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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA

CULTURAL DO ESTADO NOVO1


Mônica Pimenta Velloso
Fundação Getúlio Vargas

RESUMO
Este artigo analisa a relação entre intelectuais e sistema de poder durante o Estado Novo no Brasil Esse
período é particularmente importante, pois nele os intelectuais direcionam sua atuação para o âmbito do
Estado, que corporificaria, para eles, a idéia de ordem, de organização e de unidade, capaz de harmonizar
a sociedade civil, entendida como um corpo conflituoso, indefeso e fragmentado. Notando que há uma
inserção dos intelectuais no aparelho do Estado, a autora procura analisá-los como participantes de um
“projetopolítico-pedagógico ” que visava “educar” a coletividade segundo a ideologia do regime dirigido
por Getúlio Vargas.
PALAVRAS-CHAVE: Estado Novo (1937-1945); intelectuais; política cultural; poder político; propaganda.

I. A CONSTRUÇÃO DA NACIONALIDADE: OS processo de construção da jovem Nação, os


INTELECTUAIS E O PODER intelectuais portaram-se como verdadeiros guias,
A relação dos intelectuais com o sistema de sentindo-se particularmente inspirados pela idéia
poder tem sido extremamente imbricada e nacional. Assim, os escritores românticos acredi­
complexa, uma vez que, ao longo da história, eles tavam ter uma missão sagrada: a de criar um te­
freqüentemente se atribuíram a função de agentes rnário nacionalista, destinado a autovalorização do
da consciência e do discurso (FOUCAULT e DE- país (CÂNDIDO, 1965: 07).
LEUZE, 1979: 71). No Brasil, a nossa estrutura Na passagem do regime imperial para a
patriarcal e autoritária e a própria condição de país República, os intelectuais voltam a atribuir-se o
periférico — de grande contingente de analfabetos papel de guia na condução do processo de moder­
— acabaram por reforçar ao extremo esse tipo de nização da sociedade brasileira. Eles aparecem
prática. Assim, o ideal da representação, o falar como verdadeiros “mosqueteiros intelectuais” que,
em nome dos destituídos de capacidade de discer­ munidos do instrumental cientificista buscam
nimento e expressão, foi facilmente absorvido pelo remodelar o Estado, lutando contra a incapacidade
intelectual brasileiro. Sentindo-se consciência técnica e administrativa dos políticos (SEVCEN-
privilegiada do “nacional”, ele constantemente KO, 1983).
reivindicou para si o papel de guia, condutor e Na década de vinte, quando se fazem sentir os
arauto. Basta conferir a nossa literatura social, efeitos críticos do pós-guerra, com a derrocada
cujos exemplos são pródigos neste sentido. do mito cientificista, o ideal cosmopolita de
Nos momentos de crise e mudanças históricas desenvolvimento cede lugar ao credo nacionalista.
profundas — instauração do Império, Proclamação A busca de nossas raízes, o ideal de brasilidade,
da República, Revolução de 30 e Estado Novo — passam, então, a construir o foco das preocupa­
as elites intelectuais marcaram sua presença no ções intelectuais. Agrupados no movimento mo­
cenário político, defendendo o direito de interfe­ dernista, os intelectuais se julgam os indivíduos
rirem no processo de organização nacional. Logo mais capacitados para conhecer o Brasil. E é atra­
após a Independência, quando estava em curso o vés da arte que eles pretendem atingir a realidade
brasileira, apresentando alternativas para o
desenvolvimento da Nação (VELLOSO, 1983).
1 Este texto foi escrito em 1987. Resolvi mantê-lo na Fica clara, portanto, a constituição da identidade
versão original para essa publicação.
desse grupo, que, historicamente, sempre buscou
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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO
distinguir-se do conjunto da sociedade. Seja através pantes de um projeto político-pedagógico, des­
dos ideais da ciência ou da racionalidade (geração tinado a popularizar e difundir a ideologia do regime.
de 1870), da arte ou intuição (geração de 1920); Destacar o vínculo dos intelectuais com este pro­
imbuídos de vocação messiânica, senso de missão jeto significa evidenciar a relação entre propaganda
ou dever social, os intelectuais se auto-elegeram política e educação no Estado Novo. Apresentan­
sucessivamente consciência iluminada do nacional. do-se como o grupo mais esclarecido da sociedade,
E a partir da década de trinta que eles passam os intelectuais buscam “educar” a coletividade de
sistematicamentea direcionar a sua atuação para o acordo com os ideais doutrinários do regime.
âmbito do Estado, tendendo a identificá-lo como Dentro do projeto educativo há que se distin­
a representação superior da idéia de Nação. Per­ guir dois níveis de atuação e estratégia: a do
cebendo a sociedade civil como corpo conflituoso, Ministério da Educação (dirigido por Gustavo
indefeso e fragmentado, os intelectuais corpori- Capanema) e a do Departamento de Imprensa e
ficam no Estado a idéia de ordem, organização, Propaganda — DIP — (encabeçado por Lourival
unidade. Assim, ele é o cérebro capaz de coor­ Fontes). Entre essas entidades ocorreria uma
denar e fazer funcionar harmonicamente todo o espécie de divisão do trabalho, visando atingir
organismo social2. Apesar das diferentes propos­ distintas clientelas: o Ministério Capanema voltava-
tas de organização apresentadas pelos intelectuais se para a formação de uma cultura erudita,
ao longo das décadas de vinte e trinta — jurídica preocupando-se com a educação formal; enquanto
(Francisco Campos), econômica (Azevedo Ama­ o DIP buscava, através do controle das comunica­
ral), espiritual (Jackson de Figueiredo) —, todas ções, orientar as manifestações da cultura popular.
convergem para um mesmo ponto: a solução Esta diversidade de orientação na política cultural
autoritária e a desmobilização social (SADEK, transparece na própria composição dos intelectuais
1978: 90). nos referidos organismos. O Ministério Capanema
reunia um grupo ligado à vanguarda do movimento
No Estado Novo (1937-1945), esta matriz modernista: Carlos Drummond de Andrade (chefe
autoritária de pensamento, que confere ao Estado de gabinete), Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Cândi­
o poder máximo da organização social, vai adquirir do Portinari, Mário de Andrade3.
contornos mais definidos. As elites intelectuais, Bem diferente era a composição em tomo de
das .mais diversas correntes de pensamento, pas­ Lourival Fontes, que incluía nomes como o de
sam a identificar o Estado como o cerne da nacio­ Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia e Cândido
nalidade brasileira. Motta Filho. Intelectuais esses conhecidos pelo
Se, historicamente, a construção do nacionalis­ pensamento centralista e autoritário, que viria a
mo vinha se constituindo em uma das preocupa­ imprimir um rígido controle nos meios de comuni­
ções fundamentais dos intelectuais, agora eles cação. E este grupo que vai dar as linhas mestras
passariam a situar a sua tarefa nos domínios do da política cultural direcionada às camadas
Estado. Verifica-se, então, a união das elites inte­ populares. Porém, neste trabalho, interessa-nos,
lectuais e políticas que se pretendem as verdadeiras sobretudo, destacar a ação do DIP na montagem
expressões de uma política superior. desta política, demonstrar a atuação desta entidade
no seio da sociedade sem privilegiar o pensamento
O período do Estado Novo é particularmente de intelectuais específicos. Assim, não nos importa
rico para a análise da relação entre os intelectuais que muitos deles tenham pouca projeção ou sejam
e o Estado, já que nesse mesmo período se revela anônimos. Importa-nos, antes, assinalar como o
a profunda inserção deste grupo social na orga­ regime autoritário procurou socializar a sua dou­
nização político-ideológica do regime. Nesse trina, trazendo-a para o cotidiano popular.
sentido, ao longo do texto, temos a preocupação O texto se articula em tomo de três idéias. A
de enfocar os intelectuais na qualidade de partici- primeira procura mostrar como se constrói a
argumentação dos intelectuais em relação ao papel
2 Esta concepção da organização política, vigente
entre os intelectuais da década de trinta, é denominada
de “ideologia de Estado”, segundo Bolivar Lamou- 3 Para uma análise da política cultural empreendida
nier. Consultar a propósito do assunto LAMOUNIER, pelo Ministério da Educação no Estado Novo, consul­
1971:343-373. tar SCHWARTZMAN, COSTA e BOMENY, 1984.

