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PERUÍBE-SP
Professor de Educação Básica I e
Professor Substituto de Educação Básica
Concurso Público de Provas e Títulos N.º 01/2018
OT098-2018
DADOS DA OBRA
Título da obra: Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Peruíbe do Estado de São Paulo
• Língua Portuguesa
• Matemática
• Conhecimentos Pedagógicos e Legislação
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Leandro Filho
Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO
CURSO ONLINE
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SUMÁRIO
Língua Portuguesa
Matemática
VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista. Revista do Cogeime, nº 14,
julho/99, pág. 15-38..............................................................................................................................................................................................100
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 2003...................................................100
ZABALA, Antoni. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998......................................................................109
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LÍNGUA PORTUGUESA
(A) não pode ser considerado literário, visto que a lin- A cana-de-açúcar
guagem aí utilizada não está adequada à norma culta for-
mal. Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no
(B) não pode ser considerado literário, pois nele não Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A re-
se percebe a preservação do patrimônio cultural brasileiro. gião que durante séculos foi a grande produtora de cana-de
(C) não é um texto consagrado pela crítica literária. -açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo solos de massapé, além da menor distância em relação ao
criativo da Literatura, o trabalho com a linguagem pode mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse
aparecer de várias formas: cômica, lúdica, erótica, popular cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de
etc -açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permi- de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em
te que o consideremos um texto literário. parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a
cana serve também para a produção de álcool, importante
Leia os fragmentos abaixo para responder às questões nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imen-
que seguem: sa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São
Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível.
TEXTO I
O açúcar 2-) Para que um texto seja literário:
O branco açúcar que adoçará meu café a) basta somente a correção gramatical; isto é, a expres-
nesta manhã de Ipanema são verbal segundo as leis lógicas ou naturais.
não foi produzido por mim b) deve prescindir daquilo que não tenha correspondên-
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. cia na realidade palpável e externa.
Vejo-o puro c) deve fugir do inexato, daquilo que confunda a capaci-
e afável ao paladar dade de compreensão do leitor.
como beijo de moça, água d) deve assemelhar-se a uma ação de desnudamento. O
na pele, flor escritor revela, ao escrever, o mundo, e, em especial, revela o
que se dissolve na boca. Mas este açúcar Homem aos outros homens.
não foi feito por mim. e) deve revelar diretamente as coisas do mundo: senti-
Este açúcar veio mentos, ideias, ações.
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia. 3-) Ainda com relação ao textos I e II, assinale a opção
Este açúcar veio incorreta
de uma usina de açúcar em Pernambuco a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real,
ou no Estado do Rio ou de produzi-lo, a expressão literária é utilizada principal-
e tampouco o fez o dono da usina. mente como um meio de refletir e recriar a realidade.
Este açúcar era cana b) No texto II, de expressão não literária, o autor informa
e veio dos canaviais extensos o leitor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares onde é
que não nascem por acaso produzida, como teve início seu cultivo no Brasil, etc.
no regaço do vale. c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum
Em lugares distantes, onde não há hospital – açúcar – e vai ampliando seu potencial significativo, explo-
nem escola, rando recursos formais para estabelecer um paralelo entre o
homens que não sabem ler e morrem de fome açúcar – branco, doce, puro – e a vida do trabalhador que o
aos 27 anos produz – dura, amarga, triste.
plantaram e colheram a cana d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos
que viraria açúcar. de linguagem, baseando sua recriação no aproveitamento de
Em usinas escuras, novas formas de dizer.
homens de vida amarga e) O texto II não é literário porque, diferentemente do lite-
e dura rário, parte de um aspecto da realidade, e não da imaginação.
produziram este açúcar
branco e puro Gabarito
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
1-) D
Fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228) 2-) D – Esta alternativa está correta, pois ela remete ao
caráter reflexivo do autor de um texto literário, ao passo
em que ele revela às pessoas o “seu mundo” de maneira
peculiar.
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LÍNGUA PORTUGUESA
3-) E – o texto I também fala da realidade, mas com um Condições básicas para interpretar
cunho diferente do texto II. No primeiro há uma colocação
diferenciada por parte do autor em que o objetivo não é Fazem-se necessários:
unicamente passar informação, existem outros “motiva- a) Conhecimento histórico–literário (escolas e gêneros
dores” por trás desta escrita. literários, estrutura do texto), leitura e prática;
b) Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
É muito comum, entre os candidatos a um cargo pú- texto) e semântico;
blico, a preocupação com a interpretação de textos. Isso Observação – na semântica (significado das palavras)
acontece porque lhes faltam informações específicas a incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e cono-
respeito desta tarefa constante em provas relacionadas tação, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
a concursos públicos. gem, entre outros.
Por isso, vão aqui alguns detalhes que poderão aju- c) Capacidade de observação e de síntese e
dar no momento de responder às questões relacionadas d) Capacidade de raciocínio.
a textos.
Interpretar X compreender
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela-
cionadas entre si, formando um todo significativo capaz Interpretar significa
de produzir interação comunicativa (capacidade de co- - explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
dificar e decodificar ). - Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
Contexto – um texto é constituído por diversas fra- - O autor permite concluir que...
ses. Em cada uma delas, há uma certa informação que a - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando
condições para a estruturação do conteúdo a ser trans- Compreender significa
mitido. A essa interligação dá-se o nome de contexto. - intelecção, entendimento, atenção ao que realmente
Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão está escrito.
grande que, se uma frase for retirada de seu contexto - o texto diz que...
original e analisada separadamente, poderá ter um sig- - é sugerido pelo autor que...
nificado diferente daquele inicial. - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
ção...
Intertexto - comumente, os textos apresentam re- - o narrador afirma...
ferências diretas ou indiretas a outros autores através
de citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. Erros de interpretação
Interpretação de texto - o primeiro objetivo de uma É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência
interpretação de um texto é a identificação de sua ideia de erros de interpretação. Os mais frequentes são:
principal. A partir daí, localizam-se as ideias secundárias,
ou fundamentações, as argumentações, ou explicações, a) Extrapolação (viagem)
que levem ao esclarecimento das questões apresentadas Ocorre quando se sai do contexto, acrescentado ideias
na prova. que não estão no texto, quer por conhecimento prévio do
tema quer pela imaginação.
Normalmente, numa prova, o candidato é convi-
dado a: b) Redução
É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas a
1. Identificar – é reconhecer os elementos funda- um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto de
mentais de uma argumentação, de um processo, de uma ideias, o que pode ser insuficiente para o total do entendi-
época (neste caso, procuram-se os verbos e os advér- mento do tema desenvolvido.
bios, os quais definem o tempo).
2. Comparar – é descobrir as relações de semelhança c) Contradição
ou de diferenças entre as situações do texto. Não raro, o texto apresenta ideias contrárias às do can-
3. Comentar - é relacionar o conteúdo apresentado didato, fazendo-o tirar conclusões equivocadas e, conse-
com uma realidade, opinando a respeito. quentemente, errando a questão.
4. Resumir – é concentrar as ideias centrais e/ou se-
cundárias em um só parágrafo. Observação - Muitos pensam que há a ótica do escritor
5. Parafrasear – é reescrever o texto com outras pa- e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova
lavras. de concurso, o que deve ser levado em consideração é o
que o autor diz e nada mais.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que - Falante não pode negar que tenha querido transmitir
relacionam palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre a informação expressa pelo pressuposto, mas pode negar
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de que tenha desejado transmitir a informação expressa pelo
um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pro- subentendido.
nome oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se - Negação da informação não nega o pressuposto.
vai dizer e o que já foi dito. - Pressuposto não verdadeiro – informação explícita
absurda.
OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no dia - Principais marcadores de pressupostos: a) adjetivos;
-a-dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e b) verbos; c) advérbios; d) orações adjetivas; e) conjunções.
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do
verbo; aquele do seu antecedente. Não se pode esquecer QUESTÕES
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- (Agente Estadual de Trânsito – DETRAN - SP – Vu-
cedente. nesp/2013)
Os pronomes relativos são muito importantes na in-
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de O uso da bicicleta no Brasil
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, A utilização da bicicleta como meio de locomoção no
a saber: Brasil ainda conta com poucos adeptos, em comparação
com países como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos
que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
quais a bicicleta é um dos principais veículos nas ruas. Ape-
mas depende das condições da frase.
sar disso, cada vez mais pessoas começam a acreditar que
qual (neutro) idem ao anterior.
a bicicleta é, numa comparação entre todos os meios de
quem (pessoa)
cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois transporte, um dos que oferecem mais vantagens.
o objeto possuído. A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicle-
como (modo) tas e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e
onde (lugar) jamais na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são
quando (tempo) todos considerados veículos, com direito de circulação pe-
quanto (montante) las ruas e prioridade sobre os automotores.
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à
Exemplo: bicicleta no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade,
Falou tudo QUANTO queria (correto) pois as bikes não emitem gases nocivos ao ambiente, não
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria consomem petróleo e produzem muito menos sucata de
aparecer o demonstrativo O ). metais, plásticos e borracha; a diminuição dos congestio-
Dicas para melhorar a interpretação de textos namentos por excesso de veículos motorizados, que atin-
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do gem principalmente as grandes cidades; o favorecimento
assunto; da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito bom; e
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
a leitura; claro, nos impostos.
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto No Brasil, está sendo implantado o sistema de com-
pelo menos duas vezes;
partilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
- Inferir;
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitu-
- Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do ra, em parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com
autor; quase um ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São
- Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor Paulo, Santos, Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo
compreensão; país aderirem a esse sistema, mais duas capitais já estão
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de com o projeto pronto em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do
cada questão; compartilhamento é semelhante em todas as cidades. Em
- O autor defende ideias e você deve percebê-las; Porto Alegre, os usuários devem fazer um cadastro pelo
site. O valor do passe mensal é R$10 e o do passe diário,
Segundo Fiorin: R$5, podendo-se utilizar o sistema durante todo o dia, das
-Pressupostos – informações implícitas decorrentes 6h às 22h, nas duas modalidades. Em todas as cidades que
necessariamente de palavras ou expressões contidas na já aderiram ao projeto, as bicicletas estão espalhadas em
frase. pontos estratégicos.
- Subentendidos – insinuações não marcadas clara- A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção
mente na linguagem. não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda
- Pressupostos – verdadeiros ou admitidos como tal. não sabem que a bicicleta já é considerada um meio de
- Subentendidos – de responsabilidade do ouvinte. transporte, ou desconhecem as leis que abrangem a bike.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Na confusão de um trânsito caótico numa cidade grande, não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir,
carros, motocicletas, ônibus e, agora, bicicletas, misturam- mas também se engajam num comportamento de risco –
se, causando, muitas vezes, discussões e acidentes que po- algumas até agem especificamente para irritar o outro mo-
deriam ser evitados. torista ou impedir que este chegue onde precisa.
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá
A verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles ter antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando
estão totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. um motorista a tomar decisões irracionais.
Por isso é tão importante usar capacete e outros itens de Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocio-
segurança. A maior parte dos motoristas de carros, ônibus, nante. Para muitos de nós, os carros são a extensão de
motocicletas e caminhões desconhece as leis que abran- nossa personalidade e podem ser o bem mais valioso que
gem os direitos dos ciclistas. Mas muitos ciclistas também possuímos. Dirigir pode ser a expressão de liberdade para
ignoram seus direitos e deveres. Alguém que resolve in- alguns, mas também é uma atividade que tende a aumen-
tegrar a bike ao seu estilo de vida e usá-la como meio de tar os níveis de estresse, mesmo que não tenhamos cons-
locomoção precisa compreender que deverá gastar com ciência disso no momento.
alguns apetrechos necessários para poder trafegar. De Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez
acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, as bicicletas que entra no trânsito, você se junta a uma comunidade
devem, obrigatoriamente, ser equipadas com campainha, de outros motoristas, todos com seus objetivos, medos e
sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, habilidades ao volante. Os psicólogos Leon James e Diane
além de espelho retrovisor do lado esquerdo. Nahl dizem que um dos fatores da ira de trânsito é a ten-
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. dência de nos concentrarmos em nós mesmos, descartan-
Adaptado) do o aspecto comunitário do ato de dirigir.
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito,
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como o Dr. James acredita que a causa principal da ira de trânsi-
meio de locomoção nas metrópoles brasileiras to não são os congestionamentos ou mais motoristas nas
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra ruas, e sim como nossa cultura visualiza a direção agressi-
devido à falta de regulamentação. va. As crianças aprendem que as regras normais em relação
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido ao comportamento e à civilidade não se aplicam quando
incentivado em várias cidades. dirigimos um carro. Elas podem ver seus pais envolvidos
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela em comportamentos de disputa ao volante, mudando de
maioria dos moradores. faixa continuamente ou dirigindo em alta velocidade, sem-
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com pre com pressa para chegar ao destino.
os demais meios de transporte. Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era des-
arriscada e pouco salutar. carregar a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a
descarga de frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos situação de ira de trânsito, a descarga de frustrações pode
objetivos centrais do texto é transformar um incidente em uma violenta briga.
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do Com isso em mente, não é surpresa que brigas vio-
ciclista. lentas aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta está predisposta a apresentar um comportamento irracio-
é mais seguro do que dirigir um carro. nal quando dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bi- maior parte das pessoas fica emocionalmente incapacitada
cicleta no Brasil. quando dirige. O que deve ser feito, dizem os psicólogos,
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como é estar ciente de seu estado emocional e fazer as escolhas
meio de locomoção se consolidou no Brasil. corretas, mesmo quando estiver tentado a agir só com a
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista emoção.
deve dar prioridade ao pedestre. (Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.
uol.com.br/furia-no-transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013.
(Oficial Estadual de Trânsito - DETRAN-SP - Vunesp Adaptado)
2013) Leia o texto para responder às questões de 3 a 5
3-) Tomando por base as informações contidas no tex-
Propensão à ira de trânsito to, é correto afirmar que
(A) os comportamentos de disputa ao volante aconte-
Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente cem à medida que os motoristas se envolvem em decisões
perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais se- conscientes.
guro do mundo, existem muitas variáveis de risco no trân- (B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são cau-
sito, como clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas. E sadas pela constante preocupação dos motoristas com o
com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas aspecto comunitário do ato de dirigir.
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LÍNGUA PORTUGUESA
(C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas 6-) Considere:
é o principal motivo que provoca, nos motoristas, uma di- I. Segundo o texto, na ficção científica abordam-se,
reção agressiva. com distanciamento de tempo e espaço, questões con-
(D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de ex- troversas e moralmente incômodas da sociedade atual, de
periências e atividades não só individuais como também modo que a solução oferecida pela fantasia possa ser apli-
sociais. cada para resolver os problemas da realidade.
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle II. Parte do poder de convencimento da ficção cientí-
das emoções positivas por parte dos motoristas. fica deriva do fato de serem apresentados ao espectador
objetos imaginários que, embora não existam na vida real,
4. A ira de trânsito estão, de algum modo, conectados à realidade.
A) aprimora uma atitude de reconhecimento de regras. III. A ficção científica extrapola os limites da realidade,
(B) implica tomada de decisões sem racionalidade. mas baseia-se naquilo que, pelo menos em teoria, acredi-
(C) conduz a um comportamento coerente. ta-se que seja possível.
(D) resulta do comportamento essencialmente comu- Está correto o que se afirma APENAS em
nitário dos motoristas. (A) III.
(E) decorre de imperícia na condução de um veículo. (B) I e II.
(C) I e III.
5. De acordo com o perito Dr. James, (D) II e III.
(A) os congestionamentos representam o principal fa- (E) II.
tor para a ira no trânsito.
(B) a cultura dos motoristas é fator determinante para 7-) Sem prejuízo para o sentido original e a correção
o aumento de suas frustrações. gramatical, o termo sonhar, em ... a sociedade se permite
(C) o motorista, ao dirigir, deve ser individualista em sonhar seus piores problemas... (2o parágrafo), pode ser
suas ações, a fim de expressar sua liberdade e garantir que substituído por:
outros motoristas não o irritem. (A) descansar.
(D) a principal causa da direção agressiva é o desco- (B) desprezar.
nhecimento das regras de trânsito. (C) esquecer.
(E) o comportamento dos pais ao dirigirem com ira (D) fugir.
contradiz o aprendizado das crianças em relação às regras (E) imaginar.
de civilidade.
(TRF 3ª região/2014) Atenção: Para responder às ques-
(TRF 3ª região/2014) Para responder às questões de tões de números 8 a 10 considere o texto abaixo.
números 6 e 7 considere o texto abaixo. Texto I
Toda ficção científica, de Metrópolis ao Senhor dos O canto das sereias é uma imagem que remonta às
anéis, baseia-se, essencialmente, no que está acontecen-
mais luminosas fontes da mitologia e da literatura gregas.
do no mundo no momento em que o filme foi feito. Não
As versões da fábula variam, mas o sentido geral da trama
no futuro ou numa galáxia distante, muitos e muitos anos
é comum.
atrás, mas agora mesmo, no presente, simbolizado em pro-
As sereias eram criaturas sobre-humanas. Ninfas de
jeções que nos confortam e tranquilizam ao nos oferecer
extraordinária beleza, viviam sozinhas numa ilha do Medi-
uma adequada distância de tempo e espaço.
terrâneo, mas tinham o dom de chamar a si os navegantes,
Na ficção científica, a sociedade se permite sonhar seus
graças ao irresistível poder de sedução do seu canto. Atraí-
piores problemas: desumanização, superpopulação, totali-
dos por aquela melodia divina, os navios batiam nos recifes
tarismo, loucura, fome, epidemias. Não se imita a realida-
submersos da beira-mar e naufragavam. As sereias então
de, mas imagina-se, sonha-se, cria-se outra realidade onde
possamos colocar e resolver no plano da imaginação tudo devoravam impiedosamente os tripulantes.
o que nos incomoda no cotidiano. O elemento essencial Doce o caminho, amargo o fim. Como escapar com
para guiar a lógica interna do gênero, cuja quebra implica vida do canto das sereias? A literatura grega registra duas
o fim da magia, é a ciência. Por isso, tecnologia é essen- soluções vitoriosas. Uma delas foi a saída encontrada por
cial ao gênero. Parte do poder desse tipo de magia cine- Orfeu, o incomparável gênio da música e da poesia.
matográfica está em concretizar, diante dos nossos olhos, Quando a embarcação na qual ele navegava entrou
objetos possíveis, mas inexistentes: carros voadores, robôs inadvertidamente no raio de ação das sereias, ele conse-
inteligentes. Como parte dessas coisas imaginadas acaba guiu impedir a tripulação de perder a cabeça tocando uma
se tornando realidade, o gênero reforça a sensação de que música ainda mais sublime do que aquela que vinha da
estamos vendo na tela projeções das nossas possibilidades ilha. O navio atravessou incólume a zona de perigo.
coletivas futuras. A outra solução foi a de Ulisses. Sua principal arma
(Adaptado de: BAHIANA, Ana Maria. Como ver um fil- para vencer as sereias foi o reconhecimento franco e cora-
me. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. formato ebook.) joso da sua fraqueza e da sua falibilidade − a aceitação dos
seus inescapáveis limites humanos.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Seus olhos são como luzes brilhantes. 10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so-
O exemplo acima mostra uma comparação evidente, frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse
através do emprego da palavra como. mundo).
Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes. 11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para
Neste exemplo não há mais uma comparação (note a ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram
ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja, chamadas, não apenas uma mulher).
qualidade do que é semelhante. 12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me. (= Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone).
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta 13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (=
é a verdadeira metáfora. Alguns astronautas foram à Lua).
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança pen-
Observe outros exemplos: derá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado).
1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de
Pessoa) extensão (como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquan-
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que to que a metonímia abrange apenas os casos de analogia
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio ou de relação. Não há necessidade, atualmente, de se fa-
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando zer distinção entre ambas as figuras.
a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).
Catacrese
2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar
algum. Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contí-
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na fra- nuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando,
se acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão por falta de um termo específico para designar um con-
que indica uma alma rústica e abandonada (e angustiada- ceito, toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a
mente inútil), há uma comparação subentendida: Minha empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma es- Exemplos: “asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do ros-
trada de terra que leva a lugar algum. to”, “pé da mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
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É a expressão intencionalmente exagerada com o in- As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe)
tuito de realçar uma ideia. ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) maior expressividade que se dá ao sentido.
O concurseiro quase morre de tanto estudar!
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LÍNGUA PORTUGUESA
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita Observe que os verbos persistamos, temos e somos
a omissão de um termo já mencionado anteriormente. não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos
Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de (brasileiros, agricultores e cariocas, que estão na terceira
português) pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só brasileiros, os agricultores e os cariocas).
modernos. (só havia móveis)
Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de) Polissíndeto / Assíndeto
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LÍNGUA PORTUGUESA
* Observação da Zê!
O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
tumbante de um povo heroico”.
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LÍNGUA PORTUGUESA
A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia
2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar algu-
ma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” no
lugar de “que morreram por nós”.
RESPOSTA: “D”.
O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de lingua-
gem. O autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
A) Eufemismo.
B) Hipérbole.
C) Paradoxo.
D) Metonímia.
E) Hipérbato.
3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para representar o calor excessivo que está fazendo. A figura que é
utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a hipérbole.
RESPOSTA: “B”.
PONTUAÇÃO.
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem para compor a coesão e a coerência textual, além de
ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Um texto escrito adquire diferentes significados quando pontuado
de formas diversificadas. O uso da pontuação depende, em certos momentos, da intenção do autor do discurso. Assim,
os sinais de pontuação estão diretamente relacionados ao contexto e ao interlocutor.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Para isolar:
- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasi-
leira, possui um trânsito caótico.
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.
Observações:
- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres-
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria
dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o
acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre- (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-
guemos etc. precedido de vírgula: Falamos de política, fu-
gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontua-
tebol, lazer, etc.
ção está correta em:
A) Hagar disse, que não iria.
- As perguntas que denotam surpresa podem ter
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir,
combinados o ponto de interrogação e o de exclamação:
bifes e lagostas, aos vizinhos.
Você falou isso para ela?!
C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
para Hagar e Helga
- Temos, ainda, sinais distintivos:
D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse,
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa-
ração de siglas (IOF/UPC); Hagar à Helga.
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas E) Helga chegou com o recado: fomos convidados,
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção pelos Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
aos parênteses, principalmente na matemática;
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a 1-) Correções realizadas:
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre
nome que não se quer mencionar. verbo e seu complemento (objeto)
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
Fontes de pesquisa: fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ seu complemento (objeto)
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir- C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
gula.htm para Hagar e Helga.
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São gar à Helga.
Paulo: Saraiva, 2010. E) Helga chegou com o recado: fomos convidados,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa pelos Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. RESPOSTA: “E”.
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LÍNGUA PORTUGUESA
2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi- Observe outros exemplos:
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separa- de águia aquilino
do entre pontuações. Exemplos: de aluno discente
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! de anjo angelical
RESPOSTA: “CERTO”. de ano anual
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LÍNGUA PORTUGUESA
* Observação: nem toda locução adjetiva possui um adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por exem-
plo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como
adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).
Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:
Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:
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LÍNGUA PORTUGUESA
Biformes - têm duas formas, sendo uma para o mas- Grau do Adjetivo
culino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no fe- Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a in-
minino somente o último elemento: o moço norte-america- tensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adje-
no, a moça norte-americana. tivo: o comparativo e o superlativo.
Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
como para o feminino: homem feliz e mulher feliz. buída a dois ou mais seres ou duas ou mais característi-
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no cas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de
feminino: conflito político-social e desavença político-social. igualdade, de superioridade ou de inferioridade.
Número dos Adjetivos
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
No comparativo de igualdade, o segundo termo da
Plural dos adjetivos simples
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
quão.
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo
com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos
substantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
boa e boas. rioridade Analítico
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça No comparativo de superioridade analítico, entre os
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a pala- dois substantivos comparados, um tem qualidade supe-
vra que estiver qualificando um elemento for, originalmente, rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...
um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: do que” ou “mais...que”.
a palavra cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se
estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Su-
Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza. perioridade Sintético
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
De acordo com a circunstância que exprime, o advér- Há palavras como muito, bastante, que podem apare-
bio pode ser de: cer como advérbio e como pronome indefinido.
Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
adentro, afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
distância, à distância de, de longe, de perto, em cima, à
direita, à esquerda, ao lado, em volta. * Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio
Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, (não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante”
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já,
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja:
enfim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessi-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito,
vamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente,
pois “muitos” não dá!). = advérbio
de vez em quando, de quando em quando, a qualquer mo-
mento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia. 2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estu-
Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa, dei muitos capítulos) = pronome indefinido
acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à
toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse Advérbios Interrogativos
modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado,
a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
“-mente”: calmamente, tristemente, propositadamente, pa- por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes
cientemente, amorosamente, docemente, escandalosamen- às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja:
te, bondosamente, generosamente.
Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efeti- Interrogação Direta Interrogação Indireta
vamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum. Onde mora? Indaguei onde morava.
Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel- Por que choras? Não sei por que choras.
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Aonde vai? Perguntei aonde ia.
Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, Donde vens? Pergunto donde vens.
assaz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de Quando voltas? Pergunto quando voltas.
todo, de muito, por completo, extremamente, intensamen-
te, grandemente, bem (quando aplicado a propriedades Locução Adverbial
graduáveis).
Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so- Quando há duas ou mais palavras que exercem fun-
mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Bran- ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode
do, o vento apenas move a copa das árvores. expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi-
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. nariamente por uma preposição. Veja:
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
adolescência. dentro, por aqui, etc.
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
meus amigos por comparecerem à festa. geral, frente a frente, etc.
tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
hoje em dia, nunca mais, etc.
* Saiba que:
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-
* Observações:
se ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Fi-
- tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
carei o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o
cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
menos tarde possível. Chegou muito cedo. (advérbio)
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, Joana é muito bela. (adjetivo)
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O alu- De repente correram para a rua. (verbo)
no respondeu calma e respeitosamente.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais * Quando indicado no singular, o artigo definido pode
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio: indicar toda uma espécie:
Essa matéria é mais bem interessante que aquela. O trabalho dignifica o homem.
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
- O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér- * No caso de nomes próprios personativos, denotando a
bio: Cheguei primeiro. ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do
artigo:
- Quanto a sua função sintática: o advérbio e a lo- Marcela é a mais extrovertida das irmãs.
cução adverbial desempenham na oração a função de O Pedro é o xodó da família.
adjunto adverbial, classificando-se de acordo com as cir-
cunstâncias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao * No caso de os nomes próprios personativos estarem
advérbio. Exemplo: no plural, são determinados pelo uso do artigo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad- Os Maias, os Incas, Os Astecas...
verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi- * Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
dade e de tempo, respectivamente. para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o arti-
go), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
Fontes de pesquisa:
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
(qualquer classe)
morf75.php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- * Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São cultativo:
Paulo: Saraiva, 2010. Preparei o meu curso. Preparei meu curso.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. * A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa de aproximação numérica:
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. O máximo que ele deve ter é uns vinte anos.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a i) Consecutivas: introduzem uma oração que ex-
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São pressa a consequência da principal. São elas: de sorte que,
elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde de modo que, sem que (= que não), de forma que, de jeito
que, a menos que, sem que, etc. que, que (tendo como antecedente na oração principal uma
Se precisar de minha ajuda, telefone-me. palavra como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc.
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do
** Dica: você deve ter percebido que a conjunção exame.
condicional “se” também é conjunção integrante. A di-
ferença é clara ao ler as orações que são introduzidas Atenção: Muitas conjunções não têm classificação
por ela. Acima, ela nos dá a ideia da condição para que única, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de
recebamos um telefonema (se for preciso ajuda). Já na acordo com o sentido que apresentam no contexto
oração: (grifo da Zê!).
Não sei se farei o concurso...
Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: O bom relacionamento entre as conjunções de um
o verbo da oração principal (sei) pede complemento texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa-
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú-
(objeto direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”).
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
Portanto, a oração em destaque exerce a função de ob-
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e
jeto direto da oração principal, sendo classificada como
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios
oração subordinada substantiva objetiva direta.
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se
d) Conformativas: introduzem uma oração que ex- pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o conjun-
prime a conformidade de um fato com outro. São elas: to das relações que garantem a coesão do enunciado. O
conforme, como (= conforme), segundo, consoante, etc. sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
O passeio ocorreu como havíamos planejado. cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que
estas interferem semanticamente no enunciado.
e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi- Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração prin- junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
cipal. São elas: para que, a fim de que, que, porque (= textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
para que), que, etc. são de circunstâncias fundamentais à condução da histó-
Toque o sinal para que todos entrem no salão. ria, como as noções de tempo, finalidade, causa e conse-
quência. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes
f) Proporcionais: introduzem uma oração que ex- a linha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso
pressa um fato relacionado proporcionalmente à ocor- das exposições e argumentações construídas por meio de
rência do expresso na principal. São elas: à medida que, contrastes e oposições, que implicam o uso das adversati-
à proporção que, ao passo que e as combinações quanto vas e concessivas.
mais... (mais), quanto menos... (menos), quanto menos...
(mais), quanto menos... (menos), etc. Fontes de pesquisa:
O preço fica mais caro à medida que os produtos es- http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
casseiam. php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
nais à medida em que, na medida que e na medida em Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
que. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
g) Temporais: introduzem uma oração que acres-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
centa uma circunstância de tempo ao fato expresso na
oração principal. São elas: quando, enquanto, antes que,
Interjeição
depois que, logo que, todas as vezes que, desde que, sem-
pre que, assim que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
A briga começou assim que saímos da festa. ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
h) Comparativas: introduzem uma oração que ex- maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
pressa ideia de comparação com referência à oração a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
principal. São elas: como, assim como, tal como, como se, rente de uma situação particular, um momento ou um
(tão)... como, tanto como, tanto quanto, do que, quanto, contexto específico. Exemplos:
tal, qual, tal qual, que nem, que (combinado com menos Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ou mais), etc. ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem. Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição
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LÍNGUA PORTUGUESA
O significado das interjeições está vinculado à manei- Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
ra como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva!
sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto em Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus!
que for utilizada. Exemplos: Silêncio: Psiu! Silêncio!
Psiu! Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
contexto: alguém pronunciando esta expressão na
rua ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te cha- * Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis,
mando! Ei, espere!” isto é, não sofrem variação em gênero, número e grau
como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo,
Psiu! aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso espe-
contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig- cífico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Não
nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silên- se trata de um processo natural desta classe de palavra,
cio!” mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
Locução Interjetiva
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
puxa: interjeição; tom da fala: decepção
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama-
As interjeições cumprem, normalmente, duas fun- tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise
ções: dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha-
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale- me Deus!, Quem me dera!
gria, tristeza, dor, etc.
Ah, deve ser muito interessante! * Observações:
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas.
b) Sintetizar uma frase apelativa. Por exemplo:
Cuidado! Saia da minha frente. Ué! (= Eu não esperava por essa!)
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
As interjeições podem ser formadas por:
a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô 2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o
b) palavras: Oba! Olá! Claro! seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes gra-
c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu maticais podem aparecer como interjeições. Por exemplo:
Deus! Ora bolas! Viva! Basta! (Verbos)
Fora! Francamente! (Advérbios)
Classificação das Interjeições 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Por
Comumente, as interjeições expressam sentido de: exemplo:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
Atenção! Olha! Alerta!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
quá!, etc.
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Ânimo! Adiante!
5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente! e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Essa não! Chega! Basta! “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Deus!
Desculpa: Perdão! Fontes de pesquisa:
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.php
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramá-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! tica – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus
Pô! Ora! Barbosa Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Cardinais: indicam quantidade exata ou determina- - Os numerais são escritos em conjunto de três alga-
da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de
sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé- centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma
cada, bimestre. separação através de ponto ou espaço correspondente a
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.
- Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém - Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
ou alguma coisa ocupa numa determinada sequência: pri-
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
meiro, segundo, centésimo, etc.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
* Observação importante:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.
final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas
são classificadas como adjetivos, não ordinais.
* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina
por dois zeros, usa-se o “e”:
- Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc. Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)
- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. até décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o nume-
ral venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais
26
LÍNGUA PORTUGUESA
- Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e
outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua utilização
exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é dispensado
caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.
27
LÍNGUA PORTUGUESA
fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Preposição
Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreensão
do texto.
Tipos de Preposição
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja, for-
madas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma
(preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em frente
a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gênero
ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela.
* Essa concordância não é característica da preposição, mas das palavras às quais ela se une.
Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra pode se dar a partir dos processos de:
1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocábulos
não sofrem alteração.
2. Contração: união de uma preposição com outra palavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + o =
do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = daquele, em + isso = nisso.
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do pronome
“aquilo”).
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Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
por meio das preposições: [minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
Destino = Irei a Salvador. [tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se
Modo = Saiu aos prantos. fala]
Lugar = Sempre a seu lado. A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
Assunto = Falemos sobre futebol. [dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem
Tempo = Chegarei em instantes.
se fala]
Causa = Chorei de saudade.
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
Instrumento = Escreveu a lápis.
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme-
Posse = Vi as roupas da mamãe.
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência
Autoria = livro de Machado de Assis
através do pronome seja coerente em termos de gênero
Companhia = Estarei com ele amanhã.
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
Matéria = copo de cristal.
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado.
Meio = passeio de barco.
Origem = Nós somos do Nordeste.
Conteúdo = frascos de perfume. Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. nossa escola neste ano.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais. [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân-
cia adequada]
* Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo- [neste: pronome que determina “ano” = concordância
cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre- adequada]
positiva por trás de. [ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con-
cordância inadequada]
Fontes de pesquisa:
http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/ Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- Pronomes Pessoais
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. São aqueles que substituem os substantivos, indi-
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação cando diretamente as pessoas do discurso. Quem fala
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. ou escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a
Pronome quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer
Pronome é a palavra variável que substitui ou acom- referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun-
forma. ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
O homem julga que é superior à natureza, por isso o ou do caso oblíquo.
homem destrói a natureza...
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Observe que as únicas formas próprias do pronome - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). Conhece a ti mesmo.
As demais repetem a forma do pronome pessoal do caso
reto. - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
Guilherme já se preparou.
- As preposições essenciais introduzem sempre pro- Ela deu a si um presente.
nomes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do Antônio conversou consigo mesmo.
caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso
da língua formal, os pronomes costumam ser usados des- - 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
ta forma: Lavamo-nos no rio.
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos.
Não há nenhuma acusação contra mim. Vós vos beneficiastes com esta conquista.
Não vá sem mim.
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo.
* Atenção: Há construções em que a preposição, Eles se conheceram.
apesar de surgir anteposta a um pronome, serve para in- Elas deram a si um dia de folga.
troduzir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses
casos, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito * O pronome é reflexivo quando se refere à mesma
for um pronome, deverá ser do caso reto. pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. ** É pronome recíproco quando indica reciprocidade
Não vá sem eu mandar. de ação:
Nós nos amamos.
* A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!” Olhamo-nos calados.
está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
Pronomes de Tratamento
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
mim!
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
- A combinação da preposição “com” e alguns pro-
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
nomes originou as formas especiais comigo, contigo, con-
soa. Alguns exemplos:
sigo, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
de companhia. Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
Ele carregava o documento consigo. sos em geral
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
- A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
Ela veio até mim, mas nada falou. sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais,
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido governadores, secretários de Estado, presidente da Repú-
de) inclusão, usaremos as formas retas: blica (sempre por extenso)
Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu) Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades
- As formas “conosco” e “convosco” são substituídas Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, pró- até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de
prios, todos, ambos ou algum numeral. igual categoria
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes
Estávamos com vós outros quando chegaram as más de direito
notícias. Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento
Ele disse que iria com nós três. cerimonioso
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
Pronome Reflexivo
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun- nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são emprega-
cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao dos no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no trata-
sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe mento familiar. Você e vocês são largamente empregados
a ação expressa pelo verbo. no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
Quadro dos pronomes reflexivos: de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma
- 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim. vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou
Eu não me lembro disso. literária.
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- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, - tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
porém relativamente próximo à época em que se situa a
pessoa que fala: * Note que:
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! - Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en-
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta- tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa
mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em
remoto: primeiro lugar.
Naquele tempo, os professores eram valorizados.
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
*Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala- irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
rá ou escreverá):
- Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer - Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará: com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta,
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or- disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
tografia, concordância. = naquilo)
* Também aparecem como pronomes demonstrativos: Cada povo tem seus costumes.
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e Certas pessoas exercem várias profissões.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) * Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti-
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te vos, ora pronomes indefinidos adjetivos:
indiquei.) algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui-
tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne-
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
gênero quando têm caráter reforçativo: qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal,
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem. tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vá-
Eu mesma refiz os exercícios. rios, várias.
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- O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda - Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o con- ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
sequente (o ser possuído, com o qual concorda em gêne- gente que conversava, (que) ria, observava.
ro e número); não se usa artigo depois deste pronome;
“cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais. Pronomes Interrogativos
Existem pessoas cujas ações são nobres.
(antecedente) (consequente) São usados na formulação de perguntas, sejam elas
diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefini-
*interpretação do pronome “cujo” na frase acima: dos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo im-
ações das pessoas. É como se lêssemos “de trás para fren- preciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e
te”. Outro exemplo: variações), quanto (e variações).
Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro) Com quem andas?
Qual seu nome?
** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro- Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
nome:
O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu- Sobre os pronomes:
se a)
O pronome pessoal é do caso reto quando tem fun-
- “Quanto” é pronome relativo quando tem por an- ção de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblí-
tecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) quo quando desempenha função de complemento.
e tudo: 1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
Emprestei tantos quantos foram necessários. 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
(antecedente) lhe ajudar.
Ele fez tudo quanto havia falado.
(antecedente) Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
- O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sem- reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce fun-
pre precedido de preposição. ção de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
É um professor a quem muito devemos. Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discur-
(preposição) so. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
- “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an- sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
casa onde morava foi assaltada.
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
diferentemente dos segundos, que são sempre precedi-
- Na indicação de tempo, deve-se empregar quando
dos de preposição.
ou em que.
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que
Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
eu estava fazendo.
no exterior.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
mim o que eu estava fazendo.
- Podem ser utilizadas como pronomes relativos as
palavras: Fontes de pesquisa:
- como (= pelo qual) – desde que precedida das pala- http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
vras modo, maneira ou forma: morf42.php
Não me parece correto o modo como você agiu sema- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
na passada. Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
- quando (= em que) – desde que tenha como antece- reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
dente um nome que dê ideia de tempo: Paulo: Saraiva, 2010.
Bons eram os tempos quando podíamos jogar video- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
game. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
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-lugares: Alemanha, Portugal Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode
-sentimentos: amor, saudade ser observada. Só podemos observar a beleza numa pes-
-estados: alegria, tristeza soa ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro
-qualidades: honestidade, sinceridade... ser para se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um
-ações: corrida, pescaria... substantivo abstrato.
Os substantivos abstratos designam estados, qualida-
Morfossintaxe do substantivo des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (es-
Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun- tado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sen-
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como timento).
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, Substantivos Coletivos
funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do ob- Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
jeto ou como núcleo do vocativo. Também encontramos outra abelha, mais outra abelha.
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem- Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
penhadas por grupos de palavras.
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
Classificação dos Substantivos cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
Substantivos Comuns e Próprios palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan-
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de
Observe a definição: seres da mesma espécie (abelhas).
Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca- O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda
a sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
(em oposição aos bairros). mesmo estando no singular, designa um conjunto de se-
res da mesma espécie.
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada Substantivo coletivo Conjunto de:
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
tivo comum. assembleia pessoas reunidas
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de alcateia lobos
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
acervo livros
homem, mulher, país, cachorro.
Estamos voando para Barcelona. antologia trechos literários selecionados
arquipélago ilhas
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da
banda músicos
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio –
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de bando desordeiros ou malfeitores
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. banca examinadores
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- Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in- Formação do Feminino dos Substantivos Unifor-
dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e mes
a colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
Epicenos:
Saiba que: Substantivos de origem grega termina- Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
dos em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema,
o sistema, o sintoma, o teorema. Não é possível saber o sexo do jacaré em questão.
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma
- Existem certos substantivos que, variando de gêne- forma para indicar o masculino e o feminino.
ro, variam em seu significado: Alguns nomes de animais apresentam uma só for-
o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz) ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são
o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo) chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
o capital (dinheiro) e a capital (cidade) houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba) palavras macho e fêmea.
o lente (professor) e a lente (vidro de aumento) A cobra macho picou o marinheiro.
o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclu- A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
são)
o praça (soldado raso) e a praça (área pública) Sobrecomuns:
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emis- Entregue as crianças à natureza.
sora)
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo
Formação do Feminino dos Substantivos Bifor- masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso,
mes nem o artigo nem um possível adjetivo permitem identi-
ficar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja:
- Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno A criança chorona chamava-se João.
- aluna. A criança chorona chamava-se Maria.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
ao masculino: freguês - freguesa Outros substantivos sobrecomuns:
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma
de três formas: boa criatura.
1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã Marcela faleceu
3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
Comuns de Dois Gêneros:
* Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
- sultana
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
- Substantivos terminados em -or:
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
A distinção de gênero pode ser feita através da análi-
se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs-
- Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa:
tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa /
um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
duque - duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
repórter francês - repórter francesa
- Substantivos que formam o feminino trocando o -e
final por -a: elefante - elefanta - A palavra personagem é usada indistintamente nos
dois gêneros.
- Substantivos que têm radicais diferentes no mascu- a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
lino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nu-
vens os personagens dos contos de carochinha.
- Substantivos que formam o feminino de maneira b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femi-
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras ante- nino: O problema está nas mulheres de mais idade, que
riores: czar – czarina, réu - ré não aceitam a personagem.
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Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções, * Atenção: O plural de caráter é caracteres.
nomes de cidades são femininos.
A histórica Ouro Preto. - Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
A dinâmica São Paulo. se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara-
A acolhedora Porto Alegre. col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul
Uma Londres imensa e triste. e cônsules.
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de
duas maneiras:
Gênero e Significação
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
Muitos substantivos têm uma significação no mascu-
lino e outra no feminino. Observe: Observação: a palavra réptil pode formar seu plural de
o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai
à frente de um bloco carnavalesco, manejando um bas- - Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
tão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou duas maneiras:
proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do 1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
(ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a 2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capi- riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
tal (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabelei-
ra), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral - Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural
(cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na admi- de três maneiras.
nistração da crisma e de outros sacramentos), a crisma 1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
(sacramento da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato 2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães
de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta 3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
planície de vegetação), o guia (pessoa que guia outras), a
- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
guia (documento, pena grande das asas das aves), o grama
o látex - os látex.
(unidade de peso), a grama (relva), o caixa (funcionário da
caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamentos), o lente Plural dos Substantivos Compostos
(professor), a lente (vidro de aumento), o moral (ânimo), a
moral (honestidade, bons costumes, ética), o nascente (lado - A formação do plural dos substantivos compostos
onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), o maria-fumaça depende da forma como são grafados, do tipo de palavras
(trem como locomotiva a vapor), maria-fumaça (locomoti- que formam o composto e da relação que estabelecem en-
va movida a vapor), o pala (poncho), a pala (parte anterior tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se
do boné ou quepe, anteparo), o rádio (aparelho receptor), a como os substantivos simples: aguardente/aguardentes,
rádio (emissora), o voga (remador), a voga (moda). girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malme-
queres.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Particularidades sobre o Número dos Substanti- Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
vos os seguintes elementos:
- Radical: é a parte invariável, que expressa o sig-
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o nificado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava;
norte, o leste, o oeste, a fé, etc. fal-am. (radical fal-)
- Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsa- - Tema: é o radical seguido da vogal temática que
mes, as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes. indica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo:
- Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do fala-r. São três as conjugações:
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida- 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática -
de, bom nome) e honras (homenagem, títulos). E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
- Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas - Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
com sentido de plural: signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
Aqui morreu muito negro. falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicati-
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em cape- vo) / falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
las improvisadas. - Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número
Flexão de Grau do Substantivo (singular ou plural):
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir (indica a 3.ª pessoa do plural.)
as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
* Observação: o verbo pôr, assim como seus deriva-
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho conside- dos (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação,
rado normal. Por exemplo: casa pois a forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”,
apesar de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho algumas formas do verbo: põe, pões, põem, etc.
do ser. Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um ad- Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
jetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in- Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
dicador de aumento. Por exemplo: casarão. dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-
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to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, * Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza
por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, ama-
não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do nhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Ama-
radical): opinei, aprenderão, amaríamos. nheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido
figurado. Qualquer verbo impessoal, empregado em sen-
Classificação dos Verbos tido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou
seja, terá conjugação completa.
Classificam-se em: Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
- Regulares: são aqueles que apresentam o radical Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
inalterado durante a conjugação e desinências idênticas
às de todos os verbos regulares da mesma conjugação. * São impessoais, ainda:
Por exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, - o verbo passar (seguido de preposição), indicando
conjugados no presente do Modo Indicativo: tempo: Já passa das seis.
- Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser
normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. (preciso, necessário):
Os principais verbos impessoais são: Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos
bastante)
* haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali- Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
zar-se ou fazer (em orações temporais). É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia =
Existiam) 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, se-
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) guidos da conjunção que.
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão) Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz) à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo) vejo. (Sujeito: que não a vejo)
Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci. * Observação: todos os sujeitos apontados são ora-
Estava frio naquele dia. cionais.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:
* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escre-
ver/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.
- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui)
e ir (fui, ia, vades).
- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa
das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam
- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita
no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade
já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.
(Ziraldo)
Tempos Verbais
Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
tempos.
Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou
desejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele
vier à loja, levará as encomendas.
Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Modo Indicativo
Presente do Indicativo
Pretérito mais-que-perfeito
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
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LÍNGUA PORTUGUESA
Presente do Subjuntivo
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).
1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M
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LÍNGUA PORTUGUESA
Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M
Futuro do Subjuntivo
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número
e pessoa correspondente.
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM
Modo Imperativo
Imperativo Afirmativo
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:
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LÍNGUA PORTUGUESA
Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.
Infinitivo Pessoal
* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é:
A) Houveram eleições em outros países este ano.
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos.
D) Fazem três anos que não tiro férias.
E) Esse homem possue muitos bens.
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LÍNGUA PORTUGUESA
2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA- Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
FE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
modos indicados entre parênteses, fazendo a devida con- se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
cordância. que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque as vozes verbais:
surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - pre-
térito perfeito do indicativo) - Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos ação expressa pelo verbo:
postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do
indicativo) Ele fez o tra-
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na balho.
composição da chapa quando se _________ de criticar a sujeito agente ação objeto
atual diretoria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo) (paciente)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem - Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a
B-) interviu - entretiveram - absterem ação expressa pelo verbo:
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem O trabalho foi feito p o r
E-) intervirá - entretenham - abstiveram ele.
sujeito paciente ação agen-
te da passiva
2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o
verbo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica - Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
“veio”, portanto, “interveio” (não existe “interviu”, já que agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
ele não deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa
B. Como não há outro item com a mesma opção, chega- O menino feriu-se.
mos à resposta rapidamente!
RESPOSTA: “A”. * Observação: não confundir o emprego reflexivo do
3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO verbo com a noção de reciprocidade:
– VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir. Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Já __________ alguns anos que estudos a respeito da Nós nos amamos. (um ama o outro)
utilização abusiva dos smartphones estão sendo desen-
volvidos. Os especialistas acreditam _________ motivos Formação da Voz Passiva
para associar alguns comportamentos dos adolescentes
ao uso prolongado desses aparelhos, e _________ alertado A voz passiva pode ser formada por dois processos:
os pais para que avaliem a necessidade de estabelecer analítico e sintético.
limites aos seus filhos.
De acordo com a norma-padrão da língua portugue- 1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte
sa, as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e maneira:
respectivamente, com:
(A) faz … haver … têm Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exem-
(B) fazem … haver … tem plo:
(C) faz … haverem … têm A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos:
(D) fazem … haverem … têm os alunos pintarão a escola)
(E) faz … haverem … tem O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)
3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns * Observação: o agente da passiva geralmente é
anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos smar- acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a
tphones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas acre- construção com a preposição de. Por exemplo: A casa fi-
ditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos para cou cercada de soldados.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Pode acontecer de o agente da passiva não estar * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma- ** Saiba que:
ção das frases seguintes: - com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo) porque o sujeito não pode ser visto como agente, pacien-
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per- te ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa) Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) morf54.php
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
tivo) Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assu- ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
me o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz
ativa. Observe a transformação da frase seguinte: Questões
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, se- (A) que o instituto Endeavor traz;
guido do pronome apassivador “se”. Por exemplo: (B) que o instituto Endeavor trouxe;
Abriram-se as inscrições para o concurso. (C) trazida pelo instituto Endeavor;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
(E) que traz o instituto Endeavor.
* Observação: o agente não costuma vir expresso na
voz passiva sintética. 1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa te-
remos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva tempo verbal no pretérito – assim como na passiva).
RESPOSTA: “B”.
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar
substancialmente o sentido da frase.
2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 -
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por
Sujeito da Ativa objeto Direto muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal:
A apostila foi comprada pelo concurseiro. A) consideravam.
(Voz Passiva) B) consideram.
Sujeito da Passiva Agente da Passi- C) considerem.
va D) considerarão.
E) considerariam.
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva;
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo 2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então
tempo. Observe: na ativa teremos UM: muitos o consideram o maior mara-
- Os mestres têm constantemente aconselhado os alu- tonista de todos os tempos.
nos. RESPOSTA: “B”.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pe-
los mestres. 3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014)
- Eu o acompanharei. Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar
Ele será acompanhado por mim. uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal
resultante deverá ser
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Quando a expressão que indica porcentagem não é 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a ne-
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nhum sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin-
número. gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de existir;
25% querem a mudança. Fazer indicando tempo; Aqueles que indicam fenômenos
1% conhece o assunto. da natureza. Exemplos:
Havia muitas garotas na festa.
Se o número percentual estiver determinado por ar- Faz dois meses que não vejo meu pai.
tigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com Chovia ontem à tarde.
eles:
Os 30% da produção de soja serão exportados. b) Sujeito Composto
Esses 2% da prova serão questionados.
1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao ver-
6) O pronome “que” não interfere na concordância; bo, a concordância se faz no plural:
Pai e filho conversavam longamente.
já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do
Sujeito
singular.
Fui eu que paguei a conta.
Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fomos nós que pintamos o muro. Sujeito
És tu que me fazes ver o sentido da vida.
Sou eu quem faz a prova. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
Não serão eles quem será aprovado. gramaticais diferentes, a concordância ocorre da seguin-
te maneira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as- sobre a segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece
sumir a forma plural. sobre a terceira (eles). Veja:
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
taram os poetas. Primeira Pessoa do Plural (Nós)
Este candidato é um dos que mais estudaram!
Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos Segunda Pessoa do Plural (Vós)
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular:
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nem uma das que me escreveram mora aqui. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
*Quando “um dos que” vem entremeada de substan-
tivo, o verbo pode: Observação: quando o sujeito é composto, formado
a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atra- por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira
vessa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que (ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do
faça o mesmo). plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no
b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão lugar de “tomaríeis”.
poluídos (noção de que existem outros rios na mesma
condição). 3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo,
passa a existir uma nova possibilidade de concordância:
em vez de concordar no plural com a totalidade do sujei-
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
to, o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
do sujeito mais próximo.
Vossa Excelência está cansado?
Faltaram coragem e competência.
Vossas Excelências renunciarão? Faltou coragem e competência.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se Compareceu o banca e todos os candidatos.
de acordo com o numeral.
Deu uma hora no relógio da sala. 4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concor-
Deram cinco horas no relógio da sala. dância é feita no plural. Observe:
Soam dezenove horas no relógio da praça. Abraçaram-se vencedor e vencido.
Baterão doze horas daqui a pouco. Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
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LÍNGUA PORTUGUESA
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
dispostos em gradação, verbo no singular: pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um se- mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
gundo me satisfaz. verbo ficará no plural.
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
3) Quando os núcleos do sujeito composto são uni- Nordeste.
dos por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a
acordo com o valor semântico das conjunções: notícia.
Drummond ou Bandeira representam a essência da
poesia brasileira. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
é feita com esse termo resumidor.
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apa-
“adição”. Já em: tia.
Juca ou Pedro será contratado. Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim- na vida das pessoas.
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
no singular. 1) O Verbo e a Palavra “SE”
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem duas de particular interesse para a concordância verbal:
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
Um ou outro compareceu à festa. b) quando é partícula apassivadora.
Nem um nem outro saiu do colégio. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
singular: Um e outro farão/fará a prova.
terceira pessoa do singular:
Precisa-se de funcionários.
5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por
Confia-se em teses absurdas.
“com”, o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re-
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
cebem um mesmo grau de importância e a palavra “com”
verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e in-
tem sentido muito próximo ao de “e”.
diretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nes-
O pai com o filho montaram o brinquedo.
se caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração.
O governador com o secretariado traçaram os planos
Exemplos:
para o próximo semestre.
O professor com o aluno questionaram as regras. Construiu-se um posto de saúde.
Construíram-se novos postos de saúde.
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se Aqui não se cometem equívocos
a ideia é enfatizar o primeiro elemento. Alugam-se casas.
O pai com o filho montou o brinquedo.
O governador com o secretariado traçou os planos para ** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivado-
o próximo semestre. ra ou índice de indeterminação do sujeito, tente trans-
O professor com o aluno questionou as regras. formar a frase para a voz passiva. Se a frase construída
for “compreensível”, estaremos diante de uma partícula
Observação: com o verbo no singular, não se pode apassivadora; se não, o “se” será índice de indetermina-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez ção. Veja:
que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” Precisa-se de funcionários qualificados.
são adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é Tentemos a voz passiva:
como se houvesse uma inversão da ordem. Veja: Funcionários qualificados são precisados (ou preci-
“O pai montou o brinquedo com o filho.” sos)? Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice
“O governador traçou os planos para o próximo semes- de indeterminação do sujeito.
tre com o secretariado.” Agora:
“O professor questionou as regras com o aluno.” Vendem-se casas.
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta!
*Casos em que se usa o verbo no singular: Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu
Café com leite é uma delícia! passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per-
O frango com quiabo foi receita da vovó. cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
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LÍNGUA PORTUGUESA
Quando o sujeito ou o predicativo for: b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infini-
tivo sofre flexão:
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER As crianças parece gostarem do desenho.
concorda com a pessoa gramatical: (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
Ele é forte, mas não é dois. crianças)
Fernando Pessoa era vários poetas.
A esperança dos pais são eles, os filhos. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no
subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural:
Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles
Quando o verbo SER indicar se ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
metros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas de-
nunciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:
c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade a) Adjetivo anteposto aos substantivos:
e for seguido de palavras ou expressões como pouco, mui- - O adjetivo concorda em gênero e número com o
to, menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular: substantivo mais próximo.
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso. Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Duas semanas de férias é muito para mim. Encontramos caído o prendedor e a roupa.
d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo) - Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de
parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
o verbo.
Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
No meu setor, eu sou a única mulher.
Aqui os adultos somos nós. b) Adjetivo posposto aos substantivos:
- O adjetivo concorda com o substantivo mais pró-
Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre- ximo ou com todos eles (assumindo a forma masculina
dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo plural se houver substantivo feminino e masculino).
concorda com o pronome sujeito. A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
Eu não sou ela. A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
Ela não é eu. A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.
e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido
partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o Observação: os dois últimos exemplos apresentam
verbo SER concordará com o predicativo. maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente
A grande maioria no protesto eram jovens. se refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo
O resto foram atitudes imaturas. foi flexionado no plural masculino, que é o gênero predo-
minante quando há substantivos de gêneros diferentes.
58
LÍNGUA PORTUGUESA
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o subs- adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se refe-
tantivo não for acompanhado de nenhum modificador: rem possuir sentido genérico (não vier precedido de ar-
Água é bom para saúde. tigo).
É proibido entrada de crianças.
b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for Em certos momentos, é necessário atenção.
modificado por um artigo ou qualquer outro determina- No verão, melancia é bom.
tivo: Esta água é boa para saúde. É preciso cidadania.
Não é permitido saída pelas portas laterais.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os
b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
muito felizes.
como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
5) Nas expressões formadas por pronome indefinido
Esta salada é ótima.
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + A educação é necessária.
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino São precisas várias medidas na educação.
singular: Os jovens tinham algo de misterioso.
Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem Quite
função adjetiva e concorda normalmente com o nome a
que se refere: Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
Cristina saiu só. mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
Cristina e Débora saíram sós. Seguem anexas as documentações requeridas.
A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Observação: quando a palavra “só” equivale a “so- Muito obrigadas, disseram as senhoras.
mente” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, por- Seguem inclusos os papéis solicitados.
tanto, invariável: Eles só desejam ganhar presentes. Estamos quites com nossos credores.
** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”.
Se a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de ad- Bastante - Caro - Barato - Longe
vérbio, portanto, invariável; se houver coerência com o
segundo, função de adjetivo, então varia: Estas palavras são invariáveis quando funcionam
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo como advérbios. Concordam com o nome a que se refe-
Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad- rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje-
vérbio tivos, ou numerais.
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho.
de “só”, haverá, novamente, um adjetivo: (pronome adjetivo)
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descan-
As casas estão caras. (adjetivo)
sando)
Achei barato este casaco. (advérbio)
7) Quando um único substantivo é modificado por
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)
dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as
construções: Meio - Meia
a) O substantivo permanece no singular e coloca-se
o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espa- a) A palavra “meio”, quando empregada como adjeti-
nhola e a portuguesa. vo, concorda normalmente com o nome a que se refere:
Pedi meia porção de polentas.
b) O substantivo vai para o plural e omite-se o ar-
tigo antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e b) Quando empregada como advérbio permanece in-
portuguesa. variável: A candidata está meio nervosa.
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LÍNGUA PORTUGUESA
2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO A regência verbal estuda a relação que se estabelece
RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA- entre os verbos e os termos que os complementam (obje-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos
no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”, adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regên-
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a cia, o que corresponde à diversidade de significados que
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver- estes verbos podem adquirir dependendo do contexto
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão, em que forem empregados.
deveria ser A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar,
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador. contentar.
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador. A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no elevador. agrado ou prazer”, satisfazer.
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no elevador. Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
(E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no eleva- “agradar a alguém”.
dor.
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LÍNGUA PORTUGUESA
ASSISTIR IMPLICAR
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres- - Como transitivo direto, esse verbo tem dois senti-
tar assistência a, auxiliar. dos:
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. implicavam um firme propósito.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, pre- acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
senciar, estar presente, caber, pertencer.
Assistimos ao documentário. - Como transitivo direto e indireto, significa compro-
Não assisti às últimas sessões. meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
Essa lei assiste ao inquilino. econômicas.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in- * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa quem não trabalhasse arduamente.
conturbada cidade.
NAMORAR
CHAMAR - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há
- Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, dois anos.
solicitar a atenção ou a presença de.
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha- OBEDECER - DESOBEDECER
má-la. - Sempre transitivo indireto:
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Todos obedeceram às regras.
Ninguém desobedece às leis.
- Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre- *Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem
dicativo preposicionado ou não. “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
A torcida chamou o jogador mercenário.
A torcida chamou ao jogador mercenário. PROCEDER
A torcida chamou o jogador de mercenário. - Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
A torcida chamou ao jogador de mercenário. cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
adverbial de modo.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronomi-
As afirmações da testemunha procediam, não havia
nal: Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
como refutá-las.
Você procede muito mal.
CUSTAR
- Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver-
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzi-
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito.
do pela preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti- Procedeu-se aos exames.
vo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração O delegado procederá ao inquérito.
reduzida de infinitivo.
QUERER
Muito custa viver tão longe da - Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
família. vontade de, cobiçar.
Verbo Intransitivo Oração Subordinada Querem melhor atendimento.
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo Queremos um país melhor.
Custou-me (a mim) crer nisso. - Querer é transitivo indireto no sentido de ter afei-
Objeto Indireto Oração Subordinada ção, estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
VISAR
*A Gramática Normativa condena as construções que - Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
pessoa: Custei para entender o problema. = Forma O homem visou o alvo.
correta: Custou-me entender o problema. O gerente não quis visar o cheque.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar público.
ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)
No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alte-
ração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos
tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)
SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR
Importante: A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a
preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
Regência Nominal
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome.
Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que
vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo
significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os nomes corres-
pondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).
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LÍNGUA PORTUGUESA
Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de
Advérbios
Longe de Perto de
Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados:
paralela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.
Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Questões
1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta
da língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.
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LÍNGUA PORTUGUESA
2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se- Que Deus o ajude.
guinte trecho para responder à questão.
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o prono-
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imu- me reto ou sujeito expresso:
nológica melhor a essa medida, similar _______________ . Eu lhe entregarei o material amanhã.
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: Tu sabes cantar?
(A) das mulheres
(B) às mulheres Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
(C) com das mulheres verbo. A mesóclise é usada:
(D) à das mulheres
(E) ao das mulheres Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
palavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (su-
em prol da paz no mundo.
bentendido: resposta imunológica) das mulheres.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
RESPOSTA: “D”.
lizará”:
realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma pa-
lavra que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria.
Veja: Não se realizará...
COLOCAÇÃO PRONOMINAL. Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
(com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos nharia nessa viagem).
pronomes oblíquos átonos na frase.
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a fun- A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
ção de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: forem possíveis:
OBlíquo = OBjeto!
1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Embora na linguagem falada a colocação dos pro- Quando eu avisar, silenciem-se todos.
nomes não seja rigorosamente seguida, algumas normas
devem ser observadas na linguagem escrita. 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal:
Não era minha intenção machucá-la.
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
A próclise é usada: 3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não
se inicia período com pronome oblíquo).
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que Vou-me embora agora mesmo.
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: Levanto-me às 6h.
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
jamais, etc.: Não se desespere! 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
b) Advérbios: Agora se negam a depor.
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a
quem tudo!
proposta fazendo-se de desentendida.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento
uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo,
foi arremessado à distância de cem metros. o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede,
no caso de o termo regente exigir a preposição.
- De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
-, faz-se necessário o emprego da crase.
Ensino à distância. *não ocorre crase antes de nome feminino utilizado
Ensino a distância. em sentido genérico ou indeterminado:
Estamos sujeitos a críticas.
* Em locuções adverbiais formadas por palavras repe- Refiro-me a conversas paralelas.
tidas, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor. Fontes de pesquisa:
Eu o seguirei passo a passo. http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-cra-
se-.html
Casos em que não se admite o emprego da crase: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
* Antes de vocábulos masculinos. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
As produções escritas a lápis não serão corrigidas. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São
Esta caneta pertence a Pedro. Paulo: Saraiva, 2010.
* Antes de verbos no infinitivo. Questões
Ele estava a cantar.
Começou a chover.
1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamen-
* Antes de numeral.
te as lacunas da frase a seguir.
O número de aprovados chegou a cem.
Quando________ três meses disse-me que iria _________
Faremos uma visita a dez países.
Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá
-la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
Observação:
A-) a - há - à - à - às
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio-
B-) há - à - a - a – às
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. C-) há - a - há - à - as
D-) a - à - a - à - às
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está E-) a - a - à - há – as
confirmada, visto que estes não podem ser empregados
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
aluna da classe. me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para
visitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando A (ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais
essa não se apresentar determinada: Chegamos todos tinha direito (tinha direito a quê? às milhas – regência no-
exaustos a casa. minal). Teremos: há, à, a, a, às.
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto RESPOSTA: “B”.
adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos
exaustos à casa de Marcela. 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
VUNESP/2014)
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a trabalho para proceder _____ medidas necessárias _____
terra, já era noite. exumação dos restos mortais do ex-presidente João Gou-
Contudo, se o termo estiver precedido por um de- lart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu-
terminante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-pre-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. sidente morreu de causas naturais, ou seja, devido ____
O astronauta voltou à Terra. uma parada cardíaca – que tem sido a versão considerada
oficial até hoje –, ou se sua morte se deve ______ envene-
- não ocorre crase antes de pronomes que requerem namento.
o uso do artigo. (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Os livros foram entregues a mim. governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
Dei a ela a merecida recompensa. go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)
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LÍNGUA PORTUGUESA
___________________________________________________
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento gra- ___________________________________________________
ve antes de artigo)
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (an- ___________________________________________________
tes de palavra no plural e o “a” no singular)
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- ___________________________________________________
vação ___________________________________________________
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir
(verbo no infinitivo) ___________________________________________________
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pa-
lavra masculina) ___________________________________________________
RESPOSTA: “C”.
___________________________________________________
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___________________________________________________
___________________________________________________
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___________________________________________________
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70
MATEMÁTICA
Números inteiros e racionais: operações (adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação); expressões numéricas;
Frações e operações com frações..................................................................................................................................................................... .01
Múltiplos e divisores, Máximo divisor comum e Mínimo divisor comum ........................................................................................ 07
Números e grandezas proprocionais: Razões e proporções; Divisão em partes proporcionais............................................... 11
Regra de três.............................................................................................................................................................................................................. 15
Sistema métrico decimal........................................................................................................................................................................................ 19
Equações e inequações.......................................................................................................................................................................................... 23
Funções ....................................................................................................................................................................................................................... 29
Gráficos e tabelas..................................................................................................................................................................................................... 37
Estatística Descritiva, Amostragem, Teste de Hipóteses e Análise de Regressão ........................................................................... 43
Geometria.................................................................................................................................................................................................................... 48
Matriz, determinantes e sistemas lineares...................................................................................................................................................... 62
Sequências, progressão aritmética e geométrica........................................................................................................................................ 70
Porcentagem.............................................................................................................................................................................................................. 74
Juros simples e compostos................................................................................................................................................................................... 77
Taxas de Juros, Desconto, Equivalência de Capitais, Anuidades e Sistemas de Amortização.................................................... 80
MATEMÁTICA
Exemplo 2
NÚMEROS INTEIROS E RACIONAIS:
OPERAÇÕES (ADIÇÃO, SUBTRAÇÃO, 40 – 9 x 4 + 23
MULTIPLICAÇÃO, DIVISÃO, 40 – 36 + 23
4 + 23
POTENCIAÇÃO); EXPRESSÕES
27
NUMÉRICAS; FRAÇÕES E OPERAÇÕES COM
FRAÇÕES. Exemplo 3
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25
Números Racionais
Chama-se de número racional a todo número que
- Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um pode ser expresso na forma , onde a e b são inteiros
antecessor (número que vem antes do número dado). quaisquer, com b≠0
Exemplos: Se m é um número natural finito diferente São exemplos de números racionais:
de zero. -12/51
a) O antecessor do número m é m-1. -3
b) O antecessor de 2 é 1. -(-3)
c) O antecessor de 56 é 55. -2,333...
d) O antecessor de 10 é 9.
As dízimas periódicas podem ser representadas por
Expressões Numéricas fração, portanto são consideradas números racionais.
Como representar esses números?
Nas expressões numéricas aparecem adições, subtra- Representação Decimal das Frações
ções, multiplicações e divisões. Todas as operações podem
acontecer em uma única expressão. Para resolver as ex- Temos 2 possíveis casos para transformar frações em
pressões numéricas utilizamos alguns procedimentos: decimais
Se em uma expressão numérica aparecer as quatro 1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o nú-
operações, devemos resolver a multiplicação ou a divisão mero decimal terá um número finito de algarismos após a
primeiramente, na ordem em que elas aparecerem e so- vírgula.
mente depois a adição e a subtração, também na ordem
em que aparecerem e os parênteses são resolvidos primei-
ro.
Exemplo 1
10 + 12 – 6 + 7
22 – 6 + 7
16 + 7
23
1
MATEMÁTICA
Números Irracionais
Identificação de números irracionais
10x=3,333...
E então subtraímos:
10x-x=3,333...-0,333...
9x=3
X=3/9
X=1/3
2
MATEMÁTICA
Intervalo:[a,+ ∞[
Conjunto:{x∈R|x≥a}
INTERVALOS LIMITADOS
Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou
iguais a e menores do que b ou iguais a b. Intervalo:]a,+ ∞[
Conjunto:{x∈R|x>a}
Intervalo:[a,b] Potenciação
Conjunto: {x∈R|a≤x≤b} Multiplicação de fatores iguais
INTERVALOS IIMITADOS
4) Todo número negativo, elevado ao expoente ím-
Semirreta esquerda, fechada de origem b- números par, resulta em um número negativo.
reais menores ou iguais a b.
Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x∈R|x≤b} 5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos pas-
sar o sinal para positivo e inverter o número que está na
Semirreta esquerda, aberta de origem b – números base.
reais menores que b.
Intervalo:]-∞,b[
Conjunto:{x∈R|x<b}
3
MATEMÁTICA
6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o Técnica de Cálculo
valor do expoente, o resultado será igual a zero. A determinação da raiz quadrada de um número tor-
na-se mais fácil quando o algarismo se encontra fatorado
em números primos. Veja:
Propriedades
Exemplos:
24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27
Observe: 1 1
1
n
a.b = n a .n b
4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores eleva-
dos a um expoente, podemos elevar cada um a esse mes- O radical de índice inteiro e positivo de um produto
mo expoente. indicado é igual ao produto dos radicais de mesmo índice
(4.3)²=4².3² dos fatores do radicando.
a ∈ R+ , b ∈ R *+ , n ∈ N * ,
se
então:
a na
n =
b nb
4
MATEMÁTICA
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente 1º Caso:Denominador composto por uma só parcela
indicado é igual ao quociente dos radicais de mesmo índi-
ce dos termos do radicando.
Operações
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.
Operações
Devemos multiplicar de forma que obtenha uma dife-
Multiplicação rença de quadrados no denominador:
Exemplo
QUESTÕES
5
MATEMÁTICA
03. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária - De acordo com esses dados, ao longo da existência
MSCONCURSOS/2017) O valor de √0,444... é: desse prédio comercial, a fração do total de situações de
(A) 0,2222... risco de incêndio geradas por descuidos ao cozinhar cor-
(B) 0,6666... responde à
(C) 0,1616... (A) 3/20.
(D) 0,8888... (B) 1/4.
(C) 13/60.
04. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- (D) 1/5.
NESP/2017) Se, numa divisão, o divisor e o quociente são (E) 1/60.
iguais, e o resto é 10, sendo esse resto o maior possível,
então o dividendo é 07. (ITAIPU BINACIONAL - Profissional Nível Técni-
(A) 131. co I - Técnico em Eletrônica – NCUFPR/2017) Assinale a
(B) 121. alternativa que apresenta o valor da expressão
(C) 120.
(D) 110.
(E) 101.
6
MATEMÁTICA
RESPOSTAS
X=0,4444....
10x=4,444... Dos homens que saíram:
9x=4
Saíram no total
04. Resposta: A.
Como o maior resto possível é 10, o divisor é o número
11 que é igua o quociente.
11x11=121+10=131
05. Resposta: E.
A 7ª expressão será: 1234567x9+8=11111111
06. Resposta: D.
MÚLTIPLOS E DIVISORES, MÁXIMO
DIVISOR COMUM E MÍNIMO MÚLTIPLO
COMUM.
Gerado por descuidos ao cozinhar:
Múltiplos
Mas, que foram gerados por displicência é 12/13(1- Um número é múltiplo de outro quando ao dividirmos
1/13) o primeiro pelo segundo, o resto é zero.
Exemplo
07.Resposta: C.
O conjunto de múltiplos de um número natural não-
-nulo é infinito e podemos consegui-lo multiplicando-se o
número dado por todos os números naturais.
M(3)={0,3,6,9,12,...}
Divisores
7
MATEMÁTICA
D(12)={1,2,3,4,6,12}
D(15)={1,3,5,15} Assim, o mmc
Observações:
Exemplo
- Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
- Todo número natural é múltiplo de 1. O piso de uma sala retangular, medindo 3,52 m × 4,16
- Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos m, será revestido com ladrilhos quadrados, de mesma di-
múltiplos. mensão, inteiros, de forma que não fique espaço vazio
- O zero é múltiplo de qualquer número natural. entre ladrilhos vizinhos. Os ladrilhos serão escolhidos de
modo que tenham a maior dimensão possível.
Máximo Divisor Comum Na situação apresentada, o lado do ladrilho deverá
O máximo divisor comum de dois ou mais números medir
naturais não-nulos é o maior dos divisores comuns desses (A) mais de 30 cm.
números. (B) menos de 15 cm.
Para calcular o m.d.c de dois ou mais números, deve- (C) mais de 15 cm e menos de 20 cm.
mos seguir as etapas: (D) mais de 20 cm e menos de 25 cm.
• Decompor o número em fatores primos (E) mais de 25 cm e menos de 30 cm.
• Tomar o fatores comuns com o menor expoente
• Multiplicar os fatores entre si. Resposta: A.
Exemplo:
Resposta: E.
Mmc(20,30,44)=2².3.5.11=660
1h---60minutos
Para o mmc, fica mais fácil decompor os dois juntos. x-----660
Basta começar sempre pelo menor primo e verificar a x=660/60=11
divisão com algum dos números, não é necessário que os
dois sejam divisíveis ao mesmo tempo. Então será depois de 11horas que se encontrarão
Observe que enquanto o 15 não pode ser dividido, 7+11=18h
continua aparecendo.
8
MATEMÁTICA
9
MATEMÁTICA
05. Resposta: D.
RESPOSTAS
01. Resposta: E.
Mmc(5,6,7)=2⋅3⋅5⋅7=210
06. Resposta: C.
10
MATEMÁTICA
Mdc(90, 125)=2.3²=18
Então teremos
126/18 = 7 grupos de exatas
90/18 = 5 grupos de humanas
A diferença é de 7-5=2
Mmc(6,8)=24
- eles são múltiplos de 2, pois terminam com números
Mdc(30, 36, 72) =2x3=6 pares.
Portanto: 24/6=4 E são múltiplos de 3, lembrando que para ser múltiplo
de 3, basta somar os números e ser múltiplo de 3.
36=3+6=9
90=9+0=9
162=1+6+2=9
NÚMEROS E GRANDEZAS
PROPORCIONAIS: RAZÕES E
07. Resposta: E.
PROPORÇÕES; DIVISÃO EM PARTES
MDC(120,160)=8x5=40 PROPORCIONAIS
08. Resposta:B.
Razão
09. Resposta: A.
Proporção
10. Resposta: B.
O cálculo utilizado aqui será o MDC (Máximo Divisor
Comum) Os números A e D são denominados extremos enquan-
to os números B e C são os meios e vale a propriedade: o
produto dos meios é igual ao produto dos extremos, isto é:
AxD=BxC
11
MATEMÁTICA
ou
Exercício: Determinar o valor de X para que a razão X/3
esteja em proporção com 4/6.
Grandezas Diretamente Proporcionais
Solução: Deve-se montar a proporção da seguinte for-
Duas grandezas variáveis dependentes são diretamen-
ma:
te proporcionais quando a razão entre os valores da 1ª
grandeza é igual a razão entre os valores correspondentes
da 2ª, ou de uma maneira mais informal, se eu pergunto:
Quanto mais.....mais....
.
Exemplo
Distância percorrida e combustível gasto
Segunda propriedade das proporções
Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença
dos dois primeiros termos está para o primeiro, ou para Distância(km) Combustível(litros)
o segundo termo, assim como a soma ou a diferença dos 13 1
dois últimos termos está para o terceiro, ou para o quarto
termo. Então temos: 26 2
39 3
52 4
Exemplo
velocidadextempo a tabela abaixo:
Ou Diretamente Proporcionais
Para decompor um número M em partes X1, X2, ..., Xn di-
retamente proporcionais a p1, p2, ..., pn, deve-se montar um
sistema com n equações e n incógnitas, sendo as somas
X1+X2+...+Xn=M e p1+p2+...+pn=P.
12
MATEMÁTICA
QUESTÕES
13
MATEMÁTICA
04. (UNIRV/60 – Auxiliar de Laboratório – UNIRV- 08. (DPE/RS - Analista - FCC/2017) A razão entre as al-
GO/2017) Em relação à prova de matemática de um con- turas de dois irmãos era 3/4 e, nessa ocasião, a altura do irmão
curso, Paula acertou 32 das 48 questões da prova. A razão mais alto era 1,40 m. Hoje, esse irmão mais alto cresceu 10 cm.
entre o número de questões que ela errou para o total de Para que a razão entre a altura do irmão mais baixo e a altura
questões da prova é de do mais alto seja hoje, igual a 4/5 , é necessário que o irmão
(A) 2/3 mais baixo tenha crescido, nesse tempo, o equivalente a
(B) 1/2 (A) 13,5 cm.
(C) 1/3 (B) 10,0 cm.
(D) 3/2 (C) 12,5 cm.
(D) 14,8 cm.
05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- (E) 15,0 cm.
GO/2017) José, pai de Alfredo, Bernardo e Caetano, de 2, 5
e 8 anos, respectivamente, pretende dividir entre os filhos a 09. (CRBIO – Auxiliar Administrativo – VUNESP/2017)
quantia de R$ 240,00, em partes diretamente proporcionais O transporte de 1980 caixas iguais foi totalmente repartido
às suas idades. Considerando o intento do genitor, é possí- entre dois veículos, A e B, na razão direta das suas respectivas
vel afirmar que cada filho vai receber, em ordem crescente capacidades de carga, em toneladas. Sabe-se que A tem capa-
de idades, os seguintes valores: cidade para transportar 2,2 t, enquanto B tem capacidade para
(A) R$ 30,00, R$ 60,00 e R$150,00. transportar somente 1,8 t. Nessas condições, é correto afirmar
(B) R$ 42,00, R$ 58,00 e R$ 140,00. que a diferença entre o número de caixas carregadas em A e o
(C) R$ 27,00, R$ 31,00 e R$ 190,00. número de caixas carregadas em B foi igual a
(D) R$ 28,00, R$ 84,00 e R$ 128,00. (A) 304.
(E) R$ 32,00, R$ 80,00 e R$ 128,00. (B) 286.
(C) 224.
06. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VU- (D) 216.
NESP/2017) Sabe-se que 16 caixas K, todas iguais, ou 40 (E) 198.
caixas Q, todas também iguais, preenchem totalmente cer-
to compartimento, inicialmente vazio. Também é possível 10. (EMDEC – Assistente Administrativo – IBFC/2016)
preencher totalmente esse mesmo compartimento com- Paulo vai dividir R$ 4.500,00 em partes diretamente propor-
pletamente vazio utilizando 4 caixas K mais certa quantida- cionais às idades de seus três filhos com idades de 4, 6 e 8
de de caixas Q. Nessas condições, é correto afirmar que o anos respectivamente. Desse modo, o total distribuído aos
número de caixas Q utilizadas será igual a dois filhos com maior idade é igual a:
(A) 10. (A) R$2.500,00
(B) R$3.500,00
(B) 28.
(C) R$ 1.000,00
(C) 18.
(D) R$3.200,00
(D) 22.
(E) 30.
RESPOSTAS
07. (IPRESB/SP – Agente Previdenciário – VU-
NESP/2017) A tabela, onde alguns valores estão substituí-
01. Resposta: C.
dos por letras, mostra os valores, em milhares de reais, que 30k+70k=140
eram devidos por uma empresa a cada um dos três forne- 100k=140
cedores relacionados, e os respectivos valores que foram K=1,4
pagos a cada um deles. 30⋅1,4=42
70⋅1,4=98
Fornecedor A B C
02. Resposta: A.
Valor pago 22,5 X 37,5
Vamos dividir o prêmio pelas horas somadas
Valor devido Y 40 z 32+24+20+3⋅16+2⋅12=148
74000/148=500
Sabe-se que os valores pagos foram diretamente propor- O maior prêmio foi para quem fez 32 horas semanais
cionais a cada valor devido, na razão de 3 para 4. Nessas con- 32⋅500=16000
dições, é correto afirmar que o valor total devido a esses três 12⋅500=6000
fornecedores era, antes dos pagamentos efetuados, igual a A diferença é: 16000-6000=10000
(A) R$ 90.000,00.
(B) R$ 96.500,00. 03. Resposta:B.
(C) R$ 108.000,00. 2500+1500=4000 entrevistas
(D) R$ 112.500,00.
(E) R$ 120.000,00.
14
MATEMÁTICA
REGRA DE TRÊS
Q=30 caixas
07. Resposta: E.
Regra de três simples
15
MATEMÁTICA
Velocidade----------tempo QUESTÕES
400↓-----------------X↓
480↓---------------- 3↓ 01. (IPRESB/SP - Analista de Processos Previdenciá-
rios- VUNESP/2017) Para imprimir 300 apostilas destina-
480x=1200 das a um curso, uma máquina de fotocópias precisa traba-
X=25 lhar 5 horas por dia durante 4 dias. Por motivos administra-
tivos, será necessário imprimir 360 apostilas em apenas 3
Regra de três composta dias. O número de horas diárias que essa máquina terá que
Regra de três composta é utilizada em problemas com trabalhar para realizar a tarefa é
mais de duas grandezas, direta ou inversamente propor- (A) 6.
cionais. (B) 7.
(C) 8.
Exemplos: (D) 9.
(E) 10.
1) Em 8 horas, 20 caminhões descarregam 160m³ de
areia. Em 5 horas, quantos caminhões serão necessários 02. (SEPOG – Analista em Tecnologia da Informação
para descarregar 125m³? e Comunicação – FGV/2017) Uma máquina copiadora A
faz 20% mais cópias do que uma outra máquina B, no mes-
Solução: montando a tabela, colocando em cada co- mo tempo.
luna as grandezas de mesma espécie e, em cada linha, as A máquina B faz 100 cópias em uma hora.
grandezas de espécies diferentes que se correspondem: A máquina A faz 100 cópias em
(A) 44 minutos.
Horas --------caminhões-----------volume (B) 46 minutos.
8↑----------------20↓----------------------160↑ (C) 48 minutos.
5↑------------------x↓----------------------125↑ (D) 50 minutos.
(E) 52 minutos.
A seguir, devemos comparar cada grandeza com aque-
la onde está o x. 03. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária
Observe que: - MSCONCURSOS/2017) Para a construção de uma ro-
Aumentando o número de horas de trabalho, pode- dovia, 12 operários trabalham 8 horas por dia durante 14
mos diminuir o número de caminhões. Portanto a relação dias e completam exatamente a metade da obra. Porém, a
é inversamente proporcional (seta para cima na 1ª coluna). rodovia precisa ser terminada daqui a exatamente 8 dias,
Aumentando o volume de areia, devemos aumentar o e então a empresa contrata mais 6 operários de mesma
número de caminhões. Portanto a relação é diretamente capacidade dos primeiros. Juntos, eles deverão trabalhar
proporcional (seta para baixo na 3ª coluna). Devemos igua- quantas horas por dia para terminar o trabalho no tempo
lar a razão que contém o termo x com o produto das outras correto?
razões de acordo com o sentido das setas. (A) 6h 8 min
Montando a proporção e resolvendo a equação temos: (B) 6h 50min
(C) 9h 20 min
Horas --------caminhões-----------volume (D) 9h 33min
8↑----------------20↓----------------------160↓
5↑------------------x↓----------------------125↓ 04. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU-
NESP/2017 ) Um restaurante “por quilo” apresenta seus
Obs.: Assim devemos inverter a primeira coluna fican- preços de acordo com a tabela:
do:
Horas --------caminhões-----------volume
5----------------20----------------------160
8------------------x----------------------125 Rodolfo almoçou nesse restaurante na última sexta-fei-
ra. Se a quantidade de alimentos que consumiu nesse al-
moço custou R$ 21,00, então está correto afirmar que essa
quantidade é, em gramas, igual a
(A) 375.
Logo, serão necessários 25 caminhões (B) 380.
(C) 420.
(D) 425.
(E) 450.
16
MATEMÁTICA
05. . (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário – VU- 10. (MPE/SP – Oficial de Promotoria I – VU-
NESP/2017 ) Um carregamento de areia foi total- NESP/2016) Para organizar as cadeiras em um auditório, 6
mente embalado em 240 sacos, com 40 kg em cada funcionários, todos com a mesma capacidade de produção,
saco. Se fossem colocados apenas 30 kg em cada trabalharam por 3 horas. Para fazer o mesmo trabalho, 20
saco, o número de sacos necessários para embalar funcionários, todos com o mesmo rendimento dos iniciais,
todo o carregamento seria igual a deveriam trabalhar um total de tempo, em minutos, igual a
(A) 420. (A) 48.
(B) 375. (B) 50.
(C) 370. (C) 46.
(D) 345. (D) 54.
(E) 320. (E) 52.
17
MATEMÁTICA
05. Resposta: E.
Sacos kg
240----40
x----30
30x=9600
X=320
06. Resposta: A.
↓Funcionários ↑ horas bolsas↓
48------------------------12-----------480
x-----------------------------15----------1200
Quanto mais funcionários, menos horas precisam
Quanto mais funcionários, mais bolsas feitas
X=96 funcionários
Precisam de mais 48 funcionários
07. Resposta: B.
Operários dias
12-----------90
x--------------60
Quanto mais operários, menos dias (inversamente proporcional)
60x=1080
X=18
08. Resposta: B.
V=1,5⋅1,2⋅0,7=1,26m³=1260litros
50litros-----3 min
1260--------x
X=3780/50=75,6min
0,6min=36s
75min=60+15=1h15min
09. Resposta: A.
↑Dias ↑ operários peças↑
6-------------5---------------600
8--------------7---------------x
30x=33600
X=1120
18
MATEMÁTICA
10. Resposta: D.
3x60=180 minutos
↑Funcionários minutos↓
6------------180
20-------------x
As Grandezas são inversamente proporcionais, pois quanto mais funcionários, menos tempo será gasto.
Vamos inverter os minutos
↑Funcionários minutos↑
6------------x
20-------------180
20x=6.180
20x=1040
X=54 minutos
Unidades de Comprimento
km hm dam m dm cm mm
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m
Os múltiplos do metro são utilizados para medir grandes distâncias, enquanto os submúltiplos, para pequenas distân-
cias. Para medidas milimétricas, em que se exige precisão, utilizamos:
Para distâncias astronômicas utilizamos o Ano-luz (distância percorrida pela luz em um ano):
Ano-luz = 9,5 · 1012 km
Exemplos de Transformação
1m=10dm=100cm=1000mm=0,1dam=0,01hm=0,001km
1km=10hm=100dam=1000m
Ou seja, para trasnformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 10 e para a esquerda divide por
10.
Superfície
A medida de superfície é sua área e a unidade fundamental é o metro quadrado(m²).
Para transformar de uma unidade para outra inferior, devemos observar que cada unidade é cem vezes maior que a
unidade imediatamente inferior. Assim, multiplicamos por cem para cada deslocamento de uma unidade até a desejada.
Unidades de Área
km 2
hm 2
dam 2
m2 dm2 cm2 mm2
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2
19
MATEMÁTICA
Exemplos de Transformação
1m²=100dm²=10000cm²=1000000mm²
1km²=100hm²=10000dam²=1000000m²
Ou seja, para trasnformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 100 e para a esquerda divide por
100.
Volume
Os sólidos geométricos são objetos tridimensionais que ocupam lugar no espaço. Por isso, eles possuem volume. Po-
demos encontrar sólidos de inúmeras formas, retangulares, circulares, quadrangulares, entre outras, mas todos irão possuir
volume e capacidade.
Unidades de Volume
km 3
hm 3
dam 3
m3 dm3 cm3 mm3
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3
Capacidade
Para medirmos a quantidade de leite, sucos, água, óleo, gasolina, álcool entre outros utilizamos o litro e seus múltiplos
e submúltiplos, unidade de medidas de produtos líquidos.
Se um recipiente tem 1L de capacidade, então seu volume interno é de 1dm³
1L=1dm³
Unidades de Capacidade
kl hl dal l dl cl ml
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l
Massa
Toda vez que andar 1 casa para direita, multiplica por 10 e quando anda para esquerda divide por 10.
E uma outra unidade de massa muito importante é a tonelada
1 tonelada=1000kg
Tempo
20
MATEMÁTICA
Deve-se saber:
1 dia=24horas
1hora=60minutos 5h 20 minutos :2
1 minuto=60segundos
1hora=3600s 1h 20 minutos, transformamos para minutos
:60+20=80minutos
Adição de tempo
Pedro pensou em estudar durante 2h 40 minutos, mas 04. (UNIRV/GO – Auxiliar de Laboratório – UNIR-
demorou o dobro disso. Quanto tempo durou o estudo? VGO/2017) Uma empresa farmacêutica distribuiu 14400
litros de uma substância líquida em recipientes de 72 cm3
cada um. Sabe-se que cada recipiente, depois de cheio,
tem 80 gramas. A quantidade de toneladas que representa
todos os recipientes cheios com essa substância é de
(A) 16
(B) 160
(C) 1600
(D) 16000
21
MATEMÁTICA
05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- 09. (ANP – Técnico Administrativo – CESGRAN-
GO/2017) João estuda à noite e sua aula começa às RIO/2016) Um caminhão-tanque chega a um posto de abas-
18h40min. Cada aula tem duração de 45 minutos, e o tecimento com 36.000 litros de gasolina em seu reservatório.
intervalo dura 15 minutos. Sabendo-se que nessa escola Parte dessa gasolina é transferida para dois tanques de arma-
há 5 aulas e 1 intervalo diariamente, pode-se afirmar que zenamento, enchendo-os completamente. Um desses tanques
o término das aulas de João se dá às: tem 12,5 m3, e o outro, 15,3 m3, e estavam, inicialmente, vazios.
(A) 22h30min Após a transferência, quantos litros de gasolina resta-
(B) 22h40min ram no caminhão-tanque?
(C) 22h50min (A) 35.722,00
(D) 23h (B) 8.200,00
(E) Nenhuma das anteriores (C) 3.577,20
(D) 357,72
06. (IBGE – Agente Censitário Administrativo- (E) 332,20
FGV/2017) Quando era jovem, Arquimedes corria 15km
10. (DPE/RR – Auxiliar Administrativo – FCC/2015)
em 1h45min. Agora que é idoso, ele caminha 8km em
Raimundo tinha duas cordas, uma de 1,7 m e outra de 1,45
1h20min.
m. Ele precisava de pedaços, dessas cordas, que medissem
40 cm de comprimento cada um. Ele cortou as duas cordas
Para percorrer 1km agora que é idoso, comparado em pedaços de 40 cm de comprimento e assim conseguiu
com a época em que era jovem, Arquimedes precisa de obter
mais: (A) 6 pedaços.
(A) 10 minutos; (B) 8 pedaços.
(B) 7 minutos; (C) 9 pedaços.
(C) 5 minutos; (D) 5 pedaços.
(D) 3 minutos; (E) 7 pedaços.
(E) 2 minutos.
03. Resposta:A.
4500/3=1500 litros para as caixinhas
1500litros=1500000ml
1500000/300=5000 caixinhas por dia
5000.5=25000 caixinhas em 5 dias
22
MATEMÁTICA
05. Resposta: B.
5⋅45=225 minutos de aula EQUAÇÕES E INEQUAÇÕES
225/60=3 horas 45 minutos nas aulas mais 15 minutos
de intervalo=4horas
18:40+4h=22h:40
Equação 1º grau
06. Resposta: D. Equação é toda sentença matemática aberta represen-
1h45min=60+45=105 minutos tada por uma igualdade, em que exista uma ou mais letras
que representam números desconhecidos.
15km-------105 Equação do 1º grau, na incógnita x, é toda equação
1--------------x redutível à forma ax+b=0, em que a e b são números reais,
X=7 minutos chamados coeficientes, com a≠0.
Uma raiz da equação ax+b =0(a≠0) é um valor numé-
1h20min=60+20=80min rico de x que, substituindo no 1º membro da equação, tor-
na-se igual ao 2º membro.
8km----80
1-------x Nada mais é que pensarmos em uma balança.
X=10minutos
A diferença é de 3 minutos
07. Resposta: B.
V------80min
V+20----48
Quanto maior a velocidade, menor o tempo(inversa-
mente)
23
MATEMÁTICA
Lembrando que:
Pi=Pa+3
Substituindo em Pe
Pe=2(Pa+3)+2Pa
Pe=2Pa+6+2Pa
Pe=4Pa+6
Equação 2º grau
A equação do segundo grau é representada pela fór- Relações entre Coeficientes e Raízes
mula geral:
Dada as duas raízes:
24
MATEMÁTICA
Inequação-Quociente
Na inequação-quociente, tem-se uma desigualdade
de funções fracionárias, ou ainda, de duas funções na qual
uma está dividindo a outra. Diante disso, deveremos nos
atentar ao domínio da função que se encontra no denomi-
nador, pois não existe divisão por zero. Com isso, a função
que estiver no denominador da inequação deverá ser dife-
Substituindo em A rente de zero.
A=44-26=18 O método de resolução se assemelha muito à resolu-
Ou A=44-18=26 ção de uma inequação-produto, de modo que devemos
analisar o sinal das funções e realizar a intersecção do sinal
Resposta: B. dessas funções.
25
MATEMÁTICA
Exemplo
Resolva a inequação a seguir:
x-2≠0
Portanto:
S = { x R | x ≤ - 1} ou S = ] - ∞ ; -1]
Inequação 2º grau
Chama-se inequação do 2º grau, toda inequação que
x≠2 pode ser escrita numa das seguintes formas:
ax²+bx+c>0
ax²+bx+c≥0
ax²+bx+c<0
Sistema de Inequação do 1º Grau ax²+bx+c<0
Um sistema de inequação do 1º grau é formado por ax²+bx+c≤0
duas ou mais inequações, cada uma delas tem apenas uma ax²+bx+c≠0
variável sendo que essa deve ser a mesma em todas as
outras inequações envolvidas. Exemplo
Veja alguns exemplos de sistema de inequação do 1º Vamos resolver a inequação 3x² + 10x + 7 < 0.
grau:
Resolvendo Inequações
Resolver uma inequação significa determinar os valo-
res reais de x que satisfazem a inequação dada.
Assim, no exemplo, devemos obter os valores reais de
x que tornem a expressão 3x² + 10x +7 negativa.
4x + 4 ≤ 0
4x ≤ - 4
x ≤ - 4 : 4
x ≤ - 1
S1 = {x R | x ≤ - 1}
S2 = { x R | x ≤ - 1}
Calculando agora o CONJUTO SOLUÇÃO da inequação S = {x ∈ R / –7/3 < x < –1}
temos:
S = S1 ∩ S2
26
MATEMÁTICA
27
MATEMÁTICA
10x+6x+40500=25x
9x=40500
X=4500
Como tem que ser natural, apenas o número 3 convém.
Salario fração
02. Resposta: C. y---------------1
4500---------4/5
Mmc(3,4)=12
4x+3x=336
7x=336
X=48
A distância entre A e B é 48km 08. Resposta: D.
Como já percorreu 28km
48-28=20 km entre P e Q. Idade atual: x
X+24=3x
03. Resposta:B. 2x=24
Sendo x o valor do material P X=12
10x=7x+600 Ele tem agora 12 anos, daqui a 5 anos: 17.
3x=600
X=200 09. Resposta: C.
∆=(-28)²-4.8.12
04. Resposta: E. ∆=784-384
2x²+12x+10=0 ∆=400
∆=12²-4⋅2⋅10
∆=144-80=64
06. Resposta: B
∆=-(-6)²-4⋅(2m-1) ⋅3=0
36-24m+12=0
-24m=-48
M=2
28
MATEMÁTICA
Exemplo
Com os conjuntos A={1, 4, 7} e B={1, 4, 6, 7, 8, 9, 12}
criamos a função f: A→B.definida por f(x) = x + 5 que tam-
bém pode ser representada por y = x + 5. A representação,
utilizando conjuntos, desta função, é:
Gráfico Cartesiano
29
MATEMÁTICA
Raiz da função
Função 1 grau Calcular o valor da raiz da função é determinar o valor
A função do 1° grau relacionará os valores numéricos em que a reta cruza o eixo x, para isso consideremos o
obtidos de expressões algébricas do tipo (ax + b), consti- valor de y igual a zero, pois no momento em que a reta
tuindo, assim, a função f(x) = ax + b. intersecta o eixo x, y = 0. Observe a representação gráfica
a seguir:
Estudo dos Sinais
Definimos função como relação entre duas grandezas
representadas por x e y. No caso de uma função do 1º grau,
sua lei de formação possui a seguinte característica: y = ax
+ b ou f(x) = ax + b, onde os coeficientes a e b pertencem
aos reais e diferem de zero. Esse modelo de função possui
como representação gráfica a figura de uma reta, portanto,
as relações entre os valores do domínio e da imagem cres-
cem ou decrescem de acordo com o valor do coeficiente a.
Se o coeficiente possui sinal positivo, a função é crescente, Podemos estabelecer uma formação geral para o cál-
e caso ele tenha sinal negativo, a função é decrescente. culo da raiz de uma função do 1º grau, basta criar uma ge-
neralização com base na própria lei de formação da função,
Função Crescente: a > 0 considerando y = 0 e isolando o valor de x (raiz da função).
De uma maneira bem simples, podemos olhar no grá- X=-b/a
fico que os valores de y vão crescendo.
Dependendo do caso, teremos que fazer um sistema
com duas equações para acharmos o valor de a e b.
Exemplo:
Dado que f(x)=ax+b e f(1)=3 e f(3)=5, ache a função.
F(1)=1a+b
3=a+b
F(3)=3a+b
5=3a+b
Isolando a em I
a=3-b
Função Decrescente: a < 0 Substituindo em II
Nesse caso, os valores de y, caem.
3(3-b)+b=5
9-3b+b=5
-2b=-4
b=2
30
MATEMÁTICA
Portanto, Raízes
a=3-b
a=3-2=1
Assim, f(x)=x+2
.
Veja os gráficos:
Discriminante(∆)
∆=b²-4ac
∆>0
A parábola y=ax²+bx+c intercepta o eixo x em dois
pontos distintos, (x1,0) e (x2,0), onde x1 e x2 são raízes da
equação ax²+bx+c=0
∆=0
Quando , a parábola y=ax²+bx+c é tangente ao
eixo x, no ponto
Repare que, quando tivermos o discriminante , as
duas raízes da equação ax²+bx+c=0 são iguais
∆<0
31
MATEMÁTICA
Equação Exponencial
É toda equação cuja incógnita se apresenta no expoente de uma ou mais potências de bases positivas e diferentes de 1.
Exemplo
Resolva a equação no universo dos números reais.
Solução
Função exponencial
A expressão matemática que define a função exponencial é uma potência. Nesta potência, a base é um número real
positivo e diferente de 1 e o expoente é uma variável.
Função crescente
Se temos uma função exponencial crescente, qualquer que seja o valor real de x.
No gráfico da função ao lado podemos observar que à medida que x aumenta, também aumenta f(x) ou y. Graficamen-
te vemos que a curva da função é crescente.
Função decrescente
Se temos uma função exponencial decrescente em todo o domínio da função.
Neste outro gráfico podemos observar que à medida que x aumenta, y diminui. Graficamente observamos que a cur-
va da função é decrescente.
32
MATEMÁTICA
A Constante de Euler
É definida por :
e = exp(1)
O número e é um número irracional e positivo e em função da definição da função exponencial, temos que:
Ln(e) = 1
Este número é denotado por e em homenagem ao matemático suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primeiros a
estudar as propriedades desse número.
O valor deste número expresso com 10 dígitos decimais, é:
e = 2,7182818284
Se x é um número real, a função exponencial exp(.) pode ser escrita como a potência de base e com expoente x, isto é:
ex = exp(x)
Logaritmo
Considerando-se dois números N e a reais e positivos, com a ≠1, existe um número c tal que:
Exemplo
Consequências da Definição
33
MATEMÁTICA
34
MATEMÁTICA
05. (TJ/RS - Técnico Judiciário – FAURGS/2017) No 09. (IF/ES – Administrador – IFES/2017) O gráfico
sistema de coordenadas cartesianas da figura abaixo, en- que melhor representa a função y = 2x , para o domínio
contram-se representados o gráfico da função de segundo em R+ é:
grau f, definida por f(x), e o gráfico da função de primeiro
grau g, definida por g(x). (A)
(B)
(C)
35
MATEMÁTICA
RESPOSTAS
01. Resposta: D.
90+0,4x=120
0,4x=30 A soma das coordenadas é igual a 8
X=75km
07. Resposta: D.
02. Resposta: A.
6%=0,06
Como valor total é x, então 0,06x
E mais a parte fixa de 1300
0,06x+1300
03. Resposta: A.
2x=36
X=18 -2x=-12
X=6
04.Resposta: B. Substituindo em g(x)
F(x)=12+25x G(6)=6²-4(6)+5=36-24+5=17
X=hora de trabalho
08. Resposta: D.
168,25=12+25x Para assumir valor 1, o expoente deve ser igual a zero.
25x=156,25 X²+4x-60=0
X=6,25 horas ∆=4²-4.1.(-60)
1hora---60 minutos ∆=16+240
0,25-----x ∆=256
X=15 minutos
05. Resposta: E.
Como a função do segundo grau, tem raízes -2 e 2:
(x-2)(x+2)=x²-4
A função do primeiro grau, tem o ponto (0, -1) e (2,3)
Y=ax+b
-1=b
3=2a-1 A base pode ser igual a 1:
2a=4 X²-5x+5=1
A=2 X²-5x+4=0
Y=2x-1 ∆=25-16=9
36
MATEMÁTICA
∆=25-24=1
09. Resposta: A.
Um gráfico de função exponencial não começa do zero, é é uma curva.
10. Resposta: E.
Kx=(x+3)²
Kx=x²+6x+9
X²+(6-k)x+9=0
Para ter uma raiz, ∆=0
∆=b²-4ac
, ∆=(6-k)²-36=0
36-12k+k²-36=0
k²-12k=0
k=0 ou k=12
11. Resposta:C.
GRÁFICOS E TABELAS
Os gráficos e tabelas apresentam o cruzamento entre dois dados relacionados entre si.
A escolha do tipo e a forma de apresentação sempre vão depender do contexto, mas de uma maneira geral um
bom gráfico deve:
-Mostrar a informação de modo tão acurado quanto possível.
-Utilizar títulos, rótulos, legendas, etc. para tornar claro o contexto, o conteúdo e a mensagem.
-Complementar ou melhorar a visualização sobre aspectos descritos ou mostrados numericamente através de tabelas.
-Utilizar escalas adequadas.
-Mostrar claramente as tendências existentes nos dados.
37
MATEMÁTICA
Tipos de gráficos
Barra vertical
Fonte: tecnologia.umcomo.com.br
Barra horizontal
Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br
Histogramas
Fonte: educador.brasilescola.uol.com.br
São gráfico de barra que mostram a frequência de uma
variável específica e um detalhe importante que são faixas Linhas- É um gráfico de grande utilidade e muito co-
de valores em x. mum na representação de tendências e relacionamentos
de variáveis
38
MATEMÁTICA
QUESTÕES
(A) 15%.
(B) 25%.
(C) 50%.
(D) 75%.
Da mesma forma, as tabelas ajudam na melhor visua- (E) 90%.
lização de dados e muitas vezes é através dela que vamos
fazer os tipos de gráficos vistos anteriormente. 02. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU-
NESP/2017) A tabela seguinte, incompleta, mostra a distri-
Podem ser tabelas simples: buição, percentual e quantitativa, da frota de uma empresa
de ônibus urbanos, de acordo com o tempo de uso destes.
Quantos aparelhos tecnológicos você tem na sua casa?
aparelho quantidade
televisão 3
celular 4
Geladeira 1
Até as tabelas que vimos nos exercícios de raciocínio O número total de ônibus dessa empresa é
lógico
(A) 270.
(B) 250.
(C) 220
(D) 180.
(E) 120.
39
MATEMÁTICA
03. (CÂMARA DE SUMARÉ – Escriturário - VU- 05. (TCE/PR – Conhecimentos Básicos – CESPE/2016)
NESP/2017) O gráfico mostra o número de carros vendi-
dos por uma concessionária nos cinco dias subsequentes à
veiculação de um anúncio promocional.
40
MATEMÁTICA
06. (BRDE – Assistente Administrativo – FUNDA- 07. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP/2015) A
TEC/2015) Assinale a alternativa que representa a no- distribuição de salários de uma empresa com 30 funcioná-
menclatura dos três gráficos abaixo, respectivamente. rios é dada na tabela seguinte.
xi fi
30-35 4
35-40 12
40-45 10
45-50 8
50-55 6
TOTAL 40
Assinale a alternativa em que o histograma é o que
melhor representa a distribuição de frequência da tabela.
(A)
(A) Gráfico de Setores – Gráfico de Barras – Gráfico de
Linha.
(B) Gráfico de Pareto – Gráfico de Pizza – Gráfico de
Tendência.
(C) Gráfico de Barras – Gráfico de Setores – Gráfico de (B)
Linha.
(D) Gráfico de Linhas – Gráfico de Pizza – Gráfico de
Barras.
(E) Gráfico de Tendência – Gráfico de Setores – Gráfico
de Linha.
(C)
41
MATEMÁTICA
(D)
(E)
42
MATEMÁTICA
04. Resposta: A.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA, AMOSTRAGEM,
X+0,5x+4x+3x+1,5x=360 TESTE DE HIPÓTESES E ANÁLISE DE
10x=360
REGRESSÃO
X=36
Como o conceito bom corresponde a 4x: 4x36=144°
05. Resposta: B.
Analisando o primeiro quadrimestre, observamos que os Teste de Hipóteses
dois primeiros meses de receita diminuem e os dois meses Definição: Processo que usa estatísticas amostrais para
seguintes aumentam, o mesmo acontece com a despesa. testar a afirmação sobre o valor de um parâmetro popula-
cional.
06. Resposta: C.
Como foi visto na teoria, gráfico de barras, de setores
ou pizza e de linha
Assim, fica fácil, se H0 for falsa, Ha é verdadeira
07. Resposta: D. Há uma regrinha para formular essas hipóteses
(A) 1,8x10+2,5x8+3,0x5+5,0x4+8,0x2+15,0x1=104 sa-
lários
(B) 60% de 30=18 funcionários e se juntarmos quem Formulação verbal Formulação Formulação
ganha mais de 3 salários (5+4+2+1=12) H0 Matemática verbal Ha
(C)10% de 30=0,1x30=3 funcionários
E apenas 1 pessoa ganha A média é A média é
(D) 40% de 104=0,4x104= 41,6 ...maior ou igual ...menor que k
20% de 30=0,2x30=6 a k.
5x3+8x2+15x1=46, que já é maior. ... abaixo de k
(E) 60% de 30=0,6x30=18 ....pelo menos k.
30% de 104=0,3x104=31,20da renda: 31,20
...menos que k.
...não menos que k.
08. Resposta: A.
Colocando em ordem crescente: 30-35, 50-55, 45-50, ...menor ou igual ..maior que k
40-45, 35-40, a k.
... acima de k
09. Resposta: CERTA. ....no máximo k.
555----100% ...mais do que
x----55% ...não mais que k. k.
x=305,25
Está correta, pois a região sudeste tem 306 pessoas. ... igual a k. ... não igual
a k.
10. Resposta: ERRADO. .... k.
Como foi visto na teoria, há uma faixa de valores no .... diferente
eixo x e não simplesmente um dado. ...exatamente k. de k.
...não k.
Referências
http://www.galileu.esalq.usp.br
43
MATEMÁTICA
Dados Frequência
41 3
42 2 A média aritmética das alturas dos jogadores é 2,02m.
43 1 Média Ponderada
44 1 A média dos elementos do conjunto numérico A relati-
va à adição e na qual cada elemento tem um “determinado
45 1
peso” é chamada média aritmética ponderada.
