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CPVI – Aula 1 1

Introdução ao Direito Eleitoral


Legislação para Prova
 LC 64/90 (Lei das Inelegibilidades),
 Lei 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos),
 Lei 9.504/97 (Lei das Eleições)
 Código Eleitoral (Lei 4.737/65).

1) Introdução:
- Conceitos de Direito Eleitoral:

 Fávila Ribeiro: “Ramo do Direito que dedica-se ao estudo das normas e procedimentos que
organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo a que se
estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental”.
 Joel José Cândido: “Ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com os direitos
políticos e as eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares dos mandatos
eletivos e das instituições do Estado”.
 Marcos Ramayana: “É um ramo do Direito Público que disciplina as capacidades de votar e de
ser votado, as regras sobre as eleições e o voto”.

- Pode-se dizer, também, que o Direito Eleitoral forma um microssistema jurídico, composto de
normas de caráter material e processual, de naturezas civil, administrativa e criminal.

Questão: Um Senador foi eleito (senador = mandato de 8 anos), firmou um contrato com o seu Suplente no Registro
de Títulos e Documentos, compactuando que ficaria 4 anos no mandato e, após, o Suplente assumiria. Mas o
Senador, passado esse prazo, não saiu do mandato. O Suplente ingressou na Justiça pedindo o cumprimento do que
fora acordado.
Resposta: Não pode haver acordo sobre o sistema eleitoral, pois haveria quebra da própria vontade popular. Esse
acordo não tem validade, pois existem normas de ordem pública que tutelam a soberania popular. É pedido
juridicamente impossível, carência de ação (no NCPC é improcedência). Já no mérito, poderia se alegar que as
eleições encontram-se fora do comércio, e que vivemos em um Estado Democrático de Direito.

- Objeto: O objeto do Direito Eleitoral é a normatização de todo o chamado “processo eleitoral”, que se
inicia com o alistamento do eleitor e a consequente distribuições do corpo eleitoral e se encerra com
a diplomação dos eleitos. Neste ínterim, estão compreendidos atos relativos à organização das eleições,
registro de candidatos, campanha eleitoral, votação, apuração e proclamação dos resultados.

- Objetivo: O Direito Eleitoral tem como objetivo a garantia da normalidade (consonância do resultado
apurado nas urnas com a vontade soberana expressa pelo eleitorado) e da legitimidade (reconhecimento de
um resultado justo, de acordo com a vontade soberana do eleitor) do procedimento eleitoral (que abrange
as eleições e as consultas populares – plebiscito e referendo).

- Competência Legislativa: A competência privativa para legislar sobre Direito Eleitoral é da União,
conforme art. 22, I, CRFB.

1.1) Princípios:
 Princípio da Lisura das Eleições (art. 23, LC 64/90): Tal princípio, respaldado na busca
da verdade real, possibilita que o juiz produz provas de ofício, no processo eleitoral, a fim de
formar seu convencimento.
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 Princípio do Aproveitamento do Voto (art. 176 e 224 CE): O juiz deverá abster-se de
pronunciar nulidades sem prejuízo (in dubio pro voto), de forma a valorizar a legitimidade da
soberania popular.
- Assim, em uma eleição proporcional, o voto dado a candidato inexistente, mas que permite a
identificação do partido, deve ser validado como voto de legenda.
- Ademais, segundo o TSE (AC 665), para os fins do art. 224, CE, a validade da votação, na eleição
majoritária, não é aferida sobre o total de votos apurados, mas leva em consideração tão somente o
percentual de votos dados aos candidatos desse pleito, excluindo-se, portanto, os votos brancos e
nulos, por expressa disposição do art. 77, §2º, CRFB. Neste sentido, não se somam aos votos nulos
derivados da manifestação apolítica dos eleitores aqueles nulos em decorrência do indeferimento
do registro de candidatos, de modo que a validade da votação seja aferida tendo em conta apenas
os votos atribuídos efetivamente a candidatos e não sobre o total de votos apurados. Em outras
palavras, o art. 224, CE, não se aplica quando, voluntariamente, mais da metade dos eleitores
decidirem anular o voto ou votar em branco, preservando, assim, a validade da eleição, mas
apenas quando a nulidade dos votos do candidato mais votado, com maioria absoluta, ocorrer após
o pleito. Empossar o segundo colocado, nesta hipótese, seria privilegiar a vontade da minoria em
detrimento da maioria.

 Princípio da Celeridade (art. 97-A, Lei 9.504/97): A garantia da legitimidade do exercício


da soberania popular depende da celeridade da Justiça Eleitoral, uma vez que o processo eleitoral,
como um todo, ocorre em menos de 6 meses, contados do registro das candidaturas até a
diplomação. Assim, os prazos recursais, no processo eleitoral, são exíguos. Assim, o art. 97-A, Lei
9.504, determina que considera-se duração razoável do processo que possa resultar em perda de
mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral.

 Princípio da Anualidade / Anterioridade (art. 16, CRFB): De acordo com o art. 16,
CRFB, a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data da sua publicação, não se
aplicando à eleição que ocorra até 1 ano da data da sua vigência, estabelecendo o princípio da
anualidade eleitoral, que busca preservar a segurança jurídica, evitando-se que as normas
eleitorais sejam modificados faltando menos de 1 ano e 1 dia para as eleições, prejudicando o
equilíbrio da disputa, com a mudança das regras do jogo. Ressalte-se que o princípio da anualidade
não modifica a data de vigência da lei, apenas não a aplicando às eleições que se
realizem até um ano da data de sua vigência.
- Há divergência sobre o que seria “processo eleitoral” tratado no dispositivo. Sobre o tema, o STF,
na ADI 354, ao analisar a alteração dos art. 176 e 177, CE, entendeu que tal matéria não envolve o
“processo eleitoral”. Quanto à vigência da Lei da Ficha Limpa, apesar de o TSE ter entendido que
a aplicação imediata da nova lei feria o princípio da anualidade, o STF (RE 631.1021 e 633.703 –
Informativo 620/STF) determinou o afastamento da incidência da LC 135/2010 às eleições ocorridas
em 2010 e as anteriores, bem como para os mandatos em curso, sob pena de violar o art. 16, CRFB,
assegurando a anterioridade eleitoral e a garantia do devido processo legal eleitoral, e preservando a
segurança jurídica. Afirma-se que a aplicação do art. 16, como direito fundamental, caracteriza-se como
verdadeira cláusula pétrea (Ver quadro no final do item 4.3.a).
- Assim, o entendimento que prevalece no STF e TSE é de que tal princípio visa evitar a
desigualdade e a deformidade nas eleições. Na visão dos tribunais, só haveria comprometimento do
princípio da anualidade quando visse a ocorrer o rompimento de igualdade de participação
de partidos e candidatos no processo eleitoral, afetando a normalidade das eleições. As

1Houve empate na votação, e a presidenta Dilma, após as eleições de 2010, indicou o Ministro Fux para o STF, de modo que o
mesmo decidiu pela não aplicação da referida regra às eleições de 2010.
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normas que tenham caráter meramente instrumental, auxiliares do processo, que não venham a
causar desequilíbrio nas eleições, não são abrangidas pelo princípio.
Obs.: Segundo o STF (ADI 4.298 e 4.309 – Informativo 562/STF), lei definindo regras
para a hipótese de eleição indireta não deve observar o art. 16, já que não se trata de lei
materialmente eleitoral, mas de matéria político-administrativa que demandaria típica
decisão do poder geral de autogoverno.

