre, a gravação de sessões num
magnetofone, a música, a dança e a ocupação laboral. O Psicodrama
propriamente dito consiste num jogo cénico improvisado, fazendo
ressurgir emoções e fantasias que, depois de trabalhadas, ajudam a
corrigir os comportamentos e a reorganizar a personalidade.

Tendo tido bastantes dificuldades em difundir as suas ideias na Europa,


Moreno deixa Viena, em 1925, e muda-se para os Estados Unidos da
América. É neste país que começa a promover o Psicodrama, através
de uma metodologia de investigação e de intervenção em grupos e
entre grupos. É também nos EUA que introduz o termo “Psicoterapia
de Grupo”.117

No Teatro da Espontaneidade em Viena, as pessoas vinham por


vezes ao palco dizer o que fariam se fossem Imperadores da Áustria.
Ninguém passou no teste, mas todos ficavam a saber alguma coisa
sobre quem tinha falado. A esta informação sobre a pessoa, Moreno
acrescentou o facto da identificação dos espectadores com os actores
produzir uma catarse que ajuda à tomada de consciência; e que esta

117. MORENO, J. L. (1959). Fundamentos do Psicodrama. São Paulo: Summus. MORENO,


J. L. (2002). Psicodrama. São Paulo: Cultrix. MORENO, J. L. (2006). Psicodrama. São Paulo:
Cultrix MORENO, J. L. (1984). Teatro da Espontaneidade. São Paulo: Summus.

164
José Martinho

consciencialização favorece a espontaneidade e a criatividade, em


desfavor da repetição que não traz nada de novo.

Os conceitos de “espontaneidade” e de “criatividade” vão ser as


bases do Psicodrama moreniano; mas outros como os de “papel”
(identificação dramática, que vem do teatro, arte que Moreno
aplica ao Psicodrama), “tele” (capacidade de se perceber de forma
objectiva), “empatia” (tendência para sentir o que se sentiria caso
se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por uma
outra pessoa.), “co-inconsciente” (vivências, sentimentos, desejos
e até fantasias inconscientes comuns a duas ou mais pessoas) e
“matriz da identidade” (lugar e origem do verdadeiro nascimento)
vão igualmente ter a sua importância na rede dos conceitos.

A ideia directriz de Moreno é que o primeiro acto criativo da criança


realiza-se com o seu nascimento. Para ele, nascer não é um trauma,
como pretendia Rank, mas a primeira catarse de integração.

Em Moreno, a filosofia do que se é no momento opõe-se à da


duração. Esta filosofia confere maior importância ao presente que
está em constante mutação. Isto por que é sempre no “aqui e agora”
que o crescimento se faz.

O nascimento configura o destino porque a criança nasce com a


capacidade criadora própria ao ser humano; mas esta potencialidade
só se irá actualizando com o desenvolvimento e a ajuda dos outros.
O primeiro Ego-auxiliar da criança nesta tarefa é a sua própria mãe.
À medida que vai crescendo e vivendo diversos papéis em contacto
com os demais agentes sociais, o indivíduo desenvolve, ou atrofia,

165
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

a sua espontaneidade criadora, de acordo com o tipo de relações


e tradições (a “conserva cultural”) que lhe são impostas pelos mais
velhos. Infelizmente, estes agentes sociais submetem-no muitas
vezes a condutas estereotipadas, rituais e vazias de significado.

Na sua pormenorizada descrição da evolução da imagem do mundo


na criança, Moreno distingue ainda: 1) A matriz da identidade total:
é o primeiro universo, onde Tudo é Um. 2) A matriz da identidade
total diferenciada: é o segundo tempo do primeiro universo, onde as
diversas unidades (os Eu) se diferenciam. 3) A matriz do hiato entre a
fantasia (que Freud chamou “teatro privado”) e a realidade, onde se
começam a organizar dois mundos, o real e o fantasiado.

