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Resumo:
No presente artigo é reflectido o tema das he- Escrever a propósito deste tema apresenta-
ranças familiares numa perspectiva psicanalí- -se como algo complexo quanto próximo.
tica. São destacados conceitos de três autores: a Afinal, numa experiência clínica, teórica
transmissão psíquica (R. Kaes), a telescopagem e pessoal, todos percebemos que Famílias
de gerações (H. Faimberg), e o objecto transge- e Heranças são dados sempre presentes.
racional (A. Eiguer). São interrogadas perspec- Numa primeira entrevista, no decorrer de
tivas clínicas sobre a filiação, nomeadamente uma avaliação psicológica ou de um pro-
aquelas que resultam de uma prática com a cesso psicoterapêutico, a herança familiar
instituição, o indivíduo, a família e o grupo. apresenta-se. Mas também aí, a forma como
aparece é simultaneamente clara e obscura.
Palavras-Chave: Heranças Familiares; Trans- Se o sujeito que encontramos ganha outros
missão Psíquica; Telescopagem de Gerações; contornos quando a sua constelação fami-
Objecto Transgeracional; Transformação. liar emerge, sabemos que o relato versa so-
bre a narrativa contada, vivida e absorvida
Family Inheritances: Transfu- pelo próprio.
sion or Transformation
Como diz Jean-José Baranes (1993)1, o
Abstract: transgeracional não remete para o facto
histórico, mas para a forma como cada um
This article reflects the theme of family inhe- se constitui nos movimentos introjectivos e
ritances under a psychoanalytic perspective. projectivos, entre o dentro e o fora, o eu e o
Concepts of three authors are highlighted: outro, o passado e o presente, a continui-
psychic transmission (R. Kaes), telescoping of dade e a diferença. Mais do que em esque-
generations (H. Faimberg), and transgenera- mas deterministas, a ciência actual prefere
tional object (A. Eiguer). Clinical perspectives metáforas abertas, de auto-organização e de
on filiation are questioned, particularly those atractores estranhos.
that result from a practice with the institution,
the individual, the family and the group. O contacto directo com a família do paciente
não é regra na prática clínica, mas acontece
Key-Words: Family Inheritances; Psychic sempre no caso de intervenções com crianças,
Transmission; Telescoping of Generation; e não raras vezes nos casos de pacientes com
Transgenerational Objec; Transformation. patologias graves, ou naqueles que se encon-
dados, predispõe de signos de reconhecimento, há oito anos. Custou-lhe deixar África, a vida
apresenta os objectos, oferece os meios de pro- mais calma de lá, onde todos se conheciam. A
tecção e de ataque, traça as vias da realização, família está espalhada pelo mundo. Não gos-
assinala os limites, enuncia os interditos. O tou da Índia, das cinco visitas que fez ficou-
sujeito utiliza a linguagem e as palavras das -lhe a impressão de um lugar sujo, agitado e
gerações que o precederam, apropriando-se barulhento. Surge de imediato, nesta família
dessa herança para seus próprios objectivos. espalhada por vários continentes, a questão
Por outro lado, há uma parte que permanece das heranças transgeracionais. O que será que
estrangeira, ou estranha já que lhe foi impos- cada um transporta?
ta, presença obscura e desconhecida nele de Na avaliação projectiva realizada, para além
um outro ou de mais do que um outro3. do predomínio de mecanismos obsessivos,
emergem momentos em que Rafael se deso-
Segundo H. Faimberg (1993)4,5,6 todo paciente rienta, se perde. A representação, que se en-
fala e escuta a partir de identificações incons- contra bem constituída noutros momentos, de
cientes. Neste sentido a autora interroga se a repente dissolve-se. Então proliferam imagens
telescopagem de gerações não será um fenó- de mapas, “bocados de mapas juntos entre
meno universal. si… Este aqui é mais parecido com o mapa de
Para Albert Eiguer7,8 todo paciente é atraves- África, tem umas coisas diferentes, mas umas
sado por identificações aos ascendentes, pelas que definem mais o mapa de África. Ali a Eu-
suas alturas idealizantes e baixos perturbado- ropa…”. Fica-nos a questão, que poderá ser
res, pelo demasiado cheio de designações abu- mais problemática e misteriosa, sobre aquilo
sivas e o demasiado vazio do impensável, pelo que Rafael transporta transgeracionalmente
demasiado frio do desinvestimento e o dema- nestas diferenças culturais, nestes mapas difu-
siado quente das paixões inomináveis. sos, nestes continentes separados. Que heran-
ças destes continentes distantes (África, Índia,
Os mapas de Rafael Europa)?
te. Ficaram traços, sintomas que continuarão o fundamento psicótico da grupalidade”. (R.
a ligar as gerações entre elas. Kaes, 2003, p.69)3.