 Princípio Moralidade Eleitoral (art. 14, §9º, CRFB): Questiona-se se tal dispositivo teria
ou não auto-aplicabilidade, de modo a se permitir, na análise da vida pregressa do candidato, o
indeferimento do registro de candidatura de quem esteja respondendo a processos criminais sem
que tenha havido trânsito em julgado, ou de indignos e imorais. No TSE, prevalece o entendimento
de que a vida pregressa do candidato só pode ser considerada para efeito de inelegibilidade quando
lei complementar assim estabelecer (não havendo trânsito em julgado ou lei complementar
prevendo caso de inelegibilidade, deverá prevalecer o princípio da presunção de inocência). Nesse
sentido, foi editada a Súmula 13 do TSE, dispondo que não é auto-aplicável o § 9º, art. 14, CRFB.
- Não obstante a garantia da presunção de não culpabilidade, a norma do art. 14, §9º, CRFB,
autoriza restringir o direito fundamental à elegibilidade, em reverência aos postulados da
moralidade e da probidade administrativa. Com base nisso, foi editada LC 135 (Lei da Ficha
Limpa), incluindo hipótese de inelegibilidade sem o trânsito em julgado da condenação.

 Princípio da Imediaticidade do Sufrágio (art. 14, caput, CRFB): O voto deve resultar
imediatamente da vontade do eleito, sem intermediários.

 Princípio da Igualdade: Com base neste princípio, o STF (ADI 4.650) entendeu que os
dispositivos legais que autorizam as contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais
e partidos políticos são inconstitucionais (as contribuições de pessoas físicas são válidas), pois são
incompatíveis com o regime democrática e com a cidadania, já que a participação de pessoas
jurídicas apenas encarece o processo eleitoral, sem oferecer, como contrapartida, a melhora e o
aperfeiçoamento do debate. Esse aumento dos custos de campanhas não é acompanhado do
aprimoramento do processo político, com a veiculação de ideias e de projetos pelos candidatos.
Assim, a excessiva participação do poder econômico no processo político desequilibra a competição
eleitoral e viola a igualdade política entre candidatos.
- Assim, o STF declarou inconstitucionais:
o O art. 23, §1º, I e II; o art. 24; e o art. 81, “caput” e § 1º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das
Eleições), que tratam de doações a campanhas eleitorais por pessoas físicas e jurídicas, no
ponto em que cuidam de doações por pessoas jurídicas.
o O art. 31; o art. 38, III; o art. 39, “caput” e § 5º, da Lei nº 9.096/95 (Lei Orgânica dos
Partidos Políticos), que regulam a forma e os limites em que serão efetivadas as doações aos
partidos políticos, também exclusivamente no que diz respeito às doações feitas por pessoas
jurídicas.

2) Democracia:
- A democracia é condição basilar para a existência material do Direito Eleitoral. Fora da democracia
podem, até mesmo, existir normas eleitorais regendo eleições, plebiscitos e referendos, mas não persiste o
objetivo maior desse ramo do Direito que é, como já ressaltado, a garantia da normalidade e da
legitimidade do exercício do poder de sufrágio popular (poder inerente ao povo de tomar decisões,
determinando prioridades e ações no âmbito público).
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- Conceito de Democracia:

 Abraham Lincoln: “É o governo do povo, pelo povo e para o povo”. O governo do povo representa a
soberania popular (quem titulariza o poder é o povo). O governo pelo povo traduz a representação
popular (nem sempre o poder será exercido pelo, podendo ser executado pelos seus representados). O
governo para o povo traduz o objeto finalístico da democracia, que é a proteção dos direitos
fundamentais.
 Robert Dahl: “Regime político fundamentado na ampla participação popular, na igualdade
política, na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo”.
- O autor indica 5 critérios fundamentais para a caracterização de um regime democrático: 1)
Participação efetiva de todos os membros da comunidade, que devem ter oportunidades
iguais e efetivas para expressar suas opiniões; 2) A igualdade de voto, seguindo a lógica de
que todas as pessoas devem ter o mesmo valor e importância em um processo democrático; 3) O
entendimento esclarecido, a partir do qual a consciência cidadã deverá ser despertada; 4) O
controle do programa de planejamento, segundo o qual os membros da comunidade devem ter
a oportunidade de decidir as prioridades políticas e ter acesso, de forma transparente, a
informações acerca do orçamento público; 5) A inclusão de adultos, fundamentada na concepção
de sufrágio universal, de forma a evitar exclusões despropositadas de pessoas do processo político.
- Portanto, a partir dos 5 critérios de Robert Dahl, pode-se compreender a democracia como “um
regime político, fundamentado na ampla participação popular, na igualdade política,
na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo.

 Giovanni Sartori: “A democracia não deve ser vista como um conceito formal e estático. O ideal
democrático não define a realidade democrática e vice-versa, uma democracia legítima não é, não
pode ser, igual a uma democracia ideal”. Assim, para o autor, criticando a visão estática de Robert
Dahl, a democracia deve ser estudada como um processo, em constante evolução e aprimoramento,
para o qual todos devem contribuir, em busca do respeito à diversidade, às particularidades
individuais, às minorias, à liberdade de opinião, sexual e de crença e a igualdade.
- Portanto, o pressuposto de que o indivíduo singular, como pessoa moral e racional, é o melhor juiz
do seu próprio interesse, é o grande trunfo do regime político democrático.

- Espécies:

1. Democracia Direta: Caracteriza-se pelo exercício do poder popular sem a presença de


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intermediários, ou seja, o povo exerce por si só o poder, sem intermediários, sem
representantes (Ex.: Democracia de Atenas – apenas homens livres).
2. Democracia Indireta / Representativa: Marcado pela pouca atuação efetiva do povo no
poder, uma vez que a este cabe apenas escolher, através do exercício do sufrágio, seus
representantes políticos, de forma periódica. Assim, o povo, soberano, elege representantes,
outorgando-lhes poderes, para que, em nome deles e para o povo, governem o país (Ex.: Se
desenvolveu na Revolução Francesa, relacionada aos interesses elitistas da nova classe
dominante de distanciar o povo do exercício do poder – ideologia de dominação em favor da
classe burguesa).
3. Democracia Semidireta / Participativa: Modelo dominante no mundo contemporâneo,
caracterizado pela preservação da representação política, aliada a meios de participação
direta do povo no exercício do poder soberano do Estado. É, portanto, um sistema híbrido,
sendo uma democracia representativa, com peculiaridades e atributos da democracia
direta. Assim, o povo exerce a soberania popular, não só elegendo representantes políticos2,
mas também participando de forma direta da vida política do Estado, através de institutos
da democracia participativa (plebiscito, referendo e iniciativa popular de lei).
- Este foi o modelo adotado pela CRFB (art. 1º, § único, e art. 14), na qual prevê a
participação popular no poder por intermédio de um processo, de modo que o exercício da
soberania se instrumentaliza por meio do plebiscito, referendo, iniciativa popular, e
ação popular, ente outros.

Obs.: As formas de participação direta do povo que estão no art. 14, CRFB não são
as únicas. Portanto, o rol do art.14 não é taxativo. Existem ao longo do texto
constitucional outras formas de participação direta, como a Ação Popular (art. 5º,
LXXIII, CRFB), Iniciativa popular de leis no âmbito municipal e estadual
(art. 29, XIII; e art. 27, §4º, CRFB); Audiência Pública3 (art. 58, §2º, II, CRFB), e
Participação do Povo na Administração Pública (art. 37, §3º, CRFB).

3) Institutos da Democracia Participativa:


- Inicialmente, o art. 1º, § único, CRFB, distingue a titularidade de exercício do poder. O titular do
poder é o povo. Porém, como regra, o exercício desse poder dá-se através dos seus representantes. Porém,
além de desempenhar o poder de maneira indireta (Democracia Representativa), o povo também o realiza
diretamente (Democracia Direta), concretizando a soberania popular, conforme os incisos do art. 14,
CRFB, regulamentado pelo art. 1º, da Lei 9.709/98, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular.
Esses meios são chamados de Institutos da Democracia Participativa.

- Plebiscito e Referendo (art. 14, I e II, CRFB): De acordo com o art. 2º, caput, Lei 9.709/98,
formas de consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de
natureza constitucional, legislativa ou administrativa.

