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A CRITICA DE TELEVIS Eugenio Bucci 114 alguns anos, uma equipe de pesquisadores da Emporium Wiusilis — Meméria ¢ Produgao Cultural, coordenada por Whidimir Saccheta, vem trabalhando num levantamento da hie’ revistas no Brasil. Numa de suas incursdes a publica- her do inicio do século, os pesquisadores encontraram, na revis- 44 Kosmos, uma cronica do poeta Olavo Bilac que parece uma jveve e despretensiosa profecia. Vamos ao que diz Olavo Bilac: Justamente agora, nos tltimos dias de 1903, dois fisicos france- ses, Gaumon € Decaux, acabam de achar uma engenhosa com- hinagao do fondgrafo c do cinematégrafo ~ 0 crondfono - que talver ainda venha a revolucionar a indtistria da imprensa didria © periédica, Diante do aparelho, uma pessoa pronuncia um dis- curso: 0 cronéfono recebe e guarda esse discurso ¢, daf a pouco, hiio somente repete todas as suas frases, como reproduz, sobre uma tela branca, a figura do orador, a sua fisionomia, os seus gestos, a expresso da sua face, a mobilidade dos seus olhos ¢ dos seus Libios, ‘Talvez o jornal do futuro seja uma aplicagao dessa descoberta... A atividade humana aumenta, numa progressao pasmosa. J4 os homens de hoje sto forgados a pensar € executar, em um minuto, 0 que seus avés pensavam € executavam €m uma hora. A vida moderna é feita de relampagos no cérebro, € de rufos de febre no sangue. O livro esté morrendo, justamente porque pouca gente pode consagrar um dia todo, ou ainda uma hora toda, & leitura de cem paginas impressas sobre 0 mesmo IH * Videologias assunto, Talvez o jornal do futuro — ee pata atender 2 pressa, & — ak wee * infemages completas, inst: 9 - m jorna i blesses animaogritic, dando, un a tempore enc a reilly se acontecimentos, dos desastres, das call : » de todas as cenas alegr desta intermindvel complicada comédia, sentar no imenso tablado do plancta’ ant Sem usar 0 nome televisio, mundo integrado por ela, 0 que O nascime iso, na O sci nto da televisao, nao nos esquecamos, menos que s cender 0 publico idi : Preender o ptiblico como um rédio que vinha com ima; i em movil i ‘i movimento, veio dar conseqiiéncia a um modo de olh i Ja@ estava pronto ou, no minimo. a dade em que Bilac vi ; € Bilac vive surgi odes ona eu. ° surgimento da fotografia também ‘0 assim: ele transfor ese ! ‘sformou num procedi erie © método artistico que jd : sient cfinido pel i cern . ‘ ral dos pintores renascentistas, como ensina achado em A ilusao ; do | especular, A cA fia no inventou nenhum pons de vi lie ad | 1 € vista inédito; automatizou, por meio de lentes, ‘ gundo uma férmula que ja era a século XV pela aplicagao das leis d. de entao, os pintores jé se vali que 0s ajudavam a construira sao cientifica. A fotografi © poeta esta descrevendo um soa como profecia. Mas nao é. bem esbogado pela socie- havia sido inteiramente apenas a adocao da perspectiva se- dotada na pincura desde ° '@ gcometria euclidiana. Des- iam de diagramas e de aparelhos perspectiva artificialis com preci- tadoo pont de visa que cls devera unter sme Voltemos a televisio. E bom lembrar ha fazia visivel antes mesmo que el k que seu lugar jd se ‘@ viesse a ocupa-lo, e esse breve cexto de Ol; ilac é : wvo Bilac é um sintoma disso, Antes de 0s televiso. | Revista Kosmos, n. 1, jan. 1904, Arlindo Machado, A iluséo especular (Sao Pat aa ulo, Brasiliense, 1984), &s ou tristes, sérias ou fiiteis, que vivemos a repre- falurem nos lares, antes de serem objetos concretos, ja set descritos; o cronista ja reclamava a sua existéncia ¢ sidaya um papel para eles. Esse lugar da televisao que ¢ por uma demanda, antes de ser conquistado pela tecno- pode servir de um postulado para a critica, Trata-se de ‘sujuiecer que aT'V nao inaugura processos. Assim como a pia tela da TV, antes mesmo de ser construida, j4 possuia \igar imaginario, é preciso levar em conta, nem que seja yuma certa cautela metodoldgica, que aquilo que o Feleapectador vé na tela emerge nao apenas da tela em si, mas sambem de algo que ele, telespectador, j4 estava demandando ‘ites, Muita mistificagao vem sendo cometida pela inobser- vinci ingénua dessa cautela — ou desse dado. Curiosamente, ou ironicamente, uma das mistificagdes mais feiteradas é exatamente aquela que ja aparece no nosso cronis- 1, Ela consiste em pensar o jornalismo audiovisual como um jnstrumento pratico, uma ferramenta moderna para economi- yar tempo ¢ aplacar as distdncias, uma ferramenta que tem a forma de uma janela para o mundo, transparente ¢ neutra. [estaco das palayras de Bilac uma idéia que percorreu todo o século XX na forma de um