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DESERTO: LUGAR DO ENCONTRO COM DEUS

O deserto deixou no Irmão Carlos uma marca definitiva. Será como uma espécie de selo de
família, de todos os ramos da família espiritual que tenham sua origem no carisma foucauldiano.
Partindo de uma vasta tradição dos Padres do Deserto, o Irmão Carlos escreve:

“É necessário passar pelo deserto e nele permanecer para receber a graça de Deus: é no
deserto que nos esvaziamos e nos desprendemos de tudo o que não seja Deus, onde esvaziamos
completamente a casinha de nossa alma para deixar o espaço todo somente para Deus. Os hebreus
passaram pelo deserto; Moisés viveu nele antes de receber a missão; Paulo, ao sair de Damasco, passou
três anos na Arábia; São Jerônimo e São João Crisóstomo também se prepararam no deserto. É
indispensável. É um tempo de graça. É um período pelo qual tem de passar necessariamente toda alma
que queira dar fruto. É necessário este silêncio, este recolhimento, este esquecimento de tudo o que foi
criado para que Deus estabeleça na alma o seu Reino e forme na alma o espírito interior, a vida íntima
com Deus, a conversação da alma com Deus na fé, na esperança, na caridade... É na solidão, vivendo
somente com Deus, no recolhimento profundo da alma, que esquece o que existe para viver só em
comunhão com Deus, onde Deus se entrega totalmente a quem se abandona totalmente a ele”.

Deserto, em primeiro lugar, é experiência do Absoluto de Deus e do relativo de tudo o mais,


incluídos aí as pessoas e nós mesmos. No deserto estamos sozinhos diante de Deus, e esta presença
deveria bastar para plenificar e dar sentido à nossa vida. No deserto, o amar e buscar a Deus com todo o
coração, com toda a mente e com todas as forças é a única alternativa possível, e assim experimentamos
a verdade fundamental da mística cristã: Deus nos amou primeiro e vem ao nosso encontro. “Agora sou
eu mesmo que vou seduzi-la, vou levá-la ao deserto e conquistar seu coração” (Oséias 2, 16). Vamos ao
deserto sem enfeites e sem máscaras, no silêncio e na pobreza do ser, para escutar Deus falar ao coração,
para deixar ser Deus. “Oxalá ouvísseis hoje a minha voz... com Sl 94 a Igreja nos convida a iniciar as
Laudes de cada dia!

“O silêncio é a medida do amor. Só quem ama sabe curtir o silêncio a dois. É ruidoso o mundo
em que vivemos. Há demasiadas máquinas de fazer barulho: telefone, fax, celular, rádio, TV, veículos,
campainhas. Nosso cérebro habitua-se tanto à sonoridade excessiva que custamos a desligá-lo. Uns
preferem remédios que façam dormir. Outros, a bebida, as drogas de todas espécies. Assusta-nos a
hipótese de manter a casa em silêncio. Decretar o jejum de ruídos: desligar o rádio, TV, telefone e
celular. Isso pode levar ao pânico. A “louca da casa”, a imaginação, entra em rebuliço, supondo que há
uma notícia importante a ser ouvida ou um telefonema de urgência a ser recebido. Tocou o celular,
devo clicar imediatamente, esteja onde estiver. Ou experimenta-se o medo de si mesmo. Sentir-se
ameaçado por si mesmo é uma forma de loucura frequente em quem, vê-se privado de sons exteriores.
Como alguém preso no elevador. Não é a claustrofobia que amedronta. É o peso de suportar a si mesmo,
entregue aos próprios ruídos interiores. É terrível o espectro de uma parcela dessa geração que se nutre
de ruídos desconexos. Comunica-se por um código ilógico; balbucia letras musicais sem sentido; entope
de sons os ouvidos, na ânsia de preencher o vazio do coração. São seres transcendentes, porém cegos.
Trafegam por veredas perdidas, sem consciência de que procuram fora o que só pode ser encontrado
dentro” (Frei Betto).