Na primeira etapa da vida, o funcionamento do indivíduo é


psicossomático. A segunda etapa é a da formação e reconhecimento
do Eu. A criança observa então o outro (mãe) como diferente dela; ela
vai integrando as diferentes partes do corpo numa unidade e, a partir
daí, distingue-se dos objectos.

É também nesta fase que surgem os “papéis. Estes designam o


conjunto das possibilidades de identificação do ser humano.
Enquanto psicodramáticos, expressam as distintas fases e faces do
Eu, assim como a versatilidade das representações mentais. Os papéis
são o núcleo do desenvolvimento. À medida que a criança cresce
vai podendo ampliar o seu leque de papéis; alguns deles ficarão no
entanto inibidos, necessitando posteriormente de serem resgatados.
É uma das funções do Psicodrama.

A Psicoterapia de Grupo de Moreno trata os problemas psíquicos dos

166
José Martinho

indivíduos e das suas relações interpessoais. Cada um é aí agente


terapêutico, mas o grupo também o pode ser em relação a um outro
grupo.

O conceito de “contacto” ou de “encontro” entre indivíduos será


central, na medida em que o encontro vai além da empatia e da
transferência entre o Tu e o Eu. Ele vai além do “Tu és Tu” e do “Eu sou
Eu”. Forma o “Nós”.

A acção une-se à palavra no desdobramento completo do


Psicodrama. No palco, o indivíduo representa os seus conflitos e
temores, expectativas e dúvidas, explora as relações do passado
com o presente e o futuro. Trabalha-se com cinco elementos no
Psicodrama e Treino de Papéis: Palco, Protagonista, Director, Ego-
Auxiliar e Público.

A sessão psicodramática exige um espaço onde se desenvolva a acção,


um palco, um protagonista, o paciente que escolhe o assunto a ser
tratado e interpreta o papel principal; um Director, que é o terapeuta
que conduz a sessão; e um ou mais Egos-Auxiliares, que são outros
terapeutas ou participantes do grupo que ajudam o protagonista e
interpretam os papéis complementares previstos na dramatização;
por último, o público, assim como os demais participantes do grupo
que não actuam, mas que ajudam o protagonista, que manifesta
reacções e observações de forma espontânea e compartilhando os
seus sentimentos.

Existem três momentos com particular importância no


desenvolvimento do Psicodrama: o primeiro é o “aquecimento”,
tempo em que se prepara o clima do grupo; escolhe-se um tema

167
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

e um protagonista e tenta-se penetrar no mesmo com a maior


espontaneidade possível. O segundo momento é a “representação”
na cena dramática; ganham importância aqui os Eu-auxiliares, que
serão encarregados de encarnar as persona que o protagonista
escolheu, personagens reais ou fantasiosas, que retratam aspectos
internos e símbolos do mundo do paciente. O terceiro momento é o
“partilhar”, onde o grupo vai exercer a sua função terapêutica, através
da comunicação das vivências de tudo o que foi acontecendo e as
ressonâncias que produziu.

O director do Psicodrama instrumenta, em cada situação, as técnicas


que pareçam mais adequadas ao momento do drama, segundo
o tipo de vinculação que aí se expressa. À primeira etapa, a da
indiferenciação do Tu e do Eu, corresponde a técnica da dupla. À
segunda, a do reconhecimento do Eu, corresponde a técnica do
espelho. À terceira, a técnica da inversão de papéis.

Na técnica da dupla, um Eu-auxiliar desempenha o papel do


protagonista; ele complementa verbal e gestualmente aquilo que
entende e sente o protagonista, por este não o poder expressar
completamente. O Eu-auxiliar coloca-se aí ao lado do protagonista,
funcionando estes como a mãe e a criança da primeira etapa.

Na técnica do espelho, o protagonista sai do palco e é, então, o que o


público faz dele. O que se procura é que o paciente se reconheça em
determinada representação, assim como na sua infância reconheceu
a sua própria imagem no espelho. Aquilo que é procurado na técnica
da inversão de papéis é que as personagens sintam o que se passa no
mundo do paciente. É a técnica básica do Psicodrama.