46 2
50 2
51 1
52 1 Mediana (Md)
Sejam os valores escritos em rol:
54 1
57 1
44
MATEMÁTICA
1. Sendo n ímpar, chama-se mediana o termo tal Seja o conjunto de números , tal que é
que o número de termos da sequência que precedem é
igual ao número de termos que o sucedem, isto é, é termo sua média aritmética. Chama-se variância desse conjunto,
médio da sequência ( ) em rol.
e indica-se por , o número:
2. Sendo n par, chama-se mediana o valor obtido
pela média aritmética entre os termos e , tais que o
Isto é:
número de termos que precedem é igual ao número de
termos que sucedem , isto é, a mediana é a média arit-
mética entre os termos centrais da sequência ( ) em rol.
E para amostra
Exemplo 1:
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{12, 3, 7, 10, 21, 18, 23}
Solução:
Exemplo 1:
Escrevendo os elementos do conjunto em rol, tem-se: (3,
Em oito jogos, o jogador A, de bola ao cesto, apresen-
7, 10, 12, 18, 21, 23). A mediana é o termo médio desse rol.
tou o seguinte desempenho, descrito na tabela abaixo:
Logo: Md=12
Resposta: Md=12.
Jogo Número de pontos
Exemplo 2: 1 22
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{10, 12, 3, 7, 18, 23, 21, 25}. 2 18
3 13
Solução:
Escrevendo-se os elementos do conjunto em rol, tem-se: 4 24
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23, 25). A mediana é a média aritmé- 5 26
tica entre os dois termos centrais do rol.
6 20
Logo: 7 19
8 18
Resposta: Md=15
a) Qual a média de pontos por jogo?
Moda (Mo) b) Qual a variância do conjunto de pontos?
Num conjunto de números: , chama-se
moda aquele valor que ocorre com maior frequência.
Solução:
a) A média de pontos por jogo é:
Observação:
A moda pode não existir e, se existir, pode não ser única.
Exemplo 1:
O conjunto de dados 3, 3, 8, 8, 8, 6, 9, 31 tem moda igual
a 8, isto é, Mo=8.
Exemplo 2: b) A variância é:
O conjunto de dados 1, 2, 9, 6, 3, 5 não tem moda.
Medidas de dispersão
Duas distribuições de frequência com medidas de ten-
dência central semelhantes podem apresentar característi-
cas diversas. Necessita-se de outros índices numéricas que
informem sobre o grau de dispersão ou variação dos dados Desvio médio
em torno da média ou de qualquer outro valor de concen- Definição
tração. Esses índices são chamados medidas de dispersão. Medida da dispersão dos dados em relação à média de
uma sequência. Esta medida representa a média das dis-
Variância tâncias entre cada elemento da amostra e seu valor médio.
Há um índice que mede a “dispersão” dos elementos de
um conjunto de números em relação à sua média aritmética,
e que é chamado de variância. Esse índice é assim definido:
45
MATEMÁTICA
46
MATEMÁTICA
06. (UFAL – Auxiliar de Biblioteca – COPEVE/2016) Então, a variância dessa amostra é igual a
A tabela apresenta o número de empréstimos de livros de (A) 4,0
uma biblioteca setorial de um Instituto Federal, no primeiro (B) 2,5.
semestre de 2016. (C) 4,5.
(D) 5,5
Mës Empréstimos (E) 3,0
47
MATEMÁTICA
06. Resposta: D.
RESPOSTAS
15,15,22,25,28,30
07. Resposta: C.
Como o desvio padrão é maior no 3, o erro padrão é
S=420000 proporcional, portanto também é maior em 3.
M=600000-420000=180000
08. Resposta: C.
02. Resposta:B.
03. Resposta: D.
09. Resposta: C.
M=300 Vamos chamar de x a soma dos salários dos 13 funcio-
nários
x/13=1998
X=13.1998
V=250 X=25974
Vamos chamar de y o funcionário contratado com me-
nor valor e, portanto, 1,1y o com 10% de salário maior, pois
ele ganha y+10% de y
Y+0,1y=1,1y
04. Resposta: B. (x+y+1,1y)/15=2013
25974+2,1y=15∙2013
2,1y=30195-25974
2,1y=4221
Y=2010
10. Resposta: A.
3,36-3,15=0,21 M=66,67
Apenas 3 funcionários estão acima da média.
48
MATEMÁTICA
Ângulo Reto:
Ângulos
Triângulo
Elementos
Mediana
Mediana de um triângulo é um segmento de reta que
liga um vértice ao ponto médio do lado oposto.
Na figura, é uma mediana do ABC.
Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do Um triângulo tem três medianas.
que 90º.
Ângulo Raso:
49
MATEMÁTICA
Classificação
50
MATEMÁTICA
Áreas
- Tem 4 lados.
- Tem 2 diagonais.
- A soma dos ângulos internos Si = 360º
- A soma dos ângulos externos Se = 360º
- é paralelo a
Número de Diagonais
- Observações:
51
MATEMÁTICA
Ângulos Externos
2º Caso: LAL(lado-ângulo-lado)
Se dois triângulos têm dois lados correspondentes
proporcionais e os ângulos compreendidos entre eles con-
gruentes, então esses dois triângulos são semelhantes.
Teorema de Tales
Se um feixe de retas paralelas tem duas transversais, en-
tão a razão de dois segmentos quaisquer de uma transversal
é igual à razão dos segmentos correspondentes da outra.
Dada a figura anterior, O Teorema de Tales afirma que
são válidas as seguintes proporções:
3º Caso: LLL(lado-lado-lado)
Se dois triângulos têm os três lado correspondentes pro-
porcionais, então esses dois triângulos são semelhantes.
Exemplo
52
MATEMÁTICA
Como
a: hipotenusa
b e c: catetos
h:altura relativa à hipotenusa
m e n: projeções ortogonais dos catetos sobre a hipo-
tenusa
Relação Fundamental
Existe uma outra importante relação entre seno e cos-
seno de um ângulo. Considere o triângulo retângulo ABC.
2. O produto dos catetos é igual ao produto da hipo-
tenusa pela altura relativa à hipotenusa.
53
MATEMÁTICA
Retas Coplanares
a) Concorrentes: r e s têm um único ponto comum
-Duas retas concorrentes podem ser: Sabendo-se que EF = 36 m e que a área do lote 1 é
864 m², o perímetro do lote 2 é
1. Perpendiculares: r e s formam ângulo reto.
(A) 100 m.
(B) 108 m.
2. Oblíquas:r e s não são perpendiculares. (C) 112 m.
(D) 116 m.
(E) 120 m.
54
MATEMÁTICA
Considerando que o diâmetro de cada disco é 8, o 06. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária
comprimento da cinta acima representada é - MSCONCURSOS/2017) O triângulo retângulo em B, a
(A) 8/3 π + 8 . seguir, de vértices A, B e C, representa uma praça de uma
(B) 8/3 π + 24. cidade. Qual é a área dessa praça?
(C) 8π + 8 .
(D) 8π + 24.
(E) 16π + 24.
55
MATEMÁTICA
09. (IBGE – Agente Censitário Municipal e Supervi- 12. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária –
sor – FGV/2017) O proprietário de um terreno retangular MSCONCURSOS/2017) Fábio precisa comprar arame para
resolveu cercá-lo e, para isso, comprou 26 estacas de ma- cercar um terreno no formato a seguir, retângulo em B e C.
deira. Colocou uma estaca em cada um dos quatro cantos Considerando que ele dará duas voltas com o arame no ter-
do terreno e as demais igualmente espaçadas, de 3 em 3 reno e que não terá perdas, quantos metros ele irá gastar?
metros, ao longo dos quatro lados do terreno. (considere √3 =1,7; sen30º=0,5; cos30º=0,85; tg30º=0,57).
O número de estacas em cada um dos lados maiores
do terreno, incluindo os dois dos cantos, é o dobro do nú-
mero de estacas em cada um dos lados menores, também
incluindo os dois dos cantos.
A área do terreno em metros quadrados é:
(A) 240;
(B) 256;
(C) 324; (A) 64,2 m
(D) 330; (B) 46,2 m
(E) 372. (C) 92,4 m
(D) 128,4 m
10. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário- VU-
NESP/2017) A figura seguinte, cujas dimensões estão in-
dicadas em metros, mostra as regiões R1 e R2 , ambas com
formato de triângulos retângulos, situadas em uma praça
e destinadas a atividades de recreação infantil para faixas
etárias distintas.
Respostas
01. Resposta: D.
(A) 54.
(B) 48.
(C) 36.
(D) 40.
(E) 42.
(A) 1
(B) sen²x
(C) cos²x
(D) 0
96h=1728
H=18
56
MATEMÁTICA
A sombreada=100-25π
05. Resposta: C.
CQ é hipotenusa do triângulo GQC.
01. CQ²=10²+5²
CQ²=100+25
CQ²=125
CQ=5√5
A área do quadrilátero seria CQ⋅BC
A=5√5⋅10=50√5
Lado=3√2
Outro lado =5√2 06. Resposta: C
Para saber a área, primeiro precisamos descobrir o x.
03. Resposta: D.
17²=x²+8²
Observe o triângulo do meio, cada lado é exatamente 289=x²+64
a mesma medida da parte reta da cinta. X²=225
Que é igual a 2 raios, ou um diâmetro, portanto o lado X=15
esticado tem 8x3=24 m
A parte do círculo é igual a 120°, pois é 1/3 do círculo, 07. Resposta: A.
como são três partes, é a mesma medida de um círculo.
O comprimento do círculo é dado por: 2πr=8π
Portanto, a cinta tem 8π+24
5y=320
04. Resposta: E.
Y=64
Como o quadrado tem lado 10,a área é 100.
5x=400
X=80
08. Resposta: B.
108/4=27m²
6x=27
X=27/6
O perímetro seria
57
MATEMÁTICA
09. Resposta: C.
Número de estacas: x
X+x+2x+2x-4=26 obs: -4 é porque estamos contan-
do duas vezes o canto
6x=30
X=5 X=6
Temos 5 estacas no lado menor, como são espaçadas
a cada 3m
4 espaços de 3m=12m
Lado maior 10 estacas
9 espaços de 3 metros=27m
A=12⋅27=324 m²
Y=10,2
10. Resposta: B. 2 voltas=2(12+18+10,2+6+18)=128,4m
Cilindros
Considere dois planos, α e β, paralelos, um círculo de
centro O contido num deles, e uma reta s concorrente com
os dois.
Chamamos cilindro o sólido determinado pela reunião
9x=108 de todos os segmentos paralelos a s, com extremidades no
X=12 círculo e no outro plano.
Classificação
Y²=16²+12² Reto: Um cilindro se diz reto ou de revolução quando
Y²=256+144=400 as geratrizes são perpendiculares às bases.
Y=20 Quando a altura é igual a 2R(raio da base) o cilindro é
equilátero.
Perímetro: 16+12+20=48 Oblíquo: faces laterais oblíquas ao plano da base.
11. Resposta: C.
1-cos²x=sen²x
58
MATEMÁTICA
Volume Pirâmides
As pirâmides são também classificadas quanto ao nú-
mero de lados da base.
Cones
Na figura, temos um plano α, um círculo contido em α,
um ponto V que não pertence ao plano.
A figura geométrica formada pela reunião de todos os
segmentos de reta que tem uma extremidade no ponto V
e a outra num ponto do círculo denomina-se cone circular.
Área e Volume
Área lateral:
Onde n= quantidade de lados
Classificação Prismas
-Reto:eixo VO perpendicular à base; Considere dois planos α e β paralelos, um polígono R
Pode ser obtido pela rotação de um triângulo retângu- contido em α e uma reta r concorrente aos dois.
lo em torno de um de seus catetos. Por isso o cone reto é
também chamado de cone de revolução.
Quando a geratriz de um cone reto é 2R, esse cone é
denominado cone equilátero.
Área
Área lateral:
Área da base:
Área total:
Volume
59
MATEMÁTICA
Classificação
Área
Área cubo:
Área paralelepípedo:
A área de um prisma:
-Triangular Onde: St=área total
Sb=área da base
Sl=área lateral, soma-se todas as áreas das faces late-
-Quadrangular rais.
Volume
Paralelepípedo:V=a.b.c
Cubo:V=a³
Demais:
QUESTÕES
60
MATEMÁTICA
02. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária – 05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE-
MSCONCURSOS/2017) Qual é o volume de uma lata de GO/2017) Frederico comprou um aquário em formato de
óleo perfeitamente cilíndrica, cujo diâmetro é 8 cm e a al- paralelepípedo, contendo as seguintes dimensões:
tura é 20 cm? (use π=3)
(A) 3,84 l
(B) 96 ml
(C) 384 ml
(D) 960 ml
61
MATEMÁTICA
Para completar o volume total desse recipiente, serão 10. (PREF. DE ITAPEMA/SC – Técnico Contábil – MS-
despejados dentro dele vários copos de água, com 200 mL CONCURSOS/2016) O volume de um cone circular reto,
cada um. O número de copos totalmente cheios necessá- cuja altura é 39 cm, é 30% maior do que o volume de um
rios para completar o volume total do prisma será: cilindro circular reto. Sabendo que o raio da base do cone
(A) 8 copos é o triplo do raio da base do cilindro, a altura do cilindro é:
(B) 9 copos (A) 9 cm
(C) 10 copos (B) 30 cm
(D) 12 copos (C) 60 cm
(E) 15 copos (D) 90 cm
Volume cilindro=πr²h
05. Resposta: C.
V=20⋅15⋅20=6000cm³=6000ml==6 litros
06. Resposta:C.
VA=125cm³
62
MATEMÁTICA
Forma abreviada
A matriz A é dada por (aij)m x n e por uma lei que fornece
aij em função de i e j.
A=(aij)2 x 2, onde aij=2i+j
09. Resposta: E.
V=2,5⋅2⋅1=5m³
Como foi retirado 3m³
5+3=2,5⋅2⋅h
8=5h
H=1,6m
Matriz linha
Diagonais
Diagonal principal é a sequência tais que i=j, ou seja,
(a11, a22, a33,..)
Diagonal secundária é a sequência dos elementos tais
que i+j=n+1, ou seja, (a1n, a2 n-1,...)
63
MATEMÁTICA
portanto
Propriedades da adição
Comutativa: A + B = B + A
Matriz diagonal Associativa: (A + B) + C = A + (B + C)
Elemento neutro: A + O = O + A = A
Uma matriz quadrada de ordem n(n>1) é chamada de Elemento Oposto: A + (-A) = (-A) + A = O
matriz diagonal se, e somente se, todos os elementos que Transposta da soma: (A + B)t = At + Bt
não pertencem à diagonal principal são iguais a zero.
Subtração de matrizes
Adição de Matrizes
64
MATEMÁTICA
Exemplo: Regra 2
Determine a matriz inversa de A.
Solução
Seja
detA= a11 a22 a33 + a12 a23 a31 + a32 a21 a13 - a31 a22 a13 -a12
a21 a33 - a32 a23 a11
Logo,
Determinante
Dada uma matriz quadrada, chama-se determinante o
número real a ela associado.
a1 x + b1 y = c1
a2 + b2 y = c2
65
MATEMÁTICA
Sistema 3x3
Matriz incompleta A primeira equação tem três coeficientes não-nulos, a
segunda tem dois e a terceira, apenas um.
Sistema 2x3
Classificação
3. Sistema Impossível
66
MATEMÁTICA
Quando o sistema linear apresenta nº de equações Substituindo esse valor de y na 1ª equação de (*) e
igual ao nº de incógnitas, para discutirmos o sistema, ini-
cialmente calculamos o determinante D da matriz dos coe- considerando a matriz , cujo determinante é
ficientes (incompleta), e:
- Se D ≠ 0, o sistema é possível e determinado. indicado por Dx = ed – bf, obtemos , D ≠ 0.
- Se D = 0, o sistema é possível e indeterminado ou
impossível.
QUESTÕES
Para identificarmos se o sistema é possível, indetermi-
nado ou impossível, devemos conseguir um sistema esca- 01. (POLICIA CIENTÍFICA – Perito Criminal –
lonado equivalente pelo método de eliminação de Gauss. IBFC/2017)
Dadas a matriz e a
Exemplos
matriz , assinale a alternativa que apre-
- Discutir, em função de a, o sistema: senta a matriz C que representa a soma da matriz A e B, ou
seja, C = A + B:
x + 3 y = 5
2 x + ay = 1
Resolução
1 3
D= = a−6
2 a
D = 0⇒ a−6 = 0⇒ a = 6
02. (POLICIA CIENTÍFICA – Perito Criminal –
Assim, para a ≠ 6, o sistema é possível e determinado. IBFC/2017)
Para a ≠ 6, temos:
Dadas a matriz e a matriz ,
x + 3 y = 5
assinale a alternativa que apresenta a matriz C que repre-
x + 3 y = 5 senta a subtração da matriz A e B, ou seja, C = A - B.
2 x + 6 y = 1 ~
← −2 0 x + 0 y = −9
Regra de Cramer
Consideramos os sistema .
03. (POLICIA CIENTÍFICA – Perito Criminal –
Suponhamos que a ≠ 0. Observamos que a matriz in IBFC/2017)
67
MATEMÁTICA
(A) A + B = 20
. (B) A - 3B2 = -51
(C) √2A + 1- 5 = -2
A matriz A-B é igual a (D) A/B +1 =23
(E) 3A -2B + 9 = 25
Dada a matriz
06. (PREF. DE ITAPEMA/SC – Técnico Contábil – MS- 10. (PREF. DE SANTO ANDRÉ – Assistente Econômi-
CONCURSOS/2016) Sabendo que o determinante da co Financeiro – IBAM/2015) Considere as seguintes ma-
trizes:
68
MATEMÁTICA
é: detB=0+40-y-0-12y+6=72
-13y=26
(A) S={(0,2,-5)} Y=-2
(B) S={(1,4,1)}
(C) S={(4,0,6)} X²-2xy+y²=0²-0+4=4
(D) S={(3/2 ,6, -7/2)}
(E) Sistema sem solução. 06. Resposta: A.
Observe a primeira coluna: foi multiplicado por 2.
12. (BRDE – Assistente Administrativo – FUNDA- Observe a segunda coluna: foi multiplicada por -1
TEC/2015) A solução do sistema linear Portanto, fazemos as mesmas operações com o deter-
minante: 10.2.-1=-20
é: 07. Resposta: B.
Da primeira matriz, para fazer o determinante, basta
(A) S={(4, ¼)} multiplicar os números da diagonal principal:
(B) S={(3, 3/2 )} detA=-1⋅3⋅2⋅-4=24
(C) S={(3/2 ,3 )}
(D) S={(3,− 3/2 )} A matriz B, devemos multiplicar os números da dia-
(E) S={(1,3/2 )} gonal secundária e multiplicar ainda por -1(pois, quando
fazemos determinante, sempre colocamos o menos antes
13. (SEDUC/PI – Professor – Matemática – NUCE- de fazer a diagonal secundária)
PE/2015) O sistema linear detB=-(-1/2⋅1⋅10⋅-1)=-5
Fazendo por alternativa:
A-A+B=20
24-5=20
é possível e indeterminado se: 19=20(F)
09. Resposta: D.
02. Resposta: E.
03. Resposta: E.
10. Resposta: A.
04. Resposta: A.
69
MATEMÁTICA
m=1/2
a+2=9
a=7
(n-4+9)-(-3+6+2n)=0
11. Resposta: D. n+5-2n-3=0
Da II equação tiramos: -n=-2
X=5+z n=2
Da III equação:
Y=13+2z
SEQUÊNCIAS, PROGRESSÃO
Substituindo na I ARITMÉTICA E GEOMÉTRICA
5+z+2(13+2z)+z=10
5+z+26+4z+z=10
6z=10-31
6z=-21 Sequências
Z=-21/6 Sempre que estabelecemos uma ordem para os ele-
Z=-7/2 mentos de um conjunto, de tal forma que cada elemento
seja associado a uma posição, temos uma sequência.
X=5+z O primeiro termo da sequência é indicado por a1,o se-
gundo por a2, e o n-ésimo por an.
Progressão Aritmética
Denomina-se progressão aritmética(PA) a sequência
em que cada termo, a partir do segundo, é obtido adicio-
nando-se uma constante r ao termo anterior. Essa constan-
te r chama-se razão da PA.
-x+28y=3
-x+7=3
-x=3-7
X=4 Classificação
As progressões aritméticas podem ser classificadas de
13. Resposta: D. acordo com o valor da razão r.
Para ser possível e indeterminado, D=Dx=Dy=Dz=0 r<0, PA decrescente
r>0, PA crescente
r=0 PA constante
70
MATEMÁTICA
Termo Geral da PA
Podemos escrever os elementos da PA(a1, a2, a3, ..., an,...)
da seguinte forma:
Assim sendo:
Observe que cada termo é obtido adicionando-se ao O primeiro termo desta sucessão é igual a -14.
primeiro número de razões r igual à posição do termo me-
nos uma unidade. Progressão Geométrica
Denomina-se progressão geométrica(PG) a sequência
em que se obtém cada termo, a partir do segundo, multi-
Soma dos Termos de uma Progressão Aritmética plicando o anterior por uma constante q, chamada razão
Considerando a PA finita (6,10, 14, 18, 22, 26, 30, 34). da PG.
6 e 34 são extremos, cuja soma é 40 Exemplo
Dada a sequência: (4, 8, 16)
Sabemos também que a soma de dois termos equidis- Portanto, o termo geral é:
tantes dos extremos de uma P.A. finita é igual à soma dos
seus extremos. Como esta P.A. tem um número ímpar de
termos, então o termo central tem exatamente o valor de
metade da soma dos extremos.
71
MATEMÁTICA
(A)2014;
Soma dos Termos de uma Progressão Geométrica (B) 2016;
Infinita (C) 2018;
1º Caso:-1<q<1 (D) 2020;
(E) 2022.
Quando a PG infinita possui soma finita, dizemos que a
série é convergente. 04. (FCEP – Técnico Artístico – AMAUC/2017) Consi-
dere a equação do 1º grau: 2(x - 2) = 3(x/3 + 4) . A raiz da
2º Caso: equação é o segundo termo de uma Progressão Aritmética
A PG infinita não possui soma finita, dizemos que a sé- (P.A.). O primeiro termo da P.A. corresponde aos 3/4 da raiz
rie é divergente da equação. O valor do décimo termo da P.A. é:
(A) 48
3º Caso: (B) 36
Também não possui soma finita, portanto divergente (C) 32
(D) 28
Produto dos termos de uma PG finita (E) 24
72
MATEMÁTICA
04. Resposta: A.
Raiz da equação:
2x-4=x+12
X=16 é 0 segundo termo da PA
Primeiro termo:
73
MATEMÁTICA
PA
(12,16,...) PORCENTAGEM
R=16-12=4
=48
Porcentagem é uma fração cujo denominador é 100,
05. Resposta: E.
seu símbolo é (%). Sua utilização está tão disseminada que
a encontramos nos meios de comunicação, nas estatísticas,
em máquinas de calcular, etc.
A1=374-320
Os acréscimos e os descontos é importante saber por-
A1=54
que ajuda muito na resolução do exercício.
06. Resposta: B.
Acréscimo
Observe os números em negrito:
Se, por exemplo, há um acréscimo de 10% a um deter-
9, 11, 13, 15,...
minado valor, podemos calcular o novo valor apenas multi-
São os números ímpares, a partir do 9 e a cada 5 nú-
plicando esse valor por 1,10, que é o fator de multiplicação.
meros.
Se o acréscimo for de 20%, multiplicamos por 1,20, e assim
Ou seja, o 9 está na posição 5
por diante. Veja a tabela abaixo:
O 11 está na posição 10 e assim por diante.
O 19º termo, já temos na sequência que é o 14
Seguindo os termos: Acréscimo ou Lucro Fator de
25º termo é o 17 Multiplicação
30º termo é 19 10% 1,10
Como o número seguinte a esses, abaixa duas unida-
des 15% 1,15
O 31º termo é o 17. 20% 1,20
14+17=31
47% 1,47
07. Resposta: D. 67% 1,67
Observe a razão: 29-23=6
A83=a1+82r Exemplo: Aumentando 10% no valor de R$10,00 te-
A83=23+82⋅6 mos:
A83=23+492
A83=515
74
MATEMÁTICA
Chamamos de lucro em uma transação comercial de 02. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) A equipe de
compra e venda a diferença entre o preço de venda e o segurança de um Tribunal conseguia resolver mensalmen-
preço de custo. te cerca de 35% das ocorrências de dano ao patrimônio
Lucro=preço de venda -preço de custo nas cercanias desse prédio, identificando os criminosos e
os encaminhando às autoridades competentes. Após uma
Podemos expressar o lucro na forma de porcentagem reestruturação dos procedimentos de segurança, a mes-
de duas formas: ma equipe conseguiu aumentar o percentual de resolução
mensal de ocorrências desse tipo de crime para cerca de
63%. De acordo com esses dados, com tal reestruturação,
a equipe de segurança aumentou sua eficácia no combate
ao dano ao patrimônio em
(A) 35%.
(B) 28%.
(C) 63%.
(DPE/RR – Analista de Sistemas – FCC/2015) Em sala (D) 41%.
de aula com 25 alunos e 20 alunas, 60% desse total está (E) 80%.
com gripe. Se x% das meninas dessa sala estão com gripe,
o menor valor possível para x é igual a 03. (TST – Técnico Judiciário – FCC/2017) Três ir-
(A) 8. mãos, André, Beatriz e Clarice, receberam de uma tia he-
(B) 15. rança constituída pelas seguintes joias: um bracelete de
(C) 10. ouro, um colar de pérolas e um par de brincos de diamante.
(D) 6. A tia especificou em testamento que as joias não deveriam
(E) 12. ser vendidas antes da partilha e que cada um deveria ficar
com uma delas, mas não especificou qual deveria ser dada
Resolução a quem. O justo, pensaram os irmãos, seria que cada um
45------100% recebesse cerca de 33,3% da herança, mas eles achavam
X-------60% que as joias tinham valores diferentes entre si e, além disso,
X=27 tinham diferentes opiniões sobre seus valores. Então, deci-
O menor número de meninas possíveis para ter gripe diram fazer a partilha do seguinte modo:
é se todos os meninos estiverem gripados, assim apenas 2 − Inicialmente, sem que os demais vissem, cada um
meninas estão. deveria escrever em um papel três porcentagens, indican-
do sua avaliação sobre o valor de cada joia com relação ao
valor total da herança.
− A seguir, todos deveriam mostrar aos demais suas
Resposta: C. avaliações.
− Uma partilha seria considerada boa se cada um deles
recebesse uma joia que avaliou como valendo 33,3% da
QUESTÕES herança toda ou mais.
As avaliações de cada um dos irmãos a respeito das
01. (SAP/SP - Agente de Segurança Penitenciária joias foi a seguinte:
- MSCONCURSOS/2017) Um aparelho de televisão que
custa R$1600,00 estava sendo vendido, numa liquidação,
com um desconto de 40%. Marta queria comprar essa te-
levisão, porém não tinha condições de pagar à vista, e o
vendedor propôs que ela desse um cheque para 15 dias,
pagando 10% de juros sobre o valor da venda na liquida-
ção. Ela aceitou e pagou pela televisão o valor de: Assim, uma partilha boa seria se André, Beatriz e Clari-
(A) R$1120,00 ce recebessem, respectivamente,
(B) R$1056,00 (A) o bracelete, os brincos e o colar.
(C) R$960,00 (B) os brincos, o colar e o bracelete.
(D) R$864,00 (C) o colar, o bracelete e os brincos.
(D) o bracelete, o colar e os brincos.
(E) o colar, os brincos e o bracelete.
75
MATEMÁTICA
04. (UTFPR – Técnico de Tecnologia da Informação 08. (CRM/MG – Técnico em Informática- FUN-
– UTFPR/2017) Um retângulo de medidas desconhecidas DEP/2017) Veja, a seguir, a oferta da loja Magazine Bom
foi alterado. Seu comprimento foi reduzido e passou a ser Preço:
2/ 3 do comprimento original e sua largura foi reduzida e
passou a ser 3/ 4 da largura original. Aproveite a Promoção!
Pode-se afirmar que, em relação à área do retângulo Forno Micro-ondas
original, a área do novo retângulo: De R$ 720,00
(A) foi aumentada em 50%. Por apenas R$ 504,00
(B) foi reduzida em 50%.
(C) aumentou em 25%. Nessa oferta, o desconto é de:
(D) diminuiu 25%. (A) 70%.
(E) foi reduzida a 15%. (B) 50%.
(C) 30%.
05. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- (D) 10%.
GO/2017) Paulo, dono de uma livraria, adquiriu em uma
editora um lote de apostilas para concursos, cujo valor uni- 09 (CODAR – Recepcionista – EXATUS/2016) Consi-
tário original é de R$ 60,00. Por ter cadastro no referido dere que uma caixa de bombom custava, em novembro, R$
estabelecimento, ele recebeu 30% de desconto na compra. 8,60 e passou a custar, em dezembro, R$ 10,75. O aumento
Para revender os materiais, Paulo decidiu acrescentar 30% no preço dessa caixa de bombom foi de:
sobre o valor que pagou por cada apostila. Nestas condi- (A) 30%.
ções, qual será o lucro obtido por unidade? (B) 25%.
(A) R$ 4,20. (C) 20%.
(B) R$ 5,46. (D) 15%
(C) R$ 10,70.
(D) R$ 12,60. 10. (ANP – Técnico em Regulação de Petróleo e De-
(E) R$ 18,00. rivados – CESGRANRIO/2016) Um grande tanque estava
vazio e foi cheio de óleo após receber todo o conteúdo de
06. (MPE/GO – Oficial de Promotoria – MPE- 12 tanques menores, idênticos e cheios.
GO/2017) Joana foi fazer compras. Encontrou um vestido Se a capacidade de cada tanque menor fosse 50% maior
de R$ 150,00 reais. Descobriu que se pagasse à vista teria do que a sua capacidade original, o grande tanque seria
um desconto de 35%. Depois de muito pensar, Joana pa- cheio, sem excessos, após receber todo o conteúdo de
gou à vista o tal vestido. Quanto ela pagou? (A) 4 tanques menores
(A) R$ 120,00 reais (B) 6 tanques menores
(B) R$ 112,50 reais (C) 7 tanques menores
(C) R$ 127,50 reais (D) 8 tanques menores
(D) R$ 97,50 reais (E) 10 tanques menores
(E) R$ 90 reais
76
MATEMÁTICA
04. Resposta: B.
A=b⋅h JUROS SIMPLES E COMPOSTOS
Matemática Financeira
Portanto foi reduzida em 50%
A Matemática Financeira possui diversas aplicações
no atual sistema econômico. Algumas situações estão pre-
05. Resposta: D.
sentes no cotidiano das pessoas, como financiamentos
Como ele obteve um desconto de 30%, pagou 70% do
de casa e carros, realizações de empréstimos, compras a
valor:
crediário ou com cartão de crédito, aplicações financeiras,
60⋅0,7=42
investimentos em bolsas de valores, entre outras situações.
Ele revendeu por:
Todas as movimentações financeiras são baseadas na esti-
42⋅1,3=54,60
pulação prévia de taxas de juros. Ao realizarmos um em-
Teve um lucro de: 54,60-42=12,60
préstimo a forma de pagamento é feita através de presta-
ções mensais acrescidas de juros, isto é, o valor de quitação
06. Resposta: D.
do empréstimo é superior ao valor inicial do empréstimo. A
Como teve um desconto de 35%. Pagou 65%do vestido
essa diferença damos o nome de juros.
150⋅0,65=97,50
Capital
07. Resposta: C.
O Capital é o valor aplicado através de alguma opera-
Como a previsão para o primeiro trimestre é de 180
ção financeira. Também conhecido como: Principal, Valor
milhões e é 10% inferior, no segundo trimestre temos uma
Atual, Valor Presente ou Valor Aplicado. Em inglês usa-se
previsão de
Present Value (indicado pela tecla PV nas calculadoras fi-
180-----90%
nanceiras).
x---------100
x=200
Taxa de juros e Tempo
A taxa de juros indica qual remuneração será paga
200+180=380 milhões para o primeiro semestre
ao dinheiro emprestado, para um determinado período.
380----95
Ela vem normalmente expressa da forma percentual, em
x----100
seguida da especificação do período de tempo a que se
x=400 milhões
refere:
8 % a.a. - (a.a. significa ao ano).
Somando os dois semestres: 380+400=780 milhões
10 % a.t. - (a.t. significa ao trimestre).
780/4trimestres=195 milhões
Outra forma de apresentação da taxa de juros é a
unitária, que é igual a taxa percentual dividida por 100, sem
08. Resposta: C.
o símbolo %:
0,15 a.m. - (a.m. significa ao mês).
0,10 a.q. - (a.q. significa ao quadrimestre)
Montante
Ou seja, ele pagou 70% do produto, o desconto foi de 30%.
Também conhecido como valor acumulado é a soma
OBS: muito cuidado nesse tipo de questão, para não
do Capital Inicial com o juro produzido em determina-
errar conforme a pergunta feita.
do tempo.
Essa fórmula também será amplamente utilizada para
09. Resposta: B.
resolver questões.
8,6(1+x)=10,75
M=C+J
8,6+8,6x=10,75
M = montante
8,6x=10,75-8,6
C = capital inicial
8,6x=2,15
J = juros
X=0,25=25%
M=C+C.i.n
M=C(1+i.n)
10. Resposta: D.
50% maior quer dizer que ficou 1,5
Juros Simples
Quantidade de tanque: x
Chama-se juros simples a compensação em dinheiro
A quantidade que aumentaria deve ficar igual a 12 tan-
pelo empréstimo de um capital financeiro, a uma taxa com-
ques
binada, por um prazo determinado, produzida exclusiva-
1,5x=12
mente pelo capital inicial.
X=8
77
MATEMÁTICA
Em Juros Simples a remuneração pelo capital inicial A maioria das operações envolvendo dinheiro uti-
aplicado é diretamente proporcional ao seu valor e ao tem- liza juros compostos. Estão incluídas: compras a médio e
po de aplicação. longo prazo, compras com cartão de crédito, empréstimos
A expressão matemática utilizada para o cálculo das bancários, as aplicações financeiras usuais como Caderneta
situações envolvendo juros simples é a seguinte: de Poupança e aplicações em fundos de renda fixa, etc. Ra-
J = C i n, onde: ramente encontramos uso para o regime de juros simples:
J = juros é o caso das operações de curtíssimo prazo, e do processo
C = capital inicial de desconto simples de duplicatas.
i = taxa de juros O cálculo do montante é dado por:
n = tempo de aplicação (mês, bimestre, trimestre, se-
mestre, ano...)
Observação importante: a taxa de juros e o tempo de Exemplo
aplicação devem ser referentes a um mesmo período. Ou Calcule o juro composto que será obtido na aplicação
seja, os dois devem estar em meses, bimestres, trimestres, de R$25000,00 a 25% ao ano, durante 72 meses
semestres, anos... O que não pode ocorrer é um estar em C=25000
meses e outro em anos, ou qualquer outra combinação de i=25%aa=0,25
períodos. i=72 meses=6 anos
Dica: Essa fórmula J = C i n, lembra as letras das pala-
vras “JUROS SIMPLES” e facilita a sua memorização.
Outro ponto importante é saber que essa fórmula
pode ser trabalhada de várias maneiras para se obter cada
um de seus valores, ou seja, se você souber três valores,
poderá conseguir o quarto, ou seja, como exemplo se você M=C+J
souber o Juros (J), o Capital Inicial (C) e a Taxa (i), poderá J=95367,50-25000=70367,50
obter o Tempo de aplicação (n). E isso vale para qualquer
combinação.
QUESTÕES
Exemplo
Maria quer comprar uma bolsa que custa R$ 85,00 à 01. (TRE/PR – Analista Judiciário – FCC/2017) Uma
vista. Como não tinha essa quantia no momento e não geladeira está sendo vendida nas seguintes condições:
queria perder a oportunidade, aceitou a oferta da loja de − Preço à vista = R$ 1.900,00;
pagar duas prestações de R$ 45,00, uma no ato da compra − Condições a prazo = entrada de R$ 500,00 e paga-
e outra um mês depois. A taxa de juros mensal que a loja mento de uma parcela de R$ 1.484,00 após 60 dias da data
estava cobrando nessa operação era de: da compra.
(A) 5,0% A taxa de juros simples mensal cobrada na venda a
(B) 5,9% prazo é de
(C) 7,5% (A) 1,06% a.m.
(D) 10,0% (B) 2,96% a.m.
(E) 12,5% (C) 0,53% a.m.
Resposta Letra “e”. (D) 3,00% a.m.
(E) 6,00% a.m.
O juros incidiu somente sobre a segunda parcela, pois
a primeira foi à vista. Sendo assim, o valor devido seria 02. (FUNAPEP - Analista em Gestão Previdenciária-
R$40 (85-45) e a parcela a ser paga de R$45. -FCC/2017) João emprestou a quantia de R$ 23.500,00 a
Aplicando a fórmula M = C + J: seu filho Roberto. Trataram que Roberto pagaria juros sim-
45 = 40 + J ples de 4% ao ano. Roberto pagou esse empréstimo para
J=5 seu pai após 3 anos. O valor total dos juros pagos por Ro-
Aplicando a outra fórmula J = C i n: berto foi
5 = 40 X i X 1 (A) 3.410,00.
i = 0,125 = 12,5% (B) R$ 2.820,00.
(C) R$ 2.640,00.
Juros Compostos (D) R$ 3.120,00.
o juro de cada intervalo de tempo é calculado a partir (E) R$ 1.880,00.
do saldo no início de correspondente intervalo. Ou seja: o
juro de cada intervalo de tempo é incorporado ao capital
inicial e passa a render juros também.
78
MATEMÁTICA
79
MATEMÁTICA
80
MATEMÁTICA
Taxa Nominal
A taxa nominal de juros relativa a uma operação finan- iq = 0,009489 a.m ou iq = 0,949 % a.m.
ceira pode ser calculada pela expressão:
Taxa nominal = Juros pagos / Valor nominal do emprés- 3) Cálculo do montante pedido, utilizando a taxa efe-
timo tiva mensal
81
MATEMÁTICA
82
MATEMÁTICA
1
Amortiza- Saldo de- 3.000,00 32.353,04 35.353,04 67.646,96
n Juros Prestação
ção vedor
2
2.029,41 33.323,63 35.353,04 34.323,33
0 - - -
100.000,00
3 -
1.029,71 34.323,33 35.353,04
1 - -
3.000,00 103.000,00
83
MATEMÁTICA
1 67.156,81
3.000,00 32.843,19 35.843,19
2 33.828,32
2.014,70 33.328,49 35.343,19
3 -
1.014,87 33.828,32 34.843,19
Sistema Alemão
Neste caso, a dívida é liquidada também em prestações iguais, exceto a primeira, onde no ato do empréstimo (momen-
to “zero”) já é feita uma cobrança dos juros da operação. As prestações, a primeira amortização e as seguintes são definidas
pelas três seguintes fórmulas:
PMT = _ Vp.i _
1- (1+i)n
PMT = valor da prestação
VP = valor inicial do empréstimo
i = taxa de juros
n = período
An = An-1 _
(1- i)
An = amortizações posteriores (2º, 3º, 4º, ...)
An-1 = amortização anterior
i = taxa de juros
n = período
84
MATEMÁTICA
Exemplo:
Um empréstimo de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) a ser pago em 12 meses, a uma taxa de juros de 1% ao mês
(em juros simples). Aplicando a fórmula para obtenção do valor da amortização, iremos obter um valor igual a R$ 10.000,00
(dez mil reais). Essa fórmula é o valor do empréstimo solicitado divido pelo período, sendo nesse caso: R$ 120.000,00 / 12
meses = R$ 10.000,00. Logo, a tabela SAC fica:
Saldo
Nº Pres- Presta- Amortiza-
Juros Deve-
tação ção ção
dor
0 120000
1 11200 1200 10000 110000
2 11100 1100 10000 100000
3 11000 1000 10000 90000
4 10900 900 10000 80000
5 10800 800 10000 70000
6 10700 700 10000 60000
7 10600 600 10000 50000
8 10500 500 10000 40000
9 10400 400 10000 30000
10 10300 300 10000 20000
11 10200 200 10000 10000
12 10100 100 10000 0
85
MATEMÁTICA
Note que o juro é sempre 10% do saldo devedor do mês anterior, já a prestação é a soma da amortização e o juro.
Sendo assim, o juro é decrescente e diminui sempre na mesma quantidade, R$ 100,00. O mesmo comportamento tem as
prestações. A soma das prestações é de R$ 127.800,00, gerando juros de R$ 7.800,00.
Outra coisa a se observar é que as parcelas e juros diminuem em progressão aritmética (PA) de r=100.
Sistema Americano
O tomador do empréstimo paga os juros mensalmente e o principal, em um único pagamento final.
As várias formas de amortização utilizadas pelo mercado brasileiro, em sua maioria, consideram o regime de capitali-
zação por juros compostos. A comparação entre estas, por meio do VPL (vide item 6.2), demonstra que o custo entre elas
se equivale. Vejam: no nosso exemplo, todos, exceto no sistema alemão, os juros efetivos cobrados foram de 3% ao mês
(regime de juros compostos) ou 9,27% no acumulado dos três meses.
86
MATEMÁTICA
OBS: tabela com as prestações dos sistemas anteriores, descontada da taxa ( juros compostos) de 3% ao mês.
Considerando o custo de oportunidade de 2% ao mês, isto é, abaixo do valor do empréstimo, teríamos a tabela abaixo.
Isso seria uma situação mais comum: juros do empréstimo mais caro que uma aplicação no mercado. Neste caso, quanto
menor (em módulo) o VPL, melhor para o tomador do empréstimo, ou seja, o sistema SAC seria o melhor sob o ponto de
vista financeiro.
OBS: tabela com as prestações dos sistemas anteriores, descontada da taxa ( juros compostos) de 2% ao mês.
Outra situação seria considerarmos um empréstimo com taxa de juros abaixo do mercado. Neste exemplo a seguir,
teremos como custo de oportunidade a taxa de 4% ao mês. Isso, na vida real, não será comum: juros do empréstimo mais
barato do que uma aplicação no mercado. Assim, como no exemplo anterior, quanto maior o VPL, melhor para o tomador
do empréstimo, ou seja, o sistema de pagamento único, sob o ponto de vista financeiro, é o melhor, como no caso abaixo.
OBS: tabela com as prestações dos sistemas anteriores, descontada da taxa ( juros compostos) de 4% ao mês.
Referências
Passei Direto. Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/1599335/exercicios_matematica_finaceiraexercicios_
matematica_finaceiraNos juros compostos:
M = C (1+i)n
M = montante
C = capital inicial
i = taxa de juros
n = período
87
MATEMÁTICA
Saldo deve-
n Juros Amortização Prestação
dor
0 - - - 100.000,00
1 3.000,00 - - 103.000,00
2 3.000,00 - - 106.000,00
3 3.000,00 100.000,00 109.000,00 -
Foi elaborado para apresentar pagamentos iguais ao longo do período do desembolso das prestações. A fórmula para
encontrarmos a prestação é dada a seguir:
PMT = VP . _i.(1+i)n_
(1+i)n -1
A fórmula foi desenvolvida, considerando-se apenas a capitalização por juros compostos. O resultado é listado a seguir:
É a média aritmética das prestações calculadas nas duas formas anteriores (SAC e Price). É encontrado pela fórmula:
88
MATEMÁTICA
Sistema Alemão
Neste caso, a dívida é liquidada também em prestações iguais, exceto a primeira, onde no ato do empréstimo (momen-
to “zero”) já é feita uma cobrança dos juros da operação. As prestações, a primeira amortização e as seguintes são definidas
pelas três seguintes fórmulas:
PMT = _ Vp.i _
1- (1+i)n
PMT = valor da prestação
VP = valor inicial do empréstimo
i = taxa de juros
n = período
An = An-1 _
(1- i)
An = amortizações posteriores (2º, 3º, 4º, ...)
An-1 = amortização anterior
i = taxa de juros
n = período
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MATEMÁTICA
Exemplo:
Um empréstimo de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) a ser pago em 12 meses, a uma taxa de juros de 1% ao mês
(em juros simples). Aplicando a fórmula para obtenção do valor da amortização, iremos obter um valor igual a R$ 10.000,00
(dez mil reais). Essa fórmula é o valor do empréstimo solicitado divido pelo período, sendo nesse caso: R$ 120.000,00 / 12
meses = R$ 10.000,00. Logo, a tabela SAC fica:
Saldo
Nº Prestação Prestação Juros Amortização
Devedor
0 120000
1 11200 1200 10000 110000
2 11100 1100 10000 100000
3 11000 1000 10000 90000
4 10900 900 10000 80000
5 10800 800 10000 70000
6 10700 700 10000 60000
7 10600 600 10000 50000
8 10500 500 10000 40000
9 10400 400 10000 30000
10 10300 300 10000 20000
11 10200 200 10000 10000
12 10100 100 10000 0
Note que o juro é sempre 10% do saldo devedor do mês anterior, já a prestação é a soma da amortização e o juro.
Sendo assim, o juro é decrescente e diminui sempre na mesma quantidade, R$ 100,00. O mesmo comportamento tem as
prestações. A soma das prestações é de R$ 127.800,00, gerando juros de R$ 7.800,00.
Outra coisa a se observar é que as parcelas e juros diminuem em progressão aritmética (PA) de r=100.
Sistema Americano
O tomador do empréstimo paga os juros mensalmente e o principal, em um único pagamento final.
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MATEMÁTICA
91
MATEMÁTICA
Concessionária 2
92
MATEMÁTICA
2! + 8 ∙ 1700 + 10 ∙ 1200
!é!"# =
20
2! + 8 ∙ 1700 + 10 ∙ 1200
1490 =
20
RESPOSTA: “C”.
93
MATEMÁTICA
!" X1+x2+x3+x4+x5
= 4000!!!!" = 4000! + 40000 X1+x2=4000
!!!"
X3+x4+x5=12000
!"
! ! = 3500!!!!!" = 3500! x2+x3+x4=9000
RESPOSTA: “C”.
94
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ORTIZ, Cisele & CARVALHO, Maria Tereza Venceslau de. Interações: ser professor de bebês – cuidar, educar e brincar,
uma única ação. São Paulo: Blucher,2012....................................................................................................................................................... 82
OLIVEIRA, C., FREITAS, L.C. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. Brasília: SEB, 2007........................................... 82
PANIZZA, Mabel et al. Ensinar matemática na Educação Infantil e nas séries iniciais: Análise e propostas. Porto Alegre:
Artmed, 2006. (Capítulo 3).................................................................................................................................................................................... 82
PARRA, Cecilia & SAIZ, Irma (Org.). Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artmed,
1996.................................................................................................................................................................................................................82
PERRENOUD, P. Os ciclos de aprendizagem – um caminho para combater o fracasso escolar. Porto Alegre: Editora Art-
med, 2004.................................................................................................................................................................................................................... 87
ROPOLI, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília:
Ministério da Educação. SEESP. Universidade Federal do Ceará. 2010............................................................................................... 88
SALLES, F; FARIA, V. Currículo na educação infantil. Diálogo com os demais elementos da proposta pedagógica. São
Paulo. Editora Ática.................................................................................................................................................................................................. 89
SMOLE, Katia Stocco & DINIZ, Maria Ignes (Org.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender
Matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007........................................................................................................................................................ 89
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998........................................................................................................... 91
TAILLE, Y. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Editora Ática, 2000............................................................................ 98
TEBEROSKY, A., COLOMER,T. Aprender a ler e a escrever – uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed,
2003........................................................................................................................................................................................................ 99
VASCONCELOS, Celso S. Planejamento - projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São Paulo:
Libertad, 2002............................................................................................................................................................................................................ 99
VINHA, Telma Pileggi. O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista. Revista do Cogeime, nº 14,
julho/99, pág. 15-38..............................................................................................................................................................................................100
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 2003...................................................100
ZABALA, Antoni. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998......................................................................109
1
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
2
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
dagogia, trabalhar com os semelhantes e os diversos. Pre- bates. Aprender as artes de lidar com pessoas, acompanhar
cisamos reinventar valores e crenças para suportar a nossa seus processos de formação de produção e apreensão de
docência, a cada dia, como na vida. saberes e valores exige artes especiais, exige reinventar práti-
cas, atividades e intervenções, reinventar o currículo escolar.
13. CERTEZAS NEM TÃO CERTAS
Certezas sobre a cultura escolar, cultura profissional, va- 20. RECUPERAR A HUMANIDADE ROUBADA
lores e religiosidade protegem nossa tranquilidades. Abrir Educar é humanizar, e a tarefa pedagógica é contribuir
caminhos incertos é mais criativo e realizador que trilhar os pra a humanização.
já batidos. Inovar desestabiliza, faz se trabalhar com a inse-
gurança provocando movimento formador para os mestres. A Desumanização Como Realidade Histórica
O movimento de humanização e desumanização
14.CAIXA DE FERRAMENTA acompanham os seres humanos desde a infância, educa-
Ao incorporarem o preparo para a cidadania, as orien- dores têm que resgatar o que foi perdido.
tações aos professores ficaram confusas, trabalhar ferra-
mentas como o uso da mente e do raciocínio, contribui pra Fonte: http://lidialindislay.blogspot.com/2010/03/re-
mudar o mundo. sumo-de-livros-arroyo-miguel-g-oficio.html
3
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Significa que, devemos possibilitar novas situações que Barbosa e Horn (2008) indicam algumas dimensões
desestabilizem as crianças, levando-as a refletir sobre suas que fazem parte do trabalho com projetos: aqueles organi-
ações, de modo que a rotina proposta esteja vinculada com zados pela escola para serem realizados com as famílias, as
todos os objetivos pedagógicos e seja constantemente crianças e os professores; o Projeto Político Pedagógico da
avaliada e reestruturada quando houver necessidade. escola; aqueles organizados pelos professores para serem
A rotina deve ser propiciadora de ações que permitam trabalhados com as crianças e as famílias e, principalmente
às crianças serem ativas e questionadoras diante de dife- aqueles propostos pelas próprias crianças.
rentes práticas propostas pela instituição escolar a fim de Neste sentido é importante estar atento para as ne-
desenvolver variadas habilidades. cessidades e interesses do grupo e assim, propor temas
Deverá ser desafiadora, contudo ela representa tam- e pesquisas que envolvam o interesse das crianças e com
bém uma segurança em termos de acontecimentos. A pre- isso motivem nas a participar ativamente das atividades.
visibilidade tranquiliza os pequenos ao mesmo tempo em O professor pode, ele mesmo, a partir de uma necessida-
que os encaminha para as atividades cotidianas. Isto não de identificada no grupo com o qual trabalha, apresentar
quer dizer que tudo deva acontecer da mesma forma to- um projeto a ser trabalhado e explorado pelo grupo. Além
dos os dias ou na mesma sequência, e sim, que uma certa disso, os professores precisam também levar em conta os
organização para s práticas permite um melhor aproveita- interesses declarados pelo grupo, as dúvidas apontadas
mento das atividades propostas. sobre determinado assunto, os questionamentos, o que in-
ESPAÇO FÍSICO – Pensar nos espaço para crianças de dica o nível de curiosidade das crianças e assim o tema que
0 a 5 anos é preciso levar em conta toda a gama de ne- pode ser trabalhado em um projeto.
cessidades e peculiaridades que envolvam o trabalho com Os projetos não tem uma durabilidade fixa, podendo
crianças pequenas. Neste sentido, ele deve ser acolhedor, durar dias, meses ou até um ano. Tudo vai depender do
desafiador, criativo, instigante e, ao mesmo tempo, seguro. plano de trabalho organizado, o que poderá demandar
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR - A relação entre o brin- mais ou menos tempo de envolvimento do grupo.
car e desenvolvimento infantil, dada sua importância, já foi De acordo com Barbosa e Horn (2008) são três os mo-
amplamente indicada e discutida por uma série de teóri- mentos decisivos na elaboração e concretização de um
cos, tanto da área da psicologia como da pedagogia. projeto pedagógico na educação infantil, sempre a partir
Pelo brincar, nos primeiros anos de vida, a criança es- de um trabalho conjunto dos professores com as crianças.
tabelece relações com o mundo e com as pessoas que a Inicialmente a definição do problema, seja a partir de uma
cercam. Ao brincar, tem a possibilidade de representar o fato inusitado e instigante, de um relato de um colega ou
mundo real e se apropriar dele, interagindo com outras de uma curiosidade manifestada por uma criança ou pelo
crianças e adultos, construindo hipóteses, respeitando re- grupo de crianças. Definindo-se o problema parte-se para
gras e, dessa forma, construindo-se enquanto sujeito. Há o segundo passo, que envolve o planejamento do trabalho
de se considerar que as crianças de diferentes classes so- e a concretização do projeto. Neste momento acontece o
ciais estabelecem relações diferenciadas com o brincar, ou levantamento de propostas de trabalho – indicadas pelas
seja, as brincadeiras variam de acordo com a classe social, crianças e também propostas pelo professor e a divisão de
o contexto, a cultura, os objetos e os espaços disponíveis. tarefas – O que precisa ser feito? Como o trabalho pode
Na instituição de educação infantil torna-se necessário ser desenvolvido? Como obter o material necessário? Feito
que os espaços e as atividades estejam direcionados para a isso se inicia a coleta, organização e registro das informa-
valorização do brincar, pois quanto mais ricas forem as ex- ções. Professores e crianças buscam informações em dife-
periências oferecidas mais interessante e enriquecido será rentes fontes previamente definidas e acordadas: conver-
o brincar. (CARNEIRO, 2010). sas, entrevistas, passeios, visitas, observações, exploração
Ao exercitar a criatividade, a imaginação e promover de materiais, experiências concretas, pesquisas bibliográfi-
a socialização, as brincadeiras são um excelente recurso cas, uso dos diferentes espaços da instituição. Como último
de aprendizagem e desenvolvimento e devem fazer parte passo, no trabalho com projetos, de acordo com as auto-
da rotina nas atividades da educação infantil. Para tanto ras, tem-se a avaliação e a comunicação, que envolvem a
é importante que os profissionais que trabalham com as sistematização e a reflexão sobre as informações coletadas
crianças ofereçam um ambiente rico em estímulos e tam- e produzidas como também a documentação e exposição
bém desafiem as crianças com atividades que envolvam o dos “achados”.
brincar. A partir deste percurso percebemos o quanto é impor-
tante trabalhar com projetos na educação infantil, uma vez
O TRABALHO COM PROJETOS que ao desenvolvê-los professores e crianças encontram-
-se envolvidos pela temática e podem aprender muito com
Reconhecido como um modo de organizar as práticas o encaminhamento das atividades e sua consecução.
representa uma ação intencional, planejada e com alto va- Assim é necessário que se planeje previamente as ati-
lor educativo. Neste sentido, os projetos envolvem estudo, vidades que serão desenvolvidas, para que não se perca de
pesquisa, busca de informações, exercício de crítica, dúvi- vista os objetivos a serem alcançados, de modo que a prá-
da, argumentação, reflexão coletiva, devendo ser elabora- tica pedagógica tenha sequencia e permita que a criança
dos e executados com as crianças e não para as crianças. atinja determinadas metas e, então desenvolva mais habili-
dades linguísticas, motoras e emocionais.
4
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Segundo Oliveira (2005, p.236): de. Este filme nos fala da memória pré-fabricada e manipulada,
“Na verdade, a elaboração de uma sequencia de ativi- metaforizada no funcionamento do “menino-robô”, programa-
dades relativas a um eixo temático que se projeta no tem- do a partir de algumas palavras-chave, dimensão do “humano
po e constitui o mote principal da ação permite à criança robotizado”, onde, para “funcionar-existir”, bastam algumas
integrar sua experiência com diferentes propostas. Isso senhas. O culto às imagens e ao artificial povoa o filme, gestan-
pode ser feito, por representar um objeto associado a uma do, passo a passo, o esquecimento e a anestesia social. Não há
história lida pelo professor com um conjunto de peças para lugar para as palavras, o corpo, as relações, as histórias. Univer-
serem encaixadas, desenhar depois o que foi representado so programado e artificializado, busca na mimesis a superação
e, finalmente, contar e “escrever” uma história com base na do humano, da falta, pela via da tecnologização avassaladora.
representação do desenho.” As paisagens das janelas são mimetismos da natureza, imagens
que apagam à memória o que está fora (MEIRA, 2001).
Desse modo, praticar a elaboração de projetos é um Encontramos na televisão outras vias que operam a
modo de se garantir a participação dos alunos, uma vez artificialização da existência, inclusive nas programações
que o projeto parte sempre de uma problemática surgida dirigidas às crianças, onde a publicidade desfila suas ce-
no contexto escolar e/ou social. nas nos intervalos apresentando uma série interminável
de brinquedos e objetos de consumo “a serem desejados
Fonte: http://lubarrach.blogspot.com/2014/08/resu- pelas crianças”, prometendo-lhes o acesso a um gozo sem
mo-projetos-pedagogicos-na-educacao.html fim. Este excesso de estímulos acaba por gerar uma fra-
gilização que revela-se no próprio tecido do brincar, que
passa a compor-se de minúsculas cenas, rápidas, velozes,
nas quais as crianças ensaiam metáforas incipientes.
BENJAMIN, WALTER. REFLEXÕES SOBRE A A fragilização da narrativa revela-se nas novas confi-
CRIANÇA, O BRINQUEDO E A EDUCAÇÃO. gurações do brincar, marcadas pela exigência da novidade
SÃO PAULO: DUAS CIDADES, 2002. incessante e pelas constantes rupturas que se operam em
função dos imperativos do consumo.
As crianças, ao brincar, situam-se na dimensão do so-
nho, do devaneio, como Freud apontava (FREUD, 1973).
Memória dos brinquedos, memória do brincar, são Hoje, este sonho encontra-se marcado pelas imagens e pa-
processos que Walter Benjamin analisa no livro Reflexões lavras que conformam sua vida na promessa da felicidade
sobre o brinquedo, a criança e a educação. Ao mesmo em um biscoito, do prestígio em uma Barbie, da feminili-
tempo em que realiza uma análise histórica, aponta para a dade em um salto da Carla Perez, da masculinidade em um
crescente massificação própria da evolução industrial que Dragon Ball, fazendo com que traços que seriam singula-
acaba por inscrever o brinquedo em uma dimensão de ho- rizados pela história familiar e cultural passem a sê-lo pela
mogeneização. O apagamento da singularidade, a “plasti- via das marcas do objeto, artificial e fragmentado.
ficação” dos brinquedos, evoca a era social que Benjamin As crianças encontram-se submetidas à vigência he-
aponta como própria do capitalismo que avança revelan- gemônica de uma formação social que anestesia na raiz
do seus contornos inclusive no campo da infância. Neste a possibilidade de diferenciação e distanciamento crítico.
sentido, os brinquedos evocam as formações do social, Convém ressaltar que este processo social não é ho-
são objetos que revelam em sua configuração os traços mogêneo, já que há nos laços sociais modalidades que se
da cultura em que se inscreve. A infância contemporânea diferenciam em função de particularidades culturais, histó-
apresenta traços que nos remetem a pensar acerca do que ricas e familiares. Mas observa-se que prevalece a direção
encontra-se apagado no brincar, hoje. em que os laços sociais hoje se fundam, que é marcada
Das bonecas de porcelana às Barbies, podemos tran- pelo repúdio a uma posição crítica e pela busca incessante
sitar pela história dos brinquedos que na contempora- de referências narcísicas, marcas de ser, no ter.
neidade tende a ser homogênea, globalizada, apagando Suspender o tempo e brincar é hoje um ato de extremo
e gestando esquecimentos (HUYSSEN, 2000) ali onde se desafio que as crianças tem de enfrentar frente à avassaladora
inscreveria a singularidade. A memória do brincar, hoje, rede de aparelhos virtuais que invadem sua vida, anestesiando
encontra-se apagada pelo excesso de estímulos oferecidos seus movimentos corporais e seu pensamento. Os adultos cos-
incessantemente, em um ritmo veloz e instantâneo. tumam se sentir absolutamente incapazes de assistir do início
A exaltação do objeto eleva minúsculos brinquedos à extre- ao fim os desenhos animados da moda. Plenos de cenas rápi-
ma potência, para dali a alguns dias serem substituídos por ou- das e de disputas violentas, exigem que se consiga, a cada se-
tros, novas versões tecno do mais avançado, do melhor. Hoje, a gundo, apreender o sentido das sequências que se processam
dimensão do social confere ao sujeito um lugar onde o singular de forma extremamente veloz. Estes desenhos são o roteiro de
encontra-se fragmentado na multiplicidade que o rege. Os brin- muitas brincadeiras que as crianças inventam, onde os perso-
quedos, como bem aponta Benjamin, refletem esta transforma- nagens e suas façanhas são a referência.
ção. Acabam por transformar-se em “brinquedos em série”. Os games, jogos virtuais, não tem a mesma dimensão
Spielberg, no filme Inteligência Artificial, revela desdo- simbólica de uma brincadeira com carrinhos ou bonecas.
bramentos do processo de tecnificação e da dimensão vir- Prescindem da presença do outro, e da materialidade dos
tual que os brinquedos apresentam na contemporaneida- brinquedos.
5
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Obviamente, são formas que as crianças encontram mirioramas e panoramas, cujas imagens eram confeccio-
de falar deste universo que as cerca, de apropriar-se dele nadas em sua maioria na cidade de Ausburgo. “Já não se
ao navegar nas vias eletrônicas, mas a automatização que tem mais isto”, ouve-se com frequência o adulto dizer ao
rege os jogos virtuais apresenta efeitos de apagamento do avistar brinquedos antigos. Na maior parte das vezes isso é
tecido social que se construiria em presença. mera impressão dele, já que se tornou indiferente a essas
A dimensão com que os adultos são encontram-se mesmas coisas que por todo canto chamam a atenção da
frente ao desfile de objetos de consumo no social é mar- criança.” (BENJAMIN, 2002, p.84), comenta o autor. Ben-
cante e opera de forma avassaladora o apagamento da jamin realiza um interessante enlace entre a imagem e o
história, onde gestões de memória e esquecimento se en- lúdico, prenúncio da evolução posterior do brinquedo e
laçam. do avanço das transformações que se processariam neste
É comum os pais assistirem como espectadores ao campo na direção do virtual.
espetáculo cotidiano que as crianças revelam em sua in- Na Europa, inicialmente elaborados em pequenas ofi-
fância. Não julgam, não interferem, não proíbem, apenas cinas, os brinquedos de madeira, estanho e outros materiais
se dedicam a oferecer às crianças os objetos que lhes são eram confeccionados a partir de especialidades que se dife-
mostrados virtualmente, em uma dimensão de excesso. renciavam a partir das formas e materiais utilizados. “Quan-
Questionar esta atitude é tomado como algo retrógrado e do, no decorrer do século XVIII, afloraram os impulsos iniciais
ultrapassado. Talvez porque traga luz à memória de que o de uma fabricação especializada, as oficinas chocaram-se por
apagado, ali, é a dimensão de brincar com o que falta, onde toda parte contra as restrições corporativas.
o objeto encontra-se subtraído. Estas proibiam o marceneiro de pintar ele mesmo as
A referência ao que falta, ou a um passado que con- suas bonequinhas; para a produção de brinquedos de di-
fronte o sujeito com a dimensão da falta se apaga, hoje. O ferentes materiais obrigavam várias manufaturas a dividir
“moderno” é não ter a história como referência, prescin- entre si os trabalhos mais simples” (BENJAMIN, 2002, p.90).
dir do outro, ser autônomo, artificializado em meio a um Nesta época fica marcada a fragmentação que passa a
emaranhado sem fim de objetos sem nenhuma utilidade a operar também no campo da fabricação dos brinquedos.
não ser a de sustentar a ilusão de uma completude impos- A partir da segunda metade do século XIX, Benjamin
sível. Benjamin, a este respeito escreve: “A cega vontade aponta para a mudança que se revela na forma dos brin-
de salvar o prestígio da existência pessoal, de preferência quedos, que deixam de ser miniaturas. Refere que estes
a destacá-la, pelo menos, através da soberana avaliação de brinquedos, próprios para o quarto de criança que na épo-
sua impotência e de seu embaraço, do pano de fundo do ca encontrava-se em formação, prescindem dos cuidados
enceguecimento geral, impõe-se quase por toda parte.” maternos. Escreve: “... em seus pequenos formatos, os volu-
(BENJAMIN, 1993, p.24) minhos mais antigos exigiam a presença da mãe de maneira
Em Infância e Pensamento, Jeanne Marie Gagnebin es- muito mais íntima; os volumes in quarto mais recentes, em
creve sobre as crianças e a posição diferenciada que as- sua insípida e dilatada ternura, estão antes determinados
sumem diante dos adultos, onde elas veem “aquilo que o a fazer vista grossa à ausência materna. Uma emancipação
adulto não vê mais, os pobres que moram nos porões cujas do brinquedo põe-se a caminho; quanto mais a industria-
janelas beiram as calçadas, ou as figuras menores nas bases lização avança, tanto mais decidida mente o brinquedo se
das estátuas erigidas para os vencedores.” (p. 182) subtrai ao controle da família, tornando-se cada vez mais
É desde esta dimensão que as crianças olham o mun- estranho não só às crianças, mas também aos pais.”(BEN-
do, marcando com suas perguntas as bordas, as falhas, o JAMIN, 2002, p. 91-92).
invisível, o inaudito. É interessante a observação de Benjamin sobre a trans-
Transformam objetos minúsculos em fantasias, em formação do brinquedo como efeito da industrialização,
brincadeiras que se estenderiam horas a fio, não fossem marcando o distanciamento entre as crianças e seus pais
interrompidas incessantemente pelas exigências excessivas que, antes, produzíamos juntos. O autor aponta para os
de desempenho a que hoje são confrontadas. objetos prediletos da criança no brincar: “Madeira, ossos,
tecidos, argila, representam nesse microcosmo os materiais
BENJAMIN E OS BRINQUEDOS mais importantes, e todos eles já eram utilizados em tem-
Walter Benjamin realizou vários escritos sobre os brin- pos patriarcais, quando o brinquedo era ainda a peça do
quedos e os livros infantis onde registra sua história e processo de produção que ligava pais e filhos. Mais tarde
configurações ao longo do desenvolvimento industrial e vieram os metais, vidro, papel e até mesmo o alabastro.”
pós-industrial. Remete-nos a museus de brinquedos onde (Idem, p. 92) Mais adiante, afirma: “Conhecemos muito
encontram-se entre outros brinquedos clássicos, como as bem alguns instrumentos de brincar arcaicos, que despre-
bonecas de porcelana, os soldadinhos de chumbo, já na zam toda máscara imaginária (possivelmente ligados na
época em processo de “esquecimento”, conforme observa. época a rituais): bola, arco, roda de penas, pipa – autên-
É interessante notar que nas fronteiras dos brinque- ticos brinquedos, “tanto mais autênticos quanto menos o
dos vão surgindo no séc. XIX os primeiros instrumentos parecem ao adulto”. Pois quanto mais atraentes, no sentido
de diversão que possuem traços da virtualidade referidos corrente, são os brinquedos, mais se distanciam dos instru-
por Benjamin: “Ainda mais profundamente do que por mentos de brincar; quanto mais ilimitadamente a imitação
teatro de marionetes, somos introduzidos nos mistérios se manifesta neles, tanto mais se desviam da brincadeira
do mundo lúdico pelas câmaras ópticas, pelos dioramas, viva.” (Idem, p. 93)
6
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Estes objetos que propiciam à criança o contato, a cia à realização de análises críticas sobre os vídeo games,
construção e a desconstrução, encontrados nos mais in- como se estes fossem objetos de adoração religiosos. Con-
sólitos lugares, produzem mais prazer à criança do que os cede-se a estes jogos uma autonomia ilusória com a cren-
brinquedos plastificados, até hoje. É comum a observação ça de que não produzem efeitos, como se fossem objetos
de que quando uma criança pequena recebe de presente “assépticos” em sua significação. Atualmente, nos EUA, já
um brinquedo, muitas vezes interessa-se mais pela caixa é constatado o efeito dos games sobre a atenção. A partir
do que por este. Observamos também que a preocupa- de pesquisas na área, foi criado um aparelho chamado At-
ção extrema com a segurança e a saúde, marcas ideais da tention Trainer com vistas a melhorar a concentração das
sociedade de consumo, acaba por revelar-se na dimensão crianças. Este aparelho tem como pressuposto a adaptação
dos brinquedos, que na maioria são plastificados, esterili- comportamental da criança à realidade virtual sem que haja
zados, inquebráveis. qualquer questão a respeito das implicações subjetivas que
No escrito Brinquedos e jogos, Benjamin analisa a re- aí estão em jogo. Realiza um controle da atividade cerebral
petição intrínseca ao brincar: “Sabemos que para a criança da criança adaptando o jogo a seus ritmos, visando condi-
ela é a alma do jogo; que nada a torna mais feliz do que o cionar e aprimorar sua atenção, que é alterada em função
“mais uma vez”. ... Para ela, porém, não bastam duas vezes, do uso repetido dos games. Curiosamente, no Brasil há a
mas sim sempre de novo, centenas e milhares de vezes.” crença inversa enunciada no discurso corrente, a de que os
Nesta passagem, ele evoca o duplo sentido da palavra jo- games aprimoram a atenção. Podemos também apontar
gos – spiele -, na língua alemã: “... talvez aqui resida a mais para a hipótese de que os sintomas de hipercinesia recor-
profunda raiz para o duplo sentido nos “jogos” alemães: re- rentes na infância contemporânea tem relação com o uso
petir o mesmo seria o elemento verdadeiramente comum. A excessivo destes brinquedos artificiais, que apresentam a
essência do brincar não é um “fazer como se”, mas um “fazer velocidade como prerrogativa de seu funcionamento. Para
sempre de novo”, transformação da experiência mais como- a criança que joga vídeo games, ser veloz é um ideal a se-
vente em hábito.” Entre o brincar e o jogar, o autor aponta as guir e ao mesmo tempo seu corpo não é convocado ao
vias de confluência que os instalam em uma direção própria movimento.
da repetição, em que o “de novo” é o prenúncio de uma tra- Benjamin refere-se às fantasias que a criança revela no
jetória que não cessa (BENJAMIM, 2002, P. 03). brincar, nas lutas, na destruição dos brinquedos. A diferen-
A polissemia própria da palavra brincar, referida por ça em relação aos games é que nestes o roteiro da fanta-
Benjamin, também ocorre na língua inglesa: play pode ter sia é pré-programado, assim como sua travessia é virtual. As
o sentido de jogar ou brincar. Cabe analisarmos esta dupla lutas nos vídeos são narcísicas e miméticas por excelência.
dimensão que é própria da intersecção entre o jogo e o Escrevendo sobre a mimesis, Benjamin afirma que “Os jogos
brincar (Idem, p. 102-103).Os jogos de vídeo game revelam infantis são impregnados de comportamentos miméticos,
esta dupla face: são considerados brinquedos, mas game que não se limitam de modo algum à imitação de pessoas.
significa jogo. Perguntei a um menino que é aficionado por A criança não brinca apenas de ser comerciante ou
estes jogos, se “afinal, vídeo game é brinquedo, ou é jogo?” professor, mas também moinho de vento e trem. A questão im-
Ele respondeu prontamente: “É um brinquedo-jogo. Brin- portante, contudo, é saber qual a utilidade para a criança desse
quedo porque tem manhas, e jogo porque tem que passar adestramento da atitude mimética.”(BENJAMIN, 1986, p.108)
de fase.” Os brinquedos interativos da atualidade apresen- A mimesis que se revela no brincar de “faz de conta”
tam esta duplicidade. Pergunto ao mesmo menino, a seguir: tem uma dimensão diferente quando é realizada virtual-
“Mas então, não tem faz de conta em vídeo game?” Ao que mente. O trabalho psíquico de inventar o personagem12 e
ele responde: “Eu faço de conta que sou o personagem do de vesti-los imaginariamente com traços, palavras, gestos,
jogo, escolho um, e passo a ser ele. Aí tem faz de conta”. encontram-se subtraídos no jogo virtual. A única escolha
Ao final deste diálogo ele faz um discurso apologético dos possível se dá entre as opções que o jogo oferece, cujo
games, dizendo que todas as crianças gostam destes jogos roteiro tem fases pré-determinadas, revelando uma mime-
e que “vídeo game é quase uma religião” e que eu “deveria sis do processo de produção, onde a escolha de objetos
me acostumar com esta ideia, e aprender mais sobre estes determina as possibilidades de trajeto.
jogos que todas as crianças gostam”. Poderíamos considerar os vídeo games como sendo
Podemos colocar a questão referente ao duplo sentido vias de passagem do brincar ao jogo. Um adolescente que
que opera em relação a este jogo virtual a partir da inves- joga com games, escolhe entre este histórias e persona-
tigação acerca do próprio estatuto do brincar. No caso dos gens que tenham relação com seus desejos e fantasias. Um
games evidencia-se que a dimensão virtual revela a sub- menino que, quando pequeno, brincava com bonecos de
tração da relação da criança com o processo de criação e guerra - Comandos em Ação - em sua adolescência passa
ensaio próprios do brincar, já que os processos dos games a jogar games onde estes personagens encontram-se em
estão previamente determinados. Por outro lado, podemos uma dimensão virtual. Hoje, muitas crianças não realizam
também pensar que estes jogos virtuais representam ten- esta travessia ou a abreviam, instalando-se em uma posi-
tativas das crianças de “brincar com as imagens” que são ção onde os jogos virtuais prevalecem sobre o brincar com
hegemônicas na sociedade de consumo (MEIRA, 1997). objetos ou brinquedos. Cabe nos perguntarmos acerca dos
As imagens na contemporaneidade são marcadas por efeitos desta nova posição da criança, que encontra-se en-
um culto totêmico e a resistência a analisar seus efeitos é laçada ao tecido social contemporâneo, onde a tecnologia
reveladora desta dimensão. Há, hoje, uma grande resistên- é hegemônica e prevalece no brincar.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ções do que se pode e deve falar em determinadas si- dade a esse processo. Essa concepção supera a ideia de
tuações comunicativas. Quanto mais as crianças puderem que é necessário, em determinada idade, instituir classes
falar em situações diferentes, como contar o que lhes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. Aprender a
aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, expli- ler e a escrever fazem parte de um longo processo ligado à
car um jogo ou pedir uma informação, mais poderão de- participação em práticas sociais de leitura e escrita.
senvolver suas capacidades comunicativas de maneira sig-
nificativa. Fonte: http://silvanapsicopedagoga.blogspot.
Pesquisas na área da linguagem tendem a reconhecer com/2017/05/praticas-da-linguagem-oral-e-escrita-na.
que o processo de letramento está associado tanto à cons- html
trução do discurso oral como do discurso escrito. Princi-
palmente nos meios urbanos, a grande parte das crianças,
desde pequenas, estão em contato com a linguagem escri-
ta por meio de seus diferentes portadores de texto, como CARVALHO, FABIO C. A.; IVANOFF,
livros, jornais, embalagens, cartazes, placas de ônibus etc.,
GREGÓRIO BITTAR. TECNOLOGIAS QUE
iniciando-se no conhecimento desses materiais gráficos
antes mesmo de ingressarem na instituição educativa, não EDUCAM – ENSINAR E APRENDER COM
esperando a permissão dos adultos para começarem a AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
pensar sobre a escrita e seus usos. Elas começam a apren- COMUNICAÇÃO. 1ª ED. PEARSON, 2009.
der a partir de informações provenientes de diversos tipos
de intercâmbios sociais e a partir das próprias ações, por
exemplo, quando presenciam diferentes atos de leitura e
escrita por parte de seus familiares, como ler jornais, fazer Os professores Fábio Câmara e Gregorio Ivanoff apre-
uma lista de compras, anotar um recado telefônico, seguir sentam e explicam como utilizar um novo repertório de
uma receita culinária, buscar informações em um catálogo, possibilidades que transformará as aulas daqueles que se
escrever uma carta para um parente distante, ler um livro dispuserem a incorporá-lo em sua prática docente. Nesta
de histórias etc. obra, os autores não inventaram o oceano ou a embarca-
A partir desse intenso contato, as crianças começam ção, mas tiveram a ousadia de mostrar como se navega
a elaborar hipóteses sobre a escrita. Dependendo da im- num mar que todos conhecem e em que muitas teorias e
portância que tem a escrita no meio em que as crianças ‘achismos’ se confundiam. As mais avançadas tecnologias
vivem e da frequência e qualidade das suas interações com de comunicação e aprendizagem, com uma linguagem e
esse objeto de conhecimento, suas hipóteses a respeito de uma fluidez que as tornam facilmente assimiláveis mesmo
como se escreve ou se lê podem evoluir mais lentamente por aqueles que - ainda - resistem aos desafios da moder-
ou mais rapidamente. Isso permite compreender por que nidade. Utilização de bases de dados e informação, comu-
crianças que vêm de famílias nas quais os atos de ler e es- nicação e interação, e construção de conteúdo configuram
crever têm uma presença marcante apresentam mais de- três grandes práticas, de interesse amplo, abordadas na
senvoltura para lidar com as questões da linguagem escrita parte central deste trabalho atual e inovador.
do que aquelas provenientes de famílias em que essa prá-
tica não é intensa. Esse fato aponta para a importância do Fonte: https://www.martinsfontespaulista.com.br/tec-
contato com a escrita nas instituições de Educação Infantil. nologias-que-educam-ensinar-e-aprender-com-as-tecno-
Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa cons- logias-de-informacao-e-comunicacao-308983.aspx/p
truir um conhecimento de natureza conceitual: precisa com-
preender não só o que a escrita representa, mas também
de que forma ela representa graficamente a Linguajem.
Isso significa que a alfabetização não é o desenvolvimento CHRISPINO, ÁLVARO & CHRISPINO, RAQUEL.
de capacidades relacionadas à percepção, memorização e A MEDIAÇÃO DO CONFLITO ESCOLAR. SÃO
treino de um conjunto de habilidades sensório-motoras. É, PAULO: BIRUTA, 2011.
antes, um processo no qual as crianças precisam resolver
problemas de natureza lógica até chegarem a compreen-
der de que forma a escrita alfabética em português repre-
senta a linguagem, e assim poderem escrever e ler por si
Este trabalho apresenta um conjunto de políticas públi-
mesmas.
cas de ações capazes de atender a uma questão premente:
Quais são as implicações para a prática pedagógi-
a violência escolar. Voltado para o universo educacional, o
ca e quais as principais transformações provocadas por
livro traz reflexões que podem contribuir como alternativa
essa nova compreensão do processo de aprendizagem
para a mediação de conflitos na sociedade atual.
da escrita pela criança? A constatação de que as crianças
constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do
A tese defendida pelos autores, Álvaro Chrispino e Ra-
que se supunha e de que elaboram hipóteses originais na
quel S. P. Chrispino, é de que hoje a escola abriga alunos
tentativa de compreendê-la amplia as possibilidades da
diferentes e divergentes, mas trata a todos como se fossem
instituição de Educação Infantil enriquecer e dar continui-
9
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
iguais nas origens, nas expectativas, nos valores, nas emo- Todas as TIC repousam sobre o mesmo princípio: a
ções. A equipe escolar continua a tratar os alunos, contem- possibilidade de utilizar sistemas de signos – linguagem
porâneos de uma sociedade em rápidas transformações, oral, linguagem escrita, imagens estáticas, imagens em
com os mesmos procedimentos de tempos atrás. movimento, símbolos matemáticos, notações musicais, etc.
- para representar uma determinada informação e transmi-
Neste livro, da Editora Biruta, a proposta de mediação ti-la. Para além dessa base comum, contudo, as TIC diferem
do conflito escolar apresenta um conjunto de ações e pro- profundamente entre si quanto às suas possibilidades e
gramas como avaliação da violência escolar, adaptação de limitações para representar a informação, assim como no
prédios escolares seguros, otimização dos espaços escola- que se refere a outras características relacionadas à trans-
res, plano de ação, entre outros. missão dessa informação (quantidade, velocidade, aces-
sibilidade, distância, coordenadas espaciais e temporais,
Fonte: https://www.sinpeem.com.br/lermais_mate- etc.), e essas diferenças têm, por sua vez, implicações do
rias.php?cd_materias=8535&friurl=_-A-mediacao-do- ponto de vista educacional. (p. 17).
-conflito-escolar-_ Posteriormente, os autores vão traçar uma linha
com três etapas que na concepção dos mesmos, são cha-
ve para compreender a evolução das TIC no tempo e seu
impacto na Educação.
COLL, CESAR. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
A primeira, dominada pela linguagem natural (fala e
VIRTUAL – APRENDER E ENSINAR COM
gestualidade), caracteriza-se pela necessidade de adapta-
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA
ção do homem primitivo a um meio adverso e hostil, no
COMUNICAÇÃO. ARTMED, 2010. qual o trabalho coletivo era crucial e a possibilidades de
se comunicar de maneira clara e eficiente se constituía em
um requisito indispensável. A transmissão oral, como único
sistema de comunicação, dependia de alguns requisitos es-
O primeiro tópico intitulado “Tecnologia, sociedade e senciais: os falantes deviam coincidir no tempo e no espa-
educação: uma encruzilhada de influências” está organiza- ço e precisavam estar fisicamente presentes; as habilidades
do em três subtópicos. O primeiro, intitulado “As forças da que precisavam possuir eram principalmente a observação,
mudança”, os autores vão defender que “o impacto das a memória e a capacidade de repetição. Tais habilidades
TIC na educação é, na verdade, um aspecto particular de estão na origem de algumas modalidades educacionais e
um fenômeno muito mais amplo, relacionado com o pa- de alguns métodos de ensino e aprendizagem – a imitação,
pel dessas tecnologias na sociedade atual” (p. 15). Ou seja, a declamação e a transmissão e reprodução de informação
trata-se da consequência do impacto das TIC na sociedade – muito úteis para fixar e conservar conhecimentos impres-
da informação (SI) que tem reflexos de ordem econômi- cindíveis não apenas para reproduzir manter a separação
ca, social, política e cultural. Defende ainda que “a internet entre os diferentes estamentos sociais que compõem uma
não é apenas uma ferramenta de comunicação e de busca, sociedade altamente hierarquizada.
processamento e transmissão de informações que oferece
alguns serviços extraordinários; ela constitui, além disso, A segunda etapa representa a clara hegemonia do
um novo e complexo espaço global para a ação social e, ser humano sobre o restante das espécies ; não mais se
por extensão, para o aprendizado e para a ação educacio- trata apenas de sobreviver, mas de adaptar a natureza às
nal” (p. 16). Diante disto, e apoiado no trabalho de Shayo necessidades humanas por meio do desenvolvimento de
e colaboradores (2007) os autores vão identificar quatro técnicas alimentares, de construção, de vestimenta, etc.
grandes forças propulsoras da internet: “o desenvolvimen- Privilegiando, por exemplo, certas espécies animais e vege-
to de economias globais, as políticas nacionais de apoio tais sobre outras por meio da agricultura e do pastoreio, e
à internet, a crescente alfabetização digital da população influindo desse modo, na seleção natural. Mais uma vez, a
e o melhoramento gradual das infraestruturas tecnológi- necessidade de registrar certos dados, como uma memória
cas” (p. 16). Para se ter ideia da dimensão destas forças, externa, e de transmitir e compartilhar com outros as in-
os autores afirmam que “A facilidade para se comunicar e formações, experiências, conselhos, etc., está na origem do
trocar informações, junto com a enorme redução de custos nascimento da escrita, que, embora não exista a presença
que isso traz consigo, vem ocasionando, por exemplo, que física dos interlocutores, requer certa proximidade, dado
alguns países tenham passado diretamente de uma eco- que primeiro os mensageiros e depois o correio postal não
nomia centrada na agricultura para outra baseada nas TIC” podiam cobrir distâncias muito grandes. Tanto a presença
(p. 17). tipográfica quanto o correio revolucionam a sociedade do
momento e estão na base da progressiva industrialização
No segundo subtópico intitulado “a evolução das TIC e da economia, da migração urbana e da formação de uma
das modalidades educacionais associadas”, os autores vão sociedade de massas. Na educação, essas tecnologias de
alertar inicialmente da não neutralidade das TIC. comunicação encontram seus referenciais em um ensino
centrado em textos e no nascimento dos livros didáticos e
do ensino a distância, por correspondência. A partir desse
10
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
momento, e até a época atual, a formação de uma mente No subtópico intitulado “o contexto da mudança: al-
alfabetizada, letrada, capaz não apenas de decodificar fo- gumas características da Sociedade da Informação que
neticamente os grafemas como também de compreender são relevantes para a educação” os autores vão “assinalar
os conteúdos de maneira significativa para utilizá-los, tem e comentar brevemente alguns fenômenos, tendências ou
sido, provavelmente, o principal objetivo da educação for- características que, de acordo com boa parte das análises
mal. Com a chegada dos sistemas de comunicação analó- feitas até agora, são próprios da SI, ou adquirem especial
gica, primeiro o telégrafo e, posteriormente, o telefone, o relevância nesse marco, e que formam, no nosso critério,
rádio e a televisão, as barreiras espaciais foram rompidas o pano de fundo da educação neste novo cenário” (p. 23)
definitivamente e a troca de informações em nível plane- • A complexidade, a interdependência e a impre-
tário passou a ser uma realidade. Os novos meios audio- visibilidade que presidem as atividades e as relações dos
visuais entraram nos centros educacionais, embora ainda indivíduos, dos grupos, das instituições e dos países são,
no complemento da documentação escrita. Fala-se hoje junto com a globalização ou mundialização da economia,
da necessidade de promover uma alfabetização gráfica e características frequentemente atribuídas à SI;
visual, embora as tentativas sejam tímidas e seu impacto, • Informação, excesso de informação e ruído. No
ainda limitado. Isso ocorre, em grande medida, devido à entanto ponderam que “a abundância de informação e a
fulgurante entrada em cena da linguagem digital e à pos- facilidade de acesso a ela não garante, contudo, que os
sibilidade de as diferentes tecnologias existentes convergi- indivíduos estejam mais e melhor informados” (p. 22). Os
rem em um único sistema de codificação que, além disso, autores vão afirmar que a possibilidade de acesso às infor-
utiliza suportes mais confiáveis, mais fáceis de transportar, maçõe sé um grande avanço, mas sem uma busca eficaz,
mais econômicos e com maior capacidade de armazena- sem explorá-las bem, a simples possibilidade de acesso
mento. Fruto da nova tecnologia foram os primeiros com- não garante nada;
putadores digitais, no fim da década de 1940, que encon- • A rapidez dos processos e suas consequências;
trariam na corrente comportamentalista e suas máquinas • A escassez de espaços e de tempo para a abstra-
de ensino analógicas um terreno fértil para o desenvolvi- ção e a reflexão. Em decorrência da rapidez dos processos,
carece-se de tempo para aprofundar as reflexões.
mento da educação assistida por computador que, apesar
• A preeminência da cultura da imagem e do espe-
das críticas recebidas , continua com boa saúde e presente
táculo que se de um lado representa um ganho pelas múl-
em muitas aplicações edumáticas (educação + informática)
tiplas possibilidades de comunicar, por outro revela uma
atuais. Graças à interligação entre diferentes computadores
deposição da escrita e da leitura;
digitais e à internet chegamos, assim, sitrictu sentu, à So-
• A transformação das coordenadas espaciais e
ciedade da Informação, que poderíamos definir como um
temporais da comunicação. É possível comunicar síncro-
novo estágio de desenvolvimento das sociedades huma-
na ou assincronamente, seja com pessoas perto ou longe.
nas, caracterizado, do ponto de vista das TIC pela capaci-
Mas cria-se ai um paradoxo para com “o tempo pessoal, ou
dade de seus membros para obter e compartilhar qualquer tempo vivido, dos interlocutores e o tempo durante o qual
quantidade de informação de maneira praticamente ins- se tem acesso a informação comunicada” (p. 24)
tantânea, a partir de qualquer lugar e na forma preferida, • A homogeneização cultural. Trata-se da globaliza-
e com um custo muito baixo. Neste momento, por outro ção da cultura através da comunicação e da troca global.
lado, já estamos iniciando uma nova sub etapa, caracteriza- • O surgimento de novas classes sociais: os “infori-
da pelo desenvolvimento das redes sem fio e pela internet cos” e os “infopobres”.
móvel, os quais podem tornar possível a velha utopia da O tópico intitulado “A influência da internet: novas fer-
conectividade total. (p. 18-20) ramentas, cenários e finalidades educacionais”, está orga-
Os autores afirmam que são três etapas, mas só delimi- nizado em seis subtópicos. Na parte introdutória do tópico,
tam bem duas. A segunda e a terceira etapas parecem não os autores vão apresentar três abordagens sobre o estudo
ter uma delimitação muito bem traçada e se confundem. da interação entre humanos e computadores:
Após traçar essas etapas, os autores vão apontar um outro • Estudo do impacto do uso das TIC sobre os pro-
viés de evolução da internet, a partir de metáforas: cessos cognitivos do aprendiz-usuário (abordagem cog-
nitiva) – foco nas interfaces, estudos experimentais sobre
• A metáfora da internet enquanto estrada (high- eficácia da interação computador – ser humano, modelos
way) de usuários, critérios de usabilidade.
• A internet como ciberespaço (cyberspace) • Estudo das variáveis relativas ao contexto edu-
• a utilização do adjetivo “virtual”para “fenômenos cacional no qual acontece a aprendizagem (abordagem
que ocorrem na rede, dado que, em algum sentido, eles sociocognitiva) – de produtos a processos em pesquisa e
emulam a outros semelhantes que ocorrem no mundo real: design, de indivíduos a grupos, do laboratório ao local de
comunicação virtual, ensino virtual, aprendizagem virtual, trabalho, dos novatos aos especialistas, da análise ao de-
trabalho virtual, comunidade virtual, etc. sign, do design centrado no usuário ao envolvimento do
• Posteriormente, foram aparecendo novas metáfo- próprio usuário no design;
ras que se inscreveram nesta última: uma nova polis ou in- • Estudo de contextos de atividade social, além dos
fopolis, uma nova sociedade em rede , um novo território, especificamente orientados à educação (teoria da ativida-
um novo espaço pela qual viajar, ou telépolis, etc. (p. 21) de) – para além do ambiente laboral, aprendizagem, jogo,
11
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
lazer, para além do mundo adulto: as crianças e os jovens ser considerado como um atributo exclusivamente indivi-
como autores e designers, para além da realidade virtual: dual, independente da competência de outros que estejam,
computadores ubíquos, para além das ferramentas passi- direta ou indiretamente, envolvidos na situação e influindo
vas: tecnologias persuasivas, para além da interação com- e condicionando processos e produtos. Tradicionalmente,
putador-ser humano: interação com Web adaptativa; contudo, na educação formal e escolar, demonstrar a pró-
No subtópico intitulado “Novas ferramentas”, vão pria competência significa mostrar que se é competente
apontar três conceitos como sendo pilares das novas fer- em comparação ao resto dos aprendizes da mesma tur-
ramentas: adaptabilidade, mobilidade e cooperação. “Em ma, da mesma escola ou do mesmo nível educacional, o
um mundo em que as distâncias são cada vez mais reduzi- que geralmente se traduz em entrar em competição com
das, as fronteiras desaparecem e os grandes problemas são os demais, às vezes de maneira muito explícita e outras de
compartilhados, cresce a mobilidade das pessoas, aumenta maneira mais encoberta” (p. 28).
a heterogeneidade das comunidades e torna-se patente a No tópico intitulado “Novos cenários”, os autores vão
necessidade de trabalhar conjuntamente para resolver pro- sinalizar a ubiquidade das tecnologias e em especial do
blemas comuns. A educação é obrigada a enfrentar essa computador. Ponderam que “não se trata de pôr a pes-
situação e fala-se em escolas inclusivas (que tentam satis- soa dentro do mundo fictício gerado pelo computador,
fazer a diversidade de necessidades educacionais de seus mas de integrar o computador ao nosso mundo humano”
alunos), de educação não formal e informal (para aprovei- (p. 31). Após considerar as implicações desta ubiquidade
tar as oportunidades que a sociedade atual oferece para a para o campo da educação os autores vão finalizar este
educação e formação das pessoas e de aprendizado cola- tópico afirmando que “no médio prazo, parece inevitável
borativo e cooperativo (com a finalidade de tirar proveito que, diante dessa oferta de meios e recursos, o professo-
dos conhecimentos e habilidades dos diversos membros rado abandone progressivamente o papel de transmissor
de um grupo para satisfazer objetivos comuns” (p. 26). de informação, substituindo-o pelos papéis de seletor e
No subtópico intitulado “Da acessibilidade e usabilida- gestor dos recursos disponíveis, tutor e consultor no escla-
de à adaptabilidade” os autores vão afirmar que “o desafio recimento de dúvidas, orientador e guia na realização de
agora é que os programas sejam capazes de se transfor- projetos e mediador de debates e discussões” (p. 31).
mar em um alter ego para o aluno – ou para uma equi- No tópico intitulado “Novas finalidades” os autores vão
pe de trabalho –, auxiliando-o de modo personalizado em inicialmente apresentar duas visões acerca da relação en-
suas tarefas graças à possibilidade de “aprender” com suas tre o que se conhece e a questão do emprego fixo. Após
ações, omissões e decisões; estamos falando dos chama- considerar, vai trazer a seguinte provocação: “quais são as
dos “agentes artificiais” (p. 26). Os autores defendem ain- competências que, neste novo cenário, deverão adquirir e
da a autoria na mão dos próprios usuários. “Esta corrente, desenvolver as pessoas para poder enfrentar, com garan-
que coloca o usuário na posição de produtor e difusor de tias de êxito, os processos de mudança e transformação
conteúdos, é conhecida com o nome de Web 2.0, em con- que estão ocorrendo?” Como resposta, os autores vão con-
traposição à perspectiva anterior de Web 1.0, que conferia siderar três:
ao usuário um papel de mero consumidor relativamente Ser capaz de atuar com autonomia;
passivo” (p. 28). Ser capaz de interagir em grupos socialmente hetero-
No subtópico intitulado “Do e-learning ao m-learning”, gêneos;
os autores vão afirmar que “a progressiva miniaturização Ser capaz de utilizar recursos e instrumentos de ma-
das tecnologias, junto com o desenvolvimento de plata- neira interativa;
formas móveis e da conexão sem fio, permitirão que os Cabe considerar no entanto que “nem tudo o que é
alunos possam continuar avançando em sua formação tecnologicamente viável é pertinente em termos educacio-
tendo acesso, a qualquer momento, por meio de seu ce- nais. E poderíamos acrescentar que nem tudo que é tecno-
lular, de agendas eletrônicas, computadores de bolso ou logicamente viável e pertinente em termos educacionais é
de outros dispositivos, a documentos, portfólios, fóruns, realizável em todos os contextos educacionais” (p. 33).
chats, questionários, webquests, weblogs, listas de dis- Consideram ainda que “está amplamente documenta-
cussão, etc. O m-learning ou ‘escola nômade’, segundo o do, que escolas dotadas com os últimos avanços em ferra-
termo cunhado por P. Steger, abre imensas possibilidades mentas, infraestruturas e softwares de TIC frequentemen-
para se empreender trabalhos de campo, trocar reflexões, te desenvolvem práticas educacionais cujo nível é muito
analisar conjuntamente atuações profissionais que estejam baixo” [...] Assim, uma escola, uma equipe docente ou um
ocorrendo neste mesmo instante ou para integrar em um professor com muitos anos de experiência, com sólidas
trabalho de equipe pessoas geograficamente afastadas en- concepções objetivistas e com práticas eminentemente
tre si” (p. 28). transmissivas, provavelmente acabarão utilizando as TIC
No subtópico intitulado “Da competição individual à para complementar as aulas expositivas com leituras exer-
cooperação” os autores vão defender que “a maioria das cícios autoadministráveis na rede, mas dificilmente farão
atividades humanas socialmente relevantes incluem um uso destas para que os estudantes participem em fóruns de
trabalho em grupo. Assim, ser competente, em sua dupla discussão, trabalhem de maneira colaborativa ou procurem
acepção de que uma tarefa ou responsabilidade compete e contrastem informações diversas sobre um determinado
a alguém e de que alguém é competente para realizar uma tema. (p. 33). Para fechar o tópico os autores concluem: “A
tarefa ou assumir uma responsabilidade, dificilmente pode chave, portanto, não está em comparar o ensino baseado
12
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
nas TIC com o ensino presencial, tentando estabelecer as O subtópico intitulado “Cenários educacionais prová-
vantagens e inconvenientes de um ou de outro. Em vez veis: educação sem paredes” os autores vão falar sobre
disso, melhor seria pesquisar como podemos utilizar as TIC “novos cenários educacionais que se abrem aos nossos
para promover a aquisição e o desenvolvimento das com- olhos e que questionam o ponto em que exatamente co-
petências que as pessoas precisam ter na era do conheci- meça e termina a ação de escolas e professores. [...] tudo
mento” (p. 34) aponta na direção de que podem acabar surgindo três ce-
O último tópico, intitulado “Linhas emergentes e seus nários paralelos e claramente interdependentes.
desafios” está organizado em três subtópicos que enfoca- Em primeiro lugar, salas de aula e escolas cada vez
rão ferramentas, cenários e finalidades prospectivas acer- mais “virtualizadas” ou seja,, com mais e melhores infraes-
ca de “estudos das mudanças provocadas pelas situações truturas e equipamentos de TIC e com projetos pedagógi-
educacionais baseadas total ou parcialmente no uso das cos e didáticos que tentarão aproveitar as potencialidades
TIC” (p. 34). No subtópico primeiro intitulado “Ferramen- dessas tecnologias para o ensino e a aprendizagem.
Em segundo lugar, uma expansão das salas de aula e
tas previsíveis”: da Web 1.0 a Web 3.0”, os autores vão tra-
das escolas para outros espaços (bibliotecas, museus, cen-
çar um panorama geral das características da Web 1.0 que
tros culturais, etc.) nos quais será possível realizar, com o
consiste na “forma de perceber a internet como um imenso
apoio das TIC, atividades e práticas com finalidades clara-
repositório de conteúdos ao qual os usuários podem aces-
mente educacionais – e provavelmente seja este o cenário
sar para procurar e baixar arquivos, corresponde, por assim que terá um maior desenvolvimento em um futuro pró-
dizer, à infância da rede” (p. 35). Já “a expressão Web 2.0 ximo, como consequência do impacto das ferramentas e
começou a ser utilizada a partir de 2001 [...]. A rede não é aplicativos próprios da Web 2.0 (weblogs, wikis, webquests,
mais apenas um espaço ao qual ir para procurar e baixar portfólios virtuais, folksonomias, etc.).
informação e todo tipo de arquivos. Além disso, começa a Em terceiro e último lugar, um cenário global e onipre-
incorporar e coordenar informação proveniente das mais sente, uma espécie de “megaescola” na qual a ubiquidade
diversas fontes, como peças de um enorme quebra-cabe- das TIC e o desenvolvimento das tecnologias móveis e da
ças, relacionando dados e pessoas e facilitando uma apren- sredes sem fio tornarão possível o aprendizado em pratica-
dizagem mais significativa por parte do usuário. O mash- mente qualquer lugar e situação. (p. 39)
-up, a mistura de recursos e conteúdos com a finalidade O último subtópico deste capítulo, intitulado “Finali-
de construir ambientes mais ajustados às necessidades e dades potenciais: entre o neoliberalismo e os movimentos
desejos de um usuário ou de um grupo de usuários, passa sociais” vai trazer em suas linhas, os aspectos negativos das
a ser uma estratégia habitual de uso da internet. O software TIC e uma tentativa dos autores de apontar soluções, no
“se abre” (open software) e se liberta (free software) e os entanto, tal tentativa fica nitidamente no plano das possi-
usuários passam a ser os verdadeiros protagonistas de seu bilidades. Para os autores,
próprio crescimento e sofisticação. [...] A anexação de con- • As TIC e a internet não apenas têm uma importante
teúdo alheio denomina-se sindicação de conteúdos. Jun- parcela de responsabilidade nesta situação, como estão, com
to com essa potencialidade, existe outro mecanismo tão muita frequência, no centro do debate. Assim, por exemplo,
simples quanto poderoso, a folksonomia, termo utilizado em alguns círculos, são cultivadas posturas – as quais de nos-
para referir-se à organização colaborativa da informação sa parte, não duvidamos em qualificar como maniqueístas e
em categorias a partir de uma série de etiquetas ou pa- pouco realistas – que apresentam as escolas como institui-
lavras-chave (tags) propostas pelos próprios usuários. [...] ções obsoletas que concentram todos os males, e as TIC e a
a Web 2.0 abre perspectivas de sumo interessa-se para o internet como o remédio capaz de acabar com esses males
e de refundar a instituição escolar. Com as TIC seria possível,
desenvolvimento de propostas pedagógicas e didáticas
finalmente, fazer com que o mundo real entrasse nas salas
baseadas em dinâmicas de colaboração e cooperação” (p.
de aula e nas escolas e basear a aprendizagem dos alunos
35-36). Por fim, os autores vão tecer suas considerações
na indagação e na criatividade. Por trás dessas posturas, fre-
acerca da Web 3.0 ou “Web semântica”. “A Web semântica
quentemente se escondem, em nosso juízo, os interesses de
é uma visão da internet cuja proposta é de que a informa- grupos econômicos que aspiram a criar novos consumidores
ção possa ser compreensível para – e não apenas localizá- e a usurpar, de passagem, o poder que, embora enfraquecido,
vel e acessível – os computadores, e isso com a finalidade continuam tendo os sistemas de educação formal. Avivando
de que eles possam realizar exatamente as mesmas tarefas sentimentos de incompetência e desesperança entre o pro-
que os humanos e não se limitem apenas, como realmen- fessorado, os alunos e suas famílias, esses grupos esperam à
te fazem agora, a armazenar, buscar, encontrar, processar, espreita, que as escolas adotem “soluções extremas” alheias
combinar e transferir informação. [...] a Web 3.0 se anuncia às finalidades da educação escolar, sem perguntar-se sobre o
como uma base de dados global capaz de proporcionar sentido e o alcance dessa opção. (p. 40)
recomendações personalizadas para os usuários diante das • Outra frente de debate são as diversas “brechas
perguntas do tipo: a partir das minhas características psico- digitais”, as distâncias que, surgem na Sociedade da Infor-
lógicas, físicas, culturais, orçamentárias, etc., o que eu de- mação entre os “inforicos” e os “infopobres”, entre os paí-
veria visitar nesta cidade? Em que curso de pós-graduação ses e os setores da população que têm acesso a um uso
seria conveniente que eu me matriculasse no ano que vem? construtivo, enriquecedor e criativo das TIC e aqueles que
Que tipo de plano de aposentadoria eu deveria contratar? não têm acesso a elas ou que as acessam apenas como
E outras dúvidas como essas” (p. 37). consumidores. (p. 40)
13
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
• Promovem uma comunicação de baixa qualidade, cisões de forma colegiada, materiais didáticos preparados
basicamente apoiada em textos escritos; em conjunto, a formação continuada e a participação dos
• Restringem as comunicações emocionais, comple- pais são pontos essenciais para a construção da escola de
xas e expressivas; qualidade.
• Potencializam as relações sociais superficiais e as A instituição escolar é identificada pelo seu caráter so-
vezes favorecema irresponsabilidade e a falta de compro- cial e socializador. É por meio da escola que os seres hu-
misso; manos entram em contato com uma cultura determinada.
• Permitem a agressão verbal, o insulto e os diversos Nesse sentido, a concepção construtivista compreende um
“ismos” (racismo, sexismo, etc.); espaço importante à construção do conhecimento indivi-
• Tendem a propagar e reforçar um saber mais ins- dual e interação social, não contrapondo aprendizagem
tável, profano e mundano (infoxicação); e desenvolvimento. Aprender não é copiar ou reproduzir,
• Descrédito da escola como instituição legitimada mas elaborar uma representação pessoal da realidade a
para conservar, criar e transmitir do conhecimento e à pro- partir de experimentações e conhecimentos prévios. É pre-
posta de substituí-la por ambientes e professores virtuais ciso aprender significativamente, ou seja, não apenas acu-
por meio do uso generalizado das TIC; mular conhecimentos, mas construir significados próprios
• Falta de compromisso pessoal e social que, segun- a partir do relacionamento entre a experiência pessoal e
do se afirma, as TIC e a internet, às vezes, têm como efeitos a realidade. A pré-existência de conteúdos confere certa
colaterais; peculiaridade à construção do conhecimento, que deve ser
• Riscos de que as TIC e a internet favoreçam o iso- entendida como a atribuição de significado pessoal aos
lamento, potencializem o flaming e permitam esconder, conteúdos concretos, produzidos culturalmente.
manipular ou usurpar identidades; Pensando especificamente o trabalho do professor, o
• Consequências negativas derivadas do excesso de construtivismo é uma concepção útil à tomada de deci-
informação e aos perigos da “infoxicação”; sões compartilhadas, que pressupõe o trabalho em equipe
• “Brechas digitais” e o aparecimento de novas fra- na construção de projetos didáticos e rotinas de trabalho.
turas sociais em torno das TIC. Por fim, é importante ressaltar que o construtivismo não
é um referencial acabado, fechado a novas contribuições;
Fonte: http://resenha-fisica.blogspot. sua construção acontece no âmbito da situação de ensino/
com/2011/11/coll-cesar-monereo-carles-educacao-e. aprendizagem e a ela deve servir.
html
2. Disponibilidade para a aprendizagem e sentido da
aprendizagem (Isabel Solé)A aprendizagem é motivada por
um interesse, uma necessidade de saber. Mas o que de-
COLL, CÉSAR. O CONSTRUTIVISMO NA SALA termina esse interesse, essa necessidade? Não é possível
DE AULA. SÃO PAULO: EDITORA ÁTICA, 1999. elaborar uma única resposta a essa questão. No entanto,
(CAPÍTULOS 4 E 5). um bom caminho a seguir é compreender que além dos
aspectos cognitivos, a aprendizagem envolve aspectos afe-
tivo-relacionais. Ao construir os significados pessoais sobre
a realidade, constrói-se também o conceito que se tem de
1. Os professores a e concepção construtivista (Isabel você mesmo (autoconceito) e a estima que se professa (au-
Solé e César Coll)O construtivismo não é uma teoria, e sim to-estima), características relacionadas ao equilíbrio pes-
uma referência explicativa, composta por diversas contri- soal. O autoconceito e a auto-estima influenciam a forma
buições teóricas, que auxilia os professores nas tomadas de como o aluno constrói sua relação com os outros e com o
decisões durante o planejamento, aplicação e a avaliação conhecimento; reconhecer essa dimensão afetivo-relacio-
do ensino. Ou seja, o construtivismo não é uma receita, um nal é imprescindível ao processo educativo.
manual que deve ser seguido à risca sem se levar em conta Em relação à motivação para conhecer, é necessário
as necessidades de cada situação particular. Ao contrário, compreender a maneira como alunos encaram a tarefa de
os profissionais da educação devem utilizá-lo como auxílio estudar, que pode ser dividida em dois enfoques: o enfo-
na reflexão sobre a prática pedagógica; sobre o como se que profundo e o enfoque superficial. No enfoque profun-
aprende e se ensina, considerando-se o contexto em que do, o aluno se interessa por compreender o significado do
os agentes educativos estão inseridos. Essas afirmações que estuda e relaciona os conteúdos aos conhecimentos
demonstram a necessidade de se compreender os conteú- prévios e experiências. Já no enfoque superficial, a intenção
dos da aprendizagem como produtos sociais e culturais, o do aluno limita-se a realizar atarefas de forma satisfatória,
professor como agente mediador entre indivíduo e socie- limitando-se ao que o professor considera como relevan-
dade, e o aluno como aprendiz social. te, uma resposta desejável e não a real compreensão do
Tendo em vista uma educação de qualidade, enten- conteúdo. Importante ressaltar que o enfoque com que o
dida como aquela que atende a diversidade, o processo aluno aborda a tarefa pode variar; dessa forma, o enfoque
educativo não é responsabilidade do professor somente. profundo pode ser a abordagem de uma relação a uma
Desse modo, o trabalho coletivo dos professores, normas tarefa e o enforque superficial em relação a outras pelo
e finalidades compartilhadas, uma direção que tome de- mesmo aluno. A inclinação dos alunos para um enfoque ou
14
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
outro vai depender, dentre outros fatores, da situação de O que faz com que o aluno e a aluna aprendam os conteú-
ensino da qual esse aluno participa. Entretanto, o enfoque dos escolares? A natureza ativa e construtiva do conheci-
profundo pode ser trabalhado com os alunos de maneira mento (Teresa Mauri)
intencional. Para isso, é preciso conhecer as características Entre as concepções de ensino e aprendizagem susten-
da tarefa trabalhada, o que se pretende com determinado tadas pelos professores, destacam-se três, cada uma consi-
conteúdo e a sua necessidade. Tudo isso demanda tempo, derando que aprender é:
esforço e envolvimento pessoal. Outro ponto importante 1) Conhecer as respostas corretas: Nessa concepção
a ser ressaltado é que o professor, ao entrar numa sala de entende-se que aprender significa responder satisfatoria-
aula, carrega consigo certa visão de mundo e imagem de si mente as perguntas formuladas pelos professores. Refor-
mesmo, que influenciam seu trabalho e sua relação com os çam-se positivamente as respostas corretas, sancionando-
alunos. Da mesma forma, os alunos constroem represen- -as. Os alunos são considerados receptores passivos dos
tações sobre seus professores. Reconhecer esses aspectos reforços dispensados pelos professores.
afetivos e relacionais é fundamental para motivação e in- 2) Adquirir os conhecimentos relevantes: Nessa con-
teresse pela construção de conhecimento, tendo em vista cepção, entende-se que o aluno aprende quando apreende
que o autoconceito e a auto-estima, ligados às representa- informações necessárias. A principal atividade do professor
ções e expectativas sobre o processo educativo, possuem é possuir essas informações e oferecer múltiplas situações
um papel mediador na aprendizagem escolar. (explicações, leituras, vídeos, conferências, visitas a museus)
As interações, no processo de construção de conheci- nas quais os alunos possam processar essas informações.
mento, devem ser caracterizadas pelo respeito mútuo e o O conhecimento é produto da cópia e não processo de
sentimento de confiança. É a partir dessas interações, das significação pessoal.3) Construir conhecimentos: Os con-
relações que se estabelecem no contexto escolar, que as teúdos escolares são aprendidos a partir do processo de
pessoas se educam. Levar isto em consideração é com- construção pessoal do mesmo. O centro do processo edu-
preender o papel essencial dos aspectos afetivo-relacionais cativo é o aluno, considerado como ser ativo que aprende
no processo de construção pessoal do conhecimento sobre a aprender. Auxiliar a construção dessa competência é o
a realidade. papel do professor.
