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William Barclay
Título original:
Edición Conjunta De
Casa Unida De Publicaciones.
S. A. Apartado Posta197-Bis
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
CAP. IV - OS APÓCRIFOS
BIBLIOGRAFÍA
Introdução à Bíblia (William Barclay) 4
APRESENTAÇÃO
Carlos Biagini
Introdução à Bíblia (William Barclay) 6
ORAÇÕES PARA O ESTUDO BÍBLICO
Ó Deus,
Ajuda-nos a estudar Tua palavra.
Não só para saber mais de nosso bendito Senhor, mas
também para conhecê-Lo.
Não só para aprender a respeito dEle, senão para nos
encontrarmos com Ele.
Que não só cresçamos em conhecimento, mas também o
nosso amor aumente. Que não só O amemos com o coração,
mas também Lhe obedeçamos com a vida.
De tal modo que, ao conhecê-Lo, e amá-Lo, e obedecê-Lo,
possamos também dizer: Para mim o viver é Cristo. Isto o
pedimos confiados em Teu amor. Amém.
Introdução à Bíblia (William Barclay) 7
PREFÁCIO
William Barclay
Universidade do Glasgow, Escócia.
Introdução à Bíblia (William Barclay) 9
CAPÍTULO I
UM LIVRO ANTIGO
Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol,
nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os
apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes
enxugará dos olhos toda lágrima (Ap. 7:16-17).
Mas é preciso repetir que isto não basta. A Bíblia não se ocupa só
do tempo, mas também da eternidade. Assim que devemos ir para além a
fim de ver no que reside sua singularidade.
VII. Isto nos leva a última e suprema razão que faz da Bíblia um
livro único e sempre indispensável. A esta razão teremos oportunidade
de voltar repetidamente. Só na Bíblia podemos encontrar a Jesus Cristo.
Virtualmente, não existe outra fonte de informação sobre a vida, palavras
e ensinos de Jesus. Sem a Bíblia só contaríamos com recursos vagos e
opiniões abstratas, o que está intimamente relacionado com nosso ponto
anterior. Só em Cristo e através de Cristo, as relações com nossos
Introdução à Bíblia (William Barclay) 17
semelhantes são relacionamentos de amor. Só nEle e por meio dEle
podemos ter relacionamento com Deus.
Sendo tão antiga, a Bíblia é sempre aplicável porque trata das
imutáveis relações pessoais entre os homens, entre o homem e a mulher,
e entre os homens e Deus. É sempre indispensável porque nela
encontramos o retrato da única pessoa no céu e na terra em quem tais
relações alcançam sua perfeição.
A regra tem também tem marcas para medir as linhas que traça, o
que confere outro significado à palavra cânon. Tais marcas ou gradações
se convertem numa lista Por exemplo, o cânon da missa é a lista
daqueles a quem se lembra na missa.
I. O rolo não podia ser usado sem ser desenrolado. Portanto, o rolo
não podia ter mais de 9 metros de comprimento, onde quase não caberia,
digamos, o evangelho de Lucas, ou o de Mateus, ou Atos dos Apóstolos.
Por isso era impossível para os antigos conceber a qualquer dos dois
testamentos bíblicos como um só livro. O Antigo ou o Novo Testamento
Introdução à Bíblia (William Barclay) 21
teriam representado toda uma coleção muito custoso de rolos escritos.
Ainda na primeira etapa do códice teriam sido necessários três ou quatro
volumes para conter o Novo Testamento devido ao tipo de encadernação
Para os antigos, a Bíblia era toda uma biblioteca, e eles estavam
conscientes disso.
Fica, pois, de relevo que a Lei, o Pentateuco, não surgiu por geração
espontânea. Levou-se séculos para gerá-lo. Constitui a essência destilada
da voz de Deus à humanidade - de palavra e fato – através dos tempos.
Aqui se concentra a voz de Deus em seu percurso pelos séculos:
primeiro o livrinho da Aliança, seguido do livro maior da Aliança; logo
Deuteronômio, logo o Código de Santidade, e finalmente o relato dos
atos de Deus pelos homens, compilado por dois escritores distintos.
Posteriormente tomam forma e se entretecem ambos os relatos com tal
honestidade que nada se omite nem se muda; e, finalmente, culmina
nessa maravilhosa amálgama de lei e história que, para os judeus,
continua sendo a palavra de Deus, sem paralelo na terra.