Esta violência da transmissão estabelece-se
num para além daquilo que é acessível pela Paula não aprende
linguagem das palavras: é uma transmissão
de coisa2. Como os vários autores até aqui menciona-
Pegando nas ideias de Bion, Kaes (1993)2 dos sublinham, estes conceitos nascem e de-
refere a existência de transmissão de ob- senvolvem-se na clínica. E, ao reflectir sobre
jectos transformáveis, diferente da trans- estes temas, Paula, de 11 anos, vem à nossa
missão de objectos não transformáveis. Os memória…
primeiros transformam-se naturalmente no Cabelo comprido e escuro, a sua estatura ilude
seio das famílias, formam a base da matéria a idade real – numa rápida entrada na puber-
psíquica, da história que as famílias trans- dade, parece bastante mais velha. Encontran-
mitem aos seus descendentes. A estes ob- do-se a frequentar o 5.ºano de escolaridade,
jectos transformáveis opõem-se os objectos apresenta acentuadas dificuldades de apren-
não transformáveis, espécie de coisas em dizagem.
si cuja finalidade é a de atacar o aparelho Com nove meses e meio a Paula foi internada
de transformação dos membros da família durante um mês por convulsões, sendo segui-
ou do grupo. Tais objectos permanecem en- da em neurologia até aos três anos.
quistados, incorporados, inertes. Quando Este episódio trouxe algumas nuances ao seu
são transferidos são ao jeito de transfusão, desenvolvimento psicoafectivo. A escola não
por identificações adesivas ou projectivas. O sabia como lidar com esta aluna do 5.ºano que
que foi vivido fica fora de qualquer repre- não apresentava aquisições, e não respondia
sentação de palavras. às estratégias educativas habituais. Mas que
O autor fala de um pólo isomórfico do apare- realizara o ensino básico, e cujos pais insis-
lho psíquico grupal que resulta da não-dife- tiam em afirmar as suas capacidades.
renciação. “Sempre que um grupo se encontra Dois anos antes do nascimento da Paula a
confrontado com uma situação de crise ou de mãe deu à luz uma bebé que nasceu morta.
perigo grave, tende a emparelhar-se ligando os A tragédia não era esperada. É uma grande
seus “membros” na unidade sem falha de um ferida para esta mãe que apresenta traços
“espírito de corpo”: cada um dos participantes depressivos, num luto impossível. Quando a
só pode existir como membro de um “corpo” Paula nasceu ainda estava a viver essa perda.
dotado de uma imutável indivisão. É o caso Depois o “pesadelo” aliviou-se mas por pouco
da família e do grupo de psicóticos; é também tempo, até às convulsões da Paula. Aí tudo vol-
tou. “Só vivo para a Paula, de mim só cuido do mento da possibilidade de pensar por si. Não
exterior...” . A história da Paula não chega a existe um ajustamento às suas necessidades,
acontecer. Ficou presa a esta bebé morta que apetências e capacidades. A sua mãe diz,”fiz
esteve quase a nascer consigo, mas as convul- tudo para que ninguém viesse a dar pelas di-
sões reeditaram um fantasma de morte. ficuldades da Paula”, o que escutamos como
Deixando a Consulta de Neurologia não teve “fiz tudo para que a bebé morta nascesse na
um pediatra permanente. Os pais falam num Paula”. A força desta recusa, desta transmissão
atraso na linguagem, sem que qualquer des- do objecto morto, a urgência desta transfusão,
piste tenha sido feito. gera uma não-vida.
Sempre criada pela mãe, esta foi a sua profes-
sora primária. A mãe diz que a Paula apren- O papel do narcisismo na patolo-
de, mas que necessita de um apoio constan- gia das heranças
te, acreditando que só ela a compreende. Foi
assim até à 4ª classe, agora no 5.º ano, com Segundo H. Faimberg (1993)4 na existência de
outros técnicos, as dificuldades sobressaem. A uma regulação narcísica, gera-se uma iden-
integração da filha no Ensino Especial é uma tificação alienada do Eu, na medida em que
ideia que os pais repelem. a causa se encontra na história de um outro,
É difícil o diálogo com a Paula, fala como se e não na história do próprio. Pesa uma parte
acreditasse que estamos dentro da sua cabeça. clivada ou alienada do Eu que se identifica à
Apresenta um perfil cognitivo bastante inferior lógica narcísica dos pais.
