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Pontos – Prova oral – DPE/MA – EXECUÇÃO PENAL

Responsável
1. Princípios constitucionais que regem a execução penal.
2. Objeto e aplicação da lei de execução penal.
1 ERICA
3. Do exame de classificação e criminológico.
4. Trabalho penitenciário.
5. Direitos e Deveres dos Presos.
2 6. Faltas disciplinares. Sanções e recompensas. Aplicação das sanções. LIVIA
Procedimento disciplinar.
7. Órgãos da Execução Penal. Do Juízo da execução penal. Defensoria
3 ERIC
Pública. Ministério Público. Conselho Penitenciário
8. Execução da Penas. Penas privativas de liberdade. VINICIUS
4
9. Regimes e aplicação do art. 111. JERONIMO
10. Autorizações de saída.
5 11. Remição. CAMILA SALES
12. Livramento condicional.
6 13. Decretos Presidenciais que prevêem indulto e comutação das penas VANESSA
14. Excesso e desvio da execução penal.
7 15. Monitoração Eletrônica. ISABELE
16. Penas restritivas de direito.
17. “Sursis”.
18. Multa (focar em execução, porque o tema “multa” é abordado em penal).
8 PEDRO ICARO
19. Medida de segurança (focar em execução, porque o tema “medida de
segurança” é abordado em penal).
20. Conversões das penas privativas de liberdade.
9 21. Agravo em Execução. MARIO
22. “Habeas Corpus”
23. Regulamento das Unidades Prisionais do Estado do Maranhão (decreto
10 ANA JULIA
estadual 27.640/11).
11 24. Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas para tratamento de
Reclusos, adotadas em 31 de agosto de 1955, pelo Primeiro Congresso das
Nações Unidas para Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes;
e aprovado pelo Conselho Econômico e Social da ONU através de sua
ARTHUR
Resolução n.º 35663 CI (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela MAGNUS
Resolução n.º 2176 de 13 de maio de 1977.
25. Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil - Resolução nº
14/94 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),

1
de 11 de novembro de 1994.
26. Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90 e alterações posteriores); Lei
12 de Drogas (Lei nº 6.368/76 e Lei nº 11.343/06 e alterações posteriores); e JOÃO PAULO
nas Súmulas do STJ e STF, e Súmulas Vinculantes do STF

Sumário
Sumário........................................................................................................................................2
PONTO 1.......................................................................................................................................3
PONTO 2.....................................................................................................................................17
PONTO 3.....................................................................................................................................20
PONTO 4.....................................................................................................................................24

2
PONTO 5.....................................................................................................................................29
PONTO 6.....................................................................................................................................36
PONTO 7.....................................................................................................................................42
PONTO 8.....................................................................................................................................47
PONTO 9.....................................................................................................................................50
PONTO 10...................................................................................................................................54
PONTO 11...................................................................................................................................58
PONTO 12...................................................................................................................................62

PONTO 1
1. Princípios constitucionais que regem a execução penal.
2. Objeto e aplicação da lei de execução penal.
3. Do exame de classificação e criminológico.
4. Trabalho penitenciário.

1. Quais são os princípios constitucionais relacionados à execução


penal?
Primeiramente, é interessante destacar o princípio da dignidade da
pessoa humana (art. 1º, III, CF), valor axiológico de todo o ordenamento
jurídico que deve orientar a execução da pena privativa de liberdade no sentido

3
de que os diretos inerentes à pessoa humana sejam observados e garantidos
às pessoas presas.
Desse princípio decorre o princípio da humanização das penas (art. 5º,
XLVII e XLIX, CF), pelo qual são vedadas as penas de morte (salvo em caso de
guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX, CF); de caráter perpétuo; de
trabalhos forçados; de banimento e cruéis. Bem como é assegurado aos
presos o respeito à sua integridade física e moral.
O princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF) consiste na
previsão de dar a cada preso as oportunidades e os elementos necessários
para lograr a sua reinserção social.
O princípio da pessoalidade (art. 5º, XLVI, CF) determina que nenhuma
pena passará da pessoa do condenado e, dessa forma, familiares e pessoas
próximas ao apenado não podem sofrer com as consequências da aplicação
da pena.
Já o princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX e XL, CF) também deve ser
observado na execução penal, uma vez que todos os direitos e garantias
previstos em lei devem ser garantidos aos condenados (são direitos subjetivos
e não “benefícios”), bem como qualquer imposição de penalidade deve ser
aplicada nos limites estritos da lei, vedada a analogia in malam partem (ver
questão abaixo sobre a relativização de princípio pelos tribunais superiores e o
princípio da “less eligibility”).
Nesse contexto, é interessante destacar que o princípio do devido
processo legal (art. 5º, LIV, CF) é aplicado em sede de execução penal.
Nesse sentido, súmula 533 do STJ: “Para o reconhecimento da prática
de falta disciplinar no âmbito da execução penal , é imprescindível
a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado
por advogado constituído ou defensor público nomeado”. Não se aplica a
súmula vinculante 5 (“A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição“) à execução penal.

2. Relacione o “Estado de Coisas Inconstitucional” com o sistema


carcerário brasileiro.
O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando...
- verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e
sistêmica de direitos fundamentais,
- causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das
autoridades públicas em modificar a conjuntura;
- de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder
Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem modificar a
situação inconstitucional.
Obs: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos
(O Estado de Coisas Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carlos-campos-estado-coisas-
inconstitucional-litigio-estrutural).
Exemplo: no sistema prisional brasileiro existe um verdadeiro "Estado de
Coisas Inconstitucional".

1.1. Qual sua origem?

4
A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a
Suprema Corte do país pode atuar para corrigir essa situação surgiu na Corte
Constitucional da Colômbia, em 1997, com a chamada "Sentencia de
Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão.
Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades
naquela Corte.
Existe também notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional
do Peru.

1.2. Quais seus pressupostos e consequências?


Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da
ADPF 347, para reconhecer o estado de coisas inconstitucional, exige-se que
estejam presentes as seguintes condições:
a) vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um
número significativo de pessoas;
b) prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas
obrigações para garantia e promoção dos direitos;
c) a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de
medidas complexas por uma pluralidade de órgãos, envolvendo mudanças
estruturais, que podem depender da alocação de recursos públicos, correção
das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas, dentre
outras medidas; e
d) potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que
tiverem os seus direitos violados
O ECI gera um “litígio estrutural”, ou seja, existe um número amplo de
pessoas que são atingidas pelas violações de direitos. Diante disso, para
enfrentar litígio dessa espécie, a Corte terá que fixar “remédios estruturais”
voltados à formulação e execução de políticas públicas, o que não seria
possível por meio de decisões mais tradicionais.
A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural
diante da omissão dos Poderes Executivo e Legislativo, que não tomam
medidas concretas para resolver o problema, normalmente por falta de vontade
política.
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que
não está expressamente prevista na Constituição ou em qualquer outro
instrumento normativo e, considerando que "confere ao Tribunal uma ampla
latitude de poderes, tem-se entendido que a técnica só deve ser manejada
em hipóteses excepcionais, em que, além da séria e generalizada afronta
aos direitos humanos, haja também a constatação de que a intervenção da
Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro enfrentado. São casos
em que se identifica um “bloqueio institucional” para a garantia dos
direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do
princípio da separação de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla
sobre o campo das políticas públicas." (trecho da petição inicial da ADPF 347).
Em maio de 2015, o Partido Socialista e Liberdade (PSOL) ajuizou ADPF
pedindo que o STF declare que a situação atual do sistema penitenciário
brasileiro viola preceitos fundamentais da Constituição Federal e, em especial,
direitos fundamentais dos presos. Em razão disso, requer que a Corte
determine à União e aos Estados que tomem uma série de providências com o
objetivo de sanar as lesões aos direitos dos presos.

5
Na petição inicial, que foi subscrita pelo grande constitucionalista Daniel
Sarmento, defende-se que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado
de Coisas Inconstitucional".
São apontados os pressupostos que caracterizam esse ECI:
a) violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais;
b) inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em
modificar a conjuntura;
c) situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma
pluralidade de autoridades para resolver o problema.
A ação foi proposta contra a União e todos os Estados-membros.

1.3. Quais as medidas requeridas na ação?


Na ação, pede-se que o STF reconheça a existência do "Estado de Coisas
Inconstitucional" e que ele expeça as seguintes ordens para tentar resolver a
situação.
O STF deveria obrigar que os juízes e tribunais do país:
a) quando forem decretar ou manter prisões provisórias, fundamentem
essa decisão dizendo expressamente o motivo pelo qual estão aplicando a
prisão e não uma das medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do
CPP;
b) implementem, no prazo máximo de 90 dias, as audiências de custódia
(sobre as audiências de custódia, leia o Info 795 STF);
c) quando forem impor cautelares penais, aplicar pena ou decidir algo na
execução penal, levem em consideração, de forma expressa e fundamentada,
o quadro dramático do sistema penitenciário brasileiro;
d) estabeleçam, quando possível, penas alternativas à prisão;
e) abrandar os requisitos temporais necessários para que o preso goze de
benefícios e direitos, como a progressão de regime, o livramento condicional
e a suspensão condicional da pena, quando ficar demonstrado que as
condições de cumprimento da pena estão, na prática, mais severas do que as
previstas na lei em virtude do quadro do sistema carcerário; e
f) abatam o tempo de prisão, se constatado que as condições de efetivo
cumprimento são, na prática, mais severas do que as previstas na lei. Isso
seria uma forma de "compensar" o fato de o Poder Público estar cometendo
um ilícito estatal.
O STF deveria obrigar que o CNJ:
g) coordene um mutirão carcerário a fim de revisar todos os processos de
execução penal em curso no País que envolvamm a aplicação de pena
privativa de liberdade, visando a adequá-los às medidas pleiteadas nas alíneas
“e” e “f” acima expostas.
O STF deveria obrigar que a União:
h) libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo
Penitenciário Nacional (FUNPEN) para utilização na finalidade para a qual foi
criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.

1.4. O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já


apreciou o pedido de liminar. O que a Corte decidiu?
O STF decidiu conceder, parcialmente, a medida liminar e deferiu apenas os
pedidos "b" (audiência de custódia) e "h" (liberação das verbas do FUNPEN).

6
O Plenário reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma
violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas
de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas.
Diante disso, o STF declarou que diversos dispositivos constitucionais,
documentos internacionais (o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,
a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes e a Convenção Americana de Direitos Humanos) e
normas infraconstitucionais estão sendo desrespeitadas.
Os cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos,
fomentam o aumento da criminalidade, pois transformam pequenos
delinquentes em “monstros do crime”. A prova da ineficiência do sistema como
política de segurança pública está nas altas taxas de reincidência. E o
reincidente passa a cometer crimes ainda mais graves.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser
atribuída aos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da
União como dos Estados-Membros e do Distrito Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes
representa uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos
presos, além da perpetuação e do agravamento da situação.
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia,
coordenar ações visando a resolver o problema e monitorar os resultados
alcançados.
A intervenção judicial é necessária diante da incapacidade demonstrada
pelas instituições legislativas e administrativas.
No entanto, o Plenário entendeu que o STF não pode substituir o papel do
Legislativo e do Executivo na consecução de suas tarefas próprias. Em outras
palavras, o Judiciário deverá superar bloqueios políticos e institucionais sem
afastar, porém, esses poderes dos processos de formulação e implementação
das soluções necessárias. Nesse sentido, não lhe incumbe definir o conteúdo
próprio dessas políticas, os detalhes dos meios a serem empregados. Com
base nessas considerações, foram indeferidos os pedidos "e" e "f".
Quanto aos pedidos “a”, “c” e “d”, o STF entendeu que seria desnecessário
ordenar aos juízes e Tribunais que fizessem isso porque já são deveres
impostos a todos os magistrados pela CF/88 e pelas leis. Logo, não havia
sentido em o STF declará-los obrigatórios, o que seria apenas um reforço.
STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015
(Info 798).

2. O Estado pode se eximir de investir em estabelecimentos penais


alegando ausência de previsão orçamentária?
Constatando-se inúmeras irregularidades em cadeia pública –
superlotação, celas sem condições mínimas de salubridade para a
permanência de presos, notadamente em razão de defeitos estruturais, de
ausência de ventilação, de iluminação e de instalações sanitárias adequadas,
desrespeito à integridade física e moral dos detentos, havendo, inclusive, relato
de que as visitas íntimas seriam realizadas dentro das próprias celas e em
grupos, e que existiriam detentas acomodadas improvisadamente –, a
alegação de ausência de previsão orçamentária não impede que seja
julgada procedente ação civil publica que, entre outras medidas, objetive

7
obrigar o Estado a adotar providências administrativas e respectiva
previsão orçamentária para reformar a referida cadeia pública ou
construir nova unidade, mormente quando não houver comprovação objetiva
da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal.
A situação em análise revela clara violação aos princípios da dignidade da
pessoa humana, do mínimo existencial e à garantia constitucional de que
o Poder Público deverá respeitar a integridade física e moral do preso (art.
5º, XLIX, da CF/88).
Quando o não desenvolvimento de políticas públicas acarretar grave
vulneração a direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição,
é cabível a intervenção do Poder Judiciário como forma de implementar os
valores constitucionais.
Nesses casos, não é possível que o Poder Público invoque a
discricionariedade administrativa.
Em suma, tanto o STF quanto o STJ reconhecem que, em casos
excepcionais, é possível o controle judicial de políticas públicas
STJ. 2ª Turma. REsp 1.389.952-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
3/6/2014 (Info 543).
STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
29/10/2013 (Info 726).

2.1. Há ofensa à separação dos poderes?


Não há ofensa ao princípio da separação dos poderes. Isso porque a
concretização dos direitos sociais não pode ficar condicionada à boa vontade
do Administrador, sendo de suma importância que o Judiciário atue como órgão
controlador da atividade administrativa.
Seria distorção pensar que o princípio da separação dos poderes,
originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais,
pudesse ser utilizado como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente
importantes.
Tratando-se de direito essencial, incluso no conceito de mínimo existencial,
não existe empecilho jurídico para que o Judiciário determine a inclusão de
determinada política pública nos planos orçamentários do ente político,
mormente quando não houver comprovação objetiva da incapacidade
econômico-financeira da pessoa estatal.

2.2. É possível a aplicação da teoria da reserva do possível?


Não se pode invocar a teoria da reserva do possível, importada do Direito
alemão, como escudo para o Estado se escusar do cumprimento de suas
obrigações prioritárias.
Realmente as limitações orçamentárias são um entrave para a efetivação
dos direitos sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o princípio da
reserva do possível não pode ser utilizado de forma indiscriminada.
Na verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o
indivíduo só pode requerer do Estado uma prestação que se dê nos limites do
razoável, ou seja, na qual o peticionante atenda aos requisitos objetivos para
sua fruição.
De acordo com a jurisprudência da Corte Constitucional alemã, os direitos
sociais prestacionais estão sujeitos à reserva do possível no sentido daquilo
que o indivíduo, de maneira racional, pode esperar da sociedade. Ocorre que

8
não se podem importar preceitos do direito comparado sem atentar para
Estado brasileiro. Na Alemanha, os cidadãos já dispõem de um mínimo de
prestações materiais capazes de assegurar existência digna. Por esse motivo,
o indivíduo não pode exigir do Estado prestações supérfluas, pois isso
escaparia do limite do razoável, não sendo exigível que a sociedade arque com
esse ônus. Eis a correta compreensão do princípio da reserva do possível, tal
como foi formulado pela jurisprudência germânica.
Todavia, a situação é completamente diversa nos países menos
desenvolvidos, como é o caso do Brasil, onde ainda não foram asseguradas,
para a maioria dos cidadãos, condições mínimas para uma vida digna.
Nesse caso, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência
minimamente decente não pode ser encarado como sem razão (supérfluo),
pois garantir a dignidade humana é um dos objetivos principais do Estado
brasileiro.
É por isso que o princípio da reserva do possível não pode ser oposto a um
outro princípio, conhecido como princípio do mínimo existencial. Somente
depois de atingido esse mínimo existencial é que se poderá discutir,
relativamente aos recursos remanescentes, em quais outros projetos se deve
investir.
Por esse motivo, não havendo comprovação objetiva da incapacidade
econômico-financeira da pessoa estatal, inexistirá empecilho jurídico para que
o Judiciário determine a inclusão de determinada política pública nos planos
orçamentários do ente político.

2.3. Como o defensor público deve lidar com a alegação de ausência de


previsão orçamentária pelo Estado?
Ao preparar uma ação civil pública requerendo a implementação de alguma
política pública, o defensor público deverá pedir que a verba necessária para
essa medida seja incluída no orçamento estatal a fim de evitar a alegação de
violação aos arts. 4º, 6º e 60 da Lei n. 4.320/64 (que preveem a necessidade
de previsão orçamentária para a realização das obras em apreço).

3. Por que a Defensoria deve lutar pelo fim das revistas vexatórias?
O princípio de que a pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado
está entre os fundamentos mais básicos do direito penal moderno. Mesmo
assim, o simples fato de ter vínculos afetivos com pessoas presas faz com que
cerca de meio milhão de mulheres, homens e crianças passe todas as
semanas por um procedimento que as obriga a se desnudar e ter seus órgãos
genitais inspecionados por agentes penitenciários.
A revista vexatória é um procedimento obrigatório para que familiares,
companheiros e cônjuges possam fazer visitas a estabelecimento penais na
maioria dos estados brasileiros.
O procedimento viola a dignidade humana, o direito à intimidade, a
pessoalidade na aplicação da pena e o direito a não ser submetido a
tratamentos degradantes ou desumanos, todos estes expressamente previstos
na Constituição Federal.
A revista vexatória ofende também os compromissos que o Brasil assumiu
internacionalmente, perante a ONU e a OEA, de respeitar os direitos humanos.
A Argentina, por exemplo, já foi condenada pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos por submeter mulheres e crianças a esse tipo de tratamento.

9
No Brasil, alguns avanços estão ocorrendo no sentido da criação de normas
estaduais que reconheçam que a revista vexatória não pode ser um método
rotineiro de revista em visitantes, conforme ilustra o mapa na página seguinte.
Falta, porém, sistematicidade na regulamentação da matéria, o que faz com
que a aplicação dessas regras seja pouco consistente.
Aqueles que defendem a medida afirmam que ela é necessária para a
segurança dentro e fora das prisões. Contudo, esse tipo de raciocínio parte
necessariamente do pressuposto de que há um problema tão grave de entrada
de objetos ilícitos nas prisões que é necessário que se adote uma medida
drástica e humilhante como o dever de revistar a genitália de todo visitante.
Há, ainda, um segundo pressuposto: o de que os familiares dos detentos,
sozinhos, são responsáveis por levar armas, drogas e celulares para as
prisões. Afinal, por que outro motivo somente os familiares passariam pela
revista vexatória, quando existem diversas outras pessoas que têm contato
direto com os presos?
Em uma pesquisa realizada pela Rede Justiça Criminal em Penitenciárias no
Estado de São Paulo, constatou-se que apenas 0,03% dos visitantes trazia
consigo objetos como drogas e celulares. Nenhum visitante foi flagrado
tentando introduzir armas nas unidades prisionais. E vale ressaltar que é ainda
menor a porcentagem de apreensões realizada em partes íntimas, o que indica
a absoluta desproporcionalidade da medida.
A situação é ainda mais grave se observada a quantidade de pessoas que
passaram por essa medida humilhante. De acordo com números absolutos
cedidos pela Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo à
Defensoria Pública, quase 3,5 milhões de pessoas foram submetidas ao
procedimento vexatório de revista em 2012 no estado. Segundo os mesmos
dados, em apenas 0,02% de todas essas visitas houve apreensão de alguma
quantidade de droga ou componente telefônico
No estado de Goiás, nenhuma pessoa precisa despir-se, fazer flexões,
agachamentos ou dar saltos, muito menos submeter-se ao toque íntimo, para
ingressar em qualquer dos estabelecimentos prisionais goianos. O novo
procedimento, denominado “revista humanizada”, é regra desde 19 de julho de
2012, data de publicação da Portaria n° 435/20126, da Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária e Justiça. Até os agentes prisionais, resistentes à
humanização dos procedimentos, num primeiro momento, hoje são em sua
ampla maioria favoráveis à nova rotina, uma vez que a revista vexatória era
também altamente constrangedora para os profissionais da segurança
prisional.
O que foi decisivo para a mudança ocorrida em Goiás foi a ampla discussão
pública do tema, facilitada com a divulgação de um vídeo produzido pelo
Ministério Público em 2010, disponível no YouTube sob o título “Revista
vexatória - visitando uma prisão brasileira”, importante documento audiovisual
fruto da coragem de uma mulher que permitiu ser filmada durante o antigo
procedimento e que se dispôs a denunciar, mediante a exposição do seu
próprio corpo, a absurda violência institucional que era cometida pelo estado de
Goiás contra as pessoas, principalmente mulheres, de todas as idades, que
passam pela dura experiência de ter um parente, amigo ou companheiro preso.
Denúncia que ainda é atual e necessária. Afinal, em pleno século XXI, a rotina
da revista vexatória se faz presente em quase todos os demais Estados
brasileiros.

10
A sistemática e indiscriminada “pagação de revista” traduz tortura,
tratamento degradante, um verdadeiro estupro institucionalizado, gerando ódio
e revolta.
Diante desse cenário, seguem 15 motivos para que as revistas vexatórias
sejam banidas por completo no Brasil:
1. A revista vexatória é o procedimento que desrespeita a inviolabilidade da
intimidade (art. 5º, X, CF) porque obriga absolutamente todas as visitas de
detentos a ficarem completamente nuas e terem seus órgãos genitais
inspecionados.
2. Em afronta ao princípio da dignidade humana (art. 1º, III, CF) as visitantes
devem se agachar, abrir as genitálias com as mãos e fazer força como se
estivessem dando à luz, enquanto agentes penitenciários examinam seus
corpos.
3. Essa humilhação, pela qual passam, até mesmo, mulheres grávidas,
idosas, adolescentes, pessoas com deficiência e crianças, é uma forma de
tratamento desumano e degradante, o qual é proibido pela Constituição
Federal (art. 5º, III).
4. Obrigar alguém a se desnudar em público pela simples razão de possuir
vínculo de afetividade ou parentesco com uma pessoa presa viola o princípio
de que a pena não deve ultrapassar a pessoa do condenado (art. 5º, XLV, CF).
5. Fazer com que crianças e adolescentes passem nuas por detectores de
metais e sejam inspecionadas por agentes penitenciários ofende a integridade
pessoal (art. 17, ECA) e viola o dever de proteger crianças e adolescentes
contra tratamentos vexatórios ou constrangedores (art. 18, ECA).
6. Condicionar a visita do preso à exibição em público dos genitais de seu
familiar é incompatível com o direito à visita que todo preso possui (art. 41, X,
LEP). No caso de crianças e adolescentes cujos pais estão detidos, a revista
vexatória afronta também o direito à convivência familiar (art. 227, CF e art. 4º,
ECA). Afastar drasticamente os familiares do preso vai contra as finalidades da
pena.
7. Mesmo inspecionando de modo vexatório e rígido genitálias, roupas e
pertences dos visitantes, armas, drogas e celulares são encontrados nas
unidades prisionais. A revista vexatória não é, portanto, adequada nem
proporcional para garantir a segurança nas prisões.
8. Nem mesmo o preso pode ser submetido a revistas íntimas que,
sistematicamente, ofendam a sua dignidade. Foi o que determinaram a Corte
Europeia de Direitos Humanos (Caso Lorsé Vs. Holanda, 2003) e a ONU
(Regras de Bangkok, 2010).
9. Para a OEA, as revistas de presos e visitantes devem ser
compatibilizadas com a dignidade humana e o respeito aos direitos
fundamentais e, para isso, inspeções anais e vaginais devem ser proibidas por
lei (Princípio XXI, Princípios e Boas Práticas para a Proteção das Pessoas
Privadas de Liberdade nas Américas, 2008).
10. Obrigar a filha adolescente e a esposa de um preso a se despirem
completamente e terem a genitália inspecionada foi considerada uma violação
à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Caso X e Y Vs. Argentina,
1996).
11. Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que pode
responsabilizar internacionalmente o Brasil, revistar a genitália feminina é uma

11
forma de violência contra a mulher e, por seus efeitos, constitui tortura (Caso
Penal Castro Castro Vs. Peru, 2006).
12. Depois de visita ao Brasil, em 2000, o Relator Especial da ONU contra a
Tortura indicou que se adotassem medidas para assegurar que a revista dos
visitantes respeitasse sua dignidade.
13. Minas Gerais (Lei Estadual 12.492/1997), Rio de Janeiro (Res. 330/2009,
da Secretaria de Administração Penitenciária), Rio Grande do Sul (Portaria
12/2008 da Superintendência dos Serviços Penitenciários), e Paraíba (Lei
Estadual 6.081/2010) já criaram diversas restrições à revista vexatória. Espírito
Santo (Portaria 1578-S de 2012 da Secretaria de Justiça) e Goiás (Portaria
435/2012, da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal) proibiram
absolutamente a revista com desnudamento.
14. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)
determina que a honra e a dignidade dos visitantes revistados devem ser
respeitadas (Res. 9/2006, art. 3º). Também editou a Resolução nº 5 de 28 de
agosto de 2014 que recomenda o fim da revista vexatória nos
estabelecimentos penais.
15. Tramita no Congresso Nacional o PLS 480/2013, com o fim de alterar a
LEP e vedar a revista vexatória.
Fonte: Informativo Rede Justiça Criminal – Edição 06, Ano 04, 2014.
Informativo produzido pelas organizações: Associação pela Reforma Prisional
(ARP), Conectas Direitos Humanos, Instituto de Defesa do Direito de Defesa
(IDDD), Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH), Instituto Sou da
Paz, Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), Justiça Global e Pastoral
Carcerária Nacional.