De modo que, cada um dos grandes profetas do século VIII tem seu
tema dominante: Amós e Miqueias, a justiça social; Oseias, o amor;
Isaías, a santidade. Ao lê-los é muito conveniente ter em mente o tema
pessoal de cada um.
a) Seus pecados estão por encontrar você: é seguro que a justiça lhe
sobrevirá ... logo.
b) Embora o castigo de Deus seja severo, Ele continua preocupado
por aqueles a quem castiga, pois o Seu propósito não é aniquilar, mas
antes, salvar.
c) Nesta última hora, antes de que o juízo o alcance, arrependa-se!
Se você o fizer, Deus suspenderá a ameaça de castigo e restaurará ao seu
favor.
d) Deus, quem certamente conhece tudo o que tem que passar,
sabe também que há de sobreviver um pequeno remanescente de
arrependidos, à maneira do toco de uma árvore. Destes brotos ele poderá
levantar de novo a nação ou família da Aliança, que tenha escolhido.
II. Mas houve outro fator que contribuiu para outorgar lugar
destacado a esta literatura profética. Era considerada um grande exemplo
de uma voz que tinha sido silenciada para sempre. Já não havia quem
dissesse: "Assim diz o Senhor". Como dizia nostalgicamente o Salmista:
"Já não vemos os nossos símbolos; já não há profeta; nem, entre nós,
quem saiba até quando" (Sl. 74:9). Pelo menos na época de Zacarias, já
se considerava um enganador a quem pretendia ser profeta: "Quando
alguém ainda profetizar, seu pai e sua mãe, que o geraram, lhe dirão:
Não viverás, porque tens falado mentiras em nome do Senhor; seu pai e
sua mãe, que o geraram, o traspassarão quando profetizar" (Zc. 13:3). E
até nos Apócrifos se lê: "Foi esta uma grande tribulação em Israel,
qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um profeta
no meio deles" (1Mc 9:27, Bíblia de Jerusalém). E acrescenta, à eleição
de Simão como príncipe e sumo sacerdote, que isso era "até que surgisse
um profeta fiel" (1Mc. 14:41, BJ). Esperariam, pois, "à espera de que
viesse algum profeta que se pronunciasse a esse respeito" (1Mac. 4:46,
BJ). A princípios do século IV a.C. os profetas já pertenciam ao passado
esplendoroso, cuja voz se apagou para sempre, o que lhes outorga uma
grandeza inigualável.
III. Deste modo mencionamos que Lucas 24:44 fala de que Jesus,
depois da Ressurreição, explicou aos Seus discípulos o que a Lei, os
Profetas e os Salmos diziam dEle.
IV. No livro apócrifo 4º. de Esdras, que nas edições dos livros
apócrifos aparece como 20 de Esdras, há um relato (Capítulo 14)
extremamente fictício da obra de Esdras. Para então já se perdeu a Lei e
Esdras tinha sido designado por Deus para restaurá-la. Segundo este
relato, Esdras foi levado a um campo, junto com outros cinco homens, e
ali lhe deu de beber, numa cálice, um líquido que ardia como fogo.
Durante quarenta dias e quarenta noites, Esdras ditou sem parar aos
cinco escribas até completar noventa e quatro livros. Então, segue a
lenda, o Altíssimo lhe disse: "Publica os vinte e quatro livros que
escreveu primeiro e deixa que todos os leiam, sejam dignos ou não de lê-
los. Mas conserva os setenta que escreveu por último, para dá-los aos
Introdução à Bíblia (William Barclay) 46
sábios de seu povo". Certamente, esta é só uma lenda; mas o importante
é que este livro foi escrito na segunda metade do século I de nossa era,
quando as Escrituras judaicas constavam já de 24 livros, que é a cifra
que inclui os Escritos. Para essa data os Escritos formavam já parte das
Escrituras.
Vimos também no Capítulo II que copiar livros não era nada barato.
Evidentemente o custo das Escrituras ficava fora do alcance da maioria
dos cristãos, e inclusive das igrejas Os custos de produção bastavam
para impedir o desenvolvimento de algo equivalente à nossa literatura
cristã.
