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O Ar de Caxias

Mal respiro. Sinto meus pulmões apertados como meu coração. Na verdade, preciso
apenas de um plot twist para voltar a escrever. Pegar no tranco, sabe? Eu preciso
descrever tudo que eu tenho visto aqui. Meus sonhos se misturando com a realidade
sórdida e quente desta cidade.

A miséria é tão natural que nós mesmos nos culpamos por não ter nem um real no
bolso. Ás vezes dá vontade de chorar, mas eu lembro do teu sorriso e das suas
bochechas sardentas que parecem um morango quando você se envergonha de alguma
coisa boba que eu disse.

O sol quente torra nossas peles do mesmo modo que essa liberdade torra nossa alma e
nossa esperança. Não nos importamos mais com ninguém.

Sinto que estamos todos fudidos e perdidos nesses dias quentes que virão.

Eu preciso respirar ar puro. Parar de fumar é tão difícil. Mas tem algo maior
acontecendo aqui. Sim, eu posso sentir teu coração batendo de vergonha (coisa que em
mim já foi substituída pelo desespero). Mesmo me sentindo só, dou graças à deus por
você não estar aqui vendo tudo isso. É estranho. Me sinto só, mas não da mesma forma
quando me sentia ao seu lado enquanto você roncava de cansaço. Aqui eu me sinto só e
livre. Tenho apenas a mim mesmo.

Acho que finalmente estou no deserto do real. E ele é quente pra caralho! Sua pele é
preta e queimada pelo sol.

A Vida é Bela

“Agora eu vi”. Meu pai diria se estivesse dentro de mim. Só voltei a escrever por
que vi teu sorriso na tevê (ou apenas alguém com um sorriso parecido com o teu). E
nisso, meus temas vão se repetindo eternamente. Loiras, cigarros e arrependimentos
também. Mentiras tão verdadeiras se escondendo num eu lírico besta que não engana
ninguém. Só faltei falar do refrigerante da cor do teu cabelo cacheado. Só faltei falar da
minha vergonha em publicar essa porcaria. E novamente eu me repito dizendo. “Não fui
eu, foi meu Eu Lírico”. Um Eu Lírico apaixonado que tomou conta dos meus dedos,
passou meia hora fuçando as coisas do irmão para achar um lápis ou uma caneta pra
depois escrever sobre aquele sorriso tímido que nunca se colará ao meu. Me disseram
que nós homens conseguimos amar dez mulheres e transar apenas com uma a vida
inteira. Na verdade, eu não sei o que pensar. Eu não sei se é doença ou é amor. Ou se foi
apenas o tempo que passou.
Eu amo ela, o pescoço, os pés, os peitos e seu rango. Mas meus olhos sentem
falta do brilho da lua. E como um cachorro eu fico olhando o mundo rodando numa
máquina de assar frango. Não quero te culpar por nada não, mas você sabe o que está
acontecendo. Sinto que estou te levando ao limite e indo ao meu limite também.
Desculpe, mas se não for para viver no limite e na margem de tudo eu nem saio de casa.
Eu quero ver até onde posso chegar, até onde meu corpo aguenta de tesão e de fome. Eu
quero beber até esquecer meu nome. Até restar apenas teu nome pinchado em todos os
muros dentro de mim. Que depois destruirei como o muro de Berlim.
Eu odeio atravessar a passarela. Fechei meus olhos e lembrei de ti. Ela é tão
bela, ela é tão bela, você é tão bela! Isso só pode ser loucura!! Se a beleza nos leva ao
bom e ao justo, porque me sinto mal em querer você pra mim? Deve ser porque eu sei
que nada é de ninguém e tudo é passageiro. Menos meu amor por ti, que é o motorista
daquele busão lá embaixo indo em direção ao ponto final desse texto.

A Deus Dará

Eu preciso sair pra fazer dinheiro. A fome aperta meu estomago, e o cansaço nas
minhas costas some quando boto a mão no meu bolso vazio e o escuto o som da minha
filha chorando querendo Danone e biscoito. Saio com meus produtos pela madrugada
quente pois o sol nunca descansa igual a minha mãe. Até que a noite está fresca e
gostosa como o rabão daquela funkeira descendo até o chão enquanto eu penso em catar
a latinha que está na mesa dela. Puta que pariu que vergonha! Ela nunca vai dar mole
pra um fudido que nem eu. Ah foda-se! Minha filha ainda chora, minha barriga ainda
ronca e implora qualquer coisa além de ovo e da linguiça toscana da promoção. Adeus
vergonha, o que é dignidade? Não me importa quem bate à porta é a necessidade.

