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PORTO, 2014
Dissertação realizada com base no projeto EPITeen, desenvolvido no Departamento
de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública da Faculdade de
Medicina do Porto e no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Este trabalho foi efetuado com base no projeto Violência em diferentes idades da vida:
frequência, determinantes e consequências em saúde financiado por Fundos FEDER
através do Programa Operacional Factores de Competitividade – COMPETE e por
Fundos Nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia (Ref.ª
PTDC/SAU-SAP/122904/2010).
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço:
Aos meus pais e avós, pois sem a sua força, motivação e compreensão nada disto
seria possível.
iii
ÍNDICE
RESUMO ...................................................................................................................... 1
ABSTRACT .................................................................................................................. 3
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 4
OBJETIVOS ............................................................................................................... 17
MÉTODOS ................................................................................................................. 18
Participantes ........................................................................................................... 18
A Coorte EPITeen................................................................................................ 18
RESULTADOS ........................................................................................................... 23
DISCUSSÃO .............................................................................................................. 32
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 39
iv
ÍNDICE DE TABELAS
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
v
LISTA DE ABREVIATURAS
vi
RESUMO
1
Estes resultados enfatizam a necessidade dos jovens serem alvo de intervenção no
sentido de adquirirem competências e estratégias de comunicação para lidar com
conflitos no contexto de uma relação de intimidade.
2
ABSTRACT
This thesis aimed to characterize dating violence among young people and to
determine its relation with socio-economic characteristics. Within the 3rd assessment of
the EPITeen cohort, 1258 participants (652 females) who were in a dating relationship
during the year preceding the assessment were evaluated. The information was
obtained through a questionnaire which collected demographic and socioeconomic
characteristics. The involvement in dating violence was assessed using the Conflict
Tactics Scale 2. This scale allows to evaluate the psychological, physical and sexual
coercion, either as victim or as perpetrator.
Our results showed that 61.2% of participants reported having been victims of
psychological violence (61.2% female and 61.2% in males, p = 0.993). The proportion
of participants who reported having been victims of sexual coercion and physical
violence was respectively 30.3% (28.7% in females and 32.0% in males, p = 0.221)
and 18.6% (17, 2% in females and 20.1% in males, p = 0.203). Regarding aggression
in dating, 63.1% of participants reported having assaulted their partner through the use
of psychological violence (64.4% in females and 61.7% in males, p = 0.350). The
proportion of participants who reported having used sexual coercion and physical
violence was respectively 28.5% (21.2% in females and 36.3% in males, p <0.001) and
17.7% (20 1% in females and 15.2% in males, p = 0.027). Most young people in a
relationship with violence reported violent behavior either as perpetrator or as a victim.
However, males tend to report to perpetrate sexual coercion more frequently and
females reported more often to perpetrate physical violence against their partners. It
was also found that among females, those from more advantaged socio-economic
status are more often involved in acts of psychological violence, while male participants
from disadvantaged socio-economic status are more often involved in psychological
and physical violence.
This study allowed to conclude that violence is often used in the context of dating.
Although this behavior is usually bidirectional, who is a victim is also an offender, males
reported more often to use sexual coercion against their partners while females are
more often the aggressor in physical violence. The gender and socio-economic context
affect not only the involvement in dating violence as the type of violence. These results
emphasize that young people should be the target for intervention in order to acquire
skills and communication strategies to deal with conflicts in the context of an intimate
relationship.
3
INTRODUÇÃO
De modo a responder a este problema, o Centers for Disease Control and Prevention
conduziu algumas investigações epidemiológicas baseadas em homicídios de crianças
(7, 8). Esta investigação permitiu comprovar o sucesso da aplicação dos métodos
epidemiológicos aos problemas de violência.
4
Estes esforços realizados pela saúde pública para compreender e prevenir a violência
nos Estados Unidos chamaram a atenção de outros países. Assim, em 1996, o
problema da violência teve lugar na agenda internacional da Assembleia de Saúde
Mundial tendo sido adotada a resolução WHA49.25, que declara a violência como um
problema de saúde pública (10).
Violência Interpessoal
5
A violência coletiva pode ser subdividida em social, política e económica, o que
sugere possíveis motivos para a violência cometida por vários grupos de indivíduos ou
estados. Este tipo de violência inclui crimes de ódio cometidos por grupos
organizados, atos terroristas, guerra e conflitos violentos e também ataques realizados
por grupos motivados, nomeadamente para ganhos económicos.