4. Sobre o princípio da legalidade na execução penal, é possível afirmar


que os tribunais superiores observam a sua aplicação? O que é o
princípio da “less eligibility”?
O princípio da “less eligibility” surgiu no Reino Unido, no século XIX, e
determina que as condições de vida no cárcere devem ser
acentuadamente piores que as condições de vida dos mais precários
trabalhadores livres, para que preserve seu caráter punitivo e se mantenha
devidamente dissuador diante do custo da opção de delinquir.
Com a afirmação histórica dos direitos humanos, esse princípio encontra
dificuldades de sustentação oficial e declarada. Dessa forma, ele foi
substituiído por construções históricas de caráter mais moderno para legitimar
a diferenciação social no tocante à efetivação dos direitos das pessoas presas,
que se tornam “cidadãos de segunda categoria”.
O cárcere se torna um “espaço de não direito” e um “locus”
de relativização da universalidade dos direitos humanos
A execução da pena se torna no Brasil um exercício do poder punitivo à
margem da legalidade, consistindo em um verdadeiro direito penal
subterrâneo, seja pela ausência de condições materiais de aprisionamento,
seja pelas práticas violentas de agentes estatais com relação às pessoas
presas.
Há uma precária fiscalização exercida pelos órgãos competentes e um
diminuto controle social e comunitário sobre o que acontece dentro das
penitenciárias brasileiras.

12
Os Tribunais Superiores acabam por legitimar essa ideia do princípio
da less eligibility e a não observância da do princípio da legalidade
expressamente previsto na LEP (art. 45).
Como exemplos é possível citar:
i. exigência de exame criminológico para a progressão de regime - a
LEP não exige (art. 112), sendo que a Lei 10.792/03, que alterou a LEP, exclui
essa exigência. No entanto, os tribunais superiores, ainda que de modo mais
limitado, admitem a exigência (súmula vinculante 26 e súmula 439 do STJ);
ii. interrupção do lapso temporal para a progressão de regime pela falta
grave no regime fechado - não há previsão legal. Se a falta grave é praticada
no regime semiaberto ou aberto, há a regressão de regime (art. 118), mas não
há previsão semelhante para o regime fechado (não há como regredir). Ainda
assim, utilizando-se de analogia in malam partem, o STJ determina a
interrupção (súmula 534);
iii. posse de aparelho celular - a LEP prevê a posse de aparelho telefônico,
rádio ou similar que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo (art. 50, VII). No entanto, a jurisprudência (STF e STJ) amplia
o alcance dessa norma, novamente se valendo de analogia in malam partem, e
determina que componentes isolados dos aparelhos celulares, como os chips,
são abrangidos pelo tipo disciplinar.

5. O que é o princípio do “numerus clausus”?


O princípio do “numerus clausus” (“número fechado”) é uma das grandes
novidades em debate no âmbito da teoria crítica em execução penal e já ocupa
a pauta do Conselho Nacional de Justiça, pois toca diretamente o tema da
superlotação carcerária e o princípio da legalidade na execução. O tema vem
sendo trabalhado pelo Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro Rodrigo
Duque Estrada Roig (v. seu recente livro: Execução Penal: teoria crítica. São
Paulo: Saraiva, 2014, p. 87 e ss.).
Trata-se de princípio de organização segundo o qual a cada nova entrada
no sistema penitenciário deve corresponder uma nova saída, jamais
ultrapassando a capacidade máxima de lotação da unidade.

6. Quais os objetivos da execução penal?


A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social
do condenado e do internado, conforme dispõe a Lei de Execução Penal.
A execução penal tem por pressuposto a existência de sentença
condenatória transitada em julgado, impositiva de pena privativa da liberdade
ou restritiva de direitos, ou multa, bem como sentença absolutória imprópria,
impositiva de medida de segurança.

7. Como se dá a aplicação da Lei de Execução Penal?


De acordo com o art. 2º, parágrafo único da LEP, esta aplica-se igualmente
ao preso provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando
recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária.

8. O que é o exame de classificação?


Como a individualização da pena não se restringe à sentença (Ada P.
Grinover fala que a sentença condenatória penal contém implícita a cláusula

13
rebus sic standibus), faz-se o exame de classificação. Um exame mais amplo
e genérico (art. 5º, LEP), com análise da personalidade e antecedentes do
preso, para evidenciar o modo pelo qual deve ser cumprida a pena com o fim
de orientar a sua individualização, sendo realizado pela Comissão Técnica de
Classificação (presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 chefes de
serviço, 1 psiquiatra, 1 psicólogo e 1 assistente social, quando se tratar de
condenado à pena privativa de liberdade).
.
9. Explique o panorama atual do exame criminológico e faça críticas a ele.
O art. 34 do CP (“Art. 34 - O condenado será submetido, no início do
cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para
individualização da execução”) e o art. 8º da LEP (“Art. 8º O condenado ao
cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será
submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários
a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução”)
preveem o exame criminológico na entrada do preso em REGIME FECHADO.
O art. 112 da LEP previa o exame criminológico para a progressão de
regime do preso, mas hoje não prevê mais.
Com a S. 439/STJ e SV 26, deve haver fundamentação no caso concreto,
para que o juiz determine a realização de exame criminológico para fins de
concessões de direitos subjetivos do preso.
Súmula vinculante 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento
de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem
prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e
subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo
fundamentado, a realização de exame criminológico”
Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades
do caso, desde que em decisão motivada”.
Dessa forma, percebe-se que os tribunais superiores, ainda que de modo
mais limitado, admitem a exigência desse exame para casos não previstos.
Ademais, é muito comum encontrar fundamentação inidônea para a
realização do exame, tais como: gravidade do delito, longevidade da pena,
reincidência, ausência de motivação.
A LEP de 1984 sofre influências da ‘nova defesa social’ e da crença de que é
possível, através da pena privativa de liberdade, reeducar ou tratar o preso,
para que retorne ‘adaptado ao convívio social’.
No entanto, cumpre atentar que a nova ordem constitucional, o respeito à
dignidade da pessoa humana e do direito penal de garantias e no Estado de
Direito, a individualização da pena não tem o fim de transformar ou readaptar o
preso a modelo de ‘normalidade social’. A mudança de paradigma aponta que
não se busca ressocialização, mas sim abrandar os efeitos deletérios do
cárcere (não dessocialização).
Coerente com isso, a L. 10792/03 alterou a redação do p. único do art. 112,
LEP instituindo a desnecessidade de parecer da CTC (travestido de inexistente
exame criminológico) para instruir pedido de progressão de regime de
cumprimento de pena ou livramento condicional.
Por fim, diga-se, que o exame criminológico inicial previsto na lei, se
realizado, se mostra desnecessário, uma vez que o exame de classificação já
supre a necessidade de individualização da pena.

14
Ademais, o exame criminológico como prognóstico de prática de novos
crimes é um retrocesso a um período de fracasso, irresponsabilidade no trato
com a questão penitenciária, crença na provecta regra do criminoso nato e
imposição à equipe multiprofissional, ou de saúde, de uma responsabilidade
que não é e nem pode ser deles, mas sim do juiz.

10. Qual o regramento do dever/direito do condenado em relação ao


trabalho?
Os deveres do preso estão alistados no art. 39, LEP. A principal obrigação é
a de trabalhar, atuando como fator de recuperação.
O trabalho não é obrigatório para o preso provisório e, via de regra, deverá
ser executado no interior do estabelecimento.
O art. 28, LEP estabelece que o trabalho terá finalidade educativa e
produtiva, não se sujeitando à CLT, a remuneração não poderá ser inferior a
3/4 do salário mínimo (art. 29, LEP, que também disciplina a destinação desta
quantia, com prioridade à indenização dos danos gerados pelo delito).
Críticas: por que o trabalho do preso não se sujeita à CLT? E por que ele
deve ganhar menos que um salário mínimo? Tais previsões são de duvidosa
constitucionalidade e corroboram o princípio da “less eligibility” no tratamento
do preso como “cidadão de segunda categoria”.
A remuneração do preso deverá atender à indenização dos danos causados
pelo crime, à assistência à família, a pequenas despesas pessoais e ao
ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do
condenado. A LEP prevê que a parte restante será depositada para
constituição de pecúlio, em Caderneta de Poupança, e entregue ao condenado
quando posto em liberdade.
Além disso, pelo art. 30, LEP, as tarefas executadas a título de prestação de
serviço à comunidade não serão remuneradas.
A jornada de trabalho deve variar entre 6h e 8h diárias, com descansos
nos domingos e feriados, podendo-se, excepcionalmente, atribuir horário
especial de trabalho (art. 33, p. único, LEP).
O trabalho externo é admissível para o regime fechado, mas em serviços
e obras públicas de órgãos da Administração Pública Direta ou Indireta, ou
entidades privadas, desde que o preso concorde e adotando-se cautela para
prevenir fuga (art. 36, LEP), dependendo de autorização do diretor do presídio
(aptidão, disciplina, responsabilidade), além de cumprir 1/6 da pena
(permissão revogável, art. 37, LEP).
A autorização é do diretor do presídio e não do juiz.
O STF já permitiu trabalho externo para condenados por crimes hediondos
os equiparados (STF HC 33414).

11. A exigência de que o condenado cumpra 1/6 da pena para ter direito
ao trabalho externo aplica-se para os regimes fechado, semiaberto e
aberto? Em outras palavras, o art. 37, caput, da LEP é regra válida para as
três espécies de regime?
NÃO. A exigência objetiva do art. 37 de que o condenado tenha cumprido no
mínimo 1/6 da pena, para fins de trabalho externo, aplica-se apenas aos
condenados que se encontrem em regime fechado.
Assim, o trabalho externo é admissível aos apenados que estejam no regime
semiaberto ou aberto mesmo que ainda não tenham cumprido 1/6 da pena. Em

15
tese, o condenado ao regime semiaberto ou aberto poderia ter direito ao
trabalho externo já no primeiro dia de cumprimento da pena. O art. 37 da LEP
(que exige o cumprimento mínimo de 1/6 da pena) somente se aplica aos
condenados que se encontrem em regime inicial fechado.
Esse é o entendimento pacífico do STJ: (...) É assente o entendimento desta
Corte no sentido de ser desnecessário o cumprimento de 1/6 (um sexto) da
pena, no mínimo, para a concessão do benefício do trabalho externo ao
condenado a cumprir a reprimenda no regime semiaberto, desde que
satisfeitos os demais requisitos necessários, de natureza subjetiva. (...) STJ. 5ª
Turma. HC 282.192/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 15/05/2014.
E também do STF: STF. Plenário. EP 2 TrabExt-AgR/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 25/6/2014 (Info 752).

12. É cabível a remição da pena pelo trabalho quando o regime de


cumprimento da pena for o aberto?
Não. Os tribunais superiores possuem entendimento firmado que os
apenados em regime aberto não possuem direito à remição de pena em razão
do trabalho. Isso porque no regime aberto, o exercício do trabalho não é
pressuposto da nova condição de cumprimento de pena. Tal entendimento das
Cortes Superiores acerca da vedação da remição pelo trabalho no regime
aberto foi mantido, mesmo com a introdução, pela Lei 12.433/11, da
possibilidade de remição da pena nos regimes semi-aberto e aberto pela
frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional. Assim
sendo, a remição de pena pelo trabalho apenas pode ser aplicada aos
apenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto.

13. Segundo o STJ, caso o condenado à pena privativa de liberdade se


recuse a trabalhar ele estará praticando falta grave?
A Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) prevê que o condenado à pena
privativa de liberdade é obrigado a trabalhar (art. 31 e art. 39, V).
Caso o preso se recuse, injustificadamente, a realizar o trabalho obrigatório,
ele comete falta grave (art. 50, VI), podendo ser punido.
Obs: o dever de trabalho imposto pela LEP ao apenado não é considerado
como pena de trabalho forçado, não sendo incompatível com o art. 5º, XLVII,
"c", da CF/88. STJ. 6ª Turma. HC 264.989-SP, Rel. Min. Ericson Maranho,
julgado em 4/8/2015 (Info 567).
No entanto, é interessante destacar o posicionamento doutrinário do
Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro, Rodrigo Duque Estrada Roig,
que entende pela inconstitucionalidade dessa previsão, pois o preso, se não
quiser trabalhar, tem, dentro da sua autonomia, esse direito e não poderia
sofrer sanção por isso.

14. Haverá algum óbice caso o apenado consiga emprego em uma


empresa cujo sócio seja seu irmão?
O fato de o irmão do apenado ser um dos sócios da empresa empregadora
não constitui óbice à concessão do benefício do trabalho externo, ainda que se
argumente sobre o risco de ineficácia da realização do trabalho externo devido
à fragilidade na fiscalização.
Ex: João, que cumpria pena em regime fechado, teve direito à progressão,
passando ao regime semiaberto. O reeducando requereu, então, ao juízo da

16
execução penal o direito de, todos os dias úteis, sair para trabalhar, retornando
ao final do expediente (trabalho externo). Para fazer esse requerimento, o
preso deverá comprovar que recebeu possui uma proposta de trabalho. A fim
de cumprir essa exigência, João apresentou uma proposta de trabalho da
empresa "XXX" que declarava que iria contratá-lo. Ocorre que o Ministério
Público opôs ao deferimento do pedido sob o argumento de que a empresa
"XXX" pertence ao irmão de João. Logo, na visão do MP, não haveria nenhuma
garantia de que o preso iria realmente trabalhar no local, podendo ele ser
acobertado em suas faltas em razão do parentesco. A tese do MP não foi
aceita. O simples fato de a empresa contratante pertencer ao irmão do preso
não impede que ele tenha direito ao trabalho externo.
STJ. 5ª Turma. HC 310.515-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
17/9/2015 (Info 569).

PONTO 2
5. Direitos e Deveres dos Presos.
6. Faltas disciplinares. Sanções e recompensas. Aplicação das sanções.
Procedimento disciplinar.

1. Quais os deveres do apenado?


Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado,
submeter-se às normas de execução da pena, especialmente: comportamento
disciplinado e cumprimento fiel da sentença; obediência ao servidor e
respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; urbanidade e
respeito com os demais condenados; conduta oposta aos movimentos
individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;
execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; submissão à
sanção disciplinar imposta; indenização à vítima e seus sucessores;
indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua
manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;
higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; conservação dos objetos de
uso pessoal.

2. Quais os direitos do preso?


Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral
dos presos. São, ainda, direitos dos presos: alimentação suficiente e
vestuário; atribuição de trabalho e sua remuneração; previdência social;
constituição de pecúlio; proporcionalidade na distribuição do tempo para o
trabalho, o descanso e a recreação; exercício das atividades profissionais,
intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a
execução da pena; assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social
e religiosa; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; entrevista
pessoal e reservada com o advogado; visita do cônjuge, da companheira, de
parentes e amigos em dias determinados; chamamento nominal; igualdade
de tratamento salvo quanto às exigências de individualização da pena;
audiência especial com o diretor do estabelecimento; representação e petição
a qualquer autoridade , em defesa de direito; contato com o mundo exterior
por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de
informação que não comprometam a moral e os bons costumes; atestado de

17
pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da
autoridade judiciária competente.
3. Quais direitos podem ser suspensos ou restringidos pelo diretor do
estabelecimento?
Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a
recreação; visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados; e contato com o mundo exterior.
4. Em que consiste a disciplina no âmbito da execução penal?
Consiste na colaboração com a ordem, na obediência às determinações das
autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho. (art. 44, LEP).

5. Em matéria disciplinar a LEP está submetida a quais princípios?


A LEP está sujeita aos princípios da reserva legal e da anterioridade da
norma, de forma que não pode haver falta ou sanção disciplinar sem expressa
e anterior previsão legal ou regulamentar. (art. 45, LEP) – MSM
REGRAMENTO DAS INFRAÇÕES PENAIS.

6. Existe alguma espécie de sanção disciplinar que seja vedada?


São vedadas as sanções que possam colocar em perigo a integridade
física e moral do condenando, o emprego de cela escura a as sanções
coletivas. (art. 45, § 1º, 2º e 3º).

7. Para que o apenado seja submetido à disciplina é necessário que seja


cientificado acerca das normas disciplinares vigentes?
Sim, de acordo com o disposto no art. 47, LEP, tendo em vista que as
normas disciplinares, ao contrário das leis, não se presumem de conhecimento
geral. Assim, caso não seja cientificado, pode alegar ignorância.

8. Como se classificam as faltas disciplinares?


As faltas disciplinares classificam-se em: leves, médias e graves. As faltas
leves e médias e suas respectivas sanções devem ser disciplinadas pelo
legislador estadual, no exercício de sua competência concorrente, conforme o
disposto no art. 49, LEP.

9. Como se pune a tentativa de falta disciplinar?


Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada, ou
seja não admite-se a tentativa.

10. O rol do art. 50, da LEP, é taxativo ou exemplificativo?


O citado rol é taxativo, tendo em vista que se submete aos princípios da
reserva legal e da anterioridade.

11. Qual a consequência da prática de crime doloso para a execução


penal?
A prática de crime doloso constitui falta grave, passível das mesmas
sanções das demais faltas e ainda de inclusão do RDD, desde que
preenchidos os requisitos legais.

18
12. É preciso aguardar a condenação do apenado para que seja punido
pela falta grave de prática de crime doloso?
Não é necessário aguardar a condenação, nem tampouco o trânsito em
julgado, basta a prática do crime. Deve-se, contudo, seguir procedimento
administrativo disciplinar para a aplicação da sanção.

13. A falta grave interrompe o prazo para a obtenção do livramento


condicional?
Não, de acordo com o que dispõe a súmula 441, do STJ.

14. Quais as hipóteses de aplicação do regime disciplinar diferenciado?


A prática de crime doloso, desde que tal conduta ocasione subversão da
ordem ou disciplina internas; Os presos provisórios ou condenados, nacionais
ou estrangeiros que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do
estabelecimento penal ou da sociedade; O preso provisório ou condenado
sobre o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento com organizações
criminosas ou pertencer a quadrilha ou bando.

15. Quem pode aplicar o RDD?


Somente a autoridade judiciária, que não pode proceder de ofício, mas
apenas a pedido do diretor do estabelecimento prisional ou outra autoridade
administrativa ligada ao sistema. O Ministério Público não possui legitimidade
para postular a inclusão no RDD. O diretor do estabelecimento pode determinar
a colocação em RDD, por 10 dias, como medida preventiva.

16. Em que consiste o isolamento preventivo no RDD?


A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do
faltoso pelo prazo de 10 dias, tal prazo deverá ser computado no tempo total de
RDD.

17. É necessária a oitiva prévia do MP e da defesa para a inclusão no


RDD?
No caso de inclusão preventiva, considerada a urgência da situação, pode o
juiz determinar a inclusão sem oitiva prévia, o que não impede sejam ouvidos
posteriormente. A decisão definitiva de inclusão no RDD, contudo, só pode
ocorrer após manifestação do MP e da defesa, sob pena de nulidade absoluta.

18. Quais as principais características do RDD?


Duração máxima de 360 dias, sem prejuízo da repetição da sanção por nova
falta grave de mesma espécie, até o limite de 1/6 da pena aplicada.;
recolhimento em cela individual; visitas semanais de 02 pessoas, sem contar
as crianças, com duração de duas horas; o preso terá direito à saída da cela
por duas horas diárias para banho de sol.

19. Quais as sanções disciplinares previstas na LEP?


Advertência verbal, repreensão, suspensão ou restrição de direitos,
isolamento na própria cela, inclusão no RDD.

20. A quem compete a aplicação das sanções disciplinares?

19
Nos casos de advertência, repreensão, suspensão ou restrição de direitos e
isolamento na própria cela ao diretor do estabelecimento, em ato motivado,
após procedimento administrativo. No caso de inclusão no RDD, apenas à
autoridade judiciária.

21. Aplica-se a SV Nº5 ao procedimento administrativo disciplinar de


apuração de falta grave?
Não se aplica a citada súmula, tendo em vista tratar-se de procedimento que
traz consequências ao direito fundamental de liberdade do apenado, razão pela
qual deve-lhe ser garantido defesa técnica, com possibilidade real de
intervenção.

22. As sanções disciplinares podem ser aplicadas cumulativamente?


Não, as sanções disciplinares são alternativas, sendo vedada a aplicação
cumulativa.

PONTO 3
7. Órgãos da Execução Penal. Do Juízo da execução penal. Defensoria
Pública. Ministério Público. Conselho Penitenciário.

1. Quais são os órgãos da execução penal?


São órgãos da execução penal (artigo 61 da LEP): o Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciaria, o Juízo da Execução, o Ministério Público, o
Conselho Penitenciário, os Departamentos Penitenciários, o Patronato, o
Conselho da Comunidade e a Defensoria Pública.

2. Como é composto o Conselho Nacional de Política Criminal e


Penitenciária?
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, com sede na
Capital da República, é subordinado ao Ministério da Justiça e composto por 13
(treze) membros designados através de ato do Ministério da Justiça, dentre
professores e profissionais da área do Direito Penal, Processual Penal,
Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes da
comunidade e dos Ministérios da área social, com mandato de duração de 2
(dois) anos, renovado 1/3 (um terço) em cada ano.

3. Como se dá a competência do Juiz de Execuções?


A competência do juiz de execuções inicia-se com o trânsito em julgado da
sentença condenatória e será exercido por um juízo especializado, de acordo
com a Lei de Organização Judiciária. Na sua ausência, será competente o juiz
da sentença.
A competência na LEP não é ditada pelo local onde transitou em julgado o
processo de conhecimento, mas, para o sentenciado a pena privativa de
liberdade, a execução correrá a cargo da autoridade competente do local onde
ele estiver preso, mesmo que existam várias execuções a serem cumpridas,
independente de terem sido proferidas por juízos diversos. Caso seja
transferido, a execução o acompanha.
Nesse contexto, destaca-se a súmula 192 do STJ, segundo a qual compete
ao Juízo das Execuções do Estado a execução das penas impostas pela

20
Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando o sentenciado estiver recolhido em
estabelecimento sujeito à administração estadual.

4. A quem compete decidir sobre pedidos formulados pelo réu em sede


de execução provisória?
Apesar de haver corrente no sentido de ser o juiz da condenação, entende-
se que a resolução 113 do CNJ, no seu art. 8º, estampa entendimento diverso,
determinando que “tratando-se de réu preso por sentença condenatória
recorrível, será expedida guia de recolhimento provisória da pena privativa de
liberdade, ainda que pendente recurso sem efeito suspensivo, devendo, nesse
caso, o juiz da execução definir o agendamento dos benefícios cabíveis”.

5. Em se tratando de sursis e pena restritiva de direito, qual é o juízo


competente para sua execução?
O da comarca do domicílio do sentenciado ou beneficiado com sursis.

6. E para a pena de multa?


A competência para execução é da Vara de Execuções Fiscais, o que não
significa dizer que perdeu seu caráter penal.

7. E nos casos de sentenciado com foro por prerrogativa de função?


A execução será de competência do próprio Tribunal que o processou e
julgou (enquanto persistir a prerrogativa).

8. E para execução de medida de segurança?


Competente será o juízo da execução da comarca em que estiver sendo
cumprida. Há exceção: no caso em que o executado resida em uma
determinada comarca e se submeta a tratamento ambulatorial em outra, será
competente o juízo da comarca em que reside, segundo Renato Marcão.

9. Quais são as atribuições do Juiz da Execução?


Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o
condenado;
II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
IV - autorizar saídas temporárias;
V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade;
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida
de segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;

21
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei.
i) (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)
VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;
VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências
para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de
responsabilidade;
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando
em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei;
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.

10. Quais são as atribuições do Ministério Público na Execução Penal?


Esse rol é taxativo?
Art. 67. O Ministério Público fiscalizará a execução da pena e da medida de
segurança, oficiando no processo executivo e nos incidentes da execução.
Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:
I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento;
II - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;
c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida
de segurança;
d) a revogação da medida de segurança;
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a revogação da
suspensão condicional da pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior.
III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária, durante a
execução.
O rol em comento é meramente exemplificativo, existindo outras atribuições
previstas na LEP, tais como manifestar-se nas autorizações de saída.