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de vanguarda social que eles mesmos se propõem lá fora” (CAMPOS, 1935: 05). A idéia é a de que
a exercer. Em nome de que idéias e princípios é preciso se retirar, se distanciar para melhor re­
eles se auto-configuram os paladinos da nacionali­ fletir sobre a realidade: ver “claro e quieto”.
dade brasileira? Num segundo momento, a idéia é No início do século, conforme lembra Nicolau
evidenciar a atuação prática desse grupo: sua Sevcenko (1983), a intelectualidade sofria uma
inserção na vida política através da elaboração de situação de marginalidade por parte do Estado,
um projeto cultural. De nossa parte, a análise desse principalmente o grupo que se colocava numa pers­
projeto merece atenção especial, principalmente pectiva mais crítica em relação à sociedade, como
quando deixa transparecer os efeitos concretos é o caso de Euclides da Cunha e Lima Barreto.
da absorção da ideologia política pelas camadas Para estes intelectuais que se recusavam a ver a
populares. Finalizando, é nosso propósito apre­ literatura simplesmente como o “sorriso da socie­
sentar as idéias que vão fundamentar o projeto dade”, percebendo-a antes como uma missão, co­
cultural do Estado Novo, analisando a vinculação mo instrumento de transformação social, os cami­
dos intelectuais modernistas com o regime. Essa nhos não seriam fáceis. Os obstáculos de uma
vinculação é de extrema importância, uma vez que sociedade tradicional vetariam prontamente os
dá a conhecer um dos núcleos organizatórios mais seus projetos de atuação pública, restringindo e
sólidos do regime: a cultura. Este núcleo permite demarcando o lugar do intelectual para fora da
explicar a integração dos vários grupos de intelec­ arena política. Ao intelectual caberia, portanto, a
tuais ao regime, assim também como a própria reflexão, a quietude e o saber puramente erudito.
organização social gerada a partir dele. Distante das misérias do mundo, ele deveria ser o
II. DA “TORRE DE MARFIM” À ARENA PO­ “criador das ilusões” capaz de revelar o encanto,
LÍTICA o lado feliz e leve da vida. Dentro deste quadro,
“[...] a Academia Brasileira de Letras política e literatura apareciam como coisas total­
tem que ser o que são as instituições mente distintas: a primeira dizia respeito aos
análogas: uma torre de marfim aspectos materiais da vida; enquanto a segunda
Machado de Assis, 1897 (apud falava do espírito, enfim dos valores tidos como
CAMPOS, 1935: 05). superiores.
“A primeira fase de vossa ilustre Proferido na ocasião da fundação da Academia
instituição (ABL) decorreu àmargem Brasileira de Letras, o discurso de Machado oferece
das atividades gerais [...]. Só no um interessante confronto com a ideologia do Es­
terceiro declínio deste século operou- tado Novo, no que se refere ao papel do intelectual
se a simbiose entre homens de pen­ na sociedade. Neste sentido, é interessante per­
samento e de ação”. Getúlio Vargas, ceber como a doutrina do regime vai incorporar e
1943 (apud VARGAS, 1944: 221- repensar estas idéias, na perspectiva de criticar a
237). atitude isolacionista dos intelectuais. A metáfora
da “torre de marfim” é incessantemente repro­
Através dos textos acima é possível começar duzida como símbolo da alienação política em que
a estabelecer um confronto entre o papel dos viviam as nossas elites culturais. O ideal esteticista
intelectuais no final do século passado e no regime da literatura, o intelectual erudito e o academicismo
do Estado Novo. Embora as perspectivas dos au­ são objeto de crítica violenta por parte do regime,
tores sejam opostas, a problemática que abordam que passa a defender a função social do intelectual,
é comum. Ambos falam da relação entre a literatura chamando-o a participar dos destinos da na­
e a política e do papel da Academia na construção cionalidade.
da nacionalidade. Machado de Assis se refere à É curioso como um dos ideólogos do Estado
Academia como uma “torre de marfim”, onde os Novo — Cassiano Ricardo — efetua o confronto
intelectuais se refugiariam no mundo das idéias, entre Machado de Assis e Euclides da Cunha. A
tendo como único objetivo a preocupação literária. obra de Machado é criticada pelo seu “cosmo­
Do alto de sua torre, eles contemplariam o mundo, politismo dissolvente”. Isto porque tomaria como
refletiriam sobre ele, sem, no entanto, terem um inspiração apenas o litoral, visto como o lado falso
envolvimento direto com as lutas sociais. O papel do Brasil, onde predominaria a influência de valores
do intelectual está claramente fixado: eles “podem alienígenas. Sua arte, para Cassiano Ricardo, seria,
escrever páginas de história mas a história faz-se portanto, baseada no mimetismo. Já Euclides da
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Cunha aparece como aquele que “pensa brasilei­ Getúlio Vargas para a Academia Brasileira de
ramente”; sua obra representa a “força original da Letras, em dezembro de 1943. No seu discurso
terra”, porque falaria a “linguagem brasileira” dos de posse, Vargas criticaria o antigo papel da Aca­
sertões. Na arte euclidiana, segundo Cassiano demia, condenando a “torre de marfim” que iso­
Ricardo, estaria retratada toda a violência e força lava o intelectual do conjunto da sociedade. Argu­
de um mundo novo (RICARDO, 1940: 546)4. No mentava que, por ocasião de sua fundação, a Aca­
Estado Novo, a obra de Euclides é recuperada pela demia se constituíra num remanso, alheio às
sua dimensão regionalista, que traduziria a preo­ transformações sociais. Assim, políticos e admi­
cupação do autor com os destinos da naciona­ nistradores caminhavam de um lado, e intelectuais
lidade. de outro, “ocupando margens opostas na torrente
A doutrina do regime constrói todo um sistema da vida social”. Segundo Vargas, o poeta seria 0
de valores em função do qual resgata ou nega o “lunático, pessoa ausente, habitando um mundo
valor do intelectual na sociedade. Assim, na obra de fantasias e imagens”, enquanto o literato era o
de Euclides, a questão da brasilidade é a instância “teórico, pés fora do solo, cabeça nas nuvens,
máxima de sua consagração. A idéia do intelectual alheio às realidades cotidianas Predominava,
como membro do grupo em comunhão com o portanto, o “desdém do espírito pela matéria,
nacional, está, então, firmada. gerando a dispersão das energias sociais”. Vargas
argumentava que somente a partir da década de
Antes de aprofundar a análise sobre a concep­ trinta é que teria sido operada a “simbiose necessária
ção de intelectual construída pelo regime, conside­ entre homens de pensamento e de ação”. A partir
ramos importante reter algumas idéias anteriores. daí, a Academia assumiria um novo papel: o de
Retomando o discurso de Machado de Assis e o coordenar idéias e valores, imprimindo direção
de Getúlio Vargas, vemos que ambos tratam de construtiva à vida intelectual (VARGAS, 1944:221-
uma questão comum: o lugar de destaque conferido 237).
ao intelectual. Seja isolado na sua torre de marfim, A entrada de Getúlio Vargas para a Academia
criando as “ilusões” necessárias ao bom andamen­ vem, portanto, reforçar um dos postulados dou­
to da ordem social (tempo de Machado de Assis), trinários mais enfatizados pelos regimes repre­
seja envolvido nas lutas nacionais (período do sentantes do regime: 0 da união entre o homem de
Estado Novo), o intelectual é caracterizado pelo pensamento e o homem de ação, entre a política e
estigma da diferença. Fabricante de ilusões ou a literatura, enfim, entre os intelectuais e 0 Estado.
consciência da nacionalidade, ele foge ao padrão Vargas personifica magistralmente esta simbiose,
do homem comum. Assim, o intelectual é sempre reunindo em si os atributos do verbo e da ação, de
designado para o exercício de alguma função e/ idealismo e pragmatismo. Ele é o político compe­
ou missão especial que varia de acordo com a tente, capaz de comandar o jogo político, mas tam­
conjuntura histórica. bém é o intelectual capaz de refletir sobre os
No Estado Novo, o intelectual responde à destinos da nacionalidade, na qualidade de autor
chamada do regime que o incumbe de uma missão: da “Nova política do Brasil”. Seguindo esse enfo­
a de ser o representante da consciência nacional. que, 0 discurso estadonovista constrói uma nova
Reedita-se, portanto, uma idéia já enraizada concepção de intelectual. Concepção esta que
historicamente 110 campo intelectual. O que varia busca diluir as fronteiras entre o “homem de
é a delimitação do espaço de atuação deste grupo letras” e o “homem político” (VELLOSO, 1982:
— da torre de marfim para a arena política —, 72-108). Realiza-se então a referida simbiose entre
permanecendo o seu papel de vanguarda social. os intelectuais e a política. O conflito cede lugar à
O trabalho do intelectual — agora engajado nos harmonia.
domínios do Estado — deve traduzir as mudanças III. GETÚLIO VARGAS: O “PAI DOS INTELEC­
ocorridas no plano político. TUAIS”
O melhor exemplo que temos para ilustrar esta “Hoje podemos afirmar que existe
nova concepção de intelectual é a entrada de uma política brasileira que é uma
autêntica expressão do verdadeiro
4 Posteriormente a análise sobre o perfil de Machado espírito social. Nesse espírito social
de Assis e Euclides da Cunha foi aprofundada por ajustaram-se as necessidades do
mimemVELLOSO, 1988. nosso presente às conquistas do nos­
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so passado, para formarem permis­ “educação cívica e sentimental das massas”6, este
são tríplice da política que nos con­ intelectual é alvo dos maiores elogios por parte
cede agir, pensar e criar dos ideólogos do regime. Defendendo o Exército
Cultura Política, Rio de Janeiro, 7, como força educativa disciplinadora e elegendo o
março 1941. senso de dever e obediência como valores supre­
A doutrina do regime procura realizar um corte mos da nacionalidade, afigura de Bilac é recuperada
histórico no tempo, mostrando que o presente veio como modelo do intelectual brasileiro.
expurgar os erros do passado. As expressões Fica claro, portanto, o tipo de comportamento
“Estado Novo”, “Brasil Novo”, “nova ordem” etc. social que se espera, ou melhor dizendo, se exige
denotam esta tentativa de marcar o regime como dos intelectuais: a sua saída da “torre de marfim”
uma fase de redenção, de “encontro do Brasil e a conquista da atuação pública deve se dar em
consigo mesmo” (VELLOSO, 1982: 83). Essa re­ estrita consonância com o Estado. Se o Estado é
denção só pode adquirir sentido quando contra­ que traça as diretrizes da política nacional, o inte­
posta a um período de caos, desordem, desajuste. lectual deverá necessariamente circunscrever sua
O liberalismo aparece, então, como a corporifi- esfera de ação aos domínios oficiais.
cação deste mal, como um verdadeiro desastre O intelectual é eleito o intérprete da vida social,
para a nacionalidade brasileira, porque seria uma porque é capaz de transmitir as múltiplas mani­
ideologia importada. E, portanto, a partir da prática festações sociais, trazendo-as para o seio do Esta­
liberal que os doutrinadores do regime explicam do, que irá discipliná-las e coordená-las (ANDRA­
todos os males que se abateram sobre o país. DE, Almir de. “Intelectuais e políticos”. A Manhã,
E precisamente esta retórica antiliberal que iria Rio de Janeiro, 23/01/1944, p. 4). Eles são vistos
fundamentar o novo papel atribuído ao intelectual. como os intermediários que unem governo e povo,
Assim, no liberalismo era aceitável que o intelectual porque “eles é que pensam, eles é que criam”, en­
fosse inimigo do Estado, porque este não represen­ fim, porque estão encarregados de indicar os ru­
tava o verdadeiro Brasil. A política era, então, a mos estabelecidos pela nova política do Brasil
“madrasta da inteligência” (CORREIA, Nereu. “A (VELLOSO, 1982: 93). E esta nova política é per­
inteligência no regime atual”. A Manhã, 13/02/ sonificada na figura de Vargas: homem de pensa­
1943, p. 04), à medida que a excluía dos processos mento e de ação. Assim, ele é o paradigma por
decisórios. No Estado Novo tal fato não ocorreria excelência a ser seguido por toda a intelectualidade
mais: o Estado se transformava no tutor, no pai brasileira.
da intelectualidade, ao se identificar com as forças Azevedo Amaral distingue os intelectuais do
sociais. A argumentação se desenvolvia no seguinte conjunto da sociedade, mostrando que são-estes
sentido: a partir do momento em que o Estado os mais especialmente indicados para colaborar
marca a sua presença em todos os domínios da com o governo, devido ao seu senso de ordem e
vida social, não há por que o intelectual manter a organização. Isto porque, argumenta o autor, os
sua antiga posição de oposicionista ou insistir na intelectuais trabalhariam com as idéias, retirando
marginalidade. De inimigo do Estado, o intelectual os seus argumentos da história e da filosofia. Já
deve se converter em seu fiel colaborador, ou seja, os voltados para outras atividades recorreriam às
ele passa a ter um dever para com a sua pátria5. O emoções, transmitindo-as através de uma “lingua-
nome de Olavo Bilac é constantemente mencio­
nado como um exemplo a ser seguido pela intelec­
tualidade, uma vez que teria colocado a arte e a
cultura à serviço da Nação. Preocupado com a da pátria, na bandeira o símbolo de uma glória; honrar
a tradição cristã e cívica do Brasil etemo para o nosso
culto; servir com o mesmo devotamento às armas e
às letras; cumprir fielmente os deveres da vida política;
5 Através do “decálogo do escritor”, este senso de lidar pela causa do ensino primário; defesa inicial da
dever é minuciosamente estipulado. Vale a trans­ língua e da raça; seguir as grandes lições dos antepas­
crição: “Amar o Brasil unido sobre todas as coisas; sados; santificar pela fé nacionalista os dias heróicos
prezar no americanismo a expansão fraternal de sua da pátria e os dias úteis do trabalho” (“O dever do
brasilidade, contribuir para formação educativa do escritor”. A Manhã, Rio de Janeiro, 04/04/1943).
povo brasileiro estilizada em harmonia com tendências 6 Cf. “Advertência aos maus políticos”. A Manhã,
e costumes nacionais; rever na família a síntese moral Rio de Janeiro, 05/07/1942