6
Violência entre parceiros íntimos
7
O estudo sobre a violência entre parceiros passou também a considerar os mais
variados contextos, ou seja, para além do contexto do casamento, percebeu-se que a
violência pode ocorrer no contexto da coabitação ou mesmo o namoro. Isto é reflexo
também de uma mudança na sociedade, ou seja, há uma diminuição do número de
casamentos e um aumento de novas formas de coabitação.
Nos anos 80 surgem alguns estudos que descrevem situações de violência entre
parceiros ainda na fase do namoro (17), sendo que alguns destes mostram também
que pode ser exercido pela mulher contra o homem.
8
mais desenvolvidos, mas sim porque, socialmente e dentro do grupo de amigos do
adolescente, se espera que estes se iniciem no namoro em determinada idade (26).
Sendo assim, a forma como estas relações se estabelecem e aquilo que um parceiro
procura no outro é determinado e configurado pela época histórica na qual se inserem
(29). Esta condiciona o modo como cada um se relaciona afetivamente e sexualmente
com o outro, bem como, aquilo que se procura nele, os valores esperados numa
relação e as configurações que a relação terá (30).
9
O namoro, entendido como um relacionamento de maior grau de compromisso e
longevidade, limita de certa forma a vida, porque exige um maior contacto diário com o
outro, no entanto, transmite mais confiança, segurança e prospetiva de futuro (31).
No entanto, a própria noção de namoro varia de acordo com o género, por exemplo,
num estudo realizado na Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil, com 183
alunos (72 raparigas, 111 rapazes), com uma média de idades de 22 anos, percebeu-
se que as mulheres procuram num relacionamento carinho, companheirismo,
cumplicidade e sinceridade, enquanto os homens evocaram mais vezes a palavra
sexo. Os rapazes descrevem o namoro de uma forma racionalmente distanciada
utilizando um modelo de casal perfeito, opondo-se à noção mais racional explicada
pelas raparigas que utilizam adjetivos que implicam um relacionamento emocional.
Porém, tanto rapazes como raparigas relacionam o namoro com a amizade que
prevalece enquanto a relação satisfazer os dois (33).
Segundo Oliveira (34) a fase de namoro constitui um tipo de relação interpessoal cuja
finalidade passa pela experimentação sentimental e/ou sexual entre duas pessoas, em
que existe uma troca de conhecimentos e uma convivência de grau menor de
comprometimento do que o casamento. Para esta autora o namoro nem sempre é
uma etapa da vida composta por relacionamentos saudáveis e positivos, ou seja, por
vezes pode ser pautada por momentos de violência.
10
Um estudo realizado com amostras de 31 universidades, de 16 países, que recolheu
informações através da aplicação de questionários, concluiu que 29% dos estudantes
tinham sofrido agressões físicas nos últimos 12 meses e, mais uma vez, se verificou
que tanto homens como mulheres podiam ser agressores (38).
Sabemos, também, que a violência no namoro pode assumir diversas formas (41),
nomeadamente, abuso psicológico, emocional, físico e sexual e pode ocorrer num
contexto de um encontro casual ou numa relação mais séria e longa. No entanto,
importa ressalvar que todas as formas de abuso são prejudiciais e devem ser tidas em
conta (42).
11
O abuso físico inclui atos como bater, bofetear, empurrar, abanar, dar pontapés,
morder, puxar os cabelos. Inclui ainda o uso de armas e/ou facas contra o outro.
12
Em termos de relações sociais, percebemos que na problemática da violência este é
um nível de influência que tem vindo a ser bastante estudado. Alguns autores
defendem que os maus-tratos na infância ou o testemunhar episódios de violência na
família estão associados a um maior risco de vivenciar a violência no namoro (45, 46).
Baseados na teoria da aprendizagem social, que postula que o indivíduo adquire
comportamentos novos e amplia os comportamentos já adquiridos observando os
outros, defendem que ser vítima de abuso físico enquanto criança aumenta o risco de
mais tarde ter comportamentos agressivos (45).
Estudos referem que os jovens que reportam experienciar violência no namoro estão
mais propensos a elevados consumos de substâncias, como álcool e drogas, a ter
problemas de controlo de peso, infeções sexualmente transmissíveis, gravidezes
indesejadas e depressão. Numa situação mais extrema, a experiência de violência
pode levar muitas vítimas a tentar ou consumar o suicídio (39, 49, 50).
