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Heranças Familiares: Transfusão ou Transformação1

Catarina Bray Pinheiro*

Resumo:
No presente artigo é reflectido o tema das he- Escrever a propósito deste tema apresenta-
ranças familiares numa perspectiva psicanalí- -se como algo complexo quanto próximo.
tica. São destacados conceitos de três autores: a Afinal, numa experiência clínica, teórica
transmissão psíquica (R. Kaes), a telescopagem e pessoal, todos percebemos que Famílias
de gerações (H. Faimberg), e o objecto transge- e Heranças são dados sempre presentes.
racional (A. Eiguer). São interrogadas perspec- Numa primeira entrevista, no decorrer de
tivas clínicas sobre a filiação, nomeadamente uma avaliação psicológica ou de um pro-
aquelas que resultam de uma prática com a cesso psicoterapêutico, a herança familiar
instituição, o indivíduo, a família e o grupo. apresenta-se. Mas também aí, a forma como
aparece é simultaneamente clara e obscura.
Palavras-Chave: Heranças Familiares; Trans- Se o sujeito que encontramos ganha outros
missão Psíquica; Telescopagem de Gerações; contornos quando a sua constelação fami-
Objecto Transgeracional; Transformação. liar emerge, sabemos que o relato versa so-
bre a narrativa contada, vivida e absorvida
Family Inheritances: Transfu- pelo próprio.
sion or Transformation
Como diz Jean-José Baranes (1993)1, o
Abstract: transgeracional não remete para o facto
histórico, mas para a forma como cada um
This article reflects the theme of family inhe- se constitui nos movimentos introjectivos e
ritances under a psychoanalytic perspective. projectivos, entre o dentro e o fora, o eu e o
Concepts of three authors are highlighted: outro, o passado e o presente, a continui-
psychic transmission (R. Kaes), telescoping of dade e a diferença. Mais do que em esque-
generations (H. Faimberg), and transgenera- mas deterministas, a ciência actual prefere
tional object (A. Eiguer). Clinical perspectives metáforas abertas, de auto-organização e de
on filiation are questioned, particularly those atractores estranhos.
that result from a practice with the institution,
the individual, the family and the group. O contacto directo com a família do paciente
não é regra na prática clínica, mas acontece
Key-Words: Family Inheritances; Psychic sempre no caso de intervenções com crianças,
Transmission; Telescoping of Generation; e não raras vezes nos casos de pacientes com
Transgenerational Objec; Transformation. patologias graves, ou naqueles que se encon-

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* Psicóloga Assistente Principal: Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE.
1 Artigo baseado numa comunicação realizada no IV Colóquio de Psicologia do Instituto Superior Don Afonso III, Loulé (Março 2008).
Heranças Familiares: Transfusão ou Transformação

tram em tratamento institucional em contex- R. Kaes (1993)2,3 e o conceito de


tos de grande dependência familiar. transmissão psíquica
Lembramos, a propósito, as perícias legais
onde encontramos enredos de crises familia- Com este conceito o autor procura dar con-
res, divórcios litigiosos, acusações de vários ta de um fenómeno universal, entendendo-o
abusos, agressões e violações. Ficamos com como uma produção intersubjectiva da psi-
uma visão parcelar. Calha-nos um relato, a que. Conceito que sublinha o carácter igual-
parte do todo, ouvimos um pai, uma mãe, um mente organizador das heranças familiares.
filho. Perguntam-nos sobre as competências Transmissão psíquica que implica, sobre o ân-
paternas e maternas. Na análise que procura- gulo das relações entre gerações, o sujeito ser
mos fazer do funcionamento individual apu- precedido por vários outros. Sobre esta cadeia
ramos características que nos ajudam a perce- apoia-se a formação do psiquismo. Desta for-
ber essas qualidades do materno e do paterno ma, a questão da transmissão liga-se àquela
– tributo de Heranças Familiares particulares, da formação do inconsciente e dos efeitos da
nem sempre fáceis de descortinar, mas sempre subjectividade que, enredados na intersubjec-
à espreita nestes dramas periciais. tividade, daí derivam2.
O autor2,3 introduz de imediato um problema
Jean-José Baranes (1993)1 pensa no transgera- narcísico ligado à transmissão, trata-se da
cional enquanto comércio identificatório com ferida da história. A origem é exactamente
o outro parental. Existe sempre uma transmis- aquilo que escapa ao nosso domínio no mo-
são transgeracional, porque há sempre um mento mesmo onde somos constituídos no e
outro em si. Gera-se uma transmissão entre pelo desejo do outro. Transmissão que é ferida
gerações de um material psíquico análogo, narcísica, horror de nascer. Somos colocados
pela sua repetição, à transmissão do material no mundo por mais do que um outro, por mais
genético. do que um sexo, e a nossa pré-história faz de
cada um de nós, bem antes do nascimento, o
Revendo conceitos que mais directamente tratam sujeito de um conjunto intersubjectivo. O su-
estes temas da família, da herança, e do grupo jeito é desde o início um “intersujeito”.
numa perspectiva psicanalítica, serão aqui des- Kaes2 lembra o quão fundamental é a qualida-
tacados três autores: René Kaes2,3 na questão que de do investimento narcísico da criança pelos
levanta sobre a transmissão psíquica, Haydée pais e pelo conjunto intersubjectivo no inte-
Faimberg 4,5,6 no termo que introduz de telesco- rior do qual o recém-nascido vem ao mundo.
pagem de gerações, e Albert Eiguer7,8 no seu con- O grupo que nos precede sustém-nos e man-
ceito de objecto transgeracional. tém-nos numa rede de investimentos e de cui-

