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MEDICINA LEGAL
Prof. Doutor Francisco Corte-Real
Eduardo Figueiredo
2016/2017
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Tema 1: Introdução
A medicina legal portuguesa tem cerca de 100 anos, tendo surgido aquando da criação, por
via da Carta de Lei de 1899, das morgues e dos conselhos médico-legais que realizavam exames
neste âmbito (Hoje só há um e tem outra função, ainda que tenham tido funções importantes
durante muitos anos. Existiam em Lisboa, Porto e Coimbra e eram presididos pelos professores de
medicina legal.)
O Decreto de 1900 (Instruções) ainda está, de certo modo, em vigor. Contemplava normas
de imparcialidade e independência para o perito médico-legal. As perícias médico-legais tendem a
ser realizadas de maneira independente - uma independência técnico científica, eliminando
qualquer pressão para que os relatórios sejam realizados de alguma ou outra maneira, ainda que se
possam realizar pressões para garantir a celeridade dos relatórios - e imparcial.
As perícias podem ser realizadas também de maneira particular, por exemplo, ao nível das
companhias de seguro em casos de acidente de viação ou de trabalho, entre outras perícias
realizadas por médicos particulares. Tanto num lado como no outro, há entidades que pagam o
exame, sendo bastante importante que se mantenha a independência e a imparcialidade,
independentemente de quem paga a perícia.
Este documento também contemplava regras de objectividade - um perito médico-legal só
pode concluir aquilo que objectivamente conseguir comprovar. Nem sempre a objectividade é
possível (p.e. Casos de violação, mas tal não significa que não tenha existido uma violação, mas
apenas que objectivamente não há provas que permitam comprovar esse abuso sexual, ao nível
médico legal). Para garantir a objectividade, existe nos relatórios médico legais uma parte de
descrição objectiva dos registos médicos, distinguindo estas notas de tudo aquilo que foi contado
pelo examinado.
Em 1918, o Decreto 5023 criou os IML's, os conselhos médico-legais (que passaram a ter
funções de revisão de relatórios) e foi criado o curso superior de medicina legal, assim como os
peritos comarcãos - ainda existem em alguns locais, especialmente onde não existem gabinetes
médico-legais.
Em 1998, o Diploma 11/98 veio abrir prestação de serviços aos particulares, permitindo que
qualquer particular possa pedir uma perícia médico-legal. A título particular, são mais pedidos os
exames de avaliação de dano corporal em direito civil; investigações de paternidade (Embora não
exista nenhuma lei que identifique quando devem ser feitos os exames de investigação de
paternidade - sem acordo e consentimento de pai e mãe, o IML não faz a investigação a título
privado e defende que deve haver recurso ao tribunal) --> E isto porque muitas vezes os
particulares recorrem a laboratórios privados porque a lei não o impede (A Sociedade Portuguesa
de Genética Humana considera que devem ser feito os exames antes dos dois anos ou na
maioridade). Este diploma também serviu para definir os Gabinetes Médico Legais (eram 30,
inicialmente, mas hoje são 31).
No ano 2000, foi criado o INML (Dec Lei 146/2000, de 18 de Julho) que veio uniformizar
algumas questões até aí dúbias. (p.e. Nunca deve o perito determinar se há ou não intenção de
matar por parte do réu, mas deve ser o magistrado a decidir isso.) Permitiu organizar as
metodologias, recursos, etc...
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químicos e toxicológicos. Os exames complementares das ilhas são feitos em Coimbra, assim
como todos os da região centro; os do Norte, no Porto; os do Sul, em Lisboa.
3) Genética e Biologia Forenses Trata-se da realização de perícias e exames de identificação
genética, nomeadamente os de investigação biológica de parentesco, de identificação
individual, de criminalística biológica - podem ser realizados num laboratório do
departamento de policia cientifica da policia judiciária, existindo um gentlemen's agreement
que determina que quem colhe a amostra de problema é que realiza o exame, excepto
indicação em contrário. Localizados em Porto, Coimbra e Lisboa.
4) Tecnologias Forenses e Criminalística
5) Psiquiatria Forense De acordo com o Dec.-Lei nº 326/86, de 29 de Setembro, os exames
médico-legais do foro psiquiátrico a que houver de proceder-se nos termos da lei do
processo penal deverão ser solicitados ao IML da circunscrição médico-legal respectiva, que
os distribuirá pelas instituições psiquiátricas, aos quais cabe a realização destes exames. O
critério distributivo dos exames periciais a ponderar é o de seis exames por perito/ano.
No que toca à sua requisição, as perícias médico-legais solicitadas por autoridade judiciária
ou judicial são ordenadas por despacho da mesma, nos termos da lei de processo, não sendo,
todavia, aplicáveis às efectuadas nas delegações do Instituto ou nos gabinetes médico-legais as
disposições contidas nos artigos 154.º e 155.º do Código de Processo Penal. A requisição é realizada
pelo Instituto e não pelo magistrado. Por questões de celeridade processual, deve ser feita com toda
a informação clinica disponível ou que possa vir a ser obtida pela entidade requisitante até à data
da sua realização, já que o médico tem que verificar se a informação clinica é ou não compatível
com o quem está a observar no examinado.
Há ainda que ter em consideração que no exercício das suas funções periciais, os médicos e
outros técnicos têm acesso à informação relevante, nomeadamente à constante dos autos, a qual lhes
deve ser facultada em tempo útil. Sendo assim, o presidente do Instituto, os directores das
delegações, os directores dos serviços técnicos ou os coordenadores dos gabinetes médico-legais
podem solicitar informações clínicas directamente aos serviços clínicos hospitalares, serviços
clínicos de companhias seguradoras ou outras entidades públicas ou privadas, que as devem
prestar no prazo máximo de 30 dias. Apesar de que a lei permita que as informações clínicas sejam
solicitadas aos hospitais, devendo estes remete-las no prazo de 30 dias, a verdade é que nem sempre
as remetem em prazo. Nestes casos, o Instituto pode pedir aos magistrados que exijam a aquele
hospital ou companhia de seguros que envie essas informações ao tribunal para que as envie ao
IML, já que o tribunal pode aplicar multas em caso de incumprimento.
Denúncia de crimes
As delegações e os gabinetes médico-legais do Instituto podem receber denúncias de crimes
devendo remetê-las no mais curto prazo ao Ministério Público.
Sempre que tal se mostre necessário para a boa execução das perícias médico-legais, as
delegações e os gabinetes médico-legais do Instituto podem praticar os actos cautelares necessários
e urgentes para assegurar os meios de prova, procedendo, nomeadamente, ao exame, colheita e
preservação dos vestígios, sem prejuízo das competências legais da autoridade policial à qual
competir a investigação. Podem existir colheitas, mesmo sem denúncias.
Esclarecimentos complementares
Na prestação de esclarecimentos complementares posteriores à realização da perícia e envio
do respectivo relatório médico-legal deverá prescindir-se, sempre que possível, da presença do
perito, devendo a autoridade judicial que a solicita usar os meios técnicos processualmente
previstos, como a videoconferência.
Marcadores clássicos:
1) Enzimas eritrocitárias
2) Enzimas leucocitárias
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3) Proteínas plasmáticas
4) Antigénios eritrocitários
5) Antigénios leucocitários
Com o cabelo arrancado (que inclui a sua raiz) pode fazer-se uma investigação de
paternidade. Mas uma haste de cabelo cortado não permite que se realize tal investigação, porque
uma haste de cabelo (sem raiz) só tem ADN mitocondrial, isto é, ADN da mãe, não servindo, pois,
para a realização de testes de paternidade.
Quando se estuda uma pessoa com base nos cromossomas não sexuais, só podemos saber
quais cromossomas vêm do pai ou da mãe, se os compararmos com os dele, já que os únicos
cromossomas onde existe certeza da sua origem são o cromossoma sexual Y (que vem sempre do
pai) e o cromossoma X (que vem sempre da mãe). Sendo assim, quando vou estudar um
determinado marcador, vou encontrar duas variáveis: uma do pai e outra da mãe. Depois tenho de
compara-las com o pai e com a mãe para saber qual vem dum e do outro.
Noções Básicas
Gene: é a unidade básica responsável por uma
característica e que se transmite hereditariamente.
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Polimorfismos de ADN
Polimorfismos de ADN
Temos o ADN codificante, responsável pelo funcionamento do nosso corpo e pelas nossas
características. Os erros no ADN codificante podem conduzir a abortos espontâneos, etc...
Temos também o ADN não codificante que é um ADN que pode acumular erros ao longo
de gerações e gerações e tal não tem consequências (corresponde a grande parte do seu genoma). O
ADN não codificante é diferente em todos nós, sendo aquele que mais interessa à genética forense.
Por tal razão, a genética forense não consegue distinguir irmãos gémeos verdadeiros, porque
partilham do mesmo ADN não codificante, embora seja possível se se encontrar uma mutação
genética, que pode verificar-se posteriormente.
Dentro deste temos o ADN repetitivo em tandem, que é
aquele em que um conjunto de bases se vai repetindo. O mais
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utilizado são os microssatélites que têm entre 1 a 6 bases. Podemos ainda reconhecer a existência de
minissatélites.
Tanto a maternidade como a paternidade são factos biológicos que carecem de vínculo
jurídico. Contudo, estes dois factos biológicos têm um modo diferente de se provados. No caso da
mãe, a filiação resulta do facto do nascimento, enquanto para o pai não se pode provar o seu
envolvimento biológico, como se prova a maternidade. Aplica-se, pois, uma presunção (art. 1826º
CC).
A investigação biológica da paternidade é realizada aquando das reclamações de
paternidade e das impugnações de paternidade. Apesar das várias soluções previstas no CC para
determinação da paternidade, os exames de sangue têm uma função importantíssima. Refere um
Acórdão do STJ (1991) que “os exames de sangue não constituem uma presunção da paternidade,
pois tendem à prova directa da paternidade biológica”.
Prova de Paternidade
O objectivo da investigação de paternidade é o de determinar se o pretenso pai em questão é
ou não excluído da paternidade do investigante. Com esse fim, estudam-se os vários marcadores
genéticos (STR’S) que conferem uma individualidade biológica determinada pelo perfil genético
dos intervenientes no processo.
Ora:
1) Quando há apenas uma exclusão de 1ª ordem ou até duas exclusões de 2ª ordem,
será calculada a probabilidade de paternidade sem ter em conta os marcadores em que se
verifica a exclusão.
2) Se o número de exclusões for superior ao previsto no 1), considera-se provada a
exclusão.
3) Se não há nenhuma exclusão, avança-se para o cálculo da probabilidade de
paternidade = Inclusão
Hoje em dia é consensualmente aceite que devemos ter mais de 2 exclusões de 1ª ordem para
excluir a paternidade. E isto porque, quando trabalhamos com marcadores genéticos, a taxa de
mutação é de 1/1000. (E isto apesar de que são mais polimórficos.) Há também que ter em conta
que nos marcadores clássicos, a taxa de mutação é inferior.
Podemos retirar a seguinte conclusão: quanto mais baixo for o denominador, o valor final
aumenta, ou seja, quanto mais raro for o alelo transmitido pelo pai na população, mais alta é a
probabilidade de paternidade.
A escala de Hummel já não é usada e tem apenas valor de orientação para o magistrado. Um
bom laboratório deve pelo menos atingir 99.99% de probabilidades. Não deve o magistrado receber
nenhum relatório de paternidade que não atinja 99.99%.
Quanto marcadores têm de ser estudados para atingir esse valor? Isso depende das
circunstâncias e se os alelos são muito ou pouco frequentes na população.
Há duas razões pelas quais um bom laboratório pode não conseguir atingir esse valor de
99,99% de probabilidade: por exemplo, quando o pai e o filho já morreram e o material está
degradado e só se conseguem estudar 5 ou 6 marcadores mais pequenos, sendo natural que a
probabilidade seja baixa; o pretenso pai está desaparecido e utilizam-se familiares afastados, já que
quanto mais afastado, mais baixa a probabilidade.
As amostras que podem ser utilizadas são variadas: por exemplo, em caso do pretenso pai
estar falecido, podem utilizar-se restos cadavéricos; se o pretenso pai está ausente, podem ser
utilizadas amostras sanguíneas dos familiares; em casos de violação, amostras intra-uterinas.
Podemos também afirmar que numa população de grande tamanho, quando entra um
individuo, não produz efeitos muito significativos, mas já os produz se a população for pequena.
3) Mordeduras
4) Mãos (protecção de vestígios)
5) Períneo (penteado da região púbica; colheita de pêlos para comparação; colheitas vaginais
e anais).