Um estudo baseado no Youth Risk Behavior Survey (51) mostrou que adolescentes
que reportaram ter sido vítimas de violência apresentaram maior probabilidade de
desenvolver outros comportamentos como, por exemplo, conduzir embriagado, menor
probabilidade de utilizar preservativo nas relações sexuais, menos propensos a
assumir comportamentos de saúde saudáveis.
13
As vítimas de violência tendem a sentir-se sozinhas, assustadas, envergonhadas,
culpadas, desconfiadas, inseguras, confusas, tristes, ansiosas (52) e estes
sentimentos são naturais, uma vez que se encontram numa situação complicada de
resolver e ultrapassar. Magalhães (53) acrescenta ainda que as vítimas manifestam
baixa autoestima, dificuldades cognitivas, designadamente dificuldade em concentrar-
se, perda de memória, dificuldade em raciocinar, podem apresentar também sintomas
de mau estar físico (cansaço, insónias, dores de cabeça, entre outros). Esta autora
menciona ainda que os níveis de ansiedade da vítima podem aumentar pelo facto
desta poder reviver cognitivamente o evento de violência do qual foi alvo.
No contexto do namoro têm sido identificados fatores como, por exemplo, a satisfação
na relação, a resolução de problemas e a capacidade de comunicação, que têm um
grande impacto no sucesso de uma relação íntima (45). Alguns dados empíricos
suportam a noção de que a satisfação individual com a relação está diretamente
relacionada com a violência. Comparativamente com as relações não violentas, os
sujeitos nas relações que envolvem violência no namoro reportam menos satisfação
com a relação e um decréscimo na atração pelo seu parceiro agressor. Paralelamente,
pessoas que não são capazes de se expressar e comunicar eficazmente estão em
maior risco de se envolverem em situações de violência no namoro (45).
Por vezes é difícil compreender que o que está a acontecer é uma forma de violência
e que aquela pessoa de quem se gosta é capaz de fazer mal. Apesar dos maltratos,
as vítimas continuam a gostar do/a agressor/a e não o/a querem magoar, desiludir ou
prejudicar. Por vezes, também surge o medo ou receio de ficar sozinho/a. Por outro
lado, quem se identifica como vítima de violência no namoro tem receio de contar o
que se está a passar e de pedir ajuda, pelo facto de pensarem que não vão acreditar
nelas ou que não as vão conseguir ajudar. Existem ainda outros sentimentos
associados, como por exemplo, o medo de que o/a agressor/a faça pior à vítima ou a
si próprio se esta contar o sucedido (52). Por outro lado, numa relação com violência
existe sempre a esperança de que o parceiro irá mudar (52), o que pode explicar o
facto de não terminarem o relacionamento.
14
mostram que a violência no namoro ocorre em qualquer estrato socioeconómico.
Contudo, este resultado é ainda pouco consistente (56).
15
Apesar de algumas iniciativas de cariz informativo acerca desta temática,
nomeadamente em Portugal, esta é ainda um problema pouco reconhecido e
explorado pela sociedade civil. Carece não só de programas que chamem a atenção
da mesma, como também de programas de intervenção, ou seja, de programas que
coloquem junto do público-alvo profissionais devidamente formados, para auxiliarem e
tirarem dúvidas ou até mesmo identificar possíveis casos de violência.
16
OBJETIVOS
O principal objetivo desta tese foi caracterizar a violência no namoro numa amostra de
jovens adultos de 21 anos e determinar a sua relação com as características
socioeconómicas.
17
MÉTODOS
Participantes
A Coorte EPITeen
Este estudo foi desenvolvido com base na informação recolhida no âmbito do projeto
EPITeen (Epidemiological Health Investigation of Teenagers in Porto) (60, 61), uma
coorte que recrutou durante o ano letivo de 2003/2004 os adolescentes nascidos no
ano de 1990 que frequentavam as escolas públicas e privadas da cidade do Porto. O
projeto é coordenado pelo Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva
e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Instituto de
Saúde Pública da Universidade do Porto. O objetivo geral do projeto é fazer o
seguimento deste grupo de pessoas até à vida adulta de forma a identificar os
determinantes biológicos, psicológicos e sociais de saúde na adolescência, assim
como a sua repercussão na vida adulta.
18
escolas do Porto. Estes novos participantes foram avaliados pela primeira vez aos 17
anos de idade. Assim, a coorte é composta por um total de 2942 adolescentes.
