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SEP - EQUIPAMENTOS
selecionados, considerando do programa de P&D da Aneel
as dimensões: aumento da – Prospecção e Hierarquiza-
capacidade de transporte, au- ção de Inovações Tecnológicas
mento da confiabilidade, re- Aplicadas a Equipamentos de
dução do impacto ambiental
e redução dos custos.
DE ALTA TENSÃO Alta Tensão em Corrente Al-
ternada. Este projeto denomi-
Durante a realização des- nado de INOVAEQ, teve como
ta pesquisa, surgiu a ideia de
fazer uma atualização do livro
prospecção e Hierarquização objetivo analisar as inovações
aplicadas aos equipamentos
publicado em 1985 – Equipa- de alta tensão, de maneira a
mentos Elétricos, Especificação
e Aplicação em Subestações
de inovações tecnológicas levantar e analisar as tecnolo-
gias empregadas em equipa-
de Alta Tensão – pela Univer- mentos, apresentando aquelas
sidade Federal Fluminense mais promissoras para futuros
em parceria com a empresa desenvolvimentos.
Furnas Centrais Elétricas S.A. Este projeto foi executado
Este livro foi resultado da con- pela Fundação de Empreendi-
solidação dos conhecimentos mentos Científicos e Tecnoló-
de uma equipe de engenheiros gicos (Finatec) da Universida-
que enfrentou diversos desa- de de Brasília (UnB), com uma
fios na implantação do sistema equipe constituída de pro-
de transmissão de Furnas. fessores, bolsistas e alunos
Foi então concebido juntar que participaram de diversas
a missão da atualização do li- etapas do projeto e contribuí-
vro original com os resultados ram de forma relevante para a
do atual projeto de pesquisa. prospecção e hierarquização
Deve-se ressaltar que muitos das inovações tecnológicas
dos autores do livro de 1985, aplicadas aos equipamentos.
ainda atuantes no setor de O projeto foi conduzido
energia elétrica, concordaram em três etapas. Na primeira,
em contribuir para este novo li- foi realizada a contextualiza-
vro, repartindo quando neces- ção do tema a partir da análise
sário esta tarefa com outros dos diversos estudos necessá-
técnicos ligados à indústria de rios para a implantação de um
fabricação de equipamentos. equipamento, da análise do
Formou-se, assim, um sistema de transmissão atual,
grupo de especialistas, pro- da expansão planejada e dos
fessores e alunos que têm indicadores de desempenho.
neste momento a recompen- A segunda etapa refere-se à
sa de entregar uma obra de realização das atividades de
relevante conteúdo que cer- prospecção para a identifica-
tamente irá contribuir para ção e análise dos temas que
o aprimoramento do setor Brasília poderiam conduzir a inova-
elétrico brasileiro. 2013 ções tecnológicas. Já a terceira
JANEIRO 2016
Apoio
44
Capítulo I
Equipamentos para subestações de T&D
Nesta série de fascículos, são Cigré Internacional em dezembro de 2014: especificações técnicas dos equipamentos.
apresentados conceitos de engenharia para o Tools For The Simulation Of The Effects
projeto e especificação de equipamentos de Of The Internal Arc In Transmission And Tensões e correntes aplicadas
subestações de transmissão e distribuição. Distribution Switchgear; nos equipamentos de uma
São abordadas todas as fases do ciclo de vida • Disjuntores, secionadores, painéis subestação
dos equipamentos, desde o planejamento e para-raios: especificações técnicas
dos valores de tensões e correntes da futura de equipamentos de subestações por No dia a dia dos equipamentos elétricos
subestação até sua utilização propriamente concessionárias de energia; de uma subestação, além das situações
dita. • Transformadores, reatores, proteção “normais” em regime permanente ocorrem
Para facilitar a compreensão, os contra incêndios: especificações técnicas situações “anormais” como curtos-circuitos
capítulos serão agrupados nos seguintes de equipamentos de subestações por e sobretensões.
temas: concessionárias de energia; Nas situações normais, são aplicadas
• Equipamentos para usos em locais correntes e tensões não superiores aos
• Definições e estudos do sistema elétrico especiais (atmosferas explosivas, alta valores nominais dos equipamentos.
que servem de base para as especificações salinidade, poluição): técnicas de projeto, Pode-se dizer que um equipamento que foi
técnicas dos equipamentos; ensaios e normas; projetado para operar durante uma certa
• Curtos-circuitos, ampacidades, sobrecargas • Normas técnicas sobre painéis de baixa vida útil, se for utilizado até seus valores
e contatos elétricos (fundamentos do projeto tensão: conceitos, regras de projeto e nominais terá um envelhecimento normal.
para elevação de temperatura, forças e oportunidades para evitar a repetição de Neste caso, as elevações de temperatura
tensões eletrodinâmicas no curto circuito, ensaios; de partes metálicas, conexões e isolantes não
tensões transitórias de restabelecimento e • Normas técnicas sobre painéis de média e ultrapassam certos limites especificados nas
processos de interrupção e aspectos de arcos alta tensões: conceitos, a nova IEC 62271- normas técnicas para os ensaios de elevação de
de potência); 307 (2015) sobre extensão da validade de temperatura. Da mesma forma, para as tensões,
• Técnicas de ensaios de alta potência, relatórios de ensaios; se os valores não passam muito dos valores
laboratórios de ensaios e fundamentos dos • Técnicas para simulação de ensaios de alta nominais, o isolamento não é prejudicado ou
principais ensaios; potência e aplicações no desenvolvimento e tem seu envelhecimento acelerado.
• Estudos elétricos de sobretensões, coor certificação de produtos; As situações “anormais” mais comuns
de
nação de isolamento, aterramento, • Tecnologias atuais e futuras para os são:
determinação de efeitos e impactos de principais equipamentos para subestações
campos elétricos e magnéticos; de transmissão e distribuição. • Sobrecorrentes de curta duração causadas
• Particularidades dos arcos de potência por curtos-circuitos (< 3 s);
internos e externos, segurança de pessoas O texto a seguir é o primeiro tema da • Sobrecorrentes de longa duração (dezenas
e instalações e informações sobre a série e trata das definições e estudos do de segundos ou minutos) causadas por
“Brochura Cigré 602”, publicada pelo sistema elétrico que servem de base para as sobrecargas;
Apoio
• Sobretensões de longa duração (s ou dezenas voluntária (PDVs) tiraram prematuramente contatos, terminais, conexões, soldas e 45
de s) causadas por distúrbios no sistema; do trabalho a maior parte do excelente corpo isolantes. Tais partes podem ter limitações
• Sobretensões de curtíssima duração (µs) técnico formado pouco antes. É um erro quanto às máximas temperaturas ou
como as ondas de impulso. grosseiro de planejamento que demonstra elevações de temperaturas permissíveis. Os
falta de interesse no longo prazo. Parece valores são influenciados pelos diferentes
Em consequência destas podem que longo prazo agora é o período de um ciclos de correntes.
ocorrer efeitos elétricos ou mecânicos mandato. Saímos da boa rota de investir Nas normas IEC, base das normas
importantes, conduzindo a falhas mais ou em tecnologia e capacitação para investir brasileiras, os valores de temperaturas e
menos imediatas na instalação. Embora apenas em marketing de realizações que os elevações de temperatura permissíveis
levem sempre a culpa, estes eventos são escândalos e os fatos mostram que não são partem dos princípios de que a temperatura
totalmente previsíveis, não mudaram muito verdade. As seguidas mudanças de modelo do ambiente não excede a 40 °C e seu valor
nos últimos 100 anos e não são os culpados setor elétrico não nos levaram à frente. médio em período de 24h não excede a 35
de apagões e outras anormalidades. Para °C. Se a temperatura do ambiente em que
lidar com estes basta ter bom planejamento Sobrecorrentes de longa duração o equipamento está instalado é superior a
e capacitação técnica. São causadas por sobrecargas de estes 40 °C, os limites de norma, para efeito
Nestes aspectos, em meus 60 anos, dezenas de segundos até alguns minutos. de ensaios de elevação de temperatura,
testemunhei, nos setores elétrico e de energia, A temperatura de partes dos equipamentos devem ser reduzidos.
muitos avanços dos anos 1970 até meados pode tornar-se mais elevada que a Por exemplo, se o limite especificado
dos 1990. Depois entramos em uma trajetória suportabilidade dos materiais isolantes. na norma para a elevação máxima de
descendente. Nos últimos 15 anos, à medida Esta é caracterizada pelos limites que não temperatura de uma conexão é de 75 K e o
que o Brasil crescia, a capacitação técnica e podem ser excedidos aos especificados nas equipamento é instalado em um local em
a disponibilidade de laboratórios de ensaios normas técnicas, para ensaios de elevação que a temperatura máxima do ar ambiente
decresceu. Seguidos planos de demissão de temperatura. São limites aplicáveis a é de 50 °C, o limite a não ultrapassar no
Apoio
46 ensaio de elevação de temperatura será de Tabela 1 – Alguns valores das máximas temperaturas e elevações permitidas nas normas IEC
75 - 10 = 65 K ao invés de 75 K. Um ótimo
Equipamentos para subestações de T&D
Sobretensões de curta duração atender a uma necessidade de energia ou Estudos de fluxo de potência ou de carga 49
As principais ocorrências nas tráfego de energia em uma certa região. Estudos fornecem informações e definem
redes elétricas são devido às descargas A própria existência da subestação pode os parâmetros do funcionamento do sistema
atmosféricas e os chamados impulsos ser um fator de motivação para o futuro e da subestação em regime permanente desde
de manobra. Os impulsos de manobra aumento da carga e desenvolvimento na as horas de carga leve até as horas de ponta.
surgem devido à abertura e fechamento sob região. Por isso, os estudos realizados Um equipamento da subestação, ao longo
tensão dos disjuntores e secionadores. São procuram visualizar um horizonte de pelo de um dia, pode estar sendo utilizado com
simulados em laboratório por impulsos de menos uns 15 a 20 anos. Nos anos iniciais, correntes permanentes que variam de 30% a
tensão com uma forma de onda de 250 µs x os equipamentos trabalharão com pouca 130% dos valores nominais.
2500 µs, sendo o primeiro valor o tempo de carga e com menores níveis de curto- Nestes estudos, serão definidos, em função
frente e o segundo associado ao tempo de circuito. O passar do tempo fará estes de outras subestações vizinhas à nova, valores
cauda. As descargas atmosféricas provocam valores crescerem. Por exemplo, quando se como: a) o carregamento de linhas, geradores
sobretensões elevadas que, em laboratório, adquire um disjuntor de 31,5 kA – 145 kV e transformadores, b) as perdas de transmissão,
são representadas por impulsos de tensão para uma nova subestação ele pode nos anos c) os módulos e ângulos de fase das tensões
com forma de onda 1,2 / 50 µs. iniciais precisar abrir correntes de apenas nas barras, d) as potências ativas e reativas nas
30% ou 60% de suas possibilidades. Este é linhas de transmissão.
Especificação dos valores de um dos motivos pelos quais os ensaios de A partir das possíveis configurações com
tensão e corrente em uma nova interrupção em disjuntores são feitos para base na experiência anterior e em práticas
subestação 100%, 60%, 30% e 10% da plena capacidade do setor, calculam-se quais as maiores
de interrupção. correntes permanentes que circularão nas
Quando uma concessionária de energia Os principais estudos feitos para a barras, secionadores, disjuntores e outros
ou o operador do sistema elétrico vai definição dos valores da subestação são: (a) equipamentos. Isto é feito com base no tipo
definir os valores de uma futura subestação Estudos de fluxo de carga, (b) Estudos de de arranjo, por exemplo, disjuntor e meio,
de energia, em geral, parte da premissa de curto circuito e (c) Estudos de estabilidade. varra dupla etc. (ver Figura 5).
Apoio
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Equipamentos para subestações de T&D
Depois de calculados os valores Nestes estudos, são obtidos os de cálculo como o ATP / EMTP –
máximos que podem ocorrer nos vários valores das correntes suportáveis de ATPDRAW, entre outros. A partir das
setores da subestação, são definidos os curta duração e de crista e também as alternativas de configurações com
valores reais, selecionando-se um dos durações máximas destas correntes. Para base na experiência anterior e práticas
valores padrão imediatamente superior disjuntores e fusíveis são ainda obtidos no setor, calculam-se quais as maiores
mostrados na norma técnica, por os valores de X/R, parâmetros da tensão correntes permanentes que circularão
exemplo, 1.250 A e 1.600 A. Depois desta de restabelecimento transitória (TRT) e nas barras, secionadores, disjuntores e
seleção, pode-se decidir por exemplo componentes CA e CC no momento da outros equipamentos. Isto é feito com
padronizar todos os equipamentos pelo separação dos contatos dos disjuntores. base no tipo de arranjo, por exemplo
valor máximo, evitando ter dois valores Com base nos estudos se pode, disjuntor e meio, varra dupla etc.
diferentes na mesma subestação. Isto é a título de exemplo, definir que será
decidido caso a caso e de acordo com as usado um secionador com capacidade Estudos de estabilidade
práticas de que está implantando ou vai de 40 kA eficaz durante 1 segundo com eletromecânica, flutuação de
operar a subestação. Evitar exageros em valor da primeira crista igual a 2,6 x 40 tensão e impactos no sistema
especificações aumenta a eficiência da = 104 kAcr. Para que uma nova subestação seja
empresa sem perda de qualidade. O procedimento é parecido com conectada à rede elétrica, devem ser
o dos estudos de fluxo de carga já cumpridos requisitos estabelecidos
Estudos de curtos-circuitos descritos. Porém, são usados programas pelo Operador Nacional do Sistema
a distância r em metros. Suponha que Entretanto, as regras para redes de média • Disjuntores e Chaves – Aplicação em 53
tivéssemos dois fios, por exemplo, tensão com instalações próximas a Sistemas de Potência – CE 13 do Cigré -
as duas fases do secundário de um prédios, nos meios das grandes cidades, Brasil em parceria com Furnas / UFF, 1996.
transformador de distribuição 225 kVA não são bem definidas. Vejam na Figura • Transients in Power Systems – Lou Van de
13,8/220V em que circulassem 600 A 8 duas fotos que mostram a distância Sluis - John Wiley & Sons Ltd. ISBN 0471486
como na Figura 7. Usando a expressão entre os transformadores e as chaves 396.
mencionada, teríamos a 1 metro de fusíveis da janela do apartamento. Estas • ABB Switchgear Manual -
distância um campo magnético da não estão localizadas em favelas, estão http://www.4shared.com/office/
ordem de grandeza de 240 micro Tesla. em áreas de alto valor de IPTU, perto ErozeZWB/20269998-5068033-ABB-Switch-
Os campos magnéticos produzidos da residência do autor deste artigo. Ge.html.
nas imediações da subestação não É difícil imaginar o que aconteceria • “Painéis, barramentos, seccionadores e
podem ser superiores aos limites se uma criança esticasse um cabo de equipamentos de subestações de transmissão
impostos pela legislação para a vassoura para tocar nos fios? Se isto não e distribuição”, livro de Sérgio Feitoza Costa.
exposição de pessoas. Informações é admissível em um país do primeiro Livre download em: http://www.cognitor.
a este respeito são encontradas em mundo por que é tão comum aqui? com.br/Book_SE_SW_2013_POR.pdf.
documentos como a norma ABNT Referências
NBR 15415, a Lei Federal 11.934, de Referências
5/5/2009, as Resoluções Aneel 398, de
23/03/2010, e 616, de 01/07/2014. Na • Equipamentos Elétricos – Especificação
Resolução Aneel 616/2014, estes valores e Aplicação em Subestações de Corrente
são como na Tabela 2. Alternada – Furnas / UFF, 1985.
As regras para subestações de alta • Transitórios Elétricos e Coordenação de
tensão são razoavelmente claras e Isolamento – Aplicação em Sistemas Elétricos
com base nas normas internacionais. de Alta tensão – Furnas / UFF, 1987.
Apoio
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Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo II
Curtos-circuitos, ampacidades,
sobrecargas e contatos elétricos
No capítulo anterior, foram abordados por exemplo, 87°. Já a carga, para atender mais caro.
aspectos dos estudos do sistema aos requisitos da concessionária, deve ter Utilizamos os termos tensão e
elétrico que servem de base para as um ângulo de fase próximo de zero (por corrente eficazes (138 kVef e 40 kAef),
especificações técnicas dos equipamentos exemplo, fator de potência > 0,92). Na assim como o termo corrente instantânea
para subestações de transmissão e carga, o consumidor deve, se necessário, (2,5 x 40 kAef = 100 kAcr na primeira
distribuição de energia elétrica. Este colocar capacitores em paralelo com as crista de uma corrente de curto-circuito)
capítulo tratará de curtos-circuitos, indutâncias, por exemplo, de motores da forma como mostrado na Figura 2.
ampacidades, sobrecargas e contatos para que a reatância seja mínima e o Uma típica situação de subestação
elétricos – fundamentos do projeto para fator de potência seja atendido. Na linha é como na Figura 3. Em regime
elevação de temperatura, forças e tensões de transmissão, a concessionaria deve normal, uma corrente menor ou igual à
eletrodinâmicas no curto-circuito, fazer o necessário para que as perdas corrente nominal (IN) chega às cargas
tensões transitórias de restabelecimento e sejam mínimas e a potência produzida no alimentadas (XL e RL, em que XL <<
processos de interrupção. gerador chegue, quase toda, na carga. RL). Quando ocorre um curto-circuito
Ainda na Figura 1, quanto mais baixo perto da subestação, a tensão da fonte
Alguns termos, conceitos e o fator de potência da carga (<0,92) passa a alimentar apenas as reatâncias e
definições maior precisaria ser a tensão do gerador resistências da fonte (Xf e Rf onde Xf >>
para fazer circular o mesmo 1 A na carga. Rf) e, por este motivo, a corrente cresce
Um sistema elétrico em geral é Ter-se-ia, neste caso, um gerador maior e muito. Uma típica corrente de curto-
formado por geradores, linhas de
transmissão e cargas supridas pelo sistema
de distribuição. No exemplo da Figura 1,
apenas para mostrar a relação entre cada
parte, colocamos um gerador que produz
uma tensão eficaz de V e impedâncias
do sistema que somam Ω (uma reatância
de 1 Ω e uma resistência de 1 Ω). Por este
circuito circularia uma corrente da fonte
para a carga de 1 A.
Em um sistema elétrico, a linha de
transmissão corresponde a uma reatância
muito grande e uma resistência dos cabos
muito pequena em relação à reatância.
O ângulo de fase entre a reatância e a
resistência da linha é algo próximo de 90°, Figura 1 – Sistema elétrico simplificado.
Apoio
prematura ou danos imediatos. anos seria preciso comprar três contatos digamos, uns 1.800 A, a elevação de 51
Como mencionamos no fascículo ao invés de apenas um. temperatura em todos os seus pontos
anterior, a temperatura de partes Os principais vilões provocadores seria algo da ordem de 30 K acima do
condutoras ou isolantes não pode ir das altas temperaturas são os inevitáveis ar ambiente. Se, entretanto, serrássemos
além dos limites de suportabilidade dos contatos e conexões elétricas. Imagine a barra e fizéssemos uma união
materiais. Estes limites são especificados que tivéssemos uma barra de cobre com aparafusada no ponto de corte, a elevação
nas normas técnicas para serem 10 metros de comprimentos e nenhuma de temperatura próxima a esta conexão
utilizados nos ensaios de elevação de emenda. Ao passar uma corrente de, passaria a ser da ordem de 40 K.
temperatura. São limites aplicáveis a
contatos, terminais, conexões, soldas
e isolantes. Por exemplo, a elevação de
temperatura de uma conexão prateada,
medida no ensaio não pode ir além de 75
K. Imaginando que a temperatura do ar
ambiente envolvendo esta conexão fosse
de 40 °C, o que a norma quer dizer é que a
temperatura média de trabalho em longos
períodos não pode ser superior a 40 + 75 =
115 °C. Os métodos de cálculo mostrados
no documento IEC 60943 permitem
estimar que, se um contato trabalha
com uma temperatura de 10 °C acima
do limite, sua vida útil será reduzida em
67%. Por exemplo, em um período de dez Figura 9 – Fator de primeiro polo na interrupção.
Apoio
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Equipamentos para subestações de T&D
• Calcular forças nos isoladores, forças que, para o cobre, devem permanecer Sluis (NL), P. Vinson (FR), D. Yos hida
cortantes e diagrama de momentos inferiores a um valor da ordem de 250 (JP) ***** CIGRE WG A3.24 ****Brochure
fletores; N/mm2. 602 / 2014: “Tools for the simulation of the
• Calcular tensões mecânicas nos Referências effects of the internal arc in transmission
condutores (momento fletor / momento and distribution switchgear”
[1] Livro “Painéis, barramentos e [5] Proposal for IEC Guidelines for the use
resistente).
secionadores e equipamentos de of simulations and calculations to replace
subestações de transmissão e distribuição”. some tests specified in international
Os principais parâmetros que afetam
Autor: Sergio Feitoza Costa. Disponível standards". Autor Sergio Feitoza Costa.
o resultado dos ensaios de esforços
em: http://www.cognitor.com.br/Book_ Este documento é referenciado na
eletrodinâmicos são: Brochure 602 / 2014 indicada acima.
SE_SW_2013_POR.pdf.
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Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo III
Laboratórios de ensaios e o natural (Gasoduto Brasil Bolívia) e carvão equipes que resolviam bem os problemas
desenvolvimento da indústria mineral. do setor elétrico. O nível de educação no
elétrica brasileira Para falar da importância dos Brasil, na média, era insuficiente mas
laboratórios de ensaios para a indústria avançava positivamente.
Os países líderes na produção de elétrica brasileira, vale lembrar três Antes da criação dos grandes
equipamentos e tecnologias de produtos períodos distintos do setor elétrico. No laboratórios de testes no Brasil, quase nada
para o setor elétrico têm em comum um primeiro, de meados dos anos 1970 até de novo era produzido em tecnologias e
planejamento setorial implementado 1995 havia a construção de Itaipu e outras produtos elétricos. Para fazer testes era
com pouca interferência política, um grandes usinas e subestações. O segundo necessário enviar o equipamento para o
bom sistema de normas técnicas, a vai até por volta de 2004, incluindo o exterior. O transporte e as despesas com
disponibilidade de laboratórios e centros racionamento de energia de 2001 e a o pessoal para acompanhar os ensaios
de pesquisa, além de um nível crescente RESEB – reestruturação do setor elétrico. faziam o teste no exterior custar uns 40%
de educação da população. Entre os O terceiro é o que vem após 2005 com a mais do que fazê-lo no Brasil.
exemplos mais recentes estão os países outras mudanças no setor elétrico. O sistema de normalização técnica era
do leste asiático, como a China e a Coreia No primeiro período, o setor tinha deficiente sendo as normas uma mistura
do Sul. Boa parte de seu sucesso se deve um modelo centralizado. Havia um de normas americanas ANSI e UL com
a fortes investimentos na educação que é competente processo de planejamento normas IEC. Neste período houve grande
algo que ainda não começamos a praticar de longo prazo da expansão conduzido avanço no sistema de normalização,
no Brasil. principalmente por técnicos da as concessionárias não competiam
Acompanho o setor elétrico Eletrobras. Quase tudo que era planejado entre si e isto permitia normas e regras
brasileiro desde 1976, quando me formei pelos técnicos tinha suporte político e homogêneas. A Eletrobras colocava
engenheiro eletricista. Trabalhei 21 anos era construído. Fazia-se um ranking das recursos na normalização e participava
no projeto, implantação, operação e próximas plantas de energia a construir. da condução da normalização. Estes
coordenação dos laboratórios de ensaios O valor da planta construída não era tão avanços deram base para a certificação de
do Cepel. Participei alguns anos das diferente do planejado como é hoje e isto produtos (Inmetro).
reuniões de planejamento da expansão dava credibilidade ao planejamento. Isto No segundo período, houve a busca
do setor elétrico na época do Grupo era possível porque a influência política de um modelo com maior participação
Coordenador do Planejamento dos nas empresas e concessionárias era muito da iniciativa privada nos investimentos.
Sistemas Elétricos (GCPS) em contato menor que hoje. A ideia era boa e representava uma
com a Eletrobras e com a Secretaria de Foram criados centros de pesquisa tendência mundial. Foi perceptível
Energia do Ministério de Minas e Energia e bons laboratórios de ensaios. Havia a intenção de áreas do governo de
(MME). Ali se tratavam projetos como o a visão de que o mais importante era a enfraquecer o excelente planejamento
PNCE, o Proinfa (fontes alternativas) e o formação de bons especialistas e não as setorial conduzido pela Eletrobras.
planejamento de usinas hidrelétricas, gás caras instalações. Formaram-se excelentes Este período foi curto e os conceitos
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não chegaram a ser implementados. empresas ligadas ao governo. e aperfeiçoados. Quando a economia 49
AEletrobras parou de colocar recursos No terceiro período, a boa capacitação brasileira entrou em ordem, saindo da
e participar do gerenciamento do técnica anterior foi quase dizimada inflação, o Brasil começou acrescer e
sistema de normalização técnica e isto pelos PDVs. O planejamento técnico da se pode perceber que não havia mais
o enfraqueceu. As concessionárias expansão existe, mas há uma questão capacidade de atendimento suficiente
reduziram sua participação nas normas de credibilidade. O que adianta ter um nos laboratórios brasileiros. Hoje as filas
técnicas ao mínimo necessário. Programas ranking das plantas mais econômicas a de espera para fazer um ensaio são mais
de aperfeiçoamento de produtos bem- implantar, do ponto de vista da sociedade, demoradas que o aceitável pela indústria
sucedidos, como o Proquip, do período se no final, como mostrado na mídia, a elétrica. Por este motivo, há empresas que
anterior, pararam de acontecer. Estes planta acaba custando dez vezes. têm necessitado levar equipamentos ao
eram baseados em trazer para as normas A existência de laboratórios próximos exterior para testar, como ocorria há 30
a experiência de ensaios em produtos é que motiva a indústria elétrica a anos.
que falhavam muito no campo, como melhorar seus produtos e criar produtos Felizmente, uma iniciativa da CNI,
chaves e elos fusíveis de distribuição, novos. Pode-se perceber claramente isto FIEMG e SINAEES avançou e está no
reles fotoelétricos, para-raios, entre no período que veio após a criação dos início da construção do novo complexo
outros. Naquela época, algumas normas laboratórios do Cepel até por volta do de grandes laboratórios em Itajubá (MG).
técnicas brasileiras eram o estado da arte ano 2000. Várias empresas desenvolveram O Instituto Senai de Inovação – Centro de
e, por exemplo, a ABNT NBR 7282 foi equipamentos muito competentes, por Desenvolvimento Empresarial e Inovação
a base da revisão da IEC 60282-2 (High exemplo, secionadores de 362 kV e 550 da Indústria Elétrica e Eletrônica
VoltageExpulsionTypeFuses), publicada kV para correntes de curto-circuito até 63 (ISI-CEDIIEE) – terá laboratórios de
pela IEC em 1989. Neste segundo período, kAef. alta potência, alta tensão, elevação
começaram os planos de demissões Muitos equipamentos de distribuição de temperatura, grau de proteção e
voluntárias (PDVs) nas concessionárias e e de baixa tensão foram desenvolvidos atmosferas explosivas, para-raios,
Apoio
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e atmosferas explosivas incluem, entre
muitos outros, os de grau de proteção de
Equipamentos para subestações de T&D
A lista dos ensaios que poderão ser No laboratório de alta tensão, os Fundamentos dos ensaios de
realizados nos novos laboratórios do ensaios dielétricos para equipamentos até alta potência, de alta tensão
ISI-CEDIIEE (Itajubá) é típica do que é a classe de tensão 550 kV serão: e de elevação de temperatura
feito em outros laboratórios como KEMA
(Holanda e Estados Unidos), CESI (Itália), • Tensão aplicada sob frequência Nos capítulos 1 e 2 deste fascículo,
KERI (Coreia do Sul), CPRI (Índia), JSTC industrial a seco e sob chuva; mostramos alguns dos fundamentos
(Japão) e o Cepel. • Impulso atmosférico e de manobra a dos principais ensaios realizados em
São ensaios aplicados em seco e sob chuva; laboratórios e que são complementados
equipamentos como transformadores de • Tensões combinadas (bias); nas linhas a seguir. Uma grande
potência, reatores, painéis, disjuntores, • Medições de descargas parciais, radio- quantidade de informações e detalhes é
secionadores, fusíveis limitadores de interferência, capacitância e tangente mostrada no livro “Painéis, barramentos
corrente e do tipo expulsão, chaves delta e ruído audível. e seccionadores e equipamentos de
de abertura sob carga, religadores, subestações” (ver referências).
contadores, para-raios, entre outros. Para o laboratório de elevação de Ensaios de interrupção são aplicáveis
Os equipamentos podem ser de alta temperatura, os ensaios típicos são os de a equipamentos de baixas a altas
tensão e de baixa tensão, além de os ensaios elevação de temperatura, ciclos térmicos, tensões. Visam verificar a capacidade de
relevantes são especificados nas normas continuidade elétrica, sobrecorrentes e disjuntores, fusíveis, chaves e religadores
de produtos da IEC, ABNT, entre outras. durabilidade elétrica. Serão realizáveis de interromper adequadamente
Em geral, os ensaios são classificados para equipamentos em geral de até 25.000 correntes, desde valores da ordem de
como de alta potência, quando envolvem A e também para transformadores de grandeza da corrente nominal até as
correntes, potências elevadas e ensaios distribuição. correntes de curto-circuito. Os fatores
dielétricos de alta tensão. Estes últimos Associados aos acima estão ensaios que mais impactam nos resultados foram
envolvem tensões elevadas, mas potência realizáveis no Laboratório de Ensaios mostrados no capítulo anterior e incluem
e energias relativamente baixas. Há ainda Mecânicos, tais como operação a tensão de restabelecimento transitória,
ensaios de elevação de temperatura mecânica, durabilidade mecânica, a corrente interrompida e o fator de
que envolvem correntes elevadas, mas proteção contra choques elétricos, primeiro polo (Figura 2).
potências baixas. resistência do material isolante ao calor São simulados diferentes tipos de
A título de exemplo, os ensaios que anormal, ao fogo e corrente de fuga e de solicitações impostas pela rede elétrica.
serão realizados no laboratório de alta resistência mecânica. Os valores aplicados são especificados nas
potência com geradores de 2.500 MVA são: Os ensaios típicos de grau de proteção normas técnicas.
Apoio
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Equipamentos para subestações de T&D
queda de raios. Os impulsos de manobra e que se propagam por condutores. Podem equipamentos de subestações de
representam as sobretensões causadas interferir nas rádios, especialmente na transmissão e distribuição. Disponível
por operações como abertura de linhas, faixa AM. Estes pulsos alcançam valores em: <http://www.cognitor.com.br/
de transmissão, reatores e bancos de da ordem de grandeza de 50 µVa 1500 µV Book_SE_SW_2013_POR.pdf>.
capacitores (Figura 6). O ensaio de BIAS em função da distância. Em laboratório, a
simula a condição de ocorrência de uma ideia é medir as ondas “conduzidas”. Em
sobretensão de impulso em um lado do linhas de transmissão, podem-se medir as
equipamento estando outro lado também componentes irradiadas.
energizado a 60 Hz.
Medições de radiointerferência são Referência
feitas para medir a magnitude de pulsos de [1] COSTA, Sergio Feitosa. Painéis,
alta frequência gerados por equipamentos barramentos e secionadores e
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48
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo IV
Nesta série de fascículos são coordenação de isolamento e impactos de As sobretensões que acontecem em
apresentados conceitos de engenharia para campos elétricos e magnéticos”. uma rede elétrica podem ser classificadas
o projeto e a especificação de equipamentos como “longa duração”, quando duram
de subestações de transmissão e distribuição. Estudos elétricos de até dezenas de segundos e as de “curta
O primeiro capítulo desta série cobriu sobretensões duração”, que são da ordem de grandeza
aspectos dos estudos do sistema elétrico de 100 a 3.000 microssegundos. Uma típica
que servem de base para as especificações Da mesma forma como são realizados sobretensão de longa duração é a que ocorre
técnicas dos equipamentos. O segundo estudos relacionados à circulação de quando, durante um temporal, um galho de
cobriu conceitos sobre curtos-circuitos, correntes de curto-circuito e correntes árvore toca o cabo de uma das três fases do
ampacidades, sobrecargas e contatos nominais, que foram descritos no segundo circuito e provoca um curto fase terra que
elétricos. Já o terceiro capítulo abordou capítulo desta série, são realizados abre o fusível da chave fusível daquela fase.
as técnicas de ensaios de alta potência, outros estudos relacionados às tensões No momento da interrupção da corrente
laboratórios de ensaios e principais permanentes e transitórias que são aplicadas na fase defeituosa, é provocada uma
ensaios. Este quarto capítulo abordará o aos equipamentos de uma subestação no sobretensão nas duas fases não defeituosas
tema “Estudos elétricos de sobretensões, dia a dia. que pode fazer o valor da tensão subir
do valor fase terra para algo próximo da comprimento, da potência de curto-circuito valor à estética dos sistemas de distribuição 49
tensão fase-fase e isso é percebido nas casas local e grau de compensação da linha. de energia, é comum encontrar pelas
com a luz ficando mais forte. Se a duração Quanto mais malhado o sistema, menor ruas gambiarras (Figura 2) que seriam
do evento é maior, pode-se queimar será a sobretensão, sendo que, como ordem inaceitáveis em alguns países do primeiro
geladeiras, aparelhos de ar condicionado, de grandeza, estas sobretensões podem mundo.
computadores e outros eletroeletrônicos. variar da ordem de 20% a 95% dependendo Nas zonas mais abastadas, nas quais
As sobretensões de longa duração são da rapidez dos reguladores de velocidade e circulam turistas e moram as autoridades,
de frequência da ordem de 50-60 Hz e do grau de compensação. como a Zona Sul do Rio de Janeiro, a
seus harmônicos. São em geral sustentadas No caso da manobra de correntes estética ainda tem algum valor, mas no
e pouco amortecidas, podendo alcançar capacitivas, a tensão de restabelecimento restante da cidade é comum a existência
amplitudes da ordem de 1,5 P.U. Sua transitória (TRT) nos terminais de cada fase dessas vergonhosas e perigosas instalações.
efetiva duração vai depender do sistema de do disjuntor cresce lentamente, facilitando É usual também encontrar transformadores
controle de tensão do sistema. a interrupção, mas a tensão máxima muito próximos a janelas de apartamentos,
Exemplos de causas destas sobretensões de pico pode chegar a 2 pu e provocar como na foto que foi mostrada no Capítulo
são a perda súbita de carga em sistemas reacendimento do arco se não há suficiente 1 do fascículo. Este tipo de situação tem
radiais, as faltas para a terra desbalanceadas, separação dos contatos, reconectando a sido inclusive motivo de ações judiciais. A
a desconexão de cargas indutivas, a conexão capacitância C à fonte. Neste caso, se uma reportagem exibida no Bom Dia Brasil da
de cargas capacitivas e a energização de nova interrupção acontece próxima do zero TV Globo em 27/09/2012 (que pode ser
linhas em vazio. de corrente, a tensão pode ir duplicando e, encontrada no site da www.globo.com)
A perda súbita de carga ocorre quando inclusive, levar à explosão do disjuntor. retrata bem a questão das “gambiarras” dos
uma linha com a maior parte da energia Um caso frequente e fácil de explicar sistemas aéreos de distribuição brasileiros.
de um gerador é desligada, em que os com um exemplo é o das faltas para A reportagem mostra também a questão
geradores aceleram e a tensão sobe. A a terra desbalanceadas mencionadas dos apagões e as desculpas de que chuvas
magnitude da sobretensão depende de anteriormente. No Brasil, como não se dá e vendavais são os culpados pela operação
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50
Equipamentos para subestações de T&D
Figura 2 – Situações em que é fácil acontecer um curto fase terra durante um temporal causando sobretensões.
deficiente. Cabe notar que os sistemas previsíveis e controláveis, sendo estudadas como as sobretensões mais relevantes.
subterrâneos, embora um pouco mais caros, e monitoradas há muitas décadas e suas Os impulsos de manobra surgem devido
dão muito menos defeitos e não estão expostos formas de onda e valores típicos são à abertura e ao fechamento dos disjuntores,
aos ventos e chuvas. Por isso, são muito usados como mostrados na Figura 3. Os valores a seccionadores e outros dispositivos de manobra
nos países desenvolvidos. Nosso setor elétrico aplicar nos testes de laboratório para classe instalados nos sistemas. As formas de onda
claramente andou para trás nos últimos 15 de tensão são especificados em normas típicas são também mostradas na Figura 3.
anos em todos os aspectos possíveis. técnicas como IEC, ABNT, entre outras. São simulados em laboratório por impulsos de
Considerando estas classificações, as Os testes de laboratório que tensão com uma forma de onda de 250 x 2.500
sobretensões de curta duração são as que visam simular os efeitos das descargas μs, sendo o primeiro valor o tempo de frente e
ocorrem devido às descargas atmosféricas atmosféricas são realizados aplicando-se o segundo associado ao tempo de cauda.
e os chamados impulsos de manobra. Os uma onda padrão de forma de onda 1,2 / As ondas de impulso aplicadas em
impulsos atmosféricos são os nossos “raios”. 50 μs. Estes valores buscam representar um laboratório são produzidas por geradores
Frequentemente, são considerados os vilões certo valor de crista que ocorre nas redes de impulso. Estes são equipamentos
dos apagões, quando não se quer tornar elétricas, assim como os tempos de subida compostos por capacitores, resistores e
claro que houve um erro de manobra ou e de descida da tensão. Para equipamentos centelhadores. Por meio do ajuste dos
de planejamento. Entretanto, as descargas de classe de tensão mais baixa que 230 kV, valores destes componentes, obtém-se as
atmosféricas são um dos eventos mais os impulsos atmosféricos são considerados ondas desejadas.
52 Para minimizar o efeito das computador, como o ATP / ATPDRAW. como: (a) convencional, quando o número
sobretensões de manobra nas redes elétricas Este programa, que pode ser baixado de descargas toleradas é zero (probabilidade
Equipamentos para subestações de T&D
de alta tensão, são utilizados dispositivos de livremente na internet, quando utilizado de suportar Pw = 100 %) e (b) estatística,
controle de sobretensões, tais como: por especialistas com certa experiência na quando o número de descargas toleradas
análise de seus resultados, permite simular é relacionado a uma probabilidade de
• Resistores de pré-inserção: usados para os efeitos das condições de configurações suportabilidade especificada, por exemplo,
reduzir sobretensões em manobras de e manobras operativas que vão dar origem 90%.
energização e religamento de linhas (no a sobretensões de curta ou longa duração. Neste segundo caso dos 90%, durante
fechamento). Também são aplicados na Com base nos valores obtidos nestes um teste de impulso atmosférico, o
redução da amplitude das tensões de estudos é que será baseada a coordenação equipamento seria aprovado se, em cada
restabelecimento transitórias de disjuntores do isolamento daquela rede elétrica. série de quinze impulsos, ocorressem, no
(se utilizados na abertura); máximo, duas descargas por polaridade em
• Para-raios: para impedir sobretensões Coordenação de isolamento meio auto-recuperante e nenhuma descarga
superiores àquelas para os quais os em meio não auto-recuperante.
equipamentos foram projetados; Os procedimentos e definições são Também é mostrado como selecionar as
• Capacitores nos terminais de disjuntores: explicados na norma 60071-1 – Coordenação tensões suportáveis e níveis de isolamento
para reduzir taxa de crescimento da TRT; de Isolamento e correspondentes normas nominal do equipamento em função dos
• Blindagem de linhas e subestações contra nacionais. Esta norma começa com uma valores máximos de tensões que podem
descargas atmosféricas (cabos para-raios e série de definições e conceitos, entre ocorrer na rede, obtidos nos estudos de
hastes de proteção): para evitar incidência as quais as classificações dos tipos de sobretensões. Para tal, são apresentadas,
direta nos condutores; isolamentos em: (a) Auto-recuperantes, por nas tabelas da norma, listas de valores para
• Sincronizadores: para redução das exemplo, as distâncias entre fases no ar e a as tensões suportáveis de impulso e para as
sobretensões ou sobrecorrentes por controle parte externa de isoladores (b) Não auto- tensões suportáveis à frequência industrial.
do ângulo de fechamento na tensão. São recuperantes, como o papel impregnado A Figura 5 mostra parte de uma tabela
especialmente úteis na energização de linhas a óleo de transformadores, a parte interna típica, no caso, da ABNT NBR 7282.
em vazio e bancos de capacitores, assim de buchas e a especificação das distâncias Deve-se notar que, para um mesmo
como para evitar correntes de "inrush" em de escoamento (kV / mm) de isolamentos valor de tensão nominal, pode haver
transformadores. A Figura 4 exibe um que são selecionadas com base na tensão mais de uma lista de valores de tensões
exemplo típico de aplicação, mostrando máxima de operação, poluição, umidade e suportáveis. Em algumas normas, estes
como as sobretensões são reduzidas pelo densidade do ar. valores são descritos como isolamento
simples controle do ângulo de fechamento A norma define também as tensões pleno ou isolamento reduzido. Na verdade,
ou abertura da tensão na manobra. suportáveis como aquelas a serem aplicadas o que está atrás das diferentes alternativas
em ensaio durante o qual um número de tensões suportáveis é que representam
Os estudos elétricos de sobretensões específico de descargas destrutivas é práticas em diferentes países ou diferentes
são feitos com o suporte de programas de tolerado. A tensão suportável é designada regiões com suas condições atmosféricas e
de poluição específicas. sobretensões e, eventualmente, reduzir os distâncias elétricas mínimas. Esta norma 53
níveis de isolamento a especificar. vai além disso e explica outros aspectos
A sequência para realizar a coordenação de do projeto eletromecânico, como a
isolamento é, portanto: Outro aspecto a considerar, no caso do questão das distâncias de segurança
projeto de subestações, é a seleção dos entre transformadores e construções,
• Determinar as sobretensões: magnitude, espaçamentos e distâncias de segurança. distâncias relativas a aspectos de incêndios
duração e probabilidade de ocorrência; A norma IEC 61936 sobre instalações de e subestações ou mesmo alguns aspectos
potência de alta tensão é muito didática do aterramento e tensões de passo e toque
• Selecionar os níveis de isolamento no que diz respeito aos conceitos para (Figura 5).
empregando um dos métodos:
• Método convencional considerando as
sobretensões + margem de segurança (por
exemplo 25%).
• Método estatístico: selecionar um certo
risco de falha.
54
Equipamentos para subestações de T&D
Efeitos e impactos de campos Em alguns aspectos dos problemas de em algumas regiões, os campos são
elétricos e magnéticos compatibilidade eletromagnética (CEM) reduzidos, mas, em outras, são muito
em subestações, as correntes nominais elevados. Nestas, não se deve colocar
Como foi mostrado no Capítulo 1 também são de interesse. Entretanto, componentes sensíveis, como os
desta série, a circulação de correntes para a CEM, no que diz respeito à eletrônicos, relés, contatores, etc. Estes
permanentes elevadas produz campos imunidade a campos no projeto de resultados foram obtidos com o software
magnéticos que, se ficarem acima de equipamentos, as correntes elevadas de SwitchgearDesign.
certos níveis, podem ser prejudiciais curto-circuito são mais importantes. O Em um dos capítulos finais deste
a pessoas (saúde) e a instalações motivo é que, durante o curto-circuito, fascículo serão mostrados mais detalhes
(aquecimentos indevidos e problemas de os campos magnéticos produzidos sobre a descrição das técnicas para
compatibilidade eletromagnética). são muito elevados e podem interferir simulação de ensaios de alta potência
Do ponto de vista dos impactos no funcionamento de componentes e aplicações no desenvolvimento e
à saúde, há toda uma legislação que eletrônicos, relés e outros tipos de certificação de produtos.
deve ser obedecida durante o projeto componentes usados no comando e
de uma subestação de energia. Esta proteção da subestação.
legislação estabelece um certo limite O bom conhecimento dos campos
para a exposição do público em geral elétricos e magnéticos permite
e de operadores, tanto para campos saber em qual lugar não instalar
magnéticos como para campo elétrico. componentes sensíveis a interferências
Os campos magnéticos são tão eletromagnéticas. Na Figura 6, a título
maiores quanto maiores são as correntes de exemplo, são mostrados os campos
circulantes. Nos aspectos mencionados magnéticos no interior de um painel
de aquecimentos e impactos à saúde, as elétrico submetido a uma corrente
correntes de interesse são as correntes permanente trifásica, assim como o
permanentes / nominais. campo elétrico. É possível notar que,
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60
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo V
Nesta série de fascículos, são internos em painéis de médias e baixas traduzida de uma norma IEC já superada
apresentados conceitos de engenharia para tensões. A ideia do texto a seguir não é ser no mercado internacional.
projeto e especificação de equipamentos mais uma repetição do tema, mas convém As únicas exceções a isso são as
de subestações de transmissão e de relembrar um aspecto das normas técnicas. normas atreladas a produtos de certificação
distribuição. O primeiro capítulo da série Ensaios de arcos internos em painéis são compulsória. Tais produtos só podem
cobriu aspectos dos estudos do sistema ensaios de tipo para os painéis de média ser comercializados no país se forem
elétrico que servem de base para as tensão (IEC 62271-200), mas infelizmente certificados pelo Inmetro e, como exemplo,
especificações técnicas dos equipamentos. ainda não são ensaios de tipo para os painéis temos os plugues e tomadas para uso
O segundo abordou conceitos sobre de baixa tensão (IEC 61439). O mercado doméstico, interruptores para instalações
curtos-circuitos, ampacidades, sobrecargas comprador, entretanto, exige cada vez mais, elétricas fixas domésticas, alguns cabos de
e contatos elétricos. O terceiro artigo com fundamento, que os fabricantes de potência de baixa tensão e equipamentos
abordou o tema “Técnicas de ensaios de painéis de baixa tensão comprovem que para atmosferas explosivas. No Inmetro,
alta potência, laboratórios de ensaios e o equipamento foi testado e aprovado no além da certificação compulsória, existe a
principais ensaios”. E o quarto capítulo ensaio da IEC TR 61641. possibilidade de certificar certos produtos
tratou de estudos elétricos de sobretensões, A norma IEC 61439-1:2009, publicada nas modalidades de certificação voluntária
coordenação de isolamento e impactos de há seis anos, encontra-se, na ABNT, há (por exemplo, instalações de baixa tensão)
campos elétricos e magnéticos. dois anos em tradução e adaptação para e em programas de etiquetagem voluntária
Neste quinto capítulo, o tema abordado o português. Seria bem-vindo e original (como transformadores de distribuição em
será “Arcos internos em equipamentos se a comissão da ABNT aproveitasse a óleo) e compulsória (como certos motores
de subestações”, com ênfase na brochura oportunidade para listar o ensaio de arco elétricos e refrigeradores). Nenhuma dessas
Cigré 302 – Ferramentas para a simulação interno nos painéis com correntes de arco possibilidades se aplica a painéis elétricos
dos efeitos de arco interno na transmissão maiores que 40 kAef, como um ensaio de baixa ou média tensão.
e distribuição. Este documento único foi de tipo. Se isso fosse realizado na norma
publicado pelo Cigré Internacional em brasileira, poderia se fazer o mesmo com a Ferramentas para a simulação
dezembro de 2014. O autor deste fascículo, IEC, tendo uma boa chance de sucesso. Fica dos efeitos de arco interno
Sergio Feitoza Costa, participou desde o aqui a ideia! em equipamentos de manobra
início dos grupos de trabalho dos grupos Falando sobre normas, cabe lembrar de transmissão e distribuição
de trabalho Cigré WG A3-20 e WG A3-24, que ninguém é obrigado a utilizar normas (Brochura Cigré 602)
sendo um dos coautores da brochura. brasileiras de painéis e outros produtos pelo
simples fato de serem normas brasileiras. Em dezembro de 2014, foi publicada
Arcos internos e qualificação Normas técnicas são instrumentos que a Brochura Cigré 602 (http://www.e-
de produtos: quais normas servem de referência aos contratos entre cigre.org/Search/resultatREF.asp#), único
técnicas utilizar? comprador e vendedor e estes são livres para documento que foi publicado e detalhado
escolher as normas que bem entenderem. É sobre o assunto. Participaram de sua
Nos últimos anos, vários artigos têm mais razoável usar uma norma IEC recente preparação 21 especialistas de 15 países,
sido publicados no Brasil sobre arcos do que usar uma antiga norma brasileira entre os quais o autor deste fascículo,
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Sergio Feitoza Costa, que participou, desde e alta tensão isolados a SF6 e a ar. montados para analisar os efeitos do arco 61
o início, em 2007, dos grupos de trabalho Há várias normas mundiais sobre interno, pesquisar as ferramentas e modelos
Cigré WG A3-20 e WG A3-24. Em 2007, equipamentos resistentes a arco interno. computacionais disponíveis e aconselhar
para se ter uma ideia, uma das reuniões Algumas, como a IEC 62271-200, que alguns testes possam ser substituídos
do grupo de trabalho aconteceu no Rio de permitem que o SF6 seja substituído por por simulações de computador. Algumas
Janeiro por ocasião do evento internacional ar durante o teste de arco interno. Outras, motivações e resultados específicos foram:
realizado pelo Cigré – SC A3 Technical como a IEEE Std C37.20.7, não tratam de
Colloquium. equipamentos isolados a SF6. Por último, • avaliar os métodos de cálculos de
Reconhecendo o papel crescente do existem normas, como a IEC 62271-203, sobrepressão e fazer análises comparativas
uso de simulações de alguns ensaios, o que permitem a extensão de resultados dos com resultados de testes realizados;
Cigré internacional estabeleceu o grupo testes por métodos de cálculo. A futura IEC • reduzir o número de ensaios de arco
de trabalho WG A3.20, que depois foi 62271-307 tratará da extensão da validade interno por razões ambientais;
substituído pelo WG A3-24. As tarefas de relatórios de ensaios feitos segundo a • verificar os impactos de modificações
iniciais foram de avaliar ferramentas de IEC 62271-200. Esta norma, atualmente em de projeto da por meio de simulações
simulação e em que medida poderiam preparação, terá impacto no mercado de (interpolação de resultados de teste);
ser usadas. Conclui-se que a simulação painéis de média tensão e será tratada em • verificar a validade da substituição de SF6
é uma ferramenta de desenvolvimento um capítulo desta série mais a frente. por ar durante os testes de arco interno.
valiosa e que pode prever o desempenho Na brochura fica claro que a realização
de um equipamento, pelo menos quando desses testes é muito importante do O WG A3.24 começou o trabalho pela
se está comparando alguns resultados com ponto de vista da segurança, embora seja revisão da literatura existente (mais de 100
outros resultados de um projeto já testado econômico e ambientalmente proibitivo artigos e normas técnicas) e pela coleta de
e simulado. O WG A3.24 continuou as testar todas as variações de um determinado dados de teste a partir de inúmeros testes
análises com um foco específico em testes projeto de painel. Nesse sentido, o trabalho de arco interno. Os dados de teste foram
de arco interno em equipamentos de média do WG e a brochura resultante dele foram coletados a partir de mais de 80 casos
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62 diferentes com tamanhos de invólucros que c) Cálculos de energia, evaporação de possibilidade de furar o invólucro e
vão desde volumes de menos de cinco litros metais e ablação de isoladores; fórmulas;
Equipamentos para subestações de T&D
até grandes tanques de GIS (1.200 litros). As d) Misturas de gases em p) Avaliação do tempo de queima em
correntes de falta variaram de 12 kA a 63 compartimentos; invólucros de alumínio e aço;
kA, com durações de falhas que vão desde e) Uso de absorvedores de arco no fluxo q) Avaliação de parâmetros de projeto;
10 ms a 1,2 s. de escape; r) Sensores de pressão e absorção do
Foram analisados desde invólucros f) Velocidades de dispositivo de arco por indicadores;
simples até equipamentos com vários abertura de alívio; s) Efeitos da ligação do neutro durante
compartimentos isolados a SF6 e ar. Ao g) Uso de CFD é utilizado para ensaios.
longo das análises, houve foco nos três simulação de arco interno;
efeitos principais de um arco interno h) Análises de sensibilidade aos diversos No que diz respeito aos modelos de
que são: (a) o aumento de pressão; (b) parâmetros; cálculo utilizados, algumas observações são
as solicitações mecânicas no invólucro, i) Comparação dos efeitos de um mostradas na tabela a seguir. Eles estariam
instalações e paredes causadas pela mesmo arco interno em ar ou no SF6; em um ponto intermediário entre o modelo
sobrepressão interna; e (c) o efeito “burn- j) Normalização técnica e interpretação básico e o de alta complexidade.
through” no sentido de furar o invólucro de resultados de testes (diferenças ar e Um exemplo de software que estaria
quando a corrente de arco estacionaria em SF6); em um ponto intermediário a estes
um certo ponto. k) GIS> 52 kV (IEC 62271-203) e dois é o software Switchgear Design
No grupo de trabalho, as avaliações cubículos ≤ 52 kV (IEC 62271-200, desenvolvido pelo autor deste fascículo.
foram feitas com ferramentas de software -201, IEEE C37.20.7); Entretanto, este não se aplica apenas a
que variaram desde as “feitas em casa” até l) Solicitações mecânicas devido às simulações de ensaios de arco interno, mas
ferramentas CFD complexas e caras. Do sobrepressões nos invólucros e nas permite também simulações de ensaios
ponto de vista do cálculo da sobrepressão paredes da sala; de elevação de temperatura e de forças
pode-se perceber que, mesmo com as m) Construção de paredes, parâmetro eletrodinâmicas, assim como a avaliação
ferramentas mais simples, o pico de crítico no projeto civil e área de abertura de campos magnéticos e elétricos,
pressão foi calculado dentro de 10% a da sala; tensões induzidas, etc. conforme pode ser
20% do pico medido, o que indicou que o n) Critérios para avaliação de estresse observado em http://www.cognitor.com.
uso da ferramenta mais simples deve ser da parede; br/TR_071_ENG_ValidationSwitchgear.
explorado. Considerando esta conclusão, o) “Burn-through: avaliação da pdf
o WG desenvolveu um conjunto de
"equações básicas" que validaram o modelo Tabela 1 – Comparações dos modelos de cálculos utilizados
matemático para mais de 70 casos. Aplicação Limitações
Verificou-se que o cálculo das curvas Para calcular rapidamente Não considera não uniformidade
de pressão no interior do compartimento o aumento da pressão de parâmetros do gás (pressão,
do arco durante uma falha de arco interno Modelo básico dentro de um compartimento temperatura, densidade) no volume;
dá boa concordância entre o teste e a (simplificado) de arco e no volume Não aplicável se a área de abertura do
simulação, desde que a energia do arco seja de escape em painel típico alívio for muito grande em relação ao
conhecida. Estes resultados são descritos de média tensão e volume do compartimento;
detalhadamente na brochura. em aplicações GIS de Os cálculos não se mostraram
Entre os tópicos detalhadamente alta tensão. confiáveis, quando a temperatura do gás
cobertos na brochura estão os seguintes: excede 2.000 K para SF6 e 6.000 K para o ar;
Não considera misturas de
a) Cálculo da pressão por modelo gases no compartimento;
analítico incluindo as equações do Não aplicável a grandes salas de
modelo, parâmetros e limites da instalação (> 50 m³).
aplicação; Modelo CFD Para calcular a distribuição Alto esforço para a modelagem e
b) Aplicação do modelo para casos de (alta complexidade) de pressão espacial e fluxo de malhas para o equipamento e a sala;
teste selecionados em vários arranjos gás em formas de geometria Requer grande capacidade
de ensaios, incluindo painéis de média complexas e em grandes salas. computacional.
tensão e alta tensão isolados a SF6 e a ar;
Apoio
64 Os seguintes estudos de caso são detalhados na brochura para painéis de média tensão isolados a ar (dados de entrada).