Para começar, a memória dos antigos era muita mais retentiva que a
nossa. Devia sê-lo. Poderia afirmar-se que a página impressa,
Introdução à Bíblia (William Barclay) 58
particularmente a do livro barato ou facilmente acessível, tendeu a
eliminar a memória mnemônica. A pessoa que na antiguidade queria
reter alguma história ou fatos precisos, não tinha mais remédio que
memorizá-los, pois os livros eram escassos e caros. Xenofonte conta que
Nicerato dizia: "Meu pai ansiava ver-me crescer como homem de bem, e
para este fim me obrigou a memorizar todo Homero de modo que ainda
hoje sou capaz de repetir, de cor, toda a Ilíada e a Odisseia”. As obras
citadas contêm 24 livros cada uma com médio de 500 linhas por livro.
Tal façanha retentiva era algo que os jovens gregos cultos realizavam
como parte de sua educação. Se na atualidade quisermos desfrutar de
alguma passagem ou nos referir a ela, buscamo-la num livro; antes,
quando havia poucos livros ou não existiam, tudo se armazenava na
memória. Numa época em que a memória era prodigiosa, não havia
perigo de que os conhecimentos se esquecessem ou se distorcessem.
Isto deu lugar a toda uma série de livros, cada um sob o título de
Apocalipse. Esta palavra significa tirar o véu, revelar. Seu propósito era
descrever os eventos terríveis dos últimos dias e o terror do juízo, assim
como a idade de ouro que estava por chegar. Naturalmente que estes
livros eram inteligíveis só para os iniciados que conheciam a "chave",
visto que descreviam coisas nunca antes vistas nem ouvidas e nem
sequer imaginadas. Muitos destes livros sobreviveram porque quanto
mais escura era a história dos judeus, e mais dura sua sorte, e mais
opressiva sua escravidão e subjugação, com maior ardor sonhavam com
a chegada do dia em que Deus invadiria a história, e se efetuaria a
dramática mudança e se iniciaria a nova era.
Aqui temos pela primeira vez o Novo Testamento tal como agora o
conhecemos.
Introdução à Bíblia (William Barclay) 73
Assim que para o ano de 367 já se completou o Novo Testamento e
o cânon estava fechado. Nunca mais teria que ser mudado. Entretanto,
vale a pena ver o que Lutero tem a dizer sobre este tema. Atualmente as
atitudes dos reformadores nos parecem incrivelmente livres e radicais.
Assumiam liberdade absoluta com relação ao lugar que outorgavam a
certos livros. Lutero tinha sozinho uma pedra de toque, que expressou
com sua habitual e vívida violência:
"Aquilo que não ensina a Cristo, não é apostólico", embora Pedro
ou Paulo o tenham dito. E, ao contrário, aquilo que prega a Cristo é
apostólico embora nos venha de Judas, Anás, Herodes ou Pilatos.
Os Profetas As Historias
Josué Josué
Juízes Juízes
1 e 2 Samuel Rute
I e II Reis 1 e 2 Reis
Isaías (=1 e 2 Samuel
Jeremias
Ezequiel
Oseias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miqueias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Os Escritos
Salmos
Provérbios
Jó
Cantares de
Salomão
Rute
Lamentações
Eclesiastes
Ester
Daniel
Esdras
Neemias
1 e 2 Crônicas
Introdução à Bíblia (William Barclay) 88
De imediato se pode apreciar a grande diferença nas listas que
provêm do hebraico, grego, latim, inglês (e português) com relação aos
livros que contêm ou não contêm, assim como quanto à ordem em que se
apresentam.
Estas listas deixam também claro que a mais inclusiva é a da
Septuaginta, ou Antigo Testamento em grego. Inclui livros que nem
sequer se encontram nos Apócrifos oficiais, por exemplo III e IV
Macabeus, as Odes, e os Salmos de Salomão.