11. Qual o prazo que dispõe o Ministério Público para se manifestar nos
autos da execução, quando não figure como requerente da medida?
03 dias

12. O Ministério Público possui legitimidade para recorrer, em favor do


sentenciado, de decisão do juízo da execução?
Sim, caso este for o caminho para se fazer cumprir norma de ordem pública
ou de defender interesse indisponível (interesse público primário).

13. Com qual periodicidade o Ministério Público deverá visitar os


estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio?
Pelo menos mensalmente.

14. Em que consiste o Conselho Penitenciário e quais suas atribuições?


São órgãos da execução penal (artigo 61 da LEP): o Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciaria, o Juízo da Execução, o Ministério Público, o
Conselho Penitenciário, os Departamentos Penitenciários, o Patronato, o
Conselho da Comunidade e a Defensoria Pública.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, com sede na
Capital da República, é subordinado ao Ministério da Justiça e composto por 13
(treze) membros designados através de ato do Ministério da Justiça, dentre

22
professores e profissionais da área do Direito Penal, Processual Penal,
Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes da
comunidade e dos Ministérios da área social, com mandato de duração de 2
(dois) anos, renovado 1/3 (um terço) em cada ano.

15. Como se dá a competência na LEP?


A competência do juiz de execuções inicia-se com o trânsito em julgado da
sentença condenatória e será exercido por um juízo especializado, de acordo
com a Lei de Organização Judiciária. Na sua ausência, será competente o juiz
da sentença.
A competência na LEP não é ditada pelo local onde transitou em julgado o
processo de conhecimento, mas, para o sentenciado a pena privativa de
liberdade, a execução correrá a cargo da autoridade competente do local onde
ele estiver preso, mesmo que existam várias execuções a serem cumpridas,
independente de terem sido proferidas por juízos diversos. Caso seja
transferido, a execução o acompanha.
Nesse contexto, destaca-se a súmula 192 do STJ, segundo a qual compete
ao Juízo das Execuções do Estado a execução das penas impostas pela
Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando o sentenciado estiver recolhido em
estabelecimento sujeito à administração estadual.
Apesar de haver corrente no sentido de ser o juiz da condenação, entende-
se que a resolução 113 do CNJ, no seu art. 8º, estampa entendimento diverso,
determinando que “tratando-se de réu preso por sentença condenatória
recorrível, será expedida guia de recolhimento provisória da pena privativa de
liberdade, ainda que pendente recurso sem efeito suspensivo, devendo, nesse
caso, o juiz da execução definir o agendamento dos benefícios cabíveis”.
O da comarca do domicílio do sentenciado ou beneficiado com sursis.
A competência para execução é da Vara de Execuções Fiscais, o que não
significa dizer que perdeu seu caráter penal.
A execução será de competência do próprio Tribunal que o processou e
julgou (enquanto persistir a prerrogativa).
Competente será o juízo da execução da comarca em que estiver sendo
cumprida. Há exceção: no caso em que o executado resida em uma
determinada comarca e se submeta a tratamento ambulatorial em outra, será
competente o juízo da comarca em que reside, segundo Renato Marcão.

16. Discorra sobre as atribuições da Defensoria Pública na execução


penal.
A Defensoria Pública cumpre papel de suma importância na execução penal.
É responsável por velar pela regular execução da pena e da medida de
segurança, oficiando no processo executivo e nos incidentes da execução,
para a defesa dos necessitados em todos os graus e instâncias de forma
individual e coletiva.
A Defensoria Pública tem a incumbência na execução penal de requerer
todas as providencias necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;
a aplicação aos casos julgados de lei posterior que de qualquer modo favorecer
o condenado; requerer, ainda, a extinção da punibilidade, detração e remição
de penas, progressão de regime, livramento condicional, indulto, autorização
de saídas temporárias, interpor recursos de decisões proferidas pela

23
autoridade judiciária durante a execução, visitar os estabelecimentos penais,
dentre outras atribuições.
Assim como incumbe ao representante do MP e ao Juiz da Execução, a
Defensoria Pública deverá visitar periodicamente os estabelecimentos
prisionais (a LEP não define com que periodicidade).

17. O defensor público pode requerer ao juiz da execução a interdição de


estabelecimento prisional?
Sim, ele poderá requerer a interdição, no todo ou em parte, de
estabelecimento prisional.

18. A ausência de defesa técnica no processo administrativo para


apuração de falta grave importa nulidade por cerceamento de defesa?
Sim, tanto por conta de entendimento consolidadodo próprio STF pela não
aplicação da Súmula Vinculante n. 5 à execução penal como por conta da
recenteSÚMULA 533 do STJ (DJe 15/06/2015), segundo a qual: “Para o
reconhecimento da prática de falta disciplinarno âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor
doestabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado
por advogado constituído ou defensorpúblico nomeado”.

PONTO 4
8. Execução da Penas. Penas privativas de liberdade.
9. Regimes e aplicação do art. 111.

1. O QUE É GUIA DE RECOLHIMENTO PARA A EXECUÇÃO?


A guia de recolhimento para a execução é o documento extraído pelo
escrivão, que o assina juntamente com o Juiz, indispensável ao recolhimento
do preso condenado a pena privativa de liberdade (art. 107 da LEP), a ser
remetida à autoridade administrativa incumbida da execução da referida pena
se o réu estiver ou vier a ser preso (arts 105 e 106 da LEP).

2. QUAIS OS REQUISITOS DA GUIA DE RECOLHIMENTO PARA A


EXECUÇÃO PENAL?
A guia deverá conter:
I. O nome do condenado;
II. A sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial de
identificação;
III. O inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como
certidão do trânsito em julgado;
IV. A informação sobre os antecedentes e o grau de instrução;
V. A data da terminação da pena;
VI. Outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado
tratamento penitenciário.

3. SENDO O CONDENADO, AO TEMPO DO FATO, FUNCIONÁRIO DA


ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA CRIMINAL, HÁ ALGUMA ESPECIFICIDADE
ACERCA DA GUIA DE RECOLHIMENTO A SER OBSERVADA?

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Sim, tratando-se o condenado, ao tempo do fato, de funcionário da
Administração da Justiça Criminal, far-se-á, na guia, menção dessa
circunstância, para fins de que se providencie dependência separada conforme
art. 84, §2º da LEP (art. 106, §3º, da LEP).

4. O QUE É E PARA QUE SERVE O ALVARÁ DE SOLTURA?


O alvará de soltura é o documento assinado pelo juiz determinando a
imediata liberdade do condenado quando este houver cumprido a pena ou esta
tiver sido extinta, desde que por outro motivo não esteja preso (art. 109 da
LEP).

5. QUAIS AS CIRCUNSTÂNCIAS QUE DEVEM SER LEVADAS EM


CONSIDERAÇÃO NO MOMENTO DA FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DE PENA?
O juiz levará em consideração a quantidade de pena fixada na decisão e as
circunstâncias previstas no art. 59 do CP, são elas: culpabilidade,
antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias
e consequências do crime, além do comportamento da vítima. Apesar da
previsão legal, não pode o magistrado, com base em suas impressões
pessoais, fixar um regime mais gravoso do que aquele correspondente à pena
aplicada. Nesse sentido, ver STF, Súmula 718: “a opinião do julgador sobre a
gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a
imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena
aplicada.” Na mesma linha de cognição estão a Súmula 719 do STF e 440 do
STJ.
Súmula 719 do STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo
do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.”
Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão
da sanção imposta, com base apenas na gravidade em abstrato do delito.”

6. COMO SE DÁ A FIXAÇÃO DO REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA EM


HAVENDO MAIS DE UMA CONDENAÇÃO?
Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou
em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita
pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o
caso, a detração ou remição.
Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-à a pena do
restante da que está sendo cumprida para determinação do regime. (art. 111 da
LEP).

7. QUAIS OS CRITÉRIOS ESTABELECIDOS PARA PROGRESSÃO DE


REGIME NOS TERMOS DO ART. 112 DA LEP?
A progressão de regime prisional pressupõe o cumprimento de dois
requisitos:
a) Requisito OBJETIVO – cumprimento de 1/6 da pena no
regime anterior, sendo levada em consideração a pena total aplicada
e não a pena unificada para atender ao limite de trinta anos
determinado no art. 75 do Código Penal consoante dispõe a Súmula
715 do STF;

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b) Requisito SUBJETIVO – bom comportamento carcerário
atestado pelo Diretor do Estabelecimento Prisional.
Mesmo não havendo previsão legal, os Tribunais Superiores admitem que o
juiz determine a realização de exame criminológico como condição para aferir o
requisito subjetivo da progressão de regime, desde que a decisão seja fundada
nas peculiaridades e circunstâncias do caso concreto (e não apenas na
gravidade abstrata da infração penal, pois isso equivaleria a impor condição
genérica, que somente a lei poderia estabelecer) – Súmula Vinculante 26 e
Súmula 439 do STJ.
“Súmula Vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no
cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução
observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072/90, sem prejuízo de
avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos
do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico.”
“Súmula 439 do STJ: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades
do caso, desde que em decisão motivada”.
Com relação aos crimes praticados por funcionário público contra a
Administração Pública, embora não seja tema pacífico na doutrina, prevalece
na jurisprudência que é constitucional a exigência contida no §4º do art. 33 do
Código Penal, incluído pela L. 10.763/03, de que o condenado repare o dano
que causou, ou devolva o produto do ilícito praticado, com os acréscimos
legais, para que lhe seja concedido o direito de progredir de regime prisional.

8. EM RELAÇÃO AOS CRIMES HEDIONDOS, HÁ ALGUMA


ESPECIFICIDADE A SER OBSERVADA QUANTO AOS REQUISITOS PARA
PROGRESSÃO DE REGIME?
Sim, a lei dos crimes hediondos altera apenas o requisito objetivo, mudando
para cumprimento prévio de 2/5 da pena no regime anterior se primário e 3/5
se reincidente. A reincidência aqui considerada é a reincidência simples ou
comum, de acordo com a jurisprudência do STJ.

9. A LEI DE CRIMES HEDIONDOS INICIALMENTE NÃO PREVIA A FRAÇÃO


DIFERENCIADA PARA A PROGRESSÃO DE REGIME. A FRAÇÃO
DIFERENCIADA SURGE COM A LEI 11.646/07. QUANTO AOS CRIMES
PRATICADOS ANTES DA INOVAÇÃO LEGISLATIVA, É POSSÍVEL A
PROGRESSÃO DE REGIME?
A resposta encontra-se regulamentada na Súmula 471 do STJ: “Os
condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da
vigência da Lei nº. 11.646/07 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei nº.
7.210/84 (Lei de Execuções Penais) para a progressão de regime prisional”.

10. É POSSÍVEL A DISPENSA DO REQUISITO OBJETIVO PARA


PROGRESSÃO DE REGIME? EM QUE HIPÓTESE?
Sim, é possível que o requisito objetivo seja dispensado como forma de
premiar a colaboração prestada em caso de organizações criminosas.
L. 12.850. Art. 4º, §5º: “Se a colaboração for posterior à sentença, a pena
poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime
ainda que ausentes os requisitos objetivos”.

26
11. É ADMISSÍVEL A PROGRESSÃO DE REGIME ANTES DO TRÂNSITO
EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA? ISSO OFENDE O
PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE OU PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA?
É admissível a progressão de regime antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, assim como a aplicação imediata de regime
menos severo nela determinado, a teor do que expõe a súmula nº. 716 do STF.
Não há no caso ofensa ao princípio da não culpabilidade ou da presunção
da inocência, uma vez que este, em se tratando de regra de tratamento,
corolário do princípio do favor rei não pode ser invocado a fim deconferir
tratamento mais gravoso ao preso cautelarmente se comparado ao preso em
virtude de sentença penal condenatória.

12. O QUE É E EM QUE HIPÓTESES SE DÁ A REGRESSÃO DE REGIME?


É ADMITIDA A CHAMADA REGRESSÃO “PER SALTUM”?
É a transferência de um condenado de regime prisional mais brando para
um regime mais severo. Se dá em três situações, nos termos do art. 118 da
LEP:
“Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado:
I – praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II – sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante
da pena em execução, torne incabível o regime.
§1º O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses
referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar,
podendo, a multa cumulativamente imposta.”

A regressão de regime, ao oposto da progressão, pode se dar per saltumem


caso de condenação superveniente, se o resultado da unificação for superior a
8 anos (RHC 25.981/TO). Ex: Condenado sai do regime aberto e vai direto para
o regime fechado.

13. SEGUNDO O POSICIONAMENTO DO STJ, A PRÁTICA DE FALTA


GRAVE DECORRENTE DO COMETIMENTO DE FATO DEFINIDO COMO
CRIME DOLOSO DURANTE O CUMPRIMENTO DA PENA, A ENSEJAR
REGRESSÃO DE REGIME, DEPENDE DO TRÂNSITO EM JULGADO DE
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA?
Não, o posicionamento firme há muito adotado no STJ, tendo sido
cristalizado na Súmula nº. 526 da Corte é no sentido de que apuração do crime
doloso ou da falta grave em procedimento administrativo disciplinar (PAD) onde
deve ser respeitada a ampla defesa, inclusive sendo obrigatória a defesa
técnica (não incidência da SV nº. 5) dispensando-se o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.

14. QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO REGIME FECHADO?


O regime prisional fechado é o regime inicial fixado, em regra, aos
condenados a pena superior a 8 anos, bem como aos condenados
reincidentes. O cumprimento da pena em regime fechado se dará em
penitenciária. Nesse regime o condenado fica sujeito a trabalho no período
diurno e a isolamento durante o repouso noturno, sendo o trabalho em comum

27
dentro do estabelecimento, na conformidade das aptidões ou ocupações
anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena. O
trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras
públicas, mas está condicionado ao cumprimento de 1/6 da pena e à
demonstração de aptidão para a atividade nos termos dos arts. 36 e 37 da LEP.

15. QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO REGIME SEMI-


ABERTO?
O regime prisional semi-aberto é o regime inicial fixado, em regra, aos
condenados a pena superior a 4 anos e não excedente a 8 anos, desde que
não reincidentes. A jurisprudência consolidada do STJ admite ainda a fixação
desse regime aos condenados reincidentes desde que a pena não exceda a 4
anos. Nesse regime, o condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o
período diurno, em colônia agrícola, industrial ou similar. O trabalho externo é
admissível, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes de
instrução de segundo grau ou superior.

16. QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO REGIME ABERTO?


O regime prisional aberto é o regime inicial fixado, em regra, aos
condenados a pena não excedente a 4 anos, desde que não reincidentes. O
regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado, devendo este, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar,
frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo
recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.

17. QUAIS OS PRESSUPOSTOS PARA QUE O CONDENADO POSSA


PROGREDIR PARA O REGIME ABERTO?
A progressão do condenado para o regime aberto depende de dois
requisitos (art. 114 da LEP): I – o condenado estar trabalhando ou comprovar a
possibilidade de fazê-lo imediatamente, e II – apresentar, pelos seus
antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados
indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade,
ao novo regime. Podem ser dispensadas da demonstração de aptidão para o
trabalho os condenados maiores de 70 anos, gestantes, acometidos de doença
grave ou que tenham filho menor ou deficiente físico ou mental.

18. QUAIS AS CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS PARA CONCESSÃO DE


PROGRESSÃO PARA O REGIME ABERTO? O JUIZ PODE FIXAR OUTRAS
CONDIÇÕES?
As condições obrigatórias para o condenado ingressar no regime aberto são
as seguintes:
I – permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de
folga;
II – sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III – não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV – comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando
for determinado.
O juiz pode, ainda, estabelecer condições especiais para a concessão do
regime aberto ao preso, embora não possa fazê-lo sob a forma de pena
substitutiva, nos termos da Súmula 493 do STJ.

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19. QUEM SÃO OS CONDENADOS QUE POSSUEM DIREITO A PRISÃO
DOMICILIAR NO ÂMBITO DA EXECUÇÃO PENAL? HÁ ALGUMA
DIFERENÇA EM RELAÇÃO AOS SUJEITOS A PRISÃO DOMICILIAR NO
ÂMBITO DAS PRISÕES CAUTELARES?
Nos termos do art. 117 da LEP, somente se admitirá o recolhimento do
beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:
I – condenado maior de 70 anos;
II – condenado acometido de doença grave;
III – condenado com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV – condenada gestante;
Apesar de bastante semelhante, não se tratam exatamente das mesmas
hipóteses ensejadoras do direito à prisão domiciliar em substituição à prisão
preventiva, previstas no art. 318 do Código de Processo Penal, o qual
estabelece:
“Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando
o agente for: I – maior de 80 (oitenta) anos; II – extremamente debilitado por
motivo de doença grave; III – imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; IV – gestante a partir do 7º
(sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.”

20. SEGUNDO A JURISPRUDÊNCIA DO STJ, A AUSÊNCIA DE VAGA EM


CASA DO ALBERGADO, POR SI SÓ IMPORTA NECESSIARIAMENTE NO
DIREITO À PRISÃO DOMICILIAR? QUAL O POSICIONAMENTO DO STF?
A inexistência de casa de albergado na localidade da execução da pena
não gera o reconhecimento de direito ao benefício da prisão domiciliar
quando o paciente estiver cumprindo a reprimenda em local compatível
com as regras do regime aberto. O STJ tem admitido, excepcionalmente, a
concessão da prisão domiciliar quando não houver local adequado ao regime
prisional imposto. Todavia, na hipótese em que o paciente, em face da
inexistência de casa de albergado, esteja cumprindo pena em local compatível
com as regras do regime aberto – tendo o juízo da execução providenciado a
infraestrutura necessária, atento ao princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade –, não se vislumbra o necessário enquadramento nas
hipóteses excepcionais de concessão do regime prisional domiciliar. HC
299.315-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014, DJe 2/2/2015
(Informativo 554).
O STF, por outro lado, manifesta entendimento em sentido oposto.
Constatada pelo juízo da execução a inexistência, no Estado-membro, de
estabelecimento prisional para cumprimento de pena em regime aberto,
permite-se o início do cumprimento em prisão domiciliar, até ser
disponibilizada vaga no regime adequado. STF. 1ª Turma. HC 113334/RS,
red. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 18/2/2014 (Info 736).

PONTO 5
10. Autorizações de saída.
11. Remição.
12. Livramento condicional.

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1. Diferencie permissão de saída e saída temporária.
Permissão de saída e saída temporária são espécies do gênero autorização
de saída prevista na Lei de Execução Penal.
A permissão de saída fundamenta-se em razões humanitárias e é concedida
aos condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e aos
presos provisórios. Pode ser concedida diante da ocorrência de algum dos
seguintes fatos: falecimento ou doença grave do cônjuge, companheiro,
ascendente, descendente ou irmão; ou necessidade de tratamento médico. A
concessão se dará pelo diretor do estabelecimento e terá duração necessária à
finalidade da saída.
Diferentemente, a saída temporária do estabelecimento é concedida aos
condenados que cumprem pena em regime semiaberto em três hipóteses, a
saber: visita a família; frequência a curso supletivo profissionalizante, bem
como instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; e
para a participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio
social. A concessão de saída temporária ocorre por ato motivado do Juiz da
execução e não é automática, dependendo, outrossim, do preenchimento de
certos requisitos (comportamento adequado, o cumprimento mínimo de 1/6 da
pena, se o condenado for primário ou ¼, se reincidente e a compatibilidade do
beneficio com os objetivos da pena).
Outra distinção relevante prevista na lei entre os referidos institutos é que a
permissão de saída será efetuada mediante escolta, ao passo que a saída
temporária, sem vigilância direta (em que pese a lei ressalvar a possibilidade
de utilização de equipamento de monitoração eletrônica).

2. O que é a saída temporária?


Saída temporária é
 uma autorização concedida pelo juiz da execução penal
 aos condenados que cumprem pena em regime semiaberto
 por meio da qual ganham o direito de saírem temporariamente do
estabelecimento prisional
 sem vigilância direta (sem guardas acompanhando/sem escolta)
 com o intuito de:
a) visitarem a família;
b) frequentarem curso supletivo profissionalizante, de ensino médio ou
superior; ou
c) participarem de outras atividades que ajudem para o seu retorno ao
convívio social.
Obs: o juiz pode determinar que, durante a saída temporária, o condenado
fique utilizando um equipamento de monitoração eletrônica (tornozeleira
eletrônica).
Obs2: os presos provisórios que já foram condenados (ainda sem trânsito
em julgado) e estão cumprindo a pena no regime semiaberto podem ter direito
ao benefício da saída temporária, desde que preencham os requisitos legais
que veremos abaixo.

3. Previsão
A saída temporária encontra-se disciplinada nos arts. 122 a 125 da Lei
n.°7.210/84 (LEP).

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4. Quem concede a saída temporária?
A autorização para saída temporária será concedida por ato motivado do
Juiz da execução, devendo este ouvir antes o Ministério Público e a
administração penitenciária, que irão dizer se concordam ou não com o
benefício.

5. Quais são os requisitos para a concessão da saída temporária?


A concessão da saída temporária dependerá da satisfação dos seguintes
requisitos (art. 123 da LEP):
I - comportamento adequado do reeducando;
É chamado de requisito subjetivo. Normalmente isso é provado por meio da
certidão carcerária fornecida pela administração penitenciária.
II - cumprimento mínimo de 1/6 da pena (se for primário) e 1/4 (se
reincidente).
Trata-se do requisito objetivo.
Deve-se lembrar que o apenado só terá direito à saída temporária se estiver
no regime semiaberto. No entanto, a jurisprudência permite que, se ele
começou a cumprir a pena no regime fechado e depois progrediu para o
semiaberto, aproveite o tempo que esteve no regime fechado para preencher
esse requisito de 1/6 ou 1/4. Em outras palavras, ele não precisa ter 1/6 ou 1/4
da pena no regime semiaberto. Poderá se valer do tempo que cumpriu no
regime fechado para preencher o requisito objetivo.
Com outras palavras, foi isso o que o STJ quis dizer ao editar a Súmula 40:
“Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo,
considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado.”
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
Ressalte-se que o simples fato de o condenado que cumpria pena no regime
fechado ter ido para o regime semiaberto não significa que, automaticamente,
ele terá direito ao benefício da saída temporária. Isso porque o juiz deverá
analisar se ele preenche os demais requisitos do art. 123 da LEP (STJ. 6ª
Turma. RHC 49.812/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
06/11/2014).

6. Quantidade de saídas por ano e tempo de duração.


Regras gerais:
• Cada preso terá o máximo de 5 saídas temporárias por ano (1 mais 4
renovações).
• Cada saída temporária tem duração máxima de 7 dias. Em outras palavras,
o preso receberá a autorização para ficar 7 dias fora do estabelecimento
prisional.
• Entre uma saída temporária e outra deve haver um intervalo mínimo de 45
dias.
Peculiaridade: no caso da saída temporária para estudo, o prazo da saída
temporária será igual ao necessário para as atividades discentes (ex: pode ser
autorizada a saída temporária todos os dias).

7. Condições
Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes
condições legais (obrigatórias): I – o condenado deverá fornecer o endereço
onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o

31
gozo do benefício; II – o condenado deverá se comprometer a ficar recolhido
na residência visitada, no período noturno; III – o condenado não poderá
frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.
Além dessas, o juiz pode fixar outras condições que entender compatíveis
com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do condenado. Nesse
caso, chamamos de condições judiciais (ou facultativas).

8. Em que consiste o calendário de saídas temporárias (saídas


temporárias automatizadas)?
Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve
ser formulado um pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a administração
penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da
execução penal adotaram um procedimento para simplificar a concessão
dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz
ouve o MP e o diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos,
concede o benefício (segue, portanto, todo o rito previsto na LEP). No entanto,
nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídas temporárias.
Veja um exemplo de decisão nesse sentido:
“Ante o exposto, preenchidos os requisitos previstos nos arts. 122, I, e
123, da LEP, CONCEDO ao apenado JOÃO DA SILVA autorização para
5 (cinco) saídas temporárias por ano, com duração de 7 (sete) dias
cada, para visita à família, que deverá ser realizada nas seguintes
datas: I – Páscoa; II – dia das mães; III – dia dos pais; IV – Natal; V –
Ano Novo. Verificando-se a prática de quaisquer das hipóteses do art.
125 da LEP, ficam automaticamente revogadas as autorizações para as
saídas subsequentes.”

Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira
vez, as novas saídas temporárias deste mesmo reeducando não mais
precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas
automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do
condenado permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o
comportamento adequado no cumprimento da pena. Se cometer falta grave,
por exemplo, é revogado o benefício.
A esse procedimento simplificado se deu o nome de “saída temporária
automatizada” ou “calendário de saídas temporárias”.
Insurgência do Ministério Público: Alguns Ministérios Públicos pelo país
têm se insurgido contra este procedimento e interposto recursos que chegam
aos Tribunais Superiores.
Segundo argumenta o Parquet, ao adotar essa saída temporária
automatizada, o juiz da execução penal está transferindo (delegando) para a
autoridade administrativa do estabelecimento prisional a decisão de conceder
ou não a saída temporária, o que viola frontalmente o art. 123 da LEP (“Art.
123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução...”).
Além disso, para alguns Promotores, essa prática seria vedada porque cada
saída temporária, para ser autorizada, deve ser individualmente motivada com
base no histórico do sentenciado.