Equipamentos para subestações de T&D
Os seguintes casos são detalhados na brochura para painéis de media tensão isolados a SF6 (dados de entrada).
Tabela 3 – Dados de entrada de painéis de média tensão isolados a SF6
Caso número E24 F3 G13
Volume compartimento de arco (V1) 0,509 1.217 0,27 m³
Volume compartimento exaustão. (V2) >1.000 >1.000 0,58 m³
Volume da sala de instalação (V3) NA NA >1.000 m³
Pressão inicial de enchimento do volume 1 150 166 120 kPa abs SF6
Pressão inicial de enchimento do volume 2 100 100 100 kPa abs arr
Área de alívio de pressão entre volumes 1 e 2 0,00456 0,062 0,049 m²
Atuação do dispositivo de alivio 310 1.400 220 kPa rel
Área de alívio de pressão entre volumes 2 e 3 NA NA 0,195 m²
Corrente de curto-circuito 14,2 25 38 kA ef
Número de fases 1 3 3
Tensão média fase-terra 350 1.700 400 V
Fator KP 0,75 0,7 0,76
Figura 1 – Gráficos mostram os resultados das pressões V1 e V2 dos estudos de caso D14 e F3 referenciados nas Tabelas 2 e 3.
Na seção B.4 da brochura é referenciado o specified in international standards", de como uma proposta para a execução
artigo "Guidelines for the use of simulations autoria de Sérgio Feitoza. Este trabalho foi de uma nova norma ABNT chamada
and calculations to replace some tests apresentado em 2010 ao CB-3 da ABNT “Orientações para o uso de simulações
Apoio
para extrapolar resultados de alguns os países em desenvolvimento”, que pode nas normas relevantes de produtos e, em 65
ensaios de alta potência especificados nas ser encontrado no site www.cognitor.com. decorrência, estão disponíveis no relatório
normas ABNT”. br, há uma discussão sobre este tema. A de ensaios. Neste sentido, a nova norma
Por razões difíceis de entender, a proposta básica é trabalhar junto à IEC descreveria as medições mínimas e os
ideia não foi aceita pela ABNT, embora no sentido de que ela, ao publicar certas registros fotográficos que devem ser feitos
tivesse o apoio de mais de 20 empresas normas, também sejam publicadas em e registrados em relatórios de ensaios de
que queriam participar das reuniões da português, como já acontece na língua laboratório especificados em normas de
comissão de estudos. Entre os interessados espanhola e alguns outros idiomas. produtos.
estavam 15 fabricantes de equipamentos No caso do texto referenciado na Tais medições e registros fazem
de altas e baixas tensões, principalmente seção B.4 da brochura, o escopo da com que o ensaio seja reprodutível e seu
painéis, laboratórios de ensaios, norma seria apresentar orientações para relatório útil para o posterior uso em
certificadora, concessionárias de energia a sistematização do uso de simulações e simulações. Estas medições e registros
e grandes usuários de equipamentos para cálculos utilizáveis para substituir alguns também ajudam os usuários a identificar se
subestações. ensaios de laboratório em situações em que um produto comercializado é semelhante
No Brasil não se consegue perceber o senso comum mostra ser razoável fazê-lo. ao que foi efetivamente ensaiado em
o erro estratégico que é levar anos O caso mais frequente é a extrapolação de laboratório. Atualmente, existe uma falta
para traduzir normas técnicas IEC que resultados de ensaios feitos em laboratório, de dados para a validação dos resultados
foram publicadas muitos e muitos anos em um certo equipamento, para predizer de simulações em comparação com
antes. Enquanto isso continuamos a os resultados do mesmo ensaio em um resultados de ensaios de laboratório. São
andar para trás na lista dos países em equipamento com características próximas todas medições e registros de baixo custo
desenvolvimento. Há cerca de 15 anos, ao já testado, mas que não foi testado. O e de realização simples.
havia um entendimento bem melhor uso de simulações para substituir ensaios Não seria um objetivo da nova norma
destes aspectos. No artigo “Como podem só é possível quando determinadas apresentar métodos de cálculo para a
as normas IEC ajudar a reduzir o gap entre medições e registros são especificadas simulação de ensaios. Considera-se que um
Apoio
66
modelo ou método é aceitável quando ele Tabela 4 – Valores típicos de tolerâncias aceitáveis
Equipamentos para subestações de T&D
produz resultados que podem ser validados Tipo de ensaio Parâmetro a comparar Valores típicos de
dentro das tolerâncias aceitáveis e, além tolerâncias aceitáveis
disso, a validação possa ser demonstrada de Ensaio de elevação de Elevações de temperaturas nas partes 1% a 5%
forma objetiva e transparente aos usuários. temperatura sólidas e fluidas
Embora os conceitos apresentados sejam Ensaio de arco interno Sobrepressão no invólucro acima da 5% a 10%
aplicáveis a qualquer equipamento elétrico, pressão atmosférica (crista e duração)
as aplicações mais visíveis são nos seguintes Ensaio de correntes Forças eletrodinâmicas e tensões 5% a 15%
equipamentos de altas e baixas tensões: suportáveis de curta mecânicas
painéis e quadros, barramentos e dutos duração e de crista
blindados, disjuntores, secionadores,
chaves, religadores automáticos, fusíveis e - Corrente elétrica circulante; Por razões de reprodutibilidade
transformadores. - Materiais utilizados nos condutores e do ensaio, a medição da sobrepressão
Seriam especificadas tolerâncias partes isolantes; ao longo do ensaio deve ser medida
máximas para as diferenças obtidas entre - Fluido que envolve os equipamentos e registrada no relatório de ensaio de
os métodos de simulação e os resultados dentro de um compartimento; laboratório. Os valores dos dados que
que ocorreriam no ensaio de laboratório - Posição e geometria espacial dos afetam o resultado do ensaio devem
especificado na norma do produto relevante. condutores; ser claramente registrados no relatório
Os valores típicos de tolerâncias aceitáveis - Volume do fluido no interior dos de ensaios através de fotografias e/ou
dos resultados obtidos nas simulações, compartimentos; desenhos.
quando comparados com os resultados do - Área dos dispositivos de alívio de Na Figura 2 a seguir, são mostradas
ensaio de laboratório, são mostrados na sobrepressão e sua velocidade de abertura; impressões fotográficas da liberação
Tabela 4. - Entrada e áreas de saída para ventilação, de gases quentes, como resultado da
Para o caso dos ensaios de arco assim como a existência de dispositivos formação de arco em SF6 (coluna da
interno, os dados de entrada mínimos a que as fechem no momento de um arco esquerda) e do ar (coluna da direita)
serem registrados em relatórios de ensaios interno; para uma falha de 14,2 kA, Arc 1 s. As
de arco interno emitidos por laboratórios - Posição relativa dos equipamentos em fotografias são tiradas com um intervalo
são os seguintes: relação às paredes e teto. de 0,2 s.
Figura 2 – Fotografias da liberação de gases quentes a partir de arco elétrico em SF6 (esquerda) e ar (direita).
Apoio
46
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo VI
Neste fascículo são apresentados escrever um longo texto, referenciar a laboratório neutro e reconhecido. Entre
conceitos de engenharia para projeto norma técnica IEC ou a norma nacional os ensaios de rotina previstos na norma
e especificação de equipamentos de equivalente, se esta estiver atualizada. os seguintes são exigidos. É um texto
subestações de transmissão e distribuição. Em geral, no Brasil, as normas brasileiras simples, completo e com base em um
O primeiro artigo desta série cobriu estão defasadas em, no mínimo, três documento internacional. Para uma
aspectos de estudos do sistema elétrico anos, com relação às suas normas-base empresa privada é relativamente simples
que servem de base para as especificações da IEC. Isso ocorre, como já explicado seguir este tipo de estratégia.
técnicas dos equipamentos. O segundo em capítulos anteriores, pelo longo tempo Com estas informações e mais um ou
cobriu conceitos sobre curtos-circuitos, que é utilizado para traduzir as normas outro requisito oriundo da experiência
ampacidades, sobrecargas e contatos IEC em inglês para as normas brasileiras da empresa que está comprando o
elétricos. O terceiro abordou o tema em português. Seria bem mais inteligente equipamento, ter-se-ia em mãos uma boa
“técnicas de ensaios de alta potência, se o organismo de normalização especificação. É, entretanto, muito comum
laboratórios de ensaios e principais brasileiro agisse com a IEC como outros que a especificação publicada nas licitações
ensaios”. No quarto capítulo, falou-se países fazem para que pelo menos seja longa e confusa. O erro mais comum
sobre os estudos elétricos de sobretensões, algumas normas IEC fossem, na origem, é copiar na especificação longas partes da
coordenação de isolamento e impactos publicadas também em português. norma técnica de referência, muitas vezes
de campos elétricos e magnéticos. No Utilizando um disjuntor de alta com erros de interpretação dos termos.
capítulo anterior, o tema abordado foi tensão como exemplo, a especificação Para empresas estatais é quase
a recente brochura Cigré 602, sobre técnica ideal de um disjuntor de 145 impossível utilizar especificações simples
simulação de arcos. Já o tema deste sexto kV – 2.000 A – 31,5 kA seria um texto porque precisam atender em seus editais
capítulo são as especificações técnicas muito curto e mais ou menos como: “o a uma série de leis e regulamentos que
de disjuntores, secionadores, painéis e disjuntor, objeto desta especificação, acaba tornando estas empresas ainda
para-raios feitas por concessionárias de deve atender aos requisitos das normas mais pesadas e ineficientes. Foi uma pena
energia. 62271-1 – Equipamentos de Manobra pararmos o processo das privatizações que
de Alta Tensão – Parte 1: Especificações estava em bom andamento antes de 2003.
O que fazer e o que não fazer Comuns e IEC 62271-100 – Disjuntores A esta altura já estaríamos em um patamar
em uma especificação técnica de Alta Tensão de Corrente Alternada”. bem melhor. O resultado desta interrupção
para compra de equipamentos Os dados específicos do disjuntor foi a confusão que virou o setor elétrico
estão na folha de dados a seguir. O com tarifas muito maiores que nos demais
Para criar um referencial, vamos disjuntor deve ter sido submetido a todos países, contando ainda para isso com a
partir do princípio de que a especificação os ensaios de tipo previstos na norma, ajuda de uma carga tributária absurda e sem
técnica mais eficiente é, ao invés de comprovados em relatório emitido por retorno para quem paga os impostos.
Apoio
47
Tabela 1 – Folha de dados
Item Descrição Unidade O que incluir
C3 Número de fases - 3
C4 Frequência nominal Hz 60
E5 Níveis de isolamento -
E5.1 Tensão suportável nominal de curta duração à frequência industrial (1 minuto) kVef. 275
E7 Número de polos - 3
E14 Tensão de restabelecimento transitória para faltas nos terminais, faltas quilométricas e discordância de fases kV Tabela xxx da IEC 62271
F3 Tensão do motor de acionamento das molas (VCA/VCC) V 220 Vca +10% -20%
Devemos rapidamente voltar a pensar com a corrupção. erros do tipo destes exemplos a seguir,
em privatizar tudo que seja privatizável. Voltando às questões técnicas das extraídos de algumas especificações que
Diminuindo-se a interferência dos governos especificações, quando se reescreve na tenho lido:
e partidos políticos nas empresas estatais especificação partes de textos das normas
diminuirão as perdas com a ineficiência e técnicas, corre-se o risco de inserir no texto • Errado: A elevação de temperatura dos
Apoio
48 contatos deve ser 53 °C. É uma frase sem especificações são os clássicos, detalhados são relacionados com ensaios como:
Equipamentos para subestações de T&D
sentido e o correto seria dizer que devem nos capítulos anteriores desta série ou seja:
ser atendidos no ensaio de elevação • Tensão suportável no invólucro sem a
de temperatura os limites máximos • Ensaios de interrupção e estabelecimento parte interna ativa;
especificados na norma IEC-62271-1; em curto-circuito; • Tensão residual para impulso de corrente
• Errado: O projeto dos contatos deve ser • Tensão suportável a impulso atmosférico; íngreme, impulso atmosférico e de
feito de modo que as forças eletromecânicas • Tensão suportável a impulso de manobra manobra;
não possam abri-lo. Esta é também uma a seco e sob chuva; • Corrente suportável de impulso retangular
frase sem nenhum efeito prático efeito. • Tensão suportável a frequência industrial, de longa duração e de descarga de linhas de
O correto seria especificar o ensaio de a seco (1 min), sob chuva (10 s); transmissão;
correntes suportável de curta duração e de • Elevação de temperatura; • Ciclo de operação (impulso de corrente
crista que existe nas normas exatamente • Corrente suportável nominal de curta elevada e de manobra);
para comprovar se o equipamento suporta duração e crista; • Característica "tensão de frequência
os efeitos das forças; • Resistência mecânica e operação; industrial x tempo”;
• Errado: Devem ser utilizados materiais • Tensão de rádio-interferência; • Alívio de sobrepressão interna;
da melhor qualidade técnica, novos e de • Ensaio de corona visual. • Tensão de rádio interferência e de
fabricação recente. O correto é especificar ionização interna;
quais normas ABNT, ANSI, IEC, NEMA, Para secionadores de alta tensão, • Ensaios do desligador automático;
ASTM, ou outras, devem ser atendidas nas como são equipamentos que em geral • Poluição artificial;
partes específicas; estão em série com um disjuntor, • Estanqueidade;
• Errado: Qualidade de execução: a mais as especificações são similares às • Medição das descargas parciais;
alta qualidade e em conformidade com as mostradas acima, com exceção dos • Distribuição de corrente, em para-raios
melhores e mais modernas práticas de alta requisitos de capacidade de interrupção multi-colunas.
qualidade. Este tipo de frase não serve para em curto-circuito, que não se aplicam
nada, pois não há um padrão de verificação aos secionadores. A seguir estão algumas características
e vai na direção contrária das normas ISO Para os para-raios, muitos dos extraídas de uma folha de dados de uma
para qualidade. termos utilizados são diferentes daqueles especificação de para-raios para o mesmo
empregados nos disjuntores e secionadores. sistema de 138 kV de onde vieram os dados
Os principais ensaios requeridos nas Os principais aspectos das especificações do disjuntor acima.
B Local de instalação
Condições locais - Ao tempo
B1 Condições anormais
locais de serviço diante da IEC 60099-4 - Coordenadas Não
geográficas, clima,
B1.3 Características
Temperatura média
do sistema
diária elétrico
(valor máximo) ºC
- 30
B2 Tensão máxima
Atmosfera ambiente
de operação kV
- 145
B2.2 Frequência
Presença denominal
pó Hz
- Sim
60
B2.4 Alimentação
Atmosfera explosiva
do motor de carregamento da mola V
- 220 Vca Não
+10%, -20%
C Características do
gerais
sistema
do equipamento
elétrico iguais às do disjuntor acima
D1 Religamento
Tipo construtivo
(tripolar/monopolar) - Óxido de
Tripolar
zinco (ZnO)
D2 Condições
Tipo de instalação
de serviço (normais/especiais) - Autoportante
Normais
D4 Desempenho
Isolador (porcelana/polimérico)
quanto a reacendimento durante chaveamento de correntes capacitivas (classe C1 ou C2) - Porcelana
C1
D5 Classe de
Altura mínima
durabilidade
da estrutura
mecânica
suporte
(classe M1 ou M2) -
mm ≥ M1
2500
D6 Classededematerial
Tipo durabilidade
dos isoladores
elétrica (classe E1 ou E2) - Porcelana
E1
D8 Características
Esforço máximoelétricas
suportável
do equipamento
nos terminais N Informar
Apoio
50
Item Descrição Unidade Especificado
mm/kV Informar
Equipamentos para subestações de T&D
D9 Distância de escoamento
E11.2 10 kA kV 300
E11.3 20 kA kV 310
G Inspeção e testes
Para transformadores de corrente (TCs), correntes é igual à da Tabela 2. Há, entretanto, que devem medir com precisão adequada
como são equipamentos em série com o algumas especificações adicionais que se já que os valores medidos serão usados no
disjuntor e o secionador já mencionados, a aplicam apenas aos próprios. Um TC tem faturamento aos usuários da energia da
maior parte das especificações de tensões e núcleos de medição das correntes normais subestação. Para estes núcleos de medição, no
Apoio
52 momento de um curto-circuito, a corrente que deve reproduzir exatamente o que está a relação de transformação sob circuito se
passa no secundário não deve acompanhar acontecendo no primário. Deve ser a mantém em uma faixa aceitável, do ponto
Equipamentos para subestações de T&D
os altos valores das correntes no primário. informação correta para alimentar os relés de vista dos relés de proteção.
Se isso acontecesse, os fios e medidores no de proteção que mandarão a ordem para o A seguir estão algumas características
secundário seriam danificados. disjuntor de proteção abrir a falta. Mesmo extraídas de uma folha de dados de uma
Por este motivo, os núcleos de medição que haja uma variação da frequência da especificação de transformador de corrente
dos TCs são projetados para que, em caso de rede por uma perda de estabilidade, a para o mesmo sistema de 138 kV de onde
um curto-circuito no primário, a corrente no informação do secundário deve ser precisa. vieram os dados do disjuntor acima.
secundário sature e não passe de um certo Para verificar este comportamento, existe As especificações de outros
valor, por exemplo, 50 Aef. Existe um ensaio também um ensaio em que se coloca uma equipamentos, como transformadores
para verificar se este aspecto é atendido. carga no secundário do TC parecida com as de potência e geradores, não serão
Nos núcleos de proteção dos TCs, a cargas que estariam normalmente ligadas abordadas neste texto, pois envolvem
situação é contrária. A corrente secundária e aplica-se um curto-circuito elevado no detalhes mais complexos que neste
no TC, no momento do curto-circuito, primário. O objetivo do ensaio é verificar se espaço não seriam possíveis de detalhar.
E2 Frequência nominal Hz 60
53
Item Descrição Unidade Especificado
H Inspeção e Testes
44
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo VII
Este fascículo vem apresentando impactos de campos elétricos e magnéticos. ções, há diferentes tipos de distâncias
conceitos de engenharia para projeto No quinto capítulo, o tema abordado foi a de segurança a observar. A primeira
e especificação de equipamentos de recente brochura Cigré 602, sobre simulação delas refere-se às chamadas “distâncias
subestações de transmissão e distribuição. O de arcos, e no anterior, discutimos as dielétricas”. Estas são as distâncias mínimas
primeiro artigo desta série cobriu aspectos especificações técnicas de disjuntores, de projeto necessárias para que, nas partes
de estudos do sistema elétrico que servem secionadores, painéis e para-raios feitas vivas da subestação energizada, não
de base para as especificações técnicas dos por concessionárias de energia. A seguir, aconteçam descargas dielétricas entre estas
equipamentos. O segundo cobriu conceitos trataremos das distâncias de segurança e outros equipamentos, partes vizinhas ou
sobre curtos-circuitos, ampacidades, de subestações e dos sistemas de proteção mesmo pessoas. Exemplos destas distâncias
sobrecargas e contatos elétricos. O terceiro contra incêndios em subestações. de segurança a serem utilizadas em novos
abordou o tema “técnicas de ensaios de projetos são as especificadas na norma IEC
alta potência, laboratórios de ensaios e Distâncias dielétricas de 61936-1 – Power Installations Exceeding 1
principais ensaios”. No quarto capítulo, segurança kV AC – Part 1 – Common Rules. Alguns
falou-se sobre os estudos elétricos de exemplos podem ser vistos na Tabela 1 a
sobretensões, coordenação de isolamento e No projeto e na operação de subesta seguir.
O conceito atrás destes valores é que, da compatibilidade magnética de No que diz respeito aos impactos à 45
se uma subestação é projetada utilizando equipamentos e sistemas de subestação. saúde, há regulamentos para o nível máximo
a Tabela 1, ela não precisaria ser “testada” Os campos magnéticos diminuem com o do campo magnético a que as pessoas
do ponto de vista dos ensaios dielétricos aumento da distância à fonte que o produz podem ser expostas. O nível de exposição
de tensão aplicada CA e tensão suportável (ver Figura 1). Se ficarem acima de certos depende do tipo de atividade da pessoa –
de impulso. Não é incomum encontrar níveis, podem ser prejudiciais às pessoas trabalhadores (exposição ocupacional)
subestações mais antigas com distâncias (saúde) e às instalações (aquecimentos ou público em geral. O nível de exposição
menores que estas e funcionando muito indevidos). permitido para o público em geral é menor
bem. Estes valores vão, ao longo do tempo,
sendo aperfeiçoados nas normas com base
na experiência que vai sendo adquirida
e mesmo em padrões de segurança mais
severos para evitar descargas e acidentes.
Distâncias magnéticas de
segurança
46 que o permitido para trabalhadores. O aquecimentos indesejados. Os campos Para evitar o primeiro efeito, podem-se
Equipamentos para subestações de T&D
motivo disso é se tratar de pessoas leigas magnéticos causam dois tipos de efeitos utilizar artifícios, como abrir o caminho
que podem permanecer expostas uma que podem produzir aquecimentos. O elétrico em um ponto. O segundo efeito pode
tempo maior por não ter conhecimento primeiro é a geração de tensões induzidas ser apenas minimizado utilizando-se materiais
dos impactos. Os regulamentos da Agência em circuitos metálicos que contenham não magnéticos como o alumínio e alguns
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) espiras. Se estes circuitos forem fechados tipos de aço inox (apenas os da série 300). Em
indicam os seguintes níveis máximos eletricamente, circularão correntes elétricas instalações em que há reatores a núcleo de ar
permitidos de exposição em 60 Hz: que, dependendo do valor da tensão muito próximos de áreas sensíveis, deve-se
induzida, produzirão aquecimentos. evitar o uso de estruturas suporte de ferro.
- Trabalhadores: 1.000 uT Exemplos destes circuitos fechados são Dependendo das características da instalação
- Público em geral: 200 uT os ferros da armação de concreto em um podem ser necessários cuidados especiais
piso ou em um pilar. O campo produzirá com a malha de terra e materiais de caixas
“Público em geral” é, por exemplo, uma uma tensão que fará circular uma corrente metálicas e de medição.
pessoa que passa ou para na rua ao lado da elétrica pelo circuito fechado formado pelos
parede de uma grande subestação urbana. vergalhões que serão então aquecidos. Aspectos ligados a incêndios e
Outro exemplo são pessoas cuja janela de O segundo efeito ocorre se houver na explosões em transformadores
seus apartamentos está próxima de um região do campo magnético uma chapa e outros equipamentos
transformador de distribuição ou de cabos da metálica ou, por exemplo, um parafuso de
rede elétrica, como foi mostrado em uma foto ferro. O campo produz correntes parasitas A já mencionada norma IEC 61936
do primeiro capítulo desta série. De forma geral, (eddy currents), que aquecem as partes estabelece uma série de procedimentos e
“trabalhadores” dentro deste enfoque são as metálicas. É o mesmo princípio usado nos distâncias que devem ser atendidas, por
pessoas não leigas que trabalham na subestação. sistemas industriais de aquecimento por exemplo, entre transformadores isolados
No que diz respeito aos impactos indução para, por exemplo, aquecer ou a óleo mineral e paredes ou construções.
sobre as instalações, os principais são os recozer grandes perfis de aço. O objetivo destas distâncias está ligado
Apoio
aos impactos causados pelo fogo e, em poucos produtos disponíveis neste campo. fixos automáticos de proteção contra 47
menor grau, à eventual explosão de um Não existir uma norma internacional incêndio com água nebulizada para
equipamento, por exemplo, um para-raios implica não se ter ensaios relevantes para transformadores e reatores de potência;
com invólucro de porcelana. verificar a eficácia destes produtos. • ABNT NBR 12232 – Execução dos
Incêndios e explosões em Há muitos anos, existem normas que sistemas fixos automáticos de proteção
transformadores, reatores e outros se aplicam a este tema no Brasil. No ano contra incêndio com gás carbônico, por
equipamentos são sempre motivo de 2000, o autor deste artigo propôs à ABNT inundação total para transformadores e
grande preocupação devido aos impactos a revisão de uma destas normas sobre reatores de potência contendo óleo isolante.
em pessoas e instalações. Estes eventos são sistemas de proteção contra incêndio em
muito mais frequentes do que o público em transformadores e reatores de potência, O autor coordenou esta revisão no
geral percebe. Quando acontecem quase por despressurização. A ABNT aceitou âmbito da ABNT. As reuniões envolveram 47
não são divulgados. a proposição e sugeriu que o grupo de participantes de 21 empresas. Estes números
Não existem normas IEC sobre sistemas trabalho revisasse e atualizasse as normas: mostram uma boa representatividade para
de prevenção contra incêndios e explosões as quatro normas que foram publicadas
em equipamentos de subestações. As • ABNT NBR 13231 – Proteção contra em 2005. Naquela ocasião, além da revisão
normas IEC sobre transformadores de incêndio em subestações elétricas das normas brasileiras, foi preparada
potência não tratam da questão de curtos- convencionais, atendidas e não atendidas, uma proposta de uma nova norma IEC –
circuitos internos e suportabilidade a de sistemas de transmissão – Procedimento; International Electrotechnical Commission
explosões. • ABNT NBR 8222 – Execução de a ser encaminhada àquela instituição com
Este é um ponto fraco e uma sistemas de proteção contra incêndio em base nas novas normas brasileiras.
barreira ao desenvolvimento, utilização transformadores e reatores de potência, por O processo de propor uma nova norma
e comercialização de produtos de despressurização, drenagem e agitação do à IEC é menos complicado do que parece. O
prevenção contra incêndios e explosões em óleo isolante; autor teve uma experiência em 1989, quando
subestações. É a maior causa de existir tão • ABNT NBR 8674 – Execução de sistemas coordenava grupos no COBEI / ABNT e
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48 coordenava o Technical Committee 32 da • Por despressurização para prevenção • Requisitos das edificações;
IEC (Fuses). Fizemos proposta semelhante à contra explosões e incêndios decorrentes de • Requisitos de equipamentos e instalações
Equipamentos para subestações de T&D
IEC na área de fusíveis de alta tensão. Naquela arcos elétricos internos (ABNT NBR 8222). de pátio;
ocasião, a proposta foi aceita pela IEC. A • Requisitos para outras instalações;
revisão da norma IEC 60282-2 (1989) foi feita Os propósitos destes sistemas são diferentes • Sistemas e equipamentos de proteção
e em boa parte oriunda das normas brasileiras e incluem em maior ou menor grau: contra incêndio.
sobre o assunto feitas naquela ocasião. Este • Prevenção de incêndios: prover meios
trabalho foi coordenado na IEC por este autor. para evitar que o incêndio venha a ocorrer; Os requisitos para equipamentos
Os principais pontos revisados naquelas • Extinção de incêndios: apagar um incêndio e instalações de pátio envolvendo
normas brasileiras de sistemas de prevenção com o uso de meios adequadamente transformadores e reatores de potência
contra incêndios e explosões em equipamentos dimensionados; contemplam, entre outros aspectos:
de subestações foram os seguintes: • Proteção contra exposição: minimizar,
durante certo período de tempo, a influência • As consequências de incêndios e explosões
1) ABNT NBR 13231: e danos consequentes de um incêndio de causadas por arcos elétricos internos e
Procedimento geral determinado equipamento sobre outros sua severidade pela energia envolvida e
O foco da revisão foi adequar a equipamentos e instalações; sobrepressões decorrentes;
formatação do conjunto das quatro normas • Controle de propagação de incêndio: • Considerar a possibilidade de que óleo em
para que pudesse ser melhor percebido prover meios para controlar, durante certo chamas e partes sólidas sejam arremessados
como um conjunto e não como documentos tempo, a intensidade do incêndio; a certa distância na explosão;
isolados. Outros objetivos foram os de • Proteção aprimorada: prover proteções • Que transformadores e reatores de
atualizar as informações sobre todas as adicionais ao projeto do equipamento potência devem ser instalados, de
tecnologias disponíveis e colaborar para uma para que este venha a possuir maior preferência, externamente às edificações,
proposta de norma IEC sobre o assunto. segurança contra a explosão, incêndios sobre bacias de contenção e separados
Neste contexto, a ABNT NBR 13231 é ou riscos associados aos arcos elétricos, fisicamente para prevenir que a queima
a “norma-mãe”, onde estão contemplados sobrecorrentes e curtos-circuitos. de um equipamento cause risco de
aspectos de elaboração de projetos de incêndio a outros equipamentos ou
implantação de instalações, assim como de A norma fixa requisitos de projeto, objetos vizinhos.
projeto, instalação, manutenção e ensaios inclusive, alguns relacionados a distâncias
dos sistemas. As normas ABNT NBR de segurança. Entre estes incluem-se os As Tabelas 2 e 3 mostram algumas
8222, ABNT NBR 12232 e ABNT NBR aplicáveis a: distâncias.
8674 detalham os aspectos de três tipos
Tabela 2 – Distâncias mínimas de separação entre transformadores e reatores a edificações
específicos de sistema.
O objetivo da ABNT NBR 13231 é Tipo do líquido Volume Distância horizontal Distância
fixar requisitos mínimos para proteção isolante do de líquido Edificações Edificações Edificações vertical
transmissão, subtransmissão e distribuição para: < 2.000 1,5 4,6 7,6 7,6
> 2.000
ensaios dos seguintes tipos de sistemas Fluido resistente < 38.000 1,5 1,5 7,6 7,6
reatores de potência: Transformador sem > 38.000 4,6 4,6 15,2 15,2
proteção aprimorada
suprimento de gás em alta pressão por ao fogo – não se 0,9 0,9 0,9 1,5
consequentemente, os incêndios. 49
Tabela 3 – Distâncias mínimas de separação entre transformadores e reatores a equipamentos
O aspecto mais relevante desta norma
Tipo do líquido isolante Volume de líquido isolante L Distância
é prever as regras básicas para um ensaio
do transformador m
de arco interno em transformadores.
Óleo mineral < 2.000 1,5
Talvez esta seja a única norma atual, em
Óleo mineral < 2.000 1,5
âmbito mundial, que sinaliza para este
Óleo mineral entre 2.000 e 20.000, inclusive 7,6
tipo de ensaio. Por não haver suficiente
Óleo mineral > 20.000 15,2
experiência mundial sobre este tipo de
Fluido resistente ao fogo –
ensaio, a norma fornece um texto de
Transformador sem proteção < 38.000 1,5
referência, mas ainda não o fixa como um
aprimorada
ensaio de tipo formal.
Fluido resistente ao fogo –
O ensaio “ideal” consiste em simular
Transformador sem proteção > 38.000 7,6
em laboratório de alta potência um certo
aprimorada
número – por exemplo três – de curtos-
Fluido resistente ao fogo –
circuitos e arcos no interior de um tanque
Transformador com proteção não se aplica 0,9
de transformador ou reator, para verificar
aprimorada
como se comporta o sistema de prevenção
2) ABNT NBR 8222: sistemas por sobrepressões decorrentes de arcos instalado no equipamento a proteger.
despressurização, drenagem e elétricos internos em transformadores Deve ser aplicada uma corrente de
agitação do óleo e reatores de potência. Complementa valor e duração compatíveis com as que
Esta norma foi o fato motivador os requisitos gerais de projetos de aconteceriam em uma situação real. A
da revisão das demais. Se aplica a instalações na ABNT NBR 13231 e o Tabela 4 criou um referencial inicial
equipamentos para prevenção contra objetivo deste tipo de sistema é evitar a para as revisões futuras da norma. Se
explosões e incêndios por evitar explosão do transformador ou reator e, um equipamento de prevenção falhar
Apoio
50 no ensaio e estiver sendo utilizado um Tabela 4 – Ordens de grandeza das correntes de curto-circuito máximas típicas para arcos
transformador com grande volume internos em transformadores e reatores de potência
Equipamentos para subestações de T&D
de óleo, será difícil ao laboratório de Faixa de potência Faixa de tensões Ordem de grandeza Ordem de grandeza
ensaios. Por este motivo, devem ser do transformador no enrolamento de das correntes de das durações das
buscadas alternativas de ensaios para que (MVA) maior tensão (kV) curto-circuito correntes de curto-
a verificação de desempenho se dissemine kA eficazes simétricos circuito(s)
na prática. Até 5 MVA 1 a 15 5 1a2
10 a 50 MVA Em estudos Em estudos Em estudos
3) ABNT NBR 8674: sistemas de > 50 MVA Em estudos Em estudos Em estudos
água nebulizada
Uma das referências normativas
desta norma é a NFPA 15:2001 – São previstos ensaios como: ao mínimo, sendo localizadas de
“Standard for water spray fixed systems preferência no teto, ou próximas a ele, e
for fire protection”. Os requisitos gerais • Ensaios hidrostáticos: toda a tubulação, providas de dispositivos de fechamento
informam com mais clareza que as versões inclusive os anéis de distribuição, deve ser automático;
anteriores deste tipo de sistema pode ser ensaiada com água a uma pressão mínima • Se o fechamento das aberturas for
utilizado com os seguintes propósitos, em igual a 1,5 vez a pressão de projeto do impraticável, deve-se prever uma
diferentes graus e situações para: sistema; quantidade adicional de CO2 para
• Ensaios de escoamento: após ensaiado compensar o vazamento;
• Prevenção de incêndio; hidrostaticamente o sistema deve ser • Se o ambiente protegido se comunicar,
• Extinção de incêndio; submetido a ensaios de escoamento por meio de aberturas que não podem ser
• Proteção contra exposição; para verificar o correto posicionamento fechadas, com outros ambientes onde há
• Controle de combustão. dos bicos de nebulização, a geometria risco potencial de incêndio, estes também
da descarga e a eventual existência de devem ser protegidos;
O sistema deve ser operável obstáculos que interfiram com a descarga; • Portas e janelas devem ser, de preferência,
automaticamente e provido de meios para • Ensaios de operação: os componentes de fechamento automático, atuadas antes
operação manual. As distâncias elétricas do sistema devem ser ensaiados do início da descarga do gás. As portas de
entre as partes do sistema e as partes operacionalmente, para garantir a acesso aos ambientes protegidos devem
energizadas não devem ser menores que confiabilidade de operação. Os ensaios possuir os acessórios necessários para sua
as descritas na ABNT NBR 13231. No de operação devem incluir o sistema de abertura manual.
que diz respeito ao suprimento de água, detecção de incêndio, alarme e sinalização.
ela especifica algumas características Falta o ensaio com fogo real para verificar Estas normas ABNT publicadas em
gerais e indicações para as capacidades até que proporção o incêndio pode ser 2005 significaram um avanço em relação
dos reservatórios de suprimento de apagado. às anteriores, principalmente no que diz
água. Estes devem permitir manter uma respeito ao conteúdo da ABNT NBR 8222
descarga de água para o maior risco 4) ABNT NBR 12232: sistemas (sistemas por despressurização, drenagem
isolado nos valores de projeto de vazão de CO2 por inundação total, por e agitação do óleo) e à reorganização para
e pressão, por um tempo mínimo de 30 abafamento que pudessem ser entendidas como um
minutos. Esta norma fixa os requisitos conjunto de normas e não como textos
O suprimento de água deve ser feito específicos mínimos exigíveis para o isolados.
por uma fonte confiável, tais como: projeto, instalação, manutenção e ensaios
e se aplica apenas aos transformadores
• Reservatório de alimentação por e reatores imersos em óleo isolante
gravidade; instalados em ambientes fechados. Entre
• Reservatório provido de estação de os requisitos gerais e condições gerais de
bombeamento, associado ou não a um utilização estão especificações como:
tanque hidropneumático;
• Dois ou mais tanques hidropneumáticos • O ambiente que contém o equipamento
interligados, com capacidade para atender protegido deve ser o mais fechado
ao sistema por, no mínimo, 10 minutos. possível. As aberturas devem restringir-se
Apoio
46
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo VIII
Este fascículo vem apresentando que tem publicação prevista para 2016. Para com transparência os detalhes do
conceitos de engenharia para projeto os painéis de media tensão, este documento equipamento que foi efetivamente testado.
e especificação de equipamentos de deve ter um impacto da mesma natureza, As informações que devem constar em um
subestações de transmissão e distribuição. porém, mais amplo que a IEC 61439 para completo relatório de ensaios para este tipo
O primeiro artigo desta série cobriu painéis de baixa tensão. de finalidade estão no documento http://
aspectos de estudos do sistema elétrico www.cognitor.com.br/TR_071_ENG_
que servem de base para as especificações Introdução ValidationSwitchgear.pdf. Neste relatório
técnicas dos equipamentos. O segundo técnico IEC, as informações do que deve
cobriu conceitos sobre curtos-circuitos, O documento IEC 62271-307começou constar nos relatórios de ensaios são
ampacidades, sobrecargas e contatos a ser preparado em 2011 e está previsto para ressaltadas e ficarão muito mais claras.
elétricos. O terceiro abordou o tema ser publicado em 2016. Seu título é High- As oportunidades na antiga IEC
“técnicas de ensaios de alta potência, voltage Switchgear and Controlgear – Part 60439 (painéis de baixa tensão) eram
laboratórios de ensaios e principais 307: Guidance for the extension of validity of a possibilidade de substituir os ensaios
ensaios”. No quarto capítulo, falou-se type tests of AC metal and solid-insulation de elevação de temperatura e de curto-
sobre os estudos elétricos de sobretensões, enclosed switchgear and controlgear for circuito (apenas a parte sobre forças
coordenação de isolamento e impactos de rated voltages above 1 kV and up to and eletrodinâmicas) por cálculos baseados
campos elétricos e magnéticos. No quinto including 52 kV. Como membro do grupo na comparação do projeto testado com o
capítulo, o tema abordado foi a recente de trabalho e participante das reuniões projeto derivado não testado. Na norma
brochura Cigré 602 sobre simulação internacionais para a preparação desse IEC 61439, que foi uma evolução muito
de arcos, e no seguinte, discutimos as documento normativo, trouxe o tema para positiva da IEC 60439 foi dado um passo à
especificações técnicas de disjuntores, debate neste fascículo. frente com a criação das chamadas “Regras
seccionadores, painéis e para-raios feitas Este relatório IEC tem foco nos painéis de projeto”, que permitem evitar fazer
por concessionárias de energia. de média tensão das normas IEC 62271- muitos ensaios e até mesmo a evitar os
Na edição anterior, o tema tratado 200 e 62271-201 e, da mesma forma que cálculos que eram pedidos na IEC 60439.
estava relacionado às distâncias de a IEC 61439 e a antiga IEC 60439 (painéis Na Tabela 1 a seguir, estão mostrados os
segurança de subestações e dos sistemas de de baixa tensão), trará uma série de boas fundamentos das regras de projeto. Há
proteção contra incêndios em subestações. oportunidades para evitar a desnecessária muito mais detalhes sobre este tema no
A seguir, este oitavo artigo da série repetição de ensaios onerosos. livro “Painéis, Barramentos e Secionadores
discorrerá sobre alguns conceitos novos Estas oportunidades só poderão ser e Equipamentos de Subestações” (download
que serão utilizados no Relatório Técnico aproveitadas pelos fabricantes que têm em livre em: http://www.cognitor.com.br/
IEC 62271-307 (painéis de media tensão), mãos relatórios de ensaios que descrevam Book_SE_SW_2013_POR.pdf).
Apoio
Tabela 1 – As regras de projeto da IEC 61430 de testes das normas IEC 62271-200 e 47
Oportunidades na futura IEC 61439 (e a antiga IEC 60439 TTA/PTTA) -- A utilização, os parametros e a aplicação
62271-307 para evitar ensaios para os de baixa tensão. Permitirá que, dos critérios de extensão e o uso de cálculos;
(painéis de média tensão) atendidas determinadas regras, um relatório -- As informações necessárias para a extensão
de ensaios realizados em um certo tipo de da validade do teste, o que deve constar nos
Nos parágrafos a seguir, serão painel seja utilizado como base para um relatórios de ensaios;
apresentados os principais conceitos e estudo que permitiria substituir ensaios em -- Aspectos específicos para extensão da
novidades deste Relatório Técnico IEC. um painel testado, da mesma família. validade para testes dielétricos, ensaios de
Este documento IEC terá um impacto no O documento inicia mencionando que elevação de temperatura, ensaios mecânicos,
mercado de painéis de média tensão da visa a extensão da validade de relatórios de testes de correntes suportaveis de curta
mesma natureza do que tem a norma IEC ensaios para evitar a desnecessária repetição duração e de crista, ensaios de interrupção e
Apoio
48 de arco interno; realizar ensaios de tipo com todos os no que diz respeito a um tipo de teste, não
-- A extensão da validade de um relatório possíveis conjuntos de manobra. Portanto, o pode ser avaliado por um único valor e um
Equipamentos para subestações de T&D
de ensaio para outras unidades funcionais desempenho de um conjunto particular pode parâmetro de projeto. Por exemplo, a distância
(situação a); ser avaliado em função dos relatórios de testes entre os condutores de cada fase pode variar
-- Validação de uma família pela seleção de de tipo feitos em outras montagens da mesma consideravelmente ao longo do caminho
objetos de teste (situação b); família de conjuntos. No texto do documento da corrente. Dependendo do equipamento
-- Validação de um conjunto de relatórios de são mostrados para cada tipo de tipo de teste e do teste, o uso de um modelo de cálculo
ensaios existentes (situação c); (ou característica) uma lista não exaustiva simples como uma fórmula analítica ou
-- Validação de uma modificação do projeto de parâmetros de projeto, que devem ser empírica pode ser suficiente, mas, por vezes,
(situação d); analisados para a extensão da validade. A para um modelo completo de simulação
-- Justificativa para os critérios de extensão; análise deve se basear em sólidos princípios tridimensional pode ser necessário utilizar
-- Exemplos para a extensão da validade dos técnicos, físicos e cálculos, se for o caso. uma ferramenta numérica complexa. A
ensaios de tipo, tais como: Cada parâmetro de concepção do ferramenta de simulação deve ser consistente
conjunto a ser avaliado, listados nas Tabelas e a simulação reproduzível. A validação de
• Modificação do projeto de um terminal de 2 a 6, deve ser comparado com o parâmetro ferramentas de software e métodos de cálculo
cabo em um conjunto de manobra isolado a de projeto do tipo já testado, aplicando-se os está fora do escopo do documento IEC.
ar (AIS); critérios de admissão previstos nas mesmas.
• Modificação do projeto de uma unidade A afirmação de cada critério de extensão Uso de cálculos para elevação
funcional por adição de transformadores de permite que um teste realizado em uma de temperatura
corrente; montagem com características específicas
• Modificação do projeto de uma chave- seja estendido para outra montagem O documento IEC TR 60890 fornece
fechadura na porta de uma unidade de uma mesma família com diferentes procedimentos de cálculo para os conjuntos
funcional AIS; características. Se qualquer um dos critérios de baixa tensão, que também poderiam
• Extensão dos relatórios de uma “ring main de extensão não puder ser confirmado, é ser aplicados aos conjuntos de manobra de
unit GIS” para unidades funcionais com necessário utilizar outros argumentos como alta tensão, tendo em conta as limitações
largura maior; cálculos, explicações e simulações ou mesmo específicas deste método de cálculo. O
• Extensão de uma família de conjuntos ensaios adicionais. Os cálculos e simulações cálculo é feito em dependência da potência
isolados a gás (GIS) para uma unidade são aplicados em um sentido comparativo. total gerada no interior, da área das paredes
funcional. Cálculos e simulações só podem dos compartimentos e das suas condições
ser aplicados em sentido comparativo de montagem, o número de divisórias
A seção “Uso dos Critérios de Extensão” e a comparação é sempre com base nos horizontais e a área das aberturas de
menciona que, devido à grande variedade parâmetros de projeto e os critérios de ventilação. A temperatura do ar no interior
de tipos de unidades funcionais e possíveis aceitação das Tabelas 2 a 7. Em muitos casos, do compartimento testado é o parâmetro
combinações de componentes, não é prático o desempenho de determinado conjunto, para comparar. Para geometrias complexas,
50 a comparação pode ser realizada por estesprogramas. Portanto, no estado atual and calculation methods;
métodos CFD ou por metodos de mais facil do software de simulação disponíveis, não -- IEC TR 60865-2, Short-circuit currents –
Equipamentos para subestações de T&D
utilização, como os do SwitchgearDesign307, é recomendado o uso de simulações para Calculation of effects – Part 2: Examples of
detalhados em: http://www.cognitor.com.br/ a extensão da validade dos ensaios de tipo calculation.
TR_071_ENG_ValidationSwitchgear.pdf. mecânicos.
Uso de cálculos da
Uso de cálculos para campos Uso de cálculos de esforços sobrepressão causada pelo arco
elétricos térmicos e eletrodinâmicos interno
durante curto-circuito
O desempenho dielétrico de dois conjuntos A comparação do desempenho de dois
de manobra pode ser avaliado por simulação Os cálculos incluem a determinação conjuntos em suportar o aumento da pressão
do campo elétrico de ambos e comparando as de forças eletromagnéticas mútuas entre para os compartimentos sob investigação
intensidades de campo. Podem ser utilizadas condutores e estresse mecânico resultante é um análise a ser feita. Os cálculos são
ferramentas de software de elementos finitos que é capaz de empenar barras e causar capazes de mostar o aumento de pressão nos
ou volumes finitos que permitem simular danos em isoladores. O estresse mecânico compartimentos, tendo em consideração
geometrias tridimensionais mesmo complexas. sobre barramentos e forças sobre os suportes a abertura dos dispositivos de alívio de
podem ser avaliados pelos programas de pressão. Uma avaliação da força nas paredes
Uso de cálculos de esforços cálculo como o SwitchgearDesign307. Os do painel pode ser feito para geometrias
mecânicos métodos de cálculo utilizados são baseados simples, utilizando uma fórmula de cálculo,
nos seguintes documentos IEC: caso contrário, usa-se a análise de elementos
Existe softwares de simulação para finitos para estresse mecânico.
mecanismos de operação de equipamentos -- IEC 61117, Method for assessing the O fluxo de gases quentes expelido, a
de manobra que podem dar informações short-circuit withstand strength of partially partir do compartimento, pode ser simulado
sobre o estresse mecânico sobrepartes do type-tested assemblies (PTTA); por programas de CFD, no entanto, no
mecanismo. No entanto, não é possível -- IEC 60865-1, Short-circuit currents – momento da publicação do presente
avaliar a resistência mecânica por Calculation of effects – Part 1: Definitions Relatório Técnico, não é possível simular
a ignição de indicadores, que é um critério
Tabela 3 – Critérios de extensão para o desempenho quanto à suportabilidade dielétrica
importante para a aceitação no ensaio de
Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição arco interno. Por conseguinte, tais programas
aceitação
1 Distância de isolamento entre fases ≥ têm aplicações limitadas para a extensão da
2 Distância isolamento a terra (clearance) ≥ validade dos ensaios.
3 Distância de escoamento ≥
4 Propriedades dielétricas do isolante ≥ Análise comparativa de 2 materiais pode
ser necessária (CTI)
Informação necessária para a
5 Rugosidade superficial de partes vivas ≤ extensão da validade de ensaios
6 Raio de partes condutivas ≥ Não só o raio de partes vivas, mas também de tipo
de todas as partes condutoras
7 Distância de contatos abertos ≥ Se influenciado pela montagem
8 Distância de isolamento ≥ Se influenciado pela montagem Devem ser colhidas informações do
9 Mínima pressão para isolamento ≥ Mesmo fluido se isolado a gás conjunto de manobra semelhantes às que são
Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição
aceitação
1 Sistemas de obturadores A força da ligação mecânica quando bloqueado, incluindo obturador ≥ Princípio de projeto igual, mas dimensões podem
Massa do obturador ≤ ser diferentes
2 Contatos da parte removível Número de pontos de contato ≤ Os projetos dos contatos, incluindo a base e
Força de contato por contato ≤ material de revestimento, e suportes de móveis e
Aspereza da superfície contato ≤ contatos fixos são os mesmos.
3 Sistema de intertravamento Força da ligação mecânica quando bloqueado ≥ Princípio de projeto do sistema de intertravamento
operado diretamente Torque aplicado na operação ≤ igual, mas dimensões podem ser diferentes.
4 Sistema de intertravamento Princípio de projeto do sistema de
Força da ligação mecânica quando bloqueado ≥
impedindo o acesso aos intertravamento igual, mas dimensões
≤
dispositivos operacionais Força normal de operação podem ser diferentes.
Apoio
necessárias nos ensaios de tipo de acordo com mostradas nas Tabelas 2 a 7 para cada ensaio do conjunto de manobra testado devem ser 51
a IEC 62271-1. Além disso, as informações específico e unidade funcional sob avaliação. fornecidos na medida em que digam respeito
dos parametros relevantes são aquelas Os relatórios de ensaio de tipo aplicáveis à comparação dos dois conjuntos.
Por este motivo recomenda-se que o
Tabela 5 – Critérios de extensão para o desempenho quanto a esforços
térmicos e eletrodinâmicos de curto-circuito fabricante forneça ao laboratório de ensaios e
solicite que sejam incluídos nos relatórios de
Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição ensaios (mesmo que a norma do produto não
aceitação
1 Distância fase-fase ≥ o solicite) as informações relevantes sobre
2 Forças eletrodinâmicas ≤ Condutores têm o mesmo arranjo os parâmetros de projeto que estão listados
3 Suportabilidade mecânica dos suportes isolantes ≥
nas Tabelas 2 a 7. Desenhos relevantes e
4 Comprimento não suportado de condutores ≤
5 Seção reta dos condutores ≥ Conexões dos condutores escaladas têm a mesma detalhados fazem parte destas informações.
ou uma maior força de aperto e a área de contato. Devem ser estabelecidos documentos
6 Material dos condutores O mesmo
de rastreabilidade das análises efetuadas.
