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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
Faculdade de Direito - FADIR

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL – UFMS

Curso de Direito

JULIANA FABIULA FURUCHO DE OLIVEIRA

MÉTODO APAC
CAMINHO PARA A RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO E SUA
REINTEGRAÇÃO À SOCIEDADE

Campo Grande – MS
Junho, 2013
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JULIANA FABÍULA FURUCHO DE OLIVEIRA

MÉTODO APAC
CAMINHO PARA A RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO E SUA
REINTEGRAÇÃO À SOCIEDADE

Trabalho final de graduação apresentado como


requisito para colação de grau no Curso de
Graduação de Bacharelado em Direito da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
turma Roberto Ribeiro, sob a orientação do Prof.
Mestre José Paulo Gutierrez.

Campo Grande – MS
Junho, 2013
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TERMO DE APROVAÇÃO

A Monografia intitulada: “Método APAC – Caminho para ressocialização do condenado e sua reintegração à
sociedade” apresentada por Juliana Fabíula Furucho de Oliveira como exigência parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Direito à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
obteve nota ___________para aprovação.

BANCA EXAMINADORA

Professor Mestre José Paulo Gutierrez


Presidente

Professor Doutor Nilton Antunes da Costa (Exemplo)


Examinador

Professor Especialista Aurélio Tomaz da Silva Briltes (Exemplo)


Examinador

Campo Grande – MS, _____ de _____________ de 2013


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Dedico ao meu filho Matheus Yuri, fonte de


toda a minha força e vontade de vencer, ao
meu marido pela paciência e amor
incondicional, à minha amiga e irmã Renata
Cristina sem a qual esta caminhada teria
sido muito mais difícil, às minha irmã
Jaqueline e Rafaella, aos meus pais (in
memorian) e aos meus verdadeiros amigos
que mesmo estando distantes, se fizeram
presente, esta vitória não é apenas minha
mas também de todos vocês.
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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, a quem entreguei a minha vida todos os dias, para
que me desse forças e guiasse cada passo dado em meu caminho, que está sempre ao meu
lado e por muitas vezes me carrega nos braços.
A todos aqueles que estiveram comigo, contribuindo com palavras de apoio, com a
mão amiga e com fé na minha capacidade de vencer cada batalha e que hoje comemoram
comigo mais um passo em direção ao sucesso.
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RESUMO

Muito tem se discutido acerca da crise enfrentada pelo sistema carcerário não só Brasil
como no mundo. O tratamento dispensado aos presos, a superlotação, condições sanitárias e
estruturais levam estudiosos e defensores dos Direitos Humanos a questionar a eficácia da
segregação frente ao ideal ressocializador proposto pela execução da pena. Se o sistema
prisional brasileiro atual, não apresenta condições para oferecer aos que ali se encontram
sequer a garantia dos direitos fundamentais básicos, como poderá cumprir com a obrigação
estatal de reeducar e reinserir um individuo ao convívio social?. Para se reverter tal situação
mudanças são necessárias, não penas legislativas, mas também culturais; neste sentido, a
filosofia proposta pela APAC no cumprimento da pena privativa de liberdade surge como
uma alternativa de mudança. O presente trabalho destina-se ao estudo deste Método,
reconhecido e adotado em 17 Estados brasileiros e em diversos países do mundo e que vem
se mostrado comprovadamente eficaz em relação à reeducação e reinserção social do preso
à sociedade bem como apresentando índices mínimos de reincidência criminal em
comparação ao sistema prisional comum.

PALAVRAS-CHAVE: Direito Penal, Execução Penal, Sistema Prisional, Pena Privativa de


Liberdade, Reinserção Social, Ressocialização, Médodo APAC.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Recuperando da APAC Itaúna com a chave da cela .......................................................... 40
Figura 2 – Entrada para as celas – APAC Itaúna................................................................................. 43
Figura 3 – Oficina de panificação – APAC Itaúna .............................................................................. 49
Figura 4 – Recuperando comemorando o aniversário com a família .................................................. 54
Figura 5 – Celas APAC ....................................................................................................................... 57
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................
1 – AS PRISÕES E AS PENAS .............................................................................................................
1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES NO MUNDO ........................................
1.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES NO BRASIL .........................................
1.3 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ......................................................................................
1.4 MUTIRÃO DO CNJ – A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL .....................
2 – PENAS, EXECUÇÃO PENAL E RESSOCIALIZAÇÃO ............................................................
2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS E DO DIREITO DE PUNIR ...................
2.2 IMPORTÂNCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO DETENTO PARA A SOCIEDADE ...............
2.3 MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESSOCIALIZAÇÃO..........................................................
3 – O MÉTODO APAC..........................................................................................................................
3.1 O SURGIMENTO DA APAC E SUA EXPANSÃO MUNDIAL.......................................................
3.2 FINALIDADE E ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DO MÉTODO.................................................
3.2.1 A participação da comunidade ............................................................................................
3.2.2 Recuperando ajudando recuperando .................................................................................
3.2.3 O trabalho .............................................................................................................................
3.2.4 A religião ...............................................................................................................................
3.2.5 A assistência jurídica ............................................................................................................
3.2.6 A assistência à saúde ............................................................................................................
3.2.7 A valorização humana ..........................................................................................................
3.2.8 A família ................................................................................................................................
3.2.9 O voluntário e o curso para a sua formação.......................................................................
3.2.10 Os Centros de Reintegração Social ...................................................................................
3.2.11 O mérito...............................................................................................................................
3.2.12 A Jornada de libertação com Cristo .................................................................................
CONCLUSÃO ........................................................................................................................................
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................
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INTRODUÇÃO

Segundo o pensamento de Foucalt a prisão esteve, desde sua origem ligada a um


projeto de transformação dos homens (FOUCALT, 2004, p. 131).
A LEP (Lei de Execução Penal / Lei 7.210/84) em seu art. 1º preconiza como um
dos objetivos da execução penal proporcionar condições para a harmônica integração social
do condenado e do internado. A Resolução nº 96 do CNJ instituiu em 27/10/2009 o Projeto
Começar de Novo, com objetivo de promover ações de reinserção social de presos,
egressos do sistema carcerário e de cumpridores de medidas de penas alternativas.
No 1º Congresso das Nações Unidas, sobre Prevenção do Crime e Tratamento de
Delinquentes realizado em Genebra em 1955, foram aprovadas regras mínimas para
tratamento dos reclusos, tendo por objetivo estabelecer princípios e regras de uma boa
organização penitenciária e da prática relativa ao tratamento de prisioneiros, afirmando que
“todo homem tem o direito de ser reconhecido como pessoa perante a lei”.
Portanto, sob a égide de nosso ordenamento jurídico poderia se concluir que o
criminoso, ao receber como pena a privação da liberdade, encontraria no cárcere as
oportunidades que muitas vezes lhe foram negadas pela sociedade e que, uma vez tendo a
chance de se ressocializar, não teria motivos para voltar a delinquir. Desta forma, com a
recuperação do infrator, a sociedade estaria protegida.
No entanto, tal conclusão utópica sucumbe frente à realidade; a criminalidade
crescente e constante nos dias atuais é fato notório e conhecido por todos, de acordo com
declaração feita em 2011 pelo então Ministro e Presidente do STF Cesar Peluso o índice de
reincidência praticada por ex-detentos ou pelos que ainda se encontram em cumprimento de
pena no Brasil estima-se em cerca de 70%1.

1
Noticia veiculada no site do CNJ em 05/09/2011. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/15703-
ministro-peluso-destaca-importancia-do-programa-comecar-de-novo>. Acesso em 29/05/2013.
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A precariedade e falência do sistema prisional brasileiro torna-se elemento


fundamental para o alto índice acima mensurado, o atual quadro do sistema prisional
deturpa os propósitos ressocializadores da pena, transformando a privação de liberdade
exclusivamente em punição e as prisões em escolas para o crime.
Tais condições degradantes aliadas à corrupção policial e à falta de compromisso de
nossos governantes converte o criminoso de baixa periculosidade em um ser descrente da
justiça e das leis, uma pessoa que no retorno ao convívio social certamente não seguirá as
regras impostas pelo Estado e reenceterá a vida do crime.
A estigmatização do ex-detento dificulta sua reinserção social, levando-o a pratica
de novos crimes, seja para sobreviver ou por simples revolta contra o sistema.
As condições de detenção e prisão do sistema carcerário pátrio violam os direitos
humanos, a LEP e as regras mínimas estipuladas pela ONU para o tratamento dos presos;
diante deste desrespeito mudanças se fazem necessárias e urgentes antes que a situação,
hora insustentável, se torne insanável.
Cesare Beccaria, em seu livro Dos Delitos e das Penas, escrito no século XVII,
dizia:
O aspecto abominável dos xadrezes e das masmorras, cujo horror é ainda
aumentado pelo suplício mais insuportável par aos infelizes, a incerteza;
tantos métodos odiosos espalhados por toda parte deveriam ter despertado
a atenção dos filósofos, essa espécie dos magistrados, que dirigem as
opiniões humanas (BECCARIA, 1993, p.14).
Passados 300 anos desta descrição que nos parece atual, o que pode ser feito para
que a situação prisional tome novos rumos? O que deve ser feito para que a execução penal
cumpra seu verdadeiro papel devolvendo à sociedade um cidadão produtivo e menos
propenso a praticar novos crimes?
A ressocialização do apenado frente à falência do sistema carcerário brasileiro e os
meios para se alcançar os objetivos propostos pela LEP e pelas orientações do CNJ e da
ONU há tempos deixou de ser apenas uma obrigação Estatal passando a ser uma questão de
ordem pública.
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A segurança dos cidadãos e o amparo ao detento e sua família são questões


relevantes tanto para o Judiciário como para a sociedade que se encontra vitimizada e
descrente da verdadeira justiça.
O presente trabalho tem como foco o método APAC, criado pelo advogado Doutor
Mário Ottoboni, método reconhecido e adotado em diversos países do mundo por sua
eficiência no que tange à ressocialização e baixos índices de reincidência criminal e que
vem a ser uma solução para as mazelas da Execução Penal, uma vez que cumpre o papel,
hora atribuído ao Estado, de forma eficaz, humanizada e quase incorruptível.
No primeiro capítulo será apresentada uma análise do Sistema Prisional, sua origem
e evolução através dos tempos no Brasil e no mundo, com foco na atual situação em que se
encontra o sistema prisional brasileiro como base o Mutirão Carcerário realizado pelo
Conselho Nacional de Justiça – CNJ.
O segundo capitulo é dedicado à origem e evolução histórica das penas e do
surgimento do direito legal de punir, mostrando a importância da ressocialização do preso
para prevenir a reincidência e proteger a sociedade da vitimização, apresentando projetos e
iniciativas publicas e privadas que objetivam a reeducação e reinserção do apenado à
sociedade.
Diante dos argumentos apresentados nos dois capítulos anteriores, o terceiro se
dedica ao estudo do Método APAC – Associação de Proteção e Assistência aos
Condenados na execução de penas privativas de liberdade; seu surgimento na cidade de São
José dos Campos - SP onde foi aplicado inicialmente o Método no Presidio de Humaitá, o
desenvolvimento da metodologia no presidio de Itaúna - MG que vem se revelando um
modelo na execução penal.
Será apresentada ainda uma análise sobre a finalidade do Método e sua eficácia na
ressocialização dos presos bem como os 12 elementos fundamentais que o compõe, a
aplicação da Lei de Execução Penal à luz do Método APAC e as perspectivas de
implantação do Método no estado de MS. Por fim serão apresentados depoimentos de
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autoridades e recuperandos que tiveram contato direto com a metodologia proposta pela
APAC.
O objetivo final do trabalho é que se compreenda a situação calamitosa e de falência
em que se encontra o sistema penitenciário pátrio e se entenda como o método proposto
pela APAC pode ser uma alternativa eficaz na execução da pena privativa de liberdade no
Brasil e no mundo.
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1. AS PRISÕES E AS PENAS

