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Realização Autoria
Instituto C&a Ana Oliva Marcilio
Milla Alves
Diretor-executivo
Paulo Castro Coleta de Experiências Pedagógicas
Maria Aparecida Freire de Oliveira Couto
Gerente da área Educação, Arte e Fabíola Margeritha Bastos
Cultura Janaina G. Viana de Souza
Patrícia Monteiro Lacerda Iany Bessa
Lilian Galvão
Coordenadora do Programa Educação
Infantil Seleção de Experiências Pedagógicas
Priscila Fernandes Magrin Milla Alves
Mônica Martins Samia
Assistente de Programas
Patrícia Carvalho Leitura Crítica
Liane Castro de Araujo
Gestão de Comunicação Institucional
Carla Sattler Revisão de Estilística
Clarissa Bittencourt de Pinho e Braga
Concepção da Publicação
Avante – Educação e Mobilização Social Revisão Ortográfica
– ONG Mauro de Barros
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experiências registradas por esses profissionais na Pasta de Registros
Paralapracá foram transformadas nesta nova série de cadernos, possibili-
tando também, a partir de agora, a disseminação desses percursos.
Os caminhos percorridos e registrados revelaram as mudanças ocorri-
das, os resultados e a reflexão sobre as práticas e as concepções de infân-
cia e de Educação Infantil que foram sendo revisitadas, problematizadas e
reconstruídas no percurso. Os registros refletem um caminho trilhado, não
um ponto de chegada. Foi muito importante documentar este processo
para aqueles que dele participaram. Agora, ajuda outros interlocutores a
vislumbrar e a pensar sobre novas possibilidades e novos percursos.
É possível que, ao degustar o material, se identifiquem distâncias entre
o dito e o vivido, o teorizado e a prática, o desejado e o realizado. No pro-
jeto, assumimos que essas distâncias são parte inerente ao processo e as
consideramos provocativas. Nós esperamos que elas fomentem um am-
biente reflexivo, um olhar criterioso e diverso, na busca de práticas mais
coerentes, conscientes e possíveis.
Mesmo apresentando os seis eixos de forma separada, acreditamos
que, na maior parte do tempo, eles se integram de alguma forma, e isso
está explicitado muitas vezes nos registros. Este é um alerta necessário
para manter os profissionais atentos para o enfoque integrado que o cur-
rículo da Educação Infantil deve ter como característica.
Esperamos que, acima de tudo, esta publicação possa apontar cami-
nhos possíveis para outros educadores e que estes possam se inspirar
e conhecer um pouco da trajetória daqueles que escreveram a história
do paraLapraCá nessa primeira edição. Ela expressa os valores e o re-
conhecimento do Instituto C&a e da Avante, como instituição formadora,
de todo esse processo de reflexão e transformação pelas quais diversas
redes municipais e seus profissionais passaram no decorrer do projeto.
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Assim se faz literatura
Perde-se na noite dos tempos — ou
seria da madrugada? — a origem
da arte de narrar.
BettY CoeLHo, 1989
A narrativa de histórias é um dos meios mais É importante não perder de vista que a par-
antigos de interação social e expressão cultu- ticipação das crianças da Educação Infantil em
ral e está presente em todas as culturas. Ela é situações de leitura e apreciação de histórias,
usada para compartilhar conhecimentos e va- bem como em quaisquer outras práticas letra-
lores e aguçar a imaginação e a fantasia. das e em outras situações de aprendizagem, é
No vídeo Assim se faz literatura, Silvio Car- uma participação que sempre envolve o brincar,
valho fala que a experiência literária permite às o lúdico, o prazer, pois a brincadeira é a princi-
crianças se conectarem com sua humanidade, pal característica da cultura da infância.