3. Um ponto de partida para a aprendizagem de novos A primeira concepção está ligada às concepções tra-
conteúdos: os conhecimentos prévios (Mariana Miras) dicionais, diferenciada em relação às duas restantes por
Quando se inicia um processo educativo, as mentes enfatizar o papel supremo do professor na elaboração
dos alunos não estão vazias de conteúdo como lousas das perguntas. As outras duas concepções, pelo contrário,
em branco. Ao contrário, quando chegam à sala de aula ocupam-se de como os alunos adquirem conhecimentos;
os alunos já possuem conhecimentos prévios advindos da no entanto, entendem de formas diferentes esse proces-
experiência pessoal. Na concepção construtivista é a partir so. Compreendendo-se que aprender é construir conhe-
desses conhecimentos que o aluno constrói e reconstrói cimentos, identifica-se a natureza ativa dessa construção
novos significados. Identificam-se alguns aspectos globais e a necessidade de conteúdos ligados ao ato de aprender
como elementos básicos que auxiliam na determinação do conceitos, procedimentos e atitudes. Nesse sentido, é pre-
estado inicial dos alunos: a disposição do aluno para reali- ciso organizar e planejar intencionalmente as atividades
zar a tarefa proposta, que conta com elementos pessoais e didáticas tendo em vista os conteúdos das diferentes di-
interpessoais com sua auto-imagem, auto-estima, a repre- mensões do saber: procedimental (como a observação de
sentação e expectativas em relação à tarefa a ser realiza- plantas); conceitual (tipos e parte das plantas); e atitudinal
da, seus professores e colegas; capacidades, instrumentos, (de curiosidade, rigor, formalidade, entre outras). O traba-
estratégias e habilidades compreendidas em certos níveis lho com esses conteúdos demonstra a atividade complexa
de inteligência, raciocínio e memória que possibilitam a que caracteriza o processo educativo, trabalho que demanda
realização da tarefa. Os conhecimentos prévios podem ser o envolvimento coletivo na escola. 5. Ensinar: criar zonas de
compreendidos como esquemas de conhecimento, ou seja, desenvolvimento proximal e nelas intervir (Javier Onrubia)O
a representação que cada pessoa possui sobre a realidade. ensino na concepção construtivista deve ser entendido como
É importante ressaltar que esses esquemas de conhecimen- uma ajuda ao processo de ensino-aprendizagem, sem a qual
to são sempre visões parciais e particulares da realidade, o aluno não poderá compreender a realidade e atuar nela.
determinadas pelo contexto e experiências de cada pessoa. Porém, deve ser apenas ajuda porque não pode substituir a
Os esquemas de conhecimento contêm, ainda, diferentes atividade construtiva do conhecimento pelo aluno.
tipos de conhecimentos, que podem ser, por exemplo, de A análise aprofundada do ensino enquanto ajuda leva
ordem conceitual (saber que o coletivo de lobos é alcatéia), ao conceito de “ajuda ajustada” e de zona de desenvol-
normativa (saber que não se deve roubar), procedimental vimento proximal (ZDP). No conceito de “ajuda ajustada”
(saber como se planta uma árvore). Esses conhecimentos observa-se que o ensino, enquanto ajuda o processo de
são diferentes, porém não devem ser considerados melho- construção do conhecimento, deve ajustar-se a esse pro-
res ou piores que outros. Para o ensino coerente, é preciso cesso de construção. Para tanto, conjuga duas grandes ca-
considerar o estado inicial dos alunos, seus conhecimentos racterísticas:
prévios e esquemas de conhecimentos construídos. Esse 1) a de levar em conta os esquemas de conhecimen-
deve ser o início do processo educativo: conhecer o que se to dos alunos, seus conhecimentos prévios em relação aos
tem para que se possa, sobre essa base, construir o novo.4. conteúdos a serem trabalhados;
15
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
2) e, ao mesmo tempo, propor desafios que levem os trução pessoal que o aluno realiza com a ajuda de outras
alunos a questionarem esses conhecimentos prévios. Ou pessoas; processo que necessita da contribuição da pessoa
seja, não se ignora aquilo que os alunos já sabem, porém que aprende, implicando o interesse, disponibilidade, co-
aponta-se para aquilo que eles não conhecem, não rea- nhecimentos prévios e experiência; implica também a fi-
lizam ou não dominam suficientemente, incrementando gura do outro que auxilia na resolução do conflito entre os
a capacidade de compreensão e atuação autônoma dos novos saberes e o que já se sabia, tendo em vista a realiza-
alunos. O conceito de zona de desenvolvimento proximal ção autônoma da atividade de aprender a aprender.
(ZDP) foi proposto pelo psicólogo soviético L. S. Vygotsky, O problema metodológico para o fazer educativo não
partindo do entendimento de que as interações e relações se encontra no âmbito do “como fazemos”, mas antes na
com outras pessoas são a origem dos processos de apren- compreensão do “que fazemos” e “por quê”. Na elabora-
dizagem e desenvolvimento humano. Nesse sentido, a ZDP ção das sequências didáticas que devem auxiliar a prática
pode ser identificada como o espaço no qual, com a ajuda educativa deve-se levar em consideração os objetivos e
dos outros, uma pessoa realiza tarefas que não seria capaz os meios que se tem para facilitar o alcance desses obje-
de realizar individualmente. A contribuição do conceito de tivos.7. A avaliação da aprendizagem no currículo escola:
ZDP está relacionada à possibilidade de se especificar as uma perspectiva construtivista (César Coll e Elena Martín)
formas em aula, ajudando os alunos no processo de signi- A questão da avaliação do processo educativo tem
ficação pessoal e social da realidade. sido muito discutida. Com o desenvolvimento de propos-
Para o trabalho com os conceitos acima arrolados, in- tas teóricas, metodológicas e instrumentais, expressões e
dicam-se os seguintes pontos: conceitos como o de avaliação inicial, formativa e somató-
1) Inserir atividades significativas na aula; ria povoam o vocabulário educacional. Junto a isso, cons-
2) Possibilitar a participação de todos os alunos nas di- truiu-se o consenso de que não se deve avaliar somente
ferentes atividades, mesmo que os níveis de competência, o aluno, mas também a atuação do professor, o planeja-
conhecimento e interesses forem diferenciados; mento de atividades e também sua aplicação. No entanto,
3) Trabalhar com as relações afetivas e emocionais; muitas questões ainda se encontram sem respostas e se
4) Introduzir modificações e ajustes ao logo da realiza- configuram como desafios aos envolvidos com o tema.
ção das atividades; Uma primeira questão a ser levantada é a relação en-
5) Promover a utilização e o aprofundamento autôno- tre a avaliação e uma série de decisões relacionadas a ela,
mo dos conhecimentos que os alunos estão aprendendo; como promoção, atribuição de crédito e formatura de alu-
6) Estabelecer relações entre os novos conteúdos e os nos. Essas decisões não fazem parte, em sentido estrito,
conhecimentos prévios dos alunos;
do processo de avaliação, porém essas decisões devem ser
7) Utilizar linguagem clara e objetiva evitando mal-en-
coerentes com as avaliações realizadas. O desafio é alcan-
tendidos ou incompreensões;
çar a máxima coerência entre os processos avaliativos e as
8) Recontextualizar e reconceitualizar a experiência.
decisões a serem tomadas. Todo processo avaliativo deve
Trabalhar a partir dessas concepções caracteriza desa-
levar em conta os elementos afetivos e relacionais da ava-
fios à prática educativa que não está isenta de problemas
liação. Desse modo, o planejamento das atividades avalia-
e limitações. No entanto, entende-se que esse esforço,
mesmo que acompanhado de lentos avanços, é decisivo tivas parte do entendimento de que o aluno atribui certo
para a aprendizagem e o desenvolvimento das escolas e sentido a essa atividade, sentido que depende da forma
das aulas. como a avaliação lhe é apresentada e também de suas ex-
6. Os enfoques didáticos (Antoni Zabala) periências e significações pessoais e sociais da realidade.
A concepção construtivista considera a complexidade É preciso levar em conta também o caráter sempre parcial
e as distintas variáveis que intervêm nos processos de en- dos resultados obtidos por meio das avaliações, devido à
sino na escola. Por isso, não receita formas determinadas complexidade e diversificação das situações de aprendiza-
de ensino, mas oferece elementos para a análise e reflexão gem vivenciadas pelos alunos. Assim, as práticas avaliativas
sobre a prática educativa, possibilitando a compreensão de privilegiadas devem ser aquelas que consideram a dinâmi-
seus processos, seu planejamento e avaliação. Um méto- ca dos processos de construção de conhecimentos.
do educacional sustenta-se a partir da função social que Ao contrário das concepções que buscam neutralizar
atribui ao ensino e em determinadas idéias sobre como as as influências do contexto nos resultados das avaliações, a
aprendizagens se produzem. Nesse sentido, a análise das concepção construtivista ressalta a necessidade de consi-
tarefas que propõem e conteúdos trabalhados, explícita ou derar as variáveis proporcionadas pelos diversos contextos
implicitamente (currículo oculto), requer a compreensão particulares. Para isso, recomenda-se a utilização de uma
do determinante ideológico que embasam as práticas dos gama maior possível de atividades de avaliação ao longo
professores. A discriminação tipológica dos conteúdos, ou do processo educativo.
seja, a análise dos conteúdos trabalhados segundo a na- Partindo da consideração que é na prática que se uti-
tureza conceitual, procedimental ou atitudinal, mostra-se liza o que se aprende, um dos critérios, que devem ser le-
como importante instrumento de entendimento do que vantados nas atividades avaliativas, é o menor ou maior
acontece na sala de aula. valor instrumental das aprendizagens realizadas, ou seja,
Outro instrumento importante para a compreensão do em que grau pode-se utilizar o que se aprendeu, o que se
processo educativo é a concepção construtivista da apren- construiu na significação dos saberes. Na medida em que
dizagem, que estabelece a aprendizagem como uma cons- aprender a aprender significa a capacidade para adquirir,
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
de forma autônoma, novos conhecimentos, avaliar os as- cativa com crianças de todas as idades e com a formação
pectos instrumentais, é de suma importância a qualidade de professores na universidade, a intenção de todos é a de
da educação. Por fim, ressalta-se a necessidade da aborda- enunciar concepções acerca de teorias e práticas do ensino
gem da avaliação em estreita ligação com o planejamento da arte na contemporaneidade. O relato das experiências
didático e o currículo escolar. Dessa forma, “o quê”, “como” dos autores, acompanhado de reflexões e exemplos do co-
e “quando” ensinar e avaliar se unem configurando uma tidiano da Educação Infantil, é um convite aos professores
prática educativa global, na qual as atividades avaliativas e adultos que lidam com as crianças nas escolas para re-
não estão separadas das demais atividades de construção pensarem suas próprias concepções e práticas pedagógi-
de conhecimento pelos alunos. cas cotidianas a partir das temáticas abordadas ao longo
do livro. Da mesma forma que os theoros, da Grécia antiga,
Fonte: http://educacadoresemluta.blogspot. observavam e relatavam para suas comunidades o que
com/2009/12/coll-cesar-e-outros-o-construtivismo-na_14. viam em diferentes lugares para que os moradores compa-
html rassem seus relatos com suas próprias experiências e assim
ampliassem seus conhecimentos, os autores trazem aqui
suas reflexões baseadas em observações, acontecimentos
e pesquisas realizadas ao longo de vários anos. É importan-
CUNHA, SUSANA RANGEL VIEIRA (ORG.). te dizer que o livro “As artes no universo infantil” é de cará-
AS ARTES NO UNIVERSO INFANTIL. PORTO ter pedagógico, mas não pretende ser uma “receita mági-
ALEGRE: MEDIAÇÃO, 2017. ca” de como planejar e desenvolver situações de aprendi-
zagem envolvendo as artes no espaço escolar ou fora dele.
Para além disso, os autores se propõem a analisar as de-
mandas expressivas das crianças e, com isso, indicar possi-
Apresentação bilidades de trabalho pedagógico, mas confiando na criati-
Desenhar, brincar, imaginar, sonhar. Manchar, riscar, vidade de cada leitor para ir além do que aqui está relata-
construir, encantar-se. Transformar um fragmento de vidro do. Saliento, ainda, que, no Brasil, bem como em grandes
em uma joia rara, rabiscos em dragão alado, ruídos em me- centros internacionais de educação, são poucas as obras
lodias, tecidos em roupas de princesas. Modos singulares que enfocam as linguagens expressivas das artes ou os
de ver, sentir, expressar-se e (re)inventar o mundo. A Arte! processos de criação na primeira infância tanto no que diz
A arte faz de conta. Crianças e artistas fazem de conta que respeito aos modos como as crianças elaboram seus mo-
um rabisco, um objeto ou um fragmento são outras coisas. dos de expressão quanto no que se refere a práticas em
Tanto as crianças quanto aqueles adultos que persistem em sala de aula. Além da relevância dessa temática e da escas-
modificar a ordem estabelecida do mundo compartilham sez de publicações nessa área, saliento a forma interativa
um pensamento mágico. As crianças percebem o mundo e com que os autores constituíram seus capítulos, que fará
dão sentido a ele por meio de formas singulares. Utilizam com que leitores e leitoras sintam-se dialogando com eles
seus sentidos de forma mais aguçada do que a maioria dos por meio de seus textos. No capítulo de abertura, a partir
adultos que deixaram para trás essa capacidade humana de uma longa experiência como professora, pesquisadora
de ver, imaginar e simbolizar. No entanto, por vários moti- e artista, procuro desenvolver uma ampla reflexão sobre a
vos, entre eles as concepções e ações educativas inadequa- necessidade de as crianças pequenas desenvolverem as
das em um determinado período da infância, a maioria das linguagens gráfico-plásticas, como o desenho, a pintura, o
crianças, em torno dos cinco anos, abandona seus múlti- tridimensional. Mostro como as crianças vão constituindo
plos processos de elaborar enunciados poéticos e deixa de as linguagens expressivas e aponto possibilidades do tra-
lado os desenhos, a misturada de tintas, a musicalidade balho pedagógico conforme as demandas infantis. Minhas
casual, os movimentos corporais, as descobertas por meio reflexões partem de situações concretas vivenciadas em
das brincadeiras e do faz de conta. O que fazer para que as uma oficina de arte para crianças e na Supervisão de Está-
crianças, ao crescerem, permaneçam expressando seus gio do Curso de Pedagogia. Dialogando com o capítulo 1,
pontos de vista para além da linguagem verbal falada e Sandra Regina Simonis Richter, professora e pesquisadora,
escrita e de forma ainda mais expressiva? Este livro, direcio- aborda, no capítulo 2, a especificidade da pintura e da ex-
nado a professores de Educação Infantil, traz uma ampla e ploração da cor pelas crianças. A autora defende que a
completa reflexão sobre os processos expressivos das ação de pintar é extremamente importante como estraté-
crianças em diferentes linguagens : artes visuais, jogo sim- gia de organização e constituição de um pensamento sim-
bólico, teatro, música e dança e apresenta sugestões de bólico. Saliento que são quase inexistentes, no Brasil e no
práticas pedagógicas aos professores adequadas a diferen- exterior, estudos sobre como as crianças elaboram a lin-
tes contextos educativos. Para tanto, esse renomado e ex- guagem pictórica. Desse modo, sua contribuição teórico-
periente grupo de professores/artistas/pesquisadores em -prática é de grande relevância no cenário da Educação
arte e sobre o ensino da arte, apresenta neste livro as po- Infantil. Nos capítulos 3 e 4, a temática desenvolvida por
tencialidades de as crianças constituírem seus próprios Vera Lúcia Bertoni dos Santos, artista, pesquisadora e pro-
modos de expressar o mundo, de imaginar e ressignificar o fessora de teatro, e por Luiz Fernando de Souza, também
que lhes está sendo oferecido pelas produções culturais pesquisador e professor de teatro em instituição infantil, é
endereçadas a elas. A partir de uma vasta experiência edu- sobre a expressão dramática infantil e a pedagogia do tea-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Fonte: https://www.editoramediacao.com.br/livro/as-
-artes-no-universo-infantil/3/214
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Na década de 1970, o conceito de educação pautava- possuam relações próximas com os conteúdos, sem ter a
-se em ferramentas que facilitassem a compreensão das concepção de que o aprender está relacionado a repetição
disciplinas, na escolha dos materiais que poderiam contri- sem significado.
buir para a melhora do ensino, cada matéria com uma série
de conceitos característicos, com especialistas responsá- Conceito de sociedade aberta e a educação inter-
veis em transmiti-los. Cada disciplina possuía uma função a disciplinar
desempenhar, um tijolo colocado em uma grande parede. Para compreender o conceito de interdisciplinaridade
Na década de 1980, nota-se que os conteúdos precisa- e a força que exerce a união das disciplinas na Educação,
ram ser configurados e apresentados por meio de uma va- farei uma breve explicação sobre a formação das sociedade
riedade de linguagens (verbal, escrita, gráfica e audiovisual) abertas. Baseado em Morin (2002), dizemos que, quando
para abrir aos estudantes os processos de pensamento de as pessoas se reúnem, existe sinergia, pois os integrantes
ordem superior necessários para que compreendessem e possuem os mesmos objetivos, provocando efeito multipli-
aplicassem o conhecimento a outras realidades. Median- cador, pois juntas conseguem atingir resultados melhores
te essa conexão, vislumbramos relações conceituais entre do que se fizessem seus trabalhos individualmente. Essa si-
as matérias curriculares e a oportunidade de transferir a nergia faz com que a organização obtenha melhores resul-
outros contextos. Dessa maneira, a aprendizagem não se tados e recursos. Morin utiliza Parsons (1960) para relatar a
contempla como uma sequência de passos para alcançar formação das organizações:
uma meta na qual se acumula informação, mas sim como unidades sociais (ou agrupamentos humanos) inten-
um processo complexo mediante o qual o conhecimento cionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir
se rodeia e se situa para aprendê-Io. objetivos específicos. Isso significa que as organizações são
Em tempos atuais, ao perguntar aos professores qual propositadas e planejadamente construídas e elaboradas
o aluno ideal ou qual aluno gostariam de ajudar a formar, para atingir determinados objetivos e também são recons-
provavelmente não haverá discordância nas respostas. De truídas, isto é, reestruturadas e redefinidas à medida que
acordo com um discurso enlatado, certamente diriam que os objetivos são atingidos ou à medida que se descobrem
é um aluno autônomo, consciente, reflexivo, participativo, meios melhores para atingi-los com menor custo e menor
cidadão atuante, feliz, cooperativo e que respeite as dife- esforço (p. 17).
renças. Mas o que vemos atualmente é uma educação que As relações conjuntas englobam, segundo Morin
prioriza o aprendizado pela aquisição de conteúdos, muitas (2002), “o compreender, que significa, intelectualmente,
vezes formando alunos ouvintes, passivos, “sendo prepa- aprender em conjunto, em sua gene ‘comprehendere’, tra-
rados para o futuro”, esquecendo-se do agora. Muitas es- duzido ao português, “abraçar juntos”.
colas preocupam-se com o desenvolvimento cognitivo de A interdisciplinaridade é esse abraçar, trazendo o aluno
seus alunos – o que seria perfeitamente louvável se esta para o centro do aprendizado, preocupando-se em ensi-
não fosse a única preocupação. nar, valorizando todos os profissionais como educadores
Inspirado nas possíveis mudanças na Educação Física, que educam o corpo inteiro e não um corpo fragmentado.
relacionando-a às outras disciplinas, recorri à Pedagogia de
Projetos, que propõe difundir a concepção de conhecimen- A diferença entre multidisciplinaridade e interdis-
to escolar, trazendo o aprender baseado na integração das ciplinaridade
“disciplinas” com o mundo, os interesses de aprendizado A multidisciplinaridade ocorre a partir de um tema que
de cada grupo e velocidade de aprendizado de cada aluno. é abordado por diversas disciplinas, sem relação direta en-
Ao pensarmos em sujeito integral, devemos conce- tre elas. Com a multidisciplinaridade, todos falam do mes-
ber um conjunto de áreas, priorizando o aprender pelas mo tema, sem relações, ou seja, “cada um faz sua parte”;
experiências, com interação com o meio e o outro, uma as abordagens são específicas de cada disciplina e não há
educação provocadora de desafios, visando à resolução de interligação.
problemas, expandindo-se também para as áreas motora, A interdisciplinaridade, segundo Fazenda (1994), carac-
afetiva e social. teriza-se pela articulação entre teorias, conceitos e ideias
O presente trabalho procura responder à seguinte em constante diálogo entre si. Com ela, duas ou mais dis-
questão: como a Educação Física, por meio de projetos in- ciplinas interagem em seus conteúdos, aprofundando os
terdisciplinares, pode proporcionar aprendizados significa- conhecimentos.
tivos, no contexto escolar? Para Fazenda (2001), a interdisciplinaridade é funda-
Apresento a Pedagogia de Projetos como uma ferra- mental numa convergência que busque a educação plena
menta que considero consistente na educação atual – não do aluno. É a tentativa de superação da fragmentação do
como a salvação da educação brasileira ou uma receita a saber, num projeto de ensino voltado para o saber integral.
ser seguida, pois necessita adaptações a cada contexto O educar que esperamos é aquele em que exista co-
para que seja eficaz. Espero proporcionar aos professores municação entre os envolvidos. Não adianta todos fazerem
de Educação Física, Pedagogia e outras disciplinas instru- seu trabalho em torno de um tema central sem comuni-
mentos que priorizem o educar como um todo, rompen- cação entre eles, sejam pessoas de qualquer segmento; a
do barreiras históricas de que a Educação Física cuida dos informação e a união de esforços trazem benefícios incon-
corpos enquanto outras disciplinas cuidam da mente. Pro- táveis.
ponho auxiliar a sociedade na formação de pessoas que
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
As mudanças na visão da escola e do ensinar A nova concepção de educação preza a união entre
A educação brasileira passou por grandes mudanças, disciplinas “cognitivas” e “corporais”, mostra que somos
segundo Eduardo O. C. Chaves, professor titular de Filo- todos educadores, não importa se na quadra ou na sala de
sofia da Educação da Universidade Estadual de Campinas aula. Como nas relações sociais, a escola deve proporcionar
(Unicamp) e consultor do Instituto Ayrton Senna (IAS). Para a união de forças para que cheguemos a um grande obje-
facilitar a transmissão e a absorção do conhecimento, os tivo, que no nosso caso é formar pessoas.
seres humanos dividiram o conhecimento em vários com- Os educadores citados consideram o aluno como parte
partimentos, comumente chamados disciplinas: Comuni- mais importante do processo educativo visando sua for-
cação e Expressão, Matemática, Ciências, Estudos Sociais, mação integral, mudança principal na nova roupagem da
Artes etc. ou, alternativamente, Português, Matemática, Fí- educação brasileira. Baseados nestes preceitos, trataremos
sica, Química, Biologia, História, Geografia, Artes, Filosofia, mais profundamente a Pedagogia de Projetos.
para não mencionar Sociologia, Antropologia, Economia
etc. Pedagogia de Projetos
Segundo Miguel Arroyo (1994, p. 31), À luz das mudanças na visão de Educação, surge a Pe-
se temos como objetivo o desenvolvimento integral dagogia de Projetos, que procura promover a integração e
dos alunos numa realidade plural, é necessário que pas- a cooperação entre professores e alunos, rompendo a rigi-
semos a considerar as questões e problemas enfrentados dez da sala de aula e transformando todo o ambiente es-
pelos homens e mulheres de nosso tempo como objeto colar, a fim de resolver problemas de interesse dos alunos
de conhecimento. O aprendizado e a vivência das diversi- e relacionados à vida. Reafirmado por Boutinet (1993), em
dades de raça, gênero, classe, a relação com o meio am- uma «cultura de projeto» todos devem estar familiarizados
biente, a vivência equilibrada da afetividade e sexualidade, com a idéia de projeto, tanto alunos quanto professores.
o respeito à diversidade cultural, entre outros, são temas Na vida, os conteúdos são todos integrados; ao de-
cruciais com que, hoje, todos nós nos deparamos e, como sempenhar qualquer atividade social ou profissional, uti-
tal, não podem ser desconsiderados pela escola. lizamos concomitantemente saberes diversos: uma inspe-
tora na escola não apenas “vigia” alunos, também atua na
Um movimento chamado Escola Nova, inicialmente
educação, no auxilio da higiene pessoal dos alunos meno-
comandado por Ovide Decroly (1871-1932), Maria Mon-
res e na resolução de conflitos entre os alunos. Da mesma
tessori (1870-1952) e John Dewey (1859-1932), criticou a
forma, o porteiro não apenas recepciona os alunos, traba-
escola tradicional, discutindo sua função, a do professor, a
lha na administração do fluxo de pessoas na escola, orienta
do aluno e a organização do trabalho pedagógico.
os pais sobre como proceder em determinados momentos.
Os escolanovistas pregaram a educação que priorizava
Na Educação, para facilitar a aquisição de conteúdos, seria-
a globalização do ensino, o atendimento ao interesse e à
ram o aprendizado dos conhecimentos, mas isso tem, por
participação dos alunos, uma nova organização didática e
outro lado, destituído muitas vezes esses conhecimentos
reformulação da sala de aula. de seu significado.
Em 1931, Fernando Sáinz, professor dos movimentos Segundo os preceitos da interdisciplinaridade junta-
renovadores espanhóis, quis responder a uma pergunta: mente com a Pedagogia de Projetos, podemos dar novos
“por que não aplicar à Escola Fundamental o que se faz na significados ao processo de ensino-aprendizagem, pois o
esfera dos negócios ou no ensino superior especializado? aprender não é apenas decorar determinada quantidade
Por que não organizar a Escola seguindo um plano de ta- de conteúdo. Nessa postura, o aprendizado e o conheci-
refas análogo ao que se desenvolve fora, na casa, na rua, mento são construídos em estreita relação com o contexto
na sociedade?” O que se pretende é que o aluno não sinta em que são utilizados (a vida real), unindo o cognitivo, o
diferença entre a vida exterior e a vida escolar; por isso, os afetivo, o social, o motor e o sentimento, ao aproximar-se
projetos devem estar próximos à vida. do conhecimento. Embasado por Nogueira (2001),
Surge então uma Pedagogia que oferece a vantagem Diferente dos cansativos e anacrônicos trabalhos de
de atuar concomitantemente com o processo de desen- casa e das pesquisas que se transformam no máximo em
volvimento profissional do professor e sobre o processo “bons” exercícios de caligrafia, já que elas refletem apenas
de aprendizagem dos alunos. Essa proposta implica apren- a cópia de centenas de enfadonhas palavras com os con-
der na prática (aprender fazendo), ousar trabalhar de uma teúdos indo além da forma conceitual e articulando dife-
nova maneira, o que certamente abrirá novas perspectivas rentes áreas do conhecimento (p. 79).
de ensino. A Pedagogia de Projetos pressupõe características de
Rosseau (apud Almeida, 1998, p. 22) demonstrou que Educação diferentes da noção de que todas as crianças
a criança tem maneiras de pensar e de sentir que lhe são devam aprender as mesmas coisas pelos mesmos méto-
próprias; demonstrou que não se aprende nada senão por dos, nos mesmos ritmos e nos mesmos momentos, inde-
meio de uma conquista ativa. pendentemente de seus interesses, suas habilidades, sua
Freire (1994) pede que, quando os pais matriculem cultura; essa aprendizagem é exercida com o acompanha-
seus filhos na escola, matriculem também seus corpos, mento pessoal, o que explica por que, a partir dos mesmos
rompendo a visão de que o aluno é em momentos corpo e saberes, há sempre lugar para a construção de inúmeros
em momentos cérebro. Corpo, consciência e sentimentos significados, e não sua uniformidade.
estão sempre juntos.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Principais características na elaboração de um pro- Conhecer o local no qual irei intervir é fundamental; as
jeto educacional características particulares podem levar o projeto ao suces-
Aqui estão alguns passos para a elaboração de um so ou ao fracasso: um projeto em um bairro pode ter su-
projeto interdisciplinar desde sua criação até a avaliação. cesso total e no bairro vizinho pode demonstrar caracterís-
Um projeto é uma sucessão de atos coerentes; um pas- ticas ofensivas a determinado grupo; por isso é necessária
so prepara a necessidade do seguinte, e na qual cada um uma espécie de “etnografia”, ou seja o conhecimento das
deles se acrescenta ao que já se fez e o transcende de um peculiaridades do local trabalhado.
modo cumulativo. No planejamento do projeto é importante tomar como
Desde seu início, considera-se que não há uma única preocupações básicas os seguintes itens:
maneira de realizar o Método de Projetos. Sáinz (1950) dis- • Trabalhar com temas abrangentes e ricos;
tingue quatro possibilidades: • Evitar enfatizar uma única disciplina, procurando
a. globais, nas quais se fundem todas as matérias, sempre promover a interdisciplinaridade;
desenvolvendo projetos complexos em torno de núcleos • Trabalhar o máximo de materiais possíveis, apro-
temáticos como família, lojas, cidades; veitando toda a estrutura do local;
b. por atividades: de jogo, para adquirir experiência • Planejar atividades que trabalhem com diferentes
social e na natureza e com finalidade ética; formas de expressões, como: redação, dramatização, artes,
c. por matérias vinculadas às disciplinas escolares; música, atividades corporais, apresentações orais etc.
d. de caráter sintético. Fala-se também de projetos Quando estamos envolvidos no trabalho, muitas ve-
simples e complexos, relacionados às matérias ou com a zes não nos damos conta do percurso trilhado; o trabalho
experiência próxima, breves ou extensos. de síntese nos dá os parâmetros de quanto já fizemos e o
Conhecendo a característica do projeto a ser executa- quanto devemos fazer.
do, é necessário conhecer os caminhos a percorrer: A síntese pode ser uma amostra do processo, uma
• Escolha do objetivo central do projeto; apresentação do que foi trabalhado pelo projeto, um resu-
• Planejamento; mo das experiências adquiridas. A apresentação pode ser
• Execução; feita por feiras, apresentações artísticas, exposições e fil-
• Avaliação e divulgação dos trabalhos.
magens, entre outras formas. O registro pode ser feito por
O problema de estudo é o ponto de partida do pro-
fotos, textos escritos, filmados, relatos feitos pelos alunos
jeto, antes mesmo do tema. Significa o que eu pretendo
em forma de diário, portfólio.
responder ao final do projeto. É fundamental que todos
A avaliação deve acontecer não somente no final do
tenham conhecimento do problema a ser resolvido, pois
processo, mas durante todo ele, continuamente. A avalia-
todo o projeto irá girar sobre esses objetivos.
ção dos projetos pretende ser instrumento de análise para
Algumas técnicas para escolha do problema de estudo
são: debates, rodas de conversa, questionário de análise aprimoramento, e não como instrumento seletivo, sepa-
das necessidades da comunidade, análise dos conteúdos rando os melhores dos piores.
programáticos, explanação e votação de temas; assim to- Segundo Janssen (2003, p. 16), “há uma emergente ne-
dos se sentem com poder de decisão no projeto. cessidade em ‘desenvolver uma nova postura avaliativa’, e
Ao escolher o tema do projeto, podemos pensar que o a prática pedagógica deve estar sendo revisada à luz dos
tema deva partir exclusivamente dos alunos para não de- dados que emergem da avaliação”.
monstrar imposição, ou que, pela experiência do professor, A avaliação inicial é importante, pois poderemos co-
deva partir dele, estimulando os alunos a desenvolver-se e nhecer o público com quem estamos interagindo; com a
a buscar conhecimento; o critério a ser seguido depende avaliação é possível planejar melhor o processo de ensino,
do grau de maturidade dos educandos. com informações de grande valor para seu planejamento
Hernández (1998) alerta que não basta o tema ser “do posterior; por isso, é recomendado seu uso, para criar pa-
gosto” dos alunos. Se não despertar a curiosidade por no- râmetros de trabalho.
vos conhecimentos, nada feito. “Se fosse esse o caso, liga- A avaliação contínua deve ser feita em conjunto, como
ríamos a televisão num canal de desenhos animados”, ex- roda de conversa e análise: se o projeto tem trazido signi-
plica. Por isso, uma etapa importante é a de levantamento ficados importantes para o processo e o que poderia ser
de dúvidas e de definição de objetivos de aprendizagem. modificado, apresentando sugestões.
O tema pode aparecer da curiosidade dos alunos em Outro instrumento eficaz é o diário de campo. Ao
conhecer algo, de uma característica particular da escola, da término da aula, o aluno e o professor fazem anotações,
comunidade, do grupo em particular ou da atualidade. Inde- sempre levando em consideração os objetivos iniciais, re-
pendentemente da origem do tema do projeto, o importante lacionando às atividades realizadas (atividade programa-
é o envolvimento de todos os participantes; ele dará vida ao da e realizada), explanando as dificuldades encontradas, o
processo, o que importa é a significância do tema. que acharam significativo, ou seja, tudo que considerem
No desenvolvimento do projeto é necessário planeja- importante para ser discutido com os alunos e outros edu-
mento do caminho percorrido; um bom planejamento tor- cadores.
na mais sólido o caminho a ser percorrido. Nesse momen- A educação deve ser emancipatória, analisando facili-
to, as metas devem ser estabelecidas, os alunos devem ter dades e necessidades; a avaliação tem como objetivo criar
claras essas metas e as prioridades para acompanhá-las e instrumentos para verificar o que deve ser melhorado. O
cobrá-las. erro relacionado à avaliação é que ela não pode ser consi-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
derada forma de seleção ou punição, mas, sim, instrumen- Demonstrava grande preocupação com o grande nú-
to de análise para novas possibilidades de conhecimento, mero de adultos analfabetos. Participou do movimento de
vendo o que não está sendo alcançado, reavaliando e esti- Cultura Popular, organizado por Germano Coelho, Norma
mulando o sucesso e novas intervenções dos educadores. Coelho e Anita Paes Barreto, durante a administração de
Por fim, temos a avaliação recapitulativa, instrumento Miguel Arraes de Alencar. Desenvolveu o “Método Paulo
que oportuniza apresentar o processo de síntese de um Freire”, que se tornou famoso em diversos países. Partindo
tema, momento que permite reconhecer se os estudantes de uma pesquisa do vocabulário usado pela população, no
alcançaram os resultados esperados. local onde seria aplicado o método, se desenvolvia todo
Assim, a avaliação é ferramenta de reorientação didá- o trabalho de alfabetização. Foi usado inicialmente no Rio
tico-pedagógica, esperando a aprendizagem significativa. Grande do Norte, com o apoio do então governador, Aluí-
Assim, encaminhar as discussões na escola para propostas sio Alves.
de avaliação formativa é uma alternativa de quebra de pa- Com o sucesso alcançado, Paulo Freire foi convidado
radigma dos elementos constitutivos da avaliação enquan- para trabalhar no Ministério da Educação, pelo então mi-
to mecanismo de repressão e exclusão. nistro Paulo de Tarso, no Governo João Goulart. Fez parte
O conhecimento, por parte do professor, dos passos a também do Conselho Estadual de Educação, no Governo
serem seguidos na elaboração do projeto, de novas abor- Miguel Arraes. Com o golpe de 1964, o método foi proi-
dagens, de instrumentos pedagógicos e novas tecnologias bido e Paulo Freire teve seu mandato cassado. Foi exilado
é fundamental para realizar projetos em que exista a parti- para a Bolívia e em seguida para o Chile. Foi depois para
cipação efetiva e o aprendizado significativo dos alunos; do os Estado Unidos e para a Europa. Viajou aplicado o seu
contrario, como citado por Nogueira (2001), “corremos o método por diversos países do Terceiro Mundo, publicou
risco de estar praticando ‘trabalhos escolares’ que podem livros em diversos idiomas. Privado de passaporte brasilei-
ficar resumidos apenas a meros cartazes com ‘babadinhos ro, estabeleceu-se em Genebra, na Suíça, trabalhando para
de papel crepom’, em que a autonomia do aluno ficará res- o Conselho Mundial das Igrejas Evangélicas. Com a anistia,
trita apenas a escolher a cor do babadinho” (p. 187). retornou ao Brasil, estabelecendo-se em São Paulo.
Dedicou toda sua vida às atividades pedagógicas como
Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/bibliote-
escritor e professor da UNICAMP. Foi conferencista em di-
ca/educacao/0232.html
versas universidades e eventos educacionais. Militou no
Partido dos Trabalhadores. Foi Secretário de Educação da
Prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina. Após
FREIRE, PAULO. PEDAGOGIA DA a morte de sua primeira esposa, casa-se com Ana Maria,
AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS À uma ex-aluna do Colégio Oswaldo Cruz. Paulo Freire mor-
PRÁTICA EDUCATIVA. PAZ E TERRA; 2009. reu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997.
Sinopse
Autor
A Pedagogia da autonomia de Paulo Freire é um livro
Paulo Freire (1921-1997) foi educador brasileiro. O mé- de poucas páginas, mas de uma densidade de ideias pouco
todo de alfabetização Paulo Freire foi aplicado em diversos vista em qualquer outra de suas obras. Este poder de sín-
países. Foi membro do Conselho Estadual de Educação de tese demostra sua maturidade, lucidez e vontade de, com
Pernambuco. Foi professor da UNICAMP. Foi secretário de simplicidade, abordar algumas das questões fundamentais
Educação da Prefeitura de São Paulo. para a formação dos educadores/as. Sua Linguagem é poé-
Paulo Freire (1921-1997) nasceu no Recife, Pernambuco, no tica e política. Calma, Tranquila e, ao mesmo tempo, in-
dia 19 de setembro de 1921. Filho de Joaquim Temístocles Freire, quieta, problematizadora e exuberante a serviço do pensar,
capitão da Polícia Militar e de Edeltrudes Neves Freire. Morou no do decidir e do optar para ação transformadora. Demostra
Recife até 1932, numa casa localizada na Estrada do Encanamento, perseverança, ousadia e crença nos homens e nas mulhe-
724. Sua primeira professora foi Eunice Vasconcelos. Mudou-se para res e na educação autêntica como o caminho necessário
Jaboatão, cidade vizinha, onde permaneceu durante nove anos. Em para a JUSTIÇA E A PAZ. Paulo faz um chamamento aos
1932, morre seu pai. Concluiu o curso primário em Jaboatão. educadores/as para a ética crítica, competência científica e
Iniciou o curso ginasial no Colégio 14 de julho, no centro do amorosidade autêntica, sob a égide do engajamento polí-
Recife, no bairro de São José. Sem condições de continuar pagan- tico libertador, ensinarem aos seus educandos/as a serem
do a escola, sua mãe pede ajuda ao diretor de Colégio Oswaldo Seres Mais.
Cruz, que lhe concedeu matrícula gratuita e o transformou em au- Sentimentos ao ler este livro o seu corpo consciente
xiliar de disciplina, em seguida em professor de língua portuguesa. presente, com a mesma força de sua cabeça esclarecedora
Em 1943 iniciou o curso na Faculdade de Direito do e justa. A sua voz terna e mansa falando apaixonadamente
Recife. Em 1944 casa-se com Elza Maria Costa de Oliveira, de suas convicções. Suas mãos firmando a esperança que
professora primária. Depois de formado continuou como jamais abandonou. O seu escultar traduzindo a sua postura
professor de português no Colégio Oswaldo Cruz e de Filo- de humildade presente nas referências aos que com ele
sofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade dialogou. O sue olhar está o tempo todo voltado para to-
Federal de Pernambuco. dos e todas que ousam ensinar-aprendendo.
24
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Quanto mais nos aprofundamos na leitura deste livro 1.1- Ensinar exige rigorosidade metódica;
mais percebemos que Paulo se fez texto! O seu bem-que-
rer pelos seres humanos, a gentidade de seu eu pessoa/eu O educador democrático não pode negar-se o dever
educador e a sua fé na educação estão vivamente presen- de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do
tes, evidenciando ter sido um apaixonado pelo mundo e educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas
pela vida. Pedagogia da autonomia sintetiza a sua pedago- tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigoro-
gia do oprimido e o engrandece como gente. É o livro-tes- sidade metódica com que devem se “aproximar” dos ob-
tamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se nela por jetos cognoscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem
inteiro na sua grandeza e inteireza. nada que ver com o discurso “bancário” meramente trans-
feridor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente
Nita, Ana Maria Araújo Freire neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento”
do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste sentido que
Comentário ensinar não se esgota no “tratamento” do Objeto ou do
conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produ-
Paulo Freire, um dos maiores intelectuais do sécu- ção das condições em que aprender criticamente é pos-
lo XX, elaborou uma teoria ou, como ele mesmo preferia sível. E essas condições em que aprender criticamente é
dizer, “uma certa compreensão ético-crítico-política da possível. E essas condições implicam ou exigem a presença
educação”, que tem como uma de suas bases o diálogo de educadores e de educandos criadores, instigadores, in-
que possibilita a conscientização com o objetivo de for- quietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.
mar cidadãos de práxis progressista, transformadores da Faz parte das condições em que aprender criticamente é
ordem social, econômica e política injusta. Na Pedagogia possível a pressuposição por parte dos educandos de que
da Autonomia, Paulo Freire nos apresenta reflexões sobre o educador já teve ou continua tendo experiência da pro-
a relação educadores-educandos, orientadas para prática dução de certos saberes e que estes não podem a eles, os
desse diálogo político-pedagógico e calcadas nas virtudes educandos, ser simplesmente transferidos. Pelo contrário,
éticas, para que se estabeleçam as condições que abram a nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos
possibilidade de ambos se existenciarem na autonomia, na vão se transformando em reais sujeitos da construção e
cidadania responsável e na apropriação crítica do conheci- da reconstrução do saber ensinando, ao lado do educador,
mento e sua recriação. igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar
realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é
Resumo apreendido na sua casa razão de ser e, portanto, aprendido
pelos educandos.
Prática Docente: Primeira Reflexão Percebe-se assim, a importância do papel do educador,
o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte
Devo deixar claro que, embora seja meu interesse cen- de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos,
tral considerar neste texto saberes que me parecem indis- mas também ensinar a pensar certo. Daí a impossibilidade
pensáveis à prática docente de educadoras ou educadores de vir a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente
críticos, progressistas, alguns deles são igualmente neces- memorizador, é muito mais uma repetidor cadenciado de
sários a educadores conservadores. São saberes demanda- frases e de ideias inertes do que desafiador...
dos pela prática educativa em si mesma, qualquer que seja
a opção política do educador ou educadora. Páginas 28/29
Na continuidade da leitura vai cabendo ao leitor ou 1.2- Ensinar exige pesquisa
leitora o exercício de perceber se este ou aquele saber re-
ferido corresponde à natureza da prática progressista ou Não Há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.
conservadora ou se, pelo contrário, é exigência da prática Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. En-
educativa mesma independentemente de sua cor política quanto ensino continuou buscando, reprocurando. Ensino
ou ideológica. Por outro lado, devo sublinhar que, de forma porque busco, porque indaguei, porque indago e me in-
não sistemática, tenho me referido a alguns desses sabe- dago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho in-
res em trabalhos anteriores. Estou convencido, porém, é tervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que
legítimo acrescentar, da importância de uma reflexão como ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
está quando penso a formação docente e a prática educa- Pensar certo, em termos críticos, é uma exigência que os
tivo-crítica. momentos do ciclo gnosiológico vão pondo à curiosida-
O Ato de cozinhar, por exemplo, supõe alguns sabe- de que, tornando-se mais e mais metodicamente rigorosa,
res concernentes ao uso do fogão, como acendê-lo, como transita de ingenuidade para que venho chamando “curio-
equilibrar para mais, para menos, a chama, como lidar com sidade epistemológica”. A curiosidade ingênua, de que re-
certos riscos, mesmo remotos, de incêndio como harmoni- sulta indiscutivelmente em certo saber, não imposta que
zar os diferentes temperos numa síntese gostosa e atraen- metodicamente desrigoroso, é a que caracteriza o senso
te... comum. O Saber de pura experiência feito. Pensar certo,
Páginas 23/24 do ponto de vista do professor, tanto implica o respeito
ao senso comum no processo de sua necessária supera-
25
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ção quanto o respeito e o estímulo à capacidade criadora mas não de essência. A curiosidade de camponeses com
do educando. Implica o compromisso da educadora com a quem tenho dialogo ao longo de minha existência políti-
consciência crítica do educando, cuja “promoção” da inge- co-pedagógica, fatalistas ou já rebeldes diante da violência
nuidade não se faz automaticamente. das injustiças, é a mesma curiosidade, enquanto abertura
Páginas 30/31 mais ou menos espantada diante de “não eus”, com que
cientistas ou filósofos acadêmicos “admiram” o mundo.
1.3- Ensinar exige respeito aos saberes dos educa- Os cientistas e os filósofos superam, porém a ingenuidade
dores; da curiosidade do camponês e se tornam epistemologica-
mente curiosos.
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, A curiosidade como inquietação indagadora, como
mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta ver-
saberes com que os educandos, sobretudo os das classes balizada ou não, como procura de esclarecimento, como
populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos sinal de atenção que sugere alerta, faz parte integrante do
na prática comunitária -, mas também, como há mais de fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade
trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão que nos move e que nos põe pacientemente impacientes
de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele
dos conteúdos. Por que não aproveitar a experiência que algo que fazemos.
têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas Como manifestação presente à experiência vital, a
pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição curiosidade humana vem sendo histórica e socialmente
dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar construída e reconstruída. Precisamente porque a promo-
das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde ção da ingenuidade para a criticidade não se dá automati-
das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros camente, uma das tarefas precípuas da pratica educativo-
ricos e mesmo puramente remediados dos centros urba- -progressiva é exatamente o desenvolvimento da curiosi-
nos? Essa pergunta é considerada em sim demagógica e dade com que podemos nos defender de “irracionalismos”
reveladora da má vontade de quem faz. É a pergunta de decorrentes do ou produzimos por certo excesso de “racio-
subversivo, dizem certos defensores da democracia. nalidade” de nosso tempo altamente tecnologizado. E não
Por que não discutir com os alunos a realidade concre- vai nesta consideração nenhuma arrancada falsamente hu-
ta a que se deve associar a disciplina cujo conteúdo se en- manista de negação da tecnologia e da ciência. Pelo con-
sina, a realidade agressiva em que a violência é a constante trário, é consideração de quem, de um lado, não diviniza a
e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do tecnologia, mas, de outro, não a diaboliza. De quem a olha
que com a vida? Por que não estabelecer uma “intimidade” ou mesmo a espreita de forma criticamente curiosa.
entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a Páginas 32/33
experiência social que eles têm como indivíduos? Por que
não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal 1.5- Ensinar exige estética e ética;
descanso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? A
ética de classe embutida neste descanso? “Porque, dirá um A necessária promoção da ingenuidade à criticidade
educador reacionariamente pragmático, a escola não tem não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigoro-
nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que sa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e
ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, boniteza de mãos dadas. Cada vez me convenço mais de
estes operam por si mesmos.” que, desperta com relação à possibilidade de enveredar-se
Páginas 31/32 no descaminho do puritanismo, a prática educativa tem de
ser, em si, um testemunho rigoroso de decadência e de
1.4- Ensinar exige criticidade; pureza. Uma crítica permanente aos desvios fáceis com que
somos tentados às vezes ou quase sempre, a deixar as difi-
Não há pra mim, na diferença e na “distância” entre culdades que os caminhos verdadeiros podem nos colocar.
a ingenuidade e a criticidade, entre o saber de pura ex- Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos
periência feito e o que resulta dos procedimentos meto- capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher,
dicamente rigorosos, uma ruptura, mas uma superação. A de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éti-
superação e não a ruptura se dá na medida em que a curio- cos. Só somos porque estamos sendo é a condição, entre
sidade ingênua, em deixar de ser curiosidade, se criticiza. nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos lon-
Ao criticizar-se, tornando-se então, permito-me repetir, ge, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou,
curiosidade epistemológica metodicamente “rigorizando- pior, fora da ética, entre nós mulheres e homens, é uma
-se” na sua aproximação ao objeto, conota seus achados transgressão. É por isso que transformar a experiência edu-
de maior exatidão. cativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que
Na verdade, a curiosidade ingênua que, “desarmada”, há de fundamentalmente humano no exercício educativo;
está associada ao saber do senso comum, é a mesma curio- o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser
sidade que, criticizando-se, aproximando-se de forma cada humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à
vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, formação moral do educando. Educar é substantivamente
se torna curiosidade epistemológica. Muda de qualidade, formar. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é
26
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
uma forma altamente negativa e perigosa de pensar erra- 1.7- Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejei-
do. De testemunhar aos alunos, às vezes com ares de quem ção a qualquer forma de descriminação;
possui a verdade, um rotundo desacerto. Pensar certo, pelo
contrário, demanda profundidade e não superficialidade É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a
na compreensão e na interpretação dos fatos. Supõe a dis- aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido
ponibilidade à revisão dos achados, reconhece não apenas só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho
a possibilidade de mudar de opção, de apreciação, mas o não é apenas o cronológico. O velho que preserva sua vali-
direito de fazê-lo. Mas como não há pensar certo à mar- dade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença
gem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e no tempo continua novo.
um direito, cabe a quem muda – exige o pensar certo – que Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais
assuma a mudança operada. Do ponto de vista do pensar decida a qualquer forma de descriminação. A prática pre-
certo não é possível mudar e fazer de conta que não mu- conceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substan-
dou. É que todo pensar certo é radicalmente coerente. tividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.
Páginas 34/35 Quão longe dela nos achamos quando vivemos a impuni-
dade do que matam meninos nas ruas, dos que assassinam
1.6- Ensinar exige a corporificação das palavras camponeses que lutam por seus direitos, dos que discrimi-
pelo exemplo; nam os negros, dos que inferiorizam as mulheres. Quão au-
sentes da democracia se acham os que queimam igrejas de
O professor que realmente ensina, quer dizer, que tra- negros porque, certamente, negros não têm alma. Negros
balha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar não rezam. Com sua negritude, os negros sujam a branqui-
certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que tude das orações... A mim me dá pena e não raiva, quando
mando e não o que eu faço”. Quem pensa certo está can- vejo arrogância com que a branquitude de sociedades em
sando de saber que as palavras a que falta a corporeidade que faz isso, em que se queimam igrejas de negros se apre-
do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é senta ao mundo como pedagoga da democracia. Pensar e
fazer certo. fazer errado, pelo visto, não têm mesmo nada ver com a
Que podem pensar alunos sérios de um professor que, humildade que o pensar certo exige. Não têm nada que ver
há dois semestres, falava com quase ardor sobre a necessi- com o bom-senso que regula nossos exageros e evita as
dade da luta pela autonomia das classes populares e hoje, nossas caminhadas até o ridículo e a insensatez.
dizendo que não mudou, faz o discurso pragmático contra Às vezes, temo que algum leitor ou leitora, mesmo que
os sonhos e a pratica a transferência de saber do professor ainda não totalmente convertido ao “pragmatismo” neoli-
para o aluno?! Que dizer da professora que, de esquerda beral, mas por ele já tocado, diga que, sonhador, continuo
ontem, defendia a formação da classe trabalhadora e que, a falar de uma educação de anjos e não de mulheres e de
pragmática hoje, se satisfaz, curvada ao fatalismo neolibe- homens. O que tenho dito até agora, porém, diz respeito
ral, com o puro treinamento do operário, insistindo, porém, radicalmente à natureza de mulheres e de homens. Nature-
que é progressista? za entendida como social e historicamente constituindo-se,
Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal e não como um a priori da história...
que o re-diz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao pro- Páginas 36/37
fessor pensar que pensa certo, mas ao mesmo tempo per-
guntar ao aluno se “sabe com quem está falando”. 1.8- Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática;
O clima de quem pensa certo é o de quem busca seria-
mente a segurança na argumentação, é o de quem busca O pensar certo sabe, por exemplo, que não é a partir
seriamente a segurança na argumentação, é o de quem, dele como um dado que se conforma a prática docente crí-
discordando do seu oponente, não tem por que contra ele tica, mas sabe também que sem ele não se funda aquela. A
ou contra ela nutrir uma raiva desmedida, bem maior, Às prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve
vezes, do que a razão mesma da discordância. Uma dessas o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar
pessoas desmedidamente raivosas proibiu certa vez uma sobre o fazer. O Saber que a prática docente espontânea
estudante que trabalhava em uma dissertação sobre alfa- ou quase espontânea, “desarmada”, indiscutivelmente pro-
betização e cidadania que me lesse. “Já era”, disse com ares duz é um saber ingênuo, um saber de experiência feito, a
de quem trata com o rigor e neutralidade o objeto, quem que falta rigorosidade metódica que caracteriza a curiosi-
era eu. “Qualquer leitura que você faça deste senhor pode dade epistemológica do sujeito. Este não é o saber que a
prejudica-la.” Não é assim que se pensa certo nem é assim rigorosidade do pensar certo procura. Por isso, é funda-
que se ensina certo. Faz parte do pensar certo o gosto da mental que, na prática da formação docente, o aprendiz de
generosidade que, não negando a quem o tem o direito à educador assuma que o indispensável pensar certo não é
raiva, a distingue da raivosidade irrefreada. presente dos deuses nem se acha nos guias de professores
Páginas 35/36 que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do
poder, mas, pelo contrário, o pensar que supera o ingênuo
tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comu-
nhão com o professor formador. É preciso, por outro lado,
reinsistir em que a matriz do pensar ingênuo, como a do
27
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
crítico, é a curiosidade mesma, característica do fenômeno razões de ser – odontológica, política, ética, epistemológi-
vital. Neste sentido, indubitavelmente, é tão curioso o pro- ca, pedagógica -, mas também precisa ser constantemente
fessor chamado leigo no interior de Pernambuco quanto o testemunhado, vivido.
professor de filosofia da educação na universidade A ou B. Como professor num curso de formação docente não
O de que precisa é possibilitar, que, voltando-se sobre si posso esgotar minha prática discursando sobre a Teoria da
mesma, através da reflexão sobre a prática, a curiosidade não extensão do conhecimento. Não posso apenas falar
ingênua, percebendo-se como tal, se vá tornando crítica... bonito sobre as razões ontológicas, epistemológicas e po-
Páginas 39/40 líticas da teoria. O meu discurso sobre a Teoria deve ser
o exemplo concerto, prático, da teoria. Sua encarnação.
1.9- Ensinar exige o reconhecimento e a assunção Ao falar da construção do conhecimento, criticando a sua
de identidade cultural; extensão, já devo estar envolvido nela, a construção, estar
envolvendo os alunos.
É interessante estender mais um pouco a reflexão so- Fora disso, me emaranho na rede das contraindicações
bre a assunção. O verbo assumir é um verbo transitivo e em que meu testemunho, inautêntico, perde eficácia. Me
que pode ter como objeto o próprio sujeito que assim se torno tão falso quanto quem pretende estimular o clima
assume. Eu tanto assumo o riso que corro ao fumar quan- democrático na escola por meios e caminhos autoritários.
to me assumo enquanto sujeito da própria assunção. Dei- Tão fingido quanto quem diz combater o racismo, mas,
xamos claro que, quando ser fundamental para deixar a perguntando se conhece Madalena, diz: “Conheço-a, É ne-
assunção de fumar ameaça minha vida, com assunção eu gra, mas é competente e descente.” Jamais ouvi ninguém
quero, sobretudo me referir ao conhecimento cabal que dizer que conhece Célia, que é loura, de olhos azuis, mas é
obtive do fumar e de suas consequências. Outro sentido competente e decente. No discurso perfilador de Madale-
mais radical tem assunção ou assumir quando digo: uma na, negra, cabe à conjunção adversativa, mas; no que con-
das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é torna Célia, loura de olhos azuis, a conjunção adversativa é
proporcionar as condições em que os educandos em suas um não senso. A compreensão do papeldas conjuções que,
relações uns com os outros e todos com o professor ou a ligando sentenças entre si, impregnam a relação que esta-
professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. belecem de certo sentido – o de causalidade: “falo porque
Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, recuso o silêncio” ; o de adversidade: “tentaram dominá-lo
comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, mas não conseguiram”; o de finalidade: “ Pedro lutou para
capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como que ficasse clara a sua posição”; o de integração: “ Pedro
sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A as- sabia que ela voltaria, não é os suficiente para explicar o
sunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros, uso da adversativa mas na relação entre a sentença “ Ma-
É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir dalena é negra” e “Madalena é competente e decente”. A
a radicalidade de meu eu. conjunção mas, aí, implica um juízo falso, ideológico: sen-
A questão da identidade cultural, de que fazem parte do negra, espera-se que Madalena nem seja competente
a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo nem decente. Ao reconhecer-se, porém, sua decência e sua
respeito é absolutamente fundamental na prática educati- competência a conjunção mas se tornou indispensável. No
va progressista, é problema que não pode ser desprezado. caso de Célia, é um disparate que, sendo loura de olhos
Tem que ver diretamente com assunção de nós por nós azuis não seja competente e decente. Daí o não senso da
mesmos. É isto que o puro treinamento do professor não adversativa. A razão é ideológica, e não gramatical...
faz, perdendo-se e perdendo-o na estreita e programática Páginas 47/48
visão do processo...
Páginas 41/42 2.1- Ensinar exige consciência do inacabamento;
2- Ensinar não é transferir conhecimento Como professor crítico, sou um “aventureiro” respon-
sável predisposto à mudança, à aceitação do diferente.
As considerações ou reflexões até agora feitas vêm Nada do que experimentei em minha atividade docen-
sendo desdobramentos de um primeiro saber inicialmen- te deve necessariamente repetir-se. Repito, porém, como
te apontado como necessário à formação docente, numa inevitável, a franquia de mim mesmo, radical, diante dos
perspectiva progressista. Saber que ensinar não é trans- outros e do mundo. Minha franquia ante os outros e o
ferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua mundo mesmo e a maneira radical como me experimento
própria educação produção ou a sua construção. Quando enquanto ser cultural, histórico, inacabado e consciente do
entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto inacabamento.
a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, as Aqui chegamos ao ponto de que talvez devêssemos ter
inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da partido. O do inacabamento do ser humano. Na verdade,
tarefa que tenho – a ensinar e não a de transferir conheci- o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da
mento. experiência vital. Onde há vida, há inacabamento.
É preciso insistir: este saber necessário ao professor - Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se
de que ensinar não é transferir conhecimento - não apenas tornou consciente. A invenção da existência a partir dos
precisa ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas materiais que a vida oferecia levou homens e mulheres a
28
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
promover o suporte em que os outros animais continuam, Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele
em mundo. Seu mundo, mundo dos homens e das mulhe- se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de
res. A experiência humana no mundo muda de qualidade quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também
com relação à vida animal no suporte. O suporte é o espaço, da História.
restrito ou alongado, que o animal se prende “afetivamen- Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as
te” tanto quanto para, resistir; e o espaço necessário a seu condições materiais, econômicas, sociais e políticas, cultu-
crescimento e que delimita seu domínio. É o espaço em rais e ideológicas em que nos achamos geram quase sem-
que, treinado, adestrado, “aprende” a sobreviver, a caçar, pre barreiras de difícil superação para o cumprimento de
a atacar, a defender- se nutri tempo de dependência dos nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que
adultos imensamente menor do que é necessário ao ser os obstáculos não se eternizam.
humano para as mesmas coisas. Quanto mais cultural é o Páginas 52/53
ser maior a sua infância, sua dependência de cuidados es-
peciais. Faltam ao “movimento” dos outros animais no su- 2.3- Ensinar Exige respeito à autonomia do ser do
porte a linguagem conceitual, a inteligibilidade do próprio educando;
suporte de que resultaria inevitavelmente a comunicabili-
dade do inteligido, o espanto diante da vida mesma, do Outro saber necessário à prática educativa, e que se
que há nela de mistério. No suporte, os comportamentos funda na mesma raiz que acabo de discutir - a da incon-
dos indivíduos têm sua explicação muito mais na espécie a clusão do ser que se sabe inconcluso -, é o que fala do res-
que pertencem os indivíduos do que neles mesmos. Falta- peito devido à autonomia do ser do educando. Do educan-
lhes liberdade de opção. Por isso, não se fala em ética entre do criança, jovem ou adulto. Como educador, devo estar
os elefantes. constantemente advertido com relação a este respeito que
A vida no suporte não implica a linguagem nem a pos- implica igualmente o que devo ter por mim mesmo. Não
tura ereta que permitiu a liberação das mãos. Mãos que, em faz mal repetir afirmação várias vezes feita neste texto - o
grande medida, nos fizeram. Quanto maior se foi tornando inacabamento de que nos tornamos conscientes nos fez
a solidariedade entre mente e mãos, tanto mais o suporte seres éticos.
foi virando mundo e a vida, existência. O suporte veio fazen- O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é
do- se mundo e a vida, existêmia, na proporção que o cor- um imperativo ético e não um favor que podemos ou não
po humano vira corpo consciente, captador, apreendedor, conceder uns aos outros. Precisamente porque éticos po-
transformador, criador de beleza e não “espaço” vazio a ser demos desrespeitar a rigorosidade da ética e resvalar para
enchido por conteúdos. a sua negação, por isso é imprescindível deixar claro que a
Páginas 49/50 possibilidade do desvio ético não pode receber outra de-
signação senão a de transgressão.
2.2- Ensinar exige o reconhecimento de ser condi- O professor que desrespeita a curiosidade do educan-
cionado; do, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem,
mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o pro-
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um fessor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que
ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua re-
que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda beldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do
entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade
entre o inacabado que não se sabe como tal e o inaca- do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respei-
bado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade tosamente presente à experiência formadora do educando,
de saber- se inacabado. Gosto de ser gente porque, como transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa
tal, percebo afinal que a construção de minha presença no existência.
mundo, que não se faz no isolamento, isenta o a influência É neste sentido que o professor autoritário, que por
das forças sociais, que não se compreende fora da tensão isso mesmo afoga a liberdade do educando, amesquinhan-
entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cul- do o seu direito de estar sendo curioso e inquieto, tanto
tural e historicamente, tem muito a ver comigo mesmo. quanto o professor licencioso rompe com a radicalidade
Seria irônico se a consciência de minha presença no do ser humano - a de sua inconclusão assumida em que se
mundo não implicasse já o reconhecimento da impossibili- enraíza a eticidade. É neste sentido também que a dialogi-
dade de minha ausência na construção da própria presen- cidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem
ça. Não posso me perceber como uma presença no mun- e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a
do, mas, ao mesmo tempo, explicá-la como resultado de forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que,
operações absolutamente alheias a mim. Neste caso o que inacabados, assumindo- se como tais, se tornam radical-
faço é renunciar à responsabilidade ética, histórica, política mente éticos. É preciso deixar claro que a transgressão da
e social que a promoção do suporte a mundo nos coloca. eticidade jamais pode ser vista ou entendida como virtude,
Renuncio a participar a cumprir a vocação ontológica de mas como ruptura com a decência.
intervir o mundo. O fato de me perceber no mundo, com O que quero dizer é o seguinte: que alguém se tor-
o mundo e com os outros me põe numa posição em face ne machis ta, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma
do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. como transgressor da natureza humana. Não me venha
29
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou senso, na avaliação moral que faço de algo, não basta para
filosóficas para explicar a superioridade da branquitude orientar ou fundar minhas táticas de luta, tem, indiscuti-
sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos pa- velmente, importante papel na minha tomada de posição,
trões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imo- a que não pode faltar a ética, em face do que devo fazer...
ral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça Páginas 60/61
a força dos condicionamentos a enfrentar. A boniteza de
ser gente se acha, entre outras coisas, nessa possibilidade 2.5- Ensinar exige humildade, tolerância e luta em
e nesse dever de brigar. Saber que devo respeito à autono- defesa dos direitos dos educadores;
mia e à identidade do educando exige de mim uma prática
em tudo coerente com este saber... Se há algo que os educandos brasileiros precisam sa-
Páginas 58/59 ber, desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do
respeito aos educadores e à educação inclui que a briga
2.4- Ensinar exige bom-senso; por salários menos imorais é um dever irrecusável e não
só um direito deles. A luta dos professores em defesa de
A vigilância do meu bom senso tem uma importância seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como
enorme na avaliação que, a todo instante, devo fazer de um momento importante de sua prática docente, enquan-
minha prática. Antes, por exemplo, de qualquer reflexão to prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade
mais detida e rigorosa é o meu bom senso que me diz ser docente, mas algo que dela faz parte. O combate em favor
tão negativo, do ponto de vista de minha tarefa docen- da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma
te, o formalismo insensível que me faz recusar o trabalho quanto dela faz parte o respeito que o professor deve ter à
de um aluno por perda de prazo, apesar das explicações identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito de ser.
convincentes do aluno, quanto o desrespeito pleno pelos Um dos piores males que o poder público vem fazendo a
princípios reguladores da entrega dos trabalhos. É o meu nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasi-
bom senso que me adverte de que exercer a minha au- leira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de,
toridade de professor na classe, tomando decisões, orien- a custo de tanto descaso pela educação pública, existen-
tando atividades, estabelecendo tarefas, cobrando a produção cialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente
individual e coletiva do grupo não é sinal de autoritarismo de cínico que leva ao cruzamento dos braços. “Não há o que
minha parte. É a minha autoridade cumprindo o seu dever. Não fazer” é o discurso acomodado que não podemos aceitar.
resolvemos bem, ainda, entre nós, a tensão que a contradição O meu respeito de professor à pessoa do educando,
autoridade- liberdade nos coloca e confundimos quase sempre à sua curiosidade, à sua timidez, que não devo agravar
autoridade com autoritarismo, licença com liberdade. com procedimentos inibidores exige de mim o cultivo da
Não preciso de um professor de ética para me dizer humildade e da tolerância. Como posso respeitar a curio-
que não posso, como orientador de dissertação de mes- sidade do educando se, carente de humildade e da real
trado ou de tese de doutoramento, surpreender o pós-gra- compreensão do papel da ignorância na busca do saber,
duando com críticas duras a seu trabalho porque um dos temo revelar o meu desconhecimento? Como ser educa-
examinadores foi severo em sua arguição. Se isto ocorre e dor, sobretudo numa perspectiva progressista, sem apren-
eu concordo com as críticas feitas pelo professor não há der, com maior ou menor esforço, a conviver com os dife-
outro caminho senão solidarizar- me de público com o rentes? Como ser educador, se não desenvolvo em mim
orientando, dividindo com ele a responsabilidade do equí- a indispensável amorosidade aos educandos com quem
voco ou do erro criticado. Não preciso de um professor de me comprometo e ao próprio processo formador de que
ética para me dizer isto. sou parte? Não posso desgostar do que faço sob pena de
Meu bom senso me diz. Saber que devo respeito à au- não fazê-lo bem. Desrespeitado como gente no desprezo
tonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na a que é relegada a prática pedagógica não tenho por que
prática, procurar a coerência com este saber, me leva ina- desamá-la e aos educandos. Não tenho por que exercê-la
pelavelmente à criação de algumas virtudes ou qualidades mal. A minha resposta à ofensa à educação é a luta política
sem as quais aquele saber vira inautêntico, palavreado va- consciente, crítica e organizada contra os ofensores. Aceito
zio e inoperante. De nada serve, a não ser para irritar o até abandoná-la, cansado, à procura de melhores dias. O
educando e desmoralizar o discurso hipócrita do educador, que não é possível é, ficando nela, aviltá-la com o desdém
falar em democracia e liberdade, mas impor ao educando a de mim mesmo e dos educandos...
vontade arrogante do mestre. Páginas 65/66
O exercício do bom senso, com o qual só temos o que
ganhar se faz no “corpo” da curiosidade. Neste sentido, 2.6- Ensinar exige apreensão da realidade;
quanto mais pomos em prática de forma metódica a nossa
capacidade de indagar, de comparar, de duvidar, de afe- Outro saber fundamental à experiência educativa é o
rir, tanto mais eficazmente curiosos nos podemos tornar que diz respeito à sua natureza. Como professor preciso
e mais crítico se pode fazer o nosso bom senso. O exer- me mover com clareza na minha prática. Preciso conhe-
cício ou a educação do bom senso vai superando o que cer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da
há nele de instintivo na avaliação que fazemos dos fatos prática, o que me pode tornar mais seguro no meu próprio
e dos acontecimentos em que nos envolvemos. Se o bom desempenho.
30
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
O melhor ponto de partida para estas reflexões é a produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nos-
inconclusão do ser humano de que se tornou consciente. sa alegria. Na verdade, do ponto de vista da natureza hu-
Como vimos, aí radica a nossa educabilidade bem como a mana, a esperança não é algo que a ela se justaponha. A
nossa inserção num permanente movimento de busca em esperança faz parte da natureza humana. Seria uma con-
que, curiosos e indagadores, não apenas nos damos conta tradição se, inacabado e consciente do inacabamento, pri-
das coisas, mas também delas podemos ter um conheci- meiro, o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse
mento cabal. A capacidade de aprender, não apenas para predisposto a participar de um movimento constante de
nos adaptar mas sobretudo para transformar a realidade, busca e, segundo, se buscasse sem esperança. A desespe-
para nela intervir, recriando- a, fala de nossa educabilidade rança é negação da esperança. A esperança é uma espécie
a um nível distinto do nível do adestramento dos outros de ímpeto natural possível e necessário, a desesperança é
animais ou do cultivo das plantas. o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento in-
A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de dispensável à experiência histórica. Sem ela, não haveria
ensinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa ha- História, mas puro determinismo. Só há História onde há
bilidade de apreender a substantividade do objeto apren- tempo problematizado e não pré-dado. A inexorabilidade
dido. A memorização mecânica do perfil do objeto não é do futuro é a negação da História.
aprendizado verdadeiro do objeto ou do conteúdo. Neste É preciso ficar claro que a desesperança não é maneira
caso, o aprendiz funciona muito mais como paciente da de estar sendo natural do ser humano, mas distorção da
transferência do objeto ou do conteúdo do que como su- esperança. Eu não sou primeiro um ser da desesperança a
jeito crítico, epistemologicamente curioso, que constrói o ser convertido ou não pela esperança. Eu sou, pelo contrá-
conhecimento do objeto ou participa de sua construção. rio, um ser da esperança que, por “n” razões, se tornou de-
É precisamente por causa desta habilidade de apreender sesperançado. Daí que uma das nossas brigas como seres
a substantividade do objeto que nos é possível reconstruir humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões
um mal aprendizado, o em que o aprendiz foi puro pacien- objetivas para a desesperança que nos imobiliza.
te da transferência do conhecimento feita pelo educador. Por tudo isso me parece uma enorme contradição que
Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social uma pessoa progressista, que não teme a novidade, que
e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por se sente mal com as injustiças, que se ofende com as dis-
isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criminações, que se bate pela decência, que luta contra a
criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que me- impunidade, que recusa o fatalismo cínico e imobilizante,
ramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, não seja criticamente esperançosa.
reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem A desproblematização do futuro numa compreensão me-
abertura ao risco e à aventura do espírito. canicista da História, de direita ou de esquerda, leva neces-
Creio poder afirmar, na altura destas considerações, sariamente à morte ou à negação autoritária do sonho, da
que toda prática educativa demanda a existência de sujei- utopia, da esperança. É que, na inteligência mecanicista por-
tos, um que, ensinando, aprende outro que, aprendendo, tanto determinista da História, o futuro é já sabido. A luta por
ensina, daí o seu cunho gnosiológico; a existência de ob- um futuro assim “a priori” conhecido prescinde da esperança.
jetos, conteúdos a serem ensinados e aprendidos; envolve A desproblematização do futuro, não importa em
o uso de métodos, de técnicas, de materiais; implica, em nome de quê, é uma violenta ruptura com a natureza hu-
função de seu caráter diretivo, objetivo, sonhos, utopias, mana social e historicamente constituindo- se...
ideais. Daí a sua politicidade, qualidade que tem a prática Páginas 70/71
educativa de ser política, de não poder ser neutra.
Especificamente humana a educação é gnosiológica, é 2.8- Ensinar exige a convicção de que a mudança é
diretiva, por isso política, é artística e moral, serve-se de possível;
meios, de técnicas, envolve frustrações, medos, desejos.
Exigem de mim, como professor, uma competência geral, Um dos saberes primeiros, indispensáveis a quem, che-
um saber de sua natureza e saberes especiais, ligados à gando a favelas ou a realidades marcadas pela traição a
minha atividade docente... nosso direito de ser, pretende que sua presença se vá tor-
Páginas 67/68 nando convivência, que seu estar no contexto vá virando
estar como ele, é o saber do futuro como problema e não
2.7- Ensinar exige alegria e esperança; como inexorabilidade. É o saber da História como possibili-
dade e não como determinação. O mundo não é. O mundo
O meu envolvimento com a prática educativa, sabida- está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, inter-
mente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser feridora na objetividade com que dialeticamente me rela-
feito com alegria, o que não significa dizer que tenha inva- ciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o
riavelmente podido criá- la nos educandos. que ocorre mas também o de quem intervém como sujeito
Mas, preocupado com ela, enquanto clima ou atmosfe- de ocorrências. Não sou apenas objeto da História mas seu
ra do espaço pedagógico, nunca deixei de estar. sujeito igualmente.
Há uma relação entre a alegria necessária à atividade No mundo da História, da cultura, da política, constato
educativa e a esperança. A esperança de que professor e não para me adaptar, mas para mudar. No próprio mun-
alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, do físico minha constatação não me leva à impotência. O
31
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
conhecimento sobre os terremotos desenvolveu toda uma Estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria
engenharia que nos ajuda a sobreviver a eles. Não pode- pergunta, o que se pretende com esta ou com aquela per-
mos eliminá-los, mas podemos diminuir os danos que nos gunta em lugar da passividade em face das explicações
causam. Constatando, nos tornamos capazes de intervir discursivas do professor, espécies de resposta a perguntas
na realidade, tarefa incomparavelmente mais complexa que não foram feitas. Isto não significa realmente que de-
e geradora de novos saberes do que simplesmente a de vamos reduzir a atividade docente em nome da defesa da
nos adaptar a ela. É por isso também que não me parece curiosidade necessária, a puro vai- e- vem de perguntas e
possível nem aceitável a posição ingênua ou, pior, astu- respostas, que burocraticamente se esterilizam.
tamente neutra de quem estuda, seja o físico, o biólogo, A dialogicidade não nega a validade de momentos ex-
o sociólogo, o matemático, ou o pensador da educação. plicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do
Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os objeto. O fundamental é que professor e alunos saibam
outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de lu- que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógi-
vas nas mãos constatando apenas. ca, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto
A acomodação em mim é apenas caminho para a in- fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e
serção, que implica decisão, escolha, intervenção na reali- alunos se assumam epistemologicamente curiosos...
dade. Há perguntas a serem feitas insistentemente por to- Páginas 82/83
dos nós e que nos fazem ver a impossibilidade de estudar
por estudar. De estudar descomprometidamente como se 3- Ensinar é uma especificidade humana
misteriosamente de repente nada tivéssemos que ver com
o mundo, um lá fora e distante mundo, alheado de nós e Que possibilidades de expressar- se, de crescer, vem
nós dele... tendo a minha curiosidade? Creio que uma das qualida-
Páginas 74/75 des essenciais que a autoridade docente democrática deve
revelar em suas relações com as liberdades dos alunos é a
2.9- Ensinar exige curiosidade; segurança em si mesma. É a segurança que se expressa na
firmeza com que atua com que decide com que respeita as
Um pouco mais sobre a curiosidade liberdades, com que discute suas próprias posições, com
que aceita rever- se.
Se há uma prática exemplar como negação da expe- Segura de si, a autoridade não necessita de, a cada ins-
riência formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade tante, fazer o discurso sobre sua existência, sobre si mes-
do educando e, em consequência, a do educador. É que o mo. Não precisa perguntar a ninguém, certa de sua legiti-
educador que, entregue a procedimentos autoritários ou midade, se “sabe com quem está falando?” Segura de si, ela
paternalistas que impedem ou dificultam o exercício da é porque tem autoridade, porque a exerce com indiscutível
curiosidade do educando, termina por igualmente tolher sabedoria.
sua própria curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta
eticamente no exercício da negação da outra curiosidade. 3.1- Ensinar exige segurança, competência profis-
A curiosidade dos pais que só se experimenta no sentido sional e generosidade;
de saber como e onde anda a curiosidade dos filhos se
burocratiza e fenece. A curiosidade que silencia a outra se A segurança com que a autoridade docente se move
nega a si mesma também. O bom clima pedagógico- de- implica uma outra, a que se funda na sua competência pro-
mocrático é o em que o educando vai aprendendo à custa fissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente
de sua prática mesma que sua curiosidade como sua li- desta competência. O professor que não leve a sério sua
berdade deve estar sujeita a limites, mas em permanen- formação, que não estude que não se esforce para estar
te exercício. Limites eticamente assumidos por ele. Minha à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar
curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a
outro e expô-la aos demais. opção e a prática democrática do professor ou da profes-
Como professor devo saber que sem a curiosidade que sora sejam determinadas por sua competência científica.
me move, que me inquieta, que me insere na busca, não Há professores e professoras cientificamente prepara-
aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma dos, mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que
correta é um direito que tenho como gente e a que cor- a incompetência profissional desqualifica a autoridade do
responde o dever de lutar por ele, o direito à curiosidade. professor. Outra qualidade indispensável à autoridade em
Com a curiosidade domesticada posso alcançar a memori- suas relações com as liberdades é a generosidade. Não há
zação mecânica do perfil deste ou daquele objeto, mas não nada que mais inferiorize a tarefa formadora da autoridade
o aprendizado real ou o conhecimento cabal do objeto. A do que a mesquinhez com que se comporte. A arrogância
construção ou a produção do conhecimento do objeto im- farisaica, malvada, com que julga os outros e a indulgên-
plica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de cia macia com que se julga ou com que julga os seus. A
“tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, arrogância que nega a generosidade nega também a hu-
de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação mildade. Que não é virtude dos que ofendem nem tam-
metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar. pouco dos que se regozijam com sua humilhação. O clima
de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes,
32
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
generosas, em que a autoridade docente e as liberdades cepção que o aluno tem de mim não resulta exclusivamen-
dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter for- te de como atuo mas também de como o aluno entende
mador do espaço pedagógico. como atuo.
A reação negativa ao exercício do comando é tão in- Evidentemente, não posso levar meus dias como pro-
compatível com o desempenho da autoridade quanto a so- fessor a perguntar aos alunos o que acham de mim ou
freguidão pelo mando. O mandonismo é exatamente esse como me avaliam. Mas devo estar atento à leitura que fa-
gozo irrefreável e desmedido pelo mando. A autoridade zem de minha atividade com eles. Precisamos aprender a
docente mandonista, rígida, não conta com nenhuma cria- compreender a significação de um silêncio, ou de um sor-
tividade do educando. Não faz parte de sua forma de ser, riso ou de uma retirada da sala. O tom menos cortês com
esperar, sequer, que o educando revele o gosto de aventu- que foi feita uma pergunta. Afinal, o espaço pedagógico
rar- se. A autoridade coerentemente democrática, fundan- é um texto para ser constantemente “lido”, interpretado,
do- se na certeza da importância, quer de si mesma, quer “escrito” e “reescrito”. Neste sentido, quanto mais solida-
da liberdade dos educandos para a construção de um clima riedade exista entre o educador e educandos no “trato”
de real disciplina, jamais minimiza a liberdade. deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendizagem
Pelo contrário, aposta nela. Empenha- se em desafiá-la democrática se abrem na escola...
sempre e sempre; jamais vê, na rebeldia da liberdade, um Páginas 94/95
sinal de deterioração da ordem. A autoridade coerente-
mente democrática a está convicta de que a disciplina ver- 3.3- Ensinar exige compreender que a educação é
dadeira não existe na estagnação, no silêncio dos silencia- uma forma de intervenção no mundo;
dos, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga,
na esperança que desperta... Outro saber de que não posso duvidar um momento
Páginas 90/91 sequer na minha prática educativo- crítica é o de que, como
experiência especificamente humana, a educação é uma
3.2- Ensinar exige comprometimento; forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do
conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou
aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideo-
Outro saber que devo trazer comigo e que tem que
logia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética
ver com quase todos os de que tenho falado é o de que
e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a
não é possível exercer a atividade do magistério como se
outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas
nada ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na
desmascaradora da ideologia dominante.
chuva expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos
Neutra, “indiferente” a qualquer destas hipóteses, a
molhar. Não posso ser professor sem me pôr diante dos
da reprodução da ideologia dominante ou a de sua con-
alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha ma- testação, a educação jamais foi, é, ou pode ser. É um erro
neira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar decretá-la como tarefa apenas reprodutora da ideologia
à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me perce- dominante como erro é tomá-la como uma força de deso-
bem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, cultação da realidade, a atuar livremente, sem obstáculos e
então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser duras dificuldades. Erros que implicam diretamente visões
a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que defeituosas da História e da consciência.
digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmen- De um lado, a compreensão mecanicista da História,
te estou sendo. que reduz a consciência a puro reflexo da materialidade, e
Se perguntado por um aluno sobre o que é “tomar dis- de outro, o subjetivismo idealista, que hipertrofia o papel
tância epistemológica do objeto” lhe respondo que não sei, da consciência no acontecer histórico. Nem somos mu-
mas que posso vir a saber, isso não me dá a autoridade lheres e homens, seres simplesmente determinados nem
de quem conhece, me dá a alegria de, assumindo minha tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais,
ignorância, não ter mentido. E não ter mentido abre para sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e
mim junto aos alunos um crédito que devo preservar. Etica- a que nos achamos referidos.
mente impossível teria sido dar uma resposta falsa, um pa- Do ponto de vista dos interesses dominantes, não há
lavreado qualquer. Um chute, como se diz popularmente. dúvida de que a educação deve ser uma prática imobiliza-
Mas, de um lado, precisamente porque a prática docente, dora e ocultadora de verdades. Toda vez, porém, que a con-
sobretudo como a entendo, me coloca a possibilidade que juntura o exige, a educação dominante é progressista à sua
devo estimular de perguntas varias, preciso me preparar ao maneira, progressista “pela metade”. As forças dominantes
máximo para, de outro, continuar sem mentir aos alunos, estimulam e materializam avanços técnicos compreendi-
de outro, não ter de afirmar seguidamente que não sei. dos e, tanto quanto possível, realizados de maneira neutra.
Saber que não posso passar despercebido pelos alu- Seria demasiado ingênuo, até angelical de nossa parte,
nos, e que a maneira como me percebam me ajuda ou esperar que a “bancada ruralista” aceitasse quieta e con-
desajuda no cumprimento de minha tarefa de professor, cordante a discussão, nas escolas rurais e mesmo urbanas
aumenta em mim os cuidados com o meu desempenho. do país, da reforma agrária como projeto econômico, polí-
Se a minha opção é democrática, progressista, não posso tico e ético da maior importância para o próprio desenvol-
ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Não posso vimento nacional...
discriminar o aluno em nome de nenhum motivo. A per- Páginas 96/97
33
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
3.4- Ensinar exige liberdade e autoridade; exemplo, percebemos a incoerência agressiva que existe
entre as nossas afirmações “progressistas” e o nosso estilo
Noutro momento deste texto me referi ao fato de não desastrosamente elitista de ser intelectuais. E que dizer de
termos ainda resolvido o problema da tensão entre a au- educadores que se dizem progressistas, mas de prática pe-
toridade e a liberdade. Inclinados a superar a tradição au- dagógico- política eminentemente autoritária? Não é por
toritária, tão presente entre nós resvalamos para formas li- outra razão que insisti tanto em Professora Sim, Tia Não, na
cenciosas de comportamento e descobrimos autoritarismo necessidade de criarmos, em nossa prática docente, entre
onde só houve o exercício legítimo da autoridade. outras, a virtude da coerência. Não há nada talvez que des-
Recentemente, jovem professor universitário, de opção gaste mais um professor que se diz progressista do que sua
democrática, comentava comigo o que lhe parecia ter sido prática racista, por exemplo. É interessante observar como
um desvio seu no uso de sua autoridade. Disse, constran- há mais coerência entre os intelectuais autoritários, de di-
gido, ter se oposto a que aluno de outra classe continuasse reita ou de esquerda. Dificilmente, um deles ou uma delas
na porta entreaberta de sua sala, a manter uma conversa respeita e estimula a curiosidade crítica nos educandos, o
gesticulada com uma das alunas. Ele tivera inclusive que gosto da aventura. Dificilmente contribui, de maneira deli-
parar sua fala em face do descompasso que a situação berada e consciente, para a constituição e a solidez da au-
provocava. Para ele, sua decisão, com que devolvera ao tonomia do ser do educando. De modo geral, teimam em
espaço pedagógico o necessário clima para continuar sua depositar nos alunos apassivados a descrição do perfil dos
atividade específica e com a qual restaurara o direito dos conteúdos, em lugar de desafiá-los a apreender a substan-
estudantes e o seu de prosseguir a prática docente, fora tividade dos mesmos, enquanto objetos gnosiológicos, so-
autoritária. Na verdade, não. Licencioso teria sido se tivesse mente como os aprendem.
permitido que a indisciplina de uma liberdade mal centra- É na diretividade da educação, esta vocação que ela
da desequilibrasse o contexto pedagógico, prejudicando tem, como ação especificamente humana, de “endereçar-
assim o seu funcionamento. se” até sonhos, ideais, utopias e objetivos, que se acha o
Num dos inúmeros debates de que venho participan- que venho chamando politicidade da educação. A qualida-
do, e em que discutia precisamente a questão dos limi- de de ser política, inerente à sua natureza. É impossível, na
tes sem os quais a liberdade se perverte em licença e a verdade, a neutralidade da educação. E é impossível, não
autoridade em autoritarismo ouvi de um dos participantes porque professoras e professores “baderneiros” e “sub-
que, ao falar dos limites à liberdade eu estava repetindo a versivos” o determinem. A educação não vira política por
cantilena que caracterizava o discurso de professor seu, re- causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é política.
conhecidamente reacionário, durante o regime militar. Para Quem pensa assim, quem afirma que é por obra deste
o meu interlocutor, a liberdade estava acima de qualquer ou daquele educador, mais ativista que outra coisa, que a
limite. Para mim, não, exatamente porque aposto nela, por- educação vira política, não pode esconder a forma depre-
que sei que sem ela a existência só tem valor e sentido na ciativa como entende a política. Pois é na medida mesmo
luta em favor dela. A liberdade sem limite é tão negada em que a educação é deturpada e diminuída pela ação de
quanto à liberdade asfixiada ou castrada. “baderneiros” que ela, deixando de ser verdadeira educa-
O grande problema que se coloca ao educador ou à ção, possa a ser política, algo sem valor.
educadora de opção democrática é como trabalhar no A raiz mais profunda da politicidade da educação se
sentido de fazer possível que a necessidade do limite seja acha na educabilidade mesma do ser humano, que se fun-
assumida eticamente pela liberdade. Quanto mais critica- da na sua natureza inacabada e da qual se tornou cons-
mente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais ciente. Inacabado e consciente de seu inacabamento, his-
autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lu- tórico, necessariamente o ser humano se faria um ser ético,
tando em seu nome... um ser de opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e
Páginas 102/103 em relação aos quais tanto pode manter- se fiel à eticidade
quanto pode transgredi-la. É exatamente porque nos tor-
3.5- Ensinar exige tomada consciente de decisões; namos éticos que se criou para nós a probabilidade, como
afirmei antes, de violar a ética.
Voltemos à questão central que venho discutindo nes- Para que a educação fosse neutra era preciso que não
ta parte do texto: a educação, especificidade humana, como houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com re-
um ato de intervenção no mundo. É preciso deixar claro que o lação aos modos de vida individual e social, com relação ao
conceito de intervenção não está sendo usado com nenhuma estilo político a ser posto em prática, aos valores a serem
restrição semântica. Quando falo em educação como inter- encarnados. Era preciso que não houvesse, em nosso caso,
venção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na por exemplo, nenhuma divergência em face da fome e da
sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da miséria no Brasil e no mundo; era necessário que toda a
propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saú- população nacional aceitasse mesmo que elas, miséria e
de, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente pretende fome, aqui e fora daqui, são uma fatalidade do fim do sé-
imobilizar a História e manter a ordem injusta. culo. Era preciso também que houvesse unanimidade na
Estas formas de intervenção, com ênfase mais num as- forma de enfrentá-las para superá-las. Para que a educação
pecto do que noutro nos dividem em nossas opções em re- não fosse uma forma política de intervenção no mundo era
lação a cuja pureza nem sempre somos leais. Rara vez, por indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse
34
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
humano. Há uma incompatibilidade total entre o mundo como determinismo e não como possibilidade. É a posição
humano da fala, da percepção, da inteligibilidade, da co- de quem se assume como fragilidade total diante do todo
municabilidade, da ação, da observação, da comparação, poderosíssimo dos fatos que não apenas se deram porque
da verificação, da busca, da escolha, da decisão, da ruptura, tinham que se dar, mas que não podem ser “reorientados”
da ética e da possibilidade de sua transgressão e a neutra- ou alterados.
lidade não importa de quê. Não há, nesta maneira mecanicista de compreender a
O que devo pretender não é a neutralidade da edu- História, lugar para a decisão humana. Na medida mesma
cação mas o respeito, a toda prova, aos educandos, aos em que a desproblematização do tempo, de que resulta
educadores e às educadoras. O respeito aos educadores e que o amanhã ora é a perpetuação do hoje, ora é algo que
educadoras por parte da administração pública ou privada será porque está dito que será não há lugar para a escolha,
das escolas; o respeito aos educandos assumido e pratica- mas para a acomodação bem comportada ao que está aí
do pelos educadores não importa de que escola, particular ou ao que virá. Nada é possível de ser feito contra a globa-
ou publica. É por isto que devo lutar sem cansaço. Lutar lização que, realizada porque tinha de ser realizada, tem de
pelo direito que tenho de ser respeitado e pelo dever que continuar seu destino, porque assim está misteriosamente
tenho de reagir a que me destratem... escrito que deve ser. A globalização que reforça o mando
Páginas 106/107 das minorias poderosas e esmigalha e pulveriza a presença
impotente dos dependentes, fazendo- os ainda mais im-
3.6- Ensinar exige saber escutar; potentes é destino dado. Em face dela não há outra saída
senão que cada um baixe a cabeça docilmente e agradeça
Recentemente, em conversa com um grupo de amigos a Deus porque ainda está vivo. Agradeça a Deus ou à pró-
e amigas, uma delas, a professora Olgair Garcia, me dis- pria globalização...
se que, em sua experiência pedagógica de professora de Páginas 110/111
crianças e de adolescentes mas também de professora de
professoras, vinha observando quão importante e necessá- 3.7- Ensinar exige reconhecer que a educação é
rio é saber escutar. Se, na verdade, o sonho que nos ani- ideológica;
ma é democrático e solidário, não é falando aos outros, de
cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os porta- Saber igualmente fundamental à prática educativa do pro-
dores da verdade a ser transmitida aos demais, que apren- fessor ou da professora é o que diz respeito à força, às vezes
demos a escutar, mas é escutando que aprendemos a ferir maior do que pensamos da ideologia. E o que nos adverte de
com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair. É que a ideo-
outro, fala com ele. Mesmo que, em certas condições, pre- logia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos
cise falar a ele. O que jamais faz quem aprende a escutar faros, com o uso da linguagem para penumbrar ou opacizar a
para poder falar com é falar impositivamente. Até quando, realidade ao mesmo tempo em que nos torna “míopes”.
necessariamente, fala contra posições ou concepções do O poder da ideologia me faz pensar nessas manhãs
outro, fala com ele como sujeito da escuta de sua fala crí- orvalhadas de nevoeiro em que mal vemos o perfil dos ci-
tica e não como objeto de seu discurso. O educador que prestes como sombras que parecem muito mais manchas
escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, das sombras mesmas. Sabemos que há algo metido na pe-
às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele. numbra, mas não o divisamos bem. A própria “miopia” que
Há um sinal dos tempos, entre outros, que me assusta: nos acomete dificulta a percepção mais clara, mais nítida
a insistência com que, em nome da democracia, da liber- da sombra. Mais séria ainda é a possibilidade que temos
dade e da eficácia, se vem asfixiando a própria liberdade e, de docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que
por extensão, a criatividade e o gosto da aventura do espí- na verdade é, e não a verdade distorcida. A capacidade de
rito. A liberdade de mover- nos, de arriscar-nos vem sendo penumbrar a realidade, de nos “miopizar”, de nos ensur-
submetida a uma certa padronização de fórmulas, de ma- decer que tem a ideologia faz, por exemplo, a muitos de
neiras de ser, em relação às quais somos avaliados. É cla- nós, aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista
ro que já não se trata de asfixia truculentamente realizada neoliberal que proclama ser o desemprego no mundo uma
pelo rei despótico sobre seus súditos, pelo senhor feudal desgraça do fim de século. Ou que os sonhos morreram e
sobre seus vassalos, pelo colonizador sobre os coloniza- que o válido hoje é o “pragmatismo” pedagógico, é o trei-
dos, pelo dono da fábrica sobre seus operários, pelo Estado no técnico- científico do educando e não sua formação de
autoritário sobre os cidadãos, mas pelo poder invisível da que já não se fala. Formação que, incluindo a preparação
domesticação alienante que alcança a eficiência extraordi- técnico científica, vai mais além dela.
nária no que venho chamando “burocratização da mente”. A capacidade de nos amaciar que tem a ideologia nos
Um estado refinado de estranheza, de “auto demis- faz às vezes mansamente aceitar que a globalização da
são” da mente, do corpo consciente, de conformismo do economia é uma invenção dela mesma ou de um destino
indivíduo, de acomodação diante de situações considera- que não poderia se evitar, uma quase entidade metafísica
das fatalistamente como imutáveis. E a posição de quem e não um momento do desenvolvimento econômico sub-
encara os fatos como algo consumado, como algo que se metido, como toda produção econômica capitalista, a uma
deu porque tinha que se dar da forma como se deu, é a po- certa orientação política ditada pelos interesses dos que
sição, por isso mesmo, de quem entende e vive a História detêm o poder.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Fala- se, porém, em globalização da economia como Sinto-me seguro porque não há razão para me enver-
um momento necessário da economia mundial a que por gonhar por desconhecer algo. Testemunhar a abertura aos
isso mesmo, não é possível escapar. Universaliza- se um outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são
dado do sistema capitalista e um instante da vida produ- saberes necessários à prática educativa.
tiva de certas economias capitalistas hegemônicas como Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando
se o Brasil, o México, a Argentina devessem participar da em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prá-
globalização da economia da mesma forma que os Estados tica de abertura ao outro como objeto da reflexão crítica
Unidos, a Alemanha, o Japão. deveria fazer parte da aventura docente. A razão ética da
Pega-se o trem no meio do caminho e não se discutem abertura, seu fundamento político, sua referência pedagó-
as condições anteriores e atuais das diferentes economias. gica; a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo. A
Nivelam-se os patamares de deveres entre as distintas experiência da abertura como experiência fundante do ser
economias sem se considerarem as distâncias que sepa- inacabado que terminou por se saber inacabado. Seria im-
ram os “direitos” dos fortes e o seu poder de usufruí-los possível saber- se inacabado e não se abrir ao mundo e aos
e a fraqueza dos débeis para exercer os seus direitos. Se a outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas
globalização implica a superação de fronteiras, a abertura perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna
sem restrições ao livre comércio acabe-se então quem não transgressão ao impulso natural da incompletude.
puder resistir. Não se indaga, por exemplo, se em momen- O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inau-
tos anteriores da produção capitalista nas sociedades que gura com seu gesto a relação dialógica em que se con-
lideram a globalização hoje elas eram tão radicais na aber- firma como inquietação e curiosidade, como inconclusão
tura que consideram agora uma condição indispensável ao em permanente movimento na História. Certa vez, numa
livre comércio. escola da rede municipal de São Paulo que realizava uma
Exigem, no momento, dos outros, o que não fizeram reunião de quatro dias com professores e professoras de
consigo mesmas. Uma das eficácias de sua ideologia fata- dez escolas da área para planejar em comum suas ativi-
lista é convencer os prejudicados das economias submeti- dades pedagógicas, visitei uma sala em que se expunham
das de que a realidade é assim mesmo, de que não há nada fotografias das redondezas da escola. Fotografias de ruas
a fazer, mas seguir a ordem natural dos faros. Pois é como enlameadas, de ruas bem postas também. Fotografias de
algo natural ou quase natural que a ideologia neoliberal se recantos feios que sugeriam tristeza e dificuldades. Foto-
esforça por nos fazer entender a globalização e não como grafias de corpos andando com dificuldade, lentamente,
uma produção histórica... alquebrados, de caras desfeitas, de olhar vago.
Páginas 122/123 Um pouco atrás de mim dois professores faziam co-
mentários em torno do que lhes tocava mais de perto. De
3.8- Ensinar exige disponibilidade para diálogo; repente, um deles afirmou: “Há dez anos ensino nesta es-
cola. Jamais conheci nada de sua redondeza além das ruas
Nas minhas relações com os outros, que não fizeram que lhe dão acesso. Agora, ao ver esta exposição de foto-
necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da po- grafias que nos revelam um pouco de seu contexto, me
lítica, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso par- convenço de quão precária deve ter sido a minha tarefa
tir de que devo “conquistá-los”, não importa a que custo, formadora durante todos estes anos. Como ensinar, como
nem tampouco temo que pretendam “conquistar- me”. É formar sem estar aberto ao contorno geográfico, social,
no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coe- dos educandos?”
rência entre o que faço e o que digo que me encontro com A formação dos professores e das professoras devia
eles ou com elas. É na minha disponibilidade à realidade insistir na constituição deste saber necessário e que me
que construo a minha segurança, indispensável à própria faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável
disponibilidade. É impossível viver a disponibilidade à rea- que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econô-
lidade sem segurança, mas é impossível cambem criar a mico em que vivemos. E ao saber teórico desta influência
segurança fora do risco da disponibilidade. teríamos que juntar o saber teórico- prático da realidade
Como professor não devo poupar oportunidade para concreta em que os professores trabalham. Já sei, não há
testemunhar aos alunos a segurança com que me com- dúvida, que as condições materiais em que e sob que vi-
porto ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor vem os educandos lhes condicionam a compreensão do
minha posição em face de uma decisão governamental. próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder
Minha segurança não repousa na falsa suposição de que aos desafios. Preciso, agora, saber ou abrir- me à realidade
sei tudo, de que sou o “maior”. Minha segurança se funda desses alunos com quem partilho a minha atividade pe-
na convicção de que sei algo e de que ignoro algo a que dagógica. Preciso tornar-me, se não absolutamente íntimo
se junta à certeza deque posso saber melhor o que já sei e de sua forma de estar sendo, no mínimo, menos estranho
conhecer o que ainda não sei. Minha segurança se alicerça e distante dela. E a diminuição de minha estranheza ou de
no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha distância da realidade hostil em que vivem meus
minha inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um alunos não é uma questão de pura geografia.
lado, minha ignorância, me abre, de outro, o caminho para Minha abertura à realidade negadora de seu projeto
conhecer. de gente é uma questão de real adesão de minha parte a
eles e a elas, a seu direito de ser. Não é mudando-me para
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
uma favela que provarei a eles e a elas minha verdadeira busca e na minha docência, tanto mais alegre me sinto e
solidariedade política sem falar ainda na quase certa perda esperançoso também. A alegria não chega apenas no en-
de eficácia de minha luta em função da mudança mesma. contro do achado mas faz parte do processo da busca. E
O fundamental é a minha decisão ético-política, minha ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora
vontade nada piegas de intervir no mundo. É o que Amí- da boniteza e da alegria. O desrespeito à educação, aos
lcar Cabral chamou “suicídio de classe” e a que me referi, educandos, aos educadores e às educadoras corrói ou de-
na Pedagogia do Oprimido, como páscoa ou travessia. No teriora em nós, de um lado, a sensibilidade ou a abertu-
fundo, diminuo a distância que me separa das condições ra ao bem querer da própria prática educativa de outro, a
malvadas em que vivem os explorados, quando, aderindo alegria necessária ao que- fazer docente. É digna de nota
realmente ao sonho de justiça, luto pela mudança radical a capacidade que tem a experiência pedagógica para des-
do mundo e não apenas espero que ela chegue porque pertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer
se disse que chegará. Diminuo a distância entre mim e a bem e o gosto da alegria sem a qual a prática educativa
dureza de vida dos explorados não com discursos raivosos, perde o sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada
sectários, que só não são ineficazes porque dificultam mais vocação, que explica a quase devoção com que a grande
ainda meus alunos, diminuo a distância que me separa de maioria do magistério nele permanece, apesar da imorali-
suas condições negativas de vida na medida em que os dade dos salários. E não apenas permanece, mas cumpre
ajudo a aprender não importa que saber, o do torneiro ou como pode, seu dever. Amorosamente, acrescento.
o do cirurgião, com vistas à mudança do mundo à espe- Mas é preciso, sublinho, que, permanecendo e amoro-
rança das estruturas injustas, jamais com vistas à sua imo- samente cumprindo o seu dever, não deixe de lutar politi-
bilização... camente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de
sua tarefa, assim como pelo zelo devido ao espaço peda-
Páginas 132/133 gógico em que atua com seus alunos.
É preciso, por outro lado, reinsistir em que não se pen-
3.9- Ensinar exige querer bem aos educandos; se que a prática educativa vivida com afetividade e alegria,
prescinda da formação científica séria e da clareza políti-
E o que dizer, mas sobretudo que esperar de mim, ca dos educadores ou educadoras. A prática educativa é
se, como professor, não me acho tomado por este outro tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, do-
saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de querer mínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente,
bem, às vezes, à coragem de querer bem aos educandos da permanência do hoje. É exatamente esta permanência
e à própria prática educativa de que participo. Esta aber- do hoje neoliberal que a ideologia contida no discurso da
tura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque “morte da História” propõe. Permanência do hoje a que o
professor me obrigo a querer bem a todos os alunos de futuro desproblematizado se reduz. Daí o caráter deses-
maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me perançoso, fatalista, antiutópico de uma tal ideologia em
assusta, que não tenho medo de expressá-la. Significa esta que se forja uma educação friamente tecnicista e se requer
abertura ao querer bem a maneira que tenho de auten- um educador exímio na tarefa de acomodação ao munido
ticamente selar o meu compromisso com os educandos, e não na de sua transformação. Um educador com muito
numa pratica específica do ser humano. Na verdade preci- pouco de formador, com muito mais de treinador, de trans-
so descartar como falsa a separação radical entre seriedade feridor de saberes, de exercitador de destrezas.
docente e efetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de Os saberes de que este educador “pragmático” neces-
vista democrático, que serei tão melhor professor quanto sita na sua prática não são os de que venho falando neste
mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha livro. A mim não me cabe falar deles, os saberes necessários
nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos ao educador “pragmático” neoliberal mas, denunciar sua
cognoscíveis que devo ensinar. A afetividade não se acha atividade anti-humanista. O educador progressista precisa
excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente estar convencido como de suas consequências é o de ser
permitir é que minha afetividade interfira no cumprimen- o seu trabalho uma especificidade humana. Já vimos que
to ético de meu dever de professor no exercício de minha a condição humana fundante da educação é precisamente
autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho a inconclusão de nosso ser histórico de que nos tornamos
escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que conscientes. Nada que diga respeito ao ser humano, à pos-
tenha por ele. sibilidade de seu aperfeiçoamento físico e moral, de sua
A minha abertura ao querer bem significa a minha dis- inteligência sendo produzida e desafiada, os obstáculos a
ponibilidade à alegria de viver. Justa alegria de viver, que, seu crescimento, o que possa fazer em favor da bonite-
assumida plenamente, não permite que me transforme za do mundo como de seu enfeamento, a dominação a
num ser “adocicado” nem tampouco num ser arestoso e que esteja sujeito, a liberdade por que deve lutar, nada que
amargo. diga respeito aos homens e às mulheres pode passar des-
A atividade docente de que a discente não se separa percebido pelo educador progressista. Não importa com
é uma experiência alegre por natureza. E falso também to- que faixa etária trabalhe o educador ou a educadora.
mar como inconciliáveis seriedade docente e alegria, como O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda,
se a alegria fosse inimiga da rigorosidade. Pelo contrário, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de
quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca. Gente formando- se, mudando, crescendo, reorien-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Há nisso um grande desafio a ser enfrentado quando se to dizem, provocando a conhecer o desconhecido ao mes-
quer construir uma educação infantil de qualidade e que mo tempo em que se constroem outros lugares de expe-
respeite seus direitos. riências, estranhando e conhecendo a todo instante.
