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Bacharelado em

Teologia

Fundamentos
Hermenêuticos
Organizadores

www.metodista.br
Suely Xavier dos Santos

2º semestre de 2018 - Edição atualizada


Universidade Metodista de São Paulo
Diretor Geral
Robson Ramos de Aguiar

Conselho Diretor
Valdecir Barreros (Presidente), Aires Ademir Leal Clavel (Vice-Presidente),

Conselheiros titulares:
Esther Lopes (Secretária), Bispa Marisa de Freitas Ferreira (Assistente do Conselho Geral das
Instituições Metodistas de Educação), Almir de Oliveira Júnior, Andrea Rodrigues da Motta
Sampaio, Cassiano Kuchenbecker Rosing, Marcos Gomes Tôrres
Oscar Francisco Alves Jr., Recildo Narcizo de Oliveira, Renato Wanderley de Souza Lima

Conselheiro Suplente: Eva Regina Pereira Ramão, Roberto Nogueira Gurgel


Reitor: Prof. Dr. Paulo Borges Campos Junior
Coordenadora de Graduação: Prof. Alessandra Zambone
Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa: Prof. Drª Adriana Barroso de Azevedor
Diretoria de EAD: Prof. Dr. Marcio Araujo Oliverio
Coordenação do EAD: Prof. Dr. Marcio Araujo Oliverio

Coordenador do Curso de Teologia Assessoria Pedagógica


Eber Borges da Costa Fabiana Cabrera Silva Santos
Ana Claudia Betonio Rubio
Organizadores Eliana Vieira dos Santos
Dra. Suely Xavier dos Santos Naiane Pereira de Melo

Professores Autores Produção de Materiais


Dr. Claudio de Oliveira Ribeiro Didático-Pedagógicos EAD
Ms. Elizangela Aparecida Soares Márcio Araújo Olivério
Dr. José Carlos de Souza
Dra. Magali do Nascimento Cunha Revisão
Dra. Suely Xavier dos Santos Carlos Alberto Coelho
Dr. Tércio Machado Siqueira
Data desta edição
2o semestre de 2018

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo)

Universidade Metodista de São Paulo


expediente

Un3f Fundamentos hermenêuticos / Universidade Metodista de São Paulo.


Organização de Suely Xavier dos Santos. 3.ed. São Bernardo do Campo :
Ed. do Autor, 2014.
98 p. (Cadernos didáticos Metodista - Campus EAD)
Bibliografia
ISBN 978-85-7814-284-1
1. Teologia 2. Hermenêutica - Aspectos religiosos I. Xavier dos Santos,
Suely II. Título.
CDD 230

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO


Rua do Sacramento, 230 - Rudge Ramos
09640-000 São Bernardo do Campo - SP
Tel.: 0800 889 2222 - www.metodista.br/ead

É permitido copiar, distribuir, exibir e executar a obra para uso não-comercial, desde que
dado crédito ao autor original e à Universidade Metodista de São Paulo. É vedada a
criação de obras derivadas. Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar
claro para outros os termos da licença desta obra
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Teologia

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Hermenêuticos

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Suely Xavier dos Santos

UMESP

2º semestre de 2018 - Edição atualizada


Palavra do Reitor

Estimado(a) aluno(a) do Campus EAD Metodista,


Receba os nossos votos de um feliz ano novo!
Este é o Guia de Estudos do seu curso. Ele foi escrito e organizado pelos seus professores e
pela equipe EAD, a fim de que você possa desenvolver ainda mais seu aprendizado ao longo do
semestre. Cada texto escrito tem relação com o conteúdo da aula e é indicado para
complementar seus estudos semanais.
Nossa dedicação e empenho têm sido para expandir os polos de apoio presencial de forma a
levar a educação para você com a maior qualidade possível, sempre pensando na forma mais
eficaz de gerar interações entre docente e discente.
Temos novidades! Oferecemos um novo modelo de EAD, flexibilizando ainda mais as
possibilidades de estudo. Agora, além dos cursos semipresenciais e totalmente online,
oferecemos ao aluno a opção entre comparecer ao polo ou assistir às aulas de onde estiver,
utilizando um computador, notebook, tablet ou smartphone com acesso à internet.
Em 2017, trabalhamos na elaboração do nosso Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI,
que nos permitirá ter uma melhor compreensão de nosso desempenho constante da proposta
inicial do PDI 2007/2016 e comparar a situação atual e futura da Instituição, com vistas a sanar
fragilidades que tenham sido identificadas.
Reconhecendo a importância do PDI para a Universidade, concretizaremos os planos da
UMESP para os próximos anos, deixando explícitas nossa missão institucional e as estratégias
para atingirmos as metas e os objetivos propostos, articulando as ações para a manutenção de
nossos padrões de qualidade.
Gratidão a você, caro(a) aluno(a), que escolheu para sua formação a Universidade Metodista
de São Paulo, confiando a nós este grande desafio de educar!

Desejamos um excelente semestre!

Prof. Dr. Paulo Borges Campos Júnior


Reitor
Teologia
Módulo: Literatura e Contexto histórico do AT

09 Literatura e contexto histórico do AT I

15 Literatura e contexto histórico do AT II

21 Literatura e contexto histórico do AT III

27 Literatura e contexto histórico do AT IV

31 Hermenêutica Bíblica I

37 Hermenêutica Bíblica II

Módulo: Fundamentos de Teologia e História

41 História do cristianismo antigo e Medieval I

45 História do cristianismo antigo e Medieval II

49 História do cristianismo antigo e Medieval III

53 História do cristianismo antigo e Medieval IV

57 Teologia sistemática: Introdução à Teologia I

61 Teologia sistemática: Introdução à Teologia II

Módulo: Comunicação na ação Pastoral I

65 Introdução as regras da comunicação científica I

69 Introdução as regras da comunicação científica II


sumário
73 Temas básicos em comunicação

77 Técnicas básicas de expressão oral

81 Metodologia Científica I: Técnicas básicas e expressão e escrita

85 Metodologia Científica II: Comunicação eficaz na celebração


comunitária da fé
Módulo

Literatura
e Contexto
Histórico do AT - I

Prof. Me. João Batista Ribeiro Santos

Objetivos
Abordar o aspecto literário do Antigo Testamento no
contexto do começo do letramento no antigo Israel. As-
sim, as narrativas canônicas não são apenas textos religi-
osos, mas também instrução para a vida diária do povo.

Palavras-chave:
Antigo Testamento; literatura; escolas.

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Os meios produtores do Antigo Testamento
As civilizações do antigo Oriente Próximo tiveram seus centros de cultura em seu próprio
território: as cortes dos reis e príncipes ou os grandes santuários.
A cultura não permanecia no lugar de origem, mas percorria as rotas das caravanas e chegava
a toda parte. Com os objetos manuais ou de arte, chegavam também as formas de pensar e de
viver, especialmente com as obras literárias. Essas obras eram possibilitadas pela vida privilegiada
dos escribas. Produziam-se documentos administrativos e textos para propósitos de educação e
instrução.
Desde o início, o rei e seus familiares usufruíam das escriturações. O rei, não raro, encorajava
a produção de relatos favoráveis aos seus feitos. No entanto, havia profetas ligados a escribas ou
à escola escribal, como Jeremias (36.4), Isaías (8.16; 30.8), Oséias (14.9) e Habacuque (2.2).
Desde os primórdios, o Egito desenvolveu a literatura sapiencial por meio de instruções
ou ensinamentos e também com pequenos poemas. Nas instruções, um rei dirige-se ao príncipe
herdeiro, principalmente em época de instabilidade social, política e cultural; um aristocrata dirige-se
a seu filho; um escriba dirige-se a seu sucessor; todo aluno ou discípulo é chamado de “filho”. Em
alguns poemas, abordam-se os grandes temas que preocupam o ser humano de todos os tempos:
os males da vida presente, as dúvidas perante o que há depois da morte etc.
A Mesopotâmia influenciou literariamente o antigo Israel, fazendo-se presente em todas
as suas instituições, particularmente no Primeiro Testamento. Há dois poemas de cerca de 1500 a
1200 a.C. – “Poema do justo que sofre” e “Diálogo de sofredor com seu amigo” – que têm muitas
semelhanças com o Livro de Jó.
A própria tradição da Bíblia sugere que a sabedoria – fruto da produção de conhecimento
– vem do Oriente (cf. Jó 1.3 e Mateus 2.1-2). Exemplos desse tipo de literatura:
a) Epopeia de Gilgamesh, relato sobre a origem do mundo, que se dá às margens do rio
Eufrates; composto por volta do século XVII a.C., conta a história do antigo rei mesopotâmico
Gilgamesh de Uruk e sua busca pelo segredo da imortalidade, em que o tempo não é contado
nem em dias nem em semanas, mas em séculos e milênios. A grande diferença em relação
ao relato da Bíblia hebraica é que o mundo não é criado a partir do nada.
b) Enuma elish (“Quando no alto”), poema acádio com mais de mil versos sobre a
criação; composto por volta do século XIV a.C.
c) O relato do “Dilúvio” pertence à 11ª tabuinha da Epopeia de Gilgamesh.
O escriba e a escrituração se desenvolveram conforme as necessidades de uma elite dirigente
(entre 1 e 5 por cento da população) que vivia nos centros urbanos. A vida dos escribas ficava sob
as ordens daquela aristocracia, pois eles trabalhavam como funcionários e burocratas a serviço
do governo; portanto, era improvável que eles elevassem a voz ou protestassem em seus textos
contra alguma injustiça ou abuso do poder.
O clã serviu de contexto ao desenvolvimento e transmissão da sabedoria popular, com
transmissão oral através do mnemon, ancião ou líder da comunidade local, enquanto o palácio e
o santuário são as sedes do letramento e da escrituração (cf. Provérbios 25.1).
O antigo Israel registra a presença do escriba oficial pela primeira vez no “palácio” de Davi.
Entre os comandantes de bandos e guarnições e o encarregado de trabalhos escravos estava o
escriba (2Samuel 20.23-25), certamente usufruindo da burocracia da cidade-Estado de Jerusalém
recém-conquistada. Um dos grandes anais é a “narrativa da sucessão do trono” (2Samuel 9–20;
1Reis 1–2), onde é relatado como Salomão, embora não fosse o filho mais velho e sucessor óbvio
de Davi, conseguiu subir ao trono através dos acordos políticos do palácio.
Com relação ao antigo Israel, a cultura religiosa, através da experiência fundante do êxodo
e do compromisso com a aliança, está no contexto dos escritos que foram canonizados. O escriba
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e intelectual israelita mais famoso é Esdras (cf. Esdras 7.10-11).

1. A escola
As escolas eram instituições reais que, já no III milênio a.C., funcionavam em toda a região
da Mesopotâmia e do Egito. Existiam também escolas na Síria, pois de Biblos o alfabeto passou à
Grécia e, da Grécia, a Roma.
No campo das sociedades sem escrita, a etnologia mostrou que qualquer interpretação ou
escrituração de uma tradição oral é uma obra nova, uma apropriação da tradição no interesse
daquele que a interpreta e de seu público.
A passar para a escrita é possível ver que determinada história ou tradição tinha várias
versões, tais como:
a) o nome do sogro de Moisés (Reuel, Êxodo 2.18; Jetro, Ex 4.18; Hobab, Juízes 4.11);
b) a filiação de um homem chamado Dishon, ora ele é filho, ora ele é bisneto de Seir
(Gênesis 36.21 e 36.25);
c) a filiação da rainha Atalia, ora ela é filha de ‘Omri e irmã de Acab (2Reis 8.26), ora
ela é neta de ‘Omri e filha de Acab (2Reis 8.18).
O intelecto era internacional no antigo Oriente Próximo (1Reis 5.10-11; Provérbios 30.1; 31.1; Jó
1.1). Na escola ensinava-se o letramento e a escrituração, além do comportamento público ideal
visando a estabilidade social. Primeiro temos um “cânon educativo” ligado a uma escola pública,
no caso de Israel ligado à escola do templo de Jerusalém; esses mesmos textos são vinculados a
um “cânon bíblico”.
O antigo Israel adaptou a escola segundo as suas necessidades, ou seja, a serviço do rei e da
aristocracia. Nesse sentido, fala-se de escolas reais ou escolas da corte, sustentadas pelo palácio.
Essas escolas existiram especialmente no tempo de Salomão e do rei Ezequias (cf. a tradição
sapiencial: Provérbios 22.17; 24.23; 25.1).
Exemplo de textos escolares no Primeiro Testamento com similares na Mesopotâmia e no Egito;
portanto, convergem várias correntes do saber no antigo Oriente Próximo:
Gênesis 1 e 6–8; Levítico 11: cosmologia e uma zoologia;
Gênesis 2–4: uma antropologia;
Gênesis 5: lista dos patriarcas (ou “árvore genealógica”);
Gênesis 10: uma geografia “universal” (ou lista de povos e impérios);
Oséias 14.9: um assentimento às dificuldades gramaticais encontradas em um determinado texto.

Exemplo de textos escolares no Primeiro Testamento com similares na Mesopotâmia e no Egito;


portanto, convergem várias correntes do saber no antigo Oriente Próximo:
Gênesis 1 e 6–8; Levítico 11: cosmologia e uma zoologia;
Gênesis 2–4: uma antropologia;
Gênesis 5: lista dos patriarcas (ou “árvore genealógica”);
Gênesis 10: uma geografia “universal” (ou lista de povos e impérios);
Oséias 14.9: um assentimento às dificuldades gramaticais encontradas em um determinado texto.

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2. O palácio
Está comprovado que no palácio produziam-se muitas canções. Epopeias dos cantores da
nobreza da Grécia pré-clássica estão, certamente em parte, compiladas entre os séculos VIII-VII a.C.
na Ilíada e na Odisseia de Homero.
No antigo Israel, muitas canções foram compiladas no Livro dos Justos (cf. Josué 10.12-13;
2Samuel 1.17-28) e no Livro das Guerras de Yhwh (Números 21.14-15).
Sem dúvida, o registro e a transmissão de informação ligada ao rei eram realizados com a
anuência do palácio, ainda que fosse um oráculo profético posteriormente canonizado (cf. Isaías
7.4-9, 14-16).
Produzia-se também no palácio anais com conteúdo forense (cf. a conclusão de uma legislação
palaciana da época de Davi em 1Samuel 30.25; e a narração de um julgamento presidido pelo rei,
em 1Reis 3.16-28) e com dados administrativos (cf. 1Reis 4.20-28).
Às vezes, em meio aos relatos de exaltação pela aliança da divindade com o rei, escapava algum
dado desabonador, como em 1Reis 9.15: “E esta é a causa do trabalho escravo que impôs o rei
Salomão para edificar a casa de Yhwh, e a casa dele, e o Milo, e a muralha de Jerusalém, e Hazor,
e Megido, e Gezer” [2Crônicas 8.7-10 é uma revisão de 1Reis 9.15].
Uma das prerrogativas do rei no antigo Oriente Próximo era codificar leis (legislações ou
constituições nacionais). No antigo Israel, as leis eram prerrogativas divinas; portanto, a tarefa do
legislador, seja Moisés, seja o rei, era subscrevê-las. Exemplos de códigos legais:
a) Código da Aliança (Êxodo 20.22–23.19 [23]);
b) Código Deuteronômico (Deuteronômio 12–26);
c) Código de Santidade (Levítico 17–26 [27]).

3. O templo
Ao lado de relatos envolvendo a própria vida do povo – em alguns casos históricos, em outros
em forma de mitologia –, os sacerdotes do templo produziram ritos como elementos do conhecimento
(cf. Levítico 1–7), além de calendários litúrgicos. Exemplo de calendários:
a) Êxodo 23.14-19;
b) Êxodo 34.18-26;
c) Levítico 23.4-43;
d) Deuteronômio 16.1-16.
Alguns cânticos do Templo de Jerusalém entraram no Saltério, como as “liturgias de entradas
no santuário” (Salmos 15; 24), liturgia de acolhimento (Salmo 133), liturgia de aclamação (Salmo 134),
leitura de penitência ou confissão (Salmo 118.25) e leitura de consolação (Salmo 118.26).
Entre outras coisas, os sacerdotes tinham a atribuição de transmitir recomendações pertinentes
à medicina e à natureza: identificar a enfermidade que causava impureza (cf. Levítico 13–14), que
animais são adequados para o consumo e para o sacrifício (cf. Levítico 11; Deuteronômio 14.3-21).

4. As bibliotecas
Conhecemos bem as tradições escritas, mas antes delas existiu apenas a tradição oral. Antes
que os sábios compilassem as tradições israelitas em coleções que chegaram até nós, ou que se
perderam, a sabedoria correu de boca em boca. O Qohelet é um dos exemplos de transmissão de
conhecimento e de pesquisador, numa época (entre o período persa e a expansão da cultura grega)

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em que os judeus já contavam com bibliotecas:

Eclesiastes 12.9: “O pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento; e,


atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios”.
Eclesiastes 1.13-14: “Apliquei o coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de
tudo quanto sucede debaixo do céu; este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens,
para nele os afligir”.

Depois do fracasso da monarquia e a queda do Templo, o povo judaíta (posteriormente judeu),


tanto no exílio quanto no retorno à província de Judá, começaram a estabelecer, na época persa,
uma biblioteca sacra, com a Torah e os livros proféticos canônicos.
Os escritores dos livros que fazem parte da biblioteca sacra recebem influência de “literaturas
universais”. A forma de escrever, os gêneros literários, os versos e paralelismos dos textos devem nos
levar à busca das possíveis influências de outras literaturas da época.
a) a narração novelística da história de José;
b) a narração teatralizada e simbólica da história dos canzis em Jeremias 27;
c) a narração poética e parabólica da vinha em Isaías 5;
d) as ironias dos cantos do livro de Ezequiel (19.1-9; 19.10-14; 26.15-21; cap. 27; 28.11-
19; cap. 31; 32.1-8; 32.17-32);
e) a filosofia e o ceticismo no Qohelet (livro do Eclesiastes);
f) as histórias sobre o tempo de duração do dilúvio, sobre a relação de tribos etc.

Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p.

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Módulo

Literatura
e Contexto
Histórico do AT -II

Prof. Me. João Batista Ribeiro Santos

Objetivos
Estudar a formação da história deuteronomista,
o maior conjunto literário canônico do
antigo Israel. Apresentaremos os livros não
como produção religiosa isolada, mas como
demonstração de coerência redacional entre o
Pentateuco e os Livros Proféticos.

Palavras-chave:
Antigo Testamento; livros históricos; antigo
Israel.

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A história deuteronomista
O livro do Deuteronômio conclui a primeira parte do Primeiro Testamento e, ao mesmo
tempo, serve de ponto de partida para os livros chamados “históricos”.
Ao fazer menção à entrada iminente dos israelitas na terra de Canaan, o livro liga-se com o
livro de Josué, que relata a travessia do Jordão. Por isso, alguns pesquisadores têm considerado o
livro de Josué como o verdadeiro final da primeira parte do Primeiro Testamento (um Hexateuco,
em vez de Pentateuco).
A abertura do livro dos Juízes é lida como a transgressão das advertências do Deuteronômio
(Dt 6.12-15). De modo semelhante, Deuteronômio 6.15 e 28.63 anunciam a deportação para longe
da terra prometida como sanção extrema pela desobediência do povo. É o que acontece no fim
do livro de 2Reis: “E assim foi Judah deportado para longe de sua terra” (2Reis 25.21). Vínculos
como este são reforçados pelo estilo e pelo vocabulário assemelhados entre os livros históricos e
o Deuteronômio.
Ao narrar a história de Israel, cujo final termina com a catástrofe da destruição de Jerusalém
e seu templo e captura do povo pelo império babilônico, o “deuteronomista” alude ao fato de que
isso não ocorre por fraqueza de Javé, que teria sido vencido pelos deuses do império; ao contrário,
é o próprio Javé quem pune o seu povo.
Há indícios de uma revisão ou conclusão da obra na época do exílio:
a) perspectiva de um exilado na Babilônia → a ideia expressa na oração de Salomão
deve ser feita “na direção de Jerusalém e do templo” (1Reis 8.48);
b) perspectiva de quem teria ficado na terra de Canaan → “e assim foi Judah deportado
para longe de sua terra” (2Reis 25.21).

Os “livros históricos deuteronomistas”

Josué

Pode-se dividir o livro de Josué em duas partes:


a) Josué 2–12 contém um conjunto de relatos sobre a conquista da terra e seus pre-
parativos;
b) Josué 13–22 apresenta especialmente listas a respeito da divisão da terra em doze
partes, segundo o número das tribos de Israel.
Na moldura narrativa dessas duas partes estão o capítulo 1 (discurso de legitimação de Josué por
Javé e discurso de Josué ao povo) e os capítulos 23–24 (dois discursos de despedida de Josué).
A transição da primeira parte (2–12) para a segunda (13–22) dá-se em 13.1 com a informação de
que Josué estava avançado em idade.
No capítulo 1, o livro opera a transição entre o Pentateuco e os Profetas anteriores. O discurso
divino apresenta paralelos entre Josué e Moisés (cf. Dt 3.28 e 31.1-8). A referência à Torah em Josué
1.8, que abre o cânon dos Nebiim, como a referência à Torah em Salmos 1.1-3 abre o cânon dos
Ketubim, enfatiza que tanto os Profetas quanto os Escritos só podem ser entendidos à luz da Torah.

Os capítulos 2–5 relatam os preparativos da conquista.


No capítulo 2, o relato dos espiões em Rahab interrompe a sequência cronológica entre os capítulos

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1 e 3–4, “corrigindo” a história paralela dos espiões em Números 13–14: ao contrário do livro dos
Números, no livro de Josué tudo termina bem graças à intervenção de uma mulher estrangeira.
Na segunda parte, Josué 13–19 contêm listas e documentos territoriais diversos e apresenta a
instalação das tribos da Tranjordânia.
Josué 20–21 enumera as cidades de refúgio e as cidades levíticas.
Josué 21.43-45 parece apresentar uma primeira conclusão do livro insistindo no fato de que todas
as promessas feitas por Deus estão cumpridas.
O capítulo 22 trata das tribos transjordanianas: elas podem construir um santuário desde que não
realizem culto sacrifical no local.
O livro apresenta dois discursos conclusivos com perspectivas diferentes:
a) Josué 23 prediz a perda da terra em caso de desobediência do povo;
b) Josué 24 resume toda a história dos patriarcas até a conquista, como quem conclui
uma era.
Note-se que, em paralelo com o livro do Deuteronômio ou, por extensão, o Pentateuco, o livro de
Josué termina com a morte de seu protagonista (Dt 34.1-8 = Js 24.29-30).