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9. O que entendem os Tribunais Superiores? O calendário de saídas
temporárias é permitido? A prática da saída temporária automatizada é
válida?

STJ: NÃO STF: SIM

A autorização das saídas temporárias é Para o STF, um único ato judicial que
ato jurisdicional da competência do analisa o histórico do sentenciado e
Juízo das Execuções Penais, que deve estabelece um calendário de saídas
ser motivada com a demonstração da temporárias, com a expressa ressalva
conveniência de cada medida. de que as autorizações poderão ser
revistas em caso de cometimento de
Desse modo, não é possível delegar infração disciplinar, mostra-se suficiente
ao administrador do presídio a para fundamentar a autorização de
fiscalização sobre diversas saídas saída temporária.
temporárias, autorizadas em única
decisão, por se tratar de atribuição O Min. Gilmar Mendes apontou que,
exclusiva do magistrado das em regra, os requisitos das saídas
execuções penais, sujeita à ação temporárias são os mesmos,
fiscalizadora do Parquet. independentemente do momento do
ano em que ocorrem. “A saída do Natal
Assim, não é legítima a prática de se não tem requisitos mais brandos do
permitir saídas temporárias que a saída da Páscoa, por exemplo.
automatizadas. Para cada pedido de Não há razão funcional para afirmar
saída temporária, deverá haver uma que uma única decisão que a ambas
decisão motivada do Juízo da contemple é deficiente de
Execução, com intervenção do fundamentação”.
Ministério Público.
STJ. 3ª Seção. REsp 1166251/RJ, Rel. Além disso, essa prática não exclui a
Min. Laurita Vaz, julgado em participação do MP, que poderá se
14/03/2012 (recurso repetitivo) (Info manifestar sobre seu cabimento e, caso
493). alterada a situação fática, pedir sua
revisão.
A fim de deixar bem evidente esse
entendimento, o STJ editou um A exigência feita pelo STJ no sentido
enunciado: de que haja uma decisão motivada
para cada saída temporária coloca em
Súmula 520-STJ: O benefício de saída risco o direito do sentenciado ao
temporária no âmbito da execução benefício, em razão do grande volume
penal é ato jurisdicional insuscetível de de processos nas varas de execuções
delegação à autoridade administrativa penais.
do estabelecimento prisional.
STF. 1ª Turma. HC 98067, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 06/04/2010.
STF. 2ª Turma. HC 128763, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em
04/08/2015.

33
A Súmula 520 foi editada há pouquíssimo tempo (25/03/2015), mas é
provável que seja cancelada pelo STJ diante do entendimento acima
manifestado pelo STF.

10. Discorra sobre o instituto da remição.


A remição se trata de um beneficio da execução penal, por meio do qual o
preso que cumpre pena em regime fechado ou semiaberto, em regra, pode
reduzir o tempo de duração da pena privativa de liberdade através do trabalho
ou do estudo.
Os tribunais superiores possuem entendimento pacifico no sentido de não
ser admitida a aplicação da remição pelo trabalho no regime aberto,
fundamentando no artigo 36, §1º do CP, que estabelece a necessidade do
trabalho pelo apenado que cumpre pena em regime aberto (o trabalho, nesse
caso, é pressuposto da nova condição de cumprimento de pena). Nesse
sentido, o STJ já decidiu que o rol do artigo 126 da LEP (que prevê a remição
nos regimes fechado e semiaberto) é taxativo, não podendo abranger outras
hipóteses.
Todavia, existe entendimento em contrário, que refuta a interpretação restrita
e estreita do artigo 126 da LEP, isso porque o referido dispositivo visa à
ressocialização do agente, devendo, portanto, seu alcance ser mais
abrangente.
Não se pode olvidar, entretanto, que a Lei 12.433/11 introduziu na LEP a
excepcional possibilidade do condenado em regime aberto ou semiaberto, bem
como do que usufrui liberdade condicional remir, pela frequência a curso de
ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da
pena ou período de prova, na razão de um dia de pena a cada doze horas de
atividade escolar.
A redução do tempo de duração da pena é oriunda do exercício do trabalho
ou estudo. No caso do estudo, a legislação estabelece a redução de um dia de
pena a cada doze horas de frequência escolar (abrangendo a atividade de
ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda
de requalificação profissional) divididas, no mínimo, em três dias. Na hipótese
do trabalho, a redução é de um dia de pena a cada três dias de trabalho.
Na remição em razão do estudo haverá um acréscimo de 1/3 nas hipóteses
de conclusão de ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento
da pena. Importante mencionar que o preso impossibilitado, em razão de
acidente, de prosseguir no trabalho ou no estudo, continuará a gozar do
benefício da remição.
No tocante ao reconhecimento de falta grave no decorrer da execução
penal, o STJ firmou jurisprudência no sentido de não ser possível determinar a
perda dos dias remidos na fração máxima de 1/3 sem que haja fundamentação
concreta para justificá-la.

11. É possível que a remição de pena seja efetuada pelas horas


trabalhadas pelo condenado e não pelos dias?
O STF já se debruçou sobre o tema e concluiu não ser possível, sob o
argumento de que a LEP estabeleceu que o cálculo da remição da pena será
efetuada pelos dias trabalhados pelo condenado, não podendo o Judiciário
construir uma nova forma de cálculo com base nas horas trabalhadas.

34
12. A prática de falta grave acarreta a perda da integralidade dos dias
remidos?
Não. A Lei 12.433/11 alterou substancialmente o tratamento da perda dos
dias remidos em razão da prática de falta grave. Antes de sua vigência,
prevalecia o entendimento de perda integral dos dias remidos, todavia, tal
disciplina, afronta, indubitavelmente, princípios já incorporados ao ordenamento
pátrio, tais como a individualização da pena, proporcionalidade, igualdade de
todos perante a lei, reabilitação e reinserção do apenado na sociedade.
A partir da referida Lei, a prática de falta grave não atinge a integralidade dos
dias remidos, mas, submete-se ao limite de até 1/3, levando-se em
consideração a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do
fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão. Por ser norma
penal mais benéfica, deve ter aplicação retroativa.

13. É cabível a remição da pena pelo trabalho quando o regime de


cumprimento da pena for o aberto?
Não. Os tribunais superiores possuem entendimento firmado que os
apenados em regime aberto não possuem direito à remição de pena em razão
do trabalho. Isso porque no regime aberto, o exercício do trabalho não é
pressuposto da nova condição de cumprimento de pena. Tal entendimento das
Cortes Superiores acerca da vedação da remição pelo trabalho no regime
aberto foi mantido, mesmo com a introdução, pela Lei 12.433/11, da
possibilidade de remição da pena nos regimes semi-aberto e aberto pela
frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional. Assim
sendo, a remição de pena pelo trabalho apenas pode ser aplicada aos
apenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto.

14. Discorra sobre os principais aspectos do livramento condicional.


O livramento condicional compreende um estágio de cumprimento da pena,
ou seja, é um benefício da execução penal que permite a redução do tempo de
encarceramento, concedendo antecipada e provisoriamente a liberdade do
apenado. Está em consonância com o sistema progressivo de cumprimento de
pena.

14.1. Quais os requisitos do livramento condicional?


É concedido pelo Juiz da execução e os pressupostos necessários à sua
concessão estão previstos expressamente no artigo 83 do Código Penal. Os
requisitos objetivos são: condenação a pena privativa de liberdade superior a
dois anos; cumprimento de mais de 1/3 da pena se não for reincidente em
crime doloso e ostentar bons antecedentes; cumprimento de mais da metade
da pena se for reincidente em crime doloso; cumprimento de mais de 2/3 da
pena se for condenado por crime hediondo ou equiparado e não for reincidente
especifico; reparação do dano. O Código Penal também estabelece os
requisitos subjetivos: comprovação de comportamento satisfatório durante a
execução da pena; bom desempenho do trabalho que lhe foi atribuído; aptidão
para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto.

14.2. Quais condições sáo impostas para o livramento?

35
A Lei das Execuções Penais estabelece as condições obrigatórias e as
facultativas a que fica subordinado o apenado. As condições obrigatórias são a
obtenção de ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto ao trabalho;
comunicação periódica ao Juiz acerca da sua ocupação; e não mudança de
território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização. As
condições facultativas compreendem a não mudança de residência sem
comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de
proteção; o recolhimento à habitação em horário fixado; e não frequentar
determinados lugares.
De acordo com a súmula 441, STJ, a falta grave não interrompe o prazo
para obtenção de livramento condicional.
As hipóteses de revogação do beneficio estão disciplinadas no Código Penal
e podem ser obrigatória ou facultativa. A revogação obrigatória do livramento
condicional ocorrerá na hipótese do liberado vir a ser condenado a pena
privativa da liberdade, em sentença irrecorrível por crime cometido durante a
vigência do beneficio ou por crime anterior. Será, todavia, a revogação
facultativa na hipótese do liberado deixar de cumprir quaisquer das obrigações
constantes na sentença ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou
contravenção, a pena não privativa da liberdade.
Importante salientar que atual jurisprudência do STJ entende que a prática
de crime no curso do livramento condicional não pode ser considerada como
falta grave e não gera, por si só, a perda de 1/3 dos dias remidos. Isso porque
o cometimento de novo crime durante a vigência do livramento condicional
acarreta sérias conseqüências previstas no artigo 88 do Código Penal vigente
e, tal dispositivo não menciona a perda dos dias remidos.

15. Súmulas editadas em 2015 sobre Execução Penal:


 Súmula 520/STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da
execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à
autoridade administrativa do estabelecimento prisional.
 Súmula 526/STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do
cometimento de fato definido como crime doloso no cumprimento da
pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória
no processo penal instaurado para apuração do fato.
 Súmula 533/STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar
no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de
procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído
ou defensor público nomeado.
 Súmula 534/STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do
prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se
reinicia a partir do cometimento dessa infração.
 Súmula 535/STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para
fim de comutação de pena ou indulto.
 Súmula 536/STJ: A suspensão condicional do processo e a transação
penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria
da Penha.

36
PONTO 6
13. Decretos Presidenciais que prevêem indulto e comutação das penas

1. O que é o indulto natalino?


É tradição, no Brasil, que, ao final de cada ano, o Presidente da República
edite um Decreto concedendo indulto coletivo a pessoas condenadas por
diversos crimes. Como esse Decreto é editado nas proximidades do Natal,
ficou conhecido como “indulto natalino”, mas não se trata de uma outra espécie
de indulto. É simplesmente o indulto concedido na época das festas de final de
ano.

2. O que significa na prática?


Com o indulto, apaga-se o efeito executório da condenação. Em outras
palavras, extingue-se a pena, caso ainda não tenha sido cumprida. Logo, a
pessoa beneficiada pelo indulto não precisará mais cumprir a pena que lhe
havia sido imposta. O Estado renunciou ao seu direito de punir aquele
indivíduo. Ele está livre do cumprimento da sanção, sendo classificado como
causa de extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, II do CP.

3. O que é comutação de penas?


Anualmente, quando o Presidente da República edita o Decreto natalino de
indulto, também traz requisitos para a concessão da comutação da pena, que
significa um indulto parcial, perdão estatal que não extingue integralmente a
pena, mas a reduz (comuta). Logo, aquele que não atingiu os requisitos
suficientes para a obtenção de indulto, pode ser que tenha preenchido as
condições para a comutação, caso em que não terá a pena extinta, mas sim
reduzida.

4. Quais os fundamentos para a concessão de tais beneses?


Doutrinariamente, encontram-se alguns fundamentos para o indulto, dentre
os quais se destacam: a possibilidade de correção de erro ou excesso do
Poder Judiciário, a benesse concedida para marcar a transição de um regime
político para outro, a compensação pela incapacidade do Estado de garantir
condições adequadas e dignas para o cumprimento da pena, a premiação ao
condenado de conduta exemplar, o alívio ao preso acometido por doença grave
e incurável e, principalmente, a política criminal e penitenciária de
desencarceramento, sendo este último o fundamento mais prático e mais
palpável de todos eles.
Ao tratar dos fundamentos do indulto, a doutrina tem dado destaque para a
importância do perdão estatal como instrumento de equidade para compensar
o descompasso entre os direitos do preso e a realidade vivida nos
estabelecimentos prisional. Daí o indulto como instrumento humanitário de
equidade, buscando reequilibrar a proporção crime x pena, antecipando o fim
do período de sofrimento (duração de pena).
Em que pese as brilhantes – e acertadas – elocubrações doutrinárias sobre
o fundamento do indulto, hoje sabemos que o instituto serve prioritariamente
para amenizar a drástica situação da falta de vagas nos estabelecimentos
prisionais. Como não há espaço nas prisões para abrigar todos os apenados
com dignidade e não se percebe um verdadeiro interesse político em adequar
as penitenciárias às exigências humanitárias, a solução à brasileira acaba

37
sendo a concessão anual de indulto e de comutação de pena aos sentenciados
por crimes menos graves, liberando vagas e diminuindo o custo de
manutenção do sistema carcerário.

5. Quem concede esses benefícios?


Conforme artigo 84, inciso XII da Constituição Federal, esse perdão estatal é
conferido privativamente pelo Presidente da República, o qual pode delegar tal
poder aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao
Advogado-Geral da União (artigo 84, parágrafo único da Carta Constitucional).

6. Há necessidade de decisão judicial?


Em se tratando de indulto coletivo, a simples publicação do Decreto
Presidecial não é capaz de, por si só, indultar os sentenciados que preencham
os requisitos. É preciso que haja uma decisão judicial declarando que, no caso
concreto, estão preenchidos os requisitos para a concessão do indulto.
Assim, como primeiro há a concessão do indulto coletivo pelo Presidente da
República e depois há a verificação do caso concreto pelo Poder Judiciário,
diz-se que a concessão do indulto coletivo e da comutação segue um
procedimento escolonado ou bipartido pois envolve a atuação tanto do Poder
Executivo quanto do Poder Judiciário.Nessa linha, competirá ao Juízo da
Execução Penal verificar, de ofício ou mediante provocação, se cada apenado
preenche os requisitos do Decreto Presidencial do Indulto, declarando extinta a
pena daqueles contemplados pelo perdão estatal.

7. Qual a diferença entre Indulto, Graça e Anistia?


Quadro comparativo entre os institutos:

ANISTIA GRAÇA INDULTO


(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido peloConcedidos por Decreto do Presidente da
Congresso Nacional, com aRepública.
sanção do Presidente da
República (art. 48, VIII, CF/88)Apagam o efeito executório da condenação.
por meio do qual se “perdoa” a
prática de um fato criminoso. A atribuição para conceder pode ser delegada
Normalmente incide sobre crimesao(s):
políticos, mas também pode• Procurador Geral da República
abranger outras espécies de• Advogado Geral da União
delito. • Ministros de Estado
É concedida por meio de uma lei Concedidos por meio de um Decreto.
federal ordinária.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais
• antes do trânsito em julgado benefícios só podem ser concedidos após o
(anistia própria) trânsito em julgado da condenação. Esse
• depois do trânsito em julgado entendimento, no entanto, está cada dia mais
(anistia imprópria) superado, considerando que o indulto natalino,
por exemplo, permite que seja concedido o
benefício desde que tenha havido o trânsito em
julgado para a acusação ou quando o MP
recorreu, mas não para agravar a pena imposta

38
(art. 5º, I e II, do Decreto 7.873/2012).
Classificação: Classificação
a) Propriamente dita: quandoa) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida antes da condenação. b) Parcial: quando somente diminui ou substitui
b) Impropriamente dita: quandoa pena (comutação).
concedida após a condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer
a) Irrestrita: quando atingecondição.
indistintamente todos os autoresb) Condicionado: quando impõe condição para
do fato punível. sua concessão.
b) Restrita: quando exige
condição pessoal do autor do fato a) Restrito: exige condições pessoais do
punível. Ex: exige primariedade. agente. Ex: exige primariedade.
b) Irrestrito: quando não exige condições
a) Incondicionada: não se exigepessoais do agente.
condição para a sua concessão.
b) Condicionada: exige-se
condição para a sua concessão.
Ex: reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes


comuns.
b)Especial: atinge crimes
políticos.
Extingue os efeitos penaisSó extinguem o efeito principal do crime (a
(principais e secundários) dopena).
crime.

Os efeitos de natureza civilOs efeitos penais secundários e os efeitos de


permanecem íntegros. natureza civil permanecem íntegros.
O réu condenado que foiO réu condenado que foi beneficiado por graça
anistiado, se cometer novo crimeou indulto se cometer novo crime será
não será reincidente. reincidente.
É um benefício coletivo que, porÉ um benefícioÉ um benefício coletivo
referir-se somente a fatos, atingeindividual (com(sem destinatário certo).
apenas os que o cometeram. destinatário certo). É concedido de ofício
Depende de pedido do(não depende de
sentenciado. provocação).

8. O indulto e a comutação de penas podem ser concedidos aos presos


provisórios?
Não é possível. Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios só
podem ser concedidos após o trânsito em julgado da condenação Esse
entendimento, no entanto, está cada dia mais superado, considerando que o
indulto natalino, por exemplo, permite que seja concedido o benefício desde
que tenha havido o trânsito em julgado para a acusação ou quando o MP
recorreu, mas não para agravar a pena imposta (art. 5º, I e II do Decreto
7.873/2012).

9. Há necessidade de emissão de parecer do Conselho Penitenciário para

39
a declaração do direito ao indulto e à comutação de penas? (Pergunta
similar à da primeira fase- DPE-MA) IMPORTANTE
Não é mais necessário. No Decreto relativo ao ano de 2012 ( 7.873/2012),
por exemplo, havia previsão expressa de que o juiz deveria ouvir o Conselho
Penitenciário antes de proferir decisão sobre o reconhecimento do indulto. O
Decreto 8.172/2013, porém, inovou (artigo 11, §5º) ao exigir apenas que se
ouça o Ministério Público e a defesa, não mencionando que se colha o parecer
do Conselho Penitenciário, o que foi seguido também nos recentes Decretos de
2014 e também de 2015. É forçoso concluir que o silêncio quanto à
necessidade de oitiva do Conselho Penitenciário é do tipo
eloquente.Fundamentando essa posição adotada, traz-se, primeiro, um
argumento de ordem prática: a necessidade de oitiva do aludido Conselho, em
geral, gerava um atraso despropositado na declaração de indulto, pois muitas
vezes os Conselhos possuem estrutura deficiente para realizar com presteza
os pareceres sobre indulto.Ademais, os requisitos para a concessão dos
benefícios são trazidos objetivamente pelo Decreto presidencial, os quais
podem ser aferidos pelos atores do processo de execução penal pela atividade
jurídico-interpretativa.
Logo, a opinião dos membros do Conselho Penitenciáriao sobre a
concessão do indulto não é capaz de trazer elementos que não possam ser
observados diretamente no processo de execução penal, o que reforça a
desnecessidade de oitiva do aludido Conselho.Passando ao argumento jurídico
propriamente dito, é preciso começar pela observação do texto constitucional.
O artigo 84, inciso XII da Carta Maior estabelece ser competência do
Presidente da República “conceder indulto e comutar penas, com audiência, se
necessário, dos órgãos instituídos em lei”. Percebe-se que a audiência dos
órgãos instituídos em lei não é obrigatória, pois ela deve ser feita apenas “se
necessário”.
Não se desconhece que o artigo 70, inciso I da LEP, Lei 7.210/1984, traz
como incumbência do Conselho Penitenciário a emissão de parecer sobre o
indulto e a comutação de pena. Por isso, quando o Decreto Presidencial
7.873/2012 (assim como os anteriores) determinava a remessa do pedido de
declaração de indulto ao Conselho Penitenciário, não havia nada errado, pois,
de fato, ao Conselho Penitenciário cabe opinar sobre o indulto.Todavia, a
questão a ser enfrentada diz respeito à hipótese de o Decreto não exigir a
oitiva do Conselho Penitenciário (com ocorreu com o Decreto de 2013, 2014 e
2015). Seria necessária a colheita da opinião do Conselho simplesmente pelo
fato de a Lei de Execuções Penais arrolar tal função como atividade do
Conselho Penitenciário? Entendemos que não.

10. A prática de falta grave pelo apenado interrompe o prazo para fim de
comutação de pena ou indulto?
Em regra, não. O cometimento de falta grave não interrompe
automaticamente o prazo para o deferimento do indulto ou da comutação de
pena. A concessão do indulto e da comutação é regulada por requisitos
previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos. Assim, a prática
de falta disciplinar de natureza grave, em regra, não interfere no lapso
necessário à concessão de indulto e comutação da pena, salvo se este
requisito for expressamente previsto no decreto presidencial.
Exemplo: O Presidente da República editou um Decreto Presidencial

40
concedendo o “indulto natalino” para aqueles que tivessem cumprido 1/3 da
pena. João já cumpriu 1/3 da pena (requisito objetivo). Ocorre que ele praticou,
há um mês, falta grave. Assim, preenchidos os requisitos estabelecidos no
mencionado Decreto, não há como condicionar ou impedir a concessão da
comutação da pena ao reeducando sob nenhum outro fundamento, sendo a
sentença meramente declaratória, nesse sentido é o contenúdo da recente
Súmula 535 do STJ (aprovada em 10/06/2015): “A prática de falta grave não
interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto.”
Ressalte-se que a redação do enunciado, com a devida vênia, poderia ser
mais completa. Isso porque o cometimento de falta grave não interrompe o
prazo para o deferimento do indulto ou da comutação de pena. Ocorre que é
possível imaginar que o Presidente da República decida prever, no Decreto, a
interrupção do prazo em caso de falta grave. Se isso for fixado no Decreto, tal
consequência poderá ser exigida. Logo, o ideal seria que a súmula tivesse dito:
a prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena
ou indulto, salvo disposição expressa em contrário no decreto presidencial.

11. Os condenados por crime hediondo ou equiparado a hediondo tem


direito ao indulto?
Inicialmente, deve-se ressaltar queartigo 5º, inciso XLIII da Lei Maior não
veda expressamente o indulto aos condenados por crimes hediondos ou
equiparados, mas apenas proíbe a concessão de graça e anista. Por isso, há
defensores da tese de que o indulto aos crimes hediondos seria possível,
dependendo da vontade discricionária e privativa do Presidente da República.
Nesse sentido é a posição da doutrina garanista, segundo o qual o artigo 2º,
inciso I da Lei 8.072/90 seria inconstitucional ao vedar a indulgência estatal aos
crimes hediondos, já que o legislador ordinário não teria a competência para tal
vedação, pois a concessão de indulto é competência privativa do Presidente da
República.
Porém, o entendimento amplamente majoritário, inclusive nos Tribunais
Superiores, aponta no sentido de que, quando o Constituinte vedou a graça
aos crimes hediondos, o faz em sentido amplo, incluindo a vedação ao indulto.
Deve-se ponderar, entretanto, que o fato de o crime praticado ser hediondo
não impede de modo absoluto a concessão do indulto, já que há ressalvas a
essa regra, inclusive previstas expressamente pelos Decretos Presidenciais. Ao
menos desde 2006, os decretos assinados pela Presidência da República,
teoricamente, violariam a Constituição Federal ao estenderem o benefício aos
condenados com doença grave e deficiência física, por exemplo,
consubstanciando o chamado indulto humanitário.O Decreto 8.380/2014,
assinado pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 24 de dezembro do ano de
2014, não foi diferente e dispôs, em seu artigo 9º que a medida não valeria
para quem foi condenado por tortura, terrorismo, tráfico ilícito de drogas e
crimes hediondos.Porém ,o próprio dispositivofaz uma ressalva: as restrições
não se aplicam às hipóteses previstas nos incisos X, XI e XII e XIII do artigo 1º
do decreto, ou seja, o texto acaba incluindo na lista de beneficiados quaisquer
pessoas cegas, paraplégicas ou tetraplégicas; com doença grave e
permanente, que causem grave limitação de atividade ou exijam cuidados
contínuos; e condenadas a pena de multa entre outras situações. Destarte,
com base nos decretos publicados nos ultimos anos, é verrossímel afirmar que

41
a vedação de aplicação do indulto aos crimes hediondos e equiparados nao é
absoluta.

PONTO 7
14. Excesso e desvio da execução penal.
15. Monitoração Eletrônica.
16. Penas restritivas de direito.

EXCESSO E DESVIO DA EXECUÇÃO PENAL.

1. O QUE É EXCESSO E DESVIO NA EXECUÇÃO PENAL?


Segundo o art. 185 da LEP, haverá excesso ou desvio de execução sempre
que algum ato for praticado além dos limites fixados na sentença, em normas
legais ou regulamentares. Nucci os diferencia: a) desvio: destinação diversa da
finalidade da pena (tipo de pena); b) excesso: aplicação abusiva do previsto em
lei (quantidade da pena).