Classe de temperatura dos isolantes ≥
7 Suportabilidade mecânica do invólucro, ≥
Tais documentos devem ser parte do
8 partições e buchas O mesmo Considere o projeto completo relatório para estender a validade dos
9 Contatos da parte removível ensaios de tipo realizados.
Critério de
Item Parâmetro de projeto Condição
aceitação
1 Distância de isolamento entre fases ≥
2 Distância isolamento a terra (clearance) ≥
3 Volume do invólucro ou compartimento ≥ Só para ser validado se o fluido (gás
ou líquido) é envolvido no processo de
interrupção ou estabelecimento.
4 Pressão do gás isolante ≥
5 Seção reta dos condutores ≥
6 Forças eletrodinâmicas dos condutores ≤ Só para ser validado se tem impacto no
processo de interrupção ou estabelecimento.
7 Suportabilidade mecânica dos suportes isolantes ≥
8 Suportabilidade mecânica do invólucro, ≥
partições e buchas
9 Comprimento não suportado de condutores ≤
Apoio
50
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo IX
• Melhorar os contatos elétricos para diminuir suas equipes e esta é uma barreira. O nível de limites especificados nas normas técnicas, 51
a geração indesejável de calor e aumentar a vida conhecimentos de engenharia caiu a níveis o equipamento envelhece prematuramente.
útil; muito menores do que havia nas décadas Por exemplo, o limite de elevação de
• Fazer o direcionamento do fluxo de ar para de 1980 e 1990. Os tempos das obras fáceis temperatura permitido para uma conexão com
pontos mais quentes, reduzindo elevações de está acabando e apenas as empresas que revestimento prateado em um barramento de
temperatura; conseguirem ter alguma capacidade de fazer cobre é de 75 K. Para uma conexão de cobre nu,
• Modificar materiais de algumas partes para uma boa engenharia conseguirão sobreviver sem revestimento, este limite é de 50 K.
reduzir efeitos de aquecimentos por induções no mercado. Em qualquer um dos dois casos, se
magnéticas; Os aspectos de projeto que se devem utilizarmos no barramento uma sobrecarga
• Modificar parâmetros de projeto para considerar na reforma de um equipamento permanente tal que a elevação de temperatura
reduzir campos magnéticos, elétricos e existente são os de elevações de temperatura, seja apenas 6,5 graus acima destes limites,
forças eletrodinâmicas de curto-circuito e de esforços eletrodinâmicos, de arcos internos haverá uma perda de vida útil da ordem de 2/3.
poder aumentar os níveis de curto-circuito e distâncias dielétricas. Todos eles têm a ver Se extrapolarmos este conceito para a vida útil,
suportáveis; com as geometrias e materiais utilizados. Para isto significa adquirir dois a três equipamentos,
• Modificar parâmetros de projeto para entender melhor, vale a pena reler o capítulo ao invés de um, naquele período. Para entender
melhorar ou aumentar a capacidade de oitavo desta série, que tratou dos novos os detalhes, leia as páginas 101 a 116 do livro
suportar arcos internos. conceitos do Relatório Técnico IEC 62271-307, que pode ser baixado livremente em http://
que tem publicação prevista para 2016. www.cognitor.com.br/Book_SE_SW_2013_
Estas técnicas quase não exigem No que diz respeito às elevações de POR.pdf.
investimentos, mas é necessário ter criatividade temperatura, como explicado nos capítulos Cabe explicar os quatro modelos
e bons conhecimentos de cálculos de segundo e terceiro desta série, o parâmetro mostrados nas Figuras 1 a 4. O primeiro
engenharia. No setor elétrico, as fabricantes e de referência são os limites de elevação modelo (Figura 1) corresponde a um painel de
as concessionárias brasileiras pararam, desde o de partes condutoras e isolantes que não baixa tensão muito usado no Brasil e composto
início dos anos 2000, de treinar adequadamente podem ser ultrapassados. Passando-se dos de barramento e um disjuntor de entrada. Os
Apoio
54 Trata-se de um painel com barras de cobre Tabela 1 – Ganho pelo simples acréscimo de uma área de ventilação
2x127x10 sem aberturas de ventilação e livre com e sem ventilação forçada
Equipamentos para subestações de T&D
muito cuidado nos aspectos de interrupção. Tipo de construção, Painel original com Painel modificado com
Um disjuntor aprovado em um certo tipo de correntes e ganhos disjuntor de 54 µΩ de disjuntor de 40 µΩ de
painel pode ter desempenho ruim em um resistência por fase resistência por fase
outro tipo de painel porque as geometrias e Corrente utilizada 1.250 A 1.400 A
distâncias são diferentes. Ganho (+ 12 %)
A Figura 2 mostra um painel de média Elevação de temperatura
tensão sem aberturas de ventilação. Na na conexão 72 K 73 K
Tabela 3, estão mostradas as correntes que
poderiam ser aplicadas para obter uma dissipadores de calor locais nas conexões materiais que são usados nas chapas do
mesma elevação de temperatura, caso o aos disjuntores, chaves ou fusíveis, invólucro e nos espaçadores metálicos
disjuntor tivesse originalmente 54 µΩ de podem trazer ganhos consideráveis de dos barramentos. Se são usados materiais
resistência por fase, vista dos terminais, desempenho. Devido ao espaço necessário magnéticos como o aço-carbono ao invés
e fosse trocado por outro com 40 µΩ de para explicações não serão detalhados de não magnéticos, como o alumínio e
resistência por fase. aqui. certos tipos de aços inoxidáveis, os efeitos
de aquecimento por indução podem ser
Direcionamento de fluxo de Modificação de materiais para muito acentuados.
ar para pontos mais quentes, reduzir efeitos de indução No exemplo da Figura 3, está um
reduzindo elevações de magnética barramento de geradores, trifásico e
temperatura isolado a ar. Em geral, estes barramentos
Em painéis e barramentos com conduzem correntes elevadas. A título
Direcionar o fluxo de ar para certas correntes superiores a algo da ordem de mostrar os efeitos de forma didático
conexões, assim como a colocação de de 3.000 A, deve-se ter atenção aos apresentamos na Tabela 4 os valores de
Apoio
56 Tabela 4 – Usos de materiais magnéticos ou não magnéticos em invólucros e espaçadores elevações de temperaturas que seria obtido
(Figura 7) se o invólucro fosse feito de alumínio
Equipamentos para subestações de T&D
Tipo de construção, Painel com invólucro Painel com invólucro ou se fosse feito de aço carbono. No
correntes e ganhos em aço carbono e em alumínio e caso do invólucro de aço-carbono, os
corrente trifásica corrente trifásica efeitos da indução magnética são muito
Corrente trifásica utilizada 1.000 A 1.000 A maiores e isto aquece o invólucro e, por
Elevação de temperatura na conexão 72 K 38 K consequência, o ar interno. É por este
Elevação de temperatura no ar interno 31K 16 K mesmo motivo que espaçadores compostos
Dissipação de potência no invólucro 306 W 9,5 W de materiais isolantes e metálicos usados
por indução magnética em barramentos de painéis de baixa tensão
devem ser motivo de atenção especial.
Como estão muito próximos das barras,
são submetidos a campos magnéticos
muito elevados. Se não for utilizado
material não magnético, acima de certa
corrente, surgirão correntes parasitas que
provocaram grande aquecimento do ar
interno ao painel.
Modificação de parâmetros
de projeto para reduzir
campos magnéticos e forças
eletrodinâmicas de curto-
circuito e aumentar os níveis
de curto suportáveis
Melhoria ou aumento da
capacidade de suportar arcos
internos
Figura 8 – Subestação 145 kV – Campo magnético, campo elétrico e temperaturas (SE, sala de
oportunidades tecnológicas.
controle, reatores, transformadores).
Ferramentas para a simulação dos efeitos de interessante poder oferecer soluções para a
arco interno na transmissão e distribuição”. reforma de equipamentos de subestações.
Este documento foi publicado pelo Cigré Isto interessa a quem quer adiar novos
internacional em dezembro de 2014. O investimentos. Este é um mercado atrativo,
autor deste fascículo foi um dos coautores da em especial, para os pequenos fabricantes
brochura que mostra os aspectos relevantes que têm muito mais dificuldade em se
a considerar nas modificações de projetos de manter no mercado.
equipamentos existentes ou novos. Em geral, É melhor projetar equipamentos já
estas modificações são de implementação utilizando as vantagens oriundas destas
relativamente simples e rápidas de fazer. técnicas. Hoje existem facilidades de
cálculos e simulações importantes que
Comentários finais são pouco conhecidas por fabricantes
de equipamentos que não investem no
Nestes tempos de vacas magras é treinamento de suas equipes. No Brasil de
Apoio
46
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo X
Nesta série de artigos são apresentados O que significa “nova tecnologia” semelhantes. Meu foco naquele caso era
conceitos de engenharia para projeto para um país em desenvolvimento? sobre equipamentos para classes de tensão
e especificação de equipamentos de não superiores a 145 kV, mas a maior parte
subestações de transmissão e distribuição. Há alguns anos, um cliente, fabricante dos conceitos pode ser estendida para
O primeiro capítulo cobriu aspectos dos da indústria elétrica de um país, fora outros sistemas.
estudos do sistema elétrico que servem de da América do Sul, contratou-me para Vivo no Brasil e testemunhei um
base para as especificações técnicas dos criar uma lista priorizada de produtos processo de crescimento no setor elétrico
equipamentos. O segundo cobriu conceitos potencialmente interessantes usando as que aconteceu a partir de 1976. Foi
sobre curtos-circuitos, ampacidades e chamadas "novas tecnologias". Pediu-me induzido, nos primeiros dez anos, por
contatos elétricos. O terceiro artigo abordou que ajudasse a montar um planejamento estratégias de longo prazo, que incluíram
as técnicas de ensaios de alta potência, estratégico para investir recursos humanos a construção de laboratórios de ensaios e
laboratórios de ensaios e principais ensaios. e financeiros, de modo a incluir novos centros de pesquisa, formação de recursos
No quarto, cobriu-se o tema estudos produtos no mercado. Também queria humanos de alto nível, a consolidação
elétricos de sobretensões, coordenação de preparar um pequeno grupo bem treinado de um sistema de normalização e de
isolamento e impactos de campos elétricos de especialistas para o desenvolvimento certificação dos produtos. Nos primeiros
e magnéticos. No quinto capítulo da série, de novas soluções. Seu país não tem 25 anos deste período, pudemos ver como
o tema abordado foi a recente brochura laboratórios de testes de produtos um bom planejamento e ações podem fazer
Cigré 602 sobre simulação de arcos. O sexto para subestações e está considerando a indústria elétrica crescer. Infelizmente,
falou sobre as especificações técnicas de implementar um. nestes últimos 15 anos testemunhamos
disjuntores, secionadores, painéis e para- Foi uma boa oportunidade, já que na como ações desastradas fazem o efeito
raios feitas por concessionárias de energia. minha carreira como pesquisador, consultor contrário.
O sétimo descreveu sistemas de proteção e profissional de laboratorios de testes lidei Para facilitar as explicações abaixo,
contra incêndios em subestações. O oitavo muitas vezes com a avaliação de projetos considerei dois grupos de países com mais
foi sobre elevação de temperatura com foco inovadores. Fiquei muito feliz também acesso ou menos acesso a conhecimentos
nas normas IEC 61439 (baixa tensão) e IEC porque hoje é raro encontrar empresas tecnológicos (poderia também ser o
62271-200 mais a futura IEC 62271-307 para que façam planejamento de médio e longo nível médio de educação). Eu os chamei
média tensão. O nono capítulo tratou de prazos. A maioria das empresas pensa "desenvolvidos" e "em desenvolvimento".
equipamentos para usos em locais especiais apenas no curto período de dois anos. Em minha visão, o Brasil se encaixa no
(atmosferas explosivas, alta salinidade, Neste artigo, descrevo alguns pontos grupo dos “em desenvolvimento”, devido ao
poluição). Este décimo tratará das novas desta experiência, que podem ser úteis seu baixo nível médio de educação e alguns
tecnologias para sistemas de até 145 kV. em outras empresas e países em situações outros aspectos que não cabe entrar no
Apoio
mérito aqui. internacionais dos grupos de trabalho comprados por um grande fabricante 47
Em relação ao estado de da IEC e do Cigré. Grandes fabricantes internacional. A maioria dos pequenos e
desenvolvimento dos "projetos de novas desenvolvem seus produtos fazendo testes médios não faz investimentos na criação
tecnologias", criei uma classificação em três em seus próprios laboratórios de ensaios ou de novos produtos porque não tem pessoas
grupos nomeados (a) projeto de bancada outros próximos de seus países. Nos países com capacitação específica para tal.
("benchmarking"), (b) projeto de protótipo desenvolvidos, há vários laboratórios para Trabalham duro em produtos tradicionais
e (c) projeto comercial . Foi considerado escolher, ao contrário do que acontece nos e adaptando alguns projetos mais recentes
que o tempo para o produto chegar ao países em desenvolvimento. Depois de ter que veem como promissor.
mercado comercial é de, respectivamente, um produto aprovado nos ensaios de tipo No Brasil, a vida é difícil para estes
cerca de quatro anos, dois anos e menos conforme a norma IEC, eles o fabricam, fabricantes. Os impostos são absurdamente
de um ano. Para o porte dos fabricantes, principalmente, em suas fábricas nos países elevados, embora a qualidade dos serviços
dividi no grupo de fabricantes de grande em desenvolvimento. Nestes últimos países, públicos prestados pelos governos seja
porte (internacionais) e outro grupo de os grandes fabricantes não têm grupos muito baixa. As regras e a burocracia
fabricantes de médio e pequeno portes. de tecnologia para o desenvolvimento de tornam a vida difícil para qualquer um
Meu entendimento sobre as tecnologias inovações ou para melhorar os produtos que queira fazer a coisa certa. O Brasil de
para a indústria elétrica é que, nos últimos existentes. hoje é exemplo mais claro, no mundo, de
20 anos, os fabricantes internacionais Os pequenos e médios fabricantes como um país muito rico, não consegue
permaneceram estagnados em seus trabalham para se manter em um manter-se em ascensão por causa do baixo
objetivos tecnológicos. Seus grupos de mercado cada vez mais competitivo. nível médio de educação da população. O
especialistas em desenvolvimento Alguns deles fazem investimentos para baixo nível de educação é o terreno mais
tecnológico são agora pequenos e adquirir conhecimento tecnológico, fértil para o crescimento da corrupção, da
localizados apenas nos países desenvolvidos formando pequenos grupos de engenharia ineficiencia e das decisões políticas de baixo
de origem. Muitas vezes encontro e desenvolvimento. Estes, quase sempre, nível.
alguns destes especialistas nas reuniões alcançam o sucesso e, depois disso, serão Voltando ao foco de nosso tema, a fim
Apoio
48 de atender às necessidades do meu cliente de testes perto, a indústria não consegue fábrica em um país em desenvolvimento,
em “novas tecnologias”, comecei a tentar avançar, pois precisa, pelo menos, testar que o atual é mais do que suficiente e bom.
Equipamentos para subestações de T&D
identificar algo que eu pudesse chamar o equipamento principal da família de No Brasil, somente em 2015, estamos perto
de nova tecnologia. Para mim, uma nova cubículos. de ter a IEC 61439 em uma versão escrita
tecnologia é algo que ainda não usamos Sem um laboratório de testes no em português. Esta norma foi publicada
em larga escala, mas percebemos que vai país, há custos elevados de transporte do na IEC em 2011. São quase cinco anos de
nos ajudar a melhorar a forma atual de equipamento a ser testado. Este transporte atraso. Se as normas IEC fossem publicadas
fazer as coisas. Entendo que o aspecto mais e despesas podem chegar a mais 50% do também em outros idiomas, a diferença de
importante de uma nova tecnologia é que valor que seria gasto se o teste fosse em cinco anos seria reduzida.
deve ser de fácil acesso para utilização na laboratório local. Se o equipamento falhar As lacunas sociais e tecnológicas estão
maioria dos países do mercado global. no ensaio, haverá os custos da repetição. aumentando o já grande fosso entre os
Para um país desenvolvido, um Hoje, a simulação de ensaios reduziu países desenvolvidos e em desenvolvimento
transformador de potência ou um esta barreira, mas ter um laboratório e isso não vai ter um final feliz. Os sinais são
dispositivo limitador de corrente baseado perto permanece absolutamente muito claros como o aumento da violência
em supercondutores é uma nova tecnologia. necessário. Sem o laboratorio próximo às global, o terrorismo e agora a grande
É algo já demonstrado, mas ainda caro para empresas simplesmente não se iniciam o imigração para países desenvolvidos.
produzir porque não há escala aceitável desenvolvimento dos novos produtos. O objetivo deste artigo é mostrar
de demanda. O que faz a nova tecnologia Os conceitos das normas IEC 61439 para a indústria elétrica de países em
avançar é a percepção positiva dos grandes e IEC 62271-307 criam a possibilidade desenvolvimento, como o Brasil, outros
usuários de que a tecnologia está cada vez de substituir ensaios em uma variante na America do Sul, Ásia etc., a visão do
mais perto de uso regular. não testada de uma mesma "família" de autor sobre as oportunidades com "novas
Um fator a considerar é que a equipamentos cujo item principal da tecnologias e procedimentos." A seguir, são
concorrência entre os fabricantes em países família foi testado. As simulações, cálculos e listados alguns exemplos. Na Seção 3, são
desenvolvidos é maior. É por isso que nas regras de projeto podem substituir e enviar mostrados alguns parâmetros que podem
duas últimas décadas eles estão deixando o a repetição desnecessária de muitos testes. ser usados para analisar e priorizar projetos
conforto de suas regiões para tentar vender Nos países em desenvolvimento, isso é para investimento. Na seção 4, listamos
produtos em mercados emergentes como a especialmente útil porque a disponibilidade algumas abordagens sobre a forma de
Ásia e, em menor escala, a América do Sul. de laboratórios de ensaios é pequena (ver induzir novas tecnologias e procedimentos
Grandes fabricantes internacionais sabem artigos em http://www.cognitor.com.br/ no setor elétrico.
que as novas tecnologias, após serem aceitas download.htm).
pelo mercado desenvolvido, irão substituir Normas IEC têm um impacto Exemplos de novas tecnologias e
a anterior naqueles países. A tecnologia, importante na distância entre países em procedimentos
entretanto, continuará sendo fabricada desenvolvimento e desenvolvidos. Isto Ao iniciar o trabalho para o meu
e usada nos países em desenvolvimento é descrito no artigo "Como podem as cliente, fiz uma visita à sua fábrica e ainda
durante muitos anos. normas IEC ajudar a reduzir a distância não sabia como iria identificar as tais “novas
Um exemplo no Brasil são os cubículos entre países desenvolvidos e outros países" tecnologias”. Andei com sua equipe pela
isolados a SF6 em vez de ar (AIS). Aqui que pode ser baixado em http://www. fábrica, que era um ambiente muito limpo
ainda são raramente usados, embora eles cognitor.com.br/ProposalToIEC.pdf. com pessoas motivadas e concentradas
não sejam difíceis de desenvolver. Atualmente, apenas especialistas de países nas tarefas. Meses mais tarde, quando
Para o desenvolvimento de produtos é desenvolvidos, com raras exceções, fazem apliquei um treinamento para sua equipe,
essencial a disponibilidade de laboratórios as normas IEC. As regras são democráticas em técnicas de projeto de equipamentos
de ensaio próximos para testar o protótipo e permitem a participação de todos, mas os para subestações, fiquei impressionado com
e uma clara compreensão das normas países em desenvolvimento praticamente a sua facilidade em assimilar conceitos.
técnicas usadas nos testes. Hoje, existem não participam nos grupos de trabalho Tinham formação técnica muito boa.
normas IEC com aberturas para reduzir IEC e pouco sabem sobre seu modo de Em um ponto da visita, vi um duto de
o número de testes a serem feitos em um funcionamento. barras sendo montado e recordei um caso
determinado produto. Exemplos destas Por isso, é comum que o mesmo similar, anos atrás, em outro país. Era um
normas são a série IEC 61439 (baixa tensão) fabricante internacional que está vendendo duto de corrente nominal 4.000 A, feito de
e a futura IEC 62271-307 (cubículos de alta um produto no mercado europeu, dizendo barras de cobre montadas horizontalmente.
tensão). No entanto, sem um laboratório que a vida será melhor com ele, diz em sua Tinha isoladores epóxi como no lado
Apoio
50 esquerdo da Figura 1. Perguntei sobre o passaria a ser o conhecimento tecnológico o mundo. Mesmo que nosso pequeno ou
nível de corrente de curto-circuito e me da empresa. médio fosse bem-sucedido em todas as
Equipamentos para subestações de T&D
informaram que era de 40 kA com duração Aquele cliente, pouco tempo depois, etapas técnicas e chegasse ao mercado,
de 1 segundo. reavaliando seus produtos, identificou uma a maioria dos usuários preferiria os
O engenheiro de aplicação, no série de otimizações possíveis incluindo tradicionais. Além disso, seria muito difícil
grupo, me disse que tiveram dificuldades o uso de diferentes perfis e materiais competir comercialmente com os grandes
para passar no ensaio de elevação de em painéis, cubículos e barramentos de fabricantes. Os chineses são bons em fazer
temperatura do protótipo, apesar de ter altas e baixas tensões (ver Figura 2). No este tipo de desenvolvimento, mas têm um
passado facilmente no ensaio de correntes artigo "Otimização do projeto de painéis: mercado interno enorme e capacidade de
suportáveis de curta duração e de crista comparação entre o alumínio e o cobre planejamento para direcionar os grandes
(forças eletrodinâmicas). Era visível que e um novo conceito", há informação comparadores para seus produtos nacionais.
a distância entre os isoladores era muito relacionada. O artigo pode ser baixado Nos países em desenvolvimento, existem
menor do que o realmente necessário. livremente em http://www.cognitor.com. muitas possibilidades para produtos nas
Portanto, eles estavam gastando mais com br/DesignOptimization.pdf . classes de tensão menores ou iguais a 145
isoladores do que o necessário. Havia no Para um fabricante médio ou pequeno, kV, que podem ser úteis nos mercados locais,
grupo um jovem engenheiro responsável não se pode imaginar como promissor como mostrado na Tabela 1.
pelo projeto e lhe perguntei por que as barras no Brasil desenvolver um disjuntor Há também oportunidades associadas
eram horizontais. A posição horizontal 245 kV ou 500 kV ou algo do tipo. Os com a substituição dos anti-estéticos e
é boa quando se tem que suportar forças principais fabricantes internacionais já perigosos, por proximidade, sistemas de
eletrodinâmicas altas causadas por altas os desenvolveram e os vendem em todo distribuição aérea (Figura 3). Nas cidades
correntes de curto-circuito. No entanto,
esta posição é ruim para a dissipação de
calor sob altas correntes nominais como
4.000 A. O jovem projetista me disse que
usaram porque estavam seguindo o mesmo
antigo projeto de duto 4.000 A - 65 kA.
Comentei que era possível usar barras de
secção transversal menor se estas fossem
na posição vertical. Isso permitiria que o
projeto usasse menos isoladores e cobre.
Possivelmente haveria uma redução de 30%
no custo dos materiais.
Neste momento, tornou-se claro para
mim que a mais fácil "nova tecnologia" é Figura 1 – A “nova tecnologia” mais simples é a otimização de produtos existentes baseada em
simulações e cálculos precisos.
projetar um produto existente de forma mais
otimizada, com base em sólidos cálculos de
engenharia e conhecendo melhor o que está
escrito nas normas técnicas. Dá resultados
muito melhores do que copiar projetos de
outros sem saber o porquê. Um projetista
treinado pode usar sua experiência mais
ferramentas de software para melhorar o
projeto por meio de simulações, antes de
ir para o laboratório fazer o ensaio final.
No Brasil, há muitos anos, vejo fabricantes
me contratarem para fazer os cálculos para
eles ao invés de me contratarem para que
eu os ensine a fazer os cálculos sozinhos,
e não mais precisar de mim depois. É um
Figura 2 – Uso de diferentes perfis de barras e materiais em painéis, barramentos e quadros
obvio erro de estratégia terceirizar, o que de distribuição.
Apoio
Como analisar e priorizar empresa para chegar ao produto final; um estudo em profundidade desses
projetos de novas tecnologias • Fazer um estudo de viabilidade pontos é feito quando já existe uma
Para analisar e priorizar um conjunto económica e financeira por meio de garantia razoável de que a maioria das
de projetos de novas tecnologias indicadores. oportunidades e barreiras é clara e
aborda-se questões sobre: • Como avaliar a viabilidade comercial pode ser superada. Pequenas e medias
• O conhecimento e a capacitação em (incluindo comercialização e esquemas empresas na maioria das vezes substituem
engenharia disponíveis na empresa; de comércio); este estudo por decisões intuitivas ou
• A infraestrutura disponível, incluindo • Como considerar os impactos positivos baseadas em estudo simplificado. Em
recursos materiais e humanos; de natureza não financeira; qualquer caso, é comum que, durante
• Fazer uma análise de mercado sobre • Se um protótipo for bem-sucedido, os a análise, usar pesos diferentes para
oportunidades, barreiras, concorrentes e concorrentes podem bloquear a entrada diferentes aspectos da Tabela 2.
o próprio mercado; no mercado? Para cada um destes aspectos, a
• Como verificar a competência da Em uma grande organização, classificação é feita com base na soma dos
Apoio
55
pesos x pontos. Como é difícil comparar é permanecerem governos pequenos, não em dia, é raro ter pelo menos um com
um projeto de bancada com outro em atrapalhar o avanço da indústria elétrica fundamentos como os de http://www.
estágio mais avançado, a análise é feita com políticas confusas, proporcionar cognitor.com.br/Training2015ES.pdf.
separadamente em grada grupo. Para fazer um bom nível médio de educação no – Ter um "plano de metas em novas
uma análise de viabilidade detalhada, país e atuar com seriedade dando bons tecnologias" com as prioridades
podem ser usadas ferramentas como exemplos. Exemplos de ações a tomar por definidas.
o software livre Decidix para avaliar a associações da indústria e diretamente – Ter a cada ano, em curso, pelo menos,
viabilidade de projetos de energia. Este por cada fabricante são: três projetos de "novas tecnologias"
software e instruções completas podem (um projeto de bancada + um projeto
ser baixados em http://www.cognitor.com. • Para associações industriais de protótipo + um projeto comercial).
br/c_ViabilidadeEnergiaEletrica.htm Esta é a maneira de se criar uma cultura
– Continuar trabalhando para de inovação na empresa e manter a
Como induzir e implementar aumentar a disponibilidade de chama acesa.
projetos e procedimentos de laboratórios de ensaios.
novas tecnologias – Pressionar para ter normas IEC
Muitas ações para induzir, para em português até um ano após sua
avaliar e desenvolver projetos de novas publicação na IEC em inglês.
tecnologias podem ser adotadas por
associações da indústria e diretamente • Para fabricantes
por cada fabricante. Alguns exemplos são
listados nas linhas seguintes. Nesta lista – Ter pelo menos dois engenheiros bem
não estão incluídas ações do governo. treinados para cálculos de projeto de
As melhores ações que os governos dos equipamentos e e para entender o que
países em desenvolvimento podem tomar está escrito nas normas técnicas. Hoje
Apoio
44
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo XI
futura pelo uso do documento. as compras mas aceitam relatórios que não interpretações são difíceis de analisar até 45
Em minha visão, se um laboratório tem dizem se o equipamento passou ou não no mesmo para as equipes do laboratório de
competência técnica para tal, deve emitir ensaio de elevação de temperatura. Muitas ensaios. Exemplos destes são a definição
relatórios de ensaios que identifiquem vezes, o limite máximo permitido na norma da máxima elevação de temperatura que
corretamente o equipamento que foi testado foi ultrapassado e em alguns casos o relatório deve ser atendida em diferentes tipos de
e trazer uma conclusão escrita informando nem mesmo se aplica ao equipamento que conexões e contatos, no ensaio de elevação
se o equipamento testado atendeu ou não está sendo comprado. de temperatura, ou mesmo o número de
os requisitos da norma técnica. Pagar mais Em anos passados, quando eu aplicações de curto-circuito em painéis
barato por ensaios em laboratórios que não coordenava o Comitê Técnico 32 (Fuses) submetidos ao ensaio de arco interno.
atendem a isso é um erro estratégico, à luz da IEC – International Electrotechnical Por este motivo, a IEC publica, além das
das novas normas IEC, como a IEC 62271- Commission, tive a oportunidade de normas, os importantes relatório técnicos.
307, que mencionam explicitamente o que conhecer alguns documentos TR (Technical Nestes últimos, que não têm caráter
deve ser registrado. Reports) da IEC que, embora muito uteis, normativo, é que estão os fundamentos
No caso das elevações de temperatura, são, ainda hoje, muito pouco conhecidos no para os valores utilizados nas normas. Nos
interpretar os resultados e compará-los com mundo. A IEC publica, principalmente, dois treinamentos que aplico para fabricantes,
as normas para saber se o equipamento tipos de documentos: as normas técnicas e concessionárias e empresas de certificação,
passou ou foi reprovado não é uma tarefa os relatórios técnicos. As normas técnicas utilizo muitos destes relatórios técnicos
simples. É preciso conhecer bem as especificam os procedimentos, métodos de IEC. No livro de minha autoria que pode
entrelinhas de normas, como a IEC 62271- ensaios e valores limites que não devem ser ser baixado livremente em http://www.
1, a IEC 62271-200 e as da série IEC 61439. ultrapassados. As normas técnicas raramente cognitor.com.br/Book_SE_SW_2013_POR.
Muitos compradores de equipamentos de descrevem os fundamentos técnicos e pdf, há várias informações extraídas destes
baixa e média tensões são exigentes em trazem as explicações do porquê dos valores documentos TR da IEC.
pedir os relatórios de ensaios para efetivar limites e métodos empregados. Algumas Alguns dos principais relatórios técnicos
Apoio
46 IEC úteis no dia a dia de quem projeta e Invólucros vazios destinados a conjunto de elevação de temperatura por cálculos é
especifica equipamentos são: de manobra e controle de baixa tensão baseada neste método.
Equipamentos para subestações de T&D
48 As variáveis de cálculo relevantes são as horizontal deve ser no mínimo 50% da seção destaca o tipo de instalação mostrado na
seguintes (ver Figura 1): reta transversal da coluna. parte superior direita da figura. Este tipo
Equipamentos para subestações de T&D
equipamentos para montar um grande e são mantidos por governos e instituições bem lá fora, com muito mais facilidade 51
laboratório de ensaios de alta tensão ou de que pensam apenas em se manter no poder poderá vender aqui quando a situação
alta potência poderia comprar todos os itens e não têm nenhuma visão ou interesse no brasileira melhorar. Portanto, recomeçar
na China. Entretanto, aqui no Brasil, não se que acontecerá com o País no médio ou a criar uma cultura de capacitar o pessoal
poderia comprar nenhum dos equipamentos, longo prazos. A culpa também é nossa por técnico e manter equipes competentes para
pois nenhum fabricante os desenvolveu. assistirmos a tudo passivamente. enfrentar novos desafios. Um bom começo
Poderíamos até preferir comprar de um A maior parte de nossa indústria é ter na equipe técnica pelo menos dois bons
fabricante mais tradicional na Europa ou elétrica, que avançava muito bem nas projetistas com visão aberta para inovações;
América do Norte, porém, o fato é que seria décadas de 1980 e 1990, parece que perdeu • Ter um "plano de metas em novas
possível comprar qualquer um deles na China. o foco. Com exceção de uma ou duas regiões tecnologias" com as prioridades definidas.
Se extrapolarmos este raciocínio para trens do Brasil, onde se percebe que há iniciativas Manter em curso, a cada ano, pelo menos
modernos, barcas de transporte de massa, de planejamento e de motivação do setor três projetos de "novos produtos”. Esta é a
navios e outros itens veremos como, no Brasil, industrial, paramos no tempo. maneira de criar uma cultura de inovação na
pensamos curto e estamos desatualizados. Na Para os médios e pequenos fabricantes empresa e manter a chama acesa.
questão dos desenvolvimentos tecnológicos, da indústria elétrica que me procuram para
estamos perdendo de mais de 7 a 1 nos aconselhamentos costumo sugerir algumas
últimos 15 anos. ações como:
Repetindo parte do que escrevi no
fascículo anterior (novas tecnologias), • Focar em produzir e vender 60% para o
passamos por um momento em que as mercado externo e 40% no mercado interno
indústrias do setor elétrico brasileiro estão brasileiro;
perdendo em competitividade. A culpa não é • Competir no mercado externo é mais
só dos procedimentos, impostos e burocracia difícil no primeiro momento, mas muito
excessivos que emperram a indústria elétrica compensador depois. Quem compete
Apoio
38
Equipamentos para subestações de T&D
Capítulo XII
Este é o último capítulo desta série capítulo anterior, falou-se sobre os cálculos permanentes e transitórios de campos
iniciada em janeiro de 2015, em que foram de elevação de temperatura em invólucros elétricos e campos magnéticos.
apresentados conceitos de engenharia para pela IEC 60890. Este último artigo abordará Quanto mais compacta é a instalação ou
projeto e especificação de equipamentos de os cálculos de engenharia em projetos de o equipamento e quanto mais elevadas são
subestações de transmissão e distribuição. equipamentos para subestações. as correntes e as tensões de operação, mais
O primeiro capítulo cobriu aspectos dos difícil e oneroso é atender a esses requisitos.
estudos do sistema elétrico que servem de Introdução Muitos equipamentos e instalações são
base para as especificações técnicas dos sobre dimensionados, em alguns aspectos e
equipamentos. O segundo cobriu conceitos Mostramos nos capítulos anteriores deficientes em outros devido às incertezas
sobre curtos-circuitos, ampacidades e que, no projeto de subestações e de seus que podem ter os cálculos de projeto.
contatos elétricos. O terceiro artigo abordou equipamentos de potência, tais como Hoje em dia, podem-se utilizar métodos
as técnicas de ensaios de alta potência, barramentos, painéis, equipamentos de e ferramentas de cálculos, com base em
laboratórios de ensaios e principais ensaios. manobra e similares, os requisitos principais conceitos sólidos e técnicas de simulação
No quarto, cobriu-se o tema estudos a atender são: que resultam em projetos mais otimizados e
elétricos de sobretensões, coordenação de econômicos.
isolamento e impactos de campos elétricos • Prover condições para que as temperaturas Para fazer isso é necessário, em
e magnéticos. No quinto capítulo da série, de partes isolantes e condutoras não primeiro lugar, saber que estes métodos
o tema abordado foi a recente brochura ultrapassem certos limites, sem exagerar no existem, entender suas possibilidades e
Cigré 602 sobre simulação de arcos. O sexto uso de materiais; ter treinamento adequado para aplicá-los.
falou sobre as especificações técnicas de • A capacidade de suportar sobrepressões e Este é um ponto fraco em muitas empresas
disjuntores, secionadores, painéis e para- outros efeitos causados por arcos internos ou na indústria elétrica brasileira. Da mesma
raios feitas por concessionárias de energia. externos; forma que, no Brasil, a educação é tratada
O sétimo descreveu sistemas de proteção • Suportar as forças eletrodinâmicas que historicamente sem a vontade política de
contra incêndios em subestações. O oitavo podem danificar isoladores e barramentos criar um Brasil bem preparado, na indústria
foi sobre elevação de temperatura com foco durante curtos-circuitos; elétrica o treinamento de equipes é muito
nas normas IEC 61439 (baixa tensão) e IEC • Utilizar as mínimas distâncias dielétricas limitado ou simplesmente não existe. Não é
62271-200 mais a futura IEC62271-307 para que impeçam a ocorrência de falhas devido uma questão de falta recursos e sim da falta
média tensão. O nono capítulo tratou de a sobretensões; de percepção gerencial de sua importância.
equipamentos para usos em locais especiais • Atender aos requisitos mecânicos para É comum encontrar empresários que dizem
(atmosferas explosivas, alta salinidade, suportar a frequentes e elevadas solicitações; que não vale a pena treinar um funcionário
poluição). O décimo abordou as novas • Atender aos requisitos de compatibilidade que depois de treinado vai procurar um
tecnologias para sistemas de até 145 kV. No eletromagnética, levando em conta os efeitos emprego no concorrente. O fato é que
Apoio
estamos ficando cada vez mais para trás na nunca ficava pronto a tempo. Hoje, no meio isolamento; 39
fila dos países desenvolvidos e também dos de tantos escândalos de corrupção e tantas • Cálculos de campos magnéticos, campos
países em desenvolvimento. mostras de absoluta incompetência gerencial elétricos e distancias, do ponto de vista
Nas décadas de 1980 e 1990, estávamos pode-se entender o processo destrutivo dielétrico, de segurança contra explosões,
evoluindo positivamente em capacitar a que estava começando a ocorrer nos vários incêndios e dos efeitos sobre a saúde;
indústria elétrica para voos maiores. Tanto setores brasileiros, inclusive o elétrico, a • Técnicas de ensaios de alta tensão (impulso,
os fabricantes como as concessionárias de partir do início dos anos 2000. Está na hora tensão AC, corona, RIV);
energia e os grandes usuários treinavam de reconhecer estes erros, colocar de novo • Técnicas de ensaios de alta potência
suas equipes e percebia-se um movimento gente competente e bem-intencionada para (interrupção em curto-circuito, elevação
ascendente nos conhecimentos e habilidades gerir o setor e tentar voltar à rota positiva em de temperatura, suportabilidade a forças
do setor. A inauguração de laboratórios de que estávamos há 20 anos. eletrodinâmicas);
ensaios por volta de 1980 dava sustentação Voltando aos cálculos de engenharia, • Conceitos e testes relacionados à redução
a este processo positivo. O sistema de de uma forma geral, na concepção de um do tempo de vida útil, suportabilidade de
normalização técnica acompanhava o projeto de subestação, ou dos equipamentos materiais a condições limites;
movimento e evoluía. O governo federal que a compõe, são necessários estudos e • Técnicas de ventilação e resfriamento de
por meio da Eletrobras tinha envolvimento cálculos passando pelos seguintes temas e equipamentos sob altas cargas térmicas;
direto neste processo, agia e aplicava recursos áreas de conhecimentos: • Forças eletrodinâmicas e resistência
de forma competente. mecânica durante curtos-circuitos;
A partir do início dos anos 2000, o • Estudos de fluxo de carga para definição • Avaliação de tensões de restabelecimento
planejamento de médio e longo prazos, antes das correntes e tensões de operação; transitórias em processos de interrupção
bem executado e razoavelmente cumprido • Estudos de curto-circuito para definição de em disjuntores, chaves, fusíveis e outros
nas grandes obras, tornou-se não confiável. correntes de falta e suas durações; equipamentos de manobra;
A partir dali o que era planejado e orçado, • Cálculos de transitórios de correntes e • O bom conhecimento das especificações
acabava custando de três a cinco vezes mais e tensões inclusive para a coordenação de nas normas técnicas como as das séries IEC
Apoio
40 62271, IEC 61439, IEC 60282, IEC 60076 e as • Livro base de treinamento: http://www. a) Elevação de temperatura
normas brasileiras correspondentes. cognitor.com.br/Book_SE_SW_2013_POR.pdf Os ensaios de elevação de temperatura
Equipamentos para subestações de T&D
42 utilizados, as resistências de contato, a – 1s de acordo com a IEC 62271-1. A pressão critérios principais para serem aprovados
temperatura do fluido ambiente, a velocidade interna é o fator mais relevante para que o nos testes:
Equipamentos para subestações de T&D
técnicas 3D que dão uma ideia se uma certa pressão (como feito para ondas de impulso há orientações sobre como calcular forças e 43
solução tecnológica é melhor que outra. em testes dielétricos); tensões eletrodinâmicas. No documento IEC
Para permitir um uso prático de ✓ A integral de curva de sobrepressão TR 60865-2 – Curto-circuito – Cálculo dos
simulações de arco interno, é necessário criar x tempo ΔP x T (máx. 20 a 40 bar x efeitos – Parte 2: Exemplos de cálculo – há
fatores de comparação que não dependam de milissegundos). exemplos úteis para verificar os resultados da
técnicas sofisticadas, como calcular as linhas metodologia. A comparação exibida a seguir
de fluxo das partículas ejetadas. c) Forças eletrodinâmicas em é o estudo de caso lá mostrado nas páginas
Os dados de entrada para fazer os isoladores e tensões mecânicas em 19 a 27 da IEC 60865-2 (1994).
cálculos são a tensão da fonte, a corrente de condutores durante curtos-circuitos Quando ocorre um curto-circuito em
curto-circuito, as resistências, as indutâncias A validação dos cálculos e simulações equipamentos elétricos consideráveis forças
e capacitâncias do circuito externo (para deste tipo de teste é difícil de fazer. mecânicas são aplicadas nos isoladores e
o modelo de arco), o condutor metálico, Laboratórios não medem as forças durante o condutores. A temperatura dos condutores
os materiais de fluido e geometria do ensaio, pois é complicado e as normas não aumenta muito, pois não há tempo para
compartimento e do dispositivo de alívio pedem. O que é verificado após o ensaio é dissipar a elevada quantidade de calor
de pressão. A geometria inclui a posição apenas o estado físico dos equipamentos oriunda do efeito Joule. Os objetivos do
dos tetos, paredes e indicadores de algodão. e se não há danos. A boa aceitação destas ensaio são os de verificar se após um
No software SwitchgearDesign aplicável simulações é porque os métodos de cálculo curto-circuito não há danos aos isoladores,
a painéis e barramentos são utilizados os são publicados em vários manuais de empenamento de barramentos, quebra de
seguintes parâmetros: engenharia, como os da ABB, Siemens e são peças ou significativa variação da resistência
considerados "comprovados pela prática" há elétrica.
✓ O valor de pico do ΔP da sobrepressão décadas. Nos cálculos para projeto, as forças
(máximo de 70% até 90%); Estes métodos deram origem à norma são calculadas usando expressões como as
✓ O tempo para o pico de sobrepressão; IEC 61117 – Um método para avaliar a indicadas na seção 3 do livro de referência
✓ O tempo para 50% do valor do pico de suportabilidade ao curto-circuito, em que indicado anteriormente. Depois de calcular
Apoio
de simulações são o valor da corrente de Fluido interior a meia altura Não medido 47
Resistência total por fase = conexões + barras (μΩ) Não medido 31 + 3x7
curto-circuito, os materiais envolvidos, a
Resistência por fase das juntas (μΩ) Não medido 3x7
geometria de condutores e isoladores.
Capítulo I
Em 1885, George Westinghouse Jr. compra com a pressão imposta pelas necessidades
os direitos da patente de Goulard-Gibbs para técnicas e comerciais, como as condições de um
construir transformadores de corrente alternada mercado de energia livre ou pelos esforços em
e encarrega William Stanley dessa tarefa. Stanley manter o fornecimento de energia com qualidade
desenvolveu o primeiro modelo comercial a todos os seus clientes, aumentam as abordagens
do que, naquele momento, nomeou-se de de uma manutenção baseada nas condições do
transformador. O transformador possibilitava equipamento.
a elevação das tensões diminuindo as perdas As equipes envolvidas com comissiona
na transmissão de energia elétrica, permitida mento e manutenção têm sofrido crescente
pelo uso da corrente alternada, ao contrário da pressão para reduzir custos, mesmo sendo
corrente contínua de Edison. forçadas a manter antigas instalações em
O transformador é um equipamento elétrico, operação por tanto tempo quanto possível.
sem partes necessariamente em movimento, Os equipamentos elétricos instalados em
que transfere energia elétrica de um ou mais subestações podem ser solicitados a operar sob
circuitos (primário) para outro ou outros diversas condições adversas, tais como: altas
circuitos (secundário, terciário), alterando os temperaturas, chuvas, poluição, sobrecarga
valores de tensões e correntes em um circuito e, dessa forma, mesmo tendo uma operação
de corrente alternada, ou modificar os valores e manutenção de qualidade, não se pode
de impedância do circuito elétrico, sem descartar a possibilidade de ocorrerem falhas
alterar a frequência do sistema. A necessidade que deixem indisponíveis as funções de
da utilização de baixos níveis de tensão no transmissão e distribuição de energia elétrica
consumidor e a necessidade de transmitir aos quais pertencem.
energia elétrica com tensões elevadas tornam Entretanto, a checagem regular das condições
muito importante o papel desempenhado pelo de operação desses equipamentos torna-se
transformador de potência. cada vez mais importante. Torna-se imperativa
Os transformadores representam o ativo mais a busca de procedimentos e de ferramentas que
caro da cadeia que conecta a geração até os pontos possibilitem a obtenção de dados das instalações
de utilização de energia elétrica. Atualmente, de forma rápida e precisa. Portanto, para
Apoio
53
subsidiar os artigos futuros sobre aspectos e procedimentos Simplificando-se a lei de Lenz-Faraday, tem-se que,
de manutenção, o presente texto apresenta os princípios sempre que houver movimento relativo entre um campo
básicos de funcionamento de transformadores de potência. magnético e um condutor, será induzida uma tensão
(f.e.m. - força eletromotriz) em seus terminais.
Princípio de funcionamento do Pode-se ainda afirmar que ocorrerá a indução de
transformador monofásico corrente quando uma espira condutora é colocada (imóvel)
O transformador é um aparelho estático, sem partes em uma região onde existe um campo magnético variável
em movimento, que se destina a transferir energia elétrica ou quando um circuito é posto em movimento dentro
de um circuito para outro, ambos de corrente alternada de um campo magnético constante. A Figura 1 mostra
(CA), sem mudança no valor da frequência. O lado que a representação do estabelecimento do fluxo magnético
recebe a potência a ser transferida é chamado de circuito pela bobina primária devido à aplicação da tensão U1.
primário e o lado do transformador que entrega potência Aplicando-se a tensão U1, no primário do transformador,
é chamado de circuito secundário. A transferência é circulará uma pequena corrente denominada “corrente
realizada por indução eletromagnética. em vazio”, representada neste texto por I0. Se a tensão
aplicada é variável no tempo, a corrente I0 também o é.
Fluxo Magnético - ∅ De acordo com a lei de Ampère, tem-se:
Tensão Tensão
Alternada Alternada
de Entrada
U1
de Saída
U2
Em que:
Primário Secundário • H é a intensidade do campo;
• l é o comprimento do circuito magnético;
Figura 1 – Estabelecimento do fluxo entre duas bobinas. • N1I0 é a força magnetomotriz.
Apoio
54
Em que:
A expressão (1) pode ser rescrita como:
A expressão (9) é importante, pois E1 e E2 são acessíveis térmico, ocorre a orientação dos domínios magnéticos
Manutenção de transformadores
a uma medição. Assim, utilizando-se um voltímetro permitindo a redução das perdas e da corrente de
no primário, obtêm-se U1 e, no secundário, estando o magnetização e possibilitando alcançar altas densidades
transformador em vazio, U2; desta forma, acha-se a relação de fluxo. A estrutura formada pelas chapas é sustentada
do número de espiras com pequeno erro. por traves metálicas solidamente amarradas por faixas de
fibra de vidro impregnadas com resina.
Relação de transformação real
Ao aplicar uma carga Z C ao secundário, a corrente I2
circula pelo secundário e I1 assume valores superiores
a I0 assim, haverá queda de tensão no primário e no
secundário e, portanto:
Núcleo
O núcleo do transformador é construído com uso
de chapas de aço-silício, laminadas e cobertas por uma
película isolante. Com laminação a frio e tratamento Figura 5 – Núcleo de um transformador trifásico real.
Apoio
57
Figura 6 – Disposição dos enrolamentos montados no núcleo do Figura 7 – Conexões possíveis dos enrolamentos de um transformador
transformador. trifásico: (a) estrela, (b) delta, (c) zig-za
Apoio
58
trifásicos Ligação Dd Dy Dz Yy Yd Yz
Como se sabe, a relação de transformação real é
K
definida como a relação entre as tensões primárias (U1)
e as secundárias (U2), ou seja:
Corrente em vazio
Nos transformadores trifásicos, com a montagem
de núcleo mostrada, as correntes de magnetização
No transformador trifásico a relação de
devem ser iguais entre si, nas fases laterais, e
transformação tem a mesma definição, sendo as tensões
ligeiramente superiores na fase da perna central.
entre fases; porém, devido à conexão dos enrolamentos
Isto se deve ao fato de que as relutâncias das pernas
(E1 e E2 são tensões induzidas entre os terminais dos
correspondentes as laterais são maiores. Dessa
enrolamentos), ela não será, em todos os casos, igual à
forma, adota-se um valor médio para a corrente em
relação de espiras. A Figura 8 mostra duas conexões de
vazio, ou seja:
transformadores trifásicos.
Finalidade
Manutenção de transformadores
• De corrente
• De potencial
• De distribuição
• De potência
Função no sistema
• Elevador
Figura 11 – (a) Transformador autoprotegido incorpora componentes • Abaixador
para proteção do sistema de distribuição contra sobrecargas e curto • De interligação
circuitos na rede. (b) Transformador de pedestal (pad-mounted), que,
além dos componentes de proteções contra sobrecargas, curtos-
circuitos e falhas internas, possui características particulares de Sobre os enrolamentos
operação, manutenção e segurança.
• Dois ou mais enrolamentos
A função do isolante em transformadores é garantir o • Autotransformador
isolamento elétrico entre as partes energizadas e permitir
a refrigeração interna. Transformadores utilizam óleo Material do núcleo
mineral derivado de petróleo, óleos sintéticos como • Ferromagnético
óleos de silicones e ascaréis, óleos isolantes de origem • Núcleo a ar
vegetal, isoladamente a base de compostos resinosos a
seco ou isolado a gás SF6 (hexafluoreto de enxofre). Quantidade de fases
A partir da definição do isolante, um transformador • Monofásico
pode ser classificado como: • Polifásico
Tipo de subestação Para uso interior Para uso exterior Força Distribuição Subterrâneo Submersível Pedestal
Abrigada em alvenaria X X
Abrigada em cabine metálica X X
Subterrânea estanque X
Subterrânea não estanque X
Ao tempo no nível do solo X X X
Ao tempo acima do nível do solo X X X
manutenção de transformadores de potência para • Transformador para interior: aquele projetado para
distribuição, imersos em líquidos isolantes; ser abrigado permanentemente das intempéries;
• ABNT NBR 7037 – Recebimento, instalação e • Transformador para exterior: aquele projetado para
manutenção de transformadores de potência em óleo suportar exposição permanente às intempéries;
isolante mineral; • Transformador submersível: aquele capaz de
• ABNT NBR 8926 – Guia de aplicação de relés para funcionar normalmente mesmo quando imerso em
proteção de transformadores – Procedimento; água, em condições especificadas;
• ABNT NBR 9368 – Transformadores de potência de • Transformador subterrâneo: aquele construído para
tensões máximas até 145 kV – Características elétricas ser instalado em câmara, abaixo do nível do solo;
e mecânicas; A Tabela 3 indica os tipos de transformadores
• ABNT NBR 9369 – Transformadores subterrâneos – que podem ser utilizados em função dos tipos de
Características elétricas e mecânicas – Padronização; subestações definidos na ABNT NBR 10439.
• ABNT NBR 10022 – Transformadores de potência
com tensão máxima igual ou superior a 72,5 kV – Referências
Características específicas – Padronização; • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
• ABNT NBR 10295 – Transformadores de potência transformadores de potência. Curso de Especialização
secos – Especificação; em Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
• ABNT NBR 12454 – Transformadores de potência • MILASCH, M. Manutenção de transformadores em
de tensões máximas até 36,2 kV e potência de 225 líquido isolante. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.
kVA até 3750 kVA – Padronização; • OLIVEIRA, J. C.; ABREU. J. P. G.; COGO, J. R.
• ABNT NBR 15349 – Óleo mineral isolante – Transformadores: teoria e ensaios. São Paulo: Edgard
Determinação de 2-furfural e seus derivados; Blucher, 1984
• ABNT NBR 15422 – Óleo vegetal isolante para • GUIA O SETOR ELÉTRICO DE NORMAS
equipamentos elétricos. BRASILEIRAS. São Paulo, Atitude Editorial, 2011.