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dados, predispõe de signos de reconhecimento, há oito anos. Custou-lhe deixar África, a vida
apresenta os objectos, oferece os meios de pro- mais calma de lá, onde todos se conheciam. A
tecção e de ataque, traça as vias da realização, família está espalhada pelo mundo. Não gos-
assinala os limites, enuncia os interditos. O tou da Índia, das cinco visitas que fez ficou-
sujeito utiliza a linguagem e as palavras das -lhe a impressão de um lugar sujo, agitado e
gerações que o precederam, apropriando-se barulhento. Surge de imediato, nesta família
dessa herança para seus próprios objectivos. espalhada por vários continentes, a questão
Por outro lado, há uma parte que permanece das heranças transgeracionais. O que será que
estrangeira, ou estranha já que lhe foi impos- cada um transporta?
ta, presença obscura e desconhecida nele de Na avaliação projectiva realizada, para além
um outro ou de mais do que um outro3. do predomínio de mecanismos obsessivos,
emergem momentos em que Rafael se deso-
Segundo H. Faimberg (1993)4,5,6 todo paciente rienta, se perde. A representação, que se en-
fala e escuta a partir de identificações incons- contra bem constituída noutros momentos, de
cientes. Neste sentido a autora interroga se a repente dissolve-se. Então proliferam imagens
telescopagem de gerações não será um fenó- de mapas, “bocados de mapas juntos entre
meno universal. si… Este aqui é mais parecido com o mapa de
Para Albert Eiguer7,8 todo paciente é atraves- África, tem umas coisas diferentes, mas umas
sado por identificações aos ascendentes, pelas que definem mais o mapa de África. Ali a Eu-
suas alturas idealizantes e baixos perturbado- ropa…”. Fica-nos a questão, que poderá ser
res, pelo demasiado cheio de designações abu- mais problemática e misteriosa, sobre aquilo
sivas e o demasiado vazio do impensável, pelo que Rafael transporta transgeracionalmente
demasiado frio do desinvestimento e o dema- nestas diferenças culturais, nestes mapas difu-
siado quente das paixões inomináveis. sos, nestes continentes separados. Que heran-
ças destes continentes distantes (África, Índia,
Os mapas de Rafael Europa)?

Na clínica surgem-nos estas figuras do trans- Características das Heranças Fa-


geracional, mas muitas vezes sem que o sujei- miliares na psicopatologia
to tenha um discurso sobre, fica como figura
de fundo. Rafael, de 17 anos, apresenta com- Jean-José Baranes (1993)1 refere como na
portamentos compulsivos e restrições alimen- clínica actual aparecem formas de funcio-
tares. Natural do Zaire, o seu pai nasceu na namento e de transferência muito diferentes
Guiné, a mãe é de Nova Deli. Vive em Portugal daquelas que resultam da acção do recalca-

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mento. Os pacientes aparecem antes movidos como se transmitem os sintomas, os meca-