2. QUEM PODE SUSCITAR?


Podem suscitar o incidente de excesso ou desvio de execução:
I - o Ministério Público;
II - o Conselho Penitenciário;
III - o sentenciado;
IV - qualquer dos demais órgãos da execução penal.

MONITORAÇÃO ELETRÔNICA.

3. EM QUAIS SITUAÇÕES O JUIZ PODE DEFERIR?


Quando autorizar a saída temporária no regime semiaberto. Quando
determinar a prisão domiciliar.

4. QUAIS DEVERES O CONDENADO DEVE OBSERVAR?


I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica,
responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer
forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça

5. SE OS DEVERES FOREM DESCUMPRIDOS, QUAIS AS SANÇÕES


APLICÁVEIS?
A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá acarretar,
a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução
decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste
parágrafo.

6. QUAIS AS HIPÓTESES DE REVOGAÇÃO?

42
As hipóteses de revogação previstas na LEP são facultativas. Desse modo,
a monitoração eletrônica poderá ser revogada.
I - quando se tornar desnecessária ou inadequada;
II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante
a sua vigência ou cometer falta grave.

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

7. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE RESTRITIVAS DE DIREITO PREVISTAS


NO CÓDIGO PENAL?
As restritivas de direito previstas no CP são: prestação de serviços à
comunidade, limitação de fins de semana, interdição temporária de direitos,
prestação pecuniária, perda de bens e valores.

8. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DAS PENAS RESTRITIVAS DE


DIREITO?
As características das penas restritivas de direito são: (a) autonomia: as
penas restritivas de direito não podem ser cumuladas com as penas privativas
de liberdade; (b) substitutividade: o juiz sentenciante primeiro fixa a pena
privativa de liberdade (observando o artigo 68 do CP), anunciando, em
seguida, seu regime inicial de cumprimento. Depois, na mesma sentença,
substitui a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

9. QUAL É O PRAZO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITO?


Em regra, as penas restritivas de direitos terão a mesma duração da pena
privativa de liberdade substituída (art. 55 do CP). Excepcionalmente: (a) as
penas restritivas de natureza real: a prestação pecuniária e a perda de bens e
valores se esgotam no momento em que são adimplidas as obrigações
respectivas (art. 55, caput, CP). (b) a prestação de serviços à comunidade:
poderá ser cumprida em até metade do tempo da pena privativa de liberdade,
se a pena for superior a 1 (um) ano (art. 55 c/c art. 46, § 4°, ambos do CP). (c)
a pena restritiva de impedimento de comparecimento às proximidades de
estádio, prevista no Estatuto do Torcedor (art. 41-B, §2° da Lei n° 10.671/2003),
esta pena restritiva de direitos pode ter duração superior à pena abstratamente
prevista no preceito sancionador.

10. O QUE É O PRINCÍPIO DA SUFICIÊNCIA DA PENA ALTERNATIVA?


Ainda que verificada a reincidência, permite-se a conversão da pena se o
condenado não for reincidente especifico desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável (art. 44, §3°, CP).

11. QUAIS SÃO OS REQUISITOS PARA A SUBSTITUIÇÃO DA PENA


PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS?
Os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos estão previstos no artigo 44 do Código Penal e variam de acordo
com a espécie de delito praticado: (1) substituição da pena nos crimes dolosos:
(1.a) pena aplicada não superior a 4 (quatro) anos; (1.b) crime cometido sem
violência real ou grave ameaça a pessoa; (1.c) não ser o condenado
reincidente em crime doloso; (1.d) seja indicada e suficiente a substituição da
pena. Ainda que verificada a reincidência, permite-se a conversão da pena se o
43
condenado não for reincidente especifico desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável (art. 44, §3°, CP). Trata-se e
clara expressão do principio da suficiência da pena alternativa. (2) substituição
da pena nos crimes culposos: Nos crimes culposos, qualquer que seja a pena
(não importando o delito cometido), permite-se a substituição da pena privativa
de liberdade em restritiva de direitos.

12. PRESENTES OS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A SUBSTITUIÇÃO DA


PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS, QUAIS
SÃO AS REGRAS TRAZIDAS PELO CÓDIGO PENAL PARA QUE O JUIZ
EFETIVE A SUBSTITUIÇÃO?
O art. 44, § 2º do Código Penal anuncia as regras da substituição, não
importando se o crime julgado e punido com reclusão ou detenção, doloso ou
culposo: o critério que guia o juiz é se a quantidade de pena aplicada foi ou não
superior a um ano. Assim: (a) pena < 1 ano à multa ou 1 pena restritiva de
direito; (b) pena ≥ 1 ano à multa + 1 pena restritiva de direitos ou 2 restritivas
de direitos.

13. O AUTOR DE CRIME PRETERDOLOSO, PARA VALER-SE DOS


BENEFÍCIOS DA SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO POR PENAS
ALTERNATIVAS, DEVE PREENCHER OS REQUISITOS DO CRIME
DOLOSO OU CULPOSO?
Prevalece o entendimento de que o autor de um crime preterdoloso deve
preencher os requisitos do crime culposo para que tenha sua pena privativa de
liberdade substituída por restritiva de direitos, uma vez que lhe está sendo
atribuído o resultado mais grave a título de culpa. A posição minoritária entende
que o autor do crime deve obedecer aos mesmos requisitos do crime doloso,
pois antes de integralizar-se o resultado culposo mais grave realiza-se, por
completo, um crime doloso (menos grave).

14. É POSSÍVEL A SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE


POR RESTRITIVA DE DIREITOS PARA CRIME HEDIONDO OU
EQUIPARADO?
Sim. Apesar de ter havido longa controvérsia sobre o assunto, hoje é
pacífico o cabimento de substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos para crime hediondo ou equiparado. Quanto aos crimes
hediondos, nunca houve vedação explícita na lei, mas havia uma corrente que
entendia que o regime integralmente fechado vedava implicitamente a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Quanto ao
tráfico de drogas, é preciso mencionar que o STF declarou a
inconstitucionalidade da vedação de substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos expressamente prevista na Lei 11.343/06, tendo havido
a suspensão da eficácia desse dispositivo por meio da Resolução nº 5/2012 do
Senado Federal.

15. É POSSÍVEL A SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE


POR RESTRITIVA DE DIREITOS PARA O CRIME DE ROUBO?
Embora o crime de roubo (art. 157, CP) seja doloso, devemos notar que ele
pode ser praticado mediante violência física, grave ameaça (espécies de
violência própria) ou utilização de qualquer outro meio que reduza a

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capacidade da vitima (violência imprópria). Neste último caso, entende-se
majoritariamente a possibilidade de substituição da pena privativa em restritiva
de direitos.

16. DIFERENCIE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA DE MULTA.


PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA MULTA
Tem natureza jurídica de pena alternativa. Tem natureza jurídica de pena
alternativa.
E destinada a vitima, seus dependentes ou E destinada ao Estado - Fundo
entidade pública ou privada com destinação Penitenciário Nacional.
social.
Consiste no pagamento de 1 a 360 salários Consiste no pagamento de 10 a 360
mínimos. dias-multa, variando o dia-multa de
1/30 a 5 salários mínimos.
O valor pago será deduzido do montante de O valor pago não será deduzido do
eventual condenação em ação de montante de eventual condenação
reparação civil, se coincidentes os em ação de reparação civil.
beneficiários.
Em caso de descumprimento injustificado, a Em caso de descumprimento
lei não proíbe sua conversão em privativa injustificado, não pode ser
de liberdade. Ha, contudo, corrente no convertida em privativa de liberdade
sentido de que as restritivas de natureza (deve ser executada como divida
real não ativa).
podem ser convertidas, mas sim,
executadas como obrigação de fazer.
(fonte: Sanches, Rogério. Manual de Direito Penal, 2013).

17. A PERDA DE BENS OU VALORES É UMA ESPÉCIE DE CONFISCO?


Para muitos, a perda de bens ou valores é uma pena de confisco. Bittencourt
diferencia “confisco-pena” de “confisco-efeito da condenação”: “(1º) o confisco-
efeito destina-se à União como receita não tributária, enquanto o confisco-pena
destina-se ao Fundo Penitenciário Nacional; (2º) o objeto do confisco-efeito são
os instrumentos e produtos do crime (art. 91, II, do CP), enquanto o objeto do
confisco-pena é o patrimônio pertencente ao condenado (art. 45, § 3º, do CP).
Não é, lamentavelmente, nem a reparação do prejuízo causado nem o proveito
do crime. Esses dois – o prejuízo causado e o proveito do crime – servem
apenas de parâmetro para o cálculo.”

18. FALE SOBRE A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE.


A prestação de serviços, aplicável às condenações superiores a seis meses
de privação da liberdade, consiste na execução de atividades a comunidade ou
a entidades públicas (ex.: hospitais, escolas, orfanatos, programas
comunitários). Será prestada de forma gratuita (art. 30 da LEP), sem gerar
vínculo empregatício com o Estado (art. 28, §2°, LEP), devendo ser
observadas, para a atribuição das tarefas, as aptidões do reeducando. Para
cada dia de condenação imposto na sentença, uma hora de serviço deverá ser
prestado, cuidando-se para que as tarefas não prejudiquem a jornada normal
de trabalho do condenado. Quando a pena substituída for superior a um ano, é
facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo, nunca

45
inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada (art. 46, §4° do CP). Da
leitura do art. 150 da LEP conclui-se que o início do cumprimento da pena
restritiva dar-se-á a partir da data do primeiro comparecimento do reeducando,
ficando a entidade beneficiada obrigada a encaminhar, mensalmente, ao Juiz
da execução, relatório circunstanciado das atividades desenvolvidas pelo
condenado, bem como, a qualquer tempo, ausência ou falta disciplinar. O
relatório circunstanciado é uma forma de acompanhamento do cumprimento da
prestação de serviço. O condenado tem que cumprir pontual e assiduamente o
horário de trabalho estabelecido, servindo o relatório como ferramenta para
verificação de tais obrigações.

19. O QUE É A LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA?


A limitação de fim de semana é uma pena restritiva de direitos que, nos
termos do artigo 48 do Código Penal, consiste na obrigação de permanecer,
aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou
outro estabelecimento adequado, podendo ser ministrados cursos e palestras
ou atribuídas atividades educativas nesses períodos. Visa à reestruturação
intelectual e social do condenado.

20. QUAIS SÃO AS ESPÉCIES DE INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE


DIREITOS?
Existem cinco espécies de pena de interdição temporária de direitos,
previstas no art. 47 do CP: (a) proibição do exercício de cargo, função ou
atividade pública, bem como de mandato eletivo; (b) proibição do exercício de
profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença
ou autorização do poder publico; (c) suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veiculo (art. 47, III do CP) (essa espécie de pena
restritiva de direitos foi tacitamente revogada pelo CTB (Lei n° 9.503/97); (d)
proibição de frequentar determinados lugares; (e) proibição de inscrever-se em
concurso, avaliação ou exame públicos (inovação trazida pela Lei 12.550/11,
esta proibição deve ser aplicada, em especial (e não exclusivamente), aos
candidatos que concorrerem, direta ou indiretamente, para as fraudes de
certames públicos, compreendendo concurso público, avaliação ou exame
públicos, processo seletivo para ingresso no ensino superior, exame ou
processo seletivo previstos em lei (art. 311-A do CP).

21. QUAIS SÃO AS HIPÓTESES DE CONVERSÃO DAS PENAS


RESTRITIVAS DE DIREITO EM PRIVATIVAS DE LIBERDADE?
As hipóteses de conversão das penas restritivas de direito em privativas de
liberdade ocorrem: (a) pelo descumprimento injustificado da restrição: exige-se
a prévia oitiva do sentenciado (b) pela superveniência de condenação por outro
crime.
APROFUNDAMENTO: Quanto à prestação de serviços à comunidade,
segundo a LEP, ainda, pode ser convertida quando o condenado: (c.1) não for
encontrado por estar em lugar incerto e não sabido ou desatender a intimação
por edital; (c.2) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa
em que deva prestar serviço; (c.3) recusar-se, injustificadamente, a prestar o
serviço que lhe foi imposto; (c.4) praticar falta grave; (c.5) sofrer condenação
por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido
suspensa. Quanto à limitação de fim de semana, segundo a LEP, ainda, pode

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ser convertida quando o condenado: (d.1) não comparecer ao estabelecimento
designado para o cumprimento da pena; (d.2) recusar-se a exercer a atividade
determinada pelo juiz; (d.3) se não for encontrado por estar em lugar incerto e
não sabido ou desatender a intimação por edital; (d.4) praticar falta grave; (d.5)
sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução
não tenha sido suspensa. Quanto à interdição temporária de direitos, a LEP
afirma, ainda, que pode ser convertida quando o condenado: (e.1) exercer,
injustificadamente, o direito interditado; (e.2) não for encontrado por estar em
lugar incerto e não sabido ou desatender a intimação por edital; (e.3) sofrer
condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não
tenha sido suspensa.

22. COMO SE DÁ A CONVERSÃO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS EM


PRIVATIVA DE LIBERDADE?
No caso de descumprimento injustificado da restritiva, exige-se oitiva prévia
do condenado. Além disso, deve-se proceder à detração do período cumprido
(cada hora cumprida equivale a um dia de pena), respeitado o saldo de 30 dias.

PONTO 8
17. “Sursis”.
18. Multa.
19. Medida de segurança.

1. [TJCE 2015]. As medidas de segurança tem prazo determinado? Podem


perdurar por mais de 30 anos?
Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve
ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito
praticado. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

Prazo de duração da medida de segurança


O Código Penal afirma que a medida de segurança será aplicada por tempo
indeterminado e que deverá ser mantida enquanto o indivíduo for considerado
perigoso:
Art. 97 (...) § 1º A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a
3 (três) anos.
Desse modo, pela redação literal do CP, a medida de segurança poderia
durar por toda a vida do individuo já que, enquanto não ficasse provado que
cessou a periculosidade, ele ainda teria que permanecer internado ou em
tratamento ambulatorial.

2. Essa leitura do § 1º do art. 97 do CP é compatível com a CF/88? O prazo


de cumprimento da medida de segurança é ilimitado?
NÃO. O prazo de cumprimento da medida de segurança não pode ser
ilimitado. Isso porque, conforme vimos acima, a medida de segurança é uma
espécie de sanção penal e a CF/88 afirmou expressamente que, em nosso
ordenamento jurídico não pode haver “penas de caráter perpétuo” (art. 5º,
XLVII). Quando a Constituição fala em “penas de caráter perpétuo”, deve-se

47
interpretar a expressão em sentido amplo, ou seja, são proibidas sanções
penais de caráter perpétuo, incluindo, portanto, tanto as penas como as
medidas de segurança.

Desse modo, atualmente, tanto o STJ como o STF afirmam que existe sim
prazo máximo de duração das medidas de segurança porque estas possuem
caráter punitivo.
Posição do STF: 30 anos
Posição do STJ: máximo da pena abstratamente cominada ao delito
praticado

3. O inadimplemento da pena de multa impede a extinção da punibilidade


mesmo que já tenha sido cumprida a pena privativa de liberdade ou a
pena restritiva de direitos?
NÃO. Nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e
multa, cumprida a primeira (ou a restritiva de direitos que eventualmente a
tenha substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o
reconhecimento da extinção da punibilidade.
Em outras palavras, o que importa para a extinção da punibilidade é o
cumprimento da pena privativa de liberdade ou da restritiva de direitos.
Cumpridas tais sanções, o fato de o apenado ainda não ter pago a multa não
interfere na extinção da punibilidade. Isso porque a pena de multa é
considerada dívida de valor e, portanto, possui caráter extrapenal, de modo
que sua execução é de competência exclusiva da Procuradoria da Fazenda
Pública.
Assim, cumprida a pena privativa de liberdade (ou restritiva de direitos),
extingue-se a execução penal e se restar ainda pendente o pagamento da
multa, esta deverá ser cobrada pela Fazenda Pública, no juízo competente,
tendo se esgotado, no entanto, a jurisdição criminal. STJ. 3ª Seção. REsp
1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/8/2015 (recurso
repetitivo) (Info 568).

4. O não pagamento voluntário da pena de multa impede a progressão no


regime prisional?
SIM. O Plenário do STF decidiu o seguinte:
• Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente
aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime prisional.
• Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se
ficar comprovada a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar
a multa, ainda que parceladamente.
STF. Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
8/4/2015 (Info 780).
O condenado tem o dever jurídico (e não a faculdade) de pagar
integralmente o valor da multa. Pensar de modo diferente seria o mesmo que
ignorar que esta espécie de pena é prevista, expressamente, de forma
autônoma, no art. 5º, inciso XLVI, alínea “c” da CF/88. O não recolhimento da
multa por condenado que tenha condições econômicas de pagá-la constitui
deliberado descumprimento de decisão judicial e deve impedir a progressão de
regime. Além disso, admitir-se o não pagamento da multa configuraria

48
tratamento privilegiado em relação ao sentenciado que espontaneamente paga
a sanção pecuniária.
Ressalte-se, ainda, que, em matéria de criminalidade econômica, a pena de
multa desempenha um papel muito relevante, sendo mais importante até
mesmo que a pena de prisão, que, nas condições atuais, é relativamente breve
e não é capaz de promover a ressocialização. Desse modo, cabe à multa a
função retributiva e preventiva geral da pena, desestimulando, no próprio
infrator ou em infratores potenciais, a prática dos crimes.
No caso concreto, a defesa não comprovou a impossibilidade do
sentenciado de cumprir a pena de multa, de forma que é incabível aplicar a ele
a exceção.

5. O pagamento da multa está previsto no art. 112 da LEP como sendo um


requisito para a progressão?
NÃO. O pagamento da multa não está previsto expressamente no art. 112
como um dos requisitos necessários para a progressão de regime. Apesar
disso, o STF entendeu que esse pagamento poderá ser exigido porque a
análise dos requisitos necessários para a progressão de regime não se
restringe ao referido art. 112 da LEP. Em outras palavras, outros elementos
podem, e devem, ser considerados pelo julgador na decisão quanto à
progressão.
Assim, para o STF, o julgador, atento às finalidades da pena e de modo
fundamentado, está autorizado a lançar mão de outros requisitos, não
necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extraídos do
ordenamento jurídico, para avaliar a possibilidade de progressão no regime
prisional, tendo como objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do
sentenciado.

6. Essa decisão não viola o art. 51 do CP, que proíbe a conversão da pena
de multa em prisão?
NÃO. O art. 51 do Código Penal previa que se o condenado,
deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser
convertida em pena de detenção. Essa regra foi alterada pela Lei n. 9.268/96
e, atualmente, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e
deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda Pública por meio de execução
fiscal.
Importante, no entanto, esclarecer que, mesmo com essa mudança feita
pela Lei n. 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal, ou
seja, permanece sendo uma pena.

7. Esse entendimento não viola a regra constitucional segundo a qual não


existe prisão civil por dívida?
NÃO. Não se está prendendo alguém por causa da dívida, mas apenas
impedindo que ela tenha direito à progressão de regime em virtude do
descumprimento de um dever imposto ao condenado. O benefício da
progressão exige do sentenciado “autodisciplina e senso de responsabilidade”
(art. 114, II da LEP), o que pressupõe o cumprimento das decisões judiciais
que a ele são aplicadas.
Mais um novo requisito objetivo: Desse modo, o STF “cria” um novo
requisito objetivo para a progressão de regime: o apenado deverá pagar

49
integralmente o valor da multa que foi imposta na condenação ou, então,
provar a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa,
ainda que parceladamente.

8. É possível afirmar que cumprimento do período de prova no sursis é


a mesma coisa que cumprimento de pena?
NÃO. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma
alternativa à pena, ou seja, um benefício que o condenado recebe para não
ter que cumprir pena.
Por essa razão, não se pode dizer que a pessoa beneficiada com sursis e
que esteja cumprindo período de prova se encontre cumprindo pena.
Cumprimento de período de prova não é cumprimento de pena. STF. 1ª Turma.
RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015(Info 792).

PONTO 9
20. Conversões das penas privativas de liberdade.
21. Agravo em Execução.
22. “Habeas Corpus”

1. O que é conversão positiva?


Conversão positiva consiste na transformação da pena privativa de liberdade
em pena restritiva de direitos durante a fase de execução penal.

2. Quais os requisitos exigidos pela lei para a conversão da pena


privativa de liberdade em restritiva de direitos?
Segundo a Lei de Execução Penal, para que ocorra tal conversão, a pena
privativa de liberdade deve ser não superior a dois anos, o condenado já deve
estar cumprindo a pena em regime aberto; que já tenha cumprido ao menos um
quarto da pena; e ainda há exigência de requisitos subjetivos: que os
antecedentes e a personalidade do condenado indiquem que a conversão é
recomendável.

3. O que é conversão negativa?


A conversão negativa consiste na transformação da pena restritiva de
direitos em privativa de liberdade, diante do descumprimento das condições
traçadas para a pena restritiva de liberdade ou da superveniência de
condenação por outro crime à pena privativa de liberdade.

4. Como é feito o cálculo da pena privativa de liberdade que o preso terá


que cumprir depois da conversão negativa?
No cálculo da pena privativa de liberdade que o preso deverá executar será
deduzido o tempo já cumprido de pena restritiva de direitos, respeitado o saldo
mínimo de 30 dias de detenção ou reclusão.

5. Para que se realize a conversão negativa, é necessária a intimação do


condenado?
SIM, segundo o STJ, é imprescindível a prévia intimação pessoal do
condenado que descumpre pena restritiva de direitos para que se proceda à
conversão da pena alternativa em privativa de liberdade. Isso porque se deve

50
dar oportunidade para que o reeducando esclareça as razões do
descumprimento, em homenagem aos princípios do contraditório e da ampla
defesa.

6. O juiz pode determinar que um preso em regime aberto cumpra pena


restritiva de direitos?
NÃO, o juiz NÃO pode aplicar pena restritiva de direitos a um condenado
que esteja cumprindo a pena em regime aberto, pois isso resultaria em BIS IN
IDEM. Portanto, ou o juiz converte positivamente a prisão em regime aberto
pela restritiva de direitos ou ele converte negativamente a restritiva em prisão
em regime aberto, mas em nenhum dos casos, o preso em regime aberto
poderá ser compelido a cumprir alguma restritiva de direitos.

7. Em que situações a pena de prestação de serviços à comunidade será


convertida em privativa de liberdade?
Segundo a lei, a pena de prestação de serviço à comunidade será
convertida, quando o condenado não for encontrado por estar em lugar incerto
ou não sabido, ou desatender à intimação por edital; quando não comparecer,
injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço;
quando se recusar, sem justificativa, a prestar o serviço que lhe foi imposto;
quando praticar falta grave; e quando sofrer condenação por outro crime à
pena privativa de liberdade, suja execução não tenha sido suspensa.

8. Imagine que o condenado esteja cumprindo pena restritiva de direitos e


sobrevenha condenação à pena privativa de liberdade. Nesse caso, o juiz
necessariamente deverá realizar a conversão da restritiva em privativa?
NÃO, sobrevindo condenação à pena privativa de liberdade, por outro crime,
o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-
la se for possível ao condenado cumprir a pena restritiva anterior.

9. É possível a conversão da restritiva em privativa de liberdade pela


superveniência de condenação pela prática de contravenção penal ou por
crime a que não tenha sido aplicada pena privativa de liberdade ou a que
tenha sido aplicado sursis?
NÃO será possível a conversão nesses casos, tendo em vista que a lei
apenas fala da possibilidade de conversão quando sobrevier condenação à
pena privativa de liberdade. Ora, considerando-se tratar de norma gravosa, sua
interpretação deve ser restritiva, não se admitindo conversão nesses casos não
expostos na lei.

10. É possível a conversão da pena de multa em privativa de liberdade?


Isso não é mais possível. O artigo 182 da LEP que trazia essa possibilidade
foi revogado, de modo que não se admite mais a conversão da pena de multa
em detenção, dando-se o tratamento de dívida de valor à pena pecuniária.