Capítulo II
o comprometimento do faturamento bruto. Entretanto, condições insatisfatórias, ou, se ocorrerem, evitar que se
Manutenção de transformadores
extensão maior dos danos aos equipamentos e levando, Naturalmente, as medidas preventivas são
Manutenção de transformadores
por vezes, a prejuízos consideráveis. endereçadas para as causas mais comuns de faltas
A evolução desse processo é a manutenção corretiva dos equipamentos de certa instalação. Nasce então a
planejada. Consiste na atividade de manutenção em necessidade das equipes de manutenção estar dotadas
função de um acompanhamento preditivo, detectivo, de sistemas de teste capazes de simular as causas mais
ou até pela decisão gerencial de se operar até a comuns de faltas e propiciar uma pesquisa sólida de
falha. Consequentemente, esse tipo de manutenção é defeitos, no menor tempo possível.
planejado e, deste modo, acarreta menor custo, mais Quando a manutenção preventiva baseia-se em
segurança e maior rapidez na atuação. intervalos de tempo, é conhecida como Manutenção
A organização, planejamento e controle são fatores Baseada no Tempo (Time Based Maintenance – TBM).
que proporcionam a confiabilidade no investimento Atente-se para o fato de que definir os intervalos
de manutenção, ou seja, são pontos vitais para a entre intervenções em cada equipamento é um dos
sobrevivência da manutenção e seus resultados. aspectos mais problemáticos para uma boa preventiva.
Como há dúvida sobre os tempos mais adequados, há a
Manutenção preventiva tendência de se agir com conservadorismo e, assim, tais
A manutenção preventiva é todo serviço de intervalos, normalmente, são menores que o necessário,
manutenção realizado em máquinas que não estejam implicando em paradas e troca de peças desnecessárias.
em falha, estando com isso em condições operacionais A seguir é transcrito o resultado de pesquisa
ou em estado de defeito. Ainda define-se como a realizada pelo Cigré Brasil com a colaboração de
manutenção efetuada em intervalos predeterminados 12 empresas de transmissão, geração e distribuição
ou de acordo com critérios prescritos, destinada a entre os meses de agosto e setembro de 2012, sobre
reduzir a probabilidade de falha ou a degradação práticas de manutenção baseada no tempo. Os
de um funcionamento de um equipamento. A resultados das práticas de manutenção realizadas
ABNT NBR 5462/94, por sua vez, define como a nestas empresas validaram o apresentado na pesquisa
manutenção efetuada em intervalos pré-determinados, realizada pelo Cigré internacional. Dos resultados
ou de acordo com critérios prescritos, destinada a apresentados nesta pesquisa pode-se destacar que
reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do as práticas de manutenção variam significativamente
funcionamento de um item. entre os usuários do transformador. Os fatores
Um plano de manutenção preventiva é um possíveis que podem influenciar nas práticas de
conjunto de ações executadas em intervalos fixos manutenção são:
ou segundo critérios preestabelecidos. Tem como
meta principal a redução ou eliminação de falhas ou • Características e especificações do transformador;
defeitos nos equipamentos ou sistemas, além de evitar • A qualidade dos componentes instalados no
que se tornem cumulativas, resultando em redução transformador;
da necessidade de se adotarem ações corretivas, com • A função exigida do transformador (carga, operação
finalidade de evitar quebras e paradas desnecessárias do CDC);
no processo, tornando-o mais confiável e capaz, com • O ambiente em que o transformador está instalado
maior produtividade e qualidade. Fundamentalmente, (temperatura, umidade);
a manutenção preventiva deve agir com antecedência • O índice histórico de falhas do transformador e tipos
para acabar ou diminuir as causas potenciais de falhas de falha;
nos equipamentos. • O nível de redundância do transformador e as
Para tal, deve conter um conjunto de medições consequências de sua indisponibilidade;
tecnicamente adequadas, as quais devem ser • A modalidade de falha e os seus efeitos na segurança
selecionadas entre uma grande variedade de alternativas; da subestação;
além disto, é necessário que se associe confiabilidade e • A cultura e o foco de companhia baseados na
custo com um programa de atividades compatíveis. manutenção;
Apoio
51
Análise dos gases dissolvidos 2 anos 1 ano 3 meses A periodicidade pode variar com a instalação de sistema de monitoramento
Limpeza do sistema de resfriamento Condicional Condicional Qualquer intervalo O desligamento do equipamento poderá ser necessário
Ensaios elétricos básicos Condicional Condicional Qualquer intervalo Com desligamento do equipamento
Ensaios de isolamento (Fator de potência) Condicional 6 – 8 anos 2 – 4 anos Com desligamento do equipamento
Inspeção interna do CDC 12 anos 6 – 8 anos 4 anos Considerar recomendações do fabricante, número de operações e
tecnologia empregada
Apoio
52
Tabela 2 – Intervalos de manutenções versus características e a Manutenção Baseada na Condição. Isso significa, na
Manutenção de transformadores
Manutenção é definida como o conjunto de atividades Os motivos são variados, ou seja, os testes permitem:
Manutenção de transformadores
Figura 1 – Ciclo de operação e de manutenção do equipamento, desde o seu comissionamento até o fim de sua vida útil (Cigré Brasil, GT A2.05, 2013).
Capítulo III
Anormalidades em transformadores
de potência
Tipos fabricação circuito cimento Comutador Buchas Manobra Descarga inexistente corrosivo após reparo apurado
externo VFT Atmosférica inadequada
Elevadores 2 0 4 0 4 6 1 0 2 1 2
Transmissão 4 6 0 3 4 0 0 0 0 2 3
Subtransmissão 1 16 7 8 1 4 1 3 0 2 4
Total 7 22 11 11 9 10 2 3 2 5 9
Com o objetivo de obter parâmetros de referência de A análise do item mais suscetível a falhas é mostrada
falhas para os transformadores analisados, a Figura 3 mostra na Figura 5. Nela pode-se notar que as bobinas são a
os modos de falha mais significativos pela quantidade para maior fonte de problemas no transformador, com 70%
cada tipo de transformador. Vale ressaltar que do conjunto das ocorrências, seguida de comutadores (16,3%) e
de dados em estudo, 50% dos transformadores pertencem buchas (10,9%).
ao sistema de substransmissão. Portanto, a incidência das
falhas nesse sistema terá um peso maior na análise de
todo o conjunto, como a percentagem de curtos-circuitos
externos, conforme mostrado na Figura 4.
Tabela 3 – Quantidade de equipamentos por faixa trifásica nominal e por tensão nominal
Manutenção de transformadores
Total 255
ou seja, muitos dos equipamentos sofreram mais de uma (comutadores com carga) e 10% para comutadores sem
ocorrência. tensão.
A seguir são analisados os dados de interrupções de Assim, as interrupções associadas a estes três
serviço, não considerando o sistema de proteção, no componentes representam, juntas, 68% do total, e o item
período de 09/12/1979 a 25/05/2007, ou seja, proteções componente não identificado (11%) refere-se àqueles
não inerentes ao equipamento (relé de distância, relé equipamentos dos quais não se obtiveram registros
de religamento em circuito de CA, relé de frequência, confiáveis e/ou exatos das ocorrências.
relé de sobretensão, relé de sobrecorrente) e proteções
inerentes dos equipamentos (relé de temperatura do óleo,
relé de pressão, relé Bucchholz/gás, relé diferencial, relé
de bloqueio, válvula de alívio, nível de óleo, termômetro
do óleo e termômetro do enrolamento).
A Figura 6 mostra o número absoluto de
transformadores e autotransformadores por ano e por
classe de tensão, pertencentes às classes de tensão de
34,5 kV, 69 kV, 138 kV e 230 kV, na qual se observa que
houve um crescimento do número de equipamentos no
decorrer dos anos.
A Figura 7 apresenta o percentual de interrupções
em transformadores e autotransformadores versus
componentes. A figura evidencia que os componentes
mais atingidos foram os enrolamentos (34%), as buchas Figura 7 – Interrupções em transformadores e autotransformadores
(14%) e os comutadores (20%), sendo 10% para o OLTC versus componentes.
Análise de anormalidades
Analisa-se, a seguir, algumas das anormalidades
de ocorrência mais comuns, seus efeitos e suas
causas básicas. Via de regra, as seguintes condições
são responsáveis pelos problemas a seguir:
• Sobretemperatura: sobretemperaturas podem
ser causadas por sobrecorrentes, sobretensões,
resfriamento insuficiente, nível reduzido do
óleo, depósito de sedimentos no transformador,
temperatura ambiente elevada, ou curto-circuito
entre enrolamentos. Em transformadores a seco,
esta condição pode ser devido a dutos de ventilação
entupidos.
• Falha em contatos internos: o transformador
possui diversas conexões internas interligadas por
elementos fixos, como conectores e parafusos, além
de dispositivos móveis. A falha nesses componentes
resulta na deficiência do contato e aumento da
densidade de corrente nas partes condutoras, com
consequente sobreaquecimento. Causados por
montagem incorreta, baixa qualidade dos materiais
ou solicitações mecânicas devido a eventos de alta
corrente no transformador, essa ocorrência tende a
evoluir de um defeito para uma falha.
• Falha de isolamento: este defeito se constitui
em uma falha do isolamento dos enrolamentos
do transformador; pode envolver faltas fase-terra,
fase-fase, trifásicas com ou sem contato para a
Apoio
60
terra ou curto-circuito entre espiras. A causa destas comutadores sob carga (LTC – Load Tap Changers),
Manutenção de transformadores
de Transformadores de Potência.
Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos
– UNIFEI, 2012.
• WECK, K. H. Instandhaltung
von Mittelspannungsnetzen,
Haefely Symposium, Stuttgart
2000.
• SALUM, B. P. Reparar ou
Adquirir um Transformador Novo,
CIGRE A2 – WORKSPOT, Belém,
2008.
• BECHARA, R. Análise de Falhas
em Transformadores de Potência.
Dissertação de Mestrado, Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2010.
• SOUZA, D. C. P. Falhas
e Defeitos Ocorridos em
Transformadores de Potência
do Sistema Elétrico da Celg, nos
Últimos 28 Anos: Um Estudo de
Caso. Dissertação de Mestrado,
Escola de Engenharia Elétrica e
de Computação da Universidade
Federal de Goiás/UFG, Goiânia,
2008.
• SANTOS, F. G. P. S.
Transformadores de Potência
– Inspeção e Manutenção,
Companhia Siderúrgica Nacional,
CSN, Volta Redonda, RJ.
Apoio
58
Manutenção de transformadores
Capítulo IV
resistência R percorrida pela corrente I e da tensão sobre resistência do voltímetro, temos as seguintes aplicações:
a resistência sob ensaio V. Respectivamente, a corrente • A montagem à montante, Figura 1, deve ser usada para
I e a tensão V são medidas com um amperímetro e um medir resistências R>>Ra;
voltímetro. • A montagem à jusante, Figura 2, deve ser usada para
medir resistências R<<Rv.
Esquemas de montagem
Existem duas conexões a serem usadas por este Procedimento de teste
método, mostradas nas Figuras 1 e 2: Depois de realizada a conexão de teste, o testador
Sendo Ra a resistência interna do amperímetro e Rv a deve seguir o seguinte procedimento:
Figura 1 – Esquema de ligação no método da queda de tensão – Figura 2 – Esquema de ligação no método da queda de tensão –
montagem à montante. montagem à jusante.
Apoio
60
uma tensão correspondente a uma corrente medida pelo • Rθr – resistência elétrica na temperatura de referência;
amperímetro menor que 15% do valor nominal do objeto • Rθe – resistência elétrica na temperatura do ensaio;
sob teste, isto é, a corrente que circula pela resistência • θr – temperatura de referência;
a ser medida não deve ser superior a 15% de seu valor • θe – temperatura dos enrolamentos nas condições do
nominal; ensaio.
b) O tempo de aplicação da corrente de teste não deve Se o enrolamento for de alumínio, utilizar 225 ao invés de
ultrapassar 1 minuto; 234,5 na expressão (2).
c) As indicações dos instrumentos devem estar
estabilizadas para a realização das leituras desses Critérios de avaliação
instrumentos; As resistências obtidas devem ser comparadas com
d) As leituras dos valores medidos pelo voltímetro e pelo resultados anteriores ou com dados do fabricante, tendo-se
amperímetro devem ser realizadas simultaneamente; o cuidado de utilizar as correções de temperatura a uma
e) Utilizando a lei de Ohm, o testador deve calcular a mesma base. Para transformadores, a temperatura de
resistência. Para a Figura 1 temos: referência é normalmente 75 °C, para máquinas girantes
(motores e geradores), a temperatura de referência é
(1) normalmente 40 °C.
Em caso de discordâncias maiores que 5%, devem ser
Em que: pesquisadas a existência de anormalidades tais como:
E – resultado obtido com o voltímetro [V] espiras em curto, número incorreto de espiras, dimensões
I – resultado obtido com o amperímetro [A] incorretas do condutor e outros. Neste sentido, é
Rv – Resistência interna do voltímetro [Ω] importante que haja o histórico das medidas efetuadas.
Por outro lado, a principal causa de diferenças de
f) Utilizando-se a resistência variável, o testador deve medida de resistência ôhmica é o mau contato nos
efetuar de três a cinco leituras com valores de corrente terminais, principalmente naqueles mal prensados.
diferentes. Deve-se então obter a média aritmética e Observa-se que, muitas vezes, a resistência de contato
desprezar os valores com diferenças maiores que 1% do pode apresentar valores significativos se comparada com
valor médio; a dos enrolamentos, principalmente do lado de baixa
g) Dependo dos componentes conectados durante tensão.
o teste (fonte de corrente contínua, enrolamento sob Pelo exposto, é importante que haja o histórico das
teste), o acionamento da fonte de alimentação do medidas efetuadas. O autor recomenda os seguintes valores
circuito pode causar sobretensões importantes, podendo para avaliação de resistência ôhmica de enrolamentos,
danificar os equipamentos de medida. Recomenda-se para medidas na mesma base de temperatura, mostrados
a desconexão do voltímetro antes do acionamento da na Tabela 1.
fonte e a realização de um curto-circuito nos terminais
do amperímetro. Avaliação do comutador sob carga
As resistências do enrolamento são testadas no
Correção de temperatura campo para se detectar perda de conexões, condutores
A resistência elétrica dos enrolamentos varia com a
Tabela 1 – Avaliação de resistência ôhmica de enrolamento
temperatura. Para que se tenha uma base comparativa, a
Diferença entre
resistência elétrica dos enrolamentos devem ser referidas
valor do ensaio e Avaliação
a uma mesma temperatura. Isto pode ser executado pela
valor de referência
expressão (106), ou seja:
ΔR < 3% Resultado aprovado
3% < ΔR < 5% Ensaio deve ser repetido e resultado investigado
(2)
ΔR > 5% Indicação de defeito ou falha
Apoio
62
abertos e alta resistência de contato no comutador. A primeira unidade é o seletor de tape que está localizado
Manutenção de transformadores
Muitos transformadores são equipados com LTCs (Load dentro do tanque do transformador e muda para o próximo
Taps Changers) e outros dispositivos de manobra. Tais tape (maior ou menor) sem condução de corrente. A segunda
transformadores podem apresentar problemas extras unidade é a chave de comutação, que muda sem nenhuma
associados a estes dispositivos como os oriundos interrupção de um tape para o próximo enquanto conduz
do excessivo desgaste dos contatos fixos e móveis, corrente de carga. As resistências de comutação R limitam
sobrepercurso do mecanismo de mudança de taps, a corrente de curto-circuito entre taps que poderiam, por
condensação de umidade no óleo destes mecanismos, outro lado, vir a ser muito alta devido à livre interrupção na
entre outros. mudança dos contatos. O processo de mudança entre dois
O desgaste excessivo dos contatos pode ser atribuído à tapes leva aproximadamente de 40 ms a 80 ms.
perda de pressão das molas (molas fracas) ou a um tempo de A conexão de teste é realizada na configuração a
espera insuficiente durante o percurso. Problemas devido quatro fios, pois as resistências do enrolamento são muito
ao sobrepercurso do mecanismo de mudança de taps são, pequenas. Uma fonte de corrente constante é usada para
usualmente, devido a ajustes incorretos dos controladores alimentar o enrolamento com corrente contínua. Uma
de contatos. A condensação de umidade e carbonização tensão relativamente alta sem carga possibilita uma
deve-se a operação excessiva ou ausência de filtragem. saturação rápida do núcleo e um valor final é alcançado
Outros problemas, como queima de fusíveis ou apenas com variações menores. Consequentemente, na
paradas do sistema motor, são devidos a curtos-circuitos maioria das vezes, o tempo de carregamento por tap é
nos circuitos de controle, travamento de origem mecânica, claramente menor que 30 segundos.
ou condições de subtensão no circuito de controle. Um grande número de medições pode ser executado
Este artigo mostra procedimentos para identificação eficientemente em pouco tempo. Até agora, somente
de problemas em transformadores de potência utilizando a característica estática das resistências de contato são
medidas de resistência ôhmica e adicionalmente levadas em consideração no teste de manutenção. Com a
apresenta a medição da resistência dinâmica. Essa medida da resistência dinâmica, o procedimento dinâmico
resistência dinâmica possibilita uma análise do transitório de mudança da chave de comutação pode ser analisado.
na operação da chave de comutação.
Ensaios realizados com equipamento microprocessado
Testes do comutador sob carga (OLTC) O CPC100 é usado para medir a resistência individual
Para uma melhor compreensão das medidas de dos tapes de um comutador de transformador de potência
resistência, é necessário entender o método de operação e também checa a comutação da comutador sob carga
da mudança de tap. Na maioria dos casos, a mudança (OLTC) sem interrupções. De uma fonte CC de corrente
de tap consiste de duas unidades, conforme mostrada na constante, o CPC100 injeta uma corrente no transformador
Figura 3. de potência. Esta corrente é medida por um amperímetro
também CC. Com esse valor de corrente e a tensão medida
por um voltímetro 10VDC, a resistência do enrolamento é
calculada.
No momento em que o tape é comutado, a entrada
medida de corrente detecta o transitório da comutação, ou
seja, um evento de curta duração registrando os dados da
Procedimentos de teste
As conexões são realizadas utilizando-se o equipamento
CPC100 da Omicron montam um circuito de medida a
quatro fios, mostrado na Figura 6.
O procedimento de teste automático devolve para o
Apoio
64
Manutenção de transformadores
I Test: 5.000A
T Meas.: 14.0° C
T ref.: 20.0° C
Results:
Capítulo V
Polaridade e relação em
transformadores de potência
Polaridade de um transformador
A polaridade de um transformador é a marcação existente
nos terminais dos enrolamentos dos transformadores, indicando
o sentido da circulação de corrente em um determinado
instante em consequência do sentido do fluxo produzido. Em
outras palavras, a polaridade é uma referência determinada pelo
projetista, fabricante ou usuário para determinar a marcação
da polaridade dos terminais dos enrolamentos e a condição
dos enrolamentos conforme sua disposição, isto é, a relação
entre os sentidos momentâneos das forças eletromotrizes nos
enrolamentos primário e secundário.
Portanto, a polaridade depende de como são enroladas as
espiras que formam os enrolamentos primário e secundário. O
sentido da queda de tensão (força eletromotriz) será determinado
pelo sentido do enrolamento e pela marcação realizada.
A Figura 1 mostra duas situações distintas para as tensões
induzidas em um transformador monofásico. Na primeira
figura, as tensões induzidas U1 e U2 dirigem-se para os bornes
adjacentes H1 e X1. Na outra figura, a marcação é feita de
maneira contrária, sendo as tensões induzidas dirigidas para os
bornes invertidos. Nota-se também que, na Figura 1a, as tensões
possuem mesmo sentido (estão em fase) ou “mesma polaridade
instantânea”. Na outra, elas estão em oposição (defasadas de
180o) ou com polaridades opostas.
Pelo exposto, a polaridade refere-se ao sentido relativo entre as nas buchas de BT.
Manutenção de transformadores
• Método do golpe indutivo com corrente contínua; • Método do voltímetro – medida da relação de tensões entre
• Método da corrente alternada; os enrolamentos de AT e BT, obedecendo-se o fechamento
• Método do transformador padrão; do transformador;
• Método do transformador de referência variável. • Método do TTR – medida da relação de espiras por meio de
um equipamento construído especificamente para este fim.
A disponibilidade de um instrumento de teste moderno que
possibilite a medida do defasamento angular entre as tensões Qualquer método utilizado deve oferecer valores
primárias e secundárias já possibilita a determinação da polaridade suficientemente precisos para que seja válido. Para avaliar um
do transformador testado. transformador, os resultados do teste, independentemente do
Descreveremos o método do golpe indutivo devido à sua método aplicado ou dos instrumentos de medição utilizados,
maior aplicabilidade. O esquema de ligações para o método é devem possibilitar medidas com variação máxima admissível é
indicado na Figura 2. ± 0,5%, em todos os tapes de comutação.
O erro percentual é calculado em função da relação medida
e da relação nominal do transformador, sendo:
Em que:
• E% é o erro percentual;
• Rmed é a relação medida, ou seja, o resultado do teste;
• Rnom é a relação teórica ou relação nominal do transformador.
Ligação Dd Dy Dz Yy Yd Yz
KN 2 2
K= KN KN KN 3K KN
3 3 N
3
enrolamentos uma tensão igual ou menor que a sua tensão nominal, a saber:
bem como a frequência igual ou maior que a nominal.
Para transformadores trifásicos, apresentando fases independentes • A fonte, em grande parte dos casos, apresenta tensões
e com terminais acessíveis, opera-se indiferentemente, usando-se desequilibradas, mascarando os resultados das medições;
corrente monofásica ou trifásica. No caso da utilização de um teste • Se aplicados, por exemplo, três níveis distintos de tensões, mesmo
com correntes monofásicas, o fechamento do transformador deve balanceadas, podem resultar em três valores diferentes de relação
ser observado para realização das conexões de teste, conforme já de transformação.
exposto.
Os métodos usados para o ensaio de relação de tensões são: Em ambas as situações, os erros e as incertezas descaracterizam
os objetivos de se medir a relação de transformação.
• Método do voltímetro; Atualmente, equipamentos de teste microprocessados
• Método do transformador padrão; têm oferecido soluções adequadas para o teste de relação de
• Método do resistor potenciométrico; transformação, com tensões estabilizadas e medidas precisas.
• Método do transformador de referência de relação variável. Entretanto, cabe ao mantenedor e responsável pelo teste a avaliação
de tal instrumentação, antes da realização dos ensaios.
A ABNT NBR 5356 estabelece que este ensaio deve ser A Figura 3 mostra uma aplicação com um equipamento
realizado em todas as derivações, o que se constitui uma boa microprocessado multifuncional (CPC100 Omicron), realizando
prática, principalmente na recepção do transformador. Observa-se um ensaio de relação de transformação utilizando uma fonte de
que as tensões deverão ser sempre dadas para o transformador em tensão alternada e um voltímetro. Adicionalmente, a corrente de
vazio. excitação é medida em amplitude. Também é obtida a diferença de
A citada norma admite uma tolerância igual ao menor valor fase entre as tensões primária e secundária.
entre 10% da tensão de curto-circuito ou
± 0,5% do valor da tensão nominal dos diversos enrolamentos, se TTR
aplicada tensão nominal no primário. A siglaTTR (iniciais deTransformerTurn Ratio) tornou-se sinônimo
A seguir são apresentados os métodos do voltímetro e do de equipamentos para medição da relação de transformação. Em
transformador de referência de relação variável, por serem os mais sua concepção original, incorpora um transformador monofásico
utilizados. padrão com número de espiras variáveis, que é posto em paralelo
com o que se quer medir. Na atualidade, esse modelo tradicional
Método do voltímetro
O princípio deste método é alimentar o transformador com
certa tensão e medi-la juntamente com a induzida no secundário.
A leitura deve ser feita de forma simultânea com dois voltímetros.
Se necessário devem-se utilizar transformadores de potencial.
No caso do uso de instrumentação manual, sem automatismos,
recomenda-se que se faça um grupo de leituras, permutando-se os
instrumentos visando compensar seus eventuais erros. A média das
relações obtidas desta forma é considerada como a do transformador.
Observe que, em geral, por facilidade e segurança, a alimentação
do transformador é feita pelo lado de AT com níveis reduzidos de
tensão em relação nominal do tap considerado.
Tal prática, entretanto, resulta em dois problemas fundamentais, Figura 3 – Medida da relação de tensões com CPC100 Omicron.
73
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO, M. E. C. Manutenção de
transformadores de potência. Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos – Unifei, 2012.
Apoio
56
Manutenção de transformadores
Capítulo VI
Avaliação do isolamento em
transformadores de potência
elástico de íons ou elétrons ligados ao núcleo de um átomo. A rigidez dielétrica é o máximo valor de campo elétrico
A polarização dipolar difere da eletrônica e da iônica que pode ser aplicado a um material dielétrico sem que este
com relação ao movimento térmico das partículas. As perca suas propriedades isolantes. De outra forma, pode-se
moléculas dipolares, que se encontram em movimento afirmar que após um valor de tensão, designada por tensão
térmico desorganizado inicialmente, orientam-se de ruptura, o material isolante passa a conduzir corrente.
parcialmente pela ação do campo, causando o efeito da Assim, define-se rigidez dielétrica como a capacidade de
polarização. resistir à tensão sem que haja a citada descarga, conforme
A polarização estrutural aparece apenas em corpos a distância entre os dois pontos de aplicação. Este valor é
amorfos e em sólidos cristalinos polares (por exemplo, dado em V/m.
vidro), onde um corpo amorfo é parcialmente constituído
de partículas de íons. Ela se estabelece pela orientação
de estruturas complexas de material, devido à ação de
um campo externo, causando um deslocamento de íons e
dipolos.
A rigidez dielétrica dos isolantes não é constante para
Corrente de fuga cada material, pois depende fundamentalmente da espessura
Nos isolantes sólidos, mesmo caracterizados por do isolante, da pureza do material, do tempo e método de
uma resistividade muito grande, possuem elétrons livres aplicação da tensão, da frequência da tensão aplicada e do
devido, entre outras causas, a impurezas e forças internas tipo de solicitação ao qual o sistema dielétrico é submetido, da
no material, proporcionando uma pequena corrente que temperatura, da umidade, entre outros fatores ambientais.
atravessa o isolante. Entretanto, pela acumulação de poeira
e umidade na superfície do material ou na fronteira entre
dois materiais diferentes, forma-se um novo caminho
para a passagem da corrente elétrica, chamada corrente
superficial. Esses dois eventos caracterizam o aparecimento
da corrente de fuga no isolamento.
Esse efeito pode ser representado, em termos de circuito
elétrico, por um resistor em paralelo com um capacitor,
como mostra a Figura 1. A quantificação da dificuldade de
circulação da corrente de fuga pelo dielétrico é chamada
de resistência de isolamento.
Descargas parciais
Uma Descarga Parcial (DP) é caracterizada como uma
descarga elétrica de pequena intensidade que ocorre em
uma região de imperfeição de um meio dielétrico sujeita
a um campo elétrico, onde o caminho formado pela
descarga não une as duas extremidades dessa região de
Figura 1 – Representação esquemática do dielétrico – corrente de
fuga. forma completa. A ocorrência de descarga parcial depende
Apoio
59
da intensidade do campo aplicado nas extremidades desse normalmente partindo do eletrodo para a superfície.
espaço, além do tipo de tensão de teste aplicada (tensão • Descargas parciais no ar ambiente geralmente são
alternada, tensão contínua, sinal transitório ou impulso). classificadas como descargas externas e frequentemente
A norma IEC 60270 faz referência à medida de descargas chamadas de descargas corona. No início do processo
parciais em sistemas e equipamentos elétricos com tensões de indução da tensão, brilho e correntes de descargas
alternadas de até 400 Hz. Nesses equipamentos tem-se a podem aparecer. Elas ocorrem em gases a partir de
ocorrência de avalanches de elétrons nos espaços vazios. pontas agudas em eletrodos metálicos em partes com
Assim, descargas em dielétricos podem ocorrer somente em pequenos raios de curvatura.
espaços gasosos ou fissuras nos materiais sólidos ou bolhas
no dielétrico líquido. Portanto, descargas parciais são Resistências de isolamento
iniciadas geralmente se a intensidade do campo elétrico Uma vez que o campo elétrico estabelecido não
dentro do espaço vazio exceder a intensidade do campo do ultrapasse o valor da tensão de ruptura, o dielétrico impede
gás contido nesse espaço. a passagem da corrente elétrica. Este evento é dependente
As descargas parciais podem ser classificadas de acordo da natureza e características do dielétrico e de suas
com a natureza da sua origem. Podem ser: condições físicas.
• Descargas internas, que ocorrem nos espaços, Por não se tratar de um dielétrico perfeito, se aplicada
geralmente vazios preenchidos com gás, presentes uma tensão no isolante, ele será atravessado por uma
nos materiais sólidos e líquidos usados em sistemas de corrente. O quociente entre a tensão U e a corrente I é
isolamento. chamada resistência de isolamento. Esta resistência não é
• Descargas superficiais, que ocorrem em gases ou constante, ou seja, os isolantes geralmente não obedecem à
líquidos na superfície de um material dielétrico, lei de Ohm.
Apoio
60
Manutenção de transformadores
alternada expresso em termos de tensão disruptiva e a a resposta do meio dielétrico mediante a aplicação dos
análise cromatográfica dos gases dissolvidos nos óleos testes de corrente de polarização e despolarização e
isolantes (cromatografia), que permite detectar eventuais espectroscopia no domínio da frequência.
faltas ou defeitos associados aos dielétricos, inclusive
antes de um eventual dano do equipamento. Os próximos capítulos abordarão cada um dos testes
• Teste de perdas dielétricas expresso por meio dos descritos.
valores de capacitância, do Fator de Dissipação (tgδ)
ou Fator de Potência (cosφ) obtidos com ponte Schering Referências
e ponte Doble, respectivamente, com aplicação de • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO, M. E. C. Manutenção de
corrente alternada. A avaliação do isolamento é transformadores de potência, Curso de Especialização em
realizada pela análise dos componentes capacitiva e Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
resistiva que flui pelo dielétrico. • MILASCH, M. Manutenção de transformadores em líquido
• Análise de descargas parciais realizada com isolante. São Paulo: Ed. EDGARD BLUCHER, 1984.
instrumentos convencionais analógicos, dependentes do • GT A2.05. Guia de manutenção para transformadores de
conhecimento do testador, ou modernos sistemas digitais potência. CIGRE Brasil – Grupo de Trabalho A2.05, 2013.
de medida de descargas parciais que torna possível e mais
eficaz a discriminação entre os eventos, sejam descargas
parciais ou ruídos. Capacita também o sistema de teste
para identificação dos tipos de falhas e sua localização.
• Avaliação da umidade no isolamento papel-óleo por meio
da espectroscopia do dielétrico no domínio do tempo e no
domínio da frequência. Realizada pela medida da umidade
e degradação do isolamento papel-óleo, identificando
Apoio
56
Manutenção de transformadores
Capítulo VII
Ensaios de resistência de
isolamento e de rigidez dielétrica
A avaliação do sistema isolante consiste em características, constata-se que é bastante útil para
uma das principais ferramentas para determinar a a verificação de curtos-circuitos francos, ficando a
condição operacional dos equipamentos elétricos. identificação dos defeitos menos pronunciados a
Assim, este texto analisa os aspectos conceituais cargo dos ensaios com tensão alternada, de tensão
referentes à medida da resistência do isolamento, aplicada e tensão induzida.
os procedimentos para executá-la e avaliar os Para a medição da resistência de isolamento
resultados obtidos. Em relação às propriedades utiliza-se um instrumento denominado megôhmetro
elétricas de um fluido refrigerante e isolante, o ou, popularmente, megger (o que, na realidade, é a
texto abordará o ensaio de rigidez dielétrica do marca de um fabricante). Os megôhmetros atuais são
óleo do transformador. analógicos ou digitais (motorizados ou eletrônicos),
mas, também, podem ser manuais (ou seja, com um
Ensaio de resistência de isolamento "cambito" ou "manivela").
A resistência de isolamento é a medida da
dificuldade oferecida à passagem de corrente
pelos materiais isolantes. Seus valores se alteram
com a umidade e com a sujeira – alterações da
capacitância do isolamento, da resistência total,
das perdas superficiais e da temperatura do material
– constituindo-se em uma boa indicação da
deterioração dos equipamentos elétricos provocada
por estas causas. O ensaio consiste em aplicar no
isolamento uma tensão em corrente contínua, com
valores entre 500 V e 10.000 V. Isso provocará a
circulação de um fluxo pequeno de corrente.
Deve-se observar, entretanto, que as várias
normas sobre este assunto estabelecem que
este ensaio não se constitui em critério para
aprovação ou rejeição do equipamento. Pelas suas Figura 1 – Megôhmetro digital.
Apoio
57
A corrente de dispersão ou de fuga (IL), por meio do dielétrico, em álcool e anotar qualquer irregularidade constatada;
flui pela superfície e pelo interior da massa do dielétrico, entre • Cuidar para que os cabos do megôhmetro não toquem
Manutenção de transformadores
condutores ou de um condutor para a terra e é de caráter em outras partes do equipamento, ou se toquem, para evitar
irreversível. Constitui-se no componente mais importante na alteração na medida da resistência do isolamento;
medição do ensaio de isolamento em corrente contínua quando • Ajustar o megôhmetro segundo especificações do
se deseja avaliar o estado em que se encontra o isolamento. Tal equipamento utilizado;
corrente não varia com o tempo de aplicação de tensão e, nestas • Deve-se nivelar o megôhmetro, nos casos de medidores com
condições, se houver alguma elevação de seu nível é indicativo indicador de ponteiros;
que o isolamento pode vir a falhar. A Figura 3 mostra a corrente • Nos megôhmetros manuais é necessário manter invariável a
total com seus três componentes definidas anteriormente. rotação do cambito na especificada pelo fabricante, para que a
tensão aplicada seja constante;
Resistência de • Deve-se sempre observar cuidadosamente o ponteiro do
Corrente Total Isolação
(IA+IC+IL) (em Megohms) megôhmetro quando em operação. Se ele apresenta oscilação
excessiva é provável que haja mau contato, fugas intermitentes
pela superfície do cabo de ligação ou influência de circuitos
energizados nas proximidades;
• Antes de começar a medição, aciona-se o megôhmetro,
Corrente sem executar qualquer contato entre os terminais e ajustar o
(em μΑ)
ponteiro no “infinito”, girando o botão de ajuste para tal fim;
0 Tempo ∞ • Deve ser obtida a temperatura dos enrolamentos;
(em segundos)
• Selecionar a tensão para teste de acordo com o equipamento
Figura 3 – Componentes de corrente no ensaio de resistência do a ser testado, segundo proposto na Tabela 1.
isolamento DC (CIGRE Brasil, GT A2.05, 2013).
• Deverão ser obedecidos todos os procedimentos relativos às • De forma que as leituras não sofram influências de
recomendações de segurança, segundo as especificações da resistências em paralelo com a que se está avaliando,
instalação ou da empresa. deve-se utilizar do cabo "GUARDA". Assim, os terminais do
• Desenergizar o transformador; megôhmetro deve ser aplicado como mostrado na Tabela 2
• Desconectar os cabos externos. Os ensaios de resistência (exemplo utilizando transformador de dois enrolamentos).
de isolamento devem ser executados com todos os cabos do A Figura 4 mostra um esquema de conexão para medida
transformador desconectados das buchas, inclusive o cabo da de resistência entre os enrolamentos de alta e baixa tensão.
bucha de neutro;
• Caso não seja possível a desconexão dos cabos, deve-se Tabela 2 – Conexões para teste em transformador
de dois enrolamentos
proceder a anotação detalhada do esquema de teste com
Circuitos conectados aos terminais
respectiva descrição;
Resistência entre Line Guard Earth
• Curto-circuitar os terminais das buchas de um mesmo
AT – BT AT Carcaça BT
enrolamento para obter uma melhor distribuição do potencial;
AT – CARCAÇA AT BT Carcaça
• O tanque do transformador deve ser aterrado;
BT – CARCAÇA BT AT Carcaça
• Inspecionar e limpar as buchas com pano seco ou embebido
Apoio
60
• O resultado das medidas deve ser corrigido para a temperatura Tabela 3 – Tabela orientativa para o diagnóstico
Manutenção de transformadores
com os índices IP e IA
de referência.
Condições de Índice de absorção Índice de absorção
isolamento (R1min/R30s) (R10min/R1min)
isolação
temperatura, da umidade, dentre outros fatores ambientais.
O óleo apresenta alta rigidez dielétrica se possuir baixo teor de
agua e baixo teor de partículas contaminantes. Água e partículas
Resistência sólidas em níveis elevados tendem a migrar para regiões de tensão
(em Megohms)
elétrica elevada e reduzir dramaticamente a rigidez dielétrica.
Portanto, a rigidez dielétrica indica a presença de contaminantes.
isolação
em condições preestabelecidas, o resultado dependerá das Tabela 4 – Valores recomendado para transformadores
(método ABNT NBR IEC 60156 - CIGRE Brasil, GT A2.05, 2013)
condições em que o teste foi realizado.
Tensão Valores limites
Os procedimentos mais utilizados no Brasil incluem o uso
≤ 72,5 kV ≥ 40 kV
de eletrodos e respectivos espaçamentos em milímetros de
> 72,45 / ≤ 242 kV ≥ 50 kV
formatos ASTM (ou ANSI ou ABNT) e VDE. A Figura 6 mostra a
> 242 kV ≥ 60 kV
cuba de medidor de rigidez dielétrica com eletrodos VDE.
Independentemente do tipo de teste a ser executado, Referências
é importante que a cuba e os eletrodos estejam bem limpos • ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
e secos antes do enchimento do óleo. A Tabela 4 mostra os transformadores de potência. Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos – UNIFEI, 2012.
valores recomendados para transformadores segundo a ABNT
• MILASCH, M. Manutenção de transformadores em líquido
NBR IEC 60156.
isolante. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.
• GT A2.05. Guia de manutenção para transformadores de
potência. CIGRE Brasil – Grupo de Trabalho A2.05, 2013.
Capítulo VIII
Avaliação do isolamento em
transformadores de potência
Ensaio de perdas dielétricas e capacitância
(1)
diferentes da frequência da linha e seus harmônicos. Com como os terminais A, B, C (e Neutro) do enrolamento de Alta
este princípio, as medições podem ser realizadas também na Tensão; A, B, C (e Neutro) do enrolamento de baixa tensão
presença de alta interferência eletromagnética em subestações e A, B, C (e Neutro) do enrolamento terciário devem ser
de alta tensão. conectados;
A faixa de frequência utilizada varia de 15 Hz a 400 Hz. Os • Os terminais do neutro de todos os enrolamentos conectados
testes podem ser realizados sem problemas, pois, nesta faixa em estrela com ponto aterrado devem ser desconectados do
de frequências, as capacitâncias e as indutâncias do sistema terra (tanque);
elétrico testado são praticamente constantes. Para avaliarmos
o isolamento, devemos considerar que o dielétrico perde sua
capacidade de isolar devido a:
Procedimentos gerais
Em linhas gerais, seguem alguns procedimentos para a
realização das medidas de capacitância e fator de potência
Figura 4 – Transformador preparado para teste.
para transformadores de dois enrolamentos. A Figura 3 mostra a
representação esquemática do isolamento para transformadores • Se o transformador tiver um comutador de taps, então ele
de dois enrolamentos. deve ser posto na posição de neutro (0 ou no meio dos taps);
• Conectar os terminais de aterramento do equipamento de
teste no aterramento do transformador (subestação);
• Conectar a saída de alta tensão do equipamento de teste
(fonte) no enrolamento de alta tensão do transformador (de
acordo com as instruções de conexão). Deve-se evitar que
partes desparafusadas ou soltas do cabo de teste de alta
tensão toquem qualquer parte como buchas e o tanque do
transformador. Isto pode causar abertura de arcos (flashovers);
Figura 3 – Representação esquemática do isolamento para
transformadores de dois enrolamentos. • Conecte o cabo de medida (vermelho) no enrolamento
de baixa tensão, e o cabo Guarda (azul) carcaça do
Em que: transformador (de acordo com as instruções de conexão do
• Cab representa o isolamento entre os enrolamentos de Alta equipamento de teste utilizado). Neste caso é realizada a
Tensão (AT) e os enrolamentos de Baixa Tensão (BT); medida:
• Ca representa o isolamento entre os enrolamentos de Alta ♦ UST-A: medida de AT para BT, guardando carcaça
Tensão (AT) e a carcaça; (Cab).
• Cb representa o isolamento entre os enrolamentos de Baixa • Alguns equipamentos de teste possuem a facilidade de
Tensão (BT) e a carcaça. trocarem a função dos cabos, ou seja, o cabo vermelho pode
ser um cabo de medida ou Guarda, dependendo da escolha
Assim: do testador. O mesmo ocorre para o cabo Azul. Assim, com
• O transformador deve estar desenergizado e completamente a mesma conexão é realizada a medida:
isolado do sistema de potência; ♦ GST-A: medida de AT para carcaça, guardando BT (Ca).
• O aterramento adequado do tanque do transformador deve • Para realizar o teste de BT para carcaça, conecte o cabo de
ser checado; medida (vermelho) no enrolamento de alta tensão, e o cabo
• Os terminais das buchas de alta tensão devem ser isolados de saída de alta tensão do equipamento de teste (fonte) no
Apoio
56
enrolamento de baixa tensão. O cabo Guard (azul) continua Tabela 1 – Condições do isolamento pela IEEE Std. 62-1995
Manutenção de transformadores
Condições do isolamento
na carcaça do transformador. É realizada a medida: Transformador
♦ GST-A: medida de BT para carcaça, guardando AT (Cb). Bom Aceitável Deve ser investigado
Novo DF < 0.5% - -
Avaliação do ensaio de fator de potência A seguir temos um exemplo de resultado onde é realizada a
Para os testes realizados apenas na frequência da linha comparação das medidas de fator de potência entre as buchas
(60 Hz), o range dos valores de fator de potência para novos das três fases de um banco de reatores ASEA/BROWN BOVERI,
e antigos transformadores são publicados pelas normas e por tipo RM46, 2002, com potência: 40,33 MVAr, tensão HV: 500
outras literaturas. Pela IEEE Std. 62-1995, são determinados kV, corrente HV: 127 A. A Figura 9 mostra um dos reatores e a
os seguintes valores: Figura 10 mostra os valores de FP para as três fases do banco.
Apoio
57
Referências
• ALMEIDA, A. T. L.; PAULINO M. E. C. Manutenção de
transformadores de potência. Curso de Especialização em
Manutenção de Sistemas Elétricos – Unifei, 2012.
• MILASCH, M. Manutenção de transformadores em líquido
isolante. São Paulo: Edgard Blucher, 1984.
Apoio
48
Manutenção de transformadores
Capítulo IX
Este texto descreve os conceitos e princípios objeto em teste diante da variação de frequência.
da aplicação da análise de resposta em frequência A indústria elétrica usa essa técnica para
e impedância terminal. Mostra a diferença entre avaliar transformadores de potência, por meio da
as duas definições (função de transferência e função de transferência, ou seja, da relação das
impedância terminal). Comumente esses dois tensões de entrada e saída do objeto em teste e
elementos são confundidos e tratados erroneamente por sua impedância terminal. Análise de resposta
como sendo um único elemento. O trabalho em frequência, geralmente conhecida dentro da
também descreve os princípios de avaliação e os indústria como FRA, é uma técnica de teste de
algoritmos utilizados como ferramenta que fornece diagnóstico poderosa. Consiste em medir a função
uma referência numérica e ajuda a equipe de teste de transferência, também conhecida como resposta
na tomada de decisão, eliminando erros na análise em frequência, e a impedância dos enrolamentos.
do resultado. Assim aumenta-se consideravelmente Essas medidas podem ser usadas como um método
a confiabilidade do ensaio. de diagnóstico para a detecção de defeitos elétricos
e mecânicos do transformador em cima de uma
Introdução larga escala de frequências. Para tal é realizada
Da eletrônica temos a designação de análise da a comparação entre a função de transferência
resposta em frequência como o estudo da relação obtida com assinaturas de referência. Diferenças
entre dois sinais alternados com a variação da podem indicar dano ao transformador que pode ser
frequência. Sua representação é realizada em investigado usando outras técnicas ou um exame
notação polar, definindo as funções amplitude e interno.
fase da resposta em frequência, evidenciando a Os transformadores são equipamentos
relação existente entre as amplitudes e a diferença essenciais em sistemas de transmissão e distribuição
entre as fases dos sinais de entrada e saída no objeto de energia elétrica. Na ocorrência de uma falta no
em teste. As representações gráficas das funções sistema, descarga atmosférica ou uma falta dentro
amplitude e fase da resposta em frequência, em do transformador, podem ser geradas altas correntes
escala logarítmica, representam as assinaturas do circulantes nas bobinas e/ou uma alta tensão
Apoio
49
sobre estas. Consequentemente ocasionam danos estruturais, diferenças entre duas assinaturas do FRA. Uma mudança na
deformações nas bobinas e/ou de isolação do equipamento, função de transferência pode ser interpretada como uma
fechando-se curto-circuito entre espiras, entre bobinas ou deformação no enrolamento com relativa facilidade. Entretanto,
destas para a carcaça (ponto de terra). é complicado estimar o correspondente grau de deformação
Danos de transporte também podem ocorrer se os do enrolamento e identificar qual a extensão da variação das
procedimentos forem inadequados, podendo conduzir ao medidas do FRA é aceitável para operação do transformador
movimento do enrolamento e núcleo. O circuito equivalente sem falhas.
de um transformador é complexo e composto de resistências,
indutâncias e capacitâncias provenientes dos enrolamentos, Definições
assim como capacitâncias parasitas entre espiras, entre bobinas Análise de resposta de frequência (Frequency Response
e destas para o tanque. Este circuito possui características únicas Analysis – FRA)
de resposta em frequência para cada transformador, funcionando Análise de resposta de frequência, comumente chamada
como uma impressão digital. Qualquer tipo de dano na sua de FRA, é uma técnica de diagnóstico utilizada para detectar
estrutura interna, tanto na parte ativa (enrolamentos e núcleo) alterações nas características da estrutura de transformadores
como na parte passiva (estrutura, suportes, tanque etc.), afeta de potência, principalmente deformações nas bobinas. Essas
diretamente os parâmetros deste circuito equivalente, o que modificações podem ser resultados de diversos tipos de
altera sensivelmente a resposta em frequência deste circuito, que problemas elétricos ou mecânicos (danos durante o transporte,
comparado à sua resposta original pode claramente evidenciar a perda de fixação de partes internas, esforços mecânicos
a falha. Um problema da análise de resposta em frequência é a causados por curto-circuito, etc.) O teste não é destrutivo e
falta de procedimento padronizado internacional para que seja pode ser usado tanto como uma ferramenta para detectar danos
feita a comparação das análises dos resultados. de enrolamento, quanto uma ferramenta de diagnóstico para
Assim, o problema a ser resolvido é a interpretação das estudo de defeitos observados em outros testes (por exemplo, o
Apoio
50
Figura 1 – Esquemas básicos de conexão: (a) Conexão para medida da função de transferência (b) Conexão para medida da impedância terminal.
Apoio
52
Figura 3 – (a) Princípio básico de conexão para medida do SFRA. (b) Circuito básico para teste.
Apoio
53
frequência. É necessário realizar uma normalização da cepp.com.cn da empresa China Electric Power Publishing
Manutenção de transformadores
função erro para ficar independente da resposta da função Co. O algoritmo avalia a similaridade de duas respostas
erro aplicada às funções de transferências consideradas. em frequência de enrolamentos de transformadores (duas
Uma possibilidade é padronizar o valor médio da FT de assinaturas) pelo cálculo dos fatores RLF, RMF e RHF (ver
referência, |FTRef(f)| como mostrado em (5). Com isto, Tabela 1 – Fatores de avaliação de enrolamentos de acordo
o peso da função erro é o mesmo em toda a faixa de com a norma DL/T911-2004). Para entendimento básico do
frequência. A esperança E[Δ1(f)] descreve o erro relativo cálculo que envolve esse algoritmo, o cálculo dos fatores é
médio da FT de teste. Se a FT de teste e a FT de referência mostrado a seguir.
forem idênticas seu valor será zero. Também se Δ0(f) for
zero, isso significará apenas ruído.
de duas variáveis aleatórias é dada por um valor de +1(-1) Fator de avaliação do Escala de frequência
e uma correlação não linear é dada pelo valor do fator enrolamento
RLF 1 kHz ..... 100 kHz
de correlação igual a zero. O fator descreve o nível de
RMF 100 kHz ..... 600 kHz
dependência linear entre duas variáveis aleatórias. Se duas
RHF 600 kHz ..... 1 MHz
variáveis aleatórias são consideradas como dois vetores
N-dimensionais, o fator de correlação pode ser interpretado
como o cosseno do ângulo entre os dois vetores. Tabela 2 – Avaliação de enrolamentos de acordo com a norma DL/
T911-2004
Grau de Deformação do Fator de Avaliação do
Padrão chinês de análise do FRA – Norma DL/T911- Enrolamento Enrolamento
2004 Enrolamento normal (Normal winding) RLF ≥ 2,0 E RMF ≥ 1,0 E RHF ≥ 0,6
Deformação leve (Slight deformation) 2,0 > RLF ≥ 1,0 OU 0,6 ≤ RMF < 1,0
DL/T911-2004 é uma norma para análise da resposta
Deformação óbvia (Obvious deformation) 1,0 > RLF ≥ 0,6 OU RMF < 0,6
em frequência usada na República Popular da China. Para
Deformação severa (Severe deformation) RLF < 0,6
maiores detalhes o usuário pode visitar o website www.
55
Referências
• PAULINO, M. E. C. Diagnóstico de Transformadores e
Comparações entre Algoritmos para Análise de Resposta
em Frequência. V WORKSPOT- International Workshop on
Power Transformers, Belém, PA, Brasil, 2008.
• CIGRÉ Report 342 WG A2.26. Mechanical condition
assessment of transformer windings: Guidance Technical
Brochure CIGRE Study Committee A2 – Work Group A2.26,
2008.
• PAULINO, M. E. C. et al. Aplicações de Análise de Resposta
em Frequência e Impedância Terminal para Diagnóstico de
Transformadores. XIII ERIAC – Décimo Terceiro Encontro
Regional Ibero-americano do CIGRÉ , Foz do Iguaçu,
Argentina, 2009.
• SANO, T. K. M. Influence of Measurement Parameters on
FRA Characteristics of Power Transformers” Proceedings of
the 2008 International Conference on Condition Monitoring
and Diagnosis. Beijing, China, April 21-24, 2008.
• Frequency Response Analysis on Winding Deformation of
Power Transformers, The Electric Power Industry Standard of
People´s Republic of China, Std. DL/T911-2004, ICS27.100,
F24, 2005.
• IEEE PC57.149/D6, Draft Trial Use Guide for the
Application and Interpretation of Frequency Response
Analysis for Oil Immersed Transformers, april 2009.