por uma força negativa estranha. Trazem di- nismos de defesa, a organização das relações
mensões que não estão recalcadas, mas são de objecto; sobre a forma como os objectos e
inomináveis, são lutos não realizados. Ques- os processos de transmissão psíquica estru-
tões que são frequentemente levantadas no turam o laço intersubjectivo e a formação do
trabalho com pacientes institucionalizados sujeito singular, na constituição do incons-
ou na clínica com crianças, situações em que ciente e na transmissão do recalcamento e do
a dependência psíquica e real das figuras pa- negado; sobre o destino da criança herdeira
rentais trazem a família ao setting. São estas da psicose dos pais, na telescopagem de ge-
novas práticas com o grupo, a família e as ins- rações; sobre as identificações ao fantasma
tituições que convidam à revisão de conceitos inconsciente ou ao objecto do outro, na ge-
metapsicológicos, criando uma nova tópica – nealogia dos fantasmas, na dolorosa relação
aquela do transgeracional, da clivagem e do do luto e da herança.2
intersubjectivo. Uma contribuição maior vem das elaborações
Traumatismos do passado surgem no presen- fundadas na prática da psicoterapia familiar
te bloqueando o ser. Trata-se de uma história psicanalítica, onde os processos e as formações
que não chegou a tornar-se psíquica, não ser- psíquicas com implicação nas noções de trans-
ve de testemunha ou de memória do sujeito, missão intergeracional, são experimentadas
inscreve-se no corpo, no agir, materializa-se e num dispositivo apropriado. Outras contribui-
dá forma ao presente. A simbolização dá lugar ções resultam ainda das práticas com grupos,
ao agir, implicando uma contratransfêrencia onde se insere Kaes 2,3.
atípica. Há uma influência, uma ascendência Em todas estas perspectivas sobressai um fenó-
que expropria o sujeito, uma engrenagem que meno comum: aquele da urgência em trans-
tem um efeito de repetição exigida, imobilida- mitir e em transferir para um outro aparelho
de vital, comum nos sujeitos com funciona- psíquico aquilo que não pode ser mantido no
mento limite. A actividade de ligação-desliga- próprio2.
mento sofre um curto-circuito1. A dimensão do negativo no processo de trans-
missão fica mais precisa numa clínica que faz
R. Kaes (1993)2, lembra como o desenvolvi- aparecer com insistência a não-transmissão,
mento de investigação sobre a transmissão ou as transmissões do inerte2.
parte de confrontações clínicas de estruturas Nem sempre a urgência é de transmitir, mui-
psicóticas, borderline ou narcísicas. tas vezes é de interromper uma transmissão.
Daqui surgiram perspectivas clínicas sobre Mas, nem tudo daquilo que é retido ficará in-
a filiação. A análise incide sobre a forma teiramente inacessível para a geração seguin-

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te. Ficaram traços, sintomas que continuarão o fundamento psicótico da grupalidade”. (R.
a ligar as gerações entre elas. Kaes, 2003, p.69)3.
Esta violência da transmissão estabelece-se
num para além daquilo que é acessível pela Paula não aprende
linguagem das palavras: é uma transmissão
de coisa2. Como os vários autores até aqui menciona-
Pegando nas ideias de Bion, Kaes (1993)2 dos sublinham, estes conceitos nascem e de-
refere a existência de transmissão de ob- senvolvem-se na clínica. E, ao reflectir sobre
jectos transformáveis, diferente da trans- estes temas, Paula, de 11 anos, vem à nossa
missão de objectos não transformáveis. Os memória…
primeiros transformam-se naturalmente no Cabelo comprido e escuro, a sua estatura ilude
seio das famílias, formam a base da matéria a idade real – numa rápida entrada na puber-
psíquica, da história que as famílias trans- dade, parece bastante mais velha. Encontran-
mitem aos seus descendentes. A estes ob- do-se a frequentar o 5.ºano de escolaridade,
jectos transformáveis opõem-se os objectos apresenta acentuadas dificuldades de apren-
não transformáveis, espécie de coisas em dizagem.
si cuja finalidade é a de atacar o aparelho Com nove meses e meio a Paula foi internada
de transformação dos membros da família durante um mês por convulsões, sendo segui-
ou do grupo. Tais objectos permanecem en- da em neurologia até aos três anos.
quistados, incorporados, inertes. Quando Este episódio trouxe algumas nuances ao seu
são transferidos são ao jeito de transfusão, desenvolvimento psicoafectivo. A escola não
por identificações adesivas ou projectivas. O sabia como lidar com esta aluna do 5.ºano que
que foi vivido fica fora de qualquer repre- não apresentava aquisições, e não respondia
sentação de palavras. às estratégias educativas habituais. Mas que
O autor fala de um pólo isomórfico do apare- realizara o ensino básico, e cujos pais insis-
lho psíquico grupal que resulta da não-dife- tiam em afirmar as suas capacidades.
renciação. “Sempre que um grupo se encontra Dois anos antes do nascimento da Paula a
confrontado com uma situação de crise ou de mãe deu à luz uma bebé que nasceu morta.
perigo grave, tende a emparelhar-se ligando os A tragédia não era esperada. É uma grande
seus “membros” na unidade sem falha de um ferida para esta mãe que apresenta traços
“espírito de corpo”: cada um dos participantes depressivos, num luto impossível. Quando a
só pode existir como membro de um “corpo” Paula nasceu ainda estava a viver essa perda.
dotado de uma imutável indivisão. É o caso Depois o “pesadelo” aliviou-se mas por pouco
da família e do grupo de psicóticos; é também tempo, até às convulsões da Paula. Aí tudo vol-