1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES NO MUNDO

A existência das prisões remonta aos primórdios da humanidade, a própria Bíblia


possui passagens que comprovam tal afirmação. Como exemplo podemos citar Pedro ao
afirmar aos juízes da Palestina: “Havendo eu recebido autorização dos sacerdotes, encerrei
muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava meu voto, quando os matavam.” (At 26,
10).
No entanto o encarceramento na antiguidade possuía outra finalidade; uma vez que
as penas existentes eram a de morte, trabalhos forçados, suplicio dentre outros, os
condenados permaneciam encarcerados pelo tempo necessário para que a pena a ele
atribuída fosse cumprida de forma eficaz.
Nas palavras de Carvalho Filho “O encarceramento era um meio, não era o fim da
punição. Nesse contexto, não existia preocupação com a qualidade do recinto nem com a
própria saúde do prisioneiro. Bastava que o cárcere fosse inexpugnável.” (CARVALHO
FILHO, 2002, p. 21):
Com o passar dos séculos as prisões vão se transfigurando, as penas degradantes
fazem-se inaceitáveis e a privação de liberdade deixa de ser o meio para se tornar o fim da
punição.
Assim, a partir do século XVIII, a função essencial da privação da liberdade vem a
ser a recuperação do apenado, destarte, as prisões insalubres não mais se justificam pois seu
objetivo não mais é o de torturar mas sim o de transformar pessoas.
Tal modelo de prisão, segundo historiadores, teria seu início nas Igrejas Católicas,
onde os religiosos que cometiam algum tipo de infração eram encarcerados nas celas
eclesiásticas que os impeliam à reflexão acerca do pecado cometido.
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Existiam também as casas de correção na Inglaterra e Holanda destinadas à


recuperação de mendigos, desordeiros e autores de pequenos delitos. (CARVALHO
FILHO, 2002, p. 23).
Dentre as primeiras e mais importantes penitenciárias do mundo podemos citar a
Eastern State Penitentiary, situada na Filadelfia. Inaugurada em 1829, foi a solução
encontrada à época para reduzir a violência, a degradação das prisões e o consequente
aumento da violência. Desenhada pelo arquiteto britânico John Haviland, a Penitenciária da
Filadélfia possuía celas privativas com um pequeno pátio onde o preso teria acesso ao
banho de sol por 1 hora no dia.
O sistema Pensilvânico ou Filadélfico, também conhecido como sistema belga ou
celular, aplicado em Eastern instituía o isolamento total durante todo o período de
cumprimento da pena, a comunicação com os agentes penitenciários se dava através de uma
abertura na cela por onde era disponibilizada alimentação, água e outros itens; a Bíblia era a
única literatura permitida; os presos trabalhavam com artesanato e tecelagem dentro das
próprias celas (MORAES, 2013, p. 54).
Tal sistema que inspirou a criação da Eastern State Penitentiary, teve inicio na
prisão de Walnut Street, também localizada na Filadelfia, por volta de 1790, porém o
isolamento era aplicado apenas aos presos de maior periculosidade (GOMES NETO, 2000,
p. 89).
No entanto, o sistema celular sofreu diversas críticas, principalmente em relação ao
isolamento total que teria levado diversos detentos à loucura. Na narração de Melossi e
Pavarini citado por Gomes Neto, Von Heting, ao descrever a visita de Charles Dickens à
penitenciária da Pensilvânia descreve a agonia que se sentia ao adentrar em seus
corredores:
A Eastern Penitentiary recebeu, em 1842, um célebre visitante. Não era
somente um jurista, pois em toda a sua vida havia se interessado pelo
delito e o delinquente. Colocado em um ponto de confluência das galerias,
ficou aterrorizado diante do silencio que outros haviam admirado tanto.
Ruídos apagados procedentes da cela de um sapateiro ou de um tecelão e
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que atravessavam as grossas paredes e as portas tornavam o silêncio ainda


mais deprimente. Põem no preso – conta - uma carapuça escura quando
ingressa na prisão. Desse modo levam-no a sua cela de onde não sairá
mais até que se extinga a pena. Jamais ouve falar da mulher ou dos filhos,
do lar ou dos amigos, da vida ou da morte que estão além do seu caminho.
Além do vigilante, não vê nenhum rosto humano, não ouve nenhuma voz.
Está enterrado em vida, e só com o transcurso lento dos anos poderá
voltar novamente à luz. As únicas coisas vivas ao seu redor são um estado
angustiante, torturante e um imenso desespero (MELOSSI e PAVARRINI
apud GOMES NETO, p. 55 E 56). 2
A partir de 1820, surge em Nova Iorque o sistema alburniano, na Penitenciária de
Alburn, que impunha aos condenados a reclusão e o silêncio total durante o período
noturno, no entanto, a convivência e o trabalho em grupo eram permitidos durante o dia,
método adotado para a maioria dos detentos.
A Penitenciária de Alburn dividia os presos em três grupos: o primeiro grupo era
composto por infratores mais velhos e reincidentes aos quais era imposto o regime de
isolamento total; o segundo grupo era composto por presos um pouco menos rebeldes do
que os do grupo anterior que cumpriam pena de isolamento completo por três vezes durante
a semana; no quarto grupo estavam aqueles com maior propensão à ressocialização, para
estes o sistema alburniano era aplicado de forma plena.
Este sistema minimizava os efeitos da reclusão extrema adotada pelo sistema
celular e proporcionavam aos presos oportunidade de trabalho e adaptação ao sistema
industrial (CARVALHO FILHO, 2002, p. 25).
Todavia, tal qual no sistema pensilvânico, os apenados do primeiro grupo sofriam a
mesma tortura já descrita, o que levou à morte ou a loucura quase todos que passaram por
Alburn.

2
MELOSSI Dario e PAVARINI Massimo. Carcel Y Fabrica. Los origenes del sistema penitenciário. In:
GOMES NETO, Pedro Rates. Rondonia: Ed. Ulbra, 2000, p. 55 e 56
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Tanto o modelo da Pensilvânia como o de Alburn estavam fadados ao fracasso, pois


com a criminalidade crescente e o consequente aumento da população carcerária, manter
celas individuais tornar-se-ia economicamente inviável para o Estado.
Ademais, segundo Carvalho Filho, [...] “os dois modelos não ofereciam estímulo
aos detentos, limitados a obedecer à rotina de comportamento e trabalho imposta pela
administração do presídio e a aguardar o tempo passar.” (CARVALHO FILHO, 2002, p.
26)
Surge então, na Europa, o regime progressivo de cumprimento de pena, uma delas
seria o presidio de Nortfolk, Austrália, onde foi criado um sistema que beneficiava o preso
pelo trabalho realizado através da redução da pena e o punia em casos de indisciplina com o
respectivo aumento.
Este modelo englobava os modelos da Filadelfia (primeiro estágio), Alburn
(segundo estágio) e a liberdade condicional (terceiro estágio), por fim, uma vez cumpridos
todos os estágios exemplarmente, o preso readquiria a sua liberdade.
Oportuno citar o sistema panóptico, que serviu como base para a construção das
primeiras Casas de Correção do Brasil, como veremos posteriormente.
Trata-se do modelo adotado pelos Estados Unidos e Europa, idealizado pelo
britânico Jeremias Bentham, sua estrutura é composta por celas individuas com grades na
frente e voltadas para um centro comum onde localizavam-se a vigilância e a direção,
possibilitando aos guardas ampla visão do que ocorre no interior das celas, o que justifica
nome dado a este modelo, palavra composta por pan e óptico que significa ampla visão.
(GOMES NETO, 2000, p. 32).
Michel Foucalt descreve com detalhes o modelo de Bentham:
[...] Na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é
vazada de largas janelas que se abrem sobre a face do anel; a construção
periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da
construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às
janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse
a cela de lado a lado.[...]
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[...] O dispositivo panoptico organiza unidades espaciais que permitem


ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o principio da
masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar da
luz e esconder – só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas.
Em plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que
finalmente protegia[...] (FOUCALT, 1987, p. 156 e 166).
Atualmente, o fracasso do sistema penitenciário levou a criação de politicas
criminais menos rigorosas e que presam a liberdade do infrator em casos de delitos de
menor gravidade, podemos citar como exemplos, a suspensão condicional da pena, o
regime aberto, pagamento de multas, dentre outras penas alternativas, além da tecnologia
proporcionada pelos chips e pulseiras ou tornozeleiras para monitoração eletrônica visando
atenuar as mazelas da superlotação carcerária, questão mundialmente discutida e que segue
sem solução eficaz.

1.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES NO BRASIL

Dados históricos da época do descobrimento indicam ter existido no Brasil, desde


1551 uma “cadeia muito boa e bem acabada com casa de audiência e câmara em cima [...]
tudo de pedra e barro, rebocadas de cal, e telhado com telha” (RUSSEL-WOOD, 1981, p.
39).
De acordo com a descrição de Fernando Salla:
Nas cidades e vilas, as prisões se localizavam no andar térreo das câmaras
municipais e faziam parte constitutiva do poder local. Serviam para
recolher desordeiros, escravos, evidentemente, criminosos à espera de
julgamento e punição. Não eram cercadas por muros e os presos
mantinham contato com transeuntes, através de grades; recebiam esmolas,
alimentos, informações (SALLA, 1999, p. 41).
Havia também o Aljube, cárcere eclesiástico do Rio de Janeiro, cedido pela Igreja
para se tornar uma prisão comum após a vinda da Família Real (CARVALHO FILHO,
2002, p. 45). Tal prisão fora desativada poucas décadas depois devido à superlotação e
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péssimas condições, tanto que, em 1856, fora definido pelo chefe de polícia da Corte como
“um protesto vivo contra o nosso progresso moral” 3.
Tal situação funesta pode ser verificada no Relatório da Comissão Inspetora da
Prisão Aljube no ano de 1828, apresentada por Evaristo de Moraes:
Foi com grande difficuldade que Commissão poude vencer a repugnância
que deve sentir todo coração humano, ao penetrar nessa sentida de todos
os vícios, neste antro infernal, onde tudo se acha confundido, o maior
fascinora com uma simples accusada, o assassino o mais inhumano como
um miserável, victima da calumnia ou da mais deplorável administração
da justiça. O aspecto dos presos nos faz tremer de horror; mal cobertos
por trapos imundos, elles nos cercam por todos os lados, e clamam contra
quem os enviou para semelhante supplicio sem os ter convencido de crime
ou delicto algum (MORAES, 1923 apud DA SILVA, 2007, p.56)4.
Com a promulgação do Código Criminal do Império em 1830, a pena de prisão
passa a ser regulamentada, ficando a pena de morte restrita aos crimes mais graves como o
homicídio, latrocínio e a insurreição de escravos (DOTTI, 1998, p. 87).
Outra novidade trazida pelo Código Criminal era a obrigação imposta ao detendo de
trabalhar durante o período de cumprimento da pena 5.
Para atender à nova exigência legal foram construídas as Casas de Correção no Rio
de Janeiro (1950) e em São Paulo (1952), embasadas no projeto de Bertham sendo que a do

3
HOLLOWAY, p.66, apud CARVALHO FILHO, P. 37
4
MORAES, Evaristo de . Prisões instituições penitenciárias no Brazil,. Rio de Janeiro
: Livraria Editora Conselheiro Candido de Oliveira, 1923. Apud DA SILVA, Fernando Laércio Alves.
Método APAC – Modelo de justiça restaurativa aplicada à pena privativa de liberdade. 2007. 178 f.
Dissertação (Mestrado em Direito). Centro Universitário Fluminense – UNIFLU – Faculdade de Direito de
Campos – Programa de Mestrado em Direito, Campos dos Goytacazes – RJ. 2007.
5
[...] Art. 44. A pena de galés sujeitará os réos a andarem com calceta no pé, e corrente de ferro, juntos ou
separados, e a empregarem-se nos trabalhos públicos da província, onde tiver sido commettido o delicto, à
disposição do Governo.[...]
[...]Art. 46. A pena de prisão com trabalho, obrigará os réos a occuparem-se diariamente no trabalho, que lhês
for destinado dentro do recinto das prisões, na conformidade das sentenças, e dos regulamentos policiaes das
mesmas prisões
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Rio de Janeiro não reproduziu o modelo panóptico devido a um erro na construção.


(FRAGOSO, p. 299, apud CARVALHO FILHO, 2002, p.39).
Ambas possuíam oficinas de trabalho, pátios e celas individuais, os presos
trabalhavam em silencio durante o dia e se recolhiam durante a noite e ainda um calabouço
que abrigava escravos fugitivos, entregues às autoridades ou para cumprir pena de açoite o
que ainda era permitido pelo Código Criminal do Império. (CARVALHO FILHO, 2002,
40).
A Penitenciária do Carandiru, inaugurada em 1920, possuía oficinas, enfermarias,
escolas, segurança, dentre outros itens que fazia desta um instituto modelar de regeneração,
estereótipo posteriormente desfeito devido aos vícios e violências de qualquer prisão.
Ainda de acordo com Carvalho Filho:
Outro símbolo da história das prisões brasileiras á a Casa de Detenção de
São Paulo, também no Carandirú, que chegou a hospedar mais de 8 mil
homens, apesar de só ter 3250 vagas. Inaugurada em 1956 para presos à
espera de julgamento, sua finalidade se corrompeu ao longo dos anos, pois
a Casa de Detenção passou a abrigar também condenados. O governo
estadual anunciava desativá-la em março de 2002. Batizou a iniciativa de
“fim do inferno” e prometia remover mais de 7 mil presos para 11 novos
presídios, menores e longínquos (Op. cit., p. 43).
A Casa de Detenção de São Paulo ficou conhecida pelas condições sub-humanas a
que os presos se encontravam submetidos, além de motins e fugas, obtendo visibilidade
mundial após o lamentável episódio denominado “massacre do Carandiru” ocorrido em
1992, onde 111 presos foram mortos pela Policia Militar.