Juízes

O livro dos Juízes localiza-se cronologicamente entre a conquista e a monarquia. É uma época em
que “cada um fazia o que parecia bom aos seus olhos”.
Há informações sobre personagens guerreiros e chefes carismáticos engajados em conflitos ter-
ritoriais.
Inexistem especificidade territorial e sequência ou organização temporal.
Inexistem patriarca, rei, profeta, centralidade político-social e cúltica.

O nome do livro e sua estrutura

O nome “Juízes” traduz o termo hebraico šāpāṭ, que significa “julgar” ou “governar”. Com exceção
de Deborah (Jz 4.4), nenhum personagem desempenha uma função de juiz no sentido jurídico.
Exceção feita ao resumo de Juízes 2.16-18 (“Javé suscitou juízes”), ninguém traz o título de “juiz”
no livro, exceto exatamente Javé (Jz 11.27).
Certo número de personagens se diz que “julgam” (šāpāṭ) ou que “salvam” (yāšār) a terra.
a) há “salvadores” que libertam sua tribo em um período de opressão: Otniel (Jz 3.9),
Ehud (Jz 3.15), Shamgar (Jz 3.31), Gideon (Jz 6.14,37; 8.22), Tola (Jz 10.1) e Sansão (Jz 13.5);
b) há personagens cuja atividade é definida pelo verbo “julgar”: Otniel (Jz 3.10), Deborah
(Jz 4.4), Tola (Jz 10.2), Iair (Jz 10.3), Jefté (Jz 12.7), Iibsan (Jz 12.8-9), Elon (Jz 12.11), Abdon (Jz
12.13-14) e Sansão (Jz 15.20; 16.31).
Há personagens que nem “salvam” nem “julgam”, como Iael (Jz 4–5) e Abimélekh (Jz 9). Por outro
lado, Samuel pertence à época dos juízes, pois se diz que ele “foi juiz de Israel” (1Sm 7.15) e “sal-
vador” ao lado de Ierubaal, Bedan e Jefté (1Sm 12.11).
Há consenso entre os pesquisadores quanto:

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a) Juízes 1.1–3.6: dupla introdução;
b) Juízes 3.7–16.31: corpo do texto;
c) Juízes 21.25: conclusão redacional.
A nova geração abandona Javé (Jz 2.11-19). Eis o motivo do fracasso diante dos nativos com relação
à tomada da terra.
O registro contra a monarquia: a fábula de Iotâm (Jz 9.8-20).
O refrão pró-monarquia: “Naquele tempo, não havia rei em Israel...” (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25).

1–2 Samuel
A Septuaginta preserva uma tradição de interpretação que reúne 1–2Samuel em uma única coletânea
com 1–2Reis, um grande conjunto editorial chamado Reino onde constam I–IVReis. Por seu lado, na
Vulgata um grande conjunto editorial chamado Incipit liber Samuhelis reúne I–IISamuel–III–IVReis.
Segundo Ernst Sellin e Georg Fohrer, só em 1448 a Bíblia hebraica imprime a edição com a divisão
em 1–2Samuel e 1–2Reis.
A atribuição autoral a Samuel provém da tradição massorética (entre os séculos X-XI d.C., ou seja,
na Idade Média).
Distingue-se duas grandes seções no livro:
a) 1Samuel 1–15;
b) 1Samuel 16–2Samuel 24.
A mudança de uma seção a outra é marcada pelo contraste entre 1Samuel 15 e 1Samuel 16.1-3:
1Samuel 15 termina com a rejeição definitiva de Saul por Javé, enquanto 1Samuel 16.1-3 introduz
a narração sobre a escolha de Davi para substituir Saul.
Questão literária: a arca estava em Quiriat-Iearim (1Sm 7.1a) ou em Baalim de Judah (2Sm
6.2)?
Questão literária: antecipando todas as narrativas sobre as atividades reais de Davi, 2Samuel
5.4,5 diverge quanto ao tempo de reinado de Davi: no v. 4, reinou 40 anos; no v. 5, reinou
40 anos e 6 meses.
O segundo livro de Samuel apresenta Davi como fundador do culto (2Sm 6), depois fundador de
uma dinastia (2Sm 7), a seguir de um império (2Sm 8).
Sobre o rei e a monarquia, cf. a sequência 1Samuel 8.10ss.; 10.19ss.; 12.13ss.

1–2 Reis
A divisão de Reis em dois livros vem da Septuaginta e foi introduzida nos manuscritos hebraicos a
partir do século XV d.C. (fins da Idade Média). 1–2Reis são os últimos livros dos “profetas anteriores”.
O livro relata toda a história das monarquias israelita e judaica desde o reinado de Salomão, que
sucede Davi, o fundador do trono eterno de Jerusalém (2Sm 7; Sl 2; 89), até sua destruição em
587 a.C.
Em 2Reis 25, o livro se encerra com a narração da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor (2Rs
25.8-17) e o exílio da população, quer em Babilônia (2Rs 25.18-21), quer no Egito (2Rs 25.22-26).
A última informação indica que o fim do templo e do Estado não significa, contudo, o fim da família
real (2Rs 25.27-30) → Leia-se Ezequiel 4.2; 9.1-6; 11.1-5.
Uma divisão possível:

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a) 1Reis 1–11: o reino unido sob Salomão;
b) 1Reis 12–2Reis 17: história de Israel e de Judah até a conquista de Samaria;
c) 2Reis 18–25: história de Judah até sua queda.

Após a divisão, os reis são apresentados sob uma avaliação a partir de um modelo. Para alguns reis
há informações em anais (2Rs 14.23-29; 15.1-7,8-12,13-16,17-22,23-26,27-31,32-38 etc.).
A sucessão dos reis é pontuada pela intervenção de profetas “pré-literários”, exceto Isaías (2Rs
18–20) e Jonas ben Amitai em 2Reis 14.25 (cujo nome é retomado pelo autor do livro de Jonas):
Aías de Shilô (1Rs 11.19-40; 14.1-18), Miqueias ben Yimlah (1Rs 22.5-28), Elias (1Rs 17–19; 21; 2Rs
1–2), Eliseu (1Rs 19.19-21; 2Rs 2–9; 13.14-21), Hulda (2Rs 22.14-20). Na maioria das vezes, eles
anunciam a perda parcial ou total da realeza, prenunciando a queda de Israel e de Judah.

Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p.

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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo

Literatura e
Contexto Histórico
do AT -III

Prof. Me. João Batista Ribeiro Santos

Objetivos
Abordar o aspecto literário dos livros proféticos,
formação e contextos, com o objetivo de
possibilitar introdutoriamente o conhecimento
do processo redacional e do ambiente profético
do antigo Israel.

Palavras-chave:
Antigo Testamento; profetas e profetismo;
sociedade.

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Os livros proféticos

Isaías
As dimensões extraordinariamente grandes do livro, a diversidade de seus temas e a riqueza de
formas linguísticas com que eles foram elaborados, mas sobretudo as importantes divergências
de conteúdo e forma que se manifestam nele, levaram a pesquisa crítica a dividir o livro canônico
de Isaías em três grandes partes:
a) Proto-Isaías: Is 1–39;
b) Dêutero-Isaías: Is 40–55;
c) Trito-Isaías: Is 56–66.
O nome do próprio Isaías (= Javé é nossa salvação) encontra-se dezesseis vezes no livro, que por
sua vez possui esse nome no cânon bíblico. Três vezes ele pode ser encontrado em títulos (Is 1.1;
2.1; 13.1). As demais ocorrências aparecem nos relatos de terceiros (7.3; 20.2,3; 37.2,5,6,21; 38.1,4,21;
39.3.5.8). O livro pode ser subdividido em:
a) Cap. 1 → Is 1.1: “Visão de Isaías, filho de Amôs, que ele viu a respeito de Judah e de
Jerusalém”;
b) Cap. 2–12 → Is 2.1: “A palavra que Isaías, filho de Amôs, viu a respeito de Judah e de
Jerusalém”;
[Is 1–12 → autoria incontestável]
c) Cap. 13–23 → Is 13.1: “Proclamação sobre Babilônia, o que viu Isaías, filho de Amôs”
(coletânea de “proclamações”: Is 13.1; 15.1; 17.1; 19.1; 21.1,11,13; 22.1; 23.1; cf. 14.28; 30.6);
d) Cap. 24–27 → conjunto redacional sem os elementos “proclamação” e “ai”;
e) Cap. 28–35 → conjunto redacional estruturado por “ais” (Is 28.1; 29.1,15; 30.1; 31.1; 33.1);
[28–32 → autoria incontestável]
f) Cap. 36–39 → conjunto redacional transmitido também em 2Rs 18.13,17–20.19, com
exceção da oração de Is 38.9-20;
g) Cap. 40–66 → Is 40.1-2: “Meu povo”.

A primeira visão panorâmica confirma o profundo corte após o relato dos capítulos 36–39.
Nos textos, a partir do capítulo 40, o nome Isaías não é mais mencionado. Também os nomes dos
reis de Judah citados em Is 1.1, cuja menção em Is 1–39 insinua uma ordem cronológica dos textos
(Ozias: 6.1; Iotâm: 7.1; Acaz: 7.1,3,10,12; 14.28; Ezequias: 36.1; etc.). A menção aos reis conclui-se
com o discurso de Ezequias no capítulo 39.8. Os reis judaítas citados são da segunda metade do
século VIII a.C.

No Proto-Isaías (Is 1–39) há uma periodização da atividade profética de Isaías:


a) Is 2–5 → anúncio inicial, entre 740-736 a.C.
b) Is 7–8 → conflito siro-efraimita, entre 734-732 a.C.
c) Is 28–32 → anúncio no contexto dos conflitos com o império neoassírio, entre 705-701 a.C.

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Universidade Metodista de São Paulo
Jeremias
O livro do profeta Jeremias, que depois do Saltério é o escrito mais volumoso do Primeiro
Testamento, apresenta-se, na transmissão do texto, em dois formatos significativamente diferentes.
Em Jr 1.1, o complexo título com referências cronológicas qualifica as “palavras de Jeremias”
enquanto palavra de Javé e acentua duas datas primordiais (= Jr 25.3):
a) 627 a.C. → o tempo de reinado de Josias a partir do 13º ano;
b) 586 a.C. → a época da dominação babilônica sob Joaquim até a destruição de Jerusalém
sob Sedecias.
Jeremias é o “profeta para as nações” (Jr 1.5). Jeremias é designado explicitamente como “o profeta”
ao menos 27 vezes. Em nenhum outro livro aparecem com frequência comparável as formas
nominais e verbais de “profeta” (95 vezes) e “profetizar” (40 vezes).
As nações tornam-se destinatárias da sentença de punição contra Judah/Israel (Jr 9.24-25; 25.9-11;
30.11; 36.1). As nações servem como instrumentos para o juízo de Javé sobre a Babilônia (Jr 25.14;
27.7; 50–51). Mas também é proclamada salvação para os vizinhos de Israel (Jr 12.14-17).
A subjugação das nações por Nabucodonosor, que cabe a Jeremias anunciar, documentará o domínio
universal de Javé (Jr 27–28); a reflexão fundamental sobre a soberania de Javé para construir ou
demolir, plantar ou arruinar é desenvolvida no trato com as nações (Jr 18.1-17).
No trecho 1.11-15, a observação de um ramo de amendoeira, cuja designação em hebraico soa
como “árvore sentinela”, leva à intuição de que Javé vigia sobre o cumprimento de sua palavra.
Em Jr 18.1-17, o oleiro e sua maneira de desfazer uma peça malformada e recomeçá-la tornam-se
objeto de visualização da soberania de Javé no trato com o seu “material”.
Em Jr 24.1-10, são exemplificados para Jeremias dois cestos com figos de qualidades bem distintas
como figuras dos judaítas corrompidos e sob Sedecias e dos deportados para a Babilônia, nos
quais Javé se compraz.
No livro do profeta Jeremias há várias confissões: Jr 11.18–12.6; 15.10-21; 17.12-18; 18.19-23; 20.7-18.

Ezequiel
O livro do profeta Ezequiel é, com raras exceções (Ez 1.3 e 24.24), redigido na primeira pessoa do
singular e se apresenta como a memória do profeta.
Ezequiel relata as revelações divinas que teria recebido pouco tempo antes e depois da captura
de Jerusalém pelo exército babilônico em 587 a.C.
Segundo a cronologia do livro, essas revelações ocorrem em 592 a.C., isto é, no quinto ano da
deportação do rei Joiaquin (Ez 1.2), e vão até 572 a.C. (Ez 40.1), ou mesmo 570 a.C. (Ez 29.17), data
da última revelação textualizada de Ezequiel.
O livro pode ser dividido em duas grandes partes: a primeira parte é Ez 1–32, tendo seu ponto corte
com o anúncio da destruição de Jerusalém por um sobrevivente aos deportados na Babilônia (Ez
33.21-22), cumprindo assim a realização dos oráculos contra Israel; a segunda parte é Ez 33–48, com
a destruição de Jerusalém em 587 a.C., a profecia torna-se de restauração para os sobreviventes
(Ez 34–48).
a) uma parte dos oráculos relatados por Ezequiel se dá no contexto de visões grandiosas da
divindade e de sua corte celestial → Ez 1–3; 8.11; 37.1-14; 40.48;
b) outra parte dos oráculos se dá no contexto de experiências extáticas que implicam um
deslocamento físico ou espiritual do profeta → Ez 3.12-15; 8.1-3,7,14,16; 11.1,24; 37.1-2;
c) a “fórmula do mensageiro”, característica do livro, é “Aconteceu a mim uma palavra de
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Javé”. Mas há outras fórmulas, tais como “a mão do Senhor esteve sobre mim”, “assim fala
o Senhor Deus”, “oráculo do Senhor Deus”, “eu, o Senhor, falei”, ou ainda “conhecereis que
eu sou o Senhor”;
d) o oráculo divino começa sempre citando uma palavra do povo para entregar uma instrução
que retoma e corrige sistematicamente essa palavra → Ez 11.2-12,14-21; 12.21-25,26-28;
18.1-4,19-20,25-32; 20.32-38; 33.10-11,17-20,23-29,30-33; 37.1-14;
e) numerosos oráculos são dirigidos sob a forma de atos simbólicos que o profeta deve
realizar, seguidos de seu significado → Ez 3.24-27; 4.1–5.4; 6.11; 12.1-20; 21.11-17,23-28;
24.15-23; 33.10-11,17,20; 37.15-20;
f) as visões são seguidas quase sempre pelos atos simbólicos: Ez 1–3→3.24-27 e 4.1–5.4;
8–11→12.1-20; 37.1-14→37.15-20.
Numerosos oráculos são apresentados sob a forma de alegorias, com linguagem metafórica tirada
do reino animal ou vegetal: Ez 15; 16; 17; 19; 21.1-10; 22.17-22; 23; 24.1-14; 26.15-21; 27; 28.11-19;
31; 32.
A diversidade linguística é vista nos “enigmas” (Ez 17.2), parábolas (Ez 17.2; 21.5; 24.3), lamentações
fúnebres (Ez 19.1,14; 26.17; 27.2,32; 28.12; 32.2).
Como já foi aludido, a datação do livro é direcionada para o ano 592 a.C. (Ez 1.2). Ezequiel é descrito
como profeta exclusivo da golah de Joiaquin. A terra de Israel é apresentada como totalmente
devastada.

O Rolo dos Doze Profetas


O cânon da Bíblia hebraica, o Primeiro Testamento, conhece quatro Profetas Posteriores, Isaías,
Jeremias, Ezequiel e o Rolo dos Doze Profetas.
A mais antiga referência expressa de que os escritos proféticos de Isaías a Malaquias foram
entendidos como um só livro profético ocorre em cerca de 180 a.C. pelo livro do Sirácida. No
“cântico de louvor aos antepassados” (Sr 44.1–50.24) são citados sequencialmente Isaías (Sr 48.22),
Jeremias (Sr 49.7), Ezequiel (Sr 49.8) e os “Doze Profetas” (Sr 49.10) como um conjunto redacional.
Correspondências redacionais mostram-se nos grandes livros. Isaías 1.1 e Oseias 1.1 iniciam-se
com títulos comparáveis, que se reportam aos mesmos quatro reis; isso ocorre também ao final
dos respectivos grandes livros, Isaías 66.18ss e Zacarias 14.16ss.
A redação consciente pode ser vista na “titulação” de Malaquias 1.1 e Zacarias 9.1 e 12.1; a citação de
Zc 1.3 em Ml 3.7; além do fato de que o nome “Malaquias”, extraído de Ml 3.1, não é testemunhado
nem na Bíblia hebraica nem em inscrições semíticas.
Outro exemplo de redação está no livro do profeta Naum. No hino semialfabético de Naum 1.2-8
há uma interrupção em Na 1.2b-3a para a citação memorial de Êxodo 34.6-7.
A intervenção redatorial em Naum acerca dos atributos divinos no livro do Êxodo 34.6-7 torna-se
uma conexão para outros profetas, por exemplo: Os 1.2–2.3; 11; 14.2-9 e Joel 2.1-14.

Critério e época de edição canônica


A ordem de edição segue o sistema temporal do cabeçalho de cada livro. Pode-se situar a conclusão
da formação do livro dos Doze Profetas no período entre 240 e 220 a.C., sobretudo por causa
da perspectiva enfim pacífica do relacionamento de Israel e as nações, exposta em Zacarias 14 e
Malaquias.
[Por volta de 240 a.C. houve um tratado de paz entre Ptolomeu III Evergetes (246-222 a.C.) e Seleuco
II Calínico (246-225 a.C.) após a terceira guerra da Síria; tempo depois, após 221 a.C. ocorreu a
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Universidade Metodista de São Paulo
retomada das lutas pelo poder entre ptolomeus e selêucidas na Palestina.]

Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p.

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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo

Literatura e
Contexto Histórico
do AT -IV

Prof. Me. João Batista Ribeiro Santos

Objetivos
Abordar de forma sumária a terceira parte do
Antigo Testamento em conexão com o cânon
da Bíblia hebraica, para possibilitar a apreensão
entre os últimos livros judaicos e a conclusão
da redação canônica.

Palavras-chave:
Antigo Testamento; Escritos; cânon.

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Os Escritos: esboço sumário
Para que alguém se torne sábio, ele precisa do saber adequado e precisa ser capaz de lidar de
modo correto com esse saber. A sabedoria está interessada no saber certo a respeito da vida. Para
ela está em jogo aprender, praticar e passar adiante o saber viver, a arte de viver.
Todas as ordens singulares são, segundo o ensinamento da sabedoria mesopotâmica, egípcia e
israelita antiga, elementos de uma ordem abrangente do mundo e da criação, em vista da qual a
divindade organizou o mundo.
Principais correntes da sabedoria do antigo Israel:
a) sabedoria clânica (“sabedoria popular”) → a guardiã crítica e sensível dos ideais de
solidariedade e justiça para todos, contrário à sociedade de classes das capitais Samaria e
Jerusalém;
b) sabedoria palaciano-citadina (“sabedoria de escolas”) → educação e formação dos filhos
do rei e dos funcionários; seus ideais estão apontados para a estabilização da ordem estatal
vigente e giram em torno de lealdade, riqueza, fruição da vida e honra (trecho de doutrina
sapiencial egípcia no livro dos Provérbios 22.17–23.11);
c) sabedoria teologizada → começa no período pós-exílico a interpretação da sabedoria
como um mistério inerente à criação e à história; finalmente, a sabedoria é personificada.
Então, a arte do viver não é mais uma realização da razão prática, e sim uma dádiva divina.
A sabedoria transforma-se em sabedoria da revelação (ex.: Pv 8.22-31);
d) sabedoria teologizada templar → teologia sapiencial pós-exílica que considera a Torah de
Israel como a maior e verdadeira dádiva divina da sabedoria.

As formas literárias da sabedoria


* Provérbio (no livro dos Provérbios: ditado popular, 9.17; sentença, 12.4; provérbio enigmático,
23.29-35; provérbio numérico, 6.16-19; exortativo, 23.19-21);
* Discurso didático (Pv 1.8-19; 5.1-23; Jó 32–37);
* Poema didático (no Saltério: reflexão sobre a Torah, Sl 1; 19; 119; sobre a vida, Sl 37; 49; 73);
* Narrativa didática (Rute; Jó 1–2; 42).

O cânon do Primeiro Testamento


Os autores do Novo Testamento falam em geral de hai graphai, “as Escrituras” (por ex., Mt 21.42;
Lc 24.27; Jo 5.39), às vezes de hè graphè, “a Escritura” (por ex., Mc 15.28; Jo 2.22). Ainda hoje, os
judeus designam a Bíblia hebraica com o acrônimo Tanak, vocábulo construído a partir das iniciais
das três categorias que a compõem: Torah (Lei/Instrução), Neviim (Profetas) e Ketubim (Escritos).

O vocábulo “cânon” vem do grego kanôn, “cana, vara”, que assume, em sentido figurado o sentido
de “tábua, regra, norma” (Gl 6.16; 2Co 10.13,15). Trata-se, na origem, de um empréstimo das línguas
semíticas (hebraico qanêh, “tronco, ramo”). Todavia, foi apenas no século IV que Atanásio, em sua
Carta de Páscoa do ano 367, impôs o termo “cânon” para designar a lista dos livros inspirados
reconhecidos pela Igreja. Desde então, o vocábulo passou a designar a lista dos livros reconhecidos
e depois os próprios livros.