Por que é isto assim? Vimos visto que para os judeus palestinos os
livros sagrados são vinte e quatro livros e nada mais; seu cânon está
fechado. "Se alguém – declaravam os rabinos – recebe mais de vinte e
quatro livros, introduz confusão em sua casa". Segundo a lei judaica, era
ilegal carregar qualquer coisa no sábado, e estabelecia que se uma casa
fosse incendiava, somente podiam tirar-se dela os vinte e quatro livros e
nada mais. Por outro lado, os judeus alexandrinos aplicavam um critério
mais amplo, visto que consideravam que todo livro inspirador era
inspirado. Assim que, no princípio, houve duas versões do Antigo
Testamento: a versão limitada dos judeus palestinos e a versão inclusiva
dos judeus de fala helênica; e os livros adicionais na versão grega são
precisamente os Apócrifos. E considerando que então havia mais pessoas
que utilizavam o Antigo Testamento em grego que no hebraico, chegou um
momento em que estes livros adicionais foram amplamente recebidos.
Acaso teremos chegado a uma etapa na qual houve dois antigos
testamentos, um curto, no hebraico, e outro mais amplo, em grego? Na
realidade os livros Apócrifos contêm material muito abundante. Bruce
Metzger o expressa estatisticamente:
Em todo este capítulo darei como fato que quem deseja envolver-se
no estudo bíblico é cristão ou, pelo menos, gostaria de ser. Teremos
presente a pessoa que deseja ampliar seus conhecimentos e aprofundar e
enriquecer sua vida e experiência cristãs com o estudo bíblico.
Partiremos da afirmação de Armínio quando disse que "A Igreja é aquela
comunidade que reconhece nas Escrituras a palavra de Deus"
Quem quer que deseje ser um com Deus deve ler as Sagradas
Escrituras vez após vez, pois quando oramos falamos a Deus e quando
lemos a Bíblia é Deus quem nos fala. A leitura da Bíblia produz um
nobre benefício ao leitor: ela o faz mais sábio ao informar sua mente e
o conduz da vaidade do mundo ao amor de Deus. A leitura das
Escrituras é, na verdade, uma ocupação honorável e contribui
Introdução à Bíblia (William Barclay) 102
grandemente para purificar a alma. Pois assim como o corpo se nutre
com o alimento natural, assim também o mais sublime do homem, isto
é, sua alma, alimenta-se com as palavras divinas, segundo o Salmista:
“Quão doces são ao meu paladar as tuas palavras! Mais que o mel à
minha boca”. Ditoso, pois, aquele que lê as Escrituras e converte as
palavras em ações. Todas as Escrituras foram escritas para nossa
salvação, e por meio delas obtemos o conhecimento da verdade. O
cego tropeça mais que aquele que tem vista; da mesma maneira,
aquele que ignora os preceitos das Escrituras ofende mais
frequentemente que quem os conhece.
Eles utilizaram o melhor que havia em 1611. Mas desde então fez-
se todo tipo de descobertas e apareceram muitos manuscritos
desconhecidos. Na atualidade contamos com manuscritos procedentes
dos séculos terceiro e quarto, os quais podem contar-se por vintenas e até
por centenas. Quer dizer, que no século XX conta-se com centenas de
manuscritos que são seis ou sete séculos mais antigos que os que
serviram de base ao texto grego de onde se traduziu a Versão Autorizada
(inglesa).
Até onde seja possível, cada incidente bíblico deveria ser lido à luz
de seus antecedentes, o que frequentemente demanda trabalho e
investigação para chegar a entender, mas os resultados valem a pena.
Assim que, nesta passagem nos fala um poeta que fala do sol ao
estilo do poeta do Salmo 19 (5,6), que fala do sol como marido que sai
diariamente sai dos seus aposentos e faz seu percurso cotidiano de um
extremo ao outro dos Céus. Esta é linguagem poética, que empregamos
até na conversação comum. Dizemos, por exemplo, "foi a hora mais
longa de minha vida", mas não há hora que passe dos sessenta minutos.
Quando nos sentimos felizes, dizemos que "o tempo foi embora
voando", embora o tempo em si transcorra sempre ao mesmo ritmo.
Ainda hoje o judeu se cobre com seu xale com borlas e seus
filactérios ao orar; ainda ata a mezuzah à entrada de sua casa ou
apartamento. Mas nenhum destes mandamentos são vistos como
obrigatórios para o cristão.
Mas quando Jesus vem, traz consigo um novo conceito, que não é já
a eliminação dos inimigos de Deus arrebatando-lhes a vida: temos que
eliminar sua inimizade mediante sua conversão. Durante a guerra civil
norte-americana, acusou-se ao Presidente Abraão Lincoln de ser muito
considerado e amável com os estados sulinos. "São seus inimigos –
dizia-lhe o povo – e sua missão é destruí-los". Ao que Lincoln replicou:
“E não destruo a meus inimigos quando os faço meus amigos?”