1.3 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

Com a criação do Código Penal de 1940, o cárcere se torna a espinha dorsal do


sistema, cerca de 300 infrações nele definidos possuem a pena de privação de liberdade
como sanção dentre as de reclusão e detenção. A Lei das Contravenções Penais de 1941
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define ainda 69 infrações de menor gravidade sendo que 50 delas prevê a pena de prisão
simples (DOTTI, 1998, p. 68 e 90).
A Lei nº 7.210/84 – Lei de Execução Penal (LEP) em sua apresentação redigida
pelo então Presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia vaticina que a LEP
[...] continua a ser um diploma moderno e abrangente, que reconhece o
preso como sujeito de direitos [...]
[...] Nesse sentido, o objetivo da Câmara dos Deputados, ao lançar esta
edição da Lei de Execução Penal, é divulgar para a sociedade os direitos e
deveres do preso, bem como os critérios para a correta aplicação da
sanção penal, de forma a possibilitar que as pessoas possam exigir dos
governantes a efetiva concretização de uma lei que, se devidamente
aplicada, contribuirá sobremaneira para a ressocialização dos condenados,
para a redução da influência do crime organizado dentro das
penitenciárias e para a efetiva diminuição da violência no país. (grifo do
autor).
Nas palavras de Falconi citando Candido Silva Oliveira:
A prisão tem sido nos últimos séculos, a esperança das estruturas formais
da sociedade em combater a criminalidade. A prisão constituía a espinha
dorsal dos sistemas penais de feição clássica, sendo tão marcante a sua
influência que passou a funcionar como centro de gravidade dos
programas destinados a prevenir e a reprimir os atentados mais ou menos
graves aos direitos da personalidade e aos interesses da sociedade e do
Estado (FALCONI, 1998 apud OLIVEIRA, 2008) 6.
No entanto, o abismo entre a letra da lei e a realidade dos presídios é gritante, as
condições precárias das penitenciárias e prisões do Brasil é algo notório não apenas aos
olhos de sociólogos, juristas ou historiadores como também de toda a população.

6
FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinserção social? Romeu Falconi; prefácio Dirceu de Mello. São Paulo:
Ícone. 1998, apud OLIVEIRA, Candido Silva, De condenando a recuperando: a convergência entre a LEP e o
método APAC / Candido Silva Oliveira – 2008.
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O excesso na lotação, drogas e as armas são alguns dos fatores cruciais para a
questão penitenciária.
Nos presídios brasileiros, como pouquíssimas e honrosas exceções, o espetáculo
apresentado não pode deixar de ser dantesco. Por maior que seja o desprezo de boa parte da
sociedade brasileira para com as condições de vida e mesmo o destino do preso, ninguém
pode se revelar indiferente diante do cenário oferecido pelas prisões: às mais precárias
condições de habitabilidade e à falta de serviços de apoio, assistência e educação vêm se
associar uma violência desmedida e incontrolável, grave obstáculo a qualquer proposta de
reinserção social de quem quer que tenha algum dia, em momento qualquer, transgredido as
normas jurídicas desta sociedade e, por conseguinte, sido punido pela Justiça pública.
(VARELLA, 2001, p.85).
Não é difícil de constatar que a massa carcerária se constitui de detentos muito mais
jovens do que há décadas atrás e muito mais violentos, muitos deles sem demonstrar o
menor remorso pela hediondez cometida.
Esta violência se reproduz nos presídios sob as mais diversas formas de expressão; a
chamada “Lei do Cárcere” vigora com enorme eficiência se comparada à aplicação dos
vaticínios da LEP, manda o mais forte, obedece ao mais fraco e assim se constrói a
universidade do crime.
Mesmo diante de toda a reforma moral e legislativa ocorrida ao longo dos séculos,
com o repúdio por parte dos órgãos internacionais de defesa dos direitos humanos em
relação à pena de morte, à tortura e outros meios cruéis de degradantes; a sociedade
brasileira ainda não foi capaz de se livrar dos paradigmas do passado e encara a prisão
como um meio punitivo e não ressocializador.
Assim, livre de qualquer cobrança que deveria advir da coletividade, o Estado
demonstra pouco interesse em cumprir os ditames tanto da LEP como dos tratados
internacionais dos quais é signatário.7

7
Como exemplo podemos citar a Resolução de Genebra de 30 de agosto de 1955, no I Congresso das Nações
Unidas sobre a Prevenção do Crime e Tratamento do Delinquente, que prevê regras mínimas para tratamento
dos presos.
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Em nosso país, a condenação de um criminoso à pena de privação de liberdade


constitui na perda de todos os demais direitos humanos constitucionalmente previstos,
como o direito à saúde, à segurança, educação e até mesmo o direito à vida.
Isto posto, improvável vislumbrar a possibilidade de recuperação e reinserção social
de um condenado no Brasil, muito menos prevenir a vitimização na sociedade, o que gera,
por conseguinte, insegurança e medo nos considerados “homens de bem” que por sua vez
voltam a clamar por justiça e a defender o escopo punitivo da prisão, criando um círculo
interminável de violência e punição, um eterno maniqueísmo, existente desde o início dos
tempos.

1.4 MUTIRÃO DO CNJ – A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL NO


BRASIL

Com o propósito de aperfeiçoar os mecanismos de acompanhamento do sistema


carcerário brasileiro, bem como das medidas de segurança e das internações dos
adolescentes em conflito com a lei e ainda visando honrar o compromisso imposto ao
Conselho Nacional de Justiça - CNJ e ao Conselho Nacional do Ministério Público -
CNMP de zelar pelos princípios constitucionais do devido processo legal e da legalidade da
prisão, foi editada em 29 de setembro de 2009 a Resolução Conjunta CNJ-CNMP nº 01.
Assim sendo, resolveu-se que:
Art. 1º. As unidades do Poder Judiciário e do Ministério Publico, com
competência em matéria criminal, infracional e de execução penal,
implantarão mecanismos que permitam, com periodicidade mínima anual,
a revisão da legalidade e da manutenção das prisões provisórias e
definitivas, das medidas de segurança e das internações de adolescentes
em conflito com a lei.
Ainda de acordo com esta Resolução, os Tribunais e Procuradorias do MP poderão
promover ações integradas, com a participação da Defensoria Pública, da OAB, órgãos da
administração penitenciária e de segurança pública e outras eventuais entidades com
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atuação correlata, podendo ainda crias grupos de trabalhos compostos por juízes, membros
do MP e por servidores.
No que diz respeito aos condenados em cumprimento de pena de privação de
liberdade provisória ou definitiva, a revisão anual terá por escopo a análise da legalidade
das prisões provisórias; do possível cabimento de benefícios da Lei de Execução Penal –
LEP nas prisões definitivas além da identificação de penas extintas.
Com relação às condições físicas das penitenciárias, assevera o art. 3º:
No curso dos trabalhos serão emitidos atestados de pena ou de medida de
internação a cumprir, serão avaliadas as condições dos estabelecimentos
prisionais e de internação, promovendo-se medidas administrativas ou
jurisdicionais voltadas à correção de eventuais irregularidades[...] (grifo
do autor).
Embasado em tais orientações, foi criado o Mutirão Carcerário do CNJ tendo como
principais objetivos: 1) garantir o devido processo legal através da revisão das prisões dos
presos definitivos e provisórios e 2) inspeção dos estabelecimentos prisionais do Brasil.
O projeto foi consagrado pelo Instituto Innovare em 2009, como umas das seis
práticas premiadas, por atender ao conceito de justiça rápida e eficaz disseminada pelo
Instituto.
Ante a grande repercussão desta iniciativa, o Mutirão Carcerário que teve inicio em
2008, antes mesmo de editada a Resolução nº 1/2009 e findo em 2011 resultou na
publicação do livro “Mutirão Carcerário – Raio-X do Sistema Penitenciário Brasileiro”,
lançado no ano de 2012.
O preâmbulo da referida obra, de pronto revela as impressões negativas do então
presidente do CNJ/STF Cezar Peluso acerca do relatório final emitido e consequentemente
das páginas que se seguirão. Intitulado “Uma realidade perversa” o ilustre ex-ministro
declara:
De mitos e fantasias alimenta-se o imaginário popular sobre as prisões.
Nossas ideias flutuam entre a existência de hotéis cinco estrelas e de
pedaços do inferno, enquanto cárceres se enchem cada vez mais de
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pessoas, muitas das quais pedem uma segunda ou terceira oportunidade


que lhes permita situar-se de modo diferente perante o mundo.
Continuamos a abarrotar nossas prisões, tranquilizados pela ilusão
eficiente de diminuir a delinquência, pondo atrás das grades os violadores
das normas penais, mas não raro esquecidos da condição de seres
humanos dos que, subtraídos momentaneamente do nosso convívio,
abandonamos depois dos muros.
Uma reta consciência e uma preocupação social responsável nos indagam:
o que esperamos de nossas penas e de nossas prisões? Cuidamos, com
firmeza, que condenados podem voltar a integrar a sociedade com atitude
respeitosa às normas jurídicas? Inquieta-nos o tratamento degradante que,
como expressão do valor coletivo à dignidade da pessoa humana, lhes é
reservado? Ou satisfaz-nos o alívio temporário que vem à sensação da
continua, mas insignificante e infrutífera desocupação das ruas? (CNJ,
2012)
Ante as cenas que retratam a perversa realidade do sistema prisional brasileiro,
baseadas no trabalho dos Mutirões Carcerários durante aproximados quatro anos, Peluso
ainda reafirma:
[...] a necessidade de urgente e profunda reforma das prisões e do sistema
da justiça criminal como um todo, para remediar as condições pessoais e
as estruturas físicas de encarceramento, bem como de prover os recursos
humanos indispensáveis, como requisitos de possibilidade de reabilitação
e reinserção [...]
[...] Doutro modo, perpetuar-se-á a lamentável situação retratada, em que
pessoas que cumprem condenações perdem, não apenas a liberdade, mas,
sobretudo, as perspectivas de retomada de vida condigna e socialmente
útil, quando a Constituição da República convida todos a construir uma
sociedade justa e solidária, enraizada no respeito à dignidade da pessoa
humana (Op. cit.)
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Os relatos que se seguem são todos baseados nas análises e impressões dos
membros da comissão do CNJ em visita aos presídios do Brasil e registrados na obra
“Mutirão Carcerário – Raio-X do Sistema Penitenciário Brasileiro”.
O relatório emitido após a visita dos membros do Mutirão aos presídios do Norte
que recebeu o título de “Cumprindo pena no inferno amazônico”, descreve que as celas são
escuras, sujas e mal ventiladas, falta água no presídio de Francisco D’oliveira do Acre,
cidade que detém o titulo de unidade federativa do país com maior percentual de sua
população presa (um preso/200hab)8
No único presídio do Amapá, o odor de fezes e urina é constante, enquanto que no
Amazonas e no Pará 60% da população carcerária é composta por pessoas que aguardam
presas o julgamento de seus processos, sendo que nesta última unidade federativa, a
maioria dos presos provisórios suportam tal espera em celas-containers com o mínimo de
ventilação.
Na região Nordeste, muitos são os adjetivos utilizados para descrever o cenário
encontrado. No Rio Grande do Norte, alguns presídios foram comparados pelo Mutirão a
calabouços, onde até respirar é difícil por causa da falta de ventilação e do mau cheiro. No
Ceará, ruína e “selva de pedra” foram os termos utilizados, enquanto que na Bahia o pátio
de uma unidade foi comparado a um campo de concentração.
Já a violência extrema que impera nos presídios maranhenses é uma resposta dos
detentos ás más condições a que são submetidos. Em 2010 uma rebelião que durou 30 horas
teve como saldo 18 mortes, sendo 3 delas por decapitação. Em uma rebelião ocorrida em
fevereiro de 2011, seis presos foram assassinados e quatro deles tiveram suas cabeças
decepadas e penduradas nas grades das celas, além disso, um olho humano foi lançado para
fora da cela como uma forma de pressão para “negociar”.
Em Pernambuco foi relatada uma situação peculiar, o maior presídio do país, Anibal
Bruno, localizado no Recife, é descrito no relatório do Mutirão Carcerário como uma
“cidade medieval”, cercada por muros e administrada pelos próprios detentos. Com

8
CNJ – Dados emitidos pelo relatório do Mutirão Carcerário
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capacidade para 1,4 mil presos e abrigando 5 mil, embora amontoados em condições
insalubres, os presos detêm as chaves das celas e controlam a circulação das pessoas no
recinto, o “chaveiro”, normalmente uma pessoa condenada ou acusado pela prática de
homicídio, impõe a ordem no pavilhão e recebe um salário mínimo do Estado pelo serviço,
também define o responsável pela venda de drogas dentro do presidio, geralmente, ele
mesmo.
Neste presidio, são poucas as áreas controladas pelo Estado e os agentes
penitenciários são raros, os presos administram ainda 14 cantinas em meio aos vendedores
ambulantes. “O interior da unidade, nos domingos, mais parece uma cidade em dia festivo.
Música, fumaça de churrasco, centenas, milhares de pessoas transitando livremente. Cultos,
crianças brincando, pessoas aguardando visitante que não param de chegar”, descreve o
relatório. (CNJ, 2012, p.95).
Nos relatórios emitidos para os presídios do Centro-Oeste a observação principal da
força tarefa foi “afronta aos direitos humanos na região”. Tal afronta é evidente nos
presídios do Mato Grosso, onde o Mutirão Carcerário encontrou celas metálicas e unidades
comparadas a “bombas relógio” e “depósitos humanos”, tamanha a precariedade das
instalações.
Em Goiás, a força-tarefa encontrou uma cela com capacidade para duas pessoas,
onde 35 se amontoavam umas sobre as outras e de acordo com a direção do presídio, os
internos estariam ali abrigados por determinação dos presos que dominam a unidade.
No Mato Grosso do Sul, traficantes estrangeiros contribuem de forma relevante para
com a superlotação das prisões, no Estado faltam 4,5 mil vagas para abrigar toda a
população carcerária. A superlotação das unidades sul-mato-grossenses foi classificada pelo
juiz auxiliar da Presidência do CNJ como “assustadora”.
Na região Sudeste, mais de 7 mil pessoas estão presas ilegalmente, todas com
algumas exceções, convivendo com a falta de estrutura e higiene. No Espirito Santo a
improvisação por parte das autoridades públicas levou o Brasil a ser denunciado à
Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). As
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inspeções do CNJ revelaram pessoas cumprindo penas em celas metálicas sem nenhuma
ventilação, como animais enjaulados.
Após a visita do CNJ, as “celas-containers” capixabas foram desativadas e os
detentos transferidos para outros presídios, 26 novas unidades prisionais foram construídas
e 10.512 vagas puderam oferecer melhores condições às mais de 13 mil pessoas que
cumprem pena no Estado.
O Mutirão Carcerário realizado na Região Sul mostrou uma realidade diferente
daquela que existe no imaginário popular brasileiro, a de uma região prospera e alheia às
adversidades que afetam o restante do país. Nas inspeções realizadas, os magistrados
depararam-se muitas vezes com situações de violência e descaso das autoridades em
relação aos presidiários.
Em Santa Catarina, 1 em cada 10 presos tiveram o direito à liberdade reconhecido
pelo Mutirão do CNJ, enquanto que, no Rio Grande do Sul, o novo detento é forçado a
trabalhar para a organização à qual estiver “filiado” em troca de segurança, alimentação e
higiene.
O raio-X apresentado pelo CNJ apenas vem comprovar o colapso em que se
encontro o sistema penitenciário brasileiro, realidade muito antes conhecida por todos os
que fossem interessados pelo tema e que agora adquire visibilidade mundial, um corpo
material composto por números, relatórios e principalmente imagens que falam muito mais
do que palavras.
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2. PENA, EXECUÇÃO PENAL E RESSOCIALIZAÇÃO