Na descrição do “processo de formação da Escritura” do Primeiro Testamento é aconselhável


distinguir os termos “Escritura” e “cânon”. O conceito específico de “cânon” é um anacronismo do
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Universidade Metodista de São Paulo
ponto de vista histórico. Aplicado à Bíblia, ele encontra-se atestado só a partir do século IV d.C.
Também a aplicação do termo bíblia como uma lista ou acervo concluído de escritos sacros
representa um fenômeno posterior ao Primeiro Testamento, pois o mesmo ainda não está
definitivamente fixado em letras entre os séculos I a.C. e I d.C.
O cânon se torna então um meio de manter e de transmitir essa identidade, mesma que esta seja
compreendida antes em termos religiosos, étnicos ou culturais. O que faz a particularidade do
Primeiro Testamento é que, sob uma denominação e uma ordenação diferentes e mediante uma
transmissão em duas línguas diferentes, esse grande corpus literário é reconhecido como canônico
a um só tempo por judeus e cristãos.
Além do cânon hebraico, há o cânon grego da Bíblia hebraica (“Primeiro Testamento”), conhecida
como Septuaginta, que além dos livros canônicos hebraicos acresce uma série de livros
suplementares; esses livros são designados como “deuterocanônicos”.
Qual é a origem desses dois cânones? O cânon grego transmite o texto da Septuaginta (LXX), essa
tradução grega que, limitada primeiro ao Pentateuco, foi produzida pelo judaísmo alexandrino
desde o século III a.C. O trabalho de tradução continuou nos séculos II e I a.C. para os livros do
Nebi’im ao Ketubim.
O historiador judeu Flávio Josefo (século I d.C.), em sua carta Contra Apião, afirma: “Não temos
milhares de livros em desarmonia e conflitos, mas só vinte e dois”. O livro IV Esdras, no capítulo
14 (também do século I d.C.), anuncia vinte e quatro livros.

Origem e formação
Na Bíblia, a Escritura Sacra não é preexistente, mas ela surge a partir do livro do Êxodo (cf. Êxodo
17.14; 24.4; 34.27-28; Números 33.2; Deuteronômio 31.9). O Primeiro Testamento sabe assim, pelo
menos, que Israel não tinha desde o início uma religião do livro. A Lei foi dada e anotada só sob
Moisés; os patriarcas do Gênesis ainda não conheciam Lei alguma. A Lei mosaica, no entanto,
segundo a apresentação veterotestamentária, foi logo esquecida, ressurgindo só sob o governo
de Josias, em meio ao trabalho de construção do templo (2Reis 22–23). Devido às catástrofes de
Jerusalém e Judá, ela acabou por ser novamente esquecida e só voltou a ser reintroduzida sob
Esdras, em meados do século V a.C., em Judá.
No Primeiro Testamento, a concepção de uma Escritura Sacra encontra-se só em textos
comparativamente raros e tardios. Que, por exemplo, à própria Torah pode e deve advir uma forma
de veneração cultual mostra-se claramente em Neemias 8.5-8, um texto cuja datação dificilmente
pode ser anterior aos séculos III e II a.C., em função de sua proximidade com o culto sinagogal.
“Esdras abriu o livro à vista de todo o povo – pois ele se encontrava acima de todo o povo. Quando
ele o abriu, todo o povo se pôs de pé. Então Esdras bendisse a Yhwh, o grande Deus; todo o povo,
com as mãos erguidas, respondeu: ‘Amen! Amen!’, e depois se inclinaram e prostraram diante de
Yhwh, com o rosto em terra. E Josué, Bani, Setebias, Jamin, Acub, Sabatai, Hodias, Maasias, Celita,
Azarias, Jozabad, Hanan, Falaías e os levitas explicavam a Lei ao povo, enquanto o povo permanecia
em seu lugar. E eles leram no livro da Lei de Deus, explicando trecho por trecho e levando à
compreensão; e podia-se compreender o que era lido” (Ne 8.5-8).

Conteúdo e estrutura
Em geral se considera que a Torah foi declarada encerrada antes do fim da época persa, entre 400
e 330 a.C., enquanto a edição dos Nebiim sob sua forma atual (com a coordenação dos Profetas
anteriores e dos Profetas posteriores) se situaria por volta do ano 200 a.C., ou seja, no fim da época
ptolemaica na Palestina. Quanto aos Ketubim, formariam uma coleção mais aberta; o encerramento
dessa coleção foi decidido no fim do século I d.C., no contexto da emergência do judaísmo rabínico
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no “Concílio de Yabneh”.
Na época de Yabneh, conforme a literatura rabínica, apenas alguns livros pertencentes aos Ketubim
foram objeto de contestação: o Cântico dos Cânticos, Qohelet (Eclesiastes), Ester e, pelo menos
uma vez, Provérbios. Essa última coleção já foi chamada de “Salmos” (cf. Lc 24.44) e de “outros
livros” (cf. o prólogo do livro Sirácida, v. 2 e 10).
Após a destruição do Templo em 70 d.C., o encerramento de toda a “Bíblia” teria tido por objetivo
pôr um termo aos acréscimos da literatura religiosa judaica de tipo pseudepigráfica e fechar a porta
à entrada de escritos considerados heréticos, especialmente os de tendência apocalíptica ou cristã.
A partir dessa época, dever-se-ia falar de um cânon veterotestamentário. Antes de 70 d.C. havia
um conjunto de escritos autoritativos que circulava sob a designação coletiva “a Lei e os Profetas”
ou “Moisés e os Profetas”, mas ainda nenhum cânon no sentido de uma lista concluída de escritos
obrigatórios, que estivessem assegurados em sua delimitação textual e classificados em três partes:
Torah, Neviim, Ketuvim (Lei, Profetas, Escritos).

Referências
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (Org.). Antigo Testamento:
história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. 848 p.
SCHMID, Konrad. História da literatura do Antigo Testamento: uma introdução. São
Paulo: Loyola, 2013. 351 p.
ZENGER, Erich (Org.). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. 558 p

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Universidade Metodista de São Paulo
Literatura e Contexto Histórico
do Antigo Testamento

Módulo

Hermenêutica
Bíblica I

Profa. Dra. Suely Xavier dos Santos

Objetivos:
Apresentar os conceitos que ajudam na
compreensão da história da hermenêutica
bíblica, assim como apresentar uma definição
de hermenêutica.
Discorrer sobre as principais correntes
hermenêuticas no decorrer da história e suas
contribuições para o estudo da Bíblia.

Palavras chaves:
Hermenêutica Bíblica; método; Bíblia;
interpretação.

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Texto Base

Estudar Teologia é debruçar-se sobre textos, uma vez que a Teologia é a ciência centrada no
texto. Deste modo, se faz necessário o conhecimento de alguns métodos de interpretação que darão
clareza ao texto e fará emergir um significado, tanto do contexto que foi escrito, quanto para o/a
leitor/a em sua realidade. Neste sentido a Hermenêutica Bíblica se propõe a apresentar métodos
de interpretação para leitura e análise do texto bíblico, a fim de demonstrar eixos pelos quais o
texto pode ser lido. Neste sentido, podemos compreender que “a hermenêutica bíblica trabalha
com textos que passaram por uma longa trajetória de criação, interpretação e reelaboração”.1
Há que se levar em consideração que a hermenêutica tem diante de si três aspectos que fazem
parte do texto:

A autoria do texto no seu lugar de origem; o texto como produção de sentidos para uma de-
terminada época; e o leitor como receptor do texto, que não tem vínculo com o autor/a, mas que
precisa dele para ressignificar a mensagem para os seus dias.
Para uma melhor compreensão do significado de Hermenêutica, a partir de agora, vamos
conceituar o termo e abordar um pouco a história da transmissão do texto bíblico a partir das
hermenêuticas existentes em cada época.

1. Definição de Hermenêutica

Hermenêutica é a arte de interpretar. A origem desta palavra está no verbo grego hermeneuein
que significa traduzir, interpretar. Presente nos textos clássicos da filosofia grega, o termo
hermenêutica aparece no Organon de Aristóteles como unidade que merece um tratado
próprio: Peri hermeneias. Da interpretação. Ou seja, Aristóteles demonstrou a importância
da interpretação do texto ao escrever um tratado sobre o tema em sua época.

1 CROATTO, J. Severino. Hermenêutica Bíblica. p. 14.

32
Universidade Metodista de São Paulo
A etimologia da palavra Hermenêutica, também tem sua origem na palavra grega hermeios com
referência ao sacerdote do oráculo de Delfos e o mensageiro-alado Hermes. A função de Hermes
não se restringe a proclamação da mensagem, mas ele tem como tarefa torná-la compreensíveis,
ou seja, ele deve interpretá-las. No mundo grego, Hermes está associado à descoberta da lingua-
gem e da escrita, neste sentido observamos sua estreita ligação com os instrumentos da razão
para chegar ao significado das coisas e as mediações para uma boa comunicação.
Assim sendo, podemos observar que a hermenêutica tem como objeto de análise os discursos
realizados ao longo da história, no caso da história bíblica, considerando as dinâmicas próprias da
produção e abrangência da recepção das mensagens.

2. Uma visão panorâmica da história

Para uma melhor compreensão dos discursos e das interpretações feitas ao longo da histó-
ria, vamos no deter sobre os processos hermenêuticos, como forma de se conhecer melhor o
texto, em várias etapas da produção de sentido da religião cristã. Vejamos alguns métodos de
interpretação:

“Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações,


de uma maneira que entendessem o que lia.” (Ne 8.8)

2.1. Exegese Judaica Antiga


O texto de Ne 8.8 indica que por ocasião da volta do cativeiro Babilônico, Neemias faz uma
interpretação do Pentateuco de forma que a população entendesse a leitura. Lia-se em hebraico
e traduzia-se para o aramaico, explicando o significado do texto em mãos. Aqui observamos um
processo hermenêutico ocorrido na volta do cativeiro. Nos tempos do cristianismo primitivo,
também havia a releitura dos textos do Antigo Testamento (Torah, Profetas e alguns Escritos – Lc
24.27), de maneira que os cristãos/ãs pudessem compreender as Escrituras.
A exegese judaica no período de Jesus era literal, midráshica, pesher e alegórica. Que significa
o seguinte:
 Literal: o que se lê é fato; há uma leitura fundamentalista do texto.
 Midráxica: concentrava-se na identificação de significados ocultos de detalhes gramaticais,
escola do Rabi Hillel. Para esta escola as regras de interpretação são as seguintes:
o Dava significado a textos, frases e palavras sem levar em conta o contexto em que se
pretendia ser aplicados;
o Combinava textos que continham palavras ou frases semelhantes, sem considerar se
tais textos referiam-se á mesma idéia;
o Tomava aspectos incidentais de gramática e lhes dava significação interpretativa.
o Também se devia fazer inferência ao texto por analogia.

Midraxe: palavra hebraica cujo significado é método de


interpretação da escritura, com caráter homilético. Faz
as interpretações, principalmente, das narrativas bíbli-
cas. (BARRERA, 1996; p.697

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Outra escola de interpretação conhecida na época de Jesus é a escola de Shammai, que faz
uma leitura mais conservadora do texto, apesar de reconhecer mais, por exemplo, os direitos da
mulher e a validade de seu testemunho.

 Pesher: a forma interpretativa própria da midraxe, acrescentou-se o enfoque escatológico


e apocalíptico (Comunidade de Qumran).

2.2. Exegese Patrística: 100-600 d.C.

A exegese da Patrística priorizou o método alegórico, no qual o verdadeiro sentido jaz sob o
significado literal da Escritura.

Método Alegórico: este método trabalha com o texto como


produtor de sentido que é transmitido através de símbolos.
O seu sentido em grego é “falar algo mais do que parece
dizer”. Um exemplo de alegoria está nas cartas de Paulo, que
apresentam algumas interpretações alegóricas de temas do
Antigo Testamento: 1 Co5.6-8; 9.8-10; 10.1-11; Gl 4.21-31.

• Para Filão de Alexandria (20 a.C. – 50 d.C.)


o sentido literal da Escritura representava
um nível imaturo de compreensão;
já o significado alegórico era para os _________________________________________
maduros. _________________________________________
• Clemente de Alexandria (150-215 d.C.),
usou este método e alegava que as _________________________________________
Escrituras ocultavam o verdadeiro _________________________________________
sentido. Para ele, cinco sentidos estão
ligados às Escrituras: histórico, doutrinal, _________________________________________
profético, filosófico e místico.
_________________________________________
• Orígenes (185-254 d.C.?), sucessor de
Clemente no uso deste método, dizia _________________________________________
que nas Escrituras havia uma vasta ale-
goria, na qual cada detalhe é simbólico _________________________________________
(1Co 2.6-7). O corpo, alma e espírito tem
_________________________________________
sentido literal, moral e alegórico/místico.
• Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) en- _________________________________________
tendia que a Escritura também deveria
_________________________________________
ser lida de forma alegórica (2Co 3.6). E
ainda, no que diz respeito a interpreta- _________________________________________
ção dos textos, dentre outros requisitos,
deveria observar os seguintes2:

2
Cf. PIRES, Carlos Alberto. O que é hermenêutica. p. 24-25.

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Universidade Metodista de São Paulo
O intérprete deve possuir fé cristã autêntica

Deve-se ter em alta conta o significado literal e histórico da Escritura.

A Escritura tem mais que um significado e, portanto, o método alegórico é adequado.

Há significado nos números bíblicos.

O Antigo Testamento é documento cristão porque Cristo está retratado nele do prin-
cípio ao fim.

Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto
o significado que ele, expositor, quer lhe dar.

Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos versículos que o
cercam.

• A Escola de Antioquia da Síria desenvolveu, através de Teodoro de Mopsuéstia (350-428


d.C.), o princípio da interpretação histórico-gramatical, isto é, que um texto deve ser inter-
pretado segundo as regras da gramática e dos fatos históricos. Evitava a exegese dogmática
e criticava os alegoristas. Os princípios exegéticos da escola de Antioquia lançaram a base
da hermenêutica moderna.

2.3 Exegese Medieval: 600-1500 d.C.


Na interpretação da Idade Média, há a reedição dos trabalhos dos Pais da Igreja. Neste sen-
tido, a interpretação está vinculada a tradição e ao método alegórico. O sentido agostiniano de
interpretação era o que vigorava.

2.4 Exegese da Reforma: século XVI

• Lutero (1483-1546 d.C.), para ele interpretação da Bíblia é feita através da fé e iluminada
pelo Espírito Santo. Neste sentido, as Escrituras devem determinar o que a Igreja ensina.
Por isso o método que vigorava era o sentido literal e cristocêntrico do texto (o AT e o NT
apontam para Cristo). Mesmo sendo uma leitura literal, ele dizia que era necessário consi-
derar a história, a gramática e o contexto.

• Calvino (1509-1564 d.C.) diz que a alegoria é uma “artimanha de Satanás para obscurecer o
sentido da Escritura”. Assim, ele não partilhava da idéia de que Cristo deve ser encontrado
em toda a Escritura, e ainda deve-se deixar o autor dizer o que ele de fato diz.

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1.5 Exegese de Pós-Reforma

Na exegese da pós-reforma há quatro momentos que se expressam da seguinte forma:

• O Confessionalismo que trata a exegese como uma “criada da dogmática”


• O Pietismo que reage à exegese dogmática. Os expoentes deste movimento ressaltam,
conforme Spener (1635-1705), o retorno ao interesse cristão mútuo e às boas obras;
melhor conhecimento da Bíblia e melhor preparo espiritual para os ministros. Ora leitura
histórico-gramatical, ora leitura com base na luz interior ou unção.
• O Liberalismo prioriza a razão com graus de inspiração, e nega o caráter sobrenatural
da interpretação por alguns.
• A Pós-modernidade que desconfia do método hermenêutico. Isso porque se abre para o
relativismo hermenêutico, para o qual todas as interpretações são arbitrárias ou válidas.

4. Considerações finais
Como podemos observar a Teologia tem contribuições significativas a dar às discussões não
só sobre interpretação bíblica, mas também sobre hermenêutica em geral. Para Martim Buber, o
que o cristianismo dá ao mundo é a hermenêutica, isto porque o que se conhece do cristianismo
são interpretações feitas ao longo da história.
Vale a pena salientar que o/a intérprete é limitado pelo tempo, espaço, geografia e língua, no que
concerne a intepretação da Bíblia, assim sendo há que se levar em consideração a importância dos
métodos exegéticos para se fazer Hermenêutica Bíblica, ou seja, para se interpretar o texto bíblico.

Bibliografia
BARRERA, J. Trebolle. Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã: introdução à história da Bíblia. Pe-
trópolis: Vozes, 1994.
CROATTO, Severino. Hermenêutica bíblica. São Paulo: Paulinas, 1985.
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica avançada: princípios e processos de interpretação bíblica.
São Paulo: Vida, 2001.
VANHOOZER, Kevin. Há um significado neste texto? Interpretação bíblica: os enfoques
contemporâneos. São Paulo: Vida, 2005.

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Universidade Metodista de São Paulo
Literatura e Contexto Histórico
do Antigo Testamento

Módulo

Hermenêutica
Bíblica II

Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira

Objetivos:
Levar os/as alunos/as analisarem com
maior profundidade a relação entre o Antigo
Testamento e o Novo Testamento.

Palavras-chave:
Hermenêutica/interpretação; Palavra de
Deus, Tora/lei/ensino divino e cânon bíblico.

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A relação entre Antigo e Novo Testamento
Apesar dos grandes estudiosos da Bíblia sustentarem que a teologia cristã tem que ser vista
e interpretada à luz do Antigo Testamento, a prática das igrejas mostra o contrário. Pretendemos
abordar este atraente e desafiador tema que a Igreja Cristã enfrentou, ao longo de dois milênios,
e continua enfrentando nos dias de hoje.
Paira sobre o povo cristão uma inquietante pergunta: Como se lê e interpreta o Novo Testa-
mento frente ao Antigo Testamento? Há muito detalhes que estão na base desta questão: (1) A
Igreja Cristã canonizou, como Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento e o Novo Testamento; (2) É,
praticamente, impossível conhecer o Novo Testamento sem conhecer o Antigo Testamento. Por-
tanto, não se deve aproximar deste tema com emoção e superficialidade.
Para analisar esta questão, vamos iniciar nossa análise com duas afirmações de dois estudiosos
da Bíblia. Eles são sérios defensores do cânon bíblico, e condenam a idéia de que Deus se revelou
de modo progressivo ao longo da história bíblica.

Inicialmente, a afirmação de Dietrich Bonhoeffer: “Quem deseja ser muito rapidamente


e muito diretamente neotestamentário não é, a meu ver, um cristão” (Citado por Frank
Crüsemann, Em: Cânon e história social, São Paulo: Loyola, 2009, p. 411).

A Igreja Cristã, ao longo de sua história, “reconhece que o Antigo e o Novo Testamento,
juntos, representam a fonte original e o fundamento da verdade cristã, a serviço de
Jesus Cristo, e que o AT e NT estão mutuamente abertos um ao outro” (Rolf P. Knierim,
A interpretação do AT, São Bernardo do Campo: Editeo, 1990, p.63).

A constatação do problema.
O biblista alemão, Frank Crusemann, procura discutir este tema levantando a seguinte questão:
“Até que ponto a teologia cristã pode ser veterotestamentária?” Para ele, a origem desse conflito
encontra-se no segundo século da Era Cristã, quando Marcião levantou uma histórica controvérsia
sobre a validade do AT para a Igreja Cristã. Para Crusemann, o Deus do AT seria um outro deus,
inimigo do Deus cristão (conforme Antonius H. Gunneweg, Hermenêutica do Antigo Testamento,
São Leopoldo: Editora Sinodal, 2003, p. 131).
Evidentemente que essa crise teológica já existia, antes de Marcião. Ele apenas a aprofundou e
a tornou público. O agravante desse conflito aconteceu logo em seguida: Suas teses foram consi-
deradas heréticas pelos Pais da Igreja, em Roma, no ano 144 dC. A condenação de Marcião, pelos
tribunais eclesiásticos, não eliminou a discussão em torno da importância do AT em relação ao NT.
O preconceito para com o AT continuou sem a agressividade dos marcionitas, mas intenso e
sutil. Seguiu uma aparente paz na convivência entre cristãos judeus e cristãos de outras nacio-
nalidades, caracterizada como enganosa. Isso fica claro que muitas doutrinas cristãs, através de
concílios, são substanciadas apenas de modo neotestamentário.
A dúvida sempre esteve presente na vida das igrejas cristãs: “Pode a teologia da Igreja Cristã ser
veterotestamentária?” Essa dúvida tem uma razão de ser: Ela nasce do medo de perder o elemento
autêntico e próprio da mensagem cristã. Este receio gera desconfiança entre o povo cristão, ainda
que de forma oculta. Este medo faz sugerir que o significado do AT para a fé cristã é e deve ser
limitado. Diante disso, parte do povo cristão interpreta e confessa através do argumento que o NT
conduz intensamente a revelação maior da Bíblia, nos níveis lingüístico e no de conteúdo teológico.

38
Universidade Metodista de São Paulo
Argumentando em favor de uma nova hermenêutica bíblica.
Entre tantos exegetas e teólogos cristãos, Martin Lutero representa um marco. Como professor
de Bíblia, no século XVI de nossa era cristã, ele elaborou uma marcante tradução da Bíblia para a
língua alemã. Todavia, o decisivo, em toda sua obra, não foi a tradução, mas a motivação para ler
e compreender as Escrituras, proporcionando ao leitor/a a vontade de ir às raízes do testemunho
bíblico. Ao contrário da Igreja Primitiva, que privilegiava a leitura dos Evangelhos, Lutero incentivava
uma leitura que busca o fio condutor da história da salvação.
Inspirado na obra de Lutero, Dietrich Bonhoeffer, morto pelos nazistas em 1945, argumentou
em favor da importância do AT para o NT. Não desprezando o evento-eixo, Jesus Cristo, ele enten-
deu que a Igreja Cristã e a teologia tornaram-se mais cristãs quando redescobriram o valor do AT
para a fé. Bonhoeffer é considerado um mártir cristão. Foi ele que formulou algumas afirmações
dirigidas aos que vêem o AT com certo preconceito.

