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Seropédica, RJ
Dezembro / 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Monografia apresentada no
Curso de Relações
Internacionais da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro
como requisito para obtenção do
título de bacharel em Relações
Internacionais.
Banca Examinadora:
________________________________________
Prof.ª Dr.ª Nalayne Mendonça Pinto (orientadora)
– DCS – UFRRJ
Seropédica, RJ
Dezembro de 2018
AGRADECIMENTOS
Palavras-Chave:
Introdução............................................................................................................9
Conclusão..........................................................................................................41
Referências........................................................................................................44
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INTRODUÇÃO
O termo estado de exceção foi utilizado por Giorgio Agamben (2004) para
tentar descrever o que ocorre quando um chefe de Estado decreta um estado de
sítio/defesa, que na realidade corresponde a suspensão do ordenamento jurídico
comum, viabilizando a atuação militar próximo a um estado de guerra, onde o
direito civil é suspenso. A pertinência do conceito está em tentar explicar o que
o próprio direito não consegue, uma vez que a supressão dos direitos contraria
as garantias proporcionadas para cidadãos de cada Estado, presentes em suas
respectivas constituições. Recorrentemente ao longo da história, os Estados
buscaram aplicar o estado de exceção para eliminar grupos populacionais
indesejados.
1
O termo “classes perigosas” na perspectiva adotada pelo trabalho passa a ser empenhado ao início do
período da revolução industrial inglesa, associado a mecanização da agricultura e esvaziamento do
campo, culminando na intensificação do processo de urbanização das cidades por conta das migrações. A
miséria vivida por crianças e jovens na Europa, “caipiras” e negros na América do Sul, era tratada a partir
do viés criminológico, como se o crime fosse gerado em meio a enclaves de pobreza. No decorrer da
modernização do modo de produção capitalista cidadãos integrados ao mercado de consumo passaram
a retratar constantemente os que viviam em meio a pobreza das grandes cidades enquanto criminosos
que precisavam ser contidos ou eliminados do corpo social. Todavia, o “problema” abordado sinaliza estar
associado com questões econômicas, relativas a concentração fundiária e distribuição de renda. Para um
acesso mais denso entorno do conceito C.f. GUIMARÃES, Alberto. As classes perigosas: banditismo
urbano e rural. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2008.
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2
C.f. BRUM, Mario. Favelas e remocionismo ontem e hoje: da Ditadura de 1964 aos Grandes Eventos. O
Social em questão. Ano XVI, nº 29, 2013. Pg. 179-208.
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era presente na sociedade. Foi com resistência que o governo federal passou a
competência da segurança pública para os estados federados, deixando
obstáculos legais herdados do regime militar que minaram a possibilidade de
reforma das polícias de forma ampla e estrutural.
3
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/cinco-familias-controlam-50-dos-principais-veiculos-de-
midia-do-pais-indica-relatorio <Acesso em: 14/09/18>
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Os “cidadãos” do nosso país hoje são muito poucos, uma vez que na
sociedade de mercado os não consumidores, os miseráveis, nada valem; são
simples estatísticas. O movimento é de duas vias, pois poucos se reconhecem
enquanto cidadãos, como são poucos os que são tratados como tal. No sistema
de produção capitalista, a produção atrela-se à individualização das
responsabilidades. Assim, “o indivíduo passa a ser a medida de todas as coisas
e o único responsável por suas vitórias ou fracassos” (idem, p. 64).
4
<https://g1.globo.com/economia/noticia/super-ricos-ficam-com-82-da-riqueza-gerada-no-mundo-em-
2017-diz-estudo.ghtml> Acessado em 17/09/2018.
5
<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/13/internacional/1513193348_895757.html> Acessado em
17/09/2018.
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II (que) é a repetição do equívoco que foi a Operação Rio I (...) A solução para a
violência não é o estado policial (...)”6. Nessa segunda fase instaurada no estado,
por conta das críticas que sofreram e preocupados em não desgastarem mais
sua imagem, as Forças Armadas aterram-se a realizar patrulhamento nas ruas
e a dar apoio logístico às polícias estaduais e à polícia federal.
6
< https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/3/28/brasil/44.html > Acessado em 20/09/2018.
7
C.f. SILVA, Golbery do C. Geopolítica do Brasil. Editora José Olympio, São Paulo, 1967.