Nos casos de colheita nos genitais femininos a colheita pode ser feita a vários níveis: genitais
externos, vulva, vagina, fundos de saco, exocolo, endocolo. Devemos utilizar zaragatoas, secar ao ar
a colheita, colocar em recipientes separados e enviar ao laboratório. Se necessário guardar a 4ºC ou
-20ºC.
Erros a evitar pelas vítimas em caso de agressão sexual: destruir peças de roupa, lavar peças de
roupa, tomar banho, atrasar a observação médica. O sémen na cavidade bocal ou vaginal conserva-
se durante algumas horas, sendo que as manchas de sangue e esperma podem conservar-se durante
anos.
Podemos identificar, hoje, duas falácias usadas a este nível e com base nestes testes:
Por exemplo, se um genótipo 2-4 for possuído por 1 em cada 100 pessoas tomadas ao acaso,
são normalmente utilizados dois argumentos a que chamamos:
1) Falácia da defesa: “Possuem este genótipo 1% dos indivíduos. Em Coimbra, de 100 mil habitantes,
possuem-no 1000. Se o delito foi cometido por um habitante de Coimbra, o habitante tem uma
probabilidade em 1000 de ser o culpado – 0,1%."
2) Falácia da acusação: “Possuem este genótipo 1 em cada 100 pessoas e 99 não o possuem. Dado que o
suspeito o possui, tem 99% de probabilidade de ser o culpado.”
Quem define quem é a população em geral que se possa comparar? Deve ser o Tribunal.
Deve utilizar-se a população de referência do local onde o crime foi cometido.
1) Evitar a contaminação
Há que ter especial atenção aos vários focos de contaminação:
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Contaminação por material biológico humano – que pode ocorrer numa fase posterior à
produção do crime e pode contaminar o local, os objectos nele existentes e ainda o corpo
da vítima.
Transferência de indícios biológicos – ocorre normalmente de forma acidental e pode
provocar contaminação ou a perda de uma prova. Ex: pêlos e cabelos.
Contaminação microbiológica – que ocorre pela proliferação de microroganismos, a
qual pode ser favorecida pela humidade ou pelas altas temperaturas.
Contaminação química – desse-se à presença de produtos químicos que dificultam a
análise genética, nomeadamente a extracção e amplificação de DNA.
Para evitar a contaminação, deve o sujeito: isolar o mais rapidamente a possível cena do
crime; recolher primeiro os vestígios biológicos; usar uma máscara, não falar, não tossir ou espirrar;
usar luvas; usar bata ou outra roupa protectora; usar material descartável ou estéril; não adicionar
conservantes às amostras. Não se devem usar as mesmas luvas, bisturis ou envelopes para amostras
diferentes.
2) Evitar a degradação, realizada por bactérias, ao ADN. Devemos deixar as amostras secar à
temperatura ambiente, em local protegido, antes de as embalar, selar e enviar ao laboratório;
embalar cada amostra separadamente para evitar potencial contaminação entre cada uma delas;
embalar as amostras em envelopes de papel, menos propícios a contaminação que os de plástico,
que geram mais humidade. Deve conservar-se a amostra no frio (-20ºC ou -80ºC, em caso de maior
degradação da amostra), seja no frigorífico (até 2 dias) ou congelar (+ 2 dias).
3) Manter a cadeia de custódia, isto é, ter a certeza que entre a colheita daquela amostra e a
obtenção do perfil no laboratório não se verificou qualquer troca na amostra e se garantiu a sua
autenticidade. Garante-se através de um auto da cadeia de custódia, com todas as informações
pertinentes (Nome e assinatura da pessoa que realizou a colheita; Data e hora da colheita;
Condições de armazenamento até o seu envio ao laboratório).
Antes da colheita de uma amostra, há que saber qual o seu objectivo e propósito. As
amostras de referência variam de acordo com as circunstâncias. Assim:
1) Em pessoas vivas: Células da mucosa bucal (saliva), sangue, cabelos.
2) Em cadáveres em bom estado de conservação: Sangue, músculo esquelético, dentes e
ossos.
3) Em cadáveres em avançado estado de putrefacção ou esqueletizados: ossos, dentes,
unhas.
4) Em cadáveres carbonizados: fragmentos ósseos, dentes ou unhas.
Nas células humanas existem dois tipos de DNA: o DNA nuclear e o DNA mitocondrial. O
DNA do núcleo das células está organizado em cromossomas. Cada célula somática possui 22 pares
de autossomas e dois cromossomas sexuais (X,Y no homem e X,X na mulher). Cada célula somática
possui, assim, 46 cromossomas.
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1) ADN autossomático
2) ADN cromossomático (do cromossoma X e do cromossoma Y)
3) ADN mitocondrial
O ADN mitocondrial é uma herança uniparental materna, enquanto que o ADN nuclear é
herdado de ambos os progenitores, com excepção do cromossoma Y (que vem do pai, unicamente).
Aproximadamente 3% do genoma humano é constituído por repetições em tandem.
São os STR’s (Short Tandem Repeats) que se tratam dos principais marcadores genéticos
porque possuem alelos de tamanhos próximos, o que permite a realização da sua análise em
simultâneo e têm capacidade de gerarem produtos de amplificação de pequeno tamanho, o que é
benéfico, tendo em consideração a análise de DNA de amostras degradadas. Há vários tipos de
STR’s, com vantagens e desvantagens:
1) A utilização de STR’s autossómicos apresenta uma grande variabilidade, o que
proporciona uma maior poder de informação que os STR’s dos cromossomas sexuais.
Permitem ainda a determinação do género da pessoa, através do estudo da
Amelogenina. São os mais utilizados em genética forense.
2) Quanto aos STR’s do cromossoma Y, possuem três principais aplicações na área forense:
a. Identificação do sexo (masculino)
b. Identificação do perfil genético, bem como da linhagem masculina (e de todos os
homens com rela relacionados pela via paterna). Serve, pois, para investigações
da paternidade de crianças do sexo masculino. (estão excluídas as de
maternidade)
c. Identificação da possível origem geográfica dessa linhagem, também designada
de ancestralidade genética.
d. Tem bastante relevância na criminalística biológica porque a maioria dos
perpetradores são, maioritariamente, de sexo masculino, principalmente nos
casos de crime sexual. Contudo, esta sua importância só assume maior utilidade
quando os resultados da caracterização destes marcadores corroboram os dos
autossomas; senão a identificação de um perfil genético masculino numa amostra
apenas pode fornecer informação parcial sobre a sua proveniência.
3) Quanto aos STR’s do cromossoma X, são menos usados, podendo ser interessantes nos
seguintes casos:
a. Perícias de investigação da maternidade.
b. Casos de filiação que envolvam familiares que partilham este cromossoma, na
ausência do pretenso pai;
c. Casos de identificação genética de restos cadavéricos, através do estudo de
familiares próximos.
Quanto ao ADN mitocondrial, a herança uniparental materna da informação genética
permite determinar a ancestralidade através de várias gerações, ao contrário dos marcadores
autossómicos que sofrem recombinação. Por isso, os marcadores de linhagem (DNAmt e
cromossoma Y), que possibilitam inferir a origem ancestral de uma amostra de DNA, proporcionam
um potencial desenvolvimento de meios capazes de conduzir a investigação criminal. As suas
maiores vantagens são:
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a) Proporcionar resultados quando o estudo do DNA nuclear falha, por estar presente num
elevado número de cópias por célula. Normalmente é a última possibilidade de
identificação genética.
b) Permitir a comparação directa de sequências de DNA de membros da família da mesma
linhagem materna, em processo de identificação, por ser transmitido unicamente pela via
materna aos descendentes, sem recombinação.
c) Serve para investigações de maternidade, mas não de paternidade.
A sua maior desvantagem é a seguinte: é menos polimórfico, sendo cerca de 90% do seu
genoma codificante.
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4) Deve haver uma total colaboração com o perito forense por parte de todos os intervenientes.
5) Isolar a área e preservar o local
6) Não tocar em nada que não seja necessário.
7) Não fumar ou deixar qualquer objecto ou vestígio biológico do próprio.
8) Não tomar nenhuma atitude que possa prejudicar a investigação.
9) Observar muito e falar pouco e tirar fotos.
É muito importante que se siga uma conduta própria e adequada ao exercício pericial: desde
logo, colocar luvas, máscara e bata. Após identificação dos presentes, em particular da pessoa
que encontrou o cadáver, deve realizar-se um registo do local, data, hora e via de acesso pela
qual o perito chegou ao local. Na recolha de informação sobre o caso, devemos indagar quem foi
a primeira pessoa a encontrar o corpo e a tomar conhecimento do evento, registar o seu nome e
contactos, procurar obter os detalhes inicias da situação, avaliando também se algumas
alterações, artefactos ou contaminações podem ter sido produzidos.
Não devemos esquecer-nos também de realizar um registo das condições climatéricas.
Devem realizar-se esquemas e fotografias do local, áreas contiguas e do corpo. Neste âmbito,
deve-se registar fotograficamente a posição do corpo, com e sem escalas, e obter fotos globais do
local e dos aspectos envolventes. Devemos fotografar mesmo que o corpo ou evidências tenham
sido removidas. Se assim tiver sucedido, não devemos reintroduzir essas evidências para fazer
as fotografias.
O perito deve, ainda, analisar e preservar os vestígios e objectos; pesquisar as áreas de
entrada e saída; armas e objectos; impressões digitais.
No caso que o suspeito esteja no local, deve o perito:
a) Não permitir que este lave as mãos;
b) Fotografar eventuais lesões;
c) Recolha de vestígios e de testemunho.
Deve, ainda, ter em consideração a possível existência de sinais de deslocação do cadáver,
como pegadas ou marcas de arrastamento; marcas de pneus; vestuário inapropriado para o local;
livores não compatíveis com a posição do cadáver; material estranho ao local. Tudo isto são sinais
de que o cadáver pode ter sido movido.
No exame do corpo, deve o perito ter em consideração a sua posição e outras condições
(como o arrefecimento, livores, rigidez cadavérica, grau de decomposição e estado de putrefacção).
É importante que se proceda a um exame preliminar do corpo, avaliando os livores (manchas de
sangue que se acumula nas extremidades do corpo – analisar a sua cor, localização, mobilidade,
intensidade e a sua consistência, inconsistência com a posição do corpo), a rigidez cadavérica
(estado-intensidade, localização, consistência-inconsistência com a posição do corpo), eventuais
sinais de desidratação e eventuais sinais de decomposição (há que descrevê-los).
Os “sinais de certeza de morte” são os chamados fenómenos cadavéricos. Ora, deve o perito
registar as evidências observadas e a sua relação com o corpo, se necessário com medições, e
fotografá-las com e sem escalas. Para evidências como sangue ou outros fluidos corporais, anotar o
volume aproximado, padrões, localização e outras características antes da sua remoção/colheita.
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O exame do corpo inclui ainda o exame sumário das diferentes regiões do corpo; a natureza
e descrição das lesões e o exame do vestuário. Não podemos esquecer-nos de registar a presença de
eventuais sinais de tratamentos e manobras de reanimação (se houve qualquer intervenção médica).
Durante a investigação pode ser necessário recolher amostras, que devem ser rotuladas e
armazenadas.
Na colheita de amostras, as colheitas devem sempre ser feitas com luvas, trocando-as
sempre que necessário; manter a cadeia de custódia (muito importante, para evitar que as amostras
sejam trocadas, ou percam o seu valor probatório), envio urgente ao laboratório para análise, sendo
que os tubos devem fechar-se hermeticamente.
Devemos sempre etiquetar devidamente, com o local da amostra, natureza da mesma, data,
nome do perito, identificação do individuo, etc… Devemos enviar documento detalhado (colheita e
história) e colher material do próprio perito para tipagem.
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No exame do local, devemos sempre elaborar uma hipótese sobre a causa e a etiologia
médico-legal: morte natural ou morte violenta (Suicídio, Homicídio ou Acidente).
Sinais de suicídio:
a) Ausência de sinais de luta;
b) Ausência de lesões de defesa, lesões traumáticas;
c) Aquisição recente de uma arma;
d) Ausência de desordem no vestuário e no local;
e) Tipo de local (domicilio, celas, locais de trabalho)
Sinais de homicídio:
a) Carta de despedida com letra diferente;
b) Sinais de luta, lesões de defesa, sinais de violência objectivada;
c) Ausência de arma no local;
d) Desordem no vestuário;
e) Entrada forçada
Sinais de acidente:
a) Ausência de lesões de defesa;
b) Ausência de vestígios de outrem;
c) Exame do vestuário e do local em conformidade;
d) Antecedentes irrelevantes;
e) Informação testemunhal compatível com essa etiologia.
Em caso de acidente de viação, devemos ter em atenção o lugar que ocupava o sujeito na
viatura.