- O Plebiscito é uma consulta prévia, devendo ser convocado com anterioridade ao ato legislativo
ou administrativo (que, caso seja aprovado o plebiscito, será posteriormente discutido pelo Poder
Legislativo), cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido (art.
2º, §1º, lei 9.709/98). Neste sentido fica o governante condicionado ao que for deliberado

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No Brasil o povo escolhe seus representantes por eleição, em uma democracia partidária (não se admite candidato que não seja
filiado a partido político). Porém, não se admite que o militar tenha filiação partidária. Assim, a filiação partidária, enquanto condição
de elegibilidade, para o militar é mitigada. O militar terá o registro da candidatura sem filiação partidária num primeiro momento, mas
tem que ter um atestado de um partido de que depois de eleito irá para a inatividade (art. 14, §8º, I e II, CRFB).
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Esta não vincula o órgão ou o poder que a realizou.
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pelo povo (Ex.: Art. 2º, ADCT – escolha da forma e sistema de governo4). Convocado o plebiscito, o
projeto legislativo ou medida administrativa não efetivada, cujas matérias constituam objeto da
consulta popular, terá sustada sua tramitação, até que o resultado das urnas seja proclamado (ar.t
9º, Lei 9.709/98).

- O Referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao


povo a respectiva ratificação ou rejeição (art. 2º, §2º, Lei 9.709/98), ou seja, há uma consulta
posterior sobre determinado ato governamental, para ratificá-lo (concedendo-lhe eficácia –
condição suspensiva) ou para retirar-lhe eficácia (condição resolutiva). Portanto, primeiro
se tem o ato legislativo ou administrativo, para, só então, submetê-lo à apreciação do povo (Ex.:
Referendo previsto art. 35, §1º, da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), organizado pelo
TSE, na qual previa a manifestação do eleitorado sobre a manutenção ou rejeição da proibição da
comercialização de armas de fogo e munição em todo o território nacional). A convocação deverá ser
no prazo de 30 dias do ato a ser consultado (art. 11, Lei 9.709).

- Em ambas hipóteses o voto também será obrigatório, com base no art. 14, §1º, CRFB. Será
considerado aprovado ou rejeitado por voto da maioria simples (art. 10, Lei 9.709).

- De acordo com o art. 3º da Lei 9.709/98, nas questões de relevância nacional, de competência do
Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do art. 18, §3º, CRFB, o plebiscito e o referendo
são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de 1/3, no mínimo, dos membros que
compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional. Assim, a competência de autorizar
referendo e convocar plebiscito, conforme art. 49, XV, CRFB, é exclusiva do Congresso
Nacional, que se materializará por meio de decreto legislativo. Após, o presidente do Congresso
Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos limites de sua circunscrição,
fixar a data da consulta popular, tornar pública cédula respectiva, expedir instruções para a
realização da consulta, dentre outros atos (art. 8º, Lei 9.709).

- Discute-se sobre a possibilidade do resultado de plebiscito ou referendo ser modificado por lei ou
emenda à Constituição. De acordo com Lenza, tal lei seria flagrantemente inconstitucional, uma
vez que houve manifestação da vontade popular, que passa a ser vinculante. Assim, considera-se
que haveria violação ao art. 1º, § único, da CRFB. Neste sentido, pode-se concluir que a
democracia direta prevalece sobre a democracia representativa, de modo que a única
forma de modificar a vontade popular seria mediante nova consulta.

- Iniciativa Popular (art. 14, III, CRFB): Trata-se de tema que é disciplinado no art. 13 da Lei
9.709/97, que, em âmbito federal, significa a possibilidade de apresentação de projeto (o povo não tem a
capacidade de legislar diretamente) à Câmara dos Deputados (a tramitação se inicia na Câmara),
subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo menos 5 Estados com não menos
de 0,3% de eleitores de cada um deles, conforme dispõe o art. 61, §2º, CRFB.

- De acordo com o art. 13, §1º e §2º, Lei 9.709, o projeto de lei deverá circunscrever-se a um só
assunto, e não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados
providenciar a correção de eventuais impropriedades.

Recall e Veto Popular


- Tratam-se de institutos de democracia semidireta, que não foram adotados pela CRFB/88.
- O Recall, que possui origem nos EUA, é um mecanismo de revogação popular do mandato eletivo
(Ex.: não cumprimento de promessa de campanha). José Afonso da Silva denomina de revogação
popular, definindo-o como um “instituto de natureza política, pelo qual os eleitores, pela via eleitoral,
podem revocar mandatos populares”.

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No referido plebiscito o voto seguiu a regra da obrigatoriedade, conforme art. 3º da Lei 8.6245/1993
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- O Veto Popular é o instrumento pelo qual o povo poderia vetar projetos de lei, podendo arquivá-los,
mesmo contra a vontade do parlamento. Teria efeito sobre os projetos de lei tramitando no Congresso.

4) Conceitos Básicos:
- Soberania Popular: Conforme Uadi Lammêgo Bulos, é a qualidade máxima do poder extraída da
soma dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de escolher os seus representantes
no governo por meio de sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário.

- Nacionalidade: É o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo


com que esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por consequência, desfrute de direitos e
submeta-se a obrigações.

Obs.: Tanto os brasileiros natos, como os naturalizados, deverão, nos termos da lei, exercer
direitos políticos (sufrágio). Assim, a aquisição da capacidade política (alistamento) é obrigatória
inclusive para os brasileiros naturalizados (desde que não se amolde no rol do art. 14, §1º, II,
CRFB). Vale destacar que, segundo o art. 12, §2º, CRFB, a lei não poderá estabelecer distinção
entre brasileiros natos e naturalizados, salvo os previstos na Constituição (Ex.: Art. 12, §3º).

- Cidadania: Tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania – todo cidadão é
um nacional, mas nem todo nacional é um cidadão), caracterizando como a titularidade de direitos
políticos de votar e ser votado. O cidadão, portanto, é o nacional que goza de direitos políticos, e possui o
direito de votar (jus sufragi) e de ser votado (jus honorum). Com a aquisição da Capacidade Política do
indivíduo, torna-se cidadão.

- Segundo Fávila Ribeiro, a Capacidade Política é a “aptidão pública reconhecida, pela ordem
jurídica, ao indivíduo para integrar o poder de sufrágio nacional, adquirindo a cidadania e ficando
habilitado a exercê-la”.

- Alistamento: É procedimento administrativo eleitoral, pelo qual se qualificam e se inscrevem os


eleitores, ou seja, se habilita, perante a Justiça Eleitoral, como eleitor e sujeito de direitos políticos,
conquistando a capacidade eleitoral ativa. Considera-se a primeira etapa do processo eleitoral. É com este
ato que se adquire a capacidade eleitoral ativa, e é um pressuposto da própria cidadania (José Jairo
Gomes). A base legal do alistamento eleitoral é o art. 42 a 81 do CE, Lei 7.444/85, e Res. TSE nº 21.538/03.
As modalidades de alistamento eleitoral são: Obrigatório, Facultativo, Inalistabilidade.

- Sufrágio: Para Paulo Bonavides, o sufrágio é o “poder que se reconhece a certo número de pessoas
(corpo de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida
pública”. É uma manifestação da soberania popular. É o direito político em si considerado (segundo
muitos autores, o poder de sufrágio traduz o direito político). É o direito de participação da vida política de
uma nação. É o direito de votar e ser votado. Trata-se da capacidade eleitoral ativa (direito de votar,
capacidade de ser eleitor, alistabilidade) e capacidade eleitoral passiva5 (direito de ser votado,
elegibilidade).

- Em uma democracia participativa, como a brasileira, o poder de sufrágio é exercido através do


voto, instrumento de materialização do sufrágio manifestado nas eleições e nas consultas
populares, bem como por outros meios de participação direta do povo na formação da vontade
política do Estado, como a iniciativa popular de lei.