seja ouvindo, contando, lendo ou imaginando É fundamental, por isso, um olhar cui-
histórias. Silvio fala também que, em contato dadoso para a literatura na escola, para não
com as histórias, a criança pode imaginar e ma- mecanizarmos ou institucionalizarmos esse
terializar aquelas palavras, dar cor, forma e vida momento, perdendo aspectos importantes
à história contada ou lida. A mediação de litera- do universo literário, como a magia, a criati-
tura é uma conexão entre mediador e sua cultu- vidade, a espontaneidade. Cabe a nós, profis-
ra com seus ouvintes e consigo mesmo. sionais, possibilitar às crianças a convivência
Por isso, é fundamental fazer com que a com esse universo recheado de novidades, fan-
leitura e a contação de histórias sejam incor- tasias e aprendizagens.
poradas à rotina das instituições de Educação Esta publicação busca estabelecer um
Infantil, sem tirar desse momento toda a liber- diálogo com os professores e coordenadores
dade, especialidade e riqueza que ele pode pro- acerca de suas experiências no mundo da lei-
piciar, para que se crie um relacionamento rico tura e da literatura a partir do Paralapracá.
e saudável com a leitura e a literatura. O caderno explora diversas possibilidades da
contação de histórias e da mediação de leitura
Somente iremos formar crianças que no cotidiano da Educação Infantil a partir de
gostem de ler e tenham uma relação pra- relatos e reflexões dos professores e coordena-
zerosa com a literatura se propiciarmos a dores, articulando esses relatos a argumentos
elas, desde muito cedo, um contato fre- teóricos e metodológicos de especialistas.
quente e agradável com o objeto livro e O impacto do Paralapracá no cotidiano
com o ato de ouvir e contar histórias. de diversas instituições de Educação Infantil
KaerCHer, 2001, p. 82 foi sentido rapidamente a partir da mudança
de atitude dos próprios professores em relação
O contato frequente com o mundo da lite- a refletir sobre suas práticas, a organizar o am-
ratura — a literatura em sentido amplo, envol- biente e a promover formas diversificadas de
vendo as práticas literárias orais e escritas — é contato com o mundo literário. Sobre o traba-
fundamental na Educação Infantil. Porém esse lho com literatura na Educação Infantil, a pro-
contato não pode perder a dimensão do prazer fessora Eliane Mota, da Creche Vovó Adalgisa,
que deve proporcionar. O conto, o reconto, a lei- de Campina Grande · PB, comenta:
tura, a escuta, a poesia, a parlenda, o trava-língua
e outros tantos jeitos de viver o mundo literário …ao dispor à criança um livro, estou
devem estar presentes na vida da criança, atra- permitindo-lhe o direito de sonhar, de
vés de um contato libertador, lúdico e de forma imaginar, de criar, de dar vazão aos
que faça sentido para ela, naquele momento. seus sentimentos…
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Dialogando
com as práticas
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pauLo Leite
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principalmente para aqueles que
têm sangue de griô! Além disso, a O griô é um guardião da memória e da his-
chegada da mala instiga o professor tória oral de um povo ou comunidade, é
a mexer, explorar, ler e contar histó- um líder que tem a missão ancestral de re-
rias e, mais ainda, a transformar as ceber e transmitir os ensinamentos das e
práticas literárias na instituição. Pa- nas comunidades. A palavra é sagrada e,
rece que a mala tem o poder de re- portanto, valorizada num processo ances-
ligar o adulto à criança dentro dele. tral como fio condutor entre as gerações
E essa, para o griô, é uma ligação e culturas. Neste contexto também assim
fundamental. Diversos especialistas, são considerados sagrados os griôs enquan-
teóricos e renomados contadores to mantenedores dessas culturas. O ser griô
reiteram que é fundamental o pra- é ritualístico, sua vida é formada por uma
zer, o desejo, a liberdade no ato de preparação em que ele tem o dever de es-
contar história. cutar por um determinado tempo, o que
Outro aspecto relevante na con- para aquela comunidade é sagrado, e pos-
tação ou leitura de histórias é que, teriormente transmitir esses ensinamentos.