à média esperada para o seu grupo etário. Há As funções de apropriação e de intrusão,
uma falha grande ao nível da simbolização. são características da regulação narcísica de
Segundo o seu neurologista, as dificuldades objecto. Na função de apropriação os pais in-
cognitivas têm alguma origem no episódio ternos, identificando-se àquilo que pertence à
neurológico que sofreu aos nove meses. Há criança, apropriam-se da identidade positiva
uma causalidade que parece inegável, mas desta. Na função de intrusão, expulsam activa-
cuja extensão e determinismo permanece mente na criança, tudo o que eles rejeitam4, 5.
obscura. É como se uma segunda gravidez, se- Nestes casos, a criança não é apenas odiada
guida de uma nova morte tivesse acontecido porque ela é diferente, mas sobretudo, e pa-
– como a bebé que morre após noves meses radoxalmente, porque a sua história será
de gestação. solidária da história dos seus pais. Não há
Se, e segundo a mãe, a Paula precisa de al- lugar para a constituição de um espaço psí-
guém perto de si para realizar qualquer quico próprio para que a criança desenvolva
aprendizagem, tal impossibilita o desenvolvi- a sua identidade, livre do poder alienante dos
seus pais. Função alienante que origina uma As identificações inconscientes alienantes
clivagem do Eu na criança, produzindo um constituem o tempo narcísico do Édipo, na
sentimento de estranheza, já que se trata de resistência à ferida que este impõe: a perda da
uma organização estranha que pertence a um omnipotência, e reconhecimento da diferença
outro4,5. de gerações4.
Na clínica, percebe-se que os próprios pais
não são os únicos protagonistas desta relação, A. Eiguer (1991)7 refere, também na patologia,
estando eles próprios inconscientemente ins- a presença de um objecto transgeracional.
critos no seu próprio sistema familiar. Desta Trata-se de um antepassado que aparece no
forma, estão implicadas três gerações neste discurso dos pacientes como uma revelação
tipo de identificação4. inesperada em sonhos, associações, recorda-
A historicidade é aqui sujeita a um processo ções, que abrem vias para sectores do aparelho
identificatório que congela o psiquismo num psíquico mantidos à margem por uma cliva-
sempre e para sempre, característica do carác- gem severa. Há uma política de segredo, uma
ter intemporal do inconsciente. A telescopa- vergonha, que não permite uma referência a
gem torna evidente um tempo circular, repe- esse objecto.
titivo. Pelo contrário, a diferença de gerações O objecto transgeracional refere-se a trau-
está ligada ao decorrer inelutável do tempo, matismos dolorosos e/ou moralmente repro-
aquele da distribuição de gerações4,5. váveis. Gera um vazio de representação ou
Nos processos identificatórios onde ocorre uma proto-representação de coisa incapaz
a telescopagem de gerações, a identificação de aceder ao status de palavra e de pensa-
realiza-se não só com o objecto mas também mento7.
com certos atributos da história secreta. É mis- A família disfuncional quer romper com as
teriosa a forma como essa história se trans- suas origens, privando-se das suas próprias ra-
mite. Trata-se de identificações constituídas ízes. Fica um fantasma de auto-criação. É a
num laço entre gerações, alienantes e opostas omnipotência, negação da existência, negação
a toda representação. Não são audíveis. Na do legado superegóico7.
transmissão alienante a criança não possui Num funcionamento normal, a filiação pro-
a exploração das suas verdades psíquicas, fica põe o núcleo de pertença, de linhagem, de um
submetida àquilo que os pais dizem ou calam. nome comum, de uma religião comum, de
Fica dependente, perdendo o livre acesso à in- uma série de tradições, de opções profissio-
terpretação do seu próprio psiquismo. A fun- nais. Linhagem que tem a força de coesão. A
ção de apropriação priva o sujeito de qualquer negação da filiação implica um vivido poten-
espaço próprio4. cialmente psicótico7.