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O jus sufragi é o direito de votar (que depende de alistabilidade), e o jus honorum é o direito de ser eleito (que pressupõe
elegibilidade)
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- Voto: É o ato por meio do qual se exercita o sufrágio (instrumento do sufrágio). De acordo com
Alexandre de Moraes, o voto possui natureza de direito público subjetivo, possuindo também função
política e social de soberania popular na democracia representativa. Ademais, para muitos se caracteriza
como um dever.

- Vale destacar que o Sufrágio é um direito abstrato, já o Voto é um direito concreto. O Sufrágio é o
poder inerente ao povo de participar da gerência da vida pública. O Voto é o exercício do sufrágio,
ou seja, instrumento para a materialização deste poder.

- Escrutínio: É o modo, maneira, forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto), ou seja, o seu
procedimento.

4.1) Espécies de Sufrágio:

- Sufrágio Universal: Caracteriza-se pela concessão genérica da cidadania, sem qualquer tipo de
discriminação, salvo certas limitações, desde que razoáveis e proporcionais, como a vedação a que uma
criança vote. No Brasil, de acordo com o art. 14, caput, CRFB, o Sufrágio é Universal.

-Objetivamente, diz-se que todo sufrágio tem alguma espécie de restrição, não existindo sociedade
que defira o exercício pleno do poder de sufrágio a todos os seus cidadãos. Porém, isso, por si só,
não pode-nos levar a concluir que todo sufrágio é restrito, pois a distinção entre sufrágio universal
e restrito não advém do fato de existirem restrições ao exercício do poder democrático, mas a
razoabilidade, ou não, de tais restrições (Ex.: Restrição para que menores de 16 anos não possam
votar – é uma restrição razoável, e, portanto, não retira o caráter universal do sufrágio no Brasil)
(Ex.: Impedir mulher de exercer o sufrágio – Não é razoável, e, se presente, torna o sufrágio restrito).

- Sufrágio Restrito: Caracteriza-se pela concessão restrita da cidadania a determinados grupos sociais.
Existem as seguintes formas de sufrágio restrito:
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- Sufrágio Plural: Um mesmo indivíduo tem o poder de exercer, mais de uma vez, o direito ao voto em
um determinado processo eleitoral, fazendo com que o seu poder de sufrágio seja mais do que o de outros
cidadãos.

- Sufrágio Singular: Prevalece a lógica de Rousseau, segundo a qual, na democracia, cada homem deve
corresponder a um único voto. No Brasil, de acordo com o art. 14, caput, CRFB, o Sufrágio é Singular.

4.2) Direito Político Positivo (Direito de Sufrágio):

- Um dos núcleos dos direitos políticos é o direito de sufrágio, que se divide, como visto, em
capacidade eleitoral passiva e ativa.

- A capacidade eleitoral passiva (elegibilidade), que nada mais é que a possibilidade de eleger-se,
concorrendo a um mandato eletivo, apenas se torna absoluto caso preencha todas as condições de
elegibilidade para o cargo ao qual se candidata e, ainda, não incidir em nenhum dos impedimentos
constitucionalmente previstos (direitos políticos negativos). As condições de elegibilidade estão
previstas no art. 14, §3º (ler6 - cai em prova). Em relação à idade mínima, de acordo com a Res.
22.156/TSE, esta é verificada por referência a data da posse.

- Na capacidade eleitoral ativa, o exercício do sufrágio se dá, dentre outras formas, pelo voto, que
pressupõe alistamento eleitoral (título eleitoral7), nacionalidade brasileira, idade mínima de 16 anos, e
não ser conscrito8 durante o serviço militar obrigatório, conforme art. 14, §1º e §2º.

6 Vale notar que o estrangeiro naturalizado pode candidatar-se ao Senado Federal ou Deputado Federal, apenas não podendo ser
eleito presidente daquelas Casas (art. 12, §3º, II e III).
7 Conforme o STF decidiu em medida cautelar na ADI 4.467, não há necessidade de dupla identificação do eleitor, por ferir a

proporcionalidade e razoabilidade. Assim, basta apresentar documento oficial com foto para exercício da capacidade eleitoral ativa. O
mérito se encontra pendente.
8 São aqueles que estão prestando serviço militar obrigatório.
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- Obrigatoriedade de Voto: De acordo com o art. 14, §1º, I, CRFB, o voto é obrigatório para os maiores
de 18 e menores de 70 anos. Fora de tal faixa, o voto é facultativo.

- Voto do deficiente físico: De acordo com o art. 1º e § único da Resolução 21.920/2004, o voto é
obrigatório para o deficiente físico, porém não estará sujeita a sanção a pessoa portadora de
deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações
eleitorais, relativas ao alistamento e ao exercício do voto. Assim, o deficiente, a priori, é obrigado a
votar, mas pode pedir a dispensa, desde que fundamentada. Na visão de Gilmar Mendes, o voto
para o deficiente deve ser facultativo.

- Características do Voto: O voto é direto, secreto, universal, periódico, livre, personalíssimo e


com valor igual para todos. Vale lembrar que o constituinte originário elevou à categoria de cláusula
pétrea tais características, conforme art. 60, §4º, II.

Obs.1: O voto indireto, no entanto, é possível excepcionalmente, em caso de vacância


concomitante dos cargos de prefeito e vice-prefeito ou governador e vice-governador, ou
ainda presidente e vice-presidente da República, nos últimos dois anos de mandato, casos
em que a Constituição determina a realização de eleições indiretas para os cargos vagos, a
fim de que sejam completados os mandatos vagos (art. 81, §1º, CRFB).

Obs.2: A obrigatoriedade do voto não é cláusula pétrea no Brasil.

 Direto: O cidadão vota diretamente no candidato, sem qualquer intermediário. Para José Afonso
da Silva, tal regra é absoluta e não possui exceções. Contudo, para Alexandre de Moraes e Lenza,
excepcionalmente, é possível eleição indireta no Brasil, conforme art. 81, §1º (vagar os cargos de
Presidente e Vice nos últimos 2 anos do mandato), na qual a eleição para ambos os cargos será
feita pelo Congresso Nacional.

 Secreto: Não se dá publicidade da opção do eleitor, mantendo-se absoluto sigilo9. O sigilo do voto
é garantido, no Brasil, através da inviolabilidade do emprego de urnas que assegurem a
inviolabilidade do sufrágio (art. 61, lei 9.504/97), bem como pelo isolamento do eleitor em cabine
indevassável.

 Universal: Seu exercício não está ligado a nenhuma condição discriminatória (Sufrágio
Universal), como aquelas de ordem econômica (ter ou não certa renda - censitário), intelectual
(ser ou não alfabetizado – capacitário), etc. O voto no Brasil, portanto, não é restrito.

 Periódico: A democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo determinado. Tal
garantia está prevista no art. 60, §4º, de modo que a democracia representativa exige a
existência de mandatos com prazo determinado.

 Livre: A escolhe pode dar-se por um ou outro candidato, podendo também anular ou votar em
branco. A obrigatoriedade está em comparecer às urnas apenas (e tal característica não é inerente
a todos os eleitores – art. 14, §1º, II, CRFB). Neste sentido, fala-se em “obrigatoriedade de
formal comparecimento” (Alexandre de Moraes).

 Personalidade / Personalíssimo: É vedada a votação por procurador, de modo que o voto deve
ser exercido pessoalmente pelo cidadão.

9
De acordo com o STF (ADI 1.057-MC), as deliberações parlamentares devem pautar-se pelo princípio da publicidade, a traduzir
dogma do regime constitucional democrático. Neste sentido, o art. 14, CRFB, tem por destinatário específico e exclusivo o eleitor
comum, no exercício das prerrogativas inerentes ao satus activae civitatis, não se aplicando tal norma de garantia ao membro do
Poder Legislativo nos procedimentos de votação parlamentar. Neste, prevalece o postulado da deliberação ostensiva ou aberta.
CPVI – Aula 1 11

 Igualitário: Decorre do princípio one mano ne vote, de forma que o voto deve ter valor igual para
todos (Sufrágio Singular).