Recolha de Informação
Nas três avaliações a informação foi obtida através de questionários estruturados que
recolhia dados sobre: características sociodemográficas, cuidados de saúde, história
ginecológica e obstétrica, hábitos e atividades, hábitos tabágicos, consumo de bebidas
alcoólicas, alimentação e ainda a realização de uma avaliação física, nomeadamente
recolha de sangue, medição da pressão arterial, antropometria, impedância bioelétrica,
avaliação da função respiratória e avaliação da densidade óssea. Adicionalmente na
avaliação dos 21 anos foi administrada a Escala de Táticas de Conflito 2 que permitiu
recolher dados sobre vitimização e agressão de violência entre parceiros.
19
Informação analisada
Para recolher informação sobre a situação face ao emprego, o participante tinha como
opção de resposta “Empregado(a) a tempo inteiro”, “Empregado(a) parcial (pelo
menos 15h semanais)”, “Empregado(a) menos que o tempo parcial (menos de 15h
semanais)”, “Trabalhador(a) familiar não remunerado”, “Desempregado(a)/à procura
do 1º emprego”, “Estudante/na escola/em formação profissional”,
“Doméstica(o)/ocupa-se das tarefas do lar”, “Outra situação”. Para esta análise
optámos por classificar os participantes em atualmente empregados versus as
restantes opções.
Foi ainda pedido ao participante que se situasse quanto à sua classe social. “Das
seguintes classes, em qual delas é que se incluiria?” Os participantes podiam
responder “Classe baixa”, “Classe média baixa”, “Classe média alta”, “Classe alta”,
“Nenhuma destas”. Para a análise final reagrupámos esta variável em três categorias:
“Baixa/Média baixa”, “Média alta/Alta” e “Nenhuma”.
b) Violência
Foi utilizada uma versão nacional validada da Revised Conflict Tactics Scales 2
(CTS2) para avaliar a frequência de violência no contexto do namoro (62). Este
instrumento consiste numa escala que avalia o envolvimento em atos violentos numa
20
relação íntima e permite avaliar o envolvimento em violência psicológica (através de
8 itens), violência física (12 itens), coerção sexual (7 itens) e lesões (6 itens). Para
cada item, foi pedido ao participante que assinalasse a frequência com que cada
situação ocorreu durante o último ano. A escala permite ainda avaliar a
direccionalidade do envolvimento em violência, ou seja, se foi vítima ou se foi
agressor.
A informação recolhida para cada item da escala CTS2 foi reagrupada de forma a
identificar a frequência do envolvimento em cada um dos tipos de violência. Para esta
tese, a violência que resultou em lesões físicas foi agregada com a violência física.
21
Análise estatística
22
RESULTADOS
n (%)
Sexo
Feminino 652 (51,8)
Masculino 606 (48,2)
Escolaridade (anos)
<=12 384 (30,5)
>12 873 (69,5)
Atualmente empregado
Não 979 (78,6)
Sim 267 (21,4)
Rendimento do agregado
Até 1000€ 218 (19,4)
1001 até 1500€ 249 (22,2)
1501 até 2500€ 326 (29,0)
>2500€ 330 (29,4)
Perceção rendimentos
Insuficientes 512 (40,8)
Suficientes 742 (59,2)
Classe social
Baixa/Média baixa 723 (57,5)
Média alta/Alta 462 (36,8)
Nenhuma 72 (5,7)
23
Prevalência de violência no namoro
Durante o ano anterior à entrevista, 28,5% dos participantes reportaram ter agredido o
parceiro recorrendo a atos de coerção sexual e 17,7% a atos físicos. No que se refere
à agressão, os nossos resultados mostram diferenças estatisticamente significativas
de acordo com o sexo. Enquanto os atos de coerção sexual foram significativamente
mais usados na agressão pelos participantes do sexo masculino (36,3% vs. 21,2%,
p>0,001), a violência física foi mais frequentemente reportada na agressão pelos
participantes do sexo feminino (20,1% vs. 15,2%, p=0,027) (Tabela 2).
Total (N=1258) Sexo feminino (n= 652) Sexo masculino (n= 606)
n(%) n(%) p
Psicológica 61,2% 61,2% 61,2% 0,993
Vítima
24
masculino indicaram mais frequentemente sofrer atos de violência psicológica graves
comparativamente com os participantes do sexo feminino (15,0% vs. 10,9%, p=0,037).
Tabela 3. Prevalência do envolvimento em atos de violência grave considerando cada tipo de violência no
relacionamento de namoro de acordo com o sexo.
Total (N=1258) Sexo feminino (n= 652) Sexo masculino (n= 606)
n(%) n(%) p
Psicológica 12,9% 10,9% 15,0% 0,037
Vítima
25
Ilustração 2. Caracterização do envolvimento nos diferentes tipos violência na relação de namoro.