11. É possível a conversão da pena de prestação pecuniária e perda de


bens e valores em privativa de liberdade?
Ao contrário do que fez em relação às penas restritivas de prestação de
serviços à comunidade, à limitação de fim de semana e à interdição temporária
de direitos, não estabeleceu a LEP regras específicas acerca da possibilidade

51
de reconversão dessas penas privativas de liberdade. Nesse contexto, duas
orientações surgiram:
Primeira: A prestação pecuniária e a perda de bens e valores possuem a
mesma natureza intrínseca da pena de multa, isto é, todas são modalidades de
penas pecuniárias. Sendo assim, à semelhança do que ocorre com a multa,
que não admite conversão em prisão quando não paga, também as referidas
penas não poderão ser reconvertidas em pena privativa de liberdade.
Segunda: Deve ser aplicada, também em relação à prestação pecuniária e à
perda de bens e valores, a literalidade do art. 44, § 4º, do Código Penal,
dispondo que “a pena restritiva de direitos converte-se em privativa de
liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta”.
Trata-se da posição que predomina na doutrina e jurisprudência. Enfim, se,
intimado a pagar à vítima, a seus dependentes ou a entidade assistencial o
montante fixado a título de prestação pecuniária, não o fizer o condenado, terá
essa pena restritiva reconvertida em privativa de liberdade. Nesse sentido,
decidiu o STJ: “É possível a conversão da prestação pecuniária em pena
privativa de liberdade, nos termos do art. 44, § 4º, do Código Penal”439. O
mesmo deverá ocorrer se, intimado a dispor de algum bem ou valor de sua
propriedade em prol do Fundo Penitenciário Nacional, quedar-se inerte.

12. Como se dá a conversão da pena em medida de segurança?


Se no curso da execução de pena privativa de liberdade, sobrevier doença
mental, o juiz, mesmo de ofício, ou a requerimento, poderá determinar a
substituição da pena por medida de segurança.

13. Qualquer doença mental pode ensejar a conversão da pena em


medida de segurança?
NÃO, a enfermidade deve ser grave e duradoura. Se a moléstia não for
grave e nem duradoura, basta o recolhimento provisório do condenado ao
hospital de custódia, por tempo suficiente para sua cura, e depois ele irá
retornar ao cumprimento da pena.

14. Qual será a duração dessa medida de segurança oriunda da


conversão da pena por superveniência de doença mental grave e
duradoura?
Essa questão é polêmica, havendo pelo menos quatro correntes sobre o
tema:
A primeira corrente, e majoritária, defende que a medida de segurança terá a
mesma duração da pena privativa de liberdade aplicada na sentença
condenatória. Dessa forma, extrapolado o prazo máximo da pena privativa de
liberdade, não há como manter o paciente no cumprimento da medida de
segurança, a qual deve ser declarada extinta.
Por sua vez, a segunda corrente defende que a medida de segurança terá
duração indefinida, baseada no texto do art. 97, §1º, CP.
Já a terceira corrente afirma que a medida de segurança terá duração
máxima de 30 anos, equivalente ao limite de cumprimento de penas, previsto
no art. 75, CP.
Por fim, a quarta corrente defende que a medida de segurança terá duração
limitada ao máximo da pena cominada em abstrato para o crime cometido pelo
agente.

52
15. Imagine agora que o condenado teve sua pena convertida em medida
de segurança, mas antes do término desta foi examinado e diagnosticado
como “curado”, o que acontecerá com ele? Será solto ou voltará a
cumprir a pena privativa?
A lei não trata de tal hipótese, mas há duas correntes sobre o tema:
A primeira corrente entende que o sujeito deve retornar ao cumprimento da
pena privativa de liberdade, para que se evitem abusos.
Por outro lado, a segunda corrente sustenta que se deve levar em
consideração que o sistema vicariante impede a aplicação cumulativa ou
sucessiva de pena e medida de segurança, impondo-se, portanto, a extinção
desta, caso seja constatada a cura.

16. Quando o tratamento ambulatorial poderá ser convertido em


internação?
A lei expressamente prevê que o tratamento ambulatorial pode ser
convertido em internação, caso o agente não se mostre compatível com aquele
medida, não comparecendo ao local determinado ou recusando o tratamento.

17. Nesse caso, a lei traz algum prazo mínimo de internação?


Sim, o prazo mínimo de internação, nessa hipótese, será se 1 ano.

18. Para a conversão do tratamento ambulatorial em internação, é


necessária a prévia oitiva do condenado?
SIM, mostra-se necessária essa providência, devendo ser ouvido, antes da
decisão judicial acerca da conversão, o seu defensor constituído ou nomeado,
em observância aos princípios da ampla defesa e do contraditório.

19. A medida de segurança de internação pode ser convertida em


tratamento ambulatorial?
Não há previsão legal. Entretanto, por força de construção jurisprudencial,
tem-se aceito que o indivíduo sujeito a internação cumpra tratamento
ambulatorial em duas situações:
1) Na desinternação progressiva: sendo constatado, por meio de perícia
psiquiátrica, a melhora do quadro clínico do agente com abrandamento
considerável da periculosidade, aceita-se a sua inclusão em regime de semi-
internação (permitindo-se que usufrua de saídas controladas da instituição) ou
a conversão da internação em tratamento ambulatorial a fim de que se prepare
ele paulatinamente para o convívio social, sem prejuízo de permanecer sob
cuidados médicos.
2) Na ausência de vagas para internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico: Nesse caso, até que surja vaga em estabelecimento
adequado à condição do paciente, deve este sujeitar-se a regime de tratamento
ambulatorial.

20. Quando é cabível o agravo em execução?


Segundo a Lei de Execução Penal, da decisão do juízo de execução, cabe
AGRAVO EM EXECUÇÃO, sem efeito suspensivo.

21. O agravo em execução nunca terá efeito suspensivo?

53
Em regra, o agravo não tem efeito suspensivo, mas haverá tal efeito na
hipótese de desinternação ou liberação de pessoa sujeita à medida de
segurança.

22. A LEP prevê procedimento para o agravo em execução? Que


procedimento é aplicado?
A LEP NÃO previu um procedimento para o agravo em execução. Por isso, a
doutrina majoritária entende que deve ser aplicado o mesmo procedimento do
RESE, inclusive quanto ao prazo de 5 dias para interposição e 2 dias para as
razões, conforme a súmula 700 do STF.

23. Quais são os efeitos do agravo em execução?


Como toda via impugnativa, o agravo possui efeito devolutivo, implicando
devolução ao Judiciário da matéria incorporada ao recurso.
Possui, também, efeito regressivo (juízo de retratação) em razão da já
mencionada aplicação subsidiária do procedimento cabível para o recurso em
sentido estrito (art. 589 do CPP).
Referente ao efeito suspensivo, dispõe o art. 197 da L. 7.210/1984 que o
agravo não o possui. Não obstante essa disposição legal, não se pode deixar
de mencionar que alguns tribunais, excepcionalmente, admitem a via do
mandado de segurança visando a agregar ao agravo esse efeito. Além disso,
como já mencionado, há efeito suspensivo no agravo interposto contra a
decisão que julga extinta a medida de segurança.

24. Cabem embargos infringentes contra acórdão não unânime do


colegiado em sede de agravo em execução?
A jurisprudência dos Tribunais Superiores vem reconhecendo o cabimento
dos embargos infringentes nesse caso, mesmo não havendo dispositivo legal
expresso nesse sentido.

25. O habeas corpus pode ser utilizado em substituição ao agravo em


execução?
O STJ consagrou o entendimento de que o habeas corpus pode ser utilizado
em substituição ao agravo em execução, desde que a questão controvertida
não exija aprofundado exame de material fático-probatório e haja possibilidade
de lesão ao direito de locomoção do paciente.

PONTO 10
23. Regulamento das Unidades Prisionais do Estado do Maranhão
(decreto estadual 27.640/11).

1. Qual o dispositivo normativo que disciplina o funcionamento das


Unidades Prisionais do Estado do Maranhão e a quem ele se aplica?
O dispositivo normativo que disciplina o funcionamento das Unidades
Prisionais do Estado do Maranhão é o Decreto nº 27.640, de 25 de agosto de
2011 que se aplica aos presos provisórios, aos condenados a penas privativas
de liberdade nos regimes fechado e semiaberto e aos submetidos a medidas
de segurança, no que couber.

54
2. Quais os tipos de unidades prisionais no sistema penitenciário do
estado do maranhão?
I - Unidades Penitenciárias;
II - Casa de Detenção;
III - Centros de Ressocialização;
IV - Casa de Assistência ao Albergado e Egresso;
V - Central de Custódia de Presos de Justiça;
VI - Centro de Detenção Provisória;
VII - Centro de Observações Criminológicas;
VIII - Centro de Reeducação e Integração Social das Mulheres Apenadas.

3. Quais são as fases executivas internas da execução administrativa da


pena?
I - procedimento de inclusão, no decorrer de até dez dias;
II - regime de observação, no decorrer de até vinte dias;
III - desenvolvimento do processo de execução da pena, compreendendo as
fases processuais, a evolução psicossocial, educacional e o mérito
comportamental.

4. O que é o procedimento de inclusão?


A inclusão é o procedimento adotado quando do ingresso do preso em
Unidades Prisionais da Secretaria de Estado da Justiça e da Administração
Penitenciária, nas seguintes situações:
I - quando oriundo de carceragens não pertencentes à Secretaria de Estado
da Justiça e da Administração Penitenciária, observadas as normas específicas
que regem o tema;
II - quando oriundo de outra Unidade Prisional da estrutura da Secretaria de
Estado da Justiça e da Administração Penitenciária, a título de movimentação
externa definitiva ou trânsito.

5. Cite alguns direitos do preso durante o período de inclusão?


O preso que estiver em período de inclusão tem direito à audiência com
seu defensor e a receber visita de pessoa devidamente inscrita em seu rol
de visitantes, por até duas horas, a critério da direção.

6. Como se da transferência do preso de uma a outra Unidade Prisional?


A Secretaria de Estado da Justiça e da Administração Penitenciária, em
caráter excepcional, e mediante justificativa plausível, determinará a
transferência do preso, de uma a outra Unidade Prisional nas seguintes
circunstâncias:
I - por solicitação do Diretor da Unidade, conforme indicação da Comissão
Técnica de Classificação e demais áreas de avaliação;
II - no caso de doença que exija tratamento hospitalar do preso, quando a
Unidade Prisional não dispuser de infraestrutura adequada, devendo a
solicitação ser feita pela autoridade médica, ratificada pelo Diretor da Unidade;
III - por interesse da Administração, com vistas a preservação da segurança
e disciplina.

7. Quando o preso, seus familiares ou seu procurador poderão requerer


transferência ao Diretor do estabelecimento?

55
I - conveniente, por ser na região de residência ou domicílio da família,
devidamente comprovado;
II - necessária a adoção de Medida Preventiva de Segurança Pessoal, e a
Unidade Prisional não dispuser de recurso para administrá-la.

8. No caso de transferência a pedido do preso ou de seus familiares


existe algum prazo a ser observado para novo requerimento?
Concretizada a transferência por esse meio, o preso peticionário somente
poderá solicitar nova transferência depois de decorridos cento e oitenta dias,
no mínimo, salvo em casos excepcionais.

9. Cite alguns direitos do preso com cidadania estrangeira?


I - aprendizado da língua portuguesa e dos costumes deste país, por meio
do convívio com os brasileiros e das aulas lecionadas na Unidade Prisional;
II - identificação, dentre os servidores, a fim de solucionar problemas de
imperiosa comunicação, daqueles que possam prestar auxílio na interpretação
e na tradução do idioma;
III - facilitação do acesso aos advogados públicos e aos respectivos
consulados, com vistas, dentre outros, aos benefícios previstos no curso da
execução penal;
IV - recebimento, por meio das pessoas constantes em seu rolde visitas, de
gêneros alimentícios da tradição de cada nacionalidade, religiosa ou não.

10. O que são as recompensas e como ela se divide?


As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em favor
do preso, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho,
tendo a finalidade de motivar o bom comportamento, desenvolver o senso de
responsabilidade e promover o interesse e a cooperação do preso. Ela se
divide em elogio e concessão de regalias.

11. O que são regalias? Cite algumas.


Constituem regalias, concedidas ao preso que apresente bom
comportamento carcerário, desde que atendam aos critérios sócioeducativos
da execução da pena.
I - receber bens de consumo e patrimoniais, de qualidade, quantidade e
embalagem permitidas pela administração, trazidos por visitantes constantes
no rol de visitas;
II - assistir a sessões de cinema, teatro, jogos esportivos, shows e outras
atividades socioculturais.

12. Quais são os tipos de faltas disciplinares descritas pelo decreto


estadual 27.640/11?
Faltas de natureza leves, medias e graves

13. Qual a composição e a função do Conselho disciplinar?


O Conselho Disciplinar existente em cada Unidade Prisional será constituído
pelo Diretor da Unidade e mais três membros, representantes das áreas de
segurança e disciplina, grupo de reabilitação, produção e administração, dentre
servidores com exemplar folha de serviço, sob a presidência do primeiro, que
exercerá, apenas, o voto de desempate.

56
Ao Conselho Disciplinar cabe opinar sobre a conduta do preso, averiguar,
processar e emitir parecer sobre as infrações disciplinares e decidir sobre a
aplicação da sanção consistente em isolamento do preso em sua própria cela
ou local adequado por tempo não superior a trinta dias.

14. Como ocorre a apuração da falta disciplinar?


O servidor que presenciar ou tomar conhecimento de falta disciplinar de
qualquer natureza, praticada por preso, deve redigir comunicado contendo
local, data e hora da ocorrência; identificação do envolvido; descrição
minuciosa das circunstâncias do fato e rol de testemunhas, quando houver,
encaminhando-o ao Diretor da Unidade Prisional para que sejam adotadas as
medidas cautelares que se fizerem necessárias e as demais providências
cabíveis.
O procedimento disciplinar deve ser instaurado mediante portaria do Diretor
da Unidade Prisional, a ser baixada em até cinco dias da data de conhecimento
do fato.

15. Existe prazo para a conclusão desse procedimento? E no caso de


isolamento preventivo do faltoso?
O procedimento deve ser concluído em até trinta dias contados a partir da
data do fato iniciando no dia em que a autoridade competente tomar
conhecimento do fato, interrompendo- se pela portaria de instauração do
procedimento, voltando a correr integralmente.
No caso de isolamento preventivo do faltoso, a critério do Diretor da Unidade
Prisional, o prazo para conclusão do procedimento administrativo deve ser de
dez dias.

16. Existe no decreto extinção da punibilidade de falta disciplinar?


Extingue-se a punibilidade no prazo de dois anos, contados a partir da data
do conhecimento do fato pela autoridade competente.
Nos casos de fuga ou abandono, interrompem-se os prazos da extinção da
punibilidade na data de sua ocorrência, voltando a contar a partir da data da
recaptura do preso.

17. Os atos de indisciplina são passiveis de quais penalidades?


I - advertência verbal;
II - repreensão;
III - suspensão ou restrição de direitos;
IV - isolamento na própria cela ou em local adequado, nas
Unidades Prisionais que possuem alojamento coletivo;
V - internação em regime disciplinar diferenciado.

18. Qual a diferença entre advertência verbal e repreensão?


Na advertência verbal é punição de caráter educativo, aplicável às infrações
de natureza leve e, se couber, nas de natureza média. Já na repreensão é
sanção disciplinar, revestida de maior rigor no aspecto educativo, aplicável em
casos de infração de natureza média bem como para os reincidentes de
infração de natureza leve.

19. Como se dar o processo de visita?

57
Os presos podem receber visitas de parentes de até 2º grau, do cônjuge ou
do companheiro(a) de comprovado vínculo afetivo, desde que registradas no
rol de visitantes e devidamente autorizadas pela área de segurança e
disciplina.
Não se incluem na restrição os menores de doze anos, desde que
descendentes do preso, nem os membros de entidades religiosas ou
humanitárias, devidamente cadastrados.

20. O que é a visita intima e como ela é realizada?


A visita íntima tem por finalidade fortalecer as relações familiares e deve
ocorrer nos casos de relação amorosa estável e continuada.
Ao preso é facultado receber visita íntima do cônjuge ou companheiro(a),
comprovado o vínculo afetivo

21. O preso pode receber visita intima de menor de 18 anos?


O preso pode receber visita íntima de menor de dezoito anos, quando esta:
I - for legalmente casada com o visitado;
II - seja judicialmente emancipada e haja a demonstração de união estável
com o visitado,
III - nos demais casos, devidamente autorizados pelo juízo competente.

22. Como é realizada a revista?


A revista consiste no exame de pessoas, objetos, bens, valores e veículos,
que adentrem a Unidade Prisional e das áreas habitacionais dos presos, com a
finalidade de localizar objetos ou substâncias não permitidas pela
administração ou que venham a comprometer a segurança e disciplina.
A revista efetua-se por meios manuais ou mecânicos, em pessoas que, na
qualidade de visitantes, servidores, prestadores de serviços, ingressarem nas
Unidades Prisionais e será efetuada por servidor habilitado, do mesmo sexo.
Já a revista íntima corporal, quando necessária, consiste no desnudamento
parcial de presos e de seus visitantes sendo proibida a revista interna, visual ou
tátil do corpo do indivíduo.

PONTO 11
24. Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas para tratamento
de Reclusos, adotadas em 31 de agosto de 1955, pelo Primeiro Congresso
das Nações Unidas para Prevenção do Crime e o Tratamento dos
Delinquentes; e aprovado pelo Conselho Econômico e Social da ONU
através de sua Resolução n.º 35663 CI (XXIV), de 31 de julho de 1957,
aditada pela Resolução n.º 2176 de 13 de maio de 1977.
25. Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil - Resolução nº
14/94 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),
de 11 de novembro de 1994.

1. Segundo as regras mínimas da ONU para tratamento de reclusos, como


deve ser feita a separação dessas pessoas?
A separação deve levar em conta critérios de idade, sexo, antecedentes
penais, razões da detenção e medidas necessárias a aplicar. Ex: mulheres
devem ser mantidas em estabelecimentos diversos dos destinados a homens;

58
preso preventivo deve ser mantido em local diferente dos definitivamente
condenados etc.

2. Qual a previsão de pessoas por cela, segundo tais regras?


Uma pessoa por cela destinada ao descanso notório.

3. Há alguma previsão quanto à higiene das pessoas reclusas?


Sim, as regras preveem que deve ser exigido do recluso que se mantenha
limpo, lhe sendo fornecido o necessário para tanto.

4. Os reclusos têm direito a leito próprio?


Sim, de acordo com a disposição 19 das regras mínimas, todo recluso tem
direito a um leito próprio.

5. Qual a previsão das regras quanto à prática de exercícios?


Há previsão de que todos os reclusos que não efetuam trabalho externo,
devem ter pelo menos uma hora diária de exercício adequado ao ar livre
quando o clima o permita.

6. E quanto aos jovens?


Os jovens devem receber, no período reservado aos exercícios, educação
física e recreativa.

7. Há previsão de médico nos estabelecimentos?


Sim, diz o texto das regras que cada estabelecimento pena deve dispor de
pelo menos um médico qualificado, com alguns conhecimentos em psiquiatria.

8. As reclusas grávidas possuem algum tratamento especial?


Sim. Elas têm direito a instalações especiais, dentro do estabelecimento de
mulheres.

9. E o parto é realizado no local mesmo?


Não, as regras mínimas preveem que devem ser realizados em hospital civil.
Caso o nascimento seja no estabelecimento, no entanto, isso não pode constar
nos registros da criança.

10. Há previsão do princípio da legalidade nas regras mínimas da ONU?


Sim. No período 29, é previsto que devem ser emanados de lei ou
regulamentação da autoridade administrativa competente: as condutas que
constituam infração disciplinar; o tipo e a duração das sanções disciplinares
que podem ser aplicadas e a autoridade competente para aplicar essa
sanções.

11. E quando ao ne bis in idem (dupla punição), há previsão?


Também há previsão (30,1).

12. E a pena de segredo escuro, pode?


Não, as regras rechaçam plenamente (31).

59
13. E quanto às penas de isolamento e redução da alimentação, são
possíveis?
Excepcionalmente, segundo as regras mínimas da ONU, sim, desde que o
médico tenha examinado o recluso e certificado, por escrito, que ele está apto
para suportá-las.

14. As regras mínimas da ONU preveem expressamente o direito à


comunicação com o meio exterior?
Sim (período 37).

15. Essa comunicação engloba o conhecimento de notícias importantes,


acesso a revistas e periódicos?
Sim, desde que controlados e autorizados pela administração (período 39).

16. Pode um recluso ser autorizado a ficar junto de um parente com


doença crítica?
Sim, há essa previsão nas regras mínimas da ONU (44,22).

17. Como deve ser o transporte de um estabelecimento para outro?


a) Devem ser vistos o mínimo possível pelo público, sendo tomadas medidas
apropriadas para proteger os reclusos de insultos, curiosidades ou qualquer
tipo de publicidade; b) deve ser proibido o transporte de reclusos em veículos
com deficiência de ventilação ou iluminação; c) o transporte é realizado às
expensas da Administração.

18. Quando está o funcionário autorizado a usar da força?


Em casos de legítima defesa, tentativa de fuga, ou de resistência física ativa
e passiva a uma ordem baseada na lei ou em regulamentos.

19. Os agentes que executem serviços em contato direto com os reclusos


podem estar armados?
Não, salvo em ocasiões excepcionais. (54, 3)

20. Como deve ser o tratamento das pessoas privadas de liberdade?


O tratamento deve ter por objetivo, na medida que o permitir a duração
da condenação, criar nelas a vontade e as aptidões que as tornem capazes,
após a sua libertação, de viver no respeito da lei e de prover as suas
necessidades. Esse tratamento deve incentivar o respeito por si próprias e
desenvolver o seu sentido de responsabilidade.

21. É prevista a classificação de pessoas provadas de liberdade? Com


que objetivo?
Sim, há essa previsão nas regras mínimas da ONU. As classificações visam
à afastar os reclusos pelo seu passado criminal ou pelas suas tendências
exerceriam uma influência negativa sobre os outros reclusos. Além disso, têm
com objetivo de repartir os reclusos por grupo, tendo em mente facilitar seu
tratamento de reinserção social. (67, a e b)

22. E quanto ao trabalho, o que dispõem as regras mínimas?

60
Dispõem que todos devem trabalhar, de acordo com suas aptidões físicas e
mentais; que tal trabalho não pode ser penoso; deve ser dado trabalho
suficiente de natureza útil de modo a conservar os reclusos ativos durante o dia
normal de trabalho; trabalhos que aumentem a capacidade de os reclusos
ganharem honestamente a vida de pois de liberados; deve ser proporcionado
treino profissional em profissões úteis; os reclusos devem poder escolher o tipo
de trabalho que querem, obedecidas determinadas normas.

23. Os preventivos ficam separados dos já definitivamente condenados?


Sim, as regras mínima da ONU dispõem que os preventivos devem ser
mantidos separados dos reclusos condenados, e que os jovens preventivos
devem ser mantidos separados dos adultos e, em princípio, ficarem em
estabelecimentos distintos dos daqueles.

24. E ele deve trabalhar?


O preventivo não é obrigado a trabalhar. Pode escolher, mas, se trabalhar,
tem de ser remunerado.

25. Como deve ser tratado o preso segundo a resolução 14/94 do


CNPCP?
Deve ser tratado pelo seu nome (art.4°)

26. Quais critérios são previstos para a separação de presos?


Sexo, idade, situação judicial e legal, quantidade de pena a que foi
condenado, regime de execução, natureza da prisão e o tratamento específico
que lhe corresponda, atendendo ao princípio da individualização da pena.

27. Qual o tempo que deve ser destinado para exercícios físicos?
No mínimo, 01 hora diária.

28. Também há menção à legalidade?


Sim, o art. 23 diz que não haverá falta ou sanção disciplinar sem expressa e
anterior previsão legal ou regulamentar.

29. E quanto ao contraditório e a ampla defesa?


Também são previstos (art. 27)

30. Tais regras dizem alguma coisa à respeito da assistência jurídica?


Sim, é previsto que, ao preso pobre, o Estado deve prestar assistência
jurídica gratuita e permanente.

31. Há alguma restrição ao responsável pela vigilância em


estabelecimento destinado a mulheres?
Sim, diz o art. 52 que o responsável pela vigilância e custódia será do sexo
feminino.

61
PONTO 12
26. Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90 e alterações posteriores);
Lei de Drogas (Lei nº 6.368/76 e Lei nº 11.343/06 e alterações posteriores);
e nas Súmulas do STJ e STF, e Súmulas Vinculantes do STF

1. Fale sobre as especificidades previstas na lei dos crimes hediondos,


que incidem na execução da pena.
Há vedação à concessão de anistia, graça e indulto (não há previsão
constitucional acerca da vedação do indulto, o que faz com que parte da
doutrina critique essa previsão legal, uma vez que a CR já teria limitado as
vedações, em rol taxativo, não podendo a lei infraconstitucional ampliá-las).
Previsão do regime inicial fechado (críticas, pois há violação ao princípio
constitucional da individualização da pena – art. 5º, XLVI, CR). Progressão com
lapsos específicos (2/5 – primários; 3/5 – reincidentes). Prazo da prisão
temporária mais dilatado (30 dias) – apesar de não tratar especificamente
sobre execução penal, vale o lembrete.

2. Fale sobre as especificidades previstas na lei de drogas, que incidem


na execução da pena.
O art. 44 da Lei de Drogas veda expressamente, aos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37: fiança, sursis, graça, indulto, anistia, liberdade
provisória (violação à presunção de inocência), conversão em pena restritiva de
direitos (exceto para o tráfico privilegiado – art. 33, § 4º - em razão da
Resolução 5/12 do Senado). O prazo para o livramento condicional, em relação
aos crimes acima elencados, é de 2/3, vedada a concessão ao reincidente
específico.

