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I CONGRESSO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO, RELIGIÕES E ARTES


UFPB

O valor da geladeira nova:


velhos problemas conservados na charge

Henrique Miguel de Lima e Silva


Manoel Messias Belisario Neto
Roksyvan de Paiva Silva

João Pessoa, 4 de setembro de 2018


A natureza ricamente e de bom grado tudo dá;
Ela não tem núcleo
Nem casca,
Ela é tudo de uma vez;
Experimenta-te a ti sobretudo
[E apenas vê] se tu és [só] núcleo ou [só] casca.

Johann Wolfgang von Goethe


Sobre a morfologia (1820)
apud HEGEL, Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio
apud GONÇALVES, 2008, p.39-40.
Objetivo e marco téorico
• Analisar a figuração do valor na obra do
chargista, para apreender o sentido da arte;
• Análise imanente (contexto de gênese e
função social) – conforme Chasin (2009);
• Base teórica para apreender aspectos
estéticos – Hegel (2006), Lukács (1966),
Gouveia (2011); para o valor – Cotrim (2010) e
Marx (1996a).
PELICANO. Geladeira nova. Bom Dia. São Paulo, 2009.
O autor
César A. Vilas Boas,
o Pelicano (1952- )
● vive em Ribeirão
Preto;
● é chargista da rede
de jornais Bom Dia
(ABC paulista e
interior).
“Eu acordo 8h30, 9h, pego Folha de S. Paulo, internet,
Estadão e vou lendo. A qualquer momento sai uma ideia.
[...] Às vezes sai instantaneamente. [...] E às vezes eu fico
garimpando ali o dia todo.” (O JORNAL DO HUMOR, 2011)
Relações contextuais
• Gouveia (2011, p.47): “Um texto literário, por mais que
se afaste das funções materiais do cotidiano, nasce de
relações profundamente enraizadas no cotidiano, na
história, nas relações sociais, no convívio cultural.”
• O artista: trabalhador assalariado, alienado, trabalho-
mercadoria.
• Charge veicula crítica, com humor, a meio caminho de
cartuns: uma questão imediata, local, do cotidiano
político, transitando para um contexto universal.
• Momentos da análise: 1. a crise; 2. o poder do valor; 3.
a impotência; e 4. a liberdade.
1. Títulos e
época
remetem à
crise dos
EUA (2008).

PELICANO. Geladeira Nova. Bom Dia. São Paulo, 2009.


Contexto histórico: crise
• O capital: capacidade produtiva infinita; consumidores:
capacidade finita.
• Ociosidade da indústria dos EUA (1979, 25%; 1985,
33%):
“Como conseqüência dessa enorme ociosidade [...] parcela
significativa do capital novo, acumulado a cada ano, não
retorna à esfera produtiva.”
(MANDEL, O capitalismo tardio apud COTRIM, 2010, p.157)
• Meados de 2000: grande liquidez;
• 2007: subprime (hipotecas de risco) – inadimplência;
• 2008: crise sai do setor imobiliário (Lehman Brothers).
Reação à crise de 2008
• Investimentos do Estado, redução de impostos sobre
a produção (IPI);
• Identidade com Crise de 1929 no “porte de capital que
foi movido para amenizá-la; a expansão das quebras
financeiras; o encolhimento da produção e do PIB; o
desemprego; bem como a retração do comércio
internacional.” (COTRIM, 2010, p.162)
• Supressão de direitos (trabalhistas, previdenciários,
humanos etc.) e congelamento de gastos em áreas
sociais (saúde, educação, cultura, museus
bicentenários etc.)
2. O valor
como poder
sobre-
humano, um
deus.

PELICANO. Geladeira Nova. Bom Dia. São Paulo, 2009.


O valor segundo Marx
• O valor aparece como dinheiro ou como mercadoria:
“Ele passa continuamente de uma forma para outra, sem
perder-se nesse movimento, e assim se transforma num
sujeito automático.” (MARX, 1996a, p.273-274)
• O valor que se valoriza chama-se capital:
“O capitalista *...+ transforma valor, trabalho passado,
objetivado, morto em capital, em valor que se valoriza a
si mesmo, um monstro animado que começa a
‘trabalhar’ como se tivesse amor no corpo.” (Marx,
1996a, p.312)
• O valor independe dos seres humanos. Esta imagem de
um deus maligno reaparece em outros momentos.
Ferramentas: monstros mitológicos
• “*Na Revolução Industrial+ veremos reaparecer o
instrumento artesanal, mas em dimensão
ciclópica. [...] a ferramenta que, nos estaleiros
londrinos, corta as chapas é uma gigantesca
navalha de barbear; a ferramenta da tesoura
mecânica, que corta ferro como corta pano a
tesoura do alfaiate, uma monstruosa tesoura; e o
martelo a vapor opera com uma cabeça comum
de martelo, mas de peso tal que nem mesmo
Thor conseguiria brandi-lo.
(Marx, 1996b, p.14-17)
3. A posição
do homem.