22
da “quase intervenção federal” ocorrida no ano de 1993 foi possível através dos
aspectos jurídicos presentes na Constituição brasileira que garantem ao
presidente da república instaurar o estado de defesa (ou exceção) a partir de
uma visão equivocada de ordem pública, em que se suspendem os direitos
individuais da população, em detrimento da “segurança”.
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8
UNFPA, A ONU e a população mundial, 2007, disponível em:
<https://nacoesunidas.org/acao/populacao-mundia/>. Acesso em: 10 de maio de 2018.
9
Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), The State of World Population 2007: Unleashing the
Potential of Urban Growth (Nova York, UNFPA, Rensslaer Polytechnic, 2007)
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10
Essa estratégia midiática também foi utilizada em 1994 pelo jornal O Estado de São Paulo para retratar
a violência na cidade do Rio de Janeiro, meses antes de ser decretada a “Operação Rio I” (COIMBRA, 2001).
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Essa nova caracterização dos conflitos militares do século XXI, em contraste com as guerras tradicionais
que colocavam forças armadas de lados opostos em um campo de batalha, está voltada para a contenção
de grupos considerados insurgentes e identificados como ameaças estatais. Os atores presentes dentro
do conflito, dessa forma, estão de maneira assimétrica, por conta das disparidades que constituem a ação
Estatal e a do grupo desordeiro a ser enfrentado.
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controle territorial das cidades, com o emprego de tecnologias de repressão contra nacionais,
visando o combate e eliminação de indivíduos indesejados pelo Estado.
29
A respeito disso Carl Schmitt (1995) reportou que, dessa forma, “nenhuma
constituição do mundo havia, como a Weimar, legalizado tão facilmente um golpe
de Estado” (p. 25).
Beltrame. Ainda, segundo o mesmo, “marginal sem casa, sem arma, sem
território é muito menos marginal”. O sucesso da operação que estava em
andamento também agradou o Governador Sérgio Cabral que afirmara que “a
conquista19 do território do Complexo do Alemão pelo Estado é um passo
fundamental e decisivo na política de segurança pública que traçamos para o
Rio de Janeiro”.
19 Grifo do autor.
20https://www.defesa.gov.br/arquivos/2012/Pronunciamentos/Ministro_defesa/julho/discurso_pa
2004 e 2017, foi fundamental para a consolidação do plano de Unidades de Polícia Pacificadora
(UPP), como abordam Thiago Rodrigues (2014), Miguel de Sá (2017) e Eduardo Rodrigues
(2013). A missão havia sido implementada para durar apenas seis meses. Contudo, se estendeu
durante 13 anos, a um custo anual de U$ 400 milhões. Ao longo dos anos, houve verba para
armas e soldados estrangeiros ocuparem militarmente o país – sendo enviados 37 mil militares
brasileiros –, mas situações como a epidemia de cólera que atingiu mais de 850 mil haitianos e
vitimou ao menos 8500. Antes da ida de tropas estrangeiras ao país o Haiti não sofria com casos
da doença.
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22 Pode ser decretado quando o desastre é grande o suficiente para comprometer totalmente a
capacidade de resposta do poder público local, com respaldo no Decreto nº 7.257 de 4 de agosto
de 2010.
23 Arrastões, roubos e tiroteios: Rio vive carnaval de violência, O GLOBO, 13/02/2018; Violência
e desordem marcam Carnaval do Rio: três PMs são mortos, Folha de São Paulo, 14/02/2018;
Ministro diz que a violência no carnaval do Rio foi inaceitável e promete ajuda, Empresa Brasil
de Comunicação, 14/02/2018.
24 Gabinete da Intervenção Federal.
25 https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,16-dos-27-indicadores-de-violencia-
27 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/06/reprovacao-aumenta-e-torna-temer-o-
presidente-mais-impopular-da-historia.shtml < Acesso em: 27/11/2018 >
28 O plano estratégico do GIF foi publicado no Diário Oficinal da União no dia 29 de maio de 2018,
três meses e trezes dias após o início da intervenção. O texto completo pode ser acessado em:
http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/noticias/2018/06/plano-estrategico-gif.pdf
< acessado em: 22/11/18 >.
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Conclusão
Referências
COIMBRA, Cecília. Operação Rio: o mito das classes perigosas. Rio de Janeiro:
Oficina do Autor, 2001.
SOUZA, Adriana B.; SILVA, Angela M. D.; MORAES, Luis E. de S.; CHIRIO,
Maud (orgs.). Pacificar o Brasil: das guerras justas às UPPs. São Paulo: Editora
Alameda, 2017. p. 49-76.