Sabemos que as crianças expressam-se utilizando vá- O trabalho que considere as diferentes linguagens das
rias linguagens, com as quais constroem a si mesmas e as crianças implica, além de elaborar, para elas e com elas,
culturas nas quais estão inseridas levando-as ao encontro ricos ambientes contendo materiais diversos, que se garan-
entre palavras, choros, sons, movimentos, traçados, pintu- ta também a aproximação da arte em suas formas: teatro,
ras, todos imbricados em ricas manifestações, mas que, por cinema, dança, exposições, literatura, música ampliando e
vezes, encontra-se enfraquecida no cotidiano infantil devi- reivindicando o direito às manifestações artístico-culturais
do à ausência de propostas, que mesmo simples, procurem além do contexto escolar, transpondo-o de modo corrente
garantir processos de criação em que os questionamentos, e constante.
a busca criativa por diferentes materiais, o respeito pelo Para tanto, no decorrer desse texto procura-se apre-
trabalho individual e coletivo, estejam presentes. Cabe aos sentar ideias, não apenas de práticas pedagógicas. Mais
adultos, junto com seus pares e as crianças, criarem espa- que ensinar a fazer, tem como propósito provocar a pes-
ços no cotidiano de creches e pré-escolas em que as mani- quisa em diversos meios de informação para ensejar prá-
festações infantis estejam presentes sendo compreendidas ticas enriquecidas junto às crianças em um constante e
em sua inteireza, não se deixando conduzir apenas pela necessário processo de formação docente que respeite os
linguagem verbal ou escrita desconsiderando demais for- direitos das crianças.
mas expressivas. Para estabelecermos um diálogo voltado para as múl-
Condicionados a pensar nas linguagens sempre re- tiplas linguagens na educação infantil, serão considerados
lacionadas à fala deixa-se de pensar nelas associadas ao os artigos 6º e 9º das Diretrizes Curriculares Nacionais da
movimento, ao desenho, a dramatização, a brincadeira, a Educação Infantil, nos aspectos relacionados à promoção
fotografia, a música, a dança, ao gesto, ao choro. Contudo, das experiências expressivas de meninos e meninas no que
muitos ficam surpresos com a riqueza das manifestações tange a interação com a música, as artes plásticas e gráfi-
expressivas, chegam a espantar-se quando veem as crian- cas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura.
ças que se maravilham e descobrem coisas do cotidiano, Reclama-se aqui, aproximar as crianças de formas artísti-
tais como, entreter-se com seus traçados na dinâmica tão cas em diferentes espaços de criação, além dos escolares, a
rápida do dia-a-dia, envolvendo-se com seus corpos que serem experienciados por professores, colegas, pais, inde-
giram e criam coreografias ao tocar de uma música ou pendente da condição social e cultural a qual pertençam e
mesmo nos sons produzidos pelos talheres no momento de modo igualitário.
das refeições. Basta estar disposto a olhar e estar atento Boa leitura e que a mesma gere reflexões sobre as prá-
a esse universo rico de propósitos que reclama ser com- ticas docentes contribuindo para que as crianças vivam e
preendido. expressem o mundo rica e plenamente.
Frequentemente o termo “linguagem” é relacionado
estritamente à linguagem verbal e escrita e, por vezes, lhe DIRETRIZES CURRICULARES
é dado peso tão grande que chega a inibir a curiosidade De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais de
por conhecer outras manifestações expressivas dos seres Educação Infantil - (Resolução Nº 5, DE 17 DE Dezembro
humanos, sobretudo quando têm pouca idade. Adultos, de 2009), as propostas pedagógicas da educação infantil
tantas vezes, concebem a si mesmos como seres acabados, devem respeitar princípios estéticos, voltando-se para dife-
resultando disso olhares espessos, enrijecidos e pouco es- rentes manifestações artísticas e culturais que considerem
timulados a ver as realidades multifacetadas que se apre- a diversidade cultural, religiosa, étnica, econômica e social
sentam em profusão diante de todos. do país.
Explorar e conhecer linguagens utilizadas pelas crian- A dimensão lúdica e a dimensão estética são condi-
ças para expressarem-se, bem como, aquelas usadas pe- ções fundamentais para a formação humana. A associação
los adultos, significa estar junto com elas e perceber suas da dimensão lúdica às demais atividades expressivas das
características de acordo com gênero, classe social, etnia, crianças tem encontrado seu fundamento quando se des-
faixa etária a qual pertencem. taca a expressão de sentimentos, invenções, imaginação,
Quem são mesmo? Estão em constantes e profundas bem como, o desenvolvimento da sensibilidade, concebida
relações com seus pares de idades iguais e diferentes em como capacidade para sentir, procurar e exteriorizar sensa-
confrontos de ideias e negociações que geram criações co- ções, o que por vezes, são roubados das crianças, quando
letivas e individuais. Para os adultos implica, a partir das in- se tem os espaços das creches e pré-escolas organizados
certezas - também proveitosas -, buscar a garantia de que de modo empobrecedor. A sensibilidade tem um papel im-
diferentes pontos de vista sejam compreendidos, e que a portante quando pensamos na construção de nossas con-
escuta e o diálogo permaneçam presentes constantemente cepções de mundo e sobre o mundo, incidindo no modo
nos espaços de educação e cuidado destinados a primeira como o projetamos e o construímos.
infância. As manifestações linguageiras das crianças e dos É importante que as crianças tenham oportunidade
artistas convidam a reorganizar o mundo e experimentá-lo para debater, expor suas ideias, argumentar, criticar, rela-
em outras versões, mediados pelos corpos que se mexem, cionar-se com os outros e com isso conhecer formas an-
que nem sempre falam com palavras e letras, mas que tan- tigas e inventar novos modos de representar o mundo,
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
bem como, criar espaços de favorecimento às expressões modos de comportamento e de pensar, roubando a capa-
de suas ideias e a materialização das mesmas, pelas crian- cidade de olhar para o diverso que se encontra diante de
ças, sendo consideradas como sujeitos que constroem seu nós e aprender com isso.
crescimento nas constantes relações com os outros e o É importante se propor a conhecer as crianças com
meio social, histórico, cultural no qual estão inseridas. Tra- as quais se lida diariamente em nossa prática profissional,
balhando em estado de cumplicidade construída a cada afinal, quem são elas? Quem são, o que pensam e o que
gesto ou propostas feitos por ambas as partes, - professo- criam e vivenciam suas famílias? Como passaram a habitar
res (as) e crianças – temos a criação de jornadas a serem tri- o bairro em que a creche ou a pré-escola estão situadas?
lhadas conjuntamente buscando a sensibilidade, a criação Por que receberam seus nomes e quais as origens dos mes-
e a fantasia. As manifestações expressivas e artísticas não mos? Quais músicas ouvem? O que dançam? As histórias
precisam ficar concentradas num único dia ou curto pe- contadas por eles, sobre suas vidas, seus gostos pessoais
ríodo de tempo cronometrado, mas ganhar espaços cada – de crianças e suas famílias – guardam semelhanças com
vez maiores, esparramando-se no dia-a-dia de adultos e as da professora? Trata-se de perguntas importantes que
crianças de forma a provocar estranhamentos. podemos nos fazer cotidianamente.
Para isso, importa partir de algumas premissas: incen- As crianças não podem ser colocadas fora disso, sem
tivar a curiosidade e a exploração; garantir experimentos construir olhares plurais para aquilo que constroem e o
que considerem a plurisensorialidade; garantir às crianças que recebem como manifestações da cultura brasileira,
a comunicação por diferentes linguagens, o protagonismo sob pena de que a diversidade cultural seja dissipada do
e o prazer em descobertas com seus pares de idades iguais cotidiano infantil no interior das unidades educacionais.
e diferentes nos desafios com os quais se defrontam. Para tanto, fotografar e gravar suas histórias e documen-
As práticas pedagógicas que compõem a proposta cur- tá-las como elementos da memória da infância e das fa-
ricular na educação da primeira infância devem reconhecer mílias guardando-as posteriormente em um acervo é ter o
e promover a imersão das crianças em diferentes lingua- registro de práticas sociais e culturais variadas e com elas
gens e favorecer o domínio paulatino de vários gêneros aprender. Para isso, é possível criar cordéis, engenhocas,
e formas de expressão, bem como vivências com outras gravuras, danças, objetos com os quais dançar, persona-
crianças e grupos culturais. gens, bonecos.
Pertencer a um determinado espaço (creche ou pré, Para que a interação das crianças com as manifesta-
bairro, cidade, país) relaciona-se a identidade cultural que, ções artísticas e culturais seja promovida é necessário nos
por sua vez, remete a aspectos de nossas identidades cons- interrogarmos sobre a formação estética dos professores
truídas coletivamente. Vão construindo identificações, ao que cuidam e educam na educação infantil. É importante
mesmo tempo em que se distinguem dos demais. Assim, considerarmos a dimensão estética na vida e na formação
a identidade e a alteridade, a semelhança e a diferença dos docentes que atuam com crianças.
marcam o sentimento de pertencer ao todo. É importan- Em quais contextos sociais e culturais nos nutrimos em
te garantir ambientes em que sejam respeitadas as espe- artes? Onde? Criar percepções particulares para os objetos
cificidades das crianças na educação infantil, bem como, que o mundo apresenta é algo aprendido na relação com
dos saberes que elas portam quando chegam às creches e o outro. Desfrutar das manifestações artísticas possibilita
pré-escolas e aqueles que constroem durante o tempo de o rompimento com o tempo do mundo do trabalho, a fa-
permanência nesses espaços. vor do tempo da brincadeira e dos processos criativos mais
As creches e pré-escolas constituem-se também como lentos. Para tanto envolver-se, recuperar a relação mais
lugares em que o valor cultural e artístico dos diferentes sensível com o mundo é um elemento importante quan-
grupos sociais estão presentificados na forma como o es- do se propõe que as crianças, com as quais diariamente
paço é organizado, em materiais com os quais as crianças se está e se aprende, interajam com diferentes formas de
brincam e criam desenhos, esculturas, danças, pinturas co- manifestações artísticas e culturais.
tidianamente. Frequentar cinemas, alugar filmes, ir ao teatro, museus,
As culturas são construídas nas relações estabeleci- ter acesso a vários gêneros literários (contos, romances,
das com os outros de idades iguais ou diferentes, criando poesia), assistir a espetáculos de dança, seja nos teatros ou
universos que, embora submetidos ao mundo globaliza- de rua, são atos, senão criadores em si, mas que colaboram
do, permite ver o panorama cultural brasileiro e observar com a criação para e com as crianças. É importante entrar
seus encontros étnicos, estéticos, de gênero e etários que em sintonia com o tempo, com a história e a cultura, o
provocam diversas criações, chamam à participação e po- desejo por aprender e pesquisar é uma mola provocado-
dem integrar as comunidades, as famílias e unidades edu- ra de mudanças nas práticas pedagógicas, bem como, das
cacionais. Pode-se dizer que há estéticas brasileiras recla- relações estabelecidas entre crianças e seus pares e destes
mando ser consideradas nesses espaços escolares desde com os adultos.
a pequena infância. Os diferentes grupos indígenas, os Nesse texto, há o desejo de se estabelecer um diálo-
quilombolas, os centros urbanos, o meio rural, para citar go com os leitores e para tanto, estão situados diferentes
alguns grupos culturais e sociais, guardam em si manifesta- aspectos das linguagens artísticas com as quais podemos
ções culturais e estéticas, que embora presentes em nosso nos familiarizar, apresentar contribuições, enriquecer o
cotidiano, poucos as conhecem ou veem, sucumbidos que dia-a-dia daqueles que constroem a educação da primeira
somos pelas mídias que nos impõe padrões de beleza, de infância no país. Música, artes plásticas e gráficas, cinema,
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
fotografia, dança, teatro, poesia e literatura foram aqui se- abstrações tais como o amor, a alegria, o futuro, ou ainda
parados com uma pretensão didática sabendo que, sobre- de atribuir a uma coisa o nome de outra, com os traços e
tudo na primeira infância todas elas encontram-se juntas, formas, às vezes inusitadas.
num só corpo, manifestando-se ricamente em situações As crianças reescrevem a realidade em seus traços e
coletivas ou individuais entre crianças de idades iguais ou cores. Dessa forma, estar com as crianças, observar, pre-
diferentes, entre elas e as adultas. É certo que professo- parar junto com elas espaços privilegiados para se expres-
res criam constantemente junto às crianças na dinâmica sarem é algo fundamental que estamos aprendendo e
diária da profissão docente, aprendendo com elas, com a temos que aprender ainda mais. Olhar detidamente seus
comunidade e em variados processos de formação pelos desenhos pode, de certa maneira, desestabilizar práticas
quais passa e de acordo com as particularidades culturais profissionais cuja preocupação encontra-se em pendurar
de cada região, ainda assim, seguem aqui algumas dicas nos varais as criações e nem mesmo dialogar com quem
para criação de materiais citados no corpo do texto e que os fez, ou, ainda pior, colocá-los em saquinhos plásticos
podem ser utilizados por todos. que emudecem criadores e obras, deixando-os dentro de
DESENHAR E PINTAR: As crianças desenham sobre armários. É imprescindível que tenhamos diversos suportes
diferentes bases e com diversos materiais. Os desenhos para o desenho à disposição das crianças, com cores, tex-
constituem-se como um jogo em que há narrativas, ima- turas, formas de tamanhos diversos. Além dos lápis de cor,
ginações, inventividade que são mobilizadas pelo convite canetas hidro cor, giz de cera, o carvão, cacos de tijolos e
feito pelos suportes que são oferecidos ou encontrados pedras porosas, fios de barbante, nylon, cobre, conduítes,
pelas crianças. Através dos traçados procura-se conhecer, são ótimos materiais para realizar os traçados e possibilitar
reconhecer-se e ser reconhecido. Eles incentivam a elabo- que saltem do papel tornando-se tridimensionais.
ração criativa constituindo assim pesquisas pessoais que Tintas variadas, compradas ou feitas na unidade edu-
são elaboradas pelas próprias crianças. Isso resulta em fon- cacional, comestíveis para os bebês, encorajam as lambu-
tes documentais das marcas de si deixadas para a História zagens tão caras a todos, delineando percursos de buscas
tanto pessoal quanto coletiva. pelas cores, pelas misturas, pelas formas, sem esquecer,
Diferentes superfícies esperam silenciosamente que que, entre os pequenos, o corpo é um dos suportes sobre
meninos e meninas decidam que rumos tomarão, que tra- os quais as tintas podem ser usadas criando novos modos
ços, que marcas deixarão sobre as áreas de diferentes tex- de exploração e interação.
turas, formas, tamanhos, que ao serem investigadas pelas
crianças ganham proporções ilimitadas. As crianças bus- A criação de texturas proporciona descobertas interes-
cam possibilidades de desenhos entre danças, assobios, santes pelas crianças.
conversas, pensamentos quietos e inquietos, individual Podem ser feitas diretamente sobre as superfícies que
ou coletivamente, traduzidos em manchas ou riscos que se pretende caracterizar obtendo relevo ou traçados inusi-
adquirem inúmeras formas. Podemos questionar os dese- tados, basta sair à procura pelos espaços externos ou inter-
nhos das crianças a partir de observações rigorosas de seus nos, tendo em punho papel sulfite, cartolinas, Kraft, tecidos
próprios traçados: que coisa acontece quando um ponto ou outros e lápis, giz, cacos de telha ou tijolo. A professora
começa a mover-se sobre as folhas? Como será uma linha pode determinar o tema a ser procurado ou mesmo dei-
calma ou agitada? Quando duas linhas se encontram o que xá-los livremente “à caça de texturas”, é um divertimen-
acontece? O que as crianças manifestaram entre cores e to associado às descobertas e conhecimento que podem
formas, tantas vezes desconhecidas de nós adultas? ser seguidos de observações visuais e táteis das texturas,
Muitas vezes os traçados das crianças ficam no imagi- análises de suas características, observações dos percursos
nário adulto como sinônimo de algo que fere aos padrões realizados, reflexões. Sem esquecer que tais descobertas
estéticos vigentes, apresentando-se como feios ou caóti- são feitas por todos, independentemente da faixa etária,
cos. É ainda comum vê-los presentes em alguns momentos embora tenhamos que considerar os limites de cada um.
tendo como objetivo que a criança “descanse”, fique um Os desenhos podem ser compreendidos como fontes
tempo quietinha desenhando. Adquire dessa maneira uma documentais que nos informam sobre as crianças, sobre a
conotação negativa: o desenho torna-se útil como elemen- infância em diferentes contextos sociais, históricos e cultu-
to disciplinador, ao contrário de liberador de expressões. rais. No que se refere à criação de desenhos, quando nos-
Tais desenhos carecem de uma maneira de vê-los mais pro- sas preocupações se voltam para uma perspectiva social,
fundamente sem procurar ordenar o caos, ou seja, sem a muitas perguntas podem ser feitas: de maneira geral há
busca pela representação fiel da realidade, como tantas ve- motivos artísticos mais predominantemente encontrados
zes fazemos, resultando em provocar nas crianças a neces- nos desenhos de um ou de outro? Há elementos que evi-
sidade de criar segundo prescrições adultas. É fundamental denciam cenas de um cotidiano vivido pelos meninos ou
que transformemos a curiosidade em verbo conjugando- pelas meninas? Os riscos modificam-se ao longo do tem-
-o diariamente. Então, para “curiosar” o mundo, importa po? Ao serem conjugados à fala das crianças, os desenhos
que os espaços vividos cotidianamente pelos meninos e podem ser compreendidos de outras formas? Como os
meninas ganhem status de provocadores de descobertas. mesmos podem se oferecer de modo a se perceber narrati-
Perde-se, cada vez mais, a capacidade de olhar e estra- vas do cotidiano e da imaginação próprias dessas crianças?
nhar o objeto visto. Os desenhos das crianças podem ser Há diferenças étnicas perceptíveis? Formas de ocupação
considerados como metáforas visuais, formas de explicar do espaço do suporte oferecido para desenhar? Quais as
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
cores mais frequentemente utilizadas para expressar pes- Lãs ou linhas coloridas
soas brancas ou negras? Há o já famoso pedido do “lápis Barbante fino
cor de pele” para pintar pessoas, indiferentemente, como Os fios de barbante deverão ser passados em duas
se todas as pessoas tivessem a mesma cor de pele, denun- extremidades dos retângulos de papelão, semelhantes a
ciando preconceitos e padrões estéticos a serem segui- cordas de violão. As lãs ou linhas, em cores diversas cru-
dos? As composições do espaço do desenho são feitas de zam essas linhas formando uma trama fechada, para faci-
qual modo? Há diferenças entre os desenhos de crianças litar pode-se usar um instrumento como grampo para dar
oriundas de camadas sociais diversas? Pode-se perceber maior firmeza ao puxar os fios. Ao utilizar cores diversas o
a diversidade étnica? É possível perceber transformações resultado será colorido, podendo se fazer desenhos sim-
históricas presentes em desenhos de diferentes épocas? É ples, listras, dependendo da faixa etária da criança, assim
possível traçar uma história do desenho a partir de como como, ter retângulos maiores e criar coletivamente uma
eles são realizados? única peça. Para uma pesquisa mais aprofundada é impor-
Conhecer as manifestações artísticas de diferentes po- tante conhecer alguns dos grupos indígenas: Apalai, kaya-
vos exige compreender, não só os códigos europeus e nor- pó-Xikrin, Xerente, Guaranis, Karajá, Ticuna, Kadiweu, entre
te-americanos, mas também conhecer outros menos pres- outros.
tigiados, mas, essenciais tais como, as culturas afro-bra-
sileiras, indígenas, feminina, homossexual, japonesas, etc. GRAVURAS E BUMBA-MEU-BOI
Tem-se no grafismo indígena e na arte de tecer e trançar, a) Gravuras: para sua confecção serão necessários os
tão característicos entre os povos do Brasil, fontes inspira- seguintes materiais:
doras para a formação e cultivo de olhares de nossas crian- Placas pequenas de isopor fino – podem ser utilizadas
ças, as cestarias e pinturas corporais são ricas em motivos bandejinhas de isopor compradas em lojas especializadas
que não podem passar despercebidos. Onde se encontram em embalagens ou recicladas após utilização doméstica
tais trançados? Há narrativas em suas formas e cores? As Pontas de canetas – fora de uso – ou goivas ou pontas
crianças podem produzir artefatos em teares feitos com de clipes
papelões ou madeiras usadas e criar suas próprias tramas, Tinta guache
Rolinhos pequenos de pintura
bem como, realizar pinturas em seus corpos o que, além
As gravuras são imagens obtidas por meio de uma ma-
do prazer, pode proporcionar descobertas sobre o corpo e
triz, que pode ser de madeira, pedra ou metal, nela são
suas possibilidades.
feitos entalhes ou impressões – qualquer tipo de desenho
Quanto aos desenhos, ainda vale lembrar que não se
– pelas crianças individual ou coletivamente, deixando-se
pode esperar que as crianças cresçam aproximando-se
sulcos mais fundos, feitos com goivas, pontas de canetas
dos modelos e concepções estéticas dos adultos para os
ou clipes inutilizados. Após o término do desenho, com
concebermos como belos e bons em sua complexidade. um rolinho molhado em tinta de qualquer cor, cobre-se a
São também fontes históricas, que nos informam sobre as superfície sem deixar que a tinta entre totalmente nos sul-
crianças, do ponto de vista de sua inserção em diferentes cos, sob pena de que encobertos não revelariam o desenho
contextos e períodos da história. Vale lembrar que quando criado. Podem-se criar outros suportes tais como isopor,
se guarda os desenhos pesquisas podem ser provocadas, sabão. Ao ser colocado sobre tecidos ou papéis, se obtém
tanto com as crianças, como entre as professoras. Inves- a reprodução do desenho que deixará sua marca, pode-se
tigações voltadas para se conhecer mais e melhor os tra- fazer várias cópias sob o material desejado.
çados, a utilização de determinadas cores e formas pelas O cordelista e gravurista paraibano J.Borges, apresenta
crianças desenhistas. É indispensável organizar situações em suas gravuras e cordéis aspectos instigantes para que
nas quais propormos experiências prazerosas, instigantes, se conheça o Brasil, a partir de outros pontos de vista. A
nas quais adultos e crianças possam expressar-se dese- forma como os textos são apresentados em cordel, o tipo
nhando juntos, descobrindo esta dimensão perdida, talvez de poesia secular, ainda são pouco abordados entre as
na própria infância, período da vida com o qual trabalham crianças, não compondo o cotidiano de creches e pré-es-
atualmente. colas e suas práticas.
Sustentar uma cotidianidade do desenho não como b) Bumba-meu-boi: Para confeccionar o bumba-meu-
forma avaliativa da criança e suas expressões, mas como -boi serão necessários os seguintes materiais:
direito a expressão que deve estar difusa, espalhada entre Caixas de papelão de tamanhos variados, mas que se-
nós e em nós é essencial para as crianças em seu dia-a-dia. jam compatíveis com o tamanho de uma criança já que
Sugiro a seguir algumas atividades que relacionam de- elas vestirão o “boi”, entrando nelas. As caixas podem ser
senho à outras linguagens. usadas e adquiridas em supermercados ou lojas após o
descarte.
TEAR MANUAL Fitas coloridas de diversos tamanhos
Trata-se de um processo simples, do qual todos podem Retalhos de tecidos
participar, sendo prazeroso e cujos resultados são muito Cola branca ou cola quente
interessantes. Para sua confecção serão necessários os se- Lantejoulas, botões coloridos
guintes materiais: Utilizando-se caixas de papelão vazias podem ser de-
Um pedaço retangular de papel duro ou papelão, me- coradas deixando-se o centro aberto, onde se abre e fecha
dindo 15cmX20cm, podendo ser maior. a caixa, de forma que as crianças possam entrar nelas para
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
dançar. Tecidos coloridos, chitas, flores, rendas, fitas, po- das inúmeras formas como são representadas, dando-lhes
dem ser usadas na confecção do boi servindo para decorá- visibilidades diversas. Os contextos em que estão inseridas
-lo. Podem ser feitos bois pequenos e com eles as crianças tornam-se conhecidos, com isso a pluralidade cultural, as for-
brincarão uns com os outros inventando danças. mas de relação estabelecidas entre adultos e crianças e en-
tre estes e os diferentes espaços escolares e sociais em que
FOTOGRAFIA E CINEMA: Para além da possibilidade atuam. Está ai uma rica contribuição para a formação docente.
de se conversar com as crianças sobre as transformações Mas, e o cinema feito para as crianças? Como situar-se diante
de sua história a partir das fotografias pessoais, de famí- dos filmes infantis que ora são assistidos no cinema ora, alu-
lia, dos amigos, que trazem registrados de passeios, festas gados para serem vistos nas próprias creches e pré-escolas?
e demais situações, as máquinas fotográficas ou celulares Em primeiro lugar, se tem experiências diferentes – as-
que possuem câmeras possibilitam realizar imagens que sistir nas unidades educacionais e nas salas de cinema ou
colaboram com as nossas capacidades de olhar a partir de mesmo quando são projetados em praças públicas e isso
pontos de vistas alternativos: dependendo de como são deve ser considerado. Não se pode exigir das crianças o
realizadas as fotos, obtemos mais detalhes sobre os ob- mesmo tipo de comportamento e relação. Ainda assim,
jetos focados, descobrindo particularidades dificilmente deve-se tomar cuidado com a escolarização dessa forma
vistas. Podemos nos colocar, junto às crianças, a observar de arte: os filmes não podem servir a funções avaliadoras,
variadas texturas, o que ocorre entre as formigas no parque de transposição de conteúdos escolares, ainda que os mais
da creche ou da pré-escola, os grãos de arroz no momento simples, ou mesmo, como suporte moralizador da infância.
em que a refeição é servida, as paredes que delimitam as Adotar uma postura critica frente às obras a serem escolhidas é
salas, as trilhas feitas na terra pelos insetos, os olhos, mãos fundamental e se pensar que os corpos, que tanto reclamam li-
e gestos dos amigos da turma, enfim, infinitas possibilida- berdade de expressão em lugares amplos, têm que ser olhados
des de pesquisa nos ambientes vividos pelos meninos e com atenção, não se pode roubar o tempo das experiências
meninas. Pode-se facultar às crianças junto com os adultos corporais, da dança, dos ritmos, da busca pelo conhecimento,
a composição de fotografias mediante a confecção de pi- prendendo as crianças em cadeiras durante muito tempo.
nholes, que são máquinas feitas com latinhas de leite em Sabe-se que, entre outros aspectos, essas produções
pó, molho de tomate. culturais também são responsáveis pela constituição das
Ao serem guardadas as fotografias compõem coleções crianças no que toca ao gênero, aos valores, às relações
com os familiares e colegas, enfim, ensinam sobre o mun-
pouco comuns nos espaços educacionais. São imagens que
do vivido, imaginado e provoca invenções e fantasias. Ao
registram o cotidiano na perspectiva da criança e, ainda
professor caberá cumplicidade, ao mesmo tempo em que
mais, considerando sutilezas pouco exploradas e conhe-
mediará junto as crianças as relações entre elas e o filme
cidas por todos. A experimentação de materiais, instru-
assistido. O cinema é também uma maneira de propiciar
mentos e técnicas, a observação da natureza, por exemplo,
experiências estéticas às crianças, observando isso, é im-
garantem a expansão dos conhecimentos plurissensoriais.
prescindível que o adulto considere, nos filmes, sua forma
Em aventuras pelos diferentes lugares habitados, nas pe- e conteúdo, linguagens utilizadas, o caráter da produção, já
quenas e grandes cidades, as crianças, portando máquinas que se trata de uma forma de possibilitar compreensão de
fotográficas podem sair pelas ruas, explorando espaços, mundo e simultaneamente promover criações.
para conhecer os lugares – de encontros, de lembranças, E a criança, pode criar? Precisa-se de materiais tais
de amizades, de alimentação, de confrontos – para cons- como filmadoras, ou celulares que filmem. Os desenhos
truírem-se como pertencentes a eles, num exercício de criados pelas próprias crianças podem dar o tom para a
percepção constante, focado e presentes em suas lentes. elaboração coletiva de roteiros. Desenhos podem ser so-
Quais são suas escolhas? Quais aspectos do cotidiano fo- mados a outras linguagens em intensas pesquisas: escolher
ram explorados? Quais pessoas? São perguntas que po- histórias e colocar amigos, massinhas ou somente dese-
dem caminhar conosco e que nos ajudam a olhar e apren- nhos, animando-os de modo bastante simples, conside-
der com as crianças sobre seus pontos de vista a cerca do rando que raramente haverá a possibilidade de editar as
cotidiano por elas vivido e construído. A fotografia pode imagens, não se trata de algo profissional evidentemente,
ser vista então como ato de comunicação que, ao mesmo mas de experiências de criação que envolvem muitas pes-
tempo distinta do cotidiano, o compõe e o exibe, colocan- soas de todas as idades. O contexto do filme, que poderá
do-se e àqueles que a observam em diálogo. ter uma curta duração, pode ser acordado entre todos: será
Quanto ao cinema, compreendido aqui como lingua- um drama, uma comédia, relatar algum fato ocorrido na
gem e prática cultural em que temos as relações sociais, creche ou pré-escola, os bebês da creche podem partici-
psíquicas, estéticas todas implicadas, o que se percebe é par com as crianças maiorzinhas contribuindo com o que
que nos últimos anos do século XX e início do XXI a infân- tiverem e puderem. Para se criar uma sequência de movi-
cia tem sido considerada nos enredos, ocupando cineastas, mentos, pode-se fazer inicialmente desenhos variados, se-
telas de cinemas e prateleiras de locadoras, estas últimas, melhantes, como num flip-book e deixar as crianças brin-
constituindo-se como importantes lugares para onde se carem com a ilusão de movimentos que é gerada à medida
pode ir objetivando descristalizar coisas aprendidas e se que as folhas do flip-book – livros em diferentes tamanhos,
propor a aprender outras novas. As experiências das crian- que ao serem manipulados pagina a página, bastante rapi-
ças encontram no cinema lugar precioso para serem ob- damente fazem com que as imagens desenhadas ganhem
servadas e aprender com elas de muitos modos, a partir movimento.
43
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
PINHOLES- MÁQUINAS FOTOGRÁFICAS COM LA- e imagens estão em conexão profunda, basta vê-las e per-
TAS USADAS ceber que é possível conhecer, ver e representar o mundo a
Trata-se de um processo simples, do qual todos podem partir de outras referências e repertórios, bem como tendo
participar, sendo prazeroso e cujos resultados são muito o livro como objeto de prazer para as crianças, com suas
interessantes. Para sua confecção serão necessários alguns histórias que podem ser contadas frequentemente em voz
materiais que poderão ser usados por diversas vezes: alta, alimentando seu imaginário.
• Uma lata que tenha uma abertura com tampa, ou que A conexão entre a poesia e a produção plástica, pode
possa ser fechada com papelão, do outro lado da lata fazer ser feita à medida que alguns objetos e pinturas sugerem
um furo que será tampado com fita isolante. poesias e estas mobilizam produção de imagens.
• Papel fotográfico branco Aguçar a sensibilidade das crianças a partir de variadas
• Revelador modalidades, tais como: outdoors, páginas da Internet, re-
• Fixador ceitas, aguçando-lhes a sensibilidade para a observação e
• Interruptor a criação de poesia, que não obrigatoriamente precisa ser
• Bacias para revelação feita com palavras, ou seja, a criança não alfabetizada po-
Com o material você procederá do seguinte modo: derá brincar de fazer poesia ou somente ouvi-las, quando
Recorte um quadrado de 6cm x 6cm de papel fotográ- lidas pelas professoras. É bom prestar atenção ao ritmo do
fico. (Isto deve ser feito no escuro ou num quarto com luz poema quando se lê. O ritmo faz perceber diferentes sons
vermelha muito fraca) e cole este papel na parte interna contidos nos versos, quais palavras aparecerem e o que su-
da tampa da lata de modo que a emulsão sensível (a par- gerem a quem ouve e quais os efeitos sonoros produzidos.
te branca do papel fotográfico) fique para o lado do furo. Como dizia o poeta José Paulo Paes, poesia é brincar
(isto deve ser feito em quarto escuro ou com luz vermelha com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião e
fraca). Feche a lata com a tampa. Para que as fotos sejam ti- complementava salientando que, enquanto tais objetos
radas basta levar a lata para um lugar claro, apontá-la para podem se desgastar, as palavras se revigoram ao serem
o que você desejar fotografar e fixar a máquina sobre algo usadas. É possível depreender dessas palavras que, nas cre-
que a deixe imóvel. (A máquina não pode balançar durante ches e pré-escolas não daremos aulas sobre poesias, como
num ensaio para a escrita. A poesia no mundo infantil deve
a operação). Focando o objeto tire a fita isolante por 20 se-
vir tal qual brincadeira, sendo contada, vista e sentida poe-
gundos e deixe o buraquinho da máquina focando-o, após,
ticamente no cotidiano das crianças.
será necessário fechá-lo novamente e revelar o papel. Tudo
Considerando isso, as poesias visuais, ainda não tão
deverá ser feito no escuro. Preparar bacias com os líquidos
populares no Brasil, são importantes por se oferecerem
revelador, interruptor e fixador. Tirar o filme da maquina e
como veículos que contém formas poéticas para além de
mergulhá-lo no revelador por um minuto, já será possível
palavras, ou seja, são formas de utilizar objetos, letras, para
ver as imagens aparecendo. Em seguida dois minutos no sintetizar ideias, sonhos, desejos. Essa poesia é feita com a
liquido interruptor e cinco minutos no fixador. utilização de vídeos, holografia, cartazes, cartões, compu-
Após todo o processo lavar em água corrente por al- tador. A imagem é bastante valorizada e se cruza com ex-
guns minutos. Se a foto ficar muito escura é devido a um perimentos visuais resultando disso textos que comungam
longo período de exposição, com o furinho da lata aberto letras e outras imagens.
por muito tempo, são várias as experiências oriundas daí. Ler as poesias para as crianças para que se familiarizem
Pode-se voltar ao local, fazer várias fotos, utilizar várias la- com essa linguagem é essencial. Não se trata de ensiná-las
tinhas. Criar e ficar atento às imagens que resultam desses numa perspectiva antecipatória do contexto escolar das
experimentos fotográficos dos quais as crianças, sem dúvi- séries iniciais do ensino fundamental, mas aproximá-las
da, poderão participar. de outra maneira de explicar e sentir o mundo, traduzida
pelas poesias. A brincadeira com as palavras, sem o cará-
POESIA E LITERATURA: A poesia é um gênero literá- ter obrigatório que lhe é conferido tantas vezes, sem que
rio, uma, entre as demais linguagens, que pode ser levada prevaleça a intenção da escrita, é provocadora de ricas cria-
para o cotidiano de creches e pré-escolas provoca a refletir ções infantis, do prazer pela leitura, do enriquecimento da
sobre expressões e sentimentos alheios e próprios. Quan- imaginação, da fantasia e inventividade, tão necessárias e
do as poesias encontram-se nesses espaços de educação que constituem o humano no Homem.
e cuidado, intensifica-se o modo de produção inventivo, Quanto a outros gêneros literários e a chamada lite-
garantindo o encontro da palavra com o movimento, do ratura infantil temos que garantir que as histórias sejam
som com a imagem, de conhecermos e criarmos textos contadas às crianças, fazendo-se presentes em suas vidas.
percebendo não apenas o significado das palavras utili- Para isso, é necessário criticidade e sensibilidade. Vale
zadas, mas que se brinque com seus ritmos, com sua so- lembrar que se trata de uma forma de se compreender o
noridade, com o aspecto visual, tal como os haicais que mundo e representá-lo. Quais os conteúdos presentes?
também podem ser construídos pelas crianças, em sínte- O que os mesmos dizem quanto aos negros, indígenas,
ses de seu pensamento, de sua concepção de mundo, ou crianças, mulheres e homens nos textos escritos e imagéti-
melhor, extraindo a essência do que vivencia no dia-a-dia. cos? Apresentam preconceitos? É importante retomar essa
Trata-se de possibilitar, a partir da poesia, que seja atiçada preocupação quando escolhemos livros para serem lidos
a imaginação das pessoas, libertá-las de uma mesmice roti- para e com as crianças, ou, simplesmente para serem ma-
neira, tantas vezes empobrecedora. Poesia e dança, música nuseados por elas.
44
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Sugiro atividades a seguir que podem ser feitas com sos em canções com valores morais e com refrãos sugesti-
as crianças. vos de certos comportamentos, música entendida apenas
como canção e não como som e melodia. Há aqueles que
POESIAS denominam muitas das músicas ouvidas pelas crianças de
Adotando-se a ideia do poeta de que poesia é brin- “musiquinhas”, num tom francamente pejorativo, porém
car com palavras sugere-se aqui que tais brincadeiras com revelador da maneira como meninos e meninas são con-
letras e palavras não estão à disposição de um processo cebidos e ainda mais, como são pensadas e realizadas as
antecipado ou forçado de alfabetização das crianças. relações entre adultos e crianças em ambientes para a in-
a) Brincar com os sons das palavras criando trocadilhos, fância também no que toca às músicas e sons que, ao se-
rimas, aliterações (que são repetições de fonemas idênticos rem realizados pelas crianças, são ouvidos como barulhos,
ou parecidos no início de várias palavras na mesma frase contrariando as regras do silêncio.
ou verso, visando obter efeito estilístico na prosa poética A canção é importante como brincadeira, como conhe-
e na poesia), cimento cultural, como contato com o folclore brasileiro.
b) Brincar com as palavras e letras tornando-as objetos, No entanto, não podemos deixar de lado o contato com
alterando o tamanho e o tipo das letras, associar imagens outros gêneros musicais, de outras culturas e, principal-
e letras, utilizando histórias em quadrinhos, cores diversas, mente com os sons de todas as partes do mundo, con-
cartazes. Pode se fazer móbiles pequenos e espalhá-los por siderando também o que a criança porta advindo de seu
diferentes lugares das creches e pré-escolas ou gigantes, contexto social, familiar, cultural.
tais como cortinas poéticas, que se transformam em espa- Quais as paisagens sonoras, ou seja, sons, barulhos de
ços nos quais as crianças entram, brincam, trocam letras, panelas, de brincadeiras, de pássaros, falas entre as pessoas,
tocam, cheiram e até, em alguns casos, as comem, por que presentes na creche e pré-escola? As crianças têm possibi-
não? lidade de ouvi-los, percebê-los, relacionarem-se com esses
c) Brincar com os sentidos das palavras originárias de sons, barulhos, músicas, estranhando e reconhecendo-os?
diferentes regiões ou países. Há momentos em que são privilegiadas as descobertas e
construções sonoras? As crianças cantam? Inventam can-
MÚSICA: a música como linguagem que é, organiza os ções? Os objetos são transformados em instrumentos mu-
signos sonoros no espaço e no tempo. Considerando que sicais? O que é feito para enriquecimento dessas práticas
ela se constitui como um meio de orientar a reflexão do entre as crianças? Jogos, sonorização de histórias, escuta
ouvinte sobre o mundo, pode-se afirmar que sua presença sonora, brincadeiras cantadas, percepção dos sons, baru-
entre as crianças é fundamental para que as mesmas pos- lhos, ruídos que compõem a creche ou pré-escola, são es-
sam compreender e construir seu cotidiano e seu mundo senciais e podem constituir o tempo das crianças junto a
a partir da linguagem sonora. As crianças estão envolvidas outras linguagens e não como aula de música, o que tantas
no universo sonoro desde tenra idade, alguns afirmam que vezes é visto entre os pequenos.
desde a fase intrauterina. Importa perguntar sobre quais
experiências sonoras meninos e meninas estão expostos, MÚSICAS, SONS, BARULHOS
já que muitas vezes fica reduzida a auxiliar na organização São muitas as ideias para se criar instrumentos sono-
de atividades relacionadas à hora do lanche e higiene das ros, trabalho vocal com canto entre as crianças e pesquisas
crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infân- sonoras de modo a não tornarmos os espaços destinados
cia. Como a música está presente em uma creche, com as a educação infantil meros reprodutores de músicas ampla-
crianças pequenininhas (de 0 a 3 anos)? mente exploradas pelas mídias televisivas e rádios e po-
Como as profissionais que cuidam delas entendem as dermos cultivar com elas um ouvido “pensante” e criador,
manifestações e os movimentos realizados pelas crianças e ambientes onde as músicas escolares cedam espaço para
em relação aos sons e à música? As professoras estão aten- outros sons. Seguem aqui algumas sugestões, para quem
tas para ouvir o dia-a-dia? sabe, serem criados ou reinventados instrumentos junto às
As crianças pequenas realizam pesquisas sonoras, são crianças.
verdadeiros cientistas dos sons, porque em busca de sua a) Chocalhos ou ganzás: com latinhas, potes de iogur-
identidade e de identificar o ambiente onde vive, utilizam tes ou de óleo de cozinha, colocando-se grãos de arroz,
os sons com suas propriedades: altura, duração, intensida- pedrinhas, feijão, conchinhas, botões podemos construir
de e timbre, nas experimentações dos sons, por intermédio instrumentos simples com as crianças. É importante garan-
de suas brincadeiras, cantarola, assobia, balbucios, risos, tir a audição dos sons e propor estranhamento: o som do
batendo com os objetos, arrastando, gritando, emitindo os chocalho com arroz é igual ao som daquele que tem pedri-
mais diferenciados sons em seus processos investigativos. nhas? Quando a quantidade é maior, algo muda?
Sabe-se que a criança é um ser brincante e que a músi- b) Cortinas sonoras: Após conversas com as crianças
ca é criada ao brincar, os sons, são transformados e recriam podemos solicitar que tragam de suas casas objetos que
ambientes. É necessário que nossos ouvidos estejam aten- produzam sons para a creche ou pré-escola. Podemos
tos para perceber o modo como bebês e crianças maiorzi- sugerir que sejam objetos utilizados quando eram ainda
nhas se expressam musicalmente em cada período de suas menores e, para aqueles que falam, contarem aspectos da
vidas. Estamos ainda habituados, no interior das creches e história do objeto. Obtém-se com isso um diálogo entre
pré-escolas, ao trabalho com canções que apresentam ver- a família e a creche e a pré-escola, para aqueles que não
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
falam os pais podem escrever ou mesmo comparecer à para ser apreciado. Aqui o objetivo, embora explicitado de
creche para contar sobre o objeto sonoro. Depois disso, modo breve, é levantar a questão de que a produção cul-
podemos juntamente com as crianças compor uma cortina, tural das crianças, como sujeitos de direitos que são, passa
que ao ser tocada, produz os mais variados sons e evoca a pela esfera da política e, nesse caso em especial, pelas po-
curiosidade infantil, ao ser disponibilizada em corredores líticas publicas educacionais e culturais. O objetivo encon-
todos poderão usufruir da pesquisa sonora. tra-se também na afirmativa de lançar olhares para o que
c) Gravar os sons da cidade, do campo, do bairro: Pro- já vem sendo feito no Brasil e em demais países onde tais
por passeios em que, de posse de pequenos gravadores, questões encontram-se mais presentes em profundos de-
ou celulares que tenham gravador, as crianças possam bates e práticas culturais nas cidades. Perceber tais relações
gravar os sons dos arredores da creche ou da pré-escola, – infâncias, políticas e produção cultural para infância e
do bairro, da cidade. De posse desse material é recons- com a infância – é fundamental para prosseguirmos os de-
truir esses espaços somente com os sons captados. Como bates sobre os direitos de todos desde que nascem. Criar
é representar o local onde se vive somente com os sons? É espaços em que o toque, as sensações táteis, olfativas, au-
possível reconstruí-lo sob esse aspecto? ditivas, visuais e do paladar estejam presentes provocando
Fazer desenhos ou maquetes e colocar os sons capta- descobertas evidenciando não apenas os resultados, mas o
dos. Criar espaços em que somente os sons estejam pre- processo de criação é de responsabilidade dos adultos. Seu
sentes e possam ser sentidos pelas crianças vendadas. Dei- lugar é também o de criar ambientes ricos e provocantes
xar o corpo interagir com os sons. que ofereçam informações visuais, que podem ser referen-
tes a diversos assuntos que se deseja explorar.
EXPOSIÇÕES INFANTIS: dentro e fora dos espaços Um aspecto a ser avaliado é considerar a importância
escolares - As criações infantis há muito estão sendo ex- de expor as criações infantis de maneira cotidiana dentro
postas – em mostras culturais, datas comemorativas, fe- e fora dos muros da creche e da pré-escola. Essa prática
chamento de semestre letivo. É fundamental, contudo, colabora para a construção do sentido de pertencimento
refletirmos sobre as crianças e sua participação nesses destes meninos e meninas ao espaço vivenciado todos os
eventos, como construtoras de culturas numa perspectiva dias por eles num processo de apropriação desse espaço.
que procura evidenciar a produção cultural com a infância, O próprio ato de expor o que fora realizado contribui para
que se faz presente em algumas iniciativas de exposições a documentação de percursos criativos individuais e cole-
das criações infantis, em locais que não os escolares, tais tivos realizados pelas crianças e também pelas/os adultas/
como museus e outros lugares voltados para exposições os que com elas trabalham e se dispõem a dialogar com
culturais, as quais historicamente sempre privilegiaram as todos que transitem por estes lugares garantindo a circula-
criações adultas legitimando-as e, com isso, estabelecendo ção de ideias sobre infância e sobre suas criações entre os
uma hierarquia entre os agentes e entre as produções rea- adultos e destes com as crianças e entre elas independen-
lizadas. Pretende-se com isso, abordar as criações realiza- temente da faixa etária. Na exposição podem-se aglutinar
das pelos meninos e meninas e com eles e que não podem expressões das crianças, manifestações artísticas criadas
ficar restritas apenas a datas comemorativas – geralmente em cumplicidade com a professora, bem como, os regis-
presentes em ambientes escolarizantes – timidamente en- tros dos processos de criação das crianças e não apenas
colhidas em um tempo restrito para observação e debates, os resultados. Registros dos choros e sorrisos, conquistas e
ou mesmo, limitadas a um público familiar somente. discussões, planejamentos e projetos. As exposições tam-
As cidades brasileiras como patrimônios culturais que bém documentam e, com isso, apresentam aspectos da
se expressam em ambientes sócio culturais diversos, po- história do grupo formado por meninos e meninas e adul-
dem tornar-se uma primeira preocupação quando pensa- tos docentes em participação conjunta, criativa e criadora,
mos em crianças nas cidades, de tamanhos e estilos dife- permitindo refletir sobre as relações e investigá-las tendo-
rentes, afinal, as crianças e suas diversas formas expressi- -as como mote para outras propostas e projetos futuros.
vas, teriam locais apropriados onde suas criações pudes-
sem ser discutidas, visualizadas por todos que circulam na TEATRO: O teatro é um acontecimento de cultura, não
cidade, para além dos espaços escolares? Sem qualquer se tratando de eventos esporádicos apenas, envolve ricos
pretensão que resvale em espetacularização da infância processos de criação de todos os envolvidos, diria ainda
e de suas criações, onde podemos encontrar as criações mais, daqueles que participam não somente da encenação,
infantis que não nos espaços escolares e ainda assim, de mas dos que assistem as peças, sejam quais forem e como
formas às vezes, tão questionáveis, infantilizadas e infanti- acontecerem, independente de sua faixa etária. O diretor
lizadoras? Será que elas devem ficar condicionadas a esses de teatro inglês, radicado na França, Peter Brook em seu
espaços? Importa organizar espaços expositivos que, res- livro A Porta Aberta afirma que podemos escolher qual-
peitosamente, considerem as importantes criações infantis quer espaço vazio e considerá-lo um palco, um homem, ou
entre as diferentes formas de expressões artísticas que se criança (diria eu) ao atravessar esse espaço e ser observado
encontram espalhadas em espaços públicos abertos, em por outro, é suficiente para criar uma ação cênica. Nas pala-
paredes e muros dos bairros e das cidades que podem ser vras desse autor nós não precisamos ter um grande teatro
observados por todos que circulam pelas ruas. para se fazer teatro, nós precisamos de espaços livres onde
É importante ressaltar que não se trata de propor uma a ação cênica aconteça. Acredito que isso nos sirva como
substituição de produções, resultando em outras hierar- fonte inspiradora para pensarmos no teatro com crianças
quias de valores e concepções do que seja o belo e bom desde bem pequenas.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Fazer teatro para crianças pequenas, desde seu primei- TEATRO E DANÇA
ro ano de vida, tanto no espaço teatral como na creche Os adultos podem tornar-se cúmplices das crianças no
ou pré-escola, significa procurar constante e curiosamente jogo teatral, não obrigatoriamente criar peças para elas,
sentir de forma visceral o público que lá se encontra. Po- mas convidá-las a participar de movimentos e sensações
de-se perceber isso quando assistimos a peças teatrais e de forma a superar barreiras verbais e formais que por ve-
observamos seus enredos e propostas de participação ou zes se interpõem entre adultos e crianças.
não do público infantil envolvido. Público este que é capaz de a) Organizar espaços: os espaços físicos podem ser
deixar a peça sem que tenha chegado ao fim, chorar, ou mes- transformados em ambientes propícios aos jogos teatrais.
mo rindo e curiosa invadir o espaço, até então, reconhecido Colocando-se lenços de cores e tamanhos variados pendu-
como de ocupação somente de atores profissionais. Perceber rados no teto se obtém uma floresta de tecidos dentro das
o ritmo da respiração de medo ou alegria, os gestos que con- quais as crianças podem passar ou criar situações diversas,
vocam ao adulto ou mostram-no dispensável, é fundamental, bexigas, objetos sonoros, fantasias, máscaras podem con-
pois implica sabermos posteriormente não agredir as crian- tribuir com a ambientação de histórias criadas pelas crian-
ças com exigências que elas não podem cumprir, ou mesmo, ças, sozinhas ou em colaboração com a professora. Com
esquecer que as falas, cenários, a sonoplastia e os enredos papéis celofane de cores variadas podem-se criar efeitos
podem levá-las a ter curiosidade e participar constantemente. de luz, se tiver lanternas para colocar atrás das folhas, os
Cabe-nos refletir sobre como as crianças podem cons- efeitos ficam ainda melhores. Os cenários convidam a criar
truir um alfabeto teatral Frabetti, (texto no prelo), segundo diferentes situações dramáticas.
o qual passam a conhecer e criar códigos, gestuais, voca- b) Máscaras: em diferentes tamanhos as máscaras po-
bulários próprios cabendo aos adultos que valorizem ex- dem ser confeccionadas com sacos de papel, cartolina,
periências garantindo que as mesmas emerjam entre as papelão sendo cortadas com tesouras ou rasgadas e or-
crianças de todas as idades. O teatro pode ser não apenas namentadas pelas crianças, podem ser somadas à criação
para a exibição de produtos finais, mas de contar contos de vestimentas criadas a partir de diversos tipos de papel
que envolvem universos sensíveis e simbólicos que reúnem ou mesmo restos de tecidos doados pelas costureiras lo-
jogo e exploração com personagens, conflitos e soluções
cais. Elas também podem ser feitas com empapelamento,
que podem ser realizados no tempo presente e não com
técnica usada para obtenção de máscaras mais duras com
a expectativa de encenação para os pais e demais familia-
tempo maior de duração. Após a decisão coletiva sobre
res em datas festivas. São experimentos de dominação das
qual personagem ou temática a ser criada, coloca-se sobre
realidades, de criação de outras, num jogo que é também
um suporte plástico finas tiras de papel – jornal, revista em
social e contem elementos da vida vivida pelas crianças e o
quadrinhos, papel higiênico – embebidas numa mistura de
que estão em seu entorno.
É importante considerar que no teatro, quando se está água com bastante cola branca, tira a tira, em camadas be-
com as crianças, que não se pode apreender tudo e que suntadas, numa última colocar cola para garantir que fique
cada uma se incumbirá – dentro de seu repertório parti- bem homogênea a colagem. Deixar secar por um a dois
cular, das relações estabelecidas com familiares e colegas dias. Pintar e ornamentar como quiser e usar nas brincadei-
– de portar consigo o que mais chamou sua atenção, o que ras criadas pelas crianças ou mesmo desenvolvidas previa-
lhe marcou: luzes, frases, músicas, enredo, atuação dos ato- mente com adultos, com roteiros, personagens e cenários.
res, personagens, que tantas vezes nem chamaram a aten- Colocando-se sobre suportes resistentes podem tor-
ção de outras crianças ou daqueles que lhe acompanha- nar-se cabeças de bonecões com os quais também pode-
vam, mas que passarão a compor as vidas desses meninos rão brincar.
e meninas a partir de sua experiência com peças teatrais. c) Bonecos: meias que não sejam mais utilizadas po-
Quando voltam para as creches ou pré-escolas, após assis- dem ser decoradas pelas crianças tornando-se fantoches, o
tirem peças de boa qualidade, realizadas por companhias mesmo pode ser feito com saquinhos de papel, potes plás-
teatrais respeitosas em relação à infância, vale lembrar que ticos, que ao ganharem tachinhas, botões, fitas, tecidos,
não se pode pensar nesse momento tão rico, como uma lãs, criam vida quando utilizados como bonecos animados
aula, nos moldes escolarizantes, sobre assuntos variados. pelas crianças na composição de histórias e peças que elas
As perguntas que advém devem manter a riqueza do es- próprias podem definir como serão.
petáculo e não consistir em exercícios de fixação do con-
teúdo visto e ouvido, por via de perguntas, cujas respostas DANÇA E MOVIMENTO: Ao se discutir sobre dança
não traduzem a inteireza da experiência. A oportunidade inevitavelmente se é levado a pensar sobre o corpo que
de conviver com a linguagem teatral, assistindo e brincan- dança, que se movimenta em ritmos sonoros ou não, seja
do com ela e através dela, promovem o crescimento das por pessoas em diferentes faixas etárias. Quando a preo-
crianças considerando invenção e imaginação, ao respeitar cupação está voltada para a educação da primeira infância,
e provocar a apropriação de códigos complexos, de falas, não se pode negar que a dança na educação infantil esteve
de valores em âmbito físico, emocional, cultural. Para as – e em alguns casos ainda está – voltada para a apresenta-
adultas que se envolvem junto às crianças consistem em ção das crianças em datas comemorativas e que as mesmas
momentos enriquecidos nos quais a recuperação da fanta- caracterizavam-se pelo cerceamento dos gestos das crian-
sia e a nutrição da capacidade de encantar-se e criar outros ças e seus desejos, numa expressão coreográfica limitadora
modos de relacionar-se com a complexidade do mundo e até disciplinadora de seus corpos, que ficam reduzidos à
encontram-se ali presentes. mera execução de algo pronto e acabado. Com isso, quais
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
controladores, pois ela encerra a dinâmica da interação e e reflexivo do desenvolvimento global de uma criança, es-
a própria dialética do conhecimento, com suas continuida- tendendo-se dos cuidados que ela necessita à natureza do
des e descontinuidades. seu ser racional, conhecido, desde recém nascido.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
zinhas” ou preenchimento de formulários padronizados. E Se tratando dos registros, muitas instituições impõem
essa é uma consideração que se aplica a todos as instan- tais práticas simplesmente porque ao final de cada etapa
cias da educação. O que se deve garantir em educação é deverão prestar conta as famílias das crianças, enquan-
o respeito às diferenças de cada um. E esse respeito às di- to estes deveriam valorizar o desempenho e o desenvol-
ferenças exige uma permanente observação e reflexão do vimento de cada criança, de modo que a partir deles os
processo individual de construção do conhecimento. educadores vislumbrassem possibilidades de reflexão no
intuito de mudar tais práticas.
CAP. VIII- DELINEANDO RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO Desse modo, partindo do pressuposto que o livro traz
O registro da história da criança, no processo avalia- reflexões importantes à prática educativa, neste sentido
tivo, não pode significar apenas memória como função é viável recomendá-lo educadores, não somente aos que
bancária, ou seja, há que se pensar no significado desse atuam na educação infantil, e também a estudantes e pes-
registro para além da coleta de dados e informações. Por quisadores que lutam por uma melhoria na qualidade da
outro lado em avaliação como nos basearmos apenas na educação, sabendo que para isso a avaliação é um aspecto
memória, porque ela é muitas vezes falha. primordial.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
por uma arte-educação que leve em conta as experiências Pensar, sentir e perceber.
prévias do aluno, sua vivência cultural, seu conhecimento Ensino centrado no indivíduo.
de mundo, suas habilidades e necessidades, e ajude-o a Ênfase no processo e no desenvolvimento do potencial
avançar em seus conhecimentos, “caminhando de níveis de criador
menos saber para níveis de mais saber”. Nesse capítulo faz-se também um apanhado históri-
A feliz escolha do termo ‘cultivar’ ilustra bem o tra- co dos congressos internacionais de desenho presente na
balho do professor nessa proposta: o de conhecer bem o obra Estética e Pedagogia, de Irena Wojnar, que mostra
solo, semear conhecimentos e vê-los crescer e frutificar. como as concepções de desenho e de seu ensino foram
Nem tudo está sob seu controle: há o clima, as pragas, os evoluindo ao longo do século XX, rompendo com uma vi-
imprevistos. Mas se ele tem conhecimento de seu ofício, são onde o aprendizado se dá por introjeção de mode-
muito pode fazer: corrigir o solo, retirar as pedras, criar um los sem interpretações ou transformações pessoais a um
sistema de irrigação, colher no tempo certo. trabalho de criação pessoal. Uma das conquistas destaca-
das é a visão de erro na produção infantil, que passa a ser
Não há um fruto igual a outro, ainda que todos sejam considerado parte do processo de desenvolvimento e não
bons e saborosos. E cada fruto carrega consigo a semente, como algo a ser corrigido pela intervenção do adulto. Ou-
capaz de gerar outras árvores, outras vidas, em um ciclo tra conquista é a noção de uma educação estética, ideal da
cujo fim o semeador sequer vislumbra... escola renovada e que se torna paradigma para a formação
geral do indivíduo. A psicologia e o estudo psicológico do
“ Desde a educação infantil podemos propiciar um uni- desenho da criança, a partir da segunda metade do século
verso rico de aprendizagens em desenho, expandindo o uni- XIX, permitiu que avançássemos em nossa concepção do
verso cultural das crianças, trabalho que pode seguir orien- desenho infantil sob uma perspectiva de criação e de jogo.
tado pelas idéias em ação das crianças. Essas idéias, motores Os esquemas propostos por Piaget não são sucessivos,
dos atos de desenho, são construídas, primordialmente, na mas inclusivos. Em relação ao desenho pode-se dizer que
prática desenhista e na interação de cada um com a diversi- as crianças, mesmo sendo capazes de operar em um nível
dade dos desenhos presentes nos ambientes.”
mais sofisticado, podem sempre recorrer aos níveis ante-
riores se assim o desejarem. Assim é que Matheus, nesses
Na introdução do livro propõe-se uma visão do de-
dois estudos de movimento e formas (desenhos espontâ-
senho infantil que foge da idéia de dom, talento ou apti-
neos feitos por sua escolha em um momento de atividade
dão, esclarecendo a opção por uma visão construtivista do
livre) escolhe não desenhar figurativamente, e uma leitura
desenho como “objeto simbólico e cultural, expressivo e
precipitada poderia ver nesses desenhos garatujas.
construtivo, individuado e influenciado pela cultura”, aces-
sível a todos através do ensino-aprendizagem, que cami-
nha “do pré-simbolismo à construção de poéticas próprias, A concepção contemporânea de desenho finca suas
com marca pessoal e diversidade cultural”. Traça-se um con- bases quando, em meados do século XX, psicólogos, an-
texto histórico do ensino de desenho na escola, contras- tropólogos historiadores, teóricos de arte e educadores
tando duas visões: a tradicional e a renovada, com idéias partem da documentação e da análise de trabalhos de
que podem ser sintetizadas no esquema abaixo: crianças para, operando em uma perspectiva pedagógica,
genética ou psicológica, compreender sua gênese e de-
Tendência Tradicional: senvolvimento. Avançando rumo a pesquisas interculturais
Calcada na concepção neoclássica. e de diálogos dos desenhos com a cultura, começou-se a
Propostas de desenho natural, decorativo, geométrico perceber as constâncias estruturais, ou seja, o que era co-
e pedagógico (para ilustrar aulas) mum aos desenhos de crianças de vários lugares e tempos,
Didática de cópia de modelos e treino de habilidades, e também as diferenças simbólicas que esses desenhos
exercícios para fixar pela repetição e aprimorar a destreza traziam, delineando as teorias que atualmente sustentam
motora. o ensino de desenho. A concepção de desenho na esco-
Passos de progressão sucessiva, do mais fácil para o la contemporânea ou construtivista, defendida pelo livro,
mais difícil, do simples para o complexo. parte das necessidades e interesses da criança mas inclui
Não se consideram as diferenças individuais em seu universo a cultura, sem que com isso ela perca sua
Ensino centrado na autoridade do professor autoria, seu protagonismo. Através do conhecimento da
Conteúdos: noções de proporção, composição, teoria realidade a criança reelabora seus próprios conhecimentos.
da luz e sombra, texturas, perspectiva. Ao dialogar o outro, suas idéias e experiências (seja este
Ênfase no produto. outro o colega ao seu lado, o professor ou um artista que
se estuda) a criança tem a oportunidade de comunicar suas
Tendência Renovada idéias, ouvir as dos outros, repensar suas próprias idéias
Concepção de desenho como atividade expressiva, li- e reelaborá-las, avançando assim para um conhecimento
vre, e natural da infância; mais sólido, sem perder sua marca pessoal.
Didática de exploração livre de materiais e técnicas
Estímulo à imaginação e à criatividade Fonte: http://arteirinhos.blogspot.com/2008/09/
Liberdade compreendida como qualidade livre de in- resenha-ilustrada-do-livro-o-desenho.html
fluências do meio
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
leitura e reflexão num momento de proposições pedagógi- conhecimento. Discute os universalismos das teorias que
cas para a educação infantil tão baseado na cópia do mo- nos amarram e propõe a busca de singularidades. Nesse
delo escolar de 1o grau. A concepção da autora sobre o momento, ela busca a psicanálise, trazendo o desejo, o ou-
homem como ser simbólico, que se constrói coletivamente tro, o não-saber, e, de forma muito interessante, passa da
e cuja capacidade de pensar está ligada à capacidade de visão da alienação individual para a alienação social e cul-
sonhar, imaginar e jogar com a realidade, é fundamental tural utilizando R. Barthes e P. Bourdieu.
para propor uma nova “pedagogia da criança”. A autora A necessidade da desnaturalização dos lugares de sa-
vê o jogar como gênese da “metáfora” humana. Ou, talvez, ber e não saber, de aprendentes e ensinantes e da dialética
aquilo que nos torna realmente humanos. dessas relações individuais e sociais é fundamental para
O terceiro e último artigo desse bloco chama-se “A pensar a construção do conhecimento. Os jogos, os brin-
brincadeira de faz-de-conta: Lugar do simbolismo, da re- quedos e os materiais pedagógicos são analisados quanto
presentação, do imaginário”, de Edda Bomtempo. É um à sua possibilidade de interferir nas estruturas de alienação
artigo que trata, como diz o título, da brincadeira do faz- social e individual do saber — estereotipias, relações trans-
-de-conta, essa experiência que nos torna seres simbólicos, ferenciais, estruturado ou estruturante.
humanos e metaforizados. A autora inicia apresentando Depois a autora apresenta a noção de modalidade de
a brincadeira, suas características, e procura na literatura aprendizagem, isto é, o tipo de relação que cada sujeito, a
universal a presença desse tipo de brincadeira. Depois, na partir da sua própria história, constrói ao conhecer o mun-
busca de referências teóricas explicativas para esse tipo de do, conceito este desenvolvido por Alícia Fernandes a par-
ação humana, ela tem encontros com Piaget e Vygotsky, tir da psicanálise e da psicologia genética.
por um lado, e, por outro, com S. Freud e Melanie Klein. O texto conclui com a análise das relações das mo-
O faz-de-conta é tratado então como a possibilidade na dalidades de aprendizagem e as ofertas de “ensinagem”
construção do homem de ser a ponte entre a fantasia e a e coloca as experiências com jogos e materiais pedagógi-
realidade. cos como modos de “pluralização” destas modalidades e
também com um apelo ao trabalho educacional voltado ao
Crianças com necessidades especiais & o jogo, o brin- desenvolvimento das diversas formas da inteligência.
O texto “O jogo na organização curricular para deficientes
quedo e as brincadeiras
mentais”, de Maria Luisa Sprovieri Ribeiro, inicia com uma aná-
O segundo grupo de artigos trata da questão do jogo,
lise das práticas tradicionais de atendimento às crianças com
do brinquedo e da brincadeira, e suas articulações com as
necessidades especiais e com resistências pessoais e sociais a
crianças com necessidades especiais: a pedagogia, a psi-
uma mudança de concepção deste tipo de atendimento.
copedagogia, a avaliação, o fracasso escolar, as propostas
Utilizando-se de características do jogo, de acordo
curriculares e outros temas percorrem esta seção.
com Gilles Brougére, tais como a necessidade de espaço,
O texto “O jogo e o fracasso escolar”, de Sahda Marta papéis, materiais e tempo do jogo para pensar o currículo,
Ide, inicia tratando dos testes-padrão de medidas de inteli- denuncia a “cultura” do trabalho individualizado, isto é, iso-
gência e seu questionamento como instrumento adequado lado, do educador de crianças com necessidades especiais,
para a avaliação das crianças portadoras de deficiências. A que não está presente nos debates dos demais educadores
autora indica, como saída desse ciclo “avaliação por testes e áreas de conhecimento dentro das escolas. Denuncia esta
e medidas e diagnóstico de fracasso escolar”, a procura das experiência de prática social de educador como criador
causas desses fracassos e encontra, na bibliografia estu- único do currículo ou criatura que aplica os currículos dos
dada, algumas generalizações com referência às famílias, tecnocratas. Para a autora, é necessário ousadia nos pro-
às escolas, à atitude do educador e, a partir dessa análise fessores de educação especial para que utilizem na cons-
de “causas do fracasso escolar”, propõe alternativas edu- trução de suas propostas educativas as discussões coleti-
cacionais de reversão dessa situação. Segundo a autora, o vas e contemporâneas de currículo e quebrem uma visão
elemento central para essa ação diferenciada, destinada à tão “conformada” desse tipo de atendimento educativo.
desestigmatização, seria o da mediação, tanto a humana,
como a instrumental. E é na instrumental que aparece o A formação do educador através da vivência, da discus-
jogo como recurso fundamental na educação de crianças são e da reflexão do jogo
deficientes mentais. Os últimos capítulos do livro tratam do jogo na for-
O artigo seguinte, “O uso de brinquedos e jogos na in- mação dos professores. O primeiro deles, “Brincadeiras e
tervenção psicopedagógica de crianças com necessidades brinquedos na TV para crianças: Mobilizando opiniões de
especiais”, de Leny Magalhães Mrech, de certa forma apro- professores em formação inicial”, de Maria Felisminda de
funda aquilo que foi anteriormente analisado. A autora faz Rezende e Fusari, tem como meta a educação do educador
uma crítica contundente aos conceitos piagetianos mais di- para a leitura das “vivências comunicacionais de seus alu-
vulgados nos cursos superiores, tais como estágios do de- nos”, e afirma que a formação dos professores pode gerar
senvolvimento, e todos aqueles que tiveram formação aca- novas formas, mais competentes e criativas, de os alunos
dêmica, nessa área, nas últimas décadas são testemunhas interagirem com multimeios. Há entre alunos e meios de
desse empobrecimento da epistemologia genética. Para se comunicação uma teia de transmissões e influências que
contrapor a essa tendência, a autora propõe a noção de não são de simples causa e efeito ou unívocas, mas de in-
equilibração e a reequilibração das estruturas cognitivas terinfluências, e essas devem ser aproveitadas para uma
como conceito central dessa concepção de construção do melhor formação do cidadão.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
A autora relata uma pesquisa feita com futuros educa- jogando com os conceitos e as noções, pois a originalidade
dores de nível universitário ou de 2º grau na qual é feita a dos enfoques, as singularidades das visões contribuiriam,
análise de trecho de vídeo do Xou da Xuxa, em que aparece de forma enriquecedora, para a continuidade da discussão
uma situação de jogo competitivo. A partir da análise feita dessa temática.
pelas alunas, uma visão de mídia e de jogo é constituída.
Uma nova maneira de ver o meio — a televisão — e o pro- Fonte: BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Resenha do
grama — Xou da Xuxa — se constitui. livro de Kishimoto, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinque-
Em “Jogo e formação de professores: Vídeo drama pe- do, brincadeira e a educação. São Paulo, Cortez, 210, 183 p.
dagógico”, Heloísa Dupas Penteado relata uma experiência
com alunos de prática de ensino na qual foi usado o vídeo
drama pedagógico, derivação do psicodrama, com o ob-
jetivo de fazer o aluno de 3o grau refletir tanto sobre sua KLISYS, ADRIANA. CIÊNCIA, ARTE E JOGO:
prática como aluno como sobre seu papel de professor. PROJETOS E ATIVIDADES LÚDICAS NA
O relato é interessante na medida em que essas pro- EDUCAÇÃO INFANTIL. SÃO PAULO: EDITORA
vocações promovidas pela vivência, na própria formação PEIRÓPOLIS, 2010.
do professor e em sua vida afetiva e intelectual de adulto,
auxiliam a reconhecer as muitas formas de entender a cena
educacional, a afiar a sua sensibilidade ao jogar.
Na visão da autora, educadora e consultora em educa-
Educação: Lúdica ou séria ção Adriana Klisys, o brincar é o respiro para a invenção. É
O texto “A séria busca no jogo: Do lúdico na mate- brincando que a criança descobre seu espaço de autoria,
mática”, de Manoel Oriosvaldo de Moura, é de educação autonomia e construção do conhecimento. Neste livro, ori-
matemática, mas não apenas isso. Apesar de ter divergên- ginado de um diálogo de vinte anos com crianças e educa-
cias quanto à questão de serem ou não modismos a et- dores, projetos e atividades pedagógicas para a educação
nomatemática e a modelagem matemática, e de discordar infantil apresentam-se num mosaico lúdico e inspirador em
que o uso de materiais pedagógicos está mais presente no que o brincar é o eixo que integra conhecimento, ciência,
século XX, gostei muito do trabalho do autor. Ele trata com arte e jogo.
propriedade de duas questões centrais na relação jogo e
educação: a primeira diz respeito ao fato de que o jogo, Fonte: https://www.martinsfontespaulista.com.br/
em uma proposta educativa, nunca pode estar dissociado ciencia-arte-e-jogo-projetos-e-atividades-ludicas-na-
“do conjunto de elementos presentes no ato de ensinar” -educacao-infantil-340444.aspx/p
(p. 74), isto é, ele deve estar localizado na totalidade de um
projeto educacional. E para justificar a sua argumentação,
procura na história da educação, e na história da educa-
ção matemática, exemplos que demonstram essa afirma- LERNER, DELIA. LER E ESCREVER NA ESCOLA:
ção. A outra questão, também muito bem trabalhada, é a O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO.
da seriedade do jogar e os diferentes usos do jogo e seus PORTO ALEGRE: ARTMED, 2002.
vínculos com concepções de aprendizagem. A visão da su-
peração do jogo como elemento/recurso e a construção
de seu papel como incorporado ao ensino como um todo
são algo que justifica a presença desse artigo na coletânea. Ler e escrever são palavras familiares para todos os
Sua localização no final da minha escrita justifica-se pela educadores, palavras que marcam uma função da esco-
síntese que o autor faz de ideias que perpassam todo o laridade obrigatória, entretanto, redefinir o sentido dessa
conjunto da obra. função, e explicar o significado que se pode hoje atribuir
a esses termos tão arraigados na instituição escolar, é uma
Finalizando tarefa incontestável. Para a autora, ensinar a ler e escrever
Encontramos no livro uma polifonia com vozes que fa- é um desafio que transcende a alfabetização em sentido
lam aos quatro ventos sobre o tema. Isto é bom. É jogo estrito. Participar na cultura escrita supõe apropriar-se de
e é brincadeira. Talvez uma das características centrais do uma tradição de leitura e escrita, supõe assumir uma he-
livro seja a aproximação do jogo às teorias, e não apenas rança cultural que envolve o exercício de diversas opera-
uma listagem dissociada de receitas de brincadeiras, e a ções entre os textos; entre eles e seus autores; entre os
proposição de alternativas de lugar para o jogo, tanto nas próprios autores; entre os autores, os textos e seu contexto.
propostas de ensino, com alunos de diversos níveis, como
na própria formação do educador. Penso que dessa tríade, TENSÕES ENTRE OS PROPÓSITOS ESCOLARES E EX-
jogo, brincadeira e brinquedo, o último foi o menos explo- TRA-ESCOLARES DA LEITURA E DA ESCRITA.
rado nos diferentes artigos. Fica este tema como sugestão Na escola estão em primeiro plano os propósitos didá-
para uma próxima coletânea, ou, quem sabe, a escrita cole- ticos, os propósitos comunicativos tais como ler e escrever
tiva de um livro, pois gostaria muito de vê-los produzindo para manter contato com alguém distante, costumam ser
não individualmente, cada um o seu próprio artigo, mas relegados ou excluídos do âmbito escolar. Essa divergência
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
corre o risco de levar a uma situação paradoxal: se a escola 5. a maneira como se distribuem os direitos e obri-
ensina a ler e escrever com o único propósito de que os gações entre professor e alunos determinam quais são os
alunos aprendam a fazê-Io, eles não aprenderam as práti- conhecimentos e estratégias que as crianças têm ou não
cas sociais de leitura e de escrita, se assume os propósitos têm oportunidade de exercer e, portanto, quais poderão
da prática social, estará abandonando ao mesmo tempo ou não poderão aprender.
sua função ensinante (propósitos didáticos).
DIFICULDADES ENVOLVIDAS NA ESCOLARIZAÇÃO
RELAÇÃO SABER-DURAÇÃO DAS PRÁTlCAS
Por serem práticas, a leitura e a escrita apresentam
PRESERVAÇÃO SENTIDO VERSUS TEMPO traços que dificultam sua escolarização, essas práticas são
Distribuir os conteúdos no tempo é uma exigência totalidades indissociáveis, que oferecem resistência, tanto
inerente ao ensino, entretanto tal organização do tempo análise como programação sequencial, são tarefas apren-
do ensino entra em contradição com o tempo das apren- didas por participação nas atividades de outros leitores e
dizagens e com a natureza das práticas de leitura e escrita. escritores.
O paradoxo se apresenta assim: se tenta parcelar as prá- Assim, não é fácil determinar com exatidão o que,
ticas, é impossível preservar sua natureza e seu sentido como e quando os sujeitos as aprendem. Ao tentar instau-
para o aprendiz; se não são parceladas, é difícil encontrar rar as práticas de leitura e escrita na escola, apresentam-se
uma distribuição dos conteúdos que permita ensiná-Ias. múltiplas perguntas: em que momento as crianças se apro-
O ensino e construído tomando como referência funda- priam da “linguagem dos contos”?
mental as práticas sociais de leitura e escrita, requer que a Quando se pode dizer que um aluno aprendeu a re-
escola funcione como uma micro comunidade de leitores comendar livros ou a confrontar diversas interpretações?
e escritores. As práticas de leitura e escrita são práticas sociais que
O necessário é fazer da escola uma comunidade de historicamente pertenceram mais a certos grupos sociais
leitores que recorrem aos textos buscando resposta para do que a outros. Isto significa que a escola deverá enfrentar
a tensão entre a tendência mudança e a tendência conser-
os problemas que necessitam resolver, buscando argu-
vação (democratizar o conhecimento ou reproduzir a or-
mentos para defender uma posição com a qual estão
dem social estabelecida).
comprometidos, ou para rebater outra que consideram
perigosa ou injusta ...
TENSÃO ENTRE DUAS NECESSIDADES INSTlTUCIO-
O necessário é fazer da escola uma comunidade de es-
NAIS: ENSINAR E CONTROLAR A APRENDIZAGEM
critores que produzam seus próprios textos para mostrar
A responsabilidade social assumida pela escola gera
suas ideias, para informar sobre fatos que os destinatários
forte necessidade de controle: a instituição necessita co-
necessitam ou devem conhecer, para protestar, para con-
nhecer os resultados de seu funcionamento, necessita ava-
vencer de seu ponto de vista, para compartilhar um bom liar as aprendizagens. Essa necessidade costuma ter conse-
texto, para intrigar ou fazer rir... quências indesejadas: ler em voz alta para ser avaliado, a
O necessário é fazer da escola um âmbito onde a leitu- ortografia das palavras ocupa o lugar mais importante no
ra e escrita sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever processo de escrita.
sejam instrumentos poderosos que permitam repensar o Assim, apresenta-se desta forma um conflito de inte-
mundo e reorganizar o próprio pensamento, onde inter- resses entre o ensino e o controle: se põe o ensino em pri-
pretar e produzir texto sejam direitos. meiro plano, é preciso renunciar a controlar tudo; se põe o
O necessário é, em suma, preservar o sentido do ob- controle das aprendizagens em primeiro plano, é preciso
jeto de ensino para o sujeito da aprendizagem, o necessá- renunciar a ensinar aspectos essenciais das práticas de lei-
rio preservar na escola o sentido que a leitura e a escrita tura e escrita.
têm como práticas sociais, para conseguir que os alunos Uma última dificuldade está posta na “distribuição de
se apropriem delas possibilitando que se incorporem a co- direitos e obrigações entre o professor e os alunos”, como
munidade de leitores e escritores, a fim de que consigam por exemplo o direito de avaliar que em geral é privativo
ser cidadãos de uma cultura escrita. do docente e os alunos têm muito poucas oportunidades
O real é que levar a prática o necessário é uma tarefa de auto controlar o que compreenderam ao ler e de auto
difícil para a escola. Difícil porque: corrigir seus escritos.
1. a escolarização das práticas de leitura e de escrita Então o que fazer para preservar na escola o sentido
apresenta problemas árduos; que a leitura e a escrita têm fora dela?
2. os propósitos que se perseguem na escola no ato O possível é fazer o esforço de conciliar as necessi-
de ler e escrever são diferentes dos que orientam a leitura dades inerentes à instituição escolar com o propósito de
e a escrita fora dela; formar leitores e escritores, o possível é gerar condições
3. a inevitável distribuição dos conteúdos no tempo didáticas que permitam uma versão escolar da leitura e da
pode levar a parcelar o objeto de ensino; escrita mais próxima com a versão social dessas práticas.
4. a necessidade institucional de controlar a apren- Em primeiro lugar, que os professores possam formu-
dizagem leva a pôr em primeiro plano somente os aspec- lar como conteúdos do ensino não só os saberes linguís-
tos mais acessíveis à avaliação; ticos como também as tarefas do leitor e do escritor: fazer
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
antecipações sobre o sentido do texto que se está lendo e Apelar para todas as ferramentas necessárias para tor-
tentar verificá-Ias recorrendo à informação visual, discutir nar realidade um propósito que é difícil, mas para o qual é
interpretações acerca de um mesmo material, comentar o imprescindível se encaminhar.
que se leu e compará-Io com outras obras do mesmo ou
de outros autores, recomendar livros... QUAL É O DESAFIO?
Em segundo lugar, é possível articular os propósitos di- O desafio é formar praticantes da leitura e da escri-
dáticos, com os propósitos comunicativos que tenham um ta e não apenas sujeitos que possam “decifrar” o sistema
sentido atual para o aluno e tenham correspondência com de escrita, formar leitores que saberão escolher o material
os que habitualmente orientam a leitura e a escrita fora para buscar a solução de problemas que devem enfrentar
da escola. Essa articulação pode concretizar-se através de e não alunos capazes apenas de oralizar um texto selecio-
uma modalidade organizativa bem conhecida: os projetos nado por outro. É formar seres humanos críticos, capazes
de produção-interpretação. de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente
O trabalho por projetos permite que todos os inte- a apresentada pelos autores dos textos.
grantes da classe e não só o professor, oriente suas ações O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se
para o cumprimento de uma finalidade compartilhada, em outros mundos possíveis que a literatura oferece, dis-
por exemplo, gravar uma fita de poemas e enviar a outras postas a identificar-se como semelhante ou a solidarizar-se
crianças. com o diferente, capazes de apreciar a qualidade literária.
Além disso, permite resolver dificuldades: favorece o O desafio é conseguir que os alunos cheguem a ser
desenvolvimento de estratégias de autocontrole de leitura produtores de língua escrita, conscientes da importância
e de escrita por parte do aluno abrindo a possibilidade de de emitir certo tipo de mensagem a determinado tipo de
uma nova relação entre o tempo e o saber. A relação tem- situação social.
po-saber, é facilitada quando são articuladas várias ações É conseguir que as crianças manejem com eficácia os
(não necessariamente trabalhando somente com projetos): diferentes escritos que circulam na sociedade. O desafio é
atividades que se desenvolvam com certa periodicidade conseguir que a escrita deixe de ser na escola somente um
- ler notícias, contos ou curiosidades cientificas em certo objeto de avaliação, para se constituir em objeto de ensi-
dia da semana, situações pontuais - como escrever uma no; é tornar possível que todos os alunos se apropriem da
mensagem por correio eletrônico para um aluno de outra escrita e a ponham em prática, sabendo que é um processo
escola. O entrecruzamento dessas diferentes temporalida- constituído por operações de planejamento, textualização
des permite aos alunos realizar simultaneamente diferen- e revisão.
tes aproximações com as práticas. O desafio é promover a descoberta e a utilização da
E, finalmente, é possível criar um novo equilíbrio entre escrita como instrumento de reflexão sobre o próprio
o ensino e o controle, quando se reconhece que este é ne- pensamento, como recurso insubstituível para organizar e
cessário, mas tentando evitar que prevaleça sobre o outro. reorganizar o próprio conhecimento. O desafio é, em suma,
Trata-se de abrir espaços para que os alunos, além de combater a discriminação que a escola opera não só quan-
ler profundamente certos textos, possam ler muitos outros, do cria o fracasso escolar daqueles que não conseguem
trata-se dar um lugar importante à leitura para si mesmo. alfabetizar, como também quando impede aos outros - os
É imprescindível, por último, compartilhar a função avalia- que aparentemente não fracassam chegar a ser leitores e
dora. É preciso proporcionar aos alunos oportunidades de produtores de textos competentes e autônomos.
auto controlar o que estão compreendendo ao ler e de criar O desafio é, combater a discriminação desde o interior
estratégias para ler cada vez melhor. É preciso delegar às da escola; é unir esforços para alfabetizar todos os alunos
crianças a responsabilidade de revisar seus escritos, assim para que tenham oportunidades de se apropriar da leitura
serão geradas novas aprendizagens e novas possibilidades e da escrita como ferramenta de progresso cognoscitivo e
de avaliação serão encontradas. de crescimento pessoal.
Desta forma é possível alcançar o necessário: formar
todos os alunos como praticantes da língua escrita. É POSSÍVEL A MUDANÇA NA ESCOLA?
A autora aponta que a instituição escolar sofre uma
PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DA ES- verdadeira tensão entre dois polos contraditórios: a rotina
CRITA repetitiva e a moda, ou seja, ao mesmo tempo em que a
Ler, escrever, evocar... Um texto evoca outros textos, tradição opera como um fator suficiente para justificar a
um título evoca outros títulos. “Para transformar o ensino adequação de conteúdos e métodos, costumam aparecer e
da leitura e da escrita”, é uma alusão à “Para fazer o retrato se difundir no sistema escolar “inovações” que nem sempre
de um pássaro” (tentar que um pássaro aceite posar como estão fundamentadas. Ao apresentar sua proposta didática
modelo, que detenha seu voo sem perder sua liberdade; na Venezuela, procurou rebater o título que recebera de
tentar que a escola levante voo, que produza transforma- “novo enfoque” (in “A aprendizagem da língua escrita na
ções substanciais sem perder sua especificidade institucio- escola”), essa denominação causava preocupação por en-
nal, sem renunciar sua função ensinante). Não se desani- fatizar a novidade pela novidade. Considera que a inovação
mar - é o conselho do poeta persistir na tentativa, renovar tem sentido quando faz parte da história do conhecimento
os esforços mais uma vez... pedagógico e quando, ao mesmo tempo, retoma e supera
o anteriormente produzido. É importante então, distinguir
56
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
as propostas de mudanças que são produto da busca ri- Segundo, Chevallard (1985) o saber adquire senti-
gorosa de soluções para os graves problemas educativos, dos diferentes em diferentes instituições, funciona de um
daqueles que pertencem ao domínio da moda. modo na instituição que o produz e de outro na instituição
A reprodução acrítica da tradição e a adoção acrítica encarregada de comunicá-Ia. Todo saber e toda competên-
da moda são riscos constantes para a educação, são obs- cia estão modelados pelo aqui e agora da instituição em
táculos fortes para a produção de verdadeiras mudanças. que se produzem.
Se essas mudanças profundas se referem ao ensino da lei- Assim, ao se transformarem em objeto de ensino, o sa-
tura e da escrita a resistência do sistema escolar aumen- ber ou a prática a ensinar se modificam: é necessário sele-
ta: é questionando tanto a didática como também a for- cionar aspectos, há que se distribuir as ações no tempo, há
ma como a escola concebeu tradicionalmente sua missão que se determinar uma forma de organizar os conteúdos.
alfabetizadora, missão que está nas raízes de sua função A necessidade de comunicar o conhecimento passa a mo-
social. Como ajudar a produzir e generalizar uma mudança dificá-Io.
na concepção do ensino da leitura e da escrita, tornando A transposição didática é inevitável, mas deve ser rigo-
possível que todos que têm acesso à escola sejam leitores rosamente controlada. É inevitável porque o propósito da
e escritores competentes e autônomos? escola é comunicar o saber, porque a intenção de ensino
faz com que o objeto não possa aparecer exatamente da
A CAPACITAÇÃO: CONDIÇÃO NECESSÁRIA, MAS NÃO mesma forma, nem ser utilizado da mesma maneira que é
SUFICIENTE PARA A MUDANÇA NA PROPOSTA DIDÁTICA. utilizado quando essa intenção não existe, porque as situa-
Segundo a autora, a atualização sempre é necessária ções que se apresentam devem levar em conta os conheci-
para todo profissional e ainda maior para os professores la- mentos prévios das crianças que estão se apropriando do
tino-americanos de hoje, principalmente pela mudança ra- objeto em questão. Deve ser rigorosamente controlada,
dical de perspectiva que ocorreu nos últimos vinte anos em porque a transformação do objeto - da língua escrita e das
relação à alfabetização que não teve eco nas instituições atividades de leitura e escrita - teria que se restringir àque-
formadoras de professores, além disso, a função social do las modificações que realmente são inevitáveis. A versão
escolar da leitura e da escrita não deve afastar-se demasia-
docente está sofrendo um processo de desvalorização.
do da versão social não-escolar.
Entretanto, a dificuldade para se conseguir que os pro-
O controle da transposição didática não pode ser uma
fessores tornem suas as contribuições científicas sobre a
responsabilidade exclusiva do professor, é responsabilida-
leitura e a escrita e sobre o sujeito que aprende não resulta
de dos governos tornar possível a participação da comu-
apenas de uma resistência individual, já que essa dificul-
nidade cientifica nessa tarefa e é responsabilidade da co-
dade tem suas raízes no funcionamento institucional. Não
munidade científica se pronunciar sobre a pertinência dos
bastará então capacitar os docentes, será imprescindível
“recortes” que se fazem ao selecionar conteúdos; a equipe
também estudar quais as condições institucionais para a
diretiva e docente de cada instituição deve avaliar as pro-
mudança, quais aspectos da proposta didática apresenta- postas em função de sua adequação à natureza e ao fun-
da têm mais possibilidades de ser acolhidos pela escola e cionamento cultural (extra escolar) do saber que se tenta
quais requerem a construção de esquemas prévios para ensinar.
serem assimilados. Significa dizer que, além de continuar
com os esforços de capacitação será necessário estudar os ACERCA “CONTRATO DIDÁTICO”
mecanismos que ocorrem na escola e impedem que todas Ao analisar as interações entre professores e alunos
as crianças se apropriem dessas práticas sociais que são a acerca dos conteúdos, pode-se postular que tudo acontece
leitura e a escrita (sem correr o risco de cair no analfabe- como se essas interações respondessem a um contrato im-
tismo funcional). Ao conhecê-los, será possível vislumbrar plícito, como se as atribuições que o professor e os alunos
formas de controlar sua ação e definir algumas ações rela- têm com relação ao saber estivessem distribuídas de uma
tivas à mudança curricular e institucional. maneira determinada, como se cada um dos participantes
na relação didática tivesse certas responsabilidades e não
ACERCA DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTlCA: A LEITURA E A outras quanto aos conteúdos trabalhados. Esse “contrato”
ESCRITA COMO OBJETOS DE ENSINO implícito preexiste aos contratantes; é muito eficaz, apesar
O primeiro aspecto a ser analisado é o abismo que de não ter sido explicitado, e somente se põe em evidência
separa a prática escolar da prática social da leitura e da quando é transgredido.
escrita: a língua escrita, criada para representar e comuni- A distribuição de direitos e responsabilidades entre
car significados aparece em geral na escola fragmentada; professor e alunos adquire características específicas em
a leitura em voz alta assume maior importância do que a relação a cada conteúdo. Que efeitos produzirão essa dis-
leitura silenciosa, já em outras situações ocorre o contrário. tribuição de direitos e obrigações na formação das crian-
Escrever é uma tarefa difícil para os adultos e espera-se ças como leitores? Se a validade da interpretação deve ser
que as crianças escrevam de forma rápida e fluente, ler é sempre estabelecida pela autoridade, como farão depois as
uma atividade orientada por propósitos que costumam fi- crianças para se tornarem leitores independentes?
car relegados do âmbito escolar. Por que e para que en- Essas e outras questões levantadas pela autora querem
sinar algo tão diferente do que as crianças terão que usar evidenciar a flagrante contradição que existe entre a ma-
depois, fora da escola? neira como se distribuem na instituição escolar os direitos
57
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
e as obrigações que professor e alunos têm em relação à escola espaços de discussão que permitam confrontar ex-
língua escrita e os propósitos explícitos que essa mesma periências e superar o isolamento no qual os professores
instituição se coloca em relação à formação de leitores e costumam trabalhar.
produtores de texto. A elaboração de projetos institucionais pode conside-
Ressalta ainda que é responsabilidade dos que traba- rar a participação dos pais e fazer da escola uma comu-
lham no campo da pesquisa didática como ela, proporcio- nidade de leitores. É necessário definir modificações que
nar elementos que permitam conhecer melhor as “regras” derrubam o mito da homogeneidade que impera na insti-
implícitas nas interações entre professores e alunos acerca tuição escolar e o substituam pela aceitação da diversidade
da língua escrita e analisar os efeitos que produziram tais cultural e individual dos alunos.
modificações. É responsabilidade dos organismos que re- Outro ponto a considerar sobre o currículo e a insti-
gem a educação e dos especialistas em projeto curricular e tuição, refere-se à consciência que é necessário se criar na
em análise institucional, levar em conta os dados propor- opinião pública. Parece essencial, criar-se a consciência de
cionados por essas pesquisas. que a educação também é objeto da ciência, de que dia a
É responsabilidade dos formadores de professores dia se produzem conhecimentos, que permitiriam melhorar
criar situações que permitam a estudantes e professores substancialmente a situação educativa. É responsabilidade
compreenderem a contradição apresentada e assumirem dos governos e das instituições e pessoas que têm aces-
uma posição superadora. É responsabilidade de todas as so aos meios de comunicação, contribuir para formar essa
instituições e pessoas que tenham acesso aos meios de co- consciência na opinião pública.
municação informar a comunidade e pais sobre os direitos Outro aspecto a considerar é quanto ao desenvolvi-
que os alunos possuem na escola para poderem formar-se mento da investigação didática na área da leitura e da es-
em praticantes autônomos da língua escrita. crita. E evidente a necessidade de se continuar produzindo
conhecimentos que permitam resolver os múltiplos pro-
FERRAMENTAS PARA TRANSFORMAR O ENSINO blemas que o ensino da língua escrita apresenta, e fazê-Io
Em primeiro lugar, no que se refere ao currículo, além através de estudos cada vez mais rigorosos, de tal modo
do que já foi citado sobre a transposição didática, devem que a didática se constitua como um corpo de conheci-
ser levadas em conta as seguintes questões: mentos válido.
1. A necessidade de estabelecer objetivos por ciclos, Mas, se quer criar uma mudança profunda, é também
em vez de estabelecê-los por grau, não só porque isto di- imprescindível recolocar as bases da formação dos profes-
minui o risco de fracasso explícito na aprendizagem da lei- sores e promover a valorização de sua função. São centrais
tura e da escrita, como também porque permite atenuar a duas questões: assegurar sua formação como leitores e
questão da fragmentação do conhecimento. produtores de textos e considerar como eixo da formação
2. A importância de atribuir aos objetivos gerais o conhecimento didático relacionado à leitura e à escrita.
prioridade absoluta sobre os objetivos específicos. O cum- Dentro desta questão, a autora cita como experiência pro-
primento do objetivo específico dificulta o desenvolvimen- dutiva a situação de oficina que possibilita abarcar uma
to do objetivo geral. quantidade considerável de professores, com uma instân-
3. A necessidade de evitar o estabelecimento de uma cia de acompanhamento da tarefa na sala de aula.
correspondência termo a termo entre objetivos e ativida- Quanto às condições que os capacitadores devem reu-
des, correspondência que leva certamente ao parcelamen- nir, ressalta a importância de aperfeiçoamento de todos os
to da língua escrita e à fragmentação indevida de atos tão envolvidos no projeto e cita como exemplo que no projeto
complexos como a leitura e a escrita. da Província de Buenos Aires, todo o primeiro ano foi dedi-
4. A necessidade de superar a tradicional separação cado à formação de coordenadores.
entre “alfabetização em sentido estrito” e “alfabetização Finalmente, para assegurar a compreensão por parte
em sentido amplo”, ou seja, entre “apropriação do sistema dos professores da concepção didática que se pretende
de escrita” e “desenvolvimento da leitura e da escrita”. comunicar, é essencial que todo o processo de capacitação
Uma última consideração sobre o currículo: é necessá- esteja orientado por essa mesma concepção e que os con-
rio sustentar as propostas nas contribuições das ciências da teúdos didáticos constituam o eixo do trabalho. Fazer pes-
linguagem e nas da psicologia, principalmente nos estudos quisa didática no terreno da capacitação permitirá também
realizados sobre a construção de determinados conteúdos encontrar recursos para transformar o ensino da leitura e
escolares, por exemplo, a sociolinguística, quando obriga a da escrita.
revisar criticamente a noção de “correção” da língua, pas-
sando a considerar os dialetos e socioletos. APONTAMENTOS A PARTIR DA PERSPECTIVA CURRI-
Assim, reformular a concepção do objeto de ensino CULAR ACERCA DOS PROBLEMAS CURRICULARES
em função das contribuições linguísticas e a concepção Elaborar documentos curriculares é um forte desafio,
do sujeito que aprende a ler e escrever (contribuições psi- porque, além das dificuldades envolvidas em todo traba-
colinguísticas), parece ser uma condição importante para lho didático, é necessário assumir a responsabilidade da
contribuir, desde o projeto curricular, para a mudança na prescrição. Os documentos curriculares adquirem caráter
proposta didática vigente na escola. Também é evidente, prescritivo, mesmo quando seus autores não o desejam.
no que se refere à organização institucional, a necessida- Elaborar documentos curriculares supõe ainda tomar deci-
de de promover o trabalho em equipe, de abrir em cada sões que afetarão muitas escolas, diferentes umas das ou-
58
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
tras, cujas especificidades nem sempre é possível conhecer EXPLICITAR CONTEÚDOS ENVOLVIDOS NAS PRÁTICAS
de perto. A responsabilidade envolvida na elaboração de Escolarizar práticas sociais é um desafio, porque as
documentos curriculares faz sentir fortemente a necessida- práticas são totalidades indissociáveis. “Aprende-se a ler,
de da pesquisa didática. lendo” e “aprende-se a escrever, escrevendo”, são lemas
1. Em primeiro lugar, selecionar é imprescindível, por- educativos que expressam o propósito de instalar as práti-
que é impossível ensinar tudo. Mas, ao selecionar deter- cas de leitura e escrita como objeto de ensino.
minados conteúdos acabam por ser separados do contex- Entretanto, sua concretização na sala de aula é pou-
to da ciência ou da realidade em que estão imersos e são co frequente, e entre os motivos para isso está a falta do
transformados e reelaborados. professor reconhecer quais são os conteúdos que se estão
2. Por outro lado, toda seleção supõe ao mesmo tempo ensinando e aprendendo ao ler ou ao escrever.
uma hierarquização, uma tomada de decisão acerca do que Ao instituir como conteúdos escolares as atividades
é que vai considerar prioritário, do que é que se enfatizará exercidas por leitores e escritores na vida cotidiana, con-
no âmbito desse objeto de ensino. sideram-se duas dimensões: por um lado, a dimensão so-
Agora, em que se basear para tomar essas decisões? cial - interpessoal, pública, e por outro lado, a dimensão
Como se apresenta essa questão no caso da leitura e psicológica - pessoal, privada. É importante esclarecer que:
da escrita? 1. Os comportamentos do leitor e do escritor são con-
As decisões envolvidas na seleção e hierarquização dos teúdos e não tarefas, porque são aspectos que se espera
conteúdos são cruciais, porque decidir quais aspectos se- que os alunos aprendam e possam colocá-los em prática;
rão mostrados implica em decidir em quais serão oculta- 2. O conceito de “comportamento do leitor e do escritor”
dos. Tradicionalmente, o que se concebe como objeto de não coincide com o de “conteúdos procedimentais”. Ao exercer
ensino é a língua, em particular em seus aspectos descri- comportamentos de leitor e de escritor, os alunos têm também
tivos e normativos. As práticas de leitura e escrita como a oportunidade de entrar no mundo dos textos, de se apropriar
tais estiveram praticamente ausentes dos currículos, e os dos traços distintivos de certos gêneros ..., é assim que ao atuar
efeitos dessa ausência são evidentes: a reprodução das de- como leitores e escritores têm a oportunidade de se apropriar
sigualdades sociais relacionadas com o domínio da leitura de conteúdos linguísticos que adquirem sentido na prática
e da escrita. Alguns estudos sociológicos e históricos é que
PRESERVAR O SENTIDO DOS CONTEÚDOS
chegam a ser “praticantes” na leitura e da escrita no senti-
A autora afirma que aclarar os conteúdos implícitos
do pleno da palavra.
nas práticas é indispensável, mas supõe também correr ris-
É crucial levar em conta essas conclusões para desen-
cos em relação à preservação do sentido.
volver pesquisas que levem a definir quais são as condições
Um primeiro risco é o de cair na tentação de transmitir ver-
didáticas que podem favorecer a sobrevivência da leitura e
balmente às crianças esses conteúdos, é pertinente ressaltar a
da escrita na escola, com o propósito de incorporar todos importância da participação nas práticas, colocando-se efetiva-
os alunos a essas práticas sociais. mente em ação. Um conteúdo está em ação cada vez que é
posto em jogo pelo professor e pelos alunos ao lerem ou ao
CARACTERIZAR O OBJETO DE REFERÊNCIA: AS PRÁTl- escreverem, sendo objeto de ensino e de aprendizagem, em
CAS DE LEITURA E ESCRITA outro momento pode tornar-se objeto de reflexão, quando os
Há muita pesquisa por fazer para se ter um conheci- problemas apresentados pela escrita ou leitura o requeiram.
mento confiável e rigoroso do funcionamento da leitura e O segundo risco que se corre ao explicitar os compor-
da escrita enquanto práticas sociais. Para a autora, as práti- tamentos do leitor e do escritor é o de produzir um novo
cas sociais atuais serão objeto de novos estudos a partir da parcelamento do objeto de ensino.
perspectiva sociológica e histórica. O terceiro risco, ao se preservar o sentido das práticas,
As análises históricas revelaram que as práticas de lei- é o de acreditar que é suficiente abrir as portas da esco-
tura parecem ter sido, em primeiro lugar, intensivas, para la para que a leitura e a escrita entrem nela e funcionem
depois se transformarem, pouco a pouco, em práticas exten- tal como fazem em outros âmbitos sociais. A escola não
sivas, isto é, originalmente se liam poucos textos de maneira pode limitar-se a reproduzir as práticas tal como são fora
intensa, profunda e reiterada, e depois houve uma mudança dela. Ao mesmo tempo deverá velar pela preservação do
para outra maneira de ler, que abarca uma enorme quantida- sentido daquelas práticas que são valiosas para o desen-
de de textos e opera de maneira mais rápida e superficial. Ao volvimento dos alunos. A tarefa educativa supõe o esforço
analisar as práticas sociais atuais, a autora afirma que predo- para formar sujeitos capazes de analisar criticamente a rea-
minam as práticas extensivas de leitura, dado o aumento da lidade, além de promover um distanciamento que permita
quantidade de materiais de leitura disponíveis, mas as práti- conceitualizá-Ias e analisá-Ias criticamente.
cas intensivas estão longe de desaparecer.
Com relação à dimensão pública privada, embora na OS COMPORTAMTENTOS DO LEITOR NA ESCOLA:
atualidade a leitura tenda a ser mais privada, persistem si- TENSÕES E PARADOXOS
tuações de leitura pública, por exemplo, os discursos lidos Ao tentar que as atividades do leitor ingressem na es-
por políticos em voz alta. Há também leituras que são com- cola, surgem alguns obstáculos sobre os quais é necessário
partilhadas na intimidade, leitura noturna de contos... E há refletir, para encontrar caminhos que permitam superá-Ios.
um denominador comum que atravessa as práticas de leitura A análise estará centrada em duas atividades que todo lei-
e de escrita, qual seja, as interações com as outras pessoas. tor vive na prática:
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
1. escolher o que, como, onde e quando lê; A REALIDADE NÃO SE RESPONSABILIZA PELA PERDA
2. atrever-se a ler textos difíceis. DE SUAS (NOSSAS) ILUSÕES (OU – NÃO).
Por que a leitura, tão útil na vida real para cumprir di-
Nos dois casos, a transposição didática apresenta sé- versos propósitos, aparece na escola como uma atividade
rios problemas. gratuita, cujo único objetivo é aprender a ler? Por que se
Em relação à possibilidade de escolha, a autora destaca ensina uma única maneira de ler - linearmente, palavra por
que enquanto, atividade fora da escola, a leitura se man- palavra - se os leitores usam modalidades diversas em fun-
tém, em geral, alheia ao obrigatório, mas dentro dela há a ção do objetivo que se propuseram? Por que se enfatiza
obrigatoriedade. Na escola a leitura e a escrita são neces- tanto a leitura oral e tão pouco a leitura para si mesmo?
sariamente obrigatórias e é por isso que a escola enfrenta A leitura aparece desgarrada dos propósitos que lhe dão
um paradoxo em relação a essa questão: como assume a sentido no uso social, porque a construção do sentido
responsabilidade social de ensinar a ler e escrever tem que não é considerada como uma condição necessária para a
apresentar a leitura e a escrita como obrigatórias e atri- aprendizagem.
buir-Ihes, então, como propósito único ou predominante Uma teoria da aprendizagem que não se ocupa do
o de ao render a ler e escrever. Por outro lado, a respon- sentido que a leitura possa ter para as crianças e concebe a
sabilidade que a escola tem em relação ao ensino a obriga aquisição do conhecimento como um processo acumulati-
também a exercer um forte controle sobre a aprendizagem, vo e graduado, um parcelamento do conteúdo em elemen-
exigência que leva a privilegiar algumas questões e deixar tos supostamente simples, uma distribuição do tempo es-
outras de lado. A escolha se opõe ao controle. colar que atribui um período determinado à aprendizagem
Como se pode começar a resolver essas tensões? A in- de cada parcela e um conjunto de regras que concedem ao
serção da leitura e da escrita em projetos proporciona um professor, certos direitos e deveres que somente ele pode
princípio de solução, porque, na medida em que os alunos exercer, enquanto o aluno exerce outros complementares,
se envolvam nesses, o obrigatório resultará em escolha. são fatores que se articulam para tornar impossível a leitura
Além disso, são necessárias atividades permanentes ou pe- na escola.
riódicas onde cada aluno tenha a possibilidade de ler uma Quais são então as ilusões perdidas? Perde-se a ilusão
história favorita, que queira compartilhar com os demais. da naturalidade. Introduzir na escola a versão social da lei-
Ter consciência dessa tensão torna possível tomar deci- tura parecia ser uma tarefa simples, entretanto a tarefa é
são de tentar evitar a redução do ensinado em função das complexa! Para chegar a ser leitor, o aluno teria que exercer
necessidades de controle. alguns direitos e deveres que são privativos do professor,
Na atividade, atrever-se a ler livros difíceis, alerta que isso não é natural para a escola que os direitos e deveres sejam
só é possível quando estes são incorporados ao trabalho, “não compartilhados pelo docente e pelos alunos, porque uma
se aprende a ler textos difíceis lendo textos fáceis; os textos distinção nítida dos papéis é necessária para concretizar
fáceis só habilitam para se continuar lendo textos fáceis”. o ensino e a aprendizagem, para cumprir a função que a
Finalizando o capítulo, Lerner, retoma uma das ideias sociedade atribuiu à escola.
essenciais enunciadas no começo: a necessidade de pre-
servar o sentido da leitura e da escrita. Ela cita come exem- A ESCOLA COMO MICROSSOCIEDADE DE LEITORES E
plo uma experiência pessoal, ao ler um artigo, Horácio Ver- ESCRITORES (OU - SIM. É POSSÍVEL LER NA ESCOLA)
bitsky intitulado “Lilíada”. Articular a teoria construtivista da aprendizagem com
as regras e exigências institucionais está longe de ser fácil:
É POSSÍVEL LER NA ESCOLA? é preciso encontrar outra maneira de administrar o tempo,
É possível ler na escola? Esta pergunta pode parecer é preciso criar novos modos de controlar aprendizagem, é
estranha porque põe em dúvida a missão fundamental preciso transformar a distribuição dos papéis do professor
da escola que é precisamente, ensinar a ler e escrever, no e do aluno em relação à leitura, é preciso os objetivos ins-
entanto, a descaracterização que a leitura sofre na escola titucionais com os objetivos pessoais dos alunos. A versão
é irrefutável. Citando García Márquez, a autora expõe al- apresentada no capítulo é baseada no trabalho de diversos
gumas de suas ideias presentes no capítulo: o tratamento pesquisadores, cujas produções contribuíram para elabo-
da leitura que costuma ser feita na escola é perigoso, por- rá-Ia.
que corre o risco de «assustar as crianças», distanciá-las
da leitura em vez de aproximá-las, não se trata de pôr os O SENTIDO DA LEITURA NA ESCOLA: PROPÓSITOS DI-
professores no banco dos réus, mas s instituição escolar DÁTICOS DO ALUNO
pode transformar-se num âmbito propício para a leitura Na escola a leitura é, antes de mais nada, um objeto
, essas condições devem ser criadas desde antes que as de ensino. Para que também se transforme num objeto de
crianças saibam ler no sentido convencional do termo, e aprendizagem é preciso que tenha sentido do ponto de
uma delas é que (1 professor assuma o papel de intérprete vista do aluno, deve cumprir uma função para a realização
e os alunos possam ler através dele. O essencial é fazer da de um propósito que ele conhece e valoriza. Em conse-
escola um âmbito propício para a leitura é abrir para todos quência, cada situação de leitura responderá a um duplo
as portas dos mundos possíveis, é inaugurar um caminho propósito: um propósito didático, ensinar certos conteúdos
que todos possam percorrer para chegar a ser cidadãos da constitutivos da prática social da leitura, com o objetivo de
cultura escrita. que o aluno possa reutilizá-lo no futuro, por outro lado,
60
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
um propósito comunicativo relevante desde a perspectiva - Leitura das perguntas, classificação por tema e se-
atual do aluno. São situações que Brousseau (1986) cha- leção;
mou de “a - didáticas”, porque propicia o encontro dos alu- - Distribuição das perguntas por duplas, levando-se
nos com um problema que devem resolver por si mesmos, em conta as preferências e possibilidades das crianças;
porque funciona de tal modo que o professor intervenha - Elaboração da resposta: cada dupla se encarrega
sem explicitar o que sabe e porque tornam possível criar no de elaborar a resposta, com a orientação do professor e
aluno um projeto próprio, permite mobilizar o desejo de quando possível da bibliotecária;
aprender. Os projetos vinculados à leitura parecem cumprir - Consulta a leitores: antes de fazer a revisão final,
esta finalidade. cada dupla submete seu texto “a consideração de outra
Como se articulam os propósitos didáticos e os propó- dupla - Revisão final;
sitos comunicativos aos quais aponta o projeto proposto? - Envio da resposta aos destinatários;
Se, ao criar o projeto leva-se em conta tanto os pro- - Distribuição de uma nova pergunta para cada du-
pósitos que se referem ao ensino como os que se referem pla.