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tou. “Só vivo para a Paula, de mim só cuido do mento da possibilidade de pensar por si. Não
exterior...” . A história da Paula não chega a existe um ajustamento às suas necessidades,
acontecer. Ficou presa a esta bebé morta que apetências e capacidades. A sua mãe diz,”fiz
esteve quase a nascer consigo, mas as convul- tudo para que ninguém viesse a dar pelas di-
sões reeditaram um fantasma de morte. ficuldades da Paula”, o que escutamos como
Deixando a Consulta de Neurologia não teve “fiz tudo para que a bebé morta nascesse na
um pediatra permanente. Os pais falam num Paula”. A força desta recusa, desta transmissão
atraso na linguagem, sem que qualquer des- do objecto morto, a urgência desta transfusão,
piste tenha sido feito. gera uma não-vida.
Sempre criada pela mãe, esta foi a sua profes-
sora primária. A mãe diz que a Paula apren- O papel do narcisismo na patolo-
de, mas que necessita de um apoio constan- gia das heranças
te, acreditando que só ela a compreende. Foi
assim até à 4ª classe, agora no 5.º ano, com Segundo H. Faimberg (1993)4 na existência de
outros técnicos, as dificuldades sobressaem. A uma regulação narcísica, gera-se uma iden-
integração da filha no Ensino Especial é uma tificação alienada do Eu, na medida em que
ideia que os pais repelem. a causa se encontra na história de um outro,
É difícil o diálogo com a Paula, fala como se e não na história do próprio. Pesa uma parte
acreditasse que estamos dentro da sua cabeça. clivada ou alienada do Eu que se identifica à
Apresenta um perfil cognitivo bastante inferior lógica narcísica dos pais.
à média esperada para o seu grupo etário. Há As funções de apropriação e de intrusão,
uma falha grande ao nível da simbolização. são características da regulação narcísica de
Segundo o seu neurologista, as dificuldades objecto. Na função de apropriação os pais in-
cognitivas têm alguma origem no episódio ternos, identificando-se àquilo que pertence à
neurológico que sofreu aos nove meses. Há criança, apropriam-se da identidade positiva
uma causalidade que parece inegável, mas desta. Na função de intrusão, expulsam activa-
cuja extensão e determinismo permanece mente na criança, tudo o que eles rejeitam4, 5.
obscura. É como se uma segunda gravidez, se- Nestes casos, a criança não é apenas odiada
guida de uma nova morte tivesse acontecido porque ela é diferente, mas sobretudo, e pa-
– como a bebé que morre após noves meses radoxalmente, porque a sua história será
de gestação. solidária da história dos seus pais. Não há
Se, e segundo a mãe, a Paula precisa de al- lugar para a constituição de um espaço psí-
guém perto de si para realizar qualquer quico próprio para que a criança desenvolva
aprendizagem, tal impossibilita o desenvolvi- a sua identidade, livre do poder alienante dos

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seus pais. Função alienante que origina uma As identificações inconscientes alienantes
clivagem do Eu na criança, produzindo um constituem o tempo narcísico do Édipo, na
sentimento de estranheza, já que se trata de resistência à ferida que este impõe: a perda da
uma organização estranha que pertence a um omnipotência, e reconhecimento da diferença
outro4,5. de gerações4.
Na clínica, percebe-se que os próprios pais
não são os únicos protagonistas desta relação, A. Eiguer (1991)7 refere, também na patologia,
estando eles próprios inconscientemente ins- a presença de um objecto transgeracional.
critos no seu próprio sistema familiar. Desta Trata-se de um antepassado que aparece no
forma, estão implicadas três gerações neste discurso dos pacientes como uma revelação
tipo de identificação4. inesperada em sonhos, associações, recorda-
A historicidade é aqui sujeita a um processo ções, que abrem vias para sectores do aparelho
identificatório que congela o psiquismo num psíquico mantidos à margem por uma cliva-
sempre e para sempre, característica do carác- gem severa. Há uma política de segredo, uma
ter intemporal do inconsciente. A telescopa- vergonha, que não permite uma referência a
gem torna evidente um tempo circular, repe- esse objecto.
titivo. Pelo contrário, a diferença de gerações O objecto transgeracional refere-se a trau-
está ligada ao decorrer inelutável do tempo, matismos dolorosos e/ou moralmente repro-
aquele da distribuição de gerações4,5. váveis. Gera um vazio de representação ou
Nos processos identificatórios onde ocorre uma proto-representação de coisa incapaz
a telescopagem de gerações, a identificação de aceder ao status de palavra e de pensa-
realiza-se não só com o objecto mas também mento7.
com certos atributos da história secreta. É mis- A família disfuncional quer romper com as
teriosa a forma como essa história se trans- suas origens, privando-se das suas próprias ra-
mite. Trata-se de identificações constituídas ízes. Fica um fantasma de auto-criação. É a
num laço entre gerações, alienantes e opostas omnipotência, negação da existência, negação
a toda representação. Não são audíveis. Na do legado superegóico7.
transmissão alienante a criança não possui Num funcionamento normal, a filiação pro-
a exploração das suas verdades psíquicas, fica põe o núcleo de pertença, de linhagem, de um
submetida àquilo que os pais dizem ou calam. nome comum, de uma religião comum, de
Fica dependente, perdendo o livre acesso à in- uma série de tradições, de opções profissio-
terpretação do seu próprio psiquismo. A fun- nais. Linhagem que tem a força de coesão. A
ção de apropriação priva o sujeito de qualquer negação da filiação implica um vivido poten-
espaço próprio4. cialmente psicótico7.