26
Tabela 4. Prevalência (%) do envolvimento em atos de violência exclusivamente de cada tipo e atos de
violência combinados de acordo com o sexo.
27
Tabela 5. Características socioeconómicas de acordo com o envolvimento em atos de violência
psicológica no namoro de acordo com o sexo.
28
Tabela 6. Características socioeconómicas de acordo com o envolvimento em atos de violência sexual no
namoro de acordo com o sexo.
29
Tabela 7. Características socioeconómicas de acordo com o envolvimento em atos de violência física no
namoro de acordo com o sexo.
30
Tabela 8. Envolvimento em atos de violência e características socioeconómicas de acordo com o sexo.
Tipo de Violência Nenhum Apenas Outras formas/ Nenhum Apenas Outras formas/
psicológica sobreposições psicológica sobreposições
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Escolaridade (anos)
<=12 49 (26,2) 45 (22,2) 59 (24,1) 54 (32,3) 65 (43,6) 104 (38,2)
>12 138 (73,8) 158 (77,8) 186 (75,9) 113 (67,7) 84 (56,4) 168 (61,8)
p=0,648 p=0,117
Atualmente empregado
Não 145 (77,5) 162 (79,8) 197 (80,7) 132 (79,0) 118 (78,7) 204 (75,3)
Sim 42 (22,5) 41 (20,2) 47 (19,3) 35 (21,0) 32 (21,3) 67 (24,7)
p=0,711 p=0,584
Rendimento mensal do
agregado
Até 1000€ 28 (17,7) 49 (27,2) 53 (24,4) 15 (10,0) 21 (15,1) 49 (19,7)
1001 até 1500€ 48 (30,4) 32 (17,8) 44 (20,3) 34 (22,7) 27 (19,4) 52 (20,9)
1501 até 2500€ 48 (30,4) 55 (30,6) 67 (30,9) 47 (31,3) 36 (25,9) 68 (27,3)
>2500€ 34 (21,5) 44 (24,4) 53 (24,4) 54 (36,0) 55 (39,6) 80 (32,1)
p=0,106 p=0,219
Perceção rendimentos
Insuficientes 85 (45,5) 92 (45,5) 97 (39,6) 53 (32,1) 56 (37,3) 115 (42,4)
Suficientes 102 (54,5) 110 (54,5) 148 (60,4) 112 (67,9) 94 (62,7) 156 (57,6)
p=0,343 p=0,096
Classe social
Baixa/Média baixa 116 (62,0) 113 (55,9) 143 (58,4) 80 (48,2) 93 (62,0) 161 (59,2)
Média alta/Alta 63 (33,7) 78 (38,6) 88 (35,9) 71 (42,8) 49 (32,7) 99 (36,4)
Nenhuma 8 (4,3) 11 (5,4) 14 (5,7) 14 (9,0) 8 (5,3) 12 (4,4)
p=0,785 p=0,055
31
DISCUSSÃO
32
adolescentes e jovens adultas com idades entre os 15-24 anos de idade, verificou que
34% das mulheres que estavam numa relação reportaram ter sofrido pelo menos um
episódio de violência física durante o ano que precedeu o inquérito (68). Por outro
lado, 31% reportou ter perpetrado esses comportamentos físicos violentos. Destas
mulheres, 3% reportaram ter sido apenas vítimas, 12% apenas agressoras e 19%
agressoras e vítimas (bidirecional) (68). Outro estudo realizado com 408 adolescentes
estudantes do segundo ano do ensino médio das escolas públicas e privadas da
cidade do Recife teve como objetivo investigar a prevalência da violência física e
psicológica e o seu padrão de direccionalidade de acordo com o sexo. A maioria dos
adolescentes (83,9%) afirmou ter perpetrado e sofrido violência física e/ou psicológica
no namoro, 2,5% apenas perpetrado e 2,8% apenas sofrido. Após a análise da
violência física os investigadores verificaram que em 14,2% dos relacionamentos
ambos os parceiros eram violentos (bidirecional). Comparando os resultados por sexo,
observaram que a percentagem de raparigas com perfil de apenas perpetuação
(10,0%) era maior do que nos rapazes (1,5%). Paralelamente, os rapazes
apresentaram maior percentagem no perfil de apenas vitimização (11,0%) do que as
raparigas (1,1%). Ou seja, este estudo demonstra que na violência no namoro não
existe diferenças estatisticamente significativas de acordo com o sexo e que esta
violência é bidirecional (83,9%) (69).