O nome divino: “Apenas quando se conhece a indescritível e inefabilidade do nome


de Deus, Javé, também se pode enunciar uma vez o nome de Jesus Cristo”. Em oração,
Jesus mostra com clareza que a Sua obra é tornar conhecido o nome do Pai: Eu lhes fiz
conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste
esteja neles, e eu neles esteja (Jo 17,26).

Novos céus e nova terra: “Apenas quando se ama a vida e a terra de modo tal que
com elas tudo parece perdido e no fim pode-se crer na ressurreição dos mortos e num
novo mundo”. Com efeito, criarei novos céus e nova terra... (Is 65,17; conforme 11,2-10).
Os teus mortos tornarão a viver; Os teus cadáveres ressurgirão. Despertai e cantai, vós
os que habitais o pó... (Is 26,19); E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão,
uns para a vida eterna e outros para o opróbrio... (Dn 12,2).

Torá/lei e graça: “Apenas quando se deixa a lei de Deus valer sobre si próprio pode-se
também falar uma vez de graça”. A Torá, no AT, é definida como ensino divino. O Salmo
19 a define como restauradora da vida e doadora de sabedoria às pessoas humildes;
ela traz alegria ao coração, ilumina os olhos e é considerada tão doce como o favo
de mel (v.7-10). Enfim, o salmista definia a Torá como um instrumento de graça. Das
profundezas clamo a ti, Javé; Senhor, ouve o meu grito! Que teus ouvidos estejam atentos
ao meu pedido por graça... (Sl 130,1-2).

Ira e perdão: “Apenas quando a ira e a vingança de Deus contra seus inimigos perma-
necem como realidade válida, então algo do perdão e do amor ao inimigo pode tocar
nosso coração”. O perdão torna-se mais vivo e necessário na comunidade quando a
ira de Deus volta-se contra o malfeitor. Javé! Javé! Deus de ternura e de piedade, lento
para a cólera, rico em graça e em fidelidade... (Ex 34,6-7). Por trás da pregação de Jesus
– “amarás o teu próximo... Amai os vossos inimigos” (Mt 5,43-44) estão as instruções
de Levítico: Não andarás caluniando entre teu povo; Não levantarás contra a vida de teu
vizinho ... Não odiarás o teu irmão, em teu coração; Certamente tu repreenderás o teu
compatriota (Lv 19,16-17). Portanto, Jesus se serve do conteúdo da Torá para instruir
os contemporâneos.

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Conclusão
Por trás de todo preconceito para com o AT está uma leitura equivocada. É certo afirmar que a
Bíblia é Palavra de Deus, contudo, ela também tem palavras dos homens. No capítulo 28 do livro
de Jeremias, encontramos um exemplo disso. Há um diálogo acirrado entre dois profetas: Jeremias
e Hananias. Ambos reivindicam que têm a autoridade de Deus, mas o verso 17 diz que somente
Jeremias tinha autorização para tal.
Os grandes temas do AT não estão em contradição com os do NT. A renovação de toda criação,
a disciplina como sinal da graça e a supremacia do perdão sobre a ira estão presentes tanto no AT
como no NT. A vida boa e feliz prevalece sobre toda a Bíblia derrotando toda maldade que tenta
desestruturar a vida no mundo.

Bibliografia
MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. Petrópolis: Editora Vozes.
GUNNEWEG, Antonius H.,Hermenêutica do Antigo Testamento. São Leopoldo: Editora
Sinodal.
CROATTO, J. Severino. Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Edições Paulinas.

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Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História

Módulo

História do
cristianismo antigo
e Medieval I

Prof. Dr. José Carlos de Souza

Objetivos:
Identificar os pressupostos, a
metodologia e as principais tarefas de
uma história do cristianismo;
Analisar as origens, a formação e
o desenvolvimento das primeiras
comunidades cristãs no contexto das
sociedades palestinenses e greco-
romanas.

Palavras-chave:
História, movimento de Jesus,
cristianismo judaico, cristianismo
gentílico.

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Cristianismo e história
Não há dúvidas de que, como escreveu Marc Bloch, “o cristianismo é uma religião de historiadores”
a fé não se fundamenta em narrativas legendárias ocorridas em esferas distantes do convívio humano.
Antes, o contrário! Os acontecimentos relatados nas Escrituras judaicas e cristãs estão inseridos na
trama de encontros e desencontros, de alianças e conflitos, de acordos de paz e tempos de guerra,
que constituem o cotidiano das sociedades humanas. Daí a preocupação constante em registrar os
eventos, buscando discernir o seu sentido de acordo com o que se supunha ser a vontade divina.

Eusébio de Cesaréia
Apesar da importância dada à história pelas comunidades

Imagem 1
cristãs, somente no século IV, apareceu uma obra intitulada
História Eclesiástica, isto é, da Igreja, escrita pelo então bispo de
Cesaréia, Eusébio (c. 263-339). É claro que o seu empenho teve
precedentes, como por exemplo, o livro de Atos dos Apóstolos
no Novo Testamento. Porém, o que distingue a obra de Eusébio
de todas as iniciativas anteriores é a sua visão abrangente, o seu
respeito pelas fontes, isto é, pelos documentos que cita abundan-
temente, e o seu esforço por acompanhar o padrão rigoroso dos
historiadores gregos, mas sem deixar de lado a racionalidade
teológica cristã. Muito do que sabemos sobre os três primeiros
Eusébio de Cesaréia
séculos do cristianismo devemos a ele. Talvez, com algumas
alterações, o propósito que estabeleceu nos primeiros parágrafos de sua obra pudesse ainda hoje ser
aceito, se não totalmente, ao menos em parte (cf. HE, I, 1, 1-2). De fato, o seu estilo, o seu programa,
e mesmo as suas conclusões, têm encontrado, ao longo do tempo, muitos seguidores. Portanto, não
é causal que Eusébio de Cesaréia seja lembrado como “pai” da história da Igreja e que muitos autores
falem até mesmo da existência de uma tradição eusebiana nos estudos da história do cristianismo.
Contudo, não podemos silenciar as críticas que lhe são feitas.

Tradição crítico-profética
Eusébio reflete o momento vivido pelos cristãos no século IV quando o Império Romano deixa de
perseguir e passa a favorecer progressivamente a Igreja. Assim, ele estrutura a sua exposição acerca
do passado cristão a partir da aliança que surge entre o Estado e a igreja e, por isso, privilegia os que
estão no poder. A sua visão está centralizada na Igreja como instituição, identificada principalmente
com os seus líderes, cuja mera sucessão garante a fidelidade à doutrina dos apóstolos. Judeus, gentios
e hereges, isto é, todos que não se ajustam à grande igreja que está se formando, são considerados
inimigos. Os leigos, as mulheres, os pobres, e todas as pessoas que ousam protestar, são ofuscados
pelo brilho das “grandes personalidades”, sejam bispos ou teólogos. Entretanto, sempre houve
correntes que não aceitaram essa interpretação e procuraram
reviver a memória radical de Jesus, que acolheu aqueles que a
sociedade de seu tempo marginalizou e excluiu.

Não há neutralidade!
Logo se vê que fazer história, inclusive história do cristianismo,
O cristianismo é uma
não é uma tarefa neutra. As nossas opções, os nossos compromissos, religião de historiadores
o nosso lugar social sempre interferem na maneira como Marc Bloch
interpretamos os acontecimentos. Hoje há uma expressiva
tendência de romper com a tradição eusebiana, ressaltando a
Igreja como comunidade, composta por homens e mulheres

42
Universidade Metodista de São Paulo
comuns; chamando a atenção para todo o povo, e não apenas para sua liderança; reconhecendo
que, desde as suas origens, o cristianismo é um fenômeno plural e, conseqüentemente, recusando
estabelecer um padrão normativo entre as diferenças; situando a presença cristã no contexto social,
ao qual influencia e do qual recebe influências; enfim, destacando menos as grandes construções
dogmáticas e mais a vivência cristã no enfrentamento das questões do dia-a-dia (trabalho, lazer,
sexo, família, educação, justiça, relação com o mundo da cultura e da política). Nada disto substitui,
é verdade, o rigor do método; e todo aquele que examina a história do movimento cristão não pode
ceder à sua imaginação em detrimento da análise apurada dos documentos que lhe dão acesso, de
alguma forma, aos fatos sob investigação. Por sua vez, é preciso ter consciência de que suas escolhas
no presente e seus projetos para o futuro condicionam a leitura que faz do passado. Não é isso que
torna o estudo da história tão intrigante quanto fascinante?

O movimento de Jesus
Já é hora de perguntarmos sobre as origens
cristãs. A resposta é simples e complexa ao
mesmo tempo. Simples, porque remete à figura _________________________________________
histórica de Jesus de Nazaré, o qual, supõe-se,
é bem conhecido por nós. Complexa, porque _________________________________________
tudo o que sabemos dele procede quase que
exclusivamente dos evangelhos canônicos, ou seja, _________________________________________
do círculo de seguidores direta e pessoalmente
_________________________________________
comprometidos com sua mensagem. As fontes
extrabíblicas, como Flávio Josefo e Fílon de _________________________________________
Alexandria, importantes para se conhecer o
seu meio social, são de pouca ajuda quando _________________________________________
se buscam informações sobre sua trajetória.
_________________________________________
O mesmo se pode dizer das fontes romanas.
É difícil até mesmo estabelecer com precisão _________________________________________
uma cronologia, considerando que o chamado
“calendário cristão” que assinalou o nascimento _________________________________________
de Cristo como marco zero só foi proposto no
século VI e, com certeza, não sem equívocos. De _________________________________________
todo modo, há certo consenso em reconhecer
_________________________________________
que Jesus iniciou o seu ministério após a prisão de
João, o Batista, a quem a literatura cristã considera _________________________________________
como seu precursor. Estima-se que Jesus tivesse
cerca de 30 anos quando recebeu o batismo e deu _________________________________________
início à carreira de pregador itinerante e profeta.
_________________________________________
De acordo com os primeiros evangelhos, a vida
pública de Jesus teria durado pouco mais de um _________________________________________
ano. Já para João, ela se estendeu por três anos,
pelo menos. No centro de sua pregação, estava o _________________________________________
anúncio do reino de Deus, que incluía uma radical
transformação da ordem social vigente. É certo _________________________________________
que Jesus evitou os caminhos oficiais. Boa parte
_________________________________________
de sua vida transcorreu na conflitiva região da
Galiléia, onde as esperanças messiânicas eram tão _________________________________________
intensas quanto a exploração social e a pobreza.
Não tardou para que a identificação de Jesus com _________________________________________
os impuros, os pobres, as mulheres e as crianças,
_________________________________________
aliada às suas duras críticas aos dirigentes (cf. Mt

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www.metodista.br/ead
23), despertasse a fúria da elite política
e religiosa, que ardilosamente tramou a sua
morte. A sua crucificação dispersou os seus
discípulos que, no entanto, renascem fortalecidos
anunciando a sua ressurreição como prova de que É difícil até mesmo estabelecer
ele era o Messias esperado. A partir daí, tem-se com precisão uma cronologia,
a formação das primeiras comunidades cristãs, considerando que o chamado
a difusão da pregação nos limites do Império
Romano e além dele, e o início do processo, que
“calendário cristão” que assinalou
segue até os nossos dias, buscando responder o nascimento de Cristo como
à pergunta “quem foi mesmo Jesus, chamado o marco zero só foi proposto no
Cristo?”. século VI

Nascimento da Igreja
São poucas as informações sobre as primeiras
comunidades. Nossas únicas fontes são
praticamente Atos dos Apóstolos e Eusébio de Referências de imagens
Cesaréia. Há indicações de que a comunidade de Imagem 2: http://upload.wikimedia.org/
Jerusalém cresceu rapidamente, incluindo tanto wikipedia/pt/6/66/Eusebio.jpg.
os judeus da diáspora, quanto naturais da Galiléia Acesso em 12’Jun’06.
e da Judéia. O nome “igreja” foi logo adotado,
e expressa a convicção de que os discípulos
constituíam o verdadeiro Israel. No entanto, até esse momento os seguidores de Cristo eram vistos
como mais um partido judaico ao lado de outros, como os saduceus e fariseus. A perseguição levou
à dispersão da primeira comunidade e ao anúncio da pregação do Evangelho, não só além dos
seus limites geográficos iniciais, mas para populações não alcançadas pelo judaísmo. Sem dúvida,
a passagem do contexto judaico palestinense para o helenista urbano foi um passo decisivo para a
história do cristianismo. Ao aderir à fé cristã, o apóstolo Paulo contribuiu decisivamente para que as
tendências universalistas fossem vitoriosas sobre as correntes judaizantes. Com as revoltas judaicas
dos anos 70 e 135, o cristianismo judaico entrou em ocaso e basicamente apenas o cristianismo
gentílico sobreviveu. Em todo o caso, a relevância dessa primeira expressão da fé cristã se torna
evidente quando se pondera que ela se tornou fonte e manancial de onde brotam o ensino e a
prática que ainda hoje orientam as igrejas.

Referências
CESARÉIA, EUSÉBIO DE. História Eclesiástica. São Paulo: Paulus, 2000.
GONZÁLEZ, JUSTO L. A Nova Geografia da História. In: Wesley para a América Latina Hoje. São
Bernardo do Campo: Editeo, 2003, p. 93-104.
HOORNAERT, EDUARDO. O Movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994.
SIMON, M.; BENOIT, A. Judaísmo e cristianismo antigo. São Paulo: Pioneira- Edusp, 1987.

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Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História

Módulo

História do
Cristianismos
Antigo e Medieval II
Prof. Dr. José Carlos de Souza

Objetivos:
Distinguir os principais desafios
externos e internos enfrentados pelas
comunidades cristãs até o início do
século IV;
Avaliar o processo de mudanças
então ocorridas no sentido da
institucionalização do movimento cristão.

Palavras-chave:
Perseguição, apologistas, gnosticismo,
catolicismo antigo, cânon, credo, bispos.

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Ambiente hostil
No final do primeiro século, já havia comunidades cristãs
espalhadas por quase todo o Império, em particular na província
da Ásia. Porém, as relações dos cristãos com a sociedade ao seu As relações dos
redor eram tensas, manifestando-se, muitas vezes, sob a forma de cristãos com a
violenta perseguição. sociedade ao seu
Muitos boatos populares distorcendo o sentido de práticas redor eram tensas
cristãs legítimas alimentavam o ódio nutrido pelo público em
geral. Atenágoras, em sua veemente Petição a favor dos cristãos,
faz uma síntese desses rumores: “São três as acusações que se propagam contra nós: o ateísmo, os
convites de Tiestes, e as uniões edípicas”. Em outras palavras, os cristãos eram considerados ateus,
pois não participavam das cerimônias religiosas nas cidades e recusavam os seus deuses; canibais,
pois, numa refeição sacramental, comiam a carne e bebiam o sangue do seu Senhor, o que, segundo a
imaginação de quem não era cristão, implicava um ritual macabro em que crianças eram sacrificadas;
e incestuosos, pois se reuniam à noite para orgias e bebedeiras, e assim davam plena vazão a paixões
descontroladas entre “irmãos” e “irmãs”. Com certeza, o simples conhecimento da vida exemplar dos
cristãos seria suficiente para desfazer essas falsas impressões.

Crítica dos intelectuais


Já os questionamentos dos sábios e políticos não eram tão
fáceis de serem desfeitos. Alguns, como o filósofo platônico
Os questionamentos Celso, escreveram obras bem fundamentadas contra as principais
dos sábios e políticos doutrinas cristãs. Tais críticos, usualmente partilhavam do
desprezo disseminado contra o cristianismo que descreviam como
não eram tão fáceis de
“superstição nova e maléfica”; censuravam, ainda, o que lhes parecia
serem desfeitos ser arrogância e fanatismo; e tinham os cristãos como inimigos da
cultura e do Estado. Seus ensinamentos, cheios de contradições,
seriam imitações grosseiras da, sem dúvida mais antiga e bem
fundamentada, sabedoria egípcia e grega.

Perseguições
O pior de tudo é que tais opiniões justificavam as perseguições movidas pelo Estado. A essa
altura, é preciso desfazer um equívoco muito comum: supor que as comunidades cristãs foram
implacavelmente caçadas pelas autoridades romanas em toda a extensão do Império e durante todo
tempo até o seu reconhecimento como religião lícita no ano de 313. Na verdade, a intensidade, a
extensão, as motivações e as formas da perseguição se diversificaram conforme as circunstâncias,
além do que se alternaram com prolongados períodos de paz. A perseguição de Nero, no ano 64,
por exemplo, esteve limitada à cidade de Roma. No final do primeiro século, com Domiciano, entre
as vítimas estavam não apenas os cristãos de Roma, mas também as comunidades da Ásia Menor,
como testemunha o livro do Apocalipse. Já no segundo século, prevaleceu a política definida na
correspondência entre Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, e o Imperador Trajano: ser cristão é
crime punível com a pena da morte, porém o processo só é instaurado mediante acusação. Em sua
apologia, Tertuliano denunciou a incoerência dessa decisão: “Oh sentença necessariamente confusa!
Nega-se a buscá-los como a inocentes; e manda castigá-los, como culpados”. Apenas com Décio,
em meados do século terceiro, e com Diocleciano, no início do quarto, a perseguição alcança todos
os limites do Império.
46
Universidade Metodista de São Paulo
Mártires
É impossível precisar o número de mártires. Pensou-se em
200 mil, embora hoje há quem considere que 10 mil é ainda uma
estimativa elevada. Em todo o caso, a memória cristã conserva O que faz o mártir
muitos nomes de homens e mulheres, como Inácio de Antioquia,
Policarpo de Esmirna, Justino, Blandina, Perpétua e Felicidade, entre
não é a pena, mas
outros, que selaram com sangue o seu testemunho de fé. Aqui a causa!
vale a máxima de Santo Agostinho: “O que faz o mártir não é a Santo Agostinho
pena, mas a causa!”E a causa, naquela época, era o estilo de vida
inspirado pelo evangelho, de solidariedade e justiça, de comunhão
e oposição às forças que semeavam a morte e a destruição.

Apologistas
Nesse contexto, era urgente que os cristãos
oferecessem respostas à altura dos seus críticos. _________________________________________
Estava em jogo a própria sobrevivência das
_________________________________________
comunidades. À tarefa de defender e apresentar
a fé cristã ao público pagão, dedicaram-se os _________________________________________
autores cristãos conhecidos como apologistas.
Entre os gregos se destacam Aristides e _________________________________________
Atenágoras, ambos de Atenas, Taciano, o Sírio,
Hermas, Teófilo, o autor da Carta a Diogneto _________________________________________
e, sobretudo, Justino Mártir e Orígenes de _________________________________________
Alexandria; entre os latinos, Tertuliano e Minúcio
Felix. É certo que os apologistas não conseguiram _________________________________________
mudar a opinião pública, porém reforçaram a
convicção dos cristãos acerca da nobreza da sua _________________________________________
causa. Ademais, o seu empenho em dialogar com
_________________________________________
a cultura helênica e expor a fé para os “pagãos”,
fazendo uso de conceitos filosóficos, favoreceu _________________________________________
o desenvolvimento da teologia.
_________________________________________

Movimentos gnósticos _________________________________________


Entretanto, o maior desafio enfrentado pelos _________________________________________
cristãos não vinha de fora, mas nascia dentro das
próprias comunidades. Enquanto a ameaça externa _________________________________________
fortalecia os laços de coesão e solidariedade, a
_________________________________________
ameaça interna dividia as opiniões e espalhava
a cizânia entre seus membros. Referimo-nos às _________________________________________
várias formas de gnosticismo, que assimilavam
elementos de diversas tradições religiosas e _________________________________________
filosóficas, integrando-as ao cristianismo. O
recém-encontrado Evangelho de Judas provém _________________________________________
desses círculos. A expressão vem do grego gnosis
_________________________________________
e significa conhecimento. Trata-se do conheci-
mento místico, sobrenatural, revelado apenas _________________________________________
para um pequeno grupo de eleitos e que diz
respeito à salvação da alma aprisionada nesse _________________________________________
mundo inferior. Aliás, no geral, os gnósticos
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sustentavam um dualismo radical que
encarava com desdém a realidade material e
o corpo, e exaltava as coisas espirituais. Jesus,
como mensageiro do Deus Supremo, distinto do
demiurgo que criou este universo mau, era um _________________________________________
ser espiritual, sendo o seu corpo apenas aparente.
Muitos gnósticos se orgulhavam de possuir os _________________________________________
segredos revelados por este ou aquele apóstolo.
Marcião, por exemplo, rejeitou o Antigo e formou, _________________________________________
o que poderíamos considerar, o primeiro Novo _________________________________________
Testamento, composto por dez cartas de Paulo e
pelo evangelho de Lucas truncado (ele eliminou _________________________________________
o relato do nascimento de Cristo e as referências
ao Antigo Testamento). A situação requeria ações _________________________________________
determinadas das comunidades.
_________________________________________

_________________________________________
A resposta das Igrejas
Vários pensadores cristãos se mobilizaram para _________________________________________
contestar os pregadores gnósticos, com destaque
_________________________________________
para Irineu (c. 135-203) e Tertuliano (c. 155-220).
Nesse embate, as comunidades cristãs acabaram _________________________________________
assumindo formas mais institucionalizadas e
menos espontâneas, definindo padrões de _________________________________________
crença, de culto e de organização mais rígidos.
_________________________________________
Como escreveu o historiador alemão Heussi: “Por
volta do ano 50, pertencia à igreja quem tivesse _________________________________________
recebido o batismo e o Espírito Santo e atribuísse
a Jesus o nome de Senhor. Já por volta de 180, _________________________________________
membro da igreja era aquele que aceitasse a
regra de fé (credo), o cânon do Novo Testamento _________________________________________
e a autoridade dos bispos” (WALKER. 1967, v. 1,
_________________________________________
p. 88). Foi Inácio de Antioquia quem usou pela
primeira vez, em sua Carta aos Esmirnenses _________________________________________
(8.2), a expressão “Igreja Católica”, ou Universal,
em oposição aos inúmeros grupos gnósticos _________________________________________
espalhados pelo Império. E, de fato, o catolicismo
_________________________________________
antigo corresponde exatamente a esse período
de comunidades mais bem estruturadas. O tempo _________________________________________
dos apóstolos já havia passado definitivamente!