Figueira Stand

Basta eu sentir a brisa que bate no meu rosto. Eu sinto o cansaço de quem vai e
de que vem na noite. Todos estão fugindo de alguma forma dessa loucura. Ficando cada
vez mais loucos. E se eu estou no meio dessa loucura então eu também estou louco?
Provável. Mas não me importa. Eu só tenho uma meta pra esse ano e é continuar vivo.
Eu quero apenas viver. Sentir esse ventinho bom que refresca o suor escorrendo pelo
meu rosto. Ouh mãe, obrigado por levantar o véu de Isis pra mim e por acreditar no
poder dos livros sagrados e também no dos não sagrados. Levantou de madrugada pra
vender café e salgados. Agora estou aqui escrevendo sobre ti. Meu coração mesmo
longe bate como caroço de abacate e não importa o que dizem eu sei que estou no meu
caminho. Eu ainda não sei o que é feminismo, mas agora eu sei o que é o amor.
Deixei impresso no céu as batidas do meu coração que no ritmo de funk dizia
que minha estrela não brilha, mas que tudo eu percebo. E pra isso bastou olhar a noite
que pulsa em vermelho.

Duas Crianças Sentadas no Mei-fim


E na frente da nossa casa na beira rio, nós conversávamos animadamente. Você
montado na minha antiga poti preta enquanto segurava nas grades do nosso portão. Foi quando
olhei para o céu e avistei um universo se colidindo com o outro. Luzes neon vermelhas, azuis e
de todas as cores dançavam no céu anunciando o fim. Não tive medo. Sentamos no mei-fim em
frente ao nosso barraco e observamos duas crianças jogando bola sem perceber a violência com
que o mundo se acabava. Eu te abracei e apenas agradeci a jorna.
Fechei meus olhos e como numa câmera de segurança, lembrei dos meus sonhos onde
eu cantava a música que a menina que eu gosto, gosta. Eu descia uma rua na Alemanha num
carrinho de rolimã azul. Todos me achavam estranho e eu não sei se era minha cor ou meu jeito
de ser. Eu tinha medo deles (ou eles é que tinham medo de mim?) Desci a ladeira com meu
carrinho de rolimã azul e no final da rua, eu não a encontrei em nenhum canto. Mas seu rosto
estava em todos os noventa e nove balões que estouravam enquanto eu cantava secretamente seu
nome no refrão de uma música que eu fiz. Um caminhão quase me atropelou, mas eu pulei do
carrinho antes e fui parar na casa do meu irmão que ficava ao lado do bar do Jorginho.
Íamos trabalhar de madrugada, mas eu estava com tanta fome que desisti. Nisso alguém
no portão chamou minha cunhada gravida para comprar salgados. Dentre as vozes femininas
reconheci a da minha mãe. Saí para o quintal e fiquei cara a cara com ela. Não lembro o que
aconteceu, apenas lembro que nos dirigimos para a rua pelo corredor estreito. Lá fora um carro
enorme, quase um big foot, esperava pela minha mãe e pelas duas mulheres que estavam com
ela. Primeiro entrou minha mãe no carro. Depois uma coroa loira alta de cabelos curtos e
vestido branco muito apertado. E por fim, entrou no carro a terceira mulher da qual não me
recordo nada. O carro era preto e conversível, com um adesivo de fogo colado em volta dele
todo. O motorista era um velho ricaço com chapéu de cowboy. O carro cantou pneu e saiu fora.
Nós três, meu irmão, minha cunhada gravida e eu, ficamos olhando de longe o veículo sumir no
horizonte da madrugada.
Logo em seguida a Fabiana (ex do Petrônio) chegou espancando meu irmão. Separamos
com muito esforço e eu pedi mil desculpas sem saber o porquê. Pedi seu número de telefone.
Ela tinha dificuldades em procurar pois seu celular era pequeno e antigo. Ela chorava enquanto
eu a abraçava.
Voltamos para o olhar de câmera de segurança. Você, meu brother, pulava feito criança
enquanto eu e nosso amigo ocultista entravamos por uma porta e saíamos por outra.
Voltamos para o fim do mundo em frente à casa da beira rio.
Abri os olhos e o mundo estava aturadamente claro. Era o fim. Era o mei-fim. As duas
crianças ainda jogavam bola na rua em frente ao nosso portão. Te abracei forte enquanto o
mundo se desfazia na paz sem voz. Aquelas duas crianças brincando ainda éramos nós.