Em caso de enforcamento, nunca se deve retirar o meio de suspensão. O enforcamento pode ser
de dois tipos:
a) Suspensão completa – corpo totalmente no ar.
b) Suspensão incompleta – existe um contacto mais ou menos amplo do corpo com algum
ponto.
Para saber se realmente se trata de um enforcamento, podemos e devemos analisar os livores
cadavéricos em relação com a atitude do corpo.
Em casos de ferimentos por arma branca, devemos evitar pisar as manchas de sangue, ter em
atenção as zonas de entrada e saída e procurar a presença da arma.
Em casos de toxicodependência, é importante procurar antecedentes tóxicos conhecidos,
presença de seringa, sinais de injecção recente, presença de droga, local da ocorrência; a seringa
deve ser sempre recolhida com luvas e material adequado.
Em casos de ferimento por arma de fogo, não devemos toca nas mãos do cadáver; não deslocar
a arma do local onde foi encontrada, localizar cápsulas, buchas e projecteis e preservar ao máximo o
local da ocorrência.
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Não esquecer que devemos registar quando, onde, como, por quem e em que circunstâncias a
vítima tinha sido vista viva pela última vez. Devemos ainda procurar obter informação sobre
eventuais incidentes prévios à morte e sobre eventuais queixas/sintomas prévios à morte.
Na análise das evidências documentais e testemunhais, devemos analisar toda a informação
recolhida (seja ela, testemunhal, antecedentes da vítima, informação clinica disponível, informação
policial). Este pode revelar-se de extrema importância na estratégia e adoptar no decorrer da
autópsia.
O DL 11/98, de 24 de Janeiro, no seu art. 50º, prevê questões relacionadas com a verificação
e certificação do óbito, ainda que no seu articulado apenas fale da verificação do óbito.
É a lei 141/99, de 28 de Agosto que estabelece os princípios em que se baseia a verificação da
morte. (art. 1º)
Quando se pode dizer, “verificar”, que um individuo está morto? Quando houver cessação
irreversível das funções do tronco cerebral. (art. 2º)
Quem verifica a morte é o médico, nos termos da lei (art. 3º e 4º) O médico que deve
verificar o óbito é aquele a quem estiver acometida a responsabilidade do doente no momento da
morte (art. 4º/1) ou o que chegue em primeiro lugar (art. 4º/1).
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Como se deve verificar um óbito? Com base em critérios médicos, técnicos e científicos a
definir pela Ordem dos Médicos (artº 3º, nº2), que devem ser actualizados regularmente. No
entanto, estes critérios não foram ainda definidos. Existe a declaração da OM com os critérios de
Morte Cerebral.
Na prática é baseada nos conhecimentos e convicção pessoal do médico, de acordo com a
legis artis. Para o perito não traz normalmente grandes dificuldades porque quase sempre há sinais
de certeza de morte.
Existem impressos próprios para a verificação do óbito? Não (ficha do INEM, boletim da
autoridade de saúde, guia de remoção de cadáver)
Em que impresso ou formulário devem estes elementos ser escritos (artº 4º, nº3)?
No ambulatório: - em papel timbrado do médico, de instituição ou outro
Nos estabelecimentos de saúde públicos ou privados: - no processo clínico
A quem se entrega este documento (artº 4º, nº3)? À família ou autoridade que compareça
no local.
Dentro da morte clinica, podemos encontrar uma morte cardio-respiratória (morte cardíaca)
e uma morte cerebral (que pode ser uma morte tronco-encefálica ou encefálica.
A morte cerebral é a situação em que o individuo se encontra em coma profundo por lesão
irreversível com ausência de função do SNC e com as restantes funções vitais mantidas por meios
extraordinários de suporte. A sua certificação requere a demonstração da cessão das funções do
tronco cerebral e da sua irreversibilidade.
A verificação da morte cerebral requer:
1 – Realização de, no mínimo, dois conjuntos de provas com intervalo adequado à situação
clínica e à idade;
2 – Realização de exames complementares de diagnóstico, sempre que for considerado
necessário;
3 – A execução das provas de morte cerebral por dois médicos especialistas (em neurologia,
neurocirurgia ou com experiência de cuidados intensivos);
4 – Nenhum dos médicos que executa as provas poderá pertencer a equipas envolvidas no
transplante de órgãos ou tecidos e pelo menos um não deverá pertencer à unidade ou serviço em
que o doente esteja internado.
O tempo legal da declaração da morte cerebral é o tempo em que os testes da morte cerebral
foram repetidos pela segunda vez e revelaram-se inequivocamente positivos.
Há que não esquecer que mesmo que a morte seja uma consequência previsível na evolução
de um estado mórbido bem caracterizado e conhecido do médico, não exclui a obrigatoriedade do
exame do hábito externo do cadáver. Por outro lado, o médico deve conhecer as situações em que se
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encontra habilitado a certificar o óbito e as que obrigam a autópsia médico-legal, facultando, nestes
casos, a necessária informação.
3.7.7. A Lei nº 15/2012 sobre o Sistema de informação dos certificados de óbito (SICO) –
objectivos da aplicação, vantagens e problemas na prática forense.
utilização dos recursos, a melhoria da qualidade e do rigor da informação e a rapidez de acesso aos
dados em condições de segurança e no respeito pela privacidade dos cidadãos.
Tem como objectivos principais:
• A desmaterialização dos certificados de óbito;
• O tratamento estatístico das causas de morte;
• A actualização da base de dados de utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do
correspondente número de identificação atribuído no âmbito do registo nacional de utentes
(RNU);
• A emissão e a transmissão electrónica dos certificados de óbito para efeitos de elaboração
dos assentos de óbitos.
O sistema é suportado por uma base de dados para registo e disponibilização de dados, cuja
administração compete à Administração Central do Sistema de Saúde, I. P. (ACSS, I. P), sendo o
director-geral da Saúde a entidade responsável pelo respectivo tratamento. Os dados constantes do
SICO resultam do tratamento realizado pelos médicos e pelas seguintes entidades, de acordo com
os respectivos perfis: Instituto dos Registos e do Notariado; ACSS; DGS; INEM; INMLCF;
Ministério Público e Autoridades de polícia.
O Artigo 13.º da Lei 15/2012 determina o modo de preenchimento do certificado de óbito:
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“1 — O médico preenche o certificado de óbito, por via electrónica, nos termos e condições fixados no
respectivo formulário do SICO, incluindo os dados pessoais e, quando exista, o número de utente do SNS da
pessoa falecida, para efeitos de actualização do RNU.
(…)
4 — O médico que não cumprir os deveres impostos nos números anteriores responde
disciplinarmente, salvo nos casos em que demonstre ser impossível aceder ao SICO nos termos a regular por
portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da administração interna, da justiça e da saúde.”
Vantagens do SICO:
a) Conhecimento do nº de mortes/dia.
b) Conhecimento mais precoce das causas de morte (Há uma obrigação do INMLCF de
registar os dados de autópsia médico legal de óbitos registados no SICO no que
respeita às causas da morte. – tal deriva de um protocolo entre a DGS e o IMLCF)
c) Processos de codificação mais rápidos e estatísticas melhores.
d) Incorporar a informação obtida a posteriori do resultado da autópsia.
e) Fim do envio de cartas da DGS aos médicos.
f) Boletins de informação clínica legíveis.
g) Aumento do direito à privacidade dos cidadãos (Conservatória não tem acesso à
causa da morte nem ao nº da autópsia).
h) Preservação de informação importante em investigação criminal.
i) Actualizar a BD de Utentes com os óbitos ocorridos e devidamente validados.
j) Efectuar a integração com a BD do IRN para validação dos dados de identificação,
recolhidos informaticamente nos CO.
d) Posição do cadáver.
e) Colheitas (amostras de cabelos e pêlos).
Não podemos esquecer-nos de realizar uma descrição precisa e rigorosa, tendo atenção a
todos os pormenores. É preferível colher a mais do que a perder um vestígio.
Na prática, já tendo um exame pericial do hábito externo, pode o magistrado decidir de
forma mais cuidada se ordena ou não a autópsia do cadáver.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Um parecer da PGR (1961) e um parecer do Conselho Nacional de Medicina Legal (2006) são
bastante relevantes nesta matéria. Determinam que a autópsia anátomo-patológica não pode ser
realizada sem o consentimento da família do defunto, tendo esta até 12 horas após o momento em
que esta teve conhecimento do óbito para proibir a autópsia, mesmo que tenha dado o seu
consentimento anteriormente. Realizar uma autópsia sem o consentimento dos familiares é crime
punível nos termos da lei.
2) Autópsias médico-legais ou forenses São aquelas que são realizadas por determinação
da autoridade legalmente responsável pela investigação de uma morte súbita, suspeita, não
natural, litigiosa ou criminal. (Saukko) Na maioria dos sistemas não é necessário o
consentimento dos familiares para este tipo de autópsia, com o objectivo de a investigação
não poder ser frustrada pelas objecções de possíveis pessoas culpadas que, se fossem
familiares, podiam impedir a autópsia. Veremos qual a regulação neste âmbito em Portugal.
Dentro destas autópsias, Saukko identifica dois tipos de autópsia:
As autópsias realizadas em casos de morte aparentemente não criminais, como
as realizadas em casos de acidente, suicídios, morte natural ou associada a
tratamentos médicos ou cirúrgicos, etc…
As autópsias realizadas em casos de suspeita ou verificação de morte criminosa. –
Homicídio, infanticídio, etc…
As autópsias médico-legais servem para o estudo do cadáver em casos com interesse
judicial, esclarecimento da causa da morte, esclarecimento das circunstâncias que rodearam a
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Podemos concluir que as principais diferenças entre os dois tipos de autópsias são: os objectivos,
procedimentos de exame, exames complementares, importância das evidências físicas, importância
da documentação e cadeia de custódia.
Autópsia Médico-Legal
WHO Saber quem morreu não constitui habitualmente um problema, mas pode ser
particularmente complexo em alguns casos: (1) ausência de evidência circunstanciais
sobre a identidade da pessoa encontrada morta; (2) identificação visual impossível,
devido a putrefacção, queimaduras, mutilação, etc…
WHAT A determinação de todas as circunstâncias em torno da morte, desde as principais, até
aos factos “acessórios” ou circundantes desta é invariavelmente o foco de qualquer
processo judicial. A autópsia pode participar neste processo judicial através do
estabelecimento de evidências objectivas de algumas das coisas que aconteceram ou,
mais comumente, as evidências que (de)limitam o que poderá ter acontecido.
Exemplo: Em investigações de homicídios, a autópsia pode fornecer informações sobre
a posição da vítima, arma usada, sequência de lesões, hora da morte, interferência post
mortem com o corpo e método de disposição, etc.
HOW Determinar a etiologia da morte. A morte pode ser natural ou violenta (acidental,
suicida ou homicida. Em alguns casos, a etiologia da morte pode não ser determinável,
Eduardo Figueiredo 2016/2017
seja porque não se conhece a causa da morte ou porque as circunstâncias que a rodeiam
não são claras. Por exemplo, pode não ser possível determinar se um afogamento foi
acidental ou suicida.
WHERE O local onde a pessoa morreu é habitualmente aquele onde foi encontrado, mas nem
sempre. As vítimas de homicídio podem ser transportadas para outros lugares; os
corpos podem viajar longas distâncias em rios ou no mar até à sua descoberta.
WHEN Quando a pessoa morreu é determinado habitualmente das evidências circunstanciais e
não constitui habitualmente um problema. Mas pode ser um problema crítico, quando:
(1) um alibi é apresentado como defesa num homicídio; (2) as sequências de mortes em
membros da mesma família mortas no mesmo incidente influenciam problemas de
herança; (3) Quando as apólices de seguro caducaram no decurso do tempo decorrido
entre o desaparecimento da pessoa e a descoberta do corpo.
WHY Importa determinar o porquê da morte – a causa, isto é a sequência de eventos que, a
curto ou longo prazo, conduziram à morte. É uma das funções mais importantes da
autópsia.
Existem muitas causas de morte (tanto naturais, como violentas) que não podem ser
determinadas com certeza absoluta apenas pela autópsia. Para a maioria de casos de
investigação de uma morte, será necessário uma análise conjunta dos resultados da
autópsia e da informação anamnéstica.
Apenas num pequeno número de casos uma investigação completa pode não conseguir
estabelecer a causa da morte – a isto chamamos autópsia negativa ou autópsia branca.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
É de notar que uma mesma vítima, por um mesmo traumatismo, pode ser avaliada nos três
âmbitos do direito. P.e. Agressão realizada no contexto do desempenho da sua profissão (dentro do
tempo e no local de trabalho) e tal gerou-lhe uma incapacidade que causou vários danos que geram
sofrimento.