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS E DO DIREITO


DE PUNIR

É importante diferenciar primeiramente a origem das penas e do direito de punir,


posto que a primeira existe antes mesmo da organização da sociedade tendo como princípio
a vingança privada ou o caráter divino e o segundo se justifica a partir da momento em que
se passa a viver em sociedade.
Na Babilônia, o fim para se alcançar a justiça era a aplicação da vingança privada
contra o ofensor e até mesmo toda a sua familia, penas estas muitas vezes mais cruéis do
que o crime cometido, a Lei de Talião, criada pelo rei Hamurabi veio a regulamentar este
tipo de penalidade através do chamado “olho por olho, dente por dente”, consentindo na
reciprocidade do crime e da pena (FERNANDES, 2012).
Para os Hebreus, a justiça era dada por Deus ao povo, o apedrejamento, morte na
fogueira, decapitação, flagelação são exemplos de penas aplicadas a depender do tipo de
crime cometido (ARGOLLO, 2007).
A Lei das XII Tábuas escrita em 500 a.C. organizou a direito penal romano e tratou
dos delitos e das penas a eles aplicáveis, algumas vezes aplicando as regras de Hamurabi e
por outras instituindo suas própria regras de punição, como nos casos de roubo (“furto” de
acordo com a lei em comento), em que o ladrão poderia ser morto se cometesse o crime à
noite, mas durante o dia apenas se este portasse arma. A pena de morte era aplicada a
diversos tipos penais, inclusive para difamação (SALDANHA,1961).
Beccaria em 1738, ao escrever sua conhecida obra “Dos Delitos e das Penas”,
justificou brilhantemente a existência das penas impostas àqueles que descumprissem as
leis bem como a origem do direito de punir:
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Cansados de só viver no meio de temores e de encontrar inimigos por toda


a parte, fatigados de uma liberdade que a incerteza de conservá-la tornava
inútil, sacrificaram parte dela para gozar do resto com mais segurança.
[...] (BECCARIA, 1993, p.16).
O Marquês segue com sua explanação, alegando não ser suficiente formar o
depósito dessas parcelas de liberdade sem que se encontrem meios para protegê-las da
tendência que o próprio homem possui em usurpar a sua parte e ainda as dos demais. O
meio encontrado foi o estabelecimento de penas contra os infratores das leis, justificando
que o conjunto de todas as porções de liberdade é o fundamento do direito de punir. (Op.
cit., p.17)
Com efeito, a criação de regras de comportamento se faz necessária para que seja
possível a convivência em sociedade e cabe ao Estado através de sua soberania ditar tais
regras e impor sanções ao seu descumprimento para que a nação compreenda a necessidade
de obedece-las.
No que diz respeito às normas de natureza penal, Rogério Grecco, destaca o juz
puniendi:
[...] que pode ser entendido tanto no sentido objetivo, quando o Estado,
através de seu Poder Legislativo, e mediante o sistema de freios e
contrapesos, exercido pelo Poder Executivo, cria normas de natureza
penal, proibindo ou impondo determinado comportamento, sob a ameaça
de uma sanção, como também no sentido subjetivo, quando esse mesmo
Estado, através do seu Poder Judiciário, executa as decisões contra
alguém que descumpriu o comando normativo, praticando infração penal.
Vale dizer, um fato típico, ilícito e culpável (GRECCO, 2011, p. 19).
É possível observar, portanto, que o direito de punir tem sua origem a partir do
momento em que os homens passam a viver em sociedade, sentindo necessidade de se
organizar para sobreviver, da premência de se protegerem de si mesmos e dos demais.
No Brasil, antes de vigorar um Código Criminal Brasileiro, as penas e suas
aplicações eram disciplinadas pelo Livro X das Ordenações Filipinas, tais penas eram
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consideradas cruéis, pois previam a morte por esquartejamento ou forca, além do açoite,
desterro, banimento entre outras (MACIEL, 2006).
Com a criação do Código Criminal do Império, sancionada por D. Pedro I em 16 de
dezembro de 1930, foram instituídas penas como a de morte, galés, prisão com trabalho,
prisão simples, prisão perpétua, suspensão ou perda do emprego (FERREIRA, 2009)
No Código Criminal de 1930, a pena de morte era dada por enforcamento e de
forma pública (art. 40) enquanto que a pena de galés sujeitava o apenado a andar com
calcete nos pés, correntes de ferro e a executar trabalhos públicos (art. 44).
A partir do final do século XVIII, com a Revolução Francesa e Declaração dos
Direitos Humanos em 1948, as penas corporais e aflitivas foram paulatinamente sendo
substituídas pela pena de privação de liberdade, conforme afirma Grecco:
O ser humano passou a ser encarado como tal, e não mais como mero
objeto, sobre o qual recaía a fúria do Estado, muitas vezes sem razão ou
fundamento suficiente para a punição.
Através do raciocínio jus naturalista, passou-se a reconhecer direitos
inatos ao ser humano, que não podiam ser alienados ou deixados de lado,
a exemplo de sua dignidade, do direito a ser tratado igualmente perante as
leis, etc.[...]
[...] As penas, que eram extremamente desproporcionais aos fatos
praticados, passaram a ser graduadas de acordo com a gravidade do
comportamento, exigindo-se, ainda, que importasse na proibição ou
determinação de alguma conduta além de clara e precisa, para que
pudesse ser aplicada, deveria estar em vigor antes da sua prática
(GRECCO, 2011, p. 130).
A pena de morte, que no Brasil é admitida apenas em tempo de guerra 9, ainda é
adotada em países como Estados Unidos, Japão, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Cuba e
China (Op. cit., p. 131).

9
Constituição Federal, art. 5º, Inc. XLVII – Não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada
nos termos do art. 84, XIX
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Após este período de transição e com o advento da Constituição Federal de 1988, a


privação da liberdade passa a ser o principal tipo de punição no ordenamento jurídico
brasileiro, nos dizeres de Michel Foucalt “A prisão, peça essencial no conjunto de punições,
marca certamente um momento importante na história da justiça penal: seu acesso à
“humanidade” (FOUCALT, 2005, p. 195).
Hodiernamente, como a promulgação da Lei 12.403/2012 (Lei da Reforma do
Processo Penal), grandes mudanças foram implantadas, principalmente no que diz respeito
à prisão preventiva que de acordo com o art. 312
[...] poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e
indicio suficiente de autoria.
O art. 321 da mesma lei impõe que o juiz deverá decretar a liberdade provisória
quando estiverem ausentes os requisitos que autorizem a prisão preventiva, ou seja, os
elencados no art. 312 supramencionado, podendo, caso julgue necessário, impor outras
medidas cautelares previstas no art. 319.

2.2 IMPORTÂNCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO DETENTO PARA A


SOCIEDADE

Consoante dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a população carcerária em


dezembro de 2011 era de 514 mil detentos, este número passou para 550 mil em junho de
2012. Tal informação foi apresentada pelo juiz auxiliar da Presidência do CNJ, Luciano
Lozekann durante o I Encontro Nacional de Conselhos da Comunidade10, realizado em
Brasília, afirmou o magistrado:

10
Encontro realizado mediante parceria do Ministério da Justiça, Ministério da Saúde e CNJ e com o apoio da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, da Secretaria Nacional de Articulação Social da
Presidência da República e da Pastoral Carcerária que teve como objetivo promover a qualificação e
integração das instituições comunitárias voltadas à causa carcerária e que são vinculadas aos Tribunais de
Justiça responsáveis, segundo a LEP, por garantir a participação da sociedade no processo de cumprimento de
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Ainda há muito a fazer, o sistema prisional brasileiro não está nada bom.
Pelo contrário, temos hoje 550 mil presos. Houve um aumento de 35 mil
detentos na população carcerária entre dezembro de 2011 e junho de
2012. Nesse período o número de detentos passou de 514 mil para 550
mil, o que é um absurdo. Onde vamos parar desse jeito? Então essa
também deve ser uma preocupação dos conselhos da comunidade: o que
fazer para que tenhamos não apenas uma execução penal eficaz, mas que
nós consigamos encontrar uma forma de diminuir essa população
prisional que vem aumentando assustadoramente.
Diante de dados tão alarmantes temos que a recuperação do detento e sua efetiva
reinserção na sociedade possuem fundamental importância, não apenas para garantir a
execução penal e reduzir a superpopulação prisional, mas principalmente para proteger a
sociedade da reincidência criminal.
Nas palavras do jurista Mario Ottoboni a proteção da sociedade é
[...] fato que ocorre evidentemente com a recuperação do infrator, uma
vez que cada preso recuperado é um bandido a menos na rua. Vê-se, pois,
que se trata de uma consequência lógica, insofismável. Recuperado o
infrator, protegida está a sociedade e prevenida está a vitimização
(OTTOBONI, 2004a, p. 30 e 31).
O criminoso possui normalmente um quadro complexo, a origem de sua
delinquência quase sempre se encontra na miséria moral em que vive (OTTOBONI, 2004b,
p. 41), como afirmara Rousseau 11 somos frutos do nosso meio.
Para Ottoboni a família enferma é um dos componentes da causa da violência e do
crime, além da falta de cultura, desemprego e desigualdade social (Op. cit., p. 42), direitos
fundamentais previstos em nossa Carta Magna e que o Estado muitas vezes é incapaz de
prover.

penas e na reintegração social dos condenados . Informação obtida através do site do CNJ. Disponível em
<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/22452:i-encontro-nacional-dos-conselhos-da-comunidade-comeca-no-dia-
6>. Acesso em: 27/05/2013.
11
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo francês, um dos escritores mais importantes do Iluminismo
33

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Destarte, é imperioso que, na prisão, a justiça repare as falhas do Estado, oferecendo


aos presos as chances que lhes foram negadas. O governo tem o dever de garantir a
segurança e não pode invocar a crise social como justificativa para a sua apatia e omissão
(OTTOBONI, 2004B, p. 42).
Todavia, o preconceito que provém da sociedade, muitas vezes influenciada pelos
espetáculos midiáticos, atravanca a aplicação da Lei de Execução Penal que em seu art. 1º
anuncia que: “art. 1º - A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições da
sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social
do condenado e do internado”.
A comunidade, com seu senso equivocado de justiça, acaba por apoiar as condições
de miséria das prisões como uma forma de castigo ao ofensor que ali se encontra, passando
repudiar toda e qualquer forma de auxilio ao criminoso, o encarceramento do criminoso
lhes proporciona a falsa sensação de segurança.
Não são capazes de visualizar, entretanto, que a prisão não será perpétua e que por
mais que um condenado passe décadas atrás das grades, um dia deverá retornar ao convívio
social, no pensamento de Rogério Grecco
O sistema prisional agoniza, enquanto a sociedade, de forma geral, não se
importa com isso, pois crê que aqueles que ali se encontram recolhidos
merecem esse sofrimento. Esquecem-se, contudo, que aquelas pessoas,
que estão sendo tratadas como seres irracionais, sairão um dia da prisão e
voltarão para o convívio em sociedade. Assim, cabe a nós decidir se
voltarão melhores ou piores (GRECCO, 2011, p. 14).
A estrutura carcerária atual contribui para a deformidade do ser humano,
estimulando sua revolta contra a sociedade, que acaba por sofrer, por consequência, os
efeitos de sua própria conduta. O resultado pode ser visto diariamente nos telejornais; a
violência crescente muitas vezes cometida por egressos do sistema prisional, homens e
mulheres formadas pela “escola do crime” existente dentro das penitenciárias de todo o
Brasil.
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A ressocialização surge como uma solução, capaz de dar condições dignas para o
cumprimento da pena, resgatando assim a autoestima do apenado, oferecendo-lhe
condições de educação, profissionalização e reinserção social.
Na lição de Mirabete:
Exalta-se seu papel de fator ressocializador, afirmando-se serem notórios
os benefícios que da atividade laborativa decorrem para a conservação da
personalidade do delinquente e para a promoção do autodomínio físico e
moral de que necessita e que lhe será imprescindível para o seu futuro na
vida em liberdade (MIRABETE, 2002, p. 87).
Ottoboni com propriedade argumenta que
Se a execução da pena não for voltada para a recuperação do preso, não
adianta segregá-lo.
O objetivo da reclusão é recuperar, especialmente quando se sabe que as
despesas de manutenção do preso pesam nos cofres públicos, e predomina
a certeza e que ele voltará ao convívio da sociedade pior do que quando
iniciou o cumprimento da pena.
Trata-se de uma fraude social não cuidar da socialização da pessoa que
errou e que, por isso, foi privada da liberdade. É um embuste contra a
sociedade ludibriada com o elevado índice de reincidência e como o crime
organizado nos presídios, atemorizando a polícia.
O Estado precisa ser despertado para a função social da pena, deixando de
permutar justiça social com vingança (OTTOBONI, 2004a, p.95 – 96).
É necessário conscientizar a sociedade de que o aumento da violência e da
criminalidade decorre, também, do abandono dos condenados atrás das grades, é preciso
compreender a importância de se recuperar um criminoso, de proporcionar-lhe condições
para que possa traçar novos caminhos, mais produtivos e menos tortuosos, de acreditar nas
sabias palavras de Mário Ottoboni de que “todo homem é maior do que o seu erro” (Op.
cit., p.30).
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2.3 MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESSOCIALIZAÇÃO