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gem panfletária” (AMARAL, 1938:268-269). Nas mediário, capaz de captar e exprimir a vontade
propostas de organização, apresentadas pelos popular, que será realizada pelo Estado. Na base
intelectuais, o autor percebe um estímulo à refle­ desta argumentação, transparece a vinculação entre
xão, à ordem e à inteligência; ao passo que nas as elites intelectuais e políticas: as primeiras pen­
dos demais a incitação à violência desperta nas sam; as segundas realizam7. Este pensar vinculado
massas “paixões sociais perigosas” à boa condução à ação política implica construir os mecanismos
do processo político. Assim raciocinando, Amaral de persuasão ideológica, necessários à consolida­
defende a liberdade de expressão de acordo com ção do regime. Entramos, então, no terreno da
a capacidade mental e cultural de cada um propaganda política, onde os intelectuais têm papel
(AMARAL, 1938: 268-269). de importância fundamental.
É clara a hierarquização dos direitos civis que IV. DIP: A ENTIDADE ONIPRESENTE
se evidencia em função das diferenças de capa­ “Nesses jornais, nessas vozes que
cidade. Assim, a liberdade de expressão fica restri­ dominam os espaços radiofônicos,
ta aos que seriam pretensamente os mais bem nessas criações cinematográficas
dotados: as elites políticas e os intelectuais. [...] é que estão localizados os ele­
Vejamos como o autor configura o intelectual, mentos que proporcionam o contato
na perspectiva de elegê-lo o colaborador do go­ direto do governo com o povo”.
verno: “Emergidos da coletividade como expres­ Anuário da Imprensa Brasileira, Rio
sões mais lúcidas do que ainda não se tomou per­ de Janeiro, DIP.
feitamente consciente no espírito do povo, os inte­ E nesse período que se elabora efetivamente a
lectuais são investidos da função de retransmitir montagem de uma propaganda sistemática do
às massas sob forma clara e compreensiva o que governo, destinada a difundir e popularizar a
nelas é apenas uma idéia indecisa e uma aspiração ideologia do regime junto às diferentes camadas
mal definida. Assim, a elite cultural do país tomou- sociais. Para dar conta de tal empreendimento, é
se no Estado Novo um órgão necessariamente criado um eficiente aparato cultural: o Departa­
associado ao poder público como centro de elabo­ mento de Imprensa e Propaganda (DIP), direta­
ração ideológica e núcleo de irradiação do pensa­ mente subordinado ao Executivo.
mento nacional que ela sublima e coordena” (A-
MARAL, 1938: 272-273). Na realidade, as origens dessa instituição
Aqui encontramos um dos postulados centrais remontam a um período anterior ao Estado Novo.
do pensamento político autoritário, que é o de Em 1934, Vargas defendera a necessidade do
entender a sociedade como ser imaturo, indeciso governo associar o rádio, cinema e esportes em
e, portanto, carente de um guia capaz de lhe um sistema articulado de “educação mental, moral
apresentar normas de ação e de conduta. Mais do e higiênica”. Esta idéia começou a se concretizar
que isto: capaz de lhe adivinhar os anseios, de no ano seguinte, quando o primeiro escalão do
precisá-los, enfim, de lhe indicar as soluções. Os governo se reuniria para fazer uma avaliação da
intelectuais aparecem como porta-vozes dos an­ repressão à Intentona comunista. Nesta reunião,
seios populares, porque seriam capazes de captar seriam lançadas duas sementes de rápida frutifica­
o “subconsciente coletivo” da nacionalidade. Nesse ção: o DIP e o Tribunal de Segurança Nacional
subconsciente estariam contidas as verdadeiras (TOTA, Antônio Pedro. “A glória artística nos tem­
reservas da brasilidade que o Estado Novo viria pos de Getúlio; os 40 anos do DIP, a mais bem
recuperar, assegurando a continuidade da cons­ montada máquina da ditadura”. Isto á, 02/01/1980,
ciência nacional. O que nas massas ainda é uma pp. 46-47 e ANUÁRIO da Imprensa Brasileira,
idéia indecisa ou aspiração mal definida deixa de s.d.: 122). Criado pelo decreto presidencial de
sê-lo por intermédio dos intelectuais que se dezembro de 1939, o DIP, sob a direção de Lourival
transformam em seus intérpretes. Apontados Fontes, viria materializar toda a prática propa­
como expressões mais lúcidas da sociedade, os gandista do governo. A entidade abarcava os
intelectuais são vistos como os prenunciadores seguintes setores: divulgação, radiodifusão, teatro,
das grandes mudanças históricas e arautos da re­ cinema, turismo e imprensa. Estava incumbida de
novação nacional, conforme veremos mais adian­
te. O que nos importa reter agora é a idéia do inte­ 7 Esta idéia é defendida por Cassiano Ricardo. Ver
lectual na condição de representante ou de inter­ VELLOSO, 1983.