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Manuela e a urgência em nascer sou-me a meio da noite, fiquei nas escadas,


com frio, fome, meu filho na barriga”. Con-
Manuela, natural de Angola, diz-nos: “Tenho ta cenas de violência, de rejeição e abuso
27 anos e só penso no que me aconteceu maternos.
quando era pequena… Estou a crescer, mas Diz várias vezes, “tenho de matar a minha
é o passado que me atormenta”. “As atitu- mãe, acho que só vou ter paz quando ela
des estranhas e violentas da minha mãe vêm morrer”. Matar a mãe é ficar só, auto-criada,
como fantasmas tirar o sossego. Somos doze recriando-se nas sucessivas gravidezes. Sem
irmãos. Somos só irmãos de mãe. O meu pai, linhagem, tenta desenhar uma, mas é na ur-
nunca conheci, nem quis conhecer. Com sete gência, e o fantasma de aniquilação não a lar-
anos já cozinhava, se saía mal a mãe batia- ga. Todos teriam de morrer. A própria Manuela
-me com fios da electricidade ou com panos não chegou a nascer.
molhados. Tenho o corpo todo marcado. Não
percebo porque ela não gosta de mim, acho Objectos transgeracionais
que aconteceu alguma coisa que não me con-
taram. Não sei, qualquer coisa que o meu pai Eiguer7 fala de três tipos de objectos:
lhe fez e se vinga em mim. Não sei nada do Objectos indulgentes que reclamam a fideli-
meu pai, só sei que a minha mãe tem muita dade edipiana.
raiva dele”. “Meus irmãos diziam: tu não és Objectos transgeracionais idealizados,
nossa”. massivos, imponentes, magníficos, exigindo
Trata-se de uma família imensa, onde a dife- compensações e criando sentimentos de dívi-
renciação de sexos e de gerações não se apre- da. O sujeito sente-se parasitado e paralisado
senta. Manuela toma conta dos seus filhos e pelo ascendente, os sentimentos de identida-
dos seus irmãos, sem diferenciação, “meus de individual e da família encontram-se aba-
filhos me chamam de mana”. Não há lugar lados, existindo uma dificuldade em fazer o
para o sujeito. Sem nomeação, fica o inquie- luto deste parente idealizado. Não há segredo,
tante, o terrível. A angústia é de morte, a rela- mas um desinvestimento e desligamento, um
ção é de fusão. Paira um fantasma, um terror sentimento de culpabilidade, uma impressão
sem nome, afectos brutos e desligados. Sente- de dívida, e uma identificação narcísica ao
-se invadida e cria cenários de morte. objecto. Desenvolve-se uma erotização de um
Com 16 anos Manuela tem o primeiro de destino familiar de falha, como uma herança
cinco filhos. “Ser mãe foi o melhor, senti- inevitável. Na clínica tal resulta em quadros
-me gente, liberta”. Quando sabe que está depressivos, psicossomáticos, adições a anfe-
grávida, a mãe expulsa-a de casa. “Expul- taminas, tranquilizantes ou álcool.

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Os destinos de Rodrigo Winnicott9. Aniquilação do ser, nele em clara


