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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

MESTRADO PROFISSIONAL EM ARTES-PROFARTES

DISCIPLINA: HISTÓRIAS DE VIDA E PRAXIOLOGIA E FORMAÇÃO DO


HABITUS DOCENTE

PROFESSOR DR. LUIZ BOTELHO

“NÃO SEI, SÓ SEI QUE FOI ASSIM”.

MARIA JOSÉ GOMES DA SILVA

CAMOCIM-CE

2018
Para início de conversa...

O corte do cordão umbilical materno foi realizado, quando eu decidi está numa
sala de aula, inicialmente para ter um pouco de liberdade, e estando longe dos olhos da
mamãe, isso seria possível. A saída encontrada, foi a melhor possível, digo isso de
acordo com os relatos dos meus alunos, pois sempre me reencontro com eles e a
felicidade é imensa em saber que pude contribuir com alguma coisa boa em suas vidas.
Mas, como uma criança se tornou tão prematuramente numa professora? E como era a
escola nesta época? Como estava organizado o currículo escolar? E, será que eu,
realmente, sabia sobre o que os estudantes precisavam saber? Quais os aspectos e
dimensões precisavam ser relevantes? Éticos, políticos, culturais ou unicamente os
intelectuais? O que eu estaria preparando para o futuro? Muitas dúvidas caíam sobre a
minha cabeça e de meus colegas também, quer dizer, de alguns, pois grande maioria
nem se davam conta destas questões.

Hoje, muitas dúvidas foram esclarecidas, principalmente nos debates do


mestrado, pois estudando os artigos de David Hamilton, os termos classe, didática,
currículo e escolarização ficam bem esclarecidos. Sendo que para ele: “O termo
currículo surgiu na confluência de diversos movimentos sociais e ideológicos.
Primeiramente sob a influência das revisões de Ramus, o ensino de dialética ofereceu
uma pedagogia geral aplicável a todas as áreas de aprendizagem. Em segundo lugar, a
revisão de Ramus a respeito da organização do ensino e da aprendizagem estava em
consonância com as aspirações disciplinares do Calvinismo”. Sendo que, em outros
artigos estudados, recentemente na academia me deparei com outras reflexões, que me
fizeram voltar ao início da minha docência, como por exemplo? Como um currículo
pode observar as subjetividades? Era isso que eu procurava no passado, mas não sabia
expressar.

Portanto, foi então que eu me dei conta que a sala de aula é mesmo o nosso
espaço, para o qual devemos propor e disseminar este currículo. Pois podemos legitimar
o novo, mesmo diante das circunstâncias das artimanhas da razão imperialista, como tão
bem teorizou Boudieu.
Diante desta visão, considero e me atrevo a revalidar o movimento sócio-
educativo das histórias de vida como sustentáculo para a transformação social do
homem. Tendo em vista a importância das pessoas se narrarem para se reconhecerem,
conforme os níveis apresentados pela francesa Martine Lani-Bayle.

E assim, estou sendo embalada nesta nova maneira de ver, sentir e agir diante
das diferentes epistemologias. Procurando me apropriar destes saberes como ferramenta
de desmonte, face ao poder curricular e construí-lo de outra maneira.

Quando eu tinha sete anos... Só risos!

O Pé de Pavão

Mariazinha brincava com suas amigas na sala de sua casa quando, de repente, avistou
um jarro com penas de pavão, que sua mãe acabara de colocar. E perguntou:

-Que tipo de flores são essas mamãe? A mãe respondeu:

-De pavão.

No dia seguinte, quando sua mãe foi agoar o canteiro de verduras, ao invés de cebolas, a
mãe foi surpreendida com o plantio de penas de pavão. E, logo gritou:

-Mariazinhaaaa! Venha cá sua danada! Onde estão minhas cebolas? O que estas penas
de pavão fazem aqui?

E a menina sem graça respondeu!

-É pra nascer pavãozinhos!

Histórias como esta fizeram parte da minha infância desde muito cedo. Mamãe
dizia que eu era muito esperta, mas também inocente demais. Na escola meus colegas
caçoavam de mim, simplesmente por ser tagarela e estrábica. Eles me chamavam de
zanoia, virolha, e muitos outros apelidos que nem gosto de lembrar. Eu nunca brigava,
revidava ou coisa parecida. Sempre tranquila, depois eles esqueciam e paravam.

Uma adolescência adulta. Como pode?