O dramaturgo Eugène Ionesco reagia sempre que ouvia classificar o seu teatro com “teatro do
absurdo”... Justificava-se explicando que a única coisa importante no teatro é que ele solte “um grito
profundo da alma”. Por isso, as suas peças são parábolas tatuadas sobre o coração e em ruptura com este
tempo desencontrado que vivemos.

Uma delas chama-se “A sede e a fome”. Conta a história de um casal – Jean e Marie Madeleine,
onde cada um representa uma posição diferente não só perante a vida prática, mas também quanto ao
sentido da própria vida. Jean é devorado, por um desejo sem objeto, um infinito vazio, uma inquietude
sem coordenação com nada de real. Ele vive abrasado por uma sede e por uma fome que nada parece
aplacar. E que rugem dentro dele continuamente com um trovão: “Tenho sempre fome. É como se não
tivesse comido. Este vazio, este vazio que não consigo encher... O meu estômago é um buraco sem
fundo; minha boa é um abismo cujas paredes são de fogo. Fome e sede, fome e sede”. A mulher tenta
reorientá-lo, mas em vão. Ela interroga-se: “Por que é que não lhe agrada criar raízes?”. Ou então:
“Onde poderá ele procurar aquilo que está sempre ao seu alcance, que se encontra ali, debaixo de seus
pés?”. Ele, porem, mesmo amando a mulher e a filha, não credita que um amor assim limitado possa
satisfazer a grandeza de sua sede: “O universo é imenso, mas o que lhe falta é ainda maior”. Em vez de
viver na sede o absoluto, Jean escolheu viver o absoluto da sede. Por isso, tudo lhe parece ínfimo,
insuficiente e mesquinho. Sobre todas as coisas espalha o mesmo veneno da lamúria, condenando-as.
Esta sede, a que ele não consegue dar um rosto, fez dele um homem sem casa, nem raízes; incapaz de
criar laços, estrangeiro de si mesmo; perdido no vazio do labirinto onde escuta apenas o solitário rumor
dos seus passos.

Se tivéssemos que contar a parábola da nossa sede, certamente teria traços semelhantes. Uma
sede que se torna numa grande insatisfação, numa desafeição em relação ao que é essencial, numa
incapacidade de discernimento que nos empurra para os braços do consumismo. Fala-se muito contra o
consumismo dos centros comerciais, mas podemos esquecer que há um consumismo da vida espiritual.
E o que se diz sobre um, ajuda-nos a compreender o outro. (Cf. José Tolentino Mendonça, Elogio da
Sede, Paulinas, 2018, p.34-35).

O Papa Francisco aborda esta situação dramática em que vivem muitas pessoas: “Às vezes
perdemos o entusiasmo pela missão, porque esquecemos que o Evangelho dá a resposta às necessidades
mais profundas das pessoas, porque todos nós fomos criados para aquilo que o Evangelho nos propõe: a
amizade com Jesus e o amor fraterno. Quando se consegue exprimir, de forma adequada e bela, o
conteúdo essencial do Evangelho, da certeza de que essa mensagem fala aos anseios mais profundos do
coração: o missionário está convencido de que já existe nas pessoas e nos povos, pela ação do Espírito,
uma ânsia – mesmo que inconsciente – de conhecer a verdade a cerca de Deus, do homem, do caminho
que conduz à libertação do pecado e da morte. O entusiasmo na evangelização funda-se nesta convicção.
Temos à disposição um tesouro de vida e de amor que não pode enganar, a mensagem que não pode
manipular nem desiludir. É uma resposta que desce ao mais fundo do ser humano e pode sustentá-lo e
elevá-lo. O Evangelho é a verdade que nunca passa de moda, porque é capaz de penetrar aonde nada
mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura comum amor infinito” ( E G 265).