3. Qual o regime inicial de cumprimento de pena do réu que for


condenado por tráfico de drogas?
Lei 8.072 – prevê que o regime inicial deve ser, obrigatoriamente, o fechado
(art. 2º, §1º).
Plenário do STF: esse § 1º do art. 2º da Lei 8072 é INCONSTITUCIONAL. O
regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (como é
o caso do tráfico de drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado,
podendo também ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que
presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas b e c do CP. (Info STF 672).
STJ: também adota o entendimento do STF. Assim, é possível a fixação de
regime prisional diferente do fechado para início do cumprimento de pena
imposta ao condenado por tráfico de drogas. (Info STJ 507)
Tese institucional da DPRJ (2011) Enunciado nº. 06: A figura do tráfico
privilegiado comporta a fixação do regime aberto para o cumprimento de pena,
considerando que não ostenta natureza de crime equiparado a hediondo.
4. É possível a conversão de pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos no tráfico de drogas?
Sim. O STF declarou incidentalmente a inconstitucionalidade, com efeito ex
nunc, da proibição da substituição da pena privativa de liberdade pela pena
restritiva de direitos, determinando-se ao juízo da execução penal que faça a
avaliação das condições objetivas e subjetivas da convolação em causa, na
concreta situação do paciente (art. 44, caput, parte final).

62
Assim, o fato de o tráfico de drogas ser praticado com o intuito de introduzir
substâncias ilícitas em estabelecimento prisional não impede, por si só, a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, devendo
essa circunstância ser ponderada com requisitos necessários para a
concessão do benefício.
Antes mesmo da manifestação do STF, a DPE-SP já tinha tese institucional
neste sentido. Tese 21.09: Cabe ao defensor público pleitear a substituição da
pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, ao assistido processado
pela prática de algum dos delitos previstos de tráfico ilícito de entorpecentes,
quando presentes os requisitos objetivos e subjetivos necessários para a
concessão desse benefício, em que pese a vedação prevista no artigo 44 da
Lei 11.343/2006.

5. Como se dá o livramento condicional na Lei de Drogas?


Segundo a lei, nos crimes previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 a 37, dar-
se-á o livramento condicional após o cumprimento de 2/3 da pena, vedada sua
concessão ao reincidente específico. Apesar da controvérsia, é possível
defender que as condutas previstas no art. 33, caput e §1º, quando atenuadas
pela incidência do art. 33, §4º, não possuem caráter equiparado a hediondo,
por apresentarem natureza evidentemente menos grave. Assim, o lapso
temporal necessário ao livramento condicional, nessa hipótese, deve ser de 1/3
da pena, por ser o réu primário.

6. O condenado por tráfico de entorpecentes tem direito à progressão de


regime no cumprimento da pena?
Sim, a lei 11.343 apesar de ter trazido diversas restrições aos condenados
pela lei de drogas não veio a trazer impedimento quanto à progressão de
regime. Nesse caso, tratando-se de delitos equiparado a hediondo aplicam-se
aos mesmos a lei dos crimes hediondos que prevê que a progressão de regime
é possível para o primário após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, e
se reincidente após o cumprimento de 3/5 (três quintos).

7. O exame de dependência toxicológica do agente é necessário em todo


o processo de tóxicos? Quando deve ser realizado? Pode ser realizado
em traficante?
O exame de dependência toxicológica não é obrigatório no rito de drogas,
ele só deve ser realizado quando houver elementos que indiquem que o agente
cometeu o delito em face da dependência das drogas, posto que a própria lei
prevê como excludente de culpabilidade ou causa de redução de pena (art. 45
e 46) o cometimento de crime quando em face da dependência o agente não
tinha a plena capacidade de entender o caráter ilícito do crime e de agir
conforme esse entendimento.
Em face disso, não importa se o agente cometeu o crime de tráfico ou de
posse para consumo próprio, o referido exame, desde que haja elementos que
indiquem a necessidade do exame, pode ser realizado tanto no usuário quanto
no traficante.
Destaque-se que a jurisprudência já decidiu que o juiz pode indeferir a
realização do exame desde que de forma motivada (STF-HC89766 e STJ
HC11976)

63
8. A concessão do benefício da saída temporária pode ser delegada à
Autoridade Administrativa do estabelecimento prisional?
Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução
penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa
do estabelecimento prisional. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe
6/4/2015.

O que é a saída temporária?

Saída temporária é...


- uma autorização concedida pelo juiz da execução penal
- aos condenados que cumprem pena em regime semiaberto
- por meio da qual ganham o direito de saírem temporariamente do
estabelecimento prisional
- sem vigilância direta (sem guardas acompanhando/sem escolta)
- com o intuito de:
a)visitarem a família;
b)frequentarem curso supletivo profissionalizante, de ensino médio ou
superior; ou
c)participarem de outras atividades que ajudem para o seu retorno ao
convívio social.

Obs: o juiz pode determinar que, durante a saída temporária, o condenado


fique utilizando um equipamento de monitoração eletrônica (tornozeleira
eletrônica).

Obs2: os presos provisórios que já foram condenados (ainda sem trânsito


em julgado) e estão cumprindo a pena no regime semiaberto podem ter direito
ao benefício da saída temporária, desde que preencham os requisitos legais
que veremos abaixo.

Previsão

A saída temporária encontra-se disciplinada nos arts. 122 a 125 da Lei n.
7.210/84 (LEP).

Quem concede a saída temporária?

A autorização para saída temporária será concedida por ato motivado


do Juiz da execução, devendo este ouvir antes o Ministério Público e a
administração penitenciária que irão dizer se concordam ou não como o
benefício.

Requisitos

A concessão da saída temporária dependerá da satisfação dos


seguintes requisitos (art. 123 da LEP):

I - comportamento adequado do reeducando;

64
É chamado de requisito subjetivo. Normalmente isso é provado por
meio da certidão carcerária fornecida pela administração penitenciária.

II - cumprimento mínimo de 1/6 da pena (se for primário) e 1/4 (se reincidente).
Trata-se do requisito objetivo.
Deve-se lembrar que o apenado só terá direito à saída temporária se
estiver no regime semiaberto. No entanto, a jurisprudência permite que, se ele
começou a cumprir a pena no regime fechado e depois progrediu para o
semiaberto, aproveite o tempo que esteve no regime fechado para preencher
esse requisito de 1/6 ou 1/4. Em outras palavras, ele não precisa ter 1/6 ou 1/4
da pena no regime semiaberto. Poderá se valer do tempo que cumpriu no
regime fechado para preencher o requisito objetivo.

Com outras palavras, foi isso o que o STJ quis dizer ao editar a Súmula
40: “Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo,
considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado.”

III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

Ressalte-se que o simples fato de o condenado que cumpria pena no


regime fechado ter ido para o regime semiaberto não significa que,
automaticamente, ele terá direito ao benefício da saída temporária. Isso
porque o juiz deverá analisar se ele preenche os demais requisitos do art. 123
da LEP (STJ. 6ª Turma. RHC 49.812/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 06/11/2014).

Quantidade de saídas por ano e tempo de duração

Regras gerais:

 Cada preso terá o máximo de 5 saídas temporárias por ano (1 mais 4


renovações).

 Cada saída temporária tem duração máxima de 7 dias. Em outras


palavras, o preso receberá a autorização para ficar 7 dias fora do
estabelecimento prisional.

 Entre uma saída temporária e outra deve haver um intervalo mínimo de 45


dias.

Peculiaridade: no caso da saída temporária para estudo, o prazo da saída


temporária será igual ao necessário para as atividades discentes (ex: pode ser
autorizada a saída temporária todos os dias).

Recomendo ler o art. 124 porque as vezes ele é cobrado literalmente nas
provas:

Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete)
dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano.

65
(...)

§ 2º Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução de


ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o
cumprimento das atividades discentes.

§ 3º Nos demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser


concedidas com prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias de intervalo entre
uma e outra.

Prazo máximo de 35 dias divididos em menos tempo. com mais saídas por
ano:

Vimos acima que, como regra, por ano, o apenado tem direito a 5 saídas
temporárias, cada uma de, no máximo, 7 dias. Isso significa que, somando
todas as 5, a pessoa tem direito a, no máximo, 35 dias de saída temporária
por ano.

Diante disso, surgiu a seguinte dúvida: seria possível que o condenado


tivesse mais que 7 saídas por ano, se fosse respeitado o prazo máximo de 35
dias por ano? A jurisprudência entendeu que sim.

Para o STJ, podem ser concedidas mais que 5 saídas temporárias ao longo
do ano, desde que seja respeitado o prazo máximo de 35 dias por ano (AgRg
no REsp 1406883/RJ, julgado em 18/12/2014).

Ex: o juiz pode autorizar que o condenado saia 7 vezes por ano, desde
que em cada uma dessas saídas ele só fique até 5 dias fora, com o objetivo
de não extrapolar o limite anual de 35 dias por ano.

Condições

Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as


seguintes condições legais (obrigatórias): I – o condenado deverá fornecer o
endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado
durante o gozo do benefício;
II – o condenado deverá se comprometer à ficar recolhido na residência
visitada, no período noturno; III – o condenado não poderá frequentar bares,
casas noturnas e estabelecimentos congêneres.

Além dessas, o juiz pode fixar outras condições que entender


compatíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do
condenado. Nesse caso, chamamos de condições judiciais (ou facultativas).

Revogação

O benefício da saída temporária será automaticamente revogado quando o


condenado:

1. praticar fato definido como crime doloso (não se exige condenação; basta a

66
notícia);

2. for punido por falta grave (aqui se exige que o condenado tenha recebido
punição disciplinar);

3. desatender as condições impostas na autorização; ou

4. revelar baixo grau de aproveitamento do curso.

Recuperação do direito após ter sido revogado:

Se o benefício for revogado por uma das causas acima listadas, o


condenado só poderá recuperar o direito à saída temporária se:

a) for absolvido no processo penal (hipótese 1);

b) for cancelada a punição disciplinar imposta (hipótese 2); ou


c) se ficar demonstrado seu merecimento a novo benefício (hipóteses 3 e 4).

Saída temporária automatizada:

Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária


deve ser formulado um pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a
administração penitenciária, e após decide.

Em algumas partes do Brasil, no entanto, os juízes da execução penal


adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas
temporárias.

Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o


juiz ouve o MP e o diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os
requisitos, concede o benefício (segue, portanto, todo o rito previsto na LEP).
Após o juiz conceder a saída temporária para o apenado nesta primeira vez,
as novas saídas temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão
ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas automaticamente pela
direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do condenado
permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento
adequado no cumprimento da pena. Se cometer falta grave, por exemplo, é
revogado o benefício.

A esse procedimento simplificado deu-se o nome de saída temporária


automatizada.

Alguns Ministérios Públicos pelo país têm se insurgido contra este


procedimento e interposto recursos que chegam aos Tribunais Superiores.
Segundo argumenta o Parquet, ao adotar essa saída temporária
automatizada, o juiz da execução penal está transferindo (delegando) para a
autoridade administrativa do estabelecimento prisional a decisão de conceder
ou não a saída temporária, o que viola frontalmente o art. 123 da LEP (“Art.
123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução...”).

67
A pergunta, portanto, é a seguinte: o juiz pode transferir para o diretor do
estabelecimento prisional a decisão de conceder ou não a saída
temporária? A chamada saída temporária automatizada é legítima?

NÃO. A autorização das saídas temporárias é ato jurisdicional da


competência do Juízo das Execuções Penais, que deve ser motivada com a
demonstração da conveniência de cada medida.

Desse modo, não é possível delegar ao administrador do presídio a


fiscalização sobre diversas saídas temporárias, autorizadas em única decisão,
por se tratar de atribuição exclusiva do magistrado das execuções penais,
sujeita à ação fiscalizadora do Parquet.

Assim, não é legítima a prática de se permitir saídas temporárias


automatizadas. Para cada pedido de saída temporária deverá haver uma
decisão motivada do Juízo da Execução, com intervenção do Ministério
Público. STJ. 3ª Seção. REsp 1166251/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
14/03/2012 (recurso repetitivo) (Info 493).

Em suma:

Para o STJ, o benefício de saída temporária no âmbito da execução


penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa
do estabelecimento prisional (Súmula 520).

Ressalva:

O STF possui um julgado antigo, da 1ª Turma, afirmando que a saída


temporária automatizada seria legítima. Trata-se do HC 98067, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 06/04/2010.

Essa foi a última manifestação do STF sobre o tema.

Desse modo, a posição do STJ acima explicada e exposta na súmula é o


entendimento atual, que deve ser seguido como majoritário, tanto na prática
forense como em concursos públicos. Nesse sentido a banca do CESPE
adotou o entendimento do STJ no concurso para Juiz de Direito do TJ/ES
(2012):

“A autorização para a saída temporária deve ser concedida por ato


motivado do juízo das execuções, que pode delegar a fiscalização das saídas
ao administrador do presídio.” (alternativa ERRADA)

9. Exige-se o trânsito em julgado da condenação para o reconhecimento


de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime
doloso?
Súmula 526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do
cometimento de fato definido como crime doloso no cumprimento da
pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória

68
no processo penal instaurado para apuração do fato.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.


DISCIPLINA

O condenado que está cumprindo pena, bem como o preso provisório,


possuem o dever de cumprir determinadas normas disciplinares.

A LEP trata sobre o tema nos arts. 44 a 60.

Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às


determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do
trabalho.

Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o condenado à pena privativa de


liberdade ou restritiva de direitos e o preso provisório.

Essas normas disciplinares deverão ser explicadas ao réu ou condenado tão


logo ele seja preso ou inicie o cumprimento da pena:

Art. 46. O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da


prisão, será cientificado das normas disciplinares.

FALTAS DISCIPLINARES

Caso o indivíduo descumpra alguma das normas de disciplina impostas,


dizemos que ele praticou uma falta disciplinar.

As faltas disciplinares classificam-se em: leves, médias e graves.

- Faltas leves e médias: são definidas pela legislação local (estadual), que
deverá prever ainda as punições aplicáveis.

- Faltas graves: estão previstas nos arts. 50 a 52 da LEP.

Vale lembrar que a competência para legislar sobre direito penitenciário é


concorrente, conforme determina o art. 24, I, da CF/88.

SANÇÕES DISCIPLINARES

Se ficar realmente comprovado que o reeducando praticou uma falta, ele


receberá uma sanção disciplinar. Como vimos, no caso de faltas leves e
médias, as sanções disciplinares devem ser definidas pela lei estadual. Na
hipótese de faltas graves, a própria LEP é quem as prevê.

FALTA GRAVE
A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) prevê as situações que configuram
falta grave.

As situações de falta grave irão variar conforme o condenado esteja

69
cumprindo pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.

Hipóteses de falta grave para réus que estejam cumprindo pena privativa
de liberdade: estão previstas no art. 50 da LEP;

Hipóteses de falta grave para réus que estejam cumprindo pena restritiva
de direitos: estão elencadas no art. 51 da LEP.

Hipótese de falta grave aplicável tanto para réus que estejam cumprindo
pena privativa de liberdade como para condenados a pena restritiva de
direitos: prática de crime doloso (art. 52, caput, 1ª parte).

Para que seja aplicada a sanção disciplinar por falta grave, exige-se a
realização de processo administrativo disciplinar?

SIM. A aplicação das sanções disciplinares somente poderá ocorrer após ter
sido instaurado procedimento administrativo disciplinar. Isso está previsto
expressamente na LEP:

Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento


para sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.

Parágrafo único. A decisão será motivada.

Vale ressaltar, ainda, que nesse procedimento administrativo, o apenado


deverá ser assistido por advogado ou Defensor Público:

(...) Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da


execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito
de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público
nomeado. (...)

STJ. 3ª Seção. REsp 1378557/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 23/10/2013 (recurso repetitivo).

A Súmula Vinculante nº 5-STF, a qual dispõe que “A falta de defesa técnica


por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”, NÃO se aplica à execução penal (STF. 2ª Turma. RE

398269, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2009).

Se o Estado demorar muito tempo para punir o condenado que praticou


uma falta disciplinar, poderá haver a prescrição? Existe prescrição de
infrações disciplinares?

SIM. Existe prescrição de infrações disciplinares.

E qual é o prazo?

Não existe lei federal prevendo prazo prescricional. Por essa razão, a

70
jurisprudência aplica, por analogia, o menor prazo prescricional existente no
Código Penal, qual seja, o de 3 anos, previsto no art. 109, VI, do CP. (...)
Diante da inexistência de legislação específica quanto ao prazo de prescrição
para a aplicação de sanção disciplinar, deve-se utilizar o disposto no art. 109
do Código Penal, levando-se em consideração o menor lapso prescricional
previsto (...)

STJ. 5ª Turma. RHC 37.428/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/02/2014.

Assim, se entre o dia da infração disciplinar e a data de sua apreciação tiver


transcorrido prazo superior a 3 anos, a prescrição restará configurada.

PRÁTICA DE FATO PREVISTO COMO CRIME DOLOSO

Como vimos no tópico anterior, a LEP prevê uma hipótese que constitui falta
grave tanto para condenados que estejam cumprindo pena privativa de
liberdade como para os que estejam cumprindo pena restritiva de direitos.
Trata-se da prática de crime doloso, situação trazida pelo art. 52, caput, 1ª
parte da LEP. Veja:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave (...)

Obs.1: a prática de crime culposo não configura falta grave (ok, eu sei que é
óbvio, mas eu precisava dizer). Obs.2: a prática de delito preterdoloso é
considerada crime doloso para fins de falta grave.

Obs.3: a doutrina afirma que a tentativa da prática de crime doloso também


configura falta grave em virtude do que dispõe o art. 49, parágrafo único, da
LEP (“Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada”).
Assim, o apenado que tenta praticar crime doloso incorre em falta grave.

Para que o reeducando seja punido administrativamente com a sanção


disciplinar da falta grave, é necessário que, antes disso, ele já tenha
sido condenado judicialmente pela prática do crime doloso? Em outras
palavras, para que se puna administrativamente a falta grave, exige-se
prévia sentença judicial condenatória?

NÃO. Para que o reeducando seja punido administrativamente com a sanção


disciplinar da falta grave NÃO é necessário que, antes disso, ele seja
condenado judicialmente pela prática do crime doloso.

Esse é o entendimento consolidado no STJ:


(...) O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato
definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em
julgado de sentença penal condenatória no processo penal instaurado para
apuração do fato. (...)

(STJ. 3ª Seção. REsp 1336561/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Thereza de


Assis Moura, julgado em 25/09/2013. Recurso repetitivo)
Os três principais argumentos para sustentar esse entendimento são os

71
seguintes:

1) Para configurar falta grave, o art. 52 da LEP não exige a condenação por
crime doloso. O referido artigo menciona que a prática de fato previsto
como crime doloso já representa falta grave.

2) Caso fosse necessário aguardar a condenação do réu com trânsito em


julgado, a previsão do art. 52 seria inócua, na prática uma vez que um
processo penal, para transitar em julgado, demora, em regra, anos,
havendo assim possibilidade concreta de o réu terminar o cumprimento da
pena anterior sem que tivesse sido julgado o novo delito cometido.

3) O procedimento administrativo de apuração e punição pela falta grave


decorrente da prática de crime doloso deve respeitar a ampla defesa e o
contraditório, de forma que não há prejuízo ao apenado.

Com o intuito de divulgar ainda mais esse entendimento, tornando-o mais


difundido e seguido pelos juízes e Tribunais, o STJ resolveu editar um
enunciado espelhando tal conclusão:

Súmula 526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do


cometimento de fato definido como crime doloso no cumprimento da pena
prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo
penal instaurado para apuração do fato.

10. Consoante entendimento do STJ, como deve se dá a contagem do


tempo de cumprimento da medida de segurança?
Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não
deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao
delito praticado.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

Conceito e natureza jurídica

Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou


uma infração penal. Existem duas espécies de sanção penal:

- pena;
- medida de segurança.

“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade


exclusivamente preventiva, e de caráter terapêutico, destinada a tratar
inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com o escopo
de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito
Penal esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 815).

Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma


conduta típica e ilícita, mas, no tempo do fato, ele era totalmente incapaz
(inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de entender o caráter

72
ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em
razão disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma
medida de segurança (AVENA, Norberto. Execução penal esquematizado.
São Paulo: Método, p. 363).

Qual é o procedimento necessário para se constatar a necessidade ou


não de aplicação da medida de segurança?

Se houver séria dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz


determina a instauração de um incidente de insanidade mental.

O réu será submetido a um exame médico-legal que irá diagnosticar se ele,


ao tempo da ação ou da omissão criminosa, tinha capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Quais as conclusões que o juiz pode chegar com o incidente de


insanidade?

Após o incidente e com base nas conclusões do médico perito, o juiz poderá
concluir que o réu é...

imputável: nesse caso, ele será julgado normalmente e poderá ser
condenado a uma pena;

inimputável: se ficar provado que o agente é inimputável, ou seja, que por
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado ele
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento, ele ficará isento de pena (art. 26 do CP) e poderá ou não
receber uma medida de segurança, a depender de existirem ou não
provas de que praticou fato típico e ilícito;

4) semi-imputável: se ficar provado que, em virtude de perturbação de saúde


mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o agente
não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento, ele poderá: 1) ser
condenado, mas sua pena será reduzida de 1/3 a 2/3, nos termos do
parágrafo único do art. 26 do CP; OU 2) receber medida de segurança, se
ficar comprovado que necessita de especial tratamento curativo (art. 98 do
CP).

Critério para escolha da internação ou tratamento ambulatorial

O caput do art. 97 do CP determinou o seguinte critério para guiar o juiz no


momento de fixar a medida de segurança cabível:

 Se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá,


obrigatoriamente, a medida de internação.

 Por outro lado, se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz,
com base na periculosidade do agente, poderá submetê-lo à medida de

73
internação ou tratamento ambulatorial.

Obs: esse critério é alvo de críticas da doutrina e da jurisprudência e você


encontrará julgados abrandando o rigor e concedendo tratamento
ambulatorial para pessoas que praticaram fatos punidos com reclusão. No
entanto, em provas, o mais comum é ser cobrada a redação do art. 97 do CP.

Prazo de duração da medida de segurança

O Código Penal afirma que a medida de segurança será aplicada por tempo
indeterminado e que deverá ser mantida enquanto o indivíduo for considerado
perigoso:

Art. 97 (...)

§ 1º A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado,


perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três)
anos.

Desse modo, pela redação literal do CP, a medida de segurança poderia durar
por toda a vida do individuo já que, enquanto não ficasse provado que cessou
a periculosidade, ele ainda teria que permanecer internado ou em tratamento
ambulatorial.

Essa leitura do § 1º do art. 97 do CP é compatível com a CF/88? O prazo


de cumprimento da medida de segurança é ilimitado?

NÃO. O prazo de cumprimento da medida de segurança não pode ser


ilimitado. Isso porque, conforme vimos acima, a medida de segurança é uma
espécie de sanção penal e a CF/88 afirmou expressamente que, em nosso
ordenamento jurídico não pode haver “penas de caráter perpétuo” (art. 5º,
XLVII). Quando a Constituição fala em “penas de caráter perpétuo”, deve-se
interpretar a expressão em sentido amplo, ou seja, são proibidas sanções
penais de caráter perpétuo, incluindo, portanto, tanto as penas como as
medidas de segurança.

APROFUNDANDO O TEMA

(Para fins de concurso, o que foi explicado acima é suficiente. O que será
explicado a seguir é uma discussão não consolidada ainda)

Imagine que determinado agente está cumprindo medida de segurança e


se atingiu o máximo do tempo permitido para cumprimento (30 anos,
para o STF; máximo da pena, para o STJ). A perícia médica, contudo,
indica que o agente continua com alto grau de periculosidade. O juiz,
mesmo assim, terá que desinterná-lo. Existe alguma medida que poderá
ser proposta pelo Ministério Público no caso?

SIM. Neste caso, o Ministério Público ou os próprios familiares do agente

74
poderão propor ação civil de interdição em face desse agente, cumulada com
pedido de internação psiquiátrica compulsória.

Em outras palavras, o MP pedirá ao Poder Judiciário que decrete a interdição


civil do agente em virtude de ele sofrer de doença mental grave (art. 1.767 c/c
art. 1.769, I, do CC). Nesta ação, o Parquet, além de pedir a interdição,
postulará também que o doente fique internado compulsoriamente, com base
no art. 6º da Lei nº 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos
das pessoas portadoras de transtornos mentais. Veja o que diz o dispositivo:
Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo
médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação


psiquiátrica: I — internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento
do usuário;

II — internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do


usuário e a pedido de terceiro; e III — internação compulsória: aquela
determinada pela Justiça.

Também poderá ser mencionado o art. 1.777 do CC-2002:

Art. 1.777. Os interditos referidos nos incisos I, III e IV do art. 1.767 serão
recolhidos em estabelecimentos adequados, quando não se adaptarem ao
convívio doméstico.