Apoio
48
Manutenção de transformadores
Capítulo X
Este artigo apresenta definições, descrição dos de procedimentos e ferramentas que possibilitem a
efeitos, além de técnicas para análise de descargas obtenção de dados das instalações de forma rápida
parciais. Mostra um sistema de aquisição síncrono e precisa.
multicanal de descargas parciais, onde é possível A norma IEC 60270 define descargas parciais
obter dados a partir de fontes separadas de descargas como descargas elétricas localizadas na união entre
parciais. No teste de descargas parciais, a separação dois condutores, por meio do isolamento, que pode
de múltiplas fontes de ruídos é importante para uma ou não ocorrer próximo de um condutor. Descarga
análise adequada de descargas parciais. Sistemas parcial é, em geral, a consequência de uma
de medição de múltiplos canais sincronizados concentração de estresses elétricos em isolamentos
fornecem novas e avançadas técnicas de avaliação ou em superfície de isolamentos. A medição
de descargas parciais como 3FREQ, 3PTRD e 3PARD. síncrona de múltiplos canais é uma poderosa
ferramenta na detecção, localização e separação
Introdução de sinais de descargas parciais de ruídos de fundo
A indústria elétrica é forçada a manter as antigas quando da realização de testes em transformadores
instalações em operação devido à crescente pressão trifásicos, motores, geradores e cabos.
para reduzir custos. Além disso, os equipamentos Tal método permite que o mesmo sinal seja
elétricos instalados em subestações podem ser detectado em mais de um medidor simultaneamente.
solicitados a operar sob diversas condições Isto é fundamental para o processo de localização
adversas e não se pode descartar a possibilidade e diferenciação das diversas fontes geradoras de
de ocorrerem falhas que deixem indisponíveis descargas internas que podem ser provenientes
as funções transmissão e distribuição de energia do efeito corona, descargas do tipo superficiais,
elétrica aos quais pertencem. Assim, a verificação descargas geradas em gaps que são comuns
regular das condições desses equipamentos torna-se principalmente em geradores, motores e descargas
cada vez mais importante, seja no comissionamento, provenientes dos próprios elementos do circuito de
nas atividades de manutenção preventiva ou medição como a fonte de tensão que alimenta o
processos de reparo. Torna-se imperativo a busca circuito, filtros, transformadores elevadores, buchas
Apoio
49
capacitivas e capacitores de acoplamento. fontes separadas de descargas parciais, a fim de fazer medições
Neste texto, são apresentadas definições de descargas mais confiáveis.
parciais internas que são geradas devido a contaminação
do isolante, defeito de fabricação de resinas e até mesmo Definição de descargas parciais
deterioração de componentes. Os requisitos de hardware Uma Descarga Parcial (DP) é caracterizada como uma
para o teste visando à realização de medidas adequadas são descarga elétrica de pequena intensidade que ocorre em uma
observados. As características como taxas de amostragens e região de imperfeição de um meio dielétrico sujeita a um
imunidade a ruídos são especialmente tratadas na concepção campo elétrico, em que o caminho formado pela descarga não
do sistema de teste descrito. une as duas extremidades dessa região de forma completa.
Este trabalho apresenta um novo método que trata a A ocorrência de descarga parcial depende da intensidade do
separação entre o sinal medido e o ruído provocado por campo aplicado nas extremidades desse espaço, além do tipo
interferências externas. Assim, é possível separar ruídos de tensão de teste aplicada (tensão alternada, tensão contínua,
de diferentes fontes de descargas parciais localizadas no sinal transitório ou impulso).
mesmo objeto sob teste. Os sinais de descargas parciais são A norma IEC 60270 faz referência à medida de descargas
frequentemente sobrepostos por pulsos de ruído, fato que faz parciais em sistemas e equipamentos elétricos com tensões
uma análise dos dados de DP mais difícil para os especialistas alternadas de até 400 Hz. Nesses equipamentos, tem-se a
e sistemas de software especializados. ocorrência de avalanches de elétrons nos espaços vazios.
Com o desenvolvimento contínuo de unidades de teste e Assim, descargas em dielétricos podem ocorrer somente em
monitoramento de descargas parciais, os sistemas de análise espaços gasosos ou fissuras nos materiais sólidos ou bolhas no
precisam se tornar mais eficazes e automáticos. Esse trabalho dielétrico líquido.
mostra um sistema de aquisição síncrono multicanal de Portanto, descargas parciais são iniciadas geralmente se a
descargas parciais, no qual é possível obter dados a partir de intensidade do campo elétrico dentro do espaço vazio exceder
Apoio
50
a intensidade do campo do gás contido nesse espaço. O pulso isolamentos sólidos podem ocorrer em cavidades capilares
de carga criado geralmente tem valores em torno de alguns pC de gás, em vazios ou trincas, podendo ser estabelecidos em
Manutenção de transformadores
até na ordem de nC, dependendo do aparato que está sendo defeitos da estrutura molecular. Nos isolantes líquidos, as
analisado. descargas parciais podem ocorrer em bolhas de gás devido a
A norma IEC 60270 define Descarga Parcial como: fenômenos térmicos e elétricos e em vapores de água criados
“Descargas elétricas localizadas que simplesmente faz a ligação em regiões de alta intensidade de campo elétrico.
parcial entre dois condutores através do isolamento. Descarga Um tipo particular de descargas internas são as descargas
Parcial é, em geral, a consequência de uma concentração de que ocorrem em arborescências elétricas. A arborescência
tensão elétrica local no isolamento ou sobre uma superfície de (treeing) elétrica é um fenômeno de pré-ruptura que ocorre no
isolamento. Geralmente, tais descargas aparecem como pulsos interior da isolação de equipamentos elétricos, tais como cabos
com a duração menor que 1 μs”. de potência isolados, tendo sua origem devido à ocorrência
As descargas parciais podem ser classificadas de acordo contínua de descargas parciais internas em vazios ou a partir
com a natureza da sua origem. Podem ser do tipo superficial, de uma falha no eletrodo. Este texto considera a partir deste
corona, buraco interno, contaminante em resinas, bolhas de ponto que o termo descarga parcial será sempre utilizado para
gases em dielétricos líquidos, entre outros. designar descarga parcial interna.
Figura 4 – Ocorrência de falha interna em L1 e propagação dos pulsos. Figura 5 – Criação de 3PARD usando sinais de tensão de Descargas
Parciais.
As relações das amplitudes dos pulsos triplos requisitados
são constantes para diferentes fontes de descargas parciais e
para diferentes fontes de ruído. Isso ocorre devido ao caminho
original de propagação de descargas parciais. Para ocorrências
internas específicas no equipamento sob teste, os pulsos
requisitados apresentam diferenças. Assim, a primeira etapa
para a localização de descargas parciais é a separação das
fontes. Durante a medição de DP, em tempo real, são criados
Diagramas Trifásicos de Relação de Amplitude (do inglês 3 –
Phase – Amplitude – Relation – Diagram – 3PARD).
A separação de fonte 3PARD foi usada na prática com
resultados confiáveis, conforme descrito em várias publicações Figura 6 – Representação de 3PARD com a separação dos sinais
individuais.
científicas. Vale ressaltar que a aquisição de dados síncrona de
DP é imprescindível para avaliação dos dados com 3PARD. O Diagrama de relação de tempo em 3 fases (3 – Phase –
sistema utilizado neste trabalho possui um método de medição Time – Relation – Diagram 3 PTRD)
sequencial de três canais múltiplos. A primeira etapa é calcular o Usando o princípio do 3PARD, este método é resultado
logaritmo do valor absoluto de todos os três pulsos das descargas. da avaliação do atraso do pulso triplo de descarga parcial.
Na segunda, cada pulso é transformado em um fasor Similar ao método conhecido pelo teste de descargas
relacionado à sua fase de origem. A Figura 5 mostra o parciais, usado para localização de falhas com cabos de
mecanismo de geração do 3PARD e à direita os sinais de tensão alta tensão, cada fonte de pulso tem uma impressão digital
de cada fase são observados. Quando os fasores relativos a característica com diferenças de tempo devido ao atraso de
cada fase medida são transportados para o diagrama, é obtida cada pulso.
a localização da fonte de descarga parcial interna pela soma Se a origem das descargas parciais estiver distante do
vetorial, conforme mostrado no quadro à esquerda. local da detecção, as amplitudes de pulso de uma descarga
Um único sinal de descarga parcial é representado por parcial tendem a se igualar entre as fases e apresentarão
um ponto. Cada agregação de pontos calculados (clusters) um modo comum de propagação. Consequentemente,
representa a única fonte de descarga parcial. Posteriormente, origens de descargas parciais muito distantes serão exibidas
cada grupo pode ser facilmente separado e mostrado sem efeitos próximas da origem do 3PARD, limitando a capacidade
de sobreposição, transformado em uma PRPD clássica ou de identificar essas origens. Além disso, a propagação distante
qualquer outro diagrama de pulso para avaliação em tempo real. amortece componentes de alta frequência dos sinais de
O sistema de teste utilizado fornece a ferramenta de criação descargas parciais (efeito passa baixa), o que exige o uso
de cluster, ou seja, áreas determinadas no 3PARD de onde são de baixa frequência de medida para manter a sensibilidade
separados os sinais que, a priori, aparecem sobrepostos. A Figura necessária.
6 mostra o 3PARD com a separação dos sinais. Em baixas frequências de medida, os pulsos de descargas
Apoio
56
parciais se propagam em modo lento (propagação pela três pulsos sejam detectados quase ao mesmo tempo, o
Manutenção de transformadores
linha de transmissão). Portanto, a distância de propagação comprimento do vetor seria zero, o que faz o ponto ser
e o tempo de chegada estão diretamente correlacionados, exibido na origem do diagrama (Figura 8, III).
o que pode ser usado para distinguir origens de descargas
parciais muito distantes. Assim, o 3PTRD foi desenvolvido Diagrama de relação de frequências em 3 canais (3 –
para correlacionar tempos de chegada de três sinais de Center – Frequency – Relation – Diagrama – 3 CFRD)
descargas parciais. A Figura 7 mostra a construção lógica O diagrama da relação de frequências correlaciona a
do 3PTRD e o diagrama está dividido em seis seções iguais, medida de descarga parcial realizada em três frequências
em que é apresentada cada uma das seis combinações simultaneamente. A amplitude do sinal é medida em cada
possíveis de pulsos triplos. frequência. Assim, o sinal de saída de três filtros com
A Figura 8 apresenta uma visualização de diferentes frequências centrais e/ou diferentes larguras de banda
diferenças de tempo entre os pulsos de PD detectados nas permite análise do pulso em cada um dos três pontos de
fases L1, L2 e L3. Por exemplo, se a diferença de tempo medida. Isso se deve ao fato de que, devido à descarga
entre os primeiros dois pulsos for muito pequena, então o física, diferentes tipos de descargas parciais ou pulsos de
ponto resultante seria exibido entre os eixos geométricos ruído têm espectros de energia diferentes.
onde esses pulsos são detectados (Figura 8, I). Se os dois Em contraposição aos métodos 3PARD e 3PTRD, a
últimos pulsos ocorrerem quase simultaneamente, o ponto avaliação pelo 3CFRD não exige necessariamente três
resultante seria exibido sobre o eixo geométrico onde o unidades independentes de aquisição, pois pode ser usado
primeiro pulso é detectado (Figura 8, II). Caso todos os com uma única unidade de aquisição. Em geral, o primeiro
filtro de passagem de banda deve ser sintonizado para uma
frequência central baixa, a fim de possibilitar o atendimento
às normas técnicas IEC ou IEEE.
A segunda e terceira passagens de banda são sintonizadas
para frequências mais elevadas, determinadas pelo
responsável pelo teste, em que os efeitos da propagação
dos pulsos causam diferenças já distinguíveis nas respostas
espectrais do sinal de descarga parcial medido. Mediante a
escolha correta das frequências para passagem de banda,
torna-se possível efetuar medições de descargas parciais em
conformidade com as normas técnicas. Ao mesmo tempo se
remove praticamente toda a interferência sobreposta.
O 3CFRD correlaciona a saída dos três filtros de
Figura 7 – Segmentos de visualização de 3PTRD para seis diferentes
ordens de chegada de pulsos.
Figura 8 – Visualização de diferenças de tempo entre os três pulsos de Figura 9 – Exemplo de representação FFT para classificação dos pulsos de
DP dentro do segmento L1. descargas parciais com a determinação de três filtros de passagem de banda.
Apoio
58
Referências
IEC 60270. High-voltage test techniques – partial discharge
measurements. Third edition, 2000.
Figura 10 – Resultados de teste de descargas parciais sobrepostas.
CIGRÉ WG 21.03. Recognition of discharges. Electra
Magazine, n. 11. Paris, 1969.
KOLTUNOWICZ, W.; PLATH, R.; WINTER, P. Developments
in Measurements of Partial Discharge. OMICRON electronics
GmbH. Austria, 2009.
OMICRON ELECTRONICS. MPD 600 User Manual, Version:
MPD600.AE.2. Austria, 2009.
PAULINO, M. E. C. Estado da arte da medição com múltiplos
canais sincronizados para avaliação de descargas parciais.
Proc. 2010 IEEE Power Engineering Society Transmission
and Distribution Conf. São Paulo, 2010.
Capítulo XI
Avaliação da condição de
transformadores de potência
Determinação da Condição de
Transformadores de Potência
para Avaliação da Vida Útil
processo continuo no tempo, um valor numérico pode ser obtido FMEA (Análise do Modo e Efeito da Falha). Os resultados
em cada estágio representado por um Índice de Condição (IC) são usados para a definição de uma matriz de detecção
do transformador em cada intervalo de tempo. Essa condição e diagnóstico de falhas (DDF) mostrado na Tabela 2. A
ao longo do tempo pode ser dividida em cinco estágios, descrição das abreviações usadas na matriz para os métodos
conforme sugerido por Cigré WG A2.18, sendo a condição em de diagnósticos é apresentada na Tabela 1.
cada estágio também dividida em diferentes estados. A Figura 1 Tabela 1 – Métodos de Detecção e Diagnóstico
mostra a hierarquia do IC. Abreviação Descrição
DGA Análise dos Gases Dissolvidos no óleo
PCA Análise físico-química do óleo
COND Condutividade do Óleo
Testes Químicos
Estado 1
COSU Análise do Enxofre Corrosivo
MORS Saturação relativa da umidade no óleo
Estágio 1 Estado 2 MPED Umidade no papel com diagramas de equilíbrio
MPIS Umidade no papel (sorption isotherms)
Índice de Estágio 2
MPKF Umidade no papel via titulação KF
Condição Estado n
FUR Análise de Furan
DPO Grau de Polimerização
Estágio n
RATI Relação
EXCU Corrente de excitação
Figura 1 – Hierarquia do IC com estágios e estados. MABA Teste do balanço magnético
SWR Resistência estática do enrolamento
Na Figura 2 é associado um IC a cada avaliação de cada
Testes Elétricos
DWR
e diagnóstico. Neste trabalho, um método sistemático de FRDF Resp. frequência do fator de dissipação (15-400 Hz)
obtenção de índices de condição é proposto. Um diagrama de FRC Resp. frequência de capacitância (15-400 Hz)
blocos ilustrando o processo é mostrado na Figura 3. FRCL Resp. frequência de perdas núcleo (15-400 Hz)
FRLR Resp. frequência da reatância dispersão (15-400Hz)
COND
MPED
MPKF
FRDF
DGA
INRE
Modos de Falha
DPO
SWR
FRSL
RATI
FUR
POL
PCA
FRA
FRC
FDS
condição
PD
DF
Curto circuito entre enrolamentos
Curto circuito entre espiras
Curto circuito para terra
Elétrica
Flutuação de potencial
Curto circuito das laminações do núcleo
Múltiplos aterramentos do núcleo
Núcleo desaterrado
Térmica
Buckling
Movimento de massa
Estrutura de fixação solta
Deformação do condutor
Degradação por umidade no óleo
Degradação
(S). Isto é realizado para cada modo de falha. Por exemplo, A seguir são apresentados os critérios de interpretação de
para o modo de falha “degradação devido a água no papel”, alguns métodos de teste. As tabelas 4 e 5 a seguir mostram o
o vetor de estágio (S) pode apresentar como resultado cada um critério de interpretação.
dos estágios: novo, normal, anormal, defeituoso ou falhado, Tabela 3 – Critérios de Interpretação – critérios gerais
dependendo da concentração de água do transformador. Método de Critério
Outros tipos de falha que não estão relacionadas ao processo Diagnóstico
Relação Desvio dos dados de placa ≤±0.5% (7)
de degradação por umidade, como deformações mecânicas,
Para injeção na fase central (B) a tensão induzida nas outras
falhas elétricas e térmicas, também receberam um estado do
Teste de balanço fases deve estar entre 40-60% da tensão aplicada
estágio. magnético Para injeção nas outras fases (A ou C), a tensão na fase B
Para a determinação do vetor de estágio são utilizados os deve estar entre 85-90% da tensão aplicada.
métodos apontados na Tabela 1, sendo que cada um deles Corrente de excitação Desvios entre outras fases ≤±10% para enrolamentos YN (7)
possui suas características próprias para análise da condição do Fator de dissipação Novo <0.5% (20°C), 0.5%≤Normal≤1%, >1% Defeituoso (7)
Reatância de dispersão Desvios devem ser ≤±3% (7)
transformador.
Resistência de Desvios devem ser ≤±5% (7)
Além das recomendações dadas pelas normas ou estabelecidas
enrolamento
pelos bancos de dados de diagnósticos de transformadores, FRSL ΔR: menor que 15% entre as fases (8)
o critério de interpretação pode ser considerado como um FRA Avaliação de Especialista Humano/AIAFRA*
agente com inteligência própria para gerar uma interpretação de
*AIAFRA é uma ferramenta de software baseada em técnicas de Inteligência Artificial para FRA
resultados, isto é, ao invés de uma avaliação determinística, com
valores e intervalos de tolerância pré-determinados, a avaliação A Tabela 4 e 5 a seguir mostra o critério de interpretação
é realizada pelo usuário que chamaremos de Avaliação do para os resultados do teste de fator de dissipação e
Especialista Humano (AEH), ou realizada através do uso de um capacitância em transformadores a óleo. Para Tabela
Algoritmo com Inteligência Artificial (AIA). 4 (medidas de fator de dissipação ou fator de potência)
Apoio
57
pode-se observar três critérios bem definidos de análise, Tabela 4 – Critérios de Interpretação – Fator de
Dissipação / Fator de Potência
sendo:
Fator de Dissipação / Fator de Potência
Estágio / Estado
• Medida em 60 Hz: análise referenciada de acordo com Medida em Medidas entre Variação
60 Hz 15 e 400 Hz FPref
a norma IEEE 62:1995, observando a diferença do valor
Estágio 1: Novo FPmed < 0,5 % AEH/AIA FPmed < 1,1 x FPref
medida com relação ao valor do fator de potência medido
Estado 1 FPmed < 0,5 % AEH/AIA FPmed < 1,1 x FPref
na frequência de 60 Hz.
Estágio 2: Normal 0,5 % < FPmed < 1 % AEH/AIA FPmed < 2 x FPref
• Medida com variação de frequência entre 15 Hz e 400
Estado 1 0,5 % < FPmed < 1 % AEH/AIA FPmed < 2 x FPref
Hz: análise realizada de acordo com a assinatura obtida
Estágio 3: Anormal 1 % < FPmed < 1,2 % AEH/AIA FPmed < 2,3 x FPref
com os valores de fator de potência medidos em várias Estado 1 1 % < FPmed < 1,2 % AEH/AIA FPmed < 2,3 x FPref
frequências, dentro da escala de 15 Hz a 400 Hz. Estágio 4: Defeituoso 1% < FPmed < 1,5 % AEH/AIA FPmed < 2,6 x FPref
• Variação FPref: análise realizada com a comparação Estado 1 1% < FPmed < 1,5 % AEH/AIA FPmed < 2,6 x FPref
do fator de potência/fator de dissipação medido em 60 Estágio 5: Falhado FPmed > 1,5 % AEH/AIA FPmed > 3 x FPref
Hz com o valor de referência ou valor de histórico do Estado 1 FPmed > 1,5 % AEH/AIA FPmed > 3 x FPref
transformador em teste. Onde: FPmed é o resultado do ensaio e FPref é o valor de placa ou de comissionamento.
Da mesma forma, a Tabela 5 trata das medidas de obtida com os valores de capacitância medidos em várias
capacitância, onde se pode observar dois critérios bem frequências, dentro da escala de 15 Hz a 400 Hz.
definidos de análise, sendo: • Variação CAPref: análise realizada com a comparação
da capacitância medida em 60 Hz com capacitância de
• Medida com variação de frequência entre 15 Hz e referência do transformador em teste.
400 Hz: análise realizará de acordo com a assinatura Neste trabalho, o critério de interpretação individual
Apoio
58
C57.104 (9) foi adaptado ao modelo de degradação para Considerando que diferentes testes de
o estabelecimento do critério de interpretação do agente diagnósticos oferecem resultados contraditórios, um
DGA. A Tabela 6 mostra o critério de interpretação dos consenso originado por uma votação é introduzido para
resultados do agente DGA (análise cromatográfica) por resolver os conflitos entre agentes e determinar o estágio
meio do método do triângulo de Duval (10). do estado do transformador, utilizando um modelo de
Segundo a metodologia apresentada, pode-se resumir condição da degradação.
que a designação dos agentes é realizada com a utilização
de métodos de detecção e diagnóstico que avaliarão, cada Considerações finais
qual dentre de sua competência, o transformador. Desta Este trabalho apresenta uma proposta que preenche
forma é determinado o estágio por meio do modo de falha de maneira ideal os requisitos do Cigré WG A2.18 para a
e assim determinado o índice de condição. A Figura 4 implementação de sistemas de avaliação de condição. Pela
Tabela 5 – Critérios de Interpretação – Capacitância aplicação desta metodologia, uma avaliação sistemática e
objetiva é possível através de um sistema de pontuação
Capacitância
Estágio / Estado
Medida entre 15 - 400 Hz Variação CAPref
Referências
M. E. C. Paulino, J. L. Velasquez, H. DoCarmo, Avaliação da
Condição como Ferramenta de Gestão do Ciclo de Vida de
Transformador de Potência, XXI SNPTEE, Seminário Nacional de
Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Florianópolis, Brasil,
2011.
CIGRÉ Working Group A2.18, Guide for Life Management
Techniques for Power Transformers (2003).
D. Morais, J. Rolim, and Z. Vale, DITRANS – A Multi-agent System
for Integrated Diagnosis of Power Transformers,.IEEE Powertech
(POWERTECH 2008) Vol. 5. Lausanne, Switzerland, pp. 1-6, 2008.
Hydro Plant Risk Assessment Guide, Appendix E5: Transformer
Condition Assessment, 2006, http://www.docstoc.com/
docs/7274124/Hydro-Plant-Risk-Assessment-Guide-Appendix-E6-
Turbine-Condition.
N. Dominelli, A. Rao, P. Kundur, Life Extension and Condition
Assessment, IEEE Power Energy M 25, pp. 25-35, 2006.
An introduction to multiagent systems, ISBN 978-0-470-51946-2 ©
2009, M .Wooldridge.
IEEE Guide for Diagnostic Field Testing of Electric Power Apparatus-
Part 1: Oil Filled Power Transformers, Regulators, and Reactors,
IEEE Std 62-1995
P. Pichler, C. Rajotte, Comparison of FRA and FRSL measurements
for the detection of transformer winding displacement, CIGRE
SCA2 Colloquium, June 2003, Merida.
IEEE Guide for the Interpretation of Gases in Oil Immersed
Transformers, IEEE Std C57.104-1991.
IEC Publication 60599, Mineral oil-impregnated electrical
equipment in service—Guide to the interpretation of dissolved and
free gases analysis, March 1999.
Apoio
38
Manutenção de transformadores
Capítulo XII
Diante das necessidades do sistema elétrico, checagem regular das condições de operação desses
as atividades de manutenção tendem a migrar da equipamentos torna-se cada vez mais importante.
manutenção preventiva para a manutenção preditiva, e Torna-se imperativa a busca de procedimentos e
da manutenção baseada no tempo para a manutenção ferramentas que possibilitem a obtenção de dados das
baseada no estado atual do equipamento. Neste contexto, instalações de forma rápida e precisa.
as técnicas de monitoramento on-line têm sido adotadas O trabalho realizado pelo GT A2.05, Guia de
como a principal ferramenta para obter informações do Manutenção para Transformadores de Potência, Cigré
sistema ou equipamento a ser mantido, sem colocar Brasil, descreve:
em risco a operação segura e a confiabilidade dos
transformadores, permitindo o conhecimento de “Este contexto tem levado a uma mudança nas
sua condição durante sua operação, além de poder filosofias de manutenção, acelerando a migração
diagnosticar eventuais não conformidades. da manutenção preventiva para a preditiva, da
manutenção baseada no tempo para a baseada no
Introdução real estado do equipamento. Alguns dos primeiros
Os prejuízos decorrentes de qualquer tipo de equipamentos em que se opera essa mudança
interrupção de energia implicam na necessidade são os transformadores de potência, visto que,
de implantação de processos capazes de avaliar de além de essenciais para as redes de transmissão
forma eficaz a instalação e seus equipamentos. Esses e distribuição, são em geral os maiores ativos de
programas devem utilizar novas técnicas e ferramentas uma subestação.
capazes de detectar uma possível falha o quanto antes. Com isso, os sistemas de monitoração on-line têm
Os equipamentos elétricos instalados em subestações sido adotados como uma das principais ferramentas
podem ser solicitados a operar sob condições adversas para possibilitar essa mudança sem colocar em
e não se pode descartar a possibilidade de ocorrerem risco a segurança e confiabilidade da operação dos
falhas que deixem indisponíveis a função de geração transformadores, permitindo conhecer sua condição e
de energia elétrica aos quais pertencem. Assim, a diagnosticando ou prognosticando eventuais problemas.”
Apoio
39
Este texto descreve as principais características de um • Transmissão de dados – de acordo com a recepção dos dados
sistema de monitoramento on-line de transformadores. enviados pelos medidores é realizado o envio desses dados para
unidades de armazenamento. Esses dados ficarão à disposição
Estrutura básica de um sistema de dos usuários para a tomada de decisão. Várias tecnologias
monitoramento podem ser utilizadas na transmissão de dados, inclusive os
Diversas estruturas e projetos têm sido projetados para protocolos de comunicação. A transmissão dos dados pode ser
o monitoramento on-line contínuo de transformadores. realizada por sistema dedicado, pelo sistema de supervisão da
O trabalho do GT A2.05, Guia de Manutenção para subestação ou por um sistema híbrido incluindo os dois.
Transformadores de Potência, Cigré Brasil, descreve uma • Armazenamento e processamento de dados – uma vez
topologia básica do sistema de monitoramento em que se transmitidos os dados aquisitados no transformador, uma
podem observar as principais partes constituinte deste sistema. unidade será responsável por armazenar esses dados. Essa
A Figura 1 mostra o descrito. unidade poderá conter rotinas lógicas para processar esses
A seguir descrevemos as principais partes: dados, transformando-os em informações úteis para a tomada
de decisão nas atividades de manutenção, envolvendo a
• Medida das variáveis – uma vez determinadas as gestão do ativo. Diagnósticos e prognósticos poderão estar
variáveis que responderam pela descrição da condição disponíveis indicando a condição geral do equipamento ou a
do transformador, o sistema de monitoramento medirá condição de subsistemas específicos.
essas variáveis a partir de sensores, medidores ou • Disponibilidade das informações – As informações
transdutores, aplicados em cada variável, de acordo com processadas estarão à disposição de diversos setores
sua especificidade. Esses elementos de medida, instalados simultaneamente. Deverá ser previsto um sistema de dados
no transformador, disponibilizam a informação medida para que mantenha a integridade das informações e a segurança
ser transmitida. de acesso.
Apoio
40
Manutenção de transformadores
Essas estatísticas determinam o que deve ser monitorado Tabela 1 – Partes componentes (subsistemas) do transformador e
funções a serem monitoradas
no transformador. Uma vez com os dados do monitoramento, (Ref.: GT A2.05, Guia de Manutenção para Transformadores de
é realizado o diagnóstico para a definição da estratégia Potência, Cigré Brasil)
armazenamento e processamento é realizada através de uma rede • Cigré WG A2.37, “Transformer Reliability Survey: Interim Report”, Electra, CIGRÉ,
Ref. No. 261, 2012.
de comunicação. A substituição da rede ponto a ponto, através de • Cigré WG A2.27: Technical Brochure 343, "Recommendations for condition
cabeamento rígido, por uma rede LAN implica no uso de protocolos monitoring and condition facilities for transformers"
• IEEE Draft Guide PC57.143/20, "Guide for the Application for Monitoring Liquid
de comunicação.
Immersed Transformers and Components"
Ultimamente muitos protocolos são usados em subestações, • Alves, M. E. G., Experiência de Campo com a Monitoração On-Line de Dois
sendo alguns concebidos para aplicações específicas. Outros são Transformadores 150MVA 230kV com Comutadores Sob Carga, CIGRE SC A3, Rio de
Janeiro, 2007.
estruturados utilizando-se normas internacionais, mas também são
• MONTRANO, OMICRON, em http://bit.ly/1ATTLyE ou http://www.omicron.at
ajustados às necessidades de instalações locais.
Recomenda-se a utilização de protocolos de comunicação não
* Marcelo Eduardo de Carvalho Paulino é engenheiro
proprietários, tais como Modbus, DNP3, para facilitar a integração eletricista e especialista em manutenção de sistemas
dos componentes do sistema de monitoramento, incluindo o elétricos pela Escola Federal de Engenharia de
Itajubá (EFEI). Atualmente, é gerente técnico da
supervisório da subestação.
Adimarco |mecpaulino@yahoo.com.br.
Os dispositivos mais recentes utilizados na comunicação nas
instalações da subestação empregam a norma IEC 61850. Esta
define caminhos para o intercâmbio de dados entre os diferentes
Apoio
30
Conjuntos de manobra e controle de potência
Novo!
Capítulo I
Existem, conforme a formação técnica, a aplicação, Conforme as normas IEC 61439-1 e IEC 61439-
Conjuntos de manobra e controle de potência
de tensões e correntes elétricas de operação relativas A partir deste cenário, é possível notar a importância
Conjuntos de manobra e controle de potência
tradução da 6ª edição (1977) para o português clássico desde o seu lançamento em 1955;
(“Instalações Elétricas”) foi feita pela Editora Hemus, • “Protective Relaying: Principles and Applications”;
em 1978; do J. Lewis Blackburn, cuja 3ª edição, de 2007, foi
• “Instalaciones Eléctricas”, manual técnico da coordenada pelo Thomas J. Domin.
Siemens, cujo original em alemão é do ano de 1971,
e foi traduzido para o espanhol em 1981. Este material Portanto, os principais objetivos e contribuições
apresenta, em seus dois volumes, muito da escola deste trabalho é a apresentação e a disponibilização
alemã, oferecendo uma excelente referência; de informações básicas sobre a aplicação e o uso de
• “High Voltage Switchgear – Analysis and Design”, conjuntos de manobra e controle de potência, tanto
dos autores russos Chunikhin e Zhavoronkov, cuja de média quanto de baixa tensão, em instalações
tradução para a língua inglesa foi lançada em 1989. elétricas industriais.
naqueles casos em que os conjuntos possuem um Além destas definições normativas, existem
Conjuntos de manobra e controle de potência
invólucro metálico externo, previsto para ser aterrado, classificações associadas ao tipo de aplicação a que
e fornecido completamente montado, com exceção se destina um determinado CMCP. Basicamente,
das conexões externas, como mostrado na Figura 3. a classificação está diretamente ligada a função
primordial do equipamento. Sendo que, no Brasil,
como resultado de anos de influência do universo
ANSI / NEMA / UL, é comum se usar, tanto para
média quanto baixa tensão, as designações: Centro
de Distribuição de Cargas (CDC) e Centro de
Controle de Motores (CCM). Um bom exemplo da
absorção desta cultura se encontra no uso destes
termos nas especificações técnicas de grandes
empresas brasileiras.
Um CDC é associado a uma barra que tem a
função de servir de ponto de origem de distribuição
de energia elétrica de todo ou parte de um sistema
industrial, incluindo funções de manobra, de
proteção e, normalmente, de medição, também. Essa
Figura 3 – CMCP (CDC) de média tensão.
barra está, geralmente, conectada ao secundário de
um transformador de potência. Ela pode, ou não, ser
A ABNT NBR IEC 60439-1 define conjunto ligada a outra barra contígua, instalada no mesmo
de manobra e controle de baixa tensão como conjunto construtivo, por meio de um disjuntor de
sendo a combinação de um ou mais dispositivos interligação. É muito comum um CDC apresentar
e equipamentos de manobra, controle, medição, níveis de correntes nominais de regime e de curto-
sinalização, proteção, regulação, etc., em baixa circuito altos. Tanto em MT quanto em BT são
tensão, completamente montados, como todas utilizados disjuntores como elementos de manobra.
as interconexões internas elétricas e mecânicas Um CCM, por sua vez, está associado a uma barra
e partes estruturais sob a responsabilidade do que concentra as funções relacionadas a operação,
fabricante. Temos na Figura 4 um exemplo de um proteção e o controle dos circuitos alimentadores de
CCM de baixa tensão. motores, tanto em MT quanto BT. Essa barra pode
estar conectada ao secundário de um transformador
ou ser alimentada a partir de um CDC a montante.
Apesar de ser pouco usual, esta barra pode, também,
ter recursos para ser ligada a outra contígua,
instalada no mesmo conjunto construtivo, por meio
de um disjuntor de interligação. O CCM apresenta,
em geral, uma corrente nominal de regime baixa, se
comparada com um CDC. Os níveis das correntes
nominais de curto-circuito são menores do que
em um CDC. Para fins de proteção contra curto-
circuito, podem ser utilizados disjuntores ou fusíveis
limitadores de corrente. O elemento de manobra
mais usual é o contator. Para algumas aplicações
em MT, são encontrados casos que se utilizam os
disjuntores, associados a relés secundários, para as
Figura 4 – CMCP (CCM) de baixa tensão.
funções de manobra e proteção.
Apoio
38
Uma excelente fonte para auxiliar na compreensão Este equipamento integra as funções de distribuição
Conjuntos de manobra e controle de potência
dos conceitos sobre CDC e CCM, apresentados nos de energia (ramais de saída) e alimentação de
parágrafos acima, é o livro “Switchgear and Control circuitos de motores. Neste tipo de abordagem, tanto
Handbook”. No capítulo 14 (“AC Switchgear”) desta a corrente nominal de regime quanto a de curto-
referência, os autores descrevem os conceitos sobre circuito podem atingir valores altos, principalmente
CDC, tanto de BT (ver a norma IEEE C37.20.1) quanto se compararmos com os existentes na maioria das
de MT (ver normas IEEE C37.20.2 e IEEE C37.20.3). instalações atuais no Brasil.
Já o capítulo 26 (“Motor-Control Centers”) apresenta Em resumo, os Conjuntos de Manobra e Controle
as definições e recomendações relativas ao CCM, de Potência (CMCP), tendo ou não configurações
tanto de BT (ver NEMA ICS-18) quanto de MT (ver específicas, tais como CCM (Centro de Controle de
NEMA ICS-3). Motores) e CDC (Centro de Distribuição de Cargas),
Porém, diferentemente dos Estados Unidos, tal tanto em média tensão (MT) quanto em baixa tensão
divisão não existe formalmente na cultura europeia. (BT), visam suprir as necessidades dos pontos de
Por conta disso, é muito comum encontrar, dentro distribuição e controle de energia elétrica. Sendo que
deste contexto, tanto em MT quanto em BT, um CMCP estes equipamentos estão, muitas vezes, associados
desempenhando ambas as funções: CDC e CMC. às barras de um Sistema Elétrico com níveis altos
Capítulo II
problema não se encerra simplesmente com o fim do cálculo motores (para identificar requisitos de rearranjo do sistema
da energia incidente e a consequente categoria de risco em elétrico ou alteração de especificação de equipamentos ou
que se enquadram os requisitos de um EPI ou EPC. dos níveis de tensão usados na instalação).
É fundamental se identificar os níveis reais de energia A segunda etapa está associada à determinação das
disponível no ponto de aplicação do equipamento e as suas correntes de falta e os respectivos tempos de eliminação,
possíveis causas. E, para tal, se faz necessário estabelecer seguindo, por exemplo, as orientações contidas no IEEE Std
duas etapas de estudos de engenharia. 242:
A primeira etapa, conforme as recomendações do • Cálculo dos valores máximos e mínimos das correntes
compêndio de práticas recomendadas para instalações de curto-circuito, tanto os trifásicos quanto os monofásicos,
elétricas industriais, o IEEE Std 141, está associada à definição conforme as possíveis configurações de operação;
do arranjo do sistema elétrico e níveis de tensões elétricas, • Estudos de coordenação e seletividade do sistema de
em função das necessidades do mesmo e da sua interação, proteção.
ou não, com a concessionária de energia:
Somente, então, pode-se, por exemplo, iniciar a análise
• Definição da filosofia de operação a ser usada no sistema da energia incidente e dos métodos que podem ser adotados
(acoplamento com a concessionária local, geração própria, para a sua prevenção e a mitigação de seus efeitos.
cogeração, o uso de disjuntores de interligação fechados Todos sabem que um acidente em um equipamento resulta
de modo permanente ou não, a aplicação permanente ou em muitos transtornos e em custos consideráveis; sendo
temporária de reatores limitadores de corrente, etc.); que, muitas das vezes, o trabalhador, que estava incumbido
• Estudos de fluxo de carga (para se validar as possíveis da intervenção direta, sofre as maiores consequências,
configurações a serem usadas no sistema elétrico, etc.); podendo perder a sua saúde ou a própria vida. Por conta
• Cálculo das quedas de tensão devidas à partida de grandes disso, o conhecimento do estado da arte do projeto e do uso
Apoio
30
de conjuntos de manobras e controle de potência permite é o conjunto de normas regulamentadoras emitidas pelo
Conjuntos de manobra e controle de potência
diminuir as chances de ocorrência de arcos internos e mitigar Ministério do Trabalho e Emprego, ligado ao Governo Federal
os seus possíveis efeitos, aumentando as probabilidades de Brasileiro.
salvaguardar a vida humana. As normas técnicas, como todos os documentos gerados
A mesma falha mencionada acima, quando não coloca pelo seres humanos, evoluem ao longo do tempo de sua
em risco a vida humana de forma direta, pode representar existência, de forma a se adaptarem aos constantes avanços
danos a diversos equipamentos, resultando na perda de parte associados às áreas técnicas, éticas e políticas. Assim é de
ou na sua totalidade ou dos serviços prestados. Logo, um se esperar que o mesmo aconteça no que se diz respeito
conhecimento sólido dos projetos e do uso de conjuntos de aos Conjuntos de Manobra e Controle (CMC), os quais são
manobras e controle de potência permite, também, melhorar utilizados em diferentes níveis e aplicações dos diversos
o desempenho dos equipamentos e instalações. segmentos das atividades humanas.
Deste modo, é preciso, cada vez mais, disponibilizar O avanço contínuo de conhecimentos tem como objetivo
diretrizes e ferramentas que permitam aos responsáveis pela final a garantia da segurança dos usuários e de bens materiais,
especificação e a instalação de novos conjuntos de manobra além da confiabilidade dos próprios sistemas elétricos. As
e controle, ou a modernização de unidades já existentes, revisões das normas técnicas estão comumente associadas a
terem todas as condições para analisar e discutir as possíveis alterações em requisitos de operação e respostas a condições
opções e recomendações e, assim, identificar aquelas que normais ou imprevistas, como também aos métodos usados
mais se adequam. para sua verificação. Neste processo, às vezes ocorrerem
Além disso, é importante, também, incorporar as mudanças na nomenclatura ou na identificação de normas
boas práticas de engenharia e as lições aprendidas pelo e documentos técnicos. Porém, a essência dos fenômenos
uso consolidado de conjuntos de manobra e controle físicos e químicos associados a qualquer equipamento
em instalações com históricos positivos de continuidade, elétrico se mantém. Tanto que os diversos órgãos normativos
disponibilidade e segurança. ao redor do mundo, como a IEC, ANSI e ABNT, reconhecem
a validade de ensaios realizados num equipamento com
Compêndio básico de normalização de base em uma versão anterior de uma norma, quando não
conjuntos de manobra e controle ocorrem alterações no método e nos critérios de aprovação
Associados às diversas fases de aquisição e fornecimento no respectivo ensaio.
de um conjunto de manobra e controle de potência existem Toda esta preocupação se deve ao fato de que um Conjunto
diversos documentos normativos. de Manobra e Controle de Potência, dentro das redes elétricas
As normas técnicas são baseadas no conhecimento de distribuição de energia, seja em baixa ou média tensão, deve
e no consenso de especialistas, com o apoio e referendo estar, normalmente, associado a “barras” do respectivo sistema,
da sociedade. Elas estabelecem os requisitos mínimos onde os níveis de energias disponíveis podem ser bem altos.
e os procedimentos de ensaios necessários para se ter Isto está diretamente associado aos níveis de correntes de curto-
uma instalação segura e confiável, permitindo uma alta circuito e, conforme as necessidades estabelecidas pelo Estudo
disponibilidade da energia elétrica para qualquer sistema de Coordenação e Seletividade das Proteções Elétricas, ao
de potência. Elas são diferentes dos regulamentos. Esses se tempo de resposta dos dispositivos de proteção. As ocorrências
originam no âmbito governamental e são implementados de falta em circuitos de distribuição em CA implicam em
por força de lei. Um caso típico desse tipo de documento correntes de defeito com altos valores eficazes e de crista, os
Norma Regulamento
A origem e implementação ocorrem no âmbito da sociedade. A origem e implementação surgem no âmbito governamental.
Esclarece “como fazer”. Estabelece “o que fazer”.
Documento estabelecido por consenso e emitido por órgão Documento que contém regras e/ou requisitos obrigatórios, estabelecidos por
reconhecido, que visa fornecer regras, diretrizes e/ou características uma autoridade (municipal, estadual ou federal). Ele possui “força de lei”.
para a obtenção de um resultado ótimo.
Exemplo: ABNT NBR IEC 62271-200 (Conjuntos de Manobra e Exemplo: NR 10 (Norma Regulamentadora 10, do M.T.E.).
Controle entre 1 e 52 kV).
Apoio
32
quais estão diretamente relacionados com as características segurança altos. Por exemplo: uso de terminais grandes
Conjuntos de manobra e controle de potência
Sendo que, dentro da cultura europeia, o encadeamento • C37.20.3: Standard for Metal-Enclosed Interrupter
Conjuntos de manobra e controle de potência
Compêndio IEC:
A seguir são apresentadas, sem a intenção de esgotar o • IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear
assunto, listas, conforme os respectivos órgãos normativos, – Part 200: A.C. metal-enclosed switchgear and controlgear
com algumas das normas técnicas mais usuais no projeto, for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 kV
fabricação, ensaios e uso de conjuntos de manobra e controle (supersedes a IEC 60298)
de potência (CMCP) de BT e MT. • IEC 62271-1: High-voltage switchgear and controlgear –
Part 1: Common specifications (supersedes a IEC 60694)
ABNT: • IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
• NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão (IP Code)
• NBR IEC 60529: Graus de proteção para invólucros de • IEC 60664-1: Insulation coordination for equipment within
equipamentos elétricos (código IP); que substituiu a NBR low-voltage systems – Part 1: Principles, requirements and test
6146 (Invólucros de Equipamentos Elétricos – Proteção) • IEC 60865 (all parts): Short-circuit currents – Calculation
• NBR IEC60439-1: Conjuntos de manobra e controle of effects
de baixa tensão – Parte 1: Conjuntos com ensaio de tipo • IEC 60439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
totalmente testados (TTA) e conjuntos com ensaio de tipo assemblies – Part 1: Type-tested and partially type-tested
parcialmente testados (PTTA); que substituiu a NBR 6808 assemblies (Replaced by IEC 61439-1 and IEC 61439-2)
(Conjunto de manobra e controle de baixa tensão montados • IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
em fábrica – CMF) assemblies – Part 1: General rules (Edition 1.0 / 2009-01)
• NBR IEC62271-200: Conjunto de manobra e controle em • IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear
invólucro metálico para tensões acima de 1 kV até 52 kV; assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
que substituiu a NBR 6979 (Conjunto de manobra e controle assemblies (Edition 1.0 / 2009-01 – PSC Assemblies)
em invólucro metálico para tensões acima de 1 kV até 36,2 • IEC 61439-3: Low-voltage switchgear and controlgear
kV – Especificação) assemblies – Part 3: Distribution boards intended to be operated
• NBR IEC60694 (2006): Especificações comuns para normas by ordinary persons (DBO) (supersedes IEC 60439-3)
de equipamentos de manobra de alta-tensão e mecanismos • IEC 61439-4: Low-voltage switchgear and controlgear
de comando; que substituiu a NBR 10478 (Cláusulas comuns assemblies – Part 4: Assemblies for construction sites
a equipamentos elétricos de manobra de tensão nominal (supersedes IEC 60439-4)
acima de 1kV – Especificação) • IEC 61439-5: Low-voltage switchgear and controlgear
• NBR 14039: Instalações elétricas de média tensão de 1,0 assemblies – Part 5: Assemblies for power distribution in
kV a 36,2 kV public networks (supersedes IEC 60439-5)
• IEC 61439-6: Low-voltage switchgear and controlgear
ANSI / IEEE: assemblies – Part 6: Busbar trunking systems (busways)
• C37.20.1: Standard for Metal-Enclosed Low-Voltage Power (supersedes IEC 60439-2)
Circuit Breaker Switchgear • IEC 60947-1 - Low-voltage switchgear and controlgear –
• C37.20.2: Standard for Metal-Clad Switchgear Part 1: General rules
Apoio
36
• IEC 60947-2 - Low-voltage switchgear and controlgear – • IEEE Std 1584 - 2002: IEEE Guide for Performing Arc Flash
Conjuntos de manobra e controle de potência
Capítulo III
Já a definição para conjunto de manobra e controle em • Nível nominal para compartimentos preenchidos por
invólucro metálico seria aplicada naqueles casos em que fluidos.
os conjuntos possuem um invólucro metálico externo,
previsto para ser aterrado, e fornecido completamente Claro que os tópicos anteriores não se bastam por si
montado, com exceção das conexões externas. só para a aplicação dos equipamentos. Um passo inicial
A aplicação de um conjunto de manobra e controle de é consultar o capítulo “8” da norma “IEC 62271-200”
média tensão em invólucro metálico é feita, inicialmente, ou de sua NBR equivalente. Este capítulo possui três
com base nas características nominais necessárias ao seções que ajudam na seleção dos valores nominais, do
equipamento: projeto construtivo a ser adotado e a classificação de
arco interno, caso seja aplicável.
• Tensão nominal (Ur). O material mencionado e as informações contidas
• Nível de isolamento nominal (valores das tensões na literatura técnica disponível, como na norma “Ansi /
suportáveis nominais a frequência industrial – Ud, e ao IEEE C37.20.2”, têm como objetivo servir de guia para a
impulso atmosférico – Up). seleção de conjuntos de manobra e controle de média
• Frequência nominal (fr). tensão em invólucros metálicos.
• Corrente nominal de regime contínuo (Ir). É preciso atentar para as situações que apresentem
• Corrente suportável nominal de curta-duração (Ik). desvios dos valores considerados como padrões nas
• Valor de pico da corrente suportável nominal (Ip). normas para aplicação dos equipamentos, tais como:
• Duração da corrente suportável (tk). temperatura, altitude, influência de radiação solar, nível
• Valores nominais dos componentes incluídos no de umidade ou condições especiais de serviço (presença
conjunto de manobra e controle. de fumaça, pó, gases, etc.).
Apoio
34
As duas maiores escolas mundiais relacionadas a formas construtivas autossustentáveis que apresentem
com o desenvolvimento, projeto, construção e uso dos invólucro metálico externo. E elas podem ser aplicadas
conjuntos de manobra e controle de média tensão são: tanto em baixa tensão (BT) quanto em média tensão
a norte-americana (que está baseada nas normas Ansi / (MT). Sendo que, nos casos de aplicações em MT, está
Nema / UL) e a europeia (que segue as normas IEC). subentendido que é obrigatório, também, o uso de
As duas escolas não são exclusivas. Ambas se focam no barreiras metálicas na separação entre o compartimento
desempenho seguro e confiável do conjunto de manobra de BT (controle) e as partes em alta tensão.
e controle, com base nos fenômenos físicos intrínsecos O termo “metal-clad” é aplicável a estruturas de média
à operação elétrica dos equipamentos em condições tensão que, além de serem “metal-enclosed” (possuírem
normais e anormais. Cada uma apresenta as suas próprias um invólucro metálico externo), apresentam outras
características, mas ambas caminham, atualmente, para divisórias internas de material metálico, que separam os
um processo de harmonização de requisitos. compartimentos que compõem a coluna: controle (BT),
Porém, antes de continuar qualquer análise, é preciso disjuntor, cabos e barramento principal. Destas premissas,
esclarecer alguns conceitos e termos disseminados na surgem, também, conforme a Ansi e a Nema, outras
aplicação e uso de conjuntos de manobra e controle. exigências construtivas: barramento e (colunas) adjacentes
no compartimento do barramento principal, uso obrigatório
de disjuntores do tipo extraível, os transformadores de
potencial (TPs) e os auxiliares de controle (TACs), devem ser
montados em compartimento próprio.
Legenda:
1 - Compartimento de BT;
2 - Dispositivos de alívio de sobrepressão (alívio de gases);
3 - Compartimento do barramento principal;
4 - Compartimento do elemento de manobra;
5 - Elemento de manobra;
6 - Transformadores de corrente (TCs);
7 - Terminação dos cabos de potência;
8 - Chave de aterramento.
Figura 2 – Visualização esquemática de uma coluna de CMC de MT.
Figura 3 – Visualização dos conceitos “metal-clad” e “metal-
enclosed” para coluna de CMC de MT.
Existem conceitos oriundos da escola “Ansi / Nema” para
a definição estrutural dos conjuntos de manobra de potência, A IEC e a ABNT adotam também o uso do termo
que permeiam a cultura brasileira. Os mais comuns e que “metal-enclosed” para indicar os casos em que os
geram, ainda, muitas dúvidas e são os que estão associados conjuntos de manobra e controle são montados em
às expressões: “metal-enclosed” e “metal-clad”. invólucros metálicos. Já a expressão “metal-clad” foi
35
Legenda:
1 - Compartimento de BT;
2 - Duto de gases;
3 - Compartimento do barramento principal;
4 - Compartimento do elemento de manobra;
5 - Elemento de manobra (no caso, disjuntor);
6 - Transformadores de corrente (TCs);
7 - Terminação dos cabos de potência;
8 - Chave de aterramento;
9 - Guilhotinas automáticas;
10 - Transformadores de potencial (TPs);
11 - Barra de terra.
Figura 4 – Partes construtivas de uma coluna de conjunto de
manobra e controle de MT em invólucro metálico.
Tabela 1 – Comparativo simplificado entre os requisitos construtivos
de um “metal-clad”, conforme IEC e Ansi
Nas Figuras 5 e 6, pode-se visualizar a diferença Uma unidade funcional, conforme as normas ABNT
Conjuntos de manobra e controle de potência
conceitual que existe entre as duas normas no que diz e IEC aplicáveis estabelecem, é a parte da estrutura
respeito à exigência de barras isoladas e de buchas de que contém os componentes dos circuitos principais
passagem (barreiras entre colunas adjacentes) no arranjo e auxiliares relativos a uma única função, como por
e montagem do barramento principal de um conjunto exemplo: unidade de entrada, unidade de saída, etc.
de manobra e controle de MT em invólucro metálico. Na Esta definição está em conformidade com o vocabulário
Figura 5, tem-se uma vista traseira de um típico conjunto internacional (ver a cláusula “IEC 441-13-04” – definição
de manobra, conforme IEC, em que se nota as barras nuas modificada).
e o compartimento do barramento principal sem barreiras Uma das formas construtivas mais usada atualmente
(buchas isolantes de passagem) entre colunas adjacentes. Na na montagem de um conjunto de manobra e controle de
Figura 6, pode-se ver a aplicação de dois tipos de buchas média tensão é o arranjo com um disjuntor (elemento
de passagem (barreiras entre colunas adjacentes), além de de manobra) por coluna (unidade funcional), montado
barras e conexões isoladas no compartimento do barramento a meia altura (aproximadamente no meio da seção). Esta
principal, típico da cultura Ansi/IEEE/Nema/UL. forma pode ser denominada “um elemento por coluna”.
Dentro deste contexto, uma unidade funcional, na
maioria das vezes, confunde-se com a própria seção e/
ou coluna em que está montada.
Filosofias construtivas
Um conjunto de manobra e controle de média tensão
possui, na grande maioria dos casos, várias unidades
funcionais montadas em um invólucro, formando uma
estrutura única. Estes invólucros devem prover, pelo Legenda:
I - Compartimento de BT.
menos, um grau de proteção IP2X. Esse grau serve tanto II - Compartimento do barramento
para a proteção do equipamento contra as influências principal.
III - Compartimento do elemento de
externas, quanto para a proteção humana, no que diz manobra (disjuntor ou contator).
respeito à aproximação ou contato com partes vivas e IV - Compartimento de cabos.
contra contato com as partes móveis. Figura 8 – Compartimentos de uma unidade funcional.
Apoio
37
Tipos Características
Compartimento Acessível com base A ser aberto em condições normais Não são necessárias ferramentas para abertura.
acessível ao operador em intertravamento. de operação e manutenção. Intertravamentos previnem o acesso à alta tensão.
Acessível com base A ser aberto em condições normais Não são necessárias ferramentas para abertura.
em procedimento. de operação e manutenção. Procedimentos e travas previnem o acesso à alta tensão.