sobretudo quando se trata de crian- ‹www.CuLtura.GoV.Br/CuLturaViVa/
ças pequenas, o lúdico e o diverti- CateGorY/CuLtura-e-Cidadania/aCao-Grio›
do são fundamentais. Neste senti-
do, a professora Junia Barbosa Luz A expressão “contação de histórias” é
do Rêgo relata: usada em dois sentidos distintos — tan-
to no relato e reflexão dos profissionais de
As crianças adoraram a vivência educação quanto nas teorizações dos au-
com a leitura e a contação de his- tores. Por vezes, aparece em um sentido
tórias. Demos um mergulho na his- mais amplo, que inclui contar histórias
tória através da leitura realizada com ou sem livro e, por outras vezes, apa-
pelas professoras na hora da rodi- rece no sentido mais específico de con-
nha e nos momentos de reconto tar histórias da tradição oral, sem ler, em
realizados pelas crianças. Ao final contraponto com a leitura literária, com
de uma semana, as crianças já con- o livro. Sendo ambos legítimos, é impor-
tavam e recontavam a história com tante observar em que sentido a expres-
desenvoltura e facilidade. O grupo são está sendo usada a cada momento.
vivenciou momentos prazerosos de
descoberta através da leitura lúdica e pudemos perce-
ber o valor que deve ser dado à leitura e ao reconto na
Educação Infantil.
Junia BarBosa Luz do rêGo, da CreCHe muniCipaL proFes-
sora aLCide Cartaxo Loureiro, de Campina Grande · pB
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da contação, na organização do es-
paço, na interação com a família/co- Para pensar em diversas formas de media-
munidade — tudo isso parece ter se ção de leitura literária e de contação, é
ampliado com o paraLapraCá. A importante retomar o Caderno de Orien-
professora Márcia da Silva, da Cre- tação Assim se faz literatura, bem como o
che Galdina Barbosa Silveira, conta: vídeo desse eixo e, para aqueles interessa-
dos no reconto de histórias, existe nesse
Durante o processo de desenvolvi- caderno uma seção dedicada a essa estra-
mento do projeto, a exploração do tégia de mediação.
material pelos alunos aconteceu de
diversas maneiras, tipo rodas de leituras, contador de
histórias, self-service do livro, cadeira do leitor, gira-gira e
feira do livro, recontando a estória e repórter do livro. Re-
alizamos oficinas de desenhos, realizamos contação em
sala de aula, no pátio ao ar livre. Explorando outros am-
bientes, organizamos a hora do conto com personagens
caracterizados, bem como com a exposição do mural de
contos e reconto, fábulas, etc.
márCia da siLVa, da CreCHe GaLdina Na Educação Infantil, os momentos de
BarBosa siLVeira, Campina Grande · pB ouvir histórias, lidas ou contadas, podem
ser enriquecidos com outros momentos de
Ainda em Campina Grande, Rube- exploração dos próprios livros e da leitura
nice Lopes de Sousa, Sueli Oliveira pelas crianças. Elas folheiam os livros e,
Nascimento e Thaisa Raquel Ca- apoiadas na ilustração e na memorização,
bral de França lembram que a lei- recuperam sua sequência e contam, a seu
tura sempre fez parte do cotidiano modo, as histórias que já conhecem, ex-
de sua instituição, mas que, com a perimentando modos de ler o texto antes
chegada da mala, os professores mesmo de dominar a leitura. Essa é tam-
começaram a repensar o olhar de- bém uma situação interessante de apren-
les sobre as crianças, no momento dizagem de procedimentos de leitura e
da contação. Elas explicam: comportamentos leitores, junto com ou-
vir histórias lidas e contadas.