4.3) Direitos Políticos Negativos:

- Trata-se de formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-partidárias,


privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como o impedindo de eleger um
candidato (capacidade eleitoral ativa) ou ser eleito (capacidade eleitoral passiva). Neste ponto,
abordaremos as inelegibilidades, a perda e a suspensão dos direitos políticos.

4.3.a) Inelegibilidades:

Distinção de Conceitos
 Elegibilidade: É a capacidade eleitoral passiva, consistente na possibilidade de o cidadão
pleitear determinados mandatos políticos, mediante eleição popular.
 Condições de Elegibilidade: São requisitos positivos a serem preenchidos por aquele que
pretende concorrer a cargos públicos eletivos. São verdadeiras condições de registrabilidade, ou
seja, pressupostos ao registro de candidatura, cuja ausência acarretará a inexistência do direito a
registrar (Adriano Soares da Costa). Estão, em grande parte, descritas no art. 14, §3º, CRFB.
 Causas de Inelegibilidade: Para Adriano Soares da Costa (minoritário), trata-se da “outra
face da moeda em relação às condições de elegibilidade”. Porém, prevalece o entendimento (STF e
TSE – Teoria Clássica) de que não se confundem, sendo estes impedimentos que, se não
afastados por quem preencha os pressupostos de elegibilidade, lhe obstam concorrer às eleições,
ou, se supervenientes ao registro, servem de fundamento à impugnação de sua diplomação, se
eleito. Assim, segundo esta visão, para que alguém seja eleito, precisa preencher pressupostos
(requisito positivo – Condições de Elegibilidade) e não incidir em impedimentos (requisito negativo
– Causas de Inelegibilidade).
- Seguindo o entendimento do STF (Teoria Clássica), portanto, a hipótese do art. 1º, I, g, LC
64/90, por exemplo, não é uma condição de elegibilidade, pois não está prevista na CRFB (art. 14,
§3º), mas sim uma hipótese de inelegibilidade.
- As causas de inelegibilidade só implicam restrições à capacidade eleitoral passiva
(concorrer às eleições).
- As situações de inelegibilidade, além das previstas diretamente da constituição (art. 14,
§4º ao §8º, CRFB), só pode derivar de norma inscrita em lei complementar (art. 14. §9º).
- Para Adriano Soares da Costa (minoritário), como as causas de inelegibilidade são apenas um outro
lado da moeda das condições de elegibilidade, as causas de elegibilidade previstas no art. 14, §3º, CRFB,
exigiriam lei complementar para regulamentar o dispositivo (art. 14, §9º, CRFB), o que transformaria o
art. 9º da Lei 9.504 em inconstitucional.
- Porém, para o entendimento dominante no STF e TSE (Teoria Clássica), embora o art. 9º, Lei
9.504/97 seja tratado por uma lei ordinária, coaduna-se com a CRFB, uma vez que, segundo a referida
teoria, trata o citado dispositivo legal de condições de elegibilidade, previstas no art. 14, §3º, CRFB, e não
de hipóteses de inelegibilidade, previstas no art. 14, §9º.

- São as circunstâncias (constitucionais ou legais) quem impedem o cidadão do exercício total ou parcial da
capacidade eleitoral passiva (eleger-se). Não deve ser confundido com a inalistabilidade (impede o
exercício da capacidade eleitoral ativa) e a incompatibilidade (já eleito, impede-se o exercício do
mandato).

- De acordo com o art. 14, §9º, as inelegibilidades protegem a probidade administrativa, a moralidade
para o exercício do mandato, considerando a vida pregressa do candidato e a normalidade e
legitimidade das eleições, contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
CPVI – Aula 1 12
ou emprego na administração direta ou indireta.

- As causas de inelegibilidade estão previstas no §4º ao §8º do art. 14, normas estas que independem de
regulamentação infraconstitucional (normas de eficácia plena e imediata), e em lei complementar,
que poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade, conforme §9º. As inelegibilidades se dividem em
absolutas e relativas:

- Inelegibilidade Absoluta: Trata-se de impedimento eleitoral para qualquer cargo eletivo,


taxativamente previsto na CRFB. Trata-se das hipóteses previstas no art. 14, §4º, abordando os
inalistáveis10 (previstos no §2º - estrangeiros11, conscritos) e os analfabetos (este tem direito a se alistar,
podendo votar, mas não possui capacidade eleitoral passiva).

- Inelegibilidade Relativa: Trata-se de impedimento eleitoral para algum cargo eletivo ou


mandato, em decorrência de situação prevista na CRFB ou Lei Complementar. Mas podem eleger para
outros cargos sobre os quais não recaia inelegibilidade. Trata-se das hipóteses em decorrência da função
exercida, parentesco, ser militar, outras situações previstas em lei complementar (art. 14, §9º).

Obs.: As inelegibilidades constitucionais podem ser arguidas mesmo após o prazo para o
ajuizamento da AIRC (art. 3º, LC 64), ao contrário das inelegibilidades infraconstitucionais.

- Inelegibilidade relativa em razão da função exercida (motivos funcionais) para um


terceiro mandato sucessivo (art. 14, §5º): Os chefes do poder executivo e quem os houver
sucedida ou substituído no curso do mandato não pode ser reeleito para um terceiro
mandato sucessivo12. A regra trazida pela EC 16/67 permite a reeleição por um único período
subsequente. Contudo, se permite que, após o intervalo de uma legislatura, se candidate para um
terceiro mandato não sucessivo. (Pegar essa parte, nas marcações do Livro da JUSPODIVM
– pág. 223)

- De acordo com a Res. n. 20.889/01/TSE, sobre o questionamento se os vices podem ser


candidatos à sucessão do titular reeleito (este não pode mais ser candidato a um terceiro
mandato sucessivo), abordando a lógica do art. 14, §5º13, ficou determinou que o Vice, tendo
ou não sido reeleito, se sucede o titular, poderá candidatar-se à reeleição por um período
subsequente. No entanto, para candidatar-se a cargo diverso, deverá observar o art. 1º, §2º,
da LC 64/90. Tal entendimento foi mantido pelo STF no RE 366.488.

CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. VICE-GOVERNADOR ELEITO DUAS VEZES


CONSECUTIVAS: EXERCÍCIO DO CARGO DE GOVERNADOR POR SUCESSÃO DO
TITULAR: REELEIÇÃO: POSSIBILIDADE. CF, art. 14, § 5º. I. - Vice-governador eleito duas
vezes para o cargo de vice-governador. No segundo mandato de vice, sucedeu o titular. Certo
que, no seu primeiro mandato de vice, teria substituído o governador. Possibilidade de reeleger-
se ao cargo de governador, porque o exercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou
por sucessão. Somente quando sucedeu14 o titular é que passou a exercer o seu primeiro
mandato como titular do cargo. II. - Inteligência do disposto no § 5º do art. 14 da
Constituição Federal. III. - RE conhecidos e improvidos. (STF - RE: 366488 SP , Relator:
CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 04/10/2005, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ
28-10-2005 PP-00061 EMENT VOL-02211-03 PP-00440 LEXSTF v. 27, n. 324, 2005, p. 237-245
RB v. 18, n. 506, 2006, p. 51)

10 Vale lembrar que o alistamento eleitoral é indiscutível condição de elegibilidade (art. 14, §3º, III, CRFB).
11 Conforme José Afonso da Silva, os estrangeiros não adquirem direitos políticos, que só são atribuídos a brasileiros natos e
naturalizados. Não são, portanto, alistáveis eleitores, nem podem votar ou serem votados (art. 14, §2º).
12 Pode ser eleito para um terceiro mandato, desde que não seja sucessivo.
13 O art. 79, CRFB, estabelece a diferença de sucessão (caso de vacância) para substituição (caso de impedimento).
14 No entendimento do STF, a redação do art. 14, §5º, foi infeliz ao se referir “quem houver sucedido ou substituído”, de modo que o

exercício da titularidade do cargo somente se dá pela eleição ou sucessão. O texto constitucional não proíbe a candidatura
daquele que tenha substituído precariamente o titular do cargo (Melhor explicado na pág. 226 do Livro de Eleitoral).
CPVI – Aula 1 13
- Prefeito Itinerante / Prefeito Profissional: Trata-se de hipótese em que prefeito reeleito para
um mesmo Município, na medida em que inelegível para 3º mandato consecutivo, transfere seu
domicílio eleitoral para município diverso, buscando afastar a inelegibilidade do art. 14, §5º,
CRFB. Durante muito tempo o TSE (RESPE 32.507) admitia tal situação15, porém mudou seu
entendimento em 2008, passando a não mais admitir essa situação, por configurar fraude
mediante a faculdade de transferir-se domicílio eleitoral, de modo a ilidir a incidência do art. 14,
§5º, CRFB, para perpetuar-se no poder e se apoderar de unidades federadas para a formação de
clãs políticos. Nota-se evidente desvio de finalidade do direito à fixação do domicílio
eleitoral.