168
José Martinho

Sendo a técnica do Psicodrama uma técnica grupal, são valorizados


nela aspectos como a interacção mútua, a confiança, o vínculo, o
falar aos outros de si próprio. Tudo é significativamente aumentado
à medida que a pessoa se liberta dos seus constrangimentos
emocionais e visões fantasistas, no sentido de uma maior capacidade
de auto-conhecimento, fortalecimento psicológico, autonomia e
tomada de consciência de si, do outro e do mundo.

O Psicodrama como Psicoterapia de Grupo é normalmente bem


aceite em idades em que a vida grupal é bastante importante,
como na adolescência. A união do grupo é causa e consequência
da possibilidade proporcionada aos membros de observarem o que
são as relações emocionais genuínas, para além das resistências
que frequentemente lhe estão associadas. Geralmente estabelece-
se uma profunda ligação afectiva entre todos os elementos do
grupo, baseada numa intimidade profunda, alicerce do crescimento.
Este vínculo estabelecido entre todos e cada um dos elementos
fundamentais, dá segurança e estabilidade ao funcionamento do
grupo ao longo do tempo.

Tendo a sua origem em Moreno, é óbvio que nem todo o Psicodrama


é de inspiração analítica: é o caso do Psicodrama praticado pelos
membros da Sociedade Portuguesa de Psicodrama.118

O Psicodrama Psicanalítico nasceu na França depois da Segunda


Guerra Mundial. Ele foi criado por alguns psicanalistas interessados
pela Terapia de Grupo que consideravam que a teoria moreniana era
pouco sólida comparada com a teoria psicanalítica, no sentido lato

118. Website da SPP: http://www.sociedadeportuguesapsicodrama.com/

169
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

e estrito (teoria da identificação, teoria da relação de objecto, etc.),


ainda que tivessem aspectos complementares.

No Psicodrama Psicanalítico, o paciente não se limita a falar,


rememorar e elaborar. Deve também agir. Não se trata de uma
passagem ao acto, mas de uma representação dramática, que pode
ser levada a cabo de três formas: no Psicodrama individual, em grupo
e de grupo.

São os psicanalistas franceses René Diatkine, Serge Lebovici e Evelyne


Kestemberg que fundam o Psicodrama Psicanalítico Individual.

1 - O Psicodrama Psicanalítico Individual

Faz-se com um só paciente e um grupo de terapeutas, que compreende


um Director, dois ajudantes (Egos-auxiliares) e actores que podem ir
no máximo até ao número de seis. A regra fundamental aqui é que
o paciente é livre de representar os papéis que entender. Tudo o
que vem à sua mente - uma recordação de infância, uma situação
presente, um sonho, etc - pode ser proposto para a representação.
E tudo pode ser representado: o medo, a raiva, a violência, a auto-
punição, etc.

Também aqui é o próprio paciente que se encarrega da escolha do


tema e das personagens que quer representar; é igualmente ele
que escolhe os actores para os diferentes papéis, os quais devem
estar sempre disponíveis para a acção. O mais importante é que o
paciente seja livre de inventar a história que quer ver representada,
e que todo o processo contribua para a compreensão interna e o
amadurecimento do paciente.

170
José Martinho

No dispositivo clássico, o Director nunca representa um papel; ele


limita-se a receber o paciente e a ajudá-lo a encenar as suas peças.
Tem também a função de suspender o desenrolar da acção dramática
num momento judicioso, interpretar e estabelecer ligações com
outras cenas ou elementos cénicos. O Director garante sobretudo
o enquadramento do Psicodrama, enuncia as suas regras e faz com
que estas se cumpram. A sua intervenção incide essencialmente
sobre a representação dos actores, de modo a revelar as resistências,
as repetições e as diversas relações transferênciais.