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coordenar, orientar e centralizar a propaganda in­ conjunto da sociedade não há necessidade de
terna e externa; fazer censura a teatro, cinema, intermediários, quando o chefe sintetiza a “alma
funções esportivas e recreativas; organizar ma­ nacional”.
nifestações cívicas, festas patrióticas, exposições, De modo geral, os canais de expressão da
concertos e conferências e dirigir e organizar o sociedade civil são transformados em espaço de
programa de radiodifusão oficial do governo (“O veiculação da ideologia do Estado. Muitas das orga­
conceito brasileiro da imprensa e a propaganda nizações culturais do período vão ser incorporadas
no Estado Novo”. ANUÁRIO da Imprensa Brasi­ pelo governo, como é o caso da Rádio Nacional
leira, s.d.: 29-32). (1940) e dos jornais A Manhã (Rio de Janeiro) e
Em vários estados, o DIP possuía órgãos A Noite (São Paulo).
filiados (os DEIPs) que estavam subordinados ao Em 19 de abril de 1942, dia do aniversário de
Rio de Janeiro. Esta estrutura altamente centrali­ Vargas, são inaugurados os novos estúdios da
zada iria permitir ao governo exercer eficiente Rádio Nacional. Na cerimônia, em que Gilberto
controle da informação, assegurando-lhe conside­ de Andrade é empossado como diretor da rádio,
rável domínio em relação à vida cultural do país. participam e discursam Lourival Fontes e o
A centralização administrativa era apresentada Ministro Gustavo Capanema. Gilberto de Andrade
como fator de modernidade, apelando-se para os anuncia que um dos seus objetivos é o de trans­
princípios de sua eficácia e racionalidade. formar a rádio em veículo de difusão cultural-
Por um dos dispositivos da Constituição de artística e de brasilidade (REIS, Nélio. “O dia do
1937, a imprensapassa a ser subordinada ao poder presidente e os novos estúdios da Rádio Nacional”.
público. Francisco Campos, um dos ideólogos da A Manhã, 19/04/1942, p. 05).
maior projeção no regime e autor da Constituição, Através dessa emissora, o regime buscava
defende a função pública da imprensa, argumen­ monopolizar a audiência popular, contratando uma
tando que o controle do Estado é que irá garantir equipe exclusiva da rádio, onde figuravam nomes
a comunicação direta entre o governo e o conjun­ como os de Lamartine Babo, Almirante, Ari Barro­
to da sociedade. Alega que esta é a única maneira so, Emilinha Borba, Sílvio Caldas, Vicente Celes­
de eliminar os “intermediários nocivos ao progres­ tino. Para dar maior atrativo aos programas, o
so”. Um aspecto que chama particularmente a governo instituiu concursos musicais, através dos
atenção no interior da doutrina, é a “vocação le­ quais a opinião pública elegia os seus compositores
gislativa” atribuída à imprensa, uma vez que con­ favoritos. Desses concursos participavam os gran­
sultaria cotidianamente os interesses do povo. A des astros da época: Francisco Alves, Carmem
centralização da informação é apresentada como Miranda, Heitor dos Prazeres e Donga. O curioso
uma forma de agilizar o processo de consulta é que as apurações dos concursos eram realizadas
popular, descartando-se o Parlamento como uma na sede do DIP e os resultados transmitidos du­
instituição anacrônica e deficiente. O jornal A rante o noticiário da “Hora do Brasil” (TOTA, An­
Manhã, porta-voz oficial do regime, efetua uma tônio Pedro. “A glória artística nos tempos de Ge-
série de inquéritos populares sobre a política do túlio; os 40 anos do DIP, a mais bem montada
governo, que são publicados sob o sugestivo título: máquina da ditadura”. Isto é, 02/01/1980, p. 46).
“A rua com a palavra”. Uma maneira eficiente, portanto, de garantir a
Nesses inquéritos busca-se sondar a opinião audiência popular, obrigando o público a manter o
pública a propósito das realizações governamen­ rádio ligado.
tais. O programa radiofônico “A Hora do Brasil”, Para ampliar a audiência do programa e tomar
a legislação trabalhista e a figura de Vargas são mais agradável a sua recepção junto ao público,
alguns dos assuntos abordados por essas enquêtes. os representantes do regime lançam mão de uma
A doutrina do regime busca mostrar que o série de inovações. Assim, em 1942 é criada uma
Estado só é capaz de assegurar a democracia sessão de música folclórica; outra de crônicas;
quando consulta diretamente o povo nas suas mais Talvez nem todos saibam que..., destinada a dar
legítimas aspirações8. Assim, entre o governo e o informações sobre a vida econômica, política e
militar; e a Nota Histórica, onde eram rememora­
8 Sobre o papel da imprensa no regime ver VELLOSO, das as grandes datas e heróis expressivos da
1983:06-10. nacionalidade. Defendendo o ponto de vista de que

