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Além desse esforço coletivo no interior do eixo de pesquisa para que os alunos-
mestrandos produzam pesquisas que reforcem a dimensão assumida, assinala-se, ainda,
a produção das duas professoras: há uma pesquisa desenvolvida por elas,
conjuntamente, para dar sustentação ao debate acerca da relação sala de aula e
currículo, e ambas desenvolvem pesquisas individuais, resultantes de suas buscas
pessoais para opções teórico-metodológicas para o melhor entendimento da escola, seja
na relação com o contexto social da contemporaneidade, seja a sala de aula.
A pesquisa conjunta é uma pesquisa empírica sobre os processos de materialização
de propostas curriculares em salas de aula do ensino básico1, com etapa já concluída
(2007) e em processo de elaboração de relatório final e de avaliação, objetivando definir
questões para continuidade da investigação. A questão central indicada para essa
pesquisa sobre a sala de aula foi desvendar e entender como se processam as condições
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SOUZA, Maria Inez Salgado de; VILELA, Rita Amélia Teixeira (2006). O currículo e a sala de aula: um estudo sobre as interações
curriculares e a recontextualização pedagógica em classes do ensino básico. Belo Horizonte. Puc Minas. Programa de Pós-Graduação
em Educação. Projeto de Pesquisa. WWW.meduc.pucminas.br
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de realização do currículo escolar: o prescrito e o real. A partir da análise das relações
que professores e alunos mantêm com o currículo, desejava-se desvendar o processo
das interações didáticas e sociais na sala de aula no ensino básico. Entendendo o
currículo como definidor dos processos escolares, desvendar suas práticas em sala de
aula, o “lócus” onde o professor e sua ação revelam as relações existentes entre a escola
e a sociedade, indicou a necessidade de verificar como se processavam as diferentes
formas de lidar com o conteúdo escolar e com as situações particulares e coletivas dos
sujeitos-alunos. Nesse sentido, indagava-se como, na sala de aula, são revelados e como
se concretizam os currículos preestabelecidos. Também interessava desvendar se e como
o “currículo” poderia ser o definidor dos processos de escolarização: como ele revela as
possibilidades e limites de concretização, na escola e através dela, das aspirações da
própria educação. Como é demonstrado no debate empreendido, o currículo constitui-se
“um campo de luta” e essa disputa tem como lócus principal, embora não o único, a sala
de aula. É aí que as contradições, demandas e mediações se apresentam e é preciso
colocá-las em evidência, juntamente com o papel central do currículo nesse processo.
Os desafios colocados à compreensão da sala de aula como o lugar privilegiado onde
as relações de mediação do conhecimento e das normas socialização são processadas
pelos professores e alunos, impôs a necessidade de buscar referenciais teórico-
metodológicos que superem práticas de pesquisa que apenas descrevam a realidade e,
devido a isso, o exercício da pesquisa empírica conduziu as investigadoras para a busca
de posições teóricas que pudessem amparar a discussão. Nessa busca elas ousaram
procurar aportes teóricos ainda não consolidados na área bem como perspectivas
emergentes na discussão do campo.
Uma das pesquisadoras, com investimento anterior em pesquisa teórica na área da
sociologia da educação2, dedicada ao desvendamento das contribuições da Teoria Crítica
de Theodor Adorno e Max Horkheimer para a análise sociológica da escola, direcionou
sua investigação para as questões de currículo3. A primeira pesquisa, realizada entre
2004 e 2006 conduziu a uma segunda, direcionada para investigar, no Brasil e na
Alemanha, como se dava a apropriação da Teoria Crítica de Theodor Adorno como
referencial teórico para o desenvolvimento de pesquisas empíricas sobre escola 4. Nesse
2
A Sociologia da educação alemã – orientações teóricas e metodológicas ( 1991-1993); A função social da escola segundo a Teoria
Crítica de Adorno e Horkheimer ( 1994-1996).
3
VILELA, Rita Amélia Teixeir. A Teoria Crítica da Educação de Theodor Adorno e sua apropriação para análise das questões atuais
sobre currículo e práticas escolares. Belo Horizonte: Puc Minas. Programa de Pós-Graduação em Educação. Relatório de Pesquisa.
2006. WWW.meduc.pucminas.br
4
VILELA, Rita Amélia Teixeira. A presença da Teoria Critica no debate e na pesquisa educacional no Brasil e na Alemanha no período
de 1995 à atualidade. Projeto de Pesquisa. Puc Minas/CNpq. 2006-2008. WWW.meduc.pucminas.br
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processo, a pesquisadora se aproximou da metodologia de pesquisa “hermenêutica
objetiva”, desenvolvida e aplicada por pesquisadores da Universidade de Frankfurt para
investigação do cotidiano da escola e práticas de sala de aula. O trabalho de pesquisa de
uma equipe na Universidade de Frankfurt sinalizou a existência de novas condutas de
pesquisa empírica de sala de aula, com fundamentação teórica na Teoria Crítica,
resultando em novo investimento de pesquisa da investigadora em pareceria com
professores da Universidade de Frankfurt5
No mundo atual, as questões de pesquisa impostas para os estudiosos da educação e
dos sistemas escolares, de certa forma consideram que é universal a necessidade de
entender a função e o papel da escola frente às novas demandas sociais. Nesse sentido
há consenso sobre as demandas para a educação: necessidade de levar aos alunos as
condições de entendimento das novas condições do mundo do trabalho; necessidade de
levar os alunos a construírem e se apossarem de instrumentos para a compreensão da
vida cotidiana; propiciar condições para que os alunos como pessoas possam construir a
identidade social e política como condição de exercício da cidadania, ampliando a visão
de mundo, promovendo e cultivando o direito à diversidade como qualificações para a
vida social.
Entretanto, não há consenso sobre a competência da própria escola para atender a
essas demandas e nem sobre explicações sobre formas de promoção dessas novas
competências e muito menos para se explicar e discutir os problemas decorrentes do fato
reinante e evidente de insatisfação como a escola: alunos dizem não gostar da escola e
que não enxergam valor ou interesse naquilo que ela oferece; professores com
sentimento de despreparo e falta de motivação para o enfretamento de alunos
insatisfeitos e, muitas vezes com condutas que eles não podem entender ou aceitar. Além
disso, há um clima de insatisfação generalizada com as situações relacionais, entre os
alunos, entre estes e os professores, assim como, também, entre os professores e os
alunos e, de forma particular, tendência em considerar como ameaçada a própria
existência da escola (SACRISTÁN, 1999).
Nesse sentido, cresce a importância das pesquisas empíricas da realidade escolar e
cresce a necessidade de ampliação do entendimento de como outros países procuram
desvendar os problemas existentes e buscar perspectivas de superação.
Referências Bibliográficas
5
Projeto de pesquisa pós-doutorado. DAAD/FAPEMIG: A Teoria Crítica e a pesquisa hermenêutica-objetiva da sala de
aula – estudo de caso em escolas no Brasil e Alemanha ( etapa n.1 em 2007 – continuidade em 2009-2010)
9
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