E como pode! Meus pais eram muito protetores, ou talvez “caxias” demais.
Sendo que eu passei da infância para a idade adulta ainda criança. Não sei como, só sei
que foi assim. Como diz o personagem Chicó de Ariano Suassuna. Porém, acredito que
tenha alguma explicação para tamanha proteção. No entanto, arranjei um artimanha para
sair debaixo da saia de mamãe. Bem! Pedi para minha irmã mais velha, professora de
educação infantil, para acompanhá-la à escola. E deu certo, do jeitinho que eu havia
planejado.

Assim, ela me levou uma vez, depois outra, e mais outra. Foi então que eu
agarrei a oportunidade e ajudei ela com as crianças naquilo que era possível. Segundo o
relato da diretora da instituição, eu levava jeito pra cuidar de criança. Olha o sentido da
educação infantil à época. O fato é que neste mesmo ano eu já fui convidada para
assumir uma turminha, pois a professora titular havia desistido. Estávamos no ano de
1994, eu tinha apenas 13 anos, a LDB nº 9293/96 ainda nem existia, o sistema de ensino
era um caos, quase não existia financiamento para educação. Quanto ao salário dos
professores, este era vergonhoso, ainda é, mas o dinheiro que recebia na matrícula
ampliada de minha irmã, pois eu não tinha registro pelo fato de ser menor de 18 anos,
esse não dava para comprar um calça jeans.

Seguindo adiante, o que me deixava lá, presa na sala de aula, não era o popular
“papel bordado” era a liberdade que esta me proporcionava. Tive o prazer de conhecer
muitas histórias, muitos sentimentos, acompanhar o crescimento da escola como um
todo. E isso tudo foi de grande valor simbólico para o meu crescimento como cidadã e
como agente de transformação social.

Quanto à minha prática docente, eu tinha apenas duas certeza. A primeira era
que eu não iria ensinar meus alunos igual como eu fui ensinada e a segunda era que eu
precisava fazer o melhor para todos, pois todos tinham o direito de aprender dentro do
seu ritmo.

Em casa, mamãe não gostou muito da ideia, mas como eu estava acompanhada
de minha irmã, ela teve que ceder e me apoiou incondicionalmente, porque percebeu
que ali era o meu lugar. A maturidade chegou e fui deixando a meninice, assumindo
uma postura diferente. Desta feita, eu já havia me tornado uma professora com todos os
predicados que me eram de direito.

Como a música entrou na minha vida...

Rememorar a minha infância e adolescência, me faz mergulhar num turbilhão de


notas musicais, melodias, letras e palavras, muitas palavras cantadas por mamãe, que
também tocava sanfona e pela minha professora da 1ª série do antigo primário. Tinha
apenas 6 anos e me encantava com tudo que ouvia e aprendia, em casa e na escola. Fui
tomando gosto pela música, cantarolava aqui, acolá, quando dei por mim, já estava
compondo a fanfarra da escola, tocando corneta, tarol e bumbo nas festividades cívicas
do município. Não parou por aí, pois sem nenhum conhecimento técnico, montei um
coral com os meus alunos, logo que comecei a lecionar, quando tinha apenas 14 anos de
idade.

Na Academia...

Aos 16 anos passei no vestibular para Pedagogia, não entendia muito bem o
grande valor do curso, mas sabia que para resolver os problemas da minha profissão era
preciso beber na fonte. Ainda que esta ficasse há duas horas e 30 minutos de distância
da minha cidade. Isso mesmo, todos os dias pegava o ônibus universitário e ia pra aula
em Sobral. Muitas aventuras pra contar, travessuras também, um misto de tudo que se
possa imaginar.
No que se refere às aprendizagens, posso dizer que aprendi muito sobre um
currículo que eu conhecia muito bem dos tempos de escola primária. Entretanto,
acreditava que lá seria diferente. Acreditava que eu ia encontrar a fórmula mágica para
resolver os problemas da escola, com isso os problemas dos meus pupilos e, é claro! Os
meus também, enquanto professora. O que tive foi surpresa e desolação! Ah! Se
tivéssemos naquela época a tecnologia da informação e comunicação que temos hoje.
Tudo teria sido diferente. Será que teria mesmo?
Depois da primeira graduação, veio a segunda, em Letras, em seguida
especialização em Psicopedagogia e Gestão Escolar. Esta última, me fez alçar vôos mais
altos, nos sentido de ter uma visão crítica sobre o sistema educacional do nosso país.
O nascimento de projetos...