Referências
Bettenson, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Aste-Simpósio, 1998.
Hoornaert, EDUARDO. A memória do povo cristão. Uma História da Igreja nos três primeiros
séculos. Petrópolis: Vozes, 1986.
Walker, W. História da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 1967, v. 1.

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Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História

Módulo

História do
Cristianismo antigo
e Medieval III

Prof. Dr. José Carlos de Souza

Objetivos:
Discernir qual o sentido das
mudanças em processo no
movimento cristão durante o século
quarto, quando se estabeleceu a
aliança entre Igreja e Estado;
Investigar como os arranjos sociais
e políticos afetaram a vida e a
missão da Igreja nos séculos IV e V.

Palavras-chave:
Era constantiniana, aliança entre
Igreja e Estado, donatismo,
movimento monástico, concílios
ecumênicos, doutores da Igreja.

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Era constantiniana
Nada teve efeitos tão duradouros na história do movimento
cristão quanto a ascensão de Constantino ao poder. Após sua vitória
na Ponte Múlvia, supostamente com a bênção do Deus cristão, ele
...após derrotar o se apressou em assinar, em 313, junto com Licínio, que governava
seu rival e assumir a parte oriental do Império, o famoso Edito de Milão, assegurando
o controle total do a todos os súditos, inclusive os cristãos, a plena liberdade de culto.
Estado, Constantino Finalmente, após derrotar o seu rival e assumir o controle total do
Estado, Constantino passou a favorecer gradualmente os cristãos.
passou a favorecer Pela primeira vez desde a sua origem, a Igreja, equiparada às
gradualmente os demais religiões do Império, foi reconhecida como corporação de
cristãos. direito público, com os bispos gozando de um status similar ao dos
senadores. O clero obtém privilégios e isenções. As propriedades,
confiscadas durante a última perseguição, são restituídas e se
constroem, com recursos públicos, novos edifícios consagrados para o culto, as assim chamadas
basílicas. Tornou-se comum o emprego de símbolos cristãos nos selos e nas moedas romanas. O dia
de culto dos cristãos logo é declarado dia de descanso. Pouco a pouco, aprova-se uma legislação que
inibe práticas pagãs, como a magia e a consulta às entranhas de animais. O prestígio social da Igreja
organizada não pára de crescer, sepultando totalmente o seu passado de minoria odiada e perseguida.

Mudanças internas
Não apenas as condições exteriores da Igreja se modificaram, como tiveram um forte impacto,
tanto sobre as práticas quanto sobre a própria consciência das comunidades cristãs. O
grande número de pessoas que afluíam às igrejas, seja por conversão real ou por adesão
interessada, atenuou as exigências e o tempo da catequese, gerando uma vivência
cristã superficial que convivia pacificamente com resquícios da
religiosidade mágica pré-cristã. A ordem interna da Igreja também
Os bispos não são mais se estabiliza imitando o modelo imperial. O clero, diferencia-se e se
vistos como ministros, distancia dos leigos por suas vestimentas, pela pompa e tratamento
isto é, servidores, e sim, que recebem, e, sobretudo, pela concepção de poder sacerdotal
como dignitários que que justifica sua autoridade. Os bispos não são mais vistos como
ministros, isto é, servidores, e sim, como dignitários que devem
devem ser honrados e ser honrados e obedecidos. Impõe-se igualmente uma estrita
obedecidos hierarquia com os bispos das grandes metrópoles subjugando as
sés menores. Tudo isso se reflete no culto que assimila a influência
do protocolo da corte, com a introdução de procissão, coros e
veneração das relíquias dos mártires.

Legitimação do Estado
Sendo a Igreja favorecida dessa forma pelo poder do Estado, é compreensível que não poucos
cristãos o vissem como expressão da providência divina. Eusébio de Cesaréia chega a saudar
Constantino como amigo de Deus e uma espécie de novo Moisés (HE, X, 9, 2), porém nada fala acerca
de sua conduta reprovável do ponto de vista da ética cristã, como a condenação à morte de sua
esposa, filho mais velho e outros familiares. Convém lembrar que Constantino só recebeu o batismo
em 337, pouco antes de sua morte. De todo jeito, a aliança que vai se construindo entre Igreja e
Estado subtrai da mensagem cristã a sua virtude profética e a leva a legitimar incondicionalmente
o exercício do poder. Por outro lado, torna a Igreja refém do Estado que sempre interfere em seus
assuntos internos, quando julga que seus interesses estão envolvidos. A propósito, é interessante
verificar como o imaginário cristão passa a representar, em função dessa aliança, a figura de Cristo.

50
Universidade Metodista de São Paulo
As imagens do rabi da Galiléia, ou do profeta messiânico, ou ainda do servo sofredor, desaparecem
por completo e cedem lugar à do Rei universal que, soberano, dirige todas as coisas. Obviamente,
essas mudanças não ocorreram da noite para o dia, nem sem tensões. Aliás, o processo, iniciado
por Constantino, atingiu o seu ápice com Teodósio, que reconheceu, em 380, o cristianismo como
religião oficial do Império. Doravante, a oposição à Igreja se transforma em crime contra o Estado.
Assim, de perseguidos, os cristãos passam a ser perseguidores, inclusive daqueles que, professando
a mesma fé em Cristo, não se submetem às novas condições.

Protestos
A resistência se fez tanto de forma aberta como velada. Entre os primeiros estão os donatistas
que, logo após a subida de Constantino ao poder, protestam, no Norte da África, contra
a ordenação de bispos considerados traditores, isto é, que fraquejaram durante a última
onda de perseguição. Para eles, os sacramentos
celebrados por tais ministros, considerados
indignos, não eram considerados válidos. Logo
identificado com as aspirações das populações _________________________________________
locais, exploradas pelas classes latinizadas, o
donatismo vai dirigir a sua crítica ao consórcio _________________________________________
espúrio entre a Igreja e as forças imperiais. Entre
os que se opõem indiretamente a essa aliança _________________________________________
está o movimento monástico, que surge ainda no
_________________________________________
final do terceiro século. Numa época em que a
grande maioria dos cristãos se deixa seduzir pela _________________________________________
ambição das riquezas, do prestígio e do poder,
os monges apregoam uma vida de pobreza e _________________________________________
simplicidade, em comunidades ou em lugares
_________________________________________
ermos como os desertos ou as montanhas,
onde a dependência da graça divina é sua única _________________________________________
segurança. Sem posicionar-se frontalmente
contra o sistema, essa era uma forma alternativa _________________________________________
de viver as exigências do evangelho naqueles
tempos conturbados. _________________________________________

_________________________________________

_________________________________________
Imagem 1

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

_________________________________________
Concílio de Nicéia

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Efervescência teológica
Esse período, marcado pelas grandes controvérsias teológicas em torno da doutrina trinitária e
da cristologia, também foi palco dos primeiros concílios ecumênicos. Era a primeira vez que bispos
de diferentes partes do mundo, reuniam-se para debater assuntos que afligiam as igrejas. O primeiro
Concílio, convocado por Constantino, aconteceu em Nicéia, em 325, e rejeitou as idéias de um Ário, um
presbítero da igreja em Alexandria que negava a divindade de Cristo. O Concílio de Constantinopla,
em 381, reafirmou a fé na Trindade, sustentando igualmente que o Espírito é Deus. Os Concílios de
Éfeso, em 431, e de Calcedônia, em 451, definiram que, em Cristo, havia duas naturezas unidas numa
só pessoa, sendo ele, portanto, plenamente Deus e plenamente humano. Infelizmente, nem sempre
o consenso era alcançado e a ambigüidade da linguagem filosófica empregada deixava margem
para novos conflitos que sedimentaram as divisões.

Doutores da Igreja
Provavelmente em função de tantos desafios, mudanças e debates, floresceu uma geração de
escritores cristãos que marcaram decisivamente os rumos do cristianismo tanto no Oriente como no
Ocidente e que foram honrados como o título de doutores. Na impossibilidade de fazer uma lista
completa, apenas mencionamos, entre os orientais, Efrém, o Sírio (306-373); entre os gregos, Atanásio
(295-373), João Crisóstomo (354-407), Basílio de Cesaréia (330-379), Gregório de Nissa (335-394) e
Gregório de Nazianzo (330-390); e, entre os latinos, Ambrósio de Milão (333-397), Jerônimo (347-
420), Agostinho (354-430) e Gregório Magno (540-604). Sem a contribuição deles, o cristianismo
não seria o que é!

Referências de imagens
Iimagem 1: http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/3/31/Nicaea_icon.jpg.
Acesso em 21’Jun’06.

Referências
COMBY, JEAN. Para Ler a História da Igreja I Das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 2001.
DREHER MARTIN N. A igreja no império romano. São Leopoldo: Sinodal, 1993. (Col. História
da Igreja, v. 1).
GONZÁLEZ, JUSTO L. A era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1980. ( Col. E até aos Confins da
Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo, v. 2).
PIERINI, FRANCO. A idade antiga. São Paulo: Paulus, 1998. (Col. Curso de História da Igreja I).

52
Universidade Metodista de São Paulo
Fundamentos de Teologia e História

Módulo

História do
cristianismo antigo
e Medieval IV

Prof. Dr. José Carlos de Souza

Objetivos:
Traçar um panorama geral dos
principais fatos e elementos que
caracterizam o movimento cristão no
período medieval;
Indicar como o desenvolvimento
institucional da cristandade medieval
e a discussão teológica se desenrolam
entre muitos conflitos.

Palavras-chave:
Povos germânicos, islamismo,
cruzadas, papado, cristandade,
monasticismo, escolástica.

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Um período intermediário?
Em nossa última etapa, vamos abordar o que se convencionou
chamar de Idade Média. É um largo período, praticamente dez
séculos, que separam, conforme a visão tradicional, a Antiguidade Os bispos não são mais
e a Renascença. É usual fixar seus limites entre os anos de 476, vistos como ministros,
quando Odoacro invade Roma e põe fim ao Império Romano no
Ocidente, e de 1453, quando os turcos otomanos conquistam
isto é, servidores, e sim,
Constantinopla decretando o ocaso do Império Bizantino. Contudo, como dignitários que
não há consenso quanto a tal proposta. Não apenas estes marcos devem ser honrados e
cronológicos são debatidos, mas o próprio conceito de Idade obedecidos
Média é questionado. De fato, quando os humanistas do século
XVI forjaram esse conceito, deram-lhe uma conotação fortemente
negativa. A época medieval seria apenas um hiato entre duas etapas realmente essenciais,
a Antiguidade greco-romana e a era moderna. Hoje não se admite mais um juízo tão
categórico quanto este. Realmente, muito do que constitui a civilização européia e a
cultura no Ocidente encontra suas raízes na Idade Média e, ademais, um milênio de história está
carregado de altos e baixos, de esplendor e de crises, e não comporta, em hipótese alguma, qualquer
generalização. Também por essa razão, os parágrafos a seguir pretendem apenas destacar alguns
aspectos que devem ser aprofundados em nosso estudo.

Uma nova geografia


Talvez o primeiro fato que chama a atenção, nesse novo período, é a alteração de nossas referências
geográficas. Se nas primeiras etapas da história do movimento cristão, deslocávamos, principalmente,
pela Costa do Mediterrâneo – Norte da África, Oriente Médio, Ásia Menor, Sul da Europa – agora, o
foco está situado, sobretudo, no Norte e no Oeste da Europa. Não apenas a Península Itálica, mas
a região hoje ocupada pela Espanha, França, Grã-Bretanha e Alemanha compõem o novo cenário.
Duas ondas de acontecimentos explicam essa mudança.

Os povos germânicos
Imagem 1

Em primeiro lugar, está a expansão dos povos


germânicos – vândalos, visigodos, ostrogodos e
francos, entre outros – rompendo as fronteiras
da Europa e Norte da África, impondo o final
do domínio do Império Romano no Ocidente e
isolando-o da parte oriental. Muitos supunham
que a decadência do antigo modo de vida
comprometesse também a vitalidade da Igreja,
mas o que ocorreu foi justamente o contrário. Aos
poucos, os povos germânicos que, anteriormente
haviam sido evangelizados pelos arianos, aderem
à fé católica e a Igreja, como portadora da cultura
e civilização antigas; desempenha um significativo
papel como educadora dos povos. Por sua vez,
Imperio Bizantino. a desarticulação do poder político abre espaço
para que bispos e outras autoridades eclesiásticas
ocupem o vazio deixado pela ausência da administração pública. No caos que se estabelece, com as
freqüentes batalhas e os deslocamentos populacionais, a Igreja é a instituição mais bem organizada,
senão a única. Mais tarde, por ocasião do avanço de normandos, escandinavos e húngaros, a Igreja
responderá com a mesma determinação aos novos desafios.

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Surgimento do Islamismo
Em segundo lugar, situa-se o nascimento, as conquistas políticas e a difusão da religião muçulmana.
O profeta Mohamed (570-632), apregoando o mais absoluto monoteísmo, unifica as tribos árabes
e dá origem à última das grandes religiões mundiais. Após a sua morte, vários califas ampliam o
domínio árabe em direção tanto ao Oriente quanto ao Ocidente. Egito, Síria, Pérsia, mas também
todo o Norte da África e a Península Ibérica – domínios onde, antes, prevalecia a presença cristã
–, submetem-se aos novos senhores. O isolamento do antigo Império Romano no Oriente agora é
completo, culminando com a separação definitiva das Igrejas Ocidental e Oriental no ano 1054. Na
Europa, o avanço do Islã só não é maior porque é contido pelos francos em 732, na batalha de Poitiers.
Aliás, boa parte da história medieval registra os encontros e desencontros entre os dois mundos,
cristão e muçulmano. Disto fazem parte as lutas pela reconquista da Península Ibérica, que chegam
ao seu termo somente em 1492, quando Granada, o último reduto ocupado pelos muçulmanos, é
retomada; e as cruzadas que, a partir de 1095, procuram, em vão, retomar o controle da denominada
Terra Santa. No geral, as suas conseqüências foram desastrosas.

O papado
Outro aspecto significativo que diferencia a Igreja Antiga da
Medieval é a centralidade do papado. Se, no catolicismo antigo e Outro aspecto
na Igreja imperial, conforme foram analisados anteriormente, os
significativo que
bispos eram figuras fundamentais, na Idade Média, a instituição
do papado é incontestável. Inúmeros fatores explicam esse diferencia a Igreja
desdobramento, porém, é mais importante observar como a Antiga da Medieval
autoridade do papa foi sendo gradualmente admitida no Ocidente é a centralidade do
(no Oriente, o Patriarca de Constantinopla não só jamais aceitou a papado.
sua interferência, como também reivindicou, para si próprio, uma
jurisdição universal). De qualquer modo, foi apenas no século
V, com a crise política e administrativa gerada pelo avanço dos germânicos, que amadureceram
as condições para o aparecimento do papado. Nesse sentido, o título de primeiro papa deve ser
atribuído a Leão Magno, que esteve à frente da Igreja nos anos 440-461, embora nem sempre os
seus sucessores atingissem o mesmo desempenho. Independentemente disso, a história medieval
está marcada pelos conflitos entre os poderes políticos e os papas, cujas pretensões parecem não
ter medida. O auge da influência papal se alcançou no pontificado de Inocêncio III (1198-1216) que
afirmou: “Do mesmo modo que a lua recebe sua luz do sol, assim também o poder real recebe da
autoridade pontifical o esplendor de sua dignidade”. A história subseqüente, no entanto,
mostra uma instituição progressivamente desgastada pelo surgimento dos estados
nacionais, pela ascensão do espírito leigo, pelo chamado Cativeiro Babilônico da Igreja,
quando o papado, submetido à coroa francesa, foi transferido para
Avignon (1309-1377), pelo Grande Cisma (1378-1417), quando
Do mesmo modo que dois e até três papas reclamavam o primado na direção da Igreja,
a lua recebe sua luz enfim, pelas críticas que circulavam por toda a sociedade. Essa
do sol, assim também decadência já prenunciava o final de uma época.
o poder real recebe da
autoridade pontifical
Cristandade
o esplendor de sua
A importância da instituição eclesiástica e do papado nesse
dignidade
período corresponde ao que muitos autores denominam com
Inocêncio III o termo cristandade, o qual descreve um modo de relação de
intensa cooperação e aliança entre sociedade, Estado e Igreja. A
religião modela todas as instituições e sanciona as relações sociais,
recebendo, em troca, benefícios e proteção das autoridades A vida

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religiosa e o ideal monástico estão presentes durante todo o tempo e em toda a parte, adaptando-
se às condições em mudança constante, como comprova o florescimento das ordens mendicantes
dos franciscanos (1209) e dos dominicanos (1216). Mesmo a contestação contra o sistema social
assume a forma religiosa, com destaque para os valdenses e os cátaros no século XII, violentamente
reprimidos pela Inquisição.

Escolástica
Por último, é preciso assinalar o desenvolvimento extraordinário da discussão teológica especialmente
vinculada às escolas e às universidades, sobretudo a partir do século XIII. A introdução da argumentação
filosófica, em particular das idéias de Aristóteles, trouxe precisão e revolucionou o modo de se fazer
teologia, ainda que a maioria dos teólogos pretendesse apenas sistematizar a herança recebida
do passado. As obras de pensadores como Santo Anselmo, Pedro Abelardo, Pedro Lombardo, São
Boaventura, Alexandre Magno, Tomás de Aquino, Duns Scotus e William de Ockham, têm sido publicadas
e o seu estudo, ainda hoje, é considerado indispensável.

Referências de imagens
Imagem 1: http://www.lib.utexas.edu/maps/historical/shepherd/byzantine_empire_1265.jpg.
Acesso em 18’Jun’06.

Referências
DREHER, MARTIN N. A Igreja no mundo medieval. São Leopoldo: Sinodal, 1994. (Col. História
da Igreja v. 2)
IRVIN, DALE T. ; Sunquist, Scott W. História do movimento cristão mundial. São Paulo: Paulus,
2004. (Volume I: do cristianismo primitivo a 1453)
PIERINI, FRANCO. A idade média. São Paulo: Paulus, 1997. (Col. Curso de História da Igreja II).
VAUCHEZ, ANDRÉ. A Espiritualidade na idade média ocidental (Séculos VIII a XIII). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.

56
Universidade Metodista de São Paulo
Módulo

Teologia Sistemática:
Introdução à
Teologia - I

Prof. Me. Hélerson Alves Nogueira

Objetivos:
Nesta unidade buscaremos
compreender o que é teologia e
como ela nasce e se desenvolve ao
longo da história do pensamento
cristão.
Palavras-chave:
Fé cristã; razão; cristandade;
itinerário histórico; hermenêutico;
linguagem; interpretação.

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Introdução
O que é a teologia? Como ela nasce e se desenvolve enquanto disciplina que envolve uma atividade
racional capaz de elaborar um método satisfatório de pensar a partir da experiência da fé cristã frente à
condição humana e sua realidade? A fim de oferecer respostas adequadas a estas perguntas, sugerimos
uma breve introdução fenomenológica sobre o “como” se dá, na prática, o labor (o fazer) teológico
enquanto atividade humana na busca de um melhor entendimento do amor de Deus revelado ao ser-
humano e a toda criação.

A necessidade fundamental de uma fé que busca saber


Tomando como ponto de partida uma formulação clássica atribuída a S. Anselmo (1033-1109 d.C.)
em sua obra Proslogion – fides quaerens intellectum – “a fé buscando entender”, podemos compreender
que a teologia “nasce” a partir de um desejo sincero e honesto de saber aquilo que se crê. Em outras
palavras, a fé “busca luz” para o caminho (Sl 119.105). Nesta mesma direção é possível afirmar que o
espírito humano aspira naturalmente pela busca da verdade (Aristóteles, Metafísica).
Este tipo de compreensão já estava presente em outro importante pensador da igreja cristã ocidental,
conhecido como Agostinho de Hipona (354-430 d.C.). Em sua obra De Trinitate, Agostinho chegou a
declarar – Desideravi intellectu videre quod credidi - “Desejei ver com a inteligência o que acreditei”.
Podemos dizer que tal concepção cobriu boa parte do desenvolvimento histórico da ideia cristã sobre
teologia desde os seus primórdios até o período da Idade Média (século XV). Em certo sentido, a
teologia era concebida dentro de uma compreensão filosófica geral do conhecimento humano, onde
a fé cristã, sob a luz da razão natural e o regime de cristandade, buscava explicar e dar sentido a toda a
realidade. Nesta etapa não havia uma distinção mais clara entre razão secular e entendimento religioso
no tocante ao papel da teologia e sua relação com outras formas de conhecimento humano. A busca
era pela harmonia e unidade em uma única cosmovisão cristã.

A Necessidade Fundamental de uma fé que busca interpretar


Outra forma de definir teologia é compreender que o papel da fé cristã não se esgotou e nem se
restringiu aos cânones de uma concepção teológica como um saber iluminado (“fé que busca entender”)
e, estabelecido uniformemente de uma vez por todas (como pretendia o regime da cristandade até
a idade média). É importante distinguir alguns momentos do desdobramento intelectual da própria
reflexão teológica ao longo da sua história e da sua relação com a Bíblia (como fonte central, básica e
primária da fé) ao lado das outras fontes como, por exemplo, a história da igreja, as ciências, a história
da cultura, a própria razão e a criação (natureza) como nos ensina, por exemplo, a tradição teológica em
John Wesley. Com efeito, seria proveitoso para nossa reflexão, apontar algumas breves características
da noção de teologia em termos de um itinerário histórico que aqui denominamos de “estações da
teologia”. A seguir apontamos um rápido panorama sobre o desenrolar histórico e hermenêutico da
teologia.

Teologia Como Interpretação: As “estações” da teologia ao Longo da


História
Quando paramos para refletir sobre o significado da teologia a partir de momentos históricos
específicos e ênfases próprias de cada período, estamos na verdade querendo dizer que a teologia possui
um caráter hermenêutico (linguagem e interpretação) determinante para sua própria compreensão
e função. É bom lembrar que a palavra “teologia” não é patrimônio exclusivo do cristianismo e nem
aparece na Bíblia. Em outras palavras, responderemos a pergunta sobre “o que é teologia?” olhando para
o modo como cada época e contexto respondeu aos desafios subjacentes ao fazer teológico enquanto
um esforço racional e metódico para discernir e interpretar o amor de Deus em seu contexto histórico
e cultural. Com isso, parece ficar evidente, a maneira como cada uma das “estações” se mobilizou para
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lidar com a(s) fonte(s) da teologia conforme já mencionado anteriormente.