senso comum: “para atender a pressa © d exigéncia furiosa de informagées completas ¢ instantaneas” © jornal é “falado e ilustrado com projeces animatograficas”. Fo telejornal, melhor dizendo. Segundo esse senso comum, de Bilac até nossos dias, a virtude da TV é proporcionar novos campos de visao, abrindo horizontes ao vivo, janelas — retomo o termo de Bilac — “instantaneas” para o que ele chamou de “imenso tablado do planeta”, Ainda hoje, a televisio muitas vezes é pensada assim. O que me impressiona nessa antiga cré- nica é menos o que ela tem de premonitério ¢ mais o que ela ainda tem de atual. E como se a tecnologia a tivesse confirma- do para transformé-la em idéias congeladas. seek As voltas com o método * 29 30 * Videologias Ainda hoje a televisao é debatida segundo uma concep: que a reduz a uma transportadora de contetidos, uma pas gem entre um emissor e um receptor. Mais ou menos com um envelope, um carteiro ou um fio de telefone. O maior pr blema dessa concepcao € que ela ajuda a esconder ou a camu flar a fungao fundante dos chamados meios de comunicacao, sobretudo dos meios eletrénicos: a de constituir e conformar 0 espaco publico. Esse efeito de camuflagem jé é bastante refor- gado pelo préprio discurso jornalistico — aquele mesmo que Bilac enaltece para vislumbrar o que seria o “jornal do futuro”, Como nos tempos de Bilac, 0 jornalismo ainda se apresenta, predominantemente, como um discurso positivista. Para mim, que sou um jornalista profissional, a constatacao nao deixa de set embaracosa. Mas é¢ inevitdvel notar que, talvez, o discurso jornalistico seja hoje um dos poucos redutos do positivismo, num tempo em que até mesmo o discurso das ciéncias exatas j4 aceita mergulhar na inexatidao do caos ou na incerteza das pro- babilidades quanticas. O jornalismo resiste como um campo, discursivo que ainda carrega a pretensao de, no interior do re- lato que propée, conter, sistematizar ¢ representar de modo inteiramente neutro a objetividade dos fatos. Como se essa objetividade neutra fosse posstvel. O discurso jornalistico, agora como antes, muitas vezes se vé erguido sobre uma ilusdo: des- crever a realidade sem nela interferir. Foi assim que encontrou na tela da TV o novo palco para fincar sua autoridade. Isso se dé, ou melhor, isso s6 pode se dar pelo ocultamento. Diante da tela, o que o telespectador enxerga nao é a propria tela, nem o discurso que encadeia as imagens e palavras numa narrativa ininterrupta, mas a paisagem que se lhe apresenta do outro lado da janela eletrénica. O “meio”, a “ferramenta de comunicar”, simula sua prépria transparéncia simulando sua desintegracao no espago. Como o préprio discurso que se pre- tende neutro, isento e distanciado, a tela aparentemente nao As voltas com o método * 31 rie com a realidade que retrata nem com aquele que ela volta os olhos. A tela, como o discurso Me slessa isengao a sua legitimidade e a sua forga. Por isso, « ocultam sua propria condigao. 9 " , Uma abordagem critica daTV que in problema ° : uu da televisio como um simples “meio”, ou que ace! : : levisio como veiculo transportador de ‘mensagens en : jssor e receptor, acaba caindo na armadilha desse mesm i A 5 ideo- peultamento. Eu poderia chamé-lo de um ocultamento Feti é i i ao sobre Migico, o que ele efetivamente é. Mas hesito. A discussao s a ideologia caiu um pouco em desuso, € isso me traria o risco cer démodé um tema nao apenas atual, mas urgente. layer pare a a esse ocultamento, de um Hntiio, penso que posso nomeé-lo, ee pico das representagoes imaginarias — ‘ora de eu estaria invocando alguns termos um pouco menos fi sda, © fendmeno de que falo, entretanto, de um. modo ou - esmo. E, quanto 4 ideologia, falare- procedimento ti de outro, continuaria om mos sobre cla um pouco adiante. an va — Por ora, afirmo o seguinte: A televisdio nao mostra lugares, or ofa, i a isiio é um hii traz lugares de longe para muito perto a telev a ismos de lugar em si. Do mesmo modo, ela nao supera os abis Ses na velocida- tem| de da luz: ela encerra um outro tempo. po entre os continentes com suas transmiss' seek da TY, ou melhor, a, TV como lugar, nada ie ie co ptiblico, ou uma esfera publica expandida. iro é um dos mais indicados do mondo pata quem quer observar os detalhes de come se dé a i esfera publica e, mais ainda, como se da a sua a i novas bases. As-vezes tenho a sensagao de que, se tirds a fh de dentro do Brasil, o Brasil desapareceria. Alege se ms he a partir da década de 1960, o suporte do discurso, ou s O lugar que 0 novo espa O exemplo brasile

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