nunca a deixou fazer nada, “nem sei o valor do criações inesperadas, mesmo que acompanha-
dinheiro, não me preparou para a vida”. A avó das por intensos desesperos. Sabemos como a
materna era muito velhinha, precisava muito história de muitos criativos está cheia de faltas
de ajuda, dada pela sua mãe. O que aconteceu e de falhas na árvore genealógica.
nesta família em que as mulheres ficam todas Recorremos aqui a outra ilustração iniciada
na mesma posição de dependência? Impossível por Freud10 e continuada por tantos outros
não questionar... autores, Leonardo da Vinci. A problemática
Está em Portugal há 10 anos, não voltou à es- das filiações e da origem é um dos temas que
cola, fica sempre em casa. Gostava de ser ac- mais se debate à volta da vida deste criador, e
triz. Quer ter um trabalho simples e ganhar o à volta da génese da função criativa. M. Ma-
seu dinheiro. Diz ter uma esquizofrenia, diag- cias (1992)11 refere como a incerteza quanto
nóstico que lhe terá sido feito, “às vezes não à filiação instala uma busca sobre as origens.
tenho os pés na realidade, vou para a fantasia, Uma das fantasias de filiação mais comuns
vejo uma actriz e quero ser como ela”. inscreve-se na versão idílica do nascimento
O seu contacto é afável e próximo. Nada in- virginal. Espécie de materno original sem a
dica um funcionamento psicótico. Aparece contribuição do diferente. Constelação matri-
antes um funcionamento lábil, no recurso ao cial presente nos quadros de Leonardo da Vinci
recalcamento que implica um certo empobre- (Santa Ana, A Virgem, a condição andrógina
cimento, uma dimensão pueril e imatura. Mas das figuras – Gioconda, São João Batista)12.
contém um potencial que terá sido claramente Espírito auto-suficiente, num funcionamento
coarctado por um contexto familiar particu- longínquo de Édipo. Face a este objecto todo-
lar. Tem uma grande motivação em adquirir -poderoso, a psicose ou a paranóia poderão ser
uma maior autonomia. Mas todos os esforços uma saída, mas “em casos felizes, a relação
no sentido de facilitar este processo de auto- fantasmática à mãe androgina institui os
nomização da Olga foram boicotados pelo seu embriões da indiferenciação psíquica e se-
pai, que acabou por a retirar, não aceitando xual, anunciadora de potencialidades cria-
envolver-se numa terapia familiar. tivas insuspeitas”11.
Numa constelação familiar idêntica, Macias11
Heranças transformadas fala de Dorian Gray, personagem de Óscar Wil-
de, herdeiro de uma mãe jovem e bela, rica e
Antes de terminar gostaríamos de lembrar idealizada, sofrendo a morte do pai. Dorian
com Jean-José Baranes (1993)1, como certas é órfão esteta, inocente e perverso, horrível e
filiações complexas não conduzem à psicose belo, encarnando a essência da criação artís-
ou à inibição intelectual, podendo produzir tica.
Nas fantasias de todas as crianças está a von- Se os pais reais não são habitualmente conhe-
tade de moldar a realidade segundo os seus cidos num processo analítico, fica aquilo que
desejos, respondendo ao princípio do prazer. a partir da transferência é possível inferir. Não
E, tantos são os romances das figuras heróicas se trata de uma realidade material, mas de
nas aventuras de órfãos como figuras de liber- uma noção de realidade que subsiste como um
dade: Tom Sawyer, Oliver Twist, Huckleberry resto. Estes pais são os pais que ficaram inscri-
Finn… Em todos uma origem comum: a de tos na realidade psíquica do sujeito. Inscrição
não terem origem. reconhecível pela forma como o paciente fala
e como ele escuta as interpretações e os silên-
Implicações clínicas dos concei- cios do analista. No processo analítico aparece
tos um terceiro incluído que exclui momentanea-
mente o analista, terceiro inconsciente para o
A análise destas constelações familiares tem paciente e desconhecido para o analista, que
consequências clínicas importantes. importa escutar – trata-se da escuta da teles-
Segundo Faimberg (1995)6, implica desde logo copagem de gerações5.