Na recente exortação Gaudete et Exsultate sobre o chamado à santidade no mundo atual, o Papa
propõe momentos de quietude, solidão e silêncio diante de Deus: “Com efeito, as novidades contínuas
dos meios tecnológicos, o fascínio de viajar, as inúmeras ofertas de consumo não deixam espaços vazio
onde ressoe a voz de Deus. Tudo se enche de palavras, prazeres epidérmicos e rumores a uma
velocidade cada vez maior; aqui não reina a alegria, mas a insatisfação de quem não sabe para que vive.
Então, como não reconhecer que precisamos deter esta corria febril para recuperar um espaço pessoal, às
vezes doloroso mas sempre fecundo, onde se realize o diálogo sincero com Deus? Em certos momentos,
deveremos encarar a verdade de nós mesmos, para a deixar invadir pelo Senhor; e isto nem sempre se
consegue , se a pessoa “não se vê àbeira do abismo da tentação mais opressiva, se não sente a vertigem
do precipício do abandono mais desesperado, se não se encontra absolutamente só, no cume da solidão
mais radical”. Assim encontramos as grandes motivações que nos impelem a viver, em profundidade, as
nossas tarefas” (G E 29).

“Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas
medo de te deixares conduzir pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o
encontro de tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe
apenas uma tristeza: a de não ser santo” (G E 34)

O caminho mais difícil é aquele que nos leva para dentro de nós mesmos, para o sacrário secreto
onde Deus quer habitar. “Eis que estou à porta batendo. Se alguém escutar a minha voz e abrir a parta,
estrarei em sua cada e farei a refeição com ele e ele comigo” (Ap 2,20).“O silêncio ajuda-nos a descer
em nós mesmos para ir ao encontro de Deus e ao nosso encontro também, pois revela ao ser humano
o seu próprio mistério, o cerne do seu ser como pessoa livre, indefinível e inacessível a qualquer ciência
humana. Há uma qualidade de silêncio que nos põe em estado de escuta total. É um silêncio que nos
leva ao fundo de nós mesmos, em comunhão com o Ser Absoluto que nos deu a existência. Tal silêncio
é sagrado e precisa ser absoluto. É tudo ou nada. É descer no mistério do “eu” que nos conduz à
fronteira do Mistério de Deus e constitui uma última preparação para a escuta da Palavra incriada que
nos deu a vida ao pronunciar o nosso nome” (René Voillaume).

O deserto nos abre à verdadeira solidariedade e misericórdia para com os irmãos e nos
ajuda a amar verdadeiramente. A aprendizagem do amor fraterno requer a atitude de deserto. A
fraternidade e o serviço da comunidade exigem que em nosso espírito haja espaço para a solidão e o
silêncio. Os Santos Padres nos ensinam que, paradoxalmente, a solidão dá lugar à misericórdia “porque
nos faz morrer para o próximo”, isto é, nos impede de julgá-lo, criticá-lo, avaliá-lo, morrer a toda
espécie de preconceitos, antipatias, rancores, ressentimentos e hostilidades. Isto se torna possível porque
o deserto nos dá um agudo sentir de nossos próprios defeitos e misérias, nos faz “ver a trave em nosso
olho” e nos torna brandos e misericordiosos quando se faz necessário ajudar a “tirar o cisco no olho do
nosso irmão”.

O silêncio nos predispõe à compreensão dos outros, pois o hábito do silêncio nos ajuda a ouvi-
los atentamente e colocar-nos em seu lugar, em vez de impormo-nos por atitudes ou palavras muitas
vezes indiscretas, invasoras da privacidade e ofensivas. Esse silêncio faz-nos fugir da tagalerice inútil e
das fofocas, permitindo-nos ultrapassar certa superficialidade das relações humanas, nas quais tão
facilmente nos refugiamos.