A contação de histórias por meio
de materiais diversos, como livros, fantoches, tapetes e
aventais, já era uma ação realizada, mas o projeto trou-
xe uma maneira diferente de ver como as crianças se
portam na sala. Em vez de ficarem sentadas como era
de rotina, hoje deixamos as crianças mais à vontade
para escolherem posições que sejam confortáveis: em
pé, sentadas ou deitadas, enfim, as crianças ficam livres
para escolherem posições que sejam adequadas para o
momento.
ruBeniCe Lopes de sousa, sueLi oLiVeira nasCimento e
tHaisa raqueL CaBraL de França, de Campina Grande · pB
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aCerVo paraLapraCá
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pauLo Leite
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Pensando a centralidade do contar e ouvir histórias
na Educação Infantil, a professora Sylvia de Matos, do
grupo de crianças de 4 anos, relata:
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aCerVo paraLapraCá
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Práticas
comentadas
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aluno chamado Daniel, que, além de
ter prazer em contar histórias, acei- 3 Pensando na dimensão de transmissão
tou o convite com muito carinho. O 3
de cultura e construção de identidade que
ambiente disponibilizado foi a sala. A ouvir e contar histórias proporciona, esta
mãe, quando chegou, estava alegre atividade alia alguns aspectos interessantes
e, com muita propriedade, apresen- que podem e devem ser explorados pela es-
tou às crianças um personagem fol- cola: a interação com a comunidade/famí-
clórico bastante conhecido em nos- lia, trazendo contadores locais para dentro
sa região: Comadre Fulozinha. da escola, a transmissão da cultura oral lo-
Inicialmente, foi feito um levanta- cal a partir da escolha do gênero — contos
mento do conhecimento prévio das populares —, além do fortalecimento dos
crianças acerca da lenda. Quase to- vínculos família/escola.
das participaram expondo sua ima-
ginação, foi muito divertido! Logo após ela contou quem
era Comadre Fulozinha, onde ela vivia e o que ela fazia. O
interessante é que as crianças interagiam o tempo todo.
Comadre Fulozinha, conforme nos ensina o mestre
Câmara Cascudo, é um ente mitológico, uma fantásti-
ca e misteriosa mulher que vive na mata, sempre pron-
ta a defender animais e plantas contra as investidas
dos predadores da natureza. É uma caboclinha que
tem longos cabelos negros, que lhe cobrem o corpo.
Ela é caminhante, brincalhona, consegue desapare-
cer sem deixar rastro e adora fazer tranças na cauda
dos cavalos. Ela protege a caça contra os caçadores,
desorientando-os com seus assobios e fazendo com
que eles fiquem perdidos na mata. Adora receber pre-
sentes, como mingau, confeitos e fumo.
Ao término da contação da lenda, Márcia fez algumas
indagações do que acabara de contar, e todos respon-
deram com muito entusiasmo e sabedoria, inclusive seu
filho Daniel, que estava muito feliz e tentando demons-
trar aos seus colegas que aquela era a sua mãe.
Enfim, foi uma atividade que contribuiu com a am-
pliação do repertório cultural dos alunos, a integração
da instituição e comunidade, favoreceu a oralidade,
socialização e participação das crianças, concedendo
oportunidade de estabelecer um elo maior entre pro-
fessores, alunos, pais e comunidade.
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Conta lá que conto cá
MarluCe duarte Catão
CreCHe muniCipaL CotinHa CarVaLHo, Crianças de 3 e 4 anos
da zona urBana, Campina Grande · pB
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O relato da professora refere-se a estratégias de pro-
moção da leitura. Vale ressaltar que a expressão “es-
tratégias de leitura” refere-se, hoje, a um conceito bem
específico, tratado por alguns autores, a exemplo de
Isabel Solé. Refere-se a estratégias de compreensão
leitora, como a seleção, a inferência, a antecipação, a
verificação, entre outras, que são usadas pelo leitor
proficiente para compreender o que lê e que podem
ser desenvolvidas desde cedo, através do modo como
vamos promovendo as interações das crianças com os
textos, favorecendo sua autonomia na compreensão
leitora. Não é a este conceito que a professora está se
referindo. (ver soLé, i. Estratégias de leitura. Porto Ale-
gre: Artes Médicas, 1998).