Ante a todo o exposto e diante da veemente necessidade de se buscar uma solução


para os problemas apresentados, o Estado começa a mostrar sinais de preocupação e de
disposição em cumprir o seu papel. Por este motivo, em 16 de dezembro de 2008, o CNJ
publicou a Recomendação nº 21, recomendando aos Tribunais ações no sentido da
recuperação do preso e do egresso do sistema prisional; em seu item II orienta “A adoção
de programas de recuperação e reinserção social do preso e do egresso do sistema prisional,
inclusive com o aproveitamento da mão de obra para serviços de apoio administrativo no
âmbito da administração do Poder Judiciário [...]”. No mesmo diapasão foi publicada, em
27 de outubro de 2009 a Resolução nº 96 do CNJ, deliberando sobre o Projeto Começar de
Novo na esfera do Poder Judiciário e instituindo o Portal de Oportunidades para os egressos
do sistema prisional, de acordo com o art. 1º da Resolução o projeto tem por objetivo
“promover ações de reinserção social de presos, egressos do sistema carcerário e de
cumpridores de medidas e penas alternativas”.
O Projeto Começar de novo compõe-se de um conjunto de ações que visam a
capacitação profissional dos detentos e sua reinserção no mercado de trabalho. Para
viabilizar a sua realização o Poder Judiciário deverá contar com a participação de uma Rede
de Reinserção Social, constituída pelos órgãos do Poder Judiciário e entidades públicas e
privadas, com os quais se formarão parcerias.
E com o intuito de organizar esta Rede de Reinserção Social foi criado o Portal de
Oportunidades, que consoante art. 4º da Resolução em comento “disponibiliza no sítio do
CNJ, na rede mundial de computadores (internet)” possuindo como funcionalidade
cadastrar as entidades integrantes da Rede de Reinserção Social, propostas de cursos,
trabalhos, bolsas e estágios, contato eletrônico com as entidades proponentes, entre outras.
Pelo Brasil, diversos projetos vêm sendo implantados e outros já vigoravam com
sucesso antes mesmo do pronunciamento do CNJ a este respeito.
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No Pará, o Projeto Conquistando a Liberdade, apontado pelo CNJ como referência


nacional12, leva os detentos às escolas públicas para que realizem reformas e pequenos
reparos como pintura, troca de lâmpadas, conserto de cadeira, jardinagem, etc. O projeto,
além de garantir o aproveitamento de mão de obra dos presos, proporciona a remição da
pena por meio do trabalho.
O Programa de Reinserção Social de Presos instituído pela Fundação de Amparo ao
Trabalhador Preso - Funap/BR desenvolve, através de atividades conjuntas com entidades
publicas e privadas, a capacitação e contratação de egressos do sistema carcerário, o que
vem resgatando a dignidade de muitos ex-detentos13.
Neste mesmo sentido, o Projeto Reciclando Papéis e Vidas, criado em 2003 pela
UnB conta com o apoio da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel – ABTCP e
especializa a pessoa egressa em manufatura, encadernação e restauração de papel14.
No entanto, nada se compara às ações e programas desenvolvidos no âmbito do
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais.
O Programa Novos Rumos, criado em 2001, foi o inicio da atuação inovadora do
TJMG na área de execução penal e hoje se consolida como referência nacional por suas
ações em favor da humanização da pena, da inclusão e da justiça social.
Além de adotar como uma de suas frentes o Projeto Começar de Novo instituído
pelo CNJ, o Programa possui, dentre suas iniciativas principais, a disseminação da
metodologia usada nas Associações de Proteção e Assistência aos Condenados – APACs,
alternativa ao sistema penitenciário convencional para condenados a penas privativas de
liberdade que vem sendo difundida no Brasil e no mundo, objeto central deste trabalho e
que será examinado em detalhes no capítulo a seguir.

12
Noticia veiculada no site da SUSIPE – Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará.
DIsponivel em <http://www.susipe.pa.gov.br/?q=node/1134>. Acesso em: 29/05/2013.
13
Noticia veiculada no site do CNJ em 07/03/2013. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/23853-programa-de-reinsercao-social-retoma-a-dignidade-perdida-diz-
detenta>. Acesso em: 28/05/2013.
14
Noticia veiculado o site da Universidade de Brasilia em 09/11/2007. Disponivel em:
<http://www.fac.unb.br/campus2007/index.php?option=com_content&task=view&id=537&Itemid=36>.
Acesso em 29/05/2013.
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3. O MÉTODO APAC

3.1. O SURGIMENTO DA APAC E SUA EXPSNÃO MUNDIAL

A Associação de Assistência e Apoio aos Condenados – APAC surge como um


caminho para a ressocialização e reinserção do detento ao convívio em sociedade.
Teve seu início em 1972 por idealização do advogado paulista Dr. Mário Ottoboni
que juntamente com um grupo de amigos voluntários da Pastoral Carcerária15 de São José
dos Campos/SP, passaram a estudar o sistema carcerário da época com o intuito de
amenizar as aflições dos detentos que cumpriam pena na Cadeia Pública de São José dos
Campos.
Mario Ottoboni e Valdeci Ferreira narram em poucas palavras os caminhos trilhados
e que levaram à criação da APAC:
Em 1972, na cidade de São José dos Campos (SP), algo inteiramente
novo, inusitado e revolucionário iniciou-se, no sistema prisional. Um
grupo de voluntários cristãos, sob a liderança do advogado Dr. Mario
Ottoboni, passou a frequentar o presidio de Humaitá, situado no centro da
cidade, para evangelizar e dar apoio moral aos presos. Tudo era empírico
e objetivava tão somente resolver o problema da comarca, cuja população
vivia sobressaltada com as constantes fugas, rebeliões e violências
verificadas naquele estabelecimento prisional. O grupo não tinha
parâmetros nem modelos a serem seguidos. Muito menos experiência com
o mundo do crime, das drogas, das prisões. Mesmo assim, pacientemente,
foram sendo vencidas as barreiras que surgiram no caminho(OTTOBONI
e FERREIRA, 2004c, P.17).
Deste trabalho voluntário e despretensioso formou-se o grupo denominado Amando
ao Próximo Amarás a Cristo – APAC que passou então realizar entrevistas com os presos
do Presídio de Humaitá para que desta forma pudessem se inteirar dos problemas ali
existentes (OTTOBONI, 2012, p. 43).
15
Pastoral Carcerária – Entidade integrada da Igreja Católica
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Porém, vários obstáculos surgiram para o desenvolvimento do trabalho o que levou


a Pastoral Penitenciária a se transformar em uma entidade civil de direito privado, que
assim poderia valer-se dos meios jurídicos adequados para se defender e fazer valer os
direitos dos presos, assim
No dia 16 de junho de 1974, em solenidade realizada no salão do júri do
Edificio do Forum, concretizou-se oficialmente nosso ideal.
Na denominação Associação de Proteção e Assistência Carcerária
(APAC), mais tarde foi substituída a expressão “carcerária” por “aos
condenados”, por recomendação da festejada penitenciarista Profª
Arminda Bergamini Miotto. No art. 69 dos Estatutos Sociais, determinou-
se constar, ao pé de todo impresso da APAC: Amando ao Próximo
Amarás a Cristo, visando a manter, para sempre, vínculos históricos com
o grupo que iniciou, de fato, a APAC.
Lembremos Cícero, senado romano e distinguido orador, quando disse
que “A história é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a mestra da
vida...” (SILVA, J R (org), 2012, p. 94).
Em 1983, a APAC com o auxílio da comunidade e atendendo à solicitação do Juiz
de Direito da Vara de Execução Penal e da Polícia Judiciária da Comarca de São José dos
Campos, iniciou a reforma daquele Presidio que, outrora desativado por não possuir
condições de segurança, foi então reaberto sob a direção exclusiva da APAC e sem a
atuação das Forças Policiais16.
Durantes os primeiros três meses não houve nenhum tipo de auxilio financeiro por
parte do Estado e a APAC arcou com todas as despesas, valendo-se da ajuda de voluntários
e da sociedade. (OTTOBONI, 2012, p.45)
O sucesso obtido com o Presidio de Humaitá atraiu a atenção do Brasil de do
Mundo, conforme relata Mário Ottoboni:
As visitas no presidio avolumaram-se, com delegações de várias Nações e
inclusive um encontro de estudos do Método, com a presença de 21

16
Obteve para tanto autorização do Tribunal de Justiça de São Paulo por meio de Resolução
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países. Juízes de Direito e Promotores de Justiça, recém aprovados em


concurso, fazendo, periodicamente, visitas e estágios no Presídio de
Humaitá. Ilustres autoridades, como o Desembargador Dr. Marcos
Nogueira Garcez, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, vice-governador Doutor Geraldo Alkmin, Dr. Charles Colson,
Presidente da Prison Fellowship International, Órgão Consultivo da
O.N.U para assuntos Penitenciários, [...], Secretário de Segurança Dr.
Michel Temer e da Administração Penitenciária de São Paulo e, da Justiça
de Mato Grosso, Senador Eduardo Suplicy, Ministro da Justiça e
Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dr. Mauricio Corrêa, entre
tantos que puderam testemunhar a eficácia do Método com 5% de
reincidência, contrastando com 80% reinante no Brasil e, 70% na média
Mundial (OTTOBONI, 2012, p.45).
Destarte, a APAC se espalhou por mais 30 cidades do Estado de São Paulo e por
alguns Estados da União, além de se tornar, no ano de 1986, membro da O.N.U., como
filiada à Prison Fellowship International, Órgão Consultivo da ONU para Assuntos
Penitenciários sediada em Washington (Op. cit, p. 47).
Em 1986, foi então fundada a APAC pioneira do Estado de Minas Gerais, na cidade
de Itaúna que, através de seus resultados formidáveis, tornou-se referência nacional e
internacional no que diz respeito à recuperação dos presos. (TJMG, 2009, p.19)
De acordo com a Cartilha APAC publicada pelo Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, a APAC se mantém
Através de contribuições de seus sócios, de promoções sociais, de doações
de pessoas físicas, jurídicas e entidades religiosas, parcerias e convênios
com o Poder Público (prefeitura, Governo do Estado), instituições
educacionais e outras entidades, captação de recursos juntos a fundações,
institutos e organizações não governamentais (Op. cit., p.27).
Ainda de acordo com a mesma Cartilha
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A APAC não cobra nada para receber ou ajudar os condenados,


independentemente do tipo de crime praticado e dos anos de condenação.
Tudo e gratuito em nome do amor ao próximo (TJMG, 2009, p.27).
Modelo elogiado não somente no Brasil, mas em diversos países do mundo, a
APAC conta atualmente com mais de 120 unidades em todo território nacional, sendo 99
em Minas Gerais e 23 distribuidas em diversos países como Estados Unidos, Chile, Nova
Zelândia, Costa Rica, Autrália, Bulgária, Canadá, México, Russia, Uruguai, dentre outros
(Op. cit., p.19).
Em relação à reincidência criminal, temos que no sistema prisional comum de
acordo com informações prestadas pelo DEPEN o índice estimado chega a 85% no Brasil e
70% no mundo enquanto que nas instituições onde se adota o Método APAC esta taxa,
segundo dados fornecidos pela Federação Brasileira de Assistência aos Condenados –
FBAC, apresenta a média de 11,22%17.
No que diz respeito ao custo imposto ao Estado, de acordo com cálculos
apresentados pela FBAC cada detento que se encontra em cumprimento de pena no sistema
prisional comum custa aos cofres públicos em média 3,53 salários mínimos a cada mês à
medida que nas APACs o custo cai para 0,97 salários.18

Foto 1 – Na APAC de Itaúna o apenado possui a chave da cela.