Outros: Avaliação em segurança social (situações de doenças naturais), isenção fiscal, deficientes
motores (incapacidade superior a 60% para que seja reconhecido o direito para um dístico para
deficientes), etc...
Podemos, pois afirmar, que a metodologia do exame é relativamente comum para todas as
perícias, mas o objectivo e as conclusões são diferentes.
Legislação penal aplicável: O perito médico deve saber dois artigos básicos (143º e 144º CP)
que são a base para orientar as nossas conclusões. Na maioria dos casos, o julgador quer saber se
estamos no caso do art. 143º ou 144º, desde logo porque a moldura penal vai variar.
Trata-se do tipo legal de crime fundamental. Trata-se de um crime doloso que comporta
qualquer grau de dolo. Não devemos confundir um caso de lesões recíprocas com casos de legítima
defesa.
- Artº 144º - Ofensa à integridade física grave. O artigo 144º para efeitos da qualificação jurídico-
penal da conduta.
Doença
Neste conceito de doença, não importa que a alteração incida ou não sobre a capacidade de
trabalho; requeira ou não intervenção terapêutica; comporte ou não um rebate geral apreciável do
organismo. Ex: equimoses, escoriações.
Tempo da doença – Período de tempo que decorre entre a produção das lesões e a cura ou
consolidação.
Cura – Recuperação anatómica, funcional e psico-sensorial integral com restitutio ad integrum.
Consolidação – Recuperação anatómica, funcional e psico-sensorial parcial, com sequelas que se
mantêm a partir de determinado momento.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
sofrimento pode ser feita através da descrição do tipo de lesões sofridas e dos tratamentos
efectuados (penosidade e morosidade envolvidas). É uma doença duradoura, embora não envolva a
ideia de perpetuidade.
Perigo potencial: Quando há um risco, expectativa. Deve ser assinalado no relatório os casos
em que existiu risco, ainda que potencial. É uma expectativa, ainda que razoavelmente possível ou
mesmo provável; falta a sua concretização, o estado crítico real. Traduz-se em risco, probabilidade
remota.. meramente presumida.
Para se falar em perigo para a vida, basta que a doença ponha em perigo a vida do ofendido,
ainda que não tenha de ser permanente ou perigo constante. Em muitos casos, eles ao recuperarem,
ficam curados e sem sequelas permanentes.
A moldura penal será ligeiramente diferente dependendo se estamos a falar de um perigo
concreto ou potencial.
Estrutura do Relatório:
a) Informação
a. História do evento (descrição do evento traumático e de todos os eventos
subsequentes com ele relacionados, com base na informação da vítima ou de quem a
acompanhe.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Conclusões do Relatório:
1- Natureza do instrumento (não o instrumento em si, mas a forma como actuou –
contundente, perfurante, cortante, misto, agente físico, agente químico) (As lesões atrás
referidas terão resultado do traumatismo de natureza XXX o que é/não é compatível com a
informação.)
2- Consequências temporárias da agressão (indicar os dias de doença, sendo X dias com afectação da
capacidade para o trabalho geral e X dias com afectação para o trabalho profissional)
3- Consequências permanentes (do evento não resultaram/resultarão consequências permanentes; do
evento resultaram as seguintes consequências permanentes; do evento resultou perigo para a vida do
examinado; adopção de medidas psicossociais)
Não compete ao perito médico, nem mesmo através de uma mera presunção médico-legal.
Não compete ao perito pronunciar-se sobre a intenção com que os ferimentos foram produzidos. A
intenção de matar não configura um juízo técnico-cientifico, mas sim apenas, um juízo de
probabilidade sobre essa intenção que deve ser apreciado pela experiência do julgador.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
1. Considerações iniciais.
1) Natureza adequada do traumatismo para produzir as lesões evidenciadas. (P.e. Um murro não
conduz a uma ferida incisa)
2) Natureza adequada das lesões a uma etiologia traumática. (p.e. uma hepatite não admite uma
causalidade traumática)
3) Adequação entre a sede do traumatismo e a sede da lesão. (Não tem que haver uma
coincidência anatómica, necessariamente – patologia encefálica e craniana temporal por contra-
pancada)
4) Adequação temporal. (p.e. chicote cervival e aparecimento da sintomatologia.)
5) Exclusão da pré-existência do dano relativamente ao traumatismo. (p.e. uma fractura com
características radiológicas de antiga será excluída do dano pós traumático recente)
6) Encadeamento anátomo-clínico (deve existir continuidade sintomatológica…)
7) Exclusão de uma causa estranha ao traumatismo
Estes critérios não são absolutos, não sendo todos necessários para estabelecer um nexo. Pode
não estar cumprido um determinado critério, mas concluir-se que o nexo de causalidade existe,
ainda que parcialmente. Para mais, devem ser meros elementos de reflexão, a ser interpretados
cuidadosa e ponderadamente em cada situação concreta.
Exclusão de uma causa estranha ao traumatismo – p.e. agressão com murro na face, sem lesões
traumáticas, e após algumas horas nova agressão com um murro na face, com lesões traumáticas.
Certo ou hipotético.
Certo: Evento foi seguramente a causa das lesões/ou sequelas observadas
Hipotético: Quando a análise dos critérios relativos ao nexo de causalidade não consente o seu
estabelecimento com segurança, sucedendo todavia que o perito médico também o não pode afastar
formalmente.
Directo ou indirecto.
Directo: as lesões ou sequelas resultam directamente do evento.
Indirecto: Visa a filiação patogénica entre a causa e o efeito. Ex. “Vai ao hospital, teve que ficar
internado e colocou imobilização. Nesse âmbito fez uma trombose. Esta trombose resultou
indirectamente do acidente. Se não tivesse sido a fractura da perna, ele não teria estado imobilizado
e logicamente não teria ocorrido aquela trombo-embolia. É, pois, necessário que o médico explique
esta ligação indirecta, para que o decisor possa compreender e tirar as consequências sobre o plano
de responsabilidade do autor e da reparação do dano sofrido pela vítima.”
Total ou parcial.
Total: - nenhuma outra causa para além do evento em apreço teve responsabilidade na
afectação da integridade psico-física constatada.
Parcial: Quando num estado patológico intervém mais do que um único factor etiológico, o
nexo é parcial porque há uma ou mais causas que concorrem, entre as quais o traumatismo, para o
resultado dano. São situações de concausalidade em que o dano é imputável só parcialmente ao
traumatismo. Esta outra causa poderá ser um estado intercorrente, uma predisposição ou estado
anterior.
Predisposição: É uma variedade do estado anterior, que é por definição um estado anterior
muitas vezes mudo ou ignorado, correspondendo frequentemente a um estado psicológico, mental
ou a factores de risco. Ex. osteoporose da mulher idosa predisponente para a fractura do colo do
fémur, os antecedentes diabéticos, a personalidade paranóide, o alcoolismo, o tabagismo, etc.
3. O estado anterior.
Aspectos particulares.
Quando a análise dos critérios relativos ao nexo de causalidade não consente o seu
estabelecimento com segurança. Independentemente do papel que o estado anterior possa ter sobre
Eduardo Figueiredo 2016/2017
a evolução do processo patológico decorrente do evento traumático, o perito médico também deve
explicar qual a sua influência sobre o estado anterior.
Tema 7: Noções básicas sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais e a avaliação pericial
em direito do trabalho.
Danos Permanentes:
o Incapacidade Permanente: Corresponde à perda da capacidade de trabalho em resultado de
uma ou mais disfunções, como sequela(s) final(ais) da(s) lesão(ões) inicial(ais), sendo a
disfunção total designada por incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer
trabalho. Podem existir diversos níveis de incapacidade permanente: incapacidade
permanente parcial (IPP), incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual
(IPATH) e incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho (IPA). É
determinada tendo em conta a globalidade das sequelas do caso concreto sendo a
quantificação dessas sequelas concretizada através da TNI.
o Dependências: As dependências podem ser temporárias ou permanentes, sendo valorizadas
mais frequentemente, enquanto tal, as permanentes.
As Incapacidades Permanentes devem ser participadas aos Tribunais de Trabalho até 8 dias,
a contar da cura clínica, por escrito.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
As mortes, imediatamente, por telecópia ou outra via de registo escrito de mensagens com o
mesmo efeito, o que não invalida a participação formal, no prazo de 8 dias, a contar do falecimento.
As Incapacidades Temporárias superiores a 12 meses, por escrito, no prazo de 8 dias a
contar da sua verificação.
As Incapacidades Transitórias convertem-se em permanentes decorridos 18 meses, podendo
ser requerido exame pericial para avaliar o respectivo grau de incapacidade.
Este prazo pode ser prorrogado até ao máximo de 30 meses pelo Ministério Público, a
pedido da entidade responsável.
Podemos, pois, identificar: uma fase conciliatória e uma fase contenciosa.
tendo em conta a IPP anterior. Nestes casos, se houver agravamento do estado anterior na
sequência do novo acidente, ou quando o estado anterior agravar as lesões/sequelas devidas ao
acidente em causa, a incapacidade avaliar-se-á como se tudo resultasse deste último, a não ser que
pela lesão ou doença anterior o sinistrado já esteja a receber pensão ou tenha recebido indemnização
em capital. No caso da incapacidade anterior resultar de outra etiologia que não acidente de
trabalho, o cálculo da incapacidade global é feito relativamente à capacidade integral do indivíduo
(100%).
1. A presente Tabela Nacional de Incapacidades (TNI) tem por objectivo fornecer as bases de
avaliação do prejuízo funcional sofrido em consequência de acidente de trabalho e doença
profissional, com redução da capacidade de ganho.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Como vimos, a avaliação do dano corporal trata-se de definir em termos técnicos e num
quadro jurídico determinado, as lesões e os elementos de dano susceptíveis de serem objecto de
sanção penal e/ou de indemnização, benefícios sociais, etc.
Em Direito Civil, visa-se a reparação integral do dano, isto é restabelecer tão exactamente
quanto possível o equilíbrio destruído pelo dano e recolocar a vítima, a expensas do responsável, na
situação em que esta se encontraria se o facto produtor das lesões não tivesse ocorrido
Podemos pois, identificar como seu principal objectivo a definição em termos técnico-
científicos, as lesões e os parâmetros de dano que poderão ser objecto de indemnização, tendo em
vista a reparação, reabilitação e reintegração da vítima.
Quanto à sua metodologia:
Descrever os danos na pessoa na perspectiva da vivência do trauma e das sequelas (3D)
Determinar nexo de causalidade e data de cura/consolidação
Quantificar os parâmetros de dano (patrimoniais e não patrimoniais)
Orientar a definição das ajudas e adaptações tendo em vista promover a Reintegração,
Autonomia e Independência.
Danos Temporários:
desses actos, ainda que com limitações. Descreve-se em número de dias de défice funcional
temporário total e de défice funcional temporário parcial. As incontornáveis dificuldades na fixação
objectiva de taxa(s) de défice funcional temporário parcial justificam que, pericialmente, se
determine apenas o número de dias a ele correspondente, sem se proceder a qualquer valoração
numérica em pontos.
Danos Permanentes:
Dano Futuro: considerando-se exclusivamente como tal o agravamento das sequelas que
constitui uma previsão fisiopatologicamente certa e segura, por corresponder à evolução lógica,
habitual e inexorável do quadro clínico.
Informações
História do evento:
Idade e profissão actual e à data do evento;
Dia do acidente, hora, local;
Tipo e mecanismo do evento traumático;
Circunstâncias da ocorrência;
Hospitais em que foi socorrida e transferências;
Resumo das lesões, internamentos, tratamentos, consultas e data da alta definitiva;
Data da retoma da profissão;
Actividades desportivas, lúdicas ou de lazer.
Dados Documentais:
Fazer um resumo dos dados existentes;
Torná-los compreensíveis para o jurista;
Manter uma sequência cronológica;
Referenciar a fonte de informação.
Antecedentes:
1. Pessoais
- Patológicos e/ou traumáticos relevantes, fornecidos pela vítima e confirmados, se possível,
por documentação.
- Importante para estabelecer o nexo de causalidade.
- Particular interesse no caso de crianças e idosos.