A primeira estação da teologia


Num primeiro momento encontramos a “estação” da sabedoria. Este foi um período que envolveu
toda a época chamada pós-apostólica até o surgimento dos escritos da patrística. Nessa “estação” a
teologia era vista como uma espécie de busca de sabedoria espiritual, onde a grande preocupação era
a centralidade de Deus como um mistério insondável. Fazer teologia nesta atmosfera cultural era um
cultivo espiritual, exercício norteado pela contemplação e meditação profunda, distanciado da realidade
mundana e temporal, através de categorias platônicas e do neoplatonismo.

A segunda estação da teologia


Nesta segunda “estação”, podemos perceber um sério interesse na busca de uma maior seriedade e
rigor intelectual ao redor da tarefa de fazer teologia. Teologia era a atitude de juntar esforços ao lado da
gramática, dialética e metafísica aristotélica para construir um legítimo saber teológico. A tentativa era
manter viva a antiga ideia do labor contemplativo, do sentido sapiencial e espiritual ao lado do esforço
e rigor racional. No entanto, tal projeto não logrou êxito, pois a razão acabou por impor sua força e,
tornou-se o fator decisivo e normativo de uma racionalidade teológica medieval com instrumentalidade
da escolástica e, às vezes, de outras filosofias chegando assim até a Alta Idade Média.

A terceira estação da teologia


A característica principal deste ambiente cultural é a incorporação da pratica da suspeita. Já no
limiar da modernidade (sec. XVI-XVIII), a teologia assume o papel de uma função crítica (alcançando
o sec. XIX). As suspeitas teóricas filosóficas vão, aos poucos, se infiltrando no universo da reflexão e
elaboração teológica e assumindo os contornos definidores do que, de fato, poderia ser compreendido
por teologia. Assim, os clássicos mestres da suspeita – Marx, Nietzche e Freud, sem falar de E. Kant e I.
Feuerbach desempenham um papel crucial no labor teológico.

A quarta estação da teologia


Desembarcamos aqui na estação onde a teologia é concebida enquanto ciência. A teologia ocupa um
lugar desconfortável ao lado das outras ciências. Não mais sustentada por um regime de cristandade
e sem uma leitura da realidade global e unificadora do mundo, capaz de promover a integração sobre
bases de fé, se vê em conflito com outro modo de ler e compreender a vida. A realidade e a nova
cosmovisão estão pautadas principalmente nas leis de observação do método moderno. A vida é agora
vista sob o prisma das experiências verificáveis, matematicamente plausíveis e focadas na consistência
ótica dos fenômenos repetidos e analisados friamente e, assim, válidos apenas dentro de um aval
previamente definido por um método científico onde a teologia não consegue cumprir as exigências
de verificação e experimentação.
Já a partir do século XVIII, durante o período do iluminismo, a desconfiança na razão natural empurra
a teologia cada vez mais para uma busca unilateral da revelação especial (Sec. XIX-XX). Não conseguindo
se justificar no meio acadêmico em geral, como outrora, passa a ser compreendida como uma ciência
eclesiástica, cujo papel é preparar uma classe de profissionais da religião para cumprir uma exigência
de formação de lideranças para determinada confissão e instituição religiosa. Tal situação conduziu
alguns para uma elaboração teológica de teor fundamentalista e outros na direção de uma teologia
mais liberal. A teologia contemporânea lida exatamente com tal situação a partir do sec. XX.
Como observamos até aqui há varias nuances de cada época e contexto para ajudar a definir o que
é teologia: sabedoria e cultivo espiritual, saber racional, conhecimento crítico e ciência. Em resumo,

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podemos dizer com Bruno Forte que “A teologia nasce, pois, na história, mas não se reduz a ela:
assumindo-a, interpreta-a e orienta-a no encontro transformante com a Palavra, que por sua vez vem
habitar as palavras dos homens” (FORTE B. 1991, p. 128). É nesta tensão entre revelação e reflexão que
a teologia nasce, cresce e se desenvolve como tarefa importante para se compreender a vontade e o
amor de Deus no cotidiano.

Referências
BOFF, C. TEORIA DO MÉTODO TEOLÓGICO. PETRÓPOLIS: VOZES, 1998.
BRAATEN, C. E.; JENSON, R. W. (ED). DOGMÁTICA CRISTÃ. V. 1. SÃO LEOPOLDO: SINODAL, 1990.
FORTE, B. A TEOLOGIA COMO COMPANHIA: MEMÓRIA E PROFECIA. SÃO PAULO: PAULINAS, 1991.
LIBANIO, J. B.; MURAD, A. INTRODUÇÃO A TEOLOGIA: PERFIL, ENFOQUES, TAREFAS. SÃO PAULO: LOYOLA, 1996.
NOGUEIRA, H. A. TEOLOGIA E RACIONALIDADE: UM ESTUDO A PARTIR DO CONCEITO DE RAZÃO ONTOLÓGICA EM
PAUL TILLICH. 2000. 88 F. DISSERTAÇÃO (MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO) –UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO
PAULO, SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2000.

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Universidade Metodista de São Paulo
Módulo

Teologia Sistemática:
Introdução à
Teologia - II

Prof. Me. Hélerson Alves Nogueira

Objetivos:
Conhecer a etimologia da expressão
“teologia”. Reconhecer os limites e
possibilidades do método e verificar
como os dados da revelação
podem ser organizados na teologia
sistemática.
Palavras-chave:
Apologético; dogmática; revelação;
explicação; círculo hermenêutico;
ciências da religião.

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Introdução
É importante ressaltar em nossa breve reflexão o papel fundamental da teologia sistemática na
transmissão dos conteúdos da revelação na história e como a Igreja desenvolve a tarefa de tornar
compreensível tal conteúdo incorporando os dados da teologia exegética (o significado de textos
bíblicos específicos), teologia bíblica (exposição da mensagem doutrinária no seu contexto histórico)
e teologia histórica (organização da reflexão teológica ao longo da história eclesiástica) ao apresentar
uma explicação adequada do conteúdo da fé e esperança cristã no amor de Deus.
No parágrafo anterior estão implícitos dois pontos elementares na compreensão da tarefa
sistematizadora da teologia. O primeiro deles diz respeito à própria condição do intérprete dos dados
da revelação, ou seja, daquele(a) que se propõe a elaborar a reflexão teológica. Em outras palavras,
não fazemos teologia de um lugar qualquer ou simplesmente por mera curiosidade ou interesse
epistemológico. O(A) teólogo(a) precisa estar consciente do seu compromisso existencial e do modo
como lida com as fontes da teologia. Nas palavras de Paul Tillich, é preciso estar envolvido no círculo
hermenêutico onde a própria experiência espiritual, a valorização de determinada tradição cristã e o
nível de compromisso pessoal tornam-se fatores decisivos. Em segundo lugar, a teologia sistemática é
uma tarefa da Igreja enquanto dogmática (afirmação dos conteúdos doutrinários centrais da fé cristã e
da longa tradição cristã na transmissão destes mesmos conteúdos) e, ainda, um exercício apologético
(comunicação dos dados da revelação de um modo adequado ao contexto e uma defesa contra os
ataques, desvios e equívocos que se levantam e se opõem em relação ao anúncio e comunicação
do evangelho dentro e fora da Igreja). Deste modo não estamos falando de uma tarefa simples, mas
complexa em sua natureza e necessariamente dialética (dialogal) na manutenção criativa entre duas
funções indispensáveis na teologia sistemática.

Etimologia e história da expressão “teologia”


Estritamente falando, a teologia sistemática é um esforço de buscar “sintetizar” a verdade religiosa
da fé e das razões da esperança cristã (1 Pedro 3.15) a um sistema de explicação organizado. As razões
para isso dizem respeito tanto à tarefa dogmática quanto ao aspecto apologético de comunicar bem
os dados da revelação ao contexto cultural (Atos 17.11; 16-34; Lucas 1.1-4). Originalmente não foram os
cristãos a utilizar a expressão “teologia” em suas primeiras reflexões e escritos oficiais. Na verdade, antes
do advento do cristianismo, os gregos já utilizavam a expressão “teologia”, significando as realidades
e debates filosóficos em torno de “questões divinas”. Para o filósofo Platão, por exemplo, estavam no
campo da “teologia” as estórias dos poetas com respeito aos deuses. Já Aristóteles, outro importante
pensador grego, advogava uma distinção tríplice das ciências. Para ele, a física se dedicava ao estudo
da natureza, a matemática ao estudo das quantidades e números e, por fim, havia a maior de todas as
ciências que era a “teologia”, considerada uma reflexão e um estudo sobre Deus. Etimologicamente,
“teologia” é uma palavra que é derivada de duas palavras gregas, theos (“Deus”) e logos (“discurso” ou
“razão”), significando, assim, uma “discussão racional a respeito de Deus”.

O método da teologia sistemática: limites e possibilidades


Atualmente, a palavra “dogmática” não é usada na maioria das escolas de teologia protestante. Tendo
em vista a expressão correr o risco de ser associada às ideias de rigidez, intolerância, autoritarismo,
conservadorismo, intelectualismo e do senso comum identificá-la pejorativamente como sinônimo
de ortodoxia “fria e morta“ (BRAATEN; JENSON, 1990, p. 29), a noção de teologia dogmática foi
gradualmente substituída por uma terminologia considerada mais “neutra”. Com isso passamos a utilizar
“teologia sistemática”, a fim de designar os estudos científicos de religião. Contudo, a natureza desta
mudança operada no campo da reflexão teológica trouxe sérios desafios metodológicos. Estaríamos
tratando de ciências da religião ou de teologia? A resposta a tal questionamento ainda é alvo de muitas
considerações sobre o papel da teologia no horizonte de sentido da modernidade secularizada e no
âmbito mais exigente da academia onde a teologia, dialogando com outras ciências, busca ocupar um
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Universidade Metodista de São Paulo
lugar por direito ao lado das outras formas de conhecimento.
Há ainda outra preocupação a ser considerada. Na tentativa de sistematizar os conteúdos da revelação
podemos insistir na autoridade do “sistema” em nosso esforço de organizar e classificar os conteúdos
da revelação em nome de uma fidelidade confessional ou de um preciosismo terminológico. Desse
modo, há o risco do reducionismo onde a mensagem cristã fica atrelada a três ou quatro aspectos
apenas do sistema.
Por outro lado, podemos nos perder nos labirintos da busca de uma contextualização filosófica da
linguagem teológica enquanto um “ponto de contato” junto aos não crentes e uma defesa frente aos
ataques do ateísmo, de tal modo que o sentido de um Deus pessoal e amoroso, conforme a linguagem
bíblica nos oferece, seja perdido ou, ainda, diluído e substituído por conceitos e ideias supostamente
teológicas de um “Ser Supremo” distante e afastado dos dramas e da condição humana e, por isso
mesmo, um deus totalmente diferente do Deus revelado nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.
Infelizmente, quando falamos em dogma e apologética, nem sempre alcançamos os resultados
esperados. Por isso é muito importante ter claro os pressupostos metodológicos da teologia sistemática
enquanto um exercício que mantém viva a tensão criativa entre a dogmática e a apologética. Em ambos
os casos torna-se necessário o uso criterioso da linguagem teológica e a clareza de pensamento entre
a mensagem a ser transmitida e o contexto onde ela será anunciada.
A teologia sistemática se preocupa com o tipo de linguagem mais adequada na interpretação e
transmissão dos dados da revelação, tanto no diálogo interno do teólogo para com a Igreja como no
diálogo externo para com o contexto e realidade cultural onde se encontra inserido e comprometido
existencialmente.

Os dados da revelação e sua organização


A maneira como são organizados os dados da revelação na reflexão teológica não encontra um
padrão definido ao longo da história. Para muitos teólogos cristãos, o mais importante na interpretação
e transmissão da mensagem cristã é começar “desde baixo”, ou seja, partindo da realidade do ser-
humano, seus dilemas, questionamentos, angústias e ambiguidades existenciais a fim de apontar a
resposta teológica (Tillich, Schleiermacher e Gutierrez representam esta tendência).
Já para outros pensadores a reflexão teológica deve começar em sentido oposto. Trata-se de uma
teologia “desde cima” que parte da Palavra revelada em direção à realidade humana (ortodoxos e
neo-ortodoxos).
Qualquer que seja a tendência metodológica (“desde cima” ou “desde baixo”), a teologia sistemática
buscará organizar os dados da revelação levando em conta a condição do ser humano e da natureza
marcada pelo signo do pecado (Rm 3.23; Jo 3.16). Além disso, seu esforço maior é apontar para o
anúncio esperançoso do reino de Deus (a vontade de Deus), enquanto mensagem central do Antigo
e do Novo Testamento. Tal anúncio alcança sua plenitude e propósito na vida e ministério de Jesus.
Nesse sentido, a teologia é importante ferramenta para a Igreja comunicar ao mundo o modo amoroso
de Deus agir através da obra redentora de Cristo e do Seu Espírito, alcançando o ser-humano e toda
a criação, conforme atestam as Escrituras do Antigo e Novo Testamento.

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Referências
BOFF, C. TEORIA DO MÉTODO TEOLÓGICO. PETRÓPOLIS: VOZES, 1998.
BRAATEN, C. E.; JENSON, R. W. (ED). DOGMÁTICA CRISTÃ. V. 1. SÃO LEOPOLDO: SINODAL, 1990.
FORTE, B. A TEOLOGIA COMO COMPANHIA: MEMÓRIA E PROFECIA. SÃO PAULO: PAULINAS, 1991.
LIBANIO, J. B.; MURAD, A. INTRODUÇÃO A TEOLOGIA: PERFIL, ENFOQUES, TAREFAS. SÃO PAULO: LOYOLA, 1996.
NOGUEIRA, H. A. TEOLOGIA E RACIONALIDADE: UM ESTUDO A PARTIR DO CONCEITO DE RAZÃO ONTOLÓGICA EM
PAUL TILLICH. 2000. 88 F. DISSERTAÇÃO (MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO) –UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO
PAULO, SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2000.

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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral

Módulo

Introdução
às regras da
comunicação
científica I
Profa. Ms. Elizangela A. Soares

Objetivos
Introduzir o tema do conhecimento científico.
Apresentar os métodos para a pesquisa científica
e a metodologia como estudo dos métodos.

Palavras-chave:
conhecimento, método, metodologia, pesquisa

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Considerações iniciais
O conhecimento que adquirimos e acumulamos acerca do mundo, dos seres e das coisas é
o primeiro responsável pela subsistência da humanidade ao longo das épocas e nos mais variados
ambientes. Todo conhecimento é produzido a partir de contextos específicos que refletem as
demandas de uma determinada situação histórica. Por essa razão é que o conhecimento está
sempre em processo de construção, pois mudam-se os contextos e com eles as demandas.
Mas o que é conhecimento?
A resposta para essa pergunta é não simples e nem consensual. Ela variará de acordo com
o pano de fundo da indagação: se pensarmos a questão a partir de um lugar filosófico, a resposta
provavelmente será diferente se a pensarmos a partir das ciências aplicadas, que lidam com
problemas práticos. No entanto, guardados os limites, talvez possamos dizer que o conhecimento
seja o resultado de um conjunto de operações mentais, nem sempre conscientes, alimentadas pelas
experiências da vida cotidiana e pelo estudo.

Os tipos de conhecimento
A definição do que seja o conhecimento, a pergunta pelo que de fato sabemos, a reflexão
sobre a sua natureza, suas fontes e seus limites são temas da chamada teoria do conhecimento
ou epistemologia, ramo do conhecimento filosófico ao qual se dedicaram filósofos como Platão,
Descartes, Kant e Zeller, entre outros. É nesse campo de estudos que encontramos duas escolas
de pensamento que disputam o melhor e mais importante meio para se chegar ao conhecimento:
a escola racionalista e a escola empirista. Para a primeira, a razão tem destaque nesse processo.
Para a última, o protagonismo é assumido pela experiência.
Qualquer que seja a definição, ocorre que não existe apenas um tipo ou apenas uma forma
de conhecimento. Por exemplo, naquele de tipo filosófico, a própria epistemologia lista três formas
fundamentais, dando especial atenção à primeira: o saber que (eu sei que Roma foi um império),
o saber como (eu sei dirigir um carro) e o conhecimento por familiaridade (eu conheço/estou
familiarizado com os meus colegas). No entanto, há também tipos não filosóficos de conhecimento,
a saber, o teológico ou religioso, o empírico ou senso comum e o científico.
Conhecimento empírico é aquele adquirido por meio das experiências circunstanciais do
dia a dia e se encontra no campo da consciência coletiva. É o que, grosso modo, chamamos de
senso comum, de interpretação da ordem aparente da realidade, sem preocupação ou intenção
de compreender os fenômenos. Isso significa que o conhecimento empírico não está submetido
aos critérios da ciência, ou seja, ele não depende de comprovações para existir, mas “está aí”, por
assim dizer. É do conhecimento atribuído ao senso comum que surgem as generalizações pouco
ou nada apreciadas no campo científico. Mas isso não quer dizer que ele seja sem valor, afinal é
uma forma elementar do conhecimento humano.
O conhecimento teológico ou religioso é aquele originado das experiências de fé e deriva a
verdade de um ser divino e da sua revelação na história. Isso não significa, no entanto, que se trate
de um conhecimento irracional, uma vez que o conhecimento acerca da divindade, além da fé, é
também intermediado pela razão, conforme veremos ao longo do curso.
[...] a Teologia é uma ciência de fé. [...] Seu método tem como ponto de partida princípios,
considerados como postulados axiomas funcionais, dos quais procedem as deduções ou ainda
a caracterização de seus objetos abstratos por intermédio da descrição de suas propriedades.
[...] Por isso, a Teologia enquanto ciência de fé é uma sabedoria de fé, porque elabora o diálogo
da fé com a razão explicitando que as verdades da fé não surgem de acontecimentos mágicos
e isentos de historicidade. Ao contrário, elas surgem da compreensão racional dos fenômenos
oriundos do ser humano e da natureza. No entanto, a razão que explicita as verdades da fé é
iluminada pela própria fé para que a racionalidade seja sempre aberta ao novum, oriundo do
próprio mistério da fé (GONÇALVES, 2008, p. 96).

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Universidade Metodista de São Paulo
Finalmente, o conhecimento cientifico, que resulta da investigação criteriosa, ordenada e
metódica acerca de um determinado objeto. Ele não se pretende como um conhecimento definitivo
ou último, pois novas informações, descobertas ou o surgimento de novas tecnologias podem
fazer com que o saber tido como verdade em uma época seja considerado obsoleto ou mesmo
equivocado em outra. Isso implica que o conhecimento científico requer constante reavaliação
dos seus resultados.
Esse conhecimento parte da identificação de problemas e da formulação de hipóteses que
visem a respondê-los. A verificação de uma hipótese se dá por meio do emprego de um método
científico, que é o conjunto das regras aplicáveis aos procedimentos de uma determinada pesquisa.
A metodologia científica
Metodologia científica é o estudo dos métodos, os quais conferem alicerces lógicos à
investigação e possibilitam uma aproximação impessoal em relação ao objeto de estudos. São
cinco os métodos desenvolvidos para a construção do conhecimento científico:

Método indutivo: de caráter generalizante, aciona informações particulares


(premissas) para formar uma teoria ou conclusão em relação ao todo, inferindo
uma verdade geral. Exemplo:
O homem A é forte.
O homem B é forte.
O homem C é forte.
O homem D é forte.
Os homens A, B, C e D são altos. Logo, (todos) os homens altos são fortes.

A fragilidade desse método é justamente a generalização da relação encontrada entre dados


e fatos para explicar os fenômenos, fazendo com que a conclusão extrapole as premissas. No
exemplo acima, a partir da observação da relação força-estatura nos homens A, B, C e D, inferiu-se
que todos os homens altos são fortes. Contudo, nem todos os homens altos foram observados.
Isso quer dizer que, ainda que as premissas sejam verdadeiras (os homens A, B, C e D são fortes
e altos), os resultados obtidos com a aplicação desse método têm chance se provarem falsos se
outras observações apontarem que existem homens altos que não são fortes.

Método dedutivo: faz o caminho oposto do método indutivo, partindo de uma


situação geral para uma ocorrência particular. A lógica desse método é que se
as premissas são verdadeiras, a conclusão será verdadeira também. De forma
esquemática, empregando a conexão de ideias ou silogismo, o método dedutivo
partirá da relação ente uma premissa maior (geral) e uma premissa menor
(particular) para chegar a uma conclusão. Exemplo:
Todo ser humano é mortal (premissa maior).
Os aborígenes são seres humanos (premissa menor).
Logo, os aborígenes são mortais (conclusão).

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Método hipotético-dedutivo: consiste na eliminação de erros para a solução de
um determinado problema. Para isso, hipóteses e conjecturas são formuladas.
As hipóteses são testadas exaustivamente com a finalidade de verificar a sua
validade. Esse teste é chamado de falseamento, uma tentativa de mostrá-las como
falsas, refutáveis (eliminação de erros). As hipóteses verdadeiras ― e com elas as
conjecturas ― serão aquelas que resistirem às tentativas de falseamento.

Método dialético: parte da dialética hegeliana, baseada na tríade tese (afirmação


inicial), antítese (oposição à afirmação inicial ou tese) e síntese (o resultado dessa
discussão). Aqui as contradições e conflitos assumem papel fundamental e os fatos
não podem ser considerados isolados dos contextos em que se apresentam. É, em
última análise, um método de interpretação da realidade.

Método fenomenológico: parte da descrição da experiência vivida, dos fenômenos, das


coisas em si, da consciência de algo e da realidade tal como compreendida, interpretada
e comunicada. Aqui o sujeito assume papel de destaque, pois a experiência é sempre
a experiência de alguém, assim como a realidade depende de quem a interpreta e a
comunica.