Na Beira do Rio Calombé Eu deitei e Sonhei

Deitado em meu colchão, a correnteza do rio foi me levando por paisagens pré
apocalípticas e distópicas. Na beira do rio, todos vendiam alguma coisa. Coca, água, guaravita e
a dignidade da alma, ganha em troca de um subemprego. Todos estão chapados de alguma
forma enquanto sobem no barco a motor do asfalto quente. Compram qualquer coisa para
enganar o calor e a mente.
Desaguei na imensidão azul desse Rio de Janeiro. Encontrei Tom Jobim com seu violão
nas costas mas nem liguei. Ele já nasceu rico. Prefiro o catador de latinhas que tocava o rappa
enquanto bicava uma caninha.
Era tudo bonito, até as luzes da favela ao lado do corcovado. E quando o sol se pôs
todos bateram palmas e cirandaram enquanto os catadores pegavam as latinhas vazias da areia.
Me mantive sentado e bolado como sempre. Lembrei da canção que eu fiz para o bebe que vai
chegar. Você baby, que vai chegar nesse calor. Saiba que aqui de real só existe o amor. Só
existe a dor. E novamente mosquito e calor.
Sim, eu estava lá mas minha mente sai daqui. Como posso ser feliz e cantar bossa nova
batendo palma para o sol enquanto meu irmão também vende café e água na beira do rio?
Voltei para a beira rio pelo mesmo caminho e encontrei um Rogério Skylab que
tomando uma cerveja e com um braço pra fora da janela do ônibus me desejou um feliz ano
novo, e me disse que tudo nesse estado era uma puta. Isso mesmo! UMA PUTA!

Dengo, lasanha e comunismo


Foi meu primeiro verão em Caxias. Meu primeiro surto de dengue. Eu estava morando
com a tia Maria no Gramacho ou Vila Laureano. Enquanto eu ardia em febre na cama, lembro
da minha prima passando pela porta do enquanto dizia: “isso é dengue ou é dengo? ” Na
verdade, era os dois. Por mais que minha tia se parecesse com minha progenitora, eu sentia que
tinha sido arrancado brutalmente pelas mãos da violência da minha pátria mãe São Paulo. Fiquei
muito dengoso e escrotinho nessa época de transição na nossa vida. Eu não entendia porque
meu irmão tinha sido baleado. Não entendia porque tínhamos que mudar para tão longe. Longe
da minha escola, dos meus amigos, do meu sotaque e da minha ruiva querida. Mas hoje eu
quero lhe dizer meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos. Meu irmão sobreviveu no
inferno e hoje eu vejo que rap é compromisso. Palavras são compromissos com a nossa própria
história.
Estávamos no hospital infantil do Gramacho. Era verão. Um calor infernal e a
superlotação deixava o lugar mais quente ainda. Os ventiladores pediam arrego. Era hora do
almoço e eu estava sentado no colo da minha tia quando ela danou-se a falar de comida com
uma senhora preta que estava sentada ao nosso lado com seu filho dengoso também no colo.
Tia Maria descreveu toda a receita de lasanha, dizendo que iria comprar carne de
primeira moída na hora para fazer o molho e que era melhor aquela massa semi-pronta do que
cozinhar o macarrão e que ia fazer molho branca e etc.. Quando ela acabou de falar até eu que
tava doente e se alimentando apenas de soro caseiro fiquei com fome. Mas o que me mais me
chamou a atenção naquele dia foi que quando minha tia acabou de falar a senhora preta do
nosso lado olhando para o nada virou e disse. “Sabe. Eu nunca comi uma lasanha. ” Não lembro
a reação da minha tia mas sei que aquela foi a primeira que eu lembro de ter sentido empatia.
Minha primeira noção de classe. Minha primeira noção de privilégio. Mínimo, mas mesmo
assim comer lasanha era um privilégio.
Muitos anos depois meu irmão morou no lixão do Jardim Gramacho que era bem
próximo dali. E depois que vi aquela realidade aí sim comecei de alguma forma tentar ser
menos egoísta. É o que dizem por aí, não se nasce mas torna-se comunista.