uma revisão do conceito de construção, con-
ceito que implica um paradoxo enriquecedor: Jean-José Baranes (1993)1, pensando nas prin-
sendo retroactivo, é simultaneamente antici- cipais manifestações na clínica actual, onde a
patório no sentido em que estabelece uma pré- associação livre dá lugar à dissociação livre,
-condição para o acesso às verdades psíquicas. refere como o objectivo já não é tanto o de ana-
Construção que oferece um laço novo, sem lisar mas o de permitir a operação de sínteses.
precedentes, através do qual o passado é cons- Nesse sentido propõe o termo de psicosíntese
tituído enquanto tal e o paciente adquire uma no lugar de psicanálise. Trata-se de facilitar a
história, a sua história. Trata-se de propor um vivência de experiências estruturantes.
laço que não existia – no acesso a novas ver- No seio de curas difíceis surgem figuras de um
sões da realidade psíquica – descontinuando a luto impossível, que fixam o processo terapêu-
partir daí a repetição. tico no intemporal e na impossibilidade em
Quando se chega a conhecer a história secre- criar um novo tempo. Processos terapêuticos
ta, torna-se possível modificar os efeitos que onde os fantasmas seguem em repetições ou
ela tem para o Eu, modificando a clivagem transmissões transgeracionais. Lutos impossí-
alienante. Um processo de desidentificação é veis face a objectos demasiado presentes ou de-
condição de libertação do desejo e de consti- masiado ausentes, não permitindo em ambos
tuição do futuro 4. os casos que o sujeito encontre a sua subjecti-
vidade. Surge um ser precário perto do caos,
capaz de desenvolver soluções num tudo ou e o outro, entre o objectivo e o subjectivo, entre
nada, numa relação anaclítica, na perver- analista e paciente.
são, na adição, ou no refúgio numa neo
realidade1. Bibliografia
Na psicose aparecem as famílias patológicas
produzindo uma vertigem, estranheza inquie- 1. Baranes, J-J. “Cap 7: Devenir soi-même:
tante, trata-se de um mundo opaco e límpido avatars et statut du transgénérationnel”,
simultaneamente, saturado de uma sexuali- 170-190, in Kaes, R., Faimberg, H., Enri-
dade incestuosa nada dissimulada. Há uma quez, M, Baranes, J.-J. (ed.). Transmission
completa ausência de espaços psíquicos dife- de la vie psychique entre génération”. Pa-
renciados. A negação e a omnipotência pre- ris, Dunod. 1993.
valecem, num Eu auto-gerado, sem qualquer 2. Kaes, R. “Introduction: Le Sujet de
hipótese de conflitualidade psíquica: no centro l´héritage”, 1-16, in Kaes, R., Faimberg,
do transgeracional encontra-se o desapareci- H., Enriquez, M, Baranes, J.-J. (ed.). Trans-
mento do geracional. Na patologia limite os mission de la vie psychique entre généra-
pacientes repetem um mesmo cenário sem tion”, Paris, Dunod. 1993.
que captem a lógica1. 3. Kaes, R. As Teorias Psicanalíticas do Grupo.
Para a realização da operação de sínteses Lisboa: Climepsi. 2003.
neste processos terapêuticos, importa reorga- 4. Faimberg, H. (1993), “Cap 2: Le Télescopage
nizar os traços da percepção e da representa- dês générations. À propôs de la généalogie
ção, modificar a intemporalidade a proveito de certains identifications”, 59-81, in Kaes,
de um jogo criativo, no qual a reelaboração R., Faimberg, H., Enriquez, M, Baranes, J.-
das recordações não fique mais fechada a sete J. (ed.), Transmission de la vie psychique
chaves, podendo deambular no tempo psíqui- entre génération”, Paris, Dunod.
co. Tempo este que aviva, animando o actual à 5. Faimberg, H. “Cap 4: À l´écoute du télés-
luz do passado, ressignificando. copage des générations: pertinence psicha-
Como diz Ogden (1992)13, a história do ana- nalytique du concept”, 112-129, in Kaes,
lisando não é descoberta, é criada na trans- R., Faimberg, H., Enriquez, M, Baranes, J.-J.
ferência-contratransferência. O sujeito da psi- (ed.). “Transmission de la vie psychique
canálise toma forma no espaço interpretativo entre génération”, Paris, Dunod. 1993.
entre analista e analisando. A subjectividade 6. Faimberg, H., Corel, A., Le Temps de La
de um sujeito pressupõe a existência de dois Construction: répétition et surprise, Re-
sujeitos que juntos criem uma intersubjecti- vue Française de Psychanalyse, 1995.
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