- O STF (RE 637.48516) manteve tal entendimento, não admitindo o terceiro mandato
consecutivo, mesmo na hipótese de municípios distintos. Neste sentido, assentou-se que a
inelegibilidade atinge cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação
diverso. Tal decisão buscou fundamento no princípio republicano, no sentido de
respeito à temporariedade e alternância no exercício do poder.

- Contudo, é possível que o prefeito, observando a desincompatibilização de 6 meses antes


de novo pleito, saia a candidato a outros cargos (Governador, Presidente, Deputado,
Vereador), na forma do art. 14, §6º, apenas sendo vedado para Prefeito, ainda que de outro
município.

- Inelegibilidade relativa em razão da função para concorrer a outros cargos: De acordo


com o art. 14, §6º, os Chefes do Executivo, para concorrer a outro cargo, devem renunciar aos
respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito. Trata-se do instrumento de
desincompatibilização. (Pegar essa parte, nas marcações do Livro da JUSPODIVM –
pág. 224)

- A desincompatibilização pode ser definida como o afastamento de cargo, emprego ou


função, pública ou privada, exercido por cidadão brasileiro, de forma provisória ou
definitiva, com o intuito de disputar mandato eletivo, de forma a afastar a inelegibilidade
(incompatibilidade). Em alguns casos, é usada para que seja evitada a inelegibilidade
reflexa de parentes.

- O STF (ADI 1.805-MC/DF) entende que a desincompatibilização deve dar-se somente


para a candidatura a outros cargos, diversos, diferentes. Para a reeleição, os Chefes do
Executivo não precisam, portanto, renunciar 6 meses antes do pleito.

- Em relação aos Vices, a mencionada regra de desincompatibilização não incide, na medida


em que não são mencionados no art. 14, §6º, a não ser que tenham, nos 6 meses anteriores
ao pleito, sucedido ou substituído os titulares.

- Inelegibilidade relativa em razão do parentesco (Inelegibilidade reflexa): De acordo com


o art. 14, §7º, CRFB, são inelegíveis, no território da circunscrição do titular, o cônjuge (se estende
à União Estável, inclusive união homoafetiva) e os parentes consanguíneos ou afins, até o
segundo grau ou por adoção dos Chefes do Executivo ou quem os haja substituído dentro dos 6
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição
(Ex: O filho não pode ser vereador no município em que seu pai é prefeito e está no mandato - art.
14, §7º, da CRFB). Tal limitação se dá dentro da circunscrição (território) que o chefe do poder
executivo exerce o mandato (pode ser vereador ou prefeito de outro município). (Pegar essa parte,

15 Com algumas limitações, como no caso de município limítrofe, microrregião eleitoral única ou resultante de desmembramento,
incorporação ou fusão.
16 O STF modulou os efeitos da decisão, aplicando-a apenas prospectivamente, a partir de 2012.
CPVI – Aula 1 14
nas marcações do Livro da JUSPODIVM – pág. 226)

- De acordo com a Súmula Vinculante 18, pacificou o STF que a dissolução da sociedade
ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não fasta tal inelegibilidade.

- Segundo o STF (RE 543.117), tal regra deve ser interpretada de maneira a dar eficácia e
efetividade aos postulados republicanos e democráticos da Constituição, evitando-se
a perpetuidade ou alongada presença de familiares no poder. De acordo com o STF
(Informativo 283), o tratamento dispensado ao titular do cargo deve ser o mesmo
adotado relativamente aos parentes, ou seja, sendo reelegível o titular, e renunciando 6
meses antes do pleito, permite-se a candidatura de seus parentes ao mesmo cargo. Ademais,
afirmou-se que parentes podem concorrer na eleição, desde que o titular do cargo tenha o
direito à reeleição e não concorra na disputa (são elegíveis para o mesmo cargo do titular,
quando este for reelegível e tiver se desincompatibilizado 6 meses antes do pleito – TSE).

- Assim sendo, o prefeito, o governador e o presidente que estiverem no 1º mandato podem


ser reeleitos (cargos do poder legislativo não possuem limitação ao número de reeleições).
Todavia, eles podem renunciar ao mandato 6 meses antes da eleição e, com isso, permitir
que o cônjuge e os parentes possam concorrer na mesma circunscrição eleitoral (Municípios,
Estado, etc.) Mas se estiver no 2º mandato, ainda que renuncie 6 meses antes da eleição,
não será permitido que seu parente se candidate. Trata-se de uma exceção permitida pela
jurisprudência do TSE, que se baseia em uma interpretação sistemática entre o art. 14 §5º e
o §7º, CRFB.

- No caso de governador, irá gerar impedimento para todos os cargos dentro do estado,
menos o de presidente e vice-presidente da república (Deputado Federal e Senador são
eleitos por um estado - Se torna Senador eleito pelo Estado do Rio e Deputado Federal do
RJ). Mas haverá possibilidade se candidatar a qualquer cargo dentro de outro estado.

Caso Garotinho e Rosinha: Se meu pai estiver no 1º mandato de prefeito, e se afastar 6 meses antes,
eu posso concorrer para prefeito. Esta renúncia favorece o parente, desde que seja no 1º mandato
(porém não afasta as causas de ineligibilidade, apenas é instrumento de desincompatibilização).
Porém, se eu for eleito (depois de o meu pai ter renunciado 6 meses antes do fim de seu 1º mandato),
CPVI – Aula 1 15
não poderei me recandidatar, pois já estarei no 2º mandado naquela relação familiar (é como se eu
estivesse substituindo a recandidatura de meu pai). Note-se que, não afasta a ineligibilidade, pois se
meu pai já estiver no 2º mandato, não adiantará ele renunciar 6 meses antes, pois de qualquer forma
eu não poderei me candidatar.

- Militares: De acordo com o art. 14, §8º, o militar alistável é elegível, sendo que, se tiver menos
de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade, e se tiver mais, será agregado pela
autoridade superior (afastado temporariamente), e se eleito passará automaticamente, no ato da
diplomação, para a inatividade.

- De acordo com interpretação do STF (RE 279.469), o termo “afastar-se” deve ser entendido
como definitivo, de modo que deve ser excluído do serviço ativo mediante demissão ou
licenciamente ex officio, e o consequente desligamento da organização a que estiver
vinculado.

- Em que pese a regra do art. 142, §3º, V, CRFB, como só existe candidatura a cargo eletivo
no Brasil mediante partidos políticos, o militar deverá se filiar a partido para concorrer nas
eleições. O prazo de filiação partidária de 6 meses da eleição (art. 9º, Lei 9.504/97),
contudo, não será exigido, bastando o pedido de registro de candidatura, após prévia
escolha em convenção partidária (Res. 20.993/TSE) (porém, a condição de elegibilidade
referente ao domicílio eleitoral 1 ano antes do pleito, na respectiva circunscrição, se aplica
aos militares). Portanto, o militar deverá participar da convenção e, se escolhido
candidato, filiar-se a partido político, a fim de concorrer.