Se alguém causar defeito em seu próximo, como ele fez, assim lhe
será feito: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele
tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará. Quem matar um
animal restituirá outro; quem matar um homem será morto (Lv. 24:19-
21).
Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por
dente, mão por mão, pé por pé (Dt.19:21).
E também:
Se alguém te quer fazer mal, lhe faça o bem e ora por ele, e então o
Senhor te redimirá de todo mal (O Testamento de José 18:2).
Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos
digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face
direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e
tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a
andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as
costas ao que deseja que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás
o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os
vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis
filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus
e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que
vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também
o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de
mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede vós
perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. (Mt. 5:38-48).
Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o
mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o
mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os
animais; porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos
procedem do pó e ao pó tornarão (Ec. 3:19-20).
Para aquele que está entre os vivos há esperança; porque mais vale um
cão vivo do que um leão morto. Porque os vivos sabem que hão de
morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco
terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. ...
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças,
porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem
conhecimento, nem sabedoria alguma (Ec. 9:4-10).
II. Mas no Antigo Testamento isto não para ali. Contém muitas
passagens que, ao menos, encaminharam-se rumo à crença na vida
depois da morte. Isaías pôde dizer:
Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão;
despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó
Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus mortos
(Is. 26:19).
Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a
terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha
carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão,
e não outros (Jó 19:25-27).
(e) A crença na vida vindoura não chega às vezes por este tipo de
salto súbito, mas sim através de uma convicção crescente de que existe
uma relação, uma conexão, uma amizade, um vínculo essencialmente
indissolúvel com Deus, e isto simplesmente porque Deus é Deus.
Quem neste mundo tinha encontrado a Deus cria que, visto que
Deus é sempre Deus, não podia perdê-lo. Isso é exatamente o que
significaria dizer que o amor é imortal, e por isso o Salmista
escreve:
(d) Mas talvez o que mais contribuiu para que os hebreus viessem a
crer numa vida para além, foi simplesmente o fato de que, a menos que
inserissem outro mundo no esquema das coisas, jamais poderiam
cumprir-se as promessas de Deus à nação e ao indivíduo. Houve uma
época em que o homem esperou a recompensa e o castigo de Deus no
presente. O Salmista dizia:
Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado,
nem a sua descendência a mendigar o pão (Sl 37:25).
Mas cada vez foi sendo menos possível afirmar isso. O homem bom
podia morrer, ou agonizar, às mãos de um cruel perseguidor. O homem
de princípios era, e continua sendo, odiado pelo mundo. Israel era o povo
escolhido; mas encontrava-se subjugado por assírios, babilônios, persas e
romanos. Simplesmente, se não havia outra vida, era impossível crer na
justiça ou no amor de Deus. Segundo renomada expressão, o novo
mundo estava chamado a corrigir o desequilíbrio do antigo. Foi assim
como entre ambos testamentos foi fortalecendo-se esta crença na vida
por vir, de tal maneira que os que tinham sido fiéis a Deus pudessem ser
premiados e assim se cumprissem as promessas de Deus.
Os que temem ao Senhor se levantarão para a vida eterna; sua vida
estará na luz e nunca cessará (Salmo de Salomão 3:12).
Introdução à Bíblia (William Barclay) 147
Depois disso, quando se cumprir o tempo da vinda do Messias, ele
retornará aos céus em glória. E então ressuscitarão todos aqueles que
dormiram com sua esperança nele (Apocalipse de Baruque 30:1).