FONTE: Arquivo da APAC/Itaúna

17
Dados obtidos através do site APAC- Perdões, informações referentes ao período 2004-2009. Disponível
em <http://www.apacperdoes.com.br/?page_id=235>. Acesso em 03/05/2013
18
Idem
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3.2 FINALIDADE E ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DO MÉTODO

A APAC, conforme já foi dito, é uma entidade civil sem fins lucrativos e com
personalidade jurídica própria, o que muito contribui para o sucesso de seus trabalhos, pois
tal status lhe dá capacidade jurídica para pleitear em juízo, direitos dos presos e questionar
a legalidade da execução das penas.
De acordo com a definição de seu idealizador Mário Ottoboni a APAC é
[...] uma entidade sem fins lucrativos que dispõe de “um método de
valorização humana, portanto de evangelização, para oferecer ao
condenado condições de recuperar-se, logrando, dessa forma, o propósito
de proteger a sociedade e promover a justiça (OTTOBONI, 2004a, p. 29).
Trata-se portanto de uma metodologia que se preocupa primeiramente com a
valorização humana da pessoa que cometeu um erro e que cumpre pena privativa de
liberdade, muitas vezes advindo de famílias desestruturadas as quais todas as oportunidades
de crescimento e transformação foram negadas (Op. cit., p. 31).
Sua visão: A APAC almeja contribuir com a humanidade na promoção da harmonia
social.
Seu objetivo: A APAC tem por objetivo a recuperação da pessoa que cumpre pena
privativa de liberdade, dentro de uma ampla visão de restauração de dignidade do ser
humano.
Sua Missão: A missão da APAC é despertar a sociedade para a gravidade do
problema da violência, da reincidência e da criminalidade, conscientizando-a da
inoperância do Estado para o exercício da função pedagógica da pena.
Filosofia: “Matar o criminoso e salvar o homem” (Ibidem, p. 123)
Ao contrário do sistema prisional comum, onde o Estado apenas pune o criminoso
para que sirva de exemplo á sociedade, mas não é capaz de oferecer condições de
recuperação aos condenados, na APAC a dupla função da pena não é deixada de lado. O ato
cometido não deixa de ser ilícito e por tal motivo deve ser punido como forma de
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prevenção geral através da coerção psicológica, porém o cumprimento da pena visa a


valorização humana daquele que ali deixa de ser “condenado” e passa a ser chamado de
“recuperando”, oferecendo condições dignas para o seu desenvolvimento físico, moral,
espiritual e intelectual, sem a perda da dignidade e nenhum outro direito a não ser a
liberdade e esta temporariamente. Tudo isso, contando sempre com o envolvimento da
sociedade e da familia, devolvendo à sociedade um individuo recuperado e capaz conviver
pacificamente no meio social. (SILVA J R (org), 2012, p. 18)
A APAC considera os presos como reeducando, partindo do pressuposto
de que todo o ser humano é recuperável, desde que haja um tratamento
adequado. Os princípios seguidos são os da individualização do
tratamento; da redução da diferença entre a vida na prisão e a vida livre;
da participação da família e da comunidade no processo de
ressocialização; e do oferecimento de educação moral, assistência
religiosa e formação profissional. (STJ, 2002)19
O Método em comento possui 12 elementos fundamentais, criados após longos
períodos de estudos e reflexões para que pudessem alcançar o objetivo pretendido, deste
modo, todos os elementos devem ser aplicados, pois é através do conjunto dos elementos
que se obtém o sucesso. (OTTOBONI, 2004a, p.63)
Ademais, nas palavras de Mário Ottoboni:
O amor incondicional e a confiança são dois aspectos subjetivos de
suporte de toda a metodologia. Esses dois aspectos devem se manifestar o
tempo todo por meio de gestos concretos de acolhida, de perdão, de
diálogo, sem distinção, por parte dos voluntários, ne relacionamento com
os recuperandos (Op. cit., p.64).
O Método prevê ainda a preservação doa laços familiares, com o escopo de
aumentar as esperanças do recuperando e o motivando a se corrigir e cuida também de
manter o menor numero possível de indivíduos em cada cela, diminuindo assim as chances

19
Apud COSTA Lucas e PARREIRAS Arthur. APAC – Altenativa na Execução Penal (2007). UFSC.
Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/33048-41542-1-PB.pdf>. Acesso
em: 30/05/13
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de se formar quadrilhas, a entrada de drogas dentro dos presídios e a pratica de outros


delitos (OTTOBONI, 2004a, p.55)

Foto 2 – Entrada para as celas da APAC Itaúna


FONTE: Arquivo da Associação dos Magistrados Mineiros – AMAGIS

3.2.1 A Participação da Comunidade

Consta no art. 4º da Lei de Execução Penal que “O Estado deverá recorrer à


cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança”.
Como já foi dito, a participação da sociedade é fator primordial para o êxito de
qualquer programa que vise a recuperação de um detento, pois a aceitação e o apoio fazem
com que este repense a vida efique motivado a se tornar uma pessoa melhor. Sem o auxilio
da comunidade a única guarida que um criminoso possui é a dos outros criminosos e, sem
nenhum acompanhamento, tornam-se piores ao passar pela prisão.
Para Mário Ottoboni:
Se de um lado, a Polícia representa a primeira força e do outro, o preso
representa a segunda força a atuar no presídio, a comunidade no
estabelecimento penal, participando do trabalho de recuperação do
condenado, representa a terceira força sem nenhum comprometimento ou
descrédito. Ela chega ilesa, confiável, para ganhar a confiança dos que estão
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atrás das grades, para falar de amor, solidariedade humana e esperança


(OTTOBONI, 2004a, p.65).
A relação entre a policia e os detentos sempre será estigmatizada, de um lado o
preso que na maioria das vezes é espezinhado e têm seus direitos mínimos usurpados por
seus “algozes”; do outro, o policial, que realiza seu trabalho com desconfiança pois fora,
via de regra, treinado para isso, além de muitos deles carregarem a visão de que o
estabelecimento penal é um “deposito de lixo humano”, pessoas sem chances de
recuperação e que voltarão à vida do crime tão logo estejam em liberdade. Deste modo,
torna-se difícil a convivência em um local onde reina a desconfiança e o medo (Op. cit.,
p.66).
De outro modo, a visão que o condenado possui de um voluntário e completamente
diferente, para ele ali se encontra uma pessoa disposta a oferecer-lhe ajuda despretensiosa,
em nome da amizade e do amor cristão, por acreditar que todo o ser humano é capaz de
mudar de se tornar uma pessoa melhor por pior que seja o erro cometido.
Vale ressaltar que a participação em trabalhos como estes não é tarefa simples,
adentrar em um mundo onde, em geral, existem apenas duas partes, quais sejam, o preso e a
força policial, um universo obscuro aos olhos da sociedade, exige certo preparo. Por este
motivo, todos que desejam se tornar voluntárias da APAC devem participar do Curso de
Formação de Voluntários, realizado regularmente nas cidades onde a metodologia
apaquiana encontra-se implantada. No curso são abordados tópicos como a recepção e o
tratamento dos internos, além de questões jurídicas, de saúde e religiosa.

3.2.2 Recuperando ajudando o recuperando

Os recuperandos precisam aprender a viver em sociedade, pois foi justamente por


não serem capazes de respeitar as normas de convívio social, pela falta de limites e respeito
ao próximo que cometeram seus delitos acabaram condenados.
Neste sentido ensina Mário Ottoboni:
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[...] é fundamental ensinar o recuperando a viver em comunidade, a acudir


o irmão que está doente, a ajudar os mais idosos e, quando for o caso, a
prestar atendimento no corredor do presidio, na copa, na cantina, na
farmácia, na secretaria, etc. (OTTOBONI, 2004a, p.67).
Uma das figuras criadas pela APAC é o representante de cela, que possui a missão
de manter a disciplina e a harmonia entre os recuperandos, incentivar a manutenção da
higiene, limpeza e organização das celas. São promovidos também concursos de limpeza de
celas e nas festividades natalinas podem ser instituídos concursos de decoração das celas,
com prêmios aos integrantes da equipe vencedora. (Op. cit., p. 68)
Além disso, em cada APAC existe um Conselho de Sinceridade e Solidariedade
(CSS), órgão que auxilia em sua administração.
O CSS não possui poder de decisão, mas contribui opinando acerca de todos os
acontecimentos dentro do estabelecimento, como a realização de reformas, promoção de
festas e celebrações, fiscalização do trabalho para o cálculo da remissão da pena, etc.
(Ibidem, p. 69).
Semanalmente, a CSS se reúne com todos os recuperandos sem a presença de
membros ou diretores da APAC, para juntos discutirem sobre as dificuldades que estão
sendo encontradas, buscar solução para os problemas surgidos e reivindicar medidas que
auxiliem na harmonia do ambiente prisional.
Na conclusão de Rezende e Santos:
À medida que vão recebendo essas lições e compreendendo a dimensão de
sua nova postura, verificarão que estão participando da melhoria do
ambiente onde estão convivendo; por isso, deve-se entregar ao próprio
preso (recuperando) a possibilidade de acolher o outro demonstrando,
com seu exemplo, a importância da recuperação (SILVA R J (org), 2012,
p.44).
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3.2.3 O trabalho

Se levarmos em consideração a opinião publica, veremos que sua maioria é a favor


de que os presos trabalhem para pagar as despesas de sua prisão mesmo que sejam forçados
a isso, alguns ainda defendem que sejam submetidos a trabalhos humilhantes como forma
de castigo pelo delito cometido (SILVA R J (org), 2012, p.45).
O tempo para alguém se encontra privada da liberdade e da convivência com os
seus é algo que oprime e angustia, sem ter com o que se ocupar, o preso passa dias e noites
remoendo fatos pretéritos, arquitetando rebeliões e idealizando a vida de crimes em que
reenceterá ao adquirir a liberdade. Ao tratar sobre este aspecto Goifman citado por
Carvalho Filho acrescenta
O tempo das mentes – para os presos – também pode ser visto, por um
outro lado, como a ideia do tempo ocioso se faz sentir, como “ficar à toa”
pode transformar-se em valor e como o tempo passado é representado
como “tempo perdido”, “tempo morto”. Se Melossi (1985) está correto ao
associar o surgimento da pena de privação de liberdade por um período de
tempo a um momento no qual o tempo passa a ser valorizado como um
bem, sem dúvida a prisão alcança sucesso-castigo, pois apesar de o tempo
não ser convertido em trabalho útil, a representação usual na prisão é de
que foi um tempo inteiramente “morto”. A riqueza da expressão “matar o
tempo”, quando aplicada ao contexto prisional, revela-se. Diante de meses
e anos, referência temporal quantitativa da pena, institucionaliza-se uma
nova revolta na mente dos presos, relacionada ao tempo. Este surge como
inimigo que deve ser morto, vencido. O longo tempo vivido no ócio
assume seu peso e não é de graça que muitos presos justificam seu
engajamento em algum tipo de ocupação (quando conseguem) como uma
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forma de luta contra o tempo (GOIFMANN apud CARVALHO FILHO,


2011, p.129 e 130) 20.
Na metodologia apaquiana o trabalho é obrigatório em todos os regimes, mas não é
forçado, pois de como explica Rezende e SantosSANTOS, “[...] proporciona a todos os
recuperandos estarem comprometidos com a caminhada dos demais, estando todos
dirigidos para a proposta de conversão consoante o livre arbítrio de cada um” (SILVA J R
(org), 2012, p.45).
Na APAC, os presos têm a possibilidade de realizar as mais diversas atividades,
podendo vir a se identificar com alguma delas e, posteriormente, exerce-la no retorno ao
convívio em sociedade. Para cada etapa de cumprimento de regime deve ser oferecido um
tipo diferenciado de atividade.
De acordo com estudos do idealizador do Método Dr. Mário Ottoboni, no regime
fechado deve-se direcionar o preso ao desenvolvimento de sua autoestima, para a
descoberta de seus próprios valores. Assim, recomenda-se a laborterapia através do
artesanato, como tapeçaria, pintura de quadros e azulejos, grafite, técnica de cerâmica,
trabalhos em madeira, dentre outras atividades que permitam ao recuperando exercitar a
criatividade e refletir sobre o que está fazendo (OTTOBONI, 2004a, p.71).
O trabalho é realizado durante o dia, no interior do presídio em oficinas e cursos em
sua maioria ministrados por voluntários e até mesmo por egressos da própria APAC, que ao
adquirirem sua liberdade retornam para oferecer sua parcela de contribuição e servir de
exemplo para os que ali se encontram em cumprimento de pena.
Na obra “Vamos Matar o Criminoso? – Método APAC” escrita por Mário Ottoboni
encontramos diversos depoimentos de recuperandos que passaram pelas oficinas de
laborterapia, como exemplo podemos citar um depoimento de transformação:
Quando cheguei à APAC, percebi que estava em um lugar diferente. Eu
não tinha material para trabalhar com artesanato. Foi quando se

20
GOIFMAN, Kiko. Valetes em slow motion – a morte do tempo na prisão, 1998. In: CARVALHO, Robson
A. Mata. Cotidiano encarcerado: o tempo com pena e o trabalho como “prêmio”. São Paulo: Ed. Conceito,
2011, p. 129 e 130
48