2. Familiares
Estado actual: Capítulo que visa a avaliação global da pessoa, fundamentada quer nas queixas da
vítima quer no exame médico propriamente dito. É constituído por 3 partes:
Queixas: comportam sempre um componente de subjectividade; trata-se de uma descrição
de forma detalhada das alterações funcionais e limitações para as actividades da vida diária,
afectiva e social, bem como para a vida profissional ou de formação.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Exame objectivo:
1. Estado geral (consciência; orientação temporo-espacial; colaboração; estado geral; lado
dominante; tipo de marcha)
2. Lesões e/ou sequelas relacionáveis com o evento
- Descrição pormenorizada das sequelas (cicatrizes, amiotrofias, dismetrias, alterações da
mobilidade e sensibilidade…)
- Descrever de cima para baixo, de fora para dentro e da direita para a esquerda (fazer
sempre que possível referência ao lado contra-lateral)
- Fotodocumentar
3._Lesões e/ou sequelas sem relação com o evento
- Descrição de sequelas existentes resultantes de eventos anteriores ou posteriores
4. Exames complementares de diagnóstico: Solicitados durante a perícia, visam um melhor
esclarecimento e avaliação da situação
- Imagiológicos
- Electrofisiológicos
- Exames de Especialidades …
Médico hospitalar – data de alta das consultas (cicatrização cutânea, visceral, óssea,
resolução do quadro clínico ou momento em que deixa de necessitar de acompanhamento por
especialidade hospitalar).
Médico de Família – data em que termina a baixa e retoma o trabalho.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Perito Médico-Legal
Cura: reconstituição completa da situação anterior (ausência de sequelas), isto é quando volt
a ficar como estava antes do evento traumático ter ocorrido, recuperando integralmente, tanto do
ponto de vista anatómico, como funcional e psico-sensorial – restitutio ad integrum.
Consolidação: momento em que as lesões se fixam e adquirem carácter permanente, não
sendo necessário mais tratamentos, a não ser para evitar um agravamento, e em que é possível
apreciar um certo grau de incapacidade permanente que constitui um prejuízo definitivo.
Assume-se que o estado sequelar não é susceptível de melhoria ou de
agravamento
Dificilmente coincidem com a data do exame ML
Não coincide, necessariamente, com o início da actividade profissional
Cura/consolidação já verificada:
Confirmar a data proposta por outro(s) médico(s)
Fundamentar a não concordância com a data proposta por outro(s) médico(s) e propor outra
Propor uma data de acordo com registos clínicos (presentes ou que solicita)
Propor uma data de acordo com a evolução normal e esperada naquele tipo de situação clínica.
Ciclo da violência:
Abuso – o agressor abusa da vítima, seja qual for o tipo de abuso.
Culpa – o agressor (por vezes, a vítima) sente-se culpado pelo abuso.
Desculpa – o agressor desculpa-se perante a vítima.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Comportamento normal
Fantasia/planificação – agressor e vítima planeiam uma maneira de repararam a
relação danificada.
Reconciliação – reconciliação de ambos, que conduz, muitas vezes, a novas situações
de abuso.
2º - Exame médico-legal
- Colheita de informação (junto de quem acompanha a criança ou com entrevista directa à
criança – para evitar a vitimização secundária e a contaminação do relato da criança face ao
exame de psicologia forense que deve sempre ter lugar.)
- Exame físico (com a concordância e colaboração da criança para a realização do exame
físico, colheita de vestígios e fotodocumentação.)
-Colheita, preservação e envio de amostras.
Devemos valorizar sinais/lesões quanto ao: tipo (feridas contusas, perfurantes, cortantes,
mistas, queimaduras); Localização; Número e dimensões; Forma; Gravidade; Mecanismo e grau de
violência com que denotam ter sido produzidos; Período de tempo desde a sua produção;
Adequação entre elas e a história/explicação quanto à sua produção; Outro diagnóstico diferencial
que as possa explicar.
A informação colhida deve ser sistematizada de acordo com a sua pertinência, importando
sobretudo destacar a informação relevante sobre o processo a partir do discurso da criança e de
outros dados disponíveis. É muito importante a sistematização, análise e interpretação dos dados
colhidos.
Factores de Risco:
Factores individuais da vítima Género feminino (classicamente);
Idades >75 anos;
Incapacidade física / intelectual;
Quadros demenciais
Factores individuais do agressor Familiares (filho; cônjuge);
Drogas de abuso / consumo abusivo do álcool;
Inexperiência / período prolongado como cuidador;
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Nesse caso:
Entrevista Separar a vítima do cuidador; Permitir tempo para resposta; Do geral para o
específico; Linguagem e questões adequadas ao nível de instrução; Respeitar
diferenças culturais e étnicas; Sem confrontos / acusações / frustrações; Determinar
se existe défice cognitivo; Mais que uma entrevista… / outros profissionais
Exame Objectivo Estado geral; Superfície corporal geral; Região anogenital (crimes sexuais)
Agressão sexual é toda a actividade sexual na qual uma vítima é forçada ou constrangida a
participar por um determinado agressor, com ele próprio, consigo mesma ou com uma terceira
pessoa, contra a sua vontade, por manipulação afectiva, física, material ou abuso de autoridade, de
maneira evidente ou não, seja o agressor conhecido ou não, haja ou não evidência de lesão ou
traumatismo físico ou emocional, e independentemente do sexo das pessoas envolvidas.
Artigos do Código Penal contra a liberdade e autodeterminação sexual:
Art. 163º - Coacção Sexual
Art. 164º - Violação
Art 165º - Abuso sexual de pessoa incapaz de resistência
Art. 166º - Abuso sexual de pessoa internada
Art. 170º - Importunação sexual
Art. 171º - Abuso sexual de crianças.
Art 172º - Abuso sexual de menores dependentes.
Art 173º - Actos sexuais com adolescentes.
Factores de Risco:
Os exames são realizados a pedido: (1) da vítima /seus representantes; (2) unidades
hospitalares; (3) associação de apoio; (4) entidades policiais ou judiciárias.
A entrevista é o ponto de partida, onde vai ser feito o relato do evento e das circunstancias
que o rodeiam, orientando o perito na sua actuação pericial, seja no exame físico, como ma
determinação de amostras a recolher ou na necessidade de acompanhamento médico posterior da
vítima. Quanto ao modo como deve ser feita a entrevista, ter em consideração os seguintes pontos:
Planeamento prévio Local (privacidade, conforto, adequado à idade...)
Colheita de informação no mais curto espaço de tempo após o evento
Primeiro faz-se a entrevista a pais, familiares, outras acompanhantes e depois à
vítima, em separado.
Sem interrupções e uma única entrevista
Abordar assunto neutro para dar início à entrevista
Adequar a linguagem à idade da vítima
Explicar as “regras” da entrevista
Convite à narrativa através de perguntas abertas, sem repetições
Dar tempo de resposta e aceitar lacunas nas respostas /ocultação. A abordagem
deve se feita em funil
Utilizar conhecimentos da técnica de entrevista forense
Compreender as dificuldades da vítima
Imparcialidade e objectividade
Open mind e evitar o carácter julgador
Considerar todas as alternativas possíveis
Cautela na interpretação de elementos aparentemente inexplicáveis
O exame físico de lesões e sequelas relacionáveis com o evento deve ser feito com material
apropriado (máscara, touca e lucas) e abrange a superfície corporal geral, a cavidade oral e a região
genital ou peri-genital.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Técnicas de observação da região genital e anal: (1) posição de rã; (2) posição genupeitoral;
(3) tracção labial; (4) separação labial.
Região Vulvar:
Hímen
o Forma, cor e padrão vascular
o Altura (máxima e mínima)
o Descrição do bordo livre (regular/irregular), consistência, pregas, apêndices,
entalhes, soluções de continuidade traumáticas (recentes/ não recentes)
o Consistência
o Permeabilidade do ostíolo himeneal
o Descrever os achados e localizá-los em função de um mostrador de relógio
o Ter em atenção a fossa navicular e freio dos pequenos lábios e a elasticidade
o Soluções de continuidade himeniais – normalmente situam-se nas zonas mais altas
do hímen. Se recente os bordos são desiguais, hiperémicos, friáveis e edemaciados.
Vagina e colo do útero
Região anal:
Analisar: Simetria das pregas anais; Pigmentação e distribuição pilosa, Tónus do esfíncter;
Descrever e localizar apêndices, fissuras, lacerações; Indicar sempre a posição de observação; Azul
de toluidina; Cicatrizes.
Antecedentes patológicos: Prurido; Fissuras; Obstipação; Intervenções cirúrgicas; Doença
Inflamatória/Intestinal
Em caso de sodomia recente: Sangue; Fissuras; Eritema; Escoriações; Esperma/lubrificante
no canal anal.
Em caso de sodomia crónica: Atonia do esfíncter anal; Cicatrizes; Atenuação das pregas
anais; Fístulas / Proctite; Diminuição da pilosidade; Hemorróidas.
Lesões mais comuns na região genital masculina: Lacerações; Mordeduras; Edema;
Escoriações; Equimoses.
Vestigios biológicos:
Em jeito de conclusão: quanto mais precocemente seja feito o exame médico-legal, maior e
mais fácil será a colheita e preservação de vestígios. É imperativo uma adequada valorização da
sintomatologia e da informação prestada pela vítima pelo perito. A ausência de lesões traumáticas e
de vestígios biológicos não invalida a possibilidade de se ter verificado abuso sexual.
Agente Externo - É toda a fonte de energia física ou química externa capaz de produzir no corpo
humano lesões anatómicas e/ou funcionais – lesões traumáticas.
Aqueles em que há a transformação em energia cinética de uma força mecânica aplicada ao corpo
humano. As lesões traumáticas localizam-se, de algum modo, em contiguidade com a área de acção
do agente. Exercem acção de natureza contundente, cortante, perfurante ou mista.
Lesão ou ferimento - dano em qualquer parte do corpo devido à aplicação de uma força mecânica.
Surge quando a intensidade da força aplicada excede a capacidade dos tecidos de se adaptarem ou
resistirem.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Estes instrumentos podem originar diferentes lesões corporais, de acordo com as características
do instrumento e com a violência do traumatismo. Podem ser:
o Lesões traumáticas externas:
o Contusão superficial – Equimose / Hematoma
o Abrasão - Esfoliação/Escoriação
o Ferida contusa
o Lesões traumáticas internas:
o Contusão profunda
o Fractura ósseas
o Laceração / Esfacelo de órgãos
As três primeiras não têm grande importância clínica, mas têm uma enorme importância em
termos médico-legais, devendo ser correctamente estudadas, descritas e interpretadas. Dão-nos
informações valiosas, muitas vezes indispensáveis para a resolução de casos judiciais tais como a
produção vital ou postmortem dos ferimentos, a direcção e, por vezes, o sentido do traumatismo, a
ocorrência de luta, a forma do instrumento que as produziu, etc.
Numa acção de natureza contundente, podemos ter um dos vários diagnósticos diferenciais:
o Lesões traumáticas produzidas post-mortem:
o Por mordeduras de insectos ou roedores;
o No transporte do cadáver;
o Na autópsia.
o Lesões traumáticas produzidas à distância.
o Lesões de origem não traumática (ex. petéquias).
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Nestas lesões, existe rotura dos vasos com extravasamento de sangue que infiltra os tecidos –
equimose - ou colecção de sangue em cavidade neoformada – hematoma. A sua coloração vai
variando com o decorrer do tempo, desde a sua formação até ao seu desaparecimento completo (7-
15 dias): inicialmente vermelho-violácea, torna-se azulada, depois esverdeada e, por fim, amarelada
antes de desaparecer. A evolução da cor de uma contusão superficial não nos fornece dados
precisos sobre o seu tempo de evolução, antes dá-nos uma noção de evolução e havendo múltiplas
lesões com colorações distintas podemos afirmar que as agressões se sucederam durante vários
dias. São especialmente importantes em situações de maus-tratos.
Se o traumatismo ocorre à distância da região em que aparecem as lesões, não se deve falar em
equimose mas sim em infiltração sanguínea.
Lesões modeladas: São lesões traumáticas, que podem ser escoriações, equimoses ou feridas
contusas, cuja morfologia e características permitem a identificação do instrumento que as
produziu.
Estigmas ungeais: são lesões traumáticas, geralmente escoriações, podendo estar associadas a
equimoses, resultantes da aplicação das unhas na pele.
Mordeduras: As lesões têm a forma de 2 arcos interrompidos, opostos e rodeados por equimose.
Ocasionalmente podem desenhar certas particularidades da arcada dentária do autor (ex. falhas)
que, sendo observadas podem possibilitar a sua identificação.
ocorrer por contusão directa, ou por infiltração hemorrágica a partir de um foco de fractura vizinho.
A contusão visceral surge com mais frequência em órgãos maciços (cérebro, fígado, baço, rins, etc).
Fracturas ósseas: Lesão contusa, resultado de um traumatismo violento que dá origem a uma
solução de continuidade do osso.
Lesões traumáticas complexas: Lesões traumáticas em que se associam aspectos das diversas
lesões traumáticas referidas, resultantes de associação de mecanismos traumáticos de diferentes
acções ou de sobreposição do efeito dos mesmos.