Compartimento com Acessível com base Passível de ser aberto, mas não São necessárias ferramentas para abertura. Podem ser
acesso especial em ferramenta. durante condições normais. necessários procedimentos especiais de manutenção.
Compartimento não Não é possível ao Não é previsto para ser aberto. Abertura pode afetar o compartimento. Deve
acessível usuário abrir. haver a indicação clara ao usuário para não abrir.
Acessibilidade não é relevante.
Tabela 3 – Categorias das partições entre partes vivas e da segurança humana e patrimonial. A atual
compartimento acessível aberto
classificação quanto à perda de continuidade de
Classe de Divisão Características
Obturadores metálicos e divisão serviço das unidades funcionais de um conjunto de
PM metálica entre as partes vivas e o manobra e controle, conforme a norma “IEC 62271-
(Partição Metálica) compartimento aberto (mantida a 200”, encontra-se na Tabela 4. As Figuras 9 a 14
condição de invólucro metálico). mostra exemplos das diferentes categorias, com o
Descontinuidade nas divisões metálicas uso de visualizações esquemáticas.
PI ou nos obturadores metálicos, existentes
(Partição Isolante) entre as partes vivas e o compartimento
aberto, devido ao uso de partes isolantes.
Tabela 4 – C lassificação dos tipos de categoria quanto à perda de continuidade de serviço quando da abertura
de um compartimento acessível
Figura 11 – Categoria LSC2 (seccionamento e aterramento no Figura 13 – Categoria LSC2B (disjuntor fixo).
compartimento do barramento principal).
Apoio
40
Os complementos necessários para se configurar esta É importante ressaltar que um conjunto de manobra pode
Conjuntos de manobra e
controle de potência
classificação quanto ao evento de um arco interno são os ter diferentes tipos de acessibilidade para os seus vários lados.
seguintes:
Exemplos de classificação IAC:
• Tipos de acessibilidade:
– Tipo A: restrito somente a pessoal autorizado. • IAC – AFLR – 40 kA – 1 s: acessibilidade, somente
– Tipo B: não restrito (público, em geral). de pessoal autorizado, na frente, laterais e traseira do
– Tipo C: restrito pela instalação fora de alcance e conjunto para uma falta por arco interno limitada a 40
acima da área de acesso. kA e 1 s.
• IAC – BF-AR – 20 kA – 0,1 s: acessibilidade para o
• Lados aos quais se aplicam a acessibilidade: público em geral na parte frontal e somente para pessoal
– F: para a parte frontal do conjunto. autorizado na traseira do conjunto, para uma falta por
– L: para as partes laterais do conjunto. arco interno limitada a 20 kA e 0,1 s.
– R: para a parte traseira (posterior / retaguarda) do
conjunto.
Capítulo IV
3) Frequência nominal (fr): A prática atual em todo o conforme a norma internacional ISO 3. Estes valores
Conjuntos de manobra e controle de potência
território brasileiro é o uso do valor de 60 Hz. foram propostos, originalmente, em 1870 por Charles
Renard (1847–1905), um engenheiro militar francês. E,
4) Valor da corrente nominal de regime contínuo (Ir) e em sua homenagem, adotou-se a letra R para designar
máxima elevação de temperatura: Neste caso, a ABNT cada uma das séries (R5, R10, R20, R40 e R80). Estes
segue a recomendação internacional de adotar, para os valores estão divididos em cinco conjuntos de números
valores da corrente nominal, os múltiplos da série R10, arredondados a partir das séries geométricas propostas:
conforme descrito na IEC 60059 (IEC standard current 10N/5, 10N/10, 10N/20, 10N/40 e 10N/80.
ratings). Um ponto interessante, ao compararmos os limites
de temperatura propostos pela IEC em relação à Ansi,
Tabela 2 – Valores típicos para corrente nominal de regime contínuo (Ir)
é o fato de a primeira permitir uma sobre-elevação de
Marcas Valores típicos da IEC
temperatura maior: 75 ºC (IEC) em comparação a 65 ºC
(1) (2)
(ANSI). Tal situação promove uma percepção confortável
A
para os usuários finais que aplicam equipamentos
(*) 630
800 de origem Ansi num contexto IEC. Este fato pode ser
1.000 explicado a partir da seguinte equação, a qual relaciona
(*) 1.250 as elevações de temperatura aos níveis de corrente.
1.600
(*) 2.000
2.500
(*) 3.150
4.000
Os termos mostrados significam:
Notas:
• Ir: Valor da corrente nominal.
• Coluna 1: a marca (*) indica os valores mais usados nos
• Ie: Valor da corrente de operação.
conjuntos de manobra e controle de MT.
• Δυr: Elevação de temperatura nominal.
• Coluna 2: valores da corrente nominal de regime contínuo
• Δυe: Elevação de temperatura em operação.
(Ir) conforme a subseção 4.4.1 da IEC 62271-200.
Tabela 3 – Limites de elevação de temperatura, conforme a tabela 3 da Como um exemplo para o ponto mencionado
norma IEC 62271-1 anteriormente, vamos verificar o que ocorre ao se aplicar
Conexão de barras ou Elev. Temp. Temp. Total 3.150 A em um equipamento Ansi de 3.000 A com conexões
terminação de cabos o
C o
C
prateadas aparafusadas nos barramentos. Com base na
Barras de cobre nu 50 90
relação (1), a seguinte relação se aplica:
Barras estanhadas 65 105
Barras prateadas 75 115
Barras niqueladas 75 115
Cabo a barra de cobre nu 50 90
Cabo a barra estanhada 65 105
Cabo a barra prateada 65 105 O resultado da relação anterior é, aproximadamente,
72 ºC. Isso representa a elevação de temperatura para
A série R10 (constituída pelos valores: 1 / 1.25 / 1.6 / uma corrente de 3150 A em um equipamento Ansi para
2 / 2.5 / 3.15 / 4 / 5 / 6.3 / 8 e seus múltiplos) é parte de 3.000 A. Em outras palavras, o equipamento é capaz
um sistema de números preferenciais, que foi proposto de atender ao requisito da IEC para uma elevação
com a finalidade de se padronizar os valores utilizados máxima de temperatura de 75 ºC (ver Tabela 3) para
em qualquer aplicação técnica, em conjunto com o uma conexão aparafusada de barras prateadas.
sistema métrico. Este sistema foi adotado em 1952 pela No caso de comparação de equipamentos de 1.200 A,
ISO (International Organization for Standardization), segundo a Ansi, no nível de 1.250 A, a elevação de
Apoio
34
Alternating-current circuit-breakers) define os seguintes associada à aplicação correta dos elementos de proteção
Conjuntos de manobra e controle de potência
valores a serem usados para obter o pico do primeiro (transformadores de corrente e relés) e de manobra
semiciclo de corrente de curto-circuito: (disjuntores, contatores e fusíveis limitadores).
• 2,5 para sistemas com fr = 50 Hz e constante de tempo 1) Esforços dinâmicos oriundos das correntes de curto-
(L/R) igual a 45 ms; circuito:
• 2,6 para sistemas com fr = 60 Hz e constante de tempo Em termos mecânicos, para um curto-circuito trifásico
(L/R) igual a 45 ms; e franco (impedância zero no ponto de falha) basta uma
• 2,7 para ambas as frequências e constante de tempo simples análise da fórmula (2) da norma IEC 60865-1 /
igual a 120 ms (caso especial). 1993 (Short-circuit currents – Calculation of effects. Part
1: Definitions and calculation methods), reproduzida a
7) Duração de curto-circuito nominal (tk): A ABNT, seguir, para se notar que o aumento do valor instantâneo
a IEC e a Ansi adotam, para a duração nominal da de pico da corrente de semiciclo implica uma variação
corrente suportável, um dos seguintes valores: 1, 2 ou 3 quadrática na força resultante: 10% a mais de corrente
segundos. Apesar de ser usual o valor de 1 segundo para significam 21% a mais de força sobre as barras.
as aplicações mais comuns, tem-se visto, neste quesito,
indústrias que, por questões de segurança operacional e
confiabilidade, vem mostrando preferência pelo valor de
3 segundos.
• Fm3: força no condutor principal (fase) central devido a um
curto-circuito trifásico;
Características especiais de aplicação
• μ0: constante magnética, permeabilidade do vácuo;
Como já comentado anteriormente, a aplicação de
• ip3: valor instantâneo de crista do primeiro semiciclo da
um conjunto de manobra e controle de média tensão vai
fase com maior assimetria em um curto-circuito trifásico;
além da simples acomodação dos valores nominais do
• l: distância entre centro de linha dos suportes;
equipamento aos que são requeridos pelo sistema. Existe
• am: distância efetiva entre condutores principais adjacentes.
a necessidade concreta de identificar as várias variáveis
presentes na instalação, sejam elas de origem elétrica ou
ambiental.
A operação adequada e segura de qualquer sistema
ou equipamento elétrico depende de um compromisso
entre fornecedor e cliente. O fabricante deve garantir que
o produto irá atender o estabelecido nas normas técnicas
aplicáveis, mas é fundamental que o usuário mantenha o
local da instalação conforme os requisitos da aplicação e
operação.
Um exemplo importante e que é muito recorrente
na aplicação de cubículos é o descuido com o valor de Figura 1 – Simulação gráfica da corrente de um curto-circuito monofásico.
com um valor insuficiente para a partida da respectiva 4) Alteração espacial do arranjo interno de partes do
Conjuntos de manobra e controle de potência
aplicar o tipo de TC testado originalmente pelo com forma de onda de 1,2/50 microsegundos para uma
fabricante do painel, sem precisar provocar impactos valor de ensaio de 95 kV de pico. O NBI é equivalente
dimensionais ou que possam invalidar ensaios efetuados ao BIL (Basic Impulse Level das normas Ansi). O arranjo
nos protótipos. Isso se torna mais provável nos casos de físico referente à verificação da suportabilidade ao
uso de relés numéricos que possuam filtros capazes de impulso atmosférico da fase B de um CMCP de MT,
se adaptar à condição de saturação pesada da corrente adaptado para ser acoplado a um duto de barras
medida. com transformadores de corrente para proteção
diferencial da unidade geradora (grupo gerador mais
transformador), é mostrado na Figura 6.
Apesar de ter sido demonstrado a adequação do
novo arranjo com base nas práticas de engenharia do
fabricante para um equipamento de classe de tensão
de 17,5 kV (NBI igual a 95 kV de crista), o usuário
final solicitou a realização de ensaio em laboratório
independente. Mas, o equipamento suportou as
aplicações sem a ocorrência de nenhuma descarga
disruptiva (flashover) na parte autorregenerativa
do isolamento, apesar das normas IEC aceitarem a
Figura 3 – Diagrama unifilar simplificado, mostrando parte dos
turbogeradores de uma unidade petroquímica. ocorrência de até duas.
Apoio
41
Figura 4 – Vista parcial do CMCP-MT correspondente ao um diagrama Figura 6 – Arranjo físico interno do CMCP de MT ensaiado quanto ao seu
unifilar (mostrado na figura anterior). NBI de 95 kV de crista (conforme oscilogramas da Figura 19).
Capítulo V
3.3. Verificação do nível de descargas parciais; h. Ensaios de pressão de compartimentos preenchidos a gás
3.4. Ensaios de poluição artificial; (quando aplicável);
3.5. Ensaios dielétricos para permitir teste com os cabos de i. Verificação dos dispositivos auxiliares (bomba de
força conectados. óleo, solenoide de mecanismo de operação de chave de
aterramento, etc.) elétricos, pneumáticos e hidráulicos;
Para estas normas, a lista de ensaios de rotina é a j. Ensaios depois de montagem no local de uso: deve-se
seguinte: verificar a operação correta do CMC e efetuar ensaio de
a. Ensaio dielétrico no circuito principal; tensão aplicada no circuito principal (com valor limitado a
b. Ensaios em circuitos auxiliares e de controle (a inspeção 80% do aplicado em fábrica). Nos casos aplicáveis, deve-se
e a verificação de conformidade com os diagramas de verificar a estanqueidade e medir a condição do fluido após
circuitos e de fiação, testes funcionais, a verificação da o preenchimento.
continuidade elétrica das partes metálicas aterradas e Pela norma ANSI / IEEE C.37.20.2, a lista de ensaios
ensaios de tensão aplicada à frequência industrial – 1 kV / requeridos é a seguinte:
60 Hz / 1 s);
c. Medição da resistência ôhmica do circuito principal (este 1 - Ensaios de tipo:
ensaio está sujeito a acordo entre fabricante e usuário); 1.1. Testes dielétricos;
d. Ensaio de estanqueidade (quando aplicável); 1.2. Corrente nominal permanente (elevação de
e. Verificações visuais e de projeto; temperatura);
f. Medição de descargas parciais (este ensaio está sujeito a 1.3. Suportabilidade à corrente momentânea;
acordo entre fabricante e usuário); 1.4. Suportabilidade à corrente de curta duração;
g. Ensaios de operação mecânica (pelo menos cinco 1.5. Suportabilidade à corrente momentânea do sistema
operações ou tentativas em cada direção); de desconexão das partes auxiliares removíveis (gavetas de
Apoio
48
transformadores de potencial e transformadores auxiliares para aplicações em salas elétricas com pouco espaço no
Conjuntos de manobra e controle de potência
Para esta norma ANSI, a relação dos testes que são feitos
na produção (ensaios de rotina) é a seguinte:
a. Teste dielétrico (valor de tensão suportável, aplicada à
frequência industrial) no circuito principal;
b. Testes de operação mecânica;
c. Medição da resistência ôhmica do circuito principal (este
ensaio está sujeito a acordo entre fabricante e usuário);
d. Teste de verificação do aterramento das carcaças
metálicas dos transformadores de instrumento;
e. Testes de fiação de controle e operação elétrica
(verificação da continuidade da fiação de controle,
verificação da isolação da fiação, verificação de polaridade
e teste de operação sequencial).
com a parte traseira das colunas próxima à parede, pois 8. Chave de aterramento.
9. Guilhotinas (“shutters”) metálicas (ver os detalhes, mostrando-as nas posições: “fechada” e “aberta”).
disponibiliza acesso frontal aos pontos de conexão dos
Figura 1 – Conjunto de manobra de MT com um disjuntor por coluna
cabos de potência. Apesar de ser uma forma interessante (arranjo “One-high” ou “Mid-high”).
Apoio
50
de barras para a conexão ao disjuntor de entrada, podem o elemento mais próximo (uma parede, por exemplo) para
Conjuntos de manobra e controle de potência
existir problemas com a acessibilidade para a instalação e que se possa permitir o acesso aos cabos de potência. A
manutenção do sistema. Outro ponto de preocupação é a vantagem deste arranjo surge quando existem limitações
seção reta dos cabos e sua quantidade por fase, tanto nas no comprimento da sala e com a necessidade de grandes
saídas quanto na entrada (caso não se use duto de barras). quantidades de cabos de conexão ou a instalação de dutos
Deve-se ter cuidado com o raio de curvatura dos cabos e de barras. Possui também um maior espaço para a instalação
com a dimensão mínima para a terminação dos cabos e de outros dispositivos como: capacitores e supressores de
sua passagem por dentro da janela de um possível TC para surto, muflas terminais em corpo cerâmico, TC toroidal
proteção contra correntes de sequência zero. para proteção contra falhas de sequência zero (“Ground
A opção pelo arranjo da Figura 2 (cultura “ANSI”) exige Sensor”), capacitores para correção de fator de potência
a presença de espaço entre a parte traseira das colunas e nas saídas para motores, chaves de aterramento, etc.
Além do contexto dos diferentes tipos construtivos já
mencionados, existe também uma discussão atual quanto
à filosofia de montagem a ser adotada para os elementos
de manobra: fixo ou extraível. Ambos os conceitos são
seguros e possuem vantagens e desvantagens quanto à sua
adoção. De fato, a escolha final recai sobre as filosofias
adotadas pelo usuário para a operação e manutenção da
sua instalação.
A filosofia de elementos de manobra fixos demanda o
uso de chave seccionadora ou equivalente para garantir o
seccionamento entre o elemento e rede elétrica. Já, no caso
de uso de elementos extraíveis, é eliminada a necessidade
de presença de chave seccionadora, desde que o sistema de
movimentação do carro extraível e as guilhotinas associadas
garantam a distância requerida para o seccionamento.
O uso de guilhotinas metálicas para os tipos extraíveis
permite a segregação dos condutores (uso de barreira
metálica aterrada entre partes energizadas, de forma que
qualquer ocorrência de uma descarga elétrica só possa
ocorrer para a terra) no ponto de seccionamento. Já nos
sistemas com elementos fixos, a adoção da segregação
de condutores só é possível com a instalação de uma
chapa metálica temporária entre os contatos abertos da
chave seccionadora. Outra vantagem no uso de elementos
extraíveis com guilhotinas metálicas é a possibilidade de
se conseguir, também, a segregação dos circuitos de saída.
No caso de elementos fixos, existe a necessidade de uso
Legenda:
de mais uma chave seccionadora e outra chapa metálica
1. Compartimento de controle (BT).
(para uso temporário entre os contatos da chave), a fim de
2. Dispositivos de alívio de pressão.
3. Compartimento de barras. se poder garantir a segregação. Porém, esta condição não se
4. Compartimento de elemento principal de manobra.
5. Disjuntor extraível. faz sempre necessária.
6. Transformadores de corrente (TCs), montados sobre as tulipas (campânulas) dos contatos fixos do disjuntor.
7. Compartimento de cabos. Tanto o sistema fixo para montagem de elementos de
8. Chave de aterramento.
9. Guilhotinas (“shutters”) metálicas. (ver os detalhes, mostrando-as nas posições: “fechada” e “aberta”). manobra quanto o extraível demandam intertravamentos
de segurança. Estes dispositivos exigem inspeções e testes
Figura 2 – Conjunto de manobra e controle de média tensão com dois
disjuntores por coluna (arranjo “Two-high”).
periódicos.
Apoio
51
Conclusões
A indústria, de um modo geral, vem ampliando os
requisitos do uso de conjuntos de manobra e controle de
média tensão de forma a estes equipamentos propiciarem
cada vez mais um serviço confiável e uma operação
segura, tanto do ponto de vista do sistema elétrico
quanto, principalmente, pelo lado do ser humano. Estes
requisitos têm sido cada vez mais rigorosos e precisam ser
considerados e incluídos nos novos projetos.
Neste contexto, tem-se observado, nas indústrias com
instalações e equipamentos elétricos baseados nas normas
ABNT e IEC, uma tendência à solicitação de conjuntos
Figura 6 – Exemplos de um sistema extraível. de manobra e controle de média tensão com as seguintes
características:
A escolha, pelo fabricante, tipo de configuração de
contatos, pinça ou tulipa, depende de fatores como:
• UF com interruptor montado a meia altura da coluna
níveis esperados para a corrente de regime permanente
(seção): um elemento por coluna;
ou de curto-circuito. Alguns fabricantes preferem usar,
• Classe de perda de continuidade de serviço e a categoria
basicamente, o tipo tulipa para todas as faixas, enquanto
de partição: LSC2B – PM para CDC e LSC2A – PI para
outros usam o tipo pinça até o nível de 2.000 A. Outro
CCM;
fator considerado nesta seleção está relacionado à forma
• Compartimento de disjuntor ou demarrador (contator
da interligação entre o elemento interruptor e o contato
mais fusíveis limitadores) com acessibilidade por
intertravamento;
• Compartimento de cabos com acessibilidade por
intertravamento ou por procedimento;
• Compartimento de barras principais: não acessível ou
com acesso especial (uso de ferramentas).
Figura 7 – Tipo de contatos móveis. • Definir as características nominais necessárias para uma
Apoio
55
Referências
• IEC 62271-200. High-voltage switchgear and controlgear
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear
for voltages above 1 kV and up to and including 52 kV.
IEC, 2003.
Apoio
38
Conjuntos de manobra e controle de potência
Capítulo VI
Conjuntos de manobra e
controle de baixa tensão
em invólucros metálicos
ensaiadas, mas cujos desvios foram derivados, por exemplo, por • IEC 60439-1: Cláusulas gerais (ou Requisitos comuns); e
cálculo, a partir de protótipos ensaiados e aprovados segundo • IEC 60439-2: Conjuntos de manobra e controle de potência
os requisitos da norma. de baixa tensão.
Dentro desta abordagem, todos os conjuntos não ensaiados,
nem que parcialmente, estão excluídos do universo coberto Além disso, esta nova revisão acaba com a distinção
pela ABNT NBR IEC 60439-1. Porém, a IEC, de modo similar que havia entre os conceitos de TTA e PTTA, adotando uma
ao que já existia para a média tensão, decidiu criar, também, abordagem mais flexível de verificação das características
uma nova família normativa para os conjuntos de manobra e construtivas e de desempenho. Passam a existir três tipos
controle de baixa tensão, a IEC 60439, seguindo a estruturação diferentes, porém equivalentes, de verificação dos requisitos:
e a divisão já estabelecidas para outros equipamentos. O
ponto que se destaca nesta revisão é a divisão da antiga IEC • Por ensaios / testes;
60439-1 (já cancelada) em duas novas normas: • Por cálculo / medições;
• Por atendimento a regras de projeto.
das pessoas (A) associadas a uma instalação elétrica, pode ser 4 - Corrente nominal de regime contínuo (Ir);
Conjuntos de manobra e controle de potência
encontrada na tabela 18 da ABNT NBR 5410 ou na tabela 12 5 - Corrente suportável nominal de curta duração (Ik);
da ABNT NBR 14039. 6 - Valor de pico da corrente suportável (Ip);
Assim, como a Figura 2 sugere, estamos experimentando 7 - Duração da corrente suportável (tk);
um amadurecimento e uma evolução na abordagem normativa 8 - Valores nominais pertinentes aos componentes incluídos no
dos conjuntos de manobra e controle de baixa tensão. conjunto de manobra e controle (a NBR define este tópico como
tensão nominal de alimentação dos dispositivos de fechamento
Anexo 1: Comparativo entre as normas técnicas para CMC e abertura e de circuitos auxiliares);
de média tensão 9 - Nível de enchimento nominal para todos os compartimentos
Conforme o capítulo 4 da IEC 62271-200, as características preenchidos por fluidos (a NBR define este tópico como pressão
nominais de um conjunto de manobra e controle em invólucro nominal de gás comprimido para isolamento e/ou operação).
metálico para tensões acima de 1 kV e até 52 kV são:
Comparativo
1 - Tensão nominal (Ur); Partindo-se dos requisitos normativos contidos nas famílias
2 - Nível de isolamento nominal (valores das tensões suportáveis ANSI / IEEE e IEC, é apresentada, a seguir, uma tabela comparativa
nominais a frequência industrial – Ud, e ao impulso atmosférico entre ambas, básica, com um resumo dos principais requisitos
– Up); para conjuntos de manobra e controle em invólucro metálico
3 - Frequência nominal (fr); de média tensão:
Tabela 1 – Comparativo entre as culturas ANSI e IEC para conjuntos de manobra e controle de média tensão
Norma(s) para disjuntores C37.04;C37.06 e C37.09 IEC 60056; substituída pela IEC 62271-100
Norma(s) sobre Cláusulas Comuns Não aplicável. São utilizadas normas dedicadas. IEC 60694; substituída pela IEC 62271-1
Existe a norma IEEE C37.100.1
Escopo Geralmente inclui um número limitado de valores Geralmente inclui uma grande gama de valores
para cada característica especificada. e permite que os fabricantes e usuários decidam
quais combinações são adequadas.
Equipamento principal de manobra deve ser extraível. Equipamentos principais de manobra podem ser
fixos.
Tensões nominais – Ur, kV 4.76; 8.25; 15; 27; 38 [1] 3.6; 7.2; 12; 17.5; 24; 36 [2]
Tensão suportável – 1 min. – Ud, kV – valor eficaz 19; 36; 36; 60; 80 [1] 10; 20; 28; 38; 50; 70 [2]
Impulso atmosférico (NBI) – Up, kV – valor de pico 60; 95; 95; 125; 150 [1] 40; 60; 75; 95; 125; 150 [2]
Apoio
41
Corrente nominal - Ir, A 1.200; 2.000; 3.000 (4.000 – FC) 400; 500; 630; 800; 1.000; 1.250; 1.600;
2.000; 2.500; 3.150; 4.000 [3]
Corrente suportável nominal de curta duração – Ik, 16; 22; 23; 25; 31.5; 36; 40; 41; 48; 49; 50; 16; 20; 25; 31.5; 40; 50; 63 [3]
kA (= K x Isc, na ANSI) 63 (conforme a tensão especificada de uso e a
capacidade de interrupção - ver C37.06).
Duração nominal da corrente de curta-duração – tk 2 (dois) segundos 1 (um) segundo como padrão,
3 (três) segundos opcional
Valor nominal de crista da corrente de curta = 2.7 (versões atuais adotam 2.6) x a corrente = 2.5 x a corrente de curta-duração do CMC
duração – Ip, kA – valor de crista (corrente de curta-duração (KI – o fator K foi retirado (p/ 50 Hz – X/R= 14).
momentânea) – L/R= 45 ms na última revisão da norma de disjuntores) = 2.6 x a corrente de curta-duração do CMC
do disjuntor usado no painel. (p/ 60 Hz – X/R= 17).
Material isolante As classes são similares aos limites e elevações da IEC. Classe E da IEC: 80 ºC de elevação e 120 ºC total.
Terminais prateados para conexão de cabo 45 ºC de elevação; 85 ºC total. 65 ºC de elevação; 105 ºC total.
Superfícies externas acessíveis ao operador que não 30 ºC de elevação; 70 ºC total. 40 ºC de elevação; 80 ºC total.
precisam ser tocadas durante a operação normal.
Transformadores de corrente Especifica a exatidão mínima e as características A IEC não aborda os transformadores
mecânicas e térmicas. de corrente na norma de painéis.
Ensaios de dielétricos Exige o uso de fatores de correção para as IEC exige que os testes sejam feitos nas condições
condições atmosféricas não padronizadas. padronizadas. O uso de fatores de correção é
permitido quando acordado entre
usuário e fabricante.
Ensaio de impulso 3x1x3: nenhuma descarga nas três primeiras 15 aplicações iniciais para cada posição e em
aplicações ou uma num total de seis. Outro método, ambas as polaridades. Se houver até duas falhas
já usado, é o 3x1x9: nenhuma descarga nas 3 nas 15 aplicações iniciais, devem ser dadas mais
primeiras aplicações ou 1 num total de 12. 5 aplicações para cada descarga (chegando ao
As aplicações são para cada posição máximo de 25 disparos): 15x2x10.
e em ambas as polaridades.
Ensaio do isolamento das barras Exige o ensaio da cobertura, por 1 minuto, na Nada
máxima tensão nominal.
Ensaio de Descargas Parciais Não exige e nem aborda o Recomenda testes de descargas parciais sob certas
fenômeno de descargas parciais. circunstâncias, mas não são exigidos. Seguem as
recomendações do Anexo B da IEC 62271-200.
Ensaios de corrente de curta duração A barra de terra deve suportar por um tempo Condutores de aterramento e dispositivos
de 2 segundos a corrente informada. devem suportar 1 segundo.
Apoio
42
Conjuntos de manobra e controle de potência
Verificação da capacidade de É exigido para os disjuntores. Exige ensaio com os dispositivos principais
estabelecimento e interrupção de manobra instalados no painel.
Grau de proteção dos invólucros Nenhum ensaio. São seguidas as exigências São exigidos os ensaios para verificação
da NEMA 250 e as recomendações do grau de proteção.
do Anexo A da C37.20.2.
Correntes de fuga Nenhuma medição é necessária. Exige a medição caso sejam utilizadas
partições ou guilhotinas isolantes.
Arco devido a falhas internas Sujeito a acordo entre usuário e fabricante. Sujeito a acordo entre usuário e fabricante.
Segue a ANSI/IEEE C37.20.7. Segue o Anexo A da IEC 62271-200.
Isolação da fiação de controle 60 HZ 1.500 V por 1 minuto ou 1.800 V por 1 2.000 V por 1 minuto, 1 segundo opcional
segundo entre todos terminais e a terra. (acordo entre usuário e fabricante).
Ensaios de campo Testes de alto potencial com 75% Testes de alto potencial com 80%
do valor usado na fábrica. do valor usado na fábrica.
Barramento principal Deve ser isolado e segregado entre colunas. Nenhuma exigência.
Aterramento Não existe requisito específico como na IEC. Para atender aos requisitos da IEC, chaves de
aterramento são frequentemente usadas.
Transformadores de potencial Solicita o uso de proteção de sobrecorrente nos Não existe tal exigência.
lados primário e secundário.
Fiação de controle nos compartimentos de AT Exige o uso de barreiras metálicas aterradas. Permite o uso de tubos isolantes.
Barreiras internas e guilhotinas Exige mais partições do que a IEC. É exigido o uso As barreiras entre colunas adjacentes para o
no compartimento do barramento principal de barramento principal são opcionais na IEC.
barreiras entre colunas.
Invólucros Especifica certas espessuras mínimas para algumas Nenhuma espessura é especificada.
partes do invólucro e das barreiras internas.
Notas:
1. Ver tabela 1b (Níveis de Isolamento Nominais para tensões da Faixa I / Série II,
em 60 Hz) da IEC 62271-1.
2. Ver tabela 1a (Níveis de Isolamento Nominais para tensões da Faixa I / Série I, em
50 Hz) da IEC 62271-1.
3. Os valores são selecionados a partir da série R10 (uma das cinco séries,
desenvolvidas no século passado, pelo engenheiro francês, Charles Renard): 1 – 1,25
– 1,6 – 2 – 2,5 – 3,15 – 4 – 5 – 6,3 – 8 e os respectivos múltiplos para 10n. Sendo
que os valores sublinhados na célula da tabela são os mais usuais.
Apoio
36
Conjuntos de manobra e controle de potência
Capítulo VII
Filosofias construtivas
A ABNT NBR IEC 60439-1 define conjunto V. Pode ser conectado diretamente ao transformador
de manobra e controle de baixa tensão como por um trecho muito curto de condutores, normalmente
sendo a “combinação de um ou mais dispositivos barras com links flexíveis, constituindo uma estrutura
e equipamentos de manobra, controle, medição, única, que a cultura norte-americana chama de
sinalização, proteção, regulação etc., em baixa tensão, subestação unitária secundária (aquela cuja tensão
completamente montados, com todas as interconexões inferior do transformador é menor que 1.000 V
internas elétricas e mecânicas, e partes estruturais, sob eficazes entre fases). No caso de os transformadores se
a responsabilidade do fabricante”. A IEC 61439-2, encontrarem fora da sala onde o conjunto está instalado,
como já mencionada anteriormente, esclarece que podem ser feitas conexões por trechos de duto de barras
os conjuntos servem para a distribuição e controle ou lances de cabos de força. Estes equipamentos são
de todos os tipos de cargas em aplicações industriais, dimensionados para lidar com concentrações altas
comerciais e similares em baixa tensão (BT). de carga, geralmente associadas a correntes nominais
Dentro deste contexto, em que se permite a elevadas de regime e de curto-circuito. É muito comum
combinação de elementos de manobra com os de nas estruturas baseadas em projetos norte-americanos
controle, torna-se possível compreender por que a se observar o uso de colunas ditas de “alta densidade
cultura europeia, a princípio, não faz distinção entre de correntes”, ou seja, aquelas que possuem de 3 a 4
os “tipos construtivos” CDC (Centro de Distribuição disjuntores de potência extraíveis de BT (respeitando-se,
de Cargas) e CCM (Centro de Controle de Motores), logicamente, a condução permanente de corrente e a
diferentemente do que é apresentado pela IEEE Std elevação de temperatura aplicáveis aos componentes
C37.20.1 (IEEE Standard for Metal-Enclosed Low- e a coluna). No Brasil, as tensões nominais trifásicas
Voltage Power Circuit Breaker Switchgear) e pela mais observadas para esta aplicação são 480 V, como
NEMA Standard Publication No. ICS 18 (Motor mencionado anteriormente, e 380 V, que se enquadra
Control Centers). Ou seja, a IEC aceita a integração de na faixa de aplicação do novo padrão IEC de 400 V.
unidades de distribuição de potência e de controle de Um Centro de Controle de Motores em Baixa
motores em uma única estrutura. Tensão (CCM de BT), exemplificados na Figura 2, é uma
Um Centro de Distribuição de Cargas em Baixa estrutura em invólucro metálico com compartimentos
Tensão (CDC de BT), exemplificados na Figura 1, dedicados à manobra, proteção e acionamento de
conforme as definições encontradas no contexto ANSI motores de BT. Este equipamento pode ser ligado ao
/ IEEE / NEMA / UL, é um equipamento em invólucro secundário de um transformador de distribuição ou
metálico com disjuntores de potência de BT, usados a um circuito de alimentação dedicado, o qual, na
na distribuição de energia elétrica, normalmente, maioria das vezes, se origina em um CDC. Ele pode ter,
alimentada pelo secundário de um transformador de no Brasil, uma tensão nominal de operação de 380 V (ou
potência com tensão nominal de 240 V, 480 V ou 600 400 V), 480 V e 600 V (ou 660 V). Estes equipamentos
Apoio
37
são dimensionados para lidar com concentrações de cargas rotóricas curta duração (Icw): 1 s, salvo indicação em contrário, conforme
trifásicas, geralmente, associadas a correntes nominais de regime e o item 4.3 da ABNT NBR IEC 60439-1. Esta é uma condição mais
de curto-circuito menores, se comparados a um CDC. Apesar de rigorosa se comparado com o que é apresentado pela Nema ICS 18,
não ser uma orientação normativa, é comum se ter neste tipo de a qual fala em um tempo de 3 ciclos (o que, para uma frequência
estrutura partidas para motores trifásicos “limitados” a uma faixa de de 60 Hz, corresponde a 50 ms) e a IEEE C37.20.1, que solicita um
110 kW a 150 kW. Este valor está relacionado com as dimensões e desempenho satisfatório para o valor de 0,5 s aplicado por duas
pesos associados a unidade funcional responsável pela alimentação vezes consecutivas, com um intervalo de 15 s entre cada aplicação.
do circuito, principalmente no caso de uso de unidades extraíveis. E da mesma forma, pode-se ver, a nível mundial, que a cultura
Graças à forte influência norte-americana na cultura IEC vem buscando novas abordagens a partir da filosofia ANSI.
eletrotécnica nacional, ao longo de boa parte do século XX, Um exemplo típico para este caso é que além da tradicional
principalmente nos segmentos industriais associados aos setores abordagem de se usar um único disjuntor de potência (também
petroquímicos, siderúrgicos e de mineração, o conceito associado a denominado disjuntor do “tipo aberto” ou “a ar”), por coluna em
estruturas distintas para as funções de CDC e CCM tem prevalecido, conjuntos de distribuição (configurando uma Unidade Funcional
ainda hoje, no mercado brasileiro. A principal vantagem desta por seção), já se pode encontrar arranjos com mais de um disjuntor
abordagem é ter estruturas com níveis mais compatíveis de corrente de potência em uma mesma coluna: a chamada configuração
nominais de regime e de curto-circuito, associadas ao tipo de carga “com alta densidade de carga” (com duas ou mais unidades
e de função esperada para a aplicação. funcionais com disjuntor de potência em uma mesma seção). Esta
Cabe, entretanto, ressaltar o fato de que certas características exemplificação pode ser vista na Figura 3.
das normas IEC vem sendo agregadas no Brasil ao uso dos Centros Uma representação esquemática dos principais componentes e
de Distribuição de Cargas (CDC) e Centros de Controle de Motores partes de um conjunto de manobra e controle de baixa tensão é mostrada
(CCM), como definidos no IEEE e na Nema. Um exemplo claro é na Figura 4. Estes componentes e partes são integrados em diferentes
o valor adotado para o tempo associado à corrente suportável de arranjos construtivos, conforme são definidos na ABNT e na IEC.
Apoio
38
Conjuntos de manobra e controle de potência
ANSI / UL IEC
NEMA / UL IEC
dos alimentadores de energia, dois tipos de unidades são divididos em barramento principal e barramento de
Conjuntos de manobra e controle de potência
funcionais: de entrada, que é aquela “pela qual a energia derivação, exemplificados, respectivamente, nas Figuras 7
elétrica é, normalmente, fornecida ao conjunto” (ver item e 8.
2.1.6 da norma) e de saída, que é a “unidade funcional pela Uma unidade funcional (UF), também conhecida
qual a energia elétrica é normalmente fornecida para um ou nas aplicações de baixa tensão como “gaveta”, pode ser
mais circuitos de saída” (ver item 2.1.7 da norma). ainda classificada como fixa, removível ou extraível, como
Os circuitos principais dentro de um CMCP de BT, ilustrado na Figura 9. A definição básica de cada tipo é
como os barramentos de potência, podem ser constituídos mostrada a seguir, junto com a referência do item original
por condutores nus ou isolados, montados de forma da norma ABNT NBR IEC 60439-1:
a prevenir um curto-circuito interno, sob condições
normais de operação. Porém, mesmo assim, eles devem • Fixa: UF montada sobre um suporte comum e que é
ser dimensionados de forma a suportar, além da corrente instalado de forma fixa (item 2.2.5);
nominal de regime, as possíveis correntes de curto-circuito • Removível: UF que pode ser totalmente removida do
(corrente suportável de curta-duração ou, se for aplicável, CMCP e ser substituída, mesmo com o circuito principal
a corrente de curto-circuito limitada por um dispositivo de energizado (item 2.2.6); e
proteção no lado de alimentação dos barramentos). • Extraível: UF removível capaz de estabelecer
Os barramentos dentro do CMCP de BT, normalmente, uma distância de isolamento quando na posição
desconectada e/ou de teste, caso a tenha, enquanto
ainda permanece, mecanicamente, fixada ao CMCP
(item 2.2.7).
Figura 10 – Comparativo dos requisitos e características de operação e manutenção entre unidades funcionais fixas, removíveis e extraíveis para CMCP
de BT.
As conexões elétricas para qualquer unidade funcional (UF) • A 1ª letra identifica o tipo de conexão elétrica do circuito de
de um CMCP de BT, conforme o item 2.2.12 da ABNT NBR IEC entrada principal (“força”);
60439-1, são classificadas como: • A 2ª letra identifica o tipo de conexão elétrica do circuito de
saída principal (“força”); e
• Fixa: aquela que é conectada ou desconectada por meio de • A 3ª letra identifica o tipo de conexão elétrica dos circuitos
ferramenta; auxiliares (“controle”).
• Desconectável: aquela que é conectada ou desconectada por
manobra manual do meio de conexão, sem usar ferramenta; e Neste sistema de identificação, são utilizadas as seguintes
• Extraível: aquela que quando está conectada ou desconectada letras:
faz com que a UF fique na condição conectada ou desconectada.
• F: conexões fixas;
O modo como são feitas as conexões elétricas de uma • D: conexões desconectáveis; e
unidade funcional é descrito no item 7.11 da norma. Os tipos • W: conexões extraíveis.
de conexões são identificados por um código de três letras:
Apoio
44
A Figura 12 apresenta, de forma esquemática, uma vista extraível numa instalação marítima. Este setor, principalmente
Conjuntos de manobra e controle de potência
em corte de uma coluna de CCM com uma unidade funcional dentro do segmento de óleo e gás, foi o que mais motivou a
(UF) extraível na posição conectada. Nesta imagem, é possível adoção de colunas com o que o mercado costuma a chamar
identificar os compartimentos de cabos e o da UF propriamente de “gavetas (UFs) totalmente extraíveis”. Este termo é, às vezes,
dita, em que se veem as conexões elétricas principais (circuitos utilizado, para se referir a uma UF do tipo “W-W-W”, ou seja:
de força) de entrada e saída, além da conexão de controle uma unidade com duplo seccionamento nos circuitos de força
(“tomada para os circuitos auxiliares”). (entrada e saída) e dupla extração (tanto os circuitos de força
Na Figura 13, pode-se ver, na parte traseira de uma UF quanto os de controle).
extraível, seguindo da esquerda para a direita, as conexões Apesar de as unidades funcionais poderem ser do tipo fixa
de controle (circuitos auxiliares), saída de potência (circuito ou removível, o apelo do uso de UF do tipo extraível (“gavetas”)
principal) e entrada de potência (circuito principal). Como em CMC de BT nos setores petroquímico, siderúrgico, de
todos elas são extraíveis, a classificação, neste caso, seria: mineração e de papel e celulose é forte devido à possibilidade
“W-W-W”. de se ter uma rápida inspeção e, se necessário, a troca da gaveta
A Figura 14 traz um exemplo de aplicação de uma UF – seja ela uma partida (“demarradora”) ou um alimentador.
Figura 12 – Vista esquemática de uma unidade funcional extraível. Figura 13 – Vista de unidade funcional extraível, mostrando as suas
conexões.
Figura 14 – Unidade Funcional (UF) tipo “W-W-W” (chamada, às vezes, de “gaveta totalmente extraível”).
Apoio
28
Conjuntos de manobra e controle de potência
Capítulo VIII
O primeiro dígito (numeral) da classificação do grau de A primeira letra adicional após a indicação do grau de proteção
Conjuntos de manobra e controle de potência
proteção (IP) indica que o equipamento deve prevenir acesso (IPXX) é opcional e indica que o equipamento fornece proteção
a partes perigosas e o ingresso de corpos sólidos, conforme a adicional, conforme a Tabela 3. A segunda letra “suplementar”
Tabela 1. O segundo dígito (numeral) da classificação do grau após a indicação do grau de proteção (IPXX) é, também, opcional
de proteção (IP) indica que o equipamento deve prevenir o e indica que o equipamento atende a requisitos específicos para
ingresso de água, conforme a Tabela 2. uma das aplicações mostradas na Tabela 4.
Tabela 1 – Grau de proteção – IP: 1º numeral
0 Nenhuma
1 Uma esfera de diâmetro de 50 mm (costa da mão) não deve comprometer a segurança (50 N).
Uma esfera de diâmetro de 50 mm não deve entrar completamente.
2 Um dedo articulado de teste com diâmetro de 12 mm e L = 80 mm não deve tocar partes perigosas ou diminuir distâncias de isolamento (10 N).
Uma esfera com diâmetro de 12,5 mm não deve entrar completamente.
3 Um arame de aço, com diâmetro de 2,5 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (3 N).
Um arame de aço de diâmetro de 2,5 mm não deve entrar.
4 Um arame de aço, com diâmetro de 1,0 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (1 N).
Um arame de aço de diâmetro de 1,0 mm não deve entrar.
5 Um arame de aço, com diâmetro de 1,0 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (1 N).
Quantidades limitadas de pó podem penetrar, mas não devem poder interferir com a operação normal do equipamento (“dust-protected”).
6 Um arame de aço, com diâmetro de 1,0 mm e L = 100 mm, não deve comprometer a segurança (1 N).
A prova de pó (“dust-tight”).
0 Nenhuma
1 Gotas de água caindo verticalmente ( condensação ).
2 Gotas de água caindo com um ângulo de 15o com a vertical ( por exemplo , sistemas de combate a incêndio com pé direito alto e com uso de sprinkler ).
3 Aspersão de água caindo com um ângulo de 60o com a vertical ( por exemplo , sistemas de combate a incêndio com pé direito baixo e com uso de sprinkler ).
5 Uso de mangueiras d ’ água – jato d ’ água de baixa pressão proveniente de qualquer direção
6 Condições de convés de navios – jato d ’ água com alta pressão proveniente de qualquer direção .
7 Imersão temporária .
8 Imersão contínua .
A 0 A esfera com 50 mm de diâmetro pode entrar, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica (rigidez dielétrica, tensão de impulso etc.).
Proteção contra as costas da mão.
B 0&1 O dedo de teste de diâmetro de 12 mm pode entrar até 80 mm, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica. Proteção contra dedos.
C 0, 1 & 2 O dispositivo de teste, com diâmetro de 2,5 mm e comprimento de 100 mm, pode entrar, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica.
Proteção contra ferramentas.
D 0, 1, 2 & 3 O dispositivo de teste, com diâmetro de 1,0 mm e comprimento de 100 mm, pode entrar, mas não deve tocar em partes perigosas ou reduzir a isolação elétrica.
Proteção contra fios.
H Equipamentos de alta-tensão.
M Verificação do ingresso de água com o equipamento em movimento (por exemplo, máquina rotativa em operação).
S Verificação do ingresso de água com o equipamento em repouso (por exemplo, máquina rotativa parada).
W Adequado para uso em condições climáticas especiais e com características adicionais de proteção (a ser acordado entre fabricante e usuário).
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34
Conjuntos de manobra e controle de potência
externo), uma parte (unidade funcional, por exemplo) ou uma • Proteção contra contato com partes perigosas: no mínimo
barreira, conforme exemplificado na Figura 2. IP XXB; e
Um fator que está, também, correlacionado ao grau • Proteção contra penetração de corpos sólidos: no mínimo
de proteção de um conjunto de manobra e controle são as IP 2X.
correntes nominais a serem adotadas nas unidades funcionais e
nos barramentos principal e de derivação. É importante ressaltar que o grau de proteção IP 2X cobre
Pode até não ser uma relação clara e direta, mas o fato o grau de proteção IP XXB. A separação interna pode ser
de se tomar a decisão de adotar uma classificação IP mais obtida por meio de partições ou barreiras (metálicas ou não),
restringente quanto à entrada de corpos sólidos pode implicar isolamento das partes vivas ou uso de componentes com o
restrições na ventilação natural necessária à troca de calor para grau de proteção desejado (por exemplo, disjuntores em caixa
operação das partes ou da totalidade dos painéis. Afinal, cada moldada com grau de proteção IP 2X – “à prova de dedos”).
elemento instalado dentro de um painel, apesar de ter um valor Os tipos de forma de separação permitem que o usuário
de sobretemperatura associado à sua corrente permanente e à escolha o arranjo que melhor atende aos seus requisitos de
temperatura ambiente externa, ele encontra-se sob influência segurança e continuidade de serviço, conforme a instalação
direta das condições do seu microambiente. existente. A Figura 3 mostra um exemplo de um CMCP de
Outro ponto muito relevante na especificação e na aplicação BT com forma de separação 2a (vista posterior, mostrando
de um CMCP de BT é a definição da forma de separação interna. barramentos principal e de derivações, além dos terminais de
Conforme descrito na seção “7.7” da ABNT NBR IEC 60439-1, as saída das unidades funcionais). Já a Figura 4 apresenta uma
formas de separação interna estabelecem as condições construtivas, vista posterior de um CMCP de BT com forma 3b nas duas
por meio de divisões e barreiras, para se atingir graus de proteção colunas da direita e forma 4b nas três colunas da esquerda.
internos iguais ou superiores a IPXXB e IP2X entre compartimentos. Os detalhes sobre os requisitos construtivos das formas de
Em outras palavras, aplica-se a seguinte filosofia: separação interna são apresentados na tabela 5 e na Figura 5.
Apoio
36
Conjuntos de manobra e controle de potência
Figura 5 – Representação esquemática das formas de separação definidas pela ABNT e IEC.
Separação entre os barramentos e as unidades funcionais e separação entre Terminais para os condutores externos não separados dos barramentos. Forma 3a
todas as unidades funcionais. Separação entre os terminais para condutores
externos e as unidades funcionais, mas não entre os terminais das diferentes
unidades funcionais.
Terminais para os condutores externos separados dos barramentos. Forma 3b
Separação entre os barramentos e todas as unidades funcionais e separação Terminais para os condutores externos no mesmo compartimento da unidade Forma 4a
entre todas as unidades funcionais. Separação entre os terminais para condutores funcional associada.
externos das diferentes unidades funcionais e entre os terminais das unidades
funcionais e os barramentos.
Terminais para os condutores externos não se encontram no mesmo Forma 4b
compartimento da respectiva unidade funcional, mas em um compartimento
ou espaço individual, separado, fechado e protegido.
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30
Conjuntos de manobra e controle de potência
Capítulo IX
É sempre preciso estar alerta para as situações consideração é importante para o dimensionamento
que apresentem desvios dos valores considerados térmico e a configuração física que será adotada
como padrões nas normas para aplicação dos para o CMC. A norma ABNT NBR IEC 60439-1
equipamentos, tais como: temperatura ambiente, sugere, na falta de mais informações do usuário e,
condições atmosféricas (abrigado ou ao tempo), até mesmo, do fabricante do conjunto, a adoção
grau de poluição, altitude ou condições especiais dos valores típicos da tabela “1” da seção “4.7”
de serviço. (reproduzida na Tabela 1). Estes valores para o fator
As quantidades de unidades funcionais e de nominal de diversidade de um conjunto ou de sua
circuitos principais em um conjunto de manobra e parte representam a relação entre a máxima soma
controle podem ser altas, logo, um ponto relevante das correntes de operação dos circuitos principais,
na definição de um Conjuntos de Manobra e em qualquer instante do período de operação do
Controle de Potência (CMCP) de baixa tensão é conjunto, e a soma de todas as correntes nominais
máxima corrente que irá circular no barramento dos circuitos principais envolvidos, seja no CMC
principal e nos barramentos de derivação. Esta ou na parte selecionada do conjunto.
informação, junto com a quantidade e tipo de
Tabela 1 – Valores de fator nominal de diversidade,
cargas (UFs) associadas é fundamental para segundo a ABNT NBR IEC 60439-1
Este tipo de enfoque, exemplificado na Figura 5, mesmo que pela tabela de escolha da capacidade de serviço em relação
Conjuntos de manobra e controle de potência
tenha os seus méritos, implica em outros pontos que podem ao percentual da capacidade máxima segundo o tipo de
se tornar críticos. A necessidade de adequar os TCs a níveis seletividade, conforme mostrado na Tabela 3.
de corrente nominal e de curto-circuito pode levar ao uso de Os disjuntores podem ser classificados em duas categorias
transformadores com maior relação ou exatidão (capacidade de seletividade:
de lidar com maior carga secundária – maior “Burden”). Isso
é similar ao que já foi descrito para os CMCP de MT, porém, • A: são os disjuntores para os quais não se prever seletividade,
neste caso, o problema não é relativo aos riscos de alteração em condições de curto-circuito, com os dispositivos (SCPD) a
no arranjo espacial dos campos elétricos e o surgimento de jusante. Eles não possuem valores para ajustes de
novos gradientes. Aqui muitas vezes se encontram problemas curto-retardamento e nem a capacidade de corrente suportável
puramente de espaço físico disponível, quando não ocorrem de curta-duração (Icw);
implicações piores, como a limitação de troca de calor para • B: são os disjuntores que conseguem ter seletividade, em
dissipação térmica da parte interna do CMC de BT devido a condições de curto-circuito, com os dispositivos (SCPD) a jusante.
dificuldades de circulação de ar (convecção) ou da radiação de Eles possuem ajustes para o curto-retardamento e, também, a
pontos de partes condutoras. capacidade de corrente suportável de curta-duração (Icw).
Figura 6 – CCM de BT típico do setor marítimo. Na coluna de entrada do conjunto (a primeira à direita), tem-se um reator limitador de corrente
trifásico (atentar para as venezianas de ventilação).
Capítulo X
A probabilidade de ocorrer uma falha dentro do tendem a ser mais perigosos e destrutivos. Caso
invólucro de um conjunto de manobra e controle a avaliação de risco da instalação defina a
de potência (CMCP) é muito baixa, principalmente, necessidade de se ter um conjunto que suporte
quando ele é especificado, projetado, montado e os esforços provenientes de um arco interno, o
operado segundo as diretrizes das normas técnicas desempenho deles pode ser balizado por um dos
aplicáveis, práticas de engenharia consagradas e seguintes documentos: o guia IEEE C37.20.7, tanto
em conformidade com as instruções do respectivo para MT quanto BT, ou pelo anexo “AA” da IEC
fabricante. Porém, não se pode, simplesmente, 62271-200 para a média tensão ou pelo relatório
ignorar a probabilidade da ocorrência deste tipo técnico IEC/TR 61641 para BT.
de evento. Portanto, é importante entender os Uma forma de se verificar se é necessário
requisitos e pontos que estão relacionados ao ou não se optar pelo emprego de um CMCP que
desempenho destes equipamentos frente aos possua características que o permitam lidar com
efeitos de um arco elétrico devido a uma falha os efeitos resultantes de um arco elétrico resultante
interna. de uma falha interna é avaliar o nível de risco
A suportabilidade dos conjuntos de manobra para o elemento humano. Caso este risco seja
e controle (CMCs) de média e baixa tensão pequeno, pode-se, então, optar por um CMC com
frente a falhas trifásicas com curto-circuito pleno características construtivas comuns. Caso contrário,
(impedância da falta igual a zero), tanto internas ou seja: nível do mesmo pode ser considerado
quanto externas (correntes passantes devidas relevante (nível de curto-circuito, tempo de resposta
a defeitos fora do conjunto), é verificada pelos das proteções, a presença de pessoas e o seu
ensaios de corrente suportável de curta-duração, posicionamento e atuação em relação ao painel),
conforme, por exemplo, as seções aplicáveis das o usuário pode especificar um conjunto que tenha
normas IEC 62271-200 para MT e IEC 61439-1 / -2 classificação para arco interno, ou seja: condições
para BT. de lidar como os efeitos provenientes deste tipo de
Os defeitos associados a falhas internas nos evento.