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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO
“A Hora do Brasil” não seria apenas a palavra do A homogeneidade no campo cultural é vista
governo, mas a “voz sincera do povo”, o regime como forma de assegurar a organização do regime,
faz realizar uma série de entrevistas radiofônicas que busca invalidar as demais manifestações de
sobre a política do governo. O objetivo destas en­ cultura como prejudiciais ao interesse nacional.
trevistas, conforme esclareceria o DIP, era o de Assim, o rádio deveria aperfeiçoar as relações entre
substituir os longos e monótonos discursos pelo as camadas cultas e as populares, sendo o portador
depoimento vivo dos populares9. Para evitar o do “bom exemplo, do certo e do direito”. Quando
desgaste da doutrina, muda-se o “locutor-govemo” utilizado contra estes princípios, passava a afetar
para o “locutor-povo” O governo deixa de emitir a própria segurança nacional. Para evitar esta
sozinho o seu discurso, quando passa a interrogar situação, Júlio Barata, diretor da divisão radio­
o povo sobre as suas ações, esforçando-se para fônica do DIP, defendeu a necessidade de se em­
envolvê-lo na política oficial. Estratégia eficiente, preender ampla obra de saneamento social no setor
sem dúvida, se lembrarmos que o programa “A (cf. ROCHA, 1940: 84-88).
Hora do Brasil” era ironicamente chamado de “o A doutrina do regime procura diferenciar o que
fala sozinho”. considera o mau rádio, voltado para a diversão,
Destacando o rádio pelo seu notável poder de esporte e humor, do rádio enquanto veículo de
persuasão e como o “maior potencial socializador cultura. No entanto, esse dualismo de rádio-
do mundo civilizado”, o regime defende a neces­ diversão versus rádio-cultura, não prevaleceu, pois
sidade de exercer vigilante assistência e severa ocasionaria fatalmente a impopularidade da mensa­
fiscalização no setor (SALGADO, 1941: 79-93). gem governamental. A estratégia utilizada foi bem
A radiodifusão livre é vista como temerária, uma mais hábil: a de agradar o gosto popular, depu-
vez que desvirtuaria a obra educativa visada pelo rando-o dos seus “costumes dissolventes e imo­
governo. rais”. Assim, no “alambique da civilização e pro­
Ocorre que a opinião pública precisava ser gresso” se efetuaria a destilação necessária, as­
conquistada, quando ainda não estava totalmente segurando a homogeneidade cultural almejada pelo
isolada da influência de outras fontes de informa­ regime (SALGADO, 1941: 79-93).
ção. “Coagir a sociedade por dentro”, esvaziar a É a educação popular que irá garantir esta
legitimidade dos outros canais culturais foram es­ homogeneidade de cultura e valores. Neste período
tratégias amplamente utilizadas pelos que busca­ se desenvolve intensa polêmica em tomo da par­
vam levar avante o projeto educativo do “novo” ticipação do intelectual nos programas radiofôni­
Estado10. Este é apresentado como a única enti­ cos. Até que ponto o rádio seria capaz de garantir
dade capaz de transmitir uma adequada educação o alto nível da produção intelectual? Enquanto
política ao conjunto da sociedade, por estar desvin­ fosse veículo de comunicação destinado às massas,
culado dos interesses privados. Nesta perspectiva, não teria ele propensões a vulgarizar esta produ­
a ideologia oficial deve prevalecer porque é capaz ção? Essas perguntas, levantadas pelos ideólogos
de unificar e dar coesão às diferentes visões do do regime, se inscrevem no próprio debate em
mundo social, que são por natureza fragmentárias. tomo da função da obra de arte na modernidade:
O Estado aparece, então, como o único interlocu­ objeto de fascínio destinado a uns poucos ou
tor legítimo para falar com e pela sociedade. Esta elemento a ser divulgado para um público cada
concepção transparece no próprio projeto radiofô­ vez mais amplo? Para os ideólogos do regime,
nico então instituído, que destaca a homoge­ conforme já foi visto, a arte deveria estar voltada
neidade cultural e a uniformização da língua e da para fins utilitários e não ornamentais. Ampliar o
dicção como seus objetivos fundamentais. acesso à arte significa, nesta concepção, ampliar
a própria esfera de abrangência da doutrina
estadonovista.
9 Cf. “A imprensa e a propaganda no qüinqüênio A figura de Paul Valéry é o grande alvo dessa
1937-42; o DNP e o DIP” Cultura Política, Rio de discussão por defender o ponto de vista de que o
Janeiro, 21, novembro de 1942, pp. 168-187 e “A Hora rádio desfiguraria a produção intelectual. Para os
do Brasil”. “O Brasil de hoje, ontem e de amanhã”. ideólogos essa idéia era inteiramente falsa: en­
Fevereiro de 1940, pp. 44-45. quanto os intelectuais não ocupassem este espaço,
10 A análise da propaganda totalitária é desenvolvida os programas literários continuariam sendo feitos
por ARENDT, 1979. por escritores improvisados e “beletristas de
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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
terceira ordem”. A colaboração dos intelectuais valores. Vários teatrólogos e historiadores são con­
no setor só poderia elevar o nível dos programas vidados para atuar no rádio-teatro. E o caso de
e garantir o seu respeito junto ao público ouvinte. Joraci Camargo, que escreve uma série de dramas
Na perspectiva de refutar a tese de Valéry são rea­ históricos (Retirada da Laguna, Abolição da Escra­
lizadas várias entrevistas no meio da intelectuali­ vatura, Proclamação da República) para serem
dade. Os nomes de Roquete Pinto, Bastos Tigre, transmitidos pela “Hora do Brasil” (CASTELO,
Menotti Del Picchia, Brito Broca e outros são 1941: 304). O programa rádio-teatro policial se­
citados como exemplos de intelectuais engajados gue essa mesma linha doutrinária, só que em termos
no setor radiofônico. Predomina o ponto de vista de conduta moral. Nele, o locutor narra as aven­
de que o rádio não implica a desqualificação do turas de um detetive que, apesar de suas trapa­
pensamento, mas a democratização social. Argu- lhadas, tem um grande mérito: o de colaborar
menta-se que a palavra falada vai ao encontro até sempre com as autoridades. O objetivo do progra­
do ouvinte indiferente, identificando-se por isto ma é o de transmitir ao público uma concepção
com a “divina arte”, capaz de atingir a todos. O da vida justa e “confiança salutar na organização
rádio aparece, então, como veículo de democracia policial” do regime (CASTELO, 1941: 304).
porque é capaz de “fazer a produção intelectual Personificar padrões éticos de comportamen­
retomar ao povo através da linguagem oral” (CAS­ to, apelar para a empatia e as emoções, foram
TELO, 1942a: 203-205). Este retomo se dá à me­ recursos amplamente utilizados pelo governo. Este
dida que os intelectuais decodifiquem e socializem tinha muito claro que um artigo político de dou­
a sua linguagem, revivendo o “encanto místico” trina, por si só, era incapaz de sensibilizar um pú­
das comunidades primitivas (CASTELO, 1942b: blico mais amplo. Para atrair os “olhos femininos
14). e infantis” (nesta categoria estão também os ope­
A integração política, através do mito, foi um rários), nada melhor do que os contos, as crônicas
dos recursos mais utilizados pelo regime. Francis­ e as estampas (ANUÁRIO de Imprensa e Propa­
co Campos defende a técnica intelectualista de ganda, s.d.: 90). Nesta literatura o pensamento é
utilização do inconsciente coletivo para o controle resumido em fórmulas ou apenas sugerido de
político da Nação (CAMPOS, 1941: 12). Nessa maneira a não provocar nenhum esforço intelectual
perspectiva, caberia ao intelectual falar a linguagem por parte do receptor. Por outro lado, busca-se
desse inconsciente, composto de forças telúricas impor símbolos e mitos de fácil universalidade que
e emoções primitivas. A idéia é a de que o irracional reduzem a individualidade e o caráter concreto das
tem muito mais força persuasiva do que a razão, experiências11. Nos contos e crônicas predomina
porque é capaz de tocar o universo íntimo das sempre o aspecto do exemplar. Os vultos históri­
camadas populares. Nele, o mito da nação e do cos estabelecem a trajetória do já vivido, experi­
herói encontrariam plena receptividade. Daí o fato mentado e consagrado. Basta segui-los.
do regime incansavelmente recorrer aos dramas
épicos, narrativas heróicas, lendas e crônicas. O nãoDe modo geral, os programas radiofônicos se
endossam plenamente a orientação do governo,
civismo e a exaltação aos valores pátrios compõem seguem-na muito de perto. Censuras e recompen­
inevitavelmente o pano de fundo sobre o qual se sas fazem parte de um mesmo sistema, através
desenrolam essas narrativas. do qual o regime controla os meios de comunica­
Dentro desta visão doutrinária é que se procura ção. Em fevereiro de 1942 a Secretaria de Edu­
dar uma nova orientação ao programa rádio-teatro, cação e Cultura institui o prêmio “Henrique Dods-
no sentido de explorar os fatos históricos para worth” para a rádio que melhor seguisse a orien­
melhor atingir o gosto popular. Recomenda-se tação do DIP ( Vamos Ler, 19/02/1942, p. 47).
evitar o estilo dogmático dos historiadores e o tom
doutrinário dos sociólogos, em prol da narrativa mo Amodelo, Rádio Difusora da Prefeitura é apontada co­
no qual deveriam inspirar-se as demais
romanceada. Assim, o drama amoroso de Marília emissoras. Toda a sua programação é marcada
e Dirceu toma-se mais convincente para transmitir
o senso de amor cívico do que o puro relato dos
fatos (REIS, Nélio. “Rádio”. A Manhã, 22/04/ 11 Estes aspectos são apontados pelos críticos da
cultura de massa e arrolados em ECO, 1979: 39-43.
1942, p. 05). A história exemplar da Inconfidência Considerando
mineira penetra no universo cotidiano do ouvinte, comunicação estão que no Estado Novo os meios de
porque é contada de forma a criar identidade de aspectos se manifestam sob o mais rígido controle, estes
quase de forma ostensiva.