relação com este materno omnipresente, na
“Quando os pais têm projectos, as crianças ausência do paterno diferenciador, ausência
têm destinos”. Esta é uma expressão que Ro- da estruturação edipiana. Como Rodrigo diz,
drigo, de 40 anos, vai repetindo. Desemprega- não podendo ter espaço próprio, tem destino
do, vive na dependência da mãe, que idealiza. marcado - seguir intelectualmente um pai
Homossexual, Rodrigo faz uma identificação nunca presente, ser para esta mãe que idealiza
ao feminino, deixando no consultório o per- tudo o que afectivamente lhe falta, sentindo-se
fume da mãe que é o seu preferido. Já com o numa eterna dívida.
pai, falecido há doze anos, era uma relação
mais formal, distante, de adulto para adul- 3.º tipo de objecto transgeracio-
to. A diferença de gerações não se apresenta, nal
sempre foi o confidente da mãe. “Vivi sempre
numa família matricial”, com a mãe, muitas Eiguer7 menciona a representação de ob-
tias, irmãs. “Quando se juntam todas lá em jectos fantasmas, gerando brancos que se
casa sinto falta de ar e tenho de sair. A palavra traduzem em sentimentos de vazio irrepre-
claustro define isso. Um homem entre mulhe- sentável. Trata-se de um parente próximo
res não tem voz”. de uma outra geração que cometeu um
“Os meus pais davam-me tudo, nada me fal- acto repreensível que foi guardado em se-
tava materialmente. Eu cumpria com o exigi- gredo por vergonha, por um dos membros
do, era bom aluno, bem comportado”. Até que da família (sejam actos violentos, suicidas,
vem o álcool e tudo desabou. Deixa a faculda- incestuosos, antisociais, o nascimento de
de, perde sucessivos empregos. Agora depende uma criança produto de incesto, malforma-
da mãe, de ansiolíticos e de comprimidos para ção). Fantasma que atormenta, tratando-
conseguir dormir. O álcool era um grande fil- -se de um corpo estranho que permanece.
tro, o seu lado depressivo ficava iludido, tudo Fantasmas que geram uma curiosidade,
era possível, era a juventude. “Com o álcool mas também perplexidade. Tal tem conse-
foram tempos terríveis, só sonhos adiados, que quências sobre as capacidades de pensar e
nem sequer eram os meus”. de investigar do sujeito. Fica um afecto ne-
Relata um sonho: está à janela e vê o prédio gativo e bloqueador. Na psicopatologia as fi-
da frente cair. De repente, cai. Não há mortos guras são múltiplas: o delírio de identidade
nem feridos, nem pó, nem som. De repente cai onde o sujeito se toma por um outro, delírio
e fica só a terra mãe. Sonho que parece falar de filiação com negação da paternidade e
da angústia de desmoronamento descrita por maternidade, comportamentos de fuga ou

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Heranças Familiares: Transfusão ou Transformação

transgressores na adolescência, toxicoma- A mãe é activa, fala pela Mónica, leva-a às


nia, perversão, delinquência. consultas, a cursos profissionais que ela fre-
Na relação primária com a mãe há um de- quenta mas sem resultados. Mãe que pratica
sinvestimento devido ao investimento no voleibol, “é o oposto de mim, fala com tudo
fantasma, restando pouca libido disponível o que é gente, gosta de ajudar”. O pai é mais
para objectos exteriores. Fica um vazio rela- como ela, para o calado, e ao que parece cheio
cional7. de ideologias, revoltas intelectuais e sociais
Nalguns casos de crianças adoptadas, a curio- que revê com agrado na filha.
sidade ganha peso, sendo frequente dedica- A atitude de Mónica é de clara oposição, numa
rem-se a profissões de investigação, num dese- contenção agressiva. A única coisa que diz é
jo compulsivo de resolver mistérios7. que todos a forçam, e que quanto mais o fa-
zem, mais ela se opõe. Atitude que contém
Dar um lugar à família uma dimensão claramente relacional.
Contexto de inscrição tão familiar que sem
Na nossa prática clínica deparamo-nos com aclarar a dinâmica intersubjectiva, na relação
situações em que o indivíduo não está acessí- entre cada um, o acesso a uma abordagem
vel, em que um trabalho psicoterapêutico in- individual fica impossível. Fica a questão do
dividual não é viável, sem o desenvolvimento que se terá passado, de que forma foi investida
de um trabalho com a família. esta filha por este casal, que fantasma estará a
actuar a Mónica?
A recusa de Mónica
A prisão de Olga
Mónica, 27 anos, recusa tudo: falar, estudar,
relacionar-se. Tem três irmãos rapazes mais Olga, 24 anos, vem à consulta acompanhada
novos, com um percurso aparentemente nor- pelo pai que fala por ela. A sua mãe morreu
mal. Recusa consultas, aparece porque arras- há dois anos. É a mais nova de uma fratria de
tada pela mãe. Fala o mínimo, mas a presença 5 irmãos, todos homens, menos Olga. “Passo
é forte, passando uma tensão, uma oposição muito tempo em casa, tenho poucas distrac-
rija, inabalável. Gosta de ler romances histó- ções”. Nasceu no Rio Janeiro, os seus são pais
ricos – e fica-nos a pergunta sobre a histó- naturais de Moçambique. A sua mãe adoece
ria desta família, do seu nascimento, de um quando chegam ao Brasil, pouco tempo antes
mistério. Reprovou vários anos na escola, até de Olga nascer. “O meu pai esteve sempre pre-
que desiste, se é que insistiu, “não sei porquê, so a minha mãe, agora que ela morreu está
maus resultados”. preso a mim”. Mãe que era muito protectora,