Existem transferências colaterais com todos os participantes, mas


a transferência principal é sempre com o Director do Psicodrama.
Este deve estar bastante atento à contratransferência e fazer com
que as suas intervenções sejam momentos fecundos da terapia,
que relancem a actividade associativa do paciente, que pode, então,
propor uma outra representação.

Assim, cada sessão pode compreender duas ou três. Cabe sempre ao


Director por fim a cada série de sessões.

São os actores que permitem desenvolver as fantasias das cenas


propostas pelo paciente. Eles emprestam o seu pré-consciente para
que o paciente consiga aceder ao fantasma inconsciente.

O objecto da fantasia do paciente fragmenta-se nos diferentes


papéis representados pelos actores. Mas estes servem também de
contentores da agressividade do paciente, permitindo que esta se
ligue à pulsão de vida através do amor de transferência.

Na representação, a acção é simulada e não real. Tudo se passa


“como se” fosse verdade, mesmo que não o seja. Nesta medida, o

171
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

Psicodrama faz-se também na abstinência, não deixando lugar para


o acting out e a passagem ao acto.

2 - O Psicodrama Psicanalítico em Grupo

Como o Psicodrama Psicanalítico individual, o Psicodrama


Psicanalítico de Grupo comporta um Director e um conjunto de
terapeutas e de actores. A diferença é que existem vários pacientes
em vez de um só. Considera-se que o grupo óptimo de pacientes é
de quatro. Cada um propõe sucessivamente uma história para ser
representada.

Todas as cenas se centram num problema pessoal. O paciente


representa um ou vários aspectos desse problema, juntamente com
outros pacientes e terapeutas escolhidos por ele.

O Director interpreta a representação individual, mas a sua


interpretação tem sempre efeitos sobre os outros pacientes do grupo.

Fala-se de Psicodrama Psicanalítico Individual em Grupo porque os


problemas específicos do grupo requerem aqui uma elaboração
particular.

3 - O Psicodrama Psicanalítico de Grupo

Este Psicodrama comporta em geral 4 ou 6 pacientes, terapeutas e


actores. Como nos precedentes, o Director não representa, ajuda
apenas a encenar, interpreta e efectua ligações.

Neste caso, os problemas individuais são sempre reportados à situação


do grupo. Supõe-se que a dinâmica psíquica de cada indivíduo está
inserida na dinâmica do grupo. Os objectivos terapêuticos passam,

172
José Martinho

pois, pela acção do grupo sobre o narcisismo, a relação a dois, a três


ou edipiana, etc.

Cabe ao Director evitar que a distribuição dos papéis se fixe. É


também ele que favorece a coerência do grupo e promove um ideal
comum.

- Indicações

O Psicodrama Psicanalítico pode ser proposto à maioria dos


pacientes neuróticos, que não tenham um falso self. Ele ajuda a
identificar problemas, a simbolizar o objecto e a estabelecer relações,
mediante um trabalho complexo de transformações, que passa pela
capacidade de rêverie e vai até à reorganização da personalidade
total.

O Psicodrama individual é mais aconselhável para pacientes adultos,


com boa verbalização e elaboração mental, e capacidade de projectar
sem se destruírem internamente.

No entanto, muitos adultos têm terror de terapias de grupo como o


Psicodrama. Estes guardam geralmente no seu interior uma grande
dose de agressividade que os inibe. Nestes casos são preferíveis
outras técnicas em que não haja necessidade de agir ou representar
em público.

Doentes graves, desligados do mundo, por exemplo em razão de


longas hospitalizações, podem também beneficiar do Psicodrama
Psicanalítico, em particular porque o grupo os ajuda a sair do seu
isolamento.

O Psicodrama Psicanalítico de crianças é quase sempre individual,

173
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

para que a inveja, o ciúme e outras rivalidades não perturbem muito


o processo terapêutico de crescimento. Os adolescentes aderem
bem ao Psicodrama Psicanalítico de e em grupo, na medida em que
este lhes permite desenvolver melhor as suas tendências libidinais e
agressivas.

