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18/12/2018 Trópico - A renovação de Euclides da Cunha

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dossiê
CLÁSSICOS
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e leitura direita
A renovação de Euclides da Cunha
a.r.t.e. Por Carlos Alberto Dória
audiovisual
cosmópolis
dossiê A idéia de que o autor de "Os Sertões" é “cientificamente ultrapassado”
em obras esconde aspectos originais do seu pensamento no contexto da ciência
ensaio
do século XIX
entrevista
estante
livros
novo mundo Alguém que estuda raças não é necessariamente um racista. Darwin
política estudou as raças humanas para combater o racismo, particularmente a
prosa.poesia tendência de se atribuir diferentes origens às raças (poligenia) e
três palavras hierarquizá-las de modo a, por comparação de caracteres secundários
(cor da pele, feições, conformação do cabelo, etc), legitimar a
busca dominação de umas sobre as outras. O pensamento racista é um
pensamento selecionista: visa eliminar ou submeter os “inferiores”
como forma de triunfo dos “superiores”. O racialismo é o estudo da
nos arquivos
diferenciação dos caracteres secundários da espécie humana ao longo
de sua história evolutiva.
Escrito sobre o corpo

A fabricação do vazio A confusão é muito comum na historiografia, especialmente onde as


Às margens de Brasília ciências sociais carecem de maior aprofundamento. Entre nós, por
exemplo, o conde de Gobineau é normalmente apresentado como
Elegia à Europa
campeão do racismo quando, desde os anos 1940, o insuspeito filósofo
Um cineasta é também um Ernst Cassirer demonstrou, de forma incontestável, o quanto este juízo
visionário sobre Gobineau é errôneo –jamais tendo ele associado racismo e
Duas vidas nacionalismo 1 .

Um guia de leitura
Entre nós, Euclides da Cunha sofre, há um século, sob o mesmo
A língua do inimigo equívoco. Ele foi um estudioso das raças, não um racista. Mesmo
A palavra combativa
assim, na tentativa de salvar a sua “boa literatura” de sua “má
ciência” (uma ciência que, à época, não poderia ser muito melhor), a
Um escritor guerreiro crítica submete sua obra a uma análise mirabolante.
A vida para além da forma-
canção De fato, ele não é um “ensaista” à maneira de Silvio Romero, por
O critério adorniano
exemplo, face à tendência de tomá-lo essencialmente como ficcionista.
Mas esse tipo de leitura bipartida vem enfraquecendo ultimamente,
As sementes de Raul fazendo “Os Sertões” reemergir como um texto que estabelece
E quem ouve canção? vínculos entre as ciências e a ficção, em parte desfazendo o processo
de destituição de cientificidade da análise que Euclides da Cunha
Visões do feminino
procedeu.
Um segundo antes de
acordar A bipartição da sua obra pela crítica literária começa com José
O que falo nunca é o que falo Veríssimo, que apontava em Euclides o mesmo defeito “de quase todos
os nossos cientistas que fazem literatura”. Também Silvio Romero
Laranjal Praia Clube
apontara a dualidade na obra de Euclides, lembrando que ele ficará
O viajante célebre pelo “estilo imaginoso, brilhante, marchetado de metáforas”,
mas que também nela se podia identificar “o vinco de certas doutrinas
Um cinéfilo amoroso e
sérias acerca de questões brasileiras, e o interessse pela genuína
criador
população nacional”.
Nas curvas da estrada, com
Bernardo
Numa edição crítica de “Os Sertões”, a destituição de Euclides do
Borges, poeta essencial campo das ciencias fica ainda mais clara nas palavras de Alfredo Bosi.
Para esse crítico, “Os Sertões” é obra “irremediavelmente datada”, que
A gênese do "Tempo Perdido"
é “naturalista no espírito, acadêmica no estilo”. Essa datação permite,
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18/12/2018 Trópico - A renovação de Euclides da Cunha
A renovação de Euclides da paradoxalmente, salvar Euclides e sua obra do efeito da desatualização
Cunha
científica: “Euclides não se teria tornado um dos nomes centrais da
So so so contemporary cultura brasileira pelo determinismo estreito das ideias nem pelo
rebuscado da linguagem: ele nos afeta apesar desses caracteres
What is it happening with the
museums of ex-Yoguslavia? postos em crise pela ciência e pelo gosto do século XX” 2 ; ou seja, a
estilização da ciência afeta o leitor moderno ao colocá-lo diante de um
The Next Step
saber inútil porque desatualizado.
Tão, tão, tão contemporâneo

O que ocorre com as


Mas como é possível separar aquilo que o autor intencionalmente
instituições museológicas da amalgamou, salvando-o de si próprio? A resposta de Bosi é simples:
ex-Iugoslávia? “Entende-se a tônica posta no fator racial em ‘Os Sertões’ quando se
remete o modo de pensar que enforma o livro à mente positivista que
O próximo passo
permeou a cultura de Euclides, engenheiro e militar na segunda
metade do século XIX em um país culturalmente preso à França”. Em
próxima »
outras palavras, nada haveria de original e digno de nota no
cientificismo datado de Euclides e estaríamos, mais uma vez, diante de
um intelectual que é vítima do modismo de macaqueamento da cultura
francesa.