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nunca a deixou fazer nada, “nem sei o valor do criações inesperadas, mesmo que acompanha-
dinheiro, não me preparou para a vida”. A avó das por intensos desesperos. Sabemos como a
materna era muito velhinha, precisava muito história de muitos criativos está cheia de faltas
de ajuda, dada pela sua mãe. O que aconteceu e de falhas na árvore genealógica.
nesta família em que as mulheres ficam todas Recorremos aqui a outra ilustração iniciada
na mesma posição de dependência? Impossível por Freud10 e continuada por tantos outros
não questionar... autores, Leonardo da Vinci. A problemática
Está em Portugal há 10 anos, não voltou à es- das filiações e da origem é um dos temas que
cola, fica sempre em casa. Gostava de ser ac- mais se debate à volta da vida deste criador, e
triz. Quer ter um trabalho simples e ganhar o à volta da génese da função criativa. M. Ma-
seu dinheiro. Diz ter uma esquizofrenia, diag- cias (1992)11 refere como a incerteza quanto
nóstico que lhe terá sido feito, “às vezes não à filiação instala uma busca sobre as origens.
tenho os pés na realidade, vou para a fantasia, Uma das fantasias de filiação mais comuns
vejo uma actriz e quero ser como ela”. inscreve-se na versão idílica do nascimento
O seu contacto é afável e próximo. Nada in- virginal. Espécie de materno original sem a
dica um funcionamento psicótico. Aparece contribuição do diferente. Constelação matri-
antes um funcionamento lábil, no recurso ao cial presente nos quadros de Leonardo da Vinci
recalcamento que implica um certo empobre- (Santa Ana, A Virgem, a condição andrógina
cimento, uma dimensão pueril e imatura. Mas das figuras – Gioconda, São João Batista)12.
contém um potencial que terá sido claramente Espírito auto-suficiente, num funcionamento
coarctado por um contexto familiar particu- longínquo de Édipo. Face a este objecto todo-
lar. Tem uma grande motivação em adquirir -poderoso, a psicose ou a paranóia poderão ser
uma maior autonomia. Mas todos os esforços uma saída, mas “em casos felizes, a relação
no sentido de facilitar este processo de auto- fantasmática à mãe androgina institui os
nomização da Olga foram boicotados pelo seu embriões da indiferenciação psíquica e se-
pai, que acabou por a retirar, não aceitando xual, anunciadora de potencialidades cria-
envolver-se numa terapia familiar. tivas insuspeitas”11.
Numa constelação familiar idêntica, Macias11
Heranças transformadas fala de Dorian Gray, personagem de Óscar Wil-
de, herdeiro de uma mãe jovem e bela, rica e
Antes de terminar gostaríamos de lembrar idealizada, sofrendo a morte do pai. Dorian
com Jean-José Baranes (1993)1, como certas é órfão esteta, inocente e perverso, horrível e
filiações complexas não conduzem à psicose belo, encarnando a essência da criação artís-
ou à inibição intelectual, podendo produzir tica.

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Heranças Familiares: Transfusão ou Transformação

Nas fantasias de todas as crianças está a von- Se os pais reais não são habitualmente conhe-
tade de moldar a realidade segundo os seus cidos num processo analítico, fica aquilo que
desejos, respondendo ao princípio do prazer. a partir da transferência é possível inferir. Não
E, tantos são os romances das figuras heróicas se trata de uma realidade material, mas de
nas aventuras de órfãos como figuras de liber- uma noção de realidade que subsiste como um
dade: Tom Sawyer, Oliver Twist, Huckleberry resto. Estes pais são os pais que ficaram inscri-
Finn… Em todos uma origem comum: a de tos na realidade psíquica do sujeito. Inscrição
não terem origem. reconhecível pela forma como o paciente fala
e como ele escuta as interpretações e os silên-
Implicações clínicas dos concei- cios do analista. No processo analítico aparece
tos um terceiro incluído que exclui momentanea-
mente o analista, terceiro inconsciente para o
A análise destas constelações familiares tem paciente e desconhecido para o analista, que
consequências clínicas importantes. importa escutar – trata-se da escuta da teles-
Segundo Faimberg (1995)6, implica desde logo copagem de gerações5.
uma revisão do conceito de construção, con-
ceito que implica um paradoxo enriquecedor: Jean-José Baranes (1993)1, pensando nas prin-
sendo retroactivo, é simultaneamente antici- cipais manifestações na clínica actual, onde a
patório no sentido em que estabelece uma pré- associação livre dá lugar à dissociação livre,
-condição para o acesso às verdades psíquicas. refere como o objectivo já não é tanto o de ana-
Construção que oferece um laço novo, sem lisar mas o de permitir a operação de sínteses.
precedentes, através do qual o passado é cons- Nesse sentido propõe o termo de psicosíntese
tituído enquanto tal e o paciente adquire uma no lugar de psicanálise. Trata-se de facilitar a
história, a sua história. Trata-se de propor um vivência de experiências estruturantes.
laço que não existia – no acesso a novas ver- No seio de curas difíceis surgem figuras de um
sões da realidade psíquica – descontinuando a luto impossível, que fixam o processo terapêu-
partir daí a repetição. tico no intemporal e na impossibilidade em
Quando se chega a conhecer a história secre- criar um novo tempo. Processos terapêuticos
ta, torna-se possível modificar os efeitos que onde os fantasmas seguem em repetições ou
ela tem para o Eu, modificando a clivagem transmissões transgeracionais. Lutos impossí-
alienante. Um processo de desidentificação é veis face a objectos demasiado presentes ou de-
condição de libertação do desejo e de consti- masiado ausentes, não permitindo em ambos
tuição do futuro 4. os casos que o sujeito encontre a sua subjecti-
vidade. Surge um ser precário perto do caos,