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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO
por forte tom doutrinário: saúde e música, cujo em ação, censurando as letras que iam contra a
objetivo era o de popularizar princípios de educa­ ética do regime.
ção sanitária; curso de estudos sobre a Amazônia, Ritmos como o samba, frevo e maxixe eram
ministrado pelo coronel Pio Borges; e antologia considerados selvagens; suas origens os tomavam
do pensamento brasileiro destinada a divulgar lições pouco recomendáveis. A Frente Negra Brasileira
de civismo. Dentre as iniciativas culturais da emis­ (1931) como entidade independente, não consegui­
sora são destacadas: a organização de uma discote­ ria sobreviver no Estado Novo, sendo fechada por
ca infantil e uma coletânea da música popular bra­ ordem de Vargas. Paralelamente a esta repressão
sileira. Na discoteca busca-se educar a sensibilida­ e desqualificação contra o negro estimulava-se a
de infantil para as músicas de caráter cívico, canto pesquisa sobre a sua contribuição na formação de
orfeônico e folclórico. Já o objetivo da coletânea nossa cultura15. Acreditamos que esta atitude am­
é o de divulgar junto aos turistas o chamado bígua por parte do regime reflita a própria diversida­
“samba de verdade”12. de de orientação cultural entre o Ministério da
No interior do projeto cultural estadonovista, Educação e o DIP. Os intelectuais eram incentiva­
a música ocupa lugar de grande importância. dos a pesquisar sobre o assunto podendo até mes­
Apontada como meio mais eficiente de educação, mo enaltecer os aspectos positivos da cultura afri­
ela seria capaz de atrair para as esferas da civiliza­ cana. O que não poderia ocorrer era o samba con­
ção os “indivíduos analfabetos, broncos e rudes” tinuar difundindo valores que fugiam ao controle
(SALGADO, 1941: 79-93). Não éà toa, portanto, do Estado. O público que lê pesquisas é bem dife­
a preocupação do regime em interferir na produção rente daquele que escuta no rádio as composições
da música popular. Esta é vista como o retrato fiel dos sambistas. Para cada público uma estratégia.
do povo na sua poesia e lirismo espontâneos. Se era de certa forma inevitável conviver com
Porém, estas expressões de cultura devem ser poli­ o ritmo bárbaro do samba, pelo menos as suas le­
ciadas na sua espontaneidade, impedindo-se que tras poderiam ser “civilizadas”. Passa-se, então, a
as músicas abordem “temas imorais” ou de “cafa- defender o samba enquanto instrumento pedagógi­
jestagem”13. co: ele deve ser educado para educar. Esta idéia é
A linguagem dos sambistas e as gírias popu­ claramente expressa por um dos locutores da rádio
lares são vistas com desconfiança, devido ao seu do governo: “[...] o samba, que traz na sua etimo­
instinto satírico, capaz de depreciar os fatos e criti­ logia a marca do sensualismo é feio, indecente,
car os acontecimentos. Para os doutrinadores do desarmônico e arrítmico, mas paciência: não repu­
regime, a língua se constitui em patrimônio nacio­ diemos esse nosso irmão pelos defeitos que con­
nal, no sentido de que preserva a segurança e tém. Sejamos benévolos; lancemos mão da inte­
unidade do País. As suas “práticas abusivas” de­ ligência e da civilização. Tentemos devagarinho
vem ser, portanto, cuidadosamente localizadas para tomá-lo mais educado e social. Pouco importa de
serem combatidas. Procede-se, então, a um levan­ quem ele seja filho” (SALGADO, 1941: 79-93).
tamento minucioso dos espaços onde se manifesta A idéia é a de que este filho de pais espúrios,
essa linguagem não permitida: nos noticiários poli­ se educado corretamente poderia redimir-se e pro­
ciais, nos teatros de revista, no cinema, que divulga duzir bons frutos sociais. Assim, o samba passa a
o linguajar de artistas estrangeiros, e notadamente ser defendido como elemento de socialização,
no rádio, através dos locutores esportivos e sam­ quando forma bons hábitos, cultiva sentimentos
bistas14. As composições carnavalescas são de cordialidade, cooperação e simpatia, permitindo
particularmente visadas, por recorrerem à paródia a troca de experiência (MEIRELES, Cecília.
e à caricatura. E neste terreno que o DIP entrava “Samba e Educação”. A Manhã, Rio de Janeiro,
18/01/1942, p. 09). Temas como a boêmia e ma­
12 A propósito da programação e atividades da Rádio landragem, que já se constituíam numa tradição
Difusora, consultar as crônicas de Martins Castelo do samba, não poderiam mais conviver com a
publicadas na revista Vamos Ler, julho de 1942.
13 Cf. “Poesia, música e rádio para crianças”. A Ma­
nhã, Rio de Janeiro, 27/06/1942, p. 14. 15 Ver ANDRADE, 1937: 37-116, citado em SKID­
MORE, 1976: 315. Ver também a seção da revista Cul­
14 Cf. “A boa linguagem nas ruas”. DEPARTAMEN­ tura Política denominada “O povo brasileiro através
TO de Imprensa e Propaganda, 1940: 81-100. do folclore”.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA N° 9 1997
ideologia do trabalhismo. A figura do malandro é antes o evento vinha sendo de iniciativa particular,
vista como herança de um passado ingrato que financiado pelos comerciantes mais abastados da
marginalizara os ex-escravos do mercado de traba­ cidade, no Estado Novo o quadro era bem dife­
lho. No Estado Novo, com o surgimento das leis rente, quando, através do setor de turismo do DIP,
trabalhistas que protegem o trabalhador, esta figura a Prefeitura passaria a organizar o carnaval de rua.
“folclórica” perde a sua razão de ser. Logo, a ideo­ A partir daí a política tomava-se figurante obri­
logia da malandragem deve ser eliminada do ima­ gatória nas folias.
ginário popular porque pertence a uma outra épo­ Os sambas e marchas carnavalescas sofrem
ca. O regime busca, então, construir uma nova modificação radical, a ponto de serem apontados
imagem do sambista: ele é o trabalhador dedicado como dignos de compor uma antologia cívica
que só faz samba depois que sai da fábrica. Nos (MEIRELES, Cecília. “Samba e Educação”. A
sábados de “palheta e temo branco muito bem Manhã, Rio de Janeiro, 18/01/1942, p. 09). Por
engomado”, vai até a sociedade recreativa, onde um dos decretos constitucionais de 1937, ficava
se exercita no convívio social (CASTELO, 1942c: imposto caráter didático às escolas de samba e
174-176). O universo cotidiano do compositor se ranchos, que deveriam abordar temas nacionais e
desloca da Lapa, centro da boêmia carioca, para a patrióticos. Em 1939, a escola de samba carioca
fábrica e o trabalho. Esta mudança de temática é Vizinha faladeira foi desclassificada por ter
vista como uma evolução na história do samba, à escolhido como tema de enredo a “Branca de
medida que os compositores deixam de se preo­ Neve”. A censura alegou que a temática havia sido
cupar com o amor e a vida fácil “conciliados no vetada por ser intemacionalista (Nosso século, n°
conformismo das Amélias”. Em vez das tragédias 25, p. 197).
domésticas, as vantagens do trabalho (CAS­
TELO, 1942d: 292). Dentro desta linha estão as Na conjuntura de guerra, o governo promove
composições: “Eu trabalhei” (Jorge Faray), “Zé o “carnaval da vitória” cujo slogan é “colaboro
Marmita” (Luís Antônio e Brasinha) e “Bonde de mesmo quando me divirto”. O programa constava
São Januário” (Ataulfo Alves e Wilson Batista). de um desfile de carros alegóricos que representa­
Todas elas naturalmente enaltecendo o trabalho vam temas de cunho patriota como “Apoio à
em detrimento da boêmia que “não dá camisa a política de guerra do governo”, “União nacional”
ninguém”. Temos, então, o “samba da “Crítica às doutrinas totalitárias”, encerrando-se
legitimidade” (Ver TOTA, 1981), através do qual com o carro da “Apoteose à vitória” (A Manhã,
o regime busca exercer uma prática disciplinadora Rio de Janeiro, 28/02/1943, p. 05). A guerra é
sobre as manifestações populares. apresentada como resultado do choque de duas
Nada melhor, portanto, para retratar a história mentalidades, que se digladiam maniqueistica-
desse período do que o repertório da nossa música mente: as forças do bem são representadas pela
popular. Nele, a política governamental encontra democracia e pelo cristianismo; enquanto as do
a sua apologia e glória. Na “Marcha para o Oeste” mal são corporificadas pelo totalitarismo e pelo
(João de Barro e Alberto Ribeiro, 1938), temos o ateísmo. Neste contexto, ganha força a idéia de
apoio ao projeto de colonização do interior; em americanismo, de mundo novo em contraposição
“Glórias do Brasil” (Zé Pretinho e Antônio Gilberto à decadência da civilização européia.
dos Santos, 1938), o endosso à repressão ao levante Em agosto de 1942 é lançado o filme norte-
de 35 e 38; em “E negócio casar” (Ataulfo Alves americano “Alô amigos”. O filme, cuja sessão
e Felisberto Martins, 1941), propagandeia-se a lei inaugural é patrocinada por Darci Vargas, é visto
que incentiva o crescimento da população. A figura como verdadeira apoteose de nosso país e do nosso
de Vargas naturalmente também seria motivo de povo. Nele, o eloqüente Zé Carioca mostra as coi­
inspiração em: “O sorriso do presidente” (Alberto sas belas do Brasil ao Pato Donald. A figura do Zé
Ribeiro e Alcir Pires Vermelho, 1935) e “Salve 19 Carioca, criada especialmente por Walt Disney para
de abril” (Benedito Lacerda e Darci de Oliveira, o Brasil, é a que talvez represente melhor a tentativa
1943) (SEVERIANO, 1983). de popularização da ideologia do americanismo16.
Ficam claros, portanto, os esforços do governo Segundo o jornal A Manhã o personagem exprimia
no sentido de utilizar as manifestações da cultura
popular como canal de difusão da ideologia oficial. 16 A propósito da divulgação da ideologia da ameri-
Exemplo notório é a oficialização do carnaval. Se canização, ver MOURA, 1984.

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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO
com perfeição o jeito do carioca: malandro, chapéu instrumento educativo por excelência. O problema
embicado, guarda-chuva, charuto e seu humor da educação operária é destacado como uma das
com tendência a resolver tudo na piada (MORAES, principais metas do Estado, merecendo por isso
Vinícius. “Cinema”. A Manhã, Rio de Janeiro, 27/ estratégias e atenção especiais. Dentre deste pro­
08/1942, p. 05). Este protótipo do brasileiro sugere pósito é que se criava em São Paulo o “Teatro
a própria figura de Vargas: amistoso, sorridente e Proletário”, cujo objetivo seria o de fazer propa­
até malandro quando se trata de resolver as difíceis ganda pró-sindicalização através do lazer dos ope­
jogadas políticas. Nenhuma imagem poderia surtir rários e de suas famílias. Este teatro didático-cívico
mais efeitos populares do que esta, garantindo a apresentaria exemplos de comportamento, mode­
profunda identificação do Presidente com o ethos los de cumprimento do dever, construindo assim
e as coisas nacionais. a figura do operário-padrão. Para dinamizar este
No cinema, toma-se obrigatória a projeção do empreendimento cultural, o Ministério do Trabalho
Cinejornal brasileiro, onde os documentos cine­ patrocina um concurso literário destinado à produ­
matográficos exibem desfiles cívicos, viagens pre­ ção de romances e peças teatrais dirigidos ao públi­
sidenciais, comemorações como as do aniversário co operário. Era uma estratégia defensiva contra
de Vargas, aniversário do regime, Dia do Trabalho, o que o regime julgava ser uma literatura destinada
Dia da Bandeira, Semana da Pátria etc.17. Nesta à subversão moral e à agitação popular. Os inte­
crônica de palanques está o registro de uma época lectuais são conclamados a participar nesta “refor­
personificada na figura de Vargas: ele visita, recebe, ma espiritual’ das massas, trazendo a sua mensa­
inaugura, preside, assiste, discursa, excursiona, gem de otimismo, esperança e ordem. No edital
veraneia, embarca, retoma, parte, passeia, inicia, do concurso, Marcondes Filho esclareceria que
encerra, exorta, soluciona, joga muito golfe (seu as obras preliminares seriam publicadas em edições
esporte predileto) e naturalmente aniversaria a 19 populares a serem distribuídas aos trabalhadores
de abril (TAVARES, Zulmira Ribeiro. “Getúlio através dos sindicatos; e a peça vencedora seria
Vargas no cinejornal — júbilos nacionais”. Fo­ encenada nos sindicatos às vésperas do Natal18.
lhetim, 17/04/1983, p. 03). O calendário oficial O DIP e o Ministério do Trabalho agiriam em
marca as grandes datas, transmitindo a imagem íntima conexão, pois ambos tinham como ponto
de uma festa cívica constante. Através dos rituais comum a elaboração de uma política cultural
patrióticos se fortalece o sentimento de unidade e destinada às camadas populares.
exaltação popular, indispensáveis para um regime O regime teria uma posição ambígua quanto
que buscava apresentar-se como o salvador da ao teatro de revista: se o criticava pelas suas
nacionalidade. Esta imagem de grandeza e glória esporádicas demonstrações de civismo e seu agudo
faz-se sentir também na arquitetura da época, cuj as senso de sátira social, procurava, ao mesmo tempo,
construções sugerem a força e pujança do regime. penetrar nesse espaço. Reverter, na medida do
Data deste período a criação dos prédios do Minis­ possível, a linguagem satírica e humorística aos
tério da Educação e Saúde, Ministério do Trabalho, objetivos do regime foi então a tática mais acertada.
Ministério da Guerra, Central do Brasil etc. O Esta­ Nas peças de crítica política era comum Vargas
do Novo aparece como o tempo das grandes reali­ encenar a figura do “bom malandro”, capaz de
zações que viria por fim ao marasmo em que se qualquer jogada para defender as suas idéias. O
encontrava o país. DIP ficava satisfeito com esta imagem e o povo
Este marasmo no meio cultural é explicado em também, porque “tinha um malandro que tomava
função do descuido das elites intelectuais quanto conta deles” (Mário Lago apud GARCIA, 1982).
à educação popular. O teatro, notadamente o de Assim, o próprio Vargas iria estimular piadas a
revista, voltava-se exclusivamente para a diversão, seu respeito, argumentando que eram “uma espécie
divulgando valores prejudiciais à ordem social. de termômetro do sentimento popular” (Alzira
Assim como a imprensa, o rádio e o cinema tam­ Vargas do Amaral Peixoto apud GARCIA, 1982:
bém o teatro no Estado Novo deveria tornar-se
18 Sobre a questão do teatro proletário, consultar: A
17 A propósito da programação das festas cívicas, Manhã, 16/01/1944, p. 5; “Cena Muda”, 27/07/1943,
consultar o jomal A Manhã nos dias 18 a 22/04/1943 p. 06; “O Brasil de hoje, de ontem e de amanhã”,
e 6, 11 e 19/11/1942. Sobre o jornal cinematográfico, janeiro de 1940, pp. 14-16 e DEPARTAMENTO de
ver A Manhã, 12/02/1943. Imprensa e Propaganda, 1943: 59.

