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Indicações bibliográficas:
• Manuais: “Manual de Processo Civil Vol. Único”, Daniel Amorim Assumpção Neves;
“Processo Civil”, Humberto Theodoro Jr.; “Curso de Processo Civil”, Fredie Didier; “O Novo
Processo Civil Brasileiro Vol. Único”, Alexandre Câmara; “Processo Civil Vol. Único”,
Cássio Scarpinella Bueno;
• Códigos Comentados: “Código Processual Civil Comentado”, Daniel Amorim Assumpção
Neves; Marinoni.
Palavras-chave:
• Jurisdição;
ARBITRAGEM
Para chegar a ideia de que estaríamos diante de jurisdição privada, essa doutrina se utiliza
de dois fundamentos na realidade da arbitragem que são premissas irrefutáveis.
O primeiro argumento é que a sentença arbitral é um título executivo judicial. Isso não é uma
novidade, pois vem desde da lei de arbitragem de 2006, e hoje está no art. 515, VII, do CPC/15. O
que houve foi uma equiparação em termos de executabilidade da sentença judicial e da sentença
arbitral – ambas as sentenças são executadas por cumprimento de sentença. Por isso, para Daniel
Assumpção isso não é suficiente para dizer que a arbitragem é jurisdição.
Marinoni questiona o fato de toda imutabilidade e indiscutibilidade ter que vir da coisa julgada
material. Para o autor, elas vivem além da coisa julgada material.
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
Vamos trabalhar as características principais da jurisdição.
SUBSTITUTIVIDADE
A primeira característica da jurisdição é seu caráter substitutivo ou substitutividade. A ideia é
simples: a jurisdição substitui a vontade das partes pela vontade do direito.
Apesar do caráter substitutivo ser uma característica da jurisdição, ele não é essencial à jurisdição.
Isso significa que é possível ter jurisdição sem caráter substitutivo. O que melhor explica isso é a
tutela executiva, a execução. Dentre as várias possibilidades de se classificar uma execução, há a
distinção entre execução por sub-rogação e execução indireta. A execução por sub-rogação é a
que trabalha com o caráter substitutivo.
Então, em uma execução indireta não há caráter substitutivo, pois o cumprimento da obrigação
depende de um convencimento do devedor.
LIDE
Segundo Carnelutti, é composta por dois elementos: a ideia de pretensão resistida e a ideia de
conflito de interesses. É o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, segundo
o autor.
Carnelutti dizia a impossibilidade de um mundo sem lide, ou teria que ter bens da vida
suficientes para atender todas as pretensões.
A lide não é um fenômeno jurídico. Isso exclui qualquer possibilidade de entende-la como um
fenômeno processual. Ela tem consequências para o processo, mas se verifica no plano dos fatos
e não no plano do direito. É um fenômeno sociológico com consequências jurídicas. Por isso que o
legislador, sempre que vai usar o termo lide para determinar um fenômeno processual, não dá certo.
Carnelutti conceituava a jurisdição como sendo a solução justa da lide. Ou seja, nessa visão, a lide
é essencial a jurisdição.
Porém, visões mais modernas concluem que apesar da lide ser uma característica da jurisdição,
ela, a exemplo do caráter substitutivo estudando anteriormente, não lhe é essencial. Nós temos
jurisdição sem lide.
INÉRCIA
A terceira característica é a inércia da jurisdição – também chamada de princípio da demanda.
Regra básica: o início do processo depende de provocação do interessado. Isso significa dizer que
no processo civil não se trabalha em início de processo de ofício.
Essa regra, no entanto, tem uma exceção que possibilita o início do processo de ofício: o art. 712
do CPC/15 – a ação de restauração de autos. Essa ação pode ser iniciada de ofício pelo juiz.
O código diz que para iniciar o processo faz-se necessária a provocação do interessado – e
isso ocorre pela propositura da ação por meio de petição inicial. Depois de iniciado o processo, o
andamento procedimental não depende de provocação das partes; na medida do possível, o
andamento procedimental é feito de ofício.
Impulso oficial nunca é originária, pois para a jurisdição ser colocada em movimento precisa
de provocação. Uma vez colocada em movimento, a jurisdição corre independentemente de
provocação, tem vida própria.
É óbvio que há ponderações. Leonardo Greco diz que há limitações lógicas e jurídicas ao
impulso oficial. Não é um princípio absoluto. Mas, por hora, está consagrado no art. 2º do CPC/15.
Diante disso tudo, precisamos fazer uma observação que toma como base as chamadas
ações sincréticas. A ação começa por uma fase de conhecimento; vem a sentença, e ela passa a
ter uma nova fase, que é a fase do cumprimento de sentença (a fase executiva). É óbvio que para
o processo sincrético começar a se desenvolver, na fase de conhecimento, exige-se petição inicial
(princípio da demanda). E para o início da fase do cumprimento de sentença? Se trabalha com
inércia ou com impulso oficial?
Sem conhecimento da lei, a tendência é responder que é por impulso oficial, pois não se
começa um novo processo, mas dá seguimento a um que já está em trâmite. Porém, deve-se tomar
cuidado. Vai depender do tipo de obrigação exequenda. Vejamos.