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aproximou de mim um recuperando e me emprestou o material necessário


para fazer um quadro. Fiquei surpreso com esse gesto de solidariedade do
companheiro. Logo, ele me ensinou as técnicas e fiz um trabalho muito
bonito. Quando acabei, consegui vende-lo e pude pagar o material
emprestado. Depois foi despertando em mim a criatividade, que outrora só
tinha para cometer crimes. Trabalhando na laborterapia, o ser humano
consegue enxergar a capacidade de construir projetos que o ajudarão a
perceber que, quando se trabalha honestamente, o dinheiro adquirido com
dificuldade tem valor. Desenvolvi a capacidade de adquirir paciência,
criatividade, respeito, perseverança e aos poucos fui resgatando a minha
autoestima. Não sabia que era capaz de fazer coisas tão bonitas. Aprendi
que “pouco dinheiro, com Deus é muito (OTTOBONI, 2004a, p.73 – 74).
No regime semiaberto, o recuperando tem a oportunidade de profissionalização,
uma vez que a LEP autoriza a saída temporária para estudos21, nesta etapa os esforços são
com o intuito de encaminhar o recuperando para cursos profissionalizantes e viabilizar
bolsas de estudo para formar mão de obra especializada em estabelecimentos como
padarias, sapatarias, oficinas mecânicas. Estas atividades podem ser desenvolvidas dentro
do próprio presidio, desde que a entidade apresente espaço físico disponível para
construção de oficinas e os recuperandos que apresentarem aptidão para serviços
burocráticos poderão ser aproveitados em serviços da própria entidade, percebendo, quando
possível, uma ajuda de custo a titulo de pró-labore (Op. cit., p. 75).
A APAC defende ainda o cumprimento deste regime na comarca onde resida a
familia do recuperando, para que este esteja sempre próximo de seu núcleo afetivo.
Para que o recuperando obtenha o beneficio do regime aberto, a APAC propõe que
o recuperando possua uma profissão definida, apresente promessa de emprego compatível
com as suas habilidades e tenha adquirido no regime anterior, méritos e condições para o
convívio em sociedade (Ibidem, p.76).
21
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter autorização para saída
temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos:
[...]
II – frequência a curso supletivo profissionalizante [...]
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Assim, paulatinamente, o recuperando adquire, primeiramente, condições


emocionais e morais para valorizar-se como ser humano e posteriormente, recebe as
oportunidades necessárias para que, ao retornar à liberdade, possa conviver em harmonia
com a sociedade na qual estiver reinserido, exercendo um trabalho digno e sendo capaz de
prover o sustento dos seus sem precisar recorrer novamente ao mundo do crime.

Foto 3 – Oficina de panificação


FONTE: Arquivo da APAC/Itaúna

3.2.4 A religião

Trata-se de um elemento cuja assistência encontra-se nominalmente citada na


LEP22, é fundamental cuidar do espirito, e neste sentido, a religiosidade pode funcionar de
forma importante, proporcionando ao recuperando a introspecção de valores espirituais
para chegar a uma libertação e apegar-se a algo maior do que o passado que o fez chegar à
situação na qual se encontra (SILVA J R (org), 2012, p.46).
22
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o
retorno à convivência social.
Paragrafo único. A assistência se estende ao egresso
Art. 11. A assistência será:
[...] VI - Religiosa
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No entanto, é um engano pensar que somente a religião, desvinculada dos demais


elemento, é capaz de recuperar um detento. Em todos os presídios do Brasil existem grupos
religiosos pregando a salvação de acordo com suas convicções, mesmo assim, os índices de
reincidências não param de crescer (OTTOBONI, 2004a, p.77).
Quando a religião é aplicada isoladamente o que temos algumas vezes são presos
proclamando exageradamente a própria conversão, utilizando-se da religião para obter
algum tipo de vantagem sobre os grupos religiosos que ali se encontram (Op. cit.).
A religião é fator primordial; a experiência de Deus, de amar e ser amado,
é de uma importância incomensurável, desde que pautada pela ética e
dentro de um conjunto de propostas em que a reciclagem dos próprios
valores leve o recuperando a concluir que Deus é o grande companheiro, o
e amigo que não falha. Essa experiência de vida deve nascer
espontaneamente no coração de recuperando para que seja permanente e
duradoura (Ibidem, p. 78).
O Método APAC proclama a necessidade imperiosa de o recuperando ter uma
religião, crer em Deus, sem impor-lhe este ou aquele credo muito menos exercer algum tipo
de pressão para que faça uma escolha, ao invés disso o leva a refletir. Cabe ao voluntário
ajudar o recuperando a descobrir a sua espiritualidade, sem impor a este nenhum tipo de
religião, apenas conduzindo em suas reflexões e mostrando a ele o amor de Deus (Ibidem,
p.79).

3.2.5. Assistência jurídica

Aqueles que conhecem os estabelecimentos prisionais e mantêm algum tipo de


contato com os detentos, sabem que uma de suas maiores angústias é a situação jurídica em
que se encontram.
Assim, oferecer este tipo de assistência ao condenado é de suma importância,
significa calmaria no estabelecimento prisional e tranquilidade àquele que cumpre a pena
de prisão.
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Para Mario Ottoboni “O homem nasceu livre, razão pela qual o confinamento
contraria sua natureza e exerce grande influência negativa no psiquismo humano”
(OTTOBONI, 2004a, p. 80).
Tal angústia não é vista nas APACs, normalmente os presos não precisam se
preocupar com a rotina de seus processos, pois sabem que existe um departamento jurídico
que lhes dá assistência. Este trabalho é realizado por advogados voluntários e estagiários do
curso de Direito, que realizam o acompanhamento dos processos de cada apenado,
prestando-lhes informações sempre que solicitadas acerca de benefícios que podem ser
pleiteados em seu favor junto ao Juízo de Execução.

3.2.6. A assistência à saúde

Outra reclamação muito observada nos estabelecimentos penais diz respeito à saúde,
a maioria apresenta queixas relacionadas à saúde bucal, pois nunca tiveram o devido
cuidado e asseio com seus dentes, dores de cabeça são típicas da vida ociosa, problemas
estomacais devido à mudança dos hábitos alimentares, crises de abstinência pela falta de
álcool e drogas entre outros males (SILVA. R J (org),2012, p.47).
A saúde publica não consegue suprir nem mesmo as necessidades dos postos de
saúde e hospitais nas cidades como é conhecido e notório por toda a comunidade, o que há
de se dizer do atendimento nas prisões.
Nas APACs, a existência de departamentos de saúde organizada, com rotina de
atendimento médico, odontológico e psicológico permite a harmonia no ambiente, pois a
presença dos voluntários nesses setores dá força para a recuperação do preso que percebe o
esforço da comunidade e a esperança que possuem em sua recuperação (TJMG, 2009,
p.23).
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3.2.7. A valorização humana

Como já foi possível perceber, todas as ações de assistência aos presos, buscam,
sobretudo, a recuperação de sua autoestima.
Devemos nos lembrar de que o preso adentra no sistema prisional como um
marginal, sem esperanças, traz apenas a convicção de que está morto para a sociedade e que
tal status perdurará mesmo após retornar do cárcere, seguirá estigmatizado por toda a vida
(SILVA J R (org), 2012, p.48).
Nos dizeres de Mario Ottoboni:
O preso se mascara, mostra-se o “tal”, o valente, mas no fundo se sente
um lixo. Por isso, o Método APAC tem por objetivo colocar em primeiro
lugar o ser humano, e nesse sentido todo o trabalho deve ser voltado para
reformular a autoimagem do homem que errou. Chamá-lo pelo nome,
conhecer sua história, interessar-se por sua vida, visitar sua familia,
atende-lo em suas justas necessidades, permitir que ele se sente à mesa
para fazer as refeições diárias e utilize talheres: essas e outras medidas
irão ajuda-lo a descobrir que nem tudo está perdido [...](OTTOBONI,
2004a, p.85)
Nas prisões comuns, em razão da dificuldade de contato com a comunidade, a
valorização humana fica prejudicada. Por isso, mesmo com assistência educacional dentro
das celas, na maioria das vezes vigiados por agentes penitenciários, não se alcança o
objetivo idealizado pelo legislador ordinário (SILVA J R, 2012, p. 48).
Nas APACs, são realizadas reuniões em celas com a utilização de métodos
psicopedagógicos e palestras de valorização humana que visam contribuir para que o
recuperando reencontre sua autoestima e autoconfiança (OTTOBONI, 2004a, p.85).
Os voluntários são treinados para auxiliar o preso a se livrar dos males que o
fizeram chegar onde estão e se perceberem como filhos de Deus, uma pessoa que não é pior
nem melhor do que ninguém, orientam e discutem com os presos (Op. cit.).
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3.2.8. A família

Não há maior assistência social ao preso do que proporcionar o encontro e contato


com sua família, o convívio respeitoso com as pessoas que o rodeiam traz esperança.
Conforme leciona Mário Ottoboni, a maioria dos indivíduos que cometem crimes
tem como fator determinante a falta de estrutura familiar, de acordo com sua experiência
São lares desestruturados, em todos os aspectos, que vivem à margem da
religião, da ética, da moral, da cultura, etc. Sofrem a exclusão social e
acabam, por isso mesmo, se tornando fonte geradora de delinquência. Por
este motivo a familia do recuperando precisa receber atenção especial do
Método APAC (OTTOBONI, 2004a, p.86).
O contato como os familiares proporciona ao preso o elo com o mundo exterior,
permite que ele continue a ser pai, filho, marido, irmão, amigo e desta forma se sinta
motivado e capaz de fazer planos para o futuro, livre das mazelas que o levaram a delinquir
e preparado para recomeçar (SILVA J R (org), 2012, p. 49).
Nas APACs, o contato com a família é repleto de cuidado e respeito, os voluntários
realizam o acompanhamento da familia do recuperando, visitando-o com regularidade,
quando possível, encaminha os filhos à escola, postos médicos, providencia cestas básicas,
etc. (OTTOBONI, 2004, p. 86).
Aos membros da familia são oferecidos cursos de formação e valorização humana,
dentre outras atividades que visam o seu entrosamento com a comunidade apaquiana e,
quando se encontram preparados, lhes é oferecida a oportunidade de se tornar um
voluntário (TJMG, 2009, p.25), pois para Mário Ottoboni, “Quando a familia se envolve e
participa da metodologia, é a primeira a colaborar para que não haja rebeliões, fugas, etc.,
ajudando a proteger a própria entidade e, como consequência, a população prisional.”
(OTTOBONI, 2004a, p.87).
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Foto 4 – Comemoração do aniversário com a família


FONTE: Site APAC Perdões

3.2.9. O voluntário e o curso para sua formação

Com relação aos voluntários, é preciso enfatizar que o trabalho é baseado no


trabalho gratuito em função do próximo, estes devem estar preocupados com o seu
semelhante, que se encontra caído e precisa de auxilio para se reerguer.
Estas pessoas devem estar preparadas, pois é sabido que se trata de uma causa
nobre, porém repleta de dificuldades. Sua espiritualidade deve ser exemplar, livre de
preconceitos e valores deturpados, pois quem tem uma boa vivencia espiritual não vacila
diante dos obstáculos que podem surgir (OTTOBONI, 2004a, p.89).
A este respeito Mário Ottoboni sustenta que
O amor há de ser gratuito, constante e incondicional, por isso a graça de
Deus passa a ser a recompensa. O valor de um trabalho gratuito é
incomensurável, pois é realizado por gestos concretos de doação, amor,
convicção cristã (Op. cit.).
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A gratuidade dos serviços oferecidos pelos profissionais das mais diversas áreas,
como psicólogos, médicos, assistentes sociais, advogados professores, se faz necessária
para que o preso sinta-se agraciado pelo trabalho realizado unicamente em nome do amor
ao próximo, pelo simples fato de fazer o bem sem esperar nada em troca. Ademais, é
importante que a sociedade esteja motivada a oferecer sua parcela de contribuição em prol
da recuperação daqueles que futuramente farão parte de seu convívio.
Como já fora dito, o voluntário que milita pela recuperação dos apenados deve estar
preparado para tal missão e com este objetivo, ele participa de um Curso de Estudos e
Formação de Voluntários, normalmente desenvolvido em 42 aulas, ministrado pela
Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados – FBAC (OTTOBONI, 2004a, p.
92). Nesse curso o voluntário conhecerá a metodologia apaquiana e desenvolverá suas
aptidões para exercer seu trabalho com eficácia e espirito comunitário (TJMG, 2009, p.25).

3.2.10. Os centros de reintegração social

Em que pese a Lei de Execução Penal disciplinar o cumprimento da pena em regime


semiaberto, colônia agrícola, industrial ou similar23, tal disposição resulta impraticável no
território pátrio em virtude da insuficiência de colônias penais adequadas.
Assim, os presos veem o seu direito cerceado em função da incapacidade do Estado
de lhes proporcionar condições do seu exercício, quando não, ante a ausência de casa de
albergado, os Tribunais acabam por beneficiar o detento com o “albergue domiciliar”,
acabando com toda a funcionalidade do regime progressivo de cumprimento de pena,
Neste sentido, Rezende e Santos cita como exemplo a decisão do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais, seguindo o entendimento do Tribunal de Justiça:
Agravo em execução. Recuperando progredido para o regime aberto.
Ausência de casa de albergado na comarca. Prisão domiciliar. Concessão
mediante condições. Decisão confirmada. Agravo não provido.
23
Art. 92. A Colônia Agrícola, Industrial ou similar destina-se ao cumprimento da pena em regime
semiaberto
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I – Tendo em conta que as condições estipuladas pelo Juízo da Execução


estimula,, na medida do possível, a autodisciplina e senso de
responsabilidade do reeducando, poderá ele, ante a ausência de casa de
albergado, ser colocado em prisão domiciliar, em homenagem aos
princípios da humanidade e da dignidade da pessoa.
II – Agravo não provido (Agravo de Execução Penal nº
1.0143.09.023359-2/001 – Relator: Des. Eduardo Brum – 4ª Câmara
Criminal – TJMG) (SILVA J R (org), 2012, p. 40).
Visando dar aplicabilidade ao disposto na LEP a APAC criou o Centro de
Reintegração Social (CRS), que possui dois pavilhões sendo um destinado ao regime
semiaberto e outro ao regime aberto, que oferece ao recuperando a oportunidade de cumprir
a pena no regime semiaberto próximo de sua familia e amigos (OTTOBONI, 2004a, p.95),
o que facilita a formação de mão de obra especializada, favorecendo a reintegração social e
respeitando os direitos do condenado (TJMG, 2009, p.25).