Inatividade,
incapacidade,
falta de
controle da
vida.

PELICANO. Geladeira Nova. Bom Dia. São Paulo, 2009.


Capacidade humana alienada
• Sentados, os homens esperam que os preços
diminuam, temem que o valor desapareça,
torcem para que se valorize etc.;
“Seu próprio movimento social possui para eles
a forma de um movimento de coisas, sob cujo
controle se encontram, em vez de controlá-las.”
(MARX, 1996a, p.200)
• O valor é incontrolável; a criatura é que
controla o criador.
Ao lado, ilustração
do poema “O
aprendiz de
feiticeiro”, de
Goethe (BARTH,
1882)

A seguir, instalação
homônima, às
margens do rio
Emscher, na cidade
de Oberhausen
(Inges IDEE,
Zauberlehrling apud
CESAR, 2015)
4. Liberdade e
necessidade:
reações
diversas
diante dos
infortúnios

PELICANO. Geladeira Nova. Bom Dia. São Paulo, 2009.


A arte como criação humana positiva
• Hegel (2006, p.52) fala da função suavizante da arte:
“Acontece com as paixões o que acontece com a dor: o
primeiro modo que a natureza nos ofereceu para obter o
alívio de uma dor que nos fere são as lágrimas; chorar é já
ficar consolado. [...] Acontece assim que quando um homem,
vencido e absorvido pela dor, a consegue exteriorizar, logo se
sente aliviado, e o que mais o consola é a expressão da dor
em palavras, cânticos, sons e figuras.”
• Diversas formas de expressão para diversos afetos,
diversos conteúdos: o que nós somos (casca ou núcleo).
• Remissão ao retrato melancólico do filósofo que chora; e
ao retrato brincalhão do filósofo que ri: Heráclito e
Demócrito, de Donato Bramante (1477, Pinacoteca de
Brera, Milão)
Conclusão
• A obra de Pelicano relaciona-se com um contexto
histórico, sócio-econômico, artístico, ideológico –
com a vida social;
• Vivemos sob trabalho alienado. A charge pôs esta
contradição trágica;
• A cartarse é típica das tragédias: quem ganha
nem sempre tem razão, o que ativa afetos como
compaixão e medo. Porém, não é exclusiva.
• A arte é uma promessa de como seria um
trabalho não alienado. Nela, sempre uma voz
humana nos fala.
“*...+ qualquer arte, qualquer efeito artístico,
carrega uma lembrança do núcleo vital humano
– o que coloca para cada receptor a pergunta
goethiana sobre se ele é núcleo ou casca – e ao
mesmo tempo, inseparavelmente dela, uma
crítica da vida (da sociedade, da relação que ela
produz com a natureza).”
(LUKÁCS, G. Estetica: I. La peculiaridad de lo estetico, p. 501,
tradução nossa)
Referências
BARTH, S. Ilustração de S. Barth, 1882. In: WIKIPEDIA. O aprendiz de feiticeiro (poema). Disp. em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Aprendiz_de_Feiticeiro_(poema)>. Acesso em: 3 set. 2018.
CESAR, J. Aprendiz de feiticeiro, uma torre dançante. Magnus mundi. Disp. em:
<https://www.magnusmundi.com/torre-dancante/>. Acesso em: 3 set. 2018.
CHASIN, J. Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica. São Paulo: Boitempo, 2009.
COTRIM, Ivan. Superprodução: velhas e novas crises. Revista de Economia Mackenzie, São Paulo, V. 8, n. 3,
2010, p.139-175. Disp. em: <http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/rem/article/view/3794>.
GONÇALVES, M. C. F. Hegel leitor de Goethe: entre a física da luz e o colorido da arte. Revista Eletrônica
Estudos Hegelianos, ano 5, n.8, Jun. 2008, p. 37-56. Disp. em:
<http://www.hegelbrasil.org/reh8/marcia.pdf>.
GOUVEIA, Arturo. Teoria da literatura: fundamentos sobre a natureza da literatura e das categorias
narrativas. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011.
HEGEL, G.W.F. Estética: a ideia e o ideal. O belo artístico ou o ideal. São Paulo: Nova Cultural, 2006.
LUKÁCS, G. La catarsis como categoría general de la estética. In: ______ Estetica: I. La peculiaridad de lo
estetico. Problemas de la mímesis. Barcelona (México): Grijalbo, 1966, p. 491-525.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro I, tomo I. São Paulo: Nova Cultural, 1996a. (Os
economistas)
______. Cap. XIII - Maquinaria e grande indústria. In: ______. O capital: crítica da economia política. Livro I,
tomo II. São Paulo: Nova Cultural, 1996b. (Os economistas)
O JORNAL DO HUMOR. Chargista Pelicano: blogs ajudam a divulgar nosso trabalho. 30 ago. 2011. Disp. em:
<https://ojornaldohumor.wordpress.com/2011/08/30/chargista-pelicano-blogs-ajudam-a-divulgar-nosso-
trabalho/>. Acesso em: 2 set. 2018.

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