Embora a leitura seja frequentemente associada a
“hábito”, por defendermos a leitura como uma prática ha-
bitual, cotidiana, frequente, seria interessante, por outro
lado, problematizarmos o uso da palavra “hábito” nesse
contexto, já que nela está contida, de alguma forma, a
ideia de algo que se faz por repetição, de forma automá-
tica, mecânica, sem pensar muito, sem ter necessaria-
mente intenção ou desejo, por vezes até por dever, sem
vontade. Podemos falar de fomentar a prática cotidiana
de leitura, pois assim fica resguardado o caráter mais
significativo da literatura: o ler pelo desejo de ler, o ler
por ler. Pensar a leitura como prazer e encantamento, li-
berdade e criatividade já distancia as ações cotidianas
de leitura e contação da ideia de “hábito”, conforme ar-
gumentam não só alguns teóricos, mas também os pró-
prios professores, através de seus relatos de prática.
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a história da bebeteca
Marlylane Cândido, soCorro Quirino, ana
Cláudia Quirino e Maria geovania
CreCHe muniCipaL VoVó adaLGisa, Crianças de 3 e 4 anos
da zona urBana, Campina Grande · pB
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Além disso, tem se tornado uma
constante vermos as crianças dirigi- 9 A possibilidade de explorar de forma
rem-se ao varal da Bebeteca, retira- autônoma os livros é muito importante
rem um livro, sentarem e começarem para que se estabeleça uma relação posi-
a fazer uma pseudoleitura, apontan- tiva entre a criança e o livro. Esta estra-
do, balbuciando e, por vezes, outros tégia do varal de livros dá à criança a li-
coleguinhas se aproximam e ficam berdade necessária para que o desejo se
em roda ouvindo a história.9 manifeste e para que possa experimentar
Outro fato bastante interessante, espontaneamente os comportamentos
ao qual dou os créditos aos trabalhos e procedimentos leitores que vai apren-
desenvolvidos na Bebeteca, está re- dendo através das situações de leitu-
lacionado às ‘rodas de leitura’ que ra de histórias pelo professor, como pas-
fazemos enquanto as crianças aguar- sar as páginas da esquerda para a direita,
dam as mães virem buscá-las. A cada de modo sequencial, “ler” de cima para
uma é entregue um livro, de forma baixo e da esquerda para a direita, dife-
aleatória. Temos percebido a alegria renciar ilustração e texto, imitar entona-
das crianças ao receberem estes ções, expressões e modos de contar.
livros, bem como a expectativa de
cada uma delas enquanto esperam o
livro chegar a suas mãos. Muitas ve- 10 As “rodas de leitura” permitem que
zes ficam gritando ‘me dá, me dá’, ‘o as crianças interajam, colocando em
meu, tia’. Percebemos assim o gran- prática comportamentos leitores/conta-
de interesse que elas têm pelos livros. dores que observam na postura do pro-
Elas se acomodam da melhor forma fessor. Por serem realizadas no momen-
possível, sob a ótica delas, umas dei- to em que as crianças estão aguardando
tam-se, outras ficam sentadas, outras seus familiares, este espaço pode ser po-
ficam em pé apoiando o livro sobre a tencializado para seduzir também os
grade do berço. Outros chegam até pais e cuidadores para o mundo literá-
posicionar o livro da mesma forma rio. Possibilitar que os adultos explorem
que as educadoras fazem quando esse espaço, desfrutem do momento e
estão lendo uma história10. É um mo- partilhem das histórias, seja contando-as
mento que me deixa em estado de para as crianças, lendo para si mesmos
êxtase total, fico ‘maluquinha’ ao ver ou ouvindo-as contar, pode ser interes-
as mais diversas reações. É criança sante como estratégia para envolvê-los.