Características vitais:
o Infiltração sanguínea dos tecidos;
o Retracção dos tecidos;
o Formação de crosta;
o Supuração.
Já as lesões post-mortem são lesões cobertas por placas ressequidas, duras, amarelo-acastanhadas,
sem infiltração sanguínea dos tecidos (Placas apergaminhadas).
Armas brancas são instrumentos lesivos que, manejados manualmente, lesam a superfície
corporal por acção de um gume, uma ponta ou ambos.
Acção de natureza cortante – Caracteriza-se pelo contacto linear, exercido pelo comprimento do
gume do objecto no corpo humano. Nesse contacto predomina o comprimento sobre a superfície e a
profundidade. São vários os tipos de instrumentos de natureza cortante:
o São os que têm um ou mais gumes: lâminas, facas, arestas de vidro, de cerâmica, etc.
o No fundo, são aqueles providos de uma lâmina a qual, através de um mecanismo de
pressão e/ou deslizamento, produz uma ferida.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Estes podem conduzir à produção de uma ferida incisa: solução de continuidade da pele,
fusiforme, de bordos rectos e nítidos, sem lesões macroscópicas, de extremidades angulosas (em
ponta de V) e fundo da ferida regular. Em suma:
o Aspecto fusiforme.
o Lineares, tendo como dimensão mais importante a extensão.
o Limpas, apresentando bordos regulares, sem contusão nem pontes tecidulares.
o Chamam-se cauda de rato, aos extremos da ferida incisa, onde ela se torna mais
superficial:
o Cauda inicial, de ataque e cauda final ou terminal, de saída.
o A última geralmente mais comprida (podemos pois saber a direcção e o
sentido da agressão).
Uma agressão com arma cortante é um incidente dinâmico e com movimentos quer do
agressor, quer da vítima, que raramente se encontra numa posição anatómica estática. Quanto ás
considerações médico-legais a fazer:
o Sobre o instrumento: dimensões; tipo; afunilamento da lâmina
o Sobre os movimentos do instrumento na ferida
o Sobre o modo como o instrumento foi utilizado profundidade; direcção
o Sobre a quantidade de força usada
Acções de natureza mista: Caracteriza-se pela combinação de dois modos de acção, o que leva à
produção de lesões traumáticas com características de ambos os componentes.
Quanto maior for o peso da arma, maior será a acção contundente e, quanto mais afilada for a
lâmina, maior será a sua acção cortante.
Feridas corto-contundentes: Apresentam-se em regra, com um componente na pele, que é uma
ferida incisa, e com o componente contundente que nos é dado por exemplo por uma fractura óssea
subjacente, ou um esfacelo de uma víscera maciça. Estas feridas diferem das feridas cortantes por
terem bordos mais irregulares e com orla de contusão, atingirem planos mais profundos, não
respeitando as estruturas mais duras como o osso e não apresentarem cauda. Da mesma forma,
diferem das feridas contusas porque não têm pontes tecidulares a unir os bordos e atingem
estruturas mais profundas.
3. Problemas médico-legais:
Identificação da arma
Em regra, apenas podemos determinar a natureza do instrumento, isto é, se é contundente,
cortante, perfurante, etc. Outras vezes, havendo um instrumento suspeito, podemos pronunciar-nos
sobre se ele poderia ou não ter produzido as lesões apresentadas pelo cadáver. Só num pequeno
número de casos, é possível determinar o instrumento específico (lesões figuradas).
Eduardo Figueiredo 2016/2017
o Equimoses: face anterior e bordo cubital dos antebraços, pulsos, face dorsal das mãos e
articulações.
o Escoriações.
o Fracturas: ossos do carpo, metacárpicos e dedos.
o Feridas incisas: flexuras das falanges, no primeiro espaço interdigital
Devem estas ser diferenciadas umas das outras e ser diferenciadas de lesões de natureza
acidental ou de etiologia homicida ainda que a distinção possa ser difícil ou até mesmo impossível.
O diagnóstico baseia-se em:
o Características da lesão (contusões, feridas, etc.)
o Localização da lesão
o Acessibilidade da zona onde se situa a lesão
o Fisiopatologia e mecanismo lesivo
o Análise dos indícios.
Lesões auto-infligidas:
1. Simulação de ofensa criminal.
a) Alegada falsa violação;
b) Simular um assalto ou agressão por outros motivos
Tema 12: Noções básicas do alcance e limitações das perícias de antropologia forense
Quanto aos seus principais contributos para as ciências forenses podemos destacar:
1) Recuperação de restos esqueléticos 8) Desastres de Massa
2) Estimativa do Intervalo Pós-morte 9) Crimes contra a Humanidade
3) Determinação da espécie 10) Identificação nos Vivos
4) Avaliação do Perfil Biológico 11) Estimativa da Idade de Menores
5) Factores de Identidade 12) Estimativa de idade através de imagens /
6) Reconstrução crânio-facial Envelhecimento
7) Causas e circunstâncias da morte
Quais as 10 primeiras questões a que o antropólogo forense deve responder na sua perícia?
1) É osso?
2) É humano?
Eduardo Figueiredo 2016/2017
É preciso conhecer muito bem a anatomia do osso e a sua variabilidade humana para
responder a estas questões. Por vezes, recorre-se à histologia ou genética para responder a isto.
3) Tempo decorrido desde a morte (é um caso forense?)?
Quando temos um esqueleto, é muito difícil, só pela sua análise saber há quanto tempo
aquela pessoa morreu. Só são casos forenses aqueles que ocorrem até há 15 anos atrás. O contexto e
a evolução da decomposição também nos ajuda muito.
Tempo decorrido desde a morte ou intervalo pós morte: depende do caso concreto. Um sujeito que
tomava muitos antibióticos, decompõe-se mais lentamente; o sujeito que tinha uma grande
hemorragia, decompõe-se mais rápido; depende do calor/frio; sujeito com mais gordura, tendem a
entrar em adipocera.
Há, por isso, alguns métodos para estimar o PMI. Este processo é bastante difícil e complexo,
devendo ser de desconfiar os resultados demasiado precisos e sem taxa associada. Devem dar-se os
resultados através de intervalos.
4) Quais os ossos presentes?
5) Quantos indivíduos estão presentes?
Critérios do Perfil Biológico – São factores gerais de investigação que, só por si não
identificam, mas permitem excluir possíveis vítimas.
6) Ancestralidade – ajuda-nos a perceber qual a origem geográfica daquele
indivíduo. Não significa que tenha nascido ali, mas que os seus ancestrais nasceram ali - europeus,
africanos e asiáticos.
7) Sexo - determinação do sexo masculino ou feminino dos sujeitos. Usa-se sobretudo
a zona da bacia para determinação do sexo. Também o crânio se pode utilizar.
8) Idade - determinação se se trata de um indivíduo não adulto ou um indivíduos
adulto (os métodos são diferentes). Nas crianças, vemos isso através da dentição, grau de maturação
dos ossos, etc... À medida que a idade avança, torna-se mais difícil determinar a idade dos sujeitos,
sendo os intervalos cada vez maiores. Estas técnicas podem ser usadas em pessoas vivas - P.e. Caso
dos refugiados, principalmente em casos de menores não acompanhados e sem documentação. Nos adultos
usamos essencialmente a clavícula, osso da bacia, costelas, dentes, etc...
9) Estatura - medida do osso do braço ou da perna, utilizamos uma fórmula e vemos
a estatura/altura do sujeito.
10) Quais os factores de individualização? São melhores quanto mais incomuns são
na população. (Próteses dentárias, próteses nos ossos, doenças como artroses, etc...)
No apuramento das causas e circunstâncias da morte deve sempre distinguir-se entre o que
é ante, peri e post mortem: É também preciso excluir previamente todas as lesões ósseas provocadas
por factores tafonómicos (danos nos ossos que acontecem depois da morte devido a vários factores,
como animais, clima, etc).
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Desde logo, é importante saber que identificar não se confunde com reconhecer – este
segundo não é um método científico.
Critérios Daubert
São padrões federais norte-americanos especificados, em 1993, em Daubert vs. Merrell Dow
Pharmaceuticals, tidos como um marco nas ciências forenses.
1) A teoria ou técnica foi ou pode ser testada;
2) O método tem sido objecto de revisão pelos pares e de publicação;
3) A taxa de erro da técnica é conhecida;
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Se estes critérios forem cumpridos, o testemunho do perito é mais fiável e aceitável a nível
judicial. Para todas estas tarefas é necessário: Formação contínua, certificação dos peritos a nível
europeu e regrar o nosso sistema por alguns padrões norte-americanos. Estes métodos devem ainda
ser testados em diferentes ambientes e populações.
O método de identificação deve obedecer a um procedimento científico, pelo que, apesar da sua
semelhança e de servirem um propósito comum, é conveniente que se faça a distinção entre
reconhecimento e identificação.
O reconhecimento entende-se como a identificação de algo ou de alguém que já se conhece
previamente; é um procedimento empírico, subjectivo e sem rigor científico.
A identificação médico-legal é definida por um conjunto de características que distinguem um
indivíduo dos restantes, no enquadramento biológico, social, cultural, religioso, jurídico-legal e
económico. Por outro lado, a identificação é executada por técnicos especializados e é caracterizada
pelo uso de técnicas científicas e meios propícios de modo a obter um resultado. O reconhecimento
pode ser utilizado como método secundário e complementar do processo de identificação. O
método científico utilizado no processo de identificação é baseado em cinco pressupostos:
singularidade, imutabilidade, perenidade, reprodutibilidade e classificação de uma característica.
Podemos subdividir este método em cinco unidades de estudo: visual, datiloscópica,
antropológica, genética e dentária.
Para efeitos de identificação de sujeitos, destaca-se o andar inferior da face definido pela
relação entre os dentes de ambas as arcadas dentárias. Nesta interacção considera-se as
características dentárias como o número de peças dentárias, o seu relativo posicionamento e
detalhes anatómicos, com particular destaque para os dentes anteriores, incisivos e caninos. Os
dentes são elementos individualizantes, caracterizados pela sua elevada resistência a agentes
lesivos externos.
A aplicabilidade da unidade de estudo dentária na identificação, pressupõe o conhecimento da
histologia dentária e morfologia dos elementos básicos do sistema estomatognático, os dentes.
Os dentes, como elementos da cavidade oral, per si, 32 definitivos e 20 decíduos (de leite),
podem ser caracterizados face à sua morfologia e odontometrias (mensurações realizadas entre
detalhes anatómicos dentários, podendo ser individuais (num único dente) ou em grupo). Por
outro lado, podemos caracterizar a disposição dos dentes em grupo, nas arcadas dentárias e as suas
interrelações. A análise destes distintos elementos está na base da singularidade da dentadura
humana que corresponde a um dos pressupostos do método de identificação.
Em termos genéricos, o processo de identificação humana neste âmbito engloba o estudo
comparativo dos elementos obtidos no período post mortem com os registos médicos e dentários ante
mortem, eventualmente complementado com a recolha de amostras biológicas para determinação do
perfil genético. Quando os registos dentários ante mortem estão indisponíveis ou incompletos, é
fundamental que as técnicas autópticas procurem preservar a fisionomia facial do cadáver,
atenuando na medida do possível uma eventual desfiguração e facilitando, desse modo, o posterior
reconhecimento visual por familiares ou conhecidos. Daí a importância da autópsia bucal, que
recorrer à utilização novas tecnologias, no processo de identificação humana.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Mordida, mordedura, dentada, bitemark ou bite mark, são palavras sinónimas, correspondentes
ao registo total ou parcial, provocado pelos dentes e tecidos circundantes, designadamente a língua
e os lábios. Reflectem o papel das relações interdentárias e respectivas arcadas no ato de morder,
que resulta numa alteração física do meio, produzindo marcas e lesões, pelo contacto humano ou
animal, na pele de indivíduos vivos, cadáveres ou em objectos inanimados relativamente mole.
Para melhor sistematização, considera-se a designação «mordedura» como o ato ou efeito de
morder em objecto e a designação de «mordida» quando em pele humana. O arco dentário de cada
indivíduo é único, em virtude das suas múltiplas características individualizantes, como sejam, por
exemplo, as perdas dentárias, fracturas, restaurações, cáries, entre outras.
Quanto maior o número de características dentárias singulares de um arco dentário, maior a
probabilidade de correlação com um suspeito e maior a individualidade da mordida. Nesta
conformidade, as marcas provocadas pela acção dos dentes são, pois, achados de inquestionável
interesse no sistema judicial, passíveis de correlacionar uma evidência física com um determinado
suspeito.