Dois cães perdidos no asfalto


Ela era linda, loira e louca. E eu, um cachorro sarnento de rua. Ela se perdeu da
sua casa em busca de aventura e de algo a mais além da ração de primeira. Ela nunca
tinha comido lixo e demos a sorte de encontrar um self-service na hora de fechar.
Andamos por aí, e eu briguei com deus e o mundo que tentava se aproximar da
minha menina. Levamos água no focinho ao passar por uma casa onde uma empregada
lavava a varanda. Ela gostava de perigo e eu gostava dela. Do cheiro do cu dela. Seus
pelos dourados eram tão bem cuidados enquanto minha pele preta caía aos pedaços de
tanto me coçar.
Atravessamos a passarela que ligava os dois bairros. Ela nunca tinha ido para tão
longe de casa. Dava para ver em seus olhos caninos, o medo e o fascínio. Depois da
passarela andamos que nem loucos sem rumo sem destino. Com meio palmo de língua
para fora e respiração ofegante a doida deitou no meio da Washington Luiz lotada de
carros e busão passando na hora do rush. Eu vi que ela já estava cansada daquela
brincadeira e desejava voltar para sua vida de classe média, de mordomias, shampoo e
pedigree.
Seguindo o instinto da fome paramos em frente a uma barraquinha que vendia
salgados em frente ao ponto de ônibus, esperando alguma sobra, mas nos expulsaram a
vassouradas. Ela se assustou com a agressividade do mundo real. E foi novamente para
o meio da pista lotada de carros. Eu fui atrás. Me confundindo com fumaça preta dos
escapamentos dos ônibus eu não deixaria ela só jamais.
Os carros desviavam rasteiramente de nós até provocarmos um engarrafamento.
Parou ao nosso lado um carro da concessionária que cuidava da pista. Desceram dois
funcionários a pegaram no colo e a colocaram dentro do veículo saíram cantando pneu
com a minha loirinha dentro. Ouvi alguém dizer que era ela de raça enquanto corria
esbaforido e velho atrás da viatura que se afastava cada vez mais e mais.
Um ônibus desviou de mim. Depois um carro enorme. Depois uma moto. E sem
eu perceber um camaro amarelo a toda velocidade vindo do sentido Xerém me pegou de
surpresa me arremessando para o meio da pista lotada de carros. Meu sangue borbulha
no asfalto quente como numa frigideira. Agora estou aqui de olho esbugalhado patas
quebradas e ouvindo risos ao longe. “Vai virar tapete! ” Ouço alguém gritar. Uma
manada de ônibus se aproxima eu posso sentir o som ao longe. Eu sinto o cheiro de óleo
diesel queimando. Eu vou morrer. É o fim e eu não sei por que estou lembrando disso
tudo. Eu só queria ter cruzado com ela uma vez. Eu só queria comer lixo do restaurante
outra vez. Aí caralho! Ta vindo um busão! Meu sangue respingou na minha cara. Acho
que esse esmagou minha pata. Agora vem outro busão! Puta que pariu! Esse não vai
conseguir desviar não! Agora fudeu de vez! Adeus minha loirinha, adeus mundo cão! O
que eu devo pensar por último o que eu devo pensar por ultim..

Rap de branco

Me despi de toda vergonha e me joguei no fluxo do coletivo. Quem sou eu na


fila do pão? Aqui ninguém me conhece, nem meu pai nem meu irmão. Contei os dias
para ver teu sorriso vertical enquanto sonhava acordado num ponto de ônibus lotado.
Desta vez não tive medo nem receio nem fui assaltado mas essa cidade tem me levado
todo o individualismo de tv que um dia pensei ser verdade. Vem meu irmão, esquece
esse rap de branco, veja o mundo ao teu redor. Veja o que nós somos, onde estamos e o
que viemos fazer. Agora não há mais tempo de brincar ou de sonhar. Abra teus olhos,
tua filha vai nascer.