III. Tudo isto, no melhor dos casos, não passava de ser simples
esperança, e não foi até a vinda de Cristo quando esta esperança se
tornou certeza. Disse Jesus:
Cada vez que estudemos a Bíblia nossa tarefa será captar a verdade
eterna depois da imagem temporal. Os eruditos do século XX estavam
longe de ser os primeiros em reconhecer esta necessidade. Orígenes, o
grande mestre, sabia isto perfeitamente e o expressou de maneira clara
e enfática nos meados do terceiro século (De Principiis 1:16):
Que homem razoável suporia que o primeiro, segundo e terceiro dias,
e a tarde e a manhã, existiram sem o sol, a lua e as estrelas? Quem é
tão néscio para crer que Deus, como um camponês, plantou no Éden
um jardim onde pôs uma árvore da vida que podia ver-se e tocar-se de
maneira que qualquer que provasse de seu fruto com seus lábios
mortais obteria a vida? Ou, mais ainda, que pessoa se convertia em
participante do bem e o mal por comer do arrancado de uma árvore? E
se é dito que Deus passeava durante a tarde pelo jardim e que Adão se
ocultou sob uma árvore, não suponho que haja quem duvida que estas
coisas figuradamente assinalam alguns mistérios, e que a história seja
aparente, mas não literalmente, certa. De modo algum. Os próprios
evangelhos estão cheios com este tipo de narrações. Tome-se, por
exemplo, o relato do diabo que leva a Jesus ao alto de uma montanha,
para lhe mostrar dali os reinos do mundo e sua glória: Quem que
raciocine não condenaria ao que ensinam que dali contemplou Jesus
os reinos dos persas, citas, índios e partos, e o modo como se
glorificava a seus governantes, e que o fez com a visão física, que
requer de uma altura maior para sequer ver os terrenos imediatos?
III. O mal é atrativo (v. 6). Parece bom e saboroso; arrancá-lo seria
obter algo aparentemente proveitoso. O pecado é sempre atrativo: eu
seria feliz se tão somente pudesse obter isto. A tentação careceria de
poder se o proibido fosse feio e repulsivo. O poder da tentação estriba
em que o proibido vê-se atrativo, desejável e vantajoso.
O dearest son of Aegeus, exemption from old age and death comes to
gods alone. But all-powerful Time brings everything else to confusión.
Introdução à Bíblia (William Barclay) 157
The strength of the earth decays, the strength of the body decays, faith
dies and faithlessness arises and the same spirit no longer exists
between friends or between city and city. With some at once and with
others later on, what is a source of pleasure becomes bitter, and then
again is pleasant.
(Ó o mais amado filho de Egeu, exceto da velhice e a morte vem aos
deuses só. Mas o todo-poderoso Tempo traz tudo o mais a confusão. A
fortaleza da terra decai, a fortaleza do corpo decai, a fé morre e a
infidelidade surge e o próprio espírito deixa de existir entre amigos
ou entre cidade e cidade. Com alguns imediatamente e com outros
depois, o que é uma fonte de prazer torna-se amargo e logo outra vez é
prazenteiro).
Fair Aegeus' son, only to gods on high Not to grow old is given, nor
yet to die, All else is turmoiled by our master, Time. Decay is in
earth's bloom and manhood's prime. Faith dies and unfaith blossoms
like a flower, And who of men shall find from hour to hour, Or in loud
cities or the mores thereof, Or silent chambers of his own heart's love,
One wind blows true forever? Soon or late Hate shall be love and love
veer back to hate.
(Ó, belo filho de Egeu, dos excelsos deuses só é o não envelhecer, e o
não morrer. Em tudo o mais domina o tempo, nosso dono. Tudo
morre: as flores, o vigor do homem; morre a fé, mas a infidelidade
floresce. Quem pode achar, de um a outro instante, no tumulto de
praças e cidades, ou no claustro silencioso do próprio coração, que o
vento seja constante? Mais cedo ou mais tarde se torna em amor o
ódio, converte-se em ódio o amor).
Às vezes tem-se respondido, dizendo que este livro foi escrito por
Deus; que cada palavra, sílaba e letra, que cada página, parágrafo e
oração, foram todos traçados pela própria mão de Deus, ou que é a
própria palavra de Deus. Tal ponto de vista representa a chamada
inspiração verbal. É, na realidade, uma antiga teoria de inspiração,
segundo a qual o escritor humano não teve maior intervenção que a que
tem a pena do autor ou a máquina de escrever que transcreve este
capítulo. No Novo Testamento chamado do Whittingham, precursor da
chamada Bíblia de Genebra, justamente se omite da Carta aos Hebreus o
nome de Paulo, e se acrescenta uma elucidação: "já que o Espírito de
Deus é o autor disto, em nada diminui sua autoridade que não saibamos
com que pena o escreveu". Desde esta perspectiva o autor da Epístola,
quem quer que tenha sido, não foi mais que uma pena na mão de Deus.