- Contra-indicações

O Psicodrama Psicanalítico é desaconselhado para quem tenha


grandes carências narcísicas, para pacientes psicóticos (paranóicos,
esquizofrénicos, etc.), bem como para os grandes perversos. Uma
fase aguda de delírio, por exemplo provocada pelo álcool ou a droga,
retira também ao Psicodrama Psicanalítico toda eficácia terapêutica.

Vários psicanalistas interessados pela técnica do Psicodrama foram


sublinhando que o Psicodrama Psicanalítico incidia sobretudo
em quatro importantes temas: a dramatização dos conflitos, a
comunicação simbólica, o efeito catártico, e a importância do
jogo lúdico para o ser humano.119 Ao favorecer o encontro, a
espontaneidade, o jogo com símbolos e figuras, a representação
dramática e o partilhar, o Psicodrama Psicanalítico liberta o falar,
o pensar e o sentir. O palco é o lugar simbólico e imaginário desta
libertação, onde o passado se vai revelando através dos elementos
cénicos do mundo interno dos pacientes, no aqui e agora em que se
constrói a memória do futuro.
119. ANZIEU, D. (1979). Le psychodrame analytique chez l’enfant et l’adolescent (2ª ed.).
Paris: Presses Universitaires de France. (Obra original em Francês 1956). ANZIEU, D., &
MARTIN, J. I. (1979). La dynamique des groupes restreints. Paris: Presses Universitaires de
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l’enfant. Paris : PUF

174
José Martinho

Existe igualmente em França uma corrente do Psicodrama


Psicanalítico de inspiração “lacaniana” (Jean Guir e outros), que
afirma que o palco, como a “outra cena” do inconsciente, é o lugar
vazio onde serão enunciados os significantes novos do sujeito. O
Psicodrama Psicanalítico afasta-se por conseguinte aqui da “busca do
sentido” (do sofrimento, etc.), evitando, pela mesma razão, qualquer
“interpretação que proporcione o sentido ou a perda do sentido”.

O Psicodrama Psicanalítico foi introduzido em Portugal pelo médico


psiquiatra e psicanalista Carlos Amaral Dias, numa tentativa de
conjugar as obras de Wilfred Bion e de Alfredo Correia Soeiro.120

Este trabalho pioneiro é desenvolvido essencialmente hoje pela


Sociedade Psicanalítica de Psicodrama Psicanalítico de Grupo121,
presidida pela psiquiatra Luísa Branco Vicente.

120. BION, W. R. (1970). Experiências com grupos. Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra
original em Inglês 1961). CORREIA SOEIRO, Alfredo. (1991). Psicodrama e Psicoterapia.
Lisboa: Escher; CORREIA SOEIRO, Alfredo. (1994). 0 Instinto de Plateia. Lisboa:
Afrontamento.
121. É possível encontrar no Website da SPPPG uma bibliografia relevante sobre o
Psicodrama: http://www.spppg.com/index.php?option=com_content&view=categor
y&layout=blog&id=4&Itemid=52

175
BIBLIOGRAFIAS
Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

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Bibliografia Básica Anexa

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Coimbra: Almedina

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Lisboa: Assírio & Alvim.

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Médicas

Bibliografia freudiana

A obra de Freud, traduzida actualmente em 30 línguas, é composta por


24 livros, 123 artigos e 5000 cartas já encontradas. Existem duas edições
“completas”, os Gesammelte Schriften e as Gesammelte Werke (obra de
referência, publicada primeiramente em Londres e depois em Frankfurt).
A única edição crítica continua a ser a Standard Edition of the Complete
Psychological Works of Sigmund Freud, publicada por James Strachey. Roger
Dufresne recenseou ainda os 23 artigos que Freud escreveu entre 1877 e
1886, não integrados nas Obras, por serem considerados pré-analíticos.
Existe também uma Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Freud (24 vols., Imago, Rio de Janeiro, 1977).