- Inelegibilidades previstas em lei complementar: Trata-se de permissão prevista no art. 14,


§9º, para que lei complementar estabeleça outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua
cessação. Ademais, por se tratar de restrições a direitos fundamentais, somente novas
inelegibilidades relativas podem ser definidas, já que as absolutas só se justificam quando
estabelecidas pela CRFB17. Neste sentido foi criada a LC 64/90, que recebeu alterações da LC
135/2010 (Lei da Ficha Limpa).

- Segundo o STF (ADI 1.063-MC), os requisitos de elegibilidade (domicílio eleitoral,


filiação partidária, etc.) podem ser disciplinados mediante lei ordinária, posto que não se
confundem, no plano jurídico-conceitual, com as hipóteses de inelegibilidade, que só
podem derivas de norma inscrita em lei complementar. Assim, para o STF, dispensa-se
lei complementar, por exemplo, para os casos de regular as sanções de cassação do registro
ou do diploma em decorrência de captação de sufrágio (art. 41-A, Lei 9.504/97) não
constituem novas hipóteses de inelegibilidade (ADI 3.592); e previsão de proibição de
comparecimento a inauguração de obra 3 meses antes do pleito (art. 77 da Lei 9.504) (ADI
3.305).

Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010)


- Inicialmente, destaque-se que o art. 14, §9º, CRFB declarou a possibilidade de previsão de inelegibilidade
decorrente de lei complementar “...a fim de proteger a probidade administrativa, a modalidade para
exercício de mandato considerada a vida pregressa do candidato...”. Neste sentido, a LC 135/2010 (Lei da
Ficha Limpa) modificou a LC 64/90 para trazer novas hipóteses de inelegibilidade.
- A LC 135/2010 passou a definir com mais precisão o conceito de “vida pregressa do candidato”, passando a
dar maior peso a eventual “ficha suja”.
- Antes de tal modificação, para que se caracterizasse hipótese de inelegibilidade era necessário que houvesse
sentença negativa transitada em julgado (O STF considerava constitucional tal regra).
- Com a mudança, passou-se a prever hipótese de inelegibilidade não somente no caso de decisão transitada

17 Para Pedro Lenza, ademais, apenas pode ser fixada pelo constituinte originário, sob pena de se ferir direito e garantias
individuais (art. 60, §4º, IV).
CPVI – Aula 1 16
em julgado por praticado, como também em razão de decisão proferida, na hipótese dos crimes elencados,
por órgão colegiado, mesmo que ainda não tenha ocorrido o trânsito em julgado (art. 1º, I, e, LC 64/90). De
igual modo houve previsão em relação à decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da
Justiça Eleitoral, em decorrência de algumas atitudes vedadas.
- Contudo, a referida alteração gerou 2 discussões:
1) Era possível aplicar as alterações à eleição de 2010? – Alguns candidatos alegavam
que iria ferir o princípio da anualidade eleitoral18 (art. 16, CRFB), de modo que a lei que altera o
processo eleitoral entra em vigor na data de sua aplicação, mas apenas se aplica à eleição que ocorra
em depois de 1 ano da data de sua vigência.
Alguns doutrinadores e o TSE afirmavam que tal lei não se caracterizava como processo
eleitoral, mas como norma eleitoral material, que não influenciava o processo eleitoral, por não
romper a igualdade de participação dos partidos e candidatos, não ensejar alteração motivada por
propósito casuístico, não afetar a normalidade das eleições, nem perturbar o pleito.
Contudo, o STF (RE 631.10219 e 633.703 – Informativo 620/STF) determinou o afastamento da
incidência da LC 135/2010 às eleições ocorridas em 2010 e as anteriores, bem como para os mandatos
em curso, sob pena de violar o art. 16, CRFB, assegurando a anterioridade eleitoral e a garantia do
devido processo legal eleitoral. Afirma-se que a aplicação do art. 16, como direito fundamental,
caracteriza-se como verdadeira cláusula pétrea (garantia fundamental do cidadão-eleitor, cidadão-
candidato e dos partidos políticos, oponível ao constituinte derivado – Gilmar Mendes; além disso, afirmou que a
referida lei interferiu na fase pré-eleitoral do processo eleitoral).
2) Constitucionalidade Material da Lei: O STF (ADCs 29 e 30; e ADI 4.578) considerou
constitucional a referida lei, reconhecendo a observância da moralidade e probidade no tocante à vida
pregressa bem como a interpretação conforme a Constituição do art. 1º, I, e, LC 64/90. Afirmou-se
também que não houve violação à presunção de inocência (art. 5º, LVII, CRFB), nem à vedação ao
retrocesso. Ademais a doutrina cita consagração do princípio da precaução e do Estado Democrático
de Direito e da República. Outros doutrinadores falam em flexibilização do princípio da presunção
de inocência em face do princípio da moralidade eleitoral (ponderação de interesses).

Estrangeiros

Inalistáveis

Absoluta Conscritos

Analfabetos

Para o mesmo
cargo (reeleição)
Inelegibilidade Motivos
Funcionais Para outros
cargos
(desicompatibiliz
ação)

Cônjuge/Parente Inelegibilidade
sco/Afinidade Reflexa
Relativa

Menos de 10
anos de serviço /
Militares
Mais de 10 anos
de serviço

Legais LC 64/90

18 Ressalte-se que o princípio da anualidade não modifica a data de vigência da lei, apenas não a aplicando às eleições que se
realizem até um ano da data de sua vigência.
19 Houve empate na votação, e a presidenta Dilma, após as eleições de 2010, indicou o Ministro Fux para o STF, de modo que o

mesmo decidiu pela não aplicação da referida regra às eleições de 2010.


CPVI – Aula 1 17

4.3.b) Privação dos Direitos Políticos (Perda e Suspensão):

- Além das hipóteses que restringem a elegibilidade do cidadão, tornando-o inelegível, absoluta ou
relativamente, também existem hipóteses que privam o cidadão dos direitos políticos de votar e ser
votado (perda da cidadania política, conforme José Afonso da Silva), tanto definitivamente
(perda) como de modo temporário (suspensão). Porém, em nenhuma hipótese, conforme art. 15, CRFB, é
permitida a cassação de direitos políticos.

- Perda dos Direitos Políticos:

- Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (art. 15, I): Em


decorrência do cancelamento da naturalização, o indivíduo voltará à condição de estrangeiro, não
podendo mais se alistar como eleitor (art. 14, §2º) nem eleger-se, uma vez que deixa de ostentar a
nacionalidade brasileira (art. 14, §3º, I).

- Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra (art. 12, §4º, II):
Embora não esteja previsto no art. 15, por interpretação sistemática esta é mais uma hipótese
constitucionalmente prevista de perda dos direitos políticos (por passar a ser estrangeiro20), uma
vez que a nacionalidade brasileira é pressuposto para a aquisição de direitos políticos.

- Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (art. 15, IV): O
art. 5º, VIII, estabelece que, como regra, ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política (escusa de consciência). No entanto, se as invocar
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta (serviço militar obrigatório – art. 143) e recursar-
se a cumprir a prestação alternativa, fixada em lei, terá como sanção a declaração da perda de
seus direitos políticos.

- Para muitos autores de Direito Eleitoral, essa é uma hipótese de suspensão e não de
perda de direitos políticos, conforme art. 4º, §2º, Lei 8.239/91. Contudo, na visão de José
Afonso da Silva, será hipótese de perda, pois a pessoa apenas irá readquirir os direitos
políticos se prestar o serviço alternativo, não sendo o vício suprimido por decurso de prazo.