O deserto é também o lugar das tentações. Lembremos as tentações de Jesus nos quarenta dias
em que esteve no deserto. Nele encontramos Deus, mas também o demônio. Sem tentações correríamos
o risco de nos apoderar de Deus e torná-lo inofensivo, inócuo. Pela tentação experimentamos,
existencialmente, nossa distância de Deus e o assombro de sua santidade. Quando suplicamos: “Não nos
deixeis cair em tentação”, não estamos pedindo para não sermos tentados, uma vez que isto seria até
mesmo impossível, mas imploramos para não sermos devorados pela tentação ou fazermos algo que
contrarie a vontade de Deus. Sem a tentação não sentiríamos o cuidado de Deus, não adquiriríamos a
confiança nele e o temor reverencial e amoroso que ele merece. Deus se torna mais próximo, íntimo e
familiar. Sem a tentação podemos tornar-nos desleixados, indiferentes, preguiçosos, descuidados de nós
mesmos. As tentações nos forçam a viver conscientemente, a exercitar a disciplina e a ascese, a
permanecer sempre vigilantes e atentos. Porque nos faz mais humanos e humildes, a tentação torna-se
caminho de crescimento e amadurecimento.

Somos tentados a fugir do deserto porque é difícil aguentar o vazio, a solidão, as horas
intermináveis, a aparente perda de tempo. Nossas agendas estão sempre abarrotadas de compromissos
inadiáveis. Por formação e cultura capitalista, somos naturalmente voltados para a o ativismo, para os
resultados. O index do totalitarismo do consenso neoliberal decreta o silêncio dos conceitos altruístas.
Grita-se competitividade, concorrência, disputa, privatização.., Cala-se solidariedade, cooperação,
voluntariado, doação, partilha, socialização. Edifica-se a barbárie na qual muitos são os excluídos,
descartáveis e poucos são os escolhidos, usurpadores de tudo.

Portanto, é importante ajudar-nos em nossas fraternidades a não fugir do deserto, a realizá-lo


com regularidade e fidelidade. Porque ou nos entregamos a Deus, ou nos fechamos em nós mesmos
fugindo de Deus. Essas duas alternativas são radicais e incompatíveis. O deserto é lugar da conversão e
espaço vocacional. Na volta do deserto estamos mais preparados para assumir a fraternidade (espaço
eclesial), para receber o sacramento do perdão e entregar a vida ao olhar dos irmãos (revisão de vida),
para buscar novos caminhos de entrega e serviço ao Senhor e aos irmãos.

Nós vamos para o deserto:

 com o Povo de Deus, que “no deserto andava” em busca da Terra Prometida: somos
descendentes e herdeiros de homens e mulheres do deserto;
 com os Profetas, para que o fogo da paixão por Deus nos queime por dentro, e com o coração
abrasado nos deixamos seduzir e retornemos ao primeiro amor;
 com Maria, que “guarda e medita no seu coração”, e na hora certa soube dizer: “Eis aqui a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”;
 com os grandes orantes, homens e mulheres, e os mártires da Igreja de ontem e de hoje;
 com o testemunho fascinante e o incentivo cativante de nosso querido Ir. Carlos, para
aprender a articular com ele a “Oração do Abandono”, como Jesus no deserto e na cruz, para
fazer a vontade do Pai e para que venha o seu Reino.
 com Jesus, nosso “único modelo”: vida toda aberta ao Pai e aos irmãos. Ele espera nossa
resposta, como a de Pedro: “Senhor, tu conheces tudo, tu sabes que eu te amo”. Por sua vez
nos dirá: “Apascenta as minhas ovelhas... Quando eras moço... Segue-me” (aqui atrás de
mim); “por causa de Jesus e do Evangelho”. Vamos cantar juntos.

EM SILÊNCIO, ABANDONA-TE AO SENHOR!

-Põe tua esperança no Senhor, / confia nele e ele agirá!

- Espera atento aquilo que há de vir, / escuta o tempo que o Senhor está a falar.

- Esperar não é desejar / é obedecer ao caminho de Deus.

- Caminheiros nós somos na História / nas etapas da promessa do Deus Salvador.

- De esperança e paciência do vivido, / devagar se torna prece: Vem Senhor Jesus!

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