A análise de registos de mordida tem sido controversa e tem sofrido constantes reajustes ao
longo dos tempos. Inicialmente este estudo baseava-se em parâmetros subjectivos e a publicação de
artigos científicos era escassa.
Os dados utilizados são bastante variados e serão valorados quando comparados com os
obtidos no suspeito. Na análise das marcas de uma mordida efectua-se uma comparação anatómica
e métrica dos dados obtidos na vítima com os do suspeito através de uma sobreposição manual ou
por computador. Ou seja, a análise de uma mordida é um estudo comparativo entre as
características do suspeito e da vítima; em cada um deles, estuda-se a sua relação tridimensional.
Mecanismos de morte: Obstrução das vias aéreas; Oclusão das veias do pescoço;
Compressão das artérias carótidas; Compressão nervosa; Mecanismo misto: reflexo e congestivo;
Traumatismo directo; Restrição dos movimentos respiratórios.
Falsos sulcos:
Naturais: Pele intacta; Pouco profundos e moles; Resultam da flexão da cabeça
sobre o tronco e desfazem-se com a extensão da cabeça. Mais frequentes em
pessoas obesas e recém-nascidos.
Artificiais: Pele intacta; Pouco profundos e moles; Reproduzem, habitualmente, a
configuração do objecto que os produziu (gravata, colarinho).
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Hábito interno: Infiltração sanguínea das partes moles; Linha argêntea; Lesões na íntima
dos vasos por tracção longitudinal; Equimose retrofaríngea; Espuma na laringe e na traqueia;
Raramente, surgem lesões raquidianas como rupturas de ligamentos, fracturas ou fractura-luxação;
Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas; Congestão generalizada dos órgãos; Sangue fluido e
escuro; Fracturas do aparelho laríngeo:
- Normalmente, no grande corno da cartilagem tiróide e do osso hióide
- Pontos de maior fragilidade
- Observar presença de infiltração sanguínea nos bordos da fractura
Quanto à dissecação do pescoço por planos: Incisão da área posterior ao pavilhão auricular
até a fúrcula esternal, bilateralmente; Abertura do pescoço; Planos subcutâneos; Plano musculares
(visão frontal); Exposição dos planos musculares do pescoço; Linha argêntea (linha de compressão
dos tecidos moles); Dissecção planos musculares; Infiltração sanguínea nos tecidos cervicais.
Após individualização dos grandes vasos do pescoço (veia jugular interna e artéria carótida),
procede-se à respectiva abertura: Lesões na íntima da artéria carótida; Remoção dos órgãos do
pescoço em bloco; Equimose retrofaríngea – Brouardell; Lesões de Amussat nas carótidas internas.
c) Esganadura
Constrição do pescoço por meio das mãos, o que pode levar a uma paragem cardíaca caso
sejam atingidos certos centros do sistema nervoso. Normalmente há desproporção física entre
agressor e vítima ou algum tipo de vulnerabilidade desta: crianças, mulheres, idosos, pessoas
acamadas, homens alcoolizados.
2. Sufocação
a) Oclusão extrínseca das vias aéreas - Oclusão boca e fossas nasais (mão, fita
adesiva, papel, saco plástico…)
b) Oclusão intrínseca das vias aéreas - Obstrução das vias aéreas com corpos
estranhos (bolo alimentar, objetos vários)
c) Compressão torácico-abdominal
d) Confinamento ou carência de ar respirável - Confinamento espaço reduzido
dispondo de uma quantidade de oxigénio limitada.
Asfixia Postural:
- Permanência numa dada posição por um período de tempo mais ou menos prolongado;
- Inversão de todo o corpo ou da sua parte superior;
Eduardo Figueiredo 2016/2017
3. Afogamento
Intromissão de meio líquido, normalmente, água, no interior das vias aéreas. Em caso de
afogamento, devemos analisar:
Hábito externo: Depósito de areias, algas, lama na superfície corporal; Livores
mais ténues que o habitual (livores róseos); “Cogumelo de espuma" a cobrir a
boca e fossas nasais (O que não é sinónimo de afogamento. Há que ter cuidado ao
mexer no cadáver para não eliminar este achado); Pele de “galinha” por
arrefecimento cutâneo (cutis anserina); Maceração da pele (mais evidente nas
mãos e pés); Escoriações no dorso das mãos e membros inferiores (Podem ser
numerosas se o corpo esteve em águas agitadas).
Hábito interno: Presença de corpos estranhos na via aérea e digestiva (areia,
algas, líquido); Congestão generalizada dos órgãos; Sangue fluido e escuro;
Pulmões insuflados, com congestão muito marcada e saída abundante de líquido
de edema nas secções de corte; Sufusões hemorrágicas pleurais e epicárdicas;
analisar ainda:
Estômago:
Volume de água > 0,5 L pressupõe carácter vital
Ruptura da mucosa do cardia devido a esforço intenso para vomitar
Fígado
Cortes perpendiculares (Lacassagne) com escorrência prolongada de
sangue fluido e escuro
4. Asfixia autoerótica
Frequentemente realizada por enforcamento. É mais frequente no sexo masculino, em área
privada. Por vezes usando roupa de mulher, com utilização de grande parafernália sexual. Muitas
das vezes deve-se a falhas de mecanismos de protecção.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
O CANO MUNIÇÕES
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Pólvora
o Grãos de pólvora
Abandonam o cano pelo orifício de saída
Efeitos traumáticos apenas em distâncias curtas
Podem actuar em massa ou como grãos individuais
Distribuição de acordo com ângulo de disparo
o Negro de fumo
Depósito produzido pelo fumo
Coloração negra nas pólvoras antigas
Coloração cinzento-esverdeadas pólvoras piroxiladas
o Gases explosivos
Acção violenta quando em grande volume
Produzem lesões por interposição do corpo no cone de expansão
Acção em disparos de contacto firme ou em cavidade (boca)
o Chama
Alcance reduzido
Igual ou inferior ao comprimento do cano
Pode causar danos nos tecidos, sobretudo sintéticos e até incendiá-los
Bucha
Acção em disparos de curta distância
Acção menos relevante nas armas modernas
Projéctil
Corpo em ignição
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Mecanismos lesionais:
- Estabilidade Giroscópica
- Dispersão de Ec
- Cavidade temporária
- Cavidade permanente
Podem gerar feridas atípicas, designadamente: Simples contusões; Erosões ou sulcos (lesão
tangencial); Feridas em fundo de saco (feridas pouco profundas, podendo o projéctil encontrar-se
no fundo da mesma ou não).
São lesões resultantes da acção de agentes que ao actuar sobre os tecidos originam reacções
locais ou generalizadas cuja gravidade está em relação com a sua extensão e profundidade
(Calabuig) Podem ser:
Queimaduras de 1º Grau
o Limitadas à camada superficial
o Eritema e edema (inflamação cutânea)
o Bolhas (flictenas) por descolamento da epiderme (raras)
Queimaduras de 2º Grau
o Destruição da espessura total da epiderme e parte da derme
o Formação de flictenas
o Tendem a respeitar os anexos cutâneos (pêlos)
Queimaduras de 3º Grau
o Necrose da pele com formação de escara
o Destruição dos tecidos cutâneos
o Ausência de flictenas
o Aspecto apergaminhado, esbranquiçado, amarelado e acastanhado
Queimaduras de 4º grau
o Destruição dos tecidos profundos incluindo gordura, músculo e osso
a) Ácidos (ácido sulfúrico, ácido clorídrico) Geram escaras branca que se tornam depois
negras e duras. O aspecto varia com o ácido.
b) Bases (soda cáustica, hidróxido de potássio) Lesões translúcidas e húmidas.
c) Sais (cloreto de zinco) Escaras brancas e secas.
Nota: O agente cáustico atua de forma igual em todos os locais em que contacta; As lesões
são uniformes em toda a sua extensão; Forma irregular pois, tratando-se de líquidos, são muitas
vezes projectados
3. Agentes físicos
a) Calor
i. Gases
ii. Líquidos
iii. Sólidos
b) Frio
c) Electricidade
d) Radiações
Eduardo Figueiredo 2016/2017
A autópsia:
o Identificação do cadáver o Na maioria das bolhas antemortem, após
o Diagnóstico e descrição das queimaduras rebentarem, observa-se uma base
o Diagnóstico diferencial entre vermelha brilhante
queimaduras ante e post mortem o Tecido gordo = combustível
o Reconhecimento e interpretação dos o Formação de massas pretas friáveis
artefactos o Fusão com músculos secos subjacentes
o Etiologia médico-legal o Tecidos (+ músculos) pálidos,
o Espuma rosa na boca e narinas por acastanhados, e parcialmente cozidos
edema pulmonar (irritação das vias o Contracturas musculares por calor
aéreas e pulmões) intenso
o Língua entre arcadas dentárias (sinais de o Surgem post mortem (efeitos profundos
desidratação) do calor incompatíveis com a vida)
o Áreas queimadas com extensão e o Encurtamento muscular por desidratação
profundidade variáveis até à cremação e desnaturação das proteínas maior nos
total flexores
o As queimaduras antemortem apresentam
bolhas com um halo vermelho (5-20
milímetros de extensão)
Os artefactos:
o Rupturas resultam da contracção da pele
o Actividade criminosa? Podem ser causadas pela manipulação do cadáver.
o Superfícies dos extensores, nas articulações e na cabeça
o Ausência de hemorragias nos tecidos mais profundos
o Hematoma: Aplicação de calor no crânio Formação de colecção de sangue que se pode
confundir com hematoma subdural; Escalpe destruído e áreas do crânio carbonizadas.
o Fracturas cranianas - 2 mecanismos:
a) Rápido aumento da p. intracraniana com fractura óssea e deslocamento de
fragmentos ósseos para fora;
b) Rápida exsicação do osso por contracção da tábua externa fractura com forma
estrelada, sem deslocamento dos fragmentos.
As fracturas vitais aparecem deprimidas e com lesão da massa encefálica
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Inalação de fuligem:
o Combustão de chãos de madeira, telhados, mobílias e carpetes produz fumo preto;
o Partículas entram pela boca pelas vias aéreas inferiores;
o Após a morte, a fuligem não ultrapassa as cordas vocais ou atinge o esófago distal;
o Mecanismo comum de morte, sobretudo, nos fogos que ocorrem dentro de habitações;
o Na autópsia, observa-se coloração vermelho carminado da pele, sangue e tecidos;
o Cor do sangue é característica mas pode ser difícil de observar em caso de anemia ou
exsanguinação;
o Se a saturação de Carboxihemoglobina for superior ou igual a 40%, tal conduz à morte;
o Em pessoas idosas ou debilitadas, 25% pode já ser mortal
o Ausência de carboxihemoglobina não significa que o indivíduo estava morto antes
do incêndio.
o O marcador de inalação ante mortem é o monóxido de carbono no sangue (superior a 10% é
indicativo de vitalidade, embora valores inferiores não signifiquem morte prévia ao incêndio
- ex: incêndios ao ar livre)
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Toxicologia Forense deve ser entendida como sendo um híbrido entre os princípios da
química analítica instrumental e os princípios da toxicologia fundamental, e aplica-os para o
propósito da lei.
Por outras palavras, a toxicologia forense é uma ciência forense de características
essencialmente analíticas com importante fundamento que é o esclarecimento de questões judiciais
presumivelmente relacionadas com a intoxicação seja esta ou não fatal. Detecta e quantifica
xenobióticos em vários tipos de matrizes.
Do Latim: forensis significa “público”. Forense deriva de fórum (local onde se situavam os
tribunais na antiga Roma). Referente ao foro judicial ou aos tribunais.
A toxicologia surge com Paracelsus que defende que não há substância atóxicas. Até a água,
se pode tornar tóxica. Há uma variabilidade intra e inter individual, porque a vulnerabilidade de
cada sujeito a uma determinada substância depende de um conjunto de características próprias do
sujeito - há substâncias que, á partida, não são tóxicas, mas podem vir a tornar-se tóxicas.
Costumam realizar-se
como exames
complementares, em
casos de afogamentos,
acidentes de viação,
quedas, etc…
* Até 1998, para pedir uma análise tínhamos que apresentar queixa na polícia, sendo aberto se
seguida o processo em tribunal e depois então é se requisita as análises ao instituto. Hoje em dia,
qualquer pessoa pode pedir análises à toxicologia, mas:
Quem paga as análises é o próprio;
A tipologia de análise são amostras biológicas, sendo a colheita das amostras feita in loco
pelos profissionais.
Tudo o que são amostras não biológicas também podem ser analisadas (P.e. Haxixe). Se a
substância for ilícita comunica-se ao particular, mas também ao Ministério Público. (sendo que este
procedimento seja ser avisado ao particular com antecedência)
1) Há que ter em conta que, por vezes, há muitas amostras biológicas a analisar ou que o cadáver
pode estar mal tratado para análise, o que atrasa o processo.