No cumprimento de sentença de pagar quantia, nos termos do art. 523, caput, do CPC, há a
previsão que exige o requerimento do interessado. Foi uma opção do legislador consagrar a inércia
da jurisdição, usando o princípio da demanda.
Porém, na hora de analisar as outras obrigações – obrigação de fazer ou não fazer, por conta
do art. 536, caput, e a obrigação de entregar coisa, por conta do art. 538, §2º –, no cumprimento de
sentença delas, não há previsão de exigência do requerimento do interessado. “O juiz ordenará as
medidas executivas” – é impositivo. De um lado, não há exigência de requerimento. Porém, o
dispositivo, com caráter impositivo, diz que o juiz deve tocar o barco. Assim, há a percepção de que
para essas obrigações o legislador teria consagrado o impulso oficial.
DEFINITIVIDADE
Verificamos anteriormente que essa definitividade da solução do conflito pela jurisdição seria obtido
por meio do fenômeno jurídico processual da coisa julgada material.
A coisa julgada material tradicionalmente no Brasil depende de 3 requisitos: (i) uma decisão
de mérito (tira de jogada uma sentença terminativa), (ii) trânsito em julgado e (iii) cognição
exauriente (é a única capaz de gerar um juízo de certeza – e a ideia do sistema sempre foi não
tornar imutável e discutível o que é apenas provável, ou seja, cognição sumária, juízo de
probabilidade. Só se trabalha com imutabilidade e indiscutibilidade no que é certo).
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
Superadas as características da jurisdição, chega o momento de estudarmos os princípios da
jurisdição.
PRINCÍPIO DA INVESTIDURA
Temos o poder jurisdicional, cujo titular é o Estado. Por outro lado, temos a atividade jurisdicional,
que é desenvolvida pelo Juiz no processo no caso concreto. Qual a ideia da investidura? É legitimar
a atividade do juiz investindo-o no poder jurisdicional. É um jeito que o Estado tem de transferir esse
poder para o juiz, para que o juiz possa exercer legitimamente a atividade jurisdicional.
Como se dá isso no Brasil? Essa investidura aqui no país se dá por concurso público ou por
indicação política (ex.: quinto constitucional e escolha de ministros – juízes não de carreira).
Temos a relação jurídica processual que é tríplice. Excepcionalmente, essa relação jurídica é linear.
Isso, porque excepcionalmente eu tenho ação sem autor (ex.: ação de restauração de autos) e ação
sem réu (ex.: ação declaratória de inconstitucionalidade). Porém, não existe relação jurídica
processual sem juiz.
A ausência de investidura, portanto, gera o vício mais grave existente no plano processual:
a inexistência jurídica.
PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE
Também é conhecido como princípio da aderência ao território. A atividade jurisdicional é
desenvolvida em todo o território nacional (já que o poder jurisdicional é nacional). Só que, por
opção do legislador, o exercício legítimo dessa atividade no caso concreto, a este serão criadas
limitações territoriais a uma determinada circunscrição territorial.
Circunscrição territorial é sinônimo de foro. Na justiça estadual eu tenho como foro a comarca; na
justiça federal, temos a seção judiciária e a sub-seção judiciária.
Além disso, cada vez mais temos atos processuais por meio eletrônico. O ato praticado por meio
eletrônico é praticado em um ambiente virtual que, pela sua própria natureza, não tem limites
territoriais. Por isso que tal princípio está em crise.
PRINCÍPIO DA INDELEGABILIDADE
O estudo sobre esse princípio é feito em dois aspectos.
O primeiro é a indelegabilidade externa. Esta significa que o poder judiciário não pode
delegar a função jurisdicional a outro poder. “Função” é um encargo. E essa função jurisdicional, foi
dada ao Poder Judiciário pela Constituição Federal. Daí, não pode o Judiciário se livrar dessa
função passando-a para o Legislativo e Executivo.
Porém, a CF funciona com atribuição de funções típicas e atípicas. Assim, apesar do Poder
Judiciário não poder delegar, nada impede que a CF atipicamente atribua função jurisdicional a
outro poder. EXEMPLO: o processo de impeachment é o exercício de função jurisdicional pelo
Poder Legislativo.
Porém, não significa que esse princípio não tenha exceções. Quais as exceções ao princípio
da indelegabilidade?
Não existe delegação entre órgãos no plano horizontal, ou seja, órgãos de mesmo grau de
jurisdição. Por outro lado, em caráter excepcional, se permite a delegação vertical – que pode ser
de cima para baixo ou de baixo para cima. Nós temos a delegação vertical de cima para baixo (do
Tribunal ao 1º grau).
Na hora que o Tribunal delegar essa atividade ao 1º grau, essa delegação é materializada
através de uma Carta de Ordem, para que o 1º grau pratique um ato de competência do Tribunal.
O Tribunal delega atividade para o 1º grau por falta de estrutura funcional para aquela atividade
determinada, nos termos do art. 102, I, m, da CF (delegação dos Tribunais dos atos executivos para