à aprendizagem como os inspirados na prática social de
leitura, essa articulação não apresenta maiores problemas. GESTÃO DO TEMPO,
A seguir alguns exemplos: APRESENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS E ORGANIZAÇÃO
1. Produção de uma fita de poemas (projeto realizado DAS ATIVIDADES
em uma 2ª série do ensino fundamental, no começo do O tempo é um fator de peso na instituição escolar:
ano letivo) sempre é escasso em relação à quantidade de conteúdos
A) Propósitos: propósito comunicativo, compartilhar fixados no programa, nunca é suficiente! Para concretizar
com outras pessoas textos que o leitor considera interes- uma mudança qualitativa na utilização do tempo didático,
sante; parece necessário: manejar com flexibilidade a duração das
B) Destinatário: grupos de educação infantil da esco- situações didáticas e tornar possível a retomada dos pró-
la e da biblioteca para cegos; prios conteúdos em diferentes oportunidades e a partir de
C) Sequência de atividades: - proposta do projeto às
perspectivas diversas.
crianças e discussão do plano de trabalho; - seleção dos
Criar essas condições requer pôr em ação diferentes
poemas; - organização da tarefa; - audição de fitas gra-
modalidades e atividades organizativas:
vadas; - gravação (ensaio); -audição; - gravação (segundo
- projetos: permite uma organização flexível do tempo,
ensaio); - gravação final; - escuta da fita editada; - redigir a
de alguns dias a vários meses;
apresentação da fita aos destinatários.
- atividades habituais: acontecem de forma sistemática
2. Instalação de uma consultoria que proporcione di-
uma vez por semana ou a cada quinze dias, durante vários
ferentes tipos de informação (projeto de uma 4ª série do
meses ou ao longo do ano e oferecem a oportunidade de
ensino fundamental - também são seguidos os passos aci-
ma mencionados). interagir com um determinado gênero literário em cada
Situações de leitura: os textos escolhidos cumprem ano da escolaridade, são apropriadas para comunicar cer-
pelo menos duas condições - nenhum deles proporciona tos aspectos ao leitor; - sequências de atividades: estão di-
diretamente a resposta à pergunta feita; são relativamente recionadas para ler com as crianças diferentes exemplares
difíceis para os alunos, textos extraídos de enciclopédias. A de um mesmo gênero ou subgênero, diferentes obras de
organização da tarefa leva em conta as condições anterio- um mesmo autor ou diferentes textos de um mesmo tema;
res, de tal modo que as crianças possam colaborar entre si - situações independentes ocasionais ou de sistema-
e consultar o professor sempre que necessário. As crianças tização.
tomam nota durante a leitura dos aspectos relevantes para
elaborar a resposta à pergunta apresentada. ACERCA DO CONTROLE: AVALIAR A LEITURA E ENSI-
Situações de escrita: o planejamento do texto que será NAR A LER
produzido se realiza a partir das discussões das notas to- Para que a pressão da avaliação, função inerente à es-
madas pelas crianças no curso das situações de leitura, dis- cola, se torne um obstáculo para a formação de leitores, é
cussão que obriga a reler os textos e chegar a um acordo dos imprescindível, por um lado, pôr em primeiro plano os pro-
aspectos que devem ser incluídos. O processo de textualização pósitos referentes à aprendizagem, de tal modo que estes
se realiza através de um ditado das crianças para o professor, não se subordinem à necessidade de controle e, por outro
já que se trata de produzir um único texto. São realizadas vá- lado, criar modalidades de trabalho que incluam momen-
rias revisões, com várias releituras até a versão final. tos durante os quais o controle seja responsabilidade dos
Quando a versão final do texto está pronta, considera- alunos.
-se o “curso de capacitação” concluído, todas as crianças
obtêm seus “diplomas” e se passa à segunda etapa, a aber- O PROFESSOR: UM ATOR NO PAPEL DO LEITOR
tura da consultoria que começa com uma comunicação aos A leitura do professor é de particular importância na
pais, informando os objetivos do projeto e as atividades já primeira etapa da escolaridade, quando as crianças ainda
realizadas e são convidados a enviar perguntas. Quando não leem eficazmente por si mesmas. Ao ler para as crian-
as perguntas começam a chegar, realizam-se as seguintes ças o professor “ensina” como se faz para ler. Entretanto,
atividades: operar como leitor é uma condição necessária, mas não su-
61
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ficiente, para ensinar a ler. São necessárias intervenções di- com distintos sujeitos ou grupos. Foi possível, compreen-
recionadas para que as crianças possam ler por si mesmas, der por que os exemplos de atividades apresentados para
para que progridam no uso de estratégias efetivas, em suas os professores Ihes pareciam sempre escassos.
possibilidades de compreender melhor aquilo que leem. Tudo isso, foi imprescindível para que a autora e os
Enquanto estão lendo, o professor as incentiva a con- capacitadores realizassem mudanças no processo de capa-
tinuar a leitura sem se deter diante da cada dificuldade, citação, foi assim que o saber didático passou a ocupar o
uma leitura global, e em seguida uma segunda leitura e primeiro plano.
irá descobrindo que conhecer todo o texto permite com-
preender melhor cada parte. A ajuda do professor consiste ACERCA DE TRANSFORMAÇÕES E CONSERVAÇÕES
em propor estratégias das quais se irão apropriando pro- Assim como a transformação do processo de capaci-
gressivamente e que Ihes serão úteis para abordar novos tação foi de suma importância, também o foi a conserva-
textos que apresentem certo grau de dificuldade. Além dis- ção daquelas situações que haviam sido avaliadas como
so, o professor incitará entre os alunos a cooperação, com produtivas e que já se orientavam para a construção de
conhecimento didático por parte dos professores.
o objetivo de que a confrontação de pontos de vista leve a
uma melhor compreensão do texto.
AS SITUAÇÕES DE “DUPLA CONCEITUAÇÃO”
Também poderá gerar uma atividade que Ihes exija tra-
Entre as situações conservadas, possuíam particu-
balharem sozinhas durante um determinado período com
lar interesse aquelas que cumpriram um duplo objetivo:
o objetivo de que se esforcem por compreender e de que conseguir, por um lado, que os professores construíssem
construam ferramentas de autocontrole. conhecimentos sobre um objeto de ensino e, por outro,
que elaborassem conhecimentos referentes às condições
A INSTITUIÇÃO E O SENTIDO DA LEITURA didáticas necessárias para que seus alunos pudessem se
A problemática apresentada pela formação do leitor, apropriar desse objeto. Essas situações são apresentadas
longe de ser específica de determinada série, é comum a pela autora contemplando duas fases sucessivas:
toda a instituição escolar. O desafio de dar sentido à leitu- 1 - Na primeira fase, apresenta-se uma proposta como
ra assume uma dimensão institucional, se essa dimensão é a seguinte: produzir em grupo uma mensagem dirigida a
assumida, se a instituição como tal se encarrega da análise um destinatário específico, por exemplo, elaborar um in-
do problema, se seus integrantes em conjunto elaboram e forme para o diretor da escola sobre as atividades realiza-
levam à prática projetos direcionados a enfrentá-Ios, co- das no curso. Solicita-se, além disso, que enquanto cada
meça a se tornar possível encurtar a distância entre os pro- grupo escreve, um de seus membros atue como observa-
pósitos e a realidade. dor e registre as discussões que ocorram.
Terminada a escrita, cada grupo se dedica a discutir o
O PAPEL DO CONHECIMENTO DIDÁTICO NA FORMA- registro e finalmente, faz-se uma socialização síntese ba-
ÇÃO DO PROFESSOR seada nas conclusões dos diferentes grupos.
O CONHECIMENTO DIDÁTICO COMO EIXO DO PRO- O que os participantes aprendem nesta fase?
CESSO DE CAPACITAÇÃO A) Ao discutir os problemas e ao analisar os registros,
O conhecimento didático assume lugar central na ca- eles se conscientizam de que a escrita envolve processos
pacitação dos professores, é uma afirmação que parece de planejamento, textualização e revisão, de que ao escre-
óbvia, mas necessária porque este não foi suficientemente ver se enfrenta múltiplos problemas;
contemplado nos processos de capacitação. B) A socialização e síntese das discussões ocorridas nos
Deslumbrados, antes de mais nada, pelos impressio- diferentes grupos permite separar aspectos essenciais do
nantes resultados das pesquisas psicogenéticas, a partir de ato de escrita e leva a defini-Ia como uma atividade inseri-
da num contexto comunicativo;
Ferreiro e Teberosky (1979), ávidos por incorporar as con-
C) As intervenções do capacitador permitem estabe-
tribuições da psicolinguística referentes ao ato de escrita
lecer novas relações entre as contribuições dos diferentes
(trabalhos de Smith, Goodman, Hayves e Flowers, etc.),
grupos e ter acesso a informações que complementam os
os capacitadores, entre os quais a autora se inclui, não conhecimentos elaborados no curso da atividade.
conseguiram fugir à tentação de pôr em primeiro plano Na segunda fase, uma vez conceitualizado o conteúdo,
os conteúdos psicológicos e linguísticos como conteúdos formulam-se interrogações que levam a refletir as carac-
imprescindíveis para o ensino da leitura e da escrita, a par- terísticas da situação didática proposta: por que escolheu
tir dos quais se poderia pensar a ação didática. Não con- essa atividade e não outra? (Escrever uma carta real para
seguiram ouvir os apelos que seus alunos faziam quanto um destinatário específico), a situação constituiu um de-
a questão de colocar as atividades em prática. Ao refletir safio para os participantes? Para todos na mesma medida?
sobre o que pensava quando planejava ou avaliava suas O que se aprende nesta segunda fase?
aulas, Delia Lerner, afirma ir se conscientizando de que as A) A reflexão sobre as características da situação de
preocupações dos professores coincidiam com as suas, ou aprendizagem em que os professores participaram como
seja, ambos preocupados com as condições que as pro- alunos;
postas tinham que cumprir para serem produtivas, pela or- B) A confrontação do ocorrido em distintos grupos
ganização da aula, pelas intervenções do docente no curso permitindo refletir sobre os diversos efeitos que uma mes-
de cada atividade, pela organização da aula e em relação ma situação pode produzir;
62
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
C) As apreciações do capacitador durante a socializa- ensino e pela aprendizagem, tentando encontrar elemen-
ção contribuem para aprofundar a fundamentação da pro- tos necessários para manejar melhor os saberes que devem
posta e das intervenções realizadas por ele. ser ensinados, para compreender melhor as interrogações
e as conceitualizações dos alunos.
ATIVIDADE NA AULA COMO OBJETO DE ANÁLISE
Centrar-se no conhecimento didático, como eixo da PALAVRAS FINAIS
capacitação, supõe necessariamente incluir a aula no pro- Segundo Delia Lerner, ainda há duas observações a se-
cesso de capacitação, pôr em primeiro plano o que real- rem feitas ao terminar este capítulo: a primeira delas refe-
mente ocorre na classe, estudar o funcionamento do ensi- re-se à posição assumida pelos participantes dos processos
no e da aprendizagem escolar da leitura e da escrita. Para de capacitação que foram fecundos e a segunda com a ne-
cumprir esse requisito é essencial o registro da classe. Deci- cessária vinculação entre pesquisa e didática. A capacitação
dir quais são os registros que serão analisados não é tarefa poderá ser muito mais efetiva quanto melhor se conhecer
fácil. Quais são as situações de classe que é mais produtivo os fatos didáticos, quanto mais preciso for o saber acer-
analisar? É importante considerar: ca do ensino e da aprendizagem escolar, quanto mais se
1. As situações de classe que é mais produtivo anali- avançar na análise dos processos de comunicação do co-
sar são as que podem ser caracterizadas como “boas”, por- nhecimento didático dos professores. Avançar na pesquisa
que permitem analisar o modelo didático com que se tra- didática sobre o trabalho em classe e sobre a capacitação
balha, porque a reflexão sobre elas torna possível discutir a permitirá ajudar os professores em sua difícil tarefa.
respeito das condições didáticas requeridas para o ensino
da leitura e da escrita;
2. Tomar como objeto de análise registros de clas- MACHADO, ROSÂNGELA. EDUCAÇÃO
ses coordenadas pelos participantes é uma tarefa que se ESPECIAL NA ESCOLA INCLUSIVA:
aborda numa etapa posterior, porque submeter a própria POLÍTICAS, PARADIGMAS E PRÁTICAS.1 ED.
prática ao olhar de outros não é fácil e pode dar lugar a
SÃO PAULO: CORTEZ, 2009.
situações de tensão ou competitividade;
3. Levar em conta as possibilidades e limitações dos
registros de classe permite seu papel no processo de ca-
pacitação.
Inovar as práticas de educação especial e dar novos
É fundamental considerar as seguintes questões para
rumos para a inclusão de alunos com deficiência no ensino
realizar um trabalho realmente produtivo com os registros
regular A autora apresenta o desafio, à reorganização dos
de classes:
serviços de educação especial de forma que seja comple-
- Em primeiro lugar, é importante lembrar que os regis- mentar ao ensino regular e não um substitutivo.
tros não são transparentes, nem autossuficientes para pôr
em evidência os conteúdos que se quer comunicar através Fonte: https://www.amazon.com.br/Educa%-
de sua análise. C3%A7%C3%A3o-Especial-Inclusiva-Pol%C3%ADticas-
O que cada professor pode observar numa classe está -Paradigmas/dp/8524915129
determinado por seus saberes prévios, por sua própria ex-
periência ou inexperiência;
- Em segundo lugar, é necessário pôr em relevo aquilo
que será reproduzível, que pode ser válido para outras apli- MARTINS, MIRIAN CELESTE FERREIRA DIAS.
cações da mesma situação ou outras situações; DIDÁTICA DO ENSINO DE ARTE: A LÍNGUA
- em terceiro lugar, é preciso levar em conta que al- DO MUNDO: POETIZAR, FRUIR E CONHECER
guns aspectos fundamentais da situação são invisíveis: nos ARTE. SÃO PAULO: FTD, 1998.
registros não aparecem explicitamente as conceituações
do professor acerca do conteúdo que está ensinando, nem
as ideias que sustentam as decisões que toma no decorrer
da aula, nem as hipóteses que estão por trás do que as As arte-educadoras Mirian Celeste Martins, Gisa Picos-
crianças dizem. que e Maria Terezinha Telles Guerra são autoras do livro
Por último, é importante levar em conta que o registro Didática do ensino de Arte - a língua do Mundo. Poetizar,
de classe é realizado em geral, por uma pessoa alheia ao fruir e conhecer a Arte. A obra integra a coleção Conteúdo
grupo e que é comum aparecerem indícios da influência & Metodologia, destinada a alunos de Magistérios e Licen-
que essa presença tem no desenvolvimento da situação. ciatura, os futuros professores do Ensino Fundamental e
Tomar como eixo da capacitação o conhecimento di- Médio. Cada volume é dedicado a uma disciplina. Para tra-
dático é reconhecer que os problemas surgidos na aula são tar do ensino de Arte do Ensino de Arte, a editora reuniu
problemas específicos que requerem soluções também es- três professoras há muito conhecidas no país por suas impor-
pecíficas. No entanto, centrar-se no saber didático não sig- tantes contribuições na área. O resultado é uma obra construí-
nifica deixar de lado as contribuições das outras ciências, da com extrema sensibilidade, ricamente ilustrada, que aponta
pelo contrário, abrir a possibilidade de que os professores caminhos para o trabalho do professor - o que e como ensinar
recorram a elas a partir de interrogações suscitadas pelo - de forma que ele possa criar seu próprio percurso.
63
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Integração ou Inclusão?
64
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
lógicos conflitante. „Integração‟ refere-se mais especifica- mais a igualdade como norma, fazemos cair toda uma hie-
mente à inserção de alunos com deficiência nas escolas rarquia das igualdades e diferenças que sustentam a „nor-
comuns, mas seu emprego dá-se também para designar malização‟. Diz Mantoan que este processo (a normaliza-
alunos agrupados em escolas especiais para pessoas com ção), pelo qual a educação especial tem sido proclamada,
deficiência, ou mesmo em classes especiais, grupos de la- propõe de forma sutil, com base em características devida-
zer ou residências para deficientes. Trata-se, portanto, de mente selecionadas como positivas, a eleição arbitrária de
uma concepção de inserção parcial, porque o sistema pre- uma identidade „normal‟ como um padrão de hierarquiza-
vê serviços educacionais segregados. ção e de avaliação de alunos, de pessoas. É preciso lembrar
A integração escolar pode ser melhor compreendida que nem todas as diferenças necessariamente inferiorizam
como o „especial na educação‟, ou seja, a justaposição do as pessoas. Há diferenças e igualdades – nem tudo deve ser
ensino especial ao regular, provocando um inchaço desta igual, assim como nem tudo deve ser diferente.
modalidade, em virtude do deslocamento de profissionais,
recursos, métodos e técnicas da educação especial às esco- A questão legal
las regulares. A inclusão escolar, por outro lado, questiona
o próprio conceito de integração, pois são incompatíveis, Quando garante a todos o direito à educação e à esco-
uma vez que esta prevê a inserção escolar de forma radi- la, a Constituição Federal não faz distinções e, assim sendo,
cal, completa e sistemática, isto é, todos os alunos, sem toda escola deve atender aos princípios constitucionais,
exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino re- não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua ori-
gular. Por conta disso, a inclusão implica uma mudança de gem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência. Isso significa que
perspectiva educacional, pois não atinge apenas os alunos para que todos possam atingir o pleno desenvolvimento
com alguma deficiência ou os que apresentam dificulda- humano e o preparo para a cidadania, entende-se que a
des no aprendizado, mas envolve todos os demais alunos. educação não pode se realizar em ambientes segregados.
A perspectiva inclusiva, portanto, elimina a subdivisão dos No Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Despor-
sistemas escolares em modalidades de ensino especial e de to –, artigo 205, a Constituição prescreve em seu artigo 208
ensino regular. que o dever do Estado com a educação será efetivado me-
diante a garantia de “ [...] atendimento educacional espe-
Inclusão Escolar: Por Quê? cializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino”. Como em nossa Constituição
Para Mantoan, a inclusão total e irrestrita é uma ótima consta que a educação visa o pleno desenvolvimento hu-
oportunidade que temos de reverter a situação da maior mano e o preparo para a cidadania, qualquer restrição ao
parte de nossas escolas, as quais atribuem aos alunos as acesso a um ambiente marcado pela diversidade, que refli-
deficiências que são do próprio ensino ministrado dentro ta a sociedade como ela é, como forma efetiva de prepa-
delas – sempre se avalia o que o aluno aprendeu, o que ele rar a pessoa para a cidadania, seria uma diferenciação que
deixou de aprender, mas raríssimas vezes se analisa „o que‟ estaria limitando em si mesmo o direito à igualdade dessas
e „como‟ a escola ensina, de modo que os alunos não se- pessoas.
jam culpabilizados pela repetência, evasão, discriminação, Em síntese: para os defensores da inclusão escolar é
exclusão, etc. indispensável que os estabelecimentos de ensino eliminem
barreiras arquitetônicas e adotem práticas de ensino ade-
A questão da identidade X diferença quadas às diferenças dos alunos em geral, oferecendo al-
ternativas que vislumbrem a diversidade, além de recursos
Mantoan inicia este capítulo com questões a respei- de ensino e equipamentos especializados que atendam a
to das propostas e políticas educacionais que proclamam todas as necessidades educacionais dos educandos, com
a inclusão, chamando atenção para a forma como estas ou sem deficiências, mas sem discriminações.
identificam e tratam as diferenças, isto é, será que reco-
nhecem e valorizam as diferenças como condição para que A questão das mudanças
haja avanço, mudanças, desenvolvimento e aperfeiçoa-
mento da educação escolar? Uma coisa, porém, é o que está escrito e outra é o que
Observa a autora que, muitas vezes, estas propostas acontece, verdadeiramente, nas salas de aula, no dia a dia
entendem as deficiências como „fixadas‟ no indivíduo, das escolas espalhadas por este país. A inclusão, diz Man-
como se fossem marcas indeléveis, as quais só nos cabe toan, pegou as escolas de calças curtas. E o nível de esco-
aceitá-las, passivamente, pois acredita-se que nada poderá laridade que mais parece ter sido atingido por essa nova
evoluir, além do previsto no quadro geral das suas espe- questão é o ensino fundamental. A escola se vê ameaçada
cificações estáticas. Com base nesta ideia é que criam-se por tudo o que ela mesma criou para se proteger da vida
espaços educacionais protegidos à parte, restringidos à que existe para além de seus muros e de suas paredes –
determinadas pessoas, ou seja, àqueles que denominamos novos saberes, novos alunos, outras maneiras de resolver
Portadoras de Necessidades Educacionais Especiais (PNEE). problemas e de avaliar a aprendizagem.
Em contrapartida, Mantoan propõe tomarmos a dife- Sabemos quais são os argumentos pelos quais a escola
rença como parâmetro ao invés destes modelos que ado- tradicional resiste à inclusão – eles refletem a sua incapaci-
tam a igualdade como referência. Quando não fixamos dade de atuar diante da complexidade, da diversidade, da
65
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
variedade, do que é real nos seres e nos grupos humanos. Reorganizar as escolas: aspectos pedagógicos e ad-
Os subterfúgios teóricos que distorcem de caso pensado o ministrativos
conceito de inclusão, condicionando-o à capacidade inte-
lectual, social e cultural dos alunos, para atender às expec- A inclusão não prevê a utilização de práticas de ensi-
tativas e exigências da escola, precisam ser eliminados com no escolar específicas para esta ou aquela deficiência e/
urgência. A inclusão se legitima porque a escola, para mui- ou dificuldade de aprendizado. Os alunos aprendem nos
tos alunos, é o único espaço de acesso aos conhecimentos. seus limites e se o ensino for de boa qualidade, o profes-
sor levará em consideração esses limites, e explorará ade-
Inclusão Escolar: Como Fazer? quadamente as possibilidades de cada um. Não se trata de
uma aceitação passiva do desempenho escolar, mas de se
Não adianta, porém, admitir o acesso de todos à esco- agir com coerência e realismo ao admitirmos que as esco-
la, sem garantir a continuidade da escolaridade até o nível las não existem para formar apenas alguns membros das
que cada aluno for capaz de atingir. Não há inclusão quan- novas gerações, os mais capacitados e privilegiados.
do a inserção de um aluno é condicionada à matrícula em A organização administrativa e os papéis desempe-
uma escola ou classe especial. O princípio democrático da nhados pelos membros da organização escolar são outros
educação para todos só se justifica nos sistemas educacio- alvos a serem alcançados. Ao serem alterados os rumos da
nais que se especializam em todos os alunos, e não somen- administração escolar, a atuação do diretor, coordenado-
te em alguns deles (os com ou sem deficiência). res, supervisores e funcionários perdem o caráter contro-
Para Mantoan, é preciso mudar a escola e, mais preci- lador, fiscalizador e burocrático que os encerra em seus
samente, o ensino nela ministrado. Para mudar a escola é gabinetes e readquire um papel pedagógico, pois amplia a
preciso, entretanto, enfrentar muitas frentes de trabalho, presença destes nas salas de aula e nos demais ambientes
cujas tarefas fundamentais são, no entender de Mantoan: educativos das escolas.
1) Recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o
ensino para todos; 2) Reorganizar pedagogicamente as es- Ensinar a turma toda: sem exceções e exclusões
colas, abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo, a
solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exer- Para Mantoan, o sucesso da aprendizagem está em
cidos nas escolas, por professores, administradores, fun- explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver
cionários e alunos, porque são habilidades mínimas para predisposições naturais de cada aluno. Ensinar atendendo
o exercício da verdadeira cidadania; 3) garantir aos alunos às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para
tempo e liberdade para aprender, bem como um ensino cada um, depende, entre outras coisas, de se deixar de lado o
que não segrega e que reprova a repetência; 4) Formar, caráter transmissivo do ensino praticado hoje e de se adotar
aprimorar continuamente e valorizar o professor, para que uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que
tenha condições e estímulo para ensinar a turma toda, sem se opõe a toda a qualquer visão unidirecional, de transferên-
exclusões e exceções. Essas tarefas são comentadas nos ca- cia unitária, individualizada e hierárquica do saber.
pítulos seguintes. O ponto de partida para se ensinar a turma toda sem
diferenciar o ensino para este aluno ou aquele grupo de
Recriar o modelo educativo alunos, é entender que a diferenciação é feita pelo próprio
aluno e não pelo professor no ato de ensinar.
Recriar esse modelo educativo tem a ver com o que en-
tendemos como qualidade de ensino. Uma escola se distin- E a atuação do professor?
gue por um ensino de qualidade, capaz de formar pessoas
nos padrões requeridos por uma sociedade mais evoluí- Mantoan reconhece que inovações educacionais como
da e humanitária, quando consegue: aproximar os alunos a inclusão, também mexem com a identidade profissional e
entre si; fazer das disciplinas meios de conhecer melhor o o lugar conquistado pelos professores em uma dada estru-
mundo e as pessoas que nos rodeiam, e ter como parceiras tura de ensino, atentando contra a experiência, os conheci-
as famílias e a comunidade na elaboração e no cumprimen- mentos e o esforço que fizeram para adquiri-los.
to do projeto escolar.
Nas práticas pedagógicas, predominam a experimenta- Preparar-se para ser um professor inclusivo?
ção, a criação, a descoberta, a coautoria do conhecimento.
Resumindo: as escolas de qualidade são espaços educati- Se, de um lado, é necessário continuar investindo na
vos de construção de personalidades humanas autônomas, formação de profissionais qualificados, de outro, não se
críticas, espaços onde crianças e jovens aprendem a serem pode descuidar da realização dessa formação e deve-se
pessoas. Escolas assim concebidas não excluem nenhum estar atento ao modo pelo qual os professores aprendem.
aluno de suas classes, de seus programas, de suas aulas, Assim como qualquer aluno, os professores não aprendem
das atividades e do convívio escolar. no vazio. Por isso, a proposta de formação que Mantoan
nos apresenta parte do „saber fazer‟ dos profissionais que
já possuem conhecimentos, experiências e práticas peda-
gógicas ao entrar em contato com a inclusão ou qualquer
outra inovação educacional.
66
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
O foco da formação seria o desenvolvimento da com- Mudanças na educação é importante para mudar a so-
petência de resolver problemas pedagógicos. Analisa-se, ciedade. As tecnologias estão cada vez mais em evidência e
então, como o ensino está sendo ministrado e a construção os investimentos visam ter cada classe conectada à Internet
do conhecimento pelos alunos. Se um aluno não vai bem, e cada aluno com um notebook; investe-se também em
seja ele uma pessoa com deficiência ou não, o problema educação a distância, educação contínua, cursos de curta
precisa ser analisado com relação ao ensino que está sen- duração. Mas só tecnologia não basta. “Ensinar é um de-
do dado a toda a turma, pois ele passa a ser um indicador safio constante”.
importante da qualidade do trabalho pedagógico, porque
o fato de a maioria dos alunos estar indo bem, não significa Os desafios de ensinar e educar com qualidade.
que o ensino ministrado atenda às necessidades e possibi- Preocupa-se hoje mais com ensino de qualidade do
lidades de cada aluno. que com educação de qualidade. Ensino e educação são
conceitos diferentes. O ensino destina-se a ajudar os alu-
Considerações finais nos a compreender áreas específicas do conhecimento
(ciências, história, matemática).
A escola prepara o futuro e se as crianças aprende- Educação é um o foco além de ensinar, é ajudar a inte-
rem a valorizar e a conviver com as diferenças nas salas de grar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, é
aula, serão adultos bastante diferentes de nós, que temos ajudar a integrar todas as dimensões da vida e encontrar o
de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência caminho intelectual, emocional, profissional que leve o in-
da inclusão. divíduo a realização e contribuição para a mudança social.
Educar é transformar a vida em processos permanentes
de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção de sua
identidade, do seu caminho pessoal e profissional, mostrar
MORAN, JOSÉ MANUEL; MOSETTO, MARCOS um projeto de vida que lhes permitam encontrar seus es-
TARCISO & BEHRENS, MARILDA APARECIDA. paços pessoais, tanto no social como no profissional, com
NOVAS TECNOLOGIAS E MEDIAÇÃO o objetivo de torná-los cidadãos realizados e produtivos.
PEDAGÓGICA.CAMPINAS - SP: PAPIRUS, Ensinar é um processo social de cada cultura com suas
2000. normas, tradições e leis, mas não deixa de ser pessoal, pois
cada um desenvolve seu estilo, aprendem e ensinam. O
aluno precisa querer aprender e para isso, precisa de matu-
ridade, motivação e de competência adquirida.
Abordam: o ensino e aprendizagem inovadores com
As dificuldades para mudar na educação.
tecnologias audiovisuais e telemáticas, que não podem es-
As mudanças na educação dependem, em primeiro lu-
tar ausentes da escola numa sociedade em mudança.
gar de termos educadores maduros, intelectuais e emocio-
Considera: existência de pontos cruciais em relação às
nalmente curiosos, que saibam motivar e dialogar.
expectativas sobre as Novas tecnologias - NT:
O educador autêntico é humilde e confiante, mostra
- Questão da educação com qualidade
o que sabe, porém está sempre atento ao novo, ensina
A construção do conhecimento na sociedade da in-
aprendendo a valorizar a diferença, a improvisar. Aprender
formação
por sua vez, é passar da incerteza a uma certeza provisória,
As novas concepções do processo de aprendizagem
pois dará lugar as novas descobertas, não há estagnação
colaborativa
no sistema de aprendizagem e descobertas. O novo deve
A revisão e a atualização do papel e das funções do
ser questionado, indagado e não aceito sem análise prévia.
professor
Por isso é importante termos educadores/ pais, com ama-
A formação permanente deste profissional professor
durecimento intelectual, emocional, ético que facilite todo
A compreensão e a utilização das NT visando a apren-
o processo de aprendizagem.
dizagem dos alunos e não apenas servindo para transmitir
As mudanças na educação dependem também de ad-
informações
ministradores, diretores e coordenadores que atendam to-
A compreensão da mediação pedagógica como cate-
dos os níveis do processo educativo.
goria presente tanto no uso das próprias técnicas como
Os alunos também fazem parte da mudança. Alunos
no processo de avaliação e principalmente no desempenho
curiosos e motivados, ajudam o professor a educar, pois
do papel do professor
tornam-se interlocutores e parceiros do professor, visando
um ambiente culturalmente rico.
Para onde estamos caminhando no ensino?
Com as mudanças na sociedade, as formas de ensinar
A construção do conhecimento na sociedade da infor-
também sofreram alterações, tantos os professores como
mação.
os alunos percebem que muitas aulas convencionais estão
Conhecer significa compreender todas as dimensões
ultrapassadas. É inevitável a pergunta: Para onde mudar?
da realidade, captar e saber expressar essa totalidade de
Como ensinar e aprender em uma sociedade interconec-
forma cada vez mais ampla e integral. Pensar e aprender
tada?
a raciocinar, a organizar o discurso, submetendo-o a crité-
67
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
rios. O desenvolvimento da habilidade de raciocínio é fun- mais ricos, mais abertos, inovadores. Muitos dados e in-
damental para a compreensão do mundo. Além do raciocí- formações não significam necessariamente mais e melhor
nio, a emoção facilita ou complica o processo de conhecer. conhecimento. O conhecimento torna-se produtivo se o
A informação dá-se de várias formas, segundo o nosso integrarmos em uma visão ética pessoal, transformando-o
objetivo e o nosso universo cultural. A forma mais habi- em sabedoria, em saber pensar para agir melhor.
tual é o processamento lógico-sequencial, que se expressa
na linguagem falada e escrita, na qual o sentido vai sendo Caminhos que facilitam a aprendizagem.
construído aos poucos, em sequência concatenada. Podemos extrair alguma informação ou experiência de
A informação de forma hiper-textual, contando histó- tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa, que nos pos-
rias, relatando situações que se interlaçam, ampliam-se, nos sa ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar
mostrando novos significados importantes, inesperados. o que já sabemos ou rejeitar determinadas opiniões.
É a comunicação “linkada”. A construção do pensamento Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a
é lógica, coerente, sem seguir uma única trilha, como em tornar a informação significativa, escolher as verdadeira-
ondas que vão ramificando-se em diversas outras. Hoje, mente importantes, a compreendê-las de forma cada vez
cada vez mais processamos as informações de forma mul- mais abrangente e profunda.
timídia, juntando pedaços de textos de várias linguagens Aprendemos melhor, quando vivenciamos, experimen-
superpostas, que compõem um mosaico ou tela impressio- tamos, sentimos, descobrindo novos significados, antes
nista, e que se conectam com outra tela multimídico. Uma despercebidos. Aprendemos mais, quando estabelecemos
leitura em flash, uma leitura rápida que cria significações pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a
provisórias, dando uma interpretação rápida para o todo, conceituação, entre a teoria e a prática: quando uma com-
através dos interesses, percepções, do modo de sentir e pleta a outra.
relacionar-se de cada um. Aprendemos quando equilibramos e integramos o
A construção do conhecimento, a partir do processa- sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o
mento multimídia é mais livre, menos rígida, com maior social.
abertura, passa pelo sensorial, emocional e pelo racional; Aprendemos quando interagimos com os outros e o
uma organização provisória que se modifica com facilida- mundo. Aprendemos pelo interesse, pela necessidade.
de. Convivemos com essas diferentes formas de processa- Aprendemos quando percebemos o objetivo, a utilida-
mento da informação e dependendo da bagagem cultural, de de algo, que nos traz vantagens perceptíveis.
da idade e dos objetivos, predominará o processamento Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatiza-
sequencial, o hipertextual ou o multimídico. ção de processos, pela repetição. Aprendemos mais, quan-
Atualmente perante a rapidez que temos que enfrentar do conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse,
situações diferentes e cada vez mais utilizamos o processo motivação clara, desenvolvemos hábitos que facilitam o
multimídico. A televisão utiliza uma narrativa com várias processo de aprendizagem e sentimos prazer no que es-
linguagens superpostas, atraentes, rápidas, porém, traz tudamos.
consequências para a capacidade de compreender temas Aprendemos realmente quando conseguimos trans-
mais abstratos. formar nossa vida em um processo constante, paciente,
Em síntese, as formas de informação multimídia ou hi- confiante e afetuoso de aprendizagem.
pertextual são mais difundidas. As crianças, os jovens sinto-
nizados com esta forma de informação quando lidam com Conhecimento pela comunicação e pela interiorização.
textos, fazem-no de forma mais fácil com o texto conecta- A informação é o primeiro passo para conhecer. Co-
do através de links, o hipertexto. nhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso
O livro então se torna uma opção menos atraente. Não o que vem de fora. Conhecer a aprofundar os níveis de
podemos, nos limitar em uma ou outra forma de lidar com descoberta, é conseguir chegar ao nível de sabedoria, da
a informação, devemos utilizar todas em diversos momen- integração total.
tos. O conhecimento se dá no processo rico de interação
Há um tipo de conhecimento multimídico de respostas externo e interno. Conseguimos compreender melhor o
rápidas que é importante. É preciso saber selecionar para mundo e os outros, equilibrando os processos de interação
encontrar conexões, causas e efeitos, tudo é fluido e válido, e de interiorização.
tudo tem sua importância e em pouco tempo perde o valor Pela interação, entramos em contato com tudo o que
anterior. nos rodeia, captamos as mensagens, mas a compreensão
É uma atitude que se manifesta no navegar na Internet, só se completa com a interiorização, com o processo de
ao deixar-se ficar diante da televisão, numa salada de da- síntese pessoal de reelaboração de tudo que captamos
dos, informações e enfoques. As pessoas não permanecem pela interação.
passivas, elas interagem de alguma forma, mas muitos não Os meios de comunicação puxam-nos em direção ao
estão preparados para receber tal variedade de dados e externo. Hoje há mais pessoas voltadas para fora do que
adotam a última moda na mídia ou na roupa, que efême- para dentro de si, mais repetidoras do que criadoras; se
ros, são facilmente esquecidos e/ou substituídos. equilibrarmos o interagir e o interiorizar conseguiremos
Tornamo-nos cada vez mais dependentes do senso- avançar mais e compreender melhor o que nos rodeia, o
rial. É bom, mas muitos não partem do sensorial para voos que somos.
68
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Os processos de conhecimento dependem do social, É importante não começar pelos problemas, erros, pelo
do ambiente onde vivemos. O conhecimento depende sig- negativo, pelos limites, mas sim pela educação positiva,
nificativamente de como cada um processa as suas expe- pelo incentivo, pela esperança.
riências, quando crianças, principalmente no campo emo-
cional. O docente como orientador/ mediador da aprendiza-
As interferências emocionais, os roteiros aprendidos na gem
infância, levam as formas de aprender automatizadas. Um O professor é um pesquisador em serviço. Aprende
deles é o da passagem da experiência particular para a ge- com a pesquisa com a prática e ensina a partir do que
ral, chamado generalização. Com a repetição de situações aprende. O seu papel é fundamentalmente o de um orien-
semelhante a tendência do cérebro é a de acreditar que tador/ mediador:
elas acontecerão sempre do mesmo modo, e isso torna-se - Orientador/mediador/intelectual: informa, ajuda a es-
algo geral, padrão. colher as informações mais importantes, fazendo os alunos
Com a generalização, facilitamos a compreensão rápi- compreendê-las e adaptá-las aos seus conceitos pessoais.
da, mas podemos deturpar ou simplificar a nossa percep- Ajuda a ampliar a compreensão de tudo.
ção do objetivo focalizado. - Orientador/ mediador/ emocional: motiva, incentiva,
Esses processos de generalização levam a mudanças, estimula.
distorções, a alterações na percepção da realidade. - Orientador/ mediador gerencial e comunicacional:
Se nossos processos de percepção estão distorcidos, organizam grupos, atividades de pesquisas, ritmos, intera-
podem nos levar desde pequenos a enxergar-nos de forma ções. Organiza o processo de avaliação, é a ponte principal
negativa. Um dos eixos de mudança na educação seria um entre as instituições, os alunos e os demais grupos envolvi-
processo de comunicação autêntica e aberta entre profes- dos da comunidade. Ajuda a desenvolver todas as formas
sores e alunos, comunidade, incluindo os funcionários e os de expressão, de interação de sinergia, de troca de lingua-
pais. Só aprendemos dentro de um contexto comunicacio- gem, conteúdos e tecnologias.
nal participativo, interativo, vivencial. Autoritarismo não - Orientador ético: ensina a assumir, vivenciar valores
vale a pena, pois os alunos não aprendem a ser cidadãos.
construtivos, individuais e socialmente vai organizando
As organizações que quiserem evoluir terão que apren-
continuamente seu quadro referencial de valores, ideias,
der a reeducar-se em ambientes de mais confiabilidade, de
atitudes, tendo alguns eixos fundamentais comuns como a
cooperação, de autenticidade.
liberdade, a cooperação, a integração pessoal.
Alguns princípios metodológicos norteadores:
Podemos modificar a forma de ensinar.
- Integrar tecnologia, metodologias e atividades.
Cada organização através de seus administradores
precisa encontrar sua forma de ensinar, criando um projeto - Integrar textos escritos, comunicação oral, hipertex-
inovador. tual, multimídia.
Para encaminhar nossas dificuldades em ensinar pode- - Aproximação da mídia e das atividades para que haja
riam ser estas algumas pistas: um fácil trânsito de um meio ao outro.
- Equilibrar o planejamento institucional e o pessoal - Trazer o universo do audiovisual para dentro da es-
nas organizações educacionais; cola.
- Integrar em planejamento flexível com criatividade - Variação no modo de dar aulas e no processo de ava-
sinérgica; liação.
- Realizar um equilíbrio entre flexibilidade, que está - Planejar e improvisar, ajustar-se às circunstâncias, ao
ligada ao conceito de liberdade, criatividade e a organi- novo.
zação; - Valorizar a presença e a comunicação virtual,
- Avançar os programas previstos às necessidades dos - Equilibrar a presença e a distância.
alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inespe-
rado; Integrar as tecnologias de forma inovadora
- Equilibrar: planejamento e criatividade; É importante na aprendizagem integrar todas as tec-
- Aceitar os imprevistos, gerenciar o que podemos pre- nologias: as telemáticas, as audiovisuais, lúdicas, as tex-
ver e a incorporar o novo; tuais, musicais.
- Criatividade que envolve sinergia, valorizando as con- Passamos muito rapidamente do livro, para a televisão
tribuições de cada um. e o vídeo e destes para a Internet sem saber explorar todas
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilida- as possibilidades de cada meio. O docente deve encontrar
de, espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteú- a forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e
dos fixo, mais pesquisas. os procedimentos metodológicos.
Uma das dificuldades da aprendizagem é conciliar a
extensão das informações, a variedade das fontes de aces- Integrar os meios de comunicação na escola
so, com o aprofundamento da sua compreensão. Antes de chegar à escola a criança passa por processos
O papel principal do professor é ensinar o aluno a de educação importantes como o familiar e o da mídia ele-
interpretar os dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. trônica e neste ambiente vai desenvolvendo suas conexões
Aprender depende também do aluno de que ele esteja cerebrais, roteiros mentais, emocionais e linguagem.
maduro para entender a informação.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
A criança aprende a informar-se, a conhecer os outros, to de uma planta, da semente até a maturidade.
o mundo e a si mesma. A relação com a mídia eletrônica é - Vídeo como conteúdo de ensino: Mostra o assunto
prazerosa e sedutora, mesmo durante o período escolar, a de forma direta orientando e interpretando um tema de fo-
mídia mostra o mundo de outra forma, mais fácil, agradá- ram indireta, permitindo abordagens diversas deste tema.
vel. A mídia continua educando como contraposto à edu- - Vídeo como produção: Registro de eventos, estudo
cação convencional, educa enquanto entretém. do meio, experiências, entrevistas, depoimentos.
Os meios de comunicação desenvolvem formas sofisti- - Vídeo como intervenção: Interferir, modificar um de-
cadas de comunicação e opera imediatamente com o sen- terminado programa, acrescentar uma nova trilha sonora
sível, o concreto, a imagem em movimento. O olho nunca ou introduzir novas cenas com novos significados.
consegue captar toda a informação, então o essencial, o - Vídeos como expressão: Como nova forma de comu-
suficiente é escolhido para dar sentido ao caos e organizar nicação adaptada à sensibilidade das crianças e dos jovens.
a multiplicidade de sensações e dados. Produzem programas informativos feitos pelos próprios
A organização da narrativa televisiva baseia-se numa alunos.
lógica mais intuitiva, mais conectiva, portanto não é uma - Vídeo integrando o processo de avaliação: dos alunos
lógica convencional, de causa-efeito. e do professor.
A televisão estabelece uma conexão aparentemente - Televisão/vídeo – espelho: Os alunos veem-se nas te-
lógica entre mostrar e demonstrar: “se uma imagem im- las, discutindo seus gestos, cacoetes, para análise do grupo
pressiona então é verdadeira”. Também é muito comum a e dos papéis de cada um. Incentiva os mais retraídos e cor-
lógica de generalizar a partir de uma situação concreta, do rige os que falam muito.
individual, tendemos ao geral. Ex: dois escândalos na famí-
lia real inglesa e se tira conclusões sobre a ética da realeza Algumas dinâmicas de análise da televisão e do vídeo
como um todo. Uma situação isolada converte-se em uma Análise em conjunto: O professor exibe as cenas prin-
situação padrão. cipais e as comenta junto com os alunos. O professor não
deve ser o primeiro a opinar e sim posicionar-se depois
Integrar a televisão e o vídeo na educação escolar dos alunos.
Vídeo para o aluno significa descanso e não aula. Essa Análise globalizante: Depois da exibição do vídeo
expectativa deve ser aproveitada para atrair o aluno. A tele- abordar os alunos a respeito das seguintes questões: 1- as-
visão e o vídeo partem do concreto, do visível, daquilo que pectos positivos do vídeo. 2-aspectos negativos. 3- ideias
toca todos os sentidos. principais que foram abordadas. 4- o que eles mudariam
Televisão e vídeo exploram também o ver, o visualizar, no vídeo. Discutir essas questões em grupos, que são de-
ter diante de nós as pessoas, os cenários, cores, relações pois relatadas por escrito, o professor faz a síntese final.
espaciais, imagens estáticas e dinâmicas, câmaras fixas ou Leitura concentrada: Escolher depois uma ou duas ce-
em movimento, personagens quietos ou não. nas marcantes e revê-las mais vezes. Observar o que cha-
A fala aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pes- mou a atenção.
soas se comunicam, enquanto o narrador costura as cenas, Análise funcional: Antes da exibição do vídeo escolar,
dentro da norma culta, orientando a significação do con- alguns alunos para desenvolverem algumas funções, ano-
junto. A música e os efeitos sonoros servem como evo- tar palavras chaves, imagens mais significativas, mudanças
cação de situações passadas próximas às personagens do acontecidas no vídeo, tudo será anotado no quadro e pos-
presente e cria expectativas. teriormente comentado pelo professor.
A televisão e o vídeo são sensoriais, visuais as lingua- Análise da linguagem: Reconstrução da história, como
gens se interagem não são separadas. As linguagens da é contada a história, que ideias foram passadas, quais as
T.V. e do vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e de mensagens não questionadas, aceitas sem discussão, como
adultos. Dirigem-se mais à afetividade do que a razão. O foram apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o mundo
jovem vê para compreender a linguagem audiovisual, de- e como cada participante reagiu.
senvolve atitudes perceptivas como a imaginação enquan- Completar o vídeo: Pedir aos alunos apara modificarem
to a linguagem escrita desenvolve mais a organização, a alguma parte do vídeo, criar um novo material, adaptado
abstração e a análise lógica. à sua realidade.
Propostas de utilização da televisão e do vídeo na edu- Vídeo produção: Fazer uma narrativa sobre um deter-
cação escolar minado assunto. Pesquisa em jornais, revistas, entrevistar
- Começar com os vídeos mais simples, próximos a pessoas e exibir em classe.
sensibilidade dos alunos e depois partir para exibição de Vídeo espelho: A câmara registra pessoas ou grupos e
vídeos mais elaborados. depois se observa e comenta-se o resultado.
- Vídeo como sensibilização: Um bom vídeo é interes- Vídeo dramatização: Usar a representação teatral, pe-
sante para introduzir um novo assunto, despertando e mo- los alunos, expressar o que o vídeo mostrou.
tivando novos temas. Comparar versões: Observar os pontos de convergên-
- Para a sala de aula realidades distantes do aluno. cia e divergências do vídeo. Ótimo para aulas de literatura.
- Vídeo como simulação: É uma ilustração mais sofis- Comparar o vídeo e a obra literária original.
ticada, pois pode simular experiências de química que se-
riam perigosas em laboratórios. Pode mostrar o crescimen-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Com isto haverá mais participação no processo de co- Necessitamos de pessoas livres nas empresas e nas es-
municação, tornando a relação professor/aluno mais aber- colas que modifiquem as estruturas arcaicas e autoritárias
ta e interativa, mais integração entre sociedade e a escola, existentes. Se somos pessoas abertas iremos utilizar as tec-
entre aprendizagem e a vida. nologias para comunicar e interagir mais e melhor.
Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula? Se formos pessoas fechadas, desconfiadas, as tecnolo-
Aprendemos e ensinamos com programas que apre- gias serão usadas de forma defensiva. O poder de interação
sentam o melhor da educação presencial com as novas não está nas tecnologias, mas em nossas mentes. Ensinar
formas virtuais; porém há momentos que precisamos en- com as novas tecnologias será válido se mudarmos os pa-
contrar-nos fisicamente, em geral no começo e no final de radigmas convencionais do ensino que mantém a distância
um assunto ou curso. de professores entre alunos.
Caso contrário conseguiremos dar um verniz de mo-
Equilibrar o presencial e o virtual dernidade sem mexer no essencial.
Dificuldades no ensino presencial não serão resolvidos
com o virtual. Unir os dois modos de comunicação o pre- MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E USO DA TECNOLOGIA
sencial e o virtual e valorizando o melhor de cada um é a
solução. Marcos T. Masetto.
As atividades que fazemos no presencial como comu- A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia
nidades, criação de grupos afins. Definir objetivos, conteú- como mediação pedagógica, pressupõe alguns fatos que
dos, formas de pesquisas e outras informações iniciais. A envolvem a questão do emprego de tecnologia no proces-
comunicação virtual permite interações espaço-temporais so de aprendizagem.
mais livres, adaptação a ritmos diferentes dos alunos novos 1. Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia
contatos com pessoas semelhantes, mas distantes, maior adequadamente visando a maior eficácia do ensino-apren-
liberdade de expressão à distância. dizagem. O professor é formado para valorizar conteúdos e
Com o processo virtual o conceito de curso, de aula ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a técnica de aula
também muda. As crianças têm mais necessidade do con-
expositiva para transmitir os ensinamentos.
tato físico para ajudar na socialização, mas nos cursos mé-
No ensino superior brasileiro, essa concepção se man-
dios e superiores, o virtual superará o presencial. Menos
tém até hoje valorizando a transmissão de informação,
salas de aulas e mais salas ambientes, de pesquisa, de en-
experiências, técnicas, pesquisas de um profissional para
contro, interconectadas.
formação de outros.
Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação,
Tecnologias na educação a distância
Muitas organizações estão se limitando a transpor para no entanto há questões tecnológicas que interessam ao
o virtual, adaptações do ensino presencial. Começamos a processo aprendizagem.
passar dos modelos individuais para os grupais. A edu- 2. Dois fatos novos trazem à tona à discussão sobre a
cação a distância mudará de concepção, de individualista mediação pedagógica e o uso da tecnologia:
para mais grupal, de isolada para participação em grupos. - O surgimento da informática e da telemática que
Educação a distância poderá ajudar os participantes a equi- proporcionam a oportunidade de entrar em contato com
librar as necessidades e habilidades pessoais com a partici- as mais recentes informações, pesquisas e produções cien-
pação em grupos-presenciais e virtuais. tificas do mundo em todas as áreas. Desenvolvem-se os
processos de aprendizagem à distância.
Alguns caminhos para integrar as tecnologias num en- - Outro fato novo é a abertura no Ensino Superior para
sino inovador formação de competências pedagógicas dos professores
Na sociedade informatizada, estamos aprendendo a universitários.
conhecer a comunicar-nos, ensinar, reaprendendo a inte-
grar o humano e o tecnológico, a integrar o indivíduo, o Tecnologia e processo de aprendizagem
grupal e o social. É importante chegar ao aluno por todos A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar
os caminhos possíveis, experiência, imagem, som, dramati- no processo de aprendizagem. Ela tem sua importância
zações, simulações. apenas como um instrumento para favorecer a aprendiza-
Partir de onde o aluno está e ajudá-lo a ir do concre- gem de alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o
to ao abstrato, do vivencial para o intelectual. Tanto nos problema educacional do Brasil. Poderá colaborar, se for
cursos convencionais como nos cursos a distância teremos usada adequadamente.
que aprender a lidar com a informação e o conhecimento O conceito de ensinar esta mais ligada ao professor
de formas novas, através de muitas pesquisas e comunica- que transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O
ção constante. conceito de aprender está diretamente ligadas ao aluno
Ensinar não é só falar, mas se comunicar, com credibi- que produz reflexões e conhecimentos próprios, pesquisas,
lidade, falando de algo que conhecemos e vivenciamos e diálogos, debates, mudanças de comportamento. Numa
que contribua para que todos avancemos no grau de com- palavra o aprendiz cresce e desenvolve-se, o professor fica
preensão do que existe. As principais reações que o bom como mediador entre o aluno e sua aprendizagem. O alu-
professor/ educador desperta no aluno são: confiança, cre- no assume o papel de aprendiz ativo e participante que o
dibilidade e entusiasmo. leva a aprender e a mudar seu comportamento.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
6 - O feedback que medializa a aprendizagem é aquele Chamar a atenção para a necessidade de empregar
colocado de forma clara, orientando, ou por meio de per- essa tecnologia, se quiser ser eficiente no processo edu-
guntas ou de uma breve sugestão. cacional.
7 - Fazer registros juntamente com o feedback contí- Neste texto, foram discutidas técnicas, seu uso e ob-
nuo, de todos os aprendizes que permita um diálogo e um jetivos, e percebe-se que estas, apenas poderão colaborar
acompanhamento sobre a aprendizagem com um todo. como mediadores, para o desenvolvimento e crescimento
8 - Abrir esse processo de avaliação (feedback), junta- das pessoas.
mente com os alunos, a respeito do curso, das atividades O aprendiz tem que ser o centro do processo. Na edu-
que estão sendo avaliadas, se está adaptadas ou não aos cação, nota-se um encadeamento de ideias ao abordar um
objetivos pretendidos. assunto, nada é isolado, sempre há um entrelaçamento
9 - Por último, é preciso que as atividades presenciais e com outros, devido à própria complexidade educacional,
a distância permitam ao aluno e professor desenvolver sua cujo objetivo é propiciar melhores condições de aprendi-
auto avaliação. zagem, e automaticamente maior gratificação para os que
se dedicam ao trabalho docente.
O professor como mediador pedagógico.
O professor que se propõe a ser um mediador pedagó- PROJETOS DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA NUM
gico desenvolverá algumas características: PARADIGMA EMERGENTE
1. Estar mais voltado para a aprendizagem do aluno;
2. Professor e aluno constituem-se como célula básica Marilda Aparecida Behrens
da aprendizagem; As perspectivas para o Séc. XXI indicam a educação
3. Corresponsabilidade e parcerias são atitudes básicas, como pilar para alicerçar os ideais de justiça, paz, solidarie-
incluindo planejamento, sua realização e avaliação; dade e liberdade. As transformações pelas quais o mundo
4. Respeitar todos os participantes, ênfase nas estra- vem passando são reais e irreversíveis.
tégias cooperativas de aprendizagem, confiança, envolver O advento da sociedade do conhecimento e a globa-
os aprendizes num planejamento conjunto de métodos e
lização afetam a sociedade. Essas mudanças levam a pon-
direções curriculares;
derar sobre uma educação planetária, mundial e globali-
5. Domínio profundo de sua área de conhecimento, de-
zante. O contexto de globalização torna as nações mais
monstrando competência e atualização em relação à área;
interdependentes e inter-relacionadas e, ao mesmo tempo
6. Criatividade para buscar com o aluno soluções para
mais dependentes de uma estrutura econômica neoliberal.
situações novas;
O advento da economia globalizada e a forte influência
7. Disponibilidade para o diálogo, que deve ser fre-
quente e contínuo. dos avanços dos meios de comunicação e da informática
8. Subjetividade e individualidade. Observar que tanto aliados à mudança de paradigma da ciência não compor-
o professor e o aluno podem estar passando por momen- tam um ensino conservador repetitivo e acrítico nas uni-
tos de indisposição e às vezes podem estar usando uma versidades.
linguagem mais dura, outra vez mais carinhosa. A produção do saber nas áreas do conhecimento leva
9. Comunicação e expressão em função da aprendiza- o professor e o aluno a buscar processos de investigação
gem. Usamos a linguagem para nos comunicar, o professor e pesquisa. O aluno precisa ser menos passivo e tornar-se
deverá cuidar muito da sua expressão vocal, para ajudar no criativo, crítico, pesquisador e atuante. O professor precisa
processo de aprendizagem. agir com critério e com visão transformadora.
Na prática esse processo de mediação pela expressão
e comunicação deverá ser: A era digital e a aprendizagem colaborativa
- Excepcionalmente para transmitir informações; O desafio imposto aos docentes é mudar o eixo do en-
- Para dialogar e trocar experiências; sinar para os caminhos que levam a aprender.
- Para debater dúvidas e lançar perguntas; Segundo Pierre Lévy (1993) o conhecimento poderia
- Para motivar o aprendiz e orientá-lo; ser apresentado de três formas diferentes: a oral, a escrita
- Para propor desafios e reflexões; e a digital.
- Para relacionar a aprendizagem com a realidade; A digital não descarta todo o caminho feito pela lin-
- Para incentivar o conhecimento junto com o aprendiz; guagem oral e escrita.
- Para ajudar o aprendiz a comandar a máquina. A abertura de novos horizontes mais aproximados da
Segundo Almeida, o professor que trabalha com a infor- realidade contemporânea, e das exigências da sociedade
mática na educação, deverá desenvolver uma mediação pe- depende de uma reflexão crítica do papel da informática
dagógica que promova o pensamento do aluno, seus proje- na aprendizagem e benefícios que a era digital pode trazer
tos, compartilhe seus problemas sem apontar soluções, aju- para o aluno como cidadão, tornando-os transformadores
dando o aprendiz a entender, analisar, testar e corrigir erros. e produtores de conhecimento.
Contudo, a intenção de refletir sobre tecnologia e a me- O desafio do professor ao propor sua ação docente
diação pedagógica é chamar a atenção para a presença e será levar em consideração e contemplar as oito inteligên-
influência que a tecnologia tem na sociedade e na educação cias denominadas por Gardner (1994) como espacial; in-
escolar e informal, tanto na presencial como à distância. terpessoal, intrapessoal, cinestésico-corporal, linguística ou
verbal, lógico-matemática, musical e naturalista. Além do
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Aline
O meu interesse por este tema surgiu da fala de uma
mãe que conheci quando disse que não colocaria seu filho
na escola antes dos cinco anos porque antes disso esta-
ria jogando dinheiro fora, pois nesta idade as crianças só
fazem brincar. Esta fala mexeu muito comigo porque ao
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
mesmo tempo que achei um tremendo absurdo, concor- Brincar é uma necessidade da criança, uma forma de in-
dei em parte. Concordei que as crianças nesta faixa etária teragir com o meio social. Por meio da brincadeira a criança
brincam bastante, mas este brincar tem uma importância vai se constituindo como sujeito, (WAJSKOP,2007:28). Atra-
indiscutível no desenvolvimento do sujeito. vés da brincadeira a criança é capaz de modificar a reali-
Quando comecei a estagiar na Lua Nova (05/08/08) dade e dar-lhe um novo sentido passando a adquirir um
este tema foi ficando claro, rico e real, pois este brincar não novo significado.
é somente dado a devida importância na educação infantil, As coisas podem representar outras diferentes do que
mas também no fundamental, inclusive é utilizado nos con- elas realmente são. Garantir esse espaço à criança é neces-
teúdos escolares. Como sou estagiária volante e por isso sário a fim de que a mesma possa ampliar seus caminhos e
vou circulando em diversas salas, percebo que a ludicidade o campo das descobertas.
é uma grande forma e estratégia para motivar, incentivar Segundo Vygotsky (REGO,2004), a brincadeira passa
e criar o interesse dos estudantes sobre o que está sendo por três etapas: imaginação, imitação e a regra. Toda si-
trabalhado. tuação imaginária traz em si regras de comportamento, ao
Nos grupos de 2 a 5 estão muito presentes o faz-de- desempenhar papéis sócias, como: vendedor, professor,
-conta onde as crianças imaginam estar tomando banho médico, no qual a criança através da imitação se esforça
para se aproximar de tal papel. Esse esforço permite que a
embaixo do chuveiro, fazem da vassoura um grande cava-
mesma atue em um nível superior ao que se encontra.
lo, lutam e brincam como se fossem os super heróis. Com
Ao brincar a criança vê-se maior do que já é, salta da
a música e a dança se envolvem, se entregam de uma ma-
zona de desenvolvimento real para a proximal, compreen-
neira muito especial e pessoal, onde juntos se divertem, dem e resolvem problemas, levantam hipóteses, vivenciam
constroem e re-constroem. papéis, confrontam opiniões contrárias as suas, vivenciam
No processo grupal, aprendem a ceder, a dar espaço conflitos, aprendem a cooperar, resolver, solucionar, com-
para o outro falar, brincar, chorar e depois acolher. Desde partilhar, compreender regras e criar outras.
o grupo 2, começam a visualizar os números e a perceber O ato de brincar tem sido sempre uma marca funda-
as diferenças das linguagens escritas e faladas, através de mental para vivenciar a infância. Nessa etapa da vida hu-
receitas de bolos, brigadeiros, sorvetes que acompanham mana é importante que as crianças tenham a oportunidade
na prática como é feito, experimentando e observando as de vivenciar brincadeiras, faz-de-conta e situações lúdicas.
medidas. Nos grupos seguintes, é dado prosseguimento Quando a criança não as vivenciam, a sensação é a de que
com outros tipos de atividades, como: jogos de contagem( existiram lacunas no desenvolvimento humano. A brinca-
baralho), chamada etc. deira é o modo através do qual a criança tem a possibi-
O brincar ficou mais encantador para mim depois que lidade de se desenvolver socialmente, cognitivamente e
entrei na Lua Nova, pois é uma escola que valoriza e incen- culturalmente.
tiva o brincar, seja de forma lúdica para lidar com o real, “Brincar é uma das atividades fundamentais para o
ou de forma dirigida para guiar a uma aprendizagem pe- desenvolvimento da identidade e da autonomia. (...) Nas
dagógica. brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas ca-
O que é idealizado na Lua Nova é alcançado porque pacidades importantes, tais como a atenção, a imitação,
todos comungam de um mesmo pensamento. Embora amemória, a imaginação. Amadurecem, também, algumas
cada grupo tenha seu objetivo, a escola consegue apro- capacidades de socialização, por meio da interação e da
veitar de cada grupo uma união de conhecimentos sobre utilização e experimentação de regras e papéis sociais.”
cultura, arte e o que é ser HUMANO. (RCNEI,1998:22)
O brincar é mais do que uma distração, é uma lingua-
2.0 A importância do brincar para o desenvolvi- gem na qual a criança revela uma forma de pensamento.
mento e a aprendizagem Através da brincadeira a criança situa-se no espaço em que
vive, constrói a idéia de si e do outro, experimenta, fala,
A chegada ao mundo é o primeiro desafio à criança. As
age, interpreta, interage, enfim desenvolve habilidades es-
descobertas diárias e a forma como ela lidará através dessa
senciais para uma melhor compreensão do mundo.
relação com o meio são fatores fundamentais, os quais in-
Quando há interesse, o aprendizado ocorre. Considerar
fluenciarão no seu comportamento. o grau de interesse das crianças por determinados assuntos
A brincadeira é a ponte que possibilita às crianças a li- é uma forma de perceber a sua realidade como uma pos-
gação do real com o imaginário, ampliando e a aproximan- sibilidade de articular suas vivências com a aprendizagem.
do o seu contato com o ambiente. Ao brincar, a crianças A maneira como a criança brinca e desenha reflete de
aprendem e ainda conseguem se apropriar de situações da maneira implícita na forma como esta lida com a realidade.
vida cotidiana, criando, recriando, reinventado e transfor- Ao mesmo tempo em que se diverte, constrói laços de ami-
mando a realidade. zade, compartilha o funcionamento de um grupo, aprende
Vigostky (1984) citado por Rego(2004) revela a impor- a respeitar limites e a ceder para que o outro também se
tância do brincar como um meio, um caminho que aproxi- satisfaça. É um processo constante de construção da cons-
ma a criança ao mundo: ciência de si mesmo e do outro (Oliveira, Vera Barros, 1992).
“(...) A brincadeira é uma atividade humana ora qual as Brincar é estar junto com outro, sentir seu olhar, gestos
crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de e feições, o brincar aproxima e une as pessoas.(ESTEVES,
assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos”. 1956 ; LEITE, 1961).
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Para as crianças que ainda não conseguem expressar- des futuras. Depois de um certo tempo ele poderá orientar
-se oralmente, o brincar serve como uma alternativa para estas brincadeiras, sem desconsiderar o “jeito” das crianças,
realizar a sua leitura do mundo. O envolvimento com as em concordância com Moyles (2002), canalizar a explora-
artes, a utilização do corpo é bastante utilizada como re- ção e a aprendizagem do brincar levando as crianças a um
curso para possibilitar a expressão: movimentos, gestos, estágio mais avançado de entendimento.
entre outras formas fazem parte dessa descoberta, confor- Como exemplo, podemos citar o circuito de colchões
me (ESTEVES, 1956 ; LEITE, 1961): que é realizado na Lua Nova, em que inicialmente as crian-
“ Temos na arte-educação, vários significados que ças arrumam estes colchões como querem e brincam de
constituem uma forma especial de linguagem. Formas de maneira livre, explorando tudo o que podem.
ser da criatura humana que dificilmente são verbalizadas Depois o professor arruma as cadeiras, como se fosse
ou expressas pelas palavras, podem ser expressas, através uma ponte para que eles passem por ela e depois pulem
do desenho, da pintura, da escultura, da música, da dança no colchão, e em seguida os colchões são dispostos de
e do teatro.” formas diferentes em uma ordem para que eles possam
O brinquedo e o brincar são indispensáveis para a for- passar como se fosse uma trilha cheia de desafios. O ob-
mação da estrutura e repertório mental, em que a criança jetivo desta atividade é criar nas crianças mais confiança,
utiliza-se deste meio para descobrir, mudar, repetir, cons- segurança, equilíbrio, limite, entre outros.
truir ou até mesmo rejeitar sua realidade, no qual aos pou- A brincadeira pode ser uma espaço para promoção de
cos evolui numa forma cada vez mais abstrata, organizada avanços. (REGO,2004:10)
e significativa. O professor pode aproveitar o prazer que decorre das
Conforme (OLIVEIRA, 1992), quanto mais a criança in- brincadeiras para articular com o aprendizado das áreas
terage com a realidade externa, mais ela tem necessidade do conhecimento tornando a aprendizagem um momento
de uma organização interna, ágil e coerente, a fim de ar- prazeroso e não cansativo.
quivar suas experiências e utilizá-las de modo adequado. “A oportunidade para avaliar as respostas, compreen-
Desta forma com a ampliação da realidade externa, sões e incompreensões da criança se apresenta nos mo-
mais se faz necessário que seja ampliado sua realidade in- mentos mais relaxados do brincar livre” (MOYLES,2002:33).
terna para que a estruturação mental se desenvolva com O modo como o professor envolve a turma pode ca-
conexões internas ágeis e funcionais. racterizar uma relação de prazer para a criança pelo que se
aprende na escola.
2.1 O brincar livre e o brincar dirigido A professora do grupo 6, Rejane, propôs à turma um
Segundo Moyles (2002), brincar pode ser visto tanto jogo: caça países na África, e explicou que para realizá-lo
como processo quanto como modo. Como modo, é interno, a turma precisaria ser divida em 4 ou 5 equipes. Cada gru-
afetivo e natural. Como processo pode ser manifestado ex- po recebeu um mapa político da África. Quem achasse o
ternamente pela criança ou pelo adulto. Configuram: brin- país (que foi ditado por ela) em primeiro lugar ganharia 10
car livre (modo) e o dirigido (processo). pontos, em segundo 5 pontos e em terceiro e quarto lugar
O brincar torna-se dirigido quando o professor utili- 2 pontos. Os pontos foram registrados sobre o papel por
za-se da mediação nas inter-relações e na forma do brin- cada equipe.
car. Tal intervenção proporciona as crianças uma gama de A professora desenhou o mapa da África no quadro e
novas possibilidades de explorar o brinquedo, assim como explicou que se ficasse muito difícil para encontrar o país
amplia o repertório conceitual e mental, como um todo. O ela daria dicas (leste, oeste, norte, sul) e usaria o desenho
brincar dirigido, dá a possibilidade de ampliar capacidades do mapa no quadro para “sinalizar”. As crianças que encon-
e proporcionar avanços para a aprendizagem e desenvol- travam deveriam anotar os pontos no caderno e ao final do
vimento do sujeito. jogo eles tentariam descobrir o total dos pontos.
“Por meio do brincar dirigido as crianças têm uma ou- Pude perceber alguns objetivos que puderam ser tra-
tra dimensão e uma nova variedade de possibilidades es- balhados nesse jogo como: identificação e reconhecimento
tendendo-se a um relativo domínio dentro daquela área ou de palavras, ampliação do vocabulário e conhecimento do
atividade.(MOYLES,2002:33) nome dos países da África, interação com o grupo e o des-
O brincar livre seria a exploração inicial das crianças so- pertar de forma lúdica pela leitura de mapas. Tais objetivos
bre o ambiente e objetos que estão disponíveis. Neste mo- podem ser trabalhados simultaneamente proporcionando
mento as crianças em conjunto (ou não) organizam como, prazer tanto ao professor quanto à criança. Portanto, é
onde e quem irá brincar, a partir daí se divertem da forma possível articular a aprendizagem ao prazer que o brincar e
que definirem. o lúdico proporcionam.
Por meio do brincar livre, exploratório, as crianças
aprendem alguma coisa sobre situações, pessoas, atitudes Fonte: https://www.webartigos.com/artigos/a-im-
e respostas, materiais, propriedades, texturas, estruturas, portancia-do-brincar-para-a-aprendizagem-e-o-de-
atributos visuais, auditivos e cinestésicos. (MOYLES,2002:33) senvolvimento-da-crianca/22309/
Estas duas formas de brincar podem ser utilizadas em
conjunto. No primeiro momento o professor pode aprovei-
tar o brincar livre para identificar preferências e formas de
se organizarem e utilizar estes dados para planejar ativida-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Avaliar a educação infantil implica assimilar as mudan- te importante para a criança salientando-se que a idade da
ça em competências das crianças que sejam consideradas criança também é um fator que influencia muito porque a
como trabalho realizado na creche e na pré-escola quanto adaptação de um bebezinho de poucos meses é bem dife-
à articulação dessas instituições com o cotidiano familiar. rente da de uma criança com dois, três ou quatro anos de
Essa análise, com base em escalas de valores, deve ser rea- idade. Uma adaptação bem feita evita readaptações e abre
lizada a partir das mudanças evidenciadas. E, é necessá- as portas para o bom desempenho escolar.
rio conhecer os diversos contextos de desenvolvimento
de cada criança, sendo um retrato aberto, de uma história Fonte: http://www.pedagogia.com.br/artigos/as_
coletiva. É um campo de investigação, não de julgamento, duas_faces/index.php?pagina=3
que contribui para a busca de uma nova proposta peda-
gógica.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Para Zimer (2008) no final do século XIX, Félix Klein, um Zimer (2008) em sua pesquisa constata que o futuro
importante matemático da época, revelava certa preocu- professor vincula as próprias experiências com a escolari-
pação com a formação de professores de matemática, uma zação como meio de estabelecer conexões entre suas con-
vez que já se percebia a existência de um descompasso cepções e a prática pedagógica. É possível compararmos as
entre a matemática ensinada nas universidades e a ensina- dificuldades de aprendizagem dos alunos nos anos finais
da nas escolas secundárias. Para ele, era preciso melhorar do Ensino Fundamental com a má formação que apresen-
o padrão do ensino matemático na escola secundária para tam os professores enquanto alunos dos cursos de magis-
que houvesse um impulso na matemática pesquisada nas tério no que diz respeito à matemática.
universidades e no desenvolvimento tecnológico das in- “Quando professores têm pouco conhecimento dos
dústrias. E para que isso ocorresse era necessário investir conteúdos que devem ensinar, despontam-se dificuldades
na formação destes professores que ensinariam a matemá- para realizar situações didáticas, eles evitam ensinar temas
tica nas escolas secundárias. No início do século XX, Klein que não dominam, mostram insegurança e falta de con-
amplia sua preocupação com a formação docente e decla- fiança”.
ra ser necessário que o professor tenha conhecimento so- Vasconcellos e Bittar, 2006, p. 3.
bre a psicologia da criança, desta maneira teria condições Tendo em vista essas informações é possível encontrar
de capturar o interesse do aluno. profissionais ingressando na profissão docente sem um
conhecimento que lhes garanta atuar de forma segura ao
2.3 Alunos da matemática moderna e mestres da ensinar matemática. Podemos encontrar professores que
didática da matemática optaram pela pedagogia ou normal superior por terem en-
Um primeiro levantamento sobre investigações nesse contrado dificuldades na matemática enquanto alunos.
campo de estudo, pareceu indicar-nos uma carência de “Diante destas informações torna-se evidente por um
pesquisas relativas ao trabalho do professor de matemática lado, que os cursos de formação de professores (Pedagogia
das séries iniciais da Educação Básica. Assim, além da aná- e Normal Superior) vêm apresentando falhas que podem
lise da estrutura curricular da disciplina de metodologia, comprometer o ensino da matemática nas séries iniciais”.
também, buscou-se conhecer como os pedagogos em for- Vasconcellos e Bittar, 2006, p.20
mação estabelecem relações entre os saberes ensinados na
metodologia e as suas práticas cotidianas de sala de aula. Todos os cursosde Pedagogia com duração de três
anos foram analisados e tiveram suas grades curriculares
A partir dessa constatação realizou-se uma pesquisa comparadas com outra pesquisa já comprovada em Zimer
bibliográfica sobre pesquisas relacionadas à formação dos (2008) onde aênfase dada ao ensino da língua em grande
professores que ensinam matemática nas séries aqui já ci- escala faz pressupormos que professores que tiverampou-
tadas. co conteúdo em matemática, pouco conseguirão desen-
É fato que a grande maioria dos professores da primei- volver nos alunos se dependerem apenas da formação uni-
ra década do século XXI e da última do século XX é fruto de versitária.Pouco se sabe sobre o a didática para o conteúdo
uma escolarização matemática de transição entre escolas que é ensinado a esses alunos de graduação, mesmo que
e correntes da matemática, como cita Vasconcellos e Bit- essas instituições disponibilizem bons professores universi-
tar (2006), os professores destes iniciavam práticas da Di- tários e que estes estejam aplicando de forma clara e con-
dática da Matemática e desacreditavam ( devido algumas cisa a Didática da Matemática, quando o conteúdo é insufi-
controvérsias) da Matemática Moderna, então defendida ciente para trazer ao educador das séries iniciais segurança,
por Oswaldo Sangiorgi, escritor e matemático precursor a tendência é acreditar na forma em que foram ensinados
da MMM (movimento da matemática moderna, que toma quando criança e por assim, aplicando nos alunos do sé-
como base os estudos de Piaget e as estratégias que ele culo XXI uma Matemática Moderna que já não é eficiente
utilizou para estudar o desenvolvimento lógico da crian- como nos tempos remotos.
ça, acreditava-se num estudo usando as ferramentas que Zimer (2008) realizou entrevistas com alunos do cur-
Piaget (1974) utilizou em sua pesquisa com as chamadas so de Pedagogia egressos da referida disciplina e atuan-
provas operatórias) tes como professores nas salas de aula de séries iniciais de
O professor sendo um ex aluno da Educação Básica escolas públicas de São Paulo -Capital, além da análise da
com dificuldade ou não, trará para a sala de aula o pouco estrutura curricular da disciplina de metodologia da mate-
que aprendeu na graduação ou nível técnico e a prática mática, também buscou conhecer como os pedagogos em
geralmente cabe as experiências de vida, de uma escolari- formação estabelecem relações entre os saberes ensina-
zação carente dos desafios exigidos nos tempos atuais no dos na metodologia e suas práticas cotidianas de sala de
que se refere à formação procedimental das crianças, ou aula, Zimer (2008)pesquisou o que segundo a Revista Nova
seja, a forma como mostra o uso da matemática no dia Escola, 10/2008, há mais de trinta anos alguns dados são
a dia, as diversas facetas desse uso e que cada sujeito é analisados para se levar em consideração a teoria do de-
capaz de construir suas estruturas lógicas. A revista Nova senvolvimento a favor do ensino da matemática, mas ainda
Escola de outubro de 2008 cita que não podemos esperar não constam nos currículos dos cursos de licenciatura. Aos
grandes sucessos com professores que são mal formados, poucos aparecem em programas de formação continuada,
trabalham muito e além de tudo, não são bem pagos. mostrando maneiras eficientes de ensino da disciplina.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
“Dessas análises foram identificados alguns aspectos Pode-se dizer que aquilo que acontece na sala de aula
como possíveis dificultadores de uma relação mais estreita pode estar marcado pela visão da matemática que o pro-
entre teoria e prática. Afinal não há possibilidade curricular fessor persegue, segundo Panizza (2006), parte da qual
de se trabalhar com concepções dos alunos, concomitante- pode ser explicada pelo seu aprendizado enquanto estu-
mente, ao desenvolvimento da prática pedagógica durante dante e varia entre a exposição “clara”, seguida de expli-
o estágio”. cação e envolvimento dos estudantes em situações que
Zimer,2008, p.16. partem de problemas e privilegiam a descoberta..
É imprescindível que um professor saiba sobre teorias Na tendência didática tradicional o professor é o trans-
do desenvolvimento, para poder ser um intermediador missor de conhecimento matemático, é o especialista em
eficiente. De nada adianta querer ensinar sinais para uma conteúdos. O aluno esforça-se para aprender tudo aquilo
criança de quatro anos que sequer entende que para se que o professor lhe transmite. A disciplina está orientada,
comunicar podemos usar códigos que simbolizam ações. A basicamente, para a aquisição de conceitos, dando-lhe
escola valoriza demais os símbolos e pouco a realidade. Ë o uma finalidade exclusivamente informativa.
que nos relata Panizza( 2006). Essa tendência começou a se modificar com a incor-
Há uma “epidemia” das dificuldades de aprendizagem poração da perspectiva construtivista da aprendizagem, na
que projeta não só problemas pedagógicos como também qual o professor é incentivador da aprendizagem. Para que
problemas econômicos e sociais. Vivemos numa socieda- ela ocorra, é necessário que o aluno dê um significado ao
de competitiva, onde o diploma é sinônimo de salvo con- que aprende, sendo consciente de seu próprio processo de
duto e de sobrevivência social. O êxito escolar impõe-se aprendizagem.
como uma hiperexigência dos pais, e muitas vezes, como A didática da matemática se apresenta desmistificando
um meio de promoção profissional dos professores. A so- algumas práticas de ensino matemático. Uma das vertentes
ciedade pede a instituição escolar uma dimensão produti- é o ensino com situações problemas, que incita que não
va, onde a matéria- prima é a criança e o instrumento de se aprende matemática somente resolvendo problemas. É
produção, o professor. Ambos são vítimas de um sistema necessário, além disso, um processo de reflexão sobre eles
social que se exige transformar. e também sobre os diferentes procedimentos de resolução
Quando se avalia o ensino da matemática realizada em que possam surgir entre os integrantes da turma.
nossas escolas, de modo geral, nossos alunos não conse- Durante o período da matemática clássica, época em
guem utilizar com sucesso os conceitos e processos mate- que se acreditava no ensino dos números progressivamen-
máticos para solucionar problemas, nem mesmo aqueles te os alunos não podiam ousar e criar estratégias. Um pa-
que são resolvidos comumente em sala de aula.Nacaratto radoxo encontrado segundo Panizza (2006) é o fato de que
apud Vasconcellos e Bittar (2006), assegura que de modo alunos aprendiam a recitar a série numérica na escala um
geral, os cursos oferecem uma carga horária reduzida e, por um pudessem aprendessem a contar de outras formas,
na sua execução quando oferecem disciplinas como Me- porém os cálculos que lhe eram oferecidos apresentavam-
todologia do ensino de Matemática ou Fundamentos da -se como primários de no máximo uma dezena.
Matemática, muitas vezes contrataram professores que “Em primeiro lugar, supor que um aluno da 1 série da
não possuem experiência nos anos iniciais. Neste caso, a educação infantil não se tenha inteiradoda existência do
formação de futuros professores fica comprometida, pois número 1 é aceitar ao mesmo tempo que não sabe quantos
deixam de ter condições de se preparar melhor para con- tem; que seu irmão tem dois anos a mais que ele porque já
duzir as mudanças necessárias a uma prática pedagógica tem 7; que em cada pacote de figurinhas vêem 6; que tinha
mais atualizada. 16 figurinhas, mas, como ganhou 3 em uma aposta, agora
tem 19; que na aula são 25 crianças, mas hoje faltaram duas
3 Relação professor/ aluno e ensino/ aprendizagem e portanto, são 23, etc. saberes que muitas crianças dessa
No ensino-aprendizagem da matemática podemos fa- idade já possuem.”
lar de um triângulo (humano programático) cujos vértices Panizza, 2006, p. 44.
são: a matemática, os alunos e o professor. O papel a de-
sempenhar pelo professor numa sala de aula - é posto de Acreditávamos também que todas as resoluções ma-
uma forma simplista o de tornar o caminho entre a mate- temáticas para se validarem precisavam de registro, po-
mática e os alunos o mais curto possível. Cabe ao professor rém quando uma criança entra na escola se depara com
a missão de conduzir a matemática até os alunos ou de a aprendizagem de procedimentos formais para expressar
levar os alunos até a matemática. ações que antes realizava espontaneamente, e não de ma-
Os professores têm da matemática uma idéia que foi neira institucionalizada. Antes acrescentava, reunia, tirava,
sendo construída e sedimentada ao longo da sua vida por dividia, separava os objetos que estavam ao seu alcance e
vivências intelectuais e afetivas mais ou menos intensas, que manipulava em função de seus interesses e necessida-
pelo contato que com ela tiveram no seu percurso aca- des. Agora tem que usar apenas lápis e papel.
dêmico e nas ofertas que lhe foram proporcionadas, pelas Outra situação conflitante se refere a resolução de pro-
representações que a sociedade tem da mesma e também blemas; que desequilíbrio provocaria em um sujeito a re-
pelo confronto com as práticas, onde estão presentes va- solução de um problema se, na ordem ou na intervenção
riáveis tão importantes como as atitudes dos alunos, as di- do professor está implícito o que deve fazer? Nesse caso,
nâmicas de grupo, etc. quem age: o aluno ou o professor?
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Quando a professora intervém na escolha da opera- nado produto é mais barata, ao ver que seu irmão recorre
ção adequada, respondendo afirmativamente a pergunta ao calendário para calcular os dias que ainda faltam para
tão conhecida: “O sinal é de mais?”, podemos dizer que as seu aniversário, ao alegrar-se porque na fila da padaria “já
crianças resolvem a conta, mas não o problema. Nesse caso estão atendendo a ficha trinta e...”E seu pai tem a trinta e
os alunos adivinharam o problema pela resolução da conta, quatro...”.
mas não precisaram colocar em prática todos os conheci-
mentos necessários para tratar a situação. Parra e Saiz, 2008, p. 76
Apesar da importância de levar em conta ambos os
aspectos os conhecimentos prévios dos alunos e a orga- Acreditávamos que as crianças construíam desde cedo
nização do conhecimento com frequência o conjunto de critérios para comparar números e pensávamos que mui-
atividades que são propostas parecem responder mais a to antes de suspeitar da existência de centenas, dezenas e
experiências isoladas do que a uma organização conforme unidades alguma relação elas deveriam estabelecer entre
uma sequência de ensino do tema. a posição dos algarismos e o valor que eles representam e
As primeiras idéias práticas embasadas na teoria de para a didática da matemática as crianças constroem idéias
desenvolvimento de Piaget acreditavam que o papel do sobre os números e sobre o sistema de numeração ainda
professor era o de apenas oferecer os recursos e o aluno antes de terem chegado à escola. Aprender o número está
aprenderia por si só, sem intervenções específicas. A apli- diretamente ligado ao cálculo e não a noção de conserva-
cação das provas operatórias de Piaget (1974) era atividade ção (aprende o 1 depois o 2...).
de praxe, segundo Sangiorgi nas salas de Educação Infantil
e séries iniciais do Ensino Fundamental. A essência dessa Diferentemente da numeração escrita, que é posicio-
linha de estudo estava sim em fazer avaliações prévias do nal, a numeração falada não o é. Se fosse assim ao ler um
aluno com ferramentas descobertas em pesquisas feitas número, por exemplo, 7.456 diríamos sete quatro cinco
sobre o desenvolvimento humano, porém a populariza- seis, mas em vias do conhecimento que possuímos lemos
ção sem um estudo sistêmico da mesma acabou criando de outra forma.
vertentes errôneas sobre essa concepção matemática, o
A didática da matemática não é um novo “método” de
que levou matemáticos a questionarem sua real eficiên-
ensino. Não se dedica à produção e meio para atuar no
cia. Transformar atividades diagnósticas em atividades de
ensino, na maior medida possível, os processos que acon-
aprendizado não era o objetivo desse movimento que bus-
tecem no domínio do ensino escolar da matemática.
cava uma popularização do ensino matemático de forma
Esses processos dependem não somente dos tipos de
a desenvolver competências a partir do que o indivíduo já
problemas que são propostos, mas da sequência dos mes-
conhecia e acreditar no enfoque de que as idéias evoluem
mos, das modificações intencionais (variáveis didáticas)
por um movimento de assimilação e acomodação e a inte- que se realizam com o objetivo dos alunos para o saber
ração social entre indivíduos com diferentes potencialida- que se tenta transmitir, das interações que se promovem
des cognitivas é um meio favorecedor para a ocorrência da entre os alunos e dos tipos de intervenção docente durante
evolução das idéias. os processos de ensino e aprendizagem desse saber
O que está acontecendo é que as práticas pedagógicas “Tendências atuais propõem constituir, no âmbito es-
adotadas pelos professores ao ensinar matemática, de cer- colar, um domínio de experiências em que a quantifica-
to modo, refletem as visões que os professores possuem ção ocupe um lugar de importância para ampliar e para
sobre a forma como o aluno aprende matemática. Em mui- consolidar os conhecimentos que as crianças já têm sobre
tos casos, essa visão é desconectada das teorias, mas de- o numérico. Embora os números naturais “sejam usados”
corrente da experiência com a sala de aula. cotidianamente em diversas circunstâncias, o meio natural
ou social raramente apresenta problemas para os quais os
3.1 Didática da matemática (considerações da cons- números naturais sejam a solução. Propor estes problemas
trução do pensamento sobre o número) e o que torna é responsabilidade da escola, e elaborá-los é uma tarefa
um indivíduo competente na matemática? específica da didática da matemática”
Panizza, 2006, p. 78.
Os questionamentos que eram feitos até então sempre
giravam em torno do como a criança deveria aprender a A princípio pode ser difícil para o professor encontrar
matemática de um jeito realmente eficiente e condizente intervenções que permitam essa relação do aluno com o
com sua realidade biológica e social, porém alguns autores problema, sem fazer indicações sobre como resolvê-los.
começaram a refletir sobre o signiicado dos mesmos e a Se não é o silêncio do professor o que caracteriza essas
real necessidade de se ensinar número por número. fases, mas o que posso dizer? A forma que se deve intervir
é dizendo palavras para encorajar a resolução, como por
“Que conclusões poderiam tirar as crianças a partir de exemplo, que há diferentes maneiras de resolvê-lo e anun-
seu contato cotidiano com a numeração escrita? Que in- ciar que logo serão discutidas.
formações relevantes poderiam obter ao escutar seus pais Os conhecimentos não são produzidos somente pela
queixar-se do aumento dos preços, ao tentar entender experiência que o sujeito tem sobre os objetos, nem tam-
como é que sua mãe sabe qual das marcas de determi- pouco por uma programação inata preexistente nele, mas
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
por construções sucessivas que acontecem pela interação Muitos estudiosos da matemática e da psicologia do
desse sujeito com o meio. Assim, o objetivo central da di- desenvolvimento perceberam que essas dificuldades pa-
dática é poder identificar as condições nas quais os alunos reciam aumentar em quantidade e novas correntes ma-
mobilizam saberes na forma de ferramentas que conduzam temáticas surgiram juntamente com as teorias de desen-
à construção de novos conhecimentos. volvimento. Buscando uma resposta para tal problema
As crianças elaboram conceitualizações a respeito da acreditamos que seria de grande importância para tal uma
escrita dos números, baseando-se nas informações que reformulação da grade curricular dos cursos superiores de
extraem da numeração falada e em seu conhecimento da formação para professores de Educação Básica, afinal a
escrita convencional dos “nós”. Ë o que nos relata Panizza quantidade de temas estudados em Língua Portuguesa é
(2006). visivelmente maior do que os estudados em Matemática,
Para produzir os números cuja escritura convencional como foi constatado em pesquisa bibliográfica.
ainda não adquiriu, elas misturam os símbolos que conhe- Uma mudança de postura, intervenção sábia, busca
cem, colocando-os de maneira tal que se correspondam constante por novos conhecimentos e talvez que esses
como a ordenação dos termos na numeração falada. educadores consigam antes de resolver medos dos alunos
Essa concepção toma da teoria de Piaget o fundamento resolverem seus medos. Acreditamos também no processo
de que o conhecimento se constrói por meio da ação de um de evolução do conhecimento pela relação entre sujeitos
aluno diante de situações que lhe provoquem desequilíbrios. socioculturais e que o professor a partir de indagações pró-
Esses desequilíbrios acontecem quando existe uma situação prias constitui-se como autor, aprendendo consigo mesmo
que o aluno tenha de resolver, mas, além disso, quando pos- e buscando entender limitações no sujeito aprendente vin-
sui alguns conhecimentos básicos que, ao mesmo tempo, se das de diversas áreas.
mostrem insuficientes para enfrentar o problema. Texto Adaptado: www.webartigos.com
As crianças constroem idéias próprias sobre o saber
matemático, algumas, por exemplo, podem afirmar que
um número é maior que outro apenas porque tem mais
algarismos ou porque o primeiro é maior e ele é quem PERRENOUD, P. OS CICLOS DE
manda. E nós estamos tão acostumados a conviver com a APRENDIZAGEM – UM CAMINHO PARA
linguagem numérica que em geral não distinguimos o que COMBATER O FRACASSO ESCOLAR. PORTO
é próprio dos números (significado) e o que é próprio do
ALEGRE: EDITORA ARTMED, 2004.
sistema de numeração (para serem representados). Afinal
as propriedades dos números são universais, já as leis que
regem os diferentes sistemas de numeração não são. Um
exemplo pode vir quando uma criança afirma que o núme-
ro 10 pode ser maior que 8 não pela sua quantidade, mas Os ciclos de aprendizagem plurianuais estão sendo
pela quantidade de algarismos, o que se torna válido ao discutidos em inúmeros sistemas educacionais no mundo.
considerarmos um sistema não posicional. A ideia de base é simples : substituir as etapas anuais de
As crianças estão a todo o momento buscando regu- progressão por etapas de ao menos dois anos ; fixar objeti-
laridades e o papel do educador não é podá-lo em seus vos de aprendizagem para cada ciclo e capacitar os profes-
erros, mas tentar entender seu raciocínio e intervir da me- sores para orientar e facilitar os percursos de formação das
lhor forma. crianças, como já fazem durante o ano letivo.
Mas por que alterar pro fundamente a organização do
CONSIDERAÇÕES FINAIS trabalho escolar ? Philippe Perrenoud explicita com consis-
Há muito que considerar sobre o aprendizado numéri- tência e clareza os fundamentos pedagógicos dessa ino-
co, tanto no que diz respeito ao sujeito ensinante quanto o vação estrutural e os passos necessários para colocá-la em
aprendente. Uma série de fatos históricos alimentam cren- prática, afirmando que esse é o caminho para tornar a es-
ças. Desde o início do ensino matemático no Brasil a pos- cola mais justa e eficaz.
tura do mestre ao ensinar para a parcela elitizada que tinha Esta obra também conta com a valiosa contribuição de
acesso a uma escola com ensino centrado na administração Elba Siqueira de Sa Barreto e Eleny Mitrulis, professoras da
financeira e bens de família e pouca criação e ousadia ma- Faculdade de Educação da USP, que contextualizam essa
temática. Aos poucos surgiam estudos a respeito de novas proposta na realidade brasileira, descrevendo sua trajetória
correntes matemáticas bem mais populares, afinal, agora a e desafios.
educação parecia estar se tornando mais democrática.
Pouco a pouco essa população era a maioria nos ban- Fonte: https://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/per-
cos escolares e esses professores já não mais ensinavam renoud/php_main/OUVRAGES/Perrenoud_2004_A.html
administração matemática, mas sim operações e cálculos
básicos, o único problema é que a didática desse ensino
continuava a mesma, alguns professores permaneciam
imutáveis em seu trabalho pedagógico, criando uma gera-
ção com as chamadas dificuldades de aprendizagem bem
mais visíveis.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Fonte: http://www.revistas.udesc.br/index.php/
SALLES, F; FARIA, V. CURRÍCULO NA colbeduca/article/view/11399
EDUCAÇÃO INFANTIL. DIÁLOGO COM
OS DEMAIS ELEMENTOS DA PROPOSTA
PEDAGÓGICA. SÃO PAULO. EDITORA ÁTICA
SMOLE, KATIA STOCCO & DINIZ, MARIA
IGNES (ORG.). LER, ESCREVER E RESOLVER
Trata-se de uma pesquisa em andamento no curso de PROBLEMAS: HABILIDADES BÁSICAS PARA
doutorado na linha de investigação Criança, Infância e So- APRENDER MATEMÁTICA. PORTO ALEGRE:
ciedade cujo objeto de estudo é a poesia como relevante ARTMED, 2007.
para o desenvolvimento integral da criança. Acredita-se
que educar as crianças pequenas pelo género poético é
uma forma de instigá-las e inseri-las no contexto da arte
da palavra poética (BORDINI, 2016; DEBUS e CINTRA, 2012; Em um tempo no qual tanto se tem discutido sobre o
GOMES, 2017, SIMEON, 2015; RAMOS, 2007; AZEVEDO e lugar e o significado das competências e habilidades na
SILVEIRA, 2017) Neste sentido, acredita-se que as Institui- escola básica, este livro tem como proposta apresentar as
ções de educação infantil, precisam organizar seus currícu- reflexões de um grupo de professoras pesquisadoras sobre
los numa concepção que articulem práticas educacionais essa questão no ensino e sua relação com a aprendizagem
planejadas, desenvolvidas e avaliadas no cotidiano das ins- matemática.
tituições e que levem em consideração o conhecimento, as Todas as discussões atuais sobre competências resul-
experiências, os saberes das crianças articulados com os tam de uma forte pressão social sobre a escola para que
conhecimentos produzidos pela humanidade e que fazem a formação de nossos alunos cuide do desenvolvimento
parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnoló- de um número considerável de habilidades de pensamen-
gico da sociedade (OLIVEIRA, 2010, FARIA e SALLES, 2010; to indo muito além dos conhecimentos específicos e dos
OSTETTO, 2017). Neste sentido, pretende-se refletir sobre procedimentos.
a definição de currículo presente nas Diretrizes Curricu- Apesar de ser agora explícita e amplamente discutida,
lares da educação Infantil (DCNEI, 2010) identificando as a questão da formação de alunos competentes não é um
indicações, ações e/ou base articuladora que possibilitem sonho recente da escola e de nossa sociedade. A escola
experiências e conhecimento das crianças pequenas das sempre solicitou que os alunos fossem capazes de relacio-
faixas-etárias de 3-5 anos com a cultura mais ampla e que nais adequadamente vários informações, conhecimentos e
possam despertar para o interesse pela poesia. A pesquisa habilidades para enfrentar e resolver situações-problema,
está alicerçada numa metodologia qualitativa de caráter sem, no entanto, trabalhar consciente e sistematicamente
documental e bibliográfica. Objetiva-se, nesta comuni- para alcançar esta meta.
cação, apresentar os primeiros passos desta investigação Dentre as diversas competências envolvidas no apren-
mediante breves reflexões acerca da infância e as Diretrizes dizado de matemática escolhemos para estuda a da comu-
curriculares Nacionais para a Educação Infantil, objetivan- nicação e a da resolução de problemas. A primeira delas
do discutir sobre a importância de se ter acesso aos bens diz respeito à capacidade de utilização de linguagem para
culturais e possibilidades de vivência na infância com um apreender significados, transformá-los e combiná-los para
repertório poético que contribua para o desenvolvimento e construir novas aprendizagens que, por sua vez, podem
formação estética. Trata-se de perguntar sobre se há tempo se configurar em diferentes formas de expressão e novos
e espaços para se cantar e ouvir a palavra poética na edu- questionamentos sobre esses mesmos significados. A com-
cação infantil? Até que ponto se potencializa o encontro petência da resolução de problemas envolve a compreen-
da poesia com a criança? Que possibilidades de acesso e são de uma situação que exige resolução, a identificação
espaços culturais e diversificados podem ser apresentados de seus dados, a mobilização de conhecimentos, a constru-
as crianças nos espaços das instituições de educação Infan- ção de uma estratégia ou um conjunto de procedimentos,
til, como poemas, canções, imagens, recursos multimídias a organização e a perseverança na busca da resolução, a
no contexto delineado pelas tecnologias da comunicação análise constante do processo de resolução e da validade
e informação, fotografias, entre outros? Destaca-se a com- da resposta e, se for o caso, a formulação de outras situa-
preensão de infância como uma categoria geracional, plu- ções-problema.
ral e histórica e que necessita ser reconhecida em seus dife- Com relação a estas grandes e complexas competên-
rentes contextos sociais, bem como a criança como sujeito cias elegemos as habilidades escolares de ler, escrever e
histórico e pertencente a uma cultura (AGOSTINHO, 2010, resolver problemas em matemática como aquelas que
SARMENTO, 2013; AGOSTINHO e LIMA, 2015; BISSOLI e compõem e alimentam as competências no sentido de seu
89
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
aperfeiçoamento. Estas habilidades, apesar de serem tão dizagem de matemática. As reflexões que permeiam todo
básicas para aprender qualquer coisa, têm sido tratadas de o livro são fruto de nossa pesquisa como equipe, assim
forma isolada ou são pouco consideradas, especialmente como as produções de alunos e as propostas de atividades
no que diz respeito à aprendizagem de matemática. são aquelas que temos realizado em várias escolas com as
A utilização dos recursos da comunicação nas aulas de quais temos trabalhado ao longo destes anos.
matemática justifica-se por vários motivos. O primeiro e Embora se destinem prioritariamente ao segmento de
mais importante deles é que ao comunicar ideias e manei- 1ª a 5ª séries do ensino fundamental, as bases teóricas e
ras de agir, o aluno mergulha num posso metacognitivo. muitas das sugestões das atividades e práticas podem ser-
Isto é, ele precisa refletir sobre o que fez ou pensou, cons- vir de apoio ao trabalho com as demais séries escolares.
truir esquemas mais elaborados de pensamento, organi- Apesar deste trabalho ser o fruto da pesquisa de todo
zar mentalmente pensamentos e ações, para aprender de um grupo, o livro organiza-se por capítulos sob a respon-
novo e com maior qualidade de profundidade. sabilidade do membro da equipe que mais se aprofundou
Um segundo motivo é porque sabemos que as habi- no tema, partindo de discussões mais gerais e teóricas que
lidades relacionadas à matemática podem desenvolver-se fundamental e organizam nossa prática junto à escola, para
uma auxiliando a outra, uma como alternativa de acesso à a seguir deter-se em questões mais ligadas ao ensino, sem-
outra, em complementaridade ou como rotas diferentes à pre entremeadas de exemplos e produções de alunos.
aprendizagem. Assim, enquanto o Capítulo 1 apresenta os recursos da
Abolir a prática que tem contribuído para o isolamento comunicação e os cuidados para seu uso em sala de aula,
da matemática dentro das estruturas curriculares é o ter- o Capítulo 2 é a essência desta obra, pois mostra o entre-
ceiro motivo deste livro, pois sabemos que o conhecimen- laçamento entre a matemática, a produção de textos e a
to não é compartimentado em disciplinas, apesar de se- utilização de diferentes linguagens, permitindo que o mo-
rem elas que organizam o ensino e permitem olhares mais delo de ensino possa ser vislumbrado através de exemplos.
específicos e aprofundamentos sobre a realidade. De fato, A leitura em matemática é o foco do Capítulo 3, uma
em termos de aprendizagem, a separação artificial das dis- vez que esta área do conhecimento apresenta linguagem
ciplinas tem impedido que as relações naturais entre sig- e estruturas textuais próprias que podem constituir-se em
nificados importantes de conceitos e procedimentos sejam empecilhos à aprendizagem. Aqui se percebe claramente
percebidas pelos alunos, porque simplesmente não há es- a fragilidade da falsa barreira que os modelos tradicionais
paço para o estabelecimento dessas relações nas rígidas de ensino têm imposto na separação entre matemática e
programações das disciplinas. língua e como pode torna-se interessante o processo de
Nesse sentido, este trabalho vem analisar como o de- conquista da linguagem matemática.
senvolvimento da resolução de problemas, como habilida- O Capítulo 4 apresenta nosso posicionamento frente
de fortemente ligada à aprendizagem de matemática, pode à Resolução de Problemas, abrindo uma nova perspectiva
complementar-se e fortalecer-se quando se aproxima da de compreensão sobre este tema e indo além de aspec-
aprendizagem da leitura e da escrita através dos recursos tos puramente metodológicos ou didáticos. A Resolução
da comunicação. de Problemas como perspectiva mestra da aquisição do
Por último, e não menos importante, queremos ob- conhecimento e do pensar matemático, ganha força na
servar que em qualquer estrutura curricular, de forma in- aliança com os recursos de comunicação e permite o de-
questionável, estão as habilidades de leitura, escrita e de sencadeamento de novas e mais elaboradas aprendizagens
resolução de problemas como alvos centrais a serem de- tanto na matemática quanto na leitura e escrita.
senvolvidos pelos alunos na escola. Buscamos, neste livro, Os Capítulos 5 e 6 constroem uma análise sobre os
descrever as consequências de nossas pesquisas, que po- diferentes tipos de problemas que podem ser usados nas
dem permitir o desenvolvimento de tais habilidades. Ao aulas de matemática. Destacam-se os problemas conven-
assumirmos que é responsabilidade do ensino de matemá- cionais sob um olhar mais investigativo e os não-conven-
tica que os alunos se comuniquem usando a linguagem es- cionais com formas de promover o desenvolvimento do
pecífica da matemática em conjunto com todas as demais pensamento crítico e a não-consolidação de crenças ina-
formas de linguagem, criamos um ambiente planejado e, dequadas quanto ao que são problemas e do que significa
claramente, interdisciplinar, que possibilita esse desenvol- resolvê-los.
vimento em nossos alunos. A seguir, o Capítulo 7, faz uma incursão sobre as mais
Desde 1988, este grupo de pesquisadoras vem traba- diferentes formas as quais os alunos podem utilizar para
lhando junto a professores e alunos de diversas escolas resolver problemas, legitimando recursos que as crianças
públicas e particulares, desenvolvendo o que podemos utilizam informalmente e que a escola não costuma valori-
chamar de pesquisa em ação, com o objetivo de tornar zar, ao mesmo tempo que impede o pensar mais autôno-
realidade na prática docente os fundamentos de diferentes mo. Avançar a partir das estratégias pessoais de resolução
teorias de ensino e aprendizagem. e o trabalho com o erro são também pontos de destaque
A construção deste trabalho vem consolidar-se atra- nesse capítulo.
vés desta publicação com a expectativa de auxiliar outros Dentro da Resolução de Problemas, a autonomia para
profissionais da educação na reflexão sobre sua prática e criar textos em matemática se consolida com a formula-
na construção de modelos de ensino mais adequados ao ção de problemas. O Capítulo 8, uma espécie de fecho dos
desenvolvimento de nossas crianças e jovens e à apren- textos anteriores, mostra como uma proposta coerente e
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
bem-planejada de intervenções no ensino de matemáti- que ocorre quando lemos e contribuir para o debate con-
ca pode gerar alunos leitores e escritores em matemática. ceitual e prático sobre o ensino da leitura que Isabel Solé
Além disso, mostra como é possível avaliar o controle que trava um agradável diálogo com o leitor em Estratégias de
os alunos adquirem sobre a linguagem e sua capacidade Leitura. No livro, publicado originalmente em espanhol em
de resolução através dos textos de seus próprios proble- 1996, Isabel explica que todo bom leitor procura ajustar o
mas. modo de ler ao objetivo inicial de sua leitura. Nessa busca,
Ao final, dada a importância dos recursos da informáti- o leitor interage o tempo todo com o texto, utilizando seu
ca, o Capítulo 9 analise as possibilidade de exploração des- conhecimento prévio sobre o tema, fazendo inferências,
te recurso, mostrando algumas formas de uso criativo do elaborando hipóteses e checando suas previsões. O resul-
computador como aliado para a aprendizagem em leitura, tado disso leva a interpretações e compreensões feitas sem
escrita e resolução de problemas. a interferência direta de um leitor mais autônoma. Como
Esperamos que este livro possa, de fato, contribuir para esse processo de leitura não é natural, automático ou mui-
o aperfeiçoamento da prática docente e que traga novas to menos simples, ele precisa ser construído pelo aprendiz.
luzes sobre o ensino de matemática de modo a promover É pensando nisso que o livro faz uma ponte com a realida-
a real aprendizagem de nossos alunos. de da escola, alertando os professores da Educação Infan-
Kática Stocco Smole e maria Ignez Diniz. til e do Ensino Fundamental para o fato de que os alunos
não aprendem isso sozinhos. Cabe ao educador oferecer
às crianças os segredos que utilizam quando eles próprios
leem. Isso deve ser feito na mesma forma como ocorre com
SOLÉ, ISABEL. ESTRATÉGIAS DE LEITURA. outros conteúdos de ensino ou quando mostra como utili-
PORTO ALEGRE: ARTMED, 1998. zar adequadamente um caderno ou traçar de forma correta
as letras. O professor funciona como um especialista em
leitura explicitando seu processo pessoal à turma, o que
leva à compreensão do que está escrito: qual seu objetivo
com aquela determinada leitura, que dúvidas surgem que
AUTOR
elementos tomam do texto para tentar resolver suas ques-
tões... Vendo o que o professor faz para elaborar uma inter-
Pesquisas sobre como o leitor interage com o texto cir-
pretação do texto, os estudantes entendem as chamadas
culam no ambiente das universidades desde a década de
estratégias de compreensão leitora e passam a adotá-las.