Por exemplo, há imensos tipos de colheitas de amostra post mortem, sendo que
uma matriz biológica pode inviabilizar a obtenção de resultados relevantes: ex.
baço, humor vítreo, cabelos e unhas, rim, sangue, bílis, encéfalo, fígado, etc…
2) Há vários procedimentos de divisão de amostras, extracção, purificação de tal modo que cada
amostra deve ser tratada diferentemente e com todo o cuidado. É preciso muita “ginástica” e
pesquisa para detectar substâncias tóxicas.
3) Os equipamentos são totalmente diferentes e requerem um manejo preciso. Apesar da sua
qualidade, nem sempre dão todas as respostas desejáveis ao toxicologista.
Informações
Informação social colhida junto de familiares e/ou amigos ou vizinhos da vítima.
o Sintomas da morte; medicação
o Consumo de drogas
o Antecedentes patológicos
o Tentativas de suicídios anteriores.
o Carta ou bilhete de despedida
Exame do local
Nos casos de suspeita de morte por intoxicação, o perito deve dar especial
atenção à informação circunstancial da morte e material encontrado junto da
vítima
Eduardo Figueiredo 2016/2017
o Restos de vómito - na vítima (corpo, roupa suja de vómito) e no local onde foi
encontrada;
o Cheiro ou odores no local (intoxicação por gases, etc.); Torneira do gás
aberta/fechada
o Presença de braseira ou qualquer outra fonte produtora de monóxido de carbono
o Janelas e portas abertas/fechadas
o Existência de dispositivos para recolher gases de combustão de motores (ex:
mangueira ligada ao cano de escape)
o Presença de outros elementos indiciadores de morte por intoxicação
o Seringas/agulhas, algodão, limão
o Tampas de garrafas; Colheres; “Pratas”; “Cachimbos”
o Embalagens de medicamentos
o Frascos ou contentores de outros xenobióticos (pesticidas, outros produtos químicos)
Se a cadeira de custódia for quebrada, a amostra pode não servir como prova judicial!
4. Álcool.
C0 = Ct + ßt
C0 - Concentração de álcool extrapolada para a hora pretendida
Ct - Concentração de álcool no sangue no momento da extracção
ß - Coeficiente de etiloxidação de álcool do sangue
t - Período de tempo decorrido
ß tem uma enorme variabilidade inter e intra individual, dependendo dos mais variados
factores, sendo colocado em intervalos demasiados amplos e que dão resultados pouco seguros. Há
que reter ainda:
1) As fórmulas para o calculo retrospectivo são apenas aplicáveis na fase de eliminação.
2) Para serem de maior fidedignidade exigem diversas determinações da TAS e tão
próximas quanto possiveis da ingestão.
3) Foram elaboradas a aprtir de estudos experimetnais desenvolvidos em condições não
correspondentes ás da prática me´dico-legal nomradamente tanatológica.
4) O cálculo exponencial utilizado em muitas delas leva a uma multiplicação do eero da
própria determinação, o que pode conduzir a desvios inadmissíveis.
Realizada através do humor vítreo, porque apresenta algumas vantagens neste sentido:
• Facilidade na obtenção da amostra
• Protegido dos fenómenos putrefactivos e traumas.
• Fluido com boa estabilidade química e é fácil de processar analiticamente;
• Reduzida probabilidade de contaminação por síntese post mortem.
• A amostra pode ser obtida sem necessidade de autópsia.
A taxa de conversão para o humor vítreo é de 0,8. Há ainda que notar o seguinte:
5. Drogas de abuso.
Explicam, hoje em dia, muitas dos resultados das relações interpessoais. A maioria dos
consumidores segue o seguinte caminho: Experimentais Ocasionais Habituais
Compulsivos Dependentes.
a) Morfina.
o Tem capacidade de aliviar a dor intensa com notável eficácia;
o Continua a ser o padrão a partir do qual todos os fármacos com acentuada acção
analgésica são comparados;
o Sendo o principal alcalóide do ópio, está presente numa concentração de cerca de 10%.
o A estrutura básica da morfina pode ser alterada levando a modificações drásticas nos
efeitos da droga;
o A acetilação de grupos hidroxil podem levar à síntese de heroína (diacetilmorfina), com
muito maior capacidade para atravessar a barreira Hemato-encefálica. No cérebro, no
entanto, a heroína é convertida to morfina e monoacetil morfina.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
a) Cocaína
É o principal alcalóide encontrado nas folhas do arbusto da coca. Inicialmente foi utilizada como
remédio para o tratamento das mais variadas doenças físicas e mentais. Actualmente torna-se a
droga mais traficada no mundo depois da Cannabis. Pode surgir sob várias formas:
o Folha de coca (têm uma absorção muito variável; podem ser mascadas ou em infusão; a
velocidade de actuação é lenta; têm uma capacidade limitada de consumo.)
o Pasta de coca (produto não refinado resultante da maceração das folhas de coca com
ácido sulfúrico.- É fumada, tem uma acção muito rápida)
o Cloridrato de cocaína (tem uma forma de sal, como um pó branco, inodoro, de sabor
amargo e solúvel em água. Pode ser inalado ou injectado, tendo uma acção rápida).
o Base de cocaína (crack – é fumado e tem um inicio de acção muito rápido.)
b) Anfetaminas
Efeitos
- Prazer _ Instabilidade no andar
_ Bem-estar _ Alteração da memória imediata
_ Euforia _ Diminuição da capacidade para a realização
_ Intensificação da consciência sensorial de tarefas que requeiram operações múltiplas
_ Maior sensibilidade aos estímulos externos e variadas
_ Ideias paranóides _ Lentificação da capacidade de reacção
_ Confusão de pensamentos _ Défice na aptidão motora ou interferência na
_ Sonolência capacidade de condução de veículos e outras
_ Relaxamento máquinas
6. Medicamentos.
Os medicamentos são tóxicos potenciais se administrados em dose tóxica. Nos últimos anos tem
havido um grande aumento de intoxicações medicamentosas, graças à facilidade de aquisição,
automedicação, erros de medicação, acidentes com crianças, utilização suicida ou utilização
homicida.
Numa intoxicação mortal por medicamentos raramente ainda existem vestígios na boca da
vítima.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Imputabilidade
A imputabilidade refere-se à responsabilidade do indivíduo perante determinado crime
ponderados circunstâncias e contextos. O mesmo indivíduo pode ser imputável para um crime e
inimputável para outro. A imputabilidade é analisada no momento do facto e para cada facto. Se o
sujeito for inimputável, pode ser perigoso ou não. Às vezes são feitas recomendações pelos peritos a
pronunciar-se sobre estas situações, nomeadamente quanto à possibilidade de analisar se o sujeito,
tomando a medicação e tratamento correcto, teria cometido o crime na mesma.
Imputar é a atribuir a alguém a responsabilidade de algo. Ver art. 20º CP quanto à avaliação
da responsabilidade – nulla poena sine culpa; in dubio pro reo. Já nas Ordenações Afonsinas existiam
resquícios do conceito de inimputabilidade.
Eduardo Figueiredo 2016/2017
Estas questões da inimputabilidade têm muito a ver com o conceito de pena e com as
finalidades da pena.
Tríade:
Liberdade: Estava livre para tomar a decisão que tomou?
Inteligência: A pessoa tem um nível intelectual para distinguir o bem do mal?
Vontade: Pretendia intencionalmente fazer efectivamente aquilo que fez.
Conceito de "Alienado"
Direito
O alienado é o fora de si, o que não consegue distinguir o bem do mal, o certo do errado, o
lícito do ilícito - conceito restrito.
Psiquiatria
O alienado (palavra desadequada para a psiquiatria contemporânea) é o doente enquadrado
na nomenclatura clássica (CID-10 de 1992 e DSM-5 de 2013 - trata-se de um conceito alargado). Dito
isto, nem toda a pessoa que tem uma doença mental contemplado no catálogo das doenças mentais
é, apesar disso, inimputável.
1) Perturbações de Ansiedade
Praticamente sempre imputáveis.
- Fobias (medo desproporcionado, ilógico, irracional)
- Pânico (ataque de ansiedade aguda paroxística)
- Ansiedade generalizada (ansiedade persistente)
- Perturbações obsessivo-compulsiva (obsessões/compulsões)
- Perturbações de stress pós-traumático (grande trauma)
Eduardo Figueiredo 2016/2017
2) Perturbações dissociativas - pessoas que se transformam num outro "eu" e não têm
consciência disso, por via da alcalosa respiratória.
Casos complexos em situação limite: crime cometido em estreitamento/ obnubilação do estado
de consciência, como na fuga dissociativa...
Este sujeito, por não ser dono da sua vontade e estar num outro estado de consciência, será,
à partida, inimputável. Mas há alguma situação em que alguém com perturbações dissociativas
possa cometer um crime? Sim. Caso da educadora que se dissocia ao ter uma criança ao colo e a
deixa cair.
3) Perturbações de Humor
- Imputáveis
Depressões major sem componente psicótico
Distimias
Reacções de ajustamento/adaptação
Hipomanias
Ciclotimias
- Inimputáveis
Depressões major com componente psicótico (ideias deliróides psicóticas)
Manias graves (euforia)
4) Psicoses
- Esquizofrenia - inimputáveis (se delírio ou alucinações ou se crime correlacionado)
- Parafrenia (esquizofrenia do idoso) - inimputáveis (se delírio ou alucinações ou se crime
correlacionado.
- Paranóia (ex: delírios de perseguição ou de ciúme, síndrome de Otelo - ciúme obsessivo) -
inimputáveis (se delírio ou alucinações ou se crime correlacionado)
- Erotomania (síndrome de Clérambault) - Inimputáveis (?)
7) Síndrome de dependência
Compulsão, descontrolo, privação, tolerância, obsessão e persistência.
Craving - dependência da substância, que leva a dizer que as pessoas estão imbuídas de
Craving.
- Cut - Já sentiu que devia parar?
- Annoyed - Há pessoas que o chateiam?
- Guilty - Já se sentiu culpado?
- Eye-open - Já bebeu para acalmar logo pela manhã?
8) Epilepsia
- Imputáveis, se a comissão do crime foi feita fora do ataque epiléptico
- Inimputáveis, se em estado crepuscular no momento de comissão do facto.
- E a imputabilidade diminuída? Normalmente coloca-se esta figura quando o sujeito deixa de
tomar a medicação adequada para o tratamento e comete um crime no quadro de um ataque
epiléptico.
QI Normal: 90-110
-70 QI = Oligofrenia
Entre 70 e 90 são indivíduos que estão na fronteira.
Possibilidade de simulação:
1) Simulação de quadros psicóticos (esquizofrenia), dissociativos (amnésia psicogénica) ou doenças
factícias (automutilações) Atenção ainda ao examinando negativista ou em mutismo.
2) Particular atenção ao processo e ás fontes (desejável serem diversificadas, para obtenção de
dados sobre a personalidade e a anamnese)
3) Se dúvidas, repetir o exame mental
4) Não fazer perguntas que induzam respostas
5) Serenidade do perito
Simular depressão:
- Fácil (inibição psicomotora, desmotivação, ideias de morte ou de suicídio)
- Difícil (insónia - quando observável; variação diurna de humor, desconcentração)
Memórias induzidas - A memória é induzida por alguém ao contar uma história. São das perícias
mais difíceis de fazer.
Memórias delirantes
Memórias por indícios
Falsas memórias - confabulação, falsa memória, fantasia que substitui inconscientemente uma
lacuna na memória, baseada parcialmente em factos ou ser produto completo da imaginação.
Simulação de Amnésias: difícil distinguir o que é verdadeiro do que é falso. Pistas: "organicidade"
sugere verdadeira amnésia; "toque na personalidade" sugere falsas memórias.
Simulação de PSPT: recusa emprego pouco exigente, sempre com novas queixas físicas, sempre
com o mesmo pesadelo.
Deteção da simulação - "Se eu lhe for dando pistas acha que se vai lembrar de alguma coisa? O
simulador tende a dizer não, mas o amnésico costuma dizer talvez".
Eduardo Figueiredo 2016/2017
O que fazem os simuladores? Exageram no papel, convicção abalável, imitam mal a forma,
referem que tudo começou rapidamente, esquecem-se de imitar sintomas negativos, só actuam
quando observados. - Imputáveis
O que fazem os verdadeiros psicóticos? Excentricidades, barricam-se, isolamento, sem
amigos, mudam de residência, fazem viagens longas, compram armas, vão fazer queixa à PSP,
GNR, PJ... - Inimputáveis