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101). Apropriando-se de expressões, idéias e Cabe ao intelectual descobrir este veio de au­
valores populares, o regime buscava sintonizar- tenticidade, porque ele é a personalidade mais pró­
se ideologicamente com o conjunto da sociedade. xima do nacional. Dotado de senso de mistério, o
Para obter esta sintonia, de um lado a censura, de intelectual é identificado como o arauto capaz de
outro certa flexibilidade ou tolerância com os prenunciar as grandes mudanças históricas. Nesta
valores que se mostrassem capazes de serem perspectiva, ele deve exercer o papel político para
integrados à ideologia oficial. o qual é predestinado. Política e profecia encon­
Pelo exposto até agora, fica clara a eficiência tram-se, então, intimamente vinculadas: “O polí­
do DIP na montagem da doutrina estadonovista. tico consciente do seu papel e de sua vocação é
Funcionando como organismo onipresente que sempre um profeta da realidade. E, na verdade, o
penetra todos os poros da sociedade, esta entidade real não é somente o que conhecemos, mas o que
constrói uma ideologia que abarca desde as existe mesmo sem ser conhecido”20.
cartilhas infantis aos jornais nacionais, passando Esta idéia do intelectual-profeta é amplamente
pelo teatro, música, cinema e marcando a sua difundida no interior da doutrina estadonovista. E
presença inclusive no carnaval. Pode-se mesmo através dela que o regime procura estabelecer seus
afirmar que nenhum governo anterior teve tanto vínculos com o movimento modernista da década
empenho em se legitimar e nem recorreu a aparatos de vinte, mostrando que ambos os movimentos
de propaganda tão sofisticados conforme fez o se enquadram no ideal de renovação nacional.
Estado Novo. E evidente que na construção dessa V. AS RAÍZES DA BRASILIDADE; OS INTE­
imensa e compacta rede ideológica, os intelectuais LECTUAIS MODERNISTAS E O ESTADO
serão personagens de importância essencial. NOVO
Através das publicações oficiais do regime, como
a revista Cultura Política (sob a direção de Almir “As forças coletivas que provocaram
de Andrade) e o jornal A Manhã (sob a direção de o movimento revolucionário do mo­
Cassiano Ricardo), é possível ter-se uma dimensão dernismo na literatura brasileira [...]
da eficiência do Estado na montagem do seu foram as mesmas que precipitaram,
projeto cultural. As publicações surpreendem pela no campo social e político, a revolu­
sua capacidade organizativa em termos editoriais ção vitoriosa de 1930 [...] passados
e intelectuais. Reunindo as correntes mais hetero­ os primeiros instantes e obtidas as
gêneas da intelectualidade brasileira como Carlos primeiras conquistas mais amplo,
Drummond de Andrade, Oliveira Vianna, Cecília mais geral, mais complexo, simulta­
Meireles, Gilberto Freyre, Vinícius de Moraes, neamente reformador e conservador
Gustavo Barroso, José Lins do Rego, Manuel Ban­ [...]”. Discurso pronunciado por
deira e outros, o jornal procura atrair para o seio Vargas na Universidade do Brasil em
do Estado toda a elite intelectual do período, 28/07/1951.
integrando-a ao regime. O mesmo ocorre com a Uma das preocupações mercantes dos ideólo­
revista Cultura Política, que conta entre os seus gos do Estado é a de mostrar que o regime do não
colaboradores intelectuais com Nelson Wemeck é mero produto político, mas possui sólida base
Sodré, Gilberto Freyre e até o próprio Graciliano cultural. A argumentação se desenvolve no sentido
Ramos. de mostrar que a instauração do regime excede o
A questão do nacionalismo, acirrada na conjun­ âmbito político, uma vez que viria concretizar os
tura de guerra, funciona como poderoso elemento anseios de renovação nacional. Sob este ponto de
aglutinador, capaz de integrar quase toda a inte­ vista, Getúlio Vargas não seria um caudilho que se
lectualidade do período. A revista é enfática neste apossaria arbitrariamente do poder, mas viria aten­
sentido, quando afirma aceitar a colaboração de der os anseios do povo brasileiro, encarnando os
todos, independente do seu cunho ideológico. De­ ideais da renovação nacional (MONIZ, Heitor. “As
clara não ter partidos políticos, pois a sua preocu­
pação fundamental é a de “espelhar tudo o que é
genuinamente brasileiro” 19. 20 Cf. “O pensamento político do presidente”. Sepa­
rata de artigos e editoriais dos primeiros vinte e cinco
19 A propósito da revista Cultura Política, consultar números da revista Cultura Política, abril 1943, pp.
o artigo de minha autoria: VELLOSO, 1982: 72-108. 112-117.

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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

origens culturais da revolução brasileira”. A dentes são apontadas como exemplos luminosos,
Manhã, Rio de Janeiro, 05/02/1944). Ainda nessa onde o País deve buscar inspiração e força para
linha de raciocínio, o autoritarismo deixa de ser superar a crise da modernidade21. Assim sendo,
visto como um recurso estratégico do poder para a visão crítica da cultura, apontada por algumas
vir a concretizar um anseio latente na própria so­ correntes modernistas, vai ser substituída pelo
ciedade. Este anseio estaria presente há algum tem­ ufanismo. Dentro deste quadro grandioso não há
po na coletividade, manifestando-se em todos os mais lugar para o anti-herói e a sua preguiça.
domínios da vida social. Se ele não eclodia é porque Naturalmente que a dessacralização do herói
havia uma dissociação entre cultura e política, mostrar-se-ia incompatível para um regime que
intelectuais e governo, enfim, entre o Estado e a se preocupava em fixar as bases míticas de um
sociedade. Estado forte. Assim, a versão macunaíma do ser
Conformej á vimos anteriormente pelo discurso nacional cede lugar a versão mítica e apoteótica
de Vargas na Academia Brasileira de Letras, esta da “raça de gigantes”, criada pelo grupo verde-
dissociação das energias sociais começaria a ser amarelo.
superada na década de trinta, como uma conse­ Esta vinculação entre modernismo e Estado
qüência da revolução literária dos anos vinte. A Novo é extremamente importante, uma vez que
idéia é a de que a revolução literária, pondo em demonstra o esforço do regime para ser identifi­
xeque os modelos estéticos importados, estaria cado como defensor de idéias arrojadas no campo
completa com a revolução política do Estado Novo, da cultura. Os fatos demonstram que este esforço
cujo objetivo seria o de combater os modelos polí­ não foi em vão. Poucos intelectuais conseguem
ticos tidos como alienígenas, como o liberalismo resistir aos apelos de integração por parte do Es­
e comunismo. O ideal da brasilidade e da renovação tado.
nacional é, então, apresentado como o elo comum Se a vertente modernista conservadora é a
que viria unir as duas revoluções: a artística e a vitoriosa no interior da doutrina estadonovista, o
política. regime não exclui a colaboração de outros intelec­
Naturalmente que esta ligação entre modernis­ tuais que defendiam projetos culturais mais inova­
mo e Estado Novo é uma invenção do regime que dores, como é o caso de Carlos Drummond de
se apropria do evento modernista como um todo Andrade e Mário de Andrade. E necessário, por­
uniforme, não distinguindo as várias correntes de tanto, analisar as diferentes inserções destes inte­
pensamento que a integraram. Na realidade, a lectuais no aparelho de Estado. Se o Estado absorve
herança modernista no interior da ideologia estado- grande parte dos intelectuais modernistas, a ab­
novista é bastante delimitada, à medida que recu­ sorção se dá de forma diferenciada. Daí a comple­
pera apenas a doutrina de um grupo: a dos verde- xidade e mesmo ambigüidade da política cultural
amarelos, composta por Cassiano Ricardo, Menotti do regime, que agrega intelectuais das mais di­
Del Pichia e Plínio Salgado. A presença de Cassiano ferentes correntes de pensamento, como os moder­
Ricardo em postos chaves no aparelho de Estado nistas, positivistas, integralistas, católicos e até
— diretor do Departamento Estadual de Imprensa socialistas.
e Propaganda (em São Paulo); diretor do Depar­ VI. OBSERVAÇÕES FINAIS
tamento Cultural da Rádio Nacional e do Jornal A
Manhã —, esclarece a especificidade de vínculos Um dos aspectos que chamam particularmente
entre a ideologia modernista e a do Estado Novo. a atenção no interior do projeto cultural estadono­
No Estado Novo a questão da cultura popular, vista é o esforço ideológico, no sentido de recon-
a busca das raízes da brasilidade ganham uma outra ceituar o popular. Este passa a ser definido como
dimensão. O Estado mostra-se mais preocupado a expressão mais autêntica da alma nacional.
em converter a cultura em instrumento de doutri­ Ocorre, porém, que este povo — depositário da
nação do que propriamente de pesquisa e de refle­ brasilidade — é configurado simultaneamente
xão. Assim, a busca da brasilidade vai desembocar como inconsciente, analfabeto e deseducado. Esta
na consagração da tradição, dos símbolos e heróis
nacionais. Temos, então, a história dos grandes 21 Ver “Glória a Tiradentes”. A Manhã, Rio de Janeiro,
vultos, das grandes efemérides, do Brasil “impá­ 21/04/1942 e “A significação do culto de Caxias”. A
vido colosso”. As personalidades de Caxias e Tira- Manhã, Rio de Janeiro, 16/08/1942.