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Catarina Bray Pinheiro

capaz de desenvolver soluções num tudo ou e o outro, entre o objectivo e o subjectivo, entre
nada, numa relação anaclítica, na perver- analista e paciente.
são, na adição, ou no refúgio numa neo­
realidade1. Bibliografia
Na psicose aparecem as famílias patológicas
produzindo uma vertigem, estranheza inquie- 1. Baranes, J-J. “Cap 7: Devenir soi-même:
tante, trata-se de um mundo opaco e límpido avatars et statut du transgénérationnel”,
simultaneamente, saturado de uma sexuali- 170-190, in Kaes, R., Faimberg, H., Enri-
dade incestuosa nada dissimulada. Há uma quez, M, Baranes, J.-J. (ed.). Transmission
completa ausência de espaços psíquicos dife- de la vie psychique entre génération”. Pa-
renciados. A negação e a omnipotência pre- ris, Dunod. 1993.
valecem, num Eu auto-gerado, sem qualquer 2. Kaes, R. “Introduction: Le Sujet de
hipótese de conflitualidade psíquica: no centro l´héritage”, 1-16, in Kaes, R., Faimberg,
do transgeracional encontra-se o desapareci- H., Enriquez, M, Baranes, J.-J. (ed.). Trans-
mento do geracional. Na patologia limite os mission de la vie psychique entre généra-
pacientes repetem um mesmo cenário sem tion”, Paris, Dunod. 1993.
que captem a lógica1. 3. Kaes, R. As Teorias Psicanalíticas do Grupo.
Para a realização da operação de sínteses Lisboa: Climepsi. 2003.
neste processos terapêuticos, importa reorga- 4. Faimberg, H. (1993), “Cap 2: Le Télescopage
nizar os traços da percepção e da representa- dês générations. À propôs de la généalogie
ção, modificar a intemporalidade a proveito de certains identifications”, 59-81, in Kaes,
de um jogo criativo, no qual a reelaboração R., Faimberg, H., Enriquez, M, Baranes, J.-
das recordações não fique mais fechada a sete J. (ed.), Transmission de la vie psychique
chaves, podendo deambular no tempo psíqui- entre génération”, Paris, Dunod.
co. Tempo este que aviva, animando o actual à 5. Faimberg, H. “Cap 4: À l´écoute du télés-
luz do passado, ressignificando. copage des générations: pertinence psicha-
Como diz Ogden (1992)13, a história do ana- nalytique du concept”, 112-129, in Kaes,
lisando não é descoberta, é criada na trans- R., Faimberg, H., Enriquez, M, Baranes, J.-J.
ferência-contratransferência. O sujeito da psi- (ed.). “Transmission de la vie psychique
canálise toma forma no espaço interpretativo entre génération”, Paris, Dunod. 1993.
entre analista e analisando. A subjectividade 6. Faimberg, H., Corel, A., Le Temps de La
de um sujeito pressupõe a existência de dois Construction: répétition et surprise, Re-
sujeitos que juntos criem uma intersubjecti- vue Française de Psychanalyse, 1995.
vidade. Cria-se um espaço potencial entre o eu (4).1158-1171.

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Heranças Familiares: Transfusão ou Transformação

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nérationnel, Journal de la Psychanalyse ma… Les origines incertaines du Créateur.
de l´enfant. (10). 93-109. 1991. L´Évolution Psychiatrique. (3). 417-437.
8. Eiguer, A. Transgénérationnel et tempora- 1992.
lité, Rev. Franç de Psychanal. (5). 1855- 12. Pinheiro, C. Criações sobre Leonardo da
1862. 1997. Vinci. Arte e psicanálise. Lisboa: Climepsi.
9. Winnicott, D. Fear of Breakdown. Int. Rev. 2005.
Psychoanl. (1) 103-107. 1974 13. Ogden, T. H. The matrix of the Mind. Ob-
10. Freud, S. Uma Recordação de Infância ject Relations and the Psychoanalytic
de Leonardo da Vinci. Lisboa: Relógio dialogue. London: Maresfield Library.
de Água. (Trabalho publicado em 1910). 1992.
1990.

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