Mas será que, “despolpado”, o texto de Euclides não nos apresentaria


um “caroço” cheio de interesse para conhecermos a espécie de escritor
que era?

Um Euclides moderno

De fato, bem distinto é o modo dos estudos euclidianos modernos,


buscando “as relações existentes entre um dos discursos científicos
euclidianos, o das Ciências Naturais, e as atividades e teorias nesse
campo do conhecimento”, quando autor e obra servem “como
elementos para reflexão sobre a prática científica no país” 3 .

Nas letras brasileiras, o racialismo de Euclides da Cunha destaca-se


não pelo macaqueamento de modas francesas, mas pela busca original
de formulações que, de resto, permitiram que construisse uma
metáfora nova sobre o processo de formação do povo brasileiro –bem
distinta daquelas correntes, como é o caso de Silvio Romero e os
demais autores que apostaram na miscigenação como o mecanismo
natural de produção de um novo tipo físico e social.

Um exemplo notável no seu percurso é a consideração da obra de Luis


Gumplowicz, um tipo bastante marginal na sociologia de então. Na
bibliografia brasileira, ele é um verdadeiro “achado” de Euclides da
Cunha. Sua dívida intelectual confessa com "A Luta de Raças", de
Gumplowicz, é enorme. Por outro lado, esse era um autor que,
segundo a apreciação de Durkheim, representava o esforço mais
consistente de “transformação da sociologia francesa numa disciplina
alemã”, ao passo que, para a crítica mais recentemente, tanto ele
como Gaetano Mosca passaram a responder por uma concepção
original de pessimismo numa sociedade predominantemente agrária
que observa o processo evolutivo como um acontecimento histórico
mundial.

A admiração por Ludwig Gumplowicz deve-se em parte à clareza com


que ele expõe suas idéias em "A Luta de Raças" (1883) –que, no seu
próprio entender, talvez devesse se chamar “história natural da
humanidade” 4 . Para ele, a sociologia era o estudo de grupos em
conflito com vistas a produzir um conhecimento que, indo além do
meramente descritivo –típico da antropologia, da etnografia e dos
estudos arqueológicos–, pudesse atingir o plano das “leis científicas”.

O evolucionismo, ao qual se filiava Euclides da Cunha, servia de


suporte “científico” às teses pessimistas sobre o futuro do país,
considerado do ponto de vista de sua formação racial ou étnica. Essa
atitude é notável em Euclides da Cunha, já então consagrado escritor,
quando define nossa perspectiva histórica, em artigo de 1902
intitulado “Olhemos Para os Sertões”: “Realmente, considerando o

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nosso meio, os vários aspectos de nossa cultura, os indecisos traços


da nossa atividade e da nossa iniciativa, e a nossa debilidade étnica
ante o incomparável vigor desdobrado nos últimos tempos pelas
nacionalidades que pleiteiam o domínio da terra, fizera-se pouco
animadora a miragem dessa civilização centrípeta em que mal
colaboramos. O embate das raças é a força motriz da história (...).
Ora, temos acaso vitalidade nacional que nos faculte enterrar o
estrangeiro nesse duelo formidável?” 5 .

Sua preocupação é o expansionismo alemão a partir de Bismarck e


nossa “pouca chance” diante dele. Essa a sua metáfora do
enfrentamento mundial no massacre dos sertanejos com armamentos
alemães. Ora, a narrativa euclidiana tem o inegável sentido de
investigação acerca de um possível lugar que poderíamos ocupar, como
nação nova, na história universal e, nesse particular, é um diálogo
com a filosofia da história de Hegel que, apesar de fora de moda, era
ainda a elaboração mais consistente deste gênero narrativo que
dominou o século XIX.

Logo na “Nota Preliminar” de “Os Sertões”, Euclides assume a


perspectiva do historiador do futuro, situando o seu relato num tempo
no qual as “sub-raças sertanejas do Brasil” talvez já não existam,
visto que “destinadas ao desaparecimento ante as exigências
crescentes da civilização”.

A esse historiador do futuro, contudo, cabe a tarefa presente de rever


a filosofia da história de Hegel, pois o conhecimento que produzirá ao
longo de “Os Sertões” indica a necessidade de corrigir as categorias
geográficas que o filósofo alemão estabeleceu. “Hegel delineou três
categorias geográficas como elementos fundamentais colaborando com
outros no reagir sobre o homem, criando diferenciações étnicas (as
estepes, as savanas e os desertos). Aos sertões do norte, porém, que
à primeira vista se lhes equiparam (aos desertos), falta um lugar no
quadro do pensador germânico” 6 .

Silvio Romero preferiu, na sua "História da Literatura Brasileira" um


outro contendor: a filosofia da história de cunho naturalista de Henry
Thomas Buckle. Euclides da Cunha, que também toma Buckle em
conta, em “Os Sertões” e nos textos sobre a Amazônia, busca
evidenciar as “chances” de escaparmos aos destinos lá traçados para
os povos que habitam desertos (no nosso caso, o sertão), bem como
avaliar a possibilidade de inaugurarmos um novo ciclo civilizatório a
partir da colonização racional das florestas.