Existem precedentes neste sentido?

Em parte. Existem precedentes do STJ afirmando que é possível determinar,


no âmbito de ação de interdição, a internação compulsória de quem tenha
acabado de cumprir medida socioeducativa de internação, desde que
comprovado o preenchimento dos requisitos para a aplicação da medida
mediante laudo médico circunstanciado, diante da efetiva demonstração da
insuficiência dos recursos extra-hospitalares. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma.
HC 135.271-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17/12/2013 (Info 533);
STJ. 4ª Turma. HC 169.172-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/12/2013 (Info 533).

Veja trecho das ementas:

(...) É admitida, com fundamento na Lei 10.216/01, em processo de interdição,


da competência do Juízo Cível, a determinação judicial da internação
psiquiátrica compulsória do enfermo mental perigoso à convivência social,
assim reconhecido por laudo técnico pericial, que conclui pela necessidade da
internação. Legalidade da internação psiquiátrica compulsória. Observância
da Lei Federal n. 10.216/01 e do Decreto Estadual n. 53.427/0.8, relativo à
aludida internação em Unidade Experimental de Saúde.

2.- A anterior submissão a medida sócio-educativa restritiva da liberdade,


devido ao cometimento de infração, correspondente a tipo penal, não obsta a

75
determinação da internação psiquiátrica compulsória após o cumprimento da
medida sócio-educativa. Homicídios cometidos com perversidade de
agressão e afogamento em poça d'água contra duas crianças, uma menina de
8 anos e seu irmão, de 5 anos, para acobertar ataque sexual contra elas.

3.- Laudos que apontam o paciente como portador de transtorno de


personalidade antissocial - TPAS (dissocial - CID. F60.2): "Denota
agressividade latente e manifesta, pouca capacidade para tolerar
contrariedade e/ou frustrações, colocando suas necessidades e desejos
imediatos pessoais acima das normas, regras e da coletividade, descaso aos
valores éticos, morais , sociais ou valorização da vida humana, incapacidade
de sentir e demonstrar culpa ou arrependimento. Características compatíveis
com transtorno de personalidade sociopática aliada à limitação intelectual,
podendo apresentar, a qualquer momento, reações anormais com
consequências gravíssimas na mesma magnitude dos atos infracionais
praticados, sendo indicado tratamento psiquiátrico e psicológico em medida
de contenção". (...)

(STJ. 3ª Turma. HC 135.271/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em


17/12/2013)

(...) 7. A internação compulsória em sede de ação de interdição, como é o


caso dos autos, não tem caráter penal, não devendo ser comparada à medida
de segurança ou à medida socioeducativa à que esteve submetido no
passado o paciente em face do cometimento de atos infracionais análogos a
homicídio e estupro. Não se ambiciona nos presentes autos aplicar sanção ao
ora paciente, seja na espécie de pena, seja na forma de medida de
segurança. Por meio da interdição civil com internação compulsória
resguarda-se a vida do próprio interditando e, secundariamente, a segurança
da sociedade. (...)

(STJ. 4ª Turma. HC 169.172/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em


10/12/2013)

Apesar de esses precedentes tratarem sobre internação compulsória de quem


acabou de cumprir medida socioeducativa, o raciocínio pode ser também
aplicado para aquele que atingiu o máximo previsto na medida de segurança.

11. Para o reconhecimento do cometimento de falta grave exige-se a


instauração de procedimento administrativo no âmbito do
estabelecimento prisional?
Súmula 533-STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar
no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de
procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído
ou defensor público nomeado.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

76
DISCIPLINA

O condenado que está cumprindo pena, bem como o preso provisório,


possuem o dever de cumprir determinadas normas disciplinares.

A LEP trata sobre o tema nos arts. 44 a 60.


Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às
determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho.

Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o condenado à pena privativa de


liberdade ou restritiva de direitos e o preso provisório.
Essas normas disciplinares deverão ser explicadas ao réu ou
condenado tão logo ele seja preso ou inicie o cumprimento da pena:

Art. 46. O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da


prisão, será cientificado das normas disciplinares.

FALTAS DISCIPLINARES

Caso o indivíduo descumpra alguma das normas de disciplina impostas,


dizemos que ele praticou uma falta disciplinar.
As faltas disciplinares classificam-se em: leves, médias e graves.

- Faltas leves e médias: são definidas pela legislação local (estadual), que
deverá prever ainda as punições aplicáveis.

- Faltas graves: estão previstas nos arts. 50 a 52 da LEP.


Vale lembrar que a competência para legislar sobre direito penitenciário é
concorrente, conforme determina o art. 24, I, da CF/88.

SANÇÕES DISCIPLINARES

Se ficar realmente comprovado que o reeducando praticou uma falta,


ele receberá uma sanção disciplinar. Como vimos, no caso de faltas leves e
médias, as sanções disciplinares devem ser definidas pela lei estadual. Na
hipótese de faltas graves, a própria LEP é que as prevê.

Para que seja aplicada a sanção disciplinar, exige-se a realização de


processo administrativo disciplinar?

SIM. A aplicação das sanções disciplinares somente poderá ocorrer


após ter sido instaurado procedimento administrativo disciplinar. Isso está
previsto expressamente na LEP:
Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento
para sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.

Parágrafo único. A decisão será motivada.

Quem instaura e conduz esse procedimento?

77
O diretor do estabelecimento prisional.

O “processo” de apuração da falta disciplinar (investigação e


subsunção), assim como a aplicação da respectiva punição, é realizado dentro
da unidade penitenciária, cuja responsabilidade é do seu diretor.

É o diretor do estabelecimento prisional quem aplica as sanções


disciplinares?

Em regra sim.

Se a sanção disciplinar for leve ou média: quem aplicará a sanção
disciplinar será sempre o diretor do estabelecimento.

Se a sanção disciplinar for grave: o diretor deverá comunicar o juiz da
execução penal para que este aplique determinadas sanções que o
legislador quis que ficassem a cargo do magistrado.

Quais sanções são essas que somente podem ser aplicadas pelo juiz da
execução?

Elas estão previstas no parágrafo único do art. 48:

Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da


execução para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e
2º desta Lei.

5) Regressão de regime (art. 118, I);


6) Perda (revogação) do direito à saída temporária (art. 125);

7) Perda de dias remidos pelo trabalho (art. 127);


8) Conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181,
§§ 1º, “d” e 2º).

Antes de representar ao juiz, o diretor do presídio deve apurar a conduta


do detento, identificá-la como falta leve, média ou grave, aplicar as medidas
sancionatórias que lhe compete, no exercício de seu poder disciplinar, e,
somente após esse procedimento, quando ficar constatada a prática de falta
disciplinar de natureza grave, comunicar ao juiz da Vara de Execuções Penais
para que decida a respeito das referidas sanções de sua competência, sem
prejuízo daquelas já aplicadas pela autoridade administrativa (Min. Marco
Aurélio Bellizze).

No procedimento administrativo instaurado para apurar a sanção


disciplinar, o preso investigado terá que ser assistido por advogado ou
Defensor Público?

SIM. O direito de defesa do preso abrange não só a autodefesa, mas


também a defesa técnica, a ser realizada por profissional devidamente inscrito
nos quadros da OAB ou Defensor Público.

78
Vale ressaltar, ainda, que nesse procedimento administrativo, o
apenado deverá ser assistido por advogado ou Defensor Público:

(...) Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da


execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito
de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público
nomeado. (...)

STJ. 3ª Seção. REsp 1378557/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
23/10/2013 (recurso repetitivo).

Mas a SV 5-STF afirma que não é necessário advogado em processo


administrativo disciplinar...

A Súmula Vinculante nº 5-STF diz o seguinte: “A falta de defesa técnica


por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”.

Ocorre que o STF entende que essa SV NÃO se aplica à execução


penal. Ela é aplicável apenas em procedimentos de natureza não-criminal.
Em procedimento administrativo disciplinar instaurado para apurar o
cometimento de falta grave por réu condenado, tendo em vista estar em jogo a
liberdade de ir e vir, deve ser observado amplamente o princípio do
contraditório, com a presença de advogado constituído ou defensor público
nomeado, devendo ser-lhe apresentada defesa, em observância às regras
específicas contidas na LEP (STF. 2ª Turma. RE 398.269, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 15/12/2009).

12. A prática de falta grave interrompe o prazo para progressão de


regime?
Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do
prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se
reinicia a partir do cometimento dessa infração.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

Falta grave
A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) prevê as situações que
configuram falta grave.

As situações de falta grave irão variar conforme o condenado esteja


cumprindo pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.

- Hipóteses de falta grave para réus que estejam cumprindo pena privativa
de liberdade: estão previstas no art. 50 da LEP;

- Hipóteses de falta grave para réus que estejam cumprindo pena restritiva
de direitos: estão elencadas no art. 51 da LEP.

79
- Hipótese de falta grave aplicável tanto para réus que estejam cumprindo
pena privativa de liberdade como para condenados a pena restritiva de
direitos: prática de crime doloso (art. 52, caput, 1ª parte).

Hipóteses de falta grave para condenado que esteja cumprindo pena


privativa de liberdade

A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) prevê um rol de situações


que configuram falta grave do condenado que esteja cumprindo pena privativa
de liberdade.

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

I — incitar ou participar de movimento para subverter a


ordem ou a disciplina; II — fugir;

III — possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a


integridade física de outrem; IV — provocar acidente de trabalho;

V — descumprir, no regime aberto, as condições impostas;


VI — inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei;

VII — tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou


similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso


provisório.

Além dessas situações acima, a LEP prevê uma hipótese que constitui
falta grave tanto para condenados que estejam cumprindo pena privativa de
liberdade como para os que estejam cumprindo pena restritiva de direitos.
Trata-se da prática de crime doloso, situação trazida pelo art. 52, caput, 1ª
parte da LEP. Veja:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave (...)

Falta grave acarreta a interrupção da contagem do tempo para a


progressão

Se o condenado comete falta grave, há a interrupção da contagem do


tempo para a concessão da progressão de regime. Em outras palavras, a
contagem do requisito objetivo é zerada e deve reiniciar-se. Para a
jurisprudência do STJ, se assim não fosse, ao custodiado em regime fechado
que comete falta grave não se aplicaria sanção em decorrência dessa falta, o
que seria um estímulo ao cometimento de infrações no decorrer da execução.

Vejamos o seguinte exemplo:

80
“A” foi condenado a 6 anos por roubo (roubo não é
hediondo, salvo o latrocínio). “A” começou a cumprir a
pena em 01/01/2010 no regime fechado.

Para progredir ao regime semiaberto, “A” precisa cumprir 1/6 da pena (1 ano) e
ter bom comportamento carcerário.

“A” completaria 1/6 da pena em 31/12/2010.

Ocorre que, em 30/11/2010, “A” fugiu, tendo sido recapturado em 15/12/2010.

A fuga é considerada falta grave do condenado (art. 50, II, da LEP).

Como “A” praticou falta grave, seu período de tempo para obter a progressão
de regime irá reiniciar do zero.

O prazo se reinicia a partir do cometimento da infração disciplinar. No caso de


fuga, a contagem do tempo é recomeçada a partir do dia da recaptura. Isso
porque enquanto o reeducando está foragido, ele continua praticando a falta
grave. É como se fosse um estado de permanente falta grave. Assim, o prazo
para a progressão só irá recomeçar quando ele for novamente preso.

Logo, para que “A” obtenha o direito à progressão, precisará cumprir 1/6 do
restante da pena período contado a partir de 15/12/2010.

Até o dia da fuga, “A” cumpriu 11 meses. Restam ainda 5 anos e 1 mês de
pena. Desse período, “A” terá que cumprir 1/6. Conta-se esse 1/6 do dia da
recaptura (15/12/2010).

Dessa feita, “A” atingirá 1/6 em 19/10/2011.

Em suma, o cometimento de falta grave pelo apenado implica o reinício da


contagem do prazo para obter os benefícios relativos à execução da pena,
inclusive para a progressão de regime prisional.

13. E no tocante à comutação de pena e indulto, influencia?


Súmula 535-STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para
fim de comutação de pena ou indulto. STJ. 3ª Seção. Aprovada em
10/06/2015, Dje 15/06/2015.

Anistia, graça e indulto


Vamos fazer uma breve revisão de anistia, graça e indulto:

São formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir.

Classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II CP).

A anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no
primeiro caso) ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos); no entanto,
somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial.

81

Podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.
ANISTIA GRAÇA INDULTO
(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido
pelo Concedidos por Decreto do Presidente da República.
Congresso Nacional, com a
sanção do
Presidente da República (art.
48, VIII, Apagam o efeito executório da condenação.
CF) por meio do qual se
“perdoa” a
prática de um fato
criminoso. A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
Normalmente sobr
incide e crimes  Procurador Geral da República
político  Advogado Geral da
s, mas também pode União.
abranger outras espécies de
delito.  Ministros de Estado
É concedida por meio de uma
lei Concedidos por meio de um Decreto.
federal
ordinária.
Pode ser Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios
concedida: só podem
do ser concedidos após o trânsito em julgado da
 antes trânsito em julgado condenação. Esse
(anistia entendimento, no entanto, está cada dia mais
própria) superado,
Depo do considerando que o indulto natalino, por exemplo,
 is trânsito em julgado permite que
(anistia seja concedido o benefício desde que tenha havido o
imprópria) trânsito em
julgado para a acusação ou quando o MP recorreu, mas
não para
agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto
7.873/2012).
Classificação: Classificação
Propriament
a) e dita: quando a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida antes da b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a
condenação. pena
Impropriamen
b) te dita: quando (comutação).
concedida após a
condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer
condição.
b) Condicionado: quando impõe condição para sua
a) Irrestrita: quando atinge concessão.

82
indistintamente todos os
autores
do fato
punível. Restrit exige pessoais do agente. Ex:
b) Restrita: quando exige a) o: condições exige
condição primariedade.
pessoal do autor do fato b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do
punível. agente.
Ex: exige
primariedade.
a) Incondicionada: não se
exige
condição para a sua
concessão.
exige-
b) Condicionada: se
condição para a sua
concessão. Ex:
reparação do
dano.
a) Comum: atinge crimes
comuns.
b)Especial: atinge crimes
políticos.
Extingu
e os efeitos penais Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).
(principais e secundários) do
crime.
Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza
Os efeitos de natureza civil civil
permanecem
íntegros. permanecem íntegros.
O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
O réu condenado que foi indulto, se
anistiado, se cometer novo
crime cometer novo crime será reincidente.
não será
reincidente.
É um benefício coletivo que, É um benefício individual É um benefício coletivo
por (com (sem
referir-se somente a fatos,
atinge destinatário certo). destinatário certo).
É concedido de ofício
apenas os que o cometeram. Depende de pedido do (não
sentenciado. depende de provocação).
Indulto natalino

É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no


final de todos os anos, concedendo indulto. Esse Decreto é conhecido como
“indulto natalino”.

83
Indulto e comutação de pena

Desse modo, o indulto é um benefício concedido por Decreto do


Presidente da República por meio do qual os efeitos executórios da
condenação são apagados (deixam de existir).

Comutação é o mesmo que indulto parcial, ou seja, ocorre quando o


Presidente da República, em vez de extinguir os efeitos executórios da
condenação, decide apenas diminuir a pena imposta ou substitui-la por outra
mais branda.

Assim, temos:

9)Indulto pleno: quando extingue totalmente a pena.

10) Indulto parcial: quando somente diminui ou substitui a pena. Neste caso,
é chamado de comutação.

A fata grave interfere, em regra, na concessão de indulto ou comutação


de pena?

NÃO. Em regra, não.

O cometimento de falta grave não interrompe automaticamente o prazo


para o deferimento do indulto ou da comutação de pena.

A concessão do indulto e da comutação é regulada por requisitos


previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos.

Assim, a prática de falta disciplinar de natureza grave, em regra, não


interfere no lapso necessário à concessão de indulto e comutação da pena,
salvo se o requisito for expressamente previsto no decreto presidencial.

Exemplo:

O Presidente da República editou um Decreto Presidencial concedendo


o “indulto natalino” para aqueles que tivessem cumprido 1/3 da pena.

João já cumpriu 1/3 da pena (requisito objetivo). Ocorre que ele praticou, há
um mês, falta grave.

O juiz negou a concessão do indulto, afirmando que, como o condenado


praticou falta grave, a contagem do prazo deverá ser interrompida (reiniciar-se
do zero).
Ocorre que o Decreto não previu isso.

Desse modo, essa exigência imposta pelo juiz é ilegal e não pode ser
feita.

84
Não cabe ao magistrado criar pressupostos não previstos no Decreto
Presidencial, para que não ocorra violação do princípio da legalidade.

Assim, preenchidos os requisitos estabelecidos no mencionado


Decreto, não há como condicionar ou impedir a concessão da comutação da
pena ao reeducando sob nenhum outro fundamento, sendo a sentença
meramente declaratória.

Redação incompleta do enunciado

Ressalte-se que a redação do enunciado, com a devida vênia, poderia


ser mais completa. Isso porque o cometimento de falta grave não interrompe o
prazo para o deferimento do indulto ou da comutação de pena. Ocorre que é
possível imaginar que o Presidente da República decida prever, no Decreto, a
interrupção do prazo em caso de falta grave. Se isso for fixado no Decreto, tal
consequência poderá ser exigida.

Logo, o ideal seria que a súmula tivesse dito: a prática de falta grave
não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto, salvo
disposição expressa em contrário no decreto presidencial.

Outras súmulas aplicáveis


STF

14. O disposto no art.127 da LEP foi recepcionado pela ordem


constitucional vigente?
Súmula vinculante nº9: O disposto no art.127 da Lei nº7.210/1984 foi
recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite
temporal previsto no caput do art.58.
De acordo com a LEP, o condenado que cumpre a pena em regime fechado
ou semiaberto pode remir, pelo trabalho ou pelo estudo, parte do tempo de
execução da pena (art.126). A contagem do tempo, para esse fim, é feita à
razão de um dia de pena por três de trabalho, e, também, um dia de pena a
cada 12 horas de frequência escolar, divididas, no mínimo, em três dias.
Entretanto, segundo a redação original do art.127 do diplomar legal o
condenado punido por falta grave perdia o direito ao tempo remido e devia
iniciar novo período de aquisição, a partir da data da infração. Parte da
doutrina, interpretando essa norma, opinava por limitar a perda dos dias
remidos a 30 dias, subsumindo o caso ao disposto no ar.58 da LEP.
Mas o STF e o STJ nunca aceitaram essa interpretação doutrinária,
prevalecendo o argumento da não aplicabilidade da norma do art.58 aos casos
de remição.
Posteriormente, o texto do art.127 foi alterado pela lei 12.433/2011,
concedendo ao juiz da execução poderes para revogar até um terço do tempo
remido, no caso de cometimento de falta grave, reiniciando-se a contagem a
partir da data da infração.

15. Nos crimes hediondos, é possível a imposição do cumprimento de


pena em regime integralmente fechado?

85
Súmula Vinculante nº26: Para efeito de progressão de regime no
cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução
observará a inconstitucionalidade do art.2º da Lei 8.072/90, sem prejuízo de
avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos
do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico.
Previa o §1º do art.2º da Lei 8.072/90, que a pena para a prática destes
delitos seria cumprida integralmente em regime fechado. Contudo, o STF
declarou inconstitucional esse artigo – que acabou por ser revogado pela Lei
nº11.464/2007 - , afirmando sua incompatibilidade com o princípio da
individualização da pena.
Segundo a Corte, cabe ao juiz da execução penal, à luz dos fatos
ocorridos e do comportamento do agente, decidir pela possibilidade, ou não, de
progressão do regime de cumprimento da pena.

16. Explique o fundamento utilizado para edição da súmula nº715 do STF.


Súmula nº715: A pena unificada para atender ao limite de 30 anos de
cumprimento, determinado pelo art.75 do CP, não é considerado para a
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais
favorável de execução.
O tempo de cumprimento da pena privativa de liberdade deve ser
limitado pelo legislador ordinário em face da proibição da existência de penas
de caráter perpétuo no Brasil, expressa no art.5º, XLVII, da CF.
Sendo assim, o legislador fixou no CP o limite de 30 anos para o
cumprimento da pena, ainda que a sentença condenatória, em razão das
circunstâncias judiciais, agravantes e outras, resulte em uma condenação
superior a esse prazo. Se assim ocorrer, deverá o juiz da execução proceder à
unificação das penas até o limite máximo permitido.
Esclarece a Suprema Corte que a limitação do tempo de cumprimento
da pena, conforme o art.75 do CP, deve ser interpretada restritivamente e, por
isso, não alcança, por falta de previsão legal, as demais medidas relativas ao
cumprimento da pena (progressão de regime, livramento condicional, remição,
detração etc.).

17. Admite-se a progressão de regime antes do trânsito em julgado?


Súmula 716: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou
a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do
trânsito em julgado da sentença condenatória.
Outras súmulas
Súmula 717: Não impede a progressão de regime de execução da pena,
fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em
prisão especial.
Súmula 695: Não cabe HC quando já extinta a pena privativa de liberdade.
Súmula 611: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao
juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna.
STJ

18. Admite-se a imposição de pena substitutiva como condição especial


ao regime aberto?

86
Súmula 493: É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art.44 do CP)
como condição especial ao regime aberto.
O juiz, na concessão do regime aberto (art.115 da LEP), pode
estabelecer condições específicas para tal, mas não poderá escolher um efeito
já previsto como pena substitutiva.
Sendo assim, aplicar, como condição especial do regime prisional aos
casos de penas privativas de liberdade, uma pena restritiva de direitos seria
cumular penas, causando prejuízo ao condenado, em verdadeiro “bis in idem”.

19. Admite-se a chamada progressão per saltum?


Súmula 491: É inadmissível a progressão per saltum do regime prisional.
O enunciado termina por ressaltar que a progressão do regime, de
acordo com o art.112 da LEP, depende do cumprimento de 1/6 da pena no
regime anterior e do bom comportamento carcerário. Dessa forma, não seria
admissível que o cumprimento da pena sofresse salto diretamente do regime
fechado para o aberto, visto que o regime anterior ao aberto é o semiaberto.
Em conclusão, o sistema de progressão prisional não autoriza que o
condenado do regime fechado seja transferido diretamente para o regime
aberto, sem ficar submetido ao regime intermediário (semiaberto), mesmo que
o apenado tenha cumprido intervalo suficiente para os dois estágios no regime
fechado.

20. Explique o fundamento da súmula nº471 do STJ.


Súmula 471: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados
cometidos antes da vigência da Lei nº11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no
art.112 da LEP para a progressão de regime prisional.
Conforme decisão do STF, no julgamento do HC 82959, a vedação da
progressão de regime prisional prevista no art.2º, §1º, da Lei 8.072/90 deve ser
reconhecida como inconstitucional, em razão de ofensa ao princípio da
individualização da pena ao condenado (art.5º, XLVI, da CF).
O STJ reconhece que, em face da mencionada declaração de
inconstitucionalidade pela Corte Suprema, a regra especial estabelecida para
os crimes hediondos na lei 8.072 deixa de prevalecer. Dessa forma, a
progressão de regime prisional para esses crimes deve ser regulada pela
norma geral estabelecida no art.112 da LEP.
Em razão do prazo para a progressão prisional estabelecido na Lei
11.464/2007 ser mais rigoroso do que o afirmado na LEP, não é possível
aplicar a nova regra aos crimes hediondos cometidos antes de sua entrada em
vigor, sob pena de violação ao princípio protetivo da irretroatividade da lei penal
mais gravosa.
Aos crimes hediondos cometidos depois da vigência da Lei 11.464/2007,
aplicam-se os novos critérios especiais de progressão do regime prisional, sem
qualquer ressalva.

Outras súmulas
Súmula 441: A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de
livramento condicional.
Súmula 439: Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso,
desde que em decisão motivada. (A Corte quedou-se à necessidade de
realização do exame criminológico quando as peculiaridades da causa assim

87
recomendarem, permitindo aos magistrados sua exigência, desde que o façam
em decisão concretamente fundamentada, sob pena de caracterização de
constrangimento ilegal).
Súmula 341: A frequência a curso de ensino formal é causa de remição de
parte do tempo de execução de pena sob o regime fechado ou semiaberto. ( O
STJ fez uma interpretação extensiva, verdadeira analogia in bona partem,
equiparando o esforço intelectual ao físico, de modo que o conceito de trabalho
previsto na redação original do art.126 da LEP abrangesse ambos, de acordo
com a norma de caráter principiológico expressa no art.28 da mesma lei,
acerca da função ressocializadora do trabalho. Essa posição salienta que a
atividade estudantil adequa-se perfeitamente à finalidades da remição, quais
sejam, o incentivo ao bom comportamento do sentenciado e sua readaptação
ao convívio social).
Súmula 192: Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela justiça federal, militar ou eleitoral,
quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
Súmula 40: Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho
externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado.

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