Mas o que métodos e metodologia de pesquisa têm a ver conosco, estudantes de teologia?
Conforme Paulo Sérgio L. Gonçalves, citado anteriormente, “Teologia é uma ciência de fé” e, como
toda ciência, demanda um conjunto de regras para estudos que a tornem comunicável do ponto
de vista científico. É dessa necessidade de comunicação que surgem as pesquisas em teologia, cujo
ambiente por excelência é o acadêmico, que se caracteriza como espaço privilegiado de debates
e construção do saber formal.

Referências
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GONÇALVES, Paulo Sérgio Lopes. A sustentabilidade à luz da hermenêutica teológica da
ecologia. In: SOTER (org.). 21º Congresso Anual da Sociedade de Teologia e Ciências da
Religião ― SOTER. São Paulo: Paulinas (Edição digital ― ebook), 2008, p. 86-108. Disponível
em: <http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/wp-content/uploads/2009/08/
LivroDigital.pdf#page=86>. Acesso em: 04 abr. 2014.
LAKATOS, Eva. Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2000.
O’BRIEN, Dan. Introdução à teoria do conhecimento. Lisboa: Gradiva, 2013.
RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para cursos de graduação e pós-graduação. 3.
ed. São Paulo: Loyola, 2005.

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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral

Módulo

Introdução
às regras da
comunicação
científica II
Profa. Ms. Elizangela A. Soares

Objetivos
Introduzir o tema da comunicação científica.
Apresentar o método analítico para
a leitura de textos.
Apresentar os elementos essenciais para a
elaboração de um texto/trabalho acadêmico.

Palavras-chave:
comunicação científica, leitura,
trabalho acadêmico

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Considerações iniciais
No capítulo anterior conversamos um pouco sobre o conhecimento, observamos que ele
não é de um tipo apenas e que está em constante processo de construção e de revisão de acordo
com as demandas das épocas.
Vimos também que o conhecimento científico é aquele construído planejadamente, a partir
da detecção de problemas e com base em um conjunto de regras (os métodos) que lhe servem
de embasamento lógico e linha-guia.
Os estudos teológicos também se beneficiam dos métodos científicos para a construção
do seu saber específico, requerendo um exercício racional, associado à fé, para a reflexão acerca
do divino e suas manifestações na história. Dito de outra maneira, a teologia lança mão de um
conjunto instrumental para tornar acessíveis os conteúdos da fé.

A comunicação científica como a linguagem da academia


A razão de ser de um estudo científico ― teológico ou não ― é que os seus resultados possam
ser comunicados (socialização do saber), debatidos e criticados, de modo que os repositórios de
conhecimento estão sempre em expansão, uma vez que os objetos de pesquisa dificilmente são
esgotados. É bom que se diga que crítica aqui não tem sentido pejorativo (de desqualificação pura
e simples), mas se apresenta como ferramenta de avaliação, apreciação ou juízo fundamentado
acerca de resultados.
Os resultados de um estudo científico são socializados por meio de trabalhos acadêmicos
(teses, dissertações, monografias, artigos, etc.). Estes seguem as normas da comunicação científica,
que é a linguagem característica e comum ao mundo acadêmico.
Essa linguagem, além dos requisitos técnicos que lhe são próprios, considera regras que po-
dem variar de um campo do saber para o outro. No entanto, de acordo com Débora Diniz (2008),
a observação de duas dessas regras, em particular, comuns a todas as áreas do conhecimento,
configura-se como boa prática acadêmica e previne a quebra da ética na comunicação científica:
o reconhecimento de autoria e o registro das fontes.

A desobediência a qualquer um desses interditos conduz a dois crimes: para o não reconheci-
mento da autoria, há o crime de plágio; para o não registro das fontes, há o crime de falsidade
argumentativa. [...] Para quem os infringe, não há espaço na comunidade acadêmica. A sentença
é a exclusão absoluta (DINIZ, 2008, p. 1).
O plágio (emprego de material intelectual de terceiros sem identificação de autoria ou fonte)
não é tolerado nos círculos acadêmicos. Assim sendo, se desejamos realizar e tornar públicos os
resultados de uma pesquisa, é necessário termos em mente a importância de creditar autores e
fontes empregados na formulação dos nossos argumentos.

O papel da leitura no desenvolvimento do trabalho acadêmico


Toda pesquisa parte de uma interrogação, de um problema e/ou da curiosidade acadêmica.
Feita a pergunta ou identificado o problema e definidos os objetivos que se tem com o estudo,
avalia-se o melhor método ou métodos para a busca de resposta ou solução. No entanto, qualquer
que seja o caminho traçado em termos de tema, objetivos e de metodologia, todo estudo precisa
levar em conta o que já foi produzido com respeito ao seu objeto. Daí a importância da pesquisa
bibliográfica e subsequente revisão de literatura.
A pesquisa bibliográfica é o levantamento e seleção de material escrito sobre determinado
tema. A revisão de literatura é a leitura do material selecionado, com a finalidade de conhecer o
estado ou estágio de discussão envolvendo o tema. Essa etapa da pesquisa influencia todas as
70
Universidade Metodista de São Paulo
etapas seguintes, pois ela forma o que chamamos de embasamento ou referencial teórico
com o qual se trabalhará e que poderá, inclusive, redefinir objetivos e premissas do estudo.
Todos os textos envolvidos na elaboração de um trabalho acadêmico devem ser igualmente
acadêmicos, ou seja, pautados por normas da metodologia científica. Cada tipo de texto tem o seu
valor e o seu lugar próprios. Isso significa, por exemplo, que textos devocionais, que são dirigidos
à nossa prática piedosa pessoal ou comunitária, não devem ser empregados para a construção
de argumentos acadêmicos ou científicos, pois essa não é a função deles.
Entretanto, enquanto afirmamos que os textos são essenciais à fundamentação de uma pes-
quisa e considerando que a leitura é mais do que a decodificação dos sinais da linguagem escrita
(alfabetização), uma pergunta precisa ser feita: todas as pessoas alfabetizadas sabem ler os textos?
Todas elas sabem qual é o resultado esperado quando leem e todas elas são capazes de obter
esse resultado? Nem sempre. E essa é uma realidade constatada até mesmo no nível universitário.
Para ajudar os leitores no manuseio do texto, Antonio Joaquim Severino (2007) sistematizou
o chamado método de leitura analítica, de acordo com o qual, a partir de uma sequência de etapas,
é possível chegar à compreensão completa de um texto. Essas etapas são:

análise textual: trata-se de uma visão panorâmica da obra na qual devem ser
destacados os seus elementos mais importantes e buscados esclarecimentos para
informações, fontes e conceitos com os quais o autor trabalha, mas que o leitor
não esteja familiarizado.

análise temática: refere-e à compreensão da mensagem do autor, percorrendo o


seu raciocínio e a lógica pela qual ele foi construído. Nessa etapa se busca identi-
ficar tema, problema colocado pelo texto e a tese apresentada.

análise interpretativa: nessa etapa o leitor assume uma postura crítica e de


interpretação em relação aos argumentos apresentados no texto, averiguando a
coerência destes, o tratamento dado ao problema e aos pressupostos, a qualidade
da análise e das conclusões, bem como os desdobramentos das mesmas.

problematização: trata-se de fazer questionamentos às escolhas, argumentos e


conclusões do autor.

síntese: nesse ponto o leitor reelabora a mensagem do autor a partir de uma re-
flexão própria e de conhecimentos prévios que tenha acumulado.

71
www.metodista.br/ead
A revisão de literatura feita com base no método de leitura analítica resultará em uma dis-
cussão consistente e consciente dos textos (livros e artigos) selecionados como referencial teórico
para um estudo, apresentando diálogo entre as ideias dos autores e as ponderações do leitor.
O processo de escrita do trabalho acadêmico
A escrita do trabalho acadêmico em si precisa observar normas técnicas que são parte das
regras da comunicação científica. No caso do Brasil, essas normas são definidas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e regulam desde a apresentação do texto (aspectos ligados à
formatação, tais como espaçamento, paginação, sistema de chamada de citações, etc.) até a forma
de registro das fontes (aspectos ligados à ordem e formatação de elementos para identificação
de uma obra).
Além disso, o trabalho acadêmico precisa ser construído de forma lógica, com começo, meio
e fim ― em outras palavras, com introdução, desenvolvimento e conclusão.
Por mais estranho que pareça, é recomendável que o trabalho seja iniciado pelo seu desen-
volvimento, cuja finalidade é expor, explicar e discutir ideias, bem como apresentar argumentos.
Em geral isso é feito com o recurso a obras que tratam do tema, tarefa favorecida pela leitura
analítica desses textos.
O próximo passo é registrar as conclusões a que se chegou com o desenvolvimento do estudo.
Aqui se resume a argumentação, responde-se aos objetivos apresentados no início do trabalho e
sintetiza-se o conhecimento originado da pesquisa, bem como as possibilidades de continuidade
e desdobramentos da mesma. No caso dos trabalhos na área de teologia, as conclusões também
devem trazer uma proposta ou sugestão de aplicação prática para a vida cotidiana.
Depois do desenvolvimento e da conclusão se redige a introdução, que é o item por meio do
qual se faz uma exposição das linhas gerais do trabalho, mas sem oferecer conclusões. Por isso ela
é deixada para o final, quando o autor ou autora já sabe os caminhos pelos quais percorreu e tem
condições de apresentá-los com mais clareza. A introdução deve ser construída com a intenção de
cativar a atenção e o interesse do leitor e nela devem ser apresentados os objetivos da pesquisa
e os métodos empregados para alcançá-los, além da razão do estudo ( justificativa), o referencial
teórico e os limites ou recortes estabelecidos para o tratamento do tema.
Por fim, elabora-se a lista de referências bibliográficas, que é a coleção das obras efetivamente
consultadas para a construção do trabalho. As referências bibliográficas devem ser organizadas de
acordo com as normas da ABNT, geralmente disponíveis nos manuais dos cursos.
Outros elementos serão requeridos dos trabalhos acadêmicos de acordo suas especificidades.
Por exemplo, um artigo não conterá todos os aspectos de um trabalho monográfico. Contudo,
introdução, desenvolvimento e conclusão são elementos comuns a todos os tipos de trabalhos
acadêmicos e devem ser tecidos pensando no leitor, ou seja, na formulação de um texto coerente,
bem argumentado e claro que permita ao leitor seguir o nosso raciocínio e caminhar conosco, os
autores e autoras.

Referências
AZEVEDO, Israel Belo de. O prazer da produção científica: passos práticos para a produção
de trabalhos acadêmicos. 13. ed. São Paulo: United Press, 2012.
DINIZ, Débora. A ética e o ethos da comunicação científica. Série Anis, n. 55, p. 1-3, jun.
2008. Disponível em: <http://www.anis.org.br/serie/artigos/sa55_diniz_comunicacaocientifica.
pdf>. Acesso em: 05 abr. 2014.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez
Editora, 2007.
YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.

72
Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral

Módulo

Temas básicos
em comunicação

Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha

Objetivos:
Introduzir elementos básicos da teoria da
comunicação que devem ser aplicados
à reflexão da prática pastoral, como o
conceito da comunicação, o valor da
linguagem, os tipos de comunicação e o
processo da comunicação;
Abordar o tema da comunicação sob
uma perspectiva teológica, a partir
dos princípios da comunhão, da
solidariedade e do diálogo.

Palavras-chave:
Comunicação, linguagem,
mídia, religião.

www.metodista.br/ead
Comunicação é elemento-chave na ação pastoral. Afinal, um pastor ou pastora ou uma liderança
leiga que atua em igrejas ou qualquer outro agrupamento do campo religioso lida com pessoas;
relaciona-se com um público. Saber comunicar bem, desenvolvendo boas relações interpessoais e
liderança de qualidade e disseminando mensagens que sejam bem recebidas por seu público-alvo,
por meio de uso correto e eficaz da palavra, é requisito fundamental na ação pastoral clériga ou leiga.
Nesta primeira unidade de estudos, vamos buscar na teoria da comunicação alguns conceitos
que nos ajudam a compreender elementos muito importantes na prática pastoral e que envolvem
o ato de comunicar.

Comunicação é elemento-chave na ação pastoral


Conceito. Comunicação é uma palavra que vem do latim comunicare, que quer dizer “tornar
comum”. Tornar comum, o quê? Exteriorizar idéias e sentimentos, com o fim de estabelecer comunhão
com o outro. Esse ato de tornar comuns elementos significativos levou estudiosos a estabelecerem
uma premissa: todos os seres vivos são capazes de se comunicar. No que diz respeito ao ser humano,
é possível afirmar que a comunicação é um processo inerente à condição humana e existe desde que
as pessoas surgiram no mundo. Um homem ou uma mulher se comunicam de forma articulada ou
mesmo de forma involuntária, pois o corpo humano está programado para comunicar,
seja com a fala, um sorriso ou a indicação de fome ou dor. Portanto, o ser humano é
comunicação pois, para existir, precisa comunicar-se. Comunicação
é necessidade social.
Estudiosos, com base nesta referência, passaram a identificar Comunicação é
duas principais formas de comunicação humana: a verbal (oral uma palavra que
e escrita) e a não-verbal (sonorizadora, gestual, sinalizadora –
gráfica ou não). A linguagem aqui é elemento fundamental a ser
vem do latim
enfatizado, pois é a forma de o ser humano se expressar, exprimir a comunicare, que
capacidade de raciocínio (os pensamentos) e os sentimentos. Com quer dizer “tornar
a linguagem, verbal ou não, damos nomes e atribuímos sentido comum”
às coisas que fazem parte da nossa vida.

Linguagem, cultura e ideologia


Falando em linguagem, é importante destacar que ela é elemento que compõe a cultura de um
grupo social, pois ela reflete o modo de ser e de pensar dele. Dito de outro modo, é a forma de
um grupo social produzir/atribuir/dar sentido a alguma coisa. Por ser resultado de uma produção
social, a nossa linguagem também carrega ideologias que assimilamos em nossa sociedade. E o
que é ideologia? De acordo com a filósofa Marilena Chauí, é o conjunto de representações (idéias e
valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade;
o que devem pensar e como devem pensar; o que devem valorizar e como devem valorizar; o que
devem sentir e como devem sentir; o que devem fazer e como devem fazer.
É assim que, por meio de expressões que usamos, assimilamos valores e idéias que determinam
por exemplo, cores “boas” e cores “ruins”. Dizemos, por exemplo: “A situação está preta”; “Isto vai
denegrir a minha imagem”; “Meu coração era preto; encontrei Jesus e ele se tornou branco”. Por que
é a cor preta que indica o que é ruim? Daí, também passamos à classificação de pessoas, como em
“Neguinho não sabe o que faz”; “Não faz besteira. Isto é coisa de preto”. Por meio da linguagem,
também determinamos que o gênero masculino é superior ao feminino, como por exemplo, quando
se diz: “Deus enviou seu filho para salvar o homem dos seus pecados”; “Quero que todos que estão
aqui, na igreja, compreendam que somos uma comunidade de irmãos”; “Parabéns, alunos do Curso
de Teologia, pelo esforço para estudar”. Por que é o masculino que determina o que é genérico
ou coletivo? Ainda, com as palavras, determinamos quem é socialmente aceitável, como em: “Os

74
Universidade Metodista de São Paulo
precisam de que se abram vagas de empregos
para eles” ; “Arrume este quarto, menina, parece
uma favela!”. Com estas reflexões, levantamos
a necessidade de interpretarmos criticamente a
nossa linguagem e a transformarmos para que _________________________________________
ela adquira uma dimensão mais inclusiva. Com
a nossa linguagem podemos ser excludentes e _________________________________________
reforçar preconceitos e discriminações, ainda
que de forma inconsciente. Claro! É assim que a _________________________________________
ideologia funciona. _________________________________________

_________________________________________
O processo da comunicação
_________________________________________
A partir da compreensão das formas de
comunicar e de construção da linguagem, _________________________________________
podemos identificar tipos de comunicação
(intrapessoal, interpessoal e social) e o processo _________________________________________
como esta comunicação acontece. “Alguém
emite uma mensagem para alguém” seria a _________________________________________
concepção básica desse processo. No entanto,
_________________________________________
outros elementos se fazem necessários para uma
compreensão mais profunda do processo que _________________________________________
envolve o ato de comunicar: em que contexto
acontece o processo? qual é o repertório utilizado _________________________________________
nesta comunicação? como a mensagem foi
_________________________________________
articulada? (a codificação); qual é o meio utilizado
para fazer a mensagem chegar ao receptor? _________________________________________
(o canal); como a mensagem é recebida? (a
decodificação); há problemas que envolvem o _________________________________________
ato de comunicar? (o ruído); qual é o retorno
oferecido pelo receptor? (o feedback). Se a _________________________________________
comunicação é desenvolvida na perspectiva
_________________________________________
da comunhão, do diálogo e da interação, esses
elementos devem ser levados em conta, em toda _________________________________________
a sua complexidade.
_________________________________________

Abordagem teológica _________________________________________


No campo da teologia, podemos desenvolver _________________________________________
uma leitura dessa mesma compreensão de comu-
nicação: o ser humano é comunicação porque
Deus o criou com tal dom. Na narrativa da Criação, registrada em Gênesis 2.18, lemos: “Não é bom
que o homem viva só...”. O termo original, do hebraico, que no português é normalmente
traduzido como “homem” é Adam, que, na verdade, quer dizer muito mais do que
“homem”. Adam significa “o ser humano”, “a pessoa humana”.
Com isso, podemos ter uma perspectiva muito mais ampla do
O ser humano sentido da Criação: Deus criou o ser humano para viver junto, não
em solidão, portanto, deu-lhe o dom da comunicação para que
é comunicação houvesse comunhão, integração e cooperação.
porque Deus o criou
Dessa forma, é possível afirmar que comunicaçõ é dom de Deus,
com tal dom. e que ninguém existe para viver sozinho, daí a necessidade

75
www.metodista.br/ead
de comunicar. O ser humano é comunicação, por
isso precisa do outro. Sem o outro o ser humano
não é. O contrário disso é comunicação aparente,
superficial, ou mesmo incomunicação, como
preferem alguns. A ação pastoral que leva em conta _________________________________________
esses aspectos não se concentra nem se esgota na
palavra, nem nos gestos, nem nas imagens, e busca, _________________________________________
acima de tudo, o desejo de Deus, de que sua Criação
experimente o diálogo e a comunhão. _________________________________________

_________________________________________
Meios de comunicação e religião _________________________________________
Um dos grandes fenômenos no Brasil de
_________________________________________
hoje é a intensa presença dos grupos religiosos
nos meios de comunicação eletrônicos. Desde _________________________________________
o advento da eletrônica no século XIX, as
diferentes igrejas já procuraram colocar a mídia _________________________________________
a seu serviço. Não pode restar dúvida de que
a presença nos meios de comunicação é hoje, _________________________________________
na era da eletrônica, importante para qualquer
_________________________________________
grupo social, religioso ou não, que queira tornar
públicas suas propostas e mensagens. Porém, _________________________________________
o desafio que se coloca aos cristãos e cristãs
de hoje, em especial no Brasil, é responder à _________________________________________
pergunta: Para que estar presente na mídia? Com
_________________________________________
quais valores e objetivos? O aprofundamento
dessa reflexão é importante para pensar uma
ação pastoral comprometida com a dimensão
teológica da comunicação que está exposta acima.

Referências
BORDENAVE, JUAN E. DÍAZ. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1991.(Col. Primeiros Passos).

Bibliografia complementar
ASSMANN, HUGO. A Igreja eletrônica e seu impacto na América Latina. Petropólis: Vozes, 1986.
BABIN, PIERRE. A era da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1989.
CUNHA, MAGALI DO NASCIMENTO. O crescimento do marketing evangélico no Brasil – resultado da
inserção da doutrina neoliberal no discurso religioso das igrejas evangélicas. Comunicação &
Política. Rio de Janeiro: Cebela, n.s., v. VI, n. 2 e 3, p. 63-133.
CUNHA, MAGALI DO NASCIMENTO. A influência da ideologia neoliberal na religiosidade evangélica.
Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 7, n. 10, p. 9-30, 2002.
CUNHA, MAGALI DO NASCIMENTO. A vida e a missão da Igreja Metodista (1987-1997): uma tentativa
de avaliação. In: CASTRO, Clóvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma nova
Igreja: dons e ministérios em debate. São Bernardo do Campo: Editeo, 2001.
DIEZ, FELICÍSIMO MARTINEZ. Teologia da Comunicação. São Paulo: Paulinas, 1997.
KELLNER, DOUGLAS. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno
e o pós moderno. Bauru: Edusc, 2001.
MORAN, JOSÉ MANUEL. Mudanças na comunicação pessoal. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2000.

76
Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral

Módulo

Técnicas básicas de
expressão oral

Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha

Objetivos:
Fornecer orientações aos estudantes sobre
técnicas de comunicação oral com vistas
a uma comunicação eficaz, com ênfase no
volume, no tom, no gestual e na pronúncia;
Identificar e indicar correção para os erros
comuns de vocabulário no processo de
comunicação oral.

Palavras-chave:
Comunicação verbal oral, comunicação não-
verbal, pronúncia, vocabulário.

www.metodista.br/ead
Uma das formas de comunicação mais utilizadas na ação pastoral é a expressão oral. Vamos nos
dedicar nesta etapa a este tema e é bom ressaltarmos, desde já, que expressão oral não significa
apenas falar, exprimir corretamente e articuladamente as palavras por meio da voz mas um conjunto
de formas combinadas.