Em outros textos seus, cabe à engenharia preparar a civilização de


modo condizente com as nossas necessidades de povo em formação,
atuando ela uma “reação contra o clima singular (...) porque para
esses desastrosos desvios da natureza só vale a resistência
organizada, permanente e contínua” 7 .

A necessidade de isolamento e a esperança amazônica

Na Amazônia, já sob a pressão da exploração da borracha, Euclides


identifica “um dos melhores capítulos da nossa história
contemporânea”, pois o que ali está se realizando, é a “seleção natural
dos fortes”, para a qual concorre “uma constituição física privilegiada”;
para lá convergiram os “destemerosos de todos os quadrantes”,
sobrepujando-se “os admiráveis caboclos do Norte, que os absorverão,
que lhes poderão impor a nossa língua, os nossos usos e, ao cabo, os
nossos destinos, estabelecendo naquela dispersão de forças a
componente dominante da nossa nacionalidade”.

Na Amazônia, portanto, pode se dar a inversão da tese de


Gumplowicz, pois o “conquistado”, por sua adaptação mais perfeita,
absorverá o estrangeiro. Através da política de ocupação racional da
Amazônia, o pessimismo histórico pode se converte em otimismo. Mas

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não é possível entender essa inversão de expectativa se não


mergulharmos na ciência racialista de Euclides da Cunha –justamente
o que não fazem os que preferem vê-lo como simples macaqueador de
modismos europeus. O estudo dessas referências, ao contrário, nos
mostra sua originalidade na medida em que ele dialogou com as
teorias européias e as arranjou de novo modo, produzindo explicações
originais sobre a formação brasileira.

Para ele, os tipos humanos que se formam no Brasil surgem a partir


da “heterogeneidade de elementos ancestrais” combinados num modelo
matemático, isto é, como possibilidade de “todas as variáveis de uma
fórmula intricada”: os três elementos formadores –o negro banto, o
indo-guarani e o branco– não nos dizem quais os reagentes que podem
atenuar o influxo da raça mais numerosa ou mais forte e, assim,
apenas servem para dirigir a nossa indagação. Desse modo, Euclides
introduz um elemento que não se vê em Darwin, Haeckel ou Spencer,
que é a idéia de proporção dos caracteres a serem transmitidos,
herdados de cada componente, no momento mesmo de formação do
novo ser.

“Os elementos iniciais não se resumem, não se unificam; desdobram-


se; originam número igual de subformações –substituindo-se pelos
derivados, sem redução alguma, em uma mestiçagem embaralhada
onde se destacam, como produtos mais característicos, o mulato, o
mamaluco ou curiboca, o cafuz”. A complicação que advém dessa
situação de múltiplas combinações é que os seus produtos acabam
substituindo as raças elementares na base do cálculo e em “dosagens
variáveis do sangue”. Os tipos expressam, então, realidades multiplas
e, em geral, instáveis. Nesse ponto Euclides dirá que erra a nossa
sociologia ao perseguir a formação de um tipo étnico único no Brasil,
“quando há, certo, muitos”.

Essa posição contraria o pensamento miscigenista que prevaleceu em


nossas letras, especialmente após Gilberto Freire, e que via na história
uma força diluente e tendente a produzir o homogêneo. Como não via
a possibilidade de estabilização através da miscigenação, achava que a
formação nacional só se daria em longo prazo. “Predestinamo-nos à
formação de uma raça histórica em futuro remoto, se o permitir
dilatado tempo da vida nacional autônoma. Invertemos, sob este
aspecto, a ordem natural dos fatos. A nossa evolução biológica
reclama a garantia da evolução social.”

Euclides acredita que, se ficássemos isolados um bom tempo na


Amazônia, sem a pressão do elemento estrangeiro, certamente
formaríamos a raça nacional ou nacionalidade. Essa a aplicação que
ele faz do conceito de “raça histórica”, utilizado por vários autores –
Ernest Renan, Gustave le Bon, Gumplowicz– e rejeitado por Silvio
Romero.

1 - Ernest Cassirer, "O Mito do Estado", São Paulo, Códex, 2003.

2 - Alfredo Bosi, “Introdução” a "Os Sertões": edição didática preparada pelo professor. São Paulo: Cultrix/INL, 1973. p. 20.

3 - José Carlos Barreto de Santana, "Ciência & Arte: Euclides da Cunha e as Ciências Naturais". São Paulo: Hucitec/
Universidade Estadual de Feira de Santana, 2001. p. 188.

4 - Luis Gumplowicz, "La Lucha de Razas". Madrid: La España Moderna, s/d. p. 5.

5 - Euclides da Cunha, "Obra Completa". vol. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1955. pp. 546-8.

6 - Euclides da Cunha, “Os Sertões”. In: "Obra Completa", vol. 2. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1995. p. 99.

7 - Euclides da Cunha, “Plano de Uma Cruzada”. In: "Obras Completas", vol 1, p. 156.

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