As ideias ganharam formas, cores e sons. Muitos projetos didático-pedagógicos


foram surgindo, a partir do diagnóstico inicial de cada turma. Recitais litero-musicais,
onde meus alunos eram os protagonistas de sua aprendizagem. Sequências didáticas
foram trabalhadas, sem que eu ainda soubesse teoricamente o que era isso. Eu só traçava
as metas de aprendizagem, combinava com as crianças sobre como as atividades seriam
executadas, com o auxílio das canções, é claro! Na maioria das vezes, produzíamos
juntos paródias, para facilitar a compreensão de um determinado conteúdo didático.
A velha máxima, como tudo termina em pizza, comigo na sala de aula,
principalmente, tudo terminava em história e muita música. Isso virou até piada em
algumas ocasiões, por exemplo, me perguntavam se eu era professora ou cantora. Se eu
levava o conteúdo a sério, porque ouviam mais música do que leitura ou outra coisa
qualquer. Às vezes eu me chateava, mas o que mais me importava era que, quando eu
avaliava os meus alunos, eles estavam aprendendo. Ou seja, minha metodologia de
letramento musical estava funcionando. E, isso, pra mim era o mais importante.

Conquistas...

Quando alcancei a maior idade, passei em concurso público municipal para


professora polivalente, ministrando em especial as disciplinas de Língua Portuguesa e
Artes. Era o ano de 1998 e, o maestro Maestro Miguel, da Banda Lira, uma fanfarra de
metal, centenária em Camocim, resolveu montar um coral composto por professores,
chamado de A voz do Mestre. Eu estava lá, foram muitas as apresentações, muitos
aplausos. Como diz o ditado, tudo que é bom dura pouco. Nosso coral parou acabou,
restando apenas o que aprendemos com o nosso técnico e as boas memórias de outrora.

Uma pausa para os obstáculos e novos desafios...


O tempo passou e junto com ele, o meu estímulo em trabalhar com os meus
aprendentes de uma forma diferente, ou seja, ensinando através da musicalização. Pois
foram muitos os obstáculos encontrados e não encontrava a parceria de uma gestão
compartilhada e participativa, isto é, uma andorinha só não faz verão, já diz o ditado
popular. Fui me desmotivando, apareceram outras oportunidades e, saí por quase uma
década da gestão de sala de aula. Quer dizer, não estava no exercício da função de
professora, pois atuei como gestora à frente de algumas instituições escolares. Período
em que aprendi e tive um olhar diferenciado para a comunidade escolar como um todo.
Procurei desenvolver uma gestão democrática e participativa, de acordo com os
princípios da CF 88 e da LDB, contudo muitos desafios encontrados. Decidi buscar
mais aperfeiçoamento acadêmico. Foi quando fiz Especialização em Gestão e Avaliação
da Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Sem perder o foco, e o gosto pela didática musicada, ministrava aulas de
Folclore Musical em cursos de graduação. Fazia ciclos de Contação de Estórias para
crianças na ONG do bairro da Boa Esperança. Era uma forma de não perder a minha
essência e me manter fiel naquilo que eu defendia e acreditava, mesmo que os ventos às
vezes não soprassem a meu favor.

De volta ao túnel do tempo...Rapidinho!

Nossa! Como é bom essa visita ao túnel do tempo. Lembro-me que participava
de todos os shows de calouros promovidos na cidade, onde interpretava canções da
MPB e paródias de minha composição. Não cheguei a vencer nenhum, mais tarde
conclui que meu sucesso não era com uma plateia e/ou um público grandioso. Era mais
que isso, era no fazer pedagógico que eu podia fazer o diferencial, colocando meus
alunos no pódio da aprendizagem.

Me emociono sempre quando as crianças me pedem para cantar, quer dizer,


contar o clássico da Formiguinha e a Neve, adaptação do escritor Braguinha, e também
quando a preferida é solicitada pelas crianças, A Árvore Generosa, de Shel Silvestein.
As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Clássicos mais que perfeitos para
serem contados e causarem além do encantamento a mudança no modo de ser de cada
sujeito.

Um passando de ontem...

De volta ao passado bem próximo do presente em que vivo, construí uma


identidade artística, criei personagens para dar mais sabor às minhas contações de
estórias em sala de aula e em eventos aos quais eu era convidada a participar. Minha
cabeça borbulhava de ideias, comecei a escrever histórias para o público infanto-juvenil,
todas são musicadas, até mesmo as que não trazem o tradicional final feliz, são regadas
a muita música.

