Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
comuns
Autor: Teresa Tomé Ribeiro
Licenciada em Enfermagem
Especialista em Saúde Pública e Comunitária
Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental
Professora da Escola Superior de Enfermagem do Porto
Introdução
Vivemos numa sociedade extremamente sensual e erótica. A publicidade, os
divertimentos, a música, o cinema, o humor, as crónicas de entretenimento, tudo
passa por referências com um forte cunho sexual. Somos diariamente perturbados em
todos os locais da vida corrente. Parece que somos uma sociedade focada cada vez
mais em sexo. E, até o coração que há bem pouco tempo, era considerado o grande
mediador entre o impulso/desejo e a razão, também ele tem vindo a descer e
actualmente está como que localizado no baixo-ventre. Tudo se localiza no baixo-
ventre. Estamos numa sociedade em que muitos pensam que só quando se conhece
alguém na intimidade, no acto sexual, é que se pode saber se se ama o outro.
Num meio assim, é difícil construir um conceito de sexualidade alargado e amplo, sem
uma intervenção orientada para esse objectivo. E como diz Isabel Renaud
(2001,pag35): “a educação dos afectos inscreve-se na tarefa da constituição de um
mundo autenticamente humano” e a afectividade e a sexualidade educam-se e
aprendem-se. Mas para o fazermos temos de saber encontrar os pontos comuns.
Neste contexto, todos os actores: pais, professores e educadores tem um papel muito
importante na interiorização pelo adolescente, dum conceito de sexualidade que
englobe todas as dimensões da sexualidade: a dimensão biológica, psicológica,
emocional, afectiva, social, transcendental/espiritual, que permita escolhas
construtivas de relações gratificantes e duradouras.
1
A família é a principal educadora, quer por direito, quer por dever. A ela está entregue
a responsabilidade de cuidar, amar e educar os seus filhos para que se tornem adultos
autónomos, equilibrados e promotores de intervenções positivas na sociedade.
A escola não pretende, não pode, nem deve, substituir a família. No que se refere à
educação da sexualidade, a escola deve assumir um papel complementar e de
consolidação da educação dada pela família. Mas nem sempre esta posição é pacífica.
A educação da sexualidade em meio escolar é um tema que tem sido muito discutido,
mas sobre o qual não se encontram facilmente consensos. Uma das dificuldades
apresentada como determinante é o facto de ser uma temática que implica no seu
desenvolvimento a referência a valores. Assim para a sua integração nos planos
curriculares encontra-se como essencial que os valores a serem abordados pertençam
a um quadro referencial comum a todos os intervenientes: professores, pais e alunos.
Esta reflexão que aqui deixamos, desenha-se na procura dos valores comuns que
possam servir de plataforma de convergência para a estruturação de programas de
educação da sexualidade, a desenvolver em meio escolar.
Enquadramento Metodológico
Previamente desenvolvemos um estudo que decorreu entre 2003 e 2006, em duas
fases distintas.
RIBEIRO, TERESA TOMÉ: Educação da sexualidade em meio escolar: treino de competências individuais.
Editora Casa do Professor, Braga, 2006.
Trabalho publicado como manual para professores com anexos disponíveis no sitio
www.casadoprofessor.pt
2
debate em grupo, sobre os pontos que se iam introduzir. Os dados obtidos foram
analisados qualitativamente, tendo sido feita uma categorização dos mesmos.
4. Quais os problemas, que identifica nos seus alunos, ligados com sexualidade?
Resultados
Devido à falta de adesão dos pais, não nos foi possível integra-los nas avaliações
programadas; sendo assim limitamo-nos só aos professores. As acções que envolveram
os pais foram realizadas unicamente nas sessões trimestrais programadas pelas
escolas.
Cerca de 20% dos professores afirmaram que estavam a frequentar a formação por
interesse pessoal, por ser uma área em que sentiam necessidade de se actualizarem e
de reflectirem. Os restantes 80%, consideraram a sexualidade uma área muito vasta,
com grandes exigências a nível científico e de formação humana, mostrando-se
conscientes da necessidade de preparação específica para leccionar esta temática.
3
Apresentaram como expectativa ficarem minimamente preparados para poderem
encarar o desafio de implementar um projecto dentro desta temática.