‘lendo’, apontando, sorrindo, fazendo
movimentos, enfim, interagindo com
as imagens. Nesse momento o silên- 11 A riqueza do momento aparece na ri-
cio é tão grande que podemos ouvir queza do registro, a professora retrata com
os sons que elas produzem enquan- poesia e magia o momento da leitura na
to folheiam os livros.11 Bebeteca: escutar o barulhinho da leitu-
Sinto-me realizada e consciente ra, o barulhinho do silêncio de quem está
de que estou a cada dia no cami- compenetrado, imerso no faz de conta, na
nho certo. Estou feliz por saber que história que ouve, vê, lê, saboreia.
estou plantando uma semente que,
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com o passar do tempo, vai brotar
e surgir leitores, pois sei que, ao 12 Gládis Kaercher (2001) ressalta a im-
dispor à criança um livro, estou per- portância de ler pelo prazer em ler. Ler por
mitindo a esta o direito de sonhar, ler! A leitura como arte, cultura e tradi-
de imaginar, de criar, de dar vazão ção se basta por si só, independentemente
aos seus sentimentos, contribuindo do adulto leitor que formaremos, a crian-
assim para a formação de um adul- ça deve ler pelo encantamento que a leitu-
to crítico e consciente. 12 ra pode lhe proporcionar, naquele momen-
Diante de tão maravilhosa ex- to mesmo em que está lendo. Do mesmo
periência, fico às vezes envergo- modo que a infância é um período da vida
nhada, pois quantas vezes não que tem valor em si mesmo e sentido pró-
subestimamos uma criança, prin- prio, que as crianças, os sujeitos infan-
cipalmente crianças tão pequenas, tis, são sujeitos plenos, sujeitos de direitos,
que aparentemente parecem não com suas especificidades, conforme expli-
perceber o mundo e as coisas que citam diversos autores e documentos ofi-
nele acontecem. Porém a prática ciais referentes a este período da vida.
tem me revelado justamente o con-
trário do que um dia eu pensei. São crianças que estão
e fazem parte do mundo, atuando nele e transforman-
do a si e aos outros, em particular a mim.
aCerVo paraLapraCá
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aCerVo paraLapraCá
Crédito
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Sem perder de vista o objetivo primordial de propiciar
momentos que desenvolvam o prazer pela literatura,
pela leitura, pelas histórias e pelos livros, o professor
pode aproveitar este momento para observar as crian-
ças e refletir sobre o seu desenvolvimento: oralida-
de, atenção, comportamentos leitores, interação com
a história, autonomia, entre outros. Pode observar a
atenção progressiva das crianças à leitura do profes-
sor, suas interações com o objeto livro, a familiaridade
com ele, como vai conhecendo que objeto é esse, o
que ele contém e pode proporcionar; o reconhecimen-
to do livro como portador de histórias, do seu poten-
cial em “guardar” a história para que possa ser recon-
tada sempre do mesmo modo; as experimentações
em recontar a seu modo, a partir das ilustrações, e a
relação que vão estabelecendo entre imagem e enre-
do; as interações das crianças com os livros através de
balbucios, falas, entonações e gestos que tentam imi-
tar o professor leitor, entre outros.
lá
aBramoViCH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Pau-
lo: Scipione, 1989.
CoeLHo, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São
Paulo: Moderna, 2009.
Faria, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2004.
KaerCHer, Gládis E. E por falar em literatura. In: CraidY, Carmen Maria
e KaerCHer, Gládis E. Educação infantil pra que te quero. Porto Ale-
gre: Artmed, 2001.
maCHado, Ana Maria. Contando histórias, formando leitores/Ana Maria
Machado, Ruth Rocha. Campinas, sp: Papirus 7 Mares, 2011 — (Coleção
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soLé, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
tussi, Rita de Cássia & rÖsinG, Tânia M.K. Programa Bebelendo: uma
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ziLBerman, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global,
2003.
25
dados internaCionais de CataLoGação na puBLiCação (Cip)
(Câmara BrasiLeira do LiVro, sp, BrasiL)
isBn 978-85-64356-13-9
13-00202 Cdd-372.21