E como contadora e/ou cantora de histórias em Fevereiro de 2017 fui agraciada


com a cadeira nº 24 da Academia Camocinense de Ciências Artes e Letras (ACCAL),
sendo membro titular, a primeira e até o momento, a única a camocinense a ter esse tipo
de trabalho, ou seja, uma atividade literária voltada para o público infanto-juvenil que
agrega além de valores um caráter literopedagógico. Atualmente, faço parte da diretoria
da ACCAL, exercendo o cargo de diretora de eventos e, estamos promovendo na cidade
e municípios vizinhos a Academia Itinerante, como forma de disseminar e valorizar as
manifestações literárias, a Arte e a Cultura.

Considero um trabalho que não tem sido fácil, porque não contamos com o
apoio do poder público e quase não temos recursos próprios, entretanto a sede de levar a
mensagem da Academia e as experiências compartilhadas nos motivam a não
desistirmos do projeto. É como se plantássemos uma semente num deserto árido de
cultura. Um dia alcançaremos frutos. Juntos trabalhamos em prol do crescimento
artístico e cultural de crianças, jovens e adultos que não sabem ainda o verdadeiro
sentido dessas palavras. Ressalto, porém, que estamos com a agenda lotada até o final
do ano. Entre as atividades estão: lançamento de livros de escritores locais, Café
cultural, Recital de Poesias, Colóquios, Palestras, oficinas de artesanato, Canto coral,
contação de histórias e muito mais.

No lar...

Em casa, sou uma mãe relapsa em alguns pontos, pois não sou perfeita, é claro!
E nem mesmo tenho essa pretensão. Mas sempre embalei meus dois filhos com canções
e histórias. Isso os acalmava, o sono chegava, técnica infalível, sempre funcionou. A
mais velha, hoje com 17 anos, foi meu laboratório, experimentava primeiro com ela
muitas atividades que iria desenvolver em sala de aula. Se ela gostava, sabia que
realmente estava bom. Porém, se ela ficava me entreolhando com aqueles olhos azuis, é
porque não estava legal, precisava de reparo. Já com o meu filho caçula, ele é a
sinceridade em pessoa, quando treino minhas composições musicais para agregar à
contação de histórias, ele vai logo dizendo como ele gostaria que tivesse, numa
sinceridade só. Ficamos muitas vezes juntos, nós três, eu, ele, e o espelho, treinado
durante horas, até tudo sair, conforme planejado.

E agora, Mazé ?

De volta às origens, atualmente ministro a disciplina de Artes nas séries


terminais do Ensino Fundamental, numa escola da rede pública municipal de ensino,
situada num bairro periférico da cidade, onde as famílias vivem em situação de
vulnerabilidade social. Desafio ímpar, tentar através da arte, causar encantamento e
motivação para que essas crianças e jovens vejam uma vantagem nos estudos e
consolidem as habilidades para aquela disciplina e para a vida. Também, continuo com
o trabalho de promover formação continuada para professores de Língua Portuguesa
com ênfase na literatura e formação do leitor.

Foi então, que surgiu a oportunidade de me inscrever para a seleção do mestrado


Profartes. E assim foi, depois da inscrição todo o processo que acabou dando certo.
Após me matricular no curso, tive o prazer de estudar a disciplina de Histórias de vida e
praxiliologia, ministrada pelo grande mestre Professor doutor Luiz Botelho, um jovem
de melhor idade com um conhecimento incrível e uma visão futurista e humanística.
Um ser humano sensível, carismático e compreensivo, aquele tipo de gente que não
estamos acostumados a conviver todos os dias.

Foi então, que aprendi a pensar num currículo reintegrado/ ampliado que
dialogue com os diferentes saberes. Numa tentativa de construir juntos na perspectiva
do diálogo para manter as formas de vida do planeta, partilhando assim, essa capacidade
de aprendermos com todos os seres. É esta a verdadeira essência da nossa existência.
Saber que precisamos do outro e com ele podemos reconstruir novas histórias.

REFERÊNCIAS BIBLIÓGRÁFICAS

HAMILTON, David. Sobre as Origens dos termos Classe e Curriculum. Teoria &
Educação. Porto Alegre: n. 6, p. 33-52, 1992.
BOURDIEU. Pierre; WACQUANT, Loic. Sobre as Artimanhas da Razão
Imperialista. Estud. Afro-asiát.,Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, 2002.

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