- Suspensão dos Direitos Políticos:

- Incapacidade civil absoluta (art. 15, II): Casos de interdição. De acordo com Pontes de
Miranda, nos casos em que as enfermidades são incuráveis (causando uma incapacidade absoluta
fixa e imutável), nestes casos haverá a perda dos direitos políticos, e não a suspensão. No entanto,
em uma prova, deve-se responder sempre que a incapacidade absoluta é causa de suspensão.

Índios
- O estatuto do índio (lei 6.001/74), em seu art. 4º, prevê 3 tipos de índios:
 Índio não integrado: É hipótese de absolutamente incapaz, protegido pela FUNAE, não
votando e nem sendo votado.
 Índio semi-integrado: A princípio vota e pode ser votado, não tendo impedimento. Isto,
pois o impedimento que poderia ter seria do art. 5º, II, do CE (não se exprime em língua
nacional). Porém o TSE entendeu que o art. 5º, II, é uma discriminação, limitando o

20
Vale lembrar que os estrangeiros e conscritos são inalistáveis e o alistamento eleitoral é condição de elegibilidade (art. 14, §3º, III).
CPVI – Aula 1 18
sufrágio (sendo que o sufrágio não é restrito, mas universal). Assim sendo, o TSE
considerou o art. 5º, II, não recepcionado pela Constituição21, permitindo ao índio
tirar o título, mesmo que ele não saiba o idioma nacional.
 Índio integrado: Ele vota e é votado, e é considerado brasileiro nato.

- Condenação criminal transitada em julgado (art. 15, III): Os direitos políticos ficam
suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal regra abrange crimes (culposos e
dolosos) e contravenções (TSE – AC. 13.027).

Obs.: Embora a condenação criminal sem trânsito em julgado não gere suspensão de
direitos políticos, pode gerar inelegibilidade, conforme LC 135/10 (Ficha Limpa).

Obs.2: Para o TSE, nas hipóteses de sursis (suspensão condicional da pena), por continuar
a existir condenação criminal com trânsito em julgado, mantém-se a suspensão dos direitos
políticos do condenado. Já na hipótese de suspensão condicional do processo e
transação penal, por não haver condenação criminal transitada em julgado, o réu
preserva seus direitos políticos.

- Improbidade Administrativa nos termos do art. 37, §4º (art. 15, V): Além da perda da
função pública, os atos de improbidade administrativa importam em suspensão dos direitos
políticos. A declaração de improbidade terá de ser via processo judicial, não podendo ser através de
mero processo administrativo. Ao contrário do que ocorre nas hipóteses de condenação criminal,
esta suspensão não é efeito imediato da condenação, devendo expressamente constar da decisão
para que ocorra, conforme prevê o art. 20, Lei 8.429/92.

- Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade (art. 12, §1º): De acordo com o art.
17.3 do Decreto 3.927/2001, o gozo dos direitos políticos em Portugal (por brasileiro) importará na
suspensão do exercício dos mesmos direitos no Brasil.

- Art. 55, II, e §1º, c/c art. 1o, I, b, da LC 64/90: Procedimento do Deputado ou Senador
declarado incompatível com o decoro parlamentar – inelegibilidade por 8 anos, nos termos do art.
1º, b, da LC 64/90.

- Reaquisição dos Direitos Políticos Perdidos ou Suspensos: Perdido o direito político na hipótese
de do art. 15, I, a reaquisição só se dará através de ação rescisória. Se a hipótese de perda for a causa do
art. 15, IV, a requisição se dará quando o indivíduo, a qualquer tempo, cumprir a obrigação devida. Já a
perda do art. 12, §4º, II, o art. 36, da Lei 818/49 prevê a possibilidade de reaquisição por decreto
presidencial, se o ex-brasileiro estiver domiciliado no Brasil. Conforme observa José Afonso da Silva,
tal reaquisição não terá efeito retroativo, e recupera a condição que perdera (nato ou naturalizado,
conforme era antes). Por fim, em relação às suspensões, a reaquisição dos direitos políticos dar-se-á
quando cessarem os motivos que determinaram a suspensão.

Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo


De acordo com o art. 38, CRFB (redação determinada pela EC 19/98), aplicam-se as seguintes
disposições aos servidores públicos no exercício do mandato eletivo:

I. Tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo,
emprego ou função;
II. Investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe
facultado optar pela sua remuneração;
III. Investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as
vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e,

21
Da mesma forma o art. 5º, I, do CE, também é inconstitucional, considerando-se que não foi recepcionado pela CRFB.
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não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
IV. Em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de
serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
V. Para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados
como se no exercício estivesse.

5) Mandato Político:
- O mandato político é o instituto de direito público por meio do qual o povo delega, aos seus
representantes, poderes para atuar na vida política do Estado (representação política). É típico das
democracias indiretas e semidiretas.

- O mandato político não se confunde com o mandato de direito privado, na qual o mandatário é limitado
pelo mandante, nos termos estabelecidos no mandato. No mandato político, os representantes, eleitos
pelos seus pares, exercem a soberania, tomando decisões em nome da coletividade.

- Modelos de Mandato Político:

 Mandato Político Imperativo (John Locke): Fundamenta-se na concepção de que o povo, como
titular da soberania, deve estabelecer limites à ação do governo, a fim de que o interesse público, e
não os interesses privados dos representantes, prevaleçam. O mandatário, assim, deve seguir as
recomendações do eleitor, sob pena de perder o mandato. Este modelo não é adotado no Brasil.
- Este modelo é utilizado nos EUA, e tem-se como exemplo o Recall, que é uma revogação
popular do mandato eletivo (instituto que não existe no Brasil), realizado na Califórnia em
2004, que possibilitou a eleição de Arnold Schwarzenegger.
Obs.: Apesar de a lei 9.504/97, em seu art. 11, §1º, IX, prever que os candidatos a cargos
majoritários do Poder Executivo tenham que juntas, aos seus requerimentos de
candidaturas, as suas propostas e projetos de campanha, tal previsão tem apenas conteúdo
moral, uma vez que não existe previsão legal de perda do mandato político de candidato
eleito que venha a descumprir promessas.

 Mandato Político Representativo (Edmund Burke): O Mandatário tem plena liberdade para
exercer o mandato político, Não precisa seguir as orientações do eleitor. Trata-se do modelo que
prevalece, baseado em uma “incompetência” do povo para tratar de assuntos gerais, devendo,
assim, ser eleitos representantes mais preparados e entendidos de tais questões, para o bem de
toda a sociedade. São traços desse modelo a generalidade (representa a nação em seu conjunto, e
não seu leitorado ou o partido político), liberdade (autonomia de vontade), irrevogabilidade (o
eleitor não pode destituir o mandatário tido como “infiel”) e independência (estão desvinculados de
qualquer necessidade de ratificação por parte do mandante).

 Mandato Político Partidário (Kelsen): Fundamenta-se na lógica da fidelidade partidária,


baseando-se no pressuposto de que o partido político é o verdadeiro dono do mandato, devendo o
mandatário seguir as diretrizes legitimamente estabelecidas pelo partido, sob pena de perder o
mandato por infidelidade partidária.
- Pode-se dizer que esta espécie de mandato político é parcialmente adotada no Brasil para os
cargos cuja eleição se dá na forma do sistema eleitoral proporcional, conforme entendimento do
STF (ADI 5.081/DF), segundo o qual o mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral
proporcional pertence ao partido político. Isso porque se o parlamentar eleito decidir mudar de
partido político ele sofrerá processo na Justiça Eleitoral, e poderá perder seu mandato.
CPVI – Aula 1 20
- Vale destacar que, para o TSE, a mudança de partido político após a diplomação acarretava a
perda do mandato tanto para cargos proporcionais como majoritários. Essa conclusão estava
expressa na Resolução 22.610/2007 do TSE (Infidelidade partidária). Porém, para o STF (INFO
787), a perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários,
sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor, já que no sistema
majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente
eleitoral nem o quociente partidário. Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e
não no seu partido político. Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato
por infidelidade partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.

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