CMCs, que envolvam descargas de arco elétrico Neste ponto é preciso que fique claro que
no ar nos compartimentos destes equipamentos, a proteção de pessoas em relação à ocorrência
Apoio
31
de um arco interno em um painel elétrico não depende • Aplicação de cargas maiores do que aquelas para as quais o
exclusivamente do emprego de um conjunto resistente a painel foi projetado;
arco. Esta é, também, função do local da instalação, já que • Conexões elétricas frouxas;
os subprodutos e os gases gerados pela decomposição dos • Condições anormais (alta umidade, temperaturas além dos
componentes internos do painel poderão vir a ser liberados valores definidos em projeto, etc.);
para fora dos mesmos a altas temperaturas e com um alto • Substituição incorreta de componentes, etc.
nível de toxidade. Assim, é preciso que sejam previstos
modos que permitam a rápida evacuação de pessoas e a A ocorrência de um arco interno em conjuntos de manobra e
remoção dos gases tóxicos presentes na sala da instalação. É controle está associada a vários fenômenos físicos, tais como:
fundamental que, antes que qualquer pessoa retorne ao local • Sobrepressão interna nos compartimentos;
da instalação, sejam tomadas providências para garantir a • Sobreaquecimento localizado.
eliminação de tais vapores, com ações como o aumento da
ventilação na sala elétrica. Tais condições criam grandes solicitações térmicas e
As causas que, normalmente, levam a ocorrência de um mecânicas no conjunto. E, além disso, devido à decomposição
arco interno são: de componentes e materiais utilizados dentro do painel, ocorre
a geração de gases e vapores, os quais são, na maioria das
• Presença de corpos estranhos, como ferramentas ou os vezes, de natureza tóxica. Estes materiais, junto com partículas
materiais utilizados durante manutenções ou modificações, incandescentes, podem vir a serem expelidos da estrutura.
mas esquecidos dentro do painel após o término das atividades; Para tanto, os universos normativos da IEC e da ANSI,
• Entrada de pequenos animais; como já mencionado anteriormente, possuem documentos
• Seleção incorreta dos dispositivos de proteção contra curto- que orientam e guiam os usuários e fabricantes na
circuito; identificação de suas necessidades e nos requisitos para a
Apoio
32
Conjuntos de manobra e controle de potência
comprovação de desempenho do equipamento frente ao Existem outras medidas de proteção que podem vir a
evento de um arco interno em condições normais de serviço. complementar a segurança humana e o desempenho de um
É importante atentar que, em nenhum dos casos, é avaliado conjunto de manobra e controle frente aos riscos associados a
o comportamento do painel quando ele se encontra sob ocorrência de um arco interno. Algumas dessas possibilidades
manutenção ou inspeção interna, ou seja, quando partes seriam:
(tampas e portas) do invólucro, incluindo o compartimento
de controle, se encontram abertas ou removidas (as únicas • Tempos rápidos de eliminação do defeito;
ressalvas para esta última afirmação se encontram no • Uso de dispositivos capazes de limitar a energia associada
documento, relacionadas aos equipamentos classificados de (limitação da corrente passante e redução da duração da falha);
2A ou 2B, como mostrado mais adiante). • Eliminação rápida do arco;
Ambas as escolas técnico-normativas propõem, quando • Operação e manobra remotas;
necessário, as formas de validação e os tipos de classificação • Dispositivos de alívio de sobrepressão;
para um conjunto de manobra e controle quanto ao seu • Movimentação das partes extraíveis com a respectiva porta
desempenho em garantir, essencialmente, a segurança humana frontal fechada;
para o caso de ocorrer um arco interno. • Movimentação remota do elemento extraível, etc.
Estas abordagens existem para os conjuntos de manobra
e controle de potência (CMCP), tanto de média tensão (MT) Cabe alertar aqui que a escolha pelo uso de CMC que seja
quanto de baixa tensão (BT). E, assim, um CMCP, para ser resistente aos efeitos de um arco interno é de responsabilidade
considerado capaz de lidar com os efeitos resultantes de um arco do usuário. Ele deve levar em conta as características do sistema
interno, precisa demostrar, por ensaios ou por características elétrico no qual o equipamento será instalado, as condições
construtivas, o atendimento aos critérios estabelecidos nas de serviço, os procedimentos de operação e as diretrizes
respectivas normas. de segurança. Para se proteger o ser humano durante a sua
Equipamentos construídos segundo, basicamente, as interação com um equipamento, deve-se atentar para:
recomendações da ANSI (“American National Standards
Institute”) seguem o documento IEEE Std C37.20.7 (ver • Nem todos os CMC possuem classificação quanto aos efeitos
referências), estabelecido pelo IEEE. Este guia estabelece de um arco interno;
métodos para avaliação de CMC, tanto de BT quanto de MT, até • Nem todos os CMC usam dispositivos extraíveis;
38 kV, em suportar os efeitos provenientes de um arco devido a • Nem todos os CMC possuem uma porta que possa ser
falha interna ao conjunto. mantida fechada para as diferentes posições de serviço em
Dentro do universo IEC, a análise de desempenho de um que um elemento de manobra possa se colocado (conectado
CMC frente aos efeitos de um arco interno segue as diretrizes / aterrado / teste).
definidas em documentos segundo a faixa de tensão nominal
do equipamento. No caso de média tensão (CMC com valores Contexto na média tensão
da tensão nominal acima de 1 kV e até 52 kV, inclusive), devem Um conjunto de manobra e controle de média tensão para
ser seguidas as orientações contidas no anexo “AA” (“Internal ser considerado como resistente aos efeitos de um arco interno,
arc fault – Method to verify the internal arc classification ou seja, ter uma classificação IAC (“Internal Arc Classified”),
(IAC)) da norma IEC 62271-200. Já para a baixa tensão (CMCP como é definido na seção 5.101 da norma IEC 62271-200, ou
com tensão nominal até 1000 V em CA ou 1500 V em CC), o AR (“Arc Resistant”), como no guia da IEEE, precisa demonstrar,
documento orientativo a ser aplicado é o relatório técnico IEC/ por ensaios, atendimento aos critérios estabelecidos nos
TR 61641 (ver referências). documentos mencionados.
Claro que todo o processo descrito acima precisa ser Na tabela 1 é apresentado um resumo dos critérios de
respaldado pelo elemento humano na redução dos riscos a aceitação, os quais se encontram na seção “6.106.5” da
níveis toleráveis, ou seja, é imprescindível que a pessoa que IEC 62271-200 e no capítulo “6” (“Assessment”) da IEEE Std
irá atuar sobre um CMC tenha conhecimento dos perigos C37.20.7, para a classificação quanto ao desempenho frente
presentes e siga as orientações estabelecidas pelo fabricante do a um arco interno em um conjunto de manobra e controle de
equipamento e as diretrizes definidas em norma. média tensão:
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34
Tabela 1 – Critérios de aceitação para a classificação “IAC” / “AR” contemplados para ser acordada entre o fabricante e o
Conjuntos de manobra e controle de potência
com características para resistir ao arco elétrico, com a uma parede (face sem acesso a pessoas), o documento
livre acessibilidade externa (frente, laterais e traseira). É do IEEE define a classificação específica “1D”. Seria a
similar a classificação “IAC–A/B–FLR”. Exemplo: Tipo 2, estrutura com livre acesso a sua parte frontal e às outras
40 kA eficazes, 500 milisegundos. faces avaliadas no ensaio de arco (esta classificação precisa
vir acompanhada da identificação de que outras faces,
Notas: além da frontal, foram ensaiadas: SR – face direita, SL – face
1) A livre acessibilidade externa da ANSI / IEEE, a menos esquerda ou R – face traseira).
que haja alguma ressalva, sempre se refere a todo o No guia do IEEE, tanto a acessibilidade tipo “1”
perímetro em torno do painel (frente, lateral direita, lateral quanto tipo “2”, pedem uma distância mínima para
esquerda e traseira). posicionamento dos indicadores, horizontais e verticais, de
2) Os valores de tempo de falha recomendados pela IEC verificação dos efeitos térmicos dos gases, em relação ao
são 1 s, 0,5 s e 0,1 s. conjunto de manobra de 100 mm +/- 15 mm; porém, com
3) O valor preferencial para o tempo de falha adotado uso de indicadores de queima empregando tecido com uma
pela ANSI / IEEE é 0,5 s. Outros valores podem ser usados, densidade de 150 g/m2. Na norma IEC, a acessibilidade
sendo que o valor de 0,1 s é considerado como o mínimo “A” estabelece a distância de 300 mm +/- 15 mm para os
recomendado e o valor de 1 s considerado como limite indicadores, com tecido de 150 g/m2; enquanto que a “B”
máximo. pede o valor de 100 mm +/- 5 mm para material com uma
densidade de 40 g/m2.
Enquanto a IEC deixa claro que a sua classificação não Os indicadores de queima, tanto verticais (iv) quanto
se aplica para os casos em que os compartimentos estão horizontais (ih), mencionados no parágrafo anterior e
com as suas portas e/ou tampas abertas; o IEEE C37.20.7 mostrados na Figura 1, são montados na forma de um
inclui, para as acessibilidades “tipos 1 e 2”, os sufixos “B” quadrado, com dimensões de 150 mm x 150 mm, com
e “C”. O sufixo “B” se refere ao caso em que o painel foi tolerância de +15/-0 mm. Eles são feitos de pedaço de
ensaiado com o respectivo compartimento de controle pano de algodão, conforme a densidade requerida para o
(baixa tensão) aberto. Já o sufixo “C” se aplicada para um ensaio. A ideia é que cada uma das densidades informadas
painel com proteção de arco entre compartimentos (em uma anteriormente, simulem as roupas usadas no local de
mesma unidade funcional ou entre unidades funcionais trabalho com presença de eletricidade (as de maior
adjacentes). densidade) e as roupas mais leves (as de menor densidade,
Para os casos em que, por exemplo, um CMC possa ser típicas de verão). Eles devem ser montados de modo que os
montado com a face traseira ou uma das laterais próxima cortes de suas bordas não apontem para o objeto sob ensaio.
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36
É interessante notar que os indicadores horizontais não a ser ensaiado. A parede lateral (pelo menos uma) deve
Conjuntos de manobra e controle de potência
possuem armação para evitar que partículas incandescentes ficar a 100 mm (+/- 30 mm) do painel. O posicionamento
e não os possíveis gases quentes provenientes do teste da parede na parte de trás do painel irá depender se esta
possam vir a se acumular. Já os indicadores verticais parte é ou não acessível (os conjuntos com diferentes
lembram uma “caixa” pois possuem uma armação de aço profundidades, terão a distância tomada a partir de sua
(2 x 30 mm) em todo seu entorno de modo a evitar que um unidade mais profunda), sendo que se deve considerar o
indicador vertical possa inflamar outros próximos. valor padrão de afastamento da parede como igual a 800
Para o arranjo de ensaio dos conjuntos de manobra mm (+100/-0 mm) para situações onde houver o acesso de
e controle de uso interno é importante a simulação da pessoas.
sala onde ele será instalado. Para o espaço livre acima Para os casos de estruturas sem acesso traseiro, a IEC
do conjunto a ser ensaiado, tanto a IEC quanto o IEEE define uma distância de 100 mm (+/- 30 mm) entre o painel
estabelecem que o fabricante informe a altura necessária e a parede, a menos que o fabricante declare um valor
(este valor é medido sempre a partir do piso sobre o qual superior. Se for informada uma distância menor do que 100
o equipamento está realmente montado, seja ele o chão mm, deverá ser comprovado que quaisquer deformações
ou uma plataforma). A IEC define, também, para painéis permanentes não interfiram com a parede ou sejam
com altura igual ou superior a 1800 mm, que o teto deve limitadas por ela.
ficar a pelo menos de 200 mm (+/- 50 mm) acima da parte Na Figura 2 vê-se um exemplo de arranjo com a
mais alta deles, incluindo, quando aplicável, a posição de simulação do local de instalação de um CMC de MT para
abertura máxima dos flaps (ou “portinholas”: dispositivos a realização de um ensaio de verificação do desempenho
de alívio de sobrepressão), ou seja, estes não devem atingir frente aos efeitos resultantes de um arco interno, conforme
o teto quando de sua atuação. Para o caso de painéis com o IEEE. Pode-se notar que, além da simulação da sala para o
menos de 1800 mm de altura, o teto deve ficar a dois metros ensaio, existe a necessidade de se posicionar os indicadores
(+/- 50 mm). verticais e horizontais para verificação dos efeitos térmicos
dos gases, a partir das distâncias já informadas e segundo a
altura para os painéis. Conforme a norma adotada, existem
pontos a serem seguidos: o IEEE considera que o material
usado nos indicadores (tecido de algodão) tenha sempre
uma densidade de 150 g/m2, tanto para acessibilidade tipo
“1” quanto tipo “2”, enquanto que a “IEC” pede este mesmo
valor para a acessibilidade “A”, enquanto muda o valor de
densidade para 40 g/ m2 nas acessibilidades “B” e “C”.
Figura 4 - Arranjo simulado da sala de montagem de um CMC de MT para a realização dos ensaios de verificação de desempenho frente aos efeitos de
um arco interno para acessibilidade A, segundo a IEC 62271-200.
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Seguindo a diretriz da IEC, para uma seção típica de um exemplo), o arco deve ser iniciado com a aplicação de um valor
conjunto de manobra e controle de MT em invólucro metálico, igual a 87% da corrente nominal do ensaio e entre duas fases
os três compartimentos básicos a serem ensaiados para um arco adjacentes, atentando para o fato de que isolamento sólido só
interno com, por exemplo, 40 kA eficazes e duração de 500 ms pode ser perfurado quando não houver nenhuma região de
seriam: descontinuidade da isolação ou ponto de conexão coberta com
sistema pré-fabricado. Exceção para estruturas com condutores
• Compartimento do barramento principal; de fase separados, o ensaio deve ser feito com uma fonte
• Compartimento de saída (conexões); trifásica.
• Compartimento de disjuntor. Na norma IEC, é permitida a perfuração da isolação sólida,
caso não se tenham pontos sem cobertura no compartimento
Em cada posição, conforme mostrado nas Figuras 5 e 6, o sob ensaio ou conexões com isolação a ser aplicada no local
arco será iniciado por um fio metálico conectado entre todas as final da instalação (tipo “cobertura pré-fabricada”). Também
fases. Tanto a IEC 62271-200 quanto a IEEE C37.20.7 (no que fala no valor de 87% da corrente trifásica para os casos em que,
se refere aos tipos cobertos pelas normas “ANSI C37.20.2” e no compartimento a ser ensaiado, só existam condutores com
“ANSI C37.20.3”) definem um diâmetro de 0,5 mm para este isolação sólida aplicada em fábrica.
fio (a ANSI fala também na opção de uso da bitola 24 AWG – Em termos práticos, a maioria dos projetos de MT sempre
0,5105 mm). O fio para início do arco deve ser colocado dentro apresenta algum ponto de descontinuidade da isolação sólida
do compartimento a ser ensaiado em um ponto acessível e o ou pontos de conexões cobertos por isolação pré-fabricada.
mais distante possível da fonte de alimentação. Assim, nestes casos, é comum se ter ensaios trifásicos, com a
O documento do IEEE estabelece que, nas estruturas com corrente IA (valor eficaz para a corrente de arco em uma falha
condutores cobertos por material isolante sólido (epóxi, por interna trifásica).
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40
2 – Fase de expansão:
a - O pico de pressão é alcançado e os dispositivos de
alívio de pressão (ver figura 8) se abrem.
b - A pressão interna do compartimento sob falha é
reduzida, enquanto o ar aquecido e o cobre vaporizado
são descarregados.
3 – Fase de emissão:
Figura 6 - Colocação do fio metálico, entre fases, usado para o início
do arco. a - O ar no compartimento sob falha continua a ser
Apoio
42
aquecido pelo arco e se desloca devido a uma pequena oriundos dos efeitos de um arco interno, como mostrado
Conjuntos de manobra e controle de potência
4 – Fase térmica:
a - Tempo transcorrido desde a fase de emissão até o fim
do arco.
b - A energia do arco atua nos materiais remanescentes no
interior do compartimento.
c - Ocorre derretimento de barramentos, cabos de saída,
componentes (TCs, para-raios, etc.), peças de conexões e
de contatos, materiais isolantes, divisórias e barreiras.
A seção “B.2” do documento do IEEE apresenta Switchgear Rated Up to 38 kV for Internal Arcing Faults.
considerações sobre o uso de conjuntos de manobra e Institute of Electrical and Electronic Engineers; 2007.
controle resistentes aos efeitos de um arco interno. Ela • IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and
apresenta várias orientações e recomendações úteis controlgear assemblies – Guide for testing under conditions
para avaliação, aplicação e instalação de um painel em of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International
condições que existam riscos de um arco interno. Electrotechnical Commission, 2014.
• IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear –
Referências Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF¨)
and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical
• IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear Commission, 2013.
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear • IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical
kV; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission, Commission, 2013.
2011.
• IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International
Electrotechnical Commission, 2011.
• IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear
assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
assemblies; Edition 2.0. International Electrotechnical
Commission, 2011.
• IEEE Std C37.20.7: IEEE Guide for Testing Metal-Enclosed
Apoio
38
Conjuntos de manobra e controle de potência
Capítulo XI
Tabela 1 – Comparativo básico entre ANSI e IEC para ensaio de arco interno
Nota: Tanto a norma IEC quanto o guia do IEEE demandam que todos os cinco critérios de avaliação sejam atendidos.
energia presente e, assim, diminuir os riscos associados a estes 62271-200, que, conforme já comentado, visa indicar formas
Conjuntos de manobra e controle de potência
equipamentos. Pode-se dizer que esta literatura complementa complementares de proteção para aumentar a segurança das
as sugestões presentes na seção “8.104.3” da norma IEC pessoas no caso de ocorrência de um arco interno.
Locais onde falhas internas ocorrem Possíveis causas Exemplos de medidas preventivas
A cultura ANSI/NEMA adota as diretrizes do guia 3. Duração permissível do arco (tarc: “Permissible arc
elaborado pelo IEEE, que atende tanto a conjuntos de duration”): é o máximo valor do tempo de duração de
manobra e controle de média quanto baixa tensão, um arco que não se autoextingue ou é limitado por um
conforme já mencionado, anteriormente. Entretanto, dispositivo limitador de corrente. Este valor pode diferir
é fundamental atentar para o fato de que qualquer teste para partes distintas de um mesmo conjunto. O valor
efetuado tem um caráter orientativo de como o conjunto mínimo, solicitado no documento da IEC para a verificação
deverá se comportar, sem, necessariamente, cobrir todas as de arco nas condições descritas anteriormente, é 100 ms;
possíveis eventualidades.
Grandes usuários em importantes segmentos no mercado 4. Corrente de curto-circuito condicional permissível sob
brasileiro começam a pedir características de desempenho condições de arco (Ipc_arc: “Permissible conditional short-
de Conjuntos de Manobra e Controle de Potência em Baixa circuit current under arcing conditions”): é o máximo valor
Tensão frente a um arco interno. Para esta condição, a eficaz permitido da corrente de curto-circuito presumida
referência adotada tem sido a IEC, aplicando-se o relatório nos terminais de entrada de um conjunto, declarado pelo
técnico IEC TR 61641. fabricante, para uma dada tensão operacional (Ue), na qual
Como a nova edição deste documento da IEC é muito um circuito do conjunto é capaz de atender aos requisitos
recente e com uma abordagem e roupagem diferentes do da IEC, quando o circuito é protegido por dispositivo
que foi visto para os painéis de MT, o primeiro passo nesta limitador de corrente ou por dispositivo de mitigação de
fase deste trabalho é familiarizar-se com termos e conceitos falha por arco com função de limitação de corrente;
novos apresentados no documento.
5. Zona protegida contra ignição de arco (“Arc Ignition
Novas definições e nomenclaturas Protected Zone”, antiga “Arc Free Zone”): parte de um
A nova revisão (3ª Edição, de setembro de 2014) do circuito dentro de um conjunto de manobra e controle onde
relatório técnico IEC/TR 61641 traz um nova nomenclatura, medidas específicas são adotadas para garantir que o início
além de algumas novas definições. Por conta disso, elas são de uma falha com arco seja uma possibilidade remota;
apresentadas, a seguir, de forma sucinta e numa tradução
livre, visando auxiliar o leitor na compreensão desta 6. Zona ensaiada para condições de arco (“Arc Tested
terminologia: Zone”, antiga “Arc Proof Zone”): parte de um circuito ou
compartimento onde é iniciado um arco e todos os critérios
1. Corrente de curto-circuito permissível sob condições de avaliação solicitados para o(s) ensaio(s), segundo a IEC
de arco autoextinguível (Ips_arc: “Permissible short-circuit TR 61641, são atendidos;
current under self-extinguishing arcing conditions”): é
o máximo valor eficaz permitido da corrente de curto- 7. Conjunto de manobra e controle avaliado para condições
circuito presumida nos terminais de entrada de um de arco interno (“Arc Verified Assembly”, antiga “Arc Proof
conjunto, declarado pelo fabricante, para uma dada tensão Assembly”): conjunto de manobra e controle que apresenta
operacional (Ue), na qual o equipamento é capaz de atender zonas protegidas contra a ignição de um arco e/ou ensaiadas
aos requisitos da IEC TR 61641 pela autoextinção do arco, para as condições de arco;
sem a operação de nenhum dispositivo de proteção;
8. Dispositivo de mitigação de falha por arco interno (“Arc
2. Corrente de curto-circuito permissível sob condições de Fault Mitigation Device”): dispositivo que opera somente
arco (Ip_arc: “Permissible short-circuit current under arcing no caso de um arco elétrico devido a uma falha interna e
conditions”): é o máximo valor eficaz permitido da corrente que reduz o tempo de duração do mesmo;
de curto-circuito presumida nos terminais de entrada de
um conjunto, declarado pelo fabricante, para uma dada 9. Classes (de condições) de arco (“Arcing classes”):
tensão operacional (Ue), na qual o equipamento é capaz de classificação dada um conjunto ou parte dele conforme
atender aos requisitos definidos pela IEC TR 61641; as diferentes formas de proteção fornecida contra falhas
Apoio
43
com arco: proteção humana, limitação dos danos a IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and
parte do conjunto e capacidade de operação limitada do controlgear assemblies – Guide for testing under conditions
equipamento. of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International
Electrotechnical Commission, 2014.
Referências
IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear –
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF)
for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical
kV; Edition 2.0. International Electrotechnical Commission, Commission, 2013.
2011.
IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical
assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International Commission, 2013.
Electrotechnical Commission, 2011.
Capítulo XII
entorno, de modo a evitar que um indicador vertical possa do indicador vertical de queima para verificação dos efeitos
inflamar os outros próximos. A Figura 1 mostra o modelo térmicos dos gases quentes liberados durante o ensaio.
No entanto, em qualquer tipo de acessibilidade (restrita
ou não), a distância a ser adotada para o posicionamento
dos indicadores verticais (não existe a exigência de uso
de indicadores horizontais) para a verificação dos efeitos
térmicos dos gases, em relação ao conjunto de manobra, foi
mantida em 300 mm (+/- 30 mm) até uma altura máxima de
dois metros (+/- 50 mm).
Figura 2 – Sequência de operação do dispositivo de aterramento rápido para redução dos efeitos de um arco interno.
Apoio
28
30 30
metálico conectado entre todas as fases. O relatório
técnico, descrito na IEC TR 61641, define o diâmetro do fio
conforme o arranjo de ensaio. Na sua tabela 1, reproduzida
na Tabela 1 a seguir, fornece o diâmetro do fio em função
da corrente eficaz presumida de curto-circuito para
150 condições sem dispositivo limitador de corrente. Quando
existir dispositivo limitador (teste com corrente condicional
de curto-circuito), a IEC pede para escolher o fio em função
da corrente de corte (valor de crista da corrente passante),
conforme a tabela 2 da mesma IEC, reproduzida também na
150 Tabela 2 deste trabalho. O fio para início do arco deve ser
colocado dentro do compartimento a ser ensaiado em um
Dimensões em mm ponto acessível e de modo que os efeitos do arco resultante
sejam capazes de produzir a máxima solicitação.
Figura 3 – Indicador para verificação dos efeitos térmicos dos gases,
conforme a IEC/TR 61641.
Tabela 1 – Seção do fio de cobre usado no ensaio de verificação de
modo a cobrir de 40% a 50% da área associada à superfície arco interno em CMCP de BT sem dispositivo limitador de corrente
sob ensaio. Porém, nos casos em que, com certeza, não há Corrente presumida de ensaio Seção do fio
kA (valor Eficaz) mm2
possibilidade de escape de gases quentes de uma parte da
superfície de um conjunto, os indicadores não precisam ser
I ≤ 25 0,75
montados nesta região. Essa montagem deve ser feita em
25 < I ≤ 40 1,0
estruturas com uma extensão prolongada em pelo menos
I > 40 1,5
300 mm, de modo a se considerar a possibilidade de escape
de gases quentes a 45º a partir do conjunto. A Figura 4
mostra o arranjo dos indicadores para a realização de um Tabela 2 – Seção do fio de cobre usado no ensaio de verificação de
arco interno em CMCP de BT com dispositivo limitador de corrente
ensaio.
Corrente passante Seção do fio
kA (valor de crista) mm2
I ≤ 10 0,2
10 < I ≤ 30 0,5
30 < I ≤ 50 0,8
50 < I ≤ 70 0,9
70 < I ≤ 90 1,1
proteção IP3XD, enquanto a isolação sólida deve ter um [1] No caso de proteção só de pessoas (Classe A):
grau IP4X. 1. Não ocorrer abertura de portas, tampas ou coberturas
Uma cobertura isolante para ser considerada sólida, (deve ser mantido, pelo menos, o grau de proteção
segundo a IEC TR 61641, precisa ter características de IP1X);
só poder ser removida com o uso de ferramentas ou pela 2. Não ocorrer arremesso para além dos indicadores de
sua destruição. Ela deve, também, atender aos requisitos partes que possam causar perigo (as de massa maior que
elétricos, térmicos e mecânicos definidos na norma IEC 60 g);
61439-2. Além disso, é necessário que estes isolantes 3. Não ocorrer perfurações nas paredes de livre acesso;
possam suportar uma tensão de 1,5 vezes o valor de ensaio 4. Não ocorrer queima dos indicadores verticais;
dielétrico associado à tensão nominal de isolamento (Ui) do 5. Manutenção da eficiência do circuito de proteção
conjunto, quando aplicada diretamente sobre a superfície (aterramento) das partes acessíveis.
do isolante em relação ao condutor associado coberto. [2] Proteção de pessoas e do CMCP (Classe B). Além
No caso de uso de coberturas isolantes sobre os dos cinco critérios para proteção de pessoas, deve ser
barramentos condutores, é crítico lembrar que a adição atendido, também:
de materiais isolantes sobre as barras pode, dependendo 1. Existir o confinamento do arco na “área definida” pelo
do tipo de material e da sua aplicação, vir a afetar a sua fabricante, associada ao compartimento a ser ensaiado.
capacidade de condução de corrente. Logo, é importante [2] Proteção de pessoas e do CMCP, com possibilidade
que o usuário defina exatamente quais os requisitos de de operação limitada posterior (Classe C). Além dos
desempenho esperados quando da especificação de barras seis critérios listados anteriormente, deve ser atendida,
isoladas para uso em conjuntos de manobra e controle. também, a seguinte condição:
Cabe ao fabricante demonstrar que o uso destes materiais 7. Permitir a operação de emergência do CMCP onde
isolantes está em conformidade com as normas IEC 61439-1 não ocorreu o arco. Após a interrupção da falta e
e IEC 61439-2. isolamento ou desmontagem das unidades funcionais da
A classificação, segundo a IEC TR 61641, de um CMCP área atingida, conforme definição do fabricante, deve
de BT, quanto ao evento de um arco interno, é: ser possível o uso do restante do conjunto, desde que
o menor grau de proteção seja IPXXB e que o CMCP
1. Classe de arco A: o conjunto provê proteção só de pessoas suporte um ensaio de tensão aplicada igual a 1,5x a sua
por meio de zonas ensaiadas que atendam aos critérios 1 a tensão operacional (Ue) por 1 minuto.
5 e/ou uso de zonas protegidas de ignição;
2. Classe de arco B: o conjunto provê proteção de pessoas Assim, um CMCP de BT, analisado a partir da perspectiva
e do CMCP por meio de zonas ensaiadas que atendam aos da ocorrência de um arco interno, segundo a IEC TR 61641,
critérios 1 a 6 e/ou uso de zonas protegidas de ignição; pode ser enquadrado em quatro classes; aplicando-se
3. Classe de arco C: o conjunto provê proteção de pessoas zonas consideradas como, segundo as suas características,
e do CMCP, além de permitir a operação limitada dele, ensaiadas para a condição de arco ou livres de ignição.
após a falha, por meio de zonas ensaiadas que atendam às
condições 1 a 7 e/ou uso de zonas protegidas de ignição; Conclusões
4. Classe de arco I: o conjunto provê o risco reduzido de Não é obrigatório o uso de conjuntos de manobra e
ocorrência de falhas por meio, somente, do uso de zonas controle de potência em média ou baixa tensão que possuam
protegidas contra a ignição de arco. características de desempenho diante do fenômeno de
arco interno. Porém, apesar de muito remota, a chance de
Os critérios para atender aos requisitos para cada uma ocorrer tal falha pode existir. Assim, deve existir, por parte
das três primeiras situações mencionadas acima são: do usuário, uma avaliação dos riscos presentes para decidir,
Apoio
33
então, se precisa ou não requerer este tipo de equipamento. • IEC 61439-1: Low-voltage switchgear and controlgear
A análise deve seguir as orientações presentes na literatura assemblies – Part 1: General rules; Edition 2.0. International
técnica disponível, como os mencionados nas referências Electrotechnical Commission, 2011.
bibliográficas. • IEC 61439-2: Low-voltage switchgear and controlgear
Como a maioria dos conjuntos preparados para condição assemblies – Part 2: Power switchgear and controlgear
de arco interno, com poucas exceções, não levam em conta assemblies; Edition 2.0. International Electrotechnical
atividades de intervenção e manutenção por parte dos Commission, 2011.
usuários, é preciso, sempre, complementar os requisitos de • IEEE Std C37.20.7: IEEE Guide for Testing Metal-Enclosed
segurança, a fim de garantir a integridade do ser humano. Switchgear Rated Up to 38 kV for Internal Arcing Faults.
Uma forma simples, mas que aumenta muito a segurança Institute of Electrical and Electronic Engineers; 2007.
nestes casos, é a instalação, sempre que possível, do • IEC TR 61641: Enclosed low-voltage switchgear and
CMCP em lugares com acesso restrito a pessoal habilitado controlgear assemblies – Guide for testing under conditions
ou qualificado. Esta abordagem simples, evitando a of arcing due to internal fault; Edition 3.0. International
possibilidade de manuseio de equipamentos por pessoas Electrotechnical Commission, 2014.
comuns, minimiza os riscos de operações incorretas ou • IEC 62271-4: High-voltage switchgear and controlgear –
indevidas. Part 4: Handling procedures for sulphur hexafluoride (SF¨)
E, finalmente, ter em mente a importância de seguir as and its mixtures; Edition 1.0. International Electrotechnical
diretrizes de projeto, instalação, operação e manutenção Commission, 2013.
definidas para estes equipamentos pelas normas técnicas • IEC 60529: Degrees of protection provided by enclosures
aplicáveis, instruções dos fabricantes, programas de (IP Code); Edition 2.2. International Electrotechnical
segurança e literatura técnica aplicável. Commission, 2013.
Referências
*Luiz Felipe Costa é especialista sênior da Eaton.
• IEC 62271-200: High-voltage switchgear and controlgear É formado em engenharia elétrica pela Escola de
Engenharia da UFRJ e pós-graduado em Proteção de
– Part 200: AC metal-enclosed switchgear and controlgear
Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de
for rated voltages above 1 kV and up to and including 52 Itajubá.
Novo!
Capítulo I
necessário o desligamento do sistema durante a primeira falta à terra, comportamento do sistema se aproxima de sistema
devido ao baixo valor de corrente e à inexistência de probabilidade com neutro isolado e, portanto, pode ser submetido a
de evolução da falta à terra para faltas entre fases (ausência de arco sobretensões transitórias, características destes sistemas, que
elétrico). Somente é possível aplicar esta tecnologia em sistemas de ocasionam em geral o rompimento da isolação de motores,
baixa tensão (tensões menores ou iguais a 1.000 V). transformadores, cabos e outros componentes.
Em princípio, os resistores de baixo valor ôhmico são b) Quanto menor o valor do resistor de aterramento
resistores que limitam a corrente a valores maiores que 10 e, consequentemente, maior a corrente limitada, o
A, sendo que, para sua aplicação, é necessário desligar o comportamento do sistema se aproxima do sistema
sistema durante a falta à terra, devido aos danos que a corrente solidamente aterrado e, portanto, pode ser submetido a
ocasiona e à probabilidade do curto evoluir para curto entre arcos elétricos e destruição de componentes associados aos
fases (presença de arco elétrico). A aplicação típica destes sistemas com neutro solidamente aterrado.
resistores é nos sistemas de média tensão (tensões maiores que c) O primeiro critério de dimensionamento de qualquer
1 kV e menores ou iguais a 69 kV). resistor para aterramento do neutro é, portanto, o de eliminar
sobretensões transitórias, que é, na realidade, a condição de
Princípios que orientam a especificação dos sobrevivência do sistema elétrico durante faltas à terra.
resistores de aterramento do neutro d) O critério de eliminar sobretensões transitórias, já provado
A especificação dos resistores apropriados para aterramento em milhares de aplicações, consiste em dimensionar o resistor
do neutro passa pela compreensão dos seguintes aspectos: no neutro de forma que, durante a falta à terra, seja criada neste
resistor uma corrente maior ou igual à corrente capacitiva
a) Quanto maior o valor ôhmico do resistor e, do sistema. A corrente capacitiva pode ser entendida como
consequentemente, menor a corrente limitada, o a corrente que circula nas capacitâncias do sistema durante
Apoio
64
uma falta à terra com o neutro isolado flutuante. A Figura A tarefa de substituir ou embaralhar o pacote magnético é
Aterramento do neutro
1 a seguir mostra as duas correntes referidas. Na figura, RN trabalhosa, demorada e de alto custo, devendo ser evitada.
é a resistência do neutro, XCO é a reatância capacitiva de Ao mesmo tempo, a corrente de falta à terra não deve manter
sequência zero de cada fase do sistema para terra, 3ICO é a arco elétrico no seu ponto de ocorrência, o que levaria à
corrente capacitiva, IR é a corrente no resistor, IF é a corrente destruição de componentes ou de equipamentos e à possível
total de falta à terra, sendo a soma vetorial de IR e 3ICO. ELN é evolução do curto fase-terra para curto entre fases. A presença
a tensão fase-neutro do sistema, devendo ser observado que do arco elétrico, mesmo de pequena intensidade, nas
a corrente no resistor está em fase com a mesma e a corrente ranhuras é o que provoca a destruição da chapa magnética,
capacitiva está noventa graus adiantada. e a sua presença em conjuntos de manobra oferece riscos
Se o valor de RN foi dimensionado de tal forma que os severos para pessoas e equipamentos.
módulos de IR e de 3ICO sejam iguais, então a corrente total Com os conhecimentos atuais, podemos afirmar que,
no ponto de falta será igual a IF = . em baixa tensão (tensões menores ou iguais a 1.000 V), o
e) Outro conceito importante para aplicação de resistores valor 10 A é o valor que atende aos quesitos anteriormente
no neutro está associado ao entendimento do valor máximo estabelecidos, isto é, evita todos os inconvenientes apontados.
de corrente que pode circular durante uma falta à terra sem Em média tensão (tensões maiores que 1 kV e menores ou
que seja necessário desligar o sistema. Esta corrente não iguais a 69 kV), os limites de corrente para não se manter o
deve ocasionar danos nas chapas magnéticas dos motores, arco são menores que 10 A. Por exemplo, para as tensões de
geradores e transformadores, que são partes essenciais 2.400 V, 4.160 V e 13.800 V, os valores de corrente para não
destes equipamentos. Danos em chapas magnéticas obrigam se manter o arco são os indicados na Tabela 1. Observa-se
em geral à substituição de parte do pacote magnético ou ao que quando se aplica resistor no neutro, estes valores
seu baralhamento para que seja reduzida a possibilidade de correspondem ao valor da corrente final no ponto de falta
existência de pontos quentes no funcionamento pós-reparo. (valor de IF na Figura 1).
Reduzindo-se a tensão entre fases do sistema de média
tensão, as distâncias de isolamento, principalmente em
quadros de manobra, são também reduzidas, e o arco se
mantém para correntes também menores. Até 13.800 V, a
corrente fase-terra com arco é mantida para valores inferiores
a 10 A, o que significa que este valor não pode ser utilizado
como referência para não se desligar o sistema durante uma
fase-terra em sistemas de média tensão. A “regra dos 10 A”
não se aplica a sistemas de média tensão com tensão entre
fases até 13.800 V. Para sistemas industriais com tensões
entre fases maiores que 13.800 V, onde ainda são construídos
conjuntos de manobra (24.000 V, 36.000 V, por exemplo), não
existem ainda estudos práticos que permitam definir quais são
os limites de corrente para o arco ser mantido.
2.400 V 1,8 A
4160 V 4,6 A
13.800 V 7,4 A
resistor para controle das sobretensões transitórias. A Tabela corrente em 3 A seria suficiente. Não é necessário especificar
Aterramento do neutro
2 mostra a ordem de grandeza destas correntes. derivações (tapes) para tal resistor; isto encareceria a sua
construção desnecessariamente. Para uma planta industrial
Como comentário dos valores da Tabela 2, observa-se que, alimentada em 440 V, podemos padronizar todos os
em baixa tensão, os cabos isolados não possuem blindagem resistores de aterramento do neutro limitando a corrente
e as suas capacitâncias são baixas, levando a altas reatâncias em 3 A, sem utilizar derivações nos mesmos, reduzindo
capacitivas e baixas correntes capacitivas do sistema. Já na média significativamente os custos do fornecimento.
tensão, os cabos são blindados, possuem alta capacitância, baixa • No entanto, para os sistemas de média tensão, a corrente
reatância capacitiva e alta corrente capacitiva. A partir de 6.900 V, capacitiva é maior e o arco se mantém para correntes baixas,
as correntes capacitivas variam muito com os comprimentos e com alta probabilidade de evolução para curtos entre fases.
montantes dos cabos isolados, que, por sua vez, variam com a Neste caso, é necessária a aplicação de resistores de baixo
potência do sistema. Dessa forma, não é possível estabelecer valor ôhmico, limitando a corrente em valores superiores a
valores típicos da corrente capacitiva para sistemas de média 10 A, e não é possível manter a operação do sistema durante
tensão a partir de 6.900 V, devendo ser avaliada caso a caso. uma falta à terra, sendo obrigatório o desligamento.
Na maioria dos sistemas industriais de média tensão de porte • A aplicação de resistores de alto valor ôhmico somente é
elevado, as correntes capacitivas superam o valor de 10 A. possível para sistemas de média tensão, em que a corrente
Quanto à corrente capacitiva adicional devida a conjuntos capacitiva é muito pequena, permitindo aplicar um resistor,
de proteção de surto, observa-se que se trata dos conjuntos no qual circule uma corrente que, somada vetorialmente
que são utilizados para proteção de transitórios rápidos em com a corrente capacitiva, seja menor que os valores
máquinas rotativas (grandes motores de indução ou síncronos e indicados na Tabela 1.
geradores), sendo que existe uma aplicação mais recente para • Em sistemas de média tensão, uma vez definida a aplicação
proteção de transformadores secos. de resistores de baixo valor ôhmico e, consequentemente,
desligar o sistema durante uma falta à terra, a corrente
g) Se combinarmos os critérios de eliminação da sobretensão escolhida para limitação, além de atender ao critério de ser
transitória com o de destruição das chapas magnéticas/ superior à corrente capacitiva, deve atender ainda a outro
manutenção do arco, podemos afirmar, diante dos dados critério que é o de fornecer corrente suficiente para operação
anteriores, que: segura da proteção de falta à terra.
• Nos sistemas de baixa tensão, a corrente capacitiva é de • Até a entrada em operação dos relés digitais modernos, há mais
baixo valor inferior a 10 A, exigindo um resistor que limite a de uma década, utilizavam-se relés de proteção eletromecânicos
corrente também a valores baixos para eliminar sobretensões para proteção de falta à terra. Estes relés possuíam alto consumo,
transitórias. Além disso, nestes sistemas, o arco não se não sendo possível utilizar transformadores de corrente toroidais
mantém para correntes inferiores a 10 A. Podemos, portanto, de baixa relação de transformação para sua alimentação. A
aplicar resistores de alto valor ôhmico, não sendo necessário solução era aumentar a corrente de falta à terra, o que possibilitava
desligar o sistema na ocorrência da primeira falta à terra. também aumentar a relação dos TCs toroidais, aumentando sua
Por exemplo, para um transformador trifásico de 440 V, com relação e, por conseguinte, sua potência.
5 MVA de potência nominal (já no extremo de potência para • Até esta época, os valores de limitação eram bastante
aplicação de 440 V), a corrente capacitiva possui valor em elevados, sendo padrão os valores de 400 A, 600 A, 800 A,
torno de 2,5 A. Um resistor de alto valor ôhmico que limite a 1.000 A e maiores.
• Atualmente, a situação se modificou, os relés digitais sistemas com resistor de baixo valor ôhmico. Como a rapidez
possuem baixíssimo consumo, permitindo utilizar TCs da evolução depende do valor da corrente de arco, limitar
toroidais de baixa relação, com baixa potência. Com o curto em valores mais baixos auxilia significativamente
esta solução, pode-se utilizar atualmente níveis de no processo de evitar a referida evolução. Se o valor da
limitação reduzidos, desde que atendam aos quesitos de corrente de limitação for elevado e a evolução ocorrer, por
dimensionamento estipulados anteriormente. Os valores exemplo, dentro de um quadro de manobras, mesmo com o
mais utilizados na atualidade são: 25 A, geralmente, aplicado desligamento rápido podem ocorrer paralisações necessárias
em sistemas de mineração e para sistemas industriais os para limpeza dos isoladores e alguns reparos.
valores de 50 A, 100 A, 150 A, 200 A e 300 A.
• Ao substituir um resistor de 400 A por outro de 50 A, com Avaliação da corrente capacitiva
atendimento dos critérios de dimensionamento, a corrente A aplicação de resistores no neutro dos sistemas industriais
de falta à terra é reduzida oito vezes e os efeitos térmicos depende fundamentalmente da avaliação da corrente capacitiva
e dinâmicos que variam com o quadrado da corrente são do sistema, como foi tratado anteriormente. Dependendo se o
reduzidos 64 vezes. sistema é existente ou está em fase projeto, pode-se avaliar a
• Com a utilização de recursos modernos, como o emprego corrente capacitiva das seguintes formas:
de relés digitais que permitem utilizar a seletividade 1) Dispondo-se do projeto detalhado do sistema
lógica, e ainda com a aplicação de relés de sobrecorrente elétrico, com as seções e comprimentos dos cabos de todos
associados a relés/sistemas de detecção de arco, recursos alimentadores, potências dos motores, transformadores,
estes que permitem reduzir significativamente o tempo de geradores e capacitores de surto (se existentes), pode-se
desligamento do sistema durante faltas à terra, é possível proceder ao cálculo da corrente capacitiva.
evitar a evolução da falta à terra para faltas entres fases, em 2) Em sistemas elétricos existentes, em que não se dispõe
Apoio
68
Aterramento do neutro
do projeto detalhado, pode-se proceder ao teste direto para baixo valor ôhmico. Uma vez definido o tipo de resistor é necessário
medição da corrente capacitiva (ver referência [4]). Para especificá-lo para aquisição. Os critérios de especificação de ambos
segurança, o sistema elétrico deve ser desligado para montagem os tipos serão fornecidos nos próximos artigos.
de uma fonte auxiliar que permite artificialmente deslocar o
neutro e, dessa forma, provocar a circulação de uma corrente Referências
de sequência zero por meio das capacitâncias do sistema. A [1] BEEMAN, D. “Industrial Power System Handbook-First
Figura 2, diretamente extraída da referência anterior, mostra Edition”, McGraw-Hill, 1955.
o esquema proposto que, se for utilizado na prática, deve ser [2] COSTA, P. F. “Redução dos riscos proporcionados pelos arcos
Conclusão
O artigo tratou dos aspectos conceituais mais importantes que
dizem respeito à escolha do tipo de resistor a ser aplicado no neutro
dos sistemas elétricos industriais. Foi mostrado que em sistemas de
baixa tensão aplica-se resistor de alto valor ôhmico, enquanto, na
maioria dos sistemas de média tensão, deve ser aplicado resistor de
Apoio
60
Aterramento do neutro
Capítulo II
Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de
aterramento do neutro dos
sistemas elétricos industriais
em média tensão
O capítulo anterior tratou dos aspectos • Em sistemas de média tensão, uma vez definida
conceituais mais importantes que dizem respeito a aplicação de resistores de baixo valor ôhmico e,
à escolha do tipo de resistor para a aplicação em consequentemente, desligado o sistema durante
questão. Foi mostrado que em sistemas elétricos uma falta à terra, a corrente escolhida para limitação,
industriais de baixa tensão aplica-se resistor de além de atender ao critério de ser igual ou superior
alto valor ôhmico, que não exige o desligamento à corrente capacitiva, deve atender ainda a outro
imediato do sistema na ocorrência de uma falta à critério: o de fornecer corrente suficiente para
terra, enquanto na maioria dos sistemas de média operação segura da proteção de falta à terra.
tensão deve ser aplicado resistor de baixo valor • Até a entrada em operação dos relés digitais
ôhmico, que, ao contrário, exige o desligamento modernos, uma década atrás, utilizavam-se relés
imediato do sistema na ocorrência da falta à terra. de proteção eletromecânicos para proteção
Neste segundo artigo, serão discutidos os critérios de de falta à terra. Estes relés possuíam alto
especificação dos resistores para sistemas elétricos consumo, notadamente quando ajustados em
industriais de média tensão, isto é, os resistores de baixas correntes, não sendo possível utilizar
baixo valor ôhmico. transformadores de corrente toroidais de baixa
relação de transformação para sua alimentação. A
Avanços na aplicação de resistores de solução era aumentar a corrente de falta à terra, o
baixo valor ôhmico que possibilitava também aumentar a relação dos
Por muitas décadas os resistores de baixo TCs toroidais e, por conseguinte, sua potência.
valor ôhmico têm sido aplicados em sistemas de • Até esta época, os valores de limitação eram
média tensão e algumas modificações importantes bastante elevados, sendo padrão os valores de 400
na sua aplicação ocorreram bem recentemente, A, 600 A, 800 A, 1.000 A e maiores.
um pouco mais de uma década. As modificações • Atualmente, a situação se modificou, os relés
mais importantes referentes à aplicação podem ser digitais possuem baixíssimo consumo, permitindo
descritas da seguinte forma: utilizar TCs toroidais de baixa relação, com baixa
Apoio
61
potência. Com esta solução pode-se utilizar atualmente níveis por exemplo, dentro de um quadro de manobra, mesmo com
de limitação reduzidos, desde que atendam aos quesitos de o desligamento rápido, podem ocorrer paralizações necessárias
dimensionamento estipulados anteriormente. Os valores mais para limpeza dos isoladores e alguns reparos.
utilizados na atualidade são: 25 A, geralmente aplicado em • Outro aspecto importante da aplicação dos resistores de baixo
sistemas de mineração e, para sistemas industriais, os valores valor ôhmico na atualidade diz respeito ao reconhecimento da
de 50 A, 100 A, 150 A, 200 A e 300 A. absoluta necessidade de supervisionar continuamente a integridade
• Ao substituir um resistor de 400 A por outro de 50 A, com do circuito neutro-resistor-terra, uma vez que, se este circuito for
atendimento aos critérios de dimensionamento, a corrente de falta interrompido e ocorrer uma falta à terra, muitos equipamentos
à terra é reduzida oito vezes e os efeitos térmicos e dinâmicos, que podem ser danificados por sobretensões transitórias. Existem vários
variam com o quadrado da corrente, são reduzidos em 64 vezes. casos reais e recentes destas ocorrências, envolvendo queima de
• Com a utilização de recursos modernos, como o emprego de transformadores e motores em sistemas de média tensão.
relés digitais que permitem utilizar a seletividade lógica, e ainda
com a aplicação de relés de sobrecorrente associados a relés A Figura 1 ilustra as possibilidades de ruptura do circuito
e sistemas de detecção de arco, recursos estes que permitem neutro-resistor-terra. A ênfase em supervisionar continuamente
reduzir significativamente o tempo de desligamento do sistema o circuito deve ser explicada, uma vez que existem circuitos
durante faltas à terra, é possível evitar a evolução da falta à terra utilizando relés de sobrecorrente e sobretensão associados a
para faltas entre fases em sistemas com resistor de baixo valor TCs e TPs, que realizam a supervisão somente no momento da
ôhmico. Como a rapidez da evolução depende do valor da ocorrência da falta à terra, o que não é aceitável. De fato, se
corrente de arco, limitar o curto em valores mais baixos auxilia houver uma ruptura do circuito neutro-resistor-terra antes da
significativamente no processo de evitar a referida evolução. Se ocorrência da falta à terra, situação esta que não é detectada
o valor da corrente de limitação for elevado e a evolução ocorrer, pelo sistema de proteção/supervisão descrito, o sistema elétrico
Apoio
62
da falta à terra, antes do desligamento pelas proteções. • Acrescentar ao valor estimado cerca de 20% a 30% para
atender a eventual crescimento futuro do sistema.
• Utilizar o valor padronizado mais próximo do valor
estimado (valores como 25 A, 50 A, 100 A, 150 A, 200 A,
300 A, 400 A). Observar que, ao optar pela padronização, o
valor padronizado pode atender ao percentual de crescimento
desejado para o sistema, não sendo necessário acrescentar os
percentuais sugeridos no item anterior.
• Evitar especificar derivações nos resistores, o que os encarece
desnecessariamente. É preferível substituir o resistor no futuro,
se houver acréscimo muito grande da corrente capacitiva do
Figura 1 – Algumas possibilidades de interrupção do circuito neutro- sistema, o que raramente acontece.
resistor-terra.
• Definir o tipo de resistor, o material de sua fabricação e a
A supervisão contínua deve ser executada utilizando sua temperatura de trabalho de acordo com o tempo ou
circuito digital apropriado que faça a circulação permanente regime de carga a que será submetido. A IEEE Std 32, que é
de uma corrente por meio do circuito neutro-resistor-terra e praticamente a única norma estruturada que contém capítulo
não somente pelo resistor. O circuito de supervisão pode ser que rege o fornecimento de resistores para aterramento do
adaptado em resistores existentes como forma de “retrofit”. A neutro, estabelece as informações contidas na Tabela 1. Deve
Figura 2 traz ilustrações de resistores danificados. ser observado que o material para confecção de resistores, cujo
As causas da ruptura do circuito neutro-resistor-terra são regime de operação não é contínuo, é definido na norma como
diversas, como sobretensões transitórias (descargas atmosféricas, sendo o aço inox. Para resistores de uso contínuo, a referida
chaveamentos), sobrecargas além do tempo suportável, vibrações norma não estabelece o tipo de material que deve ser aplicado.
no transporte e na operação normal, vida útil vencida, corrosão, Para resistores de alto valor ôhmico, pode-se, em tese, aplicar a
defeitos de fabricação, defeitos de montagem e outros. classificação de tempo estendido (extendend-time rating), que
significa que o resistor pode ser submetido a tempo de carga
Especificação dos resistores de baixo superior a 10 minutos, com a restrição de que o número de
valor ôhmico vezes que isto acontece não seja superior a 90 dias no ano.