1970. Coube à espanhola Isabel Solé, professora e doutora
do departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação na
COMENTÁRIO
Universidade de Barcelona, na Espanha, trazer a discussão
para as salas de aula. Publicado originalmente em 1992,
A capacidade de desfrutar a leitura é uma característica
seu livro Estratégias de Leitura esmiúça o papel do profes-
intrínseca do bom leitor. E para aprender a desfrutar len-
sor na formação de leitores competentes. “O ensino das
do servem as mesmas coisas que para aprender as outras
estratégias de leitura ajuda o estudante a aplicar seu co-
estratégias de compreensão. Nas palavras da autora, “tra-
nhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar
ta-se simplesmente de fazer com a leitura o que se faz com
o texto e a identificar e esclarecer o que não entende”, ex-
outros conteúdos do ensino: mostrar como os maneja um
plica. De sua casa, em Barcelona, Isabel apontou caminhos
especialista, formular situações em que o aprendiz possa
para a atuação prática.
abordar progressivamente seu manejo e ajudá-lo para que,
partindo do domínio autônomo.” A única diferença é que,
SINOPSE
neste caso, é preciso ser especialista em se deliciar com a
leitura para poder ajudar os alunos. (César Coll)
O livro escrito por Isabel Solé aborda diferentes formas
de trabalhar com o ensino de leitura. Seu propósito prin-
RESUMO
cipal é promover a utilização de estratégias que permitam
aos alunos interpretar e compreender de forma autônoma
INTRODUÇÃO
os textos lidos. Enfatizando sempre que o ato de ler é um
processo complexo, a autora, utilizando um texto simples
O propósito deste livro é ajudar professores e outros
e agradável de ser lido, explicita-o dentro de uma perspec-
profissionais que intervêm na educação na educação es-
tiva construtivista da aprendizagem. Estratégias de leitura
colar em uma tarefa que, ao contrário do que poderia se
é uma obra que certamente contribuirá para o desempe-
supor, não é de forma alguma fácil: promover nos alunos
nho docente, principalmente dos profissionais que atuam
a utilização de estratégias que lhes permitam interpretar e
no ensino fundamental e na educação infantil. O que leva
compreender autonomamente os textos escritos.
um leitor a ler mais cuidadosamente um texto? O que o faz
Algumas das premissas expostas referem-se a leitura
preferir a leitura de um e o descarte de outro? O que se
e à compreensão leitora, outras ao papel que o ensino de-
espera encontrar naquele material escolhido? O que está
sempenha em sua aprendizagem, outras ainda a tarefa do
previsto de ser encontrado se confirma à medida que as
leitor, etc.
páginas são percorridas? É com o objetivo de explicitar o
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Que está escrito aqui? Ensino inicial da leitura e - utilizar integrada e simultaneamente todas essas es-
aprendizagem do código tratégias em atividades que tenham sentido ao serem rea-
lizadas.
Entre os conhecimentos da criança que contribuem Aprender a ler não é muito diferente de aprender ou-
com as tentativas dos adultos de ajudá-la a ler e escrever, tros procedimentos ou conceitos. Exige que a criança possa
adquire valor fundamental o convencimento de que o es- dar sentido àquilo que se pede que ele faça, que disponha
crito transmite uma mensagem. A participação em ativi- de instrumentos cognitivos para fazê-lo e que tenha ao seu
dades conjuntas com os pais na escola infantil propicia a alcance a ajuda insubstituível do seu professor, que pode
construção deste conhecimento que, como o leitor deverá transformar em um desafio apaixonante o que para muitos
reconhecer, é muito adequado à realidade. é um caminho duro e cheio de obstáculos.
É fundamental nos atermos ao fato de que as tentativas
da criança de explorar o universo escrito estão firmemente CAPÍTULO 4 - O ENSINO DE ESTRATÉGIAS DE COM-
dirigidas pela sua necessidade de ter acesso ao significado PREENSÃO LEITORA
do texto em questão. Podemos afirmar que o acesso ao
código deve se inserir sempre em contextos significativos Já tratamos no capítulo anterior que os procedimentos
para a criança. O aprendiz de leitor possui conhecimentos precisam ser ensinados. Se estratégias de leitura são proce-
pertinentes sobre a leitura que devem ser aproveitados, dimentos, então é preciso ensinar estratégias para a com-
para que possa melhorá-los e torná-los mais úteis. preensão dos textos: não como técnicas precisas, receitas
infalíveis ou habilidades específicas, mas como estratégias
O ensino inicial da leitura de compreensão leitora que envolve a presença de objeti-
vos, planejamento das ações, e sua avaliação.
Na escola, as atividades voltadas para o ensino inicial Estas estratégias são as responsáveis pela construção
da leitura devem garantir a interação significativa e funcio- de uma interpretação para o texto. E uma construção feita
nal da criança com a língua escrita, como um meio de cons- de forma autônoma.
truir os conhecimentos necessários para poder abordar as
diferentes etapas de sua aprendizagem. Que é uma estratégia? O lugar das estratégias no
Para isso é fundamental trazer para a sala de aula, ensino da leitura
como ponto de partida, os conhecimentos que as crianças
já possuem e a partir de suas ideias, ampliar suas significa- Estratégias
ções. A leitura e a escrita são procedimentos e devem ser
trabalhados como tal em sala de aula. Segundo Valls (1990), a estratégia tem em comum com
Um aspecto importante que precisa ser garantido é todos os demais procedimentos sua utilidade para regular
o acesso a diferentes materiais escritos para as crianças: a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação permi-
jornais, revistas, gibis, livros, rimas, poemas, HQ, e gêne- te selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas
ros diversos. Os professores que recebem as crianças na ações para conseguir a meta que nos propomos.
escola deveriam pensar no sistema da língua escrita como Uma das características das estratégias é o fato de que
algo complexo, que vai exigir esforços deles mesmos e das não detalham nem prescrevem totalmente o curso de uma
crianças que vão abordar sua aprendizagem. ação; o mesmo autor indica acertadamente que as estraté-
Como aprender e ensinar a ler e a escrever não é uma gias são suspeitas inteligentes, embora arriscadas, sobre o
questão simples, seria muito útil não despender esforços e caminho mais adequado que devemos seguir.
energias discutindo se a leitura deveria começar na esco- Um componente essencial das estratégias é o fato de
la de educação infantil ou se seria mais adequado adiá-la que envolvem autodireção – a existência de um objetivo e
para o ensino fundamental. a consciência de que este objetivo existe – e autocontrole,
O ensino inicial da leitura deve garantir a interação sig- isto é, a supervisão e avaliação do próprio comportamento
nificativa e funcional da criança com a língua escrita, como em função dos objetivos que o guiam e da possibilidade de
meio de construir os conhecimentos necessários para po- modificá-lo em caso de necessidade.
der abordar as diferentes etapas da sua aprendizagem. Estratégias de compreensão leitora são procedimentos
É imprescindível que professores explorem os conheci- de caráter elevado que envolvem a presença de objetivos
mentos dos alunos sobre o texto escrito. A leitura e a escri- a serem realizados, o planejamento das ações assim como
ta são procedimentos; seu domínio pressupõe poder ler e sua avaliação. Esta afirmação tem várias implicações:
escrever de forma convencional. 1. Se as estratégias de leitura são procedimentos e os
O ensino inicial da leitura e da escrita pressupõe o seguinte: procedimentos são conteúdos de ensino, então é preciso
- aproveitar os conhecimentos que a criança já possui ensinar estratégias para a compreensão dos textos;
e que costumam envolver o reconhecimento global de al- 2. Se considerarmos que as estratégias de leitura são
gumas palavras; procedimentos de ordem elevada que envolvem o cog-
- aproveitar as perguntas das crianças sobre o sistema nitivo e o metacognitivo, no ensino elas não podem ser
para aprofundar sua consciência metalinguística; tratadas como técnicas precisas, receitas infalíveis ou habi-
- aproveitar e aumentar seus conhecimentos prévios lidades específicas.
em geral;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Por que devemos ensinar estratégias? O papel das - Os professores sabem como utilizar o modelo de ins-
estratégias na leitura trução direta e de fato o utilizam.
Um conjunto de propostas para o ensino de estraté- Apresentam-se aqui seis passos importantes para a
gias de compreensão leitora pode ser considerado segun- compreensão, que devem ser seguidos antes da leitura
do BAUMANN (1985; 1990): propriamente dita:
1- Introdução. Explica-se aos alunos os objetivos da-
quilo que será trabalhado e a forma em que eles serão úteis Ideias Gerais
para a leitura.
2- Exemplo. Exemplifica-se a estratégia a ser trabalha- São algumas ideias que o professor tem sobre a leitura:
da mediante um texto. - ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de
3- Ensino Direto. O professor mostra, explica e escre- estratégias e técnicas;
ve a habilidade em questão, dirigindo a atividade. - ler é um instrumento de aprendizagem, informação
4- Aplicação dirigida pelo professor. Os alunos de- e deleite;
vem por em prática a habilidade aprendida sob o controle - ler em silêncio, só para ler não levará o aluno a acre-
e supervisão do professor. ditar na importância da leitura. Quem não sente prazer pela
5- Prática individual. O aluno deve utilizar indepen- leitura não conseguirá transmiti-lo aos demais;
dentemente a habilidade com material novo. - a leitura não deve ser considerada uma atividade
Cooper (1990), adverte sobre os mal-entendidos que competitiva.
podem surgir na instrução direta: - a leitura para as crianças tem que ter uma finalidade
- A instrução direta é o ensino de habilidades isoladas; que elas possam compreender e compartilhar;
- A instrução direta consiste em explicar aos alunos - o professor deve pensar na complexidade da leitura
algo referente a uma habilidade; e a capacidade que as crianças têm para enfrentá-la.
- A instrução direta equivale à totalidade do ensino da
leitura;
95
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
“Fantástico! Vamos ler!” Motivando para a leitura Ler para praticar a leitura em voz alta
Toda atividade deve ter como ponto de partida a mo- Pretende-se que o aluno leia com clareza, rapidez, fluên-
tivação das crianças: devem ser significativas e motivantes. cia e correção, pronunciando adequadamente, respeitando
A criança deve se sentir capaz de fazê-la. as normas de pontuação e com a entoação requerida.
Para que vou ler? Objetivos da leitura Ler para verificar o que se compreendeu
Os objetivos dos leitores, ou propósitos, com relação Quando enfrentamos um texto temos algum propósi-
a um texto podem ser muito variados, de acordo com as to, este pode implicar a compreensão total ou parcial do
situações e momentos. Vamos destacar alguns dos obje- texto lido, um uso escolar da leitura, muito aplicado por
tivos da leitura, que podem e devem ser trabalhados em outro lado, consiste em que alunos devam dar conta da
sala de aula: sua compreensão, respondendo a perguntas sobre o texto.
Ler para obter uma informação precisa Ativar o conhecimento prévio: o que eu sei sobre
este texto?
É a leitura que realizamos quando pretendemos lo-
calizar algum dado que nos interessa. Esse tipo de leitura Para compreender o que se está lendo é preciso ter co-
caracteriza-se pelo fato de que, na busca de alguns dados, nhecimentos sobre o assunto. Mas algumas coisas podem
ocorre concomitantemente o desprezo por outros. ser feitas para ajudar as crianças a utilizar o conhecimento
prévio que têm sobre o assunto, como dar alguma explica-
Ler para seguir instruções ção geral sobre o que será lido; ajudar os alunos a prestar
atenção a determinados aspectos do texto, que podem ati-
A leitura é um meio que deve nos permitir fazer algo var seu conhecimento prévio ou apresentar um tema que
concreto: ler as instruções de um jogo, regras de uso de um não conheciam.
aparelho, receita de uma torta, etc.
Estabelecer previsões sobre o texto
Ler para obter uma informação de caráter geral
É importante ajudar as crianças a utilizar simultanea-
Esta é a leitura que fazemos quando queremos “saber mente diversos indicadores: como títulos, ilustrações, o
de que trata” um texto, “saber o que acontece”, ver se inte- que se pode conhecer sobre o autor, cenário, personagem,
ressa continuar lendo. ilustrações, etc. para a compreensão do texto como um
todo.
Ler para aprender
Promover as perguntas dos alunos sobre o texto
Sempre aprendemos com a leitura que realizamos para
conseguir outros propósitos; no caso de “ler para apren- Requerer perguntas sobre o texto é uma estratégia que
der” a finalidade consiste em ampliar os conhecimentos de pode ser utilizada para ajudar na compreensão de narra-
que dispomos a partir de um texto determinado. ções ensinando as crianças para as quais elas são lidas a
centrar sua atenção nas questões fundamentais.
Ler para revisar um escrito próprio
CAPÍTULO 6 - CONSTRUINDO A COMPREENSÃO...
Quando lê o que escreveu, o autor revisa a adequação DURANTE A LEITURA
do texto que elaborou para transmitir o significado que o
levou a escrevê-lo. Para a compreensão do texto uma das capacidades
envolvidas é a elaboração de um resumo, que reproduz o
Ler por prazer significado global de forma sucinta.
Para isso, deve-se ter a competência de diferenciar o
O prazer é algo pessoal, e cada um sabe como o ob- que constitui o essencial do texto e o que pode ser consi-
tém. A única coisa a ressaltar neste caso é que a leitura é derado como secundário.
uma questão pessoal, que só pode estar sujeita a si mesma.
O que acontece quando lemos? O processo de lei-
Ler para comunicar um texto a um auditório tura
Tipo de leitura própria de grupos de atividades restri- A leitura é um processo de emissão e verificação de
tos: ler um semão, uma aula magistral, uma conferência, previsões que levam à construção da compreensão do tex-
etc. to. A compreensão de um texto envolve a capacidade de
elaborar um resumo, que reproduz seu significado global
de forma sucinta.
96
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Estratégias durante a leitura: tarefas de leitura O ensino da ideia principal na sala de aula
compartilhada
Para que os alunos compreendam a ideia principal do
O professor pode utilizar em sala de aula a estratégia da texto, o professor pode explicar aos alunos o que consiste a
leitura compartilhada, onde o leitor vai assumindo progres- “ideia principal”, recordar porque vão ler concretamente o
sivamente a responsabilidade e o controle do seu processo texto - função real, ressaltar o tema, à medida que vão len-
é uma forma eficaz para que os alunos compreendam as do informar aos alunos o que é considerado mais impor-
estratégias apontadas, bem como, a leitura independente, tante, para que, finalmente concluam se a ideia principal é
onde podem utilizar as estratégias que estão aprendendo. um produto de uma elaboração pessoal.
As estratégias de leitura compartilhada são:
- formular previsões sobre o texto a ser lido; O resumo
- formular perguntas sobre o que foi lido;
- esclarecer possíveis dúvidas sobre o texto; A elaboração de resumos esta estreitamente ligada
- resumir as ideias do texto. às estratégias necessárias para estabelecer o tema de um
texto, para gerar ou identificar sua ideia principal e seus
Utilizando o que se aprendeu: a leitura independen- detalhes secundários.
te
O ensino do resumo na sala de aula
Este tipo de leitura atua como uma verdadeira ava-
liação para a funcionalidade das estratégias trabalhadas. Utilizar essa estratégia pode ser uma boa escolha para
Como esse é o tipo mais verdadeiro de leitura, as situações estabelecer o tema de um texto, para gerar ou identificar
de leitura independente devem ser incentivadas na escola sua ideia principal e seus detalhes secundários.
É importante, também, que os alunos aprendam por-
Não estou entendendo, o que eu faço? Os erros e as que precisam resumir, e como fazê-lo, assistindo resumos
lacunas de compreensão efetuados pelo seu professor, resumindo conjuntamente,
passando a utilizar essa estratégia de forma autônoma
Para ler eficazmente, precisamos saber quais as nossas COOPER (1990), afirma que para ensinar a resumir pa-
dificuldades. Podem ser: a compreensão de palavras, fra- rágrafos de texto é importante que o professor:
ses, nas relações que se estabelecem entre as frases e no - ensine a encontrar o tema do parágrafo e a identificar
texto em seus aspectos mais globais. Para isso devemos ter a informação trivial para deixá-la de lado.
estratégias como o uso do dicionário ou a continuação da - ensine a deixar de lado a informação repetida.
leitura que pode sanar alguma dúvida. - ensine a determinar como se agrupam as ideias no
parágrafo para encontrar formas de englobá-las.
Diferentes problemas, diferentes soluções - ensine a identificar uma frase-resumo do parágrafo
ou a elaborá-la.
A primeira decisão a tomar perante um problema de
leitura, perante uma incompreensão, é se deve-se ou não Formular e responder a perguntas: nem sempre elas
realizar alguma ação compensatória. Nesta decisão desem- servem apenas para avaliar
penham um papel fundamental os objetivos de leitura do
leitor, sua necessidade de compreender e a própria estru- O leitor capaz de formular perguntas pertinentes sobre
tura do texto. o texto está mais capacitado para regular seu processo de
leitura e, portanto poderá torná-lo mais eficaz.
CAPÍTULO 7- DEPOIS DA LEITURA: CONTINUAR
COMPREENDENDO E APRENDENDO... CAPÍTULO 8 – COLCHA DE RETALHOS
97
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
- Ensinar a ler é uma questão de compartilhar. Com- - ensinar a ler exige a observação ativa dos alunos e
partilhar objetivos, compartilhar tarefas, compartilhar os da própria intervenção, ensinar a ler é uma questão de
significados construídos em torno deles. compartilhar. Compartilhar objetivos, tarefa e significados
construídos.
- Ensinar a ler exige a observação dos alunos e da pró-
pria intervenção, como requisitos para estabelecer situa- O ensino da leitura, uma questão de equipe
ções didáticas diferenciadas capazes de se adaptar à diver-
sidade inevitável da sala de aula. Decidir como as crianças abordarão o código, que tex-
É função do professor promover atividades significati- tos elas vão ler, que situações de leitura serão incentivadas
vas de leitura, bem como refletir, planejar e avaliar a pró- na sala, qual será o papel das bibliotecas e dos caminhos
pria prática em torna da leitura. de leitura, que estratégias serão estimuladas no âmbito da
Para finalizar esse livro se faz necessário ressaltar que linguagem e com outras matérias, que estratégias de leitu-
as mudanças na escola acontecem quando são feitas em ra serão trabalhadas em um projeto globalizado, como será
equipe. Reestruturar o ensino da leitura deve passar por avaliada a leitura, qual é o seu papel em uma abordagem
isso: uma construção coletiva e significativa para os alunos, significativa do sistema da linguagem escrita; tudo isso exi-
e também para os professores. ja que sejam assumidas posturas que transcendem as de
um professor em particular.
Ensinar e avaliar: critérios para avaliar formativa-
mente
O objeto da avaliação deve ser o “grau de integração, TAILLE, Y. LIMITES: TRÊS DIMENSÕES
inferência e coesão com que o leitor integra a informação EDUCACIONAIS. SÃO PAULO: EDITORA
textual com a prévia”; ÁTICA, 2000.
- Sobre a atitude emocional com que o leitor enfrenta
o texto. A avaliação tem a ver com a observação realizada
pelo professor diante da proposta de uma atividade de lei-
tura e com as que se produzem durante a mesma; “Limite” é uma palavra que tem voltado à tona ulti-
- Sobre o nível em que a leitura realizada se ajusta aos mamente. É empregada com frequência, em geral de for-
objetivos propostos. Cabe lembrar aqui as diferentes fina- ma queixosa: “Essas crianças não têm limites!”. (…) Mas do
lidades de um leitor ao abordar um texto, assim como os que estamos realmente falando, quando nos referimos a
distintos tipos de leitura realizados; limites, à sua falta, à necessidade de sua imposição? (…)
- Sobre o nível que o aluno pode manejar as fontes se é verdade que a falta de limites verifica-se em muitas
escritas, ou seja, em que medida sabe onde e como buscar pessoas (não apenas nos jovens), é também verdade que o
certas informações. excesso deles sufoca a maioria. (…) “Limite” remete à ideia
- Sobre o processo de construção do significado. Para de fronteira, de linha que separa territórios. Se existe um
avaliar este aspecto, Colomer e Camps ressaltam a neces- limite, é porque há pelo menos dois continentes, concretos
sidade de prestar atenção à diversas operações envolvidas ou abstratos, separados por essa fronteira. (…) o limite se
no mesmo: utilização do conhecimento prévio na realiza- referiria apenas a um horizonte instransponível. Porém, a
ção de inferências; uso adequado dos sinais do texto; inte- ideia de fronteira remete-nos também à ação de transpor,
gração da informação em uma visão de conjunto referente de ir além. Aquilo que hoje me limita pode ser ultrapassado
à estrutura de significado do texto; resumo do que foi lido; amanhã. (…) Portanto, “limite” não deve ser pensado ape-
- Sobre a etapa em que o leitor controla seu próprio nas como ponto extremo, como fim, como limitação. Não
processo de compreensão, o que se pode traduzir à me- há dúvida de que esse é um dos significados, mas apenas
dida que pode perceber os problemas ou erros de com- um, apenas um lado da fronteira. “Limite” significa também
preensão em que incorre e a possibilidade de utilizar diver- aquele pode ou deve ser transposto. Toda fronteira, todo
sos recursos para corrigi-los; limite separa dois lados. O problema reside em saber se
- Sobre a oralidade da leitura e a velocidade leitora. o limite é um convite a passar para o outro lado ou, pelo
É fácil obter informações sobre estes aspectos, mas ela é contrário, uma ordem de permanecer de um lado só.
difícil de interpretar, o que complica sua avaliação. (…)
“Limite” pode significar aquilo que deve ser transposto,
As situações de ensino e aprendizagem da leitura seja para atingir a maturidade seja para caminhar em dire-
ção à excelência em alguns campos de atuação e conduta.
- aprender a ler significa aprender a encontrar sentido “Limite” pode significar aquilo que deve ser respeita-
e interesse na leitura; do, não transposto, seja para viver bem, seja para deixar os
- aprender a ler significa aprender a ser ativo ante a outros viverem.
leitura, ter objetivos para ela. “Limite” pode também remeter à fronteira da intimi-
- aprender a ler compreensivelmente é uma condição dade, ou seja, ao controle do acesso dos outros à nossa
necessária para aprender a partir dos textos escritos. pessoa.
- aprender a ler requer que se ensine a ler.
98
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Nos três casos, uma ação educativa é necessária e, As crianças devem saber para que elas devem ler e es-
como podemos verificar, se há hoje uma “crise”, ela tanto crever. Na escola elas simulam usos, ao invés de trabalhar
pode ser interpretada como “falta de limites” quanto como na prática. Exemplo: escrever cartas endereçadas para pes-
“excesso deles”. soas imaginárias não faz sentido para elas, então por que
não utilizar as cartas e definir um uso real que as crianças
Fonte: http://themaeducando.com.br/blog/limites- reconhecem que seja necessário.
-tres-dimensoes-educacionais/ O papel docente é de interagir, cooperar, trazer pon-
tos de referência, enfim, ensinar hoje o que a criança fará
sozinha amanhã.
TEBEROSKY, A., COLOMER,T. APRENDER Fonte: http://ensaioserascunhos.blogspot.
A LER E A ESCREVER – UMA PROPOSTA com/2009/06/teberosky-ana.html
CONSTRUTIVISTA. PORTO ALEGRE: ARTMED,
2003.
VASCONCELOS, CELSO S. PLANEJAMENTO
- PROJETO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Este texto parte de uma perspectiva construtivista onde E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO. SÃO
antes da preocupação com a aquisição de técnicas e mé- PAULO: LIBERTAD, 2002.
todos a postura docente deve ser a de buscar desvendar
quais são os caminhos que as crianças fazem até conseguir
construir o conhecimento a respeito da escrita.
As autoras evidenciam através de estudos realizados Não nesta mesma ordem porque, diversas vezes, olhar
quais são as hipóteses utilizadas pelas crianças para com- primeiro a realidade desanima o grupo e iniciar com os so-
preensão dos mecanismos da escrita antes mesmo que nhos seria mais animador, porém a avaliação da realidade
elas frequentem a escola. Sinalizam para a importância de precisa acontecer em algum momento do planejamento.
que cada tentativa de associação feita pelas crianças para
corresponder entre a fala e a escrita e mesmo as garatujas, Não é possível realizar um processo de ensino aprendi-
podem ser usadas como instrumento diagnóstico. Divide zagem sem planejar, está inerente ao ser humano, sempre
as fases de aquisição da escrita em três estágios: pré-silá- temos um plano e esse assunto é muito sério, precisa ser
bico, quando não existe correspondência entre as sílabas e planejado com qualidade e intencionalidade.
os sons, silábico quando a criança já reconhece a necessi-
dade de uso de tantas letras para se constituir uma palavra Em alguns contextos o planejamento é encarado como
e o alfabético quando a criança já consegue formar pala- um instrumento de controle sendo burocrático e autori-
vras usando tanto vogais quanto consoantes. tário, e nestes casos se o professor não consegue cumprir
A importância deste trabalho evidencia-se quando ao ele é incompetente. A redemocratização e o movimento da
compreender como a criança aprende, o professor pode sociedade tem mudado esse quadro fazendo com que o
definir o que ensinar e como avaliar. Cada tentativa não planejamento seja um real instrumento de trabalho.
é vista como simples rabisco, mas como uma espécie de
escrita, conforme defende Emília Ferreiro. O projeto político pedagógico é um dos produtos
Diante disso, as crianças não deveriam mais ler textos do planejamento (projeto curricular, projeto de ensino e
como os trazidos pelas cartilhas, e sim placa de ruas, folhe- aprendizagem, ) que podem ou não estar materializados
tos de propagandas, jornais, revistas, entre outros, não é em formas de documentos e o ideal é que estejam. Quan-
possível ignorar que é necessário oferecer caminhos práti- do falamos do planejamento anual das escolas, temos
cos para que os alunos consigam utilizar novos enfoques como referência o projeto político pedagógico.
que possam dar significado as aprendizagens escolares e
oferecer correspondência entre o que se aprende na escola O projeto político pedagógico são os ideais daquele
e o cotidiano desse aluno. Através dos estudos evidencia- contexto e na hora do planejamento anual ele deve ser
dos no texto é fácil perceber o quanto as práticas sociais usado como algo vivo, como um termômetro para toda a
devem ser consideradas como elemento fundamental na comunidade escolar saber se o trabalho está sendo plane-
formação e desenvolvimento humano, uma vez que as prá- jado esta se aproximando dele ou não. Ele deve ser público
ticas sociais são os referenciais que trazem o significado e explicitado.
entre a escola e a vida.
O grande desafio está em fazer com que os professo- Nas escolas o coordenador pedagógico é o respon-
res entendam que o processo ensino-aprendizagem não se sável pelo processo de planejamento. É preciso prever
dá de maneira linear, ordenado e sequencial, ao contrário momentos específicos para cada tipo de assunto e ser firme
é um processo complexo, turbulento, imprescindível, cheio na coordenação. Às vezes, há uma tentação muito grande
de idas e vindas. São caminhos desconhecidos que nos fa- em ficar gastando tempo do planejamento com problemas
zem questionar muitas de nossas certezas. menores, administrativos ou burocráticos. Então, é muito
99
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
importante planejar o planejamento, reservando mo- O livro traz ainda sugestões concretas de procedimen-
mentos específicos para cada assunto, e ser rigoroso no tos pedagógicos, coerentes com os princípios de uma edu-
cumprimento dessa organização. Ele precisa ser um coor- cação construtivista, que auxiliam o educador a construir
denador pedagógico forte, mas onde buscar apoio para se um ambiente sociomoral cooperativo em sala de aula.
fortalecer? Em alguns casos, há o apoio da direção, mas é
muito importante que ele faça parte de um grupo com ou- Sobre a autora
tros profissionais no mesmo cargo para trocar experiências Telma Pileggi Vinha, pedagoga, mestre em Psicologia
e sentir que não está sozinho nesse trabalho. Educacional pela Faculdade de Educação da Unicamp e
doutoranda da mesma instituição. Professora de cursos de
O autor sugere a reunião pedagógica semanal, com extensão universitária, pós-graduação e especialização nos
todos os professores daquele ciclo, daquele período. É Estados de Minas Gerais e São Paulo.
um momento imprescindível para planejar um trabalho Realiza pesquisas na área do desenvolvimento da mo-
de qualidade com coerência entre os professores, além ralidade infantil e o papel do educador neste processo,
de ser um momento de socialização. sendo membro do Laboratório de Psicologia Genética da
FE-Unicamp.
As primeiras aulas, principalmente dos ensinos ini- Atua na formação e no aperfeiçoamento de profes-
ciais devem ser planejadas com mais cuidados. Existem sores, ministrando cursos, seminários e palestras embasa-
estudos que mostram que a boa relação professor/aluno das no construtivismo de Jean Piaget. Nestes cursos, são
pode ser decidida nessas aulas. Há pesquisas que vão além enfocadas, principalmente, as áreas de educação infantil
e apontam os primeiros instantes da primeira aula como e moralidade, visando a reflexão, capacitação e mudança
determinantes do sucesso da atividade docente. Então, se de postura por parte do professor no relacionamento com
o professor tem de preparar bem todas as aulas, as primei- seus alunos, auxiliando-o na resolução dos inúmeros con-
ras precisam de mais cuidado. E não é só determinar os flitos que enfrenta no seu dia-a-dia e na construção, pela
conteúdos a ser abordados, os objetivos a atingir e a me- escola, de um ambiente cooperativo favorável ao desen-
todologia mais adequada. É, sobretudo, se preparar, tor- volvimento da autonomia.
nar-se disponível para aqueles alunos, acreditando na
possibilidade do ensino e da aprendizagem, estando Fonte: https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-m-
inteiramente presente naquela sala de aula, naquele way.php?codid=101
momento.
Fonte: http://meusresumosconcursos.blogspot.
com/2018/01/resumo-planejamento-projeto-de-ensi- WEISZ, TELMA. O DIÁLOGO ENTRE O
no.html ENSINO E A APRENDIZAGEM. SÃO PAULO:
EDITORA ÁTICA, 2003.
100
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
101
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
las que mais necessitam da ajuda da escola, por ter menos Assim, independente do fato de que as crianças ve-
conhecimento construído sobre os conteúdos escolares. nham de uma família pobre ou não, o que importe real-
Assim, a adoção de uma postura adultocêntrica não é mente é a ação pedagógica do professor, e esta depende-
uma decisão voluntária dos professores, uma vez que, o rá da sua concepção de aprendizagem (todo o ensino se
conhecimento científico que trazem consigo, não lhes per- apoia numa concepção de aprendizagem).
mite enxergar e acolher uma outra concepção de aprendi-
zagem relacionada à perspectiva do aprendiz. É possível enxergar o que o aluno já sabe a partir do
que ele produz e pensar no que fazer para que aprenda
A metodologia embutida nas cartilhas de alfabeti- mais
zação contribui para o fracasso escolar
Nas últimas décadas muitas pesquisas pontuam uma
A chamada Psicogênese da Língua Escrita, resultado concepção de aprendizagem que é resultado da ação do
das pesquisas realizadas por Emília Ferreiro e Ana Tebe- aprendiz. Dessa forma, a função do professor é criar condi-
rosky (1970), sobre o que pensam as crianças quanto ao ções para que o aluno possa exercer a sua ação de apren-
sistema alfabético de escrita, evidencia os problemas que der participando de situações que favoreçam a atividade
a metodologia embutida nas cartilhas (que faz uso do mé- mental, ou seja, o exercício intelectual.
todo da análise-síntese ou da palavra geradora) traz para Quando o professor entende que o aprendiz sempre
as crianças. sabe alguma coisa e pode usar esse conhecimento para
Por meio das pesquisas das autoras acima mencio- continuar aprendendo ele pode identificar que informação
nadas, em uma sociedade letrada, as crianças constroem é necessária para que o conhecimento do aluno avance.
conhecimentos sobre a escrita desde muito cedo, a par- Essa percepção permite ao professor compreender que a
tir do que observam na interação com o seu meio físico e intuição não é mais suficiente para guiar a sua prática e
social e das reflexões que fazem a esse respeito. As pes- que ele precisa de um conhecimento que é produzido no
quisas evidenciaram que quando as crianças ainda não se território da ciência.
alfabetizaram, buscam uma lógica que explique o que não
compreendem, elaborando hipóteses muito interessantes É preciso considerar o conhecimento prévio do apren-
sobre o funcionamento da escrita. diz e as contradições que ele enfrenta no processo
Esses estudos permitiram compreender que a meto-
dologia das cartilhas pode fazer sentido para crianças con- Em uma concepção de aprendizagem construtivista, o
vencidas de que para escrever uma determinada palavra, conhecimento é visto como produto da ação e reflexão do
bastar uma letra para cada sílaba oral emitida (hipótese aprendiz. Esse aprendiz é compreendido como alguém que
silábica), mas para aquelas que ainda cultivam ideias muito sabe algumas coisas e que, diante de novas informações
mais simples a respeito da escrita, ou seja, que ainda não que têm para ele sentido, realiza um esforço para assimi-
estabeleceram relação entre a escrita e a fala (pré-silábica), lá-la, assim frente a um problema (conflito cognitivo) o
o esforço de demonstrar que uma sílaba, geralmente, se aprendiz tem a necessidade de superá-lo. O novo conhe-
escreve com mais de uma letra não faz nenhum sentido. cimento aparece como aprofundamento do conhecimento
São essas as crianças que não conseguem aprender com a anterior que ele já detém. É inerente à própria concepção
cartilha e que ficam repetindo a 1ª série várias vezes, che- de aprendizagem que o aprendiz busque o conhecimento
gando a desistir da escola. prévio que ele possui sobre qualquer conteúdo.
As crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus Através dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky
usos a partir da participação em situações nas quais os e demais colaboradores, sabemos que a criança representa
textos têm uma função social de fato. Frequentemente as a escrita de diferentes modos, como a expressão de um
crianças mais pobres são as que têm hipóteses mais sim- conhecimento sobre a escrita que precede a compreensão
ples, pois vivem poucas situações desse tipo. Para elas a real do funcionamento do sistema alfabético.
oportunidade de pensar e construir ideias sobre a escrita No caso da aprendizagem da escrita, o meio social co-
é menor do que para as crianças que vivem em famílias loca para as crianças uma série de contradições e de con-
típicas de classe média ou alta, nas quais ouvem a leitura flitos que a forçam a buscar soluções, superar as hipóteses
de bons textos, ganham livros e gibis, observam os adul- inadequadas quanto ao sistema de escrita, através da cons-
tos manusearem jornais para buscar informações, recebem trução de novas teorias explicativas. Nesses momentos, a
correspondências, fazem anotações, etc. atuação do professor é fundamental, pois a conquista de
Isso não quer dizer, que as crianças pobres não tenham novos patamares de compreensão pelo aluno é algo que
acesso à escrita ou não façam reflexões sobre seu funcio- depende também das propostas didáticas e da intervenção
namento fora da escola, mas habitualmente tais práticas que ele fizer.
não fazem parte do cotidiano do seu grupo social de ori- Essas teorias explicativas são formas de interpretação
gem e isso faz com que o início de sua escolarização se não necessariamente conscientes, mas que orientam a
dê em condições menos favoráveis do que para aquelas ação de quem está aprendendo. Tais teorias são modifica-
crianças que participam de práticas sociais letradas desde das no embate com a realidade com a qual o aluno se de-
pequenas. para a todo instante e especialmente quando o professor
cria contextos adequados para que isso aconteça.
102
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Para aprender, a criança passa por um processo que colaboradores da Escola de Genebra - como a moldura de
não tem a lógica do conhecimento final, como é visto uma investigação sobre a aquisição de um conhecimento
pelos adultos particular, no caso de Emília Ferreiro, o da leitura e escrita.
A Psicogênese da Língua Escrita é um modelo psico-
Do ponto de vista do referencial construtivista, ne- lógico de aprendizagem específico da escrita que serve de
nhum conceito nasce com o sujeito ou é incorporado de informação ao educador, porém a maneira como essas in-
fora, mas precisa ser construído através da interação do su- formações são usadas na ação educativa pode variar muito
jeito com o meio (físico, social, cultural); nesse processo de porque nenhuma pedagogia responde apenas a um mo-
construção, as expressões do aprendiz não têm a lógica do delo psicológico.
conhecimento final, concebido pelo adulto. As pesquisas O modelo geral no qual se apoia a Psicogênese da Lín-
realizadas pelo psicólogo Jean Piaget quanto à conserva- gua Escrita é de que há um processo de aquisição no qual
ção de quantidades (massa/ fichas), demonstram que para a criança vai construindo hipóteses sobre a escrita, testan-
crianças com idade de 5/7 anos, o fato de oito fichas apre- do-as, descartando umas e reconstruindo outras. Durante
sentarem-se juntas e oito fichas apresentarem-se espa- a alfabetização, aprende-se mais do que escrever alfabeti-
lhadas apresentam quantidades diferentes, simplesmente camente. Aprendem-se, pelo uso, as funções da escrita, as
pela disposição/ configuração dessas fichas (pensamento características discursivas dos textos escritos, os gêneros
pré-operatório/perceptivo/ irreversível). utilizados para escrever e muito outros conteúdos.
O modelo de ensino atualmente relacionado ao cons-
O primeiro grande salto no caminho que percorre- trutivismo chama-se aprendizagem pela resolução de pro-
mos para chegar até aqui. E o que não deu certo blemas (situações-problema).
Em 1920, chega ao Brasil a visão da criança como um Aprender a aprender é algo possível apenas a quem
ser com características cognitivas distintas, uma visão do já aprendeu muita coisa
aprendiz como um ser ativo que constrói seu próprio co-
nhecimento. Eram as ideias da Escola Ativa ou Escola Nova. Para aprender a aprender, o aprendiz precisa domi-
Claparède, considerado o pai da Escola Nova, tinha nar conhecimentos de diferentes naturezas, como as lin-
como premissa que a necessidade é a mola propulsora da guagens, por exemplo. Nesse processo, a flexibilidade e a
ação inteligente. Nessa perspectiva, a criança só aprende- capacidade de se lançar com autonomia nos desafios da
construção do conhecimento são extremamente importan-
ria o que fosse demandado por uma necessidade que se
tes, pois há todo um saber necessário para poder aprender
expressaria em interesse: tudo o mais seria imposição. E as
a aprender; e isso só é possível para quem aprendeu muito
coisas só teriam o poder de serem interessantes à medida
sobre muita coisa.
que correspondessem a uma necessidade do indivíduo em
Deste modo, é desejável que o aprendiz saiba bus-
um determinado momento. Ficava então a questão: “Como
car informações através do computador, porém é funda-
suscitar a necessidade na escola, como fazer germinar na
mental desenvolver a capacidade de estabelecer relações
criança o interesse por aquilo que se deseja ensinar?”.
inteligentes entre os dados, as informações e os conhe-
Para responder a esta questão os pensadores da Es-
cimentos já construídos. Nesse sentido, para ser capaz de
cola Nova construíram um modelo de ensino que ficou aprender permanentemente, a bagagem básica necessária
conhecido como aprendizagem pela descoberta: a escola atualmente é acadêmico-cultural, em que se articulam co-
deveria estimular as crianças a fazerem descobertas, criar nhecimentos de origem tradicionalmente escolar e aqueles
situações tais em que pudessem não ser ensinadas, mas relacionados aos movimentos culturais da sociedade (for-
realizar aprendizagens por si mesmas. mação geral).
Assim, a escola tem uma tripla função:
Começa com Piaget, a construção de um novo olhar 1. levar o aluno a aprender a aprender;
sobre a aprendizagem 2. dar-lhe os fundamentos acadêmicos e;
3. equalizar as enormes diferenças no repertório de
Piaget desenvolveu uma teoria do conhecimento conhecimentos dos aprendizes.
(Epistemologia e Psicologia Genética) que explica como É praticamente impossível a escola realizar sozinha
se avança de um conhecimento menos elaborado para um essa terceira função, mas sua contribuição é essencial, pois
conhecimento mais elaborado, ressaltando que o conheci- é preciso pensar como agir para democratizar o acesso à
mento é resultado da interação do sujeito com o meio ex- informação e às possibilidades e construção de conheci-
terno, que é um processo no qual o sujeito participa ativa- mento.
mente, modificando o meio no qual está inserido e sendo,
também, modificado por esse mesmo meio. CAPÍTULO 3 - O QUE SABE UMA CRIANÇA QUE PA-
Foram os estudos de Piaget que abriram a possibili- RECE NÃO SABER NADA
dade de se estudar a construção de conhecimentos es-
pecíficos, como o fez Emília Ferreiro que mostrou que era Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para
possível pensar o construtivismo - o modelo geral de cons- poder atuar é uma questão complexa. Esse saber não está
trução do conhecimento, tal como formulado por Piaget e relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspectiva adul-
103
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ta) e sim ao ponto de vista do aprendiz porque é esse o co- O professor precisa criar um ambiente sócio-afeti-
nhecimento necessário para fazer o aluno avançar do que vo para que as crianças possam manifestar livremente/
ele já sabe para o que não sabe. O que realmente impor- espontaneamente o que pensam; somente assim, pode-
ta são as construções e ideias que o aprendiz elaborou e rá favorecer situações de aprendizagem significativas. Tal
que não foram ensinadas pelo professor e, sim, construídas ambiente deve possibilitar que as crianças pensem sobre
pelo aprendiz. suas ideias. Do mesmo modo, cabe ao professor oferecer
Quando uma criança escreve fazendo uso de uma conflitos/situações problemas que possibilitem às crianças
concepção silábica de escrita, por exemplo, essa ‘escrita’ exercitarem o pensamento, na busca de soluções possíveis.
não é reconhecida como um saber, pois do ponto de vista Isso requer do professor estudo e uma postura reflexiva e
de como se escreve em português, essa escrita não existe. investigativa.
Mas, para chegar a escrever em português (escrita alfabéti- A psicogênese da língua escrita abriu a possibilidade
ca), o aprendiz precisa passar por uma concepção de escri- de o professor olhar para a criança e acreditar que para
ta desse tipo (silábica), imaginando que quando se escreve aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica e
representa-se as emissões sonoras que ele consegue reco- o que o professor não enxerga é porque não tem instru-
nhecer (a sílaba), isolando-as pela via da audição. mentos suficientes para perceber o sentido que está sendo
Tal conhecimento é importante e o professor deve manifestado pela criança.
reconhecê-lo na aprendizagem da escrita. Caso contrário
contribuirá muito pouco com os avanços do aluno em rela- Um casamento entre a disponibilidade da informa-
ção à escrita e, se a criança aprender a ler, provavelmente, ção externa e a possibilidade da construção interna
será por conta própria.
Quando o professor não entende a produção da crian-
Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou ça deve-se perguntar à criança, mesmo que não consiga
pode ajudar o professor a descobrir o que ela tentou entender suas explicações, uma atividade indicada para
fazer isso é o trabalho em dupla, pois trabalhando juntas as
crianças dão explicações umas às outras e, então, o profes-
Somente um olhar cuidadoso e despojado do profes- sor poderá compreender as hipóteses das crianças.
sor sobre a produção do aprendiz (quanto ao saber não Assim, é importante observar os procedimentos dos
reconhecido), permitir-lhe á descobrir o que pensa esse alunos diante de uma atividade, para que o professor pos-
aprendiz, possibilitando-lhe levantar questões e perguntas sa reconhecer esses procedimentos dos alunos, de modo,
sobre tal produção. Ao desconsiderar o esforço do seu alu- a saber quais são os menos e os mais avançados e que
no, dizendo-lhe que sua produção não está correta, acaba raciocínio os alunos mais avançados então realizando.
desvalorizando sua tentativa e esforço e, consequente- O trabalho em grupo permite que as crianças obser-
mente, o aluno vai pensar duas vezes antes de produzir vem os procedimentos de atuação de seus colegas, inclu-
de novo. sive daqueles que utilizam procedimentos de resolução de
O conhecimento se constrói por caminhos diferentes problemas mais avançados. Ao perceberem a possibilidade
daqueles que o ensino supõe. Isso acontece no processo de diferentes formas de execução, reconhecem o procedi-
de aquisição da escrita, na construção dos conceitos mate- mento do colega como mais produtivo e econômico, cons-
máticos e na aprendizagem de qualquer outro conteúdo e truindo, assim, a lógica necessária para poder aprender (a
mesmo quando os alunos estão submetidos a um tipo de criança aprendeu com outra que sabe mais).
ensino convencional, pois o que impulsiona a criança é o Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a dis-
esforço para acreditar que atrás das coisas que ela tem de ponibilidade da informação externa e a possibilidade da
aprender existe uma lógica. construção interna - construtivismo: um modelo explicati-
Se o professor não sabe nada sobre o que o aluno vo da aprendizagem que considera, ao mesmo tempo, as
pensa ou conhece a respeito do conteúdo que quer que possibilidades do sujeito e as condições do meio.
ele aprenda, o ensino que ele oferece não tem com quem Cabe ao professor tomar decisões importantes, seja na
dialogar. formação das parcerias entre alunos, seja nas questões que
ele mesmo propõe no desenrolar da atividade.
Conhecimentos prévios dos alunos não deve ser
confundido com conteúdo já ensinado pelo professor. Todas as crianças sabem muitas coisas, só que umas
sabem coisas diferentes das outras
Na perspectiva construtivista - de resolução de proble-
mas - o professor não pode considerar como sinônimos o As crianças são provenientes de culturas diferentes e
que o aluno já sabe e o que lhe foi ensinado, pois não são isso contribui para que saibam coisas diferentes, por isso
necessariamente a mesma coisa. Para que isso não aconte- é importante que o professor tenha claro que as crianças
ça, é preciso que o professor desenvolva uma sensibilidade provenientes de um nível cultural valorizado pela esco-
e uma escuta atenta para a reflexão que as crianças fazem, la apresentam enormes vantagens em relação às outras
supondo que o que elas pensam tem sentido e não é fruto crianças. Para tais crianças a escola será muito mais fácil,
de sua ignorância. porque está em consonância com a cultura da família e do
seu ambiente. Por outro lado, as crianças provenientes de
104
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ambientes onde as pessoas possuem menor grau de es- O papel do professor dentro de uma proposta cons-
colaridade e distantes dos usos cotidianos dos conteúdos trutivista é bem diferente deste proposto pelo modelo
que a escola valoriza encontrarão dificuldades. tecnicista. Cabe ao professor construir conhecimentos de
Assim, a equalização das oportunidades de aprendi- diferentes naturezas, que lhe permitam ter claros os seus
zagem dessas crianças deve ser uma tarefa da escola que objetivos, assim como selecionar conteúdos adequados,
deve repensar sua própria prática, de modo a não preju- enxergando na produção de seus alunos o que eles já sa-
dicar o sucesso escolar desses alunos. (...) “É preciso, pois, bem e construindo estratégias que os levem a conquistar
educar o olhar para enxergar o que sabem as crianças que novos patamares de conhecimento. Não há receitas pron-
aparentemente não sabem nada”. tas a serem aplicadas a grupos de alunos, uma vez que, a
A equalização de oportunidades de aprendizagem não prática pedagógica é complexa e contextualizada. O pro-
significa uma pedagogia compensatória. É preciso sociali- fessor precisa ser alguém com autonomia intelectual.
zar os conteúdos pertencentes ao mundo da cultura: lite-
ratura, ciência, arte, informação tecnológica, etc., pois isso CAPÍTULO 4 • AS IDEIAS, CONCEPÇÕES E TEORIAS
é uma questão de inserção social e, portanto, direito de QUE SUSTENTAM A PRÁTICA DE QUALQUER PROFES-
todas as crianças. A escola não pode ser instrumento de SOR, MESMO QUANDO ELE NÃO TEM CONSCIÊNCIA
exclusão social. DELAS.
Todo professor deve levar todos os seus alunos a A prática pedagógica do professor é sempre orientada
participarem da cultura por um conjunto de ideias, concepções e teorias, mesmo
que nem sempre tenha consciência disso. Para que possa
O termo cultura é utilizado não em seu sentido antro- mos compreender a ação do professor, é preciso verificar
pológico e sim no do senso comum: a cultura erudita e a de de que forma seus atos expressam sua concepção sobre:
larga difusão, mas produzida para e pela elite. • o conteúdo que ele espera que o aluno aprenda;
Todos os professores, principalmente, aqueles das • o processo de aprendizagem (os caminhos pelo quais
classes iniciais que quiserem contribuir para que todos os a aprendizagem acontece);
alunos de sua classe tenham a mesma oportunidade de • como deve ser o ensino.
aprender, devem estimulá-los a participar da cultura. Historicamente, a teoria empirista é a teoria que mais
É papel do professor ler diferentes tipos de assuntos/ vem impregnando as representações sobre o que é ensi-
textos (usar o jornal e outras fontes de informação e de nar, quem é o aluno, como ele aprende e o que e como se
pesquisa) em classe e levar as crianças para exposições de deve ensinar (modelo de ensino e aprendizagem conheci-
artistas importantes. É preciso oferecer às crianças a opor- do como estímulo-resposta).
tunidade de navegar na cultura, na Internet, na arte, em Essa teoria define a aprendizagem como ‘a substitui-
todas as áreas do conhecimento, em todas as linguagens, ção de respostas erradas por respostas certas’, partindo da
em todas as possibilidades. concepção de que o aluno precisa memorizar e fixar infor-
Um exemplo de alguém que sabia como tratar as mações, as mais simples e parciais possíveis e ir acumulan-
crianças era Monteiro Lobato que escrevia livros contando do com o tempo.
coisas da Antiguidade, falando de astronomia, da história A cartilha está fundamentada nesse modelo (palavras-
do mundo. Porém, o que normalmente se oferece para as -chaves, famílias silábicas usadas exaustivamente, frases
crianças lerem são histórias empobrecidas, versões resumi- desconectadas, textos com mínimo de coerência e coesão).
das e textos com supressões.
Como a metodologia de ensino expressa nas carti-
Não é possível formular receitas prontas para se- lhas concebe os caminhos pelas quais a aprendizagem
rem aplicadas a qualquer grupo de alunos acontece
Nos anos 1970, uma visão de escola como linha de Na concepção empirista, o conhecimento está ‘fora’ do
montagem, denominada de tecnicista, voltada para criar sujeito (a fonte do conhecimento é externa ao sujeito - é o
máquinas de ensinar, métodos de ensino, sequências de meio físico e social) e, é interiorizado através dos sentidos,
passos programados, dominava a concepção de ensino e ativado pela ação física e perceptual.
aprendizagem. No Brasil, esse modelo chamava-se ensino O sujeito é concebido como uma tábula rasa – ‘vazio’
programado. A função do professor, nesse modelo, era na sua origem, sendo ‘preenchido’ pelas experiências que
simplesmente, a de administrar o ensino programado e foi, tem com o mundo (conceito de ‘educação bancária’ critica-
justamente, esse modelo o responsável por uma exigência da por Paulo Freire). O aprendiz é alguém que vai juntando
cada vez mais baixa de qualificação dos professores. informações.
O ensino programado permitia o que se chamava de O processo de ensino fundamentado nessa teoria ca-
‘ensino na medida do estudante’, que embora considerasse racteriza-se pela: cópia, ditado, memorização pura e sim-
os vários ritmos de aprendizagem da criança, todos apren- ples, utilização da memória de curto prazo para reconheci-
diam, pois, seguindo os passos programados chegariam mentos das famílias silábicas, leitura mecânica para poste-
todos, de alguma forma, ao final. rior leitura compreensiva.
105
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Para mudar é preciso reconstruir toda a prática a Não informar nem corrigir significa abandonar o
partir de um novo paradigma teórico aluno à própria sorte
Em uma concepção construtivista, o conhecimento não A crença espontaneista de que o aluno constrói o co-
é concebido como cópia do real, incorporado diretamente nhecimento, não sendo necessário ensinar-lhe, faz com
pelo sujeito. A teoria construtivista pressupõe uma ativida- que o professor passe a não informar, a não corrigir e a se
de, por parte do aprendiz, que organiza e integra os novos satisfazer com que o aluno faz ‘ do seu jeito’; isso significa
conhecimentos aos já existentes. Isso acontece com alunos abandonar o aluno à sua própria sorte.
e professores em processo de transformação.
Uma preocupação, bastante pertinente, diz respeito ao Cabe ao professor organizar a situação de aprendizagem
fato do professor querer inovar a sua prática, adotando um de forma a oferecer informação adequada. A função do pro-
modelo de construção de conhecimento sem compreen- fessor é observar a ação da criança, acolher ou problematizar
der, suficientemente, as questões que lhe dão sustentação, / desestabilizar suas produções, intervindo sempre que achar
correndo o risco de se deslocar de um modelo que lhe é que pode contribuir para que a concepção da criança sobre o
familiar para o outro meio conhecido, mesclando teorias, objeto de conhecimento avance. É papel do professor apoiar
como se costuma afirmar. a construção do conhecimento pelo aprendiz.
Outra preocupação diz respeito ao entendimento des-
torcido por parte de professores, que acreditando ser o CAPÍTULO 5 - COMO FAZER O CONHECIMENTO DO
sujeito sozinho quem constrói o conhecimento, veem a in- ALUNO AVANÇAR
tervenção pedagógica como desnecessária.
Tais concepções não fazem nenhum sentido num mo- O processo de ensino deve dialogar com o de aprendi-
delo construtivista. zagem. Isso mostra que não é o processo de aprendizagem
(aluno) que deve se adaptar ao processo de ensino (profes-
Conteúdos escolares são objetos de conhecimento sor), mas, sim, o processo de ensino que deve se adaptar
complexos, que devem ser dados a conhecer, aos alu- ao processo de aprendizagem.
Para tanto, o professor precisa compreender o cami-
nos, por inteiro
nho de aprendizagem que o aluno está percorrendo na-
quele momento e, a partir disso, identificar as informações
Para o referencial construtivista, a aprendizagem da lei-
e atividades que permitirão ao aluno avançar do patamar
tura e da escrita é complexa e, portanto, deve ser apresen-
de conhecimento que conquistou para outro que é mais
tada / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma funcio-
avançado.
nal. Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito, prota-
Para isso, é preciso que o professor organize situações
gonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém de aprendizagem: atividades planejadas (propostas e di-
que vai produzir a transformação, convertendo informação rigidas) com a intenção de favorecer a ação do aprendiz
em conhecimento próprio. sobre um determinado objeto de conhecimento, sendo
Essa construção pelo aprendiz não se dá por si mesma que essa ação está na origem de toda e qualquer apren-
e no vazio, mas a partir de situações nas quais age sobre o dizagem.
que é o objeto do seu conhecimento, pensa sobre ele, re- Tais atividades devem reunir algumas condições e res-
cebendo ajuda, sendo desafiado a refletir, interagindo com peitar alguns princípios:
outras pessoas. A diferença entre o modelo empirista e o
modelo construtivista é que no primeiro a informação é • os alunos devem por em jogo tudo que sabem e pen-
introjetada ou não; enquanto que no segundo, o aprendiz sam sobre o conteúdo que se quer ensinar;
tem de transformar a informação para poder assimilá-la. • devem ter problemas a resolver e decisões a tomar
Isso resulta em práticas pedagógicas muito diferentes. em função do que se propõe produzir;
• a organização da tarefa pelo professor deve garantir
Afirmar que o conhecimento prévio é a base da a máxima circulação de informação possível;
aprendizagem não é defender pré-requisitos • o conteúdo trabalhado deve manter suas caracterís-
ticas de objeto sociocultural real, sem se transformar em
No modelo construtivista, o conhecimento não é gera- objeto escolar vazio de significado social.
do do nada, é uma permanente transformação a partir do
conhecimento que já existe. Essa afirmação de que conhe- Alunos põem em jogo tudo que sabem, têm proble-
cimentos prévios constituem a base de novas aprendiza- mas a resolver e decisões a tomar
gens não significa a crença ou a defesa de pré-requisitos
e muito menos significa matéria ensinada anteriormente O aprendiz precisa testar suas hipóteses e enfrentar
pelo professor. contradições, seja entre as próprias hipóteses, seja entre o
que consegue produzir sozinho e a produção de seus pa-
res ou entre o que pode produzir e o resultado tido como
convencionalmente correto. Partindo-se de uma proposta
construtivista, o conhecimento só avança quando o aluno
tem bons problemas sobre os quais pensarem.
106
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Para isso, o professor deve criar boas situações de CAPÍTULO 6 - QUANDO CORRIGIR, QUANDO NÃO
aprendizagem para os alunos, atividades que representem CORRIGIR
possibilidades difíceis, porém dificuldades possíveis de se-
rem resolvidas. O professor desenvolve dois tipos de ação pedagógi-
A escola precisa autorizar e incentivar o aluno a acionar ca: planejamento e intervenção, uma intervenção clássica é
seus conhecimentos de experiências anteriores, fazendo a correção que não é a única intervenção possível, nem a
uso deles nas atividades escolares; é preciso criar ativida- mais importante, porém é a que mais tem preocupado os
des para que isso seja de fato requisitado, sendo útil para professores.
qualquer área de conhecimento. Numa concepção construtivista de aprendizagem,
a função da intervenção é atuar de modo que os alunos
A organização da tarefa garante a máxima circula- transformem seus esquemas interpretativos em outros que
ção de informação possível deem conta de questões mais complexas que as anterio-
res. A correção é algo relacionado a qualquer situação de
Os livros e demais materiais escritos, a intervenção do aprendizagem, o que varia é como ela é compreendida
professor, a observação de um colega na resolução de um pelo professor.
problema, as dúvidas, as dificuldades, o próprio objeto de A tradição escolar normalmente vê a correção realiza-
conhecimento que o aluno se esforça para aprender são da longe dos alunos na qual os erros são assinalados para
situações que informam. que os alunos corrijam, como a mais importante (concep-
Por isso, é importante que se garanta a máxima circula- ção empirista - exigente com a transmissão). Quando se
ção de informação possível na classe e o ambiente escolar trata de uma redação, o texto tem que ser passado a limpo,
deve permitir que as perguntas e as respostas circulem. corrigido - o erro poderá ficar fixado na memória do aluno
Nesse processo, as informações que chegam até o (concepção que supõe a percepção e a memória como nú-
aprendiz precisam ser trabalhadas ou interpretadas por ele cleos na aprendizagem).
de acordo com que lhe é possível naquele momento. Outra visão de correção é a informativa que carrega a
O professor precisa estar ciente de que o conhecimen-
ideia de que a correção deve informar o aluno e ser feita
to avança quando o aprendiz se defronta com situações-
dentro da situação de aprendizagem (concepção de erro
-problema nas quais não havia pensado anteriormente.
construtivo - que faz parte do processo de aprendizagem
Situações significativas de aprendizagem em sala de aula
de qualquer pessoa).
acontecem quando o professor abre mão de ser o único
informante e quando o clima sócio afetivo se baseia no
Os erros devem ser corrigidos no momento certo.
respeito mútuo e não no autoritarismo. É preciso incentivar
a cooperação, a solidariedade, o respeito e o tutoramento Que nem sempre é o momento em que foram corrigidos
(um aluno ajudando o outro) em sala de aula.
A interação entre os alunos é necessária não somente A ideia do erro construtivo fascinou muitos educado-
porque o intercâmbio é condição para o convívio social na res, que começaram a ver de outra forma os textos escri-
escola, mas, também, porque informa a todos os envol- tos dentro de um sistema silábico e mesmo os de escrita
vidos e potencializa quase infinitamente a aprendizagem. alfabética. Porém, depois que a criança compreendeu o
sistema alfabético de escrita é necessário que o professor
O conteúdo trabalhado deve manter suas caracte- intervenha na questão ortográfica, considerando a melhor
rísticas de objeto sociocultural real forma de fazer isso. O que deve ser repensado é a concep-
ção tradicional de correção.
O ensino da língua portuguesa está cheio de criações
escolares que em nada coincidem com as práticas sociais Os alunos sabem o que achamos importantes que
de uso da língua, objeto de ensino na escola, baseadas no eles aprendam, mesmo que não falemos nada
senso comum. Isso não acontece somente no ensino da
língua portuguesa, mas em todas as outras áreas. Muitos professores, por não quererem bloquear a cria-
Na escola, por exemplo, aprende-se a linguagem matemá- tividade do aluno, acabam deixando que ele escreva de
tica escrita, que é pouco usada na rua. Porém, não se pode dei- qualquer jeito. Tal procedimento acaba consolidando um
xar de lado esta competência que o aluno já traz desenvolvida contrato didático implícito, pois de alguma forma o alu-
(devido a sua vivência de ‘rua’) e sobrepor a escolarização a ela. no percebe que o professor não valoriza esse tipo de co-
Quando se trata de ciência ou prática social convertida nhecimento e acaba por desvalorizá-lo investindo nessas
em objeto de ensino, estas acabam por sofrer modifica- aprendizagens. É importante que o professor tenha claro
ções. A arte é diferente na Educação Artística, o esporte que depois de um tempo de escolaridade, são inaceitáveis.
é diferente da Educação Física, a linguagem é diferente
do ensino de Língua Portuguesa, a ciência é diferente do CAPÍTULO 7 - A NECESSIDADE E OS BONS USOS DA
ensino de Ciências. Porém, não se pode criar invenções AVALIAÇÃO.
pretensamente facilitadoras que acabem tendo existência
própria. É papel da escola garantir a aproximação máxima No que diz respeito à avaliação, é preciso ter claro o
entre o use social do conhecimento e a forma de tratá-lo que o aluno já sabe no momento em que lhe é apresen-
didaticamente. tado um conteúdo novo. O conhecimento prévio é o con-
107
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
junto de ideias, representações e informações que servem mentâneas e que participem, também, de grupos de apoio
de sustentação para a nova aprendizagem, ainda que não pedagógico, formados com a finalidade de contribuir para
tenham, necessariamente, uma relação direta com o con- a aprendizagem dos alunos que encontram dificuldades
teúdo que se quer ensinar. É importante investigar e explo- em relação aos novos conteúdos ensinados.
rar essas ideias e representações prévias porque permite As escolas podem, ainda, elaborar projetos que ga-
saber de onde vai partir a aprendizagem que se quer que rantam horários de atendimento desses alunos antes ou
aconteça. Conhecer essas ideias e representações prévias depois da aula, permitindo que os alunos entrem e saiam
ajuda muito na hora de construir uma situação na qual o dessas atividades de apoio pedagógico na medida de suas
aluno terá de usar o que já sabe para aprender o que ainda necessidades e que não sejam estigmatizados por partici-
não sabe. parem delas. Isso deve ser visto como parte integrante da
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conheci- escolaridade normal de qualquer um.
mentos prévios, é preciso que o professor utilize um ou
outro instrumento para verificar como os alunos estão Um território delicado: como os alunos se veem e se
progredindo, pois o conhecimento não é construído igual- sentem como estudantes
mente, ao mesmo tempo e da mesma forma por todos.
Esse instrumento é a avaliação de percurso - formativa ou O mau desempenho escolar pode ser fruto de diferen-
processual - feita durante o processo de aprendizagem. tes circunstancias ou razões, que precisam ser considera-
Esse procedimento permitirá ao professor avaliar se o tra- das quando se pensa a intervenção pedagógica. Há dife-
balho que está desenvolvendo com os alunos está sendo rentes situações:
produtivo e se os alunos estão aprendendo com as situa- • Por não ter compreendido conceitualmente um de-
ções didáticas propostas. terminado conteúdo, o prosseguimento das aprendizagens
do aluno fica comprometido. Nesse caso, avaliando onde
A avaliação da aprendizagem é também a avaliação está a dificuldade que impede o aluno de avançar em seus
do trabalho do professor conhecimentos, o professor pode ajudá-lo com atividades
e intervenções especificamente planejadas para a supera-
ção do que está sendo obstáculo.
Quando se avalia a aprendizagem do aluno, também
• O aluno não avança porque tem procedimentos ina-
se avalia a intervenção do professor, pois o ensino deve
dequados, mesmo tendo conseguido aprender os princi-
ser planejado e replanejado em função das aprendizagens
pais conceitos relacionados ao que não sabe fazer. Nessa
conquistadas ou não.
situação, a ajuda do professor depende fundamentalmente
Assim, é importante a organização de espaços coleti-
de saber localizar a real dificuldade do aluno.
vos de discussão do trabalho pedagógico na escola, va-
• um mau desempenho pode ser resultado de baixa
lorizando-se a prática de observação de aula pelo coor- autoestima ou de uma atitude desfavorável em relação à
denador ou orientador pedagógico - ou mesmo por um própria aprendizagem. E papel do professor encorajar o
colega que ajude a olhar de fora. O professor está sempre aluno, fazendo-o sentir-se apoiado diante dos desafios.
tão envolvido que, às vezes, não lhe é possível enxergar o
que salta aos olhos de um observador externo. O que fazer com os alunos que chegam ao final do
período sem aprender o que a escola pretendia
Se a maioria da classe vai bem e alguns não, estes
devem receber ajuda pedagógica A escola costuma esquecer que as crianças desenvol-
vem uma vida social com sua turma tão importante em
Quando, numa verificação de aprendizagem, grande termos formativos quanto a aprendizagem de conteúdos
parte dos alunos apresenta dificuldades, é certo que o pro- escolares.
fessor precisa rever o seu encaminhamento. Dessa forma, as crianças devem ser mantidas juntas
Porém, quando a verificação aponta que alguns alunos por idade para progredir juntas, evitando-se o absurdo de
não estão bem, estes devem ser atendidos imediatamente se manter meninos de 12/13 anos em classe de meninos
através de outras atividades que possibilitem a superação de 8 anos.
das dificuldades. Não se pode avaliar apenas os conteúdos das áreas de
A escola deve estar comprometida com a aprendiza- conhecimento na hora de decidir a vida escolar do aluno.
gem de todos e, dessa forma, criar um sistema de apoio Se o aluno não alcançou o nível de desempenho exigido
para que os alunos não se percam no caminho. As dificul- pela escola (no ano ou ciclo), a equipe responsável pelo
dades precisam ser detectadas rapidamente para que se- trabalho pode garantir que no ano seguinte receba ajuda
jam sanadas e continuem progredindo, não desenvolvendo adequada, tendo condições mais favoráveis para continuar
bloqueios. aprendendo com a sua própria turma. Frequentemente a
Tais crianças precisam ser atendidas por meio de reali- retenção tem um caráter punitivo.
zação de atividades diferenciadas durante a aula, trabalho Há situações – raras - em que é um alívio para o aluno
conjunto com colegas que possam ajudá-los e interven- repetir o ano porque ele está verdadeiramente defasado
ções pontuais do professor. É importante, também, que es- em relação à sua turma, e às vezes mal adaptado por causa
sas crianças sejam encaminhadas a espaços escolares alter- disso. Nesse sentido, a reprovação pode ser um bem para
nativos que trabalham com crianças com dificuldades mo- ele, pois lhe possibilita uma vida escolar mais tranquila.
108
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
É importante que o professor registre seu trabalho por • Parâmetros institucionais e organizados;
escrito, porque isso o levará a construir uma prática de re- • Tradições metodológicas, possibilidades reais dos
flexão professores;
• Meios e condições físicas existentes.
As modalidades de reflexão sobre a prática estão ar-
ticuladas à ideia de documentação (registro escrito; gra- • Num modelo em que a aula se configura como
vação em vídeo). A documentação permite trazer a prá- um microssistema definido por determinados espaços,
tica para os espaços de discussão e reflexão, ampliando a uma organização social, certas relações interativas, forma
possibilidade de contato com a realidade da sala de aula e de distribuir o tempo e um determinado uso de recursos
construindo uma metodologia de tematização da prática didáticos, numa interação entre todos os elementos.
apoiada em diferentes suportes de registros. • Ao momento em que se produzem os processos
educacionais, ela tem um antes e um depois: o planeja-
mento e a avaliação dos processos educacionais.
109
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
• Dentro de um modelo de percepção da realidade • Tudo que se tem que aprender para alcançar de-
da aula, onde estão estreitamente vinculados o planeja- terinados objetivos:
mento, a aplicação e a avaliação, teremos que delimitar a • Devemos falar de conteúdos de natureza variada:
unidade de análise que representa este processo, ou seja, a dados, habilidades técnicas, atitudes, conceitos, etc.
atividade ou tarefa. Por exemplo: uma exposição, um de- • Coll propõe a classificação dos conteúdos em:
bate, uma leitura, uma pesquisa bibliográfica. a) conceituais – englobam: fatos, conceitos, princípios
- Atividades ou tarefas → unidade básica do proces- (“O que se deve saber”);
so de ensino/aprendizagem, cujas diversas variáveis apre- b) procedimentos: dizem respeito a técnicas e métodos
sentam estabilidade e diferenciação: relações interativas (“O que se deve saber fazer”);
professor-aluno, e alunos, alunos; uma organização grupal, c) Atitudinais: abrangem valores, atitudes, normas
determinados conteúdos de aprendizagem, certos recur- (“Como se deve ser”).
sos didáticos, distribuição de tempo e de espaço, um cri- - Não é possível ensinar nada sem partir de uma idéia
tério avaliador. de como as aprendizagem se produzem (conhecer as teo-
- Atividades ou tarefas são insuficientes para propor- rias).
cionar uma análise dos diferentes estilos pedagógicos, é - As formas de intervenção devem levar em conta
preciso ampliar esta unidade elementar e identificar como a diversidade dos alunos, identificando o desafio de que
nova unidade de análise, as sequências de atividades ou necessitam, a fim de que se sintam estimulados em seu
sequências didáticas, que permitem a avaliação sob uma trabalho.
perspectiva processual, incluindo as fases de planejamento,
aplicação e avaliação. - O Construtivismo
- Desde o modelo aula magistral ( com a sequência: • Estruturas cognitivas – esquemas de conhecimen-
apontamentos ou manual, prova, qualificação) até o méto- to.
do de projetos (escolha do tema, planejamento, pesquisa...) • Esquemas de conhecimentos depende: - nível de
têm como elementos indicador as atividades, que só ad- desenvolvimento e – conhecimentos prévios.
quirem personalidade diferencial conforme sua organiza-
• Papel ativo do aluno e do professor → atividade
ção em sequências ordenadas.
mental → sucessivos equilíbrio, desequilíbrio e requilibrio.
• Zonas de desenvolvimento proximal.
- As variações Metodológicas da Intervenção na
• Na perspectiva construtivistas, as atividades de
aula
ensino têm que integrar ao máximo os conteúdos e por
1 – Sequências de atividades – maneiras de encadear e
mais específico que seja, sempre está associado a conteú-
articular as diferentes atividades ao longo de uma unidade
dos de outra natureza.
didática.
- Indicam a função que tem cada uma das atividades.
• Aprendizagem dos conteúdos atuais:- fatos, co-
2 – O papel dos professores e alunos ou alunos/alunos nhecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e
→ clima de convivência de acordo com as necessidades de singulares, conhecimento estes indispensáveis para com-
aprendizagem. preender informações e problemas.
3 – Organização social da aula – grandes grupos, gru- • Ensino baseado em exercícios de repetição me-
pos fixos e variáveis contribuem para o trabalho coletivo e diante organizações significativas ou associações.
pessoal. • Aprendizagem de princípios e conceitos – Termos
4 – Utilização dos espaços e do tempo – concretizam as abstratos
diferentes formas de ensinar. - Ex de princípios:- leis, regras
5 – Organização dos conteúdos – provém da própria - Ex de conceitos – densidade, impressionismo
estrutura formal das disciplinas e formas organizativas glo- - Implica em compreensão que vai além dos enuncia-
bais e integradoras. dos.
6 – Uso dos materiais curriculares – importância que - Característica dos conteúdos conceituais – não estar
adquirem nas diferentes formas de intervenção (nas expo- acabado
sições, experimentação). - Processo de elaboração pessoal requerem compreen-
7 – Sentido e papel da avaliação – entendida no seu são do significado.
sentido restrito de controle de resultados, como na con- • Aprendizagem dos conteúdos procedimentais:-
cepção global do processo de ensino/aprendizagem. destreza ou habilidades
- É um conjunto de leis ordenadas e com um fim.
- A Função Social – finalidade (por que ensinar) - Ex:- ler, desenhar, calcular, traduzir.
· São colocadas as intenções educacionais, o que pre- - São ações ou conjuntos de ações, que são o ponto
tendemos que nossos alunos consigam; de partida.
· C. Coll estabelece um agrupamento de capacidade: - Só se aprende fazer, fazendo e pela exposição do
cognitivas, motoras, autonomia pessoal (afetiva), de rela- professor
ção interpessoal e de inserção e atuação social. - É exercitação múltipla, refletindo sobre a atividade
- Os conteúdos – explicam as intenções educativas ( o (atuação).
que ensinar) - É preciso aplicá-los em contextos diferenciados.
110
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Organização da Classe em equipes móveis e flexíveis • As disciplinas com organizadoras dos conteúdos.
• A fragmentação do saber e a diversificação do sa-
• Atender as características diferencias dos alunos; ber em múltiplas disciplinas;
• Oportunidade de atenção personalidade do pro- • Podemos estabelecer três graus de relações dis-
fessor ao grupo; ciplinares:-
• Período de tempo dos agrupamentos é limitado; 1-) a multidiciplinaridade – conteúdos apresentados
• Eles poderão ser algumas vezes homogêneos e por matérias independentes uma das outra;
outras heterogêneos; 2-) a interdisciplinaridade – interação entre dias ou
• São adequados aos conteúdos procedimentais mais disciplinas, integrando os conceitos idéias, metodo-
(matemática, artes) logia;
3-) a transdicciplinaridade – integração global, dentro
Trabalho individual de um sistema totalizador.
• É oportuno porque a aprendizagem em última ins-
tância é sempre uma apropriação pessoal; OS MATERIAIS CURRICULARES E OUTROS RECUR-
• Ele será efetivo, uma vez entendido o conceito, SOS DIDÁTICOS
realize atividades e exercícios que permitirão ampliar, de-
talhar, recordar, e reforça ou que foi aprendido; • São aqueles que proporcionam ao educador refe-
• É útil para memorização de fatos, para aprofunda- rências e critérios para tomar decisões, no planejamento e
mentos de conceitos e para maioria dos conteúdos proce- na intervenção no ensino e na avaliação;
dimentos em que se deve adaptar o ritmo e a proposição • Podem ser tipicados conforme;-
de atividades às características dos alunos. 1-) o âmbito de intervenção (planejamento da aula,
• Os Contratos de Trabalho (Freinet) – consiste em grupo, classe, individual);
facilitar a tarefa do professor. O aluno faz um acordo com o 2-) a intecionalidade da função (orientar, exemplificar,
professor. É imprescindível contar com materiais prepara- ilustrar);
dos e que as atividades sejam sequenciadas e progressivas.
3-) os conteúdos e as maneiras de organizá-los (inte-
(Número de atividades que deveram fazer).
gradoras, globalizadoras, conteúdos procedimentos, con-
ceituais);
Distribuição do tempo e do espaço
4-) suporte (quadro negro, papel, cadernos, fichas, livro
didático)
• Distribuição tradicional
Observação:- Quanto aos conteúdos atitudinais, não
• Os cantos e as pequenas oficinas, bibliotecas, sala
existem suportes a serem usados comprofusão, a não ser o
ambiente;
vídeo e os textos.
• Prédios grandes, são radicalmente contrários as
propostas educativas pois é impossível promover determi-
nadas atitudes, ou um bom clima afetivo onde não podem • Criticas ao livro didático e materiais curriculares:-
se sentir seguros, no anonimato. • Esteriótipos culturais;
A distribuição do tempo não é o menos importante. • Proposições vinculadas a determinadas correntes
• Devem variar de acordo com as atividades previs- ideológicas;
tas e necessidades educacionais. • Não podem oferecer toda informação necessária
para garantir a comparação;
A ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS • Fomentam atitudes passivas do aluno;
• Impedem o desenvolvimento de propostas mais
• Diz respeito a relação e a forma de veicular os di- próximas da realidade;
ferentes conteúdos conteúdos de aprendizagem que for- • Não favorecem a comparação entre realidade e
mam as unidades didáticas ensino escolar;
• Podemos encontrar propostas que rompem com a • Não respeitam a forma nem o ritmo de aprendiza-
organização centrada por disciplinas (propostas metodoló- gem do aluno (uniformização do ensino)
gicas globalizadoras). • Fomentam as estratégias de memorização
• Nos métodos globalizados as disciplinas nunca
são a finalidade do ensino, elas têm a função de proporcio- Observação:- Proceder a busca de referências e crité-
nar os meios ou instrumentos para realização dos objetivos rios para análise e confecção dos materiais curriculares.
educacionais; • Projeção estática (retroprojetor, slides) suporte e
• Nos métodos globalizados a organização se rea- elementos esclarecedores de muitas idéias e facilitam o
liza a partir da perspectivas de como os alunos aprendem; diálogo, ajudam a centrar a atenção, mas é preciso não pe-
- Nascem quando o aluno se transforma em protago- car pelo excesso de uso.
nista do ensino. • Imagem de movimento – (filmes, gravações de
- Ex;- centros de interesse, projetos, investigações do vídeo).
meio, projetos de trabalho (todos partem de uma situação • Atuam como suporte nas exposições e como fonte
real). de informação.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
• É importante ir gerando e cortando, para estabe- II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
lecer com a classe o pensamento, a arte e o saber;
• Suporte de Informática:- III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas,
• Possibilidade de estabelecer um diálogo mais ou e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
menos aberto entre o programa e o aluno: IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
• Permite fazer simulações de técnicas e procedi- tos oficiais;
mentos; V - valorização dos profissionais da educação escolar,
• Contribui para formação de conceitos. garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
• Suporte Multimídia:- so exclusivamente por concurso público de provas e títulos,
• Uso do disc laser, CDI ou CD-ROM (interessante aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Cons-
ver a disposição) banco de dados de fácil acesso. titucional nº 53, de 2006)
Conclusão:- A existência de materiais curriculares di- VI - gestão democrática do ensino público, na forma
versificados facilitará a elaboração de propostas singulares. da lei;
A pertinência dos materiais estará determinada pelo uso VII - garantia de padrão de qualidade.
que se faça deles, nos diferentes contextos educativos. VIII - piso salarial profissional nacional para os profis-
sionais da educação escolar pública, nos termos de lei fe-
A AVALIAÇÃO deral. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
• Não deve se limitar somente a avaliação do aluno, Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de
mas também o grupo / classe, inclusive o professor ou a trabalhadores considerados profissionais da educação bá-
equipe docente, o processo de ensino é a própria forma sica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou ade-
de avaliação. quação de seus planos de carreira, no âmbito da União,
• A avaliação inicial (diagnóstica); dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluí-
• A avaliação reguladora (como cada aluno apren- do pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
de) modificação e melhora contínua do aluno; Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá-
• A avaliação integradora (todo percurso do aluno) tico-científica, administrativa e de gestão financeira e pa-
informe global do processo; trimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade
• A avaliamos para o aperfeiçoamento da prática entre ensino, pesquisa e extensão.
educativa; § 1º É facultado às universidades admitir professores,
• Compartilhar objetivos – condições para avaliação técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído
formativa; pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
• A informação dos resultados de aprendizagem. § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições
de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda
Fonte: http://simboraestudar.blogspot.com/2015/07/ Constitucional nº 11, de 1996)
resumo-pratica-educativa-como-ensinar.html Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti-
vado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclu-
sive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tive-
DOCUMENTOS OFICIAIS E LEGISLAÇÃO ram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional
FEDERATIVA DO BRASIL. PROMULGADA EM nº 59, de 2009)
05 DE DEZEMBRO DE 1988. ART. 205 AO 214. II - progressiva universalização do ensino médio gra-
tuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de
1996)
III - atendimento educacional especializado aos por-
CAPÍTULO III tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO de ensino;
Seção I IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crian-
DA EDUCAÇÃO ças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emen-
da Constitucional nº 53, de 2006)
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Esta- V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
do e da família, será promovida e incentivada com a cola- e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua condições do educando;
qualificação para o trabalho. VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos se- educação básica, por meio de programas suplementares
guintes princípios: de material didáticoescolar, transporte, alimentação e as-
I - igualdade de condições para o acesso e permanên- sistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucio-
cia na escola; nal nº 59, de 2009)
113
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
30 de março de 2007, foi promulgado após aprovação no sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos,
Congresso Nacional nos moldes da Emenda Constitucional e observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen-
nº 45/2004, tendo força de norma constitucional e não de tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian-
lei ordinária. A preocupação com o direito da pessoa porta- ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida-
dora de deficiência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a de compreende a primazia de receber proteção e socorro
lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de
dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública
de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado (alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das
às pessoas portadoras de deficiência”. políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi-
A proteção especial que decorre do princípio da prio- legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se, proteção à infância e à juventude (alínea “d”).
ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227: Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo-
“A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora- vem representa incumbência atribuída não só ao Estado,
ção sexual da criança e do adolescente”. mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se
Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo
de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da em vista que só se costuma colocar o Estado como obser-
Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso
Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi- também compete à família e à sociedade.
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste Nesta frequência, o direito à proteção especial abran-
sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
sobre a adoção. - A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao
A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de
Constituição anterior e do até então vigente Código Civil aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al-
de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98);
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
(inciso II);
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de-
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e
signações discriminatórias relativas à filiação”.
jovem à escola (inciso III);
Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri-
mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á
buição do ato infracional, igualdade na relação processual
em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a
e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis-
adoção de práticas de assistência social, com recursos da
puser a legislação tutelar específica (inciso IV);
seguridade social, em prol da criança e do adolescente. - A obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de-
estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a re- senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
gular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juven- privativa de liberdade (inciso V);
tude, de duração decenal, visando à articulação das várias - O estímulo do Poder Público, através de assistência
esferas do poder público para a execução de políticas pú- jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
blicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles-
o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos cente órfão ou abandonado (inciso VI);
jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de - Programas de prevenção e atendimento especializa-
juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
Mais informações sobre a Política mencionada no inciso II entorpecentes e drogas afins (inciso VII).
e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Cons-
que direcionam a implementação dela podem ser obtidas tituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”,
na rede2. ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação do ca-
Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun- samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali-
damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e do ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com relativas à filiação.
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig- mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en-
negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda- quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan-
de e opressão. tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo”
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis-
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada criminação designatória.
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe assegu- Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
rar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
2 http://www.juventude.gov.br/politica educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever
116
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en- da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo
fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos Internacional de Emergência das Nações Unidas para as
peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as
aos filhos. crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início
Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi- da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon-
tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227, der às necessidades das crianças e das mães nos países em
da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma-
o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial-
jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du- mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia,
ração decenal, visando à articulação das várias esferas do América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se
poder público para a execução de políticas públicas (inciso Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a
II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010, sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF.
somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas
aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen- documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica
do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula- peculiar da criança, já estudados neste material.
mentação infraconstitucional. No Brasil, no final do século XIX e início do século XX,
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e
Evolução histórica Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se-
Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posição guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo
de inferioridade, tida como um ser irracional, sem capaci- a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância
dade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de marco Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
da cultura grega, que enxergava apenas poucos homens de meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo
posses como cidadãos. Estes homens concentravam para Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. Devido ao pátrio fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado
poder, o pai de família concentrava em suas mãos plena aos menores (na prática, eram tratados como criminosos
possibilidade de gerir a vida das crianças e adolescentes comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar
e estes não tinham nenhuma possibilidade de participar do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge
destas decisões. Na Idade Média se manteve o sistema do novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo ob-
“pátrio poder”. As crianças eram submetidas ao absoluto jeto era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes
poder do pai e seus destinos seguiam a mesma sorte. em situação irregular. Na década de 80 começa um mo-
A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o vimento de reelaboração da concepção de infância e ju-
Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira- ventude. O destaque repercute na Constituição Federal de
mente da margem social. A moral da época passa a impor 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990,
aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a educa- que revogou o Código de Menores e substituiu a doutrina
ção costumava ser oferecida apenas aos homens. Aqueles da situação irregular pela doutrina da proteção integral3.
que possuíam melhores condições enviavam seus filhos
para estudarem nas universidades que começavam a des-
Relações jurídicas no direito da criança e do ado-
pontar na Europa, aqueles que possuíam condições piores
lescente
ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes jovens.
Já as meninas permaneciam marginalizadas das atividades
“As relações jurídicas são formas qualificadas de re-
educacionais e profissionalizantes, apenas lhes era ensina-
lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre
do como desempenhar atividades domésticas.
pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu-
Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque,
a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial- lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do
mente os modos e métodos de produção, a criança e o Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa
adolescente passam a ocupar papel central na sociedade, a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva- centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, a
lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten-
de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábricas, ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre,
então movidas predominantemente a carvão. Foi apenas criar uma doutrina da proteção integral não somente para
com a emergência da Organização Internacional do Tra- a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda
balho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou uma em desenvolvimento, posto que, somente com o término
consciência a respeito da necessidade de se limitar a parti- da adolescência é que o menor completará o processo de
cipação das crianças e adolescentes no espaço de trabalho. aquisição de mecanismos mentais relacionados ao pensa-
Este foi o estopim para o reconhecimento da condição es- mento, percepção, reconhecimento, classificação etc. [...]
pecial da criança e do adolescente. Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sabia-
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e
3 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Brandão; FUL-
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- LER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adolescente.
mento internacional dos direitos humanos e a fundação São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito)
117
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
mente, se preocupou em envolver não somente a família, adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado-
mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Estado, ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres-
para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deve- tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na
res sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam faixa etária inferior a 18 anos.
a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo
abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança 1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles-
e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral, cente não pode se restringir às situações de irregularidade,
todas as condições para que o mesmo possa desenvolver- o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger
-se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o
deficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solu- adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as-
ção apresentada pelo legislador foi incluir todos os seg- segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o
mentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento de adolescente caiam em irregularidade.
qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da pro- c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig-
teção integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação
Adolescente exige a participação de todos, sem qualquer de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional,
exceção”4. Com efeito, o objeto formal do direito da criança que possa se considerar compatível com os valores éticos,
e do adolescente é a proteção jurídica especial da criança notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar
e do adolescente. Já o objeto material é a própria criança em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo,
ou adolescente. colocar a pessoa humana como centro e norte para qual-
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração
Princípios da norma, seja na sua aplicação.
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou
Não se pode olvidar que os princípios sempre desem- plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana
penharam um importante papel social, mas foi somente na como o principal valor do ordenamento ético e, por con-
atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida- sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana
de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va- como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros própria exclusão de sua personalidade.
conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma5. Aponta Barroso7: “o princípio da dignidade da pessoa
Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente humana identifica um espaço de integridade moral a ser
fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já assegurado a todas as pessoas por sua só existência no
consolidados: a passagem dos princípios da especulação mundo. É um respeito à criação, independente da crença
metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela-
Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como
transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser- com as condições materiais de subsistência”.
ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es- numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na
fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos
proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará- direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de
ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo condições existenciais mínimas, a participação saudável e
de sua positividade e concretude por obra sobretudo das ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des-
Constituições; a distinção entre regras e princípios, como tilação dos valores soberanos da democracia e das liber-
espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por dades individuais. O processo de valorização do indivíduo
expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná- articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem
rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in-
e preeminência dos princípios6. dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen-
No campo do direito da criança e do adolescente, al- tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima-
guns princípios assumem destaque, entre eles: gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro-
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com teção especial consistente em indenização por dano moral
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e decorrente de sua violação”8.
4 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas decorrentes do Esta- 7 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constitui-
tuto da Criança e do Adolescente. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. ção. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382.
70, nov. 2009. 8 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista n.
5 Ibid., p.327. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani de Fon-
6 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. São tan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em: www.
Paulo: Malheiros, 2011, p. 294. tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
118
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Para Reale9, a evolução histórica demonstra o domínio competências nas diferentes idades. É de conhecimento
de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma de todos que a criança nasce totalmente dependente de
ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores cuidados alheios e que passa por um processo de desen-
fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte volvimento progressivo que a leva a alcançar a completa
é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de independência na maturidade, o que, nas sociedades mo-
Reale10: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a dernas, se situa por volta dos vinte anos de idade.
pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho- Entretanto, para que este processo de análise de sua
mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo autonomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmen-
entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais te centrado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser
da mesma espécie. O homem, considerado na sua objeti- humano, o primeiro ponto a ser considerado é a necessida-
vidade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido de de abdicar de alguns conceitos preestabelecidos, como
de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho- é o caso da atitude paternalista. [...]
mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve O segundo ponto a considerar neste percurso, em ge-
ser, pondo-se essencialmente como razão determinante ral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mes-
do processo histórico”. mo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade os menores a uma mesma condição: a de incapacidade,
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli- criando a necessidade de se ter figuras aptas a decidir e
ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada responder por eles, como se estas figuras fossem sempre e
membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma- inevitavelmente imbuídas das melhores intenções em rela-
nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais ção à criança e ao adolescente.
e confere a eles posição hierárquica superior às normas No entender de Kopelman, para que toda esta legisla-
organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que ção fosse realmente válida seria necessário definir melhor,
está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus de maneira bem precisa, o que se entende por um padrão
membros, e não o inverso. mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os interes-
d) Princípio da participação popular: previsto no ar- ses da criança ou do adolescente, de modo que a definição
tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par- não fique em aberto para a interpretação de quem detém
ticipação popular, através de organizações representativas, o poder de decidir em nome deles. Além disso, estas defi-
na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância nições deveriam estar em constante revisão, para que não
e à juventude. acabem sendo ultrapassadas, frente à evolução histórico-
e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo -social dos fatos que geraram a necessidade de sua criação.
227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me- Superados estes dois pontos, que apesar de potencial-
dida privativa de liberdade esta não será imposta a não mente limitantes do processo de discussão da autonomia
ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma da criança e do adolescente não podem ser simplesmente
outra medida sócio-educativa possa ser utilizada. ignorados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e
f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º, mais importante: a interpretação do conceito de autono-
V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati- mia à luz do momento de desenvolvimento em que uma
va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo determinada criança ou adolescente se encontra.
ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo Nesse sentido, diversas características do desenvolvi-
necessário para a ressocialização do adolescente. No caso, mento devem ser levadas em consideração:
o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra- 1. Trata-se de um processo que evolui continuamente
zo máximo de 3 anos. à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capaci-
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de- dades são adquiridas, novas vivências são acumuladas e
senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro- integradas e, portanto, passível de rápidas e extremas mu-
cesso de formação e de transformação física e psíquica, danças no tempo;
logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei- 2. A aquisição das competências é progressiva, não se
tada quando da aplicação da lei. dá saltos, como se se tratasse de compartimentos estan-
ques, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo,
Autonomia da criança e do adolescente portanto, razoavelmente previsível;
3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone11 em processa são muito individualizados, fazendo com que dois
que reflete sobre a construção da autonomia do infante: indivíduos de uma mesma idade possam estar em momen-
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia tos diferentes de desenvolvimento;
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-
conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
9 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002,
cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
p. 228.
10 Ibid., p. 220.
evolução extremamente individualizada.
11 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a autonomia. Revista Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamen-
Bioética, v. 6, n. 1. to concreto estendendo-o à compreensão do outro e às
119
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
possíveis consequências de boa parte dos seus atos se real interesse que está em jogo é o da criança, mas sim o
aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida. dos responsáveis por ela, clarificam que não há uma única
Este amadurecimento se completa na adolescência, com a resposta ou solução mágica, perfeita, para a questão da
capacidade crescente de abstração que a criança desenvol- autonomia da criança e do adolescente.
ve nesta fase da existência. Como consequência, é possível Na realidade, o que deve existir é a construção conjun-
admitir que é na segunda fase da adolescência, em geral a ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no
partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as competên- crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais
cias necessárias para o exercício de sua autonomia, com- ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin-
petências estas que necessitariam apenas serem lapidadas cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um
ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida. processo de interação franco, sincero, isento e realmente
Entretanto, isto não significa que a autonomia da crian- participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer
ça e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a que seja o nível de competência que a criança ou o adoles-
partir desta fase. cente estejam apresentando para tal”.
Compete ao pediatra e aos demais profissionais de
saúde, utilizando suas competências profissionais, definir Imputabilidade penal
já desde os primeiros anos de vida em que etapa a criança
se encontra ao longo do seu processo evolutivo, tentando Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno-
diferenciar se se está diante de uma tomada de decisão res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação es-
ditada apenas pelo receio do desconhecido, por um capri- pecial.
cho ou vontade decorrente apenas de sua visão egocên-
trica, natural em determinadas idades, ou se a mesma já é O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis
o resultado de uma reflexão mais amadurecida. São estes os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis-
extremos que dão a entender a ampla gama de estágios de lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no
desenvolvimento, portanto de autonomia, que entre eles rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma
podem se apresentar. [...] emenda constitucional que alterasse a menoridade penal.
Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao Inclusive, há projetos de lei neste sentido.
se utilizar definições bastante precisas como estas é o de
acabar classificando um indivíduo de maneira dicotômica, Comentários à lei
no caso específico da autonomia, como sendo capaz ou
incapaz, desistindo assim de uma possível análise de sua Parte geral
real capacidade. Título I
Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das Das Disposições Preliminares
características anteriormente citadas não deve ser utilizada
para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz. Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa criança e ao adolescente.
tentar entender como suas decisões se originaram. O princípio da proteção integral se associa ao princípio
Em face de situações específicas, individualizadas, da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA
como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio
única forma que o profissional tem de realmente respeitar tem-se também a positivação da proteção integral, que se
a autonomia da criança ou do adolescente. opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular,
A interpretação adequada da legislação e o dimen- que era prevista no antigo Código de Menores e espe-
sionamento correto da decisão dos pais ou responsáveis cificava que sua incidência se restringia aos menores em
dependerão fundamentalmente deste tipo de análise da situação irregular, apresentando um conjunto de normas
autonomia da criança ou adolescente. Deste modo, mes- destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”12.
mo que resulte em situações de conflito entre as posições, Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
servirá de embasamento para um trabalho, muitas vezes lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
exaustivo, de apresentação, de reflexão e de discussão de criança e do adolescente que apenas abordasse situações
argumentos e fatos, capaz de conduzir a uma decisão ama- em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
durecida e o mais isenta possível, que, respeitando a po- como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
sição da criança ou do adolescente, poderá efetivamente nos casos de atos infracionais.
redundar em seu benefício. Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
No leque das diferentes situações da prática pediá- uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
trica, que se estende desde o recém-nascido no limite de lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos de ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
validade questionável naquelas circunstâncias, passando o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
pelas pesquisas científicas que envolvem crianças e ado-
lescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence a pais 12 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Brandão; FUL-
adolescentes, portanto autônomos nas decisões que lhes LER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e do Adolescente.
dizem respeito, todas estas situações, onde nem sempre o São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito)
120
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos
aquela entre doze e dezoito anos de idade. adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun-
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se damentais em espécie, abordando-os na vertente da con-
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e dição especial dos que pertencem a este grupo.
vinte e um anos de idade. As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di-
O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate- reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de
gorizar separadamente estas duas categorias de menores. todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II
Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre
de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado- eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida-
lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura,
aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho.
excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga-
21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to-
sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos dos os direitos humanos e fundamentais que as demais
e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar
até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o especificidades acerca de algumas das categorias de direi-
tempo máximo de internação). tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente.
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des-
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di- taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple-
reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian-
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu- ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de
rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor- discriminação.
tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen-
volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros
condições de liberdade e de dignidade. dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre-
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli- sença de um tríplice sistema de garantias.
cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi- Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota
nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, uma estrutura que contempla três sistemas de garantia –
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal primário, secundário e terciário.
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição políticas públicas de atendimento de crianças e adolescen-
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em tes.
que vivem.
O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie-
criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza- dade em geral e do poder público assegurar, com abso-
ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve. luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,
Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles- liberdade e à convivência familiar e comunitária.
cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen-
necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi- de:
nha ela nada faz. a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
A implementação na prática dos direitos da criança e quer circunstâncias;
do adolescente depende da adoção de posturas por parte b) precedência de atendimento nos serviços públicos
de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto: ou de relevância pública;
Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente c) preferência na formulação e na execução das po-
no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele líticas sociais públicas;
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à pe- d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
culiar condição do infante. áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idên-
dições suficientemente próprias de promoção e concreti- tico ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma
zação de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do dog- das principais diretrizes do direito da criança e do adoles-
matismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O Direito cente que é o princípio da prioridade absoluta. Significa
da Criança e do Adolescente enquanto ramo autônomo que cada criança e adolescente deve receber tratamento
do direito é responsável por ressignificar a atuação estatal, especial do Estado e ser priorizado em suas políticas pú-
principalmente no campo das políticas públicas e impõe blicas, pois são o futuro do país e as bases de construção
corresponsabilidades compartilhadas”13. da sociedade.
13 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=2236
121
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Explica Liberati14: “Por absoluta prioridade, devemos Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante
entender que a criança e o adolescente deverão estar em neste material.
primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes; c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as
devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas to- medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização
das as necessidades das crianças e adolescentes [...]. Por penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18
absoluta prioridade, entende-se que, na área administra- anos que comete atos infracionais.
tiva, enquanto não existirem creches, escolas, postos de Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian-
saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes te neste material.
dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, O sistema tríplice deve operar de forma harmônica,
construir praças, sambódromos monumentos artísticos com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa-
etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema
são importantes que as obras de concreto que ficam par a primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das
demonstrar o poder do governante”. políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema
O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência secundário, operado predominantemente pelo Conselho
da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con- Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir
ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre-
diante de situações de perigo e risco (como no salvamento dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços
públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo). Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que qualquer forma de negligência, discriminação, explora-
favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da
reservados recursos próprios prioritariamente a eles. lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen- O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA:
to: proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis-
I - políticas sociais básicas; criminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
II - serviços, programas, projetos e benefícios de as- Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza-
sistência social de garantia de proteção social e de preven- ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res-
ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es-
ou reincidências; feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por
III - serviços especiais de prevenção e atendimento crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra- contra criança e adolescente, bem como respondendo por
tos, exploração, abuso, crueldade e opressão; atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem
IV - serviço de identificação e localização de pais, um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde-
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que
dos direitos da criança e do adolescente. o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon-
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime
abreviar o período de afastamento do convívio familiar jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car-
e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência gos, empregos e funções públicos.
familiar de crianças e adolescentes;
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta
forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades condição peculiar da criança e do adolescente como pes-
específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de ir- soas em desenvolvimento.
mãos.
O artigo 87 descreve linhas de ação na política de É pacífico que o processo de interpretação hoje faz
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da parte do Direito, principalmente se considerada a constan-
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção te evolução da sociedade, demandando diariamente por
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- novos modos de aplicação das normas. Como a sociedade
ros para execução de tais políticas. é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a ele ade-
quar-se às novas exigências sociais, aplicando-se da ma-
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- neira mais justa à vasta gama de casos concretos. Sobre a
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- interpretação, explica Gonçalves15: “Quando o fato é típico
lescente em situação de risco pessoal ou social. e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da nor-
ma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há casos, no entanto,
14 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do Adolescen- 15 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 9. ed. São
te: Comentários. São Paulo: IBPS. Paulo: Saraiva, 2011, v. 1.
122
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
em que tal enquadramento não ocorre, não encontrando o V - participar da vida familiar e comunitária, sem
juiz nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve, discriminação;
então, proceder à integração normativa, mediante o em- VI - participar da vida política, na forma da lei;
prego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
direito. [...] Para verificar se a norma é aplicável ao caso em O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de
julgamento (subsunção) ou se deve proceder à integração liberdade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e
normativa, o juiz procura descobrir o sentido da norma, in- política. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito:
terpretando-a. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance liberdade para brincar e divertir-se e liberdade para bus-
da norma jurídica”. car refúgio, auxílio e orientação, processos estes essenciais
A hermenêutica possui 3 categorias de métodos. para o desenvolvimento do infante.
Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal, de da integridade física, psíquica e moral da criança e
examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ou do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
racional, apurando o sentido e a finalidade da norma; sis- identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
temática, analisando a lei de maneira comparativa com ou- espaços e objetos pessoais.
tras leis pertencentes à mesma província do Direito (livro,
título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
na verificação dos antecedentes do processo legislativo; criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
sociológica, adaptando o sentido ou finalidade da nor- tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
ma às novas exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto rio ou constrangedor.
aos resultados pode ser declarativa, quando o texto legal Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a
corresponde ao pensamento do legislador; extensiva ou proteção da criança e do adolescente em todas facetas de
ampliativa, quando o alcance da lei é mais amplo que o in- sua integridade: física, psíquica e moral.
dicado pelo seu texto; e restritiva, na qual se limita o cam-
po de aplicação da lei. Nenhum destes métodos se opera Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
isoladamente16. educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex- tratamento cruel ou degradante, como formas de corre-
pressa o método de interpretação sociológico, chamando ção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
atenção à interpretação da lei levando em conta os seus pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos
fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de- responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas
veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de
em conta a condição peculiar da criança e do adolescente. cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou
extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais punitiva aplicada com o uso da força física sobre a
sempre se deve atentar. criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
Capítulo II b) lesão;
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou
forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao ado-
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- lescente que:
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas a) humilhe; ou
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos b) ameace gravemente; ou
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas c) ridicularize.
leis.
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
ao adolescente que são especificados e aprofundados no os responsáveis, os agentes públicos executores de medi-
ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dignida- das socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de
de. cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los
ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes cruel ou degradante como formas de correção, disciplina,
aspectos: educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas,
comunitários, ressalvadas as restrições legais; que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
II - opinião e expressão; I - encaminhamento a programa oficial ou comuni-
III - crença e culto religioso; tário de proteção à família;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
16 Ibid. psiquiátrico;
123
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
124
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Admi- IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
nistrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) proposta orçamentária para planos e programas de atendi-
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração mento dos direitos da criança e do adolescente;
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo Constituição Federal;
de escolha. XI - representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgota-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho das as possibilidades de manutenção da criança ou do ado-
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: lescente junto à família natural;
I - reconhecida idoneidade moral; XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
II - idade superior a vinte e um anos; pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
III - residir no município. reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
adolescentes.
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o
local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu- Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con-
telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos mem- vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
bros, aos quais é assegurado o direito a: Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
I - cobertura previdenciária; entendimento e as providências tomadas para a orientação,
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 o apoio e a promoção social da família.
(um terço) do valor da remuneração mensal;
III - licença-maternidade; Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
IV - licença-paternidade; derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
V - gratificação natalina. quem tenha legítimo interesse.
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária munici-
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
formação continuada dos conselheiros tutelares. LEI N.º 9.394/1996. LDB – ESTABELECE
AS DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro NACIONAL.
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun-
ção de idoneidade moral.
125
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
126
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi- der público e que tenha possibilidade de se manter inde-
co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri- pendentemente de auxílio estatal, embora exista previsão
gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui- de tais auxílios em circunstâncias determinadas descritas
da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as no artigo 213, CF.
prioridades constitucionais e legais.
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste TÍTULO IV
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, Da Organização da Educação Nacional
na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal,
sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspon- Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
dente. Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade compe- respectivos sistemas de ensino.
tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional
poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade exercendo função normativa, redistributiva e supletiva
de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de em relação às demais instâncias educacionais.
acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemen- § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
te da escolarização anterior. zação nos termos desta Lei.
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a Art. 9º A União incumbir-se-á de:
matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola-
(quatro) anos de idade. boração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas ções oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios;
as seguintes condições: III - prestar assistência técnica e financeira aos Es-
I - cumprimento das normas gerais da educação nacio-
tados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
nal e do respectivo sistema de ensino;
volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento
II - autorização de funcionamento e avaliação de quali-
prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função
dade pelo Poder Público;
redistributiva e supletiva;
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o pre-
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis-
visto no art. 213 da Constituição Federal.
trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em eta-
médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni-
pas a formação escolar, nos seguintes termos:
- A educação básica é obrigatória e gratuita. Envolve mos, de modo a assegurar formação básica comum;
a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio. A IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
educação infantil deve ser garantida próxima à residência. Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimen-
Com efeito, existe a garantia do direito à creche gratuita. tos para identificação, cadastramento e atendimento, na
No mais, pessoas fora da idade escolar que queiram com- educação básica e na educação superior, de alunos com al-
pletar seus estudos têm direito ao ensino fundamental e tas habilidades ou superdotação;
médio. V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
- A educação superior envolve os níveis mais elevados educação;
do ensino, da pesquisa e da criação artística, devendo ser VI - assegurar processo nacional de avaliação do
acessível conforme a capacidade de cada um. rendimento escolar no ensino fundamental, médio e supe-
- Neste contexto, devem ser assegurados programas rior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivan-
suplementares de material didático-escolar, transporte, ali- do a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do
mentação e assistência à saúde. ensino;
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
ensino básico e assegura a possibilidade de se buscar judi- e pós-graduação;
cialmente a garantia deste direito em caso de negativa pelo VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
poder público. Será possível fazê-lo por meio de mandado instituições de educação superior, com a cooperação dos
de segurança ou ação civil pública. Além da judicialização sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
para fazer valer o direito na esfera cível, cabe em caso de ensino;
negligência o acionamento na esfera penal, buscando-se a IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar
punição por crime de responsabilidade. e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
efetuar a matrícula da criança. ensino.
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do en- § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
sino particular, desde que sejam respeitadas as normas da cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
educação nacional, autorizado o funcionamento pelo po- são e atividade permanente, criado por lei.
127
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
IX, a União terá acesso a todos os dados e informações II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu- financeiros;
cacionais. III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão -aula estabelecidas;
ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
mantenham instituições de educação superior. cada docente;
V - prover meios para a recuperação dos alunos de
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: menor rendimento;
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
ções oficiais dos seus sistemas de ensino; criando processos de integração da sociedade com a escola;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre-
a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe-
com a população a ser atendida e os recursos financeiros cução da proposta pedagógica da escola;
disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
III - elaborar e executar políticas e planos educacio- competente da Comarca e ao respectivo representante do
nais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais Ministério Público a relação dos alunos que apresentem
de educação, integrando e coordenando as suas ações e as quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do
dos seus Municípios; percentual permitido em lei.
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e ava- IX - promover medidas de conscientização, de prevenção
liar, respectivamente, os cursos das instituições de educação e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;
V - baixar normas complementares para o seu sistema X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura
de paz nas escolas.
de ensino;
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
estabelecimento de ensino;
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
estadual.
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
competências referentes aos Estados e aos Municípios. IV - estabelecer estratégias de recuperação para os
alunos de menor rendimento;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissio-
às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; nal;
II - exercer ação redistributiva em relação às suas es- VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
colas; cola com as famílias e a comunidade.
III - baixar normas complementares para o seu siste-
ma de ensino; Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele- gestão democrática do ensino público na educação bá-
cimentos do seu sistema de ensino; sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
V - oferecer a educação infantil em creches e pré- seguintes princípios:
-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per- I - participação dos profissionais da educação na elabo-
mitida a atuação em outros níveis de ensino somente quan- ração do projeto pedagógico da escola;
do estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua II - participação das comunidades escolar e local em
área de competência e com recursos acima dos percentuais conselhos escolares ou equivalentes.
mínimos vinculados pela Constituição Federal à manuten-
ção e desenvolvimento do ensino. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede escolares públicas de educação básica que os integram pro-
municipal. gressivos graus de autonomia pedagógica e administra-
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, tiva e de gestão financeira, observadas as normas gerais
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor de direito financeiro público.
com ele um sistema único de educação básica.
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as I - as instituições de ensino mantidas pela União;
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in- II - as instituições de educação superior criadas e manti-
cumbência de: das pela iniciativa privada;
128
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
III - os órgãos federais de educação. de garantir a educação infantil e priorizar a educação fun-
damental. É possível, ainda, integrar educação municipal e
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Dis- estadual em um sistema único.
trito Federal compreendem: Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es-
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em in-
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; tegração com seus docentes. Este processo de interação
II - as instituições de educação superior mantidas pelo entre instituição e docente, bem como destes com a co-
Poder Público municipal; munidade local, é conhecido como gestão democrática.