Volume, tom e gestual


Quando nos expressamos oralmente, usamos a voz que precisa de recursos como volume e
tom. Usamos ainda elementos de reforço à comunicação como os gestos e a expressão facial. Para
comunicarmos bem, precisamos desenvolver formas eficazes de utilizar esses recursos, e pensar em
outros como os materiais visuais que auxiliam a expressão oral.Com isso estaremos trabalhando para
que nossa comunicação contribua e não atrapalhe a nossa ação.
Para começar, é preciso atentar para o seguinte:
• Quem fala em público tem que se preocupar com o volume da emissão vocal e para
a entonação das frases.
• Quem fala em público deve saber jogar, adequadamente com os gestos do corpo,
dos braços, das mãos, e com a fisionomia.
Estes recursos físicos, que já possuímos a priori, podem facilitar a comunicação oral quando bem
empregados, mas podem se transformar em pesadelo e destruir nosso contato com as pessoas. Isto
aliado aos fenômenos psíquicos da simpatia e da antipatia. Há ainda a necessidade de prender a
atenção e de se levar em conta as características do local (contexto e repertório) e dos meios (canais
e possíveis ruídos) por onde acontece a comunicação.
O equilíbrio do volume, da tonalidade e o bom uso dos gestos e da fisionomia são aspectos para
as quais devemos dar amplo valor para que possamos comunicar bem com as pessoas com quem
vamos desenvolver a ação pastoral.

A pronúncia
Outro elemento importante na expressão oral é o cuidado com
a pronúncia. Uma boa pronúncia das palavras implica em usar a
Quem se preocupa
acentuação tônica correta e na atenção às terminações como o “r”
e o “s”. Quem se preocupa em pronunciar bem as palavras e frases, em pronunciar bem as
cuida também da velocidade da exposição oral: pessoas que falam palavras e frases, cuida
muito rápido muitas vezes atropelam-se nas palavras, o que causa também da velocidade
sérios ruídos na comunicação. Por outro lado, uma fala lenta e da exposição oral
muito pausada, cansa os ouvintes. É preciso equilibrar a velocidade.
Há exercícios de pronúncia que são realizados freqüentemente
por todos os profissionais que têm a fala como ferramenta e podem ser utilizados na
prática pastoral. Da mesma forma há cuidados físicos a serem tomados: com
o aparelho fonador, a respiração e com a ingestão de alimentos e líquidos
apropriados para estimularem um bom uso da voz.

‘‘...pessoas que falam muito O vocabulário


rápido atropelam-se nas Preocupar-se com a expressão oral eficaz é
palavras, mas por outro lado também dedicar atenção ao vocabulário. Atentar
para o vocabulário significa usar corretamente
uma fala muito lenta e pausada, as palavras e expressões e construir boas
cansa os ouvintes...’’ frases, evitando erros comuns como falta de
concordância verbal e nominal, o uso equivocado
78
Universidade Metodista de São Paulo
de pronomes, a atribuição de significados que não correspondem
ao sentido da palavra, os modismos, os gerundismos, os
coloquialismos, os estrangeirismos, as redundâncias. Dedicar
atenção ao vocabulário é elemento fundamental para que um/a
orador/a adquira credibilidade e respeitabilidade. Atentar para o
vocabulário
A leitura oral significa usar
corretamente as
Outro aspecto significativo para quem trabalha com igrejas,
grupos religiosos ou similares é a leitura oral. Na ação pastoral há
palavras e
dois tipos de leitura em público, no caso das celebrações religiosas: expressões...
aquela que faz parte do conteúdo de uma apresentação, como as
leituras bíblicas, as antifônicas (litanias), os anúncios outros textos
para meditação; e a leitura da própria apresentação
ou do sermão. O problema, na maioria das vezes,
é que, por não se preocupar com a audiência,
quem faz a leitura oral a faz para si próprio/a, _________________________________________
em boa parte das situações, burocraticamente e
mecanicamente, e transforma a leitura em pública
_________________________________________
em uma das atividades mais desagradáveis (para _________________________________________
não dizer “chatas”) da comunicação, que perde
apenas para a fala decorada. _________________________________________
Quem não sabe ler em público, não sabe porque: _________________________________________
teve poucas oportunidades de praticar, não se
preocupa com o público e nem com a capacidade _________________________________________
que o texto que foi escrito tem de comunicar.
_________________________________________
Para comunicar bem, ao se fazer uma leitura
em voz audível, é preciso atentar para o tom _________________________________________
e o volume da voz, o gestual, a fisionomia, a
velocidade da leitura, a pronúncia, da mesma _________________________________________
forma que na expressão espontânea.
_________________________________________

_________________________________________
Base fundamental
Além de tudo isso que merece a nossa _________________________________________
atenção para uma boa apresentação em público,
_________________________________________
há três elementos fundamentais e que estão na
base de qualquer técnica de expressão oral: _________________________________________
• Não falar sem conhecer o assunto.
Nesse caso, já se começa com _________________________________________
insegurança. Ao receber um convite _________________________________________
para falar para um determinado
grupo sobre determinado tema _________________________________________
e não se dominar o assunto, é
melhor recusar o convite do que _________________________________________
sofrer as conseqüências da decisão
_________________________________________
de aceitar.
• Não falar sem ter um mínimo de _________________________________________
informação sobre os ouvintes.
Mesmo dominando-se um tema, _________________________________________

79
www.metodista.br/ead
• ele não deve ser apresentado da mesma forma para contextos e públicos diferentes. O
conhecimento do nível intelectual do público, do nível do conhecimento do assunto, da
faixa etária e do gênero predominantes são essenciais para uma comunicação eficaz.
• Cuidar da apresentação visual. A vestimenta é importante instrumento de comunicação
não-verbal: ela pode dizer muito de quem se apresenta em público e, de acordo com o
contexto da apresentação, pode contribuir para captar a atenção dos/as ouvintes para
o assunto ou criar rejeição.
Na ação pastoral, respeitabilidade e credibilidade são requisitos básicos para um líder,
o que exige uma apresentação visual que expresse asseio, sobriedade e elegância, sem
exageros para mais ou para menos. Combinação
de cores, comprimento de mangas, calças
compridas e saias merecem atenção redobrada.
Para os homens, o cuidado com a cor das _________________________________________
meias, das gravatas e com o corte do cabelo
e da barba é importante. Para as mulheres,
_________________________________________
evitar decotes, acessórios grandes (brincos e _________________________________________
colares) e maquiagem carregada é fundamental.
Esses itens aqui mencionados podem, com _________________________________________
uso incorreto, transformar-se no objeto de
atenção da audiência, deixando o conteúdo, _________________________________________
que deve ser o destaque, em último plano. Um
_________________________________________
modelo para quem se apresenta em público em
igrejas, grupos religiosos e similares é o visual _________________________________________
de apresentadores/as dos principais telejornais
– buscam respeitabilidade e credibilidade e _________________________________________
para tal expõem-se com um visual sóbrio e
elegante. Claro que há situações no contexto
_________________________________________
da ação pastoral que expressam informalidade _________________________________________
e não exigem visual formal e sóbrio, o que não
descarta as indicações acima, pois mesmo na _________________________________________
informalidade, lideranças religiosas precisam de
credibilidade e respeitabilidade. _________________________________________

_________________________________________

_________________________________________

Referências
CÂMARA JR, J. MATTOSO. Manual de Expressão Oral e Escrita. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1986
POLITO, REINALDO. Assim é que se fala. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2004
HALLIDAY, TEREZA LÚCIA. O que é retórica. São Paulo: Brasiliense, 1990. Coleção Primeiros Passos.
PROFESSOR REINALDO POLITO (Como Falar em Público): http://www.polito.com.br
FALAR EM PÚBLICO: http://www.falarempublico.com.br/

80
Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral

Módulo

Metodologia Científica I
Técnicas básicas de
expressão
e escrita
Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha

Objetivos:
Fornecer orientações aos estudantes
sobre técnicas de comunicação escrita
com vistas a uma comunicação eficaz,
com ênfase nos elementos básicos que
compõem um texto;
Identificar e indicar correção para os
erros comuns de redação para um
bom uso da língua escrita.

Palavras-chave:
Comunicação verbal escrita, redação,
língua portuguesa

www.metodista.br/ead
Uma liderança religiosa, clériga ou leiga, precisa muitas vezes da comunicação escrita em suas
atividades. É freqüentemente demandada a redação de uma carta ou ofício, de material para um
informativo da comunidade ou um artigo ou texto, solicitado muitas vezes por um veículo da localidade
onde atua. O que importa é que quem escreve tem de escrever bem e corretamente, se deseja uma
comunicação eficaz e obter credibilidade e respeitabilidade com o seu trabalho.
Na expressão oral, podemos muitas vezes disfarçar um erro ou mesmo apostar que tal deslize cairá
no esquecimento dos/as ouvintes (o que nunca deve servir de desculpa para que se cometam erros
freqüentes). Na expressão escrita, no entanto, é impossível disfarçar ou apostar no esquecimento: o
material redigido estará sob os olhos de alguém que terá a chance de ler, reler, ler uma terceira vez
e ainda mostrar a outras pessoas.
Portanto, nesta terceira unidade de estudos, vamos nos dedicar ao estudo das noções básicas
para se elaborar textos, inclusive os acadêmicos que serão solicitados pelos professores do Curso
de Teologia. Vamos ainda listar alguns erros comuns de redação e fornecer orientações básicas para
um bom uso da língua escrita.

Banco de imagens
Tipo e forma do texto
Um princípio básico de redação é que
o tipo de texto determina a forma do texto.
Na universidade, por exemplo, os tipos de
textos mais comuns que professores/as e
estudantes desenvolvem são: monografias,
papers, fichamentos, resumos, resenhas, ensaios.
Já na ação pastoral, os mais comuns são as cartas,
os ofícios, as reflexões/meditações, os artigos, os
estudos, os relatórios, os projetos. Cada contexto
tem o próprio público-alvo e o repertório
(vocabulário) que lhe é adequado. Portanto, ao se
redigir um texto é preciso começar com algumas
perguntas: por que e para quem vou escrever?
Qual vai ser o formato do meu texto?
Redação de uma carta ou ofício

O roteiro
Um texto deve ter início, meio e fim e ser redigido com objetividade, sem rodeios (redundâncias).
Para se alcançar este objetivo, uma ação importante é listar os principais tópicos a serem abordados
no texto como ponto de partida para organizar as idéias. Essa pequena providência inicial pode
simplificar o trabalho de redigir. Um roteiro deve conter: assunto, introdução, desenvolvimento e
conclusão.

O título
O título é o cartão de visitas do texto: ele deve resumir o assunto para o/a leitor/a. Quem lê o
título deve ser capaz de entender sobre o quê trata o texto. Um bom título atrai leitores/as. Exemplos:
Em seus passos que faria Jesus; A mosca azul. Já um título ruim pode revelar um
trabalho ruim ou mesmo esconder um bom trabalho. Exemplos: O encontro; Relatório
final. Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana.
Importante: o título é o último elemento a ser redigido em um
O título é o cartão texto porque ele deve refletir o que está escrito (resumir) e não o
de visitas do texto. que vai ser escrito. Começar pelo título é redigir com problemas,
pois o processo pode ficar “engessado” desde o início.
82
Universidade Metodista de São Paulo
Abertura
É um elemento importante do texto que serve para prender o/a leitor/a. Em qualquer texto, o
mais importante é o primeiro parágrafo; no primeiro parágrafo, a primeira frase; na primeira frase,
as primeiras palavras. O segundo parágrafo deve ser a continuação do primeiro com a finalidade de
introduzir o texto e criar no/a leitor/a o desejo de continuar a leitura. A abertura deve conter de dois
a três parágrafos em textos longos e um parágrafo em textos curtos.

Intertítulos
São usados para auxiliar a leitura do texto e torná-lo mais
agradável e menos pesado. É recomendável colocar intertítulos a
Intertítulos:
cada 20 linhas de um texto curto e a cada cinco a sete parágrafos
de um texto longo. O primeiro intertítulo deve, preferencialmente, São usados para
vir logo após a abertura (como recomendamos, ela deve ocupar auxiliar a leitura
os dois primeiros parágrafos). O intertítulo pode ser apenas uma do texto e torná-lo
palavra, uma locução ou mesmo uma frase. Evite apenas que seja mais agradável e
longo, para que a linha não se quebre em duas.
menos pesado.

Parágrafos
Existem para indicar que uma idéia foi exposta e outra será iniciada dentro do mesmo assunto, é,
portanto, uma unidade de pensamento, e serve para facilitar a leitura. Não devem ser tão curtos nem
tão longos. Para um texto longo (acadêmico, por exemplo), os parágrafos devem conter de quatro a
oito linhas cheias de um texto digitado em papel A4. Para um texto curto (carta ou reflexão pastoral, por
exemplo), os parágrafos devem conter de quatro a cinco linhas cheias de um texto digitado
em papel A4. Interligue um ao outro de acordo com o roteiro, mas cuidado: expressões de
ligação devem ser usadas com moderação. Evite
usar uma em cada parágrafo para estabelecer as
conexões. Ao usar, varie as expressões para que
_________________________________________ não fiquem repetitivas. Exemplos de expressões
de ligação de frases e parágrafos: Portanto,
_________________________________________ Entretanto, Não obstante, Nesse caso, Conforme
mencionado anteriormente [acima], Conforme
_________________________________________
visto anteriormente [acima].
_________________________________________

_________________________________________ Frases
_________________________________________ Devem ter uma característica básica: clareza.
Para redigir com clareza, é preciso pensar com
_________________________________________ clareza, em seguida, colocar as idéias na ordem
direta, ou seja, na velha fórmula que sempre facilita
_________________________________________ a redação: sujeito + verbo + complemento. As
frases devem ser curtas. O ponto deve ser usado
_________________________________________
à vontade. Pontos encurtam frases. Facilitam a
_________________________________________ compreensão. Já as vírgulas não devem ser usadas
em excesso, pois provocam confusão e cansaço.
_________________________________________ Quando bem empregadas, contribuem para dar
clareza, precisão e elegância ao texto. Só se deve
_________________________________________ usar palavras necessárias, precisas, específicas,
_________________________________________ concisas, simples. Não se deve dizer nem mais
nem menos do que se quer dizer.
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www.metodista.br/ead
Conclusão
Funciona como fechamento do que foi dito
anteriormente. Como a Abertura, deve ter dois ou
três parágrafos em textos longos e um parágrafo
_________________________________________ em textos curtos.
_________________________________________
Providência imprescindível
_________________________________________
Para um texto estar bem apresentado, é
_________________________________________ preciso que quem redigiu faça uma leitura do que
produziu. Para isso recomenda-se uma leitura e
_________________________________________ três releituras ao final do trabalho: na primeira,
checam-se os conteúdos; na segunda, os erros
_________________________________________
de digitação e grafia; na terceira, eliminam-se
_________________________________________ as repetições; na quarta, corta-se tudo o que for
desnecessário.
_________________________________________

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_________________________________________

_________________________________________ Para redigir com clareza, é


preciso pensar com clareza.
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Referências
CÂMARA JR, J. MATTOSO. Manual de Expressão Oral e Escrita. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA: http://www.planalto.gov.br/legisla.htm
NOVO MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE S. PAULO: http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/
manual_introducao.htm
NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA: http://www2.uol.com.br/linguaportuguesa/

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Universidade Metodista de São Paulo
Comunicação na Ação Pastoral

Módulo

Metodologia Científica II
Comunicação eficaz na
celebração
comunitária da fé
Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha

Objetivos:
Orientar os estudantes sobre princípios
e técnicas para uma comunicação
eficaz nos momentos de celebração
comunitária da fé (liturgias);
Introduzir elementos básicos para
a elaboração de uma liturgia e na
pregação da Palavra (sermão) em
momentos de celebração comunitária
da fé com ênfase na comunicação oral

Palavras-chave:
Liturgia, homilética, comunicação
verbal oral.

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Um dos espaços de maior atuação do pastor e da pastora, e de muitas lideranças leigas, são os
momentos de celebração comunitária da fé, na tradição católico-romana denominados “missas”, e
na tradição evangélica, denominados “cultos”. É um momento que exige, especialmente, uma boa
expressão oral, que, como já estudamos, não significa apenas falar corretamente, mas também
desenvolver eficazmente a comunicação do ponto de vista não-verbal.

Clareza do sentido

Banco de imagens
Para estudarmos técnicas de comunicação
nos momentos de celebração da fé, é preciso
primeiro termos clareza do sentido desses
momentos. O culto ou a missa para ser fiel à
tradição bíblica e teológica dos/as cristãos/ãs tem
de ser: (1) centralizado na presença de Deus; (2)
fundamentado na Palavra de Deus; (3) afirmação
da vida comunitária; (4) oportunidade de
experiência de renovação de vidas; (5) dinâmico
e participativo; (6) um convite à participação na
missão de Deus. Depois, é preciso ter clareza do
sentido do espaço do culto/da missa, o local de
reuniões regulares da comunidade para celebrar a
sua fé. Na tradição cristã, esse espaço é composto
de três elementos: (1) o altar (de onde atuam
os/as celebrantes) – espaço de orientação; (2) o Momentos de celebração comunitária da fé
atrium ou a nave (onde estão localizados/as os/
as participantes) – espaço de missão; (3) o decoro (a ornamentação/decoração) – espaço de beleza.
É preciso ter também clareza sobre o que se realiza no culto e na missa, e, com isso, recorrer ao
sentido do termo liturgia. Esta palavra vem do grego leiturgia que quer dizer “serviço”, “trabalho do
povo”. Na prática cristã, liturgia quer dizer o serviço que prestamos a Deus e ao próximo por meio de
palavras, gestos, símbolos e ritos. Por isso, liturgia é o serviço cúltico a Deus prestado pela comunidade
quando se reúne para celebrar a sua fé. É a liturgia que dá significado e coerência à reunião dos/
as fiéis. Na tradição cristã, a inspiração para os momentos litúrgicos vem do texto de Isaías 6 1-8:
adoração (v. 3-4); confissão (v. 5-7); louvor e ação de graças (pelo amor e pelo perdão e por todas as
bênçãos alcançadas); edificação (ênfase no caráter profético da comunidade; a Palavra); intercessão
(apresentação dos sofrimentos, das dores e das necessidades); envio (v. 8).

Um tema comunica bem


Para uma boa comunicação nos momentos de celebração da fé, é importante que se atribua
um sentido à liturgia (um tema), para que tudo o que for realizado aconteça em função dele. Os
cultos/as missas podem ser: regulares (as celebrações freqüentes, geralmente dominicais); especiais
(relacionados a datas do calendário cristão, como Páscoa, Natal, ou a momentos específicos de ações
de graças, como aniversários, bodas, ou de evangelismo). Na escolha do tema, portanto, deve-se
levar em conta essas características, que precisam nortear as leituras que serão feitas, as palavras
que serão pronunciadas e as canções que serão cantadas.

Linguagens
No culto/missa são várias as linguagens desenvolvidas. A linguagem falada é normalmente
trabalhada na direção/orientação da liturgia; na pregação da Palavra (sermão/homilia/meditação); na
realização dos rituais (eucaristia, batismos, outros); nas orações em voz audível; nas leituras bíblicas
e outras leituras audíveis; nos anúncios; nas comunicações diversas; nas palavras de saudação; nos
depoimentos e testemunhos. Utilizar as técnicas de expressão oral que estudamos é imprescindível
para uma boa comunicação nesses momentos.
86
Universidade Metodista de São Paulo
A linguagem visual é geralmente desenvolvida
em dois formatos: visual simbólica, por meio
das cores, dos ícones, dos objetos, dos gestos;
visual ilustrativa, por meio da decoração, dos
_________________________________________ audiovisuais, dos cartazes, das coreografias. O
espaço do culto/missa, como já mencionamos,
_________________________________________ tem um sentido, portanto, tem uma linguagem.
No altar fica a mesa fixa, podendo também ser
_________________________________________ móvel, destinada à celebração eucarística. É o
_________________________________________ espaço mais importante da comunidade de fé,
de onde atuam os celebrantes (pastores/padres/
_________________________________________ sacerdotes) e de onde se renova o sacrifício
redentor de Cristo. O que se coloca no altar
_________________________________________ representa, portanto, o que é mais importante
para a tradição de uma comunidade de fé.
_________________________________________
A localização dos objetos no altar também tem
_________________________________________ uma mensagem sobre como o grupo crê. Em
alguns templos, por exemplo, vamos encontrar
_________________________________________
o púlpito (espaço de onde se faz a pregação
_________________________________________ da Palavra) no centro do altar e a mesa da
eucaristia, atrás dele ou ao lado, o que significa
_________________________________________ que a pregação da Palavra é o mais importante
no momento celebrativo. Em outros, já vamos
encontrar a mesa no centro e o púlpito ao lado
dela ou mesmo fora do altar, o que indica que a eucaristia é o momento mais significativo para
a celebração da fé. Em algumas comunidades, podemos perceber a localização de instrumentos
musicais no altar ao lado da mesa da eucaristia e do púlpito, o que comunica que a música tem tanta
importância religiosa quanto a eucaristia e a pregação da palavra.
Vale ressaltar que a linguagem visual, mais do que as palavras, provoca sentimentos e motiva
atitudes. Estudos no campo da psicologia demonstram que uma pessoa memoriza: 10 a 15% do que
ouve; 30 a 35% do que vê; 50 a 60% do que ouve e vê ao mesmo tempo. Portanto, a utilização de
recursos visuais aliados aos orais contribuirá para uma comunicação mais eficaz no culto.
A linguagem musical aparece nos momentos de celebração da fé por meio da música instrumental
e da música cantada coletivamente ou por meio de apresentações. Para que a música comunique
bem, é preciso distribuir as canções pela liturgia, atribuindo-lhes sentido e coerência com cada
momento proposto.
Na liturgia, há também a linguagem do silêncio. É importante lembrarmos que o silêncio é forma
de comunicação de muitas culturas, inclusive a judaico-cristã. Nessa tradição, o silêncio existe para:
interiorizar o que se ouve ou a experiência vivida, valorizar a audição (ouvir), intensificar a expressão
(pausa, ruptura que chama a atenção para alguma coisa), simbolizar respeito. Ele pode acontecer: nos
atos de confissão/contrição; antes das orações comunitárias; depois de leituras bíblicas
e mensagens; depois da eucaristia.

Referências
ROMERO, PEDRO. Comunicação e Vida Comunitária. São Paulo: Paulinas, 2002. (Col. Carisma
e Missão).
TEIXEIRA, NEREU DE CASTRO. Comunicação na Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003.
VV.AA. Mosaico Apoio Pastoral São Bernardo do Campo: Editeo, Ano 12, n. 31. jun./ago. 2004.

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