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ambigüidade em relação ao popular — misto de povo é a “alma da nacionalidade”, as elites é que


positividade e negatividade — vai ser equacionada se distanciaram desta alma quando se deixaram
através de um projeto político-pedagógico imple­ fascinar pelos exemplos alienígenas. Dando as cos­
mentado pelas nossas elites. tas para o “país real” elas se ausentaram, se eximi­
É, portanto, através da “educação popular” que ram de sua responsabilidade frente à Nação. Por
se busca assegurar a positividade dessa categoria isto, cabe somente a elas redescobrir a nacionalida­
social, impedindo que se descambe para o caos, a de que sempre esteve presente intuitivamente no
desordem, a negação. povo.
Nesta reconceituação do popular há um ele­ Este tipo de raciocínio vem, portanto, funda­
mento novo: a sua positividade. De modo geral, o mentar a intervenção do Estado na organização
nosso pensamento político vinha localizando no social. E isto tem lógica, posto que ele é visto
povo as raízes da problemática nacional e do nosso como a única entidade capaz de salvar a identidade
descompasso. Assim as origens raciais o caráter nacional. Para levar a efeito tal missão é necessário,
inato eram idéias recorrentes, através das quais então, elaborar um projeto político-pedagógico,
as elites procuravam justificar a defasagem do Bra­ destinado a “educar” as camadas populares.
sil em relação aos centros hegemônicos europeus. Predomina a idéia de povo carente que necessita
Esta visão ideológica começaria a ser reformulada de condução firme e de vozes que possam falar
no final da década de 1910, mais precisamente por ele, exprimindo seus impulsos e anseios. A
em 1918. A tese da saúde pública, apontando a grosso modo, o raciocínio constrói-se da seguinte
doença e o analfabetismo como os fatores respon­ forma: o povo é potencialmente rico em virtudes
sáveis pelo atraso, viria então isentar a figura do —pureza, espontaneidade, autenticidade; mas para
Jeca Tatu dos males do Brasil. Na célebre frase manifestar este seu aspecto positivo, precisa da
de Monteiro Lobato, “Ele [o Jeca] não é assim intermediação das instâncias superiores. Estas têm
mas está assim”, fica explícita esta mudança de o dom da expressão (os intelectuais) e o da
mentalidade. O povo deixa de ser equiparado à organização e ordem (os políticos). A imagem do
categoria da negação e se ele apresenta aspectos Estado “pai-grande” e a do intelectual salvacionista
negativos, isto independe dele. Depende antes de se entrecruzam, então, em direção ao popular.
uma boa administração governamental, capaz de Cabe ao intelectual auscultar as fontes vivas
sanar os erros e corrigir as deficiências. da nacionalidade, de onde emana a autêntica
Verifica-se, portanto, um deslocamento de cultura. Nesta perspectiva, a sua reflexão sobre a
perspetivas no debate político. Começamos a não nacionalidade deve necessariamente ser inspirada
mais associar povo à crise — lugar comum até no rico manancial popular. Entretanto esta ida ao
então — para passar a relacionar elites à crise. popular implica um retomo, uma vez que este é
Esta mudança de enfoque vai abrir novos espaços configurado como motivo de inspiração ou como
para se pensar o popular no conjunto nacional. matéria bruta a ser trabalhada por um saber supe­
rior. Não se trata, portanto, de consagrar o popular
E no discurso modernista que esta concepção “errado do morro”, mas sim de procurar resgatar
começa a envolver certa carga de positividade. o espírito de grandeza subjacente às suas mani­
Através das manifestações da cultura popular, festações22.
temos a pista para conhecer e revelar o Brasil E esta concepção do popular que permeia todo
autêntico. E, porém, no período do Estado Novo o projeto cultural do Estado Novo, conforme tive­
que vemos manifestar, na sua forma mais bem mos ocasião de mostrar. Apresentando-se como
acabada, esta construção ideológica que instaura a consciência e expressão mais lúcida da socie­
a positividade do popular. E é importante assinalar dade, o intelectual assume papel de “educar” as
um dado. Agora, esta construção ideológica manifestações populares. Assim o ideal civilizatório
aparece articulada dentro de uma estratégia política das elites deve se sobrepor a estas manifestações
definida: a do Estado centralizado e autoritário.
Nele, o povo é isento de responsabilidade pelo que
vinha acontecendo com o País. Num passe de
mágica, tudo se transfere para as elites. Estas, 22 Este conceito de popular é expresso por um dos
sim, é que são as verdadeiras responsáveis pela apologistas do trabalho musical de Villa Lobos no
crise nacional. Reverte-se totalmente o quadro. O Estado Novo. Ver SQUEFF e WISNIK, 1982.

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OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

a fim de educá-las, ou, melhor dizendo, de homo­ aspectos a do Estado Novo, pelo seu forte tom
geneizá-las. Este enfoque homogeneizador natural­ centralista e pela quantidade de recursos investidos
mente irá se mostrar impermeável às diferenças no setor. A partir de 1975, sob o patrocínio do
socioculturais, só as reconhecendo enquanto ele­ Estado, observa-se uma verdadeira proliferação
mentos capazes de serem integrados no Estado de entidades culturais: Funarte (Fundação Nacional
nacional. de Artes), Concine (Conselho Nacional de Cine­
Esta visão de um todo homogêneo (Estado) ma), CNDA (Conselho Nacional de Direitos Auto­
capaz de impor a ordem social, seja ela baseada rais). Reorganiza-se a Embrafilme e incentivam-
nos princípios da razão ou intuição, vem até os se projetos específicos como o Projeto Pixingui-
nossos dias. Freqüentemente ela comparece como nha, o Projeto Universidade, o Projeto Barroso
fundamento às políticas culturais que tomam como Mineiro etc.
base de sua ação as controvertidas categorias de Apesar das diferenças de contexto histórico
povo e nação. que deram origem às políticas culturais do Estado
Assim, a cultura popular é vista como expres­ Novo e do pós-64, ainda prevalece a visão da cul­
são do genuinamente nacional, cabendo ao Estado tura enquanto área estratégica do Estado. O que
a função de resguardá-la das invasões “alieníge­ parece ocorrer é uma espécie de reciclagem
nas”, sejam elas externas ou internas. Dos auxílios histórica de conceitos — nação, povo e cultura
discretos (subvenções, doações, apoios) à inter­ — para reajustá-los aos objetivos dos regimes.
venção organizada e centralizadora, o Estado sem­ “Área de segurança nacional” ou “núcleo da iden­
pre impôs a sua presença nos domínios da cultura. tidade brasileira” a nossa produção cultural sempre
A política cultural dos anos setenta — particular­ esteve na mira do Estado.
mente no governo Geisel — lembra em muitos Recebido para publicação em setembro de 1997.

Monica Pimenta Velloso (mvelloso@fgvrj.br) é Pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação


de História Contemporânea do Brasil (CPDoc) da Fundação Getúlio Vargas e Doutora em História Social
pela USP (Universidade de São Paulo).

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