184
José Martinho

Obras de Psicanálise e afins publicadas em Portugal

Traduções da obra de Sigmund Freud

FREUD, Sigmund. (1974). Psicopatologia da vida quotidiana. Lisboa: Estúdios


Cor.

FREUD, Sigmund. (1979). A interpretação das afasias. Lisboa: Edições 70.

FREUD, Sigmund. (1988-89). A interpretação dos sonhos, 3 vols. Lisboa:


Pensamento.

FREUD, Sigmund. (1989). Textos Essenciais da Psicanálise, o inconsciente, os


sonhos e a vida pulsional, vol. I. Mem Martins: Europa-América.

FREUD, Sigmund. (1989). Textos Essenciais da Psicanálise, a teoria da


sexualidade. Vol. II, Mem Martins: Europa-América.

FREUD, Sigmund. (1989). Textos Essenciais da Psicanálise, a estrutura da


personalidade psíquica e a psicopatologia, vol. III. Mem Martins: Europa-
América.

FREUD, Sigmund. (1990). Moisés e a religião monoteísta. Lisboa: Guimarães.

FREUD, Sigmund. (1990). Moisés e o monoteísmo. Lisboa: Relógio D’água.

FREUD, Sigmund. (1990). Psicopatologia da vida quotidiana. Lisboa: Relógio


D’água/Círculo de Leitores.

FREUD, Sigmund. (1990). Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci.


Lisboa: Relógio D’água/ Círculo de Leitores.

FREUD, Sigmund. (1991), Esquecimento e Fantasma. Lisboa: Assírio & Alvim.

FREUD, Sigmund. (1995). Delírio e sonhos na Gradiva de Jensen. Lisboa:


Gradiva.

FREUD, Sigmund; EINSTEIN, Albert. (1997). Porquê a guerra? Lisboa: Edições


70.

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Inspiração Psicanalítica: Freud e as psicoterapias dinâmicas e de suporte

FREUD, Sigmund. (1994). Textos Essenciais sobre Literatura, Arte e Psicanálise.


Mem Martins, Europa-América.

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FREUD, Sigmund. (2005). Sobre o Ensino da Psicanálise na Universidade,


Afreudite, Revista Lusófona de Psicanálise Pura e Aplicada. Lisboa: Edições
Universitárias Lusófonas (http://afreudite.ulusofona.pt/).

FREUD, Sigmund. (2009). O Mal-estar na Civilização. Lisboa: Relógio d´Água.

FREUD, Sigmund. (2010). A interpretação dos Sonhos. Lisboa: Relógio d´Água.

Traduções da obra de Jacques Lacan

LACAN, Jacques. (1977) [com outros autores]. O sujeito, o corpo, e a letra:


ensaios de escrita psicanalítica. Lisboa: Arcádia.

LACAN, Jacques. (1981). A família. Lisboa: Assírio & Alvim.

LACAN, Jacques. (1986). Joyce o sintoma. Coimbra: Escher.

LACAN, Jacques. (1986). Os escritos técnicos de Freud: Seminário I (1953-54).


Lisboa: D. Quixote.

LACAN, Jacques- (1987). O mito individual do neurótico. Lisboa: Assírio &


Alvim.

LACAN, Jacques. (1989). Shakespeare, Duras, Wedekind, Joyce. Lisboa: Assírio


& Alvim.

LACAN, Jacques. (1993), «O estádio do espelho» in Assédio, nº 1. Oeiras: Celta.

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Sobre a história da Psicanálise em Portugal

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8-11 de Novembro de 1979.

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Mentalidade Arcaica. Lisboa: Jornal da Sociedade de Ciências Médicas, 88,
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FERNANDES, Barahona. (1967). «Parecer Sobre o Reconhecimento Oficial


da Sociedade Portuguesa de Psicanálise». Lisboa: Ministério da Educação
Nacional.