III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
das e mantidas pela iniciativa privada; TÍTULO V
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fede- Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensi-
ral, respectivamente. no
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de CAPÍTULO I
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, Da Composição dos Níveis Escolares
integram seu sistema de ensino.
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen- I - educação básica, formada pela educação infantil,
dem: ensino fundamental e ensino médio;
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de II - educação superior.
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
II - as instituições de educação infantil criadas e manti- CAPÍTULO II
das pela iniciativa privada; DA EDUCAÇÃO BÁSICA
III - os órgãos municipais de educação. Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes ní-
veis classificam-se nas seguintes categorias administrativas: Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora- volver o educando, assegurar-lhe a formação comum in-
das, mantidas e administradas pelo Poder Público; dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis- meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé-
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua- ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância re-
drarão nas seguintes categorias: gular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas fí- forma diversa de organização, sempre que o interesse do
sicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem as processo de aprendizagem assim o recomendar.
características dos incisos abaixo; § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
II - comunitárias, assim entendidas as que são insti- quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais situados no País e no exterior, tendo como base as normas
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem curriculares gerais.
fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
representantes da comunidade; liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a cri-
III - confessionais, assim entendidas as que são insti- tério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais número de horas letivas previsto nesta Lei.
pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
IV - filantrópicas, na forma da lei. médio, será organizada de acordo com as seguintes regras
comuns:
A LDB estabelece um regime de colaboração entre as I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
entidades de ensino nas esferas federativas diversas, no en- horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
tanto, coloca competência à União de encabeçar e coorde- distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo tra-
nar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, descrito balho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de controle, quando houver; ;
autorizando funcionamento ou suspendendo-o, realizando II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
avaliação constante de desempenho, entre outros deveres. primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 esta- a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro-
belece o dever dos Estados de garantir a educação no en- veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
sino fundamental e priorizar a educação no ensino médio, b) por transferência, para candidatos procedentes de
ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos municípios outras escolas;
129
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
c) independentemente de escolarização anterior, me- em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifica-
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de da, exigida pelas características regionais e locais da socie-
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua dade, da cultura, da economia e dos educandos.
inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamen- § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran-
tação do respectivo sistema de ensino; ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão re- da matemática, o conhecimento do mundo físico e na-
gular por série, o regimento escolar pode admitir formas de tural e da realidade social e política, especialmente da
progressão parcial, desde que preservada a sequência do República Federativa do Brasil, observado, na educação in-
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de fantil, o disposto no art. 31, no ensino fundamental, o dis-
ensino; posto no art. 32, e no ensino médio, o disposto no art. 36.
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu- § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres-
nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adianta- sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
mento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, rio da educação básica.
artes, ou outros componentes curriculares;
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagó-
V - a verificação do rendimento escolar observará os se-
gica da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
guintes critérios:
cação infantil e do ensino fundamental, sendo sua prática
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os facultativa ao aluno:
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
de eventuais provas finais; seis horas;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos II - maior de trinta anos de idade;
com atraso escolar; III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- em situação similar, estiver obrigado à prática da educação
diante verificação do aprendizado; física;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou-
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- tubro de 1969;
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo V - (VETADO);
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições VI - que tenha prole.
de ensino em seus regimentos; § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma-
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do res- ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indí-
pectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de gena, africana e europeia.
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para § 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
aprovação; sexto ano, será ofertada a língua inglesa.
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir histó- § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
ricos escolares, declarações de conclusão de série e di- as linguagens que constituirão o componente curricular de
plomas ou certificados de conclusão de cursos, com as que trata o § 2o deste artigo.
especificações cabíveis. § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci- dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo
so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva, os temas transversais de que trata o caput.
no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo § 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
tituirá componente curricular complementar integrado à
anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obriga-
de 2 de março de 2017.
tória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e
adequado às condições do educando, conforme o inciso à prevenção de todas as formas de violência contra a
VI do art. 4º. criança e o adolescente serão incluídos, como temas trans-
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- versais, nos currículos escolares de que trata o caput deste
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho
alunos e o professor, a carga horária e as condições ma- de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada
teriais do estabelecimento. a produção e distribuição de material didático adequado.
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
à vista das condições disponíveis e das características regio- caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de-
nais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação
disposto neste artigo. e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
130
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este ar- superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, deve consi-
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que derar as matrizes indígena, africana e europeia como temas
caracterizam a formação da população brasileira, a partir transversais. Ainda em tal condição, cabe o aprendizado de
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos de todas as formas de violência contra a criança e o ado-
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e lescente. É obrigatório o estudo da história e cultura afro-
o negro e o índio na formação da sociedade nacional, res- -brasileira e indígena. Ainda, a educação deve considerar
gatando as suas contribuições nas áreas social, econômica as peculiaridades da zona rural quando nela for ministrada.
e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- Seção II
-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministra- Da Educação Infantil
dos no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística e de literatura e história brasi- Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa-
leiras. ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento inte-
gral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: ação da família e da comunidade.
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
comum e à ordem democrática; I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
II - consideração das condições de escolaridade dos até três anos de idade;
alunos em cada estabelecimento; II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
III - orientação para o trabalho; co) anos de idade.
IV - promoção do desporto educacional e apoio às prá-
ticas desportivas não-formais. Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
com as seguintes regras comuns:
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações ne- desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção,
cessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
de cada região, especialmente: II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) ho-
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas ras, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de
às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; trabalho educacional;
II - organização escolar própria, incluindo adequação do III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a
climáticas; jornada integral;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. IV - controle de frequência pela instituição de educação
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do por cento) do total de horas;
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que consi- V - expedição de documentação que permita atestar os
derará a justificativa apresentada pela Secretaria de Educa- processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
ção, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a mani-
festação da comunidade escolar. A educação infantil é ministrada em creches até os 3
anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de idade.
A educação básica tem por papel a formação da base
do educado. Seção III
Os critérios para mudança de série podem ser promo- Do Ensino Fundamental
ção (aprovação em etapa anterior), transferência (candida-
tos de outras escolas) e avaliação (análise da experiência e Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
desenvolvimento do candidato). O ensino poderá ser ace- ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-
lerado caso necessário. Nas situações de alunos que não -se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação
acompanhem seu ritmo, deverá ser garantida recuperação. básica do cidadão, mediante:
Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%, I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como
no mínimo, para aprovação. meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
O currículo da educação básica segue uma base na- II - a compreensão do ambiente natural e social, do sis-
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da tema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e se fundamenta a sociedade;
da realidade social e política. A educação física deve ser III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao aluno em tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades
certas situações, como de trabalho, serviço militar, idade e a formação de atitudes e valores;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere em cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará
este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con- naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualifi-
forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em cação profissional do docente e o tempo de casa do docente,
intervenção na instituição, em suspensão temporária de de forma total, contínua ou intermitente.
prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento. § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
responsável por sua manutenção acompanhará o proces- outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados
so de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se ne- por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a
cessários, para a superação das deficiências. duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos
sistemas de ensino.
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
salvo nos programas de educação a distância.
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão,
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado
no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
aos exames finais, quando houver.
padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes
obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga-
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais rantida a necessária previsão orçamentária.
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qua-
lificação dos professores, recursos disponíveis e critérios Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconheci-
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas con- dos, quando registrados, terão validade nacional como
dições, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) pri- prova da formação recebida por seu titular.
meiras formas concomitantemente: § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão
I - em página específica na internet no sítio eletrônico por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins-
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguin- tituições não-universitárias serão registrados em universi-
te: dades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como § 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer-
título “Grade e Corpo Docente”; sidades estrangeiras serão revalidados por universidades
b) a página principal da instituição de ensino superior, públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equi-
bem como a página da oferta de seus cursos aos ingressan- valente, respeitando-se os acordos internacionais de reci-
tes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e outras procidade ou equiparação.
com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta com a § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe-
página específica prevista neste inciso; didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco-
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio nhecidos por universidades que possuam cursos de pós-
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das -graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de
informações de que trata esta Lei; conhecimento e em nível equivalente ou superior.
d) a página específica deve conter a data completa de
sua última atualização; Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hi-
ensino superior, por meio de ligação para a página referida pótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
no inciso I;
na forma da lei.
III - em local visível da instituição de ensino superior e
de fácil acesso ao público;
Art. 50. As instituições de educação superior, quando
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmen-
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas
te, de acordo com a duração das disciplinas de cada curso de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem
oferecido, observando o seguinte: capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração dife- seletivo prévio.
renciada, a publicação deve ser semestral;
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do Art. 51. As instituições de educação superior credencia-
início das aulas; das como universidades, ao deliberar sobre critérios e nor-
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo mas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta
docente até o início das aulas, os alunos devem ser comuni- os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino mé-
cados sobre as alterações; dio, articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas
V - deve conter as seguintes informações: de ensino.
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
de ensino superior; Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli-
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricu- nares de formação dos quadros profissionais de nível supe-
lar de cada curso e as respectivas cargas horárias; rior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do
saber humano, que se caracterizam por:
136
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
I - produção intelectual institucionalizada mediante I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevan- administrativo, assim como um plano de cargos e salários,
tes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto re- atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos dispo-
gional e nacional; níveis;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com ti- II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi-
tulação acadêmica de mestrado ou doutorado; dade com as normas gerais concernentes;
III - um terço do corpo docente em regime de tempo III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
integral. investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
especializadas por campo do saber. Poder mantenedor;
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes suas peculiaridades de organização e funcionamento;
atribuições: VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e to, com aprovação do Poder competente, para aquisição de
programas de educação superior previstos nesta Lei, obede- bens imóveis, instalações e equipamentos;
cendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
respectivo sistema de ensino; providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo-
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob- nial necessárias ao seu bom desempenho.
servadas as diretrizes gerais pertinentes; § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- ser estendidas a instituições que comprovem alta qualifica-
quisa científica, produção artística e atividades de extensão; ção para o ensino ou para a pesquisa, com base em avalia-
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacida- ção realizada pelo Poder Público.
de institucional e as exigências do seu meio;
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
em consonância com as normas gerais atinentes;
desenvolvimento das instituições de educação superior por
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
ela mantidas.
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos
Art. 56. As instituições públicas de educação superior
de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegu-
em geral, bem como administrar rendimentos conforme dis-
rada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de
positivos institucionais;
que participarão os segmentos da comunidade institucional,
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma local e regional.
prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocupa-
estatutos; rão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e mo-
cooperação financeira resultante de convênios com entida- dificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
des públicas e privadas. de dirigentes.
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-
-científica das universidades, caberá aos seus colegiados de Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior,
ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas sema-
disponíveis, sobre: nais de aulas.
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
II - ampliação e diminuição de vagas; A educação superior se funda no tripé: ensino, pesqui-
III - elaboração da programação dos cursos; sa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propiciar o
IV - programação das pesquisas e das atividades de ex- acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dentro
tensão; do ambiente acadêmico quanto fora dele; no aspecto pes-
V - contratação e dispensa de professores; quisa, busca-se desenvolver os conhecimentos já existen-
VI - planos de carreira docente. tes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a comunida-
de por meio de atividades que possam ir além dos ambien-
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público tes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano da vida social.
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial Classicamente, a educação superior se dá nos níveis de
para atender às peculiaridades de sua estrutura, organiza- graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibulares, e
ção e financiamento pelo Poder Público, assim como dos pós-graduação, cujo acesso também se dá por processos
seus planos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. seletivos próprios, funcionando como complementação
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui- ao ensino superior. Entretanto, o ensino superior também
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pode se dar em cursos sequenciais e em cursos de exten-
públicas poderão: são, de menor duração e complexidade.
137
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
O ensino superior pode ser ministrado em instituições II - terminalidade específica para aqueles que não
públicas ou privadas. Independentemente da natureza da puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
instituição, é necessário respeitar as regras mínimas sobre fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
duração do ano letivo, programas de curso, componentes para concluir em menor tempo o programa escolar para os
curriculares, etc. superdotados;
O diploma faz prova da formação. III - professores com especialização adequada em ní-
É possível a transferência entre instituições. A transfe- vel médio ou superior, para atendimento especializado, bem
rência a pedido está condicionada a número de vagas e a como professores do ensino regular capacitados para a inte-
processo seletivo. As transferências de ofício se sujeitam a gração desses educandos nas classes comuns;
critérios próprios. Um exemplo de transferência de ofício IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
se dá no caso de remoção de servidor público de ofício no efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
interesse da Administração (caso o servidor ou seu depen- adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
dente estude em instituição pública na cidade onde estava ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
lotado, tem o direito de ser transferido para a instituição órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
pública da nova lotação). tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
É possível que uma pessoa assista aulas nas institui- ou psicomotora;
ções públicas independentemente de vínculo com o curso, V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
desde que haja vagas disponíveis. sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige- ensino regular.
-se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição
possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro na-
corpo docente se dedique exclusivamente à docência. cional de alunos com altas habilidades ou superdotação
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino su- matriculados na educação básica e na educação superior, a
perior, as instituições de ensino superior são dotadas de fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas
autonomia para se organizarem. ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse aluna-
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico do.
especial. Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com
As instituições públicas devem obedecer ao princípio altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi-
da gestão democrática, assegurado pela existência de ór- mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste
gãos colegiados deliberativos que mesclem membros da artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os
comunidade, do corpo docente e do corpo discente. mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políticas
de desenvolvimento das potencialidades do alunado de que
CAPÍTULO V trata o caput serão definidos em regulamento.
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei- estabelecerão critérios de caracterização das instituições
tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
preferencialmente na rede regular de ensino, para educan- exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- financeiro pelo Poder Público.
mento e altas habilidades ou superdotação. Parágrafo único. O poder público adotará, como alter-
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu-
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida- candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
des da clientela de educação especial. mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, pública regular de ensino, independentemente do apoio às
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função instituições previstas neste artigo.
das condições específicas dos alunos, não for possível a
sua integração nas classes comuns de ensino regular. A educação especial volta-se a educandos com defi-
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
do caput deste artigo, tem início na educação infantil e habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada,
estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. exige-se a especialização das instituições de ensino e de
4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. seus profissionais.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen- TÍTULO VI
to e altas habilidades ou superdotação: Dos Profissionais da Educação
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
e organização específicos, para atender às suas necessida- Art. 61. Consideram-se profissionais da educação
des; escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e
tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:
138
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
I – professores habilitados em nível médio ou supe- § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
rior para a docência na educação infantil e nos ensinos nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma-
fundamental e médio; gistério para atuar na educação básica pública mediante
II – trabalhadores em educação portadores de di- programa institucional de bolsa de iniciação à docência a
ploma de pedagogia, com habilitação em administração, estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de gra-
planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacio- duação plena, nas instituições de educação superior.
nal, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
mesmas áreas; nota mínima em exame nacional aplicado aos concluintes
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- do ensino médio como pré-requisito para o ingresso em
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou cursos de graduação para formação de docentes, ouvido o
afim; e Conselho Nacional de Educação - CNE.
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos § 7º (VETADO).
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú- § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
dos de áreas afins à sua formação para atender o dispos- terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.
to no inciso V do caput do art. 36.
Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu- Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o
cação, de modo a atender às especificidades do exercício inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
etapas e modalidades da educação básica, terá como fun- habilitações tecnológicas.
damentos: Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
I – a presença de sólida formação básica, que propi- para os profissionais a que se refere o caput, no local de
cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
suas competências de trabalho; incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores
II – a associação entre teorias e práticas, mediante de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
estágios supervisionados e capacitação em serviço;
III – o aproveitamento da formação e experiências Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. I - cursos formadores de profissionais para a edu-
IV - profissionais com notório saber reconhecido pe- cação básica, inclusive o curso normal superior, destinado
los respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos à formação de docentes para a educação infantil e para as
de áreas afins à sua formação ou experiência profissional, primeiras séries do ensino fundamental;
atestados por titulação específica ou prática de ensino em II - programas de formação pedagógica para portado-
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das res de diplomas de educação superior que queiram se dedi-
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamen- car à educação básica;
te para atender ao inciso V do caput do art. 36; III - programas de educação continuada para os pro-
V - profissionais graduados que tenham feito com- fissionais de educação dos diversos níveis.
plementação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
lho Nacional de Educação. Art. 64. A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien-
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educa- tação educacional para a educação básica, será feita em
ção básica far-se-á em nível superior, em curso de licencia- cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-gra-
tura plena, admitida, como formação mínima para o exercí- duação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta
cio do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros formação, a base comum nacional.
anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade normal. Art. 65. A formação docente, exceto para a educação supe-
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- rior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.
nicípios, em regime de colaboração, deverão promover a
formação inicial, a continuada e a capacitação dos profis- Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
sionais de magistério. superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria-
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos pro- mente em programas de mestrado e doutorado.
fissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecno- Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni-
logias de educação a distância. versidade com curso de doutorado em área afim, poderá su-
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté- prir a exigência de título acadêmico.
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente
fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a dis- Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valori-
tância. zação dos profissionais da educação, assegurando-lhes,
§ 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e do magistério público:
permanência em cursos de formação de docentes em nível I - ingresso exclusivamente por concurso público de
superior para atuar na educação básica pública. provas e títulos;
139
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de en-
Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de sino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que
impostos, compreendidas as transferências constitucionais, não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualida-
na manutenção e desenvolvimento do ensino público. de ou à sua expansão;
140
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de ca- Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no
ráter assistencial, desportivo ou cultural; artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento
III - formação de quadros especiais para a administração pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
IV - programas suplementares de alimentação, assistên-
cia médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e ou- Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco-
tras formas de assistência social; las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para confessionais ou filantrópicas que:
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri-
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa- buam resultados, dividendos, bonificações, participações ou
ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
manutenção e desenvolvimento do ensino. II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de- escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos Público, no caso de encerramento de suas atividades;
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos.
se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritaria- forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de
mente, na prestação de contas de recursos públicos, o cum- recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares
primento do disposto no art. 212 da Constituição Federal, no da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder
art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e Público obrigado a investir prioritariamente na expansão
na legislação concernente. da sua rede local.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Dis- poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu-
trito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo sive mediante bolsas de estudo.
de oportunidades educacionais para o ensino fundamen-
tal, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de No aspecto orçamentário, merece destaque a exigên-
assegurar ensino de qualidade. cia de dedicação de parcela mínima dos impostos da União
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar- (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) voltada à edu-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano, com cação. Ainda, coloca-se o papel de suplementação e redis-
validade para o ano subsequente, considerando variações tribuição da União em relação aos Estados e Municípios
regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades e dos Estados com relação aos Municípios, repassando-se
de ensino. verbas para permitir que estas unidades federativas consi-
gam lograr êxito em oferecer parâmetro mínimo de quali-
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dade no ensino que é de sua incumbência.
dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressiva-
mente, as disparidades de acesso e garantir o padrão mí- TÍTULO VIII
nimo de qualidade de ensino. Das Disposições Gerais
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
fórmula de domínio público que inclua a capacidade de Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo ração das agências federais de fomento à cultura e de as-
Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da sistência aos índios, desenvolverá programas integrados de
manutenção e do desenvolvimento do ensino. ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilín-
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo gue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes
será definida pela razão entre os recursos de uso constitu- objetivos:
cionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimen- I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
to do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação
mínimo de qualidade. de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e e ciências;
2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
a cada estabelecimento de ensino, considerado o número acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos
de alunos que efetivamente frequentam a escola. da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser -índias.
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 sistemas de ensino no provimento da educação intercultural
e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua às comunidades indígenas, desenvolvendo programas inte-
capacidade de atendimento. grados de ensino e pesquisa.
141
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
comunidades indígenas. admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor-
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- mas fixadas pelos sistemas de ensino.
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes
objetivos: Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua mater- aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respecti-
na de cada comunidade indígena; vas instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo
II - manter programas de formação de pessoal especia- com seu rendimento e seu plano de estudos.
lizado, destinado à educação escolar nas comunidades in-
dígenas; Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titula-
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles ção própria poderá exigir a abertura de concurso públi-
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respec- co de provas e títulos para cargo de docente de instituição
tivas comunidades; pública de ensino que estiver sendo ocupado por professor
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didá- não concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direi-
tico específico e diferenciado. tos assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19
§ 3º No que se refere à educação superior, sem prejuízo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efe-
tivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como como universidades integrar-se-ão, também, na sua condi-
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas ção de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de
especiais. Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação específica.
142
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus esta- IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compul-
tutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas sório, asseguradas adaptações razoáveis de acordo com as
dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes necessidades individuais;
estabelecidos. V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis- educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação;
posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. VI - adoção de medidas de apoio individualizadas e efe-
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve- tivas, em ambientes que maximizem o desenvolvimento aca-
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar dêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena;
da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de VII - oferta de educação especial preferencialmente na
ensino. rede regular de ensino; e
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o re- VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às
gime anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e
pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante delega- com atuação exclusiva em educação especial.
ção deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, § 1o Para fins deste Decreto, considera-se público-al-
preservada a autonomia universitária. vo da educação especial as pessoas com deficiência, com
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. transtornos globais do desenvolvimento e com altas habi-
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, lidades ou superdotação.
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de § 2o No caso dos estudantes surdos e com deficiência
1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro auditiva serão observadas as diretrizes e princípios dispos-
de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis tos no Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro Art. 2o A educação especial deve garantir os serviços
de 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que
quaisquer outras disposições em contrário. possam obstruir o processo de escolarização de estudantes
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades ou superdotação.
§ 1º Para fins deste Decreto, os serviços de que trata
o caput serão denominados atendimento educacional es-
DECRETO N.º 7.611/2011 – DISPÕE SOBRE pecializado, compreendido como o conjunto de atividades,
A EDUCAÇÃO ESPECIAL, O ATENDIMENTO recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados ins-
EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E DÁ titucional e continuamente, prestado das seguintes formas:
OUTRAS PROVIDÊNCIAS. I - complementar à formação dos estudantes com de-
ficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como
apoio permanente e limitado no tempo e na frequência
dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; ou
DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011. II - suplementar à formação de estudantes com altas
habilidades ou superdotação.
Dispõe sobre a educação especial, o atendimento edu- § 2o O atendimento educacional especializado deve in-
cacional especializado e dá outras providências. tegrar a proposta pedagógica da escola, envolver a partici-
pação da família para garantir pleno acesso e participação
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribui- dos estudantes, atender às necessidades específicas das
ções que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea “a”, da pessoas público-alvo da educação especial, e ser realizado
Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 208, inciso em articulação com as demais políticas públicas.
III, da Constituição, arts. 58 a 60 da Lei no 9.394, de 20 de Art. 3o São objetivos do atendimento educacional es-
dezembro de 1996, art. 9o, § 2o, da Lei no 11.494, de 20 de pecializado:
junho de 2007, art. 24 da Convenção sobre os Direitos das I - prover condições de acesso, participação e aprendiza-
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, apro- gem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializa-
vados por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho dos de acordo com as necessidades individuais dos estudantes;
de 2008, com status de emenda constitucional, e promul- II - garantir a transversalidade das ações da educação
gados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, especial no ensino regular;
DECRETA: III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos
Art. 1o O dever do Estado com a educação das pessoas e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de
público-alvo da educação especial será efetivado de acor- ensino e aprendizagem; e
do com as seguintes diretrizes: IV - assegurar condições para a continuidade de es-
I - garantia de um sistema educacional inclusivo em to- tudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino.
dos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade Art. 4o O Poder Público estimulará o acesso ao atendi-
de oportunidades; mento educacional especializado de forma complementar
II - aprendizado ao longo de toda a vida; ou suplementar ao ensino regular, assegurando a dupla
III - não exclusão do sistema educacional geral sob ale- matrícula nos termos do art. 9º-A do Decreto no 6.253, de
gação de deficiência; 13 de novembro de 2007.
143
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 5o A União prestará apoio técnico e financeiro “Art. 9º-A. Para efeito da distribuição dos recursos do
aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios FUNDEB, será admitida a dupla matrícula dos estudantes
e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, confessio- da educação regular da rede pública que recebem atendi-
nais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade mento educacional especializado.
de ampliar a oferta do atendimento educacional especia- § 1o A dupla matrícula implica o cômputo do estudan-
lizado aos estudantes com deficiência, transtornos globais te tanto na educação regular da rede pública, quanto no
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, atendimento educacional especializado.
matriculados na rede pública de ensino regular. § 2o O atendimento educacional especializado aos
§ 1o As instituições comunitárias, confessionais ou fi- estudantes da rede pública de ensino regular poderá ser
lantrópicas sem fins lucrativos de que trata o caput devem oferecido pelos sistemas públicos de ensino ou por ins-
ter atuação na educação especial e serem conveniadas com tituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
o Poder Executivo do ente federativo competente. fins lucrativos, com atuação exclusiva na educação especial,
§ 2o O apoio técnico e financeiro de que trata conveniadas com o Poder Executivo competente, sem pre-
o caput contemplará as seguintes ações: juízo do disposto no art. 14.” (NR)
I - aprimoramento do atendimento educacional espe- “Art. 14. Admitir-se-á, para efeito da distribuição dos
cializado já ofertado; recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas efetivadas
II - implantação de salas de recursos multifuncionais; na educação especial oferecida por instituições comunitá-
III - formação continuada de professores, inclusive para rias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com
o desenvolvimento da educação bilíngue para estudantes atuação exclusiva na educação especial, conveniadas com
surdos ou com deficiência auditiva e do ensino do Braile o Poder Executivo competente.
para estudantes cegos ou com baixa visão; § 1o Serão consideradas, para a educação especial, as
IV - formação de gestores, educadores e demais profis- matrículas na rede regular de ensino, em classes comuns
sionais da escola para a educação na perspectiva da educa- ou em classes especiais de escolas regulares, e em escolas
ção inclusiva, particularmente na aprendizagem, na partici- especiais ou especializadas.
pação e na criação de vínculos interpessoais; § 2o O credenciamento perante o órgão competente
V - adequação arquitetônica de prédios escolares para do sistema de ensino, na forma do art. 10, inciso IV e pa-
acessibilidade; rágrafo único, e art. 11, inciso IV, da Lei no 9.394, de 1996,
VI - elaboração, produção e distribuição de recursos depende de aprovação de projeto pedagógico.” (NR)
educacionais para a acessibilidade; e Art. 9o As despesas decorrentes da execução das dis-
VII - estruturação de núcleos de acessibilidade nas ins- posições constantes deste Decreto correrão por conta das
tituições federais de educação superior. dotações próprias consignadas ao Ministério da Educação.
§ 3o As salas de recursos multifuncionais são ambien- Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua
tes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didá- publicação.
ticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educa- Art. 11. Fica revogado o Decreto no 6.571, de 17 de
cional especializado. setembro de 2008.
§ 4o A produção e a distribuição de recursos educa- Brasília, 17 de novembro de 2011; 190o da Indepen-
cionais para a acessibilidade e aprendizagem incluem ma- dência e 123o da República.
teriais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua
Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de
voz, softwares para comunicação alternativa e outras aju-
das técnicas que possibilitam o acesso ao currículo. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA
§ 5o Os núcleos de acessibilidade nas instituições fede- DA EDUCAÇÃO BÁSICA. EDUCAÇÃO
rais de educação superior visam eliminar barreiras físicas, INFANTIL E PRÁTICAS PROMOTORAS DE
de comunicação e de informação que restringem a partici-
IGUALDADE RACIAL. SÃO PAULO: CENTRO
pação e o desenvolvimento acadêmico e social de estudan-
tes com deficiência. DE ESTUDOS DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
Art. 6o O Ministério da Educação disciplinará os requisi- E DESIGUALDADES – CEERT; INSTITUTO
tos, as condições de participação e os procedimentos para AVISA LÁ – FORMAÇÃO CONTINUADA DE
apresentação de demandas para apoio técnico e financeiro EDUCADORES, 2012.
direcionado ao atendimento educacional especializado.
Art. 7o O Ministério da Educação realizará o acompa-
nhamento e o monitoramento do acesso à escola por par-
te dos beneficiários do benefício de prestação continuada, Prezado Candidato, devido ao formato do conteú-
em colaboração com o Ministério da Saúde, o Ministério do, disponibilizaremos o material completo para con-
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e a Secreta- sulta, em nosso site eletrônico, conforme segue:
ria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Art. 8o O Decreto no 6.253, de 2007, passa a vigorar www.novaconcursos.com.br/retificacoes
com as seguintes alterações:
144
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
145
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
I – Alunos com deficiência: aqueles que têm im- cipação das famílias e em interface com os demais serviços
pedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, setoriais da saúde, da assistência social, entre outros neces-
mental ou sensorial. sários ao atendimento.
II – Alunos com transtornos globais do desenvolvi- Art. 10. O projeto pedagógico da escola de ensino re-
mento: aqueles que apresentam um quadro de alterações gular deve institucionalizar a oferta do AEE prevendo na
no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento sua organização:
nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias mo- I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico,
toras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clás- mobiliário, materiais didáticos,
sico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipa-
desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasi- mentos específicos;
vos sem outra especificação. II – matrícula no AEE de alunos matriculados no en-
III – Alunos com altas habilidades/superdotação: sino regular da própria escola ou de outra escola;
aqueles que apresentam um potencial elevado e grande III – cronograma de atendimento aos alunos;
envolvimento com as áreas do conhecimento humano, iso- IV – plano do AEE: identificação das necessidades
ladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos
artes e criatividade. necessários e das atividades a serem desenvolvidas;
Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de V – professores para o exercício da docência do AEE;
recursos multifuncionais da própria escola ou em outra es- VI – outros profissionais da educação: tradutor e in-
cola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, térprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e
não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser outros que atuem no apoio, principalmente às atividades
realizado, também, em centro de Atendimento Educacio- de alimentação, higiene e locomoção;
nal Especializado da rede pública ou de instituições comu- VII – redes de apoio no âmbito da atuação profis-
nitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, sional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do
conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equi- acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros
valente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. que maximizem o AEE.
Art. 6º Em casos de Atendimento Educacional Especia- Parágrafo único. Os profissionais referidos no inciso VI
lizado em ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada atuam com os alunos público- alvo da Educação Especial
aos alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a Educação em todas as atividades escolares nas quais se fizerem ne-
Especial de forma complementar ou suplementar. cessários.
Art. 7º Os alunos com altas habilidades/superdotação Art. 11. A proposta de AEE, prevista no projeto peda-
terão suas atividades de enrique- cimento curricular de- gógico do centro de Atendimento Educacional Especializa-
senvolvidas no âmbito de escolas públicas de ensino regu- do público ou privado sem fins lucrativos, conveniado para
lar em interfa- ce com os núcleos de atividades para altas essa finalidade, deve ser aprovada pela respectiva Secre-
habilidades/superdotação e com as instituições de ensino taria de Educação ou órgão equivalente, contemplando a
superior e institutos voltados ao desenvolvimento e pro- organização disposta no artigo 10 desta Resolução.
moção da pesquisa, das artes e dos esportes. Parágrafo único. Os centros de Atendimento Educacio-
Art. 8º Serão contabilizados duplamente, no âmbito nal Especializado devem cumprir as exigências legais esta-
do FUNDEB, de acordo com o Decreto nº 6.571/2008, os belecidas pelo Conselho de Educação do respectivo siste-
alunos matriculados em classe comum de ensino regular ma de ensino, quanto ao seu credenciamento, autorização
público que tiverem matrícula concomitante no AEE. de funcionamento e organização, em consonância com as
Parágrafo único. O financiamento da matrícula no AEE orientações preconizadas nestas Diretrizes Operacionais.
é condicionado à matrícula no ensino regular da rede pú- Art. 12. Para atuação no AEE, o professor deve ter for-
blica, conforme registro no Censo Escolar/MEC/INEP do mação inicial que o habilite para o exercício da docência e
ano anterior, sendo contemplada: formação específica para a Educação Especial.
a) matrícula em classe comum e em sala de recursos Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento
multifuncionais da mesma escola pública; Educacional Especializado:
b) matrícula em classe comum e em sala de recursos I – identificar, elaborar, produzir e organizar servi-
multifuncionais de outra escola pública; ços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias
c) matrícula em classe comum e em centro de Aten- considerando as necessidades específicas dos alunos pú-
dimento Educacional Especializado de instituição de Edu- blico-alvo da Educação Especial;
cação Especial pública; II – elaborar e executar plano de Atendimento Edu-
d) matrícula em classe comum e em centro de Aten- cacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a apli-
dimento Educacional Especializado de instituições de Edu- cabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;
cação Especial comunitárias, confessionais ou filantrópicas III – organizar o tipo e o número de atendimentos
sem fins lucrativos. aos alunos na sala de recursos multifuncionais;
Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade
de competência dos professores que atuam na sala de re- dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de
cursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação aula comum do ensino regular, bem como em outros am-
com os demais professores do ensino regular, com a parti- bientes da escola;
146
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais O atendimento em creches e pré-escolas como um di-
na elaboração de estratégias e na disponibilização de re- reito social das crianças se concretiza na Constituição de
cursos de acessibilidade; 1988, com o reconhecimento da Educação Infantil como
VI – orientar professores e famílias sobre os recursos dever do Estado com a Educação, processo que teve ampla
pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; participação dos movimentos comunitários, dos movimen-
VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma tos de mulheres, dos movimentos de redemocratização do
a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo país, além, evidentemente, das lutas dos próprios profis-
autonomia e participação; sionais da educação. A partir desse novo ordenamento le-
VIII – estabelecer articulação com os professores da gal, creches e pré-escolas passaram a construir nova iden-
sala de aula comum, visando à disponibilização dos ser- tidade na busca de superação de posições antagônicas e
viços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das fragmentadas, sejam elas assistencialistas ou pautadas em
estratégias que promovem a participação dos alunos nas uma perspectiva preparatória a etapas posteriores de es-
atividades escolares. colarização.
Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
publicação, revogadas as disposições em contrário. Nacional), regulamentando esse ordenamento, introduziu
uma série de inovações em relação à Educação Básica, den-
tre as quais, a integração das creches nos sistemas de ensi-
no compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa
RESOLUÇÃO CNE/CEB N.º 5/2009 – FIXA da Educação Básica. Essa lei evidencia o estímulo à auto-
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS nomia das unidades educacionais na organização flexível
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. de seu currículo e a pluralidade de métodos pedagógicos,
desde que assegurem aprendizagem, e reafirmou os arti-
gos da Constituição Federal acerca do atendimento gratui-
to em creches e pré-escolas.
I – RELATÓRIO
Neste mesmo sentido deve-se fazer referência ao Pla-
1. Histórico no Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, que
estabeleceu metas decenais para que no final do período
A construção da identidade das creches e pré-escolas a de sua vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil alcance
partir do século XIX em nosso país insere-se no contexto da a 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos,
história das políticas de atendimento à infância, marcado metas que ainda persistem como um grande desafio a ser
por diferenciações em relação à classe social das crianças. enfrentado pelo país.
Enquanto para as mais pobres essa história foi caracteriza- Frente a todas essas transformações, a Educação Infan-
da pela vinculação aos órgãos de assistência social, para til vive um intenso processo de revisão de concepções so-
as crianças das classes mais abastadas, outro modelo se bre a educação de crianças em espaços coletivos, e de sele-
desenvolveu no diálogo com práticas escolares. ção e fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras
Essa vinculação institucional diferenciada refletia uma de aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em
fragmentação nas concepções sobre educação das crian- especial, têm se mostrado prioritárias as discussões sobre
ças em espaços coletivos, compreendendo o cuidar como como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos
atividade meramente ligada ao corpo e destinada às crian- em creches e como garantir práticas junto às crianças de
ças mais pobres, e o educar como experiência de promo- quatro e cinco anos que se articulem, mas não antecipem
ção intelectual reservada aos filhos dos grupos socialmente processos do Ensino Fundamental.
privilegiados. Para além dessa especificidade, predominou Nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais
ainda, por muito tempo, uma política caracterizada pela para a Educação Infantil elaboradas anteriormente por este
ausência de investimento público e pela não profissiona- Conselho (Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer CNE/CEB
lização da área. nº 22/98) foram fundamentais para explicitar princípios e
Em sintonia com os movimentos nacionais e interna- orientações para os sistemas de ensino na organização,
cionais, um novo paradigma do atendimento à infância – articulação, desenvolvimento e avaliação de propostas pe-
iniciado em 1959 com a Declaração Universal dos Direitos dagógicas. Embora os princípios colocados não tenham
da Criança e do Adolescente e instituído no país pelo arti- perdido a validade, ao contrário, continuam cada vez mais
go 227 da Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da necessários, outras questões diminuíram seu espaço no
Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) – tornou-se refe- debate atual e novos desafios foram colocados para a Edu-
rência para os movimentos sociais de “luta por creche” e cação Infantil, exigindo a reformulação e atualização des-
orientou a transição do entendimento da creche e pré-es- sas Diretrizes.
cola como um favor aos socialmente menos favorecidos A ampliação das matrículas, a regularização do fun-
para a compreensão desses espaços como um direito de cionamento das instituições, a diminuição no número de
todas as crianças à educação, independentemente de seu docentes não-habilitados na Educação Infantil e o aumen-
grupo social. to da pressão pelo atendimento colocam novas demandas
para a política de Educação Infantil, pautando questões
147
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
que dizem respeito às propostas pedagógicas, aos saberes Jaguaré, Cachoeiro e Vitória); Fórum Paulista de Educação
e fazeres dos professores, às práticas e projetos cotidianos Infantil; Fórum Gaúcho de Educação Infantil; GT de Educa-
desenvolvidos junto às crianças, ou seja, às questões de ção Infantil da UNDIME; CEERT; GT 21 da ANPEd (Educação
orientação curricular. Também a tramitação no Congresso das Relações Étnico-Raciais); grupo de estudos em Educa-
Nacional da proposta de Emenda Constitucional que, den- ção Infantil do Centro de Educação da UFAL conjuntamente
tre outros pontos, amplia a obrigatoriedade na Educação com equipe técnica das Secretarias de Educação do Muni-
Básica, reforça a exigência de novos marcos normativos na cípio de Maceió e do Estado de Alagoas; alunos do curso
Educação Infantil. de Pedagogia da UFMS; CINDEDI-USP; representantes do
Respondendo a estas preocupações, a Coordenadoria Setor de Educação do MST São Paulo; técnicos da Coorde-
de Educação Infantil do MEC estabeleceu, com a Universi- nadoria de Creches da USP; participantes de evento da Se-
dade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), convênio de cretaria de Educação, Esporte e Lazer de Recife e do Semi-
cooperação técnica na articulação de um processo nacional nário Educação Ambiental e Educação Infantil em Brasília.
de estudos e debates sobre o currículo da Educação In- Ainda pesquisadores das seguintes Universidades e Insti-
fantil, que produziu uma série de documentos, dentre eles tuições de Pesquisa fizeram considerações ao longo des-
“Práticas cotidianas na Educação Infantil: bases para a refle- se processo: FEUSP; FFCLRP-USP; Fundação Carlos Chagas;
xão sobre as orientações curriculares” (MEC/COEDI, 2009a). Centro Universitário Claretiano Batatais; PUC-RIO; UNIRIO;
Esse processo serviu de base para a elaboração de “Subsí- UNICAMP; UFC; UFPA; UFRJ; UERJ; UFPR; UNEMAT; UFMG;
dios para as Diretrizes Curriculares Nacionais Específicas da UFRGS; UFSC; UFRN; UFMS; UFAL, UFMA, UEMA, UFPE.
Educação Básica” (MEC, 2009b), texto encaminhado a este
colegiado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação. 2. Mérito
A proposta do MEC foi apresentada pela professora
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, Secretária de Edu- A revisão e atualização das Diretrizes Curriculares Na-
cação Básica do MEC, na reunião ordinária do mês de julho cionais para a Educação Infantil é essencial para incorporar
do corrente ano da Câmara de Educação Básica, ocasião os avanços presentes na política, na produção científica e
em que foi designada a comissão que se encarregaria de nos movimentos sociais na área. Elas podem se constituir
elaborar nova Diretriz Curricular Nacional para a Educação em instrumento estratégico na consolidação do que se
Infantil, presidida pelo Conselheiro Cesar Callegari, tendo o entende por uma Educação Infantil de qualidade, “ao es-
Conselheiro Raimundo Moacir Mendes Feitosa como rela- timular o diálogo entre os elementos culturais de grupos
tor (Portaria CNE/CEB nº 3/2009). marginalizados e a ciência, a tecnologia e a cultura domi-
Em 5 de agosto, com a participação de representan- nantes, articulando necessidades locais e a ordem global,
tes das entidades nacionais UNDIME, ANPED, CNTE, Fórum chamando a atenção para uma maior sensibilidade para o
Nacional de Conselhos Estaduais de Educação, MIEIB (Mo- diverso e o plural, entre o relativismo e o universalismo”
vimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil), da SEB/ (MEC, 2009b).
SECAD/MEC e de especialistas da área de Educação Infantil, As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Maria Carmem Barbosa (coordenadora do Projeto MECU- Infantil, de caráter mandatório, orientam a formulação de
FRGS/2008), Sonia Kramer (consultora do MEC responsável políticas, incluindo a de formação de professores e demais
pela organização do documento de referência), Fulvia Ro- profissionais da Educação, e também o planejamento, de-
semberg (da Fundação Carlos Chagas), Ana Paula Soares senvolvimento e avaliação pelas unidades de seu Projeto
Silva (FFCLRP-USP) e Zilma de Moraes Ramos de Oliveira Político-Pedagógico e servem para informar as famílias das
(FFCLRP-USP), o relator da Comissão apresentou um tex- crianças matriculadas na Educação Infantil sobre as pers-
to-síntese dos pontos básicos que seriam levados como pectivas de trabalho pedagógico que podem ocorrer.
indicações para o debate em audiências públicas nacionais
promovidas pela Câmara de Educação Básica do CNE, reali- 3. A identidade do atendimento na Educação Infan-
zadas em São Luis do Maranhão, Brasília e São Paulo. til
Este parecer incorpora as contribuições apresentadas,
nestas audiências e em debates e reuniões regionais (en- Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a pri-
contros da UNDIME – Região Norte e do MIEIB em Santa- meira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o
rém, PA, ocorrido em agosto de 2009; o debate na ANPED desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos
ocorrido em outubro de 2009), por grupos de pesquisa e de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, lin-
pesquisadores, conselheiros tutelares, Ministério Público, guístico e social, complementando a ação da família e da
sindicatos, secretários e conselheiros municipais de educa- comunidade (Lei nº 9.394/96, art. 29).
ção, entidades não governamentais e movimentos sociais.
Foram consideradas também as contribuições enviadas O atendimento em creche e pré-escola a crianças de
por entidades e grupos como: OMEP; NDI-UFSC; Fórum de zero a cinco anos de idade é definido na Constituição Fe-
Educação Infantil do Pará (FEIPA); Fórum Amazonense de deral de 1988 como dever do Estado em relação à educa-
Educação Infantil (FAMEI); Fórum Permanente de Educação ção, oferecido em regime de colaboração e organizado em
Infantil do Tocantins (FEITO); Fórum de Educação Infantil sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Fede-
do Amapá; Fórum de Educação Infantil de Santa Catarina ral e dos Municípios. A incorporação das creches e pré-es-
(contemplando também manifestações dos municípios de colas no capítulo da Educação na Constituição Federal (art.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
208, inciso IV) impacta todas as outras responsabilidades de organização é variada, podendo constituir unidade in-
do Estado em relação à Educação Infantil, ou seja, o direi- dependente ou integrar instituição que cuida da Educação
to das crianças de zero a cinco anos de idade à matrícula Básica, atender faixas etárias diversas nos termos da Lei nº
em escola pública (art. 205), gratuita e de qualidade (art. 9.394/96, em jornada integral de, no mínimo, 7 horas diá-
206, incisos IV e VI), igualdade de condições em relação às rias, ou parcial de, no mínimo, 4 horas, seguindo o pro-
demais crianças para acesso, permanência e pleno aprovei- posto na Lei nº 11.494/2007 (FUNDEB), sempre no período
tamento das oportunidades de aprendizagem propiciadas diurno, devendo o poder público oferecer vagas próximo
(art. 206, inciso I). à residência das crianças (Lei nº 8.069/90, art. 53). Inde-
Na continuidade dessa definição, a Lei de Diretrizes pendentemente das nomenclaturas diversas que adotam
e Bases da Educação Nacional afirma que “a educação (Centros de Educação Infantil, Escolas de Educação Infantil,
abrange os processos formativos que se desenvolvem na Núcleo Integrado de Educação Infantil, Unidade de Educa-
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas ins- ção Infantil, ou nomes fantasia), a estrutura e funcionamen-
tituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e to do atendimento deve garantir que essas unidades sejam
organizações da sociedade civil e nas manifestações cultu- espaço de educação coletiva.
rais” (Lei nº 9.394/96, art. 1º), mas esclarece que: “Esta Lei Uma vez que o Ensino Fundamental de nove anos de
disciplina a educação escolar que se desenvolve, predomi- duração passou a incluir a educação das crianças a partir
nantemente, por meio do ensino, em instituições próprias” de seis anos de idade, e considerando que as que comple-
(Lei nº 9.394/96, art. 1º, § 1º). Em função disto, tudo o que tam essa idade fora do limite de corte estabelecido por seu
nela se baseia e que dela decorre, como autorização de sistema de ensino para inclusão no Ensino Fundamental
funcionamento, condições de financiamento e outros as- necessitam que seu direito à educação seja garantido, cabe
pectos, referem-se a esse caráter institucional da educação. aos sistemas de ensino o atendimento a essas crianças na
Fica assim evidente que, no atual ordenamento jurí- pré-escola até o seu ingresso, no ano seguinte, no Ensino
dico, as creches e pré-escolas ocupam um lugar bastante Fundamental.
claro e possuem um caráter institucional e educacional di-
verso daquele dos contextos domésticos, dos ditos progra- 4. A função sociopolítica e pedagógica da Educação
mas alternativos à educação das crianças de zero a cinco Infantil
anos de idade, ou da educação não-formal. Muitas famílias
necessitam de atendimento para suas crianças em horá- Delineada essa apresentação da estrutura legal e insti-
rio noturno, em finais de semana e em períodos esporá- tucional da Educação Infantil, faz-se necessário refletir sobre
dicos. Contudo, esse tipo de atendimento, que responde sua função sociopolítica e pedagógica, como base de apoio
a uma demanda legítima da população, enquadra-se no das propostas pedagógica e curricular das instituições.
âmbito de “políticas para a Infância”, devendo ser finan- Considera a Lei nº 9.394/96 em seu artigo 22 que a
ciado, orientado e supervisionado por outras áreas, como Educação Infantil é parte integrante da Educação Básica,
assistência social, saúde, cultura, esportes, proteção social. cujas finalidades são desenvolver o educando, assegurar-
O sistema de ensino define e orienta, com base em crité- -lhe a formação comum indispensável para o exercício da
rios pedagógicos, o calendário, horários e as demais con- cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho
dições para o funcionamento das creches e pré-escolas, o e em estudos posteriores. Essa dimensão de instituição vol-
que não elimina o estabelecimento de mecanismos para a tada à introdução das crianças na cultura e à apropriação
necessária articulação que deve haver entre a Educação e por elas de conhecimentos básicos requer tanto seu aco-
outras áreas, como a Saúde e a Assistência, a fim de que lhimento quanto sua adequada interpretação em relação
se cumpra, do ponto de vista da organização dos serviços às crianças pequenas.
nessas instituições, o atendimento às demandas das crian- O paradigma do desenvolvimento integral da criança a
ças. Essa articulação, se necessária para outros níveis de ser necessariamente compartilhado com a família, adotado
ensino, na Educação Infantil, em função das características no artigo 29 daquela lei, dimensiona aquelas finalidades na
das crianças de zero a cinco anos de idade, se faz muitas consideração das formas como as crianças, nesse momen-
vezes imprescindível. to de suas vidas, vivenciam o mundo, constroem conheci-
As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em mentos, expressam-se, interagem e manifestam desejos e
estabelecimentos educacionais públicos ou privados que curiosidades de modo bastante peculiares.
educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de ida- A função das instituições de Educação Infantil, a exem-
de por meio de profissionais com a formação específica plo de todas as instituições nacionais e principalmente,
legalmente determinada, a habilitação para o magistério como o primeiro espaço de educação coletiva fora do con-
superior ou médio, refutando assim funções de caráter me- texto familiar, ainda se inscreve no projeto de sociedade
ramente assistencialista, embora mantenha a obrigação de democrática desenhado na Constituição Federal de 1988
assistir às necessidades básicas de todas as crianças. (art. 3º, inciso I), com responsabilidades no desempenho de
As instituições de Educação Infantil estão submetidas um papel ativo na construção de uma sociedade livre, justa,
aos mecanismos de credenciamento, reconhecimento e solidária e socioambientalmente orientada.
supervisão do sistema de ensino em que se acham inte- A redução das desigualdades sociais e regionais e a
gradas (Lei nº 9.394/96, art. 9º, inciso IX, art.10, inciso IV e promoção do bem de todos (art. 3º, incisos II e IV da Cons-
art.11, inciso IV), assim como a controle social. Sua forma tituição Federal) são compromissos a serem perseguidos
149
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
pelos sistemas de ensino e pelos professores também na A proposta pedagógica, ou projeto pedagógico, é o
Educação Infantil. É bastante conhecida no país a desigual- plano orientador das ações da instituição e define as metas
dade de acesso às creches e pré-escolas entre as crianças que se pretende para o desenvolvimento dos meninos e
brancas e negras, moradoras do meio urbano e rural, das meninas que nela são educados e cuidados, as aprendiza-
regiões sul/sudeste e norte/nordeste e, principalmente, ri- gens que se quer promovidas. Na sua execução, a institui-
cas e pobres. Além das desigualdades de acesso, também ção de Educação Infantil organiza seu currículo, que pode
as condições desiguais da qualidade da educação ofere- ser entendido como as práticas educacionais organizadas
cida às crianças configuram-se em violações de direitos em torno do conhecimento e em meio às relações sociais
constitucionais das mesmas e caracterizam esses espaços que se travam nos espaços institucionais, e que afetam a
como instrumentos que, ao invés de promover a equidade, construção das identidades das crianças. Por expressar o
alimentam e reforçam as desigualdades socioeconômicas, projeto pedagógico da instituição em que se desenvolve,
étnico-raciais e regionais. Em decorrência disso, os objeti- englobando as experiências vivenciadas pela criança, o cur-
vos fundamentais da República serão efetivados no âmbito rículo se constitui um instrumento político, cultural e cientí-
da Educação Infantil se as creches e pré-escolas cumprirem fico coletivamente formulado (MEC, 2009b).
plenamente sua função sociopolítica e pedagógica. O currículo da Educação Infantil é concebido como um
conjunto de práticas que buscam articular as experiências e
Cumprir tal função significa, em primeiro lugar, que o os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem
Estado necessita assumir sua responsabilidade na educação parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecno-
coletiva das crianças, complementando a ação das famílias. lógico. Tais práticas são efetivadas por meio de relações
Em segundo lugar, creches e pré-escolas constituem-se em sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem
estratégia de promoção de igualdade de oportunidades com os professores e as outras crianças, e afetam a cons-
entre homens e mulheres, uma vez que permitem às mu- trução de suas identidades.
lheres sua realização para além do contexto doméstico. Em Intencionalmente planejadas e permanentemente ava-
terceiro lugar, cumprir função sociopolítica e pedagógica liadas, as práticas que estruturam o cotidiano das institui-
das creches e pré-escolas implica assumir a responsabili-
ções de Educação Infantil devem considerar a integralidade
dade de torná-las espaços privilegiados de convivência, de
e indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afeti-
construção de identidades coletivas e de ampliação de sa-
va, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural das
beres e conhecimentos de diferentes naturezas, por meio
crianças, apontar as experiências de aprendizagem que se
de práticas que atuam como recursos de promoção da
espera promover junto às crianças e efetivar-se por meio
equidade de oportunidades educacionais entre as crianças
de modalidades que assegurem as metas educacionais de
de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a
seu projeto pedagógico.
bens culturais e às possibilidades de vivência da infância.
A gestão democrática da proposta curricular deve con-
Em quarto lugar, cumprir função sociopolítica e pedagó-
gica requer oferecer as melhores condições e recursos tar na sua elaboração, acompanhamento e avaliação tendo
construídos histórica e culturalmente para que as crian- em vista o Projeto Político-Pedagógico da unidade educa-
ças usufruam de seus direitos civis, humanos e sociais e cional, com a participação coletiva de professoras e profes-
possam se manifestar e ver essas manifestações acolhidas, sores, demais profissionais da instituição, famílias, comuni-
na condição de sujeito de direitos e de desejos. Significa, dade e das crianças, sempre que possível e à sua maneira.
finalmente, considerar as creches e pré-escolas na produ-
ção de novas formas de sociabilidade e de subjetividades 6. A visão de criança: o sujeito do processo de edu-
comprometidas com a democracia e a cidadania, com a cação
dignidade da pessoa humana, com o reconhecimento da
necessidade de defesa do meio ambiente e com o rompi- A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito
mento de relações de dominação etária, socioeconômica, histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, re-
étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa que lações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela
ainda marcam nossa sociedade. estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades
nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nes-
5. Uma definição de currículo sas condições ela faz amizades, brinca com água ou terra,
faz-de-conta, deseja, aprende, observa, conversa, experi-
O currículo na Educação Infantil tem sido um campo menta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas
de controvérsias e de diferentes visões de criança, de fa- identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura.
mília, e de funções da creche e da pré-escola. No Brasil O conhecimento científico hoje disponível autoriza a
nem sempre foi aceita a idéia de haver um currículo para a visão de que desde o nascimento a criança busca atribuir
Educação Infantil, termo em geral associado à escolariza- significado a sua experiência e nesse processo volta-se
ção tal como vivida no Ensino Fundamental e Médio, sendo para conhecer o mundo material e social, ampliando gra-
preferidas as expressões ‘projeto pedagógico’ ou ‘proposta dativamente o campo de sua curiosidade e inquietações,
pedagógica’. A integração da Educação Infantil ao sistema mediada pelas orientações, materiais, espaços e tempos
educacional impõe à Educação Infantil trabalhar com esses que organizam as situações de aprendizagem e pelas ex-
conceitos, diferenciando-os e articulando-os. plicações e significados a que ela tem acesso.
150
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
O período de vida atendido pela Educação Infantil ca- o desenvolvimento da capacidade infantil de conhecer o
racteriza-se por marcantes aquisições: a marcha, a fala, o mundo e a si mesmo, de sua autoconfiança e a formação
controle esfincteriano, a formação da imaginação e da ca- de motivos e interesses pessoais, quanto ampliam as pos-
pacidade de fazer de conta e de representar usando dife- sibilidades da professora ou professor de compreender e
rentes linguagens. Embora nessas aquisições a dimensão responder às iniciativas infantis.
orgânica da criança se faça presente, suas capacidades para
discriminar cores, memorizar poemas, representar uma pai- 7. Princípios básicos
sagem através de um desenho, consolar uma criança que
chora etc., não são constituições universais biologicamen- Os princípios fundamentais nas Diretrizes anterior-
te determinadas e esperando o momento de amadurecer. mente estabelecidas (Resolução CNE/CEB nº 1/99 e Parecer
Elas são histórica e culturalmente produzidas nas relações CNE/CEB nº 22/98) continuam atuais e estarão presentes
que estabelecem com o mundo material e social mediadas nestas diretrizes com a explicitação de alguns pontos que
por parceiros mais experientes. mais recentemente têm se destacado nas discussões da
Assim, a motricidade, a linguagem, o pensamento, a área. São eles:
afetividade e a sociabilidade são aspectos integrados e se a) Princípios éticos: valorização da autonomia, da res-
desenvolvem a partir das interações que, desde o nasci- ponsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem co-
mento, a criança estabelece com diferentes parceiros, a mum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identida-
depender da maneira como sua capacidade para construir des e singularidades.
conhecimento é possibilitada e trabalhada nas situações Cabe às instituições de Educação Infantil assegurar
em que ela participa. Isso por que, na realização de tarefas às crianças a manifestação de seus interesses, desejos e
diversas, na companhia de adultos e de outras crianças, no curiosidades ao participar das práticas educativas, valori-
confronto dos gestos, das falas, enfim, das ações desses zar suas produções, individuais e coletivas, e trabalhar pela
parceiros, cada criança modifica sua forma de agir, sentir conquista por elas da autonomia para a escolha de brin-
e pensar. cadeiras e de atividades e para a realização de cuidados
Cada criança apresenta um ritmo e uma forma pró- pessoais diários. Tais instituições devem proporcionar às
pria de colocar-se nos relacionamentos e nas interações, crianças oportunidades para ampliarem as possibilidades
de manifestar emoções e curiosidade, e elabora um modo de aprendizado e de compreensão de mundo e de si pró-
próprio de agir nas diversas situações que vivencia desde o prio trazidas por diferentes tradições culturais e a construir
nascimento conforme experimenta sensações de descon- atitudes de respeito e solidariedade, fortalecendo a auto-
forto ou de incerteza diante de aspectos novos que lhe ge- -estima e os vínculos afetivos de todas as crianças.
ram necessidades e desejos, e lhe exigem novas respostas. Desde muito pequenas, as crianças devem ser media-
Assim busca compreender o mundo e a si mesma, testando das na construção de uma visão de mundo e de conheci-
de alguma forma as significações que constrói, modifican- mento como elementos plurais, formar atitudes de solida-
do-as continuamente em cada interação, seja com outro riedade e aprender a identificar e combater preconceitos
ser humano, seja com objetos. que incidem sobre as diferentes formas dos seres humanos
Uma atividade muito importante para a criança peque- se constituírem enquanto pessoas. Poderão assim questio-
na é a brincadeira. Brincar dá à criança oportunidade para nar e romper com formas de dominação etária, socioeco-
imitar o conhecido e para construir o novo, conforme ela nômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e reli-
reconstrói o cenário necessário para que sua fantasia se giosa, existentes em nossa sociedade e recriadas na relação
aproxime ou se distancie da realidade vivida, assumindo dos adultos com as crianças e entre elas. Com isso elas po-
personagens e transformando objetos pelo uso que deles dem e devem aprender sobre o valor de cada pessoa e dos
faz. diferentes grupos culturais, adquirir valores como os da
Na história cotidiana das interações com diferentes inviolabilidade da vida humana, a liberdade e a integridade
parceiros, vão sendo construídas significações comparti- individuais, a igualdade de direitos de todas as pessoas, a
lhadas, a partir das quais a criança aprende como agir ou igualdade entre homens e mulheres, assim como a solida-
resistir aos valores e normas da cultura de seu ambiente. riedade com grupos enfraquecidos e vulneráveis política e
Nesse processo é preciso considerar que as crianças apren- economicamente. Essa valorização também se estende à
dem coisas que lhes são muito significativas quando inte- relação com a natureza e os espaços públicos, o respeito a
ragem com companheiros da infância, e que são diversas todas as formas de vida, o cuidado de seres vivos e a pre-
das coisas que elas se apropriam no contato com os adul- servação dos recursos naturais.
tos ou com crianças já mais velhas. Além disso, à medida b) Princípios políticos: dos direitos de cidadania, do
que o grupo de crianças interage, são construídas as cul- exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática.
turas infantis. A Educação Infantil deve trilhar o caminho de educar
Também as professoras e os professores têm, na ex- para a cidadania, analisando se suas práticas educativas
periência conjunta com as crianças, excelente oportunida- de fato promovem a formação participativa e crítica das
de de se desenvolverem como pessoa e como profissio- crianças e criam contextos que lhes permitem a expressão
nal. Atividades realizadas pela professora ou professor de de sentimentos, idéias, questionamentos, comprometidos
brincar com a criança, contar-lhe histórias, ou conversar com a busca do bem estar coletivo e individual, com a
com ela sobre uma infinidade de temas, tanto promovem preocupação com o outro e com a coletividade.
151
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Como parte da formação para a cidadania e diante da tivas orientadoras para o trabalho na Educação Infantil e
concepção da Educação Infantil como um direito, é neces- inspiraram inclusive a finalidade dada no artigo 29 da Lei
sário garantir uma experiência bem sucedida de aprendi- nº 9.394/96 às creches e pré-escolas.
zagem a todas as crianças, sem discriminação. Isso requer Com base nesse paradigma, a proposta pedagógica
proporcionar oportunidades para o alcance de conheci- das instituições de Educação Infantil deve ter como ob-
mentos básicos que são considerados aquisições valiosas jetivo principal promover o desenvolvimento integral das
para elas. crianças de zero a cinco anos de idade garantindo a cada
A educação para a cidadania se volta para ajudar a uma delas o acesso a processos de construção de conheci-
criança a tomar a perspectiva do outro da mãe, do pai, do mentos e a aprendizagem de diferentes linguagens, assim
professor, de outra criança, e também de quem vai mudar- como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, ao res-
-se para longe, de quem tem o pai doente. O importante é peito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e interação
que se criem condições para que a criança aprenda a opi- com outras crianças. Daí decorrem algumas condições para
nar e a considerar os sentimentos e a opinião dos outros a organização curricular.
sobre um acontecimento, uma reação afetiva, uma idéia, 1) As instituições de Educação Infantil devem assegurar
um conflito. a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado
c) Princípios estéticos: valorização da sensibilidade, da como algo indissociável ao processo educativo.
criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifesta- As práticas pedagógicas devem ocorrer de modo a não
ções artísticas e culturais. fragmentar a criança nas suas possibilidades de viver expe-
O trabalho pedagógico na unidade de Educação Infan- riências, na sua compreensão do mundo feita pela totali-
til, em um mundo em que a reprodução em massa sufoca dade de seus sentidos, no conhecimento que constrói na
o olhar das pessoas e apaga singularidades, deve voltar-se relação intrínseca entre razão e emoção, expressão corpo-
para uma sensibilidade que valoriza o ato criador e a cons- ral e verbal, experimentação prática e elaboração concei-
trução pelas crianças de respostas singulares, garantindo- tual. As práticas envolvidas nos atos de alimentar-se, tomar
-lhes a participação em diversificadas experiências. banho, trocar fraldas e controlar os esfíncteres, na escolha
As instituições de Educação Infantil precisam organi- do que vestir, na atenção aos riscos de adoecimento mais
zar um cotidiano de situações agradáveis, estimulantes, fácil nessa faixa etária, no âmbito da Educação Infantil, não
que desafiem o que cada criança e seu grupo de crian- são apenas práticas que respeitam o direito da criança de
ças já sabem sem ameaçar sua autoestima nem promover ser bem atendida nesses aspectos, como cumprimento do
competitividade, ampliando as possibilidades infantis de respeito à sua dignidade como pessoa humana. Elas são
cuidar e ser cuidada, de se expressar, comunicar e criar, também práticas que respeitam e atendem ao direito da
de organizar pensamentos e idéias, de conviver, brincar e criança de apropriar-se, por meio de experiências corpo-
trabalhar em grupo, de ter iniciativa e buscar soluções para rais, dos modos estabelecidos culturalmente de alimenta-
os problemas e conflitos que se apresentam às mais dife- ção e promoção de saúde, de relação com o próprio corpo
rentes idades, e lhes possibilitem apropriar-se de diferen- e consigo mesma, mediada pelas professoras e professo-
tes linguagens e saberes que circulam em nossa sociedade, res, que intencionalmente planejam e cuidam da organiza-
selecionados pelo valor formativo que possuem em relação ção dessas práticas.
aos objetivos definidos em seu Projeto PolíticoPedagógico. A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim
orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e
8. Objetivos e condições para a organização curri- sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da
cular proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na
sua dimensão necessariamente humana de lidar com ques-
Os direitos da criança constituem hoje o paradigma tões de intimidade e afetividade, é característica não ape-
para o relacionamento social e político com as infâncias nas da Educação Infantil, mas de todos os níveis de ensino.
do país. A Constituição de 1988, no artigo 227, declara que Na Educação Infantil, todavia, a especificidade da criança
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à bem pequena, que necessita do professor até adquirir au-
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o di- tonomia para cuidar de si, expõe de forma mais evidente a
reito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, relação indissociável do educar e cuidar nesse contexto. A
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à definição e o aperfeiçoamento dos modos como a institui-
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de ção organiza essas atividades são parte integrante de sua
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discrimi- proposta curricular e devem ser realizadas sem fragmentar
nação, exploração, violência, crueldade e opressão”. ações.
Nessa expressão legal, as crianças são inseridas no Um bom planejamento das atividades educativas favo-
mundo dos direitos humanos e são definidos não apenas o rece a formação de competências para a criança aprender
direito fundamental da criança à provisão (saúde, alimenta- a cuidar de si. No entanto, na perspectiva que integra o
ção, lazer, educação lato senso) e à proteção (contra a vio- cuidado, educar não é apenas isto. Educar cuidando inclui
lência, discriminação, negligência e outros), como também acolher, garantir a segurança, mas também alimentar a
seus direitos fundamentais de participação na vida social e curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantis.
cultural, de ser respeitada e de ter liberdade para expres- Educar de modo indissociado do cuidar é dar condi-
sar-se individualmente. Esses pontos trouxeram perspec- ções para as crianças explorarem o ambiente de diferentes
152
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
maneiras (manipulando materiais da natureza ou objetos, esses espaços sejam estruturados de modo a permitir sua
observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fa- condição de sujeitos ativos e a ampliar suas possibilidades
zendo perguntas etc) e construírem sentidos pessoais e de ação nas brincadeiras e nas interações com as outras
significados coletivos, à medida que vão se constituindo crianças, momentos em que exercitam sua capacidade de
como sujeitos e se apropriando de um modo singular das intervir na realidade e participam das atividades curricu-
formas culturais de agir, sentir e pensar. Isso requer do pro- lares com os colegas. Isso inclui garantir no cotidiano da
fessor ter sensibilidade e delicadeza no trato de cada crian- instituição a acessibilidade de espaços, materiais, objetos
ça, e assegurar atenção especial conforme as necessidades e brinquedos, procedimentos e formas de comunicação
que identifica nas crianças. e orientação vividas, especificidades e singularidades das
As práticas que desafiam os bebês e as crianças maio- crianças com deficiências, transtornos globais de desenvol-
res a construírem e se apropriarem dos conhecimentos vimento e altas habilidades/superdotação.
produzidos por seu grupo cultural e pela humanidade, na 3) As instituições necessariamente precisam conhecer
Educação Infantil, pelas características desse momento de as culturas plurais que constituem o espaço da creche e da
vida, são articuladas ao entorno e ao cotidiano das crian- pré-escola, a riqueza das contribuições familiares e da co-
ças, ampliam suas possibilidades de ação no mundo e deli- munidade, suas crenças e manifestações, e fortalecer for-
neiam possibilidades delas viverem a infância. mas de atendimento articuladas aos saberes e às especifi-
2) O combate ao racismo e às discriminações de gêne- cidades étnicas, linguísticas, culturais e religiosas de cada
ro, sócio-econômicas, étnico-raciais e religiosas deve ser comunidade.
objeto de constante reflexão e intervenção no cotidiano da O reconhecimento da constituição plural das crianças
Educação Infantil. brasileiras, no que se refere à identidade cultural e regio-
As ações educativas e práticas cotidianas devem con- nal e à filiação socioeconômica, étnico-racial, de gênero,
siderar que os modos como a cultura medeia as formas regional, linguística e religiosa, é central à garantia de uma
de relação da criança consigo mesma são constitutivos dos Educação Infantil comprometida com os direitos das crian-
seus processos de construção de identidade. A perspectiva ças. Esse fundamento reforça a gestão democrática como
que acentua o atendimento aos direitos fundamentais da elemento imprescindível, uma vez que é por meio dela
criança, compreendidos na sua multiplicidade e integrali- que a instituição também se abre à comunidade, permite
dade, entende que o direito de ter acesso a processos de sua entrada, e possibilita sua participação na elaboração e
construção de conhecimento como requisito para forma- acompanhamento da proposta curricular. Dessa forma, a
ção humana, participação social e cidadania das crianças organização da proposta pedagógica deve prever o esta-
de zero a cinco anos de idade, efetua-se na interrelação belecimento de uma relação positiva com a comunidade
das diferentes práticas cotidianas que ocorrem no interior local e de mecanismos que garantam a gestão democrática
das creches e pré-escolas e em relação a crianças concre- e a consideração dos saberes comunitários, seja ela com-
tas, contemplando as especificidades desse processo nas posta pelas populações que vivem nos centros urbanos, ou
diferentes idades e em relação à diversidade cultural e étni- a população do campo, os povos da floresta e dos rios, os
co-racial e às crianças com deficiências, transtornos globais indígenas, quilombolas ou afrodescendentes.
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Na discussão sobre as diversidades, há que se conside-
A valorização da diversidade das culturas das diferen- rar que também a origem urbana das creches e pré-escolas
tes crianças e de suas famílias, por meio de brinquedos, e a sua extensão como direito a todas as crianças brasilei-
imagens e narrativas que promovam a construção por elas ras remetem à necessidade de que as propostas pedagógi-
de uma relação positiva com seus grupos de pertencimen- cas das instituições em territórios não-urbanos respeitem
to, deve orientar as práticas criadas na Educação Infantil suas identidades.
ampliando o olhar das crianças desde cedo para a con- Essa exigência é explicitada no caso de crianças filhas
tribuição de diferentes povos e culturas. Na formação de de agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesa-
pequenos cidadãos compromissada com uma visão plural nais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrá-
de mundo, é necessário criar condições para o estabele- ria, quilombolas, caiçaras, nas Diretrizes Operacionais para
cimento de uma relação positiva e uma apropriação das a Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução CNE/
contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, CEB nº 1/2002). Essas Diretrizes orientam o trabalho peda-
afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países gógico no estabelecimento de uma relação orgânica com a
da América, reconhecendo, valorizando, respeitando e cultura, as tradições, os saberes e as identidades dessas po-
possibilitando o contato das crianças com as histórias e as pulações, e indicam a adoção de estratégias que garantam
culturas desses povos. o atendimento às especificidades dessas comunidades tais
O olhar acolhedor de diversidades também se refere às como a flexibilização e adequação no calendário, nos agru-
crianças com deficiência, transtornos globais de desenvol- pamentos etários e na organização de tempos, atividades
vimento e altas habilidades/superdotação. Também o di- e ambientes em respeito às diferenças quanto à atividade
reito dessas crianças à liberdade e à participação, tal como econômica e à política de igualdade e sem prejuízo da qua-
para as demais crianças, deve ser acolhido no planejamen- lidade do atendimento. Elas apontam para a previsão da
to das situações de vivência e aprendizagem na Educação oferta de materiais didáticos, brinquedos e outros equipa-
Infantil. Para garanti-lo, são necessárias medidas que otimi- mentos em conformidade com a realidade da comunidade
zem suas vivências na creche e pré-escola, garantindo que e as diversidades dos povos do campo, evidenciando o pa-
153
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
pel dessas populações na produção do conhecimento so- 5) O atendimento ao direito da criança na sua integra-
bre o mundo. A Resolução CNE/CEB nº 2/2008, que estabe- lidade requer o cumprimento do dever do Estado com a
lece Diretrizes complementares, normas e princípios para garantia de uma experiência educativa com qualidade a
o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento todas as crianças na Educação Infantil.
da Educação Básica do Campo e regulamenta questões As instituições de Educação Infantil devem tanto ofe-
importantes para a Educação Infantil, proíbe que se agru- recer espaço limpo, seguro e voltado para garantir a saúde
pe em uma mesma turma crianças da Educação Infantil e infantil quanto se organizar como ambientes acolhedores,
crianças do Ensino Fundamental. desafiadores e inclusivos, plenos de interações, explora-
A situação de desvantagem das crianças moradoras ções e descobertas partilhadas com outras crianças e com
dos territórios rurais em relação ao acesso à educação é o professor. Elas ainda devem criar contextos que articu-
conhecida por meio dos relatórios governamentais e por lem diferentes linguagens e que permitam a participação,
trabalhos acadêmicos. Não bastasse a baixíssima cober- expressão, criação, manifestação e consideração de seus
tura do atendimento, esses relatórios apontam que são interesses.
precárias as instalações, são inadequados os materiais e No cumprimento dessa exigência, o planejamento cur-
os professores geralmente não possuem formação para o ricular deve assegurar condições para a organização do
trabalho com essas populações, o que caracteriza uma fla- tempo cotidiano das instituições de Educação Infantil de
grante ineficácia no cumprimento da política de igualdade modo a equilibrar continuidade e inovação nas atividades,
em relação ao acesso e permanência na Educação Infantil movimentação e concentração das crianças, momentos de
e uma violação do direito à educação dessas crianças. Uma segurança e momentos de desafio na participação das mes-
política que promova com qualidade a Educação Infantil mas, e articular seus ritmos individuais, vivências pessoais
nos próprios territórios rurais instiga a construção de uma e experiências coletivas com crianças e adultos. Também
pedagogia dos povos do campo – construída na relação é preciso haver a estruturação de espaços que facilitem
intrínseca com os saberes, as realidades e temporalidades que as crianças interajam e construam sua cultura de pa-
das crianças e de suas comunidades – e requer a necessária res, e favoreçam o contato com a diversidade de produtos
culturais (livros de literatura, brinquedos, objetos e outros
formação do professor nessa pedagogia.
materiais), de manifestações artísticas e com elementos
Em relação às crianças indígenas, há que se garantir a
da natureza. Junto com isso, há necessidade de uma in-
autonomia dos povos e nações na escolha dos modos de
fra-estrutura e de formas de funcionamento da instituição
educação de suas crianças de zero a cinco anos de idade
que garantam ao espaço físico a adequada conservação,
e que as propostas pedagógicas para esses povos que op-
acessibilidade, estética, ventilação, insolação, luminosida-
tarem pela Educação Infantil possam afirmar sua identida-
de, acústica, higiene, segurança e dimensões em relação
de sociocultural. Quando oferecidas, aceitas e requisitadas
ao tamanho dos grupos e ao tipo de atividades realizadas.
pelas comunidades, como direito das crianças indígenas, as
O número de crianças por professor deve possibilitar
propostas curriculares na Educação Infantil dessas crianças atenção, responsabilidade e interação com as crianças e
devem proporcionar uma relação viva com os conhecimen- suas famílias. Levando em consideração as características
tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memó- do espaço físico e das crianças, no caso de agrupamentos
rias de seu povo; reafirmar a identidade étnica e a língua com criança de mesma faixa de idade, recomenda-se a pro-
materna como elementos de constituição das crianças; dar porção de 6 a 8 crianças por professor (no caso de crianças
continuidade à educação tradicional oferecida na família e de zero e um ano), 15 crianças por professor (no caso de
articular-se às práticas sócio-culturais de educação e cui- criança de dois e três anos) e 20 crianças por professor (nos
dado da comunidade; adequar calendário, agrupamentos agrupamentos de crianças de quatro e cinco anos).
etários e organização de tempos, atividades e ambientes Programas de formação continuada dos professores e
de modo a atender as demandas de cada povo indígena. demais profissionais também integram a lista de requisitos
4) A execução da proposta curricular requer atenção básicos para uma Educação Infantil de qualidade. Tais pro-
cuidadosa e exigente às possíveis formas de violação da gramas são um direito das professoras e professores no
dignidade da criança. sentido de aprimorar sua prática e desenvolver a si e a sua
O respeito à dignidade da criança como pessoa huma- identidade profissional no exercício de seu trabalho. Eles
na, quando pensado a partir das práticas cotidianas na ins- devem dar-lhes condições para refletir sobre sua prática
tituição, tal como apontado nos “Indicadores de Qualidade docente cotidiana em termos pedagógicos, éticos e políti-
na Educação Infantil” elaborados pelo MEC, requer que a cos, e tomar decisões sobre as melhores formas de mediar
instituição garanta a proteção da criança contra qualquer a aprendizagem e o desenvolvimento infantil, consideran-
forma de violência – física ou simbólica – ou negligência, do o coletivo de crianças assim como suas singularidades.
tanto no interior das instituições de Educação Infantil como
na experiência familiar da criança, devendo as violações ser 8. A necessária e fundamental parceria com as famí-
encaminhadas às instâncias competentes. Os profissionais lias na Educação Infantil
da educação que aí trabalham devem combater e intervir
imediatamente quando ocorrem práticas dos adultos que A perspectiva do atendimento aos direitos da criança
desrespeitem a integridade das crianças, de modo a criar na sua integralidade requer que as instituições de Educa-
uma cultura em que essas práticas sejam inadmissíveis. ção Infantil, na organização de sua proposta pedagógica e
154
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
curricular, assegurem espaços e tempos para participação, Preocupações dos professores sobre a forma como al-
o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valo- gumas crianças parecem ser tratadas em casa – descuido,
rização das diferentes formas em que elas se organizam. violência, discriminação, superproteção e outras – devem
A família constitui o primeiro contexto de educação e ser discutidas com a direção de cada instituição para que
cuidado do bebê. Nela ele recebe os cuidados materiais, formas produtivas de esclarecimento e eventuais encami-
afetivos e cognitivos necessários a seu bem-estar, e cons- nhamentos possam ser pensados.
trói suas primeiras formas de significar o mundo. Quando
a criança passa a frequentar a Educação Infantil, é preci- 9. A organização das experiências de aprendizagem
so refletir sobre a especificidade de cada contexto no de- na proposta curricular
senvolvimento da criança e a forma de integrar as ações e
projetos educacionais das famílias e das instituições. Essa Em função dos princípios apresentados, e na tarefa de
integração com a família necessita ser mantida e desen- garantir às crianças seu direito de viver a infância e se de-
volvida ao longo da permanência da criança na creche e senvolver, as experiências no espaço de Educação Infantil
pré-escola, exigência inescapável frente às características devem possibilitar o encontro pela criança de explicações
das crianças de zero a cinco anos de idade, o que cria a ne- sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto
cessidade de diálogo para que as práticas junto às crianças desenvolvem formas de agir, sentir e pensar.
não se fragmentem. O importante é apoiar as crianças, desde cedo e ao
O trabalho com as famílias requer que as equipes de longo de todas as suas experiências cotidianas na Educa-
educadores as compreendam como parceiras, reconhe- ção Infantil no estabelecimento de uma relação positiva
cendo-as como criadoras de diferentes ambientes e papéis com a instituição educacional, no fortalecimento de sua
para seus membros, que estão em constante processo de auto-estima, no interesse e curiosidade pelo conhecimento
modificação de seus saberes, fazeres e valores em relação do mundo, na familiaridade com diferentes linguagens, na
a uma série de pontos, dentre eles o cuidado e a educação aceitação e acolhimento das diferenças entre as pessoas.
dos filhos. O importante é acolher as diferentes formas de Na explicitação do ambiente de aprendizagem, é ne-
organização familiar e respeitar as opiniões e aspirações cessário pensar “um currículo sustentado nas relações,
dos pais sobre seus filhos. Nessa perspectiva, as profes- nas interações e em práticas educativas intencionalmente
soras e professores compreendem que, embora comparti- voltadas para as experiências concretas da vida cotidiana,
lhem a educação das crianças com os membros da família, para a aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço
exercem funções diferentes destes. Cada família pode ver da vida coletiva e para a produção de narrativas, individuais
na professora ou professor alguém que lhe ajuda a pen- e coletivas, através de diferentes linguagens” (MEC, 2009a).
sar sobre seu próprio filho e trocar opiniões sobre como a A professora e o professor necessitam articular condi-
experiência na unidade de Educação Infantil se liga a este ções de organização dos espaços, tempos, materiais e das
plano. Ao mesmo tempo, o trabalho pedagógico desenvol- interações nas atividades para que as crianças possam ex-
vido na Educação Infantil pode apreender os aspectos mais pressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade
salientes das culturas familiares locais para enriquecer as e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em
experiências cotidianas das crianças. suas primeiras tentativas de escrita.
A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamen-
Um ponto inicial de trabalho integrado da instituição tos e movimentos amplos nos espaços internos e externos
de Educação Infantil com as famílias pode ocorrer no pe- às salas de referência das turmas e à instituição, envolver-
ríodo de adaptação e acolhimento dos novatos. Isso se fará -se em explorações e brincadeiras com objetos e materiais
de modo mais produtivo se, nesse período, as professoras diversificados que contemplem as particularidades das di-
e professores derem oportunidade para os pais falarem so- ferentes idades, as condições específicas das crianças com
bre seus filhos e as expectativas que têm em relação ao deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
atendimento na Educação Infantil, enquanto eles informam habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, cul-
e conversam com os pais os objetivos propostos pelo Pro- turais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias e
jeto Político-Pedagógico da instituição e os meios organi- comunidade regional.
zados para atingi-los. De modo a proporcionar às crianças diferentes expe-
Outros pontos fundamentais do trabalho com as famí- riências de interações que lhes possibilitem construir sabe-
lias são propiciados pela participação destas na gestão da res, fazer amigos, aprender a cuidar de si e a conhecer suas
proposta pedagógica e pelo acompanhamento partilhado próprias preferências e características, deve-se possibilitar
do desenvolvimento da criança. A participação dos pais que elas participem de diversas formas de agrupamento
junto com os professores e demais profissionais da educa- (grupos de mesma idade e grupos de diferentes idades),
ção nos conselhos escolares, no acompanhamento de pro- formados com base em critérios estritamente pedagógicos.
jetos didáticos e nas atividades promovidas pela instituição As especificidades e os interesses singulares e coletivos
possibilita agregar experiências e saberes e articular os dois dos bebês e das crianças das demais faixas etárias devem
contextos de desenvolvimento da criança. Nesse processo, ser considerados no planejamento do currículo, vendo a
os pais devem ser ouvidos tanto como usuários diretos do criança em cada momento como uma pessoa inteira na
serviço prestado como também como mais uma voz das qual os aspectos motores, afetivos, cognitivos e linguís-
crianças, em particular daquelas muito pequenas. ticos integram-se, embora em permanente mudança. Em
155
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
relação a qualquer experiência de aprendizagem que seja cos de expressão de idéias, sentimentos e imaginação. A
trabalhada pelas crianças, devem ser abolidos os procedi- aquisição da linguagem oral depende das possibilidades
mentos que não reconhecem a atividade criadora e o pro- das crianças observarem e participarem cotidianamente de
tagonismo da criança pequena, que promovam atividades situações comunicativas diversas onde podem comunicar-
mecânicas e não significativas para as crianças. -se, conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brin-
Cabe à professora e ao professor criar oportunidade car com palavras, refletir e expressar seus próprios pontos
para que a criança, no processo de elaborar sentidos pes- de vista, diferenciar conceitos, ver interconexões e desco-
soais, se aproprie de elementos significativos de sua cultu- brir novos caminhos de entender o mundo. É um processo
ra não como verdades absolutas, mas como elaborações que precisa ser planejado e continuamente trabalhado.
dinâmicas e provisórias. Trabalha-se com os saberes da Também a linguagem escrita é objeto de interesse
prática que as crianças vão construindo ao mesmo tempo pelas crianças. Vivendo em um mundo onde a língua es-
em que se garante a apropriação ou construção por elas de crita está cada vez mais presente, as crianças começam a
novos conhecimentos. Para tanto, a professora e o profes- se interessar pela escrita muito antes que os professores
sor observam as ações infantis, individuais e coletivas, aco- a apresentem formalmente. Contudo, há que se apontar
lhe suas perguntas e suas respostas, busca compreender o que essa temática não está sendo muitas vezes adequa-
significado de sua conduta. damente compreendida e trabalhada na Educação Infantil.
As propostas curriculares da Educação Infantil devem O que se pode dizer é que o trabalho com a língua escrita
garantir que as crianças tenham experiências variadas com com crianças pequenas não pode decididamente ser uma
as diversas linguagens, reconhecendo que o mundo no prática mecânica desprovida de sentido e centrada na de-
qual estão inseridas, por força da própria cultura, é ampla- codificação do escrito. Sua apropriação pela criança se faz
mente marcado por imagens, sons, falas e escritas. Nesse no reconhecimento, compreensão e fruição da linguagem
processo, é preciso valorizar o lúdico, as brincadeiras e as que se usa para escrever, mediada pela professora e pelo
culturas infantis. professor, fazendo-se presente em atividades prazerosas
As experiências promotoras de aprendizagem e conse- de contato com diferentes gêneros escritos, como a leitura
quente desenvolvimento das crianças devem ser propicia- diária de livros pelo professor, a possibilidade da criança
das em uma frequência regular e serem, ao mesmo tempo, desde cedo manusear livros e revistas e produzir narrativas
imprevistas, abertas a surpresas e a novas descobertas. Elas e “textos”, mesmo sem saber ler e escrever.
visam a criação e a comunicação por meio de diferentes Atividades que desenvolvam expressão motora e mo-
formas de expressão, tais como imagens, canções e músi- dos de perceber seu próprio corpo, assim como as que lhe
ca, teatro, dança e movimento, assim como a língua escrita possibilitem construir, criar e desenhar usando diferentes
e falada, sem esquecer da língua de sinais, que pode ser materiais e técnicas, ampliar a sensibilidade da criança à
aprendida por todas as crianças e não apenas pelas crian- música, à dança, à linguagem teatral, abrem ricas possibi-
ças surdas.
lidades de vivências e desenvolvimento para as crianças.
É necessário considerar que as linguagens se inter-re-
lacionam: por exemplo, nas brincadeiras cantadas a criança
Eperiências que promovam o envolvimento da crian-
explora as possibilidades expressivas de seus movimentos
ça com o meio ambiente e a conservação da natureza e
ao mesmo tempo em que brinca com as palavras e imita
a ajudem elaborar conhecimentos, por exemplo, de plan-
certos personagens. Quando se volta para construir co-
tas e animais, devem fazer parte do cotidiano da unidade de
nhecimentos sobre diferentes aspectos do seu entorno,
a criança elabora suas capacidades linguísticas e cogniti- Educação Infantil. Outras experiências podem priorizar, em
vas envolvidas na explicação, argumentação e outras, ao contextos e situações significativos, a exploração e uso de
mesmo tempo em que amplia seus conhecimentos sobre o conhecimentos matemáticos na apreciação das característi-
mundo e registra suas descobertas pelo desenho ou mes- cas básicas do conceito de número, medida e forma, assim
mo por formas bem iniciais de registro escrito. Por esse como a habilidade de se orientar no tempo e no espaço.
motivo, ao planejar o trabalho, é importante não tomar as Ter oportunidade para manusear gravadores, projeto-
linguagens de modo isolado ou disciplinar, mas sim con- res, computador e outros recursos tecnológicos e midiáti-
textualizadas, a serviço de significativas aprendizagens. cos também compõe o quadro de possibilidades abertas
As crianças precisam brincar em pátios, quintais, pra- para o trabalho pedagógico na Educação Infantil.
ças, bosques, jardins, praias, e viver experiências de semear, As experiências que permitam ações individuais e em
plantar e colher os frutos da terra, permitindo a construção um grupo, lidar com conflitos e entender direitos e obriga-
de uma relação de identidade, reverência e respeito para ções, que desenvolvam a identidade pessoal, sentimento
com a natureza. Elas necessitam também ter acesso a espa- de auto-estima, autonomia e confiança em suas próprias
ços culturais diversificados: inserção em práticas culturais habilidades, e um entendimento da importância de cuidar
da comunidade, participação em apresentações musicais, de sua própria saúde e bem-estar, devem ocupar lugar no
teatrais, fotográficas e plásticas, visitas a bibliotecas, brin- planejamento curricular.
quedotecas, museus, monumentos, equipamentos públi- Na elaboração da proposta curricular, diferentes ar-
cos, parques, jardins. ranjos de atividades poderão ser feitos, de acordo com as
É importante lembrar que dentre os bens culturais que características de cada instituição, a orientação de sua pro-
crianças têm o direito a ter acesso está a linguagem verbal, posta pedagógica, com atenção, evidentemente, às carac-
que inclui a linguagem oral e a escrita, instrumentos bási- terísticas das crianças.
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V o reconhecimento das especificidades etárias, das Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro-
singularidades individuais e coletivas das crianças, promo- posta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
vendo interações entre crianças de mesma idade e crianças norteadores as interações e a brincadeira, garantindo ex-
de diferentes idades; periências que:
VI os deslocamentos e os movimentos amplos das I promovam o conhecimento de si e do mundo por
crianças nos espaços internos e externos às salas de refe- meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas,
rência das turmas e à instituição; corporais que possibilitem movimentação ampla, expres-
VII a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, são da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos
brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, da criança;
transtornos globais de desenvolvimento e altas habilida- II favoreçam a imersão das crianças nas diferentes lin-
des/superdotação; guagens e o progressivo domínio por elas de vários gêne-
VIII a apropriação pelas crianças das contribuições his- ros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramá-
tórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, tica e musical;
asiáticos, europeus e de outros países da América; III possibilitem às crianças experiências de narrativas,
IX o reconhecimento, a valorização, o respeito e a inte- de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
ração das crianças com as histórias e as culturas africanas, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais
afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à dis- e escritos;
criminação; IV recriem, em contextos significativos para as crianças,
X a dignidade da criança como pessoa humana e a pro- relações quantitativas, medidas, formas e orientações es-
teção contra qualquer forma de violência – física ou simbó- paçotemporais;
lica – e negligência no interior da instituição ou praticadas V ampliem a confiança e a participação das crianças
pela família, prevendo os encaminhamentos de violações nas atividades individuais e coletivas;
para instâncias competentes. VI possibilitem situações de aprendizagem mediadas
§ 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
escolha dos modos de educação de suas crianças de 0 a cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
5 anos de idade, as propostas pedagógicas para os povos VII possibilitem vivências éticas e estéticas com outras
que optarem pela Educação Infantil devem: crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
I proporcionar uma relação viva com os conhecimen- referência e de identidades no diálogo e reconhecimento
tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias da diversidade;
de seu povo; VIII incentivem a curiosidade, a exploração, o encanta-
II reafirmar a identidade étnica e a língua materna mento, o questionamento, a indagação e o conhecimento
como elementos de constituição das crianças; das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo
III dar continuidade à educação tradicional oferecida e à natureza;
na família e articular-se às práticas sócio-culturais de edu- IX promovam o relacionamento e a interação das
cação e cuidado coletivos da comunidade; crianças com diversificadas manifestações de música, artes
IV adequar calendário, agrupamentos etários e organi- plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poe-
zação de tempos, atividades e ambientes de modo a aten- sia e literatura;
der as demandas de cada povo indígena. X promovam a interação, o cuidado, a preservação e o
§ 3º As propostas pedagógicas da Educação Infantil conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da
das crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas, vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos
pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampa- naturais;
dos da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da XI propiciem a interação e o conhecimento pelas crian-
floresta, devem: ças das manifestações e tradições culturais brasileiras;
I reconhecer os modos próprios de vida no campo XII possibilitem a utilização de gravadores, projetores,
como fundamentais para a constituição da identidade das computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos
crianças moradoras em territórios rurais; tecnológicos e midiáticos.
II ter vinculação inerente à realidade dessas popula- Parágrafo único As creches e pré-escolas, na elabora-
ções, suas culturas, tradições e identidades, assim como a ção da proposta curricular, de acordo com suas caracte-
práticas ambientalmente sustentáveis; rísticas, identidade institucional, escolhas coletivas e parti-
III flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e ativi- cularidades pedagógicas, estabelecerão modos de integra-
dades respeitando as diferenças quanto à atividade econô- ção dessas experiências.
mica dessas populações; Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar
IV valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas procedimentos para acompanhamento do trabalho peda-
populações na produção de conhecimentos sobre o mun- gógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças,
do e sobre o ambiente natural; sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, ga-
V prever a oferta de brinquedos e equipamentos que rantindo:
respeitem as características ambientais e socioculturais da I a observação crítica e criativa das atividades, das brin-
comunidade. cadeiras e interações das crianças no cotidiano;
159
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
II utilização de múltiplos registros realizados por adultos Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil
e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); deverão considerar que a criança, centro do planejamento
III a continuidade dos processos de aprendizagens por curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua iden-
momentos de transição vividos pela criança (transição tidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré- sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
-escola/Ensino Fundamental); Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação
IV documentação específica que permita às famílias Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se
conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os caracterizam como espaços institucionais não domésticos
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança que constituem estabelecimentos educacionais públicos
na Educação Infantil; ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5
V a não retenção das crianças na Educação Infantil. anos de idade no período diurno, em jornada integral ou
Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a parcial, regulados e supervisionados por órgão competen-
proposta pedagógica deve prever formas para garantir a te do sistema de ensino e submetidos a controle social.
continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvi- § 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação In-
mento das crianças, respeitando as especificidades etárias, fantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.
sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no § 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de
Ensino Fundamental. crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orien- do ano em que ocorrer a matrícula.
tações para a implementação dessas Diretrizes. § 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data de março devem ser matriculadas na Educação Infantil.
de sua publicação, revogando-se as disposições em con- § 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requi-
trário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. sito para a matrícula no Ensino Fundamental.
(*) Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União,
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL Brasília, 18 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 18.
DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA § 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser ofe-
recidas próximas às residências das crianças.
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009 (*) § 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial,
a jornada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo
Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- integral, a jornada com duração igual ou superior a sete
cação Infantil horas diárias, compreendendo o tempo total que a criança
permanece na instituição.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil
selho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições devem respeitar os seguintes princípios:
legais, com fundamento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da soli-
4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada dariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente
pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e tendo e às diferentes culturas, identidades e singularidades.
em vista o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, homologado por II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da
Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, pu- criticidade e do respeito à ordem democrática.
blicado no DOU de 9 de dezembro de 2009, resolve: III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludi-
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Cur- cidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifes-
riculares Nacionais para a Educação Infantil a serem obser- tações artísticas e culturais.
vadas na organização de propostas pedagógicas na Edu- Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta pe-
cação Infantil. dagógica das instituições de Educação Infantil deve garan-
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a tir que elas cumpram plenamente sua função sociopolítica
Educação Infantil articulam-se com as Diretrizes Curricu- e pedagógica:
lares Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, I - oferecendo condições e recursos para que as crian-
fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de ças usufruam seus direitos civis, humanos e sociais;
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para II - assumindo a responsabilidade de compartilhar e
orientar as políticas públicas na área e a elaboração, plane- complementar a educação e cuidado das crianças com as
jamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas famílias;
e curriculares. III - possibilitando tanto a convivência entre crianças e
Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido entre adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e
como um conjunto de práticas que buscam articular as ex- conhecimentos de diferentes naturezas;
periências e os saberes das crianças com os conhecimentos IV - promovendo a igualdade de oportunidades edu-
que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambien- cacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no
tal, científico e tecnológico, de modo a promover o desen- que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades
volvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. de vivência da infância;
160
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
V - construindo novas formas de sociabilidade e de III - dar continuidade à educação tradicional oferecida
subjetividade comprometidas com a ludicidade, a demo- na família e articular-se às práticas sócio-culturais de edu-
cracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento cação e cuidado coletivos da comunidade;
de relações de dominação etária, socioeconômica, étnico- IV - adequar calendário, agrupamentos etários e or-
-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa. ganização de tempos, atividades e ambientes de modo a
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Edu- atender as demandas de cada povo indígena.
cação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança § 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil
acesso a processos de apropriação, renovação e articulação das crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas,
de conhecimentos e aprendizagens de diferentes lingua- pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampa-
gens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, dos da reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da
à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à con- floresta, devem:
vivência e à interação com outras crianças. I - reconhecer os modos próprios de vida no campo
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas peda- como fundamentais para a constituição da identidade das
gógicas das instituições de Educação Infantil deverão pre- crianças moradoras em territórios rurais;
ver condições para o trabalho coletivo e para a organização II - ter vinculação inerente à realidade dessas popula-
de materiais, espaços e tempos que assegurem: ções, suas culturas, tradições e identidades, assim como a
I - a educação em sua integralidade, entendendo o cui- práticas ambientalmente sustentáveis;
dado como algo indissociável ao processo educativo; III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e ativi-
II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, dades respeitando as diferenças quanto à atividade econô-
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural mica dessas populações;
da criança; IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas
III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das populações na produção de conhecimentos sobre o mun-
famílias, o respeito e a valorização de suas formas de or- do e sobre o ambiente natural;
ganização; V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que
IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a respeitem as características ambientais e socioculturais da
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão comunidade.
democrática e a consideração dos saberes da comunidade; Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a pro-
V - o reconhecimento das especificidades etárias, das posta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
singularidades individuais e coletivas das crianças, promo- norteadores as interações e a brincadeira, garantindo ex-
vendo interações entre crianças de mesma idade e crianças periências que:
de diferentes idades; I - promovam o conhecimento de si e do mundo por
VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas,
crianças nos espaços internos e externos às salas de refe- corporais que possibilitem movimentação ampla, expres-
rência das turmas e à instituição; são da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos
VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, da criança;
brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes
transtornos globais de desenvolvimento e altas habilida- linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gê-
des/superdotação; neros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dra-
VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições mática e musical;
histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, III - possibilitem às crianças experiências de narrativas,
asiáticos, europeus e de outros países da América; de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita,
IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a in- e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais
teração das crianças com as histórias e as culturas africa- e escritos;
nas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à IV - recriem, em contextos significativos para as crian-
discriminação; ças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações
X - a dignidade da criança como pessoa humana e a espaçotemporais;
proteção contra qualquer forma de violência – física ou V - ampliem a confiança e a participação das crianças
simbólica – e negligência no interior da instituição ou pra- nas atividades individuais e coletivas;
ticadas pela família, prevendo os encaminhamentos de vio- VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas
lações para instâncias competentes. para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de
§ 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
escolha dos modos de educação de suas crianças de 0 a VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com ou-
5 anos de idade, as propostas pedagógicas para os povos tras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões
que optarem pela Educação Infantil devem: de referência e de identidades no diálogo e reconhecimen-
I - proporcionar uma relação viva com os conhecimen- to da diversidade;
tos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encan-
de seu povo; tamento, o questionamento, a indagação e o conhecimen-
II - reafirmar a identidade étnica e a língua materna to das crianças em relação ao mundo físico e social, ao
como elementos de constituição das crianças; tempo e à natureza;
161
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
162
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao
para as etapas e modalidades da Educação Básica devem projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das
evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas, políticas públicas e superar a desarticulação institucional.
sociais, culturais, educacionais, e a função da educação, § 1º Essa institucionalização é possibilitada por um Sis-
na sua relação com um projeto de Nação, tendo como re- tema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo,
ferência os objetivos constitucionais, fundamentando-se com suas peculiares competências, é chamado a colaborar
na cidadania e na dignidade da pessoa, o que pressupõe para transformar a Educação Básica em um sistema orgâni-
igualdade, liberdade, pluralidade, diversidade, respeito, co, sequencial e articulado.
justiça social, solidariedade e sustentabilidade. § 2º O que caracteriza um sistema é a atividade inten-
cional e organicamente concebida, que se justifica pela
(*) Resolução CNE/CEB 4/2010. Diário Oficial da União, realização de atividades voltadas para as mesmas finalida-
Brasília, 14 de julho de 2010, Seção 1, p. 824. des ou para a concretização dos mesmos objetivos.
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados
TÍTULO II pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS entre as funções distributiva, supletiva, normativa, de su-
pervisão e avaliação da educação nacional, respeitada a au-
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacio- tonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais.
nal de educação responsabilizam o poder público, a família,
a sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos TÍTULO IV
de um ensino ministrado de acordo com os princípios de: ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- QUALIDADE SOCIAL
manência e sucesso na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendiza-
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; gens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da
IV - respeito à liberdade e aos direitos; retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qua-
V - coexistência de instituições públicas e privadas de lidade social da educação, que é uma conquista coletiva de
ensino; todos os sujeitos do processo educativo.
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- Art. 9º A escola de qualidade social adota como cen-
tos oficiais; tralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
VII - valorização do profissional da educação escolar; atendimento aos seguintes requisitos:
I - revisão das referências conceituais quanto aos dife-
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
da legislação e das normas dos respectivos sistemas de en-
sociais na escola e fora dela;
sino;
II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
IX - garantia de padrão de qualidade;
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
X - valorização da experiência extraescolar;
cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
de cada comunidade;
as práticas sociais.
III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce
aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como ins-
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, trumento de contínua progressão dos estudantes;
da qual depende a possibilidade de conquistar todos os IV - inter-relação entre organização do currículo, do
demais direitos, definidos na Constituição Federal, no Es- trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes-
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na legislação sor, tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
ordinária e nas demais disposições que consagram as prer- V - preparação dos profissionais da educação, gesto-
rogativas do cidadão. res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilida- fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
de, buscando recuperar, para a função social desse nível da efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa acessibilidade;
em formação na sua essência humana. VII - integração dos profissionais da educação, dos es-
tudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interes-
TÍTULO III sados na educação;
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO VIII - valorização dos profissionais da educação, com
programa de formação continuada, critérios de acesso,
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a ins- permanência, remuneração compatível com a jornada de
titucionalização do regime de colaboração entre União, trabalho definida no projeto político-pedagógico;
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da es-
trutura federativa brasileira, em que convivem sistemas
163
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, defi-
assistência social e desenvolvimento humano, cidadania, nir o programa de escolas de tempo parcial diurno (matuti-
ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde, no ou vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral
meio ambiente. (turno e contra-turno ou turno único com jornada escolar
Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mí- de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), ten-
nimos de qualidade da educação traduz a necessidade de do em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído
reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planeja- ao conjunto orgânico da Educação Básica, o que requer ou-
da, coletivamente, pelos sujeitos da escola. tra organização e gestão do trabalho pedagógico.
§ 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela § 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou
escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto: diferentes espaços educativos, nos quais a permanência
I - aos princípios e às finalidades da educação, além do estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade
do reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo do tempo diário de escolarização quanto à diversidade de
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou atividades de aprendizagens.
outros indicadores, que o complementem ou substituam; § 2º A jornada em tempo integral com qualidade im-
II - à relevância de um projeto político-pedagógico plica a necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no
concebido e assumido colegiadamente pela comunidade currículo, de atividades e estudos pedagogicamente plane-
educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu- jados e acompanhados.
ralidade cultural; § 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem esta-
III - à riqueza da valorização das diferenças manifesta- belecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à
das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens
segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultu- e adultos em escolarização no tempo regular ou na moda-
ral; lidade de Educação de Jovens e Adultos.
IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-
-Qualidade Inicial – CAQi); CAPÍTULO I
§ 2º Para que se concretize a educação escolar, exige- FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
-se um padrão mínimo de insumos, que tem como base
um investimento com valor calculado a partir das despesas Art. 13. O currículo, assumindo como referência os
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedi- princípios educacionais garantidos à educação, assegu-
mentos formativos, que levem, gradualmente, a uma edu- rados no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o
cação integral, dotada de qualidade social: conjunto de valores e práticas que proporcionam a produ-
I - creches e escolas que possuam condições de in- ção, a socialização de significados no espaço social e con-
fraestrutura e adequados equipamentos; tribuem intensamente para a construção de identidades
II - professores qualificados com remuneração adequa- socioculturais dos educandos.
da e compatível com a de outros profissionais com igual § 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais
nível de formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos,
horas em tempo integral em uma mesma escola; do respeito ao bem comum e à ordem democrática, consi-
III - definição de uma relação adequada entre o nú- derando as condições de escolaridade dos estudantes em
mero de alunos por turma e por professor, que assegure cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a pro-
aprendizagens relevantes; moção de práticas educativas formais e não-formais.
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que res- § 2º Na organização da proposta curricular, deve-se
ponda às exigências do que se estabelece no projeto polí- assegurar o entendimento de currículo como experiências
tico-pedagógico. escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
TÍTULO V saberes dos estudantes com os conhecimentos historica-
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, mente acumulados e contribuindo para construir as identi-
POSSIBILIDADES dades dos educandos.
§ 3º A organização do percurso formativo, aberto e con-
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que textualizado, deve ser construída em função das peculiarida-
se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo- des do meio e das características, interesses e necessidades
-se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar dos estudantes, incluindo não só os componentes curricula-
as raízes próprias das diferentes regiões do País. res centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a su- educacionais, mas outros, também, de modo flexível e variá-
peração do rito escolar, desde a construção do currículo vel, conforme cada projeto escolar, e assegurando:
até os critérios que orientam a organização do trabalho I - concepção e organização do espaço curricular e fí-
escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, sico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, am-
acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de bientes e equipamentos que não apenas as salas de aula
crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento da escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas
entre todas as pessoas. e os socioculturais e esportivo- recreativos do entorno, da
cidade e mesmo da região;
164
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
165
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
da escola, que deve considerar o atendimento das caracte- Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade,
rísticas locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo seus princípios, objetivos e diretrizes educacionais, funda-
em vista as demandas do mundo do trabalho e da interna- mentando-se na inseparabilidade dos conceitos referen-
cionalização de toda ordem de relações. ciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteado-
§ 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005, ra do projeto político-pedagógico elaborado e executado
é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora fa- pela comunidade educacional.
cultativa para o estudante, bem como possibilitada no En- Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos
sino Fundamental, do 6º ao 9º ano. mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um
Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB, de- princípio orientador de toda a ação educativa, sendo res-
terminam que sejam incluídos componentes não discipli- ponsabilidade dos sistemas a criação de condições para
nares, como temas relativos ao trânsito, ao meio ambiente que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua di-
e à condição e direitos do idoso. versidade, tenham a oportunidade de receber a formação
Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, que corresponda à idade própria de percurso escolar.
destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horá-
ria anual ao conjunto de programas e projetos interdisci- CAPÍTULO I
plinares eletivos criados pela escola, previsto no projeto ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
pedagógico, de modo que os estudantes do Ensino Fun-
damental e do Médio possam escolher aquele programa Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes mo-
ou projeto com que se identifiquem e que lhes permitam mentos constitutivos do desenvolvimento educacional:
melhor lidar com o conhecimento e a experiência. I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche,
§ 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvi- englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da
dos de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola,
com a comunidade em que a escola esteja inserida. com duração de 2 (dois) anos;
§ 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
assegurar a transversalidade do conhecimento de diferen- duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas
tes disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o cur- fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
rículo e propiciando a interlocução entre os saberes e os finais;
diferentes campos do conhecimento. III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
anos.
TÍTULO VI Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quan-
do se atenta para sujeitos com características que fogem à
Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se ob- norma, como é o caso, entre outros:
servar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar;
suas etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
as suas especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. abandonado os estudos; III - de portadores de deficiência
§ 1º As etapas e as modalidades do processo de es- limitadora;
colarização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta
articulado, de maneira complexa, embora permanecendo incompleta; V - de habitantes de zonas rurais;
individualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar VI - de indígenas e quilombolas;
das mudanças por que passam: VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou
I - a dimensão orgânica é atendida quando são obser- internação, jovens e adultos em situação de privação de
vadas as especificidades e as diferenças de cada sistema liberdade nos estabelecimentos penais.
educativo, sem perder o que lhes é comum: as semelhan-
ças e as identidades que lhe são inerentes; Seção I
II - a dimensão sequencial compreende os processos Educação Infantil
educativos que acompanham as exigências de aprendiza-
gens definidas em cada etapa do percurso formativo, con- Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o desen-
tínuo e progressivo, da Educação Básica até a Educação volvimento integral da criança, em seus aspectos físico,
Superior, constituindo-se em diferentes e insubstituíveis afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a
momentos da vida dos educandos; ação da família e da comunidade.