Alucinação
Andei por aí qu nem o Otto anda pelas ruas de recife. Que nem um mendigo
maltrapilho, mas certo de quem sou e de onde estou. As ruas da Figueira têm um leve
cheiro de lixo. O rio vermelho e podre escorre o suor dos paraíbas e das mulheres
escravizadas no Calombé e na JBS.
De manhã tudo está calmo. Nem parece que na noite passada o inferno era aqui.
O funk e o forró no último volume. As motos sem escapamento se confundem com tiros
e sustos e funk enquanto eu estava aqui escrevendo e sonhando e imaginando eu
chupando aquela buceta branca e depois dormir no seu colo gordinho enquanto todos
vão continuar nessa Caxias purgatória, sem nenhuma maravilha, caótica e que disputa
com Bangu para ver quem faz mais calor.
Comprei pão e voltei para a casa da Beira Rio. Depois de três dias comendo pão,
começo a ganhar superpoderes e a ter alucinações. Vejo um preto catando latinha na
praça vazia, um paraíba indo cortar peixe no Calombé. Uma mulher com um envelope
des currículos na mão, anda falando sozinha e cabisbaixa. Quantos currículos ela já
deve ter entregado hoje? Observo os feirantes armando as barracas, achei engraçado que
não vi nenhuma polícia por aqui. O governo não existe de forma alguma aqui. Nem pro
bem nem pro mal. É cada um por si e Deus por todos, irmão.
Ao chegar em casa, como meu pão. Bebo um guaraviton, acendo um cigarro e
volto a escrever outra alucinação. É hora de partir. Já não devo mais nada por aqui. Já
paguei a Dona Jandira e a Deus todo meu karma nessa cidade em shamas. Mas algo me
prende e não são mais as correntes da caverna. É algo maior que isso. É algo humano. É
talvez seja as raba do baile. Talvez seja a necessidade de estar sempre no limite da vida.
Talvez seja meu dharma, minha sina, minha sobrinha, meu irmão, meu pai, minha mãe,
minha família. Eu sei lá. Mas como poderei dormir sabendo o quão quente é aqui? Eu
preciso voltar, mas mesmo longe sempre estarei de olho nessa distopia.

Palmitage

O baile do vai quem quer acabou. Mataram mais de vinte no começo do ano. E como
uma cracolândia que o Dória dissipou em São Paulo, os bailes se alastraram por todos
os cantos do nosso grande bairro.
Na praça, senti o paredão de som expulsarem minha alma enquanto eu via
bundas descerem e subirem até o chão. Não morri de sede em frente ao mar como
Bejeco estava. Eu bebia minha cerveja e não pensava mas em nada. Eu sei quem eu sou
e do que eu gosto. Sou peixe de água doce e clara. E ninguém vai me dizer a cor da
buceta que eu devo chupar ouh caralha. Eu sei que o processo histórico é louco mas
aqui fora dos livros, do youtube e do twitter as coisas são diferentes, então.. Me dá
minha cerveja que já era. Sem tempo de pensar nisso, irmão. No baile todas as rabas são
rabas. Gordas, brancas, pretas, pequenas e magras. E os cara não tão nem aí pra isso
não. Estou muito cansado pra pensar na minha identidade. Em pautas. Eu só quero ir pra
casa e meter até não poder mais. Amanhã eu levanto cedo outra vez,

Apesar de tudo
Apesar do medo, do calor, do cansaço, apesar da raiva e do ódio ainda temos o amor.
Apesar de quão cedo levantamos, da vergonha e da dificuldade, acredite irmão, na
educação das nossas filhas, acredite na universidade. Apesar dessa merda toda que nós
vive. Eu tenho que dizer bro, eu nunca me senti tão livre.
Livre como um pássaro voando sobre o rio Calombé. Ou como um central direto
correndo a cem por hora na Washington Luiz em direção à Avenida Brasil, levando esse
povo preto, branco e cinza para serem escravizados pela classe média. Estou vivo e é
isso que importa. Vamos continuar vivos o máximo que pudermos, apesar da loucura e
alucinação, pois viver é isso mesmo. Nada faz sentido. Mas quando lembro de tudo que
vivemos e sei das aventuras e da força da mãe, man. Eu sei, mano. É isso!
Já estou falando nada com nada e não consigo explicar o que sinto. Explicar o
que é a vida. Se Bejeco estivesse aqui estaria me mandando ir a merda e não aceitaria
nem uma vírgula desse texto. E agora eu sei o porquê. Passei em frente à casa que eu
sonhava em comprar quando era adolescente e achava que as coisas seriam fáceis como
num filme de sessão da tarde. Não senti nada, apenas segui em frente, entrei na minha
rua zoada sem asfalto e fiquei tranquilão no meu barraco.
Apesar de tudo que passei aqui, da dor e da humilhação, das brigas e das longas
horas no busão. Eu estou totalmente em ON FIRE. Queimando tudo, até a última ponta
do meu karma. Ainda me sinto sem casa, como um estrangeiro sem sotaque. E na
maioria do tempo ainda tenho medo e não sei o que fazer, mas apesar de tudo meu
amor, eu entendi que qualquer lugar é minha casa se eu estiver com você.

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