3.2.11. O Mérito

No Brasil adota o sistema progressivo para o cumprimento de pena, de acordo com


tal modelo, o detento cumpre sua pena em três regimes: fechado, semiaberto e aberto,
sendo que a progressão se dá em função da conduta do condenado, em outras palavras, o
preso que é obediente às normas disciplinares conquista o direito de passar de um regime
mais severo para o mais brando.
A APAC, apesar de entender ser válida a progressão adotada pela legislação
brasileira, acredita, entretanto, que não basta apenas a obediência às regras, mas sim o
mérito de cada um, conquistado através das atividades desempenhadas durante todo o
período de cumprimento da pena, “não se trata apenas de uma conduta prisional, mas de um
atestado que envolve o mérito do cumpridor da pena” (OTTOBONI, 2004, p.97).
Por este motivo, as atividades desenvolvidas pelo recuperando, assim como elogios
e advertência são devidamente registrados em seu prontuário, que será a base para a
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avaliação de seu mérito para a progressão de regime e concessão de outros benefícios (Op.
cit.).
No entendimento de Mario Ottoboni:
É importante que saibamos que, quando o mérito passa a ser o referencial,
o pêndulo do histórico da vida prisional, o recuperando que cumpre pena
privativa de liberdade passa a compreender melhor o sentido da proposta
da APAC, porque é pelo mérito que ele irá prosperar, e a sociedade e ele
próprio serão protegidos (OTTOBONI, 2004ª, p.97).

Foto 5 – Na APAC o recuperando é responsável pela limpeza da cela


FONTE: Site APAC Perdões

3.2.12. A Jornada de Libertação com Cristo

Consoante explicação de seu idealizador Dr. Mario Ottoboni


A Jornada nasceu da necessidade de se provocar uma definição do
recuperando sobre a adoção de uma nova filosofia de vida, cuja elaboração
definitiva levou 15 anos de estudos, apresentando uma sequencia lógica, do
ponto de vista psicológico, das palestras, testemunhos, músicas, mensagens
e demais atos, com o objetivo precípuo de fazer o recuperando repensar o
verdadeiro sentido da vida. Tudo na Jornada foi pensado e testado
exaustivamente, e o roteiro, ajustado incansavelmente até que seus
propósitos fossem atingidos (Op. cit, p. 98 – 99).
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Ottoboni segue com sua explicação:


A Jornada é dividida em duas etapas: a primeira preocupa-se em revelar
Jesus Cristo aos jornadeiros, sua bondade, autoridade, misericórdia,
humildade, senso de justiça e igualdade. Para Deus todos são iguais e
titulares de justiça e igualdade. A parábola do filho prodigo é o fio
condutor da Jornada, culminando com o retorno ao seio da familia, num
encontro emocionante do jornadeiro com seus parentes. A segunda etapa
ajuda o recuperando a rever o filme da própria vida, para conhecer-se
melhor. A Jornada de Libertação promove, nessa etapa, o encontro do
recuperando consigo mesmo, com Deus e com o semelhante, para voltar
aos braços do Pai com o coração pleno de amor (OTTOBONI, 2004a, p.
99).
A participação na Jornada de Libertação com Cristo, por ser considerado um
elemento fundamental do Método, é atividade obrigatória para todos os recuperandos,
especialmente para os que cumprem o regime fechado e deve ser realizada ao menos uma
vez, durante o cumprimento da pena (Op. cit., p. 115).

3.3. A execução penal e o Método APAC

Passemos a uma breve análise da Lei de Execução Penal e seu cumprimento através
do Método APAC.
Inicialmente analisemos o art. 1º da lei em comento que vaticina “A execução penal
tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.
Não restam dúvidas de que o método apaquiano oferece ao condenado condições
plenas para a sua ressocialização e reinserção na sociedade sem se afastar do caráter
punitivo da execução da pena, uma vez que conta com um regimento interno baseado em
disciplina, com horários rígidos e regras a serem cumpridas. (Ibidem, p. 67)
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Além disso, os direitos dos condenados são plenamente assegurados nos presídios
da APAC, a assistência jurídica presente em todas as unidades traz tranquilidade para o
cumprimento da pena, todos são tratados de forma igualitária em relação aos seus direitos
independente de qualquer condição. Tal fato vai ao encontro do previsto no art. 3º da LEP
que preconiza que “Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não
atingidos pela sentença ou pela lei” e em seu § único “Não haverá distinção de qualquer
natureza racial, social, religiosa ou política” e ainda está em concordância com os direitos
previstos na Seção II do Capitulo IV da mesma lei.
Nas APACs o trabalho de conscientização da comunidade é constante, o sucesso se
deve em sua maior parte aos voluntários que atuam em todas as áreas, desde a assistência
profissional até a assistência espiritual e amiga, ou mesmo através de doações, garantindo
assim o que prevê o art. 4º quando afirma que “O Estado deverá recorrer à cooperação da
comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança”.
Toda a assistência prevista no art. 10 e descrita no art. 11e seções seguintes da lei
em referência são dispensados aos recuperandos das APACs, conforme explanado nos
capítulos anteriores.
O Capitulo III versa sobre o trabalho, um dos 12 elementos essenciais do Método já
apresentado, aplicado aos três regimes de cumprimento da pena de maneira diferenciada em
cada estágio no qual o preso se encontra.
Os deveres descritos na Seção I do Capitulo IV bem como a disciplina constante na
Seção III do mesmo Capitulo, são requisitos analisados para que o recuperando faça jus à
progressão de regime bem como na concessão de outros benefícios a que o mesmo tem
direito, desta forma, através da meritocracia, o recuperando busca seguir as regras não
coercitivamente, mas por saber que cabe apenas a ele lutar por sua recuperação.
Para se fazer cumprir a previsão do Titulo III, o funcionamento das APACs é
acompanhado e fiscalizado pelos Órgãos do Poder Judiciário responsáveis pela Execução
Penal.
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As APACs contam com estabelecimentos penais em consonância com o previsto no


Titulo IV, presídios destinados ao cumprimento da pena em regime fechado e Centros de
Reintegração Social para os detentos do regime semi-aberto e aberto.
Conforme já explicado, o Método APAC cuida da execução da pena restritiva de
liberdade visando a recuperação do preso sem se distanciar, no entanto, do caráter punitivo.
Assim sendo, a execução da pena prevista no Título V e cumprida da mesma forma que em
um presidio comum, porém com a dignidade inexistente na primeira. Tanto o cumprimento
obrigatório nos três regimes de forma progressiva como as autorizações para saída são
regulamentadas de acordo com o previsto na LEP.
É possível afirmar, portanto, que o Método APAC possui como base a Lei de
Execução Penal e por este motivo pode ser considerado um meio eficaz de alcançar o seu
cumprimento.

3.4. APAC no Mato Grosso do Sul

Apesar de se tratar de um Método criado a mais de 40 anos e mundialmente


reconhecido, o Estado de Mato Grosso do Sul ainda não conta com presídios que adotam o
Método APAC.
No entanto, esta realidade encontra-se em vias de ser alterada, visto que o Tribunal
de Justiça de MS e a Agepen – Agência Estadual de Administração Penitenciária iniciaram
no ano de 2013, estudos sobre a viabilidade de implantação da APAC no Estado.
Uma comitiva composta pelo diretor da Agepen, o diretor de operações da agência
penitenciária, o assessor de projetos especiais, o juiz auxiliar da Presidência do TJMS e um
Juiz da Vara de Execuções Penais, realizaram visita à APAC de Itaúna com o objetivo de
conhecer melhor a metodologia e funcionamento da Associação.
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Tal iniciativa se deve a viabilidade econômica apresentada, uma vez que as


unidades custam aos cofres públicos, conforme já explanado, 1/3 do valor dispendido com
um preso do sistema comum24 e também aos índices de reincidência já apresentados.
Outro argumento financeiro apresentado foi em relação ao custo de edificação, pois
enquanto que um prédio da APAC custa cerca de R$ 1 milhão, a construção de um presidio
comum ultrapassa R$ 10 milhões.25
De acordo com informações coletada na página de notícias do TJMS, “Os
representantes do judiciário sul-mato-grossense verificaram que a educação, assistência
médica e religiosa, a proximidade da família e o trabalho têm feito os reeducandos
acreditarem que é possível mudar de vida” (TJMS, 2013).
Ainda de acordo com a página de noticias veiculada pela FBAC, “Os visitantes
conheceram todas as dependências dos três regimes de cumprimento de pena, e fizeram
perguntas aos recuperandos, voluntários e funcionários da casa. “O que vocês
(recuperandos) fazem aqui nos ensina a pensar de outra forma”, disse o juiz Albino
Coimbra. Já o coronel Deusdete26 relatou que chegou à APA incrédulo e saiu
impressionado com tudo que viu ali”(FBAC, 2013).

24
Declaração do diretor-presidente da Agepen em 11/04/2013 ao site de noticias da Agepen. Disponível em
http://www.agepen.ms.gov.br/index.php?templat=vis&site=149&id_comp=1410&id_reg=201966&voltar=ho
me&site_reg=149&id_comp_orig=1410>. Acesso em: 03/05/2013
25
Informações obtidas no site do TJMS. Disponível em:
<http://www.tjms.jus.br/noticias/visualizarNoticia.php? id=23632>. Acesso em 03/05/2013.
26
Deusdete Oliveira – Diretor da Agepen
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CONCLUSÃO

A realidade apresentada nos presídios brasileiros, distoa completamente da função


ressocializador da pena proposta por nosso ordenamento jurídico, trata-se de uma pena
aflitiva com o aval da sociedade que se vinga punindo o criminoso.
O tratamento desumano dispensado aos presos do Brasil é digno de repúdio aos
olhos daqueles que enxergam por detrás das grades seres humanos, que cometeram erros,
mas que estão pagando por eles com sua liberdade, sua dignidade e até mesmo suas vidas.
Pessoas que merecem uma segunda chance, mas que diante de um sistema penitenciário
falido, jamais terão a oportunidade de se tornarem indivíduos recuperados e aptos a retornar
ao convívio em sociedade, em verdade, o Estado muitas vezes prende um “ladrão de
galinhas” e devolve à sociedade um psicopata e esta transformação horrenda se dá às
expensas da própria sociedade que, vitimizada, completa o circulo vicioso do crime e
castigo, clamando por justiça e se regozijando ao ver os presos serem tratados como a
escória.
Os defensores da ressocialização em sua maioria entendem que é necessário
humanizar o criminoso, diminuir as injustiças no tratamento com os presos, pois o contrário
gera revolta do condenado contra a sociedade, o que, consequentemente o levará a cometer
novos crimes.
Analisando o Método APAC, podemos concluir que existe total convergência entre
suas regras e as vaticinadas pela Lei de Execução Penal sendo, portanto, uma alternativa
eficaz ao seu cumprimento.
Nas APACs, a valorização humana é pilar fundamental para a recuperação, não
existe espaço para o ócio, o trabalho e a profissionalização, assim como o asseio e o bom
comportamento são elementos que compõem o mérito a ser conquistado pelo recuperando
para que mereça qualquer tipo de beneficio.
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A proximidade com a família auxilia na recuperação do apenado, que se esforça


para melhorar a cada dia e voltar o quanto antes ao convívio juto dos seus.
A estrutura física das APACs não se compara com a do sistema prisional comum, os
próprios recuperandos cuidam da limpeza das unidades e de suas celas e toda a assistência
necessária é disponibilizada através da ajuda de profissionais voluntários.
A assistência religiosa se faz presente, auxiliando o recuperando na introspecção, na
busca da espiritualidade para que assim, possa entender que todos são merecedores de uma
vida melhor.
Para a APAC, todo homem é maior do que o seu erro, ninguém é irrecuperável e
esta fé na capacidade do homem de matar o criminoso existente dentro de si é o que torna o
Método capaz de recuperar e devolver à sociedade, na maioria das vezes, um novo homem,
com seus valores transformados, profissionalizado e apto ao convívio no meio onde se
encontrar.
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REFERÊNCIAS

AGEPEN. Agepen e Poder Judiciário estudam implantar Método APAC em MS. 11 abr. 2013. Disponível
em:<http://www.agepen.ms.gov.br/index.php?templat=vis&site=149&id_comp=1410&id_reg=201966&volta
r=home&site_reg=149&id_comp_orig=1410>. Acesso em: 02 jun 2013.

ARGOLLO, Elaina de Araújo. Evolução das penas no Direito Penal. Jurisway. 31 jul. 2008. Disponivel em:
<http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=760>. Acesso em: 28 mai. 2013.

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