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial § 1º As crianças provêm de diferentes e singulares con-
das etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas textos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso
com a Educação Superior, implica ação coordenada e inte- devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas
gradora do seu conjunto. pela escola e pelos profissionais da educação, com base
§ 2º A transição entre as etapas da Educação Básica nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, di-
e suas fases requer formas de articulação das dimensões versidade e pluralidade.
orgânica e sequencial que assegurem aos educandos, sem § 2º Para as crianças, independentemente das diferen-
tensões e rupturas, a continuidade de seus processos pecu- tes condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas,
liares de aprendizagem e desenvolvimento. étnico-raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, en-
166
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
tre outras, as relações sociais e intersubjetivas no espaço V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
escolar requerem a atenção intensiva dos profissionais da solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
educação, durante o tempo de desenvolvimento das ativi- assenta a vida social.
dades que lhes são peculiares, pois este é o momento em Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem es-
que a curiosidade deve ser estimulada, a partir da brinca- tabelecer especial forma de colaboração visando à oferta
deira orientada pelos profissionais da educação. do Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade primeira fase, no geral assumida pelo Município, e a se-
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida so- gunda, pelo Estado, para evitar obstáculos ao acesso de
cial devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensifica- estudantes que se transfiram de uma rede para outra para
ção deve ocorrer ao longo da Educação Básica. completar esta escolaridade obrigatória, garantindo a or-
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços ganicidade e a totalidade do processo formativo do esco-
promovendo ações a partir das quais as unidades de Edu- lar.
cação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as
crianças, em estreita relação com a família, com agentes Seção III
sociais e com a sociedade, prevendo programas e projetos Ensino Médio
em parceria, formalmente estabelecidos.
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo for-
torna necessária a solução de problemas individuais e co- mativo da Educação Básica, é orientado por princípios e
letivos pelas crianças devem ser previamente programadas, finalidades que preveem:
com foco nas motivações estimuladas e orientadas pelos I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
professores e demais profissionais da educação e outros mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando
de áreas pertinentes, respeitados os limites e as potenciali- o prosseguimento de estudos;
dades de cada criança e os vínculos desta com a família ou II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
com o seu responsável direto. tomado este como princípio educativo, para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas con-
Seção II dições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
Ensino Fundamental III - o desenvolvimento do educando como pessoa hu-
mana, incluindo a formação ética e estética, o desenvolvi-
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de mento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir IV - a compreensão dos fundamentos científicos e tec-
dos 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com nológicos presentes na sociedade contemporânea, relacio-
características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 nando a teoria com a prática.
(cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 § 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a
(seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) qual podem se assentar possibilidades diversas como pre-
anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos. paração geral para o trabalho ou, facultativamente, para
Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher sig- profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como inicia-
nifica também cuidar e educar, como forma de garantir ção científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da
a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o formação cultural.
estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe § 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se
permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na co- em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas
munidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que singularidades, que se situam em um tempo determinado.
lhe possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado § 3º Os sistemas educativos devem prever currículos
desses bens. flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens
Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças, tenham a oportunidade de escolher o percurso formati-
definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os vo que atenda seus interesses, necessidades e aspirações,
anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no pri- para que se assegure a permanência dos jovens na escola,
meiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e inten- com proveito, até a conclusão da Educação Básica.
sificando, gradativamente, o processo educativo, mediante:
I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo CAPÍTULO II
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
e do cálculo;
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode cor-
primeiros anos; responder uma ou mais das modalidades de ensino: Edu-
III - compreensão do ambiente natural e social, do sis- cação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação
tema político, da economia, da tecnologia, das artes, da Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação
cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade; Escolar Indígena e Educação a Distância.
IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habi-
lidades e a formação de atitudes e valores;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
mento e na concepção e organização curricular, educando Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação
para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação nacional está a valorização do profissional da educação,
conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola com a compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola,
mediante: com qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética,
I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto estética, ambiental.
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma con- § 1º A valorização do profissional da educação escolar
vivência social libertadora fundamentada na ética cidadã; vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e
II - a superação dos processos e procedimentos buro- ambas se associam à exigência de programas de formação
cráticos, assumindo com pertinência e relevância: os planos inicial e continuada de docentes e não docentes, no con-
pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais, e texto do conjunto de múltiplas atribuições definidas para
as atividades de avaliação contínua; os sistemas educativos, em que se inscrevem as funções
III - a prática em que os sujeitos constitutivos da comu- do professor.
nidade educacional discutam a própria práxis pedagógica § 2º Os programas de formação inicial e continuada
impregnando-a de entusiasmo e de compromisso com a dos profissionais da educação, vinculados às orientações
sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no con- destas Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho
texto das relações sociais e buscando soluções conjuntas; de suas atribuições, considerando necessário:
IV - a construção de relações interpessoais solidárias, a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, sa-
geridas de tal modo que os professores se sintam estimula- ber pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto
dos a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho, é, interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente;
estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as b) trabalhar cooperativamente em equipe;
suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais; c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os
V - a instauração de relações entre os estudantes, pro- instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológi-
porcionando-lhes espaços de convivência e situações de ca, econômica e organizativa;
aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com- d) desenvolver competências para integração com a
preender e se organizar em equipes de estudos e de práti- comunidade e para relacionamento com as famílias.
cas esportivas, artísticas e políticas; Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura,
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor não esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, sabe-
no cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola res e habilidades referidas, razão pela qual um programa
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens de formação continuada dos profissionais da educação
que lhe caiba desenvolver, com transparência e responsa- será contemplado no projeto político-pedagógico.
bilidade. Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orien-
tações para que o projeto de formação dos profissionais
CAPÍTULO IV preveja:
O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTI- a) a consolidação da identidade dos profissionais da
NUADA educação, nas suas relações com a escola e com o estu-
dante;
Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamenta- b) a criação de incentivos para o resgate da imagem
ção da ação docente e os programas de formação inicial e social do professor, assim como da autonomia docente
continuada dos profissionais da educação instauram, refle- tanto individual como coletiva;
te- se na eleição de um ou outro método de aprendizagem, c) a definição de indicadores de qualidade social da
a partir do qual é determinado o perfil de docente para a educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
Educação Básica, em atendimento às dimensões técnicas, profissionais da educação revejam os projetos dos cursos
políticas, éticas e estéticas. de formação inicial e continuada de docentes, de modo
§ 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de que correspondam às exigências de um projeto de Nação.
formação dos profissionais da educação, sejam gestores, Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
professores ou especialistas, deverão incluir em seus currí- publicação
culos e programas:
a) o conhecimento da escola como organização com-
plexa que tem a função de promover a educação para e na
cidadania;
b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
investigações de interesse da área educacional;
c) a participação na gestão de processos educativos e
na organização e funcionamento de sistemas e instituições
de ensino;
d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
construção do projeto político- pedagógico, mediante tra-
balho coletivo de que todos os que compõem a comunida-
de escolar são responsáveis.
172
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ca da equidade no acesso à educação, à saúde, ao traba- § 1º O foco nas experiências escolares significa que as
lho, aos bens culturais e outros benefícios; da exigência de orientações e as propostas curriculares que provêm das di-
diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de versas instâncias só terão concretude por meio das ações
direitos entre os alunos que apresentam diferentes neces- educativas que envolvem os alunos.
sidades; da redução da pobreza e das desigualdades so- § 2º As experiências escolares abrangem todos os as-
ciais e regionais. pectos do ambiente escolar:, aqueles que compõem a par-
III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente te explícita do currículo, bem como os que também contri-
com o da racionalidade; do enriquecimento das formas de buem, de forma implícita, para a aquisição de conhecimen-
expressão e do exercício da criatividade; da valorização das tos socialmente relevantes. Valores, atitudes, sensibilidade
diferentes manifestações culturais, especialmente a da cultura e orientações de conduta são veiculados não só pelos co-
brasileira; da construção de identidades plurais e solidárias. nhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de
Art. 7º De acordo com esses princípios, e em confor- convívio social, festividades, pela distribuição do tempo e
midade com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB),
organização do espaço educativo, pelos materiais utiliza-
as propostas curriculares do Ensino Fundamental visarão
dos na aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências
desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
proporcionadas pela escola.
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
os meios para progredir no trabalho e em estudos poste- § 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as
riores, mediante os objetivos previstos para esta etapa da diferentes instâncias que produzem orientações sobre o
escolarização, a saber: currículo, as escolas e os professores selecionam e trans-
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten- formam a fim de que possam ser ensinados e aprendidos,
do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da es- ao mesmo tempo em que servem de elementos para a for-
crita e do cálculo; mação ética, estética e política do aluno.
II – a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema político, das artes, da tecnologia e dos valores em BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA:
que se fundamenta a sociedade; COMPLEMENTARIDADE
III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a
formação de atitudes e valores como instrumentos para Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma
uma visão crítica do mundo; base nacional comum, complementada em cada sistema
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma par-
de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que te diversificada.
se assenta a vida social. Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada
do currículo do Ensino Fundamental constituem um todo
MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE) integrado e não podem ser consideradas como dois blocos
ANOS E CARGA HORÁRIA distintos.
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a par-
Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) te diversificada do currículo do Ensino Fundamental possi-
anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos bilita a sintonia dos interesses mais amplos de formação
14 (quatorze) anos de idade e se estende, também, a to- básica do cidadão com a realidade local, as necessidades
dos os que, na idade própria, não tiveram condições de dos alunos, as características regionais da sociedade, da
frequentá-lo. cultura e da economia e perpassa todo o currículo.
§ 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental
§ 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao
de crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até
interesse social e à preservação da ordem democrática, os
o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos
conhecimentos que fazem parte da base nacional comum
termos da Lei e das normas nacionais vigentes.
a que todos devem ter acesso, independentemente da re-
§ 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após
essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil gião e do lugar em que vivem, asseguram a característica
(Pré-Escola). unitária das orientações curriculares nacionais, das propos-
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Funda- tas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, dos Mu-
mental regular será de 800 (oitocentas) horas relógio, dis- nicípios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
tribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos) dias de efetivo § 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte
trabalho escolar. diversificada do currículo serão definidos pelos sistemas de
ensino e pelas escolas, de modo a complementar e enri-
CURRÍCULO quecer o currículo, assegurando a contextualização dos co-
Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendi- nhecimentos escolares em face das diferentes realidades.
do, nesta Resolução, como constituído pelas experiências Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, comum e a parte diversificada têm origem nas disciplinas
permeadas pelas relações sociais, buscando articular vi- científicas, no desenvolvimento das linguagens, no mundo
vências e saberes dos alunos com os conhecimentos his- do trabalho, na cultura e na tecnologia, na produção ar-
toricamente acumulados e contribuindo para construir as tística, nas atividades desportivas e corporais, na área da
identidades dos estudantes. saúde e ainda incorporam saberes como os que advêm das
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
formas diversas de exercício da cidadania, dos movimentos § 5º A Educação Física, componente obrigatório do
sociais, da cultura escolar, da experiência docente, do coti- currículo do Ensino Fundamental, integra a proposta políti-
diano e dos alunos. co-pedagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas
Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são cons- nas circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº
tituídos por componentes curriculares que, por sua vez, se 9.394/96.
articulam com as áreas de conhecimento, a saber: Lingua- § 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao alu-
gens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Huma- no, é parte integrante da formação básica do cidadão e
nas. As áreas de conhecimento favorecem a comunicação constitui componente curricular dos horários normais das
entre diferentes conhecimentos sistematizados e entre escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o res-
estes e outros saberes, mas permitem que os referenciais peito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas
próprios de cada componente curricular sejam preserva- quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da
dos. Lei nº 9.394/96.
Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de co-
Fundamental deve abranger, obrigatoriamente, conforme nhecimento devem articular em seus conteúdos, a partir
o art. 26 da Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portugue- das possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abor-
sa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e dagem de temas abrangentes e contemporâneos que afe-
natural e da realidade social e política, especialmente a do tam a vida humana em escala global, regional e local, bem
Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o como na esfera individual. Temas como saúde, sexualida-
Ensino Religioso. de e gênero, vida familiar e social, assim como os direitos
Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da
Ensino Fundamental serão assim organizados em relação Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do
às áreas de conhecimento: meio ambiente, nos termos da política nacional de educa-
I – Linguagens: ção ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o consumo,
a) Língua Portuguesa; educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e diversida-
b) Língua Materna, para populações indígenas; de cultural devem permear o desenvolvimento dos con-
c) Língua Estrangeira moderna; teúdos da base nacional comum e da parte diversificada
d) Arte; e do currículo.
e) Educação Física; II – Matemática; § 1º Outras leis específicas que complementam a Lei
III – Ciências da Natureza; IV – Ciências Humanas: nº 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos te-
a) História; mas relativos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº
b) Geografia; 10.741/2003) e à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97).
V – Ensino Religioso. § 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em lín- trabalhar os componentes curriculares, as áreas de conhe-
gua portuguesa, assegurada também às comunidades in- cimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada,
dígenas a utilização de suas línguas maternas e processos conforme a Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
próprios de aprendizagem, conforme o art. 210, § 2º, da Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução
Constituição Federal. CNE/CEB nº 4/2010).
§ 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as § 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- compete a produção e a disseminação de materiais sub-
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indí- sidiários ao trabalho docente, que contribuam para a eli-
gena, africana e européia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96). minação de discriminações, racismo, sexismo, homofobia e
§ 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira, outros preconceitos e que conduzam à adoção de compor-
presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos tamentos responsáveis e solidários em relação aos outros e
no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no ao meio ambiente.
ensino de Arte, Literatura e História do Brasil, assim como Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino
a História da África, deverão assegurar o conhecimento e Fundamental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º
o reconhecimento desses povos para a constituição da na- ano, o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira mo-
ção (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela derna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar.
Lei nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o le- Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras moder-
que de referências culturais de toda a população escolar e nas, a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da
contribui para a mudança das suas concepções de mundo, Lei nº 11.161/2005.
transformando os conhecimentos comuns veiculados pelo
currículo e contribuindo para a construção de identidades PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
mais plurais e solidárias. Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não (nove) anos de duração exige a estruturação de um proje-
exclusivo, do componente curricular Arte, o qual com- to educativo coerente, articulado e integrado, de acordo
preende também as artes visuais, o teatro e a dança, con- com os modos de ser e de se desenvolver das crianças e
forme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. adolescentes nos diferentes contextos sociais.
175
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a periências dos alunos atendendo as suas diferenças e ne-
que se refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como cessidades específicas, de modo a contribuir para efetivar a
tempos e espaços interdependentes e articulados entre si, inclusão escolar e o direito de todos à educação.
ao longo dos 9 (nove) anos de duração do Ensino Funda- Art. 23 Na implementação do projeto político-pedagó-
mental. gico, o cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola,
resultarão em ações integradas que buscam articular-se,
GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO GA- pedagogicamente, no interior da própria instituição, e tam-
RANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO bém externamente, com os serviços de apoio aos sistemas
educacionais e com as políticas de outras áreas, para asse-
Art. 20 As escolas deverão formular o projeto políti- gurar a aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvimento
co-pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo do aluno em todas as suas dimensões.
com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,
por meio de processos participativos relacionados à gestão RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E ABOR-
democrática. DAGENS
§ 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a
proposta educativa construída pela comunidade escolar no Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos esco-
exercício de sua autonomia, com base nas características lares no currículo favorece a sua contextualização e aproxima
dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo o processo educativo das experiências dos alunos.
como referência as orientações curriculares nacionais e dos § 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiên-
respectivos sistemas de ensino. cias assentadas em diversas concepções de currículo inte-
§ 2º Será assegurada ampla participação dos profissio- grado e interdisciplinar oferecerá aos docentes subsídios
nais da escola, da família, dos alunos e da comunidade lo- para desenvolver propostas pedagógicas que avancem na
cal na definição das orientações imprimidas aos processos direção de um trabalho colaborativo, capaz de superar a
educativos e nas formas de implementá-las, tendo como fragmentação dos componentes curriculares.
apoio um processo contínuo de avaliação das ações, a fim § 2º Constituem exemplos de possibilidades de inte-
de garantir a distribuição social do conhecimento e con-
gração do currículo, entre outros, as propostas curricula-
tribuir para a construção de uma sociedade democrática e
res ordenadas em torno de grandes eixos articuladores,
igualitária.
projetos interdisciplinares com base em temas geradores
§ 3º O regimento escolar deve assegurar as condições
formulados a partir de questões da comunidade e articu-
institucionais adequadas para a execução do projeto políti-
lados aos componentes curriculares e às áreas de conheci-
co-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com
mento, currículos em rede, propostas ordenadas em torno
qualidade social, igualmente garantida a ampla participa-
ção da comunidade escolar na sua elaboração. de conceitos-chave ou conceitos nucleares que permitam
§ 4º O projeto político-pedagógico e o regimento trabalhar as questões cognitivas e as questões culturais
escolar, em conformidade com a legislação e as normas numa perspectiva transversal, e projetos de trabalho com
vigentes, conferirão espaço e tempo para que os profis- diversas acepções.
sionais da escola e, em especial, os professores, possam § 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade,
participar de reuniões de trabalho coletivo, planejar e exe- redes e sistemas de ensino serão articulados ao desenvol-
cutar as ações educativas de modo articulado, avaliar os vimento dos componentes curriculares e às áreas de co-
trabalhos dos alunos, tomar parte em ações de formação nhecimento, observadas as disposições contidas nas Dire-
continuada e estabelecer contatos com a comunidade. trizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica
§ 5º Na implementação de seu projeto político-peda- (Resolução CNE/CEB nº 4/2010, art. 17) e nos termos do
gógico, as escolas se articularão com as instituições for- Parecer que dá base à presente Resolução.
madoras com vistas a assegurar a formação continuada de Art. 25 Os professores levarão em conta a diversida-
seus profissionais. de sociocultural da população escolar, as desigualdades
Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino de acesso ao consumo de bens culturais e a multiplicidade
Fundamental e no regimento escolar, o aluno, centro do de interesses e necessidades apresentadas pelos alunos no
planejamento curricular, será considerado como sujeito desenvolvimento de metodologias e estratégias variadas
que atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas que melhor respondam às diferenças de aprendizagem en-
sociais que vivencia, produzindo cultura e construindo sua tre os estudantes e às suas demandas.
identidade pessoal e social. Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão
Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno adequadas condições de trabalho aos seus profissionais e o
tomará parte ativa na discussão e na implementação das provimento de outros insumos, de acordo com os padrões
normas que regem as formas de relacionamento na escola, mínimos de qualidade referidos no inciso IX do art. 4º da
fornecerá indicações relevantes a respeito do que deve ser Lei nº 9.394/96 e em normas específicas estabelecidas pelo
trabalhado no currículo e será incentivado a participar das Conselho Nacional de Educação, com vistas à criação de
organizações estudantis. um ambiente propício à aprendizagem, com base:
Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental I – no trabalho compartilhado e no compromisso indi-
deve empenhar-se na promoção de uma cultura escolar vidual e coletivo dos professores e demais profissionais da
acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize as ex- escola com a aprendizagem dos alunos;
176
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
II – no atendimento às necessidades específicas de apren- do Ensino Fundamental com a Educação Infantil, dos anos
dizagem de cada um mediante abordagens apropriadas; iniciais e dos anos finais no interior do Ensino Fundamental,
III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e bem como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio,
nos espaços sociais e culturais do entorno; garantindo a qualidade da Educação Básica.
IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando § 1º O reconhecimento do que os alunos já aprende-
que a aprendizagem seja relevante e socialmente signifi- ram antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a re-
cativa; cuperação do caráter lúdico do ensino contribuirão para
V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com melhor qualificar a ação pedagógica junto às crianças, so-
as famílias. bretudo nos anos iniciais dessa etapa da escolarização.
Parágrafo único. Como protagonistas das ações pe- § 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais
dagógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase no do Ensino Fundamental, especial atenção será dada:
reconhecimento e valorização da experiência do aluno e I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da ofer-
da cultura local que contribui para construir identidades ta educativa dos alunos transferidos das redes municipais
afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos para as estaduais;
mais complexos de análise da realidade que possibilitem II – pelas escolas, à coordenação das demandas especí-
o acesso a níveis universais de explicação dos fenômenos, ficas feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de
propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e ou- que os estudantes possam melhor organizar as suas ativi-
tras realidades e culturas e participar de diferentes esferas dades diante das solicitações muito diversas que recebem.
da vida social, econômica e política. Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental de-
Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professo- vem assegurar:
res, com o apoio das famílias e da comunidade, envidarão I – a alfabetização e o letramento;
esforços para assegurar o progresso contínuo dos alunos II – o desenvolvimento das diversas formas de expres-
no que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aqui- são, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Li-
sição de aprendizagens significativas, lançando mão de teratura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim
todos os recursos disponíveis e criando renovadas opor- como o aprendizado da Matemática, da Ciência, da Histó-
ria e da Geografia;
tunidades para evitar que a trajetória escolar discente seja
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta
retardada ou indevidamente interrompida.
a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos
§ 1º Devem, portanto, adotar as providências neces-
que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como
sárias para que a operacionalização do princípio da conti-
um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para o
nuidade não seja traduzida como “promoção automática”
segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro.
de alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola,
que o combate à repetência não se transforme em des- no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime se-
compromisso com o ensino e a aprendizagem. riado, será necessário considerar os três anos iniciais do
§ 2º A organização do trabalho pedagógico inclui- Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um
rá a mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para
escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematiza-
diversas linguagens artísticas, a diversidade de materiais, ção e aprofundamento das aprendizagens básicas, impres-
os variados suportes literários, as atividades que mobili- cindíveis para o prosseguimento dos estudos.
zem o raciocínio, as atitudes investigativas, as abordagens § 2º Considerando as características de desenvolvimento
complementares e as atividades de reforço, a articulação dos alunos, cabe aos professores adotar formas de trabalho
entre a escola e a comunidade, e o acesso aos espaços de que proporcionem maior mobilidade das crianças nas salas
expressão cultural. de aula e as levem a explorar mais intensamente as diversas
Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e con- linguagens artísticas, a começar pela literatura, a utilizar ma-
teúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimen- teriais que ofereçam oportunidades de raciocinar, manusean-
to do currículo contribui para o importante papel que tem do-os e explorando as suas características e propriedades.
a escola como ambiente de inclusão digital e de utilização Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os
crítica das tecnologias da informação e comunicação, reque- componentes curriculares Educação Física e Arte poderão
rendo o aporte dos sistemas de ensino no que se refere à: estar a cargo do professor de referência da turma, aquele
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em com o qual os alunos permanecem a maior parte do pe-
número suficiente para o atendimento aos alunos; ríodo escolar, ou de professores licenciados nos respecti-
II – adequada formação do professor e demais profis- vos componentes.
sionais da escola. § 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estran-
geira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor
ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA ES- deverá ter licenciatura específica no componente curricular.
COLAR § 2º Nos casos em que esses componentes curricula-
res sejam desenvolvidos por professores com licenciatura
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um per- específica (conforme Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve
curso contínuo de aprendizagens torna imperativa a arti- ser assegurada a integração com os demais componentes
culação de todas as etapas da educação, especialmente trabalhados pelo professor de referência da turma.
177
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
178
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação § 1º As escolas das populações do campo, dos povos
do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, ar- indígenas e dos quilombolas, ao contar com a participação
ticuladas aos componentes curriculares e às áreas de co- ativa das comunidades locais nas decisões referentes ao
nhecimento, a vivências e práticas socioculturais. currículo, estarão ampliando as oportunidades de:
§ 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do es- I – reconhecimento de seus modos próprios de vida,
paço escolar conforme a disponibilidade da escola, ou fora suas culturas, tradições e memórias coletivas, como fun-
dele, em espaços distintos da cidade ou do território em damentais para a constituição da identidade das crianças,
que está situada a unidade escolar, mediante a utilização adolescentes e adultos;
de equipamentos sociais e culturais aí existentes e o esta- II – valorização dos saberes e do papel dessas popula-
belecimento de parcerias com órgãos ou entidades locais, ções na produção de conhecimentos sobre o mundo, seu
sempre de acordo com o respectivo projeto político-peda- ambiente natural e cultural, assim como as práticas am-
gógico. bientalmente sustentáveis que utilizam;
§ 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendiza- III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das
gem à comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cul-
para a construção de redes sociais e de cidades educadoras. tivo da língua materna na escola para estes últimos, como
§ 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos elementos importantes de construção da identidade;
sistemas estaduais e municipais de educação assegurarão IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar,
que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral das rotinas e atividades, tendo em conta as diferenças rela-
possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além tivas às atividades econômicas e culturais, mantido o total
do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será de horas anuais obrigatórias no currículo;
passível de avaliação em cada escola. V – superação das desigualdades sociais e escolares
que afetam essas populações, tendo por garantia o direito
EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍ- à educação;
GENA E EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA § 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do
campo, indígenas e quilombolas devem contemplar a di-
versidade nos seus aspectos sociais, culturais, políticos,
Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação
econômicos, éticos e estéticos, de gênero, geração e etnia.
rural na legislação brasileira, incorpora os espaços da flo-
§ 3º As escolas que atendem a essas populações de-
resta, da pecuária, das minas e da agricultura e se estende,
verão ser devidamente providas pelos sistemas de ensino
também, aos espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e
de materiais didáticos e educacionais que subsidiem o tra-
extrativistas, conforme as Diretrizes para a Educação Básica
balho com a diversidade, bem como de recursos que asse-
do Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/
gurem aos alunos o acesso a outros bens culturais e lhes
CEB nº 1/2002; Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução permitam estreitar o contato com outros modos de vida e
CNE/CEB nº 2/2008). outras formas de conhecimento.
Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Es- § 4º A participação das populações locais pode tam-
colar Quilombola são, respectivamente, oferecidas em uni- bém subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino
dades educacionais inscritas em suas terras e culturas e, quanto à produção e à oferta de materiais escolares e no
para essas populações, estão assegurados direitos especí- que diz respeito a transporte e a equipamentos que aten-
ficos na Constituição Federal que lhes permitem valorizar e dam as características ambientais e socioculturais das co-
preservar as suas culturas e reafirmar o seu pertencimento munidades e as necessidades locais e regionais.
étnico.
§ 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e or- EDUCAÇÃO ESPECIAL
denamentos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares
Nacionais específicas, terão ensino intercultural e bilíngue, Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o re-
com vistas à afirmação e à manutenção da diversidade gimento escolar, amparados na legislação vigente, deverão
étnica e linguística, assegurarão a participação da comu- contemplar a melhoria das condições de acesso e de per-
nidade no seu modelo de edificação, organização e ges- manência dos alunos com deficiência, transtornos globais
tão, e deverão contar com materiais didáticos produzidos do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns
de acordo com o contexto cultural de cada povo (Parecer do ensino regular, intensificando o processo de inclusão
CNE/CEB nº 14/99 e Resolução CNE/CEB nº 3/99). nas escolas públicas e privadas e buscando a universaliza-
§ 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola ção do atendimento.
deverá ser definido pelo Conselho Nacional de Educação Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são
por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais específicas. aqueles que asseguram condições de acesso ao currícu-
Art. 40 O atendimento escolar às populações do cam- lo dos alunos com deficiência e mobilidade reduzida, por
po, povos indígenas e quilombolas requer respeito às suas meio da utilização de materiais didáticos, dos espaços, mo-
peculiares condições de vida e a utilização de pedagogias biliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e
condizentes com as suas formas próprias de produzir co- informação, dos transportes e outros serviços.
nhecimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacio- Art. 42 O atendimento educacional especializado aos
nais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº alunos da Educação Especial será promovido e expandido
7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). com o apoio dos órgãos competentes. Ele não substitui a
179
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
escolarização, mas contribui para ampliar o acesso ao cur- III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adul-
rículo, ao proporcionar independência aos educandos para tos nos períodos diurno e noturno, com avaliação em pro-
a realização de tarefas e favorecer a sua autonomia (con- cesso.
forme Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/CEB nº 13/2009 Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e
e Resolução CNE/CEB nº 4/2009). Adultos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será pre-
Parágrafo único. O atendimento educacional especia- sencial e a sua duração ficará a critério de cada sistema
lizado poderá ser oferecido no contraturno, em salas de de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal
recursos multifuncionais na própria escola, em outra esco- como remete o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução
la ou em centros especializados e será implementado por CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos finais, ou seja, do 6º ano ao
professores e profissionais com formação especializada, de 9º ano, os cursos poderão ser presenciais ou a distância,
acordo com plano de atendimento aos alunos que identi- devidamente credenciados, e terão 1.600 (mil e seiscentas)
fique suas necessidades educacionais específicas, defina os horas de duração.
recursos necessários e as atividades a serem desenvolvidas. Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os per-
fis e as faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos,
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS o projeto político-pedagógico da escola e o regimento
Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuita- escolar viabilizarão um modelo pedagógico próprio para
mente, aos jovens e adultos que não puderam efetuar os essa modalidade de ensino que permita a apropriação e a
estudos na idade própria, oportunidades educacionais contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, as-
adequadas às suas características, interesses, condições de segurando:
vida e de trabalho mediante cursos e exames, conforme I – a identificação e o reconhecimento das formas de
estabelece o art. 37, § 1º, da Lei nº 9.394/96. aprender dos adolescentes, jovens e adultos e a valoriza-
Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para ção de seus conhecimentos e experiências;
a garantia de formação integral, da alfabetização às dife- II – a distribuição dos componentes curriculares de
rentes etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive modo a proporcionar um patamar igualitário de formação,
bem como a sua disposição adequada nos tempos e espa-
àqueles em situação de privação de liberdade, é pautada
ços educativos, em face das necessidades específicas dos
pela inclusão e pela qualidade social e requer:
estudantes.
I – um processo de gestão e financiamento que lhe
Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no
assegure isonomia em relação ao Ensino Fundamental re-
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluin-
gular;
do, além da avaliação do rendimento dos alunos, a aferição
II – um modelo pedagógico próprio que permita a
de indicadores institucionais das redes públicas e privadas,
apropriação e a contextualização das Diretrizes Curricula-
concorrerá para a universalização e a melhoria da qualida-
res Nacionais;
de do processo educativo.
III – a implantação de um sistema de monitoramento
e avaliação; IV – uma política de formação permanente de A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COMPRO-
seus professores; MISSO SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE ENSINO
V – maior alocação de recursos para que seja ministra-
da por docentes licenciados. Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretri-
Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de zes, cabe aos sistemas e às redes de ensino prover:
Educação de Jovens e Adultos e para a realização de exa- I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e
mes de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos comple- espaços dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a
tos (Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº distribuição de materiais didáticos e escolares adequados;
3/2010). II – a formação continuada dos professores e demais
Parágrafo único. Considerada a prioridade de aten- profissionais da escola em estreita articulação com as ins-
dimento à escolarização obrigatória, para que haja oferta tituições responsáveis pela formação inicial, dispensando
capaz de contemplar o pleno atendimento dos adolescen- especiais esforços quanto à formação dos docentes das
tes, jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, modalidades específicas do Ensino Fundamental e àqueles
com defasagem idade/série, tanto na sequência do ensino que trabalham nas escolas do campo, indígenas e quilom-
regular, quanto em Educação de Jovens e Adultos, assim bolas;
como nos cursos destinados à formação profissional, tor- III – a coordenação do processo de implementação do
na-se necessário: currículo, evitando a fragmentação dos projetos educativos
I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas no interior de uma mesma realidade educacional;
as modalidades do Ensino Fundamental; IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas
II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabe- e ações educativas nas respectivas redes e escolas e o su-
lecerem política própria para o atendimento desses estu- primento das necessidades detectadas.
dantes, que considere as suas potencialidades, necessida- Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com
des, expectativas em relação à vida, às culturas juvenis e ao os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, deverá en-
mundo do trabalho, inclusive com programas de acelera- caminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida
ção da aprendizagem, quando necessário; de consulta pública nacional, proposta de expectativas de
180
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
aprendizagem dos conhecimentos escolares que devem § 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por
ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do Ensino objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem
Fundamental (art. 9º, § 3º, desta Resolução). como de atitudes, posturas e valores que eduquem cida-
Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educa- dãos quanto à pluralidade
ção elaborar orientações e oferecer outros subsídios para a étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de
implementação destas Diretrizes. negociar objetivos comuns que garantam, a todos,
Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data respeito aos direitos legais e valorização de identidade,
de sua publicação, revogando- se as disposições em con- na busca da consolidação da democracia brasileira.
trário, especialmente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de § 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
abril de 1998. Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização
da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem
como a garantia de reconhecimento e igualdade de valori-
zação das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das
RESOLUÇÃO CNE/CP N.º 1/2004 – INSTITUI indígenas, européias, asiáticas.
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS § 3º Caberá aos conselhos de Educação dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios desenvolver as Dire-
PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES
trizes Curriculares Nacionais instituídas por esta Resolução,
ÉTNICORACIAIS E PARA O ENSINO DE dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E federativos e seus respectivos sistemas.
AFRICANA. Art. 3° A Educação das Relações Étnico-Raciais e o estu-
do de História e Cultura Afro- Brasileira, e História e Cultura
Africana será desenvolvida por meio de conteúdos, com-
petências, atitudes e valores, a serem estabelecidos pelas
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004. (*) Instituições de ensino e seus professores, com o apoio e
supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedo-
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- ras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações,
cação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.. CP 003/2004.
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, ten- § 1° Os sistemas de ensino e as entidades mantene-
do em vista o disposto no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº doras incentivarão e criarão condições materiais e finan-
9.131, publicada em 25 de novembro de 1995, e com fun- ceiras, assim como proverão as escolas, professores e
damentação no Parecer CNE/CP 3/2004, de 10 de março alunos, de material
de 2004, homologado pelo Ministro da Educação em 19 de § 2° As coordenações pedagógicas promoverão o
maio de 2004, e que a este se integra, resolve: aprofundamento de estudos, para que os professores
Art. 1° A presente Resolução institui Diretrizes Curricu- concebam e desenvolvam unidades de estudos, projetos
lares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Ra- e programas, abrangendo os diferentes componentes cur-
ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e riculares.
Africana, a serem observadas pelas Instituições de ensino, § 3° O ensino sistemático de História e Cultura Afro-
que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira -Brasileira e Africana na Educação Básica, nos termos da
e, em especial, por Instituições que desenvolvem progra- Lei 10639/2003, refere-se, em especial, aos componentes
mas de formação inicial e continuada de professores. curriculares de Educação Artística, Literatura e História do
§ 1° As Instituições de Ensino Superior incluirão nos Brasil.
conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cur- § 4° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas so-
sos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais, bre processos educativos orientados por valores, visões de
bem como o tratamento de questões e temáticas que di- mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesqui-
zem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicita- sas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o
dos no Parecer CNE/CP 3/2004. objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas
§ 2° O cumprimento das referidas Diretrizes Curriculares, para a educação brasileira.
por parte das instituições de ensino, será considerado na ava- Art. 4° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino
liação das condições de funcionamento do estabelecimento. poderão estabelecer canais de comunicação com grupos
Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições
cação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de His- formadoras de professores, núcleos de estudos e pesqui-
tória e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de sas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a
orientações, princípios e fundamentos para o planejamen- finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para
to, execução e avaliação da Educação, e têm por meta, pro- planos institucionais, planos pedagógicos e projetos de
mover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no ensino.
seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, bus- Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências no
cando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção sentido de garantir o direito de alunos afrodescendentes
de nação democrática. de frequentarem estabelecimentos de ensino de qualida-
181
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
de, que contenham instalações e equipamentos sólidos e MILENA BARGIERI, PREFEITA MUNICIPAL DA ES-
atualizados, em cursos ministrados por professores com- TÂNCIA BALNEÁRIA DE PERUÍBE, FAÇO SABER QUE A
petentes no domínio de conteúdos de ensino e compro- CÂMARA MUNICIPAL, EM SESSÕES ORDINÁRIAS REA-
metidos com a educação de negros e não negros, sendo LIZADAS NOS DIAS 07 E 14 DE DEZEMBRO DE 2011,
capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impli- APROVOU E EU SANCIONO E PROMULGO A SEGUINTE
quem desrespeito e discriminação. LEI COMPLEMENTAR.
Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos
de ensino, em suas finalidades, CAPÍTULO I
responsabilidades e tarefas, incluirão o previsto o exa- DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
me e encaminhamento de solução para situações de dis-
criminação, buscando-se criar situações educativas para o Art. 1º- Fica instituído e normatizado o Estatuto para
reconhecimento, valorização e respeito da diversidade. os Integrantes do Magistério Público Municipal, nos termos
§ Único: Os casos que caracterizem racismo serão tra- da legislação vigente, denominando-se Estatuto do Magis-
tados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, confor- tério Público Municipal da Estância Balneária de Peruíbe.
me prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988. Art. 2º- O Estatuto do Magistério tem por finalidade:
Art. 7º Os sistemas de ensino orientarão e supervisio- I - incentivar, coordenar, orientar e avaliar o processo
narão a elaboração e edição de livros e outros materiais educacional do magistério, objetivando amplo desenvol-
didáticos, em atendimento ao disposto no Parecer CNE/ vimento do educando, preparando-o para o exercício da
CP 003/2004. cidadania;
Art. 8º Os sistemas de ensino promoverão ampla di- II - valorizar os profissionais da educação, garantindo-
vulgação do Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, -lhes as condições de desenvolver o seu trabalho no cam-
em atividades periódicas, com a participação das redes das po de atuação.
escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divul- Art. 3º- A abrangência desta Lei Complementar desti-
gação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens na-se aos profissionais que exercem atividades de docên-
de cia e aos que oferecem suporte pedagógico direto a tais
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educa- atividades, aos quais cabem as atribuições de ministrar,
ção das Relações Étnico-Raciais. executar, planejar, orientar, coordenar e supervisionar, di-
§ 1° Os resultados obtidos com as atividades mencio- rigir e avaliar.
nadas no caput deste artigo serão comunicados de forma
CAPÍTULO II
detalhada ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial
DOS PRINCÍPIOS
de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de
Educação e aos respectivos Conselhos Estaduais e Munici-
Art. 4º- Esta Lei Complementar tem como princípios:
pais de Educação, para que encaminhem providências, que
I - a gestão democrática da educação;
forem requeridas.
II - o aprimoramento da qualidade do ensino público
Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua
municipal;
publicação, revogadas as disposições em contrário.
III - a valorização dos profissionais do ensino.
§ 1º. A gestão democrática da educação consistirá na
participação da comunidade interna e externa, na forma
LEI COMPLEMENTAR Nº 177 DE 19 colegiada e representativa, observada a legislação perti-
DE DEZEMBRO DE 2011 – INSTITUI E nente.
§ 2º. O ensino público municipal garantirá à criança, ao
NORMATIZA O ESTATUTO PARA OS
adolescente e ao aluno trabalhador:
INTEGRANTES DO MAGISTÉRIO PÚBLICO I - a aprendizagem integrada e abrangente, objetivando:
MUNICIPAL. a) superar a fragmentação das várias áreas do conheci-
mento, observando as especificidades de cada modalidade
do ensino;
b) propiciar ao educando o saber organizado para que
LEI COMPLEMENTAR Nº 177, DE 19 DE DEZEMBRO possa reconhecer-se como agente do processo de constru-
DE 2011 – fls. ção do conhecimento e transformação das relações entre o
homem e a sociedade.
INSTITUI E NORMATIZA O ESTATUTO PARA OS IN- II - o preparo do educando para o exercício consciente
TEGRANTES DO MAGISTÉRIO PÚBLICO MUNICIPAL DA da cidadania e para o mundo do trabalho;
ESTÂNCIA BALNEÁRIA DE PERUÍBE E DÁ OUTRAS PRO- III - a garantia de igualdade de tratamento sem discri-
VIDÊNCIAS. minação de qualquer espécie;
IV - a igualdade de condições de acesso à instrução
escolar, bem como sua permanência, e todas as condições
necessárias à realização do processo educativo, garantindo-
-se atendimento especializado aos alunos com deficiência.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
quadro do Magistério Público Municipal, o direito de assu- § 3º. Para efeito de análise da compatibilidade de ho-
mir classe/aula ou unidade escolar diversa de sua lotação, rários fica estabelecida a possibilidade de acúmulo até o
pelo prazo de 01 (um) ano, mediante requerimento do in- máximo de 70 (setenta) horas semanais.
teressado devidamente justificado. Art. 53- O servidor público municipal vinculado ao re-
§ 1º. Durante a permanência na classe/aula ou unidade gime desta Lei Complementar, que acumular licitamente
escolar transitória, o docente titular de classe/aula e coor- dois cargos de provimento efetivo, quando investido em
denadores pedagógicos não perderão a titularidade sobre função gratificada ficará afastado de ambos os cargos efe-
a classe/aula ou unidade escolar de sua lotação originária, tivos.
a qual deverá retornar ao término do período de transição. § 1º. O servidor que se afastar dos cargos de provimen-
§ 2º. Ao docente titular de classe/aula e coordenador to efetivo que ocupa poderá optar pelo vencimento de um
pedagógico beneficiado pela transitoriedade não caberá deles complementado por valor que atinja a remuneração
desistência. estabelecida no anexo I-B do Plano de Cargos, Carreira e
§ 3º. As vagas decorrentes da substituição transitória Vencimento para os integrantes do Magistério Público Mu-
serão oferecidas aos professores substitutos. nicipal da Estância Balneária de Peruíbe.
§ 4º. Havendo o retorno do titular da classe/aula atri- § 2º. Quando houver acumulação lícita de cargos e o
buída em substituição transitória, o substituto retornará a servidor municipal for designado ou comissionado man-
sua Unidade escolar de lotação. ter-se-ão as vantagens somente para matrícula a qual foi
Art. 49- Anualmente, ao término do ano letivo, a Se- indicado no ato do provimento em comissão.
cretaria Municipal de Educação realizará o processo de § 3º. Havendo compatibilidade de horário o servidor
substituição por transitoriedade aos docentes titulares de público municipal poderá assumir função gratificada ou
classe e coordenadores pedagógicos que ocorrerá após acumular cargo de provimento em comissão com o cargo
o processo de remoção previsto no capítulo VI desta Lei de provimento efetivo respeitando-se as disposições con-
Complementar. tidas nas alíneas ‘a’ e ‘b’, do inciso XVI, do artigo 37 da
Art. 50- Na fixação das regras para inscrição, classifi- Constituição Federal.
cação e atribuição de classes/ aulas aos docentes titulares
§ 4º. O servidor ao retornar para o efetivo exercício
de classe e unidades escolares aos coordenadores pedagó-
do cargo do qual ocorreu o afastamento com prejuízo da
gicos a que se refere este capítulo, deverão ser considera-
remuneração e demais vantagens do cargo reiniciará seu
dos os seguintes critérios:
exercício retomando todas as vantagens anteriormente ad-
I - valorizar o tempo no cargo do magistério público
quiridas ao ato do comissionamento ou designação.
municipal de Peruíbe na proporção de seis para dois, em
relação ao tempo no magistério público municipal de Pe-
CAPÍTULO X
ruíbe;
DOS DIREITOS E VANTAGENS
II - valorizar o tempo no magistério público municipal
de Peruíbe, na proporção de dois para seis, em relação ao SEÇÃO I
tempo no cargo público municipal de Peruíbe; DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO
III - considerar títulos na forma definida em regula-
mento. Art. 54- Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
Art. 51- A classificação dos cargos, em ordem decres- exercício de cargo público, com valor fixado em Lei, nunca
cente de pontuação, contendo os nomes dos docentes e inferior a um salário mínimo, reajustado ou revisto periodi-
coordenadores pedagógicos, será divulgada mediante a fi- camente de modo a preservar-lhe o poder aquisitivo sendo
xação das listagens no quadro de avisos da Secretaria Mu- vedada a sua vinculação, ressalvado o disposto no Inciso
nicipal de Educação. XIII do artigo 37 da Constituição Federal.
Parágrafo único- O período para cômputo do tempo Art. 55- Remuneração é o vencimento do cargo,
de serviço previsto no processo de substituição transitória acrescido das vantagens pecuniárias permanentes e tem-
será apurado até 30 de junho do respectivo ano. porárias estabelecidas em Lei.
Art. 56- O vencimento do cargo público de provimen-
CAPÍTULO IX to efetivo é irredutível, ressalvado o disposto nos incisos XI
DA ACUMULAÇÃO e XIV, do artigo 37, da Constituição Federal.
Art. 57- O servidor do quadro do Magistério Público
Art. 52- Ressalvados os casos previstos no inciso XVI, Municipal que não estiver no exercício da docência per-
do artigo 37, da Constituição Federal, é vedada a acumula- derá:
ção remunerada de cargos públicos. I - o vencimento diário e vantagens temporárias em
§ 1º. A proibição de acumular estende-se a cargos, empre- que não comparecer ao serviço, sem motivo justificado;
gos e funções em autarquias, fundações e empresas públicas, II - a parcela do vencimento diário e vantagens tem-
sociedade de economia mista, suas subsidiárias e sociedades porárias, proporcional aos atrasos, ausências justificadas e
controladas direta ou indiretamente pelo Poder Público. saídas antecipadas, ressalvadas as concessões previstas em
§ 2º. A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con- legislação municipal.
dicionada à comprovação da compatibilidade de horários Art. 58- O servidor do Magistério Municipal no exercí-
e da viabilidade de acesso. cio da docência perderá:
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 73- Independentemente de solicitação, será pago Art. 74- Conceder-se-á ao servidor da carreira do Magis-
ao servidor, por ocasião das férias, um adicional corres- tério Municipal as licenças constantes em legislação municipal.
pondente a 1/3 (um terço) da remuneração do período de Art. 75- Os docentes titulares de classe/aula e espe-
férias. cialistas de educação ocupantes de cargos efetivos terão
§ 1º. No caso de o servidor exercer função de assesso- direito a afastar-se para os seguintes fins:
ramento, vice-direção, direção, coordenação e supervisão I - exercer atividades inerentes ou correlatas às de ma-
ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vantagem será gistério, em cargos ou funções previstas nas unidades e/ou
considerada no cálculo do adicional de que trata esse ar- setores da Secretaria Municipal de Educação, sem prejuízo
tigo. de vencimentos e demais vantagens do cargo;
§ 2º. O adicional tratado neste artigo refere-se ao inci- II - freqüentar cursos de aperfeiçoamento, especializa-
so XVII, do artigo 7º, da Constituição Federal. ção ou de atualização, no país ou no exterior, relacionados
com seu campo de atuação, sem prejuízo do vencimento
SUBSEÇÃO VII e das demais vantagens do cargo, após apresentação de
DO ADICIONAL DE DIREÇÃO DE ESCOLA POR NÍ- proposta pelo interessado, seu deferimento a critério da
VEL DE COMPLEXIDADE Secretaria Municipal de Educação e posterior comprovação
efetiva da participação;
Art. 73-A- O diretor de escola, enquanto atuar em III - comparecer a congressos, seminários, palestras,
escola caracterizada por nível de complexidade fará jus ao cursos e reuniões relacionadas com o seu campo de atua-
adicional disposto nesta subseção. ção, sem prejuízo de vencimento e das demais vantagens
Art. 73-B- Para efeitos desta Lei Complementar, consi- do cargo, a critério da Secretaria Municipal de Educação e
derar-se-á escolas caracterizadas por nível de complexida- posterior comprovação efetiva da participação;
de, aquelas definidas através de decreto do chefe do Poder IV - exercer funções gratificadas ou substituir ocupan-
Executivo, de acordo com as condições abaixo especificadas: te de cargo privativo da Secretaria Municipal de Educação,
I. Quatorze classes ou mais de aulas, considerando-se desde que preencha os requisitos estabelecidos no Anexo
as classes regulares, classes de educação de jovens e adultos I-A do Plano de Cargos, Carreira e Vencimento, sem prejuí-
– EJA e salas de recursos; zo de vencimento e demais vantagens do cargo;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
V - exercer cargos de provimento em comissão junto a III - afastamento integral do profissional com apenas
Secretaria Municipal de Educação, sem prejuízo de venci- um cargo docente no município;
mento e demais vantagens do cargo; IV - afastamento integral do profissional titular de um
VI - exercer quaisquer atividades junto a outras Secre- ou dois cargos quando se tratar de estudos realizados no
tarias Municipais com prejuízo de vencimento e das demais exterior.
vantagens do cargo. Art. 79- A Secretaria Municipal de Educação desig-
Parágrafo único- Consideram-se atividades correla- nará comissão permanente responsável pela análise das
tas às do magistério aquelas relacionadas com a docência concessões e estabelecimento de benefícios formativos ao
em outras modalidades de ensino, bem como as de nature- sistema municipal de ensino, junto a alunos ou Unidade
za técnica relativa ao desenvolvimento de estudos, plane- Escolar ou ainda, junto a setores da Secretaria Municipal
jamento, pesquisa, supervisão e orientação em currículos, de Educação.
administração escolar, orientação educacional, capacitação § 1º. O profissional que após término do curso não per-
de docentes, especialistas de educação, direção, assesso- manecer na rede municipal por pelo menos 48 (quarenta e
ramento e assistência técnica, exercidas em unidades e/ou oito) meses, deverá reembolsar o Município no valor cor-
setores da Secretaria Municipal de Educação. respondente ao auxílio concedido, nos termos em legisla-
Art. 76- Será concedida aos servidores da carreira do ção municipal.
magistério licença compulsória quando comprovado ser o § 2º. Caso o profissional não obtenha o título, deverá
mesmo portador de moléstia infecto-contagiosa conforme reembolsar o poder público no valor correspondente ao
determinação médica devidamente homologada pelo Ser- auxílio concedido, nos termos em legislação municipal.
viço de Medicina do Trabalho do Município.
Parágrafo único- A licença que trata o caput será con- CAPÍTULO XI
siderada como de efetivo exercício para os fins de classifi- DO TEMPO DE SERVIÇO
cação no processo de atribuição de classes/aula.
Art. 80- A apuração do tempo de serviço será feita em
SUBSEÇÃO I
dias, que serão convertidos em anos, considerado o ano
DO AFASTAMENTO PARA APERFEIÇOAMENTO
como de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias.
PROFISSIONAL
Art. 81- Além das ausências ao serviço, previstas na
legislação municipal vigente, são considerados como de
Art. 77- As inscrições do quadro do Magistério Pú-
efetivo exercício os afastamentos em virtude de:
blico Municipal para freqüentar cursos de especialização,
I - exercício de funções gratificadas previstas no Anexo
em nível de pós-graduação “stricto-sensu”, reconhecido/
recomendado pelo Órgão de Coordenação de Aperfeiçoa- I-A, do Plano de Cargos, Carreira e Vencimento do Magis-
mento de Pessoal de Nível Superior - CAPES no país ou no tério Público do Município de Peruíbe ou cargo de provi-
exterior sem prejuízo do vencimento e demais vantagens mento em comissão;
do cargo, deverão observar os critérios: II - suspensão de aulas por determinação superior;
I - ser titular de classe/aula ou unidade escolar da rede III - recesso escolar.
municipal de ensino e estar em efetivo exercício; Art. 82- Para apuração do tempo de serviço do ser-
II - não receber benefícios similares de outros órgãos vidor em situações de disponibilidade contar-se-á apenas:
ou instituições públicas e privadas; I - a licença para tratamento de saúde de pessoa da
III - não estiver afastado por motivo de doença; família do servidor, com remuneração;
IV - não estiver readaptado ou em o de readaptação; II - o tempo de licença para tratamento da própria saú-
V - não estiver afastado para exercer atividade não cor- de que exceder o prazo a que se refere esta Lei Comple-
relata ao magistério; mentar.
VI - possuir estágio probatório homologado; Art. 83- É vedada a contagem cumulativa de tempo
VII - não estar a menos de 06 (seis) anos da aposen- de serviço prestado concomitantemente em mais de um
tadoria; cargo, emprego ou função, de órgãos ou entidades dos
VIII - não possuir penalização em processo adminis- Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
trativo;
IX - ser habilitado, no mínimo, em nível superior na CAPÍTULO XII
área de educação; DAS FALTAS
X - ser o curso pretendido na área de educação;
XI - atender as instruções estabelecidas pelos órgãos Art. 84- Os critérios para fins de desconto da retri-
normativos da Secretaria Municipal da Educação. buição pecuniária pelo não comparecimento do docente à
Art. 78- Haverá possibilidade de se conceder os afas- hora aula ou à hora de trabalho pedagógico coletivo, serão
tamentos nos seguintes termos: os que seguem:
I - afastamento parcial, em caso de jornada de trabalho I - ao docente que não cumprir a sua jornada diária de
de 40 horas semanais, ficando o profissional liberado da trabalho será consignado falta dia;
carga de 20 horas semanais para dedicar aos estudos; II - o descumprimento de parte da jornada diária de
II - afastamento parcial, em casos de dupla jornada do trabalho em até 60 (sessenta) minutos será caracterizado
profissional na rede municipal; como 01 (uma) falta aula.
190
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
§ 1º. Atrasos superiores a 60 minutos serão considera- § 1º. O pagamento do abono devido por ocasião das
dos 02 (duas) faltas aula; férias deverá ser efetuado até o início do respectivo perío-
§ 2º. Caso o docente venha a se ausentar por período do de gozo.
igual ou superior a 50% (cinqüenta por cento) de sua jor- § 2º. O servidor exonerado do cargo de provimento
nada diária será considerada como falta-dia. efetivo ou de provimento em comissão, perceberá indeni-
§ 3º. O desconto financeiro da falta dia será efetuado zação relativa ao período das férias a que tiver direito e ao
à razão de 1/30 (um trinta avos) do valor da retribuição incompleto, na proporção de 1/12 (um doze avos) por mês
pecuniária mensal. de efetivo exercício ou fração superior a 14 (quatorze) dias.
§ 4º. O desconto financeiro da falta aula será efetuado § 3º. A indenização será calculada com base na remu-
a razão proporcional da jornada de trabalho do servidor, neração do mês em que for publicado o ato de exoneração.
considerando-se a multiplicação da jornada de trabalho § 4º. O professor substituto de Educação Básica pode-
semanal por 05 (cinco). rá gozar o período de férias em período diverso do caput,
Art. 85- Os critérios para fins de desconto da retribui- conforme necessidade prevista pela Secretaria Municipal
ção pecuniária pelo não comparecimento dos servidores de Educação de Peruíbe.
do quadro do Magistério Público Municipal que não esti- Art. 91- As férias serão reduzidas a:
verem no exercício da docência, serão aqueles dispostos na I - 24 (vinte e quatro) dias consecutivos ou em duas
legislação municipal vigente. parcelas quando o servidor houver cometido de 06
Art. 86- Salvo por imposição legal, ou mandado ju- (seis) a 14 (quatorze) faltas injustificadas no período
dicial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração aquisitivo;
do servidor público. II - 18 (dezoito) dias consecutivos ou em duas parcelas
Parágrafo único- Mediante autorização por escrito quando houver cometido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três)
do servidor, poderá haver consignação em folha de paga- faltas injustificadas no período aquisitivo;
mento a favor de entidade sindical e de terceiros, para es- III - 12 (doze) dias consecutivos ou em duas parcelas
tes a critério da Administração e com reposição de custos, quando houver cometido mais de 24 (vinte e quatro) a 32
se houver, em forma definida em regulamento específico,
(trinta e duas) faltas injustificadas no período aquisitivo.
contrato ou convênio.
Parágrafo único- O servidor que obtiver mais de 32
Art. 87- As reposições ao erário serão previamente comu-
(trinta e duas) faltas injustificadas, no período aquisitivo,
nicadas ao servidor e descontadas em parcelas mensais cujo va-
perderá o direito às férias.
lor não exceda 10% (dez por cento) de sua remuneração.
Art. 92- Durante as férias e o recesso escolar, o mem-
Art. 88- O servidor em débito decorrente da relação
bro das carreiras do Magistério perceberá o mesmo venci-
de trabalho com a Administração, que for demitido ou exo-
nerado terá o valor de seu débito descontado dos créditos mento recebido no mês anterior.
que porventura tenha para receber da Administração. Parágrafo único- Os especialistas gozarão as férias
§ 1º. Caso não existam créditos a receber ou estes não preferencialmente no mês de janeiro conforme autorização
sejam suficientes para suportar o valor devido, o servidor da Secretaria Municipal de Educação.
terá o prazo de até 90 (noventa) dias para quitar o débito. Art. 93- Além do período de férias, constante do ar-
§ 2º. O servidor cuja divida relativa a reposição for su- tigo 90 desta Lei Complementar, o docente poderá gozar
perior a cinco vezes o valor de sua remuneração, terá o de 15 (quinze) dias de recesso, conforme previsto no ca-
prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias para quitar o seu lendário escolar.
débito nos casos previstos no caput. Parágrafo único- Os docentes poderão ser convoca-
§ 3º. Os valores percebidos pelo servidor, em razão de dos durante o recesso conforme a necessidade da Secreta-
decisão liminar, de qualquer medida de caráter antecipató- ria Municipal de Educação.
rio ou de sentença, posteriormente cassada ou revista, de- Art. 94- Os servidores do magistério que ocupam car-
verão ser repostos ao Erário no prazo máximo de 30 (trinta) gos de especialistas de educação poderão gozar 10 (dez)
dias, contados da notificação para fazê-lo. dias úteis de recesso distribuídos igualmente durante os
§ 4º. A não quitação do débito nos prazos previstos meses de julho e dezembro de cada ano, conforme previs-
acima implicará na inscrição em dívida ativa. to no calendário escolar.
Art. 89- O servidor em débito decorrente da relação Parágrafo único- Os servidores do magistério pode-
de trabalho com a Administração, ao ser aposentado po- rão ser convocados durante o recesso conforme a necessi-
derá autorizar a continuação do desconto de seu provento dade da Secretaria Municipal de Educação.
de aposentadoria das parcelas mensais conforme o artigo Art. 95- As férias dos docentes efetivos que, em janei-
87 desta Lei Complementar. ro de cada ano, não tenham completado o período aquisi-
tivo, serão antecipadas.
CAPÍTULO XII § 1º. O acréscimo de 1/3 (um terço) também será
DAS FÉRIAS E DO RECESSO adiantado.
§ 2º. As férias antecipadas serão compensadas quando
Art. 90- Independente da data da admissão dos do- o docente completar o período aquisitivo.
centes em exercício de regência de classe nas Unidades § 3º. Na hipótese do desligamento do serviço públi-
Escolares são assegurados 30 (trinta) dias de férias anuais, co anterior a constituição do período aquisitivo deverá ter
durante o mês de janeiro de cada ano. os valores relativos às férias antecipadas, inclusive o valor
191
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
de 1/3 (um terço) adiantado, descontados da remunera- IV - considerar títulos na forma definida em regula-
ção devida ao docente pelos serviços prestados no mês de mento.
desligamento e, não sendo esta suficiente, o débito rema- Art. 103- Para efeito de classificação de docentes, no
nescente será cobrado em conformidade com a legislação processo de inscrição e atribuição de classe e aula, será
vigente. descontada a falta dia, inclusive as decorrentes do não
cumprimento integral das Horas de Trabalho Pedagógico.
CAPÍTULO XIV Parágrafo único- As faltas aulas de qualquer natureza
DA ASSISTÊNCIA A SAÚDE serão convertidas em faltas dia, conforme jornada a qual
o docente estiver inserido, sendo as horas excedentes ao
Art. 96- A assistência à saúde do servidor da carrei- final do ano letivo consideradas 01 (uma) falta dia.
ra do Magistério Público Municipal e de sua família; com- Art. 104- Para efeito de classificação dos servidores
preende assistência médica ambulatorial, hospitalar, odon- do quadro do Magistério Público Municipal que não esti-
tológica, psicológica e farmacêutica prestada pelo Sistema verem no exercício da docência será descontada a falta dia.
Único de Saúde ou ainda, mediante convênio ou órgão Parágrafo único- A soma das parcelas referentes a
próprio, na forma estabelecida em legislação específica. atrasos, ausências parciais e saídas antecipadas que totali-
zarem sua jornada diária será convertida em falta dia.
CAPÍTULO XV Art. 105- É considerado tempo de serviço público mu-
DO PROCESSO DE ATRIBUIÇÃO nicipal aquele destinado à regência de classes em Unida-
SEÇÃO I des Escolares da Rede Municipal de Ensino de Peruíbe, bem
DOS PROFESSORES TITULARES DE CLASSE/ AULAS como o tempo em que o titular de cargo docente exercer,
por afastamento ou designação, atividades inerentes ou
Art. 97- Anualmente, 90 (noventa) dias antes do início correlatas às do Magistério, junto à Secretaria Municipal
do ano letivo, a Secretaria Municipal de Educação abrirá de Educação.
inscrição aos docentes para o processo de atribuição de Parágrafo único- O período para cômputo de tempo
classes e aulas. de serviço previsto no processo de substituição transitória
Parágrafo único- A atribuição que trata o caput será será apurado até 30 de junho do respectivo ano.
efetivada no início do ano letivo subseqüente. Art. 106- Caso o servidor não possa estar presente no
Art. 98- A classificação dos cargos, em ordem decres- ato de atribuição de classes e aulas, este poderá ser repre-
cente de pontuação, contendo os nomes dos docentes, sentado por procurador constituído através de procuração
será divulgada mediante a fixação das listagens no quadro com firma reconhecida.
de avisos da Unidade Escolar.
Art. 99- Os docentes serão convocados pelo Diretor SEÇÃO II
da Unidade Escolar, conforme ordem de classificação para DO PROFESSOR SUBSTITUTO
o processo de atribuição de classes e aulas.
Art. 100- O docente deverá optar anualmente, no Art. 107- Aos professores substitutos, lotados na Se-
momento da inscrição para atribuição de aulas ou classes, cretaria Municipal de Educação, anualmente, 60 (sessenta)
pela ampliação, redução ou manutenção de sua jornada, dias antes do início do ano letivo, a Secretaria Municipal de
de acordo com os critérios específicos a serem fixados por Educação abrirá inscrição para o processo de atribuição em
portaria da Secretaria Municipal de Educação, obedecendo substituição de classes e aulas.
normas previstas nesta Lei Complementar. Parágrafo único- O processo de atribuição previsto no
Art. 101- Os docentes, a contar da publicação da lista caput ocorrerá após o processo de substituição por transitorie-
de classificação, terão o prazo de dois dias para recorrerem dade, previsto no artigo 48 desta Lei Complementar.
da pontuação a eles atribuída, à direção da Unidade Esco- Art. 108- A classificação do cargo, em ordem decres-
lar que junto a Secretaria Municipal de Educação, decidirá cente de pontuação, contendo os nomes dos professores
sobre o recurso no prazo de dois dias, contados do seu substitutos, será divulgada mediante a fixação das lista-
recebimento. gens no quadro de avisos da Unidade Escolar.
Art. 102- Na fixação das regras para inscrição, classifi- Art. 109- Os professores substitutos serão convo-
cação e atribuição de classes e aulas aos docentes a que se cados pelo Secretario Municipal de Educação, conforme
refere este capítulo, deverão ser considerados os seguintes ordem de classificação para o processo de atribuição em
critérios: substituição de classes e aulas.
I - valorizar o tempo no cargo do magistério público mu- Art. 110- Os professores substitutos, a contar da pu-
nicipal de Peruíbe na proporção de seis para dois, em relação blicação da lista de classificação, terão o prazo de dois dias
ao tempo no magistério público municipal de Peruíbe; para recorrerem da pontuação a eles atribuída, à Secretaria
II - valorizar o tempo no magistério público municipal Municipal de Educação, que decidirá sobre o recurso no
de Peruíbe, na proporção de dois para seis, em relação ao prazo de dois dias, contados do seu recebimento.
tempo no cargo público municipal de Peruíbe; Art. 111- Na fixação das regras para inscrição, classifi-
III - valorizar o tempo de lotação na Unidade Escolar, cação e atribuição de classes e aulas aos professores subs-
na proporção de um para seis, em relação ao tempo no titutos a que se refere este capítulo, deverão ser considera-
cargo público municipal de Peruíbe; dos os seguintes critérios:
192
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
I - valorizar o tempo no cargo do magistério público atribuída, ao Secretário Municipal de Educação, que deci-
municipal de Peruíbe na proporção de seis para dois, em dirá sobre o recurso no prazo de dois dias, contados do seu
relação ao tempo no magistério público municipal de Pe- recebimento.
ruíbe; Art. 113-F- Na fixação das regras para inscrição, clas-
II - valorizar o tempo no magistério público municipal sificação e atribuição de unidades escolares, agrupamentos
de Peruíbe, na proporção de dois para seis, em relação ao de unidades escolares e/ou turnos de atuação das unidades
tempo no cargo público municipal de Peruíbe; escolares, ao coordenador pedagógico, deverão ser conside-
III - considerar títulos na forma definida em regula- rados os seguintes critérios:
mento. I - valorizar o tempo no cargo do magistério público mu-
Art. 112- Para efeito de classificação de professores nicipal de Peruíbe na proporção de seis para dois, em relação
substitutos, no processo de inscrição e atribuição de classe ao tempo no magistério público municipal de Peruíbe;
e aula, será descontada a falta dia, inclusive as decorrentes II - valorizar o tempo no magistério público municipal
do não cumprimento integral das Horas de Trabalho Peda- de Peruíbe, na proporção de dois para seis, em relação ao
gógico Coletivo. tempo no cargo público municipal de Peruíbe;
Parágrafo único- As faltas aulas de qualquer natureza III - valorizar o tempo de lotação na Unidade Escolar, na
serão convertidas em faltas dia, conforme sua jornada, sen- proporção de um para seis, em relação ao tempo no cargo
do as horas excedentes ao final do ano letivo consideradas público municipal de Peruíbe;
01 (uma) falta dia. IV - considerar títulos na forma definida em regulamen-
Acrescenta a Seção III – “Da Classe dos Especialistas to.
de Educação” – artigos 113-A ao 113–K, ao Capítulo XV Art. 113-G- Na fixação das regras para inscrição, classi-
pela Lei Complementar nº 233, 07/07/2017. ficação e atribuição de unidades escolares com suas respec-
Art. 113- Caso o servidor não possa estar presente no tivas vinculadas, ao diretor de escola, deverão ser considera-
ato de atribuição de classes e aulas, este poderá ser repre- dos os seguintes critérios:
sentado por procurador constituído através de procuração I - valorizar o tempo no cargo do magistério público mu-
com firma reconhecida. nicipal de Peruíbe na proporção de seis para dois, em relação
ao tempo no magistério público municipal de Peruíbe;
SEÇÃO III
II - valorizar o tempo no magistério público municipal
DA CLASSE DOS ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO
de Peruíbe, na proporção de dois para seis, em relação ao
tempo no cargo público municipal de Peruíbe;
Art. 113-A- Anualmente, 90 (noventa) dias antes do iní-
III - considerar títulos na forma definida em regulamen-
cio do ano letivo, a Secretaria Municipal de Educação abrirá
to.
inscrição aos especialistas de educação para o processo de
atribuição conforme especificado abaixo: Art. 113-H- Na fixação das regras para inscrição, classi-
I – Aos Coordenadores Pedagógicos: unidades escolares, ficação e atribuição de agrupamentos de escolas, ao supervi-
agrupamentos de unidades escolares e/ou turnos de atuação sor de ensino, deverão ser considerados os seguintes critérios:
das unidades escolares; I - valorizar o tempo no cargo do magistério público mu-
II – Aos Diretores de Escola: unidades escolares com suas nicipal de Peruíbe na proporção de seis para dois, em relação
respectivas vinculadas; ao tempo no magistério público municipal de Peruíbe;
III – Aos Supervisores de Ensino: agrupamentos de uni- II - valorizar o tempo no magistério público municipal
dades escolares de Peruíbe, na proporção de dois para seis, em relação ao
Parágrafo único- A atribuição que trata o caput será tempo no cargo público municipal de Peruíbe;
efetivada no início do ano letivo subsequente. III - considerar títulos na forma definida em regulamento.
Art. 113-B- A classificação dos cargos, em ordem de- Art. 113-I- Para efeito de classificação dos especialistas
crescente de pontuação, contendo os nomes dos diretores de de educação, no processo de inscrição e atribuição será des-
escola e supervisores de ensino, será divulgada mediante a contada a falta dia.
fixação das listagens no quadro de avisos da Secretaria Mu- Art. 113-J- É considerado tempo de serviço público
nicipal de Educação, e para os cargos de coordenador peda- municipal aquele destinado à regência de classes em Uni-
gógico nas unidades escolares. dades Escolares da Rede Municipal de Ensino de Peruíbe, a
Art. 113-C- Os especialistas de educação serão convo- atuação como especialista da educação da Rede Municipal
cados pelo superior imediato conforme ordem de classifica- de Ensino de Peruíbe, bem como o tempo em que o titular
ção para o processo de atribuição. de cargo exercer, por afastamento ou designação, atividades
Art. 113-D- Os coordenadores pedagógicos, a contar da inerentes ou correlatas às do Magistério, junto à Secretaria
publicação da lista de classificação, terão o prazo de dois Municipal de Educação.
dias para recorrerem da pontuação a eles atribuída, à di- Parágrafo único- O período para cômputo de tempo de
reção da unidade escolar, que junto a Secretaria Municipal serviço previsto no processo de substituição transitória, para
de Educação, decidirá sobre o recurso no prazo de dois dias, o coordenador pedagógico, será apurado até 30 de junho do
contados do seu recebimento. respectivo ano.
Art. 113-E- Os diretores de escola e supervisores de en- Art. 113-K- Caso o especialista da educação não possa
sino, a contar da publicação da lista de classificação, terão estar presente nos atos previstos no processo de atribuição
o prazo de dois dias para recorrerem da pontuação a eles de unidades escolares, agrupamentos de unidades escola-
193
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
res e/ou turnos de atuação das unidades escolares; unidades CAPÍTULO XVII
escolares com suas respectivas vinculadas e agrupamentos DOS DIREITOS E DOS DEVERES
de unidades escolares, este poderá ser representado por SEÇÃO I
procurador constituído através de procuração com firma DOS DIREITOS
reconhecida. DO DIREITO DE PETIÇÃO
194
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
XV - ter garantido em qualquer situação amplo direito XX - tratar com urbanidade, respeito e igualdade a to-
de defesa; dos os alunos, pais, funcionários e servidores do quadro do
XVI - ter garantido, aos docentes, o intervalo de 25 (vin- Magistério Público Municipal;
te e cinco) minutos de descanso por período letivo que po- XXI - participar de todas as atividades inerentes e cor-
derá preferencialmente coincidir com o período destinado a relatas ao processo de ensino aprendizagem;
higiene, alimentação e recreação do aluno, considerando as XXII - impedir toda e qualquer manifestação de pre-
necessidades e características da faixa etária de atendimen- conceito social, racial, religioso e ideológico;
to docente. XXIII - cumprir as ordens superiores, exceto quando
manifestamente ilegais;
SEÇÃO II XXIV - atender com presteza:
DOS DEVERES a) ao esclarecimento de situações de interesse pessoal
dos alunos;
Art. 121. Os integrantes do quadro do Magistério b) ao público em geral, prestando as informações re-
Público Municipal têm o dever constante de considerar as queridas, ressalvadas as protegidas por sigilo.
relevâncias sociais de suas atribuições, mantendo conduta XXV - levar ao conhecimento da autoridade superior
moral e funcional adequada à dignidade profissional, em as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo;
razão da qual, deverão: XXVI - zelar pela economia do material e a conservação
I - elaborar e executar os programas, planos e ativida- do patrimônio público;
des da proposta pedagógica do Município no que for de XXVII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
sua competência; XXVIII - manter conduta compatível com a moralidade
II - cumprir e fazer cumprir os horários e o calendário administrativa e com as atribuições do cargo da carreira do
escolar; Magistério Municipal;
III - ser assíduo e pontual; XXIX - representar contra ilegalidade, omissão ou abu-
IV - zelar pela eficácia da aprendizagem do aluno; so de poder.
V - estabelecer estratégias de recuperação para alunos
Parágrafo único- A representação de que trata o in-
de menor rendimento;
ciso XXIX será encaminhada através de via hierárquica e
VI - cumprir a carga horária estabelecida para a jornada
apreciada pela autoridade superior àquela contra a qual
de trabalho de seu cargo, bem como as convocações para
é formulada, assegurando-se ao representado o direito a
capacitação, aperfeiçoamento e atualização;
ampla defesa.
VII - cumprir as normas constitucionais e infraconsti-
Art. 122- O descumprimento de qualquer dos deveres
tucionais no que diz respeito aos direitos individuais e co-
letivos; impostos por esta Lei Complementar implicará nos proce-
VIII - preservar os princípios, os ideais e os fins da edu- dimentos e penalidades previstos no Estatuto dos Servido-
cação brasileira, através do seu desempenho profissional; res Público Municipais.
IX - empenhar-se na educação integral do aluno, in-
cutindo-lhe o espírito de solidariedade humana, de justiça CAPÍTULO XVIII
e cooperação, o respeito às autoridades constituídas e o DAS PROIBIÇÕES
amor à Pátria;
X - zelar pela integridade do aluno; Art. 123- Ao servidor ocupante de cargo da carreira
XI - desempenhar atribuições, funções e cargos especí- do Magistério Municipal é passível de aplicação de penali-
ficos do magistério com eficiência, zelo e presteza; dades disciplinares as proibições constantes em legislação
XII - manter o espírito de cooperação com a equipe da municipal.
escola e a comunidade em geral, visando à construção de I - a ação ou omissão que traga prejuízo físico, moral
uma sociedade democrática; ou intelectual ao aluno;
XIII - observar as normas legais e regulamentares; II - a imposição de castigo físico ou humilhante ao alu-
XIV - participar do Conselho de Escola e APM; no;
XV - manter a Secretaria Municipal de Educação infor- III - a prática de discriminação por motivo de raça, con-
mada do desenvolvimento do processo educacional, ex- dição social, intelectual, sexo, credo ou convicção política;
pondo suas críticas e apresentando sugestões para a sua IV - a alteração de qualquer resultado de avaliação,
melhoria; ressalvados os casos de erro manifesto, por ele considera-
XVI - buscar o seu constante aperfeiçoamento profis- do ou reconhecido;
sional através de participação em cursos, reuniões, seminá- V - impedir que o aluno participe das atividades escola-
rios, sem prejuízo de suas atribuições; res em razão de qualquer carência material ou por atrasos.
XVII - respeitar o aluno como sujeito do processo edu-
cativo e comprometer-se com a eficácia de seu aprendi- CAPÍTULO XIV
zado; DAS RESPONSABILIDADES
XVIII - zelar pela defesa dos direitos profissionais e pela
reputação dos educadores; Art. 124. O servidor do magistério municipal respon-
XIX - participar do processo de planejamento, execu- de civil, penal e administrativamente pelo exercício irregu-
ção e avaliação das atividades escolares; lar de suas atribuições observada a legislação municipal.
195
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 125- São penalidades disciplinares a que estão Art. 130- O Dia do Professor será comemorado em 15
sujeitos os servidores das carreiras do Magistério Público (quinze) de outubro de cada ano.
Municipal: Art. 131- Por motivo de crença religiosa ou de con-
vicção política ou filosófica, o servidor não poderá ser pri-
I - advertência; vado de quaisquer dos seus direitos, sofrer discriminação
II - suspensão; em sua vida funcional, nem eximir-se do cumprimento de
III - demissão; seus deveres.
IV - cassação de disponibilidade; Art. 132- Fica assegurado horário especial ao funcio-
V - destituição de cargo de provimento em comissão; nário estudante, quando comprovada a incompatibilidade
VI - destituição de exercício de função de direção che- entre o horário escolar e o da repartição, sem prejuízo do
fia ou assessoramento. exercício do cargo, quando necessária a locomoção para
Art. 126- A aplicação das penalidades será em confor- outros Municípios.
midade com o disposto em legislação municipal. Parágrafo único- Para efeito do disposto neste artigo
será exigida a compensação de horário na repartição, res-
CAPÍTULO XXI peitada a duração semanal do trabalho, desde que a atua-
DA SINDICÂNCIA E DO PROCESSO ADMINISTRATI- ção do docente em sala de aula não sofra prejuízo.
VO DISCIPLINAR Art. 133- Ao servidor do quadro do Magistério Mu-
SEÇÃO I nicipal é assegurado, nos termos da Constituição Federal,
DISPOSIÇÕES GERAIS o direito à livre associação sindical e os seguintes direitos,
entre outros, dela decorrentes:
Art. 127- Para a apuração de infrações e aplicação I - de ser representado pelo sindicato, inclusive como
das penalidades disciplinares aos servidores das carreiras substituto processual;
do Magistério Público Municipal deverá ser observado o II - de inamovibilidade do dirigente sindical, até um
disposto em legislação municipal. ano após o final do mandato, exceto se a pedido;
III - de descontar em folha, sem ônus para a entidade
CAPÍTULO XXII sindical a que for filiado, o valor das mensalidades e contri-
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR buições definidas em assembléia geral da categoria.
SEÇÃO I Art. 134- Os instrumentos de procuração utilizados
DISPOSIÇÕES GERAIS para o recebimento de direitos ou vantagens de servidores
municipais terão validade por 12 (doze) meses, devendo
Art. 128- Os servidores ocupantes de cargos de pro- ser renovados depois de findo esse prazo.
vimento efetivo da carreira do magistério que trata esta Lei Art. 135- Para todos os efeitos previstos nesta Lei
Complementar serão segurados obrigatórios do Regime Complementar, os exames de aptidão física e mental se-
Próprio de Previdência Social, nos termos do artigo 40, da rão obrigatoriamente realizados por médicos e técnicos da
Constituição Federal e em legislação municipal. Prefeitura Municipal, ou na sua falta, por médicos e técni-
Art. 129- Fica assegurado o Regime de Aposentaria cos credenciados pela Administração.
Especial aos profissionais da carreira do magistério da Rede § 1º. Em casos especiais, atendendo a natureza da en-
Municipal de Ensino de Peruíbe. fermidade, a Administração poderá designar junta médica
§ 1º. Por profissionais da carreira do magistério públi- ou mesmo multidisciplinar para proceder ao exame, dela
co municipal da Educação Básica de Peruíbe entendem-se fazendo parte, obrigatoriamente, médicos e técnicos da
aqueles que desempenham as atividades de docência ou Prefeitura Municipal ou médicos e técnicos credenciados
as de suporte pedagógico a docência, isto é, direção ou pela Administração.
administração, planejamento, inspeção, supervisão, orien- § 2º. Os atestados médicos concedidos aos servidores
tação e coordenação educacionais exercidas no âmbito das municipais, quando em tratamento fora do Município, te-
Unidades Escolares de educação básica, em suas diversas rão sua validade condicionada à ratificação posterior pelo
etapas e modalidades com a formação mínima determina- médico da Prefeitura Municipal, sendo aplicado o disposto
da pela legislação federal de diretrizes e bases da educação em legislação municipal.
nacional. Art. 136- São isentos de taxas, emolumentos ou cus-
§ 2º. Farão jus ao previsto no caput os profissionais da tas os requerimentos, certidões e outros papéis que, na
carreira do magistério público municipal da Educação Bási- esfera administrativa, interessarem ao servidor municipal,
ca de Peruíbe afastados ou designados conforme o artigo ativo ou inativo, exclusivamente nos assuntos funcionais.
74, os incisos I, II, III, IV e V do artigo 75 e artigo 76 desta Art. 137- O servidor que apresentar-se ao serviço em
Lei Complementar. estado de embriaguez causada por bebida alcoólica ou
entorpecente deverá ser encaminhado ao serviço médico
competente para início de tratamento específico.
196
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Parágrafo único- A recusa ou o abandono do tra- MILENA BARGIERI, PREFEITA MUNICIPAL DA ES-
tamento específico será considerado infração disciplinar TÂNCIA BALNEÁRIA DE PERUÍBE, FAÇO SABER QUE A
ensejando a imediata abertura de processo administrativo CÂMARA MUNICIPAL, EM SESSÕES ORDINÁRIAS REA-
disciplinar nos termos desta Lei Complementar. LIZADAS NOS DIAS 07 E 14 DE DEZEMBRO DE 2011,
Art. 138- O Chefe do Executivo regulamentará os atos APROVOU E EU SANCIONO E PROMULGO A SEGUINTE
necessários à execução da presente Lei Complementar. LEI COMPLEMENTAR.
197
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
198
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
199
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
sica II – Educação Física, correspondente à prestação de em sala de aula, de definição do grau de aprofundamento
36 (trinta e seis) horas semanais de trabalho, das quais 24 de estudos, de acordo com a especificidade de cada clas-
(vinte e quatro) horas de atividades com alunos em sala se, de avaliação contínua das dificuldades e dos avanços de
de aula, 02 (duas) horas de trabalho pedagógico coletivo, cada aluno, em especial aqueles encaminhados para estudos
03 (três) horas de trabalho pedagógico em local de livre de recuperação paralela, colaboração com as atividades de
escolha, 07 (sete) horas de trabalho pedagógico individual direção e administração da escola, formação continuada e
cumpridas na unidade escolar; orientação pedagógica, articulação com a comunidade es-
VII - Jornada Integral de Trabalho: corresponde a 40 colar e atendimento aos pais, entre outras.
(quarenta) horas semanais de trabalho, aplicada aos cargos § 9º- O docente que atua na Etapa Final do En-
de Especialistas de Educação, com horário administrativo sino Fundamental, além da tarefa de ministrar aula, fará a
homologado pela Secretaria Municipal de Educação. complementação da carga horária, desenvolvendo outras
§ 1º- Ao Professor de Educação Básica II, titular de cargo atividades ligadas à docência, da seguinte forma:
efetivo poderá ser atribuída anualmente, Jornada Inicial de I - durante 5 (cinco) minutos a mais de trabalho, para
Trabalho Docente ou Jornada Parcial II de Trabalho Docen- cada aula ministrada e para cada hora de trabalho pedagó-
te, podendo o servidor optar pela ampliação de sua jornada gico individual.
conforme disponibilidade do quadro de aulas da rede Muni- § 10 - Consideram-se atividades ligadas à docên-
cipal de Ensino. cia, além do atendimento a alunos, as tarefas de preenchi-
§ 2º. Os professores substitutos serão remunerados mento de diários de classe, de programação dos conteúdos a
conforme a hora atividade com alunos, considerando o seu serem trabalhados em sala de aula, de definição do grau de
vencimento base. aprofundamento de estudos, de acordo com a especificidade
§ 3º. O professor substituto fará jus as Horas de Tra- de cada classe, de avaliação contínua das dificuldades e dos
balho Pedagógico de Livre escolha conforme o que segue: avanços de cada aluno, em especial aqueles encaminhados
I - de 51 à 59 horas aulas dadas mensais = 05 HTPL para estudos de recuperação paralela, intervalo de descanso,
mensais; entre outras.
II - de 60 à 79 horas aulas dadas mensais = 10 HTPL § 11 - O cumprimento da complementação de carga
mensais; horária diária deverá ser acordado entre direção de escola
III - de 80 à 120 horas aulas dadas mensais = 15 HTPL e docente, podendo ser contínuo ou parcelado e seu cum-
mensais. primento ficará sob a responsabilidade da direção da escola.
§ 4º. Os professores substitutos quando em situação Art. 16- Os docentes titulares de classe/aula incluídos
de substituição a docente afastado por período a partir de nas jornadas previstas nos incisos II, III, IV, V e VI do art.
30 (trinta) dias farão jus à jornada do servidor substituído. 15, a critério da Secretaria Municipal de Educação, poderão
§ 5º- A hora de trabalho do docente que atua na Etapa exercer Carga Suplementar de Trabalho que não excederá
Inicial do Ensino Fundamental terá a duração de 60 (sessen- 75 (setenta e cinco) horas mensais.
ta) minutos, dentre os quais 55 (cinqüenta e cinco) minutos § 1º. Ao Professor Substituto de Educação Básica I e
serão dedicados à tarefa de ministrar aula. Professor Substituto de Educação Básica II- Educação Fí-
§ 6º- A hora de trabalho pedagógico individual do sica, a critério da Secretaria Municipal de Educação será
docente que atua na Etapa Inicial do Ensino Fundamental permitida a carga suplementar de trabalho que não deverá
terá duração de 60 (sessenta) minutos, dentre os quais 55 exceder 70 (setenta) horas mensais.
(cinqüenta e cinco) minutos dedicados às tarefas de progra- § 2º. A carga referida no caput deste artigo será desti-
mação e preparação do trabalho didático, preenchimento nada a projetos especiais e substituição nas Unidades Es-
de diários de classe, de programação dos conteúdos a se- colares da Rede Municipal de Ensino.
rem trabalhados em sala de aula, de definição do grau de § 3º. Ao Professor de Educação Básica II, a carga refe-
aprofundamento de estudos, de acordo com a especificidade rida será também destinada para complementar os blocos
de cada classe, de avaliação contínua das dificuldades e dos indivisíveis de cada área de conhecimento e ou aulas livres
avanços de cada aluno, em especial aqueles encaminhados que não sejam suficientes para constituição de um novo
para estudos de recuperação paralela, colaboração com as cargo.
atividades de direção e administração da escola, formação § 4º. A carga suplementar de trabalho docente deve
continuada e orientação pedagógica, articulação com a co- ser entendida como sendo o número de horas prestadas
munidade escolar e atendimento aos pais, entre outras. mensalmente pelo servidor, além daquelas fixadas para a
§ 7º- A hora de trabalho do docente que atua na Etapa jornada na qual se encontra incluído não constituindo jor-
Final do Ensino Fundamental terá a duração de 60 (sessenta) nada de trabalho, exceto ao Professor de Educação Bási-
minutos dentre os quais 50 (cinqüenta) minutos serão dedi- ca II, quando para complementar os blocos indivisíveis de
cados à tarefa de ministrar aula. cada área de conhecimento.
§ 8º- A hora de trabalho pedagógico individual do do- § 5º. Para aplicação do caput deste artigo será respei-
cente que atua na Etapa Final do Ensino Fundamental terá tada:
duração de 60 (sessenta) minutos, dentre os quais 50 (cin- I - A relação de inscritos classificados na Unidade Es-
qüenta) minutos dedicados às tarefas de programação e pre- colar, por cargo;
paração do trabalho didático, preenchimento de diários de II - A relação de inscritos na Unidade Escolar, respei-
classe, de programação dos conteúdos a serem trabalhados tada a classificação da Secretaria Municipal de Educação.
200
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 17- Os especialistas poderão ter carga suplemen- VII - para exercício de cargo de provimento em comis-
tar de trabalho de até 40 (quarenta) horas mensais para são;
desenvolver projetos especiais a critério da Secretaria Mu- VIII - para o exercício de atividade alheia à manutenção
nicipal de Educação. de desenvolvimento do ensino;
Art. 18- A jornada de trabalho do integrante do IV - por readaptação ou em processo de readaptação,
quadro do Magistério Público Municipal será considera- enquanto perdurar esta situação.
da como efetivo exercício, mesmo quando este deixar de Art. 24- Como condição para a evolução funcional
prestá-lo por motivo de férias escolares, suspensão de au- por mérito, o profissional do quadro do Magistério Público
las, por determinação superior, recesso escolar e outras Municipal deverá estar aprovado no processo de avaliação
que a legislação considere para todos os efeitos legais. de desempenho, nos termos da Lei que “Regulamenta a
Art. 19- Entende-se por horas de trabalho pedagó- avaliação de desempenho dos integrantes do quadro do
gico aquelas destinadas à programação e preparação do Magistério Público Municipal da Estância Balneária de Pe-
trabalho didático, à colaboração com as atividades de di- ruíbe e dá outras providências”.
reção e administração da escola, à formação continuada Parágrafo único- Para pleitear a evolução funcional
e à articulação com a comunidade preferencialmente em por mérito descrita no caput deste artigo, o profissional do
horário contínuo. quadro do Magistério Público Municipal, deverá obter por
§ 1º. Excepcionalmente até 50% (cinqüenta por cen- 03 (três) anos consecutivos o conceito Bom ou Excelente.
to) das horas descritas no caput deste artigo poderão ser
realizadas em horário diverso, com o acompanhamento SEÇÃO II
pedagógico do Núcleo de Gestão, devidamente requerido DA EVOLUÇÃO POR TEMPO DE SERVIÇO
pelo professor ao seu chefe imediato e homologado pelo
Núcleo de Supervisão de Ensino. Art. 25- A evolução por tempo de serviço é a pas-
§ 2º. Ao docente que se encontra na condição de estu- sagem do profissional de ensino de uma determinada re-
dante, matriculado em curso presencial devidamente reco- ferência para a imediatamente subseqüente mediante o
tempo de efetivo exercício no cargo público municipal de
nhecido por órgão oficial, será concedida a compensação
Peruíbe.
somente nas ausências do Horário de Trabalho Pedagógico
Art. 26- A evolução por tempo de serviço far-se-á
Coletivo.
obedecendo-se o critério de antiguidade, concedida auto-
Art. 20- As faltas às Horas de Trabalho Pedagógico
maticamente a cada 3 (três) anos de efetivo exercício do
serão computadas em “faltas-aula”.
servidor ocupante de cargo de provimento efetivo.
Parágrafo único- As faltas às Horas de Trabalho Peda-
§ 1º. A primeira progressão por tempo de serviço deve-
gógico serão computadas para todos os fins.
rá ser realizada no mês seguinte à conclusão e aprovação
do processo do estágio probatório do atual cargo do servi-
CAPITULO V dor, conforme legislação vigente.
DA APLICAÇÃO DO SISTEMA DE PONTOS Art. 27- Suspender-se-á o interstício a que se refere o
SEÇÃO I artigo 26, quando o servidor estiver afastado:
DA EVOLUÇÃO FUNCIONAL POR MÉRITO I – para tratamento de saúde por tempo superiores a
60 dias, consecutivos ou interpolados;
Art. 21- A evolução funcional por mérito é a passa- II – por motivo de doença em pessoa da família por
gem de uma determinada referência para a imediatamente tempo superior a 30 dias;
subseqüente de acordo com o resultado da Avaliação de III – para atividade política;
Desempenho dos Integrantes do Magistério Público Muni- IV - por licença para tratar de assuntos particulares;
cipal da Estância Balneária de Peruíbe. V - para o exercício de atividade alheia à manutenção
Art. 22. Para fins de evolução funcional por mérito, de desenvolvimento do ensino;
deverá ser cumprido o interstício de 03 (três) anos, compu- VI - para prestação de serviço em órgãos estranhos à
tado sempre o tempo de efetivo exercício do cargo no nível Administração Municipal, direta ou indireta;
em que estiver enquadrado. VII - por readaptação, enquanto perdurar esta situação.
Art. 23- Suspender-se-á o interstício a que se refere o
artigo 22 desta Lei Complementar, quando o servidor es- SEÇÂO II
tiver afastado: DA PROGRESSÃO FUNCIONAL
I - para tratamento de saúde por tempo superior a 60
dias, consecutivos ou interpolados; Art. 28- A Progressão Funcional por titulação tem por
II - por motivo de doença em pessoa da família por objetivo reconhecer a formação do profissional do magis-
tempo superior a 30 dias; tério, no respectivo campo de atuação, como um dos fato-
III - para desempenho de mandato classista e eletivo; res relevantes para a melhoria de seu desempenho.
IV - para atividade política; Art. 29- Para fins de progressão funcional por titula-
V - para tratar de interesses particulares; ção, deverá ser cumprido o interstício de 03 (três) anos,
VI - por cessão para órgão ou entidade dos Poderes da computado sempre o tempo de efetivo exercício do cargo
União, Estados ou de outros Municípios; no nível em que estiver enquadrado.
201
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 30- Fica assegurada a Progressão Funcional por b) Mediante apresentação de certificado de curso de
titulação para níveis retribuitórios superiores da respectiva especialização, na área de atuação, com duração mínima
classe, ao servidor que perfizer o total de 05 (cinco) pontos de 360 (trezentas e sessenta) horas, realizado por institui-
ou ainda obtiver os títulos de mestre, doutor ou pós-dou- ção de ensino de nível superior, oficial ou credenciada con-
tor na seguinte forma: forme legislação, desde que não seja utilizado como requisito
I – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA I E PROFES- para acesso ao cargo: 05 (cinco) pontos;
SOR SUBSTITUTO DE EDUCAÇÃO BÁSICA: c) Mediante apresentação de outro diploma de curso de
a) Mediante apresentação de diploma de curso de grau grau superior de ensino, de graduação correspondente à li-
superior de ensino, de graduação correspondente à licen- cenciatura plena em Pedagogia ou componentes da Base Na-
ciatura plena em Pedagogia ou nos componentes da Base cional Curricular, desde que não utilizado como requisito para
Nacional Curricular, desde que não utilizado como requisi- acesso ao cargo: 2,5 (dois inteiros e cinco décimos) pontos;
to para acesso ao cargo: 05 (cinco) pontos; d) Mediante apresentação de cursos de formação com-
b) Mediante apresentação de certificado de curso de plementar, no respectivo campo de atuação, de duração
especialização, na área de atuação, com duração mínima igual ou superior a 30 (trinta) horas, perfazendo blocos de
de 360 (trezentas e sessenta) horas, realizado por institui- 360 (trezentos e sessenta) horas, realizados pela Secretaria
ção de ensino de nível superior, oficial ou credenciada con- Municipal de Educação e ou por instituições oficiais ou par-
forme legislação: 05 (cinco) pontos; ticulares credenciadas e reconhecidas por órgãos oficiais:
c) Mediante apresentação de outro diploma de cur- 2,5 (dois inteiros e cinco décimos) pontos;
so de grau superior de ensino, de graduação correspon- e) Mediante apresentação de outro certificado de cur-
dente à licenciatura plena em Pedagogia ou componentes so de especialização, na área de atuação, com duração
da Base Nacional Curricular, desde que não seja utilizado mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas, realizado por
como requisito para acesso ao cargo: 2,5 (dois inteiros e instituição de ensino de nível superior, oficial ou credencia-
cinco décimos) pontos; da conforme legislação, desde que não seja utilizado como
d) Mediante apresentação de cursos de formação com- requisito para acesso ao cargo: 2,5 (dois inteiros e cinco
décimos) pontos;
plementar, no respectivo campo de atuação, de duração
f) Mediante apresentação de título de mestre, na área
igual ou superior a 30 (trinta) horas, perfazendo blocos de
de educação, em instituições reconhecidas pelo órgão de
360 (trezentos e sessenta) horas, realizados pela Secretaria
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-
Municipal de Educação e ou por instituições oficiais ou par-
perior - CAPES, desde que não seja utilizado como requi-
ticulares credenciadas e reconhecidas por órgãos oficiais:
sito para acesso ao cargo, será enquadrado no nível IV, ou
2,5 (dois inteiros e cinco décimos) pontos;
no imediatamente superior se já enquadrado no nível IV;
e) Mediante apresentação de outro certificado de cur-
g) Mediante apresentação de título de doutor, na área
so de especialização, na área de atuação, com duração
de educação, em instituições reconhecidas pelo órgão de
mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas, realizado por Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-
instituição de ensino de nível superior, oficial ou credencia- perior - CAPES, desde que não seja utilizado como requisi-
da conforme legislação: 2,5 (dois inteiros e cinco décimos) to para acesso ao cargo, será enquadrado no nível V, ou no
pontos; imediatamente superior se já enquadrado no nível V;
f) Mediante apresentação de título de mestre, na área h) Mediante apresentação de título de pós-doutora-
de educação, em instituições reconhecidas pelo órgão de do, na área de educação, em instituições reconhecidas pelo
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- órgão de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
perior - CAPES, será enquadrado no nível IV, ou no imedia- Nível Superior - CAPES, desde que não seja utilizado como
tamente superior se já enquadrado no nível IV; requisito para acesso ao cargo, será enquadrado no nível VI.
g) Mediante apresentação de título de doutor, na área § 1º. Os cursos previstos neste artigo serão considera-
de educação, em instituições reconhecidas pelo órgão de dos uma única vez, ficando vedada sua acumulação.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- § 2º. Somente serão válidos os cursos de formação
perior - CAPES, será enquadrado no nível V, ou no imedia- complementar previstos na alínea d dos incisos I e II efe-
tamente superior se já enquadrado no nível V; tuados nos últimos três anos.
h) Mediante apresentação de título de pós-doutorado, § 3º. Aos docentes do quadro do Magistério Público
na área de educação, em instituições reconhecidas pelo ór- Municipal que no ato do ingresso apresentar o título de
gão de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de licenciatura será enquadrado automaticamente no nível re-
Nível Superior - CAPES, será enquadrado no nível VI; tribuitório II.
II – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA II, PROFES-
SOR SUBSTITUTO DE EDUCAÇÃO BÁSICA II- EDUCA- CAPÍTULO VII
ÇÃO FÍSICA E ESPECIALISTA DE EDUCAÇÃO: DO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
a) Mediante apresentação de diploma de curso de grau
superior de ensino, de graduação correspondente à licen- Art. 31- Fica instituído como atividade permanente da
ciatura plena em Pedagogia ou nos componentes da Base Secretaria Municipal de Educação o desenvolvimento pro-
Nacional Curricular, desde que não seja utilizado como re- fissional dos servidores do quadro do Magistério Público
quisito para acesso ao cargo: 05 (cinco) pontos; Municipal.
202
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 32- Desenvolvimento profissional, para os efeitos Art. 38- Os atuais servidores da carreira do Magistério
desta Lei Complementar é a capacitação do servidor do Municipal de Peruíbe serão enquadrados na Tabela de Ven-
Magistério em cursos de formação, especialização ou outra cimento, considerando o seu tempo de serviço no cargo de
modalidade, oferecidas pela Secretaria Municipal de Edu- provimento efetivo, titulação e jornada de trabalho.
cação ou instituições de ensino autorizadas e reconhecidas Parágrafo Único- A contagem para enquadramento
por órgão oficial. ficará suspensa no período em que o servidor estiver afas-
Art. 33- São objetivos do desenvolvimento profissional: tado do cargo em virtude de afastamentos ou licenças:
I - propiciar a associação entre teoria e prática; I – para tratamento de saúde por tempo superior a 60
II - criar condições propícias à efetiva qualificação pe- dias, consecutivos ou interpolados;
dagógica de seus servidores através de cursos, seminários, II – por motivo de doença em pessoa da família por
conferências, oficinas de trabalho, implementação de pro- tempo superior a 30 dias;
jetos e outros instrumentos para possibilitar a definição de III – para atividade política;
novos programas, métodos e estratégias de ensino, ade- IV – para tratar de interesses particulares;
quadas às transformações educacionais; V- cessão para órgão ou entidade dos Poderes da
III - promover a valorização do servidor do quadro do União, Estados ou de outros Municípios.
Magistério Público Municipal. Art. 39- A Comissão de Enquadramento apresentará
Art. 34. Compete a Secretaria Municipal de Educação: ao Chefe do Executivo Municipal as listas nominais de en-
I - identificar as áreas e servidores carentes de aperfei- quadramento dos servidores para as providências necessá-
çoamento e estabelecer programas prioritários; rias a sua efetivação.
II - planejar a participação do servidor do quadro do
Magistério Público Municipal nos programas de aperfei- CAPÍTULO IX
çoamento e adotar as medidas necessárias para que os DO PROCESSO DE ELEIÇÃO DO DIRETOR E VICE-DI-
afastamentos que ocorrerem não cause prejuízo às ativi- RETOR DE ESCOLA
dades educacionais;
III - estabelecer a data de realização dos programas de
Altera o caput do artigo 40, revogados os artigos 41
capacitação continuada, respeitados o turno de trabalho e
e 45 e alterados os artigos 43 e 44 do Capítulo IX, pela
a jornada do profissional.
Lei Complementar nº 234, de 07 de julho de 2017.
Art. 35- Os programas de capacitação serão conduzidos:
Art. 40- Serão considerados aptos a concorrer ao pro-
I - sempre que possível, diretamente pela Secretaria
cesso para eleição de Vice-Direção de Escola os candidatos
Municipal de Educação;
aprovados em prova específica.
II - através de contratação de especialistas ou institui-
Parágrafo único- A prova especifica prevista no caput
ções especializadas, observada a legislação pertinente;
deste artigo, será realizada conforme necessidade da Se-
III - mediante encaminhamento do servidor às organi-
zações especializadas, sediadas ou não no Município; cretaria Municipal de Educação e terá a validade máxima
IV - através da realização de programas de diferentes de 04 (quatro) anos.
formatos utilizados, também, os recursos da educação à Art. 42- O Vice - Diretor será eleito pela maioria sim-
distância. ples dos servidores efetivos na Unidade Escolar pelo perío-
Art. 36- O programa de capacitação será elaborado do de um ano, sendo sua eleição homologada pelo Con-
e organizado anualmente em articulação com a Secretaria selho de Escola, podendo ser reconduzido uma única vez,
Municipal de Finanças a tempo de se prever, na proposta por igual período.
orçamentária, os recursos para sua implementação. § 1º. Os candidatos aptos e interessados deverão efe-
tuar inscrição junto a Secretaria Municipal de Educação e
CAPÍTULO VIII apresentar proposta de trabalho para o exercício da fun-
DO ENQUADRAMENTO DOS ATUAIS SERVIDORES ção.
§ 2º. A Secretaria Municipal de Educação constituirá
Art. 37- O Chefe do Poder Executivo Municipal desig- comissão, formada por integrantes do magistério, para in-
nará Comissão de Enquadramento do Magistério consti- dicar lista de candidatos por Unidade Escolar para o pro-
tuída por 07 (sete) membros dos quais 04 (quatro) serão cesso previsto no caput deste artigo, ouvida a direção de
representantes dos cargos efetivos previstos nesta Lei escola.
Complementar, tendo como funções: § 3º. Efetuada a eleição a ata do processo deverá ser
I - elaborar propostas de normas gerais de procedi- encaminhada à Secretaria Municipal de Educação para os
mentos para sua efetivação e submetê-las à aprovação do procedimentos legais.
Chefe do Executivo; § 4º. Caso não haja docente eleito na Unidade Esco-
II - elaborar as propostas de atos coletivos de enqua- lar, compete a Secretaria Municipal de Educação indicar ao
dramento e encaminhá-las ao Chefe do Executivo; Chefe do Executivo, dentre a lista de candidatos aptos, do-
III - executar em conjunto com o Departamento de cente para exercer a função.
Recursos Humanos os enquadramentos nos termos desta § 5º. A recondução prevista no caput deste artigo será
Lei Complementar e solicitar para a Secretaria Municipal precedida de parecer exarado pelo Diretor de Escola ouvi-
de Finanças relatório do impacto orçamentário financeiro. do o Conselho de Escola.
203
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
Art. 43- Os critérios e regras para os processos previstos Art. 47-B- Imediatamente após o início do efetivo exer-
nos artigos 40 e 42 serão regulamentados através de ato cício do diretor de escola ingressante por concurso público de
da Secretaria de Educação, garantindo ampla divulgação do provas e títulos, será revogada a portaria do docente designado,
mesmo junto à Rede Municipal de Ensino através de publica- que estiver exercendo a função gratificada de diretor de escola.
ção do Boletim Oficial do Município.
Parágrafo único- O exercício das atribuições da fun- CAPÍTULO XI
ção gratificada de vice-diretor de escola por docente que se DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
encontre em processo de readaptação ou readaptados de-
penderá de manifestação prévia do serviço de medicina do Art. 48- Em havendo superávit financeiro nos repasses
trabalho. do FUNDEB – Fundo de Manutenção da Educação Básica
Art. 44- O vice-diretor terá a nomeação cessada, em e Valorização dos Profissionais do Magistério fica o Poder
qualquer das seguintes situações: Executivo municipal autorizado a repassar os valores aos
I – mediante solicitação por escrito; docentes e especialistas da educação básica da Rede Mu-
II - a critério da administração em decorrência de: nicipal de Ensino de Peruíbe em exercício efetivo.
§ 1º. Os valores serão pagos em forma de bônus aos
a) não corresponder às atribuições da função e de seu profissionais descritos no caput deste artigo.
projeto de trabalho; § 2º. A Secretaria Municipal de Educação determinará
b) entrar em afastamento por período superior a 30 dias, critérios que serão regulamentados por meio de Decreto
exceto licença gestante ou adotante e acidente de trabalho; do Poder Executivo.
c) a Unidade Escolar deixar de comportar o posto de tra- Art. 49- O integrante do quadro do Magistério Públi-
balho. co Municipal nomeado para exercício de função gratificada
§ 1º- Quando o vice-diretor não corresponder às atribui- para os cargos do Anexo I-A será considerado como se em
ções da função, a revogação da Portaria dar-se-á por ato do regência de classe estivesse para todos os efeitos legais.
Chefe do Executivo após processo interno de apuração dos Art. 50- As despesas decorrentes da implantação do
fatos realizado pelo Núcleo de Supervisão de Ensino, ouvido presente Plano de Cargos, Carreira e Vencimento do Ma-
o interessado, e emissão de parecer final do Secretário Mu- gistério Público Municipal da Estância Balneária de Peruíbe
nicipal de Educação. correrão à conta de dotação própria do orçamento vigente.
§ 2º- O docente que tiver sua nomeação revogada na si- Art. 51- São partes integrantes da presente Lei Com-
tuação prevista na alínea a do inciso II do caput deste artigo, plementar:
somente poderá participar de novo processo para eleição de I - Anexo I- A: Tabela de cargos, funções, formas e re-
vice-direção de escola após nova prova de habilitação espe- quisitos para provimento do Quadro do Magistério Público;
cífica. II - Anexo I-B: Tabelas de jornada e vencimento inicial;
III - Anexo II: Descrição dos cargos de provimento efe-
CAPITULO X tivo e funções gratificadas;
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS IV - Anexo III: Tabelas de Vencimento.
Art. 52- Não concorrerão às aplicações desta Lei
Art. 46. Dentro de 10 (dez) dias a contar da vigência Complementar, o titular de cargo que:
desta Lei Complementar, o Chefe do Executivo Municipal I- encontrar-se afastado, com ou sem prejuízo de ven-
designará, por ato próprio, a Comissão prevista no Capítulo cimento, para prestar serviços a órgãos não vinculados à
VIII. educação;
Acrescenta os artigos 47-A e 47-B ao Capítulo X - II- tiver sofrido penalidade de suspensão apurada por
disposições transitórias, pela Lei Complementar nº 234, processo administrativo transitado em julgado no período
de 07 de julho de 2017. de interstício considerado para fins de concorrer à evolu-
Art. 47. A Secretaria Municipal de Educação terá o ção e progressão funcional;
prazo de até 1 (um) ano, a partir da publicação desta Lei III – o servidor readaptado, enquanto perdurar esta si-
Complementar, para a realização dos processos previstos tuação.
no Capítulo IX. Art. 53- Fica o Poder Executivo Municipal autorizado
§ 1º. Os atuais diretores e vice-diretores terão seus a regulamentar os atos que se mostrarem indispensáveis a
mandatos mantidos até a finalização dos processos previs- execução da presente Lei Complementar.
tos no caput deste artigo. Art. 54- Esta Lei Complementar entra em vigor na data
§ 2º. A Secretaria Municipal de Educação publicará ato de sua publicação, ficando revogada a Lei Complementar
regulamentador que disciplinará a realização de indicação nº 50/2003 e posteriores alterações.
de diretor e vice-diretor em Unidade Escolar que possuir
vaga disponível, enquanto os processos previstos no capí- PREFEITURA MUNICIPAL DA ESTÂNCIA BALNEÁRIA
tulo IX desta Lei Complementar não forem realizados. DE PERUIBE, EM 19 DE DEZEMBRO DE 2011.
Art. 47-A- Para fins de funcionamento das Unidades
Escolares a Secretaria Municipal de Educação, por meio de MILENA BARGIERI
resolução, publicará módulo organizacional no qual se defi- PREFEITA MUNICIPAL
nirá escolas vinculadas e vinculadoras.
204
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
205
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E LEGISLAÇÃO
ANOTAÇÕES
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