FREUD, Sigmund. (1972). «Quatro Cartas a Abel de Castro». Análise Psicológica,


I: 7-12. Lisboa: ISPA.

FURTADO, Diogo. (1959). «Psicanálise e sua Situação entre Nós». Lisboa:


Jornal do Médico, XL: 293-302.

LARANJEIRA, Manuel. (1986). A Doença da Santidade, Prefácio de Maria Belo,


Lisboa: Editorial Labirinto.

LIMA, Sílvio. (2002). Obras Completas, dirigidas por José P. Ferreira da Silva,
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2 vol.

LUZES, Pedro. (2002). Cem Anos de Psicanálise. Lisboa: ISPA, 2ª ed.

MARTINHO, José. (2001). A Psicanálise no Mundo e em Portugal. Freud & Co,


Coimbra: Almedina.

MARTINHO, José. (2003). Sobre a Recepção de Freud em Portugal. Metacrítica


n.º 3, Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas.

MONIZ, Egas. (1902). A Vida Sexual (Fisiologia e Patologia). Lisboa: Ática, 1.ª
ed.

MONIZ, Egas. (1915). As Bases da Psicanálise. Lisboa: A Medicina


Contemporânea, 33, 377-383.

MONIZ, Egas. (1921). O Conflito Sexual. Lisboa: Portugal Médico, 3.ª série, n.º
9, pp. 395-401.

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MONIZ, Egas. (1924). Júlio Diniz e a Sua Obra. Lisboa: Ática

PERRON, Roger. (1998). História da Psicanálise. Lisboa: RésEditora.

SEABRA-DINIS. (1945). Joaquim, Psicanálise. Lisboa: Edições Cosmos.

Bibliografia geral de obras de Psicanálise, Psiquiatria, Psicologia e


afins publicadas em Português

AAVV, Revista de Psicanálise. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Psicanálise.

AAVV. Assédio, Revista de Psicanálise e Cultura: Fascínios, nº 1 (1993), Oeiras:


Celta.

AAVV, Página ACF on-line (site da Antena do Campo Freudiano: acfportugal.


com

AAVV. Afreudite, Revista Lusófona de Psicanálise Pura e Aplicada. Lisboa:


Edições Universitárias Lusófonas (http://revistas.ulusofona.pt/index.php/
afreudite).

AAVV. Revista Lusófona das Ciências da Mente e do Comportamento,


Departamento de Psicologia da ULHT. Lisboa: Edições Universitárias
Lusófonas.

AAVV. Revista Portuguesa de Psicossomática. Lisboa: Sociedade Portuguesa


de Psicossomática.

AAVV. Revista Portuguesa de Grupanálise. Lisboa: Sociedade Portuguesa de


Grupoanálise.

AAVV. (2003). Revista Portuguesa de Filosofia. Abril-Junho. Volume 59. Fasc. 2.

AAVV. (1970). Psicanálise e Sociedade. Lisboa: Perspectivas.

AAVV. (1978). Sexualidade e Poder. Lisboa: Edições 70.

AAVV. (1984). Psicanálise e Cinema. Lisboa: Relógio d’Água.

AAVV. (1992). Esquizofrenia, uma doença ou alguns modos de ser humano?


Lisboa: Caminho.

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AAVV. Cem anos sobre o sonho: “A injecção dada a Irma” de Sigmund Freud.
Lisboa: Ed. Lusófonas, 1996.

AAVV. (1994). Inconsciente, Normal/Anormal, Enciclopédia Einaudi. Lisboa:


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AAVV. (1999). Pensar a Escola sob os Olhares da Psicologia. Porto: Afrontamento.

AAVV. (2001). Prevenção das Toxicidependências. Lisboa: Climepsi.

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ABREU, Pio. (1982). O Modelo do Psicodrama Moreniano. Coimbra: Ed


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Lisboa: Instituto Piaget.

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Climepsi.

ANDREASON, Nancy. (S/D). Admirável Cérebro Novo. Dominar a Doença


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