Introdução à Bíblia (William Barclay) 161
Atenágoras dizia em seus escritos que "Deus move as bocas dos
profetas como se fossem instrumentos musicais". Descrevia o Espírito
usando os escritores como um flautista que toca a flauta. Justino Mártir o
via como o Espírito Santo que desce do céu e se vale de homens como
um plectro que tange as cordas do harpa ou a lira. Teófilo de Antioquia
fala dos profetas "aqueles que vieram a ser instrumentos de Deus".
Clemente de Alexandria vê os escritores sacros como "órgãos da voz
divina". Macário explica que assim como o alento fala com sopro através
de uma flauta "assim também falou o Espírito através de homens santos
e espirituais". Segundo tudo isto, aqueles que escreveram as Escrituras
não tiveram que ver com os escritos além do que tem que ver uma pena
em mãos de um autor ou um instrumento musical com a música do
compositor. Significa que a Bíblia é a palavra de Deus literal e até
fisicamente, por assim dizer. Resulta impossível manter esta posição, por
várias razões.
IV. Numa muito raro ocasião pode haver mais erro que variação.
Marcos, ao relatar como os discípulos arrancaram espigas das saras,
violando assim a lei sabática, mostra a Jesus lembrando aos fariseus o
que fez Davi nos dias do sumo sacerdote Abiatar (Mc. 2:26). Tanto
Mateus como Lucas omitem este nome (Mt. 12:1-8; Lc. 6:1-5). O
sacerdote em questão não foi Abiatar, e sim Aimeleque (1Sm. 21:1-6)
filho do Abiatar (2Sm. 8:17). Um equívoco assim é perfeitamente
explicável numa mente humana, e não tem importância alguma, mas é
algo inconcebível num ditado divino.
IV. Visto que Deus é amor ele tem que achar algum meio para
normalizar a situação. E não pode fazê-lo intervindo diretamente e de
fora. Isto é assim porque a relação entre Deus e o homem deve
permanecer livre e espontânea ou não seria uma relação de amor. É
portanto, necessário, que Deus apele a meios humanos para resolver a
situação. Assim fê-lo, e os meios que empregou para atrair a si aos
humanos foram os profetas.
É preciso ter presentes duas coisas. O profeta não era tanto alguém
que predizia como alguém que proclamava a vontade e o propósito de
Deus. A grande função da profecia não é a de predizer, antes, a de
proclamar a vontade de Deus e anunciar as consequências que causará o
não obedecê-la. Além disso, para os judeus, a palavra profecia tinha um
significado muito mais amplo que para nós. Tal como o vimos o estudar
o desenvolvimento do Antigo Testamento, os livros históricos eram
conhecidos como profecias anteriores; assim que a história é profética.
Moisés foi considerado um profeta; portanto, a lei é profética. Toda a
Escritura é profética, visto que o profeta é quem traz para os seus
semelhantes a voz de Deus. É dizer que, caracteristicamente, o profeta é
a pessoa que estabelece a relação entre Deus e o homem; profeta é quem
fala a palavra de Deus, é a pessoa inspirada.
Mas não terminamos ainda, pois há uma linha mais que une-se a
esta. Para o judeu a revelação de Deus não era de maneira nenhuma uma
revelação em palavras; era uma revelação nos acontecimentos. Para o
judeu, a grande revelação de Deus é a história de Israel e, especialmente,
sua libertação do jugo egípcio. Deus se revela a si mesmo na história,
nos acontecimentos e na ação divina. Qualquer que leia os Profetas,
encontrará que grande parte do que dizem não é mais que interpretação
dos acontecimentos históricos. O profeta vê a mão de Deus revelar-se
no evento; vê no evento o que Deus tem feito e o que Deus quer dizer.
II. A Bíblia é a palavra de Deus, porque foi escrita por pessoas que
conheciam a Deus, porque O amavam e obedeciam.
Introdução à Bíblia (William Barclay) 173
III. A Bíblia é a palavra de Deus, porque fala dos fatos salvíficos
por meio dos quais Deus Se revela a Si mesmo, e que culminam no
evento de Jesus Cristo.