Os professores mantêm como necessidade expressa, terem mais formação nesta área,
devido à complexidade do tema e das questões com que são confrontados.
4
Analise e reflexão
Os resultados obtidos vieram dar-nos pistas para uma reflexão orientada para os
seguintes pontos:
A partilha com os pais dos objectivos que o projecto tem para os seus filhos torna a
comunicação entre pais e professores mais efectiva, abrindo canais de comunicação e
confiança mútua. Os professores ultrapassam a insegurança e o receio que os pais não
concordem ou interpretem mal o que se diz e se discute em turma e os pais ficam mais
confiantes podendo abrir o diálogo em casa sobre os assuntos e o interesse destes
para os seus filhos. Mas para que este processo resulte devem ser realmente
estruturados em conjunto, objectivos e estratégias. Mesmo que a adesão dos pais seja
reduzida a representatividade dos interessados tem “efeito de onda” com o tempo.
III. Identificação de valores comuns que sejam o alicerce dos projectos a desenvolver
5
1. Que conceito de sexualidade?
Visto a sexualidade ser uma área muito abrangente, a qual aparece perspectivada de
formas muito diferentes, conforme o enfoque para aspectos que a integram, vemos
como central que seja disponibilizado ao adolescente a possibilidade de construir um
conceito de sexualidade alargado com todas as suas componentes de forma que
entenda as várias perspectivas com que se confronta no seu dia-a-dia.
6
I. Responsabilidade – referida às decisões e às escolhas pessoais
II. Relação de paridade – como o olhar para o outro ao mesmo nível
III. Intimidade –vinculada ao acto sexual
IV. Respeito por si e pelo outro – como norma da convivência a dois
V. Fidelidade ao projecto de vida – ligada aos objectivos pessoais e às tarefas a
desenvolver para os atingir
VI. Liberdade – como componente essencial duma vivencia autónoma aceitando-
se e desenvolvendo o que se é
Este quadro de valores transporta um manancial de aspectos a ter como base nos
programas a estruturar.
• Componente biológica
• Componente psico-afectiva
• Componente do projecto de vida
7
Ter presente que a educação da sexualidade se faz com tempo, ao longo do tempo,
para o tempo e em tempo útil. Sempre em momentos descontraídos, sem formalismos
e mostrando aos alunos que o centro da razão de ali estarmos são eles.
Conclusões Finais
Ao longo de todo este processo, que fizemos com os professores, verificamos que
houve uma mudança do conceito de sexualidade dum conceito restrito para um mais
alargado.
No final foi elaborado um curso acreditado pelo centro de formação dos professores,
para os professores que pretendiam aplicar um programa de educação da sexualidade
na sua escola.
8
Bibliografia
DESPACHO Nº 12 782/98 (2ª SÉRIE), sobre Saúde Reprodutiva (DR nº169 - II Série de
24.07.1998 ).
DIRECÇÃO GERAL DE SAÚDE (2005) - Bases do Programa Nacional de Saúde dos Jovens
2006-2010. Lisboa.
GARAI, M (1994) – Saber amar com o corpo. Editora Reis dos Livros Lisboa.
Lei nº 46/86 - Lei de Bases do Sistema Educativo (DR nº237 - I Série, de 14/10/86).
9
NAVARRO, ANA MARIA (1994) – A realização dos conjugues. Fazer família nº3, editora
Rei dos livros, Lisboa.
NEVES, MARIA PATRÃO; OSSWALD, WALTER (2007) – Bioética simples. Editorial Verbo.
Lisboa, pag157-166.
PEASE, A; PEASE, B (2000) – Porque é que os homens nunca ouvem nada e as mulheres
não sabem ler os mapas de estradas. Bizâncio, Lisboa.
RENAUD, ISABEL CARMELO ROSA (2001) – A educação para os afectos. Novos desafíos
à bioética. Porto Editora Lda. Porto.
RENAUD, MICHEL – Sexualidade e ética. Novos desafíos à bioética. Porto Editora Lda.
Porto.
ROJAS, ENRIQUE (2000) - O amor inteligente – coração e cabeça. Chaves para construir
um casal feliz. Gráfica de Coimbra.
10