33
estiveram envolvidos em violência quer enquanto agressor, quer enquanto vítima ou
enquanto ambos.
Um estudo realizado com jovens polacos (70) que também utilizou a CTS2, constatou
que para os homens a prevalência de agressão psicológica, física e sexual é de 77%,
36%, 42%, respetivamente, enquanto para as mulheres é de 89%, 48%, 40%. Neste
estudo tanto homens como mulheres apresentam percentagens elevadas de violência
física e coerção sexual, sendo que as mulheres são mais frequentemente agressoras
de violência física comparando com os homens, contudo, relativamente à coerção
sexual, não existem diferenças significativas entre homens e mulheres embora a
prevalência seja ligeiramente mais elevada entre os homens. Outros estudos que
avaliaram a coerção sexual no namoro também demonstraram que as mulheres são
frequentemente vítimas deste tipo de violência e os homens são agressores (71, 72).
Embora o nosso estudo não permita explorar o contexto em que a coerção sexual
ocorre, o uso de atos coercivos sexuais por parte do sexo masculino pode ser
explicado por fatores biológicos e pelo processo de socialização. As formas de
coerção, a capacidade de imposição da força e competências de resistência não são
semelhantes entre os homens e mulheres devido às próprias diferenças biológicas,
bem como os diferentes processos de socialização em relação ao uso da força e à
sexualidade.
34
sugerido que as mulheres tendem a usar objetos para agredir os parceiros (74), o que
pode explicar o facto de elas reportarem um maior uso da violência física.
Face a estes resultados, devemos ressalvar que tanto os rapazes como as raparigas
reportam o envolvimento em atos de violência para resolver os conflitos no namoro,
contudo as razões que levam uns e outros a fazerem uso deste tipo de violência pode
ser distinto. O nosso estudo não permitiu avaliar o contexto em que cada episódio
ocorreu, portanto não é possível compreendermos as motivações para o uso de
violência.
A outra corrente defende que a violência é fruto da assimetria das relações de género.
Segundo Matos esta corrente procura compreender os fatores que sustentam a
violência nas relações sociais e advoga que, nas relações violentas não há simetrias,
elas tendem a ser assimétricas (75). Essa perspetiva tem como referência o feminismo
que afirma a influência dos processos históricos, culturais, políticos e ideológicos para
a estagnação e o fortalecimento da ordem patriarcal, ao nível social e familiar.
35
Concomitância dos tipos de violência
Uma vez que a frequência de violência psicológica exclusiva foi bastante elevada
optámos por repetir a análise diferenciando esta forma de violência das restantes. Não
se verificou diferenças estatisticamente significativas, no entanto, percebemos que as
36
características das raparigas e rapazes que sofrem apenas de violência psicológica
estão bastante próximas daqueles que sofrem outras formas de
violência/sobreposições.
Outros fatores que não foram considerados por este estudo poderão estar a mediar a
relação entre as características socioeconómicas e o envolvimento em violência, como
por exemplo o contexto em que os indivíduos vivem.
37
Forças e limitações do estudo
O tamanho da amostra analisada representa uma força do nosso estudo, dado que a
maioria dos estudos que abordam esta problemática tendem a utilizar amostras mais
pequenas e muitas das vezes amostras de conveniência.
Embora o instrumento do CTS2 seja alvo de críticas, é o instrumento que tem sido
utilizado na maioria dos estudos para avaliar a violência entre parceiros (73). Este
instrumento foi validado e construído com base na teoria do conflito e da teoria dos
sistemas familiares e mede os comportamentos dos dois parceiros, mesmo quando
apenas um é testado e pode, neste sentido, ser usado para classificar os casos
consoante os três tipos de envolvimento: vítima, agressor ou vítima e agressor. Uma
potencial limitação deste método surge quando apenas um dos parceiros é testado e
responde sobre os dois sujeitos, podendo assim considerar o outro parceiro mais
violento do que ele (73).
Na nossa análise não avaliamos a frequência dos atos violentos, isto é, o número de
vezes que cada ato foi cometido ou sofrido. Esta análise poderia descriminar melhor
algumas diferenças, particularmente diferenças de género. No entanto, uma recente
análise à cronicidade dos atos violentos ocorridos em homens e mulheres adultos da
população geral demonstrou que não havia diferenças de género quando a frequência
dos atos era considerada para além das diferenças encontradas no uso de coerção
sexual e violência física (86).
38
CONCLUSÃO
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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