Na especificação dos resistores de baixo valor ôhmico para No entanto, devido a questões de segurança (temperatura do
aterramento do neutro de sistemas de média tensão, devem ser invólucro, que pode ser tocado inadvertidamente com o resistor
observados no mínimo os seguintes aspectos: em carga), é preferível utilizar regime contínuo que fornece
• Estimar o valor da corrente capacitiva do sistema em que temperaturas bem menores para os elementos resistivos e,
será aplicado o resistor, por medição ou por cálculo, conforme consequentemente, para os invólucros.
Tabela 1 – Informações sobre resistores para aterramento do neutro nível de tensão de aplicação do resistor. Em geral, esta capacidade é
Aterramento do neutro
Temperatura final de, no mínimo, 10% da capacidade de curta duração do resistor para
permitida nos
Regime de elementos resistivos, resistores construídos com apenas uma camada de elementos, sendo
Observação
funcionamento considerando 8% para construções com mais de uma camada.
temperatura ambiente
inicial de 30 0C
Curto tempo 1 minuto 760 0C Material: aço inox
Conclusão
Curto tempo 10 segundos 760 0C Material: aço inox Este artigo abordou as principais modificações que devem
Regime estendido (extended time rating) 610 0C Material: aço inox ser introduzidas na especificação dos resistores de aterramento
Contínuo 385 0C Material: não definido do neutro em sistemas de média tensão, principalmente devido
à introdução nestes sistemas de relés digitais, inversores de
• A chapa estrutural do invólucro metálico dos resistores não
frequência, e também do aumento de conhecimento dos fenômenos
deve ser inferior a 12 USG (2,78 mm), enquanto a chapa de
transitórios que podem ocorrer durante uma falta à terra. A
fechamento não deve ser inferior a 14 USG (1,98 mm). Observa-se
redução do valor de limitação e a constatação da obrigatoriedade
que a fragilidade dos invólucros dos resistores constitui uma das
da supervisão correta e permanente da integridade do circuito
principais causas de rompimento dos elementos resistivos, bem
neutro-resistor-terra são dignos de destaque. Deve ser destacado
como de alguns outros danos sofridos por eles.
também que os resistores devem ser inerentemente robustos, não
• Para os resistores de média tensão de baixo valor ôhmico, deve
sendo aceitável uma especificação que permita um fornecimento
ser solicitado o teste de tensão aplicada, bem como devem ser
de conjuntos mecanicamente e eletricamente frágeis. O custo dos
mantidas as distâncias entre qualquer parte energizada do resistor
resistores quando comparado ao dos equipamentos principais do
e o invólucro metálico de acordo com o estabelecido na tabela
sistema elétrico é irrisório e sua falha pode resultar em falhas destes
21 da norma ABNT NBR 14039, cujos valores são reproduzidos
equipamentos principais, tendo como consequência a paralisação
na Tabela 2. Observe que para resistores não se aplica o teste
da produção e perdas associadas.
de impulso atmosférico (Tensão Suportável de Impulso, TSI). Os
valores de TSI que os equipamentos de média tensão devem
Referências
suportar estão também presentes na mesma tabela da norma em
• COSTA, P. F. “Redução dos riscos proporcionados pelos arcos
questão, mas se aplicam a outros equipamentos não resistores para elétricos”. Eletricidade Moderna, dez. 2009.
aterramento do neutro, e por isso foram suprimidos da Tabela 2. • SELKIRK, D.; SAVOSTIANIK, M.; CRAWFORD, K. “Why neutral:
grounding resistor need continuous monitoring”. IEEE Petroleum
Tabela 2 – Distâncias mínimas x tensão nominal da instalação
and Chemical industry Conference, 2008.
Tensão nominal da Tensão de ensaio à Distância mínima • Catálogo Técnico: Resistor de aterramento em média tensão
instalação (kV) frequência industrial (kV) fase terra (mm) com supervisão de continuidade “on-line” modelo RAM-SC2.
3 10 60 Disponível em: <www.seniorequipamentos.com.br>.
4,16 19 60 • Catálogo Técnico: “Upgrade” para monitorar a continuidade do
6 20 90 circuito neutro-terra em resistores de aterramento em média tensão
13,8 34 160
existentes. Disponível em: <www.seniorequipamentos.com.br>.
• SELKIRK, D.; SAVOSTIANIK, M.; CRAWFORD, K. “The dangers
23,1 50 160
of grounding resistor failures”. IEEE Industry Application Magazine,
34,5 70 270
Sep./Oct. 2010.
• ANSI/IEEE Std 32-1972 (Reaffirmed 1990), Neutral Grounding
• Deve ser informado na especificação o tipo de invólucro a ser
Devices “IEEE Std Requirements, Terminology, and Test procedures
fornecido, que deve ser apropriado para as condições do ambiente for Neutral Grounding Devices”.
de instalação (grau IP). Observe que o grau de proteção IP 54
atende à exigência de impedimento de entrada de pós e de água
(projeção), sendo adequado para uso ao tempo. Para ambientes
abrigados sem presença de pós, é suficiente utilizar o grau IP 23.
• Para resistores especificados para regime de curto tempo, deve
ser solicitado que o fabricante forneça a capacidade de corrente
em regime contínuo, para eventualmente acomodar correntes
harmônicas presentes principalmente em aplicações nas quais existem
acionamentos com velocidade variável (inversores de frequência) no
Apoio
56
Aterramento do neutro
Capítulo III
Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de
aterramento do neutro dos sistemas
elétricos industriais em baixa tensão
Este é o terceiro artigo, de uma série de seis, que 10 A, e o sistema não é desligado imediatamente,
sobre aterramento do neutro em sistemas elétricos permanecendo com o curto fase terra durante
industriais. O primeiro artigo tratou dos aspectos um período suficiente (recomendado máximo
conceituais mais importantes que dizem respeito de 12 horas) para sua identificação e tomada de
à escolha do tipo de resistor para a aplicação em medidas auxiliares que reduzem o tempo de parada
questão. Foi mostrado que em sistemas elétricos para substituição do equipamento defeituoso. A
industriais de baixa tensão aplica-se resistor de aplicação é recomendada para sistemas de baixa
alto valor ôhmico, que não exige o desligamento tensão, com aplicação bem restrita em média
imediato do sistema na ocorrência de uma falta à tensão.
terra, enquanto, na maioria dos sistemas de média As vantagens da aplicação deste sistema de
tensão, deve ser aplicado resistor de baixo valor aterramento do neutro podem se resumidas da
ôhmico, que, ao contrário, exige o desligamento seguinte forma.
imediato do sistema na ocorrência da falta à terra.
No segundo artigo foram discutidos os critérios de • As correntes devidas aos curtos fase terra são
especificação dos resistores para sistemas elétricos baixas e não existem danos e estresses no sistema
industriais de média tensão, isto é, os resistores de elétrico.
baixo valor ôhmico. Neste artigo serão discutidos os • As baixas correntes fase terra reduzem
critérios de especificação dos resistores de alto valor significativamente a possibilidade de choque
ôhmico, aplicados em sistemas elétricos de baixa elétrico, principalmente devido às tensões de passo
tensão. e toque.
• Durante curtos fase terra, tanto o arco elétrico
Principais vantagens da aplicação dos como a sua evolução são eliminados, evitando desta
resistores de alto valor ôhmico forma as consequências severas deste fenômeno,
Na aplicação de resistores de alto valor ôhmico, para pessoas e equipamentos.
a corrente fase terra é limitada em valores menores • De forma semelhante, as sobretensões transitórias
Apoio
57
causadas por faltas à terra são eliminadas, preservando a Esta dificuldade foi superada pela introdução do sistema de
isolação dos equipamentos e, consequentemente, aumentando pulso que consiste em, após a ocorrência da falta fase terra e a
sua vida útil. constatação de sua existência pelo sistema de detecção, aumentar
• A continuidade operacional do sistema durante faltas à terra controladamente seu nível por curto espaço de tempo, emitindo
é mantida, evitando-se paralisações onerosas. pulsos que podem ser facilmente detectados por amperímetro
• Como os afundamentos de tensão durante as faltas à terra portátil de pinça de grande diâmetro. A Figura 1 ilustra tal método.
são evitados, devido ao reduzido valor da corrente, limitada
pelo resistor de alto valor ôhmico, existe uma significativa
contribuição para a qualidade de energia do sistema elétrico.
• Dificuldades de identificar o local da falta à terra (ou Figura 1 – Processo atual de identificação do curto fase-terra utilizando
sistema de pulso e amperímetro alicate (questionado atualmente por
equipamento no qual ocorreu a falta). questões de segurança NR 10).
Apoio
58
• Atualmente são disponíveis sistemas de detecção fixos de • Deve-se informar também aos fornecedores dos inversores
Aterramento do neutro
baixo custo, instalados nos alimentadores, os quais evitam o quanto à aplicação dos resistores de alto valor ôhmico para
risco do contato com os cabos isolados energizados, o que é que adaptem os seus filtros de ruído com conexão à terra para
necessário quando se utiliza o amperímetro de pinça. Evitar o sistemas com neutro isolado.
risco está dentro do propósito da norma brasileira NR 10, que • Ainda com relação à aplicação dos resistores de alto valor
tem sido evocada na situação descrita, e, portanto, favorece a ôhmico em sistemas com inversores de frequência, existe a
aplicação dos sistemas de detecção inteligentes, fixos. A Figura necessidade de identificar se a falta à terra ocorre antes do
2 ilustra tal sistema. inversor (sistema de 60 Hz), na barra Vc.c. do mesmo ou no
lado da carga alimentada por ele (lado de tensão/frequência
variável). Este recurso é altamente significativo para as
equipes de manutenção e deve estar presente nos modernos
equipamentos que abrigam os resistores de alto valor ôhmico.
A Figura 4 ilustra os pontos anteriormente descritos.
• Um aspecto importante, moderno, diz respeito à convivência • A verificação da continuidade do circuito neutro – resistor –
entre os resistores de alto valor ôhmico e os acionamentos terra, e não somente do resistor, recomendada para os resistores
de velocidade variável (inversores) que atualmente possuem de baixo valor ôhmico aplicáveis aos sistemas de média tensão,
larga aplicação. Para esta situação, os resistores devem ser possui a mesma importância para os resistores de alto valor
sobredimensionados tendo em vista a circulação de corrente ôhmico, e deve ser incorporada igualmente nestes últimos,
permanente nos mesmos, originada pelo chaveamento dos como mostrado na Figura 5.
dispositivos de controle dos inversores e deve-se efetuar a
previsão de filtros com a finalidade de evitar alarmes falsos e
impedir a necessidade de dessensibilizar o sistema de detecção
com prejuízos para a operação do mesmo. A Figura 3 mostra a
circulação destas correntes.
• A solução para o inconveniente do duplo curto à terra nos disjuntores de baixa tensão dos ramais ou nos
simultâneo, em fases diferentes, consiste na instalação de “disjuntores motores” empregados atualmente em larga
conjuntos de proteção de falta à terra do tipo “ground-sensor”, escala nos ramais de alimentação dos motores de baixa
formados por transformadores de corrente toroidais associados tensão dos sistemas elétricos industriais.
a relés de terra instantâneos, conjuntos estes que devem ser • Deve ser notado que não existe necessidade de prover
posicionados nos diversos alimentadores do sistema elétrico seletividade neste tipo de proteção, pois o duplo curto
onde se aplica o Resistor de Alto Valor Ôhmico. à terra sempre envolverá dois circuitos que devem ser
• As proteções referidas podem também ser incorporadas desligados instantaneamente.
Apoio
62
Capítulo IV
Nos três capítulos anteriores, foram discutidos os estabilidade, seja para suprir energia de partida
aspectos da escolha e da especificação dos tipos de (black-start) ou para exportar energia excedente.
resistores para aterramento do neutro nos sistemas Esta peculiaridade das plantas de cogeração
elétricos industriais de baixa e média tensão. provoca interessantes questões no planejamento dos
Foram fornecidas as justificativas técnicas que seus sistemas elétricos, dentre as quais se destaca
levaram à conclusão de que em sistemas de baixa o aterramento do neutro, objeto de tratamento no
tensão aplicam-se resistores de alto valor ôhmico, presente artigo. Observa-se que este artigo é o quarto
conservando-se o sistema operacional durante uma de uma série de seis, abordando o aterramento do
falta à terra, enquanto que na maioria dos sistemas neutro em sistemas elétricos industriais de baixa e
de média tensão é necessário aplicar resistores de média tensão.
baixo valor ôhmico com o desligamento obrigatório
durante a falta à terra. Breve síntese quanto à escolha dos
Em plantas industriais que utilizam vapor no resistores para aterramento do
processo (plantas de produção de papel e celulose, neutro em média tensão
por exemplo) são utilizados geradores de média Os princípios de dimensionamento dos
potência (isto é, menores ou pouco maiores que 100 resistores para aterramento do neutro estabelecidos
MVA), que são diretamente ligados ao sistema de para sistemas de média tensão nos dois primeiros
distribuição em média tensão da planta, geralmente artigos são completamente válidos para sistemas
na tensão de 13,8 kV (mais comum), 6,6 kV ou 4,16 elétricos de cogeração e podem ser resumidos da
kV (geradores de menor porte). seguinte forma:
Embora estes geradores possam em alguns casos
operar em sistema ilhado, ou seja, desconectado • Sistemas elétricos com neutro isolado flutuante,
do sistema elétrico da concessionária local, o isto é, neutro sem conexão à terra, são susceptíveis
mais comum é o trabalho em paralelo, seja para de sofrerem sobretensões transitórias de valor
importar energia complementar, seja para manter elevado durante faltas à terra. A melhor maneira
Apoio
61
de eliminar as referidas sobretensões nos sistemas elétricos toroidais nos alimentadores, forma ideal para proteção quando
industriais consiste em aterrar o neutro através de resistores. se utiliza limitação através de resistores de baixo valor ôhmico.
• Para eliminar sobretensões transitórias durante faltas fase- • Os valores de limitação mais utilizados atualmente são: 50
terra, deve circular pelo resistor uma corrente maior ou igual à A, 100 A, 150 A, 200 A, 300 A, 400 A. Estes valores são bem
corrente capacitiva do sistema elétrico. menores do que os utilizados no passado, sendo possível sua
• A corrente capacitiva dos sistemas de média tensão é aplicação devido ao surgimento dos relés digitais sensíveis e de
significativa, sendo, em geral, maior que 10 A. Portanto, deve baixo consumo.
ser projetado um resistor para drenar uma corrente resistiva
maior que 10 A, o que obriga o desligamento rápido do sistema Características dos sistemas industriais
elétrico para que sejam evitados danos, principalmente devido com presença de cogeração e que afetam o
à formação de arco elétrico e sua evolução para arco entre aterramento do neutro
fases. O resistor neste caso é denominado resistor de baixo
valor ôhmico. Tendo em vista que um sistema elétrico industrial não deve
• Observa-se ainda que em sistemas elétricos de média tensão em nenhum momento ficar sem um ponto de aterramento do
de até 13,8 kV, o arco se mantém para correntes menores que neutro, os sistemas industriais com a presença de cogeração,
10 A, o que reforça a necessidade de desligamento imediato no nos quais os geradores trabalham em paralelo com a
caso de ocorrência de falta fase terra. concessionária, possuem em geral no mínimo dois pontos de
•Havendo necessidade de desligar o sistema durante curtos aterramento. Como eventualmente o sistema elétrico pode
fase-terra, deve-se dimensionar o resistor com valor de limitação trabalhar ilhado, ou somente alimentado pela concessionária,
tal que, além de eliminar sobretensões transitórias, seja criada cada um dos aterramentos deve ser dimensionado para atender
corrente suficiente para facilitar a operação do sistema de a toda a planta. A Figura 1 mostra esta condição, onde foram
proteção de falta à terra utilizando-se relés associados a TCs utilizados resistores de baixo valor ôhmico limitando a corrente
Apoio
62
em 400 A no neutro de cada fonte. Como será comentando garantir segurança de pessoas e do sistema elétrico.
Aterramento do neutro
oportunamente neste artigo, esta forma de aterramento propicia O mero esquecimento de uma chave aberta pode
uma corrente fase-terra de 800 A no ponto de falta, que não é provocar sérios inconvenientes durante faltas à terra, uma
aceitável à luz dos conhecimentos atuais. vez que o curto não será identificado e podem ocorrer
sobretensões transitórias com queima de equipamentos
como grandes motores, geradores e transformadores. Na
Figura 3 são identificadas duas situações que devem ser
evitadas no planejamento do sistema elétrico.
Nesta situação, a recuperação do gerador torna-se resistor do sistema elétrico considerando a operação do relé
extremamente trabalhosa, demorada e onerosa, uma vez que, diferencial de terra em um ciclo e tempo de abertura e eliminação
além da recuperação do enrolamento, exige-se o baralhamento de arco do disjuntor de cinco ciclos, total de seis ciclos (igual a
do pacote magnético para reduzir a possibilidade de existência 100 ms, ou seja 0,1 segundo) será:
de pontos quentes localizados, quando da operação após reparo.
A configuração de aterramento do neutro do sistema elétrico
(valor de limitação por resistor e número de resistores existentes)
exerce grande influência nos danos do gerador, pois no ponto de Por outro lado, para calcular a energia liberada pela corrente
falta, a corrente total é a soma das contribuições das correntes do próprio gerador devemos considerar que a sua característica
do próprio gerador com a corrente de limitação do sistema é exponencial decrescente, dependendo de uma constante de
externo ao mesmo. Por exemplo, na Figura 1, um curto interno decaimento que representaremos pela letra grega τ (tau).
no gerador poderá atingir 800 A, sendo 400 A próprio gerador e
400 A devido à limitação através do resistor do transformador.
Vários estudos mostram que os danos causados pelo curto Considerando que a constante de decaimento se situa entre
fase-terra no interior do gerador são causados principalmente 0,8 s e 1,1 s (média de 0,9 s) e para que para um tempo de 5τ de
pela contribuição do próprio gerador. Isto pode ser explicado decaimento (praticamente toda a energia já foi liberada), segue:
pelo fato de que para o curto em questão, a proteção diferencial
do gerador atua rapidamente, desligando o disjuntor de saída do
gerador que acopla o mesmo ao sistema elétrico de distribuição,
desligando também o disjuntor de campo. No entanto, o gerador A energia total liberada no ponto de falta alcança (4800 + 800)
continua gerando e alimentando o curto interno devido à sua = 5600 W.s, da qual a contribuição do sistema (800 W.s) representa
grande inércia e ao fluxo remanescente (residual). A corrente 14% e a contribuição do próprio gerador 76% (4800 W.S).
interna de falta sofre um processo de decaimento exponencial. Esta conclusão, relativamente recente, mostra a necessidade
Pode-se avaliar a ordem de grandeza da energia liberada por de se modificar a forma de aterramento do neutro dos geradores
unidade de resistência de arco através dos seguintes cálculos, em diretamente ligados ao sistema de distribuição das plantas
que o expoente 1.5 leva em conta que a corrente se desenvolve industriais, cujo neutro é aterrado por meio resistor de abaixo
na resistência de arco e não em um resistor linear onde o valor ôhmico.
coeficiente seria igual a dois.
Suportabilidade dos geradores a curtos fase-
terra
Experimentos com curtos fase-terra no interior de ranhuras
A energia desenvolvida pela parcela devido à corrente no de geradores indicam que o curto ocorre através de arcos
65
Figura 7 – Utilização de resistores de alto valor ôhmico no neutro dos geradores e de baixo valor ôhmico no sistema.
Apoio
60
Aterramento do neutro
Capítulo V
Transformadores de aterramento
Parte I
importantes, como a dos relés de distância de falta fase-terra. vamos considerar duas situações reais de sua aplicação. A
Observa-se que nos sistemas elétricos industriais este primeira delas, já considerada no artigo anterior, é vista na
raciocínio não se aplica, pois o retorno do curto fase terra é Figura 1, a seguir.
garantido pelo sistema de aterramento (malha de terra industrial)
que se estende por toda a planta e garante reduzida impedância
de retorno. Estes sistemas podem, portanto, ser aterrados por
meio de resistores.
Do exposto, justifica-se plenamente a necessidade de
conhecermos a aplicação dos transformadores de aterramento,
cujo propósito é o de criar o ponto neutro em um sistema
trifásico quando é importante e se deseja fazê-lo.
Este artigo e o próximo estão dedicados ao estudo dos
transformadores de aterramento e juntamente com os quatro
capítulos anteriores deste fascículo, completam a série de seis
artigos que buscam fornecer informações importantes sobre o Figura 1 – Aplicação de transformador de aterramento na indústria.
aterramento do neutro, principalmente nos aspectos voltados Pode ser verificado que a aplicação de um resistor
para aplicação industrial. de aterramento na barra principal evita a instalação de
resistores de baixo valor ôhmico nos neutros dos geradores
Casos típicos de necessidade dos G1 e G2, mantendo o sistema elétrico industrial com, no
transformadores de aterramento máximo, dois pontos de aterramento, o que é ideal, uma
Para iniciar o estudo sobre transformadores de aterramento, vez que simplifica o esquema de proteção de falta à terra e
Apoio
62
reduz o valor da corrente total da falta de 1/3, no caso, da TR1, no lado da conexão triângulo.
Aterramento do neutro
presença de dois geradores. A solução correta neste caso consiste em criar um ponto
Por exemplo, se não fosse utilizado transformador de aterramento no lado da conexão triângulo, utilizando
de aterramento e o valor necessário para controlar a um transformador de aterramento com o neutro solidamente
sobretensão transitória com o sistema industrial operando aterrado, conforme indicado na Figura 2. Este procedimento
com, no mínimo, um gerador, for de 200 A e o sistema evita a ocorrência de sobretensões transitórias na linha/
elétrico da concessionária puder também alimentar o sistema que executa a conexão entre os disjuntores DJ1 e
sistema na ausência de qualquer gerador, seria necessário DJ2 após abertura do disjuntor DJ2 para curto no ponto F.
utilizar resistor de 200 A em todos os neutros (G1, G2, e A solução para o caso do transformador de acoplamento
transformador de acoplamento com a concessionária), ser de conexão contrária à examinada, isto é, triângulo no
totalizando 600 A de falta fase-terra. lado da indústria e estrela aterrada no lado da concessionária,
Com a aplicação do resistor de aterramento na barra, seria instalar o transformador de aterramento no lado da
conforme mostra a Figura 2, serão necessários apenas dois conexão triângulo, isto é, lado da indústria, como visto
resistores, totalizando 400 A de falta à terra. Naturalmente na Figura 3. Neste caso o neutro do transformador de
que, quanto maior o número de geradores presentes na planta aterramento será aterrado por meio de resistor, devido às
industrial, maior o ganho na aplicação do transformador necessidades do sistema elétrico industrial.
de aterramento na barra, em termos e redução da corrente
total de falta à terra.
Outra situação, bastante comum, está delineada na figura
2B a seguir, onde temos a interface de um sistema industrial
com cogeração, e no qual o transformador de acoplamento
com a concessionária possui a conexão estrela do lado da
indústria e conexão triangulo do lado da concessionária.
Verifica-se que, estando os sistemas de cogeração e da
concessionária em paralelo, um curto circuito fase-terra
no ponto F indicado provoca a abertura do disjuntor
DJ2 na subestação da concessionária (que possui neutro
solidamente aterrado), enquanto que o disjuntor DJ1 na
planta industrial se mantém fechado devido ao fato de não Figura 3 – Aplicação de aterramento no lado da indústria.
existir ponto de aterramento do neutro no transformador
Observa-se que algumas concessionárias padronizam
este tipo de conexão na interface com os sistemas elétricos
industriais, a fim de eliminar as sobretensões transitórias
e garantir a operação da proteção fase-terra nos dois lados
da conexão, isto é abertura dos dois disjuntores DJ1 e DJ2
mostrados na Figura 2.
Concluímos que, durante um curto fase-terra, a corrente zero, entra pelo ponto de aterramento criado pelo transformador
3I0 circula do ponto de falta pelo neutro do transformador de aterramento (com ou sem resistor) e se divide pelas três fases
de aterramento, distribuindo-se no circuito de acordo com do mesmo, isto é, por cada fase ou perna do transformador
sua topologia, conforme mostra a Figura 7: de aterramento circula somente um terço da corrente total de
falta, que é igual ao valor da corrente de sequência zero (I0).
Isto acontece em qualquer tipo de transformador de aterramento,
independentemente da sua forma construtiva.
Considerando VFF como o módulo da tensão fase-fase e Em geral, o valor da corrente de falta à terra IFT, é prefixado
VFN como módulo da tensão fase neutro, segue: pelo projetista em função do sistema elétrico (industrial ou
de potência). Para os sistemas elétricos industriais valem as
V0 =1/3(VFF < 180º + VFF < 120º) =1/3( VFF< 150º recomendações fornecidas nos dois primeiros capítulos deste
V0 = 1/3(3 VFN<150º) = VFN<150º fascículo.
A potência de curto tempo PCT também em kVA será:
Este resultado mostra que o módulo da tensão de sequência
zero das tensões de fase para terra é igual em módulo da tensão PCT (kVA) = (IFTkVFF/ √3 )/K= PINST(kVA)/K
fase neutro.
O fator K, que depende do tempo de carga, pode ser
Cálculo da potência dos transformadores avaliado conforme tabela a seguir.
de aterramento
A potência do transformador de aterramento é definida em Tabela 1 – Fator K e tempo de carga
primeiro lugar pela potência desenvolvida por ele no momento Tempo de carga Fator K
Reatância do transformador de
aterramento
Além das potências permanentes e de curta duração
do transformador de aterramento deve ser fornecida
também a sua reatância em Ohms para que seja possível
fabricá-lo.
Esta questão será tratada no próximo artigo, juntamente
com outros aspectos também importantes para aplicação
de transformadores de aterramento.
Referências
[1] Costa, P.F; “Capitulo I – Aspectos importantes da
escolha do tipo de resistor de aterramento do neutro nos
sistemas elétricos industriais” Revista O Setor Elétrico,
Julho 2014.
[2] Costa, P.F; “Capitulo II - Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos
sistemas elétricos industriais em média tensão” Revista O
Setor Elétrico, Agosto 2014.
[3] Costa, P.F; “Capitulo III - Avanços na especificação
e aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos
sistemas elétricos industriais em baixa tensão”, Revista O
Setor Elétrico, Setembro 2014.
[4] Costa, P.F; “Capitulo IV - Aterramento de sistemas
elétricos industriais de média tensão com a presença de
cogeração” Revista O Setor Elétrico, Outubro de 2014.
Apoio
46
Aterramento do neutro
Capítulo VI
Transformadores de aterramento
Parte II
Nos capítulos anteriores, foram tratados os pouco mais sugerimos a leitura das indicações
aspectos relativos ao aterramento do neutro nas referências bibliográficas.
em sistemas elétricos industriais, sendo que,
especialmente no último, foram abordadas Funcionamento do
as situações em que os transformadores de transformador de aterramento
aterramento aplicam seus tipos principais e a “zigue-zague”
forma de se calcular suas potências instantâneas O transformador de aterramento “zigue-
e de curto tempo. No presente artigo serão zague” é constituído por um núcleo magnético
fornecidas informações adicionais sobre o de três colunas, sendo que em cada coluna
transformador de aterramento na conexão existem dois enrolamentos iguais, indicados
“zigue-zague”, o mais utilizado na atualidade, na Figura 1A. O diagrama vetorial da Figura
bem como será vista a metodologia de cálculo 1B mostra os vetores das bobinas individuais
de sua reatância, parâmetro este que, senão for das três colunas, considerando tratar-se de um
fornecido ao fabricante, inviabiliza o seu projeto sistema trifásico. Observa-se neste diagrama
e fabricação. que os vetores acompanham as respectivas
Com este artigo encerramos uma sequência polaridades estabelecidas para as bobinas,
prevista de seis capítulos, nos quais foram conforme marcado na Figura 1A.
discutidos aspectos do aterramento do neutro, Na conexão da Figura 1A, a primeira bobina
principalmente de sistemas elétricos industriais. do primeiro núcleo é ligada com a segunda bobina
Devido à vastidão e à importância deste tema, do segundo núcleo, sendo esta com a polaridade
não consideramos, de forma alguma, que ele trocada. A primeira bobina do segundo núcleo é
foi esgotado. Pelo contrário, muitos aspectos ligada com a segunda bobina do terceiro núcleo,
importantes ainda necessitam ser tratados, sendo esta de polaridade trocada. Finalmente, a
mormente se saltarmos para aplicações em outros primeira bobina do terceiro núcleo é ligada com
sistemas elétricos, como os de distribuição e de a segunda bobina do primeiro núcleo, sendo
potência. Àqueles que desejarem aprofundar um esta de polaridade trocada.
Apoio
47
Quando o transformador é ligado ao sistema trifásico de fase para neutro. Pode ser verificado que o transformador
sem falta à terra, forma-se então o diagrama vetorial da funciona na realidade como um reator de alta impedância,
Figura 1C, em que as tensões AA1, BB1, CC1, são as tensões pois não existe enrolamento secundário, sendo absorvida
somente uma pequena corrente de excitação. As formas
de conexão das bobinas e do diagrama vetorial sugerem o
nome escolhido de “conexão zigue-zague”.
transformador (XOT).
Existem técnicas construtivas que permitem alterar a
reatância do transformador de aterramento, de forma que
se pode aplicá-lo com baixa ou alta reatância.
Por exemplo, quando se utiliza o neutro do
transformador de aterramento aterrado por meio de resistor,
deseja-se baixa reatância de sequência zero, para que
ela não interfira no nível de curto limitado pelo resistor.
Quando o referido neutro é solidamente aterrado, deseja-se
obter uma reatância compatível com o nível de curto fase-
terra preestabelecido pelo projetista, o qual deve seguir os
princípios discutidos no próximo item.
arcos elétricos que são de natureza não linear. A corrente controle ainda mais efetivo das sobretensões transitórias,
Aterramento do neutro
gerada possui harmônicas de alto espectro de frequência, que e dependendo dos parâmetros do circuito, as tensões das
podem então excitar o circuito LC, levando-o à ressonância. fases sãs para terra não ultrapassam de 80% da tensão fase-
As tensões são então amplificadas nas capacitâncias de fase fase, no momento do curto fase-terra.
para terra das fases sãs e nas bobinas do transformador. As sobretensões das fases sãs para a terra, que ocorrem no
Devido à intermitência do curto, as tensões amplificadas momento de um curto fase-terra em sistemas que possuem
sofrem um processo de aumento sucessivo, denominado o neutro aterrado, de forma a controlar as sobretensões
“escalonamento”. As tensões amplificadas são as de fase- transitórias, são denominadas “sobretensões temporárias”.
terra nas fases sãs (fases a, b, na Figura 3, em que o curto
fase-terra foi estabelecido na fase c). Quando no processo Bases para dimensionamento da reatância dos
de escalonamento as tensões fase-terra nas fases sãs atingem transformadores de aterramento
valores da ordem de 5-6 P.U, ocorre a ruptura da isolação Tendo em vista o que foi exposto, para que um sistema
de uma ou das duas para terra (em pontos e equipamentos, elétrico trifásico sobreviva durante um curto fase-terra, é
tais como motores, cabos isolados, transformadores e outros necessário no mínimo controlar as sobretensões transitórias.
componentes), que resultam em duplo ou triplo curto à Com resistor no neutro dimensionado adequadamente,
terra, cuja consequência é o desligamento do sistema pela as sobretensões transitórias são eliminadas e as tensões
proteção. As tensões geradas no processo de escalonamento de fase-terra nas fases sãs são controladas e atingem no
são denominadas sobretensões transitórias. máximo o valor fase-fase. Nestes sistemas os para-raios
O controle das sobretensões transitórias, devido à ocorrência utilizados das fases para terra devem ser de tensão nominal
de faltas à terra, é realizado por meio do aterramento do fase-fase (tensão plena), denominados “para-raios 100%”.
neutro. Com aplicação de resistores no neutro dimensionados Quando o neutro é solidamente aterrado, pode-se
conforme teoria exposta nos artigos anteriores, as sobretensões conseguir que as tensões das fases sãs para terra atinjam no
de fase-terra nas fases sãs são controladas de forma que atingem máximo 80% da tensão fase–fase. O sistema é denominado
no máximo o valor da tensão de fase-fase, isto é se elevam de então “efetivamente aterrado” e os para-raios são
√3, pois, em regime normal, sem curto fase-terra, estas tensões denominados “para-raios 80%”.
são iguais em módulo, à tensão fase-neutro. As condições para controlar as sobretensões transitórias,
Os resistores no neutro amortecem o circuito LC considerado mas utilizando para-raios 100% podem ser resumidas na
anteriormente, de forma que a ressonância é evitada. Tabela 1 a seguir. A demonstração das condições indicadas na
Se o neutro é solidamente aterrado, existe um tabela pode ser encontrada, por exemplo, na referência [6].
Tabela 1 – Condições para eliminação das sobretensões transitórias (Z0) que, juntamente com a impedância de sequência negativa
utilizando para-raios 100%
(Z2), são utilizadas para cálculos da corrente de falta à terra e
Critério para limitação da
sobrecorrente transitória das tensões fase-terra. Z1, Z2, Z0 são impedâncias equivalentes de
Método de aterramento
X0 / X1 R0 / X0 Thévenin, vistas do ponto de falta, que podem ser escritas como:
Sólido ≤ 10 Qualquer
ZP.U = ZOhm MVAB/ kVB2; ZOhm= ZP.U KVB2 / MVAB XOT(Ohms) = 6,61 x 692 / 100= 315 Ohms
As impedâncias percentuais dos transformadores são O curto fase–terra, em P.U., no final da linha, valerá:
transformadas em P.U (ZT P.U) pela relação:
IFT = 3 / (RO +jXo+ j 2X1) = 3 / (RO + j10X1 +j2X1 ) = 3 / (RO+ j 12X1)
ZT P.U = Z% /MVAT, em que MVAT é a potência do transformador
em MVA e Z% é sua impedância percentual. IFT = 3 / ( 0,042 + j 12 x 0,735) = 0,34 P.U
X1L = X2L = 10 x 100 / 692 = 0,21 PTAT(INST)= 326 x 69/ √3 = 12987 ≅ 13.000 kVA
Apoio
53
A potência de curto tempo, 10 segundos, PTAT(10S) será: solidamente aterrado, de forma a controlar as sobretensões
transitórias e utilizar para-raios 100% ou para-raios 80%. Foi
PTAT(10S) = 13.000/10 = 1.300 kVA fornecida a metodologia para cálculo dos transformadores
de aterramento necessários. Quando é desejado incluir
Caso 2 – Uso de para-raios 80% no final da LT um resistor no neutro do transformador de aterramento a
Neste caso, deve ser utilizada a relação da Tabela 2, isto metodologia de calculo deve ser alterada, utilizando as
é, X0 = 3X1. Refazendo os cálculos, segue que: informações da Tabela 1.
O autor agradece aos leitores que leram algum ou todos
XO = 3 X1 = 3x 0,735 = 2,21 os artigos da série publicada e se sente feliz em receber
comentários.
XOT = 2,21 – 0,74 = 1,47
Referências bibliográficas
XOT(Ohms) = 1,47x 692 / 100= 67 Ohms [1] Costa, P.F; “Capitulo I – Aspectos importantes da escolha
do tipo de resistor de aterramento do neutro nos sistemas
O curto fase-terra no final da linha será recalculado da elétricos industriais” Revista Setor Elétrico, Julho 2014.
seguinte forma: [2] Costa, P.F; “Capitulo II - Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos
IFT = 3 / (RO + jXo+ j 2X1) = 3 / (RO + j3X1 +j2X1 ) = 3 / (RO + j 5X1) sistemas elétricos industriais em média tensão” Revista Setor
Elétrico, Agosto 2014.
IFT= 3 / ( 0,042 + j 5x0,735) =0,776 P.U [3] Costa, P.F; “Capitulo III - Avanços na especificação e
aplicação dos resistores de aterramento do neutro dos sistemas
IB = 100.000 / √3 x 69 = 837 A elétricos industriais em baixa tensão”, Setembro 2014.
[4] Costa, P.F; “Capitulo IV- Aterramento de sistemas elétricos
IFT = 0,776 x 837 = 650A industriais de média tensão com a presença de cogeração”,
Revista Setor Elétrico, outubro de 2014.
O curto fase-terra na barra de 69 kV para cálculo da [5] Costa, P.F; “Capitulo V- Transformadores de aterramento
potência do transformador de aterramento vale: parte I”, Revista Setor Elétrico, novembro de 2014.
[6] Costa, P.F; Dissertação de Mestrado “Aterramento do
IN = 3 / [XOT +2 (X1S +X1T )] = 3 / [ 1,47 + 2 x ( 0,1 + 0,425)] Neutro dos Sistemas de Distribuição Brasileiros: Uma
Proposta de Mudança”, UFMG 1995.
IN = 1,19P.U
Conclusão
Neste artigo foram fornecidas informações para
transformar um sistema com neutro isolado em neutro
ATERRAMENTO
Sistema de
aterramento e O grande número de ferros das
fundações e das estruturas pré-
moldadas provê aterramento
A
primeira utilização conhecida Centrais Elétricas possui desde 1965 di- (ANSI-C2)-NEC incluiu pela pri-
das armaduras (ferragens) do retrizes para a utilização das armaduras meira vez especificações para eletrodos
concreto armado no aterramen- das fundações como eletrodos de aterra- de aterramento embutidos nas fun-
to data da Segunda Guerra Mundial, mento. Em 1979 foi publicada a norma dações. Também o “Green Book”
mais precisamente de 1941, em um sis- alemã (caderno 35 da VDE) sobre a in- (ANSI/IEEE Standard 142-1982), que
tema idealizado pelo engenheiro Herb clusão do sistema de aterramento nas trata especificamente de aterramento,
Ufer para os depósitos de bombas da fundações dos edifícios residenciais. ressalta em várias seções as vantagens
base aérea Davis Monthan, em Tucson, Em fins da década de 70, as recomen- de se utilizarem as armaduras do con-
no Arizona, EUA. Os objetivos desse dações americanas incluíram sistemas creto das fundações como eletrodos de
sistema eram proteger contra descargas de aterramento com condutores embu- aterramento.
atmosféricas e eletricidade estática, esta tidos em concreto, sendo que em 1978 Podemos então dizer que os aterra-
última causada por vento e tempestades o “National Electrical Safety Code” mentos utilizando as armaduras das fun-
de areia. Anos mais
tarde, Ufer reinspecio-
nou as instalações e con-
cluiu que eletrodos de
aterramento utilizando
armaduras do concreto
promoviam uma menor e
mais consistente re-
sistência de aterramento
que as próprias hastes,
especialmente em re-
giões com valores altos
de resistividade. Devido
a esta antiga utilização,
o uso das armaduras
e/ou cabos e hastes
inseridos nas fundações
e baldrames de concreto
é freqüentemente cha-
mado de “aterramento
Ufer.” Fig. 1 – Microohmímetro microprocessado em ligação Kelvin, utilizado para efetuar medições da
A União Alemã das resistência elétrica de contato (o exemplo da foto é o modelo MPK 254, da Megabrás)
54 EM ABRIL, 2007
Fig. 2 – Conexão de cabo de aterramento de 50 mm2 com Fig. 3 – Barra de equalização local (BEL) interligada ao
armadura de baldrame, utilizando solda exotérmica baldrame
dações como eletrodos de aterramento, Vantagens da utilização das tema de aterramento e facilitar muito o
e a proteção contra descargas atmosféri- armaduras do concreto cumprimento dos preceitos de eqüipo-
cas pelo método gaiola de Faraday uti- tencialização das instalações elétricas
lizando as estruturas metálicas (telhas Fundações (freqüência industrial), em concordân-
e/ou seus suportes metálicos) e as ar- Uma vez que o concreto sob o nível cia com a NBR 5410/04.
maduras do concreto, são prática do solo mantém sempre um certo grau
mundialmente consagradas há aproxi- de umidade, seu valor de resistividade é Pilares, vigas e lajes
madamente 65 anos. Isso foi inclusive baixo, geralmente muito menor do que Com o uso das armações do concre-
reconhecido por importantes normas e o valor da resistividade do próprio solo to destes elementos, diminuem-se os
recomendações publicadas ao longo onde está sendo construída a edificação campos eletromagnéticos internos à edi-
desse período, como as normas bra- ou estrutura. Os valores típicos do con- ficação, reduzindo as forças eletro-
sileiras NBR 5419 e NBR 5410, a nor- creto nessas condições variam de 30 a motrizes induzidas nos circuitos ali
ma internacional IEC 61024-1-2 e os 500 Ωm. existentes, e, em conseqüência, as inter-
documentos estrangeiros ASE 4022, O uso das ferragens da fundação ferências prejudiciais a pessoas e
ANSI/IEEE std.142, BS 6651, entre também diminui as variações de tensão equipamentos eletrônicos sensíveis, co-
outros. As vantagens, descritas não só durante a dissipação das correntes asso- mo os de tecnologia da informação
nas publicações mencionadas mas tam- ciadas às descargas atmosféricas para o (ETIs). Além disso, conceitos ultrapas-
bém resumidas a seguir, encorajam cada solo, com conseqüente diminuição das sados, como sistemas de aterramento in-
vez mais essa prática, tanto em edifi- diferenças de potencial de passo e de dependentes e seccionamento para
cações novas quanto nas já existentes. toque, além reduzir a impedância do sis- medição da resistência de aterramento,
Fig. 4 – Placas metálicas interligadas às ferragens dos Fig. 5 – Interligações feitas com solda exotérmica entre as
pré-moldados para interligar estruturas, com pontos de diversas estruturas pré-moldadas, para garantir a
acesso para futuras medições de continuidade elétrica continuidade elétrica e formar a gaiola de Faraday.
ABRIL, 2007 EM 55
ATERRAMENTO
convencionais. De-
ve-se, portanto, uti-
lizar um miliohmí-
metro ou microoh-
mímetro de quatro
terminais (configu-
ração Kelvin), como
o da figura 1. As es-
calas do instrumen-
to devem ter valor
de corrente injetada
que atenda à exigên-
cia expressa no item
E2 do Anexo E da
NBR 5419/05, qual
seja, o de se fazer
circular uma cor- Fig. 7 – A gaiola de Faraday é formada pela enorme
quantidade de ferragens das estruturas pré-moldadas
rente, com valor de
no mínimo 1 A ou
Fig. 6 – Armaduras das fundações superior, entre os pontos extremos da tos por cabos de cobre deve ser execu-
preparadas para a interligação das armadura sob ensaio. O processo de tada com o uso de solda exotérmica
ferragens dos pilares medição está descrito na íntegra nesse (figura 2) ou solda elétrica com eletro-
anexo E2 da NBR 5419/05. dos específicos. Na figura 3 são vistas
passam a não existir quando aplicado o Caso seja necessária a execução de barras de equalização locais (BEL) es-
método da gaiola de Faraday utilizando solda entre as armaduras para garantir trategicamente localizadas, cujo aterra-
as armaduras dos pilares, vigas e fun- a continuidade, deve-ser utilizar solda mento é feito diretamente dos eletrodos
dações para a composição do sistema de elétrica com cordão duplo de no míni- horizontais inseridos nos baldrames.
proteção contra descargas atmosféricas mo 3 mm de diâmetro e 50 mm com- Cabe alertar que não deve ser utilizada
diretas. primento. solda exotérmica dos ferros para a
O recobrimento (proteção) das ar- construção estrutural das armaduras.
Cuidados e restrições maduras eventualmente expostas du- Quando utilizadas para fins de
Como premissa básica inicial para rante a instalação deve ser feito com equalização e/ou aterramento em insta-
se utilizarem as armaduras do concreto concreto de, no mínimo, 25 mm de es- lações de baixa tensão, as armaduras
para os fins citados, deve-se garantir pessura. As armaduras não deverão do concreto não podem substituir os
continuidade elétrica entre os pontos ficar sob hipótese nenhuma em contato condutores de proteção (PE) sob
extremos da armadura, de modo que com o solo, para evitar corrosão. hipótese nenhuma.
possa ser comprovado, por meio de Imersas no concreto, elas estarão pro- Também não se deve permitir a cir-
medições com instrumento adequado, tegidas por ausên-
um valor de resistência de contato cia de eletrólito e
elétrico menor ou no máximo igual a 1 de aeração.
Ω. Cabe observar que essa medição A interligação
deve ser realizada com instrumento das armaduras aos
adequado, sendo vedada, pelas normas sistemas de ater-
vigentes, a utilização multímetros ramento compos-
58 EM ABRIL, 2007
ATERRAMENTO
permitida a utili-
zação das arma-
duras componentes
de estruturas pré-
moldadas proten-
didas como com-
ponentes de sis-
temas de proteção
contra descargas
atmosféricas.
Execução do
sistema
Como foi dito
acima, devem-se
prever, durante o
projeto das estru-
turas pré-molda-
das, pontos acessí-
veis, interligados
com as demais ar-
maduras constitu-
intes dessas estru-
turas. Esses pon-
tos devem ser dis-
Fig. 10 – Geradores de 925 kW a gás da usina citada, com ponibilizados ex-
aterramento interligado às armaduras da suas bases ternamente aos di-
versos componen-
culação de correntes de defeito (curto- tes pré-moldados, possibilitando que
circuito) com duração elevada pelas ar- estes sejam interligados (normalmente
maduras, pois isso pode causar danos por solda exotérmica) após sua mon-
às próprias ferragens e ao concreto. tagem final, de modo a formar uma
Em estruturas pré-moldadas, as ar- gaiola de Faraday. Normalmente esses
maduras podem ser também utilizadas pontos acessíveis são constituídos por
como descidas naturais e aterramento, placas metálicas específicas ou condu-
desde que tomados os seguintes cuida- tores de cobre, para que as interli-
dos: gações entre pilares, vigas e armaduras
• prever essa utilização já no projeto das fundações possam ser feitas du-
das estruturas, possibilitando, assim, rante a construção (figuras 4, 5 e 6).
que sejam deixadas placas específicas Nota: devem ser deixados também
ou condutores de cobre acessíveis para pontos de acesso, estrategicamente es-
as devidas interligações entre os pi- colhidos, destinados à execução de fu-
lares e vigas, após a montagem. Essas turas medições de continuidade elétri-
interligações devem preferencialmente ca (ver figura 4), como determinado no
ser feitas com solda exotérmica (ver Anexo E da NBR 5419/05.
figuras 4 e 5); e Após a montagem das estruturas,
• durante a montagem das estruturas devem ser executadas as mencionadas
pré-moldadas, providenciar as neces- medições de continuidade elétrica des-
sárias interligações das armaduras das critas na NBR 5419/05. Devem ser
fundações (cálices) com as armaduras feitas várias medições, basicamente
dos pré-moldados (placas ou cabos de conforme o esquema ilustrado nas fi-
cobre citados), de modo a garantir a guras 8 e 9. Como dito acima, o valor
continuidade elétrica entre captores e medido tem de ser menor ou, no máxi-
descidas naturais e os cálices. Este é mo, igual a 1 Ω.
um ponto de extrema importância,
que no entanto costuma ser posto em Exemplo
segundo plano ou mesmo esquecido. Em uma usina de geração elétrica a
Por fim, cabe ressaltar que não é biogás (figura 8), após a montagem,
60 EM ABRIL, 2007
ATERRAMENTO
to dos condutores
utilizados são de
suma importância
para a obtenção
de uma baixa im-
pedância, sobretu-
do quando se al-
meja um sistema
eficiente para dis-
sipação de sinais
impulsivos.
Em se tratando
de aterramentos,
cabe observar que,
para ondas impul-
sivas de corrente
Fig. 12 – Abrigo (house) ferroviário semipronto — na parte (descarga de re-
superior, instalam-se fitas de cobre para captação torno de um raio),
e sob o ponto de
biente onde se encontram os ETIs são vista da dissipação, na primeira fase da
também vistos interligados à BEL, por onda irá predominar a impedância de
meio de cabos isolados de 25 mm2. impulso, na segunda fase a indutância
A MRS, vista nas figuras 13 e 14, e, na terceira fase (cauda da onda), a
deve ser projetada de maneira que as resistência.
diferenças de potencial entre vários de Com base na figura 15, podemos
seus pontos sejam minimizadas para dizer que, na prática, para tais tipos de
uma larga faixa de freqüência de opera- aterramento, devemos procurar obter
ção e possíveis interferências, que vão baixos valores de indutância e resistên-
desde corrente contínua até freqüências cia, e valores elevados de condutância
de 30 MHz. Isso pode ser obtido pela e capacitância. Isso é basicamente con-
aplicação da teoria de comunicação de seguido modificando-se o formato, o
ondas conduzidas, segundo a qual não comprimento e a configuração dos
existirão diferenças de potencial signi- condutores de aterramento — por
ficativas ao logo de um condutor cujo exemplo com a utilização de fita de co-
comprimento for menor do que 1/20 do bre nu de comprimento conveniente-
comprimento de onda da freqüência que mente dimensionado.
se deseja equalizar. O uso de condutores em forma de fi-
ta (figura 16) nos sistemas de aterra-
Uso de condutores em forma de fita mento aumenta a capacitância, re-
A configuração dos sistemas de ater- duzindo concomitantemente a indutân-
ramento, seu comprimento e o forma- cia e, conseqüentemente, a impedância
64 EM ABRIL, 2007
ATERRAMENTO
Fig. 14 – Malha de referência de sinal em um CPD Fig. 15 – Circuito equivalente aproximado de um condutor
horizontal de aterramento
final do condutor. Quando as fitas es- de contato deste como o solo, dimi- sultará em maior eficiência técnica co-
tiverem enterradas, como é o caso dos nuindo-lhe a impedância. mo também econômica, tendo como
aterramentos de um SPDA, a con- “subproduto” a atenuação dos campos
dutância pode ser aumentada efetuan- Edificações com eletromagnéticos internamente, atuan-
do-se o tratamento do solo com pro- estrutura metálica do como blindagem (a qual pode, em
dutos não-lixiviáveis, normalmente à Vimos aqui anteriormente que se certos casos, ser aumentada com a uti-
base de bentonita. Esses materiais de- deve preparar a estrutura, isto é, execu- lização de outros materiais, tais como
vem obrigatoriamente ter um valor tar o projeto prevendo a utilização das telas e/ou chapas metálicas convenien-
bastante baixo de resistividade, para armaduras do concreto da edificação temente especificadas e instaladas nas
que possam atuar no volume de in- como descidas naturais e as das fun- paredes, pisos e tetos).
fluência do eletrodo de aterramento, dações como parte do sistema de ater- Existem, porém, edificações cuja
principalmente próximo à superfície ramento. Esse procedimento não só re- infra-estrutura básica é toda constituí-
de acabamento la-
teral da edificação.
Uma observa-
ção importantíssi-
ma deve ser feita,
mesmo neste caso
em que pratica-
mente toda a estru-
Fig. 16 – Uso de fitas de cobre nu em tura da edificação
sistemas de aterramento é metálica: em hi-
pótese nenhuma
da de perfis metálicos, como por exem- pode ser eliminado
plo a mostrada na figura 17. Nesses ca- o condutor de pro-
sos, com muito mais razão, todos os teção (PE), o qual Fig. 17 – Exemplo utilização de estrutura totalmente
conceitos aqui descritos podem e de- deve ser passado metálica como descidas naturais e para atenuação dos
vem ser aplicados, desse modo tirando junto com as fases campos eletromagnéticos externos
proveito das vantagens técnicas ofere- dos diversos cir-
cidas por esse tipo de gaiola de Fara- cuitos. Jamais a estrutura metálica fonte de alimentação da instalação.
day natural. deve ser usada como condutor PE. Conforme determina a norma de insta-
É preciso tomar cuidados especiais Também é terminantemente vedado lações de baixa tensão, deve-se passar
para que eventuais descargas atmos- o aproveitamento da estrutura me- um condutor de cobre específico para a
féricas laterais possam ser captadas e tálica da edificação como neutro de função de neutro, com isolação na cor
conduzidas à terra pelas estruturas tomadas ou função similar. O neutro azul.
metálicas. Para isso, devem ser instala- do sistema de distribuição de baixa ten-
dos captores específicos conveniente- são deve ser ligado ao aterramento so-
mente localizados e interligados às es- Trabalho apresentado no Enie 2006 – XI
mente na origem da instalação, junto Encontro Nacional de Instalações Elétricas (6 a
truturas, evitando a quebra da alvenaria com o aterramento do transformador 8 de junho de 2006, São Paulo, SP).
Esta obra é uma adaptação livre de publicações de artigos técnicos gratuitos das
entidades abaixo mencionadas e a seus colaboradores, a quem expressamos os
nossos mais sinceros agradecimentos.
Equipes